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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
PRINCÍPIOS DA LEAN CONSTRUCTION E CRITÉRIOS COMPETITIVOS DA PRODUÇÃO: EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ELES?
ELMO SALES RÔLA
FORTALEZA 2010
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ELMO SALES RÔLA
PRINCÍPIOS DA LEAN CONSTRUCTION E CRITÉRIOS COMPETITIVOS DA PRODUÇÃO: EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ELES?
Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. George Silva Costa
FORTALEZA 2010
R647p Elmo Sales Rôla Princípios da Lean construction e critérios competitivos da produção:existe alguma relação entre eles? / Elmo Sales Rôla.
62 f: il. color. enc.
Orientador: Prof. M. Sc. George Silva Costa Monografia (graduação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia. Depto. De Engenharia Estrutural e Construção Civil, Fortaleza, 2010.
1. Construção civil – administração 2. Construções – estimativas I. Costa, George Silva (orient.) II. Universidade Federal do Ceará – Curso de Engenharia Civil III.Título
CDD 620
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus que me concedeu a graça de concluir este
trabalho, proporcionando-me saúde, força, paciência e sabedoria.
Aos meus pais Cláudio Antero Rôla e Vânia Maria Sales Rôla, por tudo que já
fizeram mim e por sempre acreditarem no meu potencial.
Às minhas três “segundas” mães Eveline Moura, Cesarina Palhares e Madrinha
Marisa, por toda dedicação e carinho que me foi proporcionado.
À minha namorada Renata Calábria, pelo amor e apoio constante em minha vida.
Às minhas amigas Renata França e Fernanda Siebra, pela amizade e pelos
plantões de tira dúvidas de português e inglês.
Aos meus eternos amigos de faculdade Fernando Vecchio, Luter Nobre e Maria
Fabíola pelo companheirismo e amizade ao longo de tantas madrugadas nesses anos de
estudo.
Aos professores Barros Neto e George Costa, por todas as orientações, em
especial desta monografia, e pelo constante apoio em minha formação profissional.
Aos integrantes do GERCON, em especial ao Mário Azevedo e a Williane
Ferreira, pela amizade e pelo apoio neste momento tão importante.
Às empresas, em especial, aos seus diretores e engenheiros, que colaboraram e
acreditaram nesse trabalho.
Aos mestrandos, mestres e doutores que contribuíram com os seus conhecimentos
para o desenvolvimento dessa pesquisa.
Aos integrantes da banca examinadora desta monografia, pelas contribuições e
participação nessa etapa final.
E a todas as outras pessoas, que diretamente ou indiretamente contribuíram para a
minha formação acadêmica e pessoal: MUITO OBRIGADO E QUE DEUS OS ABENÇOE!
v
RESUMO Este estudo busca analisar possíveis relações entre os princípios da Lean Construction (Construção Enxuta) e os Critérios Competitivos da Produção. O trabalho traz um referencial teórico abordando o campo da estratégia, tratando, em particular, dos onze princípios da construção enxuta e de seis critérios competitivos da produção, totalizando sessenta e seis combinações. Trata-se de uma pesquisa exploratória e de natureza qualitativa. Para o delineamento desse trabalho foram realizadas quatro etapas: (1) Levantamento Bibliográfico dos temas Estratégia na Construção Civil, Critérios Competitivos da Produção e Lean Construction; (2) Realização de um grupo focal com engenheiros e diretores de cinco construtoras de Fortaleza-CE; (3) Distribuição de formulários para mestrandos, mestres e doutores e (4) Entrevistas com cinco participantes da etapa três. Verificou-se que, de um modo geral, os respondentes se posicionaram a favor da existência de uma relação entre os princípios da construção enxuta e os critérios competitivos da produção, visto que, além da média geral das combinações apresentar um valor próximo de quatro (3,81), cerca de metade das combinações analisadas apresentaram valores cujas médias aritméticas estão entre quatro e cinco, correspondendo a uma relação forte e muito forte, respectivamente. Apenas uma combinação obteve consenso entre os participantes, ou seja, todos atribuíram a mesma nota, indicando uma relação muito forte (nota máxima, cinco), foi: 6.4 (Aumento da flexibilidade de saída/Flexibilidade). Inferiu-se que as três combinações princípios/critérios que mais divergem são, em ordem decrescente: 1.5 (Redução da parcela de atividades que não agregam valor/Inovação), 3.5 (Redução da variabilidade/Inovação) e 3.6 (Redução da variabilidade/Sustentabilidade). Por sua vez, as que menos divergem são, em ordem crescente: 6.4 (Aumento da flexibilidade de saída/Flexibilidade), 4.3 (Redução do tempo de ciclo/Prazo) e 11.5 (Benchmarking/Inovação). No desenvolvimento deste trabalho, algumas dificuldades foram encontradas. Dentre elas, as diferentes visões que tanto os participantes do grupo focal quanto da entrevista mostraram, visto que, em alguns momentos, os mesmos não conseguiram transmitir claramente suas opiniões. Palavras-chaves: Lean construction, relação, critérios competitivos.
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Sistema Toyota de Produção . .............................................................................. 17
Figura 2.2 – Modelo Tradicional de processo ......................................................................... 19
Figura 2.3 – Modelo de processo da Lean Construction ......................................................... 20
vii
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 – As escolas de pensamento estratégico ................................................................. 7
Quadro 2.2 – Exemplo de autores que abordam os Critérios Competitivos ............................ 10
Quadro 2.3 – Relação dos desejos dos clientes com os critérios competitivos da função produção das empresas de construção de edificações ............................................................. 11
Quadro 3.1 – Apresentação das Etapas da Pesquisa ................................................................ 26
Quadro 3.2 – Perfil dos Profissionais Participantes do Grupo Focal ...................................... 27
Quadro 3.3 – Intensidades da relação ...................................................................................... 27
Quadro 3.4 – Perfil dos Participantes da Terceira Etapa .......................................................... 28
Quadro 4.1 – Resultados da compilação das respostas dos participantes destacando os itens com maiores variações ............................................................................................................. 30
Quadro 4.2 – Resultados de todas as combinações em ordem decrescente de desvios padrões com destaque para as dez maiores variações de resposta (maiores desvios padrões) e para as três menores ............................................................................................................................. 31
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LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 - Distribuição de freqüência das médias das combinações (Princípios versus Critérios) . ................................................................................................................................. 35
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
1.1 Considerações Iniciais ................................................................................................. 1
1.2 Problema de Pesquisa .................................................................................................. 4
1.3 Objetivos ...................................................................................................................... 4
1.3.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 4
1.3.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 4
1.4 Estrutura da Monografia .............................................................................................. 5
2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 6
2.1 Estratégia na Construção Civil .................................................................................... 6
2.2 Estratégia de Produção e Critérios Competitivos na Construção ................................ 9
2.2.1 Custo ................................................................................................................. 11
2.2.2 Desempenho na Entrega ................................................................................... 12
2.2.3 Qualidade .......................................................................................................... 12
2.2.4 Flexibilidade ..................................................................................................... 13
2.2.5 Inovação............................................................................................................ 13
2.2.6 Sustentabilidade ................................................................................................ 14
2.3 Produção, Pensamento e Construção Enxuta ............................................................. 15
2.3.1 Sistema Toyota de Produção ............................................................................ 16
2.3.2 Do Pensamento à Construção Enxuta ............................................................... 18
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 25
4. ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................................ 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 38
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1. INTRODUÇÃO
Nesta seção, encontra-se a introdução deste trabalho. A mesma divide-se em
Considerações Iniciais, Problema de Pesquisa, Objetivos e Estrutura do Trabalho.
1.1 Considerações Iniciais
De acordo com Isatto et. al. (2000), ao longo do últimos anos, a indústria da
construção civil brasileira tem passado por importantes mudanças. Estas são provocadas
principalmente pelo crescimento da competição existente no setor, aumento do nível de
exigência dos seus principais clientes e reivindicações, por parte da mão de obra, de melhores
condições de trabalho.
Diversos fatores contribuem para esse quadro, dentre eles, as ações
governamentais que resultaram na estabilidade da economia. O êxito da política monetária
adotada, evidenciado pela trajetória declinante do nível de taxas de juros reais da economia
brasileira e pela manutenção da estabilidade de preços, aliada a recentes medidas promovidas
na regulamentação a que estão sujeitas as instituições financeiras integrantes do Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), propiciou significativo crescimento na
contratação de novos financiamentos imobiliários. Vale ressaltar ainda que esse aporte
financeiro foi influenciado pelas medidas adotadas tais como a aprovação de leis como a que
instituiu o patrimônio de afetação e o valor incontroverso (Lei Nº 10.931, de 02/08/2004) e a
alienação fiduciária (Lei Nº 9.514 de 20/11/97), as quais incentivaram bancos e investidores a
financiarem novos projetos.
Somando-se aos acontecimentos mencionados tem-se ainda a abertura de capital
de várias empresas do setor da construção, ensejando grandes volumes de recursos destinados
a obras em todas as regiões do país. Merece destaque as demandas relativas ao Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), às obras ligadas à Copa do Mundo de 2014 e ao Programa
Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal.
Com isso, desde os tempos do “milagre econômico” e do boom do extinto Banco
Nacional da Habitação (BNH) que a indústria da construção civil não experimenta um
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desenvolvimento tão expressivo como o que vem ocorrendo nos últimos anos, fazendo com
que o mercado imobiliário se mantenha aquecido (ROBUSTI, 2008).
Diante desse quadro, o ambiente empresarial torna-se imerso em constantes
mudanças e cada vez mais competitivo, gerando novos padrões de consumo. Esta situação
verifica-se em afirmações de diversos autores. Para Barros Neto, Fensterseifer e Formoso
(2003, p. 68), a eficiência da produção não é única prioridade no mercado:
Durante muito tempo a prioridade competitiva da função produção foi a busca incessante da eficiência. Porém, atualmente, verifica-se que esta não é mais a única prioridade do setor e que, dependendo do mercado e dos desejos dos clientes, outras poderão ser mais valorizadas que a busca da redução dos custos.
Costenaro, Wegner e Ceretta (2003), por sua vez, afirmam que o surgimento de
novos padrões de consumo força as empresas a obterem maiores capacidades de criatividade e
flexibilidade para atender ao mercado consumidor.
É baseado neste contexto que as empresas, com o passar do tempo, passaram a
explorar novos caminhos a fim de obter uma alternativa competitiva que as deixassem em
vantagem em relação às suas concorrentes.
Em Fortaleza (CE), por exemplo, algumas empresas do setor introduziram em
seus canteiros de obra os princípios da Lean Constrution (construção enxuta), com apoio de
acadêmicos e consultores cearenses de larga experiência profissional, colhendo, nessa
tentativa, rápidos e vultosos ganhos de produtividade (BARROS NETO; ALVES; ABREU,
2007).
Outro caminho escolhido pelas construtoras a fim de aumentar a sua
competitividade no setor foi a priorização de ações através dos critérios competitivos (custo,
qualidade, flexibilidade, serviços, desempenho de entrega e inovatividade). Segundo Paiva,
Carvalho e Fensterseifer (2004), os critérios competitivos são definidos como um conjunto
consistente de prioridades ou fatores competitivos que as empresas elegem para competir no
mercado.
O gerenciamento de resultados também foi utilizado como estratégia competitiva.
Segundo Kiyan (2001), dentro do processo de gestão, o gerenciamento de resultados assume
um papel crítico, pois busca o melhor posicionamento entre eficiência e eficácia. Ainda
segundo o mesmo autor, a diferença entre eficiência e eficácia é que a primeira refere-se ao
quão economicamente os recursos são aplicados para a geração de serviços e produtos
enquanto o segundo nada mais é que a representação do quanto os resultados planejados
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foram atingidos e ambos, eficiência e eficácia, devem estar sintonizados com os critérios
competitivos valorizados pelo mercado.
Todavia, a aplicação de novas alternativas competitivas nem sempre levam ao
sucesso da empresa. Segundo Barros Neto, Alves e Abreu (2007), ao longo do tempo,
algumas empresas que aderiram aos novos conceitos da filosofia da produção enxuta
estagnaram após a implantação das primeiras melhorias e o surgimento dos primeiros
resultados.
Tal fato ensejou uma discussão estratégica sobre o processo de implantação desta
filosofia, visando impedir problemas parecidos aos que sucederam com os programas de
qualidade total – as empresas se preocupam com a implantação de ferramentas, dentro de uma
visão operacional, que, ao longo do tempo, não se sustentam, face à ausência de uma
discussão estratégica a respeito das contribuições da implantação para a melhoria da
competitividade e do estabelecimento de uma visão de futuro que norteie todo o processo
(BARROS NETO; ALVES; ABREU, 2007).
