UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA PROGRAMA DE PÓS...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGEdu
MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO
SASTRIA DE PAULA RODRIGUES
A APRENDIZAGEM DO CONCEITO CIENTÍFICO DE FRAÇÃO POR ALUNOS
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: OS RESULTADOS DE UMA
INTERVENÇÃO
Jaguarão
2017
SASTRIA DE PAULA RODRIGUES
A APRENDIZAGEM DO CONCEITO CIENTÍFICO DE FRAÇÃO POR ALUNOS
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: OS RESULTADOS DE UMA
INTERVENÇÃO
Relatório Crítico-Reflexivo apresentado ao Curso de
Mestrado da Universidade Federal do Pampa, como
requisito parcial para obtenção do Título de Mestre
em Educação.
Orientador: Dr. Bento Selau da Silva Jr.
Coorientadora: Drª. Juliana Brandão Machado
Jaguarão
2017
Ficha catalográfica elaborada automaticamente com os dados fornecidos
pelo(a) autor(a) através do Módulo de Biblioteca do Sistema GURI
(Gestão Unificada de Recursos Institucionais).
R696a Rodrigues, Sastria de Paula
A aprendizagem do conceito científico de fração
por alunos com deficiência intelectual: os resultados de
uma intervenção / Sastria de Paula Rodrigues.
168 p.
Dissertação(Mestrado)-- Universidade Federal do
Pampa, MESTRADO EM EDUCAÇÃO, 2017.
"Orientação: Bento Selau da Silva Junior".
1. Deficiência Intelectual. 2. Psicologia
Histórico-Cultural. 3. Conceitos Espontâneos. 4.
Conceitos Científicos. 5. Educação Inclusiva. I. Título.
DEDICO esta conquista aos meus familiares,
que, constantemente, me desafiam a mobilizar
o melhor de mim, constituindo-se como
referências amorosas de minha vida pessoal e
profissional, bem como aos alunos com
deficiência, que lutam, diariamente, em
diferentes instituições educacionais, por
maiores e melhores oportunidades de inclusão.
AGRADECIMENTO
A Deus pela vida e pelas possibilidades de múltiplos encontros com pessoas que contribuíram para
a realização deste trabalho.
À Universidade Federal do Pampa, pela oportunidade de aprofundar meus conhecimentos e
aprimorar meu desempenho profissional junto a alunos com deficiência.
Ao Professor Dr. Bento Selau da Silva Jr., por ter acreditado em meu potencial e me incentivado a
vencer os desafios desta trajetória acadêmica.
Aos professores do Curso de Mestrado Profissional em Educação, meu carinho e admiração pelos
valiosos conhecimentos compartilhados durante nossas aulas/encontros e pelo comprometimento
com este Programa de Pós-Graduação.
Aos professores avaliadores, pelas contribuições para a qualificação desta caminhada.
Aos colegas do Curso de Mestrado Profissional em Educação e da Escola Municipal de Ensino
Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”, pelo enriquecedor intercâmbio de ideias e pela
disponibilidade e inestimável colaboração na pesquisa-intervenção.
Aos técnicos administrativos Charles Amaral e Caroline Gonçalves Feijó, pelo atendimento sempre
prestativo e cordial.
Aos amigos, que, na convivência fraterna, se tornaram apoio indispensável à realização deste
trabalho.
“A rua de acesso à inclusão não tem um fim
porque ela é, em sua essência, mais um
processo do que um destino. A inclusão
representa, de fato, uma mudança na mente e
nos valores para as escolas e para a sociedade
como um todo.”
Mittler
RESUMO
Este Relatório Crítico-Reflexivo é resultado de uma pesquisa que teve, como objetivo, planejar
e implementar uma intervenção pedagógica, tendo, como sujeitos-foco, alunos com deficiência
intelectual, utilizando, como recurso pedagógico, um jogo educacional digital de matemática,
procurando avaliar se o uso dessa tecnologia, mediado pela professora na coletividade,
contribuiu para a aprendizagem dos conceitos científicos do referido campo curricular. O
referencial teórico que orientou o trabalho baseou-se nos estudos de Lev Semyonovich
Vygotski (1896-1934) e trouxe, de modo especial, informações referentes à deficiência
intelectual, às vias colaterais, à zona de desenvolvimento potencial e ao trabalho colaborativo.
A metodologia utilizada neste projeto foi a intervencionista, empregando, como recurso
pedagógico, um jogo educacional digital. Os sujeitos da pesquisa foram duas alunas com
deficiência intelectual - DI, que apresentavam dificuldades em matemática, principalmente em
frações, conforme constavam dos pareceres da professora da referida área de conhecimento,
dezoito alunos, cinco docentes da classe de 6º ano e a gestora da Escola Municipal de Ensino
Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”, no município de Pelotas/RS. Busquei, ainda, avaliar
a contribuição dessa tecnologia para a aprendizagem dos sujeitos-foco da pesquisa. Os
instrumentos de coleta de dados foram obtidos por meio de observações das alunas com DI nos
encontros de intervenção, de análise documental e de entrevistas com profissionais da Escola.
Os referidos dados foram submetidos ao procedimento de análise textual discursiva. Os
resultados deram origem a duas categorias: 1) “Pensamento dos professores sobre educação
inclusiva na escola”, que reúne informações acerca da importância do estudo relativo à
inclusão/escola inclusiva; deficiência e inclusão: a perspectiva dos professores; deficiência
intelectual: caracterização e aprendizagem; deficiente intelectual no contexto escolar:
relacionamento e mediação; condições pedagógicas no contexto da inclusão; 2) “Efeitos da
intervenção no processo de aprendizagem do aluno com DI” que abrange informações sobre
acolhida como ponto de partida; frações no Scratch: aprendizagens a partir do processo de
intervenção pedagógica; considerações frente à proposta de intervenção: o olhar dos envolvidos
no processo. O estudo indicou que uma mudança nos procedimentos de ensino, contando com
a ação mediadora do professor, pautada, fundamentalmente, no trabalho coletivo e na crença
no potencial dos estudantes, contribuiu para o desenvolvimento dos conceitos científicos das
alunas com DI relativamente às frações, provocando, no espaço escolar, profundas reflexões
sobre a proposta inclusiva.
Palavras-chave: Deficiência Intelectual. Psicologia Histórico-Cultural. Conceitos Espontâneos.
Conceitos Científicos. Educação Inclusiva.
RESUMEN
Este Reporte Crítico-Reflexivo es resultado de una pesquisa que tuvo como objetivo planear e
implementar una intervención pedagógica, teniendo, como sujetos-enfoque, alumnos con
discapacidad intelectual, utilizando, como recurso pedagógico, un juego educacional digital de
matemática, procurando evaluar si el uso de esa tecnología, mediado por la profesora en la
colectividad, contribuyó para el aprendizaje de los conceptos científicos del referido campo
curricular. El referencial teórico que orientó el trabajo se basó en los estudios de Lev
Semyonovich Vygotski (1896-1934) y trajo, de manera especial, informaciones referentes a la
discapacidad intelectual, a las vías colaterales, a la zona de desenvolvimiento potencial y al
trabajo colaborativo. La metodología utilizada en este proyecto fue la intervencionista,
empleando, como recurso pedagógico, un juego educacional digital. Los sujetos de la pesquisa
fueran dos alunas con discapacidad intelectual - DI, que presentaban dificultades en
matemáticas, principalmente en fracciones, conforme constaban en los pareceres de la profesora
de la dicha área de conocimiento, dieciocho alumnos, cinco docentes de la clase de 6º año y la
gestora de la escuela, Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Joaquim Assumpção, en
municipio de Pelotas/RS. Busqué, todavía, evaluar la contribución de esa tecnología para el
aprendizaje de los sujetos-enfoque de la pesquisa. Los instrumentos de la coleta de datos fueron
obtenidos por medio de observaciones de las alumnas con DI en los encuentros de intervención,
de análisis documental y de entrevistas con profesionales de la Escuela. Los referidos datos
fueron sometidos al procedimiento de análisis textual discursiva. Los resultados dieron origen
a dos categorías: 1) “Pensamiento de los profesores sobre la educación inclusiva en la escuela”,
que reúne informaciones acerca de la importancia del estudio relativo a la inclusión/escuela
inclusiva; discapacidad e inclusión: la perspectiva de los profesores; discapacidad intelectual:
caracterización y aprendizaje; discapacidad intelectual en contexto escolar: relacionamiento y
mediación; condiciones pedagógicas en el contexto de la inclusión; 2) “Efectos de la
intervención en el proceso de aprendizaje del alumno con DI” que abarca informaciones sobre
acogida como punto de partida; fracciones en Scratch: aprendizajes a partir del proceso de
intervención pedagógica; consideraciones frente a la propuesta de intervención: una mirada de
los involucrados en el proceso. El estudio indicó que una mudanza en los procedimientos de
enseñanza con la acción mediadora del profesor, guiada, fundamentalmente, en el trabajo
colectivo y en la creencia en el potencial de los estudiantes, contribuyo para el
desenvolvimiento de los conceptos científicos de las alunas con DI relativamente a las
fracciones, provocando, en el espacio escolar, profundas reflexiones acerca de la propuesta
inclusiva.
Palabras-clave: Discapacidad Intelectual. Psicología Histórico-Cultural. Conceptos
Espontáneos. Conceptos Científicos. Educación Inclusiva.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Fachada da Escola Pesquisada...................................................................................25
Figura 2 - Laboratório de Informática ......................................................................................26
Figura 3 - Tela inicial do software Scratch...............................................................................67
Figura 4 - Scratch logo..............................................................................................................68
Figura 5 - Tela inicial do Jogo Frações no Scratch...................................................................69
Figura 6 - Personagem perguntando o nome do aluno..............................................................70
Figura 7 - Menu jogo.................................................................................................................70
Figura 8 - Esquema com a estrutura dos encontros do jogo Frações no Scratch......................74
Figura 9 - Caracterização das Professoras.................................................................................75
Figura 10 - Quadro demonstrativo com o resumo dos instrumentos de coleta de dados utilizados
na avaliação da intervenção.......................................................................................................80
Figura 11 - Quadro demonstrativo do cronograma de execução do processo investigatório
...................................................................................................................................................81
Figura 12 - Atividade Gato Caminhando..................................................................................99
Figura 13 - Capa do livro “O Pirulito do Pato”.......................................................................101
Figura 14 - Representação retângulo Ametista........................................................................105
Figura 15 - Representação retângulo Esmeralda.....................................................................106
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAIDD - Associação Americana de Deficiência Mental e de Desenvolvimento
AAMR - Associação Americana de Retardo Mental
AEE - Atendimento Educacional Especializado
ANEB - Avaliação Nacional da Educação Básica
ANRESC - Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
APA - Associação Americana de Psicologia
CAPTA - Centro de Apoio, Pesquisa e Tecnologias para a Aprendizagem
CERENEPE - Centro de Reabilitação de Pelotas
CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a
Saúde
CIF - Classificação Internacional do Funcionamento da Deficiência e da Saúde
CC - Conceitos Científicos
CE - Conceitos Espontâneos
CNE - Conselho Nacional de Educação
DI - Deficiência Intelectual
DNEDH - Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
EJA - Educação de Jovens e Adultos
EMEF Dr. J.A - Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”
ICIDH - Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens
IFSul - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense
MEC - Ministério da Educação e Cultura
MIT - Massachusetts Institute of Technology
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONU - Organização das Nações Unidas
PNEDH - Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais
PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
PNEE - Portadores de Necessidades Educacionais Especiais
PROINFO - Programa Nacional de Tecnologia Educacional
PROMIDIAS - Comunidade de Cooperação para Formação de Professores em Mídias Digitais
Interativas
QI - Quociente Intelectual
RS - Estado do Rio Grande do Sul
SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica
SEESP - Secretaria de Educação Especial
SMED - Secretaria Municipal de Educação e Desporto
SRMF - Sala de Recursos Multifuncionais
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFPEL - Universidade Federal de Pelotas
ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15
2 O CONTEXTO DA PESQUISA ................................................................................. 20
2.1 Na memória, fragmentos significativos da trajetória de minha vida
educacional.......................................................................................................................21
2.2 Escola: cenário da pesquisa-intervenção .............................................................. 25
3 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 28
3.1 Deficiência Intelectual ........................................................................................... 28
3.1.1 Deficiência: trajetória histórico-conceitual ........................................................... 28
3.1.2 Deficiência Intelectual: evolução conceitual ......................................................... 31
3.2 Tecnologias digitais na aprendizagem de alunos com deficiência intelectual ......... 40
3.2.1 Inclusão digital e aprendizagem: aproximações possíveis ..................................... 40
3.2.2 Jogo Digital como via colateral para o aprendizado de alunos com deficiência
intelectual ..................................................................................................................... 46
3.3 A Matemática e o ensino de frações ......................................................................... 49
3.4 Concepções sobre os conceitos cotidianos e científicos na perspectiva de Vygotski
......................................................................................................................................... 56
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 66
4.1 Método da intervenção ............................................................................................. 66
4.2 Sujeitos da intervenção ............................................................................................. 74
4.2.1 Esmeralda ............................................................................................................ 76
4.2.2 Ametista ............................................................................................................... 77
4.3 Avaliação da intervenção.......................................................................................... 77
4.4 Cronograma de desenvolvimento ............................................................................. 81
5 INTERPRETANDO E DISCUTINDO OS DADOS COLETADOS ............................. 83
5.1 Pensamento dos professores sobre educação inclusiva na escola ............................ 83
5.1.1 Importância do estudo sobre inclusão/escola inclusiva .......................................... 83
5.1.2 Deficiência e Inclusão: a perspectiva dos professores ........................................... 85
5.1.3 Deficiência Intelectual: caracterização e aprendizagem ........................................ 88
5.1.4 Deficiente Intelectual no Contexto Escolar: relacionamento e mediação ............... 90
5.1.5 Condições Pedagógicas no contexto da inclusão ................................................... 92
5.2 Efeitos da intervenção no processo de aprendizagem do aluno com DI ................. 97
5.2.1 Acolhida como ponto de partida ........................................................................... 97
5.2.2 Frações no Scratch: aprendizagens a partir da intervenção .................................. 104
5.2.2.1 Considerações frente à proposta de intervenção: o olhar dos envolvidos no
processo...........................................................................................................................116
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 120
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 128
APÊNDICES .................................................................................................................... 139
ANEXOS .......................................................................................................................... 155
15
1 INTRODUÇÃO
Com os avanços tecnológicos e as mudanças sociais verificados nos últimos anos,
percebe-se que a Educação vem passando por um movimento renovador. Esse movimento de
renovação envolve todas as áreas do conhecimento, assim como provoca mudanças nas
diferentes instituições sociais, atingindo, como não poderia deixar de ser, a Educação. Várias
são as discussões sobre a organização e funcionamento da instituição escolar, bem como acerca
das funções dos profissionais que ela abriga, a fim de viabilizar seus propósitos.
Nesse contexto de profundas transformações, impõe-se o tema da inclusão
escolar/social de pessoas com deficiências. Em tal âmbito, verifica-se uma intensa mudança
paradigmática, respaldada por documentos, como: a Convenção de Direitos da Criança (1988),
a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (UNESCO, 1990), a Declaração de
Salamanca (UNESCO, 1994) que afirmam o direito à educação de todos os seres humanos,
exigindo diferentes práticas pedagógicas, compatíveis com as necessidades específicas de cada
aluno e capazes de promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas com
necessidades especiais (BRASIL, 1994), no sentido de entender que a
(...) igualdade diz respeito aos direitos humanos e não às características das pessoas,
enquanto seres que sentem, pensam e apresentam necessidades diferenciadas e que,
por direito de cidadania, devem ser compreendidas, valorizadas e atendidas segundo
suas exigências biopsicossociais individuais. Em decorrência, fazem jus à equiparação
de oportunidades de acesso, ingresso e permanência, com êxito, na escola, buscando-
se ultrapassar seus limites, até porque desconhecemos a extensão da potencialidade
humana (CARVALHO, 2006, p. 17).
Esse entendimento requer a ampliação e o fortalecimento da educação e da sociedade
inclusiva. Nos debates atuais, um aspecto de destaque refere-se ao desafio de encontrar soluções
que possibilitem, de forma abrangente, a inclusão escolar, não apenas quanto ao acesso, mas,
principalmente, em relação à permanência do aluno com deficiência na escola em vista à
obtenção de efetivos resultados de aprendizagem. No entanto, considera-se que a instituição
escolar não está suficientemente preparada para promover a inclusão desses estudantes. A fim
de qualificar o processo de inclusão, a escola precisa rever-se e reorganizar-se constantemente,
ampliando e fortalecendo sua política inclusiva. Nessas considerações, emergiu o presente
trabalho, que resultou de uma pesquisa- intervenção desenvolvida junto a alunos com
deficiência intelectual (DI), inseridos em classe regular de ensino. A referida pesquisa teve,
como objetivo, planejar e implementar uma intervenção pedagógica, tendo, como sujeitos-foco,
alunos com deficiência intelectual, utilizando, como recurso pedagógico, um jogo educacional
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digital de matemática, procurando avaliar se o uso dessa tecnologia, mediado pela professora
na coletividade, contribuiu para a aprendizagem dos conceitos científicos do referido campo
curricular.
Como objetivos específicos, foram estabelecidos:
1) compreender a concepção de educação inclusiva que permeia as práticas
pedagógicas da escola;
2) analisar os conhecimentos científicos possivelmente desenvolvidos por meio da
intervenção.
Os objetivos referidos decorreram da prática pedagógica vivenciada por mim com
esses alunos e dos estudos que venho levando a cabo ao longo da carreira profissional, quando
reafirmei o pressuposto de que, tanto quanto os demais, os alunos com deficiência intelectual
podem aprender. Minha atuação profissional, durante muito tempo, tem ocorrido no espaço da
Educação Especial, estando relacionada à busca pela inclusão do aluno com deficiência. Assim,
os motivos para a realização deste Projeto de pesquisa-intervenção estão fortemente associados
à minha trajetória de vida e, especialmente, à minha visão de mundo e de educação e serão mais
bem explicitados no item 1.1. Desse modo, as justificativas para a realização da pesquisa
emergiram a partir dos motivos a seguir elencados.
O primeiro referiu-se à identificação da necessidade de se repensar os procedimentos
pedagógicos voltados aos alunos com DI. Percebi que a prática pedagógica, junto aos alunos
com DI, em muitas escolas, segue, ainda, o mesmo padrão tradicional, exigindo que todos os
alunos, indistintamente, cheguem ao mesmo desempenho, desconsiderando as características
individuais dos estudantes. Desse modo, ficou evidente de que a proposta de inclusão parece
não ser compreendida em tais estabelecimentos escolares, visto que os procedimentos de ensino
voltados aos referidos alunos, em muitos casos, deveriam ser diferenciados.
Nesse sentido, precisam ser consideradas as vias colaterais, compreendidas como
caminhos ou recursos culturais que possibilitam a realização de uma tarefa e apresentam
significativo caráter pedagógico e criativo para a criança. Vygotski1 (1995, p. 311) afirma que
“(...) el desarrollo cultural de la conducta no está obligatoriamente relacionado a una función
orgánica”. Cenci (2015, p. 07) também esclarece que:
1 Observam-se nas bibliografias disponíveis diferentes grafias para o nome do autor: Vygotsky, Vigotskii,
Vygotski, Vigotsky e Vigotski. Neste trabalho, respeito as grafias escolhidas pelos diferentes autores que uso como
referências.
17
Apesar de as tarefas serem levadas a cabo pelas vias colaterais, sua função cultural é
a mesma – não são os mesmos órgãos que as realizam, mas elas cumprem o mesmo
objetivo cultural (ler com os dedos no Braille; falar com as mãos na Língua de Sinais).
Em tal compreensão, Vygotski afirma que o desenvolvimento humano-cultural ocorre
por vias colaterais, conforme explicita:
(...) en el proceso del desarrollo cultural del niño, unas funciones se sustituyen por
otras, se trazan vías colaterales y ello, en su conjunto, ofrece posibilidades completamente nuevas para el desarrollo del niño anormal. Si un niño anormal no
puede alcanzar algo por medios directos, el desarrollo de las vías colaterales se
convierte en la base de su compensación. A través de ellas, el niño procura conseguir
algo que no podía lograr directamente (VYGOTSKI, 1995, p. 152-153)2.
Vygotski (1997) recorre ao exemplo do uso das mãos utilizadas para o cálculo, que
adquirem o significado de um recurso para a criança pequena, quando a tarefa está dificultada
pelo caminho direto, isto é, por meio do pensamento e do raciocínio lógico. Fica, então, clara a
importância de que os professores elaborem estratégias pedagógicas que possibilitem o
desenvolvimento dos conceitos científicos entre os alunos com DI. Portanto, o estudo que se
propôs apresenta relevância e necessidade de implementação.
O segundo motivo para a realização da pesquisa-intervenção surgiu do significativo
número de encaminhamentos de alunos com DI para reforço escolar no Laboratório de
Informática da escola. Somente no ano de 2015, foram encaminhados 20 (vinte) alunos com DI
para o Laboratório de Informática, com a justificativa de necessidade de reforço escolar. Esse
número é grande, se comparado àqueles encaminhamentos dos alunos ditos normais. Estes
últimos somaram 08 (oito) encaminhamentos. Embora não se quisesse estabelecer comparações
entre alunos com DI e aqueles ditos normais, tais números, ao menos, mostraram a enorme
discrepância que existia entre as compreensões de necessidade de encaminhamento entre os
estudantes, ou seja, tratava-se de um entendimento enraizado na cultura da escola.
O terceiro motivo relacionou-se ao levantamento quantitativo das avaliações 3
efetuadas pelos professores de Matemática, que evidenciavam a dificuldade vivenciada pelos
alunos com deficiência intelectual na resolução de exercícios que envolviam o referido campo
de conhecimento.
2 No processo de desenvolvimento cultural da criança, as funções são substituídas por outras, traçando-se vias
colaterais e isto, no seu conjunto, oferece possibilidades completamente novas para o desenvolvimento da criança
com deficiência. Se uma criança anormal não pode alcançar algo por meios diretos, o desenvolvimento das vias
colaterais se converte na base de sua compensação. Através delas, a criança procura conseguir algo que não podia
alcançar diretamente. 3 Refere-se à avaliação realizada pelas alunas envolvendo o conteúdo de frações.
18
O quarto motivo encontrou-se relacionado à análise dos pareceres 4 trimestrais,
registros que expressavam as dificuldades enfrentadas pelos alunos na compreensão do
significado do conceito de números racionais, sua representação e operações. Diante dessas
dificuldades, tornou-se indispensável encontrar estratégias que aproveitassem o potencial de
aprendizagem dos alunos com deficiência, buscando-se sustentação teórica, essencialmente, em
Vygotski, valorizando, ainda, o pressuposto de que a aprendizagem se faz na dimensão
individual do sujeito.
Assim, o relatório do Projeto de Pesquisa-Intervenção contempla a seguinte estrutura:
introdução - situa a proposta de realização deste Projeto de Intervenção, elencando os motivos
que o justificaram, o problema e os objetivos que o orientaram; contexto da pesquisa-
intervenção - explicita e caracteriza a Unidade Escolar na qual foi realizada a pesquisa e a
consequente intervenção, definindo, também, os sujeitos da pesquisa e relato de algumas das
aprendizagens vivenciadas por mim e que contribuíram no constituir-me professora-
pesquisadora; revisão de literatura - configura o quadro teórico que fundamentou a
experiência e os resultados atingidos, contendo as seguintes abordagens: Deficiência
Intelectual: terminologia e conceptualização; Tecnologias Digitais na aprendizagem de
alunos com deficiência intelectual, abordando tema de relevante importância para a inclusão
escolar de alunos com deficiência, destacando o jogo como via alternativa para a aprendizagem
desses alunos, conforme a perspectiva de Vygotski; A matemática e o ensino de frações,
abordagem que apresenta algumas reflexões a respeito dessa área de conhecimento, uma vez
que a mesma permeia a proposta da pesquisa-intervenção, ressaltando o ensino de frações;
Concepções sobre os conceitos cotidianos e científicos na perspectiva de Vygotski
apresentam as concepções do autor referentes a este estudo e sua teoria histórico-cultural,
consideradas pertinentes para compreender a aprendizagem das pessoas com deficiência;
Procedimentos Metodológicos quando são descritos os procedimentos de intervenção,
caracterizando o software Scratch, os sujeitos da pesquisa e o local de realização da
intervenção; Avaliação da Intervenção registra a análise dos dados e avaliação da intervenção,
apresentando as contribuições desse procedimento e seus principais resultados. Por último, são
4 O parecer é um documento que expressa o resultado da avaliação, sendo elaborado pelos professores e
disponibilizado pela escola aos responsáveis, ao final de cada trimestre, como forma de acompanhamento do
processo de aprendizagem do aluno. Na escola, o formato de parecer descritivo é adotado para os seguintes alunos:
Educação Infantil, primeiros dois anos do Ensino Fundamental e para alunos com deficiência.
19
apresentadas as Considerações finais, as Referências utilizadas na construção do projeto,
assim como os Apêndices e os Anexos que elucidam dados/situações.
20
2 O CONTEXTO DA PESQUISA
Por contexto, entende-se a estrutura de referências que o sujeito adota, a maneira pela
qual ele pessoalmente organiza e interpreta a experiência, ou seja, o significado social
do evento (ROAZZI, 1987, p. 06).
Nesta seção, intento estabelecer a relação entre o contexto no qual se realiza a
pesquisa-intervenção e os significados que atribuo a essa experiência de investigação. Partindo
dessa intenção, registro, primeiramente, aspectos de minha trajetória pessoal, com destaque
para as experiências de formação, acreditando na estreita associação entre meu
desenvolvimento individual e minhas escolhas socioculturais e profissionais. Em seguida,
procuro caracterizar a realidade físico-escolar, ressaltando características de estudantes com
deficiência intelectual, foco da pesquisa-intervenção, que ora relato, partindo do pressuposto de
que o contexto é definido socialmente, o que requer a necessidade de se testarem teorias, seja
através da observação/intervenção, seja através de procedimento que torne mais clara a
compreensão do meio socioeducativo e da situação de um grupo específico em laboratório e
contexto natural.
Assim, dois aspectos apresentaram-se como primordiais na elaboração do projeto de
intervenção e serviram de orientadores no desenvolvimento da proposta de investigação: meu
papel como pesquisadora, quando busquei desvelar a realidade selecionada, da qual emergiu o
problema a ser investigado e a identificação de alternativas a adotar ao longo do processo de
pesquisa-intervenção.
A partir daí, no primeiro momento, resgatei minha trajetória pessoal/profissional,
percurso no qual estão marcados, no tempo, os eventos que foram contribuindo para minha
constituição como professora-pesquisadora. No tempo vivido, reconheço, pois, a relação entre
minhas experiências pessoais e o conhecimento desafiador e inovador que fui apreendendo,
assim como a possibilidade de compartilhá-lo, de forma justa e sem qualquer tipo de
discriminação, com aqueles que começam a construir sua própria vida.
No segundo momento, selecionei e caracterizei a Instituição Escolar, na qual realizei
a pesquisa-intervenção, como consequência natural de minha ação educativo-pedagógica. Esses
dois momentos se entrelaçaram na intenção de vincular meus saberes aos saberes dos sujeitos
institucionais percebidos como “diferentes”, possibilitando-me tecer a relação entre contexto
pessoal e contexto socioeducativo.
