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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRAÚLICA E AMBIENTAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS VICTOR COSTA PORTO APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DINÂMICA ESTOCÁSTICA E DUAL ESTOCÁSTICA NA OTIMIZAÇÃO DA OPERAÇÃO DO SISTEMA DE RESERVATÓRIOS DE MÚLTIPLOS USOS DO RIO SÃO FRANCISCO FORTALEZA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRAÚLICA E AMBIENTAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS

VICTOR COSTA PORTO

APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DINÂMICA ESTOCÁSTICA E

DUAL ESTOCÁSTICA NA OTIMIZAÇÃO DA OPERAÇÃO DO SISTEMA DE RESERVATÓRIOS DE MÚLTIPLOS USOS DO RIO SÃO FRANCISCO

FORTALEZA

2018

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VICTOR COSTA PORTO

APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DINÂMICA ESTOCÁSTICA E DUAL

ESTOCÁSTICA NA OTIMIZAÇÃO DA OPERAÇÃO DO SISTEMA DE

RESERVATÓRIOS DE MÚLTIPLOS USOS DO RIO SÃO FRANCISCO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Área de concentração: Recursos Hídricos. Orientador: Prof. Dr. Francisco de Assis de Souza Filho.

FORTALEZA

2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca UniversitáriaGerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

P883a Porto, Victor Costa. Aplicação de Programação Dinâmica Estocástica e Dual Estocástica na Otimização da Operação do Sistemade Reservatórios de Múltiplos Usos do Rio São Francisco / Victor Costa Porto. – 2018. 80 f. : il. color.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes, Fortaleza, 2018. Orientação: Prof. Dr. Francisco de Assis de Souza Filho.

1. Otimização. 2. Programação Dinâmica Estocástica. 3. Programação Dinâmica Dual Estocástica. 4. SãoFrancisco. 5. Usos Múltiplos. I. Título. CDD 388

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VICTOR COSTA PORTO

APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DINÂMICA ESTOCÁSTICA E DUAL ESTOCÁSTICA NA OTIMIZAÇÃO DA OPERAÇÃO DO SISTEMA DE RESERVATÓRIOS DE MÚLTIPLOS USOS DO RIO SÃO FRANCISCO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Área de concentração: Recursos Hídricos.

Aprovada em: 21/03/2018.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dr. Francisco, de Assis de Souza Filho (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Profª. Drª. Ticiana Marinho de Carvalho Studart

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Dr. Rubens Sonsol Gondim

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

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AGRADECIMENTOS

À minha família, em especial a meus pais Adonai de Souza Porto e Maria Naila Costa Porto que sempre me apoiaram e incentivaram.

Aos meus professores, em especial ao professor Assis, orientador e amigo, pela excelente orientação e pelo tempo disponibilizado.

Aos amigos e colegas do mestrado que vivenciaram comigo desde o primeiro momento dessa trajetória.

Aos amigos do Grupo de Gerenciamento do Risco Climático e Sustentabilidade Hídrica, pela amizade e contribuição neste trabalho.

Enfim, meu muito obrigado a todos que direta ou indiretamente contribuíram de modo que eu alcançasse este objetivo

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é aplicar as técnicas de Programação Dinâmica Estocástica e

Programação Dinâmica Dual Estocástica na otimização da operação do sistema de reservatórios

de múltiplos usos da Bacia do Rio São Francisco. Para isto, foi modelado o sistema de

reservatórios pelas usinas de Três Marias, Sobradinho e Itaparica. O modelo desenvolvido

possui três variáveis de estado e nove de decisão. A função objetiva foi construída com o método

das ponderações levando em conta a produção energética e as demandas de irrigação. Os

resultados mostraram melhor eficiência da Programação Dinâmica Dual Estocástica que

conseguiu otimizar o hidrossistema completo para os diversos cenários com baixo custo

computacional. A otimização utilizou código desenvolvido na Linguagem Julia por meio do

pacote StochDynamicProgramming. A Linguagem apresentou alto nível e alto desempenho.

Palavras-chave: Otimização. Programação Dinâmica Estocástica. Programação Dinâmica

Dual Estocástica. São Francisco. Usos Múltiplos.

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ABSTRACT

The aim of this work is to apply Stochastic Dynamic Programming and Dual Dynamic

Stochastic Programming techniques to optimize the operation of the multipurpose reservoir

system of the São Francisco River Basin. For this, the reservoir system was modeled by the

Três Marias, Sobradinho and Itaparica mills. The developed model has three state variables and

nine decision variables. The objective function was constructed using the weighting method,

taking into account energy production and irrigation demands. The results showed better

efficiency of Dual Dynamic Stochastic Programming that managed to optimize the complete

hydrosystem for the various scenarios with low computational cost. The optimization used code

developed in the Julia Language through the StochDynamicProgramming package. The

language presented high level and high performance.

Keywords: Optimization. Stoch Dynamic Programming. Stoch Dual Dynamic Programming.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco ............................................... 23 Figura 02 - Ocupação por tipo de atividade na Bacia do Rio São Francisco (2010)................ 24 Figura 03 - O Hidrossistema do Rio São Francisco ................................................................. 27 Figura 04 - Panorama Metodológico ........................................................................................ 29 Figura 05 - O Hidrossistema Modelado ................................................................................... 36 Figura 06 - Esquema de Usina Hidroelétrica............................................................................ 37 Figura 07 - Curva de Demanda Para a Irrigação ...................................................................... 40 Figura 08 - Performance Comparativa da Linguagem Julia ..................................................... 47 Figura 09 - Distribuição Acumulada de Probabilidade. .......................................................... 49 Figura 10 - Cenários de Vazão Afluente para as Simulações. .................................................. 54 Figura 11 - Comparação da Simulação do Cenário Médio. ...................................................... 60 Figura 12 - Simulação para o Cenário Médio das Regras Ótimas. .......................................... 62 Figura 13 - Simulação da Otimização do Hidrossistema Completo ......................................... 63 Figura 14 - Simulação da Otimização para os Três Cenários .................................................. 64 Figura 15 - Simulação da Otimização para o Reservatório Itaparica ....................................... 64 Figura 16 - Simulação da Operação para o Cenário Úmido ..................................................... 66 Figura 17- Simulação do Cenário Seco para o Reservatório Sobradinho ................................ 67 Figura 18 - Simulação do Cenário Médio para o Reservatório Sobradinho ............................. 68 Figura 19 - Simulação do Cenário Úmido para o Reservatório Sobradinho ............................ 68 Figura 20 - Volumes Evaporados para a Simulação do Cenário Médio ................................... 70 Figura 21 - Influência dos Parâmetros α e para na otimização de Três Marias. .................... 71 Figura 22 - Influência dos Parâmetros α e para na otimização de Sobradinho. .................... 72 Figura 23 - Influência dos Parâmetros α e para na otimização de Itaparica. ......................... 72 Figura 24 - Influência do Parâmetro para na Otimização de Três Marias. ............................ 73 Figura 25 - Influência do Parâmetro para na Otimização de Sobradinho. ............................. 74 Figura 26 - Influência do Parâmetro para na Otimização de Itaparica. ................................. 74

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Demanda dos principais usos consuntivos para o ano de 2010. ............................ 25

Tabela 02 - Resumo das Usinas do São Francisco ................................................................... 28

Tabela 03 - Volumes dos Reservatórios .................................................................................... 31

Tabela 04 - Polinômios Cota-Volume e Área-Cota .................................................................. 32

Tabela 05 - Lâminas Líquidas Evaporadas Mensais Médias Mensais (mm) ........................... 33

Tabela 06 - Características das Usinas ..................................................................................... 33

Tabela 07 - Polinômio de Cota do Canal de Fuga e Turbinamento Máximo ........................... 34

Tabela 08 - Demandas para Irrigação por Região Fisiográfica ................................................ 34

Tabela 09 - Fator de Sazonalidade para as Demandas de Irrigação ......................................... 35

Tabela 10 - Restrições Operativas dos Reservatórios da Bacia do São Francisco ................... 35

Tabela 11 - Demandas de Irrigação dos Reservatórios ............................................................. 40

Tabela 12 - Demandas Mensais de Irrigação ............................................................................ 40

Tabela 13 - Parâmetro ............................................................................................................ 43

Tabela 14 - Parâmetro ............................................................................................................ 44

Tabela 15 - Parâmetro ϑ ............................................................................................................ 45

Tabela 16 - Coeficientes de relação linear entre Área (km²) e Volume (hm³) .......................... 51

Tabela 17 - Cálculo da Queda Líquida Média .......................................................................... 52

Tabela 18 - Polinômios Linearizados ....................................................................................... 52

Tabela 20 - Dimensões dos Hidrossistemas ............................................................................. 55

Tabela 20 - Tempos de Processamento ..................................................................................... 57

Tabela 21 - Custos de Simulação dos Cenários ........................................................................ 59

Tabela 22 - Tempos de Processamento do Modelo Reduzido .................................................. 61

Tabela 23 - Variação do Custo da Simulação com o Conhecimento das Afluências ................ 65

Tabela 24 - Custo das Regras de Operação das Séries Utilizadas ............................................ 66

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 10

1.1 Objetivos ............................................................................................................ 11

1.2 Escopo do Trabalho .......................................................................................... 12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 13

2.1 Operação de reservatórios ............................................................................... 13

2.2 Modelos de Otimização .................................................................................... 13

2.3 Funções Objetivo .............................................................................................. 19

3 ÁREA DE ESTUDO ......................................................................................... 23

3.1 Usos Múltiplos da Água ................................................................................... 25

3.2 Hidrossistema do São Francisco ...................................................................... 26

4 METODOLOGIA ............................................................................................. 29

4.1 Estratégia Metodológica .................................................................................. 29

4.2 Base de Dados ................................................................................................... 30

4.3 Modelagem do Hidrossistema .......................................................................... 35

4.4 Função Objetivo ................................................................................................ 42

4.5 Otimização do Hidrossistema .......................................................................... 46

4.6 Análises, Simulações e Desempenho ............................................................... 52

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................... 57

5.1 Análise de Desempenho .................................................................................... 57

5.2 Análise do Impacto do Conhecimento das Vazões Afluentes ........................ 65

5.3 Análise da Escolha da Série de Vazões Afluentes ........................................... 66

5.4 Análise do Efeito da Linearização da Evaporação ........................................ 69

5.5 Análise do Método das Ponderações ............................................................... 70

6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 76

REFERÊNCIAS................................................................................................78

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1 INTRODUÇÃO

A operação de hidrossistemas define o volume hídrico que será armazenado e o

destinado a atender os usos múltiplos da água. É um processo de tomada de decisão que envolve

diversos setores da sociedade e se caracteriza como um estágio fundamental da gestão eficiente

dos recursos hídricos (CID,2017).

Além disso, lida com variáveis complexas como as demandas hídricas de diversos

setores e a produção de energia. Devido ao caráter estocástico das afluências, esta tomada de

decisão ocorre em meio à incerteza e deve ser assistida por modelos de simulação e otimização

para que se encontre soluções de performance satisfatórias (Labadie, 2004).

Entretanto, a aplicação de técnicas matemáticas de otimização à operação de

hidrossistemas não é tarefa simples uma vez que deve tratar com incertezas, não linearidades e

multiobjetividade (Rani e Moreira, 2009).

O hidrossistema do Rio São Francisco, para o qual este trabalho aplicará técnicas

de otimização, é composto grandes usinas hidroelétricas com potencial instalado total de

10.473MW. Além da produção de energia, este hidrossistema deve garantir o suprimento

hídrico de mais de 15 milhões de habitantes e de uma economia diversificada com presença de

atividades industriais e intensa agricultura (ANA, 2016).

Entretanto, apesar da importância dos múltiplos usos da água na bacia, o ONS

(Operador Nacional do Sistema Elétrico), responsável pela operação dos reservatórios, realiza

uma operação com objetivo de minimizar o custo da geração térmica pelo restante do Sistema

Elétrico Brasileiro. Os modelos do ONS consideram os outros usos da água apenas como

restrições operativas e demandas consuntivas e não como parte da função objetivo.

Ainda, a bacia do Rio São Francisco, por estar boa parte presente no clima

semiárido, sofre de uma grande variabilidade climática e em épocas de escassez hídrica, como

a que vivemos, surgem conflitos pela utilização dos recursos hídricos.

Neste contexto, modelos de otimização de reservatórios, além de permitirem uso

mais racional da água, também podem auxiliar a justificar as decisões tomadas na operação e

resolver conflitos. Entretanto para que isto aconteça é necessária a consideração dos usos

múltiplos na otimização do hidrossistema da bacia.

Este trabalho irá verificar a performance, considerando os usos múltiplos, de duas

técnicas de otimização de sistemas de reservatórios: a Programação Dinâmica Estocástica que

lida bem com incertezas e não linearidades, porém necessita de grande esforço computacional

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o que a torna inviável para problemas maiores; e a Programação Dinâmica Dual Estocástica

que otimiza grandes sistemas rapidamente, mas não trata devidamente as não linearidades e é a

técnica utilizada atualmente pelos modelos de operação do ONS.

Elas serão aplicadas ao hidrossistema do rio São Francisco, por meio de código em

linguagem Julia, e seu desempenho será avaliado a partir da simulação da operação para as

políticas definidas pelas técnicas de otimização.

A linguagem Julia, nova e de alta performance, terá seu potencial avaliado no

desenvolvimento de modelos computacionais de simulação e otimização de hidrossistemas.

1.1 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é aplicar as técnicas de Programação Dinâmica

Estocástica (PDE) e Programação Dinâmica Dual Estocástica (PDDE) na otimização da

operação do sistema de reservatórios de múltiplos usos da Bacia do Rio São Francisco.

