UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o...

107
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES MATHEUS FERNANDO DOS SANTOS DESENVOLVIMENTO DE UM PORTA-DOSÍMETRO POR IMPRESSÃO 3D PARA MONITORAÇÃO OCUPACIONAL DO CRISTALINO Recife 2020

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E

NUCLEARES

MATHEUS FERNANDO DOS SANTOS

DESENVOLVIMENTO DE UM PORTA-DOSÍMETRO POR IMPRESSÃO 3D PARA

MONITORAÇÃO OCUPACIONAL DO CRISTALINO

Recife

2020

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

MATHEUS FERNANDO DOS SANTOS

DESENVOLVIMENTO DE UM PORTA-DOSÍMETRO POR IMPRESSÃO 3D PARA

MONITORAÇÃO OCUPACIONAL DO CRISTALINO

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Tecnologias Energéticas e

Nucleares como requisito para obtenção do

título de Mestre em Ciências.

Área de Concentração: Dosimetria e

Instrumentação Nuclear.

Orientador: Prof. Dr. Vinícius Saito Monteiro de Barros

Recife

2020

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

Catalogação na fonte

Bibliotecário Gabriel Luz, CRB-4 / 2222

S237d Santos, Matheus Fernando dos.

Desenvolvimento de um porta-dosímetro por impressão 3D para

monitoração ocupacional do cristalino / Matheus Fernando dos Santos – Recife,

2020.

106 f.: figs., tabs., abrev. e siglas.

Orientador: Prof. Dr. Vinícius Saito Monteiro de Barros.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG.

Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares, 2020.

Inclui referências, apêndices e anexos.

1. Engenharia Nuclear. 2. Cristalino. 3. Modelo ocular de referência. 4.

Software CAD. 5. Monte Carlo. 6. Impressão 3D. I. Barros, Vinícius Saito

Monteiro de (Orientador). II. Título.

UFPE

612.01448 CDD (22. ed.) BCTG / 2020-167

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

MATHEUS FERNANDO DOS SANTOS

DESENVOLVIMENTO DE UM PORTA-DOSÍMETRO POR IMPRESSÃO 3D PARA

MONITORAÇÃO OCUPACIONAL DO CRISTALINO

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Tecnologias Energéticas e

Nucleares como requisito para obtenção do

título de Mestre em Ciências.

Aprovada em: 21/02/2020.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Vinícius Saito Monteiro de Barros (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco – DEN/UFPE

Profa. Dra. Helen Jamil Khoury (Examinador Interno)

Universidade Federal de Pernambuco – DEN/UFPE

Prof. Dr. Marcos Ely Almeida Andrade (Examinador Externo)

Centro Universitário Tiradentes – UNIT-PE

Prof. Dr. Leonardo Bruno Ferreira de Souza (Examinador Externo)

Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conceder saúde e sabedoria para seguir sempre em frente. A ti, Senhor,

toda honra e toda a glória.

Aos meus pais, Inaldo e Mônica, e Irmãos, Márcio e Samuel, pelo apoio e incentivo em

todos os momentos da minha vida.

Ao Professor Vinícius Barros pela oportunidade de desenvolver este trabalho, orientação

e auxílio que garantiram a realização deste trabalho.

À Professora Helen Khoury pela amizade e incentivos no meu desenvolvimento

acadêmico, além de sugestões que contribuíram para a concretização deste projeto.

À Professora Viviane Asfora pelo apoio e conselhos no uso e caracterização dos

dosímetros TL, que foram essenciais para a realização deste trabalho.

Ao Professor Marcos Ely pelas sugestões que complementaram o trabalho.

Aos alunos de Engenharia mecânica: João Victor, Gabriel Lourenço e Guilherme

Cantalice no suporte dos desenhos e modelagem 3D do projeto.

Ao Vagner Cassola e Professor Richard Kramer no auxílio e disponibilização dos códigos

do GEANT4 e realização das simulações que serviram de base para a realização do trabalho.

À equipe do Laboratório de Eletrônica e Impressão 3D da Universidade Federal de

Sergipe (UFS), pela impressão dos porta-dosímetro utilizando a técnica de impressão FDM.

Aos colegas e amigos de trabalho do LMRI e LPR, especialmente Sr. Elias, Dayana,

Kendy, Moema, Itayana e André Luiz pela disponibilidade no auxílio para irradiações dos

dosímetros e leituras TL.

Aos amigos Boisguillebert Andrade, Bruno Soares, Charles Nilton, Edyelle Oliveira,

Jorge Savignon, Lilian Torres, Maria Thalita, Natasha e Yelina Gonzalez pela amizade e pelas

discussões que ajudaram na construção deste projeto.

Ao Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco, pela

oportunidade de realizar o projeto.

À coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela

concessão da bolsa de mestrado.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

RESUMO

Recentemente, tem havido uma preocupação crescente com doses no cristalino,

principalmente após a publicação de estudos epidemiológicos evidenciando o risco da indução

de catarata em doses abaixo do que previa a Comissão Internacional de Proteção Radiológica

(ICRP). Tanto o limiar de dose absorvida para a ocorrência de reações teciduais na lente dos

olhos quanto o limite de dose ocupacional anual foram reduzidos, e a monitoração individual é

uma ferramenta importante no auxílio da proteção radiológica. O objetivo deste trabalho foi

desenvolver um porta-dosímetro com dimensões e geometria adequadas para monitorar dose

de radiação na lente dos olhos, baseado no modelo ocular tridimensional de referência. Foram

modeladas três versões de um porta-dosímetro no Software de projeto CAD 3D SolidWorks,

variando a profundidade dos dosímetros termoluminescentes (TLD’s) no suporte. O modelo

físico do porta-dosímetro de cristalino desenvolvido nesse trabalho foi denominado

DosímetroG4. As três versões do DosímetroG4 foram submetidas a técnica de simulação pelo

método de Monte Carlo no código GEANT4. Foi simulado um conjunto de irradiações, com

fótons na faixa energética entre 5 keV e 10 MeV e incidência do feixe de radiação na direção

0° e 90°. Através do FOM, foi possível quantificar a adequação da resposta simulada de cada

versão do DosímetroG4 ao modelo ocular de referência, em termos da dependência energética

e angular. A versão G4-3.5, correspondente a profundidade dos TLD’s em 3,5 mm no suporte

do DosímetroG4, apresentou melhor correlação com o modelo ocular tridimensional de

referência, dessa forma tornou-se a versão otimizada. Portanto, a versão G4-3.5 do

DosímetroG4 foi submetida a três técnicas de impressão 3D para obtenção dos protótipos: (i)

Modelagem por Fusão e Deposição – FDM, (ii) Multijatos – PJET e (iii) Estereolitografia –

SLA. As técnicas que utilizam resinas líquidas mostraram-se mais adequadas para o objetivo

desejado, em termos de resolução, nível de detalhamento e capacidade de garantia na

reprodutibilidade das peças criadas, com variação máxima de 0,4% entre as dimensões do

desenho CAD 3D do porta-dosímetro e os protótipos obtidos. Os resultados da avaliação

experimental da dependência energética e angular mostraram que o DosímetroG4 atende aos

requisitos estabelecidos pela norma internacional IEC 62387 (2012), e apresenta variação

máxima da resposta relativa em Hp(3) de ± 35% para feixe de fótons na faixa energética entre

24 e 662 keV, e ângulo de incidência compreendido entre 0° e ±60°. Portanto, o DosímetroG4

foi considerado apropriado para monitoração ocupacional do cristalino, em termos da grandeza

operacional Equivalente de Dose Pessoal Hp(3). Os resultados deste trabalho mostraram a

viabilidade na metodologia através da integração entre Software de modelagem CAD 3D,

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de

novos dosímetros.

Palavras-chave: Cristalino. Modelo ocular de referência. Software CAD. Monte Carlo.

Impressão 3D.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

ABSTRACT

Recently, there has been a growing concern about doses in the eye lens, especially after

the publication of epidemiological studies showing the risk of cataract induction in doses below

that predicted by the International Commission for Radiological Protection (ICRP). Both the

absorbed dose threshold for the occurrence of tissue reactions in the eye lens and the annual

occupational dose limit have been reduced, and individual monitoring is an important tool in

the aid of radiological protection. The objective of this work was to develop a dosimeter holder

with adequate dimensions and geometry to measure radiation dose in the eye lens, based on the

reference three-dimensional ocular model. Three versions of a dosimeter holder were modeled

in the SolidWorks 3D CAD design Software, varying the depth of the thermoluminescent

dosimeters (TLD’s) in the support. The physical model of the crystalline dosimeter holder

developed in this work was called DosimeterG4. The three versions of DosimeterG4 were

submitted to the computational simulation by the Monte Carlo method in the GEANT4 code. A set of irradiations was simulated, with photons in the energy range between 5 keV and

10 MeV and incidence of the radiation beam in the 0 ° and 90 ° directions. Through the FOM,

it was possible to quantify the adequacy of the simulated response of each version of

DosimeterG4 to the reference ocular model, in terms of energy and angular dependence. The

version G4-3.5, corresponding to the depth of the TLD’s in 3.5 mm in the support of the

DosimeterG4, showed a better correlation with the reference three-dimensional ocular model,

thus becoming the optimized version. Therefore, the G4-3.5 version of the DosimeterG4 was

submitted to three 3D printing techniques to obtain the prototypes: (i) Fusion and Deposition

Modeling - FDM, (ii) MultiJets - PJET and (iii) Stereolithography - SLA. The techniques that

use liquid resins proved to be more suitable for the desired objective, in terms of resolution,

level of detail and guarantee of reproducibility of the created parts, with a maximum variation

of 0.4% between the dimensions of the 3D CAD drawing dosimeter holder and the prototypes

obtained. The results of the experimental evaluation of energy and angular dependence showed

that the DosimeterG4 meets the requirements established by the international standard IEC

62387 (2012), and presents a maximum variation of the relative response in Hp (3) of ± 35%

for photon beam in the energy range between 24 and 662 keV, and incidence angle between 0°

and ± 60°. Therefore, the DosimeterG4 was considered appropriate for occupational monitoring

of the eye lens, in terms of the operational quantity Equivalent of Personal Dose Hp(3). The

results of this work showed the feasibility in the methodology through the integration between

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

3D CAD modeling software, Monte Carlo simulation and 3D printing for the development and

rapid prototyping of new dosimeters.

Keywords: Eye Lens. Reference ocular model. CAD Software. Monte Carlo. 3D Printing.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Corte sagital do olho humano. ................................................................................. 17

Figura 2 - Seção transversal do cristalino. ................................................................................ 18

Figura 3 - Geometria do olho usada por BEHRENS et al. (2009) para criação do modelo de

referência. .............................................................................................................. 20

Figura 4 - Visão tridimensional do modelo de referência do olho humano. ............................ 20

Figura 5 - Geometria do fantoma de corpo inteiro usado nas simulações de Monte Carlo. ..... 22

Figura 6 - Resultado típico de uma Simulação de Monte Carlo do cristalino. ......................... 22

Figura 7 - (a) Fantoma cilíndrico teórico, (b) Fantoma cilíndrico experimental. ..................... 31

Figura 8 - Esboço do Protótipo do Dosímetro EYE-DTM .......................................................... 32

Figura 9 - Dosímetro EYE-DTM................................................................................................. 33

Figura 10 - Dosímetro de faixa sobre o fantoma cilíndrico. ..................................................... 34

Figura 11 - Resposta relativa para os diferentes tipos de dosímetros. ...................................... 35

Figura 12 - Etapas para a produção de protótipos com manufatura aditiva. ............................ 39

Figura 13 - Princípio para o método SLA. ............................................................................... 40

Figura 14 - Princípio do método SLS. ...................................................................................... 41

Figura 15 - Princípio para o método FDM ............................................................................... 42

Figura 16 - (a) Máquina MultiJet; (b) Bloco de impressão. ..................................................... 43

Figura 17 - (a) Modelo digital do rosto do paciente, em que a região de interesse é o nariz;

(b) bólus impresso.................................................................................................. 45

Figura 18 - (a) Fantoma antropomórfico RANDO, (b) modelo tridimensional do fantoma e

(c) modelo impresso em 3D ................................................................................... 45

Figura 19 - Localizações dos TLD’s para medidas no “Paciente”. .......................................... 46

Figura 20 - Posicionamento do cristal dosimétrico. ................................................................. 48

Figura 21 - Versões do suporte do DosímetroG4. .................................................................... 50

Figura 22 - Comparação da modelagem do suporte do DosímetroG4 com o Modelo de

referência: (a) corte sagital do Modelo de referência, (b) posicionamento do

cristal dosimétrico e (c) modelo do suporte do DosímetroG4 com o TLD. .......... 51

Figura 23 - Ilustração do DosímetroG4 no software Blender3D.............................................. 52

Figura 24 - Ilustração da modelagem do detector circular. ...................................................... 53

Figura 25 - (a) Impressora 3D Desktop Form2, (b) Câmara UV FormCure. .......................... 56

Figura 26 - Interface do software de preparação de impressão PreForm. ............................... 57

Figura 27 - Desenho CAD do porta-dosímetro versão G4-3.5. ................................................ 58

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

Figura 28 - Dosímetro comercial EYE-DTM e TLD MTS-N na forma de disco numerado. ..... 59

Figura 29 - (a) Placa de acrílico e (b) arranjo experimental para a irradiação de dosímetros

em Kerma no ar. .................................................................................................. 60

Figura 30 - Arranjo de irradiação do DosímetroG4 impresso por Multijatos e

dosímetro comercial EYE-DTM sobre o fantoma cilíndrico. ............................... 64

Figura 31 - DosímetroG4 aplicado em teste clínico. ................................................................ 66

Figura 32 - Posicionamento do DosímetroG4 em teste clínico. ............................................... 67

Figura 33 - Resultados da simulação para a versão G4-2.5 do DosímetroG4 comparada

com modelo de referência: (a) Dose Equivalente por Kerma no ar para o

ângulo de incidência de 0° e (b) ângulo de incidência de 90°. .............................. 68

Figura 34 - Resultados da simulação para a versão G4-3.0 do DosímetroG4 comparada

com o modelo de referência: (a) Dose Equivalente por Kerma no ar para o

ângulo de incidência de 0° e (b) ângulo de incidência de 90°. .............................. 69

Figura 35 - Resultados da simulação para a versão G4-3.5 do DosímetroG4 comparada com o

modelo de referência: (a) Dose Equivalente por Kerma no ar para o ângulo de

incidência de 0° e (b) ângulo de incidência de 90°. ............................................... 70

Figura 36 - Sobreposição das respostas das simulações para cada versão do DosímetroG4

comparada com o modelo de referência: (a) ângulo de incidência de 0° e (b)

ângulo de 90°. ........................................................................................................ 71

Figura 37 - Protótipo da versão G4-3.5 do porta-dosímetro impresso com Filamento PLA. .. 73

Figura 38 - Protótipos da versão G4-3.5 do porta-dosímetro impresso com método

Multijatos. .............................................................................................................. 74

Figura 39 - Protótipo da versão G4-3.5 do porta-dosímetro impresso com a técnica SLA...... 76

Figura 40 - Resposta Relativa da Dependência Energética do DosímetroG4 e EYE-DTM ...... 79

Figura 41 - Resposta Relativa da Dependência Energética do DosímetroG4 e EYE-DTM,

sem e com fE,A. ....................................................................................................... 80

Figura 42 - Resposta do DosímetroG4 Relativa à energia com irradiação sob ângulo. ........... 83

Figura 43 - Dependência energética dos detectores MTS-N para feixe de fótons. .................. 84

Figura 44 - Posicionamento do médico e técnico durante os procedimentos. .......................... 87

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composição e densidade das substâncias usadas no modelo computacional de

BEHRENS et al., (2009). ....................................................................................... 21

Tabela 2 - Fatores de Ponderação da Radiação recomendados pela ICRP-103 (2007). .......... 28

Tabela 3 - Fatores de Ponderação para Tecido/Órgão (ICRP-103, 2007). ............................... 29

Tabela 4 - Limites de Dose Anuais. ......................................................................................... 30

Tabela 5 - Características gerais das técnicas de SLA e PJET. ................................................ 43

Tabela 6 - Características de cada versão do DosímetroG4. .................................................... 49

Tabela 7 - Composição e densidades dos materiais usadas no código da Simulação .............. 53

Tabela 8 - Perfil de tempo/temperatura utilizado para as leituras dos TLDs. .......................... 61

Tabela 9 - Qualidades de radiação do Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes

LMRI-DEN/UFPE segundo a norma ISO 4037 – 1 (1999) para equipamentos

de raios X. ........................................................................................................... 64

Tabela 10 - Requisitos de desempenho para dosímetros avaliados em Hp(3). ........................ 65

Tabela 11 - Valores do FOM entre as versões do DosímetroG4 e o modelo de referência. .... 72

Tabela 12 - Reprodutibilidade da profundidade dos porta-dosímetros impressos com a

técnica Multijatos. ............................................................................................... 75

Tabela 13 - Reprodutibilidade da largura dos porta-dosímetros impressos com a técnica

Multijatos. ......................................................................................................... 75

Tabela 14 - Medidas do porta-dosímetro impresso com a técnica SLA Desktop. ................... 77

Tabela 15 - Leituras obtidas com dosímetros irradiados em (Hp(3), S-Cs-137). ..................... 78

Tabela 16 - Dependência energética dos dosímetros na faixa de energia média da radiação

entre 24 e 164 keV normalizados para a energia do Cs-137. ................................ 79

Tabela 17 - Dependência angular do DosímetroG4. ................................................................ 82

Tabela 18 - Dados coletados após cada procedimento de angiografia cerebral. ...................... 85

Tabela 19 - Valores de Hp(3) encontrados para os profissionais monitorados. ....................... 86

Tabela 20 - Propriedades da formulação do MTS-N. ............................................................... 98

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABS Acrilonitrila Butadieno Estireno

CAD Computer Aided Design

CERN Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire

CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

ECC Element Correction Coefficient

EGS Electron Gamma Shower

FDM Fused Deposition Modeling

GEANT4 Geometry and Tracking 4

ICRP International Commission on Radiological Protection

ICRU International Commission on Radiation Units & Measurements

IEC International Eletrotechnical Commission

IFJ Instytut Fizyki Jadrowej

IMRT Radioterapia de Intensidade Modulada

IOE Indivíduo Ocupacionalmente Exposto

ISO International Organization for Standardizaton

LMRI Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes

MC Monte Carlo

MCNP Monte Carlo N-Particle

PENELOPE Penetration and Energy Loss of Positrons and Electrons

PJET Polyjet

PLA Ácido Poliláctico

PMMA Polimetilmetacrilato

PR Prototipagem Rápida

PTB Physikalisch Technische Bundesanstalt

PTFE Politetrafluoretileno

PVC Polivinil Clorídrico

SI Sistema Internacional de Unidades

SLS Selective Laser Sintering

SLA Stereolithography

TL Thermoluminescence

TLD Thermoluminescent Dosimeter

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 17

2.1 ANATOMIA DO OLHO HUMANO E SUA RADIOSENSIBILIDADE............ 17

2.2 MODELO DE REFERÊNCIA PARA O OLHO HUMANO................................ 19

2.3 MÉTODO MONTE CARLO ................................................................................ 22

2.3.1 Código Monte Carlo GEANT4 ........................................................................... 23

2.4 GRANDEZAS DOSIMÉTRICAS......................................................................... 25

2.4.1 Grandezas físicas ................................................................................................. 25

2.4.2 Grandezas de proteção e operacionais ............................................................... 27

2.5 SISTEMAS PARA MONITORAÇÃO DO CRISTALINO .................................. 30

2.5.1 Exposição ocupacional à radiação nas lentes dos olhos ................................... 36

2.6 IMPRESSÃO 3D E SUAS APLICAÇÕES NA ÁREA NUCLEAR .................... 37

2.6.1 Estereolitografia – SLA ....................................................................................... 39

2.6.2 Sinterização seletiva a laser – SLS ..................................................................... 40

2.6.3 Modelagem por Fusão e Deposição – FDM ....................................................... 41

2.6.4 Multijatos –PJET ................................................................................................. 42

2.6.5 Aplicações na área Nuclear ................................................................................. 44

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 48

3.1 MODELAGEM DO PORTA-DOSÍMETRO ........................................................ 48

3.2 SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO NO CÓDIGO GEANT4............................ 52

3.3 IMPRESSÃO 3D E OBTENÇÃO DOS PROTÓTIPOS....................................... 54

3.3.1 Modelagem por Fusão e Deposição – FDM ....................................................... 55

3.3.2 Multijatos – PJET ................................................................................................ 55

3.3.3 Estereolitografia – SLA ....................................................................................... 56

3.3.4 Exatidão e reprodutibilidade do sistema de impressão 3D .............................. 57

3.4 AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA E

ANGULAR ............................................................................................................ 58

3.4.1 Detectores termoluminescentes .......................................................................... 59

3.4.2 Tratamento térmico e determinação do Coeficiente de sensibilidade

individual .............................................................................................................. 60

3.4.3 Leitura .................................................................................................................. 60

3.4.4 Determinação da correção de sensibilidade ...................................................... 62

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

3.4.5 Determinação do Algoritmo ................................................................................ 62

3.4.6 Dependência energética e angular ...................................................................... 63

3.5 APLICAÇÃO CLÍNICA ....................................................................................... 65

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 68

4.1 SIMULAÇÃO DO DOSÍMETROG4 NO CÓDIGO MONTE CARLO

GEANT4 ................................................................................................................ 68

4.2 IMPRESSÃO 3D ................................................................................................... 72

4.2.1 Impressão com Filamento PLA .......................................................................... 72

4.2.2 Impressão Comercial por Multijatos ................................................................. 73

4.2.3 Impressão SLA Desktop ...................................................................................... 76

4.3 DEPENDÊNCIA DA RESPOSTA DO DOSÍMETROG4 COM A ENERGIA

E ÂNGULO DE INCIDÊNCIA DA RADIAÇÃO ............................................... 77

4.3.1 Determinação do Algoritmo ................................................................................ 77

4.3.2 Fator de correção devido à Dependência da Resposta do Dosímetro com a

Energia e a Angulação ......................................................................................... 78

4.4 APLICAÇÃO CLÍNICA DO DOSÍMETROG4 ................................................... 84

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 88

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 89

APÊNDICE A – DOSIMETRIA TERMOLUMINESCENTE ........................ 94

APÊNDICE B – TRABALHOS PRODUZIDOS ............................................ 102

ANEXO A – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DO MATERIAL

ACCURA®-PLASTIC ....................................................................................... 103

ANEXO B – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA RESINA VISIJET® M3 ... 104

ANEXO C – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA RESINA TOUGH ............ 105

ANEXO D – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA RESINA BLACK ............. 106

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

15

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem havido uma crescente preocupação com doses no cristalino

recebidas por indivíduos ocupacionalmente expostos. Baseado em estudos epidemiológicos

sobre o aumento da ocorrência de catarata nos “liquidadores” de Chernobyl, profissionais da

radiologia intervencionista e sobreviventes dos eventos nucleares de Hiroshima e Nagasaki

(WORGUL et al., 2007; CHODICK et al., 2008; CIRAJ-BJELAC et al., 2010; VANO et al.,

2010), a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP – do inglês International

Commisionon Radiation Protection) na publicação 118 reduziu o limiar presumido para reações

teciduais na lente dos olhos de 5,0 Gy para 0,5 Gy. Consequentemente, o limite de dose

ocupacional anual também foi reduzido de 150 mSv para 20 mSv (ICRP, 2012).

Recentemente, foi realizado um estudo por Betti e colaboradores (2019) visando

determinar as doses na lente dos olhos de médicos intervencionistas durante procedimentos de

cateterismo, usando um dosímetro pessoal localizado próximo à região dos olhos. Um total de

15 cardiologistas, trabalhando em três centros diferentes foram monitorados durante 12 meses.

As estimativas da dose anual na lente dos olhos foram: média de 10,8 mSv, faixa entre 4,9 –

27,3 mSv e desvio padrão de 5,6 mSv. Esse estudo mostrou que os cardiologistas envolvidos

nos procedimentos de cateterismo podem receber doses anuais na lente dos olhos próximas ou

superiores ao limite de dose estabelecido pela ICRP 118 (2012) e, portanto, deve-se realizar a

monitoração individual desses profissionais com dosímetro dedicado para esta finalidade.

