Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós … · meu genro Leandro, minha nora Keit,...

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i Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO, NO GRUPO DE TERCEIRA IDADE “AMOR E CARINHO” DE SANTA TEREZINHA DE ITAIPU - PR Dissertação de Mestrado Delci Elena Corbari Pereira Florianópolis 2002

Transcript of Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós … · meu genro Leandro, minha nora Keit,...

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    Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Ps-Graduao em

    Engenharia de Produo

    QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE

    E SUA RELAO COM O TRABALHO,

    NO GRUPO DE TERCEIRA IDADE AMOR E CARINHO

    DE SANTA TEREZINHA DE ITAIPU - PR

    Dissertao de Mestrado

    Delci Elena Corbari Pereira

    Florianpolis

    2002

  • ii

    QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE E SUA

    RELAO COM O TRABALHO

  • iii

    Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Ps-Graduao em

    Engenharia de Produo

    QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE E SUA

    RELAO COM O TRABALHO

    Delci Elena Corbari Pereira

    Dissertao apresentada aoPrograma de Ps Graduao em

    Engenharia de Produo, da Universidade Federal de Santa Catarina,

    como requisito parcial para obtenodo ttulo de Mestre em

    Engenharia de Produo

    Florianpolis2002

  • ii

    Delci Elena Corbari Pereira

    QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE ESUA RELAO COM O TRABALHO

    Esta dissertao foi julgada e aprovada para a obteno do

    ttulo de Mestre em Engenharia de Produo no

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da

    Universidade Federal de Santa Catarina

    Florianpolis, 10 de junho de 2002

    Prof. Ricardo Miranda Barcia Ph.DCoordenador do Curso

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Eugenio Andrs Diaz Merino,Dr.

    Orientador

    Prof. Francisco Fialho, Dr. Prof. Glaycon Michels, Dr.

  • iii

    Dedico esse Trabalho

    Ao meu marido Adilon, aos meus filhos, Agla e Andr,meu genro Leandro, minha nora Keit, e a minha querida netinha Helosa.

    Pela compreenso das horas de ausncia, pelo incentivo e apoio,sem o que no seria possvel a realizao deste trabalho.

  • iv

    Agradecimentos

    Com o objetivo alcanado, manifesto o meu agradecimento a todos que,direta ou indiretamente, contriburam para este estudo, em especial:

    A Deus por estar sempre me iluminando.

    A Universidade Federal de Santa Catarina.

    Eugenio Andrs Diaz Merino, Dr., meu orientador, pelo apoio,confiana e ter esperado o meu tempo.

    Aos membros da banca , por aceitarem compor a banca de avaliaodeste estudo, e pela riqueza dos comentrios que faro.

    Aos meus pais Alfredo e Romilda, pelos ensinamentosna vontade de lutar sempre.

    meus irmos Dalva, Diva, Adelar, Ademar, Claudina e Rosa Maria,pelo estmulo, apoio e preocupao.

    Aos meus amigos, cujo convvio tornou mais agradvel e estimulante arealizao deste curso, em especial a Reinalda Blanco Pereira, e a todos os

    demais colegas de turma, pelo incentivo, e apoio durante todo o curso.

    A todos os membros integrantes do grupo Maturidade Amor e Carinho deSanta Terezinha de Itaipu, que se dispuseram, gentilmente, a participar desteestudo, mesmo no anonimato, A minha eterna gratido, amizade, e respeito .

    Prefeitura Municipal pelo apoio e por permitir a utilizao daCasa da Melhor Idade

  • v

    A funo da cincia no s acrescentar mais anos vida,mas acrescentar mais vida aos anos.(John Osborn)

    "Eu fiz um acordo pacfico com o tempo, nem ele me persegue,nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra.(Mario Lago)

    "A afirmao da vida o ato espiritual no qual o homem pra de viverirrefletidamente e comea a dedicar-se prpria vida com reverncia, para que

    ela passe a ter o seu devido valor.(Albert Schweitzer)

    "As pessoas podem transformar as suas vidas transformandoas suas atitudes.(William James)

    Os melhores mdicos do mundo so os doutoresRepouso, Dieta e Alegria.(Jonathan Swift)

    "O que fazemos conosco agora o mais importante para o amanh.Se no fizermos nada para mudar nossa atitude e o nosso modo de atuar,

    amanh parecer ontem, exceto pela data."(Moshe Feldenkrais)

    "A maioria dos homens emprega a metade da vida, preparando a infelicidadeda outra metade."(La Bruyre)

    Sejamos, com a nossa cincia de viver, um exemplo para os que vm atrs dens.(Autor Desconhecido)

  • vi

    Sumrio

    Lista de Figuras .......................................................................p. viiiLista de Quadros .....................................................................p. ixLista de Tabelas .....................................................................p. xLista de Redues ..................................................................p. xiResumo ...................................................................................p. xiiAbstract ..................................................................................p. xiii1 INTRODUO .......................................................................p. 1

    1.1 Apresentao da Problemtica .............................p. 11.2 Objetivos da Pesquisa ...........................................p. 6

    1.2.1 Objetivo Geral ................................................ p. 61.2.2 Objetivos Especficos .................................. p. 6

    1.3 Justificativa ..............................................................p. 71.4 Estrutura do Trabalho ..............................................p. 111.5 Delimitao da Pesquisa .........................................p. 12

    2 REVISO LITERRIA ..........................................................p. 132.1 Abordagem Ergonmica .........................................p. 132.2 Histrico do Trabalho ..............................................p. 212.3 Histrico do Envelhecimento humano ..................p. 262.4 A Gerontologia .........................................................p. 362.5 Seguridade Social e Terceira Idade ......................p. 402.6 Psicologia do Trabalho e Desigualdade Social na

    Terceira idade ...........................................................p. 482.7 A Expectativa de Vida e o Trabalho do Idoso no

    Brasil .........................................................................p. 542.8 O Papel do Idoso no Organismo Social ................p. 602.9 A Segunda Carreira ................................................p. 632.10 Conceito de Sade ................................................p. 66

    2.10.1 Estresse o Maior Inimigo da Vitalidade ....p. 682.10.2 O Exerccio Fsico e a Alimentao .............p. 702.10.3 A F e o Ser Humano ..................................p. 742.10.4 A Importncia do Lazer .....................................p. 77

    2.11 Qualidade de vida ...........................................................p. 812.11.1 Conceito de Qualidade de Vida ..................p. 812.11.2 Instrumentos de Medida de Qualidade de

    Vida .............................................................p. 843 METODOLOGIA ..................................................................p. 86

    3.1 Histria do Grupo de Terceira Idade Amor eCarinho .......................................................................P. 89

  • vii

    3.2 Caracterizao da Populao e Definio da Amostra ................................................................................ p. 923.3 Aplicao da Metodologia no Grupo 3 Idade Amor e Carinho ................................................................ p. 983.4 Analise e Interpretao dos Dados ......................p. 100

    4 CONCLUSES E RECOMENDAES ...................................p. 1094.1 Concluses ..............................................................p. 1094.2 Recomendaes Para Trabalhos Futuros .............p. 113

    5 FONTES BIBLIOGRFICAS .................................................P. 1145.1 Bibliografia Referenciada .......................................p. 1145.2 Bibliografia Consultada .........................................p. 121

    6 ANEXOS ................................................................................p. 1246.1 Primeiro questionrio aplicado na amostra .........p. 1246.2 Segundo questionrio aplicado na amostra .........p. 1256.3 Resultados da segunda fase da pesquisa em nmeros ..................................................................p. 1296.4 Resultados da segunda fase da pesquisa em

    percentuais ..............................................................P. 1316.5 Classificao dos itens da quarta coluna por prioridade ................................................................p. 1336.6 Terceiro questionrio aplicado na amostra ...........p. 135

  • viii

    Lista de Figuras

    Figura 1: Disciplinas de base daergonomia

    ...................................................

    p. 15

    Figura 2: Determinantes da sade .................................................................

    p. 67

    Figura 3: Amostra por faixa etria .................................................................

    p. 94

    Figura 4: Amostra por grau deescolaridade

    ...................................................

    p. 95

    Figura 5: Amostra por estadocivil

    ....................................................................

    p. 96

    Figura 6: Amostra por sexo ............................................................................

    p. 97

    Figura 7: Itens mais assinalados na primeiracoluna

    ......................................

    p. 100

    Figura 8: Itens mais assinalados na segundacoluna

    ......................................

    p. 101

    Figura 9: Itens mais assinalados na terceira coluna ......................................

    p. 102

    Figura 10: Itens mais assinalados na quarta coluna ......................................

    p. 102

    Figura 11: Classificao dos itens de acordo com a ordem deprioridade

    ......

    p. 104

    Figura 12: Anlise 1 questo da 3 fase dapesquisa

    ...................................

    p. 106

  • ix

    Lista de Quadros

    Quadro 1: A evoluo de conceito de trabalho ....................................... p. 25

  • x

    Lista de Tabelas

    Tabela 1: Populao total de 65 anos e mais por sexo / Brasil 1991 eProjees 2000 -

    2020....................................................................

    ..p. 40

    Tabela 2: Populao por sexo e total de 65 anos e mais / Brasil. Censo2000 ...............................................................................................

    ..p. 41

    Tabela 3: Populao e estimativa de idosos de 1996 a 2025, do Brasil emrelao a outros paises .................................................................

    ..p. 42

    Tabela 4: Amostra por Faixa etria ..................................................................

    p. 94

    Tabela 5: Amostra por grau de escolaridade ...................................................

    p. 95

    Tabela 6: Amostra por estado civil ...................................................................

    p. 96

    Tabela 7: Amostra porsexo

    ..............................................................................

    p. 97

    Tabela 8: Demonstrao numrica da MP dos 10 itens classificados .............

    p. 103

    Tabela 9: Anlise 1 questo da 3 fase da pesquisa ......................................

    p. 106

  • xi

    Lista de Reduo

    Abreviaturas

    Class. e Classf. = ClassificaoMp e MP = Mdia Ponderadap.ex: = Por exemploPr. = Paran

    Siglas

    ANG Associao Nacional de GerontologiaEUA Estados Unidos da AmricaIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIEA internacional Ergonomics AssociationOCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento EconmicoOIT Organizao Internacional do TrabalhoOMS Organizao Mundial da SadeONU Organizao das Naes UnidasSENPROS Secretaria Nacional da Promoo SocialVPIAQV Verso em Portugus dos Instrumentos de Avaliao de

    Qualidade de VidaWHOQOL World Health Organization Quality of Life

  • xii

    Resumo

    PEREIRA, Delci Elena Corbari Pereira. Qualidade de Vida na TerceiraIdade e sua Relao com o Trabalho. 2002. 150 folhas. Dissertao(Mestrado em Engenharia de Produo) Programa de Ps-Graduao emEngenharia de Produo, UFSC, Florianpolis.