Desse modo, no contexto da pesquisa, realizei o proposto no projeto de pesquisa-
intervenção direcionado à introdução de via colateral para o aprendizado de alunos com
21
deficiência intelectual na coletividade, cujos procedimentos adotados, intervenções efetivadas,
análises e conclusões encaminhadas são apresentados neste Relatório.
2.1 Na memória, fragmentos significativos da trajetória de minha vida educacional
Relato, neste espaço, episódios significativos de minha trajetória de vida, que me
constituíram como profissional e me fizeram chegar até a essa etapa de minha formação.
Relembrá-los significou reescrever minha própria história, o que somente foi possível quando
revisitei minhas memórias, que não são meras sequências de fatos, mas estão envolvidas em
inúmeras emoções, permitindo que um novo olhar as tornasse vívido.
Antes de descortiná-los, torna-se necessário relatar um fato que marcou minha vida
escolar e influenciou em minha ação docente: ano - 1974; cenário - sala de aula da primeira
série5. O dia de início de minha trajetória escolar foi estranho, alheio à minha realidade. Sair de
casa, ir para a escola, ficar com pessoas desconhecidas constituíram-se em grandes desafios
para alguém com apenas seis anos de idade, principalmente no dia de meu aniversário. Por um
grande período de minha vida escolar, as aulas iniciavam-se no dia seis de março. O fato, que
relembro, ocorreu no primeiro dia de aula, após a indicação da turma e a despedida de meus
familiares.
As crianças foram acompanhadas pela professora até a sala de aula. Ao ingressarem,
aguardavam, em completo silêncio, a definição do lugar no qual deveriam sentar e as instruções
para o bom andamento das aulas. Hoje, recordo que, naquele momento, um sentimento me
dominava: a alegria de que iria aprender a ler. Em todo o percurso de minha vida, o ato de ler
esteve associado à magia, talvez porque o mesmo proporcione acesso a um mundo novo, que
liberta. Freire (1989, p. 09) considerava que o ato de ler é
(...) processo que envolve uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa
e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra,
daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura
daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente.
5 Série: termo utilizado para a organização das classes do Ensino de Primeiro Grau de acordo com as Leis de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional números 4.024/1961, 5.692/1971 e 9.394/1996; ano: termo utilizado para
a organização do Ensino Fundamental de Nove Anos, conforme Lei nº 11.274/2006.
22
Anos mais tarde, ao me deparar com o artigo “A Importância do Ato de Ler” (FREIRE,
1989), revivi as emoções sentidas, quando começara a aprender a ler. Compreendi, como afirma
Severino (1989, p. 7), que
(...) aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o
mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas
numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. Ademais, a aprendizagem
da leitura e a alfabetização são atos de educação e educação é um ato fundamentalmente
político.
Retomando. O fato ocorreu durante a chamada, quando a professora enunciava o nome
de cada aluno e dizia a palavra “presente”. Dispersa no turbilhão de emoções que vivenciava
naquele dia, não compreendi que deveria responder “presente”, o que é estabelecido pela escola
para “registrar” a presença e não se dirigir à professora para pegar um presente. Ganhar um
presente, no dia de meu aniversário, era culturalmente estabelecido. Ao chegar à mesa da
professora, fiquei aguardando, quando a professora perguntou:
- O que fazes aqui?
- Vim pegar meu presente, respondi.
A professora, então, respondeu em tom de voz mais alto, dizendo que eu estava
equivocada e que ela não teria condições de presentear a todos! Tudo ocorreu na frente dos
colegas.
Embora não concorde com a atitude da professora, não culpei a atuação de tal
profissional. Entretanto, senti que tal situação ocasionou, mesmo que inconscientemente, meu
silêncio e “bom comportamento”, durante todo o Ensino Fundamental. Esse episódio influenciou,
sobremaneira, minha formação profissional, o que me levou a desejar ser professora para
estabelecer uma relação acolhedora e compreensiva com meus alunos.
Assim, a escolha de ser professora levou-me ao Curso de Magistério do Instituto de
Educação “Assis Brasil”, considerada minha primeira etapa na formação profissional. Iniciara o
Curso de Magistério muito jovem, mesmo assim sabia da importância daquela escolha, pois esta
implicaria uma nova concepção de mundo, na qual o ato de educar é também ato político
(FREIRE, 1989). Trazia, na memória, a ideia de como ser professora, que nada mais era do que
ser o melhor de cada uma das professoras com as quais convivi durante o Ensino Fundamental, o
que se alicerçava em conceitos centrais, tais como: democracia, consciência crítica, equidade,
justiça, acesso ao conhecimento (TORRES; O’CADIZ; WONG, 2002). Mas o que trazia na
memória necessitou ficar adormecido nos anos de formação. Aprendia sobre didática, postura,
23
uso do mimeógrafo, correção com caneta vermelha e distanciamento - tão somente aspectos
técnicos do ato de ensinar.
Distanciamento foi uma de minhas primeiras indagações pedagógicas, pois acreditava que
a relação professor-aluno não poderia ser estabelecida no domínio de um sobre o outro, na falta de
diálogo e na imposição de ideias. Realizei meu estágio cumprindo os ensinamentos aprendidos no
Curso de Magistério. Nos poucos momentos de “subversão”, fui chamada e devidamente advertida
sobre os procedimentos “corretos e necessários” para ser considerada uma boa professora. Esses
procedimentos constituíam-se em: “vencer” os conteúdos programáticos, a qualquer custo; corrigir
os cadernos; manter a disciplina, dentre outros que distanciam o ato pedagógico de uma relação
dialógica. Acabei cumprindo-os, mas não os aceitando...
Considerando que o não se acomodar, o não se sentir formado, o não estar pronto, iriam
levar-me a buscar novos estudos, ingressando, então, no Curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Pelotas. Ocorreu, também, naquele período, minha nomeação como docente da Rede
Municipal de Ensino, em Pelotas. Popularmente, acredita-se que permanecer tanto tempo em uma
instituição/esfera não contribui para o crescimento pessoal e profissional. Diferentemente desta
noção, creio, no entanto, que as experiências e os processos vivenciados vão aperfeiçoando a
prática pedagógica e acabam proporcionando a maturidade necessária para compreender a
complexidade do ato de ensinar. Talvez essas construções se tornaram possíveis com o constante
interesse profissional pela leitura científica que mantenho, desde então.
A Graduação foi extremamente significativa no processo de minha formação, uma vez
que me forneceu subsídios para ampliação do conhecimento. Aprendi que o conhecimento é
constituído coletivamente, que não há saberes mais importantes do que outros, mas saberes
diferentes. Assim, consegui responder a uma das indagações que me acompanhava desde o
Magistério e que pautou minha atividade docente por esses princípios. Busquei, por meio de
atividades pedagógicas, pesquisas, participação em eventos escolares, proporcionar aos “meus”
alunos o conhecimento da realidade onde estão inseridos, pois concordo com Freire (1977, p. 48)
para quem,
(...) o homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na
transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da
sua própria capacidade para transformá-la (...). Ninguém luta contra forças que não
entende, cuja importância não meça, cujas formas e contornos não discirna (...). Isto
é verdade no que se refere às forças da natureza (...), isto também é assim nas forças
sociais (...). A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre
que é modificável e que ele o pode fazer.
24
Considero que obtive “sucesso” com algumas atividades e não me mostrei tão hábil o
suficiente no desenvolvimento de outras. No percurso, faltou-me, talvez, habilidade na
condução e mais profundidade teórica nas questões relativas a gênero e inclusão de pessoas
com deficiência. Dessas questões, a inclusão foi a que mais me inquietou. E esta inquietação
ocorreu de duas maneiras: como Coordenadora Pedagógica dos Anos Finais do Ensino
Fundamental e como docente na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em 2009. Como docente,
fui designada pela escola para assumir uma turma de Educação de Jovens e Adultos, constituída,
majoritariamente, por pessoas com Deficiência Intelectual (2009). Naquele espaço escolar, em
meu desempenho profissional, ratificava o entendimento de que incluir é possível.
Compreendendo a necessidade de rever teorias, estudar e rediscutir posturas
educacionais, ingressei, por convênio firmado entre o Município de Pelotas e a Universidade
Federal do Ceará, no curso de Especialização em Atendimento Educacional Especializado
(AEE), que visava a qualificar os profissionais que já atuavam junto a pessoas com deficiência
e instituir o Atendimento Educacional Especializado nas escolas municipais de Pelotas, como
preconiza a Portaria Ministerial nº 555/2007, publicada em 2008, que instituiu a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Inclusão.
Paralelamente à formação no Curso de Atendimento Educacional Especializado (AEE)
estabeleci, enquanto coordenadora, contato com as Escolas Louis Braille, Centro de
Reabilitação de Pelotas (CERENEPE) e Secretaria Municipal de Educação e Desporto
(SMED), que, por meio do Centro de Apoio, Pesquisa e Tecnologias para a Aprendizagem
(CAPTA), propiciou diversos cursos de formação aos professores da Escola, pois também
estudavam na Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção” alunos com Deficiência Visual,
Deficiência Física e Transtornos Globais do Desenvolvimento.
Concluído o Curso, passei, a partir do ano de 2011, a ser responsável pela Sala de
Recursos Multifuncionais (SRMF) da Escola Municipal “Cecília Meireles” (Pelotas). Saliento
que, em ambas as escolas, o número de alunos com DI é maior do que de outras deficiências.
Lá, deparei-me com a curiosidade das colegas e dos pais/responsáveis pelos alunos, que
ansiavam saber que espaço era aquele. A primeira atividade, então, foi organizar encontros com
esses diferentes grupos e explicitar o que é a Sala de Recursos Multifuncionais, espaço físico
localizado na escola pública onde se realiza o AEE, e os objetivos do trabalho desenvolvido na
mesma.
Em 2012, após nomeação em concurso público do Instituto Federal Sul-Rio-
Grandense (IFSul), deixei a docência da SRMF e passei a acompanhar o trabalho desenvolvido
nas escolas como Coordenadora Pedagógica, função exercida até o ano de 2014. Hoje, sou
25
responsável pelo Laboratório de Informática da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr.
Joaquim Assumpção” (EMEF Dr. J. A.) e por oficinas com todas as turmas, nas quais estão
inseridos alunos com deficiência.
Minha história, até aqui construída, auxilia-me a compreender que é importante a
continuidade da inquietação em relação às questões educacionais. Busco, profissionalmente,
mesmo com uma jornada de trabalho de 40 (quarenta) horas em sala de aula, fazer pesquisa
para qualificar a prática pedagógica e, assim, encontrar e/ou construir novos caminhos para a
educação de alunos com DI.
2.2 Escola: cenário da pesquisa-intervenção
A Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção” é integrante
da Rede Municipal de Ensino de Pelotas, Estado do Rio Grande do Sul (RS) e foi o espaço no
qual se realizou a pesquisa-intervenção6. A figura 1 apresenta a fachada principal da escola.
Figura 1 - Fachada da Escola Pesquisada
Fonte: acervo da pesquisadora (2016)
A Escola iniciou suas atividades pedagógicas em trinta e um de julho de mil
novecentos e vinte sete (31/07/1927); atende, atualmente, 435 (quatrocentos e trinta e cinco)
alunos, divididos em três turnos: manhã, tarde e noite. As modalidades de ensino oferecidas
pela escola são: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
6 Pesquisa-intervenção autorizada pela Diretora da Escola (APÊNDICE A).
26
A figura 2 apresenta aspecto do Laboratório de Informática, no qual se realizou a
pesquisa-intervenção. As atividades deste local foram iniciadas no mês de março de dois mil e
quinze, visando a agregar novas metodologias às práticas docentes.
Figura 2 - Laboratório de Informática
Fonte: acervo da pesquisadora (2016)
Dentre os objetivos dos laboratórios de informática nas escolas estão:
1) promover o uso do Laboratório de Informática, integrando a informática educativa
à proposta pedagógica da Escola; 2) proporcionar aos professores e alunos recursos
informacionais no processo de construção/ampliação de conhecimentos; 3) possibilitar o acesso
dos alunos às tecnologias digitais como forma de inclusão social; 4) utilizar o computador como
um recurso de ensino-aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento de habilidades cognitivas
e de comunicação (BRASIL, 2008).
O Laboratório de Informática da EMEF “Dr. Joaquim Assumpção” dispõe de dez (10)
computadores, recebidos do Governo Federal por meio do Programa Nacional de Tecnologia
Educacional (PROINFO), cujo objetivo, de acordo com o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) é: “(...) promover o uso pedagógico da informática na rede pública de educação básica”
(BRASIL, 2008, p. 01). Este Programa
(...) leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. Em
contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a estrutura
adequada para receber os laboratórios e capacitar os educadores para uso das
máquinas e tecnologias (BRASIL, 1997, p. 01).
Há três (3) professores responsáveis pelo atendimento no Laboratório de Informática.
Esses profissionais possuem cursos de formação continuada sobre Tecnologias e Mídias na
Educação, ofertados pela mantenedora, e suas atuações estão vinculadas à: manutenção de
equipamentos, subsídios aos docentes em suas práticas pedagógicas e atendimento aos demais
27
membros da comunidade escolar. Seu funcionamento ocorre nos turnos da manhã, tarde e noite.
Ao longo do desenvolvimento de suas atividades, foi solicitado, pelo grupo de professores, que
o laboratório tivesse sua atuação, também, direcionada ao reforço dos conteúdos escolares,
especialmente nas áreas de Português e Matemática, por meio de atividades interativas
(midiáticas), para alunos com deficiência. Ainda que o reforço dos conteúdos não esteja
previsto no Projeto Político-Pedagógico da Escola (SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO E DESPORTO, 2014), ministrei aulas de matemática aos alunos com deficiência
intelectual e aos sem deficiência no atendimento do Laboratório de Informática. Essa decisão
esteve fundamentada, prioritariamente, nos preceitos defendidos por Vygotski (1989) quanto à
coletividade como fator de desenvolvimento da criança deficiente:
- o trabalho coletivo gera interação entre os alunos “normais” e deficientes, permitindo
a criação de estratégias colaborativas para o processo de aprendizagem; geram relações que não
valorizam a hierarquia, mas sim o compartilhamento da liderança, a confiança mútua e
corresponsabilidade do direcionamento das ações (DAMIANI, 2012);
- a coletividade surge “(...) como uma proposta potencializadora e propulsora de
aprendizagens e do trabalho colaborativo na educação inclusiva” (BORBA, 2015, p. 70).
O conceito de coletividade na perspectiva de Vygotski afilia-se a outras abordagens
fundamentais construídas pelo autor. Destaca-se, nesse sentido, o conceito de mediação que
rompe com a visão determinista de desenvolvimento, em que mediadores servem como meios
pelos quais a criança age sobre fatores sociais, culturais e históricos, ao mesmo tempo em que
sofre a ação desses.
28
3 REVISÃO DE LITERATURA
(...) cada investigador analisa minuciosamente os trabalhos dos investigadores que o
precederam e, só então, compreendido o testemunho que lhe foi confiado, parte
equipado para a sua própria aventura (CARDOSO; ALARCÃO; ANTUNES, 2010, p.
07).
Esta seção constitui-se como parte fundamental deste Relatório, que resulta de intensos
movimentos de localizar, analisar, sintetizar e interpretar pressupostos construídos ao longo da
trajetória humana relativamente à defectologia e, em especial, à deficiência intelectual, tema
central proposto no projeto de pesquisa-intervenção que deu origem a este Relatório. A
construção do referencial teórico ocorreu por meio da análise minuciosa de construções dessa
abordagem, desde a fase que antecedeu à definição do problema de pesquisa, servindo,
sobremaneira, para a concretização daquele processo, assim como para a clareza dos
procedimentos a adotar e para as conclusões da prática de intervenção, de modo a contribuir
com novos conhecimentos acerca da Deficiência Intelectual. A partir daí, se enfatiza a
conceituação sócio-histórico-cultural de deficiência intelectual adotada pela Associação
Americana de Retardo Mental (AAMR), bem como seu sistema de apoio, referenciando-o à
intervenção na busca de possibilidade para o processo de inclusão escolar de pessoas com esse
tipo de deficiência. Para tanto, foram utilizadas fontes primárias, as quais contêm os trabalhos
originais de Lev Semyonovich Vygotski, e fontes secundárias, produções de autores que
interpretam os trabalhos de Vygotski.
3.1 Deficiência Intelectual
3.1.1 Deficiência: trajetória histórico-conceitual
A história da humanidade está marcada por múltiplas tentativas de conceituar a
deficiência, resultantes de visões sociais e/ou científicas predominantes em cada etapa da
trajetória humana. Essas tentativas mereceram olhares de distintas áreas do conhecimento,
dentre as quais se destacam a educação, a psicologia, a neurologia, a sociologia, a antropologia
(PLETSCH, 2009).
A respeito da defectologia, Vygotski (1997, p. 11) considera que, durante largos anos,
(...) no hace mucho, todo el campo del saber teórico y el trabajo cientíco-prático que
convencionalmente denominamos com el nombre común de “defectologia”, se
consideraba algo así como uma pedagogia menor, a semejanza de como la medicina
29
diferencia la cirurgia menor. Todos los problemas se planteaban y resolvian em este
campo como problemas cuantitativos7.
Na trajetória da defectologia, podem ser identificadas duas grandes divisões: pré-
científicas e científicas. De acordo com Bartalotti (2006, p. 41-42), nas concepções pré-
científicas,
(...) predominantes na Antiguidade e na Idade Média, a compreensão sobre a
deficiência estava muito ligada ao sobrenatural. Vista como possessão demoníaca ou
como castigo divino, essas pessoas eram sistematicamente eliminadas pelo sacrifício
de sua vida e pelo abandono, que acabava também consistindo em uma sentença de
morte. A deficiência, então, era algo que não pertencia ao âmbito do humano.
Conforme relata Skliar (2006), em Esparta, na Idade Antiga, havia um conselho de
anciãos que examinavam os recém-nascidos, determinando se as crianças poderiam desfrutar
do convívio de seus pais e serem por eles criados. Os bebês considerados feios, disformes e
franzinos eram encaminhados ao Apothetai (abismo situado na cadeia de montanhas Taygetos)
e arremessados como seres indesejados. Esse procedimento, de acordo com Skliar (2006, p. 18),
permaneceu até a Renascença, quando as crianças “(...) com deficiência eram expostos
(abandonados à inanição)”.
No contexto da Idade Média, segundo registra Bartalotti (2006, p. 42), ocorreu o
fortalecimento do Cristianismo e, assim,
(...) é difundida a ideia de que todos são filhos de Deus: essa concepção impede a
eliminação pura e simples das pessoas com deficiência – se Deus deu a vida, apenas
a Ele compete tirá-la. Tem-se, então, a notícia dos primeiros espaços assistenciais, em
organizações religiosas que abrigavam desprotegidos e doentes de todos os tipos, além daqueles que, por diversas razões, fugiam aos padrões comuns de comportamento.
Assim, as pessoas com deficiência passaram a ter direito à sobrevivência e à
manutenção da vida, mantidos, no entanto, segregados da sociedade, em asilos ou hospitais.
Somente no Renascimento (fins do Século XIV até meados do Século XVI), emergiram
concepções científicas acerca da deficiência, surgindo, então, o período científico relativo à
defectologia. As explicações para a deficiência “(...) deixaram de ser atribuídas aos deuses e
foram buscadas no corpo da pessoa – surgiu, então, o entendimento de que as pessoas com
7 Não faz muito, todo o campo do saber teórico e o trabalho científico-prático que convencionalmente
denominamos com o nome comum de “defectologia”, era considerado algo assim como uma pedagogia menor, a
semelhança de como a medicina diferencia a cirurgia menor. Todos os problemas eram questionados e resolvidos
neste campo como problemas quantitativos.
30
deficiência possuíam algum tipo de doença” (BETTIN, 2013, p. 22), minimizando-se a
influência da Igreja, para tornar-se o tema objeto de interesse da medicina. Bartalotti (2006, p.
43) explicita que, naquele momento histórico, conviveram o caráter assistencialista e o clínico-
médico, considerando-se que
(...) a deficiência é a doença, os comportamentos alterados são os sintomas, o
tratamento objetiva minimizar os sintomas para que o sujeito possa conviver da melhor forma possível em seu meio familiar e social – temos aqui claramente as bases
do modelo médico de deficiência.
Assim era explicado o modelo clínico-médico, que considerava/considera a
deficiência como uma patologia do organismo biológico, cujas premissas começaram a ser
questionadas pelos estudos dos médicos Edouard Seguin e Maria Montessori, verificando-se
significativos avanços em diversas áreas do conhecimento, como Psicologia, Educação,
Sociologia, Biologia, dentre outras, contribuindo para a emergência de uma nova visão a
respeito da deficiência e da pessoa com deficiência. Entendeu-se, pois, que as causas da
deficiência estariam associadas a fatores relacionados com o meio social, com oportunidades
de convivência, de educação, de alimentação (MANTOAN; PRIETO; ARANTES, 2006). Essa
compreensão, apontada por Bartalotti (2006, p. 43), permitiu concluir que
(...) embora não se possa negar as causas orgânicas, muitas das alterações observadas
nas pessoas com deficiência decorrem da influência de fatores psicossociais. A partir
daí, a deficiência começa a deixar de ser vista como uma doença (ligada apenas ao
corpo do sujeito) e passa a ser vista como uma condição (fruto, também, das interações
desse sujeito com o meio no qual vive). Portanto, não bastam mais intervenções do
campo da saúde para promover seu desenvolvimento, são necessárias medidas sociais,
educacionais, políticas públicas, para que se possa falar em real promoção do
desenvolvimento.
Desse modo, o Século XX configurou-se por importantes avanços na área da
deficiência, tais como: classificação das deficiências, diagnósticos mais precisos e aplicação de
tratamentos especializados (BETTIN, 2013).
Entretanto, no percurso histórico-conceitual da deficiência, posições controversas
estiveram presentes em relação ao tema e, durante longo tempo, os termos utilizados para
nomeá-la ficaram submetidos à visão médica, como registra Pletsch (2009, p. 76, grifo do autor):
“(...) idiotia (século XIX), debilidade mental e infradotação (início do século XX),
imbecilidade e retardo mental (com seu nível leve, moderado, severo e profundo) e déficit
intelectual/cognitivo (final do século XX)”.
31
3.1.2 Deficiência Intelectual: evolução conceitual
No contexto da deficiência, busco, neste estudo, ressaltar momentos evolutivos do
conceito de Deficiência Intelectual (DI). Na visão supersticiosa da deficiência, “(...) o
desenvolvimento humano e a deficiência mental eram entendidos como algo pré-formado, sem
qualquer relação ou influência com o contexto social” (PLETSCH, 2009, p. 76). No Século
XVI, a visão relacionada a superstições sociais e religiosas começou a ser questionada, surgindo,
então, a pressuposição de que as deficiências, dentre elas a deficiência intelectual, tinha origem
orgânica.
No século seguinte, o médico Jean Itard (1774-1838), considerado o primeiro teórico
da Educação Especial, realizou investigação com o menino Victor de Aveyron (o menino
selvagem), concluindo que as pessoas com deficiência mental poderiam ser educadas. Édouard
Séguin (1774-1834), seguidor de Itard, foi pioneiro da teoria psicogenética da deficiência
mental e criador da primeira escola para deficientes mentais. Criticou a prevalência da
incurabilidade da deficiência mental, influenciando positivamente os estudos de Pestalozzi
(1746-1827), Fröebel (1782-1952) e Montessori (1870-1925). Pletsch (2009, p. 77) esclarece
que Séguin “(...) foi o primeiro presidente de uma organização de pesquisa dirigida a estudos
sobre a deficiência. Esta instituição, fundada em 1876, é conhecida, atualmente, como
Associação Americana de Retardo Mental (AAMR)”.
Apesar dos estudos desses teóricos sobre educabilidade dos deficientes, os
diagnósticos da deficiência tiveram continuidade com base na visão organicista/biológica. A
partir do Século XX, Alfred Binet introduziu o método do Quociente Intelectual (QI),
calculando a inteligência, de acordo com Pletsch (2009, p. 77), “(...) pela relação entre a idade
mental do sujeito e sua idade cronológica (idade mental/idade cronológica X 100)”, sendo
estabelecidos scores classificatórios: deficiência leve – QI entre 68 e 52; moderada – QI entre
51 e 36; severa – QI entre 35 e 20; profunda – QI abaixo de 20 (MAZZOTTA, 1987). A esse
respeito, Pletsch (2009, p. 78) esclarece:
A partir de Binet, o estudo científico da deficiência mental ganhou espaço. O debate
girava em torno das inter-relações entre definições biológicas, sociais e educacionais.
Assim, surgiu a concepção interacionista de desenvolvimento humano, na qual se
privilegiava a interação do indivíduo com o meio. Todavia, a deficiência mental
continuou sendo vista como algo organicamente incurável e passível de verificação
por meio de testes padronizados.
32
Desse modo, continuou a ser dada maior importância aos fatores biológicos da
deficiência, o que contribuiu, em grande parcela, para a segregação do deficiente mental em
hospitais e escolas especiais. Assim, durante muito tempo, a deficiência elegeu esse caminho –
número e medida, sendo a defectologia reduzida a um desenvolvimento estritamente
quantitativo e limitado, verificando-se, em consequência, uma intervenção educativa restrita e
lenta.
Essa situação foi mantida até a década de cinquenta do Século XX, quando emergiram
proposições relacionadas a aspectos socioeducacionais, inicialmente divulgadas no Manual da
Associação Americana de Retardo Mental (AAMR), quinta edição. Em 1961, esse Manual foi
revisto e reeditado, apresentando uma nova fase da área da deficiência mental.
Na tentativa de superar a visão clínico-médica, foram difundidos métodos de
investigação da criança com deficiência, especificamente, intelectual, intentando-se
compreendê-la e explicá-la para além da concepção puramente quantitativa do
desenvolvimento infantil na perspectiva do defeito (VYGOTSKI, 1997).
Até então, principalmente com base em escala numérica de Alfred Binet e Théodore
Simon (testes de inteligência), era determinado o grau de insuficiência do intelecto. Entretanto,
este método não caracterizava o defeito, nem a estrutura interna da personalidade que o mesmo
criava. Não estabelecia o gênero e o tipo de deficiência (VYGOTSKI, 1997). Ao criticar esses
testes, Vygotski (1997, p. 11) explica:
También aqui las proporciones, el tamaño, la escala constituyen las categorias
fundamentales de la investigación, como si todos los problemas de la defectologia
fuesen problemas de las proporciones y toda la diversidad de fenómenos e sudiados
por la defectologia que dara englobada por um esquema único: “más-menos”. Em
defectologia se comenzó antes a calcular y medir que a experimentar, observar,
analizar, diferenciar y generalizar, describir y definir cualitativamente8.
