UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de...

56
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CETREDE - CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU LITERATURA INFANTIL Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública Fortaleza Ceará Setembro de 2005

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CETREDE - CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO

ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR

ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU

LITERATURA INFANTIL Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública

Fortaleza – Ceará Setembro de 2005

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU

LITERATURA INFANTIL Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Leitura e Formação do Leitor e ao CETREDE, como requisito final para obtenção do título de especialista, pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Orientador: Denílson Albano Portácio

Fortaleza – Ceará Setembro de 2005

ÂNGELA MARIA TEIXEIRA DE ABREU

ii

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

LITERATURA INFANTIL

Leitura e Prazer no Contexto da Biblioteca Pública

Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Especialização em Leitura e Formação do Leitor e ao CETREDE, como requisito final para obtenção do título de especialista, outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.

Ângela Maria Teixeira de Abreu

NOTA

Prof. Ms. Denílson Albano Portácio

Monografia aprovada em, ______ de ___________________ de 2005.

iii

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Ao meu esposo, Ernandes, e ao meu filho, Guilherme, pessoas muito amadas e a quem

dedico o meu carinho especial.

À Glícia Conde, pela nossa amizade, pelos incentivos e pela luz que sempre me envia.

AGRADECIMENTOS

iv

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

A Deus, que me deu vida e inteligência, força, garra e perseverança para continuar a

caminhada na realização dos meus objetivos.

Ao professor e orientador Denílson Albano Portácio, pela paciência, dedicação e

orientação segura na realização deste trabalho.

A todos os professores do Curso de Especialização em Leitura e Formação do

Leitor.

Aos meus familiares, especialmente, a minha irmã, Adelaide, que muito me ajuda a

não temer desafios e a superar obstáculos, com firmeza e humildade.

Aos funcionários da Biblioteca Pública Capistrano de Abreu, Maranguape, Ceará,

que me auxiliaram quando aceitavam meu isolamento para ler e escrever a monografia.

Aos amigos e amigas do curso de Especialização, em especial Márcia, Iolanda, Ana

Cláudia, Marilene, Elinete, Derly, com quem convivi e muito aprendi.

Ao colega de trabalho, João Perboyre Barreto, pela digitação e revisão gramatical

deste trabalho.

E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram na elaboração desta

monografia.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

“Livro é para levar para casa. É para criança ler com a mamãe, o papai, a vovó, a família toda! É um objeto para ser amado pela criança. Pra ela dormir abraçada, escrever seu nome nele, colorir suas figuras, usufruí-lo. Deixe a criança VIVER com o livro.”

Ziraldo

v

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

RESUMO

Este trabalho investiga, através de um estudo exploratório, o prazer que os livros de literatura

infantil podem proporcionar às crianças. Apresenta a biblioteca pública como uma instituição de

apoio à pais e educadores, no processo de estímulo e desenvolvimento do gosto pela leitura. Além

disso, fala do papel do bibliotecário como mediador do contato da criança com o livro e sugere

técnicas que podem ser utilizadas, nas bibliotecas, como uma forma de estimular o interesse das

crianças pela leitura.

vi

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA .......................................................................................................... iii

AGRADECIMENTOS................................................................................................. iv EPÍGRAFE

...................................................................................................................................... v RESUMO

...................................................................................................................................... vi SUMÁRIO

...................................................................................................................................... vii

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8

CAPÍTULO I .............................................................................................................. 10

1 CONTEXTO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL ............................. 10

1.1 Livro Infantil ........................................................................................................ 15

1.2 A Criança e o Livro Infantil ................................................................................ 19 1.2.1 Fases

da leitura: faixa etária do pequeno leitor ...................................................................... 21

CAPÍTULO II ............................................................................................................. 25

2 O PRAZER DA LEITURA ..................................................................................... 25

2.1 Lendo para Crianças ............................................................................................ 27

2.2 A Criança Leitora ................................................................................................. 32

CAPÍTULO III ............................................................................................................ 35

3 BIBLIOTECA PÚBLICA ....................................................................................... 35

3.1 Leitura e Biblioteca ............................................................................................... 37

3.2 O Papel do Bibliotecário na Formação do Pequeno Leitor ............................... 40

3.3 Técnicas de Incentivo à Leitura para Bibliotecários ......................................... 43

3.3.1 Conhecendo o texto ........................................................................................... 44

3.3.2 Cantando antes do texto .................................................................................... 44

3.3.3 Fazendo dobraduras .......................................................................................... 45

3.3.4 Usando o álbum seriado .................................................................................... 45

3.3.5 Usando o álbum sanfonado ............................................................................... 45

3.3.6 Usando as transparências .................................................................................. 46

3.3.7 Utilizando slides, do Power Point ..................................................................... 46

3.3.8 Usando o vídeo cassete ..................................................................................... 46

3.3.9 Teatro de fantoches ........................................................................................... 47

3.3.10 Mímica ............................................................................................................ 47

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 49

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 51

vii

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

INTRODUÇÃO

Os livros infantis, em muito, são utilizados, por pais, professores e bibliotecários, para a

estimular as crianças a descobrirem o prazer que a leitura pode lhes proporcionar.

Não faz muito tempo que as crianças passaram a ter um universo de coisas criadas,

especialmente e especificamente, para elas. Seu mundo, antigamente, era o mesmo vivido pelos

adultos.

Hoje, sabe-se que a infância constitui uma fase muito especial, com características

específicas e em nada comparável com a do adulto. Sabe-se, também, que, para auxiliar na

formação e no desenvolvimento deste ser é necessário cultivar potencialidades que só lhe trarão

benefícios no futuro.

E a leitura é um dos meios que pode colaborar no desenvolvimento espiritual,

emocional e intelectual das crianças. Por isso, muitos profissionais, com conhecimentos voltados

para esta fase, sugerem que o contato com os livros se dê o mais cedo possível.

O livro proporciona, além disso, diversão e entretenimento, sendo utilizado como forma

de distração e recreação. As histórias infantis podem e devem ser usadas para estes fins. A criança,

que é bem orientada, pode usufruir destas histórias, tirando proveitos maravilhosos e contribuindo

para alargar o dom de fantasiar e re(criar) suas próprias histórias.

Quanto a orientações, esta pode se dar, primeiramente, no lar, na escola e, paralela a

elas, na biblioteca. É claro que pais, educadores e bibliotecários devem ser apaixonados por livros,

pois o processo de formação do gosto pela leitura só ocorrerá se os mesmos souberem repassar para

as crianças o prazer que a leitura pode oferecer.

Qualquer pessoa com conhecimentos e técnicas de incentivo à leitura, pode mediar o

contato da criança com o livro infantil. Basta saber utilizá-las e, constantemente se manter

atualizado com novas dinâmicas e sobre o lançamento de novos títulos da Literatura Infantil.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Portanto, na tentativa de colaborar com todos os mediadores da leitura, esta monografia

compõe-se da seguinte forma:

No primeiro capítulo, a contextualização da história da Literatura Infantil, evidenciando

a importância do livro infantil e as conseqüências que ele traz para a criança nas diversas faixas

etárias, que vive o pequeno leitor.

No segundo capítulo é possível verificar que a leitura pode proporcionar prazer e outros

sentimentos à criança, através da contação de histórias ou da leitura realizada pela própria criança.

O terceiro capítulo reporta-se a biblioteca pública e ao bibliotecário, profissional

voltado para colaborar na formação do leitor e conhecedor de algumas técnicas, inclusive de

algumas aqui sugeridas, que facilitam o estímulo ao gosto e ao prazer da leitura.

E nas considerações finais, colocam-se as expectativas de que seja dado aos livros

infantis o devido valor e reconhecimento de sua importância na vida das crianças e na vida daqueles

que convivem com elas.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

CAPÍTULO I

1 CONTEXTO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL

Literatura é arte, e arte é universal, é vida, é linguagem. Coelho esclarece com maior

precisão o conceito de Literatura.

Literatura é arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo

autônomo onde os seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço,

assemelham-se aos que podemos reconhecer no mundo real que nos cerca,

mas que ali - transformados em linguagem – assumem uma dimensão

diferente: pertencem ao universo de ficção. (1980, p.23)

Diversos foram os conceitos de Literatura nos períodos vividos pela humanidade. Na

Antiguidade Clássica considerava-se Literatura, apesar de não ter exatamente esta denominação, os

gêneros: lírico, épico e dramático. Após a invenção da escrita registrou-se a presença das

enciclopédias, onde a definição de Literatura era mesma dada a Gramática, no período medieval.

Nos séculos XVII e XVIII, na chamada Era Clássica, a Literatura era tida como “a

expressão da beleza e da verdade que existe na essência dos seres, das coisas e dos fatos [...]

expressão que surge através do gênio do artista e a lição dos antigos, isto é, da tradição.”

(COELHO, 1980, p.25), ou seja, era uma Literatura vista a partir do real, da realidade nua e crua,

que se tinha.

Já a Literatura da Era Romântica veio romper com a rigidez da Era anterior. Nos séculos

XVIII e XIX eram a expressão do mistério e o enigma da existência que concentrava o termo

literatura.

A Literatura de nossa Era (contemporânea) é definida, paralelamente a partir dos

diversos valores sociais, econômicos, políticos e ideológicos sofridos pelo mundo.

A Literatura é uma linguagem específica que, como toda a linguagem, expressa uma

determinada experiência humana que dificilmente poderá ser conceituada com precisão. Conhecer a

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Literatura é conhecer a singularidade de cada momento da longa marcha da humanidade em sua

constante evolução.

Desta forma, é possível, também saber como a criança era identificada nas diferentes

épocas e como foi sua relação com a Literatura.

A Literatura Infantil tem sua história a partir no início do século XVIII. Primeiramente

na França e, difundindo-se na Inglaterra, a Literatura Infantil, como o próprio termo diz, é uma

Literatura voltada para a criança. Antes disso, as crianças tinham que acompanhar a vida social e

cultural do adulto.

O posicionamento crítico diante de sua essência, tão divergente e

contraditória através dos tempos – mesmo quando a situação de “ser

criança” era uma incógnita -, coloca-nos diante de uma encruzilhada cheia

de ramificações. (DINORAH, 1996, 25)

A criança, que fazia parte de nobrezas era orientada por mentores que administravam

suas leituras, como os grandes clássicos. Já as crianças da classe baixa liam e/ou ouviam histórias

de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Aos poucos a Literatura Infantil vai se tornando aliada da educação com o objetivo de

formar e informar as crianças e os jovens. No século XIX, surge uma literatura informativa, que

pretendia auxiliar as crianças a se prepararem para a vida adulta. “A criança tinha que ser ‘formada’

e os livros infantis da época (os contos, principalmente) se prestavam muito bem a isso, com as

lições de moral e de bons costumes que ensinavam.” (DIAS, OLIVEIRA, 2000, p. 31).