    A dissertao Qualidade de Vida na Terceira Idade e sua Relao como Trabalho aborda o tema melhoria da qualidade de vida das pessoas deterceira idade e sua relao com o trabalho (terapia ocupacional). Trata-se deum estudo exploratrio, atravs de questionrios, que objetiva delinear osignificado dos termos "qualidade de vida" e "trabalho" junto populao alvo,e tambm, reintegrar o idoso como fora de trabalho dentro de uma ticaergonmica. Quanto a metodologia empregada, inicialmente elegeu-se osidosos vinculados ao grupo de Terceira Idade Amor e Carinho como populaoalvo; depois, foi elaborado um instrumento, para busca de referenciais,contendo a pergunta "O que voc considera uma boa qualidade de vida navelhice?"; com as respostas obtidas, foi montado um questionrio piloto com 46itens para serem assinaladas as respostas preferenciais. Da anlise dasrespostas desse questionrio, montou-se o instrumento de pesquisa dessadissertao com 5 perguntas sobre o tema, o qual, 100% das pessoasresponderam que gostariam de trabalhar nessa faixa etria. Pessoas deterceira idade faro parte da fora de trabalho do futuro e os sistemas deproduo devero se adequar a essa nova realidade. O trabalho no pretendeuuma generalizao, e sim, uma aproximao maior desse universo, que tem semostrado frustrado, ansioso e deprimido ao serem forados a se aposentar,quando ainda teriam muito a contribuir. Os resultados obtidos demonstraramque a populao idosa deseja trabalhar, ou seja, ocupar-se de algo,reivindicam um lugar na sociedade economicamente produtiva, sendo que paratanto necessitam de condies adequadas.

    Palavras chaves : vida, qualidade, terceira idade, trabalho.

  • xiii

    Abstract

    PEREIRA, Delci Elena Corbari Pereira. Life of Quality on Third Age andits relations with Working. Florianpolis, 2002, 150 leaves. Paper (MagistersDegree in Engineering of Production) Post Graduation Program inEngineering of Production. UFSC, 2002.

    This dissertation: Life of Quality on Third Age and its relations withWorking, deals with the enhancement of life quality of third age people, and itsrelations with work (occupational therapy). It is an exploratory research, throughquestionnaires, whose goal is to delineate the meaning of expressions like "lifequality" and "work" among the target population, and also, reintegrating theelder as a work force, using an ergonomics approach. The methodologyemployed elected old people linked to group Third Age Love and Affection asthe target population. In order to get initial references, a instrument wasprepared with the question: "What you consider as a good life quality for oldpeople?". With the obtained answers, we prepared a pilot questionnaire with 46items from which the inquired members of the population registered theirpreferential ones. From the analysis of the answers to this questionnaire, weassembled our research instrument, used in this dissertation, with 5 questionsabout the theme. !00% of the population members answered saying that theywould like to work during third age. Third age people will be part of the taskforce of the next millennia and the production systems must adequate theirinstallations to accommodate this situation. We do not intended anygeneralization but just to enhance our comprehension about this universe. Ourelders show frustration, depression, and anxiety when obliged to retire, becausetheir feeling is that they still have a lot of think to give to the community they livein. The obtained results demonstrated that the senior population wants to work,in other words, to occupy of something, they demand a place economically inthe society productive, and for so much they need appropriate conditions.

    Key Words: Life, Quality, Third Age, work.

  • 1

    1 INTRODUO

    1.1 Apresentao da Problemtica

    Desde os primrdios da civilizao os seres vivos buscam somar suas

    foras para sobreviverem s ameaas e desfrutarem das oportunidades

    existentes a sua volta. No reino animal, verifica-se que a maioria dos seres da

    mesma espcie procura se manter aglutinado para melhor competir e

    conservar o seu territrio. Aglutinam-se instintivamente para sobreviver aos

    ataques de outros seres que no pertencem ao seu grupo de referncia,

    visando assim perpetuao da espcie. No mbito dos seres humanos esta

    posio instintiva de sobrevivncia tem o alicerce da capacidade mental

    intuitiva e do dom da razo inerente ao homo sapiens (Finley, 1982).

    Atualmente o Planeta Terra, mais do que simplesmente os Homens que

    nele habitam, passa por um momento de transformao muito rpida. Todas as

    atividades humanas se modificam e se convulsionam, recebendo a cada dia

    um volume to grande de novas informaes e tecnologias, impossveis de

    serem abarcadas por um s indivduo isolado.

    Milanez (1986 p.7) relata que:

    O homem conquistou o cosmos, olhou a Terra de longe, e isso

    mudou sua concepo da Vida e do Universo. Na esteira destas

    conquistas, grandes debates foram abertos. Nenhum homem mais um

    indivduo isolado. As informaes nos chegam, com a velocidade do

    rdio, da televiso e da internet, quase no mesmo momento em que

    ocorrem no outro extremo do Planeta. Cada indivduo e cada

    comunidade, metidos em seu canto por mais distante que seja, buscam

    cada vez mais saber o que ocorre com o restante da humanidade.

    A cincia no foge a essa regra, e o avano da medicina vem

    propiciando o aumento progressivo da longevidade e, portanto, da expectativa

  • 2

    de vida que nas ltimas dcadas do sculo XX, fato sem precedente na

    histria, proporcionou ao ser humano uma longevidade nunca antes atingida.

    cada vez maior o nmero de pessoas que ultrapassam a idade de sessenta e

    setenta anos e, mais que isso, que atingem essa idade em boas condies

    fsicas e mentais e que, quando associados aos aspectos culturais, psquicos,

    espirituais, e uma condio scio econmica estvel, que so fatores

    relevantes para a qualidade de vida aos anos acrescidos pela cincia, tem

    muito a contribuir com a sociedade.

    Com o aumento da expectativa de vida no mundo, faz-se necessrio

    pensar tambm na qualidade desses anos que sobrevieram. Diante disso,

    muitos pesquisadores tm se interessado pelo envelhecimento humano,

    ocasionando uma multiplicidade de opinies e avaliaes objetivas e subjetivas

    sobre a velhice. As avaliaes objetivas, em sua maioria, focalizam as

    transformaes no cabelo que embranquece, na pele que se enruga, no andar

    j no to rpido e fcil, modificando a postura corporal. No aspecto social,

    geralmente, se voltam para as classificaes na qual a sociedade enquadra as

    pessoas em direitos e deveres, nos esteretipos a serem seguidos, tarefas ou

    papis determinados, como por exemplo: aos sete anos, freqentar a escola

    primria; aos dezoito, ingressar no servio militar, aos vinte e um, a

    incorporao dos direitos dos adultos, aos setenta, a aposentadoria

    compulsria. No aspecto econmico, as pessoas de Terceira Idade passam a

    ser vistas como improdutivas, sendo decretada assim, sua velhice econmica e

    social. As avaliaes subjetivas, preocupam-se com o que acontece ao

    indivduo que atravessa por essas etapas, qual o seu sentimento e

    entendimento dessa situao, seus ganhos e perdas psicolgicas, suas

    frustraes e aspiraes.

    A velhice, em cada sociedade assume significado diferente, pois a

    imagem que se tem dos velhos afetada pela prpria subjetividade e pela

    influncia dos valores da cultura em que se est inserido (Vargas, 1994). A

    histria da atividade produtiva, o trabalho, desenvolve-se na humanidade,

  • 3

    voltado prioritariamente para o lucro, adaptando o homem ao servio, sem

    considerar as suas necessidades e bem estar (Souza, 1995).

    A palavra trabalho tem duas origens etimolgicas. A primeira oriunda

    do latim tripalium, que era um aparelho de tortura. Da mesma forma o verbo

    trabalhar vem do latim tripaliare, que significa torturar com tripalium. Na Bblia,

    o trabalho apresentado como uma necessidade que leva a uma fadiga e que

    resulta numa maldio, ganhars o po com o suor de teu rosto, mostrando o

    trabalho como um sacrifcio para obteno de algum resultado. Para os gregos,

    trabalho tem origem nas palavras ponos, com significado de esforo,

    penalidade e ergon, que significa a criao, a obra de arte (Merino, 2000).

    A humanizao do homem se deu pelo trabalho, isto , pela sua

    atividade humana na luta pela sobrevivncia, atividade especificamente

    humana: criao de elementos e de instrumentos de trabalho. No decorrer do

    processo histrico, o trabalho mudou de essncia e passou a ser instrumento

    de auto-alienao. Na nsia de libertar-se da natureza, mas preso a seus

    instintos animais, com o surgimento da propriedade privada, o homem tornou-

    se escravo dos seus deveres sociais. Num estgio mais avanado, o que o

    homem produz no mais lhe pertence, ou lhe pertence s em parte. O produto

    do seu trabalho pertence a outro, que lhe d em troca alguns bens de

    subsistncia ou um salrio (Souza, 1995).

    No regime do salariato (capitalismo), o trabalho revela sua verdadeira

    essncia alienante, sendo uma atividade humana que produz valor de troca

    para outro. Engajou-se no trabalho passando de sujeito a objeto, de homem

    livre a coisa do outro, para o qual trabalha e de quem depende. Nesse

    processo anulou-se como pessoa humana. O que ele produz, ganha ento

    valor de troca, pressupondo a existncia de terceiros, passando a fazer assim

    no s o que ele quer, mas o que o outro quer (Basbaum, 1977).

    Ao analisar a situao do homem em relao aos meios produtivos por

    ele desenvolvidos Basbaum (1977, p. 21) diz: fizemos da produo um fim em

    si mesmo, ao invs de um meio para a felicidade transformamo-nos em parte

  • 4

    de mquinas, em vez de sermos seus senhores, somos bens venda e nos

    alienamos do nosso verdadeiro eu.

    Surge em 1949, a cincia Ergonomia, preconizada por outros autores e

    teorizada em vrios aspectos por Alain Wisner (apud Merino, 2000, p.4), como:

    O conjunto dos conhecimentos cientficos relativos ao homem e

    necessrios para a concepo de ferramentas, mquinas e dispositivos

    que possam ser usados com o mximo de conforto, de segurana e de

    eficcia, buscando resgatar consigo o significado da palavra grega

    Ergon.

    A Ergonomia tem como objetivo, adaptar o trabalho ao homem,

    desenvolvendo-lhe a sua dignidade. Com uma abordagem globalizante e como

    no poderia deixar de ser, volta-se tambm problemtica dos indivduos que

    so retirados do mercado de trabalho pela aposentadoria compulsria por

    idade, quando ainda lhes resta um grande potencial a compartilhar com a

    sociedade.

    Muito se comenta nos meios de comunicao sobre um perfil de

    populao onde, cada vez mais, a parcela correspondendo aos idosos ser

    mais e mais significativa. Se por um lado eles sero os principais consumidores

    do futuro, a retirada pura e simples dos mesmos do grupo dos homens

    produtivos tambm deve ser questionada.

