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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE POS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS MESTRADO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS MARCIO ERICK GOMES DA SILVA EFEITO DO COMPRIMENTO DO PARAFUSO E DA RIGIDEZ DA UNIÃO NO LIMITE DE FADIGA DE UNIÕES PARAFUSADAS SÃO CRISTÓVÃO (SE) BRASIL 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE POS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

MESTRADO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

MARCIO ERICK GOMES DA SILVA

EFEITO DO COMPRIMENTO DO PARAFUSO E DA RIGIDEZ DA UNIÃO NO LIMITE DE FADIGA DE UNIÕES PARAFUSADAS

SÃO CRISTÓVÃO (SE) – BRASIL 2013

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MARCIO ERICK GOMES DA SILVA

EFEITO DO COMPRIMENTO DO PARAFUSO E DA RIGIDEZ DA UNIÃO NO LIMITE DE FADIGA DE UNIÕES PARAFUSADAS

Orientador:

Prof. Dr. Sandro Griza

SÃO CRISTÓVÃO (SE) – BRASIL 2013

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Silva, Marcio Erick Gomes da S586e Efeito do comprimento do parafuso e da rigidez da união no

limite de fadiga de uniões parafusadas / Marcio Erick Gomes da Silva ; orientador Sandro Griza. – São Cristóvão, 2013. 68 f. : il. Dissertação (mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais) – Universidade Federal de Sergipe, 2013.

O 1. Engenharia de materiais. 2. Parafuso - Comprimento. 3.

Parafuso - Fadiga. 4. Rigidez da união parafusada. 5. Pré-carga. I. Griza, Sandro, orient. II. Título

CDU: 621.882

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DEDICATORIA

Ao meu amigo fiel e verdadeiro “Espírito Santo” em cujo amor repousam meus sonhos. À minha parceira, amiga e esposa Verônica Maria pelo irrestrito apoio e companheirismo. Aos meus pais (Israel e Marta) e irmão (Israel Júnior) por me abençoarem desde sempre com investimento e palavras que me permitiram ousar assumir este desafio.

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ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Professor Doutor Sandro Griza cujo exemplo

de amor pela profissão demonstra que verdadeiros mestres comprovam a bagagem

acadêmica que possuem ao compartilhá-la, jamais ao retê-la.

À Unidade de Operações de Sergipe e Alagoas da Petrobrás, por me facultar

a oportunidade de galgar este desafio.

Aos meus líderes: Geólogo Christovam Penteado Chaves, por acreditar que

havia em mim potencial para consecução desta missão; Engenheiros José Marcelo

Luvizotto e Raimundo Peixoto Marques, pela minha indicação para realização deste

mestrado e aos Engenheiros Erivaldo Dias de Souza e Roberto Eugênio Pontes Cunha,

pela amizade e contínuo apoio.

Aos amigos: Engenheiro D.Sc. Emerson Figueiredo dos Santos; Engenheiro

M.Sc. Humberto Lopes Viana e Engenheiro M.Sc. Ricardo Estefany Aquino de Souza,

pela amizade e pelos “embates” técnicos que me motivaram a busca pela excelência

neste trabalho.

Aos companheiros e companheira de trabalho: Joel da Silva, José Eronildes,

José Sérgio, João Marinho e Lourdes Cleide cujos apoios foram fundamentais para

desenvolvimento desta pesquisa.

Ao mestrando Engenheiro Silvando Vieira e sua equipe do laboratório de

ensaios mecânicos do P²CEM/UFS pelo apoio na realização dos ensaios.

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iii

Resumo da Dissertação apresentada ao P²CEM/UFS como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais

(M.Sc.)

EFEITO DO COMPRIMENTO DO PARAFUSO E DA RIGIDEZ DA UNIÃO NO

LIMITE DE FADIGA DE UNIÕES PARAFUSADAS

Marcio Erick Gomes da Silva

Agosto / 2013

Orientador: Sandro Griza

Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais

O projeto de uma união parafusada deve considerar diversos fatores tais como material

e tratamento térmico do parafuso (definidos pela classe do parafuso), rigidez das peças

que estão sendo montadas (rigidez da união), dimensões do parafuso, entre outros. Em

nosso estudo utilizamos parafusos M6x1, classe 8.8, com três comprimentos distintos:

40 mm, 60 mm e 80 mm. A proposta deste estudo é verificar a relação do comprimento

do parafuso com o limite de fadiga de uniões parafusadas submetidas a carregamentos

cíclicos de tração. Os resultados indicaram que quanto maior o comprimento do

parafuso, maior é o limite de fadiga. Foi realizado ainda um estudo analítico da relação

entre a amplitude de tensão e a tensão média suportada pelos parafusos de 40 mm de

comprimento. Os resultados foram comparados com o diagrama de BURGUETE e

PATTERSON (1995). Foram propostos coeficientes de correção para a relação entre as

amplitudes de tensão. O modelo de rigidez adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF

(1996) para parafusos M6 foi o que apresentou resultado mais próximo aos estimados.

Palavras chave: Fadiga; pré-carga; comprimento do parafuso; rigidez da união

parafusada.

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Abstract of Dissertation presented to P²CEM/UFS as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master in Materials Science and Engineering (M.Sc.)

THE EFFECT OF BOLT LENGTH AND OF JOINT STIFFNESS IN THE FATIGUE

LIMIT OF BOLTED JOINTS

Marcio Erick Gomes da Silva

Agosto / 2013

Advisors: Sandro Griza

Department: Materials Science and Engineering

The design of a bolted joint shall consider several factors such as material and heat

treatment of the bolt (defined by the class of the bolt), stiffness of the parts being

assembled (stiffness of the union), dimensions of the bolt, among others. In our study

we used bolts M6x1, class 8.8, with three different lengths: 40 mm, 60 mm and 80 mm.

The purpose of this study is to verify the relationship between the length of the bolt and

the fatigue limit of the bolted joints, subjected to fluctuating cyclic loading of tension.

The results indicated that the greater the length of the bolt, the larger the fatigue limit.

An analytical study was also evaluated on the relationship between the cyclic stress

amplitude and the mean stress experienced by the bolts with 40 mm of length. The

results were compared with the bolt fatigue diagram of the BURGUETE and

PATTERSON (1995). Correction factors were proposed for the relationship between

cyclic stress amplitude. The adapted model from LEHNHOFF and WISTEHUFF (1996)

for M6 bolts was the one whose results were the closest to estimated.

Keywords: fatigue; preload; bolt’s length; bolted joint stiffness.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 3

2.1 Torque ........................................................................................................................... 3

2.2 Pré-carga ...................................................................................................................... 4

2.3 Diagrama de HAIGH ................................................................................................... 10

2.4 Distribuição de tensões em parafusos carregados ciclicamente .................................. 11

2.5 Efeito do comprimento do parafuso no limite de fadiga ............................................. 13

2.6 Rigidez da união parafusada ........................................................................................ 15

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .......................................................................... 19

3.1 Parafusos e dispositivo ................................................................................................. 19

3.2 Definição da pré-carga e elongações ........................................................................... 23

3.3 Ensaios de tração .......................................................................................................... 24

3.4 Ensaios de fadiga .......................................................................................................... 24

3.5 Cálculo de rigidez ......................................................................................................... 26

3.6 Análise da localização da fratura dos parafusos ......................................................... 33

3.7 Proposta do coeficiente de correção ............................................................................ 33

4. RESULTADOS ................................................................................................................. 33

4.1 Ensaios de tração .......................................................................................................... 34

4.2 Ensaios de fadiga ......................................................................................................... 37

4.3 Cálculo de rigidez ......................................................................................................... 39

4.4 Análise da localização da fratura dos parafusos ......................................................... 45

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4.5 Coeficiente de correção ................................................................................................ 47

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................. 49

6. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 53

7. SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ................................................................. 53

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 54

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LISTA DE SÍMBOLOS:

Af Elongação depois da fratura

Ap

Seção transversal equivalente dos membros

C Constante de rigidez da junta

d2 Diâmetro médio ou diâmetro básico do passo.

Dm-u Diâmetro médio do colar

Fb Carga axial do parafuso

Fi Pré-carga

Fp Carga de prova

kb Rigidez do parafuso

kbolt-nut Rigidez da porca e da parte carregada do parafuso

Kf Fator de concentração de tensão em fadiga

khead Rigidez da cabeça do parafuso

km Rigidez dos membros

Kt Fator de concentração de tensão

kthread Rigidez da porção rosqueada do parafuso

P Carga externa

Se Limite de fadiga

Sp Resistência à carga de prova

Su Limite de resistência à tração

Sy Tensão de escoamento

nutbolt Fator de correção da rigidez da porca e da parte carregada do

parafuso

hea d Fator de correção da rigidez da cabeça do parafuso

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threa d Fator de correção da rigidez da parte rosqueada do parafuso

β Metade do ângulo de rosca

Deformação

b Elongação total do parafuso

m Contração total dos membros

t Coeficiente de fricção da rosca do parafuso

u Coeficiente de fricção sob a cabeça do parafuso

a Amplitude de tensão suportada pelo parafuso

eq Tensão equivalente

max Tensão máxima axial no parafuso

m Tensão media

Tensão de tração

σx tensão máxima de flexão

σy tensão máxima axial

σt tensão combinada

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1. Introdução

Dentre os diversos tipos de uniões utilizados na indústria, a fixação através

de parafusos é, indubitavelmente, uma das mais empregadas, devido a algumas

vantagens, tais como: facilidade e rapidez de montagem e desmontagem, baixo custo,

intercambiabilidade e capacidade de suportar cargas transversais e longitudinais. Apesar

da sua ampla utilização ao longo de séculos, inclusive em sistemas de elevada

responsabilidade, o assunto a respeito da influência do comprimento dos parafusos e das

rigidezes dos componentes da união na vida em fadiga de uniões parafusadas ainda não

é totalmente dominado.

