UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM · "Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HAB. RELAÇÕES PÚBLICAS SABRINA RAUPP SOUZA ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM EM ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS Santa Maria 2008

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM

    CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS

    CURSO DE COMUNICAO SOCIAL HAB. RELAES PBLICAS

    SABRINA RAUPP SOUZA

    ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM

    EM ORGANIZAES DESPORTIVAS

    Santa Maria

    2008

  • SABRINA RAUPP SOUZA

    ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM

    EM ORGANIZAES DESPORTIVAS

    Monografia apresentada Universidade Federal

    de Santa Maria - UFSM, como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Bacharel em

    Comunicao Social Habilitao Relaes

    Pblicas.

    Orientador: Prof . Ms. Elisngela Carlosso Machado Mortari

    Santa Maria

    2008

  • SABRINA RAUPP SOUZA

    ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM

    EM ORGANIZAES DESPORTIVAS

    Monografia apresentada Universidade Federal

    de Santa Maria - UFSM, como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Bacharel em

    Comunicao Social Habilitao em Relaes

    Pblicas.

    Aprovado pela Banca Examinadora em dezembro de 2008.

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________________________________

    Prof. Dr. Elisngela Carlosso Machado Mortari - UFSM

    Orientadora

    ___________________________________________________________________

    Prof. Dr. Maria Ivete Trevisan Foss UFSM

    ___________________________________________________________________

    Prof. Mnica Pieniz - UFSM

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos que contriburam de forma direta ou indireta para que este trabalho de

    concluso de curso fosse realizado. Sendo assim, no posso deixar de citar algumas pessoas

    especiais que contriburam pra que eu o realizasse:

    Aos meus pais e ao meu irmo Jael, Lonir e Renan por sempre me dar amor e

    compreenso. Por sempre apoiar e incentivar o meu desenvolvimento. Agradeo os abraos e os

    beijos, as palavras de incentivo, os gestos carinhosos, os auxlios na pesquisa e, acima de tudo,

    por sempre estarem presentes na minha vida. Amo vocs.

    Aos meus tios e primos, por sempre dizerem que estudo fundamental, por acreditarem

    em mim e por se unirem. Somos uma famlia, a famlia dos bonitos, e como tal, superamos

    nossas diferenas e nos unimos no s nos momentos de alegria, como tambm nos de tristeza e

    preocupao. Adoro vocs.

    minha amiga-tia Vernica, sem ela a pesquisa estaria pela metade, o acesso aos livros

    seria mais difcil. Obrigada por ir e vir comigo, pegando e devolvendo livros. Tens um lugar s

    teu no meu corao.

    minha grande amiga Carla, exemplo de profissional e uma pessoa admirvel. Ela soube

    empregar as palavras certas para me acalmar nos momentos de desespero. Espero um dia poder

    retribuir o que fizeste por mim. Muito obrigada por tudo.

    s minhas amigas-irms Dani, Mari, Tais, Manu e Adri por proporcionar-me

    momentos de extrema alegria, por contriburem com a realizao deste trabalho e por no

    deixarem que eu desanimasse. Saibam que podem sempre contar comigo.

    Finalmente, no poderia deixar de prestar um agradecimento especial Professora

    Elisngela Machado Cardoso Mortari, pela disponibilidade de orientar este estudo mesmo tendo

    diversas outras atividades sob sua responsabilidade. Muito obrigada por aceitar o meu convite,

    pois sem sua guia este trabalho no se concretizaria.

  • "Eterno tudo aquilo que dura uma frao de segundos,

    mas com tamanha intensidade que se petrifica

    e nenhuma fora jamais o resgata..."

    Carlos Drummond de Andrade

  • RESUMO

    O presente estudo visa anlise de como organizaes desportivas podem utilizar estratgias de

    comunicao para administrar crises de imagem. Como exemplo, utilizado o caso do

    rebaixamento de Srie no Campeonato Brasileiro do clube Grmio Foot-Ball Porto Alegrense,

    fato ocorrido entre dezembro de 2004 e novembro de 2005. Buscou-se conciliar as teorias de

    Relaes Pblicas, Comunicao e Marketing com a finalidade de realizar uma anlise sobre o

    consumidor desportivo, a configurao de crise de imagem para a organizao desportiva e a

    administrao dessa crise. A pesquisa foi realizada com base nos conceitos metodolgicos de

    Antonio Carlos Gil sobre pesquisas ex-post-facto, documental e bibliogrfica; aplicando ainda

    tcnica de coleta de dados atravs de entrevista pautada focalizada em uma amostragem

    intencional. Aps coletar os dados da organizao exemplo, foi realizado o levantamento terico

    e a anlise dos dados coletados com base na teoria pesquisada. Conclui-se, ao fim do trabalho,

    que esta pesquisa pode auxiliar organizaes desportivas na elaborao de estratgias de

    comunicao que possam vir a utilizar no relacionamento com consumidores desportivos em

    momentos de crise.

    Palavras-chave: Crise, Relacionamento e Comunicao.

  • ABSTRACT

    This study is the analysis of how sports organizations can use for communication strategies to

    manage crises of image. How an example, it is used in case the series relegation of Grmio Foot-

    Ball Porto Alegrense on the Brazilian Championship, actually occurred between December 2004

    and November 2005. Trying to conciliate the Public Relations theories, Communication and

    Marketing with the porpoise of performing an analysis on the consumers sports, the configuration

    of image crisis to the athletic organization and the administration of this crisis. The research was

    realized based on Antonio Carlos Gil methodological concepts about researches ex-post-facto,

    related to documents and bibliographies; applying still data collection technique by a registered

    interview focus on an intentional sampling. After collecting the example organization data, it was realized a theorist

    gathering and the collected data analyze based on the researched theory. It follows that, in the end of the work, this

    research can help athletic organizations on elaborating communication strategies they will be able use on the athletic

    consumers relationship in crisis moments.

    Key-words: Crisis, Relationship and Communication

  • SUMRIO

    CONSIDERAES INICIAIS .................................................................................... 9

    1 AS ORGANIZAES DESPORTIVAS .................................................................... 13

    1.1 O que so Organizaes .................................................................................................. 14

    1.1.1 Conceituando Organizaes Desportivas ........................................................................ 15

    1.2 A A Comunicao Organizacional ...................................................................................... 17

    1.2.1 Comunicao em Organizaes Desportivas ................................................................... 20

    1.3 Crises Organizacionais ..................................................................................................... 23

    1.3.1 Crises em Organizaes Desportivas ............................................................................... 24

    2 PBLICOS: COMPORTAMENTO E RELACIONAMENTOS ............................. 26

    2.1 Pblicos ............................................................................................................................ 26

    2.1.1 Os Pblicos da Organizao Desportiva .......................................................................... 28

    2.2 Comportamento do Consumidor ...................................................................................... 30

    2.2.1 O Consumidor Desportivo ............................................................................................... 34

    2.3 Relacionamentos .............................................................................................................. 37

    2.3.1 As Relaes Pblicas ....................................................................................................... 39

    2.3.2 O Marketing de Relacionamentos ................................................................................... 42

    3 ADMINISTRANDO CRISES ....................................................................................... 45

    3.1 Identidade e Imagem Organizacional .............................................................................. 45

    3.1.1 Fatores que Sustentam Imagens ....................................................................................... 48

    3.2 Marketing de Emoes ..................................................................................................... 50

    3.2.1 Os Arqutipos Emocionais ............................................................................................... 51

    3.3 Organizaes Administrando Crises de Imagem ............................................................. 52

    4 COMO A ORGANIZAO DESPORTIVA SUPERA CRISES

    UTILIZANDO ESTRATGIAS DE COMUNICAO: O CASO GRMIO ....... 57

    4.1 A Crise ............................................................................................................................. 57

    4.2 Enfrentando a Crise .......................................................................................................... 61

    CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 72

    REFERNCIAS ............................................................................................................. 76

    ANEXOS ......................................................................................................................... 81

  • CONSIDERAES INICIAIS

    O Brasil tem presenciado a transformao do esporte, que era considerado uma atividade

    de lazer, em um negcio lucrativo para organizaes desportivas e instituies que desejam ter

    seu nome aliado aos valores transmitidos pelo esporte. Neste contexto, o futebol a principal

    fora da indstria esportiva. Segundo especialistas1, s no ano de 2005 este esporte movimentou

    cerca de US$ 330 milhes no Brasil, sendo que este valor o somatrio dos totais referentes

    venda de jogadores, bilheterias, investimento de patrocinadores e transmisso dos jogos.

    A mudana no cenrio do clube de futebol brasileiro para o clube empresa comeou em

    1992, com a co-gesto entre um clube de futebol tradicional de So Paulo e uma empresa de

    laticnios que desejava ganhar visibilidade no mercado brasileiro. Neste caso, a administrao do

    clube foi dividida, mas, atualmente, o modelo que vem sendo adotado em grande nmero o

    investimento para explorao da imagem. A marca do clube administrada pelo investidor

    enquanto o departamento de futebol pelos dirigentes do clube (ASSEF, 2000). A transformao

    do futebol em empresa e a comercializao da marca dos clubes iniciaram porque este esporte

    apresenta um fator atrativo, os torcedores que se tornam, fora do campo, consumidores em

    potencial das empresas que patrocinam os times pelos quais torcem com tanto fervor.

    Porm, a empresarizao das organizaes desportivas e a visibilidade miditica dada ao

    esporte tornaram os acontecimentos negativos ocorridos nessas organizaes mais um espetculo

    para a mdia (Proni, 1998). Sendo assim, a imagem de clubes de futebol e instituies esportivas

    tornou-se to importante para estes quanto a de uma fbrica de produtos qumicos para esta. A

    imagem organizacional que vai render ao clube o interesse de grandes investidores e o interesse

    dos prprios torcedores em consumir produtos e servios relacionados com o clube.

    Considerando que a imagem passou a ser de grande valia para as organizaes

    desportivas, estas devem investir em profissionais que possam administrar a imagem da

    organizao, bem como elaborar estratgias para solucionar possveis crises que afetem este bem.

    E, com o intuito de validar esta idia, surgiu a proposta deste estudo.

    Este estudo procura identificar estratgias de comunicao que auxiliam organizaes

    desportivas a administrar crises de imagem. A monografia, que ora se desenvolve, tem como

    1 FONTE: Site G1 (http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL5405-9356,00.html) matria publicada

    em 12 de fevereiro de 2007.

    http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL5405-9356,00.html

  • objetivos situar as organizaes desportivas como empresas com fins lucrativos, identificar quem

    so os consumidores dos produtos e servios produzidos por ela e o que os leva a consumir,

    identificar as bases da imagem dessas organizaes, indicar meios para administrar crises de

    imagem e relatar a crise de imagem que atingiu o clube de futebol gacho Grmio Foot-Ball

    Porto Alegrense e como este a solucionou com estratgias de comunicao.

