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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS MICHEL SANTANA SANTOS QUERCETINA MODULA A SINALIZAÇÃO DO CÁLCIO INTRACELULAR EM CORAÇÃO DE MAMÍFERO SÃO CRISTOVÃO 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

FISIOLÓGICAS

MICHEL SANTANA SANTOS

QUERCETINA MODULA A SINALIZAÇÃO DO CÁLCIO

INTRACELULAR EM CORAÇÃO DE MAMÍFERO

SÃO CRISTOVÃO

2016

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MICHEL SANTANA SANTOS

QUERCETINA MODULA A SINALIZAÇÃO DO CÁLCIO

INTRACELULAR NO CORAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe

como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências

Fisiológicas

Orientadora: Prof.ª Drª. Carla Maria Lins de Vasconcelos

Co-orientadora: Prof.ª Drª. Evaleide Diniz de Oliveira

SÃO CRISTOVÃO

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Santos, Michel Santana

S237q Quercetina modula a sinalização do cálcio intracelular no coração / Michel Santana

Santos ; orientadora Carla Maria Lins de Vasconcelos – São Cristóvão, 2016.

56 f. : Il.

Dissertação (mestrado em Ciências Fisiológicas) –Universidade Federal de

Sergipe, 2016.

O

1. Ciências fisiológicas. 2. Quercetina. 3. Contratilidade miocárdica. 4.

Eletrocardiograma. I. Vasconcelos, Carla Maria Lins de, orient. II. Título.

CDU: 547.972.3

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MICHEL SANTANA SANTOS

QUERCETINA MODULA A SINALIZAÇÃO DO CÁLCIO

INTRACELULAR NO CORAÇÃO

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em

Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe

como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências

Fisiológicas.

_________________________________________

Orientadora: Profª. Drª. Carla Maria Lins de Vasconcelos

_________________________________________

Co-Orientadora: Profª. Drª. Evaleide Diniz de Oliveira

_________________________________________

1º Examinador: Prof. Dr. Marcio Roberto Viana Santos

_________________________________________

2º Examinador: Profª. Drª. Monica Santos de Melo

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Dedicatória

A minha Mãe, Vó, Tio e Tia pela vida, força, apoio e amor.

A minha noiva, pela força, apoio, amor e compreensão.

Ao meu Pai, em memória, pela vida e proteção.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de Sergipe, pela oportunidade de ser discente, em especial ao Programa

de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas por todo conhecimento transmitido.

À minha orientadora e amiga, Drª. Carla Maria Lins Vasconcelos pela oportunidade de ser seu

orientando, assim como por todo ensinamento ao longo desse período. Muito mais que orientar um

projeto, ensina a ser independente, está sempre pronta para ajudar, e auxilia na hora que você mais

precisa. Costumamos dizer que não é somente uma orientadora, é uma mãe!

À minha co-orientadora e amiga, Drª. Evaleide de Oliveira Diniz pela oportunidade de ser seu

orientando e por transmitir o conhecimento.

Ao Laboratório de Biofísica do Coração (LBC) e seus professores e alunos, Prof. Drº. Eduardo

Antônio Conde Garcia, aos alunos José Evaldo, Diego, Américo, Valesca, Gilmara, Fernando,

Leonardo, Raquel, Ingrid, Nilson e todos que acrescentaram na minha formação acadêmica.

Aos alunos José Evaldo e Thássio Mesquita pela parceria e amizade, principalmente durante a

temporada em Minas Gerais, onde moramos e trabalhamos juntos em prol da realização dos nossos

experimentos.

À Prof. Drª. Silvia Guatimosim, a seus alunos Itamar e Aline Lara, do Departamento de

Fisiologia e Biofísica (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais, onde foi possível a realização

da experimentação em microscopia confocal.

Ao Prof. Drº. Jader Cruz, Prof. Antonio Ney, a aluna Lidiane, do Departamento de Fisiologia e

Biofísica (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais, pela colaboração, onde realizamos os

experimentos de Patch Clamp.

As bancas examinadoras do PROASA, qualificação e defesa por doarem seu tempo em prol da

ciência e colaborar com o trabalho, em especial à Prof. Drª. Sara Thomazzi, Prof. Drº. Marcio Viana

e Prof. Drª. Monica Melo.

Aos meus amigos, Thueyse Kelly, Felipe Dantas, Roberta e Gilson, que colaboraram nos

momentos de stress.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo

financiamento deste trabalho.

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Algo só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário.

Albert Einstein

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RESUMO

SANTOS, Michel Santana; VASCONCELOS, Carla Maria Lins; OLIVEIRA, Evaleide Diniz.

QUERCETINA MODULA A SINALIZAÇÃO DO CÁLCIO INTRACELULAR NO

CORAÇÃO

Dissertação de mestrado em Ciências Fisiológicas, Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão,

2016.

A quercetina é um flavonoide, amplamente distribuído nas plantas e apresenta várias atividades

biológicas. Esse trabalho tem como objetivo descrever os efeitos da quercetina sobre as propriedades

contráteis e eletrofisiológicas do músculo cardíaco, assim como a homeostase do cálcio intracelular.

Nesse estudo, foi avaliado o efeito inotrópico da quercetina em átrio esquerdo de cobaia, sua ação

nos receptores adrenérgicos e sobre os parâmetros eletrocardiográficos. Em cardiomiócito ventricular

de camundongo, foram estudadas as correntes de Ca+2 tipo-L (ICa,L), o transiente intracelular global

de cálcio e as sparks de cálcio. Os resultados revelaram que a quercetina promoveu efeito inotrópico

positivo (EC50 3,64 x 10-6 M, n = 4) que foi significativamente reduzido pelo propranolol a 1 M.

Além disso, a quercetina induziu relaxamento diastólico (~7%). Em cardiomiócito ventricular, 30 µM

de quercetina promoveu aumento da densidade da ICa,L em 0 mV de -0,95 ± 0,01 A/F para -1,21 ±

0,08 A/F (n = 5, p < 0,05) e o potencial de membrana, onde 50% dos canais estão ativados (V0,5)

diminuiu de -13,06 ± 1,52 mV para -19,26 ± 1,72 mV (n = 5, p < 0,001) sem alterar a inclinação da

curva. Além disso, os cardiomiócitos expostos a 30 µM de quercetina apresentaram um transiente

intracelular de cálcio de 4,61 ± 0,22 (n = 91 células, p < 0,001) que foi 28% maior comparado com

cardiomiócito na situação controle (3,60 ± 0,14, n = 40 células). A quercetina também acelerou a

cinética do decaimento do transiente da Ca+2, em 90% (t90) foi reduzido de 875,8 ± 13,44 ms para

740,0 ± 26,74 ms (p < 0,001) e em 50% (t50) de 253,3 ± 7,7 ms para 181,4 ± 12,67 ms (p < 0,001).

Em cardiomiócito não estimulados eletricamente, a quercetina não aumentou a frequência de sparks

de cálcio. Em coração isolado de cobaia, a quercetina aumentou a frequência cardíaca de 133,1 ± 5,49

bpm para 146,2 ± 5,28 bpm (n = 5, p < 0,0001); diminuiu o intervalo PR de 107,3 ± 4,69 ms para

100,3 ± 1,79 ms (n = 5, p < 0,05); diminuiu o QTc de 10,49 ± 0,048 ms para 10,23 ± 0,06 ms. A

duração do complexo QRS não apresentou alteração significativa, assim como não foi evidenciado o

aparecimento de arritmias cardíacas. Assim, evidenciamos que a quercetina ativa receptores β-

adrenérgicos, levando ao aumento da corrente de cálcio tipo-L e do transiente intracelular de cálcio,

sem induzir o aumento de sparks de cálcio ou efeitos arritmogênicos.

PALAVRAS-CHAVE: Quercetina, corrente de cálcio, contratilidade miocárdica, eletrocardiograma

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ABSTRACT

SANTOS, Michel Santana; VASCONCELOS, Carla Maria Lins; OLIVEIRA, Evaleide Diniz.

QUERCETIN MODULATES INTRACELLULAR CALCIUM SIGNALING INSIDE THE

HEART.

Master’s degree dissertation in Physiological Sciences, Universidade Federal de Sergipe, São

Cristovão, 2016.

Quercetin is a flavonoid widely distributed in plants, and it is shown to have several biological

activities. This study aims to describe the effects of quercetin on the contracting and

electrophysiological properties of the cardiac muscle as well as the homeostasis of intracellular

calcium. This study evaluated the inotropic effect of quercetin in guinea pigs’ left atria, its effects on

the adrenergic receptors, and on the electrocardiographic parameters. In mice ventricular

cardiomyocytes the L-type Ca2+ current (ICa,L), the intracellular Ca2+ global transient and the calcium

sparks were evaluated. The results revealed a positive inotropic effect from quercetin (EC50 3.64 x

10-6 M, n = 4) that was significantly reduced by 1 M propranolol. Furthermore, quercetin caused

diastolic relaxation (~7%). In ventricular cardiomyocytes, 30 µM quercetin increased the density of

ICa,L at 0 mV of −0.95 ± 0.01 A/F from −1.21 ± 0.08 A/F (n = 5, p < 0.05) and membrane potential at

which 50% of the channels are activated (V0.5) diminished to -13.06 ± 1.52 mV from -19.26 ± 1.72

mV (n = 5, p < 0.001) not altering the slope factor. Furthermore, cardiomyocytes exposure at 30 µM

quercetin presented [Ca2+]i transient of 4.61± 0.22 (n = 91 cells, p < 0.001) that was 28% higher

compared with control situation (3.60 ± 0.14, n = 40 cells). Quercetin also accelerated the [Ca2+]i

transient decay kinetics at 90% (t90) from 875.8 ± 13.44 ms to 740.0 ± 26.74 ms (p < 0.001) and at

50% (t50) from 253.3 ± 7.75 ms to 181.4 ± 12.67 ms (p < 0.001). In cardiomyocytes not electrically

stimulated, quercetin did not increase the frequency of calcium sparks. In isolated guinea pig heart,

quercetin increased the heart rate from 133.1 ± 5.49 bpm to 146.2 bpm ± 5.28 (n = 5, p <0.0001);

decreased the PR interval from 107.3 ± 4.69 ms to 100.3 ± 1.79 ms (n = 5, p < 0.05) and decreased

the QTc from 10.49 ± 0.048 ms to 10.23 ± 0.06 ms. The duration of the QRS complex was not

significantly changed, and there was also no evidence of the appearance of cardiac arrhythmias. Thus,

we showed that quercetin activates β-adrenergic receptors, leading to increased L-type calcium

current and intracellular calcium transient, not inducing the increase of calcium sparks or

arrhythmogenic effects.

KEYWORDS: Quercetin; calcium current; myocardial contractility, electrocardiogram

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Esquema de proteínas dos miofilamentos e linhas Z no sarcômero cardíaco. Apenas as

proteínas relevantes do sarcômero, a unidade básica contrátil do músculo cardíaco, são mostrados.

(Adaptado de Peng et al.

(2014)...................................................................................................................................................4

Figura 2. Potencial de ação (PA) cardíaco típico e suas correntes nas principais fases responsáveis

pelo PA do coração. Na parte inferior, principais correntes envolvidas no formato do PA cardíaco,

assim como as fases do PA em que elas atuam. GNA: Condutância ao íon sódio; GK: Condutância ao

íon potássio; GCa: Condutância ao íon cálcio (Nerbonne and Kass, 2005). ......................................... 8

Figura 3. Acoplamento excitação-contração (AEC) no músculo estriado cardíaco. O Ca+2 é essencial

para atividade elétrica cardíaca, é o ativador direto dos miofilamentos, induzindo a contração e

permitindo que o sangue seja propelido para as grandes artérias. Durante o potencial de ação (PA)

cardíaco, o Ca+2 entra na célula principalmente através dos canais de cálcio do tipo-L, contribuindo

para a formação do platô do PA. Além disso, existe uma contribuição, de menor significância, do

trocador Na+/Ca+2 (NCX) que, agindo no sentido reverso, ajuda a elevar os níveis intracelulares de

Ca+2 . T-tubule: túbulos-t; PLB: fosfolambam; RyR: receptores de ryanodina. (BERS, 2000, 2006;

Blaustein and Lederer, 1999). .............................................................................................................. 9

Figura 4. Spark de cálcio em célula ventricular cardíaca. As imagens foram obtidas por microscopia

confocal de varredura. Os painéis a e b mostram a relação espacial entre túbulos T (TT) revelados

com sulfrodamina B e Ca+2 spark revelado com fluo-3. O painel c mostra a superfície de “plot” do

Ca+2 spark na relação com o TT (Reproduzido de Guatimosim et al. (2002)). ................................. 10

Figura 5. Representação esquemática da organização ultra-estrutural do miócito ventricular (A) e

atrial (B). No miócito ventricular, o influxo de Ca+2 sarcolemal dispara a liberação de Ca+2 a partir de

canais de Ca+2 na membrana do retículo sarcoplasmático (RS) resultando em um aumento simultâneo

do Ca+2 no citoplasma. No miócito atrial (B), o influxo de Ca+2 sarcolemal dispara a liberação de Ca+2

do RS subsarcolemal e uma onda de liberação de Ca+2 induzida por Ca+2 propaga-se para o interior

da célula (Tanaka et al., 2003). .......................................................................................................... 12

Figura 6. Estrutura do sarcômero. As proteínas contráteis que estão envolvidas no processo de

ativação e regulação da contração estão representadas no painel superior (diástole) e no painel inferior

(sístole). Tn, troponina; S1, cabeça globular da miosina; S2, pescoço da miosina; LC1 e LC2, cadeias

leves de miosina. A haste de miosina contém a proteína C (Piazzesi and Lombardi, 1995). ............ 13

Figura 7. Ativação do receptor adrenérgico e alvos de fosforilação relevantes para o acoplamento

excitação-contração cardíaco. AC, adenilato ciclase; ACh, acetilcolina; PKA, proteína cinase A;

AKAP, proteína de ancoramento de cinase A; β-AR, receptor β -adrenérgico; M2-Rec, receptor M2-

muscarínico; PLB, fosfolambam; Reg, PKA subunidade regulatória; SR, retículo sarcoplasmático

(BERS, 2002b). .................................................................................................................................. 16

Figura 8. Estrutura molecular dos principais grupos de flavonoides ................................................ 17

Figura 9. Estrutura da quercetina que possui substituintes –OH nas posições 3, 5, 7, 3’, 4’. .......... 19

Figura 10. Divisão das espécies conforme a metodologia de estudo ................................................ 23

