UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORA DE … · ZINCO: CONTROLE DA COMPOSIÇÃO E DA...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS GENELANE CRUZ SANTANA POTENCIALIDADES DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES À BASE DE ZINCO: CONTROLE DA COMPOSIÇÃO E DA ARQUITETURA MORFOLÓGICA ATRAVÉS DA ABORDAGEM DE SÍNTESE São Cristóvão - SE Fevereiro/2017

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PR-REITORA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E ENGENHARIA DE

    MATERIAIS

    GENELANE CRUZ SANTANA

    POTENCIALIDADES DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES BASE DE

    ZINCO: CONTROLE DA COMPOSIO E DA ARQUITETURA MORFOLGICA

    ATRAVS DA ABORDAGEM DE SNTESE

    So Cristvo - SE

    Fevereiro/2017

  • POTENCIALIDADES DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES A BASE DE

    ZINCO: CONTROLE DA COMPOSIO E DA ARQUITETURA MORFOLGICA

    ATRAVS DA ABORDAGEM DE SNTESE

    GENELANE CRUZ SANTANA

    TESE DE DOUTORADO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E ENGENHARIA

    DE MATERIAISDA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE COMO

    PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO

    GRAU DE DOUTOR EM CINCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

    ORIENTADORA : PROF. DR. IARA DE FTIMA GIMENEZ

    So Cristvo SE

    Fevereiro/ 2017

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    S232p

    Santana, Genelane Cruz Potencialidades de nanocristais semicondutores base de zinco:

    controle da composio e da arquitetura morfolgica atravs da abordagem de sntese / Genelane Cruz Santana ; orientadora Iara de Ftima Gimenez. So Cristovo, 2017.

    120 f. : il.

    Tese (doutorado em Cincia e Engenharia de Materiais)

    Universidade Federal de Sergipe, 2017.

    1. Poliuretanas. 2. Semicondutores - Dopagem. 3. xido de

    zinco. 4. Sulfeto de zinco. I. Gimenez, Iara de Ftima, orient. II. Ttulo.

    CDU 621.382:546.47

  • Aos meus pais

    Genevaldo Fagundes SantAna e Maria Lucia Cruz SantAna

  • i

    AGRADECIMENTOS

    A Deus pelo dom da vida.

    A minha orientadora, professora Dr Iara de Ftima, pelo profissionalismo e por todo

    aprendizado, pacincia, amizade e incentivo durante esses anos.

    Ao professor Dr Adriano Bof pela contribuio no trabalho desenvolvido e amizade.

    A banca pelas contribuies dadas ao trabalho.

    A minha famlia pelo amor incondicional.

    Aos professores e funcionrios do Departamento de Cincia e Engenharia de Materiais.

    Aos amigos: Renan, Rosi, Karine, Silvando, Ana Anglica, Gabriela, Alan, Thalita,

    Gilberto, Jane Costa, Yane, Jeov, Wagner pela amizade, conversa, apoio, discusses.

    Aos colegas de laboratrio e de curso: Ivory, Ricardo, Cristiane, Douglas, Mirna,

    Jamilly, Cristiano, Charlene, Hlio, Joyce, Vivi, Luzia, Diego.

    A Capes pela bolsa e auxlio.

  • ii

    Resumo da Tese apresentada ao P2CEM/UFS como parte dos requisitos necessrios

    para a obteno do grau de Doutor em Cincia e Engenharia de Materiais (D.Sc.)

    POTENCIALIDADES DE NANOCRISTAIS SEMICONDUTORES BASE DE ZINCO:

    CONTROLE DA COMPOSIO E DA ARQUITETURA MORFOLGICA ATRAVS DA

    ABORDAGEM DE SNTESE

    Genelane Cruz Santana

    Fevereiro/2017

    Orientadora: Prof. Dr. Iara de Ftima Gimenez

    Programa de Ps-Graduao em Cincia e Engenharia de Materiais

    A preparao de nanocristais semicondutores (NCS) tem sido objeto de pesquisa devido

    s propriedades pticas de luminescncia que apresentam e ampla rea de aplicao.

    Na primeira etapa deste trabalho foram preparados nanocristais de ZnS passivados com

    2-mercaptoetanol (ME) e caracterizados. Os nanocristais obidos foram incorporados em

    uma matriz polimrica pr-formada funcionando como um precursor do tipo poliol. Na

    segunda etapa, uma vez que as propriedades pticas podem ser melhoradas com a

    dopagem dos nanocristais, os mesmos foram dopados com Mn2+, porm uma

    modificao na parte experimental levou a formao controladade ZnO no lugar de

    ZnS, introduzindo uma nova rota para a obteno de ZnO. Os valores das concentraes

    de Mn2+utilizadas foram inferiores a 1%. Alm disso, foi feito um estudo para

    correlacionar a estrutura-propriedade no qual foi observado que a substituio dos ons

    Mn2+ pelos ons Zn2+ influencia as propriedades pticas do ZnO. Atravs das

    caracterizaes, ficou confirmada a formao do ZnO e que a forma com a qual o

    passivante foi adicionado ao sistema favorecia a formao de ZnS (quando o passivante

    foi adicionado diretmente) e de ZnO (quando feita uma soluo aquosa do passivante).

    Como pequenas concentraes do dopante conduziram a resultados interessantes para o

    ZnO, os mesmos valores foram utilizados para dopar o ZnS sendo, portanto, a

    terceiraetapa deste trabalho. O ZnS apresentou uma automontagem aps o processo de

  • iii

    dopagem. Esta automontagem no influenciou a energia obtida atravs de espectros de

    absoro na regio UV-Vis. No entanto, observou-se que a concentrao dos ons

    Mn2+aumenta no ZnS quando a presena do dopante foi analisada atravs da absoro

    atmica.Este aumento est em concordncia com os espectros de emisso, os quais

    mostram um aumento do defeito proveniente de vacncia de enxofre ou enxofre

    intersticial aps o processo de dopagem indicando que os ons mangans, apesar da

    pequena concentrao utilizada, esto presentes na estrutura do ZnS. A etapa final do

    trabalho consta de um novo arranjo supramolecular da estrutura cristalina do

    complexotiossemicarbazona de zinco [Zn(TPTSC)2], um potencial precursor molecular

    do tipo single-source para a obteno de nanocristais semicondutores de ZnS em

    trabalhos futuros.

    Palavras-Chave: ZnS, ZnO, poliuretanos, dopagem, precursor molecular single-source.

  • iv

    Thesis Abstract presented to P2CEM/UFS as a partial fulfillment of the requeriments

    for the degree of Doctor in Materials Science and Engeneering(D.Sc.)

    POTENTIALITIES OF ZINC-BASED SEMICONDUCTOR NANOCRYSTALS:

    CONTROL OF COMPOSITION AND MORPHOLOGICAL ARCHITECTURE BY

    SYNTHETIC APPROACH

    Genelane Cruz Santana

    February/2017

    Advisor: Prof.Dr. Iara de Ftima Gimenez

    Program of Materials Science and Engineering

    The preparation of semiconductor nanocrystals (SNC) has been reported as the research

    foccus in several works owing to the optical and luminescent properties as well as the

    broad fields of application. In the first stage of this work, 2-mercaptoethanol-capped

    ZnS nanocrystals were prepared and characterized. The resulting nanocrystals were

    incorporated into a pre-formed polyurethane matrix playing the role of polyol-type

    monomer. In the second stage,the ZnS nanocrystals were doped with Mn2+ cations,

    considering that this strategy may improve the optical properties of the nanocrystals. In

    this study, it was observed that the changes in experimental parameters may allow the

    controlled formation of ZnO instead of ZnS, introducing a new route to ZnO

    obtainment. Concentration values of Mn2+ were lower than 1 %. Moreover, a study was

    carried out in order to clarify the structure-property relation, observing that the

    substitution of Zn2+ ions by Mn2+ ones may influence the optical properties of ZnO.

    From characterization data, the formation of ZnO was confirmed and it became clear

    that dissolving or notpreviously the capping agent in water was the key factor for the

    formation of ZnO instead of ZnS.Since small dopant concentrations lead to interesting

    results for ZnO, the same conditions were used to study the doping of ZnS in the third

    stage. This lead, however, to self-assembly of nanocrystals into nanowires after the

    doping process. Self-assembly did not cause changes in the absorption energies

  • v

    according to UV/visible spectra.This was the case even when the dopant concentration

    in the ZnS nanocrystals increased, as analyzed by atomic absorption spectrometry. On

    the other hand, emission spectra were sensitive to changes in Mn2+ concentration,

    showing a behavior consistent with increases in point defects such as sulfur vacancies

    and interstitial sulfur. It was evidenced that Mn2+ ions are presente in the ZnS

    structure.The last study reveals a novel supramolecular arrangement of the crystalline

    structure of a zinc-thiosemicarbazone complex [Zn(TPTSC)2], which exhibits

    potentiality as a single-source molecular precursor to ZnS nanocrystals in future works.

    Keyword: ZnS, ZnO, polyurethanes, doping, precursor single molecular molecule.

