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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO ISABELLY CAROLINY SANTANA RAMOS INTERAÇÃO ENTRE O ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS A PARTIR DA SEGUNDA INFÂNCIA E ALTERAÇÕES DE MEMÓRIA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

ISABELLY CAROLINY SANTANA RAMOS

INTERAÇÃO ENTRE O ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS A PARTIR DA SEGUNDA INFÂNCIA E ALTERAÇÕES DE MEMÓRIA

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

BACAHRELADO EM NUTRIÇÃO

NÚCLEO DE NUTRIÇÃO

ISABELLY CAROLINY SANTANA RAMOS

INTERAÇÃO ENTRE O ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS A PARTIR DA SEGUNDA INFÂNCIA E ALTERAÇÕES DE MEMÓRIA

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2017

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de Graduação em Nutrição do Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco em cumprimento a requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Nutrição. Orientador: Profa. Dra. Rhowena Jane Barbosa de Matos

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Catalogação na Fonte Sistema de Bibliotecas da UFPE. Biblioteca Setorial do CAV.

Bibliotecária Ana Ligia Feliciano dos Santos, CRB4: 2005

R175i Ramos, Isabelly Caroliny Santana.

Interação entre o estado nutricional em crianças a partir da segunda infância e alterações de memória./ Isabelly Caroliny Santana Ramos. - Vitória de Santo Antão, 2017.

36 folhas: il.; fig., quadro. Orientadora: Rhowena Jane Barbosa de Matos. TCC (Graduação) – Universidade Federal de Pernambuco, Centro

Acadêmico de Vitória, Bacharelado em Nutrição, 2017. Inclui referências.

1. Estado Nutricional. 2. Transtornos da Nutrição Infantil. 3 Transtornos da Memória. I. Matos, Rhowena Jane Barbosa de (Orientadora). II. Título.

613.20832 CDD (23.ed.) BIBCAV/UFPE-032/2017

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ISABELLY CAROLINY SANTANA RAMOS

INTERAÇÃO ENTRE O ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS A PARTIR DA SEGUNDA INFÂNCIA E ALTERAÇÕES DE MEMÓRIA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Colegiado do Curso de

Graduação em Nutrição do Centro

Acadêmico de Vitória da Universidade

Federal de Pernambuco em cumprimento a

requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Nutrição, sob orientação da

Professora Dra. Rhowena Jane Barbosa de

Matos

Aprovado em: 10/01/2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profº. Dr. Rhowena Jane Barbosa de Matos (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

_________________________________________

Juliana da Silva Ribeiro (Examinador Externo)

Nutricionista

_________________________________________

Mestre Lisianny Camilla Cocri do Nascimento Ferreira (Examinador Externo)

Universidade Federal de Pernambuco

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RESUMO

A memória pode ser definida como processo pelo qual as experiências são

armazenadas e podem ser evocadas a qualquer momento para comportamento em

determinado contexto. Na literatura atual, é amplamente aceito que desvios

nutricionais induzem alterações estruturais e funcionais cerebrais, que por sua fez

podem prejudicar a memória, e consequentemente afetar o aprendizado

principalmente em fases de desenvolvimento cognitivo. Este trabalho buscou realizar

uma revisão sobre a associação entre desvio do estado nutricional e alterações de

memória em crianças, sendo uma revisão da literatura sobre o perfil de memória de

crianças a partir da segunda infância e sua relação com o estado nutricional. Os

resultados desta revisão sugerem que crianças expostas a situação de subnutrição e

obesidade apresentam um declínio da capacidade de armazenamento,

processamento e evocação de memória e, por conseguinte, exibem um déficit clínico

de memória de curto e longo prazo. Indivíduos expostos a situação de desnutrição

energético-proteica apresentaram redução no desempenho de memória. Os

resultados dos estudos que avaliaram indivíduos obesos e o desempenho de

memória foram conflituosos. Enquanto alguns estudos encontraram que indivíduos

obesos mostravam pior desempenho de memória, outros estudos não encontraram

interação entre a obesidade e o perfil de memória. Sugere-se que outros fatores que

podem interferir no excesso ou a insuficiência de peso podem alterar o desempenho

de memória, tais como deficiência de oligoelementos na dieta e as necessidades

individuais ou de uma população específica para os micronutrientes.

Palavras-chave: Estado Nutricional. Desnutrição. Memória. Obesidade.

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ABSTRACT

Memory can be defined as the process by which experiences are stored and can be

evoked at any time for behavior in a given context. In current literature, it is widely

accepted that nutritional deviations induce structural and functional brain alterations,

which in turn can impair memory, and consequently affect learning, especially in the

stages of cognitive development. This work aimed to review the association between

nutritional status deviation and memory changes in children, and a review of the

literature on the memory profile of children from second infancy and its relationship

with nutritional status. The results of this review suggest that children exposed to

malnutrition and obesity exhibit a decline in memory storage, processing and

memory recall capacity and therefore exhibit short- and long-term clinical memory

deficits. Individuals exposed to energy-protein malnutrition presented a reduction in

memory performance. The results of studies evaluating obese individuals and

memory performance were conflicting. While some studies found that obese

individuals had worse memory performance, other studies found no interaction

between obesity and memory profile. It is suggested that other factors that may

interfere with excess or insufficient weight may alter memory performance, such as

deficiency of trace elements in the diet and individual needs or a specific population

for micronutrients.