Especificamente, pretende-se:

Realizar modelagem matemática do hidrossistema estudado;

Analisar o desempenho e a viabilidade destas duas técnicas na otimização da

operação dos reservatórios da bacia;

Verificar o efeito, para a otimização, da escolha da série de afluências;

Avaliar o impacto da linearização da evaporação requerida pela PDDE;

Verificar a influência da discretização das variáveis de estado na performance

da PDE;

Construção da função objetivo considerando os usos múltiplos por meio do

método das ponderações;

Verificar o impacto na otimização da escolha dos pesos para a composição da

função objetivo;

Avaliar o potencial da linguagem Julia no desenvolvimento de modelos

computacionais de simulação e otimização de hidrossistemas;

Verificar a possibilidade de extensão dessa metodologia para considerar mais

usos da água e um maior e mais complexo sistema de reservatórios.

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1.2 Escopo do Trabalho

Esse trabalho está apresentado em seis capítulos. Neste primeiro capitulo é

realizada uma breve introdução sobre a otimização de hidrossistemas, com definição do

problema de pesquisa os objetivos que se espera serem alcançados. No capítulo seguinte,

apresenta-se uma revisão bibliográfica com foco nas técnicas de otimização e de definição de

função objetivo.

O local de estudo em que foi aplicada a metodologia desenvolvida é descrito no

terceiro capítulo com a apresentação da metodologia no capítulo seguinte. O capítulo 5 traz os

resultados e análises obtidos pelas simulações e otimizações. Finalmente, no capítulo 6 estão

as conclusões e as recomendações para trabalhos futuros.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nesta sessão será apresentado revisão da literatura sobre operação e otimização de

hidrossistemas. Dando destaque às diversas técnicas de otimização (Programação Matemática,

Métodos Heurísticos de Busca e Machine Learning), suas aplicações e principais limitações.

2.1 Operação de reservatórios

A operação de reservatórios consiste em definir os volumes hídricos que serão

armazenados ou destinados a satisfazer os usos múltiplos da água. Assim, é um processo de

tomada de decisão que envolve diversos setores da sociedade e se caracteriza como um estágio

fundamental da gestão eficiente dos recursos hídricos (CID,2017).

Devido à estocasticidade das vazões afluentes, a operação de reservatórios se

configura como um processo de tomada de decisão sob incertezas que pode ser assistida por

modelos de simulação e de otimização para determinar e justificar as decisões (Loucks e Van

Beek, 2002).

Os modelos de simulação representam, a partir da equação do balanço hídrico, o

comportamento do hidrossistema sob uma regra de operação e um cenário de vazão afluente

definidos. Segundo Labadie (2004), estes modelos simulam com precisão a operação do

hidrossistema e podem ser utilizados para encontrar uma estratégia ótima em uma análise de

Monte Carlo, entretanto não são capazes de encontrar o ótimo em sistemas mais complexos que

exijam estratégias flexíveis. Para estes sistemas, que apresentam uma grande quantidade de

alternativas possíveis, o uso em conjunto de modelos de simulação com de otimização obtém

melhores resultados (Jacoby e Loucks, 1972; Labadie,2004; Rani e Moreira,2009).

2.2 Modelos de Otimização

Devido à importância socioeconômica das decisões tomadas na operação de

reservatórios e com o avanço da computação, diversas técnicas de otimização foram estudas e

elaboradas para este processo a partir da década de 70.

Wurbs (1993) afirma que apesar destas décadas de pesquisa em aplicações de

modelos de otimização, ainda existe um espaço entre o desenvolvimento teórico e suas

utilizações reais. O que ocorre, segundo Labadie (2004), devido, dentre outros motivos, à

preferência do operador por modelos de simulação, visto limitações computacionais e a

complexidade matemática maior dos modelos de otimização.

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Entretanto, ainda de acordo com Labadie (2004), estas dificuldades estão sendo

superadas através da utilização de sistemas de suporte à decisão e do intenso desenvolvimento

computacional (hardware e software).

Também, conforme dito por Brandão (2004), verificou-se o desenvolvimento de

algoritmos mais eficientes para a solução dos problemas de otimização linear e não-linear, o

que possibilita a aplicação de modelos de otimização mais eficientes e simples de serem

processados.

Quanto às técnicas de otimização aplicadas à operação de reservatórios, Yeh (1985),

Wurbs (1993), Labadie (2004), Rani e Moreira (2009) fizeram revisões sobre o estado da arte

ressaltando as melhores aplicações e restrições. Dentre estas técnicas, serão abordados a

Programação Linear, a Programação Não Linear, a Programação Dinâmica e os Algoritmos

Heurísticos.

2.2.1 Programação Linear (PL)

A Programação Linear é o método mais popularmente aplicado na otimização de

sistemas de reservatórios (Rani e Moreira, 2009; LABADIE,2004; CID,2017). A PL se

caracteriza por utilizar as restrições lineares do problema para definir a região de busca do

ótimo. Dentre os algoritmos de resolução de PL mais utilizados estão o Simplex e o de Ponto

Interior.

As principais vantagens da PL para a otimização da operação de reservatórios estão

a habilidade em lidar com problemas de larga escala, a convergência para um ótimo global e a

disponibilidade de softwares eficientes. A PL tem como maior desvantagem a necessidade de o

problema e as funções objetivos serem lineares e como na operação de reservatórios existem

não linearidades, oriundas dentre outras da evaporação e da geração de energia hidroelétrica,

que devem ser desconsideradas ou utilizadas aproximações lineares para a aplicação da PL

(Yeh,1985; Labadie,2004; Rani e Moreira, 2009).

Dentre os diversos trabalhos encontrados na literatura com a aplicação de PL à

operação de reservatórios, se destacam o de Crawley e Dandy (1993) que definiram uma regra

de operação para o sistema de reservatórios abastecimento de água de Adelaide e o de Needham

et al. (2000) que determinaram uma política de operação de controle de cheias para os rios Iowa

e Des Moines.

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2.2.2 Programação Não Linear (PNL)

A PNL surge como uma alternativa à PL na otimização da operação de reservatórios

devido a vantagem de lidar com problemas não lineares. Existem diferentes técnicas de PNL,

não existindo um método único de resolução, dentre as quais Labadie (2004) destaca como mais

robustos e potentes a Programação Linear Sequencial, A Programação Quadrática Sequencial,

o Método de Lagrange e o Método do Gradiente Reduzido.

Entretanto, a PNL possuí algumas desvantagens que podem limitar sua aplicação: a não

garantia de solução ótima global (podendo convergir para um ótimo local), a necessidade da

definição uma regra de operação inicial, a velocidade e a não garantia de convergência e o custo

computacional elevado para aplica-la em problemas estocásticos (Rani e Moreira, 2009).

Na Literatura, quanto à aplicação da PNL à otimização da operação de

reservatórios, têm destaque os trabalhos de Brandao (2004) e Barros et al. (2003). Brandão

(2004) com o emprego do pacote MINOS (Murtagh e Saunders, 1987) desenvolveu um modelo

de operação de reservatórios de usos múltiplos e o aplicou à bacia do Rio São Francisco.

Enquanto Barros et al. (2003) desenvolveram um modelo de operação mensal para

o sistema de 75 usinas hidroelétricas brasileiras que utiliza PL, a partir da linearização do

problema não linear, para estimar a regra inicial de um algoritmo de Programação Linear

Sequencial e um de Programação Quadrática Sequencial e comparou os resultados dos métodos.

2.2.3 Programação Dinâmica (PD)

Após a PL, a Programação Dinâmica é o método de otimização mais utilizado na

operação de reservatórios (LABADIE,2004). Foi introduzida por Bellman (1957) baseada no

seu princípio da otimalidade: “Para um dado estado do sistema, existe uma política ótima para

os estados remanescentes que é independente da política de decisão adotada em estados

anteriores.”

Assim, a PD se caracteriza por dividir o problema em subproblemas sequenciais

que devem ser resolvidos um de cada vez para então definir a solução ótima do problema inicial

(Loucks e van Beek, 2005), desta forma o ótimo é buscado ao serem testadas todas as

combinações dos subproblemas o que garante o encontro de um ótimo global e dá flexibilidade

ao método tornando-o capaz de lidar com não linearidades e até mesmo com funções

descontinuas (BARROS, 2002).

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A PD se adequa à otimização da operação de reservatórios por esta ser um problema

de tomada de decisão em estágios sucessivos. Yakowits (1982) e Labadie (2004) fizeram uma

revisão detalhada sobre a PD, suas formas determinísticas (PDD) e estocástica (PDE) e suas

aplicações em recursos hídricos.

A forma estocástica é a que melhor representa a operação de reservatórios visto a

incerteza sobre as vazões afluentes. A PDE, diferentemente da PDD, considera a distribuição

de probabilidades da afluência para cada estágio como uma cadeia Markoviana e define a regra

de operação com base no valor esperado. Entretanto, a PDD também pode ser utilizada na

otimização da operação para determinar a política ótima de operação para um determinado

cenário de vazão afluente que p pode ser baseado, por exemplo, nas afluências médias de cada

estágio ou em um período crítico ou em uma previsão climática.

Foi observado que, por considerar todas trajetórias para cada cenário de afluência,

a PDE tem custo computacional maior que a PDD. Loucks e van Beek (2005) afirmam que os

modelos estocásticos podem ser mais eficientes que os determinísticos, porém para sistemas

muito complexos ou de grande dimensão é recomendado o uso de modelos determinísticos para

uma triagem preliminar de políticas de operação.

Além disso, Kelman et al. (1990) afirmam que a PDE, por considerar a afluência

como um processo Markoviano, não considera de forma adequada as correlações espaciais e

temporais desta variável estocástica.

Para melhor representar estas correlações e diminuir o esforço computacional,

Kelman et al. (1990) introduziram a Programação Dinâmica Estocástica Amostral (PDEA) que

adota como cenário hidrológico o período inteiro da operação e determina as probabilidades

com base na existência de previsão de vazões. A aplicação deste método necessita de um grande

número de séries de vazões afluentes que podem ser sinteticamente geradas.

Na Literatura, quanto a aplicação da PD à operação de reservatórios, se destacam

os trabalhos de Young (1967) e Hall et al. (1968) que foram os primeiros a utilizar a

programação a PDD para definir a operação ótima para sistemas com um reservatório; O de

Wyatt (1996) que desenvolveu 2 modelos de operação de reservatórios, um para geração de

energia e outro para abastecimento de água, com a utilização de PDE juntamente com um

modelo de simulação; Os de Faber e Stedinger (2001) e de Kim et al. (2007) que verificaram

para sistemas de reservatórios a eficiência da PDEA em conjunto com um sistema de previsão

de vazões; E o de Nandalal e Bogardi (2007) que discutem os limites de aplicação da PD.

Estas limitações de aplicação estão relacionadas com a principal desvantagem da

PD, o mal da dimensionalidade, que por ela buscar o ótimo ao testar todas as combinações dos

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estágios, o aumento no número de variáveis de estado ou de decisão causa um crescimento

exponencial da quantidade de combinações. O que torna a PD uma técnica de elevado custo

computacional e dificulta a sua utilização à sistemas maiores e mais complexos.

Algumas técnicas foram desenvolvidas para lidar com o mal da dimensionalidade.

Hall (1970) propôs agregar todos os reservatórios de um sistema em um único reservatório

equivalente e então encontrar a regra de operação ótima para cada reservatório com a

decomposição da encontrada para o equivalente.

Saad et al. (1996) determina a política de operação para um sistema composto de 5

hidroelétricas a partir da aplicação deste método com a incorporação de redes neurais para

melhorar a desagregação. Segundo Labadie (2004), a maior limitação desta metodologia é a

perda de informações ocorrida durante o processo de agregação dos reservatórios.

Para diminuir o custo computacional da PDD oriundo da necessidade de

discretização das variáveis de estado, Larsson (1968) propôs a Programação Dinâmica

Incremental que por partir de uma dada trajetória inicial reduz a quantidade de discretizações

exigidas. Enquanto Jacobson e Mayne (1970) desenvolveram a Programação Dinâmica

Diferencial que ao invés da discretização, utilizam soluções analíticas como a expansão de

Taylor.

Estes métodos também possuem limitações como a sensibilidade à trajetória inicial

na PDI e a necessidade da função objetivo e as restrições serem diferenciáveis para a utilização

da Programação Dinâmica Diferencial (Ayad, 2018). Ainda, segundo Labadie (2004), tentativas

de aplicação destas metodologias para modelos estocásticos não se mostraram eficientes.

Visando tornar possível o emprego da PDE para grandes sistemas de reservatórios,

Pereira e Pinto (1989) apresentaram a Programação Dinâmica Dual Estocástica (PDDE) que

evita a discretização ao tratar de forma analítica e resolver o problema iterativamente em dois

estágios (um regressivo e outro progressivo) por meio da decomposição de Benders para

aproximar as funções de custo futuro a funções lineares por partes.

A PDDE foi aplicada por Pereira e Pinto (1989) para otimizar a produção de energia

nas 39 hidroelétricas brasileiras. Tilmant et al. (2008) utilizou a PDDE em um sistema de sete

reservatórios de múltiplos usos no rio Eufrates. Atualmente, é a técnica de otimização

empregada nos modelos NEWAVE e DECOMP (Maceira et al. ,2002), desenvolvidos pela

CEPEL, que são os utilizados pelo ONS para operar o todo o sistema de produção de energia

hidrotérmica no Brasil.

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Apesar da alta velocidade de resolução e das várias aplicações para grandes

sistemas, não é recomendado o seu emprego em problemas contendendo não linearidades e

funções de custo não convexas (Lamond & Boukhtouta, 1996).

Dias et al. (2010) acrescentam que embora a PDDE seja uma das técnicas mais

rápidas de programação dinâmica, ela pode levar, em alguns casos em que as funções de custo

futuro não são estimadas devidamente, a soluções bem diferentes das encontradas pelos

métodos que percorrem todo o problema como a PDE.