  • vi

    SUMRIO AGRADECIMENTOS .......................................................................................................i

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... viii

    LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... xi

    CAPTULO 1 ................................................................................................................... 1

    Introduo ......................................................................................................................... 1

    1.1. Estrutura da tese ..................................................................................................... 1

    1.2. Consideraes gerais sobre o tema da pesquisa ..................................................... 2

    CAPTULO 2 ................................................................................................................... 4

    2.1. Nanocristais semicondutores ................................................................................. 4

    2.2. Reviso da Literatura ........................................................................................... 16

    CAPTULO 3 ................................................................................................................. 19

    3.1. Sntese de Poliuretanos (Pus) .................................................................................. 19

    3.2. Objetivo Geral ......................................................................................................... 26

    3.2.1. Objetivos Especficos ....................................................................................... 26

    3.3. Procedimento Experimental .................................................................................... 27

    3.3.1. Reagentes .......................................................................................................... 27

    3.3.2. Sntese de ZnS passivado com 2-mercaptoetanol (ZnS_ME) .......................... 27

    3.3.3. Sntese do pr-polimero (PP) ............................................................................ 27

    3.3.4. Incorporao do ZnS_ME ao pr-polmero (PU/ZnS) ..................................... 28

    3.3.5. Tcnicas de Caracterizao ............................................................................... 28

    3.4. Resultados e Discusso ............................................................................................ 30

    3.4.1. Espectroscopia de absoro na regio do ultravioleta-visvel (UV-Vis) .......... 30

    3.4.2. Espectroscopia de absoro na regio do infravermelho (FTIR) ..................... 32

    3.4.3. Anlise Termogravimtrica (TGA) .................................................................. 35

    3.4.4. Difrao de Raios-X ......................................................................................... 39

    3.4.5. Fotoluminescncia ............................................................................................ 40

  • vii

    3.4.6. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET) ............................................... 42

    3.5. Concluso ................................................................................................................ 45

    CAPTULO 4 ................................................................................................................. 46

    4.1. xido de Zinco (ZnO)- Algumas consideraes ..................................................... 46

    4.2. Objetivo Geral ......................................................................................................... 49

    4.2.1. Objetivos especficos ........................................................................................ 49

    4.3. Procedimento Experimental .................................................................................... 50

    4.3.1. Reagentes .............................................................................................................. 50

    4.3.2. Sntese e dopagem do ZnO passivado com 2-mercaptoetanol ......................... 50

    4.4. Resultados e Discusso ............................................................................................ 52

    4.5. Concluso ................................................................................................................ 65

    CAPTULO 5 ................................................................................................................. 66

    5.1. Sulfeto de Zinco (ZnS) ............................................................................................ 66

    5.1.1. Automontagem utilizando nanopartcula como unidade formadora ................. 69

    5.2. Objetivo Geral ......................................................................................................... 73

    5.2.1. Objetivo especfico ........................................................................................... 73

    5.3. Procedimento Experimental .................................................................................... 74

    5.3.1. Reagentes .......................................................................................................... 74

    5.3.2. Sntese e dopagem do ZnS passivado com 2-mercaptoetanol .......................... 74

    5.4. Resultados e Discusso ............................................................................................ 76

    5.5. Concluso ................................................................................................................ 87

    CAPTULO 6 ................................................................................................................. 88

    6.1. Complexos, Cristais e arquitetura supramolecular ................................................. 88

    6.2. Objetivo Geral ......................................................................................................... 97

    6.3. Procedimento Experimental .................................................................................... 98

    6.3.1. Sntese do complexo tiossemicarbazona de zinco [Zn(TPTSC)2] .................... 98

    6.4. Resultados e Discusso ............................................................................................ 99

    6.5. Concluso .............................................................................................................. 103

    CAPTULO 7 ............................................................................................................... 104

    Trabalhos Futuros ......................................................................................................... 104

    CAPTULO 8 ............................................................................................................... 105

    Referncias Bibliogrficas ........................................................................................ 105

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Estruturas de bandas eletrnicas possveis no slido a zero graus Kelvin.........5

    Figura 2: Representao da formao de um xciton, banda de valncia, banda de

    conduo, energia do gap: (A) estado fundamental e (B) estado excitado........................7

    Figura 3: Descrio esquemtica das mudanas de densidade de estados (E) em funo

    do confinamento quntico.................................................................................................8

    Figura 4: Partcula em uma caixa unidimensional com paredes impenetrveis. A sua

    energia potencial zero entre x=0 e x=L e cresce abruptamente at o infinito quando ela

    toca nas paredes.................................................................................................................9

    Figura 5: Efeito do confinamento para diferentes tamanhos de partculas......................12

    Figura 6: Variao das cores de emisso de disperses coloidais aquosas de nanocristais

    de semicondutores de CdTe (a) e os correspondentes espectros de absoro ptica UV-

    Vis (b) e de fotoluminescncia (c)...................................................................................14

    Figura 7: Representao do diagrama de energia para os diferentes regimes de

    confinamento devido ao efeito de tamanho.....................................................................15

    Figura 8: Grupo uretano..................................................................................................19

    Figura 9: Representao esquemtica de um poliuretano genrico.................................20

    Figura 10: Representao das estruturas de ressonncia do grupo NCO........................20

    Figura 11: Espectro de absoro do ZnS passivado com 2-

    mercaptoetanol.................................................................................................................30

    Figura 12: Espectro de emisso do ZnS passivado com 2-mercaptoetanol.....................31

    Figura 13: Espectro de absoro na regio do infravermelho do pr-polmero (PP),

    polietilenoglicol (PEG) e 1,6 diisocianato de hexametileno (HDI).................................33

    Figura 14: Espectro de infravermelho do ZnS_ME, PU/ZnS-15 mg de ZnS, PU/ZnS-30

    mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS...............................................................................35

    Figura 15: Curvas termogravimtricas do ZnS_ME, PU, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS............................................................37

  • ix

    Figura 16: Derivada das perdas de massa do ZnS_ME, PU, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS............................................................38

    Figura 17: Difratograma do ZnS_ME, PU, PU/ZnS-15 mg de ZnS, PU/ZnS-30 mg de

    ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS..........................................................................................39

    Figura 18: Espectro de emisso (400-500 nm) do ZnS_ME, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS............................................................41

    Figura 19: Espectro de emisso (610-720 nm) do ZnS_ME, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS............................................................41

    Figura 20: Imagens de microscopia eletrnica de transmisso em diferentes regies da

    mesma amostra PU/ZnS..................................................................................................43

    Figura 21: Difratogramas de Raios-X dos compsitos poliuretano e ZnS (PU_ZnS) e

    poliuretanos com ZnO com diferentes porcentagem do on dopante Mn2+.....................44

    Figura 22: Espectros de FTIR do ZnO dopado com diferentes concentraes de ons

    Mn2+.................................................................................................................................53

    Figura 23: Difratogramas do ZnO dopado com diferentes concentraes de ons

    Mn2+.................................................................................................................................54

    Figura 24: Ampliaes das reflexes em (1 0 0 ), ( 0 0 2 ) e ( 1 0 0 ).............................56

    Figura 25: Espectros de absoro por reflectncia difusa na regio UV-Vis das

    nanopartculas ZnO no dopada e dopadas com diferentes concentraes de ons

    Mn2+.................................................................................................................................59

    Figura 26: Funo Kubelka-Munk e os valores de energia correspondentes ao

    nanocristais de ZnO dopados com diferentes porcentagens de Mn2+..............................60

    Figura 27 a: Espectro de emisso na regio (240-380 nm) das nanopartculas ZnO no

    dopada e dopadas com diferentes concentraes de ons Mn2+.......................................62

    Figura 27 b: Espectros de emisso na regio (470-520 nm) das nanopartculas ZnO no

    dopada e dopadas com diferentes concentraes de ons Mn2+.......................................63

    Figura 27 c: Espectro de emisso na regio (540-700nm) das nanopartculas de ZnO no

    dopadas e dopadas com diferentes concentraes de ons Mn2+.....................................64

    Figura 28: representao da estrutura cristalina do sulfeto de zinco: (A) blenda de zinco

    e (B) wurtzita hexagonal..................................................................................................66

    Figura 29: Diferentes morfologias para o ZnS................................................................67

  • x

    Figura 30: Difratogramas de raios-X das nanopartculas de ZnS dopadas com diferentes

    concentraes de ons Mn2+.............................................................................................76

    Figura 31: Espectros de absoro (UV-Vis) das nanopartculas de ZnS dopadas com

    diferentes concentraes de ons Mn2+............................................................................77

    Figura 32: Imagens de microscopia eletrnica de transmisso (MET) nanopartculas de

    ZnS dopadas com diferentes concentraes de ons Mn2+..............................................78

    Figura 33: Espectros de emissodas nanopartculas de ZnS dopadas com diferentes

    concentraes de ons Mn2+.............................................................................................81

    Figura 34: Ilustrao do diagrama de energia.................................................................82

    Figura 35: Absoro atmica das nanopartculas de ZnS dopadas com diferentes

    concentraes de ons Mn2+.............................................................................................83

    Figura 36: Espectros na regio do infravermelho das nanopartculas de ZnS dopadas

    com diferentes concentraes de ons Mn2+....................................................................84

    Figura 37: Fragmento de estrutura supramolecular de um composto dodecaedro de

    Ce3+..................................................................................................................................88

    Figura 38: Ilustrao da estrutura qumica das tiossemicarbazonas e sua

    numerao........................................................................................................................89

    Figura 39: representao geral da obteno dos compostos

    tiossemicarbazonas..........................................................................................................90

    Figura 40: Comprimentos das ligaes de tiossemicarbazonas em Angstron

    ()....................................................................................................................................90

    Figura 41: Representao das formas tautomricas e aninica dos compostos

    tiossemicarbazonas..........................................................................................................91

    Figura 42: Ilustrao do mecanismo de formao da tiossemicarbazona.......................92

    Figura 43: Perspectiva da estrutura do complexo de zinco 1D ao longo do eixo a

    mostando ligaes de hidrognio (linhas pontilhadas) e o empilhamento tipo -

    .......................................................................................................................................94

    Figura 44: Representao ORTEP da estrutura molecular do complexo [Zn(TPTSC)2]

    com elipsides no nvel de probabilidadede 30%. A desordem representada por

    ligaes abertas e cheias no solvente.............................................................................100

    Figura 45: Vistado polmerounidimensional de ligaes de hidrognio, que se alonga ao

    longo da direodoeixo cristalogrfico a. Asligaes de hidrognioso mostradascomo

  • xi

    linhas tracejadas. A desordem nas molculas de DMSO no so mostradas para uma

    melhor visualizao.......................................................................................................101

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Valores e Estruturas de alguns semicondutores e correspondentes valores de

    band gap............................................................................................................................6

    Tabela 2: Principais diisocianatos .................................................................................21

    Tabela 3: Parmetros de rede e dimetro mdio dos nanocristais de ZnO dopado com

    diferentes concentraesde ons Mn2+............................................................................58

    Tabela 4: Ligao de hidrognio...................................................................................102

  • xii

  • 1

    CAPTULO 1

    Introduo

    1.1. Estrutura da tese

    O trabalho apresentado nesta tese est organizado da seguinte forma. No

    captulo I soapresentadas as consideraes gerais sobre o tema da pesquisa. O captulo

    II traz uma abordagem sobre os nanocristais semicondutores. Em seguida, para cada

    captulo, a diviso composta da seguinte maneira: reviso da literatura, objetivo,

    metodologia, resultados e discusso e concluso. Dessa formano captulo III so

    apresentados os estudos sobre a sntese de poliuretanos a partir da superfcie da

    nanopartcula de ZnS passivado com 2-mercaptoetanol. O captulo IV contm a sntese

    e caracterizao de nanopartculas de ZnO dopadas com ons Mn2+. No captulo V

    descreve-se a sntese de nanopartculas de ZnS dopadas com Mn2+ que foi acompanhada

    de automontagem. O captulo VI apresenta a sntese de um novo cristal complexo

    obtido a partir da interao do zinco com a tiossemicarbazona. No captulo VII so

    abordados os trabalhos futuros.