    O tema proposto traz a administrao de crises de imagem em organizaes desportivas

    como uma rea a ser melhor explorada pela comunicao, principalmente pelas Relaes

    Pblicas. Mas no a questo do marketing esportivo e do jornalismo esportivo, e sim, a

    comunicao e as relaes entre organizao e pblicos e como isso se reflete na imagem da

    organizao e auxilia a prevenir e gerenciar crises de imagem. A escolha do tema foi baseada em

    uma mistura dos interesses que a investigadora possui pelos assuntos: relacionamento com

    pblicos, crises de imagem e esporte. E a escolha do Clube referido anteriormente foi baseada na

    localizao geogrfica de fcil acesso para a pesquisadora e pelo histrico do Clube que

    apresenta um acontecimento negativo que gerou uma crise de imagem junto aos torcedores.

    Neste estudo no se tem a pretenso de elaborar um manual sobre como as organizaes

    desportivas devem utilizar estratgias de comunicao para administrar crises de imagem, mas

    sim, analisar um fato deste tipo ocorrido e o contrapor com as falas de tericos. O estudo ter

    importncia para a comunicao social, pois dar mais ateno a um mercado pouco explorado,

    possibilitando o surgimento de novas questes a serem futuramente pesquisadas.

    Para que o conhecimento gerado por este trabalho seja cientfico necessrio identificar

    os mtodos que possibilitaram sua verificao. Conforme Gil (1999, p.27), o que torna o

    conhecimento cientfico distinto dos demais que tem como caracterstica fundamental a sua

    verificabilidade. Assim sendo, pode-se dizer que este estudo de natureza exploratria, pois

    envolve levantamento bibliogrfico, entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas

    com o problema pesquisado e anlise de exemplos. Dessa forma, visa-se proporcionar um maior

    conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas

    mais precisos ou criar hipteses que possam ser pesquisadas posteriormente (GIL, 1999).

    Para desenvolver esta pesquisa foi necessrio realizar o planejamento da mesma, ou seja,

    realizou-se um delineamento. O delineamento de uma pesquisa o planejamento da pesquisa em

    sua dimenso mais ampla, envolvendo tanto a diagramao quando a previso de anlise e

    interpretao dos dados (GIL, 1999, p. 64). Para este estudo foi utilizado o delineamento ex-

  • post-facto, visto que foi realizado o resgate de um fato que a pesquisadora no vivenciou.

    Segundo Gil (1999, p. 69), pode-se definir pesquisa ex-post-facto como uma investigao

    sistemtica e emprica na qual o pesquisador no tem controle direto sobre as variveis

    independentes, porque j ocorreram suas manifestaes. uma pesquisa de carter exploratrio,

    de cunho qualitativo e na qual o pesquisador no tem como manipular as variveis porque elas

    chegam a ele j tendo realizados seus efeitos, ou seja, trata-se da recuperao de um fato passado

    para anlise. Tambm, foram utilizadas metodologias como a pesquisa bibliogrfica, a

    documental e a entrevista pautada em amostragem intencional.

    A pesquisa bibliogrfica a realizao de um levantamento terico sobre assuntos

    abordados pelo tema de pesquisa e adequados rea esportiva. A pesquisadora buscou a

    contribuio conceitual de autores como Argenti, Fortes, Frana, Rosa, dentre outros. Para a

    realizao da pesquisa documental, foi consultado o acervo do Museu de Comunicao Social

    Hiplito Jos da Costa, o centro de Documentao e Informao do jornal Zero Hora e o Grmio

    Foot-Ball Porto Alegrense, todos localizado em Porto Alegre.

    Outro mtodo de pesquisa utilizado foi a entrevista. A realizao deste mtodo em

    pesquisas sociais " bastante adequada para a obteno de informaes acerca do que as pessoas

    sabem, crem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como

    acerca das suas explicaes ou razes a respeito das coisas precedentes" (Selltiz apud Gil, 1999,

    p.117). Com esse intuito foi empregada a entrevista por pautas, a qual se trata de um tipo de

    entrevista com certo grau de estruturao, j que se guia por uma relao de pontos de interesse

    que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso (GIL, 1999, p. 120). A amostragem

    para realizar as entrevistas classificada como no probabilstica e intencional, pois consiste em

    identificar e selecionar pessoas que possibilitem a obteno de informaes necessrias ao

    desenvolvimento da pesquisa (GIL, 1999). Deste modo, foram selecionados: o Coordenador

    Executivo de Comunicao do Grmio, Haroldo Santos, o qual participou da administrao da

    crise vivida pelo Clube; a Gerente de Marketing do Grmio, Michelle Billo; a Relaes Pblicas

    do Grmio, Melissa Motta, a qual trabalhava no Clube no perodo de interesse da pesquisa e a

    Gerente de Conta da agncia SLM Ogilvy, Grace Barth, a qual prestou servios publicitrios para

    o Clube durante o perodo de interesse da pesquisa.

    Destes selecionados, somente a Relaes Pblicas do Clube recusou-se a colaborar com a

    pesquisa alegando que necessitaria de uma autorizao do Clube para conceder a entrevista. Tal

  • autorizao no foi possvel devido ao fato do Clube autorizar somente duas pesquisas por

    semestre, sendo que o pedido deve ser realizado com um semestre, ou mais, de antecedncia,

    segundo as informaes transmitidas pela prpria Melissa Motta.

    Assim, o estudo foi estruturado em quatro captulos. O captulo de nmero um trata das

    definies de organizao, comunicao organizacional e crises em organizaes. Com base

    nestas definies, foi dissertado sobre: organizaes desportivas, comunicao organizacional

    desportiva e crises em organizaes desportivas, a fim de melhor compreender o tipo de

    organizao referente no estudo e proporcionar maior preciso na abordagem do tema proposto.

    A elaborao deste captulo tem como base principal os conceitos dos autores Richard Hall

    (1984), Mrio Rosa (2001), Margarida Maria K. Kunsch (2003) e Joo Jos Forni (2003).

    No captulo de nmero dois encontram-se definies de pblicos tratando-se,

    principalmente, do pblico de organizaes desportivas de comportamento de consumidores e

    do consumidor desportivo, de relacionamentos organizao-pblicos e dos panoramas de

    Relaes Pblicas e Marketing de Relacionamentos sobre esse tema. Desta forma, ser possvel

    visualizar como a comunicao influencia na perspectiva dos pblicos sobre a organizao. Para

    este captulo, a pesquisadora utilizou as opinies de Fbio Frana (2004), Roberto Porto Simes

    (1995), Jagdish Sheth, Banwari Mittal e Bruce Newman (2001).

    O captulo seguinte, de nmero trs, apresenta conceitos de identidade organizacional,

    imagem organizacional e marketing de emoes neste ltimo item d-se destaque para os

    arqutipos emocionais. Tambm, demonstrado como cada uma dessas reas interfere na outra e

    como a comunicao as trabalha. A elaborao deste captulo tem como principais autores Mrio

    Rosa (2001), Joo Jos Forni (2003) e Jos Souza Martins (1999).

    A partir do contedo destes captulos, realizada a anlise da pesquisa ex-post-facto no

    Grmio Foot-Ball Porto Alegrense. Logo, no captulo de nmero quatro, relatada a situao de

    crise vivida pelo Clube e como esta afetou a sua imagem. Tambm, so descritas as estratgias de

    comunicao que o Clube utilizou para administrar a crise. As estratgias ao serem descritas so,

    tambm, contrapostas com teorias de estudiosos da comunicao como Paul A. Argenti (2006),

    Jos Souza Martins (1999) e Cludia Lemos e Rozlia Del Gaudio (2003).

  • 1 AS ORGANIZAES DESPORTIVAS

    Este captulo pretende tornar um pouco mais claro a complexidade das organizaes, do

    fenmeno da comunicao nela existente e das situaes de crise que podem ocorrer em seu

    desenvolvimento. Desta forma, busca-se iniciar com a apresentao de conceitos sobre

    organizao, que, segundo Oliveira (2001, p. 68), desde o passado mais remoto, nossos

    ancestrais aprenderam a juntar esforos para atingir objetivos. A unio desses esforos pode ter

    como objetivo o lazer, o entretenimento por meio do esporte, e, assim, o homem criou as

    organizaes desportivas. E, dentre essas organizaes, pode-se dizer que a de maior sucesso o

    clube de futebol. Esporte que ganhou grande repercusso nacional e virou smbolo do Brasil.

    O destaque nacional dado ao esporte e a profissionalizao de clubes e jogadores fez o

    futebol deixar de ser um simples esporte para se tornar um negcio lucrativo para os clubes

    esportivos e investidores nacionais e internacionais que desejam entrar no mercado brasileiro. A

    transformao do futebol brasileiro em empresa comeou no ano de 1992, com a co-gesto entre

    Parmalat e Palmeiras, caso no qual a administrao do clube dividida (ASSEF, 2000). Mas este

    no o nico modelo de parceria que os clubes brasileiros esto realizando com os investidores

    interessados. Atualmente, conforme Assef, o modelo que vem sendo adotado o investimento

    para explorao da imagem. A marca do clube administrada pelo investidor enquanto o

    departamento de futebol pelos dirigentes.

    Os clubes de futebol e as demais organizaes desportivas assim como diversas outras

    empresas apresentam deficincias no que se refere comunicao organizacional, que,

    conforme Baldissera (2000, p. 26) compreende todo o fluxo de mensagens que compe a rede de

    relaes sob o mbito da organizao. Ocorrem falhas no gerenciamento da comunicao

    porque poucos gerentes reconhecem a importncia da comunicao, relutam em contratar os

    profissionais qualificados necessrios para vencer no atual ambiente de negcios (ARGENTI,

    2006, p. 15). Esse fato leva muitas aes negativas que ocorrem dentro da organizao a

    tornarem-se crises de imagem, alm de, tambm, prejudicar o relacionamento da organizao

    com seus pblicos, principalmente com os clientes. Por isso, neste trabalho, busca-se dissertar

    como as estratgias de comunicao podem auxiliar as organizaes a administrarem crises.

    Assim, o Captulo 1 d-se inicio com a explanao sobre os conceitos de organizao.