    Com base nestas indicativas, parece que chegou o terceiro milnio,

    mostrando a falncia do sistema de trabalho, apresentando-se como

    escravizante do homem e tambm, castrador de seus sonhos e ideais. Tal

    forma de atividade desconhece o entusiasmo, e a ausncia deste, carrega

    consigo a morte existencial.

    Segundo Hegel (1990), a relao de trabalho para esse sculo deve

    encaminhar-se para uma maior realizao do indivduo, pois, no trabalho est

    contida a caracterstica natural da universalidade, a do pensamento. Sem o

    pensamento, ele no tem objetividade, o pensamento a sua definio

  • 5

    fundamental. O ponto mais alto do desenvolvimento de um povo a

    conscincia racional de sua vida e sua condio, a compreenso cientfica de

    suas leis, seu sistema judicirio, sua moral. No objetivo e no subjetivo que

    est a unidade mais ntima, em que o esprito pode estar consigo mesmo. O

    objetivo de seu trabalho ter a si como objeto, mas ele s pode ter-se como

    objeto pensando em si. Vendo por esse prisma, acredita-se que o trabalho tem

    outra funo importante alm da produo, que a da ocupao com a

    criao. Ao se pensar na humanizao da atividade de trabalho, contribui-se

    para o desenvolvimento do homem como espcie, do homem como ser,

    coincidindo com o pensamento de Hegel, em que quanto mais o homem se

    desenvolve espiritualmente, mais ele se torna consciente de si mesmo, ou seja,

    livre. De uma vez que, o desenvolvimento do Esprito em direo conscincia

    de si na histria do mundo o desenvolvimento para uma liberdade sempre

    mais pura. A histria do mundo o avano da liberdade, porque ela o avano

    da autoconscincia do Esprito.

    Diante do exposto, uma ao educativa junto cultura, e dentro dela, ao

    prprio idoso, se faz necessria no acompanhamento das aes polticas e

    econmicas. Para que o homem se torne o autor de sua prpria histria,

    precisa desenvolver sua conscincia e aprimorar sua percepo, a fim de

    suprimir o estado de alienao em que est inserido, para que assim, possa

    aflorar todo o seu potencial. Ao atingir esse estgio, supe-se que ele ter

    modificado a si mesmo e ao esteretipo cultural, construindo assim, um novo

    referencial, com maior grandeza, acerca do envelhecimento.

    A sensibilizao da autora pela problemtica do envelhecimento e a

    relao do mesmo com o trabalho, bem como, pela crena da mesma de que,

    se uma tarefa pode ser feita de maneiras diferentes, ento o trabalho pode ser

    adequado s possibilidades e limitaes das pessoas de terceira idade; uma

    vez que, pressupe-se que possvel para homem ser capaz de aprender e

    ensinar, independente da faixa etria em que esteja situado. Esse estudo

    originou-se da sensibilizao da mesma por essa problemtica. A experincia

    da autora que atuou como coordenadora adjunta do Grupo Terceira Idade

  • 6

    Amor e Carinho do ano de 1994 at 1998. Diante dessa convivncia com o

    grupo e a facilidade de acesso populao alvo. Para essa dissertao, optou

    por um trabalho exploratrio acerca da temtica, buscando junto aos prprios

    idosos o significado para eles de qualidade de vida e de trabalho.

    O trabalho de pesquisa foi iniciado em junho de 2000, quando foi

    solicitado aos pesquisados o que eles consideram uma boa qualidade de vida

    na terceira idade. Com o resultado dessa pergunta foi elaborado um

    questionrio, aplicado em agosto de 2001, para o mesmo grupo, onde

    assinalaram o que consideravam prioritrio para viver com qualidade na

    Terceira Idade. Este questionrio serviu de estudo piloto para a montagem de

    um segundo questionrio, sobre o desejo de trabalhar nesta faixa etria, o qual

    foi aplicado em outubro de 2001 ao mesmo grupo, e sua anlise demonstrou

    que a totalidade da populao alvo manifestou o desejo de continuar

    trabalhando.

    Com essas trs etapas da pesquisa, em conjunto com a reviso

    bibliogrfica sobre o tema, a qualidade de vida na terceira idade foi o objeto de

    estudo desta dissertao.

    1.2 Objetivos da Pesquisa

    1.2.1 Objetivo Geral

    O objetivo geral do trabalho estudar a relao entre a melhoria da

    qualidade de vida das pessoas que atingem a terceira idade e sua relao com

    o trabalho (terapia ocupacional) e outros segmentos sociais.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Analisar, atravs de questionrio aplicado no Grupo Amor e

    Carinho, o significado de qualidade de vida para esta populao.

  • 7

    Delinear na viso do Homem de Terceira Idade o significado do

    termo qualidade de vida e trabalho.

    Discutir o conceito qualidade de vida sob a tica de vrios

    autores.

    Identificar o papel da ergonomia diante do ambiente de trabalho

    ideal para o cidado idoso.

    Constatar qual o grau de conhecimento e entendimento do

    cidado de terceira idade quanto aos seus direitos na sociedade.

    Identificar a interdisciplinaridade da gerontologia com a geriatria, a

    gerontologia social, a psicologia e a ergonomia.

    Perceber os sentimentos e o significado das aes e relaes

    humanas presentes, nos pontos em estudo, no momento da vida

    de um indivduo que est passando por transformaes fsicas,

    emocionais e sociais.

    1.3 Justificativa

    Dentro da problemtica do envelhecimento, referindo-se aos ltimos

    dados fornecidos pelo IBGE em dezembro de 2001, apresenta-se matria do

    telejornal, Jornal da Globo [JOR], A nova Famlia Brasileira, exibido pela Rede

    Globo de Televiso e publicado em seu site:

    A tpica famlia brasileira est ficando menor. o que mostra o

    censo do IBGE. Em mdia, os casais esto tendo dois filhos, um nmero

    prximo ao dos pases desenvolvidos.

    A populao tambm est envelhecendo. A idade mdia do

    brasileiro, que era de 21,7 anos em 91, subiu para 24,2 anos em 2000.

    Com a queda na natalidade, o nmero de idosos cresceu. H nove anos,

    a proporo era de 14 para cada grupo de cem crianas. Hoje, j de

  • 8

    20. Na opinio deste socilogo, o governo precisa estar atento a essas

    mudanas.

    Uma redefinio das polticas pblicas, quer dizer que o governo

    no ter mais de investir, por exemplo, em creches e escolas de

    Primeiro Grau, mas ter de investir mais no ensino superior e no

    atendimento a uma populao de idosos, avalia Ricardo Costa de

    Oliveira, socilogo.

    Diante da conotao dada pela matria a cima, v-se a necessidade, de

    se atentar para o presente e principalmente, para o futuro do cidado de

    terceira idade no Brasil e dentro da tica do trabalho, estabelecer novos

    padres ergonmicos que se moldem ao perfil deste trabalhador.

    Anurios estatsticos, Relatrios do Ministrio do Trabalho e Previdncia,

    publicaes cientficas e outros, nos fornecem dados de estudo visando

    definio da populao futura provvel em vrios aspectos. Os dados sobre o

    estado de sade da populao futura so de uma manipulao delicada. De

    um lado, a considerao dos traos que o trabalho anterior deixou sobre os

    trabalhadores experientes, pode permitir a adaptao dos meios de trabalho,

    de forma a evitar a excluso massiva dessas pessoas e a correspondente

    perda de experincia. De outro lado, a lembrana de danos evidentes sade,

    no seio de uma determinada populao, pode s vezes levar a uma espcie de

    extrema ansiedade e conduzir a decises prematuras de recorrer a uma

    populao jovem, sadia, mas pouco experiente.

    Acredita-se, ser uma realidade o trabalho na terceira idade. Esse ser

    humano, com suas potencialidades e limitaes, podendo ser parte expressiva

    da fora de trabalho desse milnio, em que, mais do que nunca, as questes

    relativas carga mental do trabalhador se tornaro mais relevantes do que as

    relativas carga fsica, resgatando o idoso com sua bagagem cognitiva e

    estratgias compensatrias de desempenho e de situaes de estresse. Sendo

    assim, a presente dissertao pertinente neste perodo de incio do sculo,

    em que as pessoas esto se aposentando quando tem muito a contribuir com

  • 9

    sua experincia e, diante desta impossibilidade, apresentam-se ansiosas,

    frustradas, deprimidas e muitos deles apresentando-se fsica e psiquicamente

    aptos a continuar trabalhando.

    Em Barreto (1992, p.19) temos que:

    Numa reunio de expertos em velhice nas Naes Unidas, o

    Doutor Walter Beatie, diretor do centro de gerontologia da Universidade

    de Siracusa fazia a previso da populao mundial com mais de 60 anos

    que em 1970 representava 8,4% do total, atingir, no ano 2000, 9.3%, o

    que elevar o nmero de idosos de 304 milhes para 581 milhes de

    pessoas... , tinha-se, em 1900, 10 a 17 milhes de pessoas com mais

    de 65 anos, menos de 1% da populao mundial. Em 1992 tnhamos

    342 milhes, correspondendo a 6,2% e, estima-se que, em 2050

    teremos 2,5 bilhes de pessoas com mais de 65 anos, cerca de 20% do

    total dos seres humanos.

    O Brasil que se considerava uma nao jovem, dentro em breve ser

    uma das populaes com maior nmero de pessoas com mais de 65 anos. O

    Jornal Folha de So Paulo, em 28/07/1996 (Da Silva, 1996, p. 3), nos

    apresenta matria mostrando o quanto o Brasil necessita atentar para a

    questo do envelhecimento:

    O aumento do nmero de idosos causar impacto imediato na

    sade e na Previdncia, que tero seus gastos elevados. Em 1960,

    havia 0,9 aposentado para cada 10 pessoas em idade ativa (entre 15 e

    65 anos). Hoje, h 1,3 aposentado para cada dez trabalhadores.

    Documento do Ministrio da Previdncia Social obtido pela Folha mostra

    que, em 2020, haver duas pessoas em idade de aposentadoria (com

    mais de 60 anos) para cada 10 em idade produtiva (contribuintes

    potenciais do sistema previdencirio) e que diante dos fatos e das

    previses para o futuro, faz-se necessrio o estudo da qualidade de vida

    dos cidados da terceira idade com urgncia, a fim de determinar qual

  • 10

    seu novo papel na sociedade e que perspectivas este cidado poder ter

    ao ingressar nesta fase da vida.