  • 2

    1.2. Consideraes gerais sobre o tema da pesquisa

    A nanotecnologia e a nanocincia so campos de pesquisa relativamente bem

    estabelecidos, dedicados a aumentar o controle sobre estruturas de materiais na escala

    nanomtrica, em pelo menos uma dimenso. Desta forma, a investigao das

    propriedades em escala nanomtrica bem como das suas aplicaes associadas constitui

    uma rea de pesquisa desafiadora e promissora (TRANDAFILOVIC et al., 2012,

    MANSUR et al., 2012). Adicionalmente, trata-se de sistemas com elevada

    potencialidade quanto manipulao experimental de caractersticas tais como

    composio e arquitetura morfolgica mediante as abordagens sintticas. Neste

    contexto, incluem-se estratgias para que se obtenham arquiteturas slidas aplicveis,

    em contraste ao carter coloidal normalmente decorrente da sntese qumica de

    nanopartculas. O foco do presente trabalho explorar as potencialidades de

    nanocristais semicondutores base de zinco em estratgias sintticas distintas, tais

    como a atuao como monmeros na sntese qumica de polmeros, dopagem

    acompanhada ou no de auto-organizao e obteno de recursos apropriados sntese

    via precursores moleculares do tipo single-source.

    Dentre os materiais nanoestruturados, destacam-se os nanocristais

    semicondutores, tambm conhecidos como pontos qunticos (ou quantum dots),

    nanomateriais promissores referentes explorao de seus recursos em vrias reas da

    cincia, principalmente aquelas associadas com aplicao biomdica. Alm disso, os

    nanocristais semicondutores 12-16 baseados em Cd tm excelentes atributos nas

    propriedades pticas, que podem ser ajustadas por tamanho e composio na fabricao

    de diodos emissores de luz branca. Porm sua inerente toxicidade limita seu uso,

    particularmente, para aplicaes biomdicas (HU et al., 2009, ZHANG et al.,2009,

    ZHOU et al.,2013).

    Atualmente, os nanocristais semicondutores de calcogenetos de zinco (ZnS e

    ZnO) de amplo band gap, dopados com ons de metal de transio, principalmente

    Mn2+ podem no somente superar essa preocupao, mas tambm manter as vantagens

    dos nanocristais emissores(ZHOU et al.,2013). No entanto, para muitas aplicaes,

    necessrio que a superfcie dos pontos qunticos seja quimicamente modificada ou que

    estes sejam incorporados a uma matriz slida (HU et al., 2009, ZHANG et al.,2009, LU

    et al.,2011, MANSUR et al.,2012, SILVA et al.,2010).Para essa finalidade, destaca-se

    como matriz a classe dos poliuretanos que devido a sua ampla diversidade estrutural,

  • 3

    possvel obter infinitas variaes do produto pela combinao de diferentes tipos de

    matrias-primas como poliol, diisocianatos e aditivos, adaptando a estrutura do

    polmero para a obteno da propriedade desejada (OH et al., 2011, ZIA et al.,2010).

    Por outro lado, a estratgia para o desenvolvimento de um precursos molecular

    do tipo single-source foi baseada no reconhecimento molecular por parte de unidades

    discretas para formao de arquiteturas supramoleculares ordenadas, possibilita a

    obteno de estruturas cristalinas de complexos de metais de transio. Dentro deste

    contexto, para favorecer a formao do cristal, faz-se necessrio que o ligante apresente

    em seu esqueleto molecular tomos capazes de formar ligaes de hidrognio, tais como

    -N, -O, -S, esse ligante pertence ao grupo das tiossemicarbazonas (OLIVEIRA et al.,

    2014, AZARKISH et al., 2017). Neste captulo proposto um precursor potencialmente

    apropriado para a sntese de nanocristais base de zinco, em trabalhos futuros.Neste

    contexto, este trabalho tem o objetivo de contribuir no avano da pesquisa de novos

    materiais que apresenta grande potencial para novas aplicaes.

  • 4

    CAPTULO 2

    2.1. Nanocristais semicondutores

    Um slido pode ser considerado como consistindo em um grande nmero de

    tomosque se encontram inicialmente separados uns dos outros e que so

    subsequentemente agrupados e ligados para formar o arranjo atmico ordenado

    encontrado no material cristalino. Em distncias de separao relativamente grandes,

    cada tomo independente de todos os demais, e ir possuir os nveis de energia

    atmica e a configurao eletrnica que teria se estivesse isolado. Entretanto, conforme

    os tomos ficam mais prximos uns dos outros, os eltrons so atrados pelos ncleos de

    tomos adjacentes ou repelidos pelos eltrons desses mesmos tomos. Essa influncia

    tal que, no slido, cada estado atmico distinto pode ser dividido em uma srie de

    estados eletrnicos espaados e prximos uns dos outros, para formar o que

    denominado banda de energia eletrnica (CALLISTER 2008).

    Entre duas bandas de energia consecutivas existe uma regio onde no existem

    estados disponveis, isto , uma regio de energia onde no se encontram eltrons. Esta

    regio chamada de gap de energia. possvel ento definir qualquer tipo de slido,

    temperatura de zero Kelvin (zero absoluto), com relao largura energtica do gap, e

    tambm em relao ocupao das bandas de energia (TUMELERO 2010).

    Quatro estruturas diferentes de bandas eletrnicas (Figura 1) so possveis nos

    slidos a zero graus Kelvin. Na primeira (a) a camada mais externa apenas

    parcialmente preenchida. A energia correspondente ao mais alto nvel ocupado

    chamada de Energia de Fermi (Ef), conforme indicado. Este tipo de estrutura tpico de

    alguns metais, em particular daqueles que tem um nico eltron de valncia no orbital s,

    como o cobre.

    Para o segundo tipo de estrutura (b), tambm encontrada nos metais, h uma

    sobreposio de uma banda vazia ou de conduo (BC) para uma banda preenchida ou

    de valncia (BV). As duas estruturas finais (c) e (d) so semelhantes: uma banda (de

    valncia) completamente preenchida e separada de uma banda (de conduo) vazia.

    Um espao (banda proibida) separa as duas bandas.Nos materiais muito puros, os

    eltrons no podem ter energias dentro desse espaamento. A diferena entre as

  • 5

    estruturas est na largura da banda proibida, que relativamente grande em materiais

    isolantes (c) e pequena para os semicondutores (d) (CALLISTER 2008).

    Figura 1: Estruturas de bandas eletrnicas possveis no slido a zero graus

    Kelvin.

    Dentre os materiais, destacam-se os semicondutores, uma das classes de

    materiais mais versteisconhecidas, devido s suas variedades estruturais, composies

    qumicas e propriedades (eltricas, eletrnicas, magnticas, pticas, trmicas, entre

    outras), esses materiais possuem as mais diversas aplicaes (nas reas de computao,

    comunicao, microeletrnica, optoeletrnica etc.). So classificados de acordo com o

    grupo na tabela peridica, por exemplo, silcio e germnio so do grupo 14, GaN, GaP,

    GaAs, InP e InAs so 13-15, enquanto ZnO, ZnS, CdS, cdSe e CdTe so 12-16 (Tabela

    1)( PASSOS 2015).

  • 6

    Tabela 1: Valores e Estruturas de alguns semicondutores e correspondentes

    valores de band gap

    Os semicondutores podem ser classificados de duas formas: intrnsecos e

    extrnsecos. Em palavras simples, um semicondutor intrnseco um que composto por

    um material semicondutor muito puro. Em termos mais tcnicos, pode-se afirmar que

    um semicondutor intrnseco aquele em que o nmero de buracos igual ao nmero de

    eltrons na banda de conduo. J os semicondutores extrnsecos so aqueles em que o

    estado puro do material semicondutor deliberadamente diludo pela adio de

    quantidades muito pequenas de impurezas conhecidas como dopantes. Mediante a

    dopagem possvel controlar as propriedade eltricas do semicondutor.

    O tipo de dopante d origem a dois tipos de semicondutores extrnsecos:os

    semicondutores do tipoN, onde os eltrons so os portadores marjoritrios em virtude de

    sua concentrao, e do tipoP, no qual o nmero de buracos muito maior do que o

    nmero de eltrons (TUMELERO, 2010, RAHMAN, 2014, CALLISTER, 2008).

    Com a absoro de um fton de energia, nos semicondutores, eltrons so

    conduzidos da banda de valncia para a banda de conduo deixando na banda de

    valncia uma carga eltrica oposta conhecida como buraco. Este buraco possui

    magnitude de carga igual a do eltron, mas de sinal oposto. O conjunto eltron-buraco

    chamado de xciton, que possui existncia vinculada a foras coulombianas fracas,

    formando um estado ligado (Figura 2).

  • 7

    Figura 2: Representao da formao de um xciton, banda de valncia, banda de

    conduo, energia do gap: (A) estado fundamental e (B) estado excitado (SILVA 2012).

    O par eltron-buraco denominado de xciton pode ser descrito, em analogia a

    um sistema hidrogenide, dessa forma, assim como o tomo de hidrognio, o xciton

    ligado possui um raio associado denominado raio de Bohr do xciton (equao 1)

    =40

    2

    2(

    1

    1

    ) =

    402

    21

    equao 1

    onde a constante dieltrica relativa do meio onde se encontram o eltron e o

    buraco, e

    , so as massas efetivas do eltron e do buraco, a massa reduzida

    e o raio de Bohr do xciton.

    Quando o tamanho do material semicondutor macrocristalino (bulk) se reduz a

    escala nonomtrica, ou seja, quando as dimenses do cristal so reduzidas a tamanhos

    inferiores ou comparveis ao raio de xciton de Bohr aB, as dimenses da partcula

    confinam a funo de onda do xciton, aumentando o valor do band gap, devido

    barreira de potencial de superfcie (MARTINSet al., 2012).

    Uma das principais propriedades a ser considerada a funo densidade de

    estados eletrnicos (Figura 3). No caso do semicondutor bulk (3-D), a densidade de

    estados (E) varia de um modo contnuo. Quando se colocam barreiras de potencial

    limitando o seu movimento em uma das direes da ordem de raios de Bohr dos

    portadores no material, verifica-se que ocorre uma mudana na densidade de estados de

  • 8

    energia permitidos. Limitando um dos lados deste cubo tridimensional, os eltrons

    ficam aprisionados em um plano (2D) e a densidade de estados eletrnicos torna-se

    quantizada, estes so os chamados poos qunticos. Progredindo na limitao das

    dimenses, existem ento os chamados fios qunticos (1-D) e os pontos qunticos (0-D)

    (OLIVEIRA ,2009, PASSOS, 2015)

    Figura 3: Descrio esquemtica das mudanas de densidade de estados (E) em funo

    do confinamento quntico (OLIVEIRA , 2009).