Vale ressaltar também que, segundo Skinner (1974) e Wheelwright (1984), seria
difícil para uma companhia atingir, simultaneamente, altos índices de desempenho em todos
os critérios competitivos. Tal fato os levou a afirmarem que as empresas teriam que, através
de escolhas estratégicas, decidirem quais critérios priorizar. Para Teixeira e Paiva (2008, p.
459), “Essa necessidade de escolher em quais critérios competir estaria relacionada aos trade-
offs da área de operações”.
Os trade-offs, por sua vez, são caracterizados como “incompatibilidades entre dois
ou mais critérios, ou seja, as situações em que a melhoria de um critério poderá implicar
impacto negativo em outro” (PAIVA; CARVALHO; FENSTERSEIFER, 2004, p. 55).
Portanto, considerando a importância da Lean Construction e dos Critérios
Competitivos da Produção no mercado empresarial e as conseqüências que a má compreensão
e utilização dos mesmos possa acarretar, um estudo que não apenas verifique se há relação
entre eles, mas também avalie a intensidade da mesma, justifica-se como um trabalho de
contribuição tanto para o meio acadêmico quanto para o mercado de trabalho.
Vale ressaltar que, como a proposta do projeto envolveu diversos fatores, o
mesmo se utilizou apenas de estatística descritiva (média, desvio padrão, valor máximo e
valor mínimo) para a análise dos dados.
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1.2 Problema de Pesquisa
Ao longo do tempo, o ambiente empresarial tornou-se altamente competitivo e,
portanto, as empresas construtoras passaram a adotar estratégias para a obtenção de uma
alternativa viável para destacar-se no mercado.
Dentre as estratégias, temos a implantação da Lean Construction cujo objetivo é
melhorar a gestão de processos e a utilização dos Critérios Competitivos da Produção a fim de
priorizar as ações.
O uso da construção enxuta combinada com os critérios competitivos poderia
trazer maiores benefícios para os empresários do ramo da construção, que teriam resultados
mais produtivos.
Com isso, pensou-se em estabelecer as relações mais claras entre eles, pois, apesar
de ambas as estratégias serem amplamente visadas no mercado da construção civil, a
quantidade de trabalhos que busquem relacioná-las é escassa. Logo, não se sabe quanto o
emprego de uma influência na outra.
.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Verificar a existência da relação entre os princípios da Lean Construction com os
Critérios Competitivos da Produção.
1.3.2 Objetivos específicos
i. Obter o grau de influência que cada princípio da Lean exerce em cada critério;
ii. Indicar as relações princípios/critérios que tem um maior grau de divergência
de opiniões entre os participantes;
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iii. Indicar as relações princípios/critérios que tem um menor grau de divergência
de opiniões entre os participantes.
1.4 Estrutura da Monografia
Este trabalho será dividido em cinco capítulos, onde o primeiro é esta introdução
que aborda a contextualização do problema, a justificativa, os objetivos e a estrutura.
O segundo capítulo explana, através de uma revisão bibliográfica, a Estratégia na
Construção Civil; a Estratégia de Produção e os Critérios Competitivos na Construção;
Produção, Pensamento e Construção Enxuta.
O terceiro capítulo, por sua vez, apresenta a metodologia utilizada bem como o
delineamento da pesquisa.
O quarto capítulo apresenta e discute os resultados obtidos na aplicação dos
questionários e entrevistas com interessados no tema abordado.
O quinto e último capítulo coloca as conclusões e comentários finais obtidos após
o término do trabalho bem como sugestões para trabalhos futuros.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
Apresenta-se, a seguir, uma revisão bibliográfica a respeito dos temas que
contribuem diretamente nesta pesquisa. Tal seção dividisse em Estratégia na Construção
Civil; Estratégia de Produção e Critérios Competitivos na Construção e Produção,
Pensamento e Construção Enxuta.
2.1 Estratégia na Construção Civil
Na indústria da construção civil brasileira, verifica-se que mudanças conjunturais
nos mercados e diferenças entre tipos de clientes e várias modalidades de contratos
necessitam de diferentes desempenhos da função produção. Porém, isto nem sempre é
percebido pelas empresas, pois no momento de investir em melhorias, muitas vezes, não se
preocupam em analisar os desejos e características dos clientes (BARROS NETO, 1999).
As empresas construtoras vêm investindo, por exemplo, em programas de
qualidade ou em novas tecnologias, mas nem sempre estes investimentos são bem sucedidos e
dão o retorno esperado. Isto pode ocorrer porque durante a tomada de decisão não se trabalha
de maneira sistêmica. Esses problemas de introdução de melhorias podem ser decorrentes de
um processo realizado sem planejamento e sem uma abordagem estratégica adequada
(BARROS NETO, 1999).
Diante disto, segundo Azevedo (2008), a fim de que as empresas possam tomar as
melhores decisões visando o cumprimento dos seus objetivos propostos, estas devem buscar
conhecer a si mesmas (ambiente interno) e o seu entorno (ambiente externo).
Portanto, o assunto estratégia torna-se cada vez mais frequente nas empresas que
objetivam a liderança do mercado. Carvalho e Laurindo (2003, p. 2) comentam sobre a
origem e o significado da palavra estratégia:
A palavra estratégia vem do grego stratego, que literalmente significa general. Na clássica divisão dos aspectos da guerra entre operacional, tático e estratégico, o aspecto estratégico está ligado ao planejamento, ao âmbito mais geral e de horizonte de tempo mais longo. Embora seu significado tenha mudado através dos tempos, desde as guerras napoleônicas engloba aspectos militares, políticos e econômicos. (CARVALHO; LAURINDO, 2003, p. 2).
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Estratégia é um conceito amplo, associado com a atividade de previsão e
planejamento do futuro. É possível encontrar na literatura diversas definições para o tema,
como Chandler (1962, p. 13), “estratégia é a determinação das metas e dos objetivos básicos
de longo prazo de uma empresa e a adoção de cursos de ação e a alocação dos recursos
necessários para realizar essas metas”.
Andrews (2001, p. 58), por sua vez, diz que estratégia empresarial é “o padrão de
decisões em uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz
as principais políticas e planos para obtenção dessas metas e define a escala de negócios em
que a empresa deve se envolver, o tipo de organização econômica e não-econômica que
pretende proporcionar a seus acionistas, funcionários e comunidades”.
Já para Wright, Kroll e Parnell (2000, p. 24), “estratégia refere-se aos planos da
alta administração para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da
organização”.
Porter (1986, p. 68), por sua vez, respondendo à pergunta o que é estratégia,
ensina que “estratégia é a criação de uma posição única e valiosa, envolvendo um conjunto
diferente de atividades”.
A partir de uma perspectiva mais ampla, segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel
(2000), existem dez escolas de pensamento estratégico que surgiram em estágios diferentes do
desenvolvimento da administração. O Quadro 2.1 traz um resumo delas e seus respectivos
processos de formulação e características.
Quadro 2.1 – As escolas de pensamento estratégico (Adaptado de MINTZBERG, AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).
ESCOLA PROCESSO DE FORMULAÇAO
DE ESTRATÉGIA CARACTERÍSTICA
Design Concepção
Prescritiva Planejamento Formal
Posicionamento Analítico
Empreendedora Visionário
Descritiva
Cognitiva Mental
Aprendizado Emergente
Poder Negociação
Cultural Coletivo
Ambiental Reativo
Configuração Transformação Combina as características anteriores
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Essas escolas dividem-se em três grupos, em função de sua natureza ou
característica principal. As que estão agrupadas no primeiro grupo são prescritivas, as seis
seguintes caracterizam-se como descritivas, e o terceiro e último grupo contém somente uma
escola, combinando as características das anteriores. Todas essas escolas surgiram em
estágios distintos do desenvolvimento da administração estratégica. Algumas já chegaram ao
pico e declinaram, outras estão agora se desenvolvendo e outras permanecem pequenas, mas
significativas em termos de publicação e de prática (MINTZBERG; AHLSTRAND;
LAMPEL, 2000).
De acordo com Motta (1991), a evolução da estratégia empresarial pode ser
composta por três períodos: formulação estratégica, planejamento estratégico e gerência
estratégica. O primeiro surgiu na década de 50 e tinha como objetivo incutir nas empresas
uma nova perspectiva de futuro, através do conhecimento de onde e como expandir a sua
atuação e melhorar o seu desempenho. As empresas operavam em um ambiente estável e com
um horizonte maior de previsibilidade do futuro. O segundo surgiu na década de 60. Neste
período, além da popularização do conceito de estratégia, o ambiente se torna cada vez mais
mutável, resultando em uma redução da previsibilidade do futuro. Busca-se, neste período,
explorar ao máximo as dimensões racionais de gerência para dominar as ambiguidades que
surgiam no ambiente. O terceiro e último período iniciou-se na década de 70 e é retratado por
um esforço das empresas a fim de implantar, de maneira mais eficaz por toda a organização,
as idéias inauguradas no primeiro período: o ato de planejar como um processo contínuo,
marcado pela inovação e adaptação a um ambiente cada vez mais mutável.
Wheelwright (1984) apresenta os três níveis hierarquizados da estratégia:
estratégia corporativa, estratégia de negócios, e estratégias funcionais. Ainda segundo esse
mesmo autor, a estratégia corporativa diz respeito à corporação/grupo, gerencia os recursos
corporativos, organiza os vários objetivos estratégicos e define os negócios nos quais a
empresa pretende participar; a estratégia de negócios define os limites de cada negócio,
esclarece como manter uma vantagem competitiva em cada um deles, busca novas
oportunidades de negócios, e analisa as mudanças ambientais; e as estratégias funcionais
especificam como determinada função dará suporte à vantagem competitiva desejada pela
estratégia de negócios e como ela complementará as outras estratégias funcionais.
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2.2 Estratégia de Produção e Critérios Competitivos na Construção
Os principais elementos que definem o conteúdo de uma estratégia de produção
são os critérios competitivos, relacionados com a estratégia competitiva da empresa e as
categorias de decisão de longo prazo que auxiliam a tomada de decisão no âmbito da função
produção das empresas (BARROS NETO, 1999).
Apesar de estudos sobre os critérios competitivos terem sido pouco explorados, de
acordo com Barros Neto (1999), a partir dos anos 60, as empresas começaram a perceber que,
a fim de manter a lucratividade e a competitividade, não bastava proporcionar aos clientes
apenas um menor custo, pois os mesmos começaram a considerar também outros critérios.
Ainda segundo esse mesmo autor, o Japão foi o pioneiro no reconhecimento
dessas mudanças e, com isso, passou a verificar que esta nova conjuntura tinha como base
competitiva a valorização da função produção como uma fonte potencial de vantagem
competitiva na indústria de manufatura. Para tal, o Japão investiu fortemente nos recursos
humanos e na gestão de processos que influenciavam diretamente na produção.
Com isso, segundo Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003), em função do
tipo de mercado no qual a empresa pretende atuar, do grau de concorrência interna nesse
mercado, da sua competência interna e do tipo de produto produzido, a empresa terá que focar
em alguns critérios, aproveitando, de tal forma, os seus recursos, capacidades e oportunidades
de mercado objetivando tornar-se cada vez mais competitiva.
Com base no trabalho de Barros Neto (1999), os critérios competitivos são
definidos como um conjunto de prioridades consistentes que uma empresa tem que valorizar
para competir no mercado. A distinção entre as estratégias de produção adotadas por
diferentes empresas reside no peso que se atribui a cada um dos critérios competitivos e na
forma como eles são efetivamente cumpridos no setor de produção.
Vale ressaltar que os critérios podem ser divididos em dois tipos: primeiramente,
os qualificadores, que necessitam estar em um patamar mínimo exigido pelo mercado, ou
seja, padrão mínimo de desempenho para um produto sobreviver ao mercado; e os
ganhadores de pedido, que oferecem desempenho melhor do que o da concorrência a fim de
aumentar a competitividade. Vale enfatizar que a seleção entre estes critérios dependerá das
circunstâncias de cada mercado em que a empresa atua (HILL, 1995 apud BARROS NETO,
1999).
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Diante desse cenário, foram surgindo outros critérios competitivos que passaram a
ser considerados na fabricação dos produtos. Tal fato pode ser verificado ao se analisar os
trabalhos publicados, ao longo dos anos, que tratam do assunto.
No Quadro 2.2, consta um exemplo que reúne diversos autores que são
especialistas no assunto bem como os critérios competitivos analisados nos seus respectivos
trabalhos.
Quadro 2.2 – Exemplo de autores que abordam os Critérios Competitivos (Adaptado de BETTO; FERREIRA; TALAMINI, 2007).