    Esses nmeros contraditrios refletem um desconhecimento real do

    problema e, em segundo lugar, que o mais provvel que a situao a ser

    projetada seja bem mais preocupante do que a assinalada. Esta afirmativa se

    prende a duas consideraes: Primeiro, a alta taxa de nascimentos durante a

    segunda guerra mundial acarretando a quebra da tendncia queda das taxas

    de natalidade que atingir a terceira idade por volta de 2010 e, a seguir, o

    declnio na taxa de natalidade, que passou a ser negativo em muitos pases do

    primeiro mundo. Com isso teremos um perfil populacional bem mais velho do

    que possa ser projetado por estatstica. Faz-se necessrio uma adequao nos

    sistemas de produo a esta nova realidade do trabalho, considerando o ritmo

    dos que, com mais de 65 anos, ainda so criativos e eficazes, e precisam

    continuar a iluminar o mundo com suas luzes sempre crescentes. Uma

    abordagem eco-ergonmica dos sistemas produtivos, onde se leva em conta o

    socius, o anthropus e o meio ambiente, no podem ignorar que o mundo

    caminha, inexoravelmente, para se transformar em uma sociedade de velhos

    (Fialho e Dos Santos, 1994).

    O envelhecimento tem, sobretudo uma dimenso existencial, e como

    todas as situaes humanas, modifica a relao do homem com o tempo, com

    o mundo e com a sua prpria histria, revestindo-se no s de caractersticas

    biopsquicas, como tambm sociais e culturais (Vargas, 1994).

    O desequilbrio scio-econmico, muitas vezes a aposentadoria submete

    o aposentado, causando-lhe insuficincia financeira, que por sua vez ocasiona

    deficincias de ordem material inviabilizando uma terceira idade com qualidade

    de vida. Muitas vezes o idoso no subsiste com o que ganha, necessitando

    residir com os filhos ou numa instituio asilar. Outras vezes, quando sua

    situao apresenta-se instvel, poder ter que receber em sua moradia, filhos

    desempregados, com seus cnjuges e netos.

  • 11

    O nvel cultural e o autoconhecimento, so fatores que favorecero o

    no isolamento, a alienao, o estado de serenidade, a no deteriorao da

    inteligncia e da inutilidade de viver.

    Sem um planejamento, ao atingir o pleno amadurecimento, e se

    deparando com a aposentadoria, a tendncia das pessoas espelhar-se em

    outros que j se encontram nesta etapa da vida e muitas vezes os exemplos,

    por questes principalmente culturais, so desfavorveis. de ordem cultural o

    fato de que as pessoas no planejam sua velhice por temer que fazendo isso j

    estaro programando seu fim. Desta forma voltamos ao incio onde s se

    pensa no que fazer ao chegar na aposentadoria. A idia de descanso, frias

    prolongadas, acaba se transformando na sensao de inutilidade e obsolncia

    e naturalmente desnimo.

    Aquele que planeja sua velhice sabe que ao chegar a aposentadoria h

    muito que se fazer, viver e aprender se por em prtica tais conhecimentos e

    atitudes ter garantido a qualidade de vida to almejada. Ao conscientizar o

    cidado para uma viso real da nova realidade populacional idosa e sua

    problemtica. Acredita-se que a ergonomia, com o devido conhecimento deste

    tema, aproveitar no trabalho, o potencial das pessoas de terceira idade.

    1.4 Estrutura do Trabalho

    No primeiro captulo, Introduo, apresenta-se aspectos referentes

    origem da proposta o tema problema, segue apresentando os objetivos, a

    justificativa da pesquisa, estrutura da dissertao e consideraes sobre

    estudos e esforos que vem sendo realizados pelos diversos pesquisadores

    nos campos correlacionados Terceira Idade e Trabalho.

    No segundo captulo, Reviso Literria, focaliza-se os conceitos tericos

    bsicos envolvidos na pesquisa. Os problemas da Terceira Idade, seu

    desenvolvimento no tempo e espao, abordando a ergonomia, a gerontologia,

  • 12

    a geriatria, o envelhecimento humano, a qualidade de vida, abordando sua

    relao com o trabalho.

    No terceiro captulo, Metodologia, apresenta-se um histrico do

    desenvolvimento das ferramentas metodolgicas para o avano das pesquisas

    cientficas, a importncia do mtodo cientfico adotado, sua aplicao no

    problema tratado nesta dissertao e a forma pela qual pretendemos atingir

    nossos objetivos ressaltando a caracterizao da pesquisa, a populao alvo, a

    amostra, a coleta dos dados e a delimitao da pesquisa.

    No quarto captulo, Analise e Interpretao dos Dados, descreve-se

    analiticamente os dados levantados sobre o que foi observado e desenvolvido

    na pesquisa, a tabulao por meio de estatsticas, tabelas e grficos.

    No quinto captulo, Concluses e Recomendaes, sintetizou-se

    interpretativamente os argumentos mais relevantes no estudo e apresenta-se

    recomendaes para trabalhos futuros.

    Na seqncia dos captulos, nos Elementos Complementares e Ps-

    Textuais, a bibliografia utilizada, e anexos com os questionrios da pesquisa.

    1.5 Delimitao da Pesquisa

    A pesquisa delimitou-se no Grupo de Terceira Idade Amor e Carinho,

    hoje denominado, Grupo de Maturidade Amor e Carinho, de Santa Terezinha

    de Itaipu PR. Este estudo tem por carter uma pesquisa qualitativa baseada

    em questionrios, durante o perodo compreendido entre junho de 2000 a

    setembro de 2001, com o objetivo de levantar entre os pesquisados, na

    primeira fase, fatores para se ter uma boa qualidade de vida, que serviram de

    base para a segunda fase, cujo objetivo visou evidenciar os principais itens que

    a amostra determinava como preponderantes para terem uma boa qualidade

    de vida na velhice. Esta segunda fase, serviu de base para a terceira, onde

    procurou-se estabelecer as consideraes da amostra sobre a importncia do

    trabalho e do ambiente, para obteno da qualidade de vida almejada.

  • 13

    2 REVISO LITERRIA

    Nesse capitulo, focalizam-se e discutem-se criticamente os conceitos

    bsicos envolvidos na pesquisa, de acordo com a experincia de trabalho da

    autora com idosos participantes do grupo de terceira idade Amor e Carinho.

    Pretende-se fazer um estudo das teorias ligadas a terceira idade e o trabalho, a

    fim de gerar instrumental capaz de produzir resultados no que tange a

    qualidade de vida do idoso. Aborda-se tambm, o problema da terceira idade,

    seu desenvolvimento no tempo e espao, com os principais temas

    correlacionados com terceira idade, Ergonomia, trabalho, envelhecimento

    humano, gerontologia, seguridade social, psicologia do trabalho na terceira

    idade, envelhecer holstico, idoso no contexto social a segunda carreira, sade,

    estresse, alimentao, exerccio fsico, f, lazer, qualidade de vida, histria do

    grupo de terceira idade pesquisado.

    2.1 Abordagem Ergonmica

    O termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em 1857, pelo polons

    W. Jastrzebowski, que publicou o ensaio de ergonomia ou cincia do trabalho

    baseada nas leis objetivas da cincia da natureza. porm somente durante a II

    Guerra Mundial, houve uma conjugao sistemtica de esforo entre a

    tecnologia e as cincias humanas e biolgicas, somente a partir da a

    ergonomia veio a se desenvolver como rea do conhecimento humano. Em

    1960 a OIT (Organizao Internacional do Trabalho) define ergonomia como

    sendo aplicao das cincias biolgicas conjuntamente com a cincia de

    engenharia para lograr o timo ajustamento do ser humano ao seu trabalho.

    Atualmente vrios pases desenvolvem estudos e pesquisas nesta rea de

    conhecimento. A International Ergonomics Association (IEA), define como o

    estudo cientfico da relao entre o homem e seus meios, mtodos e espao

    de trabalho [F.ERGON].

    Encontra-se em Iida (1990, p. 301), que uma das formas de

    humanizao do trabalho est no desenvolvimento de novas maneiras de

  • 14

    organizao deste. O autor defende que a organizao deve ser feita com a

    participao dos prprios trabalhadores de tal forma que eles possam

    desenvolver suas atividades sem um controle rgido, com sentimento de auto-

    realizao.

    A ergonomia que, nasceu da necessidade de responder a questes

    importantes levantadas por situaes de trabalho insatisfatrias, apresentou

    por um longo perodo, na falta dos conhecimentos necessrios, as respostas

    baseadas nas experincias (Wisner, 1987).

    O mtodo experimental permitiu grandes progressos no melhoramento

    das situaes de trabalho ou pelo menos nas mais evidentes, onde se tinha a

    sensao de se poder poupar uma anlise do trabalho. Esta forma

    experimental ainda faz sucesso entre muitos ergonomistas e isto se deve

    fundamentalmente ao fato da ignorncia do funcionamento do homem no

    trabalho ser bastante profunda, onde as grandes ligaes existentes entre uma

    tarefa e a sua realizao e as condicionantes de tempo e local colaboram

    fortemente para este quadro.

    As condies que envolvem um processo participativo dizem respeito

    tanto aos aspectos relacionados organizao e ao ambiente como aos

    aspectos relacionados aos indivduos (Wisner, 1994).

    O lineamento terico da ergonomia baseado em diversas disciplinas

    cientficas, em particular da matemtica, das cincias fsicas, das cincias

    biolgicas e das cincias humanas. Entretanto, as duas disciplinas que mais

    contriburam para o desenvolvimento cientfico da ergonomia foram a

    psicologia e a fisiologia do trabalho.

    A figura abaixo mostra a origem da ergonomia, a partir do inter-

    relacionamento entre os diversos campos de conhecimento e disciplinas

    cientficas envolvidas.

  • 15

    Figura 1: Disciplinas de base da ergonomia

    Matemticas Cincias humanasCincias biolgicasCincias fsicas

    Estatstica SociologiaPsicologiaAntropologiaFisiologiaAnatomiaQumicaFsica

    Anatomia funcional

    Bioqumica Antropologia fsica

    Anatomia funcional

    Sociologia industrial

    Psicologia experimental Dinmica

    de grupo

    BiofsicaAcstica

    luminotcnica

    MecnicaBiometria

    Termodinmica

    Fisioterapia bioergologia

    Fisiologia do trabalho

    Antropometria

    Biomecnica

    ERGONOMIA (FATORES HUMANOS)

    Teoria da informao

    Tempos e movimentos

    Fisiologia ambiente

    Psicologia do trabalho

    Fonte: [DBE]

    Acredita-se que a ergonomia s acontecer se existir a oportunidade de

    que vrios nveis de uma organizao participem na introduo e difuso dos

    princpios ergonmicos. Desse modo, a ergonomia participativa na essncia.

    Existir, se na sua discusso o processo for participativo. Com o

    desenvolvimento de anlises ergonmicas do trabalho, o quadro terico

    oferecido pelas cincias cognitivas, que essencial, demonstrou ser

    insuficiente, pois as exigncias fsicas, a diversidade dos trabalhadores e a

    variao do seu estado fisiolgico e psquico no podem ser desprezados e

    exigem modelos tericos diferentes do cognitivo. Assim, a prtica ergonmica

    depende irredutivelmente da diversidade das situaes que aborda (Wisner,

    1994).

    Entende-se que o bem-estar o objetivo do trabalho ao criar objetos e

    transformar o meio. Ele no depende s disso, depende em grande parte da

  • 16

    educao, entendida como melhora pessoal que se mostra em atitudes

    positivas, tanto a nvel individual como social (Bustamante, 1996).

