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Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Biologia Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais OFERTA DE FRUTOS E FRUGIVORIA POR AVES, EM ESPÉCIES DO GÊNERO Miconia RUIZ & PAV. (MELASTOMATACEAE) EM DUAS ÁREAS DO CERRADO Mariana Ribeiro Borges 2010

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Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de Biologia

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais

OFERTA DE FRUTOS E FRUGIVORIA POR AVES, EM ESPÉCIES DO GÊNERO

Miconia RUIZ & PAV. (MELASTOMATACEAE) EM DUAS ÁREAS DO CERRADO

Mariana Ribeiro Borges

2010

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B732o

Borges, Mariana Ribeiro, 1985-

Oferta de frutos e frugivoria por aves, em espécies do gênero Miconia

Ruiz & Pav. (Melastomataceae) em duas áreas do Cerrado [manuscrito] /

Mariana Ribeiro Borges. - 2010.

76 f. : il.

Orientadora: Celine de Melo.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Progra-

ma de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais.

Inclui bibliografia.

1. 1. Interação animal-planta - Teses. I. Melo, Celine de. II. Universidade

Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e

Conservação de Recursos Naturais.

2. CDU: 591.557

Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação

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Mariana Ribeiro Borges

OFERTA DE FRUTOS E FRUGIVORIA POR AVES, EM ESPÉCIES DO GÊNERO

Miconia RUIZ & PAV. (MELASTOMATACEAE) EM DUAS ÁREAS DO CERRADO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de

Uberlândia, como parte das exigências para a obtenção do

título de Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos

Naturais.

Orientadora

Profª. Drª. Celine de Melo

UBERLÂNDIA

Fevereiro – 2010

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Mariana Ribeiro Borges

OFERTA DE FRUTOS E FRUGIVORIA, POR AVES, EM ESPÉCIES DO GÊNERO

Miconia RUIZ & PAV. (MELASTOMATACEAE) EM DUAS ÁREAS DO CERRADO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de

Uberlândia, como parte das exigências para a obtenção do

título de Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos

Naturais.

APROVADA em ___ de ________________ de 2010

Prof. Dr. Paulo Eugênio Oliveira UFU

Profª. Drª. Érica Hasui UNIFAL

Prof. Dr. André Rosalvo Terra Nascimento UFU

Profª. Drª. Celine de Melo

UFU

(Orientadora)

UBERLÂNDIA

Fevereiro - 2010

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Dedico este trabalho, com muito carinho, aos

meus pais, Neucele e Antônio; ao meu irmão,

Guilherme; e ao meu namorado, Jaime.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por todas as vitórias, pelas bênçãos e por manter sempre acesa uma

chama de esperança no meu coração.

Aos meus pais por todo apoio, carinho e por terem sempre oferecido as condições que

puderam para que eu me dedicasse aos meus estudos.

À professora Dra. Celine de Melo, pela orientação, pelas conversas, incentivo e paciência.

Aos membros da banca, pela disponibilidade e gentileza em participar desse momento tão

importante para mim.

Ao meu irmão, por toda ajuda nos momentos em que o computador não queria me ajudar e

pela paciência com os meus dias de estresse.

Ao meu namorado, pelo carinho, por me apoiar em minhas decisões, pela ajuda em

diversos momentos do trabalho e por todo interesse que demonstra por minhas coisas.

Às minhas queridas amigas, Renata, Patrísia e Alexandra, pelos momentos de

descontração; e em especial à Giselle e Liliane, pela ótima companhia no campo.

À Profª. Rosana Romero pela identificação do material botânico.

À CAPES pela bolsa concedida durante o período de estudo.

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RESUMO GERAL

Borges, Mariana R. 2010. Oferta de frutos e frugivoria por aves, em espécies do gênero

Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae) em áreas do Cerrado. Dissertação de Mestrado

em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais. UFU. Uberlândia-MG. 76p.

Os objetivos deste trabalho foram: determinar o período, a duração e os picos de oferta de

frutos de Miconia albicans, M. ibaguensis, M. affinis, M. theaezans e M. chamissois; verificar

a qualidade nutricional desses frutos (Capítulo I); e quais espécies de aves utilizam estes

frutos na alimentação, determinando os principais dispersores potenciais de cada espécie

(Capítulo II). O estudo foi conduzido de janeiro a dezembro de 2009 em duas áreas de

Cerrado: Estação Ecológica do Panga (EEP) e Fazenda Experimental do Glória (FEG), em

Uberlândia, MG. As observações fenológicas foram realizadas quinzenalmente ao longo do

período de estudo, visando avaliar a oferta quantitativa de frutos verdes e maduros de cada

espécie. As espécies de Miconia ofereceram frutos ao longo do ano todo, de forma

assincrônica entre si. Todas as espécies apresentaram picos de oferta de frutos, mas na estação

chuvosa a oferta de frutos foi mais concentrada próxima aos picos. Os principais fatores

climáticos que influenciaram a oferta de frutos foram a temperatura e a precipitação, e, em

ambas as áreas, esta influência foi maior sobre a oferta de frutos verdes. As espécies de

Miconia foram semelhantes em relação ao conteúdo nutricional, exceto por M. affinis, que

apresentou os maiores teores de lipídeos, proteínas e minerais. Os teores de carboidratos na

EEP foram maiores que na FEG, o contrário ocorreu para os teores de água, indicando uma

relação entre quantidade de água e carboidratos. Os teores de nutrientes foram negativamente

influenciados pela temperatura. As observações focais dos consumidores de frutos de Miconia

foram realizadas em M.theaezans, M. albicans e M. chamissois, para determinar os possíveis

dispersores destas espécies, através do comportamento alimentar. Thraupidae foi a família

mais freqüente a visitar M. theaezans e M. chamissois, enquanto Emberizidae e Tyrannidae

foram as mais freqüentes em M. albicans. As espécies que ofereceram frutos na estação seca

(M. theaezans e M. chamissois) foram mais visitadas e tiveram mais frutos consumidos do

que M. chamissois que frutificou na estação chuvosa. O número de frutos consumidos foi

proporcional ao tempo de permanência das aves na planta. A tática de forrageamento mais

utilizada no consumo dos frutos de todas as espécies foi “empoleirado”, variando o grau de

utilização de 68,83% a 100% das visitas, dependendo da espécie de Miconia. A estratégia de

consumo mais utilizada foi “engolidor” (M. chamissois e M. albicans, em ambas as áreas),

seguida de da estratégia de “mandibular e engolir” (M. theaezans). Do total de registros para

todas as Miconia, houve predominância de onívoros em termos de visitantes (57,14%) e

visitas (83,16%), padrão mantido para todas as espécies.

Palavras-chave: fenologia de frutificação; assincrônia, conteúdo nutricional; dispersão de

sementes.

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ABSTRACT

Borges, Mariana R. 2010. Fruit supply and bird frugivory in species of Miconia Ruiz &

Pav. (Melastomataceae) in areas of Cerrado, Brazil. MSc. Thesis. UFU. Uberlândia-MG.

76p.

The goals of this study were: to determine the seasonality, duration and fruit supply peaks of

Miconia albicans, M. ibaguensis, M. affinis, M. theaezans and M. chamissois; to verify the

nutritional quality of these fruits (Chapter I); to evaluate which birds feed on these fruits, and

to verify which birds are the main dispersers of each Miconia species (Chapter II). The study

was carried out from January to December 2009 in two Cerrado areas: Estação Ecológica do

Panga (EEP) and Fazenda Experimental do Glória (FEG), at Uberlândia, MG. The

phenological observations were made every two weeks, in order to assess the quantitative

immature and mature supply of fruits, for each species. Miconia species offered fruits along

the year, with an asynchrony between species. All species presented significant fruit peaks at

the wet season, where fruit supply was more concentrated. The main climatic factors

influencing the fruit supply were temperature and precipitation; in both areas this influence

was higher for immature fruits supply. The Miconia species were similar in relation to

nutritional content, except for M. affinis, which presented the highest levels of lipids, proteins

and minerals. The carbohydrate levels at EEP were higher than those at FEG, and the inverse

was observed for water content, indicating a relation between water and carbohydrate content.

The nutrient levels were influenced negatively by temperature. The focal observations of

Miconia fruit consumers were carried out for M. theaezans, M. albicans and M. chamissois, to

determine the potential dispersers of these species, through feeding behavior. Thraupidae was

the most frequent family on M. theaezans and M. chamissois, while Emberizidae and

Tyrannidae were the most frequent on M. albicans. Species that offered fruits at the dry

season (M. theaezans and M. chamissois) were more visited, and their fruits were more

consumed than species that presented fruits at the wet season. The number of consumed fruits

was proportional to the time birds remained on the plant. The most common foraging tactic

used during fruit consumption, for all species, was “perched”, which varied from 68.83% to

100% visits, depending of the Miconia species. The most common foraging tactic used was

“swallower” (M. chamissoi e M. albicans, in both areas), followed by the strategy of “masher-

and-swallower” (M. theaezans). From the total records for Miconia, the omnivorous guild was

predominant in relation to visitors (57.14%) and visits (83.16%), a pattern shared for all

species.

Key words: fruiting phenology; asynchrony; nutritional content; seed dispersal.

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SUMÁRIO

Introdução Geral 1

Área de Estudo 4

Referências Bibliográficas 8

Capítulo I - Fenologia da frutificação e análise nutricional de cinco espécies do gênero

Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae) no Cerrado 12

Resumo 12

Abstract 13

Introdução 14

Material e Métodos 16

Resultados 22

Discussão 34

Conclusão 38

Referências Bibliográficas 39

Anexo 1 43

Capítulo II - Frugivoria e dispersão de sementes de três espécies de Miconia Ruiz & Pav.

(Melastomataceae) por aves em áreas do Cerrado 45

Resumo 45

Abstract 46

Introdução 47

Material e Métodos 48

Resultados 50

Discussão 66

Conclusão 71

Referências Bibliográficas 72

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INTRODUÇÃO GERAL

O Cerrado é o segundo bioma brasileiro em extensão, sendo superado apenas pela

Floresta Amazônica, e sua biodiversidade lhe confere o status de savana tropical mais diversa

do mundo (Klink e Machado, 2005). Porém, estimativas mostram que cerca de 55% da área

original do Cerrado já havia sido totalmente desmatada até 2002 (Machado et al., 2004). Este

desmatamento tem promovido a redução e perda de habitats originais, uma das maiores

ameaças à biodiversidade (Wilcove et al., 1998), levando diversas espécies da fauna e da flora

ao risco de extinção e fazendo do Cerrado brasileiro um dos hotspots para a conservação da

biodiversidade do planeta (Myers et al., 2000).

Se por um lado, o desmatamento causa a perda de espécies, por outro lado, as

alterações antrópicas no ambiente podem abrir espaço para o estabelecimento de novas

espécies vegetais, consideradas colonizadoras ou pioneiras (Baker, 1974; Woods, 1989;

Pinard et al., 2000; Martínez-Garza e Howe, 2003; Antonini e Nunes-Freitas, 2004). O

processo de estabelecimento dessas espécies, conhecido como sucessão secundária, é

responsável pela regeneração natural dos ambientes perturbados (Morin, 1999). Esse processo

é freqüentemente lento e incerto em ecossistemas florestais (Parrotta et al., 1997), no entanto,

segundo Durigan (2005), quando comparado a esses ecossistemas, o potencial de regeneração

natural do Cerrado é geralmente elevado. Independente do ambiente, a velocidade,

diversidade e densidade da regeneração são determinadas pela intensidade e duração da

perturbação à qual a área foi submetida (Durigan, 2005; Rodrigues e Gandolfi, 2001).

A dispersão de sementes é parte integrante dos processos sucessionais e regenerativos

em ecossistemas tropicais (Hardwick et al., 2004). Em áreas onde faltam árvores nucleares o

processo de sucessão secundária é iniciado por espécies autocóricas e anemocóricas, tornando

esses locais desinteressantes aos frugívoros, o que atrasa a entrada de espécies zoocóricas

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limitando a diversidade da área (Janzen, 1988). Assim, a frugivoria, principalmente quando

realizada por vertebrados, é um importante fator nos processos de sucessão secundária

(Wunderle Jr., 1997; Stoner, 2007). Dentre os vertebrados dispersores, as aves apresentam um

papel importante, devido à diversidade e magnitude da relação planta-aves frugívoras

(Morton, 1973), além de apresentarem vantagens sobre outros grupos dispersores, no que diz

respeito à sua mobilidade e à diversidade de espécies (Scherer et al., 2007).

Na relação planta-dispersor, ambas as partes envolvidas são beneficiadas,

configurando assim uma interação mutualística (Fleming, 1979; Jordano, 1987; Jordano,

1988; Jordano, 1995; Morin, 1999; Bascompte et al., 2006; Thompson, 2006; Jordano et al.,

2007). Os benefícios desta relação para a planta são difíceis de expressar quantitativamente

(Herrera, 1982), mas podem ser descritos como o aumento do fluxo gênico (Levin e Kerster,

1974); redução da competição por nutrientes e das taxas de predação de sementes e plântulas,

por herbívoros existentes nas plantas adultas (Janzen, 1970); e a colonização de novos

habitats (Baker, 1974). Para o agente dispersor, o benefício é imediato, ele recebe uma

recompensa nutricional (energética) ao consumir a polpa ou o arilo do fruto cuja semente irá

transportar (Herrera, 1982; Coates-Estrada e Estrada, 1988; Wunderle Jr., 1997).

No entanto, com o simples consumo do fruto os benefícios para a planta não estão

garantidos, a eficácia dos frugívoros como agentes dispersores dependerá da quantidade de

sementes dispersas e da qualidade da dispersão, que leva em conta não apenas a qualidade do

local de deposição da semente, mas o resultado da passagem desta pelo sistema digestório do

dispersor (Schupp, 1993; Jordano e Schupp, 2000).

Modificações na estrutura externa das sementes durante os processos de digestão dos

dispersores (como ação química ou mecânica) são consideradas, entre os fatores que

favorecem a germinação (Izhaki e Safriel, 1990). Porém, os mesmos mecanismos que podem

aumentar as taxas de germinação nas sementes de uma dada espécie, podem afetar

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negativamente a viabilidade de outras sementes, por abrasão excessiva (Calviño-Cancela,

2004). Assim, para que a passagem da semente pelo trato digestório de frugívoros favoreça a

germinação, devem ser levados em conta outros fatores tais como tempo de retenção, tamanho

e fonte da semente (Traveset et al., 2001). Apesar dos efeitos positivos ou negativos que a

passagem das sementes pelo trato digestório pode acarretar à germinação, muitas sementes

dispersas por animais não recebem nenhum benefício, além do transporte, ao serem ingeridas,

ou apenas um aumento mínimo na germinação (Howe e Smallwood, 1982; Calviño-Cancela,

2004).