2.2.4 Algoritmos Evolutivos (AE)

Também conhecidos como algoritmos de busca heurística, estas técnicas se baseiam

no processo de evolução natural (CID,2017) e tem como vantagens a flexibilidade em

representar os sistemas e a capacidade em lidar com multiobjetividade e incerteza o que os torna

uma ferramenta aplicável na otimização da operação de hidrossistemas (Rani e Moreira, 2009).

Dentre as suas diversas técnicas, tem destaque: os Algoritmos Genéticos (AG) que

se embasam nos processos da genética natural como a herença, mutação e cruzamento (Rani e

Moreira, 2009) e as baseadas em comportamento sociais ou de grupo como o “Particle Swarm

Optimization” (PSO) inspirado pela migração em conjunta das aves e pelos movimentos em

cardumes de peixes e o “Multiobjective Shuffled Complex Evolucion Metropolis” (MOSCEM)

Os AG foram introduzidos na operação de reservatórios por Esat e Hall (1994) que

mostraram o seu custo computacional reduzida comparação com a Programação Dinâmica

Diferencial. Uma forma de PSO foi utilizada por Kumar e Reddy (2007) para definir a política

ótima de um sistema de reservatórios de usos múltiplos. CID (2017) empregou o MOSCEM

juntamente com modelos de simulação para definir regras de operação para o hidrossistema

composto por reservatórios de múltiplos usos que integra a bacia do rio Jaguaribe e a

Metropolitana no Ceará.

Segundo Labadie (2004) os algoritmos evolucionários não garantem o encontro

nem mesmo de ótimos locais, sendo uteis apenas para encontrar soluções satisfatórios. Porém,

conseguem estas soluções até para situações em que outros métodos não conseguiriam

convergir ou ficariam presos em um ótimo local.

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19

2.2.5 Aprendizado de Máquina (ML)

Outro grupo de técnicas que tem destaque na otimização de hidrossistemas é o de

Aprendizado de Máquina ou “Machine Learning” (ML). Estes algoritmos melhoram

progressivamente a sua performance (aprendizado) para realizar uma tarefa ou previsão a partir

de dados existentes e realizações destas tarefas (treinamento).

Destes métodos, os mais comuns na otimização de reservatórios são os de

Aprendizagem por Reforço e as técnicas de Redes Neurais Artificiais. Lee e Labadie (2007)

utilizaram um método de Aprendizagem por Reforço, o “Q Learning”, para um sistema de dois

reservatórios e obtendo performance superior a políticas encontradas por meio de PDE e PDEA.

Raman e Chandramouli (1996) propuseram um modelo de Programação Dinâmica

com Redes Neurais para um reservatório simples e também obtiveram políticas com melhores

performances que as obtidas com o emprego de PDE.

2.3 Funções Objetivo

De acordo com Wurbs (1993): “A função objetivo é o coração de um modelo de

otimização. As funções objetivas devem retratar as prioridades e medir numericamente o

atendimento dos objetivos do sistema.

Na operação de reservatórios, as funções objetivo seguem normalmente o seguinte

formato para um e múltiplos reservatórios respectivamente (Grygier e Stedinger, 1985):

min max [𝜔 𝑇+ +∑ 𝑡, 𝑡𝑇𝑡= ]

𝑖 max [∑𝜔( ,𝑇+ )𝐾= +∑∑ ( ,𝑡, ,𝑡)𝑇

𝑡=𝐾= ]

Onde:

K é o número de reservatórios do sistema;

T é o número de intervalos de tempo do problema;

Sk,t é o volume de água armazenado no reservatório k no início do período t;

uk,t é o volume de água liberado para os diversos usos no intervalo t ou vertimento,

é denominado como variável de decisão ;

ω é o valor atribuído ao armazenamento no reservatório k após o último intervalo;

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B é o valor atribuído ao atendimento dos usos múltiplos em função do

armazenamento e da liberação.

Por esta equação, a função objetivo fica dívida em duas partes: ω, também chamado

de função de custo final, que serve para inserir na função objetivo o estado final do sistema e

evitar o esvaziamento dos reservatórios; e o somatório dos benefícios e/ou custos (não

necessariamente econômicos) de cada intervalo gerados pelas variáveis de decisão como as

vazões liberadas para os usos múltiplos e o vertimento.

Alguns dos usos da água e a formulação matemática para inclui-los nas funções

objetivo foram revisados por Wurbs (1993) e Brandão (2004):

Suprimento de água para abastecimento humano e industrial:

Pode ser representado pela minimização dos desvios quadráticos em relação a uma

curva de demanda estabelecida:

𝑖 ∑∑( ,𝑡 − ,𝑡)²𝑇𝑡= 𝐾

=

em que, QAB e DAB são respectivamente a vazão liberada e a demanda total para o

abastecimento humano à jusante do reservatório k no tempo t. Pode ser utilizada uma equação

semelhante para a demanda por água para irrigação.

Diminuição das perdas por evaporação e vertimento:

A evaporação é uma função do volume do reservatório e o vertimento é uma das

variáveis de decisão, assim a inclusão da minimização destes dois fatores na função objetivo se

daria por:

𝑖 ∑∑( ,𝑡 ,𝑡, ,𝑡+ + ,𝑡)𝑇𝑡=

𝐾=

onde, e é lâmina evaporada mensal média para o reservatório k e o período t; Am é a área

superficial média no intervalo respectivamente a vazão liberada e a demanda total para o

abastecimento urbano para o reservatório k no tempo t

Geração de energia hidroelétrica:

Pode ser aplicada de forma simples com a maximização da vazão turbinada (uma

das variáveis de decisão):

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∑∑ ,𝑡𝑇𝑡=

𝐾=

onde QT é a vazão que passa nas turbinas do reservatório k no intervalo de tempo t.

Esta forma simples de representar a geração de energia não considera o tradeoff

existente entre a diminuição de volume e a geração de energia, para isto devem ser utilizadas

equações de transformação de energia potencial em elétrica que serão apresentadas na sessão

de Metodologia.

Controle de Cheias:

Normalmente é considerado na otimização como uma restrição da vazão defluente

máxima, porém pode ser adicionado à função objetivo por meio da minimização dos desvios

quadráticos em relação à uma vazão defluente considerada a máxima em que não se tenha

problemas de inundação:

𝑖 ∑∑( ,𝑡 − ,𝑡)²𝑇𝑡= > 𝐾

=

onde, QD é a vazão defluente e QC é a vazão estabelecida como limite para controle de cheias.

Também existem outros casos em que ao invés de otimizar o atendimento à

demandas ou produção de energia, se busca diminuir os custos do sistema, como a minimização

dos custos de bombeamento para reservatórios de abastecimento e a minimização da geração

de energia térmica para o Sistema hidrotérmico do Brasil.

Para sistemas de reservatórios de múltiplos usos, os objetivos devem ser

combinados em uma única função multiobjectivo de forma similar à equação 1. O que não é

uma tarefa simples devido às diferentes prioridades do hidrossistema e as diferentes unidades

dos objetivos.

Na Literatura, se encontram três maneiras de realizar uma otimização

multiobjectivo (Loucks et al., 1981; Wurbs, 1993; Brandão, 2004). A primeira consiste em

transformar todos os objetivos em valores econômicos (custos ou benefícios) e maximizar o

valor presente ou futuro total do sistema.

Apesar da praticidade de trabalhar com uma só unidade (moeda) e de o operador

não ter que definir os usos prioritários do hidrosssistema, este método apresenta dificuldades

quanto ao processo de valoração visto que alguns objetivos da operação de reservatórios não

são fáceis de ter seu valor econômico estimado (shadow pricing) como a qualidade da água, a

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preservação dos ecossistemas e o abastecimento urbano; e existe perda de valor das decisões

futuras devido às taxas de interesse utilizadas.

A segunda maneira é a adoção do método das ponderações que parametriza os

objetivos de modo que fiquem sem unidade e adiciona um peso para cada um deles. A variação

destes pesos permite observar o tradeoff existente entres os diversos objetivos. Este método

apresenta como principal dificuldade a subjetividade dos pesos, ficando à critério do operador

definir os pesos que melhor representam as prioridades do hidrossistema.

Já a terceira maneira é o método das restrições que consiste em realizar uma

otimização para apenas um objetivo e considerar os outros como restrições que devem ser

atendiadas. O tradeoff pode ser avaliado ao se alterar o valor de atendimento dos objetivos de

cada restrição. O método das restrições tem como desvantagem o fato de operador ter que

terminar as taxas de atendimento dos usos secundários e realizar a otimização de fato para

apenas um dos usos do sistema.

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3 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo deste trabalho corresponde à Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco (BHSF) ilustrada pela Figura 1 que apresenta o traçado da bacia em planta e as suas

regiões fisiográficas.

Figura 1- Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

Fonte: ANA (2016)

A BHSF possui área de aproximadamente 639.219 km² o que equivale a cerca de

8% do país. O Rio São Francisco possui 2.863 km de comprimento, estende-se por seis Estados

Brasileiros desde a nascente em Minas Gerais até a sua foz que divide Alagoas e Sergipe (ANA,

2016).

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Conforme pode ser observado na Figura 1, a bacia é dividida em quatro regiões

fisiográficas que também são as unidades de planejamento de recursos hídricos: Alto (SFA),

Médio (SFM), SubMédio (SFSM) e Baixo (SFB) São Francisco.

A população da bacia é de cerca de 15 milhões de habitantes ou 8.5% da população

nacional. A qual está distribuída de forma desigual com o Alto São Francisco concentrando

mais de 58% da população total da bacia (ANA, 2016).

A economia da região é bastante diversificada com presença de produção industrial,

agricultura por irrigação, mineração, turismo entre outros. Da mesma forma que a população, a

atividade econômica está distribuída de forma desigual ao longo da bacia com o Alto São

Francisco possuindo a maior parte da atividade industrial e o restante da bacia se caracterizando

por intensa atividade agrícola.

O que pode ser verificado na Figura 2 que traz a proporção de ocupação de cada

setor da economia em cada região fisiográfica e a total na bacia para o ano de 2010.

Figura 2 - Ocupação por tipo de atividade na Bacia do Rio São Francisco (2010)

Fonte: ANA (2016)

Além disso, o rio São Francisco é estrategicamente importante para o setor elétrico

brasileiro com potencial hidroelétrico estimado em 26 GW (cerca de 11% do total brasileiro)

dos quais já foram instalados 10,6 GW em um sistema que conta com grandes usinas (Mendes

et al., 2015; ANA, 2016).

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Quanto às condições climáticas, são bastante variáveis ao longo da bacia, que

possui nascente úmida com precipitação anual média de 1600 mm e conforme o rio adentra o

Semiárido Nordestino, as precipitações vão diminuindo, havendo regiões com médias anuais

menores que 500 mm (Mendes et al., 2015)

Cerca de 58% da bacia se encontra nesta região de clima semiárido, caracterizada

não somente pelo baixo índice de precipitação e elevadas taxas de evapotranspiração, mas

também pela existência de uma grande variabilidade climática interanual, o que resulta na

ocorrência de períodos de escassez hídrica.

Com relação às vazões, o Rio São Francisco é quase completamente regularizado

pelas grandes usinas e possui vazão média da série histórica (1931-2013) 2768.7 m³/s com

permanência de 95% do tempo acima de 800.4 m³/s (ANA, 2016)

3.1 Usos Múltiplos da Água

Devido a Economia diversificada com presença de indústrias, minas, áreas de

irrigação e usinas de produção de energia, a BHSF é caracterizada pela existência dos usos

múltiplos da água.

Dentre estes usos, os consuntivos estão apresentados na Tabela 1 que traz a

demanda de água e a proporção do total para os principais usos consuntivo na Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco para o ano de 2010 exceto a irrigação que é a verificada

paro ano de 2013.

Tabela 1 – Demanda dos principais usos consuntivos para o ano de 2010.

Uso Demanda

Vazão (m³/s) Proporção Abastecimento urbano 31,3 10% Abastecimento rural 3,7 1% Irrigação (2013) 244,4 79% Criação animal 10,2 3% Abastecimento industrial 19,8 6% Total 309,4 100%

Fonte: ANA (2016).

Conforme a Tabela 1, a irrigação se destaca como o principal uso consuntivo da

água na bacia sendo responsável por 79% da demanda hídrica total.

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Quanto aos usos não consuntivos, se destaca a produção de energia hidroelétrica

em que as 65 usinas presentes na bacia correspondem a cerca de 92% do potencial instalado do

subsistema Nordeste do Sistema Interligado Nacional (SIN) e produzem em média

aproximadamente 5.000 MW garantidos por uma vazão turbinada média de 2000 m³/s na calha

principal do Rio São Francisco (ANA, 2016).

Além disso, a BHSF é uma importante via de navegação comercial com 576 km

navegáveis tendo transportado 49 mil toneladas de carga em 2013(ANA, 2013). É, também um

roteiro de turismo ecológico que está diretamente atrelado às condições do Rio São Francisco

e suas paisagens naturais.

Apesar de ser um uso não consuntivo, a produção de energia hidroelétrica exige a

liberação de grandes volumes de água dos reservatórios para as turbinas o que causa conflito

com os outros usos da água durante estações secas.

3.2 Hidrossistema do São Francisco

Apesar de existirem 65 usinas, dos 10,6 GW instalados, 10,5 GW estão nas grandes

usinas que dentre as quais estão os principais reservatórios de regularização de vazões da bacia.

Desta forma, o hidrossistema responsável pelo suprimento hídrico e energético da BHSF pode

ser representado conforme a Figura 3 que ilustra o esquema do hidrossistema da BHSF, os

potenciais instalados de cada usina, suas relações de afluência e sua localização na bacia.

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Figura 3 - O Hidrossistema do Rio São Francisco

Fonte: Retirado de Mendes et al. (2015).