As crianças recebiam o conhecimento através de imposições e contra isso Montagne

apud Dinorah (1996, 26), dizia que “a imposição é uma violência. Tudo se submeterá ao seu exame

e nada se lhe enfiará na cabeça por simples autoridade e crédito.

A criança era vista como um adulto em miniatura, por isso eram raros os livros escritos

para leitores adolescentes. No início do século XX, a maior parte de leitores era de faixa etária

adulta, poucos livros eram destinados às crianças. As Idéias revolucionárias de Rousseau

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

modificaram o ensino e a sociedade e estas modificações possibilitaram o desenvolvimento da

Literatura Infantil em todo o mundo.

No Brasil, a aliança Literatura x Educação permanece e a Literatura Infantil só veio a

surgir no século XX, com a implantação da Imprensa Régia publicando obras pedagógicas e

adaptações de produções portuguesas.

Nessa época a população das grandes cidades aumentou e se diversificou. O que antes

era formada por administradores e comerciantes, passou a receber indivíduos provenientes das

lavouras de café, de empregados ligados a compra e venda deste produto, além, é claro, dos filhos

dos fazendários que estudavam nas escolas dos centros urbanos. Por conta disto e, em decorrência

“dessa acelerada urbanização que se deu entre o fim do século XIX e o começo do XX, o momento

se torna propício para o aparecimento da Literatura Infantil.” (LAJOLO, ZILBERMAN, 1987, p.25)

Diversos autores representaram, nesse período, a Literatura Infantil brasileira. Entre

eles, destacam-se: Carlos Jansen (Contos seletos das mil e uma noites, Robinson Crusoé),

Figueiredo Pimentel (Contos da Carochinha), Coelho Neto e Olavo Bilac (Contos Pátrios), Tales

de Andrade (Saudade), José Saturnino de Costa Pereira (Leitura para meninos) e Laemmert

(Aventuras do Barão de Münchhausen).

Para muitos o precursor da Literatura Infantil, no Brasil, foi José Bento Monteiro

Lobato. Seus livros, voltados para crianças, mostravam elementos e personagens característicos do

povo brasileiro.

Em sua mais célebre obra, Sítio do Picapau Amarelo, Lobato apresenta um país repleto

de contradições em que questões nacionais e mundiais eram discutidas a partir de um lugar onde a

realidade e a fantasia convivem harmoniosamente. Tudo isso, através de personagens como Dona

Benta, Narizinho, Pedrinho, Tia Anastácia, Emília, Visconde de Sabugosa e Jeca Tatu – que foi um

dos personagens lobatianos mais importante.

Indiscutivelmente a personagem mais importante para se compreender o

universo lobatiano é Emília, pois é a única que vive em tensão dialética com

os outros. Todas as demais personagens que formam a constelação familiar

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

do Sítio do Picapau Amarelo são arquétipos: Narizinho e Pedrinho, -

crianças sadias, alegres e sem problemas [...]. D. Benta, a avó ideal. Tia

Nastácia, [...] foi a melhor fonte das estórias que alimentaram a imaginação

e a fantasia de gerações e gerações de brasileiros. (COELHO, 1991, p.127)

Lobato foi escritor, jornalista, editor e dono de uma gráfica, seu maior empreendimento,

que cresceu devido a importações e maquinário gráfico dos Estados Unidos e da Europa.

No Natal de 1920, lançou, com maior sucesso, sua primeira história infantil, A Menina

do Narizinho Arrebitado. Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou

aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional.

E ainda misturou todos eles com personagens da Literatura universal, da mitologia, dos quadrinhos

e do cinema. “No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o Saci

ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das Maravilhas de Alice.” (MONTEIRO Lobato,

http://www.lobato.globo.com)

[...] e com esta obra inicia de fato a Literatura Infantil brasileira, rompendo

então com um sistema ultrapassado, oferecendo ao público infantil

brasileiro, uma leitura cheia de fantasia e bem mais próxima do universo

deles. Embora fosse uma obra para leitura escolar, tinha como objetivo

captar a atenção da criança e diverti-la. O livro lançado era uma história que

se passava em terras brasileiras, mas precisamente São Paulo e era cheio de

imaginação, as personagens viviam uma realidade dentro da fantasia ou

vice-versa, era difícil definir. (FÉLIX, 2005)

Lobato foi também pioneiro na transmissão de conhecimento e idéias em livros que

falam de história, geografia e matemática.

Depois dele, muitos outros autores seguiram o exemplo de Lobato, e a Literatura

Brasileira, a partir daí, especialmente a infantil, tornou-se mais forte e expandiu-se com maior

aceitação pela população.

[...] entre um acontecimento e outro, fortaleceu-se uma tradição literária

nova, que serviu de molde e inspiração a toda uma produção literária

braliseira, incluindo a infantil, o que não apenas indica a unidade entre

gêneros que a compõem como também o papel que eles exercem perante a

sociedade. (LAJOLO, ZILBERMAN, 1987, p. 59)

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Devido a isso, as crianças puderam então escolher e adotar seus livros, independente do

fato deles terem sido ou não escritos para eles.

A partir daí, o livro infantil tornou-se mais atrativo e mais acessível às crianças. Mas

para que o pequeno leitor possa ter acessa-lo, faz-se necessário que hajam incentivos, grandes ou

pequenos, dos pais ou os professores. O importante é que esses pequenos possam enriquecer sua

vida conhecendo histórias maravilhosas que só podem ser encontradas nos livros.

A Literatura tem o objetivo de transformar o indivíduo. De forma escrita ou oral, pode-

se receber e renovar os valores repassados por esta Literatura.

É no sentido dessa transformação necessária e essencial (cujo processo

começou no início do século e agora chega, sem dúvida, às etapas finais e

decisivas) que vemos na Literatura Infantil o agente ideal para a formação

da nova mentalidade que se faz urgente. (COELHO, 1999, p. 15)

Tanto a escola, como a biblioteca, como o próprio lar são ambientes que podem colocar

a criança diante de mundos e situações que só a Literatura Infantil oferece.

Atribuições maiores são dadas às escolas, na estimulação da criança à leitura. Mas

poucas são as instituições educacionais que têm em seu currículo a disciplina de Literatura Infanto-

Juvenil como uma atividade prazerosa, provocativa e reconstrutora.

Então, a tarefa de formar leitores fica mais difícil ainda, pois agora temos

que, quase unicamente, desempenhar tal coisa no espaço escolar. E como

fazer o caminho corretamente se a escola é, ainda, o maior representante

institucional da repetição, da mesmice semiótica, de valores estanques e

padrões de comportamento anacrônicos, em que a diferença ameaçada os

moldes estabelecidos pela ordem da razão e da ciência? Como ensinar a ler

o texto pelo avesso, desmontando-o para encontra-lo numa leitura produtora

de sentidos, numa escola que, [...], não respeita as diferenças, avalia

injustamente, impede a criatividade e “engarrafa” todos dentro de padrões

preconceituosos, mutilando qualquer gesto espontâneo, original, criativo e

inteligente? (CAVALCANTI, 2002, p. 76-77)

A Literatura ou o texto literário deve ser trabalhado com o único intuito de estabelecer

ligações, elos com a leitura. Para Cavalcanti, “a Literatura não deve ter o papel de educar ou servir

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

aos contextos de interdisciplinaridade escolar.” (2002, p. 77). Ele deve ter a função de dar alegria,

exercitar e alimentar o espírito.

Assim também deve ser o trabalho dos profissionais das bibliotecas públicas. O

bibliotecário tem que proporcionar à criança o poder de se encantar e ter prazer com o mundo

mágico das letras.

Cabe, portanto, aos professores e bibliotecários gostar mais de ler sem se cobrarem ou

sem cobrar as crianças a leitura realizada. Para provocar o gosto pela leitura eles têm que ensiná-las

a ler sem imposições, sem determinações de tempo, sem avaliações, ler apenas, por puro prazer de

ler. Dar condições para o livro ampliar, somar, acrescentar, e tornar a criança uma leitora crítica.

1.1 O Livro Infantil

Não há nada mais encantador do que chegar numa livraria, ou numa biblioteca, ou até

mesmo numa casa e perceber que lá existe um espaço reservado para os livros e, melhor ainda, que

crianças se envolvem com os livros infantis, ali existentes, com a maior naturalidade e com o maior

prazer.

Esse deve ser o objetivo do livro infantil, encantar a criança (ou até mesmo o adulto)

desde a sua capa até o fim. É objetivo, também, fazer com que o leitor viaje por suas páginas e

conheça locais, pessoas e situações diferentes.

O livro infantil, e as histórias nele contidas podem auxiliar no desenvolvimento e na

intelectualidade do pequeno leitor.

O livro é um meio de comunicação importante no processo e transformação do

indivíduo. Ao ler um livro, evolui-se e desenvolve-se a capacidade crítica e criativa.

Para as crianças, é importante o hábito da leitura porque com ela, se aprimora a

linguagem e a comunicação com o mundo.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Segundo Goes (1991, p.22), a função primordial do livro infantil é a “estética formativa,

a educação da sensibilidade, pois reúne a beleza da palavra e a beleza das imagens.” E continua

dizendo que, “o essencial é a qualidade de emoção e sua ligação verdadeira com a criança. Há

emoções poéticas que, presentes ou não no livro infantil, são diretamente acessíveis a todas as

crianças.”

Os livros infantis são escritos para as crianças, lidos pelas crianças, mas comprados

pelos adultos, porém escolhê-los não é uma tarefa fácil.

Para escolher um bom livro infantil é necessário seguir alguns critérios que podem estar

intrínsecos e extrínsecos ao livro.

Em primeiro lugar é preciso levar em consideração a criança e suas necessidades, como:

idade, interesse, sexo, escolaridade e nível de desenvolvimento. Sabendo um pouco sobre a criança

maior é a possibilidade de acertar na escolha.

Com esses dados pode-se consultar especialistas no assunto (professores, bibliotecários,

pais e até outras crianças) ou catálogos das editoras de forma a ter um direcionamento mais preciso

da hora da compra.

Anteriormente, falou-se nos elementos intrínsecos e extrínsecos dos livros infantis.

Especificamente, como elementos intrínsecos do livro infantil pode-se considerar: o assunto, que

deve atender as necessidades e interesses da criança; adaptação à idade da criança, levando em

consideração “o desenvolvimento psicológico, intelectual e espiritual do jovem leitor” (GOES,

1991, p.23) e, a não infantilização, pois os valores, assuntos e linguagem do livro devem

corresponder ao desenvolvimento da criança.

Muitos outros critérios podem ser somados a esses, tais como: quanto a qualidade,

objetividade de informações, introdução de valores, respeito e dignidade a pessoa humana de

acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quanto a aspectos formais: qualidades

estéticas, apresentação e ilustração.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Infelizmente, o consumo de livros por crianças tem diminuído, devido ao alto valor da

venda e, por causa de outras formas de entretenimento mais acessíveis, como filmes, revistas e

programas de TV. Para confirmar esta afirmativa Vaz, informa:

Crianças não mais lêem livros como já não fazem um monte de coisas como

antigamente. Dentre os produtos da chamada “indústria cultural”, pelas

características valiosas do livro, até lhe outorgamos um status mais elevado.

