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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Jocelaine Cardoso Gracióli PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO ACERCA DA READAPTAÇÃO FUNCIONAL DO TRABALHADOR DA ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DA GESTÃO Santa Maria, RS 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Jocelaine Cardoso Gracióli

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO ACERCA DA READAPTAÇÃO

FUNCIONAL DO TRABALHADOR DA ENFERMAGEM SOB

A ÓTICA DA GESTÃO

Santa Maria, RS

2017

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Jocelaine Cardoso Gracióli

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO ACERCA DA READAPTAÇÃO FUNCIONAL DO

TRABALHADOR DA ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DA GESTÃO

Dissertação apresentada ao Curso Pós-

Graduação em Enfermagem, da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profa. Dra. Suzinara Beatriz Soares de Lima

Santa Maria, RS

2017

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© 2017

Todos os direitos autorais reservados a Jocelaine Cardoso Gracióli. A reprodução de partes

ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte.

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Jocelaine Cardoso Gracióli

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO ACERCA DA READAPTAÇÃO FUNCIONAL DO

TRABALHADOR DA ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DA GESTÃO

Dissertação apresentada ao Curso Pós-

Graduação em Enfermagem, da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Enfermagem.

Aprovado em 10 de fevereiro de 2017:

Suzinara Beatriz Soares de Lima, Profa. Dra. (UFSM)

(Orientadora/Presidente)

Jose Luís Guedes dos Santos, Prof. Dr. (UFSC)

Silviamar Camponogara, Profa. Dra. (UFSM)

Teresinha Heck Weiller, Profa. Dra. (UFSM)

Santa Maria, RS

2017

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A Deus, por me acompanhar nos momentos difíceis, me fortificar nas adversidades

e iluminar meus caminhos.

Aos meus pais, Ilfonço e Ledi pelos trabalhadores que são, por terem decidido,

quando eu ainda era muito pequena que eu iria estudar e não mediram esforços

para isso.

Ao meu companheiro Aldori, que em nossas lutas me oferece a oportunidade de

ser alguém melhor.

A minha amada filha Antônia, é por você que eu tenho forças e não desisto, minha

estrela.

A minha irmã que muitas vezes dispensou seu tempo para acarinhar minha filha

em minhas ausências, por ocasião dos meus estudos.

Ao grupo de pesquisa Gasenf, pelas parcerias, pelos conhecimentos e vivências

compartilhadas, obrigada, em especial, à Tanise Martins, que me apoiou na construção

deste trabalho e me incentivou a enfrentar as dificuldades, muito-obrigada.

À minha orientadora, Profa. Dra. Suzinara Beatriz Soares de Lima, pela oportunidade

de aprendizado, sua dedicação, confiança e sabedoria repassada. Você, certamente, me

ensinou muito mais do que consta nas páginas desta dissertação.

Aos membros da banca de sustentação, Prof. Dr. José, Profa. Dra.

Silviamar, Profa. Dra. Teresinha, pelo tempo dedicado à leitura, análise, reflexão e

contribuições para o enriquecimento deste trabalho.

A todos os colegas que participaram do estudo. Vocês foram essenciais e muito

atenciosos para comigo. Obrigada por toda colaboração!

Obrigada às colegas queridas de trabalho, Macilene, Arlete, Vânia, pelos sonhos

divididos, pelo incentivo e pela torcida.

As enfermeiras Isabel, Sandra Marcia e Tokiko, pelo incentivo para eu aceitar esse

desafio.

Muito-obrigada! Com a colaboração de vocês o caminho para chegar até aqui foi menos

tortuoso!

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“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.

Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.

Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.

Para que serve a utopia?

Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar” (Eduardo Galeano).

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RESUMO

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO ACERCA DA READAPTAÇÃO FUNCIONAL DO

TRABALHADOR DA ENFERMAGEM SOB A ÓTICA DA GESTÃO

AUTORA: Jocelaine Cardoso Gracióli

ORIENTADORA: PROFA. DRA. Suzinara Beatriz Soares de Lima

Este estudo, teve como objetivo geral, conhecer as percepções dos enfermeiros na

readaptação funcional dos trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário e como

objetivos específicos, conhecer as estratégias dos enfermeiros ao receber o trabalhador de

enfermagem em readaptação funcional, e descrever o processo de avaliação de desempenho

realizado pelo enfermeiro com relação ao trabalhador de enfermagem em readaptação

funcional de um hospital universitário. A metodologia do estudo consistiu em uma pesquisa

de campo, descritiva exploratória, com abordagem qualitativa, que foi realizada no Hospital

Universitário de Santa Maria. Os participantes do estudo foram 19 enfermeiros, do Regime

Jurídico Único, que atuam com o trabalhador de enfermagem em processo de readaptação

funcional. A coleta dos dados foi realizada por meio da entrevista semiestruturada, entre os

meses de maio e junho de 2016. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo

temática da proposta operativa de Minayo. Foram respeitados todos os aspectos éticos

conforme Resolução 466 de Dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo o

projeto aprovado sob o nº CAAE 53557916.4.0000.5346. A dissertação contempla três

artigos. O primeiro teve como propósito discutir o objetivo principal e contempla as

seguintes categorias temáticas: percepção do enfermeiro sobre o trabalhador readaptado;

facilidades e dificuldades de retorno ao trabalho; recepção do trabalhador e necessidade de

um processo formal na instituição. O segundo objetivou-se conhecer as estratégias dos

enfermeiros ao receber o trabalhador de enfermagem em readaptação funcional, com as

categorias acolhimento e cuidado com o trabalhador em readaptação funcional no cenário

laboral; planejamento do processo de readaptação do trabalhador de enfermagem. Por fim, no

terceiro artigo teve-se o intuito de descrever o processo de avaliação de desempenho

realizado pelo enfermeiro com relação ao trabalhador de enfermagem em readaptação

funcional de um hospital universitário. Sendo, as categorias denominadas, comunicação como

uma das estratégias utilizadas pelo enfermeiro ao avaliar e realizando avaliação informal.

Como principais resultados, conforme a percepção dos enfermeiros entrevistados, obteve-se,

a discriminação e o preconceito que o trabalhador em readaptação funcional enfrenta; a

insegurança no retorno ao trabalho, fato que afeta seu desempenho; a necessidade de haver

disposição para retornar as atividades laborais, e os enfermeiros ainda apontaram dificuldades

gerenciais para atuar com este trabalhador e a importância de um planejamento na instituição

para receber o trabalhador de enfermagem em processo de readaptação funcional. Como

estratégias para receber este trabalhador, os enfermeiros destacaram o acolhimento, a

negociação, o processo de comunicação e respeito as limitações laborais. No que se refere, a

avaliação de desempenho, os enfermeiros participantes preconizaram a avaliação diária,

sustentada na comunicação e adoção de um método informal de avaliar. Espera-se, que este

estudo possa contribuir para o retorno do trabalhador de enfermagem ao trabalho quando em

situação de restrição de saúde, possibilitar aos gestores a elaboração de estratégias que

permitam uma readaptação funcional salutar, permeado de experiências positivas para

trabalhadores, gerentes e instituições. Além de, estimular reflexões e discussões dentro dos

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espaços acadêmicos-profissionais, e incentivar novas pesquisas sobre a temática. Por fim, foi

possível concluir que o processo de readaptação funcional do trabalhador de enfermagem é

um processo bastante complexo, exige envolvimento da instituição, da gerencia e do próprio

trabalhador. Desenvolver um trabalho com a equipe para que esta acolha o trabalhador no seu

retorno as atividades laborais, facilita a readaptação. Outra atitude, que contribui para o

retorno do trabalhador ao trabalho, deve-se ao franco processo de negociação entre o

readaptado e a gerencia. Além disso, é necessário, disposição e empenho para retornar ao

trabalho, também por parte do trabalhador.

Palavras-chave: Enfermagem. Gestão em saúde. Recursos Humanos em Saúde. Saúde do

Trabalhador. Avaliação de Desempenho Profissional. Readaptação ao Emprego.

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ABSTRACT

NURSE`S PERCEPTION ABOUT THE FUNCTIONAL READAPTATION OF THE

NURSING WORKER BY THE MANAGEMENT` STANDPOINT

AUTHOR: JOCELAINE CARDOSO GRACIÓLI

ADVISOR: SUZINARA BEATRIZ SOARES DE LIMA

This study aimed mainly to know the nurses perceptions on the Nursing workers functional

readaptation in a teaching hospital. The specific goals were to know the nurses` strategies on

receiving the Nursing worker in functional readaptation and to describe the appraisal process

of the nurse`s accomplished performances with the Nursing worker in functional readaptation

in a teaching hospital. The methodology consisted in a exploratory descriptive field research

with a qualitative approach and it happened in Santa Maria`s University Hospital. The

participants were 19 nurses under the Brazilian legal labor system for public organizations

who work with Nursing workers in the functional readaptation process. The data collection

was done through semi structured interviews between May and June, 2016. The data were

analyzed according to Minayo`s operative proposal for content analysis. All the ethical

aspects were respected in accordance to the December, 2012 Brazilian National Health

Counsil resolution number 466 and the project was approved under the number CAAE

53557916.4.0000.5346. This dissertation includes three articles. The first targeted to discuss

the main goal and it comprehends the following content categories: nurse`s perception about

the readjusted worker; the easiness and difficulties of the return to work; the reception of the

worker in functional readaptation returning to work. The second aimed to know the nurses`

strategies on receiving the Nursing worker in functional readaptation with the categories: user

embracement and worker in functional readaptation care at the work setting; planning of the

readjustment process for the Nursing worker. Lastly, the third article intended to describe the

appraisal process of the nurse`s accomplished performances with the Nursing worker in

functional readaptation in a teaching hospital setting. Communication, one of the ranked

strategies, was one of the maneuvers used by the nurse while appraising and informally

evaluating. The main results according to the perception of the interviewed nurses are: the

discrimination and prejudice faced by workers in functional readaptation; insecurity about

returning to work, an aspect that affects their performance; the necessity for willingness to

return to work, and the nurses also pointed out management difficulties to work with this

worker and the importance of institutional planning to receive the nursing worker in the

process of functional readaptation. As strategies to receive this worker, the nurses emphasized

the user embracement, the negotiation, the communication process and respect to the labor

limitations. Regarding the performance appraisal, participating nurses advocated for daily

evaluations, based on communication and on the adoption of an informal method of appraisal.

It is expected for this study to contribute to the return of nursing workers to work when in a

situation of health restriction, and that it also can enable managers to devise strategies that

allow a healthy functional readaptation permeated by positive experiences for workers,

managers and institutions. In addition, it hopes to stimulate reflections and discussions within

academic and professional settings, encouraging new researches about this subject. Thus, it is

possible to conclude that the nursing workers` process of functional readaptation is a complex

one, requiring the institution involvement, the management staff and the worker itself.

Developing a team work, so that they accommodate the worker returning to labor activities,

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facilitates the readptation. Another attitude that contributes to the worker`s return to work is

credited to a frank process of negotiation between the readjusted and the management staff.

Furthermore, willingness and commitment to return to work is necessary on the worker`s

behalf.

Keywords: Nursing. Health Management. Health Manpower. Occupational Health.

Employee Performance Appraisal. Employment Supported.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15 2.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES .................................................................................... 15

2.2 GESTÃO DE PESSOAS .............................................................................................. 18 2.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NO CONTEXTO DO TRABALHO DA

ENFERMAGEM .......................................................................................................... 20 2.4 READAPTAÇÃO FUNCIONAL E GERENCIAMENTO EM ENFERMAGEM ...... 22 2.5 READAPTAÇÃO FUNCIONAL DOS TRABALHADORES DA SAÚDE .............. 24

3 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................. 38 3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................... 38

3.2 CENÁRIO DO ESTUDO ............................................................................................. 39

3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ................................................................................ 40 3.4 COLETA DOS DADOS ............................................................................................... 41 3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ........................................................ 41 3.6 ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................................... 43

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 45 4.1 ARTIGO 1 .................................................................................................................... 47

OLHAR DO ENFERMEIRO PARA O TRABALHADOR DE

ENFERMAGEM EM READAPTAÇÃO FUNCIONAL: SUBSÍDIOS PARA

A GESTÃO .................................................................................................................. 47

4.2 ARTIGO 2 .................................................................................................................... 61

ESTRATÉGIAS UTILIZADAS POR ENFERMEIROS NA READAPTAÇÃO

FUNCIONAL DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM ............................. 61 4.3 ARTIGO 3 .................................................................................................................... 76

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO TRABALHADOR EM

READAPTAÇÃO FUNCIONAL REALIZADA PELO ENFERMEIRO

COMO FERRAMENTA DE GESTÃO .................................................................... 76

5 DISCUSSÃO GLOBAL ............................................................................................. 89

6 CONSIDERAÇOES FINAIS ..................................................................................... 91

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 93

APÊNDICES ............................................................................................................... 97 APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ........... 98

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO (TCLE) ........................................................................................ 100

ANEXOS .................................................................................................................... 104

ANEXO A – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA ................................................................ 105

ANEXO B – TERMO CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA DA

UFSM ......................................................................................................................... 106

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1 INTRODUÇÃO

O caminho que eu escolhi é o do amor. Não importam as dores, as angústias, nem as decepções que eu vou ter que encarar. Escolhi

ser verdadeira.

No meu caminho, o abraço é apertado,

o aperto de mão é sincero, por isso não estranhe a minha maneira de sorrir,

de te desejar o bem. É só assim que eu enxergo a vida, e é só assim que

eu acredito que valha a pena viver”

(Clarice Lispector).

O trabalho desempenha papel importante na vida social dos indivíduos, fornecendo

aporte de renda regular, oportunidades e crescimento pessoal, identidade social e autoestima,

mas pode ter consequências sobre a saúde do trabalhador (THEME; COSTA; GUILAM,

2013).

No âmbito das instituições hospitalares, a maior representatividade de trabalhadores é

atribuída à enfermagem, sendo que a realidade vivenciada por estes trabalhadores vem

gerando agravos à sua saúde, originários, muitas vezes, do ambiente e da organização do

trabalho, o que pode causar prejuízo não só aos profissionais, mas também às instituições

assistenciais (SANTOS; MAMEDE; PAULA, 2015).

O advento de várias tecnologias tem impulsionado o ser humano para uma busca

incessante pelo novo, sendo imprescindível que o trabalhador seja polivalente. Porém, a

prestação do trabalho em saúde não substituiu os recursos humanos, ao contrário, exigiu

maior qualificação dos trabalhadores (MAGALHÃES et al., 2009). Essa corrida pelo alcance

das novidades tem gerado aumento de todos os tipos de cargas relacionadas ao trabalho,

levando ao aparecimento de doenças e sofrimentos físicos, psíquicos e emocionais (RIBEIRO

et al., 2012).

Conforme Magnago et al. (2010) e Carvalho et al. (2010), os problemas

osteomusculares e do tecido conjuntivo são os principais responsáveis pelos afastamentos dos

trabalhadores de enfermagem das suas atividades laborais. Na sequência, e não menos graves,

estão os afastamentos por Transtornos Mentais e Comportamentais, oriundos das cargas

psíquicas, resultantes do objeto de trabalho da enfermagem, que demandam situações de

estresse, sofrimento, tensão, falta de autonomia, precário dimensionamento de trabalhadores,

entre outros (CARVALHO et al., 2010; SILVA et al., 2013).

Cestari et al. (2012) alertaram que o trabalhador, após o período de afastamento das

atividades laborais, quando retorna ao trabalho, sente necessidade de reconstruir uma nova

identidade profissional pela impossibilidade de realização das atividades desempenhadas

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anteriormente ao adoecimento, e também, por não ter clareza dos limites de suas

possibilidades e limitações.

No que se refere aos trabalhadores celetistas, a habilitação e a reabilitação profissional,

oferecidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é obrigatória aos beneficiários da

previdência social, incapacitados total ou parcialmente para o trabalho, independentemente de

carência. Essa definição surgiu a partir do próprio artigo 89, da Lei nº 8213/91, que dispõe

sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências, e objetiva não

só a reabilitação profissional, como também a social, indicados para participar do mercado de

trabalho e do contexto em que vive (BRASIL, 1991a).

No caso dos servidores públicos federais, o Regime Jurídico Único (RJU) prevê “a

readaptação profissional, em cargo de atribuições afins, respeitando a habilitação exigida, o

nível de escolaridade e a equivalência de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo

vago, o servidor poderá exercer suas atribuições como excedente, até a ocorrência de vaga,

conforme redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.1997” (BRASIL, 1997b).

Assim, o conceito de readaptação adotado neste estudo foi o previsto no artigo 24, da

Lei 8112/90: “readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e

responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou

mental, verificada em inspeção médica” (BRASIL, 1999c).

Conforme Cestari et al. (2012), vários são os fatores que podem dificultar a adaptação

do trabalhador em uma outra atribuição afim, mesmo respeitando a sua habilitação. Poderá ser

uma função na qual o trabalhador não se identifica, ou a dificuldade de formar vínculo com

colegas novos, a necessidade de adaptação a novos horários, medo do retorno, não aceitação

em função de suas limitações físicas ou psíquicas, sejam elas permanentes ou não.

Em uma perspectiva histórica, o interesse mundial pela reabilitação aconteceu devido

às guerras mundiais, ao processo de urbanização e à industrialização, que atingiu seu auge

com a Revolução Industrial, no século XIX. Também houve acelerado crescimento

populacional que favoreceu a ocorrência de epidemias e muitos acidentes de trabalho. Diante

desta realidade, surgiu a necessidade de restituir as pessoas (CUNHA, 2011).

Na enfermagem, as considerações com a reabilitação advêm de Florence Nightingale,

no evento da Guerra da Criméia, em 1859, quando ela capacitou enfermeiras para reinserir os

soldados na manutenção e continuidade da vida, do retorno ao lar e à sua família (SOUZA,

2010). Já, neste período, a preocupação do enfermeiro com a readaptação do indivíduo na

reinserção social, evidenciava o papel de assistência educativa e reabilitadora do profissional

enfermeiro, promovendo meios para o reingresso do indivíduo em seu contexto familiar.

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Nesse sentido, o gerenciamento resulta na convergência do cuidar/gerenciar, sendo

notável a existência de uma articulação entre as dimensões gerencial e assistencial, visando

atender as necessidades de cuidado aos pacientes e, ao mesmo tempo, da equipe de

enfermagem e da instituição (SANTOS et al., 2013). Assim, na gestão dos serviços de

enfermagem, muitas vezes, é necessário que se receba trabalhadores com restrições às

atividades de sua função, mas que necessitam, mesmo com limitações, retornar ao trabalho.

Nessa perspectiva, caso o trabalhador possa desempenhar mais de 70% das atribuições

de seu cargo, caracteriza-se situação de restrição de atividades e deverá retornar ao trabalho

no seu próprio cargo, mesmo que seja preciso evitar algumas atribuições. A junta médica

oficial orientará a chefia imediata quanto às atividades que deverão ser evitadas (MANUAL

DE PERÍCIA OFICIAL EM SAÚDE DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS, 2014).

Já, nas situações em que o trabalhador, não consiga atender a um mínimo de 70% das

atribuições de seu cargo, deverá ser sugerida a sua readaptação para um cargo afim. A

legislação específica não prevê reabilitação profissional, sendo possível apenas, a readaptação

funcional em atividades afins. Em não havendo disponibilidade de atividades que a pessoa

possa desempenhar compatível com suas limitações, a junta médica deverá indicar a

aposentadoria por invalidez (MANUAL DE PERÍCIA OFICIAL EM SAÚDE DOS

SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS, 2014).

Dessa forma, revela-se a complexidade para o trabalho gerencial do enfermeiro que

precisa reinserir um trabalhador com restrições de saúde, as atividades laborais. No entanto, o

rendimento deste trabalhador, provavelmente, não seja o mesmo, devido às suas limitações as

quais devem ser observadas, mas que, quantitativamente, no momento em que o trabalhador

está apto a retornar, o quadro funcional é considerado completo.

Destaca-se, ainda, a importância dessa temática, tendo em vista que o estudo de

tendências das produções, realizado no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no Banco de Teses e Dissertações

da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), Centro de Pesquisas em Enfermagem

(CEPEn), apresentou carência de produções1. Assim, posteriormente a essas buscas, pôde-se

1 Foi realizada uma busca no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES), no mês de maio de 2015, utilizando-se a seguintes estratégias: 1ª: “readaptação ao

trabalho “e “reabilitação profissional” em todos os campos, encontrando-se 11 resultados; 2ª: “retorno ao

trabalho “em todos os campos, encontrando-se 22 registros. E no Banco de Teses e Dissertações da

Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) - Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEn), por

meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Enfermagem, buscando-se com as mesmas estratégias utilizadas

para a busca na CAPES pelo termo, “licença médica”, no índice de assuntos, nos títulos e resumos, sendo

encontrados 10 resultados, totalizando 43 resumos. Foi excluído 01trabalho duplicado nos bancos de dados,

01trabalho com resumo incompleto e 34, não relacionados à temática, sendo incluídos 07 resumos.

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verificar a carência de pesquisas vinculadas aos programas de Pós-Graduação em

Enfermagem sobre a temática.

Acredita-se, portanto, que seja premente o aprofundamento dos estudos sobre a

readaptação funcional e seus variados contextos, de modo que se possa subsidiar os

enfermeiros em suas práticas gerenciais para melhor conduzir o processo de readaptação

funcional. Nesse sentido, espera-se que a pesquisa proposta possa contribuir para o

conhecimento existente referente ao tema proposto, gerando benefícios no que tange ao

conhecimento científico sobre a temática e à facilitação no processo de readaptação funcional

do trabalhador, proporcionando subsídios aos gestores em suas práticas.

Diante da preocupação, desejo e motivação de melhor compreender essa questão,

surgiu a necessidade de pesquisar o processo de readaptação funcional, a partir das seguintes

questões: quais as percepções dos enfermeiros sobre a readaptação funcional do trabalhador

na unidade de saúde? Quais as estratégias utilizadas pelo enfermeiro ao receber o trabalhador

de enfermagem em readaptação funcional? Como o enfermeiro avalia o desempenho laboral

do trabalhador de enfermagem em readaptação funcional?

