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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA Rafael Costa Ebling PREVALÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE LESÕES PODAIS EM VACAS LEITEIRAS CRIADAS EM FREE STALL Santa Maria, RS, Brasil. 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

Rafael Costa Ebling

PREVALÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE LESÕES PODAIS EM VACAS LEITEIRAS

CRIADAS EM FREE STALL

Santa Maria, RS, Brasil.

2018

Rafael Costa Ebling

PREVALÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE LESÕES PODAIS EM VACAS LEITEIRAS

CRIADAS EM FREE STALL

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado do Programa de Pós-Graduação

em Medicina Veterinária, Área de

concentração em Clínica e Cirurgia

Veterinária da Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM, RS), como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre

em Medicina Veterinária.

Orientador: Profª Marta Lizandra do Rêgo Leal

Santa Maria, RS, Brasil.

2018

PREVALÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE LESÕES PODAIS EM VACAS LEITEIRAS

CRIADAS EM FREE STALL

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado do Programa de Pós-Graduação

em Medicina Veterinária, Área de

concentração em Clínica e Cirurgia

Veterinária da Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM, RS), como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre

em Medicina Veterinária.

Aprovado em 27 de fevereiro de 2018

______________________________

Marta Lizandra do Rêgo Leal (UFSM)

(Presidente/orientador)

______________________________

Dr. Diego Zeni (IFFar)

_____________________________

Dr. Ricardo Pozzobon (UFSM)

Santa Maria, RS.

2018

DEDICATÓRIA

Dedico esta conquista à minha companheira, Amanda. Por estar comigo em mais essa

caminhada, sempre ao meu lado com uma palavra de incentivo, independente da situação. E

por me ajudar a chegar até aqui. Dedico!

AGRADECIMENTOS

À Deus, agradeço imensamente pela Luz e Energia concebida através de cada oportunidade

que me foi dado. E por servir combustível para enfrentar todas as dificuldades que surgiram

durante este período.

À minha família, que apesar dos momentos difíceis que tenham vivido sempre me apoiaram

independe de minha escolha, assim como me incentivaram a trilhar meu caminho na

realização profissional e pessoal.

À Amanda, pelo convívio e apoio diário nos momentos mais difíceis, nunca deixando de me

apoiar e incentivar a vencer as barreiras que foram surgindo nestes últimos dois anos.

Obrigado por tudo, sem ti esta conquista não seria possível!

À todos meus colegas da Clínica de Ruminantes, muitos que já se encontram em estágio final

ou já iniciando sua carreira profissional, e que por mais que não puderam me acompanhar na

rotina do projeto, sempre desempenharam um grande empenho em ajudar e compartilharam

um grande companheirismo, que levarei para vida toda.

Um agradecimento especial à minha orientadora, Profª Marta, principalmente pela confiança

repassada à mim, para que eu pudesse desempenhar um trabalho que pudesse trabalhar

diretamente com produtores rurais, e que auxiliou de forma exemplar em todas as etapas do

mestrado. Agradeço-te Professora, pela paciência, confiança e pela forma que me ensinaste à

enfrentar as dificuldades da pós-graduação. Devo à ti mais essa conquista, muito obrigado!

À equipe da Ortocasc, em especial, ao veterinário e amigo Luis Paulo Carazzo, que confiou

no nosso projeto e abriu espaço para que juntos pudéssemos desempenhar um trabalho que ao

final pudesse ajudar o produtor rural e aos colegas que trabalham na área.

Ao colega Gustavo Machado, que mesmo de longe, foi de enorme ajuda na organização e

elaboração da parte estatista do trabalho.

À UFSM, por mais esta oportunidade. Assim como ao PPGMV, agradeço especialmente à

Profª Fernanda Vogel e à Secretária Maria, por não medir esforços nos inúmeros auxílios

durante este período. E ao CNPq, pelo fundamental apoio financeiro.

“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei.

Não fosse por elas, eu não teria saído do lugar...

As facilidades nos impedem de caminhar.

Mesmo as críticas nos auxiliam muito.”

Chico Xavier

RESUMO

PREVALÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE LESÕES PODAIS EM VACAS LEITEIRAS

CRIADAS EM FREE STALL

AUTOR: RAFAEL COSTA EBLING

ORIENTADORA: MARTA LIZANDRA DO RÊGO LEAL

A claudicação é uma crescente preocupação na bovinocultura leiteira e geralmente está

atrelada ao tipo de criação dos animais e aos fatores de risco, principalmente aqueles de

origem ambiental, nutricional e genética. Como consequência, há a ocorrência de lesões

podais, causada pela má distribuição de peso em vacas claudicantes, provocando dor, o que

diminui o bem estar e resulta em grandes perdas de produtividade no rebanho. O objetivo

deste estudo é estimar a prevalência de claudicação e a ocorrência e distribuição de lesões de

casco em rebanhos leiteiros criados em sistema de free stall, assim como avaliar sua

correlação com os principais fatores de risco. Os fatores foram avaliados em questionário

mediante questões como se é realizado o casqueamento preventivo na propriedade, uso de

pedilúvio, dimensões e tipo de cama utilizada, o tipo de piso e a frequência de limpeza, o

tempo de permanência dos animais em sala de espera, bem como qual o principal problema

sanitário e qual a maior causa de descarte involuntário. Foram incluídas no estudo 10

propriedades, distribuídas em 7 municípios do Rio Grande do Sul. As vacas foram

examinadas quanto ao seu escore de condição corporal (ECC) e escore de locomoção (EL).

Foi realizado o exame de casco, classificação de lesão e o casqueamento dos animais. Dos

491 animais, 37,2% apresentaram claudicação e 465 lesões podais, sendo 81,4% delas

observadas nos membros posteriores e 18,6% nos membros torácicos. Das lesões nos

membros, 47,1% foram de origem infecciosa e 52,9% não infecciosa. As principais lesões

foram úlcera de sola (31,6%), dermatite digital (30,3%), sola delgada (12%) e dermatite

interdigital (11,2%). Vacas com idade entre 4 a 6 anos apresentaram maior concentração de

lesões e grau de EL. Apenas a questão referente ao uso de pedilúvio não apresentou

associação com as lesões podais, já as demais questões confirmam que a ocorrência de lesão

está associada aos fatores predisponentes questionados. As propriedades que realizam

casqueamento preventivo reduziram em 55% as chances de claudicação em seu rebanho. Os

resultados obtidos revelam que vacas leiteiras criadas em sistema free stall apresentam uma

alta prevalência de claudicação e de afecções podais. Esses dados devem ser levados em

consideração quando da alteração do manejo de criação destes animais, visando reduzir as

expressivas perdas econômicas no rebanho.

Palavras-chave: casco, casqueamento, vacas leiteiras, claudicação.

ABSTRACT

PREVALENCE AND DISTRIBUTION OF FOOT LESIONS IN DAIRY COWS

RAISED IN THE FREESTALL

AUTHOR: RAFAEL COSTA EBLING

ADVISER: MARTA LIZANDRA DO RÊGO LEAL

The prevalence of lameness is a growing concern in dairy cattle and is usually related to the

type of animal rearing and to risk factors, especially those of environmental, nutritional and

genetic origin. As a consequence, there is the occurrence of foot lesions, caused by poor

weight distribution in lame cows, causing pain, which decreases welfare and results in large

losses of productivity in the herd. The objective of this study is to estimate the prevalence of

lameness and the occurrence and distribution of foot lesions in dairy herds kept in a free stall

system, as well as to evaluate their correlation with the main risk factors. The factors were

evaluated in a questionnaire through questions such as whether preventive casing is carried

out on the property, use of foot bath, dimensions and type of bed used, type of floor and

cleaning frequency, length of stay in the waiting room, as well as which is the main health

problem and which is the greatest cause of involuntary discard. The study included 10 farms

distributed in 7 cities of Rio Grande do Sul. The Cows were examined for their body

condition score (BCS) and locomotion score (LS). The foot examination, lesion classification

and the hoof trimming of the animals were performed. Of the 491 animals, 37.2% presented

lameness and 465 foot lesions, 81.4% of which were observed in the hind limbs and 18.6% in

the thoracic limbs. Of the lesions in the limbs, 47.1% were of infectious origin and 52.9%

were noninfectious. The main lesions were sole ulcer (31.6%), digital dermatitis (30.3%), thin

soles (12%) and interdigital dermatitis (11.2%). Cows aged 4 to 6 years had a higher

concentration of lesions and degree of LS. Only the question regarding the use of foot bath

was not associated with the foot injuries, since the other questions confirm that the occurrence

of injury is associated with the predisposing factors questioned. The properties that perform

preventive hoof trimming reduced in 55% the chances of lameness in their herd. The results

show that dairy cows raised in a free stall system have a high prevalence of lameness and of

foot lesions. These data should be taken into account when altering the livestock management

of these animals, in order to reduce the significant economic losses in the herd.

Key words: foot, hoof trimming, dairy cow, lameness.

LISTA DE FIGURAS

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Figura 1. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando dermatite

interdigital. ................................................................................................................................ 16

Figura 2. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando dermatite digital

na região do talão do dígito lateral. .......................................................................................... 17

Figura 3. Membro anterior do sistema locomotor de bovino apresentando flegmão

interdigital. ................................................................................................................................ 17

Figura 4. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando hiperplasia

interdigital. ................................................................................................................................ 18

Figura 5. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando úlcera de sola. ... 18

Figura 6. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentado hemorragia de sola

(circulado em vermelho). .......................................................................................................... 19

Figura 7. Escore de locomoção ................................................................................................ 24

Figura 8. Membro posterior direito de bovino após ser realizado o casqueamento preventivo.