Keywords: Nutritional Status. Malnutrition. Memory. Obesity.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Organograma de seleção dos estudos incluídos na revisão da literatura 23

Quadro 1 - Relação entre estado nutricional e perfil de memória 25

Quadro 2 - Métodos de avaliação da memória 26

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

DCNT Doenças crônicas não transmissíveis

IMC Índice de massa corporal

LTP

SNC

Long Term Potentiation

Sistema Nervoso Central

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2.1 Desnutrição, Má nutrição e Transição Nutricional ......................................... 12

2.2 A Memória .......................................................................................................... 15

3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 19

4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 21

Objetivo Geral .......................................................................................................... 21

Objetivos Específicos ............................................................................................. 21

5 METODOLOGIA .................................................................................................... 22

6 RESULTADOS ....................................................................................................... 24

7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 27

8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 31

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32

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1 INTRODUÇÃO

Os parâmetros fisiológicos do desenvolvimento humano são afetados por

muitos fatores externos, entre os quais, a nutrição é fundamental, em partes porque

o crescimento e desenvolvimento são processos metabólicos — dependentes de

nutrientes-chave, como glicose, aminoácidos de cadeia ramificada, oxigênio e ferro,

que apoiam diretamente o metabolismo celular e, em por consequência, a

diferenciação celular — e também porque é um fator não estático, que pode ser

alterado ao longo da vida (GEORGIEFF, 2015).

Logo, a ingestão de uma dieta adequada em quantidade e qualidade é um

fator importante na vida humana a partir de sua concepção até a senescência para

proporcionar pleno crescimento e desenvolvimento do organismo (GUARDIOLA,

2001). Além disso, está envolvida na gênese dos principais distúrbios nutricionais na

infância, como desnutrição energético-proteica, obesidade e deficiência de

micronutrientes (MELLO; BARROS; MORAIS, 2013).

A nutrição também desempenha um papel central, ligando os campos da

neurobiologia, do desenvolvimento e da neurociência cognitiva, exercendo um

profundo impacto no desenvolvimento das estruturas e funções cerebrais.

Evidências consideráveis de estudos em humanos e em outras espécies animais

mostram que a desnutrição pré e pós-natal precoce influencia esses aspectos e o

desempenho cognitivo posterior (SCHWEIGERT, 2009).

O desenvolvimento do cérebro humano é um processo complexo, não linear e

longo, com início na terceira semana de gestação e continuando até a idade adulta

precoce, o qual é regulado por nutrientes e fatores de crescimento (ANDERSON,

2011). O período de desenvolvimento entre 24 e 42 semanas de gestação é

particularmente vulnerável a insultos nutricionais devido a rápida formação de vários

processos neurológicos, incluindo mielinização e sinaptogênese. Em jovens o

cérebro é extremamente plástico — processo onde os circuitos neurais moldam-se a

estímulos, moldando os aspectos cognitivos desse período — e, portanto, mais

receptivo a reparar-se após a repleção de um nutriente (MORGANE, 1993).

No cômputo geral, a vulnerabilidade do cérebro para insultos nutricionais

provavelmente supera sua plasticidade, o que explica os insultos nutricionais

precoces, resultando em disfunção cerebral não só enquanto o nutriente está em

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déficit (GEORGIEFF, 2007). Segundo Benton (2008ª), apesar de todos os nutrientes

serem necessários para o funcionamento do corpo, ainda há poucos estudos

evidenciando as necessidades de ingestão para determinar influencia no

desenvolvimento do cérebro e cognição.

Algumas deficiências nutricionais amplamente prevalentes são conhecidas

pelo potencial para efeitos adversos permanentes na aprendizagem e

comportamento: as deficiências globais de vitamina A, ferro, iodo, zinco e a

desnutrição energético-proteica (SCRIMSHAW, 1998). Ou seja, o efeito da

deficiência ou suplementação de nutrientes é determinante para o cérebro, pois os

nutrientes têm função no metabolismo e estrutura das células (BENTON, 2008ª).

A pesquisa de Takeda (2001) sumarizou a influência do zinco no cérebro

como essencial à diferenciação, maturação e função celular. Segundo ele a privação

dietética de zinco em ratos demonstrou uma redução de 30% da concentração de

zinco em fibras de musgo do hipocampo, implicando em falha na indução da

potenciação de longo prazo — do inglês Long Term Potentiation, LTP — seguida de

perturbação da função de memória espacial dependente do hipocampo.

Similarmente, Greminger et al (2014) demonstrou que 1) a deficiência de ferro

não necessita atingir o nível de anemia para ter um impacto profundo nas regiões de

matéria branca e cinzenta do sistema nervoso central (SNC), ou seja, antes de

apresentar sinais clínicos que indiquem necessidade de suplementação e, 2) a

deficiência de ferro não-anêmica exerce impacto profundo na arquitetura e

mielinização axonal, posto que este micronutriente é requerido como cofator no

metabolismo da mielina.

O cérebro humano sofre notáveis alterações estruturais e funcionais entre 24

e 44 semanas depois da concepção, progredindo no início do terceiro trimestre da

gestação de uma suave estrutura bilobulada com poucos giros ou sulcos a uma

estrutura complexa, morfologicamente semelhante ao cérebro adulto (GEORGIEFF,

2007).

Segundo Georgieff (2007), nesse período estruturas como o hipocampo, que

é uma das áreas de processamento de memória, estabelece a maioria das suas

conexões do córtex entorrinal e começa a enviar as projeções através de estruturas

nucleares talâmicas para o córtex frontal em desenvolvimento. Estas estruturas e

processos podem ser vulneráveis aos insultos nutricionais neste período de tempo.

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Passado o nascimento e a primeira infância (0 a 24 meses), onde também

ocorre intensa plasticidade, inicia-se o período de vida entre 3 e 7 anos de idade,

que coincide com a fase pré-escolar, o qual a condição fundamental para o pleno

desenvolvimento/crescimento é caracterizada e influenciada pelas necessidades

nutricionais e o consumo alimentar adequado. Assim, a alimentação exerce um

papel crucial, tanto estimulando construindo o processo de aprendizado, quanto

formando a memória de hábitos alimentares (GANDRA, 2000).

Apesar de haver cada vez mais investigações acerca do desenvolvimento

atípico das funções executivas na infância, ainda são necessárias mais pesquisas

para compreender a interação entre nutrição e o desenvolvimento cognitivo a partir

da segunda infância, fase que compreende dos 24 meses aos 7 anos de idade

(PUREZA, 2011).