Na Figura 2, as usinas foram classificadas dependendo do seu tipo de operação em

usinas de regularização de vazões (Storage reservoir - os reservatórios das usinas têm

capacidade e função de regularização plurianual de vazões) e usinas à fio d’água (Run-of-river

reservoir – usinas em que não se tem regularização de vazões e a sua vazão defluente é igual à

afluente não havendo, assim, armazenamento).

Assim, a vazão que é turbinada no Complexo Paulo Afonso-Moxotó (com 4 MW

de potência instalada) é determinada na usina de regularização anterior: Itaparica.

Cabe ressaltar que o Complexo Paulo Afonso – Moxotó é composto por 5 usinas

(Paulo Afonso 1, 2, 3 e 4 e Moxotó) que são tradadas como uma única devido à proximidade

geográfica e por serem usinas que não regularizam vazões.

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A Tabela 2 traz um resumo de capacidade de armazenamento e potência dos

reservatórios deste hidrossistema.

Tabela 2 – Resumo das Usinas do São Francisco

Usina Potência

Instalada (MW) Capacidade de

Armazenamento (hm³)

Retiro Baixo 82 41 Três Marias 396 15278 Queimado 105 389 Sobradinho 1050 28669 Itaparica 1500 3549 Complexo Paulo Afonso-Moxotó 4283 158 Xingó 3162 65

Fonte: Mendes et al. (2015)

Devido à sua grande capacidade de armazenamento, os reservatórios de Três

Marias, Sobradinho e Itaparica são os principais responsáveis pela regularização de vazões e

controle de cheias no rio São Francisco.

A operação deste hidrossistema é realizado pelo ONS que realiza a operação de

todas as usinas do SIN de forma integrada com o foco em reduzir a necessidade de produção

de energia termoelétrica.

A não consideração dos usos múltiplos na operação do hidrossistema da BHSF é

uma das fontes de conflito por água na bacia durante as estações secas.

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4 METODOLOGIA

Nesta sessão serão apresentados os procedimentos metodológicos adotados para

alcançar os objetivos propostos.

4.1 Estratégia Metodológica

Este trabalho irá aplicar e analisar a eficiência de duas técnicas de otimização

(Programação Dinâmica Estocástica e Programação Dinâmica Dual Estocástica) para o

hidrossistema do Rio São Francisco utilizando a linguagem Julia e considerando os múltiplos

usos da água na bacia.

Para isto será utilizado o procedimento metodológico dividido em etapas conforme

o panorama ilustrado pela Figura 4.

Figura 4 – Panorama Metodológico

Fonte: Autor (2018).

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O hidrossistema modelado será o composto pelos reservatórios e usinas de Três

Marias, Sobradinho e Itaparica juntamente com suas demandas hídricas para irrigação. As

razões da escolha deste hidrossistema estão detalhadas no tópico 4.4.

As técnicas de otimização serão aplicadas para este hidrossistema (Três Marias,

Sobradinho e Itaparica), para um subsistema composto por apenas dois reservatórios (Três

Marias e Sobradinho) e para um único reservatório (Sobradinho).

Será considerada uma função objetivo contendo o suprimento da demanda de

irrigação e a produção de energia por meio do método das ponderações.

A otimização se dará para um período de operação de um ano com passo de decisão

mensal, desta forma o problema é composto por 12 estágios.

O emprego estas técnicas se darão por meio do pacote

StochDynamicPromgramming desenvolvido para a Linguagem Julia por Vincent Leclère

(2016). O pacote contém entre as suas funções tanto a Programação Dinâmica Estocástica

(PDE) quanto a Programação Dinâmica Dual Estocástica (PDDE).

Devido à dificuldade da PDDE em trabalhar com não linearidades, tanto a dinâmica

do problema quanto a função objetivo serão linearizadas antes de sua aplicação.

A análise de desempeno destas técnicas de otimização se dará pela medição do

tempo de processamento e pela aplicação das políticas de operação definidas por estas técnicas

para simular um cenário úmido, um médio e um seco (com relação às vazões afluentes).

Os tópicos seguintes trazem uma descrição mais detalhada dos procedimentos

adotados por este trabalho.

4.2 Base de Dados

Para a modelagem e otimização do hidrossistema foram dados referentes às vazões

afluentes, características de reservatórios e usinas, lâminas evaporadas médias, demandas de

irrigação e restrições operativas.

4.2.1 Vazões Afluentes

Foram obtidas as séries de vazões naturais afluentes médias mensais do ONS para

os reservatórios de Três Marias, Sobradinho e Itaparica. Estas séries se referem ao período de

janeiro de 1931 a dezembro de 2015.

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Porém, para a aplicação destas séries de vazão nos modelos de otimização foi

necessária a transformação das vazões naturais em incrementais: para Três Marias, como o seu

reservatório à montante foi desconsiderado do hidrossistema, suas vazões incrementais foram

adotadas como iguais às naturais; para Sobradinho já existia uma série de vazões incrementais

da ONS e esta foi a utilizada; e para Itaparica foi considerada a subtração entre as suas vazões

naturais e às de Sobradinho por ser o reservatório imediatamente à montante.

Foi observado uma falha nos dados de vazão com relação às naturais de Itaparica

que em alguns períodos eram inferiores às de Sobradinho mesmo estando à jusante. Para estes

períodos a vazão incremental em Itaparica foi considerada 0.

4.2.2 Características dos Reservatório

Para a modelagem do hidrossistema são necessários dados dos reservatórios Três

Marias, Sobradinho e Itaparica. Estes dados são referentes aos volumes máximo e mínimo,

a Curva Cota-Área-Volume e as lâminas evaporadas médias mensais. Foram obtidos junto à

ONS.

Os volumes máximo e mínimo juntamente com o volume útil para os reservatórios

modelados estão apresentados na Tabela 3

Tabela 3 – Volumes dos Reservatórios

Reservatório Volume Máximo

(hm³) Volume Mínimo

(hm³) Volume Útil

(hm³) Três Marias 19528 4250 15278 Sobradinho 34116 5447 28669 Itaparica 10782 7234 3548

Fonte: ONS (2017)

O volume máximo representa a capacidade máxima do reservatório, o volume

mínimo é o referente à cota do dispositivo de tomada d’água também denominado de volume

morto por não estar disponível à captação. O volume útil ou capacidade de armazenamento

é o volume sobre o qual o operador tem controle e está situado entre os volumes máximo e

mínimo.

A Curva Cota-Área-Volume determina a relação entre essas três características e é

utilizada na operação para determinar a cota e a área de superficial de um reservatório dado

o volume que é armazenado por ele em um período.

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As Cota-Área-Volume fornecidas pelo ONS estão na forma de dois polinômios de

quarto grau: o Polinômio de Cota-Volume e o de Área-Cota que determinam respectivamente

a Cota (nível da água) para um dado Volume e a Área superficial para uma dada Cota da

seguinte forma: 𝑌 = + 𝑉 + 𝑉 + 𝑉 + 𝑉 = + 𝑌 + 𝑌 + 𝑌 + 𝑌

em que,

Y é o nível da água em metros;

V é o volume armazenado em m³;

A é a área superficial em km²;

α são os coeficientes do Polinômio de Cota-Volume;

são os coeficientes do Polinômio de Área-Volume;

Os polinômios obtidos junto à ONS para os reservatórios modelados estão

apresentados na Tabela 4

Tabela 4 – Polinômios Cota-Volume e Área-Cota

Reservatório Polinômio α0 α1 α2 α3 α4

Três Marias Cota-Volume 5.30E+02 6.08E-03 -4.84E-07 2.20E-11 -3.85E-16

Área-Cota 1.21E+07 -8.93E+04 2.48E+02 -3.06E-01 1.42E-04

Sobradinho Cota-Volume 3.74E+02 1.40E-03 -5.35E-08 1.16E-12 -9.55E-18

Área-Cota -5.04E+05 4.91E+03 -8.97E+00 -1.89E-02 4.65E-05

Itaparica Cota-Volume 2.76E+02 6.76E-03 -8.87E-07 7.07E-11 -2.24E-15

Área-Cota -2.00E+05 1.82E+03 -4.44E+00 -1.92E-03 1.29E-05

Fonte: ONS (2017)

Estes dois polinômios são usados em sequência para determinar uma Área de

superfície a partir de um Volume o que é necessário para o cálculo do Volume Evaporado.

Para o cálculo do Volume Evaporado também são necessárias as Lâminas Líquidas

Evaporadas Mensais Médias Mensais dos reservatórios que representam a diferença entre as

alturas precipitadas e evaporadas médias em um mês do ano. Também foram adquiridas junto

à ONS e estão apresentadas na Tabela 5 em milímetros.

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Tabela 5 - Lâminas Líquidas Evaporadas Mensais Médias Mensais (mm)

Reservatório Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Três Marias -1 -2 28 47 61 61 58 49 49 35 21 22 Sobradinho 171 109 61 56 108 104 165 203 234 267 245 223 Itaparica 163 88 47 35 55 41 81 138 190 227 235 202

Fonte: ONS (2017)

Observa-se que os reservatórios Sobradinho e Itaparica possuem lâminas de

evaporação bem maiores que Três Marias por estarem no semiárido.

O produto entre a área superficial média de um reservatório em um mês pela

respectiva lâmina líquida evaporada média resulta no Volume Evaporado.

4.2.3 Características das Usinas

As características das usinas são necessárias para determinar a potência produzida

para uma dada vazão turbinada. Estas características são: Potência Instalada, Produtibilidade

Específica, Perdas Hidráulicas, Influência do Vertimento no Canal de Fuga, Polinômio de

Vazão-Nível Jusante e Polinômio Turbinamento Máximo-Queda. Estes dados também foram

adquiridos junto ao ONS.

A Tabela 6 mostra as Potências Instaladas, as Produtibilidades Específicas, as

Perdas Hidráulicas e se o vertimento influência no canal de fuga para as usinas de Três Marias,

Sobradinho e Itaparica obtidas junto a ONS. Enquanto a Tabela 7 traz os Polinômios de Vazão-

Nível Jusante e Turbinamento Máximo-Queda para os mesmos reservatórios, porém retiradas

do trabalho de Brandão (2004).

Tabela 6 – Características das Usinas

Usina Potência

Instalada (MW)

Produtividade Específica

(MW/m3/s/m)

Perda Hidráulica (m)

Nível Médio do Canal de Jusante

(m) Três Marias 396 0.00856 0.6 515.7 Sobradinho 1050 0.00902 0.5 362.5 Itaparica 1500 0.00893 0.8 251.5

Fonte: ONS (2017)

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Tabela 7 – Polinômio de Cota do Canal de Fuga e Turbinamento Máximo

Usinas Polinômio A0 A1 A2 A3 A4

Três Marias Vazão-Nível Jusante 5.15E+02 1.61E-03 -2.55E-07 2.89E-11 -1.18E-15 Turb. Máximo-Queda 374.00 9.12 - - -

Sobradinho Vazão-Nível Jusante 3.60E+02 1.96E-03 -2.97E-07 2.51E-11 -7.70E-16 Turb. Máximo-Queda 1730.00 78.10 - - -

Itaparica Vazão-Nível Jusante 2.52E+02 0.00E+00 0.00E+00 0.00E+00 0.00E+00 Turb. Máximo-Queda 1460 29.8 - - -

Fonte: Brandão (2004)

O Polinômio Vazão-Nível Jusante indica a cota em metros (nível) do canal de fuga

para uma dada vazão defluente (turbinamento + vertimento) em m³/s e o Polinômio

Turbinamento Máximo-Queda define a vazão máxima em m³/s que pode ser turbinada para uma

altura de queda em metros. Estes polinômios são utilizados de forma similar às equações 5 e 6.

A aplicação desses dados na determinação da energia produzida será explicada

detalhadamente no tópico 4.3.2 Modelagem das Usinas.

4.2.4 Demandas para Irrigação

Para inserir a irrigação na modelagem do hidrossistema são necessárias não

somente as demandas, mas também sua localização em relação aos reservatórios.

Estes valores foram retirados do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do São

Francisco (ANA,2016) para o ano de 2013 e estão sintetizados na Tabela 8.

Tabela 8 - Demandas para Irrigação por Região Fisiográfica

Região Fisiográfica Demanda para Irrigação (m³/s)

Proporção

(%)

Alto 25.4 11%

Médio 136.7 57%

SubMédio 52.4 37%

Baixo 22.9 5%

Total 244.4 100%

Fonte: ANA (2016)

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Também é necessário o fator de sazonalidade que distribui esta demanda média ao

longo dos meses do ano. Este fator foi retirado de Lopes et al. (2002) e está apresentado na

Tabela 9.

Tabela 9 – Fator de Sazonalidade para as Demandas de Irrigação

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 1.144 0.877 0.839 0.815 0.912 0.839 0.884 1.001 1.113 1.286 1.189 1.101

Fonte: Lopes et al. (2002)

4.2.5 Restrições Operativas

Para os reservatórios da bacia existem restrições operativas de vazões mínimas e

máximas a jusante. As restrições mínimas têm o objetivo de manter a navegabilidade e o

abastecimento humano e as máximas evitar inundações nas populações próximas ao rio. Foram

utilizadas as restrições mínimas que serão instauradas por uma resolução da ANA a ser

publicada este ano e as máximas foram as definidas pelo ONS.

Estas restrições podem ser visualizadas na Tabela 10.

Tabela 10 – Restrições Operativas dos Reservatórios da Bacia do São Francisco

Reservatório Vazão Mínima (m³/s)

Vazão Máxima a Jusante (m³/s)

Três Marias 100 2500 Sobradinho 700 8000 Itaparica 700 8000

Fonte: ANA (2018) e ONS (2018)

4.3 Modelagem do Hidrossistema

A modelagem do hidrossistema consiste em traduzir o problema da operação de

reservatórios para a linguagem matemática para que possam ser aplicadas as técnicas de

otimização.