O assunto sobre o comprimento do parafuso e sua relação com a

distribuição de tensões na união pode estar intimamente relacionado a outros assuntos

cuja abordagem teórica ainda necessita de um maior desenvolvimento. Por exemplo, o

aperto adequado do parafuso depende de fatores tais como os atributos tribológicos dos

elementos envolvidos, ou seja, a fricção entre as superfícies dos filetes do parafuso e da

porca, a fricção com a arruela, a parcela de carregamento distribuída ao parafuso e aos

membros unidos, que depende da rigidez e forma da união. A plasticidade do fundo de

filete sujeito a carregamento é outro fator que aparentemente produz não linearidades

em relação à teoria linear, que é a mais utilizada em projetos de uniões. Diversos desses

fatores são difíceis de serem medidos e costumam ser tratados como variáveis fixas no

projeto de aperto estático do parafuso.

O projeto de uma união sujeita a fadiga é ainda mais complicado. Muitos

estudos têm sido feitos para aumentar a exatidão com que se prevê o carregamento a

que um parafuso é submetido após a montagem e sujeito a cargas cíclicas. A questão

passa por limitações das teorias lineares de aperto do parafuso. Estas teorias consideram

o aperto de um parafuso sobre os membros como sendo um sistema de molas em que o

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aperto produz uma elongação do parafuso e uma contração dos membros, supondo que

tudo está dentro do regime linear elástico e que a magnitude das rigidezes dos

componentes da união se mantém constante. Não é totalmente conhecido o efeito de

deformações plásticas de arruelas, do fundo de filetes e até das adjacências dos furos

dos membros.

Estudos realizados entre meados dos anos 90 e início dos anos 2000

(LEHNHOFF e WISTEHUFF, 1996; LEHNHOFF e BUNYARD, 2001) demonstraram

que devem ser consideradas as não linearidades que ocorrem no aperto do parafuso

quando este é submetido à carga externa. Tais estudos apontam para a alteração das

rigidezes do parafuso (kb) e membros (km) com a variação da carga externa (P), o que

também pode-se concluir ao analisar algumas das equações da teoria linear, pois

percebe-se que relacionando a carga axial do parafuso (Fb) com a carga externa e a pré-

carga surge na equação a constante de rigidez da junta, levando à percepção de que

existe uma potencial não-linearidade entre as rigidezes dos componentes da união e o

carregamento externo.

As dimensões dos elementos da união também é um fator a ser destacado.

PIZZIO (2005) estudou a relação entre o comprimento do parafuso e a resistência a

fadiga de parafusos prisioneiros montados num flange de um compressor alternativo.

Ele observou uma tendência a maior resistência à fadiga dos parafusos de maior

comprimento. No entanto, algumas modificações da forma da união podem ter

interferido nos resultados, pois os ensaios de fadiga foram realizados com o uso de uma

bucha extensora cujo diâmetro externo não reproduz as dimensões da junta original.

As falhas mais comuns que ocorrem em parafusos, segundo BUDA (1994),

são: sobrecarga, fadiga, corrosão e fragilização. A fadiga, também segundo BUDA

(1994), responde por 85% destes casos de falhas num projeto incorreto de uma união.

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Logo, quando o sistema impõe um carregamento cíclico a uma união parafusada, uma

análise criteriosa de confiabilidade deve ser realizada visando decidir o método de

fixação/ligação mais apropriado, pois, apesar de o parafuso ser em geral um elemento

relativamente barato, em certos casos a utilização de tal elemento de fixação não é o

mais adequado, tendo em vista que a falha de um parafuso pode determinar falha

catastrófica de um sistema bem mais complexo resultando, desta feita, em

conseqüências bem mais onerosas.

O presente estudo tem o objetivo de evoluir no entendimento da resistência

a fadiga de uniões parafusadas.

O presente estudo tem os seguintes objetivos específicos: a) verificar a

relação entre o comprimento do parafuso e o limite em fadiga de uniões parafusadas

submetidas a carregamentos cíclicos flutuantes de tração, mantendo-se o controle da

pré-carga através da elongação imposta ao parafuso; b) verificar se a previsão analítica

da relação entre amplitude de tensão suportada pelo parafuso de 40 mm e a respectiva

tensão média está de acordo com os resultados de BURGUETE e PATTERSON (1995).

Tal previsão foi igualmente estendida para os resultados obtidos dos experimentos de

GRIZA(2000), para membros em aço e em alumínio, nos diversos torques utilizados por

aquele autor.

2. Revisão bibliográfica

2.1 Torque

O torque de aperto (T) pode ser correlacionado à pré-carga axial (Fi)

resultante no parafuso, através de relações tais como a definida pela equação 1, para

parafusos de rosca métrica, conforme CROCCOLO et al. (2012a). Onde: p (passo do

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parafuso); μt (Coeficiente de fricção da rosca do parafuso); d2 (diâmetro médio); μu

(Coeficiente de fricção sob a cabeça do parafuso); Dm-u (Diâmetro médio do colar).

)..5.0..577.0.159.0.( 2 umuti DdpFT

Equação 1

MELENCIUC et al.(2011) detalhou a equação 1, definindo o primeiro

membro desta equação como sendo o torque de ação requerido e que por sua vez é

resistido por três parcelas de torques reativos (segundo membro da equação): o primeiro

termo corresponde ao torque reativo produzido unicamente pela energia demandada

para deslocar as roscas da porca nas roscas do parafuso através dos respectivos planos

inclinados, ou seja, representa a quantidade de torque necessária para distender o

parafuso e comprimir os membros da junta parafusada; o segundo termo corresponde ao

torque de reação gerado em decorrência da fricção presente entre as roscas da porca e as

roscas do parafuso e o terceiro termo corresponde ao torque de reação criado em

decorrência da fricção existente entre a face da porca e a arruela.

2.2 Pré-carga

A carga de aperto do parafuso costuma ser chamada de pré-carga ou

protensão. A pré-carga e uma carga axial externa aplicada posteriormente são

distribuídas entre os componentes da união parafusada (parafusos e membros

apertados). O conhecimento das parcelas de carga distribuídas é fundamental para

permitir maior confiabilidade do projeto da união.

Sendo possível obter com exatidão a carga experimentada pelo parafuso, é

possível a redução dos custos devido à redução da quantidade ou seção resistente dos

parafusos, uma vez que o desconhecimento provoca a tendência de superestimar a seção

resistente. E esta abordagem é particularmente importante no caso de uniões

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parafusadas sujeitas à fadiga, uma vez que a falha por fadiga é um assunto preocupante

em uniões parafusadas, GRIZA et al.(2009).

Se uma união submetida a solicitações cíclicas axiais for montada sem

torque, aumenta consideravelmente a probabilidade de ocorrência de afrouxamento e

subseqüente desmontagem da porca. Além disso, aumenta a possibilidade de haver

fadiga de baixo ciclo, pois a solicitação externa será transferida quase que totalmente ao

parafuso, que estará, portanto, sob a ação de uma carga do tipo repetida (a = m).

CROCCOLO et al. (2012b) relata que um torque insuficiente, decorrente de

uma subestimação dos coeficientes de fricção envolvidos em uma dada união

parafusada produz uma pré-carga de baixa magnitude e, consequentemente, pode

conduzir a falhas catastróficas prematuramente. O aperto insuficiente do parafuso deve

ser considerado como um dos principais fatores que culminam na falha precoce da junta

parafusada resultando numa baixa tensão de pré-carga e consequente desaperto em

serviço.

Segundo BUDYNAS e NISBETT (2011) a tensão de pré-carga é o músculo

da junção e sua magnitude é determinada pela resistência do parafuso. A resistência do

parafuso, por sua vez, depende do material utilizado na sua fabricação. BUDYNAS e

NISBETT (2011) mencionam também que conexões parafusadas com aperto

inadequado, carregamento cíclico e vibração, dentre outros, levam os fixadores a

perderem tensão de tração com o tempo.

Surge então a questão: como é possível prevenir o desaperto sem o uso de

subterfúgios que encareceriam a união como o uso de porcas castelo? Segundo

BUDYNAS e NISBETT (2011), uma regra prática para definição do limite inferior do

torque é saber que pré-cargas de 60% da carga de prova raramente resultam em

desaperto da conexão. Sabendo-se que, segundo SHIGLEY et al. (2005), a definição de

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carga de prova (Fp) refere-se à força máxima que o parafuso pode suportar sem adquirir

deformação permanente. Logo, pode ser dito que a carga de prova corresponderia ao

limite de proporcionalidade do material.

ECCLES et al.(2010) menciona que, ao se utilizar equações para definição

do torque de aperto similares à equação 1, assume-se um valor fixo para os coeficientes

de fricção, de modo que uma tensão de pré-carga específica é presumida para o parafuso

após o aperto. A tensão de pré-carga objetivada varia entre as diversas indústrias.

ECCLES et al. (2010) cita a ASME PCC-1 (2010) a qual determina que na indústria

petroquímica, tipicamente objetiva-se uma tensão de pré-carga de 50% do limite

mínimo de escoamento do material do parafuso. ECCLES (1993) menciona também

que na indústria automotiva tipicamente objetiva-se uma tensão de pré-carga em torno

de 75% do limite mínimo de escoamento do material do parafuso.

A determinação dos coeficientes de fricção das superfícies em contato de

uma união parafusada não é trivial, uma vez que depende de diversos fatores além do

lubrificante utilizado, tais como: dureza dos componentes, acabamento superficial, tipo

de materiais utilizados, entre outros. ECCLES et al. (2010) conclui que se o coeficiente

de fricção real for maior do que o valor fixo estimado utilizado nos cálculos, então, a

tensão de pré-carga e, consequentemente, a pré-carga reais serão menores que as

objetivadas para um dado valor de torque. Tal constatação sugere que o controle da pré-

carga pelo torque produz uma considerável dispersão.