Considerando a nutrição como fator de influência ao desenvolvimento

cognitivo infantil, aceita-se a ideia de que a desnutrição está associada à patologia

estrutural e funcional do cérebro, resultando em dano tecidual, retardo do

crescimento, diferenciação desordenada, redução de sinapses e neurotransmissores

sinápticos, mielinização retardada e redução do desenvolvimento geral da

arborização dendrítica do cérebro em desenvolvimento (KAR; RAO;

CHANDRAMOULI,2008).

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Desnutrição, Má nutrição e Transição Nutricional

Entende-se por fome a necessidade básica de alimento que, quando não

satisfeita, diminui a disponibilidade para as atividades cotidianas e também para as

atividades intelectuais, e quando satisfeita a necessidade de alimentação, cessam

todos os seus efeitos negativos sem quaisquer sequelas (SAWAYA, 2006). Em

repouso, o cérebro adulto utiliza cerca de 20% da energia consumida e, em crianças

esse número pode chegar a 60%, explicando a consequência de hipoglicemia sobre

o desempenho escolar (BOURRE, 2004). A exemplo disso, Gajre et al (2008) afirma

que um intervalo de 10 a 12 horas entre a última refeição do dia e a primeira refeição

do dia seguinte provoca declínio do nível de glicose o poderia determinar uma

resposta de estresse, que interfere em diferentes aspectos da função cognitiva,

como atenção e memória de trabalho.

O termo desnutrição refere-se ao desequilíbrio na ingestão de energia e/ou

nutrientes por um indivíduo, concebendo a condição de subnutrição — que inclui

déficit energético e de nutrientes, baixo peso e/ou estatura para a idade — e a

obesidade, condição de excesso de peso combinado a doenças crônicas não

transmissíveis, DCNT (hipertensão arterial sistêmica, diabetes melitus, câncer, entre

outras) (KITSAO-WEKULO, 2013).

Embora a literatura registre e admita que a fome seja o que causa a

desnutrição pela baixa ingestão de alimentos, provocando o retardo do crescimento

da criança, vários autores em outros países, descrevem diferentes aspectos da

doença com uma síndrome, reconhecida não apenas como um problema de

natureza clínica, mas como a pobreza vem sendo estabelecida como sendo a causa

de desnutrição (MONTE, 2000).

Essa patologia, um problema global que afeta principalmente estratos

populacionais socioeconomicamente desfavorecidos, é amplamente estudada pelos

efeitos de longa duração e até mesmo permanentes, onde pode-se citar o prejuízo

ao rendimento acadêmico que reflete diretamente nas condições de

empregabilidade e renda na vida adulta (BRAGA, 2010). Além disso, vários

dispositivos e práticas comportamentais relacionados à desnutrição tendem a ser

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transmitidos de geração a geração, como fatores biológicos, sociológicos e

aspectos psicológicos (SCHWEIGERT; SOUZA; PERRY, 2009).

Tratando-se de nutrição no mundo, o Brasil, a exemplo de várias outras

regiões do globo, enquadra-se em período de transição nutricional, apresentando

um declínio na prevalência da subnutrição em crianças e adolescentes, e elevação

da prevalência de sobrepeso e obesidade em todas as faixas etárias

(SCHWEIGERT; SOUZA; PERRY, 2009). Inquéritos antropométricos realizados em

amostras probabilísticas da população brasileira de crianças nas décadas de 1970,

1980 e 1990 indicavam concentração da desnutrição na região Nordeste, revelando

que déficits de altura para idade eram duas vezes mais frequentes na região

Nordeste que nas demais regiões. Embora tenha indicado redução da desnutrição

em todas as regiões do País, mostra-se que o declínio tinha sido relativamente

menos pronunciado na região Nordeste (LIMA et al, 2010).

A identificação e acompanhamento da situação nutricional, ou estado

nutricional, constituem instrumento essencial para a aferição das condições de

saúde da população infantil, além de oferecer medidas objetivas das condições de

vida da população em geral. A importância da avaliação nutricional decorre da

influência decisiva que o estado nutricional exerce sobre a morbimortalidade, o

crescimento e o desenvolvimento infantil (FISBERG, MARCHIONI; CARDOSO,

2004). A desnutrição na infância pode ser diagnosticada a partir da identificação do

retardo do crescimento, estando associado ao maior risco de doenças infecciosas e

de mortalidade precoce, comprometimento do desenvolvimento psicomotor, menor

aproveitamento escolar e menor capacidade produtiva na idade adulta (LIMA et al,

2010).

A questão vai mais adiante da morbimortalidade infantil, pois além de suportar

incapacitação e fragilidade em seu sistema imunológico, a criança má nutrida sofre

de limitação em sua capacidade de aprendizagem, através do efeito de

desmotivação da curiosidade e redução das atividades ligadas aos atos de brincar e

explorar. Esses efeitos comprometem o desenvolvimento mental e cognitivo,

reduzindo os níveis de interação da criança tanto com o ambiente quanto com as

pessoas responsáveis por ela (MURTA et al, 2011).

Segundo Sawaya (2006), entende-se que a desnutrição, além de ser um

grave problema social é também um dos grandes responsáveis pelo baixo

rendimento escolar. Os estudos da década de 1990, que buscavam analisar que o

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baixo rendimento escolar das crianças de camadas populares decorria de

deficiências em seu desenvolvimento biopsicossocial, apontavam que cerca de 50%

das crianças matriculadas nas primeiras séries do primeiro grau eram reprovadas

em todo o Brasil. Essas publicações afirmam que as crianças de classes populares

têm baixo rendimento escolar porque são portadoras de déficit cognitivo, atraso de

desenvolvimento motor, perceptivo e emocional, deficiências na linguagem e

também da ausência de comportamentos esperados pela escola (disciplina,

concentração, motivação para a aprendizagem etc.) (SAWAYA, 2006).

A ocorrência de inadequações no consumo de nutrientes pode estar

associada à perpetuação dos principais problemas de saúde pública constatados na

população pediátrica, como a anemia ferropriva, a hipovitaminose A e o excesso de

peso e ao aparecimento precoce de comorbidades altamente prevalentes em

adultos (DCNT) (MELLO; BARROS; MORAIS, 2013). Além disso, prejudica a

maturação do cérebro, resultando em alterações que abrangem memória,

comportamento e aprendizagem (BRAGA, 2010).