Mas reconheçamos também que o livro é um produto cultural que segue as

leis de mercado. (1997, p. 24)

Dinorah (1996, p. 17–18), diz que as novas tecnologias vieram para servir ao homem.

Mas acrescenta: “[...] se esse homem não tiver acesso à cultura e ao conhecimento, que tem suas

bases na palavra escrita, essa mesma tecnologia poderá escravizá-lo e empobrecê-lo cada vez mais.”

A criança brasileira passa, em média, seis horas diárias em frente à

televisão, e, na sua maioria, ignora a fantasia de uma história, a ternura de

um poema, o mistério de uma lenda, o mágico encontro com um livrinho.

A tevê, como processo, é uma das maiores invenções da humanidade.

[...]

Mas não veio para substituir o livro, e sim para somar-se a ele, dando o

primeiro enfoque da comunicação, a ser aprofundada na leitura e na

pesquisa. (DINORAH, 1996, p. 20-21)

Se os livros infantis não possuem público, fatidicamente, a produção será menor ou não

terá produção alguma. Mas havendo público, obviamente os editores melhorarão a qualidade dos

livros e oferecerão livros bons, bonitos e duradouros.

Por isso, é necessário que os livros possuam atrativos que possam cativar as crianças.

Casasanta (1974, p.34-35) apresenta sugestões de alguns critérios para avaliar a qualidade de livros

infantis.

1. Conteúdo:

A.Tema

- Qual é o tema?

- Ele é interessante e apropriado às crianças a que se destina?

- É parte natural da história?

- Evita lições de moral?

- Que valores de desenvolvimento apresenta?

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

B.Enredo

- O livro apresenta uma boa história?

- O enredo é dinâmico, atraente, equilibrado?

- Envolve cenas de ação e suspense?

- Apresenta situações plausíveis sob o ponto de vista de costumes e moral?

- É isento de preconceitos?

- A trama é bem arquitetada e desenvolvida?

C.Personagens

- Os personagens são convincentes, vivos, reais, autênticos?

- Pode-se reconhecer seus defeitos e qualidades?

- O autor evita estereótipos?

- Os personagens apresentam sinais de crescimento e desenvolvimento de

caráter?

D.Estilo

- O estilo é apropriado ao assunto do livro?

- Apresenta a história com clareza e simplicidade?

- O diálogo é natural e adequado aos personagens?

- O vocabulário é apropriado?

- Há riqueza de expressão?

- Há senso de humor, beleza e fantasia?

- O livro é bem escrito? (O estilo é claro, expressivo, direto, agradável de

ler?)

2. Formato:

- A aparência do livro é atraente?

- As ilustrações valorizam a história?

- São atraentes, de acordo com o nível do leitor e relacionadas ao texto?

- A impressão é boa, as letras, são claras e apropriadas ao nível dos

leitores?

- O livro apresenta acabamento bom e durável?”

Munidos dessas sugestões e critérios basta, após a compra, deixar as crianças

usufruírem os livros adquiridos e, com a devida orientação, estimular, acrescentar, a elas, o

principal objetivo que é o de fazer amar a leitura.

Para Cecília Meireles apud Dinorah (1996, p. 29), “a literatura infantil melhor é a que as

crianças lêem com prazer.”

É com o auxílio do livro e, particularmente, do livro infantil, que se pode influir sobre a

vida afetiva e estética da criança.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

1.2 A Criança e o Livro Infantil

Até algum tempo atrás, acreditava-se que a criança fosse um adulto pequeno ou um

simples ser sem muita importância, cujas diferenças do adulto se limitassem a tamanho e se

reduzissem a aspectos quantitativos.

Hoje, sabe-se que a infância constitui uma fase especial de evolução e formação, com

suas especificidades e complexidades, em nada comparável com o adulto. “Formar o leitor é algo

sutil e democrático, a exigir, [...], a única pedagogia possível: A do afeto e da liberdade.

(DINORAH, 1996, p.18)

Foi só a partir do século XVIII, depois que a criança se separou dos adultos, pois já

freqüentava a Escola, que começou a existir como criança, se firmando, definitivamente, na

segunda metade deste século, na família e na sociedade burguesa.

A família assume seu lar e suas crianças, abolindo o hábito, até então

persistente, da “sociabilidade” (agrupamento fora do lar), criando a sua

privacidade e desenvolvendo assim a afetividade, onde a criança passou a

encontrar o verdadeiro clima de infância. (CARVALHO, 1989, p. 87)

Infelizmente, nem todas as crianças eram privilegiadas. Haviam as que, por não serem

bem nascidas, acabavam sendo exploradas em trabalhos perigosos, como limpadores ou faxineiros.

Suas vidas, muitas vezes, se transformavam em histórias, poesias e até mesmo óperas, nas mãos de

grandes e célebres, ou não, autores, como: William Blake, Charles Dickens, Lisa Tetzner, Charles

Kingsley, Andresen e Benjamim Britter, entre outros.

A criança, então, passou a ter um espaço especialmente reservado para si nas diferentes

formas de expressão da arte: na música, na poesia, nos contos de aventuras, de fada e, nas ciências,

como a Pedagogia e Filosofia.

Destacaram-se, vários autores voltados para a Literatura Infanto/Juvenil, como:

Jonathan Swift, Henry Fabre, Herman Merville, Daniel Defoe, Alexandre Dumas, Conan Doyte

(autor de Sherlock Holmes), que escreveram sobre aventuras em livros como Robinson Crusoé, As

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

viagens de Gulliver, e Moby Dick, por exemplo. Os Irmãos Grimm – que reabilitaram os contos de

fada – foram seguidos por Hans Christian Andersen e Perrault. Além de Collodi, Lewis Carrol,

Antoine de Saint-Exupéry, Mark Twain, Mattew J. Barrie, Júlio Verne, Tolstoi, Adolfo Simões

Muller, João de Barros, France Burnelt, e muitos outros espalhados pelo mundo inteiro e em

diferentes tempos, que fizeram da Literatura Infantil um marco maravilhoso e que encanta a todos.

No Brasil, só após a vinda da Família Real, é que novos horizontes se abriram para as

crianças, quando, nas escolas, utilizou-se livros recreativos. Porém, a Literatura Infantil só veio

desabrochar nos fins do século passado, a partir de investimentos mais intensos voltados para a

educação.

O conto, o folclore, a fábula, o teatro, a poesia, tudo passa a ser um motivo de adaptação

para o recrear e o educar. E diversos autores surgem em prol da criança.

Alberto Figueiredo Pimentel foi um autor brasileiro que publicou o primeiro livro

infantil: Contos da Carochinha. Esses contos eram adaptações e traduções de outros países. Em

seguida, em 1896, publicou Histórias da Baratinha.

Arnaldo de Oliveira Barreto foi outro autor que presenteou as crianças com obras

adaptadas da mitologia grega, contos orientais, portugueses, alemães e franceses. Além de ter sido o

primeiro tradutor de O Patinho Feio, de Andersen.

Seguindo esses, também outros autores enriqueceram a Literatura Infanto/Juvenil

brasileira, tais como: Manuel José Gondim da Fonseca, Thales Castanho de Andrade, Viriato

Correia, Renato Sêneca Fleury, Vicente Paulo Guimarães, Érico Veríssimo, Cecília Meireles,

Vinícius de Moraes, Monteiro Lobato e Cid Franco.

Como já foi visto, no tópico referente a história da Literatura Infantil, Monteiro Lobato

não escreveu apenas livros para crianças, mas criou um universo para elas. A criança foi a maior

inspiração para Lobato, Além de suas fantasias, brincadeiras, jogos e aventuras. Ele valorizou a

criança enquanto criança e nada mais. Para Carvalho (1989, p. 134), “Lobato realizou uma obra

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

onde a criança, desinibida e autêntica, é livre para ser criança. E é isso que é importante. Ele não

mente à criança, mas não lhe impõe os problemas.”

Sua obra infantil inspirou e, ainda inspira, educadores, escritores e teatrólogos do Brasil

e do mundo afora.

Com essa atenção exclusiva voltada para as crianças, muitos livros infantis passaram a

ser editados, respeitando as fases do desenvolvimento da criança e sua faixa etária.

1.2.1 Fases da leitura/ faixa etária do pequeno leitor

A Literatura Infantil com seus elementos lúdicos, cheios de fantasias e realidades, deve

situar a criança dentro de seu universo, da sua estrutura psicológica e mental.

Segundo estatísticas internacionais, forma-se o leitor mais ou menos até os

quatorze anos de idade, num processo que deveria ter raízes no lar, onde a

criança, desde os primeiros meses, tivesse chance de conviver com a magia

das histórias, lendas e poesias, narradas pelos pais, e com livros adequados a

esta fase. (DINORAH, 1996, p. 18)

Por isso, a partir da Psicologia Experimental foi possível identificar os diferentes

estágios de desenvolvimento psicológico nas diversas fases de idade da criança.

Conforme Coelho (1991, p. 28),

a inclusão do leitor em determinada “categoria” depende não apenas de sua

faixa etária, mas principalmente da inter-relação existente entre sua idade

cronológica, nível de amadurecimento bio-psíquico-afetivo-intelectual e

grau ou nível de conhecimento/domínio do mecanismo da leitura.

Complementando o que foi dito, Carvalho (1989, p. 186-187) diz que os jogos,

atividades biopsicosociais, desenvolvem o lado afetivo e mental da criança. Podem ser definidos da

seguinte forma:

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Os jogos sensoriais, para crianças com menos de um ano, se caracterizam pela

manipulação de objetos, pelo prazer do ruído produzido pelo bater e o arremessar.

Os jogos motores, a partir de um ano a um ano e meio, estendendo-se até os quatro ou

cinco anos, é caracterizado pelo movimento, pela utilização do gesto, a ação.

Os jogos de ficção, entre dois e três anos de idade, até aos 8 anos marcam a fixação de

Literatura com a atividade simbólica, onde a criança se interessa pelas estórias, a fantasia e o faz-

de-conta e a transforma em sua realidade.

Nos jogos de construção ou fabricação, para crianças aos noves anos, ela, a criança, se

preocupa com os objetos, sua fabricação, como montá-los e desmontá-los.

Quando a criança começa a gostar de aventuras, mistérios, contos policiais e está

predisposta a adquirir e compreende o mundo que a cerca, ela está vivendo o jogo de aquisição, nos

seus oito anos de idade.

E, finalmente, os jogos intelectuais, a partir dos dez aos doze anos, nos quais a criança

adquire a capacidade de escolher, de racionalizar e de refletir e desenvolver sua capacidade crítica-

reflexiva.

Quanto a faixa etária e conforme Bamberger (1991, p. 33-35), pode-se caracterizar as

fases de leitura desta maneira:

a) Idade dos livros de gravuras e dos versos infantis (de 2 a 5 ou 6 anos).