Figura 11. Circuito da montagem experimental para determinar a força de contração atrial. A força

atrial foi medida com um transdutor isométrico (HP FTA 10) acoplado a um amplificador (HP

8805B). Os sinais foram registrados em polígrafo (HP7754A, 7754B) e armazenados em computador

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(Dataq DI205, DI400, Windaq Pro Acquisition). O átrio foi estimulado a 1 Hz, 70 V e 1,5 ms

(Digitimer D3072, Digitimer D4030). ............................................................................................... 25

Figura 12. Protocolo para estudar a participação de receptores β-adrenérgicos no efeito inotrópico da

quercetina, em átrio de cobaia. Após estabilização de 60 min, foram feitas curvas concentração-efeito

(C-E) da quercetina (0,1 – 300 M) na ausência e presença de 1 M de propranolol, incubado por 20

min. .................................................................................................................................................... 25

Figura 13. Protocolo de pulso executado para avaliar o efeito da quercetina sobre o curso-temporal

da corrente de cálcio tipo-L (ICa,L). Esse protocolo foi repetido a cada 10 segundos. ....................... 27

Figura 14. Protocolo de pulso executado para avaliar o efeito da quercetina sobre a relação corrente-

voltagem da corrente de cálcio tipo-L (ICa,L). .................................................................................... 27

Figura 15. Imagem representativa dos principais parâmetros avaliados (Reproduzido de Campos

(2011)). ............................................................................................................................................... 28

Figura 16. Traçado representativo de um ciclo eletrocardiográfico de cobaia, evidenciando os

principais eventos elétricos, como a onda P, complexo QRS e a onda T. ......................................... 30

Figura 17. Representação esquemática do sistema de perfusão aórtica de fluxo constante do tipo

Langendorff usado para obter os sinais eletrocardiográficos e a frequência espontânea do marcapasso

dominante. UIE, unidade isoladora de estímulo. ............................................................................... 30

Figura 18. Efeito inotrópico da quercetina em átrio esquerdo de cobaia. (A) Traçados experimentais

do efeito inotrópico positivo produzido pela quercetina (painel superior) e isoproterenol (painel

inferior), (B) Curvas concentração-resposta da quercetina (CE50 3,64 x 10-6 M, n = 4) e isoproterenol

(CE50 4,15 x 10-8 M, n = 5). ................................................................................................................ 32

Figura 19. Avaliação do efeito da quercetina sobre os receptores β-adrenérgicos. (A) Traçados

representativos da contração do átrio esquerdo na situação controle (a), na presença de 300 µM de

quercetina (b) e na presença de 1µM do propranolol (c). (B) Curvas concentração-resposta da

quercetina na ausência e presença do propranolol (n = 4). ................................................................ 33

Figura 20. Avaliação do efeito da quercetina sobre a corrente de cálcio tipo-L (ICa,L) em

cardiomiócito ventricular. (A) Traçados representativos da ICa,L na situação controle (painel superior),

com 30 µM de quercetina (painel médio) e após o washout da quercetina (painel inferior). (B) Curso

temporal do pico da ICa,L, mensurada em 0 mV, mostrando aumento da corrente, sendo parcialmente

reversível após o washout. (C) ICa,L normalizada em relação ao controle mostrando o aumento da ICa,L

promovido pela quercetina (*p < 0,05 vs. Controle, n = 5). .............................................................. 34

Figura 21. Avaliação dos efeitos da quercetina sobre a corrente de cálcio tipo-L (ICa,L). (A) Traçados

representativos das ICa,L obtidas em voltagem de -40 mV a 0 mV em situação controle (painel

superior) e na presença de 30 µM de quercetina (painel inferior). (B) Curva corrente-voltagem (I-V)

de ICa,L no controle (curva preta) e com quercetina (curva cinza) (n = 5, *p < 0,05). (C) Curva da

dependência de voltagem para ativação da ICa,L e (D) V0.5 da ICa,L em situação controle (branco) e na

presença da quercetina (cinza) (**p < 0,01 vs. Controle, n = 5). ...................................................... 35

Figura 22. Efeito da quercetina sobre o transiente intracelular de Ca+2 em cardiomiócito isolado. (A)

Imagens de fluorescência (confocal ‘line-scan’) emitida por um cardiomiócito em situação controle

e após a incubação com 30 µM de quercetina (vermelho: máxima concentração de Ca+2 livre no

citoplasma; azul: mínima concentração de Ca+2 livre no citoplasma). (B) Efeito da quercetina sobre

o pico do transiente intracelular de Ca+2 (***p < 0,001 vs. Controle, n = 5)..................................... 36

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Figura 23. Efeito da quercetina sobre a cinética de decaimento do transiente intracelular de cálcio

medidos a 90% (t90, A) e a 50% (t50, B) (**p < 0,01 e *p < 0,05 vs. Controle, n = 5). ...................... 37

Figura 24. Avaliação da frequência das sparks de Ca+2 em células submetidas a 30 µM de quercetina.

(A) Imagens representativas da intensidade das sparks e (B) frequência das sparks em situação

controle (n = 16) e com 30 µM de quercetina (p > 0,05 vs. Controle, n = 33). ................................. 37

Figura 25. Alterações eletrocardiográficas promovidas pela quercetina (30 µM) em coração isolado

de cobaia. (A) Intervalo PR (PRi), (B) intervalo QT corrigido (QTc), (C) duração do complexo QRS

(QRS) e (D) Frequência cardíaca em bpm (*p < 0,05, ***p < 0,0001 vs. Controle, n = 5). ............. 38

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ECG - Eletrocardiograma

P, QRS, T, ST - Ondas do Eletrocardiograma

QTi - Intervalo QT do eletrocardiograma

QTc - Intervalo QT do eletrocardiograma corrigido

QRS - Complexo QRS do eletrocardiograma

PRi - Intervalo PR do eletrocardiograma

RS - Retículo Sarcoplasmático

CaMKII - Proteína quinase II

ICa,L - Corrente de cálcio tipo-L

ICa,T - Corrente de cálcio tipo-T

CaM - Calmodulina

PA - Potencial de ação

Cav - Canais operados por voltagem

RyR - Receptor da Rianodina

CICR - Calcium-induced calcium release

IP3 - Inositol trifosfato

AEC - Acoplamento excitação-contração

NCX - Trocador Na+/Ca2+

TT - Túbulos T

jRS - Membrana juncional

njRS - Membrana não juncional

DHPRs - Canais das diidropiridinas

[Ca+2]i – Concentração intracelular de cálcio

Tn-C - Troponina C

Tn-I - Troponina I

CLE - Cadeias leves essenciais

CLR - Cadeias leves regulatórias

SERCA - Ca+2-ATPase do retículo sarcoendoplasmático

PLB - Fosfolambam

SNA - Sistema nervoso autonômico

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SNS - Sistema nervoso simpático

SNP - Sistema nervoso parassimpático

AMPc - Adenosina monofosfato cíclico

PKA - Proteína cinase A

AC - Adenilato ciclase

CE50 - Concentração que produz 50% do seu efeito máximo

H2O2 - Peróxido de hidrogênio

ULCs - Unidades liberadoras de cálcio

DDL - Despolarização diastólica lenta

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SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................................................................... viii

ABSTRACT ....................................................................................................................................... ix

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................ x

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .................................................................................... xiii

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 3

2.1. Estrutura do cardiomiócito .................................................................................................... 3

2.2. Fisiologia do coração............................................................................................................. 4

2.3. Acoplamento excitação-contração do coração ...................................................................... 6

2.4. Receptores adrenérgicos no coração ................................................................................... 14

2.5. Flavonoides ......................................................................................................................... 17

3. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 22

3.1. Objetivo geral ...................................................................................................................... 22

3.2. Objetivos específicos ........................................................................................................... 22

4. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 23

4.1. Drogas e Reagentes ............................................................................................................. 23

4.2. Animais ............................................................................................................................... 23

4.3. Efeitos da quercetina sobre a contratilidade do átrio esquerdo de cobaia ........................... 24

4.4. Envolvimento dos receptores adrenérgicos no efeito inotrópico produzido pela quercetina

........................................................................................................................................................25

4.5. Avaliação do efeito da quercetina sobre as correntes de cálcio tipo-L (ICa,L) ..................... 26

4.6. Avaliação do efeito da quercetina sobre o curso-temporal da ICa,L .................................. 26

4.7. Avaliação do efeito da quercetina sobre a relação corrente-voltagem da ICa,L .................... 27

4.8. Efeito da quercetina sobre o transiente intracelular global de cálcio .................................. 27

4.9. Detecção e análise das Sparks ............................................................................................. 29

4.10. Efeitos da quercetina sobre o perfil eletrocardiográfico .................................................. 29

4.11. Análise estatística ............................................................................................................ 31

5. RESULTADOS...................................................................................................................... 32

6. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 39

7. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 45

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ANEXO ............................................................................................................................................. 56

Declaração do comitê de ética animal ............................................................................................ 56

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1. INTRODUÇÃO

A procura por componentes ativos presentes em plantas medicinais só começou no século

XIX, levando assim ao desenvolvimento do primeiro medicamento. Friedrich Serturner, em 1806, foi

pioneiro quando isolou a morfina, alcaloide da papoula, um evento que levou a uma contínua busca

de outros medicamentos derivados de plantas: digoxina, Runge em 1820; Atropina, Mein em 1831;

Cafeína, Nativelle em 1869; E o curare, Winstersteiner e Dutcher em 1943. O estudo para descoberta

de substâncias farmacologicamente ativas derivadas de plantas medicinais adquire importância

fundamental, pois observa-se que há necessidade por grande parte da população mundial (DUTRA et

al., 2016).

Este interesse é especialmente visto em países desenvolvidos, principalmente em alguns

países europeus e nos Estados Unidos. Estima-se que o mercado global para fitoterápicos atingiu 20

bilhões de dólares por ano. O Brasil tem uma longa tradição de medicina popular em suas diferentes

áreas geográficas e os diferentes grupos culturais. Tendo em vista a grande biodiversidade e a grande

influência ética de colonização precoce, os brasileiros têm um grande interesse no uso de

medicamentos de origem natural para tratar diferentes doenças (CALIXTO, 2000; DUTRA et al.,

2016).

No entanto. apesar da abundante biodiversidade brasileira e do grande interesse da população

no uso da medicina tradicional, atualmente o mercado de medicina herbal brasileira ainda é muito

modesto, representa apenas menos de 5% do mercado mundial, sendo o Acheflan ® (obtido do óleo

essencial da planta Cordia verbenacea) o agente fitoterápico brasileiro encontrado entre os 20

produtos mais comercializados no Brasil (DUTRA et al., 2016).

A maior parte dos fitoterápicos que são utilizados atualmente por automedicação ou por

prescrição médica não apresentam o seu perfil tóxico descrito. Em todo o mundo, apenas 17% das

plantas foram estudadas e na maioria dos casos, sem grande aprofundamento nos aspectos

fitoquímicos e farmacológicos. Desse modo, a utilização inadequada de um produto, mesmo de baixa

toxicidade, pode induzir problemas graves desde que existam outros fatores de risco, tais como

contraindicações ou uso concomitante de outros medicamentos. Desse modo, em 1994 o Ministério

da Saúde estabeleceu diretrizes para avaliar a segurança, a qualidade e a eficácia dos medicamentos

à base de plantas comercializadas (AMORIM et al., 2007; CALIXTO, 2000; CAPASSO et al., 2000;

COÊLHO, 1998; CORDEIRO et al., 2005; CRAGG e NEWMAN, 1999).

Neste contexto, os flavonoides, compostos químicos encontrados nas plantas, podem exercer

ações benéficas e/ou tóxicos sobre as células, não somente pelo seu potencial para atuarem como

antioxidantes, mas também através da modulação das cascatas de sinalização das cinases. Assim, as

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interações de flavonoides com as vias de sinalização intracelulares podem ter resultados imprevisíveis

e será dependente do tipo de célula, da doença estudada e do estímulo aplicado (WILLIAMS et al.,

2004).

A quercetina (3, 5, 7,3’-4’- pentahidroxi flavona) pertencente à subclasse flavonóis, é o

principal flavonoide presente na dieta humana e seu consumo diário estimado varia entre 50 e 500

mg. São encontradas altas concentrações de quercetina na cebola, couve, vagem, brócolis, repolho e

tomate (BEHLING et al., 2004). Já foi descrito na literatura científica que a mesma exerce diversos

efeitos biológicos, entre eles antihipertensivo sistêmico em vários modelos experimentais de

hipertensão (DUARTE et al., 2001; PEREZ-VIZCAINO e DUARTE, 2010).

Apesar dos estudos envolvendo a quercetina, pouco se sabe sobre seu mecanismo de ação em

coração de mamífero, principalmente seus efeitos intracelulares envolvendo a homeostasia do cálcio

intracelular. Desse modo, torna-se pertinente o estudo do mecanismo de ação deste flavonoide, diante

do seu consumo e potencial terapêutico.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Estrutura do cardiomiócito

Os cardiomiócitos são necessários para que ocorra uma contração em harmonia, a fim de

fornecer uma ação de bombeamento eficaz que possa garantir uma adequada perfusão sanguínea dos

vários tecidos e órgãos (WOODCOCK e MATKOVICH, 2005).

O cardiomiócito ventricular de mamífero possui um comprimento de aproximadamente 100-

150 μm, largura entre 10-20 μm e altura de 10 μm (GUATIMOSIM et al., 2002). O músculo cardíaco,

visto ao microscópio óptico, apresenta um padrão regular de estriações transversas, semelhante às

células do músculo esquelético (MCNUTT, 1975). Na Fig.1, observamos a disposição das linhas Z

que são responsáveis pelo padrão estriado do sarcômero. A estrutura compreendida entre duas linhas

Z denomina-se sarcômero. Cada um deles possui fisiologia e microanatomia que se assemelha, e por

esse motivo ele é considerado a unidade funcional do sistema de miofilamentos capaz de gerar força

no músculo (GUATIMOSIM et al., 2002).

Existem duas bandas entre as linhas Z, a banda I e a banda A. Podemos observar na Fig. 1,

que na região central da banda I há uma linha Z onde os miofilamentos finos (70 Å) de actina-F se

interconectam. A banda A, é formada por filamentos de actina e miosina sobrepostos. Dentro desta

banda existe uma região mediana, a zona H, que é constituída de filamentos grossos (150 Å)

(FAWCETT e MCNUTT, 1969; MCNUTT, 1975; MCNUTT e FAWCETT, 1969).