    Os materiais semicondutores na escala nanomtrica so denominados de

    nanocristais semicondutoresque so partculas cristalinas, com dimenses tpicas da

    ordem de 1-100 nm e exibem novas propriedades pticas e eletrnicas.

    Em comparao ao macrocristalino(bulk), os nanocristais tm um diverso e

    crescente intervalo de parmetros que podem ajustar seu band gap eletrnico, incluindo

    tamanho, forma e composio. Esteajuste se deve ao mais popular termo no mundo

    nano que o efeito deconfinamento quntico, fazendo com que as propriedades destes

  • 9

    materiais se tornem dependentes do tamanho (SURESH et al., 2013, SMITH et al.,

    2010, XAVIER 2013, REPP et al., 2016).

    Qualitativamente, o efeito de confinamento quntico pode ser compreendido

    como um problema da partcula na caixa, onde o espaamento dos nveis de energia

    aumenta com a reduo das dimenses da caixa. Este efeito se caracteriza atravs da

    restrio da movimentao dos portadores de carga eltron-buraco (xciton) em uma,

    duas ou trs dimenses aumentando sua energia com a quantizao

    Para explicar a quantizao da energia, o modelo da partcula na caixa consiste

    no seguinte: uma partcula de massa m est confinada entre duas paredes em x=0 e x=L,

    a energia potencial zero dentro da caixa e aumenta abruptamente at o infinito nas

    paredes (Figura 4). Analogamente, um eltron quando confinado, ao se aplicar um

    potencial de energia, s pode se mover na regio do espao ao qual est confinado.

    Figura 4: Partcula em uma caixa unidimensional com paredes impenetrveis. A sua

    energia potencial zero entre x=0 e x=L e cresce abruptamente at o infinito quando ela

    toca nas paredes.

    De acordo com o modelo, o eltron descrito como uma funo de onda que

    resolvida atravs da equao de Schrdinger. No caso de uma partcula livre, qualquer

    valor de energia corresponde a uma soluo aceitvel, pois de acordo com a mecnica

    quntica a equao de Schrdinger vista apropriadamente nas equaes 2 e 2.a

    2

    2m

    2

    2= equao 2

  • 10

    = 2

    2

    2

    2 equao 2.a

    As autofunes e autovalores so identificados de acordo com a equao 3:

    = + =

    22

    2

    equao 3

    possvel verificar que as funes so solues da equao substituindo no

    lado esquerdo da equao 2 e mostrando que o resultado da substituio igual a .

    Neste caso, todos os valores de k so aceitveis e, portanto, todos os valores da energia

    so permitidos. Segue-se que a energia de translao de uma partcula livre no

    quantizada.

    Entretanto, quando a partcula est confinada em uma certa regio, as funes de

    ondaimpostas aceitveis devem satisfazer a certas condies de contorno, que so as

    restries impostas funo em certas localizaes. Uma funo de onda decresce

    exponencialmente com a distncia dentro de uma barreira, tal como uma parede, e o

    decrscimo infinitamente rpido quando a energia potencial infinita. Este

    comportamento consistente com o fato de que fisicamente impossvel a partcula ser

    encontrada com uma energia potencial infinita.

    A equao de Schrdinger na regio entre as paredes, em que V=0, semelhante

    da partcula livre (equao 2), de modo que a soluo geral tem a forma da equao 4.

    Entretanto, posvel usar a relao = cos sen para escrever

    = + = (cos + sen ) + (cos sen )

    = ( + ) cos + ( ) sen

    equao 4

    Se todos os fatores numricos so absorvidos nos coeficientes C e D, ento a

    soluo geral fica na forma da equao 5

  • 11

    () = sen + cos =22

    2

    equao5

    Conclui-se que a funo de onda deve ser nula quando V for infinito, ou seja, em

    xL. A continuidade da funo de onda exige ento que ela seja nula, no

    interior da caixa, em x=0 e em x=L. Ou seja, as condies de contorno so(0) =

    0 e() = 0. Estas condies de contorno implicam na quantizao, conforme pode

    ser observado a seguir:

    Em x=0:

    () = sen + cos

    (0) = sen 0 + cos 0

    (0) =

    Mas a condio de contorno diz que a funo deve ser zero

    (0) = 0 , logo D tambm tem que ser 0. Dessa forma a funo de onda fica

    () = sen

    Para x=L:

    O valor de () = sen , que tambm deve ser zero (() = 0). Dessa

    forma kL deve ser escolhido, de modo que sin kL=0, o que leva a

    kL=n

    1,2,3..

    A funo de onda ento fica

    () = sen(

    )

  • 12

    Como:

    =22

    2 , onde = /, a energia fica limitada aos valores de n.

    Assim, a energia da partcula confinada em determinada direo quantizada e

    esta quantizao das condies de contorno impostas a para que ela seja uma funo

    de onda aceitvel. Esta uma concluso geral: a necessidade de satisfazer s condies

    de contorno faz com que somente algumas funes de onda sejam aceitveis e,

    consequentemente, os observveis se restrinjam a certos valores discretos (ATINKS)

    Esta ideia simples promove uma base para compreenso do aumento do band

    gap com a reduo do tamanho da partcula. Porm o uso do modelo da Aproximao

    da Massa Efetiva (AME) descreve a variao do band gap com o tamanho para

    nanocristais semicondutores. O efeito do confinamento quntico para diferentes

    tamanhos de partculas mostrada na Figura 5 (GAPONIK).

    Figura 5: Efeito do confinamento para diferentes tamanhos de partculas.

    Para um potencial infinito fora do nanocristal e zero dentro, Brus e outros

    autores propuseram a seguinte equao 6 para o band gap, ER, de um ponto quntico de

    raio R:

    =22

    22[

    1

    +

    1

    ]

    1.82

    equao 6

  • 13

    onde Eg o band gap do bulk e R o raio da nanopartcula. O primeiro termo

    corresponde a energia cintica para a no interao eltron e buraco em uma caixa

    espacial de raio R. O segundo termo, 1.82

    , devido a interao coulombiana entre o

    eltron e o buraco.

    Aps a excitao com energias acima do intervalo de banda e promoo de um

    eltron para a banda de conduo, o eltron pode recombinar com o buraco deixado na

    banda de valncia dando origem a uma emisso de luz. A recombinao direta dos

    eltrons e dos buracos das bandas a partir das bandas de conduo e de valncia

    referida como o processo de recombinao "aresta de banda".

    Quando defeitos esto presentes na estrutura cristalina, ou na superfcie

    cristalina, os eletrons e orifcios podem recombinar a partir de "armadilhas" formados

    nestes defeitos, e a emisso pode ser deslocada para outros comprimentos de onda

    (TOMCZAK et al., 2009). Quando o tamanho da partcula se aproxima do raio de

    xciton de Bohr, o efeito de confinamento quntico causa aumento da energia. Como

    uma consequncia, a absoro e emisso de luz passam por pronunciado deslocamento

    na freqncia com a reduo do tamanho da partcula (Figura 6) (REPP et al., 2016).

  • 14

    Figura 6: Variao das cores de emisso de disperses coloidais aquosas de nanocristais

    de semicondutores de CdTe (a) e os correspondentes espectros de absoro ptica UV-

    Vis (b) e de fotoluminescncia (c) (SILVA et al., 2010).

    Dependendo da relao entre o raio (R) do nanocristal e o raio de Bohr do

    xciton (aB) trs regimes de confinamento so definidos. Na figura 7 possvel observar

    uma representao simplificada das modificaes introduzidas nos diagramas de nveis

    de energia devido ao efeito do tamanho.

  • 15

    Figura 7: Representao do diagrama de energia para os diferentes regimes de

    confinamento devido ao efeito de tamanho.

    Se R>>aB, obtm-se o regime de confinamento fraco e somente os xcitons tem

    o seu movimento confinado. Neste caso os estados dos portadores so os mesmos do

    semicondutor bulk, no ocorrendo o confinamento dos portadores individualmente, no

    entanto, o movimento global pode ser afetado pela superfcie e isso resulta, para o

    estado de menor energia, na formao de um xciton confinado.

    Se R aB, tem-se um regime de confinamento intermedirio e somente os

    eltrons tm o seu movimento quantizado. Os autores Efros e Brus estudaram este caso

    considerando que o eltron mais leve que o buraco, tendo assim uma energia cintica

    maior, cujo potencial que age sobre o buraco pode ser visto como uma mdia sobre o

    movimento do eltron.

    Se R

  • 16

    Os parmetros de tamanho e da forma so controlados a partir da sntese desses

    nanocristais. Esta pode ser realizada pelo mtodo top-down, que utiliza tcnicas fsicas

    em que os nanocristais podem ser crescidos por litografia, ou pelo mtodo bottom-up,

    que emprega tcnicas de qumica coloidal, onde incluem-se as rotas no-aquosa ou

    aquosa. Dentre elas, a mais utilizada para preparar pontos qunticos a rota por soluo

    no-aquosa, pois possvel obter nanocristais com tamanhos relativamente uniformes,

    apesar de ser possvel produzir apenas pequenas quantidades do material. (SILVA 2010,

    SILVA 2012, TALAPINA et al., 2002, WU et al., 2009).

    2.2. Reviso da Literatura

    CAO et al. (2010) sintetizaram nanocristais de ZnS dopado com ons Mn2+ pelo

    mtodo solvotrmico a 180C em diferentes solventes. Os resultados mostraram a

    eficcia do mtodo, pois foram produzidos nanocristais de ZnS com diferentes formas a

    depender do solvente utilizado. Os nanocristais preparados em etanol obtiveram seus

    dimetros entre 10-15 nm com estrutura cbica. J os nanocristais de ZnS preparados

    com o etilenodiamina e gua mostraram tamanho entre 8-10 nm com estrutura

    hexagonal.

    Ainda na sntese de nanopartculas, a precipitao seletiva de tamanhos um

    mtodo de ps-preparo muito utilizado em snteses coloidais de pontos qunticos

    quando se deseja obter fraes de nanopartculas com distribuies mais estreitas de

    tamanhos, nas quais so obtidos nanopartculas com cores de emisso homogneas, o

    que muito importante do ponto de vista da aplicao tecnolgica (VIOL et al., 2011)

    VIOL et al. (2011) utilizaram a tcnica de precipitao seletiva de tamanho ps-

    preparo na sntese de nanocristais semicondutores CdTe e CdSe preparados via rota

    coloidal em gua. A sntese de nanopartculas de CdTe e CdSe e o efeito da precipitao

    seletiva de tamanho ps-preparativa foram caracterizados principalmente por

    espectroscopia de absoro ultravioleta e visvel (UV-Vis). Foi demonstrado que a

    precipitao seletiva de tamanho capaz de isolar partculas de diferentes tamanhos, e

    tambm purificar as nanopartculas.