A teoria linear de união parafusada, entretanto, pode conduzir, à priori, à

impressão que um aperto excessivo também prejudica o desempenho da união, pois a

pré-carga inicial aumenta linearmente com o aperto e, portanto, é evidente que atingindo

o escoamento já na montagem, a carga externa aplicada posteriormente, naturalmente,

seria danosa à união.

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BICKFORD (1998) observou, porém, que quanto maior o torque, maior é a

resistência em fadiga do parafuso, até próximo ao limite de escoamento. CROCCOLO

et al. (2012b) recomendou que no intuito de explorar completamente a resistência do

parafuso, a tensão equivalente (eq), que conforme sugerido pela norma VDI 2230

(2003) deve ser igual a 90% da tensão de escoamento, deve ser tão próxima quanto

possível da tensão de pré-carga axial e esta condição é obtida à medida que condições

para obter baixos valores de coeficiente de fricção são estabelecidas. Ainda, segundo

BURGUETE e PATTERSON (1995) uma tensão média aplicada ao parafuso acima do

limite de escoamento produz substancial redução da amplitude de tensão no limite de

fadiga.

SHIGLEY et al.(2005) cita a recomendação da Russell, Burdsall & Ward

Inc.(RB&W), na qual se sugere que parafusos ASTM A325 (equivalentes aos utilizados

em nosso estudo, classe 8.8), usados em aplicações estruturais, sejam apertados à carga

de prova ou além. Além disto, é recomendado, para carregamentos estáticos e de fadiga,

que o critério a seguir seja utilizado no estabelecimento da pré-carga:

iF

Enfim, estes autores concordam que uma alta pré-carga seja benéfica, porém

muitos deles recomendam parcimônia, ou seja, as tensões decorrentes do aperto

adicionadas às tensões oriundas do carregamento externo não poderiam ultrapassar a

fronteira delimitada pelo escoamento.

GRIZA (2000), entretanto, utilizou o torque como método de aperto para

parafusos M6 (classe 8.8), e aço e alumínio como material dos membros, para

comprovar que maiores valores de torque determinam maior vida em fadiga da união

0,75 . At . Sp para conexões não permanentes, fixadores reutilizados.

0,90 . At . Sp para conexões permanentes.

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até valores de torque no limite antes do colapso estático por torção, tanto para membros

de aço como de alumínio.

No estudo de GRIZA (2000), as cargas externas máximas que definiram o

limite de fadiga dos parafusos para cada torque aplicado e material dos membros

constam na figura 1. Quanto aos valores de pré-carga induzida ao parafuso pelo aperto,

os mesmos foram obtidos a partir das medidas de deformação média, conforme tabela 1,

para cada torque selecionado. Estes dados foram utilizados nos cálculos neste trabalho

visando ao estudo da previsão analítica da relação entre amplitude de tensão e a

respectiva tensão média.

6,8

8,4

10,9

7,1

7,84

10,9510,3

10,17

0

2

4

6

8

10

12

5 10 15 20 25 30

Torque (Nm)

Car

ga e

xte

rna

no

lim

ite

de

fad

iga(

kN)

Aço Alumínio

Figura 1 – Carga externa máxima para cada torque aplicado e material dos membros.

Adaptada de GRIZA (2000).

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Tabela 1 - Deformação média para membros em aço e alumínio, GRIZA (2000)

Material

Torques (N.m)

10 14,7 19,6 22,6 26,5

Deformações médias (. 10-3)

Aço 0,88 1,21 1,36 - 3,96

Alumínio 0,85 1,16 2,49 3,49 -

Nos estudos de GRIZA (2000), o desvio padrão da medida de elongação dos

parafusos aumentou com o torque, e os cálculos indicaram que os parafusos montados

com maiores torques já estavam além do escoamento. BICKFORD (1998) já antecipava

este comportamento, considerando que o método de aperto com chave de torque é

susceptível a elevados desvios. Quando é superado o escoamento por cisalhamento nos

filetes, torna-se difícil controlar o aumento da força para produzir um incremento de

giro da porca. Então, acima do escoamento o torque passa a aumentar em menor

proporção com a elongação do parafuso e isto vem a desempenhar um importante papel

na dispersão dos resultados.

Os resultados experimentais de GRIZA (2000) indicaram que o limite de

fadiga das conexões aumenta com o torque. Este resultado é consensual de acordo com

diversos estudos. Porém, mesmo ultrapassando o escoamento e abordando o limite de

ruptura por torque, aumenta o limite de fadiga. Apesar de não ser possível determinar

analiticamente a tensão máxima axial e a amplitude de tensão pelas equações da teoria

linear em condições de carga acima do limite de escoamento, este resultado indica que

há a diminuição da amplitude de tensão no parafuso quando a tensão média está acima

do escoamento. Mesmo que o torque seja aumentado, de modo que a tensão de pré-

carga resultante seja da magnitude do escoamento, ainda há capacidade disponível para

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10

que o parafuso seja carregado axialmente com acréscimo de tensão até o limite de

resistência.

2.3 Diagrama de HAIGH

A relação entre a amplitude de tensão e a tensão média aplicada ao parafuso

varia de acordo com o aperto. Espera-se que quanto maior o aperto, maior a tensão

média. Os tradicionais métodos empíricos propostos por Goodman, Gerber e Sodeberg,

têm sido amplamente utilizados para a previsão do limite de fadiga em função da tensão

média para o caso de elementos mecânicos em geral, inclusive parafusos. Segundo eles,

a amplitude reduz com o aumento da tensão média (vide figura 2). Estes métodos,

entretanto, foram inicialmente formulados com base em experimentos usando corpos de

prova lisos.

Figura 2 - Diagrama de Haigh mostrando os vários critérios empíricos de falha por

fadiga. BURGUETE e PATTERSON (1995)

Posteriormente, alguns estudos (GUNN, 1955, COOK, 1985) que

consideraram corpos de prova com entalhe mostraram a independência da amplitude em

função da tensão média para certo intervalo de tensão média. Observa-se na figura 2 que

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11

tanto a linha de Gunn como a de Cook apresenta uma parte horizontal dentro de um

intervalo de tensão média. Isto é explicado pela plastificação que ocorre no fundo do

filete. BURGUETE e PATTERSON (1995) desenvolveram um estudo para a obtenção

do limite de fadiga especificamente do parafuso, desconsiderando a existência de

membros. Seus resultados concordam com os métodos que consideram a plastificação e

permitem obter a relação da amplitude de tensão e a tensão média para parafusos de

classe 8.8, conforme pode ser observado na figura 3.

0

10

20

30

40

50

60

70

0 200 400 600 800 1000

Tensão média (MPa)

Am

plit

ud

e d

e t

en

são

(M

Pa)

Figura 3 – Diagrama de fadiga para parafusos classe 8.8. Adaptada de BURGUETE e

PATTERSON (1995).

2.4 Distribuição de tensões em parafusos carregados ciclicamente

Em relação à distribuição de carga nas roscas de uma junta convencional

porca-parafuso, vários estudos indicam que os picos de concentração de tensão ocorrem

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12

no primeiro filete carregado entre a porca e o parafuso, ou seja, o filete acoplado do

parafuso mais próximo à face carregada da porca. MAJZOOBI et al.(2005) cita

HEYWOOD (1952) para propor uma forma de calcular os picos de concentração de

tensão nas uniões parafusadas decorrentes da coexistência das tensões máximas de

flexão (σx) combinadas com as tensões máximas axiais (σy) presentes em pontos

distintos da raiz do primeiro filete carregado, conforme equação 2. Onde: σt (tensão

combinada); β (metade do ângulo de rosca).

)/(1 xy

xyt m

, onde m = [(60-β) / 44]2 Equação 2

PATTERSON e KENNY (1986) atribuem a ocorrência do pico de tensão no

primeiro filete carregado ao fato de que é exatamente neste local, na porca, onde se

verifica a formação incompleta do primeiro filete conferindo, assim, uma baixa rigidez

e, portanto, baixa capacidade de carregamento quando se compara com os demais filetes

que foram formados integralmente. Esta pode ser uma explicação, porém, outra razão

relevante para o primeiro filete carregado ser o mais susceptível a picos de tensão é que

as deformações elásticas produzidas durante o aperto vão sendo somadas ao longo dos

filetes e transmitidas para o primeiro filete. É possível, conforme este raciocínio, fazer

analogia a um cabo de guerra onde os primeiros integrantes de cada equipe precisarão

dispor de mais energia que os demais, tendo em vista à exposição direta ao fator externo

gerador do esforço.

No estudo desenvolvido por MAJZOOBI et al.(2005), o qual considerou

esforços cíclicos, 70% dos parafusos testados romperam no primeiro filete carregado

entre o parafuso e a porca, 12% romperam no raio da cabeça, separando a cabeça do

parafuso de sua haste, 3% romperam por cisalhamento completo das roscas da porca e

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13

16 % romperam no primeiro filete imediatamente após a parte não rosqueada da haste

(saída da rosca).

2.5 Efeito do comprimento do parafuso no limite de fadiga

Existem poucos estudos disponíveis na literatura que tratam da relação entre

a resistência à fadiga e o comprimento do parafuso. Destaca-se o trabalho de PIZZIO

(2005) sobre a otimização do desempenho em fadiga de uma união parafusada (flange

de união carcaça/corrediça de um compressor alternativo) fixada através de parafusos

prisioneiros, M24x3 (classe 8.8), que estavam falhando prematuramente por fadiga.