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Figura 1. Esquema de proteínas dos miofilamentos e linhas Z no sarcômero cardíaco. Apenas as

proteínas relevantes do sarcômero, a unidade básica contrátil do músculo cardíaco, são mostrados.

(Adaptado de Peng et al. (2014)).

2.2. Fisiologia do coração

O coração é dividido em duas partes: o ápice, que contém as paredes ventriculares; e a base,

a qual contém a maioria das artérias e veias que permitem a entrada e saída de sangue. A circulação

coronariana, responsável pelo fluxo sanguíneo que irriga as células cardíacas, também é um

importante aspecto da fisiologia do órgão (WAYNE et al., 1998).

A atividade contrátil do coração impulsiona o sangue através do corpo, proporcionando a

distribuição de nutrientes e o direcionamento de resíduos do metabolismo para os sistemas excretores.

Estas funções de transporte são possíveis graças à atividade contrátil do coração, órgão que pode ser

entendido como uma bomba muscular oca, provida de válvulas dinâmicas, que move o sangue através

de um circuito contínuo, denominado circulação sanguínea (KATZ, 2001). Para que isso ocorra é

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necessário que haja propagação de ondas elétricas por todo tecido cardíaco promovendo a contração

das fibras miocárdicas permitindo o funcionamento eficiente da bomba cardíaca (CONDE -

GARCIA, 2002). Tal sistema é composto pelo nodo sino-atrial, pelas vias atriais internodais, pelo

nodo atrioventricular, pelo fascículo atrioventricular e suas ramificações, e pelo sistema do miócito

condutor cardíaco. O início do sinal elétrico se dá no nodo sinoatrial, que é um conjunto de células

especializadas localizadas próximo à desembocadura da veia cava superior. Este nodo é, no coração

normal, o local onde se origina a atividade elétrica cardíaca espontânea. Por isso, é chamado de

marca-passo cardíaco (CARVALHO ET AL., 1999; CONDE - GARCIA, 2002). As demais partes

são responsáveis pela condução desse sinal por todo o órgão. Por esse motivo, as células miocárdicas

possuem fisiologia adaptada à geração e condução de sinais elétricos, em detrimento da função

contrátil, sendo dividido em duas fases: diástole e sístole (KATZ, 2001).

No coração existem dois sincícios musculares distintos. Um deles corresponde ao músculo

cardíaco que forma a parede dos átrios e o outro corresponde ao músculo cardíaco que forma a parede

dos ventrículos (GUYTON, 2006). No músculo cardíaco quando é aplicado um estímulo a qualquer

parte desse músculo, o resultado é uma onda de excitação que se propaga por todo o tecido miocárdico

(KOEPPEN e STANTON, 2009; CONDE - GARCIA, 2002).

Há um sincronismo entre as células que fazem com que a comunicação elétrica seja eficiente.

Foi observado que, quando essas células se tocavam o valor da resistência era alto (100 MΩ) e quando

elas contraíam ao mesmo tempo, a resistência caía (20 MΩ). Dessa forma, confirmou-se que a baixa

impedância existente entre as células tornava a comunicação entre elas eficiente (CLAPHAM, 1980).

A onda resultante da atividade elétrica das células excitáveis cardíacas é capaz de gerar um

campo elétrico que se propaga pelas estruturas corpóreas, sendo sua atividade passível de mensuração

na superfície corpórea. Essa onda resultante medida na superfície corpórea é conhecida como

eletrocardiograma (ECG), que apresenta o formato determinado por eventos elétricos regionais do

coração (AZEVEDO, 1999).

A onda P está associada à ativação do nodo sinoatrial e a despolarização do átrio direito e

esquerdo. O intervalo PRi é a ponte temporal entre a ativação atrial e a ativação ventricular. Durante

esse período ocorre a ativação do nodo átrioventricular, do fascículo atrioventricular, dos ramos do

feixe e do sistema de condução especializado intraventricular, constituído principalmente pelos

miócitos condutor cardíaco. É importante destacar que nesse intervalo também ocorre a repolarização

do átrio, onda que fica mascarada pelos demais eventos que ocorrem de forma simultânea. O

complexo QRS está intimamente associado à despolarização dos miócitos ventriculares. Já o

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segmento ST tem íntima relação com a repolarização das células do ventrículo direito e esquerdo

(BONOW, 2013).

2.3. Acoplamento excitação-contração do coração

O acoplamento excitação-contração do coração é o processo que ocorre desde a

despolarização da membrana excitável até a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático (RS) e a

contração da célula muscular (BERS, 2002b). Para que ocorra a despolarização, são necessários

potenciais elétricos, sendo esses gerados na membrana das células e dependentes de correntes iônicas.

Essas correntes atravessam a membrana e transportam íons como: sódio, cálcio, potássio, entre outros

(CONDE - GARCIA, 2002).

Esses íons atravessam o sarcolema através de canais iônicos existentes na membrana e que

possuem seletividade variada. Existem várias isoformas de canais iônicos operados por voltagem e,

a grande maioria, possui uma subunidade alfa responsável pela formação do canal. Essa subunidade

possui 4 domínios homólogos, de I a IV, e cada domínio possui 6 α-hélices que atravessam a

membrana, de S1 a S6. No segmento quatro (S4) há o sensor de voltagem, esta característica é a

principal na identificação da família desses canais. Existe uma alça entre os segmentos S5 e S6 que

forma o canal e o filtro seletivo, este é responsável pela propriedade de especificidade do canal, como

por exemplo, qual o íon será transportado por ele. Esses canais ainda possuem outras subunidades

que permitem que haja a modulação do canal (CONDE - GARCIA, 2002; HILLE, 2001; YANG e

HORN, 1995).

Os canais para cálcio (Ca+2) possuem importância fundamental para o inotropismo do coração.

No coração, existem dois tipos de canais para Ca+2, canal para Ca+2 tipo-L e tipo-T. O canal para Ca+2

tipo-L (large conductance) foi denominado assim por possuir alta condutância (25 pS), abertura do

canal com longa duração e ativação em voltagens mais positivas. O canal para Ca+2 tipo-T caracteriza-

se por possuir uma baixa condutância (8 pS), abertura transitória do canal e ativação em voltagens

mais negativas (BERS, 2002b; NOWYCKY et al., 1985).

O influxo de Ca+2 nos cardiomiócitos provoca vários processos fazendo parte da regulação da

contração da célula e também participa do processo de regulação da expressão gênica celular

(BENITAH et al., 2010). Os canais para Ca+2 tipo-L são os canais que predominam em pequenos

roedores. Existem diversas subunidades que funcionam como regulatórias ou auxiliares nessa família

de canais, que são: α2δ, β2 e γ. Há três subfamílias de canais para Ca+2 tipo-L (Cavα1, Cavα2 e

Cavα3). Dentro da subfamília Cavα1, existem 4 tipos de proteínas que podem ser expressas (Cav1.1,

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Cav1.2, Cav1.3 e Cav1.4). Todos esses canais produzem a ICa,L. No cardiomiócito, a principal família

que gera a ICa,L é a que tem o fenótipo correspondente a Cav1.2 α1C. As proteínas responsáveis pela

expressão da corrente de Ca+2 tipo-T (ICa,T) são as Cav3.1 e Cav3.2. Na literatura, ainda há

divergências em relação a essa subdivisão (NERBONNE, 2005).

Em canais para cálcio tipo-L, a calmodulina (CaM) atua como mediador da inativação da ICa,L

agindo sobre esses sítios na região carboxi terminal da subunidade α1C. Quando os canais para Ca+2

estão abertos, o Ca+2 que entra e o Ca+2 que é liberado do RS, se ligam à CaM que interage com a

região IQ (modula a inativação do canal), produzindo sua inativação. A CaM dependente de proteína

quinase II (CaMKII) também faz parte do processo de regulação da ICa,L (BERS, 2002b).

A CaM é um crítico mensageiro que participa da sinalização de vários eventos que ocorrem

na célula. A interação Ca+2-CaM regula proteínas envolvidas no transporte de Ca+2, em canais iônicos,

na contração celular, no metabolismo celular, na expressão gênica, na expressão de proteínas quinases

e na proliferação celular. A CaM se liga a quatro íons Ca+2, e os domínios de ligação I e II possuem

maior afinidade para o Ca+2 do que o III e IV. Os sítios de ligação para o Ca+2 quando a célula está

no repouso, estão desocupados, mas quando a célula contrai os níveis de Ca+2 aumentam. Como

consequência, a CaM muda o seu estado conformacional, se liga ao Ca+2 e se torna ativa para se ligar

a proteínas alvo com alta afinidade (BERS, 2002b; MAIER e BERS, 2002).

A maior parte do Ca+2 que entra no miócito cardíaco durante a contração, ocorre através da

ICa,L. A inativação da ICa,L depende muito do aumento de Ca+2 na célula, que pode ocorrer pelo influxo

deste e pela sua liberação no citosol através do RS. Como a inativação do canal depende da

concentração de Ca+2 é provável que com a entrada desse íon haja uma sinalização direta no canal.

Essa inativação dependente de Ca+2 gera um mecanismo de “feedback” que limita o influxo de Ca+2

na célula através da ICa,L (BERS, 2001).

A ICa,L é a corrente de maior magnitude no miocárdio, sendo que a ICa,T, como já foi dito,

encontra-se em menor magnitude. A ICa,L está envolvida em dois importantes eventos que acontecem

no coração: o primeiro evento se caracteriza pela sua contribuição na manutenção do platô do

potencial de ação (PA) cardíaco e o segundo evento acontece quando a corrente de entrada de Ca+2

dispara a liberação de Ca+2 do RS. Esse Ca+2 que é liberado no citosol ativa os miofilamentos

(RODEN et al., 2002).

Para que ocorra o PA é necessário que ocorra uma diferença de potencial entre os lados da

membrana de uma célula miocárdica atrial ou ventricular até que atinja o potencial limiar, os canais

rápidos para sódio (Na+), inicialmente fechados, começam a abrir-se rapidamente permitindo que este

íon se mova do meio externo, onde está mais concentrado, para o meio intracelular. Esse rápido

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influxo de Na+ promove uma despolarização rápida e o potencial elétrico do interior da célula acaba

por inverter sua polaridade, deixando de ser negativo (fase de repouso) para se tornar positivo (fase

0). O influxo de Na+ é limitado pela própria despolarização celular, pois, neste tipo de canal, ocorre

um processo de inativação. No final da fase 0, ocorre diminuição da condutância da membrana ao

potássio (K+) através dos canais K1 ou Kir (inward rectifier channel). Durante a fase seguinte (fase

1), acontece uma repolarização parcial da célula que se deve ao efluxo de K+ através dos canais Kto

(transient outward channel) e ao influxo de íons cloro (Cl-). Na fase 2, também chamada de platô,

ocorre o influxo de Ca+2 que passa pelo canal de cálcio tipo-L existente na membrana celular. A

voltagem limiar para a abertura destes canais está em torno de -40 a -50 mV. Ainda na fase 2, os

canais K1 permanecem com baixa condutância ao K+, permitindo que a célula se mantenha

despolarizada. Somente na fase 3, a condutância global ao K+ volta a aumentar, ocorrendo efluxo de

K+ permitindo a repolarização da célula (KOEPPEN e STANTON, 2009; CONDE - GARCIA, 2002)

(Fig. 2).

Figura 2. Potencial de ação (PA) cardíaco típico e suas correntes nas principais fases responsáveis

pelo PA do coração. Na parte inferior, principais correntes envolvidas no formato do PA cardíaco,

assim como as fases do PA em que elas atuam. GNA: Condutância ao íon sódio; GK: Condutância ao

íon potássio; GCa: Condutância ao íon cálcio (NERBONNE e KASS, 2005).

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Na fase 2 do PA o Ca+2 penetra nas células através de canais de cálcio tipo-L e tipo-T, ambos

operados por voltagem (VOCs) “voltage-operated channels” (KOEPPEN e STANTON, 2009; DE

PAOLI et al., 2002). O aumento do Ca+2 intracelular estimula a abertura de canais liberadores de Ca+2

no receptor da rianodina (RyR) existentes na membrana do RS (Fig. 3), um processo denominado de

liberação de cálcio induzida por cálcio (CICR), “calcium-induced calcium release” (FABIATO,

1983). Três diferentes genes (ryr1, ryr2 e ryr3) expressam diferentes isoformas do RyR, estando

presente no coração a isoforma do tipo 2 (RyR2). O RyR1 é o principal canal liberador de cálcio do

RS no músculo estriado (SAMSÓ e WAGENKNECHT, 1998), seguido do canal para Ca+2 ativado

pelo IP3 (OGAWA, 2008).

Uma característica importante do mecanismo de CICR é a sua capacidade para amplificar a

informação recebida, pois uma pequena entrada de Ca+2 na célula leva a uma grande elevação do Ca+2

citosólico. A elevação do Ca+2 no citoplasma contribui para que, num mecanismo de “feedback”

positivo, ocorra uma maior ativação dos RyRs, elevando, assim, rapidamente a concentração de Ca+2

intracelular livre (NIGGLI, 1999).

Figura 3. Acoplamento excitação-contração (AEC) no músculo estriado cardíaco. O Ca+2 é essencial

para atividade elétrica cardíaca, é o ativador direto dos miofilamentos, induzindo a contração e

permitindo que o sangue seja propelido para as grandes artérias. Durante o potencial de ação (PA)

cardíaco, o Ca+2 entra na célula principalmente através dos canais de cálcio do tipo-L, contribuindo

para a formação do platô do PA. Além disso, existe uma contribuição, de menor significância, do

trocador Na+/Ca+2 (NCX) que, agindo no sentido reverso, ajuda a elevar os níveis intracelulares de

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Ca+2 . T-tubule: túbulos-t; PLB: fosfolambam; RyR: receptores de ryanodina. (BERS, 2000, 2006;

BLAUSTEIN e LEDERER, 1999).

A liberação de Ca+2 do RS no músculo cardíaco que pode ser detectada por técnicas de

fluorescência, é chamada de cálcio spark (BERS, 1991; GUATIMOSIM et al., 2002; NIGGLI, 1999;

RODRIGO et al., 2012). A spark de cálcio (Fig. 4) foi inicialmente observada com auxílio da

microscopia confocal dotada de varredura a laser e com o uso de indicadores fluorescentes sensíveis

ao Ca+2. Com esta técnica, foi possível mapear alguns eventos fundamentais do processo de liberação

do cálcio estocado no RS (NIGGLI, 1999). A spark de Ca+2 é caracterizada por uma duração muito

curta (20 a 50 ms) e apresenta uma distribuição espacial limitada (1,5 a 2 µm). Durante este evento,

a concentração local de Ca+2 aumenta muito rapidamente e, em cerca de 10 ms, alcança uma

concentração de pico de 200 nM. A spark desaparece mais lentamente, pois em 20 ms, o sinal óptico

decai para 50% do seu valor máximo (GUATIMOSIM et al., 2002; (BERS, 1991; GUATIMOSIM et

al., 2002; NIGGLI, 1999; RODRIGO et al., 2012).