    XIA et al. (2015) sintetizaram nanocristais de ZnS e ZnSe precipitados em vidro

    atravs do tratamento trmico. Os espectros de absoro, padro de DRX e microscopia

    eletrnica de transmisso de alta resoluo de todas as amostras confirmaram que os

  • 17

    nanocristais de ZnSe e ZnS foram formados no vidro.Os ombros de absoro doZnSe e

    ZnS apareceram a 2,76 e 3,78 eV, correspondendo s energias dobad gap do bulkdos

    cristais de ZnSe e ZnS, respectivamente. Em vez das emisses intrnsecas, observou-se

    fotoluminescncia visvel de banda larga a partir dos defeitos de superfcie dos cristais

    obtidos.

    CHANDRAKAR et al. (2015) prepararam nanopartculas de ZnS pelo mtodo

    de precipitao qumica utilizando diferentes concentraes do agente de recobrimento

    o mercaptoetanol. Os tamanhos das nanopartculas ficaram entre 1e 3 nm. Com a

    reduo do tamanho de partcula a banda de emisso desloca de 468 nm para 408 nm

    caracterizando o blue shift (regio do azul).

    As rotas coloidais baseadas na sntese e precipitao controlada em geometrias

    restritas tm sido exploradas de forma a obter pontos qunticos de alta

    qualidade.Contudo, a superfcie de ponto quntico tem de ser protegida e funcionalizada

    para proporcionar a ampliao do espetro de aplicao (HEZINGER et al.,, 2008,

    TOMCZAK et al., 2009).

    Neste contexto, polmeros podem ser utilizados como substitutos das pequenas

    molculas de ligantes orgnicos ou como modificadores de superfcie. De acordo com a

    literatura, a superfcie dos nanocristais quando preparados por fase no aquosa pode ser

    modificada por troca de ligante, encapsulamento em slica como tambm por

    recobrimento com polmeros. No caso dos polmeros, estratgias como interaes

    hidrofbicas entre a superfcie dos nanocristais contendo o ligante e polmeros

    anfiflicos (WU et al., 2009, SIEGWART et al.,2012); ligao entre os ligantes e

    polmeros multidentados (JANCZEWSKI et al.,2009) e reaes de polimerizao

    diretamente na superfcie dos nanocristais (TOMCZAK et al.,2009) tm sido abordadas

    com frequncia.

    Todos os mtodos citados anteriormente para o recobrimento da superfcie dos

    nanocristais com polmeros, com exceo do uso de polmeros anfiflicos, requerem a

    troca de ligante como uma das etapas, uma vez que os nanocristais j esto formados, o

    que, geralmente, conduz a perdas das suas propriedades.

    Uma variedade de matrizes polimricas tem sido usada no preparo de

    nanocompsitos, bem como diferentes mtodos de preparao incluindo a mistura

    simples de componentes, preparao dos nanocristais in situ na cadeia polimrica ou

    polimerizao dos monmeros in situ na presena dos nanocristais. Este se destaca, pois

    possibilita um maior controle sobre as propriedades fsica/qumicas da matriz, como

  • 18

    tambm uma boa disperso do nanocristal, originando nanocompsitos homogneos de

    fcil processamento e baixo custo de produo (ESTEVES et al., 2004, KICKELBICK

    et al., 2003).

    A incorporao de polmeros diretamente na superfcie do nanocristal

    explorada no contexto de aplicaes na rea biolgica e optoeletrnica (TOMCZAK et

    al., 2009).

  • 19

    CAPTULO 3

    3.1. Sntese de Poliuretanos (Pus)

    Em 1849, Wurtz divulgou a sntese em laboratrio de uma substncia que

    denominou uretano (ou uretana) (Figura 8), sendo este o produto da reao qumica

    entre um grupo isocianatocom outro composto que apresenta o grupo hidroxila.

    Entretanto, esta descoberta s teve aplicao industrial quase 100 anos depois, quando

    Otto Bayer props o uso de diisocianatos e diis para a preparao de macromolculas,

    dando incio a classe de polmeros chamada de poliuretanos (PUs) (OH et al., 2011,

    ZIA et al., 2010, SARIER et al., 2007, KRICHELDORF et al., 2005).

    Figura 8: Grupo uretano

    Os poliuretanos ou PUs so caracterizados pela presena do grupo uretano em

    sua estrutura (Figura 8), mas tambm podem apresentar na cadeia polimrica grupos

    steres, teres, amida, uria, hidrocarbonetos, entre outros. A principal reao envolvida

    nas preparaes dos PUs ocorre entre um composto hidroxilado (poliol) e um

    diisocianato (NCO-R-NCO) formando a ligao uretnica, que caracteriza esta classe de

    polmeros. Dependendo da aplicao do produto final, tambm podem ser usados

    agentes de cura, reticuladores ou extensores de cadeia, agentes de expanso,

    catalisadores, aditivos, cargas, etc. Uma reao genrica para a obteno de poliuretanos

    apresentada na Figura 9 (OH et al., 2011, CHATTOPADHYAY et al., 2009,

    COUTINHO et al., 2002, DONNELLY et al., 1991):

  • 20

    Figura 9: Representao esquemtica de um poliuretano genrico

    (CHATTOPADHYAY et al., 2009).

    Como dito anteriormente, os diisocianatos e os poliis so as substncias-chave

    para a sntese do poliuretano. Os diisocianatos so caracterizados pela presena do

    grupo NCO, o qual apresenta elevada reatividade originada pela sua estrutura eletrnica,

    que pode ser representada pelas estruturas de ressonncia mostradas na Figura 10

    (KRICHELDORF et al., 2005, WIRPSKA 1993):

    Figura 10: Representao das estruturas de ressonncia do grupo NCO

    Comercialmente, podem ser encontrados diisocianatos que apresentam grupos

    aromticos, alifticos, cicloalifticos e policclicos. Geralmente, os aromticos so mais

    reativos que os alifticos (CHATTOPADHYAY et al., 2009, KRICHELDORF et al.,

    2005, VILLAR, 2004).

    Os compostos hidroxilados empregados na sntese vo desde lcoois de baixa

    massa molar at polmeros sintticos de massa molar relativamente elevada

    (oligmeros), como politeres, polisteres, polihidrocarbonetos, cuja terminao deve

    ser de pelo menos dois grupos hidroxila (OH). Compostos de origem natural, tais como

    os triacilgliceris (leo de mamona, por exemplo), tambm podem ser usados, de

    acordo com a caracterstica esperada para o produto final (CHATTOPADHYAY et al.,

    2009, VILLAR, 2004, COUTINHO et al., 2002). Na Tabela 2, so apresentados alguns

    diisocianatos mais comumente utilizados para a fabricao de poliuretanos (SULTAN

    etal.,2011, KRICHELDORF et al., 2005).

  • 21

    Tabela 2: Principaisdiisocianatos

    Os poliuretanos podem ser considerados copolmeros em blocos, definidos como

    macromolculas compostas de segmentos ou blocos de dois homopolmeros

    essencialmente puros, com caractersticas e massas moleculares diferentes que se

    alternam na cadeia polimrica atravs da ligao uretnica. Esses blocos distintos,

    chamados de segmentos flexveis (poliol) e segmentos rgidos (ligao uretnica) so

    conhecidos por ter uma estrutura de microfases separadas e exercem efeitos nas

    propriedades finais do copolmero (ALKAN et al., 2012, ZIA et al., 2008).

    A maior vantagem na preparao de PUs que eles podem ser sintetizados a

    partir de vrios tipos de polmeros que contm diferentes propriedades mecnicas e

    fsicas, fato que os torna teis em algumas aplicaes, tais como adesivos,

    revestimentos, materiais biomdicos, elastmeros e peles sintticas. Alm disso, os PUs

    tm um grande nmero de aplicaes comerciais em que podem ser moldados,

    injetados, extrudados e reciclados (ZIA et al., 2008).

    Entretanto, para muitas aplicaes, modificaes das propriedades fsicas e

    qumicas destes materiais, atravs de reao ou de mistura com outros polmeros

  • 22

    biodegradveis ou no-biodegradveis, so muitas vezes necessrias para satisfazer os

    desempenhos exigidos.

    Devido crescente preocupao com questes e exigncias ambientais,

    materiais polimricos biodegradveis e biocompatveis tem sido o centro de interesse

    pblico, proteo ambiental e desenvolvimento sustentvel. Esses polmeros so

    desejveis tanto comercialmente quanto em aplicaes mdicas tais como embalagens,

    implantes cirrgicos, liberao de frmacos, mas seu uso ainda limitado devido ao seu

    alto custo ou ao seu baixo desempenho.

    A grande variedade de isocianatos e poliis disponveis para a sntese de

    poliuretanos possibilita a produo de polmeros lineares ou reticulados contendo no s

    ligaes uretnicas, que so a base de sua classificao, mas tambm outros tipos de

    ligaes provenientes dos monmeros e extensores de cadeia utilizados, o que leva a

    uma ampla gama de produtos, com propriedades finais variadas. , portanto, de grande

    interesse que materiais base de poliuretanos cada vez menos txicos e poluentes sejam

    continuamente desenvolvidos, uma vezque sua presena e importncia na vida cotidiana

    so bastante significativas (COUTINHO et al., 1999).

    Do ponto de vista qumico existem dois mtodos principais de preparao de

    PUs. No primeiro, todos os reagentes so misturados em uma nica etapa (one-shot) e,

    no segundo, procede-se a preparao de um pr-polmero de baixa massa molar, seguida

    de extenso da cadeia at obteno de um polmero com massa molar mais elevada e

    formao de ligaes cruzadas. De forma resumida, a sntese de polmeros da classe dos

    poliuretanos pode ser realizada de duas formas: por uma ou duas etapas (DA RZ et al.,

    2009, GURUNATHANA et al., 2015, PATEL et al., 2015).

    Dentre os mtodos de sntese, destaca-se a formao de pr-polmeros nos quais

    podem ser incorporados diferentes compostos com funcionalidade para a reticulao do

    polmero final.