PIZZIO (2005) classificou os parafusos testados em dois grupos: parafusos curtos

(comprimento de 120 mm) e parafusos longos (comprimento de 173 mm). Foi utilizado

o torque de 710 N.m como critério de controle da pré-carga. Também foi usada uma

bucha extensora para permitir o aperto (figura 4).

Figura 4 – Esquema do flange ilustrando parafusos curtos e parafusos longos com bucha

extensora.

Os resultados dos ensaios de fadiga mostraram que o aumento do

comprimento do parafuso, através da inserção de uma bucha extensora sobre o flange,

aumenta a vida em fadiga dos componentes da união.

Este estudo de PIZZIO (2005) foi embasado em observações experimentais

práticas e utilizando procedimentos de ensaios em amostras de tamanho real. As curvas

Bucha extensora

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14

de fadiga realizadas apresentam uma tendência de maior resistência à fadiga dos

parafusos longos. Entretanto, o uso de uma bucha extensora provoca a modificação da

forma da união, ou seja, os parafusos curtos montados diretamente ao flange apresentam

maior volume de material dos membros ao seu redor. Ora, se a rigidez da união é um

fator importante no projeto do aperto adequado, a forma dos membros deve ser mantida

constante, ou seja, é mais adequado que a forma da união não seja mais um fator a ser

considerado nos experimentos, pois de outra forma não haveria como se focar na

influência da variação do comprimento do parafuso no limite de fadiga da união, uma

vez que alterando a forma dos membros, altera-se, por consequência, a distribuição da

carga externa entre os elementos da união parafusada, conforme detalhado a seguir no

item 2.6.

PIZZIO (2005) também cita KULAK et al. (1987) para mencionar que,

dentro do limite elástico, a elongação aumenta ligeiramente com o aumento do

agarramento (espessura total das partes que serão unidas). Menciona também que em

carregamentos acima do limite elástico, a porção com filetes comporta-se plasticamente,

enquanto que a porção lisa permanece elástica. Logo, para parafusos curtos, quase toda

deformação ocorre no comprimento dos filetes, com uma resultante diminuição da

capacidade de deformação.

No estudo de PIZZIO (2005), apesar de todas as amostras apresentarem

dispersão da pré-carga, que foi controlada pelo torque, os prisioneiros longos tiveram

uma capacidade de deformação maior do que os prisioneiros curtos, conforme previsto

no estudo realizado por KULAK et al. (1987), e, desta forma, com uma maior

deformação, apresentaram também maior tensão de pré-carga, resultando num

acréscimo na vida em fadiga das conexões. PIZZIO (2005) cita que para se conduzir os

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15

parafusos curtos a uma vida em fadiga semelhante aos longos, os parafusos curtos

deveriam ser apertados com torque mais elevado.

PIZZIO (2005) calculou as médias aritméticas das tensões de pré-carga

medidas, e encontrou uma média para os longos de 450 MPa e para os curtos de 400

MPa. PIZZIO (2005) citou tais médias apenas para diferenciar o comportamento dos

parafusos longos e curtos. Entretanto, não recomenda a utilização destes valores para

avaliar tensões de pré-carga em projetos de juntas parafusadas.

2.6 Rigidez da união parafusada

Pela teoria linear, a relação entre a amplitude de tensão e a tensão média

aplicada ao parafuso depende da rigidez dos elementos, vista na figura 5 como sendo a

inclinação das retas. É possível, portanto, estimar as parcelas da carga externa aplicadas

ao parafuso e membros, através de relações trigonométricas e do conhecimento da

rigidez de cada componente da união parafusada, bem como da magnitude da pré-carga

(Fi) e da carga externa total aplicada (P). É possível ainda, através da análise da figura 5,

definir a carga axial do parafuso (Fb) através da constante de rigidez da junta (C),

conforme equações 3 e 4 respectivamente.

Figura 5 – Diagrama carga versus elongação de uma união parafusada.

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16

ib FPCF .

Equação 3

mb

b

kk

kC

Equação 4

Onde: kb (rigidez do parafuso); km (rigidez dos membros).

Alguns modelos que utilizam a teoria linear disponíveis na literatura são: (a)

modelo do cone de pressão de Rotscher com meio-ângulo de cone de 30º (SHIGLEY et

al., 2005); (b) modelo de WILEMAN et al. (1991) e (c) modelo de ALKATAN et

al.(2007).

Segundo a teoria linear, é possível obter a rigidez do parafuso (kb),

conforme equação 5, adaptada de SHIGLEY et al. (2005). Onde: A0 (Área do maior

diâmetro do parafuso); At (Área de tensão de tração); E (módulo de elasticidade); lt

(comprimento da parte rosqueada do parafuso no agarramento); L0 (Comprimento da

parte não-rosqueada do parafuso).

00

0

LAlA

EAAk

tt

tb

Equação 5

O tradicional método do cone de pressão de Rotscher considera um volume

de material dos membros a ser utilizado para o cálculo de rigidez dos membros. Este

volume é relativo a um tronco de cone de 30° de meio-ângulo cujo diâmetro menor do

tronco corresponde ao diâmetro da cabeça do parafuso. O cálculo da rigidez dos

membros (km), utilizando o método do cone de pressão de Rotscher, resulta na equação

6, quando os membros possuem o mesmo módulo de elasticidade com troncos de cone

simétricos lado a lado. Onde: E (módulo de elasticidade); d (diâmetro nominal do

parafuso); α (metade do ângulo do cone); t (metade do agarramento); D (diâmetro da

face da arruela).

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17

dDdDt

dDdDt

dEkm

tan..2

tan..2ln.2

tan...

Equação 6

Segundo WILEMAN et al.(1991), a rigidez de membros de mesmo material

pode ser obtida em vários tipos de conexões, conforme a equação 7, onde: A e B são

parâmetros de rigidez que envolvem o coeficiente de Poisson; E (módulo de

elasticidade); d (diâmetro nominal do parafuso); A(Área de tensão de tração);

L(espessura total dos membros).

L

dB

m EdAek Equação 7

ALKATAN et al.(2007) apresentou uma abordagem para o cálculo da

rigidez axial dos elementos de uma união parafusada. O conjunto montado é dividido da

seguinte forma: cabeça do parafuso, parte rosqueada do parafuso, roscas carregadas na

porca e membros. Neste modelo, os fatores utilizados são: αhead (fator de correção da

rigidez da cabeça do parafuso); αthread (fator de correção da rigidez da parte rosqueada

do parafuso); αbolt-nut (fator de correção da rigidez da porca e da parte carregada do

parafuso).

Para os cálculos da rigidez da cabeça do parafuso ( hea dk ), rigidez da parte

rosqueada do parafuso ( threa dk ) e da rigidez da porca e da parte carregada do parafuso

( nutboltk ), utilizam-se as equações 8, 9 e 10, respectivamente. A rigidez total do

parafuso (kb) é obtida então conforme equação 11.

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18

).(0

0

dL

AEk

hea d

bolthea d

Equação 8

threa dt

threa dl

k .A · E tbolt

Equação 9

nutbolt

nutbolt dk

.

A · E tbolt

Equação 10

nutboltthrea dnutbolthea dthrea dhea d

nutboltthrea dhea db kkkkkk

kkkk

...

..Equação 11

Onde: Ebolt (módulo de elasticidade do parafuso); A0 (Área do maior

diâmetro do parafuso); L0 (Comprimento da parte não-rosqueada do parafuso); At (Área

de tensão de tração); lt (comprimento da parte rosqueada do parafuso no agarramento); d

(diâmetro nominal do parafuso).

A rigidez dos membros ( mk ), conforme ALKATAN et al. (2007), é

deduzida da equação 12, onde Epart é o módulo de elasticidade dos membros, Ap (Seção

transversal equivalente dos membros) e Lpi (Espessura de cada membro no

agarramento).

pi

ppa r t

mL

AEk

.2

.

Equação 12

Existem ainda, modelos que consideram a não-linearidade intrínseca

decorrente da carga externa variável a que a junta é submetida, conforme estudos de

LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996) e LEHNHOFF e BUNYARD (2001).

O procedimento adotado em ambos os estudos envolveu a avaliação das

rigidezes usando modelo axissimétrico através do método de elementos finitos. Os

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valores de rigidez quando correlacionados à carga externa apresentam uma quantidade

de não-linearidade que varia com a magnitude desta carga externa. Nesses dois

modelos, os pesquisadores obtiveram equações polinomiais que correlacionam

parâmetros adimensionais relacionados à rigidez, a saber: rigidez adimensional do

parafuso e rigidez adimensional dos membros, com um parâmetro adimensional

relacionado à carga externa denominado de “carga externa adimensional”. Ambos

testaram parafusos classe 10.9, nos diâmetros 8 mm, 12 mm, 16 mm, 20 mm e 24 mm e

razões de espessura de: 12/20, 16/20 e 20/20.

3. Procedimento experimental

3.1 Parafusos e dispositivo

O parafuso escolhido para realização dos testes foi o M6, classe 8.8,

acabamento enegrecido de têmpera, hastes de 40 mm; 60 mm e 80 mm, com cabeça

sextavada, filetamento parcial de 18 mm de comprimento, passo 1 mm e porca auto-

travante compatível de altura 5 mm. Duas arruelas de 1,3 mm de espessura foram

também utilizadas na montagem. Cada parafuso foi usinado, através de torneamento,

para produzir faces extremas paralelas, de modo a aumentar a exatidão das medidas

realizadas. Os parafusos foram desengraxados e seus comprimentos medidos com

micrômetro (resolução 0.01 mm).

Cabe ainda salientar que a ISO 898-1(2009) especifica para as diversas

classes de parafusos os seguintes aspectos: material (limites de composição química),

tratamento térmico e propriedades mecânicas. Para um parafuso classe 8.8 com

diâmetro (d) ≤ 16 mm, a composição química e as propriedades mecânicas definidas

nesta norma estão descritas nas tabelas 2 e 3, respectivamente.

