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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CETREDE - CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO
ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR
ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU
LITERATURA INFANTIL Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública
Fortaleza – Ceará Setembro de 2005
ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU
LITERATURA INFANTIL Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Leitura e Formação do Leitor e ao CETREDE, como requisito final para obtenção do título de especialista, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Orientador: Denílson Albano Portácio
Fortaleza – Ceará Setembro de 2005
ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU
ii
LITERATURA INFANTIL
Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública
Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Especialização em Leitura e Formação do Leitor e ao CETREDE, como requisito final para obtenção do título de especialista, outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.
Ângela Maria Teixeira de Abreu
NOTA
Prof. Ms. Denílson Albano Portácio
Monografia aprovada em, ______ de ___________________ de 2005.
iii
Ao meu esposo, Ernandes, e ao meu filho, Guilherme, pessoas muito amadas e a quem
dedico o meu carinho especial.
À Glícia Conde, pela nossa amizade, pelos incentivos e pela luz que sempre me envia.
AGRADECIMENTOS
iv
A Deus, que me deu vida e inteligência, força, garra e perseverança para continuar a
caminhada na realização dos meus objetivos.
Ao professor e orientador Denílson Albano Portácio, pela paciência, dedicação e
orientação segura na realização deste trabalho.
A todos os professores do Curso de Especialização em Leitura e Formação do
Leitor.
Aos meus familiares, especialmente, a minha irmã, Adelaide, que muito me ajuda a
não temer desafios e a superar obstáculos, com firmeza e humildade.
Aos funcionários da Biblioteca Pública Capistrano de Abreu, Maranguape, Ceará,
que me auxiliaram quando aceitavam meu isolamento para ler e escrever a monografia.
Aos amigos e amigas do curso de Especialização, em especial Márcia, Iolanda, Ana
Cláudia, Marilene, Elinete, Derly, com quem convivi e muito aprendi.
Ao colega de trabalho, João Perboyre Barreto, pela digitação e revisão gramatical
deste trabalho.
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram na elaboração desta
monografia.
“Livro é para levar para casa. É para criança ler com a mamãe, o papai, a vovó, a família toda! É um objeto para ser amado pela criança. Pra ela dormir abraçada, escrever seu nome nele, colorir suas figuras, usufruí-lo. Deixe a criança VIVER com o livro.”
Ziraldo
v
RESUMO
Este trabalho investiga, através de um estudo exploratório, o prazer que os livros de literatura
infantil podem proporcionar às crianças. Apresenta a biblioteca pública como uma instituição de
apoio à pais e educadores, no processo de estímulo e desenvolvimento do gosto pela leitura. Além
disso, fala do papel do bibliotecário como mediador do contato da criança com o livro e sugere
técnicas que podem ser utilizadas, nas bibliotecas, como uma forma de estimular o interesse das
crianças pela leitura.
vi
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA .......................................................................................................... iii
AGRADECIMENTOS................................................................................................. iv EPÍGRAFE
...................................................................................................................................... v RESUMO
...................................................................................................................................... vi SUMÁRIO
...................................................................................................................................... vii
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8
CAPÍTULO I .............................................................................................................. 10
1 CONTEXTO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL ............................. 10
1.1 Livro Infantil ........................................................................................................ 15
1.2 A Criança e o Livro Infantil ................................................................................ 19 1.2.1 Fases
da leitura: faixa etária do pequeno leitor ...................................................................... 21
CAPÍTULO II ............................................................................................................. 25
2 O PRAZER DA LEITURA ..................................................................................... 25
2.1 Lendo para Crianças ............................................................................................ 27
2.2 A Criança Leitora ................................................................................................. 32
CAPÍTULO III ............................................................................................................ 35
3 BIBLIOTECA PÚBLICA ....................................................................................... 35
3.1 Leitura e Biblioteca ............................................................................................... 37
3.2 O Papel do Bibliotecário na Formação do Pequeno Leitor ............................... 40
3.3 Técnicas de Incentivo à Leitura para Bibliotecários ......................................... 43
3.3.1 Conhecendo o texto ........................................................................................... 44
3.3.2 Cantando antes do texto .................................................................................... 44
3.3.3 Fazendo dobraduras .......................................................................................... 45
3.3.4 Usando o álbum seriado .................................................................................... 45
3.3.5 Usando o álbum sanfonado ............................................................................... 45
3.3.6 Usando as transparências .................................................................................. 46
3.3.7 Utilizando slides, do Power Point ..................................................................... 46
3.3.8 Usando o vídeo cassete ..................................................................................... 46
3.3.9 Teatro de fantoches ........................................................................................... 47
3.3.10 Mímica ............................................................................................................ 47
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 49
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 51
vii
INTRODUÇÃO
Os livros infantis, em muito, são utilizados, por pais, professores e bibliotecários, para a
estimular as crianças a descobrirem o prazer que a leitura pode lhes proporcionar.
Não faz muito tempo que as crianças passaram a ter um universo de coisas criadas,
especialmente e especificamente, para elas. Seu mundo, antigamente, era o mesmo vivido pelos
adultos.
Hoje, sabe-se que a infância constitui uma fase muito especial, com características
específicas e em nada comparável com a do adulto. Sabe-se, também, que, para auxiliar na
formação e no desenvolvimento deste ser é necessário cultivar potencialidades que só lhe trarão
benefícios no futuro.
E a leitura é um dos meios que pode colaborar no desenvolvimento espiritual,
emocional e intelectual das crianças. Por isso, muitos profissionais, com conhecimentos voltados
para esta fase, sugerem que o contato com os livros se dê o mais cedo possível.
O livro proporciona, além disso, diversão e entretenimento, sendo utilizado como forma
de distração e recreação. As histórias infantis podem e devem ser usadas para estes fins. A criança,
que é bem orientada, pode usufruir destas histórias, tirando proveitos maravilhosos e contribuindo
para alargar o dom de fantasiar e re(criar) suas próprias histórias.
Quanto a orientações, esta pode se dar, primeiramente, no lar, na escola e, paralela a
elas, na biblioteca. É claro que pais, educadores e bibliotecários devem ser apaixonados por livros,
pois o processo de formação do gosto pela leitura só ocorrerá se os mesmos souberem repassar para
as crianças o prazer que a leitura pode oferecer.
Qualquer pessoa com conhecimentos e técnicas de incentivo à leitura, pode mediar o
contato da criança com o livro infantil. Basta saber utilizá-las e, constantemente se manter
atualizado com novas dinâmicas e sobre o lançamento de novos títulos da Literatura Infantil.
Portanto, na tentativa de colaborar com todos os mediadores da leitura, esta monografia
compõe-se da seguinte forma:
No primeiro capítulo, a contextualização da história da Literatura Infantil, evidenciando
a importância do livro infantil e as conseqüências que ele traz para a criança nas diversas faixas
etárias, que vive o pequeno leitor.
No segundo capítulo é possível verificar que a leitura pode proporcionar prazer e outros
sentimentos à criança, através da contação de histórias ou da leitura realizada pela própria criança.
O terceiro capítulo reporta-se a biblioteca pública e ao bibliotecário, profissional
voltado para colaborar na formação do leitor e conhecedor de algumas técnicas, inclusive de
algumas aqui sugeridas, que facilitam o estímulo ao gosto e ao prazer da leitura.
E nas considerações finais, colocam-se as expectativas de que seja dado aos livros
infantis o devido valor e reconhecimento de sua importância na vida das crianças e na vida daqueles
que convivem com elas.
CAPÍTULO I
1 CONTEXTO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL
Literatura é arte, e arte é universal, é vida, é linguagem. Coelho esclarece com maior
precisão o conceito de Literatura.
Literatura é arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo
autônomo onde os seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço,
assemelham-se aos que podemos reconhecer no mundo real que nos cerca,
mas que ali - transformados em linguagem – assumem uma dimensão
diferente: pertencem ao universo de ficção. (1980, p.23)
Diversos foram os conceitos de Literatura nos períodos vividos pela humanidade. Na
Antiguidade Clássica considerava-se Literatura, apesar de não ter exatamente esta denominação, os
gêneros: lírico, épico e dramático. Após a invenção da escrita registrou-se a presença das
enciclopédias, onde a definição de Literatura era mesma dada a Gramática, no período medieval.
Nos séculos XVII e XVIII, na chamada Era Clássica, a Literatura era tida como “a
expressão da beleza e da verdade que existe na essência dos seres, das coisas e dos fatos [...]
expressão que surge através do gênio do artista e a lição dos antigos, isto é, da tradição.”
(COELHO, 1980, p.25), ou seja, era uma Literatura vista a partir do real, da realidade nua e crua,
que se tinha.
Já a Literatura da Era Romântica veio romper com a rigidez da Era anterior. Nos séculos
XVIII e XIX eram a expressão do mistério e o enigma da existência que concentrava o termo
literatura.
A Literatura de nossa Era (contemporânea) é definida, paralelamente a partir dos
diversos valores sociais, econômicos, políticos e ideológicos sofridos pelo mundo.
A Literatura é uma linguagem específica que, como toda a linguagem, expressa uma
determinada experiência humana que dificilmente poderá ser conceituada com precisão. Conhecer a
Literatura é conhecer a singularidade de cada momento da longa marcha da humanidade em sua
constante evolução.
Desta forma, é possível, também saber como a criança era identificada nas diferentes
épocas e como foi sua relação com a Literatura.
A Literatura Infantil tem sua história a partir no início do século XVIII. Primeiramente
na França e, difundindo-se na Inglaterra, a Literatura Infantil, como o próprio termo diz, é uma
Literatura voltada para a criança. Antes disso, as crianças tinham que acompanhar a vida social e
cultural do adulto.
O posicionamento crítico diante de sua essência, tão divergente e
contraditória através dos tempos – mesmo quando a situação de “ser
criança” era uma incógnita -, coloca-nos diante de uma encruzilhada cheia
de ramificações. (DINORAH, 1996, 25)
A criança, que fazia parte de nobrezas era orientada por mentores que administravam
suas leituras, como os grandes clássicos. Já as crianças da classe baixa liam e/ou ouviam histórias
de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.