O hidrossistema modelado por este trabalho foi o composto pelos reservatórios e

usinas de Três Marias, Sobradinho e Itaparica. Os outros reservatórios foram desconsiderados

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por serem muito menores em relação a estes ou por serem usinas à fio d’agua em que não há

decisão sobre as vazões e volumes.

Ainda, para simplificar o problema, o único uso consuntivo considerado foi a

irrigação por representar cerca de 79% do total, o que resultou no hidrossistema ilustrado pela

Figura 5. Esta simplificação foi feita de forma a facilitar a composição da função objetivo e

evitar a criação de variáveis de decisão adicionais que poderiam tornar o problema

dimensionalmente inviável para ser resolvido pela PDE.

Figura 5 - O Hidrossistema Modelado

Fonte: Autor (2018)

4.3.1 Modelagem dos Reservatórios

Os reservatórios foram modelados conforme o esquema de usina hidroelétrica

apresentado por Brandão (2004) e reproduzido na Figura 6

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Figura 6 – Esquema de Usina Hidroelétrica

Fonte: Brandão (2004)

A partir deste esquema, é possível conceber a equação do balanço de massa hídrica

para os reservatórios como:

𝑡+ = 𝑡 + 𝑡 − , 𝑡+ , 𝑡 − − −

com: 𝑉 𝑖 ≤ ≤ 𝑉 á𝑥

onde,

s é a variável de estado: o armazenamento no reservatório;

w é a variável estocástica, a afluência ao reservatório no período t: a vazão incremental;

Evap é o volume evaporado no período t

u1, u2 e u3 são as variáveis de decisão: os Volumes, respectivamente, Turbinado, Destinado aos

Usos Consuntivos e Vertido no período t;

Vmin e Vmáx são os volumes máximo e mínimo do reservatório

O volume evaporado (Evap) é calculado como:

𝑡 = 𝑡 ∗ 𝑡 em que,

et é a lâmina líquida evaporada para o período t

Amt é a área superficial média do reservatório durante o período t

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A área superficial média é dada pela média entre as áreas no início e no fim do

intervalo:

𝑡 = [ 𝑡 + 𝑡+ ]/

Entretanto para evitar um processo iterativo (devido a evaporação ser função do

volume final e o volume final ser função da evaporação) foi considerada a aproximação de a

área média ser igual à inicial: 𝑡 = 𝑡

Em síntese, a equação 7 determina o valor do próximo estágio para as decisões e

valor do estágio atual e define a dinâmica do problema.

4.3.2 Modelagem das Usinas

Seguindo o mesmo esquema apresentado na Figura 6, produção de energia de uma

usina hidroelétrica é uma função da vazão destinada às turbinas e da sua altura de queda da

seguinte forma: = 𝜂 ∗ ∗ 𝐻

em que,

P é a potência média produzida pela usina no intervalo t em MW;

η é a produtibilidade específica da usina em MW/m³/s/m, retirada da Tabela 6;

u1 é a vazão turbinada em m³/s;

H é a Altura de Queda Líquida em metros.

A Altura de Queda Líquida (H) é calculada pela diferença entre a Altura de Queda

Bruta (HB) e a perda de carga hidráulica nas tubulações que levam a água até as turbinas (PCH):

𝐻 = 𝐻 − 𝐻

onde,

HB é a altura de queda Bruta em metros;

PCH é a perda de carga hidráulica nas tubulações em metros, retirada Tabela 6.

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A Altura de Queda Bruta é a diferença entre o nível de água médio do reservatório

no intervalo de tempo e o do canal de jusante: 𝐻 = − 𝐽 onde,

NAR é o nível da água médio no reservatório em metros;

NAJ é o nível da água médio no canal de jusante em metros.

O nível da água no canal de jusante é calculado a partir da vazão defluente

(turbinada mais vertida): 𝐽 = + + + + com: = +

em que,

DEF é a vazão defluente em m³/s, dada como a soma das vazões turbinada e vertida;

α são os coeficientes do Polinômio Vazão-Nível Jusante (Tabela 7).

As turbinas de uma hidrelétrica possuem capacidade máxima de turbinamento que

é função da altura de queda bruta. Esta limitação deve ser considerada no problema como a

restrição: ≤ á𝑥 𝐻

com: á𝑥 = + 𝐻

em que,

umáx é a vazão turbinada máxima em m³/s, função da altura de queda;

α são os coeficientes do Polinômio Turbinamento Máximo-Queda (Tabela 7).

4.3.3 Modelagem das Demandas para Irrigação

Foi considerado que Três Marias seria a responsável por atendar a demanda para

irrigação do SFA, Sobradinho do SFM e Itaparica do SFSB e do SFB. Desta forma, será

considerada na modelagem do hidrossistema as demandas médias anuais para cada reservatório

conforme a Tabela 11.

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Tabela 11- Demandas de Irrigação dos Reservatórios

Reservatório Demanda

para Irrigação (m³/s)

Três Marias 25.4 Sobradinho 136.7 Itaparica 82.2 Total 244.4

Fonte: Autor com dados da ANA (2016)

Esta demanda média sofre variações ao longo do ano que foram representadas por

meio do fator de sazonalidade trazido na Tabela 9 o que resultou nas demandas médias mensais

para o hidrossistema apresentadas na Tabela 12 e graficamente como curvas de demanda na

Figura 7.

Tabela 12 - Demandas Mensais de Irrigação

Reservatório Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Três Marias 29.1 22.3 21.3 20.7 23.2 21.3 22.5 25.5 28.3 32.7 30.3 28.0 Sobradinho 156.4 119.9 114.7 111.4 124.7 114.7 120.8 136.8 152.1 175.8 162.5 150.5 Itaparica 94.1 72.1 69.0 67.0 75.0 69.0 72.7 82.3 91.5 105.7 97.8 90.5

Fonte: Autor (2018)

Figura 7- Curva de Demanda Para a Irrigação

Fonte: Autor (2018).

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As curvas de demanda também representam uma restrição da operação, já que a

vazão destinada à irrigação na operação não deve ser maior do que a sua demanda. A restrição

é dada por: 𝑡 ≤ 𝑖 𝑖 𝑡 em que,

u2 é a vazão destinada à irrigação no intervalo t;

Dirrig é a demanda de irrigação no período t.

4.3.4 Modelagem da Operação do Hidrossistema

O problema pode ser representado como o processo de decisões em estágios que

tem como dinâmica de atualização da variável de estado a equação do balanço hídrico.

Ainda, como existem três reservatórios no hidrossistemas, devem ser consideradas

como varáveis de estado diferentes com suas equações de balanço hídrico para cada estágio.

Como os reservatórios estão em série as vazões defluente do reservatório à

montante devem ser somadas na equação do balanço.

Para este trabalho, foi considerada a operação para o horizonte de um ano com passo

mensal resultando em um problema com 12 estágios.

Assim a dinâmica do problema a ser otimizado se torna o balanço hídrico realizado

para os três reservatórios em série:

{ 𝑡+ = 𝑡 + 𝑡 − , 𝑡 − 𝑡 − 𝑡 − 𝑡 𝑡+ = 𝑡 + 𝑡 − , 𝑡 − 𝑡 − 𝑡 − 𝑡 + 𝑡 + 𝑡 𝑡+ = 𝑡 + 𝑡 − , 𝑡 − 𝑡 − 𝑡 − 𝑡 + 𝑡 + 𝑡 em que,

s1, s2 e s3 são as variáveis de estado: os armazenamentos nos reservatórios 1, 2 e 3

(respectivamente, Três Marias, Sobradinho e Itaparica);

w1, w2 e w3 são as variáveis estocásticas, as vazões incrementais aos reservatórios 1,2 e 3;

Evap é o volume evaporado no período t para cada reservatório;

u1, u4 e u7 são as decisões quanto aos turbinamentos, respectivamente, nos reservatórios 1,2 e

3;

u2, u5 e u8 são as decisões quanto às vazões destinadas à irrigação, respectivamente, nos

reservatórios 1,2 e 3;

u3, u6, u9 são as decisões quanto aos vertimento, respectivamente, nos reservatórios 1,2 e 3.

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Essa dinâmica deve ser resolvida do tempo t=1 (janeiro) até o tempo t=12

(dezembro) e tem como potência produzida de energia e demandas de irrigação atendidas em

um estágio t respectivamente:

{ 𝑡 = ∑𝜂 ∗ [ + − ∗ ]𝑡 ∗ 𝐻 ,𝑡=𝑖 𝑡 =∑ [ + − ∗ ]𝑡=

onde,

P é a potência média produzida no intervalo t em MW;

H é a altura de queda líquida para o reservatório k no tempo t;

Qirr é a vazão total destinada à irrigação pelo hidrossistema no intervalo t.

Também deve obedecer às restrições operativas, volumes máximos e mínimos dos

reservatórios, vazão turbinada máxima e vazão máxima para a irrigação.

Com a utilização desta dinâmica na otimização, o problema tem três variáveis de

estado, nove variáveis de decisão e doze estágios.

4.4 Função Objetivo

O coração da otimização, trata-se de definir os critérios e prioridades do

hidrossistema que sirvam de medida de eficiência da política de operação a ser otimizada. A

função objetivo de objetivo elaborada neste trabalho considera a irrigação, a produção de

energia e o volume nos reservatórios no final da operação.

4.4.1 Irrigação

Como objetivo para a irrigação, foi considerado a minimização das demandas não

abastecidas (minimizar o déficit de abastecimento). Este déficit é parametrizado com base no

seu valor máximo para que a função varie de 0 a 1 em cada estágio do problema. O que é

representado para um reservatório:

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= ∑ 𝑖 𝑖 𝑡 − 𝑡 / 𝑖 𝑖 𝑡𝑡=

onde,

f é a função a ser minimizada;

Dirrig é a demanda de irrigação para o mês t;

u2 é a vazão destinada à irrigação para o intervalo t.

Para que a função continue variando de 0 a 1 em cada estágio ao considerar todos

os reservatórios do hidrossistema e mantendo as diferenças de dimensão entre as suas demandas

para irrigação foi proposto a multiplicação por um parâmetro (uma forma de ponderação).

Este parâmetro varia para cada reservatório com a mesma proporção que a demanda total da

bacia e a soma de seus valores é 1. O parâmetro é apresentado na Tabela 13.

Tabela 13 – Parâmetro

Reservatório Demanda para Irrigação (m³/s)

Três Marias 25.4 0.1

Sobradinho 136.7 0.6

Itaparica 82.2 0.3

Total 244.4 1.0

Fonte: Autor (2018)

Assim, a função a ser minimizada considerando o sistema de reservatórios é dada

por:

= ∑∑𝜆 𝑖 𝑖 ,𝑡 − ,𝑡 / 𝑖 𝑖 ,𝑡=𝑡=

O valor desta função varia de 0 a 1 em cada estágio (0 representa o total

abastecimento e 1 total desabastecimento das demandas de irrigação) e de 0 a 12 após todos os

estágios.

A minimização desta função será um dos componentes da função objetivo deste

trabalho.

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4.4.2 Produção de Energia

A produção de energia foi considerada na função objetivo de forma análoga à

irrigação, com parametrização em relação ao potencial instalado. O que resultou para um

reservatório:

= ∑ 𝑖 − 𝑡 / 𝑖 𝑡𝑡=

em que,

Pinstal é o potencial instalado no reservatório em MW;

P é a potência média produzida no reservatório pela vazão turbinada u1;

u1 é a vazão turbinada pelo reservatório no intervalo t.

Da mesma forma que para a irrigação, foi adotado um parâmetro para considerar o

sistema de reservatórios mantendo a variação de 0 a 1 e as dimensões das usinas. O parâmetro

adotado foi e é baseado na proporção em relação à potência instalada. Seus seus valores estão

na Tabela 14.

Tabela 14 – Parâmetro

Usina Potência Instalada (MW)

Três Marias 396 0.1 Sobradinho 1050 0.4 Itaparica 1500 0.5 Total 2946 1

Fonte: Autor (2018)

O que resulta na seguinte função a ser minimizada para o sistema de usinas:

= ∑∑μ 𝑖 − ( ,𝑡) / 𝑖=𝑡=

O valor desta função também varia de 0 a 1 em cada estágio (0 representa o total

abastecimento e 1 total desabastecimento das demandas de irrigação) e de 0 a 12 após todos os

estágios.

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Desta forma as duas funções são adimensionais e variam no mesmo intervalo, o que

facilita a sua combinação e permite adicionar um valor adimensional para representar o valor

do armazenamento no fim da operação.

4.4.3 Volume Armazenado ao Final da Operação

O armazenamento ao fim do último estágio pode ser considerado na função objetivo

como uma função de custo final (ω). Foi determinado uma função ω de acordo com a distância

entre o armazenamento final e metade capacidade do reservatório de forma que penalizem as

políticas de operação que esvaziem o reservatório, caso o armazenamento fosse maior que

metade da capacidade, o custo final seria nulo. Assim ω para um reservatório é definido como: ω = max [ ; ∗ . ∗ 𝑉ú𝑡𝑖 − 𝑇+ ] em que

sT+1 é o volume no final da operação de um reservatório em hm³.

Ao final da operação, ω possuí um valor para cada reservatório que varia de 0 a 1.0

Da mesma forma que para os outros objetivos, foi inserido um peso ϑ conforme a

Tabela 15 para representar a diferença de dimensões entre os reservatórios e poder soma-los.

Tabela 15 - Parâmetro ϑ

Reservatório

Capacidade de Armazenamento (hm³)

ϑ

Três Marias 15278 0.3

Sobradinho 28669 0.6

Itaparica 3548 0.1

Total 47495 1.0

Fonte: Autor (2018).