Figura 4. Spark de cálcio em célula ventricular cardíaca. As imagens foram obtidas por microscopia

confocal de varredura. Os painéis a e b mostram a relação espacial entre túbulos T (TT) revelados

com sulfrodamina B e Ca+2 spark revelado com fluo-3. O painel c mostra a superfície de “plot” do

Ca+2 spark na relação com o TT (Reproduzido de Guatimosim et al. (2002)).

As mitocôndrias respondem à elevação do Ca+2 intracelular e contribuem para a regulação

espacial e temporal dos níveis citoplasmáticos deste íon, sobretudo durante os picos dos transientes

de cálcio intracelular livre. Por conseguinte, a mitocôndria está também envolvida na recaptação e na

liberação do cálcio intracelular, contribuindo assim para a recarga de Ca+2 existente no RS. A

homeostase mitocondrial de Ca+2 é complexa e regulada por numerosos canais para Ca+2, bombas e

trocadores (GRAIER et al., 2007). Além de gerar energia para a contração muscular, as mitocôndrias

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possuem um papel direto, ainda que pequeno, no acoplamento excitação-contração da célula

miocárdica.

O processo de AEC apresenta-se de forma diferente nas células atriais e ventriculares. As

células ventriculares evocam o processo de CICR no RS através da entrada de Ca+2 por canais do

tipo-L localizados nos TT. Tais estruturas, garantem uma íntima conexão entre os canais do tipo-L e

os RyR, permitindo haver uma liberação mais uniforme de cálcio (BLATTER et al., 2003).

Nos miócitos atriais, o mecanismo de AEC e a regulação da concentração intracelular de Ca+2

parece ser um evento mais complexo. Estudos ultra-estruturais mostraram a ausência de TT nas

células atriais. Além disto, dois tipos de membrana do RS foram identificados: um deles situado

perifericamente, isto é, voltado para o sarcolema (membrana juncional – jRS) e que está em íntima

associação com a membrana plasmática e outro localizado mais para o centro da célula, este chamado

de membrana não-juncional do RS (njRS). Os RyRs estão ancorados nos dois tipos de membrana do

RS e, provavelmente, participam do AEC. Devido ao padrão ultra-estrutural do RS atrial, a elevação

da concentração intracelular do Ca+2 durante o AEC não é uniforme, mas aumenta progressivamente

a partir da região submembranar, em direção ao centro do miócito. Com o auxílio da microscopia

confocal, foi possível registrar um transiente de Ca+2 intracelular em forma de U, indicado que

primeiramente há um aumento de Ca+2 na periferia da célula antes que ele se propague para o citosol

(Fig. 5) (MCNUTT, 1975; TANAKA et al., 2001).

Tanto no sarcolema, quanto nos TT, existem canais iônicos, proteínas receptoras, trocadores

iônicos e outras estruturas especializadas. Os canais para Na+, canais para K+ e bombas de Na+/K+

são mais abundantes no sarcolema do que nos TT do músculo esquelético. Por outro lado, a densidade

de canais para cálcio operados por voltagem (como os canais das diidropiridinas – DHPRs, também

chamados de canais para cálcio tipo-L) é quatro vezes maior nos TT do que no sarcolema. A

distribuição de canais para cálcio ao longo da membrana plasmática, não é uniforme, ao estudar a

membrana de células miocárdicas de coelho, observou que nela existia uma alta concentração de

receptores das DHPRs nos TT, quando comparada à concentração existente no sarcolema (BERS,

2002b; PALADE e ALMERS, 1985).

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Figura 5. Representação esquemática da organização ultra-estrutural do miócito ventricular (A) e

atrial (B). No miócito ventricular, o influxo de Ca+2 sarcolemal dispara a liberação de Ca+2 a partir de

canais de Ca+2 na membrana do retículo sarcoplasmático (RS) resultando em um aumento simultâneo

do Ca+2 no citoplasma. No miócito atrial (B), o influxo de Ca+2 sarcolemal dispara a liberação de Ca+2

do RS subsarcolemal e uma onda de liberação de Ca+2 induzida por Ca+2 propaga-se para o interior

da célula (TANAKA et al., 2003).

O conjunto formado pelo TT com as cisternas dos RS que se dispõem à sua volta, é conhecido

como tríade. Ao conjunto formado pelo TT com uma das cisternas do RS, denomina-se de díade. As

díades são consideradas unidades funcionais para o processo AEC do músculo cardíaco

(GUATIMOSIM et al., 2002; SUN et al., 1995).

A junção diádica é representada pela membrana sarcolemal do TT, pela fenda diádica e pela

cisterna do RS. Nesta estrutura, estão os couplons formados por 10 a 25 DHPR situados no sarcolema

e que estão posicionados em frente a 100 RyR, estes localizados na membrana do RS. Esta proporção

cria uma margem de segurança para garantir que cada couplon desenvolva a liberação de Ca+2 dos

estoques intracelulares, quando for solicitado pela despolarização da membrana celular (FRANZINI-

ARMSTRONG et al., 1999; GATHERCOLE et al., 2000).

A contratilidade celular cardíaca é governada por um rígido controle da concentração de cálcio

intracelular ([Ca+2]i). A contração cardíaca está intimamente associada a proteínas como a

tropomiosina (68 kD), uma molécula longa que está posicionada no sulco da dupla hélice de actina

(42 kD). Outra é a troponina (80 a 90 kD), um complexo de três polipeptídios: 1) troponina C (Tn-

C), que é o sítio de ligação para o Ca+2; 2) troponina I (Tn-I), que cobre o sítio que permite a interação

da actina com a miosina e 3) troponina T (Tn-T), que é uma proteína que se liga fortemente à

tropomiosina (BERS, 1991; DE TOMBE, 2003).

A B

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A miosina é uma proteína composta por seis cadeias polipeptídicas. Ela possui duas cadeias

pesadas e quatro cadeias leves. Essas últimas são denominadas de cadeias leves essenciais (CLE) e

cadeias leves regulatórias (CLR). A região amino-terminal de cada cadeia pesada é responsável pela

formação de uma cabeça globular alongada, e a ela se ligam uma subunidade leve e uma regulatória.

A metade carboxi-terminal é responsável pela formação de uma cauda em α-hélice que é longa,

fibrilar e que se associa em pares em forma de espiral enrolada (PIAZZESI e LOMBARDI, 1995;

VOET e PRATT, 2008) (Fig. 6).

Figura 6. Estrutura do sarcômero. As proteínas contráteis que estão envolvidas no processo de

ativação e regulação da contração estão representadas no painel superior (diástole) e no painel inferior

(sístole). Tn, troponina; S1, cabeça globular da miosina; S2, pescoço da miosina; LC1 e LC2, cadeias

leves de miosina. A haste de miosina contém a proteína C (PIAZZESI e LOMBARDI, 1995).

Após a contração muscular, os músculos retornam à sua condição inicial, processo conhecido

com relaxamento muscular. Do ponto de vista fisiológico, o relaxamento rápido e completo é um pré-

requisito para a adaptação cardíaca a mudanças nas condições de carga, estimulação inotrópica ou

alteração na frequência cardíaca. Para que o relaxamento da fibra muscular ocorra, é necessário que

a concentração intracelular de Ca+2 diminua para os valores de repouso (BERS, 2002a).

Esse processo é iniciado pela dissociação do Ca+2 dos miofilamentos e pela diminuição de sua

concentração no citosol. São cinco os principais mecanismos de remoção do cálcio do citosol: 1)

ativação da Ca+2-ATPase do retículo sarcoendoplasmático (SERCA) na membrana do RS, que

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promove a recaptação do Ca+2 para o lúmen do RS; 2) ativação da Ca+2-ATPase do sarcolema, que

bombeia este íon para o meio extracelular; 3) o trocador Na+/Ca+2 (NCX) presente na membrana

celular, que, utilizando a energia proveniente do gradiente eletroquímico do íon sódio, transporta três

íons Na+ para o meio intracelular e um íon Ca+2 no sentido inverso. Tal mecanismo pode operar

também em sentido reverso. Este sistema contribui tanto para a elevação quanto para a diminuição

da concentração do Ca+2 livre intracelular, modulando a intensidade da contração ou a velocidade do

relaxamento; 4) inativação dos canais de Ca+2 do tipo-L (DHPRs), que ocorre com a repolarização

celular, impedindo o influxo deste íon para o sarcoplasma; 5) sistema uniporte mitocondrial que

remove o Ca+2 do sarcoplasma, sequestrando-o no interior das mitocôndrias, porém a contribuição

deste sistema para o relaxamento é pequena (BERS, 2006; CHEMLA et al., 2000; MAACK e

O'ROURKE, 2007).

A SERCA está presente na membrana do RS, sendo responsável pela remoção da maior fração

do Ca+2 citoplasmático para o lúmen do retículo. Sua ativação é regulada pelo fosfolambam (PLB), o

qual, em estado desfosforilado, inibe a SERCA. Assim, a fosforilação do PLB acelera a captação de

Ca+2 pelo RS (BERS, 2002b; ORCHARD e BRETTE, 2008).

A mitocôndria possui um sistema uniporte de íons Ca+2 que serve para capturar o íon para o

interior da organela, contribuindo, assim, para reduzir sua concentração citoplasmática e, por isso,

para o relaxamento da célula muscular cardíaca. Esta contribuição, contudo, é de 1 a 3% do total de

íons Ca+2 que são recaptados durante o relaxamento muscular (BERS, 2002b).

No interior do RS, pode-se encontrar uma proteína que apresenta alta capacidade e baixa

afinidade para se ligar aos íons Ca+2. Ela é conhecida como calsequestrina e uma das suas funções é

minimizar a energia necessária para o bombeamento dos íons cálcio para o interior do RS (BERS,

2002a; BERS et al., 1985).

2.4. Receptores adrenérgicos no coração

O sistema nervoso autonômico (SNA) constitui o componente eferente do sistema nervoso

visceral. Possui duas divisões: o Sistema Nervoso Simpático (SNS) e Sistema Nervoso

Parassimpático (SNP). O SNA é capaz de induzir alguns efeitos em tecidos e órgãos de todo o corpo,

incluindo a contração do músculo liso ou relaxamento, alteração da atividade do miocárdio, e

aumento ou diminuição da secreção glandular. Esses efeitos são devido a existência de três

substâncias, a acetilcolina, noradrenalina e adrenalina. O efeito causado por qualquer destas

substâncias é determinado pela distribuição do receptor num tecido particular e as propriedades

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bioquímicas das células, especificamente, os segundos mensageiros e enzimas presentes no interior

da célula (MACHADO e HAERTE, 2013; MCCORRY, 2007).

Existem 2 classes de receptores adrenérgicos para norepinefrina e epinefrina: alfa (α) e beta

(β). Além disso, há pelo menos 2 subtipos de receptores em cada classe: α1, α2, β1 e β2. Todos estes

receptores estão ligados a proteínas G e sistemas de segundo mensageiro que realizam os efeitos

intracelulares. Os receptores α são os mais abundantes dos receptores adrenérgicos. Dos 2 subtipos,

os receptores α1 são mais amplamente distribuídos nos tecidos efetores. A estimulação do receptor α

conduz a um aumento do cálcio intracelular. Como resultado, ocorre a contração do músculo liso dos

vasos sanguíneos, resultando em vasoconstrição e aumento da secreção glandular. Em comparação

com os receptores α1, os receptores α2 apresentam uma distribuição moderada sobre os tecidos

efetores. A estimulação dos receptores α2 causa uma diminuição do AMPc e, por conseguinte, os

efeitos inibidores, tais como relaxamento do músculo liso e a diminuição da secreção glandular.

Ambos os receptores α1 e α2 possuem igual afinidade para a norepinefrina liberada diretamente de

neurônios simpáticos, bem como a epinefrina liberada a partir da medula adrenal na circulação

(BOUSQUET et al., 1984; LOHSE et al., 2003; MADAMANCHI, 2007; MARKS, 2003;

MCCORRY, 2007).

Por outro lado, a estimulação de cada tipo de receptor β leva a um aumento da adenosina

monofosfato cíclico (AMPc) intracelular. Isto resulta em uma resposta excitatória ou inibitória, que

depende do tipo da célula. O receptor β2 é o subtipo mais comum sobre os tecidos efetores. A

estimulação de receptores β2 tende a ser inibitória, relaxamento do músculo liso vascular e músculo

liso das vias aéreas, resultando em vasodilatação e broncodilatação, respectivamente. Os receptores

β2 tem uma afinidade significativamente maior para a epinefrina em relação a norepinefrina. Os

receptores β1 possui função adrenérgica primária sobre o coração (pequena percentagem dos

receptores adrenérgicos no miocárdio são β2). Ambos os subtipos de receptores β promovem

estimulação excitatória sobre o coração resultando em aumento da atividade cardíaca. Os receptores

β3 estão presentes no coração de humanos, mas são predominantes no tecido adiposo e são

responsáveis pelos efeitos inotrópicos negativos das catecolaminas e devem estar envolvidos no

mecanismo patofisiológico que leva a insuficiência cardíaca. A estimulação desse receptor induz

inotropismo negativo que está associado a liberação do óxido nítrico por ativação da óxido nítrico

sintase (GAUTHIER et al., 1998; MADAMANCHI, 2007; MCCORRY, 2007).

A estimulação fisiológica simpática no coração através dos receptores β-adrenérgicos

promove aumento da contratilidade (inotropismo positivo), acelera o relaxamento (lusitropismo) e

diminui a concentração intracelular de cálcio [Ca+2]i (Fig. 7). Com a estimulação dos receptores β-

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adrenérgicos ocorre a ativação da proteína de ligação ao GTP (GS), que estimula a adenilato ciclase

(AC) para produzir AMPc, o que por sua vez ativa a PKA (proteína cinase A). Esta cinase fosforila

várias proteínas relacionadas ao acoplamento excitação-contração, entre elas: fosfolambam, canais

para cálcio tipo-L, RyR e troponina I (BERS, 2002b).