Hayes e
Wheelwright
(1984)
Slack (1993) Hill (1997) Barros Neto
(1999)
Paiva, Carvalho
e Fensterseifer
(2004)
Critérios
Competitivos
Preço
Qualidade
Confiabilidade
Flexibilidade
Qualidade
Velocidade
Confiabilidade
de entrega
Flexibilidade
Custo
Custo
Produto com
qualidade
Entrega rápida e
confiável
Custo
Desempenho na
entrega
Qualidade
Flexibilidade
Inovação
Serviços
Custo
Qualidade
Flexibilidade
Desempenho na
Entrega
Inovatividade
Nesta Monografia, os critérios utilizados foram os de Barros Neto (1999), por
adequar-se melhor aos objetivos do trabalho. Isto decorre do fato de que esse autor em seu
trabalho adaptou os critérios competitivos até então divulgados na literatura ao universo da
construção civil.
Vale ressaltar que, aos critérios proposto por ele, o critério Serviços foi
substituído pelo critério Sustentabilidade. Tal modificação ocorreu devido à crescente
importância que esse critério ganhou recentemente (DONAIRE, 1995 apud MIRANDA;
SAMUDIO; DOURADO, 1997).
No Quadro 2.3, constam os critérios competitivos que serão considerados nesse
trabalho. Os mesmos estão relacionados com os desejos dos clientes a fim de mostrar as
variáveis genéricas que os clientes anseiam.
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Quadro 2.3 – Relação dos desejos dos clientes com os critérios competitivos da função produção das empresas de construção de edificações (Adaptado de BARROS NETO, 1999).
DESEJO DOS CLIENTES CRITÉRIOS COMPETITIVOS DA
PRODUÇÃO Preço Custo - Menor preço - Menor custo (aumento da produtividade) - Condições de pagamento - Adequação ao Fluxo de Caixa
Prazo Desempenho na Entrega - Prazo de entrega - Velocidade de produção - Garantia de entrega no prazo - Confiabilidade de entrega
Produto Qualidade - Desempenho do produto - Conformidade com os contratos - Conformação com os projetos - Qualidade do processo (boa execução)
- Possibilidades de alteração Flexibilidade - Flexibilidade do produto
- Introdução de novos produtos Inovação (“Inovatividade”)
Produtos Sustentáveis Sustentabilidade
Nos sub-tópicos seguintes, há uma explanação sobre cada critério competitivo
adotado neste trabalho.
2.2.1 Custo
De acordo com Teixeira e Paiva (2008), esse critério competitivo objetiva a
redução dos custos de produção (mão-de-obra, matéria-prima, instalações e transporte) a fim
de oferecer ao cliente um produto final com um menor preço. Este critério, segundo
Wheelwright (1984), pode ser considerado como fonte de vantagem competitiva e está ligado
aos preços dos produtos e serviços.
Segundo Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003), é notória a inclusão do
custo como um critério competitivo, pois ele possui uma ligação direta com a eficiência da
empresa em produzir cada vez mais utilizando menos recursos.
Além disso, segundo Silva (1995) e Barros Neto (1999), o custo é o critério mais
perseguido pelas empresas construtoras. Porém, muitas vezes as mesmas desconhecem como
reduzir estrategicamente seus custos. A produção, portanto, adquire um papel de suma
importância na competição pelo menor preço através da atuação nos custos de produção,
buscando assim, melhor adequação ao fluxo de caixa dos empreendimentos.
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Todavia, Segundo Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003), pelo fato do
produto final da construção ter um elevado valor, além do menor preço, outros fatores são
bastante considerados pelos clientes no ato da compra, por exemplo, as condições de
pagamento. Tal situação ocorre quando o valor da prestação e a forma de pagamento
preponderam em relação ao preço real do imóvel.
2.2.2 Desempenho na Entrega
Comumente conhecido em muitas indústrias como um critério qualificador, o
critério desempenho na entrega, no mercado da construção civil, é considerado, em muitas
ocasiões, como um critério ganhador de pedido, pois uma parte significativa das empresas que
atuam nesse setor negligencia o prazo de entrega do produto final (BARROS NETO, 1999).
Segundo Slack (1993), o critério desempenho na entrega pode ser dividido em
confiabilidade na entrega e velocidade de produção (ou entrega). Complementando esta
afirmativa, Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003) consideram que o desempenho na
entrega está baseado na valorização do tempo.
De acordo com Betto, Ferreira e Talamini (2007), este critério competitivo
significa, conforme o que foi acertado com o cliente, completar as atividades em tempo para
que os mesmos recebam seus bens e/ou serviços, tornando a confiabilidade do cliente tanto na
rapidez da entrega, como no prazo, um diferencial competitivo na escolha do produto.
Vale ressaltar que, por se tratar de um produto que possui um elevado tempo de
processamento, na construção civil, o prazo torna-se uma variável de suma importância para
os clientes, pois os mesmos investem seu capital durante um longo período de tempo sem que
possam desfrutar do seu bem (BARROS NETO; FENSTERSEIFER; FORMOSO, 2003).
2.2.3 Qualidade
De acordo com Wheelwright (1984), o critério qualidade significa oferecer um
produto de qualidade elevada ou que possua desempenho ou características que não são
ofertadas nos outros produtos do mercado.
13
Segundo Picchi (1993), este critério pode ser dividido em três dimensões:
qualidade de conformação, que aborda os aspectos de eficiência do processo, bem como, os
aspectos de atendimento às especificações e ao projeto; qualidade de serviços, que
compreende o atendimento e informação ao cliente, bem como, a assistência técnica; e
qualidade de projeto, esta envolve o grau em que o produto, por meio da sua concepção e
especificações, atende aos desejos dos consumidores.
Com isso, Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003) mostram que, no setor da
construção civil, o critério qualidade é melhor abordado ao ser dividido em três partes:
conformação com os contratos, conformação com os projetos e qualidade no processo
construtivo.
2.2.4 Flexibilidade
Segundo Wheelwright (1984), o critério flexibilidade considera dois aspectos:
flexibilidade de volume e produto. Em adição a esses aspectos, há a flexibilidade de entrega,
que se refere à busca de diferentes tempos de entrega e de mix de produto (SLACK et. al.,
1999 apud TEIXEIRA; PAIVA, 2008).
Por se tratar de um conceito bastante amplo, a implantação deste critério ao setor
da construção civil torna-se difícil. Porém, Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003)
expõem que a flexibilidade que mais se encaixa com as características desse mercado é a
flexibilidade de produto. Tal fato verifica-se, pois esse tipo de flexibilidade abrange a
facilidade com que a empresa tem de adaptar seus produtos a um ou mais clientes,
questionando-se o tipo de modificação, o quanto se poderá modificar e até quando poderão ser
solicitadas modificações pelos consumidores.
2.2.5 Inovação
Devido ao aumento da velocidade com que as inovações tecnológicas vêm sendo
introduzidas nas organizações, surge, com uma freqüência cada vez maior, a necessidade de
rever e reformular constantemente as práticas e modelos de gestão adotados (SACHUCK;
14
TAKAHASHI; AUGUSTO, 2008). Com isso, as empresas passaram a considerar esta
característica como um critério competitivo.
Tal fato pode ser verificado na afirmação de Oliveira (2003, p. 95), “com o
surgimento constante de novas tecnologias torna-se conveniente repensar o produto ou o
processo de produção e verificar se as necessidades dos clientes podem ser atendidas de uma
forma mais plena ou econômica”. Portanto a identificação das tecnologias que poderão ser
adotadas pela organização a fim de aumentar o valor do produto na percepção do cliente é o
mais importante neste contexto de inovações tecnológicas (SACHUCK; TAKAHASHI;
AUGUSTO, 2008).
Segundo Betto, Ferreira e Talamini (2007), a inovatividade é a capacidade que
uma empresa possui de implantar novas idéias, sejam elas grandes ou pequenas; introduzir em
suas linhas, novos produtos e/ou processos num determinado intervalo de tempo a fim de
trazer futuras vantagens competitivas.
De acordo com Barros Neto, Fensterseifer e Formoso (2003), percebe-se que, na
construção de edificações, o critério competitivo inovação se evidencia por meio de novos
materiais de construção ou novas concepções arquitetônicas (produto) e novas formas de
construção (processo). Este último se enquadra no Lean Construction, como uma filosofia
inovadora e uma fonte potencial de diferenciais competitivos.
2.2.6 Sustentabilidade
No final da década de 1960, surgiram, a respeito da sustentabilidade dos recursos
naturais, o debate e a reflexão sobre a relação entre o meio ambiente e o crescimento
econômico. Naquele momento, duas posições eram as que mais se destacavam. A primeira era
formada pelos que acreditavam que o crescimento exponencial ilimitado era incompatível
com a disponibilidade limitada dos recursos naturais e que a única saída para salvar o mundo
da catástrofe resumia-se em parar o crescimento imediatamente (MEADOWS; MEADOWS;
RANDERS, 1972). A segunda afirmava que, a fim de frear a ascensão do Terceiro Mundo, os
países desenvolvidos teriam inventado a problemática ambiental.
Diante deste cenário, a partir de 1987, quando foi utilizado pela Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas o Relatório
Brundtland, o termo Sustentabilidade popularizou-se mundialmente, pois, neste ano, surgiu a
15
sua definição mais difundida (WCED, 1987), a qual considera que o desenvolvimento
sustentável deve satisfazer as necessidades da geração presente sem comprometer as
necessidades das gerações futuras.
A sustentabilidade, na maioria dos estudos, é formada por três dimensões que se
relacionam: ambiental, social e econômica. Elas são conhecidas como tripple bottom line. A
dimensão ambiental ou ecológica estimula empresas a considerarem o impacto de suas
atividades sobre o meio ambiente, na forma de utilização dos recursos naturais, e contribui
para a integração da administração ambiental na rotina de trabalho; a dimensão social consiste
no aspecto social relacionado às qualidades dos seres humanos, como suas habilidades,
dedicação e experiências, abrangendo tanto o ambiente interno da empresa quanto o externo;
a dimensão econômica inclui não só a economia formal, mas também as atividades informais
que provêem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam, assim, a renda monetária e o
padrão de vida dos indivíduos (ALMEIDA, 2002).
De acordo com Claro, Claro e Amâncio (2008), ultimamente, o discurso dos
empreendedores e gestores sobre sustentabilidade é direcionado ao mercado consumidor, aos
concorrentes, aos seus funcionários, às organizações Não-Governamentais (ONGs), aos
parceiros e aos órgãos governamentais.
Segundo esses mesmos autores, muitas empresas enfrentam dificuldades ao
associar seus discursos e práticas gerenciais a uma definição completa de sustentabilidade,
pois essas empresas acabam focando apenas em pontos específicos da sustentabilidade como
as questões sociais, questões ambientais e, em alguns casos, questões exclusivamente
econômicas.
Vale ressaltar que, conforme Claro, Claro e Amâncio (2008), mesmo após vários
estudos, ainda não há consenso sobre o significado de sustentabilidade, pois as várias
definições criadas tornam o termo sustentabilidade um conceito amplo.
2.3 Produção, Pensamento e Construção Enxuta
Este subtítulo divide-se em duas partes. A primeira apresenta, através do Sistema
Toyota de Produção, as características da Produção Enxuta. A segunda parte, por sua vez,
foca no Pensamento e na Construção Enxuta.
16
2.3.1 Sistema Toyota de Produção
Entre o período que abrange a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, Alfred
Sloan e Henry Ford tornaram-se pioneiros na mudança nos processos de fabricação, antes
regido pela produção artesanal, após implantar a idéia de produção em massa. Implantação
essa que ajudou os Estados Unidos a assumirem a hegemonia econômica global (WOMACK;
JONES; ROOS, 2004).
Logo após a Segunda Guerra Mundial, surgiu um novo processo denominado de
produção enxuta, este superava a produção em massa por utilizar-se de menos recursos
tangíveis e intangíveis. Segundo Womack, Jones e Roos (2004), a primeira organização que
se tem conhecimento de que implantou este novo processo chama-se Toyota, empresa
fundada em 1937 pela família Toyoda.
A Lean Production (Produção Enxuta) foca na máxima efetividade de um
processo de produção, ao mesmo tempo em que procura a máxima eficiência do processo.
Para alcançar esse patamar de eficácia e eficiência, devem-se usar ferramentas adequadas para
o gerenciamento da construção (FANIRAN; OLUWOYE; LENARD, 1997 apud GOMES;
GOMES JÚNIOR, 2009).
Conforme Womack, Jones e Roos (2004, p. 2), “...a adoção da produção enxuta,
na medida em que inevitavelmente se expanda além da indústria automobilística, resultará em
mudanças globais em quase todas as indústrias”.
Percebe-se assim, que o século XX foi palco de uma evolução ocorrida na função
produção, uma vez que assistiu a passagem da produção artesanal para a produção em massa
e, em seguida, para a produção enxuta (AZEVEDO, 2008).