Muitas espécies de plantas produzem frutos pequenos em grandes quantidades,

exibindo cores vistosas e polpas carnosas e suculentas, características que indicam uma

adaptação para a dispersão zoocórica (Van der Pijl, 1972). Nesse contexto, a família

Melastomataceae é considerada como um grupo importante para a manutenção da diversidade

de frugívoros, já que muitas espécies desta família apresentam dispersão zoocórica (Stiles e

Rosselli, 1993). Em especial, frutos do gênero Miconia são freqüentemente mencionados

como sendo importante recurso alimentar para muitas aves frugívoras (Snow, 1965; Alves,

1991; Stiles e Rosselli, 1993; Galetti e Stotz, 1996; Marcondes-Machado, 2002; Manhães,

2003; Fadini e Marco Jr., 2004). Este gênero é o maior da família, com mais de 1000

espécies, representando cerca de 20% das espécies da família (Oliveira, 2007), que podem ser

componentes de sub-bosque de florestas primárias, mas ocorrem principalmente em área

secundária, bordas e clareiras naturais no interior de florestas (Snow, 1965; Denslow et al.,

1990; Ellison et al., 1993), podendo ser consideradas como pioneiras ou invasoras (Antonini e

Nunes-Freitas, 2004; Martini e Santos, 2007). Em geral, as espécies de Miconia produzem

uma grande quantidade de pequenas sementes e suas plântulas podem se estabelecer

rapidamente em solo de ambientes degradados (Snow, 1965; Stiles e Rosselli, 1993).

Como as aves são organismos potencialmente importantes no processo de dispersão de

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sementes, auxiliando na colonização e estabelecimento de espécies vegetais em ambientes

perturbados, os objetivos gerais deste trabalho foram: determinar o período, a duração e os

picos de oferta de frutos de Miconia albicans, M. ibaguensis, M. affinis, M. theaezans e M.

chamissois, localizadas em áreas abertas ou em bordas de mata, analisar a qualidade

nutricional desses frutos (Capítulo I); e verificar quais espécies de aves os utilizam na

alimentação, determinando os principais dispersores potenciais de cada espécie (Capítulo II).

ÁREA DE ESTUDO

O município de Uberlândia (18º56'38" S e 48º18'39" O), Triângulo Mineiro, Minas

Gerais, ocupa uma área de aproximadamente 4115,09 km². De relevo plano, Uberlândia

encontra-se a 863 m de altitude em relação ao nível do mar (PMU, 2009). O clima é sazonal,

enquadrado no tipo Aw segundo classificação de Köppen, sendo marcado por duas estações

bem definidas, chuvosa (outubro a março) e seca (abril a setembro) (Rosa et al., 1991). A

precipitação total de 2009 em Uberlândia foi de 1313,4 mm, sendo a média dos meses de

estação chuvosa 174,4 mm e da estação seca 44,5 mm. A temperatura média no ano de 2009

foi de 24,0°C, a menor temperatura média mensal foi registrada no mês de junho (20,9ºC) e

maior no mês de novembro (25,8ºC) (Figura 1). No ano de 2009 foram registradas 2487,8

horas de insolação, com média mensal de 207,3 horas. O mês de maior insolação, foi

registrado nas estação seca (maio: 276,7 horas) e o mês com menor insolação foi na estação

chuvosa (fevereiro: 163,6 horas) (Figura 2) (Laboratório de Climatologia – UFU).

O presente estudo foi realizado em duas áreas no município de Uberlândia: Estação

Ecológica do Panga (EEP) e Fazenda Experimental do Glória (FEG), ambas pertencentes à

Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (Figura 3).

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Figura 1 – Médias mensais de temperatura (ºC) e precipitação total mensal do período de estudo. Fonte:

Laboratório de Climatologia da Universidade Federal de Uberlândia.

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Figura 2 – Variações mensais de horas de insolação ao longo do período de estudo. Fonte: Laboratório de

Climatologia da Universidade Federal de Uberlândia.

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(A)

(B)

Figura 3 – Imagens de satélite das áreas de estudo, localizadas em Uberlândia, MG. (A) Estação Ecológica do

Panga (EEP); (B) Fazenda Experimental do Glória (FEG). Fonte: Google Earth.

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A EEP é uma unidade de conservação registrada como Reserva Particular do

Patrimônio Natural (RPPN), que pertence à UFU desde 1986 (Cardoso e Schiavini, 2002), e

localiza-se a cerca de 35 km ao sul do centro urbano do município (19º10'27" S e 48º23'51"

O) (Figuras 3A e 3B). Até 1984, a área que hoje compreende a EEP, com 409,5 ha, tinha

como principais atividades a agricultura e a pecuária (Ranal, 2003). Após ser transformada em

unidade de conservação, a vegetação do local se recuperou naturalmente e hoje é considerada

uma representativa área de Cerrado do Brasil Central (Ranal, 2003; Cardoso et al., 2009),

onde são encontrados diversos tipos fitofisionômicos tais como mata de galeria, cerradão,

cerrado sensu stricto, campo cerrado, campo sujo, campos úmidos e veredas (Schiavini e

Araújo, 1989; Cardoso et al., 2009).

A FEG é uma propriedade rural utilizada como campo de pesquisa para diversos

cursos da UFU, especialmente àqueles ligados à agropecuária e meio ambiente. Está

localizada a 12 km a sudeste do centro de Uberlândia (18º57'23" S e 48º12'29" O) e possui

uma área total de 685 ha (Figuras 3A e 3C). Esta área encontra-se fragmentada, com alguns

pequenos remanescentes de vereda, cerrado stricto sensu e mata de galeria, em meio a

pastagens e plantações; e um fragmento maior (30 ha) de Floresta Estacional Semidecidual.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO I

Fenologia da frutificação e análise nutricional de cinco espécies do gênero Miconia Ruiz

& Pav. (melastomataceae) no cerrado

RESUMO

Este estudo objetivou, através de observações fenológicas de cinco espécies de Miconia em

áreas de Cerrado (EEP e FEG), caracterizar o período e a duração da oferta de frutos;

comparar o pico de oferta de entre as áreas; além de caracterizar e comparar os teores de

nutrientes e água dos frutos. Para isso, foram marcados, seis indivíduos de cada espécie

(Miconia albicans, M. affinis, M. ibaguensis, M. chamissois e M. theaezans) e acompanhados

quinzenalmente ao longo de um ano de observação. Foram estimados, para cada indivíduo, os

números de frutos verdes e maduros. Foram coletados cerca de 100 g de frutos maduros de

cada espécie, congelados e posteriormente encaminhados para análise nutricional. Houve uma

frutificação assincrônica entre as espécies, com a oferta de frutos ao longo do ano todo. A

duração da oferta de frutos maduros das espécies que frutificaram na estação seca foi maior

do que das espécies da estação chuvosa, com o menor período de oferta para M. albicans e os

maiores para M. theaezans e M. chamissois. Todas as espécies, em ambas as áreas,

apresentaram data média de oferta de frutos significativa, indicando a presença de picos de

frutificação. As ofertas mais acentuadas de frutos verdes ocorreram para M. albicans e M.

chamissois, na EEP, e na FEG para M. ibaguensis. Miconia ibaguensis apresentou ainda, os

maiores picos de frutos maduros em ambas as áreas. A oferta de frutos verdes foi mais

influenciada pelos fatores climáticos (temperatura, precipitação e insolação) do que a oferta

de frutos maduros. Apenas espécies que frutificaram na estação seca apresentaram relação

entre a oferta de frutos maduros e a precipitação. Miconia affinis foi a espécie mais rica

nutricionalmente, apresentando os maiores teores de lipídeos, proteínas e minerais. Miconia

albicans (EEP) apresentou o maior teor de carboidratos e M. chamissois (EEP) o maior teor

de água. Apenas o conteúdo nutricional de M. ibaguensis diferiu entre as áreas. Quando

analisadas as diferenças por nutriente, independente da espécie, a oferta de carboidratos foi

maior na EEP e a oferta de água foi maior na FEG. Os teores de todos os nutrientes foram

negativamente correlacionados à temperatura.

Palavras-chave: assincronia; fatores climáticos; teor de carboidratos; teor de água.

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ABSTRACT

Fruiting phenology and nutritional analyses of five species of Miconia Ruiz & Pav.

(Melastomataceae) in Cerrado. The aims of this study were, through phenological

observations of five Miconia species in Cerrado areas (EEP e FEG), to characterize the

seasonality and duration of fruit supply; to compare the supply peaks between areas; and to

characterize and compare the level of fruit nutrients and water. For this, six individuals from

each species (Miconia albicans, M. affinis, M. ibaguensis, M. chamissois and M. theaezans)

were marked and surveyed along one year. For each individual, the numbers of mature and

immature fruits were estimated. About 100 g of mature fruits were collected for nutritional

analyses. The species presented asynchronous fructification, with fruits offered along the

year. The duration of mature fruits supply of species that offered their fruits in the dry season

was longer than for the mature fruits offered in the wet season. The smaller fruit supply was

registered for M. albicans, and the greatest for M. theaezans and M. chamissois. All species,

in both areas, presented a significant mean date for a peak of fruits supply, indicating the

presence of fruitification peaks. The most marked supply of immature fruits occurred for M.

albicans and M. chamissois, at EEP, and at FEG for M. ibaguensis. Miconia ibaguensis

showed the highest peaks of mature fruits in both areas. The immature fruits supply was more

influenced by climatic factors (temperature, precipitation and insolation) than mature fruits

supply. Only species that offered fruits in the dry season presented a relation between mature

fruits supply and precipitation. However, in relation to the supply of mature fruits, it was not

possible to observe any common climatic influence between areas. Miconia affinis was the

most nutritionally rich species, presenting the highest levels of lipids, proteins and minerals.

Miconia albicans (EEP) presented the highest carbohydrate content and M. chamissois (EEP)

the highest water content. Only the nutritional content of M. ibaguensis differed between

areas. When nutrient analyses were performed, independent of species, the highest

carbohydrates contents were offered at EEP and the highest water contents, at FEG. All

nutrients contents presented a negative correlation with temperature.

Key words: asynchrony; climatic factors; carbohydrates content, water content.

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INTRODUÇÃO

Os padrões fenológicos reprodutivos e vegetativos estão relacionados a fatores

climáticos (Wielgolask, 2003; Peñuelas et al., 2004; Chapman et al., 2005; Ting et al., 2008),

edáficos (Wielgolask, 2001) e interações ecológicas (Noma e Yumoto, 1997; Boulay et al.,

2007). Como as interações entre plantas e animais influenciam-se reciprocamente (Moran et

al., 2009), a dinâmica da vegetação pode estar ajustada ou relacionada à dinâmica dos

consumidores primários (polinizadores e dispersores) (Thompson e Willson, 1979; Galetti e

Pizo 1996; Noma e Yumoto, 1997; Boulay et al., 2007). Assim, as observações fenológicas

obtidas de forma sistemática permitem reunir informações sobre o período de reprodução das

plantas e a disponibilidade de recursos alimentares para fauna (Morellato e Leitão-Filho,

1992), especialmente para aqueles que são vetores de sementes.

Visando a atração de agentes dispersores, as plantas podem apresentar diferentes

estratégias fenológicas (Fleming, 1979). Uma das estratégias é a sincronização de frutificação,

na qual os períodos de frutificação de diferentes espécies se sobrepõem apresentando

concentração de frutos em uma determinada época (Poulin et al., 1999). Esta estratégia é

influenciada pela sazonalidade do ambiente (Hamann, 2004; Silva et al., 2009), pois as

plantas concentram suas frutificações em períodos favoráveis à dispersão, como por exemplo,

a chegada de aves migratórias (Noma e Yumoto, 1997), que pode aumentar a diversidade de

possíveis dispersores. Outra estratégia utilizada pelas plantas é a segregação da frutificação,

com espécies apresentando diferentes períodos de frutificação, que se complementam,

promovendo uma oferta ao longo de todo o ano (Snow, 1965; Gorchov, 1985; Poulin et al.,

1999). Esta estratégia pode ser interpretada como o reflexo de adaptações para reduzir a

competição por dispersores de sementes (Wheelwright, 1985), contribuindo para a

manutenção de uma fauna de dispersores na área de ocorrência dessas plantas.

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Além das estratégias fenológicas apresentadas pela planta, características dos frutos

influenciam na atração de aves dispersoras, tais como: tamanho (Wheelwright, 1985;

Wheelwright, 1993; Noma e Yumoto, 1997), coloração (Schaefer et al., 2004; Whitney,

2005), acessibilidade (Denslow e Moermond, 1982) e nutrientes presentes na polpa ou no

arilo (Herrera, 1982; Lepczyk et al., 2000; Schaefer et al., 2003; Schaefer e Braun, 2009).

Destas características, o tamanho do fruto é um dos fatores seletivos apresentados pela planta

para determinar o frugívoro capaz de consumir seu fruto. Neste contexto, frutos maiores são

mais seletivos, pois poucas aves são capazes ingeri-los (Noma e Yumoto, 1997), enquanto

frutos pequenos podem ser consumidos por muitas espécies oportunistas. O valor nutricional

é outra característica importante na seleção do fruto pelas aves, visto que, elas são capazes de

decidir precisamente a recompensa alimentar que terão (Schaefer et al., 2003) e podem

determinar os frutos que irão consumir, segundo suas necessidades nutricionais (Herrera,

1982; Schaefer et al., 2003).

A seleção de frutos não é baseada somente nas características dos frutos em si, mas

também na habilidade das aves em digeri-los (Martínez Del Rio e Karasov, 1990). Assim, a

seleção dos frutos pelas aves é um complexo processo baseado na interação entre morfologia,

disposição espacial dos frutos, com a capacidade e as necessidades fisiológicas das aves

(Lepczyk et al., 2000). O maior fator limitante na dieta de espécies que se alimentam

principalmente de frutos é o fato destes apresentarem baixos teores protéicos (Bosque e

Pacheco, 2000). Desta forma, para melhorar a qualidade de suas dietas, as aves podem

escolher frutos com elevadas taxas de nitrogênio ou selecionar combinações de frutos que

apresentem nitrogênio em forma de amino-ácidos complementares (Bosque e Pacheco, 2000).

Em geral, espécies pioneiras apresentam características que as tornam pouco seletivas

em relação a seus consumidores, visando permitir que um maior número de frugívoros

consumam seus frutos, aumentando suas chances de dispersão (Swaine e Whitmore, 1988). O

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gênero Miconia pertence à família Melastomataceae, que é constituída de 166 gêneros e

aproximadamente 4.500 espécies, concentradas no Novo Mundo, onde são conhecidas cerca

de 2.950 espécies (Renner 1993). No Brasil é a sexta maior família de Angiospermas com 68

gêneros e mais de 1.500 espécies, que se distribuem desde a Amazônia até o Rio Grande do

Sul, estando presente em praticamente todas as formações vegetacionais com um número

variável de espécies. As espécies apresentam grande diversidade de hábitos, desde herbáceo

até arbustivo, ocorrendo muito comumente espécies arbóreas, e mais raramente trepadeiras e

epífitas, que permitem a ocupação de ambientes distintos e diversificados (Romero e Martins,

2002). Miconia é o maior gênero da família, com mais de 1000 espécies (Oliveira, 2007).

Os objetivos deste estudo foram:

analisar a fenologia de frutificação, de espécies de Miconia, em áreas distintas,

para caracterizar o período de ocorrência de frutos verdes e maduros, e duração

destes eventos fenológicos;

comparar os picos de oferta de frutos entre as áreas, para determinar a estratégia

fenológica utilizada por espécies deste gênero no Cerrado;

caracterizar os teores de lipídeos, proteínas, carboidratos, minerais e água dos

frutos e compará-los entre as espécies e entre as áreas.

MATERIAL E MÉTODOS

Espécies estudadas e localização

Miconia albicans (SW.) Triana é uma planta de porte arbustivo (0,7 a 3 m de altura).

Possui folhas pecioladas, discolor e coriáceas. Os frutos são bagas rosadas quando imaturas e,

após amadurecerem, adquirem a coloração verde-jade, e contêm de 25 a 35 sementes

(Goldenberg, 2004). Foi registrada no cerrado sensu stricto de ambas as áreas (Figura 1A).