Dessa forma, proteger e monitorar a lente dos olhos tornou-se uma preocupação atual.

A anatomia do olho humano foi descrita por Charles e Brown (1975) que, em um estudo

realizado em uma população adulta com faixa etária entre 20 e 65 anos, apresentam a geometria

e dimensões da estrutura ocular relevantes para a proteção radiológica. Essa geometria foi

utilizada pela ICRP (2002) que a adotou como valores de referência para uso em proteção

radiológica. Baseado nesse estudo, Behrens et al. (2009) desenvolveram um modelo

computacional tridimensional da estrutura ocular, adotado hoje como modelo de referência,

onde dividem o cristalino em duas regiões: volume sensível e volume insensível à radiação

ionizante.

Com a modelagem cada vez mais realista do globo ocular humano, incluindo a estrutura

interna da lente dos olhos, tornou-se possível realizar cálculos mais precisos dos valores de dose

absorvida no cristalino, através de simulações pelo método de Monte Carlo. Devido à própria

composição e geometria do olho humano, a dose absorvida no cristalino possui uma

dependência intrínseca associada à energia e ângulo de incidência da radiação.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

16

Todo dosímetro, dispositivo utilizado para quantificar a dose absorvida pelo indivíduo

exposto à radiação ionizante, possui sua resposta dependente da energia da radiação e do ângulo

de incidência. Dessa forma, seria possível desenvolver um modelo de dosímetro de cristalino

mais realístico, cuja resposta da dependência energética e angular fosse igual ou próxima da

dependência intrínseca do modelo ocular de referência?

Em paralelo, a manufatura aditiva, comumente conhecida como impressão 3D, é uma

tecnologia de rápido crescimento em várias aplicações. Esse método tem se mostrado uma

alternativa interessante na rotina de trabalho em clínicas de radioterapia, onde a tecnologia de

impressão 3D é empregada na criação de bólus1, usados na radioterapia de elétrons e prótons

(FISHER et al., 2013). A viabilidade da impressão 3D também é observada no desenvolvimento

de fantomas específicos para pacientes submetidos à técnica de Radioterapia com Intensidade

Modulada (IMRT), e os custos na obtenção dos protótipos diminuíram de 10 à 100 vezes,

quando comparados aos métodos comerciais tradicionais. Esses fantomas foram utilizados no

controle de qualidade do planejamento radioterápico (EHLER et al., 2014).

Em aplicações de dosimetria pessoal, Heiny et al. (2016) demonstraram a viabilidade da

utilização da impressão 3D para a obtenção de um dosímetro na forma de anel para monitoração

de extremidades, mas não foram encontrados na literatura o desenvolvimento de dosímetros de

cristalino utilizando essa técnica. Um dos principais pontos fortes dessa tecnologia aplicada à

radioterapia e dosimetria, reside na proximidade entre as densidades dos materiais de impressão

3D e o tecido humano. A utilização dessa metodologia de fabricação permite alta flexibilidade

na criação de um modelo de dosímetro para o cristalino, com dependência energética e angular

adequada.

Portanto, o objetivo deste trabalho foi desenvolver um porta-dosímetro através de técnicas

de impressão 3D, para dosimetria do cristalino, com geometria e dimensões que simulem

apropriadamente as características da dependência energética e angular da dose absorvida na

região mais sensível do cristalino, conforme descrito no modelo antropomórfico tridimensional

de referência da estrutura ocular.

1 O bólus é um material tecido equivalente colocado sobre a pele de um paciente, no feixe primário de radioterapia,

com objetivo de fornecer equilíbrio eletrônico aos elétrons gerados pela radiação, daí trazendo para mais perto da

superfície da pele o ponto de máxima dose absorvida.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

17

2 REVISÃO DE LITERATURA

Nesta seção, versaremos sobre a estrutura anatômica do olho humano e sua

radiosensibilidade, elementos importantes para uma modelagem computacional mais realista e

acurácia na dosimetria da lente dos olhos, conforme proposto por Behrens et al. (2009).

2.1 ANATOMIA DO OLHO HUMANO E SUA RADIOSENSIBILIDADE

A anatomia básica do bulbo ocular humano é constituída de retina (R), córnea (C), humor

aquoso (Ha) e cristalino (CR). Na Figura 1 é ilustrado o bulbo ocular humano através de um

corte sagital. A linha central onde os componentes do olho estão alinhados é chamada de eixo

óptico. A imagem de um objeto é focalizada na retina, devido à refração na córnea e no

cristalino. Um mecanismo de focalização da imagem de objetos, conhecido como acomodação

visual, ocasiona uma variação na forma do cristalino. Essa deformação é promovida pelo corpo

ciliar (Cc) que tem músculos que ajustam a forma do cristalino para obter uma imagem mais

nítida. No espaçamento entre a córnea e o cristalino se encontra a câmara anterior, composta

por uma substância denominada humor aquoso. O corpo ciliar, a coróide (CO) e a íris (I)

formam a úvea, que é uma camada altamente vascularizada responsável pela nutrição do olho

(CHARLES e BROW, 1975).

Figura 1 – Corte sagital do olho humano.

Cr

Ha

C

ICc

Co

R

Eixo Óptico

a

a

a

a

Legenda: Humor aquoso (Ha), Cristalino (Cr), Coróide (Co), Retina (R), Corpo ciliar (Cc), Íris (I) e Córnea (C).

Fonte: Adaptado de CHARLES e BROW (1975)

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

18

O cristalino é um componente especial devido a sua sensibilidade à radiação ionizante.

Em 1929, Rohrschneider (apud CHARLES e BROW, 1975, p. 205) foi o primeiro a relatar

sobre a radiossensibilidade da estrutura ocular, onde listou em ordem decrescente de

sensibilidade cristalino, córnea, úvea e retina. A radiação pode ocasionar a opacidade do

cristalino, e com isso impedir a visão (catarata). A catarata pode ser tratada através da

substituição da lente, mas apenas se o restante da estrutura ocular estiver saudável (CHARLES

e BROW, 1975).

A primeira recomendação da ICRP (1995) no que concerne à dose de radiação no

cristalino sugeriu, para fins de aproximações, considerar uma profundidade efetiva de 3 mm no

tecido. Para o caso de uma distribuição espacial não-uniforme da dose em um órgão, percebeu-

se que a dose média não seria necessariamente o indicativo do potencial dano ao órgão, pois

diferentes estruturas de um mesmo órgão podem apresentar sensibilidades diferentes. Nesses

casos, sugeriu-se que a dose média deveria ser calculada num determinado “volume

significativo” em que a dose foi mais alta, ou seja, no volume mais sensível. Este volume

significativo é composto pelas células localizadas na superfície frontal do cristalino, na região

externa próxima ao equador, como é mostrado na Figura 2 (CHARLES e BROW, 1975).

Figura 2 – Seção transversal do cristalino.

Fonte: Adaptado de CHARLES e BROW, (1975).

Devido à sua geometria e posição a cerca de 3,0 mm de profundidade, o cristalino possui

uma dependência energética e angular associada à radiação (CHARLES e BROW, 1975). As

doses na lente dos olhos não são mensuráveis diretamente e, portanto, um modelo e coeficientes

de conversão necessitam ser utilizados.

núcleos

Córtex Posterior

Anterior

Epitélios

da lente

Equador

Cápsula

da lente Volume

nuclear

adulto

lente

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

19

2.2 MODELO DE REFERÊNCIA PARA O OLHO HUMANO

As principais informações a respeito da geometria do olho humano foram descritas por

Charles e Brown (1975). Os valores médios para as dimensões do olho foram estimados em

uma população adulta com faixa etária entre 20 e 65 anos. Essa geometria é amplamente aceita

e foi adotada pela ICRP (2002).

A geometria, juntamente com as dimensões numéricas, é mostrada na Figura 3. A

distância da superfície até a camada frontal do volume sensível do cristalino varia entre

2,71 mm e 3,70 mm, e o valor médio é 3,35 mm. A espessura do volume sensível varia entre

0 mm e 0,565 mm, e a espessura média é 0,470 mm. A profundidade média de 3,35 mm do

volume sensível do cristalino é próxima ao valor de 3,0 mm definido pela ICRU (1985) como

sendo a profundidade apropriada para definição da grandeza operacional Equivalente de Dose

Pessoal, Hp(3), para avaliação da dose no cristalino.

Em 2009, Behrens et al. desenvolveram um modelo computacional mais realístico do

olho humano, incluindo suas estruturas internas para cálculos mais precisos dos valores de dose

no cristalino, hoje adotado como modelo de referência.

Na Figura 4, é mostrado o modelo realístico tridimensional da geometria ocular. Para as

substâncias de diferentes densidades foram usadas cores distintas, referentes à Tabela 1.

As composições adotadas para os tecidos são mostradas na Tabela 1. A espessura de

tecido equivalente da superfície até o volume sensível do cristalino varia entre 2,80 mm e

3,82 mm, com valor médio de 3,36 mm, e a espessura do volume sensível varia entre 0 mm e

0,595 mm, com valor médio de 0,495 mm (BEHRENS et al., 2009).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

20

Figura 3 – Geometria do olho usada por BEHRENS et al. (2009) para criação do modelo de referência.

Fonte: Adaptado de BEHRENS et al., (2009).

Figura 4 – Visão tridimensional do modelo de referência do olho humano.

Fonte: BEHRENS et al. (2009).

2,76 mm

CORNEA

ANTERIOR

CHAMBER

VITREOUS

BODY

LENS - SENSITIVE

LENS - INSENSITIVE

5,1

2 m

m

0,59 mm

LENS EQUATOR

4,16 mm

Humor

vítreo

Equador da lente

Lente - Insensível

Lente - Sensível

Córnea

Humor

aquoso

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

21

Tabela 1 – Composição e densidade das substâncias usadas no modelo computacional de

BEHRENS et al., (2009).

Cores usadas na

Figura 4

Pele Cristalino

Parte sensível

Córnea Humor

Aquoso

Humor

Vítreo

Densidade (g/cm3) 1,09 1,06 1,076 1,003 1,0089

Elemento Fração de massa (%)

H 10,0 9,6 10,16 11,2 11,2

C 20,4 19,5 12,62

N 4,2 5,7 3,69

O 64,5 64,6 73,14 88,8 88,8

Na 0,2 0,1 0,065

P 0,1 0,1 0,065

S 0,2 0,3 0,195

Cl 0,3 0,1 0,065

K 0,1

Fonte: BEHRENS et al. (2009).

Behrens e Dietze (2011) adicionaram o modelo de referência do olho (BEHRENS et al.,

2009) em um modelo de corpo inteiro, para calcular os coeficientes de conversão de Fluência

(e kerma no ar) para Equivalente de Dose Pessoal no cristalino, Hp(3), em campos de radiação

de fótons com energia na faixa de 5 keV à 10 MeV. A geometria da cabeça e do corpo foi

baseada em Kramer et al. (1982). Para representar ambos os sexos, foram utilizados os valores

médios das dimensões dos fantomas ADAM e EVA (KRAMER et al., 1982). Na Figura 5, é

mostrada a geometria computacional em três dimensões do modelo, onde a cabeça e o corpo

são utilizados para simular as propriedades de absorção e espalhamento da radiação. O material

escolhido para a composição desse modelo foi o tecido padrão ICRU 4-elementos, com

densidade de 1 g/cm3 e uma composição mássica de 76,2% Oxigênio, 11,1% Carbono, 10,1%

Hidrogênio e 2,6% Nitrogênio (BEHRENS e DIETZE, 2011).

O resultado da simulação computacional é analisado em função da energia da radiação,

como exemplificado na Figura 6, para o cristalino exposto a feixe de fótons, onde é possível

concluir que radiações com energias menores do que aproximadamente 0,02 MeV são

absorvidas parcialmente na córnea e humor aquoso e representam menor risco ao cristalino que

àquelas com energia em torno de 0,1 MeV. A dose absorvida pelo cristalino quando irradiado

na incidência AP (ântero-posterior) é diferente do resultado referente à incidência LAT (lateral),

e isso mostra a dependência angular intrínseca do olho humano.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

22

Figura 5 – Geometria do fantoma de corpo inteiro usado nas simulações de Monte Carlo.

Fonte: BEHRENS e DIETZE (2011).

Figura 6 – Resultado típico de uma Simulação de Monte Carlo do cristalino.

Fonte: Adaptado de BEHRENS e DIETZE (2011).

2.3 MÉTODO MONTE CARLO

Através do modelo de referência para o olho humano, o método de Monte Carlo (MC)

pode ser utilizado para determinar fatores de conversão entre uma grandeza específica (ex.:

Hp(3)) e um valor mensurável, para diferentes energias e ângulos de incidência da radiação.

O método de MC combina conceitos estatísticos com a geração de números randômicos.

O método faz uso da estatística para representar, mediante experimentos probabilísticos, o

comportamento de sistemas reais. O processo estocástico que ocorre no transporte da radiação

na matéria pode ser visto como um conjunto de partículas cujas coordenadas individuais mudam

aleatoriamente em cada colisão (CASSOLA, 2007; MALTHEZ, 2011).

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0 Modelo de Referência AP (0°)

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

Modelo de Referência LAT (90°)

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

23

Para simular o transporte da radiação na matéria com o método Monte Carlo é necessário

a combinação de dois componentes:

i) as leis físicas que descrevem o livre caminho médio da radiação e os mecanismos de

interação da radiação com a matéria; e

ii) números aleatórios uniformes sorteados no intervalo entre 0 e 1.

Uma série de eventos consecutivos é gerada aleatoriamente, onde a partícula primária é

simulada através de parâmetros como: o tipo de partícula, sua posição, energia e direção de

propagação. O mecanismo de interação é escolhido aleatoriamente, considerando as

probabilidades de ocorrência estimadas através do número atômico do material e energia da

radiação, ou seja, suas seções de choque (CASSOLA, 2007).

Atualmente existem vários códigos de transporte de partículas utilizando o método de

MC, desenvolvidos e adaptados para análise e simulação do comportamento da radiação

ionizante em aplicações médicas. Entre os mais utilizados podemos incluir o EGS (Electron

Gamma Shower), o MCNP (Monte Carlo Neutron Photon Transport Code), o PENELOPE

(Penetration and Energy Loss of Positrons and Electrons) e o GEANT4 (Geometry and

Tracking 4).

Para o desenvolvimento desse trabalho, foi selecionado o código GEANT4, pelo fato de

possuir grandes vantagens, como: código fonte aberto e gratuito; lida com todos os tipos de

partículas; geometrias complexas; e é baseado em linguagem orientada ao objeto, o que lhe

confere grande flexibilidade e reuso.

2.3.1 Código Monte Carlo GEANT4

O Código GEANT4 é um conjunto de ferramentas computacionais, chamado de toolkit,

que utiliza linguagem de programação orientada a objeto para a simulação do transporte de

partículas através da matéria. Distribuído gratuitamente pelo CERN (European Organization

for Nuclear Research), era utilizado inicialmente para aplicações de alta energia, porém,

atualmente é utilizado em áreas que compreendem desde astrofísica até Física Médica, com

energias de 250 eV até 100 TeV (BOSCHETTI, 2013).

Devido à modularidade do código, seus usuários podem instalar, usar e modificar os

componentes de interesse de acordo com o problema a ser tratado. No toolkit do GEANT4 têm

sido incorporados diversos processos físicos, tais como: Efeito Rayleigh; Efeito Fotoelétrico;

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

24

Efeito Compton; Produção de Pares; Efeito Auger; Bremsstrahlung; Aniquilação de pósitrons;

e múltiplos espalhamentos que permitem seu uso em Física Médica, por exemplo em:

-Caracterização de máquinas e fontes, como Aceleradores Lineares e fontes de

braquiterapia;

-Planejamento de tratamento radioterápico e;

-Cálculo de dose em procedimentos, por exemplo: Tomografia Computadorizada (TC) e

Radiografia de tórax.

No cálculo da dose de radiação absorvida, as simulações do transporte da radiação na

matéria tornaram-se ferramentas muito úteis na área médica, especialmente em radioterapia e

dosimetria, onde é possível estimar a dose absorvida em volumes específicos. Mas, antes de

qualquer método específico de Monte Carlo ser aplicado é necessário que este passe por um

processo conhecido como validação, ou seja, os resultados obtidos com um determinado

método são confrontados com resultados experimentais, calculados para situações simples

através de meios analíticos, ou com resultados obtidos através de outros métodos amplamente

testados (MALTHEZ, 2011; BOSCHETTI, 2013).

A dose absorvida média pela Fluência dos fótons no cristalino pode ser determinada

utilizando o código Monte Carlo através da determinação entre a razão da dose pela fluência.

Esse fator pode ser calculado para diferentes partes do cristalino: volume sensível; volume

insensível; e toda a lente, para a incidência de fótons monoenergéticos, com o fantoma no vácuo

e feixes paralelos de radiação grandes o suficiente para irradiar a cabeça e o tronco, quando o

modelo inclui estes elementos, como é o caso de um fantoma de corpo inteiro.

Com a simulação pelo método de MC é possível calcular a energia depositada por cada

partícula Edep/N nas diferentes regiões da geometria do modelo de referência do olho humano.

BEHRENS e DIETZE (2011) utilizaram a Equação 1 para obter a razão entre as grandezas

Equivalente de Dose e Fluência incidente, HT/:

𝐇𝐓

∅=

𝐄𝐝𝐞𝐩

𝐍.

𝐀

𝐦. 𝒘𝐑 (1)

onde, A é a área da sessão de choque do feixe de radiação incidente, m é a massa da região

correspondente, e wR é o fator de ponderação da radiação (para fótons, wR = 1). Os coeficientes

de conversão de kerma no ar para Equivalente de Dose foram calculados usando a Equação 2:

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

25

𝐇𝐓

𝐊𝐚=

𝐇𝐓 ∅⁄

𝐊𝐚 ∅⁄ (2)

onde HT/ é o equivalente de dose pela fluência incidente, Ka/ é o kerma no ar incidente pela

Fluência dos fótons.

2.4 GRANDEZAS DOSIMÉTRICAS

Para estabelecer os princípios e os sistemas de proteção radiológica aplicados à proteção

do cristalino, são necessárias grandezas dosimétricas para quantificar tanto a exposição externa

como a exposição interna de seres humanos à radiação e relacionar às grandezas operacionais

específicas para proteção do trabalhador.

As grandezas estão separadas em três principais categorias:

(a) Grandezas físicas – caracterizam o campo de radiação;

(b) Grandezas de proteção–especificadas no corpo humano, estabelecem limites de

exposição à radiação, mas não podem ser medidas com nenhum equipamento;

(c) Grandezas operacionais – introduzidas para monitoração de área e monitoração

individual, correlacionam-se com as respostas de instrumentos e de dosímetros após

calibração.

A ICRU e ICRP, a partir de 1985, apresentaram as duas últimas categorias de grandezas

especialmente para uso em proteção radiológica. Ambas as comissões se reúnem regularmente

e publicam novas normas e/ou atualizam outras já existentes.

2.4.1 Grandezas físicas

A grandeza exposição, simbolizada por X, é válida apenas para fótons (raios X e gama)

interagindo no ar. Ela caracteriza um feixe de raios X ou gama e fornece a capacidade de fótons

ionizarem o ar. Dessa forma, exposição é definida como a razão entre dQ e dm, onde dQ é o

valor absoluto da carga total de íons de mesmo sinal, produzidos no ar, quando todas as

partículas carregadas (elétrons e pósitrons) liberadas ou criadas por fótons, num elemento de

volume de ar cuja massa é dm, forem completamente freadas no ar. Portanto, a grandeza

exposição X é expressa conforme a equação (ATTIX, 1986):

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

26

X = 𝒅𝑸

𝒅𝒎 (3)

A unidade de exposição é expressa em C/(kg de ar).

A fluência, por definição, fornece o valor esperado do número de partículas, N, que

atravessa um volume ao redor de um ponto P, durante um intervalo de tempo t. Se esse volume

for reduzido a um círculo infinitesimal de área da, a grandeza fluência, Ф, pode ser calculada

conforme a equação (ATTIX, 1986):

Ф = 𝒅𝑵

𝒅𝒂 (4)

A unidade de fluência é expressa em m-2 ou cm-2.

Uma forma simples de descrever o campo de radiação considerando individualmente as

energias das partículas é através da grandeza fluência energética, Ψ, onde as energias de todas

as partículas são somadas. Seja R o valor esperado da energia total transportada por todas as N

partículas que atravessam uma área infinitesimal da em torno de um ponto P, durante um

intervalo de tempo t. Desta forma, a fluência energética, Ψ, é definida como o quociente de R

por da, como mostra a equação 5 (ATTIX, 1986):

Ψ = 𝒅𝑹

𝒅𝒂 (5)

onde geralmente é expressa em unidades de J.m-2.

O kerma é uma grandeza utilizada para descrever interações do campo de radiação com

a matéria. Essa grandeza descreve a primeira etapa de dissipação de energia da radiação

indiretamente ionizante (Ex: fótons, nêutrons), que é a transferência de energia para partículas

carregadas do meio. O kerma, K, pode ser definido como a energia transferida para elétrons do

meio por unidade de massa dm em um ponto de interesse (ATTIX, 1986), de acordo com a

equação 6:

K = 𝒅𝜺𝒕𝒓

𝒅𝒎 (6)

onde dεtr é o valor esperado da energia transferida para um volume infinitesimal de massa dm,

em um ponto P.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

27

Portanto, o kerma é o valor esperado da energia transferida para partículas carregadas por

unidade de massa em um ponto de interesse, excluindo a energia passada de partícula carregada

para outra.

O kerma é expresso em termos da unidade J/kg, chamada de gray (Gy).

2.4.2 Grandezas de proteção e operacionais

O sistema de limitação de dose é estabelecido para indivíduos ocupacionalmente expostos

(IOE) ou para indivíduos do público de modo que os efeitos determinísticos da radiação sejam

evitados, e a probabilidade de ocorrência de efeitos estocásticos seja reduzida a níveis

aceitáveis. Dentre as grandezas definidas pela ICRU (ICRU, 1985; ICRU, 1992), aquela

considerada mais importante em radiobiologia e para fins dosimétricos é a dose absorvida, pois

está intimamente ligada a danos biológicos.

A dose absorvida, D, por definição, é a medida da energia média depositada dε pela

radiação em um volume elementar de massa dm, como mostra a equação 7 (ATTIX, 1986).

D = 𝒅𝜺

𝒅𝒎 (7)

A unidade de dose absorvida é joule por quilograma (J/kg), que recebe o nome especial

de gray (Gy) no Sistema Internacional (SI).

A correlação entre os efeitos provocados pela deposição de energia em tecido e órgãos e

a dose absorvida é uma função complexa que envolve, além da própria dose, outros fatores

como o tipo do tecido ou órgão considerado e a qualidade da radiação envolvida no processo.

Assim, uma dada dose absorvida pode resultar em diferentes níveis de danos biológicos

dependendo do tipo de radiação (OKUNO e YOSHIMURA, 2014).

Por isso, foram definidas grandezas específicas para a proteção do IOE: Dose Equivalente

e Dose Efetiva. Essas grandezas levam em consideração, respectivamente, o tipo de radiação e

o órgão ou tecido irradiado (OKUNO e YOSHIMURA, 2014).

A Dose Equivalente em um tecido ou órgão (HT,R) é definida como sendo o produto da

dose absorvida média em um tecido ou orgão (DT,R), por um fator de ponderação da radiação,

wR, para cada tipo de radiação (TURNER, 2007), conforme mostra a equação 8:

HT,R =∑ wR. DT, (8)

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

28

Essa grandeza é usada para limitar a exposição no cristalino, na pele, nas mãos e nos pés

e, também, para o cálculo da dose efetiva.

Os valores de wR especificados pela ICRP-103 (2007) são mostrados na Tabela 2.

Tabela 2 – Fatores de Ponderação da Radiação recomendados pela ICRP-103 (2007).

Tipo de Radiação wR

Fótons 1

Elétrons e múons 1

Nêutrons Função contínua definida na Eq. 4.3 da ICRP-103

Prótons 2

Partículas α, fragmentos de fissão e 20

Núcleos pesados

Fonte: ICRP (2007).

