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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM
CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE COMUNICAO SOCIAL HAB. RELAES PBLICAS
SABRINA RAUPP SOUZA
ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM
EM ORGANIZAES DESPORTIVAS
Santa Maria
2008
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SABRINA RAUPP SOUZA
ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM
EM ORGANIZAES DESPORTIVAS
Monografia apresentada Universidade Federal
de Santa Maria - UFSM, como requisito parcial
para obteno do ttulo de Bacharel em
Comunicao Social Habilitao Relaes
Pblicas.
Orientador: Prof . Ms. Elisngela Carlosso Machado Mortari
Santa Maria
2008
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SABRINA RAUPP SOUZA
ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM
EM ORGANIZAES DESPORTIVAS
Monografia apresentada Universidade Federal
de Santa Maria - UFSM, como requisito parcial
para obteno do ttulo de Bacharel em
Comunicao Social Habilitao em Relaes
Pblicas.
Aprovado pela Banca Examinadora em dezembro de 2008.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Elisngela Carlosso Machado Mortari - UFSM
Orientadora
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Maria Ivete Trevisan Foss UFSM
___________________________________________________________________
Prof. Mnica Pieniz - UFSM
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que contriburam de forma direta ou indireta para que este trabalho de
concluso de curso fosse realizado. Sendo assim, no posso deixar de citar algumas pessoas
especiais que contriburam pra que eu o realizasse:
Aos meus pais e ao meu irmo Jael, Lonir e Renan por sempre me dar amor e
compreenso. Por sempre apoiar e incentivar o meu desenvolvimento. Agradeo os abraos e os
beijos, as palavras de incentivo, os gestos carinhosos, os auxlios na pesquisa e, acima de tudo,
por sempre estarem presentes na minha vida. Amo vocs.
Aos meus tios e primos, por sempre dizerem que estudo fundamental, por acreditarem
em mim e por se unirem. Somos uma famlia, a famlia dos bonitos, e como tal, superamos
nossas diferenas e nos unimos no s nos momentos de alegria, como tambm nos de tristeza e
preocupao. Adoro vocs.
minha amiga-tia Vernica, sem ela a pesquisa estaria pela metade, o acesso aos livros
seria mais difcil. Obrigada por ir e vir comigo, pegando e devolvendo livros. Tens um lugar s
teu no meu corao.
minha grande amiga Carla, exemplo de profissional e uma pessoa admirvel. Ela soube
empregar as palavras certas para me acalmar nos momentos de desespero. Espero um dia poder
retribuir o que fizeste por mim. Muito obrigada por tudo.
s minhas amigas-irms Dani, Mari, Tais, Manu e Adri por proporcionar-me
momentos de extrema alegria, por contriburem com a realizao deste trabalho e por no
deixarem que eu desanimasse. Saibam que podem sempre contar comigo.
Finalmente, no poderia deixar de prestar um agradecimento especial Professora
Elisngela Machado Cardoso Mortari, pela disponibilidade de orientar este estudo mesmo tendo
diversas outras atividades sob sua responsabilidade. Muito obrigada por aceitar o meu convite,
pois sem sua guia este trabalho no se concretizaria.
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"Eterno tudo aquilo que dura uma frao de segundos,
mas com tamanha intensidade que se petrifica
e nenhuma fora jamais o resgata..."
Carlos Drummond de Andrade
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RESUMO
O presente estudo visa anlise de como organizaes desportivas podem utilizar estratgias de
comunicao para administrar crises de imagem. Como exemplo, utilizado o caso do
rebaixamento de Srie no Campeonato Brasileiro do clube Grmio Foot-Ball Porto Alegrense,
fato ocorrido entre dezembro de 2004 e novembro de 2005. Buscou-se conciliar as teorias de
Relaes Pblicas, Comunicao e Marketing com a finalidade de realizar uma anlise sobre o
consumidor desportivo, a configurao de crise de imagem para a organizao desportiva e a
administrao dessa crise. A pesquisa foi realizada com base nos conceitos metodolgicos de
Antonio Carlos Gil sobre pesquisas ex-post-facto, documental e bibliogrfica; aplicando ainda
tcnica de coleta de dados atravs de entrevista pautada focalizada em uma amostragem
intencional. Aps coletar os dados da organizao exemplo, foi realizado o levantamento terico
e a anlise dos dados coletados com base na teoria pesquisada. Conclui-se, ao fim do trabalho,
que esta pesquisa pode auxiliar organizaes desportivas na elaborao de estratgias de
comunicao que possam vir a utilizar no relacionamento com consumidores desportivos em
momentos de crise.
Palavras-chave: Crise, Relacionamento e Comunicao.
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ABSTRACT
This study is the analysis of how sports organizations can use for communication strategies to
manage crises of image. How an example, it is used in case the series relegation of Grmio Foot-
Ball Porto Alegrense on the Brazilian Championship, actually occurred between December 2004
and November 2005. Trying to conciliate the Public Relations theories, Communication and
Marketing with the porpoise of performing an analysis on the consumers sports, the configuration
of image crisis to the athletic organization and the administration of this crisis. The research was
realized based on Antonio Carlos Gil methodological concepts about researches ex-post-facto,
related to documents and bibliographies; applying still data collection technique by a registered
interview focus on an intentional sampling. After collecting the example organization data, it was realized a theorist
gathering and the collected data analyze based on the researched theory. It follows that, in the end of the work, this
research can help athletic organizations on elaborating communication strategies they will be able use on the athletic
consumers relationship in crisis moments.
Key-words: Crisis, Relationship and Communication
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SUMRIO
CONSIDERAES INICIAIS .................................................................................... 9
1 AS ORGANIZAES DESPORTIVAS .................................................................... 13
1.1 O que so Organizaes .................................................................................................. 14
1.1.1 Conceituando Organizaes Desportivas ........................................................................ 15
1.2 A A Comunicao Organizacional ...................................................................................... 17
1.2.1 Comunicao em Organizaes Desportivas ................................................................... 20
1.3 Crises Organizacionais ..................................................................................................... 23
1.3.1 Crises em Organizaes Desportivas ............................................................................... 24
2 PBLICOS: COMPORTAMENTO E RELACIONAMENTOS ............................. 26
2.1 Pblicos ............................................................................................................................ 26
2.1.1 Os Pblicos da Organizao Desportiva .......................................................................... 28
2.2 Comportamento do Consumidor ...................................................................................... 30
2.2.1 O Consumidor Desportivo ............................................................................................... 34
2.3 Relacionamentos .............................................................................................................. 37
2.3.1 As Relaes Pblicas ....................................................................................................... 39
2.3.2 O Marketing de Relacionamentos ................................................................................... 42
3 ADMINISTRANDO CRISES ....................................................................................... 45
3.1 Identidade e Imagem Organizacional .............................................................................. 45
3.1.1 Fatores que Sustentam Imagens ....................................................................................... 48
3.2 Marketing de Emoes ..................................................................................................... 50
3.2.1 Os Arqutipos Emocionais ............................................................................................... 51
3.3 Organizaes Administrando Crises de Imagem ............................................................. 52
4 COMO A ORGANIZAO DESPORTIVA SUPERA CRISES
UTILIZANDO ESTRATGIAS DE COMUNICAO: O CASO GRMIO ....... 57
4.1 A Crise ............................................................................................................................. 57
4.2 Enfrentando a Crise .......................................................................................................... 61
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 72
REFERNCIAS ............................................................................................................. 76
ANEXOS ......................................................................................................................... 81
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CONSIDERAES INICIAIS
O Brasil tem presenciado a transformao do esporte, que era considerado uma atividade
de lazer, em um negcio lucrativo para organizaes desportivas e instituies que desejam ter
seu nome aliado aos valores transmitidos pelo esporte. Neste contexto, o futebol a principal
fora da indstria esportiva. Segundo especialistas1, s no ano de 2005 este esporte movimentou
cerca de US$ 330 milhes no Brasil, sendo que este valor o somatrio dos totais referentes
venda de jogadores, bilheterias, investimento de patrocinadores e transmisso dos jogos.
A mudana no cenrio do clube de futebol brasileiro para o clube empresa comeou em
1992, com a co-gesto entre um clube de futebol tradicional de So Paulo e uma empresa de
laticnios que desejava ganhar visibilidade no mercado brasileiro. Neste caso, a administrao do
clube foi dividida, mas, atualmente, o modelo que vem sendo adotado em grande nmero o
investimento para explorao da imagem. A marca do clube administrada pelo investidor
enquanto o departamento de futebol pelos dirigentes do clube (ASSEF, 2000). A transformao
do futebol em empresa e a comercializao da marca dos clubes iniciaram porque este esporte
apresenta um fator atrativo, os torcedores que se tornam, fora do campo, consumidores em
potencial das empresas que patrocinam os times pelos quais torcem com tanto fervor.
Porm, a empresarizao das organizaes desportivas e a visibilidade miditica dada ao
esporte tornaram os acontecimentos negativos ocorridos nessas organizaes mais um espetculo
para a mdia (Proni, 1998). Sendo assim, a imagem de clubes de futebol e instituies esportivas
tornou-se to importante para estes quanto a de uma fbrica de produtos qumicos para esta. A
imagem organizacional que vai render ao clube o interesse de grandes investidores e o interesse
dos prprios torcedores em consumir produtos e servios relacionados com o clube.
Considerando que a imagem passou a ser de grande valia para as organizaes
desportivas, estas devem investir em profissionais que possam administrar a imagem da
organizao, bem como elaborar estratgias para solucionar possveis crises que afetem este bem.
E, com o intuito de validar esta idia, surgiu a proposta deste estudo.
Este estudo procura identificar estratgias de comunicao que auxiliam organizaes
desportivas a administrar crises de imagem. A monografia, que ora se desenvolve, tem como
1 FONTE: Site G1 (http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL5405-9356,00.html) matria publicada
em 12 de fevereiro de 2007.
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL5405-9356,00.html
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objetivos situar as organizaes desportivas como empresas com fins lucrativos, identificar quem
so os consumidores dos produtos e servios produzidos por ela e o que os leva a consumir,
identificar as bases da imagem dessas organizaes, indicar meios para administrar crises de
imagem e relatar a crise de imagem que atingiu o clube de futebol gacho Grmio Foot-Ball
Porto Alegrense e como este a solucionou com estratgias de comunicao.