Aos poucos a Literatura Infantil vai se tornando aliada da educação com o objetivo de
formar e informar as crianças e os jovens. No século XIX, surge uma literatura informativa, que
pretendia auxiliar as crianças a se prepararem para a vida adulta. “A criança tinha que ser ‘formada’
e os livros infantis da época (os contos, principalmente) se prestavam muito bem a isso, com as
lições de moral e de bons costumes que ensinavam.” (DIAS, OLIVEIRA, 2000, p. 31).
As crianças recebiam o conhecimento através de imposições e contra isso Montagne
apud Dinorah (1996, 26), dizia que “a imposição é uma violência. Tudo se submeterá ao seu exame
e nada se lhe enfiará na cabeça por simples autoridade e crédito.
A criança era vista como um adulto em miniatura, por isso eram raros os livros escritos
para leitores adolescentes. No início do século XX, a maior parte de leitores era de faixa etária
adulta, poucos livros eram destinados às crianças. As Idéias revolucionárias de Rousseau
modificaram o ensino e a sociedade e estas modificações possibilitaram o desenvolvimento da
Literatura Infantil em todo o mundo.
No Brasil, a aliança Literatura x Educação permanece e a Literatura Infantil só veio a
surgir no século XX, com a implantação da Imprensa Régia publicando obras pedagógicas e
adaptações de produções portuguesas.
Nessa época a população das grandes cidades aumentou e se diversificou. O que antes
era formada por administradores e comerciantes, passou a receber indivíduos provenientes das
lavouras de café, de empregados ligados a compra e venda deste produto, além, é claro, dos filhos
dos fazendários que estudavam nas escolas dos centros urbanos. Por conta disto e, em decorrência
“dessa acelerada urbanização que se deu entre o fim do século XIX e o começo do XX, o momento
se torna propício para o aparecimento da Literatura Infantil.” (LAJOLO, ZILBERMAN, 1987, p.25)
Diversos autores representaram, nesse período, a Literatura Infantil brasileira. Entre
eles, destacam-se: Carlos Jansen (Contos seletos das mil e uma noites, Robinson Crusoé),
Figueiredo Pimentel (Contos da Carochinha), Coelho Neto e Olavo Bilac (Contos Pátrios), Tales
de Andrade (Saudade), José Saturnino de Costa Pereira (Leitura para meninos) e Laemmert
(Aventuras do Barão de Münchhausen).
Para muitos o precursor da Literatura Infantil, no Brasil, foi José Bento Monteiro
Lobato. Seus livros, voltados para crianças, mostravam elementos e personagens característicos do
povo brasileiro.
Em sua mais célebre obra, Sítio do Picapau Amarelo, Lobato apresenta um país repleto
de contradições em que questões nacionais e mundiais eram discutidas a partir de um lugar onde a
realidade e a fantasia convivem harmoniosamente. Tudo isso, através de personagens como Dona
Benta, Narizinho, Pedrinho, Tia Anastácia, Emília, Visconde de Sabugosa e Jeca Tatu – que foi um
dos personagens lobatianos mais importante.
Indiscutivelmente a personagem mais importante para se compreender o
universo lobatiano é Emília, pois é a única que vive em tensão dialética com
os outros. Todas as demais personagens que formam a constelação familiar
do Sítio do Picapau Amarelo são arquétipos: Narizinho e Pedrinho, -
crianças sadias, alegres e sem problemas [...]. D. Benta, a avó ideal. Tia
Nastácia, [...] foi a melhor fonte das estórias que alimentaram a imaginação
e a fantasia de gerações e gerações de brasileiros. (COELHO, 1991, p.127)
Lobato foi escritor, jornalista, editor e dono de uma gráfica, seu maior empreendimento,
que cresceu devido a importações e maquinário gráfico dos Estados Unidos e da Europa.
No Natal de 1920, lançou, com maior sucesso, sua primeira história infantil, A Menina
do Narizinho Arrebitado. Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou
aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional.
E ainda misturou todos eles com personagens da Literatura universal, da mitologia, dos quadrinhos
e do cinema. “No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o Saci
ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das Maravilhas de Alice.” (MONTEIRO Lobato,
http://www.lobato.globo.com)
[...] e com esta obra inicia de fato a Literatura Infantil brasileira, rompendo
então com um sistema ultrapassado, oferecendo ao público infantil
brasileiro, uma leitura cheia de fantasia e bem mais próxima do universo
deles. Embora fosse uma obra para leitura escolar, tinha como objetivo
captar a atenção da criança e diverti-la. O livro lançado era uma história que
se passava em terras brasileiras, mas precisamente São Paulo e era cheio de
imaginação, as personagens viviam uma realidade dentro da fantasia ou
vice-versa, era difícil definir. (FÉLIX, 2005)
Lobato foi também pioneiro na transmissão de conhecimento e idéias em livros que
falam de história, geografia e matemática.
Depois dele, muitos outros autores seguiram o exemplo de Lobato, e a Literatura
Brasileira, a partir daí, especialmente a infantil, tornou-se mais forte e expandiu-se com maior
aceitação pela população.
[...] entre um acontecimento e outro, fortaleceu-se uma tradição literária
nova, que serviu de molde e inspiração a toda uma produção literária
braliseira, incluindo a infantil, o que não apenas indica a unidade entre
gêneros que a compõem como também o papel que eles exercem perante a
sociedade. (LAJOLO, ZILBERMAN, 1987, p. 59)
Devido a isso, as crianças puderam então escolher e adotar seus livros, independente do
fato deles terem sido ou não escritos para eles.
A partir daí, o livro infantil tornou-se mais atrativo e mais acessível às crianças. Mas
para que o pequeno leitor possa ter acessa-lo, faz-se necessário que hajam incentivos, grandes ou
pequenos, dos pais ou os professores. O importante é que esses pequenos possam enriquecer sua
vida conhecendo histórias maravilhosas que só podem ser encontradas nos livros.
A Literatura tem o objetivo de transformar o indivíduo. De forma escrita ou oral, pode-
se receber e renovar os valores repassados por esta Literatura.
É no sentido dessa transformação necessária e essencial (cujo processo
começou no início do século e agora chega, sem dúvida, às etapas finais e
decisivas) que vemos na Literatura Infantil o agente ideal para a formação
da nova mentalidade que se faz urgente. (COELHO, 1999, p. 15)
Tanto a escola, como a biblioteca, como o próprio lar são ambientes que podem colocar
a criança diante de mundos e situações que só a Literatura Infantil oferece.
Atribuições maiores são dadas às escolas, na estimulação da criança à leitura. Mas
poucas são as instituições educacionais que têm em seu currículo a disciplina de Literatura Infanto-
Juvenil como uma atividade prazerosa, provocativa e reconstrutora.
Então, a tarefa de formar leitores fica mais difícil ainda, pois agora temos
que, quase unicamente, desempenhar tal coisa no espaço escolar. E como
fazer o caminho corretamente se a escola é, ainda, o maior representante
institucional da repetição, da mesmice semiótica, de valores estanques e
padrões de comportamento anacrônicos, em que a diferença ameaçada os
moldes estabelecidos pela ordem da razão e da ciência? Como ensinar a ler
o texto pelo avesso, desmontando-o para encontra-lo numa leitura produtora
de sentidos, numa escola que, [...], não respeita as diferenças, avalia
injustamente, impede a criatividade e “engarrafa” todos dentro de padrões
preconceituosos, mutilando qualquer gesto espontâneo, original, criativo e
inteligente? (CAVALCANTI, 2002, p. 76-77)
A Literatura ou o texto literário deve ser trabalhado com o único intuito de estabelecer
ligações, elos com a leitura. Para Cavalcanti, “a Literatura não deve ter o papel de educar ou servir
aos contextos de interdisciplinaridade escolar.” (2002, p. 77). Ele deve ter a função de dar alegria,
exercitar e alimentar o espírito.
Assim também deve ser o trabalho dos profissionais das bibliotecas públicas. O
bibliotecário tem que proporcionar à criança o poder de se encantar e ter prazer com o mundo
mágico das letras.
Cabe, portanto, aos professores e bibliotecários gostar mais de ler sem se cobrarem ou
sem cobrar as crianças a leitura realizada. Para provocar o gosto pela leitura eles têm que ensiná-las
a ler sem imposições, sem determinações de tempo, sem avaliações, ler apenas, por puro prazer de
ler. Dar condições para o livro ampliar, somar, acrescentar, e tornar a criança uma leitora crítica.
1.1 O Livro Infantil
Não há nada mais encantador do que chegar numa livraria, ou numa biblioteca, ou até
mesmo numa casa e perceber que lá existe um espaço reservado para os livros e, melhor ainda, que
crianças se envolvem com os livros infantis, ali existentes, com a maior naturalidade e com o maior
prazer.
Esse deve ser o objetivo do livro infantil, encantar a criança (ou até mesmo o adulto)
desde a sua capa até o fim. É objetivo, também, fazer com que o leitor viaje por suas páginas e
conheça locais, pessoas e situações diferentes.
O livro infantil, e as histórias nele contidas podem auxiliar no desenvolvimento e na
intelectualidade do pequeno leitor.
O livro é um meio de comunicação importante no processo e transformação do
indivíduo. Ao ler um livro, evolui-se e desenvolve-se a capacidade crítica e criativa.
Para as crianças, é importante o hábito da leitura porque com ela, se aprimora a
linguagem e a comunicação com o mundo.
Segundo Goes (1991, p.22), a função primordial do livro infantil é a “estética formativa,
a educação da sensibilidade, pois reúne a beleza da palavra e a beleza das imagens.” E continua
dizendo que, “o essencial é a qualidade de emoção e sua ligação verdadeira com a criança. Há
emoções poéticas que, presentes ou não no livro infantil, são diretamente acessíveis a todas as
crianças.”
