UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA … · À UFSC e ao Departamento de Engenharia...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
ENGENHARIA MECNICA
DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE REPROJETO DE PRODUTO PARA O MEIO AMBIENTE
DISSERTAO SUBMETIDA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE
EM ENGENHARIA MECNICA
ANTNIO CARLOS PEIXOTO BITENCOURT
FLORIANPOLIS, MAIO DE 2001
DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE REPROJETO DE PRODUTO PARA O MEIO AMBIENTE
ANTONIO CARLOS PEIXOTO BITENCOURT
ESTA DISSERTAO FOI JULGADA PARA OBTENO DO TTULO DE
MESTRE EM ENGENHARIA
ESPECIALIDADE ENGENHARIA MECNICA, REA DE CONCENTRAO EM
PROJETO DE SISTEMAS MECNICOS, E APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA
Florianpolis, 25 de maio de 2001.
v ;, _____________________________________ ___________________________________________
Prof. JLIO C^AR PASSOS, Dr. Eng. - COORDENADOR DO CURSO
ProfT ANDRE OGLI , Dr. Eng. - ORIENTADOR
Prof. FERNANDO/A. FORCELLINI, Dr. Eng. - CO-ORIENTADOR
BANCA EXAMINADORA:
Prof. NELSON BACk , PhT D. - PRESIDENTE
Em homenagem ao meu Pai, grande mestre, que faleceu durantea execuo deste trabalho,
minha Me, mulher guerreira e s minhas irms e irmo
pela vida, ensinamentos, apoio e compreenso. minha filha, sentido da minha vida.
Agradecimentos
Ao Pai Criador-Filho Salvador-Esprito renovador que disponibilizou as condiesnecessrias realizao deste trabalho;
Aos professores Andr Ogliari e Fernando Forcellini pela orientao, compreensoe apoio;
minha famlia: Antnio, Edeltrudes, Carla, Andra, Welligton e Maria Letcia;
Comunidade de Vida Crist (CVX), principalmente a comunidade de Florianpolis, que me deu todo carinho e acolhida de amigos e amigas no Senhor;
os novos e eternos amigos e amigas: Luis, Sandro, Marcos, Ana Cludia, Mrcia, Josiane, Carol e Priscila, pelo carinho e compreenso com o Baiano chato,
reclamo e cheio de neuras;
Aos colegas e amigos do NeDIP por toda ajuda e convivncia;
s pessoas que se relacionaram diretamente com este trabalho, principalmente no estudo de caso: Leonardo, Alexandre, Valdeon, Andr Wilbert, prof. Ahrens,
Airton e ngelo, pela preciosa ajuda;
UFSC e ao Departamento de Engenharia Mecnica pela confiana na realizaodeste trabalho e a CNPq pelo apoio financeiro.
V
Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, minha memria tambm,o meu entendimento e toda a minha vontade.
Tudo que tenho e possuo voz me destes com amor. Todos os dons que me destes, com gratido vos devolvo.
Disponde deles Senhor, segundo a vossa vontade. Dai-me somente o vosso amor e vossa graa, isto me basta, nada mais quero pedir.
Santo Incio de Loyola
Pa/, em tuas mos eu me abandono. Faze de mim o que Tu quiseres.
Agradeo-te o que de mim fizeres e estou pronto a tudo. Aceito tudo, contanto que se faa a Tua vontade em mim e em todas as Tuas criaturas.
Nas Tuas mos eu me entrego com todo amor e de todo o corao, porque te amo e amor exige que eu me doe inteiramente,
sem nada reter para mim e com toda a confiana,pois Tu s meu Pai.
Charles de Foucauld
vi
Sum rio
L is t a d e s ig l a s viiiL is t a d e f ig u r a s ixL is t a d e t a b e l a s e q u a d r o s xiR e s u m o xiiiA b s t r a c t xiv
C a pt u l o 1 In t r o d u o
1.1 Generalidades 11.2 Objetivos e contribuies 21.3 Delimitao do escopo da pesquisa 31.4 Premissa e hiptese 31.4.1 Premissa 31.4.2 Hiptese 41.5 Justificativas 41.5.1 Presso da demanda ambiental 41.5.2 Importncia do reprojeto de produtos 91.6 Metodologia de pesquisa 131.7 Estrutura do texto 14
C a pt u l o 2 E st a d o d a A r te2.1 Introduo 152.2 Metodologias de reprojeto de produtos 152.2.1 Abordagens para o reprojeto de produtos 162.2.2 Comparao entre as abordagens para o reprojeto de produtos 202.3 Questo ambiental no setor produtivo da sociedade 222.4 Projeto para o meio ambiente - PPMA 262.4.1 EcoReDesign 272.4.2 Evoluo sistemtica de produtos (ESP) 282.5 Consideraes finais 30
C a pt u l o 3 F u n d a m e n t o s p a r a o d e se n v o l v im e n t o d a m e t o d o l o g ia3.1 Introduo 323.2 Metodologia de projeto 323.3 Reprojeto de produtos 353.4 Projeto para o meio ambiente 393.4.1 Aplicao de metodologias de PPMA 423.4.2 Eco ferramentas 423.5 Consideraes finais 44
C a p t u lo 4 M e t o d o l o g i a d e r e p r o j e t o p a r a o m e io a m b ie n te - RePMA4.1 Introduo 474.2 Descrio geral da RePMA 474.3 Determinao da realizao do reprojeto para o meio ambiente 544.4 Fase 1.0 - Reprojeto informacional 574.4.1 Etapa 1 .1 - Recuperao e aquisio das informaes relacionadas ao produto 584.4.2 Etapa 1.2 - Elaborao de requisitos ambientais 65
vii
4.4.3 Etapa 1.3 - Determinao do nvel de reprojeto 664.4 .4 Etapa 1.4 - Estabelecimento das especificaes para o reprojeto 674.5 Fase 2.0 - Reprojeto conceituai 714.5.1 Etapa 2.1 - Recuperao e avaliao da concepo do produto 724.5.2 Etapa 2.2 - Estabelecimento e seleo da estrutura funcional modificada 734.5.3 Etapa 2.3 - Gerao de concepes para a estrutura funcional selecionada 774.5 .4 Etapa 2.4 - Seleo da melhor concepo modificada 794.6 Consideraes finais
C a pt u l o 5 E st u d o d e c a s o : r e pr o je t o de u m a c a fe t e ir a e l t r ic a
83
5.1 Introduo 855.2 Definio do problema de reprojeto 855.3 Determinao da realizao do reprojeto da cafeteira eltrica 855.4 Reprojeto informacional da cafeteira eltrica 865.5 Reprojeto conceituai da cafeteira eltrica 1015.6 Consideraes finais
Ca p t u l o 6 C o n c l u s e s e r e c o m e n d a e s
112
6.1 Introduo 1146.2 Concluses gerais 1146.3 Recomendaes para trabalhos futuros 116
R e fe r n c ia s B ib l io g r fic a s 118
Anexo A - LiDS {Lifecycle design strategies) - Estratgias de projeto para o ciclo de vida
124
Anexo B - Inverso da sntese funcional 129Anexo C - Anlise do ciclo de vida e Eco indicador 132Anexo D - ACV-simplificada e elaborao dos requisitos ambientais 148Anexo E - Material do estudo de caso 159
L is t a d e s ig l a s
ABNT........... Associao brasileira de normas tcnicasABS.................Terpolmero amorfo de acrilonitrila-butadieno-estirenoACV................Anlise do ciclo de vidaCAs.................Concepes alternativasCE...................Comunidade europiaCERES...... . Coalition for environmentally responsible ecoomies - coalizo para uma economia
ambientalmente mais responsvel.CFC......... .......Cloro flor carbonoCNI.................Confederao nacional da indstriaCQ...................Casa da qualidadeDFD ...............Design for disassembly - projeto para a desmontagemDFE.................Design for the environmentDFR.................Design for recyclability - projeto para reciclabilidadeDFxs ..............Design for anything - projetar para algoE199 ...............Eco indicador 99ESP.................Evoluo sistemtica de produtosFOE.................Friends of the earthIBOPE.............Instituto brasileiro de opinio pblica e estatsticaIS O .................International organization for standardization - Organizao internacional de
normalizaoLiDS................Lifecicle design strategies - estratgias de projeto para o ciclo de vidaLMP................Laboratrio de mecnica de precisoMMA..............Ministrio do meio ambienteNeDIP/UFSC... Ncleo de desenvolvimento integrado de produtos da Universidade Federal de Santa
CatarinaONGs..............Organizaes no-govemamentaisP L ...................Projeto de leiPP.................... polipropilenoPP/WP.............Pollution prevention/waste preventionPPMA..............Projeto para o meio ambienteQFD................Quality function deployment - desdobramento da funo qualidadeRePMA...........Metodologia de reprojeto de produtos para o meio ambienteRMIT..............Royal melboume institute of technology - instituto imperial de tecnologia de
melboumeUS E PA ......... U.S. environmental protection agency - agncia de proteo ambiental do EUAWCED.............United nations world commission on environment and development - comisso
mundial das naes unidas sobre meio ambiente e desenvolvimentoWWF...............World wildlife fund
ix
L is t a d e f ig u r a s
Figura 1-1 Influncia do projeto de produtos no custo final de produo. Adaptado de ULLMAN (1992, p. 8) 10
Figura 2-1 Metodologia de reprojeto com base na engenharia reversa (Otto e Wood, 1998). 19
Figura 2-2 0 reprojeto no processo de projeto (Hashim et al, 1994, p. 128). 20Figura 2-3 Classificao das abordagens de incluso da questo ambiental no setor
produtivo. Adaptado de Bras (1997) 23
Figura 3-1 Reprojeto ao longo do ciclo de vida do produto 35Figura 3-2 Curva de vendas e fluxo de caixa no ciclo de vida de um produto. Adaptado
de Hogarth e Tabeshfar (1993) 36
Figura 3-3 Processo de determinao das polticas e estratgias para o reprojeto de produtos 36
Figura 3-4 Estrutura para o processo de reprojeto 38
Figura 4-1 Representao geral da RePMA 49
Figura 4-2 RePMA desdobrada - reprojeto informacional 50
Figura 4-3 RePMA desdobrada - reprojeto conceituai, preliminar e detalhado 51
Figura 4-4 Processo de determinao da realizao do reprojeto para o meio ambiente 54
Figura 4-5 Estratgias de projeto segundo o ciclo de vida do produto. Adaptado de Hemel (2000) 55
Figura 4-6 Comparao entre as LIDSs do reprojeto e da empresa. 57
Figura 4-7 Fluxo de informaes no reprojeto informacional 58
Figura 4-8 Escala de avaliao do produto com base na opinio do cliente. Adaptado de Amaro (1997)
64
Figura 4-9 Matriz de seleo do nvel de reprojeto 67
Figura 4-10 Forma e principais elementos da casa da qualidade. Adaptado de Ogliari (1997, p. 6)
68
Figura 4-11 Fluxo de informaes no reprojeto conceituai 72
Figura 4-12 Matriz de avaliao da concepo do produto 73
Figura 4-13 Desdobramento da funo global de uma moenda de caldo de cana. Adaptado de Silva Junior et al (1999)
74
Figura 4-14 Matriz de seleo de alternativas de estrutura funcionais. Adaptado de Marinbondo (2000, p. 238)
77
Figura 4-15 Matriz morfolgica 78
Figura 4-16 Combinao de princpios de soluo na matriz morfolgica 79
Figura 4-17 Matriz passa / no passa. Adaptado de Back e Forcellini (1999) 80
X
Figura 4-18 Matriz de avaliao. Adaptado de Back e Forcellini (1999, p. 6-4) 82
Figura 5-1 Objeto do estudo de caso: cafeteira eltrica 86
Figura 5-2 Ciclo de vida da cafeteira eltrica do estudo de caso 94
Figura 5-3 Estrutura funcional original da cafeteira eltrica 103
Figura 5-4 Estrutura funcional modificada da cafeteira 106
Figura 5-5 Concepo modificada da cafeteira eltrica 111
Figura 5-6 Detalhe do sistema de aquecimento da concepo modificada 112
xi
L is t a d e t a b e l a s e q u a d r o s
Tabela 1-1 Causas que conduzem prtica de reprojeto de produtos industriais. Adaptado de Dufour (1996, p. 16).