Alguns estudos têm demonstrado que o Brasil, assim como outros países em

desenvolvimento, convive com a transição nutricional, determinada frequentemente

pela má alimentação (BERMUDEZ; TUCKER, 2003). Dessa forma, estabelece-se,

um antagonismo de tendências temporais entre desnutrição e obesidade, definindo

uma das características marcantes do processo de transição nutricional no país

(BATISTA; RISSIN, 2003).

Atualmente no Brasil, existem dois cenários prevalentes, a desnutrição e as

doenças crônicas não transmissíveis (DCNT’s), a chamada transição nutricional, que

é caracterizada pela redução na prevalência dos déficits nutricionais e ocorrência

mais elevada de sobrepeso e obesidade, não apenas na população adulta, mas

também em crianças e adolescentes (WANG; MONTEIRO; POPKIN, 2002).

Esse processo de transição nutricional no Brasil tem evidenciado o prejuízo

do crescimento de crianças, especialmente as de baixa renda, resultando em déficit

estatural, definidos nos primeiros anos de vida, indicativo de uma crescente

prevalência da obesidade futura (VILLAR et al., 1984).

A presença da desnutrição e do excesso de peso, além das deficiências de

micronutrientes e outras DCNT’s coexistindo nas mesmas comunidades e, muitas

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vezes no mesmo domicílio, também caracteriza a transição nutricional (STANDING

COMMITTEE ON NUTRITION, 2006). Os pré-escolares pertencem a um grupo de

risco nutricional, considerando que estão expostos a uma ampla variedade de

alimentos, e que, em geral, a quantidade, o tipo e o número de refeições

consumidas não são supervisionados adequadamente pelos pais/responsáveis

(TUMA; COSTA; SCHMITZ et al., 2005).

Estudos mostram que a correta formação dos hábitos alimentares na infância

favorece a saúde permitindo o crescimento e o desenvolvimento normal e

prevenindo uma série de doenças crônico degenerativas na idade adulta (GANDRA,

2000).

As funções especializadas de diferentes células requer nutrientes para

desempenhar funções específicas, o que implica em necessidades específicas para

certos nutrientes; os neurônios e outras células do cérebro não escapam a esta

regra. Em consequência, algumas deficiências alimentares podem alterar função

cerebral (BOURRE, 2006). Podemos citar o hipocampo — uma estrutura cerebral

localizada na porção medial do lobo temporal, essencial para formação de novas

memórias e recuperação de memórias antigas, a qual auxilia à aprendizagem de

nomes, datas, lugares e conceitos — como uma dessas estruturas e possui

neurogênese até a idade adulta. (BAUER; DUGAN, 2016). Logo, a nutrição pode

modular essa estrutura e sua função (ZAINUDDIN; THURET, 2012).

2.2 A Memória

Memória e aprendizado são propriedades básicas das células do sistema

nervoso dos animais e não existe atividade nervosa sem os mecanismos

intracelulares de memória (IZQUIERDO, 1989). Segundo os estudos de Braga

(2010) a importância da memória reside no fato de que ela proporciona a vantagem

adaptativa da experiência prévia para a solução de questões inerentes à

sobrevivência. Além de ter uma função preponderante na capacidade de

desempenhar atividades perceptomotoras geradas pelo registro de contingências

espaciais e temporais entre estímulos e as respostas processadas pelas células do

corpo. Isso abrange lembranças de estímulos familiares ou locais específicos do

ambiente (BRAGA, 2010).

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Uma das mais antigas divisões da memória reside na distinção entre memória

sensorial, memória a curto prazo e memória a longo prazo (CARNEIRO, 2008). A

memória sensorial está vinculada com a percepção sensorial, na qual a informação

entra, permanece por um lapso de tempo e em seguida é processada ou perdida

(ETCHEPAREBORDA; ABAD-MAS, 2005). A memória de curto prazo ou memória

de trabalho é considerada como um sistema responsável por armazenar

temporariamente e gerenciar as informações de diferentes tipos, que está

atualmente em uso para executar uma tarefa específica (CARRILLO-MORA, 2010).

A memória de longo prazo é dividida em explícita (ou declarativa) e implícita

(ou não-declarativa). A memória explícita é subdividida em semântica (fato e

significado) e episódica (eventos): o primeiro conceito é a informação sobre o

mundo, como conceitos e siignificado das palavras (KATCHE, 2011). Já a memória

episódica se comporta como uma função associativa entre os diferentes tipos de

informação (visual, espacial e temporal), que provoca um estímulo com uma

configuração complexa que chamamos de "evento" (CARRILLO-MORA, 2010).

A memória implícita refere-se ao armazenamento e recuperação de

informações sobre as habilidades, ou seja, a aprendizagem relacionadas com “como

executar” tarefas. Está encaixada dentro dos sistemas de memória que,

aparentemente, não necessitam de auto-conhecimento ou consciência para

acontecer (CARRILLO-MORA, 2010).

De acordo com o estudo realizado por Carneiro (2008, p. 1):

Segundo este modelo, cada tipo de memória representa um determinado armazenamento existente num estádio específico do processamento da informação. A informação é recebida, em primeiro lugar, no armazenamento sensorial, onde é mantida durante poucos segundos ou frações de segundo após o desaparecimento do estímulo. Seguidamente passa para o armazenamento a curto prazo, o qual retém apenas uma determinada quantidade de informação durante menos de 1 minuto. Depois de passar pelo armazenamento a curto prazo a informação ou é esquecida ou, se for processada, por exemplo, através da recapitulação, pode passar para o armazenamento a longo prazo, onde pode permanecer indefinidamente nesse compartimento de capacidade ilimitada.

Não obstante, a variedade de memórias possíveis é tão grande, que é

evidente que a capacidade de adquirir, armazenar e evocar informações é inerente a

muitas áreas ou subsistemas cerebrais, e não é função exclusiva de nenhuma delas.