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20

Tabela 2 – Limites de composição química e tratamento térmico para parafusos classe

8.8. ISO 898-1(2009).

Limites para composição química (%) Revenido

(ºC) C P S B

Min. Max. Max. Max. Max. Mín.

0,25 0,55 0,025 0,025 0,003 425

Tabela 3 – Propriedades mecânicas de parafusos classe 8.8. ISO 898-1(2009).

Propriedades Mecânicas

Resistência

mínima à

tração (MPa)

Limite de

escoamento

mínimo (MPa)

Resistência à

carga de prova

mínima (MPa)

Dureza Rockwell (HRC)

Mín. Máx.

800 640 580 22 32

No presente estudo, foi desenvolvido um dispositivo em aço SAE 4140 que

possibilitasse acesso a ambas as extremidades do parafuso após aperto, de modo que a

medição dos comprimentos iniciais e finais através de um micrômetro tornou-se viável,

seguindo assim a recomendação de SHIGLEY et al.(2005), ou seja, a elongação do

parafuso deve ser utilizada, sempre que possível, para controle da pré-carga,

especialmente com carregamento de fadiga. Tal dispositivo também foi projetado

visando possibilitar a aplicação de carregamento axial cíclico flutuante aos parafusos

testados, seguindo as normas ISO 898-1 (2009) e ISO 3800 (1993). As figuras 6, 7 e 8

mostram o desenho em corte do dispositivo montado para os três comprimentos

analisados, evidenciando a interposição de buchas intermediárias com diâmetro externo

superior às demais buchas componentes da união, detalhadas na figura 9, desta forma

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visou-se à manutenção de um volume de material dos membros ao redor do parafuso

num patamar que não resultasse num decréscimo acentuado da rigidez dos membros,

possibilitando assim uma análise focada na influência da variação do comprimento do

parafuso no limite de fadiga da união.

O parafuso fixa as buchas e estas são montadas em placas aparafusadas com

parafusos M12. As placas permitem a montagem das extremidades diretamente à

máquina de fadiga.

Figura 6 – Dispositivo montado para os ensaios de fadiga dos parafusos M6,

comprimento da haste de 40 mm.

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22

(b) (c)

Figura 7 – Dispositivo montado para os ensaios de fadiga dos parafusos M6,

comprimento da haste de 60 mm.

Figura 8 – Dispositivo montado para os ensaios de fadiga dos parafusos M6,

comprimento da haste de 80 mm.

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23

Figura 9 - Bucha que compõe o dispositivo para todos os comprimentos de parafusos

testados.

3.2 Definição da pré-carga e elongações.

Conforme já mencionado, a definição da pré-carga baseou-se no critério de

SHIGLEY et al. (2005) para conexões permanentes, ou seja, pré-carga limitada

inferiormente por 90% da carga de prova e, superiormente, pela própria carga de prova.

Como critério para definição da carga de prova, utilizou-se o critério da ISO 898-1

(2009), a saber: carga de prova de 91% da tensão de escoamento.

Neste estudo, foi decidido pela utilização do controle da elongação para

definição da pré-carga e buscou-se estreitar o quanto fosse possível a faixa de pré-carga

atuante nos três comprimentos testados, equação 13, pois de outra forma os resultados

não forneceriam elementos confiáveis para comparações. A obtenção de pré-cargas

próximas ao limite superior deste critério foi, também, um dos objetivos traçados, uma

vez que os resultados redundariam em maiores limites de fadiga e, conforme estudos de

GRIZA (2000), quanto maior a pré-carga, maior será o limite de fadiga da junta

parafusada. Onde: Fi (Pré-carga), L (Comprimento do parafuso no agarramento), A

(Área de tensão de tração) e E (módulo de elasticidade do aço).

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24

AE

LFi

Equação 13

Desta feita, buscando-se uma pré-carga média que resultasse no menor

desvio padrão possível, resultaram as seguintes elongações: 0,11 mm para os parafusos

de 40 mm; 0,18 mm para os parafusos de 60 mm e 0,25 mm para os parafusos de 80

mm. Obtiveram-se também as seguintes razões percentuais de Fi/Fp: 100% para os

parafusos de 40 mm e 95% para os parafusos de 60 e 80 mm. A pré-carga média

calculada para estas elongações foi de 14,4 kN, com desvio padrão de 0,15 kN.

3.3 Ensaios de tração

Foram realizados ensaios de tração em três parafusos de cada comprimento,

a fim de confirmar sua adequação com a categoria indicada, classe 8.8, e para

determinar a tensão de escoamento (Sy). O ensaio seguiu as determinações da norma

ISO 898-1 (2009). A tensão de escoamento foi obtida para 0,2 % de deformação. Para

execução dos ensaios de tração o mesmo dispositivo citado no item 3.1 foi utilizado,

entretanto, neste caso, os parafusos foram montados sem impor torque às porcas.

3.4 Ensaios de fadiga

Os ensaios de fadiga foram realizados no equipamento servohidráulico

(MTS Landmark 370.10), figura 10, com capacidade de 100 kN e controlador Flex Test

60. Cada parafuso foi fixado no dispositivo utilizando uma chave soquete-biela na

porca, enquanto que a cabeça do parafuso foi presa por uma chave fixa. Este processo

foi executado com as placas fixadas, de forma a assegurar a posição vertical do

parafuso. Após a gradual aplicação de um torque aleatório, verificava-se através do

micrômetro a elongação produzida pelo aperto do parafuso até a obtenção da elongação

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25

pretendida para aquele comprimento específico. A carga externa foi senoidal, com

freqüência de 30 Hz e razão de carregamento R = 0,1.

Figura 10 – Dispositivo montado no equipamento de ensaio de fadiga.

Para construção das curvas de Wöhler e definição do limite de fadiga, foi

utilizado o método de teste combinado indicado pela ISO 3800 (1993), onde o desvio

padrão da parte inclinada da curva de Wöhler é utilizado como tamanho do degrau

(“step size”) para definição do patamar da curva de Wöhler e, consequentemente,

definição do limite de fadiga. A curva gerada a partir deste método pressupõe uma

probabilidade de falha de 50%. Tal método foi criado visando à construção de curvas de

Wöhler quando da utilização de uma pequena quantidade de corpos de prova, neste

caso, sendo possível a construção da curva com 14 parafusos. Neste método, considera-

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se, também, a ocorrência de vida infinita quando para um dado nível de carregamento o

corpo de prova atinge no mínimo um total de cinco milhões de ciclos sem romper.

Para o estudo da distribuição de carregamento em função das diversas

teorias disponíveis, foram calculadas as tensões máximas axiais as quais os parafusos de

40 mm ficaram submetidos nas condições de carga externa máxima cíclica. Tais valores

foram comparados com a tensão de escoamento para a validação dos cálculos realizados

através das equações da teoria linear.

As amplitudes de tensão impostas aos parafusos nos seus limites de fadiga

foram calculadas de acordo com as teorias de rigidez apresentadas. As amplitudes de

tensões e tensões médias suportadas pelo parafuso correspondentes foram comparadas

aos resultados de BURGUETE e PATTERSON (1995) no intervalo a ≤ m ≤ Sy. Um

coeficiente de correção foi proposto conforme definido no item 3.7 a seguir.

3.5 Cálculo de rigidez

Foram calculadas as tensões cíclicas e as tensões médias suportadas pelo

parafuso, levando em conta as diversas teorias de rigidez disponíveis e apresentadas

anteriormente na revisão da literatura.

Algumas adaptações foram necessárias para a comparação com o estudo de

LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996), tendo em vista que eles não modelaram parafusos

M6, nem juntas com o agarramento de 32,6 mm, que é a espessura dos membros e

arruelas utilizadas no presente estudo. Entretanto, visando à obtenção dos valores das

rigidezes dos componentes da junta oriundos deste modelo, optou-se, neste estudo, por

utilizar a razão de espessura de 20/20 apenas para os parafusos de 40 mm, tendo em

vista a simetria existente em relação ao plano de contato interfacial das buchas quando

montadas no dispositivo. Nesta abordagem, para a definição da equação polinomial que

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27

seria usada para o parafuso M6, foram utilizadas as equações 14 e 15, referentes aos

parafusos de 8 mm de diâmetro e folga entre parafuso e furo de 0,5 mm, que definem,

respectivamente, as relações entre a razão da rigidez do parafuso pelo diâmetro e

modulo de elasticidade, denominada de rigidez adimensional do parafuso (f(x)), com a

razão da carga externa por 90% da resistência à carga de prova e pela área da seção

transversal do parafuso, chamada de carga externa adimensional (x), e entre a razão da

rigidez dos membros pelo diâmetro e modulo de elasticidade, chamada de rigidez

adimensional dos membros (f(x)) também com a carga externa adimensional (x).

f(x)=1,02x² + 0,01x + 0,16 Equação 14

f(x)=4,69x² - 2,28x + 0,63 Equação 15

Para definição dos novos pontos de interceptação das equações 14 e 15 com

os eixos correspondentes à “rigidez adimensional do parafuso” e à “rigidez

adimensional dos membros”, respectivamente, foram geradas curvas de tendência

relacionando tais pontos para cada diâmetro de parafuso, visando à extrapolação deste

ponto para parafusos M6 e membros em aço, conforme pode ser observado nas figuras

11 e 12. Nesta abordagem foram mantidos os demais coeficientes das funções

polinomiais.