12
Tabela 2-1 Metodologia de reprojeto de produto. Adaptada de Dufour (1996, pp. 31- 37).
18
Tabela 2-2 Comparao entre as abordagens para o reprojeto de produtos segundo a apresentao sistemtica do processo de reprojeto
21
Tabela 2-3 Comparao entre as abordagens para o reprojeto de produtos em relao questo ambiental
22
Tabela 2-4 Comparao entre EcoReDesign e ESP 29
Tabela 3-1 Nveis de reprojeto de produtos. 39
Tabela 3-2 Obstculos encontrados em relao ao PPMA (Huang, 1996, p. 84). 41
Tabela 3-3 Aspectos do PPMA segundo o processo de reprojeto 43
Tabela 3-4 Eco ferramentas nas fases do desenvolvimento de produtos. Adaptado de Caluwe (1997, p. 10).
44
Tabela 4-1 Documentos no ciclo de vida 59
Quadro 4-1 Registro de caractersticas provenientes de documentos do produto. 60
Tabela 4-2 Clientes e usurios no ciclo de vida 60
Tabela 4-3 Escala de valores para a opinio dos clientes 61
Tabela 4-4 Exemplo de questes aplicveis fase de uso de um liquidificador 62
Quadro 4-2 Requisitos de usurios para o reprojeto do produto 63
Tabela 4-5 Valores da avaliao da necessidade de melhoria do produto segundo um determinado requisito de usurio
64
Tabela 4-6 Escala de relacionamento entre requisitos e nvel de reprojeto 67
Tabela 4-7 Indicativos para elaborao de requisitos de reprojeto ambiental 70
Quadro 4-3 Modelo tpico para preencher as especificaes de reprojeto. Adaptado de Fonseca (1996, p. 106).
70
Tabela 4-8 Escala para avaliao da concepo do produto. 73
Quadro 4-4 Quadro de avaliao ambiental das funes 75
Tabela 5-1 Clientes e usurios no ciclo de vida da cafeteira eltrica 87
Tabela 5-2 Lista das necessidades e requisitos de usurios 89
Tabela 5-3 Relao entre os requisitos e caractersticas da cafeteira 90
Tabela 5-4 Descrio fsica da cafeteira 92
Tabela 5-5 Avaliao do impacto ambiental da cafeteira segundo seus componentes 95
Tabela 5-6 Avaliao do impacto ambiental do ciclo de vida da cafeteira 96
xii
Tabela 5-7 Perfil da produo de energia em bilhes de kWh, 1998. Adaptado do World Net Electricity Generation by Type, 1998 da EI A
97
Tabela 5-8 Requisitos ambientais elaborados da avaliao do desempenho ambiental 98
Tabela 5-9 Matriz de seleo do nvel de reprojeto para a cafeteira eltrica 99
Tabela 5-10 Elaborao dos requisitos de reprojeto 100
Tabela 5-11 Especificaes para o reprojeto original da cafeteira eltrica 102
Tabela 5-12 Avaliao da concepo original da cafeteira 104
Tabela 5-13 Quadro de avaliao ambiental das funes da cafeteira 105
Tabela 5-14 Matriz passa/no passa para o estudo de caso 108
Tabela 5-15 Primeira aplicao da matriz de avaliao no estudo de caso 109
Tabela 5-16 Segunda aplicao da matriz de avaliao no estudo de caso 110
R e su m o
A presente dissertao trata da proposio de uma metodologia de reprojeto de produtos
para o meio ambiente (RePMA - Metodologia de ReProjeto para o Meio Ambiente), cuja
aplicao foi exemplificada atravs de um estudo de caso do reprojeto de uma cafeteira eltrica.
O desenvolvimento da RePMA foi motivado pela necessidade de considerar a demanda
ambiental no desenvolvimento de produtos. Esta demanda origina-se de diferentes foras do
mercado: legislao, normas, concorrentes e consumidores. Verificou-se que uma das principais
formas de atendimento desta demanda a oferta de produtos com menor impacto ambiental, e
isso pode ser obtido pelo reprojeto de produtos. Diante destas constataes, realizou-se um
estudo do estado da arte relacionado s metodologias de reprojeto de produtos e sobre a
considerao da questo ambiental no setor produtivo com destaque s abordagens sistemticas
de reprojeto para o meio ambiente. Alm disso, realizou-se estudos sobre metodologia de
projeto, reprojeto de produto e projeto para o meio ambiente com o objetivo de estabelecer
fundamentos e diretrizes para o desenvolvimento da RePMA. O desenvolvimento da RePMA
resultou numa estrutura geral para o processo de reprojeto e desdobramento das duas primeiras
fases em etapas e tarefas, prescrevendo orientaes e mtodos de suporte s atividades da equipe
de reprojeto. Como contribuies nesse desenvolvimento pode-se destacar: levantamento e
organizao do conhecimento sobre o reprojeto de produtos e o projeto para o meio ambiente;
sistematizao do processo de reprojeto e incluso da questo ambiental no desenvolvimento de
produtos, possibilitando a identificao e reduo do impacto ambiental.
A b st r a c t
The present dissertation proposes a redesign methodology for the environment (RePMA
- Metodologia de ReProjeto para o Meio Ambiente), which application was exemplified through
an electric coffee-pot redesign case study. The RePMA development has been motivated by the
need take into consideration products development environmental demand. Such demand
originates from different market aspects: laws, regulations, competitors and costumers. It has
been verified that one way of meeting this demand is to offer products with smaller
environmental impact. This can be obtained through the product redesign. A research on the
state-of-the-art of redesign methodologies focusing on the environmental issue was realized, as
well as studies on design methodology, product redesign and design for the environment. These
studies supported the establishment of the guidelines for the RePMA. The development of the
RePMA resulted in a general structure for the redesign process and the work breakdown
structure for the first two phases in terms of stages and tasks, prescribing orientations and
supporting methods. Contributions of the RePMA development can be pointed out: elicitation
and organisation of the knowledge on product redesign and design for the environment; redesign
process systmatisation with the inclusion of the environmental demand issue in the product
development.
Captulo 1
In t r o d u o
1.1 Generalidades
A preocupao com a defesa do meio ambiente teve um maior destaque nas duas
ltimas dcadas. Na dcada de setenta, a questo ecolgica era vista somente como um
empecilho ao desenvolvimento tecnolgico, sendo tratada atravs de legislaes que
regulamentavam apenas os efeitos ambientais no final do processo de alguns setores industriais,
tais como: siderurgia, papel/celulose e petroqumica. Nas dcadas de oitenta e noventa,
percebeu-se o crescimento da conscincia de que a sobrevivncia atual e o futuro da humanidade
esto vinculados ampliao da demanda ecolgica sobre todas as atividades produtivas e
consumidoras da sociedade.
Esta tomada de conscincia foi motivada pelas previses pessimistas da saturao do
meio ambiente como fornecedor dos insumos necessrios para manter o padro de consumo
(Tipnis 1993). O meio ambiente passou a ser encarado como um fator importante manuteno
da espcie humana; por conseguinte, precisava ser considerado nos planos de desenvolvimento
dos pases.
neste contexto que surgiu o desenvolvimento sustentvel, cujo o conceito mais
popular foi formulado pela WCED na publicao Our common future, que o definiu como sendo
um desenvolvimento que atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade
das futuras geraes de atender suas prprias necessidades (WCED 1987 apud Kinlaw, 1997, p.
82).
O desenvolvimento sustentvel uma abordagem mais direcionada ao planejamento
estratgico em nvel nacional e mundial, entretanto, para se conseguir resultados concretos,
necessrio adotar princpios de desenvolvimento sustentvel nas atividades das empresas.
A adoo destes princpios nas atividades das empresas, alm de auxiliar na
concretizao do desenvolvimento sustentvel, auxilia na sua sobrevivncia num ambiente de
Captulo 1 - Introduo 2
alta competitividade, no qual as presses ambientais sobre a empresa esto aumentando. O
desenvolvimento de produtos uma das atividades mais apropriadas para adoo destes
princpios, pois onde a empresa busca dar forma as necessidades e desejos dos clientes (Kinlaw
1997 e Tipnis 1993). A considerao ambiental no desenvolvimento de produtos possibilita a
diferenciao ambiental dos produtos no mercado.
Nesta dissertao prope-se uma metodologia de reprojeto de produto para o meio
ambiente, na qual a demanda ambiental considerada desde a definio do problema e as
alteraes na concepo e configurao do produto at o detalhamento e a documentao final de
reprojeto. Esta metodologia auxilia os projetistas na considerao e atendimento das
necessidades relacionadas ao meio ambiente num processo de melhoria de produtos,
apresentando princpios e mtodos de apoio equipe de reprojeto nas suas atividades.
No presente captulo apresentam-se os objetivos e limites, as hipteses consideradas, as
justificativas, a metodologia adotada na realizao da pesquisa e, por fim, a estrutura deste
documento.
1.2 Objetivos e contribuies
O objetivo principal da pesquisa propor uma metodologia de reprojeto de produtos
que auxilie na diminuio do impacto ambiental dos produtos atravs de alteraes no projeto.