    Para que este bem-estar esteja tambm no exerccio da atividade de

    trabalho, a ergonomia enfrenta obstculos para efetivar-se, por economia de

    custos a maioria das empresas de todos os portes continua resistindo ao

    princpio de que o ambiente de trabalho deve ser adaptado ao homem, e no o

    contrrio. Assunto abordado no artigo Conforto Lei , publicado na revista

    Pequenas Empresas Grandes Negcios (PEGN, 1996, p. 63):

    "Terminou em 1995 o prazo de cinco anos dado pela Norma

    Regulamentadora 17 para que as empresas implementassem ambientes

    de trabalho ergonmicos.

    Editada pelo Ministrio do Trabalho em 1990, a NR 17 tem fora de lei e

    estabelece parmetros mnimos de adaptao das condies de

    trabalho ao ser humano. Seu cumprimento fiscalizado pelas

    Delegacias Regionais do Trabalho ou rgos ligados sade."

    "Campo de conhecimento multidisciplinar, a ergonomia voltada para a

    preveno dos distrbios provocados por ritmos excessivos e postos de

    trabalho inadequados, que influem sobre a eficincia."

    "...a NR17 trata de cinco itens: carregamento de peso, mobilirio,

    equipamentos, condies ambientais e organizao do trabalho".

    "...natureza da ergonomia, cincia que no tem frmulas prontas.

    Depende do tipo de atividade e das pessoas envolvidas."

    A previso que a Engenharia Consultiva deve realizar sobre o efetivo de

    trabalhadores, necessrio para o funcionamento de uma nova unidade

    sempre difcil. Freqentemente, considerando-se a implantao de um

    processo automatizado, procura-se uma reduo do pessoal necessrio para

    atingir um certo nvel de produo. Por outro lado, freqente tambm que a

    substituio do trabalho humano por automatismos seja superestimada e que a

    nova unidade de produo s possa efetivamente funcionar com um efetivo

    maior do que as previses iniciais.

  • 17

    Na concepo de Duarte (1994), toda determinao de efetivo baseia-se

    sobre uma estimativa de uma carga de trabalho aceitvel. Normalmente, o

    profissional de Ergonomia consultado sobre esta noo de nvel aceitvel de

    carga de trabalho. Na realidade, no existe nenhuma resposta precisa sobre a

    questo de qual a carga de trabalho aceitvel. Tendo-se em vista que a

    carga de trabalho varia em funo da situao, mas tambm em funo do

    indivduo. A Ergonomia pode contribuir na definio dos prprios termos do

    debate, esclarecendo, atravs da anlise das atividades nas situaes de

    referncia, as limitaes na substituio de homens por mquinas, definir o

    papel especfico do homem, na histria e contexto do processo, para elaborar

    diagnsticos complexos em situaes de incidentes no previstos pela

    Engenharia de Produo, evidenciar os limites de uma comparao de efetivos

    equivalentes entre duas unidades semelhantes, que no questione os

    problemas relacionados sobre a repartio das tarefas nas diferentes

    organizaes e, sobre as especificidades das condies de cada

    estabelecimento (condies ambientais, produtos fabricados).

    Segundo o mesmo autor a Ergonomia pode contribuir para uma reflexo

    no que diz respeito manuteno de trabalhadores experientes, mas sem

    formao terica, assim como na admisso de jovens diplomados, mas sem

    experincia prtica. Noo de perda de experincia para a empresa.

    Montmollin (1990, p. 69) faz uma observao importante a respeito da

    ergonomia e a organizao do trabalho onde afirma que melhorar as

    condies de trabalho poder significar igualmente a melhoria da produo,

    sendo que a racionalizao do trabalho tem de caminhar no mesmo sentido da

    produtividade. Desta forma evidencia-se que o papel da ergonomia no se

    restringe a adaptao do trabalho ao homem, utilizando-se do aprimoramento

    do ambiente, das mquinas, das tarefas e do local de trabalho, ou ainda, do

    estudo das caractersticas fisiolgicas do trabalhador. Sua abrangncia maior

    visando o todo que envolve o trabalho e criando um paradigma para a

    organizao do trabalho, onde o ser humano o foco principal.

  • 18

    Diante do novo paradigma estabelecido, as organizaes de trabalho

    passam a focalizar a satisfao e a qualidade de vida do trabalhador,

    somando-a aos conceitos de produtividade e lucratividade, j incorporados a

    estas organizaes, passando assim, a interagir-se com a ergonomia. Deste

    modo, Montmollin (1990, p. 69) afirma que o futuro da ergonomia ser o de se

    confundir com a organizao do trabalho, que a ir transformar.

    Na concepo de Fialho e Dos Santos (1994), o envelhecimento um

    fenmeno contnuo na vida das pessoas, mas que pode ter manifestaes em

    parte descontnuas. As dificuldades decorrentes, podem se manifestar em

    diferentes idades, segundo as condicionantes das situaes da vida e de

    trabalho. Pode-se ser mais ou menos velho em relao a uma determinada

    situao de trabalho, mas possvel evitar certas dificuldades, devidas ao

    envelhecimento, agindo-se sobre os meios de trabalho.

    Dentro de uma abordagem fenomenolgica se o que no momento se

    experimenta ser, ou seja, o indivduo a sua prpria percepo. Portanto, se a

    experincia for mvel, flexvel, certamente isso influir na qualidade do

    trabalho, dar prazer, possibilidades de optar e de criar. Quanto mais prximo

    da conscincia, maior possibilidade de intensific-la e expandi-la. Podendo-se

    conseguir isso atravs de uma atitude fundamental de conscincia contnua

    sobre o que se est fazendo agora, o que se sente no momento, o que se quer

    evitar, o que o outro quer e espera.

    Para os mesmos autores (op cit), trabalhadores estaro realizando o que

    a abordagem gestltica da psicologia chama de bons contatos, garantindo com

    isso a sua sade mental, pois, segundo a gestalterapia, doena a

    impossibilidade de um contato real consigo mesmo e ou com o meio. Contato

    ocorre em trs nveis: cognitivo, emocional e comportamental. Quando a

    pessoa no desenvolve um pensamento reflexivo ou bloqueada nos seus

    contatos, ela desenvolve sintomas neurticos, tais como, no reconhecer a

    necessidade predominante, no reagir espontaneamente, incapacidade de

  • 19

    concentrao, no se retrair quando necessrio. Evidentemente que, o vigor de

    uma dessas situaes se refletir no exerccio de seu trabalho.

    O homem construdo diariamente, no uma situao conquistada

    uma vez para todo sempre. Por pior que seja uma situao sempre possvel

    melhor-la, modific-la, recri-la. Quando tomamos conscincia de nossas

    capacidades e nossa responsabilidade sobre elas, as situaes se modificam

    naturalmente.

    Entretanto, problemas considerveis existem quanto a excluso

    prematura de trabalhadores idosos (problemas sociais e perda de experincia

    para a empresa, ocasionados por programas de demisses ou aposentadorias

    incentivadas); e a evoluo da pirmide de idade da empresa, risco do

    envelhecimento conjunto, aparecimento de classes vazias.

    Os traos decorrentes das condies de trabalho na vida das pessoas

    podem desenvolver um papel preponderante em relao ao envelhecimento

    natural. Exemplo de danos auditivos, problemas articulares ou vertebrais,

    ligados ao trabalho, constitui-se em indcios claros do envelhecimento precoce.

    Do ponto de vista legal, a usura devido ao trabalho classificada como

    doena profissional, que pode aparecer tanto a curto como em longo prazo.

    Todavia, existe uma srie de danos sade dos trabalhadores que,

    infelizmente, no so classificados legalmente como doenas profissionais.

    So justamente aqueles traos que se manifestam de forma mais tardia na vida

    dos trabalhadores.

    O fenmeno da experincia fruto da aprendizagem terica/prtica,

    desenvolvida ao longo dos anos, pelo exerccio profissional dos indivduos. Da

    a importncia que deve ser dada anlise do histrico profissional de cada

    trabalhador.

    A idade no traz somente efeitos negativos sobre as capacidades de

    trabalho. Os anos de trabalhos permitem a acumulao de uma experincia

    profissional que facilita, muitas vezes, a execuo das tarefas.

  • 20

    A gesto de tarefas afetada pelo envelhecimento, influenciando a

    execuo de tarefas. As condicionantes de tempo estritas so fontes de

    importantes dificuldades para os trabalhadores idosos. Todavia, o desempenho

    global no necessariamente menor. O custo do trabalho (carga) para o idoso

    sensivelmente maior. Importncia da passagem da produo instantnea

    produo global.

    O aumento da dificuldade na gesto de vrias tarefas simultneas,

    tambm aumenta com a idade. Mas a experincia desenvolve um papel

    fundamental no gerenciamento de tarefas simultneas. As mltiplas

    interrupes so particularmente custosas para os idosos.

    A aprendizagem de dados codificados ou simblicos mais custosa

    para trabalhadores idosos, da a importncia da concepo das interfaces e

    dos dilogos.

    Aumento da dificuldade com a idade para extrair uma informao

    pertinente de um ambiente de trabalho, sob a influncia de rudo de fundo, que

    mascara outros sinais sonoros. Esta tendncia pode ser, de certa forma,

    compensada pela experincia, que guia o indivduo na explorao do ambiente

    (Fialho e Dos Santos, 1994).

    Segundo Merino (2000, p. 9 e 11) tem-se:

    A ergonomia pode contribuir para solucionar um grande nmero

    de problemas sociais relacionados com a sade, segurana, conforto e

    eficcia... Outro aspecto muito importante que deve ser considerado

    a reao do usurio no nvel psicolgico. Deve-se avaliar todas as

    condicionantes que afetam o trabalho do indivduo, assim como a

    interao Homem-mquina e todas as influncias, tanto do ambiente

    fsico (rudo, temperatura, iluminao, qualidade do ar, etc), como o

    comportamento e relacionamento dos usurios (tanto com as mquinas

    quanto com as pessoas)...

  • 21

    No ambiente ergonmico ideal o trabalhador tem papel principal,

    tornando-se o capital mais valorizado para empresa. Diante desta viso da

    ergonomia a empresa atende as necessidades dos trabalhadores tanto no

    ambiente de trabalho como fora dele.

    2.2 Histrico do Trabalho

    Pode-se definir o trabalho como uma atividade instrumental executada

    por seres humanos, cujo objetivo preservar e manter a vida, e que dirigida

    para uma alterao planejada de certas caractersticas do meio-ambiente do

    ser humano, ou como uma atividade que produz algo de valor para outras

    pessoas [F.ERGON].