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28

(24 mm; 0,34)

(20 mm; 0,31)

(16 mm; 0,25)

(12 mm; 0,21)

(8mm; 0,16)

(6 mm; 0,135)

y = 0,012x + 0,061

R² = 0,994

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0 5 10 15 20 25 30

Diâmetro do parafuso (mm)

Po

nto

de in

terc

ep

tação

co

m o

eix

o "

rig

idez a

dim

en

sio

nal d

o p

ara

fuso

"

Figura 11 - Linha de tendência para estimar o ponto de interceptação com o eixo do

parâmetro “rigidez adimensional do parafuso”, para parafusos M6. Dados obtidos de

LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996).

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29

(24 mm; 0,84)

(20 mm; 0,79)

(16 mm; 0,72)

(12 mm; 0,64)

(8 mm; 0,63)

(6 mm; 0,602)

y = 0,0003+ 0,004x + 0,564

R² = 0,980

0,55

0,6

0,65

0,7

0,75

0,8

0,85

0,9

0 5 10 15 20 25 30

Diâmetro do parafuso (mm)

Po

nto

de in

terc

ep

tação

co

m o

eix

o "

rig

idez a

dim

en

sio

nal d

os m

em

bro

s"

Figura 12 - Linha de tendência para estimar o ponto de interceptação com o eixo do

parâmetro “rigidez adimensional dos membros”, para parafusos M6. Dados obtidos de

LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996).

Também foram definidas as equações 16 e 17, as quais foram utilizadas para

estimar as relações “rigidez adimensional do parafuso” (f(x)) versus “carga externa

adimensional” (x) e “rigidez adimensional dos membros” (f(x)) versus “carga externa

adimensional” (x) para o parafuso M6 e membros em aço. Em outras palavras, foi

assumido que a curva para o parafuso M6 tinha a mesma concavidade da curva do

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30

parafuso M8, porém com um novo ponto de interceptação no eixo das ordenadas,

seguindo a tendência de todos os demais diâmetros dos parafusos utilizados.

f(x)=1,02x² + 0,01x + 0,135 Equação 16

f(x)=4,69x² - 2,28x + 0,602 Equação 17

Visando efetuar análise similar para o estudo de GRIZA (2000), quando da

utilização de membros em alumínio, curvas de tendência também foram geradas para

definir as relações entre “rigidez adimensional do parafuso” e “carga externa

adimensional” e entre “rigidez adimensional dos membros” e “carga externa

adimensional”, para parafusos M6 com membros em alumínio. Neste caso foi

considerada a redução percentual nos pontos que interceptam os eixos correspondentes

à “rigidez adimensional do parafuso” e à “rigidez adimensional dos membros” para

parafusos M24 e M20 ao se modificar o material dos membros de aço para alumínio,

conforme pode ser observado nas figuras 13 e 14.

Desta forma, foi considerado para o ponto que intercepta o eixo “rigidez

adimensional do parafuso” (f(x)) e para o ponto que intercepta o eixo “rigidez

adimensional dos membros” (f(x)), respectivamente, 64 % e 30,4% de percentual de

redução, quando parafusos M6 comprimem membros de alumínio ao invés de membros

de aço. As equações 18 e 19 foram, então, definidas para estimar as relações entre

“rigidez adimensional do parafuso” (f(x)) e “carga externa adimensional” (x) e entre

“rigidez adimensional dos membros” (f(x)) e “carga externa adimensional” (x),

respectivamente.

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31

24 mm;85,3%

(0,29/0,34)

20 mm; 80,6%

(0,25/0,31)

6 mm; 64,0%

y = 0,011x + 0,569

60,0%

65,0%

70,0%

75,0%

80,0%

85,0%

90,0%

0 5 10 15 20 25 30

Diâmetro do parafuso (mm)

Perc

en

tual

de r

ed

ução

do

po

nto

de i

nte

rcep

tação

co

m o

eix

o "

rig

idez

ad

imen

ssio

nal

do

para

fuso

"

Figura 13 - Linha de tendência para estimar o percentual de redução do ponto de

interceptação com o eixo do parâmetro “rigidez adimensional do parafuso”, para

parafusos M6 e membros em alumínio. Dados obtidos de LEHNHOFF e

WISTEHUFF(1996).

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32

24mm;36,9%

(0,31/0,84)

20 mm;35,4%

(0,28/0,79)

6 mm; 30,4%

y = 0,0036x + 0,2816

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

0 5 10 15 20 25 30

Diâmetro do parafuso (mm)

Pe

rce

ntu

al d

e r

ed

uçã

o d

o p

on

to d

e in

terc

ep

taçã

o c

om

o e

ixo

"ri

gid

ez

adim

en

sio

nal

do

s m

em

bro

s"

Figura 14 - Linha de tendência para estimar o percentual de redução do ponto de

interceptação com o eixo do parâmetro “rigidez adimensional dos membros”, para

parafusos M6 e membros em alumínio. Dados obtidos de LEHNHOFF e WISTEHUFF

(1996).

f(x)=1,02x² + 0,01x+ 0,0864 Equação 18

f(x)=4,69x² - 2,28x + 0,183 Equação 19

Pelo modelo desenvolvido por LEHNHOFF e BUNYARD (2001), a rigidez

dos membros cresce com o acréscimo no diâmetro do parafuso no intervalo que

compreende os diâmetros 12 mm e 24 mm. Entretanto, os resultados obtidos neste

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33

modelo para o parafuso M8 produziram valores de rigidez dos membros superiores

àqueles encontrados para o parafuso M12, inviabilizando assim a utilização deste

modelo seguindo a abordagem aqui adotada, pela impossibilidade de se prever a

tendência para o comportamento da rigidez dos membros quando da utilização de

parafusos M6. Logo, este modelo foi desconsiderado nas analises realizadas.

3.6 Análise da localização da fratura dos parafusos

Foram catalogadas as localizações das fraturas em todos os parafusos que

romperam, visando confrontar com os percentuais encontrados na literatura.

3.7 Proposta do coeficiente de correção

Foi proposto um coeficiente de correção (C.C.), conforme equação 20, onde

os valores de σa (estimada) foram obtidos pela interpolação dos dados do diagrama de

BURGUETE e PATTERSON (1995), conforme a figura 3. A amplitude de tensão

calculada, σa (calculada), refere-se às amplitudes de tensão suportadas pelo parafuso,

obtidas diretamente dos quatro modelos examinados.

)(

)(..

)(

)(

MPa

MPaCC

ca lcula daa

estima daa

Equação 20

4. Resultados

A tabela 4 mostra os dados de entrada utilizados nos diversos cálculos

efetuados neste estudo.

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34

Tabela 4 - Dimensões e propriedades utilizadas para o presente estudo.

A0(mm²): Área do maior diâmetro do parafuso 28,27

At(mm²): Área de tensão de tração 20,1

D(mm): Diâmetro da face da arruela 13

d(mm): Diâmetro nominal do parafuso 6

Da(mm): Diâmetro sob a cabeça do parafuso 10

Dp(mm): Diâmetro dos membros 32

E(GPa): Módulo de elasticidade do aço 210

E(GPa): Módulo de elasticidade do alumínio 69

L/2=t(mm): Metade do agarramento para o

parafuso de 40 mm. 16,3

L0(mm): Comprimento da parte não-rosqueada

no agarramento para o parafuso de 40 mm 22

Lpi(mm): Espessura de cada membro no

agarramento com o parafuso de 40 mm 15

lt(mm): Comprimento da parte rosqueada no

agarramento para o parafuso de 40 mm 10,6

p(mm): Passo 1,0

α: Metade do ângulo do cone 30°

4.1 Ensaios de tração

Os ensaios de tração, em três parafusos de cada comprimento, apresentaram

os resultados dispostos na tabela 5.

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35

Tabela 5 - Propriedades obtidas dos ensaios de tração.

Tensão de escoamento

média / desvio padrão

(MPa)

Limite de resistência

médio / desvio padrão

(MPa)

Elongação média

depois da fratura /

desvio padrão

Comprimento 40 mm 782 / 17,04 908 / 3,21 0,39 / 0,01

Comprimento 60 mm 833 / 15,53 923 / 10,02 0,41 / 0,009

Comprimento 80 mm 832 / 37,58 924 / 55,75 0,42 / 0,007

As elongações depois da fratura (Af) foram calculadas conforme ISO 898-

1(2009), tal propriedade é definida como sendo a razão entre a elongação plástica e o

diâmetro nominal do parafuso acrescido de 20%.

As figuras 15, 16 e 17 apresentam curvas tensão-deformação representativas

para os ensaios de tração realizados nos parafusos de 40 mm; 60 mm e 80 mm,

respectivamente.

Gráfico σ x ε (L=40 mm)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1

Deformação

Ten

são

(M

Pa)

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36

Figura 15 - Curva típica de tração (tensão versus deformação) para os parafusos de 40

mm, indicando a sistemática de obtenção do limite de escoamento (“offset yield

strength”) para uma deformação plástica de 0,2%.

Gráfico σ x ε L=60 mm

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06

Deformação

Tens

ão (M

Pa)

Figura 16 - Curva típica de tração (tensão versus deformação) para os parafusos de 60

mm, indicando a sistemática de obtenção do limite de escoamento (“offset yield

strength”) para uma deformação plástica de 0,2%.

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37

Gráfico σ x ε (L=80 mm)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025 0,03 0,035 0,04 0,045 0,05

Deformação

Tens

ão (M

Pa)

Figura 17 - Curva típica de tração (tensão versus deformação) para os parafusos de 80

mm, indicando a sistemática de obtenção do limite de escoamento (“offset yield

strength”) para uma deformação plástica de 0,2%.

4.2 Ensaios de fadiga

As figuras 18, 19 e 20 apresentam as curvas de Wöhler geradas de acordo

com a ISO 3800 (1993) para os ensaios de fadiga realizados nos parafusos de 40 mm;

60 mm e 80 mm, respectivamente. Tais curvas resultaram em cargas externas máximas,

sem ocorrência de fratura nos parafusos (N = 5 x 106 ciclos), de: 9,15 kN para os

parafusos de 40 mm, 11,7 kN para os parafusos de 60 mm e 12,6 kN para os parafusos

de 80 mm.