Para tal, so considerados os seguintes objetivos especficos:
Proporcionar meios para que se possa identificar e definir claramente as estratgias
ambientais da empresa em relao aos seus produtos;
Proporcionar meios para a tomada de deciso sobre a realizao do reprojeto;
Orientar a identificao do nvel de reprojeto mais adequado a um produto, atravs
da verificao das potencialidades de melhorias ambientais deste;
Disponibilizar mtodos que auxiliem nas atividades de alteraes no conceito do
produto; e
Proporcionar meios de mensurao do ganho ambiental obtidos no reprojeto, em
relao ao produto existente.
Desta forma, pretende-se contribuir com os seguintes aspectos:
Disponibilizar um documento que contenha a metodologia de reprojeto, com
orientaes para a incluso da demanda ambiental na melhoria de produtos;
Disponibilizar mtodos que possam ser usados no reprojeto para o meio ambiente de
Captulo 1 - Introduo 3
produtos;
Organizar e gerar conhecimentos sobre projeto para o meio ambiente; e
Cooperar com as iniciativas de desenvolvimento sustentvel.
A concretizao desses objetivos e as contribuies pretendidas so condicionados
delimitao do escopo desta pesquisa.
1.3 Delimitao do escopo da pesquisa
Devido natureza complexa do desenvolvimento completo de uma metodologia de
reprojeto de produto, estabeleceu-se os seguintes limites para esta pesquisa:
Apresentar a estrutura geral da metodologia, descrevendo caminhos gerais do
processo de reprojeto com enfoque na considerao ambiental; e
Desdobrar os elementos da metodologia referentes ao levantamento de informaes
e esclarecimento do problema de reprojeto e alterao do conceito do produto.
1.4 Premissa e hiptese
Tendo em vista o tema deste trabalho e seus objetivos, apresenta-se neste item a
premissa e hiptese que orientaro, em termos gerais, o desenvolvimento da metodologia de
reprojeto para o meio ambiente.
1.4.1 Premissa
Todo produto, em maior ou menor grau, causa impacto ambiental durante o seu
ciclo de vida.
Sob esta premissa considera-se o impacto ambiental como todo efeito sobre o meio
ambiente que de alguma forma prejudique a sade humana, os ecossistemas1 ou os recursos
naturais. Nesse sentido, a simples existncia fsica de qualquer produto j representa pelo menos
1 Conjunto dos relacionamentos mtuos entre determinado meio ambiente e a flora, a fauna e os microrganismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilbrio geolgico, atmosfrico, meteorolgico e biolgico - Dicionrio Aurlio Eletrnico - V.2.0.
Captulo 1 - Introduo 4
o consumo de recursos naturais e a emisso de inmeros elementos que prejudicam a sade
humana ou os ecossistemas. No entanto, o impacto ambiental de produtos no se restringe
extrao de matria prima ou s emisses na fase de produo; pode-se relacionar aos impactos
ambientais os fluxos de matria e energia em todo o ciclo de vida do produto, desde a
distribuio, passando pelo uso, at o descarte.
1.4.2 Hiptese
O impacto ambiental do produto pode ser reduzido com o reprojeto do mesmo.
A reduo do impacto ambiental no implica na eliminao deste, pois a simples
existncia fsica do produto j representa um certo nvel de impacto ambiental. No entanto, pode-
se reduzir esse impacto a nveis aceitveis (determinados pela legislao ou pela gerncia)
atravs de alteraes no produto, que podem ser:
no conceito do produto, por exemplo, adotando-se princpios de soluo menos
poluentes;
na configurao do produto, por exemplo, adotando-se configuraes que facilitem
desmontagem do produto para a reciclagem; e
nos parmetros das caractersticas fsicas do produto, por exemplo, reduzindo o peso
e volume.
Sob esta hiptese, pretende-se orientar o desenvolvimento da metodologia de reprojeto
e, ao final, atravs do estudo de caso, avaliar a validade da mesma.
1.5 Justificativas
As justificativas desta pesquisa so apresentadas em dois itens: o primeiro apresenta a
presso da demanda ambiental sobre o setor produtivo e o segundo refere-se importncia do
reprojeto de produto na atividade de desenvolvimento de produtos.
1.5.1 Presso da demanda ambiental
Atualmente a preocupao ecolgica perpassa todas as atividades humanas. Os
governos esto adotando legislaes ambientais mais rigorosas e os cidados esto comeando a
exigir produtos e processos ecologicamente corretos. Essas atitudes decorrem da conscientizao
Captulo 1 - Introduo 5
de que necessrio preservar o meio ambiente para permitir s futuras geraes condies de
sobrevivncia no planeta Terra.
No incio da dcada de oitenta, a preocupao ambiental era dirigida aos acidentes
ambientais de indstrias notoriamente poluentes. Isso fazia com que as restries fossem
consideradas apenas no final dos processos produtivos, tentando inibir o lanamento de resduos
prejudiciais ao meio ambiente. Essa postura garante a segurana de alguns ecossistemas locais.
O principal aspecto relacionado a essa postura foi a desconsiderao da natureza como
um sistema complexo, no qual todos os ecossistemas so interligados. O meio ambiente tambm
pode ser prejudicado por outros tipos de impactos, que podem parecer de menor dimenso,
como, por exemplo, a utilizao de recursos naturais no-renovveis, o alto consumo de energia
na fase de produo, a gerao de resduos na fase de uso, o descarte do produto no final do seu
ciclo de vida, entre outros.
Essa viso integrada do meio ambiente e de sua relao com as empresas recente e
deve-se, em parte, pelas diversas presses aribientais do mercado que as empresas tm
enfrentado nas duas ltimas dcadas. Em Kinlaw (1997, pp. 41-80), apresenta-se um conjunto
dessas presses, que tem levado as empresas a adotarem uma postura diferenciada diante da
questo ecolgica. Pode-se agrupar estas presses em quatro categorias:
Das legislaes: Esta uma das principais categorias, pois o funcionamento das
empresas pode depender do seu atendimento. s seguintes presses esto relacionadas a esta
categoria:
O rigor cada vez maior das leis e regulamentos ambientais;
As multas por no-cumprimento da lei e os custos incorridos como resposta aos
acidentes e desastres esto crescendo em freqncia e nmero;
Indivduos esto sendo multados e ameaados de priso por violar leis ambientais;
O aumento do nmero de leis sobre crimes ambientais, que tm sido aprovadas,
regulamentadas e aplicadas; e
O surgimento de leis que ampliam a responsabilidade ambiental da empresa pelos
seus produtos para alm da fase de produo.
A legislao ambiental brasileira dedica-se principalmente regulamentao de
processos produtivos e utilizao de substncias txicas em produtos. Percebe-se um crescente
interesse legislativo em criar instrumentos para tratar da relao do setor produtivo com o meio
ambiente, haja vista o nmero de leis e projeto de leis sobre o meio ambiente, exemplificado a
seguir:
Capitulo 1 - Introduo 6
LEI N 6.938, de 31 de agosto de 1981, alterada pela LEI N 7.804, de 18 de julho
1989, regulamentada pelo Decreto N 99.274, de 6 de junho de 1990, alterado pelo
Decreto N 99.355, de 29 de junho de 1990, qe dispe sobre a Poltica Nacional de
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao;
LEI. 9.605, 12 de fevereiro de 1998, que dispe sobre as sanes penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, na qual
se destaca que a responsabilidade legal jurdica no exclui a responsabilidade das
pessoas fsicas;
Os componentes de cincia e tecnologia na legislao do meio ambiente
apresentados na Agenda 21 Brasileira (Brasil, 2000, pp. 209-211); e
Conjunto de projetos de lei sobre resduos slidos no Congresso Nacional em julho
de 20002, dentro dos quais existe um que estabelece a obrigatoriedade de recompra,
pelas indstrias em geral, das embalagens no biodegradveis que acondicionam
seus produtos (PL 2007/96).
Este crescente nmero de leis ambientais envolvendo o setor produtivo levou a CNI
introduzir na sua Agenda Legislativa da Indstria - 20003 o item Meio Ambiente, na seo de
Regulamentao da Economia.
Dos consumidores: Os consumidores esto, cada vez mais, cultivando uma conscincia
de preservao do meio ambiente. Pode-se relacionar as seguintes presses nesta categoria:
Aumento no nmero de organizaes ambientais e de suas propostas reformadoras.
O grande nmero de ONGs que se dedicam a causa ecolgica um bom indicador
deste aumento. Em termos numricos4 so 15 000 ONGs no mundo, 726 ONGs no
Brasil em 1996, com 50 milhes de associados e oramento total anual das trs
maiores ONGs (Greenpeace, FOE e WWF) de US $ 400 milhes;
Os cidados esto se informando atravs da mdia e de outras fontes e tem buscado
uma srie de canais pelos quais possam expressar seus desejos e opinies ao mundo
2 Disponvel em: . Acesso em: 25 out. 00.3 Disponvel em: . Acesso em: 25 out. 00.4 Estes dados foram obtidos da apresentao do senhor Frederico Cabral, representante da ABNT, no II Seminrio
Experincias em Rotulagem Ambiental. Este seminrio foi promovido pela Secretria de Desenvolvimento Sustentvel do Ministrio do Meio Ambiente. Os documentos deste evento esto disponveis em . Acesso em: 08 mar. 01.
http://www.mma.gov.br/port/sqa/brasiljl/doc/rplsrscn.pdfihttp://www.cni.org.br/produtos/src/aglegOO.pdfhttp://www.mma.gov.br/port/sds/eventos/rotulage/iisemi.html
Capitulo 1 - Introduo 7
empresarial;
Associaes de classe, associaes de comrcio e vrias coalizes esto fazendo
pronunciamentos e dando incio a programas que possam influenciar o
comportamento das empresas;
Os acionistas esto mais atentos ao desempenho e posio ambiental das
empresas. O desempenho ambiental das empresas e o risco financeiro potencial5 de
um desempenho deficiente ajudaro a determinar o quo suas aes sero atraentes
aos investidores; e
Os consumidores esto em busca de empresas e produtos verdes6 e esto se
tomando informados o bastante para questionar as campanhas macias de
propaganda ambiental.
Na pesquisa realizada pelo CNI/IBOPE em maio de 19987 sobre a percepo ambiental
do consumidor brasileiro concluiu-se, entre outras coisas, que em cada quatro pessoas trs
estariam dispostas a pagar mais por um produto com um diferencial ambiental. Este resultado
reforado por uma outra pesquisa promovida pela Fundao Procon8, ligada a Secretria da
Justia de So Paulo, que constatou que a populao reconhece a necessidade de um consumo
sustentvel. Estas pesquisas apresentam uma tendncia dos consumidores em adotar uma postura
ambiental mais ativa atravs do seu poder de compra, apesar de que esta postura ainda no se
reflita na prtica diria9.
As empresas que desejam sobreviver no mercado devem ter cuidado especial com as
presses originadas nos clientes, pois o no atendimento de suas necessidades e exigncias pode
implicar em queda nas vendas de seus produtos.