    Na mesma fonte tem-se que condies de trabalho inclui tudo que

    influencia o prprio trabalho e pode ser definida como, o conjunto de fatores

    que determinam o comportamento do trabalhador, tais fatores so compostos

    pelas exigncias de critrio de avaliao impostas e condies de execuo do

    trabalho, ou seja, tudo o que caracteriza uma situao de trabalho e permite ou

    impede a atividade dos trabalhadores. Deste modo, distinguem-se as

    condies fsicas, temporais e organizacionais e as condies subjetivas

    caractersticas do operador: sade, idade e formao. Somado a isso tem-se

    as condies sociais tais como: remunerao, qualificao, vantagens sociais,

    segurana de emprego, em certos casos condies de alojamento e de

    transporte, relaes com a hierarquia, dentre outras [F.ERGON].

    Dejours (1997 p. 43) apresenta uma definio de trabalho de modo a

    demonstrar o contexto maior no qual ele se encontra onde o trabalho a

    atividade coordenada desenvolvida por homens e mulheres para enfrentar

    aquilo que, em uma tarefa utilitria, no pode ser obtido pela execuo estrita

    da organizao prescrita. Assim o autor demonstra as reais consideraes que

    se deve dar ao trabalho, onde o indivduo tem papel essencial na sua

    execuo, colocando nele seus aspectos pessoais.

  • 22

    Os registros histricos referentes evoluo do homem contam que

    este, em um de seus estgios evolutivos abandona sua vida nmade e passa a

    fixar-se em um local e produzir. Surge aqui o paradigma da acumulao, do ter.

    A primeira definio conhecida de trabalho est escrita nas Sagradas

    Escrituras:

    "Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita a terra por

    tua causa; em fadiga comers dela todos os dias da tua vida. Do suor do

    teu rosto comers o teu po, at que tornes a terra, porque dela foste

    tomado; pois s p, e ao p tornars" (Bblia, 1962).

    Pode-se deduzir, ento, que o trabalho est relacionado noo geral

    de sofrimento e pena.

    O dicionrio eletrnico, Dicionrio Universal da Lngua Portuguesa trs

    as seguintes designaes para a palavra trabalho:

    Do b. Lat. tripaliu, aparelho de trs paus para sujeitar os cavalos

    que no se deixam ferrar; s. m., acto ou efeito de trabalhar; conjunto das

    actividades humanas, manuais ou intelectuais, que visam a

    produtividade; esforo humano aplicado produo de riqueza; cuidado

    ou esmero em qualquer servio; ofcio; ocupao; obra executada ou a

    executar; fadiga; cuidado; aflio; preocupao; ao de um

    maquinismo; maneira como algum trabalha. [DULP].

    Os primeiros trabalhos executados, eram manuais. Com o

    desenvolvimento o homem criou instrumentos que possibilitou a executar

    outros tipos de atividade.

    Sobre a evoluo do trabalho humano, Souza, et al (1995), salienta que

    nos sculos XI; at o sculo XV, surgiram ferramentas e mquinas; o

    automatismo mecnico (moinho, torno, roda d'gua, prensa, parafusos).

    Surgem novas estruturas sociais e econmicas, trazendo como produto a

    regulao tcnica, a normatizao dos produtos, a parcializao de tarefas e o

  • 23

    carter repetitivo da atividade no trabalho. Na idade mdia surgem novas

    mquinas e habilidades tcnicas (operrios especializados). No sculo XVI,

    criam-se manufaturas e novos modelos de organizao do trabalho. No sculo

    XVII se estabelecem grandes empresas com capital considervel, tendo

    operrios organizados em corporaes ou comunidades.

    Segundo a mesma autora, medida que as organizaes foram

    evoluindo, se cristalizaram idias sistematizadas a respeito dos princpios que

    deveriam reger as relaes de trabalho dentro das organizaes de todos os

    tipos, com a finalidade de obter eficcia nos resultados esperados. Devido a

    maior opes de possibilidades, os indivduos, passaram a diferenciar-se em

    gnero de vida, em funes e em ideologias. Assim, as primeiras associaes

    que mereciam o nome de organizaes foram desenvolvendo-se em um

    sentido contraditrio: a produo (apropriao dos recursos da natureza e sua

    adaptao s necessidades humanas) o que por um lado significou um fator de

    humanizao, por outro, levou o trabalhador a ser excludo do usufruto do seu

    prprio produto.

    Ainda constata-se um aumento da populao com concentrao urbana,

    em funo do xodo rural, ocorrido no primeiro perodo do sculo XIX. Lutas

    polticas pela melhoria de vida acontecem em grande intensidade. Surgem

    ento, as primeiras leis de proteo ao trabalhador. No sculo seguinte, com o

    aperfeioamento da mquina a vapor, se desenvolve um grande progresso

    tcnico e um surto de industrializao com o trabalho assalariado. A evoluo

    das condies de vida e do trabalho acontecem associadas as lutas e

    reivindicaes operrias na luta pela sobrevivncia. No Brasil, a pobreza

    urbana acompanhava o desenvolvimento do capitalismo. Surge o sistema de

    organizao do trabalho conhecido como Taylorismo, que acarretava prejuzos

    ao corpo do trabalhador, e tambm neutralizava a atividade mental dos

    operrios. Sindicatos fortes conseguem leis de proteo ao trabalhador nos

    seus aspectos de segurana, higiene e preveno de acidentes Souza et al

    (1995).

  • 24

    Ainda referindo-se ao sistema de organizao de trabalho, segundo

    Finelli (2001):

    Esta distribuio diferente dos rendimentos tem como base um

    aumento gigantesco da produtividade do trabalho devido

    reorganizao dos processos produtivos segundo cadeias de montagem

    (fordismo) e definio cientfica dos tempos, dos movimentos e das

    funes (taylorismo). Na base, portanto, da moderna configurao social

    do capitalismo americano, Gramsci v a transformao tcnica do

    processo de produo, sua racionalizao com o enorme aumento da

    intensidade do trabalho. A produo e a reproduo de uma fora de

    trabalho que participe cada vez menos, com sua conscincia e sua

    personalidade autnoma, no processo de trabalho e que seja, pelo

    contrrio, um componente apenas mecnico e passivo deste processo,

    esto, de fato, no centro das pginas de Americanismo e fordismo:

    Taylor [...] expressa com brutal cinismo o objetivo da sociedade

    americana: desenvolver em seu grau mximo, no trabalhador, os

    comportamentos maquinais e automticos, quebrar a velha conexo

    psicofsica do trabalho profissional qualificado, que exigia uma certa

    participao ativa da inteligncia, da fantasia, da iniciativa do

    trabalhador, e reduzir as operaes produtivas apenas ao aspecto fsico

    maquinal (caderno 22, 11).

    A importncia das pessoas que compunham as organizaes foi se

    perdendo. Coisas, mtodos e processos foram sendo preferidos aos

    verdadeiros geradores do progresso e do desenvolvimento, os homens,

    passando a ser considerados como simples mo-de-obra, em lugar de as

    organizaes atenderem s necessidades bsicas das pessoas, pressuposto

    bsico e justificador da existncia delas, Conseqentemente, advm: nfase

    as tarefas; diminuio de custos e desperdcios; aumento da produtividade;

    diferenciao entre os elementos pensantes e os executantes, o que

    acarretou: mal estar; relaes conflitivas e divergentes; homem apenas como

  • 25

    peas do sistema produtivo. O modelo burocrtico desloca o enfoque das

    tarefas, estruturas e pessoas para os processos administrativos, enfatizando a

    formalidade das comunicaes e a impessoalidade. Caracteriza-se pela

    profissionalizao de seus integrantes. Violentadas s caractersticas naturais

    de formao, de capacitao, de socializao e de personalidade. Surge

    ento, A Era da Qualidade ( Souza et al, 1995).

    Em Dos Santos e Fialho (1995), tem-se quadro que demonstra as

    transformaes conceituais pelas quais o trabalho passou, no decorrer do

    tempo e de acordo como a cultura na qual este esteve inserido. Assim tem-se

    o quadro 1:

    Quadro 1: A evoluo do conceito de trabalhoPr-histria SubsistnciaEtimologia Trabalho tripalium

    Trabalhar tripaliare (torturar com tripalium)Na Bblia Maldita a terra por causa de ti: com dor comers dela todos os dias

    da tua vida, do suor do teu rosto comers o teu po, at que te tornes terra. (Gnesis, 3:17/19)

    Gregos Trabalho-ponos penosoTrabalho-ergo criao

    Adam Smith (1776)Taylor (SculoXVIII)

    Teorias sobre a diviso tcnica do trabalho e o aparecimento dasociedadecapitalista;Administrao cientfica; diviso do trabalho e especializao dooperrio; anlise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos;homem econmico; padronizao; entre outros aspectos.

    Ombredane eFaverge (1955)

    Trabalho um comportamento e um constrangimento

    J. Leplat (1974) o trabalho situa-se no nvel da interao entre o homem e os objetos desua atividade ele constitui o aspecto dinmico do sistema homem-mquina

    Leontiev (1976) o trabalho humano (...) uma atividade originalmente social, fundadasobre a cooperao de indivduos, a qual supe uma diviso tcnica (...)das funes de trabalho

    Atualmente O trabalho, para muitos estudiosos, considerado como toda equalquer atividade realizada pelas pessoas, sejam assalariadas ou no.Outro aspecto importante que existe um consenso a respeito do maiorpatrimnio de uma organizao: o capital humano.

    Fonte: dos Santos e Fialho (1995 p. 17).

    Com o advento da qualidade, em princpio voltada para o produto final,

    posteriormente passou a ser vista tambm nos meios produtivos e finalmente

    na qualidade do ambiente de trabalho introduzindo-se assim, os primeiros

    conceitos de ergonomia aplicada. Segundo Sell, em [F.ERGON], entende-se

    por trabalho:

  • 26

    tudo o que a pessoa faz para manter-se e desenvolver-se e para

    manter e desenvolver a sociedade, dentro delimites estabelecidos por

    essa sociedade. E, o conceito de condies de trabalho inclui tudo que

    influencia o prprio trabalho, como o ambiente, tarefa, posto, meios de

    produo, organizao do trabalho, as relaes entre produo e

    salrio.

    Boas condies de trabalho significam em termos prticos, que o

    trabalho deve ser realizvel no ultrapassando os limites individuais do

    trabalhador, suportvel ao longo do tempo, deve levar em conta a sociedade

    onde executado, deve satisfazer o trabalhador e trazer desenvolvimento

    pessoal para quem o executa. Sendo assim, o trabalho dentro de suas

    condies e atribuies, tem que levar em conta os conceitos prprios da

    ergonomia [F.ERGON].

    Em Ombredane e Faverge (apud Dos Santos e Fialho, 1995, p. 18),

    tem-se que todo o trabalho um comportamento adquirido por aprendizagem

    e tendo de se adaptar s exigncias de uma tarefa. Desta forma, pode-se

    dizer que o trabalho visto como um comportamento e tambm como uma

    forma de constrangimento, pois obriga o indivduo a se adaptar a ele. Mas se

    hoje o trabalho visto como uma das razes de ser do indivduo, este por sua

    vez pode trazer ao homem a necessidade de elevao de seu status social, de

    buscar o seu valor como capital humano. Assim a relao entre o homem e o

    trabalho de fundamental importncia para sua qualidade de vida.