Assim caracterizada por Beilinch: “Fase inicial integral-pessoal,

egocêntrica”. (...). Durante seu desenvolvimento dá-se a separação entre o

ego e o meio ambiente. Os livros de gravuras ajudam quando apresentam

objetos simples, sozinhos, retirados do meio em que a criança vive.

b) Idade do conto de fadas (de 5 a 8 ou 9 anos). Caracterização de Beinlich:

“Idade de leitura de realismo mágico”. Nessa fase do seu desenvolvimento a

criança é essencialmente suscetível a fantasia. Isso é válido para todos os

temas escolares, até para a geografia e a ciência.

c) Idade das histórias ambientais ou da leitura atual (de 9 a 12 anos). Assim

caracterizada por Beilinch: “construção de uma fachada prática, realista,

ordenada racionalmente, diante de um pano de fundo mágico-aventuresco

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

pseduo-realisticamente mascarado. A criança começa a orientar-se no

mundo concreto, objetivo. As perguntas “Como?” e “Por quê?” são casa vez

mais freqüentemente acrescentadas à pergunta “O que?”.

d) Idade da história de aventuras: realismo aventuroso ou a “fase de leitura

não-psicológica orientada para o sensacionalismo” (de 12 a 14 ou 15 anos).

Durante os processos de desenvolvimento pré-adolescentes, a criança, pouco

a pouco, toma consciência da própria personalidade. (...). O interesse dos

leitores pode ser despertado principalmente através do enredo, dos

acontecimentos, do sensacionalismo.

Desde a mais tenra idade a criança cultiva o prazer de ouvir, tanto a voz do outro quanto

a sua própria voz. Ouvir historinhas, músicas alegres, versinhos engraçados são muitos

significativos para ela.

Para o educador dessa criança, os pais, irmãos e/ou professores, o primeiro trabalho é o

de formar o gosto pela leitura. Entretanto este gosto deve ser criado com boa e bem escolhida

leitura, para que a criança possa sentir o prazer que só a leitura pode proporcionar.

O livro leva a criança a desenvolver:

- criatividade;

- sensibilidade;

- sociabilidade,

- senso crítico,

- imaginação criadora.

E algo fundamental: o livro leva a criança a aprender português.

(DINORAH, 1996, p.20)

É necessário pô-la em contato com muitos livros para que não tenha dificuldades de

leitura e, conseqüentemente, apresente maior maturidade em seus gostos. É lendo que se aprende a

ler, a escrever e a interpretar, formando assim, um verdadeiro leitor, leitor no mundo que o rodeia.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

CAPÍTULO II

2 O PRAZER DA LEITURA

Quando se pensa em leitura, vem logo a mente uma citação de autoria de um dos

maiores pedagogos que o Brasil já teve, Paulo Freire: “a leitura do mundo precede a leitura da

palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.”

(2003, p.13)

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

A leitura do mundo acontece desde os nossos primeiros contatos, como por exemplo, o

contato com o áspero, o macio, o frio, o calor, o som estridente, o som agradável, o cheiro bom e

ruim, o abraço gostoso de quem se ama e tantos outros.

Da mesma forma é o processo para se aprender a ler. Aos poucos, a leitura pode ser

inserida na vida da criança. É fundamental a aproximação desde cedo, da criança com a narrativa,

se possível desde o berço, facilitando sua interação com o livro como brinquedo.

O gosto pela leitura é um ato sempre copiado dos pais e a interação deve acontecer

livre, possibilitando à criança rabiscar e entrar em contato com o prazer que o livro propicia.

O hábito de contar histórias, antes dos pequenos dormirem, é também uma maneira de

iniciá-los na leitura. Apresentar, neste momento, o encantamento é dar condições para que o livro e

a leitura se tornem algo lúdico e prazeroso.

É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a

tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as

personagens fizeram...). é uma possibilidade de descobrir o mundo imenso

dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos

– dum jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados,

enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história

(cada uma a seu modo)... É a cada vez ir se identificando com outra

personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo

vivido pela criança)... e, assim, esclarecer melhor As próprias dificuldades

ou encontrar um caminho para a resolução delas... (ABRAMOVICH, 1999,

p. 17)

O termo prazer, segundo Barbosa, significa “agradar, aprazer, comprazer, júbilo,

satisfação, alegria, contentamento, divertimento, festa, regozijo.” (1999, p.425).

Quanto ao processo de leitura, pode-se dizer que essas definições estão totalmente

relacionadas, pois são, justamente, esses sentimentos que são despertados no leitor, em qualquer

estágio da vida, no momento da leitura.

É necessário, portanto, alimentar na criança, de preferência a partir dos dois anos de

idade, o gosto e o prazer da leitura.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Se ela não tiver esse incentivo, da família, vai acabar se distanciando do universo da

leitura. E a leitura tem que despertar o interesse da criança em descobrir mundos novos. Ela deve ter

prazer e não ler por hábitos. Ter curiosidade e poder escolher o que vai ler, sem obrigação, sem

cobranças.

Alves retrata, muito bem, o que foi acima descrito:

Lembro-me da escola primária que freqüentei. Havia uma aula de leitura.

Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos.

[...]. Quando a aula terminava, era uma tristeza, Mas o bom mesmo é que

não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. (2004, p.19).

No tocante a orientação, cabe ao educador, fazê-lo da melhor forma possível orientando

e melhorando o contato da criança com o mundo dos livros.

Ler contos, lendas e histórias com personagens reais prende a atenção. A criança tem

que degustar, sentir o gosto das leituras escolhidas ou criadas por elas.

O prazer durante a leitura deve estar também nos detalhes. A capa do livro, por

exemplo, influencia, e muito, a sua compra ou desperta na criança o interesse pela leitura em

bibliotecas.

É preciso conscientizar a criança dos valores que a leitura desperta, tornar a leitura

interessante aos olhos da criança, como uma fonte de surpresas e descobertas. Como já foi dito, é a

partir dos dois anos de idade que se deve iniciar o contato da criança com o livro, pois é nessa fase

que ela começa a desenvolver o jogo simbólico da linguagem. Para ela não é a narrativa que vai

importar mas sim, “o livro como objeto visual, o brinquedo-livro: forma, cor, ilustrações e letras

que dizem alguma coisa.” (CARVALHO, 1989, p. 197).

Antes de aprender a ler, a criança leitora precisa fazer uma idéia do que é leitura. Daí a

relevância dela conhecer primeiro o livro como objeto, como brinquedo. Não se pode ter o desejo

de ler sem saber o que é isso.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

A leitura feita pelas pessoas que rodeiam a criança desenvolve nela o desejo de ler por si

mesma, tão irresistível quanto o desejo de começar a andar sozinha.

É lendo que se aprende a ler, a escrever e a interpretar, formando assim um verdadeiro

leitor, leitor do mundo que o rodeia.

É importante estimular a leitura na criança como uma experiência valiosa e prazerosa.

Isso será uma grande fonte de satisfação tanto para as crianças quanto para os adultos que as

acompanharem nesta aventura.

2.1 Lendo para Crianças

Por que contar histórias?

Contar histórias é a mais antiga das artes. Antigamente, o povo sentava ao redor do fogo

para esquentar, alegrar, conversar, contar casos.

Com o aparecimento da imprensa, jornais, revistas e livros se tornaram os agentes

culturais dos povos. Para trás, ficaram as fogueiras e os velhos contadores. Mas as histórias ficaram

incorporadas à nossa cultura. Em casa pode-se ouvir da voz da mamãe, da babá ou de outras

pessoas queridas, as mais belas histórias, contidas nos mais belos livros, para o encantamento da

criançada.

A Literatura Infantil, como já se sabe, é um alimento precioso que deve fazer parte do

cotidiano da vida da criança desde a mais tenra idade. As crianças têm um mundo próprio, povoado

de sonhos e fantasias que, muitas vezes, é invadido pelo mundo do adulto, o mundo real e racional.

Para a criança, somente haverá interesse pelas coisas reais se ela puder encaixá-las no seu mundo de

cores e fantasia.

Ler histórias para crianças, sempre, sempre ... É poder sorrir, rir, gargalhar

com as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto ou com o

jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

momento de humor, de brincadeira, de divertimento... (ABRAMOVICH,

1999, p. 17)

As histórias, de alguma forma, ajudam as pessoas que lêem. Através delas, é possível

uma pessoa ser tocada. Histórias que aconteceram de verdade, histórias de vida ou histórias de

fazer rir, chorar ou pensar são aquelas que marcam a personalidade de qualquer pessoa (criança ou

adulta).

[...], o homem é por natureza e essência sujeito da narrativa, portanto um

contador de histórias. A natureza humana mergulha na mais absurda

complexidade no momento em que se banha no universo da linguagem. Daí

para frente, tudo nos é escorregadio e permanentemente transformado pela

palavra. (CAVALCANTI, 2002, p.63)

Confirmando a afirmativa Carvalho diz que “a leitura é o meio mais eficiente de

enriquecimento da personalidade: é um passaporte para a vida e para a sociedade”. (1989, p. 194).

É ouvindo histórias eu se pode sentir (também) emoções importantes, como

a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a

insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente

tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve – com toda a

amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar...

Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário.

(ABRAMOVICH, 1999, p. 17)

Essa leitura, portanto pode levar a criança a adentrar ao mundo maravilhoso do prazer e

da fantasia. Para isto é necessário que, em momento oportuno e de forma bem orientada, a criança

seja apresentada a este mundo. O maravilhoso é um dos mais importantes elementos na literatura

destinada às crianças. Assim, conclui a Psicanálise, ao provar que os significados simbólicos dos

contos maravilhosos estão ligados aos eternos conflitos que o homem enfrenta ao longo de seu

amadurecimento emocional.

Não sabendo ler, a criança pode ter numa outra pessoa o interesse despertado. Nem todo

livro pode ser lido pela criança, mas quase todos podem ser narrados, contados a ela.

Também ao contar histórias deve-se considerar a criança, é claro, nas suas mais diversas

fases:

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

até os quatros anos de idade, ela gosta de ouvir pequeninos textos sonoros e

ilustrados. Elas gostam de repetir sons produzidos por coisas, animais e outros, ou

seja, sons onomatopéicos. São de grande efeito as repetições o canto e outros

recursos sonoros.

dos quatro aos sete anos, começa a idade dos Contos de Fadas ou do realismo

mágico. Os Contos de Fadas são responsáveis pelo forma modelar, primária da

narrativa, e imprescindível do crescimento afetivo da criança. É quando a criança

pode escolher, desprezar e interpretar conto, conforme o seu desenvolvimento. É

considerado o período mais rico da infância porque nele a criança realiza o

fenômeno mais importante da vida humana: a linguagem.