Dos concorrentes: Os concorrentes, por sua vez, podem apresentar os certificados
ambientais sobre os processos de produo e/ou rtulos ambientais dos produtos como um
diferencial ecolgico.
5 Esses riscos financeiros podem ser representados pelos altos valores das aplices de seguro ambiental.6 A expresso verdes indica que procuram uma melhoria ambiental continua.7 Disponvel em: . Acesso em:
25 out. 00.8 Disponvel em: . Acesso em:
25 out. 00.9 Observao da senhora Vera Marta Junqueira, diretora da Fundao Procon de So Paulo. Disponvel em:
. Acesso em: 25 out. 00.
http://www.uol.com.br/ambienteglobal/site/consumidor_verde/consumidor_pesquisal.htmhttp://www.uol.com.br/ambienteglobal/site/consumidor_verde/consumidor_pesquisa2.htmhttp://www.globo.com/noticias/arquivo/brasil/20000602/4kwe46.htm
Captulo 1 - Introduo 8
Esta presso mais perceptvel quando se deseja exportar produtos para mercados com
mais tradio em exigncias ecolgicas como a CE. A influncia dos programas de certificao
ambiental existentes na CE nas exportaes brasileiras para este mercado apresenta-se, segundo
Baena (2000, pp. 26-27), com os seguintes aspectos:
Potenciais reflexos positivos: melhora a competitividade dos produtos em relao aos
concorrentes mais defasados no tratamento das questes ambientais, particularmente os asiticos;
promove o desenvolvimento de tecnologias prprias e a conseqente comercializao de servios
ambientais; amplia o mercado para novos produtos desenvolvidos a partir do uso sustentvel dos
recursos naturais; possibilita a obteno de preos diferenciados como compensao aos
investimentos realizados; e promove a atrao de investimentos em razo da melhor imagem do
pas no exterior; e
Potenciais reflexos negativos: dificulta a expanso das exportaes das micro e
pequenas empresas, incapazes de realizar os investimentos necessrios para a mudana de seus
processos produtivos; diminui a competitividade de exportadores que tenham de adaptar suas
condies produtivas aos padres ambientais de outros pases; cristaliza a vocao do pas em
exportaes de baixo valor agregado, sobretudo commodities e aumenta a dependncia de
tecnologia e servios ambientais importados.
Outra atitude das empresas que demonstra o empenho em querer diferenciar-se em
termos ambientais a demanda por profissionais como advogado ambientalista, consultor
ambiental, entre outras, (Rodrigues 2000).
Da normalizao e acordos empresariais: Existe um nmero grande de normas que
tratam sobre os impactos ecolgicos de produtos. Na maioria dos casos, estas normas tm
abrangncias locais. Uma das principais normas internacionais que trata sobre a relao das
empresas com o meio ambiente a srie ISO 14000.
A ABNT, filiada a ISO, tem disponvel as seguintes normas da srie ISO 14000:
NBR ISO 14001/1996 - Sistemas de gesto ambiental - especificao e diretrizes
para uso;
NBR ISO 14004/1996 - Sistema de gesto ambiental - diretrizes gerais sobre
princpios, sistemas e tcnicas de apoio;
NBR ISO 14010/1996 - Diretrizes para a auditoria ambiental - princpios gerais;
NBR ISO 14011/1996 - Diretrizes para a auditoria ambiental - procedimentos de
auditoria; e
NBR ISO 14012/1996 - Diretrizes para a auditoria ambiental - critrios de
Captulo 1 - Introduo 9
qualificao de auditores ambientais.
Outro tipo de presso desta categoria o programa de rotulagem ambiental. O programa
de rotulagem ambiental do Brasil est em processo de elaborao atravs de convnios entre o
MMA e a ABNT. Para ajudar neste processo o MMA, atravs da Secretria de Polticas para o
Desenvolvimento Sustentvel promoveu dois seminrios internacionais sobre experincia em
rotulagem ambiental.
Estes seminrios tiveram como objetivo a divulgao de programas de rotulagem
ambiental bem sucedidos em outros pases e coletar subsdios fundamentais para um processo de
discusso visando a implantao do Programa Brasileiro de Rotulagem Ambiental10.
Estas iniciativas tambm esto partindo de uma variedade de acordos entre organizaes
e fruns internacionais, tais como WCED e a CERES.
Diante do exposto anteriormente, percebe-se que existe um conjunto de presses que
levam as empresas a desejarem estabelecer diferenciais ambientais em seus produtos e pocessos.
Uma das principais formas de se conseguir este diferencial oferecendo produtos verdes. Para
tanto necessrio incluir a questo ambiental no desenvolvimento de produtos, suportando a
equipe de projeto com instrumentos de desenvolvimento de produtos (metodologia, mtodos,
ferramentas, entre outros), que lhes auxiliem na identificao e atendimento dessa demanda em
suas atividades.
No prximo item apresentam-se as justificativas relacionadas conduo de pesquisa
sobre metodologia de reprojeto de produtos.
1.5.2 Importncia do reprojeto de produtos
O desenvolvimento de produtos uma das mais importantes atividades da empresa.
Nesta fase a empresa procura dar forma s necessidades dos clientes atravs de seus produtos.
Conseqentemente, toma-se necessrio que essa atividade seja repensada a partir da questo
ambiental, para que se possa atender as presses apresentadas no item 1.5.1, e se possvel
antecip-las.
O desenvolvimento de produtos engloba os processos de projeto e de produo. O
10 Disponveis em: . Acesso em: 08 mar. 01.
http://www.mma.gov.br/port/sds/eventos/rotulage/corpo.html
Captulo 1 - Introduo 10
primeiro mais adequado para mudanas a um menor custo e com maior abrangncias dos
efeitos das decises. Em Ullman (1992, p. 8), por exemplo, apresenta-se o custo do processo de
projeto e sua influncia no custo total de produo, conforme ilustrado na Figura 1-1.
Este valores so baseados em dados da Ford Motor Company, correspondentes ao custo\
total de produo de um carro. Pode-se verificar que apenas 5% deste custo devido ao projeto e
que a sua influncia chega a ser 70% do custo total, (Ullman, 1992, p. 8). Mesmo sendo dados de
um setor industrial especfico, pode-se extrapolar esse resultado para outros setores.
100%
75%
I 50% gcu
25%
0%
B Despesas gerais B Mo de obra EJ Material Projeto
Custo final da produo Infhtena no custo finai da produo
Figura 1-1 - Influncia do projeto de produtos no custo final de produo.Adaptado de Ullman (1992, p. 8).
Outro aspecto do projeto a possibilidade de considerao da influncia mtua de
diferentes caractersticas do produto. Nas fases iniciais de projeto, por exemplo, trabalha-se com
idias, em geral, apresentadas de forma abstratas, o que possibilita maior liberdade para a
resoluo de conflitos. Vrios exemplos de melhorias em diferentes caractersticas do produto,
obtidas por decises no projeto de produto, podem ser observadas em Ullman (1992, pp. 8-12) e
Kinlaw (1997, pp. 1-6).
Um destes exemplos corresponde ao programa de reprojeto de embalagens da Hewlett-
Packard Company. A empresa promoveu mudanas na embalagem de seus produtos,
substituindo o material que era utilizado por outro com maior taxa de material reciclado e
tambm substituiu a tinta que era utilizada para outra menos txica. Estas mudanas levaram a
empresa estimar uma economia de 5 milhes de dlares por ano {Business and the Environment,
20 dez. 1991, p. 3 apud Kinlaw, 1997, pp. 2-3).
Pelo exposto anteriormente, o desenvolvimento de produto, em sua fase de projeto,
apresenta-se como uma boa oportunidade de auferir melhorias significativas no desempenho
ambiental do produto, sem negligenciar outras caractersticas de qualidade. Isso se deve ao
Captulo 1 - Introduo 11
menor custo e maior liberdade para a resoluo de conflitos nesta fase. Portanto as atividades do
desenvolvimento de produto devem ser repensadas para que possam atender as demandas
ambientais.
A maioria das atividades do desenvolvimento de produto podem ser consideradas na
forma de um processo de reprojeto, (Dufour, 1996, p. 1). O reprojeto de produtos pode ser visto
como um meio de execuo das estratgias competitivas da empresa. Estas estratgias so
expressas na forma de causas que levam as organizaes adotarem o reprojeto de produtos,
conforme apresentadas na Tabela 1 -1.
A preocupao ambiental na Tabela 1-1 referenciada somente nas causas legais, o que
demonstra uma postura tpica de estratgias reativas11 frente s demandas ambientais. No
entanto, pode-se observar que a demanda ambiental relaciona-se com as outras causas, que
podem por em prtica o processo de reprojeto.
Por exemplo, quando se reprojeta um produto visando mantenabilidade potencializa-
se uma melhor condio de reparo, o que proporciona um acrscimo no tempo do ciclo de vida
do produto. Isso evita, em parte, que um novo produto seja construdo, o que levaria a repetir
todo o processo de retirada de matria-prima a partir de recursos naturais e gerao de resduos
durante a fase de produo.
No entanto, o ciclo de vida de alguns tipos de produtos est cada vez mais curto devido
contnua necessidade de lanamento de novos produtos no mercado. Neste caso, a
caracterstica de mantenabilidade do produto no teria tanta influncia, mas a demanda ambiental
ainda pode ser atendida atravs do reprojeto dos componentes ou sub-montagens, com a
possibilidade de reuso destas em novos produtos e na adoo de princpios que favoream
caractersticas de fcil reciclagem.
Por outro lado, a necessidade de produtos ambientalmente corretos no somente legal,
e sim da presso de todas as foras do mercado. As empresas que desejam ser competitivas so
levadas a adotarem uma postura pr-ativa12 diante da demanda ecolgica, que se d atravs da
adequao dos seus produtos as exigncias ambientais, conforme apresentadas no item 1.5.1.
11 A estratgia reativa caracteriza-se por uma postura passiva, na qual a empresa evolui somente de presses externas (legislao, normalizao, concorrentes e consumidores).
12 A estratgia pr-ativa caracteriza-se por uma postura ativa, na qual a empresa procura antecpar-se as presses externas.
Captulo 1 - Introduo 12
Tabela 1-1 - Causas que conduzem prtica de reprojeto de produtos industriais. Adaptado deDufour(1996, p. 16).
Causas Fator Definio
Causastcnicas
Aplicao inadequada de meios (recursos) durante o projeto
Idias, habilidades e informaes no utilizadas durante a fase de concepo do produto.
Custos excessivosDurante o projeto a viabilidade tcnica foi provada e estava adequada; anlises de custos posteriores revelam a presena de custos excessivos.
Questionamento de especificaes
As tolerncias foram super-especificadas em funo de julgar imprprias as especificaes dos usurios.
Avanos na tecnologiaIncorporao de novos materiais, componentes, tcnicas ou processos que no foram devidamente avaliados durante o projeto.