    2.3 Histrico do Envelhecimento humano

    Na viso de Vargas (1983), as especulaes sobre o envelhecimento

    humano so to antigas quanto prpria histria. Dentro de todos os

    agrupamentos sociais, o estado de velhice foi classificado conforme a condio

    social, desde o simples anonimato at a posio mais dignificante. Nas culturas

    onde a velhice recebia privilgios, esses s eram concedidos em idades bem

    avanadas, de forma que poucos conseguiam obt-los.

  • 27

    O mesmo autor relata que a histria sobre a velhice tem incio quando

    gregos e romanos lanaram-se na aventura pr-cientfica do estudo das

    transformaes humanas no sculo IV a.C. Os conceitos sobre envelhecimento

    e velhice j eram encontrados nesse perodo entre filsofos e pensadores de

    todas as raas e partes do mundo, permanecendo voltados para sentimentos

    de frustrao e impotncia ou de conflito e repouso. Era reservado para seus

    idosos, em cada sociedade, uma funo e um lugar determinado, privilegiado

    ou marginal, segundo suas necessidades e seus valores. Desde o incio das

    civilizaes, com poucas e espalhadas informaes, a mitologia e a literatura

    transmitiram uma imagem da velhice, quase sempre deformada, conforme as

    pocas ou lugares. Assim, a anlise histrica da velhice trabalhosa e difcil,

    com contornos indefinidos e s vezes contraditrios.

    Aris (1981), nos mostra que a diviso da vida surge na Jnia, no sculo

    VI a.C. segundo esse autor, a idade da vida se constitua numa categoria de

    grande peso, que foi absorvida por outras culturas atravs da arte e dos

    costumes ao longo dos anos.

    No artigo de Frana (2001), encontra-se que, nem sempre o

    envelhecimento foi visto da mesma forma, uma vez que depende de uma srie

    de fatores econmicos, sociais, demogrficos, polticos, dentre outros. No

    entanto, ao longo de toda a evoluo da humanidade, os idosos foram um

    elemento referencial na sociedade. Desde os mitos bblicos da longevidade, a

    houve a identificao incondicional da velhice vinculada sabedoria. Vrios

    modos de valorizar e aproveitar os recursos da velhice tomaram forma e

    estruturaram o modo de vida e a conscincia social dos povos. Do quinto livro

    do Gnesis sabe-se que Matusalm, que ganhou fama como o mais velho dos

    homens, morreu com 969 anos, e Ado com 930 anos. As prprias escrituras

    provam que os nomes de velho ou ancio no foram muitas vezes atribudos

    em razo de uma grande idade, mas sim para honrar a maturidade dos juzos

    sobre a vida.

  • 28

    Da mesma autora tm-se que, esta velhice bblica comeou muito cedo

    a gerar diversos tipos de crenas, reportando a nveis no absolutamente

    imanentes. O rei David, por exemplo, fundador do reino de Israel, desposou

    uma jovem viva para que no seu corpo pudesse encontrar lenitivo para a sua

    velhice, pois era comum acreditar-se que o calor de uma jovem poderia

    rejuvenescer um homem envelhecido. A gerocomia era, desta forma, um

    recurso teraputico que prometia o rejuvenescimento atravs da prtica sexual.

    Na mesma fonte encontra-se que para os egpcios, que cultivavam o

    mito da imortalidade, a fraqueza que se observava nos idosos era devida a

    uma dilatao do corao, uma vez que era a, segundo a medicina faranica,

    que habitava a inteligncia, e no no crebro. Deste modo, um ancio egpcio

    era saudado cortesmente pelos jovens que com ele se cruzavam, com uma

    reverncia silenciosa. J para os judeus, a velhice era bem encarada no caso

    das mulheres, mas muito mal vista no caso dos homens onde diziam que um

    velho homem numa casa um fardo, uma velha mulher um tesouro. Os

    helnicos eram particularmente pessimistas, j que o culto da juventude no

    lhes permitia antever nada de bom aps a sua passagem. Assim, Aristteles

    brindava a velhice dizendo que carregava todos os males, embora

    reconhecesse que a maturidade comeava aos 60 anos.

    Em Vargas (1983, p.112), no seu levantamento histrico sobre o

    envelhecimento, registra que:

    Confcio (551 a.C.), mestre por 10.000 geraes, realizou para si

    prprio uma das primeiras divises das etapas da vida: aos 15 anos,

    dispus meu corao para estudar; aos 30, me estabeleci; aos 40, no

    alimentei mais perplexidades; aos 50, fiquei conhecendo os

    mandamentos celestiais; aos 60, nada do que ouvia me afetava; aos 70,

    pude seguir os impulsos do meu corao sem ferir os limites do direito

    Ainda no mesmo autor encontra-se que Mncio (372 a.C.), filsofo,

    defensor do ideal humanista, sugeriu o que deveria ser tomado como condio

    de um bom governo, propagou que no se deve permitir s pessoas de

  • 29

    cabelos brancos que levem cargas nas ruas. Com esperanas de vencer a

    velhice, os egpcios procuraram de todas as maneiras sobrepor-se a essa

    realidade. desta civilizao que se tem o primeiro texto escrito 2.500 a.C. por

    Ptah-hotep, filsofo e poeta, de forma sombria e desesperanosa. Mais adiante

    ainda, tem-se que, para os adeptos do Taosmo a longevidade constitua-se em

    virtude; a doutrina de Lao-Ts situava os 60 anos como o momento em que o

    homem capaz de libertar-se de seu corpo atravs do xtase e de se tornar

    um santo. Na civilizao chinesa a velhice era a vida sob sua forma suprema e,

    em nenhuma hiptese, um flagelo. A civilizao judaica concebia os idosos

    como os eleitos e os arautos de Deus, atribuindo-lhes idades fabulosas, vendo

    na velhice, portanto, a recompensa mxima da virtude. Entre os judeus, os

    ancios possuam um papel importante na vida pblica e, como os chineses,

    enquanto conservassem vigor fsico e moral, eram eles quem governavam a

    famlia. Na Antigidade grega, as instituies relacionavam a idia de honra

    velhice, de tal modo que as palavras, gera e geron que significavam velhice,

    tinham tambm o sentido de privilgio da idade, direito de ancianidade ou

    deputao (Vargas, 1983).

    A idade da vida segundo Bach (1989), ressurge no sculo XIX, com

    fora total atravs da Igreja, sendo incorporada pelas escolas e hbitos da

    poca. Ainda de acordo com a autora, supe-se que a obrigatoriedade dos

    registros de nascimento na Frana tenha sido introduzida pela Igreja atravs de

    Francisco I. Nessa poca foi imposto aos procos o controle dos nascimentos

    atravs de registros, difundindo-se a partir da, a exigncia de registros civis

    nos servios pblicos. At o sc. XX o autor constata que a importncia da

    idade chegava, em certos casos, a se manifestar sob formas de representao

    mais elaboradas. Em toda parte a classificao da vida pela idade, designava

    o modo de existncia, status e papis atravs de um sistema que regulava o

    comportamento e a prpria vida do grupo.

    Ainda referindo-se as idias da mesma autora, grandes mudanas

    ocorreram em relao s faixas etrias at nosso sculo, carregando consigo

    maneiras de conceber o corpo e a vida. Chega-se ento s trs principais

  • 30

    classes etrias: infncia, juventude e velhice. A infncia no-reconhecida at o

    sc. XII destaca-se na arte barroca pela imagem dos anjos. A juventude,

    exaltada no sc. XVII, desaparece e vai ressurgir no sc. XX sob o domnio

    conceitual da adolescncia. A velhice repudiada nos sc. XVI e XVII, sob a

    imagem do velho decrpito, passa a ser privilegiada no sc. XIX com a figura

    do velho patriarca, do ancestral, do sbio e do prudente conselheiro, sendo

    novamente desprezada no sc. XX . O classificar a vida tornou-se cada vez

    mais complexo em todas as culturas, porm, preservando como caractersticas

    a unidade do tempo csmico e a biologia humana. Alm disso, outros fatores

    desempenharam papel importante de acordo com cada cultura; so eles:

    fatores sociais, histricos, econmicos, urbanizao e aumento de mdia de

    vida. A importncia da classificao etria, entretanto, se torna muito mais

    complexa, na medida em que so seus princpios que vo fixar os status e,

    conseqentemente, os papis, a prescrio de condutas, atitudes e

    sentimentos.

    Acrescenta Vargas (op cit), na histria poltica da Europa Ocidental, a

    diviso por idade caracteriza-se como o trao mais significativo e mais comum

    da organizao social. Porm, os critrios da diviso, do privilegiamento ao no

    reconhecimento de determinadas classes de idade, variam historicamente. Um

    fato muito importante, que desde o antigo Egito at o Renascimento, o tema

    velhice foi quase sempre tratado de maneira estereotipada: mesmas

    comparaes e mesmos objetivos, chega a haver na sociedade uma palavra de

    ordem, silenciar a seu respeito. Quer o enaltea, quer o avilte, a literatura o

    soterra debaixo de banalidades, esconde-o em lugar de revel-lo. O

    envelhecimento tem sobretudo uma dimenso existencial, e como todas as

    situaes humanas, modifica a relao do homem com o tempo, com o mundo

    e com a sua prpria histria, revestindo-se no s de caractersticas

    biopsquicas, como tambm sociais e culturais (Vargas, 1983).

    Para Nri (1995), o processo de envelhecimento ocorre diferentemente

    para as pessoas, dependendo de seu ritmo e da poca de sua vida, pois, a

    velhice no um perodo caracterizado s por perdas e limitaes. Embora

  • 31

    aumente a probabilidade de doenas e limitaes biolgicas, possvel manter

    e aprimorar a funcionalidade nas reas fsica, cognitiva e afetiva. Mesmo

    pessoas comuns podem alcanar alto nvel de especializao em domnios

    selecionados da inteligncia como, por exemplo, a memria e a soluo de

    problemas. Esse fato dificulta estabelecer com preciso um limite etrio ou

    periodizao da velhice, pois, existe grande variabilidade individual e social em

    relao poca em que as pessoas aparecem, se declaram ou se comportam

    como velhas.

    Ainda na mesma autora, tem-se uma trplice viso do envelhecimento,

    que contempla as influncias biolgicas, sociais e psicolgicas atuantes sobre

    o desenvolvimento humano. Segundo esse ele necessrio distinguir entre a

    senescncia, a maturidade social e o envelhecimento. A senescncia

    referente ao aumento de probabilidade da morte, com o avano da idade. A

    maturidade social corresponde aquisio de papis sociais e de

    comportamentos apropriados aos diversos e progressivos grupos etrios. O

    envelhecimento corresponde ao processo de auto-regulao da personalidade,

    e inerente aos processos de senescncia e maturidade social, todos os trs

    referenciados e simbolizados pelo tempo dos calendrios e a idade

    cronolgica. A idade cronolgica , portanto, um parmetro adotado pelas

    disciplinas de desenvolvimento, que se movem entre as vrias noes de

    tempo: fsico, biolgico, ecolgico, social, psicolgico e intrnseco.