  • 1.1 O que so Organizaes

    Para introduzir um breve conceito de organizao, busca-se respaldo na Teoria Clssica

    da Administrao a qual se preocupou em analisar a estrutura organizacional, pois seu fundador,

    Herry Fayol, acreditava que partia-se do todo organizacional e da sua estrutura para garantir

    eficincia a todas as partes envolvidas (FAYOL apud CHIAVENATO, 1983, p.70). A nfase na

    hierarquia organizacional denota a valorizao da organizao formal e a relao de dependncia

    entre o desempenho dos lderes de setores e a eficincia da organizao. Segundo Chiavenato,

    a Teoria Clssica concebe organizao como se fora uma estrutura. E a maneira de

    conceber a estrutura organizacional bastante influenciada pelas concepes antigas de

    organizao (como a organizao militar e a eclesistica) tradicionais, rgidas e

    hierarquizadas. [...] A Teoria Clssica concebe a organizao em termos de estrutura,

    forma e disposio das partes que a constituem, alm do inter-relacionamento entre essas

    partes. Restringe-se apenas aos aspectos da organizao formal. (CHIAVENATO, 1983,

    p. 77).

    Outro autor da Teoria Clssica concebe organizao como sendo a forma de toda

    associao humana para a realizao de um fim comum. A tcnica de organizao pode ser

    descrita como a tcnica de correlacionar atividades especficas ou funes num todo coordenado

    (MOONEY apud CHIAVENATO, 1983, p.77). Assim, tem-se para o conceito de organizao

    uma combinao de esforos individuais com a finalidade de concretizar propsitos coletivos

    (MAXIMILIANO, 1992, p. 43), ou seja, a organizao um conjunto de pessoas que tm em

    comum um objetivo e combinam seus esforos visando atingi-lo. Esse conceito simplificado pode

    ser aplicado para definir qualquer tipo de organizao e tambm o ponto comum entre os

    diversos conceitos existentes para definir a organizao que simboliza um grupo empresarial.

    Maximiliano ainda acrescenta que atravs da organizao podem-se alcanar objetivos que um

    nico indivduo no seria capaz de atingir, e o funcionamento de uma empresa um bom

    exemplo.

    Nesse sentido o autor Richard Hall entende a organizao como sendo

    uma coletividade com uma fronteira relativamente identificvel, uma ordem normativa,

    escalas de autoridade, sistemas de comunicaes e sistemas de coordenao de afiliao;

    essa coletividade existe numa base relativamente contnua em um ambiente e se engaja

    em atividades que esto relacionadas usualmente, com um conjunto de objetivos.

    (HALL, 1984, p. 23)

  • Os indivduos, ao idealizarem a organizao, participam de atividades que influenciaro o

    microambiente organizacional. Este ambiente tanto recebe as aes da organizao como tambm

    age sobre ela, mantendo uma relao retro-ativa; por isso, deve ser estudado em detalhes para que

    assim a organizao e seus representantes estejam preparados para a ao deste ambiente sobre a

    organizao. Visto que as questes microambientais resumem caractersticas internas parcial ou

    totalmente controlveis (FORTES, 2003, p. 54), portanto, seu estudo significa tornar conhecidos

    os pontos fortes e fracos da empresa, os possveis fornecedores, os concorrentes, o perfil dos

    consumidores, o tipo de produto ou servio oferecido pela organizao. Alm dos consumidores e

    fornecedores, a anlise do microambiente permite tambm o conhecimento sobre os demais

    pblicos envoltos na existncia da organizao, como a prpria diretoria, a qual tem sua estrutura

    hierrquica diferenciada conforme cada tipo de organizao.

    1.1.1 Conceituando Organizaes Desportivas

    As organizaes diferenciam-se pelo ramo de atividade no qual atuam. Para o presente

    estudo, ser utilizada na pesquisa uma organizao desportiva, ou seja, uma organizao que atua

    no cenrio esportivo. Essas organizaes podem ser chamadas de organizaes desportivas ou

    esportivas. Por desporto, encontra-se a seguinte definio: Segundo o dicionrio Mini Aurlio

    (2006, p. 311): Desporto () sm. V. esporte (1). [pl.: -portos ()]. Apesar de significarem o

    mesmo, desporto e esporte so usualmente utilizados em ocasies diferentes. Quando se refere

    atividade, mais comum utilizar a denominao esporte; j, o termo desporto mais utilizado

    para se referir s organizaes que trabalham com as atividades esportivas, como os clubes.

    Os clubes que atuam no ramo esportivo esto segmentados em clubes sociais e esportivos

    e clubes esportivos. O primeiro aquele que atua tanto com eventos sociais bailes e jantares

    como com atividades esportivas ao disponibilizar para seus scios quadras para a prtica

    esportiva, aulas de tnis, futebol, vlei ou algum outro esporte. A maioria dos clubes sociais e

    esportivos no possui equipes para competio, mas os grandes clubes do ramo normalmente

    patrocinam os atletas cedendo-os o espao fsico do clube para treinamento e em troca o atleta

    compete em nome do clube. Em Santa Maria, temos como exemplos dessa categoria o Clube

  • Recreativo Dores e o Avenida Tnis Clube; e em Porto Alegre, os exemplos so o Grmio

    Nutico Unio e a Sociedade Ginstica de Porto Alegre (SOGIPA). Sobre os de Porto Alegre,

    ambos possuem seus prprios atletas os quais competem em ginstica olmpica, vlei, natao,

    jud, entre outros. J o segundo tipo de clube, o clube esportivo, lida somente com a prtica de

    esportes, geralmente competitivos, como o caso do Grmio Foot-Ball Porto Alegrense e do

    Sport Club Internacional. Estes sero considerados clubes esportivos por se tratar de organizaes

    que tm como principal funo equipes de futebol profissional visando conquista de

    competies. Apesar destes clubes tambm possuir equipes de outras modalidades esportivas,

    bem como espaos e atividades sociais para seus scios, a atividade essencial o futebol

    profissional.

    Os clubes esportivos, atualmente, no so somente fontes de entretenimento, eles se

    transformaram em empresas. A transformao do esporte e do clube esportivo deu-se ao passo

    que a prtica esportiva deixou de ser somente uma atividade de lazer e passou a ser visto como

    uma fonte de riquezas, visto que se trata de uma atividade que movimenta grandes quantias

    financeiras atravs da comercializao de jogadores e de produtos ligados a marcas de clubes.

    Essa transformao clube-empresa deu-se inicialmente com o futebol. Aidar e Leoncini (2000,

    p.82), afirmam que

    a atuao de clubes de futebol como empresas um processo evolutivo que a muito

    tempo vem acontecendo no futebol brasileiro e mundial. De um lado, temos a evoluo

    da prtica, representada pelos agentes e instituies ligados direta ou indiretamente

    produo de espetculos futebolsticos agrupamentos esportivos (clubes, federaes

    e confederaes) e produtores e vendedores de servios diretos (mdicos, treinadores,

    psiclogos etc). No outro crner, est o consumo, simbolizando os compradores de bens

    ou servios ligados ao futebol, e que no participam da produo do espetculo em si.

    (AIDAR; LEONCINI, 2000, p. 82)

    A evoluo dos clubes de futebol em empresas faz surgir neles a necessidade de implantar

    na administrao do clube caractersticas da mentalidade empresarial e, tal caracterstica, deve

    estar presente tanto na direo do clube como tambm em todos os setores administrativos.

    Fernandes (2000, p. 33) ainda acrescenta que o mercado do esporte-business e o negcio do

    futebol profissional so o mercado de atuao e a viso do negcio no qual esto investindo os

    clubes como empresas. Sendo assim, dirigentes movidos pela paixo ao esporte e sem viso

    empresarial no se enquadram mais no novo modelo de gesto de clubes esportivos,

    principalmente tratando-se do futebol. Melo Neto (1998, p.66), afirma que o clube em seu

    processo de transformao em empresa necessita de dois ingredientes: mais de realizao do que

  • de paixo e mais de construo do futuro do que de emoes do presente. H uma necessidade da

    introduo e da prtica do conceito de viso estratgica. Este olhar sob o clube de futebol

    encontrado em alguns clubes que se reestruturaram e montaram seu quadro de colaboradores com

    pessoas capacitadas, profissionais habilitados para atuar dentro do clube e desenvolver um

    trabalho buscando o crescimento do mesmo. Esse o caso do Grmio FootBall Porto Alegrense.

    Para o clube sair de um perodo turbulento, a direo optou por modificar a estrutura

    administrativa, dando uma viso empresarial mais moderna, antes de pensar nas mudanas dentro

    de campo. Nesta mudana, o setor de comunicao foi um dos primeiros a sofrer alteraes.

    1.2 A Comunicao Organizacional

    A comunicao a origem de qualquer tipo de relacionamento, seja interpessoal ou

    interorganizacional, logo, o sucesso desse relacionamento vai depender da eficcia do processo

    de comunicao nele existente. Nessa perspectiva, possvel afirmar que a organizao um

    processo de construo que tem, na base, o processo de comunicao (BALDISSERA, 2000, p.

    18). Quando referido o processo de comunicao das organizaes, subtende-se, conforme

    Kunsch (2003, p. 70), os elementos bsicos que o constituem: fonte, codificador, canal,

    mensagem, decodificador e receptor. Para Baldissera (2000, p. 26), usualmente, a relevncia da

    comunicao, sob o mbito das organizaes, a de informar e/ou receber informaes dos

    pblicos em detrimento do processo de construo de sentidos ocasionado pela comunicao;

    porm, para o autor o que parece ser mais grave, a ausncia total de planejamento de

    comunicao ou o seu planejamento parcial. As organizaes, quando iniciam um processo de

    comunicao, devem ter cuidado com os elementos constituintes do processo para que no tenha

    como consequncia imediata, o agravamento das anomalias nesse tipo de comunicao (Ibid, p.

    26).

    A preocupao com o processo de comunicao organizacional no to antiga quanto a

    existncia da prpria comunicao. O processo de comunicao dentro das empresas brasileiras

    relativamente recente, evoluindo nas ltimas trs dcadas, em busca de um modelo que integre,

    sinergicamente, todos os setores da empresa envolvidos com a comunicao e o marketing

  • (LEAL; TARGINO, 2005, p. 619). Sobre a evoluo do processo, Bueno (apud LEAL;

    TARGINO, 2005, p. 619) acredita que a concepo de comunicao empresarial se aprimora, ao

    longo do tempo, deixando de ser to-somente um conjunto de atividades fragmentadas, para se

    configurar como processo integrado que orienta o relacionamento das empresas com seus

    pblicos. O processo de comunicao organizacional alm de existente passa a ser reconhecido

    pela organizao e integrado aos outros processos organizacionais a fim de encaminhar as

    relaes de uma organizao com seus colaboradores, consumidores e demais pblicos.