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Miconia affinis DC. é um arbusto (até 4 m de altura). As folhas são pecioladas e

concolor. Apresenta frutos tipo baga, verdes quando imaturos e azulados quando maduros

(Obs. Pess.). Registrada apenas na Fazenda Experimental do Glória, na borda da Floresta

Estacional Semidecidual (Figura 1B e 1C).

Miconia chamissois Naudin é um arbusto (1,5 a 2 m de altura) glabro. Possui folhas

pecioladas que variam entre concolor e subcolor. Apresenta frutos tipo baga, verdes quando

imaturos e enegrecidos quando maduros, possuem cerca de 30 sementes (Goldenberg, 2004).

Encontrada nas veredas de ambas as áreas (Figura 1D).

Miconia ibaguensis (Bonpl.) Triana possui porte arbustivo (1,5 a 2 m de altura). As

folhas são pecioladas e subcolor. As bagas são verdes quando imaturas e enegrecidas quando

maduras, com cerca de 100 sementes (Goldenberg, 2004). Encontrada nas duas áreas, na

borda da mata de galeria (Figura 1E).

Miconia theaezans (Bonpl.) Cogn. possui porte arbustivo (2 a 3 m de altura). As folhas

são pecioladas e concolor. As bagas imaturas são rosadas e quando maduras se tornam cinza-

esbranquiçadas (Obs. Pess.). Encontrada apenas na Estação Ecológica do Panga, na transição

da vereda com a mata de galeria (Figura 1F).

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Figura 1 – Imagens de infrutescências das espécies de Miconia estudadas. 1A) M. albicans. 1B) M. affinis; 1C) frutos maduros de M. affinis; 1D) M. chamissois; 1E) M. ibaguensis;

1F) M. theaezans.

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Métodos

Foram realizadas visitas quinzenais à Estação Ecológica do Panga (EEP) e à Fazenda

Experimental do Glória (FEG), no período de janeiro a dezembro de 2009, para acompanhar a

fenologia de frutificação das espécies de Miconia estudadas. Seis indivíduos de cada espécie

foram marcados com fita plástica, numerados e tiveram seus frutos verdes e maduros

estimados ao longo da frutificação. O número de frutos foi estimado com a multiplicação da

média de frutos de cinco infrutescências pelo total de infrutescências da planta.

Foram coletados 100 gramas de frutos maduros das espécies em frutificação e

congelados para posteriormente serem realizadas análises do teor nutricional e de umidade

dos frutos de Miconia. As análises nutricionais foram realizadas apenas para quatro, das cinco

espécies de Miconia avaliadas neste estudo. Miconia theaezans (espécie encontrada apenas na

EEP) não teve seus aspectos nutricionais avaliados por falta de amostra de frutos suficiente

para realização das análises. Os frutos foram coletados em cinco indivíduos que não estavam

marcados para a contagem de frutos. Foram analisados os teores de lipídeos, proteínas,

carboidratos, cinzas (minerais) e umidade (água). A análise dos nutrientes foi realizada pelo

Laboratório de Ensaios em Alimentos e Meio Ambiente (LAMAM) do SENAI-CETAL

Uberlândia (MG).

Análises estatísticas

Os procedimentos e análises utilizadas na análise neste estudo seguem um padrão

análogo ao utilizado por Morellato et al. (2000) e Melo (2003). Todas as análises estatísticas

estão de acordo com Zar (1999) e KCS (2009). As estatísticas circulares foram processadas

no programa Oriana (KCS, 2009) e as lineares no programa Bioestat 5.0 (Ayres et al., 2007).

A normalidade dos dados lineares foi verificada por meio do Teste de Kolmogorov-Smirnov

(Lilliefors). Quando os dados não apresentaram normalidade, foram transformados com Log10

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na tentativa de torná-los normais. Para os dados normais foram utilizados testes paramétricos

e para os dados não normais foram utilizados os testes não-paramétricos correspondentes. A

normalidade dos dados circulares foi verificada a partir do valor da concentração, que é um

parâmetro específico da distribuição de von Mises, a mais utilizada para dados circulares, e

que, de modo similar à distribuição normal de dados lineares, mede a distribuição dos dados a

partir da distribuição de um círculo perfeito (distribuição normal) (KCS, 2009).

Para a obtenção dos picos de frutificação de cada categoria (frutos verdes e maduros),

foram utilizadas apenas as datas em que o número médio de frutos foi maior ou igual à média

observada no período total da frutificação de cada espécie. As datas referentes às maiores

ofertas de frutos foram convertidas em ângulos, por meio de regra de três simples, para serem

processadas as análises de estatística circular.

As datas referentes à coleta dos dados fenológicos de frutificação de Miconia

(transformadas em ângulos) representam vetores individuais distribuídos ao longo de um

círculo (que representa o ano). Estas datas foram combinadas para o cálculo de um vetor

médio, que tem duas propriedades: a direção, que é indicada pelo ângulo médio (µ), e o

comprimento (r) (KCS, 2009). O ângulo médio encontrado foi convertido em data,

permitindo estabelecer o período em que uma determinada categoria de frutos ocorreu mais

intensamente. Para o ângulo médio foi calculado um desvio-padrão circular, que é similar ao

linear e descreve a dispersão dos dados em torno da média (KCS, 2009). O comprimento do

vetor médio (r) varia de 0 a 1, e quanto maior o valor de r maior o agrupamento dos dados em

torno do ângulo médio (KCS, 2009; Zar, 1999)

Um vetor médio mais longo torna menos provável que os dados estejam distribuídos

uniformemente (KCS, 2009). O Teste de Uniformidade de Rayleigh (Z) calcula a

significância do ângulo médio, através da probabilidade de que hipótese nula (H0), dos dados

estarem distribuídos de maneira uniforme em torno do círculo, esteja correta (KCS, 2009; Zar,

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1999). Neste caso, se a probabilidade apresentada no Teste de Uniformidade for menor que o

nível de significância (0,05), as datas não estão distribuídas uniformemente em torno do

círculo, havendo um pico de frutificação.

O Teste de Watson-Williams (F) é utilizado para comparar duas ou mais amostras

determinando se seus ângulos médios diferem significativamente (KCS, 2009; Zar, 1999). O

valor de F resultante é o mesmo da Análise de Variância (ANOVA) fornecido pela estatística

linear. A probabilidade associada ao teste indica as chances estatísticas de que exista, ou não,

diferença entre os ângulos médios da amostra. Se a probabilidade for menor que o nível de

significância (0,05), as médias são diferentes (KCS, 2009). Este teste foi utilizado para

comparar: a oferta de frutos verdes e maduros para cada espécie, em cada área; a oferta de

frutos verdes para cada espécie entre as áreas; e a oferta de frutos maduros para cada espécie

entre as áreas (as duas últimas análises apenas para as espécies comuns às áreas). Para o

cálculo do Teste de Watson-Williams foi necessário que os dados apresentassem ângulo

médio significativo e, como premissa do programa estatístico utilizado, que a concentração

fosse maior ou igual a 2 (KCS, 2009).

Foi utilizado o Teste t para verificar se havia diferença na duração do período de

frutificação entre as espécies que ofereceram frutos na estação seca e as que ofereceram na

estação chuvosa. Este teste foi utilizado para comparar o período total de oferta de frutos e a

oferta de frutos maduros.

Para dados normais foi utilizada Correlação de Pearson (r) e, para dados não normais,

Spearman (rs). Foram feitas correlações entre as quantidades de frutos (verdes e maduros) de

cada espécie ao longo do ano, com a precipitação mensal, insolação mensal e temperatura

média mensal. As correlações foram realizadas para fatores climáticos referentes a até quatro

meses antes do mês de oferta dos frutos, e só foram realizadas para espécies que frutificaram

no mínimo por quatro meses.

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Para os pares (fator climático e número de frutos) que apresentaram correlação

significativa, foram calculadas regressões lineares; pois, o coeficiente de determinação (R2) da

regressão permite saber o quanto a variação na variável independente (fator climático)

influencia a variação da variável dependente (número de frutos) (Zar, 1999; Wielgolaski,

2003).

Foi calculado o Coeficiente de Variação (CV) para os dados de teor nutricional e de

água, por permitir que a variabilidade das amostras, que possuem médias e desvios padrão

numericamente diferentes, se tornassem comparáveis (Zar, 1999). Foi calculado o qui-

quadrado (χ2) para verificar se havia diferença entra áreas em termos do conteúdo nutricional

total de cada espécie e para cada nutriente, independente da espécie. Este teste só foi

calculado para as espécies comuns às duas áreas.

Foi utilizada Correlação de Spearman (rs) para verificar se fatores climáticos

(precipitação e temperatura) influenciam os teores de lipídeos, proteínas, carboidratos,

minerais e água. Para as correlações e os testes de qui-quadrado, o teor nutricional e de água

de cada espécie foi multiplicado pelo número de frutos maduros oferecidos nos picos de

frutificação. Este procedimento permitiu utilizar uma proporcionalidade do conteúdo

nutricional em relação à oferta quantitativa de frutos maduros.

RESULTADOS

Fenologia de frutificação

Houve oferta de frutos de Miconia ao longo do ano todo. Na estação chuvosa, Miconia

albicans e M. ibaguensis ofereceram frutos em ambas as áreas. Miconia affinis, encontrada

apenas na FEG, também frutificou na estação chuvosa e diferiu das outras duas espécies por

apresentar frutos até a transição entre as duas estações. Na estação seca, frutificaram M.

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chamissois, em ambas as áreas, e M. theaezans, na EEP. Houve um deslocamento da

frutificação de M. chamissois na EEP, que começou oferecer frutos com dois meses de atraso,

em relação à FEG, mas manteve o mesmo tempo de oferta (6 meses). A oferta de M.

theaezans iniciou no fim da estação chuvosa e durou todos os meses da estação seca (abril a

setembro) (Tabela 1).

A duração da oferta de frutos maduros de Miconia diferiu significativamente entre as

estações (t=13,00; gl=2; p=0,006), sendo mais prolongada na estação seca do que na chuvosa.

No entanto, a duração total da frutificação não diferiu sazonalmente (t=3,02; gl=2; p=0,094).

A frutificação mais prolongada na EEP foi de M. theaezans (Total: 6,5 meses; Frutos

maduros: 6,5 meses) (Figuras 2 e 3), enquanto na FEG, foi de M. chamissois (Total: 6,5

meses; Frutos maduros: 6,5 meses) (Figuras 2 e 3). Nas duas áreas, a espécie que ofereceu

frutos por menos tempo foi M. albicans (EEP - Total: 3,5 meses; Frutos maduros: 3 meses /

FEG - Total: 3 meses; Frutos maduros: 2,5 meses) (Figuras 2 e 3; Tabela 1).

As datas médias de frutos verdes e frutos maduros foram significativas para todas as

espécies em ambas as áreas, indicando a presença de picos de frutificação (Tabela 2). Os

picos mais acentuados de oferta de frutos verdes na EEP ocorreram para M. albicans (ca 9120

frutos; data média: 11 de outubro) e Miconia chamissois (ca 8365 frutos; data média: 20 de

julho); enquanto na FEG, foi M. ibaguensis (ca 17200 frutos; data média: 21 de novembro)

(Figura 2 e Tabela 2). Foi detectada uma redução na oferta de frutos maduros em relação aos

verdes. Em ambas as áreas, a espécie Miconia ibaguensis foi a que apresentou o maior pico de

frutos maduros (ca 1170 frutos em cada área; datas médias - EEP: 12 de dezembro; FEG: 30

de novembro) (Figura 3 e Tabela 2). Apenas para M. affinis (FEG), a data média referente ao

pico de oferta de frutos verdes foi significativamente diferente da data média de frutos

maduros (F=6,56; p=0,04) (Figuras 2B e 3B).

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Influência dos fatores climáticos na frutificação

Foram realizadas 210 correlações entre as variáveis climáticas, do mês oferta de frutos

até quatro meses antecedentes ao mês de oferta, com a quantidade de frutos verdes e maduros

de cada espécie oferecidos em cada área. Destas correlações, 33 foram significativas, tendo a

maioria ocorrido para a categoria de frutos verdes (frutos verdes: 23; frutos maduros: 10).

Todas as regressões lineares apresentaram significância, no entanto, os coeficientes de

determinação (R2) variaram de 0,561 a 0,992, indicando que a magnitude com que os fatores

climáticos influenciaram a oferta de frutos variou (Anexo 1).

A maior influência da temperatura sobre a oferta de frutos verdes foi observada em

Miconia albicans dois meses antes da oferta (R2=0,942; F1,4=32,177; p=0,026) e em M.

chamissois, quatro meses antes da oferta (R2=0,921; F1,3=34,894; p=0,008), ambas na EEP.

Em Miconia ibaguensis a maior influência ocorreu mais intensamente quatro meses antes da

oferta (R2=0,872; F1,4=27,159; p=0,008) do que três meses (R

2=0,698; F1,4=9,229; p=0,039),

na FEG. A oferta de frutos verdes de Miconia affinis foi influenciada de forma similar (quatro

meses: R2=0,864; F1,5=31,848; p=0,003/ três meses: R

2=0,586; F1,5=7,082; p=0,044). As

demais relações significativas entre oferta de frutos verdes e temperatura foram menos

intensas, com menos de 70% da variação na oferta de frutos sendo explicada pelas variações

de temperatura (ver R2 no Anexo 1).

A oferta de frutos maduros de M. albicans, na EEP, foi fortemente influenciada pela

temperatura do mês de oferta (R2=0,992; F1,2=260,959; p=0,003). A maturação dos frutos de

Miconia theaezans apresentou uma influência menos acentuada, observada tanto pela

temperatura de dois meses antecedentes ao mês de oferta dos frutos (R2=0,561; F1,5=6,380;

p=0,052), quanto pela temperatura do mês anterior ao de oferta (R2=0,564; F1,5=6,465;

p=0,051). Na FEG, a influência da temperatura na oferta de frutos maduros foi encontrada

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apenas para M. chamissois nos dois meses antecedentes à oferta dos frutos (R2=0,617;

F1,5=8,057; p=0,036) (Anexo 1).

A maior relação entre precipitação e a oferta de frutos verdes foi observada para

Miconia theaezans, na EEP (três meses: R2=0,922; F1,5=58,796; p=0,001/ dois meses:

R2=0,884; F1,5=38,024; p=0,002/ um mês: R

2=0,803; F1,5=20,422; p=0,007). Miconia

ibaguensis, na EEP, foi influenciada pela precipitação do mês antecedente à frutificação

(R2=0,799; F1,3=11,905; p=0,039). A precipitação foi um fator importante para Miconia

chamissois, na EEP três meses antes da oferta de frutos (R2=0,872; F1,3=11,905; p=0,039; mas

de modo geral, a influência foi no mês de oferta (EEP: R2=0,913; F1,3=31,274; p=0,010/ FEG:

R2=0,743; F1,5=14,477; p=0,013). A precipitação ainda exerceu influência sobre a oferta de

frutos de M. affinis, na FEG (quatro meses: R2=0,620; F1,5=8,150; p=0,035) (Anexo 1).

Apenas espécies que frutificaram na estação seca apresentaram relação entre a oferta

de frutos maduros e a precipitação. Miconia theaezans, na EEP, foi influenciada pela

precipitação de três (R2=0,970; F1,5=158,965; p<0,001), dois (R

2=0,918; F1,5=56,010;

p=0,001) e um mês (R2=0,809; F1,5=21,130; p=0,006) antes do mês de oferta de frutos.