Assim sendo, o objetivo geral foi: conhecer as percepções dos enfermeiros sobre a

readaptação funcional do trabalhador de enfermagem em um hospital universitário, e os

objetivos específicos foram: conhecer as estratégias dos enfermeiros ao receber o trabalhador

de enfermagem em readaptação funcional; descrever o processo de avaliação de desempenho

realizado pelo enfermeiro com relação ao trabalhador de enfermagem em readaptação

funcional de um hospital universitário.

Esta Dissertação está dividida em 03 artigos, que se encontram nos resultados, sendo

que o primeiro contempla o objetivo geral, o segundo e o terceiro os objetivos específicos

respectivamente.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Tudo o que sei, é que nada sei!

(Sócrates).

A partir do objetivo desta pesquisa, apresentam-se cinco tópicos principais para

subsidiar teoricamente este estudo: conceitos e definições; gestão de pessoas; avaliação de

desempenho no contexto do trabalho da enfermagem; readaptação funcional e gerenciamento

em enfermagem e readaptação funcional dos trabalhadores da saúde.

2.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Esse capítulo possui a finalidade de apresentar conceitos e definições de termos

utilizados nesse estudo. Ressalta-se que essas definições constam no Manual de Perícia

Oficial em Saúde dos Servidores Públicos Federais (2014).

Capacidade laborativa: é o estado físico e mental que define se o servidor está em condições

para exercer as atividades inerentes ao cargo. Ter capacidade laborativa significa que o

examinado reúne as condições morfopsicofisiológicas compatíveis com o desempenho dessas

atividades. É importante ressaltar que a capacidade laborativa não implica, obrigatoriamente,

na ausência de doença ou lesão. Na avaliação da capacidade laborativa do examinado deve ser

considerada a repercussão da sua doença ou lesão no desempenho das atividades laborais.

Incapacidade laborativa: é a impossibilidade de desempenhar as atribuições definidas para

os cargos, funções ou empregos, provocada por alterações patológicas decorrentes de doenças

ou acidentes. A avaliação da incapacidade deve considerar o agravamento da doença, bem

como o risco à vida do servidor ou de terceiros, que a continuação do trabalho possa acarretar.

O conceito de incapacidade deve compreender em sua análise os seguintes parâmetros: o grau

e a duração da incapacidade e a abrangência da tarefa desempenhada.

1. Quanto ao grau, a incapacidade laborativa pode ser parcial ou total:

a. Considera-se como parcial o grau de incapacidade que limita o desempenho das atribuições

do cargo, sem risco de morte ou de agravamento, embora não permita atingir a média de

rendimento alcançada em condições normais.

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b. Considera-se como incapacidade total a que gera a impossibilidade de desempenhar as

atribuições do cargo, função ou emprego.

2. Quanto à duração, a incapacidade laborativa pode ser temporária ou permanente:

a. Considera-se temporária a incapacidade para a qual se pode esperar recuperação dentro de

prazo previsível.

b. Considera-se permanente a incapacidade insuscetível de recuperação com os recursos da

terapêutica, readaptação e reabilitação disponíveis à época da avaliação pericial.

3. Quanto ao comprometimento do desempenho das atividades do cargo, a incapacidade

laborativa pode ser classificada como:

a. Restrita: permite ao servidor desempenhar acima de 70% das suas atividades.

Indicação: restrição de atividade, o impedimento alcança apenas uma atividade.

b. Moderada: permite ao servidor o impedimento de diversas atividades profissionais.

c. Total: implica na impossibilidade do desempenho de toda e qualquer atividade laborativa.

Ressalta-se que a presença de uma doença, por si só, não significa a existência de

incapacidade laborativa. O que importa na análise do perito oficial em saúde é a repercussão

dessa doença no desempenho das atribuições do cargo.

Invalidez: no âmbito da APF (Administração Pública Federal), entende-se por invalidez do

servidor a incapacidade permanente e total para o desempenho das atribuições do cargo,

função ou emprego.

Considera-se, também, invalidez, quando o desempenho das atividades acarreta risco à

vida do servidor ou de terceiros; o agravamento da sua doença, ou quando a produtividade do

servidor não atender ao mínimo exigido para as atribuições do cargo, função ou emprego.

Perícia oficial em saúde: é o ato administrativo que consiste na avaliação técnica de questões

relacionadas à saúde e à capacidade laboral, realizada na presença do periciado por médico ou

cirurgião-dentista formalmente designado. A perícia oficial em saúde produz informações

para fundamentar as decisões da administração, no tocante ao disposto na Lei nº 8.112, de 11

de dezembro de 1990 e suas alterações posteriores. De acordo com o Decreto nº 7.003, de 9

de novembro de 2009, a perícia oficial em saúde compreende duas modalidades:

1. Junta Oficial em Saúde: perícia oficial em saúde realizada por grupo de três médicos ou de

três cirurgiões-dentistas.

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17

2. Perícia Oficial Singular em Saúde: perícia oficial em saúde realizada por apenas um médico

ou um cirurgião-dentista.

Readaptação funcional do servidor por redução de capacidade laboral (art. 24 da

lei nº 8.112, de 1990): a readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e

responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou

mental, verificada em inspeção médica/odontológica.

Após a constatação da incapacidade do servidor para as atribuições do seu cargo, é

solicitada à área de recursos humanos a lista das atribuições inerentes ao cargo, para fins de

avaliação dos itens que podem ou não ser realizados pelo servidor.

A junta oficial em saúde, de posse da listagem das atribuições do cargo, sugerirá os

itens que poderão e os que não poderão ser realizados pelo servidor, devido à limitação

imposta pela sua doença ou lesão.

Caso o servidor seja capaz de executar mais de 70% das atribuições de seu cargo,

configura-se caso de restrição de atividades e deverá retornar ao trabalho no seu próprio

cargo, mesmo que seja necessário evitar algumas atribuições. A junta oficial orientará a chefia

imediata quanto às atividades que deverão ser evitadas.

Caso o servidor não consiga atender a um mínimo de 70% das atribuições de seu

cargo, deverá ser sugerida a sua readaptação para um cargo afim, nos termos da legislação

vigente (Ofício-Circular Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Princípios e

Diretrizes da Perícia Oficial em Saúde 29, SRH, nº 37, de 16 de agosto de 1996). Nesse caso,

estando o servidor capaz de atender a mais de 70% das atribuições de seu novo cargo, a junta

oficial deverá indicar a sua readaptação, ficando a critério dos recursos humanos as

providências necessárias para a publicação do Ato de Readaptação.

O processo deve ser encaminhado à área de recursos humanos para a indicação dos

cargos afins e as suas atribuições, respeitadas as habilitações exigidas para o ingresso no

serviço público federal, retornando à junta oficial que indicará em qual das opções de cargos

deverá o servidor ser readaptado. Caso não haja um cargo para o qual o servidor possa ser

readaptado, compatível com as suas limitações, a junta oficial deverá sugerir sua

aposentadoria por invalidez.

Reabilitação funcional: é o processo de duração limitada, com objetivo definido, destinado a

recuperar pessoa com incapacidade adquirida para alcançar níveis físicos, mentais e

funcionais que possibilitem o seu retorno ao trabalho.

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18

2.2 GESTÃO DE PESSOAS

As mudanças decorrentes da globalização e das novas tecnologias causaram, nas

instituições, um aumento na busca por qualidade e produtividade, sendo que, diante desta

realidade, os protagonistas deste cenário são as pessoas que fazem parte da instituição, os seus

colaboradores, ou seja, os recursos humanos.

Segundo Chiavenato (2004), recursos humanos são todos os indivíduos que compõem

a força de trabalho, que apresentam competências para desenvolver seus papéis,

proporcionando decisões que ativam a organização. São meios dos quais a empresa faz uso

para atingir seus objetivos.

O gestor, seja ele denominado diretor, chefe, gerente ou supervisor, deve desempenhar

as quatro funções administrativas que são: planejar, organizar, dirigir e controlar, de acordo

com a cultura de cada organização. Outras variáveis importantes são: características do

contexto ambiental, negócio da empresa e processos internos (CHIAVENATO, 2004).

A gestão de pessoas consiste em políticas e práticas do gerenciamento de pessoas, a

qual envolve assuntos como liderança, poder, tomada de decisão, conflitos, entre outros

assuntos relacionados ao gerenciamento. Refere-se, também, a políticas e práticas de recursos

humanos, as quais subdividem-se em vários subsistemas/divisões, que são: recrutamento e

seleção de pessoal; benefícios e serviços; cargos e salários; treinamento e desenvolvimento de

pessoal; medicina e segurança no trabalho; serviço social; departamento de pessoal e relações

trabalhistas e sindicalistas (BANOV, 2012). Assim, por meio da utilização desse conjunto de

processos e atividades da área de recursos humanos, a instituição, possivelmente, será eficaz e

eficiente.

Ao realizar-se uma adequada gestão de pessoas contribui-se para a eficiência da

organização, agregando valores e gerando retorno positivo para todos os envolvidos. Além de

propor-se: a ajudar a organização a alcançar suas metas e objetivos; realizar sua missão;

proporcionar competitividade à empresa; treinar e motivar as pessoas; proporcionar a

satisfação dos funcionários; desenvolver e manter a qualidade de vida no trabalho, bem como

manter políticas éticas e um comportamento socialmente responsável (CHIAVENATO,

2004).

Finamor et al. (2010) afirmam que o treinamento e desenvolvimento de pessoal têm

como objetivo proporcionar uma contínua atualização, treinamentos e desenvolvimento

intelectual, de modo a desenvolver e potencializar talentos e a qualidade dos colaboradores,

por meio de conteúdos motivadores. Já, os benefícios e serviços referem-se às remunerações

oferecidas pelas instituições vinculadas à produtividade e à qualidade alcançada, ou seja,

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referem-se às recompensas em dinheiro, prêmios ofertados aos colaboradores, pelo alcance

das metas, tanto qualitativamente como quantitativamente, por intermédio da avaliação de

desempenho dos serviços prestados (NETO; MALIK, 2012).

A medicina e a segurança no trabalho encarregam-se de normatizar e fazer cumprir as

portarias, decretos e normas regulamentadoras, a respeito da segurança e da saúde no

trabalho, desenvolvendo ações, visando à diminuição dos acidentes e doenças ocupacionais.

Também, é responsável pelo treinamento, pelos exames admissionais, periódicos e

dimensionais dos colaboradores, enfim, visa ao bem-estar, à qualidade de vida e à

manutenção do clima organizacional (NETO; MALIK, 2012).

Chiavenato (2004) destaca que a gestão de pessoas baseia se em três aspectos

fundamentais: o primeiro refere-se às pessoas como seres humanos diferentes e com sua

história pessoal; o segundo, às pessoas como ativadoras inteligentes de recursos

organizacionais, com impulso próprio, que dinamizam a sua constante renovação; o terceiro

refere-se às pessoas como parceiras da organização para conduzi-las ao sucesso com esforço,

dedicação e responsabilidade. O autor menciona, ainda, que a gestão de pessoas é

contingencial e situacional, dependendo da cultura de cada organização/hospital, pois as

pessoas podem passar de simples empregados a colaboradores e grandes responsáveis pelo

sucesso da empresa.

Frente aos diversos perfis e representações do cenário laboral, torna-se imperativa e

desafiadora a utilização de uma comunicação eficaz e eficiente junto aos colaboradores, pois,

dessa forma, o gestor conseguirá alcançar suas metas, o sucesso da instituição e a satisfação

do empregado (LIMA, 2003).

Nesse contexto, Freitas (2006, p. 435) esclarece que “o trabalho do enfermeiro

envolve, ainda, atribuições gerenciais que exigem conhecimentos e competências que o

habilitam para participar dos processos decisórios e para assumir papel relevante no

direcionamento das políticas de recursos humanos dentro das instituições de saúde. ”

Seguindo essa linha de pensamento, Kurcgant (2014) afirma que fazem parte do

processo do trabalho gerencial do enfermeiro, principalmente, os recursos humanos de

enfermagem e a organização do trabalho, desenvolvidos por meio de elementos ou

instrumentos próprios, como o planejamento, o dimensionamento de pessoal de enfermagem,

o recrutamento, a seleção, a avaliação de desempenho e a educação.

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20

2.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NO CONTEXTO DO TRABALHO DA

ENFERMAGEM

O trabalho exerce uma ação estruturante na vida das pessoas e da sociedade, como

relatam Ramos et al. (2008), ou seja, ele insere as pessoas na sociedade. A discussão dessa

temática possibilita a compreensão da vida social e da organização da sociedade. Ainda,

conforme este autor, as exigências de produtividade, de qualificação e de atualização, como

forma de garantir o aumento de produtividade, estão relacionadas às pressões impostas aos

trabalhadores.

Conforme Batista (2008), o trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde tem

seu processo influenciado por esse cenário global, desencadeando um embrutecimento das

relações interpessoais entre os profissionais da saúde e os usuários. A enfermagem tem como

especificidade principal na profissão o cuidado ao ser humano, ao longo do seu ciclo vital.

Portanto, é responsabilidade da enfermagem a realização de ações de promoção da saúde

individual e coletiva; as orientações quanto aos agravos relacionados à saúde; a recuperação e

a reabilitação do ser humano, para que este possa realizar as suas atividades sociais.

Nesse sentido, o trabalhador de enfermagem encontra-se exposto a diversas formas de

precarização das condições trabalho, tais como: o desemprego, as baixas remunerações, a

jornada dupla ou tripla de trabalho, a pressão pela maior produção no menor espaço de tempo,

além de modelos organizacionais que dispensam o uso da criatividade e estimulam a

competição entre os trabalhadores, o que pode contribuir para a desvalorização dos mesmos

(PRESTES et al., 2010).

Nessa perspectiva, estudos abordam a satisfação e a insatisfação dos usuários sob

inúmeros aspectos e em diferentes serviços (MISHIMA et al., 2016; LIMA et al., 2015). No

entanto, é incoerente a preocupação com a satisfação dos usuários e a perspectiva de ignorar

as necessidades dos trabalhadores de saúde, sendo que a atuação destes está diretamente

relacionada à qualidade da assistência prestada aos usuários (JEONG; KURCGANT, 2010).

Corroborando com este pensamento, Cacciari (2013) diz que o resultado final da

assistência de enfermagem é resultante da qualidade de vida no trabalho. Assim, a qualidade

de vida dos trabalhadores é algo para ser pensado com cuidado, uma vez que este é traduzido

nos frutos, produzidos no processo laboral diário.

Desse modo, o trabalho ao implicar diretamente na vida dos trabalhadores necessita

constantemente estar sendo reelaborado, tendo em vista, facilitar e satisfazer as necessidades

do trabalhador, repercutindo no êxito das metas institucionais e contribuindo para o produto

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21

final. Contemplando essa concepção, o processo de avaliação, contribui para uma nova

produção do trabalho, já que o processo de avaliação pode ser definido como a comparação

dos resultados alcançados com os planejados, isto é, a avaliação de desempenho agrega valor

à instituição, aos trabalhadores e aos usuários (PIERANTONI et al., 2011).

Para Chiavenato (2004, p. 223), a avaliação do desempenho do funcionário significa

uma análise sistemática do desempenho de cada colaborador, em função das atividades que

ele realiza, relacionando aos resultados que devem ser alcançados e ao potencial de cada um.

Pode ser definido como sendo “um processo dinâmico que envolve o avaliado e seu gerente e

representa uma direção imprescindível na atividade administrativa de hoje”.

Ratificando, Pierantoni et al. (2011, p. 1629) mencionam que “avaliar significa, em

síntese, comparar os resultados alcançados com os esperados (planejados) de forma que

apenas o trabalho previamente planejado deva ser objeto de avaliação”.

Portanto, a avaliação de pessoal serve para impulsionar mudanças nos processos de

trabalho das organizações públicas, já que possibilita detectar carências e políticas de

desenvolvimento profissional. A competência ou o desempenho do trabalhador exerce

influência nos serviços. Assim sendo, os processos avaliativos dizem respeito ao trabalhador e

ao serviço. Portanto, avaliar é um significativo instrumento de gestão (PIERANTONI et al.,

2011).

As organizações apropriam-se cada vez mais dos recursos de gerenciamento

afastando-se do amadorismo, visto que avaliar o desempenho dos colaboradores possibilita a

percepção das fragilidades da equipe e proporciona que políticas de desenvolvimento

profissional sejam planejadas e desenvolvidas. Além disso, no processo avaliativo

colaboradores e a instituição à qual estão atrelados, devem receber retroação sobre seu

trabalho, isso possibilita que a empresa e as pessoas saibam como estão indo

(CHIAVENATO, 2004).

O sucesso ou fracasso da avaliação de desempenho está relacionado com a

conscientização do grupo e de cada um, individualmente, sobre a importância de sua

avaliação com relação ao seu desempenho, de forma particular, e do grupo no qual está

inserido (BRAHM; MAGALHÃES, 2007). A respeito das instituições hospitalares, Brahm e

Magalhães (2007, p. 416) lembram que a enfermagem representa grande parcela do grupo de

profissionais, sendo assim, “a técnica de avaliação de desempenho, dentro do processo de

trabalho, é instrumento útil para adequar a abordagem da equipe frente a sua produção e

realização pessoal”.

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22

Dentre as funções administrativas que o enfermeiro desempenha no seu trabalho, está

o gerenciamento da equipe de enfermagem e a avaliação de pessoal de sua equipe, com

relatórios de progresso. Por consequência, o enfermeiro necessita ter uma relação próxima

com os colaboradores que ele irá avaliar, para que não ocorram equívocos e injustiças nas

avaliações, resultando em sentimentos que possam refletir de maneira negativa na assistência

prestada.

Kurcgant (2014, p. 150), ainda, acrescenta que “a avaliação é uma constante”, não é

recomendado que seja deixado tudo para o momento formal do ato de realizar a avaliação,

mas sim que os pontos positivos sejam reforçados no dia a dia e que o gestor vá abordando as

fragilidades tão logo apareçam, a fim de evitar um somatório de problemas. Ao cuidar em

enfermagem, necessita-se muito mais do que a realização da técnica, do que a satisfação do

cliente cuidado, é necessário compreender o processo de assistir com qualidade, de inserir-se

nele e fazer parte dele enquanto seguimento do cuidado (LIMA, 2008).

As instituições de saúde se apresentam como prestadoras de serviços à comunidade e,

como tal, é necessário identificar as necessidades e metas a serem alcançadas, para que os

gerentes e colaboradores possam prestar serviços com qualidade e atenderem o perfil da

instituição a qual estão vinculados. Para que o processo de avaliar seja saudável para ambos

os envolvidos, avaliador e avaliado, é necessária a compreensão da avaliação de desempenho

por todos. Desse modo, para Kurcgant (2014), não haverá exacerbação de poder do avaliador,

nem o medo do avaliado em relação ao avaliador.

2.4 READAPTAÇÃO FUNCIONAL E GERENCIAMENTO EM ENFERMAGEM

A Readaptação Funcional deve acontecer quando o trabalhador estiver acometido por

restrição física ou mental, o que torna imprescindível uma mudança na atividade exercida, ou

de local de trabalho, para haver um redirecionamento na adequação às limitações ocorridas e

avaliadas, previamente, por perícia da junta médica instituída (ROCHA et al., 2012).

Sendo assim, o servidor público que apresentar problemas de saúde que o impeçam de

desempenhar suas atividades laborais em sua plenitude, mas que apresentar condições de

realizar outras atividades condizentes com a sua habilitação técnica não será considerado

inválido, não sendo indicada a aposentadoria por invalidez (ROCHA et al., 2012).

Conforme Batista (2008), o processo de readaptação funcional poderá decorrer por

solicitação médica, devido à modificação da capacidade laboral do trabalhador. Existe,

também, a possibilidade de readaptação sugerida pela autoridade de subordinação, proposta

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23

pelo Departamento de Perícias Médicas e poderá ser requerida pelo próprio trabalhador,

inclusive nas organizações de saúde.

Dentre as organizações de saúde, as instituições hospitalares são sistemas complexos

em que trabalhadores de diferentes profissões interagem. Além do mais, as pessoas convivem

com situações estressantes e conflituosas oriundas de experiências como: dor, sofrimentos,

mortes, entre outras. E cada um dos trabalhadores traz consigo seus valores culturais, suas

crenças e subjetividades para o mundo do trabalho.

A enfermagem é a maior força de trabalho das instituições hospitalares e a equipe de

enfermagem é quem cuida continuamente dos pacientes. Em relação aos membros da equipe

de enfermagem, estes se destacam entre os trabalhadores da área da saúde, por representarem

o maior quantitativo e pelo contexto atual, evidenciando um elevado número de doenças

relacionadas ao trabalho, com a prevalência de Distúrbios Osteomusculares decorrentes do

trabalho e os transtornos mentais e comportamentais, além dos acidentes (MININEL;

BAPTISTA; FELLI, 2011).

Com isso, verifica-se que o afastamento para a Licença de Tratamento de Saúde (LTS)

concedida ao trabalhador que estiver impossibilitado para o trabalho, mediante uma avaliação

médica, constatando incapacidade laboral pelas condições clínicas, no momento do exame, ou

por uma doença diagnosticada, é um problema relevante aos gestores. Nesse contexto, as

readaptações de trabalhadores de enfermagem acarretam problemas gerenciais, até na

elaboração de escalas de trabalho.

Considerando as questões que envolvem os processos de trabalho, o enfermeiro, em

parceria, inclusive, com o próprio trabalhador, deve buscar solução para essa questão,

evitando, assim, a insatisfação no trabalho, o adoecimento e a falta de perspectiva (BATISTA;

JULIANE; AYRES, 2010). Do mesmo modo, Cacciari et al. (2013, p. 864) acrescentam que

os trabalhadores readaptados “causam impactos no gerenciamento da equipe, requerendo, das

chefias, preparo e competências para liderar a equipe de maneira integradora”.

A atividade gerencial em enfermagem permite espaço para o levantamento de

necessidades, a validação de conhecimentos e experiências, considerando as potencialidades

de cada um no processo de readaptação funcional. Além disso, Batista, Juliane e Ayres (2010)

enfatizam que os processos de readaptação funcional trazem muitas implicações para o

gerenciamento em enfermagem, inerentes ao próprio processo do trabalhador de enfermagem,

com repercussões diretas na assistência prestada ao usuário.