Os livros infantis são escritos para as crianças, lidos pelas crianças, mas comprados
pelos adultos, porém escolhê-los não é uma tarefa fácil.
Para escolher um bom livro infantil é necessário seguir alguns critérios que podem estar
intrínsecos e extrínsecos ao livro.
Em primeiro lugar é preciso levar em consideração a criança e suas necessidades, como:
idade, interesse, sexo, escolaridade e nível de desenvolvimento. Sabendo um pouco sobre a criança
maior é a possibilidade de acertar na escolha.
Com esses dados pode-se consultar especialistas no assunto (professores, bibliotecários,
pais e até outras crianças) ou catálogos das editoras de forma a ter um direcionamento mais preciso
da hora da compra.
Anteriormente, falou-se nos elementos intrínsecos e extrínsecos dos livros infantis.
Especificamente, como elementos intrínsecos do livro infantil pode-se considerar: o assunto, que
deve atender as necessidades e interesses da criança; adaptação à idade da criança, levando em
consideração “o desenvolvimento psicológico, intelectual e espiritual do jovem leitor” (GOES,
1991, p.23) e, a não infantilização, pois os valores, assuntos e linguagem do livro devem
corresponder ao desenvolvimento da criança.
Muitos outros critérios podem ser somados a esses, tais como: quanto a qualidade,
objetividade de informações, introdução de valores, respeito e dignidade a pessoa humana de
acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quanto a aspectos formais: qualidades
estéticas, apresentação e ilustração.
Infelizmente, o consumo de livros por crianças tem diminuído, devido ao alto valor da
venda e, por causa de outras formas de entretenimento mais acessíveis, como filmes, revistas e
programas de TV. Para confirmar esta afirmativa Vaz, informa:
Crianças não mais lêem livros como já não fazem um monte de coisas como
antigamente. Dentre os produtos da chamada “indústria cultural”, pelas
características valiosas do livro, até lhe outorgamos um status mais elevado.
Mas reconheçamos também que o livro é um produto cultural que segue as
leis de mercado. (1997, p. 24)
Dinorah (1996, p. 17–18), diz que as novas tecnologias vieram para servir ao homem.
Mas acrescenta: “[...] se esse homem não tiver acesso à cultura e ao conhecimento, que tem suas
bases na palavra escrita, essa mesma tecnologia poderá escravizá-lo e empobrecê-lo cada vez mais.”
A criança brasileira passa, em média, seis horas diárias em frente à
televisão, e, na sua maioria, ignora a fantasia de uma história, a ternura de
um poema, o mistério de uma lenda, o mágico encontro com um livrinho.
A tevê, como processo, é uma das maiores invenções da humanidade.
[...]
Mas não veio para substituir o livro, e sim para somar-se a ele, dando o
primeiro enfoque da comunicação, a ser aprofundada na leitura e na
pesquisa. (DINORAH, 1996, p. 20-21)
Se os livros infantis não possuem público, fatidicamente, a produção será menor ou não
terá produção alguma. Mas havendo público, obviamente os editores melhorarão a qualidade dos
livros e oferecerão livros bons, bonitos e duradouros.
Por isso, é necessário que os livros possuam atrativos que possam cativar as crianças.
Casasanta (1974, p.34-35) apresenta sugestões de alguns critérios para avaliar a qualidade de livros
infantis.
1. Conteúdo:
A.Tema
- Qual é o tema?
- Ele é interessante e apropriado às crianças a que se destina?
- É parte natural da história?
- Evita lições de moral?
- Que valores de desenvolvimento apresenta?
B.Enredo
- O livro apresenta uma boa história?
- O enredo é dinâmico, atraente, equilibrado?
- Envolve cenas de ação e suspense?
- Apresenta situações plausíveis sob o ponto de vista de costumes e moral?
- É isento de preconceitos?
- A trama é bem arquitetada e desenvolvida?
C.Personagens
- Os personagens são convincentes, vivos, reais, autênticos?
- Pode-se reconhecer seus defeitos e qualidades?
- O autor evita estereótipos?
- Os personagens apresentam sinais de crescimento e desenvolvimento de
caráter?
D.Estilo
- O estilo é apropriado ao assunto do livro?
- Apresenta a história com clareza e simplicidade?
- O diálogo é natural e adequado aos personagens?
- O vocabulário é apropriado?
- Há riqueza de expressão?
- Há senso de humor, beleza e fantasia?
- O livro é bem escrito? (O estilo é claro, expressivo, direto, agradável de
ler?)
2. Formato:
- A aparência do livro é atraente?
- As ilustrações valorizam a história?
- São atraentes, de acordo com o nível do leitor e relacionadas ao texto?
- A impressão é boa, as letras, são claras e apropriadas ao nível dos
leitores?
- O livro apresenta acabamento bom e durável?”
Munidos dessas sugestões e critérios basta, após a compra, deixar as crianças
usufruírem os livros adquiridos e, com a devida orientação, estimular, acrescentar, a elas, o
principal objetivo que é o de fazer amar a leitura.
Para Cecília Meireles apud Dinorah (1996, p. 29), “a literatura infantil melhor é a que as
crianças lêem com prazer.”
É com o auxílio do livro e, particularmente, do livro infantil, que se pode influir sobre a
vida afetiva e estética da criança.
1.2 A Criança e o Livro Infantil
Até algum tempo atrás, acreditava-se que a criança fosse um adulto pequeno ou um
simples ser sem muita importância, cujas diferenças do adulto se limitassem a tamanho e se
reduzissem a aspectos quantitativos.
Hoje, sabe-se que a infância constitui uma fase especial de evolução e formação, com
suas especificidades e complexidades, em nada comparável com o adulto. “Formar o leitor é algo
sutil e democrático, a exigir, [...], a única pedagogia possível: A do afeto e da liberdade.
(DINORAH, 1996, p.18)
Foi só a partir do século XVIII, depois que a criança se separou dos adultos, pois já
freqüentava a Escola, que começou a existir como criança, se firmando, definitivamente, na
segunda metade deste século, na família e na sociedade burguesa.
A família assume seu lar e suas crianças, abolindo o hábito, até então
persistente, da “sociabilidade” (agrupamento fora do lar), criando a sua
privacidade e desenvolvendo assim a afetividade, onde a criança passou a
encontrar o verdadeiro clima de infância. (CARVALHO, 1989, p. 87)
Infelizmente, nem todas as crianças eram privilegiadas. Haviam as que, por não serem
bem nascidas, acabavam sendo exploradas em trabalhos perigosos, como limpadores ou faxineiros.
Suas vidas, muitas vezes, se transformavam em histórias, poesias e até mesmo óperas, nas mãos de
grandes e célebres, ou não, autores, como: William Blake, Charles Dickens, Lisa Tetzner, Charles
Kingsley, Andresen e Benjamim Britter, entre outros.
A criança, então, passou a ter um espaço especialmente reservado para si nas diferentes
formas de expressão da arte: na música, na poesia, nos contos de aventuras, de fada e, nas ciências,
como a Pedagogia e Filosofia.
Destacaram-se, vários autores voltados para a Literatura Infanto/Juvenil, como:
Jonathan Swift, Henry Fabre, Herman Merville, Daniel Defoe, Alexandre Dumas, Conan Doyte
(autor de Sherlock Holmes), que escreveram sobre aventuras em livros como Robinson Crusoé, As
viagens de Gulliver, e Moby Dick, por exemplo. Os Irmãos Grimm – que reabilitaram os contos de
fada – foram seguidos por Hans Christian Andersen e Perrault. Além de Collodi, Lewis Carrol,
Antoine de Saint-Exupéry, Mark Twain, Mattew J. Barrie, Júlio Verne, Tolstoi, Adolfo Simões
Muller, João de Barros, France Burnelt, e muitos outros espalhados pelo mundo inteiro e em
diferentes tempos, que fizeram da Literatura Infantil um marco maravilhoso e que encanta a todos.
No Brasil, só após a vinda da Família Real, é que novos horizontes se abriram para as
crianças, quando, nas escolas, utilizou-se livros recreativos. Porém, a Literatura Infantil só veio
desabrochar nos fins do século passado, a partir de investimentos mais intensos voltados para a
educação.
O conto, o folclore, a fábula, o teatro, a poesia, tudo passa a ser um motivo de adaptação
para o recrear e o educar. E diversos autores surgem em prol da criança.
Alberto Figueiredo Pimentel foi um autor brasileiro que publicou o primeiro livro
infantil: Contos da Carochinha. Esses contos eram adaptações e traduções de outros países. Em
seguida, em 1896, publicou Histórias da Baratinha.
Arnaldo de Oliveira Barreto foi outro autor que presenteou as crianças com obras
adaptadas da mitologia grega, contos orientais, portugueses, alemães e franceses. Além de ter sido o
primeiro tradutor de O Patinho Feio, de Andersen.
Seguindo esses, também outros autores enriqueceram a Literatura Infanto/Juvenil
brasileira, tais como: Manuel José Gondim da Fonseca, Thales Castanho de Andrade, Viriato
Correia, Renato Sêneca Fleury, Vicente Paulo Guimarães, Érico Veríssimo, Cecília Meireles,
Vinícius de Moraes, Monteiro Lobato e Cid Franco.
Como já foi visto, no tópico referente a história da Literatura Infantil, Monteiro Lobato
não escreveu apenas livros para crianças, mas criou um universo para elas. A criança foi a maior
inspiração para Lobato, Além de suas fantasias, brincadeiras, jogos e aventuras. Ele valorizou a
criança enquanto criança e nada mais. Para Carvalho (1989, p. 134), “Lobato realizou uma obra
onde a criança, desinibida e autêntica, é livre para ser criança. E é isso que é importante. Ele não
mente à criança, mas não lhe impõe os problemas.”
Sua obra infantil inspirou e, ainda inspira, educadores, escritores e teatrólogos do Brasil
e do mundo afora.