Para fótons e elétrons o valor do wR é igual a um, tornando a dose equivalente

numericamente igual à dose absorvida. No SI, a unidade de HT,R é o J/kg, e há a recomendação

de se utilizar o sievert (Sv), de modo que (TURNER, 2007):

1 Sv = 1 J/kg

A dose equivalente não leva em consideração a radiossensibilidade de um dado tecido ou

órgão à radiação. Sendo assim, fatores de ponderação dos tecidos foram definidos de tal modo

a permitir essa comparação. A dose efetiva, E, foi definida como sendo a soma ponderada das

doses equivalentes nos órgãos. A unidade no SI é o sievert (TURNER, 2007):

E =∑wT.HT,R (9)

onde HT,R é a Dose Equivalente, e wT é o fator de ponderação para o tecido ou órgão T. Cada

tecido ou órgão do corpo humano responde de maneira diferente às radiações ionizantes. Os

valores de wT especificados pela ICRP-103 (2007) são mostrados na Tabela 3.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

29

Tabela 3 – Fatores de Ponderação para Tecido/Órgão (ICRP-103, 2007).

Tecido ou órgão wT ∑wT

Gônadas

Medula óssea, pulmão, estômago, mama

Bexiga, esôfago, fígado e tireóide

Superfície óssea, cérebro, glândulas salivares, pele

Restante*

0,08

0,12

0,04

0,01

0,08

0,60

0,16

0,04

0,12*

Total 1,00

* Inclui região torácica, vesícula biliar, coração, rins, músculos, mucosa oral, pâncreas, próstata, intestino

delgado, baço, timo, útero/colo do útero.

Fonte: ICRP-103 (2007).

Como a Dose Efetiva não é diretamente mensurável, a ICRU definiu nas publicações

ICRU 39 (1985) e ICRU 59 (1992), as grandezas operacionais Equivalente de Dose, Hp(d).

As grandezas Equivalente de Dose dividem-se em: Equivalente de Dose Pessoal e

Ambiental. Para monitoração de área em ambientes de trabalho são recomendadas as grandezas

H*(d). Na monitoração individual, foram propostos os Equivalentes de Dose Pessoal Hp(d),

que corresponde à dose absorvida no tecido mole em um ponto específico do corpo na

profundidade d (OKUNO e YOSHIMURA, 2014).

Para a verificação do cumprimento das recomendações no tocante aos limites de dose,

deve ser usado: Hp(10) como a melhor estimativa da dose efetiva por dosímetros de corpo

inteiro; Hp(0,07) para estimativa de dose equivalente na pele e extremidades; e Hp(3) para

estimativa da dose equivalente no cristalino (OKUNO e YOSHIMURA, 2014).

O valor de Hp(d) é obtido por meio do monitor individual que o IOE utiliza no local do

corpo representativo à exposição. Na rotina, a dose é acumulada durante um mês para posterior

processamento do dosímetro. A unidade de Hp(d) no SI também é o sievert (Sv). É

recomendado que qualquer estimativa da grandeza Equivalente de Dose Pessoal deva incluir

uma especificação da profundidade de referência d (ICRU, 1985).

A exposição normal dos indivíduos deve ser restringida de tal modo que nem a dose

efetiva nem a dose equivalente nos órgãos ou tecidos de interesse excedam os limites

especificados. No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) estabelece esses

limites de doses anuais que não devem ser ultrapassados, conforme mostrado na Tabela 4.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

30

Tabela 4 – Limites de Dose Anuais.

Grandeza Tecido ou Órgão IOE Indivíduo do Público

Dose Efetiva Corpo inteiro 20 mSv[a] 1 mSv

Dose Equivalente

Cristalino 20 mSv[a] 15 mSv

Pele 500 mSv 50 mSv

Mãos e pés 500 mSv ---

[a] Média aritmética em 5 anos consecutivos, desde que não exceda 50 mSv em qualquer ano.

Fonte: CNEN (2011).

2.5 SISTEMAS PARA MONITORAÇÃO DO CRISTALINO

Um dosímetro construído para monitoração do cristalino é composto de basicamente: (a)

um elemento detector, ex.: dosímetro termoluminescente ou opticamente estimulado; e (b) um

porta-dosímetro com geometria e filtração apropriada. Os dosímetros termoluminescentes, que

serão empregados neste trabalho, são discutidos no Apêndice A. A seguir são descritos os

dosímetros comerciais disponíveis atualmente para dosimetria do cristalino.

Em 2008, a Comissão Européia de Energia Atômica financiou a criação do projeto de

otimização da proteção radiológica para a equipe médica, ORAMED (do inglês, Optimization

of Radiation Protection for Medical staff), que visou desenvolver metodologias para melhor

avaliar e reduzir a exposição da equipe médica em procedimentos com alto potencial de dose

de radiação, como radiologia intervencionista e medicina nuclear. Um consórcio entre 12

instituições de 9 países europeus, incluindo institutos de pesquisa, laboratórios de metrologia,

órgãos reguladores, hospitais e fabricantes, é o responsável pelo projeto.

A primeira etapa do projeto tinha como objetivo estudar os parâmetros que influenciam

as doses de radiação nas extremidades e lentes dos olhos para a equipe médica em

procedimentos intervencionistas. Na segunda etapa, o objetivo foi desenvolver uma prática de

monitoração individual de doses no cristalino em profissionais da radiologia intervencionista,

mediante um estudo teórico da grandeza operacional Hp(3) para a sua implementação.

Um ano depois, Mariotti e Gualdrini (2009) apresentaram novos elementos da grandeza

operacional Hp(3), através da discussão sobre os coeficientes de conversão da grandeza kerma

no ar para Equivalente de dose pessoal disponíveis na época. Esses coeficientes eram calculados

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

31

empregando simulação de Monte Carlo em um fantoma SLAB1 de 30x30x15 cm3 para várias

energias e ângulos, e a dependência angular devido à sua geometria reduz sua aplicabilidade

(MARIOTTI e GUALDRINI, 2009). Esse mesmo fantoma era sugerido pela norma ISO 12974

(2000) para calibração de dosímetros pessoais em termos de Hp(3). Neste estudo, foi proposto

um fantoma teórico mais adequado (e um modelo físico correspondente para os procedimentos

de calibração) para melhor se aproximar das características de espalhamento e absorção da

cabeça. Foi simulado um fantoma cilíndrico de 20 cm de diâmetro e 20 cm de altura composto

por tecido ICRU, que significa uma composição: 10,1% de Hidrogênio, 11,1% de Carbono,

2,6% de Nitrogênio e 76,2% de Oxigênio, e densidade mássica de 1,0 g.cm-3, como mostra a

Figura 7 (a). Os novos coeficientes de conversão foram calculados através do código Monte

Carlo MCNP-4, utilizado para simular as interações dos fótons com o fantoma cilíndrico,

usando uma fonte plana de fótons monoenergéticos de 10 keV até 10 MeV. Para os

procedimentos de calibração, foi desenvolvido um fantoma cilíndrico de PMMA

(polimetilmetacrilado) com as mesmas dimensões externas do modelo teórico e preenchido com

água. Para esse fantoma experimental, as simulações de Monte Carlo permitiram determinar as

características de retroespalhamento para fótons monoenergéticos com o uso da série completa

de espectro ISO-N, que é sugerida na norma ISO 4037-1 (1999) para calibrações de monitores

individuais. Na Figura 7 (b) é mostrado o fantoma cilíndrico de cabeça, considerado o melhor

substituto para a cabeça em situação real (MARIOTTI e GUALDRINI, 2009).

Figura 7 – (a) Fantoma cilíndrico teórico, (b) Fantoma cilíndrico experimental.

Fonte: MARIOTTI e GUALDRINI, (2009).

1 Fantoma SLAB: Preenchido com água, é utilizado para calibração dos dosímetros de corpo inteiro. Ele representa

o tronco humano no que diz respeito ao espalhamento da radiação incidente.

(a) (b)

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

32

Gualdrini et al. (2011) desenvolveram o primeiro protótipo de um dosímetro pessoal para

responder em termos da grandeza operacional Hp(3), como mostra a Figura 8. Na escolha do

material mais adequado para o suporte do dosímetro termoluminescente (TLD), foram levados

em consideração vários polímeros disponíveis: Poliuretano; PMMA; Poliamido; e Polivinil

Clorídrico (PVC).

Figura 8 – Esboço do Protótipo do Dosímetro EYE-DTM

Fonte: GUALDRINI et al., (2011).

O protótipo final escolhido consistia em um TLD do tipo MCP-N (LiF:Mg,Cu,P) e uma

cápsula de Poliamido. A dependência energética para fótons foi calculada por simulação de

Monte Carlo, com o uso da série de espectro ISO-N, e normalizada para a resposta do Cs137. A

validação do protótipo foi realizada através da comparação entre os resultados da simulação e

das irradiações experimentais. Para isso, foram utilizadas as Qualidades de Radioproteção ISO

N-30, N-80 e N-120. Os resultados foram satisfatórios, mostrando uma variação de ± 30% na

resposta da dependência energética quando normalizada para a resposta do Cs137 (GUALDRINI

et al., 2011).

Bilski e colaboradores (2011) também participaram da segunda etapa do projeto

ORAMED, cujo objetivo foi desenvolver o primeiro dosímetro dedicado especialmente para

medidas da grandeza operacional Hp(3). O dosímetro EYE-DTM, mostrado na Figura 9, é a

versão final do protótipo iniciado por Gualdrini et al. (2011). É composto pelo detector

termoluminescente MCP-N (LiF:Mg,Cu,P), com 4,5 mm de diâmetro e 0,9 mm de espessura,

além de uma cápsula de Poliamido com 3 mm de espessura, e tendo a forma de um hemisfério

oco para garantir a melhor resposta energética e angular.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

33

Figura 9 – Dosímetro EYE-DTM.

Fonte: BILSKI et al., (2011).

Tanto o detector MCP-N quanto o MTS-N (LiF:Mg,Ti) foram considerados para a

aplicação na dosimetria do cristalino, mas o MTS-N exibe uma dependência energética para

fótons maior, quando comparada ao MCP-N. O Poliamido tem densidade de 1,13 g.cm-3, que

é superior à do tecido mole humano, mas o aumento da filtração de fótons de baixa energia pelo

Poliamido foi compensado pela maior resposta do MCP-N para essa região energética (na faixa

de 30 – 60 keV). Para os testes experimentais, os modelos de cápsulas foram fabricados usando

máquinas com tecnologias de corte para Poliamido. O dosímetro foi projetado para uso em

definitivo e permite esterilização. Para as medidas experimentais, os dosímetros foram

irradiados com raios-X sobre o fantoma cilíndrico de 20 cm x 20 cm preenchido com água.

Quando comparados, os resultados experimentais e cálculos Monte Carlo para a resposta

energética e angular de fótons produziram resultados com variação de ± 20 %, quando

normalizado para a resposta do Cs137 (BILSKI et al., 2011). O dosímetro EYE-DTM é hoje

produzido e disponibilizado comercialmente pela empresa RADCARD.

Gilvin et al. (2013) testaram um novo dosímetro para monitoração de dose nas lentes dos

olhos em termos da grandeza Hp(3), mostrado na Figura 10. O TLD utilizado foi o EXTRADTM

(LiF:Mg,Cu,P) juntamente com um filtro de PTFE – (Politetrafluoretileno), com 1,5 mm de

espessura. Esse mesmo dosímetro é utilizado para medidas de dose nas extremidades. O PTFE,

de densidade aproximadamente igual a 2,2 g.cm-3, é um substituto do tecido que permite um

filtro mais fino. Nesse caso, a filtração é equivalente a 3,3 mm do tecido, aproximando-se da

definição da grandeza Hp(3).

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

34

Figura 10 – Dosímetro de faixa sobre o fantoma cilíndrico.

Fonte: GILVIN et al., (2013).

O TLD EXTRADTM e o filtro de PTFE são selados juntos em um pacote de PVC, onde a

parte de PVC é presa na cabeça com um faixa de velcro. A faixa é grande o suficiente para o

uso em vários tamanhos de cabeça, no entanto, não permite esterilização e apenas o TLD e o

filtro são reutilizáveis. As irradiações foram realizadas sobre o fantoma cilíndrico, seguindo as

especificações da ISO 4037-3 (1999) para radiação X. Para a obtenção da dependência

energética para fótons, foram escolhidas as qualidades de radioproteção ISO N-20, N-40 e

N-100. Para a dependência angular dos fótons, foram utilizados o espectro ISO W-80 e os

ângulos de incidência 0°, ± 20°, ± 40° e ± 60° (GILVIN et al., 2013).

Em 2016, Behrens et al. (2016) realizaram uma avaliação comparativa dos dosímetros

comerciais que são utilizados para estimar dose absorvida no cristalino em termos da grandeza

operacional Hp(3). Pela primeira vez, além da radiação de fótons, foi incluída a radiação beta

no estudo. No total, foram analisados 13 diferentes tipos de dosímetros: três tipos de dosímetros

desenvolvidos para estimar dose em termos da grandeza Hp(3) e dez para a grandeza Hp(0,07)

fizeram parte da intercomparação. As irradiações foram realizadas no Laboratório Primário

PTB (do alemão, Physikalisch Technische Bundesanstalt), sob um fantoma cilíndrico de 20 cm

x 20 cm. Para radiação de fótons foi escolhida a qualidade de radiação H-80 (57 keV), além da

fonte gama de Cs137 (662 keV). Foram utilizadas três qualidades de radiação beta: Kr85

(0,25 MeV), Sr90/Y90 (0,81 MeV) e Ru106/Rh106 (1,16 MeV). O ângulo de incidência da radiação

variou entre 0° e 75°.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

35

A resposta relativa, R, foi obtida pela razão da média dos valores indicados pelos

dosímetros, Gm, pelo respectivo valor verdadeiro, Hp(3).

R = 𝐆𝐦

𝐇𝐩(𝟑) (10)

A Figura 11 mostra os resultados da intercomparação, onde as três linhas em negrito

representam a resposta dos dosímetros desenvolvidos para a grandeza Hp(3).

O estudo indica que os dosímetros desenvolvidos para a grandeza operacional Hp(0,07)

e calibrados em termos de Hp(3) podem ser utilizados para estimar a dose na lente dos olhos,

em campos de radiação composto por fótons, uma vez que apresentam resposta relativa R

próxima do valor um. Já em campos de radiação beta, observa-se que esses dosímetros super-

estimam a resposta, no caso mais extremo por um fator de 5000, indicando performance

insatisfatória. Para a radiação beta, apenas os dosímetros desenvolvidos e calibrados para a

grandeza operacional Hp(3) obtiveram resultado adequado, ou seja, resposta relativa R próxima

do valor um. Portanto, os dosímetros caracterizados para Hp(0,07) não podem ser usados como

Hp(3) para monitoração em campo de radiação beta (BEHRENS et al., 2016).

Figura 11 – Resposta relativa para os diferentes tipos de dosímetros.

Fonte: Adaptado de BEHRENS et al., (2016).

Resp

ost

a r

ela

tiva R

Condição de irradiação

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

36

2.5.1 Exposição ocupacional à radiação nas lentes dos olhos

Na literatura, é possível encontrar vários estudos recentes sobre monitoração ocupacional

de equipes médicas em diversos tipos de procedimentos intervencionistas radioguiados. Vano

et al. (2016) realizaram uma comparação entre os valores de dose na lente dos olhos encontrados

em procedimentos de urologia intervencionista, neurorradiologia, cardiologia e cirurgia

vascular. As medidas foram feitas com dosímetros opticamente estimulados (OSLD’s) passivos

posicionados no lado direito, esquerdo e na região frontal dos óculos plumbífero dos

profissionais. Os valores de dose ocupacional correspondentes à mediana e 3° quartil para o

médico principal nos procedimentos de nefrolitotripsia em urologia foram de: 394 e 848 µSv

por procedimento para o lado direito, que nesse tipo de procedimento, é o lado mais exposto à

radiação espalhada pelo paciente. Os valores medianos da dose por procedimento encontrados

para urologistas resultaram em 20,7 vezes maiores do que os medidos para neurorradiologistas,

18,7 vezes maiores que monitorado em cardiologistas que trabalham com proteção adequada

(usando visor suspenso) e 4,2 vezes superiores aos valores medidos para cirurgiões vasculares

na mesma instituição. Os autores recomendam que pelo menos o cirurgião principal use óculos

de proteção durante os procedimentos de urologia intervencionista (VANO et al., 2016).

No mesmo ano, Garzón e colaboradores (2016) avaliaram as doses de radiação recebidas

por radiologistas intervencionistas na região da lente dos olhos durante procedimentos de

embolização da artéria prostática – PAE (do inglês, Prostatic artery embolization). Para

determinar os valores de dose, foram utilizados dosímetros termoluminescentes do tipo

LiF: Mg, Ti (TLD-100) calibrados em termos da grandeza operacional Hp(3) com feixe de raios

X e qualidade da radiação ISO N-80. Os TLD’s foram encapsulados aos pares em pacotes

plásticos (1,4 cm x 1,4 cm) e posicionados no médico nas seguintes regiões: sobrancelha direita,

sobrancelha esquerda e região da glabela. Os valores médios de Hp(3) encontrados por

procedimento em cada posição foram de: 478 µSv na sobrancelha esquerda; 441 µSv na região

da glabela; e 196 µSv na sobrancelha direita. Pode-se concluir que, em procedimentos

intervencionistas complexos, tal como PAE, com apenas um procedimento desse tipo por

semana, o limite de dose anual de 20 mSv proposto pela ICRP (2012) para a lente dos olhos

pode ser alcançado. O médico poderia atingir esse valor caso não utilizasse corretamente o visor

suspenso e/ou óculos plumbífero. Os altos valores de dose no lado esquerdo do médico ocorrem

devido ao posicionamento do tubo de raios X à sua esquerda (GARZÓN et al., 2016).

Estudos em procedimentos de Cardiologia Intervencionista também mostram a

importância da dosimetria na lente dos olhos desses profissionais, que podem estar expostos a

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

37

valores de dose significativos para proteção radiológica. Matsubara e colaboradores (2017)

determinaram as doses na lente dos olhos de 48 médicos cardiologistas, usando OSLD’s

posicionados próximo à região dos olhos. Os valores para a média e faixa anual de Hp(3) foram

de 5,73 (0,14 – 33,30) mSv. Thrapsanioti et al. (2017) realizaram a monitoração de 44

cardiologistas intervencionistas (CI’s), usando TLD’s próximo aos olhos. As doses médias na

região das lentes dos olhos dos CI’s foram de: 0,83 ± 0,59 mSv/mês para o olho esquerdo e

0,35 ± 0,38 mSv/mês para o olho direito. Novamente, os autores recomendam o uso de

equipamentos de proteção nesse tipo de procedimento.

Ainda sobre Cardiologia intervencionista, Struelens et al. (2018) descreveram um método

retrospectivo de cálculo de dose na lente dos olhos aplicado em um estudo epidemiológico

europeu sobre opacidade radioinduzida entre CI’s. O estudo retrospectivo foi baseado em toda

a distribuição de dados disponíveis na literatura sobre as doses na lente dos olhos medidas em

procedimentos cardíacos radioguiados, onde cerca de 82 estudos foram analisados, resultando

em 421 cardiologistas monitorados. Os valores médios da dose acumulada na lente dos olhos

foram de: 151 mSv para o olho esquerdo e 114 mSv para o olho direito, de acordo com o registro

de dose individual de cada cardiologista ao longo da carreira de trabalho (STRUELENS et al.,

2018).

Recentemente, foi realizado um estudo por Betti e colaboradores (2019) visando

determinar as doses na lente dos olhos de médicos intervencionistas durante procedimentos de

cateterismo, usando um dosímetro pessoal localizado próximo à lente dos olhos. Um total de

15 cardiologistas, trabalhando em três centros diferentes foram monitorados durante 12 meses.

As estimativas da dose anual na lente dos olhos foram: média de 10,8 mSv, faixa entre 4,9 –

27,3 mSv e desvio padrão de 5,6 mSv. As incertezas estão entre 10% e 20% dos valores

medidos. Além disso, não houve correlação significativa entre a dose na lente dos olhos e os

valores da grandeza produto kerma no ar-área (Pka). Esse estudo mostrou que os cardiologistas

envolvidos nos procedimentos de cateterismo podem receber doses anuais na lente dos olhos

próximas ou superiores ao limite de dose estabelecido pela ICRP 118 (2012) e, portanto, deve-

se realizar a monitoração individual desses profissionais com dosímetro dedicado para essa

finalidade (BETTI et al., 2019).

2.6 IMPRESSÃO 3D E SUAS APLICAÇÕES NA ÁREA NUCLEAR

A manufatura aditiva, comumente conhecida por impressão 3D, é um grupo de

tecnologias que permite construir modelos físicos tridimensionais a partir de um desenho

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

38

assistido por computador, CAD (do inglês, Computer Aided Design), de forma rápida e precisa.

Os modelos físicos são construídos por meio da união gradativa de material, camada por

camada, até que a elaboração da peça seja finalizada (BRUDER, 2015; WANG et al., 2017).

A motivação para o aprimoramento de técnicas de manufatura aditiva foi a rapidez e baixo

custo no desenvolvimento de novos produtos, fornecendo a possibilidade de criar protótipos

físicos, quando necessários para a validação de novos projetos. Assim, qualquer alteração ou

correção no projeto poderia ser facilmente realizada em fases precoces no desenvolvimento de

produtos, permitindo uma maior confiança no projeto e eliminando a necessidade de

modificações com maior custo em etapas posteriores (CHUA et al., 2014; GONÇALVES,

2017).

A Prototipagem Rápida (PR) é um tipo de tecnologia aditiva que, de forma prática,

consiste em cinco etapas descritas no esquema da

Figura 12.

Primeiramente, é criado um modelo CAD 3D ou o escaneamento de um objeto físico. O

modelo CAD é geralmente obtido usando softwares padrão como o AutoCad, SolidWorks ou

Pro/Engineer. Na segunda etapa, o modelo CAD é convertido para um formato de arquivo que

permite seu “fatiamento” virtual em camadas, normalmente em STL. A preferência em usar o

arquivo no formato STL é devido à sua simplicidade e compatibilidade na transferência de

dados entre sistemas e, por esse fato, tornou-se padrão em muitos sistemas de PR.

Em seguida, o arquivo STL é fatiado digitalmente em camadas transversais. Nesta etapa,

os usuários podem definir parâmetros para o modelo CAD, como o tamanho da peça, espessura

e número de camadas. A espessura da camada é um importante parâmetro no processo de

fatiamento, pois afeta diretamente na precisão e tempo de construção do modelo. Ao diminuir

a espessura da camada aumentaremos a precisão do modelo, mas prolongaremos o tempo de

construção. Esta etapa é conhecida como pré-processamento.

Em quarto lugar, os dados com o modelo fatiado são processados pelo software que

gerencia a máquina de PR. Essa máquina funciona como uma impressora que, através do

processo de deposição de camadas, “imprime” uma camada física do modelo por vez, em um

plano bidimensional (xy). Quando uma camada é concluída, a bandeja de impressão, onde o

modelo físico é construído, desce (ou sobe, dependendo do tipo da máquina de PR) por uma

distância que corresponde à espessura de uma camada. A terceira dimensão (z) é resultado da

sobreposição de cada camada. O processo se repete até que todo o modelo esteja completo.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

39

A última etapa é conhecida como pós-processamento e, dependendo da pretensão de uso

do protótipo, alguns tratamentos, como endurecimento, pintura, polimento ou vedação, podem

ser necessários (CHUA et al., 2014; GONÇALVES, 2017; WANG et al., 2017).

Figura 12 – Etapas para a produção de protótipos com manufatura aditiva.

Fonte: Adaptado de BRUDER (2015).

Atualmente há três sistemas comercias de PR, que são classificados quanto à forma do

material usado em cada sistema, podendo ser líquida, sólida ou pó. O sistema de PR baseado

em materiais na forma líquida usa um polímero fotossensível (Resina), que é solidificado

quando exposto a um laser, geralmente na faixa de comprimento de onda do ultravioleta (UV).

Esse processo é chamado de fotopolimerização, onde ocorre a ligação de vários monômeros,

que forma moléculas maiores denominadas polímeros (CHUA et al., 2014).

Apesar de todas as técnicas de PR se basearem no mesmo processo de construção camada-

a-camada, cada uma tem sua particularidade e, portanto, recebem nomes diferentes. Os

principais métodos utilizados para a PR são: Estereolitografia (SLA – Stereolithography),

Sinterização seletiva a laser (SLS – Selective Laser Sintering), Modelagem por fusão e

deposição (FDM – Fused Deposition Modeling) e Multijatos (PJET – PolyJet). Todos esses

métodos são baseados em um modelo computacional 3D convertido em um arquivo no formato

STL para posterior impressão tridimensional (BRUDER, 2015).