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24

2.5 READAPTAÇÃO FUNCIONAL DOS TRABALHADORES DA SAÚDE

Considerando a necessidade de conhecer e verificar qual a produção científica sobre a

readaptação funcional dos trabalhadores da saúde e descrever as tendências desta produção,

foi realizada uma revisão de literatura sobre o assunto, a qual integra a fundamentação teórica

deste estudo.

READAPTAÇÃO FUNCIONAL DOS TRABALHADORES DA SAÚDE: REVISÃO

DA LITERATURA

FUNCTIONAL READAPTATION OF HEALTH WORKERS: LITERATURE

REVIEW

READAPTACIÓN AGENTES DE SALUD FUNCIONALES: REVISIÓN DE LA

LITERATURA

RESUMO

Objetivo: identificar a produção científica sobre a readaptação funcional dos trabalhadores da

saúde e descrever as tendências desta produção. Metodologia: Tratou-se de um estudo de

revisão de literatura integrativa. A coleta dos dados foi realizada em janeiro e fevereiro de

2016, nas bases de dados e bibliotecas eletrônicas: BDENF, IBECS, Index Psi Periódicos,

Latindex, LILACS, MEDCARIB, PUBMED, WHOLIS e SCIELO. Resultados: foram

constituídos dois eixos de análise, sendo eles: perfil dos trabalhadores readaptados e

experiências e vivências dos trabalhadores readaptados. Conclusão: os principais motivos

relacionados à readaptação foram de ordem física e psíquica, decorrentes de fatores como a

extensa jornada de trabalho, a sobrecarga e a baixa remuneração, sugerindo a realização de

estudos que abordassem o tema e aprofundassem os motivos dos afastamentos e o processo de

readaptação do trabalhador.

Descritores: enfermagem; gerência; readaptação ao emprego; administração de recursos

humanos em hospitais; saúde do trabalhador.

INTRODUÇÃO

As pessoas têm o trabalho como uma rede de relações com a sociedade, o qual

constrói os sujeitos e sua gama de significados. É por meio do trabalho que os sujeitos se

reconhecem, constroem sua identidade, sentem-se capazes e úteis(1). O trabalho possibilita o

estabelecimento de relações pessoais, a manutenção da sobrevivência, a valorização e o

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25

desenvolvimento pessoal e profissional. Ainda, permite aos sujeitos o prazer da criação e o

sustento da família(2-3)

.

Ao longo da vida, algumas pessoas constroem uma carreira profissional satisfatória,

em contrapartida, outras, devido ao adoecimento, por exemplo, têm esse planejamento

interrompido(4)

. Nesse contexto, é importante uma reflexão com relação à saúde do

trabalhador, a partir da definição de alguns conceitos importantes para a compreensão da

temática.

Segundo a Lei nº 8.080/90, art.6, §3.º, entende-se por saúde do trabalhador um

conjunto de atividades que se destina, por meio das ações de vigilância epidemiológica e

vigilância sanitária, à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à

recuperação e à reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos a riscos e agravos

advindos das condições de trabalho(5)

.

Também, é importante o entendimento do conceito de readaptação profissional. No

caso dos servidores públicos federais, o Regime Jurídico Único prevê a readaptação

profissional, em cargo de atribuições afins, respeitando a habilitação exigida, o nível de

escolaridade e a equivalência de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo vago, o

servidor poderá exercer suas atribuições como excedente, até a ocorrência de vaga(6)

.

O conceito de readaptação adotado neste estudo foi o previsto na Lei nº 8112, de 1990,

a qual define que: “readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e

responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou

mental verificada em inspeção médica"(6)

.

A readaptação não deve ser centrada apenas nas limitações físicas, uma vez que é um

processo complexo com implicações na subjetividade do trabalhador, que compromete a vida

das pessoas(7)

. Sendo assim, quando um trabalhador da saúde afasta se das suas atividades por

adoecimento, apresenta-se uma situação delicada para aqueles que estão envolvidos nesse

processo - a instituição, os gerentes, os colegas de trabalho e os próprios usuários.

Nesse aspecto, é importante destacar que os trabalhadores, ligados à Previdência

Social, passam por um processo de retorno ao trabalho: a reabilitação profissional, a qual

entende-se como uma ação que tem por objetivo reduzir e superar as limitações funcionais,

emocionais e sociais, intervindo no estabelecimento da incapacidade física ou psíquica para o

trabalho, possibilitando aos profissionais reabilitados sua reintegração social, e ainda, os

meios necessários para o retorno a um trabalho compatível e saudável(8-9)

.

A reinserção dos trabalhadores, com algumas limitações, por meio da reabilitação

profissional, exige que o Estado organize este processo, a partir de projetos com diretrizes

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26

claras e bem definidas, uma vez que ser reabilitado atinge a autoestima, a identidade, a

confiança em si mesma, a segurança no futuro, além dos corpos dos trabalhadores(8)

.

O conceito utilizado para guiar este trabalho foi o de readaptação profissional, pois o

resultado deste estudo buscou o “estado da arte” sobre a temática, desta forma, contribuindo

para a construção e o fortalecimento do conhecimento da enfermagem e auxiliando em demais

pesquisas sobre o assunto.

Assim, elaborou-se a seguinte questão de pesquisa: quais as produções acadêmicas

relacionadas à readaptação funcional dos trabalhadores da saúde? Logo, teve-se como

objetivo identificar a produção científica sobre a readaptação funcional dos trabalhadores da

saúde.

MÉTODO

Tratou-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, caracterizado pela

abordagem da Prática Baseada em Evidências (PBE), que envolve a definição de um

problema, a busca e a avaliação crítica das evidências disponíveis, a implementação das

evidências na prática e a avaliação dos resultados obtidos. Pois, um dos métodos de pesquisa

utilizado na PBE é a revisão integrativa, que tem por finalidade reunir e sintetizar resultados

de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, contribuindo assim para o

aprofundamento do conhecimento sobre o tema a ser investigado(10)

.

Para elaboração da revisão integrativa da literatura, são recomendadas seis etapas,

citadas a seguir conforme o referencial utilizado neste estudo(10)

. Na primeira etapa, ocorreu a

identificação do tema e questão de pesquisa: consiste na definição de um problema e na

elaboração da questão de pesquisa que seja importante para a saúde e enfermagem. A questão

de pesquisa e os descritores ou palavras-chave devem ser identificados para a execução da

busca dos estudos.

Na etapa seguinte, houve o estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão: é

importante que todas as decisões sobre os critérios de inclusão e exclusão sejam

documentadas e justificadas no decorrer do estudo. E seguida, deu-se a categorização dos

estudos: nessa etapa o revisor deve organizar suas informações, formando um banco de dados,

com informações relevantes de cada estudo selecionado.

Por conseguinte, realizou-se a avaliação dos estudos: a análise deve ser feita de forma

crítica, nos diferentes estudos selecionados. Após ocorreu a interpretação dos resultados: esta

é a fase de interpretação dos principais resultados. E por fim, a apresentação da revisão: esta

fase pretende reunir e sintetizar as evidências disponíveis na literatura e suas conclusões.

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27

Para responder à questão de pesquisa, foi realizada uma busca em bases de dados e

bibliotecas eletrônicas, por meio de palavras e descritores, conforme apresentado no Quadro

1. A coleta dos dados foi realizada em janeiro e fevereiro de 2016.

Quadro 1 – Estratégias de busca realizadas e número de resultados encontrados nas bases de

dados e bibliotecas eletrônicas: BDENF, IBECS, Index Psi Periódicos, Latindex, LILACS,

MEDCARIB, PUBMED, WHOLIS e SciELO, 2016

(continua)

Base de dados / Biblioteca

eletrônica Estratégia de busca

Resultados

encontrados

Base de dados de

Enfermagem (BDENF)

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] 4

"return-to-work" [palavras] 1

Subtotal 5

Índice Bibliográfico

Espanhol em Ciências da

Saúde (IBECS)

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] 1

"return-to-work" [palavras] 22

Subtotal 23

Index Psi Periódicos readaptação [palavras] 12

Subtotal 12

Sistema Regional de

Información en Línea para

Revistas Científicas de

América Latina, el Caribe,

España y Portugal

(Latindex)

término buscado>employment supported 2

término buscado>readaptação funcional 3

término buscado>readaptação ao emprego 1

Subtotal 6

Literatura Latino-

Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde

(LILACS)

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] and "recursos humanos em saude"

[descritor de assunto]

1

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] and "recursos humanos em

hospital" [descritor de assunto]

1

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] and "recursos humanos" or

"recursos humanos em saúde" [palavras]

1

“readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] 30

Subtotal 33

Literatura do Caribe em

Ciências da Saúde

(MEDCARIB)

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] 1

Subtotal 1

Public Medline (PUBMED) "employment, supported"[MeSH terms]

AND "health manpower"[MeSH terms] 2

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28

(conclusão)

"employment, supported"[MeSH terms]

AND "health personnel"[MeSH terms] 44

return to work[title] AND "health

personnel"[MeSH terms] 44

Subtotal 90

Sistema de Informação da

Biblioteca da Organização

Mundial de Saúde

(WHOLIS)

"readaptação ao emprego" [descritor de

assunto] 5

Subtotal 5

Scientific Electronic Library

Online (SciELO)

(ti:(readaptação)) 8

(ab:(readaptação)) 34

(ti:(returntowork)) 19

(ab:(returntowork)) 498

Subtotal 559

Total 734

Fonte: Elaborado pela autora.

Foram incluídos os artigos publicados em revistas científicas que responderam à

pergunta de pesquisa, publicados em português, inglês ou espanhol. Foram excluídas as

produções com resumo indisponível na base de dados ou biblioteca eletrônica e sem texto

completo disponível online. A busca dos textos, na íntegra, foi realizada por meio das

seguintes ferramentas: Google, ResearchGate e Periódicos da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). As produções que se repetiram nas

bases ou bibliotecas foram analisadas somente uma vez. O fluxograma de seleção está

apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma de seleção das produções científicas.

Busca nas bases de dados e bibliotecas eletrônicas (n = 734)

Leitura dos títulos e resumos (incluídos = 69)

19 não eram artigos624 não eram do tema

23 não possuíam resumo01 não foi publicado em português,

inglês ou espanhol

Leitura dos textos completos (incluídos = 04)

22 não estavam disponíveis online36 não responderam à pergunta de

pesquisa05 estavam duplicados

Fonte: Elaborado pela autora.

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29

Para a descrição das produções selecionadas, foi elaborado um quadro sinóptico.

Tanto o processo de seleção das produções quanto o de extração dos dados foi realizado de

forma dupla e independente. A análise dos dados foi realizada, qualitativamente, por meio da

análise dos temas do agrupamento em temas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As características das produções selecionadas podem ser visualizadas no Quadro 1.

Todos os estudos eram brasileiros, predominantemente publicados no ano de 2013, e por

equipe multiprofissional, tendo como cenário um hospital universitário público e profissionais

de enfermagem como participantes da pesquisa. Os artigos foram identificados com a letra

“A”, seguido de numeral cardinal (A1, A2, A3 e A4).

Quadro 1 – Características da publicação dos artigos selecionados. BDENF, IBECS, Index

Psi Periódicos, Latindex, LILACS, MEDCARIB, PUBMED, WHOLIS e SciELO, 2016

(continua)

ID Título Ano País do

estudo

Área do

conhecimento

Participan

tes da

pesquisa

Cenário

A1

A experiência

de

afastamento

do trabalho

por

adoecimento

vivenciada

como processo

de ruptura ou

continuidade

nos modos de

viver

(RAMOS et

al., 2008).

2008 Brasil Psicologia

11

trabalhador

es de saúde

Hospital

universitário

público

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30

(conclusão)

A2

Retraining due

to illness ant

its

implications in

nursing

management

(BATISTA et

al., 2010).

2010 Brasil Multiprofissional

Nove

profissiona

is da

equipe de

enfermage

m

Hospital geral

A3

Estado de

saúde de

trabalhadores

de

enfermagem

em

readequação e

readaptação

funcional

(CACCIARI

et al., 2013

REBEN).

2013 Brasil Multiprofissional

34

trabalhador

es de

enfermage

m

readaptado

s e

readequado

s

Hospital

universitário

público

A4

Socio

Demographic

and

occupational

characterizatio

n of readjusted

and

rehabilitated

nursing staff

(CACCIARI

et al., 2013

REUERJ).

2013 Brasil Enfermagem

30

profissiona

is de

enfermage

m

readaptado

s/readequa

dos

Hospital

universitário

público

Os temas comuns nas produções foram aproximados, ou seja, as informações

semelhantes foram agrupadas em uma mesma categoria. A partir da análise, emergiram as

seguintes categorias temáticas: perfil dos trabalhadores readaptados e processo de afastamento

do trabalho.

Perfil dos trabalhadores readaptados

Na primeira categoria, foram alocadas as produções(11-12)

que tratam do perfil dos

trabalhadores readaptados. No primeiro estudo(11)

, os trabalhadores readequados/readaptados

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encontravam-se na faixa etária dos 40 aos 65 anos de idade e a maioria era do sexo feminino.

Todos estudaram mais que sete anos e possuíam renda mensal superior a dois salários

mínimos.

No segundo estudo(12)

, os trabalhadores apresentaram média de 50,3 anos de idade, a

maioria era do sexo feminino e trabalhava no hospital há mais de 16 anos. Observou-se que o

perfil dos trabalhadores readaptados ou reabilitados foi do sexo feminino, corroborando

outros estudos que encontraram os mesmos resultados(8,13)

. A maior prevalência feminina,

provavelmente, deve-se a uma combinação de fatores biológicos, psicossociais e culturais,

que vão, desde a múltiplos papéis, com interfaces trabalho-família, à desigualdade de gênero

que permeia as atividades profissionais(14)

.

Quanto à escolaridade, dentre os profissionais de enfermagem readaptados, 40% eram

auxiliares de enfermagem(12)

, o que se confirma em outros estudos(15-16)

. Uma pesquisa

realizada por Bernardes (2014) revela que 80,9% das ocorrências de readaptação no trabalho

diziam respeito aos auxiliares de enfermagem.

Ao avaliar a qualidade de vida, percebeu-se que a dor corporal, vitalidade e saúde, em

geral, receberam os piores escores na avaliação(11)

. Constatou-se que os principais motivos,

em relação à readaptação, eram de ordem física e psíquica. Fatores como os esforços

repetitivos e ritmos acelerados de trabalho contribuíram para a fadiga corporal e o desgaste

dos trabalhadores, com o passar do tempo. Esse processo remeteu o trabalhador a dificuldades

de realizar as atribuições da sua competência, essa situação acarretou o comprometimento

psíquico dos profissionais de enfermagem(18-19)

.

Dentre os motivos de adoecimento, predominantemente estavam os de ordem física.

As Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) apresentaram-se como as

queixas mais frequentes entre os trabalhadores de enfermagem, uma vez que estes

desempenhavam atividades desgastantes, em pé, com manipulação de peso excessivo, devido

à realização de ações de cuidado direto aos pacientes(20)

.

Nesse contexto, destaca-se situação semelhante em outros países. Nos Estados Unidos

da América (EUA), grande parte da força de trabalho encontra-se exposta a riscos

ergonômicos associados a lesões músculo-esqueléticas (LME). O movimento repetitivo foi

identificado como risco ergonômico em 27% dos trabalhadores dos EUA(21)

.

Essas situações podem ter relação com a quantidade de demanda e jornada de trabalho

resultando em elevadas cargas de trabalho e suas consequências, sendo fator considerável no

adoecimento dos trabalhadores de enfermagem, que compromete, tanto a saúde e a vida destes

como a dos pacientes e a qualidade da assistência prestada(20)

. O trabalho de enfermagem por

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32

ser predominantemente exercido por mulheres, e estas muitas vezes possuírem dupla ou tripla

jornada, em função das atividades domésticas e da maternidade, gera sobrecarga e desgaste,

tanto físicos quanto mentais(18)

.

Em estudo, apresentado pelo Conselho Federal de Enfermagem, os profissionais de

enfermagem representam mais de 1.800.000 de um total de 3,5 milhões de trabalhadores de

saúde no Brasil(22)

. Os dados da pesquisa mostram, que mais de 660 mil trabalhadores, do

setor público, têm renda mensal de até 3,5 salários mínimos(22)

. Nos serviços privados, em

situação de “subsalário” encontram-se, 22,1%, ou seja, mais de 1/5 da força de trabalho que lá

atua, tem rendimentos declarados de até 1,2 salário mínimo mensal. Assim, pode-se afirmar

que há indícios de subemprego na equipe categoria neste setor(22)

. Condição semelhante,

acontece aos trabalhadores do setor filantrópico, os quais representam um contingente de mais

de 65 mil trabalhadores (23,7%), com salários entre 1,2 e 2,2 salários mínimos(22)

.

Portanto, os achados do presente estudo revelaram o perfil do trabalhador de

enfermagem readaptado, sendo a maioria mulheres, de meia idade, auxiliares ou técnicas de

enfermagem. O principal motivo que levou à readaptação está relacionado a limitações por

distúrbio físico.

Processo de afastamento do trabalho

Nessa categoria, emergiram as vivencias dos trabalhadores em processo de

afastamento do trabalho e as práticas de reabilitação profissional. Estas representaram a

percepção dos sentimentos da incapacidade e da quase “inutilidade” daqueles trabalhadores

que não conseguiram acompanhar as exigências do trabalho ou, ainda, buscar alternativas

laborais que apontassem para outras potencialidades produtivas (23)

.

Os trabalhadores, ao saírem da cadeia produtiva, afastaram-se de um lugar

conquistado por eles no processo de trabalho enquanto sujeitos trabalhadores. O adoecimento

fez com que seu status social sofresse uma ruptura. Ainda, sentiram-se ameaçados em relação

ao poder aquisitivo, invadidos por um sentimento de que falharam(23)

, sentimento que foi

alimentado de uma “fragilidade” construída a partir de uma percepção de inferioridade em

relação a seus pares, por não poderem mais dar conta da sua atividade ou por possuírem várias

limitações.

Estudo destaca que os participantes mencionaram que tiveram perdas com a doença,

pois deixaram de ter autonomia e autoestima, restringiram a vida social, perderam a

estabilidade financeira e limitaram seus papéis familiares. O que mais chamou a atenção foi o

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33

relato de perda financeira, presente em todos os casos, e que foi capaz de interferir na

dinâmica da convivência familiar(23)

.

Em pesquisa realizada em hospital geral, 33% dos trabalhadores readaptados,

permaneceram nas atividades de enfermagem com algumas limitações, enquanto 44% foram

readaptados em funções de escriturários das clínicas, e 23% dos trabalhadores permaneceram

afastados. Os resultados denotaram a complexidade do processo de trabalho em enfermagem

nas categorias: “organização do trabalho”, “trabalho em equipe”, “afastamento e readaptação

funcional” e “gerenciamento da equipe”, gerando sugestões para a melhoria dos processos de

trabalho(24)

.

Desse modo, o trabalho possui uma dimensão material que resulta na gratificação

financeira, proporcionando bens entendidos como necessários a uma vida saudável, assim

como uma dimensão individual, sugestiva à alegria motivada pela atividade profissional, a

qual beneficia a autoestima, a autoconfiança e a estabilização emocional, e define a identidade

e o reconhecimento social(25)

.

Assim, ressalta-se a relevância frente à intervenção que auxilia o indivíduo na tomada

de consciência do dano ou doença, bem como a realização da recuperação e do investimento

em si próprio. Posteriormente ao adoecimento, há necessidade de seguir em frente. Nesse

sentido, estabelece-se um planejamento de vida coerente com a realidade, limitações e

habilidades, para novos desafios. Desta forma, necessita-se que esses profissionais

reabilitados, junto ao cenário do trabalho, mantenham-se vigilantes, não somente sobre um

corpo atingido, mas também sobre os aspectos psicológicos do ser(19)

.

Em outra perspectiva, é recomendado demonstrar que o trabalho está intimamente

ligado às demais dimensões da vida, como o convívio familiar e social, vindo a influenciar as

condições de saúde e de adoecimento das pessoas(25)

. Em casos de incapacidade para o

trabalho, essa situação poderá resultar em isolamento social e afastamento da própria família,

pelo sentimento de desvalorização de si mesmo.

Frente a estes achados, confirmam-se os dados da Previdência Social, de que as

principais causas de afastamento do trabalho são problemas osteomusculares seguidos de

distúrbios psiquiátricos. No entanto, entre os trabalhadores que estavam em processo de

readaptação, as pesquisas apontam, que 50,7 estavam relacionados a transtornos mentais e

comportamentais(8-13)

. Ao notar-se que os distúrbios psíquicos e comportamentais foram os

mais recorrentes, pondera-se que estes desgastes podem resultar da exposição às cargas de

trabalho, somatizando situações ou disfunções psicoemocionais junto ao seu cotidiano(13,18)

.

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34

Outro aspecto relevante, conforme o estudo de Lucca, Rodrigues (2015), diz respeito

às implicações causadas pelos afastamentos dos trabalhadores de enfermagem por

adoecimento, visto que a pesquisa realizada revelou que estes profissionais se afastaram do

trabalho mais que os outros, e que o serviço hospitalar que exerciam era ininterrupto. Sendo

assim, uma eventual ausência de um profissional da enfermagem poderá sobrecarregar a

equipe, uma vez que a instituição de saúde não prevê substituição do profissional nessas

situações de imprevisibilidade.