O tema proposto traz a administrao de crises de imagem em organizaes desportivas
como uma rea a ser melhor explorada pela comunicao, principalmente pelas Relaes
Pblicas. Mas no a questo do marketing esportivo e do jornalismo esportivo, e sim, a
comunicao e as relaes entre organizao e pblicos e como isso se reflete na imagem da
organizao e auxilia a prevenir e gerenciar crises de imagem. A escolha do tema foi baseada em
uma mistura dos interesses que a investigadora possui pelos assuntos: relacionamento com
pblicos, crises de imagem e esporte. E a escolha do Clube referido anteriormente foi baseada na
localizao geogrfica de fcil acesso para a pesquisadora e pelo histrico do Clube que
apresenta um acontecimento negativo que gerou uma crise de imagem junto aos torcedores.
Neste estudo no se tem a pretenso de elaborar um manual sobre como as organizaes
desportivas devem utilizar estratgias de comunicao para administrar crises de imagem, mas
sim, analisar um fato deste tipo ocorrido e o contrapor com as falas de tericos. O estudo ter
importncia para a comunicao social, pois dar mais ateno a um mercado pouco explorado,
possibilitando o surgimento de novas questes a serem futuramente pesquisadas.
Para que o conhecimento gerado por este trabalho seja cientfico necessrio identificar
os mtodos que possibilitaram sua verificao. Conforme Gil (1999, p.27), o que torna o
conhecimento cientfico distinto dos demais que tem como caracterstica fundamental a sua
verificabilidade. Assim sendo, pode-se dizer que este estudo de natureza exploratria, pois
envolve levantamento bibliogrfico, entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas
com o problema pesquisado e anlise de exemplos. Dessa forma, visa-se proporcionar um maior
conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas
mais precisos ou criar hipteses que possam ser pesquisadas posteriormente (GIL, 1999).
Para desenvolver esta pesquisa foi necessrio realizar o planejamento da mesma, ou seja,
realizou-se um delineamento. O delineamento de uma pesquisa o planejamento da pesquisa em
sua dimenso mais ampla, envolvendo tanto a diagramao quando a previso de anlise e
interpretao dos dados (GIL, 1999, p. 64). Para este estudo foi utilizado o delineamento ex-
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post-facto, visto que foi realizado o resgate de um fato que a pesquisadora no vivenciou.
Segundo Gil (1999, p. 69), pode-se definir pesquisa ex-post-facto como uma investigao
sistemtica e emprica na qual o pesquisador no tem controle direto sobre as variveis
independentes, porque j ocorreram suas manifestaes. uma pesquisa de carter exploratrio,
de cunho qualitativo e na qual o pesquisador no tem como manipular as variveis porque elas
chegam a ele j tendo realizados seus efeitos, ou seja, trata-se da recuperao de um fato passado
para anlise. Tambm, foram utilizadas metodologias como a pesquisa bibliogrfica, a
documental e a entrevista pautada em amostragem intencional.
A pesquisa bibliogrfica a realizao de um levantamento terico sobre assuntos
abordados pelo tema de pesquisa e adequados rea esportiva. A pesquisadora buscou a
contribuio conceitual de autores como Argenti, Fortes, Frana, Rosa, dentre outros. Para a
realizao da pesquisa documental, foi consultado o acervo do Museu de Comunicao Social
Hiplito Jos da Costa, o centro de Documentao e Informao do jornal Zero Hora e o Grmio
Foot-Ball Porto Alegrense, todos localizado em Porto Alegre.
Outro mtodo de pesquisa utilizado foi a entrevista. A realizao deste mtodo em
pesquisas sociais " bastante adequada para a obteno de informaes acerca do que as pessoas
sabem, crem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como
acerca das suas explicaes ou razes a respeito das coisas precedentes" (Selltiz apud Gil, 1999,
p.117). Com esse intuito foi empregada a entrevista por pautas, a qual se trata de um tipo de
entrevista com certo grau de estruturao, j que se guia por uma relao de pontos de interesse
que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso (GIL, 1999, p. 120). A amostragem
para realizar as entrevistas classificada como no probabilstica e intencional, pois consiste em
identificar e selecionar pessoas que possibilitem a obteno de informaes necessrias ao
desenvolvimento da pesquisa (GIL, 1999). Deste modo, foram selecionados: o Coordenador
Executivo de Comunicao do Grmio, Haroldo Santos, o qual participou da administrao da
crise vivida pelo Clube; a Gerente de Marketing do Grmio, Michelle Billo; a Relaes Pblicas
do Grmio, Melissa Motta, a qual trabalhava no Clube no perodo de interesse da pesquisa e a
Gerente de Conta da agncia SLM Ogilvy, Grace Barth, a qual prestou servios publicitrios para
o Clube durante o perodo de interesse da pesquisa.
Destes selecionados, somente a Relaes Pblicas do Clube recusou-se a colaborar com a
pesquisa alegando que necessitaria de uma autorizao do Clube para conceder a entrevista. Tal
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autorizao no foi possvel devido ao fato do Clube autorizar somente duas pesquisas por
semestre, sendo que o pedido deve ser realizado com um semestre, ou mais, de antecedncia,
segundo as informaes transmitidas pela prpria Melissa Motta.
Assim, o estudo foi estruturado em quatro captulos. O captulo de nmero um trata das
definies de organizao, comunicao organizacional e crises em organizaes. Com base
nestas definies, foi dissertado sobre: organizaes desportivas, comunicao organizacional
desportiva e crises em organizaes desportivas, a fim de melhor compreender o tipo de
organizao referente no estudo e proporcionar maior preciso na abordagem do tema proposto.
A elaborao deste captulo tem como base principal os conceitos dos autores Richard Hall
(1984), Mrio Rosa (2001), Margarida Maria K. Kunsch (2003) e Joo Jos Forni (2003).
No captulo de nmero dois encontram-se definies de pblicos tratando-se,
principalmente, do pblico de organizaes desportivas de comportamento de consumidores e
do consumidor desportivo, de relacionamentos organizao-pblicos e dos panoramas de
Relaes Pblicas e Marketing de Relacionamentos sobre esse tema. Desta forma, ser possvel
visualizar como a comunicao influencia na perspectiva dos pblicos sobre a organizao. Para
este captulo, a pesquisadora utilizou as opinies de Fbio Frana (2004), Roberto Porto Simes
(1995), Jagdish Sheth, Banwari Mittal e Bruce Newman (2001).
O captulo seguinte, de nmero trs, apresenta conceitos de identidade organizacional,
imagem organizacional e marketing de emoes neste ltimo item d-se destaque para os
arqutipos emocionais. Tambm, demonstrado como cada uma dessas reas interfere na outra e
como a comunicao as trabalha. A elaborao deste captulo tem como principais autores Mrio
Rosa (2001), Joo Jos Forni (2003) e Jos Souza Martins (1999).
A partir do contedo destes captulos, realizada a anlise da pesquisa ex-post-facto no
Grmio Foot-Ball Porto Alegrense. Logo, no captulo de nmero quatro, relatada a situao de
crise vivida pelo Clube e como esta afetou a sua imagem. Tambm, so descritas as estratgias de
comunicao que o Clube utilizou para administrar a crise. As estratgias ao serem descritas so,
tambm, contrapostas com teorias de estudiosos da comunicao como Paul A. Argenti (2006),
Jos Souza Martins (1999) e Cludia Lemos e Rozlia Del Gaudio (2003).
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1 AS ORGANIZAES DESPORTIVAS
Este captulo pretende tornar um pouco mais claro a complexidade das organizaes, do
fenmeno da comunicao nela existente e das situaes de crise que podem ocorrer em seu
desenvolvimento. Desta forma, busca-se iniciar com a apresentao de conceitos sobre
organizao, que, segundo Oliveira (2001, p. 68), desde o passado mais remoto, nossos
ancestrais aprenderam a juntar esforos para atingir objetivos. A unio desses esforos pode ter
como objetivo o lazer, o entretenimento por meio do esporte, e, assim, o homem criou as
organizaes desportivas. E, dentre essas organizaes, pode-se dizer que a de maior sucesso o
clube de futebol. Esporte que ganhou grande repercusso nacional e virou smbolo do Brasil.
O destaque nacional dado ao esporte e a profissionalizao de clubes e jogadores fez o
futebol deixar de ser um simples esporte para se tornar um negcio lucrativo para os clubes
esportivos e investidores nacionais e internacionais que desejam entrar no mercado brasileiro. A
transformao do futebol brasileiro em empresa comeou no ano de 1992, com a co-gesto entre
Parmalat e Palmeiras, caso no qual a administrao do clube dividida (ASSEF, 2000). Mas este
no o nico modelo de parceria que os clubes brasileiros esto realizando com os investidores
interessados. Atualmente, conforme Assef, o modelo que vem sendo adotado o investimento
para explorao da imagem. A marca do clube administrada pelo investidor enquanto o
departamento de futebol pelos dirigentes.
Os clubes de futebol e as demais organizaes desportivas assim como diversas outras
empresas apresentam deficincias no que se refere comunicao organizacional, que,
conforme Baldissera (2000, p. 26) compreende todo o fluxo de mensagens que compe a rede de
relaes sob o mbito da organizao. Ocorrem falhas no gerenciamento da comunicao
porque poucos gerentes reconhecem a importncia da comunicao, relutam em contratar os
profissionais qualificados necessrios para vencer no atual ambiente de negcios (ARGENTI,
2006, p. 15). Esse fato leva muitas aes negativas que ocorrem dentro da organizao a
tornarem-se crises de imagem, alm de, tambm, prejudicar o relacionamento da organizao
com seus pblicos, principalmente com os clientes. Por isso, neste trabalho, busca-se dissertar
como as estratgias de comunicao podem auxiliar as organizaes a administrarem crises.
Assim, o Captulo 1 d-se inicio com a explanao sobre os conceitos de organizao.