Com essa atenção exclusiva voltada para as crianças, muitos livros infantis passaram a
ser editados, respeitando as fases do desenvolvimento da criança e sua faixa etária.
1.2.1 Fases da leitura/ faixa etária do pequeno leitor
A Literatura Infantil com seus elementos lúdicos, cheios de fantasias e realidades, deve
situar a criança dentro de seu universo, da sua estrutura psicológica e mental.
Segundo estatísticas internacionais, forma-se o leitor mais ou menos até os
quatorze anos de idade, num processo que deveria ter raízes no lar, onde a
criança, desde os primeiros meses, tivesse chance de conviver com a magia
das histórias, lendas e poesias, narradas pelos pais, e com livros adequados a
esta fase. (DINORAH, 1996, p. 18)
Por isso, a partir da Psicologia Experimental foi possível identificar os diferentes
estágios de desenvolvimento psicológico nas diversas fases de idade da criança.
Conforme Coelho (1991, p. 28),
a inclusão do leitor em determinada “categoria” depende não apenas de sua
faixa etária, mas principalmente da inter-relação existente entre sua idade
cronológica, nível de amadurecimento bio-psíquico-afetivo-intelectual e
grau ou nível de conhecimento/domínio do mecanismo da leitura.
Complementando o que foi dito, Carvalho (1989, p. 186-187) diz que os jogos,
atividades biopsicosociais, desenvolvem o lado afetivo e mental da criança. Podem ser definidos da
seguinte forma:
Os jogos sensoriais, para crianças com menos de um ano, se caracterizam pela
manipulação de objetos, pelo prazer do ruído produzido pelo bater e o arremessar.
Os jogos motores, a partir de um ano a um ano e meio, estendendo-se até os quatro ou
cinco anos, é caracterizado pelo movimento, pela utilização do gesto, a ação.
Os jogos de ficção, entre dois e três anos de idade, até aos 8 anos marcam a fixação de
Literatura com a atividade simbólica, onde a criança se interessa pelas estórias, a fantasia e o faz-
de-conta e a transforma em sua realidade.
Nos jogos de construção ou fabricação, para crianças aos noves anos, ela, a criança, se
preocupa com os objetos, sua fabricação, como montá-los e desmontá-los.
Quando a criança começa a gostar de aventuras, mistérios, contos policiais e está
predisposta a adquirir e compreende o mundo que a cerca, ela está vivendo o jogo de aquisição, nos
seus oito anos de idade.
E, finalmente, os jogos intelectuais, a partir dos dez aos doze anos, nos quais a criança
adquire a capacidade de escolher, de racionalizar e de refletir e desenvolver sua capacidade crítica-
reflexiva.
Quanto a faixa etária e conforme Bamberger (1991, p. 33-35), pode-se caracterizar as
fases de leitura desta maneira:
a) Idade dos livros de gravuras e dos versos infantis (de 2 a 5 ou 6 anos).
Assim caracterizada por Beilinch: “Fase inicial integral-pessoal,
egocêntrica”. (...). Durante seu desenvolvimento dá-se a separação entre o
ego e o meio ambiente. Os livros de gravuras ajudam quando apresentam
objetos simples, sozinhos, retirados do meio em que a criança vive.
b) Idade do conto de fadas (de 5 a 8 ou 9 anos). Caracterização de Beinlich:
“Idade de leitura de realismo mágico”. Nessa fase do seu desenvolvimento a
criança é essencialmente suscetível a fantasia. Isso é válido para todos os
temas escolares, até para a geografia e a ciência.
c) Idade das histórias ambientais ou da leitura atual (de 9 a 12 anos). Assim
caracterizada por Beilinch: “construção de uma fachada prática, realista,
ordenada racionalmente, diante de um pano de fundo mágico-aventuresco
pseduo-realisticamente mascarado. A criança começa a orientar-se no
mundo concreto, objetivo. As perguntas “Como?” e “Por quê?” são casa vez
mais freqüentemente acrescentadas à pergunta “O que?”.
d) Idade da história de aventuras: realismo aventuroso ou a “fase de leitura
não-psicológica orientada para o sensacionalismo” (de 12 a 14 ou 15 anos).
Durante os processos de desenvolvimento pré-adolescentes, a criança, pouco
a pouco, toma consciência da própria personalidade. (...). O interesse dos
leitores pode ser despertado principalmente através do enredo, dos
acontecimentos, do sensacionalismo.
Desde a mais tenra idade a criança cultiva o prazer de ouvir, tanto a voz do outro quanto
a sua própria voz. Ouvir historinhas, músicas alegres, versinhos engraçados são muitos
significativos para ela.
Para o educador dessa criança, os pais, irmãos e/ou professores, o primeiro trabalho é o
de formar o gosto pela leitura. Entretanto este gosto deve ser criado com boa e bem escolhida
leitura, para que a criança possa sentir o prazer que só a leitura pode proporcionar.
O livro leva a criança a desenvolver:
- criatividade;
- sensibilidade;
- sociabilidade,
- senso crítico,
- imaginação criadora.
E algo fundamental: o livro leva a criança a aprender português.
(DINORAH, 1996, p.20)
É necessário pô-la em contato com muitos livros para que não tenha dificuldades de
leitura e, conseqüentemente, apresente maior maturidade em seus gostos. É lendo que se aprende a
ler, a escrever e a interpretar, formando assim, um verdadeiro leitor, leitor no mundo que o rodeia.
CAPÍTULO II
2 O PRAZER DA LEITURA
Quando se pensa em leitura, vem logo a mente uma citação de autoria de um dos
maiores pedagogos que o Brasil já teve, Paulo Freire: “a leitura do mundo precede a leitura da
palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.”
(2003, p.13)
A leitura do mundo acontece desde os nossos primeiros contatos, como por exemplo, o
contato com o áspero, o macio, o frio, o calor, o som estridente, o som agradável, o cheiro bom e
ruim, o abraço gostoso de quem se ama e tantos outros.
Da mesma forma é o processo para se aprender a ler. Aos poucos, a leitura pode ser
inserida na vida da criança. É fundamental a aproximação desde cedo, da criança com a narrativa,
se possível desde o berço, facilitando sua interação com o livro como brinquedo.
O gosto pela leitura é um ato sempre copiado dos pais e a interação deve acontecer
livre, possibilitando à criança rabiscar e entrar em contato com o prazer que o livro propicia.
O hábito de contar histórias, antes dos pequenos dormirem, é também uma maneira de
iniciá-los na leitura. Apresentar, neste momento, o encantamento é dar condições para que o livro e
a leitura se tornem algo lúdico e prazeroso.
É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a
tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as
personagens fizeram...). é uma possibilidade de descobrir o mundo imenso
dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos
– dum jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados,
enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história
(cada uma a seu modo)... É a cada vez ir se identificando com outra
personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo
vivido pela criança)... e, assim, esclarecer melhor As próprias dificuldades
ou encontrar um caminho para a resolução delas... (ABRAMOVICH, 1999,
p. 17)
O termo prazer, segundo Barbosa, significa “agradar, aprazer, comprazer, júbilo,
satisfação, alegria, contentamento, divertimento, festa, regozijo.” (1999, p.425).
Quanto ao processo de leitura, pode-se dizer que essas definições estão totalmente
relacionadas, pois são, justamente, esses sentimentos que são despertados no leitor, em qualquer
estágio da vida, no momento da leitura.
É necessário, portanto, alimentar na criança, de preferência a partir dos dois anos de
idade, o gosto e o prazer da leitura.
Se ela não tiver esse incentivo, da família, vai acabar se distanciando do universo da
leitura. E a leitura tem que despertar o interesse da criança em descobrir mundos novos. Ela deve ter
prazer e não ler por hábitos. Ter curiosidade e poder escolher o que vai ler, sem obrigação, sem
cobranças.
Alves retrata, muito bem, o que foi acima descrito:
Lembro-me da escola primária que freqüentei. Havia uma aula de leitura.
Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos.
[...]. Quando a aula terminava, era uma tristeza, Mas o bom mesmo é que
não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. (2004, p.19).
No tocante a orientação, cabe ao educador, fazê-lo da melhor forma possível orientando
e melhorando o contato da criança com o mundo dos livros.
Ler contos, lendas e histórias com personagens reais prende a atenção. A criança tem
que degustar, sentir o gosto das leituras escolhidas ou criadas por elas.
O prazer durante a leitura deve estar também nos detalhes. A capa do livro, por
exemplo, influencia, e muito, a sua compra ou desperta na criança o interesse pela leitura em
bibliotecas.
É preciso conscientizar a criança dos valores que a leitura desperta, tornar a leitura
interessante aos olhos da criança, como uma fonte de surpresas e descobertas. Como já foi dito, é a
partir dos dois anos de idade que se deve iniciar o contato da criança com o livro, pois é nessa fase
que ela começa a desenvolver o jogo simbólico da linguagem. Para ela não é a narrativa que vai
importar mas sim, “o livro como objeto visual, o brinquedo-livro: forma, cor, ilustrações e letras
que dizem alguma coisa.” (CARVALHO, 1989, p. 197).
Antes de aprender a ler, a criança leitora precisa fazer uma idéia do que é leitura. Daí a
relevância dela conhecer primeiro o livro como objeto, como brinquedo. Não se pode ter o desejo
de ler sem saber o que é isso.
A leitura feita pelas pessoas que rodeiam a criança desenvolve nela o desejo de ler por si
mesma, tão irresistível quanto o desejo de começar a andar sozinha.
É lendo que se aprende a ler, a escrever e a interpretar, formando assim um verdadeiro
leitor, leitor do mundo que o rodeia.
É importante estimular a leitura na criança como uma experiência valiosa e prazerosa.
Isso será uma grande fonte de satisfação tanto para as crianças quanto para os adultos que as
acompanharem nesta aventura.
2.1 Lendo para Crianças
Por que contar histórias?