A ausência no trabalho, na contemporaneidade, é um problema relevante em diferentes

países e ocasiona onerosidade para as instituições(27)

. Somam-se a essa situação, outros

problemas gerenciais, no que tange à readaptação funcional, uma vez que esse trabalhador

estará com sua saúde fragilizada e diretamente, ou não, prestará assistência a pessoas doentes

e em sofrimentos. Os gerentes e trabalhadores não são oponentes, trabalham pelo mesmo

objetivo, para a melhoria da saúde das pessoas, por isso, aliados, necessitam encontrar

maneiras de evitar o adoecimento no trabalho e se houver necessidade de readaptar o

trabalhador, que seja uma estratégia salutar para todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O perfil dos trabalhadores readaptados trazido pelos estudos analisados caracteriza-se

pelo predomínio do sexo feminino, possuindo, em média, 50 anos de idade, pertencentes à

equipe de enfermagem, na categoria de nível médio/técnico. Sendo, os principais motivos

relacionados à readaptação foram de ordem física e psíquica, decorrentes de fatores como a

extensa jornada de trabalho, a sobrecarga e a baixa remuneração.

Neste sentido, a saúde do trabalhador é afetada e a qualidade da assistência prestada é

comprometida. Além disso, os trabalhadores de enfermagem apontaram as perdas com a

readaptação funcional, em função das limitações, as quais ocasionaram o afastamento do

trabalho.

Outro aspecto relevante é a assistência psicológica ao trabalhador, complementando as

intervenções físicas na reabilitação profissional. O suporte psicológico é importante em

qualquer situação de afastamento do trabalho, contribuindo na redução do tempo de

afastamento, estimulando as chances de retorno ao trabalho.

Assim, têm-se um desafio em promover mudanças, frente ao comportamento, tanto

por parte das organizações quanto na valorização deste indivíduo frente à readaptação no

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35

cenário de trabalho, tornando-se, então, importante a realização de estudos que abordem o

tema e aprofundem os motivos dos afastamentos e o processo de readaptação do trabalhador.

Com esse estudo pretendeu acrescentar relevância científica em relação à temática,

pois constituiu-se em uma ampliação ao conhecimento existente, além de, socialmente,

contribuir para a compreensão da complexidade que envolve a readaptação funcional e a sua

relação com a organização do trabalho.

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38

3 PERCURSO METODOLÓGICO

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.

Caminhando e semeando, no fim terás o que colher

(Cora Coralina).

Neste capítulo apresenta-se a metodologia utilizada para o desenvolvimento da

presente pesquisa, sendo descritos o tipo de estudo, cenário, participantes, geração e análise

de dados, considerações éticas e devolução dos resultados.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Para atender ao objetivo proposto, este estudo norteou-se, metodologicamente, como

uma pesquisa de campo, descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa. As pesquisas

exploratórias têm por finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias;

proporcionam maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito;

possuem menor rigidez no planejamento; apresentam visão geral acerca de determinado fato

(GIL, 2010).

A abordagem qualitativa considera a história das relações, representações, crenças,

percepções e opiniões como produto das interpretações que os humanos fazem a respeito de

como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2014).

Essa mesma cientista social, aponta que na pesquisa qualitativa, é importante a

objetivação, atribuindo a esta a responsabilidade da criação de um discurso crítico, porém sem

a incursão excessiva de juízos de valor. As técnicas de preparação do objeto do estudo, a

coleta, os métodos e o trabalho com os dados que permitem ao pesquisador ter uma visão

crítica de seu trabalho (MINAYO, 2014).

Sendo assim, os estudos qualitativos em enfermagem permitem compreender questões

de comportamento dos seres humanos, sobre como agem, pensam e reagem diante das

situações; possibilita compreender fenômenos complexos como os sentimentos, os valores e

os medos dos eventos vivenciados.

Ao resgatar a questão norteadora deste estudo, em que se propõe a valorizar a

percepção do enfermeiro que recebe o funcionário a ser readaptado, percebeu-se a

necessidade de se utilizar o método qualitativo, já que atende melhor “a investigações de

grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias sociais, sob a ótica dos atores, de

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39

relações e para análises de discursos e documentos” (MINAYO, 2014, p. 57). Desta maneira,

o que se pretendeu foi a busca pela compreensão das experiências e do vivido dos

participantes da pesquisa, por intermédio de suas manifestações. Ainda, destaca-se que o

método propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e

categorias durante a investigação (MINAYO, 2014).

3.2 CENÁRIO DO ESTUDO

O estudo foi desenvolvido no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), que se

caracteriza como de nível terciário de complexidade, situado no interior do Rio Grande do

Sul, Brasil. Desde sua fundação, em 1970, o Hospital Universitário é referência em saúde para

a região centro do Estado.

O Hospital Universitário de Santa Maria tem por finalidade desenvolver ensino,

pesquisa e extensão, por meio da assistência à comunidade na área da saúde. Localiza-se no

Campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no centro geográfico do Estado do

Rio Grande do Sul, RS, Brasil, sendo referência de média e alta complexidade para região

centro-oeste do Estado.

Os atendimentos prestados na comunidade são realizados nos 403 leitos, sendo 354 da

Unidade de Internação e nos 49 leitos da Unidade de Tratamento Intensivo, além das 58 salas

de ambulatório, 10 salas para atendimento de emergência, nas 07 salas do Centro Cirúrgico e

nas 02 salas do Centro Obstétrico (HUSM, 2016).

No entanto, esta Instituição de Saúde vem sofrendo alterações em sua estrutura, pois

em dezembro de 2013, a UFSM, assinou o contrato de gestão especial gratuita, envolvendo a

UFSM e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). A partir daí a gestão do

HUSM passou a se dar pela EBSERH - empresa pública vinculada ao Ministério da

Educação, criada por meio da Lei Nº 12.550, de 15 de dezembro de 2011. Dentre as diversas

atribuições da empresa, uma delas refere-se à administração de unidades hospitalares, bem

como de prestar serviços de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio

diagnóstico e terapêutico à comunidade, no âmbito do SUS (BRASIL, 2011d).

A equipe de saúde, que presta atendimento na instituição, é composta por:

169 docentes; 1.099 funcionários do Regime Jurídico Único (RJU) e 706 da Empresa

Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), em nível de apoio, médio e superior; 597

funcionários de serviços terceirizados, além de 2.255 alunos-estagiários de graduação da

UFSM, estagiários, residentes, mestrandos e doutorandos (HUSM, 2016).

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Nesta pesquisa, os dados foram coletados em diferentes unidades de trabalho do

HUSM, locais estes em que os participantes do estudo trabalhavam.

3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO

Participaram do estudo 19 enfermeiros do HUSM, sendo eles trabalhadores dos

Ambulatórios Adulto e Pediátrico; Serviço de Atenção Domiciliar do Hospital Universitário

(SADHUSM); Serviço de Radioterapia; Serviço de Higiene e Limpeza (SHL); Unidade de

Gestão de Riscos Assistenciais (UGRA), Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar

(NVEH), Unidade de Vigilância em Saúde (UVS), Hemocentro, Centro de Material e

Esterilização (CME), Sala de Recuperação Intermediária (SRI), Unidade de Cirurgia (UC),

Turma do Ique, Serviço de Pneumologia e Métodos Gráficos.

Para a seleção dos participantes, levou-se em conta os enfermeiros vinculados ao

Regime Jurídico Único, que exerciam atividades, em unidades de atuação em que haviam

trabalhadores alocados com restrição funcional. Sendo, a gerência de enfermagem a

informante dos locais. Como critérios de inclusão, foram considerados os enfermeiros

vinculados ao Regime Jurídico Único (RJU), lotados nas unidades descritas acima. O fato de

elencar enfermeiros desse Regime de Trabalho, deve-se ao tema de estudo o qual refere-se a

readaptação funcional de trabalhadores em regime estatutário.

Primeiramente foi entrevistado o enfermeiro que estava há mais tempo na unidade

sendo, posteriormente, solicitado a este que indicasse outro enfermeiro para ser entrevistado e,

assim, sucessivamente, técnica conhecida como snowball ou “bola de neve”. Esta técnica é

uma forma de amostra não probabilística utilizada em pesquisas sociais, em que os

participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que, por sua vez, indicam

outros, até que seja alcançado o objetivo proposto, ou seja, o ponto de saturação. Este é

atingido, quando os novos entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em

entrevistas anteriores, sem acrescentar novas informações relevantes à pesquisa

(APPOLINÁRIO, 2012). Foram excluídos enfermeiros que se encontravam em licença de

qualquer natureza no momento da coleta de dados.

Das enfermeiras indicadas, apenas duas não concordaram em participar da pesquisa,

porém indicaram outra enfermeira do setor para ser participante do estudo, conforme previsto

na técnica escolhida para coleta de dados, procedeu-se a investigação com outra representante

do setor, conforme critério de inclusão. Sendo assim, todos os setores os quais possuem

trabalhadores em readaptação, tiveram enfermeiros entrevistados, pois entendeu-se que cada

local de atuação tinha uma realidade diferente, evitando, assim, vieses no estudo.

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41

3.4 COLETA DOS DADOS

A coleta de dados aconteceu entre os meses de maio e julho de 2016, após a

autorização Institucional do HUSM (ANEXO A) e do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Santa Maria (ANEXO B). Para a efetivação da coleta, realizou-se

contato pessoal com os enfermeiros, prováveis participantes. Após, apresentou-se a proposta

da pesquisa, com a intenção de sensibilizar os enfermeiros para a participação no estudo.

A coleta de dados deu-se por meio de entrevista semiestruturada (APÊNDICA A), a

qual apresentou questões fechadas, relativas à caracterização do grupo em estudo, e questões

abertas, norteadoras da temática em questão. A entrevista é utilizada no processo de trabalho

de campo, no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de

informações sobre determinado tema científico (MINAYO, 2014).

A entrevista, possibilita a obtenção de informações que tratam da reflexão do próprio

sujeito sobre a realidade que vivencia e a que os cientistas sociais costumam denominar de

subjetivos e só podem ser conseguidos com a contribuição da pessoa (MINAYO, 2014). A

quantidade de entrevistas realizadas obedeceu ao critério de saturação que, para Minayo

(2014), se dá no momento em que o pesquisador consegue compreender a lógica interna do

grupo que está investigando e as informações começam a se repetir. Outrossim, a coleta dos

dados pode ser concluída, quando os dados apresentam consistência para atender os objetivos

propostos no estudo.

O roteiro utilizado foi elaborado pela pesquisadora e professora orientadora, o qual

possibilitou a explicação, de forma abrangente, das questões que a pesquisadora gostaria de

abordar no campo, ou seja, sobre as percepções dos enfermeiros com relação ao trabalhador

de enfermagem em readaptação; as estratégias utilizadas por eles e como eles conduziram a

avaliação do processo de trabalho dos membros da equipe. Essas questões foram construídas a

partir de suposições ou pressupostos decorrentes da definição do objeto de pesquisa.

As entrevistas foram realizadas em sala reservada, conforme disponibilidade de local e

horário do participante e tiveram duração média de 40 minutos. Todas as entrevistas foram

gravadas digitalmente e transcritas na integra, para posterior análise.

3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Foi utilizada a Análise de Conteúdo Temática proposta por Minayo (2014), que

significa estabelecer núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou

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constância signifique algo para o objeto que está sendo analisado. Para a autora, a Análise de

Conteúdo “diz respeito a técnicas de pesquisa que permitem tornar replicáveis e válidas

inferências sobre dados de um determinado contexto, por meio de procedimentos

especializados e científicos” (MINAYO, 2014, p. 303).

1ª etapa: na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa. A pré-análise

foi decomposta nas seguintes etapas: leitura flutuante de todo o material, na qual, visou-se

conhecer o texto. Constituição do corpus: referiu-se à totalidade do universo estudado, foi

respeitada e correlacionada às seguintes normas de validade qualitativa: exaustividade,

representatividade, homogeneidade e pertinência. Formulação e reformulação de hipóteses

e objetivos: teve-se a retomada da etapa exploratória, a partir da leitura exaustiva do material

e da reformulação de hipóteses, possibilitando a retomada dos rumos interpretativos ou a

abertura de novas indagações. A fase da pré-análise encerrou-se com a preparação do

material, ou seja, a reorganização dos dados, já codificados, escuta e revisão das falas

transcritas, até impregnar-se de seu conteúdo. A seguir, foram coloridos, com cores diferentes,

as ideias semelhantes, sempre voltadas para o objetivo do estudo. Essa etapa foi bastante

trabalhosa e de reflexões, no entanto, contribuiu muito para a organização do corpus da

pesquisa e para o aprofundamento dos dados coletados.

2ª etapa: exploração do material: buscou-se alcançar a compreensão do texto, a partir

da construção de categorias, consistindo num processo de redução do material, isto é, das

palavras ou das expressões significativas. Destaca-se que, neste processo de categorização dos

dados, criou-se, então, palavras-chave (cada expressão/pré-categoria foi caracterizada por

uma cor, a qual era marcada em cor diferenciada nas folhas das entrevistas impressas) para

agrupar os dados, conforme a temática que emergia. Na sequência, todas as entrevistas foram

impressas, novamente, para uma penúltima releitura objetivando-se uma pré-categorização.

Após, foi realizada a agregação das categorias temáticas em arquivo no computador. Assim,

com base na análise dos dados em profundidade e exaustividade, emergiram as seguintes

categorias: necessidades de um processo formal; concepção sobre o trabalhador; facilidades

de reinserção ao trabalho e fragilidades de reinserção ao trabalho; gerência e planejamento de

ações do cotidiano deste trabalhador, em conformidade com as restrições; acolhimento e

cuidado no cenário laboral; percepção dos enfermeiros sobre a liderança e avaliação como

ferramenta de gestão.

3ª etapa: a terceira e última etapa constituiu-se no tratamento e interpretação dos

resultados obtidos. Nesta, fez-se a interpretação dos resultados da investigação.

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3.6 ASPECTOS ÉTICOS

Foi assegurada e valorizada uma condução ética durante todo o processo desta

pesquisa. Para tanto, foram observadas as normas da Resolução nº 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012e), que regem as pesquisas

envolvendo seres humanos. O projeto foi registrado no Gabinete de Projetos do Centro de

Ciências da Saúde, além de ter sido solicitada a autorização da Gerencia de Ensino e Pesquisa

(GEP) do HUSM para a coleta de dados na instituição. A pesquisa passou pela avaliação do

Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM (CEP), o qual foi aprovado sob o Certificado de

Apresentação para Apreciação Ética, nº 53557916.4.0000.5346.

Os participantes da pesquisa fizeram parte do estudo somente após a leitura do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B) e mediante concordância com este,

ficando (após coleta de assinatura e rubrica em todas as laudas) de posse de uma via deste

documento e a outra via em posse da pesquisadora, em conformidade com a Resolução 466,

de dezembro de 2012 (BRASIL, 2012e), que rege pesquisas envolvendo seres humanos.

Com relação ao Termo de Confidencialidade (APÊNDICE C), este foi assinado pela

pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa, em que orientador e mestranda

comprometeram-se em preservar a privacidade dos entrevistados bem como utilizar os dados

do estudo somente para fins desta pesquisa.

No intuito de preservar o caráter confidencial da pesquisa, os participantes foram

nomeados por meio da letra E, referindo-se à palavra enfermeiro e por números arábicos,

conforme a ordem de entrevista, compondo os códigos E1 a E19, para a garantia do direito ao

sigilo do grupo de enfermeiros.

Os dados coletados foram gravados por meio de 02 gravadores de áudio mp4, com o

consentimento dos participantes. As gravações foram transcritas e guardadas em um pen-drive

e entregues para a coordenadora da pesquisa, devendo ser preservadas por 05 anos e depois

inutilizadas.

Dentre os benefícios que esta pesquisa pôde trazer aos participantes foi a de

oportunizar momentos de reflexão, a partir das entrevistas acerca do processo de readaptação

funcional do trabalhador de enfermagem, desta forma, contribuindo para melhorar o processo

de trabalho.

Entre os riscos poderia acontecer a possibilidade da temática em questão apresentar

inquietude ou ansiedade para os participantes ao remetê-los para a vivência desse processo.

Por este motivo, no decorrer da pesquisa, foi esclarecido aos participantes que se

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apresentassem algum desconforto, sofrimento, ansiedade ou inquietude, seriam acolhidos

pelas pesquisadoras e poderiam deixar de participar da pesquisa. Caso fosse necessário, e o

participante desejasse, seria atendido junto ao serviço único de saúde. A população-alvo da

pesquisa teve total autonomia em participar do estudo, ou não, bem como desistir, a qualquer

momento, durante a entrevista. No entanto, isto não ocorreu, não havendo necessidade de

diferentes intervenções.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A COISA

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa...

e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita

(Mario Quintana).

Os resultados desta pesquisa incluíram, primeiramente, a caracterização dos

participantes da pesquisa, sendo: 19 enfermeiros, um, do sexo masculino e 18, do sexo

feminino. Apresentavam idade entre 31 a 40 anos (três enfermeiros), 41 a 50 anos (cinco

enfermeiros), 51 a 60 anos (10 enfermeiros) e com mais de 60 anos, um enfermeiro.

Os enfermeiros participantes da pesquisa possuíam tempo de atuação na instituição de

cinco a 10 anos (quatro enfermeiros); de 11 a 20 anos (quatro enfermeiros); de 21 a 25 anos

(seis enfermeiros); mais de 26 anos trabalhando no HUSM (cinco enfermeiros). Deste grupo

de profissionais, 18 possuíam pós-graduação, sendo: três possuíam doutorado, cinco eram

mestres e 10, possuíam especialização.

Com relação à condição de saúde, a maioria dos participantes (12 enfermeiros) disse

que não possuía problemas de saúde que interferissem em seu trabalho e sete enfermeiros

disseram possuir problema de saúde; destes, quatro foram classificados como

psicoemocionais; dois, como doenças físicas e um, possuía doença física e mental. Todos

afirmaram que realizavam tratamento, conforme a necessidade.

Após a análise dos dados oriundos das entrevistas, foi possível estabelecer, de acordo

com Minayo (2014), uma organização das informações da qual emergiram categorias

temáticas, as quais respondem os objetivos deste estudo. Os resultados dessa pesquisa foram

apresentados na forma de três artigos originais. A apresentação, sob a forma de artigos,

configura-se, de acordo com a norma de elaboração de trabalhos científicos, vigente na

Universidade Federal de Santa Maria.

Para melhor compreensão, apresenta-se um quadro, a seguir, com a organização dos

artigos.

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Quadro 1 – Artigos que compõem os resultados da pesquisa: “percepção do enfermeiro acerca

da readaptação funcional do trabalhador da enfermagem sob a ótica da gestão”. Santa Maria,

Rio Grande do Sul, 2017

TÍTULO DO ARTIGO OBJETIVO CATEGORIAS

Olhar do enfermeiro para o

trabalhador de enfermagem em

readaptação funcional: subsídios

para a gestão.

Conhecer as percepções dos

enfermeiros sobre a

readaptação funcional do

trabalhador de enfermagem

em um hospital universitário.

Percepção do enfermeiro

sobre a readaptação

profissional.

Facilidades e dificuldades de

retorno ao trabalho.

Recepção do trabalhador com

restrição de saúde no retorno

ao trabalho.

Estratégias utilizadas por

enfermeiros na readaptação

funcional de trabalhadores de

enfermagem.

Conhecer as estratégias dos

enfermeiros ao receber o

trabalhador de enfermagem

em readaptação funcional.

Acolhimento e cuidado com o

trabalhador em readaptação no

cenário laboral.

Planejamento do processo

de readaptação do

trabalhador de enfermagem

Avaliação de desempenho do

trabalhador em readaptação

funcional realizada pelo

enfermeiro como ferramenta de

gestão

Descrever o processo de

avaliação de desempenho

realizado pelo enfermeiro

com relação ao trabalhador de

enfermagem em readaptação

funcional de um hospital

universitário.

Comunicação como uma das

estratégias utilizadas pelo

enfermeiro ao avaliar.

Realizando avaliação

informal.

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4.1 ARTIGO 1

OLHAR DO ENFERMEIRO PARA O TRABALHADOR DE ENFERMAGEM EM

READAPTAÇÃO FUNCIONAL: SUBSÍDIOS PARA A GESTÃO2

Resumo

Objetivo: conhecer as percepções dos enfermeiros sobre a readaptação funcional do

trabalhador em um hospital universitário. Metodologia: estudo descritivo, exploratório, de

abordagem qualitativa, no qual foram entrevistados 19 enfermeiros vinculados ao Regime

Jurídico Único. A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio e julho de 2016, por meio

de entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados e interpretados, conforme a análise

de conteúdo temática. Resultados: as informações convergiram para três categorias:

percepção do enfermeiro sobre a readaptação profissional, facilidades e dificuldades de

retorno ao trabalho, recepção do trabalhador com restrição de saúde no seu retorno ao

trabalho. Conclusão: os enfermeiros são capazes de estimular as equipes para acolher o

trabalhador com restrições de saúde no seu retorno ao trabalho, gerenciar os conflitos e

adaptar esse trabalhador ao setor conforme suas necessidades e restrições de saúde, facilitando

o processo de readaptação.

Descritores: Enfermagem; Gestão em saúde; Recursos humanos em saúde; Saúde do

trabalhador; Readaptação ao emprego.

Descritores em inglês: Nursing; Health Management; Health Manpower; Occupational

health; Employment, Supported.

Descritores em espanhol: Enfermería; Gestión en salud; Recursos Humanos en Salud; Salud

Laboral; Empleos Subvencionados.

Introdução

O trabalho possui magnitude e importância na vida dos seres humanos, pois,

precocemente, as pessoas começam a desenvolver algumas habilidades e potenciais que as

conduzirão à determinada profissão e ao modo de garantir o sustento. É por meio do trabalho

2 Artigo pré-formatado para publicação em periódico.

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que as pessoas se inserem na sociedade e constroem as suas relações, garantindo a

manutenção dos seus desejos e aspirações(1)

.

O trabalho pode ser desenvolvido em diferentes cenários, dentre os quais as

organizações de saúde, em que devem ser proporcionadas condições adequadas, para que as

pessoas desenvolvam um trabalho com qualidade, sem sentirem-se desconfortáveis e/ou

desvalorizadas. Por outro lado, os trabalhadores, também, devem estar atentos a este aspecto,

buscando maior equilíbrio entre o profissional e o pessoal(2)

.