2.6.1 Estereolitografia – SLA

A estereolitografia (SLA) é o método de PR comercial mais antigo e mais utilizado,

lançado no final dos anos 80. A Figura 13 ilustra o princípio desse método, onde um polímero

fotossensível líquido é depositado em um tanque e, durante todo o processo de SLA, um espelho

controlado por computador permite que o laser UV varra a superfície do polímero com um

padrão preciso, definido pelo arquivo CAD 3D. Este laser polimeriza a resina líquida (e

portanto, ocorre a solidificação da resina apenas nas zonas onde o laser incide), e a partir do

momento em que a primeira camada é polimerizada (curada), a plataforma é movida a uma

Modelo

CAD

Arquivo

STL

Equipamento

PR

Modelo

Fatiado

Protótipo

Completo

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

40

altura predefinida para que a polimerização da próxima camada ocorra, permitindo a criação de

uma estrutura tridimensional camada-a-camada. Depois da estrutura construída, a resina líquida

que não foi polimerizada é removida por drenagem e lavagem, e segue o processo de pós-cura

em uma câmara de raios UV (BRUDER, 2015; GONÇALVES, 2017).

Figura 13 – Princípio para o método SLA.

Fonte: Adaptado de BRUDER, (2015).

Todo o processo pode ser realizado em poucas horas e, soma-se a isto, o fato que as peças

apresentam uma boa resolução quando comparadas a outros métodos de PR. As peças podem

ser produzidas com material transparente, permanecendo inicialmente cristalinas por até dois

anos. Mas devido à má resistência do material contra a luz, o mesmo ficará com o aspecto

amarelado. Outra desvantagem desse método é que na maioria dos casos as peças não podem

ser usadas para testes funcionais, pois elas podem ser muito frágeis. Normalmente, a superfície

precisa ser polida e a maioria dos materiais usados em SLA não podem ser usados em

temperaturas acima de 50 °C (BRUDER, 2015).

2.6.2 Sinterização seletiva a laser – SLS

Essa técnica foi desenvolvida logo após a criação da SLA, e a principal diferença entre

elas é o tipo de laser adotado e a forma do material de impressão. A SLS utiliza um laser gasoso

de dióxido de carbono (CO2) que derrete e sinteriza um polímero semicristalino em forma de

pó. A primeira etapa desse método envolve o uso de um rolo circular que, através do mecanismo

de rotação, espalha uma camada fina de pó no plano xy sobre uma plataforma móvel. Em

seguida, o pó é aquecido até uma temperatura próxima do seu ponto de fusão e, através do

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

41

espelho controlado por computador o feixe do laser de CO2 varre a superfície da plataforma

móvel com o pó. Quando o laser atinge a superfície do polímero, derrete-o e forma uma camada

com 0,1 mm de espessura. Para cada camada finalizada, a plataforma é movida em 0,1 mm no

eixo z (vertical), permitindo que o rolo espalhe uma nova camada de pó na superfície da

plataforma móvel. A Figura 14 ilustra o princípio dessa técnica.

Figura 14 – Princípio do método SLS.

Fonte: Adaptado de BRUDER, (2015).

2.6.3 Modelagem por Fusão e Deposição – FDM

A técnica de Modelagem por Fusão e Deposição (FDM – Fused Deposition Modeling)

utiliza filamentos termoplásticos que são aquecidos em um bico extrusor, fazendo o filamento

derreter. O bico é controlado pelo software de renderização instalado no computador e cria

camadas em direções horizontais sobre o plano xy na plataforma de construção, conforme

mostra a Figura 15. Um movimento vertical no eixo z, igual à espessura das camadas, é

realizado antes do início da próxima deposição horizontal. Cada nova camada derrete junto com

a camada subjacente. Para reduzir o risco da peça desmoronar sobre a plataforma, um bico

adicional pode ser usado para fazer uma camada de suporte. A camada de suporte é produzida

simultaneamente com o termoplástico e será removida quando a peça estiver concluída

(BRUDER, 2015).

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

42

Os diâmetros típicos dos bicos de extrusões são: 0,127; 0,178; 0,254; 0,330 mm, que

também são as espessuras de cada camada. Os principais termoplásticos amorfos usados para

FDM são o ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno) e o PLA (Ácido Poliláctico).

As limitações dessa técnica de impressão 3D, que podem ser encaradas como

desvantagem, são o menor acabamento superficial (superfície áspera que precisa ser polida) e

o menor nível de detalhe das peças comparado ao método SLA (BANORIYA et al., 2015;

BRUDER, 2015).

Figura 15 – Princípio para o método FDM.

Fonte: Cortesia 3DCriar.

2.6.4 Multijatos –PJET

O método de multijatos (PJET) foi desenvolvido no começo dos anos 2000, pela empresa

Israelense Object Inc. O processo é semelhante ao das impressoras de tinta a jato, mas a tinta

foi substituída por um fotopolímero à base de acrílico líquido. A Figura 16 mostra uma máquina

típica de impressão 3D que utiliza essa técnica, e bloco de impressão, onde são colocados os

lasers UV, usados para curar o fotopolímero que é injetado ao atingir a camada subjacente da

peça em construção. Essa é uma das técnicas de PR mais rápidas disponíveis, e permite uma

precisão de até 0,016 mm para cada camada, produzindo protótipos com alto nível de detalhes

(BRUDER, 2015).

Nesse método utiliza-se um material de apoio solúvel em água, semelhante a um gel, que

é lavado assim que o processamento da peça for concluído. Esse material de apoio é impresso

simultaneamente com o fotopolímero. Não é necessário qualquer tratamento posterior, seja

Filamento

Bico aquecido

Plataforma de

construção

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

43

polimento, corte ou cura em câmaras UV, o que possibilita um ambiente de trabalho mais limpo.

Além disso, com esse método é possível construir camadas de baixa espessura, uso de dois

materiais simultâneos com coloração e durezas diferentes, fazendo até 30 combinações. No

entanto, somente materiais em acrílicos plásticos estão disponíveis (BRUDER, 2015).

Figura 16 – (a) Máquina MultiJet; (b) Bloco de impressão.

(a) (b)

Fonte: BRUDER (2015).

Pelo fato de existir diversos métodos de prototipagem rápida que variam de acordo com

o material utilizado e a resolução da peça, a escolha da técnica mais adequada depende do tipo

de projeto e objetivo final do produto, levando em conta as várias aplicações e limitações. Na

Tabela 5, é feito um resumo das duas principais técnicas que serão utilizadas nesse estudo,

destacando algumas de suas características.

Tabela 5 – Características gerais das técnicas de SLA e PJET.

FDM SLA PJET

Tipo do Material Plástico Fotopolímero Líquido Fotopolímero à base de acrílico

Nome técnico do Material ABS ou PLA Accura® – Plastic1 VisiJet® M32

Densidade (g/cm3) 1,20 1,13 – 1,20 1,02

Detalhes mínimos (mm) 0,127 0,025 – 0,050 0,016

Velocidade de construção Rápida Lenta Muito rápida

Nível de detalhe* ++ + + + + + + + + +

Custo* $ $ $ $ $ $ $

* Estão representados numa escala de 0 a 5;

1,2 Informações técnicas em: Anexo A e Anexo B.

Fonte: GONÇALVES (2017).

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

44

2.6.5 Aplicações na área Nuclear

Nos tratamentos de radioterapia externa, é frequente a necessidade de irradiar lesões

superficiais em pacientes com doença tumoral. Estas lesões muitas vezes se encontram na

própria pele do paciente. Uma propriedade importante dos feixes de radiação utilizados nos

tratamentos de radioterapia é a porcentagem de dose profunda (PDP), onde o valor máximo da

dose é depositado em uma dada profundidade do meio irradiado.

Diante disso, um material desenvolvido sinteticamente, denominado bólus, é colocado

sobre a zona a ser irradiada, proporcionando um tratamento mais eficiente nas lesões

superficiais, ou seja, depositando o máximo de dose na profundidade desejada. Para um material

ser considerado apropriado para desempenhar a função de bólus, a principal característica é a

equivalência ao tecido humano, ou seja, deve absorver e espalhar as radiações de maneira bem

semelhante aos tecidos do corpo humano (GONÇALVES, 2017).

O método de impressão 3D tem se mostrado uma alternativa interessante na rotina de

trabalho de clínicas de radioterapia, em que essa tecnologia é utilizada para a criação de bólus.

Fisher et al. (2013) introduziram o método de criação de bólus customizados por impressão 3D

para tratamentos de radioterapia com feixes de elétrons. A criação de bólus customizados e

específicos por paciente é vantajosa para o tratamento de certas lesões de pele, a fim de

compensar alguma irregularidade superficial, que comprometeria a uniformidade na

distribuição de dose. O modelo digital da região de interesse do paciente é obtido com uma

câmera de infravermelho Microsoft Kinect e, a partir de então, é possível realizar a impressão

3D do modelo ou a impressão direta do bólus, como mostra a Figura 17. O material de

impressão (ABS ou PLA) é acessível, custando cerca de US$ 40/kg, e o custo médio por modelo

é aproximadamente US$ 5. O desconforto para o paciente é reduzido, quando comparado ao

método convencional, onde o molde é confeccionado sobre a superfície do paciente, usando

bólus em “forma de papel”, moldável às superfícies (FISHER et al., 2013).

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

45

Figura 17 – (a) Modelo digital do rosto do paciente, em que a região de interesse é o nariz; (b) bólus

impresso.

(a) (b)

Fonte: FISHER et al. (2013).

Em 2014, Ehler e colaboradores (2014) mostraram a viabilidade da criação de fantomas

específicos por paciente, impressos em 3D, para procedimentos de controle de qualidade em

tratamentos de Radioterapia com Intensidade Modulada do feixe (IMRT). Nesse tipo de teste é

utilizado um fantoma tecido equivalente, com formato universal, para reconstruir a dose do

planejamento radioterápico no paciente. Mas, o corpo humano apresenta formas variadas e,

como planejamentos de radioterapia são individualizados, foi proposta a criação de fantomas

customizados por impressão 3D, onde a propriedade mais importante é a resposta tecido

equivalente. Para este estudo, o fantoma antropomórfico RANDO de cabeça e pescoço,

mostrado na Figura 18 (a), foi considerado como o “paciente”, e um modelo computacional

tridimensional foi obtido através de imagens de tomografia computadorizada (Figura 18-b).

Esse modelo foi impresso em 3D com material ABS, conforme é visto na Figura 18 (c).

Figura 18 – (a) Fantoma antropomórfico RANDO, (b) modelo tridimensional do fantoma e (c) modelo

impresso em 3D.

Fonte: EHLER et al. (2014).

(a) (b) (c)

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

46

A validação do fantoma impresso em 3D como material tecido equivalente foi realizada

mediante a comparação entre as respostas de dosímetros termoluminescentes (TLD) colocados

em posições equivalentes em ambos os fantomas, impresso em 3D e RANDO. Um

planejamento de tratamento típico de uma patologia de cabeça e pescoço foi criado, usando

nove campos da técnica de IMRT, feixe de fótons com energia de 6 MV e dose prescrita de

180 cGy por fração. O tratamento foi executado no equipamento de Tomoterapia da Accuray.

Os TLD’s foram distribuídos em 17 regiões distintas, em dois cortes axiais mostrados na

Figura 19. Os resultados mostraram que dentre as 17 regiões analisadas, 12 apresentaram no

máximo 3% de diferença na dose medida no fantoma RANDO e no impresso em 3D, e 14

regiões com até 5% de diferença. Os três pontos em vermelho representam as posições onde as

divergências dos valores de dose foram maiores que 5%. As regiões 4 e 7 são localizadas na

interface do tecido-osso, e a região 3 próxima de uma cavidade de ar. Essas regiões apresentam

heterogeneidade de tecido, e isso explica as maiores diferenças nos valores de dose medidas,

pelo fato do fantoma impresso em 3D ser construído de material homogêneo. Portanto, o

fantoma impresso em 3D tem o material tecido equivalente aceitável, o que torna a criação de

fantomas específicos por paciente via prototipagem rápida mais vantajosa, quando comparadas

aos métodos tradicionais, pois além de ter o custo reduzido (por um fator de 10 - 100),

proporciona a possibilidade de inserir uma variedade de detectores de radiação em qualquer

posição do fantoma (EHLER et al., 2014).

Figura 19 – Localizações dos TLD’s para medidas no “Paciente”.

(a) (b)

O corte axial onde as regiões 1-10 aparecem (a) são indicadas pela linha tracejada no corte sagital (b). O

corte axial onde as regiões 11-17 aparecem são indicadas pela linha sólida no corte sagital (b)

Fonte: EHLER et al. (2014).

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

47

Nos dias atuais, Ehler e colaboradores (2018) defendem o argumento que a tecnologia de

impressão 3D provavelmente eliminará a necessidade de compra de fantomas comerciais para

procedimentos clínicos de controle de qualidade.

Em aplicações de dosimetria pessoal, Heiny et al. (2016) mostraram recentemente a

viabilidade da impressão 3D de um dosímetro de anel para monitoração de extremidades, mas

não foram encontrados trabalhos sobre dosímetros de cristalino impresso em 3D. Um dos

pontos fortes dessa tecnologia aplicada à radioterapia e dosimetria reside na proximidade da

densidade dos materiais de impressão 3D à densidade da água (ρ = 1,0 g/cm3). A densidade do

ABS, comumente usado como material de impressão 3D é próxima a 1,2 g/cm3, e o VisiJet M3

apresenta uma densidade próxima a 1,02 g/cm3.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

48

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho é dividido em cinco etapas, descritas a seguir: (i) Modelagem do porta-

dosímetro; (ii) Simulação pelo método de Monte Carlo; (iii) Impressão 3D; (iv) Avaliação

experimental da dependência energética e angular; e (v) Aplicação Clínica.

3.1 MODELAGEM DO PORTA-DOSÍMETRO

O projeto do porta-dosímetro de cristalino foi desenvolvido no Software de projeto CAD

3D SolidWorks, da empresa Dassault Systemes. O primeiro passo na modelagem de um

dosímetro de cristalino é posicionar o cristal dosimétrico na distância correta da superfície.

Como uma referência inicial para a construção da geometria do porta-dosímetro, foi adotado o

modelo computacional desenvolvido por Behrens et al. (2009), identificado neste trabalho

como modelo de referência. O modelo físico do porta-dosímetro de cristalino desenvolvido

nesse trabalho foi denominado DosímetroG4.

No modelo de referência, a espessura de tecido equivalente entre a superfície frontal

externa da córnea e a superfície do volume sensível do cristalino tem um valor médio de

3,36 mm, e a espessura do volume sensível tem um valor médio de 0,495 mm. Como a espessura

do volume sensível do cristalino cresce do centro em direção ao equador da lente, o centro de

massa pode ser considerado a melhor indicação para definir a posição mais adequada para um

cristal dosimétrico, conforme é mostrado na Figura 20.

Figura 20 – Posicionamento do cristal dosimétrico.

Fonte: O autor (2020).

1,42 mm

10

mm

4,06 mm

CORNEA

ANTERIOR

CHAMBER

LENS EQUATOREquador da lente

Córnea

Humor

aquoso Cristal dosimétrico

Cristalino

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

49

Três versões do porta-dosímetro de cristalino foram modeladas no software SolidWorks,

com diferentes curvaturas e espessuras no eixo do cristal dosimétrico. O porta-dosímetro é

dividido em duas partes separadas: o suporte para o cristal dosimétrico e uma tampa deslizante

na parte de trás.

As características de modelagem para cada versão do porta-dosímetro estão apresentadas

na Tabela 6. Todas as versões do DosímetroG4 acomodam dois TLD’s, e a principal diferença

entre elas é a profundidade desses cristais no suporte.

Tabela 6 – Características de cada versão do DosímetroG4.

Versão N° de

TLD’s

Profundidade

dos TLD’s (mm)

Largura do

suporte (mm)

Raio de

curvatura do

semicírculo

(mm)

*Profundidade

total do

suporte (mm)

G4-2.5 2 cristais 2,5 13,20 4,0 8,0

G4-3.0 2 cristais 3,0 14,20 4,5 8,5

G4-3.5 2 cristais 3,5 15,20 5,0 9,0

* Espessura correspondente ao eixo central do suporte (Seção A-A na Figura 21).

Fonte: O autor (2020).

A geometria dessas três versões é mostrada na Figura 21. Observa-se um corte vertical

no volume da peça, representado pela Seção A-A, e nesse eixo é possível visualizar a

profundidade dos TLD’s no suporte bem como a espessura total do suporte. A tampa traseira

apresenta as mesmas dimensões para todas as versões, entretanto, apenas a versão G4-3.52

possui dois orifícios na parte externa da peça para facilitar a sua retirada. A região posterior do

suporte é plana, para que haja um melhor contato com a posição de uso final do dosímetro.

2 A nomenclatura adotada corresponde a G4-XX, onde XX é a espessura da parede na parte frontal do dosímetro,

ou a profundidade do TLD.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

50

Figura 21 – Versões do suporte do DosímetroG4.

G4 - 2.5 mm

G4 – 3.0 mm

G4 – 3.5 mm

Fonte: O autor (2020).

5

23

,36

2,25

4

0,20

3,75

5

25

,36

23

,36

11

10 25,6

6

28,1

7

A

A

4

5,25

13,20

2,5

01,5

0

1,25

32

8

5,2

0

1,75 2,50

SEÇÃO A-A

ESCALA 3 : 1

5

23,3

6

2,25

4

0,20

3,75

5

25,3

6

23,3

6

11

10 26,0

9

28,2

3

A

A

4

5,25

14,20

2,5

01,5

0

1,25

32

8,50

5,2

0

1,75 2,50

SEÇÃO A-A

ESCALA 3 : 1

5

10

8,5

0

2,25

4

0,20

3,75

5

18,6

0

2,5

0

10

10,5

0

1,5

0

1011

28,1

4

A

A

4

5,25

15,20

2,50

1,50

1,75 2,50

1,25

9

5,20

2,50

2,50

SEÇÃOA-A

ESCALA 3 : 1

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

51

A Figura 22 mostra o posicionamento do cristal dosimétrico no porta-dosímetro, baseado

na profundidade média da região sensível do cristalino descrita pelo modelo de referência. O

projeto do suporte do DosímetroG4 apresenta o formato de um semicilindro na região frontal,

com espessura de tecido equivalente para simular as características de absorção e espalhamento

da radiação pela córnea e o humor aquoso. O cristal dosimétrico foi posicionado na

profundidade correspondente ao volume sensível da lente do cristalino (na Figura 22 é a posição

indicada como Cristal Dosimétrico).

Figura 22 – Comparação da modelagem do suporte do DosímetroG4 com o Modelo de referência: (a)

corte sagital do Modelo de referência, (b) posicionamento do cristal dosimétrico e (c) modelo do

suporte do DosímetroG4 com o TLD.

(a) (b)

(c)

Fonte: O autor (2020).

1,42 mm

10

mm

4,06 mm

CORNEA

ANTERIOR

CHAMBER

LENS EQUATOR

Cristal dosimétrico

Córnea

Humor

aquoso

Equador da lente

Cristalino

Cristal dosimétrico

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

52

As partes individuais das três versões do DosímetroG4 criadas no SolidWorks foram

exportadas em arquivos no formato STL (stereolithography file format). O software Blender3D,

desenvolvido pela Blender Foundation, foi usado para converter os arquivos STL para o

formato OBJ. Os arquivos em formato OBJ são utilizados para armazenar objetos geométricos

compostos por linhas, polígonos, curvas e superfícies de forma livre. Esse formato de arquivo

foi desenvolvido pela companhia Wavefront Technologies, e é muito utilizado em animações e

computação gráfica. A Figura 23 mostra o exemplo de um dosímetro modelado posicionado

sobre um cilindro (que representa o fantoma de cabeça da ICRU).

Figura 23 – Ilustração do DosímetroG4 no software Blender3D.

Fonte: O autor (2020).

3.2 SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO NO CÓDIGO GEANT4

A conversão entre os formatos de arquivos STL para OBJ foi necessária porque a função

desenvolvida pelo Grupo de Dosimetria e Instrumentação (GDOIN) para a importação no

código de simulação de Monte Carlo GEANT4 dos sólidos triangulares ou quadrangulares foi

escrita para interpretar arquivos do tipo OBJ. Não houve a necessidade de voxelização das

geometrias dos modelos antes da simulação. Vale destacar que esse aspecto da modelagem-

simulação é de grande importância para a redução do tempo de desenvolvimento e simulação

de novos sistemas dosimétricos, uma vez que a modelagem não é feita no software GEANT4,

que possui restrições de ferramentas de desenho técnico e modelagem 3D, e sim em softwares

dedicados à área de engenharia como SolidWorks. A simulação de Monte Carlo, por sua vez,

pode ser feita imediatamente após a modelagem, sendo necessária apenas uma conversão de

formato de arquivos STL para OBJ.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

53

As versões do DosímetroG4 foram submetidas a técnicas de simulação pelo método de

Monte Carlo no código GEANT4 (Geometry and Tracking – G4) versão 9.5, com o uso da

biblioteca de dados G4EmLivermorePhysics para simulações de feixes de fótons

monoenergéticos. As frações mássicas usadas para o DosímetroG4 são mostradas na Tabela 7.

As frações mássicas do modelo de referência foram reproduzidas para comparação. A resposta

do DosímetroG4 foi obtida através do par de detectores termoluminescentes (TLD’s) inseridos

no porta-dosímetro de resina. Os TLD’s foram simulados como um simples cilindro de Fluoreto

de Lítio (LiF), com 4,8 mm de diâmetro, 1,0 mm de espessura e densidade de 2,64 g.cm-3,

conforme é mostrado na Figura 24.

Tabela 7 – Composição e densidades dos materiais usadas no código da Simulação.

Modelo de Referência DosímetroG4

Componentes Pele Cristalino

Parte sensível

Córnea Humor

Aquoso

Humor

Vitreo

*Porta-

dosímetro

LiF

Densidade (g/cm3) 1,09 1,06 1,076 1,003 1,0089 1,02 2,64

Elemento Fração Percentual de massa (%)

H

Li

10,0 9,6 10,16 11,2 11,2 8,05

26,8

C 20,4 19,5 12,62 59,99

N 4,2 5,7 3,69

O

F

64,5 64,6 73,14 88,8 88,8 31,96

73,2

Na 0,2 0,1 0,065

P 0,1 0,1 0,065

S 0,2 0,3 0,195

Cl 0,3 0,1 0,065

K 0,1

* A composição do porta-dosímetro foi baseada na resina VisiJet M3 Crystal.

Fonte: Adaptado de BEHRENS et al. (2009).

Figura 24 – Ilustração da modelagem do detector circular.

Fonte: O autor (2020).

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

54

Foi simulado um conjunto de irradiações, com energias e ângulos distintos, que

permitiram comparar a adequação do volume sensível do DosímetroG4 (TLD) com o volume

sensível do modelo de referência, ao predizerem o desempenho de cada versão do

DosímetroG4, em termos de dependência energética e angular.

Foram estabelecidos alguns parâmetros para a simulação, tais como: área de incidência

do feixe de fótons; número de fótons monoenergéticos; faixa de energia; e ângulo de incidência,

conforme os parâmetros de cálculos utilizados por Behrens e Dietze (2011) para o modelo de

referência.

A razão da dose absorvida pela fluência incidente para o par de detectores inseridos no

porta-dosímetro foi simulada para um feixe de fótons de 100 mm x 100 mm na direção

anteroposterior (AP), com fótons monoenergéticos na faixa de energia entre 0,005 MeV e

10 MeV. A mesma condição foi simulada na direção de 90° (LAT). O número de fótons

primários simulados variou entre 107 e 108, para o limite de variação estatística menor que 2%.

Para obter a razão entre as grandezas Dose Equivalente e fluência incidente, HT/, foi utilizada

a Equação 1, descrita na Seção 2.3.1.