.................................................................................................................................................. 28

Figura 9. Membro posterior esquerdo de bovino após ser realizado casqueamento corretivo e

aplicado taco de madeira na sola do dígito contralateral da lesão. ........................................... 29

Figura 10. Impermeabilização do curativo. .............................................................................. 29

Figura 11. Vaca imobilizada em tronco tombador hidráulico. ................................................. 30

CAPITULO I

Figura 1. Distribuição de lesões específicas em relação à idade animal, agrupados de acordo

com a origem (infecciosa, não infecciosa ou ausente). Houve diferença significativa quanto à

localização das lesões quando os dois grupos foram comparados ao DL – MPE. ............. Erro!

Indicador não definido.

Figura 2. Distribuição do escore de locomoção (A), e escore de condição corporal (B) ao

longo do tempo na propriedade NB1, para um total de 20 animais examinados, observa-se

uma queda significativa de EL acompanhada por uma ligeira melhora no ECC. .................... 43

LISTA DE TABELAS

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Tabela 1. Escore de locomoção. ............................................................................................... 23

CAPÍTULO I

Tabela 1. Distribuição das lesões por membros: anteriores (MA) e posteriores (MP) (%) ..... 38

Tabela 2. Relação entre o escore de locomoção com o total de animais, e de acordo a cada

propriedade que teve todos seus animais examinados (número/%). ........................................ 40

Tabela 3. Correlação entre animais que apresentavam lesões podais e as variáveis coletadas

através do questionário. ............................................................................................................ 41

Tabela 4. Correlação entre escore de locomoção (EL), idade e número de lesões. Observou-se

correlação positiva significativa entre EL, idade e número de lesões em membros anteriores e

posteriores, assim como entre número de lesões nos membros anteriores e posteriores. ........ 43

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 13

2.1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA .............................................................................. 13

2.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DAS LESÕES DOS CASCOS ......................... 14

2.3 FATORES PREDISPONENTES .............................................................................. 19

2.4 DEFINIÇÃO DE CLAUDICAÇÃO ......................................................................... 21

2.5 LOCOMOÇÃO NORMAL DE VACAS LEITEIRAS ............................................. 22

2.6 ESCORE DE LOCOMOÇÃO ................................................................................... 23

2.7 PREVALÊNCIA DE CLAUDICAÇÃO ................................................................... 24

2.8 CASQUEAMENTO PREVENTIVO E CORRETIVO ............................................. 26

2.9 CONTROLE E PROFILAXIA DE LESÕES DE CASCO ....................................... 30

Capítulo I - .............................................................................................................................. 32

RESUMO ................................................................................................................................. 33

ABSTRACT ............................................................................................................................ 34

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 35

MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 36

RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 38

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 44

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 46

4. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 47

12

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos vinte anos, com a crescente demanda por produtos de origem animal,

houve um rápido crescimento da produção pecuária incluindo a produção leiteira

(INTERNATIONAL DAIRY FEDERATION, 2013). Como resultado, os sistemas de

produção leiteira em todo mundo se intensificaram, gerando uma maior concentração de

animais de maior produtividade, aliado a uma diminuição no número de propriedades, porém

sendo estas monitoradas por um número menor de funcionários (VAN DER STRAETEN et

al., 2015). Essa tendência reduziu o tempo disponível do tratador nos cuidados da sanidade

dos animais, o que prejudicou o controle e a prevenção de doenças, em particular nas vacas de

alto rendimento (ENTING et al., 1997).

A claudicação é considerada a terceira maior causa de problemas sanitários em

rebanhos leiteiros, atrás somente de doenças de glândula mamária e do sistema reprodutivo

(ENTING et al., 1997). Pode ser descrita como uma alteração na marcha e postura resultante

de dor ou desconforto nas pernas e cascos do animal (FLOWER & WEARY, 2009). Além de

afetar diretamente a produção animal, causa dor (RUSHEN et al., 2007), reduz a longevidade

(BOOTH et al., 2004) e o desempenho reprodutivo, bem como causa um grande impacto

negativo econômico na criação (GABARDINO et al., 2004). Na maioria das propriedades, a

prevalência de claudicação é muitas vezes subestimada pelos produtores de leite (ESPEJO et

al., 2006).

Além das perdas econômicas geradas pela claudicação, é crescente a preocupação dos

consumidores quanto à criação de animais destinados ao consumo (DE VRIES et al., 2015),

sendo a intensificação dos sistemas de produção um dos principais fatores que comprometem

o bem-estar animal (VON KEYSERLINGK et al., 2012). A mudança da percepção pública e

a crescente preocupação na forma como os alimentos são produzidos, induz forte pressão

sobre a agropecuária, o que reflete tanto em abordagens regulatórias como na vontade do

consumidor de pagar por um produto oriundo de fazendas com um alto nível de bem-estar

animal e que apresentem um programa de prevenção às principais enfermidades do rebanho

leiteiro (HARVEY & HUBBARD, 2013).

As altas prevalências de afecções podais em bovinos leiteiros no Brasil, como em

outros países, têm sido geralmente, associadas com aspectos ambientais que submetem os

cascos a traumas ou condições de umidade e anaerobiose, conforme observado por

pesquisadores em Minas Gerais (MOLINA et al. 1999), em Goiás (SILVA, 2001), no Rio

Grande do Sul (CRUZ et al. 2001) e no Mato Grosso do Sul (MARTINS et al. 2002). Uma

13

ferramenta que pode auxiliar no controle dessas enfermidades é a inspeção dos membros

através da avaliação do escore de locomoção. Se realizada como uma prática de rotina, facilita

a identificação de animais doentes, permite o diagnóstico precoce e rápida intervenção clínica,

o que auxilia na redução das perdas econômicas e melhora o bem-estar dos rebanhos

(CHAPINAL et al., 2013).

A claudicação é um problema persistente nas propriedades leiteiras em todo o mundo

(LAWRENCE et al., 2011), e no Brasil há uma carência de estudos que estimam a

prevalência de claudicação e das afecções podais, bem como a relação destas com fatores

predisponentes em sistemas de produção free stall. Assim, com o propósito de contribuir com

essa questão, o objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de claudicação e a ocorrência e

distribuição de lesões de casco em rebanhos leiteiros criados em sistema de free stall, assim

como avaliar sua correlação com os principais fatores predisponentes.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

As afecções podais representam um problema mundial e estão estritamente

relacionadas com o aumento das exigências de incremento na produção leiteira

(GREENOUGH, 1997). O impacto da claudicação vai além das afecções podais que possa

causar, pois representa um fardo econômico sério aos produtores em decorrência da redução

na produção, do aumento de intervalos entre partos, do aumento de descarte involuntário e

dos custos associados ao tratamento. A prevalência de claudicação varia consideravelmente

entre propriedades, regiões e sistemas de habitação, embora seja geralmente maior em

fazendas que utilizam o sistema de criação free stall (COOK, 2003).

A prevalência de lesões podais de aspecto clínico e subclínico são altas, sendo um

importante problema de saúde no gado leiteiro, em termos de economia e bem-estar animal. A

incidência, a gravidade e a duração dessas enfermidades demonstram a sua importância. De

acordo com Entinget al. (1997), em países como Inglaterra, Canadá e Estados Unidos o custo

médio gasto com uma vaca com lesão podal é da ordem de US$ 389. No Brasil, em estudo

realizado em um rebanho de 113 animais, na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais,

Ferreira et al. (2005), detectaram que os custos totais, decorrentes das lesões podais, foram de

US$ 5.005,23, sendo o custo médio de US$ 44,68 por cada animal doente. Nesta pesquisa, os

autores não computaram os gastos relacionados à diminuição na produção de leite.

14

Em sistemas de quotas de leite na Holanda, os custos decorrentes das afecções podais,

para uma fazenda padrão com 65 vacas giram em torno de US$ 4.899 por ano (variando de

US$ 3.217 a US$ 7.001), com custo de US$ 75 por animal, sendo os casos subclínicos

responsáveis por 32% de todos os custos decorrentes das enfermidades podais (BRUIJNIS et

al., 2010). Em relação ao tipo de lesão, os custos mais elevados foram atribuídos à dermatite

digital, que apresenta alta incidência e prevalência. Porém, os fatores que causaram maiores

custos foram aqueles decorrentes de perdas de produção e do descarte involuntário

(BRUIJNIS et al., 2010).

Estudos que avaliaram dados de produção em cinco fazendas no Reino Unido

demonstraram que a diminuição da produção de leite pode prolongar-se de quatro a cinco

meses após o diagnóstico de uma claudicação clínica, resultando em uma redução média de

357 kg por lactação (GREEN et al., 2002). Hernandez et al., (2005), observaram uma

associação entre o escore de locomoção e a redução na produção de leite, nos primeiros 100

dias lactação, em um rebanho na Flórida. Vacas com escores de locomoção acima de 2

produziram 874 kg a menos de leite quando comparadas àquelas que não apresentaram

claudicação.