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1.1 O que so Organizaes
Para introduzir um breve conceito de organizao, busca-se respaldo na Teoria Clssica
da Administrao a qual se preocupou em analisar a estrutura organizacional, pois seu fundador,
Herry Fayol, acreditava que partia-se do todo organizacional e da sua estrutura para garantir
eficincia a todas as partes envolvidas (FAYOL apud CHIAVENATO, 1983, p.70). A nfase na
hierarquia organizacional denota a valorizao da organizao formal e a relao de dependncia
entre o desempenho dos lderes de setores e a eficincia da organizao. Segundo Chiavenato,
a Teoria Clssica concebe organizao como se fora uma estrutura. E a maneira de
conceber a estrutura organizacional bastante influenciada pelas concepes antigas de
organizao (como a organizao militar e a eclesistica) tradicionais, rgidas e
hierarquizadas. [...] A Teoria Clssica concebe a organizao em termos de estrutura,
forma e disposio das partes que a constituem, alm do inter-relacionamento entre essas
partes. Restringe-se apenas aos aspectos da organizao formal. (CHIAVENATO, 1983,
p. 77).
Outro autor da Teoria Clssica concebe organizao como sendo a forma de toda
associao humana para a realizao de um fim comum. A tcnica de organizao pode ser
descrita como a tcnica de correlacionar atividades especficas ou funes num todo coordenado
(MOONEY apud CHIAVENATO, 1983, p.77). Assim, tem-se para o conceito de organizao
uma combinao de esforos individuais com a finalidade de concretizar propsitos coletivos
(MAXIMILIANO, 1992, p. 43), ou seja, a organizao um conjunto de pessoas que tm em
comum um objetivo e combinam seus esforos visando atingi-lo. Esse conceito simplificado pode
ser aplicado para definir qualquer tipo de organizao e tambm o ponto comum entre os
diversos conceitos existentes para definir a organizao que simboliza um grupo empresarial.
Maximiliano ainda acrescenta que atravs da organizao podem-se alcanar objetivos que um
nico indivduo no seria capaz de atingir, e o funcionamento de uma empresa um bom
exemplo.
Nesse sentido o autor Richard Hall entende a organizao como sendo
uma coletividade com uma fronteira relativamente identificvel, uma ordem normativa,
escalas de autoridade, sistemas de comunicaes e sistemas de coordenao de afiliao;
essa coletividade existe numa base relativamente contnua em um ambiente e se engaja
em atividades que esto relacionadas usualmente, com um conjunto de objetivos.
(HALL, 1984, p. 23)
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Os indivduos, ao idealizarem a organizao, participam de atividades que influenciaro o
microambiente organizacional. Este ambiente tanto recebe as aes da organizao como tambm
age sobre ela, mantendo uma relao retro-ativa; por isso, deve ser estudado em detalhes para que
assim a organizao e seus representantes estejam preparados para a ao deste ambiente sobre a
organizao. Visto que as questes microambientais resumem caractersticas internas parcial ou
totalmente controlveis (FORTES, 2003, p. 54), portanto, seu estudo significa tornar conhecidos
os pontos fortes e fracos da empresa, os possveis fornecedores, os concorrentes, o perfil dos
consumidores, o tipo de produto ou servio oferecido pela organizao. Alm dos consumidores e
fornecedores, a anlise do microambiente permite tambm o conhecimento sobre os demais
pblicos envoltos na existncia da organizao, como a prpria diretoria, a qual tem sua estrutura
hierrquica diferenciada conforme cada tipo de organizao.
1.1.1 Conceituando Organizaes Desportivas
As organizaes diferenciam-se pelo ramo de atividade no qual atuam. Para o presente
estudo, ser utilizada na pesquisa uma organizao desportiva, ou seja, uma organizao que atua
no cenrio esportivo. Essas organizaes podem ser chamadas de organizaes desportivas ou
esportivas. Por desporto, encontra-se a seguinte definio: Segundo o dicionrio Mini Aurlio
(2006, p. 311): Desporto () sm. V. esporte (1). [pl.: -portos ()]. Apesar de significarem o
mesmo, desporto e esporte so usualmente utilizados em ocasies diferentes. Quando se refere
atividade, mais comum utilizar a denominao esporte; j, o termo desporto mais utilizado
para se referir s organizaes que trabalham com as atividades esportivas, como os clubes.
Os clubes que atuam no ramo esportivo esto segmentados em clubes sociais e esportivos
e clubes esportivos. O primeiro aquele que atua tanto com eventos sociais bailes e jantares
como com atividades esportivas ao disponibilizar para seus scios quadras para a prtica
esportiva, aulas de tnis, futebol, vlei ou algum outro esporte. A maioria dos clubes sociais e
esportivos no possui equipes para competio, mas os grandes clubes do ramo normalmente
patrocinam os atletas cedendo-os o espao fsico do clube para treinamento e em troca o atleta
compete em nome do clube. Em Santa Maria, temos como exemplos dessa categoria o Clube
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Recreativo Dores e o Avenida Tnis Clube; e em Porto Alegre, os exemplos so o Grmio
Nutico Unio e a Sociedade Ginstica de Porto Alegre (SOGIPA). Sobre os de Porto Alegre,
ambos possuem seus prprios atletas os quais competem em ginstica olmpica, vlei, natao,
jud, entre outros. J o segundo tipo de clube, o clube esportivo, lida somente com a prtica de
esportes, geralmente competitivos, como o caso do Grmio Foot-Ball Porto Alegrense e do
Sport Club Internacional. Estes sero considerados clubes esportivos por se tratar de organizaes
que tm como principal funo equipes de futebol profissional visando conquista de
competies. Apesar destes clubes tambm possuir equipes de outras modalidades esportivas,
bem como espaos e atividades sociais para seus scios, a atividade essencial o futebol
profissional.
Os clubes esportivos, atualmente, no so somente fontes de entretenimento, eles se
transformaram em empresas. A transformao do esporte e do clube esportivo deu-se ao passo
que a prtica esportiva deixou de ser somente uma atividade de lazer e passou a ser visto como
uma fonte de riquezas, visto que se trata de uma atividade que movimenta grandes quantias
financeiras atravs da comercializao de jogadores e de produtos ligados a marcas de clubes.
Essa transformao clube-empresa deu-se inicialmente com o futebol. Aidar e Leoncini (2000,
p.82), afirmam que
a atuao de clubes de futebol como empresas um processo evolutivo que a muito
tempo vem acontecendo no futebol brasileiro e mundial. De um lado, temos a evoluo
da prtica, representada pelos agentes e instituies ligados direta ou indiretamente
produo de espetculos futebolsticos agrupamentos esportivos (clubes, federaes
e confederaes) e produtores e vendedores de servios diretos (mdicos, treinadores,
psiclogos etc). No outro crner, est o consumo, simbolizando os compradores de bens
ou servios ligados ao futebol, e que no participam da produo do espetculo em si.
(AIDAR; LEONCINI, 2000, p. 82)
A evoluo dos clubes de futebol em empresas faz surgir neles a necessidade de implantar
na administrao do clube caractersticas da mentalidade empresarial e, tal caracterstica, deve
estar presente tanto na direo do clube como tambm em todos os setores administrativos.
Fernandes (2000, p. 33) ainda acrescenta que o mercado do esporte-business e o negcio do
futebol profissional so o mercado de atuao e a viso do negcio no qual esto investindo os
clubes como empresas. Sendo assim, dirigentes movidos pela paixo ao esporte e sem viso
empresarial no se enquadram mais no novo modelo de gesto de clubes esportivos,
principalmente tratando-se do futebol. Melo Neto (1998, p.66), afirma que o clube em seu
processo de transformao em empresa necessita de dois ingredientes: mais de realizao do que
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de paixo e mais de construo do futuro do que de emoes do presente. H uma necessidade da
introduo e da prtica do conceito de viso estratgica. Este olhar sob o clube de futebol
encontrado em alguns clubes que se reestruturaram e montaram seu quadro de colaboradores com
pessoas capacitadas, profissionais habilitados para atuar dentro do clube e desenvolver um
trabalho buscando o crescimento do mesmo. Esse o caso do Grmio FootBall Porto Alegrense.
Para o clube sair de um perodo turbulento, a direo optou por modificar a estrutura
administrativa, dando uma viso empresarial mais moderna, antes de pensar nas mudanas dentro
de campo. Nesta mudana, o setor de comunicao foi um dos primeiros a sofrer alteraes.
1.2 A Comunicao Organizacional
A comunicao a origem de qualquer tipo de relacionamento, seja interpessoal ou
interorganizacional, logo, o sucesso desse relacionamento vai depender da eficcia do processo
de comunicao nele existente. Nessa perspectiva, possvel afirmar que a organizao um
processo de construo que tem, na base, o processo de comunicao (BALDISSERA, 2000, p.
18). Quando referido o processo de comunicao das organizaes, subtende-se, conforme
Kunsch (2003, p. 70), os elementos bsicos que o constituem: fonte, codificador, canal,
mensagem, decodificador e receptor. Para Baldissera (2000, p. 26), usualmente, a relevncia da
comunicao, sob o mbito das organizaes, a de informar e/ou receber informaes dos
pblicos em detrimento do processo de construo de sentidos ocasionado pela comunicao;
porm, para o autor o que parece ser mais grave, a ausncia total de planejamento de
comunicao ou o seu planejamento parcial. As organizaes, quando iniciam um processo de
comunicao, devem ter cuidado com os elementos constituintes do processo para que no tenha
como consequncia imediata, o agravamento das anomalias nesse tipo de comunicao (Ibid, p.
26).
A preocupao com o processo de comunicao organizacional no to antiga quanto a
existncia da prpria comunicao. O processo de comunicao dentro das empresas brasileiras
relativamente recente, evoluindo nas ltimas trs dcadas, em busca de um modelo que integre,
sinergicamente, todos os setores da empresa envolvidos com a comunicao e o marketing
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(LEAL; TARGINO, 2005, p. 619). Sobre a evoluo do processo, Bueno (apud LEAL;
TARGINO, 2005, p. 619) acredita que a concepo de comunicao empresarial se aprimora, ao
longo do tempo, deixando de ser to-somente um conjunto de atividades fragmentadas, para se
configurar como processo integrado que orienta o relacionamento das empresas com seus
pblicos. O processo de comunicao organizacional alm de existente passa a ser reconhecido
pela organizao e integrado aos outros processos organizacionais a fim de encaminhar as
relaes de uma organizao com seus colaboradores, consumidores e demais pblicos.