De acordo com Ching e Lima (2005), o Sistema Toyota de Produção ganhou
maior visibilidade após a publicação do livro “A maquina que dominou o mundo” que fora
publicado por Womack, Jones e Ross (1992). Esse livro é baseado no estudo do
Massachusetts Institute of Technology sobre o futuro do automóvel. Eles percorreram
montadoras do mundo inteiro procurando saber suas práticas de manufatura e se
surpreenderam com o que estava sendo realizado no Japão.
Segundo Ohno (1997), a filosofia desse sistema depende de determinação e
decisão de cúpula. Baseia-se na busca pela eliminação de desperdícios, tendo como base do
sistema enxuto a estabilidade e como os pilares de sustentação o just-in-time e a autonomação.
17
Na Figura 2.1, há uma representação de como se baseia o Sistema Toyota de
Produção.
Figura 2.1 – Sistema Toyota de Produção (Adaptado de Lean Institute Brasil, 2008).
Ainda segundo Ohno (1997), a gestão de um negócio pela ótica do Sistema
Convencional de Gestão da Produção conduz para que se produza segundo a máxima
capacidade de produção dos recursos, antecipando assim, a demanda futura sob a forma de
estoques. Portanto, pela capacidade excessiva do primeiro processo, o ritmo de produção é
ditado, que conduz o mesmo em direção aos processos sucessivos, resultando um inventário
consideravelmente maior do que o necessário.
De acordo com o mesmo autor, no just-in-time, há o gerenciamento objetivando a
obtenção do nivelamento da produção e da diminuição das variabilidades no processo. A fim
de proteger o sistema das incertezas e flutuações dos processos de manufatura, há uma
atribuição de pequenos estoques de material em processo na frente de cada centro produtivo.
Todavia, ao alcançar este estoque, o processo precedente é interrompido.
Portanto, no just-in-time, eliminam-se ou reduzem-se os desperdícios de
superprodução, de espera, de transporte do processamento em si e outros. Logo, considerando
toda a cadeia produtiva, esse sistema possui uma quantidade de estoques consideravelmente
inferior ao Sistema Convencional (SILVA; SILVA, 2001).
Vale ressaltar que, para Ohno (1997), o just-in-time significa, observando um
fluxo de produção, fornecer a peça correta, na quantidade exata, na melhor hora e no local
necessário.
18
No que diz respeito à autonomação (jidoka), Ohno (1997) afirma que esse sistema
compreende em dotar as máquinas com dispositivos capazes de identificar falhas e de parar a
linha de produção caso a mesma seja defeituosa. Tal autonomia pode ser obtida pela
multifuncionalidade de operadores e operação via lay-out celular.
Logo, a adoção da autonomação, de acordo com Silva e Silva (2001), traz duas
vantagens significativas: a eliminação da produção de peças defeituosas e a oportunidade para
que seja feita uma análise do defeito, procurando sua causa e solução.
Vale ressaltar que, ainda segundo esses autores, o Poka-Yoke, que significa “à
prova de defeitos” em japonês, e o andon, sinal luminoso indicativo de parada de produção,
são elementos fundamentais na autonomação.
2.3.2 Do Pensamento à Construção Enxuta
Lean Thinking, ou Mentalidade Enxuta é um termo utilizado para denominar uma
filosofia de negócios baseada no Sistema Toyota de Produção, o qual olha com detalhe para
as atividades básicas envolvidas no negócio e identifica o que é o desperdício e o que é o
valor a partir da ótica dos clientes e usuários (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2008).
Essa mentalidade pode ser resumida no objetivo de produzir cada vez mais
satisfazendo os desejos dos clientes utilizando cada vez menos recursos, eliminando assim, os
desperdícios no processo, focando nas atividades que agregam valor aos clientes. Ressalta-se
ainda que, inicialmente, a implantação dos novos conceitos ocorra em projetos isolados a fim
de que, posteriormente, possa-se estendê-la a outros empreendimentos das empresas
(WOMACK; JONES, 1998 apud COSTA; ROLA; AZEVEDO, 2009). Vale ressaltar que
esses mesmos autores enumeram os cinco princípios do Pensamento Enxuto:
i. Especificação do Valor (o que agrega valor ao produto para o cliente);
ii. Identificação da cadeia de valor (onde o valor é gerado);
iii. Fluxo (fazer o valor fluir);
iv. Produção puxada (produzir somente quando o cliente demandar);
v. Perfeição (melhoria contínua).
19
O Pensamento Enxuto na construção civil é chamado de Construção Enxuta (Lean
Construction). De acordo com Isatto et. al. (2000), a publicação do trabalho Application of the
new production philosophy in the construction industry por Koskela (1992) do Tecchnical
Research Center (VTT) da Finlândia, a partir do qual foi criado o Grupo Internacional pela
Lean Construction (IGLC), foi de suma importância para a disseminação desse novo conceito
ao setor da Construção Civil.
A diferença entre a filosofia gerencial tradicional e a lean production é
principalmente conceitual, ensejando que os procedimentos recomendados pela produção
enxuta possam ser aplicados em todas as indústrias produtoras de bens e serviços. Na
indústria da construção civil, em particular, a maioria dos compradores gostaria de ter
exatamente a construção necessária, o mais rápido possível, ao menor preço possível. Em se
tratando de reforma, caso em que não se pode deixar a casa ou o escritório durante as obras, o
atual sistema é inviável, pois não só exige um intervalo de tempo maior entre o começo e o
fim da obra, como também, quando o trabalho termina oficialmente, há uma lista considerável
de afazeres que limita as relações entre usuários e construtores (WOMACK; JONES, 1998
apud AZEVEDO; BARROS NETO; NUNES, 2010).
Na visão tradicional, um processo de produção consiste em um conjunto de
atividades de conversão de matérias-prima (inputs) em produtos (outputs), constituindo,
assim, o denominado modelo de conversão (KOSKELA, 1992). Para este modelo, o processo
de conversão pode ser dividido em vários subprocessos que, por sua vez, são considerados
também como atividades de conversão (Figura 2.2). A continuar, ainda à luz do paradigma
tradicional, a menor unidade de uma divisão hierárquica de um processo é chamada de
operação (SHINGO, 1996).
Figura 2.2 – Modelo Tradicional de processo (KOSKELA, 1992).
20
No entanto, na Lean Production considera-se que o ambiente produtivo é
composto por atividades de conversão e de fluxo. Embora sejam as primeiras que agregam
valor ao processo, o gerenciamento das atividades de fluxo constitui uma etapa essencial na
busca do aumento dos índices de desempenho dos processos produtivos (KOSKELA, 1992).
Essas últimas podem ocorrer, ainda, através de atividades de transporte, movimentação ou
espera (Figura 2.3).
Figura 2.3 – Modelo de processo da Lean Construction (adaptado de KOSKELA, 1992)
De acordo com Isatto et. al. (2000), O modelo da Figura 2.3 é aplicável não
somente aos processos de produção, que possuem um caráter físico, mas também a processos
de natureza gerencial, tais como planejamento e controle, suprimentos, projetos, etc. Ainda
segundo esse mesmo autor, no caso de processos gerenciais, ao invés de materiais, ocorre o
transporte, espera, processamento e inspeção de informações.
Segundo Koskela (1992), a Construção Enxuta possui um conjunto de 11
princípios para a gestão dos processos. Logo abaixo, há uma explanação resumida de cada
princípio bem como alguns exemplos de ações que visam atender aos mesmos:
Princípio 1 (Redução da parcela de atividades que não agregam valor):
Acredita-se que a melhoria de um processo não necessariamente ocorre apenas com a
melhoria das atividades que este abrange, ela pode acontecer também através da eliminação
de algumas dessas atividades (ISATTO, et. al. 2000).
Conforme Koskela (1992), as atividades que agregam valor são as que convertem
materiais e/ou informações de acordo com os requisitos do cliente e as que não agregam valor
são as que exigem tempo, recursos ou espaço, mas que não adicionam valor ao cliente.
De acordo com Gomes e Gomes Júnior (2009), utilizando-se de uma logística
interna no canteiro de obras a fim de minimizar as distâncias entre os materiais, equipamentos
21
e o local de utilização, há um decréscimo das atividades de fluxo, que não agregam valor ao
produto.
Conforme Isatto, et. al. (2000), a utilização de um dispositivo de suporte do
mangote no bombeamento de argamassa, permite que o servente realize uma atividade que
agrega valor como, por exemplo, espalhar a argamassa, ao invés de segurar o mangote, ou
fazer outras atividades a pedido do pedreiro.
Princípio 2 (Aumento do valor do produto através da consideração das
necessidades dos clientes): Segundo Koskela (1992), este princípio basicamente consiste na
consideração, na gestão da produção e no projeto, das necessidades dos clientes. Sejam eles
internos (equipe da atividade subsequente) ou externos (cliente final).
De acordo com Isatto et. al. (2000), através de pesquisas de mercado com
compradores potenciais ou avaliações pós-ocupacionais de edificações já entregues, deve-se
obter, de forma sistematizada, dados relativos aos requisitos e preferências dos clientes finais.
Com isso, as construtoras podem utilizar essas informações a fim de construir um
empreendimento que atenda as necessidades de seus clientes, através da identificação e
desdobramento dos seus requisitos.
Princípio 3 (Redução da variabilidade): este princípio busca padronizar
projetos, processos, recursos e produtos de modo a reduzir atividades que não agregam valor,
valorizar o produto final e acelerar a produção (ISATTO et. al. 2000).
Segundo Koskela (1992), há duas razões para reduzir a variabilidade do processo.
A primeira consiste que, do ponto de vista do cliente, um produto uniforme é melhor. A
segunda diz respeito à variabilidade que, especialmente na duração das atividades, aumenta a
quantidade das que não agregam valor.
De acordo com Gomes e Gomes Júnior (2009), a padronização dos processos de
execução de serviços e validação de materiais com inspeções no momento do recebimento dos
mesmos, reduz a variabilidade encontrada no canteiro de obras.
Princípio 4 (Reduzir o tempo de ciclo): Originado pela filosofia do Just in Time
(JIT), a aplicação deste princípio objetiva reduzir o tempo de produção de um determinado
produto, trazendo assim benefícios como: entrega mais rápida ao cliente, menor necessidade
de realizar previsões sobre a demanda futura, facilidade de gestão dos processos e redução da
interrupção do processo devido à mudanças do mercado (SCHMENNER 1988, HOPP et. al.
1990 apud KOSKELA, 1992).
De acordo com Koskela (1992), o tempo de ciclo é igual ao somatório do tempo
de processamento, inspeção, espera e transporte.
22
Segundo Isatto et. al. (2000), uma das possíveis ações que podem ser feitas
objetivando a redução do tempo de ciclo é a realização de mudanças nas relações de
precedência entre atividades, eliminando interdependências entre as mesmas de forma que
possam ser executadas em paralelo.
Princípio 5 (Simplificação através da redução do número de passos e partes):
De acordo com Koskela (1992), a aplicação deste princípio pode ser alcançada através da
redução do número de componentes de um produto e das etapas em um fluxo de material ou
informação. Ainda segundo esse mesmo autor, os processos que possuem muitos passos
tendem a ter um número maior de atividades que não agregam valor.
Para Isatto et. al. (2000), a utilização de elementos pré-fabricados, reduzem um
número significativo de etapas para a execução de um elemento da edificação. Esse mesmo
autor também cita como exemplo a utilização de equipes polivalentes, ao invés de um maior
número de equipes especializadas como outra forma de atingir a simplificação.
Princípio 6 (Aumento da flexibilidade de saída): Esse princípio tem como
objetivo proporcionar ao cliente uma gama de possibilidades de produto final sem aumentar,
significativamente, os custos do mesmo.
A utilização de alvenarias internas de blocos de gesso, por exemplo, gerou uma
maior flexibilidade de saída para a construtora, pois a mesma pode proporcionar ao cliente
uma maior variedade de layouts.
Princípio 7 (Aumento da transparência dos processos): Tem como objetivo
facilitar a identificação dos problemas dos processos e tornar mais fácil o entendimento dos
mesmos aos seus operadores e encarregados.
De acordo com Gomes e Gomes Júnior (2009), a implantação do programa 5S,
método utilizado para organizar o espaço de trabalho, principalmente o espaço compartilhado;
a implantação de dispositivos de visualização e comunicação no canteiro, como um mural,
para a divulgação de prazos, metas e a perspectiva da edificação; a identificação de local de
armazenamento de materiais, com instruções sobre os empilhamentos máximos de sacos de
cimento e cal são exemplos de ações que visam o aumento da transparência dos processos.
Princípio 8 (Foco no controle do processo global): Focar no processo como um
todo, significa não apenas realizar melhorias pontuais, mas também interligar estas de modo a
aperfeiçoar o processo global (KOSKELA, 1992).