De acordo com Miguel-Pacheco et al. (2014), a diminuição da produção de leite de

vacas com claudicação se deve, principalmente, ao aumento no tempo de espera do animal

para se alimentar e pela falta de capacidade em se mover para o balcão de alimentação e sala

de ordenha. Os custos correspondentes às lesões podais que não são detectados pelo produtor

são consideráveis, e este fato indica que os produtores podem subestimar os benefícios da

realização de medidas preventivas e de um melhor monitoramento dos animais. Uma visão

mais acurada sobre as consequências econômicas das afecções podais poderia aumentar a

conscientização do problema entre os produtores de leite e ser um incentivo para que os

mesmos realizem medidas preventivas e de bem-estar animal (BRUIJNIS et al., 2010).

2.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DAS LESÕES DOS CASCOS

Aproximadamente 90% das alterações do sistema locomotor dos bovinos ocorrem nos

cascos (SHEARER, 1998). As lesões podais dos bovinos afetam principalmente as unhas

laterais dos membros pélvicos e as unhas mediais dos membros torácicos, em decorrência do

maior peso empregado nestes dígitos (NUSS & WEAVER, 1991). De acordo com Murray et

al. (1996), 92% das lesões digitais se encontram nos membros pélvicos, sendo 65,4% nas

unhas laterais e 14,4% nas unhas mediais.

15

A conformação dos cascos e pernas, além do tamanho corporal, pode determinar uma

maior ou menor carga sobre um ou mais dígitos, acentuando os problemas através de lesões

mecânicas internas (NICOLETTI, 2003). Acredita-se que a sobrecarga crônica nos dígitos

laterais dos membros pélvicos conduza, eventualmente, a uma desproporção entre os

tamanhos dos dois dígitos em vacas mais velhas (OSSENT et al., 1987).

As lesões dos cascos possuem fisiopatologia e fatores de risco específicos. São

comumente categorizadas de acordo com sua etiologia em lesões infecciosas e não

infecciosas. As lesões infecciosas incluem a dermatite digital, a dermatite interdigital, a

erosão de talão e o flegmão interdigital, enquanto que as lesões não infecciosas mais comuns

são a laminite, a úlcera de sola, a úlcera de pinça, a hemorragia de sola, a doença da linha

branca e a hiperplasia interdigital (INTERNATIONAL LAMENESS COMMITTEE, 2008;

POTTERTON et al., 2012).

As lesões infecciosas geralmente afetam a pele do membro e são influenciadas por

fatores relacionados ao manejo do rebanho, tais como más condições de higiene (BELL et al.,

2009), pisos úmidos e pouca frequência de limpeza dos mesmos (CRAMER et al., 2009),

introdução de vacas secas no rebanho de ordenha, pouco ou nenhum acesso ao pasto e

reduzida frequência de realização de pedilúvio (SOMERS et al., 2003). As lesões não

infecciosas afetam o casco e sua ocorrência está associada a eventos metabólicos e hormonais,

em torno do parto, que enfraquecem o aparelho suspensório do membro (TARLTON et al.,

2002), ao baixo escore corporal (GREEN et al., 2014), ao crescimento excessivo da unha, a

exposição dos animais a pisos duros (SOMERS et al., 2003) e a espessura da sola (BICALHO

et al., 2009).

Dentre as enfermidades podais, ressalta-se a importância das infecções bacterianas de

pele, que são muito importantes, pois os agentes bacterianos são comumente encontrados na

matéria orgânica acumulada nas instalações, sendo agravada sua ocorrência quando há uma

deficiência na higiene dos galpões. Os principais agentes encontrados nas lesões são o

Fusobacterium necrophorum, o Dichelobacter nodosus e as Espiroquetas que provocam

lesões infecciosas, como a dermatite digital e a interdigital (Figura 1 e 2) e que podem evoluir

para um flegmão interdigital (Figura 3). Tais afecções podem reduzir a estabilidade dos

membros afetados, gerando desconforto e dor na locomoção (ALVES, 2007). Em casos de

hiperqueratose ocorre um espessamento de pele na região interdigital, gerando uma

hiperplasia interdigital (Figura 4), caracterizada muitas vezes pela formação de uma lesão

papilomatosa entre os dígitos, o que predispõe a região à traumas e subsequente infecção

(RISCO, 2011).

16

Em decorrência de uma lesão ao epitélio germinal da sola, a transferência inapropriada

de peso aos dígitos pode resultar em úlceras de sola (Figura 4) e hemorragia de sola (Figura

5), que se apresentam em diferentes formas de um processo semelhante da doença (NUSS,

2014). A doença da linha branca também pode surgir a partir do mesmo processo, onde

ocorrem contusões nos tecidos moles em torno da periferia da base da sola, gerado

principalmente pelo acúmulo de umidade e matéria orgânica do ambiente (NEWSOME et al.,

2016).

Figura 1. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando dermatite

interdigital.

17

Figura 2. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando dermatite digital na

região do talão do dígito lateral.

Figura 3. Membro anterior do sistema locomotor de bovino apresentando flegmão

interdigital.

18

Figura 4. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando hiperplasia

interdigital.

Figura 5. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentando úlcera de sola.

19

Figura 6. Membro posterior do sistema locomotor de bovino apresentado hemorragia de sola

(circulado em vermelho).

2.3 FATORES PREDISPONENTES

Os fatores predisponentes às lesões de casco dividem-se, principalmente, em

individuais, genéticos, ambientais e nutricionais (GREENOUGH, 1983), estando geralmente

interligados quando há problemas de casco em um rebanho (DIAS, 2001). Dentre os fatores

predisponentes destacam-se aqueles ligados ao tipo de habitação (CHAPINAL et al., 2013), a

nutrição (DIPPEL et al., 2009), a raça (BARKER et al., 2010), e ao tamanho do rebanho

(CRAMER et al., 2008).

Fatores individuais de cada animal podem estar correlacionados a uma maior chance

da ocorrência de claudicação. A idade e o estágio de lactação são de grande influência.

Quanto mais velho for o animal, maior a chance de desenvolver problemas de casco. É dito

que vacas com dez anos de idade têm quatro vezes mais chance de desenvolver lesões que

vacas com três anos (NICOLETTI, 2003). Contudo, animais com pouca idade ao parto

também fazem parte do grupo de risco. Vacas e novilhas em estágios iniciais de lactação,

durante os três a quatro primeiros meses, são mais susceptíveis por estarem em um momento

de maior aporte energético e também do balanço energético negativo (Nicoletti, 2003).

20

O peso corporal, o escore de condição corporal (ECC) e a mobilização de gordura têm

associação com a claudicação (NEWSOME et al., 2016). É estimado que para cada 100 kg de

aumento no peso corporal, há um aumento de 1,9 vezes na chance de problemas clínicos de

claudicação, bem como há uma correlação positiva entre incidência de claudicação e o alto

peso corporal (NICOLETTI, 2003). A espessura da almofada digital está associada com o

ECC, pois contém tecido adiposo em sua formação (RÄBER et al., 2006). Portanto, animais

pesados que perdem muito ECC são mais predispostos a ocorrência de claudicação em

decorrência da mobilização de gordura local, gerando uma maior pressão exercida ao epitélio

germinal e ruptura do tecido do casco (BICALHO et al.,2009).

A seleção genética é um fator importante na ocorrência das afecções podais. Pois com

a intensificação da produção leiteira e, consequente, aumento gradual na produção de leite,

houve também um incremento no peso dos animais. Porém, não houve melhoramento no

sistema locomotor para sustentar seu peso. Assim, tornou-se importante o uso de touros que

repassem características como ângulo do casco e conformação das pernas, que são fatores que

afetam a longevidade do animal (DIAS et al., 2001). Outras características hereditárias são o

formato da unha e a qualidade do tecido córneo, que apresentam correlação positiva com a

produtividade da vaca leiteira, pois animais que possuem cascos com unhas muito abertas são

mais predispostos à ocorrência de hiperplasia interdigital e traumas na região (DIAS et al.

2001).

A grande variabilidade de instalações nos sistemas de produção, assim como as

práticas de manejo nas fazendas são consideradas como fatores predisponentes para

claudicação (SOLANO et al.,2015) e estão fortemente implicadas na ocorrência das lesões

podais. Sistema de produção com higiene precária das instalações, excesso de umidade,

utilização de cascalho nas vias de acesso ou dentro dos estábulos, bem como a presença de

irregularidades nos pisos, são considerados possíveis fatores ambientais que predispõem o

desenvolvimento das lesões dos cascos (SOLANO et al., 2015).

Um fator que contribui para um aumento de umidade nas instalações, em sistema de

criação fechado como free stall, é o clima local ou a sazonalidade do ano, pois em

determinadas épocas do ano há o estresse térmico que está implicado no aumento da

prevalência de determinadas enfermidades, incluindo as afecções podais (SOLANO et al.,

2015). Estudos no Reino Unido (RUTHERFORD et al., 2009) e no Sudeste dos Estados

Unidos (SANDERS et al., 2009) mostraram que a primavera e o verão são os períodos com

maior risco de lesões de garras, devido ao calor e a alta umidade.

21

A manutenção de um ambiente com umidade adequada, sem pedras, sem pedaços de

madeira ou outro tipo de material que possa traumatizar ou amolecer o casco é de

fundamental importância no controle das lesões de cunho infeccioso, pois, muitas vezes, uma

lesão local no casco é pré-requisito para o início de uma afecção de cunho infeccioso. A

umidade, em decorrência do acúmulo de lama, amolece o casco tornando-o mais frágil a

penetração de corpos estranhos como, por exemplo, o cascalho que causa lesões na sola e no

espaço interdigital e aumenta, significativamente, a ocorrência de problemas de casco (DIAS

et al., 2001).