Miconia chamissois foi influenciada pela precipitação do mês de oferta de frutos maduros

(R2=0,624; F1,5=8,290; p=0,034) (Anexo 1).

A insolação influenciou a oferta de frutos verdes de M. theaezans (EEP), M. affinis e

M. ibaguensis (ambas na FEG) três meses antes do mês de frutificação (M. theaezans:

R2=0,613; F1,5=7,909; p=0,037/ M. affinis: R

2=0,757; F1,5=15,547; p=0,011/ M. ibaguensis:

R2=0,858; F1,4=24,207; p=0,009). Enquanto M. chamissois foi influenciada pela insolação de

quatro meses antes e do mês de oferta de frutos (quatro meses: R2=0,832; F1,3=14,902;

p=0,029/ mês de oferta: R2=0,829; F1,5=14,556; p=0,030). Em relação à oferta de frutos

maduros, apenas M. theaezans, na EEP, foi influenciada pela insolação, ocorrendo essa

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influência dois (R2=0,745; F1,5=14,614; p=0,013) e um mês (R

2=0,777; F1,3=17,466; p=0,009)

antes da maturação dos frutos. (Anexo 1)

Análise dos teores nutricionais e de água

Miconia affinis foi a espécie mais rica nutricionalmente, apresentando os maiores

teores de lipídeos (2,96%), proteínas (2,48%) e minerais (1,60%), de todas as amostras

analisadas. Miconia albicans (EEP) apresentou o maior teor de carboidratos (22,69%) e M.

chamissois (EEP), o maior teor de água (84,58%). De modo geral, as espécies que

apresentaram maior teor de carboidratos, apresentaram menor teor de água e vice-versa

(Tabela 3).

Na EEP, o maior teor de lipídeos foi encontrado em M. ibaguensis (0,10%), que

também apresentou o maior teor de proteínas (1,53%) e de minerais (1,10%) da área. Na

FEG, M. affinis foi a espécie que apresentou maior teor de carboidratos (18,54%) e M.

albicans apresentou o maior teor de água (83,08%) (Tabela 3). Em ambas as áreas, o teor de

água apresentou a menor variação (EEP: CV=6,3 / FEG: CV=5,2); seguido de proteínas, na

EEP (CV=13,6), e carboidratos, na FEG (CV=10,1).

Quando comparada a oferta nutricional e de água, das espécies como um todo, entre as

áreas, houve diferença significativa apenas para o conteúdo nutricional de Miconia ibaguensis

(χ2=12,220; gl=4; p=0,016). Quando foram comparadas entre as áreas, a oferta de cada

nutriente e de água, independente da espécie, foi observada diferença significativa na oferta

de carboidratos (χ2=47,074; gl=2; p<0,001), sendo a maior oferta na EEP (M. albicans e M.

ibaguensis), e água (χ2=197,989; gl=2; p<0,001), que foi maior na FEG (M. albicans, M.

chamissois e M. ibaguensis) (Tabela 4).

Os teores de todos os nutrientes, proporcionais à quantidade de frutos ofertada no pico

de frutificação de cada espécie, apresentaram correlação negativa com a temperatura

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(lipídeos: r=-0,852; gl=5; p=0,015/ proteínas: r=-0,890; gl=5; p=0,007/ carboidratos: r=-

0,758; gl=5; p=0,048/ minerais: r=-0,746; gl=5; p=0,054). Para os teores de água houve

apenas uma tendência de que fossem negativamente correlacionados negativamente à

temperatura (r=-0,704; gl=5; p=0,077). Não houve correlação significativa entre os teores de

nutrientes e de água com a precipitação (Tabela 5).

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EEP

FEG

fevÁreas/Espécies

mar abr outset nov

Tabela 1 - Oferta temporal de frutos verdes (-- --) e maduros (__) por espécies de Miconia na Estação Ecológica do Panga (EEP) e na Fazenda Experimental

do Glória (FEG), Uberlândia, MG. Estações: em cinza = chuvosa; em branco = seca. Quinzenas: 1 a 24.

Miconia albicans

Miconia chamissois

Miconia ibaguensis

Miconia albicans

Miconia chamissois

Miconia ibaguensis

Miconia affinis

Miconia theaezans

jan dezmai jun jul ago

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Tabela 2 – Resultados das análises de estatística circular para os picos de frutificação de frutos verdes e maduros para as espécies de Miconia na Estação Ecológica do Panga

(EEP) e na Fazenda Experimental do Glória (FEG), Uberlândia, MG.

Área Miconia albicans Miconia ibaguensis Miconia chamissois Miconia affinis Miconia theaezans

Verdes Maduros Verdes Maduros Verdes Maduros Verdes Maduros Verdes Maduros

EEP Observações 3 3 6 6 7 5 -- -- 7 7

Ângulo médio (µ) 280,09º 296,54º 324,13º 341,03º 198,04º 224,85º -- -- 126,72º 131,86º

Data 11/out 28/out 25/nov 12/dez 20/jul 16/ago -- -- 08/mai 14/mai

Comprimento do vetor médio (r) 0,98 0,97 0,86 0,88 0,89 0,95 -- -- 0,89 0,80

Concentração 6,02 3,84 2,20 2,51 3,00 5,50 -- -- 2,87 1,78

Desvio-padrão circular 12,20º 15,38º 31,37º 29,03º 27,60º 17,56º -- -- 28,29º 38,07º

Teste de uniformidade de Rayleigh (p) 0,041 0,047 0,006 0,004 0,001 0,003 -- -- 0,001 0,006

FEG Observações 3 3 5 6 5 6 5 4 -- --

Ângulo médio (µ) 308,37º 319,90º 320,71º 343,53º 187,79º 195,24º 320,71º 358,70º -- --

Data 09/nov 20/nov 21/nov 14/dez 09/jul 17/jul 21/nov 30/dez -- --

Comprimento do vetor médio (r) 0,98 0,98 0,95 0,89 0,94 0,91 0,95 0,93 -- --

Concentração 8,63 8,63 5,32 2,66 4,21 3,24 5,32 2,97 -- --

Desvio-padrão circular 10,15º 10,15º 17,86º 28,08º 20,24º 25,10º 17,86º 21,73º -- --

Teste de uniformidade de Rayleigh (p) 0,039 0,039 0,004 0,004 0,005 0,002 0,004 0,019 -- --

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* Floresta Estacional Semidecidual

Tabela 4 - Resultados do teste qui-quadrado (χ2) para verificar diferenças da oferta nutricional e de água dos frutos de Miconia entre as áreas.

Por espécies Por nutriente

M. albicans M. chamissois M. ibaguensis Lipídeos Proteínas Carboidratos Minerais Água

EEP x FEG χ2 8,118 0,817 12,220 0,042 2,520 47,074 0,664 197,989

gl 4 4 4 2 2 2 2 2

p 0,087 0,936 0,016 0,979 0,284 <0,001 0,718 <0,001

Tabela 3 - Teor de nutrientes e água de frutos maduros das espécies de Miconia na Estação Ecológica do Panga (EEP) e na Fazenda Experimental do Glória (FEG), Uberlândia, MG.

Espécies Ambiente Estação (pico de

frutificação)

Teores nutricionais (%) Água (%)

Lipídeos Proteínas Carboidratos Minerais

EEP FEG EEP FEG EEP FEG EEP FEG EEP FEG

Miconia albicans cerrado s.s. chuvosa 0,07 0,09 1,48 1,24 22,69 15,18 0,45 0,41 75,31 83,08

Miconia chamissois vereda seca 0,07 0,07 1,18 1,33 13,48 15,39 0,69 0,67 84,58 82,54

Miconia ibaguensis borda de mata* chuvosa 0,10 0,07 1,53 1,18 20,37 15,29 1,10 0,76 76,9 82,70

Miconia affinis borda de mata* chuvosa -- 2,96 -- 2,48 -- 18,54 -- 1,60 -- 74,42

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Tabela 5 - Correlações dos fatores climáticos (precipitação e temperatura) com os teores de nutrientes e água dos frutos maduros ofertados.

Variáveis dependentes

Variáveis independentes

Precipitação Temperatura

p r pares p r pares

lipídeos 0,749 -0,150 7 0,015 -0,852 7

proteínas 0,903 0,057 7 0,007 -0,890 7

carboidratos 0,360 0,410 7 0,048 -0,758 7

minerais 0,940 -0,035 7 0,054 -0,746 7

umidade 0,776 0,133 7 0,077 -0,704 7

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ma

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jun

jul

ago

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dez

Méd

ias

de F

ru

tos

Verd

es

Quinzenas

M. albicans

M. ibaguensis

M. theaezans

M. chamissois

(A)

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16000

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ou

t

no

v

dez

Méd

ias

de F

ru

tos

Verd

es

Quinzenas

M. albicans

M. ibaguensis

M.affinis

M. chamissois

(B)

Figura 2 – Médias de frutos verdes de Miconia, ao longo do ano. (A) Estação Ecológica do Panga (EEP); (B)

Fazenda Experimental do Glória (FEG), Uberlândia, MG.

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ru

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Quinzenas

M. albicans

M. ibaguensis

M. theaezans

M. chamissois

(A)

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jan

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jun

jul

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t

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Méd

ias

de F

ru

tos

Ma

du

ro

s

Quinzenas

M. albicans

M. ibaguensis

M. affinis

M. chamissois

(B)

Figura 3 – Médias de frutos maduros de Miconia, ao longo do ano. (A) Estação Ecológica do Panga (EEP); (B)

Fazenda Experimental do Glória (FEG), Uberlândia, MG.

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DISCUSSÃO

Em ambientes sazonais, os períodos de frutificação têm sido relacionados a condições

climáticas mais favoráveis à dispersão de sementes (Hamann, 2004; Batalha e Martins, 2004;

Tannus et al., 2005; Du et al., 2009; Silva et al., 2009). Em conseqüência de um mesmo

período favorável à reprodução de várias espécies, há uma tendência à sincronia dos períodos

de frutificação (Hamann, 2004). O clima sazonal do Cerrado favorece a frutificação de

espécies zoocóricas na estação chuvosa (Batalha e Martins, 2004; Tannus et al., 2006; Silva et

al., 2009), apesar disso, este estudo registrou frutificação de espécies de Miconia ao longo do

ano todo. A oferta de frutos entre as cinco espécies de Miconia foi assincrônica, seguindo os

padrões fenológicos encontrados para este gênero em Trinidad e no Panamá (Snow, 1965;

Poulin et al., 1999). A assincronia é mencionada como sendo benéfica à planta por evitar a

competição interespecífica por dispersores de sementes (Wheelwright, 1985); além de gerar

uma oferta constante de frutos ao longo do ano, permitindo a manutenção de uma fauna

frugívora local, o que em troca favorece uma maior eficiência de dispersão (Snow, 1965).

No entanto, para que sejam oferecidos frutos em períodos menos favoráveis, é

necessário que, de alguma forma, as espécies consigam driblar os fatores que limitam a

frutificação nestes períodos. No caso de ambientes sazonais, o estresse hídrico, gerado nas

plantas durante a estação seca, é o principal fator limitante à floração, e conseqüente

frutificação, nos meses de seca (Reys et al., 2005). Miconia theaezans e M. chamissois foram

as únicas espécies a frutificar na estação seca, sugerindo que a escassez hídrica superficial não

restringe a reprodução destas espécies. Isso ocorre, provavelmente, pelo fato de estarem

localizadas nas veredas, que apresentam solos hidromórficos (Ramos et al., 2006), o que

reduz os efeitos da estação seca em relação à maioria das fitofisionomias.

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No Cerrado, a oferta de frutos zoocóricos fora da estação chuvosa deve favorecer a

dispersão de sementes, pois segundo Melo (2003) e Du et al. (2009) os frutos ofertados na

estação seca podem ser explorados mais intensamente pelos animais, tendo em vista a baixa

oferta de recursos neste período (Develey e Peres, 2000; Batalha e Martins, 2004; Tannus et

al., 2006; Silva et al., 2009). Neste contexto, de disponibilidade de recurso para a fauna, a

oferta mais prolongada de frutos maduros na estação seca se justifica. Frente à baixa oferta de

recursos do período, as espécies que conseguem frutificar, oferecem frutos por períodos mais

prolongados, mas em menores quantidades. Por outro lado, as espécies que frutificam na

estação chuvosa, encontram mais espécies frutificando no mesmo período, o que favorece

picos concentrados, onde a quantidade de frutos ofertados aumenta a atratividade. Miconia

affinis, por exemplo, foi a única espécie em que a data de pico de oferta de frutos verdes

diferiu significativa da data de pico de frutos maduros. Miconia ibaguensis ocorre no mesmo

ambiente e oferta frutos no mesmo período que M. affinis, desta forma, o “atraso” na

maturação de frutos de M. affinis pode ser uma estratégia da espécie para evitar competição

com M. ibaguensis, reduzindo a sobreposição na oferta de frutos maduros com a espécie

simpátrica (Wheelwright, 1985). Além disso, os elevados teores de nutriente oferecidos por

M. affinis, comparativamente às demais espécies de Miconia, podem representar uma

estratégia competitiva, para compensar a elevada oferta de frutos de M. ibaguensis e de outras

espécies que possam estar frutificando na mesma área. Assim, os diferentes investimentos na

produção de frutos, variando de acordo com a estação, elevariam as chances de dispersão em

cada estação.

No entanto, elevadas taxas de sementes dispersas não garantem o estabelecimento de

novos indivíduos no ambiente, sendo o fitness de muitas espécies influenciado pela dormência

sazonal das sementes, que atrasa a germinação até que surjam condições apropriadas a sua

ocorrência (Munir et al., 2001). A resposta a fatores ambientais após a dispersão é variada

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entre diferentes espécies (Pearson et al., 2002), podendo variar mesmo para espécies de um

mesmo gênero (Valladares et al., 2000). Estudos esclarecendo os requerimentos ambientais

necessários à germinação de sementes de Miconia são escassos e não permitem inferir a

existência, ou não, de um padrão para o gênero (Válio e Scarpa, 2001; Godoi e Takaki, 2007).

A maioria das espécies do gênero Miconia apresenta características que as enquadram

no grupo de espécies consideradas pioneiras ou colonizadoras. Segundo Swaine e Whitmore

(1988), algumas características desse grupo ecológico são a produção prolongada de frutos

com muitas sementes pequenas, dependência de luz para a germinação e, em geral, a

ocorrência abundante de sementes dormentes no solo, especialmente de espécies que

produzem frutos carnosos. Os autores afirmam ainda, que tais características são importantes

por conferir uma vantagem seletiva para o nicho ecológico das pioneiras, pois aumentam as

chances de dispersão e estabelecimento destas espécies em uma maior quantidade de

ambientes.

Toda a discussão em torno da oferta de frutos em determinada estação, se deve às

diferentes influências que as variáveis climáticas exercem sobre as plantas em cada estação,

estimulando o início de uma determinada fenofase. Até o momento, o fator considerado mais

importante na determinação da frutificação foi a precipitação, dada à sua importância na

sazonalidade do Cerrado. No entanto, apesar da relação existente entre a oferta de frutos e os

índices pluviométricos (Chapman et al. 2005), a precipitação não é o único fator capaz de

explicar variações nos períodos de frutificação (Wielgolaski, 2001). Ferraz et al. (1999)

verificaram que a influência conjunta de temperatura e precipitação, na ocorrência das

fenofases é maior do que a influência de cada fator individualmente, portanto, é mais

importante na determinação da oferta de recursos para a fauna.