A evoluo do processo de comunicao organizacional denota que as organizaes
comeam a reconhecer a importncia que a comunicao tem para sua vida e desenvolvimento. O
no reconhecimento dessa importncia e, portanto, o descuido com os processos de comunicao
podem levar uma organizao runa. Nesse sentido, Kunsch explica que,
o sistema organizacional se viabiliza graas ao sistema de comunicao nele existente,
que permitir sua contnua realimentao e sua sobrevivncia. Caso contrrio, entrar
num processo de entropia e morte. Da a imprescindibilidade da comunicao para uma
organizao social. (2003, p. 69).
Barnard (apud HALL, 1984, p. 132), tambm comenta sobre a importncia da
comunicao para a organizao ao dizer que numa teoria exaustiva da organizao, a
comunicao ocuparia lugar central, pois a estrutura, extenso e mbito da organizao so quase
inteiramente determinados pelas tcnicas de comunicao. Tanto Hall ao citar Barnard quanto
Kunsch explicam a imprescindibilidade do processo e do sistema de comunicao para a
organizao funcionar com eficcia. A ocorrncia eficaz da comunicao organizacional vai
depender do direcionamento do discurso ao nvel do receptor, assim explica Rego:
Entendendo-se a comunicao como um processo simblico, pelo qual os sentimentos
dos empregados dos nveis inferiores para com a organizao so reforados ou
modificados, sugerimos direcionar o discurso simblico da empresa, a um patamar
intermedirio, a um certo ponto hipottico central, a uma escala mdia. [...] O objetivo
deve ser o de aproximar a comunicao ao nvel da expressividade maior dos
empregados. (REGO, 1986, p. 31)
Quando se trata de comunicao organizacional, o destaque para a comunicao que
ocorre dentro da organizao, pois como j citado, so os processos comunicacionais internos que
iro gerar condies para os elementos formadores da organizao (colaboradores e setores)
relacionem-se entre si, e para a prpria relacionar-se com outras organizaes. Ou seja, um
processo comunicacional interno, que esteja em sintonia com o sistema social mais amplo,
-
proporcionar no apenas um equilbrio como o surgimento de mecanismos de crescimento
organizacional (KUNSCH, 2003, p. 70).
A comunicao interna procede por fluxos comunicativos os quais existem trs que se
movem em duas direes, so eles os fluxos descendente, ascendente e lateral, sendo que os dois
primeiros na direo vertical e o ltimo na horizontal, conforme Rego (1986, p. 32). Kunsch
(2003, p. 85) explica que o fluxo descendente liga a direo da organizao com os colaboradores
e por ele so transmitidas a filosofia, as normas e as diretrizes, caracterizando-o como a
comunicao administrativa oficial. J, no fluxo ascendente ocorre o contrrio, pois neste so
os colaboradores que enviam direo suas informaes atravs de instrumentos planejados,
como caixa de sugesto, reunies com trabalhadores, dentre outros meios. E, por fim, no fluxo
lateral a comunicao ocorre entre pessoas do mesmo nvel hierrquico, ou seja, entre
departamentos, sees, unidades. A comunicao de fluxo lateral, quando bem conduzida, pode
criar condies bastante favorveis e uma otimizao de recursos e do desempenho
organizacional (KUNSCH, 2003, p. 85).
Nos fluxos, a comunicao transita atravs de meios ou veculos que viabilizam a
transmisso de informaes da organizao pra os pblicos e deste para ela. Os veculos/meios
(KUNSCH, 2003) podem ser: escritos (material impresso), orais (conversas, reunies,
telefonemas, rdios), audiovisuais (vdeos institucionais, telejornais, tv corporativa), pictogrficos
(mapas, pinturas, diagramas), simblicos (bandeiras, sinais, insgnias, flmulas) e telemticos; ou,
ainda, a combinao de dois ou mais desses. Segundo Kunsch (2003), os meios telemticos so
aqueles nos quais as informaes so trabalhadas e transmitidas com o uso combinado da
informtica e dos meios de telecomunicao. So os meios interativos e virtuais (KUNSCH,
2003, p.87). Como exemplo, tem-se a internet, o correio eletrnico, a intranet e os celulares.
A apropriada aplicao das inovaes tecnolgicas e do conhecimento, via de regra,
permite a produo de bens ou a prestao de servios com maior qualidade e reduo
nos custos. Isso se deve, fundamentalmente, a fatores tais como a facilidade e/ou o baixo
custo operacional, a possibilidade da interatividade e a reduo dos custos com a mo-
de-obra, desperdcio de tempo e matria prima, entre outros. (BALDISSERA, 2000, p.
15).
O avano tecnolgico e a popularizao das novas tecnologias fizeram com que as
organizaes introduzissem esses novos meios sua cultura por cultura organizacional
entende-se o conjunto de crenas e valores especficos de uma determinada organizao
(BALDISSERA, 2000, p. 15). No entanto, necessrio que a deciso de utilizao de tecnologias
-
de comunicao esteja de acordo com a utilizao das mesmas pelo pblico que a organizao
pretende se relacionar. A organizao deve, antes de adotar uma nova tecnologia, saber quais
tecnologias so utilizadas pelos pblicos. Como disse Baldissera, as vantagens do uso de
tecnologias s ocorrero se a organizao tiver o cuidado de aplicar tecnologias adequadas ao
pblico que pretende atingir; pois, assim como as organizaes so diferentes, seus pblicos
tambm se diferenciam.
1.2.1 Comunicao em Organizaes Desportivas
A partir do momento que as organizaes desportivas passam a atuar como grupos
empresariais, a comunicao organizacional ganhou mais importncia para o dirigente de clube
que considera o sistema comunicacional fundamental para o processo das funes
administrativas internas e o relacionamento das organizaes com o meio externo (KUNSCH,
2003, p. 69). Porm, mesmo em Clubes que j se transformaram em empresas, a comunicao
demorou para ser vista como ponto estratgico e diferencial na gesto do clube ou sua relevncia
ainda no foi reconhecida por completo, como foi o caso do Grmio Foot-Ball Porto Alegrense.
At abril de 2005, o clube portava-se em relao a comunicao como a maioria dos clubes
brasileiros, ou seja, o setor de comunicao dava mais importncia assessoria de imprensa do
que s relaes com os outros pblicos. E mesmo assim, segundo o Coordenador Executivo de
Comunicao do Clube, Haroldo Santos, a assessoria de imprensa no cobria todas as atividades
do Clube, somente o futebol profissional. Santos relata em entrevista (Anexo A)2:
Na minha chegada ns tnhamos aqui um jornalista que s acompanhava o futebol
profissional e no se preocupava com o Clube (...). Tinha um jornalista que cuidava do
site e um estagirio que dava a retaguarda pros dois. [...] Qual era a ferramenta que voc
tinha aqui dentro, o site e uma assessoria que conversava por telefone no contato com a
imprensa.
A ateno voltada para o futebol profissional acabou deixando de lado todo o trabalho que
o Grmio realiza com as categorias de base, o qual visa a formao de jogadores desde o infantil,
2 Entrevista cedida Sabrina Raupp Souza em 03 de setembro de 2008 na sala da Assessoria de Imprensa do Grmio
Foot-Ball Porto Alegense.
-
passando pelo juvenil e atingindo o nvel jnior, para enfim chegar ao profissional alm destas
categorias, o Clube ainda oferece pr-infantil, sub 12, sub 13 e a escolinha. Segundo Denis Vieira
Abraho, ex-Diretor Executivo de Futebol e atual conselheiro do Clube,
o Grmio est sempre buscando o melhor para o seu grupo de jogadores, o Grmio
investe nas categorias inferiores, o Grmio tem uma escola de futebol com mil e
duzentos alunos, o Grmio tem todos os departamentos dirigidos por pessoas
competentes, trabalhadoras, dedicadas, identificadas com o clube, escolhidas a dedo.
(ABRAHO apud FERNANDES, 2000, p. 104)
Uma viso unifocal sobre o clube de futebol, ou seja, ver a organizao desportiva clube
de futebol como sendo somente a equipe principal, no permite que o profissional de
comunicao encontre um diferencial na organizao. O profissional que d ateno somente
para os resultados da equipe de futebol profissional e no conhece todos os feitos da organizao
pode perder a oportunidade de explorar midiaticamente fatos relevantes, como a formao
prpria de jogadores, tendo em vista que grande parte dos clubes brasileiros no possui este tipo
de trabalho. Fernandes afirma que
este foco no futebol e na formao de jogadores com a cultura do Grmio, a organizao
administrativa, que garante excelncia na gesto do clube, se tornam habilidades
diferenciadas no mercado, caracterizando-se como requisito essencial na criao e na
manuteno do diferencial em relao aos outros clubes. Nos ltimos anos, as equipes do
Grmio sempre foram compostas por atletas formados dentro do prprio Grmio.
(FERNANDES, 2000, p. 105 e 106).
Para falar sobre esta falha de comunicao, comeamos com uma citao de Hall, a qual
comenta sobre a importncia da comunicao. Segundo Hall,
a comunicao extremamente importante nas organizaes e segmentos
organizacionais que precisam lidar com a incerteza, que so complexos e que tem uma
tecnologia que no permite uma rotinizao fcil. Tanto as caractersticas externas
quanto as internas afetam a centralidade de comunicao. Quanto mais uma organizao
se orienta para pessoas e idias, mais importante se torna a comunicao. (HALL, 1984,
p. 133)
As palavras de Hall, embora no dirigidas a uma organizao desportiva, poderiam
perfeitamente servir a qualquer clube de futebol que pretende atuar como um grupo empresarial.