Entretanto, há certas estruturas e vias (o hipocampo, a amígdala — interligados

entre si e recebem informação de todos os sistemas sensoriais, e suas conexões

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com o hipotálamo e o tálamo) que regulam a gravação e evocação de todas, de

muitas, ou pelo menos da maioria das memórias. Este conjunto de estruturas

constitui um sistema modulador que influi na decisão, pelo sistema nervoso, ante

cada experiência, de que deve ser gravado e de que deve ou pode ser evocado

(IZQUIERDO, 1989).

Não é possível medir as memórias de forma direta, mas é possível avaliá-las

medindo o desempenho em testes de evocação (IZQUIERDO, 1989). A exemplo

disso está o Teste da Figura Complexa de Rey-Osterrieth, um dos testes

neuropsicológicos mais utilizados e referendados em vários campos da

Neurociência, cujo método permite avaliar as habilidades de organização visuo-

espacial, planejamento e desenvolvimento de estratégias, bem como memória

(JAMUS; MADER, 2005).

O desempenho das crianças no Teste da Figura Complexa de Rey-Osterriet

segue uma clara trajetória de desenvolvimento. A medida que as crianças

amadurecem, executam o teste de maneira mais eficaz, coerente e organizado. Uma

notável exceção a esta tendência de desenvolvimento é o grupo de crianças com

dificuldades de aprendizagem, apresentando o desenvolvimento esperado, mais

tardiamente (KIRKWOOD et al, 2001).

A memória é um subtipo de neuroplasticidade — uma propriedade intrínseca

do sistema nervoso central (SNC), que significa a capacidade de responder de forma

dinâmica para o ambiente e experiências através de modificação de circuitos neurais

(ANDERSON; SPENCER-SMITH; WOOD, 2011). Este fenômeno está ligado a

processos de desenvolvimento do cérebro e função ao longo da vida. A memória é

construída por dois processos: a plasticidade sináptica e a LTP. A LTP é um

fenômeno onde um nível constante de estimulação pré-sináptica entre dois

neurônios gera um aumento gradual na força da resposta sináptica (plasticidade

sináptica), fortalecendo o mecanismo de resposta mediante uma estimulação, ou

seja, memória a nível celular (REDMAN et al, 2015).

No contexto do desenvolvimento saudável, a plasticidade é considerado uma

propriedade benéfica, facilitando a mudança adaptativa em resposta a estímulos

ambientais, tais como a aprendizagem de rotina ou de formação específica e de

enriquecimento (ANDERSON; SPENCER-SMITH; WOOD, 2011).

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No entanto, se o indivíduo é exposto a insultos como a desnutrição

energético-proteica, uma série de alterações conduz a diferentes respostas e

funções cognitivas dependentes do hipocampo. Entre os danos ao causado pela

desnutrição estão: efeito sobre as atividades motoras finas qualificadas (escrita e

organização), deterioração das funções visuais (redução da capacidade de seguir

intruções), acarretando em atraso na percepção e retenção de novos conceitos, que

em sequência, afeta a memória de curto prazo (UDANI, 1992)

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3 JUSTIFICATIVA

O principal interesse em estudar o estado nutricional de uma população

infantil decorre do enorme prejuízo que a desnutrição acarreta no desempenho

neuropsicomotor de uma criança (GUARDIOLA, 2001). A maturação do SNC

depende de diretrizes genéticas, da complexidade e do grau da estimulação

ambiental e de alimentação adequada, sendo a desnutrição um dos principais

fatores não genéticos que afetam o desenvolvimento cerebral (SCHWEIGERT;

SOUZA; PERRY, 2009).

Embora a literatura forneça evidências sobre os efeitos deletérios da

desnutrição precoce persistir até a idade escolar, há várias lacunas de conhecimento

substancial, pois, apesar das evidências do impacto da nutrição variar entre os

diferentes domínios neurocognitivos, há poucos estudos que investigam esta área

em crianças com idade escolar (KITSAO-WEKULO, 2013).

Apesar de sua importância, a maioria das pesquisas se concentra na

desnutrição em crianças menores de 5 anos de idade, enquanto que as crianças em

idade escolar são muitas vezes omitidas de inquéritos ou de vigilância de saúde e

nutrição (BEST et al, 2010).

Já existem estudos com roedores, e várias faixas de idade, que testificam o

prejuízo da desnutrição às estruturas cerebrais relacionadas à memória, tais como

menor número de células neuronais na região hipocampal, a perda da arborização

dendrítica no período de exposição ao déficit nutricional, falha na sinalização dos

neurotransmissores dependentes do hipocampo (BRAGA, 2010). Logo, este estudo

é relevante à identificação e compreensão da relação do estado nutricional e

alterações de memória em crianças para direcionamento de novas pesquisas no

cerne da nutrição, apoiado nos achados atuais com modelos animais, verificando a

reprodutibilidade e compatibilidade destes ensaios com os estudos em crianças.

Hipotetiza-se que alterações indesejadas no estado nutricional nessa idade

podem ter consequências negativas em longo prazo e restringir o desenvolvimento

de todo o potencial de uma criança, logo, esta é uma fase crítica para observar a

relação com a desnutrição. Finalmente, existe a necessidade de aprofundar o estudo

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do estado nutricional, onde múltiplas deficiências nutricionais podem ser

sobrepostas ou ocultadas pela composição corporal.

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4 OBJETIVOS

Objetivo Geral

Analisar a literatura atual a associação entre alterações de memória em

crianças a partir da segunda infância e desvio do estado nutricional adequado para

idade.

Objetivos Específicos

Identificar a relação entre a desnutrição energético-proteica e possíveis

alterações na memória a partir da literatura atual;

Identificar a relação entre a obesidade e possíveis alterações na memória a

partir da literatura atual.

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5 METODOLOGIA

Esta pesquisa consiste em uma revisão da literatura que abrange sujeitos de

estudo: crianças a partir da segunda infância e aborda a questão do déficit de

memória em crianças com desnutrição, aceitando o desvio do estado nutricional

para subnutrição, ou desnutrição energético-proteica e obesidade.