Contar histórias é a mais antiga das artes. Antigamente, o povo sentava ao redor do fogo
para esquentar, alegrar, conversar, contar casos.
Com o aparecimento da imprensa, jornais, revistas e livros se tornaram os agentes
culturais dos povos. Para trás, ficaram as fogueiras e os velhos contadores. Mas as histórias ficaram
incorporadas à nossa cultura. Em casa pode-se ouvir da voz da mamãe, da babá ou de outras
pessoas queridas, as mais belas histórias, contidas nos mais belos livros, para o encantamento da
criançada.
A Literatura Infantil, como já se sabe, é um alimento precioso que deve fazer parte do
cotidiano da vida da criança desde a mais tenra idade. As crianças têm um mundo próprio, povoado
de sonhos e fantasias que, muitas vezes, é invadido pelo mundo do adulto, o mundo real e racional.
Para a criança, somente haverá interesse pelas coisas reais se ela puder encaixá-las no seu mundo de
cores e fantasia.
Ler histórias para crianças, sempre, sempre ... É poder sorrir, rir, gargalhar
com as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto ou com o
jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse
momento de humor, de brincadeira, de divertimento... (ABRAMOVICH,
1999, p. 17)
As histórias, de alguma forma, ajudam as pessoas que lêem. Através delas, é possível
uma pessoa ser tocada. Histórias que aconteceram de verdade, histórias de vida ou histórias de
fazer rir, chorar ou pensar são aquelas que marcam a personalidade de qualquer pessoa (criança ou
adulta).
[...], o homem é por natureza e essência sujeito da narrativa, portanto um
contador de histórias. A natureza humana mergulha na mais absurda
complexidade no momento em que se banha no universo da linguagem. Daí
para frente, tudo nos é escorregadio e permanentemente transformado pela
palavra. (CAVALCANTI, 2002, p.63)
Confirmando a afirmativa Carvalho diz que “a leitura é o meio mais eficiente de
enriquecimento da personalidade: é um passaporte para a vida e para a sociedade”. (1989, p. 194).
É ouvindo histórias eu se pode sentir (também) emoções importantes, como
a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a
insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente
tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve – com toda a
amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar...
Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário.
(ABRAMOVICH, 1999, p. 17)
Essa leitura, portanto pode levar a criança a adentrar ao mundo maravilhoso do prazer e
da fantasia. Para isto é necessário que, em momento oportuno e de forma bem orientada, a criança
seja apresentada a este mundo. O maravilhoso é um dos mais importantes elementos na literatura
destinada às crianças. Assim, conclui a Psicanálise, ao provar que os significados simbólicos dos
contos maravilhosos estão ligados aos eternos conflitos que o homem enfrenta ao longo de seu
amadurecimento emocional.
Não sabendo ler, a criança pode ter numa outra pessoa o interesse despertado. Nem todo
livro pode ser lido pela criança, mas quase todos podem ser narrados, contados a ela.
Também ao contar histórias deve-se considerar a criança, é claro, nas suas mais diversas
fases:
até os quatros anos de idade, ela gosta de ouvir pequeninos textos sonoros e
ilustrados. Elas gostam de repetir sons produzidos por coisas, animais e outros, ou
seja, sons onomatopéicos. São de grande efeito as repetições o canto e outros
recursos sonoros.
dos quatro aos sete anos, começa a idade dos Contos de Fadas ou do realismo
mágico. Os Contos de Fadas são responsáveis pelo forma modelar, primária da
narrativa, e imprescindível do crescimento afetivo da criança. É quando a criança
pode escolher, desprezar e interpretar conto, conforme o seu desenvolvimento. É
considerado o período mais rico da infância porque nele a criança realiza o
fenômeno mais importante da vida humana: a linguagem.
A partir dos dez anos a criança, além de gostar de ouvir histórias passa a gostar de lê-
las, também. Então as aventuras fantásticas, os contos policiais, biografias e
literatura nacional devem fazer parte da sua realidade.
Lembra a Psicanálise que a criança é levada a se identificar com o herói
bom e belo, não devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a
própria personificação de seus problemas infantis: seu inconsciente desejo
de bondade e de beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e
proteção. Identificadas com heróis e heroínas do mundo do maravilhoso, a
criança é levada, inconscientemente, a resolver sua própria situação, -
superando o medo que a inibe e ajudando-a a enfrentar os perigos e ameaças
que sente à sua volta e assim, gradativamente, poder alcançar o equilíbrio
adulto. (COELHO, 1991, p. 51)
O ato de ouvir histórias dá condições a criança de criar e inovar a partir do conto.
Algumas técnicas podem ajudar neste processo:
- utilizar as ilustrações do próprio livro;
- criar outros estímulos visuais com objetos e figuras;
- usar estímulos auditivos para acompanhar a narrativa, como músicas,
frases, palavras repetitivas e interessantes; alterar o timbre de voz ao contar.
(STEFANI, 1997, p. 23).
Um bom contador desperta a vontade de ler. É aquele que nasceu guiado por uma
infinita capacidade de doação e, por isso, esteja onde estiver, em qualquer espaço e tempo,ele estará
envolto pela magia de contar histórias. Mas é necessário que este contador possua, em seu
repertório, histórias que tenha gostado e que possa contar os mais variados estilos de histórias:
engraçadas, de aventuras, de amor, de fadas, de suspense, entre outras. Outra recomendação é que é
possível comentar as histórias com as crianças evitando perguntas formais como: “Gostaram? Por
quê?”.
Quando comentar o conto é interessante que a criança retribua através das respostas as
partes que mais lhe chamaram atenção, de que mais gostaram ou quais personagens eles se
identificaram.
As histórias são fontes maravilhosas de experiências. O contador deve se propor a
compartilhar estas experiências e o prazer de ler, aproximando o livro da criança, deixando ela fazer
suas escolhas, lendo o texto e mostrando as ilustrações, ouvindo atentamente, respondendo às
perguntas, observando e respeitando suas reações. Por meio das histórias as crianças ampliam seu
vocabulário e seu universo.
Além disso, existe todo um ritual na contação de histórias que, de alguma
forma, mesmo nos dias de hoje, deve ser levado em consideração. Contar
um conto exige que se prepare devidamente o ambiente. Que os ouvintes
sejam preparados para a entrega, que possam confiar naquele que narra, pois
penetrar nas densas florestas, grutas e cavernas exige confiança. Portanto o
contador deve estabelecer um vínculo com a sua audiência. [...].
(CAVALCANTI, 2002, p.65)
A leitura do livro em voz alta, por exemplo, propicia a entrada da criança na cultura da
escrita, a visão do mundo do autor, podendo compará-la com sua própria visão. “Então, acima de
tudo, conhecendo o universo da leitura e o patrimônio cultural ao qual pertencem”. (BIBLIOTECA
Viva, s.d., p. 47).
E, diante de tudo o que foi dito aqui, refaz-se a pergunta inicial deste tópico: Por que
contar histórias? Que pode ser respondida de diversas forma, conforme Casasanta (1974, p.52):
- para deleitar a criança;
- para incutir-lhe o amor à beleza;
- para desenvolver-lhe a imaginação;
- para desenvolver-lhe o poder de observação;
- para ampliar-lhe a experiência;
- para desenvolver-lhe o gosto artístico;
- para estabelecer uma ligação íntima entre o mundo da fantasia e da
realidade.
São essas e muitas outras razões que ajudam a criança a se inserir do mundo da leitura e
na busca constante do prazer.
O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o
pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer
ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum
texto! No princípio não era o verbo? Então... (ABRAMOVICH, 1999, p. 23)
Quando a criança ouve histórias ela tem contato com a linguagem escrita e com a
narrativa. Conseqüentemente, passará a querer engendrar o mundo da leitura, feita por ela mesma.
Cabe, então, ao mediador (professor, pais, bibliotecários) auxiliar neste novo momento oferecendo e
deixando a criança leitora escolher, livremente, suas histórias.
A importância da família na formação do leitor é imensa, visto que os
primeiros anos da infância são marcados pelas relações desenvolvidas entre
os pequenos e os grandes, pertencentes ao mesmo grupo de parentesco. É na
família que se vai adquirir os primeiros hábitos, os valores e os gostos.
Além da relação de dependência social que a criança tem com os familiares,
existe também algo de essencial que somente é experimentado pelas
vivências afetivas proporcionadas no ambiente familiar. Assim, desde muito
cedo, mesmo antes de chegar ao mundo, já existe um conjunto de
expectativas em torno desse ser que em breve fará parte dessa história dos
grupos familiar e social. Portanto, existe, mesmo anteriormente ao
nascimento da criança, algo que é da ordem do desejo daqueles que a
esperam e que funcionará como as marcas iniciais da história de vida da
mesma. Dessa forma, a narrativa das histórias do mundo têm sentido apenas
no momento em que se entrelaçam na história de vida do próprio sujeito.
Pois, para a criança Branca de neve, Chapeuzinho vermelho, Cinderela, A
bela e a fera, O gato de botas e tantas outras narrativas têm sentido porque
dizem respeito aos diversos aspectos e conteúdos experimentados
simbolicamente por ela. De fato, qualquer narrativa tem como ponto de
partida a própria história de vida do leitor.(CAVALCANTI, 2002, p. 67-68)
É necessário, portanto, disponibilizar e criar espaços onde as crianças possam ler a
vontade e nós, mediadores, devemos estar conscientes da formação e auxiliar no desenvolvimento
de uma nação letrada.
2.2 A Criança Leitora
O gosto pela leitura não é um ato que vem por acaso. Por traz de um leitor infantil, há
sempre um pai ou uma avó que gosta de contar histórias ou uma professora que dá um sabor
especial às palavras.
Para Ruth Rocha apud Moraes (2001, p.61), “leitor é aquele que lê bem, que tem pais
que lêem, que tem livros em casa. Mas leitor é também aquele que nasceu para ler, que mesmo no
meio do mato descobre um livro velho para ler.”