No âmbito das instituições hospitalares, a maior representatividade de trabalhadores é

atribuída à enfermagem. A realidade vivenciada por estes trabalhadores vem gerando agravos

à sua saúde, afastando-o do trabalho e tendo sua gênese, com frequência, no ambiente

trabalho, na organização laboral ou nas relações interpessoais, podendo causar prejuízo não só

aos profissionais, mas também às instituições assistenciais(3)

.

Diante disso, é necessário que se pense em como minimizar essas situações de agravos

e afastamentos, adotando modelos de reabilitação profissional que auxiliem o trabalhador no

retorno ao labor. Ao ser reduzida a capacidade de atuação das pessoas, as condições

ambientais das organizações podem ser alteradas, de modo a ir ao encontro das habilidades

dos trabalhadores(4)

.

A saúde do trabalhador é apontada como uma das prioridades junto aos serviços, pois

repercute na ocorrência de absenteísmo e, ainda, em situações em que se faz necessária a

readaptação funcional(5)

. No caso dos servidores públicos federais, o Regime Jurídico Único

(RJU) prevê a readaptação profissional, em cargo de atribuições afins, respeitando a

habilitação exigida, o nível de escolaridade e a equivalência de vencimentos e, na hipótese de

inexistência de cargo vago, o servidor poderá exercer suas atribuições como excedente, até a

ocorrência de vaga(6)

.

O conceito de readaptação adotado neste estudo será o previsto na Lei n. 8112, de

1990, a qual define que: “readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e

responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou

mental verificada em inspeção médica"(7)

.

Nesse contexto, acredita-se que seja premente a ampliação dos estudos sobre

readaptação funcional, de modo que se possa subsidiar os enfermeiros em suas práticas

gerenciais para melhor conduzir o processo de retorno ao trabalho. Nesse sentido, espera-se

que a pesquisa contribua para o conhecimento existente, acerca do tema proposto, gerando

benefícios, no que tange à ciência da enfermagem, para a facilitação no processo de

readaptação funcional do trabalhador e na gestão das organizações de saúde.

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Nessa perspectiva, buscou-se o aprofundamento sobre a readaptação funcional e seus

variados contextos, de modo que possam subsidiar os enfermeiros em suas práticas gerenciais,

para melhor conduzir esse processo, resultando, em um retorno ao trabalho mais salutar para

os envolvidos, sejam os trabalhadores com restrição de saúde, os gerentes ou a instituição na

qual estejam inseridos.

Diante do exposto e buscando uma melhor compreensão do processo de readaptação

funcional, delineou-se a seguinte pergunta de pesquisa: quais as percepções de enfermeiros

sobre a readaptação funcional do trabalhador de enfermagem na unidade de saúde? Assim, o

objetivo deste estudo foi conhecer as percepções dos enfermeiros sobre a readaptação

funcional do trabalhador de enfermagem em um hospital universitário.

Método

Tratou-se de um estudo qualitativo, de caráter descritivo realizado em um hospital

universitário do sul do Brasil, referência em diferentes especialidades na região, que abrange

em torno de 1,5 milhões de habitantes.

Participaram do estudo 19 enfermeiros, sendo eles trabalhadores de diferentes serviços

ou unidades de apoio: os Ambulatórios Adulto e Pediátrico, Serviço de Atenção Domiciliar

Serviço de Radioterapia, Serviço de Higiene e Limpeza, Unidade de Gestão de Riscos

Assistenciais, Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar, Unidade de Vigilância em

Saúde, Hemocentro, Centro de Material e Esterilização, Sala de Recuperação Intermediária,

Unidade de Cirurgia, Turma do Ique, Serviço de Pneumologia e Métodos Gráficos.

Para a seleção dos participantes, utilizou-se como critério de inclusão, enfermeiros

vinculados ao Regime Jurídico Único, que exerciam atividades em unidades nas quais haviam

trabalhadores com restrições de saúde alocados. Ainda ressalta-se que a gerência de

enfermagem informou quais eram esses locais, sendo escolhido o participante que atuava há

mais tempo na unidade, para que indicasse o próximo a ser entrevistado, técnica conhecida

como snowball ou “bola de neve”.

A técnica da “bola de neve” é uma forma de amostra não probabilística utilizada em

pesquisas sociais, em que os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes

que, por sua vez, indicam outros participantes e, assim, sucessivamente, até que seja

alcançado o objetivo proposto, ou seja, o ponto de saturação. Este é atingido quando os novos

entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem

acrescentar novas informações relevantes à pesquisa(8)

. Foram excluídos os enfermeiros que

se encontravam em licença de qualquer natureza no momento da coleta de dados.

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Foi escolhido, como método de coleta de dados, a entrevista semiestruturada, com

itens relativos à caracterização dos enfermeiros e questões abertas, norteadoras à temática em

questão. As entrevistas foram realizadas, entre maio e junho de 2016, com um tempo de

duração de aproximadamente 40 minutos, sendo gravadas e transcritas. Posteriormente, foram

analisadas por meio da análise de conteúdo temática da proposta operativa de Minayo,

dividindo-se nas etapas de pré-análise, exploração do material, tratamento e interpretação dos

resultados obtidos. Esta última permitiu ao pesquisador entender as estruturas de relevância e

as ideias centrais, com a elaboração de uma síntese para a construção de um relatório final(9)

.

Os princípios éticos foram assegurados, conforme a Resolução nº 466/12(10)

, do

Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, e o projeto foi aprovado pelo Comitê

de Ética local, sob o nº 1.452.316 e CAAE nº 53557916.4.0000.5346, os participantes da

pesquisa somente fizeram parte do estudo após a concordância e assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

No intuito de preservar o caráter confidencial da pesquisa, os participantes foram

nomeados por meio da letra E, referindo-se à palavra enfermeiro e por números arábicos,

conforme a ordem de entrevista, compondo os códigos, E1, E2, E3, E4 e, assim,

sucessivamente.

Resultados e discussão

Dos 19 participantes do estudo verificou-se que 18, eram do sexo feminino e um, do

sexo masculino. Apresentavam idade entre 31 a 40 anos (três enfermeiros), 41 a 50 anos

(cinco enfermeiros), 51 a 60 anos (10 enfermeiros) e com mais de 60 anos, um enfermeiro.

Os enfermeiros participantes da pesquisa possuíam tempo de atuação na instituição de

cinco a 10 anos (quatro enfermeiros); de 11 a 20 anos (quatro enfermeiros); de 21 a 25 anos

(seis enfermeiros); mais de 26 anos trabalhando no HUSM (cinco enfermeiros). Deste grupo

de profissionais, 18 possuíam pós-graduação, sendo: três possuíam doutorado, cinco eram

mestres e 10, possuíam especialização.

Quanto às características relacionadas à saúde, a maioria dos participantes (12

enfermeiros) disse que não possuía problemas de saúde que interferissem em seu trabalho e

sete enfermeiros disseram possuir problema de saúde. Destes, quatro foram classificados

como psicoemocionais; dois, como doenças físicas e um, foi uma associação dos dois

agravos. A partir da exploração do material e interpretação dos resultados, emergiram três

categorias temáticas: percepção do enfermeiro sobre a readaptação profissional; facilidades e

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dificuldades de retorno ao trabalho; recepção do trabalhador com restrição de saúde no

retorno ao trabalho.

Percepção do enfermeiro sobre a readaptação profissional

Os depoimentos que deram origem a essa categoria, sustentam-se, nas percepções dos

enfermeiros sobre o processo de readaptação funcional. Entre os quais, o conceito que define

esse processo, o qual revelou um entendimento parcial dos enfermeiros, se comparado ao

previsto na Lei nº 8112/1990, em sua completude, a qual ampara o trabalhador em processo

de readaptação funcional. Sei que tem que trabalhar na mesma área (E4). Ele necessita de um

outro setor para completar essa sua restrição (E8). Eu entendo que quando uma pessoa

chega com problema físico ou emocional, e não consegue mais ficar no setor que está (E13).

É quando a pessoa, vamos supor, tem algum problema de saúde ou físico, ou psicológico, que

ela não esteja adequada no local e faça uma realocação, uma readaptação em outro local

(E19).

No caso dos servidores públicos federais, o Regime Jurídico Único prevê a

readaptação profissional, que destina ao servidor cargos de atribuição e responsabilidades

compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada

em inspeção médica. A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, respeitada a

habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalência de vencimentos, no entanto, não

determina a requalificação, nem o acompanhamento do trabalhador readaptado(6)

.

Assim sendo, o servidor público que apresentar problemas de saúde que o impeçam de

desempenhar suas atividades laborais em sua plenitude, mas que apresentar condições de

realizar outras atividades condizentes com sua habilitação técnica não será considerado

inválido, não havendo aposentadoria por invalidez(11)

.

Nos depoimentos dos enfermeiros, são ressaltados a discriminação e o preconceito que

o trabalhador de enfermagem em readaptação funcional enfrenta. Essa concepção,

possivelmente, compromete o processo de readaptação. Receber funcionário é difícil. A gente

já tem um preconceito que funcionário, que troca de setor é funcionário problema (E3). Eu

acho que procuro considerar as limitações das pessoas [...], muitas vezes, ele acaba sendo

meio discriminado, por ter ficado afastado (E17).

Em consonância, estudo aponta que mesmo o trabalhador de enfermagem em processo

de readaptação funcional, fazendo parte da equipe, ele se sente isolado. Já que na ocorrência

da troca de setor, o profissional, por vezes, não está qualificado para a nova função, ou é visto

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como um problema. Muitas vezes, as atividades que o trabalhador readaptado irá desenvolver,

são desvalorizadas, ou consideradas menos complexas, com relação as dos demais colegas(5)

.

Outro estudo, realizado em hospital de grande porte que presta atendimento exclusivo

ao Sistema Único de Saúde, localizado na região sul do Brasil, alerta que a população de

trabalhadores em processo de readaptação causa impacto no gerenciamento da equipe, sendo

preciso habilidades e competências para gerenciar de maneira integradora, devido à

magnitude de situações envolvidas(12)

.

Pontua-se no trecho, a seguir, que o enfermeiro observa o trabalhador de enfermagem

em readaptação funcional bastante inseguro ao retornar, nutrindo sentimento de inferioridade

em relação aos seus pares, comprometendo seu desempenho, profissional, dificultando a

adaptação desse servidor ao seu novo setor ou as novas atividades que ele precisa

desempenhar. Eu sempre noto essa pessoa insegura, sem confiança em si mesma, que se julga

sem competência para fazer coisas que a gente sabe que ela tem, eles se acham inferior aos

demais colegas, isso eu tenho percebido bastante (E10). Eu tenho duas funcionárias que

foram readaptadas, uma me dá muito muito trabalho pelo negativismo e tumultua o

relacionamento com as pessoas, mas é muito dedicada no que faz, então a gente trabalha

com a equipe para que consigam aceitar esse problema que ela tem; a outra é extremamente

ansiosa e insegura, mas está fazendo o trabalho dela (E13).

Esses trabalhadores são invadidos por um sentimento de que falharam, de que não

podem acompanhar o ritmo de trabalho, pelo receio de não cumprirem seus compromissos.

Essa posição de estar aquém do esperado produz o medo de serem rejeitados e excluídos,

demonstrando uma fragilidade construída, a partir da ideia de inferioridade em relação a seus

pares, em situação considerada desigual(13)

.

Nesse contexto, os depoentes sinalizam que o trabalhador em readaptação demonstrou

sentimentos de desconfiança e teve medo de não ser bem acolhido pela equipe por apresentar

restrições de saúde, que poderiam provocar negação do adoecimento dele por parte da equipe.

Esses sentimentos contraproducentes afloram em situações nas quais não ocorre uniformidade

de interesses pelas partes envolvidas: trabalhador, equipe e instituição. Eu percebo que, às

vezes, eles (os trabalhadores readaptados) vêm com uma carga, principalmente, quando têm

uma avaliação negativa, ou não estão mais dando conta, chegam com uma mágoa muito

grande se não foi bem conduzido, mágoa com relação às pessoas, se sentindo injustiçado,

acho que esse é o principal sentimento, às vezes, porque não foi bem conduzido e, às vezes,

porque ele não quer aceitar (sua nova condição de saúde) (E14). Tem a cultura dentro da

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instituição que as pessoas teriam que dar certo nos lugares, então saiu de lá, logo é um

problema (E13).

Os sentimentos envolvidos e os significados atribuídos pelo trabalhador são fatores

consideráveis no processo de readaptação, pois influenciam na satisfação pessoal e na

melhoria das condições de trabalho, bem como no compromisso profissional. Nessa

perspectiva, os sentimentos envolvidos na atividade laboral não devem ser ignorados, e ao

serem apontados problemas pelos trabalhadores, estes devem ser abordados na coletividade,

buscando maneiras de resolvê-los(14)

.

As diferentes perspectivas no retorno desse trabalhador no ambiente laboral foram

consideradas pelo enfermeiro, como denotado na fala a seguir: Percebo, que o processo de

retorno ao trabalho, é um pouco doloroso (E6). Se não é fácil para nós trabalharmos com

essas pessoas, não é fácil para eles, porque eles querem trabalhar, eles têm o direito de

serem produtivos, eles ainda são produtivos apesar de suas limitações. E aí vai colocar

aonde essas pessoas? (E11).

À vista disso, em contraponto ao direito de ocupar um cargo na instituição, o

trabalhador readaptado relata a percepção de que o serviço que lhe é destinado não lhe traz

prestígio, o que afeta diretamente a sua autoestima, afastando-o da equipe(4)

. O trabalho em

equipe torna-se satisfatório, quando envolve a cooperação mútua entre os trabalhadores, pois

favorece e proporciona o crescimento de seus membros, incentivando-os à busca de

conhecimentos e ao desenvolvimento de habilidades, inclusive, na readaptação a uma nova

realidade, bem como no incentivo ao compartilhamento.

Facilidades e dificuldades de retorno ao trabalho

Os temas que tratam das experiências positivas que facilitaram o retorno do

trabalhador de enfermagem readaptado as suas atividades laborais e os comportamentos que

dificultam esse processo são apresentados nessa categoria. Ao considerar que a readaptação

funcional do trabalhador de enfermagem poderá ser um processo sem desgastes, quando há

disposição em receber o trabalhador e boa vontade deste em querer se adaptar a sua nova

condição de saúde e contribuir com seu trabalho. A experiência positiva é quando o

funcionário quer se sentir útil, quer ser readaptado, quer se sentir produtivo e não ser mais

um na escala, ou só cumprir carga horária (E3). A pessoa tem que querer, retornar ao

trabalho, não podemos atribuir somente a chefia as responsabilidades. Esse trabalhador

precisa demonstrar honestidade, pontualidade, interesse, temos que pode confiar no trabalho

desse funcionário (E13).

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Corroborando, pesquisa anterior afirma que os profissionais de enfermagem atribuem

ao seu trabalho o orgulho pelo que fazem e o prazer pela profissão, tendo o cuidado como a

essência, sentindo-se útil e produtivo ao cuidar do outro(14)

.

Ao admitirem gostar do trabalho, tornavam a atividade desenvolvida agradável, pois

são várias as motivações para a escolha profissional, mas a garantia do sucesso e da satisfação

no trabalho dependem muito das condições e organização do trabalho, relacionamento

interpessoal, remuneração e cargo ocupado(15)

.

Na percepção de um dos participantes, os profissionais técnicos de enfermagem,

adaptaram-se melhor que os enfermeiros, após um período de afastamento. O nível médio se

adapta muito melhor, o nível superior não tem essa mesma facilidade, o que me passa que

por serem atividades rotineiras o pessoal de nível médio consegue. Já o enfermeiro, talvez

por retornar após um longo período afastado, ele não consegue gerenciar, eles se sentem

incapazes (E9).

Na gestão dos serviços de enfermagem, a gerência é considerada uma das funções

principais do enfermeiro, pois cabe a ele a responsabilidade de organizar o trabalho e o

pessoal de enfermagem(16)

. Para desempenhar com eficiência e eficácia o seu papel de gerente,

o enfermeiro deve desenvolver e aprimorar habilidades de liderança, ter responsabilidade, ser

flexível, conhecer diferentes estilos de gestão e o clima organizacional(17)

.

Mesmo assim, dificuldades são vivenciadas nos processos de readaptação do

trabalhador de enfermagem, conforme as falas a seguir, sendo, os principais obstáculos os

conflitos entre a equipe e o dimensionamento de pessoal. Não é fácil para nós, enfermeiras do

setor, trabalhar com um colega assim, temos que ter um pouco mais de paciência, a equipe se

queixa e tem razão, mas a colega com restrição também tem razão, então ficamos mediando

conflitos (E8). A gente convive com muitas queixas das outras pessoas que se sentem

sobrecarregadas, porque fazem o seu trabalho e precisam ajudar e supervisionar o colega

que está muito limitado (E11).

De maneira geral, os enfermeiros ocupam funções de coordenação e/ou assistência,

consequentemente, espera-se que exerçam, nas equipes de enfermagem, o papel de líderes,

sendo assim, deseja-se que atuem para o bem-estar da equipe, facilitem o clima de amizade,

gerenciem os conflitos e instiguem sentidos positivos para o trabalho(14)

. Para proporcionar

eficiência no desempenho, o enfermeiro necessita exercer seu papel baseado em uma prática

crítica, reflexiva e participativa, contemplando os anseios da equipe, a satisfação dos usuários

e as exigências da instituição, inclusive, na gestão de conflitos(18)

.

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Para tanto, o enfermeiro demonstra preocupação, conforme seus relatos, com relação

as dificuldades gerenciais, como o cumprimento de escalas, limitações dos trabalhadores, em

função dos tratamentos realizados, mostrando-se sempre vigilante. É complicado, muito

complicado, o trabalho gerencial do enfermeiro nessas situações. Temos que observar muito,

estar muito presente, conversar (E10). Tenho bastante pessoas limitadas a determinadas

atividades. Eu acho difícil para nós fazermos uma escala por exemplo. Elas fazem

tratamentos psiquiátricos e tomam muita medicação controlada, ficam mais lentas, então,

conseguem só receber material (E11). O enfermeiro fica sobrecarregado, ele tem o serviço

dele e precisa dar suporte muitas vezes em atividades que nem são complexas, pela limitação

do outro, afinal ele é responsável pela equipe e pelo serviço (E4).

Em estudo anterior, foi apontado que a readaptação de trabalhadores de enfermagem

causa problemas gerenciais como, por exemplo, na elaboração de escalas de trabalho, visto

que a população de readaptados representava 6% dos trabalhadores de enfermagem(13)

.

Recepção do trabalhador com restrição de saúde no retorno ao trabalho

Nessa categoria, os relatos apontam a compreensão dos enfermeiros que recebem os

trabalhadores de enfermagem em readaptação, no retorno as atividades laborais. Sinalizando

a necessidade de haver um processo formal para receber o trabalhador na instituição.

Também, assinalaram a importância da instituição possuir um planejamento e uma

organização prévia para o processo de readaptação funcional.

Dessa forma, a instituição deveria planejar o retorno do trabalhador ao setor, pensando

em uma unidade com perfil para inseri-lo, estabelecendo-se um diálogo com a gestão, para

que ele possa sentir-se acolhido e produtivo. Antes de realocar, trabalhar com quem vai

receber aquele trabalhador, este servidor ao chegar do seu laudo já estar sabendo, aonde ele

vai ser realocado. É muito triste ficar dois, três, quatro dias aguardando para saber para

aonde vai, [...] é um descaso com o profissional, o deixa mais desestimulado para recomeçar

a trabalhar (E3). Que nos fosse sempre repassado os problemas que ele (o trabalhador) tem

de saúde, que esse trabalhador viesse com tempo suficiente para a gente poder treinar essa

pessoa e ele se inserir na equipe [...]. Que sempre a chefia nos chamasse e comunicasse que

o trabalhador está vindo para nosso setor, porque, às vezes, chega aqui sem aviso prévio

(E19).

Enfermeiras japonesas indicaram a importância de ambientes de trabalho que venham

ao encontro das necessidades dos profissionais de enfermagem, assim como locais de trabalho

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seguro, requisitos necessários para que os mesmos se sintam motivados para o trabalho, além

de propiciar o crescimento pessoal, e as realizações(19)

.

Outro aspecto verbalizado como importante, pelos enfermeiros, alicerçou-se no fato de

eles poderem contar com o respaldo do serviço de psicologia, de forma contínua, junto à

gestão de pessoas, independente da restrição dos trabalhadores, considerando que, estes, ao

ficarem muito tempo afastados, provavelmente, ficam fragilizados. Ter um acompanhamento

da psicóloga, tanto para problema mental, emocional, físico, porque têm pessoas que ficam

muito tempo afastadas (E10). Acho que eles (serviço de psicologia) deveriam chamar mais o

funcionário e conversar com ele, saber com ele está. Passar por avaliação com a psicóloga,

sistematicamente, que eu saiba, isso não existe, os trabalhadores vão para os setores e só se

tiverem uma intercorrência a gente encaminha (E19).

Em consonância com os depoimentos, a atuação do psicólogo no trato com o

trabalhador possui como principal desafio compreender essa pessoa que desenvolve

atividades laborais, as quais trazem repercussões no cotidiano, a fim de garantir a manutenção

da dignidade humana nas relações de trabalho(20)

. Em estudo realizado em um hospital geral

do interior paulista, com a equipe de enfermagem em processo de retorno ao trabalho, foi

sinalizado o despreparo e a pouca visão de integralidade, tanto dos trabalhadores de saúde

como dos profissionais na gestão de pessoas, no que se refere às orientações, ao atendimento e

ao acompanhamento dos aspectos clínicos e na garantia dos direitos do trabalhador

readaptado(5)

.

As informações que conferem conteúdo a essa categoria remetem a temas muito claros

sobre a necessidade da instituição conhecer e planejar o retorno do trabalhador às atividades,

assim como assistir este trabalhador em necessidades que possam vir a ter. Ainda, agrega-se

ao conhecimento sobre o quadro de trabalhadores readaptados uma melhor gestão de pessoas.

Eu acho que o hospital tem que ter um planejamento de todos os que têm limitações, deveria

ter um mapa, para saber como eles estão em seus novos setores, e aonde o hospital tem

carências, em quais áreas, em quais atividades, para ir reinserindo da melhor maneira

possível à medida que forem retornando (E12).