A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados eletrônicas

Medline/PubMed, Scielo, Periódicos Capes, Web of Science, BVS e PAHO, para

artigos publicados no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2016, pela

combinação dos descritores de busca "desnutrição", "obesidade", “estado

nutricional” e "memória" em idioma inglês, e em combinação para gerar os

resultados. Além disso, outros materiais foram encontrados através da busca

abrangente com os seguintes termos de interesse deste estudo: “antropometria” e

“composição corporal” ou “anthropometry” e “body composition”, do idioma inglês.

Dois investigadores examinaram os documentos de texto contra critérios de

elegibilidade pré-especificados. Foram excluídos estudos em modelos animais,

estudos em adultos, estudos envolvendo crianças aquém a faixa etária de segunda

infância, estudos envolvendo crianças com outras patologias além da desnutrição,

tais como esquizofrenia, espectro de autismo, malária e Síndrome da

Imunodeficiência Adquirida. 31 trabalhos foram selecionados para análise do

resumo, dos quais sete foram excluídos por não apresentar relação com a proposta

desta revisão, sobrando 24 trabalhos para análise do texto completo. Após avaliação

do texto completo, 17 destes foram excluídos por apresentarem objetivos diferentes

dos solicitados por este estudo. Após as análises sete artigos foram incluídos nesta

revisão. O processo de seleção de documentos está demonstrado na Figura 1.

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Figura 1 - Organograma de seleção dos estudos incluídos na revisão da literatura

Fonte: RAMOS, I. C. S., 2017.

Nota: Elaborado pela autora com base na metodologia utilizada.

Desenho Do Estudo

O método adotado para execução deste trabalho foi a pesquisa de revisão

sistemática da literatura, por viabilizar o estudo padronizado da literatura sobre o

tema do escolhido.

Estudos selecionados nas bases de dados eletrônicas

N = 31

Estudos relevantes para análise do texto completo

N = 24

Estudos incluídos na revisão N = 7

Estudos excluídos (objetivos diferentes)

N = 17

Estudos excluídos após análise do resumo

N = 7

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6 RESULTADOS

Após seguir o protocolo do desenho do estudo, sete trabalhos foram incluídos

nesta revisão, sendo seis artigos publicados e uma tese de doutorado. Os estudos

encontrados foram publicados de 2007 a 2015 e realizados em diferentes regiões do

mundo, três nos Estados Unidos da América, um na Índia, um na Hungria, um em

Cidade de Juarez, México e um em Medellín, Colômbia. Apesar da variação

socioeconômica e cultural dos locais de estudo, os trabalhos buscaram observar

minorias étnicas e sociais ao selecionar os indivíduos para os estudos.

Sobre o objetivo principal desta revisão, dois trabalhos encontraram

associação proporcional entre o menor desempenho de memória e desnutrição, um

trabalho considerou a obesidade associada a piores desempenhos de memória, três

trabalhos concentrados na análise de indivíduos com sobrepeso e obesidade não

encontraram relação entre este estado nutricional e a mensuração da memória e

dois não acharam relação entre as alterações do índice de massa corporal (elevação

ou depleção) e memória. Os resultados estão demonstrados no Quadro 1.

Os métodos para avaliação da memória, conforme detalhado no Quadro 2,

foram aplicados associados a outros testes de habilidades neurocognitivas ou

exclusivamente para medir a capacidade de memória. Os testes investigaram a

memória de curto prazo (de trabalho e imediata) e longo prazo (declarativa episódica

e semântica), além dos processamentos de codificação e evocação da memória.

Dois trabalhos utilizaram o Teste de Cópia da Figura Complexa de Rey e os demais

utilizaram subtestes adaptados de escalas de aprendizagem ou inteligência para

idade.

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Quadro 1 – Relação entre estado nutricional e perfil de memória

Autor e ano Características da amostra Resultados encontrados

CSERJÉSI et al. 2007.

N = 24 Sexo: Masculino Estado nutricional: obesos e peso ideal Faixa etária: 12 anos

Ausência de diferenças significativas nos escores do teste entre meninos obesos e peso normal

GUNSTAD et al. 2008.

N = 478 Sexo: Ambos Estado nutricional: baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade Faixa etária: 6 a 19 anos

Ausência de relação entre IMC elevado e prejuízo as funções; Crianças e adolescentes do sexo feminino com baixo peso apresentaram redução no desempenho de memória em relação a outros grupos de IMC.

PORTILLO-REYES et al. 2011.

N = 104 Sexo: Ambos Estado nutricional: desnutridos, peso normal, obesidade Faixa etária: 8 e 12 anos

11,3% das crianças desnutridas e 26,9% das crianças obesas apresentaram prejuízo clinicamente leve à memória

ARTURO; VICKY. 2013.

70 crianças Sexo: Ambos Desnutridos crônicos 8 a 10 anos

Desnutridos crônicos apresentaram menor desempenho na capacidade da memória de curto prazo e memória lógica;

VEENA. et al. 2014.

N = 19 Sexo: Ambos Estado nutricional: sobrepeso, obesidade Faixa etária: 9 a 10 anos

Crianças com sobrepeso e obesidade obtiveram maiores pontuações de recuperação da memória de longo prazo.

BLACK. 2015.

N = 21 Sexo: Ambos Estado nutricional: sobrepeso, obesidade Faixa etária: 5 a 8 anos

Ausência de relação entre estado nutricional e a mensuração de memória

KHAN et al. 2015.

N = 126 Sexo: Ambos Estado nutricional: baixo peso, peso normal, sobrepeso, obesos Faixa etária: 7 a 9 anos

Ausência de diferença significativa no desempenho entre os grupamentos de estado nutricional para qualquer dos testes de memória;

Fonte: RAMOS, I. C. S., 2017.

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Quadro 2 – Métodos de avaliação da memória

Autor e ano Aspecto da memória avaliado

Método Objetivo da Avaliação

CSERJÉSI et al. 2007.

"The Digit Span Memory Task"; subteste da Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III), 1997.