O clube de futebol uma organizao que lida constantemente com incertezas, pois suas
estratgias de comunicao esto ligadas diretamente ao resultado dos jogos, ao desempenho de
jogadores, ao comportamento de torcedores, ou seja, a fatores que no dependem exclusivamente
do clube e que podem ocorrer de forma positiva ou negativa em um curto espao de tempo. Para
-
a Gerente de Marketing do Grmio, Michelle Billo3. Na entrevista (Anexo B) ela comenta que o
Grmio, embora seja classificado como uma organizao,
no que nem uma empresa, um varejo, por exemplo. Eu sei que uma xcara custa R$
1,99 e daqui a 15 dias ela vai continuar custando R$ 1,99. Eu sei que o Grmio hoje t
na liderana e vai continuar, tem que pensar assim. Mas, e se por uma eventualidade
acontece alguma coisa, eu no posso usar esse mesmo planejamento para daqui 15 dias
porque muitas coisas podem rolar. Ou seja, tudo o que est planejado, eu gostaria de
executar porque tudo em prol e bom para o Clube mas muitas vezes eu no consigo por
causa do resultado do campo.
Conforme Billo, a incerteza dos resultados interferem diretamente no planejamento
publicitrio do clube, pois a publicao de amanh depende do resultado do jogo de hoje; o clube
no pode divulgar algo que reforce sua imagem de campeo se no dia anterior perdeu um jogo,
assim como, no pode elogiar o torcedor, agradecer o comparecimento no estdio e o apoio, se
houve briga nas arquibancadas ou se os torcedores depredaram as instalaes do estdio. Billo4
ainda acrescenta que
o resultado no interfere nas pessoas, nem na Michelle como profissional. O meu
trabalho continua a mesma coisa, mesmo na vitria, mesmo na derrota o meu objetivo, o
meu posicionamento, o meu foco o mesmo sempre. Eu no posso me deixar levar pela
emoo. A emoo eu deixo pro scio, eu deixo para o torcedor que vem aqui, que grita,
que solta toda a energia dele. A minha energia eu resguardo para continuar o meu
trabalho.
O que Billo diz que, antes de serem torcedores, as pessoas que trabalham no Clube so
profissionais, sendo assim, devem colocar a mentalidade empresarial acima do amor pelo futebol
e principalmente da paixo pelo Clube. Esse o profissionalismo que a gesto do clube empresa
necessita para inserir a mentalidade empresarial no esporte. O atual momento da gesto dos
clubes de futebol como clubes empresas fez surgir a necessidade dos clubes preencherem seus
quadros de colaboradores com profissionais de viso empresarial. E, esses profissionais no
devem estar presentes somente na diretoria do Clube, mas em todos os setores, inclusive no de
comunicao.
3 Michelle Billo concedeu entrevista Sabrina Raupp Souza, no Departamento de Comunicao e Marketing do
Grmio Foot-Ball Porto Alegrense, no dia 03 de outubro de 2008. A transcrio da entrevista encontra-se no Anexo
B deste trabalho. 4 Conforme entrevista cedida no dia 03 de outubro de 2008.
-
1.3 Crises Organizacionais
Antes de iniciar o assunto, necessrio realizar um breve comentrio sobre o que
imagem organizacional. A imagem de uma organizao formada atravs do conjunto de
valores atribudos a ela. o modo como as pessoas vem a organizao. Segundo Leal e Targino
(2005, p.621), a imagem pressupe a apreenso de valores subjetivos externados pela instituio
em diversos momentos de sua existncia e de sua atuao, ou seja, atravs das aes tomadas
pela organizao e da percepo do pblico formada a imagem organizacional.
Portanto, crise uma ruptura no processo organizacional que traz danos a imagem da
organizao. Crises so acontecimentos negativos que fogem da rotina e ao controle da
organizao e necessitam de cuidados especiais para solucion-los. Para Lopes (apud FORNI,
2003, p. 363), crise qualquer coisa negativa que escape ao controle da empresa e ganhe
visibilidade. Conforme Mitroff (apud ROSA, 2001, p. 23), a crise pode advir de um fenmeno
natural ou humano - as causadas pela natureza, como uma enchente que destri todos os gros
armazenados de uma indstria alimentcia ou um abalo ssmico que faz uma fbrica desmoronar,
no prejudicam a imagem da organizao; porm, quando o estopim da crise uma falha
humana, a primeira parte da organizao a ser prejudicada a sua mais valiosa, a imagem.
Existem diversas definies para crise de imagem, mas Rosa (2001, p.23) afirma que a melhor
definio de que a crise de imagem constitui um conjunto de eventos que pode atingir o
patrimnio mais importante de qualquer entidade ou personalidade que mantenha laos estreitos
com o pblico: a credibilidade, a confiabilidade, a reputao.
Para um fato ruim atingir este patrimnio necessrio chegar ao conhecimento pblico, e
o caminho mais rpido atravs da mdia. Conforme Forni (2003, p. 372), crise de comunicao
qualquer evento negativo que escape ao controle da empresa e se torne pblico, a partir do
interesse da mdia. O autor ainda acrescenta que
h uma tendncia, sobretudo nos meios audiovisuais, para que a informao d lugar
mdia espetculo. A crise qualquer que seja sua dimenso cai como uma luva nessa
pauta. Se tiver imagens, melhor ainda. A TV o veculo predileto da imprensa, no h
como as empresas evitarem a contingncia de mais cedo ou mais tarde serem
premiadas por qualquer tipo de mdia. Tudo pode ser uma questo de tempo. (FORNI,
2006, p. 367/368).
-
Assim como Forni, Rosa tambm alerta para a no discriminao de organizaes para a
ocorrncia de crises. No importa o tipo ou o tamanho da organizao, desde uma padaria de
esquina at uma multinacional podem sofrer uma crise. Conforme Rosa,
gigantes empresariais cultuadas como a Johnson & Johnson ou a General Motors, cones
consagrados como a corretora Merrill Lynch, mitos vivos como Pel, organizaes
insuspeitas como a Anistia Internacional e, at mesmo, smbolos venerados como a
Igreja Catlica so apenas alguns nomes mais vistosos nessa galeria de notveis que
vivenciaram crises de imagem. (ROSA, 2001, p. 21/22).
As crises de imagem so geradas por falhas humanas e por isso so inevitveis, porm,
previstas, e exatamente por esse motivo, o pblico se sente escandalizado quando elas ocorrem
(MITROFF apud ROSA, 2001, p. 23). Os dirigentes de organizaes no devem esperar que seus
colaboradores cometam falhas, mas devem estar preparados para quando as falhas sejam
cometidas, pois, com relao crise sua caracterstica mais perigosa a surpresa. (FORNI,
2003, p. 366).
1.3.1 Crises em Organizaes Desportivas
O futebol pode ser considerado um esporte-espetculo, pois essa terminologia quer dizer
que estamos nos referindo a uma forma particular de prticas altamente competitivas e a uma
esfera especfica de consumos esportivos (PRONI, 1998, p. 84). No Brasil, o futebol o esporte
mais praticado e comentado. H pessoas discutindo em bares sobre os resultados dos jogos, as
tticas de defesa e ataque, o posicionamento de jogadores e at a administrao dos clubes.
As conversas em bares podem apontar uma possvel crise de imagem; pois, para uma
organizao desportiva, como o clube de futebol, uma crise pode ser provocada pela m
administrao, gerando atrasos de pagamentos e dvidas, pelo descontentamento dos torcedores
com relao ao desempenho de algum jogador, do tcnico ou, mesmo, da equipe inteira. Mas, o
fato que mais pode causar rachaduras na imagem o rebaixamento de srie. Assim como
aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2007 com o Corinthians, clube de futebol do estado de
So Paulo, aconteceu com o gacho Grmio Foot-Ball Porto Alegrense em 2004. O rebaixamento
desses Clubes da Srie A para a Srie B do Campeonato Brasileiro virou notcia nacional.
-
Os motivos que levam um Clube de Futebol a ser rebaixado podem ser tanto
administrativos quanto de qualidade em campo e essa a discusso que toma conta de bares,
jornais, e da internet quando um Clube tradicional cai para a segunda diviso. por isso que em
um momento de crise o setor de comunicao de um clube deve agir rpido para evitar grandes
estragos, como sustenta Forni (2003, p. 378), quando a empresa entra em crise, o setor de
comunicao precisa ser gil para evitar o mximo de estragos na imagem da organizao.
Principalmente, na internet, encontram-se diversos comentrios sobre os motivos que
levam um clube a ser rebaixado. Essa uma questo que todas as organizaes devem ter que
cuidar diariamente, pois o mundo virtual fornece a qualquer pessoa um espao para transmitir
uma mensagem no interessando o contedo da mesma, se verdade ou mentira. E, pelo poder de
alcance do meio, esses indivduos podem se tornar mais influentes que a organizao. Um
exemplo de que a rede virtual d voz a qualquer indivduo so os blogs. Com o poder da
blogosfera e o crescimento exponencial da internet, as empresas no tm outra opo a no ser
aderir ao mundo on-line para gerenciar suas reputaes e afastar as crises potenciais
(ARGENTI, 2006, p. 273). Um relato sem provas sobre a administrao do Grmio pode ser
encontrado no blog intitulado de Dossi Grmio no qual consta que
o rebaixamento comeou em 2003. [...] Numa reunio na sala da presidncia do
Olmpico ainda em dezembro de 2003, trs dias depois de o time derrotar o Corinthians
e escapar do rebaixamento, os homens do futebol (Krebs e o vice Saul Berdichevski), o
presidente Flvio Obino, o vice de finanas, Jaime de Marco, e o vice de planejamento,
Adalberto Preis, acertaram as estratgias para a temporada 2004. A idia era evitar que
os atrasos de salrio, que tanto tumultuaram o time na temporada, se repetissem. Por
isso, os gastos com o futebol seriam reduzidos em quase 50% [...] A idia era no gastar
nada. Os contratos eram de trs meses. Como no Jokey Club, a poca era de apostas
(URBANO, 2008).
Mesmo com uma descrio detalhada do acontecimento, sem um contato mais
aprofundado com o setor administrativo do Clube no ser possvel validar a opinio de Urbano,
j que no blog ele no apresenta nenhuma prova, tem-se apenas a palavra do blogueiro. Porm,
somente pelo fato deste boato estar na rede, ele j est legitimado como algo que realmente
aconteceu. Contra isto, necessrio que as organizaes estejam cientes de que boatos nascem e
se desenvolvem no vcuo das informaes ou no conflito entre elas. Momentos de incerteza,
hesitao, vacilao, contradio so excelentes caldos de cultura para os boatos se criarem,
como afirma Neves (2002, p. 220). So justamente esses boatos que podem gerar uma crise ou
torna-la ainda maior e mais interessante para a mdia.