Avaliaes de testesModificaes de projetos baseados em avaliaes de testes que indicaram parmetros exagerados de especificaes e at erros.
Aplicao inadequada de processos de fabricao
Novos processos de fabricao que no so usados e que repercutem nos custos do produto acabado.
Mtodo inadequado de montagem
Durante o projeto no se considerou como deveria ser a montagem mais adequada.
Problemas de manuteno Durante o projeto no se considerou como deveria ser a manuteno.
Deficincia do projeto Performance inadequada, deficincia tcnica, m qualidade, etc..
Causas de mercado
Introduo em novos nichs de mercado
Nichos de mercado no considerados durante o projeto ou novos mercados que aparecem por mudanas culturais, polticas, comerciais, sociais, etc..
Perda de mercado
Porque a concorrncia baixou os preos de seus produtos, porque existe uma queda constante de vendas do produto atual, ou porque o produto est saindo de moda para o mercado consumidor ou o produto concorrente melhor.
Mudanas nas necessidades do consumidor
Modificaes ocorridas nas necessidades do consumidor com o decorrer do tempo, obsolescncia.
Causas de segurana
Deficincia no manuseio do produto
Quando o produto possui alguma caraterstica que pode ser perigosa para o usurio.
Aplicao inadequada de materiais
Quando o produto contm substncias ou materiais txicos.
Deficincia do projeto no aspecto ergonmico Quando o produto no contempla aspectos ergonmicos.
CausasLegais
Cumprimento de normas No foram consideradas ou surgem novas normas de produtos, para exportao, Segurana, etc..Motivos ecolgicos Porque o produto agressivo ao meio ambienteSituaes especficas regulamentadas
Se obriga a cumprir com especificaes prprias de produtos infantis, deficientes fsicos, etc..
Surgimento de novas leis No projeto inicial no se considerava a reciclagem, descarte, etc..Uma metodologia de reprojeto de produto com enfoque ambiental deve ter o propsito
Captulo 1 - Introduo 13
de viabilizar a adequao de um produto existente s exigncias ambientais, atravs da
proposio de princpios, mtodos e orientaes, que auxiliem na incorporao das necessidades
ambientais no processo de melhoria do produto.
No prximo item, apresenta-se a metodologia de pesquisa adotada neste trabalho de
dissertao.
1.6 Metodologia de pesquisa
Este trabalho de dissertao est inserido no mbito das produes cientficas do
NeDIP/UFSC, o qual possui uma linha de pesquisa de desenvolvimento de metodologias de
projeto. Sendo assim, este trabalho de dissertao foi realizado segundo as orientaes descritas
a seguir:
1) Esclarecimento da tarefa, que se constitui de:
Anlise das propostas de metodologias de projeto e de reprojeto existentes;
Estudo de o que j est sendo realizado no desenvolvimento de produtos
ambientalmente corretos; e
Estudo das eco ferramentas mais adequadas ao reprojeto de produtos.
2) Desenvolvimento da metodologia de reprojeto de produto com enfoque ambiental:
Estudos das diretrizes gerais para o desenvolvimento de metodologia de projeto;
Definio das fases e etapas do processo de reprojeto, indicando o objetivo de cada
uma, e as ferramentas relacionadas;
Configurao da metodologia, detalhando entradas e sadas de cada fase e etapa; e
Detalhamento da utilizao das ferramentas de apoio s atividades dos projetistas.
3) Estudo de Caso:
Pesquisa do produto para a aplicao da metodologia;
Aplicao da metodologia proposta; e
Anlise dos resultados e das dificuldades no reprojeto do produto observados na
aplicao da metodologia.
A partir destas orientaes, elaborou-se esta dissertao de mestrado, cuja estrutura est
apresentado no prximo item.
Captulo 1 - Introduo 14
1.7 Estrutura do texto
Captulo 1 - Introduo
Este captulo tem por finalidade localizar o tema da pesquisa apresentando suas
generalidades, os objetivos e as contribuies pretendidas, a hiptese considerada e as
justificativas para a realizao do trabalho. Tambm apresenta-se a metodologia de trabalho e a
estrutura desta dissertao.
Captulo 2 - Estado da arte
Este captulo detm-se em uma anlise do estado da arte relacionada a metodologia de
reprojeto para meio ambiente. Apresenta-se e compara-se propostas de metodologias de
reprojeto, e mais especificamente abordagens sistemticas de reprojeto para o meio ambiente.
Captulo 3 - Fundamentos para o desenvolvimento da metodologia
Neste captulo apresenta-se um conjunto de fundamentos e definies sobre
metodologia de projeto, reprojeto de produto e projeto para o meio ambiente. Este captulo, bem
como o anterior, serve de base proposio da metodologia de reprojeto para o meio ambiente.
Captulo 4 - Metodologia de reprojeto para o meio ambiente - RePMA
Este captulo o cerne da pesquisa, nele apresenta-se a metodologia proposta para o
reprojeto de produto para o meio ambiente. Destacando-se a estrutura e as ferramentas que
compem a metodologia.
Captulo 5 - Estudo de caso: reprojeto de uma cafeteira eltrica
Este captulo corresponde a aplicao das orientaes e mtodos da RePMA atravs de
um estudo de caso do reprojeto de uma cafeteira eltrica.
Captulo 6 - Concluses e recomendaes
Neste captulo apresenta-se as concluses do trabalho de desenvolvimento da
metodologia, como tambm da aplicao desta no estudo de caso. Recomendaes so feitas
para trabalhos futuros no campo de desenvolvimento de produtos voltado ao meio ambiente.
Captulo 2
E sta d o d a a r t e
2.1 Introduo
Este captulo tem como objetivo apresentar o estado da arte relativo ao reprojeto de
produto para o meio ambiente. Inicialmente feito um estudo de trabalhos relacionados
metodologia de reprojeto de produtos. Ulteriormente, faz-se um estudo sobre abordagens que
tratam da incluso da questo ambiental no setor produtivo da sociedade, dando destaque ao
projeto para o meio ambiente. Apresenta-se, tambm, a anlise de duas abordagens que tratam
especificamente sobre reprojeto para o meio ambiente.
Ao final estabelece-se um conjunto de consideraes sobre as propostas existentes,
visando obter subsdios para o desenvolvimento da metodologia de reprojeto de produto para o
mei ambiente, conforme os objetivos do presente trabalho.
i
2.2 Metodologias de reprojeto de produtos
i O reprojeto de produtos, em linhas gerais, consiste no processo de melhoramento de um
produto j desenvolvido pela empresa. Essa atividade tem uma natureza complexa, pois abrange
diversas atividades, desde o levantamento das informaes do produto existente, identificao de
oportunidades de melhorias, at a proposio de mudanas que podem compreender os aspectos
funcionais, os princpios de soluo, at a configurao e detalhes do produto alvo.
I As melhorias do produto numa atividade de reprojeto podem ser relacionadas inclusoI
de diferentes caractersticas da qualidade, tais como desenvolvimento rpido, custos baixos,i
facilidade para fabricar e montar, confivel e com baixo impacto ambiental, sem negligenciar a
funcionalidade.
O atendimento destas exigncias necessita de grande quantidade de informaes
oriundas de diversas disciplinas, tais como economia, processos de fabricao, montagem e
Captulo 2 - Estado da arte 16
ecologia. Essas informaes devero ser consideradas pela equipe de projeto durante todo o
processo de reprojeto. A grande quantidade e multidisciplinalidade das informaes envolvidas
uma das principais justificativas para a sistematizao do processo de reprojeto, que se d
principalmente pela adoo de metodologias apropriadas.
Na bibliografia existente, encontram-se bons estudos sobre as metodologias de projeto.
Algumas das principais contribuies so mencionadas em trabalhos, conforme a seguir:
As proposies de classificao das correntes filosficas em escolas (semntica,
sinttica e experincias passadas) e em modelos (prescritivo, descritivo e
computacional) de metodologias de projeto, (Yoshikawa, 1989 e Evbuomwan et al,
1996); e
Esclarecimento do processo de projeto, tendo como base a anlise de diferentes
propostas de metodologia de projeto, (Finkelstein e Finkelstein, 1983) e (Ogliari,
1999, pp. 21-28).
Nestes trabalhos encontra-se pouca referncia sobre o processo de reprojeto,
considerando-o como um dos problemas de projeto (Evbuomwan et al, 1996, p. 303), mas sem
apresentar meios que considerem suas especificidades, uma vez que a maioria dos autores tratam
sobre o projeto de produtos novos para a empresa13.
A seguir apresenta-se uma anlise de propostas de metodologias de reprojeto de
produtos com o objetivo de identificar as principais caractersticas do processo de reprojeto e o
tratamento do impacto ambiental dos produtos. Esta anlise consiste em apresentar as propostas
e compar-las entre si, segundo um modelo de consenso para o projeto sistemtico de produto
(Ogliari, 1999, p. 26)14 e sobre a incluso da demanda ambiental no reprojeto de produtos.
2.2.1 Abordagens para o reprojeto de produtos
Em Dufour (1996), tem-se um estudo do processo de reprojeto de produtos industriais,
assim como das ferramentas que podem ser utilizadas pelas indstrias como suporte s
13 Produtos novos para a empresa so aqueles que a empresa desenvolve pela primeira vez, podendo j haver similares no mercado, ou no. O desenvolvimento destes produtos pode ser pela utilizao de uma nova tecnologia ou pela integrao de sistemas existentes (Dufour, 1996, p. 11).14 Este modelo deriva da anlise de modelos prescritivos de metodologias de projeto. Neste modelo, compreende-se o processo de projeto segundo quatro fases principais: projeto informacional, projeto conceituai, projeto preliminar e projeto detalhado. Este modelo corresponde linha de desenvolvimento de metodologia no NeDIP/UFSC.
Captulo 2 - Estado da arte 17
estratgias de manuteno da competitividade de seus produtos no mercado.
O autor define o processo de reprojeto de um produto industrial como a criao de
melhorias em um sistema fsico destinado a atender s necessidades do cliente, qualquer que seja
ele (Dufour, 1996, p. 11). Essa definio pode ser generalizada para a questo ambiental,
considerando-se os clientes como todos aqueles envolvidos nas categorias de presses descritas
no item 1.5.1.
A sistematizao proposta por este autor consiste numa seqncia de fases, desde o
levantamento das informaes sobre o produto existente at a configurao final do produto
modificado, como indicado na Tabela 2-1. Em cada fase so prescritas atividades e
recomendaes para orientar e auxiliar o projetista.
Uma outra abordagem o reprojeto baseado na engenharia reversa, ilustrada na Figura
2-1, (Otto e Wood, 1998). A metodologia de reprojeto proposta por estes autores dividida em
trs fases principais: engenharia reversa15, anlise e modelagem e reprojeto.