A pavimentação das habitações é um importante fator de risco para a ocorrência de

claudicação, pois o equilíbrio entre desgaste e crescimento das unhas do casco depende de

uma boa relação entre a suavidade e abrasividade do piso (VAN DER TOL et al., 2004).

Somers et al., (2003) relataram que a longa exposição dos cascos ao piso de concreto tem um

efeito negativo por apresentar um maior desgaste de sola. Tal fato geralmente é observado em

vacas criadas em sistema free stall, onde há, na maioria das vezes, uma maior prevalência de

lesões de casco (COOK, 2003).

Fatores nutricionais têm relação direta com o aporte de nutrientes do casco, e uma

alteração na dieta fornecida às vacas podem provocar uma queda na qualidade do estojo

córneo, favorecendo o surgimento de afecções podais (TÚLIO, 2006). A síndrome da acidose

ruminal subaguda (SARA), causada pela ingestão de dieta com altos teores de carboidratos de

fácil fermentação e pobre em fibra fisicamente efetiva é uma das principais causas da laminite

subaguda (FERREIRA, 2005). Na SARA há morte de bactérias gram negativas com liberação

de endotoxinas e absorção pela parede ruminal. As endotoxinas ativam mediadores

inflamatórios que vão reduzir a nutrição das laminas dérmicas e provocar a laminite

subaguda, a qual é responsável por mais de 60% das demais afecções podais (FERREIRA,

2005).

2.4 DEFINIÇÃO DE CLAUDICAÇÃO

Claudicação pode ser definida como uma manifestação clínica de distúrbios dolorosos,

principalmente relacionados ao sistema locomotor, resultando em alterações de movimento ou

desvio de marcha normal ou postura (COOK, 2003). A gravidade da claudicação pode variar

de rigidez ou diminuição da simetria do movimento dos membros para uma incapacidade de

suportar peso em um membro, ou mesmo de recumbência total. Os distúrbios podem estar

localizados nos membros ou tronco do animal e podem incluir lesões dolorosas, bem como

defeitos mecânicos, resultando em incapacidade física (MAAS, 2009).

22

Problemas de marcha são, portanto, uma manifestação de desconforto ou dor. No gado

leiteiro, as principais causas de claudicação são as enfermidades dos cascos (GREENOUGH,

2007). Além disso, a claudicação também pode ser associada a lesões no sistema nervoso

(como a paralisia do nervo obturador), bem como ao sistema músculo esquelético (fraturas,

artrite e tendinite) (MERCK, 2015).

No entanto, deve notar-se que a marcha anormal pode desenvolver-se não só como

resultado de distúrbios no sistema locomotor, mas também como resultado de alteração em

outros órgãos como, por exemplo, distensão severa do úbere em novilhas (FLOWER, et al.,

2006). Além disso, fatores ambientais e genéticos podem prejudicar a locomoção. Piso

molhado, ambientes úmidos, frequência de casqueamento, idade dos animais, dimensões

corporais das vacas, lactação e estágio de gestação podem causar alterações relacionadas à

claudicação (VAN NUFFEL, 1997).

2.5 LOCOMOÇÃO NORMAL DE VACAS LEITEIRAS

Para melhor entendimento sobre a locomoção anormal (marcha e postura), é notável a

importância da compreensão sobre marcha normal - com ênfase na maneira como as vacas

caminham. As análises fundamentais da marcha se concentraram na relação entre os

movimentos dos membros feitos através das passadas do animal (EILAM, 1997).

Phillips (2007) definiu a locomoção normal de uma vaca como passos onde cada

membro é levantado pelo encurtamento do membro através da flexão das articulações usando

especialmente os músculos flexores do quadril, do joelho, do jarrete e do flexor digital. O

membro então entra na fase de balanço (durante o qual o membro não tem contato com o

solo) e é colocado no chão através da extensão lenta da articulação. Uma vez que o membro

está no chão, ele verifica o suporte e a sola é empurrada fortemente contra o chão contraindo

os flexores digitais. Isso permite o início da fase de suporte (durante o qual o membro está em

contato com o solo) novamente seguido pela próxima fase de balanço.

A caminhada é uma marcha de quatro batidas uniformemente espaçadas sem fase de

suspensão, mas com suporte alternativo por dois ou três membros. A sucessão usual de

membros que contatam o solo durante a caminhada é AD-AE-PD-PE (onde D, E, A, P indica

direita, esquerda, anterior e posterior, respectivamente) com um ritmo regular e mesmo

espaçamento entre as patas. Hildebrand (1989) afirmou que é convencional entrar no ciclo

com o membro posterior esquerdo. Para permitir que o membro posterior se sobreponha ao

membro anterior, o último geralmente é levantado imediatamente antes da colocação do

membro posterior. Durante uma caminhada normal, a duração do suporte excede a do

23

balanço, e os membros diferentes mostram uma sobreposição de menos de 50% na fase de

balanço de duas etapas sucessivas (EILAM, 1997).

2.6 ESCORE DE LOCOMOÇÃO

O escore de locomoção (EL) é uma ferramenta bastante importante no diagnóstico das

lesões de casco, pois através do seu uso, podem-se antecipar estratégias de tratamento e

prevenção para o rebanho. A avaliação do escore de locomoção auxilia na detecção precoce

de desordens nos cascos, além de auxiliar no monitoramento da prevalência e incidência de

claudicação (OLIVEIRA, 2007).

O diagnóstico das afecções é realizado de acordo com o tipo de lesão podal e sempre

deve ser feito com maior brevidade. O EL deve fazer parte da rotina de monitoramento dos

animais de cada propriedade, para que possa obter informações que permitam tomadas de

decisões. Dados sobre prevalência no Brasil são bastante variáveis, Martins (2002) indica que

em rebanho com mais de 15% de animais acometidos, há a necessidade de um estudo e

intervenção para controle do problema. Nicoletti (2003) considera de 7 a 10% como um valor

aceitável e alerta que esse número seja muitas vezes maior em propriedades brasileiras.

A técnica empregada na avaliação do escore de locomoção foi desenvolvida na

Inglaterra e tem sido amplamente utilizada em vários países. Para realizar a avaliação é

necessário observar os animais em locomoção e parados. O piso dever ser duro e plano e de

preferência deve ser realizado após a ordenha ou em um local onde os animais caminhem com

naturalidade (DIAS, 2003). A tabela 1 define os parâmetros mensurados e atribui o valor na

avaliação, configurando assim o escore de locomoção.

Tabela 1. Escore de locomoção.

Escore Características em estação Características em locomoção

1 Linha dorsal retilínea Passos firmes com distribuição correta de

peso e apoio

2 Linha dorsal retilínea Dorso ligeiramente arqueado com apoios

normais

3 Linha dorsal arqueada Dorso arqueado com ligeira alteração nos

passos

4 Linha dorsal arqueada Dorso arqueado com apoio reduzido no

membro afetado

5 Linhas dorsais arqueada com

retirada do apoio sobre o membro

Não apoia o membro e apresenta

relutância ou recusa na locomoção

Fonte: Oliveira (2007).

24

Figura 7 – Escore de locomoção

Fonte: Oliveira (2007).

2.7 PREVALÊNCIA DE CLAUDICAÇÃO

A prevalência de claudicação varia consideravelmente entre propriedades, regiões e

sistemas de criação, embora seja geralmente maior em sistema de free stall em comparação

com tie stall (SOGSTAD et al., 2005), compost barn (HASKELL et al., 2006) e sistemas de

pastagens (HERNANDEZ-MENDO et al., 2006). Há registros estimando a prevalência média

de claudicação em alguns países, como é o caso da Áustria, com 28% (KOFLER et al., 2013),

Canadá com 28,5% (ITO et al., 2010), 33,2% no Chile (TADICH et al., 2010), 36,8% na

Inglaterra e País de Gales (BARKER et al., 2010), 46,4% nos Estados Unidos (CRAMER et

al., 2008) e 34% na Alemanha (DIPPEL et al., 2009).

25

Em pesquisa realizada nos Estados Unidos, Cook (2003) detectou uma média de

prevalência de claudicação de 25% em fazendas free stall em Wisconsin e Minnesota,

enquanto que na Califórnia e no nordeste dos Estados Unidos, a prevalência de claudicação,

em propriedades de sistema free stall, foi de 34 e 63%, respectivamente (VON

KEYSERLINGK et al., 2012). Estudos britânicos e alemães realizados em propriedades que

utilizam o mesmo sistema de criação, demonstraram respectivamente, uma prevalência de

claudicação de 37 e 48% (WHAY et al., 2003; BARKER et al., 2010), enquanto que nos

Países Baixos a prevalência em sistema anteriormente citado foi de 16% (AMORY et al.,

2006).

Na província da Colúmbia Britânica, Canadá, foi realizado um estudo que objetivou

avaliar a prevalência de claudicação em vacas leiteiras criadas em free stall, com base nos

escores de locomoção (VON KEYSERLINGK et al., 2012). Nesse estudo, detectou-se 35%

de vacas claudicantes. Dentre estes animais, 7% apresentaram escore máximo de claudicação.

No entanto, neste estudo, nenhuma análise foi realizada acerca dos possíveis fatores de risco

envolvidos na claudicação. Os sistemas de pontuação de claudicação diferiram

consideravelmente entre as pesquisas. Portanto, as variações nas estimativas de prevalência de

claudicação entre estudos europeus e norte-americanos podem estar, parcialmente, atrelados à

metodologia e aos critérios diagnósticos.