Todavia, mesmo que vagarosamente, emergiram reações contra esse enfoque
meramente matemático da defectologia, promovendo duas concepções antagônicas, que
constituem o conteúdo vivo dessa crise benéfica, pela qual passa, atualmente, esse campo do
saber científico. Tal movimento conceitual abrange, sem dúvida, a dimensão da deficiência
intelectual. Desse modo, tornaram-se constantes as buscas no sentido de elaborar critérios
8 Também aqui as proporções, o tamanho, a escala, constituem as categorias fundamentais da investigação, como
se todos os problemas da defectologia fossem problemas de proporções e toda a diversidade de fenômenos
estudados pela defectologia ficassem englobados em um esquema único: “mais-menos”. Em defectologia antes se
começou a calcular e medir. Para depois experimentar, observar, analisar, diferenciar e generalizar, descrever e
definir qualitativamente.
33
elucidativos para a conceptualização da deficiência intelectual. Albuquerque (1996, p. 4), a este
respeito, afirma:
As dificuldades inerentes à delimitação deste conceito traduzem a impossibilidade de
incluir em definições unitárias todo o espectro da variabilidade interindividual. Na
realidade, a heterogeneidade da população habitualmente diagnosticada com deficiência
intelectual, em termos de etiologia, características comportamentais, necessidades
educativas etc., revela que se trata de um problema teórico-prático complexo,
multideterminado e multidimensional.
No percurso da conceituação da deficiência mental, reafirmo o importante papel
desempenhado pela Associação Americana de Retardo Mental, criada em 1876, sendo a mais
antiga organização do campo da deficiência mental. Reformulada em 2007, adotou a
denominação de Associação Americana de Deficiência Mental e de Desenvolvimento (AAIDD).
Conforme registra Pletsch (2009, p. 78-79), no Brasil
(...) a concepção da AAMR (já em sua sexta edição) foi adotada pelos órgãos oficiais
e pelos estudiosos da área na década de setenta. A partir desse manual, a deficiência
mental passou a ser definida como “um funcionamento intelectual significativamente
abaixo da média, originado no período de desenvolvimento e é concorrente com os
déficits no comportamento adaptativo”.
Essa definição foi alvo de muitas críticas, dentre as quais se encontravam, conforme
indica Mendes (1995, p. 43): “(...) a inconsistência nos procedimentos de diagnóstico, omissões
nas avaliações, ênfase no critério psicométrico e dificuldades com a avaliação do
comportamento adaptativo”. Um dos problemas, como consequência dessa definição, era o
“(...) encaminhamento de pessoas com dificuldades de aprendizagem, sem deficiência mental,
para programas educacionais segregados” (PLETSCH, 2009, p. 79).
Em razão dessas críticas, no ano de 1992, a AAMR publicou uma nova edição,
considerando a deficiência mental a partir da interação de três grandes dimensões: “(...) a
capacidade da pessoa (medida por testes padronizados), o ambiente em que a pessoa vivia e a
necessidade de níveis de suporte” (PLETSCH, 2009, p. 79). Em decorrência, as orientações da
AAMR passaram a influenciar diferentes sistemas de classificação, como a Classificação
Internacional do Funcionamento da Deficiência e da Saúde (CIF); Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID)-10; Manual de
Diagnóstico e Prática Profissional em Retardo Mental da Associação Americana de Psicologia
(APA). No entanto, a concepção da AAMR, no Brasil, foi questionada, conforme sublinha
Pletsch (2009, p. 79-80),
34
(...) por enfatizar demasiadamente o sujeito e suas limitações com base em resultados
psicométricos sem levar em consideração o contexto social, especialmente pelos
teóricos que discutiam a deficiência como uma “construção social’’ (...). Para a
maioria, a deficiência não era algo que emergia exclusivamente com o nascimento,
mas se construía no grupo social no qual a pessoa estava inserida (...). Ou seja, a
deficiência não era vista apenas como uma condição intrínseca orgânica do sujeito,
mas sim também produzida a partir do meio social em que ele vive.
Nesse sentido, Bueno (2004, p. 69) afirma que a deficiência é “(...) uma categoria
historicamente construída que engloba sujeitos que possuem características pessoais que,
conjugadas às construídas nas e, até mesmo, produzidas pelas exigências sociais, interferem no
seu processo de humanização”. Assim, a deficiência intelectual é um fenômeno que ocorre no
entrelaçamento de aspectos biológicos e socioculturais, sendo que cada um deles não pode ser
considerado apenas em si mesmo, mas na sua inter-relação. Portanto, de acordo com Pletsch
(2009, p. 80), as possibilidades pedagógicas “(...) surgem justamente do ‘choque’ entre ambas
e da sua relação com as condições vigentes no contexto social”. Nessa direção, Vygotski (1997,
p. 18) esclarece:
As causas orgânicas inatas não atuam por si mesmas, mas de forma indireta por meio
da redução da posição social da criança que elas provocam. A criança não sente
diretamente sua deficiência. Percebe as dificuldades que derivam da mesma. A
consequência direta do defeito é o rebaixamento da posição social da criança; o defeito
se realiza como desvio social.
Em 1976, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a Classificação
Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (ICIDH), em caráter
experimental. Em 2001, essa classificação foi revisada, apontando falhas como: falta de relação
entre as dimensões que a compõem, a não abordagem de aspectos sociais e ambientais
(RODRIGUES; MARANHE, 2008). A partir de então, passou a vigorar o entendimento de que
a deficiência mental só poderia ser compreendida na relação com as condições socioculturais,
o que provocou a revisão e ampliação do conceito pela AAMR.
Desde 2005, o Brasil adotou a definição proposta pela AAMR em seus documentos
oficiais e referenciada por documento emitido pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo Brasil em 2006,
que definia pessoas com deficiência como “(...) aquelas que têm impedimentos de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial permanentes, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em bases iguais com as
demais pessoas” (OMS, 2003, p. 02). A respeito dessa conceituação, Carneiro (2007, p. 36)
considera que é, a partir das significações,
35
(...) atribuídas inicialmente pelo outro, e mais tarde, internalizadas pelo próprio
sujeito, no seu contexto, que cada um se constitui de maneira singular. Nessa
perspectiva, não se pode mais aceitar que se reduzam os sujeitos a algumas
peculiaridades (...). A atribuição de significados a esta peculiaridade que vai constituir
este sujeito, que continuará com suas características orgânicas, mas que definirá
sempre na relação com o outro, uma maneira singular de ser e estar no mundo.
Nesse entendimento, a definição de deficiência proposta pela AAIDD, de acordo com
Carneiro (2015, p. 01), “(...) representa um avanço em relação às concepções tradicionais,
porém, ainda prioriza atributos individuais quantificáveis ao lado de um enfoque
multidimensional que valoriza os contextos sociais”. Sassaki (2007, p. 01) registra a esse
respeito:
A adoção do novo nome e da nova sigla não foi um processo fácil nem breve, num
país que tinha em 2006, dentro de sua população, perto de 8 milhões de habitantes
com deficiência intelectual (...). Quando toda uma cultura centenária, livros técnicos, revistas especializadas etc., ainda usava o termo “deficiência mental” – tendo já
superado outros termos (idiotia, imbecilidade, oligofrenia, subnormalidade, retardo
mental, retardamento mental) – a Medicina, a Psicologia e a Neurociência abriram as
fronteiras do conhecimento sobre o fenômeno do déficit cognitivo, permitindo que
profissionais e familiares mais bem informados começassem a recomendar a adoção
do termo “deficiência intelectual”.
A nova nomenclatura pautou-se no entendimento de que o déficit cognitivo não está
na totalidade da mente e, sim, numa parte dela – o intelecto. Movimentos diversos antecederam
a esse processo, sendo que, em 2004, a Organização Mundial de Saúde e a Organização Pan-
Americana da Saúde aprovaram a Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual
(SASSAKI, 2007). A Associação Americana de Deficiência Mental e de Desenvolvimento
(AAIDD) conceituou deficiência mental como “(...) a incapacidade caracterizada por limitações
significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo expresso em
habilidades conceituais, sociais e práticas, originando-se antes dos dezoito anos de idade”
(AAMR, 2006, p. 20).
A utilização da expressão “deficiência intelectual” foi disseminada durante a
Conferência Internacional sobre Deficiência Intelectual, evento realizado no Canadá,
originando a Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão. Considerando-se essa
conceituação, é importante observar no processo de diagnóstico da deficiência três critérios,
conforme apontam Rodrigues e Maranhe (2008): o funcionamento intelectual; o
comportamento adaptativo; a idade de início das manifestações ou sinais indicativos do atraso
no desenvolvimento.
36
Essas autoras (2008, p. 24) consideram que a inteligência “(...) é concebida como
capacidade geral, incluindo raciocínio, planejamento, solução de problemas, pensamento
abstrato, compreensão de ideias complexas, rapidez de aprendizagem e aprendizagem por meio
da experiência”; o comportamento adaptativo é definido como “(...) o conjunto de habilidades
conceituais, sociais e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às demandas da vida
cotidiana”; contexto (condições do ambiente no qual a pessoa vive: família, vizinhança, escola
e sociedade); saúde (ampliação do diagnóstico da deficiência, incluindo fatores etiológicos e de
saúde física e mental). A AAMR (2006, p. 25) considerou, ainda, cinco hipóteses relativas à
aplicação do sistema proposto:
1) as limitações no funcionamento atual devem ser consideradas dentro dos ambientes
da comunidade características das pessoas da mesma faixa etária e da mesma cultura
do indivíduo; 2) a avaliação válida considera a diversidade cultural e linguística, e
também as diferenças na comunicação, nos fatores sensoriais, motores e comportamentais; 3) em cada indivíduo, as limitações frequentemente coexistem com
as potencialidades; 4) um propósito importante ao descrever as limitações é o de
desenvolver um perfil aos apoios necessários; 5) com apoios importantes apropriados
durante um determinado tempo, o funcionamento cotidiano da pessoa com retardo
mental em geral melhora.
Ressalto que a caracterização da deficiência intelectual como um sistema
multidimensional intenta “(...) superar a ideia de que a deficiência mental é uma condição
estática e permanente, em favor de uma concepção segundo a qual o desenvolvimento varia
conforme os apoios e/ou suportes recebidos pelo indivíduo” (PLETSCH, 2009, p. 84). No
processo de atendimento à pessoa com deficiência intelectual, devem ser considerados, pois, os
apoios, entendidos como recursos e estratégias que visam a promover-lhe o desenvolvimento,
a educação, os interesses e o bem-estar. A AAIDD define que os apoios são constituídos por
duas modalidades – naturais e de serviço. Conforme explica Pletsch (2009, p. 85), a primeira
modalidade
(...) se refere aos recursos e às estratégias usadas pelo próprio sujeito com deficiência
e por sua família na realização de atividades da vida diária, por exemplo. A segunda,
por sua vez, refere-se a estratégias e recursos usados no desenvolvimento da pessoa
com deficiência, como, por exemplo, os profissionais da educação, saúde e assistência
social. Em suma, esse sistema de apoios refere-se aos recursos e às estratégias usados
para favorecer o “desenvolvimento”, a “integração” e a “inclusão escolar e social” de
pessoas com deficiência mental.
Ainda, de acordo com a mesma autora (2009b, p. 86), as “(...) inovações apresentadas
no planejamento e na avaliação dos apoios a serem disponibilizados ao indivíduo com
deficiência mental são significativas, pois oferecem diferentes variáveis para determinar a
37
intensidade necessária dos mesmos”. De acordo com a intensidade da deficiência intelectual,
são classificados os apoios, assim como aponta Pletsch (2009b):
- intermitente: suporte de natureza episódica, de curto prazo, utilizado
esporadicamente “(...) em fases de mudanças bruscas na vida da pessoa e/ou situações
específicas de aprendizagem, como, por exemplo, o ingresso do aluno na classe regular” (p.
87);
- limitado: suportes sólidos ao longo do tempo, que podem ser limitados, mas não
intermitentes; podem demandar uma pequena equipe de apoio;
- extensivo ou amplo: suportes regulares e exclusivamente limitados a alguns
ambientes, mas sem limitação de tempo;
- pervasivo ou permanente: suportes estáveis de alta intensidade, fornecidos em todos
os ambientes durante toda a vida; envolve uma equipe de diferentes profissionais e intervenções
além de suporte extensivo ou por tempo limitado.
Cabe advertir que a intensidade dos apoios varia entre pessoas, circunstâncias e
estágios da vida. Nessa compreensão, Vygotski (1997) afirma a tese de que no desenvolvimento
social da criança, os recursos auxiliares (linguagem, palavras e outros signos) desempenham
papel decisivo, favorecendo a aprendizagem e o estímulo a si mesmo. Assim, os recursos de
apoio, com os quais vai sendo enriquecido o infante durante seu desenvolvimento, conduz a
uma segunda tese fundamental defendida por Vygotski (1997): a tese sobre a coletividade como
fator de desenvolvimento das funções psíquicas superiores da criança normal e anormal.
Diferentes análises são apontadas relativamente ao conceito emitido pela AAMR (2006).
Carneiro (2007), conforme registra Pletsch (2009b, p. 86), acredita que
(...) a mudança na concepção e definição da deficiência mental proposta pela AAMR
foi importante, ao passar de uma concepção puramente quantitativa, com base em
testes psicométricos (QI), para uma concepção que valoriza o meio social onde se
vive. Isto orienta novas práticas para o desenvolvimento das pessoas com deficiência
mental, especialmente as que apresentam necessidades mais acentuadas, o que pode
contribuir para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
É importante ressaltar que a colaboração entre ensino regular e Educação Especial
pode contribuir positivamente para o processo de inclusão social e escolar de pessoas com
deficiência intelectual. Para tanto, se torna indispensável a escolha do tipo de apoio mais
adequado à realidade de cada aluno. Outro relevante aspecto a considerar é que o Brasil, “(...)
apesar de adotar o conceito de deficiência mental segundo a AAMR, as políticas educacionais
nunca incorporam o sistema de apoios tal qual proposto por essa Associação” (PLETSCH,
38
2009a, p. 12). A evolução histórica do conceito de deficiência intelectual permite, portanto, o
entendimento de que suas definições foram influenciadas por exigências sociais, culturais,
políticas e administrativas, ainda que não tenha chegado a uma concepção definitiva,
permitindo identificar, essencialmente, conforme indica Albuquerque (1996), 04 (quatro)
conceptualizações de deficiência intelectual: como déficit intelectual; como déficit intelectual e
adaptativo; como déficit cognitivo; como constructo social.
O déficit intelectual firmou-se a partir de um modelo de avaliação normativo. O
desempenho inferior estava referido ao Quociente Intelectual – QI, entendido, conforme
Albuquerque (1996, p. 16) como “(...) uma estimativa de um potencial intelectual inato, um
reflexo de uma inteligência geral, unidimensional e unideterminada, inalterável e não
permeável às influências socioculturais e educativas”. Desse modo, a deficiência mental foi
perspectivada como um déficit intelectual, sendo o QI a sua expressão numérica. Era
caracterizada como de natureza individual, etiologia orgânica, imutável e incurável. A
abordagem psicométrica da deficiência mental começou a ser contestada a partir de 1930, cujos
argumentos serviram de base para a reconceptualização da deficiência mental: a influência dos
determinantes biomédicos, no entanto, não foram totalmente ignorados, mas antes os
enriqueceram, afirmando-se, paulatinamente, que “(...) a deficiência mental pode resultar de
múltiplas e diversificadas circunstâncias etiológicas” (ALBUQUERQUE, 1996, p. 17).
Nessa perspectiva, se encontra a abordagem histórico-cultural que defende o
pressuposto de que “(...) o desenvolvimento de sujeitos com deficiência intelectual se dá sempre
a partir das relações sociais e depende muito da ‘nutrição ambiental’ proporcionada a tais
sujeitos” (CARNEIRO, 2015, p. 01). Esse entendimento permite que se afirme ser a deficiência
intelectual uma construção social. No caso da deficiência como déficit intelectual e adaptativo,
a necessidade de apoio assume importância fundamental. Conforme explicita Albuquerque
(1996, p. 21), apoio é entendido como “(...) os recursos e estratégias que podem promover a
independência/interdependência, produtividade, interação social”. Os níveis de intensidade são
classificados como: apoio intermitente – natureza episódica, necessário em momentos
específicos; apoio limitado – natureza contínua, mas temporalmente circunscrita; apoio
extensivo – natureza contínua e ausência de limites temporais; apoio persistente – constante e
de elevada intensidade, sendo dispensado em múltiplos contextos.
A deficiência intelectual como déficit cognitivo está associada à menor eficiência em
situações de aprendizagem, de aquisição de aptidões e de resolução de problemas. Esta área
suscita inúmeras controversas teóricas. Atualmente, são encontrados dois modelos
diametralmente opostos: a deficiência intelectual como simples atraso no desenvolvimento
39
cognitivo (modelo desenvolvimentista) e a deficiência mental como expressão de déficit
qualitativo específico (modelo da diferença).
A deficiência intelectual como construto social comporta as variáveis socioculturais.
Reforça que a identificação da deficiência intelectual se apoia em critérios socioculturais
particulares, exigindo a interação entre os contextos ecológicos e as características individuais.
Vygotski (1997) destaca que, no processo de desenvolvimento cultural, a criança vai
assimilando não só o conteúdo da experiência cultural, mas, também, os métodos e os modos
da conduta cultural e do pensamento: vai dominando os particulares meios culturais criados
pela humanidade em seu curso de desenvolvimento histórico (linguagem, símbolos aritméticos
etc.). A criança aprende a empregar funcionalmente determinados signos como meio para
executar tal e qual a operação psicológica. De tal maneira, as formas elementares e primitivas
de conduta se convertem em atos e processos culturais mediados.
De acordo com as investigações realizadas por Vygotski (1984, 1997), é possível
estabelecer que o desenvolvimento cultural das funções psicológicas superiores atravessa
quatro estágios fundamentais:
- estágio das formas culturais de conduta naturais primitivas;
- estágio da psicologia ingênua, quando a criança acumula experiência acerca dos
meios de conduta cultural, porém ainda não sabe se valer desses meios;
- estágio dos atos exteriormente mediados, quando a criança já sabe utilizar
corretamente os signos exteriores para efetuar uma determinada operação;
- estágio no qual o signo exterior é substituído pelo anterior, quando o ato passa a ser
interiormente mediado (cálculo mental).
A criança com deficiência intelectual se detém ou se demora em um estágio de
desenvolvimento, durante um prazo mais prolongado do que a criança sem deficiência. Por isso,
Vygotski (1997, p. 367) considerou que “(...) las particularidades del niño difícil deben ser
examinadas de modo dinámico, y no estático como uma suma de sus defectos, de sus
insuficiências”. Entende-se, assim, que a sociedade contemporânea e, consequentemente, a
prática escolar, exigem novos procedimentos pedagógicos, capazes de preparar o estudante com
deficiência intelectual para as situações de seu cotidiano. Nesse sentido, é essencial que se
proporcione a esses educandos experiências educativas advindas da presença de tecnologias
digitais, abordagem a ser tratada no seguimento deste trabalho.
40
3.2 Tecnologias digitais na aprendizagem de alunos com deficiência intelectual
Na trajetória da humanidade, o ser humano foi capaz de criar/compreender inúmeras
tecnologias para tornar sua atividade produtiva mais leve, sua locomoção e sua comunicação
mais amplas, sua vida agradável e divertida (CAMPOS; SILVEIRA; SANTAROSA, 1999).
Assim, entendo que a tecnologia acompanhou o percurso do ser humano, sendo que, nos dois
últimos séculos, a humanidade assistiu ao surgimento de várias tecnologias de comunicação,
tais como: o correio moderno, o telégrafo, o telefone, a fotografia, o cinema, o rádio, a televisão,
o vídeo (CHAVES, 2007).
Nessa caminhada, no decorrer, principalmente, da segunda metade do século XX,
surgiram e se desenvolveram as tecnologias digitais, as quais revolucionaram/vêm
revolucionando os múltiplos segmentos científico-socioculturais, dentre eles o âmbito
educacional. Na atualidade, as crianças se encontram inseridas no contexto digital, o que
consiste em forte motivo para que a escola utilize as tecnologias digitais no processo de
aprendizagem de seus alunos como forma de inclusão. Constato, pois, que a educação se
organiza em um plano socio-histórico que se mostra, de forma crescente, influenciado pelos
avanços tecnológicos. Esse movimento impacta o processo de inclusão de alunos com
deficiência no espaço escolar. Nesse sentido, Lemos (2003, p. 02) afirma: “Incluir é ter
capacidade livre de apropriação dos meios, que não é só técnica, mas sociocognitiva”. Assim,
o mundo contemporâneo se caracteriza pela constituição de uma cibercultura, entendida como
uma forma de cultura surgida junto com o desenvolvimento das tecnologias digitais (LEMOS,
2015). Nesta seção, em razão do foco da pesquisa-intervenção, dispenso especial atenção aos
avanços dos sistemas digitais e sua aplicabilidade em ambiências educacionais junto a alunos
com deficiência intelectual.
3.2.1 Inclusão digital e aprendizagem: aproximações possíveis
Em seu percurso, a humanidade construiu múltiplos posicionamentos científicos para
explicar a natureza física e social, assim como o ser humano, convivendo, pois, com constantes
transformações. Enquanto a ciência, durante a Idade Média, teve seu substrato teológico, no
decorrer da Idade Moderna, se impôs a logicidade e que, na Contemporaneidade, está sendo
alterada para a tecnologia, tornando-se flexível em sua constituição. Assim, a ciência
contemporânea passa a ter, como base, a historicidade e a práxis, quando a mente e o corpo se
41
relacionam, de forma significativa, com o todo socio-histórico (SERPA, 2005). Frosi e
Schlemmer (2010, p. 115) salientam que, entre os segmentos da sociedade que
(...) vêm sendo provocados pela presença das tecnologias, principalmente as digitais,
está a Educação. Nela as tecnologias digitais (TDs) têm impulsionado mudanças e
transformações significativas, vinculadas aos processos de ensinar e de aprender,
fazendo surgir novas teorias que ampliam a compreensão, até então existente, sobre
como se dá a aprendizagem.
Essas teorias vêm contribuindo para que educadores compreendam que a
aprendizagem não ocorre pela simples transmissão de informações no esquema professor
(emissor) – aluno (receptor). Ao contrário, a aprendizagem resulta de um processo de
construção interna, decorrente da interação do aprendente com o meio (físico, digital, virtual
e/ou social), assumindo significado singular pelo sujeito que aprende. Essa teoria se caracteriza
como histórico-social, sendo que, no contexto atual, requer o conhecimento/utilização da
tecnologia digital. Assim, na passagem da logicidade para a historicidade, uma questão
fundamental se impõe, conforme explicita Serpa (2005, p. 28):
Enquanto a logicidade pressupõe como fundante a identidade e, consequentemente,
uma linguagem baseada na representação, a historicidade tem como fundante a
diferença e, assim, como base, o acontecimento, este ganhando sentido através da linguagem enquanto jogo. Na verdade, sai-se de um contexto no qual a identidade é
dada e a diferença é conceitual, para um novo contexto em que não há identidade, e
sim, processos identitários. Enquanto no universo da identidade temos coisas
concretas, no universo da diferença temos possibilidades, que se precipitarão em
acontecimentos. No primeiro caso, o real é composto pelas coisas, enquanto, no
segundo caso, as possibilidades constituem um universo virtual, onde a precipitação
ocorre com os acontecimentos, os quais geram o real.
Entendo, portanto, que a historicidade se funda na possibilidade, abandonando a
previsibilidade determinista, a qual pressupõe uma relação causal. Na perspectiva da
historicidade, o processo de aprendizagem é autônomo e não determinista, depende do contexto
no qual vive e convive o sujeito aprendente. Portanto, o processo de aprendizagem remete o
estudante a seus referentes históricos, “(...) os quais são redes de possibilidades abertas,
indescritíveis em termos absolutos, heterogêneas e instáveis” (LIMA JUNIOR, 2005, p. 33,
grifo do autor). Desse modo, o conhecimento ocorre na diversidade, no contínuo movimento,
na transformação, no permanente processo criativo, aberto, receptivo, singular. Essas condições
de aprendizagem são favorecidas pelas tecnologias digitais disponíveis nos tempos recentes,
assim como esclarece Chaves (2007, p. 01-02):
42
As tecnologias que aumentam os poderes mentais do homem e que estão centradas no
computador digital foram desenvolvidas em grande parte depois de 1940, mas só
começaram a ter um grande impacto na sociedade a partir do final da década de 70, com
a popularização dos microcomputadores e sua interligação em redes. O computador, além
de ser uma tecnologia fundamental para o processamento das informações, vem (...),
gradativamente, absorvendo as tecnologias de comunicação, à medida que elas se
digitalizam.
Entendo, portanto, que as tecnologias digitais permitem, ainda segundo Chaves
(2007, p. 03), a criação de
(...) ambientes ricos em possibilidades de aprendizagem nos quais pessoas
interessadas e motivadas podem aprender quase qualquer coisa sem, necessariamente,
se envolver num processo formal e deliberado de ensino. A aprendizagem, neste caso, é mediada pela tecnologia.
Assim como vem ocorrendo em outros segmentos sociocientíficos, a educação está
trabalhando no sentido de romper com o paradigma tradicional, alterando suas práticas
educativas e metodológicas, articulando-se com o conjunto das transformações que
caracterizam a contemporaneidade. Dentre elas, destaca-se o uso das tecnologias digitais. Isso
requer a atualização continuada de profissionais, mudanças profundas nos currículos escolares
e na legislação específica, bem como a implantação de novas práticas pedagógicas e avaliativas.
Em tal situação, as ferramentas de aprendizagem, oriundas das tecnologias digitais,
encaminham para que o estudante se torne autônomo em seu processo de construção do
conhecimento (CHAVES, 2007), o que exige, todavia, a superação de modismos e as
imposições do mercado de trabalho, possibilitando “(...) uma inserção ativa no processo mais
amplo de transformações que já vêm ocorrendo no mundo desde a segunda metade do século
XX e que implicam um movimento relacional de mútua transformação entre cultura local e
cultura global” (BONILLA, 2005, p. 218). Nesse entendimento, considero que o modelo da
escola tradicional, ainda vigente no sistema educacional brasileiro, precisa ser repensado,
reinventado, superando “(...) o modelo de ‘aula’ como única possibilidade de espaço-tempo de
relações entre os sujeitos envolvidos no processo educativo” (BONILLA, 2005, p. 218).
Anoto, nessa direção, conforme aponta Lima Junior (2005, p. 32), que “(...) as normas
que regulam o modo de produção e circulação de conhecimento não podem ser rígidas e
uniformes e não podem se referir à reprodução de algo que já está dado, mas implica num
processo criativo, gênese diferencial e histórica”. Para tanto, torna-se necessário superar o
conhecimento humano relativo à razão, baseado no positivismo e na lógica cartesiana, que
delimita áreas específicas do conhecimento. Lima Junior (2005, p. 37) ainda afirma a esse
43
respeito: “O desafio do pensamento hoje é a virtualização, ele mesmo devendo existir como
possibilidade e atualização singular”, o que encaminha para a reflexão acerca da inclusão
digital.
Constato, assim, que, no contexto escolar, a pessoa com deficiência tende a encontrar
barreiras ao aprendizado, o que requer a utilização de recursos pedagógicos específicos com o
propósito de lhe proporcionar condições para interagir e aprender (CAMPOS; SILVEIRA.