A fase de engenharia reversa composta por dois conjuntos de atividades. O primeiro
consiste em tratar o produto como uma caixa-preta, fazer experimentos com os parmetros de
operao, estudar o atendimento das necessidades dos clientes, prever e/ou fazer hipteses sobre
a funcionalidade do produto, verificar os componentes do produto e seus princpios fsicos. O
segundo grupo de atividades corresponde aos experimentos da funcionalidade e forma do
produto atual, incluindo a completa desmontagem, anlise do projeto para manufatura, anlise
funcional completa, e a gerao das especificaes de reprojeto.
Na fase de anlise e modelagem prev-se o desenvolvimento e a execuo de modelos,
emprego de estratgias de anlise, calibrao de modelos e experimentos. nesta fase que os
autores situam a questo ambiental no reprojeto, com o objetivo de identificar oportunidades de
melhorias ambientais, a partir da modelagem e simulao ambiental do mesmo.
Na fase de reprojeto, os autores prescrevem a possibilidade de trs nveis de reprojeto
do produto: paramtrico, adaptativo e original. A escolha do nvel de reprojeto depende dos
resultados encontrados nas fases anteriores, contudo no se apresentam elementos de suporte a
esta tomada de deciso.
A linha tracejada na Figura 2-1, indica que em alguns casos melhor realizar uma
15 Engenharia reversa uma tcnica de desenvolvimento de produtos que parte do reconhecimento das caractersticas de um produto existente, atravs da desmontagem, teste e avaliao. O objetivo identificar as propriedades do produto alm do que est documentado.
Captulo 2 - Estado da arte 18
mudana prvia para um melhor entendimento do problema antes da modelagem e simulao.
Por exemplo, a equipe de reprojeto pode no compreender os parmetros envolvidos num
determinado princpio fsico, utilizado no produto existente e para um melhor entendimento
modifica-se o princpio fsico para se obter as informaes necessrias para o seu entendimento.
Tabela 2-1 - Metodologia de reprojeto de produto. Adaptada de Dufour (1996, pp. 31-37).
Fases Atividades/recomendaes
Base de conhecimento
Recompilao das informaes referentes concepo inicial do produto. Recomenda-se ordenar as informaes cronologicamente e criar catlogos dos pontos fortes e fracos do produto.
Elaborao da nova lista de requisitos
Elaborar a nova lista de requisitos e o estabelecimento das especificaes de reprojeto, a partir da base de conhecimento formulada.Utilizar lista de perguntas sobre o produto, anlise do ambiente do produto, anlise das fases do ciclo de vida do produto e QFD.
Abstrao daestruturafuncional
Estabelecer a nova estrutura funcional do produto, ou seja, formular o problema da maneira mais abstrata possvel, para possibilitar a criao de estruturas funcionais variantes.Pode-se utilizar o inverso da sintese funcional.
Reprojetoconceituai
Procurar solues para as estruturas funcionais variantes. recomendado fazer uso dos mtodos que so mais apropriados para a gerao de solues de melhoria, adaptaes, etc., tais como: Matriz morfolgica e Anlise do valor.
Reprojetopreliminar
Estabelecer qual das alternativas propostas apresenta a melhor concepo para o reprojeto, mediante um estudo de ordem de grandeza, para determinar quais delas so superiores s outras.Realizar as configuraes bsicas das variantes.Selecionar a melhor soluo atravs da comparao com as outras opes e com o produto existente.
Reprojetodetalhado
Determinar a forma definitiva, dimenses, materiais, acabamentos, processos de fabricao, montagem, transporte, etc.Aplicao de ferramentas que ajudam a melhorar o desempenho do produto no atendimento s necessidades, sejam estas novas ou no, tais como: DFM (projeto para manufatura), DFA (projeto para montagem), PPMA (projeto para o meio ambiente), FMEA (anlise do modo e efeito de falha), entre outras.
Encontrou-se outras abordagens para o reprojeto de produtos, que no se apresentam to
estruturadas como as apresentadas anteriormente, mas apresentam importantes contribuies, tais
como:
Abordagem funcional para o reprojeto. Esta proposta procura auxiliar o projetista
na identificao de variantes de concepes, partindo-se da: Anlise funcional e
estrutural de um produto existente, representao funcional do produto usando
grafos conceituais e questionamento de projeto baseado na abordagem de rvore
funcional, (Hashim et al, 1994, p. 127). Segundo esta proposta o reprojeto situa-se
no projeto conceituai, tendo como objetivo a gerao de variantes ou a melhoria dos
conceitos gerados, conforme a Figura 2-2; e
Captulo 2 - Estado da arte 19
Abordagem de adaptao de solues existentes. Nesta proposta considera-se o
reprojeto como a seleo e adaptao de solues existentes para gerar novos
produtos. Esta abordagem apresenta-se como um modelo descritivo do reprojeto de
produto, representado por um algoritmo que descreve as atividades dos projetistas
na seleo e adaptao de solues existentes, (Dixon e Colton, 1998).
Figura 2-1 - Metodologia de reprojeto com base na engenharia reversa (Otto e Wood, 1998).
Captulo 2 - Estado da arte 20
Figura 2-2 - O reprojeto no processo de projeto (Hashim et al, 1994, p. 128).
2.2.2 Comparao entre as abordagens para o reprojeto de produtos
A primeira comparao realizada tendo como base a sistematizao do processo de
reprojeto na forma do modelo de consenso de metodologias prescritivas. Esta comparao
apresentada na Tabela 2-2.
A segunda comparao realizada verificando de que forma a demanda ambiental
considerada nas propostas apresentadas. Esta comparao apresentada na Tabela 2-3.
Em termos gerais, pode-se verificar destes trabalhos que as metodologias de reprojeto
apresentam uma maior preocupao com o levantamento das informaes do produto existenter
do que as de projeto de produtos novos. E uma preocupao justificvel, pois, em parte, o que
difere um reprojeto de um projeto a existncia prvia do produto.
Um outro ponto a destacar, que todos estes autores concordam que as metodologias de
projeto de produtos novos no atendem completamente as especificidades das atividades
inerentes ao reprojeto de produtos. Este no atendimento mais evidente nas fases iniciais,
quando se deve esclarecer o problema de reprojeto.
Alm disso, em relao considerao ambiental no reprojeto de produtos, as propostas
no indicam meios concretos para a reduo do impacto ambiental do produto, fornecendo
apenas indicaes em que fases do processo de reprojeto esta considerao deve ocorrer. A falta
de esclarecimento e detalhamento de como prover uma melhoria ambiental ao produto deve-se
Captulo 2 - Estado da arte 21
ao fato de que estas abordagens so direcionadas para um reprojeto gral do produto.
No prximo item sero apresentadas iniciativas de tratamento da questo ambiental no
setor produtivo, detendo-se naquelas que procuram atender as necessidades ambientais na
atividade de reprojeto de produtos.
Tabela 2-2 - Comparao entre as abordagens para o reprojeto de produtos segundo a apresentao sistemtica do processo de reprojeto.
Autores Classificao16 Apresentao sistemtica do processo de reprojeto
Dufour Prescritivo
Esta proposta apresenta-se dentro do modelo de consenso entre as metodologias de natureza prescritiva, considerando que o projeto informacional compreende as fases de elaborao da base de conhecimento e da nova lista de requisitos. Considerando, tambm, que o projeto conceituai compreende as fases de abstrao da estrutura fimcional e o reprojeto conceituai.Alm disto, o autor indica elementos de suporte s atividades da equipe de reprojeto, apesar de no indicar claramente a conexo entre estes elementos, que poderia ser feita apresentando a evoluo das informaes no processo de reprojeto.
Otto e Wood Prescritivo
Esta proposta dedica-se principalmente fase de projeto informacional, uma vez que as fases mais detalhadas pelos autores, as de 1 a 7, Figura 2-1, correspondem ao levantamento e organizao de informaes do produto a ser reprojetado.Isso se deve ao destaque dado pelos autores na utilizao da engenharia reversa como suporte ao reprojeto, por outro lado as etapas, que correspondem ao reprojeto propriamente dito, no so to detalhadas como as anteriores.Uma contribuio importante desta proposta considerar diferentes nveis de reprojeto. Entretanto no apresenta elementos de suporte a tomada de deciso sobre o nvel de reprojeto mais adequado.
Hashim et al Prescritivo
Esta abordagem apresenta-se como um elemento do projeto conceituai, ou seja, pode ser considerada como um mtodo para orientar a elaborao de variantes de concepo, partindo de um reprojeto em termos funcionais.Uma contribuio importante considerar e orientar o reprojeto partindo da descrio estrutural e funcional do produto.
Dixon e Coulton Descritivo
Esta proposta a que se apresenta mais distante do modelo de comparao utilizado, pois se configura como uma abordagem de natureza descritiva.Contudo tem uma contribuio importante, enquanto apresenta o reprojeto como a adaptao de solues existentes para configurar um novo produto.
16 Esta classificao baseada em Evbuomwan et al (1996).
Captulo 2 - Estado da arte 22
Tabela 2-3 - Comparao das abordagens para o reprojeto de produtos em relao questoambiental.
Autores Comentrios
Dufour
Conforme se observa na Tabela 2-1, o autor prope que as consideraes ambientais sejam tratadas na etapa de reprojeto detalhado, onde os componentes so especificados, as capacidades so determinadas, as dimenses so calculadas, o desgaste considerado, as partes so detalhadas, as tolerncias so estabelecidas, etc., (Dufour, 1996, p. 35).Esta abordagem limita o alcance das melhorias ambientais, pois as decises nesta fase resultam em pequenas alteraes, uma vez que o campo de modificaes disponvel para o projetista limitado, pois a concepo e a configurao do produto foram estabelecidas nas fases anteriores.
Otto e Wood
Esta proposta no apresenta meios concretos de auxlio aos projetistas no atendimento das necessidades ambientais, mas tem uma contribuio importante quando apresenta o PPMA antes do reprojeto propriamente dito, servindo como um apoio identificao de oportunidades de melhoria do mesmo.
Hashim et al No apresenta a incluso da demanda ambiental na sua proposta.Dixon e Coulton No apresenta a incluso da demanda ambiental na sua proposta.
2.3 Questo ambiental no setor produtivo da sociedade
No Captulo 1 destacou-se o aumento da conscincia de que necessrio adotar um uso
. mais racional dos recursos naturais, para que se possa garantir a sobrevivncia desta gerao e
das futuras. Esta questo atinge de maneira particular o setor produtivo da sociedade, uma vez
que o gerador da maioria dos bens e servios, que atendem as necessidades da sociedade. Para
tanto, toma-se o maior consumidor dos recursos naturais e o maior gerador de agresses ao meio
ambiente.
Diante do quadro descrido pelas presses ambientais do mercado, apresentadas no item
1.5.1, as empresas devero cada vez mais se posicionar estrategicamente frente s demandas
ambientais. A definio de estratgias ambientais auxiliar na incluso das demandas ambientais
nas atividades das empresas.