Visto a soma total dos outros objetivos ter valor máximo 12 e o custo final possuir

no máximo valor de apenas 1 (o que representaria 1/13 da função objetivo final), foi adotado

um peso a ser multiplicado pelo custo final que aumente a sua prioridade dentro da função

objetivo.

Assim, o Custo Final do Hidrossistema (Ω) deverá ser incluído na função objetivo

da seguinte forma:

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Ω = ∑𝜗 ω=

Para as análises deste trabalho, foi utilizado, ad hoc, peso igual a 2. Também foram

avaliados o impacto da escolha deste peso.

4.4.4 Função Objetivo Final

Para combinar estes objetivos em uma só função objetivo, foi utilizado o método

das ponderações. Foram atribuídos os pesos α e para, respectivamente, a produção e energia

e a irrigação.

Uma vez que estes objetivos já eram adimensionais, não existem problemas com

unidades ao soma-los.

Para manter o valor numérico dos objetivos (de 0 a 12 ao fim do intervalo) foi

determinado que a soma de α e deve ser 1. O que resultou na seguinte função objetivo final

para o hidrossistema (FO):

= min [ γ∑ 𝜗 ω= + ∑∑μ 𝑖 − ( ,𝑡)𝑖 =𝑡= + ∑∑𝜆 ( 𝑖 𝑖 ,𝑡 − ,𝑡)𝑖 𝑖 ,𝑡=𝑡= ] com, + =

Desta forma, o desempenho da otimização é medido na forma de custo (algo que

deve ser minimizado) que varia de 0 a 12 + .

4.5 Otimização do Hidrossistema

O Hidrossistema de estudo foi otimizado com utilização da Programação Dinâmica

Estocástica e da Programação Dinâmica Dual Estocástica. Estas técnicas foram aplicadas por

meio de desenvolvimento de código computacional na Linguagem Julia com o emprego do

pacote StochDynamicProgramming.

Para a aplicação destas técnicas foi necessário, antes, determinar a distribuição de

probabilidade das vazões afluentes, definição de um volume inicial para os reservatórios do

hidrossistema, a discretização das variáveis de estado, especificamente para a PDE, e a

linearização da dinâmica do problema e da função objetivo que era um requerimento da PDDE.

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4.5.1 A Linguagem Julia e o Pacote StochDynamicProgramming

Julia é uma linguagem nova, de alto nível, de alta performance, dinâmica e gratuita

desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2012 que possui

interface gráfica e pode ser integrada com outras linguagens como Python e R, além de ter sido

concebida para facilitar o paralelismo e a programação em nuvem.

Estas características a tornam uma ferramenta com potencial de aplicação em

problemas de otimização. Segundo os desenvolvedores, o seu desempenho é comparável com

a linguagem C, porém tendo a vantagem de ser de alto nível.

O alto desempenho, segundo o site oficial da linguagem, pode ser verificado na

Figura 7 que traz a comparação de performance de diversas linguagens para alguns pequenos

processos pré-definidos(benchmarks), a performance é medida como a proporção do tempo de

processamento em relação ao da linguagem C.

Figura 8- Performance Comparativa da Linguagem Julia

Fonte: JuliaLang (2018)

Quanto à aplicação da PDE e da PDDE por meio da linguagem Julia, existe o pacote

StochDynamicPromgramming que traz no seu código funções relativas à essas técnicas. O

pacote é de fácil emprego e pode ser formulado para lidar com diferentes dinâmicas de

problemas, havendo algumas restrições dependendo do método escolhido (PDE ou PDDE).

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Para a PDE, o pacote é flexível e permite a utilização de dinâmica e função objetivo

não lineares além da escolha para a variável estocástica se o conhecimento do seu valor para o

estágio ocorre antes ou depois da tomada de decisão.

Já para a PDDE, o pacote não apresenta flexibilidade, necessitando que as equações

da dinâmica e do objetivo sejam lineares e resolve o problema considerando que a variável

estocástica tem seu valor conhecido antes da tomada de decisão.

4.5.2 Considerações Iniciais

Como estado inicial, foi considerado que os três reservatórios do hidrossistema

apresentavam estoque de 50% do volume útil.

4.5.3 Afluências

Tanto a PDE quanto a PDDE, necessitam da distribuição de probabilidade para cada

estágio (mensais) das variáveis estocásticas. Essas distribuições foram calculadas a partir das

vazões incrementais de forma equiprovável, ou seja, considera que a os valores observados para

um mês na série histórica possuem a mesma probabilidade de ocorrer. Desta forma, para

qualquer valor de x pertencente ao conjunto das observações: 𝑖 = /

com,

∑ 𝑖 =𝑖=𝑁𝑖=

em que,

x é um valor observado;

P é a probabilidade de um valor observado ocorrer;

N é o número de observações.

O desenvolvimento das distribuições deste modo tem a desvantagem de não

considerar as correlações temporais e espaciais existentes.

Para o hidrossistema do São Francisco, foram construídas distribuições de

probabilidade para quatro Séries de afluências: a Completa que considera toda a série de

observações de 1931-2015 (85 anos), a Úmida que é composta por apenas os 30 anos com maior

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valor médio de vazão, a Seca que utiliza os 30 de menor valor e a Mediana que considera os 30

anos medianos.

A Figura 8 traz as distribuições acumuladas de probabilidade das vazões

incrementais de Sobradinho para o mês de janeiro para as quatro Séries.

Figura 9 – Distribuição Acumulada de Probabilidade das Vazões Incrementais de Sobradinho para o mês de janeiro para todas as Séries.

Fonte: Autor (2018)

4.5.4 Discretização das Variáveis Modelo Reduzido para a PDE

Para a PDE, é necessária a discretização das variáveis de estado e decisão. A

quantidade de discretização adotada limita a precisão visto que variáveis que são infinitas terão

apenas pedaços avaliados. Desta forma, quanto maior for a discretização das variáveis do

problema para a PDE, maior será a sua precisão, entretanto também aumentará a quantidade de

operações necessárias e consequentemente o tempo de processamento

Foi adotada uma discretização dos volumes dos reservatórios e das variáveis de

decisão em partes equidistantes. Ou seja, foi determinado um grau de discretização que

significaria o número de discretizações (pedaços) das variáveis do problema e o valor destes

pedaços foi calculado de forma que ficassem equidistantes com o primeiro pedaço referente ao

valor mínimo da variável e o último correspondente ao valor máximo.

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50

4.5.4 O Modelo Reduzido para a PDE

Para aliviar o custo computacional com as discretizações da PDE, o modelo foi

reduzido, apenas para a aplicação da PDE ao considerar que o vertimento não é uma variável

de decisão, mas uma consequência das outras decisões tomadas. O que pode ser escrito

matematicamente da seguinte forma: 𝑡+ = 𝑡 + 𝑡 − , 𝑡+ , 𝑡 − − − 𝑡 com 𝑡 = max[ ; 𝑡 + 𝑡 − , 𝑡+ , 𝑡 − − − 𝑉 á𝑥] em que

vert é o vertimento do intervalo que é calculado como o volume armazenado que for maior que

o máximo por esta nova equação de dinâmica do problema.

Este modelo foi chamado de Modelo Reduzido e tem a vantagem de possuir uma

variável a menos para cada reservatório. Logo, o Modelo Reduzido possui três variáveis a

menos que o Original para o hidrossistema estudado.

4.5.4 Linearização do Problema

Na aplicação da PDDE a dinâmica do problema e a função objetivo tiveram de ser

consideradas lineares. Para isso foi realizada uma linearização das suas não linearidades.

A equação da dinâmica do problema possui como única fonte de não linearidade as

evaporações. A evaporação foi transformada em uma função linear em relação ao volume

armazenado no início do intervalo por meio de uma aproximação linear entre a relação da Área

Superficial e Volume dos reservatórios. Desta forma: = 𝑡 𝑉𝑡 +

em que,

Evap é a evaporação no reservatório para o período t;

e é a lâmina líquida mensal média para o mês t;

V é o volume do reservatório no início do período t;

a e b são os coeficientes da aproximação linear entre Área Superficial e Volume

Os coeficientes a e b foram determinados pela minimização dos erros quadráticos

entre 100 pontos de Volume e Área observados (obtidos pelos polinômios Cota-Volume e Área-

Cota) e os estimados pela aproximação linear. Estes coeficientes para Área em km² e Volume

em h³ estão apresentados para os reservatórios do hidrossistema na Tabela 16.

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Tabela 16-Coeficientes de relação linear entre Área (km²) e Volume (hm³)

Reservatório a b Três Marias 0.045 187.071 Sobradinho 0.105 650.824 Itaparica 0.059 186.171

Fonte: Autor (2018)

A linearização da evaporação é uma aproximação necessária, porém causa perda de

precisão na modelagem do problema e consequentemente na evolução das variáveis de estado

na otimização.

Quanto à função objetivo, a não linearidade está na geração de energia, como essa

função é um produto de duas variáveis do problema, a aproximação para uma função linear não

é uma tarefa simples e foi optado por considerar a Queda Líquida constante e igual à Queda

Bruta Média diminuída das perdas hidráulicas.

A Queda Bruta Média foi calculada como a diferença entre o nível da água médio

no reservatório (média entre as cotas máxima e mínima) e o nível médio do canal de jusante

(Tabela 6). Assim: 𝐻 = 𝐻 − 𝐻

com: 𝐻 = − 𝐽 = á + í /

em que,

HM é a queda líquida média em metros;

HBM é a queda bruta média em metros;

PCH é a perda de carga hidráulica em metros;

NAM é o nível de água médio no reservatório em metros;

NAJM é o nível de água médio no canal de jusante em metros;

CotaMáx e CotaMín são, respectivamente, as cotas máximas e mínimas no reservatório.

Os valores encontrados para a Queda Líquida Média para os reservatórios do

hidrossistema estudado estão na Tabela 17.

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Tabela 17 - Cálculo da Queda Líquida Média

Reservatório Nível

Mínimo (m)

Nível Máximo

(m)

Nível Médio (m)

Nível Médio do Canal de

Jusante (m)

Perda Hidráulica

(m)

Queda Líquida

Média (m)

Três Marias 549.2 572.5 560.9 515.7 0.6 44.6

Sobradinho 380.5 392.5 386.5 362.5 0.5 23.5

Itaparica 299.0 304.0 301.5 251.5 0.8 49.2

Fonte: Autor com dados da ONS (2018)

Com a utilização da Queda Líquida Média, a função objetiva se torna linear e pode

ser inserida na PDDE. Entretanto essa simplificação causa perda da sensibilidade da otimização

em relação às variações de nível do reservatório, sendo considerado apenas o turbinamento na

função de produção de energia.

Também foi necessário linearizar a restrição da Vazão Turbinada Máxima visto as

não linearidades relacionadas com a determinação da cota do reservatório em função do volume

armazenado e da cota do canal de jusante em função da vazão defluente. Para isto, o Polinômio

Cota-Volume foi linearizado de forma semelhante ao Área-Cota; e o Polinômio de Cota Jusante

foi linearizado ao se considerar apenas os seus dois primeiros termos, uma vez que os outros

são bem menores. Os coeficientes destes polinômios linearizados estão apresentados na Tabela

18.

Tabela 18 - Polinômios Linearizados

Reservatório Polinômio A0 A1

Três Marias Vazão-Nível Jusante 514.6558 0.0016 Cota-Volume 545.3510 0.0015

Sobradinho Vazão-Nível Jusante 359.6538 0.0020 Cota-Volume 380.0160 0.0004

Itaparica Vazão-Nível Jusante 251.5000 0.0000 Cota-Volume 288.7910 0.0014

Fonte: Autor (2018)

Após a aplicação destas simplificações, o problema se torna completamente linear

com dinâmica, objetivo e restrições lineares e pode ser otimizado por meio das funções de

PDDE do pacote StochDynamicProgramming.

4.6 Análises, Simulações e Desempenho

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Foram realizadas análises quanto a velocidade, desempenho e viabilidade das

técnicas, verificação do impacto das linearizações, para a PDDE, e do grau de discretização,

para a PDE, sobre os resultados da otimização; A influência da série de vazões afluentes

escolhida sobre a otimização, dentre outras.

Estas análises foram realizadas por meio da simulação para cenários predefinidos

de vazão afluente das políticas de operação ótimas definidas pela otimização.

Visto a necessidade de comparar velocidades de processamento, foi necessário a

definição de uma máquina padrão cujas configurações foram: processador (core i7) de 3.41

GHz e memória RAM de 16 Gb. Ainda, é realizada uma limpeza na memória do sistema antes

de cada uma das otimizações.

A maior parte das análises se deram para a Série Completa de Vazões Afluentes,

parâmetros α, e iguais à 0.5, 0.5 e 2 respectivamente, volume inicial de 50% e grau de

discretização das variáveis de estado e decisão em 20 partes. Quando uma a análise não utilizar

ou alterar estas definições iniciais, será informado no tópico correspondente.

4.6.1 Cenários de Vazão Afluente para a Simulação

Para as simulações das regras de otimização foram elaborados três Cenários para

cada reservatório, o Seco, o Médio e o Úmido. Eles foram determinados com base na

distribuição de probabilidades cumulativas da média anual da série histórica completa.

Desta forma, os Cenários Seco, Médio e Úmido foram definidos como os anos cujas

médias representava os percentis 20, 50 e 80 para cada reservatório. A Figura 10 traz os cenários

elaborados para os reservatórios do hidrossistema em estudo.

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Figura 10 - Cenários de Vazão Afluente para as Simulações.

Fonte: Autor (2018).

4.6.2 Análise de Desempenho

O desempenho da técnica de otimização será medido por duas formas, o tempo de

processamento e o valor obtido pela função objetivo, o custo da operação, na simulação dos

cenários definidos na sessão anterior.

Devido às funções objetivo das tuas técnicas serem diferentes por causa das

linearizações, o custo obtido para a PDDE foi recalculado após as simulações conforme a

função objetivo original.