SANTAROSA, 1999). Integrados ao sistema educativo tradicional, os alunos com deficiência
intelectual vivenciam, ainda, experiências de passividade diante de seu meio. A esse respeito,
Damasceno e Galvão Filho (2002, p. 01) afirmam:
Frequentemente, esses alunos são submetidos a um paradigma educacional no qual
continuam a ser objetos e não sujeitos de seus próprios processos. Paradigma esse que,
ao contrário de educar para a independência, para a autonomia, para a liberdade no
pensar e no agir, reforça esquemas de dependência e submissão.
Desse modo, a proposta de intervenção iniciou-se com o estudo pormenorizado da
realidade do aluno com deficiência, quando foi realizado o diagnóstico, de forma detalhada, de
suas necessidades. A partir daí, optei pela metodologia e pelo recurso pedagógico, entendido
este como uma via colateral de aprendizagem, o que possibilitou a construção do processo de
intervenção, ou seja, transformando “(...) o espaço-tempo educativo num campo do qual
emergem as atividades curriculares e no qual se articulam os conteúdos às ações, o saber ao
viver” (BONILLA, 2005, p. 218).
Nesse sentido, ao mesmo tempo em que ocorrem mudanças rápidas e irreversíveis em
todos os setores da atividade humana, as propostas curriculares continuam assentadas, em
grande medida, no paradigma tradicional. Entretanto, cada vez mais se impõe o pensar,
conforme aponta Bonilla (2005, p. 20),
(...) no significado da multiplicidade de saberes e na necessária convivência a partir
de um trânsito transversalizado, instituído por fluxos que podem tomar qualquer
direção. Isso significa alterar completamente a estagnação como base de um currículo
hierarquizado e compartimentalizado, no qual os saberes estão organizados em
unidades que se reproduzem.
Na intenção de oferecer intervenções pedagógicas pertinentes ao desenvolvimento do
aluno com deficiência, Damasceno e Galvão Filho (2002, p. 02) recomendam a implantação de
um ambiente
44
(...) onde sejam valorizadas e estimuladas a sua criatividade e iniciativa, possibilitando
uma maior interação com as pessoas e com o meio em que vivem, partindo não de
suas limitações e dificuldades, mas da ênfase no potencial de desenvolvimento que
cada um traz em si, confiando e apostando nas suas capacidades, aspirações mais
profundas e desejos de crescimento e integração na comunidade.
De acordo com Lévy (1999), o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação
tem se tornado crescente, abrangendo importantes instrumentos da cultura contemporânea,
constituindo-se como meio indispensável de inclusão dos seres humanos no mundo. Essa
realidade se torna mais evidente e possível quando se refere às pessoas com deficiências.
Neste momento, destaco, ainda, relevante aspecto dos estudos de Vygotski (1997) que
enfatiza a importância da ação, da linguagem e dos processos interativos para a construção das
estruturas mentais superiores. Em decorrência, entendo que os recursos disponíveis pela
sociedade, pela cultura, pela instituição escolar, pelas tecnologias, dentre outros, influenciam,
de forma determinante, os processos de aprendizagem de alunos com deficiência. Assim,
constato que a realidade social e educacional dispõe de recursos digitais, percebidos como
importantes instrumentos da cultura contemporânea e meios inquestionáveis de inserção e
interação do ser humano com o mundo.
Nesse sentido, proponho a viabilidade de um currículo diferenciado para alunos com
deficiência intelectual, no qual sejam acionados novos entendimentos, construídos
coletivamente no espaço escolar, possibilitando a utilização significativa das Tecnologias da
Informação e da Comunicação. Essa proposta tem, como pressupostos fundamentais, a
compreensão de que o conhecimento, hoje, está em rede e que todos os seres humanos podem
manipular e intervir de forma cooperativa para a construção do fluxo informacional. Ainda que,
existam dificuldades em muitos contextos para acesso aos recursos midiáticos, não podemos
ignorar a presença dos mesmos no mundo em que vivemos.
Ressalto, ao fazer referência à inclusão digital, os dois tipos de inclusão destacados
por Lemos (2011, p. 18): espontânea e induzida:
A inclusão espontânea é uma inserção compulsória dos indivíduos na sociedade da
informação (...). Já a inclusão induzida é fruto de um trabalho educativo e de políticas
públicas que visam dar oportunidades a uma grande parcela da população excluída do
uso e dos benefícios da sociedade da informação.
Nesse sentido, Lemos (2011, p. 19) ainda esclarece que, na forma compulsória, os
usuários são interagidos e não interagentes, ou seja,
45
(...) eles utilizam de uma forma muito rudimentar os dispositivos e as redes eletrônicas
e não sabem tirar proveito de todos os benefícios culturais, sociais e econômicos que
eles oferecem. Estes são, por assim dizer, mais “agidos” pelo sistema do que “agentes”
no sistema. Para os “interagidos”, os projetos de inclusão digital devem ser induzidos
e fortalecidos pela dimensão cidadã e educacional.
O tema inclusão digital tem suscitado diversas discussões, o que vem permitindo o
surgimento de significados e objetivos diversos e, algumas vezes, conflitantes. No entanto, de
modo geral, há convergência no sentido de considerar que a exclusão digital aprofunda a
exclusão socioeconômica, levando ao entendimento revelado por Silveira (2003, p. 18), que
“(...) a exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as principais
atividades econômicas, governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão
migrando para a rede”. Por consequência, considero que o fenômeno da exclusão digital faz
parte da mesma dinâmica de construção do fenômeno de exclusão social.
Reafirmando essa premissa, Bonilla e Oliveira (2011, p. 35) consideram que
(...) a comunicação é um direito humano básico e, na sociedade contemporânea, ela
se efetiva através das tecnologias de informação e comunicação. Logo, os direitos ao
acesso às TIC e à liberdade de expressão e interação em rede passam, efetivamente, a
compor o contexto da constituição da cidadania contemporânea.
Independentemente das diversas significações atribuídas à expressão “inclusão
digital” busco, neste Relatório Crítico-Reflexivo, conforme assinala Bonilla (2005, p. 43), “(...)
a perspectiva de oportunizar condições para que os sujeitos sejam capazes de participar,
questionar, produzir, decidir, transformar, tornando-se parte integrante da dinâmica social, em
todas as suas instâncias”. São adotados, pois, os enfoques culturais e educacionais, que apontam
para a necessidade de avançar para além da perspectiva técnico-instrumental, considerando-se
a inclusão digital como parte integrante dos processos pedagógicos e das aprendizagens
escolares.
Neste momento histórico, intensificam-se os movimentos que preconizam a inclusão
e o acesso à educação para todos os seres humanos. Percebo, nesse sentido, que as tecnologias
digitais passam a ser adotadas, ainda que lentamente, nas práticas escolares. Consequentemente,
acredito que a pessoa com deficiência pode adquirir maior independência e melhor
desenvolvimento de aprendizagem através de atividades digitais. A partir desses
entendimentos, a seguir, situo a utilização do jogo digital como via colateral para o aprendizado
de alunos com deficiência intelectual.
46
3.2.2 Jogo Digital como via colateral para o aprendizado de alunos com deficiência intelectual
A instituição escolar e os professores, neste momento histórico, estão convocados a
pesquisar, questionar, criticar e criar alternativas de atendimento ao aluno com deficiência, no
sentido de lhe possibilitar a aquisição de conhecimentos culturalmente construídos e
considerados indispensáveis à inclusão social e escolar. Desse modo, cada vez mais, é destacada
a importância das ferramentas digitais e suas múltiplas formas de uso no processo de
aprendizagem escolar. Frosi e Schlemmer (2010, p. 02) afirmam que é neste contexto que a
tecnologia digital “(...) pode auxiliar significativamente, despertando o interesse, a curiosidade,
propiciando o desenvolvimento dos conhecimentos, de habilidades e de competências de forma
instigante e prazerosa”. Isso me permite vislumbrar a possibilidade do uso do jogo digital como
importante recurso para a aprendizagem do aluno com deficiência intelectual.
Inicialmente, recorro a Antunes (2006, p. 41) para conceituar o termo jogo: “(...)
atividade de natureza lúdica e educativa, uma relação interpessoal entre o mediador e as
crianças, estabelecida por algumas regras e por objetivos”. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1998, p. 46) ampliam essas características, sem deixar, no entanto, de
reafirmar alguns aspectos indicados acima:
Os jogos constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que
estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração
de estratégias de resolução e busca de soluções. Propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das
ações; possibilitam a construção de uma atitude positiva perante os erros, uma vez que
as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no
decorrer da ação, sem deixar marcas negativas.
Em relação aos propósitos do uso de jogos, os PCN (1997, p. 47):
Os jogos podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes, enfrentar
desafios, lançar-se à busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da intuição, da
criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las, quando o resultado não é
satisfatório – necessárias para a aprendizagem da Matemática.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática (1997, p. 47) postulam que as
atividades de jogos:
(...) permitem ao professor analisar e avaliar os seguintes aspectos:- compreensão:
facilidade para entender o processo de jogo, assim como o autocontrole e o respeito a si próprio; - facilidade: possibilidade de construir uma estratégia vencedora; -
possibilidade de descrição: possibilidade de comunicar o procedimento seguido e da
47
maneira de atuar; - estratégia utilizada: capacidade de comparar com as previsões ou
hipóteses.
Diante disso, considero relevante a utilização de estratégias e de ferramentas que se
ponham como aliadas do processo de ensino-aprendizagem de alunos que apresentam diversos
níveis de competências. A esse respeito, Oliveira et. al. (2015, p. 29) destacam:
O aspecto lúdico, trazido à cena por jogos, de promover, não só a aprendizagem, mas
o desenvolvimento dos alunos na sua dimensão psicológica e cultural, preparando
para um estado interior fértil, e desencadeando processos de socialização e
comunicação.
Moura (2002, p. 02) concorda com esse posicionamento, afirmando a esse respeito:
No jogo e nos jogos eletrônicos em particular, a criança é capaz de simular na
brincadeira o que ainda não é capaz de realizar sozinha. O jogo passa, assim, a atuar
na Zona de Desenvolvimento Proximal9 do sujeito (...). Hoje, encontramos os mais
variados tipos de jogos: jogos de simulação, RPGs eletrônicos, jogos de raciocínio,
jogos de aventura, jogos de xadrez e dama on line, jogos de estratégia e etc.
Neste Relatório, ressalto, no âmbito da pesquisa-intervenção, o valor dos jogos
digitais, os quais, conforme Alves (2004, p. 365),
(...) devem ser explorados, principalmente, nos ambientes escolares, já que
possibilitam a construção de conceitos vinculados aos aspectos sociais, cognitivos,
afetivos e culturais. E também que os jogos digitais de diferentes narrativas e
conteúdos atuam na Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos, de forma lúdica,
prazerosa e atrativa.
Para tanto, os jogos devem apresentar determinadas características que contribuam
para preservar a atratividade e o interesse pelo seu uso, trazendo experiências positivas aos
estudantes. Ressalto, portanto, de acordo com o entendimento de Frosi e Schlemmer (2010, p.
06), que a “(...) escola deve ser um local que propicie o aprendizado, respeitando limites de
cada sujeito e tratando-os como seres únicos”.
Nessa direção, quanto ao potencial motivador da aprendizagem de alunos com
deficiência intelectual, entendo que devem ser consideradas as características do jogo digital,
9 Zona de Desenvolvimento Proximal: “(...) distância entre o nível de desenvolvimento real determinado pela
resolução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial determinado através da resolução de
problemas com a colaboração de um adulto ou com a colaboração de pares mais capazes (VYGOTSKI, 1978, p.
86)”.
48
como: o desafio, a curiosidade, a incorporação de níveis progressivos de dificuldade, incentivos
colocados nas regras, impacto positivo sobre a autoestima conforme vence obstáculos,
individualização no ritmo de desempenho (OLIVEIRA et al., 2015).
Assim, enfatizo que a utilização do jogo digital permite a avaliação dinâmica ou
interativa, constituindo-se em uma inovação na forma de avaliar o potencial de aprendizagem.
Desse modo, é possível se prever que os jogos digitais possibilitam um melhor ambiente de
aprendizagem, porque permitem: ajuste de nível de dificuldades às habilidades do aluno-
jogador; emissão ao jogador de um feedback imediato; possibilidade ao jogador de escolhas e
controle sobre suas ações; despertam a fantasia e a curiosidade; oportunizam a colaboração, a
competição e a sociabilidade com outros jogadores; encorajam os estudantes a adquirirem riscos
intelectuais sem grandes medos de fracasso; podem contribuir para trocar o modelo tradicional
de ensino por “(...) jogos nos quais os estudantes são consumidores ativos e engajados em
simulações que literalmente permitem que eles interajam e manipulem mundos virtuais”
(WANG, 2016, p. 05). Aspecto importante relativo ao uso de jogos digitais é, também,
destacado por Alves (2004, p. 368), ao afirmar que
(...) quem sabe mais ensina ao que, momentaneamente, sabe menos, o que constitui
uma demanda nos jogadores de aprender uns com os outros, num processo de trocas
coletivas com os pares, atuando dessa forma na Zona de Desenvolvimento Proximal
dos sujeitos envolvidos.
Quanto à utilização ou produção de jogos digitais, algumas condições, segundo Wang
(2016) devem ser observadas:
- elevado índice de educadores preparados;
- consistente estrutura escolar e planejamento;
- criação de jogos digitais por educadores e estudantes;
- qualidade e variedade de jogos.
Entendo, pois, referenciada em Wang (2016, p. 05), que, para serem utilizados com
fins educacionais,
(...) os jogos precisam ter objetivos de aprendizagem bem definidos e ensinar
conteúdos das disciplinas aos usuários, ou então, promover o desenvolvimento de
estratégias ou habilidades importantes para ampliar a capacidade cognitiva e
intelectual dos alunos.
Nesse sentido, a utilização do jogo digital como ferramenta mediadora do processo de
aprendizagem de conteúdos matemáticos vincula-se à ideia defendida por Vigotski (1995) de
49
que é preciso propor aos alunos com deficiência novos caminhos ou vias colaterais para
efetivação de sua aprendizagem. Saliento que essas vias consistem em caminhos ou recursos
culturais que possibilitem a realização de uma tarefa e apresentam significativo caráter
pedagógico e criativo para o estudante. No processo de aprendizagem, há de se considerar o
recurso pedagógico a utilizar e, no caso desta pesquisa-intervenção, optei pelo jogo educativo
digital.
Consequentemente, busquei, com a utilização do jogo digital, incluir novos
procedimentos de ensino à prática pedagógica desenvolvida junto aos alunos com deficiência
intelectual. Como defende Vygotski (1989), o jogo, em educação, contempla muito além do
ensino de forma lúdica – influencia enormemente o desenvolvimento da criança. É através do
jogo, em grande parte, que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire
iniciativa e autoconfiança, proporciona a evolução da linguagem, do pensamento e da
concentração (VYGOTSKI, 1989).
Enfatizo que não é somente o jogo em si que trará ganho qualitativo para a
aprendizagem dos alunos, mas todas as ações desenvolvidas durante o referido processo. Assim,
diante da perspectiva lúdica, o jogo digital pode constituir-se como relevante recurso para o
desenvolvimento de aulas mais dinâmicas e prazerosas, uma vez que a tecnologia faz parte da
vida da maioria dos alunos, contribuindo para a aprendizagem de conceitos significativos e para
o desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo (BRASIL, 1998). Dessa forma, o trabalho
pedagógico com jogos educativos digitais pode atender ao pressuposto indicado por Vygotski
como via colateral. A participação do aluno com deficiência intelectual em jogos digitais
grupais representa “(...) uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para o estudante e
para o desenvolvimento de sua competência matemática” (BRASIL, 1997, p. 47), abordagens
que foram objeto de estudo e registradas a seguir.
3.3 A Matemática e o ensino de frações
Aqui, são apresentadas algumas reflexões a respeito da área da Matemática, visto que
a mesma permeia a proposta desta intervenção. As reflexões iniciais situam-se nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1998, p. 02), “(...) definidas em
norma nacional pelo Conselho Nacional de Educação, são orientações que devem ser
necessariamente observadas na elaboração dos currículos e dos projetos político-pedagógicos das
escolas”. O direito à educação consiste no fundamento maior das Diretrizes Curriculares Nacionais.
Nessa direção, tem se firmado o direito à diferença, que se assenta na “(...) ideia de que devem ser
50
consideradas e respeitadas as diferenças que fazem parte do tecido social e assegurado lugar à sua
expressão” (BRASIL, 1998, p. 01-02). A Constituição Federal (1988) reconhece esse direito,
declarando o dever do Estado para que o mesmo se efetive e determinando a sua
obrigatoriedade. Assim, a conquista da cidadania, “(...) fruto de direitos e deveres reconhecidos
na Constituição Federal, depende, portanto, da Educação Básica” (BRASIL, 1998, p. 35). É um
direito subjetivo a todos os seres humanos. Desse modo, o indivíduo não pode renunciar ou ser
levado a renunciar desse direito. Por isso, entre os objetivos para o Ensino Fundamental,
apontados nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – (1997, p. 07-08), encontra-se:
(...) utilizar as diferentes linguagens – verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e
usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a
diferentes intenções e situações de comunicação.
Os PCN (1997) ressaltam a Matemática como importante instrumento para que o aluno
compreenda o mundo e suas relações. Como objetivos específicos para a Matemática, os PCN
(1997, p. 15) entende-a como instrumento que possibilita ao estudante “(...) a curiosidade, o
espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas”.
Nessa compreensão, Nunes e Bryant (1997, p. 17) afirmam que
(...) as crianças precisam aprender matemática, a fim de entender o mundo ao seu
redor. A matemática é uma matéria escolar, porém no que tange às crianças ela é
também uma parte importante de suas vidas cotidianas: sem matemática, elas ficarão
desconfortáveis não apenas na escola, mas em uma grande parte de suas atividades
cotidianas: quando partilham bens com seus amigos, planejam gastar sua mesada,
discutem sobre velocidade e distância, viajam e têm que lidar com moedas diferentes,
e quando finalmente têm que começar a entender o mundo do dinheiro, de compras e
vendas, hipotecas e apólices de seguro, precisam de habilidades matemáticas.
Ainda que essas atividades não sejam vistas como “matemática”, a fim de realizá-las,
no entanto, tem-se que respeitar os princípios matemáticos e usar as técnicas matemáticas
desenvolvidas na escola ou no âmbito familiar (NUNES; BRYANT, 1997). Esses autores
(1997, p. 17) ainda afirmam:
Em muitas sociedades, as pessoas expressam preocupações consideráveis sobre as
habilidades matemáticas da população em geral e, quando fazem isso, seus
pensamentos geralmente se voltam para as crianças escolares e seus professores.
Na mesma direção, os PCN (1997, p. 19) destacam a situação recorrente no âmbito
escolar: “Em nosso país, o ensino de Matemática ainda é marcado pelos altos índices de
51
retenção, pela formalização precoce de conceitos, pela excessiva preocupação com o treino de
habilidades e mecanização de processos sem compreensão”. Em razão dessa realidade, muitas
experiências curriculares e metodológicas vêm sendo incorporadas às práticas pedagógicas. No
entanto, os resultados da aprendizagem dos alunos são pouco expressivos, mantendo-se,
conforme registrado nos PCN (1997, p. 22),
(...) uma organização dominada pela ideia de pré-requisito, cujo único critério é a
estrutura lógica da Matemática. Nessa visão, a aprendizagem ocorre como se os
conteúdos se articulassem na forma de uma corrente, cada conteúdo sendo um pré-
requisito para o que vai sucedê-lo.
Nunes e Bryant (1997, p. 18), nesse sentido, enfatizam:
É importante para praticamente todo mundo ser capaz de fazer mais do que simples
cálculos, a fim de, por exemplo, ler criticamente um recorte de jornal contendo mesmo
informações numéricas bastante simples, e nossos sistemas escolares podem não estar
sendo bem-sucedidos inclusive os nossos professores para fazer isso.
No Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul - Lições do Rio Grande -
é apresentada a característica básica para a área da Matemática:
Desenvolver o pensamento lógico-matemático é significar os conceitos, a linguagem
e a simbologia matemática e propiciar o desenvolvimento do pensamento. O
pensamento aritmético é construído a partir de experiências potencialmente ricas, em
especial aquelas que incluem situações-problema relacionadas com o dia a dia dos
alunos (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 09).
De acordo com o Relato Cockcroft (1982, p. 34), citado por Nunes e Bryant (1997, p.
19), em relação ao ser numeralizado, são definidas as metas da educação matemática:
Desejaríamos que a palavra numeralizado implicasse a posse de dois atributos. O
primeiro é uma “familiaridade” com números e a habilidade de fazer uso de
habilidades matemáticas que capacitam um indivíduo a enfrentar as demandas
matemáticas práticas de sua vida cotidiana. O segundo é a habilidade de ter alguma
apreciação e compreensão das informações que são apresentadas em termos
matemáticos, por exemplo, em gráficos, mapas e tabelas ou por referências a aumento
ou redução de porcentagem. Considerados juntos, estes implicam que deveria se
esperar que uma pessoa numeralizada fosse capaz de apreciar e entender algumas das
formas pelas quais a matemática pode ser usada como um meio de comunicação.
Assim, o ser numeralizado precisa pensar matematicamente sobre situações do
cotidiano. Portanto, “(...) não é suficiente aprender procedimentos; é necessário transformar
esses procedimentos em ferramentas de pensamento” (NUNES; BRYANT, 1997, p. 31). Isso
52
requer o acesso do sujeito a novos meios de pensamento, ou seja, “(...) aprender novos sistemas
convencionais de representação” (NUNES; BRYANT, 1997, p. 32), como o uso de ferramentas
digitais, possibilitando-lhe conectar o conhecimento já adquirido com situações novas. Desse
modo, ainda no entendimento de Nunes e Bryant (1997, p. 32),
(...) o pensamento da criança será expandido através de suas tentativas de lutar com
novos tipos de invariáveis. Neste caso, elas poderão usar seus próprios símbolos e recursos durante algum tempo antes que sejam solicitadas a utilizar formas
convencionais de representação. O desenvolvimento conceitual em matemática,
portanto, não é equivalente ao domínio de uma lista de procedimentos, como algumas
abordagens sobre o desenvolvimento de currículo assumiram no passado. O progresso
pode vir da compreensão de novas invariáveis, da capacidade de aprender novas
formas de representação matemática e de conectar formas antigas a novas situações
que as enriquecerão com sentido.
Conforme registram os PCN em Matemática (1997), o alicerce nessa área é construído
intensamente nos sete primeiros anos do Ensino Fundamental. Nesse sentido, Mirandola (2015,
p. 20) afirma:
É nesse período que o aluno tem que assimilar conceitos básicos que sustentarão
conhecimentos mais elaborados e que exigem maior grau de abstração. Nesta etapa escolar, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o aluno deve aprender
a registrar quantidades e operar com elas utilizando os números naturais (estes com
presença intensa em seu cotidiano); compreender e assimilar os diversos significados
da representação fracionária de um número (representação essa encontrada em raras
situações do seu dia a dia) e estabelecer relações e operar com elas: perceber a relação
existente entre a representação fracionária e a decimal...
Nunes e Bryant (1997, p. 191) alertam também:
Com as frações as aparências enganam. Às vezes, as crianças parecem ter uma
compreensão completa das frações e, ainda assim, não o têm. Elas usam os termos
fracionais certos; elas falam sobre frações coerentemente; elas resolvem problemas
fracionais; mas diversos aspectos cruciais das frações ainda lhes escapam. De fato, as
aparências podem ser tão enganosas que é possível que alguns alunos passem pela
escola sem dominar as dificuldades das frações, e sem que ninguém perceba.
Resultados de inúmeras pesquisas, dentre as quais se destaca o trabalho realizado por
Campos, Silveira e Santarosa (1995), confirmam que as crianças podem usar a linguagem das
frações sem compreender completamente sua natureza.
A abordagem referente aos números racionais (representação fracionária) tem seu
tratamento formal inicial entre os 4º e 5º anos do Ensino Fundamental por meio de noções
elementares e relacionadas ao dia a dia, tais como: divisão de pizzas, bolos e chocolates
(representação inteiro) e atividades envolvendo a junção das partes (inserir ideia/conceito de
53
metade). O objetivo de estudo dos números fracionários é a ampliação da linguagem
matemática dos alunos, visto que o conjunto numérico até então conhecido por eles (números
naturais) já não poderá solucionar situações presentes dentro do contexto escolar e no dia a dia
(BRASIL, 1998).
Relativamente ao conceito de fração, Pereira (2011, p. 12) reforça essas referências,
explicando que as frações “(...) foram criadas para representar uma parte ou algumas partes de
um todo que foi dividido em partes iguais. A fração se refere, portanto, a um todo-referência,
que pode ser um pedaço de corda, um pedaço de terra ou uma coleção de objetos”.
A mesma autora (2011) alerta que existem diferentes significados para o conceito de
fração.
(...) para um mesmo significado, há diferentes estratégias de resolução utilizadas pelos
alunos e que o modo de ensino do conceito de fração utilizado nas escolas privilegia
alguns significados, como parte-todo e operador multiplicativo, em detrimento de
outros, não garantindo que o aluno construa o conhecimento desse conceito
(PEREIRA, 2011, p. 12).
Por isso, na situação de aprendizagem de frações, é importante investigar quais os
significados que elas têm na vida do estudante – onde as utilizam e quais as formas como as
representam (RIO GRANDE DO SUL, 2009). Assim, de acordo com Pereira (2011, p. 14),
(...) o professor deve criar situações de aprendizagem que proporcionem o
desenvolvimento do pensamento matemático, do raciocínio lógico, da apropriação da
linguagem matemática e da compreensão do mundo ao seu redor, através da aplicação
de novos métodos de ensino e da utilização de novas práticas pedagógicas.
No 6º ano do Ensino Fundamental, os conceitos já abordados nos anos anteriores são
retomados e os alunos devem reconhecer os números racionais em diferentes contextos,
explorar situações-problema que indicam relação parte-todo, quociente, razão ou que
funcionam como operador, localizar números racionais na reta numérica, reconhecendo que
estes podem ser expressos na forma fracionária e decimal, estabelecendo relações entre essas
representações e, ainda, efetuar por escrito e/ou mentalmente as operações elementares com
estes. (BRASIL, 1998). A exigência de tais habilidades acaba tornando difícil e penoso para
alunos na faixa etária entre 11 e 12 anos a compreensão do referido conteúdo. As dificuldades
surgem, pois é fácil falar sobre frações, mas difícil atribuir-lhe sentido/ significado.
54
Segundo Lopes (2008), as frações podem ser consideradas megaconceito, subdividido
por diferentes subconceitos, quando os alunos precisam entender o que são frações e interpretar
cada conceito decorrente. Lopes (2008, p. 08) complementa:
No Ensino Fundamental, as frações são apresentadas inicialmente como relação parte-
todo, representam partes, números menores que a unidade, que foi dividida em partes
iguais. Mas logo a seguir, tal ideia é confrontada com a definição de frações
impróprias, como se isso fosse algo natural, quando de fato não é. Entendo que ocorre
pela presa de passar da ideia relação parte-todo para ideia de fração representando um
número racional ou quociente (divisão).