A partir dos dez anos a criança, além de gostar de ouvir histórias passa a gostar de lê-

las, também. Então as aventuras fantásticas, os contos policiais, biografias e

literatura nacional devem fazer parte da sua realidade.

Lembra a Psicanálise que a criança é levada a se identificar com o herói

bom e belo, não devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a

própria personificação de seus problemas infantis: seu inconsciente desejo

de bondade e de beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e

proteção. Identificadas com heróis e heroínas do mundo do maravilhoso, a

criança é levada, inconscientemente, a resolver sua própria situação, -

superando o medo que a inibe e ajudando-a a enfrentar os perigos e ameaças

que sente à sua volta e assim, gradativamente, poder alcançar o equilíbrio

adulto. (COELHO, 1991, p. 51)

O ato de ouvir histórias dá condições a criança de criar e inovar a partir do conto.

Algumas técnicas podem ajudar neste processo:

- utilizar as ilustrações do próprio livro;

- criar outros estímulos visuais com objetos e figuras;

- usar estímulos auditivos para acompanhar a narrativa, como músicas,

frases, palavras repetitivas e interessantes; alterar o timbre de voz ao contar.

(STEFANI, 1997, p. 23).

Um bom contador desperta a vontade de ler. É aquele que nasceu guiado por uma

infinita capacidade de doação e, por isso, esteja onde estiver, em qualquer espaço e tempo,ele estará

envolto pela magia de contar histórias. Mas é necessário que este contador possua, em seu

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

repertório, histórias que tenha gostado e que possa contar os mais variados estilos de histórias:

engraçadas, de aventuras, de amor, de fadas, de suspense, entre outras. Outra recomendação é que é

possível comentar as histórias com as crianças evitando perguntas formais como: “Gostaram? Por

quê?”.

Quando comentar o conto é interessante que a criança retribua através das respostas as

partes que mais lhe chamaram atenção, de que mais gostaram ou quais personagens eles se

identificaram.

As histórias são fontes maravilhosas de experiências. O contador deve se propor a

compartilhar estas experiências e o prazer de ler, aproximando o livro da criança, deixando ela fazer

suas escolhas, lendo o texto e mostrando as ilustrações, ouvindo atentamente, respondendo às

perguntas, observando e respeitando suas reações. Por meio das histórias as crianças ampliam seu

vocabulário e seu universo.

Além disso, existe todo um ritual na contação de histórias que, de alguma

forma, mesmo nos dias de hoje, deve ser levado em consideração. Contar

um conto exige que se prepare devidamente o ambiente. Que os ouvintes

sejam preparados para a entrega, que possam confiar naquele que narra, pois

penetrar nas densas florestas, grutas e cavernas exige confiança. Portanto o

contador deve estabelecer um vínculo com a sua audiência. [...].

(CAVALCANTI, 2002, p.65)

A leitura do livro em voz alta, por exemplo, propicia a entrada da criança na cultura da

escrita, a visão do mundo do autor, podendo compará-la com sua própria visão. “Então, acima de

tudo, conhecendo o universo da leitura e o patrimônio cultural ao qual pertencem”. (BIBLIOTECA

Viva, s.d., p. 47).

E, diante de tudo o que foi dito aqui, refaz-se a pergunta inicial deste tópico: Por que

contar histórias? Que pode ser respondida de diversas forma, conforme Casasanta (1974, p.52):

- para deleitar a criança;

- para incutir-lhe o amor à beleza;

- para desenvolver-lhe a imaginação;

- para desenvolver-lhe o poder de observação;

- para ampliar-lhe a experiência;

- para desenvolver-lhe o gosto artístico;

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

- para estabelecer uma ligação íntima entre o mundo da fantasia e da

realidade.

São essas e muitas outras razões que ajudam a criança a se inserir do mundo da leitura e

na busca constante do prazer.

O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o

pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer

ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum

texto! No princípio não era o verbo? Então... (ABRAMOVICH, 1999, p. 23)

Quando a criança ouve histórias ela tem contato com a linguagem escrita e com a

narrativa. Conseqüentemente, passará a querer engendrar o mundo da leitura, feita por ela mesma.

Cabe, então, ao mediador (professor, pais, bibliotecários) auxiliar neste novo momento oferecendo e

deixando a criança leitora escolher, livremente, suas histórias.

A importância da família na formação do leitor é imensa, visto que os

primeiros anos da infância são marcados pelas relações desenvolvidas entre

os pequenos e os grandes, pertencentes ao mesmo grupo de parentesco. É na

família que se vai adquirir os primeiros hábitos, os valores e os gostos.

Além da relação de dependência social que a criança tem com os familiares,

existe também algo de essencial que somente é experimentado pelas

vivências afetivas proporcionadas no ambiente familiar. Assim, desde muito

cedo, mesmo antes de chegar ao mundo, já existe um conjunto de

expectativas em torno desse ser que em breve fará parte dessa história dos

grupos familiar e social. Portanto, existe, mesmo anteriormente ao

nascimento da criança, algo que é da ordem do desejo daqueles que a

esperam e que funcionará como as marcas iniciais da história de vida da

mesma. Dessa forma, a narrativa das histórias do mundo têm sentido apenas

no momento em que se entrelaçam na história de vida do próprio sujeito.

Pois, para a criança Branca de neve, Chapeuzinho vermelho, Cinderela, A

bela e a fera, O gato de botas e tantas outras narrativas têm sentido porque

dizem respeito aos diversos aspectos e conteúdos experimentados

simbolicamente por ela. De fato, qualquer narrativa tem como ponto de

partida a própria história de vida do leitor.(CAVALCANTI, 2002, p. 67-68)

É necessário, portanto, disponibilizar e criar espaços onde as crianças possam ler a

vontade e nós, mediadores, devemos estar conscientes da formação e auxiliar no desenvolvimento

de uma nação letrada.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

2.2 A Criança Leitora

O gosto pela leitura não é um ato que vem por acaso. Por traz de um leitor infantil, há

sempre um pai ou uma avó que gosta de contar histórias ou uma professora que dá um sabor

especial às palavras.

Para Ruth Rocha apud Moraes (2001, p.61), “leitor é aquele que lê bem, que tem pais

que lêem, que tem livros em casa. Mas leitor é também aquele que nasceu para ler, que mesmo no

meio do mato descobre um livro velho para ler.”

O estímulo às crianças, deve acontecer constantemente para que o interesse pelos livros

também sejam constante. A leitura reconduz o leitor a si próprio, aos seus desejos mais autênticos e

espontâneos.

Ler é um comportamento complexo que envolve aspectos motores, cognitivos e afetivos

entre os dominós educacionais que devem ser cuidados no processo de ensino-aprendizagem. Não

basta apreender a ler, é preciso gostar de ler.

É sabido que a criança tem uma característica que lhe é peculiar: a curiosidade. Quando

ela começa ler um livro, passa logo para outro e assim sucessivamente, fascinando a si próprio e a

quem a observa.

O livro tem o poder de desenvolver na criança leitora a criatividade, a sensibilidade, o

senso crítico, a sociabilidade e a imaginação, levando a criança a aprender. A leitura aumenta a

compreensão, a aprendizagem e alarga o pensamento onde, por conseqüência, o falar se torna, de

fato, o fazer e o agir.

É na escola, porém, que a criança talvez esteja mais aberta aos conteúdos repassados

dos livros que lê. Se a leitura é repassada pelos professores como uma atividade livre, sem

cobranças e obrigações, com certeza a criança aprenderá a gostar de ler. E a sala de aula, assim

como a biblioteca, são lugares privilegiados para se fazer da Literatura Infantil um momento de

lazer.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

O acesso à leitura deve ser estimulado durante a infância e a adolescência.

Se a escola e a biblioteca não estão associadas com esse objetivo, resta o

papel da família, representada, principalmente, pela mulher. As dificuldades

da vida moderna, entre outras razões, fizeram com que a família delegasse

esse papel à escola. A ausência do apoio que a biblioteca pode dar à escola

agrava o problema. Portanto, a articulação entre biblioteca e escola é muito

importante (LEITURA e cidadania, 2000, p.1)

Na escola, por exemplo, para o processo de formação do leitor exige, da criança e mais

ainda dos professores, muita leitura. Infelizmente, segundo os professores, por falta de tempo, eles

‘obrigam’ os educandos a ler determinados livros e cobram resumos e fichas solicitadas no final da

obra, por causa disto, não dão a estes a oportunidade de descobrir, de deleitar-se, de encantar-se e

sentir prazer com o livro por ele escolhido.

Mas a leitura pode e deve ser cobrada, porém de diferentes maneiras: num diálogo, em

grupo, em conversas informais em que a criança se sinta um leitor e não um examinando.

Pois é preciso saber se se gostou ou não do que foi contado, se se concordou

ou não com o que foi contado... É perceber que ficou super-envolvido,

querendo ler de novo mil vezes (apenas algumas partes, um capítulo

especial, o livro todinho ...) ou saber que detestou e não querer mais

nenhuma aproximação com aquela história tão chata, tão boba ou tão sem

graça ... É formar opinião própria, é ir formulando os próprios critérios, é

começar a amar um autor, um gênero, uma idéia, um assunto e, daí, ir

seguindo por essa trilha e ir encontrando outros e novos volumes... (que

talvez façam o amor pelo autor redobrar, ou provoquem uma decepção...

isso tudo faz parte da vida!). (ABRAMOVICH, 1999, 143-144)

As crianças, na escola, lêem e lêem mais do que a maioria dos adultos. Bamberger

confirma muito bem isto quanto diz que “em quase todos os países (excetuando-se a União

Soviética), o número de crianças que lêem é duas vezes maior que o de adultos”. (1991, p.19).

Claro, a escola é campo fértil para se produzir leitura, aliás ela deve ser o

espaço para o desenvolvimento das potencialidades, no que inclui-se o

tornar-se leitor. Mas, a escola necessita ser preparada para isso, para não

fazer da Literatura mero instrumento pedagógico com a finalidade de

reproduzir padrões e valores da ideologia dominante. Ao contrário disso, a

arte liberta porque transforma. (CAVALCANTI, 2002, p. 78)

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Anteriormente, falou-se na linguagem como conseqüência da leitura. Para Carvalho, em

relação a criança, a linguagem é o fator mais importante de realização.

Para a criança, a linguagem verbal é revelação, é descoberta contínua, que a

encanta, desde que descobre maravilhada o som que ela própria pode

elaborar, vibrando de entusiasmo, porque essa é mais uma atividade lúdica a

seu serviço. (1989, p.201).

A criança, ainda cedo, gosta de ouvir a sua própria voz e a voz de outras pessoas. Ouvir

histórias, versinhos, canções de ninar, tudo tem significado para a criança. E sob todos os aspectos a

Literatura Infantil constitui o programa básico de sua formação.

O papel do educador é formar o gosto da leitura. Este é o primeiro trabalho para que a

criança sinta o especial prazer de ler. Pois a boa leitura é aquela que “agrada, comove e instrui”

(QUINTILIANO apud CARVALHO, 1989, p. 201).