Alguns estudos realizados em diferentes estados do Brasil demonstraram que a

prevalência das afecções podais é alta. Souza (2002), examinou 323 vacas em 63 fazendas de

Minas Gerais (57 de sistema de criação semi-intensivo e 6 de sistema intensivo de produção),

e detectou uma prevalência de lesões de casco de 89,8%. As lesões mais observadas foram:

erosão de talão (59,8%), dermatite digital (30,3%), casco em forma de tesoura(24,1%),

doença da linha branca (16,4%), estrias horizontais na muralha (15,5%), dermatite interdigital

(14,6%), hemorragia de sola (11,1%), úlcera de sola (7,1%), hiperplasia interdigital (5,9%),

sola dupla (4%), casco em saca rolha, (3,4%), hemorragia de muralha (3,1%) e úlcera de

pinça (1,5%).

Martins et al. (2002), estudaram a ocorrência de lesões podais em propriedades

localizadas em Campo Grande/MS e municípios adjacentes e detectaram uma prevalência de

14,13%. As lesões mais encontradas foram: dermatite digital (26%), pododermatite séptica

(20,6%), hiperplasia interdigital (17,3%), dermatite interdigital (14,7%), laminite crônica

(11,3%), úlcera de sola (4,5%), doença da linha branca (1,4%), erosão do talão (1,4%) e

afecções osteomusculares e articulares (3,8%).

26

Molina et al. (1998), realizaram um estudo em 469 vacas, em Belo Horizonte/MG, e

encontraram lesões em 142 animais, representando uma prevalência de 30,3%, sendo as mais

frequentes a erosão da camada córnea com 48,5%, seguida pela dermatite interdigital com

13,5% e da pododermatite séptica com 9,6%. Silveira et al.(2008), mediante visitas técnicas a

diversas propriedades rurais no estado do Pará, examinaram 80 bovinos com problemas

podais, entre animais de corte e leite, e detectaram 22 enfermidades de casco. Do total de

animais, 35 apresentaram mais de uma lesão, identificando-se 144 lesões. As enfermidades

com maior prevalência foram a pododermatite séptica difusa (20,33%) e a hiperplasia

interdigital (18,75%).

As altas estimativas de prevalência de claudicação e lesões de casco com suas

variações demonstram a necessidade de uma melhor compreensão das origens multifatoriais

da claudicação e da combinação de fatores de risco relacionados ao meio ambiente e ao

manejo realizado nas propriedades (VERMUNT, 2007). Apesar do aumento da

conscientização sobre a gravidade da claudicação em rebanhos leiteiros, poucos estudos

epidemiológicos têm sido realizados com o intuito de avaliar a associação da prevalência de

claudicação com os fatores de risco.

2.8 CASQUEAMENTO PREVENTIVO E CORRETIVO

Diferentes técnicas de apara dos cascos são documentadas na literatura e todas

levaram a uma melhoria do padrão de distribuição da pressão sobre os cascos (ZEINER et al.,

2007). A taxa de crescimento do casco é de em média 5 mm por mês, o que pode ser

influenciado pelo piso das instalações e o sistema ao qual são criados os animais, podendo

haver um crescimento excessivo dos cascos, necessitando sucessivos aparos para correção dos

apoios e restabelecimento da sua morfologia (FERREIRA, 2005). O casqueamento é

comumente usado porque melhora o equilíbrio entre a unha medial e lateral (BRYAN et al.,

2012) e distribui o peso para as partes mais resistentes do estojo córneo do dígito do casco

(VAN DER TOL et al., 2004). O objetivo do casqueamento preventivo é equilibrar a

distribuição de peso entre os dois dígitos dos membros do bovino (TOUSSAINT RAVEN,

1989).

A técnica comumente utilizada no casqueamento preventivo segue uma ordem padrão,

iniciando-se pelo corte da pinça da unha lateral do membro posterior, por serem maiores,

através do uso da torquês para restabelecer o comprimento dorsal de em torno de 7,5 cm para

raça Holandesa. No caso de haver dificuldade para restabelecer este tamanho, prioriza-se

deixar ambas as unhas ligeiramente maiores. Nos membros anteriores, a conduta é realizada

27

ao contrário, iniciando pela unha medial. Seguindo a ordem, o aparo da muralha deve iniciar

pelo talão, o qual deve ser preservado totalmente (considerado como “ponto zero”) e o corte

deve ser direcionado no sentido do realizado na pinça, seguindo uma linha reta imaginária.

Para isso procura-se manter a torquês paralela à sola cortando-se a muralha. A sola, por sua

vez, deve ser aparada com rineta preferencialmente, tendo-se o cuidado de não fazer remoção

excessiva da mesma, no intuito de manter 5 a 7 mm de espessura (FERREIRA, 2005).

A figura 9 mostra um membro posterior esquerdo de um bovino após casqueamento.

Aconselha-se que o aparo do casco deva ser feito duas a três vezes ao ano, dependendo das

condições em que os animais da propriedade se encontram. Ferreira (2005) recomenda que o

momento ideal para realizar o casqueamento é no período de secagem das vacas, porém, é

comum que animais estabulados em período de lactação apresentem cascos demasiadamente

desgastados pelos pisos das instalações. Neste caso, sugere-se que se realizem as correções no

início da lactação.

O tratamento a ser seguido em casos onde se faz necessário um casqueamento

corretivo, principalmente quando há a presença de lesão que afeta os cascos (Figura 9) e pele

adjacente, segue uma ordem, iniciando-se pela limpeza e desinfecção do casco através do uso

de água e escova. Na sequência, realiza-se a secagem do casco e região interdigital. De acordo

à lesão encontrada, aplica-se antibiótico no local da lesão com posterior curativo realizado

com algodão ortopédico e atadura de crepom. Em casos mais graves, quando há lesão de sola

em um dos dígitos, pode ser realizada a fixação de um taco de madeira na sola do dígito

contralateral, através do uso de material a base resina acrílica de metacrilato de metila,

possibilitando, assim, que o animal não apoie seu peso na unha em que se encontre a lesão.

Após fixação do taco, faz-se uso de antibiótico local na lesão, seguido também de curativo

(Figura 10), o que otimiza a ação do medicamento e diminui a chance de contaminação

(FERREIRA, 2005).

Ao se realizar qualquer tipo de tratamento nos cascos das vacas é importante ressaltar

as medidas de segurança a serem aplicadas tanto para o animal, quando para os profissionais.

Há a possibilidade de se executar o trabalho com o animal em estação contido na sala de

ordenha, porém este método está em desuso. Hoje, há possibilidade de uso tronco de

contenção transportáveis, sendo um método mais seguro e cômodo. Há uma variedade de

modelos de troncos de contenção, sendo um dos mais utilizados em nosso país, o tronco de

contenção tombador hidráulico (Figura 11), por se tratar de uma ferramenta mais cômoda para

a rotina de trabalho, proporcionando acesso a todos os dígitos ao mesmo tempo e também

28

uma maior ergonomia ao técnico, principalmente quando se realiza o casqueamento de um

elevado número de animais (SILVA, 2009).

Figura 8 – Membro posterior direito de bovino após ser realizado o casqueamento preventivo.

29

Figura 9 – Membro posterior esquerdo de bovino após ser realizado casqueamento corretivo e

aplicado taco de madeira na sola do dígito contralateral da lesão.

Figura 10 – Impermeabilização do curativo.

30

Figura 11 – Vaca imobilizada em tronco tombador hidráulico.

2.9 CONTROLE E PROFILAXIA DE LESÕES DE CASCO

O controle da ocorrência de lesões de casco pode se realizado com o auxílio do

monitoramento do rebanho através do uso do escore de locomoção dos animais, o que é

possível através do treinamento de técnicos ou funcionários responsáveis pelo manejo,

auxiliado por programas de registro e acompanhamento do estado sanitário dos animais

(SOLANO et al., 2015), deste modo diminui-se custos que poderá haver com tratamentos e

queda da produção dos animais acometidos.

A realização de casqueamento preventivo em todos os animais da propriedade é

essencial para evitar lesões extensivas. O uso do pedilúvio de três a cinco vezes por semana é

indicado em fazendas com alta prevalência de claudicação. As soluções mais comumente

utilizadas são formalina 3 - 5%, sulfato de zinco a 10% ou sulfato de cobre a 5%. O pedilúvio

deve ser construído na saída da ordenha das vacas, com dimensões de aproximadamente 80

cm de largura por 3 metros de comprimentos e 20 cm de profundidade para que tenha uma

lâmina de solução de no mínimo 10 cm. Dessa forma é possível controlar os processos

infecciosos podais e tornar os cascos dos bovinos mais resistentes aos patógenos e a umidade

(SCOTT, 2011).

O local de alojamento dos animais é varia de acordo com o sistema de criação e as

condições dos proprietários, porém deve-se dar importância a itens que geram conforto e bem

estar ao rebanho, como manter o ambiente ventilado, evitar acúmulo de matéria orgânica nos

31

pisos, apresentar quantidade de cama suficiente com tamanho adequado para que o animal

possa se deitar confortavelmente, mantendo-se sempre seco, limpo e elevado do restante do

piso do confinamento, para evitar acúmulo de dejetos e umidade (GREENOUGH, 2007).