Esta incluso no se d de maneira simples e direta, pois a questo ambiental
inerentemente complexa e sistmica, ainda mais se considerarmos que o setor produtivo tem
outros objetivos que tambm devem ser alcanados (qualidade, tempo de desenvolvimento, custo
baixo, atendimento da legislao e normalizao tcnica, concorrncia, entre outros). Desta
forma, empresas e academia tm procurado estabelecer e adotar abordagens de metodologias,
mtodos e ferramentas de desenvolvimento de produto, que auxiliem na incorporao destes
princpios.
Estas abordagens podem ser classificadas segundo critrios de abrangncias temporal e
Captulo 2 - Estado da arte 23
organizacional. Estes critrios delimitam os campos ou domnios da incluso da questo
ambiental. Pode-se observar quatro classes principais, como indicado na Figura 2-3.
1 - Engenharia ambiental
2 - Preveno da poluio e DFx
3 - Projeto e manufatura ambientalmente consciente
4 - Projeto para o meio ambiente
5 -Ecologia industrilal
6 - Desenvolvimento sustentvel
Escala da abrangncia temporal
Figura 2-3 - Classificao das abordagens de incluso da questo ambiental no setor produtivo.Adaptado de Bras (1997).
a) Abordagens que tratam de fases especficas do ciclo de vida de um produto
Essas abordagens, campos 1 e 2 da Figur 2-3, possuem trs enfoques: a engenharia
ambiental, que procura tratar o impacto ambiental depois que a agresso j foi gerada, a
preveno da poluio e aplicao de especialidades de projeto, que procuram prever e antecipar
aes que melhorem caractersticas ambientais especficas.
Engenharia ambiental - So aquelas que tratam do problema ecolgico no final dos
processos de produo. Pode ser comparada com a viso antiga de controle de qualidade, onde
este era realizado somente no final da linha de produo. Compreende, principalmente, o manejo
de efluentes e resduos produzidos pela indstria. Estas iniciativas tm importncia fundamental
nas indstrias de processos contnuos: petroqumica, papel-celulose, siderurgia, entre outras.
Tambm, incluem-se neste grupo as iniciativas das empresas de processos discretos que
Captulo 2 - Estado da arte 24
procuram reduzir o impacto ambiental causado pelos fludos de corte dos processos de
usinagens17.
Estas foram as primeiras abordagens industriais relacionadas questo ambiental, e
tambm o foco das primeiras legislaes ambientais relacionadas ao setor produtivo.
Preveno da poluio - Neste grupo encontram-se as iniciativas que procuram
antecipar o surgimento de emisses de poluentes no ar, na gua e no solo. Estas abordagens so
direcionadas principalmente para os processos de fabricao, mas tambm influenciam no
produto, quando tratam da substituio de materiais de caractersticas poluentes, por outros mais
amigveis ao meio ambiente.
Estas constituem a segunda gerao de propostas de proteo ambiental no setor
produtivo e, geralmente, so determinadas por legislaes ou por normas e acordos, como foi o
caso da substituio dos CFCs (cloro flor carbonos), que auxiliam na destruio da camada de
oznio, por outras substncias com menor impacto ambiental.
Especialidades de proieto relacionadas ao meio ambiente - So conhecidas como
DFxs (Design for anything - projetar para algo). Estas abordagens so direcionadas
principalmente aos produtos, propondo que no projeto destes sejam consideradas questes de
determinadas fases do ciclo de vida ou de caractersticas ambientais especficas. Nesta classe
esto as propostas de projeto para reciclagem, projeto para desmontagem, projeto para re-uso de
material e componentes, projeto para re-manufatura, projeto para uma maior eficincia
energtica, entre outras.
Estas ltimas abordagens podem proporcionar bons resultados pois antecipam a
considerao de caractersticas ambientais dos produtos na fase de projeto. No entanto, quando
se considera um s aspecto ambiental, pode-se estar transferindo o problema, em vez de
solucion-lo.
Por exemplo, se for considerada apenas a caracterstica de boa reciclagem, o uso de
termoplstico no lugar de termofixo seria uma boa deciso de projeto. Entretanto, para
compensar a caracterstica de resistncia mais baixa do termoplstico, a quantidade de material
poderia ser aumentada, o que provocaria um aumento na carga de trabalho na produo e na
reciclagem. Isto geraria um maior consumo de energia e de material, que poderia ser mais
prejudicial ao meio ambiente.
17 O LMP do Departamento de Engenharia Mecnica da Universidade Federal de Santa Catarina tem a linha de pesquisa no Desenvolvimento da Usinagem Ecolgica - DUECO.
Captulo 2 - Estado da arte 25
Desta forma, h a necessidade de abordagens holsticas, que considerem os diferentes
aspectos ambientais nas diversas fases do ciclo de vida.
b) Abordagens que tratam sobre o ciclo de vida completo de um produto
Essas abordagens, campos 3 e 4 da Figura 2-3, procuram proporcionar uma melhoria no
aspecto ambiental do produto durante todo o ciclo de vida. Devido a esta viso holstica da
relao do produto com o meio ambiente, no incio do desenvolvimento do produto, estas
abordagens podem prestar melhor qualidade ambiental aos produtos do que as classes anteriores.
nesta classe que se encontram as propostas de Environmentally Conscious Design and
Manufacturing - Projeto e manufatura ambientalmente consciente (Baca, 1993 e Owen, 1993
apud Bras, 1997) e o projeto para o meio ambiente (PPMA).
O enfoque do presente trabalho de dissertao localiza-se nesta classe, mais
especificamente como uma proposta de PPMA direcionada a auxiliar os projetistas no reprojeto
de produto.
c) Abordagens que so aplicadas alm do ciclo de vida de um produto
Essas abordagens, campo 5 da Figura 2-3, tratam sobre a ecologia industrial, na qual a
questo ecolgica parte integral de todas decises estratgicas. Os principais meios adotados
so a anlise da interao ecolgica entre os ciclos de vida de diferentes produtos da empresa e a
conseqncia ecolgica da relao desta com outras componentes do setor produtivo
(fornecedores, concorrentes, parceiras, etc.).
d) Abordagens relacionadas s polticas de desenvolvimentos transnacionais
Essas abordagens, campo 6 da Figura 2-3, so as mais amplas. Tratam do
desenvolvimento sustentvel, que prope um conjunto de aes, acordos e propostas para o
desenvolvimento das naes que compe a gerao atual, sem comprometer as geraes futuras.
Mesmo com a grande variedade e quantidade de propostas que procuram tomar o setor
produtivo ambientalmente amigvel, estas ainda no esto sendo bem aproveitadas. Em (Ishii,
1998) encontra-se um levantamento das iniciativas ligadas aos campos 3 e 4, da Figura 2-3, no
EUA, afirmando que o setor produtivo deste pas est muito lento na aplicao destas abordagens
em relao Europa e o Japo.
Por sua vez, as iniciativas ecolgicas no setor produtivo do Brasil esto relacionadas em
grande parte ao campo 1, da Figura 2-3, a menos de algumas indstrias que procuram atingir
mercados em outros pases, pois sofrem exigncias ecolgicas mais rigorosas. Mesmo assim, as
iniciativas da incluso da demanda ambiental no setor produtivo do Brasil como elemento de
diferenciao das estratgias de produo ainda so muito recentes.
Captulo 2 - Estado da arte 26
As iniciativas deste tipo, geralmente, esto relacionadas aos campos 3 e 4, nos centros
de tecnologias limpas18. Exemplos destas experincias so a Produo Limpa, promovida pela
Fundao Carlos Alberto Vanzolini19 ligada a USP (Universidade Estadual de So Paulo) e o
TECLIM20 (Tecnologias Limpas e Minimizao de Resduos) ligado a Escola Politcnica da
UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Como a metodologia proposta est relacionada ao PPM A, no item 2.4 ser apresentado
uma reviso de propostas desta abordagem, com enfoque nas que tratam especificamente sobre
reprojeto.
2.4 Projeto para o meio ambiente - PPMA
O termo PPMA, neste trabalho, compreende as abordagens de projeto que procuram
auxiliar os projetistas na concepo de produtos com boas caractersticas ambientais, atravs da
considerao da relao de cada fase do ciclo de vida destes com o meio ambiente.
Na pesquisa realizada defrontou-se com diferentes termos que podem ser considerados
como abordagens de PPMA. Entres eles pode-se citar:
Projeto para sustentabilidade, (Tipnis, 1993), apesar de que o termo
sustentabilidade mais apropriado para iniciativas relacionadas polticas
transnacionais, conforme a classificao apresentada no sub-item d) do item 2.3;
Life-cycle Design - Projeto para o ciclo de vida, (EPA, 1993 apud Bras, 1997); e
outros termos como ecodesign e environmental product design - projeto ambiental
de produto.
Existem tambm definies que ampliam o termo PPMA para alm do projeto de
produtos, como por exemplo o programa DFE21 da EPA e a abordagem apresentada em Kinlaw
(1997), que propem o DFE como uma ferramenta gerencial de apoio ao sistema de
gerenciamento ambiental.
18 Experincias desenvolvidas por empresas, rgos patronais, governo, universidades. Algumas fazem parte de um relatrio preparado pelo PNUMA TIE - Setor de Tecnologia, Indstria e Economia do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente. Um resumo destas experincias est disponvel em: . Acesso em 30 out. 00.19 Informaes sobre o produo limpa na Fundao Vanzolini est disponvel em: . Acesso em 30 out. 00.20 Informaes sobre o TECLIM esto disponveis em: . Acesso em 30 out. 00.21 A utilizao da sigla DFE (design fo r the environment) neste item pretende manter a fidelidade com as propostas da EPA e de Kinlaw (1997) que so de origem estadunidenses.
http://www.meioambiente.com.br/limpa2.htmhttp://www.vanzolini.org.br/areas/desenvolvimento/producaolimpa/index.htmlhttp://www.teclim.ufba.br
Captulo 2 - Estado da arte 27
Na pesquisa realizada procurou-se analisar abordagens que apresentassem o PPMA
integrado ao processo de reprojeto de produtos, principalmente, aquelas apresentadas de fornia
sistemtica. Com esta delimitao encontrou-se duas propostas: o EcoReDesign (Gertsakis et al,
1997a, 1997b) e o Systematic Product Evolution - Evoluo Sistemtica de Produtos (Coulter e
Bras, 1997), que so apresentadas nos itens 2.4.1 e 2.4.2, respectivamente.
2.4.1 EcoReDesign
O EcoReDesign um programa fundado em 1993 pelo governo australiano, atravs do
Centro de Projeto no RMIT com parceria de empresas situadas na Austrlia. At 1996, seis
produtos passaram pelo programa e demonstraram reduo no impacto ambiental, alm da
melhoria nas vendas e nos lucros das empresas, (Gertsakis et al, 1997a, 1997b).