A necessidade de haver uma proposta formal, um fluxo de recepção do profissional

readaptado e dos locais onde foram inseridos contribui para um ambiente seguro e motivador.

Convém destacar a importância da participação dos profissionais nas decisões, conjuntamente

com o planejamento na gestão de pessoas. Esta estratégia pode contribuir para a melhora dos

resultados, no que se refere a reinserção ao trabalho(1)

.

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57

As situações e emoções, por vezes, difíceis e contraditórias vivenciadas pelo

trabalhador na experiência da readaptação funcional, perpassam por momentos negativos,

dolorosos e de sofrimento, podendo ser substituídos por instantes de esperança e de recomeço.

No entanto, em meio a sentimentos ambíguos, o trabalhador readaptado ainda não recebe

apoio emocional necessário, com orientação técnica e suporte de ordem trabalhista e de forma

sistemática, tornando-se premente a definição de um processo que formalize a readaptação

funcional dentro da instituição(5)

.

Considerações finais

A readaptação funcional do trabalhador de enfermagem representa, ainda, um desafio

a ser vencido nos serviços de saúde, uma vez que é um processo bastante complexo. Muitas

são as condições que poderão contribuir, para que o trabalhador com limitações de saúde

possa voltar a produzir, ao dispor de enfermeiros líderes que estimulem o acolhimento das

equipes, gerenciem os conflitos e adaptem esse trabalhador ao setor que condiz com as suas

necessidades e restrições de saúde.

Espera-se contribuir com subsídios teóricos à instituição, fortalecendo a necessidade

de haver a construção de um fluxo para receber o trabalhador em readaptação funcional,

facilitando a trajetória deste ao retornar ao trabalho. Também, acredita-se que o entendimento

a respeito deste trabalhador possa se despir de preconceitos, não influenciando negativamente

em seu processo de trabalho e, por fim, que as experiências positivas sejam compartilhadas

entre as equipes e as fragilidades reconhecidas resultem em readaptações cada vez mais

salutares, tanto para os trabalhadores quanto para os gerentes e as instituições.

O estudo apresentou limitações, uma vez que h a investigação não se estendeu para

outras instituições de saúde, o que impossibilita generalizações, bem como por tratar-se

apenas de um grupo de profissionais, vinculados ao Regime Jurídico Único.

Ainda, assim, o tema investigado pode ser considerado de fundamental importância,

visto que a readaptação funcional bem conduzida influencia a saúde do trabalhador e tem

reflexos diretos na assistência e no fazer da enfermagem, bens maiores desta profissão.

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61

4.2 ARTIGO 2

ESTRATÉGIAS UTILIZADAS POR ENFERMEIROS NA READAPTAÇÃO

FUNCIONAL DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM3

RESUMO

Objetivo: conhecer as estratégias dos enfermeiros ao receber o trabalhador de enfermagem em

readaptação funcional. Metodologia: estudo qualitativo, descritivo exploratório, realizado em um hospital

universitário no sul do Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada com 19

enfermeiros, entre maio e julho de 2016. Para análise e interpretação dos dados, optou-se pela proposta operativa

de Minayo. Resultados: as informações convergiram para duas categorias: Acolhimento e cuidado com o

trabalhador em readaptação funcional no cenário laboral; Planejamento do processo de readaptação do

trabalhador de enfermagem. Conclusões: os enfermeiros perceberam o acolhimento, a negociação e o processo

de comunicação, como estratégias a serem utilizadas para uma melhor readaptação do trabalhador de

enfermagem que retorna ao trabalho, permeado pelo cuidado e respeito às limitações laborais, requerendo uma

integração entre a equipe e o membro readaptado.

Palavras-chave: Enfermagem; Gestão em saúde; Saúde do trabalhador; Readaptação ao emprego; Pesquisa

Qualitativa.

Keywords: Nursing; Health management; Occupational health; Employment, supported; Qualitative Research.

Palabras clave: Enfermería; Gestión de la Salud; Salud del Trabajador; Readaptación al Empleo; Investigación

Cualitativa.

INTRODUÇÃO

As organizações de saúde mostram-se como ambientes de trabalho complexos e que

envolvem a participação de diversos trabalhadores, por isso, também, requerem processos que

otimizem recursos, particularmente, nas instituições hospitalares, pois têm o compromisso de

proporcionar à população atenção à saúde, curativa e preventiva, sob diversificados regimes

de atendimento.1

As mudanças atuais decorrentes da globalização e das novas tecnologias causaram um

aumento na busca por qualidade e produtividade nas organizações, sendo que, frente a esta

realidade, os protagonistas deste cenário são as pessoas que fazem parte da instituição, ou

3 Artigo pré-formatado para publicação em periódico.

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62

seja, os trabalhadores. Dessa forma, a gestão de pessoas contribui para a eficiência da

organização, agregando valores e gerando retorno positivo para todos os envolvidos, quando

se propõe a contribuir para o alcance de metas e de objetivos, para a competitividade no

mercado, para o treinamento e a motivação das pessoas, e, principalmente, proporcionando

satisfação aos trabalhadores e garantindo a manutenção da qualidade de vida no trabalho.2

No que tange à gestão de pessoas, um estudo aponta que cerca de 6% dos

trabalhadores de enfermagem de uma instituição hospitalar universitária federal estavam em

fase de readaptação.3

Nesse contexto, os trabalhadores dos hospitais universitários federais possuem

vinculação à instituição pelo Regime Jurídico Único (RJU), que prevê a readaptação do

servidor, após período de licença ou afastamento do trabalho por motivos de saúde, em que o

trabalhador apresente comprometimento parcial, temporário ou permanente de sua saúde

física ou psíquica que o incapacite para o exercício de sua função.4 A readaptação funcional

do servidor público federal, por redução de capacidade laboral, de acordo com a Lei Federal,

nº 8.112/1990, “é a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades

compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, verificada

em inspeção médica/odontológica”.4

Desse modo, a gerência de enfermagem é a mais afetada, sendo que esta pode

desenvolver ações de cunho educativo, e no intuito de melhorar a qualidade de vida dos

trabalhadores, em ações planejadas com a equipe. Para tanto, pode contar não somente com as

competências do enfermeiro gerente, mas com a articulação de vários setores, tais como, o

serviço responsável para a gestão de pessoas, a comissão de saúde do trabalhador e, também,

a direção da instituição.5

Além disso, o acolhimento, bem como o reconhecimento do sofrido processo

enfrentado pelo trabalhador pode contribuir para melhorar a autoestima e a autoconfiança do

profissional em processo de readaptação. Ainda, ao propiciar um ambiente de trabalho

adequado contribui-se na prevenção de novas doenças ou de recidivas. Assim, a articulação

eficiente entre os diversos protagonistas envolvidos, como os sistemas e os serviços,

possibilita condições satisfatórias para o retorno ao trabalho daqueles em fase de

readaptação.6

Dessa maneira, torna-se sensato que a gerência desenvolva atividades, no intuito de

abrir espaços de troca de conhecimentos, de levantamento de necessidades da equipe, pois,

mais que propiciar instalações adequadas, é preciso repensar a humanização no trabalho, de

maneira a buscar a valorização e o apoio aos profissionais. Portanto, é relevante que os

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gestores tenham uma atenção especial, no que se refere à disponibilização de mecanismos

voltados à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores de enfermagem.7

Frente ao exposto, justifica-se a realização de estudos que abordem a readaptação

funcional dos trabalhadores de enfermagem, devido à importância da temática, bem como a

necessidade de se ampliar os olhares para com esses profissionais, uma vez que a qualidade

do serviço prestado ao usuário está relacionada à saúde do trabalhador. Assim, o processo

organizacional do trabalho necessita ser revisto, de modo que se instigue o respeito, a

valorização e a sensibilidade com relação aos trabalhadores que retornam as suas atividades

laborais, considerando potencialidades e limites.

Acredita-se que a oportunidade de conhecer estratégias utilizadas pelos enfermeiros,

os quais recebem trabalhadores em readaptação funcional, pode trazer contribuições no

sentido de ampliar discussões, desenvolver ações adequadas à problemática e reforçar a

divulgação científica. Ao considerar-se a importância do processo de readaptação funcional,

propicia-se que o enfermeiro qualifique-se para o exercício de uma gerencia adequada as

restrições apresentadas pelos trabalhadores e condizente com a legislação, bem como

contribui para o desenvolvimento do conhecimento de enfermagem.

Diante da necessidade de compreender melhor a temática, delineou-se a seguinte

questão: Quais as estratégias utilizadas pelo enfermeiro ao receber o trabalhador de

enfermagem em readaptação funcional? Nesse sentido, desenvolveu-se o estudo com o

objetivo de conhecer as estratégias dos enfermeiros ao receber o trabalhador de enfermagem

em readaptação funcional.

MÉTODO

Tratou-se de um estudo qualitativo, de caráter descritivo exploratório realizado em um

hospital universitário do sul do Brasil, referência em diferentes especialidades na região.

Participaram do estudo 19 enfermeiros, sendo eles trabalhadores de diferentes serviços

ou unidades de apoio, representados pelos ambulatórios, Serviço de Vigilância em Saúde e

Segurança do Paciente, Unidade de Cirurgia, Serviço de Diagnóstico, Serviço de Atenção

Domiciliar, Serviço de Radioterapia, Serviço de Higiene e Limpeza, Hemocentro, Centro de

Material e Esterilização, Serviço de Apoio à Criança com Câncer, setores estes que

apresentavam um quantitativo mais elevado de trabalhadores readaptados.

Para a seleção dos participantes, levou-se em conta os enfermeiros vinculados ao

Regime Jurídico Único, que exerciam atividades, em unidades de atuação em que havia

trabalhadores alocados com restrições de saúde. Vale ressaltar, que a gerência de enfermagem

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informou quais eram esses locais, sendo indicado o participante que atuava há mais tempo na

unidade, para que indicasse o próximo a ser entrevistado, técnica conhecida como snowball

ou “bola de neve”.

A técnica da “bola de neve” é uma forma de amostra não probabilística utilizada em

pesquisas sociais, em que os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes

que, por sua vez, indicam outros participantes e, assim, sucessivamente, até que seja

alcançado o objetivo proposto, ou seja, o ponto de saturação. Este é atingido quando os novos

entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem

acrescentar novas informações relevantes à pesquisa.8 Foram excluídos os enfermeiros que se

encontravam em licença de qualquer natureza no momento da coleta de dados.

Foi escolhido, como método de coleta de dados, a entrevista semiestruturada, com

itens relativos à caracterização dos enfermeiros e questões abertas, norteadoras à temática em

estudo.

As entrevistas aconteceram no local de trabalho, em sala reservada, em horário

agendados com os participantes. Esses encontros, foram marcados na ocasião do convite ao

enfermeiro para participar do estudo, ocasião em que a pesquisadora foi pessoalmente

convidar cada um dos participantes. Houve recusa de duas enfermeiras em participar da

pesquisa, porém indicaram uma colega da unidade para participar, mantendo assim o rigor da

técnica escolhida.

As entrevistas foram realizadas, entre maio e junho de 2016, com duração média de

aproximadamente 40 minutos, sendo o áudio gravado, transcritas integralmente.

Posteriormente, foram analisadas por meio da análise de conteúdo temática da proposta

operativa de Minayo, dividindo-se nas etapas de pré-análise, exploração do material,

tratamento e interpretação dos resultados obtidos. Esta última permitiu ao pesquisador

entender as estruturas de relevância e as ideias centrais, com a elaboração de uma síntese para

a construção de um relatório final.9

A pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, sob o parecer, nº

1.452.316 e CAAE, nº 53557916.4.0000.5346. Além disso, os participantes da pesquisa

fizeram parte do estudo somente após a concordância por meio do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido, em conformidade com a Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de

Saúde, do Ministério da Saúde, que regulamenta as normas de pesquisa com seres humanos.10

No intuito de preservar o caráter confidencial da pesquisa, os participantes foram nomeados

por meio da letra E, referindo-se a palavra enfermeiro e por números arábicos, conforme a

ordem de entrevista, compondo os códigos E1, E2, E3, E4 e, assim, sucessivamente, de

acordo com a ordem cronológica da realização das transcrições das entrevistas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 19 participantes verificou-se que 18, eram do sexo feminino. Apresentavam idade

entre 31 a 40 anos (três enfermeiros), 41 a 50 anos (cinco enfermeiros), 51 a 60 anos (10

enfermeiros) e com mais de 60 anos, um enfermeiro.

Os enfermeiros participantes da pesquisa possuíam tempo de atuação na instituição de

cinco a 10 anos (quatro enfermeiros); de 11 a 20 anos (quatro enfermeiros); de 21 a 25 anos

(seis enfermeiros); mais de 26 anos trabalhando no HUSM (cinco enfermeiros). Deste grupo

de profissionais, 18 possuíam pós-graduação, sendo: três possuíam doutorado, cinco eram

mestres e 10, possuíam especialização.

A partir da exploração do material e interpretação dos resultados, emergiram as

categorias temáticas: Acolhimento e cuidado com o trabalhador em readaptação funcional no

cenário laboral; Planejamento do processo de readaptação do trabalhador de enfermagem.

Acolhimento e cuidado com o trabalhador em readaptação funcional no cenário laboral

Diante dos temas apontados pelos enfermeiros, emergiram dos relatos o acolhimento,

a comunicação e a valorização do trabalho percebida pelo profissional de enfermagem, em

readaptação funcional, e a preocupação do enfermeiro em gerenciar as atividades respeitando

as restrições desse trabalhador. Para isso, os enfermeiros assumem para si a responsabilidade

de acolher e estimular a equipe para que o trabalhador seja bem recebido, conforme as falas a

seguir:

“A primeira coisa é a gente tentar receber bem, tentar que a equipe

aceite bem o trabalhador com restrição de saúde” (E2).

“Que ele (o trabalhado em readaptação), se sinta bem acolhido, bem

recebido, porque ele vai começar uma vida nova no setor, a primeira

impressão tem que ser boa” (E3).

“Primeiro, eu faço acolhimento, até porque eu venho de outra

formação, onde o acolhimento é muito sério para mim, seja usuário,

seja profissional, eu acolho” (E5).

O processo de readaptação funcional acontece e se constitui, de acordo com a maneira

com que a equipe de trabalho acolhe o profissional nesta situação e oferece suporte sócio-

afetivo, reconhecendo este suporte como elemento importante nas relações para o processo de

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reinserção.11Portanto, cabe, ao enfermeiro enquanto gerente da equipe, atuar como moderador

e facilitador dessa relação.

O acolhimento é sentido como um facilitador no retorno ao trabalho. Assim, o

sentimento de pertencimento ao grupo agrega-se ao fato de sentir-se capaz de estabelecer

diálogos com os colegas, conforme relatado por trabalhadores em processo de readaptação ao

trabalho, em estudo realizado, em um centro de referência em saúde do trabalhador na cidade

de São Paulo.6

O enfermeiro, como líder e gerente da equipe, necessita incentivar e estabelecer

estratégias de integração, com vistas a melhorar as condições de trabalho.12

Os trabalhadores

readaptados inseridos nos serviços de saúde causam impacto na coordenação da equipe em

enfermagem que requer competências e habilidades para conduzir a equipe de maneira

integradora. 3

“Vamos conversando, quais são as expectativas que ele tem do

serviço, o que ele quer fazer, conforme suas habilidades, e claro,

conforme sua função, e já vou pensando como inserir essa pessoa nas

atividades” (E3).

“Eu procuro conversar com o trabalhador readaptado, respeitando

aquilo que ele queira dizer, ver quais são as suas dificuldades e

tentando pensar como eu vou inseri-lo na unidade” (E6).

Ao retornar ao trabalho, o profissional de enfermagem requer um mediador na sua

readaptação, sendo esperado que o enfermeiro execute esse papel de liderança, fazendo uso,

dentre outras habilidades, da comunicação. O diálogo requer que o enfermeiro utilize as

palavras de modo apropriado, para que estas sejam efetivas.13

Nesse sentido, recomenda-se

que o enfermeiro seja hábil, criativo, mas acima de tudo capaz de ouvir, isso permite ao

trabalhador explorar todo o seu potencial na execução de suas atividades. Dessa forma, o

processo de comunicação pode ser percebido com mais clareza, aplicado e desenvolvido com

qualidade.14

Além do processo de comunicação, foi manifestada pelos participantes, como

estratégia, no processo de readaptação, a necessidade de estabelecer um diálogo verdadeiro,

apontando as tarefas a serem desenvolvidas no setor, associado à disposição para ouvir as

expectativas do trabalhador de enfermagem em seu retorno às atividades laborais, contando

com a participação de outros profissionais da instituição.

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“No primeiro dia, a gente conversa junto com a psicóloga e o

funcionário, para a gente ouvir esse funcionário e também dizer o que

espera no trabalho e dizer que está ali para ajudar. Depois, a gente

conversa com a equipe, solicitando que a equipe receba bem, ajude, e

que as dificuldades sejam passadas para nós, enfermeiras, estamos ali

para isso” (E10).

“A chefia de enfermagem, comunica, chama, avisa e, aí, fazem

contato com a gente e eu faço sempre antes deles começarem, eu faço

uma conversa com eles sobre o setor como que é, até para ver se é

isso que eles querem” (E16).

O trabalho da equipe de enfermagem pode ser influenciado pelo clima organizacional,

seja por fatores profissionais, individuais, seja relacionado à instituição e à sua valorização.12

Quanto ao impacto dos fatores individuais no trabalho coletivo, os gerentes, ao utilizarem

instrumentos para o controle de conflitos, como a escuta empática, a comunicação honesta e

transparente e a liderança podem contribuir nos processos de negociação.15

Para tal,

considera-se o enfermeiro como líder da equipe, que ocupa um papel de destaque nos

processos de negociação.16

Ainda, é necessário que o enfermeiro tenha clareza de quais

objetivos são visados durante cada negociação, já que o sucesso da negociação depende dos

envolvidos e da preparação do ambiente. Tais fatores podem ser expressos por meio da

seguinte fala:

“Precisamos ter muita paciência e negociação, principalmente, num

setor onde a grande maioria são de pessoas readaptadas. Eu penso

que as pessoas não são descartáveis” (E6).

Ao gerenciar, o enfermeiro necessita, entre suas várias responsabilidades, apontar

normas e comportamentos compatíveis com a instituição, instrumentalizar a equipe para o

fortalecimento das relações interpessoais e incentivar espaços onde a equipe compartilhe com

a responsabilidade do processo de negociação.13

Além disso, os enfermeiros reconheceram a

importância de perceber as habilidades e as aptidões do profissional que retorna ao trabalho, e

extrair o melhor dessas pessoas, como indicado nos depoimentos:

“Então, minha postura é sempre tirar tudo de bom do trabalhador em

readaptação, o que gosta de fazer, o que ele sabe fazer, o que ele

pode fazer” (E3).

“Eu percebo todas essas pessoas (trabalhador com limitação

funcional) com capacidades e coisas boas para ofertar, chegar mais

perto, observar e depois trabalhar com o grupo isso” (E13).

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Nessa conjuntura, a enfermagem é uma ciência humana que envolve pessoas num

processo de saúde-doença, a partir da fundamentação teórica e da prática do cuidar de seres

humanos, sendo que os trabalhadores atuantes devem estar preparados e motivados.12

Para se

ter um bom desempenho no trabalho, é necessário que os colaboradores no seu cotidiano

sintam-se motivados e satisfeitos, para que possam comprometer-se com os valores da

profissão e da instituição e, consequentemente, com a qualidade da assistência.

Então, diante do retorno do trabalhador de enfermagem, a preocupação em não

constranger essa pessoa, carece estar presente. Assim, o enfermeiro demonstrou preocupação

em cuidar do outro, como exposto nas seguintes falas:

“Cuido para não evidenciar muito que aquela pessoa tem um

problema de saúde ou tem uma restrição, que a pessoa se sinta não

diferente” (E2).

“Faço o possível, para no momento de apresentar para a equipe, ser

a mais discreta possível, expor o mínimo das dificuldades” (E3).

Ao evitar ser exposto, o trabalhador de enfermagem experiencia o adoecimento de

uma outra forma, pois traz à tona o conflito de ser cuidador e, ao mesmo tempo, necessitar de

cuidados. Em consequência, esse profissional desenvolve um modo particular de conviver

com a limitação imposta, reelaborando o sentido de sua vida, muitas vezes, levando-o a

repensar o seu modo de cuidar do outro.17

Outro cuidado, que os enfermeiros entrevistados assinalaram refere-se ao fato de

estarem vigilantes, de modo a evitar o preconceito com relação ao trabalhador readaptado.

“Eu procuro não ser preconceituosa” (E11).

“Eu acho que a gente tem que se cuidar para não ser preconceituosa,

[...], para não pensar e agora olha o que estão me mandando, eu me

policio um monte” (E12).

Ao retornar ao trabalho, o profissional de enfermagem necessita ajustar-se a sua rotina

e adaptar-se as suas novas funções no serviço. Este procedimento é facilitado, quando a

equipe e a gestão enfrentam a readaptação de maneira natural. Acredita-se, ainda, que as

relações interpessoais influenciam na retomada das atividades diárias e nos sentimentos

acerca desse processo. No entanto, os espaços e as condições de trabalho, ainda não são

adequados, pois os trabalhadores não são respeitados em sua singularidade e em suas

limitações.11

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Além disso, o enfermeiro precisa gerenciar as atividades da sua unidade, incluindo o

trabalhador em readaptação funcional, de maneira que as restrições de saúde dele sejam

preservadas, conforme as recomendações da perícia médica.

“Recebo bem sem problemas, só tomo cuidado na hora de distribuir

as atividades, respeitar as limitações” (E11).

Para o desenvolvimento das atividades laborais, a junta médica oficial em saúde,

deverá fornecer, quais são as restrições de saúde que o trabalhador de enfermagem possui, e

sugerir conforme as atribuições do cargo os itens que poderão ser realizados pelo servidor e os

que não poderão ser executados. Evitando expô-lo a situações que possam agravar seu quadro

de saúde, ou que ofereçam risco a terceiros18

, esse fato permite que o enfermeiro possa

planejar as ações desse trabalhador em consonância com a legislação e as restrições do

trabalho.