Para quantificar a adequação da resposta simulada de cada versão do DosímetroG4 ao

modelo de referência, foi utilizado o conceito de comparação Figura de Mérito (Figure of Merit

– FOM), que é calculado usando a soma dos erros, análogo à equação de Balian e Eddy (1977),

originalmente utilizada para aplicações de espectrometria nuclear, como mostra a Equação 11:

FOM = ∑|𝑹𝑹𝒆𝒇−𝑹𝑴𝒐𝒅|

𝑨𝒊 (11)

onde RRef é o resultado da simulação do modelo de referência, RMod é o resultado da simulação

para o DosímetroG4, e A é a área sob as curvas do modelo de referência, para cada condição de

irradiação. Quanto menor for o valor de FOM indica uma melhor correspondência entre duas

curvas em comparação. Diante disso, foi possível escolher a versão otimizada do DosímetroG4,

ou seja, aquela que apresenta a resposta mais próxima do modelo antropomórfico do olho de

referência.

3.3 IMPRESSÃO 3D E OBTENÇÃO DOS PROTÓTIPOS

Apenas a versão otimizada do porta-dosímetro (versão G4-3.5), determinada através da

análise do FOM, foi submetida a impressão 3D para a obtenção dos protótipos. Foram testadas

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

55

três técnicas de impressão 3D para analisar a qualidade das peças obtidas e precisão dimensional

ao desenho CAD 3D projetado.

3.3.1 Modelagem por Fusão e Deposição – FDM

Inicialmente, a versão otimizada do porta-dosímetro foi impressa em parceria com o

Laboratório de Eletrônica e Impressão 3D da Universidade Federal de Sergipe (UFS),

utilizando a técnica de impressão FDM. Foi utilizada a impressora 3D CubeX Duo, da empresa

3D Systems, que dispõe de dois cabeçotes de extrusão com filamento plástico derretido para a

criação das peças tridimensionais. Esse equipamento permite criar objetos tridimensionais com

camadas de até 0,1 mm de espessura. O material utilizado foi filamento termoplástico de PLA,

que apresenta densidade de 1,24 g.cm-3.

3.3.2 Multijatos – PJET

Em seguida, a mesma versão do porta-dosímetro foi submetida ao sistema de impressão

3D industrial pela técnica de impressão Multijatos. Foi utilizada a impressora 3D profissional

ProJet 3500 HD Max, fabricada pela 3DSystems, com o parâmetro padrão de qualidade

ajustado para Extreme Resolution XHD. Os objetos foram criados a partir de uma resina líquida

foto-sensível, que é solidificada por camadas quando exposta a um laser ultravioleta. O material

utilizado foi o Visijet M3 Crystal, que possui densidade ρ = 1,02 g.cm-3 e coloração natural

(Transparente). Esse material torna-se um plástico rígido projetado para uma ampla gama de

aplicações de prototipagem e uso final.

Foram impressos 10 protótipos para análise do porta-dosímetro em condições

experimentais. Esse processo de impressão é ideal para modelos pequenos que necessitam de

alta resolução, pois permite detalhes mínimos de até 0,016 mm.

A escolha desta técnica é justificada pela possibilidade de obter uma peça resistente e

pronta para uso, sem a necessidade de acabamento. Em geral, os protótipos gerados com essa

técnica podem ser utilizados como produto final.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

56

3.3.3 Estereolitografia – SLA

Por fim, a versão otimizada do porta-dosímetro (versão G4-3.5) também foi impressa por

meio da tecnologia de Estereolitografia (SLA), com a impressora 3D Desktop Form2

(Figura 25), produzida pela FormLabs. O modelo 3D pode ser importado no formato de arquivo

STL ou OBJ para o software de preparação de impressão PreForm. Nesse software, as partes

do DosímetroG4 foram orientadas com ângulo próximo a 45° em relação ao eixo da plataforma

de impressão, para que as camadas possam ser depositadas de maneira mais suave, conforme

recomenda o fabricante. Além disso, as peças impressas por SLA precisam de suporte, como

mostra a Figura 26, que são cortados com alicate ao final da impressão. Foi impresso apenas

um protótipo do porta-dosímetro com essa técnica, para análise do custo benefício na aquisição

desse modelo de impressora para o Departamento de Energia Nuclear – DEN/UFPE.

Essa técnica fornece peças de alta resolução, com espessura de até 0,025 mm, além de

apresentar uma fração do custo e formato das impressoras 3D industriais. A Form2 utiliza um

laser com comprimento de onda de 405 nm e potência de 250 mW para curar a resina de

fotopolímero líquido. Foi utilizada a resina tipo Tough, que possui densidade ρ = 1,09 g.cm-3 e

coloração azul claro. Ao final da impressão, as peças passaram pela etapa de pós-

processamento: são lavadas com Álcool Isopropílico com pureza acima de 90 % e pós-cura na

Câmara de raios UV FormCure por 60 minutos a 60 °C. O pós-processamento é importante

para garantir os melhores resultados nas propriedades mecânicas das peças.

Figura 25 – (a) Impressora 3D Desktop Form2, (b) Câmara UV FormCure.

(a) (b)

Fonte: FormLabs

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

57

Figura 26 – Interface do software de preparação de impressão PreForm.

Fonte: O autor (2020).

3.3.4 Exatidão e reprodutibilidade do sistema de impressão 3D

Os 10 protótipos do porta-dosímetro impressos com a técnica Multijatos foram

numerados (c001 – c010) e analisados inicialmente quanto à exatidão nas dimensões dos

produtos da impressão em comparação com o desenho CAD, para as dimensões externas

mostradas na Figura 27. Para realizar as medidas das dimensões foi utilizado um micrômetro

digital da marca Zaas Precision, que possui sistema de funcionamento com catraca, resolução

de 0,01/0,001 mm e exatidão de +/- 0,001 mm.

Foram realizadas três medidas da profundidade e largura para cada porta-dosímetro que,

no desenho CAD correspondem a: 9,000 mm e 15,200 mm, respectivamente. Foram calculadas

a média das medidas, desvio padrão e a variação percentual (Δ%) dessas dimensões no conjunto

de protótipos. O erro percentual foi obtido através da Equação 12:

Δ% = (𝐕𝐌 − 𝐕𝐫𝐞𝐟)

𝐕𝐫𝐞𝐟 12

onde VM é a média das dimensões medidas e Vref é o valor de referência do desenho CAD.

As dimensões do protótipo do porta-dosímetro obtido com a técnica SLA também foram

analisadas.

Tipo de Resina

Tempo de

impressão

Quantidade

de resina

gasta

N de camadas

Resolução

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

58

Figura 27 – Desenho CAD do porta-dosímetro versão G4-3.5.

Fonte: O autor (2020).

Para avaliar a reprodutibilidade das impressões, foi calculado o coeficiente de variação

(CV) das mesmas duas dimensões descritas acima para os 10 porta-dosímetros impressos. O

CV corresponde ao valor do desvio padrão das medidas dividido pelo valor médio obtido.

3.4 AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA E ANGULAR

Com a obtenção dos protótipos do porta-dosímetro, através das três técnicas de impressão

3D, foi possível analisar qual método é mais adequado ao projeto e, verificar o desempenho do

DosímetroG4 em condições experimentais, seguindo os critérios de aceitação da norma

internacional IEC 62387 (2012) para a dependência energética e angular de dosímetros

calibrados em termos da grandeza operacional Hp(3).

Nessa etapa, foi avaliado o desempenho do DosímetroG4 com a versão do porta-

dosímetro otimizado e impresso com a técnica Multijatos. Foram utilizados os procedimentos

de irradiação descritos na norma internacional ISO 4037-3 (1999), que especifica as qualidades

de feixe e as sistemáticas adotadas para a calibração de dosímetros pessoais e de área para

radiação X e gama. Os dosímetros foram calibrados na grandeza operacional Hp(3),

considerada até o momento a melhor grandeza para estimar dose absorvida no cristalino.

Para a análise e interpretação dos resultados da dependência energética e angular do

DosímetroG4, foram seguidas as recomendações da norma internacional IEC 62387 (2012),

que estabelece os critérios necessários para o desenvolvimento de um sistema dosimétrico e sua

SEÇÃO A-A

ESCALA 3 : 1

A

A

15,20

9

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

59

adequação. Uma dose fixa de 3 mSv, em Hp(3), foi utilizada como valor padrão em todas as

irradiações, exceto para a obtenção do fator de correção de sensibilidade individual dos cristais

dosimétricos, quando foi utilizado um valor de kerma no ar igual a 2 mGy em cada medida.

Todas as irradiações foram feitas com os dosímetros sobre o phantom cilíndrico da ICRU,

representando a cabeça.

3.4.1 Detectores termoluminescentes

Como detector Termoluminescente (TLD) foram utilizados neste trabalho cristais de

LiF:Mg,Ti (MTS-N), em forma de disco com 4,5 mm de diâmetro e 0,9 mm de espessura,

fabricado pela Radcard-Polônia. O porta-dosímetro comercial EYE-DTM (RADPRO) foi

utilizado para comparação. O cristal dosimétrico e o porta-dosímetro comercial podem ser

visualizados na Figura 28.

Tanto o MTS-N quanto o LiF:Mg,Cu,P (MCP-N) foram considerados para a aplicação

nesse trabalho, mas a escolha do MTS-N é justificada pela maior estabilidade da resposta

individual dos TLD’s quando submetidos a várias sequências de irradiações e tratamentos

térmicos. Além disso, é conhecido na literatura (MARIOTTI et al., 2006) que os dosímetros do

tipo MCP-N apresentam perda de sensibilidade TL (0,2 % por ciclo de leitura), pois são bastante

sensíveis ao tratamento térmico, o que torna necessário o uso de um forno com alta estabilidade

de temperatura.

Figura 28 – Dosímetro comercial EYE-DTM e TLD MTS-N na forma de disco numerado.

Fonte: O autor (2020).

Para não serem contaminados, os dosímetros do tipo MTS-N foram manuseados com uma

pinça mecânica, com as pontas envolvidas por uma película de PTFE, para não danificá-los, e

TLD

Dosímetro

EYE-DTM

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

60

uma pinça a vácuo. A identificação desses detectores foi possível por meio da numeração feita

com uma lapiseira de grafite (com ponta 0,3 mm) e uma lupa.

3.4.2 Tratamento térmico e determinação do Coeficiente de sensibilidade individual

Todos os dosímetros foram tratados termicamente no forno da marca PTW, instalado no

Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes (LMRI-DEN/UFPE), com tratamento

térmico padrão do dosímetro LiF:Mg,Ti que consiste em um patamar de 1 hora a 400 °C seguido

de 2 horas a 100 °C, para remover qualquer sinal TL residual.

Em seguida, os dosímetros foram irradiados em feixes de radiação gama utilizando a fonte

de césio (Cs-137) da marca STS (Steuerungs Technik Strahlenschutz GmbH), modelo OB

85/3/97113 pertencente ao LMRI-DEN/UFPE, em uma placa de acrílico medindo 5x5 cm com

suporte para 25 cristais por vez, como mostra a Figura 29. O valor de kerma no ar pré-

estabelecido para cada irradiação foi 2,0 mGy, a 1,0 m de distância da fonte.

Devido à instabilidade das armadilhas dos materiais TL após a sua exposição à radiação

ionizante, é recomendado esperar um tempo mínimo de 24 horas para iniciar a leitura desses

dosímetros. O LiF:Mg,Ti apresenta desvanecimento do sinal TL, que decaem à temperatura

ambiente, em intervalos de tempo que variam de minutos a anos. Esse efeito é considerado

indesejado, mas com o emprego de tratamentos térmicos pré e pós-irradiação podem ser

eliminados (METCALFE et al., 2007).

Figura 29 – (a) Placa de acrílico e (b) arranjo experimental para a irradiação de dosímetros em Kerma

no ar.

Fonte: O autor (2020).

(a) (b)

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

61

3.4.3 Leitura

Os dosímetros termoluminescentes foram avaliados manualmente em uma leitora

Harshaw modelo 3500, fabricada pela Thermo Fisher Scientific, que dispõe de uma bandeja

retangular com capacidade para 1 dosímetro. A leitora é controlada pelo software WinREMS

(Windows based Radiation Evaluation and Management), instalado no sistema operacional

Windows para a aquisição de dados. Antes de iniciar o processo de leitura, os dosímetros são

posicionados na bandeja da leitora (1 por vez), com o auxílio da pinça mecânica, de forma que

os números em grafite estejam direcionados para a parte de baixo da bandeja. Isso evita que

parte da luz liberada seja absorvida pelo grafite, além de fazer com que as leituras sejam

realizadas sempre partindo de um mesmo lado dos dosímetros, reduzindo as fontes de incertezas

da medição.

Os parâmetros de tempo/temperatura – TTP (do inglês, Time Temperature profile)

utilizados neste trabalho foram os mesmos testados por Oliveira (2017), conforme indicados

pelo fabricante dos cristais dosimétricos, e estão descritos na Tabela 8.

Para o controle de estabilidade da leitora, são realizados os testes da luz de referência e

ruído da fotomultiplicadora. A leitura da luz de referência é feita a partir de uma luz padrão,

interna à leitora, capaz de detectar qualquer desvio no sistema ou acúmulo de sujeira nas lentes

da fotomultiplicadora. A resposta produzida é comparada aos valores de referência,

previamente estabelecidos. No teste do ruído da fotomultiplicadora, é feita uma leitura sem

dosímetro ou qualquer fonte de luz, e verifica-se se a resposta de “fundo”, de luz ou do ruído

eletrônico, apresenta um valor entre os limites estabelecido pelo fabricante. Esses testes são

realizados antes do início das leituras e a cada 10 medidas.

Tabela 8 – Perfil de tempo/temperatura utilizado para as leituras dos TLDs.

Etapa Temperatura

(°C)

Tempo

(s)

Taxa de aquecimento

(°C/s)

Pre-heat 160 16 --

Aquisição 160 a 300 10 15

Fonte: Oliveira (2017).

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

62

3.4.4 Determinação da correção de sensibilidade

Em um lote de dosímetros é inevitável a variação de sensibilidade devido a fatores

intrínsecos a um único dosímetro, como geometria, massa e variação na quantidade do dopante,

que podem influenciar na resposta TL. Essa variação pode ser reduzida de 10-15% para 1-2%

quando os dosímetros são corrigidos pela sua sensibilidade individual (MOSCOVITCH et al.,

2007). Neste trabalho, foi adotado o método de correção individual, conforme descrito a seguir.

Um conjunto de 50 dosímetros foram selecionados e determinados seus fatores de

sensibilidade – ECC (do inglês, Element Correction Coefficient) de cada dosímetro. O ECC é

o fator que relaciona a sensibilidade TL de cada dosímetro j com a sensibilidade TL média dos

dosímetros de um subgrupo selecionado como “de calibração” i, definido pela Equação 13.

ECCij = 𝑸𝒊

𝒒𝒊𝒋 (13)

onde Qi é a média das respostas TL dos dosímetros de calibração i, e qij é a medida do sinal TL

do dosímetro j (MOSCOVITCH et al., 2007).

3.4.5 Determinação do Algoritmo

Para obtenção do fator de calibração (FC), os dosímetros foram irradiados com

Equivalente de Dose Pessoal (Hp(3), S-Cs-137) de 3,0 mSv.

A leitura líquida representa a leitura bruta subtraída pelo valor de “Background” (BG)

(leitura do dosímetro não-irradiado). Foi obtida a média de quatro leituras para ambos os

dosímetros (Comercial EYE-DTM e DosímetroG4).

Para definição do fator de calibração, utilizaram-se a razão do valor de Hp(3) irradiado

(3,0 mSv) pela média das leituras obtidas. Portanto, o algoritmo utilizado para determinação da

grandeza Hp(3) em cada tipo de dosímetro com seu respectivo FC é mostrado na Equação 14.

Hp(3) = fE,A x fC x [(Li x ECCi) - [(BGj x ECCj)] (14)

onde:

Li é o valor da área sob a curva TL em nC do dosímetro i;

ECCi é o coeficiente de correção de sensibilidade do cristal detector i;

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

63

fE,A é o fator de correção devido à Dependência da Resposta do Dosímetro com a Energia

e Angulação;

fc é o fator de calibração;

BGj é o valor da área sob a curva TL em nC do dosímetro j usado como branco (ou

background).

3.4.6 Dependência energética e angular

Na etapa de avaliação da resposta da dependência energética e angular do modelo de

dosímetro de cristalino desenvolvido neste trabalho, o termo DosímetroG4 será utilizado para

referir-se ao detector LiF inserido no porta-dosímetro versão G4-3.5 e impresso com a técnica

Multijatos, cujo foi obtido 10 protótipos.

Para avaliar a dependência energética, os protótipos do DosímetroG4 foram irradiados

com uma dose de 3,0 mSv em termos da grandeza operacional Hp(3), a distância de 1,5 metro

da fonte, sobre o fantoma cilíndrico, com feixes de raios X nas qualidades ISO – N com

diferentes energias efetivas, entre 24 keV (N–30) e 164 keV (N–200) e uma fonte de Cs-137

(662 keV), descritos na Tabela 9.

Para investigar a dependência angular, os protótipos do DosímetroG4 foram submetidos

aos feixes de raios X e irradiados com o mesmo valor de Hp(3), igual a 3,0 mSv, variando o

ângulo de incidência do feixe no fantoma. As irradiações foram realizadas entre os ângulos de

0° e 60°, em relação ao eixo vertical, com intervalos de 15°. A norma internacional IEC 62387

(2012) estabelece que esse teste deve ser realizado para as três menores energias, mas, neste

trabalho foram testadas as cinco menores energias: N-30, N-40; N-60, N-80 e N-100. O arranjo

de irradiação dos dosímetros para a análise da dependência energética e angular é mostrado na

Figura 30.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

64

Figura 30 – Arranjo de irradiação do DosímetroG4 impresso por Multijatos e dosímetro comercial

EYE-DTM sobre o fantoma cilíndrico.

Fonte: O autor (2020).

Os protótipos do DosímetroG4 impressos em 3D foram irradiados em conjunto com o

dosímetro comercial EYE-DTM, nas mesmas condições para posterior análise comparativa. Em

cada configuração de energia e ângulo foram irradiados três conjuntos do arranjo mostrado na

Figura 30, para melhor análise estatística.

Tabela 9 – Qualidades de radiação do Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes

LMRI-DEN/UFPE segundo a norma ISO 4037 – 1 (1999) para equipamentos de raios X.

Qualidade

Energia

Média

(keV)

*CSR

(mm)

**Taxa de

Kerma no ar

(mGy/h)

***hpK(3;R,α)cyl(Sv/Gy)

Taxa de

Hp(3)

(mSv/h)

Angulação

N-30 24 1,15 Al 41,36 1,04 43,01 0°, 15°,30°,45°,60°

N-40 33 0,084Cu 16,95 1,28 21,69 0°, 15°,30°,45°,60°

N-60 48 0,24 Cu 30,84 1,54 47,49 0°, 15°,30°,45°,60°

N-80 65 0,58 Cu 14,11 1,66 23,42 0°, 15°,30°,45°,60°

N-100 83 1,11 Cu 10,51 1,63 17,13 0°, 15°,30°,45°,60°

N-120 100 1,71 Cu 11,73 1,58 18,53 0°

N-150 118 2,36 Cu 58,98 1,52 89,65 0°

N-200 164 3,99 Cu 19,12 1,42 27,15 0°

S-Cs-137 662 - 13,42 1,18 15,83 0°

*CSR = Camada semirredutora;

**Determinadas a 1,5 m do ponto focal para as qualidades ISO – N e a 1,0 m para a qualidade S – Cs-137

*** Coeficientes de conversão de kerma no ar para Hp(3) para o fantoma cilíndrico.

Fonte: ISO 4037 – 1 (1999); BEHRENS, (2012).

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

65

Os resultados foram avaliados de acordo com os critérios de aceitação estabelecidos na

norma IEC 62387 (2012), onde os valores da resposta relativa dos dosímetros devem estar

contidos no intervalo entre rmín e rmáx, que dependem da energia da radiação e ângulo de

incidência do feixe utilizados para a análise, apresentados na Tabela 10. A resposta relativa r é

obtida através da razão entre o valor indicado pelo dosímetro e o valor de referência, ambos em

Hp(3), conforme mostra a Equação 15.

𝒓 =𝑹

𝑹𝟎 (15)

onde:

r é a resposta relativa;

R é o valor estimado com a leitura do dosímetro, calculado através da Equação 14;

Ro é o valor de referência.

Tabela 10 – Requisitos de desempenho para dosímetros avaliados em Hp(3).

*Teste Intervalo das energias e

ângulos Faixa de aceitação

Resposta relativa devido

à energia média da

radiação de fótons e

ângulo de incidência

30 keV ≤ Eph ≤ 250 keV e

0° a 60° da direção de

referência

rmín = 0,71 a

rmáx = 1,67

*Linha 9, da Tabela 9 presente na norma IEC 62387 (2012).

Fonte: IEC 62387 (2012).

3.5 APLICAÇÃO CLÍNICA

O DosímetroG4, com a versão de porta-dosímetro G4-3.5 e impresso com a técnica

Multijatos, foi utilizado para teste de portabilidade pela equipe médica de neurorradiologia

intervencionista do departamento de hemodinâmica pertencente a um hospital público de

Recife-PE. Um total de quatro membros da equipe participaram do teste: dois médicos

experientes, denominados Médico A e Médico B e, um residente (Médico C), além de um

técnico de radiologia. Os dosímetros foram acoplados no gorro dos membros, no lado esquerdo

da cabeça, próximo da região dos olhos. É conhecido que o lado esquerdo é o mais exposto em

procedimentos de neuroradiologia intervencionista, devido à proximidade dos médicos ao tubo

de raios X. Foram monitorados 10 procedimentos de angiografias cerebrais. Após cada

procedimento, o tempo de fluoroscopia, o número de séries e o kerma ar acumulado no ponto

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

66

de referência (Ka,r) durante a fluoroscopia foram extraídos do protocolo DICOM (do inglês,

Digital Imaging and Communications in Medicine), pois estão diretamente relacionados às

doses de radiação nos IOE’s devido à radiação espalhada pelos pacientes.

Os DosímetroG4 foram embalados em envelope plástico e, para fixar no gorro, foi

adicionado prendedor para crachá tipo jacaré, conforme mostra a Figura 31.

Figura 31 – DosímetroG4 aplicado em teste clínico.

Fonte: O autor (2020).

O posicionamento durante o uso do DosímetroG4 nos profissionais pode ser visualizado

na Figura 32. Somente um membro da equipe, o residente, usava óculos plumbífero durante

todos os procedimentos. Esse departamento utiliza o Angiógrafo Artis Zee da Siemens, com

detector retangular do tipo flat panel de 30 x 40 cm. A tensão do tubo varia entre 50 e 110 kV,

e a corrente entre 2 e 10 mA. Todos os acessos para inserção do cateter-guia são por via femoral,

conduta padrão do departamento de hemodinâmica parceiro.

A função dos técnicos de radiologia nesses tipos de procedimentos é o auxílio no

posicionamento e imobilização dos pacientes na mesa do equipamento, ajuste na colimação do

feixe de radiação para aquisição das imagens, além da injeção do contraste radiográfico. Tanto

para a colimação do feixe quanto para a injeção do contraste, orientado pelo médico, o técnico

precisa visualizar as imagens mostradas no monitor, por isso eles ficam posicionados

lateralmente. Portanto, o lado esquerdo desses profissionais fica mais exposto a radiação

espalhada pelo paciente, o que justifica a escolha desse lado para o posicionamento do

DosímetroG4.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

67

Figura 32 – Posicionamento do DosímetroG4 em teste clínico.

Fonte: O autor (2020).

DosímetroG4

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

68

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção, mostraremos os resultados obtidos com a simulação pelo método de Monte

Carlo para a resposta do DosimetroG4 no código GEANT4. Em seguida, são comparados os

protótipos do suporte do dosímetro impressos em 3D com várias técnicas. Por último, é

analisado a resposta do dosímetroG4 em condições experimentais, e em aplicação clínica.

4.1 SIMULAÇÃO DO DOSÍMETROG4 NO CÓDIGO MONTE CARLO GEANT4

As Figuras 33, 34 e 35 mostram os resultados das simulações para as três versões do

DosímetroG4 com profundidade dos detectores correspondente à: 2,5 - 3,0 e 3,5 mm,

respectivamente. A comparação entre as respostas das versões do DosímetroG4 e o modelo de

referência foi realizada em termos da razão entre as grandezas Dose Equivalente e Kerma no ar

incidente, em função da energia do feixe de fótons, conforme foi realizado previamente por

Behrens et al. (2011) para o modelo ocular antropomórfico de referência.