    A evoluo do processo de comunicao organizacional denota que as organizaes

    comeam a reconhecer a importncia que a comunicao tem para sua vida e desenvolvimento. O

    no reconhecimento dessa importncia e, portanto, o descuido com os processos de comunicao

    podem levar uma organizao runa. Nesse sentido, Kunsch explica que,

    o sistema organizacional se viabiliza graas ao sistema de comunicao nele existente,

    que permitir sua contnua realimentao e sua sobrevivncia. Caso contrrio, entrar

    num processo de entropia e morte. Da a imprescindibilidade da comunicao para uma

    organizao social. (2003, p. 69).

    Barnard (apud HALL, 1984, p. 132), tambm comenta sobre a importncia da

    comunicao para a organizao ao dizer que numa teoria exaustiva da organizao, a

    comunicao ocuparia lugar central, pois a estrutura, extenso e mbito da organizao so quase

    inteiramente determinados pelas tcnicas de comunicao. Tanto Hall ao citar Barnard quanto

    Kunsch explicam a imprescindibilidade do processo e do sistema de comunicao para a

    organizao funcionar com eficcia. A ocorrncia eficaz da comunicao organizacional vai

    depender do direcionamento do discurso ao nvel do receptor, assim explica Rego:

    Entendendo-se a comunicao como um processo simblico, pelo qual os sentimentos

    dos empregados dos nveis inferiores para com a organizao so reforados ou

    modificados, sugerimos direcionar o discurso simblico da empresa, a um patamar

    intermedirio, a um certo ponto hipottico central, a uma escala mdia. [...] O objetivo

    deve ser o de aproximar a comunicao ao nvel da expressividade maior dos

    empregados. (REGO, 1986, p. 31)

    Quando se trata de comunicao organizacional, o destaque para a comunicao que

    ocorre dentro da organizao, pois como j citado, so os processos comunicacionais internos que

    iro gerar condies para os elementos formadores da organizao (colaboradores e setores)

    relacionem-se entre si, e para a prpria relacionar-se com outras organizaes. Ou seja, um

    processo comunicacional interno, que esteja em sintonia com o sistema social mais amplo,

  • proporcionar no apenas um equilbrio como o surgimento de mecanismos de crescimento

    organizacional (KUNSCH, 2003, p. 70).

    A comunicao interna procede por fluxos comunicativos os quais existem trs que se

    movem em duas direes, so eles os fluxos descendente, ascendente e lateral, sendo que os dois

    primeiros na direo vertical e o ltimo na horizontal, conforme Rego (1986, p. 32). Kunsch

    (2003, p. 85) explica que o fluxo descendente liga a direo da organizao com os colaboradores

    e por ele so transmitidas a filosofia, as normas e as diretrizes, caracterizando-o como a

    comunicao administrativa oficial. J, no fluxo ascendente ocorre o contrrio, pois neste so

    os colaboradores que enviam direo suas informaes atravs de instrumentos planejados,

    como caixa de sugesto, reunies com trabalhadores, dentre outros meios. E, por fim, no fluxo

    lateral a comunicao ocorre entre pessoas do mesmo nvel hierrquico, ou seja, entre

    departamentos, sees, unidades. A comunicao de fluxo lateral, quando bem conduzida, pode

    criar condies bastante favorveis e uma otimizao de recursos e do desempenho

    organizacional (KUNSCH, 2003, p. 85).

    Nos fluxos, a comunicao transita atravs de meios ou veculos que viabilizam a

    transmisso de informaes da organizao pra os pblicos e deste para ela. Os veculos/meios

    (KUNSCH, 2003) podem ser: escritos (material impresso), orais (conversas, reunies,

    telefonemas, rdios), audiovisuais (vdeos institucionais, telejornais, tv corporativa), pictogrficos

    (mapas, pinturas, diagramas), simblicos (bandeiras, sinais, insgnias, flmulas) e telemticos; ou,

    ainda, a combinao de dois ou mais desses. Segundo Kunsch (2003), os meios telemticos so

    aqueles nos quais as informaes so trabalhadas e transmitidas com o uso combinado da

    informtica e dos meios de telecomunicao. So os meios interativos e virtuais (KUNSCH,

    2003, p.87). Como exemplo, tem-se a internet, o correio eletrnico, a intranet e os celulares.

    A apropriada aplicao das inovaes tecnolgicas e do conhecimento, via de regra,

    permite a produo de bens ou a prestao de servios com maior qualidade e reduo

    nos custos. Isso se deve, fundamentalmente, a fatores tais como a facilidade e/ou o baixo

    custo operacional, a possibilidade da interatividade e a reduo dos custos com a mo-

    de-obra, desperdcio de tempo e matria prima, entre outros. (BALDISSERA, 2000, p.

    15).

    O avano tecnolgico e a popularizao das novas tecnologias fizeram com que as

    organizaes introduzissem esses novos meios sua cultura por cultura organizacional

    entende-se o conjunto de crenas e valores especficos de uma determinada organizao

    (BALDISSERA, 2000, p. 15). No entanto, necessrio que a deciso de utilizao de tecnologias

  • de comunicao esteja de acordo com a utilizao das mesmas pelo pblico que a organizao

    pretende se relacionar. A organizao deve, antes de adotar uma nova tecnologia, saber quais

    tecnologias so utilizadas pelos pblicos. Como disse Baldissera, as vantagens do uso de

    tecnologias s ocorrero se a organizao tiver o cuidado de aplicar tecnologias adequadas ao

    pblico que pretende atingir; pois, assim como as organizaes so diferentes, seus pblicos

    tambm se diferenciam.

    1.2.1 Comunicao em Organizaes Desportivas

    A partir do momento que as organizaes desportivas passam a atuar como grupos

    empresariais, a comunicao organizacional ganhou mais importncia para o dirigente de clube

    que considera o sistema comunicacional fundamental para o processo das funes

    administrativas internas e o relacionamento das organizaes com o meio externo (KUNSCH,

    2003, p. 69). Porm, mesmo em Clubes que j se transformaram em empresas, a comunicao

    demorou para ser vista como ponto estratgico e diferencial na gesto do clube ou sua relevncia

    ainda no foi reconhecida por completo, como foi o caso do Grmio Foot-Ball Porto Alegrense.

    At abril de 2005, o clube portava-se em relao a comunicao como a maioria dos clubes

    brasileiros, ou seja, o setor de comunicao dava mais importncia assessoria de imprensa do

    que s relaes com os outros pblicos. E mesmo assim, segundo o Coordenador Executivo de

    Comunicao do Clube, Haroldo Santos, a assessoria de imprensa no cobria todas as atividades

    do Clube, somente o futebol profissional. Santos relata em entrevista (Anexo A)2:

    Na minha chegada ns tnhamos aqui um jornalista que s acompanhava o futebol

    profissional e no se preocupava com o Clube (...). Tinha um jornalista que cuidava do

    site e um estagirio que dava a retaguarda pros dois. [...] Qual era a ferramenta que voc

    tinha aqui dentro, o site e uma assessoria que conversava por telefone no contato com a

    imprensa.

    A ateno voltada para o futebol profissional acabou deixando de lado todo o trabalho que

    o Grmio realiza com as categorias de base, o qual visa a formao de jogadores desde o infantil,

    2 Entrevista cedida Sabrina Raupp Souza em 03 de setembro de 2008 na sala da Assessoria de Imprensa do Grmio

    Foot-Ball Porto Alegense.

  • passando pelo juvenil e atingindo o nvel jnior, para enfim chegar ao profissional alm destas

    categorias, o Clube ainda oferece pr-infantil, sub 12, sub 13 e a escolinha. Segundo Denis Vieira

    Abraho, ex-Diretor Executivo de Futebol e atual conselheiro do Clube,

    o Grmio est sempre buscando o melhor para o seu grupo de jogadores, o Grmio

    investe nas categorias inferiores, o Grmio tem uma escola de futebol com mil e

    duzentos alunos, o Grmio tem todos os departamentos dirigidos por pessoas

    competentes, trabalhadoras, dedicadas, identificadas com o clube, escolhidas a dedo.

    (ABRAHO apud FERNANDES, 2000, p. 104)

    Uma viso unifocal sobre o clube de futebol, ou seja, ver a organizao desportiva clube

    de futebol como sendo somente a equipe principal, no permite que o profissional de

    comunicao encontre um diferencial na organizao. O profissional que d ateno somente

    para os resultados da equipe de futebol profissional e no conhece todos os feitos da organizao

    pode perder a oportunidade de explorar midiaticamente fatos relevantes, como a formao

    prpria de jogadores, tendo em vista que grande parte dos clubes brasileiros no possui este tipo

    de trabalho. Fernandes afirma que

    este foco no futebol e na formao de jogadores com a cultura do Grmio, a organizao

    administrativa, que garante excelncia na gesto do clube, se tornam habilidades

    diferenciadas no mercado, caracterizando-se como requisito essencial na criao e na

    manuteno do diferencial em relao aos outros clubes. Nos ltimos anos, as equipes do

    Grmio sempre foram compostas por atletas formados dentro do prprio Grmio.

    (FERNANDES, 2000, p. 105 e 106).

    Para falar sobre esta falha de comunicao, comeamos com uma citao de Hall, a qual

    comenta sobre a importncia da comunicao. Segundo Hall,

    a comunicao extremamente importante nas organizaes e segmentos

    organizacionais que precisam lidar com a incerteza, que so complexos e que tem uma

    tecnologia que no permite uma rotinizao fcil. Tanto as caractersticas externas

    quanto as internas afetam a centralidade de comunicao. Quanto mais uma organizao

    se orienta para pessoas e idias, mais importante se torna a comunicao. (HALL, 1984,

    p. 133)

    As palavras de Hall, embora no dirigidas a uma organizao desportiva, poderiam

    perfeitamente servir a qualquer clube de futebol que pretende atuar como um grupo empresarial.