A PDDE foi comparada com a PDE para o Modelo Original e Reduzido que também

foram comparados entre si.

De forma a verificar o crescimento do tempo computacional com o aumento das

dimensões do problema (o mau da dimensionalidade), as técnicas de otimização foram

aplicadas e comparadas para o hidrossistema modelado (Três Marias, Sobradinho e Itaparica) e

para dois subsistemas, um composto por apenas dois reservatórios (Três Marias e Sobradinho)

e outro com apenas um único reservatório (Sobradinho).

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Na otimização, a dimensão de um problema pode ser indicada pelo número de

variáveis atribuídas a ele. O número de variáveis de cada um dos hidrossistemas otimizados é

apresentado na Tabela 20.

Tabela 19 - Dimensões dos Hidrossistemas

Hidrossistema Variáveis

Total Estado Decisão

Sobradinho 1 3 4 Três Marias + Sobradinho 2 6 8 Três Marias + Sobradinho + Itaparica 3 9 12

Fonte: Autor (2018)

Desta forma, o acréscimo de um reservatório ao hidrossistema aumenta a sua

dimensão em 4 variáveis. O Modelo Reduzido possui uma variável a menos para cada

reservatório.

O tempo de processamento também serviu para determinar a viabilidade de

aplicação dessas técnicas de otimização para estes hidrossistema ou para maiores e mais

complexos.

Para a PDE, foram verificados o impacto da discretização das variáveis nos

resultados com relação à velocidade de processamento e no desempenho da simulação para os

cenários definidos. Foram analisados os graus de discretização de 5, 10, 15, 20, 30, 40 e 50

partes.

4.6.3 Análise do Impacto do Conhecimento das Vazões Afluentes

Conforme já mencionado, a PDDE realiza a otimização considerando que o

operador conhece a afluência de um intervalo imediatamente antes da tomada das decisões para

o intervalo, enquanto que a PDE possui a flexibilidade de determinar se o operador tem o

conhecimento antes ou após a decisão.

Para verificar qual o impacto que o momento deste conhecimento tem sobre a

otimização, a PDE foi aplicada das duas formas para o hidrossistema e para os dois subsistemas.

E as regras de operação obtidas foram comparadas pela simulação dos cenários definidos.

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4.6.4 Avaliação do Impacto da Escolha da Série de Vazões Afluentes

Foram comparadas as otimizações do hidrossistema considerando as Séries

Completa, Seca, Mediana e Úmida para os cenários determinados com base nos custos da

simulação e nas regras de operação definidas.

Foi buscada uma relação entre a performance da otimização obtida para a Série e o

Cenário que estava sendo simulado.

Devido à quantidade de simulações necessária, essa análise se deu apenas para a

PDDE por ser mais rápida.

4.6.5 Análise do Efeito da Linearização da Evaporação

Foi avaliado se a linearização da evaporação na dinâmica da PDDE possui impacto

significativo sobre as regras de operação e os resultados das simulações.

Esta análise se deu ao comparar os volumes evaporados na simulação do Cenário

Médio pelas funções linearizadas e o que seria obtido pelo uso da função não linearizada. Estes

volumes foram chamados de, respectivamente, Evaporação Linear e Evaporação Real .

4.6.6 Análise do Método das Ponderações (Escolha dos Pesos)

Esta análise também se deu apenas para a PDDE devido à velocidade de

processamento necessária.

Foi examinada a influência da escolha dos parâmetros (pesos) α, e sobre a

determinação da regra de operação ótima e sua simulação para o Cenário Médio.

Primeiro, foram avaliadas variações nos parâmetros α e mantendo constante e

igual a 2 para analisar a influência da priorização de um uso.

Depois, foi variado o parâmetro com α e constantes (0.5, 0.5) para investigar a

mudança nas regras ótimas de operação devido ao aumento ou diminuição do valor do custo

final.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados estão apresentados conforme a ordem das análises explicada na

Metodologia.

Para melhorar a compreensão dos resultados, deve-se ressaltar a diferença entre os

conceitos de otimização e simulação utilizados neste capítulo. A otimização está associada a

definir a política de operação que minimize o valor esperado do custo do hidrossistema

enquanto a simulação é o resultado da aplicação dessa política ótima de operação para um

determinado evento de vazão afluente (um cenário predefino).

5.1 Análise de Desempenho

Os tempos de processamento de processamento da PDDE e da PDE (modelo

original e reduzidos para grau de discretização igual a 20) para os hidrossistemas considerados

estão apresentados na Tabela 20. Em que o “X” significa que não foi possível realizar a

otimização devido a limitações de memória.

Tabela 20 – Tempos de Processamento

Hidrossistema

Tempo de Processamento (H:M:S) PDE(Original)

/ PDE(Reduzido)

PDE(Reduzido) /

PDDE PDE

Original PDE

Reduzido PDDE

Sobradinho 02:52:35 00:15:35 00:00:40 11.07 23.59 Tr. Marias + Sobr. X X 00:00:42 X X Tr. Marias + Sobr. + Itap. X X 00:00:51 X X

Fonte: Autor (2018)

Não foi possível aplicar a PDE para o hidrossistema completo (com o grau de

discretização especificado) com as ferramentas computacionais adotadas, devido, entre outros,

às limitações de memoria e do mal da dimensionalidade que é percebido pelo aumento entre os

tempos de processamento do modelo reduzido para o original. Conforme a Tabela 20, esse

aumento de uma variável de decisão fez com que o modelo original necessitasse de um tempo

de processamento cerca de 11 vezes maior que o reduzido.

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Entretanto, caso houvesse memoria computacional suficiente, os tempos de

processamento do hidrossistema completo em relação ao do subsistema do Sobradinho seriam

significativamente maiores (dias ou semanas) visto o acréscimo de 8 variáveis para o modelo

original e de 6 para o reduzido e considerando que o aumento do número de operações da PDE

ocorre de forma exponencial com o aumento das dimensões do problema.

Ao se reduzir a dimensão do problema com a diminuição do grau de discretização,

foi possível a aplicação da PDE para o hidrossistema completo, porém, as políticas obtidas não

foram satisfatórias.

Desta forma, a PDE é inviável para otimizar o problema estudado para a velocidade

de processamento do computador utilizado. Seria necessário um supercomputador ou uso de

programação paralela (uma cadeia de computadores) para viabilizá-la. Enquanto que a PDDE

seria viável até mesmo para sistemas bem maiores e complexos visto que só precisou de 51

segundos para otimizar um hidrossistema com 12 variáveis.

Além da quantidade de variáveis, outro fator que explica a grande necessidade

computacional do problema é a extensão da Série Completa (85 anos). Foram obtidos tempos

menores com a aplicação das Séries Úmida, Média e Seca por serem menos extensas (30 anos

cada).

Em comparação com a PDDE, a PDE foi cerca de 24 vezes mais lenta para o modelo

reduzido e 261 vezes mais demorada considerando o modelo completo. Além disso a PDDE

não sofre do mal da dimensionalidade visto a pouca diferença entre o seu tempo de

processamento para o subsistema do Sobradinho e o do hidrossistema completo.

Quanto aos custos obtidos nas simulações, estão apresentados para cada cenário e

hidrossistema na Tabela 21 (o da PDDE foi recalculado para a função objetivo sem

linearizações) em que o “-” representa que a política de operação ótima não simula a operação

de forma viável (que obedece às restrições) para o cenário de vazões afluentes especificado e o

“X” significa que não foi possível realizar nem mesmo a otimização devido a limitações de

memória.

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Tabela 21 - Custos de Simulação dos Cenários

Hidrossitema Cenário de Simulação

Custo da Simulação PDE O PDE R PDDE

Sobr. Seco - - 4.62

Médio 4.23 4.22 4.13 Úmido 3.77 3.71 3.50

Tr. Marias + Sobr. Seco

X

3.76 Médio 2.87 Úmido 2.03

Tr. Marias + Sobr. + Itap. Seco 3.75

Médio 2.83 Úmido 1.90

Fonte: Autor (2018)

Se observa que o Modelo Reduzido não é só mais rápido, mas também tem melhor

desempenho principalmente para o cenário úmido que é mais sucessível à ocorrência de

vertimentos. Isto se deve pelo modelo reduzido não perder precisão ao discretizar os

vertimentos. Dessa forma, os custos de ambos tendem a se igualar com o aumento do grau de

discretização.

Por meio da Tabela 21, se constata a dificuldade das políticas de operação da PDE

(afluentes e para o grau de discretização especificado) para simular o Cenário Seco. Entretanto,

foi possível encontrar políticas ótimas para este cenário ao aumentar o grau de discretização

para mais de 30.

Ainda conforme a Tabela 21, só foram viáveis a simulação das regras de operação

obtidas tanto por PDE quanto por PDDE para os cenários médio e úmido do hidrossistema

composto apenas por Sobradinho.

Os valores das variáveis de estado e decisão para estes dois métodos (PDDE e o da

PDE para o Modelo Reduzido) obtidos na simulação do hidrossistema composto por

Sobradinho para o cenário médio estão ilustrados graficamente na Figura 11.

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Figura 11 - Comparação da Simulação do Cenário Médio entre a PDDE e a PDE para o Hidrossistema do Sobradinho.

Fonte: Autor (2018).

A perda de sensibilidade para a altura de queda, devido à linearização da função

objetivo, na geração de energia pode ser visualizada pela comparação entre os volumes da

simulação da PDE e da PDDE.

Na operação ótima da PDDE (que sofreu linearização) não há uma busca em

aumentar os volumes armazenados para então turbinar vazões maiores com quedas

maximizadas como pode ser observado na operação da PDE que aumenta o nível do

reservatório para próximo do máximo nos primeiros meses da operação.

Este foi um dos fatores responsáveis pelo maior desempenho da operação da PDE

para altos graus de discretização em comparação com a PDDE.

A Tabela 22 traz os tempos de processamento e o custo de simulação para diferentes

graus de discretização da PDE para o Modelo Reduzido.

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Tabela 22 - Tempos de Processamento do Modelo Reduzido para Diversos Graus de Otimização

Grau de Discretização

Tempo de Processamento

Custo de Simulação do Cenário Tempo / Grau de Discr. Seco Médio Úmido

5 00:00:13 - - - 00:00:03

10 00:01:48 - - - 00:00:11 15 00:06:17 - 4.32 - 00:00:25 20 00:15:35 - 4.22 3.71 00:00:47

30 00:55:59 4.72 4.19 3.55 00:01:52 40 02:15:06 4.60 4.12 3.49 00:03:23 50 04:28:15 4.59 4.09 3.48 00:05:22

Fonte:Autor (2018)

É verificada a sensibilidade dos resultados e do tempo de processamento da PDE

para o grau de discretização utilizado. Para discretizações menores do que 15, a PDE não

encontra política ótima que simule algum dos cenários.

Observa-se que o ganho marginal de eficiência (diminuição dos custos) é

decrescente enquanto que o crescimento marginal do tempo de processamento é crescente, logo

existe um nível de discretização em que o ganho de desempenho com o seu aumento é quase

nulo e que necessita de um grande tempo de processamento adicional.

Quanto à comparação das eficiências da PDDE e da PDE, ao analisar apenas a

Tabela 21, aparentemente as políticas de operação da PDDE são mais eficientes (possuem

custos menores) que as da PDE para o grau de discretização utilizado (grau 20).

Entretanto, conforme a Tabela 22, com o aumento do grau de discretização (a partir

de 40) a PDE para o Modelo Reduzido supera a eficiência da PDDE a preço de tempo de

processamento que é significativamente superior 2 horas e 15 minutos para 40 graus de

discretização e 4 horas e 28 minutos para 50 graus contra os 51 segundos da PDDE. Por este

ponto de vista, a aplicação da PDDE na otimização é vantajosa visto os baixos tempos de

processamento e eficiência semelhante à da PDE.

Porém ao analisar a Figura 12 que traz a comparação da simulação do Cenário

Médio da PDE para o modelo reduzido considerando graus de discretização de 15 e 50, é

constatado que as operações com 15 graus de discretização e a com 50 são semelhantes.

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Figura 12 Simulação para o Cenário Médio das Regras Ótimas da PDE do Modelo Reduzido para o Subsistema do Sobradinho Considerando 15 e 50 Discretizações.

Fonte: Autor

Se observa que uma parte dos custos da PDE se devem a ela não conseguir

acompanhar perfeitamente a Demanda para Irrigação mesmo com esse grau de discretização

(pois ela só é capaz de utilizar o pedaço discretizado com valor mais próximo) enquanto que a

PDDE segue perfeitamente esta curva (Figura X-1) o que diminuiu o seu custo total obtido.

Este é o principal motivo para a PDE só ter sido mais eficiente que a PDDE para graus de

discretização maiores.

Desta forma, mesmo a PDE com 50 graus de discretização não acompanhando

perfeitamente a curva de demanda já obtém desempenho melhor que o da PDDE.

Assim, sabendo que tanto a PDE quanto a PDDE apresentaram custo final nulo

(terminam com Volume Armazenado maior que 50% da capacidade), é possível afirmar que a

regra de operação estabelecida da PDE é mais eficiente que a da PDDE, pois mais que compensa

o custo da imprecisão em seguir a curva de demanda com melhor desempenho na geração de

energia. O que ocorre pela consideração da Altura de Queda na Otimização devido a não

linearização.

Uma maneira de melhorar a aplicação da PDE para este hidrossistema seria

diminuir o grau de discretização necessário ao aperfeiçoar especificamente a discretização da

vazão para irrigação de forma que considerasse os valores máximos e mínimos por intervalo e

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não somente o máximo e mínimo geral, o que não é permitido pelo pacote. E uma forma de

sofisticar os resultados da PDDE seria incorporar a altura de queda líquida ou o armazenamento

ao longo dos estágios na função objetivo.