Figura 33 – Resultados da simulação para a versão G4-2.5 do DosímetroG4 comparada com o modelo

de referência: (a) Dose Equivalente por Kerma no ar para o ângulo de incidência de 0° e (b) ângulo de

incidência de 90°.

(a) (b)

Fonte: O autor (2020).

No modelo de referência (pontos pretos na Figura 33), observa-se que, para baixas

energias, os fótons incidentes não possuem energia suficiente para atingir o cristalino a uma

profundidade de 3,36 mm, o que resulta em um baixo valor de fator de conversão para Hp(3).

Para altas energias (tipicamente maiores que 1 MeV), o valor da dose absorvida na região do

cristalino também será pequeno, devido à espessura de build-up insuficiente nestas energias.

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Modelo de Referência

LiF_ G4-2,5

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

AP (0°)

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Modelo de Referência

LiF_ G4-2,5

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

LAT (90°)

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

69

Em paralelo, na Figura 33, os pontos em vermelho representam a resposta da simulação do TLD

LiF inserido no porta-dosímetro versão G4-2.5, ou seja, à 2,5 mm de profundidade. Observa-se

que a versão G4-2.5 do DosímetroG4 superestimaria o valor de Hp(3) para o ângulo de

incidência de 0° na região de baixa energia do feixe de fótons (Figura 33-a), uma vez que a

espessura de tecido equivalente na parte frontal dos detectores é menor que a correspondente à

Córnea e Humor Aquoso e é insuficiente para a “blindar” os fótons de baixa energia. Para o

ângulo de incidência de 90° (Figura 33-b), a versão G4-2.5 do DosímetroG4 superestima o

valor da Dose Equivalente até a energia dos fótons próxima a 1,0 MeV. A partir desse valor, a

resposta do DosímetroG4 é subestimada quando comparada ao modelo de referência. Para as

energias maiores (ex. acima de 1 MeV), o porta-dosímetro resultará em uma subestimativa da

dose uma vez que a espessura de build-up é insuficiente, quando comparado ao modelo de

referência.

A Figura 34-a apresenta o resultado da simulação do detector LiF inserido no porta-

dosímetro versão G4-3.0 quando exposto a feixe de fótons na incidência AP. Como a espessura

de tecido equivalente é maior que a versão anterior, observa-se que para a ampla faixa de

energias a curva de resposta do DosímetroG4 se aproxima da resposta do modelo de referência.

Nessa versão, o LiF encontra-se a 3,0 mm de profundidade no porta-dosímetro, o que é próxima

da profundidade do cristalino no modelo de referência.

Figura 34 – Resultados da simulação para a versão G4-3.0 do DosímetroG4 comparada com o modelo

de referência: (a) Dose Equivalente por Kerma no ar para o ângulo de incidência de 0° e (b) ângulo de

incidência de 90°.

(a) (b)

Fonte: O autor (2020).

Entretanto, para o ângulo de incidência de 90° (Figura 34-b), a versão G4-3.0 do

DosímetroG4 superestimam a resposta da Dose Equivalente até a energia dos fótons próxima a

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Modelo de Referência

LiF_ G4-3,0

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

AP (0°)

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Modelo de Referência

LiF_ G4-3,0

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

LAT (90°)

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

70

1,0 MeV. Nessa versão, a espessura de tecido equivalente do porta-dosímetro é menor que a

corresponde à Córnea e Humor Aquoso no modelo de referência. Acima da energia do fóton de

2,0 MeV, o DosímetroG4 subestima o valor da resposta quando comparada ao modelo de

referência, em virtude da insuficiência da espessura de build-up no porta-dosímetro, e sendo

assim, a maior parte dos fótons incidentes passam pelo DosímetroG4 sem interagir.

A resposta para a versão G4-3.5 do DosímetroG4 irradiado com ângulo de incidência de

0° é mostrada na Figura 35-a. Nesta versão, observa-se que a curva com a resposta do detector

LiF apresenta resposta próxima ao modelo de referência, uma vez que o detector encontra-se

na profundidade do porta-dosímetro próxima à correspondente do cristalino no modelo de

referência. Para baixas energias, a dose absorvida no TLD LiF é superior à do cristalino para a

mesma região energética. É importante ressaltar que o número atômico efetivo (Zeff) do LiF é

8,31, ou seja, mais elevado que o do tecido humano (Zeff = 7,35), o que proporciona maior

absorção da energia dos fótons incidentes.

Figura 35 – Resultados da simulação para a versão G4-3.5 do DosímetroG4 comparada com o modelo

de referência: (a) Dose Equivalente por Kerma no ar para o ângulo de incidência de 0° e (b) ângulo de

incidência de 90°.

(a) (b)

Fonte: O autor (2020).

Para a angulação de 90° (Figura 35-b), a versão G4-3.5 do DosímetroG4 superestima a

resposta do modelo de referência na maior parte da faixa energética analisada, até

aproximadamente a energia de 2,0 MeV. Uma explicação é que a espessura lateral do porta-

dosímetro é menor que no modelo de referência, além de que o Zeff do LiF é superior ao do

cristalino. Acima dessa energia, a curva de resposta do DosímetroG4 decresce, novamente pela

falta de build-up no porta-dosímetro.

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Modelo de Referência

LiF_ G4-3,5

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

AP (0°)

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Modelo de Referência

LiF_ G4-3,5

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

LAT (90°)

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

71

A aplicação do método de Monte Carlo através do código de transporte da radiação

GEANT4 permitiu analisar a resposta das três versões do DosímetroG4 em condições de

irradiações e comparar cada versão com o modelo de referência, e com isso obter a versão que

apresenta maior correlação com o modelo de referência.

A Figura 36 apresenta a comparação das respostas de cada versão do DosímetroG4, para

os ângulos de incidência de 0° e 90°. Observa-se que a versão G4-2.5 do porta-dosímetro

simulada à 0° possui resposta mais distinta, quando comparada com o modelo de referência, ao

longo de toda faixa energética. Com relação as versões G4-3.0 e G4-3.5, ambas apresentam

resposta similares entre si e próxima ao modelo de referência na simulação a 0°. Para a

simulação realizada com ângulo de incidência de 90°, as três versões apresentam respostas

similares entre si ao longo de toda a faixa energética e superestimam a resposta do modelo de

referência até a energia de 2,0 MeV.

Figura 36 – Sobreposição das respostas das simulações para cada versão do DosímetroG4 comparada

com o modelo de referência: (a) ângulo de incidência de 0° e (b) ângulo de 90°.

(a) (b)

Fonte: O autor (2020).

A comparação visual entre as curvas não garante obter a versão do porta-dosímetro que

mais corresponde ao modelo de referência. Através do método Figura de Método (FOM) foi

possível comparar a correlação entre as curvas de resposta de cada versão do DosímetroG4 com

o modelo de referência. Esse método realiza a comparação ponto a ponto entre curvas e por

meio da área sob as mesmas fornece um valor numérico referente à diferença percentual dessa

correlação. Dessa forma, quanto menor for o valor percentual da FOM, melhor é a

correspondência entre as curvas.

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Energia do Fóton (MeV)

Modelo de Referência

LiF_ G4-2,5

LiF_ G4-3,0

LiF_ G4-3,5AP (0°)

0,01 0,1 1 10

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

LAT (90°)

Energia do Fóton (MeV)

Modelo de Referência

LiF_ G4-2,5

LiF_ G4-3,0

LiF_ G4-3,5

Dose

Eq

uiv

ale

nte

/ K

erm

a n

o a

r (S

v/G

y)

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

72

A Tabela 11 mostra os valores da análise realizada pelo método FOM para as curvas de

resposta das versões do DosímetroG4 e o modelo de referência.

Tabela 11 – Valores do FOM entre as versões do DosímetroG4 e o modelo de referência.

Figura de Mérito - FOM (%)

Versão AP (0°) LAT (90°)

G4-2.5 42,8 31,7

G4-3.0 10,0 29,7

*G4-3.5 10,6 24,8

*versão otimizada

Fonte: O autor (2020).

Observa-se que a versão G4-2.5 apresenta os maiores valores de FOM para as duas

incidências de irradiação nas simulações. A versão G4-3.5 mostra melhor correspondência ao

modelo de referência quando comparada as versões anteriores para o ângulo de incidência de

90°. Como a diferença entre as versões G4-3.0 e G4-3.5 para o ângulo de 0° é menor que para

o ângulo de incidência de 90°, foi escolhida a versão G4-3.5 como aquela que mais se aproxima

ao modelo de referência. Dessa forma, a análise pelo método FOM permitiu obter a versão

otimizada do suporte do DosímetroG4 em termos da sua geometria e dimensões, e com isso

submetê-lo a processos de impressões 3D.

4.2 IMPRESSÃO 3D

Com a impressão 3D e obtenção dos protótipos do suporte do DosímetroG4 foi possível

analisar experimentalmente a resposta desses dosímetros em condições reais. A seguir, estão os

protótipos obtidos da versão G4-3.5 quando submetida aos três métodos de impressão 3D

estudados neste trabalho.

4.2.1 Impressão com Filamento PLA

A Figura 37 mostra o resultado obtido do porta-dosímetro versão G4-3.5 impresso com

tecnologia por filamento tipo PLA. Observa-se que a superfície do suporte do DosímetroG4

apresentou um aspecto rugoso, tanto que a bandeja deslizante traseira não encaixou no trilho do

suporte.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

73

O PLA é um dos materiais mais utilizados na impressão 3D com filamentos, por ser de

origem vegetal, biodegradável, atóxico e inodoro. Os objetos impressos com PLA são mais

rígidos, portanto, são mais quebradiços. Por ser um material de fácil impressão, o seu uso é

indicado em impressões de peças grandes.

Figura 37 – Protótipo da versão G4-3.5 do porta-dosímetro impresso com Filamento PLA.

Fonte: O autor (2020).

Geralmente, as peças impressas em 3D com filamento apresentam irregularidades em sua

superfície e necessitam de acabamento, seja polimento ou vedação, dependendo do objetivo de

uso final do protótipo. Com isso, como cada peça passará por um acabamento individualizado,

não é garantido com confiança a reprodutibilidade desse método de impressão 3D. Dessa forma,

o baixo nível de resolução da técnica e necessidade de acabamento mostraram que esse método

de impressão 3D é inviável para a finalidade desejada.

4.2.2 Impressão Comercial por Multijatos

Buscou-se um método de impressão 3D com melhor resolução e nível de detalhes. Os

protótipos da versão G4-3.5 do suporte do DosímetroG4 obtidos com sistema comercial de

impressão 3D, que utiliza a técnica multijatos, são mostrados na Figura 38.

Em geral, os métodos que utilizam resinas líquidas apresentam melhor nível de detalhes

nas peças impressas, principalmente peças pequenas. O suporte impresso com essa técnica

apresentou dimensões e geometria com resolução suficiente, com encaixe apropriado da tampa

deslizante no trilho do suporte. Por não necessitar de polimento, apenas lavagem e cura em

câmara de raios UV, esse método é capaz de fornecer confiança na reprodutibilidade das peças

impressas.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

74

A análise quantitativa da exatidão e da reprodutibilidade dos protótipos impressos obtidos

foi possível através das medidas realizadas na profundidade e largura de cada um dos 10 porta-

dosímetros. As medidas da profundidade dos protótipos são mostradas na Tabela 12.

Figura 38 – Protótipos da versão G4-3.5 do porta-dosímetro impresso com método Multijatos.

Fonte: O autor (2020).

No desenho CAD da versão G4-3.5, o valor de referência para essa medida é 9,000 mm.

A média das medidas realizadas nos protótipos impressos foi de 9,0080. O desvio percentual

entre o projeto CAD e o modelo impresso para essas medidas foi, portanto, igual a 0,088%,

quando comparada ao valor de referência do desenho CAD, que pode estar associada à própria

incerteza do sistema de medição. Isso demonstra que o sistema possui uma exatidão apropriada

das dimensões dos protótipos criados através da técnica multijatos. Para a reprodutibilidade da

impressão de 10 porta-dosímetros, para a dimensão de 9,000 mm, o coeficiente de variação foi

de 0,14%.

Quanto às medidas da largura dos protótipos, são mostradas na Tabela 13. No desenho

CAD da versão G4-3.5, o valor de referência para essa medida é 15,200 mm. A média das

medidas realizadas nos protótipos foi de 15,269 mm e desvio padrão médio de 0,003 mm. A

variação percentual média para essas medidas foi de 0,40%, quando comparada com o valor de

referência do desenho CAD. Mais uma vez pode ser observada adequação da exatidão das

dimensões dessa técnica de impressão 3D. Para a reprodutibilidade da impressão de 10 porta-

dosímetros, para a dimensão de 15,000 mm, o coeficiente de variação foi de 0,12%.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

75

Tabela 12 – Reprodutibilidade da profundidade dos porta-dosímetros impressos com a técnica

Multijatos.

Porta-dosímetro

Medida 1

(mm) Medida 2

(mm) Medida 3

(mm)

Média

(mm)

Desvio

Padrão (mm)

c001 9,002 9,005 9,004 9,0037 0,0015

c002 9,005 9,004 9,003 9,0040 0,0010

c003 9,003 9,000 8,999 9,0007 0,0021

c004 9,002 8,998 8,999 8,9997 0,0021

c005 9,001 8,997 9,001 8,9997 0,0023

c006 9,006 9,006 9,004 9,0053 0,0012

c007 9,001 9,003 9,002 9,0020 0,0010

c008 9,003 9,005 9,010 9,0060 0,0036

c009 8,999 9,006 9,001 9,0020 0,0062

c010 9,003 9,010 9,006 9,0063 0,0035

Média Geral --- --- --- 9,0080 ---

Fonte: O autor (2020).

Tabela 13 – Reprodutibilidade da largura dos porta-dosímetros impressos com a técnica Multijatos.

Porta-dosímetro

Medida 1

(mm) Medida 2

(mm) Medida 3

(mm)

Média

(mm)

Desvio

Padrão (mm)

c001 15,246 15,245 15,252 15,2477 0,0031

c002 15,276 15,275 15,286 15,2790 0,0050

c003 15,265 15,269 15,268 15,2673 0,0017

c004 15,281 15,283 15,284 15,2827 0,0012

c005 15,243 15,252 15,239 15,2447 0,0054

c006 15,268 15,266 15,269 15,2677 0,0012

c007 15,277 15,279 15,276 15,2773 0,0012

c008 15,235 15,243 15,249 15,2423 0,0057

c009 15,274 15,266 15,256 15,2653 0,0074

c010 15,227 15,230 15,226 15,2277 0,0017

Média Geral --- --- --- 15,2687 ---

Fonte: O autor (2020).

É importante ressaltar que o custo dos protótipos obtidos com a técnica de Multijatos é

relativamente elevado, pois utilizam impressoras comerciais de grande porte. Entretanto,

quando se busca um método preciso e com reprodutibilidade, essa técnica é uma importante

ferramenta na execução de projetos. Todas as medidas experimentais e inclusive o teste clínico

foram realizados com os porta-dosímetros impressos com essa técnica, apenas.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

76

4.2.3 Impressão SLA Desktop

A versão G4-3.5 do suporte do DosímetroG4 impresso com a técnica SLA é mostrada na

Figura 39. Esse método também utiliza resina líquida e o protótipo impresso apresentou

bastante riqueza de detalhes, principalmente na cavidade circular interna que acomodará o

cristal detector, que requer mais precisão da técnica utilizada. Além disso, a densidade relativa

das resinas utilizadas nesse método é entre 1,09 e 1,12 g.cm-3, próxima da água

(ρ = 1,0 g.cm-3), portanto, uma composição próxima a tecido-equivalente.

A qualidade de impressão dos protótipos obtidos com o método SLA Desktop, quando

comparada com o método Multijatos no sistema comercial, é bem similar. O método SLA

Desktop apresenta mais vantagens com relação ao custo benefício das impressões, que podem

ser reduzidos à fração de 1/10 do custo gerado com o sistema comercial industrial. O preço

médio da resina usada no método SLA é de R$ 1,50 por ml. Em cada porta-dosímetro impresso,

gasta-se um volume menor que 3 ml, já considerando os suportes de fixação na impressão.

Portanto, o custo médio de impressão de cada porta-dosímetro pelo método SLA Desktop é em

torno de R$ 5,00.

Figura 39 – Protótipo da versão G4-3.5 do porta-dosímetro impresso com a técnica SLA.

Fonte: O autor (2020).

As resinas utilizadas nessas impressões geralmente são tóxicas na sua forma inicial e,

também, após a impressão, no estado denominado green-state, mas tornam-se atóxicas após o

processo de cura na câmara de raios UV. Portanto, os protótipos finais não oferecem riscos à

saúde dos usuários.

A Tabela 14 mostra as medidas obtidas da profundidade e largura do porta-dosímetro

impresso com o método SLA para análise do desvio entre as dimensões do desenho CAD da

versão G4-3.5 e a dimensão da peça impressa. As dimensões de referência para a profundidade

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

77

e largura dessa versão são: 9,000 mm e 15,200 mm, respectivamente. A média das medidas da

profundidade foi de 9,005 mm e desvio padrão de 0,002 mm. O desvio percentual dessa

dimensão foi de 0,05%, quando comparada ao valor de referência do desenho CAD.

Para as medidas da largura do porta-dosímetro, a média obtida foi de 15,231 mm e desvio

padrão de 0,006 mm. O desvio percentual da largura foi de 0,20%, quando comparado ao valor

de referência do desenho CAD.

Pelos dados da Tabela 14, verifica-se que a técnica de impressão 3D SLA Desktop

também consegue reproduzir as dimensões do desenho CAD nos protótipos impressos, o que

garante confiabilidade nesse método de impressão.

Tabela 14 – Medidas do porta-dosímetro impresso com a técnica SLA Desktop.

Porta-

dosímetro

Dimensão Medida 1

(mm)

Medida 2

(mm) Medida 3

(mm) Média

(mm)

Desvio

Padrão (mm)

c101 Profundidade 9,003 9,006 9,005 9,005 0,002

Largura 15,215 15,246 15,232 15,231 0,006

Fonte: O autor (2020).

4.3 DEPENDÊNCIA DA RESPOSTA DO DOSÍMETROG4 COM A ENERGIA E ÂNGULO

DE INCIDÊNCIA DA RADIAÇÃO

Nesta seção, é mostrada a calibração dos dosímetros bem como sua resposta com a

energia e ângulo da radiação incidente em condições experimentais.

4.3.1 Determinação do Algoritmo

A Tabela 15 apresenta o resultado das leituras obtidas para determinação do fator de

calibração para o Dosímetro comercial EYE-DTM e o Dosímetro G4-3.5 (porta-dosímetro

versão G4-3.5 e impresso com a técnica Multijatos). Para o G4-3.5, cada conjunto de irradiação

apresenta duas leituras, correspondentes aos dois TLD’s em seu porta-dosímetro. O Dosímetro

EYE-DTM possui apenas um TLD em seu suporte, portanto, possui uma leitura para cada

conjunto de irradiação.

Devido à semelhança das espessuras de parede frontal entre os porta-dosímetro G4-3.5 e

o dosímetro comercial EYE-D, bem como a utilização do mesmo tipo de TLD em ambos, o

fator de calibração mostrou-se semelhante (diferença menor que 1,0%).

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

78

Tabela 15 – Leituras obtidas com dosímetros irradiados em (Hp(3), S-Cs-137). Dosímetro EYE-DTM DosímetroG4

Conjunto Leitura Liq. (nC) Média (nC) DP Leitura Liq. (nC) Média (nC) DP

1 8,395

8,82 0,34

8,759

9,05

0,17

8,935

2 9,146 9,277

9,228

3 9,026 9,586

8,528

4 8,692 9,000

9,101

*Fator de Calibração (mSv/nC)

Dosímetro EYE-DTM 0,340

*Fator de Calibração (mSv/nC)

DosímetroG4 0,331

*O fator de calibração é obtido através da relação: Fc = Hp(3)/ L. O valor do Hp(3) = 3mSv, e

L representa a média das leituras líquidas obtidas, em nC. DP = desvio padrão. Fonte: O autor (2020).

4.3.2 Fator de correção devido à Dependência da Resposta do Dosímetro com a Energia e

a Angulação

A análise das primeiras medidas para determinar o fator de correção devido à dependência

da resposta de ambos os dosímetros em relação à energia e angulação foi realizada após irradiar

os dosímetros com ângulo de incidência da radiação em 0°, e utilizando-se os valores de

resposta do dosímetro para algumas energias em relação à resposta obtida com a energia do

137Cs. Os valores de Hp(3) calculados através das leituras obtidas para a faixa de energia de

fótons entre 24 e 164 keV são mostrados na Tabela 16. Esses valores foram normalizados para

a resposta obtida com a energia do 137Cs, para obtenção da resposta relativa.

Essa resposta relativa em função da energia foi comparada com os limites descritos por

rmín e rmáx na norma IEC 62387 (2012) para dosímetros calibrados em termos da grandeza

operacional Hp(3). Esses valores correspondem a: rmín = 0,71 e rmáx = 1,67.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

79

Tabela 16 – Dependência energética dos dosímetros na faixa de energia média da radiação entre 24 e

164 keV normalizados para a energia do Cs-137.

DosímetroG4 Dosímetro EYE-DTM

Qualidade

Energia

Média

(keV)

Hp(3) ± DP

(mSv)

Resposta

Relativa

Hp(3) ± DP

(mSv)

Resposta

Relativa

N-30 24 4,790 ± 0,120 1,597 ± 0,040 4,933 ± 0,168 1,644 ± 0,056

N-40 33 4,618 ± 0,218 1,539 ± 0,073 4,693 ± 0,080 1,564 ± 0,027

N-60 48 4,265 ± 0,097 1,422 ± 0,032 4,337 ± 0,071 1,446 ± 0,024

N-80 65 3,915 ± 0,098 1,305 ± 0,033 3,785 ± 0,272 1,262 ± 0,091

N-100 83 3,710 ± 0,111 1,237 ± 0,037 3,478 ± 0,164 1,159 ± 0,055

N-120

N-150

N-200

100

118

164

3,962 ± 0,419

3,650 ± 0,275

3,119 ± 0,125

1,321 ± 0,140

1,217 ± 0,092

1,040 ± 0,042

3,788 ± 0,441

3,149 ± 0,058

3,058 ± 0,104

1,263 ± 0,147

1,050 ± 0,019

1,019 ± 0,035

Cs-137 662 3,000 ± 0,108 1,000 ± 0,036 3,000 ± 0,115 1,000 ± 0,038

Fonte: O autor (2020).

Como pode ser visto graficamente na Figura 40, as tolerâncias descritas na norma estão

sendo representadas através das linhas em vermelho. A faixa energética do feixe de fótons foi

entre 24 keV e 662 keV. Para análise comparativa, foi plotada no mesmo gráfico a resposta da

dependência energética do dosímetro comercial EYE-DTM, que foi irradiado juntamente com o

DosímetroG4.

Figura 40 – Resposta Relativa da Dependência Energética do DosímetroG4 e EYE-DTM.

Fonte: O autor (2020).

10 100 1000

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8 DosímetroG4

EYE-DTM

Limites IEC 62387 (2012)

Res

po

sta

Rel

ati

va

Hp

(3)

Energia do Fóton (keV)

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

80

Observa-se que a resposta do primeiro ponto (energia efetiva de 24 keV) para ambos os

dosímetros se encontram próxima do limite superior aceitável pela norma. Dessa forma, foi

calculado o valor de um fator multiplicativo que levasse todos os pontos de medição para a

região intermediária dos limites aceitáveis pela norma. Tomou-se o valor médio correspondente

ao intervalo entre a resposta relativa máxima (r = 1,70) e mínima (r = 0,98) de ambos os

dosímetros, e normalizou-se para resposta relativa r = 1,0.

Portanto, foi estimado que esse fator corresponde a fE,A = 0,75. Esse valor foi aplicado em

todos os pontos de medição, de ambas as curvas e, estão representados na Figura 41, onde se

observa que a resposta dos dosímetros em todas as energias avaliadas ficam na região central

dos limites de aceitação descritos pela norma IEC 62387 (2012) e em torno da resposta relativa

igual a 1. A resposta relativa igual ou em torno do valor 1 é desejável, pois mostra que o valor

da dose avaliada corresponde ou está muito próximo do valor verdadeiro.