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38

Curva de Wohler (L=40mm)

0

5

10

15

20

1000 10000 100000 1000000 10000000

Número de ciclos (N)

P (

kN

) N ≥ 5.000.000 ciclos

N < 5.000.000 ciclos

Figura 18 - Curva logarítmica de Wöhler para o parafuso de 40 mm.

Curva de Wohler (L=60mm)

0

5

10

15

20

1000 10000 100000 1000000 10000000

Número de ciclos (N)

P (

kN

) N ≥ 5.000.000 ciclos

N < 5.000.000 ciclos

Figura 19 - Curva logarítmica de Wöhler para o parafuso de 60 mm.

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39

Curva de Wohler (L=80mm)

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000 100000 1000000 1000000

0Número de Ciclos (N)

P (

kN

) N ≥ 5.000.000 ciclos

N < 5.000.000 ciclos

Figura 20 - Curva logarítmica de Wöhler para o parafuso de 80 mm.

4.3 Cálculo de rigidez

Foram calculadas as rigidezes dos parafusos (kb) e dos membros (km)

através dos modelos teóricos para os parafusos de 40 mm, conforme as equações 6, 7,

11, 12, 16-19. Os resultados estão nas tabelas 6-9 abaixo. Esses cálculos foram feitos

para os parafusos de 40 mm e buchas de aço usadas no presente estudo, e também foram

aplicados às montagens com parafusos de 40 mm e buchas de alumínio usadas por

GRIZA (2000). Devido à similaridade geométrica, foi possível fazer a análise com base

nos resultados de fadiga deste autor.

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40

Tabela 6 - Rigidezes dos parafusos e membros calculadas por diversas teorias

Membros Modelo kb (kN/mm) km (kN/mm)

Aço

Cone de Rotscher 1852,4

Wileman 991,8

Alkatan 73,8 650,9

Tabela 7 - Rigidezes dos parafusos e membros calculadas por diversas teorias (estudo

de GRIZA, 2000).

Membros Modelo kb (kN/mm) km (kN/mm)

Alumínio

Cone de Rotscher 608,6

Wileman 329,8

Alkatan 73,6 213,8

Os valores das tabelas 6-9 foram utilizados para o cálculo das tensões vistas

nas tabelas 10-12 concernentes aos respectivos modelos. A rigidez do parafuso kb =

160,8 kN/mm foi obtida pela equação 5 e este valor foi utilizado nos cálculos

concernentes ao modelo do cone de Rotscher, SHIGLEY et al.(2005), e ao modelo de

WILEMAN et al.(1991).

Para definição da metade do agarramento (t), utilizado na equação 6 (ver

tabela 4), foi adicionado ao comprimento dos membros a espessura da arruela de 1,3

mm. Portanto, a espessura total foi de 32,6 mm. Para o cálculo das rigidezes dos

membros, através da equação 7, foram utilizados os parâmetros A = 0,78715 e B =

0,62873, para membros em aço, e A=0,7967 e B=0,63816, para membros em alumínio.

Ao utilizar a equação 8, um acréscimo de 6% no hea d foi assumido, para corrigir a

premissa que o coeficiente de fricção radial era nulo.

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41

No modelo adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996), foi utilizada

uma Sp (resistência à carga de prova) de 580 MPa para os parafusos M6, classe 8.8,

conforme ISO 898-1(2009), obtendo-se os resultados das tabelas 8 e 9.

Ressalta-se que as cargas externas máximas (Pmax) utilizadas em todos os

cálculos foram àquelas obtidas experimentalmente, conforme figuras 1 e 18.

Tabela 8 - Rigidezes dos parafusos e membros calculadas de acordo com o modelo

adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996).

Pmax(kN) kb (kN/mm) km (kN/mm)

9,15 1158,9 2748,8

Tabela 9 - Rigidezes dos parafusos e membros calculadas para o estudo de GRIZA

(2000) de acordo com o modelo adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996).

Membros Pmax(kN) kb (kN/mm) km (kN/mm)

Aço

10.9 1570,2 4151,8

10.3 1421,0 3633,2

8.4 1003,9 2246,2

6.8 718,1 1378,8

Alumínio

10.95 1521,8 3668,4

10.17 1328,5 2997,7

7.84 835,8 1383,0

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42

7.1 705,9 992,2

Pelas equações da teoria linear, obtiveram-se os dados compreendidos na tabela 10, 11 e

12. As tabelas 11 e 12 referem-se aos cálculos aqui realizados para o estudo de GRIZA

(2000). Neste caso, foram calculados apenas os casos em que os torques resultaram em

tensões máximas axiais (max) inferiores à tensão de escoamento (Sy) do parafuso.

Tabela 10 – Valores calculados a partir da teoria linear.

Autor Pmax(kN) Fi (kN) Fbmax.(kN) Fbmin.(kN) max. (MPa) m (MPa) a (MPa)

Rotscher 9,15 14,2 14,93 14,27 743 726 16

Wileman 9,15 14,2 15,48 14,33 770 741 29

Alkatan 9,15 14,2 15,13 14,29 753 732 21

Lehnhoff

adaptado

9,15 14,2 16,91 14,47 842 781 61

Tabela 11 – Valores calculados a partir da teoria linear para placas de aço.

Autor Torque (Nm) Pmax(kN) Fi (kN) Fbmax.(kN) Fbmin.(kN) max. (MPa) m (MPa) a (MPa)

Rotscher

19,6 10,3 5,74 6,56 5,82 327 308 18

14,7 8,4 5,11 5,78 5,17 287 272 15

10 6,8 3,71 4,26 3,77 212 200 12

Wileman 19,6 10,3 5,74 7,18 5,88 357 325 32

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43

14,7 8,4 5,11 6,28 5,22 312 286 26

10 6,8 3,71 4,66 3,81 232 211 21

Alkatan

19,6 10,3 5,74 6,79 5,85 338 314 23

14,7 8,4 5,11 5,96 5,19 297 277 19

10 6,8 3,71 4,41 3,78 219 204 16

Lehnhoff

19,6 10,3 5,74 8,64 6,03 430 365 65

14,7 8,4 5,11 7,70 5,37 383 325 58

10 6,8 3,71 6,04 3,95 301 248 52

Tabela 12 – Valores calculados a partir da teoria linear para placas de alumínio.

Autor Torque (Nm) Pmax(kN) Fi (kN) Fbmáx.(kN) Fbmin.(kN) max. (MPa) m (MPa) a (MPa)

Rotscher

19,6 10,17 10,51 12,64 10,72 629 581 48

14,7 7,84 4,90 6,54 5,06 325 288 37

10 7,1 3,59 5,07 3,74 252 219 33

Wileman

19,6 10,17 10,51 13,84 10,84 689 614 75

14,7 7,84 4,90 7,47 5,15 371 314 58

10 7,1 3,59 5,92 3,82 294 242 52

Alkatan

19,6 10,17 10,51 13,12 10,77 652 594 58

14,7 7,84 4,90 6,90 5,10 343 299 45

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44

10 7,1 3,59 5,41 3,77 269 228 41

Lehnhoff

19,6 10,17 10,51 13,63 10,82 678 608 70

14,7 7,84 4,90 7,85 5,19 391 324 66

10 7,1 3,59 6,54 3,88 325 259 66

As tabelas 13 e 14 mostram os valores das tensões máximas axiais que

estariam atuando nos parafusos do estudo de GRIZA (2000) caso o limite de

escoamento não houvesse sido superado. Neste caso, foram também utilizadas no

cálculo, através das equações clássicas da teoria linear elástica, as deformações médias

visando-se apenas à confirmação de que a fronteira do escoamento de 820 MPa (16,48

kN) havia sido ultrapassada.

Tabela 13 – Valores calculados a partir da teoria linear para placas de aço e torque de

26.5 Nm.

Autor Pmax(kN) Fi (kN) Fbmáx.(kN) max. (MPa)

Rotscher 10,9 16,72 17,59 875

Wileman 10,9 16,72 18,24 907

Alkatan 10,9 16,72 17,82 887

Lehnhoff 10,9 16,72 19,71 980

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Tabela 14 – Valores calculados a partir da teoria linear para placas de alumínio e torque

de 22,6 Nm.

Autor Pmax(kN) Fi (kN) Fbmáx.(kN) max. (MPa)

Rotscher 10,95 14,73 17,02 847

Wileman 10,95 14,73 18,33 911

Alkatan 10,95 14,73 17,54 872

Lehnhoff 10,95 14,73 17,94 893

4.4 Análise da localização da fratura dos parafusos

Quanto à região de fratura dos parafusos, foi observada, neste estudo, a

seguinte ocorrência de ruptura: 89 % dos parafusos que fraturaram, romperam no

primeiro filete carregado (figura 21); 7% romperam na saída da rosca (figura 22) e 4%

romperam no meio dos filetes (figura 23).

Figura 21 – Amostra de parafusos que romperam no primeiro filete carregado.

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Figura 22 – Amostra de parafusos que romperam na saída da rosca.

Figura 23 - Amostra de parafusos que romperam no meio dos filetes.

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47

4.5 Coeficiente de correção

Os coeficientes de correção calculados de acordo com a equação 20 estão

nas tabelas 15 e 16, para cada modelo examinado, onde na tabela 16 encontram-se os

coeficientes resultantes dos cálculos aqui realizados através da análise do estudo de

GRIZA (2000). A aproximação do coeficiente do valor unitário remete a uma melhor

concordância entre o respectivo modelo e o diagrama de fadiga de BURGUETE e

PATTERSON (1995).