    A exemplo, o trabalho desenvolvido por DA RZ et al. (2009) descreve a

    preparao e a caracterizao de um polmero de amido, utilizado como poliol,

    reticulado com diisocianato. As anlises por espectroscopia na regio do infravermelho

    confirmaram a ocorrncia da reao pela presena da banda de carbonilauretnica (1710

    cm-1). Os testes de solubilidade e de intumescimento tambm demonstraram uma

    estrutura com reticulao. Nos difratogramas de raios-X foi observado que o produto

    formado apresentou carter amorfo, em contraste com o observado para o amido nativo,

  • 23

    demonstrando a perda da organizao macromolecular, decorrente da formao das

    ligaes cruzadas.

    ZOU et al. (2011) estudaram o efeito do amido na estrutura e propriedade do

    poliuretano disperso em gua (WPU). Esta estratgia propicia a ocorrncia de ligao de

    hidrognio, uma interao essencial em poliuretanos que afeta a estrutura de separao

    de fases e propriedades mecnicas dos materiais. Os autores concluram que a adio do

    amido matriz PU parece reduzir ligeiramente a frao do pico relacionado ao grupo

    carbonila livre localizado em 1732 cm-1 cuja frao para WPU foi de 65,2%, enquanto

    para os compsitos WPU contendo 30% de amido foi de 61,6%. Isto indica que a

    ligao de hidrognio associada com o segmento rgido (C=O) e o segmento flexvel

    do diol foi melhorado, o que foi atribudo s ligaes de hidrognio recm-formadas

    entre os componentes.

    No trabalho de ZHANG et al., 2012, foram sintetizados pr-polmeros de

    poliuretanos utilizando trs tipos de poliol baseados na policaprolactona, a fim de

    avaliar o efeito do nmero de hidroxilas sobre a compatibilidade entre o amido e os

    poliuretanos formados. Com o amento do nmero de grupos OH, a compatibilidade

    entre o amido e os poliuretanos foi melhorada sem prejudicar a viscosidade do material.

    A tenacidade, bem como a estabilidade trmica dos compsitos, foi simultaneamente

    aumentada enquanto a cristalinidade diminuiu.

    Comportamento similar foi verificado por ZHAO et al. (2013) que prepararam

    nanocompsitos PU/nanocristais celulose (WBPU/CNCs) para serem utilizados como

    agente de antifeltragem (reduzem o efeito de encolhimento de tecidos de l). Devido

    existncia de grupos OH ativos na superfcie dos CNCs, bem como grupos amino (-

    NH2) e cido carboxlico (COOH) na l e NCO do WBPU, fortes interaes entre

    todos os componentes podem ocorrer quando a superfcie do nanocompsito revestida

    com a l. Aps a adio de 1% CNCs na matriz WBPU o pico de vibrao de

    estiramento da carbonila do WBPU foi deslocado para maiores nmeros de onda, de

    1652 para 1661 cm-1. Isto sugere que a incorporao de CNCsrompe as ligaes de

    hidrognio entre o NH e C=O devido forte interao entre CNCs e WBPU que foi

    confirmada pela distribuio e disperso uniformes das partculas na matriz, verificada

    atravs da microscopia eletrnica de varredura MEV.Alm disso, esses carboidratos

    possuem caractersticas similares ao polietileno glicol (PEG), um poliol bastante

    utilizado na sntese de pr-polmeros de poliuretanos.

  • 24

    Mais recentemente TOOSI et al. (2015) utilizaram o polibutadieno com

    terminao hidroxila como poliol na sntese de poliuretanos a partir de pr-polmeros

    com propriedades mecnicas adequadas. De acordo com os estudos, a funcionalidade do

    polibutadieno o fator mais importante pois interfere diretamente no ponto de

    gelificao, o qual est diretamente relacionado com as propriedades mecnicas.

    ZIELENIEWSKA et al. (2015) avaliaram o uso de diferentes tipos de poliol na

    fabricao de espumas rgidas de poliuretanos pr-formados, com o objetivo de

    determinar a influncia do teor de poliol nas propriedades do polmero formado. Como

    resultado, a espuma de poliuretano sintetizada utilizando 50% de poliol a base de

    plantas foi selecionada como produto ideal para indstria de cosmticos, devido a sua

    estrutura porosa regular, boas propriedades mecnicas e biolgicas, elevada estabilidade

    trmica, elevada resistncia ao envelhecimento e baixa absoro de gua.

    JIA et al. (2015) utilizaram trs poliis sintetizados a partir do leo de soja para

    produzir espumas rgidas de poliuretano. Com 25% em peso de teor de poliol base de

    soja, a introduo de fenol resultou na melhoria da resistncia compresso, da

    estabilidade trmica e da temperatura de transio vtrea da bio-espuma.

    Na literatura so encontrados poucos trabalhos que descrevem a utilizao de

    nanocristais semicondutores com a finalidade de poliol. Neste sentido, o pr-polmero

    pode exercer duas funes, uma como um passivante a mais superfcie do nanocristal

    e, a outra como uma matriz desejvel como suporte para manter e/ou melhorar suas

    propriedades, em especial de luminescncia, ampliando o campo de aplicaes.

    Muitos polmeros podem ser usados como estabilizantes especficos para a

    sntese em soluo de nanocristais e preparao de nanocompsitos pontos

    qunticos/polmero com diferentes propriedades, sendo esta uma rea de interesse em

    pesquisa devido as suas propriedades pticas e eletrnicas (LU et al.,

    2011,TRANDAFILOVIC et al., 2008). Tais propriedades so proporcionadas pela forte

    interao interfacial entre a carga e polmero, tornando-os muito atrativos para vrias

    aplicaes biolgicas tais como biossensores pticos, marcadores biolgicos, dentre

    outros (YUAN et al., 2012, GUO et al., 2006).

    Uma vez que os nanocristais semicondutores estejam incorporados na matriz, o

    polmero pode atuar no s como um estabilizador de superfcie, mas tambm pode

    propiciar um crescimento controlado dos nanocristais. Aspectos importantes envolvidos

    na formao destes sistemas so a uniformidade, a continuidade da fase, os tamanhos

  • 25

    dos cristais, os quais possuem influncia direta sobre as propriedades pticas, fsicas e

    mecnicas (FABREGAT et al., 2012, BARDAJEE et al., 2011).

    Embora exista um nmero razovel de publicaes envolvendo nanocristais em

    polmeros para a formao de hbridos (LIN et al., 2010, LIU et al., 2012, PRASANTH

    et al., 2015), pouco se tem com relao a preparao e caracterizao utilizando o

    poliuretano como matriz. Atravs deste, devido a sua ampla diversidade estrutural,

    possvel obter infinitas variaes do produto pela combinao de diferentes tipos de

    matrias-primas como os poliis, diisocianatos e aditivos, adaptando a estrutura do

    polmero para a obteno da propriedade desejada (OH et al., 2011).

    Um vasto nmero de trabalhos envolvendo poliuretanos encontrado na

    literatura, mas alguns relatam a formao do mesmo a partir da superfcie de

    nanocristais. Nanocristais de CdS foram incorporados na matriz poliuretano via

    polimerizao in situ em sistema de micela reversa (HIRAI et al., 1999, HIRAI et

    al.,1991). Considerando a elevada rea superficial, CHEN et al.,2007 utilizaram o 2-

    mercaptoetanol como ligante orgnico para evitar aglomeraes na matriz de

    poliuretano. Os estudos relacionados com hbridos ZnS/PU avaliaram a incorporao do

    ZnS com a finalidade de aumentar o ndice de refrao do nanocompsito produzido

    (LU et al., 2003, LIU et al.,2010, LIN et al., 2010).

    Assim, a utilizao de uma matriz polimrica como suporte para nanocristais

    vivel e potencialmente vantajosa. No entanto, necessrio resolver a compatibilidade

    entre as nanopartculas e a matriz polimrica, adaptando as caractersticas da superfcie

    das nanoparticulas estrutura dos monmeros. Para atender a este objetivo, no presente

    trabalho foram sintetizados nanocristais de ZnS passivados com 2 mercaptoetanol, para

    serem utilizados como poliol na sntese de um novo poliuretano.

  • 26

    3.2. Objetivo Geral

    Sntesar e incorporar ZnS_ME em matriz pr- polimrica de uretano

    3.2.1. Objetivos Especficos

    - Sintetizar ZnS passivado com 2 mercaptoetanol (ZnS_ME)

    - Incorporar diferentes quantidades em massa do ZnS_ME em matriz pr-polimrica de

    uretano

    - Caracterizar os nanocristais e compsitos obtidos utilizando as seguintes tcnicas:

    Espectroscopia na regio do infravermelho com transformada de Fourier

    (FTIR):

    Difratometria de raios X (DRX)

    Anlise termogravimtrica (TGA)

    Espectroscopia de absoro na regio do ultravioleta-visvel (UV-Vis)

    Espectroscopia de emisso fluorescente (FL)

    Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET)

  • 27

    3.3. Procedimento Experimental

    3.3.1. Reagentes

    Para a sntese do pr-polmero:1,6 diisocianato de hexametileno (HDI) da

    Sigma-Aldrich, Poli(etilenoglicol) de massa molar 1500 g.mol-1, N,N-

    dimetilffformamida P.A.- Dinmica, 2-etilhexanoato de estanho (II)- Sigma-Aldrich.

    Para a sntese da nanopartcula: 2-mercaptoetanol P.S Dinmica, Tiouria-

    Acros Organics, Acetato de zinco P.A. dihidratado- Acros Organics/Synth, lool

    isoproplico P.A.- Neon.

    3.3.2. Sntese de ZnS passivado com 2-mercaptoetanol (ZnS_ME)

    As nanopartculas de ZnS_ME foram sintetizadas, de acordo com o

    procedimento descrito na literatura (LIU et al., 2010) com algumas modificaes: foram

    adicionandos 6,6 mmol de acetato de zinco, 4,5 mmol de tiouria e 13,2 mmol do 2-

    mercaptoetanol em 50 mL de N,N dimetilformamida (DMF). A mistura ficou sob

    agitao durante 10 min temperatura ambiente.Em seguida levada ao micro-ondas

    onde permaneceu a uma temperatura de 100C por 30 minutos. Aps este tempo,

    adicionou-se lcool isoproplico soluo transparente at ocorrer a precipitao de um

    slido branco, oZnS_ME. Os nanocristais de ZnS_ME foram lavados trs vezes com

    gua destilada, centrifugados e secos em estufa a vcuo por 24h.