As ideias de Lopes sobre as dificuldades vivenciadas por todos os alunos no processo
de aprendizagem dos números racionais estão ratificadas no relato constante nos PCN 5ª a 8ª
Séries (1997, p. 101-102) de que:
cada número racional pode ser representado por diferentes (e infinitas) escritas
fracionárias: por exemplo 1/3, 2/6, 3/9, 4/12..., são diferentes representações de um mesmo número;
a comparação entre racionais: acostumados com a relação 3>2, terão de
compreender uma desigualdade que lhes parece contraditória, ou seja, 1/3<1/2;
se o tamanho da escrita numérica, no caso dos naturais, é um bom indicador
da ordem de grandeza (8345 > 83), a comparação entre 2,3 e 2,125 já não obedece ao
mesmo critério;
se, ao multiplicar um número natural por outro natural (sendo este diferente de
0 ou 1) a expectativa é a de encontrar um número maior que ambos, ao multiplicar 10
por ½ se surpreenderão ao ver que o resultado é menor do que 10;
se a sequência dos números naturais permite estabelecer sucessor e antecessor,
para os racionais isso não faz sentido, uma vez que entre dois números racionais quaisquer é sempre possível encontrar outro racional; assim, o aluno deverá perceber
que entre 0,8 e 0,9 estão números como 0,81, 0,815 ou 0,87.
Pereira (2011) ressalta que a aprendizagem de frações apresenta baixos percentuais de
acerto entre os estudantes. Essas dificuldades na aprendizagem da matemática e, no caso deste
estudo, em frações, são ratificadas em avaliações externas de nível nacional e internacional, tais
como: Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), Avaliação Nacional do Rendimento
Escolar (ANRESC), conhecida como Prova Brasil, que integram o Sistema de Avaliação da
Educação Básica (SAEB), criado pela Portaria nº 1.795/1994 e reestruturado por meio das
Portarias números 931/2005 e 482/2013 e do Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes (PISA). Todos visam avaliar e acompanhar os avanços e/ou retrocessos na qualidade
do ensino oferecido no país nas áreas de Língua Portuguesa (Leitura) e Matemática,
consideradas essenciais para a compreensão da realidade e exercício pleno da cidadania junto
aos jovens brasileiros. (BRASIL, 1988, 1994, 1996, 2005, 2013).
55
Nunes e Bryant (1997, p. 216-217) apontam aspecto relevante para a resolução de
problemas com frações:
As abordagens atuais quanto ao estabelecimento de uma conexão entre conhecimento
cotidiano e o conhecimento escolar da exploração de frações indicam um ponto de
partida diferente para a instrução: em vez de aprender linguagem fracional em
conexão com representações estáticas parte-todo, os alunos deveriam ser engajados
na resolução de problemas de divisão com quantidades contínuas, nas quais ambas as
variáveis são explicitamente representadas, a quantidade a ser distribuída e o número
de receptores.
Se o conhecimento relativo às frações for assim introduzido, pressupõe-se que “(...) as
crianças venham a perceber a conexão entre seu conhecimento de fora da escola e os símbolos
que elas aprendem na escola” (NUNES; BRYANT, 1997, p. 217).
Esses autores consideram tal via bastante promissora para a aprendizagem na escola.
Entretanto, alertam para o fracasso escolar:
Deveríamos ficar perturbados com este fenômeno devido à clara demonstração de que
há crianças que estão sendo descartadas como fracassadas de forma totalmente errada.
Muitos dos erros que elas cometem na sala de aula são devidos aos efeitos limitantes
da própria sala de aula. Estes erros não podem mais ser atribuídos apenas a lacunas e deficiências de raciocínio matemático da criança. O ambiente da sala de aula as leva
em direção a uma definição da matemática na qual os modos pelos quais as soluções
são obtidas assumem precedência sobre sua compreensão (NUNES; BRYANT, 1997,
p. 219).
Entende-se, pois, que os fracassos ou os sucessos matemáticos das crianças não se
constituem apenas em uma questão de habilidades lógicas. É fundamental, sem dúvida, a
representação social da matemática que a criança possui. Tanto os PCN (1997) quanto o
Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul evidenciam que o ensino da matemática,
no Ensino Fundamental, deve tornar o aluno capaz de compreender a realidade na qual se
encontra inserido. Na busca de novos caminhos curriculares em matemática, emergem
importantes teorias, como é o caso da utilização de jogo digital para a aprendizagem de alunos
com deficiência intelectual, foco central deste trabalho de intervenção.
Nesse sentido, os jogos educativos digitais caracterizam-se por serem prazerosos,
interessantes e desafiadores, constituindo-se como relevante recurso pedagógico no processo
de ensino-aprendizagem de alunos com deficiência intelectual. Assim, torna-se evidente a
necessidade de que se construa uma proposta metodológica que insira o jogo educativo digital
no processo de aprendizagem do educando com deficiência intelectual, conforme apresentada
a seguir.
56
3.4 Concepções sobre os conceitos cotidianos e científicos na perspectiva de Vygotski
Frente à dificuldade apresentada pelos sujeitos da pesquisa quanto à aprendizagem de
conceitos matemáticos, tornou-se indispensável o aprofundamento teórico acerca do estudo do
desenvolvimento dos conceitos na infância na perspectiva histórico-cultural (VYGOTSKI,
1993). Nessa intenção, busquei a referência nos estudos de Vygotski acerca do desenvolvimento
de conceitos, de modo a fundamentar a intervenção junto às duas alunas com DI, sujeitos da
pesquisa, procurando aprofundar as referências sobre o desenvolvimento dos conceitos
espontâneos (CE) e conceitos científicos (CC) na idade escolar. Nessa direção, Vygotsky
(2009), afirma que o estudo do desenvolvimento dos conceitos espontâneos e científicos em
crianças em idade escolar é uma questão indispensável.
Vygotski (1993) esclarece que a formação dos conceitos espontâneos e científicos
segue caminhos de formação e desenvolvimento distintos, estando esses processos, no entanto,
intimamente relacionados. As discussões de Vygotski (1993, 1997) relativamente à tomada de
consciência através do conceito científico são apresentadas por resultados de seus estudos
experimentais no campo do desenvolvimento dos conceitos científicos na infância, estudo sobre
o assunto que considera que contém a chave de toda a história do desenvolvimento mental da
criança. Vygotski (1997) propõe elucidar se há uma diferença objetiva entre conceitos
espontâneos e científicos no processo de desenvolvimento, em que ela consiste, se ela existe
em realidade e em função de que diferenças objetivas reais observáveis entre os processos de
desenvolvimento dos conceitos espontâneos e científicos e se ambos os processos admitem
estudo comparado.
Como já referido, os conceitos espontâneos (cotidianos) emergem da experiência
concreta e cotidiana das crianças. Estes se referem àqueles conceitos construídos a partir da
observação, manipulação e vivência direta da criança. A origem do conceito cotidiano está
relacionada, pois, a uma situação concreta. A esse respeito, Cenci e Costas referem (2010, p.
366),
(...) a influência dos conceitos cotidianos na aprendizagem escolar, isto é, de que
forma as aprendizagens anteriores e externas à escola interferem na aprendizagem
escolar formal. Ao desconsiderar os conceitos cotidianos de cada aluno, pressupondo
que todos tenham uma mesma ‘bagagem cultural’, a escola nega a diversidade dos
alunos que nela estudam – ainda que estes vivam numa mesma cidade, têm relações
diferenciadas com o meio.
57
Esse entendimento tem como base a teoria de Vygotski (1993) que considerava que
sujeitos oriundos de diferentes contextos socioculturais possuem informações e conhecimentos
de mundo distintos. Isso permite a compreensão de que cada aluno é singular e,
consequentemente, seus conceitos cotidianos também assim se apresentam. A esse respeito,
Cenci e Costas (2010, p. 366) destacam: “Cabe ao professor estar atento a essas singularidades,
pois o conhecimento escolar formal (conceitos científicos) se apoia nas aprendizagens
anteriores, no que o aluno aprende na família, na comunidade com os amigos”.
Inúmeros estudos (REY, 2002; FERREIRA; GUIMARÃES, 2003; MARTINS et al.,
2006; CENCI; COSTAS, 2010) revelam que a escola, normalmente, não considera, em suas
metodologias pedagógicas, as experiências das crianças anteriores à idade escolar. Nesse caso,
estão situados os conceitos espontâneos ou cotidianos, ou seja, aqueles que a criança constrói
sem a intervenção escolar, em seu ambiente cultural, principalmente a família (VYGOTSKI,
1991, 1993).
Em seus estudos, Vygotski destacou as implicações dos conceitos cotidianos em
relação à aprendizagem escolar, esclarecendo como ocorre a formação desses conceitos e a
relação que é estabelecida com os conceitos científicos. Em sua teoria, Vygotski (1991, 1993)
afirma o pressuposto de que os conceitos têm origem social, ocorrendo na interação dos
indivíduos. Essa ocorrência se efetiva a partir das vivências das crianças, em situações
concretas. Esses conceitos são identificados como conceitos espontâneos, enquanto os
conceitos científicos decorrem de ações intencionais, principalmente por meio da educação
formal.
Ressalto, de acordo com os estudos de Vygotski (1993, 1998), que a criança chega à
escola munida, quase que totalmente, de conceitos cotidianos, permitindo o entendimento de
que o desenvolvimento dos conceitos espontâneos ocorre antes do ingresso da criança na escola.
Portanto, é possível a compreensão de que as dificuldades de aprendizagem não estão cingidas
ao espaço escolar; neste ambiente, elas se manifestam, mas é importante a compreensão de que
as dificuldades de aprendizagem têm relação com outras experiências da vida do sujeito. Cenci
e Costas (2010, p. 370) assim caracterizam os conceitos espontâneos: “Os conceitos cotidianos
ou espontâneos são formados a partir de vivências, da observação do mundo ao redor; se
definem a partir das propriedades perceptivas, funcionais ou contextuais de seu referente, isto
é, da coisa em si”.
Em relação à aprendizagem do conceito espontâneo, Vygotski (1993) considera que o
objeto é experienciado pela criança, ainda que sua preocupação não seja a definição verbal. Por
isso, tem muita dificuldade em expressar seu pensamento por meio de palavras. Outra referência
58
importante dos estudos de Vygotski (1991, 1993) trata dos conceitos científicos que se originam
de eventos não diretamente acessíveis à observação ou ação imediata da criança: são os
conhecimentos sistematizados, adquiridos nas interações escolarizadas. Cenci e Costas (2010,
p. 370) explicam que:
Na formação dos conceitos científicos entra em cena a instrução. E para a formação
do conceito científico é necessário que existam determinados conceitos cotidianos, estes funcionam como mediadores para a internalização, isto é, para a compreensão
dos conceitos científicos é preciso já dominar certos conceitos espontâneos a ele
relacionados.
Conceitos espontâneos e científicos distinguem-se, tanto no modo de se desenvolver
quanto no modo de funcionar. A esse respeito, Cenci e Costas (2010, p. 371) esclarecem:
A principal diferença psicológica entre conceitos espontâneos e científicos é a
ausência de um sistema nos conceitos espontâneos. A sistematização entra na mente
da criança através do aprendizado dos conceitos científicos e são posteriormente transferidos para os conceitos cotidianos, mudando sua estrutura psicológica ‘de cima
para baixo’.
Assim, alguns resultados iniciais das investigações de Vygotski são expostos da
seguinte maneira:
a) no campo dos conceitos científicos ocorrem níveis mais elevados de tomada de
consciência do que nos conceitos espontâneos;
b) o acúmulo de conhecimentos leva ao aumento dos tipos de pensamento cientifico,
o que, por sua vez, se manifesta no desenvolvimento do pensamento espontâneo e redunda na
tese do papel prevalente da aprendizagem no desenvolvimento do aluno escolar.
Os conceitos cotidianos têm uma relação direta das palavras com os objetos a que se
referem, enquanto os conceitos científicos mantêm as relações das palavras com outras
palavras. Os primeiros implicam focalizar a atenção no objeto e os segundos, no próprio ato de
pensar, na medida em que as conexões entre os conceitos são relações de generalidade.
O modo de estruturação dos conceitos científicos, a sua natureza semiótica produz uma
mudança na estrutura funcional da consciência: o discernimento e controle consciente do ato
de pensar e a capacidade de usar voluntariamente as palavras como “instrumentos” do
pensamento. Os conceitos científicos estão organizados em sistemas consistentes de inter-
relações. Os conceitos científicos implicam atitude metacognitiva, isto é, de consciência e
controle deliberado por parte do indivíduo, que domina seu conteúdo no nível de sua definição,
de sua relação com os outros conceitos.
59
Vygotski (2009, p. 261) indica que, no curso do desenvolvimento, os conceitos vão
dos CC aos CE e dos CE aos CC. Os conceitos espontâneos e científicos são interligados,
exercem influência um sobre o outro. Há interação constante entre os dois. Os CC só são
possíveis depois que os CE atingirem um nível próprio da idade escolar. Isso não significa que,
no processo de desenvolvimento dos conceitos, um substitua o outro. Vygotski cita (2009, p.
244):
O curso do desenvolvimento do conceito científico nas ciências sociais transcorre sob
as condições do processo educacional, que constitui uma forma original de
colaboração sistemática entre o pedagogo e a criança, colaboração essa em cujo
processo ocorre o amadurecimento das funções psicológicas superiores da criança
com o auxílio e a participação do adulto.
A essa colaboração original entre a criança e o adulto – momento central do processo
educativo paralelamente ao fato de que os conhecimentos são transmitidos à criança em um
sistema – deve-se o amadurecimento precoce dos conceitos científicos e o fato de que o nível
de desenvolvimento desses conceitos entra na zona de desenvolvimento mais próxima em
relação aos conceitos espontâneos, abrindo-lhes caminho e sendo uma espécie de propedêutica
do seu desenvolvimento. O problema dos conceitos científicos é uma questão de ensino, uma
vez que os conceitos espontâneos tornam possível o próprio fato do surgimento desses conceitos
a partir da aprendizagem, que é fonte de seu desenvolvimento.
Neste momento, cabe perguntar: como Vygotski explica o desenvolvimento de
conceitos na mente de uma criança em processo de aprendizagem escolar? Primeiro: explica
que o contexto das interações escolares segue, comumente, uma orientação deliberada e
explícita, onde é previamente organizado. Nessa perspectiva, conforme alerta Vygotski (2009,
p. 245),
(...) os conhecimentos científicos não têm nenhuma história interna, isto é, não passam
por nenhum processo de desenvolvimento, sendo absorvidos já prontos mediante um
processo de compreensão e assimilação; esses conceitos chegam à criança em forma
pronta ou ela os toma de empréstimo ao campo do conhecimento dos adultos e o
desenvolvimento dos conceitos deve esgotar-se essencialmente no ensino do conhecimento científico à criança e na assimilação dos conceitos pela criança.
Nessa visão, ocorre, no contexto escolar, que a criança se vê diante do desafio de
‘entender’ as bases dos sistemas de concepções científicas, que se diferenciam das elaborações
conceituais espontâneas até então realizadas. No entendimento de Vygotski (2009, p. 235), esse
ponto de vista é o mais difundido, “(...) que vem sedimentando a construção da teoria do ensino
60
escolar e a metodologia de certas disciplinas científicas”, influenciando grandemente as práticas
escolares. Essa concepção, todavia, é considerada inconsistente por Vygotski (2009, p. 246),
que afirma ser um conceito
(...) mais do que a soma de certos vínculos associativos formados pela memória, é
mais do que um simples hábito mental: é um ato real e complexo do pensamento que
não pode ser aprendido por meio de simples memorização, só podendo ser realizado
quando o próprio desenvolvimento mental da criança já houver atingido o seu nível
mais elevado.
Decorre daí, a segunda explicação sobre o desenvolvimento de conceitos científicos
pela criança, a qual é apresentada por Vygotski (2009, p. 246):
(...) os conceitos psicologicamente concebidos evoluem como significados das
palavras. A essência de seu desenvolvimento é, em primeiro lugar, a transição de uma
estrutura de generalização a outra. Em qualquer idade, um conceito expresso por uma
palavra representa uma generalização. Mas os significados das palavras evoluem.
Quando uma palavra nova, ligada a um determinado significado, é apreendida pela
criança, o seu desenvolvimento está apenas começando; no início, ela é uma
generalização do tipo mais elementar que, à medida que a criança se desenvolve, é
substituída por generalizações de um tipo cada vez mais elevado, culminando o
processo na formação dos verdadeiros conceitos.
No ensino direto de conceitos, ocorre tão somente a assimilação de palavras sem
significado, um verbalismo puro. Em tal caso, a criança simplesmente assimila a palavra,
utilizando tão somente a memória, sentindo-se incapaz de empregar conscientemente o
conhecimento assimilado, de apreender o conhecimento vivo, significativo, restringindo-se à
apreensão de “(...) esquemas verbais mortos e vazios” (VYGOTSKI, 2009, p. 247).
Tais postulados demonstram a impossibilidade de uma transmissão direta do conceito
ao aluno, concluindo-se que explicações forçadas, simples memorizações e repetições
mecânicas não determinam a construção de conceitos científicos pelo estudante.
Consequentemente, há de se considerar a existência de outras vias para o processo de
desenvolvimento de conceitos pela criança, dentre as quais se destaca o ensino consciente do
conceito, assim como sublinha Vygotski (2009, p. 250): “(...) o ensino consciente de novos
conceitos e formas da palavra ao aluno não só é possível como pode ser fonte de um
desenvolvimento superior de conceitos propriamente dito com o conceito no processo de ensino
escolar”.
Essa compreensão traz uma nova orientação e “(...) coloca os processos de
aprendizagem e desenvolvimento em novas relações maximamente favoráveis do ponto de vista
dos objetivos finais da escola” (VYGOTSKI, 2009, p. 250-251). Após estudos acerca das teses
61
apresentadas por Piaget a respeito da construção de conceitos, Vygotski (2009) afirmou os
seguintes postulados à sua teoria:
— os conceitos científicos não são assimilados nem decorados pela criança, não são
memorizados, mas surgem e se constituem por meio de uma imensa tensão de toda a atividade
de seu próprio pensamento, ou seja, os conceitos científicos devem revelar em toda a plenitude
as peculiaridades dessa natureza ativa do pensamento infantil;
— o limite que separa os conceitos espontâneos e científicos se mostra sumamente
fluído, e, no curso real do desenvolvimento, pode passar infinitas vezes para ambos os lados.
Isso faz pressupor, pois, que o desenvolvimento dos conceitos espontâneos e científicos se
constitui como processos intimamente relacionados, que exercem influências um sobre o outro.
Desse modo, o desenvolvimento dos conceitos científicos apoia-se forçosamente em um
determinado nível de maturação dos conceitos espontâneos, que não podem ser indiferentes à
formação dos conceitos científicos simplesmente porque a experiência imediata ensina que o
desenvolvimento dos conceitos científicos só se torna possível depois que os conceitos
espontâneos da criança atingiram um nível próprio do início da idade escolar. Concluí, então,
que o desenvolvimento dos conceitos espontâneos ou científicos é um processo único de
formação de conceitos que se realiza sob diferentes condições internas e externas, mas continua
indiviso por sua natureza e não se constitui da luta, do conflito e do antagonismo entre duas
formas de pensamento;
— entre os processos de aprendizagem e de desenvolvimento na formação dos
conceitos, existem relações de caráter positivo e complexo, cuja premissa é a de que a idade
escolar se constitui no momento decisivo e determinante de todo o destino do desenvolvimento
intelectual da criança, inclusive do desenvolvimento dos conceitos. Nesse sentido, Vygotski
(2009) trabalha com a suposição de que os conceitos científicos de tipo superior surgem
somente a partir de tipos de generalizações elementares e inferiores preexistentes, nunca
podendo inserir-se de fora na consciência da criança.
Em tal processo, de acordo com os estudos de Vygotski (1993), a tomada de
consciência ocorre em níveis mais elevados do que nos conceitos espontâneos. Na obra de
Vygotski, o conceito de consciência é entendido, conforme enuncia Silva Júnior (2013, p. 109,
grifo do autor), como “(...) sinônimo de psiquismo humano, matriz do pensamento (soznanie,
consciência); e como tomada de consciência, função psíquica superior. Consciência e controle
(osoznanie, discernimento e controle consciente do ato de pensar)”.
Ressalta, ainda, a importância de se considerar que um conceito existe somente em um
sistema, porque “(...) a generalização significa, ao mesmo tempo, tomada de consciência e
62
sistematização de conceitos” (VYGOTSKI, 2009, p. 292). Entendo, pois, que o sistema e a
tomada de consciência a ele vinculada não são trazidos de fora para o campo dos conceitos
infantis, fazendo pressupor que já existem conceitos infantis bastante ricos e maduros. Isso
permite que a criança transfira conceitos do campo do sistema primário também para o campo
dos conceitos espontâneos, quando é reconstruída e modificada a natureza interna como de cima
para baixo. Nesse caso, ocorre a dependência dos conceitos científicos em face dos espontâneos
e a influência inversa daqueles sobre estes, incorporando, desse modo, os elementos primários
do sistema de conceitos. Por isso, conforme aponta Vygotski (2009, p. 294),
(...) o conceito científico pressupõe necessariamente outra relação com o objeto, só possível no conceito, e esta outra relação com o objeto, contida no conceito científico,
por sua vez pressupõe necessariamente a existência de relações entre os conceitos, ou
seja, um sistema de conceitos. Desse ponto de vista, poderíamos dizer que todo
conceito deve ser tomado em conjunto com todo o sistema de suas relações de
generalidade, sistema esse que determina a medida de generalidade própria desse
conceito, da mesma forma que uma célula deve ser tomada com todas as suas
ramificações através das quais ela se entrelaça com o tecido comum.
Diante dessas premissas, destaco, fundamentada nos estudos de Vygotski (2009), que:
— a não conscientização dos conceitos está na ausência de sistematicidade dos
conceitos científicos que, em decorrência disto, devem ser não conscientizados e não
arbitrários;
— a tomada de consciência dos conceitos se realiza através da formação de um sistema
de conceitos, baseado em determinadas relações recíprocas de generalidade, e que tal tomada
de consciência dos conceitos os tornam arbitrários;
— os conceitos científicos são os portões através dos quais a tomada de consciência
penetra no reino dos conceitos infantis;
— os conceitos científicos assumem enorme significado para o desenvolvimento da
criança e a escola assume papel de destaque na promoção desse desenvolvimento;
— de modo geral, o problema dos conceitos científicos é uma questão de ensino e de
desenvolvimento, uma vez que os conceitos espontâneos tornam possível o próprio fato do
surgimento desses conceitos a partir da aprendizagem, que é a fonte de seu desenvolvimento.
Sob as perspectivas analisadas, o conhecimento acerca da construção de conceitos
espontâneos e científicos tem inúmeras e profundas implicações na aprendizagem escolarizada,
aspecto que será tratado a seguir.
Como implicação para a aprendizagem, destaco o pressuposto apontado por Vygotski
(1993): a elaboração de conceitos não se desenvolve naturalmente, uma vez que não é inata ao
63
ser humano. Ela ocorre na relação interdependente e dialética entre o sujeito e o contexto.
Implica no direcionamento para a solução de problemas, a partir da tomada de consciência de
significados da linguagem. Por esse viés, Vygotski (2009, p. 244) sublinha:
O curso do desenvolvimento do conceito científico nas ciências sociais transcorre sob
as condições do processo educacional, que constitui uma forma original de
colaboração sistemática entre o pedagogo e a criança, colaboração essa em cujo
processo ocorre o amadurecimento das funções psicológicas superiores da criança
com o auxílio e a participação do adulto.
Importa sublinhar, portanto, que a colaboração entre a criança e o adulto encaminha
para o amadurecimento precoce dos conceitos científicos, sendo que esse nível de
desenvolvimento “(...) entra na zona de possibilidades imediatas em relação aos conceitos
espontâneos, abrindo-lhes caminho e sendo uma espécie de propedêutica do seu
desenvolvimento” (VYGOTSKI, 2009, p. 244). Entendo, assim, que, em um mesmo estágio de
desenvolvimento, uma mesma criança apresenta aspectos fracos (incapacidade para a abstração,
debilidade verbal) e fortes (habilidade de usar arbitrariamente a disposição para agir) dos
conceitos – espontâneos e científicos.
É primordial o entendimento de que a formação de conceitos científicos, “(...) na
mesma medida que os espontâneos, não termina, mas apenas começa no momento em que a
criança assimila pela primeira vez um significado ou termo novo para ela, que é veículo de
conceito científico” (VYGOTSKI, 2009, p. 265). Assim, de acordo com Vygotski (1993),
entendo que a construção de conceitos científicos constitui o estágio final de desenvolvimento
do pensamento, etapa em que o estudante se encontra inserido na educação formal e evidencia
a capacidade de operar com definições abstratas, tomando consciência da realidade e sendo
capaz de pensá-la por meio de conceitos. Cenci e Costas (2010, p. 367) esclarecem a esse
respeito:
Para desenvolver os conceitos científicos necessitam dos conceitos espontâneos, e, ao
serem dominados, também elevam os conceitos cotidianos. Deste modo, os conceitos
científicos reorganizam os conceitos espontâneos. Compreender o processo de
formação de conceitos cotidianos é relevante uma vez que é com esses conceitos que
as crianças chegam à escola.
Como já exposto, Vygotski (2009) considera a existência de dois níveis de
desenvolvimento: um corresponde a tudo aquilo que a criança pode realizar sozinha e outro,
àquilo que a criança poderá realizar com o auxílio de adultos ou companheiro mais capazes. O
64
mesmo autor (2009) destaca, ainda, o trabalho em colaboração, condição para o
desenvolvimento de potencialidades da criança. Refere que:
— em colaboração, a criança sempre pode fazer mais do que sozinha;
— em colaboração com outra pessoa, a criança resolve mais facilmente tarefas situadas
próximas do nível de seu desenvolvimento; quando a tarefa se encontra muito distante de seu
nível de desenvolvimento, a dificuldade de solução cresce, chegando, até mesmo, a uma
situação insuperável, ainda que em situação de colaboração;
— a possibilidade maior ou menor “(...) de que a criança passe do que sabe fazer
sozinha para o que sabe fazer em colaboração é o sintoma mais sensível que caracteriza a
dinâmica de desenvolvimento e o êxito da criança” (VYGOTSKI, 2009, p. 329); essa
possibilidade coincide com a sua zona de desenvolvimento imediato;
— o momento central para a psicologia da aprendizagem reside na possibilidade de
que a colaboração se eleve a um grau superior de possibilidades intelectuais, quando a criança
passa daquilo que sabe fazer sozinha para aquilo que ela não consegue por meio da imitação:
Nisto se baseia toda a importância da aprendizagem para o desenvolvimento, e é isto
o que constitui o conteúdo do conceito de zona de desenvolvimento imediato. A
aprendizagem da fala, a aprendizagem na escola se organiza amplamente com base na
imitação. Porque na escola a criança não aprende o que sabe fazer sozinha, mas o que
ainda não sabe e lhe vem a ser acessível em colaboração com o professor e sob sua
orientação (VYGOTSKI, 2009, p. 331).
— a zona de desenvolvimento imediato determina, assim, o campo de transições
acessíveis à criança, representando momento determinante na relação aprendizagem-
desenvolvimento, uma vez que
(...) aquilo que está situado na zona de desenvolvimento imediato em um estágio de
certa idade realiza-se e passa ao nível de desenvolvimento atual em estágio numa
segunda fase. Noutros termos, o que a criança é capaz de fazer hoje em colaboração
conseguirá fazer amanhã sozinha. Por isso, (...) a aprendizagem e o desenvolvimento
na escola estão na mesma relação entre si que a zona de desenvolvimento imediato e
o nível de desenvolvimento atual (VYGOTSKI, 2009, p. 331).