A maioria das espécies de Miconia foi influenciada pelos fatores climáticos dos meses

que antecederam o mês de frutificação em si. Talvez, essa influência não esteja relacionada

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diretamente à formação dos frutos, mas sim à floração. Snow (1965) relatou a ocorrência de

floração em Miconia no período de três meses a um mês antecedentes à frutificação. No

presente estudo, a maioria das relações encontradas entre as variáveis climáticas e a oferta de

frutos, ocorreu com os fatores climáticos dos meses antecedentes à frutificação. Isso pode

indicar que tais fatores agem como um gatilho, estimulando o início da floração; o que ao

final, reflete na oferta de frutos.

Além de influenciar na oferta quantitativa de frutos, a temperatura influenciou também

a oferta de nutrientes. A influência da temperatura foi negativa e ocorreu principalmente em

lipídeos e proteínas. É provável que as temperaturas elevadas atuem na desnaturação de

proteínas, podendo reduzir os teores de proteínas nos frutos (Reinoso et al., 2008).

A presença de carboidratos solúveis nos frutos (Plazek, 1998), provavelmente faz com

que os teores de carboidratos totais estejam relacionados aos teores de água. Dessa forma,

uma redução nos teores de água pode deixar o conteúdo solúvel mais concentrado,

aumentando os teores de carboidratos. Por outro lado, o aumento do conteúdo hídrico do

fruto, pode deixar o fruto mais turgido, tornando os compostos solúveis mais diluídos. Talvez,

os solos da EEP sejam mais drenados que os da FEG, o que desfavorece a concentração de

água nos frutos, elevando as concentrações de carboidratos nesta área. A espécie que

apresentou os teores de água mais elevados na EEP foi M. chamissois, e por ocorrer em

vereda pode ter favorecido o acúmulo de água nos frutos, permitindo, inclusive, que esta

espécie ofereça frutos com mais água em um período onde este é um recurso limitante.

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38

CONCLUSÃO

As espécies de Miconia estudadas apresentaram um padrão de frutificação semelhante

ao encontrado em outros ambientes, frutificando assincronicamente entre si. A oferta de frutos

ocorreu ao longo do ano todo, com períodos de oferta de frutos maduros mais prolongada para

as espécies que ofertaram seus frutos na estação seca.

Os fatores climáticos de meses antecedentes à oferta de frutos influenciaram mais a

produção de frutos verdes do que de frutos maduros. Essa influência pode ter sido indireta,

refletindo na verdade, a influência dos fatores climáticos na floração das espécies, gerando

conseqüências à oferta de frutos.

Os teores de proteínas, lipídeos e minerais de Miconia foram baixos, sendo os maiores

teores oferecidos por M. affinis. A oferta de frutos mais nutritivos pode ser uma estratégia da

espécie para equilibrar a oferta quantitativa com a oferta qualitativa de seus frutos, em relação

a M. ibaguensis, pois a oferta quantitativa de M. affinis é inferior à oferta de M. ibaguensis. O

conteúdo dos frutos de Miconia é principalmente formado por água e carboidratos.

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ANEXO 1

Resultados das regressões lineares correspondentes às situações onde foram encontradas correlações significativas entre os fatores (climáticos

temperatura, precipitação e insolação) e a oferta de frutos (verdes e maduros). NS: Corresponde às correlações não significativas, para as quais não

foram realizadas regressões.

Variáveis

climáticas Período

EEP FEG

M. albicans M. ibaguensis M. theaezans M. chamissois M. ibaguensis M. affinis M. chamissois

verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros

Temperatura 4 meses R2 NS NS

NS NS

NS NS

0,921 NS

0,872 NS

0,8643 NS

NS NS

p 0,008 0,008 0,003

3 meses R2 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

0,698 NS

0,586 NS

NS NS

p 0,039 0,044

2 meses R2 0,942 NS

NS NS

0,670 0,561 NS NS

NS NS

NS NS

NS

0,617

p 0,026 0,024 0,052 0,036

1 mês R2 NS NS

NS NS

0,638 0,564 NS NS

NS NS

NS NS

0,654 NS

p 0,031 0,051 0,028

no mês R2 NS

0,992 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

0,575 NS

p 0,003 0,048

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Variáveis

climáticas Período

EEP FEG

M. albicans M. ibaguensis M. theaezans M. chamissois M. ibaguensis M. affinis M. chamissois

verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros verdes maduros

Precipitação 4 meses R2 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

0,620 NS

NS NS

p 0,035

3 meses R2 NS NS

NS NS

0,922 0,970 0,872 NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,001 <0,001 0,019

2 meses R2 NS NS

NS NS

0,884 0,918 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,002 0,001

1 mês R2 NS NS

0,799 NS

0,803 0,809 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,039 0,007 0,007

no mês R2 NS NS

NS NS

NS NS

0,913 NS

NS NS

NS NS

0,743 0,624

p 0,010 0,013 0,034

Insolação 4 meses R2 NS NS

NS NS

NS NS

0,832 NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,029

3 meses R2 NS NS

NS NS

0,613 NS

NS NS

0,858 NS

0,757 NS

NS NS

p 0,037 0,009 0,011

2 meses R2 NS NS

NS NS

NS

0,745 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,013

1 mês R2 NS NS

NS NS

NS

0,777 NS NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,009

no mês R2 NS NS

NS NS

NS NS

0,829 NS

NS NS

NS NS

NS NS

p 0,030

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CAPÍTULO II

Frugivoria e dispersão de sementes de três espécies de Miconia Ruiz & Pav.

(Melastomataceae) por aves em áreas do Cerrado

RESUMO

O objetivo deste Capítulo foi avaliar, através do comportamento alimentar, as aves

potencialmente dispersoras de Miconia theaezans, M. chamissois e M. albicans, em áreas do

Cerrado (EEP e FEG). Cada espécie foi observada por no mínimo 30 h em cada área, entre

7:00h e 17:00h. Foram registrados para cada espécie de ave: tempo de permanência na planta;

total de frutos consumidos; tática de forrageio; e estratégia de consumo dos frutos. Em M.

theaezans, observada apenas na EEP, foram consumidos 559 frutos em 47 visitas, por sete

espécies de aves. Thraupidae foi a família mais representativa e freqüente e Tangara cayana

foi o principal consumidor. A maior taxa de consumo de frutos inteiros foi encontrada para

Tachyphonus rufus. Em M. chamissois, o consumo de frutos foi maior na FEG (1262 frutos

em 127 visitas) do que na EEP (282 frutos em 33 visitas). Em ambas as áreas a família mais

freqüente foi Thraupidae. Os principais consumidores foram Pitangus sulphuratus, na FEG, e

Turdus leucomelas, na EEP. A maior taxa de consumo de frutos inteiros foi registrada para

Tyrannus savana, na FEG, e Cyanocorax cyanopogon, na EEP. Das três espécies de Miconia

observadas, o menor consumo de frutos foi registrado em Miconia albicans (FEG: 256 frutos

em 77 visitas; EEP: 75 frutos em 13 visitas). Emberizidae foi a família mais freqüente, na

EEP, e na FEG, junto com Tyrannidae. Em ambas as áreas, a principal espécie visitante foi

Volatinia jacarina. As aves que mais consumiram frutos desta Miconia foram V. jacarina, na

FEG, e C. cyanopogon, na EEP. A maior taxa de consumo na FEG foi observada para

Knipolegus lophotes e na EEP para uma espécie de Tyrannidae não identificada, que realizou

apenas uma visita. A tática de forrageamento mais utilizada no consumo dos frutos de todas

as espécies foi “empoleirado”, variando o grau de utilização de 68,83% a 100% das visitas,

dependendo da espécie de Miconia. A estratégia de consumo mais utilizada em M. theaezans

foi mandibular o fruto e engolir todo o conteúdo. Para as demais espécies a estratégia mais

utilizada foi engolidor. Do total de registros para todas as Miconia, houve predominância de

onívoros em termos de visitantes (57,14%) e visitas (83,16%), padrão mantido para todas as

espécies.

Palavras-chave: frutos; pioneiras; onívoros.

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ABSTRACT

Frugivory and seed dispersal by birds in three Miconia species Ruiz & Pav.

(Melastomataceae) in Cerrado areas. The aim of this Chapter was to access, through

feeding behavior, the potential of birds as seed dispersers of Miconia theaezans, M.

chamissois and M. albicans, in Cerrado areas (EEP and FEG). Miconia species were

observed, at least, for 30 hours in each area, between 0700-1700 h. The time spent on the

plant; total fruits consumed; foraging tactics; and strategy of consumption was registered for

each species. In M. theaezans, observed only at EEP, 559 fruits were consumed in 47 visits,

by seven bird species. Thraupidae was the most important family of visitors and Tangara

cayana was the main consumer. The highest consumption rate of whole fruits was for

Tachyphonus rufus. In M. chamissois, the fruits consumption at FEG was larger (1262 fruits

in 127 visits) than at EEP (282 fruits in 33 visits). The most frequent family in both areas was

Thraupidae. The main consumers were Pitangus sulphuratus at FEG, and Turdus leucomelas,

at EEP. The highest consumption rate was registered for Tyrannus savana at FEG, and

Cyanocorax cyanopogon, at EEP. The smallest fruit consumption was registered in M.

albicans (FEG: 256 fruits in 77 visits; EEP: 75 fruits in 13 visits). Emberizidae and

Tyrannidae were the most frequent families at EEP; and at FEG. In both areas the most

common visitor was Volatinia jacarina. The highest fruit consumption was observed for V.

jacarina at FEG and C. cyanopogon at EEP. The highest consumption rate at FEG was

observed for Knipolegus lophotes and at EEP for a non identified Tyrannidae species, which

visited only once. The number of consumed fruits was correlated with the time remained on

the plant, for all Miconia species. The most used foraging tactic on fruit consumption for all

species was “perched”. The most used consumption strategy for M. theaezans was “masher-

and-swallower”. For the other species, the most used strategy was “swallower”, where the

fruit was wholly swallowed. From the total records for Miconia, the omnivorous guild was

predominant in relation to visitors (57.14%) and visits (83.16%), a pattern shared for all

species.

Key words: fruits; pioneers; omnivorous.

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INTRODUÇÃO

A dispersão de sementes é importante no ciclo reprodutivo da maioria das plantas, pois

afeta sua demografia e sobrevivência (Howe e Smallwood, 1982; Herrera et al. 1994); além

de ser um elemento fundamental na recuperação da biodiversidade em áreas degradadas

(Wunderle-Junior, 1997; Trakhtenbrot et al., 2005). No Cerrado, muitas plantas apresentam

frutos com características atrativas ao consumo por animais, sendo a zoocoria o modo de

dispersão predominante nesse bioma (Batalha e Mantovani, 2000; Motta-Junior e Lombardi,

2002; Vieira et al., 2002; Silva et al., 2009). No contexto mutualístico da relação planta-

dispersor, tem sido demonstrado por diversos estudos, que as espécies zoocóricas do Cerrado

constituem importante recurso alimentar para avifauna (ex.: Francisco e Galetti, 2001;

Francisco e Galetti, 2002a; Francisco e Galetti, 2002b; Marcondes-Machado, 2002; Melo et

al., 2003; Francisco et al., 2007; Melo e Oliveira, 2009).

Para maximizar a atração de agentes dispersores, as plantas apresentam diferentes

características. Algumas espécies, como as pioneiras, apresentam pequenos frutos, com

pequenas e numerosas sementes, o que não restringe seus consumidores (Wheelwright 1985)

e aumenta as chances de dispersão, mesmo que por espécies oportunistas (Marcondes-

Machado, 2002). Frutos que apresentam tais características são, geralmente, ricos em água e

carboidratos (Snow, 1981) e podem balancear a dieta de aves que se alimentam

predominantemente de alimentos protéicos, como as insetívoras (Marcondes-Machado 2002).

A presença de pequenas sementes pode, ainda, representar uma estratégia de proteção contra a

predação (Janzen, 1971; Marcondes-Machado, 2002), pois mesmo que o fruto seja

mandibulado pelo consumidor, algumas sementes poderão ser engolidas intactas em meio à

polpa macerada (Moermond e Denslow, 1985), garantindo um potencial de dispersão por aves

que utilizam este comportamento (Levey, 1987).

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A família Melastomataceae apresenta cerca de 4570 espécies distribuídas pelo mundo

(Clausing e Renner, 2001), sendo a maioria da região Neotropical (Stiles e Rosseli, 1993). O

gênero Miconia é o maior da família possuindo mais de 1000 espécies (Renner, 1993),

distribuídas do sul do México ao norte da Argentina e Uruguai (Goldenberg, 2004). No

Cerrado, o gênero pode ser encontrado nas diversas fitofisionomias (Weiser e Godoy, 2001;

Araújo et al., 2002; Cardoso et al., 2002; Guimarães et al., 2002; Assunção e Felfili, 2004;

Gomes et al., 2004; Campos et al., 2006; Silva-Júnior e Sarmento, 2009), sendo comum em

vegetação secundária (Ellison et al., 1993; Araújo et al., 1997; Silva-Júnior e Sarmento,

2009). As espécies desse gênero frutificam assincronicamente de forma complementar (Snow,

1965; Leiner, Nascimento e Melo, no prelo; ver Capítulo 1), apresentando frutos pequenos, do

tipo baga, em geral com muitas sementes pequenas e com características atrativas à dispersão

por aves.

O objetivo deste trabalho foi observar as espécies de aves frugívoras visitantes de

Miconia theaezans (Bonpl.) Cogn., M. chamissois Naud. e M. albicans (Sw.) Triana em áreas

do Cerrado com diferentes estados de preservação, para avaliar, através do comportamento

alimentar dessas aves, sua importância no potencial de dispersão de sementes destas

Melastomataceae.

MATERIAL E MÉTODOS

Foi caracterizada a avifauna consumidora dos frutos de Miconia theaezans, encontrada

na borda da mata de galeria adjacente à vereda; M. chamissois, encontrada nas veredas; e M.

albicans, no cerrado stricto sensu; na Estação Ecológica do Panga (EEP) e na Fazenda

Experimental do Glória (FEG). Para isso, foram realizadas observações do tipo árvore-focal,

do final de abril a meados de maio, em M. theaezans; final de julho e primeira quinzena de

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49

agosto, em M. chamissois; e durante o mês de novembro, em M. albicans. As observações

visaram cobrir o dia todo com, pelo menos, uma sessão de observação em cada intervalo de

hora entre 7:00 e 17:00 horas, sendo desconsiderado o horário de verão. Cada espécie foi

observada por pelo menos 30 horas em cada área. As observações focais em M. theaezans

foram realizadas apenas na EEP, pois esta espécie não foi encontrada na FEG.

Durante as sessões de observação foram registrados: espécies de aves consumindo

fruto; horário de chegada e saída da ave na planta; número de frutos consumidos; a tática de

forrageamento; e estratégia de consumo (Melo et al., 2003; Melo e Oliveira, 2009). A

classificação taxonômica das aves está de acordo com CBRO (2009). Quando a planta

observada foi concomitantemente visitada por um grupo de indivíduos, monoespecíficos ou

não, o número de frutos consumidos e o tempo de permanência sobre a planta foram

registrados apenas para um indivíduo escolhido ao acaso (Cazetta et al., 2002).