O estímulo às crianças, deve acontecer constantemente para que o interesse pelos livros
também sejam constante. A leitura reconduz o leitor a si próprio, aos seus desejos mais autênticos e
espontâneos.
Ler é um comportamento complexo que envolve aspectos motores, cognitivos e afetivos
entre os dominós educacionais que devem ser cuidados no processo de ensino-aprendizagem. Não
basta apreender a ler, é preciso gostar de ler.
É sabido que a criança tem uma característica que lhe é peculiar: a curiosidade. Quando
ela começa ler um livro, passa logo para outro e assim sucessivamente, fascinando a si próprio e a
quem a observa.
O livro tem o poder de desenvolver na criança leitora a criatividade, a sensibilidade, o
senso crítico, a sociabilidade e a imaginação, levando a criança a aprender. A leitura aumenta a
compreensão, a aprendizagem e alarga o pensamento onde, por conseqüência, o falar se torna, de
fato, o fazer e o agir.
É na escola, porém, que a criança talvez esteja mais aberta aos conteúdos repassados
dos livros que lê. Se a leitura é repassada pelos professores como uma atividade livre, sem
cobranças e obrigações, com certeza a criança aprenderá a gostar de ler. E a sala de aula, assim
como a biblioteca, são lugares privilegiados para se fazer da Literatura Infantil um momento de
lazer.
O acesso à leitura deve ser estimulado durante a infância e a adolescência.
Se a escola e a biblioteca não estão associadas com esse objetivo, resta o
papel da família, representada, principalmente, pela mulher. As dificuldades
da vida moderna, entre outras razões, fizeram com que a família delegasse
esse papel à escola. A ausência do apoio que a biblioteca pode dar à escola
agrava o problema. Portanto, a articulação entre biblioteca e escola é muito
importante (LEITURA e cidadania, 2000, p.1)
Na escola, por exemplo, para o processo de formação do leitor exige, da criança e mais
ainda dos professores, muita leitura. Infelizmente, segundo os professores, por falta de tempo, eles
‘obrigam’ os educandos a ler determinados livros e cobram resumos e fichas solicitadas no final da
obra, por causa disto, não dão a estes a oportunidade de descobrir, de deleitar-se, de encantar-se e
sentir prazer com o livro por ele escolhido.
Mas a leitura pode e deve ser cobrada, porém de diferentes maneiras: num diálogo, em
grupo, em conversas informais em que a criança se sinta um leitor e não um examinando.
Pois é preciso saber se se gostou ou não do que foi contado, se se concordou
ou não com o que foi contado... É perceber que ficou super-envolvido,
querendo ler de novo mil vezes (apenas algumas partes, um capítulo
especial, o livro todinho ...) ou saber que detestou e não querer mais
nenhuma aproximação com aquela história tão chata, tão boba ou tão sem
graça ... É formar opinião própria, é ir formulando os próprios critérios, é
começar a amar um autor, um gênero, uma idéia, um assunto e, daí, ir
seguindo por essa trilha e ir encontrando outros e novos volumes... (que
talvez façam o amor pelo autor redobrar, ou provoquem uma decepção...
isso tudo faz parte da vida!). (ABRAMOVICH, 1999, 143-144)
As crianças, na escola, lêem e lêem mais do que a maioria dos adultos. Bamberger
confirma muito bem isto quanto diz que “em quase todos os países (excetuando-se a União
Soviética), o número de crianças que lêem é duas vezes maior que o de adultos”. (1991, p.19).
Claro, a escola é campo fértil para se produzir leitura, aliás ela deve ser o
espaço para o desenvolvimento das potencialidades, no que inclui-se o
tornar-se leitor. Mas, a escola necessita ser preparada para isso, para não
fazer da Literatura mero instrumento pedagógico com a finalidade de
reproduzir padrões e valores da ideologia dominante. Ao contrário disso, a
arte liberta porque transforma. (CAVALCANTI, 2002, p. 78)
Anteriormente, falou-se na linguagem como conseqüência da leitura. Para Carvalho, em
relação a criança, a linguagem é o fator mais importante de realização.
Para a criança, a linguagem verbal é revelação, é descoberta contínua, que a
encanta, desde que descobre maravilhada o som que ela própria pode
elaborar, vibrando de entusiasmo, porque essa é mais uma atividade lúdica a
seu serviço. (1989, p.201).
A criança, ainda cedo, gosta de ouvir a sua própria voz e a voz de outras pessoas. Ouvir
histórias, versinhos, canções de ninar, tudo tem significado para a criança. E sob todos os aspectos a
Literatura Infantil constitui o programa básico de sua formação.
O papel do educador é formar o gosto da leitura. Este é o primeiro trabalho para que a
criança sinta o especial prazer de ler. Pois a boa leitura é aquela que “agrada, comove e instrui”
(QUINTILIANO apud CARVALHO, 1989, p. 201).
Como educador destaca-se o papel do bibliotecário – profissional responsável em
organizar e disseminar informações nas bibliotecas. Proporcionar oportunidades para uso de livros
da biblioteca é sua tarefa primordial.
CAPÍTULO III
3 A BIBLIOTECA PÚBLICA
O termo biblioteca pública, como o próprio nome diz, é local para ser freqüentada pelo
grande público das comunidades, preocupando-se com o atendimento às zonas urbanas e rurais.
Para Suaiden apud Sconholz,
É ela que oferece a oportunidade da democratização da vida cultural, seja
através do acesso da população os bens culturais, seja através da formação
indispensável dos conhecimentos, instrumentos e meios postos em uso pela
prática cultural, seja pela participação ativa de cada um, na medida de suas
possibilidades... no desenvolvimento cultural. (1984, p. 4).
O desenrolar histórico da biblioteca pública iniciou-se na era pré-cristã quando, ao
contrário das particulares, passou a servir também a estudiosos e sacerdotes.
O tipo que mais se assemelha ao conceito moderno de biblioteca pública, foram as
bibliotecas municipais surgidas em alguns países como Inglaterra, Escócia, França e Alemanha
(século XV e XIX), criadas por doação de indivíduos ou por contribuição pública e confiadas à
administração municipal.
No Brasil, as primeiras bibliotecas que se têm notícia são: a Biblioteca Pública Estadual,
na cidade de Salvador, Bahia, em 4 de agosto de 1811 e a Biblioteca Estadual do Maranhão, em 29
de setembro de 1829. De lá para cá muitas outras foram fundadas nos diversos estados e também
nos municípios e comunidades de todo o país.
Para entender melhor o que é uma biblioteca, é necessário conhecer suas missões e
quais funções ela pode desempenhar.
Ela é o centro local de informações e deve permitir o pronto acesso dos usuários a todo
tipo de conhecimento, independente da idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou status
social.
A biblioteca pública não possui apenas uma missão, pelo contrário, possui várias e todas
elas relacionadas com informação, alfabetização, educação e cultura. São, portanto:
1. Criar e fortalecer o hábito de leitura nas crianças desde a mais tenra
idade.
2. Apoiar tanto a educação individual e autodidata como a formal em todos
os níveis.
3. Proporcionar oportunidades para o desenvolvimento criativo e pessoal.
4. Estimular a imaginação e a criatividade tanto de crianças como de jovens
e adultos.
5. Promover o conhecimento da herança cultural e a apreciação das artes,
realizações e inovações científicas.
6. Propiciar acesso às expressões culturais das artes em geral.
7. Fomentar o diálogo intercultural e favorecer a diversidade cultural.
8. Apoiar a tradição oral.
9. Garantir acesso aos cidadãos a todo tipo de informação comunitária.
10. Proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais,
associações e grupos de interesse.
11. Facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade no uso do
computador.
12. Apoiar atividades e programas de alfabetização para todos os grupos de
idade, participar deles e implantá-los se necessário. (ANTUNES, 2002,
p.14)
É função da biblioteca pública prestar informações sobre o governo, serviços públicos e
atividades úteis para as pessoas de um modo geral.
Outra grande função é, através das possibilidades de acesso às informações, contribuir
para a formação continuada dos indivíduos, para o aprimoramento profissional, indo além do que o
acervo oferece com programas especiais de palestras, exposições, concursos, etc.
Para isso é fundamental que o bibliotecário conheça bem o acervo da biblioteca bem
como a comunidade onde a biblioteca se situa.
Mas a função primordial da biblioteca pública ou de qualquer outra biblioteca é
incentivar e desenvolver no indivíduo (criança, jovem ou adulto) o prazer da leitura. O seu acervo
literário, portanto, deve ser rico o suficiente para atender a todos. Principalmente às crianças que
poderão ter acesso a livros de sua preferência e conhecer o que de mais novo já foi publicado.
Atualmente há o reconhecimento da necessidade de que toda a biblioteca pública tenha
na sua estrutura, um setor voltado para a criança – o setor infantil. Dada a importância da
contribuição da biblioteca pública ao desenvolvimento de leitores, o setor infantil assume papel de
destaque em todas as bibliotecas.
Para que isso aconteça é interessante que a biblioteca possua um “cantinho”, com
estantes, gravuras, esteiras, tapetes ou almofadas onde a criança possa sentar-se e manusear seus
livros. E que, nela, o pequeno leitor se sinta bem, que goste de freqüentá-la e que deseje sempre
voltar lá.
3.1 Leitura e Biblioteca
Nos dias atuais a biblioteca tem um papel essencial: proporcionar a interação criança-
adulto, imprescindível e necessária para o desenvolvimento verbal de criança.
Crianças que têm dificuldades nos lares e nas escolas, principalmente as que têm poucos
recursos, em contato com o acervo bibliográfico poderiam se desenvolver melhor na biblioteca. O
livro daria a elas a oportunidade de conhecer um mundo mais amplo.
A biblioteca deve ser um lugar de intercâmbio, de trocas, de informação e integração na
comunidade.