Assim, para o hidrossistema da maneira que foi modelado, a PDE, para o Modelo

Reduzido, apresentou políticas de operação mais eficientes por considerar a altura de queda,

entretanto é completamente inviável devido ao seu tempo de processamento e necessidade de

memória computacional.

Enquanto a PDDE apresenta desempenho levemente menor, porém sua aplicação é

indubitavelmente vantajosa devido à sua incrível velocidade para tratar de problemas com

muitas variáveis e poderia ser facilmente estendida para hidrossistemas maiores e mais

complexos.

Quanto a otimização e simulação do hidrossistema completo, conforme já exposto,

só foi capaz de ser otimizado por meio da PDDE e a simulação das suas políticas ótimas de

operação para os três cenários estão apresentadas na Figuras 13, 14 e 15, que trazem,

respectivamente, as simulações das regras ótimas de operação para os cenários definidos para

os reservatórios Três Marias, Sobradinho e Itaparica.

Figura 13 – Simulação da Otimização do Hidrossistema Completo para os Três Cenários para o Reservatório Três Marias

Fonte: Autor (2018)

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Figura 14 – Simulação da Otimização do Hidrossistema Completo para os Três Cenários para o Reservatório Sobradinho

Fonte: Autor (2018).

Figura 15 - Simulação da Otimização do Hidrossistema Completo para os Três Cenários para o Reservatório Itaparica

Fonte: Autor (2018).

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Os vertimentos elevados do último estágio para o reservatório de Três Marias

(apesar de o reservatório não estar cheio) se justificam como transferências, na matemática da

operação para a forma que foi modelada, como uma maneira de aumentar o volume armazenado

e a vazão turbinada no reservatório Sobradinho que possui o maior peso no custo final.

Se observa que com as prioridades α e iguais a (0.5 e 0.5) a operação da

otimização do hidrossistema completo, assim como para o subsistema do Sobradinho, busca a

suprir integralmente a demanda de irrigação, visto as vazões destinadas à irrigação serem iguais

à curva de demanda para todos os reservatórios.

5.2 Análise do Impacto do Conhecimento das Vazões Afluentes

Como a PDE não pôde ser realizada para o hidrossistema completo, esta

comparação ficou restrita ao subsistema composto apenas por Sobradinho e se deu para o

modelo reduzido. Verificou-se, conforme esperado, que as decisões tomadas com o

conhecimento da vazão afluente possuem melhor eficiência. O que pode ser melhor analisado

observando a Tabela 23 e a Figura 16 que trazem, respectivamente, os custos para o

hidrossistema do Sobradinho e a simulação da operação para o Cenário Úmido.

Tabela 23 – Variação do Custo da Simulação com o Conhecimento das Afluências

Hidrossistema Cenário de Simulação

Custo da Simulação Conhecimento da

Afluência Antes da Decisão?

Sim Não

Sobradinho Seco - -

Médio 4.22 - Úmido 3.71 6.04

Fonte: Autor (2018).

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Figura 16 Simulação da operação para o Cenário Úmido das regras ótimas da PDE com e sem conhecimento prévio das vazões afluentes

Fonte: Autor (2018).

Este critério alterou significativamente os resultados da otimização. Assim, é um

critério relevante e que não pode ser modelado pela PDDE com o pacote utilizado. A melhoria

de eficiência com o conhecimento das vazões afluentes indica a importância de um sistema de

previsão de vazões.

5.3 Análise da Escolha da Série de Vazões Afluentes

A Tabela 24 apresenta os custos de simulação das regras de operação otimizadas

pela PDDE para o hidrossistema completo para cada Série de vazões afluente.

Tabela 24 – Custo das Regras de Operação das Séries Utilizadas

Cenário de Simulação Custo de Simulação

Série de Vazões Afluentes Completa Seca Mediana Úmida

Seco 3.75 3.71 3.73 3.92 Médio 2.83 2.84 2.83 2.87 Úmido 1.90 1.99 1.91 1.89

Fonte: Autor (2018)

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A série Seca determina melhor a política para o cenário Seco e a Série Úmida para

o Cenário Úmido enquanto a Completa e a Mediana são semelhantes e determinam a política

melhor para o Cenário Médio.

As diferenças das regras ótimas definidas pelas séries para a simulação dos

diferentes cenários para o reservatório Sobradinho estão ilustradas nas Figuras 17, 18 e 19.

Figura 17- Simulação do Cenário Seco para o Reservatório Sobradinho

Fonte: Autor (2018).

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Figura 18 - Simulação do Cenário Médio para o Reservatório Sobradinho

Fonte: Autor (2018).

Figura 19 - Simulação do Cenário Úmido para o Reservatório Sobradinho

Fonte: Autor (2018).

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A política de operação da Série Seca tende a deixar o armazenamento dos

reservatórios maior que as outras no segundo semestre. Enquanto que a da Úmida faz o

contrário (esvaziamento do reservatório) e as da Completa e da Mediana tem políticas de

operação semelhantes que leva o armazenamento para valores entre os das outras duas (nem

armazenam muito nem esvaziam muito o reservatório).

Se observa que para o Cenário Seco, a regra de operação definida pela Série Úmida

retira vazões maiores que as outras no primeiro semestre, o que causa o esvaziamento do

reservatório não conseguido recarregar o reservatório até o volume inicial para evitar o custo

final. Ou seja, a política de operação desta Série é muito “otimista” ao simular esse cenário

(acredita que as vazões afluentes do segundo semestre serão suficientes para recarregar o

reservatório).

Estes resultados indicam que com um bom sistema de previsão sazonal de Vazões,

seria possível analisar os Anos parecidos e montar uma Serie de Vazões Afluentes e sua

distribuição de probabilidade que encontre políticas melhores que a utilizando a Série

Completa.

5.4 Análise do Efeito da Linearização da Evaporação

Uma das desvantagens da PDDE é a necessidade de linearização da

evapotranspiração, entretanto esta simplificação não resulta em perdas de precisão significante

como pode ser observado na Figura 20 que ilustra as evaporações lineares obtidas pela

simulação da otimização do hidrossistema para o Cenário Médio juntamente com a que seria

obtida caso não tivesse sido realizada essa aproximação.

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Figura 20 – Volumes Evaporados para a Simulação do Cenário Médio

Fonte: Autor (2018).

A diferença entre as dois evaporações somente é efetiva para os meses de outubro,

novembro e dezembro para o reservatório Sobradinho e, mesmo assim, essa diferença é pequena

em comparação com o volume e vazões deste reservatório.

Assim, das simplificações necessárias para aplicação da PDDE, a linearização da

produção de energia é a única com impacto significante.

5.5 Análise do Método das Ponderações

Foram testadas diversas combinações de α e e só foram verificadas alterações nas

vazões otimizadas para a irrigação quando menor que 0.10; para outros valores as vazões para

a irrigação eram sempre iguais à curva de demanda. Para valores de menores que 0.02, a

vazão para irrigação se torna 0.

Também foi verificado que quando a irrigação deixa de ser a prioridade ( menor

que 0.10), a regra de otimização não consegue simular o Cenário Seco mantendo as restrições

de vazões mínimas ocorrendo esvaziamento do reservatório no mês de setembro.

A sensibilidade da otimização aos parâmetros de prioridade de uso pode ser

visualizada graficamente nas Figuras 21, 22 e 23 que trazem as simulações do hidrossistema o

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Cenário Médio para as seguintes combinações de parâmetros α e : (0.5, 0.5); (0.85,0.15); (0.90;

0,10); (0.95; 0.05) e (0.99;0.01) para os reservatórios de Três Marias, Sobradinho e Itaparica.

Figura 21- Influência dos parâmetros α e para na otimização do Reservatório Três Marias (Cenário Médio).

Fonte: Autor (2018)

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Figura 22- Influência dos parâmetros α e para na otimização do Reservatório Sobradinho (Cenário Médio).

Fonte: Autor (2018).

Figura 23- Influência dos parâmetros α e para na otimização do Reservatório Itaparica (Cenário Médio).

Fonte: Autor (2018).

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Por estas Figuras, se observa que a otimização do hidrossistema é altamente

sensível à variações nos parâmetros α e .

Quanto ao parâmetro , a sensibilidade da otimização a ele é ilustrada pelas Figuras

24, 25 e 26 que mostram as alterações na simulação da operação ótima para o Cenário Médio

com parâmetros iguais a 0, 1, 2, 3 e 4 com α e constantes.

Figura 24 - Influência do parâmetro para na Otimização do Reservatório Três Marias (Cenário Médio).

Fonte: Autor (2018).

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Figura 25 - Influência do parâmetro para na Otimização do Reservatório Sobradinho (Cenário Médio).

Fonte: Autor (2018).

Figura 26 - Influência do parâmetro para na Otimização do Reservatório Sobradinho (Cenário Médio).

Fonte: Autor (2018).

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Se verifica que o aumento do parâmetro faz com que o enchimento do reservatório

comece antecipadamente para garantir que o custo final será 0. Ainda, independentemente do

valor de , caso a combinação de α e for (0.5, 0.5) as vazões para irrigação serão iguais à

curva de demanda.

Estes resultados mostram bem a grande desvantagem do método das ponderações

que é a sensibilidade da otimização em relação aos parâmetros adotados pelo operador. O que

necessita muitas vezes que sejam testadas várias combinações de pesos para então escolher a

política de operação definitiva.

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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A definição de regras de operação de reservatórios é um estágio fundamental da

gestão de recursos hídrico e trata-se de uma tomada de decisão sobre incerteza.

Deste modo, foi proposta uma metodologia de aplicação de duas técnicas de

otimização de reservatórios que consideram a incerteza sobre as vazões afluentes: a

Programação Dinâmica Estocástica e a Programação Dinâmica Dual Estocástica.

Devido às limitações e necessidades computacionais, a aplicação da Programação

Dinâmica Estocástica ficou restrita ao subsistema contendo apenas o reservatório de

Sobradinho. Enquanto a Dual Estocástica pôde ser aplicada para o Hidrossistema Completo

modelado do Rio São Francisco contendo os reservatórios de Três Marias, Sobradinho e

Itaparica.

O objetivo da otimização foi definido para poder englobar os usos múltiplos da água

na bacia, dentre os quais tinham destaque a produção de energia hidroelétrica e a agricultara de

irrigação. Os usos múltiplos foram incorporados à uma única função objetivo por meio do

método das ponderações.

A Programação Dinâmica Dual Estocástica se mostrou eficiente em otimizar o

hidrossistema requerendo baixo custo computacional e obteve desempenho satisfatório.

Entretanto, a técnica apresenta limitações quanto à modelagem do problema, restrições e função

objetivo que devem ser lineares. O que causa perda de precisão e desempenho quando

comparada com a Programação Dinâmica Estocástica que é flexível.

Desta Forma, por não necessitar de simplificações lineares, a Programação

Dinâmica apresentaria melhor desempenho, entretanto o seu custo computacional devido ao

mal da dimensionalidade a tornaram inviável.

A Programação Dinâmica Dual Estocástica não apresentou o mal da

dimensionalidade para a forma como foi formulado o problema e pode ser estendida para

aplicação em hidrossistemas maiores e mais complexos.

Apesar de o objetivo da otimização, por questão de simplicidade, só ter considerado

a produção de energia e as demandas de água para irrigação, a metodologia de formação da

função objetivo e formulação do problema pode ser facilmente aplicada para os outros usos da

água e incluir na modelagem a Transposição do Rio São Francisco.

As regras ótimas de operação foram simuladas para três cenários de operação

baseados na média anual de cada amostra da série histórica. Um cenário seco, um médio e um

úmido.

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Quanto a estocasticidade das vazões afluentes, foi considerada a série histórica de

cada mês, contendo 85 anos de dados, com distribuição de probabilidades equiprovável. Além

disso foram consideradas a série de 30 anos mais seca, úmida e mediana.

Esta forma de tratar a estocasticidade é simples e não considera as correlações

espaciais e temporais do fenômeno.

Foi mostrado que a regra de operação obtida para a Série Seca tem a melhor

performance na simulação do Cenário Seco e a pior para na do Cenário Úmido, do mesmo

modo, a regra de operação determinada para a Serie Úmida tem a melhor eficiência para o

Cenário Úmido e a pior para o Cenário Seco. O que indica vantagem para a operação com a

aplicação de previsão sazonal de vazões.

Também foi evidenciado o impacto que a escolha dos pesos do método das

ponderações tem sobre os resultados da otimização.

A rápida velocidade de resolução da Programação Dinâmica Dual Estocástica

permitiu a análise da influência de diversos fatores na otimização, o que levaria meses para ser

verificado usando a Programação Dinâmica Estocástica, em caso de capacidade computacional

suficiente, para o hidrossistema modelado.

As medições do tempo de processamento mostraram que a Dual Estocástica foi 261

vezes mais rápida que a Dinâmica Estocástica (com 20 discretizações) para otimizar o

subsistema composto apenas pelo reservatório Sobradinho. Esta diferença tende a aumentar

para hidrossistemas maiores, visto que a Dual Estocástica não apresentou mal da

dimensionalidade.

Como forma de viabilizar a Programação Dinâmica Estocástica é sugerido a

utilização de paralelismo visto que o problema é resolvido em estágios podendo facilmente ser

paralelizado.

A Linguagem Julia e o seu pacote StochDynamicProgramming que foram as

ferramentas utilizadas por este trabalho, apresentaram alto nível e alto desempenho. É

recomendada para trabalhos futuros a aplicação desta metodologia utilizando outra linguagem

computacional para comparar as performances.

A metodologia aplicada pode ser estendia para sistemas maiores e mais complexos

mantendo a mesma lógica de formulação das equações para sistemas maiores e mais complexos

(contendo reservatórios não somente em série). Entretanto, por utilizar o método das

ponderações para compor a função objetivo, o desempenho e o formato das regras de operação

são sensíveis aos pesos escolhidos pelo operador.

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