32

Capítulo I -

(Artigo a ser submetido ao periódico Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e

Zootecnia)

Prevalência e distribuição de lesões podais em vacas leiteiras criadas em free stall

Rafael Costa Ebling, Gustavo Machado, Amanda Krummenauer, Luis Paulo Carazzo, Diego

Zeni, Marta Lizandra do Rêgo Leal

33

Prevalência e distribuição de lesões podais em vacas leiteiras criadas em free stall

Prevalence and distribution of feet lesions in dairy cows raised in the freestall

Rafael Costa Ebling1*

, Gustavo Machado2, Amanda Krummenauer

1, Luis Paulo Carazzo

3,

Diego Zeni4,

Marta Lizandra do Rêgo Leal1

1 Departamento de Grandes Animais, Clínica de Ruminantes, Universidade Federal de Santa

Maria/RS, Brasil. *Autor para correspondência: [email protected]

2 Veterinary Population Medicine Department, University of Minnesota, USA

3 Universidade Anhanguera Uniderp, Campo Grande/MT, Brasil

4 Instituto Federal Farroupilha, Campus São Vicente do Sul/RS, Brasil

RESUMO

As lesões podais são uma das principais causas de perdas de produtividade na indústria

leiteira. Neste estudo objetivamos estimar a prevalência de claudicação, a distribuição de

lesões de casco, e associá-las com fatores predisponentes em vacas leiteiras criadas em free

stall. Foram incluídas no estudo 10 propriedades, distribuídas em 7 municípios do Rio Grande

do Sul. As vacas foram examinadas quanto ao seu escore de condição corporal (ECC) e

escore de locomoção (EL). Foi realizado o exame de casco, a classificação de lesão e o

casqueamento dos animais. Dos 491 animais, 37,2% apresentaram claudicação e 465 lesões

podais, sendo 81,4% delas observadas nos membros posteriores e 18,6% nos membros

torácicos. Das lesões nos membros, 47,1% foram de origem infecciosa e 52,9% não

infecciosa. As principais lesões foram úlcera de sola (31,6%), dermatite digital (30,3%), Sola

delgada (12%) e dermatite interdigital (11,2%). Vacas com idade entre 4 a 6 anos

apresentaram maior concentração de lesões e maior grau de EL. Apenas a questão referente

ao uso de pedilúvio não apresentou associação com as lesões podais, já as demais questões

confirmam que a ocorrência de lesão está associada aos fatores predisponentes. O

casqueamento preventivo reduziu em 55% as chances de claudicação. Os resultados obtidos

revelam que vacas leiteiras criadas em sistema free stall apresentam uma alta prevalência de

claudicação e de afecções podais. Esses dados devem ser levados em consideração quando da

alteração do manejo de criação destes animais, visando reduzir as expressivas perdas

econômicas no rebanho.

Palavras-chave: casco, casqueamento, vacas leiteiras, claudicação.

34

ABSTRACT

The foot lesions are one of the main causes of productivity losses in the dairy industry. In this

study we aimed to estimate the prevalence of lameness, the distribution of foot lesions, and to

associate them with predisposing factors in free stall dairy cows. The study included 10 farms

distributed in 7 cities of Rio Grande do Sul. The cows were examined for their body condition

score (BCS) and locomotion score (LS). The foot examination, the classification of lesion and

the hoof trimming of the animals were performed. Of the 491 animals, 37.2% presented

lameness and 465 foot lesions, 81.4% of which were observed in the hind limbs and 18.6% in

the thoracic limbs. Of the lesions in the limbs, 47.1% were of infectious origin and 52.9%

were noninfectious. The main lesions were sole ulcer (31.6%), digital dermatitis (30.3%), thin

soles (12%) and interdigital dermatitis (11.2%). The cows aged 4 to 6 years had a higher

concentration of lesions and a higher degree of LS. Only the question regarding the use of

foot bath was not associated with foot lesion, while the other questions confirm that the

occurrence of lesions is associated with predisposing factors. The hoof trimming reduction

reduced the chances of lameness by 55%. The results show that dairy cows raised in a free

stall system have a high prevalence of lameness and of foot conditions. These data should be

taken into account when altering the livestock management of these animals, in order to

reduce the significant economic losses in the herd.

Key words: foot, hoof trimming, dairy cow, lameness.

35

INTRODUÇÃO

A intensificação da produção de leite levou ao aumento do risco para a ocorrência da

claudicação (Huxley, 2012), sendo hoje considerada um dos maiores problemas que afetam o

bem estar, a saúde e a produtividade de bovinos leiteiros em todo o mundo. Como

consequência, há expressiva redução da longevidade, da produção leiteira e do desempenho

reprodutivo dos animais, comprometendo a atividade econômica. A redução na produção

pode ser de até 360 kg de leite por lactação (Green et al., 2014).

As causas de claudicação em vacas leiteiras são multifatoriais e estão associadas, na

maioria das vezes, com erros nutricionais, falha no manejo das instalações e processos

infecciosos localizados (Lean et al., 2013). Estudos destacaram que o tipo de piso das

instalações (Telezhenko & Bergsten, 2005), tipo de cama e a frequência de limpeza das

mesmas, o acesso à pastagem, o uso de pedilúvio (Chapinal et al., 2013), e as dimensões das

instalações (Dippel et al., 2009) são fatores que podem contribuir para o aumento dos casos

de claudicação em vacas leiteiras criadas em free stall.

Em estudo realizado com o objetivo de avaliar a prevalência de claudicação em

rebanhos criados em free stall em três regiões da América do Norte, dentre elas: British

Columbia, Canadá (BC; n = 40); Califórnia (CA; n = 39) e nordeste dos Estados Unidos (NE;

n = 40), Von Keyserlingk et al (2012) observaram, mediante utilização do escore de

locomoção, prevalência média de 27,9% em rebanhos da BC; 30,8% em fazendas da CA e

54,8% em propriedades leiteiras do NE-EUA.

Estudos em algumas regiões do Brasil, com o objetivo de avaliar diferentes protocolos

de tratamento e custos de lesões podais decorrentes da laminite subclínica (hemorragia e

hematoma de sola), em rebanhos leiteiros confinados em sistema free stall, demonstraram um

custo médio de US$ 44.68 por animal, e em casos de úlceras de sola o custo aumentou para

US$ 72.58 (Ferreira et al., 2005). Estes mesmos autores relataram alta prevalência de

claudicação em bovinos leiteiros criados em sistema intensivo, onde as instalações continham

pisos abrasivos e acúmulo de matéria orgânica, inadequado plano nutricional e ausência de

medidas profiláticas (Ferreira et al., 2003).

Em razão da crescente preocupação em relação à ocorrência de afecções podais em

vacas leiteiras que geram expressivas perdas econômicas e descarte involuntário de animais,

bem como pela escassez de estudos nacionais acerca do tema, o objetivo deste estudo foi

36

avaliar a prevalência, as principais lesões podais e os fatores de risco envolvidos na

ocorrência de claudicação nas vacas criadas no sistema free stall.

MATERIAL E MÉTODOS

O protocolo experimental foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da

Universidade Federal de Santa Maria (CEUA-UFSM), nº 4224100117, e pelo Comitê de Ética

em Pesquisa (CEP-UFSM) nº 63958817.3.0000.5346. Este estudo foi realizado em

propriedades rurais de produção leiteira localizadas no estado do Rio Grande do Sul que

demonstraram interesse em fazer parte do projeto.

Durante o período de 10 de abril a 02 de junho de 2017, foram visitadas 10

propriedades que utilizam sistema free stall de produção leiteira, na região nordeste, noroeste

e norte do estado do Rio Grande do Sul, localizadas nos municípios de: Estrela (E1 e E2),

Nova Bassano (NB1, NB2 e NB3), Seberi (S1), Nicolau Vergueiro (NV1), Três Passos (TP1),

Santo Cristo (SC1) e Catuípe (C1), totalizando 491 animais examinados, provenientes das

seguintes propriedades: TP1 = 171, NB1 = 105, SC1 = 92, NV1 = 32, C1 = 29, S1 = 25, E1 =

17, NB2 = 8, E2 = 7 e NB3 = 6. Os produtores foram consultados previamente quanto à

participação na pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Durante as visitas, realizou-se uma entrevista com o produtor, fazendo uso de um

questionário no qual questionamos aspectos de manejo e instalações da propriedade, no

intuito de relacionar as lesões identificadas, com as características dos locais onde os animais

eram criados: dimensões da cama (metros), tipo de cama, frequência de reposição de cama,

tipo de piso e frequência de limpeza, tempo de permanência dos animais no local, realização

de casqueamento preventivo e uso de pedilúvio, bem como principais problemas sanitários

encontrados na propriedade, e causas de descarte dos animais.

Quatro propriedades realizaram o casqueamento preventivo de todas as vacas em

lactação (NB1, TP1, NV1 SC1), outras três realizaram o casqueamento apenas nos animais

que o produtor julgou necessário (E1, E2 e NB3), e as demais propriedades (S1, C1 e NB2)

não haviam realizado o casqueamento preventivo semestral dos animais.

O escore de condição corporal (ECC) e o escore de Locomoção (EL) foram avaliados

individualmente por dois profissionais previamente treinados, no momento de saída dos

animais da sala de ordenha. A avaliação do ECC da vaca reflete o quanto ela está magra ou

gorda, numa escala de 1 a 5. É baseada na inspeção e palpação de algumas regiões do corpo

37

do animal (costela, lombo, garupa e inserção da cauda), para verificar o conteúdo da massa

muscular e gordura subcutânea. (Edmondson et. al, 1989).