    O clube de futebol uma organizao que lida constantemente com incertezas, pois suas

    estratgias de comunicao esto ligadas diretamente ao resultado dos jogos, ao desempenho de

    jogadores, ao comportamento de torcedores, ou seja, a fatores que no dependem exclusivamente

    do clube e que podem ocorrer de forma positiva ou negativa em um curto espao de tempo. Para

  • a Gerente de Marketing do Grmio, Michelle Billo3. Na entrevista (Anexo B) ela comenta que o

    Grmio, embora seja classificado como uma organizao,

    no que nem uma empresa, um varejo, por exemplo. Eu sei que uma xcara custa R$

    1,99 e daqui a 15 dias ela vai continuar custando R$ 1,99. Eu sei que o Grmio hoje t

    na liderana e vai continuar, tem que pensar assim. Mas, e se por uma eventualidade

    acontece alguma coisa, eu no posso usar esse mesmo planejamento para daqui 15 dias

    porque muitas coisas podem rolar. Ou seja, tudo o que est planejado, eu gostaria de

    executar porque tudo em prol e bom para o Clube mas muitas vezes eu no consigo por

    causa do resultado do campo.

    Conforme Billo, a incerteza dos resultados interferem diretamente no planejamento

    publicitrio do clube, pois a publicao de amanh depende do resultado do jogo de hoje; o clube

    no pode divulgar algo que reforce sua imagem de campeo se no dia anterior perdeu um jogo,

    assim como, no pode elogiar o torcedor, agradecer o comparecimento no estdio e o apoio, se

    houve briga nas arquibancadas ou se os torcedores depredaram as instalaes do estdio. Billo4

    ainda acrescenta que

    o resultado no interfere nas pessoas, nem na Michelle como profissional. O meu

    trabalho continua a mesma coisa, mesmo na vitria, mesmo na derrota o meu objetivo, o

    meu posicionamento, o meu foco o mesmo sempre. Eu no posso me deixar levar pela

    emoo. A emoo eu deixo pro scio, eu deixo para o torcedor que vem aqui, que grita,

    que solta toda a energia dele. A minha energia eu resguardo para continuar o meu

    trabalho.

    O que Billo diz que, antes de serem torcedores, as pessoas que trabalham no Clube so

    profissionais, sendo assim, devem colocar a mentalidade empresarial acima do amor pelo futebol

    e principalmente da paixo pelo Clube. Esse o profissionalismo que a gesto do clube empresa

    necessita para inserir a mentalidade empresarial no esporte. O atual momento da gesto dos

    clubes de futebol como clubes empresas fez surgir a necessidade dos clubes preencherem seus

    quadros de colaboradores com profissionais de viso empresarial. E, esses profissionais no

    devem estar presentes somente na diretoria do Clube, mas em todos os setores, inclusive no de

    comunicao.

    3 Michelle Billo concedeu entrevista Sabrina Raupp Souza, no Departamento de Comunicao e Marketing do

    Grmio Foot-Ball Porto Alegrense, no dia 03 de outubro de 2008. A transcrio da entrevista encontra-se no Anexo

    B deste trabalho. 4 Conforme entrevista cedida no dia 03 de outubro de 2008.

  • 1.3 Crises Organizacionais

    Antes de iniciar o assunto, necessrio realizar um breve comentrio sobre o que

    imagem organizacional. A imagem de uma organizao formada atravs do conjunto de

    valores atribudos a ela. o modo como as pessoas vem a organizao. Segundo Leal e Targino

    (2005, p.621), a imagem pressupe a apreenso de valores subjetivos externados pela instituio

    em diversos momentos de sua existncia e de sua atuao, ou seja, atravs das aes tomadas

    pela organizao e da percepo do pblico formada a imagem organizacional.

    Portanto, crise uma ruptura no processo organizacional que traz danos a imagem da

    organizao. Crises so acontecimentos negativos que fogem da rotina e ao controle da

    organizao e necessitam de cuidados especiais para solucion-los. Para Lopes (apud FORNI,

    2003, p. 363), crise qualquer coisa negativa que escape ao controle da empresa e ganhe

    visibilidade. Conforme Mitroff (apud ROSA, 2001, p. 23), a crise pode advir de um fenmeno

    natural ou humano - as causadas pela natureza, como uma enchente que destri todos os gros

    armazenados de uma indstria alimentcia ou um abalo ssmico que faz uma fbrica desmoronar,

    no prejudicam a imagem da organizao; porm, quando o estopim da crise uma falha

    humana, a primeira parte da organizao a ser prejudicada a sua mais valiosa, a imagem.

    Existem diversas definies para crise de imagem, mas Rosa (2001, p.23) afirma que a melhor

    definio de que a crise de imagem constitui um conjunto de eventos que pode atingir o

    patrimnio mais importante de qualquer entidade ou personalidade que mantenha laos estreitos

    com o pblico: a credibilidade, a confiabilidade, a reputao.

    Para um fato ruim atingir este patrimnio necessrio chegar ao conhecimento pblico, e

    o caminho mais rpido atravs da mdia. Conforme Forni (2003, p. 372), crise de comunicao

    qualquer evento negativo que escape ao controle da empresa e se torne pblico, a partir do

    interesse da mdia. O autor ainda acrescenta que

    h uma tendncia, sobretudo nos meios audiovisuais, para que a informao d lugar

    mdia espetculo. A crise qualquer que seja sua dimenso cai como uma luva nessa

    pauta. Se tiver imagens, melhor ainda. A TV o veculo predileto da imprensa, no h

    como as empresas evitarem a contingncia de mais cedo ou mais tarde serem

    premiadas por qualquer tipo de mdia. Tudo pode ser uma questo de tempo. (FORNI,

    2006, p. 367/368).

  • Assim como Forni, Rosa tambm alerta para a no discriminao de organizaes para a

    ocorrncia de crises. No importa o tipo ou o tamanho da organizao, desde uma padaria de

    esquina at uma multinacional podem sofrer uma crise. Conforme Rosa,

    gigantes empresariais cultuadas como a Johnson & Johnson ou a General Motors, cones

    consagrados como a corretora Merrill Lynch, mitos vivos como Pel, organizaes

    insuspeitas como a Anistia Internacional e, at mesmo, smbolos venerados como a

    Igreja Catlica so apenas alguns nomes mais vistosos nessa galeria de notveis que

    vivenciaram crises de imagem. (ROSA, 2001, p. 21/22).

    As crises de imagem so geradas por falhas humanas e por isso so inevitveis, porm,

    previstas, e exatamente por esse motivo, o pblico se sente escandalizado quando elas ocorrem

    (MITROFF apud ROSA, 2001, p. 23). Os dirigentes de organizaes no devem esperar que seus

    colaboradores cometam falhas, mas devem estar preparados para quando as falhas sejam

    cometidas, pois, com relao crise sua caracterstica mais perigosa a surpresa. (FORNI,

    2003, p. 366).

    1.3.1 Crises em Organizaes Desportivas

    O futebol pode ser considerado um esporte-espetculo, pois essa terminologia quer dizer

    que estamos nos referindo a uma forma particular de prticas altamente competitivas e a uma

    esfera especfica de consumos esportivos (PRONI, 1998, p. 84). No Brasil, o futebol o esporte

    mais praticado e comentado. H pessoas discutindo em bares sobre os resultados dos jogos, as

    tticas de defesa e ataque, o posicionamento de jogadores e at a administrao dos clubes.

    As conversas em bares podem apontar uma possvel crise de imagem; pois, para uma

    organizao desportiva, como o clube de futebol, uma crise pode ser provocada pela m

    administrao, gerando atrasos de pagamentos e dvidas, pelo descontentamento dos torcedores

    com relao ao desempenho de algum jogador, do tcnico ou, mesmo, da equipe inteira. Mas, o

    fato que mais pode causar rachaduras na imagem o rebaixamento de srie. Assim como

    aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2007 com o Corinthians, clube de futebol do estado de

    So Paulo, aconteceu com o gacho Grmio Foot-Ball Porto Alegrense em 2004. O rebaixamento

    desses Clubes da Srie A para a Srie B do Campeonato Brasileiro virou notcia nacional.

  • Os motivos que levam um Clube de Futebol a ser rebaixado podem ser tanto

    administrativos quanto de qualidade em campo e essa a discusso que toma conta de bares,

    jornais, e da internet quando um Clube tradicional cai para a segunda diviso. por isso que em

    um momento de crise o setor de comunicao de um clube deve agir rpido para evitar grandes

    estragos, como sustenta Forni (2003, p. 378), quando a empresa entra em crise, o setor de

    comunicao precisa ser gil para evitar o mximo de estragos na imagem da organizao.

    Principalmente, na internet, encontram-se diversos comentrios sobre os motivos que

    levam um clube a ser rebaixado. Essa uma questo que todas as organizaes devem ter que

    cuidar diariamente, pois o mundo virtual fornece a qualquer pessoa um espao para transmitir

    uma mensagem no interessando o contedo da mesma, se verdade ou mentira. E, pelo poder de

    alcance do meio, esses indivduos podem se tornar mais influentes que a organizao. Um

    exemplo de que a rede virtual d voz a qualquer indivduo so os blogs. Com o poder da

    blogosfera e o crescimento exponencial da internet, as empresas no tm outra opo a no ser

    aderir ao mundo on-line para gerenciar suas reputaes e afastar as crises potenciais

    (ARGENTI, 2006, p. 273). Um relato sem provas sobre a administrao do Grmio pode ser

    encontrado no blog intitulado de Dossi Grmio no qual consta que

    o rebaixamento comeou em 2003. [...] Numa reunio na sala da presidncia do

    Olmpico ainda em dezembro de 2003, trs dias depois de o time derrotar o Corinthians

    e escapar do rebaixamento, os homens do futebol (Krebs e o vice Saul Berdichevski), o

    presidente Flvio Obino, o vice de finanas, Jaime de Marco, e o vice de planejamento,

    Adalberto Preis, acertaram as estratgias para a temporada 2004. A idia era evitar que

    os atrasos de salrio, que tanto tumultuaram o time na temporada, se repetissem. Por

    isso, os gastos com o futebol seriam reduzidos em quase 50% [...] A idia era no gastar

    nada. Os contratos eram de trs meses. Como no Jokey Club, a poca era de apostas

    (URBANO, 2008).

    Mesmo com uma descrio detalhada do acontecimento, sem um contato mais

    aprofundado com o setor administrativo do Clube no ser possvel validar a opinio de Urbano,

    j que no blog ele no apresenta nenhuma prova, tem-se apenas a palavra do blogueiro. Porm,

    somente pelo fato deste boato estar na rede, ele j est legitimado como algo que realmente

    aconteceu. Contra isto, necessrio que as organizaes estejam cientes de que boatos nascem e

    se desenvolvem no vcuo das informaes ou no conflito entre elas. Momentos de incerteza,

    hesitao, vacilao, contradio so excelentes caldos de cultura para os boatos se criarem,

    como afirma Neves (2002, p. 220). So justamente esses boatos que podem gerar uma crise ou

    torna-la ainda maior e mais interessante para a mdia.