Propor atividades bem diversas e relacionadas com a leitura é um dos mais valiosos
princípios da biblioteca. O teatro, artes plásticas, contação de histórias são algumas dessas
atividades que podem suscitar o prazer da leitura.
Dessa forma, se vê que a biblioteca é muito mais do que um local para guardar livros.
Ela serve para conservar e transmitir idéias, pensamentos e a cultura que estão registrados nos livros
que abriga.
Milanesi reforça bem essa afirmativa quando diz que, deve-se fazer um esforço para
incrementar a biblioteca,
transformando-a efetivamente num centro onde não apenas se tem acesso à
produção cultural da humanidade, mas onde também se produz cultura.
Assim, haveria vários espaços na biblioteca, sendo o espaço da leitura e da
escuta ainda o fundamental em vista de ser essa forma de expressão aquela
que faz fluir as informações em maior quantidade. (1983, p. 100)
É preciso pensar o espaço da biblioteca como um lugar atraente onde, além de ler, as
pessoas possam trocar idéias, ouvir histórias, dar risadas, etc.
Ao ler, a criança é invadida por novas informações, emoções diferentes e pode querer se
expressar, dizendo o que pensou ou o que sentiu. O espaço da biblioteca tem de permitir essa
vontade de falar, de trocar idéias com os companheiros ou com qualquer pessoa que possa facilitar a
construção de uma biblioteca interativa.
A biblioteca é uma das instituições que deve incluir as crianças no mundo da leitura,
sem esperar, é claro, que elas respondam imediatamente com um produto ou resultado. É dessa
maneira que a aprendizagem ocorre na vida das pessoas. Elas aprendem a andar, falar, brincar,
sempre em relação com os outros. Elas interagem, fazem e erram, experimentam e voltam atrás.
Da mesma forma acontece com a leitura. As crianças que interagem com adultos
leitores incorporam essa prática em suas vidas. Passam a ver a leitura como algo que faz parte do
dia-a-dia e, portanto, são alfabetizadas com maior facilidade, já que percebem o significado da
escrita e da leitura.
Para uma criança que nunca viu o livro, ele é um objeto como um outro qualquer que se
pode brincar, explorar com as mãos, boca, olfato e olhos. É o adulto que dá sentido ao livro por
meio da leitura e de sua interação com a criança.
Antes da biblioteca, são as escolas que as primeiras instituições a introduzirem o livro
na vida das crianças, podem fazer da leitura um prioridade sem torná-la uma obrigatoriedade, que
muitas vezes leva ao desinteresse dos alunos pelo livro.
É necessário, portanto, que se busquem práticas que favoreçam a constituição de uma
nova imagem da leitura, como uma atividade prazerosa e divertida.
As crianças devem ser levadas a ter um intenso e natural contato com o universo da
escrita, mesmo antes de saber ler e escrever. E para serem leitoras é preciso que desejem serem
leitoras.
É aí que entra o papel do bibliotecário. Ele deve ser o mediador entre o livro e a criança.
O mediador deve ser propor a compartilhar com as crianças o prazer de ler, de conhecer e de
descobrir o que os livros têm a oferecer. Ele aproxima o livro e a criança, deixando ela fazer suas
escolhas, lendo o texto e mostrando as ilustrações, ouvindo atentamente, respondendo às perguntas,
observando e respeitando suas reações.
A hora da leitura na biblioteca deve ser vista como um momento informal e agradável.
Quando o bibliotecário ou outro funcionário capacitado estende o tapete ou o lençol e coloca sobre
ele os livros e as almofadas, as crianças passam a entender o significado desse momento. A leitura
tem que ser realizada em um determinado espaço físico, organizado e preparado especialmente para
se tornar um local agradável, onde as crianças se sintam confortáveis e à vontade para manusear os
livros.
Vale ressaltar que não deve existir um padrão de espaço físico para o desenvolvimento
da leitura. Tanto a biblioteca pode possuir uma sala específica, quanto pode usufruir espaços
externos a ela para desenvolver atividades voltadas para o prazer da leitura.
Mas organizar cantinhos de leitura aconchegantes e iniciar a leitura, mesmo que seja
para uma só criança, pode atrair a atenção das outras e diminuir a dispersão.
De acordo com a professora do Departamento de Ciências da Informação (UFC), Ana
Maria Sá de Carvalho, a leitura não deve ser mecanicista. Para ela,
o ato de ler não deve ser mecânico e sim prazeroso. Por isso, as bibliotecas
têm de ser bonitas, agradáveis, organizadas, com grande volume de títulos e
palco para atividades lúdicas como, por exemplo, a contação de histórias.
(A Biblioteca foi esquecida, 2004, p. 4)
Portanto, resta as autoridades dar às bibliotecas condições que sejam satisfatórias para
que os bibliotecários possam ter, ainda mais, ânimo para auxiliar os pequenos leitores no despertar
de seu interesse pelas belas histórias, ali contadas ou lidas.
3.2 O Papel do Bibliotecário na Formação do Pequeno Leitor
Sabe-se que o número de bibliotecários em bibliotecas, principalmente nas públicas, não
é suficiente para atender as demandas desta instituição.
Olhando bem, apesar destas dificuldades, sempre há alguém interessado a desenvolver
atividades lúdicas nas bibliotecas.
Mas o que se quer, neste momento, é relatar o papel do bibliotecário como mediador
formador da criança leitora.
Primeiramente para ser um mediador desse processo é necessário que o bibliotecário
tenha conhecimento das obras do setor infantil. E que o acervo seja bem recheado e surtido.
Segundo Silva (1986, p. 94), “ser um conhecedor de livros significa possui um
repertório amplo de leituras, que sirva para orientar intelectualmente os usuários e para dimensionar
a qualidade do acervo.”
Ler em voz alta para si mesmo, antes de ler para as crianças é uma maneira de ter mais
segurança na hora da contação de histórias.
Saber apresentar as ilustrações às crianças, é outra opção. As ilustrações exercem uma
atração redobrada sobre os pequeninos, pois elas ornamentam o texto, estimulam o interesse e
dividem o livro de modo que as crianças possam virar as páginas com freqüência e ter a impressão
de estarem lendo depressa.
É importante que o bibliotecário perceba as habilidades de leitura da criança. Para isso,
a seleção de livros quem tem que ser de acordo com o seu nível de dificuldade.
A liberdade para a escolha do livro que a criança vai ter é outro ponto relevante. Leitura
livre e sem cobranças. Leitura que leva ao prazer e, por conseqüência, aumentará o gosto pelas
histórias.
Não é bom, no entanto, deixar de lado algumas preocupações, como, por exemplo, a
qualidade do acervo. Formar e dinamizar bons acervos são verdadeiros desafios para o
bibliotecário. Mas, mantendo-se atualizado e inteirado das novas obras lançadas no comércio, o
atendimento aos leitores se dará com menos constrangimentos.
O bibliotecário deve, periodicamente, elaborar e executar projetos e programas que
promovam o gosto pela leitura com o objetivo de atingir um número maior de leitores das mais
diversas idades, especialmente, aos pequenos leitores.
Para que o incentivo à leitura seja um processo constante é necessário que o
bibliotecário participe de cursos de atualização sobre a importância deste ato. Isto pode ser
confirmado quando Sponholz (1984, p.9) diz ser,
necessário que os profissionais inseridos nessa área estejam capacitados
suficientemente e, portanto, em condições de prestar os relevantes serviços
que são exigidos das bibliotecas públicas por uma sociedade de demanda
culturais crescentes.
Ao escolher sua leitura, e após dela, o bibliotecário ou o auxiliar de biblioteca deve
desempenhar papel ativo e pode organizar debates ou outras atividades que permitam aos leitores
expor suas idéias, adquiridas no contato com os livros. O objetivo aqui não é cobrar, mas sim
incentivar a criança a aprofundar suas leituras, conhecer mais autores e, com sua espontaneidade,
incentivar a outras crianças a lerem aos mesmos livros.
[...] diferentemente do professor, o bibliotecário não está atrelado a
currículos e avaliações; portanto, tem maior liberdade para propor leitura,
dialogar espontaneamente com o leitor, sem que o mesmo se sinta
pressionado. (BORTOLIN, 2005)
Independentemente de quem seja o mediador, se pais, professores ou bibliotecários, vale
salientar que a ele compete “[...] criar soluções próprias ou adaptar experiências alheias, consciente
de que o leitor tem uma diante de si, em direção à leitura e ao conhecimento.” (BARROS apud
BORTOLIN, 2005).
Esta responsabilidade deve ser interpretada com um desafio constante, pois o papel que
os mediadores desempenham na motivação de leitura pode interferir com maior ou menor
profundidade na formação dos leitores de uma coletividade.
Espera-se que os mediadores de leitura, neste caso os bibliotecários proporcionem aos
leitores uma pluralidade de experiências, para que eles percebam a leitura não apenas como
aprendizagem escolar, mas como elemento de lazer e satisfação.
3.3 Técnicas de Incentivo à Leitura para Bibliotecários
Como se sabe, para a formação geral da criança é necessário estimular o
desenvolvimento do gosto à literatura.
No mundo de hoje, a criança sente-se, cada vez mais, desestimulada à leitura, devido
aos apelos de programas televisivos, vídeo-games e internet, que prejudicam o desempenho e a
criatividade da criança.
Complementando a afirmativa acima pode-se dizer que:
Nada - equipamento algum – substitui a leitura. Mesmo numa época em
que proliferam os recursos audiovisuais e as “máquinas” ou “mecanismos”
de ensinar [...], mesmo numa época em que a informática se impõe com
todo o seu poder econômico e processual, pode-se (re)afirmar: Nada –
equipamento algum – substitui a leitura. (RANGEL, 1999, p.9)
Infelizmente, nem todas as crianças adquirem habilidades necessárias à leitura e nem
todos incorporam o gosto de ler. É então, neste momento, que se pode recorrer a estímulos, como as
técnicas e dinâmicas de leitura que podem ser utilizadas, nas bibliotecas públicas, por bibliotecários
ou por qualquer outro profissional que tenha conhecimentos no que tange o atendimento a crianças
e o incentivo à leitura.