-
2. PBLICOS: COMPORTAMENTO E RELACIONAMENTOS
Toda a organizao tem um pblico para o qual destinado seu produto ou servio.
Porm, algumas organizaes no conseguem definir as caractersticas desse pblico, como seus
valores, suas crenas e seu modo de vida. Esse conhecimento permitiria a comunicadores,
administradores e profissionais de marketing a criao de estratgias moldadas para se relacionar
com um pblico especfico, ajudando a organizao a realizar seus objetivos.
2.1 Pblicos
Os pblicos compreendem grupos de pessoas que recebem e transmitem informao e que
so capazes de formular suas prprias opinies e de decidirem por si. O que esses sujeitos tm em
comum e que os colocam em um mesmo grupo o fato de possurem caractersticas de consumo
semelhante que os aproximam s ofertas das organizaes. Em outras palavras, o pblico a
razo de ser da organizao, por ele que ela foi fundada e ele o maior responsvel pela
manuteno organizacional. Diante de mercados competitivos, quanto mais uma organizao
souber da vida de cada um de seus pblicos, mais ela estar preparada para desenvolver o
relacionamento adequado para o pblico. Assim, explica Frana:
o pblico um grupo de pessoas com interesses comuns que se v diante de uma
controvrsia e procura resolv-la pelo debate. Mas essa definio continua sendo vlida
para os relacionamentos das organizaes reestruturadas e globalizadas na realizao de
seus negcios? Parece que no se aplica mais realidade mercadolgica e competitiva
de hoje. (FRANA, 2004, p. 18).
Durante algum tempo os pblicos foram divididos sob o critrio geogrfico, em interno,
externo e misto, o qual serve para enquadrar os distanciamentos dos pblicos quanto ao centro
de poder da organizao (SIMES, 1995, p. 131). Embora esta seja a classificao mais
utilizada, ela pouco nos diz sobre as especificidades de cada um dos pblicos; por exemplo,
dividem a classificao de internos os funcionrios e seus familiares; porm, cada um deles
possui um nvel de contato com a Organizao. Os funcionrios mantm contato direto com seu
-
local de trabalho, j seus familiares, recebem informaes por meio dos funcionrios e da mdia.
A opinio formada sobre a organizao construda com base em diferentes fontes. Logo,
agrupar esses dois tipos de pblicos na mesma classificao ocasionar em erro da organizao.
O critrio geogrfico de classificao de pblicos j est ultrapassado. Simes (1995, p. 131)
observa que os pblicos precisam ser compreendidos sob uma outra tica. imprescindvel
identific-los, analis-los, e referenci-los quanto ao poder que possuem de influenciar os
objetivos organizacionais, obstaculizando-os ou facilitando-os.
Sobre a classificao geogrfica de pblicos, Frana menciona que
as transformaes sociais e organizacionais demonstram que essas categorias no mais
correspondem realidade enfrentada pelas empresas na relao com os pblicos, nem
segmentao desses mesmos pblicos, focalizados hoje como nichos especficos aos
quais deve ser dirigida a ao das empresas. (FRANA, 2004, p. 33).
Mais adiante o autor comenta que
a verificao de que a tradicional diviso de pblicos em interno, externo e misto no
atende mais s necessidades de equacionar as relaes da organizao com os diferentes
grupos com os quais interage tem levado busca de novos conceitos para substitu-los.
(ibid, p. 54/55)
Como mencionado por Simes, o critrio adequado para classificar os pblicos aquele
capaz de segment-lo por nvel de influncia diante da organizao. Deste modo, tem-se a
classificao de Lucien Matrat, pesquisador francs que na dcada de 1970 apresentava esquema
classificatrio de pblicos quanto ao tipo de poder (SIMES, 1995, p. 131/132). Matrat
classificou os pblicos em: deciso, consulta, comportamento e opinio.
Os pblicos de deciso conforme Matrat (apud Frana, 2004, p. 55) so aqueles dos
quais a empresa depende no exerccio de suas atividades. E, para Simes (1995, p. 132), so
pblicos cuja autorizao ou concordncia permite o exerccio das atividades organizacionais.
Ambos autores apresentam como exemplo universal o governo por possuir poder concedente
e suspensivo sobre o funcionamento e a permanncia da organizao no seu ramo de negcio
(SIMES, 1995, p. 132).
A segunda classificao refere-se ao pblico de consulta o qual responsvel por auxiliar
a organizao na tomada de decises. Segundo Frana (2004, p. 55), esse pblico sondado pela
organizao antes de agir, antes de tomar decises estratgicas. Simes (1995, p. 132)
exemplifica esta categoria com os acionistas e os sindicatos patronais.
-
Os de comportamento so os pblicos cuja atuao pode estimular ou prejudicar a
organizao (FRANA, 2004, p. 55). esta categoria, so includos, os funcionrios e os
clientes. Sobre os funcionrios, Frana (2004, p. 55) explica que deles dependem as atividades-
meio e fim da empresa e, sobre os clientes, Simes (1995, p. 132) esclarece que por sua
conduta individual condiciona a permanncia da organizao no mercado, na medida em que
aceitam, ou no, consumir os produtos oferecidos.
A quarta categoria, os pblicos de opinio, representada por aqueles que influenciam a
organizao pela simples manifestao de seu julgamento e de seu ponto de vista (FRANA,
2004, p. 55). So exemplos: formadores de opinio, jornalistas, comentaristas de rdio e TV,
mas a grande maioria composta por pessoas indistinguveis no conjunto dos vrios pblicos
(SIMES, 1995, p. 132).
Vale ressaltar que a existncia de uma organizao s possvel graas aos seus pblicos,
assim afirma Grunig (2003, p. 74) ao dizer que os tericos das organizaes postulam que as
organizaes existem no contexto de um meio que formado por diversos grupos ou pblicos
estratgicos.
2.1.1 Os Pblicos da Organizao Desportiva
As Organizaes Desportivas esto inseridas no mercado esportivo, logo, seus pblicos
so as entidades organizaes, instituies, empresas, indivduos que esto de algum modo
ligadas ao esporte. Deste modo, tratando do termo generalizado Organizaes Desportivas, sem
especificar o esporte, o mapeamento de pblicos torna-se superficial. Porm, para inicio da
explanao, conveniente ser mencionado. Tambm, torna-se necessrio citar que devido a falta
de contedo literrio descrevendo os pblicos deste segmento organizacional o mapeamento aqui
apresentado est baseado na literatura sobre os mercados constituintes do esporte e os
relacionamentos de clubes esportivos.
Como mencionado no captulo anterior, as Organizaes Desportivas possuem a estrutura
administrativa semelhante a de qualquer organizao comercial ou industrial e, tambm, so
-
consideradas como pertencentes a um mercado em expanso altamente lucrativo, como mostrado
por Leoncini e Silva:
De acordo com o relatrio final do Plano de Modernizao do Futebol Brasileiro (2000)
da Fundao Getlio Vargas (FGV), que inclui os agentes diretos, como clubes e
federaes, e indiretos, como indstrias de equipamentos esportivos e a mdia, o futebol
mundial movimenta, em mdia, cerca de 250 bilhes de dlares anuais. No Brasil, dados
desse mesmo relatrio mostram que o futebol uma atividade econmica com grande
capacidade de gerar empregos, e tem efeito multiplicador maior que vrios setores
tradicionais, contabilizando: trezentos (300) mil empregos diretos; trinta (30) milhes de
praticantes (formais e no formais); quinhentos e oitenta (580) mil participantes em treze
(13) mil times que participam de jogos organizados (esporte formal); quinhentos e
oitenta (580) estdios com capacidade para abrigar mais de cinco e meio (5,5) milhes
de torcedores; cerca de quinhentos (500) clubes profissionais disputando uma mdia de
noventa (90) partidas por ano; e em termos de fornecimento anual de materiais e
equipamentos esportivos, so cerca de nove (9) milhes de chuteiras para futebol e
futsal, seis (6) milhes de bolas e trinta e dois (32) milhes de camisas. (LEONCINI;
SILVA, 2005, p.11).
As organizaes que lidam com o esporte com vistas ao lazer ou ao profissionalismo
tm mais diversidade de pblicos conforme a relevncia que representam no mercado esportivo.
Grandes clubes podem possuir em seu leque de pblicos: os funcionrios, os conselheiros, os
diretores, os associados, os clientes/consumidores, os fornecedores, os patrocinadores, os
investidores, os concorrentes, o governo, os sindicatos, as entidades regentes da categoria e as
mdias. Todos esses pblicos participam dos processos que resultam na atividade esportiva e nos
que dela so resultados. A afirmativa ganha respaldo com Luiz Fernando Pozzi (1998), autor que
apresenta os componentes da atividade esportiva como sendo: os eventos com atletas, ingresso,
organizao, arena, equipamentos, uniformes e imagem; os servios relacionados com
sentimentos de entusiasmo, coletividade, rivalidade, identificao e sucesso; os processos que
compreendem interao entre famlia e organizao; os mercados participantes como as
produtoras do esporte (Clubes, Associaes, Confederaes, Federaes); o mercado espectador
constitudo por espectadores e torcedores; o mercado anunciante atravs da mdia publicitria; o
mercado patrocinador que quer acesso aos espectadores e diferenciar-se da concorrncia; e o
mercado de afinidade com a utilizao de smbolos, logos e marcas registradas que retratam o
simblico relacionado ao esporte.