  • 2. PBLICOS: COMPORTAMENTO E RELACIONAMENTOS

    Toda a organizao tem um pblico para o qual destinado seu produto ou servio.

    Porm, algumas organizaes no conseguem definir as caractersticas desse pblico, como seus

    valores, suas crenas e seu modo de vida. Esse conhecimento permitiria a comunicadores,

    administradores e profissionais de marketing a criao de estratgias moldadas para se relacionar

    com um pblico especfico, ajudando a organizao a realizar seus objetivos.

    2.1 Pblicos

    Os pblicos compreendem grupos de pessoas que recebem e transmitem informao e que

    so capazes de formular suas prprias opinies e de decidirem por si. O que esses sujeitos tm em

    comum e que os colocam em um mesmo grupo o fato de possurem caractersticas de consumo

    semelhante que os aproximam s ofertas das organizaes. Em outras palavras, o pblico a

    razo de ser da organizao, por ele que ela foi fundada e ele o maior responsvel pela

    manuteno organizacional. Diante de mercados competitivos, quanto mais uma organizao

    souber da vida de cada um de seus pblicos, mais ela estar preparada para desenvolver o

    relacionamento adequado para o pblico. Assim, explica Frana:

    o pblico um grupo de pessoas com interesses comuns que se v diante de uma

    controvrsia e procura resolv-la pelo debate. Mas essa definio continua sendo vlida

    para os relacionamentos das organizaes reestruturadas e globalizadas na realizao de

    seus negcios? Parece que no se aplica mais realidade mercadolgica e competitiva

    de hoje. (FRANA, 2004, p. 18).

    Durante algum tempo os pblicos foram divididos sob o critrio geogrfico, em interno,

    externo e misto, o qual serve para enquadrar os distanciamentos dos pblicos quanto ao centro

    de poder da organizao (SIMES, 1995, p. 131). Embora esta seja a classificao mais

    utilizada, ela pouco nos diz sobre as especificidades de cada um dos pblicos; por exemplo,

    dividem a classificao de internos os funcionrios e seus familiares; porm, cada um deles

    possui um nvel de contato com a Organizao. Os funcionrios mantm contato direto com seu

  • local de trabalho, j seus familiares, recebem informaes por meio dos funcionrios e da mdia.

    A opinio formada sobre a organizao construda com base em diferentes fontes. Logo,

    agrupar esses dois tipos de pblicos na mesma classificao ocasionar em erro da organizao.

    O critrio geogrfico de classificao de pblicos j est ultrapassado. Simes (1995, p. 131)

    observa que os pblicos precisam ser compreendidos sob uma outra tica. imprescindvel

    identific-los, analis-los, e referenci-los quanto ao poder que possuem de influenciar os

    objetivos organizacionais, obstaculizando-os ou facilitando-os.

    Sobre a classificao geogrfica de pblicos, Frana menciona que

    as transformaes sociais e organizacionais demonstram que essas categorias no mais

    correspondem realidade enfrentada pelas empresas na relao com os pblicos, nem

    segmentao desses mesmos pblicos, focalizados hoje como nichos especficos aos

    quais deve ser dirigida a ao das empresas. (FRANA, 2004, p. 33).

    Mais adiante o autor comenta que

    a verificao de que a tradicional diviso de pblicos em interno, externo e misto no

    atende mais s necessidades de equacionar as relaes da organizao com os diferentes

    grupos com os quais interage tem levado busca de novos conceitos para substitu-los.

    (ibid, p. 54/55)

    Como mencionado por Simes, o critrio adequado para classificar os pblicos aquele

    capaz de segment-lo por nvel de influncia diante da organizao. Deste modo, tem-se a

    classificao de Lucien Matrat, pesquisador francs que na dcada de 1970 apresentava esquema

    classificatrio de pblicos quanto ao tipo de poder (SIMES, 1995, p. 131/132). Matrat

    classificou os pblicos em: deciso, consulta, comportamento e opinio.

    Os pblicos de deciso conforme Matrat (apud Frana, 2004, p. 55) so aqueles dos

    quais a empresa depende no exerccio de suas atividades. E, para Simes (1995, p. 132), so

    pblicos cuja autorizao ou concordncia permite o exerccio das atividades organizacionais.

    Ambos autores apresentam como exemplo universal o governo por possuir poder concedente

    e suspensivo sobre o funcionamento e a permanncia da organizao no seu ramo de negcio

    (SIMES, 1995, p. 132).

    A segunda classificao refere-se ao pblico de consulta o qual responsvel por auxiliar

    a organizao na tomada de decises. Segundo Frana (2004, p. 55), esse pblico sondado pela

    organizao antes de agir, antes de tomar decises estratgicas. Simes (1995, p. 132)

    exemplifica esta categoria com os acionistas e os sindicatos patronais.

  • Os de comportamento so os pblicos cuja atuao pode estimular ou prejudicar a

    organizao (FRANA, 2004, p. 55). esta categoria, so includos, os funcionrios e os

    clientes. Sobre os funcionrios, Frana (2004, p. 55) explica que deles dependem as atividades-

    meio e fim da empresa e, sobre os clientes, Simes (1995, p. 132) esclarece que por sua

    conduta individual condiciona a permanncia da organizao no mercado, na medida em que

    aceitam, ou no, consumir os produtos oferecidos.

    A quarta categoria, os pblicos de opinio, representada por aqueles que influenciam a

    organizao pela simples manifestao de seu julgamento e de seu ponto de vista (FRANA,

    2004, p. 55). So exemplos: formadores de opinio, jornalistas, comentaristas de rdio e TV,

    mas a grande maioria composta por pessoas indistinguveis no conjunto dos vrios pblicos

    (SIMES, 1995, p. 132).

    Vale ressaltar que a existncia de uma organizao s possvel graas aos seus pblicos,

    assim afirma Grunig (2003, p. 74) ao dizer que os tericos das organizaes postulam que as

    organizaes existem no contexto de um meio que formado por diversos grupos ou pblicos

    estratgicos.

    2.1.1 Os Pblicos da Organizao Desportiva

    As Organizaes Desportivas esto inseridas no mercado esportivo, logo, seus pblicos

    so as entidades organizaes, instituies, empresas, indivduos que esto de algum modo

    ligadas ao esporte. Deste modo, tratando do termo generalizado Organizaes Desportivas, sem

    especificar o esporte, o mapeamento de pblicos torna-se superficial. Porm, para inicio da

    explanao, conveniente ser mencionado. Tambm, torna-se necessrio citar que devido a falta

    de contedo literrio descrevendo os pblicos deste segmento organizacional o mapeamento aqui

    apresentado est baseado na literatura sobre os mercados constituintes do esporte e os

    relacionamentos de clubes esportivos.

    Como mencionado no captulo anterior, as Organizaes Desportivas possuem a estrutura

    administrativa semelhante a de qualquer organizao comercial ou industrial e, tambm, so

  • consideradas como pertencentes a um mercado em expanso altamente lucrativo, como mostrado

    por Leoncini e Silva:

    De acordo com o relatrio final do Plano de Modernizao do Futebol Brasileiro (2000)

    da Fundao Getlio Vargas (FGV), que inclui os agentes diretos, como clubes e

    federaes, e indiretos, como indstrias de equipamentos esportivos e a mdia, o futebol

    mundial movimenta, em mdia, cerca de 250 bilhes de dlares anuais. No Brasil, dados

    desse mesmo relatrio mostram que o futebol uma atividade econmica com grande

    capacidade de gerar empregos, e tem efeito multiplicador maior que vrios setores

    tradicionais, contabilizando: trezentos (300) mil empregos diretos; trinta (30) milhes de

    praticantes (formais e no formais); quinhentos e oitenta (580) mil participantes em treze

    (13) mil times que participam de jogos organizados (esporte formal); quinhentos e

    oitenta (580) estdios com capacidade para abrigar mais de cinco e meio (5,5) milhes

    de torcedores; cerca de quinhentos (500) clubes profissionais disputando uma mdia de

    noventa (90) partidas por ano; e em termos de fornecimento anual de materiais e

    equipamentos esportivos, so cerca de nove (9) milhes de chuteiras para futebol e

    futsal, seis (6) milhes de bolas e trinta e dois (32) milhes de camisas. (LEONCINI;

    SILVA, 2005, p.11).

    As organizaes que lidam com o esporte com vistas ao lazer ou ao profissionalismo

    tm mais diversidade de pblicos conforme a relevncia que representam no mercado esportivo.

    Grandes clubes podem possuir em seu leque de pblicos: os funcionrios, os conselheiros, os

    diretores, os associados, os clientes/consumidores, os fornecedores, os patrocinadores, os

    investidores, os concorrentes, o governo, os sindicatos, as entidades regentes da categoria e as

    mdias. Todos esses pblicos participam dos processos que resultam na atividade esportiva e nos

    que dela so resultados. A afirmativa ganha respaldo com Luiz Fernando Pozzi (1998), autor que

    apresenta os componentes da atividade esportiva como sendo: os eventos com atletas, ingresso,

    organizao, arena, equipamentos, uniformes e imagem; os servios relacionados com

    sentimentos de entusiasmo, coletividade, rivalidade, identificao e sucesso; os processos que

    compreendem interao entre famlia e organizao; os mercados participantes como as

    produtoras do esporte (Clubes, Associaes, Confederaes, Federaes); o mercado espectador

    constitudo por espectadores e torcedores; o mercado anunciante atravs da mdia publicitria; o

    mercado patrocinador que quer acesso aos espectadores e diferenciar-se da concorrncia; e o

    mercado de afinidade com a utilizao de smbolos, logos e marcas registradas que retratam o

    simblico relacionado ao esporte.