A avaliação do EL é realizada através da observação da vaca em estação e em

movimento, classificando-a numa escala de 1 a 5, de acordo com Rosenberger (1979). No

escore 1, a vaca apresenta uma caminhada sem qualquer alteração. No escore 2, a vaca

caminha lentamente, com passadas curtas e com o dorso levemente arqueado. No escore 3, há

uma claudicação moderada, onde a vaca caminha muito lentamente, com passadas curtas e

paragens sucessivas, e o dorso está arqueado tanto na locomoção quando em estação. No

escore 4, a vaca evita apoiar-se no membro afetado, recolhendo-o sempre que possível e já

apresenta perda de peso associado. E por fim, no escore 5, onde já há uma claudicação severa,

muitas vezes associado com decúbito permanente, o animal apresenta extrema dificuldade de

se locomover, há supressão total do apoio no membro afetado, dorso extremamente arqueado

e perda de peso

Posteriormente, com o animal contido em um tronco hidráulico tombador (Herts®,

Garça/SP – Brasil) em decúbito lateral direito, foi realizada a classificação da lesão podal de

acordo com o membro afetado, classificação da lesão e avaliação da idade mediante exame

dentário (Jardim, 2005).

As informações coletadas de cada animal submetido ao exame foram analisadas

primeiramente de forma descritiva. Para a verificação da distribuição de lesões para propósito

analítico, as lesões foram agrupadas em dois grupos, sendo elas lesões infecciosas - Dermatite

digital (D); Erosão de talão (E); Dermatite interdigital (I) e Flegmão Interdigital (F) - e não

infecciosas - Lesão de Linha Branca (W); Úlcera de Sola (U); Hemorragia de Sola (H); Úlcera

de Pinça (T); Unha Saca-Rolha (C); Fissura Horizontal (G); Fissura Vertical (V); Fissura

Axial (X); Hiperplasia Interdigital (K) e Sola Delgada (Z).

A comparação entre animais que apresentavam ou não lesões podais em relação a cada

uma das perguntas presentes no questionário, foi realizada através do teste de qui quadrado. A

associação entre o EL, a classificação da lesão levando-se em consideração o local da lesão, a

idade e a classificação da lesão, foram analisados através de test t de student. O número de

lesões independente do local ou caráter infeccioso ou não infeccioso também foi agrupado e

contado de acordo com o membro envolvido (anterior ou posterior).

Além da correlação entre EL, o número de lesões nos membros anteriores e

posteriores e a idade foram analisados através de correlação de Pearson's. Um número de

animais foi examinado múltiplas vezes (máximo 3), os quais foram analisados ao longo do

tempo quanto a evolução do EL e ECC. Por fim, as informações coletadas ao nível de

38

propriedade foram integradas aos animais e um modelo misto foi utilizado para verificar a

associação entre EL e a possível preditora ao nível de manejo. Neste sentido, um modelo

misto com uma porção randômica “propriedades” foi utilizado para acessar a associação dos

efeitos fixos em relação ao EL de forma univariada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos podem ser visualizados nas tabelas 1, 2 e 3 e figuras 1 e 2. Os

animais oriundos das propriedades de sistema free stall avaliadas durante o estudo

apresentaram um número de 464 lesões podais (Tab. 1). Dentre elas observou-se uma maior

prevalência da úlcera de casco, 31,6%, seguida de dermatite digital, 30,3%; Sola delgada,

12%; dermatite interdigital, 11,2%; flegmão interdigital, 4,1%; unha saca-rolha, 3,7%; úlcera

de pinça, 3,4%; hiperplasia interdigital, 1,5%; erosão de talão, 1,5% e hemorragia de sola,

0,6%.

Em estudo realizado em 63 fazendas de Minas Gerais, das quais 57 utilizaram sistema

de criação semi-intensivo de produção e 6 sistemas intensivos, totalizando 323 animais, Souza

(2002) também observou alta prevalência (89,8%) de lesões de cascos nos animais, sendo as

lesões ou alterações anatômicas mais observadas a erosão de talão, 59,8%; dermatite digital,

30,3%; casco em forma de tesoura, 24,1%; doença da linha branca, 16,4%; estrias horizontais

na muralha, 15,5%; dermatite interdigital, 14,6%; hemorragia de sola, 11,1%; úlcera de sola,

7,1%; hiperplasia interdigital, 5,9%; sola dupla, 4%; casco em forma de saca rolha, 3,4%;

hemorragia de muralha, 3,1% e úlcera de pinça, 1,5%.

Tabela 1. Distribuição das lesões por membros: anteriores (MA) e posteriores (MP) (%).

MA MA% MP MP% Total Total%

Úlcera de sola 28 19,0 118 80,3 146 31,6

Dermatite digital 17 12,1 124 87,9 141 30,3

Sola delgada 23 41,1 33 58,9 56 12

Dermatite interdigital 7 13,1 45 86,5 52 11,2

Flegmão interdigital 1 5,3 16 84,2 19 4,1

Unhas saca-rolha 6 35,3 11 64,7 17 3,7

Úlcera de pinça 2 12,5 14 87,5 16 3,4

Hiperplasia interdig. 0 0,00 7 100 7 1,5

Erosão de talão 0 0,00 7 100 7 1,5

Hemorragia de sola 2 66,7 1 33,3 3 0,6

Total 86 19,6 376 81,4 464 100

39

A distribuição entre lesões de origem infecciosas (47,1%) e não infecciosas (52,9%)

nos animais examinados obteve equivalência. Entre as lesões não infecciosas, houve destaque

para a úlcera de sola (59,8%) e sola delgada (22,8%). Dentre as de origem infecciosa

detectamos a dermatite digital (64,4%) e a dermatite interdigital (23,7%) foram as mais

prevalentes. Na província de Alberta, Canadá, Solano et al. (2016), avaliaram a prevalência e

distribuição de lesões em rebanhos leiteiros criados também em sistema free stall. A

prevalência das lesões podais foi de 36% e as principais lesões observadas foram: dermatite

digital (15%), seguida de úlcera de sola (6%), e doença de linha branca (4%). Os autores

atribuíram o sistema de criação, o manejo e higiene dos galpões como possíveis responsáveis

pela alta percentagem de animais com lesões podais.

Em relação à distribuição das lesões (Tab. 1), apenas 86 lesões (18,5%) foram

encontradas nos membros anteriores. Por outro lado, nos membros posteriores, 376 animais

exibiram lesões podais (80,9%). Dentre as principais lesões, a úlcera de sola (80,3%/n = 118)

foi mais prevalente, seguida pela úlcera de pinça (87,5/n = 14), dermatite digital (87,9%/n =

124), dermatite interdigital (86,5%/n = 45) e flegmão interdigital (84,2%/n = 16). Silva (2001)

em estudo com o objetivo de avaliar as características clínicas e epidemiológicas das

enfermidades podais em vacas lactantes do município de Orizona - GO, também detectou

maior prevalência das lesões nos membros pélvicos (87,6%) em relação àquelas observadas

nos membros torácicos (12,3%). Molina (1998), em estudo sobre prevalência e classificação

de afecções podais em vacas lactantes na bacia leiteira de Belo Horizonte, detectou 66,7% das

lesões nos membros pélvicos e 33,3% nos torácicos. A prevalência das lesões nos membros

pélvicos está relacionada a biomecânica da locomoção e a exposição direta dos cascos a

fatores predisponente, como maior acúmulo de matéria orgânica.

Entre os animais do estudo, 38,4% (n = 183) apresentaram algum grau de claudicação

(EL>1). Sendo que as propriedades em que realizaram o casqueamento de todas as vacas em

lactação (NB1, TP1, SC1 e NV1), obtiveram as seguintes porcentagens de vacas com

claudicação: NB1 = 36,3%, SC1 = 25%, TP1 = 22,2% e NV1 = 9,4%, as demais propriedades

que ainda não realizavam o casqueamento, foram excluídas deste cálculo. Dados sobre

prevalência são bastante variáveis, Martins (2002) indica que em rebanho com mais de 15%

de animais acometidos, há a necessidade de um estudo e intervenção para controle do

problema. Nicoletti (2003) considera de 7 a 10% como um valor aceitável, e refere ainda que

esse número é muitas vezes maior na realidade das propriedades brasileiras, variando também

entre regiões. Molina (1998) observou na bacia leiteira de Belo Horizonte uma prevalência de

claudicação 33,3% nos animais avaliados. Cruz et al. (2005) afirmam que a variação da

40

prevalência de animais claudicação em animais criados em sistema intensivo de produção

pode variar de 7 a 55%.

Tabela 2. Relação entre o escore de locomoção com o total de animais, e de acordo a cada

propriedade que teve todos seus animais examinados (número/%).

EC T/% NB1/% NV1/% TP1/% SC1/%

1 308/62,5 65/63,7 29/90,6 133/77,8 69/75

2 144/29,4 29/28,4 2/6,3 31/18,1 22/23,9

3 31/6,3 8/7,8 1/3,1 6/3,5 0/0

4 4/0,8 0/0 0/0 1/0,6 0/0

5 4/0,8 0/0 0/0 0/0,6 1/1,1

Total 491/100 102/100 32/100 171/100 92/100

EC>1/% 183/38,4 37/36,3 3/9,4 38/22,2 23/25

EL: Escore de locomoção; T: Total; Propriedades (NB1, NV1, TP1 e SC1).