O clube Grmio Foot-Ball Porto Alegrense ser utilizado para especificar a organizao
desportiva e exemplificar a descrio de pblicos apresentada no pargrafo anterior. Sendo assim,
com base no site oficial do clube, cujo endereo www.gremio.net, os pblicos do Clube so:
colaboradores responsveis pela limpeza, manuteno e segurana das dependncias do Clube e
http://www.gremio.net/
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de suas sedes; mdicos, nutricionistas, fisioterapeutas e demais profissionais que cuidam da sade
dos atletas; atletas das modalidades esportivas profissionais e recreativas (futebol profissional,
futebol master, futebol de mesa, atletismo, jud, karat, taekwondo, remo, vlei, patinao,
hquei, bandeirantes, escotismo e ginstica); secretrias e assessores que viabilizam o fluxo dos
processos administrativos; cnsules; conselheiros; diretores; torcidas organizadas; torcedores;
scios-torcedores, fornecedores (material esportivo, material de escritrio, alimentos);
patrocinadores e investidores (Banrisul, Puma, Tramontina, Panvel, Via RS, W3Haus); empresas
licenciadas para comercializar a marca Grmio; concorrentes (todos os clubes de futebol,
principalmente o Sport Club Internacional devido a rivalidade regional); entidades organizadoras
do esporte (Fdration Internationale de Football Association, Confederao Brasileira de
Futebol, Confederao Sulamericana de Futebol, Federao Gacha de Futebol, Clube dos 13);
sindicatos (Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, dos trabalhadores); governo
(Federal, Estadual, Municipal), empresas e profissionais que representam as mdias (jornais,
revistas, rdios, tv, internet).
A listagem dos pblicos do Clube de Futebol tende a aumentar conforme o Clube adquire
caractersticas empresariais mercadolgicas. Sobre essas caractersticas a mais importante para a
empresa a busca pelo lucro. Fernandes (2008, p. 27) ao abordar a transformao do clube em
empresa afirma que a lucratividade mxima o objetivo de toda e qualquer empresa. Para
atingir esse objetivo, o clube deve maximizar sua renda; e a maior fonte de renda do clube de
futebol o torcedor. A importncia do torcedor para o clube representada pelo fato de que os
demais pblicos surgiram a partir dele, conforme Aidar e Leoncini (2000).
2.2 Comportamento do Consumidor
Antes de comear a discusso sobre o comportamento do consumidor necessrio
conceituar o termo consumidor e, para isto, ser utilizado o Cdigo de Defesa do Consumidor5 o
qual o define, no Artigo 2, como toda a pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto
5 Disponvel no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. O acesso ao site ocorreu em 21 de
outubro de 2008.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm
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ou servio como destinatrio final e, tem como pargrafo nico que equipara-se a consumidor a
coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de
consumo. Tambm, necessrio esclarecer que ser utilizado como sinnimos os termos
consumidor e cliente com base em Sheth, Mittal e Newman, autores que apresentam a seguinte
idia:
convencionalmente, o termo consumidor tem sido usado para se referir apenas aos
mercados de bens de consumo. O termo correspondente para o mercado industrial tem
sido cliente. [...] Na realidade, mesmo a utilizao do termo consumidor para referir-se
ao mercado de bens de consumo tem sido vista mais em livros didticos que na prtica.
Por exemplo, as lojas de vendas a varejo geralmente se referem queles a quem atendem
como clientes (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29).
Os mesmos autores afirmam que em geral, um cliente uma pessoa ou uma unidade
organizacional que desempenha um papel na consumao de uma transao com o profissional de
marketing ou com uma entidade (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29). Comparando
esta definio de cliente com o conceito de consumidor apresentado pelo Cdigo tem-se o
demonstrativo de que os termos podem ser utilizados como sinnimos, pois ambos devem
participar do processo de troca (ou compra de um bem ou servio) no importando o papel
representado, sendo ele o de quem decide, compra ou utiliza o bem ou servio. Todos os papeis
so interpretados por consumidores e, at, um nico consumidor pode representar dois ou trs
papeis ao mesmo tempo.
Sheth, Mittal e Newman explicam que
uma transao de mercado requer pelo menos 3 papis desempenhados pelos clientes:
(1) comprar (ou seja, selecionar) um produto; (2) pagar por ele; e (3) us-lo ou consumi-
lo. Assim, um cliente pode ser: (1) um comprador, (2) um pagante ou (3) um
usurio/consumidor. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 30).
Sobre cada um dos papis, os autores (ibid, p. 30) esclarecem que o comprador aquele
que participa da obteno do produto no mercado, ele quem vai at a empresa e entrega o
dinheiro em troca do produto. O pagante o responsvel por fornecer o dinheiro que ser
utilizado, ou seja, ele a pessoa que financia a compra. J o usurio ou consumidor quem
realmente faz uso do produto, a pessoa que efetivamente consome ou utiliza o produto ou
recebe os benefcios do servio. Os autores ainda ressaltam que cada um desses papis pode ser
desempenhado pela mesma pessoas ou unidade organizacional ou por diferentes pessoas ou
departamentos.
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Verifica-se que quando tratado de comportamento do consumidor h mais envolvido do
que as caractersticas de comportamento de uma nica pessoa. por isso que as organizaes
devem empenhar-se para realmente conhecer seus consumidores, saber exatamente quem utiliza
seus produtos, se esta pessoa decide sozinho sobre como empregar seu dinheiro ou depende da
aprovao de outros ou se esta pessoa utiliza o dinheiro de outros para adquirir seus bens. A
importncia de a organizao conhecer seu pblico consumidor revela-se ao passo que o estudo
do comportamento do cliente oferece os conhecimentos bsicos necessrios para decises
empresariais de sucesso (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 32).
O cliente de uma organizao ir se comportar de acordo com vrias atividades fsicas e
mentais que incluem os papis j descritos de comprador, pagante e usurio. Assim definem
Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 29): o comportamento do cliente definido como as
atividades fsicas e mentais realizadas por clientes de bens de consumo e industriais que resultam
em decises e aes, como pagar por eles. Por atividades fsicas, entendem-se os atos de ir at a
loja ou empresa prestadora de servio, conversar com o vendedor e realizar um pedido de
compra. J, nas atividades mentais constam os atos de julgar as qualidades de uma marca de
produto ou servio atribuindo valores positivos ou negativos, formar opinio sobre a qualidade de
um produto ou servio com base em informaes veiculadas pela mdia e avaliar as experincias
vivenciadas com o uso do produto ou servio. Entender como se processam as atividades fsicas e
mentais dos clientes vai proporcionar organizao, como Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 33)
afirmam, entender por que os clientes compram ou, em termos mais genricos, por que eles
respondem aos estmulos do mercado da maneira que o fazem.
O consumidor que desempenha cada um dos papis ou o mesmo consumidor ao
desempenhar cada um dos papis tomado por necessidades e desejos diferentes, ou seja,
usurios, pagantes e compradores buscam valores diferentes nos produtos e servios, e fazem
isso porque tm necessidades e desejos diferenciados (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p.
59). o surgimento de uma necessidade que leva a pessoa a agir.
As necessidades do ser humano provm de uma condio bsica insatisfeita, quando a
pessoa sente sede, fome, frio ou insegurana. Para Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 59), a
necessidade nasce de um desconforto nas condies fsicas ou psicolgicas da pessoa e o desejo
o prximo estgio, pois eles ocorrem quando e porque os seres humanos querem levar suas
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condies fsicas e psicolgicas a um nvel alm do estado de conforto mnimo. Adiante os
autores explicam que
as necessidades e desejos distinguem-se pelo fato de que a satisfao mnima das
necessidades necessria para sustentar as pessoas como organismos saudveis. Por
outro lado, os desejos tm um elemento de diferenciao por parte do cliente: ou seja,
sua satisfao desejada, mas no essencial. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p.
59).
Para explicar o que causa necessidades e desejos, continuar sendo utilizado os conceitos
apresentados por Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 59 - 64). Conforme, tem-se que as
necessidades dos clientes so determinadas pelas caractersticas do indivduo e pelas
caractersticas do ambiente. Entre indivduos e ambiente, so seis caractersticas que
determinam as necessidades. Destas, trs so pessoais do indivduo, so elas: gentica, biogenia e
psicogenia. Por gentica, entende-se caractersticas hereditrias e qumicas/biolgicas dos
organismos e ela um determinante de necessidade porque influencia nas prticas alimentares
das pessoas. J a biogenia consiste nas caractersticas biolgicas que as pessoas possuem as
nascer, como gnero, raa e ano de nascimento (o que se traduz na idade). So caractersticas
biogenicas que diferenciam as necessidades de jovens e idosos, homens e mulheres ou crianas e
adultos. E a psicogenia
se refere a estados e traos individuais induzidos pelo funcionamento do crebro. Esses
estados so disposies, emoes, percepes, cognies e experincias armazenadas na
memria. Assim, alteraes de humor e estados emocionais exigem o consumo de certos
produtos. Por exemplo, a necessidade de conversas e interaes sociais, a necessidade de
afeto, a necessidade de sucesso, a necessidade de sentir-se sob controle, a necessidade de
recreao e a necessidade de expressar-se so todas necessidades psicognicas. (SHETH;
MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 62)
As caractersticas ambientais que determinam necessidades so: clima, topografia e
ecologia. As condies climticas afetam as necessidades de comida, roupa e abrigo. Enquanto
a topografia (caractersticas geogrficas do territrio) gera necessidades do cliente referentes
administrao da vida no local especfico. E a ecologia refere-se a qualidade do ar, a camada de
oznio e a cadeia alimentar.
Como visto, as necessidades so determinadas por caractersticas fsicas, o que as difere
dos desejos os quais so determinados pelos contextos individual e ambiental da pessoa.
Enquanto, o contexto individual consiste em trs dimenses: o valor pessoal financeiro de um
indivduo, as instituies e a cultura, o contexto ambiental consiste nas dimenses da economia,
da tecnologia e da poltica pblica.
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A primeira dimenso do contexto individual, o valor pessoal financeiro de um indivduo,
refere-se aos recursos financeiros disponveis a um cliente. [...] Tais recursos influenciam os
desejos, conferido ao cliente o poder de compra para adquirir produtos que tratariam uma
satisfao maior que a das necessidades bsicas e fsicas.
A dimenso das instituies simboliza grupos e organizaes aos quais o indivduo
pertence. E a terceira dimenso do contexto individual, a cultural, simboliza os desejos surgidos
da influencia cultural. A cultura e os valores culturais dos clientes influenciam seus objetivos e,
consequentemente, o que eles desejam em termos de produtos.
Outro determinante dos desejos o contexto ambiental o qual tem como primeira
dimenso a economia. Esta refere-se ao desenvolvimento e aos ciclos econmicos de uma
nao. A segunda dimenso consiste nas invenes e instrumentos criados pelo homem para
sustentar, facilitar e incrementar a vida e as atividades humanas, por isso, chamada de
tecnolgica. E a terceira a dimenso da poltica pblica, consistindo em leis e regulamentaes
que controlam o comportamento humano e, consequentemente, as atividades de negcios.