O efeito lusitrópico mediado pela PKA é devido a fosforilação da fosfolambam e troponina I,

que aceleram a reabsorção do cálcio pelo RS e a dissociação do cálcio dos miofilamentos,

respectivamente. No entanto, a fosforilação da fosfolambam é o mecanismo dominante para o efeito

lusitrópico e para a aceleração do declínio do [Ca+2]i (KENTISH et al., 2001).

O efeito inotrópico da ativação da PKA é mediado pela combinação do aumento da ICa e maior

disponibilidade do Ca+2 do RS. Esse sinergismo aumenta a amplitude do transiente de Ca+2, e

compensa a redução da sensibilidade dos miofilamentos ao Ca+2. O efeito depressor da PKA nos

miofilamentos parece ser devido a fosforilação da troponina I (KENTISH et al., 2001; SONG et al.,

2001; VIATCHENKO-KARPINSKI e GYÖRKE, 2001).

A PKA também pode modular a probabilidade de abertura dos RyR. O RyR cardíaco é um

alvo da PKA (onde PKA e fosfatases 1 e 2A são todos ligados ao RyR através de proteínas de

ancoragem). A proximidade física pode ser funcionalmente essencial. A ativação dos receptores β1-

adrenérgicos em miócitos ventriculares produz efeitos inotrópico e lusitrópico, paralelamente pela

fosforilação dos canais para cálcio, fosfolambam e troponina I (BERS, 1991, 2002a; LI, 2002).

Figura 7. Ativação do receptor adrenérgico e alvos de fosforilação relevantes para o acoplamento

excitação-contração cardíaco. AC, adenilato ciclase; ACh, acetilcolina; PKA, proteína cinase A;

AKAP, proteína de ancoramento de cinase A; β-AR, receptor β -adrenérgico; M2-Rec, receptor M2-

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muscarínico; PLB, fosfolambam; Reg, PKA subunidade regulatória; SR, retículo sarcoplasmático

(BERS, 2002b).

2.5. Flavonoides

Os flavonoides constituem uma grande classe de polifenóis encontrados naturalmente em

certas frutas, vegetais, chás, vinhos, nozes, sementes e raízes. A estrutura molecular dos 4 grupos

principais de flavonoides é observada na Fig. 8 (ELLINGER et al., 2012; NIJVELDT et al., 2001).

Albert Szent-Gyorgi descobriu uma sinergia entre a vitamina C pura e cofatores ainda não

identificados a partir da casca de limão, que foi chamado de "Citrin", e, depois, " vitamina P "

(SANDHAR et al., 2011). Quando se tornou claro que esta substância era um flavonoide (rutina),

várias pesquisas começaram, com o objetivo de isolar os flavonoides e estudar o mecanismo de ação.

As pesquisas sobre flavonoides receberam um impulso adicional com a descoberta do paradoxo

francês, ou seja, a baixa taxa de mortalidade cardiovascular observada em populações do

Mediterrâneo, em associação com o consumo de vinho tinto e uma alta ingestão de gordura saturada.

Os flavonoides no vinho tinto são responsáveis, pelo menos em parte, por este efeito (FORMICA e

REGELSON, 1995).

Figura 8. Estrutura molecular dos principais grupos de flavonoides

FLAVONA FLAVANONAS

CATEQUINA ANTOCIANINAS

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Várias funções nutricionais dessas substâncias têm sido descritas como modificadores de

respostas biológicas. Muitos compostos fenólicos de origem vegetal, especialmente os flavonoides,

possuem propriedades anti-inflamatórias, anticancerígenas, antiarrítmicas, elevada capacidade

antioxidante em sistemas in vivo e in vitro, anti-hipertensiva, melhora os danos teciduais do infarto

agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca. O número de moléculas isoladas e caracterizadas

continua a aumentar. Diante disso, os compostos naturais são definitivamente valiosos para a

descoberta de medicamentos e a importância atual de drogas de origem natural é indiscutível

(ELLINGER et al., 2012; NETZEL et al., 2002; ORHAN, 2014; PEREZ-VIZCAINO e DUARTE,

2010; PÉREZ-VIZCAÍNO et al., 2002; RICE-EVANS et al., 1995; SANDHAR et al., 2011;

WALLACE et al., 2006; WILLETT, 2002; ZHANG et al., 2008).

A maioria dos flavonoides têm alguns efeitos potencialmente positivos sobre o sistema

cardiovascular, embora os alvos farmacológicos finais diferem significativamente entre os vários

flavonoides. Além dos efeitos diretos antioxidantes, tradicionalmente indicados envolvendo tanto a

atividade de eliminação direta e transitória quelante de metais, diferentes flavonoides possuem um

complexo de atividades úteis para combater as doenças do sistema cardiovascular (MLADENKA et

al., 2010).

Há uma grande quantidade de provas a partir de estudos epidemiológicos que a administração

a longo prazo de flavonoides pode diminuir, ou, pelo menos, tendem a diminuir a incidência de

doenças cardiovasculares e as suas consequências (GELEIJNSE et al., 2002; HERTOG et al., 1993;

KNEKT et al., 2002; MENNEN et al., 2004; RIMM et al., 1996; SESSO et al., 2003).

A quercetina (3, 5, 7,3’-4’- pentahidroxi flavona) (Fig. 9) é um flavonoide de origem natural

encontrado principalmente nas plantas, em uma grande variedade de frutas, verduras, vinho tinto e

chás. Na dieta humana, a quercetina é o principal flavonoide encontrado sendo o seu consumo diário

estimado entre aproximadamente 50 e 500 mg. São encontradas altas concentrações de quercetina em

cebola, couve, vagem, brócolis, repolho e tomate (BEHLING et al., 2004; KAUR e KAPOOR, 2008;

KELLY, 2011). Esse flavonoide foi identificada pela primeira vez como vitamina P e, juntamente

com a vitamina C, teve sua ação comprovada na manutenção da resistência e da integridade da parede

dos capilares sanguíneos. Subsequentemente, diversos registros confirmaram as propriedades

farmacológicas da quercetina que a faz atuar de forma benéfica sobre os sistemas biológicos. Foram

relatadas atividades anti-hipertensiva, antiarrítmica, hipocolesterolêmica, anti-hepatoxicicidade,

anticarcinogênica, antiviral, antiulcerogênica, antitrombótica, anti-isquêmica, anti-inflamatória,

antialérgica e antioxidante (BEHLING et al., 2004; FORMICA, 1995).

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Figura 9. Estrutura molecular da quercetina as posições 3, 5, 7, 3’, 4’ possuem constituintes OH

Os estudos do mecanismo de ação da quercetina sobre o sistema cardiovascular estão

evidentes na literatura cientifica, mostrando que a quercetina apresenta várias atividades biológicas.

Podemos citar como exemplo, que em ratos espontaneamente hipertensos (SHR), a quercetina induziu

uma redução significativa da pressão arterial (sistólica, - 18%, diastólica - 23% e média - 21%), da

frequência cardíaca (- 12%) e redução da hipertrofia cardíaca e renal. Nas alterações vasculares

funcionais, a quercetina aumentou o relaxamento dependente do endotélio induzido por acetilcolina

nas aortas isoladas. Estes efeitos foram associados a uma redução do estado oxidativo devido às

propriedades antioxidantes da droga (DUARTE et al., 2001), o que foi evidenciado em outros

modelos de hipertensão arterial (PEREZ-VIZCAINO e DUARTE, 2010). Em ratos SHR foi visto que

diferentes vias de administração da quercetina modificam o seu efeito biológico, em que a

administração oral foi superior à intraperitoneal para a proteção de complicações cardiovasculares

(GALINDO et al., 2012). Najmanová et al. (2014) estudaram uma série de metabólitos da quercetina,

gerados em cólon de humanos, testados em anéis da aorta de ratos. Foi evidenciado que o ácido 3-(3-

hidroxifenil) propiônico induz atividade vasodilatadora. Assim como, foi dependente de oxido nítrico

(NAJMANOVÁ et al., 2016).

A quercetina apresenta efeito vasodilatador direto in vitro (DUARTE ET AL., 2001; PÉREZ-

VIZCAÍNO et al., 2002), induz a secreção de Cl- e HCO3- no epitélio intestinal de ratos (CERMAK

et al., 2004), aumenta as correntes BKCa via produção intracelular de H2O2. Este efeito está envolvido,

pelo menos em parte, nas atividades vasodilatadoras coronariana da quercetina (PÉREZ-VIZCAÍNO

et al., 2002). Foi visto que a quercetina apresenta um efeito benéfico sobre a prevenção e restauração

da falha do sistema de eNOS, melhora do estresse oxidativo e a disfunção vascular induzida por

endotoxina em ratos (KUKONGVIRIYAPAN et al., 2012).

Em humanos saudáveis foi visto que diferentes doses da quercetina (50, 100, ou 150 mg/dia,

por 2 semanas) aumentaram gradualmente a concentração plasmática da quercetina mas não

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influenciaram o estado antioxidante, LDL oxidada, inflamação, ou o metabolismo (EGERT et al.,

2008). Em contraste, a quercetina (150 mg de quercetina/dia, por 6 semanas) reduziu

significativamente a pressão arterial sistólica e concentrações de LDL oxidado no plasma em

indivíduos com excesso de peso com um fenótipo de alto risco para doenças cardiovasculares

(EGERT et al., 2009). Em humanos, na fase 1 da hipertensão foi evidenciado que a quercetina (730

mg quercetina / dia por 4 semanas) reduziu a pressão arterial, no entanto, contrariamente aos estudos

em ratos, não modificou os níveis de estresse oxidativo (EDWARDS et al., 2007).

Vários estudos no coração demonstraram efeito benéfico da quercetina. Foi evidenciado que

a quercetina protegeu o miocárdio de lesões provocadas pela isquemia-reperfusão (IKIZLER et al.,

2007). Segundo Annapurna et al. (2009) a quercetina limitou o tamanho do infarto do miocárdio

tanto em animais diabéticos como em animais normais. Liu et al. (2014) mostraram que o pré-

tratamento com a quercetina protegeu o miocárdio de lesões ocasionadas pelo processo de isquemia-

reperfusão através da redução do estresse oxidativo.

A quercetina associada a viscristina melhorou a toxicidade cardíaca induzida pelo

isoproterenol em ratos, reduziu o estresse oxidativo e os produtos de peroxidação lipídica. Além disso,

restaurou os padrões eletrocardiográficas patológicos e reduziu a área de necrose do miocárdio

(PANDA e KAR, 2015).

A quercetina reduziu a fibrose cardíaca induzida pelo isoproterenol em ratos. Os mecanismos

destes efeitos podem estar relacionados com o aumento da atividade da superóxido dismutase, a

inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona, diminuição da expressão do fator de

crescimento β1 e fator de crescimento do tecido conjuntivo, e a subsequente redução da deposição de

matriz extracelular (LI et al., 2013). Foi visto também que a quercetina inibiu a hipertrofia induzida

pela angiotensina II em cardiomiócito (HAN et al., 2009). A quercetina poderia atenuar a secreção

de fatores inflamatórios TNF-alfa, IL-1 beta e IL-6 de fibroblastos cardíacos através da inibição de

NF-kB p65 (S276) e Akt (473) (TANG et al., 2014).

O tratamento prolongado com a quercetina, em ratos, impediu os efeitos negativos crônicos

da doxorrubicina sobre a pressão sanguínea, o dano celular, ativação de metaloproteinases de matriz

e a indução de apoptose. Além disso, a quercetina aumentou a resistência ao estresse de isquemia e

reperfusão, ligado a ativação da Akt quinase e up-regulation da conexina – 43 (BARTEKOVÁ et al.,

2015).

Daubney et al. (2015) mostraram que a quercetina desencadeia cardioproteção contra o

estresse oxidativo induzido por morte celular e cardiotoxidade. A quercetina atenuou a toxicidade

induzida por xantina oxidase em cardiomiócitos H9c2 pela regulação do estresse oxidativo e

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regulação de cascatas de proteínaa cinases sensíveis ao estresse e fatores de transcrição (OZBEK et

al., 2015). A quercetina induziu menor cardiotoxicidade induzida por doxorrubicina in vitro e in vivo,

reduzindo o stress oxidativo sobre a regulação de Bmi-1 (DONG et al., 2014).

A quercetina reduziu as disfunções cardíacas induzida por lipopolissacarídeo em ratos, onde

diminui a expressão de iNOS, os níveis de eNOS, a expressão do Bax e a razão Bax / Bcl-2. A taxa

de sobrevivência dos camundongos foi aumentada para 45% na presença da quercetina (LI et al.,

2015).

Foi observado que existe uma relação entre a suplementação com a quercetina e a tendência

para a diminuição nos níveis de malondialdeído, após 6 semanas. Esta evidência sugere que a

quercetina pode reduzir o stress oxidativo (peroxidação lipídica) (SCHOLTEN e SERGEEV, 2013).

Também foi verificado que a quercetina possui efeito anti-isquêmico, antiarrítmico, exerce

uma influência regulação na homeostase vegetativa, distúrbios oxidantes, apresentando eficácia em

pacientes com doença de isquemia do coração com distúrbio metabólico (MALISHEVSKAIA et al.,

2013).

A literatura mostra que a quercetina apresenta atividade sobre o sistema cardiovascular, no

entanto, não há evidências dos efeitos da quercetina sobre a homeostase intracelular do cálcio.

Segundo Hovnanian (2007), alterações no transporte de cálcio têm sido relatadas no envolvimento de

uma variedade de processos patológicos, tais como as doenças vasculares, diabetes, miopatia e

insuficiência cardíaca, contratilidade miocárdica, eletrofisiologia do músculo cardíaco e seu possível

efeito antiarrítmico. Dessa forma, o presente trabalho propõe investigar os efeitos da quercetina sobre

sobre a homeostase intracelular do cálcio a nivel funcional celular e sub-celular.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral

Caracterizar os efeitos produzidos pela quercetina sobre a homeostase do cálcio

intracelular.