— a pedagogia deve orientar-se não no ontem, mas no amanhã do desenvolvimento da
criança, rompendo com a concepção segundo a qual o ensino deveria orientar-se no dia de
ontem do desenvolvimento, naquelas peculiaridades do pensamento infantil já amadurecidas
para o hoje, assumindo, ao contrário, de forma inconteste, a possibilidade de que ela pode passar
do que sabe para o que não sabe;
65
— a criança opera com a característica social dos processos de desenvolvimento das
funções psíquicas superiores, “(...) que surgem a partir do desenvolvimento cultural da criança,
cujas fontes são a colaboração e a aprendizagem” (VYGOTSKI, 2009, p. 334).
Considerando o postulado de Vygotski (2009) de que a zona de desenvolvimento
imediato de hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã, entendo que aquilo que a
criança, no momento presente, só consegue fazer com a ajuda de outro, mais adiante ela será
capaz de fazer sozinha. Esse pressuposto evidencia a importância da relação entre trabalho
colaborativo e zona de desenvolvimento imediato. Em síntese, conforme apontam Cenci e
Costas (2010, p. 371), para que as atividades escolares, identificadas como conceitos
científicos,
(...) introduzam novos modos de operação intelectual pressupõe-se que estas levem
em consideração as operações anteriores, uma vez que os novos conceitos devam
apoiar-se nos já existentes – conceitos cotidianos ou outros conceitos científicos
conhecidos. Quando a aprendizagem escolar está desligada da aprendizagem
cotidiana, os conceitos científicos – amparados no vazio – não mobilizam a estrutura
cognitiva, dessa forma não há promoção de desenvolvimento.
Ao tratar acerca de conceitos – espontâneos e científicos – a escola não pode
desconsiderar a bagagem cultural do aluno, entendendo o professor que a diversidade das
experiências da criança a torna única. Isso exige que o docente conheça a realidade sociocultural
da comunidade escolar e as peculiaridades dos estudantes. Entendo, portanto, a urgência para
que a escola se constitua em um espaço acolhedor das diferenças e possibilite oportunidades de
aprender e se desenvolver a todos os alunos.
66
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra (CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE).
Início a presente seção com a citação de um poema de Carlos Drummond de Andrade,
visando a estabelecer metáfora entre a pedra e as dificuldades vivenciadas pelos alunos com
deficiência intelectual em seu processo de escolarização. Os procedimentos, descritos a seguir,
intentam propor a retirada das “pedras” do caminho que, assim, permitirão aos estudantes com
deficiência uma satisfatória trajetória escolar.
O enfoque metodológico, presente neste estudo, dá ênfase à abordagem metodológica
da pesquisa intervencionista do tipo pedagógica. De acordo com Damiani et al.(2015), a
pesquisa do tipo intervenção pedagógica é aquela na qual o pesquisador deve planejar e intervir,
com a intenção de produzir avanços e, posteriormente, avaliar os efeitos obtidos, contemplando
dois componentes metodológicos:
a) O método da intervenção deve ser descrito pormenorizadamente, explicitando
seu embasamento teórico (...). Aqui, o foco do autor do relatório deve estar voltado
somente à sua atuação como professor (agente da intervenção); b) O método de
avaliação da intervenção tem o objetivo de descrever os instrumentos de coleta e
análise de dados utilizados para capturar os efeitos da intervenção (...), tendo o foco
na atuação do autor como pesquisador (DAMIANI et al., 2015, p. 62).
A sequência do escrito está composta pela explicação destes dois momentos,
fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa.
4.1 Método da intervenção
O eixo do processo de ensino, nesta intervenção, foi a inserção de um jogo educacional
digital, para o ensino de frações, denominado Frações no Scratch. O Scratch é um software
livre desenvolvido no Massachusetts Institute of Technology (MIT), que se constitui como uma
linguagem de programação visual e permite ao usuário construir interativamente suas próprias
histórias, animações, jogos, simuladores, ambientes visuais de aprendizagem, músicas e arte. O
software recebeu esse nome devido à técnica de Scratching, realizada pelos Disco-Jockeys-Hip-
Hop, que faziam movimentos nos discos de vinil com as mãos para frente e para trás,
misturando os sons das músicas. Esses movimentos são semelhantes às ideias do Scratch, pois
67
este usa diferentes mídias para realizar uma animação de forma dinâmica e criativa. Para o
Grupo Lifelong Kindergarten do MIT Media Lab (2016. p. 01) o Scratch “(...) ajuda os jovens
a aprender a pensar de maneira criativa, refletir de maneira sistemática e trabalhar de forma
colaborativa - habilidades essenciais para a vida no século 21”.
Para melhor conhecimento sobre o software Scratch, que embasou a realização do jogo
neste trabalho, é apresentada, na figura 3, a interface gráfica principal do programa, onde se
encontra a tela inicial, os comandos, roteiros, fantasias, sons, planos de fundo e comandos de
ajuda.
Figura 3 - Tela inicial do software Scratch
Fonte: http://www.scratchbrasil.net.br/.
A figura 4 apresenta o Logo de identificação do software.
68
Figura 4 - Scratch logo
Fonte: www.scratchbrasil.net.br
A escolha pelo software Scratch ocorreu devido a uma formação continuada, ofertada
pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), em parceria com a Prefeitura Municipal de
Pelotas, representada pela Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED), denominada
“Comunidade de Cooperação para Formação de Professores em Mídias Digitais Interativas”
(PROMIDIAS), da qual participei no ano de 2014 (dois mil e quatorze) e por ser considerado
um software livre, que permite aos seus usuários liberdade para executar o programa que
desejar, estudar, acessar seu código-fonte e distribuir cópias para ajudar ao próximo. Minha
intenção foi a de que o uso das mídias aumentasse no contexto escolar, como recurso para
comunicação, compartilhamento e sistematização de conhecimento entre professores, alunos e
comunidade escolar.
Os conhecimentos adquiridos na referida formação, associados ao anseio de que o
jogo, como ferramenta mediadora, possibilitasse a aprendizagem dos alunos com deficiência
intelectual, impulsionou a criação do mesmo. Optei pelo uso do Scratch para Desktop para
realização do trabalho. Tal escolha justificou-se pela não obrigatoriedade de acesso à internet
para o desenvolvimento das atividades relativas ao jogo.
O uso do Jogo Frações no Scratch teve, pois, o propósito de buscar uma nova
abordagem metodológica para a disciplina de Matemática, mais especificamente para o
conteúdo de frações, visando auxiliar os alunos e os sujeitos-foco da pesquisa na aprendizagem
dessa abordagem. Para alcançar este objetivo, utilizei duas importantes ferramentas
mediacionais consideradas por Vigotski: a linguagem e imagem. O jogo Frações no Scratch foi
criado por mim, sendo que sua produção ocorreu durante 04 (quatro) meses, exigindo-me muita
leitura, o que tornou o processo um tanto desgastante, em virtude do meu reduzido
conhecimento na respectiva área. Conforme explicam Clua e Bittencourt (2016, p. 02), a criação
69
de um jogo “(...) envolve técnicas de uma área específica e merece um estudo especial, através
do qual se busca encontrar subsídios para o desenvolvimento de um roteiro adequado ao
objetivo do jogo”.
O jogo compõe-se por 20 (vinte) telas. Na tela inicial, há uma saudação e convite aos
alunos para participarem da atividade; posteriormente, é apresentado um menu para escolha do
participante. Cada tela apresenta uma ideia, atividade/exercício a ser resolvido. O feedback ocorria
por meio das discussões durante a execução da tarefa e síntese no quarto momento. A seguir,
algumas das telas que compõem o jogo Frações no Scratch. A figura 5, apresentada abaixo,
corresponde à tela inicial do jogo.
Figura 5 - Tela inicial Jogo Frações no Scratch
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
A fim de possibilitar maior interatividade, a personagem do jogo perguntava o nome
dos participantes. A figura 6 representa esse momento.
70
Figura 6 - Personagem perguntando o nome do aluno
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
Após acessarem as telas iniciais e interagirem com a personagem, os alunos eram
encaminhados para um menu, onde deveriam escolher o jogo, de acordo com a proposta do
encontro. A figura 7 apresenta o referido menu.
Figura 7 - Menu jogo
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
A intervenção constitui-se em 10 (dez) encontros, ocorridos uma vez por semana, no
período de setembro a dezembro de 2016, às quartas-feiras pela manhã, das 9h às 10h, no horário
71
destinado ao uso do Laboratório de Informática da escola pelos alunos do sexto ano, turma 61,
para, por meio de um jogo digital educacional, composto por diferentes atividades, possibilitar o
aprendizado de alguns conteúdos dos números racionais (APÊNDICE L), contemplando os
conteúdos abordados no jogo Frações no Scratch, os quais são desenvolvidos pela professora da
sala de aula regular da disciplina de Matemática e envolveram as alunas com DI e demais discentes
da turma. Desse modo, essa prática permitiu a inclusão digital, entendida, por Silva et al. (2005, p.
03) como “(...) o acesso à informação que está nos meios digitais e como ponto de chegada, a
assimilação da informação e sua reelaboração em novo conhecimento, tendo como
consequência desejável a melhoria da qualidade de vida das pessoas”.
Pretendendo que a atividade (jogo) fosse profícua aos sujeitos da intervenção, decidi
estruturá-los por meio da organização de uma rotina, entendida aqui com uma sequência de
atividades ou etapas. A esse respeito, Freire (1998, p. 43-44) preconiza:
A rotina estrutura o tempo (história), o espaço (geografia) e as atividades, onde os conteúdos são estudados. A criança, para construir o conceito de tempo, percorre um
longo processo. Inicialmente concebe o tempo, não como uma continuidade de
acontecimentos, atividades, constituindo um todo, mas somente vê partes, não
consegue articular parte/todo sincronizadamente, mediada pela rotina localiza-se no
tempo, no espaço e nas atividades. É neste sentido que a rotina é alicerce básico para
que o grupo construa seus vínculos, estruture seus compromissos, cumpra suas tarefas,
assuma suas responsabilidades para que a construção do conhecimento possa
acontecer.
Descrevo, a seguir, a estrutura de um desses encontros, denominados aqui de encontro
típico, pois é este o emblema de uma rotina utilizada.
a) Primeiro Momento: Acolhida aos alunos no Laboratório de Informática da Escola
representada aqui como atividade inicial.
Freire (1996) compreendia como o momento em que se estabelece uma relação de
simpatia amorosa entre educador e educando, aceitando-se um ao outro na sua individualidade.
Essa relação amorosa e, ao mesmo tempo, respeitosa, representa o tempo em que ambos
interagem e se complementam por meio de uma atividade dialógica, não com as mesmas ideias
e posições, mas respeitando e enriquecendo o diálogo a partir da diversidade de pensamentos,
sentimentos, sonhos, esperanças e trajetórias que os caracterizam como pessoas fraternas.
Destaco a importância deste momento. Assim como Freire (1996) ressalta a relação
entre afeto e cognição, também esse processo é enfatizado por Vygotsky (1998, p. 101), ao
afirmar que “(...) por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva”.
72
b) Segundo Momento: Retomada das atividades desenvolvidas no encontro anterior.
Este momento tinha o objetivo de proporcionar a reflexão a respeito das abordagens
conceituais desenvolvidas, quando os alunos deveriam relatar oralmente sua experiência no
encontro anterior. Era a etapa do trabalho em que o aluno evidenciava as aprendizagens
realizadas no encontro anterior.
Considerando que “(...) a síntese é o ato de abordar as principais ideias e pontos de
conexão de uma determinada temática/experiência” (ACADEMIA BRASILEIRA DE
LETRAS, 2008), procurava estimular os relatos orais dos alunos, registrando-os na lousa. Essa
síntese era retomada ao final do encontro, podendo ser retificada/aprimorada pela participação
dos estudantes.
c) Terceiro Momento: Jogar. O jogo com mediação da professora- pesquisadora.
Neste momento, trabalhava-se com a imersividade, cujo conceito, de acordo com Clua
e Bittencourt (2016, p. 05),
(...) está relacionado com o grau de interatividade que um usuário é capaz de ter numa
aplicação. Esta interatividade não está apenas relacionada à capacidade de “andar”
num cenário, mas também com a capacidade de interagir com objetos e outros
personagens dentro do mundo visual.
Com o meu apoio, os alunos com DI tiveram ampliadas suas possibilidades de produzir
mais do que produziriam sozinhos, quando foi estimulado o desenvolvimento de importantes
habilidades – planejamento, pensamento estratégico, tomada de decisões. O jogo digital, nesta
etapa da intervenção, se inseriu “(...) no contexto cibercultural do século XXI, capaz de auxiliar,
junto com demais tecnologias de ensino, e potencializar o processo de aprendizagem” (CLUA;
BITTENCOURT, 2016, p. 05).
Procurei auxiliar o estudante a jogar e a compreender aspectos referentes às frações,
mantendo o contínuo clima de desafio e construção do conhecimento, permitindo que esse
conhecimento, produzido através da experimentação do jogo, fosse transferido para outras
situações do cotidiano, devido, principalmente, ao desenvolvimento de habilidades cognitivas
e sociais (CLUA; BITTENCOURT, 2016).
d) Quarto Momento: Relato sobre as atividades desenvolvidas e representada aqui
como atividade final.
73
Nesta etapa, os alunos efetivavam o relato oral sobre as atividades desenvolvidas no
jogo daquele dia, cabendo-me a realização do registro das contribuições dos estudantes na
lousa. Desse modo, pretendia promover a mediação entre alunos e a abordagem conceitual.
Assim, o relato realizado pelos alunos nesta fase da intervenção levou em conta a dialeticidade
presente na teorização de Davidov, conforme apontam Martineli e Lopes, (2009, p. 07), “(...)
buscando captar as mudanças, apreender o processo como luta, examinando tudo em seu
encadeamento, em suas relações. Buscar a totalidade e o entendimento do vir-a-ser humano
como processo”. Desse modo, o quarto momento da intervenção considerou que toda atividade
humana é determinada por sua prática social, assinalando, portanto, a importância da atividade
social (MARTINELI; LOPES, 2009).
Saliento que os momentos propostos para execução do jogo buscaram excluir o caráter
mecânico da referida atividade. Cada um deles contempla situações de reflexão e
questionamento importantes e necessários para a apropriação dos conhecimentos pretendidos.
Neste projeto de intervenção, o jogo educativo digital foi considerado como um recurso que
permitiu a mediação entre as potencialidades do aluno e as exigências de conhecimentos
previstos no currículo escolar. Com essa proposta, atendi ao pressuposto da teoria de Vygotski
(1998) de que o educador deve intervir na zona de desenvolvimento proximal do educando,
intentando a realização de avanços que não ocorrem espontaneamente. Deve haver o
entendimento de que, segundo esclarece Druzian (2007, p. 03), “(...) o desenvolvimento e
aprendizagem não estão nos jogos em si, mas no que é desencadeado a partir das intervenções
e dos desafios propostos aos alunos, pois a troca de informações entre os participantes contribui
efetivamente para a aquisição do conhecimento”.
Neste projeto, o foco da intervenção foi direcionado à apropriação de conceitos por
meio de um jogo digital matemático, em razão dos motivos já expostos, mostrando-se como
procedimento pedagógico diferenciado e condizente com a realidade desvelada. Segue, abaixo,
o esquema que representa, de forma resumida, a estrutura dos encontros propostos nesta
intervenção, os quais são apresentados na figura 8.
74
Figura 8 - Esquema com a estrutura dos encontros do jogo Frações no Scratch
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
4.2 Sujeitos da intervenção
Os participantes desta intervenção foram dois alunos com deficiência intelectual da
Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”, em Pelotas, Rio grande
do Sul, cinco docentes, uma gestora e colegas dos sujeitos-foco da pesquisa. Os docentes
convidados concordaram com a participação na pesquisa, assinando o termo de consentimento
livre e esclarecido (APÊNDICE D) e foram identificados por nomes fictícios10. A seguir, na
figura 9, são caracterizadas as professoras entrevistadas, constando: a formação acadêmica,
tempo e modalidade de atuação dos professores participantes.
10 As entrevistadas, neste trabalho, são identificadas por nomes fictícios. Optei por nomear cada uma delas com
nomes de professoras que se destacam no Município de Pelotas pela prática pedagógica direcionada aos alunos
com deficiência.
1º
Acolhida
2º
Retomada do encontro anterior
3º
Jogar com a mediação da pesquisadora
4º
Relato sobre as atividades
desenvolvidas
75
Figura 9 - Caracterização das Professoras
Fonte: formulário entrevista pesquisadora - Apêndice G (2016)
A gestora Ana, diretora da Escola EMEF “Dr. Joaquim Assumpção” possui
bacharelado em Medicina Veterinária, licenciatura em Pedagogia, especialização em
psicopedagogia. Atua há vinte cinco (25) anos no magistério; encontra-se em sua segunda
gestão na escola e concordou em participar da pesquisa, assinando o termo de consentimento
livre e esclarecido (APÊNDICE E).
A turma em que estavam inseridas as alunas com DI, era composta por dezoito alunos,
sendo oito do sexo masculino e dez do sexo feminino. A faixa etária era de onze a treze anos.
O grupo era considerado disciplinado, assíduo e as atividades eram desenvolvidas com
tranquilidade de acordo professores.
Os sujeitos-foco desta pesquisa-intervenção foram selecionados de acordo com os
seguintes critérios: ser aluno com deficiência intelectual, estar cursando o 6º ano do Ensino
Fundamental e ter sido encaminhado pela professora da sala de aula regular para reforço escolar
11 Káthia é a professora da disciplina de Matemática e respondeu a dois formulários de entrevistas, sendo eles os
apêndices G e I.
Professor
Formação acadêmica
Tempo de atuação no
magistério
Modalidade
atuação
Débora Licenciatura em
Educação Artística
15
Docência Ensino
Fundamental -
Anos finais
Graça Licenciatura em
Ciências
26
Docência Ensino
Fundamental -
Anos finais
Káthia11 Licenciatura em
Matemática
24
Docência Ensino
Fundamental -
Anos finais
Lis Licenciatura em
Geografia
32
Docência Ensino
Fundamental -
Anos finais
Marta Licenciatura em
Português/Espanhol
17
Docência Ensino
Fundamental -
Anos finais
76
no Laboratório de Informática na área da matemática. Os referidos sujeitos ingressaram na
escola no ano de 2013 (dois mil e treze).
A abordagem dos responsáveis pelos participantes da pesquisa e assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) do responsável pela criança (APÊNDICE B) e
do termo de Assentimento (APÊNDICE C) ocorreram em uma reunião na escola, previamente
agendada, na qual foram informados e esclarecidos sobre a pesquisa. Os sujeitos-foco da
pesquisa são do sexo feminino, denominados, neste Projeto, respectivamente, de Esmeralda e
Ametista, buscando relacioná-los à epígrafe presente no início desta seção, mas agora não mais
como “pedra”, sinônimo de obstáculo, e, sim, como pedras preciosas que necessitam ser
garimpadas e lapidadas no contexto escolar. Compreendendo a importância desses sujeitos para
o desenvolvimento da pesquisa, acredito ser pertinente relatar alguns fatos/informações sobre
suas histórias de vida. As informações foram obtidas com a Orientadora Pedagógica da Escola
por meio da Ficha de Anamnese (ANEXO A). Esta ficha consiste na realização de uma
entrevista com o responsável ou familiar mais próximo do aluno, quando são abordados fatos
significativos que se relacionam com a história de vida do estudante, desde a sua gestação até
o momento do encaminhamento realizada pelo professor (es). É uma investigação de caráter
psicopedagógico. Inicio, pois, a apresentação/relato de alguns fragmentos da história desses
sujeitos.
4.2.1 Esmeralda
Esmeralda é uma menina sorridente. Fala pouco e, quando se expressa, o faz em tom
baixo. A família é composta por quatro pessoas (Esmeralda, a mãe, o pai e um irmão de cinco anos).
A mãe trabalha no comércio local; o pai no polo naval, na cidade de Rio Grande.
O acompanhamento escolar de Esmeralda é realizado pela avó paterna, que mora próxima
da família e, em virtude dessa condição, tornou-se responsável pelos cuidados com as crianças. A
presença da avó paterna garante aos pais tranquilidade para o desempenho de suas atividades
profissionais. De acordo com o pai, o desenvolvimento de Esmeralda, era normal, igual às demais
crianças da família até a ocorrência de um acidente doméstico. Daquele dia em diante, tudo mudou.
Esmeralda levou um choque elétrico ao colocar o dedo em uma tomada. Durante o atendimento
médico, sofreu uma parada cardíaca.
A menina ficou hospitalizada durante 30 (trinta) dias e apresentou diversas dificuldades,
após o acidente. Dentre elas: teve que reaprender a falar, andar e esqueceu muitas das coisas que
havia aprendido. Isso, segundo o pai, a fez ficar “atrasada”, mesmo dispondo de uma estrutura
77
voltada para sua recuperação. Ao chegar à escola, já havia o laudo de deficiência intelectual.
Esmeralda tem acompanhamento de fisioterapeuta, psicólogo e fonoaudióloga. A aluna participa
das atividades da Sala de Recursos Multifuncional.
4.2.2 Ametista
Ametista é uma menina alegre, de olhar expressivo e falante. Nasceu no mês de abril, em
pleno outono gaúcho. Seu nascimento não foi comemorado. A mãe não fez um acompanhamento
pré-natal e, segundo a ficha, ingeria muito álcool durante a gestação. Ametista vive com os avós. A
mãe casou-se e não pode levá-la para viver junto dela. Ordens do marido.
Ametista andou aos dois anos e meio, falou aos três anos. Ametista ainda não menstrua.
A avó é responsável pelo acompanhamento escolar e diz ter dificuldade em fazê-lo, pois só estudou
até a 4ª série. Ao ingressar na Escola, Ametista apresentou dificuldades motoras, na alfabetização e
na resolução de cálculos. Foi encaminhada para avaliação psicopedagógica e exames médicos. Os
resultados desses procedimentos permitiram identificar que Ametista possui DI.
4.3 Avaliação da intervenção
A avaliação da intervenção teve o objetivo de descrever os instrumentos de coleta e
análise de dados utilizados para capturar os efeitos da intervenção e o procedimento de análise
utilizado. De acordo com Damiani (2012), neste processo ocorreu uma descrição
pormenorizada dos instrumentos de coleta e análise de dados, permeado pelo rigor cientifico, a
fim de que o conhecimento produzido fosse fiel aos dados levantados durante a realização da
intervenção.
A intervenção caracterizou-se como qualitativa, ou seja, não tem um padrão único,
porque admite que “(...) a realidade é fluente e contraditória e os processos de investigação
dependem também do pesquisador – sua concepção, seus valores, seus objetivos”
(CHIZZOTTI, 2008, p. 26). A pesquisa qualitativa implicou na partilha densa com pessoas,
fatos e locais, pretendendo extrair desse contato significados visíveis e latentes. De acordo com
Minayo (1995, p. 21-22),
(...) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa,
nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja,
ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
78
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e
dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Buscando inferir os resultados alcançados com este projeto de intervenção, foram
utilizados, para coleta de dados, os seguintes instrumentos: observação, análise documental e
entrevista semiestruturada. A observação, primeiro dos instrumentos, constituiu-se como um
procedimento de pesquisa que foi sistematicamente planejado e registrado, estando associada
ao contexto pesquisado. Segundo Alvarez (1991, p. 560), a observação é o “(...) único
instrumento de pesquisa e coleta de dados que permite informar o que ocorre de verdade, na
situação real, de fato”.
Há diversas formas de utilizar a observação, de acordo com Carvalho (2016): de
maneira exploratória (obter indicações que serão posteriormente verificadas); de modo a obter
dados suplementares (auxiliam na interpretação de resultados obtidos por outros meios); de
maneira sistemática básica de coleta de dados (construir uma descrição exata da situação
pesquisada). Carvalho (2016) indica as tipologias aplicáveis ao procedimento de observação:
segundo os meios utilizados (assistemática e sistemática); segundo a participação do observador
(observação participante e não participante); segundo o número de observadores (individual e
em equipe); segundo o lugar onde se realiza (campo ou laboratório).
A observação, neste projeto, foi assistemática e sistemática, realizada por mim no
Laboratório de Informática da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim
Assumpção” (APÊNDICE H), durante a execução do jogo. No projeto, a gravação de vídeo foi
um recurso complementar à observação. Vídeos, atualmente, são considerados importantes
ferramentas de pesquisa. Permitem registrar, fielmente, a situação em foco, associando palavra
e imagem, constituindo-se em fonte que possibilita a análise posterior das informações obtidas.
Além disso, os dados obtidos por meio de outros procedimentos podem ser comparados,
encaminhando, de forma mais eficiente, às conclusões da pesquisa (KOHATSU, 2007).
Neste projeto, o vídeo foi gravado enquanto os sujeitos da pesquisa realizavam a
atividade relativa ao jogo, ressaltando aspectos como: atenção, persistência, busca de soluções
a fim de enfrentar dificuldades, dentre outros. Ao propor o uso do vídeo, não imaginei o quanto
o mesmo poderia “trazer alvoroço” aos alunos. Ao visualizar suas imagens, diversos
sentimentos afloraram no grupo, tais como: vergonha, constrangimento, satisfação, emissão de
juízo de belo e feio. Talvez, porque o vídeo seja um instrumento que possibilita o olhar para si
mesmo. Visando dirimir os efeitos causados pelo uso do vídeo nos alunos, decidi posicionar o
tablet (instrumento utilizado para gravação), em local que não pudesse ser visualizado pelos
79
participantes, mas que permitisse com qualidade o registro das atividades desenvolvidas. Nas
atividades relativas ao primeiro momento, o tablet era posicionado em um dos pilares da quadra.
Nas atividades referentes aos segundo, terceiro e quarto momentos sobre o quadro branco
presente no Laboratório de Informática. O instrumento era ligado antes da chegada dos alunos
para o desenvolvimento das atividades.
A análise documental, segundo dos instrumentos utilizados, é um procedimento de
coleta de dados que procura identificar informações em diferentes documentos – cartas,
relatórios, arquivos escolares, entre outros. – conforme o foco de interesse da pesquisa
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38).
Dentre as vantagens desse instrumento, pode se evidenciar a riqueza e a exatidão das
informações; não ser criado em consequência da investigação; a possibilidade de ser
complementado com outras técnicas. Saliento como desvantagens: a falta de objetividade, por
representar escolhas arbitrárias e acesso ao material (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38). Essas
autoras (1986) sugerem que é apropriado o uso desse tipo de instrumento, quando se pretende
ratificar e validar informações obtidas por outras técnicas de coleta – observações, testes,
entrevistas. Nesta intervenção, a análise documental esteve presente no parecer trimestral dos
alunos participantes da intervenção (ANEXOS B, C, D, E) e também por meio de um
instrumento de avaliação elaborado para as alunas pela escola (ANEXO F).