Na construção civil, conforme Isatto et. al. (2000), o aperfeiçoamento da relação
dos fornecedores/construtoras bem como a existência de um responsável pelo processo como
um todo pode proporcionar melhorias globais. Para Gomes e Gomes Júnior (2009), a
23
integração entre os diversos horizontes de planejamento (longo, médio e curto prazo) é outra
maneira de atender a esse princípio.
Princípio 9 (Introdução da melhoria contínua no processo): peça importante
do JIT, a aplicação deste princípio valoriza os componentes dos processos bem como reduz
parcelas que não agregam valor.
Segundo Isatto et. al. (2000), uma das técnicas para o aperfeiçoamento contínuo
dos processos é a utilização de indicadores de desempenho para a monitoração dos mesmos.
Por sua vez, de acordo com Gomes e Gomes Júnior (2009), outra maneira de atender esse
princípio é a introdução dos procedimentos de ação corretiva e preventiva, utilizados por
empresas que almejam o ingresso no PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade do Habitat), possibilitando a identificação de problemas, no processo, e suas
causas prováveis.
Princípio 10 (Manutenção de um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas
conversões): De acordo com Koskela (1992), para qualquer processo de produção, os
aspectos de fluxo e de conversão possuem diferentes potenciais de melhoria e, por estarem
fortemente ligados, há a necessidade de equilíbrio entre eles.
Segundo Isatto et. al. (2000), com a melhoria dos fluxos, torna-se mais fácil a
implantação de uma nova tecnologia e a mesma proporciona uma redução da variabilidade,
beneficiando assim, os fluxos.
Ainda segundo esse mesmo autor, reduzindo as perdas das atividades de
transporte, inspeção e estoque da alvenaria de blocos cerâmicos, há uma melhoria de
desempenho na execução dessa atividade. Porém, quando este processo alcança elevados
níveis de racionalização, torna-se necessário a avaliação de uma possível introdução de
inovações tecnológicas nas atividades de conversão, como, por exemplo, a utilização de
divisórias leves ou painéis pré-moldados. Após a introdução desta inovação, torna-se
necessário obter, novamente, uma melhoria contínua a fim de melhorar o desempenho das
atividades de fluxo. Tal situação mostra um equilíbrio entre as melhorias.
Princípio 11 (Fazer benchmarking): Consiste, basicamente, no aprendizado dos
processos das empresas consideradas de ponta visando um aperfeiçoamento dos próprios
processos. De acordo com Isatto et. al. (2000), o benchmarking vai contra a originalidade da
melhoria dos processos. Porém, tal prática é adotada por muitas empresas.
24
Ainda segundo esse mesmo autor, para aplicação de benchmarking, diversos
autores recomendam, resumidamente, um processo estruturado que contenha quatro passos:
i. Conhecer os próprios processos da empresa;
ii. Identificar boas práticas em outras empresas similares;
iii. Entender os princípios por trás destas boas práticas;
iv. Adaptar essas práticas encontradas à realidade da empresa.
25
3. METODOLOGIA
Na literatura que aborda a metodologia de trabalhos científicos, as pesquisas
podem ser classificadas de diversas formas. Nesta monografia, são retratadas as classificações
quanto aos objetivos de pesquisa e quanto ao tipo de abordagem.
Em relação aos objetivos de pesquisas, Gil (2002) cita três grupos:
Explicativa: pesquisas cujo objetivo é identificar os fatores que causam a
ocorrência dos fenômenos. Esse tipo de pesquisa é a que mais aprofunda o conhecimento da
realidade. Todavia, vale ressaltar que a mesma decorre de pesquisas descritivas e
exploratórias, as mesmas servem como etapa prévia fundamental para que se alcancem as
explicações científicas.
Exploratória: pesquisas cujo foco é proporcionar ao pesquisador um maior
conhecimento acerca do assunto estudado objetivando a criação de hipóteses que possam ser
utilizadas por estudos posteriores ou a formulação de problemas mais precisos. Esse tipo de
pesquisa pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a
compreensão do mesmo.
Descritiva: tem como objetivo observar, registrar, correlacionar, descrever fatos
ou fenômenos de uma determinada realidade sem alterá-los. Esse tipo de pesquisa caracteriza-
se pela seleção de amostras de diferentes tipos de populações sujeitas à pesquisa a fim de
obter características das mesmas. Vale ressaltar que, as pesquisas descritivas, normalmente,
fazem uso de técnicas padronizadas de coleta de dados como, por exemplo, o questionário e a
observação sistemática.
Quanto ao tipo de abordagem, a pesquisa aborda três técnicas: a quantitativa, a
qualitativa e a mista. Em relação à técnica quantitativa, os dados coletados são analisados por
meio de procedimentos estatísticos (gráficos e tabelas, comparativas ou não, sobre
determinado objeto/fenômeno pesquisados). Já a pesquisa qualitativa caracteriza-se pelo
fornecimento de uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais onde o pesquisador
coleta dados emergentes e desenvolve temas a partir dos mesmos. Em relação às pesquisas de
uso misto, as mesmas são caracterizadas por possuir tanto informações qualitativas quanto
quantitativas (CRESWELL, 2007 apud SAMPAIO, 2010).
Diante do exposto, a presente monografia trata-se de uma pesquisa exploratória,
uma vez que objetiva o aprimoramento de idéias e a descoberta de intuições, proporcionando
26
maior familiaridade com o problema (GIL, 2002); de natureza qualitativa, já que é centrado
na forma como as pessoas interpretam e dão sentido às suas experiências e ao mundo em que
vivem (OLIVEIRA; LEITE FILHO; RODRIGUES, 2007).
No Quadro 3.1, há um resumo do delineamento da pesquisa com uma breve
explicação sobre cada etapa, que será detalhada em seguida.
Quadro 3.1 – Apresentação das Etapas da Pesquisa (Adaptado de COSTA, 2010).
PERÍODO ETAPAS DE PESQUISA DESCRIÇÃO
Março à Dezembro de 2010
Primeira Etapa - Revisão sobre o tema Estratégia;
Revisão Bibliográfica - Revisão sobre o tema Critérios Competitivos da Produção;
(Desenvolvida ao longo de toda a pesquisa) - Revisão sobre o tema Lean
Construction.
Abril de 2010
Segunda Etapa - Caracterização das empresas selecionadas para o estudo;
- Grupo Focal - Engenheiros e/ou diretores das empresas selecionadas;
(Membros que atuam no mercado da construção civil)
- Discussão a respeito das relações princípios/critérios.
Agosto à Setembro de
2010
Terceira Etapa - Caracterização das instituições selecionadas para o estudo;
- Distribuição de Formulários - Mestres, mestrando e/ou doutores das instituições selecionadas.
(Membros que atuam no meio acadêmico)
Outubro de 2010
Quarta Etapa - Discussão a respeito das relações princípios/critérios;
- Entrevistas - Mestres, mestrando e/ou doutores das instituições selecionadas.
(Membros que atuam no meio acadêmico)
Novembro de 2010
Quinta Etapa - Cruzamento das informações;
- Análise e Interpretação dos Dados - Análise dos Resultados.
A primeira etapa consistiu em uma busca bibliográfica sobre assuntos referentes
à Estratégia, à Lean Construction e aos Critérios Competitivos da Produção de modo a obter
um embasamento teórico. Para tal, foi feito um estudo que envolvia livros, teses, dissertações,
monografias e artigos que abordavam, pelo menos, um dos três assuntos estudados. Vale
ressaltar que esta etapa continuou ao longo de toda a pesquisa.
A segunda etapa foi uma reunião de grupo focal envolvendo engenheiros e
diretores de cinco construtoras de Fortaleza-CE que implantaram a Lean Construction. Trata-
se de um tipo de entrevista em profundidade, realizada em grupo, cujo objetivo é a discussão
de um assunto específico, na qual os participantes influenciam uns aos outros pelas respostas
apresentadas às questões colocadas pelo moderador, registrando-se, então, as opiniões
27
suscitadas (MARTINS; THEÓPHILO, 2007). No Quadro 3.2, consta o perfil dos participantes
envolvidos no grupo focal.
Quadro 3.2 – Perfil dos Profissionais Participantes do Grupo Focal (Fonte: Autor).
PROFISSIONAL PARTICIPANTE ATUAÇÃO PROFISSIONAL FORMAÇÃO ACADÊMICA
P1 Engenheiro de Obras Engenharia Civil
P2 Engenheira de Obras Engenharia Civil
P3 Diretor de Empresa Engenharia Civil
P4 Engenheiro de Obras Engenharia Civil
P5 Engenheiro de Obras Engenharia Civil
Obtiveram-se cinco participantes, aqui chamados P1, P2, P3, P4 e P5. A reunião
iniciou-se com uma breve explicação sobre o tema e a estratégia de pesquisa adotada. Cada
participante recebeu um glossário (Apêndice E) com as explicações sobre os itens que seriam
relacionados (onze princípios e seis critérios, totalizando assim, sessenta e seis combinações).
Logo após, esclareceu-se que: (1) cada participante deveria analisar se havia
relação entre cada princípio lean com cada critério competitivo, atribuindo um escore de 0
(zero) a 5 (cinco), conforme a intensidade da relação (Quadro 3.3) em formato específico
fornecido pelos pesquisadores:
Quadro 3.3 – Intensidades da relação (Fonte: Autor).
NÃO HÁ MUITO FRACA FRACA MÉDIA FORTE MUITO FORTE
0 1 2 3 4 5
(2) as notas atribuídas por cada participante seriam lançadas em uma planilha
Excel, calculando-se, para cada relação princípio versus critério, o menor valor, o maior valor,
a média dos valores e o desvio-padrão;
(3) as relações com maiores desvios-padrão, significando baixos níveis de
concordância seriam, então, trazidos para uma discussão no grupo. Em seguida, os
formulários (Apêndice D) foram distribuídos aos respondentes, que procederam ao
preenchimento dos dados. Foram dados trinta minutos aos participantes para que os mesmos
pudessem realizar o preenchimento do formulário.
28
Após o preenchimento, houve um intervalo de vinte minutos para que os dados
fossem copilados no Excel de modo a obter as relações princípios/critérios que apresentaram
os maiores desvios-padrão. Após o intervalo, os dez maiores foram trazidos para uma
discussão em grupo. A reunião, que durou aproximadamente duas horas, foi gravada, com a
devida permissão dos presentes.
Esta etapa tinha como objetivo obter a opinião de pessoas que atuam no mercado
da construção civil a respeito da existência ou não da relação dos princípios da lean com os
critérios competitivos.
Vale ressaltar que a utilização do glossário pelos participantes no preenchimento
do formulário foi opcional e que para a criação dele foram utilizados diversos trabalhos tais
como Garvin (1987); WCED (1987); Shingo (1988); Koskela (1992); Silveira (1997a e
1997b); Hanfield e Pannesi (1992); Gerwin (1993); Slack (1993); Corrêa e Slack (1994); Pires
(1995); Brown (1996); Carvalho Jr. (1997); Slack (1997); Barros Neto (1999); Isatto et. al.
(2000) e Almeida (2002).
A terceira etapa consistiu na distribuição dos mesmos formulários utilizados na
etapa anterior ao meio acadêmico (mestrandos, mestres e doutores). Obtiveram-se onze
participantes, aqui chamados P6, P7, P8 e assim sucessivamente até o P16. No Quadro 3.4,
consta o perfil dos participantes envolvidos nesta etapa.
Quadro 3.4 – Perfil dos Participantes da Terceira Etapa (Fonte: Autor).
PROFISSIONAL PARTICIPANTE ATUAÇÃO PROFISSIONAL FORMAÇÃO ACADÊMICA
P6 Mestrando em Eng. Civil
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Engenharia Civil
P7 Mestranda em Eng. Civil (San
Diego State University) Engenharia Civil
P8 Mestranda em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Arquitetura
P9 Mestranda em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Arquitetura
P10 Mestranda em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Arquitetura
P11 Professora (San Diego State
University) Engenharia Civil
P12 Mestrando em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Engenharia Civil
P13 Mestranda em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Arquitetura
P14 Mestrando em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Engenharia Civil
P15 Mestranda em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Arquitetura
P16 Mestranda em Eng. Civil
(Universidade Federal do Ceará) Engenharia Civil
29
Foram entregues, juntamente com o formulário, o glossário e uma carta (Apêndice
B) contendo instruções (Apêndice C) sobre os cuidados que deviam ser levados em conta ao
preencher o formulário:
i. A relação estudada é quanto cada princípio influência cada critério e não o
contrário;
ii. Não importa se o princípio influência negativamente ou positivamente o
critério. O estudo avalia somente a intensidade desta relação;
iii. A qualquer momento, o participante pode utilizar o glossário ou qualquer
outra fonte de informação a fim de tirar possíveis dúvidas que possam
surgir durante o preenchimento.