Para determinar a guilda alimentar à qual cada ave pertence, foram utilizados dados da

literatura (citações na Tabela 1) e observações de campo, sendo considerada a dieta

predominante da espécie, quando possível, ou da família. Espécies citadas na literatura como

consumidoras de artrópodos foram classificadas como insetívoras, por não existir uma

nomenclatura específica para consumidores de artrópodos.

As táticas de forrageamento foram classificadas, seguindo Argel-de-Oliveira et al.

(1996), como “empoleirado” ou “em vôo”. A tática “empoleirado” foi considerada quando a

ave manteve-se na planta enquanto coletava e consumia os frutos. Quando a ave chegava à

planta, coletava o fruto e pousava em outro local para consumi-lo, a tática de forrageamento

considerada foi “em vôo”.

As aves foram classificadas de acordo com estratégias de consumo adaptadas de

Argel-de-Oliveira et al. (1996) e Marcondes-Machado (2002). Foram consideradas como:

“engolidor” as aves que ingeriam o fruto inteiro, sem mandibular; “mandibulador” as aves

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que antes de ingerir o fruto utilizavam o bico para macerar a polpa, podendo, após mandibular

o fruto, engoli-lo inteiro ou aproveitar apenas o suco obtido com a maceração, desprezando o

restante da polpa com as sementes; “bicador” espécies que não removeram o fruto da planta,

apenas bicaram e consumiram parte da polpa. Os frutos foram considerados como “engolidos

inteiros” quando houve a ingestão do fruto sem mandibulação, ou quando houve a

mandibulação, mas a polpa e as sementes foram engolidas em seguida.

As correlações foram processadas no programa Systat 10.2 (2002). Para testar a

normalidade dos dados foi utilizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov (Lilliefors). Foi feita a

correlação entre o número de frutos consumidos e o tempo de permanência das aves na planta

para cada espécie de planta em cada área. Como os dados não apresentaram normalidade foi

utilizada a Correlação de Spearman (rs); apenas os dados relativos ao tempo de permanência

das aves em Miconia albicans na EEP foram normais, por isso, os dados de número de frutos

consumidos correspondentes foram transformados com Log10, permitindo a utilização da

Correlação de Pearson apenas neste caso. Foram realizados testes qui-quadrado (χ2) para

verificar se haviam diferenças entre as áreas em relação à dieta padrão dos visitantes; às

táticas de forrageamento e às estratégias de consumo empregadas pelas aves visitantes. Os

testes de qui-quadrado foram processados no programa Biostat 5.0 (Ayres et al., 2007). O

Índice de Similaridade de Jaccard foi utilizado para comparar as aves visitantes entre as duas

áreas e entre as espécies.

RESULTADOS

Foi realizado um total de 166 horas e 15 minutos de observações focais nas espécies

de Miconia. Nesse período foram registradas 297 visitas de aves às plantas e o consumo de

2434 frutos de Miconia (Tabelas 1-5).

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Dentre as 35 espécies registradas consumindo os frutos de Miconia, houve

predominância de onívoros (20 espécies; 57,14%), seguido de insetívoros e frugívoros, em

proporções iguais (17,14%; seis espécies cada), e granívoros (8,57%; três espécies) (Figura

1). Analisando as áreas separadamente, a proporção de aves onívoras se manteve

predominante em ambas as áreas (EEP=61,11%; FEG=64,29%) representando mais de 80%

das visitas às espécies de Miconia. No entanto, a proporção de aves nas demais guildas variou

(Tabela 6 e Figura 1), diferindo significativamente entre as áreas (χ2=14,628; gl=3; p=0,002).

Os dados de cada espécie de Miconia são apresentados a seguir.

Miconia theaezans

Foram realizadas 42 horas e 40 minutos de observações focais em M. theaezans na

EEP, com o registro de 47 visitas por sete espécies de aves. Thraupidae foi a família mais

representativa (cinco espécies) e também a mais freqüente (41 visitas; 87,23%). A principal

espécie visitante foi Tangara cayana (28 visitas; 59,57%) (Tabela 1). Entre as espécies

registradas, houve a predominância de aves onívoras (cinco espécies; 71,43%), sendo as

demais frugívoras (duas espécies; 28,57%) (Tabela 6 e Figura 2).

Foram consumidos 559 frutos de M. theaezans. Tangara cayana foi a principal espécie

consumidora (340 frutos; 60,52%) e a que menos consumiu frutos foi Antilophia galeata (seis

frutos; 1,07%). O tempo médio gasto por visita variou de 1,25±1,06 min. (A. galeata) a

5,00±1,41 min. (Schistochlamys melanopis) (Tabela 1). Com exceção de Saltator similis, cuja

estratégia de consumo dos frutos não foi identificada, todas as outras espécies apresentaram-

se potenciais dispersoras de M. theaezans, devido aos elevados números de frutos consumidos

inteiros por minuto. A taxa de consumo de frutos inteiros variou de 2,40 (A. galeata) a 4,20

frutos/min. (Tachyphonus rufus) (Tabela 1). O número de frutos consumidos foi

correlacionado ao tempo de permanência dos visitantes na planta (rs=0,77; n=47; p<0,05).

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A tática de forrageamento “empoleirado” foi mais comum (45 visitas; 95,74%) do que

“em vôo”. A estratégia de mandibular e engolir o fruto foi a mais utilizada (364 frutos;

65,12%), seguida por mandibular o fruto e desprezar (121 frutos; 21,64%) (Tabela 1).

57.1461.11

64.29

17.1422.22

10.71

17.14

5.56

17.86

8.5711.11

7.14

0

20

40

60

80

100

Total EEP FEG

Pro

po

rçã

o d

e V

isit

an

es

Onívoros

Frugívoros

Insetívoros

Granívoros

(A)

83.16

89.0286.35

8.08 8.095.546.73

0.58

7.012.02 2.31 1.11

0

20

40

60

80

100

Total EEP FEG

Pro

po

rçã

o d

e V

isit

as

Onívoros

Frugívoros

Insetívoros

Granívoros

(B)

Figura 1 – Proporções gerais das guildas alimentares. Total: em relação ao total de aves visitantes de Miconia;

EEP: em relação aos visitantes de Miconia observados na Estação Ecológica do Panga; FEG: em relação aos

visitantes das espécies de Miconia observados na Fazenda Experimental no Glória. (A) Proporções em termos de

número de espécies de aves em cada guilda. (B) Proporções em termos de número de visitas por cada guilda.

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Tabela 1 – Consumo de frutos de Miconia theaezans na Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.

Família/Espécie Visitas

n (%)

Consumo de frutos Frutos consumidos Tempo gasto na

planta (minutos)

média ± dp (n)

Consumo

(frutos

inteiros/min.) Engolidor

n (%)

"Mandibulador" n (%) Indefinido

n (%)

Total

n (%)

Por visita

média ± dp

Engole Despreza

TYRANNIDAE

Elaenia sp. 4 (8,51) 30 (5,37) 30 (5,37) 7,50 ± 9,15 2,88 ± 2,95 (4) 2.93

PIPRIDAE

Antilophia galeata 2 (4,26) 6 (1,07) 6 (1,07) 3,00 ± 2,83 1,25 ± 1,06 (2) 2.40

THRAUPIDAE

Saltator similis 1 (2,13) 7 (1,25) 7 (1,25) 7 1 --

Schistochlamys melanopis 2 (4,26) 33 (5,90) 33 (5,90) 16,50 ± 13,44 5,00 ± 1,41 (2) 3.30

Tachyphonus rufus 4 (8,51) 21 (3,76) 61 (10,91) 82 (14,67) 20,50 ± 9,18 3,88 ± 2,25 (4) 4.20

Tangara cayana 28 (59,57) 280 (50,09) 60 (10,73) 340 (60,82) 12,14 ± 11,79 3,45 ± 2,97 (28) 3.39

Dacnis cayana 6 (12,77) 31 (5,55) 30 (5,37) 61 (10,91) 10,17 ± 5,67 2,92 ± 2,62 (6) 3.49

Total 47 (100) 67 (11,99) 364 (65,12) 121 (21,64) 7 (1,25) 559 (100)

71.43

89.36

28.57

10.64

0

20

40

60

80

100

Espécies Visitas

Pro

po

rçõ

es

ob

serv

ad

as

Onívoros

Frugívoros

Figura 2 - Propoções de guildas alimentares observadas em Miconia theaezans, na Estação Ecológica do Panga. Espécies: Propoções em termos do número de espécie de aves

visitantes de Miconia theaezans em cada guilda. (B) Proporções em termos de número de visitas realizadas em M. theaezans por cada guilda.

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Miconia chamissois

Em M. chamissois foram realizadas 60 horas e 30 minutos de observações focais,

sendo 30 horas na FEG e 30 horas e 30 minutos na EEP. Na FEG, houve o registro de 127

visitas por 21 espécies de aves (Tabela 2), enquanto na EEP houve 33 visitas de 14 espécies

de aves (Tabela 3). Thraupidae foi a família mais representativa (FEG: oito espécies; EEP:

nove espécies) e a mais freqüente (FEG: 42 visitas; 33,07% / EEP: 21 visitas; 63,64%) em

ambas as áreas (Tabelas 2 e 3).

A principal espécie visitante na FEG foi Pitangus sulphuratus (21 visitas; 24,41%),

seguida por Turdus amaurochalinus (14 visitas; 11,02%) e Thraupis sayaca (12 visitas;

9,45%) (Tabela 2). Na EEP, a quantidade de visitas foi mais equitativamente distribuída entre

as espécies visitantes (J=0,93) (Tabela 7), sendo Antilophia galeata a espécie mais freqüente,

com cinco visitas (15,15%); seguida por Turdus leucomelas, Ramphocelus carbo e Dacnis

cayana, cada uma com quatro visitas (12,12%) (Tabela 3).

O consumo de frutos na FEG foi elevado (n=1262) quando comparado à EEP (n=282).

A espécie que consumiu o maior número de frutos na FEG foi Pitangus sulphuratus (315

frutos; 24,96%); e na EEP, T. leucomelas (75 frutos; 26,60%), ambos onívoros (Tabelas 2 e

3). O tempo médio gasto por visita variou de 0,67±0,11 min. (Myiozetetes spp.) até 2,59±1,59

min. (Crotophaga ani), na FEG (Tabela 2); e, na EEP, a variação foi de 0,91±0,32 min.

(Tachyphonus rufus) até 5,40±7,74 min. (T. leucomelas) (Tabela 3). Em ambas as áreas o

tempo de visitação foi positivamente correlacionado com o número de frutos consumidos

(FEG: rs=0,688; n=127; p<0,05 / EEP: rs=0,369; n=33; p<0,05).

Na FEG, a espécie que apresentou a maior taxa de consumo de frutos inteiros foi

Tyrannus savana (15 frutos/min.) em apenas uma visita; seguida por Turdus rufiventris (9,65

frutos/min.), com nove visitas, e P. sulphuratus (9,5 frutos/min.), com 31 visitas (Tabela 3).

Das espécies registradas consumindo frutos de M. chamissois na FEG, apenas Geothlypis

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aequinoctialis não ingeriu frutos inteiros, além de realizar apenas uma visita, o que torna

praticamente nulo seu potencial como dispersor. A espécie que apresentou menor taxa de

consumo foi Ramphocelus carbo (2,35 frutos/min.) com duas visitas. Na EEP, as maiores

taxas de consumo de frutos foram registradas Cyanocorax cyanopogon (14,86 frutos/min.),

seguida de Pipraeidea melanonota (13,09 frutos/min.), ambas com apenas uma visita.

Antilophia galeata foi a espécie que consumiu o menor número de frutos nesta área (2,33

frutos/min.).

Para o total de espécies visitantes de M. chamissois, houve a predominância de

espécies onívoras (18 espécies; 66,67%), seguida por frugívoras (cinco espécies; 18,52%;)

(Tabela 6 e Figura 3). Quando as guildas foram analisadas para cada área, a FEG apresentou

representantes de todas as guildas, com predominância de onívoros (16 espécies; 76,19%).

Apesar da proporção de insetívoros e frugívoros ter sido a mesma (9,52%), a taxa de visitação

por os frugívoros (10 visitas; 7,87%) foi maior que de insetívoros (duas visitas; 1,57%). Na

EEP não houve nenhuma espécie insetívora visitando a planta e as espécies visitantes foram

principalmente onívoras (nove espécies; 64,29%) e frugívoras (quatro espécies; 28,57%)

(Figura 3). As áreas diferiram significativamente em termos das guildas dos visitantes

(χ2=20,532; gl=3; p<0,001).

A tática de forrageamento “empoleirado” foi a mais comum em ambas as áreas (FEG;

126 visitas; 99,21% / EEP; 26 visitas; 78,79%), apesar de diferir significativamente entre as

áreas (χ2=21,296; gl=1; p<0,0001). A estratégia “engolidor” foi a mais utilizada nas duas

áreas (FEG; 947 frutos; 75,04% / EEP; 190 frutos; 67,38%); a estratégia de mandibular o

fruto e desprezar foi utilizada apenas na FEG (32 frutos; 2,54%) (Tabelas 3 e 4). Não houve

diferença significativa na estratégia de consumo de frutos entre as áreas (χ2=4,842; gl=2;

p=0,088).

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Tabela 2 - Consumo de frutos de Miconia chamissois na Fazenda Experimental do Glória (FEG), Uberlândia, MG.

Família/Espécie Visitas

n (%)

Consumo de frutos (N=) Frutos consumidos Tempo gasto na planta

(minutos) média ± dp

Consumo

(frutos inteiros/min.) Engolidor

n (%)

"Mandibulador" n (%) Total

n (%)

Por visita média

± dp

Engole Despreza

CUCULIDAE

Crotophaga ani 2 (1,57) 5 (0,40) 42 (3,33) 47 (3,72) 23,5 ± 26,16 2,59 ± 1,59 9.07

TYRANNIDAE

Elaenia spp. 3 (2,36) 21 (1,66) 21 (1,66) 7,00 ± 4,36 0,70 ± 0,69 10.00

Myiozetetes spp. 5 (3,94) 39 (3,09) 39 (3,09) 7,80 ± 2,17 0,67 ± 0,11 11.58

Pitangus sulphuratus 31 (24,41) 315 (24,96) 315 (24,96) 10,16 ± 8,81 1,07 ± 0,64 9.50

Tyrannus savana 1 (0,79) 5 (0,40) 5 (0,40) 5 0.33 15.00

TURDIDAE

Turdus rufiventris 9 (7,09) 109 (8,64) 109 (8,64) 12,11 ± 6,41 1,26 ± 0,66 9.65

Turdus leucomelas 4 (3,15) 52 (4,12) 52 (4,12) 13,00 ± 8,68 1,40 ± 0,66 9.26

Turdus amaurochalinus 14 (11,02) 146 (11,57) 16 (1,27) 162 (12,84) 11,57 ± 6,07 1,51 ± 0,72 7.65

MIMIDAE

Mimus saturninus 3 (2,36) 89 (7,05) 89 (7,05) 29,67 ± 7,37 3,53 ± 0,96 8.40

THRAUPIDAE

Saltator similis 1 (0,79) 5 (0,40) 5 (0,40) 5.00 0.72 6.98

Schistochlamys melanopis 2 (1,57) 13 (1,03) 13 (1,03) 6,50 ± 4,95 1,15 ± 0,33 5.65

Ramphocelus carbo 2 (1,57) 12 (0,95) 12 (0,95) 6,00 ± 1,41 2,56 ± 2,42 2.35

Thraupis sayaca 12 (9,45) 17 (1,35) 74 (5,86) 19(1,51) 110 (8,72) 9,17 ± 6,48 1,30 ± 0,59 7.87

Thraupis palmarum 7 (5,51) 22 (1,74) 33 (2,71) 55 (4,36) 7,86 ± 3,76 0,97 ± 0,48 8.09

Tangara cayana 9 (7,09) 42 (3,33) 46 (3,65) 88 (6,97) 9,78 ± 5,70 1,36 ± 0,75 7.17

Tersina viridis 3 (2,36) 11 (0,87) 2 (0,16) 13 (1,03) 4,33 ± 3,21 0,73 ± 0,44 5.91

Dacnis cayana 6 (4,72) 6 (0,48) 30 (2,38) 36 (2,85) 6,00 ± 2,28 0,77 ± 0,48 7.80

EMBERIZIDAE

Sporophila spp. 2 (1,57) 5 (0,40) 5 (0,40) 10 (0,79) 5,00 ± 0 0,72 ± 0,26 9.38

PARULIDAE

Geothlypis aequinoctialis 1 (0,79) 3 (0,24) 3 (0,24) 3.00 0.38 --

ICTERIDAE

Icterus cayanensis 8 (6,30) 30 (2,38) 30 (2,38) 5 (0,40) 65 (5,15) 8,13 ± 5,89 1,39 ± 1,24 5.87

Gnorimopsar chopi 2 (1,57) 13 (1,03) 13 (1,03) 6,50 ± 0,71 0,68 ± 0,15 9.63

Total 127 (100) 947 (75,04) 283 (22,42) 32 (2,54) 1262 (100)

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Tabela 3 – Consumo de frutos de Miconia chamissois na Estação Ecológica do Panga (EEP), Uberlândia, MG.