Como educador destaca-se o papel do bibliotecário – profissional responsável em

organizar e disseminar informações nas bibliotecas. Proporcionar oportunidades para uso de livros

da biblioteca é sua tarefa primordial.

CAPÍTULO III

3 A BIBLIOTECA PÚBLICA

O termo biblioteca pública, como o próprio nome diz, é local para ser freqüentada pelo

grande público das comunidades, preocupando-se com o atendimento às zonas urbanas e rurais.

Para Suaiden apud Sconholz,

É ela que oferece a oportunidade da democratização da vida cultural, seja

através do acesso da população os bens culturais, seja através da formação

indispensável dos conhecimentos, instrumentos e meios postos em uso pela

prática cultural, seja pela participação ativa de cada um, na medida de suas

possibilidades... no desenvolvimento cultural. (1984, p. 4).

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

O desenrolar histórico da biblioteca pública iniciou-se na era pré-cristã quando, ao

contrário das particulares, passou a servir também a estudiosos e sacerdotes.

O tipo que mais se assemelha ao conceito moderno de biblioteca pública, foram as

bibliotecas municipais surgidas em alguns países como Inglaterra, Escócia, França e Alemanha

(século XV e XIX), criadas por doação de indivíduos ou por contribuição pública e confiadas à

administração municipal.

No Brasil, as primeiras bibliotecas que se têm notícia são: a Biblioteca Pública Estadual,

na cidade de Salvador, Bahia, em 4 de agosto de 1811 e a Biblioteca Estadual do Maranhão, em 29

de setembro de 1829. De lá para cá muitas outras foram fundadas nos diversos estados e também

nos municípios e comunidades de todo o país.

Para entender melhor o que é uma biblioteca, é necessário conhecer suas missões e

quais funções ela pode desempenhar.

Ela é o centro local de informações e deve permitir o pronto acesso dos usuários a todo

tipo de conhecimento, independente da idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou status

social.

A biblioteca pública não possui apenas uma missão, pelo contrário, possui várias e todas

elas relacionadas com informação, alfabetização, educação e cultura. São, portanto:

1. Criar e fortalecer o hábito de leitura nas crianças desde a mais tenra

idade.

2. Apoiar tanto a educação individual e autodidata como a formal em todos

os níveis.

3. Proporcionar oportunidades para o desenvolvimento criativo e pessoal.

4. Estimular a imaginação e a criatividade tanto de crianças como de jovens

e adultos.

5. Promover o conhecimento da herança cultural e a apreciação das artes,

realizações e inovações científicas.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

6. Propiciar acesso às expressões culturais das artes em geral.

7. Fomentar o diálogo intercultural e favorecer a diversidade cultural.

8. Apoiar a tradição oral.

9. Garantir acesso aos cidadãos a todo tipo de informação comunitária.

10. Proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais,

associações e grupos de interesse.

11. Facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade no uso do

computador.

12. Apoiar atividades e programas de alfabetização para todos os grupos de

idade, participar deles e implantá-los se necessário. (ANTUNES, 2002,

p.14)

É função da biblioteca pública prestar informações sobre o governo, serviços públicos e

atividades úteis para as pessoas de um modo geral.

Outra grande função é, através das possibilidades de acesso às informações, contribuir

para a formação continuada dos indivíduos, para o aprimoramento profissional, indo além do que o

acervo oferece com programas especiais de palestras, exposições, concursos, etc.

Para isso é fundamental que o bibliotecário conheça bem o acervo da biblioteca bem

como a comunidade onde a biblioteca se situa.

Mas a função primordial da biblioteca pública ou de qualquer outra biblioteca é

incentivar e desenvolver no indivíduo (criança, jovem ou adulto) o prazer da leitura. O seu acervo

literário, portanto, deve ser rico o suficiente para atender a todos. Principalmente às crianças que

poderão ter acesso a livros de sua preferência e conhecer o que de mais novo já foi publicado.

Atualmente há o reconhecimento da necessidade de que toda a biblioteca pública tenha

na sua estrutura, um setor voltado para a criança – o setor infantil. Dada a importância da

contribuição da biblioteca pública ao desenvolvimento de leitores, o setor infantil assume papel de

destaque em todas as bibliotecas.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Para que isso aconteça é interessante que a biblioteca possua um “cantinho”, com

estantes, gravuras, esteiras, tapetes ou almofadas onde a criança possa sentar-se e manusear seus

livros. E que, nela, o pequeno leitor se sinta bem, que goste de freqüentá-la e que deseje sempre

voltar lá.

3.1 Leitura e Biblioteca

Nos dias atuais a biblioteca tem um papel essencial: proporcionar a interação criança-

adulto, imprescindível e necessária para o desenvolvimento verbal de criança.

Crianças que têm dificuldades nos lares e nas escolas, principalmente as que têm poucos

recursos, em contato com o acervo bibliográfico poderiam se desenvolver melhor na biblioteca. O

livro daria a elas a oportunidade de conhecer um mundo mais amplo.

A biblioteca deve ser um lugar de intercâmbio, de trocas, de informação e integração na

comunidade.

Propor atividades bem diversas e relacionadas com a leitura é um dos mais valiosos

princípios da biblioteca. O teatro, artes plásticas, contação de histórias são algumas dessas

atividades que podem suscitar o prazer da leitura.

Dessa forma, se vê que a biblioteca é muito mais do que um local para guardar livros.

Ela serve para conservar e transmitir idéias, pensamentos e a cultura que estão registrados nos livros

que abriga.

Milanesi reforça bem essa afirmativa quando diz que, deve-se fazer um esforço para

incrementar a biblioteca,

transformando-a efetivamente num centro onde não apenas se tem acesso à

produção cultural da humanidade, mas onde também se produz cultura.

Assim, haveria vários espaços na biblioteca, sendo o espaço da leitura e da

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

escuta ainda o fundamental em vista de ser essa forma de expressão aquela

que faz fluir as informações em maior quantidade. (1983, p. 100)

É preciso pensar o espaço da biblioteca como um lugar atraente onde, além de ler, as

pessoas possam trocar idéias, ouvir histórias, dar risadas, etc.

Ao ler, a criança é invadida por novas informações, emoções diferentes e pode querer se

expressar, dizendo o que pensou ou o que sentiu. O espaço da biblioteca tem de permitir essa

vontade de falar, de trocar idéias com os companheiros ou com qualquer pessoa que possa facilitar a

construção de uma biblioteca interativa.

A biblioteca é uma das instituições que deve incluir as crianças no mundo da leitura,

sem esperar, é claro, que elas respondam imediatamente com um produto ou resultado. É dessa

maneira que a aprendizagem ocorre na vida das pessoas. Elas aprendem a andar, falar, brincar,

sempre em relação com os outros. Elas interagem, fazem e erram, experimentam e voltam atrás.

Da mesma forma acontece com a leitura. As crianças que interagem com adultos

leitores incorporam essa prática em suas vidas. Passam a ver a leitura como algo que faz parte do

dia-a-dia e, portanto, são alfabetizadas com maior facilidade, já que percebem o significado da

escrita e da leitura.

Para uma criança que nunca viu o livro, ele é um objeto como um outro qualquer que se

pode brincar, explorar com as mãos, boca, olfato e olhos. É o adulto que dá sentido ao livro por

meio da leitura e de sua interação com a criança.

Antes da biblioteca, são as escolas que as primeiras instituições a introduzirem o livro

na vida das crianças, podem fazer da leitura um prioridade sem torná-la uma obrigatoriedade, que

muitas vezes leva ao desinteresse dos alunos pelo livro.

É necessário, portanto, que se busquem práticas que favoreçam a constituição de uma

nova imagem da leitura, como uma atividade prazerosa e divertida.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

As crianças devem ser levadas a ter um intenso e natural contato com o universo da

escrita, mesmo antes de saber ler e escrever. E para serem leitoras é preciso que desejem serem

leitoras.

É aí que entra o papel do bibliotecário. Ele deve ser o mediador entre o livro e a criança.

O mediador deve ser propor a compartilhar com as crianças o prazer de ler, de conhecer e de

descobrir o que os livros têm a oferecer. Ele aproxima o livro e a criança, deixando ela fazer suas

escolhas, lendo o texto e mostrando as ilustrações, ouvindo atentamente, respondendo às perguntas,

observando e respeitando suas reações.

A hora da leitura na biblioteca deve ser vista como um momento informal e agradável.

Quando o bibliotecário ou outro funcionário capacitado estende o tapete ou o lençol e coloca sobre

ele os livros e as almofadas, as crianças passam a entender o significado desse momento. A leitura

tem que ser realizada em um determinado espaço físico, organizado e preparado especialmente para

se tornar um local agradável, onde as crianças se sintam confortáveis e à vontade para manusear os

livros.

Vale ressaltar que não deve existir um padrão de espaço físico para o desenvolvimento

da leitura. Tanto a biblioteca pode possuir uma sala específica, quanto pode usufruir espaços

externos a ela para desenvolver atividades voltadas para o prazer da leitura.

Mas organizar cantinhos de leitura aconchegantes e iniciar a leitura, mesmo que seja

para uma só criança, pode atrair a atenção das outras e diminuir a dispersão.

De acordo com a professora do Departamento de Ciências da Informação (UFC), Ana

Maria Sá de Carvalho, a leitura não deve ser mecanicista. Para ela,

o ato de ler não deve ser mecânico e sim prazeroso. Por isso, as bibliotecas

têm de ser bonitas, agradáveis, organizadas, com grande volume de títulos e

palco para atividades lúdicas como, por exemplo, a contação de histórias.

(A Biblioteca foi esquecida, 2004, p. 4)

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Portanto, resta as autoridades dar às bibliotecas condições que sejam satisfatórias para

que os bibliotecários possam ter, ainda mais, ânimo para auxiliar os pequenos leitores no despertar

de seu interesse pelas belas histórias, ali contadas ou lidas.

3.2 O Papel do Bibliotecário na Formação do Pequeno Leitor

Sabe-se que o número de bibliotecários em bibliotecas, principalmente nas públicas, não

é suficiente para atender as demandas desta instituição.

Olhando bem, apesar destas dificuldades, sempre há alguém interessado a desenvolver

atividades lúdicas nas bibliotecas.

Mas o que se quer, neste momento, é relatar o papel do bibliotecário como mediador

formador da criança leitora.

Primeiramente para ser um mediador desse processo é necessário que o bibliotecário

tenha conhecimento das obras do setor infantil. E que o acervo seja bem recheado e surtido.

Segundo Silva (1986, p. 94), “ser um conhecedor de livros significa possui um

repertório amplo de leituras, que sirva para orientar intelectualmente os usuários e para dimensionar

a qualidade do acervo.”

Ler em voz alta para si mesmo, antes de ler para as crianças é uma maneira de ter mais

segurança na hora da contação de histórias.