O EcoReDesign procura prover uma sistemtica para identificar a estratgia apropriada
de melhoria ambiental para um determinado produto, bem como melhorias em outras
caractersticas do produto que influenciam em seu sucesso no mercado. O EcoReDesign consiste
de trs fases, (Gertsakis et al, 1997b):
Fase 1 - A seleo e anlise geral do produto: A seleo do produto feita a partir da
considerao das presses do mercado e de uma anlise geral da experincia com o produto. As
informaes relevantes para o reprojeto so registradas em forma de relatrio e servem de base
para as prximas fases.
Este relatrio deve conter informaes sobre o mercado, produtos concorrentes,
capacidade e recursos da empresa, presses ou oportunidades para mudana do produto e um
amplo conjunto de informaes sobre o produto (funes, componentes, processos de fabricao,
rvore de processo, cultura de uso pelo cliente final, entre outras).
Fase 2 - Anlise do impacto ambiental do produto e definio de direes de
reprojeto: Nesta fase realizado um estudo especfico sobre as caractersticas ambientais do
produto, para determinar quais estratgias de desenvolvimento anibiental de produto22 so mais
apropriadas.
Para tanto, proposta a utilizao do mtodo de ACV (Anlise do Ciclo de Vida)
simplificada do produto. Neste mtodo so consideradas todas as entradas e sadas de cada fase
22 Estratgias de desenvolvimento ambiental de produtos a denominao utilizada por este programa s especialidades de projetos conhecidas como DFxs. Um conjunto destas descrito em Gertsakis et al (1997b).
Captulo 2 - Estado da arte 28
do ciclo de vida do produto em relao ao meio ambiente. Este mtodo proporciona equipe de
projeto a possibilidade de determinar as caractersticas mais crticas que necessitam de reprojeto.
O EcoReDesign prope que se faa uma exposio dos resultados encontrados na ACV
para um grupo de especialistas de diferentes reas: processo de produo, materiais, marketing,
meio ambiente, gerncia e projeto. O objetivo desta exposio completar a anlise feita pela
equipe de projeto com o conhecimento de especialistas de outras reas. Para finalizar esta fase,
necessria uma avaliao crtica das idias geradas sobre as necessidades de melhoria do
produto.
Fase 3 - Gerao de um produto novo e melhorado ambientalmente: A primeira
tarefa classificar as idias geradas na fase anterior, segundo os critrios de viabilidade tcnico-
econmica e de ganho ambiental23. Desta forma, ter-se- uma escala de prioridades onde as
primeiras idias a serem executadas sero as que tiverem um maior ganho ambiental e uma
maior viabilidade tcnico-econmica. No entanto, antes de suas execues necessrio avaliar
os conflitos destas idias, pois decises que melhoram uma caracterstica ambiental especfica
podem prejudicar outras, e isto deve ser evitado.
2.4.2 Evoluo sistemtica de produtos (ESP)
Esta proposta resultado de uma tese de Ph.D., desenvolvida no Systems Realization
Laboratory o f the Gergia Institute o f Technology - Laboratrio de Realizao de Sistemas do
Instituto de Tecnologia da Gergia, (Coulter e Bras, 1997). O ncleo principal desta proposta
uma melhoria ambiental gradual do produto atravs de estratgias de multi-iteraes
programadas do produto. Desta forma, pode-se ter a incluso da questo ambiental
incrementalmente, harmonizando-a com outros requisitos da qualidade.
Em Coulter e Bras (1997), apresenta-se a proposio inicial do ESP, que compreende as
seguintes fases:
Identificao dos fatores limitantes: fatores limitantes so caractersticas de um
produto que impedem o cumprimento de determinados objetivos ambientais, por exemplo a
-grande variedade de material de um automvel restringe a reciclabilidade do mesmo. A
23 Entende-se ganho ambiental como a potencial diminuio do impacto ambiental no ciclo de vida do produto em decorrncia de um reprojeto deste. Portanto, a identificao de um ganho ambiental est vinculado a uma anlise do ciclo de vida do produto, para que se possa garantir uma verdadeira reduo do impacto ambiental e no uma transferncia deste para uma outra fase do ciclo de vida.
Captulo 2 - Estado da arte 29
identificao destes fatores possibilita a equipe de projeto estabelecer as mudanas que podem
incorrer em maiores ganhos ambientais.
Estabelecimento de metas: refere-se ao estabelecimento de valores metas para os
fatores limitantes, que devero ser alcanados em cada reviso do produto.
Estabelecimento de prioridades dos fatores limitantes: procura-se criar uma escala
crescente de prioridades de atendimento dos fatores, onde os que possibilitam maiores melhorias
devem estar no topo. Nota-se que esta tarefa pode ser auxiliada por ferramentas como QFD.
Incluso d incertezas: refere-se incerteza da reduo do impacto ambiental do
produto ao longo da vida do produto. Estas podem ser geradas devido a diferentes fatores tais
como mudanas da tecnologia ou da legislao. O autor prope a utilizao da tcnica de projeto
robusto na considerao das incertezas. A previso de diversas iteraes, tambm, permite um
maior controle da evoluo destas incertezas ao longo do tempo.
As duas propostas apresentadas possuem pouco detalhamento, tanto de suas definies e
princpios, como tambm da aplicao dos mtodos sugeridos em cada fase. Mesmo assim,
pde-se elaborar uma comparao entre elas, apresentada na Tabela 2-4.
Tabela 2-4 - Comparao entre EcoReDesign e ESP
Aspectos Positivos Aspectos Negativos
EcoReDesign
> Evidencia a necessidade de esclarecimento da tarefa de reprojeto;> Apresenta um melhor esclarecimento sobre os mtodos de levantamento das necessidades de reprojeto, atravs da ACV;> Ressalta a necessidade de uma contribuio multidisciplinar;> Salienta a necessidade da considerao de diferentes caractersticas ambientais.
> No apresenta detalhes sobre o processo de reprojeto propriamente dito;> No indica meios de avaliao e verificao dos ganhos ambientais.
ESP
> Evidencia a necessidade de esclarecimento da tarefa de reprojeto;> Incorpora o aspecto ambiental do produto como um processo estratgico de melhoria continua e incremental;> Procura prever e absorver as incertezas do cumprimento das metas, atravs da tcnica de projeto robusto;> Tenta integrar a questo ecolgica com as outras restries de projeto.
> No apresenta detalhes sobre o processo de reprojeto propriamente dito> No apresenta um mtodo de identificao dos fatores limitantes;> No apresenta detalhamento da utilizao dos mtodos propostos;> No indica meios de avaliao e verificao dos ganhos ambientais.
Captulo 2 - Estado da arte 30
2.5 Consideraes finais
Neste captulo apresentou-se um estudo sobre as propostas que tratam sobre o reprojeto
de produtos e, principalmente, sobre a incluso da questo ambiental no desenvolvimento dos
produtos. Devido escassez de informaes sobre estes dois aspectos, simultaneamente, optou-
se em fazer um estudo das metodologias de reprojeto e depois das iniciativas de considerao
ambiental no desenvolvimento de produtos.
A maioria dos estudos e publicaes na rea de desenvolvimento de produto dedicam-se
ao projeto de produtos novos, o que no atende satisfatoriamente as necessidades especficas do
reprojeto, como por exemplo, no tratamento das informaes do produto existente. Procurou-se,
ento, deter-se em propostas especificas de reprojeto, das quais pode se destacar elementos, que
orientaro no desenvolvimento da metodologia de reprojeto para o meio ambiente, apresentados
a seguir:
Uma das etapas mais crticas no processo de reprojeto de produtos o levantamento
das informaes do produto existente. necessrio, portanto, o estabelecimento de
meios que auxiliem a equipe de projeto nesta etapa de esclarecimento da tarefa de
reprojeto, para que se possa identificar as oportunidades de melhoria ambiental,
bem como aproveitar as informaes contidas no produto existente;
As consideraes ambientais devem estar presentes durante todo o processo de
reprojeto e, para possibilitar um maior ganho ambiental, necessrio o
estabelecimento de mtodos que orientem a equipe de reprojeto na considerao
ambiental; e
Existem diferentes nveis de reprojeto de um produto: paramtrico, adaptativo e
original, contudo no se encontraram elementos de suporte para determinar o nvel
de reprojeto mais adequado a um dado produto.
O estudo da incluso da questo ambiental no setor produtivo, por sua vez, evidenciou
que existem diversas iniciativas que podem auxiliar no estabelecimento de uma relao mais
amigvel entre setor produtivo e meio ambiente. Dentre estas iniciativas, destaca-se a reduo do
impacto ambiental dos produtos atravs de alteraes no projeto destes. Esta constatao vai ao
encontro da hiptese declarada no item 1.4.2.
Este estudo tambm possibilitou situar o objeto desta pesquisa em relao s iniciativas
de desenvolvimento de produtos verdes. Dentre estas iniciativas apresentaram-se duas, que
mais se assemelharam ao objeto desta pesquisa. A primeira o programa australiano de
EcoReDesign e a segunda a ESP. Destas duas propostas, tambm se pode destacar elementos
que auxiliaro no desenvolvimento da metodologia, apresentados a seguir:
necessria uma equipe de projeto multidisciplinar para a identificao de
oportunidades de reprojeto ambiental e na avaliao dos ganhos obtidos;
Os mtodos que sustentam a aplicao da metodologia devem ser bem detalhados
para orientar a equipe na sua aplicao;
O estabelecimento de metas auxilia no controle do processo de reprojeto para o
meio ambiente;
Existem incertezas no cumprimento das metas estabelecidas, devido s mudanas
tcnicas e legislativas. Estas incertezas devem ser previstas e se possvel reduzidas;
A preocupao ambiental deve ser integrada com as outras restries de projeto; e
Deve-se prever meios de avaliao dos ganhos ambientais obtidos em relao ao
produto existente. Isto possibilita uma verificao continua das melhorias
alcanadas, evitando deixar esta analise para os testes finais com o prottipo.
No prximo captulo apresentam-se alguns fundamentos sobre metodologia de projeto,
reprojeto de produto e projeto para meio ambiente, que juntamente com as consideraes
realizadas no presente captulo serviro de suporte para o estabelecimento da metodologia de
reprojeto de produtos para o meio ambiente.
Captulo 2 - Estado da arte_____________________ _________________________________________________31
Captulo 3
Fu n d a m e n t o s p a r a o DESENVOLVIMENTO DA METODOLOGIA
3.1 Introduo
Este captulo tem como objetivo principal apresentar alguns fundamentos que se fazem
necessrios ao estabelecimento da metodologia de reprojeto de produtos para o meio ambiente.
O estudo descrito neste captulo possibilitar a identificao de elementos
caractersticos dos trs campos de conhecimento relacionados a esta dissertao: metodologia