Família/Espécie Visitas

n (%)

Consumo de frutos Frutos consumidos Tempo gasto na

planta (minutos)

média ± dp

Consumo

(frutos

inteiros/min.) Engolidor

n (%)

"Mandibulador" n (%) Total

n (%)

Por visita

média ± dp

Engole Despreza

PIPRIDAE

Antilophia galeata 5 (15,15) 18 (6,38) 18 (6,38) 3,60 ± 1,95 1,55 ± 0,98 2,33

CORVIDAE

Cyanocorax cyanopogon 1 (3,03) 26 (9,22) 26 (9,22) 26,00 1,75 14,86

TURDIDAE

Turdus leucomelas 4 (12,12) 75 (26,60) 75 (26,60) 18,75 ± 20,02 5,40 ± 7,74 3,47

THRAUPIDAE

Saltator similis 3 (9,09) 15 (5,32) 15 (5,32) 5,00 1,52 ± 0,94 3,28

Schistochlamys melanopis 1 (3,03) 9 (3,19) 9 (3,19) 9,00 1,20 7,50

Tachyphonus rufus 3 (9,09) 14 (4,96) 14 (4,96) 4,67 ± 3,06 0,91 ± 0,32 5,12

Ramphocelus carbo 4 (12,12) 19 (6,74) 19 (6,74) 4,75 ± 2,36 1,28 ± 0,28 3,70

Thraupis palmarum 2 (6,06) 27 (9,57) 27 (9,57) 13,50 ± 2,12 1,81 ± 0,46 7,47

Pipraeidea melanonota 1 (3,03) 12 (4,26) 12 (4,26) 12,00 0,92 13,09

Tangara cayana 2 (6,06) 25 (8,87) 25 (8,87) 12,50 ± 0,71 1,60 ± 0,02 7,81

Tersina viridis 1 (3,03) 10 (3,55) 10 (3,55) 10,00 2,12 4,72

Dacnis cayana 4 (12,12) 9 (3,19) 10 (3,55) 19 (6,74) 4,75 ± 1,71 1,64 ± 160 2,89

EMBERIZIDAE

Coryphospingus cucullatus 1 (3,03) 5 (1,77) 5 (1,77) 5,00 0,60 8,57

FRINGILLIDAE

Euphonia chlorotica 1 (3,03) 8 (2,84) 8 (2,84) 8,00 0,88 9,06

Total 33 (100) 190 (67,38) 92 (32,62) 282 (100,00)

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58

66.6764.29

76.19

18.52

28.57

9.527.41

0.00

9.527.41 7.14

4.76

0

20

40

60

80

100

Total EEP FEG

Pro

po

rçã

o d

e V

isit

an

tes

Onívoros

Frugívoros

Insetívoros

Granívoros

(A)

85.63

72.73

88.98

11.25

24.24

7.87

1.25 0.00 1.571.88 3.03 1.57

0

20

40

60

80

100

Total EEP FEG

Pro

po

rçã

o d

e V

isit

as

Onívoros

Frugívoros

Insetívoros

Granívoros

(B)

Figura 3 - Proporções de guildas alimentares observadas em Miconia chamissois. Total: em relação ao total de

aves visitantes de M. chamissois; EEP: em relação aos visitantes de M. chamissois observados na Estação

Ecológica do Panga; FEG: em relação aos visitantes de M. chamissois observados na Fazenda Experimental no

Glória. (A) Proporções em termos de número de espécie de aves em cada guilda. (B) Proporções em termos de

número de visitas por cada guilda.

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59

Miconia albicans

Foram realizadas 63 horas e cinco minutos de observações focais em M. albicans,

sendo 33 horas e cinco minutos na FEG e 30 horas na EEP. Na FEG, foram registradas 77

visitas realizadas por 14 espécies de aves (Tabela 4), enquanto na EEP houve o registro de 13

visitas por seis espécies (Tabela 5). Tyrannidae foi a família mais representativa na FEG (oito

espécies) e, juntamente com Emberizidae, a mais freqüente, ambas com 34 visitas (44,16%)

(Tabela 4). Na EEP, Thraupidae e Emberizidae tiveram duas espécies de aves visitando a

planta, sendo Emberizidae foi a família mais freqüente (oito visitas; 61,54%) (Tabela 5).

A principal espécie visitante de M. albicans na FEG foi Volatinia jacarina (34 visitas,

44,16%), única representante de Emberizidae nesta área (Tabela 4). Na EEP, as espécies que

mais visitaram a planta foram V. jacarina (cinco visitas; 38,46%) e Sporophila nigricollis

(três visitas; 23,08%) (Tabela 5).

Na FEG foram consumidos 256 frutos, em sua maioria, por Volatinia jacarina (119

frutos; 46,48%) (Tabela 4). Na EEP, como reflexo da baixa visitação, o consumo de frutos foi

o menor dentre as espécies observadas (75 frutos). O maior número de frutos foi consumido

por Cyanocorax cyanopogon (28 frutos; 37,33%), seguido por Volatinia jacarina (21 frutos;

28,00%) (Tabela 5).

As visitas de aves às plantas foram mais rápidas na FEG do que na EEP; variando de

0,18±0,08 min. (Knipolegus lophotes) a 1,69±1,20 min. (Tyrannus melancholicus) na FEG e

de 0,86±0,20 min. (Sporophila nigricollis) a 3,08±1,61 min. (C. cyanopogon) na EEP (Tabela

5). O tempo de permanência das aves na planta foi positivamente correlacionado com o

número de frutos consumidos (FEG: rs=0,609; n=77; p<0,05 / EEP: r=0,764; n=13; p=0.002).

Na FEG, as espécies que apresentaram as maiores taxas de consumo de frutos inteiros

por minuto, foram Knipolegus lophotes (10,19 frutos/min.), seguida por Turdus leucomelas

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60

(8,57 frutos/min.) e Pitangus sulphuratus (5,20 frutos/min.) (Tabela 5). Na EEP, a maior taxa

de consumo de frutos foi registrada para uma espécie de Tyrannidae não identificada (7,50

frutos/min.), que realizou apenas uma visita; seguida por C. cyanopogon (4,55 frutos/min.)

(Tabela 6).

Entre as espécies registradas, houve a predominância de aves onívoras (58,82%; 10

espécies), seguida por insetívoros (29,41%; cinco espécies). A composição de guildas dos

visitantes foi diferente entre as áreas, pois não houve visita de frugívoros na EEP, enquanto na

FEG não houve visita de granívoros. Assim como ocorreu para as outras Miconia, o padrão de

predominância de visitas por onívoros foi mantido quando analisadas a proporção de visitação

por cada guilda. No entanto, na EEP, apesar de manter a predominância em relação às outras

guildas, a proporção de visitação por onívoros (60%) foi menor que a proporção de visitantes

onívoros (66,67%), o que não ocorreu para outras espécies de Miconia (Figura 4). As áreas

foram significativamente diferentes em relação às guildas alimentares das aves visitantes de

M. albicans (χ2=28,756; gl=3; p<0,001).

A tática de forrageamento “empoleirado” foi a mais comum em ambas as áreas (FEG;

53 visitas; 68,83% / EEP; 13 visitas; 100%), com diferenças significativas entre as áreas

(χ2=36,925; gl=1; p<0,0001). A estratégia engolidor foi a mais utilizada na FEG (127 frutos;

48,45%); na EEP, a estratégia engolidor juntamente com a estratégia de mandibular o fruto e

desprezar foram as mais utilizadas (28 frutos; 37,33%, cada). A estratégia de bicar o fruto

sem removê-lo da planta foi utilizada apenas em M. albicans tanto na FEG (26 frutos;

10,16%) quanto na EEP (10 frutos; 13,33%) (Tabelas 5 e 6). As áreas não diferiram

significativamente em relação às estratégias de consumo (χ2=2,883; gl=3; p=0,410).

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61

Tabela 4 – Consumo de frutos de Miconia albicans na Fazenda Experimental do Glória (FEG), Uberlândia, MG.

Família/Espécie Visitas

n (%)

Consumo de frutos Frutos consumidos Tempo gasto na

planta

(minutos)

média ± dp

Consumo

(frutos

inteiros/min.) Engolidor

n (%)

"Mandibulador" n (%) Bicador

n (%)

Total

n (%)

Por visita

média ± dp

Engole Despreza

TYRANNIDAE

Elaenia spp. 13 (16,88) 30 (11,72) 30 (11,72) 2,30 ± 1,18 0,64 ± 0,44 3,61

Knipolegus lophotes 5 (6,49) 9 (3,52) 9 (3,52) 1,80 ± 0,84 0,18 ± 0,08 10,19

Legatus leucophaius 2 (2,60) 12 (4,69) 12 (4,69) 6,00 ± 4,24 1,30 ± 0,25 4,59

Pitangus sulphuratus 2 (2,60) 13 (5,08) 13 (5,08) 6,50 ± 3,54 1,25 ± 0,09 5,20

Griseotyrannus

aurantioatrocristatus 4 (5,19) 11 (4,30) 11 (4,30) 2,75 ± 1,26 0,84 ± 0,59

3,27

Tyrannus melancholicus 4 (5,19) 16 (6,25)* 16 (6,25) 4,00 ± 1,14 1,69 ± 1,20 2,19

Tyrannus savana 4 (5,19) 9 (3,52)** 12 (4,69) 3,00 ± 1,14 0,63 ± 0,34 5,19

TURDIDAE

Turdus leucomelas 1 (1,30) 5 (1,95) 5 (1,95) 5 0,58 8,57

THRAUPIDAE

Saltator similis 1 (1,30) 2 (0,78) 2 (0,78) 2 0,77 2,61

Tangara cayana 1 (1,30) 3 (1,17) 3 (1,17) 3 0,65 -- Dacnis cayana 5 (6,49) 12 (4,69) 7 (2,73) 19 (7,42) 3,80 ± 1,30 1,27 ± 0,59 2,99

Cyanerpes cyaneus 1 (1,30) 5 (1,95) 5 (1,95) 5 1,08 4,62

EMBERIZIDAE

Volatinia jacarina 34 (44,16) 5 (1,95) 16 (6,25) 72 (28,12) 26 (10,16) 119 (46,48) 3,50 ± 2,69 1,03 ± 0,77 3,85

Total 77 (100,00) 127 (48,45) 28 (10,93) 75 (29,29) 26 (10,16) 256 (100,00)

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62

Tabela 5 – Consumo de frutos de Miconia albicans na Estação Ecológica do Panga (EEP), Uberlândia, MG.

Família/Espécie

Visitas

Consumo de frutos (N=75) Frutos consumidos Tempo gasto na

planta (minutos)

média ± dp

Consumo

(frutos

inteiros/min.) Engolidor

n (%)

"Mandibulador" n (%) Bicador

n (%)

Total

n (%)

Por visita

média ± dp

Engole Despreza

TYRANNIDAE

Tyrannidae sp1. 1 (7,69) 2 (2,67) 2 (2,67) 2 0,27 7,50

CORVIDAE

Cyanocorax cyanopogon 2 (15,38) 28 (37,33) 28 (37,33) 14,00 ± 12,73 (2) 3,08 ± 1,61 4,55

THRAUPIDAE

Tachyphonus rufus 1 (7,69) 7 (9,33) 7 (9,33) 7 1,10 -- Thraupis palmarum 1 (7,69) 7 (9,33) 7 (9,33) 7 2,80 2,50

EMBERIZIDAE

Sporophila nigricollis 3 (23,08) 10 (13,33) 10 (13,33) 3,33 ± 0,58 (3) 0,86 ± 0,20 -- Volatinia jacarina 5 (38,46) 21 (28,00) 21 (28,00) 4,20 ± 1,30 (5) 1,29 ± 0,46 --

Total 13 (100,00) 28 (37,33) 9 (12,00) 28 (37,33) 10 (13,33) 75 (100,00)

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63

58.82

66.67

58.33

5.88

0.00

8.33

29.41

16.67

33.33

5.88

16.67

0.00

0

20

40

60

80

100

Total EEP FEG

Pro

po

rçã

o d

e V

isit

an

tes

Onívoros

Frugívoros

Insetívoros

Granívoros

(A)

76.14

60.00

75.32

2.270.00

2.60

20.45

6.67

22.08

1.14

20.00

0.00

0

20

40

60

80

100

Total EEP FEG

Pro

po

rçã

o d

e V

isit

as

Onívoros

Frugívoros

Insetívoros

Granívoros

(B)

Figura 4 - Proporções de guildas alimentares observadas em Miconia albicans. Total: em relação ao total de aves

visitantes de M. albicans; EEP: em relação aos visitantes de M. albicans observados na Estação Ecológica do

Panga; FEG: em relação aos visitantes de M. albicans observados na Fazenda Experimental no Glória. (A)

Proporções em termos de número de espécie de aves em cada guilda. (B) Proporções em termos de número de

visitas por cada guilda.

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Tabela 6 - Guildas alimentares das aves registradas consumindo frutos de Miconia, com base na literatura.

Itens alimentares: Ar=Artrópodes; Fl=Flores; Fo=Folhas; Fr=Frutos; Gr=Grãos; Iv=Invertebrados;

Nc=Néctar; Vr=Vertebrados. Guildas: FRU=Frugívoros; GRA=Granívoros; INS=Insetívoros;

ONI=Onívoros. Espécies de Miconia e locais onde as aves foram registradas: Mt=M. theaezans; Mc=M.

chamissois; Ma=M. albicans; P=Estação Ecológica do Panga; G=Fazenda Experimental do Glória.