O terceiro e último instrumento utilizado foi a entrevista semiestruturada. Bogdan e
Biklen (1994, p. 134) conceituam entrevista como “(...) uma conversa intencional, geralmente,
entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas, dirigida por uma das
pessoas, com o objetivo de obter informações sobre a outra”. Em pesquisa de abordagem
qualitativa, a entrevista pode ser utilizada como procedimento dominante para a coleta de dados
ou pode ser utilizada em conjunto com outros procedimentos (observação participante, análise
documental, etc.).
A entrevista pode ser do tipo estruturado e semiestruturado. A entrevista
semiestruturada desempenha importante função na coleta de dados, desenvolvendo-se por meio
de “(...) um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador
faça as necessárias adaptações” (LÜDKE; ANDRÉ, 2002, p. 34). A entrevista, neste projeto,
envolveu os professores que atuam com os sujeitos da pesquisa (APÊNDICE G), diretora
educandário (APÊNDICE F), professora de Matemática da sala de aula regular frequentada
pelas alunas com deficiência (APÊNDICE I), e os alunos sujeitos-foco da pesquisa
(APÊNDICE J), ao término das intervenções, tendo como escopo apreender suas percepções e
avaliações a respeito da proposta desenvolvida. O quadro a seguir apresenta o resumo das
80
intervenções e dos procedimentos de coleta de dados realizados com a finalidade de avaliar a
intervenção.
Figura 10 - Quadro demonstrativo com o resumo dos instrumentos de coleta de dados
utilizados na avaliação da intervenção
Análise documental
Instrumento Quantitativo de
instrumentos
Total de informações
coletadas (páginas)
Tempo
destinado a
coleta
Parecer trimestral 02 04 3 meses
Entrevista
professores 06 90 5 meses
Avaliação
disciplina de
Matemática
01 04 3 meses
Autoavaliação dos
alunos pós-
intervenção
02 04 3 horas
Intervenção
Atividade Quantitativo de
Encontros
Total de informações
coletadas (páginas)
Tempo
destinado às
gravações
Jogo digital
Frações no Scratch 10 100 100 horas
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
Para a análise dos dados desta pesquisa, foi utilizado o procedimento de análise textual
discursiva, compreendida
(...) como um processo auto-organizado de construção de compreensão em que novos
entendimentos emergem de uma sequência recursiva de três componentes:
desconstrução dos textos do corpus, a unitarização; estabelecimento de relações entre
os elementos unitários, a categorização; o captar do novo emergente em que a nova
compreensão é comunicada e validada (MORAES, 2003, p. 192).
Segundo Moraes (2003), na análise textual discursiva, o objetivo é descrever e
interpretar sentidos e significados a partir dos materiais analisados, atingindo uma compreensão
81
cada vez mais profunda dos significantes dos fenômenos estudados. As categorias que surgiram
da análise dos dados obtidos foram definidas a priori.
4.4 Cronograma de desenvolvimento
O percurso metodológico deste Relatório Crítico-Reflexivo foi elaborado em
diferentes etapas. O cronograma abaixo representa/sintetiza os movimentos desse trajeto.
Figura 11 - Quadro demonstrativo do cronograma de execução do processo investigatório
2015
Descrição
das
Atividades
jan
fev
mar
abr
mai
Jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Elaboração
do projeto
intervenção
Levantamen-
to referencial
teórico
2016
Descrição
das
Atividades
jan
fev
mar
abr
mai
Jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Contato:
Secretaria de
Educação –
Escola –
sujeitos da
intervenção
Encaminha-
mento termos
consenti-
mento
Levantamen-
to / revisão
teórica
Qualificação
82
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
Aplicação
método de
intervenção e
coleta dados
2017
Descrição da
Atividades jan
fev
Mar
abr
Mai
Jun
jul
ago
set
out
nov
Dez
Análise dos
dados
Discussão dos
dados
encontrados
Redação
Relatório
Crítico –
Reflexivo
Defesa do
Relatório
Crítico –
Reflexivo
83
5 INTERPRETANDO E DISCUTINDO OS DADOS COLETADOS
Apresento, a seguir, a análise interpretativa e discussão dos dados auferidos no
desenvolvimento da proposta. Esses dados estão organizados em duas categorias de análise,
sendo elas: “Pensamento dos professores sobre Educação Inclusiva na Escola” e “Efeitos da
intervenção no processo de aprendizagem do aluno com DI”. Saliento que cada categoria
enunciada é transpassada por reflexões e contribuições de importantes teóricos de cada
temática.
5.1 Pensamento dos professores sobre educação inclusiva na escola
Esta categoria reúne os achados da pesquisa-intervenção relativos ao pensamento de
professores a respeito da Educação Inclusiva, ao entendimento sobre a deficiência no contexto
escolar, ao potencial de aprendizagem de alunos com DI, ao relacionamento entre alunos e
professores. A presença dela neste trabalho justifica-se pelo importante papel que o professor
possui no contexto escolar, sendo sua ação/prática pedagógica elemento primordial no processo
de inclusão/exclusão. Os dados registrados decorrem de 06 (seis) entrevistas realizadas com
diretora e professores da Escola na qual se realizou a pesquisa-intervenção. Com esse
procedimento, pretendi desvelar o pensamento vigente no contexto escolar a respeito da
Educação Inclusiva em suas diferentes perspectivas, o que deu origem às subcategorias a seguir
indicadas.
5.1.1 Importância do estudo sobre inclusão/escola inclusiva
Considerei a discussão relativa à Educação Inclusiva, no espaço escolar, como de
indiscutível importância para o sucesso da pesquisa-intervenção, uma vez que a Escola se
constitui como instituição responsável pelo processo de educação formal e de socialização das
novas gerações. Além disso, a Escola representa local privilegiado para reflexão, discussão e
apropriação da cultura, indistintamente, por parte de todos os sujeitos. Para a construção de uma
escola inclusiva, há necessidade de que todos os profissionais, que nela atuam, estejam
envolvidos no referido processo. A escola inclusiva deve atuar a partir de movimentos
responsáveis de todos os integrantes da escola, em todos os setores de sua estrutura. De acordo
com o sujeito Ana (ENTREVISTA 5), a inclusão não pode ser realizada somente por alguns
professores, em suas salas de aula, de forma isolada e solitária.
84
A esse respeito, a entrevistada Ana enfatiza: “Os alunos inclusos são responsabilidade
de toda escola, digo para saberem que eu também me sinto responsável”. A afirmação de Ana,
reflete, também, “(...) um paradigma educacional alicerçado na concepção de direitos humanos,
que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia
de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro
e fora da escola” (BRASIL, 2007).
É importante destacar que a escola é responsável por todos os seus alunos, não somente
aqueles nomeados com deficiência. Essa responsabilização inclui o cuidado com a integridade
física, com a alimentação, mas, fundamentalmente, com o planejamento de estratégias
pedagógicas direcionadas para o aprendizado por todos os alunos. Destaco, ainda, que o uso de
certos adjetivos, tais como “inclusos” para alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2008) devem ser questionados
quanto à sua necessidade. Acredita-se que os alunos devam ser chamados por seus nomes,
reafirmando suas identidades, e que suas necessidades específicas precisam ser consideradas
somente quando forem pensadas estratégias para o trabalho pedagógico. Essas estratégias
precisam considerar características fundamentais que vêm modelando os paradigmas da
contemporaneidade. Assim, conforme apontam Martins et al. (2006, p. 10), atualmente, “(...)
os paradigmas de inclusão, integração, direitos humanos, equiparação de oportunidades,
autodeterminação e qualidade de vida representam um recurso eficaz para alcançar objetivos
que resultem na consideração da pessoa e na garantia de expressão de seus direitos”.
Nesse entendimento, a escola precisa reconhecer que as turmas se constituem como
territórios heterogêneos, os quais são compostos por sujeitos singulares. Assim, acredito nas
possibilidades de aprendizagem de todos os seres humanos, o que requer o investimento em
diferentes e inovadoras estratégias pedagógicas, assentadas em teorias que procuram explicitar
a realidade pessoal e os processos de aprendizagem dos sujeitos. Na escola inclusiva, segundo
a entrevistada Débora, “(...) todos somos capazes de aprender, em diferentes espaços e de
diferentes formas” (ENTREVISTA 2).
Creio, também, que o sucesso da inclusão só se efetivará quando os seres humanos
aceitarem as diferenças e conseguirem conviver, de maneira harmoniosa, com os diferentes,
valorizando a aprendizagem e a forma como o aluno com deficiência se constitui como pessoa.
Nessa direção, acolho a contribuição de Martins et al. (2006, p. 11-12), que alertam:
A escola não pode esquecer, em seu funcionamento ou orientação, das implicações de
todos os planos da diversidade. Integrar a diversidade nos planejamentos educacionais
dos centros escolares é uma tarefa não isenta de riscos. Talvez o mais importante deles
85
seja proveniente do perigo de confundir a atenção à diversidade com a mera adaptação
a ela, quando se mesclam as características diferenciais da população atendida com
outros elementos constitutivos de desigualdade e desvantagem social (...). Assentado
nestes pressupostos, produz-se uma adaptação acrítica à diversidade.
Ao contrário, a adaptação crítica garante o desenvolvimento de competências
educativas, envolvendo, além do professorado e alunado, o conjunto da comunidade educativa
e, extensivamente, a social. Essa compreensão converge com o pensamento da entrevistada
Débora que acrescenta: “Saberemos que evoluímos quando formos capazes de aceitar nossas
diferenças e conviver de forma harmoniosa, valorizando todo o sujeito e a forma como este
sujeito aprende e, portanto, se constitui como pessoa” (ENTREVISTA 2).
5.1.2 Deficiência e Inclusão: a perspectiva dos professores
Os sentimentos dos docentes em relação aos alunos com deficiência, emitidos durante
as entrevistas, realçam uma importante questão, que pode dificultar ou facilitar o processo de
inclusão daqueles. Os educadores, ao revelarem seus sentimentos, associados às dificuldades
da prática da inclusão, apontaram indícios de como se apropriam dessa realidade, permeada,
por vezes, de inúmeras contradições. A professora Graça posicionou que o “(...) sentimento
inicial é de impotência. Impotência para começar a trabalhar. Mas, depois, esse sentimento
passa, me dá uma vontade de querer ajudar, de tentar me organizar. Assim…” (ENTREVISTA
3). Pareceu-me que a utilização da palavra “ajudar” pela professora remete à ideia de
assistência, depreendo da fala da educadora que a palavra “ajudar”, associada ao trabalho
pedagógico desenvolvido junto ao aluno com deficiência, indica um sentimento de pena,
sentimento que não pode corresponder ao trabalho inclusivo.
No entendimento de Selau, Damiani e Hammes (2015, p. 111), o “(...) sentimento de
pena é prejudicial e revela forma de preconceito velada”. Podem ocorrer, ainda, modos de
proceder dos professores, tais como: limitação das experiências do aluno com deficiência no
espaço de escolarização formal; diminuição das exigências de avaliação; superproteção. Os
citados autores (2015), de acordo com a pesquisa realizada, destacam que:
— experiências limitadas no espaço escolar podem conduzir a um processo incompleto
de formação;
— o sentimento de pena do professor para com o aluno deficiente produz a
superproteção, implicando “(...) mudança de atitude pedagógica do professor em relação a ele,
86
fazendo com que as intervenções do primeiro não sejam adequadas para o aprendizado do
segundo” (SELAU; DAMIANI; HAMMES, 2015, p. 112);
— a comiseração do professor para com o aluno deficiente pode colocar o docente em
estado de superioridade em relação ao estudante;
— a formação de docentes para a prática junto a alunos com deficiência é urgente, de
modo que os “(...) princípios da educação em direitos humanos – igualdade de direitos,
dignidade e reconhecimento e valorização das diferenças e diversidade – sejam garantidos”.
Para a professora Marta, o sentimento “(...) é sempre de querer fazer mais, de querer
fazer melhor, né? Talvez até tentando suprir um pouco desta deficiência... Como se eu
pudesse...” (ENTREVISTA 1). Percebi que a educadora desejava ajudar o aluno com
deficiência, ao mesmo tempo em que parecia reconhecer limitações para que isso venha a
acontecer. Sua fala também expressava o esforço para atender aos alunos com deficiência,
procurando produzir melhores resultados de aprendizagem e suprir as limitações desses
estudantes. Reconheceu, no entanto, que não consegue alterar tal situação. Revelou sentimentos
conflitantes entre o desejo de ajudar e o reconhecimento de seus limites pedagógicos, que
podem ser confirmados pelo posicionamento a seguir: “Olha, o meu sentimento é assim de
tentar... hummm... passar para eles da melhor forma que eu puder” (ENTREVISTA 1).
A professora Marta permaneceu insistindo no desejo de “ajudar” o aluno com
deficiência em sua trajetória escolar, reforçando a postura epistemológica de transmitir
conhecimento. Isso revelou a insegurança dos professores que pode ser ocasionada, segundo
Selau, Damiani e Hammes (2015, p. 110),
(...) pela falta de conhecimento sobre como agir com pessoas com determinados tipos
de deficiência (como se comunicar, por exemplo), ou ainda, pela inexperiência de
atuar pedagogicamente com esses alunos, por ignorar as maneiras de proceder em situações de ensino e de avaliação em relação a eles.
A entrevistada Débora salientou a importância do sentimento do professor no processo
de acolhida ao aluno deficiente. Sua atitude pode ser um indicador de como será sua atuação
pedagógica e poderá influenciar o grupo de alunos no acolhimento ao estudante com
deficiência. De acordo com a mesma: “(...) as crianças tendem a observar os professores,
professores acolhedores despertam nos alunos o sentimento de empatia e aceitação do colega”
(ENTREVISTA 2)
Atitudes preconceituosas, insegurança na prática pedagógica, pouca valorização das
diferenças e das diversidades humanas podem contribuir para a diminuição da qualidade do
87
ensino proporcionado ao aluno com deficiência e para a violação do direito de todos à educação.
Mesmo na presença de sentimentos contraditórios, todas as educadoras entrevistadas se
posicionaram a favor do processo inclusivo, o que é sintetizado na fala da educadora Graça:
“Apesar de muitos colegas serem contra a inclusão de alunos com deficiência nas salas de aula
ditas ‘normais’, eu sou a favor!” (ENTREVISTA 3). Marta complementou: “Eu acho que a
gente tem que investir, tá ali para aquilo. Tem que se esforçar, tem que ser acolhedora”
(ENTREVISTA 1).
As entrevistadas demonstram posições contraditórias quanto ao processo de inclusão
social/escolar. Encontravam-se frente ao desejo de possibilitar a inclusão e, ao mesmo tempo,
identificaram a fragilidade desse processo. De modo geral, reconheceram a inclusão como um
direito humano. Nesse sentido, destaco que a inclusão, conforme apontam Selau, Damiani e
Hammes (2015, p. 104),
(...) remete às conquistas da humanidade em relação aos seus direitos, especialmente, a partir da Declaração dos Direitos Humanos, proposta pelas Organizações das
Nações Unidas (ONU), após a 2ª Guerra Mundial, durante a “Conferência de Yalta”,
em 1945, que visou construir um mundo mais justo e humanitário.
Essa Declaração foi adotada, em 1948, pela ONU, tornando-se referência para orientar
as discussões relativas aos direitos humanos nos tempos contemporâneos. Todas as
entrevistadas concordaram com os ganhos que o processo de inclusão proporciona aos demais
alunos. Tais colocações podem ser resumidas na fala da educadora Lis:
Eu considero importante a presença das pessoas com deficiência na escola, porque
eles vão aprendendo o convívio social e os colegas vão aprendendo a conviver com
eles e a superar preconceitos, a trabalhar com a desigualdade e para eles é importante,
creio que há um desenvolvimento em vários sentidos (ENTREVISTA 4).
A promulgação da Constituição Federal de 1988 constituiu-se em marco para o
fortalecimento dos direitos humanos e, em especial, quanto à inclusão social/escolar de pessoas
com deficiência. Desde então, conforme registram Selau, Damiani e Hammes (2015, p. 104),
(...) uma série de leis, decretos e portarias foram publicadas no sentido de garantir o
direito humano à educação para todos. Nesse sentido, o Ministério da Educação
(MEC) publicou, em 2007, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
(PNEDH), (Brasil, 2007). Posteriormente, o Conselho Nacional de Educação (CNE)
divulgou as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH),
(Brasil, 2012).
88
Além da intenção de promover educação de qualidade para todos, o PNEDH
(BRASIL, 2012) estabeleceu a garantia de educação para pessoas com necessidade especiais e
o reconhecimento da diversidade dos estudantes, dentre os quais aqueles com deficiências,
superando, desse modo, grande parte das desigualdades sociais, permitindo o acesso equânime
aos bens materiais e imateriais.
Reafirmo, referenciada em Selau, Damiani e Hammes (2015, p. 115), que a proposta
de educação de acordo com os direitos humanos deve constituir-se em sustentáculo de uma
nova ordem educativa,
(...) baseada na ética, no respeito e no compromisso com o bem de todos. Tal ordem seria capaz de produzir a educação para a civilidade, que valoriza o outro e o meio
ambiente, e deveria envolver, além da formação inicial, a formação permanente de
professores.
5.1.3 Deficiência Intelectual: caracterização e aprendizagem
No contexto escolar, há dificuldades na compreensão/conceituação do que
efetivamente é a DI, como revelou a afirmação da professora Graça: “A deficiência intelectual,
para mim, é quando uma criança tem um tempo diferente de aprender, né, tem uma dificuldade
maior” (ENTREVISTA 3). A entrevistada Marta caracterizou a deficiência intelectual como
aquela em que o “(...) aprendizado é muito lento em relação às crianças ditas normais”
(ENTREVISTA 1). A entrevistada Ana assim se posicionou: “Aluno que necessita de uma
atenção maior” (ENTREVISTA 5).
Esses depoimentos corroboram com o parecer de que há dificuldade, entre os
profissionais, de caracterizar o aluno com DI, uma vez que aqueles estabeleceram relações entre
o tempo de aprendizagem das crianças “normais” e as crianças com deficiência. Foi possível,
também, perceber essa mesma dificuldade na fala da professora Marta: “Essas crianças têm
dificuldade de reter o conhecimento. Ora, elas realmente sabem, ora não sabem. Parece que há
um retrocesso no aprendizado” (ENTREVISTA 1). Revelou-se, aqui, um equívoco conceitual,
relacionando aprendizagem com memorização. Diante desses entendimentos, deixam, assim,
de utilizar metodologias pedagógicas que promovam a aprendizagem desses alunos. A
maneira/forma como o aluno com deficiência é percebido, também pareceu contribuir para uma
compreensão equivocada da DI no espaço escolar e dificuldades na efetivação do trabalho. Para
Lis,
89
(...) é por isto que se tem tanta dificuldade para trabalhar com o aluno com deficiência
intelectual, primeiro, por considerá-lo um estudante anormal que já não tem condições
de ter um bom desempenho em todas as áreas e, em segundo lugar, porque não se tem
um olhar mais atencioso para eles, porque não se tem tempo (ENTREVISTA 4).
Essas considerações consolidaram a ideia de que o aluno com deficiência é um
estudante anormal, tendo em vista que não apresenta condições para um bom desempenho em
todas as áreas e necessita de um olhar mais atencioso. As dificuldades vivenciadas pela escola
no processo de inclusão foram atribuídas à falta de tempo.
Na pesquisa-intervenção, trabalhei com o pressuposto de cada aluno é um ser singular.
Cada sujeito presente na escola é único e, consequentemente, requer modos particulares de
aprender. A sala de aula não é homogênea, mas carregada de diferenças, exigindo adequações
no processo de aprendizagem dos alunos. O professor precisa compreender, urgentemente, essa
realidade, pois o trabalho com a diversidade está ligado à proposta de inclusão, que emerge
como um grande desafio para a educação, uma vez que pensar em inclusão pressupõe uma série
de fatores, principalmente os que dizem respeito aos alunos. Assim, pensar em inclusão não é
só dirigir o olhar para os alunos com deficiência, mas, sim, para todos aqueles alunos que estão
nas salas de aula, muitas vezes sofrendo preconceitos e discriminações por pertencer a este ou
aquele grupo. A professora Débora convergiu com essa compreensão: “Cada ser humano é
único, portanto é preciso respeitar a forma como cada um aprende” (ENTREVISTA 2).
Na pesquisa, procurei, ainda, focar a busca relativamente à aprendizagem do aluno
com DI. Considerei que o aluno com deficiência tem capacidade de aprender o que lhe for
ensinado; é capaz de assimilar normas e comportamentos sociais. Ele tem potencialidade de
aprendizagem, assim como todos os alunos ditos normais. As crianças com deficiência querem
aprender, sabem das suas dificuldades, mas querem, desejam aprender.
O olhar e a prática pedagógica do docente são fatores que poderão determinar o
sucesso ou fracasso do aluno deficiente na escola. Alerto que, muitas vezes, a aprendizagem do
aluno com deficiência é prejudicada pela insegurança e falta de conhecimento do professor que
promove uma prática inadequada e insuficiente para a realidade do estudante DI. Selau,
Damiani e Hammes (2015, p. 111) registram a esse respeito: “Todos os sujeitos argumentaram,
enfaticamente, que a insegurança, que percebiam em alguns docentes, interferiu na qualidade
do ensino a eles ministrado, que lhes pareceu inferior em comparação ao ministrado aos demais
alunos”.
Acreditar é fator determinante no desenvolvimento de toda potencialidade do aluno
com deficiência, pois, de acordo com Graça: “Se tu não acreditares no potencial, tu não vais
90
agir, não vais fazer nada” (ENTREVISTA 3). Reconhecer as possibilidades de desenvolvimento
do aluno DI e em seus avanços, segundo Marta é “fundamental” (ENTREVISTA 1). Ela afirma:
“Eu tenho muitas expectativas. Essa coisa de dizer que o aluno não avança, que o aluno não
avança, avança sim” (ENTREVISTA 1). Para que, efetivamente, aprendam no contexto escolar,
é necessário, de acordo com a professora Débora, que os docentes percebam “(...) as pessoas
com DI como sujeitos capazes de superar suas dificuldades, com condições de cada vez mais
desenvolver a autonomia, independência de aprender” (ENTREVISTA 2).
Outro importante aspecto a ser considerado em relação à aprendizagem do aluno com
DI diz respeito ao papel do professor como mediador desse processo. A fim de possibilitar aos
alunos com deficiência uma efetiva aprendizagem, o professor deverá atuar como mediador do
conhecimento, aspecto fundamental do processo pedagógico, possibilitando ao aluno construir
seus próprios conceitos.
5.1.4 Deficiente Intelectual no Contexto Escolar: relacionamento e mediação
No contexto escolar, a questão do relacionamento entre os múltiplos sujeitos
envolvidos na aprendizagem escolar é faceta significativa relativamente à inclusão. O
relacionamento, entre alunos deficientes e ditos normais, de acordo com Marta é melhor na
infância, pois, as crianças “(...) têm mais facilidade em aceitar os alunos com deficiência, estão
despidas de preconceitos, elas aceitam naturalmente os colegas com deficiência”
(ENTREVISTA 1). Não há, conforme a mesma educadora, qualquer tipo de bullying: “Há
relações entre crianças que, por vezes, nem percebem que existe uma diferença intelectual deles
com a do coleguinha que tem deficiência” (ENTREVISTA 1). Se na infância, no contexto
escolar, não é identificada a diferença entre os alunos, entretanto, à medida que os alunos com
deficiência vão crescendo, ou seja, ficando mais velhos, essa realidade começa a mudar e
dificuldades de relacionamento entre eles (alunos deficientes e os demais colegas) surgem no
espaço escolar.
Segundo Ana, “(...) quanto maiores eles são, mais difícil é essa convivência em sala
de aula” (ENTREVISTA 5), mas a dificuldade citada não está relacionada à deficiência e sim,
de acordo com Lis, “(...) na adolescência, os alunos, com ou sem deficiência, querem estar com
gente da idade deles, com quem se identificam. E isso o espaço da escola proporciona, não é?”
(ENTREVISTA 4).
Uma característica marcante dessa faixa etária é o interesse em participar de grupos,
quando se verifica uma forte identificação entre os jovens. É importante reconhecer que as
91
alterações no comportamento de adolescentes ocorrem, também, com os alunos com
deficiência. Na adolescência, os alunos já percebem as diferenças e aprendem a conviver com
o aluno com deficiência, pois esse já é parte de seu “mundo”, esse é um aspecto positivo, quando
desenvolvem a solidariedade e respeitam a diversidade. Para Ana, os alunos “(...) aprenderam
a respeitar, ser mais tolerantes e não excluir, não diferenciar este aluno” (ENTREVISTA 5).
Esse processo deve ser valorizado e ampliado ao longo da escolaridade.
O bom relacionamento entre professores e alunos com DI é, também, condição
essencial para o processo de aprendizagem desses estudantes. O professor precisa investir nessa
condição para a implantação da escola inclusiva. Mas tal condição não é fácil de ser alcançada.
Graça revelou a esse respeito: “Há sempre uma queixa, um resmungo, uma má vontade.
Infelizmente, alguns colegas não enxergam os alunos” (ENTREVISTA 3). Isso ocorre com
maior frequência por parte dos professores, quando os alunos com deficiência são mais velhos.
A professora Graça salientou: “(...) percebo que nas turmas menores (idade de alunos
deficientes) é mais fácil. Quando os alunos deficientes vão ficando maiores, aí fica mais difícil,
existe uma dificuldade” (ENTREVISTA 3).
Essas interações sociais e da cultura entre o docente e o aluno com deficiência são
importantes para o desenvolvimento pleno do indivíduo e a construção dos processos mentais
superiores (VYGOTSKY, 1987). Outro aspecto a considerar no contexto inclusivo refere-se à
mediação exercida pelo professor. A fim de possibilitar aos alunos com deficiência uma efetiva
aprendizagem, o professor deverá atuar como mediador do conhecimento, aspecto fundamental
do processo pedagógico, possibilitando ao aluno construir seus próprios conceitos. A mediação
é a forma usada pelos seres humanos para se relacionarem diretamente com o mundo, através
de ferramentas e signos. A mediação, de acordo com Cenci e Damiani (2014, p. 04),
(...) estabelece os instrumentos e signos como meios de produção da cultura. Os
primeiros como artefatos materiais, os outros como artefatos mentais/ideais. Tais
artefatos são, respectivamente, os mediadores da ação do homem sobre a natureza e
sobre os outros homens. Nessa ação de transformar a natureza, o homem também
transforma a si: os instrumentos e signos agem para fora (meio, outras pessoas) e para
dentro (na própria constituição da consciência).
Na teoria vygotskiana, a mediação simbólica é central. Conforme Beyer (2000), é a
mediação que possibilita, gradualmente, o desenvolvimento das funções psíquicas superiores.
Raposo (2006, p. 08) converge com esse entendimento e afirma que a “(...) apropriação dos
sistemas simbólicos elaborados socialmente é mediada pelo outro ser cultural, que utiliza os
92
meios técnicos e os instrumentos psicológicos, semioticamente”. Essa é uma visão dialética
entre os aspectos natural e social.