Após o recolhimento de todos os formulários entregues ao meio acadêmico, os
mesmos foram acrescentados na mesma planilha Excel utilizada na segunda etapa a fim de
avaliar quais das relações possuíam menos concordância entre as opiniões apuradas.
A quarta etapa, por sua vez, foi a realização de entrevistas do tipo semi-
estruturadas. Estas caracterizadas por não seguirem um roteiro de perguntas muito rígido,
dando liberdade ao entrevistador de fazer novas perguntas ou aprofundar questionamentos
(BARROS NETO, 1999).
Vale ressaltar que, essas entrevistas foram realizadas com cinco participantes da
terceira etapa (P9, P12, P13, P15 e P16) e que cada entrevista durou entre quinze e vinte
minutos. A escolha dos mesmos foi feita de acordo com o tempo disponível de cada
entrevistado e aos recursos financeiros disponíveis ao entrevistador.
Por fim, na quinta etapa, a partir do cruzamento das informações coletadas, foi
realizada a análise e interpretação dos dados obtidos nas etapas anteriores. Nesta etapa
procurou-se avaliar quais as possíveis razões das discordâncias ocorridas entre os
participantes da pesquisa.
A seguir, mostram-se os resultados obtidos através da aplicação da metodologia
supracitada.
30
4. ANÁLISE DE RESULTADOS
No Quadro 4.1, apresentam-se os resultados da compilação das respostas dos
dezesseis participantes. Encontram-se em destaque nesse mesmo quadro as dez relações
princípio versus critério que apresentaram maior divergência de opiniões (ressaltando a
maior), ou seja, as que tiveram os maiores desvios-padrão.
Quadro 4.1 – Resultados da compilação das respostas dos participantes destacando os itens com maiores variações. Legenda: < : Menor valor atribuído; > : Maior valor atribuído; M: Média aritmética; DP: Desvio Padrão. Fonte: Formulários.
CRITÉRIOS COMPETITIVOS DA PRODUÇÃO
1 2 3 4 5 6
CUSTO QUALIDADE PRAZO FLEXIBILIDADE INOVATIVIDADE SUSTENTABILIDADE
< > M DP < > M DP < > M DP < > M DP < > M DP < > M DP
PRIN
CÍP
IOS D
A LEAN CONSTRUCTION
1 4,0 5,0 4,8 0,4 0,0 5,0 2,9 1,5 3,0 5,0 4,8 0,6 0,0 5,0 2,9 1,3 0,0 5,0 2,6 1,7 0,0 5,0 3,3 1,6
2 0,0 5,0 4,2 1,4 4,0 5,0 4,8 0,4 0,0 5,0 2,7 1,4 2,0 5,0 4,3 0,9 2,0 5,0 4,3 1,0 1,0 5,0 3,3 1,2
3 4,0 5,0 4,6 0,5 3,0 5,0 4,6 0,6 1,0 5,0 4,4 1,0 0,0 5,0 3,3 1,5 0,0 5,0 2,6 1,7 0,0 5,0 2,4 1,7
4 3,0 5,0 4,4 0,6 0,0 5,0 2,7 1,3 4,0 5,0 4,9 0,3 1,0 5,0 3,6 1,4 0,0 5,0 2,6 1,5 1,0 5,0 2,8 1,3
5 3,0 5,0 4,6 0,6 1,0 5,0 3,7 1,3 4,0 5,0 4,8 0,4 1,0 5,0 4,0 1,3 0,0 5,0 3,4 1,4 1,0 5,0 3,4 1,3
6 0,0 5,0 4,2 1,4 2,0 5,0 3,9 0,9 0,0 5,0 3,9 1,3 5,0 5,0 5,0 0,0 0,0 5,0 4,2 1,4 0,0 5,0 2,8 1,3
7 1,0 5,0 3,5 1,1 2,0 5,0 4,4 0,9 1,0 5,0 3,6 1,1 1,0 5,0 3,4 1,3 0,0 5,0 3,2 1,3 1,0 5,0 3,4 1,2
8 2,0 5,0 4,3 0,9 2,0 5,0 4,6 0,8 2,0 5,0 4,3 0,9 1,0 5,0 3,5 1,2 0,0 5,0 3,0 1,4 1,0 5,0 3,1 1,2
9 3,0 5,0 4,8 0,6 2,0 5,0 4,7 0,8 3,0 5,0 4,6 0,7 2,0 5,0 3,9 1,0 3,0 5,0 4,5 0,8 3,0 5,0 4,4 0,8
10 3,0 5,0 4,5 0,7 2,0 5,0 3,7 1,1 2,0 5,0 4,1 1,0 2,0 5,0 3,6 1,2 1,0 5,0 3,3 1,4 1,0 5,0 3,3 1,1
11 2,0 5,0 3,8 1,1 0,0 5,0 3,9 1,4 0,0 5,0 2,8 1,4 1,0 5,0 3,4 1,4 4,0 5,0 4,9 0,3 2,0 5,0 3,6 1,3
31
No Quadro 4.2, as combinações estão organizadas em ordem decrescente de
desvio padrão, destacando-se as que tiveram as dez maiores e as três menores variações nas
respostas dos participantes. Devido ao grande número de combinações bem como o limitado
tempo disponível pelos participantes da pesquisa, tanto na Entrevista quanto no Grupo Focal,
apenas as dez combinações que apresentaram os maiores desvios-padrão foram discutidas.
Quadro 4.2 – Resultados de todas as combinações em ordem decrescente de desvios padrões com destaque para as dez maiores variações de resposta (maiores desvios padrões) e para as três menores. Legenda: P.C.: Princípio versus Critério; DP: Desvio-Padrão; M: Média aritmética; < : Menor valor; > : Maior valor. Fonte: Formulários.
RESULTADOS DAS COMBINAÇÕES RESULTADOS DAS COMBINAÇÕES (cont.)
P.C. Desvio-Padrão Média Maior Menor
P.C. Desvio-Padrão Média Maior Menor
DP M > < DP M > <
1.5 1,71 2,56 5,00 0,00 2.6 1,18 3,25 5,00 1,00
3.5 1,67 2,63 5,00 0,00 7.3 1,15 3,63 5,00 1,00
3.6 1,67 2,38 5,00 0,00 10.6 1,14 3,31 5,00 1,00
1.6 1,57 3,25 5,00 0,00 11.1 1,11 3,81 5,00 2,00
4.5 1,54 2,63 5,00 0,00 7.1 1,10 3,50 5,00 1,00
3.4 1,48 3,25 5,00 0,00 10.2 1,08 3,69 5,00 2,00
1.2 1,45 2,88 5,00 0,00 3.3 1,03 4,44 5,00 1,00
2.3 1,45 2,69 5,00 0,00 2.5 1,00 4,25 5,00 2,00
10.5 1,44 3,25 5,00 1,00 9.4 1,00 3,94 5,00 2,00
2.1 1,42 4,19 5,00 0,00 10.3 0,96 4,13 5,00 2,00 5.5 1,41 3,44 5,00 0,00 2.4 0,95 4,31 5,00 2,00 4.4 1,41 3,63 5,00 1,00 8.3 0,93 4,25 5,00 2,00 11.2 1,39 3,94 5,00 0,00 7.2 0,89 4,44 5,00 2,00 6.1 1,38 4,19 5,00 0,00 6.2 0,89 3,88 5,00 2,00 11.3 1,38 2,81 5,00 0,00 8.1 0,87 4,31 5,00 2,00 6.5 1,38 4,19 5,00 0,00 9.5 0,82 4,50 5,00 3,00 8.5 1,37 3,00 5,00 0,00 9.6 0,81 4,44 5,00 3,00 11.4 1,36 3,44 5,00 1,00 8.2 0,81 4,63 5,00 2,00 4.6 1,34 2,75 5,00 1,00 9.2 0,79 4,69 5,00 2,00 1.4 1,34 2,94 5,00 0,00 10.1 0,73 4,50 5,00 3,00 6.3 1,29 3,94 5,00 0,00 9.3 0,72 4,63 5,00 3,00 7.5 1,28 3,19 5,00 0,00 4.1 0,63 4,44 5,00 3,00 6.6 1,28 2,81 5,00 0,00 3.2 0,63 4,56 5,00 3,00 5.4 1,26 4,00 5,00 1,00 5.1 0,62 4,63 5,00 3,00 7.4 1,26 3,44 5,00 1,00 9.1 0,58 4,75 5,00 3,00 5.6 1,26 3,38 5,00 1,00 1.3 0,58 4,75 5,00 3,00 11.6 1,26 3,63 5,00 2,00 3.1 0,51 4,56 5,00 4,00 4.2 1,25 2,69 5,00 0,00 1.1 0,40 4,81 5,00 4,00 5.2 1,25 3,69 5,00 1,00 2.2 0,40 4,81 5,00 4,00 8.6 1,24 3,06 5,00 1,00 5.3 0,40 4,81 5,00 4,00
8.4 1,21 3,50 5,00 1,00 11.5 0,34 4,88 5,00 4,00
10.4 1,20 3,63 5,00 2,00 4.3 0,25 4,94 5,00 4,00
7.6 1,20 3,38 5,00 1,00 6.4 0,00 5,00 5,00 5,00 Média 1,07 3,81 5,00 1,52 Desvio Padrão 0,38 0,73 0,00 1,37
32
Apenas a combinação 6.4 (“Aumento da flexibilidade de saída” e “Flexibilidade”)
teve consenso entre os participantes, ou seja, todos atribuíram a mesma nota, indicando uma
relação muito forte (nota máxima, cinco). Pode-se estimar que isto ocorreu em virtude dos
próprios conceitos relacionados aos itens destacados. Em contrapartida, não houve um
consenso entre os participantes sobre a existência de uma combinação que não apresentasse
relação, visto que nenhuma das combinações apresentou todas as notas indicando a
inexistência de relação (nota mínima, zero).
Por exemplo, na combinação 1.5, que obteve maior desvio-padrão (Quadro 4.2),
relacionando o princípio “Redução da parcela de atividades que não agregam valor” com o
critério “Inovação”, o participante P12 alegou que essa relação não existia, pois ao reduzir a
parcela de atividades que não agregam valor o produto não ganharia um caráter inovador, mas
sim econômico. Os participantes P3 e P15 levantaram outro ponto ao afirmar a inexistência
dessa relação. Para eles, a inovação teria um caráter mais profundo de modo que apenas a
redução da parcela de atividades que não agregam valor não seria suficiente para tornar o
produto inovador.
O participante P13, que concordava com a existência dessa relação, declarou que,
do ponto de vista do processo de projeto, o cumprimento do primeiro princípio ofereceria
mais tempo aos projetistas de modo que os mesmos pudessem buscar soluções mais
inovadoras. O participante P16 apontou que, a fim de alcançar o primeiro princípio, faz-se
necessário a realização de reuniões entre os encarregados para definir ajustes dos
procedimentos e mapeamentos das atividades. Tais reuniões favoreceriam o surgimento de
idéias inovadoras.
Na combinação 3.5, que relaciona o princípio “Redução da variabilidade” com o
critério “Inovação”, os participantes P2, P5, P15 e P12 alegaram que essa relação era
negativa. Logo, ao buscar a padronização dos projetos, processos, recursos e produtos, ou
seja, ao buscar a redução da variabilidade, a empresa estaria limitando a possibilidade de
ocorrer alguma inovação visto que passaria a ter uma linha de produção rígida. Por sua vez, o
participante P16 declarou que essa relação era positiva, pois, na construção civil, ao se lançar
um apartamento padrão (redução da variabilidade), a construtora realizaria, anteriormente,
estudos objetivando conhecer as necessidades de seus clientes e, com isso, o apartamento
padrão poderia apresentar características diferentes (inovação) aos que são fornecidos pelo
mercado.
Na combinação 3.6, que relaciona o princípio “Redução da variabilidade” com o
critério “Sustentabilidade”, houve um apontamento peculiar de um dos participantes: O
33
participante P16 colocou que há relação, mas que ela poderia ser tanto negativa quanto
positiva. Para tal afirmação, ele forneceu o seguinte exemplo: suponhamos que uma
construtora adote um determinado modelo de vaso sanitário em seu apartamento padrão
(redução da variabilidade) e que tal vaso seja caracterizado pela economia de água
(sustentabilidade). Com isso, verifica-se que o exemplo dado indica a relação direta entre essa
combinação. Contudo, o mesmo participante afirmou que essa relação pode ser considerada
inversa se, no exemplo dado, a empresa optar por um vaso sanitário que desperdice água. Tal
fato pode ocorrer, por exemplo, se a diferença de preço entre o segundo e o primeiro vaso for
significativa.