Portanto, o enfermeiro ao receber o trabalhador readaptado busca acolhe-lo,

utilizando-se de estratégias de integração com a equipe; de comunicação, por meio da escuta e

do estabelecimento de um diálogo verdadeiro; de liderança, na negociação e gerenciamento de

conflitos; e do respeito as restrições apresentadas pelo trabalhador em readaptação, não

constrangendo e evitando o preconceito.

Planejamento do processo de readaptação do trabalhador de enfermagem

Essa categoria alicerça-se nos depoimentos sobre planejamento que o enfermeiro

precisa realizar, a partir das restrições de saúde do trabalhador de enfermagem em

readaptação e as estratégias utilizadas pelos mesmos para reinserção dessa pessoa na equipe,

com o reaproveitamento das habilidades.

Nesse seguimento, o planejamento cuidadoso de reinserção do trabalhador de

enfermagem readaptado torna-se uma preocupação, à medida que a atividade laboral pode

agravar ou gerar novos problemas de saúde nesse profissional.

“Eu vou procurar enquanto enfermeira do setor estar adaptando,

contemplando as restrições desse trabalhador, porque é importante

para a saúde dele” (E8).

“Recebendo como qualquer outro funcionário, você vai readaptar

esse trabalhador, dentro das condições de saúde dessa pessoa” (E19).

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Nesse entendimento, o enfermeiro, desempenha um importante papel no retorno desse

trabalhador as suas atividades, à medida que, ao conhecer o histórico de saúde, pode planejar

e adequar medidas de precauções para riscos ocupacionais, tendo como objetivo a promoção,

a prevenção e a reabilitação da saúde.19

Por isso, a necessidade de conhecer o histórico de

saúde desse trabalhador foi verbalizada pelos participantes da pesquisa:

“Eu vou no RH (recursos humanos) dar uma olhada no processo”

(E4).

“Primeiro, recebo junto com a chefia do serviço de enfermagem,

analiso a pessoa, tento conversar e entender porque a pessoa está

precisando se readaptar” (E9).

Desse modo, o enfermeiro percebe a necessidade de conhecer o trabalhador que irá

receber, obtendo informações com o serviço de gestão de pessoas sobre a real situação de

saúde, além de buscar compreender a experiência pela qual o profissional passou e como ele

se percebe no retorno ao trabalho. Provavelmente, o enfermeiro sinta-se mais seguro para

planejar a atividade que será proposta para este trabalhador, já que, ao reconhecer as

necessidades de saúde, permite o estabelecimento de estratégias de promoção, intervenção e

recuperação da autonomia desse profissional.14

Outro fator importante é a segurança do paciente, isto é, um olhar cuidadoso sobre as

limitações apresentadas pelo profissional torna-se uma preocupação na assistência de

enfermagem prestada, a fim de minimizar os riscos à segurança do paciente e, de certa

maneira, preservar a saúde do trabalhador, buscando, dessa forma, aliar as atividades que o

trabalhador irá desempenhar às suas restrições.21

O planejamento da recepção ao profissional readaptado, também, compreende o

entendimento de que o apoio social é importante nesse processo de adaptação, conforme

apontado por um dos participantes:

“Você não vai pôr alguém em um lugar aonde ele não é funcional,

porque ele não vai se adaptar, vai ficar rodando, rodando e vem

aquele estigma, eu não sirvo para lugar nenhum e aí só vai piorando”

(E5).

O apoio social encontra um importante espaço na readaptação funcional pois, de um

modo geral, esse apoio pode ser entendido como uma ajuda mútua, entre os atores que

convivem, entre si, que constrói significado em suas experiências cotidianas e contextos.22

No

excerto, percebe-se que o enfermeiro entende que a adaptação desse profissional em um novo

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setor envolve diversas questões, entre elas, a dificuldade em se adaptar a funções, muitas

vezes, de menor complexidade, distante do cuidado direto ao usuário, e o quanto isso pode

levar à sensação de desvalorização de seu trabalho.23

Assim, a preocupação do enfermeiro em proporcionar uma situação que envolva a

pessoa que está retornando as suas atividades laborais, visa promover uma melhor satisfação

com no trabalho. Essa percepção confirma o estudo,24

ao demonstrar que trabalhadores com

melhor satisfação no trabalho, com a vida e que tiveram bom apoio social, apresentaram

melhor avaliação de sua condição de saúde.

Associado ao apoio dispensado, existe um compromisso institucional com esse

processo, a fim de readaptar este trabalhador, conforme suas restrições laborais e aspectos

legais, no intuito de atender às demandas do serviço.

“Se for por restrição física, aí a gente também tem que examinar a

questão e saber se a pessoa vai ou não poder atender as demandas do

serviço, porque o objetivo é tu receber uma pessoa que possa atender

as necessidades de cada setor, nós temos necessidades muito

específicas” (E15).

“Eu avalio as condições de habilidades daquele funcionário e de

captar o aprendizado” (E9).

O processo enfrentado pelo trabalhador em readaptação funcional envolve o

planejamento e a preparação da equipe que irá recebê-lo, com a finalidade de que a adaptação

deste trabalhador seja a menos traumática possível, e que ele possa continuar contribuindo de

forma produtiva com a instituição, sem agravamento ou novos prejuízos à sua saúde. Ao

enfermeiro cabe o planejamento e o gerenciamento desse processo, pois é ele o líder da

equipe e o responsável pelo setor.

O planejamento do processo de readaptação do trabalhador de enfermagem é

transversal à reinserção do profissional na equipe, mostrando-se como a principal estratégia

do enfermeiro ao receber o trabalhador de enfermagem em readaptação funcional. No

planejamento, ocorre o delineamento das restrições laborais, a partir do histórico de saúde do

trabalhador readaptado, de modo a evitar o agravamento das limitações ou novos problemas

de saúde, além do comprometimento com a segurança do paciente. Com isso, busca-se

proporcionar ao trabalhador readaptado o apoio social necessário para a reinserção, aliado ao

envolvimento do profissional nesse processo, com o aproveitamento de suas habilidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo destacaram-se como estratégias para a readaptação funcional do trabalhador

de enfermagem o acolhimento, a negociação, o controle de conflitos, a escuta e o diálogo

verdadeiro, ou seja, um processo de comunicação eficiente com o trabalhador que retorna ao

trabalho, permeados pelo planejamento e respeito às limitações laborais, requerendo uma

integração entre a equipe e o membro readaptado, sem constrangimentos e evitando o

preconceito.

Nesse sentido, planejar a atuação do trabalhador que volta a atuar profissionalmente,

levando-se em conta as limitações impostas pela sua doença ou lesão, a partir das

recomendações apontadas por perícia médica, surge como tarefa do enfermeiro, uma vez que

este desempenha o papel de gerente e líder da equipe de enfermagem, sendo o planejamento

transversal a todo o processo de readaptação.

Desse modo, conhecer as estratégias adotadas pelos enfermeiros ao receber o

trabalhador de enfermagem em readaptação funcional, proporciona qualificação para a

gerencia do enfermeiro, mantendo-se convergente as restrições apresentadas pelos

trabalhadores, e condizente com a legislação. Com isso, a pesquisa apresenta contribuições

para o desenvolvimento do conhecimento de enfermagem, especialmente quanto à gestão de

pessoas readaptadas.

Assim, esta pesquisa pode oferecer subsídios teóricos para auxiliar os profissionais de

saúde em relação ao processo de readaptação funcional dos trabalhadores de enfermagem,

principalmente, daqueles que ocupam posições de gestores em hospitais públicos federais e de

ensino.

Considera-se como limitação do estudo a investigação ter sido realizada em apenas

uma instituição de saúde, o que impossibilita generalizações, bem como por tratar-se de um

grupo específico de profissionais, possuindo vinculação de trabalho por meio do Regime

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4.3 ARTIGO 3

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO TRABALHADOR EM READAPTAÇÃO

FUNCIONAL REALIZADA PELO ENFERMEIRO COMO FERRAMENTA DE

GESTÃO4

Resumo

Objetivo: descrever o processo de avaliação de desempenho realizado pelo enfermeiro com

relação ao trabalhador de enfermagem em readaptação funcional de um hospital universitário.

Metodologia: estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, realizado em um

hospital universitário, no sul do Brasil. Participaram 19 enfermeiros, mediante entrevista

semiestruturada. Os dados foram analisados e interpretados, conforme a análise de conteúdo

temática. Resultados: as informações convergiram para duas categorias, sendo: comunicação,

como uma das estratégias utilizadas pelo enfermeiro ao avaliar, e avaliação como ferramenta

de gestão. Conclusão: os enfermeiros utilizaram a comunicação como elemento principal no

processo de avaliação e no processo de observação diária do trabalhador, sem utilizar métodos

formais.

Descritores: Enfermagem, Gestão em Saúde, Readaptação ao Emprego, Avaliação de

Desempenho Profissional.

Descriptors: Nursing, Health Management, Employment Supported, Employee Performance

Appraisal.

Descriptores: Enfermería, Gestión en Salud, Empleos Subvencionados, Evaluación del

Rendimiento de Empleados.

INTRODUÇÃO

Nos serviços de saúde, a melhoria da qualidade do cuidado prestado configura-se

como uma necessidade, especialmente no que se refere aos proporcionados pela enfermagem.

Neste sentido, o momento é de repensar o papel desses profissionais, já que a qualidade do

cuidado passa a ser fundamental(1)

. Para tanto, é necessário o estabelecimento de estratégias

gerenciais, dentre as quais a avaliação de desempenho, sobretudo, em organizações tidas

como complexas.

Em tempos dinâmicos, com tantas demandas e exigências, vários fatores contribuem

para o adoecimento dos trabalhadores da área da saúde, resultando, muitas vezes, em

4 Artigo pré-formatado para publicação em periódico.

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afastamentos para tratamento de saúde. Diante deste fato, a negação da doença, bem como

perdas financeiras, sociais e de poder, podem influenciar o retorno ao trabalho. Outro aspecto

a ser considerado é o desejo de sentir-se útil,o qual serve como estímulo para o retorno as

atividades laborais(2-5)

.

De acordo com a Lei Federal nº 8.112, de 1990, a readaptação funcional do

trabalhador por redução da sua capacidade laboral “[...] é a investidura do servidor em cargo

de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua

capacidade física ou mental, verificada em inspeção médica/odontológica”(6)

.

Nessa perspectiva, a avaliação de desempenho tem sido alvo de discussões nos

diferentes cenários de trabalho, uma vez que se constitui em um processo que envolve

gestores e profissionais. Para que se tenha maior clareza com relação a avaliação de

desempenho do servidor público federal, o governo federal lançou, em 2010, o Decreto

nº 7.133, o qual define critérios e regras gerais para guiar as avaliações de desempenho no

serviço público(7)

.

O processo de avaliação pode ser definido por meio de comparações dos resultados

alcançados com os planejados, pois, a avaliação de desempenho agrega valor à instituição, aos

trabalhadores e aos usuários, já que impulsiona mudanças nos processos de trabalho. Com

isso, avaliar é um expressivo instrumento de gestão(8)

. Desta forma, avaliar o desempenho dos

colaboradores possibilita a percepção das fragilidades da equipe e proporciona que políticas

de desenvolvimento profissional sejam planejadas e desenvolvidas.

Os trabalhadores de enfermagem são os profissionais de saúde que representam o

maior quantitativo de pessoal das instituições hospitalares e também a equipe que permanece

mais tempo com o paciente, associado a dedicação intensa ao trabalho(3)

. Assim, destaca-se a

importância de compreender a avaliação de desempenho do profissional de enfermagem que

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encontra-se em readaptação funcional em uma perspectiva de fortalecimento deste processo,

produzindo conhecimento que sustente o trabalho gerencial do enfermeiro.

Os hospitais apresentam-se como prestadores de serviços à comunidade e, como tal, é

necessário identificar as necessidades e metas a serem cumpridas, para que os gerentes e

colaboradores possam prestar serviços com qualidade e atendam o perfil da instituição a qual

estão atrelados.

Nesse sentido, fez-se a seguinte pergunta: como o enfermeiro tem realizado o processo

de avaliação de desempenho do trabalhador de enfermagem em readaptação funcional sob sua

responsabilidade? Logo, o objetivo desta pesquisa configurou-se em: descrever o processo de

avaliação de desempenho realizado pelo enfermeiro com relação ao trabalhador de

enfermagem em readaptação funcional de um hospital universitário.

MÉTODO

Estudo qualitativo, de caráter descritivo realizado em um Hospital Universitário do sul

do Brasil. Participaram do estudo 19 enfermeiros vinculados ao Regime Jurídico Único

(RJU), sendo eles trabalhadores de diferentes serviços ou unidades de apoio: Ambulatórios

Adulto e Pediátrico, Serviço de Atenção Domiciliar, Serviço de Radioterapia, Serviço de

Higiene e Limpeza, Unidade de Gestão de Riscos Assistenciais, Núcleo de Vigilância

Epidemiológica Hospitalar, Unidade de Vigilância em Saúde, Hemocentro, Centro Material e

Esterilização, Sala Recuperação Intermediária, Unidade de Cirurgia, Serviço de Apoio à

Criança com Câncer, Serviço de Pneumologia e Métodos Gráficos.

Foram selecionados os enfermeiros que atuavam há mais tempo na unidade, sendo que

o primeiro participante indicou o próximo para ser entrevistado, técnica conhecida como

snowball ou “bola de neve”. Esta técnica é uma forma de amostra não probabilística utilizada

em pesquisas sociais, em que os participantes iniciais de um estudo indicam novos

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participantes que, por sua vez, indicam outros participantes e, assim, sucessivamente, até que

seja alcançado o objetivo proposto, ou seja, o ponto de saturação(10)

. Sendo excluídos os

enfermeiros que se encontravam em licença de qualquer natureza no momento da coleta de

dados.

Adotou-se como método de coleta de dados a entrevista semiestruturada, a qual

apresentou questões fechadas, relativas à caracterização dos enfermeiros, e questões abertas,

norteadoras à temática em questão. As entrevistas foram realizadas entre maio e junho de

2016, tiveram tempo médio de 40 minutos de duração, foram realizadas no ambiente de

trabalho conforme disponibilidade dos participantes, sendo gravadas e transcritas.

Posteriormente, houve o tratamento das falas por meio da análise de conteúdo temática da

proposta operativa de Minayo, dividindo-se nas etapas de pré-análise, exploração do material,

tratamento e interpretação dos resultados obtidos(9)

.

Respeitou-se os preceitos éticos da pesquisa, conforme Resolução 466/12, tendo

recebido parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa local por meio do Certificado de

Apresentação para Apreciação Ética (CAAE), nº 53557916.4.0000.5346(11)

.No intuito de

preservar o caráter confidencial da pesquisa, os participantes foram nomeados por meio da

letra E, referindo-se a palavra enfermeiro e por números arábicos, conforme a ordem de

entrevista, compondo os códigos, E1, E2, E3, E4 e, assim, sucessivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise do perfil sociodemográfico, verificou-se que dos 19 participantes, 18 eram

do sexo feminino, 10 enfermeiros tinham a idade entre 51 a 60 anos, variando o tempo de

experiência na instituição entre cinco e mais de 26 anos. Deste grupo de profissionais, 18

possuíam pós-graduação e sete, ocupavam cargos de gerência em seu setor.

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Para a apresentação dos resultados, foram organizadas duas categorias, sendo elas:

comunicação como uma das estratégias utilizadas pelo enfermeiro ao avaliar e avaliação

como ferramenta de gestão.

Comunicação como uma das estratégias utilizadas pelo enfermeiro ao avaliar

Esta categoria alicerçou-se nos depoimentos que enfatizaram temas relativos à

comunicação utilizada com o trabalhador em readaptação funcional e/ou equipe, valores que

perpassaram as relações de trabalho, tais como confiança e comprometimento e a percepção

de avaliar o desempenho desse trabalhador condizente com suas restrições de saúde.

A comunicação ocorre entre a equipe de forma constante e estratégica, tanto para

aprender, quanto para revisar aspectos anteriormente conhecidos, visto que se o processo de

comunicação oportuniza a avaliação, as relações de trabalho e as adequações, quando

necessárias. Estes aspectos puderam ser notados nas seguintes falas: Nós conversamos muito,

é dado um espaço de aprendizagem e reaprendizagem, não tem como não conversar muito

com nossa equipe (E3); Em alguns momentos, a gente senta e pontua algumas coisas, mas,

normalmente, é informal (E6). Eu acho que é no dia a dia, nas conversas que avaliamos,[...],

colocando as coisas claramente, transparente, com a pessoa (E14).

Nessa perspectiva, foi possível perceber que a comunicação é a peça-chave entre

gestores, usuários e profissionais. Os processos do cuidado, juntamente com as práticas de

comunicar-se devem participar, intensamente, como âncora nas relações interpessoais. O

enfermeiro deve possuir a habilidade de ouvir o trabalhador, para que este ofereça todo o seu

potencial na execução das suas atividades(12-13)

.

Os participantes lembraram que cada indivíduo possui um perfil, assim como suas

restrições de saúde individuais, caracterizando condições singulares: Penso que tem que ser

avaliado, considerando as restrições do trabalhador e, aí, ver se ele desempenha as funções

dentro das suas limitações (E8);[...] Tem que desenvolver com competência e habilidades,

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suas atividades, sem desculpas. Vou cobrar normalmente. Não vou tocar fora dos limites

dela, (trabalhadora em readaptação) daquilo que o processo de saúde dela não permite

(E11); O fato de elas (trabalhadoras em readaptação) terem limitação não vai impedir que

sejam avaliadas, porque o que foi estabelecido de atividades é porque elas podem, e é isso

que esperamos e vamos avaliar (E12).

Assim, mesmo que o trabalhador em processo de readaptação possua limitações

funcionais, ele vai ser avaliado quanto ao seu desempenho. O profissional entrevistado

mencionou que, se o trabalhador recebeu uma inspeção em órgão médico oficial deverá ser

considerado o seu aproveitamento, coerente com as suas limitações de saúde. Nesse sentido, o

enfermeiro poderá contar com a Perícia Oficial em Saúde, a qual estabelece a capacidade

laborativa do servidor. Por meio da perícia é possível sugerir as atividades que o servidor está

habilitado a desempenhar, coerente com as atribuições do seu cargo, devido à limitação

imposta pela sua doença ou lesão, norteando, assim, a chefia imediata quanto às atividades

que deverão ser evitadas(14)

.

Além de conhecer as limitações desses trabalhadores, os entrevistados relataram a

importância de se estabelecer uma relação de confiança e credibilidade, pois entendem que

este fato facilitaria o processo de avaliação, como expresso na fala a seguir: Acho que pesa

muito a confiança, aqui nesse setor, elas [trabalhadora em readaptação] ficam muito livres,

para desempenhar seu trabalho, não vou ficar supervisionando tudo (E12).

Esse aspecto relevante, a confiança, aparece nas práticas, nos processos de

readaptação. Há uma liberdade no setor em que o enfermeiro trabalha e desempenha seu papel

de avaliador, a relação de confiança estabelecida proporciona incentivo, estimulo para o

desempenho das funções e habilidades do trabalhador.

Nesse contexto, as reuniões estão entre as estratégias gerenciais que os enfermeiros

utilizam nos processos de trabalho, pois consistem em oportunidades para se estabelecer o

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diálogo claro com a equipe, dissipar conflitos e tomar decisões com a possibilidade da

participação de todos. São ocasiões que os profissionais têm para esclarecer dúvidas,

apresentar sugestões e manifestarem-se, de acordo com os questionamentos que, porventura,

sejam feitos. Eu costumo fazer reuniões com a equipe, onde sentamos e conversamos sobre

como nós estamos desenvolvendo nosso trabalho (E5); A gente faz reunião para conversar

com a equipe [...], converso, eu não me omito da minha obrigação (E13).

Corroborando com esse pensamento, as reuniões favorecem o relacionamento

interpessoal, a discussão das dificuldades enfrentadas, a troca de conhecimentos, ofertando

condições de resolução para os problemas existentes(15)

.

Realizando avaliação informal

Nesta categoria, as enfermeiras demonstraram que alicerçavam suas avaliações na

observação diária do desempenho do trabalhador de enfermagem que estava retornando ao

trabalho, sem processos formais ou métodos específicos de avaliação desenvolvido pela

instituição.

Os enfermeiros costumavam realizar a observação diária da sua equipe de trabalho e

apontaram, como preocupação, o medo de cercear o trabalhador com a avaliação, tal como foi

dito: Eu acho que essa avaliação tem que ser diária, não, assim, vem aqui, se tranca numa

sala e vamos conversar, que, aí, já fica constrangedor, perante os colegas, mas tem que ser,

assim, de maneira informal, [...] conversando, eu acho que tem que ser dessa forma [...], de

uma forma mais amigável, confortável (E10); Acompanhar na execução das atividades,

observar seu desempenho (E6). A avaliação deverá ser diária (E13).

Uma pesquisa relatou que os enfermeiros, de maneira não formalizada, realizaram a

avaliação do serviço prestado, diariamente, pelo acompanhamento na realização de

procedimentos e atividades, sendo que, periodicamente, realizaram a avaliação de

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desempenho proposta pela instituição(1)

. O diálogo e a tranquilidade são requisitos

elementares para o processo avaliativo(16)

.Se essas, são condições importantes para realizar a

avaliação de desempenho dos trabalhadores de enfermagem, de um modo geral, aqueles que

possuem limitações funcionais, necessitam de avaliações pautadas na singularidade, na

comunicação e harmonia.

Outro aspecto, importante a ser destacado na fala dos enfermeiros, refere-se a

preocupação em registrar o procedimento de avaliação adotado no ambiente de trabalho. A

gente cria um processo de avaliação que é informal, mas é documental por questão de

segurança para mim, e até porque é de minha responsabilidade profissional. Então, todas as

avaliações são registradas em ata (E5); A gente tem uma prática que de tempo em tempo,

fazer uma avaliação, principalmente, desses que vêm de outra unidade para adaptação, de

fazer uma avaliação por escrito [...] para registrar como o servidor está desenvolvendo seu

trabalho aqui (E15).