3.2. Objetivos específicos

Caracterizar os efeitos inotrópicos da quercetina em átrio isolado de cobaia;

Estudar a ação deste flavonoide sobre a via β-adrenérgica no tecido atrial;

Avaliar a ação da quercetina sobre a corrente de cálcio tipo-L em cardiomiócito

ventricular isolado;

Elucidar o efeito da quercetina sobre o transiente intracelular global de cálcio;

Investigar a ação da quercetina sobre a frequência das sparks de cálcio;

Caracterizar os efeitos eletrocardiográficos deste composto em coração isolado de

cobaia.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Drogas e Reagentes

As seguintes drogas foram adquiridas da Sigma-Aldrich (St. Louis, Missouri, EUA):

quercetina isolada (pureza de ≥ 98%, lote 109H0882), propranolol, isoproterenol, protease tipo

XXIII, tripsina de pâncreas suína, insulina, albumina de soro de bovino, HEPES (N-[2-hidroxietil]

piperazina-N’-[2-ácido etanosulfônico]), EGTA (etileno glicol bis-β-aminometilester-N,N,N’,N’-

ácido tetraacético), cloreto de tetraetilamônio (TEA), cloreto de césio (CsCl), hidróxido de césio

(CsOH), penicilina/estreptomicina e DMEM (“Dulbecco’s modified Eagle’s medium” com 25 mM

de HEPES, L-glutamina, 4500 mg de glicose, sem bicarbonato de sódio). A colagenase do tipo II foi

comprada da Worthington Biochemical Co. (Freehold, NJ, EUA). Dimetilsulfóxido (DMSO), cloreto

de sódio (NaCl), cloreto de potássio (KCl), hidróxido de potássio (KOH), cloreto de magnésio

(MgCl2), bicarbonato de sódio (NaHCO3), cloreto de cálcio (CaCl2), fosfato ácido de sódio

(NaH2PO4), hidróxido de sódio (NaOH) e glicose (C6H12O6) foram adquiridos a partir de Vetec (Rio

de Janeiro, Brasil) ou Merck (Darmstadt, Alemanha), Fluo-4 AM foi adquirido da Molecular Probes

(Eugene, OR, USA). A heparina foi adquirida da Roche (São Paulo, Brasil).

4.2. Animais

Os experimentos foram realizados em duas espécies de animais. Para avaliar os efeitos da

quercetina sobre a contratilidade atrial e ECG foram realizados experimentos com cobaias machos

(Cavia porcellus, 400 a 500 g) provenientes do biotério da Universidade Federal de Sergipe. Para

investigar os efeitos da quercetina sobre as correntes de Ca2+, o transiente intracelular global de cálcio

e a frequência dos ‘sparks’ foram realizados experimentos em miócitos cardíacos ventriculares

isolados de camundongos (Mus musculus, pesando cerca de 30g) adultos machos (C57BL/6J)

provenientes do biotério da Universidade Federal de Minas Gerais, (Fig. 10). Os animais foram

alimentados com ração comercial (Cobaia: Pellets – Labina; Camundongo: Presence) e submetidos

a um regime de 12 h claro/12 h escuro. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

Animal (Protocolo nº 38/12, Anexo I), da Universidade Federal de Sergipe, Brasil.

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Figura 10. Tipos de protocolos experimentais usados em cada espécies

4.3. Efeitos da quercetina sobre a contratilidade do átrio esquerdo de cobaia

As cobaias foram sacrificadas por decapitação, os corações foram retirados e o átrio esquerdo

isolado foi montado em cuba para órgão com solução de Tyrode modificada de acordo com Dorigo

et al. (1990) (em mM: NaCl 120, KCl 2,7, MgCl2 0,9, NaHCO3 11,9, CaCl2 1,37, glicose 5,5,

NaH2PO4 0,4, pH 7,2), gaseificada com mistura carbogênica (95% O2 e 5% de CO2). As preparações

foram estiradas para uma tensão de repouso de 10 mN e mantidas a uma temperatura constante a 29,0

± 0,1oC (HAAKE FJ, Alemanha e refrigerador IBBL, modelo FN2000, Brasil). O músculo foi

submetido a uma estimulação do campo de 1 Hz, 70 V, durante 1,5 ms usando-se um par de eletrodos

de Ag/AgCl (3072 Digitimer estimulador controlado por um programador D4030 Digitimer; Welwyn

Garden City, Hertfordshire, AL7 3BE, Inglaterra). A força atrial foi captada utilizando um transdutor

de força isométrico (HP FTA 10-1 Sunborn, HP 8805B, Chicago, Illinois, EUA), os sinais foram

digitalizados (DATAQ DI400, DI 205, Windaq PRO Aquisição, Ohio, Akron, EUA) e armazenados

em um computador (Fig. 11). A força atrial foi medida após o período de estabilização de

aproximadamente 30 min (em situação-controle e também após a incubação de concentrações

crescentes da quercetina (0,1 – 300 M). O isoproterenol (0,001 – 0,3 µM), um agonista β-

adrenérgico, foi usado como controle positivo para o efeito inotrópico. A potência do efeito inotrópico

foi avaliada por meio de curva concentração-efeito, o que permitiu que fossem determinadas as CE50

(concentração da droga capaz de produzir 50% do seu efeito máximo).

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Figura 11. Circuito da montagem experimental para determinar a força de contração atrial. A força

atrial foi medida com um transdutor isométrico (HP FTA 10) acoplado a um amplificador (HP

8805B). Os sinais foram registrados em polígrafo (HP7754A, 7754B) e armazenados em computador

(Dataq DI205, DI400, Windaq Pro Acquisition). O átrio foi estimulado a 1 Hz, 70 V e 1,5 ms

(Digitimer D3072, Digitimer D4030).

4.4. Envolvimento dos receptores adrenérgicos no efeito inotrópico produzido pela quercetina

Para investigar o envolvimento dos receptores adrenérgicos no efeito inotrópico promovido

pela quercetina, a preparação biológica, mantida em cuba para órgão isolado, foi estimulada

eletricamente com pulsos de 1 Hz, 70 V e 1,5 ms. Após a estabilização, curvas concentração-resposta

da quercetina (0,1 – 300 M) foram obtidas na ausência e na presença de propranolol (1 M; tempo

de incubação: 20 minutos), um antagonista não seletivo dos receptores β-adrenérgicos

(BERKOWITZ et al., 1969; TATSUNO et al., 1976). A Fig. 12 esquematiza a sequência de eventos

deste protocolo.

Figura 32. Protocolo para estudar a participação de receptores β-adrenérgicos no efeito inotrópico da

quercetina, em átrio de cobaia. Após estabilização de 60 min, foram feitas curvas concentração-efeito

(C-E) da quercetina (0,1 – 300 M) na ausência e presença de 1 M de propranolol, incubado por 20

min.

Início

C-E

Quercetina Propranolol C-E

Quercetina

60 min washout 20 min

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26

4.5. Avaliação do efeito da quercetina sobre as correntes de cálcio tipo-L (ICa,L)

Os cardiomiócitos ventriculares de camundongos foram previamente isolados (SHIOYA,

2007). Os registros eletrofisiológicos foram obtidos utilizando-se a técnica de patch-clamp na

modalidade whole-cell em voltage-clamp. Para isto, foi empregado um amplificador EPC-10 (HEKA

Instruments, Alemanha) controlado pelo software PULSE (HEKA Instruments).

Os miócitos cardíacos foram armazenados em solução externa (em mM): NaCl 140, KCl 5,4;

MgCl2 1; CaCl2 1,8; HEPES 10 e glicose 10 (pH 7,4) contida em câmara de fundo transparente, que

foi fixada à platina de um microscópio invertido (Axiovert 20, Zeiss, Alemanha). Para o registro das

ICa,L, foram utilizadas pipetas de borossilicato preparadas com “puller” de dois estágios (PP830,

Narishige, Japão), com resistência entre 0,7 e 1,5 MΩ, preenchidas com solução interna (em mM):

CsCl 120, TEA 20, NaCl 5; HEPES 10 e EGTA 5 (pH foi ajustado para 7,2 utilizando CsOH).

Todos os experimentos foram realizados à temperatura ambiente (22-25 °C). Após o

estabelecimento da configuração whole-cell, as células foram mantidas em repouso por 3 minutos,

para que a solução da pipeta se equilibrasse com o meio intracelular. As células que apresentavam

resistência em série superior a 8 MΩ foram descartadas.

Os registros foram realizados em células sob perfusão, desse modo consistia de uma pipeta de

aproximadamente 100 µm de diâmetro interno, conectada à saída de uma válvula solenóide ligada a

dois reservatórios de 1 mL, que permitia um fluxo de aproximadamente 0,1 mL/min impulsionado

pela gravidade. Em um desses reservatórios, estava a solução fisiológica (mencionada anteriormente)

e no outro continha a quercetina na concentração de 30 µM que foi dissolvida em solução fisiológica

controle (DMSO 0,3%).

Essa investigação foi realizada em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG), no Laboratório de Membranas Excitáveis (LAMEX) sob responsabilidade do Prof. Drº.

Jader Cruz.

4.6. Avaliação do efeito da quercetina sobre o curso-temporal da ICa,L

Para investigar os efeitos de 30 µM da quercetina sobre o curso temporal da ICa,L, visando

medir o pico da ICa,L, as correntes foram mantidas inicialmente em um potencial de holding de -80

mV e, em seguida, foi aplicado um pré-pulso de -40 mV por 50 ms, a fim de inativar os canais rápidos

para sódio e canais para Ca2+ tipo-T. Em seguida, foi aplicado um pulso-teste, despolarizando a

membrana para 0 mV (300 ms), retornado em seguida ao potencial holding original (Fig. 13). Esse

protocolo foi repetido a cada 10 segundos.

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27

Figura 13. Protocolo de pulso executado para avaliar o efeito da quercetina sobre o curso-temporal

da corrente de cálcio tipo-L (ICa,L). Esse protocolo foi repetido a cada 10 segundos.

4.7. Avaliação do efeito da quercetina sobre a relação corrente-voltagem da ICa,L

Para investigar os efeitos de 30 µM de quercetina sobre a relação corrente-voltagem da ICa,L,

foi usado o seguinte protocolo de pulsos: inicialmente a voltagem da membrana foi mantida em -80

mV holding e, a partir dela, foi aplicado um pré-pulso de -40 mV por 50 ms. Em seguida, foram

aplicados pulsos-teste que variaram de -50 mV a +50 mV (300 ms), em intervalos de 10 s e, após

cada um deles, retornou-se ao potencial holding original (Fig. 14). Nesses pulsos-teste foram medidas

as ICa,L. A curva de ativação foi ajustada pela equação de Boltzmann: G/Gmax=1/1+exp[(V−V0,5)/k

onde o V0,5 é a voltagem em que 50% da condutância máxima foi alcançada e k é o fator slope.

Figura 44. Protocolo de pulso executado para avaliar o efeito da quercetina sobre a relação corrente-

voltagem da corrente de cálcio tipo-L (ICa,L).

4.8. Efeito da quercetina sobre o transiente intracelular global de cálcio

O transiente intracelular global de cálcio foi obtido através de imagens realizadas no

microscópio confocal Zeiss LSM 510 Meta (Zeiss GmbH, Jena, Alemanha). Os cardiomiócitos

ventriculares de camundongos previamente isolados segundo SHIOYA (2007), foram carregados

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28

com 10 μmol/L Fluo-4 AM (Molecular Probes, Eugene, OR, EUA) por 30 minutos e à temperatura

ambiente (28 ± 3ºC). Depois as células foram lavadas, para remover o excesso da sonda fluorescente,

e colocadas novamente em solução DMEM, em seguida foram plaqueadas e visualizadas no

microscópio confocal.

A sonda FLUO-4/AM, quando adequadamente excitada e complexada a íons cálcio, emite um

sinal de fluorescência que pode ser medido em 515 nm. A intensidade desta fluorescência está

relacionada com as variações do cálcio sarcoplasmático livre. As variações do Ca2+ intracelular livre

(transiente de cálcio) foram produzidas pela estimulação elétrica dos cardiomiócitos aplicada por

meio de um par de eletrodos de platina (1 Hz, 5 ms, 30V, GRASS Technologies SD9, EUA). Para o

registro do transiente de Ca2+, foram realizadas varreduras ao longo de uma linha (512 x 3000 pixels),

com laser de argônio (488 nm) e frequência de aquisição de 1,54 ms. Previamente à aquisição das

imagens, 8 pulsos foram aplicados para padronizar os experimentos e estabilizar a preparação

biológica. Os pulsos de voltagem utilizados para aquisição das imagens tinham 5 ms de duração com

voltagem supra-máxima. Os parâmetros avaliados foram: relação (máxima

fluorescência)/(fluorescência basal); tempo para o pico da máxima fluorescência e τ de decaimento

da fluorescência. Os principais parâmetros avaliados são demonstrados na figura representativa (Fig.

15).

Essa investigação foi realizada em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG), no Laboratório de Sinalização Intracelular em Cardiomiócito sob a responsabilidade da

Prof. Drª Silvia Guatmosim.

Figura 55. Imagem representativa dos principais parâmetros avaliados (Reproduzido de CAMPOS

(2011)).

10 – 90%

recaptura

Ponto de fluorescência

máxima (F)

Ponto de início do transiente de

cálcio

Ponto de fluorescência basal

(F0)

Tem

po

Δ d

a in

tensi

dad

e d

e

fluore

scên

cia

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29

4.9. Detecção e análise das Sparks

Para análise das imagens das sparks foi utilizado o programa Sparkmaster, utilizando a

plataforma ImageJ. O método utilizado pelo programa encontra-se descrito detalhadamente em

PICHT et al. (2007). Brevemente, o algoritmo que identifica as sparks de Ca+2 baseando-se no desvio

da intensidade de fluorescência em relação à fluorescência basal. Previamente à análise da imagem é

realizada uma filtragem. A imagem filtrada é utilizada para análise das sparks. Áreas potenciais para

conter um spark são determinadas como regiões possuindo duas vezes o desvio padrão acima da

média. As sparks são detectadas e computados se a intensidade detectada for o dobro do desvio padrão

multiplicado por um fator utilizado pelo usuário (no nosso estudo variou entre 6-10, dependendo do

background da imagem). Além da utilização do software, foi realizada uma inspeção visual para

averiguar se o software foi capaz de detectar todos as spakrs na imagem e se ele identificou

unicamente sparks.

4.10. Efeitos da quercetina sobre o perfil eletrocardiográfico

Após a administração subcutânea de heparina (1000 IU, ip, 30 min), o coração da cobaia foi

cuidadosamente removido e montado em um sistema de perfusão retrógada de fluxo constante através

da aorta (Bomba peristáltica, Milan). O coração foi perfundido com uma solução de Tyrode, que foi

previamente filtrado em membrana de acetado celulose (0,45 µm), gaseificada (95% O2 + 5% CO2)

e aquecida a 34 ± 0,1° C (Haake F3, Berlim, Alemanha). O coração foi estimulado eletricamente com

um par de elétrodos de aço inoxidável ligados ao átrio direito (Unidade Isoladora de Estímulo, SIU5,

GRASS, Warwick, EUA). Para captar o sinal eletrocardiográfico (ECG), três eletrodos

(Ag/AgCl/NaCl, 1 M) foram colocados mergulhados na solução de Tyrode onde o coração estava

imerso. Esses sinais foram amplificados (HP7754A, HP7754B, Hewlett-Packard, Chicago, Illinois,

EUA), digitalizados (DI- 710, Windaq Pro, DATAQ, 241 Springside Drive Suite 200, Akron, Ohio

44 333, EUA) e armazenados em um computador para processamento off-line.