    3.3.3. Sntese do pr-polimero (PP)

    O pr-polmero formado a partir da reao entre o polietilenoglicol (PEG) e o

    diisocianato de hexametileno (HDI) com razo NCO/OH=4.Em balo de fundo

    redondo, foi adicionado 1g de polietilenoglicol (PEG), massa molar 1500g/mol, em

    10mL de dimetilformamida (DMF) at completa solubilizao. Em seguida, 0,45mL de

    diisocianato de 1,6-hexametileno (HDI) foi adicionado lentamente ao balo na presena

    de duas gotas do catalisador 2-etilhexanoato de estanho (II). Aps adio completa do

  • 28

    HDI e catalisador, a mistura reacional foi submetida a agitao, mantendo temperatura

    com banho de silicone de 70C, livre de umidade por um tempo de 4h. Aps este tempo

    o pr-polmero formado foi resfriado a temperatura ambiente.

    3.3.4. Incorporao do ZnS_ME ao pr-polmero (PU/ZnS)

    Diferentes quantidades em massa (5, 30 e 60 mg) do ZnS_ME foram dispersas

    em 10mLde DMF e adicionadas lentamente ao pr-polmero (PP). Em seguida, o

    sistema foi aquecido a 80C sob agitao magntica durante 4 h. Aps este tempo, as

    misturas foram vertidas em acetona, centrifugados, lavados trs vezes com gua

    destilada e secas, em estufa a vcuo, por 24h.

    As amostras obtidas de acordo com o procedimento descrito foram denominadas

    da seguinte forma: sulfeto de zinco puro passivado com 2-mecaptoetanol (ZnS_ME);

    PU/ZnS com 15mg do ZnS_ME; PU/ZnS com 30mg do ZnS_ME e PU/ZnS com

    60mg do ZnS_ME.

    3.3.5. Tcnicas de Caracterizao

    Espectroscopia na regio do infravermelho com transformada de Fourier

    (FTIR): os espectros das amostras, em forma de pastilha de KBr, foram obtidos em um

    equipamento da Perkin Elmer Spectrum BX, com resoluo de 4 cm-1, na faixa de 4000-

    400cm -1 com 16 acumulaes.

    Difratometria de raios X (DRX): as fases cristalinas foram obtidas em um

    difratmetro Rigaku RINT 2000/PC com fonte de radiao Cu-k alfa (1,54056 A) operando

    em 40kV/40 mA. Todas as medidas foram realizadas em modo contnuos scan com

    velocidade de varredura de 2/min no intervalo de 2 teta 10-60.

    Anlise termogravimtrica (TGA): o comportamento trmico das amostras

    foirealizado no intervalo de temperatura entre 30 a 600 C com taxa de aquecimento de 10

    /min, em atmosferade nitrognio (N2) e fluxo de 100 mL/min em um equipamento da marca

    TA INSTRUMENTS SDT 2960.

  • 29

    Espectroscopia de absoro na regio do ultravioleta-visvel (UV-Vis): Utilizou-se

    um espectrofotmetro Perkin Elmer Lambda 45. As medidas foram realizadas, em

    temperatura ambiente, na regio de 200-600nm.

    Espectroscopia de emisso fluorescente (FL): os espectros foram obtidos utilizando

    um espectrofotmetro Perkin Elmer Lambda 55, com excitao em 267 nm.

    Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET): as amostras foram preparadas por

    dissoluo em lcool isoproplico e gotejadas sobre grades de cobre recobertas com carbono.

    Foram analisadas no equipamento JOEL-JEM 1400 Plus operando a uma voltagem 120 Kv.

  • 30

    3.4. Resultados e Discusso

    3.4.1. Espectroscopia de absoro na regio do ultravioleta-visvel (UV-

    Vis)

    O sulfeto de zinco (ZnS_ME) foi sintetizado a partir do acetato de zinco e da

    tiouria em N,N-dimetilformamida (DMF) usando como agente passivante o 2-

    mercaptoetanol. Sua formao foi confirmada atravs dos espectros de absoro (Figura

    11) e emisso (Figura 12) que mostram o mximo de absoro em 267nm e emisso 337

    nm. O ZnS_ME sintetizado, quando comparado ao ZnS tipo macrocristalino (bulk), que

    possui absoro em aproximadamente 338 nm (3,66 eV) (UMMARTYOTIN et al.,

    2012), exibe um deslocamento tpico no espectro de absoro para menores

    comprimentos de onda (blue shift), fato este indicativo do efeito de tamanho sobre as

    propriedades espectroscpicas, ou seja, confinamento da partcula (WANG et al., 2013,)

    200 300 400

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    Ab

    sorb

    n

    cia

    (nm)

    ZnS_ME

    Figura 11: Espectro de absoro do ZnS passivado com 2-mercaptoetanol.

  • 31

    Figura 12: Espectro de emisso do ZnS passivado com 2-mercaptoetanol.

    Medidas de luminescncia so identificadas como uma das tcnicas mais

    importantes para avaliar o estado de energia da superfcie das partculas. Na

    espectroscopia de absoro UV-Vis, o deslocamento do mximo de absoro observado

    do ZnS_ME para menores comprimentos de onda (blue shift) em relao ao ZnSbulk,

    indica formao de nanopartculas. O nvel de defeitos tambm desempenha um papel

    importante na determinao da caracterstica de luminescncia das nanopartculas, pois

    atravs destes, tambm pode ser verificada a eficincia do passivante pela presena ou

    ausncia de uma banda de emisso adicional em menores energias, referente a

    participao de nveis de energia associados aos defeitos de superfcie (WANG et al.,

    2013).

    Como no foramobservadas bandas de emisso em menores energias, este fato

    pode estar indicando efetiva ao do passivante 2-mercaptoetanol. Sua escolha foi

    proposital, pois o mesmo possui em sua estrutura molecular (SHCH2CH2OH) o

    grupamento hidroxila (-OH) que, aps a sntese dos nanocristais, fica exposto na

    superfcie do ZnS_ME. Um dos objetivos deste trabalho estabilizar, manter e/ou

    melhorar as propriedades de luminescncia do nanocristal em uma matriz polimrica. A

    superfcie do ZnS_MEpossibilita a produo de um material com caractersticas nicas,

    300 400 500

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    180

    Inte

    nsi

    da

    de

    (nm)

    Zns_ME_exc 267337

  • 32

    ou seja, o ZnS_ME pode atuar comoum poliolna sntese de polmeros, mais

    especificadamente poliuretanos.

    3.4.2. Espectroscopia de absoro na regio do infravermelho (FTIR)

    Desta forma, o processo de sntese do poliuretano (PU) foi realizado em duas

    etapas. A primeira se deu com a formao de um pr-polmero produzido pela reao de

    um di ou poliisocianato, em excesso, com um di ou poliol, gerando uma mistura

    homognea contendo grupos isocianatos (NCO) livres para reao. A segunda ocorreu

    com a incorporao do ZnS_ME para a produo do polmero final.

    Os espectros de absoro na regio do infravermelho do pr-polmero (PP), do

    polietilenoglicol (PEG) e do 1,6 diisocianato de hexametileno (HDI) podem ser

    observados na Figura 13. O espectro do PEG apresenta uma banda de absoro em

    torno 3430 cm-1, caracterstica de estiramento de grupos OH. Alm desta, hbandas em

    2940 e 2908 cm-1 correspondentes aos estiramentos simtrico e assimtrico de grupos

    CH. No espectro do HDI observam-se bandas de absoro caractersticas na regio

    3600-3000 cm-1 relacionadas vibrao de grupos NH. As bandas entre 2936 e 2860

    cm-1 correspondente aos estiramentos simtrico e assimtrico de grupos CH. A banda

    que surge em torno de 2278 cm-1refere-se ao acoplamento NCO. As bandas em 1714

    cm-1e em 1365 e 1223 cm-1so atribudas, respectivamente, vibrao de grupos C=O ,

    deformao dos grupos CN e CH (EL-SAYED MOHAMED et al., 2009, ALKAN et

    al., 2012, XIONG et al., 2013).

    No espectro do pr-polmero, verifica-se a presena do pico em 2276 cm-1 e

    outro mais discreto em 3342 cm-1 os quais podem ser atribudos aos grupos NCO (livre)

    e NH (amida), respectivamente, indicando a formao do pr-polmero de poliuretano

    (XIONG et al., 2013). A banda em 1712 cm-1, atribuda vibrao do grupo carbonila, e

    a reduo da intensidade da banda referente vibrao de estiramento dos grupos OH

    confirmam o xito na obteno de uma nova matriz pr-polimrica (WANG et al., 2010,

    ZOU et al., 2011).

  • 33

    Figura 13: Espectro de absoro na regio do infravermelho do pr-polmero (PP),

    polietilenoglicol (PEG) e 1,6 diisocianato de hexametileno (HDI).

    A matriz formada vida grupamentos reativos, neste caso, pelos grupos OH

    presentes na estrutura do ZnS_ME provinientes do passivante 2-mercaptoetanol.

    A presena do passivante pode ser confirmada atravs de suas bandas de

    vibrao caractersticas observadas no espectro da Figura 14. As bandas em 3361 e

    1278 cm-1correspondem, respectivamente, vibrao de estiramento e deformao de

    grupos OH. Em 2920 observada uma banda atribuda vibrao de estiramnto de

    grupos metileno, j a banda correspondente deformao desses grupos grupos

    observada em 2840 cm-1. Suas vibraes de deformao so observadas em em 1475 e

    1417 cm-1. A banda de vibrao de estiramento dos grupos SH entre 2550-2565 cm-1

    no observada, este fato indica que os grupos mercapto (SH) do ME esto ligados a

    superfcie do ZnS_ME (LIU et al., 2012, ZHAO et al., 2013). Outra banda caracterstica

    do ME a de vibrao de estiramento de grupos C-O presente na estrutura do ME esta

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

    PEG_1500

    Tra

    nsm

    itan

    cia

    (u

    .a.)

    N de onda (cm-1)

    PPolimero

    HDI

  • 34

    localiza-seentre 1000-1255 cm-1. O interesse nessas regies de absoro destacadas se

    d porque se alguma interao ocorrer com a superfcie do ZnS_ME, mudanas

    suscetveis podem ser observadas.

    Aps a confirmao dos grupos do passivante presente no ZnS_ME obtido,

    foram sintetizados, a partir da superfcie do ZnS_ME, compsitos utilizando como

    matriz o pr-polmero de poliuretano (PU/ZnS) com diferentes quantidades de

    ZnS_ME, conforme descrito no item 3.3.3. Os espectros so mostrados na Figura 14.