Vale ressaltar que os participantes P3, P9 e P12 não conseguiram encontrar
relação nessa combinação. Isto pode ter ocorrido por desconhecimento do exemplo dado ou
por não acharem relevante a influência que essa redução de variabilidade possa causar na
sustentabilidade.
Por sua vez, na relação 1.6, caracterizada pelo princípio “Redução da parcela de
atividades que não agregam valor” com o critério “Sustentabilidade”, a divergência de
opiniões sobre a relação ocorreu devido à existência ou não de desperdício nas atividades que
não agregam valor. Os participantes P1, P4, P9, P13, P15 e P16 alegavam que havia
desperdício nas atividades que não agregam valor e, por conta disto, ao reduzi-las, a
construtora estaria sendo “sustentável”. Entretanto, os participantes P3 e P12 consideravam
inexistente ou irrelevante a quantidade de desperdícios gerados por essas atividades, tornando
assim, inexistente a influência desse princípio sobre esse critério.
Na relação 4.5, que envolve o princípio “Redução do tempo de ciclo” com o
critério “Inovação”, o argumento utilizado pelos participantes P3, P12, P15 e P16, que não
concordavam com a existência da relação, era que ao reduzir o tempo de ciclo de um produto
ou processo, não significa que o mesmo tornou-se inovador, apenas obteve-se uma produção
mais rápida. Porém, os participantes P13 e P5 declaravam que, do ponto de vista de
planejamento, com a redução do tempo de ciclo, haveria mais tempo para se pensar em
alguma estratégia inovadora.
Um caso peculiar ocorreu na combinação 3.4, caracterizada pelo princípio
“Redução da variabilidade” com o critério “Flexibilidade”, pois se inferiu que praticamente
todos os envolvidos na pesquisa concordavam com a existência da relação afirmando que ao
reduzir a variabilidade, a empresa estaria diminuindo as opções de produto, influenciando
assim, negativamente a flexibilidade. O fato de tal combinação ter alcançado um desvio
padrão elevado, deveu-se pela divergência de opiniões a respeito da intensidade dessa relação.
34
Vale ressaltar que, durante a entrevista, o participante P9, único que pôs a nota
igual a zero, voltou atrás e disse que se equivocou ao atribuir tal nota, pois o mesmo
concordava com a existência da influência.
Na relação 1.2, a qual se caracteriza pelo princípio “Redução da parcela de
atividades que não agregam valor” com o critério “Qualidade”, os participantes P2, P3 e P9
que eram contra a existência da relação tinham argumentos parecidos com os que foram
utilizados na combinação 4.5 (Redução do tempo de ciclo/Inovação), pois, para eles, a busca
pelo primeiro princípio acarretaria em uma produção mais rápida e não em um produto de
melhor qualidade. Porém, os participantes P15 e P16, que eram a favor da relação, alegaram
que, ao reduzir as atividades que não agregam valor, a empresa passaria a ter um maior
enfoque nas atividades que agregam, pois, segundo os mesmos, são elas que dão qualidade ao
produto.
Na combinação 2.3, que relaciona o princípio “Aumento do valor do produto
através da consideração sistemática dos requisitos do cliente” com o critério “Desempenho na
Entrega”, o argumento mais utilizado para justificar a existência da influência foi que, para
descobrir e realizar o que o cliente deseja, a empresa necessitaria de tempo. Logo o princípio
influenciaria de forma direta, ou seja, quanto mais necessidades o cliente tiver, maior será a
quantidade de tempo para realizá-los. Por outro lado, os que foram contra, declaravam que, no
planejamento de uma empresa, já é considerado um tempo para a realização de modificações
e, por conta disso, as peculiaridades dos clientes não influenciariam no prazo.
Por sua vez, na relação 10.5, que envolve o princípio “Balanceamento da melhoria
dos fluxos com a melhoria das conversões” com o critério “Inovação”, ocorreu uma situação
semelhante a da combinação 3.4 (Redução da variabilidade/Flexibilidade), na qual a
combinação alcança um desvio padrão elevado devido à divergência de opiniões a respeito da
intensidade da relação. A justificativa para a existência de tal relação consistia que, ao
balancear as melhorias de fluxo e conversões, a empresa obteria fluxos melhor gerenciados e,
com isso, facilitaria a introdução de novas tecnologias.
Por fim, na combinação 2.1, a qual se caracteriza pelo princípio “Aumento do
valor do produto através da consideração sistemática dos requisitos do cliente” e o critério
“Custo”, os participantes P5, P12, P13, P15 e P16, que eram a favor da existência da relação
alegaram que, ao considerar todos os requisitos do cliente em um produto, o custo do mesmo
aumentaria significativamente. Contudo, os participantes P2 e P3, que eram contra essa
relação alegaram que, dependendo do tipo de cliente que a empresa possui, a consideração
dos requisitos deles não influenciaria de forma significativa no custo total da obra.
35
Após relacionar as combinações mais divergentes, verifica-se que, de um modo
geral, os respondentes se posicionaram a favor da existência de uma relação entre os
princípios da construção enxuta e os critérios competitivos da produção, visto que, além da
média geral das combinações (Quadro 4.2) apresentar um valor próximo de quatro (3,81),
quase a metade delas possuía valores cujas médias aritméticas estão entre quatro e cinco,
correspondendo a uma relação forte e muito forte, respectivamente (Tabela 4.1). Caso
consideremos as médias maiores que três (média relação), este percentual passa para 81%,
corroborando com a idéia da existência da relação supracitada.
Tabela 4.1 - Distribuição de freqüência das médias das combinações (Princípios versus Critérios). Fonte: Formulários.
Relação Escala
utilizada Intervalos das médias
das notas dos respondentes N° de combinações
(Princípios x Critérios) Freqüência
Freqüência acumulada
Muito Forte
5 5 1 2% 2%
Forte 4 4 ≤ x < 5 28 42% 44%
Média 3 3 ≤ x < 4 26 39% 81%
Fraca 2 2 ≤ x < 3 11 17% 100%
Muito fraca
1 1 ≤ x < 2 - - -
Não Há 0 0 - - -
Total 66 100%
36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentam-se, neste capítulo, as conclusões relacionadas à consecução dos
objetivos inicialmente propostos.
Em relação à existência da relação, verificou-se que todos os participantes são a
favor de, pelo menos, uma das combinações visto que a combinação 6.4 (Aumento da
flexibilidade na execução do produto/Flexibilidade) apresentou todas as notas iguais a cinco
(relação muito forte).
Em relação à obtenção do grau de influência que cada princípio exerce em cada
critério, através do Quadro 4.2 e Quadro 4.1, verificou-se o grau influência das combinações.
Em relação às combinações princípios/critérios que possuem o maior e o menor
grau de divergência de opiniões, verifica-se que as três que mais divergem são, em ordem
decrescente: 1.5 (Redução da parcela de atividades que não agregam valor/Inovação), 3.5
(Redução da variabilidade/Inovação) e 3.6 (Redução da variabilidade/Sustentabilidade). Por
sua vez, as que menos divergem são, em ordem crescente: 6.4 (Aumento da flexibilidade de
saída/Flexibilidade), 4.3 (Redução do tempo de ciclo/Prazo) e 11.5 (Benchmarking/Inovação).
Percebeu-se que o critério inovação destacou-se por gerar o maior número de
discordâncias (quatro das dez discutidas). Isto se deu principalmente pelas diferentes visões
que os participantes apresentaram em relação a esse critério. Outro fator que merece destaque
foi a consideração, em muitos casos, da inovação apenas no produto. A inovação aplicada aos
processos, por sua vez, foi pouco focada nas discussões.
Inferiu-se que, nas combinações que envolviam o critério flexibilidade, as
discussões aconteciam principalmente devido ao enfoque que cada participante tinha. O
participante P3, por exemplo, relacionava a flexibilidade na estratégia de produção enquanto o
participante P5 relacionava a flexibilidade no produto final fornecido ao cliente.
Diante da observação destas divergências, conclui-se que o glossário foi pouco
utilizado pelos participantes durante o preenchimento do formulário visto que durante o grupo
focal e as entrevistas os participantes apresentavam conhecimentos que iriam além do que foi
fornecido aos mesmos.
Verifica-se que diversos fatores podem influenciar na existência da relação
princípio/critério como, por exemplo, o tipo de cliente que a empresa busca conquistar
(Combinação 2.1) e o tipo de material adotado pela mesma (Combinação 3.6).
37
No desenvolvimento deste trabalho, algumas dificuldades foram encontradas.
Dentre elas, temos a de esclarecer as diferentes visões que tanto os participantes do grupo
focal quanto da entrevista mostraram visto que, em alguns momentos, os mesmos não
conseguiram transmitir claramente suas opiniões.
Outro ponto a ser levantado é que, devido ao tempo disponível de cada
entrevistado e aos poucos recursos financeiros disponíveis ao entrevistador, a opinião de
alguns dos envolvidos da pesquisa não pôde ser avaliada.
Por fim, sugere-se para o aprofundamento e desenvolvimento do estudo aqui
proposto, o aumento do número de participantes da pesquisa a fim de aumentar a validade da
mesma; a análise das outras relações princípios/critérios que não foram comentadas nessa
monografia e a comparação das opiniões fornecidas pelo grupo focal e pelos entrevistados,
que se constituem em dois públicos diferentes, sendo os primeiros, engenheiros atuantes em
empresas da construção civil que implantaram a Lean Construction e o segundo grupo,
pesquisadores e docentes do meio acadêmico.
38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Carta enviada aos participantes do Grupo Focal
APÊNDICE B – Carta enviada aos membros acadêmicos
APÊNDICE C – Instruções para o preenchimento da tabela princípios/critérios
APÊNDICE D – Tabela princípios/critérios
APÊNDICE E – Glossário
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APÊNDICE A – Carta enviada aos participantes do Grupo Focal.
Fortaleza, 14 de abril de 2010.
Ao Sr(a). Prezados Sr(a).
O Grupo de Pesquisa e Assessoria em Gerenciamento na Construção Civil (GERCON), vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), vem desenvolvendo uma pesquisa sobre a relação entre os princípios da lean construction e os critérios competitivos da produção, de forma a analisar os aspectos estratégicos da lean.
Como parte desta pesquisa, haverá uma reunião para discussão a respeito deste
tema, com a participação de vários especialistas. Este trabalho faz parte de uma monografia da UFC – Universidade Federal do Ceará.
Diante do exposto, convidamos Vossa Senhoria para participar da reunião em tela,
que ocorrerá no dia 16 de abril de 2010, às 8h, com duração prevista de 2 horas, no Hotel Tulip Inn Saint Martin, localizado na Av. da Abolição, nº 3340.
Desde já, agradecemos sua especial colaboração.
Atenciosamente,
__________________________________ Prof. José de Paula Barros Neto
Coordenador
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APÊNDICE B – Carta enviada aos membros acadêmicos.
Caro(a) participante,
O GERCON, Grupo de Pesquisa e Assessoria em Gerenciamento na Construção
Civil orientado pelo professor José de Paula Barros Neto, está promovendo um estudo sobre a
relação entre os Critérios Competitivos da Produção e a Lean Construction.
Diante do exposto, peço a gentileza de preencher a tabela em anexo, considerando
as orientações de preenchimento que se encontram junto à referida tabela. De antemão,
agradecemos a sua atenção e nos colocamos à disposição para eventuais esclarecimentos.
Atts,
Elmo Sales Rôla.
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APÊNDICE C – Instruções para o preenchimento da tabela princípios/critérios.
Juntamente com a tabela abaixo, segue, em anexo ao e-mail, um glossário
contendo uma breve explicação sobre cada princípio e critério. A tabela abaixo possui os 11
princípios ordenados em uma coluna e os 6 critérios em uma linha. O senhor (a) deve colocar
um escore de 0 (zero) a 5 (cinco), conforme a intensidade da relação. Vale ressaltar que
alguns cuidados durante o preenchimento da tabela devem ser levados em conta:
a) A relação estudada é quanto cada princípio influência em cada critério e não o
contrário;
b) Não importa se o princípio influência negativamente ou positivamente o critério.
O estudo avalia somente a intensidade desta relação;
c) A qualquer momento, o (a) participante pode utilizar o glossário ou qualquer
outra fonte de informações para tirar possíveis dúvidas.
Os dados coletados irão ser analisados no programa Excel e servirá para a
elaboração de um Projeto de Graduação de um aluno do curso de Engenharia Civl – UFC.
Desde já, agradecemos a sua atenção.
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APÊNDICE D – Tabela princípios/critérios
EM QUE GRAU VOCÊ RELACIONA OS PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA COM OS CRITÉRIOS COMPETITIVOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL?