    Novaes (1995), em seu livro, Conquistas possveis, rupturas

    necessrias, atenta para as contradies dos atuais mitos do envelhecimento,

    como por exemplo, o envelhecimento cronolgico progressivo e universal sem

    levar em conta as pessoas que atingem a terceira idade com vigor fsico,

    muitas vezes invejvel, participando de eventos esportivos, com direito a

    competies oficiais. Outras vezes tem-se o mito da improdutividade, em

    desacordo com o desempenho intelectual e profissional de muitas pessoas de

    idade avanada que influenciam mais a histria e a sociedade do que muitos

    jovens. Outro mito, o do desligamento e ausncia de compromisso na vida,

    sendo possvel encontrar pessoas com idade avanada que ainda possuem

  • 32

    dentro de si a vontade de viver. Confunde-se tambm idade avanada com

    senilidade e enfermidade, onde possvel desmenti-la diante de pessoas

    idosas com sade mental e fsica, e capacidade de aprender e motivadas o

    suficiente para atualizar-se. A falta do interesse e desejo sexual tambm

    desmentida diante de pessoas que atingem a terceira idade e ainda assim,

    buscam um parceiro para casar-se e viver uma vida amorosa plena. A

    passividade e conformismo atribudo ao idoso so derrubados diante de seus

    conflitos afetivos, angstias e estresse a que esto sujeitos. O desinteresse no

    futuro desmentido quando se v essas pessoas a curiosidade diante do

    milnio que se inicia. O auto-isolamento social e cultural cai por terra diante da

    necessidade de convivncia intergeracional e de socializao. Observa-se

    grande nmero de grupos de idosos de todos os tipos: culturais, turstico, de

    amigos e de crescimento pessoal.

    Embora se saiba que o estudo cientfico do envelhecimento humano

    est ainda engatinhando, h acordo entre os especialistas do envelhecimento

    quanto aos seguintes pontos: a natureza de envelhecimento e da velhice

    mais complexa e diferenciada do que normalmente se pensa. a questo

    essencial do desenvolvimento integral na velhice a busca do equilbrio entre

    as potencialidades e limitaes - se por um lado o envelhecimento implica

    declnio, fragilizao e incapacidade, a cultura e o prprio indivduo podem

    gerar condies que promovam progresso psicolgico, a despeito ou por causa

    mesmo dessas limitaes (Neri, 1993).

    Em Soares (2001), encontramos que a OMS estipulou que as pessoas

    entram na faixa da Terceira Idade aos 65 anos nos pases de primeiro mundo e

    aos 60 anos em pases sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento. E que a

    velhice pode ser vista tanto do ponto de vista orgnico com suas alteraes

    anatmicas, fisiolgicas, psquicas, como do ponto de vista moral e social. A

    Organizao Mundial da Sade (OMS) (apud Soares, 2001), caracteriza a

    velhice como o prolongamento e trmino de um processo representado por um

    conjunto de modificaes fisiomrficas e psicolgicas ininterruptas ao do

    tempo sobre as pessoas (Soares, 2001).

  • 33

    A este respeito, Schroots e Birren (1990), realizaram pesquisa, onde

    procuraram definir diferentes conceitos de tempo e suas relaes com o

    envelhecimento, como tempo fsico, biolgico, psicolgico e social.

    a) Tempo fsico: chamado tempo objetivo, medido em calendrios,

    relgios, datas de nascimento e outros. mensurvel e quantificvel,

    podendo ser relacionado idade do organismo. Este tempo no

    corresponde ao tempo biolgico humano, faz sentido apenas na

    perspectiva pura do relgio e do calendrio. No Projeto pesquisado, a

    idade cronolgica dos alunos variou entre 15 e 70 anos de idade, dado

    que marca, a priori, uma das heterogeneidades do pblico atendido.

    b) Tempo biolgico: aquele a que se referem os relgios biolgicos,

    metablicos de sincronizao individual. A idade biolgica reflete as

    variaes entre indivduos com a mesma idade cronolgica, e se define

    como a posio do indivduo em relao sua expectativa de vida. Nos

    alunos pesquisados, o tempo biolgico se apresentou, a exemplo do

    tempo fsico, tambm muito diferenciado.

    c) Tempo psicolgico: definido como a experincia subjetiva do tempo, o

    modo como esse percebido e vivenciado pelo indivduo em sua vida

    material e simblica. de se supor, portanto, que haja uma enorme

    diferenciao na experincia de tempo psicolgico individual, tanto da

    etapa de vida dos jovens, quanto na dos adultos que freqentaram o

    Ciclo de Alfabetizao.

    d) Tempo social: refere-se posio e hbitos sociais adquiridos e

    sentidos pelo indivduo como pertencentes ao papel social e cultural,

    esperado para a idade cronolgica.

    Morhi (1999, p.26), Considera que envelhecer :

    o processo de acumular experincias e enriquecer a vida por

    meios de conhecimento e habilidades fsicas. Essa sabedoria

    adquirida proporciona o potencial para tomar decises razoveis e

  • 34

    benficas a respeito de ns mesmos. O grau de independncia

    que dispomos na vida est diretamente relacionado atividade

    maior ou menor em nosso corpo, mente e esprito... o

    envelhecimento pode ser definido como uma srie de processos

    que ocorrem nos organismos vivos, e com o passar do tempo,

    leva a perda da adaptabilidade, a alterao funcional e,

    eventualmente a extino.

    Sociologicamente, as pessoas transitam em trs tempos: o primeiro o

    tempo de formao, onde o indivduo adquire habilidades para produzir na

    sociedade. O segundo o tempo de produo, poca em que ele est no auge

    do seu potencial, vivendo na sociedade atual o seu momento mais reforador.

    O terceiro o tempo de no produo, onde ocorre o decrscimo de seu vigor

    fsico e de atividades que so decorrentes deste vigor. Psicologicamente, no

    primeiro tempo, ele expande seus espaos, aprende a tornar-se independente,

    e quando com desenvolvimento saudvel, estabelece um bom nvel de auto-

    estima. No segundo tempo ele solidifica esses espaos, conquista outros e

    chega ao mximo de seu potencial. Vive assim, o seu momento mais

    reforador. No terceiro momento, a situao comea a reverter-se a nvel

    biolgico, social e psicolgico, pois o seu corpo fsico entra em declnio e ele j

    no possui mais os meios de que dispunha (vigor fsico, velocidade de

    raciocnio). Socialmente, seu espao profissional se extingue, e, na maior parte

    das vezes, sua morte social decretada com o advento da aposentadoria.

    Seus papis scio-familiares tambm vo desaparecendo medida que os

    filhos crescem e vo embora de casa, seu papel de pai (ou me) vai deixando

    de existir, culminando com a Sndrome do Ninho Vazio (Magalhes, 1987).

    Seu papel de trabalhador, visto no contexto scio-econmico-cultural, se

    foi com a aposentadoria. Seu papel de filho deixa de existir quando seus pais

    falecem. Psicologicamente, ocorre Uma "diminuio do eu", necessitando uma

    reformulao de valores para reestruturar sua auto-imagem, auto estima, seu

    reconhecimento enquanto Ser, pois o desaparecimento dos meios com os

    quais estava acostumado a contar, o surgimento de barreiras que ele percebe

  • 35

    como insuperveis e a mudana das expectativas pessoais e sociais, geram

    sentimento de confuso existencial que acaba por criar o ciclo vicioso

    solido/angstia que finaliza em isolamento, trazendo consigo desajustes.

    Ainda o mesmo autor refere-se ao envelhecimento como um fenmeno

    contnuo na vida das pessoas, mas que pode ter manifestaes em parte

    descontnuas. As dificuldades da decorrentes podem se manifestar em

    diferentes idades, segundo as condicionantes das situaes da vida e de

    trabalho. Pode-se ser "mais ou menos velho" em relao a uma determinada

    situao de trabalho, mas possvel evitar certas dificuldades, devidas ao

    envelhecimento, agindo-se sobre os meios de trabalho (Magalhes, 1987).

    De acordo com as questes relativas ao envelhecimento no podem ser

    abordadas unicamente em termos de uma determinada populao, os

    trabalhadores idosos. necessria uma reflexo sobre o aspecto dinmico e

    antecipar as relaes entre a evoluo individual da idade de cada trabalhador

    com o futuro da empresa. Esta antecipao deve se traduzir por influncia

    sobre a concepo dos meios de trabalho e a poltica de recrutamento da

    empresa, pensando em como recuperar a destruio sistemtica que os

    homens sofrem desde o momento em que iniciam sua vida profissional.

    Uma das muitas caractersticas dos seres vivos poder estar fazendo-

    se, assim sendo, faz-se necessrio um trabalho conscientizador onde se

    busque revalorizar o Ser em relao ao Ter, onde se busque emancipar o

    Saber em relao ao Poder, utilizando-se uma perspectiva unificadora,

    integrando as dimenses sensoriais, afetivas, intelectuais e sociais,

    possibilitando ao trabalhador, auto-regular-se, participar do seu trabalho,

    entender o que o produto de sua atividade, vencendo assim, a alienao, a

    insatisfao e ansiedade que acarretam a depresso, que por sua vez,

    aumenta o sentimento de indignidade e desqualificao.

    Precisa-se retomar o pensamento/ao. Precisa-se passar da

    impotncia para a potncia. Porm, isso s conseguido se o indivduo estiver

    utilizando todo o seu potencial, e no apenas algumas partes, deixando outras

  • 36

    atrofiadas, como acontece no sistema taylorista. Sistema esse, que tem como

    produto a (re)partio do ser. O ser humano nasce equipado para enfrentar a

    vida, no entanto, preciso que ele se conscientize de suas foras.

    Embora o envelhecimento dificulte a aprendizagem de novas tcnicas,

    de novos procedimentos e de novos mtodos de trabalho, h possibilidade de

    formao em qualquer idade, sob certas condies. Importncia da experincia

    e das aprendizagens anteriores (escolar, profissional e no-profissional). Papel

    da durao da formao e das relaes teoria/prtica. grande a importncia

    da formao continuada (reciclagem) como meio de estruturar as aquisies da

    experincia, favorvel a uma forte capacidade de aprendizagem, em qualquer

    idade, compensando assim a influncia inevitvel do envelhecimento das

    pessoas na execuo e gesto de tarefas.

    2.4 A Gerontologia

    A partir da preocupao o envelhecimento inspirou muitos estudos, e

    estes vieram a se constituir em uma nova cincia chamada Gerontologia. A