    O clube Grmio Foot-Ball Porto Alegrense ser utilizado para especificar a organizao

    desportiva e exemplificar a descrio de pblicos apresentada no pargrafo anterior. Sendo assim,

    com base no site oficial do clube, cujo endereo www.gremio.net, os pblicos do Clube so:

    colaboradores responsveis pela limpeza, manuteno e segurana das dependncias do Clube e

    http://www.gremio.net/

  • de suas sedes; mdicos, nutricionistas, fisioterapeutas e demais profissionais que cuidam da sade

    dos atletas; atletas das modalidades esportivas profissionais e recreativas (futebol profissional,

    futebol master, futebol de mesa, atletismo, jud, karat, taekwondo, remo, vlei, patinao,

    hquei, bandeirantes, escotismo e ginstica); secretrias e assessores que viabilizam o fluxo dos

    processos administrativos; cnsules; conselheiros; diretores; torcidas organizadas; torcedores;

    scios-torcedores, fornecedores (material esportivo, material de escritrio, alimentos);

    patrocinadores e investidores (Banrisul, Puma, Tramontina, Panvel, Via RS, W3Haus); empresas

    licenciadas para comercializar a marca Grmio; concorrentes (todos os clubes de futebol,

    principalmente o Sport Club Internacional devido a rivalidade regional); entidades organizadoras

    do esporte (Fdration Internationale de Football Association, Confederao Brasileira de

    Futebol, Confederao Sulamericana de Futebol, Federao Gacha de Futebol, Clube dos 13);

    sindicatos (Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, dos trabalhadores); governo

    (Federal, Estadual, Municipal), empresas e profissionais que representam as mdias (jornais,

    revistas, rdios, tv, internet).

    A listagem dos pblicos do Clube de Futebol tende a aumentar conforme o Clube adquire

    caractersticas empresariais mercadolgicas. Sobre essas caractersticas a mais importante para a

    empresa a busca pelo lucro. Fernandes (2008, p. 27) ao abordar a transformao do clube em

    empresa afirma que a lucratividade mxima o objetivo de toda e qualquer empresa. Para

    atingir esse objetivo, o clube deve maximizar sua renda; e a maior fonte de renda do clube de

    futebol o torcedor. A importncia do torcedor para o clube representada pelo fato de que os

    demais pblicos surgiram a partir dele, conforme Aidar e Leoncini (2000).

    2.2 Comportamento do Consumidor

    Antes de comear a discusso sobre o comportamento do consumidor necessrio

    conceituar o termo consumidor e, para isto, ser utilizado o Cdigo de Defesa do Consumidor5 o

    qual o define, no Artigo 2, como toda a pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto

    5 Disponvel no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. O acesso ao site ocorreu em 21 de

    outubro de 2008.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm

  • ou servio como destinatrio final e, tem como pargrafo nico que equipara-se a consumidor a

    coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de

    consumo. Tambm, necessrio esclarecer que ser utilizado como sinnimos os termos

    consumidor e cliente com base em Sheth, Mittal e Newman, autores que apresentam a seguinte

    idia:

    convencionalmente, o termo consumidor tem sido usado para se referir apenas aos

    mercados de bens de consumo. O termo correspondente para o mercado industrial tem

    sido cliente. [...] Na realidade, mesmo a utilizao do termo consumidor para referir-se

    ao mercado de bens de consumo tem sido vista mais em livros didticos que na prtica.

    Por exemplo, as lojas de vendas a varejo geralmente se referem queles a quem atendem

    como clientes (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29).

    Os mesmos autores afirmam que em geral, um cliente uma pessoa ou uma unidade

    organizacional que desempenha um papel na consumao de uma transao com o profissional de

    marketing ou com uma entidade (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29). Comparando

    esta definio de cliente com o conceito de consumidor apresentado pelo Cdigo tem-se o

    demonstrativo de que os termos podem ser utilizados como sinnimos, pois ambos devem

    participar do processo de troca (ou compra de um bem ou servio) no importando o papel

    representado, sendo ele o de quem decide, compra ou utiliza o bem ou servio. Todos os papeis

    so interpretados por consumidores e, at, um nico consumidor pode representar dois ou trs

    papeis ao mesmo tempo.

    Sheth, Mittal e Newman explicam que

    uma transao de mercado requer pelo menos 3 papis desempenhados pelos clientes:

    (1) comprar (ou seja, selecionar) um produto; (2) pagar por ele; e (3) us-lo ou consumi-

    lo. Assim, um cliente pode ser: (1) um comprador, (2) um pagante ou (3) um

    usurio/consumidor. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 30).

    Sobre cada um dos papis, os autores (ibid, p. 30) esclarecem que o comprador aquele

    que participa da obteno do produto no mercado, ele quem vai at a empresa e entrega o

    dinheiro em troca do produto. O pagante o responsvel por fornecer o dinheiro que ser

    utilizado, ou seja, ele a pessoa que financia a compra. J o usurio ou consumidor quem

    realmente faz uso do produto, a pessoa que efetivamente consome ou utiliza o produto ou

    recebe os benefcios do servio. Os autores ainda ressaltam que cada um desses papis pode ser

    desempenhado pela mesma pessoas ou unidade organizacional ou por diferentes pessoas ou

    departamentos.

  • Verifica-se que quando tratado de comportamento do consumidor h mais envolvido do

    que as caractersticas de comportamento de uma nica pessoa. por isso que as organizaes

    devem empenhar-se para realmente conhecer seus consumidores, saber exatamente quem utiliza

    seus produtos, se esta pessoa decide sozinho sobre como empregar seu dinheiro ou depende da

    aprovao de outros ou se esta pessoa utiliza o dinheiro de outros para adquirir seus bens. A

    importncia de a organizao conhecer seu pblico consumidor revela-se ao passo que o estudo

    do comportamento do cliente oferece os conhecimentos bsicos necessrios para decises

    empresariais de sucesso (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 32).

    O cliente de uma organizao ir se comportar de acordo com vrias atividades fsicas e

    mentais que incluem os papis j descritos de comprador, pagante e usurio. Assim definem

    Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 29): o comportamento do cliente definido como as

    atividades fsicas e mentais realizadas por clientes de bens de consumo e industriais que resultam

    em decises e aes, como pagar por eles. Por atividades fsicas, entendem-se os atos de ir at a

    loja ou empresa prestadora de servio, conversar com o vendedor e realizar um pedido de

    compra. J, nas atividades mentais constam os atos de julgar as qualidades de uma marca de

    produto ou servio atribuindo valores positivos ou negativos, formar opinio sobre a qualidade de

    um produto ou servio com base em informaes veiculadas pela mdia e avaliar as experincias

    vivenciadas com o uso do produto ou servio. Entender como se processam as atividades fsicas e

    mentais dos clientes vai proporcionar organizao, como Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 33)

    afirmam, entender por que os clientes compram ou, em termos mais genricos, por que eles

    respondem aos estmulos do mercado da maneira que o fazem.

    O consumidor que desempenha cada um dos papis ou o mesmo consumidor ao

    desempenhar cada um dos papis tomado por necessidades e desejos diferentes, ou seja,

    usurios, pagantes e compradores buscam valores diferentes nos produtos e servios, e fazem

    isso porque tm necessidades e desejos diferenciados (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p.

    59). o surgimento de uma necessidade que leva a pessoa a agir.

    As necessidades do ser humano provm de uma condio bsica insatisfeita, quando a

    pessoa sente sede, fome, frio ou insegurana. Para Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 59), a

    necessidade nasce de um desconforto nas condies fsicas ou psicolgicas da pessoa e o desejo

    o prximo estgio, pois eles ocorrem quando e porque os seres humanos querem levar suas

  • condies fsicas e psicolgicas a um nvel alm do estado de conforto mnimo. Adiante os

    autores explicam que

    as necessidades e desejos distinguem-se pelo fato de que a satisfao mnima das

    necessidades necessria para sustentar as pessoas como organismos saudveis. Por

    outro lado, os desejos tm um elemento de diferenciao por parte do cliente: ou seja,

    sua satisfao desejada, mas no essencial. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p.

    59).

    Para explicar o que causa necessidades e desejos, continuar sendo utilizado os conceitos

    apresentados por Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 59 - 64). Conforme, tem-se que as

    necessidades dos clientes so determinadas pelas caractersticas do indivduo e pelas

    caractersticas do ambiente. Entre indivduos e ambiente, so seis caractersticas que

    determinam as necessidades. Destas, trs so pessoais do indivduo, so elas: gentica, biogenia e

    psicogenia. Por gentica, entende-se caractersticas hereditrias e qumicas/biolgicas dos

    organismos e ela um determinante de necessidade porque influencia nas prticas alimentares

    das pessoas. J a biogenia consiste nas caractersticas biolgicas que as pessoas possuem as

    nascer, como gnero, raa e ano de nascimento (o que se traduz na idade). So caractersticas

    biogenicas que diferenciam as necessidades de jovens e idosos, homens e mulheres ou crianas e

    adultos. E a psicogenia

    se refere a estados e traos individuais induzidos pelo funcionamento do crebro. Esses

    estados so disposies, emoes, percepes, cognies e experincias armazenadas na

    memria. Assim, alteraes de humor e estados emocionais exigem o consumo de certos

    produtos. Por exemplo, a necessidade de conversas e interaes sociais, a necessidade de

    afeto, a necessidade de sucesso, a necessidade de sentir-se sob controle, a necessidade de

    recreao e a necessidade de expressar-se so todas necessidades psicognicas. (SHETH;

    MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 62)

    As caractersticas ambientais que determinam necessidades so: clima, topografia e

    ecologia. As condies climticas afetam as necessidades de comida, roupa e abrigo. Enquanto

    a topografia (caractersticas geogrficas do territrio) gera necessidades do cliente referentes

    administrao da vida no local especfico. E a ecologia refere-se a qualidade do ar, a camada de

    oznio e a cadeia alimentar.

    Como visto, as necessidades so determinadas por caractersticas fsicas, o que as difere

    dos desejos os quais so determinados pelos contextos individual e ambiental da pessoa.

    Enquanto, o contexto individual consiste em trs dimenses: o valor pessoal financeiro de um

    indivduo, as instituies e a cultura, o contexto ambiental consiste nas dimenses da economia,

    da tecnologia e da poltica pblica.

  • A primeira dimenso do contexto individual, o valor pessoal financeiro de um indivduo,

    refere-se aos recursos financeiros disponveis a um cliente. [...] Tais recursos influenciam os

    desejos, conferido ao cliente o poder de compra para adquirir produtos que tratariam uma

    satisfao maior que a das necessidades bsicas e fsicas.

    A dimenso das instituies simboliza grupos e organizaes aos quais o indivduo

    pertence. E a terceira dimenso do contexto individual, a cultural, simboliza os desejos surgidos

    da influencia cultural. A cultura e os valores culturais dos clientes influenciam seus objetivos e,

    consequentemente, o que eles desejam em termos de produtos.