Tabela 15 – Coeficientes de correção:

Modelo utilizado: m (MPa) σa (calculada) (MPa)

σa (estimada)

(MPa) de

Burguete e

Patterson

Coeficiente de

correção

proposto para

σa

Cone Rotscher 726 16 51 3,090

Wileman 741 29 49 1,715

Alkatan 732 21 50 2,395

Lehnhoff

adaptado 781 61 44 0,729

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Tabela 16 – Coeficientes de correção para o estudo de GRIZA(2000):

Membros Modelo utilizado: m (MPa) σa (calculada) (MPa)

σa (estimada)

(MPa) de

Burguete e

Patterson

Coeficiente de

correção

proposto para

σa

Aço

Cone Rotscher

308 18 60 3,333

272 15 61 4,067

200 12 62 5,167

Wileman

325 32 61 1,906

286 26 58 2,231

211 21 63 3,000

Alkatan

314 23 60 2,609

277 19 60 3,158

204 16 63 3,938

Lehnhoff e

Wistehuff(1996)

365 65 60 0,923

325 58 61 1,052

248 52 64 1,231

Alumínio

Cone Rotscher

581 48 58 1,208

288 37 58 1,568

219 33 63 1,909

Wileman

608 75 58 0,773

314 58 60 1,034

242 52 64 1,231

Alkatan

594 58 62 1,069

299 45 59 1,311

228 41 64 1,561

Lehnhoff e

Wistehuff(1996)

608 70 59 0,843

324 66 61 0,924

259 66 63 0,955

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5. Discussão dos resultados

Os resultados obtidos no ensaio de tração confirmaram que os parafusos se

enquadram na classe 8.8. Além disso, o valor de tensão de escoamento foi utilizado para

avaliar a fronteira elástica nos estudos analíticos realizados.

As equações clássicas que correlacionam o torque e a carga axial ao

parafuso levam em conta o atrito e as dimensões da união, mas não o módulo de

elasticidade. Nos estudos de GRIZA (2000), os parafusos apertados em membros de aço

resistiram a um torque de ruptura maior que os de alumínio. Este resultado poderia estar

associado ao atrito, que deve ser diferente entre a arruela de aço e os membros de aço e

entre a arruela de aço e os membros de alumínio. É possível conjecturar ainda que este

resultado esteja associado à rigidez dos membros. A ruptura por torque ocorre por um

esforço combinado de cisalhamento e tração. Membros de alumínio, menos rígidos,

devem permitir atingir a ruptura com menor parcela de cisalhamento. No caso do

alumínio, a pré-carga máxima que resultaria no limite máximo é definida pela rigidez

dos membros, pois como pode ser visto nos resultados da tabela 14 as pré-cargas

máximas estão abaixo da carga equivalente ao escoamento do parafuso o que não ocorre

para as conexões em aço onde as pré-cargas máximas são da ordem do escoamento,

tabela 13. Esta constatação mostra a importância de levar-se em consideração a natureza

dos membros que estão sendo apertados para a previsão da distribuição de carregamento

ao parafuso.

A comparação dos resultados de fadiga de GRIZA (2000) com os estudos

analíticos comparativos indica que abaixo do escoamento aumenta a amplitude de

tensão com a tensão média do parafuso, em todos os torques selecionados e para todas

as teorias utilizadas. Isto vai contra tanto às estimativas conservativas de Goodman e

Soderberg, quanto às devidas a Gunn ou Cook. Isto é um resultado que mostra que deve

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haver um contrassenso na teoria linear, ao menos quando uma carga externa cíclica é

considerada. Logo pode-se inferir que em um cenário onde coexistam a pré-carga na

magnitude do escoamento e a carga externa cíclica, pode ser entendido pelos resultados

que quanto maior for a carga externa, maior será a carga axial no parafuso (Fbmax) e

maior será o limite de fadiga, desde que a carga axial máxima (Fbmax) não ultrapasse o

limite de resistência a tração. Mas para isso é preciso que a amplitude de tensão imposta

ao parafuso seja diminuída proporcionalmente.

Ao analisar a tabela 10, percebe-se que no modelo adaptado de LEHNHOFF

e WISTEHUFF (1996) para parafusos M6 de 40 mm, a tensão máxima axial (842 MPa)

superou a tensão de escoamento média (782 MPa) e foi inferior ao limite de resistência

médio (908 MPa). Entretanto, a tensão resultante da carga axial mínima do parafuso

(720 MPa) resulta em um valor inferior à tensão de escoamento média, permitindo-nos

concluir que face à este fato e pelo formato característico da curva tensão-deformação,

os valores de tensão média reais para este modelo serão inferiores aos calculados da

tabela 10 o que, consequentemente, resultará, também, em menores valores de

amplitudes de tensão suportadas pelo parafuso que os descritos na referida tabela, logo

pode-se concluir que, ao utilizar o modelo adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF

(1996), o coeficiente de correção será mais próximo do valor unitário que àquele

descrito na tabela 15.

Para o estudo de GRIZA (2000), o modelo adaptado de LEHNHOFF e

WISTEHUFF (1996) apresentou, também, a melhor relação com os resultados de

BURGUETTE e PATTERSON (1995), para ambos os materiais dos membros,

apresentando uma diferença máxima de 23%, o que está de acordo com WILLIAMS et

al. (2009) que comprovou experimentalmente que modelos de elementos finitos de

uniões parafusadas que utilizem representações simplificadas da geometria das partes da

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união produzem resultados que se ajustam bem aos dados experimentais. Para os demais

modelos, observa-se uma boa relação também no caso de membros de alumínio

(WILEMAN et al., 1991) e membros de alumínio com alta tensão média (ALKATAN et

al., 2007).

Um resultado interessante é que para o caso de membros de aço, afora o

modelo adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996), todos os demais

apresentaram relações muito diferentes, com no mínimo 1,71 vezes de diferença. Os

resultados obtidos do modelo adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996) devem

ser considerados cuidadosamente, uma vez que o modelo original não prevê resultados

de rigidez para parafusos M6 e, portanto, adaptações foram necessárias. Não obstante,

apesar do erro inerente às adaptações realizadas ser desconhecido, presume-se que a

abordagem utilizada confira uma boa concordância com a tendência esperada.

Os modelos de rigidez examinados, quando comparados com o modelo

adaptado de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996), proveram valores de kb inferiores,

resultando, assim, em amplitudes de tensão menores do que aquelas obtidas nos

resultados experimentais de BURGUETTE e PATTERSON (1995), o que coincide com

a abordagem teórica tradicional dos diagramas de união, a saber: quanto menor a rigidez

do parafuso, menor será a amplitude de tensão suportada pelo parafuso.

Novos estudos podem ser realizados utilizando-se a mesma abordagem para

diferentes classes e diâmetros de parafusos e diferentes tamanhos de membros. Novos

estudos que levem em conta os parafusos e mesmos agarramentos usados em

LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996) poderiam ser realizados a fim de se evitar a

necessidade de adaptações da teoria desenvolvida por eles.

A maioria dos parafusos rompeu por fadiga no primeiro filete carregado

(89%). Este resultado está de acordo com diversos estudos anteriores que indicam que o

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primeiro filete carregado é o lugar mais crítico para a ocorrência de falhas por fadiga em

uniões parafusadas submetidas a cargas axiais. GRIZA (2000) encontrou mais de 90%

das ocorrências de fratura de seu estudo no primeiro filete carregado.

Os resultados deste estudo confirmaram também que, para pré-cargas

contidas dentro de uma estreita faixa (baixo desvio padrão), quanto maior o

comprimento do parafuso maior o limite de fadiga da união parafusada. Isto decorre,

provavelmente, do fato que ao se aumentar o comprimento do parafuso de um diâmetro

definido, mantendo-se o volume dos membros ao redor do parafuso num patamar que

não resulte no decréscimo da rigidez dos membros com o aumento do agarramento,

resultará numa condição onde haverá uma menor relação entre rigidez do parafuso e

rigidez dos membros e, como é sabido, parafuso de menor rigidez recebe menor parcela

da carga cíclica, o que resulta num maior limite de fadiga.

Outra explicação decorre do fato que a deformação axial produzida pelo

aperto não é homogênea. O parafuso mais longo recebe maior elongação, mas parte

desta elongação é concentrada na região de maior deformação e isso leva a um maior

torque equivalente e, portanto, maior limite de fadiga. Esta hipótese pode ser facilmente

comprovada através de testes de torque medido com chave adequada e o respectivo

acompanhamento da elongação através de micrometro.

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6. Conclusões

As amplitudes de tensão impostas ao parafuso calculadas para membros em

alumínio foram superiores àquelas calculadas para membros em aço, considerando-se

um determinado torque dentro do limite elástico.

O modelo adaptado de LEHNHOFF E WISTEHUFF (1996) mostrou-se o

mais adequado para avaliar a relação a versus m, quando da ocorrência de simetria em

relação ao plano de contato interfacial das buchas utilizadas na união parafusada com

razão de espessura 20/20.

Para uma mesma pré-carga ou para pré-cargas contidas dentro de uma

estreita faixa (baixo desvio padrão), quanto maior o comprimento do parafuso, maior o

limite de fadiga.

Cerca de 90% dos parafusos, testados em fadiga, romperam no primeiro

filete carregado.

7. Sugestões para estudos futuros

Realizar ensaios de fadiga em parafusos e geometrias da união que se

enquadrem nos estudos de LEHNHOFF e WISTEHUFF (1996), para que seja possível

uma melhor verificação sem a necessidade de adaptação. Uma vez que os estudos

desses autores são os que apresentam maior correlação, é pertinente este

aprofundamento.

Realizar ensaios de torque medindo-se a elongação do parafuso para

verificar se há heterogeneidade na deformação em função do comprimento do parafuso.

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