Memória de trabalho e memória imediata

GUNSTAD et al. 2008. Teste “Verbal Recall” Memória episódica

PORTILLO-REYES et al. 2011.

Teste de Figura Complexa de Rey Memória visual

Avaliação Neuropsicológica Infantil Memória auditiva e associativa, codificação da memória, evocação da memória

ARTURO; VICKY. 2013.

Escala de Memória de Weschsler Memória lógica e memória associativa, retenção da memória

Teste de Figura Complexa de Rey Memória visual

Memória semântica com incremento associativo, Curva de Memória Verbal, Escala de memória visual-verbal

Evocação da memória

VEENA et al. 2014. Bateria de Avaliação Kaufman para Crianças Memória de longo e curto prazo, evocação da memória

BLACK. 2015. Avaliação de Ampla Gama de Memória e Aprendizagem

Referenciado para avaliar capacidade de memória geral.

KHAN et al. 2015. Bateria de habilidades cognitivas Woodcock-Johnson III

Memória associativa

Fonte: RAMOS, I. C. S., 2017.

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7 DISCUSSÃO

A nutrição é a soma de todos os processos envolvidos na aquisição e

ingestão de alimentos e água, através da sua digestão e montagem em substâncias

metabolicamente funcionais (ROSALES; ZEISEL, 2013). Ao propormos que a dieta é

influente em nosso organismo, espera-se que a desnutrição tenha efeitos adversos,

com prejuízos de curto e longo prazo nas funções neurocognitivas (BENTON,

2008b).

Arturo e Vicky (2013) acharam uma associação proporcional entre o menor

desempenho de memória e crianças com desnutrição energético-proteica. Como

mencionado anteriormente, o dano da insuficiência nutricional dependerá do tempo

de exposição a esta condição (BRAGA, 2010). Se as alterações metabólicas

transitórias devido a privação das refeições venham a ocorrer com frequência, eles

estarão propensos a ter um efeito adverso cumulativo que pode colocar o progresso

escolar da criança em risco (GAJRE et al, 2008).

O trabalho de Bourre (2004) exemplificou isto com o estudo sobre os eventos

de hipoglicemia em crianças no horário letivo. Adimitindo-se que o cérebro opera

apenas com glicose e este não tem reserva (exceto por uma pequena quantidade de

glicogênio), logo a satisfação de suas necessidades depende da sua oferta através

da alimentação. Assim, a realização intelectual da manhã é determinada pela

qualidade da primeira refeição da manhã, tendo prejuízo — na recuperação do

desempenho cognitivo, resposta à atividade complexas, reconhecimento facial, entre

outros — aquelas crianças que não fazem o desjejum ou saltam o lanche da manhã

(BOURRE, 2004).

O que acontece é que o declínio gradual do nível de insulina e glicose poderia

determinar uma resposta de estresse, que interfere com diferentes aspectos da

função cognitiva, como atenção e memória de trabalho (GAJRE, 2008). Segundo o

mesmo autor, crianças que não consomem o pequeno-almoço, pode apanhar as

suas necessidades diárias de nutrientes ao se alimentar depois, mas não são

susceptíveis de participar e se concentrar nas aulas na sessão da manhã, porque

estão com fome.

Adicionalmente, o trabalho de Gunstad et al (2008) concluiu que crianças e

adolescentes do sexo feminino com baixo peso apresentaram redução no

desempenho de memória em relação a outros grupos de IMC. Isso pode ser

explicado pela necessidade individual de ferro, influenciando sua função no

organismo, considerando grandes variações individuais nas perdas sanguíneas

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através da menstruação (DALLMAN; SIIMES; STEKEL, 1980). A Dietary Reference

Intakes (DRI) de 2002, que constitue a mais recente revisão dos valores de

recomendação de ferro adotado pela OMS, indica como Adequate Intake (AI) ou

ingestão adequada por dia, os valores para o sexo masculino: 8mg de 9 a 13 anos,

11mg de 14 a 18 anos, 8mg de 19 a 30 anos; enquanto para o sexo feminino: 8mg

para 9 a 13 anos, 15 mg para 14 a 18 anos e 18mg para 19 a 30 anos (DRI, 2002).

Vários sintomas foram descritos como sinais clínicos à deficiência de ferro,

mesmo na ausência de anemia, incluindo a diminuição da atenção e perda de

memória. Dado que o ferro modula o funcionamento do cérebro, a sua deficiência

diminui o fornecimento de oxigénio do cérebro por um lado, e a produção de energia

— através da redução da atividade da enzima mitocondrial citocromo-c-oxidade

(BOURRE, 2004).

Portillo-Reyes et al (2011) identificou, a partir de seus testes de memória, a

obesidade infantil como mais prejudicial às habilidades neuropsicológicas que a

desnutrição energético-proteica. O grupo de crianças obesas rendeu

significativamente menos que as crianças com peso adequado e aquelas com

desnutrição para os testes de evocação e codificação da memória. E conhecendo a

prevalência generalizada da transição nutricional no mundo, há uma necessidade

permanente de investigar os mecanismos fisiológicos que ligam o aumento da

massa corporal à vulnerabilidade cerebral, e quais medidas preventivas podem ser

desenvolvidas para proteger contra a obesidade e os prejuízos decorrentes desta

patologia (GONZALES et al, 2012). A alteração morfofuncional cerebral pode ser

mediada via redução na disponibilidade de micro e macronutrientes essenciais para

manutenção da função celular e pela inflamação causada pelo acúmulo de gordura

visceral.

A pesquisa de Veena et al. 2014 apresentou o resultado mais discrepante.

Segundo sua investigação, o excesso de adiposidade foi positivamente associado

ao desempenho de memória geral (de longo e curto prazo), de seu armazenamento

e evocação, bem como de outras funções cognitivas, refutando os demais trabalhos

desta revisão, bem como os estudos anteriores em adultos, crianças e animais.

Estes trabalhos postulam a ideia de que o sobrepeso e obesidade está associada a

uma capacidade cognitiva reduzida, por vários mecanismos, entre eles a disfunção

cardiometabólica e a secreção de citocinas pró-inflamatórias — resultando na oferta

vascular prejudicada ao cérebro (GUSTAFSON, 2012).