Saber apresentar as ilustrações às crianças, é outra opção. As ilustrações exercem uma

atração redobrada sobre os pequeninos, pois elas ornamentam o texto, estimulam o interesse e

dividem o livro de modo que as crianças possam virar as páginas com freqüência e ter a impressão

de estarem lendo depressa.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

É importante que o bibliotecário perceba as habilidades de leitura da criança. Para isso,

a seleção de livros quem tem que ser de acordo com o seu nível de dificuldade.

A liberdade para a escolha do livro que a criança vai ter é outro ponto relevante. Leitura

livre e sem cobranças. Leitura que leva ao prazer e, por conseqüência, aumentará o gosto pelas

histórias.

Não é bom, no entanto, deixar de lado algumas preocupações, como, por exemplo, a

qualidade do acervo. Formar e dinamizar bons acervos são verdadeiros desafios para o

bibliotecário. Mas, mantendo-se atualizado e inteirado das novas obras lançadas no comércio, o

atendimento aos leitores se dará com menos constrangimentos.

O bibliotecário deve, periodicamente, elaborar e executar projetos e programas que

promovam o gosto pela leitura com o objetivo de atingir um número maior de leitores das mais

diversas idades, especialmente, aos pequenos leitores.

Para que o incentivo à leitura seja um processo constante é necessário que o

bibliotecário participe de cursos de atualização sobre a importância deste ato. Isto pode ser

confirmado quando Sponholz (1984, p.9) diz ser,

necessário que os profissionais inseridos nessa área estejam capacitados

suficientemente e, portanto, em condições de prestar os relevantes serviços

que são exigidos das bibliotecas públicas por uma sociedade de demanda

culturais crescentes.

Ao escolher sua leitura, e após dela, o bibliotecário ou o auxiliar de biblioteca deve

desempenhar papel ativo e pode organizar debates ou outras atividades que permitam aos leitores

expor suas idéias, adquiridas no contato com os livros. O objetivo aqui não é cobrar, mas sim

incentivar a criança a aprofundar suas leituras, conhecer mais autores e, com sua espontaneidade,

incentivar a outras crianças a lerem aos mesmos livros.

[...] diferentemente do professor, o bibliotecário não está atrelado a

currículos e avaliações; portanto, tem maior liberdade para propor leitura,

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

dialogar espontaneamente com o leitor, sem que o mesmo se sinta

pressionado. (BORTOLIN, 2005)

Independentemente de quem seja o mediador, se pais, professores ou bibliotecários, vale

salientar que a ele compete “[...] criar soluções próprias ou adaptar experiências alheias, consciente

de que o leitor tem uma diante de si, em direção à leitura e ao conhecimento.” (BARROS apud

BORTOLIN, 2005).

Esta responsabilidade deve ser interpretada com um desafio constante, pois o papel que

os mediadores desempenham na motivação de leitura pode interferir com maior ou menor

profundidade na formação dos leitores de uma coletividade.

Espera-se que os mediadores de leitura, neste caso os bibliotecários proporcionem aos

leitores uma pluralidade de experiências, para que eles percebam a leitura não apenas como

aprendizagem escolar, mas como elemento de lazer e satisfação.

3.3 Técnicas de Incentivo à Leitura para Bibliotecários

Como se sabe, para a formação geral da criança é necessário estimular o

desenvolvimento do gosto à literatura.

No mundo de hoje, a criança sente-se, cada vez mais, desestimulada à leitura, devido

aos apelos de programas televisivos, vídeo-games e internet, que prejudicam o desempenho e a

criatividade da criança.

Complementando a afirmativa acima pode-se dizer que:

Nada - equipamento algum – substitui a leitura. Mesmo numa época em

que proliferam os recursos audiovisuais e as “máquinas” ou “mecanismos”

de ensinar [...], mesmo numa época em que a informática se impõe com

todo o seu poder econômico e processual, pode-se (re)afirmar: Nada –

equipamento algum – substitui a leitura. (RANGEL, 1999, p.9)

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Infelizmente, nem todas as crianças adquirem habilidades necessárias à leitura e nem

todos incorporam o gosto de ler. É então, neste momento, que se pode recorrer a estímulos, como as

técnicas e dinâmicas de leitura que podem ser utilizadas, nas bibliotecas públicas, por bibliotecários

ou por qualquer outro profissional que tenha conhecimentos no que tange o atendimento a crianças

e o incentivo à leitura.

A contação de histórias na biblioteca é uma prática importante, uma vez que o lúdico

faz parte da criança, através do lúdico a leitura poderá ser trabalhada, formando assim leitores

infantis. O lúdico, portanto, é um dos meios decisivos de formação da personalidade e deve ser

levado em conta na formação da criança.

Para aplicar as técnicas é necessário ter, na biblioteca, um ambiente satisfatório como

palquinho, teatro de fantoche, materiais como, fantoches de pano para mão e para dedos, papéis e

panos coloridos, pincéis, tintas, aquarelas, lápis de cor, canetinhas coloridas, entre outros.

Antes de apresentar um texto, através de dinâmicas é importante verificar a quantidade

de crianças presentes na sala, a forma que elas estão acomodadas, se em cadeiras, e em tapetes ou

almofadas, e o nível de escolaridade para que não haja inconvenientes no momento da apresentação.

A escolha do texto certo e o direcionamento deste para as crianças, dentro da sua faixa etária

possibilitará, ao bibliotecário, um interesse maior e um retorno, através de comentários, sobre o

texto.

O objetivo das técnicas de incentivo à leitura é estimular a prática da leitura, auxiliar o

desenvolvimento de habilidades, de atenção e observação; incentivar a organização e a expressão de

idéias e estimular o aumento e a fixação de vocabulário.

Algumas técnicas utilizadas para a contação de história são variadas, mas as mais

eficientes são aquelas realizadas com amor, criatividade, unidas com o cuidado com a criança, o

trabalho e a mensagem a ser transmitida.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Desta forma, e baseada em sugestões de autores especialistas em dinâmicas de leitura, é

que se oferece, a seguir algumas técnicas para auxiliar aos bibliotecários a planejar como motivar as

crianças, saber contar as histórias com entusiasmo e criatividade a fim de despertar o gosto e o

interesse pela leitura.

3.3.1 Conhecendo o texto

O bibliotecário deve dominar o conteúdo da história para melhor utilizar o livro,

mostrando as gravuras e chamando a atenção das crianças, para detalhes que possam surgir no

decorrer da contação.

3.3.2 Cantando antes do texto

Se o bibliotecário quiser descontrair a criançada antes de iniciar a contação, ele pode

cantar uma canção que tenha a ver com a história ou que chame a atenção das crianças, quando as

mesmas não estiverem atentas.

3.3.3 Fazendo dobraduras

A medida que for contanto a história, o bibliotecário poderá fazer dobraduras. Um

exemplo, segundo Oliveira, é o texto “Barquinho veloz”, que, enquanto se conta, o bibliotecário

produz um barco.

As crianças poderão, em seguida, aprender dobraduras e, elas mesmas, produzirem seus

barcos.

3.3.4 Usando o álbum seriado

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Este recurso tem vantagens que, em muito, facilita ao bibliotecário, a contação de

histórias.

As ilustrações são grandes e ajudam numa maior visualização. Dá grandes

possibilidades de criar suspense e expectativa, envolvendo as crianças em cada viradas das páginas.

Pode ser feito com papéis do tamanho de uma folha de cartolina.

3.3.5 Usando o álbum sanfonado

Recurso semelhante ao álbum seriado, só que as partes são desdobradas.

É feito com pedaços de papel-cartão e dobrado com forma de sanfona. As partes podem

ser ligadas com fita adesiva, fita de pano ou cadarço.

3.3.6 Usando as transparências

Nesta técnica, tanto o bibliotecário, quanto as crianças podem contar a história.

Como as gravuras ou ilustrações transformadas para uma transparência e projetadas na

parede, a visualização permitirá uma boa interação do texto com o contador de história.

3.3.7 Usando os slides, do Power Point

O caso do computador, em muito, veio beneficiar e facilitar o trabalho de vários

profissionais, dentre eles o bibliotecário.

O uso dos slides é bastante parecido com o uso das transparências. Só que ao invés de

transferirmos as ilustrações para uma folha de transparência, elas são colocadas num slide, do

programa Power Point, da Microsoft, e transferidas para a parede através de uma máquina acoplada

a CPU do computador, chamada Data Show.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

A interação é a mesma e a vantagem é que pode-se usar as histórias em sua totalidade,

sem supressão de informações, dando destaques ou não, ao texto e as ilustrações.

A projeção de slides pode acontecer antes, durante ou depois da leitura do texto. A

decisão fica a critério do bibliotecário.

3.3.8 Usando o vídeo cassete

Se a biblioteca possuir um acervo de vídeos infantis e um espaço para apresentá-los, isto

será mais um recurso que ajudará o bibliotecário a comunicar uma história.

Quando for usar o vídeo cassete, é importante que o bibliotecário prepare a turma para o

que vai ver e ouvir, objetivando, em seguida, programar atividades baseadas no texto apresentado.

3.3.9 Teatro de fantoches

Fantoches são bonecos animados, usados nas apresentações teatrais.

Para contar histórias utilizando fantoches é necessário que o contador tenha uma dicção

clara, diálogos curtos, apropriado para o expectadores.

A imaginação é o principal elemento dos fantoches, portanto cabe nesse contexto todo

tipo de personagem, especialmente animais e tudo o que a fantasia possa produzir.

É indispensável que o espetáculo de fantoches seja uma realização das crianças pois, por

ser altamente educativo, o teatro de fantoche facilita a expressão, desenvolve o espírito de

colaboração e o senso crítico.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

3.3.10 Mímica

Algumas crianças podem interpretar, com gestos, os personagens da história escolhida,

e as demais podem tentar adivinhar qual personagem está sendo interpretado.

As técnicas para o incentivo à leitura mobilizam as crianças para compreender, melhor,

o texto que está sendo apresentado.

O orçamento destinado às bibliotecas públicas deve permitir a aquisição de todos os

materiais que poderão ser utilizados nas diversas dinâmicas ou em outras elaboradas por

bibliotecários.

Desta forma, pode-se concluir que, com o devido apoio institucional, as bibliotecas

públicas conseguirão alcançar seus objetivos, sempre conquistando novos leitores e ajudando a

despertar nas crianças o prazer pela leitura.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A incansável busca do prazer ocasionado pela leitura, é tarefa que muitos profissionais

se dedicam.

É perceptível o aumento constante, na publicação de livros, principalmente àqueles

voltados para a Literatura Infantil.

Como se sabe, a criança deve, desde cedo, considerar o livro como um objetivo que faz

parte de seus brinquedos e este deve ser apresentado a ela por pessoas capacitadas ou que tenham

uma ligação afetiva com a mesma.