    Outro determinante dos desejos o contexto ambiental o qual tem como primeira

    dimenso a economia. Esta refere-se ao desenvolvimento e aos ciclos econmicos de uma

    nao. A segunda dimenso consiste nas invenes e instrumentos criados pelo homem para

    sustentar, facilitar e incrementar a vida e as atividades humanas, por isso, chamada de

    tecnolgica. E a terceira a dimenso da poltica pblica, consistindo em leis e regulamentaes

    que controlam o comportamento humano e, consequentemente, as atividades de negcios.

    Tanto os determinantes de necessidades quanto os de desejos das pessoas so

    fundamentais para as mesmas agirem e tornarem-se clientes/consumidores de uma organizao.

    A partir do momento que esses fatores forem compreendidos pela organizao, esta estar mais

    apta a desenvolver estratgias para atingir a pessoa, torn-la cliente e satisfazer suas necessidades

    e seus desejos.

    2.2.1 O Consumidor Desportivo

    A transformao do futebol em empresa e a comercializao da marca dos clubes

    iniciaram porque este esporte apresenta um fator atrativo: os torcedores. Estes adoradores do

    esporte e aficionados por um clube de futebol se tornam, fora do campo, consumidores em

    potencial das empresas que patrocinam os times pelos quais torcem com tanto fervor. Essa

    afirmao validada por Silvio Stagni, que no ano de 2000 era diretor de operaes da Motorola

    do Brasil e, neste mesmo ano, ao anunciar o patrocnio oficial da equipe do So Paulo Futebol

    Clube, declarou: "Essa parceria vai garantir uma grande projeo nossa marca" (ASSEF, 2000).

  • As empresas utilizam o patrocnio esportivo como um meio de agregar a sua marca os

    valores ligados ao esporte e a equipe ou clube patrocinado e para transmitir atravs do esporte

    uma imagem positiva. Quando as empresas investem em esporte, h uma unio de interesses,

    pois, atuando sobre o lado emocional dos consumidores, ao mesmo tempo em que viabiliza

    entretenimento, as empresas passam a gozar de uma boa imagem junto ao pblico

    (TEITELBAUM, 1997, p. 153). Elas esperam conseguir inserir-se em um mercado e conseguir a

    simpatia dos torcedores os quais configuram como consumidores no mercado esportivo. Sobre o

    investimento de empresas no esporte, Moura e Rodrigues afirmam que as empresas utilizam-se

    do esporte para transmitir imagens positivas de seus produtos, gerando retorno institucional, sucesso

    de retorno financeiro e de venda das marcas ao investimento empregado.

    Para Aidar e Leoncini (2000), o pblico consumidor do clube de futebol aquele que

    consome bens ou servios ligados ao futebol, ento, ele pode ser dividido em dois segmentos:

    consumidores finais e consumidores intermedirios. Os consumidores finais so os torcedores os

    quais compram bens e servios para consumo pessoal. Os torcedores podem consumir tanto do

    produtor esportivo representado pelos clubes de futebol como do intermediador emissoras

    de tv, transmissoras de jogos via pay-per-view, empresas licenciadas. Sob a tica do torcedor,

    tanto produtores quanto intermediadores formam o mercado esportivo; porm, para o clube de

    futebol, os intermediadores so tambm consumidores, so consumidores intermedirios. A

    classificao dada porque eles compram dos clubes e federaes o direito de explorao de

    imagem com o intuito de revender aos torcedores.

    Com base na segmentao dos consumidores em finais e intermedirios, Leoncini e Silva

    (2005, p. 16) acreditam que

    apesar de o torcedor representar o consumidor final de espetculos futebolsticos,

    existem outros agentes consumidores importantes para os clubes de futebol: os

    consumidores intermedirios. Esses consumidores intermedirios utilizam os

    campeonatos, clubes e jogadores como recursos, a mdia como instrumento de

    divulgao, a propaganda como negcio, o comrcio de mercadorias esportivas, a

    construo da logomarca de um produto, tendo como cliente final de toda essa

    estrutura o torcedor. Ou seja, o mercado de intermedirios, agora como produtores (a

    TV, a mdia e seus parceiros de negcio), operam para atender ao mercado

    consumidor alvo, no caso do futebol, os torcedores.

    Embora, para o clube de futebol haja outros consumidores to importantes quanto os

    torcedores, so esses que justificam a ao de produtores e intermedirios. Afinal, foi a partir do

    torcedor que os outros clientes de futebol surgiram.

  • No item 2.1 deste captulo foi tratado sobre a conceituao de pblicos, e, para isso, foi

    utilizado o conceito de Matrat o qual classifica os pblicos nas categorias de deciso, consulta,

    comportamento e opinio. Nesta classificao, os torcedores situam-se como pblicos de

    comportamento, pois os de comportamento so os pblicos cuja atuao pode estimular ou

    prejudicar a organizao (FRANA, 2004, p. 55). E, os torcedores (consumidores/clientes do

    clube de futebol), por sua atuao individual, podem interferir na sobrevivncia da organizao

    ou prejudic-la gravemente (FRANA, 2004, p. 55-56).

    No contexto do clube desportivo Grmio Foot-Ball Porto Alegrense o pblico responsvel

    por parte significativa de sua renda financeira so os torcedores. So eles quem consome os bens

    produzidos pelo Clube de ingressos para jogos a artigos esportivos oficiais. O que os configura

    como pblicos de comportamento, visto que a deciso de no consumir deste pblico afeta a

    renda do Clube, interferindo na existncia do Clube no mercado esportivo. Portanto, o clube

    depende do torcedor tanto na questo financeira (j que o torcedor quem consome os bens

    ofertados) quanto em uma questo simblica, visto que a torcida de um Clube determina a

    grandeza do prprio. Logo, os torcedores do clube so o maior patrimnio deste, pois ele se

    valoriza conforme as seguintes variveis: quantos torcedores um clube tem, qual o retorno de

    um jogo, quantas pessoas adoram um clube e qual a intensidade dessa devoo, qual a

    expanso demogrfica desses torcedores (AIDAR; LEONCINI, 2000, p. 92).

    No ano de 2003, o Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica IBOPE realizou

    uma pesquisa de opinio pblica sobre torcidas com o objetivo de levantar junto a populao da

    rea de estudo opinies relacionadas a torcidas de futebol. A pesquisa de natureza quantitativa foi

    empregada em 2000 pessoas de todo o Brasil. Na Regio Sul, foram 306 pessoas entrevistadas, e

    destas 23% responderam torcer pelo Grmio. Fora desta Regio, foi contabilizado 1% de

    torcedores na Regio Norte/Centro Oeste. Apesar do nmero de torcedores na Regio Sul parecer

    pequeno, ele torna-se grande quando comparado ao percentual que seu maior rival recebeu, 13%.

    A pesquisa realizada foi em mbito nacional e, dos existentes no Estado, somente os dois times

    foram citados. Do total de entrevistados, o Grmio ficou com a parcela de 4%, o que representa

    80 citaes nacionalmente. Os dados podem ser conferidos no Anexo D.

    Assim como o Grmio, os outros clubes de futebol, para garantir a lucratividade do clube,

    tenta manter bons relacionamentos com os consumidores do esporte. Essa tentativa exige um

    entendimento do que motiva os clientes a se engajarem em uma compra com base no

  • relacionamento (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 711). E, como visto, a relao clube-

    torcedor o inicio das outras relaes geradoras de lucro do clube.

    2.3 Relacionamentos

    Tendo como ponto de partida a frase de Grunig (2003, p. 74): as organizaes existem

    no contexto de um meio que formado por diversos grupos ou pblicos estratgicos, chega-se a

    concluso de que no basta a organizao identificar seus pblicos se ela no desenvolver com

    eles um relacionamento proveitoso para ambos. O resultado favorvel do relacionamento

    organizao-pblicos para a organizao o seu desenvolvimento e para os pblicos a sua

    satisfao. Para atingi-los, as duas partes devem se empenhar no processo do relacionamento,

    assim explica Frana;

    o principal objetivo do relacionamento organizao-pblicos sustenta-se por interesses

    institucionais, promocionais ou de desenvolvimento de negcios como sucede com os

    colaboradores, clientes, fornecedores, revendedores e demais pblicos ligados s

    operaes produtivas e comerciais da organizao. Empresas e pblicos tem interesses

    comuns de produtividade e lucratividade. So parceiros, cientes de que, para atuarem em

    conjunto e obterem resultados, devem ser cada vez mais qualificados. (FRANA, 2004,

    p. 100)

    Mais adiante o autor comenta sobre os casos que constituem o relacionamento entre

    pblicos e organizao.

    h aqui duas situaes: a) capacidade de relacionamentos e de realizao de negcios

    lucrativos para ambas as partes (relao de troca); b) no campo da opinio, a

    possibilidade de formao de um clima favorvel empresa pela qualidade

    operacional que reflete a identidade corporativa. A existncia desse clima de negcios

    resulta na qualidade dos relacionamentos e, em suma, do planejamento estratgico, da

    identidade corporativa, dos valores e princpios operacionais e ticos das empresas.

    (FRANA, 2004, p. 100-101).

    O relacionamento com pblicos essencial para a sobrevivncia de todos os tipo de

    organizao, inclusive nas organizaes desportivas, como o caso dos clubes de futebol. Assim

    afirmam Taylor (apud LEONCINI; SILVA , 2005, p.2), no futebol, relacionamento tudo. As

    partes constituintes de cada nvel do jogo dependem da existncia saudvel dos rivais, desde os

    direitos de propriedade e administrao at as torcidas ativas e o pblico passivo de TV.

  • Dentre os pblicos do clube de futebol, o que gera para o clube um relacionamento

    complexo, por no envolver somente questes financeiras, o torcedor. O relacionamento clube-

    torcedor (ou ento, clube-consumidor final) possui um diferencial dos outros relacionamentos

    que o clube como empresa mantm. Essa diferena o fator emocional do torcedor que o leva a

    torcer pelo clube e que por motivos passionais consome ou no os bens e servios produzidos

    pelo clube. Porm, outras caractersticas desse relacionamento so apresentadas por Silva e

    Campos Filho os quais apontam que

    uma das peculiaridades do consumidor final do futebol (o torcedor) a de que, diferente

    de mercados comuns, seu relacionamento com o clube duradouro apesar do servio

    oferecido no ser dos melhores (como, por exemplo, a falta de ttulos, desconforto e

    insegurana nos estdios). [...] Um relacionamento duradouro com os clientes a base

    das fontes de receita das organizaes. Alm disso, o atual cenrio, ps Lei Pel,

    compromete a rentabilidade dos clubes atravs da negociao da venda de passe de

    jogadores e cria uma necessidade ainda maior de se relacionar com os clientes. (SILVA;

    CAMPOS FIL