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Apesar disto, em países como a índia, local de estudo de Veena et al (2014),

o excesso de peso sem associação a patologias, os níveis de IMC podem

representar crianças com melhor nutrição — um dos principais determinantes da

função cerebral — enquanto os demais trabalhos desta revisão, os quais sugerem

uma relação inversa, foram realizados em locais com melhor índice socioeconômico,

tornando relativo os parâmetros antropométricos como método de análise do estado

nutricional. Consoante a isso, vale salientar que a escolha alimentar está

relacionada não apenas ao poder de compra, mas, principalmente, a ações

embasadas na educação alimentar e nutricional (MELLO; BARROS; MORAIS,

2013).

Já Cserjési et al (2007) não encontrou diferenças no perfil da memória de

obesos comparado ao grupo controle de crianças com o IMC adequado para altura e

idade, divergindo dos estudos anteriores que demonstram o desenvolvimento de

déficits de memória em resposta à inflamação periférica em animais obesos. Jeon et

al (2012) considera como características da obesidade a produção anormal de

adipocinas, ativação de vias de sinalização pró-inflamatória e a resistência à insulina

em tecidos periféricos. Segundo ele, tais mecanismos podem influenciar a

resistência à insulina central afetando a cognição. Em ratos, a atividade cognitiva

diminui assim como a quantidade de glicose presente no meio extracelular do

hipocampo; administração de glicose inverte esta tendência e melhora o

desempenho (CALON, 2014).

O estudos de Khan et al (2015) e Black (2015), foram conclusivos ao afirmar

que o estado nutricional baseado na adequação do peso por si só não pode ser

usado como principal determinante para avaliar a relação com a variação da

memória, corroborando com a síntese de Warthon-Medina et al (2015). Segundo

este autor a função do hipocampo, muitas vezes está associada a deficiências de

iodo, ferro, zinco, ácido fólico, vitamina B12, A e C, que são protetores do estresse

oxidativo, mantenedores da plasticidade neural, substratos e cofatores em diversos

metabolismos.

Esta pesquisa buscou indícios na literatura da relação entre a variação do

estado nutricional, obesidade ou desnutrição energético-proteica, e a performance

da memória em crianças, no entanto os resultados encontrados não se associam.

Os estudos de Black (2015) e Khan et al. (2015) fortalecem este pensamento,

apoiados na limitação dos métodos de diagnóstico do estado nutricional das

crianças. A OMS, após estudo multicêntrico, aceitou que as crianças de todo mundo

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tem o mesmo potencial de crescimento e que este potencial depende mais da

nutrição, práticas de alimentação, meio ambiente e segurança sanitária que dos

fatores genéticos e raciais (MATA, 2008). Portanto, as técnicas de antropometria –

conjunto de medidas corporais capazes de predizer o estado nutricional – não

devem ser utilizadas como parâmetro isolado para diagnosticar a condição

nutricional de um indivíduo, sendo necessário empregar uma associação de vários

indicadores para melhorar a precisão e a acurácia do diagnóstico nutricional

(CUPPARI, 2005).

Mata (2008) diz que a desnutrição é o resultado da ingestão de alimentos e

nutrientes continuamente insuficiente para atender aos requisitos de uso biológico —

gerando uma perda de peso corporal — ou condição crônica em que a ingestão de

alimentos excede as necessidades de energia do alimento — gerando sobrepeso ou

obesidade. Considerando isso, uma opção para reduzir as disparidades e limitações

da avaliação do estado nutricional, com baixo custo operacional para as pesquisas,

seria a avaliação do consumo alimentar. Consiste em inquéritos alimentares capaz

de colher informações qualitativas e quantitativas da dieta em um período específico,

permitindo relacionar a dieta com o estado nutricional identificado pela avaliação

antropométrica (ALMEIDA; BENETTI; ZOLLAR, 2013).

Outro possivel fator colaborativo para disparidade de resultados está nos

diferentes testes de memoria utilizados, não sobre a validade dos testes, mas sim

sobre quais aspectos da memória foram avaliados, dispostos no Quadro 2. É fato

que os tipos de memória operem interligadas. No entanto, considerando que a

formação das memórias de longo prazo necessita de modificações estruturais e

funcionais nos neurônios, resultado da plasticidade sináptica induzida pela

experiência, uma série de eventos intracelulares é necessária para que ocorram as

modificações estruturais da sinapse requeridas para o aprendizado (LOMBROSOA,

2004).

Logo é esperado que a memória de longo prazo seja mais vulnerável quando

há exposição a desnutrição crônica, como sugerem apenas as investigações dos

autores Gunstad et al (2008), Portillo-Reyes (2011) e Arturo; Vicky (2013) enquanto

as memórias de curto prazo, sejam prejudicadas mediante a desnutrição e

deficiência de nutrientes, mesmo que transitória. Atividades como compreensão da

fala para seguimento de instruções, ou armazenamento de informações de uma

frase para compreensão do texto completo (ETCHEPAREBORDA; ABAD-MAS,

2005). Os resultados escassos e inconclusivos sugerem espaço para novas

pesquisas neste sentido.

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8 CONCLUSÃO

A literatura atual sugere que existe uma associação entre o estado de

subnutrição e o desempenho de memória. Indivíduos expostos a situação de

desnutrição energético-proteica apresentaram declínio da capacidade de

armazenamento, processamento e evocação de memória. Entretanto, os resultados

dos estudos que avaliaram indivíduos obesos e o desempenho de memória foram

conflituosos. Enquanto alguns estudos encontraram que indivíduos obesos

mostravam pior desempenho de memória, outros estudos não encontraram

interação entre a obesidade e o perfil de memória. Por conseguinte, sugere-se que

outros fatores que podem interferir no excesso ou a insuficiência de peso podem

alterar o desempenho de memória, tais como deficiência de oligoelementos na dieta

e as necessidades individuais ou de uma população específica para os

micronutrientes.

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