A prevalência de claudicação varia consideravelmente entre propriedades, regiões e

sistemas de produção, embora seja geralmente mais elevada em animais criados em free stall

comparado àqueles criados em outros sistemas (Sogstad et al., 2005). Nos estados de

Wisconsin e Minnesota (EUA) a prevalência de claudicação em vacas criadas em sistema free

stall foi de 25%, enquanto que na Califórnia e no nordeste americano detectou-se,

respectivamente, 34 e 63% das vacas sofrendo de claudicação (Von Keyserlingk et al., 2012).

Estudos britânicos e alemães relataram, respectivamente, prevalência de claudicação em vacas

leiteiras de 37 e 48% (Barker et al., 2010) enquanto nos Países Baixos a prevalência foi de

16% (Amory et al., 2006).

De acordo com Cruz (2001), a prevalência das lesões está relacionada diretamente

com a exposição a fatores predisponentes. Fatores como a genética, onde animais de alta

produção são mais acometidos (Dias, 2003). O ambiente, onde há más condições de higiene,

acúmulo de fezes e urina, qualidade inadequado de piso, clima quente com alta umidade, entre

outros (Nicoletti, 2003). Distúrbios nutricionais ou metabólicos que causem uma diminuição

no aporte de nutrientes ao casco, assim como mudanças bruscas na alimentação, provocam

uma queda na qualidade do estojo córneo, favorecendo o aparecimento de lesões podais

(Túlio, 2006).

Entre as causas mais comuns de lesões de casco por distúrbio alimentar está a acidose

ruminal (Radostits, 2007), onde o animal ingere grandes quantidades de concentrados e

quantidade inadequada de fibras. Nas propriedades observadas de modo geral, foi observada

causas multifatoriais, principalmente fatores extrínsecos como manejo e instalações

41

inadequadas, aliando uma alta concentração de umidade com pisos abrasivos onde as vacas

eram mantidas.

Na tabela 3, observa-se que houve uma correlação positiva entre os fatores

predisponentes e os animais que apresentaram lesões podais (P<0,05). Apenas a questão

referente ao uso de pedilúvio não apresentou correlação com a ocorrência das lesões (P>0.05).

Alguns poucos estudos também relataram associações entre claudicação e fatores

predisponentes como o tipo de piso (Telezhenko & Bergsten, 2005), a quantidade, a limpeza e

o tipo de cama (Chapinal et al., 2013), as dimensões do galpão (Dippel et al., 2009), o acesso

à pastagem e a frequência de utilização do pedilúvio (Chapinal et al., 2013). As diferenças nas

estimativas de claudicação entre os estudos também podem ser atribuídas às condições de

manejo sanitário e ao tipo de instalações das fazendas.

Tabela 3. Correlação entre animais que apresentaram lesões podais e às variáveis coletadas

através do questionário.

Variáveis p-valor*

Dimensões da cama 2,67 × 10−8

Tipo de cama 9,01 × 10−5

Frequência de reposição de cama 1,36 × 10−7

Tipo de piso 0,000196

Como é limpo o piso 0,005797

Frequência de limpeza 8,05× 10−6

Tempo de permanência na sala de espera 2,51× 10−10

1º maior problema sanitário 1,75 × 10−5

1ª causa de descarte 5,95× 10−7

Realiza casqueamento preventivo 1,64× 10−6

Uso pedilúvio 0,216600 P<0,05 – correlação positiva entre as variáveis e a presença de lesões

A distribuição de EL foi agrupada em dois grupos (lesões infecciosas e não

infecciosas) respeitando a localização por membro estudado. Observou-se diferença nas

lesões em relação a sua origem, havendo uma concentração nos dígitos laterais dos membros

posteriores. E quando relacionadas à idade animal, houve maior prevalência em vacas com 4 a

6 anos. Na figura 1, quanto à localização das lesões, os dois grupos foram comparados, e

houve uma maior concentração de lesões não infecciosas no dígito lateral do membro

posterior esquerdo (DL – MPE) com diferença significativa. Todavia não foi possível

observar resultados significativos em outros locais do casco provavelmente devido à alta

dispersão dos dados.

42

Figura 1. Distribuição de lesões específicas em relação à idade animal, agrupados de acordo

com a origem (infecciosa, não infecciosa ou ausente). Houve diferença significativa quanto à

localização das lesões quando os dois grupos foram comparados ao DL – MPE.

DL: Dígito lateral; DM: Dígito medial; ID: Espaço interdigital; MPE: Membro posterior esquerdo; MPD:

Membro posterior direito.

De acordo com Greenouch et al. (2007), algumas lesões podais, como a erosão de

talão, afetam principalmente as unhas laterais dos membros posteriores, sendo observado

frequentemente em animais mais velhos. Esta doença é considerada pelo mesmo autor como

um estágio avançado da dermatite interdigital, a qual também foi observada em nosso estudo,

onde as bactérias Dichelobacter nodosus, e secundariamente Fusobacterium necrophorum são

os principais agentes causadores. Os fatores predisponentes para tais lesões encontram-se na

alta concentração de animais, acúmulo de sujidades e alta umidade, causando o

enfraquecimento dos cascos e lesões de pele digital e interdigital, propiciando a entrada do

agente infeccioso nos cascos (Blowey, 2011).

Quando correlacionados o EL, número de lesões por membro e idade, observou-se

correlação positiva (Tab. 4). De acordo com Nicoletti (2003), a idade e o estágio de lactação

da vaca são de grande influência, pois quanto maior a idade do animal, maior a chance de

desenvolver lesões de casco. É afirmado também que vacas com dez anos de idade têm quatro

vezes mais chances de desenvolver lesões que vacas com três anos. No entanto, as novilhas

com menos idade ao parto fazem parte do grupo de risco. Segundo o mesmo autor, vacas e

novilhas no período de transição pós-parto, durante os primeiros meses, são mais susceptíveis

por estarem em um momento de maior necessidade energética.

43

Tabela 4. Correlação entre escore de locomoção (EL), idade e número de lesões. Observou-se

correlação positiva significativa entre EL, idade e número de lesões em membros anteriores e

posteriores, assim como entre número de lesões nos membros anteriores e posteriores. EL Idade MA MP

EL - 0,187* 0,205* 0,467*

Idade 0,187* - 0,063 0,081

MA 0,205* 0,063 - 0,348*

MP 0,467* 0,081 0,348* -

Correlação calculada usando método de Pearson; *Correlação significativa positiva.

Na propriedade NB1, houve a possibilidade de examinar alguns animais em três

momentos distintos durante o período de coleta de dados, os quais apresentaram uma

evolução do EL (Fig. 2A) e ECC (Fig. 2B). No decorrer das três observações, pode-se notar

que houve uma redução significativa do EL e um incremento no ECC. (Fig.2) O que se pode

aferir que, o casqueamento realizado de forma regular permite uma conformação adequada

dos cascos, uma maior higiene podal e possibilita que o animal possa apoiar seu peso

novamente no membro anteriormente comprometido Greenough (2007).

Figura 2. Distribuição do escore de locomoção (A), e escore de condição corporal (B) ao

longo do tempo na propriedade NB1, para um total de 20 animais examinados, observa-se

uma queda significativa de EL acompanhada por uma ligeira melhora no ECC.

Escore de locomoção – EL; escore de condição corporal - ECC

Houve uma associação significativa entre a realização de casqueamento preventivo

relatada pelos produtores e a redução de EL, com uma razão de possiblidades de 0.456

(IC95% 0.22-0.94), ou seja, a realização de casqueamento parece reduzir o EL em 55%. Na

rotina da propriedade é essencial como medida profilática para o rebanho leiteiro o

casqueamento preventivo de todos os animais, a fim de evitar lesões graves, assim como a

utilização de pedilúvios com formalina a 5%, ou sulfato de zinco a 10% ou sulfato de cobre a

44

5% que tornam os cascos dos bovinos mais resistentes aos patógenos e a umidade (Scott,

2011). De acordo com Silva (2006), associado ao uso do pedilúvio, indica-se a realização de

casqueamento dos animais estabulados, uma ou duas vezes ao ano, para correção de cascos e

identificação prematura dos problemas, visando reduzir à prevalência das afecções podais e as

perdas econômicas geradas por tais enfermidades.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos revelam que vacas leiteiras criadas em sistema free stall

apresentam uma alta prevalência de claudicação e de afecções podais, e que há associação

com fatores predisponentes. O casqueamento preventivo realizado com frequência em vacas

em lactação reduz as chances de claudicação no rebanho e, consequentemente, a ocorrência de

lesões.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Claudicação é um problema presente nas propriedades leiteiras, apresentando graves

consequências em nível de bem-estar animal, produção e rentabilidade ao produtor. O

monitoramento através do escore de locomoção e o casqueamento regular são ferramentas

eficazes para prevenir o surgimento de lesões podais graves, assim como evita perdas

econômicas de produção e custos com tratamento.

O conhecimento do produtor sobre os fatores predisponentes à claudicação, o auxilia a

tomar medidas profiláticas em relação ao ambiente das instalações, como um correto

balanceamento nutricional e uma melhor forma em se realizar o manejo diário do rebanho.

Tais fatores estarão sempre associados, e apenas estarão em equilíbrio quando forem

trabalhados em conjunto.

47

4. REFERÊNCIAS

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