Família/Espécie Itens alimentares Guilda Miconia/Área de estudo

Mt/P Mc/P Ma/P Mc/G Ma/G

Crotophaga ani Ar3,10,12

; Vr12

; Fr3,10,14

ONI X

Elaenia spp. Ar3,4

; Fr3,4,14

ONI X X X

Knipolegus lophotes Ar3; Fr

14 INS X

Legatus leucophaius Fr3,14

FRU X

Myiozetetes spp. Ar3,5

; Fr3,14

; Vr3 ONI X

Pitangus sulphuratus Ar3,5,6,11

; Iv5,6

; Fr5,6,11,14

; Vr3,6,11

ONI X X

Griseotyrannus

aurantioatrocristatus Ar

3; Fr

3,14 INS X

Tyrannus melancholicus Ar3,5

; Fr5,14

INS X

Tyrannus savana Ar3; Fr

3,14 INS X X

Tyrannidae sp1 Ar3; Fr

14 INS X

Antilophia galeata Fr2,3,14

; Ar2,3

FRU X X

Cyanocorax cyanopogon Ar3; Vr

3; Fr

3,14; Gr

3 ONI X X

Turdus rufiventris Ar3; Fr

3,14 ONI X

Turdus leucomelas Ar3,5,8

; Fr3,5,8,14

ONI X X X

Turdus amaurochalinus Ar3,5

; Fr3,5,14

ONI X

Mimus saturninus Ar3; Fr

3,14 ONI X

Saltator similis Ar8;Fr

3,8,10,14; Fo

3; Gr

3 ONI X X X X

Schistochlamys melanopis Fr14

FRU X X X

Tachyphonus rufus Ar8; Fr

3,8,14; Nc

3,7 ONI X X X

Ramphocelus carbo Fr3,14

; Ar3; Nc

3 ONI X X

Thraupis sayaca Fr3,5,9,14

; Ar3,9

; Nc3,7

; Fl3 ONI X

Thraupis palmarum Fr3,5,14

; Ar3,5

; Nc7 ONI X X X

Pipraeidea melanonota Ar3; Fr

3,5,14 FRU X

Tangara cayana Fr3,7,5,9,14

; Ar3,5,9

; Fl9; Nc

7 ONI X X X X

Tersina viridis Fr3,9,13,14

; Ar3,9

ONI X X

Dacnis cayana Fr3,5,9,14

; Ar5,9

; Nc5,7

ONI X X X X

Cyanerpes cyaneus Nc5; Ar

1,3,5; Fr

3,5,14 ONI X

Volatinia jacarina Gr3,5,10

; Iv5; Fr

5,14 ONI X X

Sporophila nigricollis Gr3; Fr

14; Ar

1 GRA X

Sporophila spp. Gr3; Fr

14 GRA X

Coryphospingus

cucullatus Gr

3; Fr

14 GRA X

Geothlypis aequinoctialis Ar3; Fr

3,14 INS X

Icterus cayanensis Fr3,14

FRU X

Gnorimopsar chopi Ar3; Fr

3,14 ONI X

Euphonia chlorotica Fr3,5,14

; Iv5 FRU X

1Eisenmann, 1961;

2Marini, 1992;

3Sick, 1997;

4Marini e Cavalcanti, 1998;

5Argel-de-Oliveira, 1999;

6Latino e

Beltzer, 1999; 7Melo, 2001;

8Piratelli e Pereira, 2002;

9Manhães, 2003;

10Sigrist 2006;

11Vogel e Metri, 2008;

12Repenning et al., 2009;

13Rubim, 2009;

14Observação Pessoal.

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65

Tabela 7 - Índice de Diversidade de Shannon-Wiener, para a distruibuição do número de visitas por espécie de

ave. H': diversidade calculada; Hmáx: diversidade esperada; J: equitabilidade.

M. theaezans M. chamissois M. albicans

EEP EEP FEG EEP FEG

H' 0.50 1.07 1.06 0.69 0.75

Hmáx 0.78 1.15 1.26 0.78 1.08

J 0.64 0.93 0.84 0.89 0.70

De modo geral, a similaridade na composição da avifauna visitante das espécies do

gênero Miconia avaliadas foi baixa (17%). Quando foram realizadas comparações entre

espécies da mesma área, a maior e a menor similaridade foram encontradas na EEP, sendo a

maior entre M. theaezans e M. chamissois (22%) e a menor entre M. theaezans e M. albicans

(7%). Nas comparações realizadas para cada espécie M. albicans apresentou a menor

similaridade entre as áreas (5%) (Tabela 8).

Tabela 8 - Resultados do Índice de Similaridade de Jaccard (Cj) calculado

para as espécies de Miconia observadas na Estação Ecológica do Panga

(EEP) e Fazenda Experimental do Glória (FEG).

Pares comparados Índice de similaridade

FEG x EEP 0,17

M. chamissois/EEP x M. theaezans/EEP 0,22

M. chamissois/FEG x M. chamissois/EEP 0,17

M. albicans/EEP x M. theaezans/EEP 0,07

M. albicans/EEP x M. chamissois/EEP 0,14

M. albicans/FEG x M. chamissois/FEG 0,17

M. albicans/FEG x M. albicans/EEP 0,05

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66

DISCUSSÃO

A seleção de habitat é influenciada pelas preferências alimentares das diversas

espécies de aves (Hasui et al., 2007), deste modo, a resposta de guildas alimentares a

distúrbios no habitat está relacionada à disponibilidade dos recursos alimentares. Neste

contexto, o registro de menos frugívoros consumindo frutos na FEG, provavelmente está

relacionada à composição geral da avifauna local, que é influenciada pelo padrão de

fragmentação da área, o que pode contribuir para uma riqueza menor de frugívoros, quando

comparada à EEP. Na FEG, as fitofisionomias estão isoladas entre si por pastagens,

plantações e estradas, enquanto na EEP, as fitofisionomias formam um continuum. Esta

fragmentação mais evidente na FEG reduzir a diversidade de espécies zoocóricas na área

(Jardim e Batalha, 2009), reduzindo a capacidade suporte de frugívoros.

Habitats degradados também desfavorecem a permanência de insetívoros,

principalmente os mais especializados (Motta-Júnior 1990). No entanto, esta guilda foi

registrada com maior freqüência na área mais degradada (FEG). Isso pode ser resultado da

diferença de complexidade estrutural nas vegetações das áreas estudadas. Os insetívoros

residentes da EEP, provavelmente, têm disponível uma maior variedade de ambientes e,

portanto, melhores condições, para encontrar seu item alimentar principal. Na FEG, devido à

fragmentação e homogeneização do habitat do entorno, a disponibilidade quantitativa e

qualitativa de itens pode ser inferior à EEP, o que levaria estes insetívoros a incluírem frutos

em suas dietas.

Por outro lado, espécies pioneiras, que possuem frutos e sementes pequenos, não

dependem de dispersores específicos, ao contrário de outras espécies com sementes grandes

(Hamann e Curio, 2001). Sendo assim, a perda de alguns agentes dispersores, devido à

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fragmentação, deverá ser compensada pelo consumo dos frutos por espécies oportunistas,

como o observado em Miconia.

A tática de forrageamento mais utilizada, que foi coletar os frutos empoleirado, é

vantajosa para a ave por demandar um menor custo energético e permitir que a ave aumente

sua taxa de consumo de frutos por minuto (Melo et al., 2003). No entanto, quando o fruto é

coletado pela ave em vôo, as visitas são mais curtas e os frugívoros têm que se movimentar

mais, aumentando as chances de que as sementes sejam dispersas longe da planta-mãe (Melo

e Oliveira, 2009), o que é favorável ao fitness da planta, mas implica em um maior gasto

energético ao consumidor do fruto (Melo e Oliveira, 2009).

O tempo de permanência da maioria dos visitantes de Miconia observadas pode ser

considerado curto (menor que 2 min.) de acordo com Jordano e Schupp (2000). O fato do

número de frutos ser correlacionado positivamente com o tempo de permanência, indica que

as visitas duraram apenas o tempo suficiente para a ave se alimentar (Francisco e Galetti,

2002a).

De modo geral, a composição de espécies visitantes de Miconia apresentou baixa

similaridade, nas áreas estudadas e entre elas. Provavelmente, isto é um reflexo da baixa

seletividade apresentada por frutos de espécies pioneiras, que por serem pequenos podem ser

consumidos por qualquer espécie de ave (Cramer et al., 2007). Como esses frutos são

utilizados de forma oportunista por muitas espécies, não existe um padrão de consumidores,

resultando nas baixas similaridades encontradas.

Miconia theaezans

Tangara cayana foi a principal espécie consumidora e potencialmente dispersora dos

frutos de M. theaezans. Este Thraupidae apresenta o comportamento de mandibulação dos

frutos antes da ingestão, assim como outros representantes da família, podendo engoli-lo

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inteiro (com as sementes) ou parcialmente (Argel-de-Oliveira, et al., 1996; Sick, 1997;

Marcondes-Machado, 2002; Manhães, 2003). A parte dos frutos, com as sementes,

desprezada após a mandibulação, pode ser aproveitada por outros animais, como as formigas,

que podem atuar como dispersores secundários (Francisco e Galetti, 2002a).

Além disso, a ingestão de frutos mandibulados não significa impossibilidade de

ingestão e dispersão das sementes, pois segundo Levey (1987) sementes pequenas não são

facilmente separadas da polpa e podem ser ingeridas após a mandibulação. Isto foi

comprovado por Manhães (2003) ao encontrar numerosas sementes de Leandra aurea

(Melastomataceae) nas fezes de Tangara desmaresti, ave que apresentou o comportamento de

mandibulação do fruto. Deste modo, as diferentes estratégias de consumo do fruto pelas aves

levam a um “gradiente” de possibilidades na ingestão de sementes passíveis de serem

dispersas. Nas situações em que os frutos são ingeridos inteiros, todas as sementes são

ingeridas junto com o fruto; quando há mandibulação e posterior ingestão de todo o conteúdo,

algumas sementes podem ser perdidas, mas a maioria ainda é engolida junto com o fruto; e as

menores chances, mas não nulas, de ingestão de sementes, ocorrem quando parte do fruto é

descartada após a mandibulação.

Com exceção de Saltator similis, para o qual o não foi identificada a estratégia de

consumo dos frutos, todas as espécies apresentaram taxas de consumo de frutos inteiros

bastante semelhantes, apesar do baixo número de visitas quando comparadas a Tangara

cayana. Porém, Antilophia galeata, espécie que consumiu frutos inteiros sem mandibulação e

mencionada por Marini (1992) como “altamente frugívora”, não deve ser considerada uma

boa dispersora desta Miconia. Godoi e Takaki (2007) encontraram forte dependência de luz

na germinação de M. theaezans e como A. galeata é totalmente dependente de ambientes

florestais (Bagno e Marinho-Filho, 2001), a maioria das sementes ingeridas é defecada dentro

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da Mata de Galeria, desfavorecendo a germinação desta espécie de Miconia, pela baixa

luminosidade do ambiente.

Miconia chamissois

Na EEP, todas as espécies se comportaram como potenciais dispersores de Miconia

chamissois, por consumirem os frutos inteiros (Francisco e Galetti, 2001) e apresentarem

baixos tempos de permanência na planta (Jordano e Schupp, 2000). Pitangus sulphuratus

atuou como principal consumidor desta espécie na FEG. Análises estomacais indicaram que

depois de insetos, frutos e grãos são os itens mais consumidos por essa ave (Latino e Beltzer,

1999). Além de P. sulphuratus, Turdus amaurochalinus e T. leucomelas consumiram

elevadas quantidade de frutos, todos engolidos inteiros, podendo atuar como dispersores de

M. chamissois.

Para garantir a dispersão efetiva de sementes, não deve ser levado em conta apenas o

número de visitas e de frutos consumidos pelo frugívoros; mas também componentes

qualitativos, como locais de deposição e qualidade do tratamento dado às sementes durante a

passagem pelo sistema digestório da ave (Schupp, 1993). Alves et al. (2008) observaram que

a passagem de sementes de Miconia prasina pelo sistema disgestório de T. amaurochalinus

não levou a nenhuma alteração na taxa e no tempo de germinação.

Miconia albicans

As menores quantidades de frutos consumidos foram de M. albicans. Das espécies

observadas, esta foi a única a ofertar frutos na estação chuvosa. Como no Cerrado, a estação

chuvosa é o período que concentra a maior oferta de frutos zoocóricos, talvez os frugívoros

tenham no mesmo período, a oferta de frutos nutricionalmente mais interessantes. Assim, a

maioria das visitas observadas nesta espécie, seriam ocasionais e oportunistas.

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Em ambas as áreas, Emberizidae foi a principal família visitante de M. albicans. É

provável que no período de oferta de frutos desta M. albicans, seja um período de baixa oferta

de recursos para esta família, que se alimenta predominantemente de sementes de gramíneas.

As espécies desta família apresentam o comportamento de mandibular o fruto, mas ao

contrário do observado para Thraupidae, esta característica faz com que as espécies de

Emberizidae atuem mais como predadoras de sementes do que dipersoras. Isso ocorre, porque

seus bicos são adaptados para esmagar pequenas sementes, como as das gramíneas (Sick,

1997).

Miconia albicans e M. chamissois foram menos consumidas na EEP, apesar desta ser a

área mais preservada. A EEP é formada por um mosaico de fitofisionomias todas

interligadas, oferecendo um ambiente mais heterogêneo para a avifauna residente desta área.

Este complexo vegetacional permite que os diversos recursos estejam distribuídos por toda

área, o que permite que as aves estejam mais dispersas pela área. Ao contrário, a FEG

apresenta oferta de recurso mais concentrada nas manchas formadas pelos pequenos

fragmentos. Isso pode fazer com que as aves permaneçam restritas aos poucos locais de oferta

de recurso, aumentando as chances de que espécies zoocóricas, como as Miconia, que estejam

frutificando, sejam mais consumidas.

As espécies pioneiras são por definição as primeiras espécies a colonizar áreas

degradadas e para isso seu maior investimento reprodutivo é na oferta de um elevado número

de sementes, procurando aumentar as chances de que tais áreas sejam alcançadas (Swaine e

Whitmore, 1988). Diante disso, talvez a quantidade de visitas realizadas por uma determinada

espécie, não seja o fator mais importante na dispersão de Miconia, mas sim a quantidade de

frutos consumidos. Com a exceção de algumas aves que realizaram muitas visitas, como

Pitangus sulphuratus em Miconia chamissois e Tangara cayana em M. theaezans, as visitas

foram bem distribuídas entre as espécies visitantes, o que favorecendo o consumo de frutos de

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uma maior variedade de espécies e aumentando as chances de dispersão dessas espécies de

Miconia para locais favoráveis.

CONCLUSÃO

A maior parte das visitas realizadas às espécies de Miconia estudadas foi por espécies

onívoras, que em conjunto com outras guildas alimentares (insetívoros e granívoros) podem

agir de forma oportunista no consumo dos frutos de Miconia. Para estas plantas, receber

visitas de muitas espécies oportunistas parece ser mais interessante do que manter poucos

frugívoros especializados no consumo de seus frutos. Isso ocorre, pois, no caso de espécies

pioneiras, como as do gênero Miconia, é necessário que planta seja dispersa por diversos

ambientes e as chances de que isso ocorra aumentam com um maior número de visitantes

consumindo seus frutos.

Além disso, o fato destas espécies apresentarem frutos pequenos permitiu que, na

maioria das vezes, os frutos fossem ingeridos inteiros, o que é importante no potencial de

dispersão da planta. A tática de forrageamento mais utilizada pelos visitantes (empoleirado)

também é um importante fator de influência na dispersão das sementes, pois esta tática

permite que as aves consumam mais frutos durante o período que estão na planta, do que

quando os frutos são coletados em vôo.

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