Figura 41 – Resposta Relativa da Dependência Energética do DosímetroG4 e EYE-DTM, sem e com

fE,A.

Fonte: O autor (2020).

Os resultados mostraram que as respostas do dosímetro comercial EYE-DTM e do

protótipo da versão otimizada do DosímetroG4 impresso por Multijatos são bastante similares

ao longo de toda a faixa energética analisada e as diferenças observadas podem estar associadas

10 100 1000

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8 DosímetroG4 com f

E,A

EYE-DTM

com fE,A

Limites IEC 62387 (2012)

Res

post

a R

elati

va H

p(3

)

Energia do Fóton (keV)

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

81

às incertezas ao próprio processo de irradiação e/ou leitura dos TLD’s. Vale ressaltar que o

dosímetro EYE-DTM possui uma cápsula circular de poliamido com 3,0 mm de espessura, valor

próximo ao da espessura de 3,5 mm da versão otimizada G4-3.5 do DosímetroG4. Entretanto,

no modelo ocular de referência, a espessura de tecido equivalente da superfície do globo ocular

até o cristalino corresponde a aproximadamente 3,36 mm. Dessa forma, a versão otimizada do

DosímetroG4 possui mais semelhança ao modelo ocular de referência na espessura frontal de

tecido equivalente.

Como mencionado, foi adotado o valor do fator de correção devido à dependência da

resposta do dosímetro em relação à energia e angulação igual a 0,75. No entanto, essas primeiras

medidas foram realizadas em dosímetros irradiados com ângulo de incidência da radiação em

0°.

Então, utilizando-se como correção o mesmo valor de fE,A anteriormente adotado, os

dosímetros foram irradiados fazendo variar o ângulo de incidência entre 15 e 60 graus para as

cinco menores energias de fótons (24, 33, 48, 65 e 83 keV) disponíveis no LMRI, laboratório

no qual foram realizadas todas as irradiações deste trabalho.

Entretanto, a norma IEC 62387(2012) estabelece critérios de desempenho dos dosímetros

para a dependência angular nas três menores energias (piores casos). Essa é a região energética

de predomínio do efeito fotoelétrico e a resposta do dosímetro é fortemente dependente da

composição do cristal detector e pode ser alterada através das dimensões, geometria e material

do porta-dosímetro.

A Tabela 17 mostra a resposta da dependência angular do DosímetroG4 normalizada para

a resposta obtida com a energia do 137Cs. Observa-se que a resposta relativa para as três menores

energias aumenta conforme eleva-se o ângulo de incidência da radiação até 60°.

Para a energia de 24 keV, esse aumento é de aproximadamente 15% quando comparado

à resposta relativa no ângulo de incidência de 0°. Vale ressaltar que sem o fator fE,A a resposta

relativa do DosímetroG4 para essa energia e irradiado a 0° estava muito próxima do limite

máximo da IEC 62387 (2012). Caso não fosse aplicado o fator fE,A para a resposta do

DosímetroG4, quando irradiado a 45° e 60° o valor da resposta relativa seria 1,73 e 1,79,

respectivamente, e excederia o limite máximo estabelecido pela norma. Ao aplicar o fator fE,A,

essas mesmas respostas relativas passaram a ser 1,29 e 1,34, respectivamente, conforme

mostram os dados da tabela Tabela 17.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

82

Tabela 17 – Dependência angular do DosímetroG4.

Qualidade

Energia

Média

(keV)

Ângulo

(°)

Hp(3) ± 1 DP

(mSv)

Resposta

Relativa

N-30 24

0 3,573 ± 0,089 1,191 ± 0,040

15 3,681 ± 0,103 1,227 ± 0,046

30 3,728 ± 0,121 1,243 ± 0,054

45 3,869 ± 0,073 1,290 ± 0,032

60 4,010 ± 0,037 1,337 ± 0,016

N-40 33

0 3,445 ± 0,163 1,148 ± 0,073

15 3,416 ± 0,138 1,139 ± 0,062

30 3,486 ± 0,093 1,161 ± 0,042

45 3,584 ± 0,048 1,195 ± 0,022

60 3,737 ± 0,124 1,246 ± 0,056

N-60 48

0 3,181 ± 0,073 1,060 ± 0,032

15 3,260 ± 0,136 1,087 ± 0,061

30 3,224 ± 0,086 1,075 ± 0,039

45 3,304 ± 0,062 1,101 ± 0,028

60 3,262 ± 0,079 1,087 ± 0,035

N-80 65

0 2,921 ± 0,073 0,974 ± 0,033

15 2,797 ± 0,081 0,932 ± 0,036

30 2,890 ± 0,049 0,963 ± 0,022

45 2,793 ± 0,129 0,931 ± 0,058

60 2,819 ± 0,071 0,940 ± 0,032

N-100 83

0 2,768 ± 0,083 0,923 ± 0,037

15 2,531 ± 0,087 0,844 ± 0,039

30 2,570 ± 0,062 0,857 ± 0,028

45 2,644 ± 0,053 0,881 ± 0,024

60 2,468 ± 0,062 0,823 ± 0,028

Fonte: O autor (2020).

A Figura 42 apresenta graficamente a resposta da dependência angular do DosímetroG4,

em termos da resposta relativa normalizada para a resposta obtida para a energia do 137Cs, de

acordo com os dados da Tabela 17. Os limites descritos na norma IEC 62387 (2012) referentes

a toda a faixa energética analisada e ângulo de incidência da radiação de 0° até 60° estão

representados através das linhas em vermelho e os valores máximo e mínimo da resposta

relativa correspondem a: 1,67 e 0,71, respectivamente.

Observa-se que o maior desvio entre o valor de referência e o valor medido foi aquele

correspondente à menor energia analisada (24 keV) e ângulo de incidência de 60°. Os resultados

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

83

mostram que a resposta relativa em Hp(3) do DosímetroG4 é próxima do valor 1, com variação

em torno de ± 35% na faixa de fótons com energia de 24 keV a 100 keV, que cobre todas as

energias de interesse em radiologia intervencionista. Portanto, o DosímetroG4 atende aos

requisitos de aceitação descritos na norma IEC 62387 (2012) para a dependência energética e

angular de dosímetros calibrados em Hp(3), em todas as angulações e energias analisadas,

quando aplicado o fator de correção para dependência energética e angular.

Figura 42 – Resposta do DosímetroG4 Relativa à energia com irradiação sob ângulo.

Fonte: O autor (2020).

É importante destacar que os cristais detectores apresentam resposta intrinsecamente

dependente da energia da radiação. A Figura 43 apresenta o resultado da avaliação realizada

pelo fabricante, em termos da resposta relativa dos detectores MTS-N “nus” (encapsulado em

uma folha fina) exposto a feixe de fótons, e verificada em vários estudos. Esses resultados foram

obtidos com cristais de espessura entre 0,7 - 0,9 mm. Nota-se que a resposta desses detectores

superestima o valor da dose para o feixe em baixas energias, em até 40 %, devido o predomínio

de interação da radiação com o meio através do efeito fotoelétrico, onde a energia dos fótons é

absorvida pelo cristal detector. Além disso, nessa região energética a resposta do detector é

fortemente dependente do seu número atômico efetivo.

20 30 40 50 60 70 80 90 100

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

15°

30°

45°

60°

Limites IEC 62387 (2012)

Res

po

sta

Rel

ati

va

Hp

(3)

Energia do Fóton (keV)

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

84

Figura 43 – Dependência energética dos detectores MTS-N para feixe de fótons.

Fonte: Manual dos detectores da RADCARD-Poland.

4.4 APLICAÇÃO CLÍNICA DO DOSÍMETROG4

A Tabela 18 mostra os dados coletados no protocolo DICOM após cada procedimento de

angiografia cerebral. Na tabela, é apresentada a denominação do médico responsável por

realizar cada exame.

Como a dose de radiação nos IOE’s depende do estudo e complexidade de cada caso, as

três colunas da direita da Tabela 18 descrevem, para cada procedimento, o tempo de

fluoroscopia total durante o exame, o número de séries de aquisições de imagens e o kerma ar

acumulado no ponto de referência (Ka,r) durante a fluoroscopia.

Observa-se que o tempo médio de fluoroscopia é em torno de 12,0 minutos, e variou entre

2 e 28,6 minutos. De fato, os valores do tempo de fluoroscopia são diferentes para cada exame,

pois depende da dificuldade no acesso do cateter-guia aos vasos sanguíneos de interesse para o

estudo angiográfico.

Já com relação ao número de séries de aquisições de imagens, existe um protocolo padrão

no serviço monitorado para o estudo adequado da circulação intracraniana por meio de

angiografia cerebral. Faz-se necessário o cateterismo mínimo dos seguintes vasos: Artéria

Carótida interna direita, Artéria Carótida interna esquerda, Artéria Vertebral direita e Artéria

Vertebral esquerda, e aquisição das imagens nas incidências de 0° (AP) e 90° (Perfil). Portanto,

Energia do Fóton (MeV)

Resp

ost

a R

ela

tiva

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

85

observa-se pelos dados da Tabela 18 que, são realizadas em média 14 séries em cada exame, e

esse número de séries varia de acordo com a necessidade de séries adicionais.

Quanto ao valor do kerma ar no ponto de referência (Ka,r), depende da complexidade e

do estudo em cada exame, além de características físicas do paciente que determinaram o valor

da tensão no tubo e corrente em cada exposição, por meio do controle automático de exposição.

Dentre os 10 procedimentos monitorados, o Ka,r variou entre 7,1 mGy, para um procedimento

simples, até 135,8 mGy para um procedimento complexo e mais detalhado.

Vale ressaltar que a experiência do médico é um fator importante que contribui para as

doses de radiação tanto no paciente quanto no próprio profissional e sua equipe. Os médicos

denominados A e B são especialistas e, portanto, mais experientes na prática. Verifica-se que

os menores tempos de fluoroscopia foram utilizados por eles (2,0 – 2,8 e 3,8 minutos), o que

reflete também nos menores valores de Ka,r (7,1 – 16,1 e 22,2 mGy).

Já o médico C é residente do primeiro ano, que possui pouca experiência na prática.

Observa-se que este profissional realiza os procedimentos com os maiores tempos de

fluoroscopia (28,6 – 25,9 e 18,5 minutos) e que fornecem os maiores valores de Ka,r (135,8 –

112,3 e 89,2 mGy).

Tabela 18 – Dados coletados após cada procedimento de angiografia cerebral.

Procedimento Médico Tempo de

Fluoroscopia (min) Nº de séries Ka,r (mGy)

Angiografia

Cerebral

(n = 10)

C 8,7 13 34,1

A 2,8 12 28,3

C 28,6 19 135,8

A 6,9 14 22,2

B 9,3 18 52,9

C 25,9 17 112,3

B 2,0 6 7,1

C 17,1 17 64,8

C 18,5 17 89,2

B 3,8 14 16,1

Fonte: O autor (2020).

Os valores das doses acumuladas na região dos olhos para cada médico durante a

monitoração dos 10 procedimentos de angiografias cerebrais são mostrados na Tabela 19, em

termos de Hp(3). Observa-se que o maior valor de dose foi para o médico residente, resultando

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

86

em 361 µSv para os 5 procedimentos realizados por esse profissional. O valor médio de Hp(3)

por procedimento realizado pelo residente foi de 72,2 µSv.

Quanto ao Médico experiente B, que realizou 3 procedimentos, a dose acumulada foi de

196 µSv. O valor médio de Hp(3) por procedimento realizado pelo médico B foi de 65,3 µSv.

Já para o médico experiente A, a dose acumulada foi menor que o Limite de Detecção (LD) do

DosímetroG4, que corresponde à 85 µSv.

Portanto, para o médico residente, o valor médio de Hp(3) por procedimento é maior que

para os médicos experientes. De fato, é compreensível esse comportamento, uma vez que o

residente não possui muita prática na realização das angiografias cerebrais e utiliza por mais

tempo a fluoroscopia no cateterismo dos vasos de interesse, que resulta em mais radiação

espalhada ao longo de todo o exame.

Tabela 19 – Valores de Hp(3) encontrados para os profissionais monitorados.

* LD = limite de detecção

Fonte: O autor (2020).

Vale ressaltar que os valores de doses na região dos olhos dos médicos podem variar de

acordo com alguns fatores: Tipo de procedimento, complexidade do caso e localização da

doença em estudo, experiência do profissional, além do uso adequado dos equipamentos de

proteção radiológica.

O angiógrafo utilizado no serviço monitorado possui um visor plumbífero suspenso que,

se manuseado de forma adequada, ou seja, ao lado do operador, pode resultar em uma redução

da radiação espalhada que atinge o médico por um fator próximo a 10. Esse sistema é mostrado

na Figura 44, onde é possível observar o uso inapropriado do visor, o que resulta em mais

radiação espalhada que atinge a região dos olhos dos profissionais monitorados.

Os médicos são os responsáveis por realizar os procedimentos nos pacientes e, por isso,

ficam muito próximos ao tubo de raios X, cerca de 1,0 metro, enquanto que os técnicos ficam

mais afastados, em torno de 2,5 metros do tubo de raios X. Dessa forma, os médicos são os

profissionais mais expostos à radiação em procedimentos de neurorradiologia intervencionista.

Ainda na Tabela 19, é apresentado o resultado para a avaliação da dose na região dos

olhos do técnico de radiologia que participa da realização dos exames. A dose acumulada foi

Procedimento Médico A

(n = 2)

Médico B

(n = 3)

Médico C

(n = 5)

Técnico

(n = 6)

Angiografia

Cerebral < LD* 196 361 < LD

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

87

menor que o Limite de Detecção do DosímetroG4, referente aos 6 últimos procedimentos de

angiografias cerebrais descritos na Tabela 18.

Em geral, os técnicos de radiologia desses tipos de procedimentos não fazem uso de

dosímetros de cristalino, apenas dosímetros de corpo inteiro posicionado na altura do tórax.

De fato, as doses são muito baixas, por vezes inferiores ao limite de detecção dos

dosímetros. Pirchio et al. (2014) fizeram um estudo de monitoração trimensal em dois

departamentos de radiologia intervencionista, com dois técnicos de cada instituição. 75 % dos

valores de dose na região da lente dos olhos foram abaixo do limite de detecção do dosímetro

empregado. A média dos valores de dose nos outros 25% foi de 33 µSv durante o período de

monitoração.

Figura 44 – Posicionamento do médico e técnico durante os procedimentos.

Fonte: O autor (2020).

DosímetroG4

Visor

Plumbífero

suspenso

Residente

Técnico de

radiologia

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

88

5 CONCLUSÃO

A metodologia proposta neste trabalho, através da integração entre Software de

modelagem CAD 3D, simulação pelo método de Monte Carlo e impressão 3D para

prototipagem do suporte do DosímetroG4, foi considerada adequada para o desenvolvimento

de novos suportes para dosímetros.

A avaliação comparativa entre a Dose Equivalente na região sensível do cristalino,

descrito pelo modelo antropomórfico ocular de referência, e as respostas de cada uma das três

versões do DosímetroG4 permitiu concluir que a versão do porta-dosímetro que mais se adequa

ao modelo de referência é a versão G4-3.5, que apresenta os TLD’s a 3,5 mm de profundidade

em seu suporte. Essa profundidade está próxima do valor da espessura de tecido equivalente na

região frontal do cristalino, descrita no modelo de referência, que corresponde a 3,36 mm.

Com relação as técnicas de impressão 3D disponíveis, os métodos que utilizam resinas

líquidas mostraram-se mais adequados para o objetivo desejado, em termos de resolução, nível

de detalhamento e capacidade de garantia na reprodutibilidade das peças criadas, com variação

percentual máxima de 0,4% entre as dimensões do desenho CAD 3D do porta-dosímetro e dos

protótipos obtidos.

A avaliação da dependência energética e angular mostrou que o DosímetroG4 atende aos

requisitos estabelecidos pela norma internacional IEC 62387 (2012), para todas as energias e

ângulos avaliados quando aplicado o fator de correção para dependência energética e angular.

A variação da resposta em Hp(3) do DosímetroG4 é em torno de ± 35% para fótons com energia

entre 24 e 662 keV e, ângulo de incidência compreendido entre 0° e ± 60°.

A aplicação clínica do DosímetroG4 no departamento de hemodinâmica em

procedimentos de neurorradiologia intervencionista permitiu aos usuários o teste da

portabilidade do dosímetro posicionado próximo a região dos olhos. Não houve reclamações

quanto a incômodo ou restrição do campo de visão dos usuários.

Portanto, uma vez que, ainda não há requisitos técnicos nacionais para critérios de

desempenho para dosímetros de cristalino, o DosímetroG4 foi avaliado pela norma

internacional IEC 62387 (2012). Pode-se concluir que o DosímetroG4 foi considerado

apropriado para monitoração individual do cristalino na grandeza operacional Equivalente de

Dose Pessoal Hp(3).

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

89

REFERÊNCIAS

ATTIX, F. H. Introduction to radiological physics and radiation dosimetry. Ed. Weinheim:

Wiley – VCH, 1986.

BANORYA, D.; PUROHIT, R. and DWIVEDI R. K. Modern Trends in Rapid Prototyping for

Biomedical Applications. Materials Today: Procedures, n. 2, p. 3409–3418, 2015.

BARTLETT, D. T. 100 Years of Solid-State Dosimetry and Radiation Protection Dosimetry.

Radiation Measurements, v. 43, n. 2–6, p. 133–138, 2008.

BALIAN, H. G.; EDDY, N. W. Figure-of-merit (FOM), an improved criterion over the

normalized chi-squared test for assessing goodness-of-fit of gamma-ray spectral peaks,

Nuclear Instruments and Methods, v. 145, p. 389-395, 1977.

BEHRENS, R. Air Kerma to Hp(3) conversion coefficients for a new cylinder phantom for

photon reference radiation qualities. Radiation Protection Dosimetry, v. 151, n. 3, p. 450 –

455, 2012.

BEHRENS, R.; DIETZE, G. Dose conversion coefficients for photon exposure of the human

eye lens. Physics in Medicine and Biology, v. 56, p. 415–437, 2011.

BEHRENS, R.; DIETZE, G.; ZANKI, M. Dose conversion coefficients for electron exposure

of the human eye lens. Physics in Medicine and Biology, v. 54, p. 4069–4087, 2009.

BEHRENS, R.; HUPE, O.; BUSCH, F.; DENK, J.; ENGELHARDT, J.; GÜNTER, K.;

HÖDLMOSER, H.; JORDAN, M.; STROHMAIER, J. Intercomparison of eye lens dosemeters.

Radiation Protection Dosimetry, v. 174, n. 1, p. 1–7, 2016.

BETTI, M.; MAZZONI, L. N.; BELLI, G.; BERNARDI, L.; BICCHI, S.; BUSONI, S.;

FEDELE, D.; FEDELI, L.; GASPERI, C.; GORI, C.; QUATTROCCHI, M.; TADEUCCI, A.;

VIGLIOTTI, M.; VAIANO, A.; ROSSI, F. Surgeon eye lens dose monitoring in catheterization

lab: A multi-center survey. Physica Medica, v. 60, p. 127–131, 2019.

BILSKI, P.; OBRYK, B.; STUGLIK, Z. Behavior of LiF:Mg,Cu,P and LiF:Mg,Ti

thermoluminescent detectors for electron doses up to 1 MGy. Radiation Measurements, v. 43,

n. 3, p. 576–578, 2010.

BILSKI, P.; BORDY, J. M.; DAURES, J.; DENOZIERE, M.; FANTUZZI, E.; FERRARI, P.;

GUALDRINI, G.; KOPEC, M.; MARIOTTI, F.; MONTEVENTI, F.; WACH, S. The new

EYE-DTM dosemeter for measurements of Hp(3) for medical staff. Radiation Measurements,

v. 46, n. 11, p. 1239–1242, 2011.

BOS, A. J. J. High sensitivity thermoluminescence dosimetry. Nuclear Instruments and

Methods in Physics Research, v. 184, p. 3–28, 2001.

BOS, A. J. J. Theory of thermoluminescence. Radiation Measurements, v. 41, p. 45–58, 2007.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

90

BOSCHETTI, S. R. Utilização e Verificação do Código GEANT4 em Aplicações Médicas:

Estudo de Caso para Elétrons. Dissertação (Mestrado em Ciências e Técnicas Nucleares).

Universidade Federal de Minas Gerais. 2013.

BRUDER, U. L. F. User’s Guide to Plastic – Rapid Prototyping and Additive

Manufacturing. Hanser Publications, p. 103–110, 2015.

CAMERON, J. R.; SUNTHARALINGAM, N.; KENNEY, G. N. Thermoluminescent

Dosimetry, Madison: University of Wisconsin Press, 1968.

CASSOLA, V. F. Acoplamento dos Fantomas Tomográficos FAX06 e MAX06 ao Código

Monte Carlo GEANT4. Dissertação (Mestrado em Tecnologias Energéticas e Nucleares).

Universidade Federal de Pernambuco. 2007.

CHARLES, M. W.; BROWN, N. Dimensions of the human eye relevant to radiation protection.

Physics in Medicine and Biology. v. 20, n. 2, p. 202–218, 1975.

CHEN, R.; McKEEVER, S. W. Theory of Thermoluminescence and Related Phenomena.

New Jersey: World Scientific, 1997.

CHODICK, G.; BEKIROGLU, N.; HAUPTMANN, M.; ALEXANDER, B. H.; FREEDMAN,

D. M.; DOODY, M. M.; CHEUNG, L. C.; SIMON, S. L.; WEINSTOCK, R. M.; BOUVILLE,

A.; SIGURDSON, A. J. Risk of cataract after exposure to low doses of ionizing radiation: A

20-year prospective cohort study among US radiologic technologists. American Journal of

Epidemiology, v. 168, n. 6, p. 620–631, 2008.

CHUA C. K.; LEONG, K. F., ETAN, J. Introduction to Rapid Prototyping of Biomaterials,

p. 1–15, 2014.

CIRAJ-BJELAC, O.; REHANI, M. M.; SIM, K. H.; LIEW, H. B.; VANO, E.; KLEIMAN,

N. J. Risk for radiation-induced cataract for staff in interventional cardiology: Is there reason

for concern? Catheterization and Cardiovascular Interventions, v. 76, n. 6, p. 826–834,

2010.

CNEN. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica.

CNEN-NN-3.01, 2011.

DANIELS, F.; BOYD, C. A.; SAUNDERS, D. F. Thermoluminescence as a research tool.

Science, v. 117, p. 343–350, 1953.

EHLER, E. D.; BARNEY, B. M.; HIGGINS, P. D. Patient specific 3D printed phantom for

IMRT quality assurance. Physics in Medicine and Biology, v. 59, p. 5763–5773, 2014.

EHLER, E.; CRAFT, D.; RONG, YI. 3D printing technology will eventually eliminate the need

of purchasing commercial phantoms for clinical medical physics QA procedures. Journal of

Applied Clinical Medical Physics, v. 19, n. 4, p. 8–12, 2018.

FISHER, T.; BLIGH, M.; LAUREL, T.; RASMUSSEN, K. 3D extrusion based printing of

custom bolus using a non-invasive and low cost method. Medical Physics, v. 40, n. 6,

p. 280–292, 2013.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

91

FURETTA, C. Handbook of thermoluminescence. 2 ed. New Jersey: World Scientific

Publishing Co. Pte. Ltd., 2010.

GARZÓN, W. J.; ANDRADE, G.; DUBOURCQ, F.; ABUD, D. G.; BREDOW, M.;

KHOURY, H. J; KRAMER, R. Prostatic artery embolization: radiation exposure to patients

and staff. Journal of Radiological Protection, v.36, p. 246–254, 2016.

GILVIN, P. J.; BAKER, S. T.; GIBBENS, N. J.; ROBERTS, G. H.; TANNER, R. J.; EAKINS,

J. S.; HAGER, L. G.; DANIELS, T. J. Type testing of a head band dosemeter for measuring

eye lens dose in terms of Hp(3). Radiation Protection Dosimetry, v. 157, n. 3, p. 430–436,

2013.

GONÇALVES, S. M. O. Design e Produção de bólus individualizados via impressão

tridimensional para radioterapia externa. Dissertação (Mestrado em Engenharia

Biomédica). Universidade de Porto. 2017.