NÃO HÁ MUITO FRACA
FRACA MÉDIA FORTE MUITO FORTE
0 1 2 3 4 5
CUSTO QUALIDADE PRAZO FLEXIBILIDADE INOVATIVIDADE SUSTENTABILIDADE
Redução da parcela de atividades que não agregam valor
Aumento do valor do produto através da consideração sistemática dos requisitos do cliente
Redução da variabilidade
Redução do tempo de ciclo
Simplificação pela minimização do número de passos e partes
Aumento da flexibilidade na execução do produto
Aumento da transparência
Foco no controle de todo o processo
Estabelecimento de melhoria contínua ao processo
Balanceamento da melhoria dos fluxos com a melhoria das conversões
Benchmarking
CRITÉRIOS PRINCÍPIOS
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APÊNDICE E – Glossário
PRINCÍPIOS DA LEAN CONSTRUCTION
1 Redução da parcela de atividades que não agregam valor
A eficiência dos processos pode ser melhorada e as suas perdas reduzidas não só
através da melhoria da eficiência das atividades de conversão e de fluxo, mas, também, pela
eliminação de algumas das atividades de fluxo (ISATTO et. al. 2000).
2 Aumento do valor do produto através da consideração sistemática dos requisitos do
cliente
Este princípio diz respeito ao aumento do valor do produto através da
consideração das necessidades dos clientes internos e externos, as quais devem ser
identificadas, claramente, e informadas no projeto do produto e na gestão da produção
(ISATTO et. al. 2000).
3 Redução da variabilidade
Existem diversos tipos de variabilidade envolvidos num processo de produção: (a)
variabilidade nos processos anteriores, relacionada aos fornecedores do processo; (b)
variabilidade no próprio processo, relacionada a sua própria execução; (c) variabilidade na
demanda, relacionada aos desejos e necessidades dos clientes (ISATTO et. al. 2000).
Ainda segundo esse mesmo autor, no contexto da construção civil, a variabilidade
e a incerteza tendem a ser elevadas, em função do caráter único do produto e das condições
locais que caracterizam uma obra, da natureza dos seus processos de produção, cujo ritmo é
controlado pelo homem, e da própria falta de domínio das empresas sobre seus processos.
Apenas parte desta variabilidade pode ser eliminada, principalmente através da padronização
de processos, já que uma parcela não pode ser removida, cabendo à gerência de produção
minimizar seus efeitos nocivos (ISATTO et. al. 2000).
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4 Redução do tempo de ciclo
O tempo de ciclo pode ser definido como a soma de todos os tempos (transporte,
espera, processamento e inspeção) para produzir um determinado produto (KOSKELA,
1992). Ainda segundo esse mesmo autor, a aplicação deste princípio está fortemente
relacionada à necessidade de comprimir o tempo disponível como mecanismo de forçar a
eliminação das atividades de fluxo.
5 Simplificação pela minimização do número de passos e partes
Quanto maior o número de componentes ou de passos num processo, maior tende
a ser o número de atividades que não agregam valor. Isto ocorre em função das tarefas
auxiliares de preparação e conclusão necessárias para cada passo, bem como pelo fato de que
a presença de variabilidade tende a aumentar a possibilidade de interferências entre as equipes
(ISATTO et. al. 2000).
6 Aumento da flexibilidade na execução do produto
Este princípio diz respeito ao aumento da flexibilidade de saída, referindo-se à
possibilidade de alterar as características dos produtos entregues aos clientes sem um
correspondente aumento substancial dos custos (ISATTO et. al. 2000).
7 Aumento da transparência
Esse aumento tende a tornar os erros mais fáceis de serem identificados no
sistema de produção, aumentando, ao mesmo tempo, a disponibilidade de informações
necessárias para a execução das tarefas e facilitando, com isso, a execução do trabalho
(KOSKELA, 1992).
8 Foco no controle de todo o processo
Um dos grandes riscos dos esforços de melhorias é sub-otimizar uma atividade
específica dentro de um processo, que tenha um impacto reduzido, ou até negativo no
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desempenho global. Esta situação é muito comum em processos de produção fragmentados,
como é a execução de uma obra, nos quais existam muitos projetistas, empresas
subcontratadas e fornecedores independentes (ISATTO et. al. 2000). Nessa linha, Shingo
(1988), um dos idealizadores do STP, propõe que primeiro devem ser introduzidas melhorias
nos processos (fluxos de montagem, de materiais, e de informação) para depois serem
estudadas melhorias nas operações (tarefas realizadas por pessoas e máquinas).
9 Estabelecimento de melhoria contínua ao processo
O esforço de redução de perdas e aumento do valor na gestão de processos tem
um caráter incremental, interno à organização, devendo ser conduzido continuamente e com a
participação da equipe responsável - “os donos do processo”. Este princípio é um dos
componentes fundamental das filosofias TQM e JIT (ISATTO et. al. 2000).
10 Balanceamento da melhoria dos fluxos com a melhoria das conversões
As melhorias de fluxo têm maior impacto em processos complexos. Em geral,
requerem menores investimentos, sendo fortemente recomendadas no início de programas de
melhoria. As melhorias no processamento (conversão), por sua vez, são mais vantajosas
quando existem perdas inerentes à tecnologia, sendo, os seus efeitos, mais imediatos. Tais
melhorias estão intimamente relacionadas, na medida em que fluxos melhor gerenciados
facilitam a introdução de novas tecnologias e diminuem a necessidade de capacidade de
produção nas atividades de conversão, reduzindo a necessidade de investimentos. Por outro
lado, a introdução de novas tecnologias nas atividades de conversão tende a reduzir a
variabilidade, beneficiando os fluxos. Assim, é necessário que exista um equilíbrio entre
ambas (ISATTO et. al. 2000).
11 Benchmarking
Benchmarking consiste em um processo de aprendizado a partir das práticas
adotadas em outras empresas tipicamente consideradas líderes num determinado segmento ou
aspecto específico da produção. Este princípio, de uma certa forma, contrasta com o princípio
relacionado à introdução da melhoria contínua a partir do esforço interno da empresa. Assim,
a competitividade da empresa deve ser o resultado da combinação dos seus pontos fortes
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(internos), desenvolvidos principalmente a partir de um esforço de melhoria contínua, com
boas práticas observadas (externas) em outras empresas e setores (ISATTO et. al. 2000).
CRITÉRIOS COMPETITIVOS
Critérios competitivos são definidos como sendo um conjunto consistente de
prioridades que a empresa tem de valorizar para competir no mercado. Ou seja, em função das
competências internas da empresa, do tipo de mercado que ela quer atuar, do grau de
concorrência deste mercado e do tipo de produto que ela produz, a empresa terá de priorizar
alguns critérios competitivos, aproveitando, de tal forma, os seus recursos, capacidades e
oportunidades de mercado com o intuito de se tornar competitiva (BARROS NETO, 1999).
Faz-se necessário também abordar a questão dos trade-offs entre os critérios
competitivos, o que se caracteriza em analisar as incompatibilidades entre dois ou mais
critérios. Isto é, há situações em que a melhoria de um critério necessariamente implicará em
um impacto negativo no outro. Por exemplo, se existe um trade-off entre custo e flexibilidade,
isto significa que o aumento nesta causará um impacto negativo naquele, ou seja, um aumento
de custos (SILVEIRA, 1997a e 1997b).
CUSTO
Uma empresa que procura concorrer valorizando este critério competitivo deve
buscar reduzir seus custos ao máximo, possibilitando, deste modo, a prática de menores
preços. Esta é a forma de competir mais antiga e conhecida do setor de produção. Um
exemplo de público interessado primeiramente no custo é o comprador de baixa renda que
não tem imóvel para morar, nem muita escolha no mercado, pois ele está mais interessado em
satisfazer uma de suas necessidades básicas (moradia) sem muitas exigências, a não ser com o
preço do produto (BARROS NETO, 1999).
PRAZO
Segundo Pires (1995), pode-se dividir a dependability (prazo) em velocidade de
produção (ou entrega) e confiabilidade de entrega, corroborando com o pensamento de
SLACK (1993). Este critério baseia-se, então, na valorização do tempo.
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A velocidade de produção caracteriza-se pela capacidade de uma empresa fazer
uma determinada atividade mais rápido que a concorrência. Já a confiabilidade de entrega é a
capacidade da empresa de entregar o produto no prazo prometido (SLACK, 1993).
Hanfield e Pannesi (1992), ao fazerem um estudo sobre velocidade e
confiabilidade na manufatura, chegaram à conclusão que a velocidade de produção pode ser
melhorada através de investimentos no aprimoramento dos processos, ao passo que a
confiabilidade pode ser incrementada por meio de um melhor planejamento.
FLEXIBILIDADE
Flexibilidade é a capacidade que um determinado sistema produtivo tem de
responder às mudanças circunstanciais internas e externas à empresa (GERWIN, 1993). Este
critério pode ser avaliado quanto à flexibilidade de resposta - período de tempo que a empresa
leva para se adaptar, e quanto à flexibilidade de faixa - extensão da mudança (flexibilidade) a
qual a empresa consegue se adaptar (CORRÊA; SLACK, 1994). É um conceito bastante
amplo, o que dificulta a sua operacionalização. Apresentam-se, a seguir, os principais tipos
(ou dimensões competitivas) de flexibilidade:
� Flexibilidade de produto: facilidade com que a empresa consegue adaptar
seus produtos a um grupo restrito de clientes ou a um cliente
individualmente;
� Flexibilidade de mix: facilidade com que a empresa altera o que está sendo
produzido em um dado espaço de tempo, modificando os volumes de
produção dos diferentes produtos por ela oferecidos;
� Flexibilidade de entrega: facilidade com que a empresa altera os prazos de
entrega anteriormente pactuados (para mais ou para menos), atendendo
solicitação de seus clientes;
� Flexibilidade de volume: facilidade com que a empresa se adapta às
flutuações na demanda de mercado por seus produtos, mudando os totais
produzidos.
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QUALIDADE
Este critério está diretamente ligado ao fornecimento de produtos, desse modo,
atendendo às necessidades explícitas e implícitas de utilização requeridas pelos clientes.
Pires (1995) lembra que a abordagem estratégica da qualidade é recente, com
Garvin (1987) sendo um dos pioneiros nesta caracterização, dividindo-a em oito dimensões:
desempenho intrínseco, características secundárias, confiabilidade, conformidade,
durabilidade, serviços associados (serviceability), estética e qualidade percebida.
INOVAÇÃO
Pode-se entender “inovatividade” como a capacidade que a empresa possui de
implementar novas idéias, grandes ou pequenas, com um potencial de contribuição para a
melhoria de seus objetivos competitivos (SCHROEDER et. al. apud CARVALHO JR, 1997).
Ou seja, ela está ligada à perspectiva de uma constante inovação no lançamento de novos
produtos e no uso de equipamentos mais modernos. Observa-se, no entanto, que este critério
competitivo está fortemente vinculado a empresas de alta tecnologia e com produtos de
pequena vida útil (BROWN, 1996; SLACK, 1997), o que representa um contexto bem
diferente do existente na construção, principalmente nas pequenas empresas.
Porém, na construção de edificações, pode-se atuar competitivamente neste
critério através da oferta de empreendimentos diferenciados e inovadores, procurando atender
um público não-conservador.
SUSTENTABILIDADE
O termo sustentabilidade está cada vez mais presente no ambiente empresarial. A
definição de Sustentabilidade mais difundida é a da Comissão Brundtland (WCED, 1987), a
qual considera que o desenvolvimento sustentável deve satisfazer às necessidades da geração
presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Essa definição deixa claro
um dos princípios básicos de sustentabilidade, a visão de longo prazo, uma vez que os
interesses das futuras gerações devem ser analisados.
A verdade é que, desde a definição da Comissão Brundtland, já surgiram inúmeras
definições e, com certeza, existirão muitas outras no futuro, porém, o ponto comum em todas
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elas, quando analisadas detalhadamente, está nas dimensões que compõem o termo
sustentabilidade.
A maioria dos estudos afirma que sustentabilidade é composta de três dimensões
que se relacionam: econômica, ambiental e social. Essas dimensões são também conhecidas
como tripple bottom line. A dimensão econômica inclui não só a economia formal, mas
também as atividades informais que provêem serviços para os indivíduos e grupos e
aumentam, assim, a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos; a dimensão ambiental
ou ecológica estimula empresas a considerarem o impacto de suas atividades sobre o meio
ambiente, na forma de utilização dos recursos naturais, e contribui para a integração da
administração ambiental na rotina de trabalho; a dimensão social consiste no aspecto social
relacionado às qualidades dos seres humanos, como suas habilidades, dedicação e
experiências, abrangendo tanto o ambiente interno da empresa quanto o externo (ALMEIDA,
2002).