Pouco a pouco, a criança deve perceber a importância da leitura em sua vida. Para

aqueles que ainda não sabem ler, a melhor opção é ouvir histórias. Com estímulos recebidos pelos

pais e, é claro, quando esses pais são leitores, a criança terá facilidades no processo de

aprendizagem escolar, se interessará em freqüentar as bibliotecas públicas ou escolares. Ou seja,

amará os livros que puder possuir e os que não puder possuir também.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

É certo que, quando esta criança chegar a idade escolar, maior será sua capacidade de

aprendizagem e cognição.

Para ser um adulto leitor, imprescindivelmente, a criança tem que ser também leitora.

Pois no decorrer do seu desenvolvimento a criança passará por diversas fases que, caso não tenha

criado interesses especiais de leitura, ela pode deixar de lado este gasto.

Mas quando se tem autores e histórias maravilhosas, cheias de imaginação e fantasias, a

disposição da criançada, o estímulo à leitura fica mais reforçado. Histórias como as de Monteiro

Lobato, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Perrault, Andersen, Pedro Bandeira, Lewis Carrol,

Exupéry, entre outros contam aventuras e contos de fadas, fábulas, lendas e mitos de que tanto as

crianças gostam.

A leitura facilita o acesso a informação, tornando-se maior a capacidade crítica, bem

como o exercício da cidadania. E muitas são as ações que ajudam no desenvolvimento deste

processo. Muitos são os programas e projetos de incentivo à leitura, realizados por escolas,

bibliotecas ou até mesmo pelos próprios pais.

Cabe as instituições voltadas para educação e cultura, como bibliotecas e escolas,

viabilizar o acesso das crianças a leitura, incentivar a melhoria quantitativa e qualitativa do acervo

literário, promover eventos que conscientizem a importância de leitura, organizar momentos de

leitura livre, proporcionar diversificadas técnicas de leitura e outros. Estes são exemplos que, se

postos em prática, poderão colaborar com a formação de leitores capazes de interagir com o mundo

por meio da leitura.

Cabe também aos educadores e, especialmente neste caso os bibliotecários permanecer

numa educação continuada, se mantendo sempre atualizado no tocante a cursos voltados para o

incentivo a leitura, pois a sua própria educação contribui para a influência que ele exerce.

Está claro que a personalidade desse profissional e seus hábitos de leitura são

importantíssimos para desenvolver interesses e gosto pela leitura nas crianças.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

Infelizmente, treinamentos que melhoram a formação deste profissional não são

suficientes e, muitas vezes, a carga horária de trabalho não lhe permite fazer uma boa formação.

A eles deveriam ser oferecidas oportunidades de se informarem regularmente acerca dos

livros infantis e de pesquisas sobre leitura para que pudessem otimizar o seu ambiente de trabalho e,

particularmente, o setor infantil das bibliotecas.

O que aqui ficou dito representa apenas uma tentativa de despertar a atenção de pais,

professores e bibliotecários para a importância da Literatura Infantil na vida da criança.

Espera-se que outros trabalhos se somem a este para beneficiar a tantas crianças que

desejem conhecer os novos mundos e outras pessoas, de fantasia, de brincar e recriar, ou seja, de ter

a real noção de que o livro é uma coisa boa, um amigo que está do lado de todo mundo e a quem se

pode recorrer a qualquer hora.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVICH, Fanny. O estranho mundo que se mostra às crianças. 6. ed. São Paulo:

Summus, 1983. 164p.

___________________. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 5. ed. São Paulo: Scipione,

1999. 174p. (Pensamento e ação no magistério)

ALMEIDA, Adelaide Maria de Abreu. Leitura e formação de leitores. 2001. Monografia

(Especialização em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio). Universidade Vale do Acaraú

ALVES, Rubem. Ler e prazer. São Paulo, Páginas Abertas, v.29, n.21, 2004, p.18-19.

ANTUNES, Irandé. O gosto pela leitura: um cuidado que já se impõe mesmo na Educação Infantil.

O Povo. Fortaleza, 26 jul. 2005. Opinião, p. 7.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

ANTUNES, Walda de Andrade, CAVALCANTE, Gildete de Albuquerque, ANTUNES, Márcia

Carneiro. Curso de capacitação para dinamização e uso da biblioteca pública: manual. São

Paulo: Global, 2002. 237p.

AZEVEDO, Ricardo. Literatura infantil: origens, visões da infância e certos braços populares.

Disponível em: <http://www.ricardoazevedo.com.br/artigo07.htm>. Acesso em: 20 de junho de

2005.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 1991. 109p.

BARBOSA, Osmar. Grande dicionário de sinônimos e antônimos. 15. ed. Rio de Janeiro:

Ediouro, 1999. 560p.

A BIBLIOTECA foi esquecida. O Estado. Fortaleza, 16 abr. 2004, p.4

BIBLIOTECA pública: princípios e diretrizes. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional,

2000. 160p. (Documentos técnicos, 6)

BEZERRA, Rose Mary. Hábito de leitura começa no berço. Diário do Nordeste. Fortaleza, 6 jun.

2004. Caderno Viva, p.3

BIBLIOTECA viva: fazendo histórias com livros e leituras. São Paulo: Fundação Abrinq, s.d.

107p.

BOAS experiências de bibliotecas públicas. Disponível em: <http://www.nova

escola.abril.com.br>. Acesso em: 21 de setembro de 1999.

BORTOLIN, Sueli. A quem cabe mediar leitura?. Disponível em:

<http://www.mundoquele.ofaj.com.br/textos/texto4.doc>. Acesso em: 01 de julho de 2005.

CADEMARTORI, Ligia. O que é Literatura Infantil. São Paulo: Brasiliense, 1995. 89p. (Coleção

primeiros passos, 163)

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A Literatura Infantil: visão histórica e crítica. 6. ed. São

Paulo: Global, 1989. 314p.

CASASANTA, Tereza. Criança e literatura. Belo Horizonte/Brasília: Veja/Instituto Nacional do

Livro, 1974. 135p.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da Literatura Infantil e Juvenil: dinâmicas e vivências na

ação pedagógica. São Paulo: Paulus, 2002. 127p. (Pedagogia e Educação).

COELHO, Nelly Novaes. Literatura e linguagem: a obra literária e a expressão lingüística. 3. ed.

São Paulo: Quiron, 1980. 389 p.

____________________. Panorama histórico da Literatura Infantil/Juvenil: das origens indo-

européias ao Brasil contemporâneo. São Paulo: Ática, 1991. 285p.

____________________. Literatura Infantil: teoria-análise-didática. 5.ed. São Paulo: Ática, 1991.

247p. (Série Fundamentos, 87)

COMO despertar na criança o interesse pela leitura. In: Guia para uma educação melhor:

informações úteis para o desenvolvimento intelectual, educacional e cultural dos filhos. São Paulo:

Encyclopaedia Britannica do Brasil, [s.d.].

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Ática,

1986. 143p.

DIAS, Ana Maria Iorio, OLIVEIRA, Maria José Sampaio de. Reflexões sobre leitura: caminhos e

possibilidades em educação infantil. Fortaleza: Secretaria do Trabalho e Ação Social, 2000. 80p.

DICIONÁRIO da Língua Portuguesa: Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1992,

1176p.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

DINORAH, Maria. O Livro Infantil e a formação do leitor. Petrópolis: Vozes, 1996. 76p.

FERRAZ, Wanda. A Biblioteca. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1972. 207p.

FÉLIX, Wanderly. Literatura Infantil em Monteiro Lobato e a influência da Emília em sua

obra. 2005. Monografia (Especialização em Leitura e Formação do Leitor). Universidade Federal

do Ceará.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Moderna, 2003. 47p. (Coleção palavra da

gente, 1, Ensaio).

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnica de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 206p.

GOES, Lúcia Pimentel. Introdução à Literatura Infantil e Juvenil. 2. ed. São Paulo: Pioneira,

1991. 189p.

A HISTÓRIA da Literatura Infantil no Brasil: Monteiro Lobato. Disponível em:

<http://www.bjd.com.br/bjotinha/subpaginas/revistas/020404_E.htm>. Acesso em: 20 de junho de

2005.

HUPPES, Mara Cristina. Literatura Infantil: história e situação atual. Disponível em:

<http://www.unifebc.edu.br/divulgação/discente06.doc>. Acesso em: 20 de junho de 2005.

LASOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil brasileira: história e histórias. 3.

ed. São Paulo: Ática, 1987.

LEITURA e cidadania. Folha Proler. Rio de Janeiro, v. 4, n. 14, p. 1, Editorial, set. 2000.

MANUAL para elaboração de monografia. Fortaleza: UFC/CETREDE, 2004. 29p.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico:

procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos

científicos. São Paulo: Atlas, 2001. 219p.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 93p. (Coleção

primeiros passos, 74).

MILANESI, Luís. O que é biblioteca. São Paulo: Brasiliense, 1983, 107p. (Coleção primeiros

passos, 94)

MONTEIRO Lobato. Disponível em: <http://lobato.globo.com>. Acesso em: 22 de junho de

2005.

MORAES, Rita. Infância: de bem com as letras. Isto É, São Paulo, n.1663, p. 60-62, ago./2001.

NOVA, Vera Casa. Literatura Infantil: jogo de queimada. In: Paulino, Graça (org.). O jogo do livro

infantil. Belo Horizonte: Dimensão, 1997. p. 29-32.

OLIVEIRA, Maria Alexandre de. Dinâmicas em Literatura Infantil. 7. ed. São Paulo: Paulinas,

1998, 46p.

RAMALHO, Priscila. A literatura deve dar prazer. Nova Escola. São Paulo, v. 16, n. 145, p. 21-23,

set./2001.

RANGEL, Mary. Dinâmicas de leitura para sala de aula. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 69p.

SEGREDOS para formar leitores. Disponível em: <http://www.novaescola.abril.

com.br/ed/112_mai98/html/repcapa3.htm>. Acesso em: 01 de junho de 2005.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas(SP): Papirus, 1986.

115p.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE ...repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/37758/1/2005_tcc...de cavalaria, de aventuras contadas por seus pais ou pelos velhos senhores da comunidade.

SPONHOLZ, Regina M. Lamas Pegararo. Atribuições de bibliotecários em bibliotecas públicas.

São Paulo/Brasília: Pioneira/INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1984. 66p.

STEFANI, Rosaly. Leitura, que espaço é esse?: uma conversa com educadores. 3. ed. São Paulo:

Paulus, 1997. 31p.

______________. Referencial e Parâmetros Curriculares Nacionais: a leitura de uma contadora

de histórias. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2000. 48p.

TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura brasileira. 5. ed. São Paulo: Moderna, 1996. 352p.

VAZ, Paulo Bernardo. Livro infantil e ingredientes da literariedade. In: PAULINO, Graça (org.). O

jogo do livro infantil. Belo Horizonte: Dimensão, 1997. p. 23-27.

VITSIC, Tati. Criança faz arte. Disponível em: <http://www.criançafazarte.com/datas/ datas_

dialivro.htm>. Acesso em: 01 de julho de 2005.