GUALDRINI, G.; MARIOTTI, F.; WACH, S.; BILSKI, P.; DENOZIERE, M.; DAURES, J.;

BORDY, J. M.; FERRARI, P.; MONTEVENTI, F.; FANTUZZI, E. Eye lens dosimetry: Task

2 with in the ORAMED Project. Radiation Protection Dosimetry, v. 144, n. 1–4, p. 473–477,

2011.

HARSHAW, THERMO FISHER SCIENTIFIC. Model 3500 Manual TLD Reader With

WinREMSTM. Operator’s Manual, 2002.

HEINY, M.; WALBERSLOH, J.; BUSCH, F.; KRÖNINGER, K. Design considerations and

prototype results of a finger ring dosimeter for the thin layer Thermoluminescence Dosimeter

System TL-DOS to measure the partial body dose HP (0.07). Apresentação em Pôster no

SSD18, 2016.

ICRP. International Commission on Radiological Protection. Recommendations of the

international Commission on Radiological Protection. British Journal of Radiology;

Supplement n. 6, 1995

ICRP. International Commission on Radiological Protection. Basic Anatomical and

Physiological Data for use in Radiological Protection: Reference Values. Publication 89;

Ann. ICRP 32, 2002.

ICRP. International Commission on Radiological Protection. Recommendations of the

international Commission on Radiological Protection ICRP. Publication 103; Ann. ICRP

37, 2007.

ICRP. International Commission on Radiological Protection. Conversion coeficients for

Radiological Protection for External Radiation Exposures. Publication 116; Ann. ICRP 40,

2010.

ICRP. International Commission on Radiological Protection. Statement on Tissue Reactions /

Early and Effects of Radiation in Normal Tissues and Organs – Threshold Doses for Tissue

Reactions in a Radiation Protection Context. ICRU Publication 118. Ann. ICRP 41 (1/2), 2012.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

92

ICRU. International Commission on Radiation Units and Measurements. Determination of

Dose Equivalents Resulting from External Radiation Sources. Report 39. 1985 (ICRU

Publications: Bethesda).

ICRU. International Commission on Radiation Units and Measurements. Quantities and Units

in Radiation Protection Dosimetry. Report 59. September 1992 (ICRU Publications:

Bethesda).

IEC. International Electrotechnical Commission. Radiation Protection Instrumentation –

Passive integrating dosimetry systems for personal and environmental monitoring of photon

and beta radiation. IEC 62387, 2012.

ISO. International Organization for Standardisation X and gamma reference adiation for

calibrating dosemeters and dose rate meters and for determining their response as a function

of photon energy. ISO 4037 – 3, 1999.

ISO. International Organization for Standardisation Individual thermoluminescence

dosemeter for extremities and eyes. ISO 12974, 2000.

KNOLL, G. F. Radiation Detection and Measurement. 3ª ed., New York, USA, John Wiley

& Sons, 2000.

KRAMER, R.; ZANKL, M.; WILLIAMS, G.; DREXLER, G. The calculation of dose from

external photon exposures using reference human phantoms and Monte-Carlo methods.

Pt. 1. 1982. Disponível em: <https://inis.iaea.org/search/search.aspx?orig_q=RN:14796056>.

Acesso em: 2 Dez. 2018.

MALTHEZ, A. L. M. C. Aplicabilidade e Validação do GEANT4 para Fótons e Elétrons

em Radioterapia. Dissertação (Mestrado em Engenharia Biomédica). Universidade Estadual

de Campinas. 2011.

MARIOTTI, F.; GUALDRINI, G. A new Monte Carlo approach to define the operational

quantity Hp(3). Oramed Project Eye-Lens Dosimetry. 2009. Disponível

em:<https://inis.iaea.org/collection/NCLCollectionStore/_Public/40/091/40091793.pdf>.

Acesso em: 16 Set. 2019.

MARIOTTI, F.; ULERI, G.; FANTUZZI E. Batch homogeneity of LiF(Mg,Cu,P)-GR200 and

LiF(Mg,Cu,P)-MCP-NS TL detectors for use as extremity dosemeters at ENEA personal

dosimetry service. Radiation Protection Dosimetry, v. 120, n. 1–4, p. 283–288, 2006.

MATSUBARA, K.; LERTSUWUNSERI, V.; SRIMAHACHOTA, S.; KRISANACHINDA,

A.; TULVATANA, W.; KHAMBHIPHANT, B.; SUDCHAI, W.; REHANI, M. Eye lens

dosimetry and the study on radiation cataract in interventional cardiologists. Physica Medica,

v. 44, p. 232–235, 2017.

McKEEVER, S. W. S. Thermoluminescence of Solids. Cambridge, England: Cambridge

University Press, 1985.

METCALFE, P.; KRON, T.; HOBAN, P. The physics of radiotherapy X-rays and electrons.

Madison, WI: Medical Physics, 2007.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

93

MOSCOVITCH, M.; HOROWITZ, Y. S. Thermoluminescent materials for medical

applications: LiF:Mg,Ti and LiF:Mg,Cu,P. Radiation Measurements, v. 41, p. 71–77, 2007.

NAKAJIMA, T.; MARUYAMA, Y.; MATSUZAWA, T., KOYANO, A. Development of a

New Highly sensitive LiF thermoluminescence dosimeter and its applications. Nuclear

Instruments and Methods, v.157, p. 155–162, 1978.

OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. M. Física das Radiações. Oficina de textos. 2014.

OLIVEIRA, E. L. B. Avaliação do dosímetro RADOS para monitoração individual de

extremidade em Hp (0,07). Dissertação (Mestrado em Tecnologias Energéticas e Nucleares).

Universidade Federal de Pernambuco. 2017.

PIRCHIO, R.; SÁNCHEZ, H.; DOMAZET, W. Dosimetric studies of the eye lens using a new

dosemeter – Surveys in interventional radiology departments. Radiation Measurements,

v. 63, p. 12–17, 2014.

STRUELENS, L.; DABIN, J.; CARINOU, E.; ASKOUNIS, P.; CIRAJ-BJELAC, O.;

DOMIENIK-ANDRZEJEWSKA, J.; BERUS, D.; PADOVANI, R.; FARAH, J.; COVENS, P.

Radiation-Induced lens opacities among interventional cardiologists: Retrospective

Assessment of Cumulative eye lens doses. Radiation Research, v. 189, p. 399–408, 2018.

THRAPSANIOTI, Z.; ASKOUNIS, P.; DATSERIS, I.; DIAMANTI, R. A.;

PAPATHANASIOU M. CARINOU, E. Eye lens radiation exposure in Greek interventional

cardiology personnel. Radiation Protection Dosimetry, v. 175, n. 3, p.344–356, 2017.

TAUHATA, L.; SALATI, I.; PRINZIO, R. D.; PRINZIO, A. R. D. Radioproteção e

Dosimetria: Fundamentos. Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD/CNEN), Rio de

Janeiro, 2014.

TURNER, J. E. Atoms, Radiation, and Radiation Protection. v. 3, Guest Editor, 2007.

VANO, E.; FERNANDEZ, J. M.; RESEL, L. E.; MORENO J.; SANCHEZ, R. M. Staff lens

doses in interventional urology. A comparison with interventional radiology, cardiology and

vascular surgery values. Journal of Radiological Protection, v.36, p. 37–48, 2016.

VANO, E.; KLEIMAN, N. J.; DURAN, A.; REHANI, M. M.; ECHEVERRI, D.; CABRERA,

M. Radiation cataract risk in interventional cardiology personnel. Radiation Research, v. 174,

n. 4, p. 490–495, 2010.

WANG, Y. B.; BLACHE, R.; XU, X. Selection of Additive Manufacturing Processes. Rapid

Prototyping Journal, v. 23, n. 2, p. 434–447, 2017.

WORGUL, B. V.; KUNDIYEV, Y. I.; SERGIYENKO, N. M.; CHUMAK, V. V.; VITTE, P.

M.; MEDVEDOVSKY, C.; BAKHANOVA, E. V.; JUNK, A. K.; KYRYCHENKO, O. Y.;

MUSIJACHENKO, N. V.; SHYLO, S. A.; VITTE, O. P.; XU, S.; XUE, X.; SHORE, R. E.

Cataracts among Chernobyl clean-up workers: implications regarding permissible eye

exposures. Radiation Research, v. 167, n. 2, p. 233–243, 2007.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

94

APÊNDICE A – DOSIMETRIA TERMOLUMINESCENTE

O fenômeno da Termoluminescência (TL) é bem conhecido há muito tempo. As primeiras

pesquisas para aplicações desse fenômeno em dosimetria começaram com Daniels, que

trabalhava com cristais de Fluoreto de Lítio (LiF) no Departamento de Química da

Universidade de Wisconsin em 1947. Na forma pura este cristal apresentou propriedades

luminescentes insatisfatória. A partir daí, foi necessário introduzir impurezas (dopar) nos

cristais de LiF para obter um efeito termoluminescente com maior qualidade. Em 1968

Cameron et al. trabalhando na Universidade de Wisconsin e, em parceria com a Harshaw

Chemical Company, desenvolveu os dosímetros de LiF dopados com magnésio (Mg) e Titânio

(Ti). Os dosímetros de LiF:Mg,Ti (TLD-100) são comercializados atualmente e estão

disponíveis no mercado (BARTLETT, 2008).

Em 1978, NAKAJIMA et al. (1978) propuseram pela primeira vez dopar cristais de LiF

com Magnésio (Mg), Cobre (Cu) e Fósforo (P). Como resultado, o LiF:Mg,Cu,P gerou grande

interesse da academia para o uso em dosimetria da radiação. Esse material TL apresenta

propriedades dosimétricas interessantes: alta sensibilidade à radiação (limiar de detecção

abaixo de 1 µSv), resposta com a dose (linear até 10 Sv), baixa dependência energética, baixo

fading e um bom material tecido equivalente. A sensibilidade deste material é cerca de 20 vezes

maior quando comparada ao TLD-100 (BOS, 2001). Entretanto, é conhecido na literatura que

o LiF:Mg,Cu,P apresenta perda de sensibilidade TL (0,2 % por ciclo de leitura), pois são

bastante sensíveis ao tratamento térmico, o que torna necessário o uso de um forno com alta

estabilidade de temperatura para minimizar esse efeito (MARIOTTI et al., 2006).

Hoje, cristais de LiF:Mg,Cu,P são comercialmente encontrados com as seguintes

denominações: GR-200 (produzido pelo Beijing Radiation Detector Works; China), MCP

(produzido pelo instituto de Física Nuclear IFJ- do polonês, Instytut Fizyki Jadrowej; Polônia)

e TLD-100H (produzido pela Harshaw Chemical Company, Solon).

Atualmente, a dosimetria termoluminescente é uma técnica bem sucedida na monitoração

de radiação ionizante, e uma das vantagens em utilizá-la está na possibilidade de escolher o

dosímetro mais adequado para a aplicação em questão.

Princípios da Termoluminescência

A luminescência é um fenômeno caracterizado pela emissão de luz de um material

previamente submetido à radiação ionizante, em resposta a algum estímulo externo, tais como

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

95

calor, estímulo óptico, excitação mecânica, por reações químicas, radiação eletromagnética ou

mesmo a própria radiação ionizante. A emissão pode ser caracterizada quanto ao tempo

decorrente entre a excitação e a emissão luminescente. Para um tempo inferior a 10-8s, a emissão

luminescente é classificada como um processo de fluorescência, e se a emissão ocorrer em um

tempo superior a 10-8s, é conhecido como um processo de fosforescência. A

termoluminescência ocorre em um tempo superior a 10-7s. (CHEN; McKEEVER, 1997).

A termoluminescência (TL) pode ser observada em um material isolante ou

semicondutor, quando o sólido é estimulado termicamente. Um material termoluminescente

quando exposto à radiação ionizante, é capaz de absorver energia e armazená-la. Essa energia

armazenada é liberada na forma de luz visível quando o material é aquecido (BOS, 2007). Este

fenômeno é explicado usando o modelo de bandas de energia, para níveis de energia dos

elétrons em sólidos cristalinos. De acordo com este modelo, existem nos materiais cristalinos

três regiões bem definidas: a banda de valência, que corresponde à faixa de energia em que os

elétrons estão presos à estrutura cristalina, ou seja, não possuem energia suficiente para se

difundir pela estrutura; a banda de condução na qual os elétrons estão livres e podem assim

conduzir corrente elétrica e se difundir pela estrutura cristalina. Entre estas bandas, existe uma

região de estados energéticos não permitidos aos elétrons, chamada de região proibida ou gap.

Nos materiais termoluminescentes, geralmente cristais iônicos, a banda de valência está

repleta de elétrons, e a banda de condução, vazia; imperfeições e defeitos na rede cristalina dão

origem a estados metaestáveis de energia localizados na região proibida, chamados de

armadilhas (KNOLL, 2000). Quando um cristal absorve energia, vários elétrons da banda de

valência são deslocados para a banda de condução, deixando buracos na banda de valência.

As armadilhas de elétrons situam-se mais perto da banda de condução e as armadilhas de

buraco situam-se próximas à banda de valência, e a diferença de energia entre as bandas

localizadas é a energia do gap, Eg. Um modelo TL simples com dois níveis de energia é

mostrado na Figura A1, e na região intermediária encontra-se a energia de Fermi, Ef. As

distâncias em energia (eV) dos grupos de armadilhas são chamados de energia de ativação, E.

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

96

Figura A1 – Transições eletrônicas em um material isolante excitado com radiação.

(a) ionização, (b) e (e) armadilhamento de elétrons e buracos, (c) e (f) liberação de elétrons e buracos, (d) e

(g) recombinação indireta, (h) recombinação direta. Os elétrons vazios são os círculos cheios, já os

buracos, os vazios.

Fonte: Adaptado de McKEEVER (1985).

Em consequência da interação da radiação com o material, são criados pares de elétron-

buraco, cujos elétrons são promovidos à banda de condução (a). Estes podem mover-se pelo

cristal e a maioria dos elétrons podem ser capturados pelas armadilhas (b). O mesmo processo

de armadilhamento acontece com os buracos criados na banda de valência (c). No caso de

fósforos TL (materiais que exibem termoluminescência), as armadilhas possuem grande

estabilidade à temperatura ambiente, o que significa que os elétrons permanecem armadilhados

até que uma energia significantemente maior que a temperatura ambiente seja capaz de liberá-

los. Esta energia requerida pode ser proveniente de excitação térmica ou óptica. Como

consequência, ocorrem as transições (d) e (e) novamente os elétrons e buracos ficam livres para

se mover através do cristal. Estando livres, eles podem recombinar-se com portadores de carga

de sinais opostos nos chamados centros de recombinação (f).

É possível entender o mecanismo de emissão TL, utilizando armadilhas e centros de

recombinação, conforme mostra a Figura A2, onde n é uma armadilha contendo um elétron cuja

captura ocorreu após a absorção da radiação incidente. Quando o cristal é aquecido, o elétron

recebe energia suficiente para migrar para a banda de condução até ser capturado pelo centro

de recombinação, onde se recombina com o buraco, liberando luz. É conhecido que, para um

cristal existem inúmeras armadilhas n de energia E, assim como vários centros de

recombinação. A luz emitida pelo cristal é gradativamente registrada por uma

fotomultiplicadora, acoplada à uma leitora TL, que irá converter os fótons de luz em corrente

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

97

elétrica e, por fim, será registrado o sinal termoluminescente. Esse sinal TL é proporcional à

emissão de luz do cristal, que é proporcional à quantidade de radiação absorvida.

Figura A2 – Esquema do processo de emissão TL.

Fonte: Adaptado de McKEEVER (1985).

Para que um material termoluminescente seja considerado adequado para o uso em

dosimetria, este deverá reunir as propriedades apresentadas abaixo (CAMERON et al., 1968;

TAUHATA et al. 2014):

• Ter o número atômico efetivo (Zeff) próximo ao do tecido humano;

• Apresentar respostas com pouca influência da energia da radiação incidente;

• Apresentar respostas lineares para um amplo intervalo de dose de radiação

aplicada;

• Apresentar uma resposta estável para condições climáticas diferentes;

• Ser reprodutível;

• Apresentar uma curva de emissão simples com picos bem definidos;

• Sofrer pouca influência da luz;

É praticamente impossível encontrar um material que reúna todas estas características.

No entanto, para cada finalidade, basta analisar as vantagens e desvantagens oferecidas pelo

material TL e escolher aquele que for mais adequado para a aplicação à qual se destina.

Os dosímetros TL podem ser encontrados em formas e dimensões distintas: chips, discos,

pó, micro-cubos e filiformes (rod). Dentre os principais dosímetros TL, pode-se citar:

LiF:Mg,Ti; LiF:Mg,Cu,P; CaF2:Dy; CaSO4:Dy; CaF2:Mn; Li2B4O7:Mn. O dosímetro composto

por Fluoreto de Lítio no formato de chip ou discos, normalmente são mais utilizados em

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

98

aplicações de dosimetria, pois são fáceis de manipular e apresentam propriedades dosimétricas

interessantes.

Fluoreto de Lítio como Dosímetro Termoluminescente

Os dosímetros de LiF:Mg,Ti são um dos materiais mais utilizados na área de dosimetria

Termoluminescente, e estão disponíveis comercialmente com vários nomes, tais como:

TLD-100, MTS ou DTG ,de acordo com o fabricante. Este detector possui o número atômico

efetivo (Zeff = 8,2) próximo ao do tecido mole do corpo humano (7 < Zeff < 7,5), portanto pode

ser considerado como um material tecido equivalente. Além disso, apresenta um fading térmico

a temperatura ambiente menor que 5% em seis meses e respostas lineares para um intervalo de

doses entre 50 µGy e 5 Gy (BOS, 2001).

Além do MTS-N (LiF:Mg,Ti), que contém Lítio na sua forma isotópica natural, o Instituto

de Física Nuclear da Cracóvia, Polônia, desenvolve outros dosímetros que apresentam

proporções isotópicas diferentes: enriquecidos com 6Li ou 7Li, a exemplo do MTS-6 e do

MTS-7, sendo o primeiro mais eficiente para a detecção de nêutrons, uma vez que possui alta

concentração de 6Li (que apresenta alta secção de choque para nêutrons). A Tabela 20 apresenta

algumas propriedades da formulação do MTS-N, adaptado de BOS (2001) e da ficha de

especificação técnica do dosímetro.

Tabela 20 – Propriedades da formulação do MTS-N.

Propriedades MTS-N

Elementos ativadores

Número atômico efetivo (Zeff)

Densidade (g/cm3)

Máximo de comprimento de onda da luz emitida (nm)

Intervalo de dose útil (Gy)

Tratamento térmico pré-irradiação

Tempo mínimo decorrente entre a irradiação e a leitura

Tratamento térmico pré-leitura

Mg,Ti

8,2

2,64

400

50µ a 5

400°C/1 hora + 100°C/ 2 horas

24 h

100°C/ 10 min

Fonte: BOS (2001).

A curva de intensidade TL representa a quantidade de luz emitida por um material

termoluminescente em função da temperatura ou do tempo de aquecimento a que é submetido.

A Figura A3 ilustra a curva de intensidade TL do MTS obtida com uma taxa de aquecimento

de 5°C/s, sem pré-tratamento térmico e dose de radiação igual a 50 mGy de raios gama de 137Cs.

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

99

A forma da curva de intensidade TL varia entre os materiais, pois não depende somente

de fatores intrínsecos como da energia de ativação (que é a energia necessária para liberação do

elétron das armadilhas) e fator de freqüência (número de vezes por segundos que o elétron

interage com a rede cristalina e está relacionado com a probabilidade de escape do elétron

armadilhado), mas também da taxa de aquecimento, da dose de radiação e da concentração das

armadilhas (McKEEVER, 1985).

Figura A3 – Curva de intensidade TL típica do MTS.

Fonte: Adaptado de BOS (2001).

Observa-se que a maior parte da intensidade de luz é emitida em torno da temperatura de

225 °C. O pico 1 é mais suscetível às condições térmicas ambientais, e na prática de dosimetria

é anulado através do tratamento térmico pré-leitura. O pico 4 é conhecido como pico

dosimétrico principal, e quando a curva é obtida com uma taxa de aquecimento de 5 °C/s o pico

máximo é encontrado em torno de 240 °C. Para quantificação da dose absorvida no material é

tomada a área sob a curva de intensidade TL, que deve possuir uma resposta linear com a dose.

Através de uma curva de calibração, onde é conhecida a resposta da intensidade TL para uma

determinada dose, é possível estimar a dose de radiação recebida pelo material (BOS, 2001).

Temperatura (°C)

Inte

nsi

da

de

TL

(u

.a.)

1

2

3

4

5

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

100

Dependência Energética

Em muitas aplicações de TLD’s o principal objetivo é determinar a dose absorvida no

tecido humano. Por essa razão é desejável que o TLD tenha uma dependência energética igual

ou pelo menos proporcional ao do tecido humano. Suponho que um material TL seja exposto a

fótons com determinada Fluência Ø e energia E. Em condições de equilíbrio de partículas

carregadas, a dose absorvida no material TL pode então ser escrita como (BOS, 2001):

DTL = Ø.E.(µen /ρ)TL

onde (µen /ρ)TL é o coeficiente de absorção mássico do material TL em função da energia da

radiação. Se ao invés do material TL for colocado o tecido humano, também exposto à mesma

Fluência Ø de fótons com energia E, a dose absorvida no tecido pode ser escrita de maneira

similar a anterior (BOS, 2001). A relação entre as duas equações pode ser escrita como:

𝐷𝑇𝐿

𝐷𝑇𝑒𝑐 =

(µ𝑒𝑛/𝜌)𝑇𝐿

(µ𝑒𝑛/𝜌)𝑇𝑒𝑐

onde (µen /ρ)Tec é o coeficiente de absorção mássico do tecido em função da energia da radiação.

Na Figura A4 é mostrada essa razão entre vários materiais TL e o tecido humano, como função

da energia. É observado que acima de acima de 200 keV a razão é constante para todos os

materiais mostrados. Na região entre 10-200 keV, há desvios mostrando que a medida da dose

em alguns materiais é diferente da dose a ser determinada no tecido. Nessa região o efeito

fotoelétrico é dominante. A contribuição do efeito fotoelétrico no coeficiente de absorção

mássico de certo material varia aproximadamente com Z3 – Z4 (BOS, 2001).

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

101

Figura A4 – Dependência energética para fótons de alguns materiais TL. O material de referência é o

tecido mole humano com Zeff = 7,35.

Fonte: Adaptado de BOS (2001).

Na prática, utiliza-se como referência para a avaliação da dependência energética do

dosímetro a resposta TL relativa à resposta para a energia do 60Co ou 137Cs (BOS, 2001).

Observa-se que o CaF2, o CaSO4 e o Al2O3 apresentam uma dependência energética mais

acentuada devido ao valor mais elevado de Zeff iguais a 16,3, 15,3 e 10,2, respectivamente

(FURETTA, 2010). Por isso, não são considerados adequados para monitoração pessoal, uma

vez que superestimam a resposta da dose absorvida no tecido humano.

Energia do Fóton (keV)

(µen

) TL

/(µ

en

) Tec

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

102

APÊNDICE B – TRABALHOS PRODUZIDOS

O trabalho desenvolvido nessa dissertação foi apresentado na 19ª Conferência

Internacional em Dosimetria do Estado Sólido, na modalidade pôster. Esse é considerado um

dos maiores eventos na área de dosimetria e instrumentação nuclear, e essa edição ocorreu na

cidade de Hiroshima – Japão, entre os dias 15 e 20 de setembro de 2019.

Além da apresentação na 19ª SSD, este trabalho foi submetido, aceito e publicado na

revista internacional Biomedical Physics & Engineering Express (BPEX), que possui

classificação Qualis CAPES A4.

19th International Conference on Solid State Dosimetry

15 - 20 September 2019 Hiroshima – Japan

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

103

ANEXO A – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DO MATERIAL ACCURA®-PLASTIC

ACCURA® 55 Plastic

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

104

ANEXO B – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA RESINA VISIJET® M3

VisiJet® M3

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

105

ANEXO C – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA RESINA TOUGH

Tough_FormLabs

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......simulação de Monte Carlo e impressão 3D para o desenvolvimento e prototipagem rápida de novos dosímetros. Palavras-chave: Cristalino.

106

ANEXO D – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA RESINA BLACK

Black_FormLabs