O dia a dia de um enfermeiro e as exigências com a questão de feedback e questões

burocráticas, envolvendo a equipe podem resultar em estresse para o profissional

influenciando em sua saúde mental e física(17)

. Entretanto, o registro documental pode ser

considerado como uma forma de segurança frente a alguma situação futura que possa surgir.

Nesses depoimentos, os enfermeiros divergiram em suas opiniões, enquanto uns

defendem a participação do profissional em readaptação no seu processo de avaliação, outros

relatam que realizam a avaliação do desempenho do trabalhador com os demais integrantes

da equipe. Avaliação nunca tem que ser unilateral [...], fazer junto com o trabalhador (E7);

Conto com a equipe para me ajudar nessa avaliação, se for nível médio, eu conto com os

colegas que trabalham diretamente e com os outros enfermeiros (E9).

Isso contrapõe o encontrado em outros estudos, para que os processos de avaliação

tornem-se úteis na promoção do desempenho profissional, sendo recomendado que as

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instituições promovam a discussão dos resultados entre quem está avaliando e quem é

avaliado. Também, sinalizam aos enfermeiros que interagem com os trabalhadores na

avaliação e compreendem o que a equipe pensa sobre seu próprio desempenho, agregando

mais subsídios para a gestão, principalmente, na tomada de decisão (16,18)

.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa evidenciou que os enfermeiros preconizaram uma avaliação de

desempenho diária, sustentada na comunicação, considerando importantes valores, tais como,

confiança e comprometimento do profissional de enfermagem em readaptação funcional. A

maioria dos participantes realizou avaliação não formalizada, mas exercendo observação no

desempenho de tarefas do avaliado, coerente com as restrições de saúde do trabalhador.

O estudo sobre avaliação possibilita uma reflexão sobre a atuação do profissional

enfermeiro, ao executar o gerenciamento de enfermagem, bem como as potencialidades do

avaliado. Com isso, aumentam as chances de uma melhor adaptação e aproveitamento das

habilidades e potencialidades desses trabalhadores.

Considera-se como limitação do estudo a investigação ter sido realizada em apenas

uma instituição de saúde, o que restringe generalizações. Além disso, trata-se de um grupo

específico de profissionais, possuindo vinculação de trabalho por meio do Regime Jurídico

Único.

Sugere-se novas pesquisas em outros cenários a fim de subsidiar uma avaliação

formalizada, técnica e pensada para diferentes realidades. Isso evita avaliações desacreditadas,

superficiais e incoerentes.

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5 DISCUSSÃO GLOBAL

Não fiz o melhor, mas fiz tudo para que o melhor fosse feito.

Não sou o que deveria ser, mas não sou o que era antes.

(Martin Luther King).

Os artigos apresentados discutiram a percepção do enfermeiro sobre os trabalhadores

readaptados, os quais possuíam sua capacidade laboral diminuída por uma doença física ou

mental. A visão foi explorada sobre diferentes aspectos, porém todos perpassaram o trabalho

do enfermeiro enquanto gestor da equipe de enfermagem, ou enquanto gerente nas instituições

de saúde.

Os trabalhadores, quando se afastam das suas atividades laborais por motivos de

doença ou incapacidades, não obtêm nenhuma vantagem com este fato, como alguns podem

pensar. O fato é que acumulam perdas e rupturas do modo de viver e de trabalhar, ou seja,

deixam de habitar um lugar socialmente conquistado por meio do trabalho, enfrentam idas e

vindas com exames e consultas, além de perícias em saúde e burocracias exaustivas. Ainda,

economicamente, amargam perdas, impactando na qualidade de vida e, interferindo, muitas

vezes, na estrutura familiar (RAMOS, 2008; ROCHA; LIMA, 2011).

Essa realidade marcada por perdas, faz com que o trabalhador da saúde não tenha

estímulo favorável para seu retorno ao trabalho, afastando-o do setor produtivo. Somando-se,

por vezes, a recorrentes afastamentos, que continuam acontecendo, devido a não resolução do

problema de saúde e insatisfação com o ambiente de trabalho no qual está sendo inserido

(FANTINI; SILVEIRA; ROCCA, 2010).

Considerando-se o enfermeiro, enquanto gestor da equipe de saúde, ao ocupar cargos

de gerência nas instituições hospitalares, como um sujeito estratégico no retorno do

trabalhador readaptado, portanto, sugere-se a importância que este possua conhecimento das

questões envolvidas na readaptação funcional. Tal fato poderá facilitar o estabelecimento de

meios adequados para a interação com esses trabalhadores, evitando, assim, situações de

preconceito e discriminação. Fatores negativos ainda mostram-se presentes, no julgamento

das limitações do trabalhador em readaptação, suscitando, muitas vezes, na equipe,

questionamentos sobre a real situação de saúde do trabalhador.

A adoção de um processo de retorno ao trabalho apropriado pode contribuir para a

motivação do profissional no desempenho de suas atividades, aliando-se ao acolhimento, à

valorização do seu perfil e à convergência dos interesses entre o enfermeiro representante do

setor e o trabalhador. Estudo realizado anteriormente Rocha, Lima (2011), aponta entre os

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principais fatores que interferiram no processo de recuperação para o trabalho foram: o apoio

familiar, os papéis do trabalhador, as condições no espaço laboral e a maneira como foi

acolhido pela instituição.

Nesse sentido, a comunicação pode ser uma estratégia gerencial para a resolução de

conflitos entre membros da equipe, estabelecendo-se um processo de negociação entre seus

pares, cujo qual precisam ser consideradas as potencialidades dos trabalhadores, mesmo

daqueles que possuem restrições para algumas atividades laborais, visando a um melhor

aproveitamento das competências e capacidades. Com interface no exercício da liderança,

apropriar-se de conhecimentos sobre a readaptação funcional tornam-se imperativos para

melhor condução das situações dos trabalhadores de enfermagem, avaliando singularmente

cada caso (EDUARDO et al., 2016; SADE; PERES, 2015).

Nessa perspectiva, a habilidade de comunicar-se é elementar para um gerenciamento

com excelência, à medida que o enfermeiro aprende a ouvir, estabelecendo uma comunicação

efetiva com a sua equipe (LANZONI, 2015). Além disso, uma escuta empática e atributos que

primem por relações honestas são muito importantes ao interagir com o trabalhador em

processo de retorno ao trabalho, inclusive, possibilitando que esse possa participar nas

decisões que envolvam sua reinserção ao trabalho.

Outro aspecto verbalizado pelos enfermeiros foi o reconhecimento da importância da

limitação imposta pela doença ou lesão, que devem ser consideradas ao serem distribuídas as

atividades ao trabalhador, compatíveis com seu cargo ou função, evitando-se o agravamento

da saúde desse trabalhador, cuidando para não expô-lo a uma tarefa não segura (MANUAL

DE PERÍCIA OFICIAL EM SAÚDE DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS, 2014).

Além disso, a avaliação de desempenho do trabalho de quem está em readaptação

funcional foi percebida como uma ferramenta de gestão. Pierantoni et al. (2011), defende que

avaliar o desempenho dos colaboradores possibilita a percepção das fragilidades da equipe e

proporciona que políticas de desenvolvimento profissional sejam planejadas e desenvolvidas.

Para proceder a avaliação, os enfermeiros não utilizaram nenhum método ou instrumento

específico, mas sim, a aproximação, com a observação diária das atividades realizadas pelo

trabalhador. Esta atitude, vem ao encontro do pensamento de Kurcgant (2014), ao relatar que

a avaliação precisa ser um processo contínuo, uma constante, para que os problemas não se

acumulem.

Diante dessas considerações, o tema da readaptação funcional e as diferentes questões

que envolvem o retorno do trabalhador às suas atividades laborais requerem competência

gerencial, por parte do enfermeiro; preparo e organização da instituição para receber,

encaminhar e reinserir essa pessoa ao trabalho, de maneira que seu potencial seja aproveitado.

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6 CONSIDERAÇOES FINAIS

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses

(Rubem Alves).

Os resultados advindos dessa dissertação tornaram possível conhecer a percepção do

enfermeiro, acerca da readaptação funcional do trabalhador da enfermagem por redução da

capacidade laboral em um hospital universitário; conhecer as estratégias dos enfermeiros ao

receber este trabalhador e desvelar o processo de avaliação de desempenho realizado pelo

enfermeiro com relação ao trabalhador de enfermagem em readaptação funcional de um

hospital universitário, o que atendeu os objetivos iniciais propostos pela pesquisa.

Com relação à percepção do enfermeiro, acerca da readaptação funcional do

trabalhador de enfermagem, com redução em sua capacidade laboral abstraiu-se que, mesmo

com o entendimento limitado sobre o conceito de readaptação, os enfermeiros participantes do

estudo compreenderam que havia a necessidade da organização de um processo formal na

instituição para receber esse trabalhador, deixando claro as etapas a serem seguidas e os

setores responsáveis pelo retorno do trabalhador ao cenário laboral.

Outro entendimento dos enfermeiros, que receberam os trabalhadores de enfermagem

no seu retorno ao trabalho, deve-se à compreensão de que desenvolver um trabalho com a

equipe para receber esse colega é positivo e facilitará o processo de readaptação. No entanto,

o preconceito ainda se faz presente em várias situações atuando de maneira negativa nas

relações. Nota-se ainda, que é preciso haver disposição e empenho para retornar ao trabalho,

também por parte do trabalhador.

As estratégias mais exploradas pelos enfermeiros foram: o acolhimento, a

comunicação, a valorização do trabalho exercido pelo profissional de enfermagem em

readaptação funcional e a preocupação do enfermeiro em gerenciar as atividades respeitando

as restrições desse trabalhador, assim como o planejamento do enfermeiro na tentativa de

reaproveitar as habilidades do trabalhador com restrição de saúde.

Por fim, os enfermeiros desenvolveram o processo de avaliação de desempenho

sustentados no processo de comunicação e valores que perpassaram as relações de trabalho,

como confiança e comprometimento.

Nesse sentido, é aconselhável que o processo de readaptação seja conduzido de

maneira honesta e com a participação ativa do trabalhador de enfermagem, uma vez que ele é

o ator principal dessa situação e que possa haver, também, franca negociação, no processo de

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retorno ao trabalho, entre o readaptado e a gerência de enfermagem, sempre respeitando as

restrições de saúde.

Nessa conjuntura, destaca-se a importância de a Divisão de Gestão de Pessoas, aliada

ao Serviço de Orientação e Saúde do Trabalhador e gerências envolvidas, acolham e

estabeleçam apoio aos enfermeiros que recebem os trabalhadores com restrições de saúde.

Acredita-se que a realização desta pesquisa permitiu à mestranda a confirmação da

importância da temática para a enfermagem, ao proporcionar oportunidades de discussões

entre os enfermeiros na tomada de decisão e planejamento de suas práticas gerenciais para

melhor conduzir o processo de readaptação funcional, a partir dos resultados do estudo. Além

disso, foi possível compreender mais profundamente, em nível acadêmico, a readaptação

funcional, condição conhecida, por possuir restrição de saúde que ainda compromete,

parcialmente, sua capacidade laboral, mas que vem passando, como enfermeira, pela

experiência de receber e gerenciar equipe com pessoas em readaptação.

Ainda, espera-se que a presente pesquisa possa auxiliar os gestores da instituição para

a criação de um fluxo, estabelecendo, assim, um processo formal na instituição para receber

esses trabalhadores, deixando claro as etapas a serem seguidas e os setores responsáveis pelo

retorno ao cenário laboral. Entende-se que as estratégias propostas pela pesquisa possam

evitar desgastes, tanto para enfermeiros quanto para trabalhadores.

Este estudo também pode contribuir para a construção e o aprimoramento do

conhecimento científico, por ser inédita a investigação sobre a percepção do enfermeiro

acerca da readaptação funcional do trabalhador da enfermagem por redução da capacidade

laboral, sob a ótica da gestão. As contribuições para o ensino se dão a partir do conhecimento

da realidade estudada, o que é fundamental para subsidiar as discussões em nível de

graduação e pós-graduação, em relação à atenção à saúde do trabalhador e ao enfermeiro

enquanto gestor, uma vez que a universidade tem a responsabilidade de oferecer uma

formação de qualidade.

Por fim, os resultados apontaram que a temática desse estudo não se esgota aqui,

sendo importante a realização de outras pesquisas sobre a readaptação funcional. Como

limitantes desta produção menciona-se a escassa literatura sobre o assunto, fato este que pode

tornar a discussão dos resultados menos consistente. Aponta-se, ainda, como fragilidade dessa

pesquisa, o fato de estar restrita à área da enfermagem, não se ampliando para os demais

trabalhadores da área da saúde.

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SOUZA, L. A. de. Trajetória histórica da reabilitação na cidade de São Paulo.

Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

THEME FILHA, M. M.; COSTA, M. A. de S.; GUILAM, M. C. R. Estresse ocupacional e

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Ribeirão Preto, v. 21, n. 2, p. 475-483, apr. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/

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em: 12 out. 2016.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Entrevista nº:

PARTE I – DADOS PESSOAIS

1.Iniciais:

1.1 Data de nascimento: ___/___/____

1.2 Vínculo institucional:

1.3 Unidade de atuação. Quanto tempo trabalha nessa unidade?

1.4 Tempo de vida profissional (em anos):

1.5 Tempo de atuação na instituição (em anos). Possui mais de um vínculo empregatício?

Tem especialização? Qual?

1.6 Você tem problemas de saúde? S( ) N( ), se sim qual? Interfere no seu processo de

trabalho, de que forma?

1.7 Você é readaptada(o) ao trabalho? S( ) N( ), se sua resposta for positiva como é esse

processo para você?

Parte II - Roteiro semiestruturado para a entrevista

1. Por gentileza, fale-me qual seu entendimento sobre readaptação funcional?

2. Você convive com trabalhadores de enfermagem em processo de readaptação

funcional? Como você os identifica?

3. Ao receber um trabalhador com restrições de saúde que implicaram no seu trabalho,

costuma ser informada (o) pela gerência quais são as limitações daquele funcionário?

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4. Conte-me qual é a postura adotada por você ao receber um trabalhador em readaptação

funcional?

5. Como você realiza a avaliação do processo de trabalho da pessoa em readaptação

funcional?

6. Como você considera que deveria ser o processo de re(inserção) ao trabalho

do funcionário de enfermagem em processo de readaptação?

7. Como você acompanha o desenvolvimento do funcionário readaptado ao trabalho?

Você necessita de subsídios para este acompanhamento? Se sua resposta for sim, quais

as pessoas ou setores que lhe amparam?

8. Qual seria sua sugestão para o recebimento do trabalhador em readaptação funcional?

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Título do estudo: Percepção do enfermeiro acerca da readaptação funcional do trabalhador

da enfermagem sob a ótica da gestão.

Pesquisadora responsável: Suzinara Beatriz Soares de Lima

Mestranda: Jocelaine Cardoso Gracióli

Telefone para contato: (55) 3220-847. Avenida Roraima, 1000, prédio 26 - Centro de

Ciências da Saúde, na sala 1305, do Departamento de Enfermagem da UFSM, CEP: 97105 -

900 - Santa Maria - RS.

Local da coleta de dados: Hospital Universitário de Santa Maria.

Prezado(a) senhor(a): Eu, Suzinara Beatriz Soares de Lima, responsável pela pesquisa:

“Percepção do enfermeiro acerca da readaptação funcional do trabalhador na enfermagem sob

a ótica da gestão”, convido a participar como voluntário deste nosso estudo.

Durante todo o período da pesquisa, você terá a possibilidade de tirar qualquer dúvida

ou pedir qualquer outro esclarecimento. Para isso, entre em contato com alguma das

pesquisadoras ou com o Conselho de Ética. Você tem o direito de desistir de participar da

pesquisa, a qualquer momento, sem nenhuma penalidade.

Objetivo do estudo: conhecer as percepções dos enfermeiros na readaptação funcional do

trabalhador em um hospital universitário, a partir dos depoimentos dos enfermeiros.

Justificativa: acredita-se que a pesquisa proposta irá contribuir para o conhecimento existente

sobre o tema proposto, gerando benefícios, no que tange ao conhecimento científico, a

respeito da temática, facilitação no processo de readaptação funcional do trabalhador e

amparo aos gestores em suas práticas.

Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM: Av. Roraima, 1000 – Prédio da Reitoria- 2º andar - Campus - 97105-

900 - Santa Maria - RS. Telefone: (55) 3220-9362. E-mail: [email protected].

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Procedimentos. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder à entrevista, às

perguntas formuladas, sem nenhum ônus financeiro. A coleta de dados será por meio de

entrevista semiestruturada. Todos os dados coletados, depois de organizados e analisados

pelas pesquisadoras, poderão ser divulgados e publicados, ficando estes (as pesquisadoras)

comprometidas em apresentarem o relatório final nas instituições participantes.

Riscos: a temática em questão poderá possibilitar inquietude ou ansiedade para os

participantes ao remetê-los para a vivência desse processo. No decorrer da pesquisa será

esclarecido aos participantes que, se apresentarem algum desconforto, sofrimento, ansiedade

ou inquietude, serão acolhidos pelas pesquisadoras e poderão deixar de participar da pesquisa,

caso, assim, o desejarem. Caso seja necessário, e o participante assim desejar, será atendido

junto ao serviço único de saúde.

Benefícios: você não terá nenhum benefício direto, sendo que a partir dos dados encontrados,

poderão ser oportunizados momentos de reflexão, acerca do processo de readaptação

funcional do trabalhador de enfermagem, dessa forma, contribuindo para melhorar o processo

de trabalho, porém não haverá benefícios financeiros aos participantes.

Sigilo: as informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelas

pesquisadoras. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados, a identificação das entrevistas

será através da letra E, de enfermeiro, seguida de números sequenciais, iniciando no número

um.

Fui igualmente informado (a) de que tenho assegurado o direito de:

- receber a resposta de todas as dúvidas e perguntas que desejar fazer sobre assuntos

referentes ao desenvolvimento desta pesquisa;

- a qualquer momento, retirar meu consentimento e deixar de participar do estudo sem

constrangimento e sem sofrer nenhum tipo de represália;

- minha participação é isenta de despesas e minha assinatura representa o aceite em participar

voluntariamente do estudo.

Destino dos dados coletados: após o término da pesquisa, os dados serão armazenados com

extrema privacidade e confidencialidade dos sujeitos envolvidos em uma sala no

Departamento de Enfermagem, no Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de

Santa Maria, sob a responsabilidade da pesquisadora responsável, Profa. Dra. Suzinara

Beatriz Soares de Lima, por cinco anos. Após este período, serão destruídos.

Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM: Av. Roraima, 1000 - Prédio da Reitoria- 2º andar - Campus - 97105-900

- Santa Maria - RS. Telefone: (55) 3220-9362. E-mail: [email protected].

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Fica, também, garantida uma indenização em casos de danos comprovadamente decorrentes

da participação na pesquisa.

Autorização

Eu, ______________________________________, após a leitura ou a escuta da leitura

deste documento elaborado em duas vias, (sendo que uma ficará comigo e outra via com as

pesquisadoras), e ter tido a oportunidade de conversar com a pesquisadora responsável, para

esclarecer todas as minhas dúvidas, estou suficientemente informado (a), ficando claro que

minha participação é voluntária e que posso retirar este consentimento, a qualquer momento,

sem penalidades ou perda de qualquer benefício. Estou ciente, também, dos objetivos da

pesquisa, dos procedimentos aos quais serei submetido, dos possíveis danos ou riscos deles

provenientes e da garantia de confidencialidade, bem como de esclarecimentos sempre que

desejar. Diante do exposto e de espontânea vontade, expresso minha concordância em

participar deste estudo.

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto, eu, ____________________

_____________________________, estou de acordo em participar desta pesquisa, assinando

este consentimento em duas vias, ficando com a posse de uma delas.

Santa Maria ____, de _____________ de 2015.

______________________________________

Assinatura do (a) participante

____________________________________ ____________________________

Profa. Dra. Suzinara Beatriz Soares de Lima Enfa. Jocelaine Cardoso Gracióli

(pesquisadora responsável) (enfermeira mestranda)

Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM: Av. Roraima, 1000 - Prédio da Reitoria - 2º Andar - Campus - 97105-

900 - Santa Maria- RS. Telefone: (55) 3220-9362. E-mail: [email protected].

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APÊNDICE C – TERMO DE CONFIDENCIALIDADE (TC)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM - MESTRADO

Título do projeto: “Percepção do enfermeiro acerca da readaptação funcional do trabalhador

da enfermagem sob a ótica da gestão”.

Pesquisadora responsável: Suzinara Beatriz Soares de Lima

Autora: Enfa. Mda Jocelaine Cardoso Gracióli

Instituição/Departamento: Enfermagem - telefone para contato: (55) 3220-8473.

Local da coleta de dados: Hospital Universitário de Santa Maria.

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE

A pesquisadora responsável do presente projeto compromete-se a preservar a

privacidade dos participantes cujos dados serão coletados por meio de gravação, a partir de

entrevista semiestruturada individual, que será em local de escolha do participante. Concorda-

se, igualmente, que estas informações serão utilizadas única e exclusivamente para a execução

do presente projeto. As informações somente poderão ser divulgadas de forma anônima e

serão mantidas na Universidade Federal de Santa Maria, localizada na Avenida Roraima, nº

1000, prédio 26 - Centro de Ciências da Saúde, na sala 1305, do Departamento de

Enfermagem da UFSM, CEP: 97105-900 - Santa Maria - RS, por um período de 5 anos, sob a

responsabilidade da profa. pesquisadora, Suzinara Beatriz Soares de Lima. Após este período,

os dados serão destruídos. Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa da UFSM em 15/03/2016, com o número do CAAE

53557916.4.0000.5346.

Santa Maria, ..........de ............................de 2016.

______________________ ____________________________

Jocelaine Cardoso Gracióli Suzinara Beatriz Soares de Lima

enfermeira mestranda pesquisadora responsável

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ANEXOS

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ANEXO A – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE

SANTA MARIA

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ANEXO B – TERMO CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA DA UFSM

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