Tanto os determinantes de necessidades quanto os de desejos das pessoas so
fundamentais para as mesmas agirem e tornarem-se clientes/consumidores de uma organizao.
A partir do momento que esses fatores forem compreendidos pela organizao, esta estar mais
apta a desenvolver estratgias para atingir a pessoa, torn-la cliente e satisfazer suas necessidades
e seus desejos.
2.2.1 O Consumidor Desportivo
A transformao do futebol em empresa e a comercializao da marca dos clubes
iniciaram porque este esporte apresenta um fator atrativo: os torcedores. Estes adoradores do
esporte e aficionados por um clube de futebol se tornam, fora do campo, consumidores em
potencial das empresas que patrocinam os times pelos quais torcem com tanto fervor. Essa
afirmao validada por Silvio Stagni, que no ano de 2000 era diretor de operaes da Motorola
do Brasil e, neste mesmo ano, ao anunciar o patrocnio oficial da equipe do So Paulo Futebol
Clube, declarou: "Essa parceria vai garantir uma grande projeo nossa marca" (ASSEF, 2000).
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As empresas utilizam o patrocnio esportivo como um meio de agregar a sua marca os
valores ligados ao esporte e a equipe ou clube patrocinado e para transmitir atravs do esporte
uma imagem positiva. Quando as empresas investem em esporte, h uma unio de interesses,
pois, atuando sobre o lado emocional dos consumidores, ao mesmo tempo em que viabiliza
entretenimento, as empresas passam a gozar de uma boa imagem junto ao pblico
(TEITELBAUM, 1997, p. 153). Elas esperam conseguir inserir-se em um mercado e conseguir a
simpatia dos torcedores os quais configuram como consumidores no mercado esportivo. Sobre o
investimento de empresas no esporte, Moura e Rodrigues afirmam que as empresas utilizam-se
do esporte para transmitir imagens positivas de seus produtos, gerando retorno institucional, sucesso
de retorno financeiro e de venda das marcas ao investimento empregado.
Para Aidar e Leoncini (2000), o pblico consumidor do clube de futebol aquele que
consome bens ou servios ligados ao futebol, ento, ele pode ser dividido em dois segmentos:
consumidores finais e consumidores intermedirios. Os consumidores finais so os torcedores os
quais compram bens e servios para consumo pessoal. Os torcedores podem consumir tanto do
produtor esportivo representado pelos clubes de futebol como do intermediador emissoras
de tv, transmissoras de jogos via pay-per-view, empresas licenciadas. Sob a tica do torcedor,
tanto produtores quanto intermediadores formam o mercado esportivo; porm, para o clube de
futebol, os intermediadores so tambm consumidores, so consumidores intermedirios. A
classificao dada porque eles compram dos clubes e federaes o direito de explorao de
imagem com o intuito de revender aos torcedores.
Com base na segmentao dos consumidores em finais e intermedirios, Leoncini e Silva
(2005, p. 16) acreditam que
apesar de o torcedor representar o consumidor final de espetculos futebolsticos,
existem outros agentes consumidores importantes para os clubes de futebol: os
consumidores intermedirios. Esses consumidores intermedirios utilizam os
campeonatos, clubes e jogadores como recursos, a mdia como instrumento de
divulgao, a propaganda como negcio, o comrcio de mercadorias esportivas, a
construo da logomarca de um produto, tendo como cliente final de toda essa
estrutura o torcedor. Ou seja, o mercado de intermedirios, agora como produtores (a
TV, a mdia e seus parceiros de negcio), operam para atender ao mercado
consumidor alvo, no caso do futebol, os torcedores.
Embora, para o clube de futebol haja outros consumidores to importantes quanto os
torcedores, so esses que justificam a ao de produtores e intermedirios. Afinal, foi a partir do
torcedor que os outros clientes de futebol surgiram.
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No item 2.1 deste captulo foi tratado sobre a conceituao de pblicos, e, para isso, foi
utilizado o conceito de Matrat o qual classifica os pblicos nas categorias de deciso, consulta,
comportamento e opinio. Nesta classificao, os torcedores situam-se como pblicos de
comportamento, pois os de comportamento so os pblicos cuja atuao pode estimular ou
prejudicar a organizao (FRANA, 2004, p. 55). E, os torcedores (consumidores/clientes do
clube de futebol), por sua atuao individual, podem interferir na sobrevivncia da organizao
ou prejudic-la gravemente (FRANA, 2004, p. 55-56).
No contexto do clube desportivo Grmio Foot-Ball Porto Alegrense o pblico responsvel
por parte significativa de sua renda financeira so os torcedores. So eles quem consome os bens
produzidos pelo Clube de ingressos para jogos a artigos esportivos oficiais. O que os configura
como pblicos de comportamento, visto que a deciso de no consumir deste pblico afeta a
renda do Clube, interferindo na existncia do Clube no mercado esportivo. Portanto, o clube
depende do torcedor tanto na questo financeira (j que o torcedor quem consome os bens
ofertados) quanto em uma questo simblica, visto que a torcida de um Clube determina a
grandeza do prprio. Logo, os torcedores do clube so o maior patrimnio deste, pois ele se
valoriza conforme as seguintes variveis: quantos torcedores um clube tem, qual o retorno de
um jogo, quantas pessoas adoram um clube e qual a intensidade dessa devoo, qual a
expanso demogrfica desses torcedores (AIDAR; LEONCINI, 2000, p. 92).
No ano de 2003, o Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica IBOPE realizou
uma pesquisa de opinio pblica sobre torcidas com o objetivo de levantar junto a populao da
rea de estudo opinies relacionadas a torcidas de futebol. A pesquisa de natureza quantitativa foi
empregada em 2000 pessoas de todo o Brasil. Na Regio Sul, foram 306 pessoas entrevistadas, e
destas 23% responderam torcer pelo Grmio. Fora desta Regio, foi contabilizado 1% de
torcedores na Regio Norte/Centro Oeste. Apesar do nmero de torcedores na Regio Sul parecer
pequeno, ele torna-se grande quando comparado ao percentual que seu maior rival recebeu, 13%.
A pesquisa realizada foi em mbito nacional e, dos existentes no Estado, somente os dois times
foram citados. Do total de entrevistados, o Grmio ficou com a parcela de 4%, o que representa
80 citaes nacionalmente. Os dados podem ser conferidos no Anexo D.
Assim como o Grmio, os outros clubes de futebol, para garantir a lucratividade do clube,
tenta manter bons relacionamentos com os consumidores do esporte. Essa tentativa exige um
entendimento do que motiva os clientes a se engajarem em uma compra com base no
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relacionamento (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 711). E, como visto, a relao clube-
torcedor o inicio das outras relaes geradoras de lucro do clube.
2.3 Relacionamentos
Tendo como ponto de partida a frase de Grunig (2003, p. 74): as organizaes existem
no contexto de um meio que formado por diversos grupos ou pblicos estratgicos, chega-se a
concluso de que no basta a organizao identificar seus pblicos se ela no desenvolver com
eles um relacionamento proveitoso para ambos. O resultado favorvel do relacionamento
organizao-pblicos para a organizao o seu desenvolvimento e para os pblicos a sua
satisfao. Para atingi-los, as duas partes devem se empenhar no processo do relacionamento,
assim explica Frana;
o principal objetivo do relacionamento organizao-pblicos sustenta-se por interesses
institucionais, promocionais ou de desenvolvimento de negcios como sucede com os
colaboradores, clientes, fornecedores, revendedores e demais pblicos ligados s
operaes produtivas e comerciais da organizao. Empresas e pblicos tem interesses
comuns de produtividade e lucratividade. So parceiros, cientes de que, para atuarem em
conjunto e obterem resultados, devem ser cada vez mais qualificados. (FRANA, 2004,
p. 100)
Mais adiante o autor comenta sobre os casos que constituem o relacionamento entre
pblicos e organizao.
h aqui duas situaes: a) capacidade de relacionamentos e de realizao de negcios
lucrativos para ambas as partes (relao de troca); b) no campo da opinio, a
possibilidade de formao de um clima favorvel empresa pela qualidade
operacional que reflete a identidade corporativa. A existncia desse clima de negcios
resulta na qualidade dos relacionamentos e, em suma, do planejamento estratgico, da
identidade corporativa, dos valores e princpios operacionais e ticos das empresas.
(FRANA, 2004, p. 100-101).
O relacionamento com pblicos essencial para a sobrevivncia de todos os tipo de
organizao, inclusive nas organizaes desportivas, como o caso dos clubes de futebol. Assim
afirmam Taylor (apud LEONCINI; SILVA , 2005, p.2), no futebol, relacionamento tudo. As
partes constituintes de cada nvel do jogo dependem da existncia saudvel dos rivais, desde os
direitos de propriedade e administrao at as torcidas ativas e o pblico passivo de TV.
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Dentre os pblicos do clube de futebol, o que gera para o clube um relacionamento
complexo, por no envolver somente questes financeiras, o torcedor. O relacionamento clube-
torcedor (ou ento, clube-consumidor final) possui um diferencial dos outros relacionamentos
que o clube como empresa mantm. Essa diferena o fator emocional do torcedor que o leva a
torcer pelo clube e que por motivos passionais consome ou no os bens e servios produzidos
pelo clube. Porm, outras caractersticas desse relacionamento so apresentadas por Silva e
Campos Filho os quais apontam que
uma das peculiaridades do consumidor final do futebol (o torcedor) a de que, diferente
de mercados comuns, seu relacionamento com o clube duradouro apesar do servio
oferecido no ser dos melhores (como, por exemplo, a falta de ttulos, desconforto e
insegurana nos estdios). [...] Um relacionamento duradouro com os clientes a base
das fontes de receita das organizaes. Alm disso, o atual cenrio, ps Lei Pel,
compromete a rentabilidade dos clubes atravs da negociao da venda de passe de
jogadores e cria uma necessidade ainda maior de se relacionar com os clientes. (SILVA;
CAMPOS FIL