A preparação biológica foi deixada a estabilizar durante 30 min. Os parâmetros

eletrocardiográficos medidos em situação controle, teste e washout foram: intervalo PR (PRi),

intervalo QT (QTi), duração do complexo QRS (QRS) e frequência cardíaca. Como o QTi varia com

a frequência cardíaca, o QTi foi transformado em QTc pela equação de Basset: QTc = QTi/ √𝑅𝑅,

onde o RR é o intervalo entre duas ondas R do ECG (Fig. 16).

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30

Figura 16. Traçado representativo de um ciclo eletrocardiográfico de cobaia, evidenciando os

principais eventos elétricos, como a onda P, complexo QRS e a onda T.

Os sinais do ECG foram amplificados (HP7754A, HP7754B, Hewlett-Packard, Chicago,

Illinois, EUA), enviado a um conversor AD (DI- 710, Windaq Pro, DATAQ, 241 Springside Drive

Suite 200, Akron, Ohio 44 333, EUA) e armazenados em um computador (Fig. 17).

Figura 6. Representação esquemática do sistema de perfusão aórtica de fluxo constante do tipo

Langendorff usado para obter os sinais eletrocardiográficos e a frequência espontânea do marcapasso

dominante. UIE, unidade isoladora de estímulo.

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31

4.11. Análise estatística

Todos os resultados foram apresentados como médias ± E.P.M. O GraphPad Prism (GraphPad

Software, CA, EUA) foi utilizado para análise estatística. Os valores médios foram comparados

utilizando o teste t de student. p < 0,05 foi utilizado como o critério para significância estatística.

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5. RESULTADOS

O efeito da quercetina sobre a contratilidade cardíaca foi avaliado em átrio esquerdo de cobaia

estimulado eletricamente. A Fig. 18A mostra traçados representativos da curva concentração-resposta

da quercetina (painel superior) e do isoproterenol (painel inferior), usado como controle positivo. Foi

observado que ambas as drogas promoveram efeito inotrópico positivo no átrio, de maneira

dependente de concentração. Como pode ser observado, 300 M de quercetina aumentou a força de

contração em aproximadamente 95%. A partir das curvas concentração-resposta da quercetina e do

isoproterenol foram obtidos os respectivos valores de CE50 de 3,64 x 10-6 M (n = 4) e 4,15 x 10-8 M

(n = 5) (Fig. 18B). Assim como, foi observado nos traçados que ambas as drogas diminuíram a tensão

diastólica, ou seja, a quercetina exerceu efeito lusitrópico de aproximadamente 7%.

Figura 7. Efeito inotrópico da quercetina em átrio esquerdo de cobaia. (A) Traçados experimentais

do efeito inotrópico positivo produzido pela quercetina (painel superior) e isoproterenol (painel

inferior), (B) Curvas concentração-resposta da quercetina (CE50 3,64 x 10-6 M, n = 4) e isoproterenol

(CE50 4,15 x 10-8 M, n = 5).

O aumento da contratilidade atrial promovido pela quercetina pode ser decorrente da sua ação

sobre receptores adrenérgicos. Com a finalidade de avaliar o papel dos receptores β-adrenérgicos no

efeito inotrópico positivo promovido pela quercetina, foram realizadas curvas concentração-resposta

da quercetina na presença de 1 M de propranolol, um clássico antagonista β-adrenérgico. A Fig.

19A mostra traçados representativos sobrepostos de contrações atriais isoladas em situação controle

Log [drogas] M

Efei

to in

otr

óp

ico

po

siti

vo

(% d

o c

on

tro

le) Isoproterenol

Quercetina

A B

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33

(a), após a exposição a 300 M de quercetina (b) e seu efeito na presença do propranolol (c). Neste

experimento, a quercetina aumentou a força de contração de 936 mgf para 1650 mgf (76%). No

entanto, a pré-incubação do átrio com propranolol reduziu a amplitude da força para 1228 mgf (31%).

A Fig. 19B mostra que o propranolol deslocou para a direita a curva concentração-resposta da

quercetina, aumentando a sua CE50 para 2,15 x 10-5 M. Além disso, na presença do antagonista, a

eficácia máxima promovida por esse flavonoide foi reduzida de 91,42 ± 7,37% para 43,15 ± 8,96%

(n = 4, p < 0,05).

Figura 8. Avaliação do efeito da quercetina sobre os receptores β-adrenérgicos. (A) Traçados

representativos da contração do átrio esquerdo na situação controle (a), na presença de 300 µM de

quercetina (b) e na presença de 1µM do propranolol (c). (B) Curvas concentração-resposta da

quercetina na ausência e presença do propranolol (n = 4).

Os resultados apontaram que a quercetina promoveu aumento da força contrátil

provavelmente por estimular os receptores β-adrenérgicos. Sabendo que a estimulação da via β-

adrenérgica pode promover alteração da cinética do cálcio intracelular, foram realizadas medições da

corrente de cálcio tipo-L (ICa,L) em cardiomiócitos ventriculares isolados submetidos a técnica de

patch-clamp na modalidade voltage-clamp. A Fig. 20A demonstra traçados representativos da ICa,L

no controle (painel superior), com 30 M de quercetina (painel médio) e após o washout (painel

inferior). Podemos observar que durante o registro da ICa,L, a quercetina promoveu aumento da

amplitude da ICa,L registrada em 0 mV. A Fig. 20B mostra traçados representativos do efeito da

quercetina sobre o curso temporal do pico da ICa,L, mensurado a 0 mV. Os resultados revelaram que

a quercetina aumentou o pico da ICa,L de -4,43 A/F para -6,00 A/F após 1,6 min de perfusão (Fig.

100 ms

0.5 gf

a

c

b

A B

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34

20B). Esse efeito foi parcialmente reversível após o washout (-5,27 A/F). O aumento médio da ICa,L

promovido pela quercetina foi de 27,3 ± 8,26% (Fig. 20C, n = 5, p < 0,05).

Figura 9. Avaliação do efeito da quercetina sobre a corrente de cálcio tipo-L (ICa,L) em cardiomiócito

ventricular. (A) Traçados representativos da ICa,L na situação controle (painel superior), com 30 µM

de quercetina (painel médio) e após o washout da quercetina (painel inferior). (B) Curso temporal do

pico da ICa,L, mensurada em 0 mV, mostrando aumento da corrente, sendo parcialmente reversível

após o washout. (C) ICa,L normalizada em relação ao controle mostrando o aumento da ICa,L promovido

pela quercetina (*p < 0,05 vs. Controle, n = 5).

O efeito da quercetina sobre a relação corrente-voltagem (I-V) de ICa,L foi obtida aplicando

pulsos despolarizantes (duração de 300 ms) a partir do potencial de membrana de -80 mV e foi medida

em potenciais que variaram de -50 mV a 50 mV, em incrementos de 10 mV. A ICa,L foi ativada em

aproximadamente -40 mV e atingiu um pico em 0 mV. A Fig. 21A mostra os registros representativos

das ICa,L obtidas na voltagem entre - 40 mV a 0 mV em células controles (painel superior) e em células

submetidas à quercetina (painel inferior). É possível observar, nesses registros, que a quercetina

promoveu aumento da ICa,L. A Fig. 21B mostra o efeito da quercetina sobre a relação corrente-

voltagem da ICa,L no qual pode-se observar que houve aumento significativo da ICa,L nas voltagens de

-10 mV e 0 mV (p < 0,05).Também foi avaliado o efeito da quercetina sobre a dependência da

A B

C

Controle Quercetina0

25

50

75

100

125

150 *

n=5 n=5

I Ca

,LN

orm

aliza

da

(% d

o c

on

tro

le)

Controle

Quercetina

washout

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voltagem para ativação do canal para cálcio tipo-L (Fig. 21C). A partir dessa curva foi calculado o

V0.5 (voltagem em que o canal alcançou 50% da sua condutância máxima). Os resultados revelaram

que a quercetina reduziu o V0.5 de -13,06 ± 1,52 mV (barra branca, n = 5) para -19,26 ± 1,72 mV

(barra cinza, n = 5, p < 0,01) (Fig. 21D). Esses resultados mostraram que a quercetina deslocou

negativamente em 6,2 mV a voltagem em que 50% dos canais para cálcio tipo-L estão ativados. Por

outro lado, a quercetina não foi capaz de alterar o slope da curva de condutância (controle: 6,96 ±

1,42 e quercetina: 5,71 ± 1,59, n = 5, p > 0,05).

Figura 10. Avaliação dos efeitos da quercetina sobre a corrente de cálcio tipo-L (ICa,L). (A) Traçados

representativos das ICa,L obtidas em voltagem de -40 mV a 0 mV em situação controle (painel

superior) e na presença de 30 µM de quercetina (painel inferior). (B) Curva corrente-voltagem (I-V)

de ICa,L no controle (curva preta) e com quercetina (curva cinza) (n = 5, *p < 0,05). (C) Curva da

dependência de voltagem para ativação da ICa,L e (D) V0.5 da ICa,L em situação controle (branco) e na

presença da quercetina (cinza) (**p < 0,01 vs. Controle, n = 5).

C

A B

D

-50 -30 -10 10 30 50

-1.25

-1.00

-0.75

-0.50

-0.25

0.00

**

Quercetina

Controle

Voltagem da membrana (mV)

IC

a,L

No

rmali

zad

a

-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Quercetina

Controle

Voltagem de membrana (mV)

G/G

max

Controle

Quercetina

C

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Como a quercetina promoveu aumento da ICa,L e estimulou os receptores β-adrenérgicos no

miocárdio resolvemos investigar sua ação sobre o transiente intracelular global de Ca2+ ([Ca2+]i) em

cardiomiócitos carregados com FLUO 4-AM. As medidas das [Ca2+]i foram feitas em células controle

(n = 5 camundongos, 91 células) e em células submetidas a 30 µM de quercetina (n = 5 camundongos,

40 células). A Fig. 22A mostra imagens de line-scan típicas, registradas no controle (painel superior)

e com a quercetina (painel inferior). Como demonstrado na Fig. 22B, a exposição dos cardiomiócitos

a 30 µM de quercetina promoveu aumento do transiente [Ca2+]i de 3,60 ± 0,14 para 4,61 ± 0,22 (p <

0,001) sendo, portanto, 28% mais elevado quando comparado ao controle.

Figura 11. Efeito da quercetina sobre o transiente intracelular de Ca+2 em cardiomiócito isolado. (A)

Imagens de fluorescência (confocal ‘line-scan’) emitida por um cardiomiócito em situação controle

e após a incubação com 30 µM de quercetina (vermelho: máxima concentração de Ca+2 livre no

citoplasma; azul: mínima concentração de Ca+2 livre no citoplasma). (B) Efeito da quercetina sobre

o pico do transiente intracelular de Ca+2 (***p < 0,001 vs. Controle, n = 5).

Além de aumentar o transiente intracelular de cálcio, a quercetina acelerou a cinética de

decaimento do transiente de cálcio medidos a 90% (t90) e 50% (t50). Ambos t90 (Fig. 23A) e t50 (Fig.

23B) foram significativamente reduzidos de 875,8 ± 13,44 ms para 740,0 ± 26,74 ms (p < 0,01) e de

253,3 ± 7,75 ms para 181,4 ± 12,67 ms (p < 0,05), respectivamente.

F/F0

A B Controle

Quercetina (30 M) 1

6

F/F0

1

6

Max Min

Max

Min

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Figura 12. Efeito da quercetina sobre a cinética de decaimento do transiente intracelular de cálcio

medidos a 90% (t90, A) e a 50% (t50, B) (**p < 0,01 e *p < 0,05 vs. Controle, n = 5).

Como foi observado, a quercetina além de aumentar o transiente intracelular global de cálcio,

acelerou a recaptação do cálcio intracelular. Esses eventos foram registrados em células submetidas

a estimulação elétrica. Também foi avaliado o efeito da quercetina sobre a liberação espontânea do

cálcio pelas unidades liberadoras de cálcio (ULC), as sparks de Ca+2. A Fig. 24A mostra imagens

representativas da intensidade das sparks de cálcio em situação controle (CTR) e na presença da

quercetina (QUE 30 µM). A Fig. 24B ilustra a frequência dos sparks (#sparks/100µm/s) na ausência

e presença da quercetina. Os resultados mostraram que não houve alteração significativa entre os

grupos controle (n = 16) e quercetina (n = 33, p > 0,05).

Figura 13. Avaliação da frequência das sparks de Ca+2 em células submetidas a 30 µM de quercetina.

(A) Imagens representativas da intensidade das sparks e (B) frequência das sparks em situação

controle (n = 16) e com 30 µM de quercetina (p > 0,05 vs. Controle, n = 33).

Como os resultados mostraram que a quercetina alterou a homeostasia do cálcio intracelular

e como sabemos que esse íon é fundamental para as propriedades elétricas e contráteis do coração,

A B

A B

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38

resolvemos investigar se a quercetina seria capaz de promover alterações no registro

eletrocardiográfico, assim como, avaliar a ocorrência de arritmias cardíacas. A Fig. 25A mostra os

efeitos da quercetina sobre o intervalo PR (PRi). Este intervalo mede, principalmente, o tempo de

condução da onda elétrica pelo nódulo atrioventricular (NAV). Como podemos observar a quercetina

(30 µM) encurtou o PRi de 107,3 ± 4,69 ms para 100,3 ± 1,79 ms (n = 5, p < 0,05). Quanto ao intervalo

QT (QTc), que reflete a duração do potencial de ação ventricular, também foi reduzido de 10,49 ±

0,048 ms para 10,23 ± 0,06 ms (Fig. 25B, n = 5, p < 0,05). Por outro lado, a duração do complexo

QRS não foi alterada pela quercetina (controle: 37,91 ± 1,38 ms e quercetina: 35,68 ± 0,67 ms, Fig.

25C, n = 5, p > 0,05). Além disso, a quercetina influenciou na atividade do marcapasso cardíaco

aumentando a frequência cardíaca 133,1 ± 5,49 bpm para 146,2 ± 5,28 bpm (Fig. 25D, n = 5, p <

0,0001). Nenhum evento de arritmia cardíaca foi registrado durante a perfusão do coração com a

quercetina.