    Como pode ser observado, o espectro do ZnS_ME apresenta uma banda em 3361 cm-

    1referente vibrao de estiramento de grupos OH provenientes do passivante. O

    mesmo pode ser considerado um poliol que reage com o excesso de NCO livre do pr-

    polmero fazendo parte do polmero final. Assim, espera-se a formao de ligao

    covalente entre os grupos OH (presentes na superfcie do ZnS_ME) e os grupos NCO

    livres (pr-polimero). Este comportamento pode ser verificado na Figura 14. Ao

    adicionar o ZnS ao pr-polmero, a intensidade da banda correspondente vibrao dos

    grupos OH (3361 cm-1) diminui consideravelmente, indicando que, durante a reao de

    condensao, parte dos grupos OH presentes na superfcie interagem com os grupos

    NCO presentes no pr-polmero.

    Outra caracterstica observada nos espectros da Figura 14 que com o consumo

    dos grupos OH, surge uma nova banda de vibrao em 3342 cm-1 relacionada ao

    estiramento de gruposNH de amida a qual confirmada pelo aparecimento da banda

    em 1717 cm-1 que est relacionada a carbonilado grupo uretano (-CO-NH-). No entanto,

    para a amostra com maior quantidade de ZnS_ME essa banda no observada. Bandas

    relacionadas deformao angular de grupos CN e NH tambm foram verificadas nas

    duas amostras na regio entre 1579-1462 cm-1.

    Alm disso, a regio entre 1000-1262 cm-1 fortemente modificada pelo

    aparecimento de apenas uma banda deslocada para maiores comprimentos de onda e em

    1115 cm-1. Os resultados obtidos sugerem a formao de uma ligao covalente (C-O-

    NH) entre ZnS_ME e o pr-polmero (LU et al., 2003, LIU et al., 2010).

  • 35

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

    ZnS_ME

    PU/ZnS-15 mg de ZnS

    PU/ZnS-30 mg de ZnS

    1462

    15791

    717

    3361

    3342

    Tran

    smit

    n

    cia

    N de onda (cm-1

    )

    3565

    PU/ZnS-60 mg de ZnS

    Figura 14: Espectro de infravermelho do ZnS_ME, PU/ZnS-15 mg de ZnS, PU/ZnS-30

    mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS.

    3.4.3. Anlise Termogravimtrica (TGA)

    A formao de ligao covalente, ou seja, a interao entre o polmero e os

    nanocristais de ZnS_ME tambm tambm pode ser verificada atravs do

    comportamento trmico dos materiais produzidos. As curvas termogravimtricas

    encontram-se na Figura 15. Observa-se um ganho em sua estabilidade trmica, no

    intervalo de temperatura de decomposio entre 300 e 420 C, relativos decomposio

    parcial da matriz polimrica, em comparao ao termograma do ZnS_ME puro que

    possui intervalo de decomposio entre 273 e 326 C relacionado perda do ME

    pressente no ZnS. importante destacar que a temperatura de degradao do ZnS_ME

  • 36

    maior do que a temperatura de fuso do ME (157 C) indicando que entre ambas

    asligaes so formadas.

    O poliuretano apresenta, em sua decomposio, dois estgios principais,

    caracterizados pela decomposio de segmentos rgidos ou da ligao uretnica

    (primeiro estgio aps liberao de molculas de gua) e segmentos flexveis (segundo

    estgio). Estes segmentos, denominados de microfases, so o resultado de

    incompatibilidade termodinmica entre os segmentos rgidos (uretano e ureia) e os

    segmentos flexveis (polister ou politer) que so bastante afetados, principalmente por

    ligaes de hidrognio, determinando a microestrutura, bem como as propriedades

    mecnicas e trmicas dos polmeros (MOTH et al.,2004 e GAO et al., 2012).

    Verificam-se (Figura 15) similaridades nas curvas termogravimtricas

    relacionadas aos compsitos PU/ZnS. Para as amostras com diferentes quantidades de

    ZnS_ME, observa-se que a estabilidade trmica, em relao ao PU, diminui quando

    15mg so adicionados eaumenta quando so adicionados 30 mg e torna a diminuir

    quando 60 mg so adicionados. Este fato sugere interao entre a matriz PU e o

    ZnS_ME. A amostra PU/ZnS-15 mg de ZnS apresenta uma etapa de perda massa

    associada evaporao de gua adsorvida a superfcie entre 40-140C, diferentemente

    das outras amostras que no apresentam essa etapa de perda de massa. Para todas as

    amostras, observa-se uma segundaetapa observda entre 300-350 C atribuda

    decomposio do passivante e ao incio da decomposio da ligao uretnica. O ltimo

    estgio de decomposio entre 390-450 C corresponde degradao dos segmentos

    flexveis, sendo observado apenas para as amostras PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60

    mg de ZnS (Figura 16).

  • 37

    Figura 15: Curvas termogravimtricas do ZnS_ME, PU, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS.

    100 200 300 400 500 600

    Perd

    a d

    e m

    ass

    a (

    %)

    Temperatura (C)

    ZnS_ME

    PU

    PU/ZnS-15 mg de ZnS

    PU/ZnS-30 mg de ZnS

    PU/ZnS-60 mg de ZnS

  • 38

    100 200 300 400 500 600

    ZnS_ME

    PU

    PU/ZnS-15 mg de ZnS

    PU/ZnS-30 mg de ZnS

    Der

    iva

    da

    da

    per

    da

    ma

    ssa

    Temperatura (C)

    PU/ZnS-60 mg de ZnS

    Figura 16: Derivada das perdas de massa do ZnS_ME, PU, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS.

  • 39

    3.4.4. Difrao de Raios-X

    Sabe-se que o sulfeto de zinco pode se cristalizar em duas fases distintas, com

    diferentes sequncias de empacotamento: a primeira a fase cbica (estrutura blenda de

    zinco) e a segunda a fase hexagonal (estrutura da wurtzita) (LIN et al., 2010). De

    acordo com o difratograma (Figura 17), o ZnS_ME sintetizado neste trabalho apresenta

    uma estrutura com empacotamento cbico relacionado a blenda de zinco com planos (1

    1 1), (2 2 0) e (3 1 1) em 2= 28,14, 48,60 e 55,44.

    Alm disso, no se observa o pico de difrao relacionado ao ZnS_ME quando

    estes so incorporados na matriz. Por outro lado, observa-se que medida que a

    quantidade de ZnS aumenta na matriz, a intensidade do halo proveniente da matriz

    reduz. Comportamento similar foi verificado por LIU et al., 2010, os quais associam

    este comportamento a formao de ligao covalente sugerindo a efetivao da

    incorporao da nanopartcula na matriz de poliuretano.

    10 20 30 40 50 60

    55,4448,60

    28,1

    4

    25,8

    1

    Inte

    nsi

    da

    de

    PU/ZnS- 60 mg de ZnS

    PU/ZnS- 30 mg de ZnS

    PU/ZnS- 15 mg de ZnS

    PU

    ZnS_ME

    2

    23,4

    0

    Figura 17: Difratograma do ZnS_ME, PU, PU/ZnS-15 mg de ZnS, PU/ZnS-30 mg de

    ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS.

  • 40

    O conjunto de resultados apresentados indicam que a incorporao do ZnS_ME

    na matiz polimrica promoveu interao entre ambas as partes. Neste contexto, sabe-se

    que as propriedades pticas das nanopartculas semicondutoras podem ser modificadas

    com o ajuste do tamanho da partcula (LIN et al., 2010), coma dopagem com ons

    desejveis (KLAUSCH et al.,2010), ou alternativamente atravs da funcionalizao da

    superfcie usando ligantes orgnicos funcionais ou cromforos (TOMCZAK et al.,

    2009). Com o propsito de complementar as discusses anteriores, foram realizadas as

    caracterizaes pticas para verificar a influncia da matriz na fotoluminescncia do

    ZnS_ME puro e avaliar como o sistema se comporta quando a quantidade do mesmo

    aumenta .

    3.4.5. Fotoluminescncia

    Na Figura 18 so mostrados os espectros de emisso do ZnS_ME e dos

    compsitos com diferentes quantidades de ZnS_ME na matriz polimrica com excitao

    em 267 nm. Quando comparados ao ZnS_ME, que apresenta emisso em 337 nm

    relacionada recombinao do par eltron-buraco aps relaxao, as amostras contendo

    diferentes quantidades de ZnS_ME exibem um aumento no mximo da intensidade de

    emisso e um discreto deslocamento para maiores comprimentos de onda medida que

    a quantidade de ZnS aumenta. As posies observadas foram 337 nm, 340nm, 345nm e

    345 nm, fato que pode estar indicando crescimento do ZnS quando incorporado a

    matriz.Alm disso, com exceo do ZnS_ME, todas as amostras apresentaram duas

    bandas com baixa intensidade, em duas regies do espectro: uma entre 400-500nm

    (Figura 18) e a outra em maiores comprimentos de ondas ( baixa energia) entre 610-720

    (Fgura 19) ambas originadas a partir da emisso provinda de alguns centros ativos,

    provavelmente estados da superfcie, vacncias ou interstcios dentro da estrutura.

  • 41

    Figura 18: Espectro de emisso (400-500 nm) do ZnS_ME, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS.

    Figura 19: Espectro de emisso (610-720 nm) do ZnS_ME, PU/ZnS-15 mg de ZnS,

    PU/ZnS-30 mg de ZnS e PU/ZnS-60 mg de ZnS.

    300 400 500

    0

    200

    400

    600

    345

    340

    ZnS_ME

    PU/ZnS-15 mg de ZnS

    PU/ZnS-30 mg de ZnS

    PU/ZnS-60 mg de ZnSIn

    ten

    sid

    ad

    e

    (nm)

    337

    650 700 7500

    200

    Inte

    nsi

    da

    de

    (nm)

    ZnS_ME

    PU/ZnS-15 mg de ZnS

    PU/ZnS-30 mg de ZnS

    PU/ZnS-60 mg de ZnS

  • 42

    Encontram-se, na literatura, trabalhos que tratam da emisso do ZnS no azul,

    atribuindo esta banda de emisso tanto a vacncia de enxofre (sitio doador) quanto a

    vacncia de zinco. Por outro lado, a origem da banda em menor energia pode ser

    atribuda recombinao do par eltron-buraco nas armadilhas provenientes da

    superfcie ( LIU et al.,2012).

    3.4.6. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET)

    As imagens de microscopia eletrnica de transmisso dos nanocristais contendo

    diferentes quantidades de ZnS_ME no PU so apresentados na Figura 20. Observa-se

    que os poliuretanos preparados com os nanocristais como poliol tm regies de

    distribuio aproximadamente homogneas dos nanocristais. Ao redor destas,

    observam-se os nanocristais que pertencem regies menos densas do polmero,

    sugerindo que, de fato, os nanocristais de tamanhos reduzi