A contação de histórias na biblioteca é uma prática importante, uma vez que o lúdico
faz parte da criança, através do lúdico a leitura poderá ser trabalhada, formando assim leitores
infantis. O lúdico, portanto, é um dos meios decisivos de formação da personalidade e deve ser
levado em conta na formação da criança.
Para aplicar as técnicas é necessário ter, na biblioteca, um ambiente satisfatório como
palquinho, teatro de fantoche, materiais como, fantoches de pano para mão e para dedos, papéis e
panos coloridos, pincéis, tintas, aquarelas, lápis de cor, canetinhas coloridas, entre outros.
Antes de apresentar um texto, através de dinâmicas é importante verificar a quantidade
de crianças presentes na sala, a forma que elas estão acomodadas, se em cadeiras, e em tapetes ou
almofadas, e o nível de escolaridade para que não haja inconvenientes no momento da apresentação.
A escolha do texto certo e o direcionamento deste para as crianças, dentro da sua faixa etária
possibilitará, ao bibliotecário, um interesse maior e um retorno, através de comentários, sobre o
texto.
O objetivo das técnicas de incentivo à leitura é estimular a prática da leitura, auxiliar o
desenvolvimento de habilidades, de atenção e observação; incentivar a organização e a expressão de
idéias e estimular o aumento e a fixação de vocabulário.
Algumas técnicas utilizadas para a contação de história são variadas, mas as mais
eficientes são aquelas realizadas com amor, criatividade, unidas com o cuidado com a criança, o
trabalho e a mensagem a ser transmitida.
Desta forma, e baseada em sugestões de autores especialistas em dinâmicas de leitura, é
que se oferece, a seguir algumas técnicas para auxiliar aos bibliotecários a planejar como motivar as
crianças, saber contar as histórias com entusiasmo e criatividade a fim de despertar o gosto e o
interesse pela leitura.
3.3.1 Conhecendo o texto
O bibliotecário deve dominar o conteúdo da história para melhor utilizar o livro,
mostrando as gravuras e chamando a atenção das crianças, para detalhes que possam surgir no
decorrer da contação.
3.3.2 Cantando antes do texto
Se o bibliotecário quiser descontrair a criançada antes de iniciar a contação, ele pode
cantar uma canção que tenha a ver com a história ou que chame a atenção das crianças, quando as
mesmas não estiverem atentas.
3.3.3 Fazendo dobraduras
A medida que for contanto a história, o bibliotecário poderá fazer dobraduras. Um
exemplo, segundo Oliveira, é o texto “Barquinho veloz”, que, enquanto se conta, o bibliotecário
produz um barco.
As crianças poderão, em seguida, aprender dobraduras e, elas mesmas, produzirem seus
barcos.
3.3.4 Usando o álbum seriado
Este recurso tem vantagens que, em muito, facilita ao bibliotecário, a contação de
histórias.
As ilustrações são grandes e ajudam numa maior visualização. Dá grandes
possibilidades de criar suspense e expectativa, envolvendo as crianças em cada viradas das páginas.
Pode ser feito com papéis do tamanho de uma folha de cartolina.
3.3.5 Usando o álbum sanfonado
Recurso semelhante ao álbum seriado, só que as partes são desdobradas.
É feito com pedaços de papel-cartão e dobrado com forma de sanfona. As partes podem
ser ligadas com fita adesiva, fita de pano ou cadarço.
3.3.6 Usando as transparências
Nesta técnica, tanto o bibliotecário, quanto as crianças podem contar a história.
Como as gravuras ou ilustrações transformadas para uma transparência e projetadas na
parede, a visualização permitirá uma boa interação do texto com o contador de história.
3.3.7 Usando os slides, do Power Point
O caso do computador, em muito, veio beneficiar e facilitar o trabalho de vários
profissionais, dentre eles o bibliotecário.
O uso dos slides é bastante parecido com o uso das transparências. Só que ao invés de
transferirmos as ilustrações para uma folha de transparência, elas são colocadas num slide, do
programa Power Point, da Microsoft, e transferidas para a parede através de uma máquina acoplada
a CPU do computador, chamada Data Show.
A interação é a mesma e a vantagem é que pode-se usar as histórias em sua totalidade,
sem supressão de informações, dando destaques ou não, ao texto e as ilustrações.
A projeção de slides pode acontecer antes, durante ou depois da leitura do texto. A
decisão fica a critério do bibliotecário.
3.3.8 Usando o vídeo cassete
Se a biblioteca possuir um acervo de vídeos infantis e um espaço para apresentá-los, isto
será mais um recurso que ajudará o bibliotecário a comunicar uma história.
Quando for usar o vídeo cassete, é importante que o bibliotecário prepare a turma para o
que vai ver e ouvir, objetivando, em seguida, programar atividades baseadas no texto apresentado.
3.3.9 Teatro de fantoches
Fantoches são bonecos animados, usados nas apresentações teatrais.
Para contar histórias utilizando fantoches é necessário que o contador tenha uma dicção
clara, diálogos curtos, apropriado para o expectadores.
A imaginação é o principal elemento dos fantoches, portanto cabe nesse contexto todo
tipo de personagem, especialmente animais e tudo o que a fantasia possa produzir.
É indispensável que o espetáculo de fantoches seja uma realização das crianças pois, por
ser altamente educativo, o teatro de fantoche facilita a expressão, desenvolve o espírito de
colaboração e o senso crítico.
3.3.10 Mímica
Algumas crianças podem interpretar, com gestos, os personagens da história escolhida,
e as demais podem tentar adivinhar qual personagem está sendo interpretado.
As técnicas para o incentivo à leitura mobilizam as crianças para compreender, melhor,
o texto que está sendo apresentado.
O orçamento destinado às bibliotecas públicas deve permitir a aquisição de todos os
materiais que poderão ser utilizados nas diversas dinâmicas ou em outras elaboradas por
bibliotecários.
Desta forma, pode-se concluir que, com o devido apoio institucional, as bibliotecas
públicas conseguirão alcançar seus objetivos, sempre conquistando novos leitores e ajudando a
despertar nas crianças o prazer pela leitura.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A incansável busca do prazer ocasionado pela leitura, é tarefa que muitos profissionais
se dedicam.
É perceptível o aumento constante, na publicação de livros, principalmente àqueles
voltados para a Literatura Infantil.
Como se sabe, a criança deve, desde cedo, considerar o livro como um objetivo que faz
parte de seus brinquedos e este deve ser apresentado a ela por pessoas capacitadas ou que tenham
uma ligação afetiva com a mesma.
Pouco a pouco, a criança deve perceber a importância da leitura em sua vida. Para
aqueles que ainda não sabem ler, a melhor opção é ouvir histórias. Com estímulos recebidos pelos
pais e, é claro, quando esses pais são leitores, a criança terá facilidades no processo de
aprendizagem escolar, se interessará em freqüentar as bibliotecas públicas ou escolares. Ou seja,
amará os livros que puder possuir e os que não puder possuir também.
É certo que, quando esta criança chegar a idade escolar, maior será sua capacidade de
aprendizagem e cognição.
Para ser um adulto leitor, imprescindivelmente, a criança tem que ser também leitora.
Pois no decorrer do seu desenvolvimento a criança passará por diversas fases que, caso não tenha
criado interesses especiais de leitura, ela pode deixar de lado este gasto.
Mas quando se tem autores e histórias maravilhosas, cheias de imaginação e fantasias, a
disposição da criançada, o estímulo à leitura fica mais reforçado. Histórias como as de Monteiro
Lobato, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Perrault, Andersen, Pedro Bandeira, Lewis Carrol,
Exupéry, entre outros contam aventuras e contos de fadas, fábulas, lendas e mitos de que tanto as
crianças gostam.
A leitura facilita o acesso a informação, tornando-se maior a capacidade crítica, bem
como o exercício da cidadania. E muitas são as ações que ajudam no desenvolvimento deste
processo. Muitos são os programas e projetos de incentivo à leitura, realizados por escolas,
bibliotecas ou até mesmo pelos próprios pais.
Cabe as instituições voltadas para educação e cultura, como bibliotecas e escolas,
viabilizar o acesso das crianças a leitura, incentivar a melhoria quantitativa e qualitativa do acervo
literário, promover eventos que conscientizem a importância de leitura, organizar momentos de
leitura livre, proporcionar diversificadas técnicas de leitura e outros. Estes são exemplos que, se
postos em prática, poderão colaborar com a formação de leitores capazes de interagir com o mundo
por meio da leitura.
Cabe também aos educadores e, especialmente neste caso os bibliotecários permanecer
numa educação continuada, se mantendo sempre atualizado no tocante a cursos voltados para o
incentivo a leitura, pois a sua própria educação contribui para a influência que ele exerce.
Está claro que a personalidade desse profissional e seus hábitos de leitura são
importantíssimos para desenvolver interesses e gosto pela leitura nas crianças.
Infelizmente, treinamentos que melhoram a formação deste profissional não são
suficientes e, muitas vezes, a carga horária de trabalho não lhe permite fazer uma boa formação.
A eles deveriam ser oferecidas oportunidades de se informarem regularmente acerca dos
livros infantis e de pesquisas sobre leitura para que pudessem otimizar o seu ambiente de trabalho e,
particularmente, o setor infantil das bibliotecas.
O que aqui ficou dito representa apenas uma tentativa de despertar a atenção de pais,
professores e bibliotecários para a importância da Literatura Infantil na vida da criança.
Espera-se que outros trabalhos se somem a este para beneficiar a tantas crianças que
desejem conhecer os novos mundos e outras pessoas, de fantasia, de brincar e recriar, ou seja, de ter
a real noção de que o livro é uma coisa boa, um amigo que está do lado de todo mundo e a quem se
pode recorrer a qualquer hora.
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