Figura 14. Alterações eletrocardiográficas promovidas pela quercetina (30 µM) em coração isolado

de cobaia. (A) Intervalo PR (PRi), (B) intervalo QT corrigido (QTc), (C) duração do complexo QRS

(QRS) e (D) Frequência cardíaca em bpm (*p < 0,05, ***p < 0,0001 vs. Controle, n = 5).

A B

C D

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6. DISCUSSÃO

No presente estudo, demonstramos que a quercetina apresentou efeito inotrópico positivo em

átrio esquerdo isolado de cobaia, que foi dependente da concentração e parcialmente reversível após

a whashout. No coração, diversas vias podem ser ativadas para promover aumento da contratilidade

cardíaca. Entre elas, podemos citar a ativação dos receptores beta-adrenérgicos. A estimulação destes

receptores ativa a proteína Gs que estimula a adenilato ciclase (AC) promovendo ativação da proteína

cinase A (PKA). A PKA, por sua vez, fosforila várias proteínas relacionadas com o acoplamento de

excitação-contração do músculo cardíaco, tais como: (1) canal de Ca+2 tipo-L, (2) receptores de

rianodina (RyR), (3) a proteína fosfolambam e (4) a troponina I. Tanto a ativação dos canais de cálcio

do tipo-L ou do RyR leva a um aumento da concentração intracelular de cálcio e, consequentemente,

aumenta a força contrátil. Por outro lado, o fosfolambam que é um inibidor endógeno de SERCA,

uma vez fosforilado, aumenta a recaptação do Ca2+ para o retículo sarcoplasmático (RS) aumentando

a força de contração além de melhorar o relaxamento diastólico (BERS, 2002b).

Dessa forma, para avaliar se o aumento da força atrial induzida pela quercetina envolvia a

participação dos receptores β-adrenérgicos foram obtidas curvas concentração-efeito deste flavonoide

na presença do propranolol (1 µM), um antagonista inespecífico desses receptores. Os resultados

mostraram que na presença deste antagonista, o efeito inotrópico de quercetina foi parcialmente

inibido mostrando o envolvimento desta via no mecanismo de ação da quercetina. Angelone et al.

(2011) demonstraram que, em coração de rato, a quercetina induziu efeito inotrópico e lusitrópico

bifásico, sendo positivo em baixas concentrações (10-11 M para 10-8 M) e negativo em concentrações

mais elevadas (10-7 M para 10-6 M). Nesse estudo, foi demonstrado que o inotropismo e o lusitropismo

positivo, induzido pela quercetina, se devia a sua ação nos receptores β1/β2 adrenérgicos e estava

associado ao aumento do cAMP intracelular. O inotropismo e lusitropismo negativo, observado em

concentrações mais elevadas, foram decorrentes da ativação dos receptores α-adrenérgicos. Esse

resultado foi observado na presença da fentolamina (um bloqueador inespecífico dos receptores alfa),

que inibiu a resposta negativa da quercetina. Segundo Grande (2016) a quercetina ativa os receptores

β1/β2 adrenérgicos e com adição do grupo OH aumenta a biodisponibilidade e estabilidade, dessa

forma sendo visto com um potencial para o tratamento da hipertensão. No coração, a ativação dos

receptores α1 exerce inotropismo positivo por ativar a proteína Gq, que a ativa fosfolipase C e

aumenta a sinalização de IP3/cálcio e ativação da proteína cinase C (PKC) (O'CONNELL et al.,

2014). Por outro lado, a ativação dos receptores α2 no coração ativa proteína Gi levando a redução

da contratilidade cardíaca (RUUSKANEN et al., 2004). Dessa forma, esses dados indicam que a

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resposta cardiodepressora da quercetina, evidenciada apenas em altas concentrações, é mediada pela

ativação dos receptores α2-adrenérgicos. No nosso estudo, em coração de cobaia, mostramos que na

faixa de concentração de 10-5 M a 3 x 10-4 M, a quercetina exerceu apenas efeito inotrópico e

lusitrópico positivo.

No entanto, o envolvimento direto da quercetina sobre o canal de cálcio tipo-L e sobre a

dinâmica do cálcio intracelular não foram, até o momento, investigados no coração. Para tanto,

utilizando a técnica de patch-clamp na configuração whole-cell, verificamos que a quercetina

aumentou, de forma significativa, a corrente de cálcio tipo-L. Como a quercetina deslocou para

valores mais negativos a curva I-V da corrente de Ca2+ e o valor de V0,5, obtido a partir da curva

G/Gmax, podemos inferir que a quercetina aumentou a probabilidade de abertura dos canais para Ca2+

tipo-L no cardiomiócito. Isso mostra que a quercetina acelerou ou potencializou o processo de

ativação dependente de voltagem dos canais para cálcio, o que irá aumentar da ICa,L e,

consequentemente, a força de contração do músculo cardíaco. A literatura reporta que a modulação

de cinases dependente de AMPc, que ocorre por exemplo pela ativação da via β-adrenérgica,

potencializa a ativação dependente de voltagem dos canais para cálcio tipo-L (KAMEYAMA et al.,

1985; VIARD et al., 2000).

Por outro lado, Hou et al. (2014) demonstraram que a quercetina possui efeitos espasmolíticos

em artérias coronárias de ratos por diminuir o influxo de Ca+2 através dos canais para Ca+2 tipo-L e

por aumentar a corrente de K+ por canais voltagem-dependentes em miócitos isolados. Em músculo

liso, os receptores beta-adrenérgicos estão acoplados a proteína Gs e sua ativação eleva os níveis de

AMPc que promove relaxamento do músculo liso mediado pelo receptor beta-adrenérgico. A

estimulação dos receptores beta-adrenérgicos também promove relaxamento por uma via

independente de AMPc por ativação direta dos canais maxi-K (TANAKA et al., 2005). Além disso,

Cogolludo et al. (2007) verificaram que a quercetina foi capaz de ativar correntes BKCa em artérias

coronárias através de produção de H2O2.

Como é sabido, a entrada de cálcio nos cardiomiócitos ativa os RyR estimulando a liberação

de cálcio a partir do RS, fenômeno conhecido como a liberação de cálcio induzida por cálcio (CICR)

(NIGGLI, 1999). A quantidade de Ca+2 no RS desempenha um papel central na sinalização de Ca+2

em cardiomiócito ventricular. Assim, foi investigado o efeito da quercetina sobre a liberação e

recaptação de cálcio pelo RS medindo o transiente intracelular do cálcio. Os resultados revelaram que

a quercetina aumentou significativamente o transiente intracelular de Ca+2, pois o aumento da

corrente de entrada de cálcio, aumenta a carga de cálcio no RS e, consequentemente, dispara uma

maior liberação de cálcio pelos estoques intracelulares.

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Além disso, a quercetina acelerou a recaptação do cálcio intracelular medido a 50% e 90% da

cinética de decaimento do transiente de cálcio. Estes dados sugerem que a quercetina, possivelmente,

aumenta a atividade da SERCA2a. O aumento desta atividade reforça a hipótese que a quercetina atua

como agonista dos receptores β-adrenérgicos, ativando a PKA que, por sua vez, promove fosforilação

do fosfolambam. O fosfolambam fosforilado deixa de inibir a SERCA, ou seja, aumenta a sua

atividade (MCKENNA et al., 1996). Esta ação sobre a fosfolambam promove um efeito lusitrópico

no coração, aumentando sua capacidade de relaxamento diastólico (RODRIGO et al., 2012). Esse

relaxamento diastólico também foi evidenciado pela quercetina em átrio esquerdo de cobaia. Isso é

muito importante na prevenção de disfunção ventricular esquerda e a sua progressão para

insuficiência cardíaca (SCHMIDT et al., 1998). O efeito lusitrópico dos agonistas β-adrenérgicos não

decorre apenas do efeito da PKA sobre os fosfolambam, mas também do efeito da PKA fosforilando

a troponina I que vai estimular a dissociação do cálcio dos miofilamentos contráteis (KENTISH et

al., 2001).

O acoplamento excitação-contração (AEC) ocorre em um conjunto de estruturas denominadas

unidades liberadoras de cálcio (ULCs), que representam junções formadas por um grupo de RyR

justapostos ao canal de Ca2+ tipo-L (GUATIMOSIM et al., 2002). No músculo cardíaco, as ULCs são

formadas por um conjunto de RyR podendo conter de 50 a 200 RyR. A liberação espontânea e

localizada de cálcio, chamada de sparks de cálcio, pode ser visualizada e medida com o uso de sondas

fluorescentes sensíveis ao cálcio. As sparks de cálcio foram primeiramente descritas em células

musculares cardíacas (CHENG et al., 1993). As sparks de cálcio são eventos que dependem da

concentração de cálcio livre no citosol e no lúmen do RS e que independem do influxo de cálcio pelos

canais para cálcio tipo-L ou de qualquer outra via relacionada ao sarcolema (CHENG e LEDERER,

2008). Cheng et al. (1993) mostraram que a sobrecarga de cálcio aumenta a frequência das sparks de

cálcio e induz o aparecimento de ondas de aumento do cálcio intracelular. Essas ondas de cálcio

podem levar ao aparecimento de arritmias cardíacas e disfunção contrátil (BERS, 2001, 2002a).

Como vimos anteriormente, a quercetina aumentou o transiente intracelular de cálcio, ou seja,

aumentou a carga de cálcio no lúmem do RS. Dessa forma, achamos relevante investigar se esse

aumento da carga de Ca+2 do RS poderia induzir o aumento na frequência das sparks de cálcio. Os

nossos resultados mostraram que, na concentração usada de quercetina (30 µM), não houve aumento

significativo na frequência das sparks de cálcio, ou seja, o aumento da carga de cálcio induzida pela

quercetina não foi suficiente para aumentar a frequência das sparks.

A quercetina ativou a via β-adrenérgica e aumentou a corrente de cálcio no cardiomiócito e

como é sabido que o íon cálcio é essencial tanto para atividade elétrica quanto contrátil do coração,

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foram investigados os possíveis efeitos eletrocardiográficos da quercetina. Diante disso, observamos

que a quercetina aumentou a frequência cardíaca mostrando que ele interfere no marcapasso do

coração, o nódulo sinusal. Desse modo, sendo a corrente de cálcio tipo-L essencial na fase de

despolarização diastólica lenta (DDL) do potencial de ação marcapasso, o aumento dessa corrente,

acelera a taxa de despolarização diastólica lenta (DDL) e leva ao aumento da frequência, como é bem

descrito por drogas que apresentam ativação do sistema simpático (BERS, 2002b). Além de aumentar

a atividade marcapasso, observamos também que a quercetina melhorou a condução da onda elétrica

pelo nodo atrioventricular, uma vez que, encurtou o intervalo PR. Isso pode ser explicado também

pelo aumento da corrente de influxo de cálcio (BERS, 2002a).

O intervalo QTc reflete a duração do potencial de ação ventricular e é afetado por drogas que

alteram as correntes repolarizantes de potássio. A quercetina diminuiu o QTc mostrando que ela

acelerou a repolarização ventricular, provavelmente, por ativação de correntes de potássio. Estudos

mostraram que a epinefrina (catecolamina), em coração de humano, promoveu encurtamento do QTc

por ativação das correntes de potássio (IKs e Ito) (SUN et al., 1998; WU et al., 2013, 2014). Nossos

achados corroboram os resultados obtidos por Hou et al. (2014) que mostraram que a quercetina, em

miócito isolado de rato, ativou a corrente de K+ por canais voltagem-dependentes. Por outro lado, a

duração do complexo QRS não foi alterada pela quercetina indicando que ela não afetou a velocidade

da despolarização ventricular, ou seja, não modificou as correntes rápidas de Na+.

Zaafan et al. (2013) mostraram que a quercetina diminuiu as alterações induzidas no infarto

agudo do miocárdio induzida pela isoprenalina. Houve melhora nos marcadores bioquímicos (CK-

MB, Troponina I e PCR) com acentuada melhora no perfil eletrocardiográfico e nas alterações

histopatológicas. Esses dados apontam que a quercetina pode ser considerada um agente natural com

efeito cardioprotetor promissor.

Os nossos resultados sugerem que a quercetina atua como agonista β-adrenérgico, aumenta a

corrente de cálcio pelos canais tipo-L e, consequentemente, aumenta a liberação de cálcio pelo

retículo sarcoplasmático. Sabemos que quando a via β-adrenérgica é ativada, ocorre ativação da PKA

que vai fosforilar tanto o canal de cálcio tipo-L quanto o RyR, resultando, no coração, em aumento

da contratilidade cardíaca. Além disso, a PKA fosforila o fosfolambam e a troponina I que vão

aumentar a atividade da SERCA2a e diminuir a afinidade do cálcio à troponina C, respectivamente.

Dessa forma, proporciona o relaxamento diastólico, efeito também evidenciado pela quercetina.

Apesar de aumentar o conteúdo de cálcio no RS, a quercetina não aumentou a frequência das sparks

de cálcio e nem induziu o aparecimento de eventos arritmogênicos. As alterações eletrocardiográficas

evidenciadas após a perfusão com a quercetina, tais como, redução do PRi, QTi e aumento de

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frequência cardíaca são efeitos típicos de drogas que ativam os receptores β-adrenérgicos ou que

aumentam o cálcio intracelular.

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7. CONCLUSÃO

Levando em consideração nossos resultados, pode-se concluir que a quercetina ativa

receptores β-adrenérgicos e aumenta a corrente de cálcio tipo-L em cardiomiócito ventricular. Esse

mecanismo estimula a liberação de cálcio pelo RS que leva a um aumento da contratilidade cardíaca.

Além disso, a quercetina aumenta a recaptação de cálcio para o RS por, provavelmente, promover a

fosforilação do fosfolambam e ativação da SERCA2a, que irá resultar em uma melhora no

relaxamento diastólico. Não foi observado alteração na frequência das sparks de cálcio nem eventos

de arritmia cardíaca. As alterações eletrocardiográficas promovidas pela quercetina, tais como

encurtamento do PRi, QTi e aumento da frequência cardíaca, são características de drogas

simpaticomiméticas ou que aumentam o cálcio intracelular. Dessa forma, a quercetina tem a

capacidade de melhorar a função contrátil do músculo cardíaco aumentando a sua tensão sistólica e

diminuindo a diástole sem efeito arritmogênico em coração de cobaia.

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ANEXO

Declaração do comitê de ética animal