5.1.5 Condições Pedagógicas no contexto da inclusão
Para o desenvolvimento de uma prática pedagógica que, efetivamente, atendesse às
necessidades dos alunos com deficiência, seria necessário, de acordo com as educadoras Graça
e Lis, que:
- os profissionais da educação tivessem uma carga horária disponível para
planejamento e recursos financeiros, a fim de viabilizar os materiais necessários;
- apoio pedagógico por parte de profissionais especializados; - auxílio de cuidadoras e professores auxiliares;
- revisão da quantidade de conteúdos elencados para cada ano/série. (ENTREVISTAS
3, 4)
Para ambas, a escola não possui estrutura, recursos e metodologias específicas para a
inclusão de alunos com deficiência, pois o atendimento desses alunos requer dedicação especial
do professor. Outra questão levantada pelas entrevistadas referiu-se à avaliação da
aprendizagem de alunos com DI. Assim como ocorre com a avaliação dos demais alunos da
classe, visa ao reconhecimento dos avanços do aluno no entendimento das abordagens
curriculares e no desenvolvimento de habilidades e competências para seu ano escolar.
No caso do aluno com DI, a grande questão está no bom planejamento das atividades
pedagógicas e na inovação da prática. É na forma como esse aluno percorre as experiências de
aprendizagem que se pode observar seus avanços e dificuldades frente à proposta escolar. Medir
somente o resultado final da atividade não traz informações sobre o processo realizado pelo
aluno. O importante é que esses progressos sirvam de instrumento para que o professor
verifique o quê e como o aluno aprendeu e planeje estratégias diferenciadas para que ele não
pare de avançar.
Essas observações também servirão para o planejamento dos objetivos e desafios
pedagógicos seguintes. A avaliação, assim compreendida, deverá ter uma estreita relação com
o processo de ensino-aprendizagem. Lis esclareceu: “Por exemplo, eu avalio o desenvolvimento
deles em relação a eles mesmos. Eu “olho” eles no primeiro trimestre, vejo como estão. No
segundo trimestre, o que evoluíram em relação ao primeiro e, no terceiro trimestre, o que
evoluíram em relação ao segundo” (ENTREVISTA 4).
93
Esta maneira de avaliar permite que o professor acompanhe o processo de
aprendizagem de seus alunos e descubra que cada aluno desenvolve o seu método próprio de
construir conhecimentos, o que torna inadequada a adoção de uma única metodologia como
recurso de avaliação, como se houvesse homogeneidade no processo de aprendizagem,
diferentemente do que é relatado por Káthia que disse: “Minha avaliação (prova) é a mesma
para todos” (ENTREVISTA 6). Ao fazer a mesma avaliação para todos os alunos, através de
prova, deixa evidente a desconsideração às particularidades dos alunos com deficiência.
“Aprendi que ensinar é colocar a matéria no quadro, explicar e fazer exercícios para
fixar, ou melhor, ver se aprenderam a matéria e, hoje, isso não está dando muito certo. Com os
alunos com deficiência, então...” (ENTREVISTA 3). A fala de Graça resumiu, de maneira geral,
como tem sido direcionado o processo de ensino para os alunos com deficiência. O relato
denunciou uma prática pedagógica baseada em um modelo de ensino no qual predomina a aula
expositiva, modelo que não tem alcançado êxito com os alunos com deficiência e estabelece,
como único critério para comprovação da aprendizagem, a resposta correta aos
exercícios/atividades de reforço, revelando a ideia de aprendizagem relacionada a um modelo
único de respostas. De acordo com Káthia, seu trabalho pedagógico é similar ao de sua colega
e citou: “Olha, trabalhei como faço sempre. Apresento o conteúdo, vejo exemplos, peço para
fazer os exercícios, tiro dúvidas e corrijo” (ENTREVISTA 6), e complementa:
Eu olho o caderno dela todos os dias, vejo se copiou, resolveu e corrigiu o
exercício/atividade. Ver se está aprendendo o que é ensinado na aula. Às vezes, sento
junto dela, mas acho que isso dá um caráter de atendimento diferenciado e não gosto.
Digo sempre para todos e especialmente para elas: se não copiar, não aprende
(ENTREVISTA 6).
Esta é a rotina adotada no atendimento às alunas com deficiência. Ao narrar os
procedimentos que reforçam a prática rotineira, não conseguiu apontar bases teóricas que
possam contribuir para a aprendizagem do aluno com deficiência. Insistiu em relação à cópia,
denotativo da visão epistemológica da repetição.
Segundo Lis, o trabalho docente desenvolvido com as alunas ocorre da seguinte
maneira: “Digo que tem que prestar mais atenção, olhar para o quadro, ler a explicação.
Também mostro como é que se faz e peço que repita várias vezes o exercício, isso vai ajudar a
aprender” (ENTREVISTA 4). Ao falarem sobre a prática pedagógica, Marta e Débora não
mantêm o mesmo olhar quanto à prática pedagógica sustentada por outros entrevistados.
Segundo Marta: “As crianças vêm sabendo muita coisa, mas nós temos que estar preparados
para ensinar de maneira que elas possam aprender” (ENTREVISTA 1), o que é complementado
94
por Débora: “Acredito ser importante que, ao planejar as atividades com as crianças, nós
devamos nos preparar melhor, não só com a atividade em si, mas como a gente vai fazer para
explicar os conteúdos que as envolvem” (ENTREVISTA 2).
Mesmo com esses pensamentos, revelaram alguns equívocos sobre o que significa o
processo de inclusão, confirmado no depoimento da professora Marta: “O aluno com
deficiência intelectual precisa sim de uma pessoa que auxilie, puxe, para que ele aprenda aquele
conteúdo, que adapte aquele conteúdo que está sendo aprendido em sala de aula, mesmo que
alguns tenham dificuldades em acompanhar” (ENTREVISTA 1). A mesma parece não
compreender as características do aluno com deficiência.
A questão do que trabalhar com as alunas com deficiência parece preocupar as
docentes. De acordo com Débora, questionamentos como esse permeiam o contexto escolar:
“O que vamos trabalhar/ensinar a estes alunos? Minha resposta é sempre a mesma: vamos
ensinar o que ensinamos aos outros” (ENTREVISTA 2). Para ela, o processo de ensino,
destinado aos alunos com deficiência, deve ser o mesmo destinado aos alunos ditos “normais”,
evidenciando a necessidade de não diferenciar as atividades propostas em virtude da
deficiência. A seguir, são destacadas algumas reflexões realizadas pelas professoras
entrevistadas sobre o trabalho docente. Tais reflexões poderão contribuir para evidenciar uma
postura pedagógica favorável à efetividade da inclusão escolar para alunos com DI.
Para Káthia, o trabalho docente com o aluno DI “(...) é um retomar constante”
(ENTREVISTA 6). Acrescentou:
(...) acho que ela quer muito saber tudo o que passo no quadro, tem vontade de fazer
os exercícios, acertar as questões, ir ao quadro e não errar. Mas, com as limitações
impostas pela deficiência, não consegue. Fica difícil, pois às vezes, ela sabe e depois
esquece.
Lis também corroborou com as afirmações efetuadas por sua colega, afirmando: “Elas
não conseguem aprender nada, não retêm nada. Tu podes me dizer, é a forma como tu dás aula,
mas te afirmo, tu podes mudar a maneira de dar aula que vais continuar sem atingir”
(ENTREVISTA 4).
É possível perceber a angústia das professoras com a situação das alunas com
deficiência. Revelaram dedicação e compromisso com a aprendizagem das alunas. Contudo,
evidencia-se que não conseguiram construir uma prática pedagógica baseada em novas teorias.
Evidenciaram restrito conhecimento sobre o processo de aprendizagem, insistindo em utilizar
práticas referenciadas à epistemologia tradicional. Mesmo diante dos resultados insuficientes,
95
permanece a filiação das professoras ao paradigma tradicional, o qual tem, como base
epistemológica, a “transmissão” de conteúdos, regras, informações descontextualizadas,
distantes da vida do aluno.
Para Ana, as dificuldades das professoras poderiam ser diminuídas com a colaboração
de profissionais especializados. Segundo ela:
Receitas não existem, mas tendo como referências as experiências de profissionais
que já trabalham com este tipo de aluno, já trabalharam em instituições especializadas
muito eles podem contribuir/colaborar com o profissional que atua na rede regular de
ensino que ainda se sente inseguro, apesar de tudo que procura, de todos os cursos que pode fazer e de todas as palestras e oficinas que assiste/participa. Ele ainda sente que
precisa muito deste auxílio, precisa estar se alimentando de conhecimento para o
trabalho que deseja desenvolver com este aluno (ENTREVISTA 5).
No contexto escolar, em relação à prática pedagógica, a Sala de Recursos
Multifuncionais está sendo vista como o principal apoio pelos professores para o
desenvolvimento do trabalho com DI. De acordo com Graça, “(...) os alunos com deficiência
têm demandas diferentes, específicas da deficiência, então é necessário ter um apoio, isso ajuda
muito” (ENTREVISTA 3). Continuou: “(...) a existência da Sala de Recurso, acabou “dando”
um diferencial para escola” (ENTREVISTA 3). Marta concordou com a afirmação da colega e
disse: “É um espaço bem interessante. Que ajuda bastante” (ENTREVISTA 1). Débora
registrou: “(...) a Sala de Recursos Multifuncionais é uma importante possibilidade educativa,
permitindo aos alunos o desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas”
(ENTREVISTA 2).
A implantação de Sala de Recursos Multifuncionais (SRMF) nas escolas faz parte de
uma política pública e tem, como propósito, apoiar o atendimento educacional especializado de
forma complementar ou suplementar ao processo de escolarização, conforme previsto no inciso
V do Artigo 8º da Resolução CNE/CEB (2001). A SRMF é espaço da escola onde acontece o
atendimento especializado para alunos com deficiência, a fim de desenvolver a aprendizagem,
baseada em novas práticas pedagógicas com o intuito de auxiliar esses estudantes a
acompanharem o currículo escolar, possibilitando-lhes a progressão da escolaridade.
Lis discordou do posicionamento das colegas citadas acima. Para a docente, “Quando
o aluno é encaminhado para sala de recursos, ele já sabe que é diferente” e complementou “(...)
mandar para SRMF já é uma forma de excluir” (ENTREVISTA 4). Quanto ao caráter de recurso
pedagógico, afirmou: “(...) a SRMF não ajuda tanto quanto poderia e a gente também
(professores) tem dificuldade de ir até a sala. A SRMF é um recurso, mas é um recurso muito
falho” (ENTREVISTA 4).
96
Em virtude de algumas dificuldades apresentadas pelos alunos em seu processo de
aprendizagem, é necessário que o professor mude a forma como atua, buscando novos
referenciais teóricos. Graça afirmou: “O que eu tenho consciência é que vai ter que ser
diferente” (ENTREVISTA 3). Marta considerou: “Acho que tem que ter atividades
diversificadas” (ENTREVISTA 1). Há o indicativo da urgência de adoção de uma prática
pedagógica que permita a construção de conceitos previstos no currículo escolar.
Permeou a fala das educadoras a ideia de um novo paradigma para o desenvolvimento
do processo de ensino do aluno com deficiência. É preciso que este público tenha acesso à
aprendizagem, pois desde que lhe sejam possibilitados recursos e estratégias adequadas, o aluno
com deficiência terá condições de se desenvolver e ampliar suas potencialidades. Caso
vivenciem procedimentos pedagógicos adequados à sua realidade, as pessoas com deficiência
estarão qualificando seu processo de aprendizagem e, consequentemente, seu desenvolvimento.
A aprendizagem do aluno com deficiência tem de ir além da memorização e da
repetição. Ela deve ocorrer próximo daquilo que o aluno sabe, isto é, dentro de sua zona de
desenvolvimento mais próximo (ZDP) 12 . Vygotski (1984, p. 97) explica: “A Zona de
Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão
em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em
estado embrionário”.
Na prática pedagógica, é importante possibilitar a realização das ZDP de cada sujeito,
que se encontra na ontogenia humana, “(...) em disposição espiralar, sendo atingidas como
resultado da resolução de conflitos cognitivos e de situações mediadas de aprendizagem”
(BEYER, 2000, p. 36). Os objetivos educativos, desse modo, são delineados na consideração
da ZDP, atentando para as possibilidades de crescimento da pessoa com deficiência, superando
a prática pautada no déficit do sujeito ou circunscrita a uma norma ou média.
A teoria vygotskiana concebe que “(...) todas as experiências de aprendizagem da
criança afetam diretamente seu desenvolvimento, isto é, as situações de ensino-aprendizagem
influenciam – num encadeamento dialético – as condições do desenvolvimento” (VYGOTSKI,
1995, p. 322). Aqui, o conceito de ZDP adquire significado máximo, permitindo a compreensão
de que são “(...) exatamente as aprendizagens mediadas que impulsionam e encadeiam
dialeticamente zonas atuais de ação cognitiva com zonas próximas de desenvolvimento”
(BEYER, 2000, p. 43).
12 Prefiro utilizar a expressão “mais próximo” visto que o desenvolvimento é imediato.
97
5.2 Efeitos da intervenção no processo de aprendizagem do aluno com DI
Esta categoria de análise visa indicar os benefícios da intervenção para as alunas com
DI. Os dados coletados estão organizados em duas subcategorias, sendo elas: “Acolhida como
ponto de partida” e “Frações no Scratch: aprendizagens a partir da intervenção”.
5.2.1 Acolhida como ponto de partida
O momento da acolhida, durante a realização da intervenção, foi proposto com dois
objetivos. O primeiro, possibilitar o estabelecimento de vínculos entre pesquisadora e sujeitos
da pesquisa, o que foi fundamental para o desenvolvimento do trabalho de investigação, visto
que, nesta intervenção, corroboro com Vygotski (2009, p. 146) quando afirma que “(...) o
aspecto emocional do indivíduo não tem menos importância que os outros aspectos e é objeto
de preocupação da educação nas mesmas proporções em que o são a inteligência e a vontade”.
Assim, permeado por este princípio, os encontros iniciavam sempre com um
cumprimento caloroso e interesse de minha parte por informações sobre as alunas. Um exemplo
disso encontra-se no excerto a seguir:
Pesquisadora: — Olá, meninas! Como estão?
Esmeralda e Ametista, respondem: — Bem.
Pesquisadora: — Que bom! Alguma novidade? Ametista: — Não.
Esmeralda: — Sim, minha prima veio me visitar. Ela me deu uns brincos coloridos,
tão bonitos!
Pesquisadora: — Fico feliz por ti. (INTERVENÇÃO 2)
Percebi, pela informação disponibilizada pela aluna, a necessidade de compartilhar um
fato importante acontecido em sua vida, o qual aponta/sinaliza minha interação com as alunas
desde os primeiros encontros. Abaixo, outro episódio que ilustra tal percepção:
Pesquisadora: — Gostaram de estar aqui hoje?
Esmeralda: — Sim. É legal. Tu vem de novo, né?
Pesquisadora: — Sim. Agora, desligando o computador, organizando a sala para
irmos embora. Vamos então?
Esmeralda: — Vamos, dá beijo. Ametista: — Vamos. Beijo. (INTERVENÇÃO 1)
De acordo com Vygotski (1998), o desenvolvimento do indivíduo é um processo
construído nas e pelas interações que o indivíduo estabelece no contexto histórico e cultural em
98
que está inserido. Assim, a partir dessas interações sociais, é possível apropriar-se de novas
aprendizagens. Cada atividade realizada nos momentos de acolhida foi precedida de minha
interação com as alunas, como no fragmento que segue:
Pesquisadora: — Hoje, vamos começar nossas atividades com uma história. Essa
história é bem interessante e tem a ver com uma matéria que vocês estão estudando...
Alguém quer tentar adivinhar?
Esmeralda — Acho que sei... é sobre fra... ções, frações.
Colega: — Pelo que tu falou antes, é sobre frações.
Pesquisadora: — Vocês acertaram. Muito bem!!! (INTERVENÇÃO 3)
O segundo objetivo da acolhida foi o de despertar o interesse pelo conteúdo proposto.
Assim, propus, como etapa anterior às atividades no Laboratório de Informática, diversificados
procedimentos lúdicos (jogos, leituras e competições) que envolvessem os conteúdos de
frações. O Parecer nº 11, de 7 de julho de 2010, que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos, cita que o caráter lúdico contribui para o
progresso da ação pedagógica (BRASIL, 2010). As atividades foram realizadas na Quadra
Poliesportiva da escola.
Saliento que tal escolha buscou mostrar que, no contexto escolar, é possível alterações
na prática pedagógica, sem comprometimento do ensino e da aprendizagem, como também,
deixar os envolvidos e, principalmente as alunas, mais descontraídas, participativas, além de
associar sentimentos positivos em relação à intervenção. As emoções proporcionadas pelas
atividades, segundo (VYGOTSKI, 2001), têm caráter ativo, servindo como organizador interno
das reações, estimulando ou inibindo-as. Ainda de acordo com este autor:
Se fazemos alguma coisa com alegria as reações emocionais de alegria não significam
nada senão que vamos continuar tentando fazer a mesma coisa. Se fazemos algo com
repulsa isso significa que no futuro procuraremos por todos os meios interromper
essas ocupações. Por outras palavras, o novo momento que as emoções inserem no
comportamento consiste inteiramente na regulagem das reações pelo organismo
(VYGOTSKI, 2001, p.139).
Nos episódios transcritos a seguir, apresento algumas das atividades desenvolvidas.
Uma delas constituiu-se na apresentação da proposta de intervenção e do software Scratch. Essa
apresentação ocorreu da seguinte maneira: ligamos o computador e juntas começamos a
atividade de exploração do software. Fui apresentando e explicando cada um dos itens que
compõe a tela do respectivo software, sendo sempre questionada.
Na sequência da aula, passamos a realizar a atividade “Gato caminhando”. A atividade
foi recebida com satisfação e curiosidade pelas alunas, o que foi expresso na fala de Ametista,
99
quando disse: “Tu é mágica?”, como também nos diversos questionamentos efetuados. Em um
deles, Esmeralda questionou “O que faz isto?” Ao fazer esse questionamento, ela estava se
referindo ao comando do movimento, item responsável pela mobilidade dos personagens no
jogo. Respondi: “Serve para dar movimento ao gatinho. É como ele se move”.
Segue, abaixo, o diálogo estabelecido entre ambas:
Esmeralda: — O que faz isto? (Referindo-se ao comando do movimento)
Pesquisadora: — Serve para dar movimento ao gatinho. É como ele se move.
Ametista: — Faz ele andar.
Pesquisadora: — Para fazê-lo andar, preciso colocar o número de passos que quero. Que número coloco?
Ametista: — Seis.
Pesquisadora: — Certo. Gatinho, vais dar seis passos.
Aplico o comando e o gatinho (Sprite) anda.
Ametista: — O gatinho andou, o gatinho andou!
Esmeralda: — O gatinho andou, o gatinho andou!
Ametista: — Tu é mágica?
Pesquisadora: — Não, é só ir até o comando. Olha: coloca o número aqui, vai até à
bandeira verde e clica. Podes tentar!
Ametista: — Oba! Consegui... Consegui! (INTERVENÇÃO 1)
Ao realizar o questionamento, tinha em vista auxiliar a estudante com DI a tomar
consciência do que ela deveria fazer para jogar. Ao responder corretamente, a estudante deixou-
me muito feliz. A figura 11 apresenta os registros da execução da atividade relatada.
Figura 12 - Atividade Gato Caminhando
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
Outra atividade que despertou interesse no grupo de alunos e, inicialmente, causou
“espanto” foi a contação da estória “O Pirulito do Pato”. Contar estórias não é uma atividade
realizada com frequência nos anos finais do Ensino Fundamental. Os próprios alunos, pelo que
expressaram, também assim o compreendem, o que pode ser observado no fragmento abaixo:
100
Pesquisadora: — Gente, nossa atividade começará pela estória “O Pirulito do Pato”.
Esmeralda: — Estória?
Colega: — Estória é para crianças.
Ametista: — Estória, prá nós? (INTERVENÇÃO 3)
Esta atividade foi conduzida da seguinte maneira: após, apresentar o livro e seu autor,
comecei a efetuar a leitura do texto. O livro apresenta uma situação-problema: dois irmãos
precisam dividir, em partes iguais, o pirulito ofertado pela mãe, mas assim que começam a
entrar em acordo para dividir o pirulito ao meio, chegou uma visita e é necessário dividir o
pirulito com ela. Depois de conversarem, dividem o pirulito em três pedaços. Quando tudo
parecia resolvido, chegou mais uma visita, sendo necessário efetuar uma nova divisão, visto
que o visitante exigiu um pedaço do pirulito.
No decorrer da leitura, fui questionando os alunos sobre as estratégias utilizadas pelos
patos para resolver o problema. Mesmo diante do estranhamento inicial referente à atividade,
houve uma intensa participação por parte dos alunos, desencadeada por questões como: “Um
pirulito para dois?”, “Todo problema tem solução?” e “Terço é três?”. Essa situação pode ser
observada no fragmento abaixo:
Pesquisadora: — O nome da história é “O Pirulito do Pato”, o autor é Nílson José
Machado.
Ametista: — Tem problema nesta história. Um pirulito para dois.
Pesquisadora: — É um problema??? Todo problema tem solução. Certo?
Esmeralda: — Certo.
Ametista: — Tem solução. Esmeralda: — Tem solução.
Pesquisadora: — Como será que eles irão resolver?
Ametista: — Pode dar um pedaço para cada um.
Pesquisadora: — Pode ser uma boa ideia. Mas vamos descobrir como eles resolveram.
Continuo o relato.
Esmeralda: — Chegou outro. E agora?
Pesquisadora: — Agora ficou mais difícil? Por quê?
Ametista: — Eu acho que sim. Ficou, sim.
Pesquisadora: — Gente, mas porque ficou mais difícil?
Ametista: — Tu não sabe? Um pirulito para três...
Esmeralda: — Vai sobrar o quê?
Pesquisadora: — Mas eu tenho certeza que dá. Alguém tem um ideia de como fazer??? Pode falar, antes de irmos para as cenas dos próximos capítulos.
Crianças riem muito.
Esmeralda: — Repartir em três pedaços
Pesquisadora: — Muito bom. Acho que vai ser a solução.
Continuo a leitura.
Pesquisadora: — Olha, Esmeralda, tu acertaste.
A aluna sorri.
Pesquisadora: — A mãe dos patinhos vai dar um terço do pirulito para eles. Um terço
quer dizer o quê?
Ametista: — Que o pirulito foi dividido em três pedaços.
Pesquisadora: — Todos concordam que um terço são três pedaços? Turma: — Sim.
101
Pesquisadora: — Será que agora os patinhos poderão comer cada um seu pedacinho
do pirulito? Vamos ver!!! Tem mais história pela frente.
Ametista: — Chegou outro pato, chegou outro pato. Bem na hora que eles iriam
comer!
Pesquisadora: — E agora???
Esmeralda: — O pato Xato é sem educação.
Pesquisadora: — Tu achas, Ametista? Por quê?
Ametista: — Sim. Porque tem que dividir com os outros. Se não quer dar, come
escondido.
Pesquisadora: — Certo. O que acharam da história?
Esmeralda: — Engraçada. Ametista: — Legal.
Esmeralda: — Um pirulito dá para muitas pessoas.
Ametista: — É... e que na vida tem fração.
Pesquisadora: — Verdade. Que bom que gostaram. Uma história sempre diverte.
(INTERVENÇÃO 3)
Segue, abaixo, a figura 13 que corresponde à capa do livro “O Pirulito do Pato”,
utilizado no momento da Acolhida.
Figura 13 - Capa do livro “O Pirulito do Pato”
Fonte: Editora Scipione
Outro aspecto observado durante as atividades da acolhida, foi um maior protagonismo
das alunas com DI perante seus colegas. Em um deles, após chegar e saudar o grupo de alunos,
fiz um questionamento e, posteriormente, uma solicitação. Ao ouvir minha solicitação,
Ametista pediu para escolher quais seriam os componentes de seu grupo, em uma iniciativa até
então incomum que foi acompanhada por Esmeralda. No fragmento a seguir, isso pode ser
validado:
Pesquisadora: — Turma, tudo bem?
Turma: — Tudo.
102
Pesquisadora: — Que bom! Hoje, nossa atividade, antes de irmos para o Laboratório,
chama-se “Corrida de Frações”. Alguém conhece?
Ametista: — Não
Esmeralda: — Não
Pesquisadora: — Formem grupos de 4. Vou distribuir o material. Alguma dúvida?
Turma: — Não
Ametista: — Sim. Posso escolher meu grupo?
Pesquisadora: — Podes. Quem serão os componentes do teu grupo?
Ametista: — Ana, Patrícia, Luiza e eu.
Pesquisadora: — Ok! Será a primeira vez que trabalharão juntas, certo?
Luiza: — É. Pesquisadora: — Tudo bem.
Esmeralda: — Eu vou para o grupo do Ricardo, tá?
Pesquisadora: — Teu grupo serás tu, o Ricardo e quem mais?
Esmeralda: — A Luciane e a Mariane. (INTERVENÇÃO 4)
Outro exemplo desse protagonismo pode ser encontrado a seguir, quando Ametista e
Esmeralda perguntaram-me sobre a possibilidade de inexistência da atividade inicial, que foi
relacionada a não realização das demais etapas do encontro. No fragmento abaixo, isso pode
ser percebido.
Pesquisadora: - Olá! Hoje, começaremos nossas atividades com um jogo chamado
“Estouro de frações”.
Ametista: - Qual a atividade do pátio hoje? Só vou lá para cima depois da brincadeira
com meus colegas.
Esmeralda: - Não tem brincadeira na Quadra?
Pesquisadora - Teremos brincadeira na Quadra, sim. (INTERVENÇÃO 6)
Os questionamentos referentes à atividade na Quadra, por parte das estudantes com
DI, deixaram-me muito contente e revelaram que as mesmas já haviam internalizado a rotina
da intervenção. Tais situações representaram para as alunas mudanças no modo como, até então,
interagiam com o grupo e no contexto escolar. A partir das situações relatadas, percebi nas
alunas maior confiança em seu potencial de aprendizagem, o que pareceu ter contribuído com
seu desenvolvimento cognitivo.
Durante o momento da acolhida, ratifiquei meu entendimento de que as relações
afetivas estabelecidas no contexto escolar são responsáveis por aproximar ou afastar os alunos
do conhecimento e afetar seus processos cognitivos. Rey (2000, apud DARIZ, 2013, p. 33)
comenta que, para Vygotski, “(...) o afeto é construído a partir das necessidades, emoções e
sentimentos do ser humano e esse conjunto de processos mentais, juntamente com os processos
cognitivos, influenciam o desenvolvimento da personalidade e da consciência”.
O componente afetivo permeia o processo de internalização. O aparecimento das
relações cognitivas necessárias à realização daquele processo foi forçado pelos estados
emocionais e pelas necessidades afetivas do sujeito (MOYSÉS, 1997). Isso significa dizer que,
103
no processo de internalização, os aspectos cognitivo e afetivo se mostram intimamente
entrelaçados. A manutenção das relações sociais proporciona, segundo Vygotski (1995), o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Cenci (2015, p. 07) caracteriza funções
psicológicas superiores, de acordo com Vygotski (1995), como capacidades
(...) que envolvem controle consciente do comportamento, ação intencional e
liberdade em relação às características de tempo e de espaço; elas são produto do desenvolvimento histórico da humanidade. Diferem, assim, das funções psicológicas
elementares, que são aquelas presentes na criança pequena e nos animais, como, por
exemplo, as reações automáticas, ações reflexas e associações simples – que são de
origem biológica.
Ressalto, ainda, que Vygotski (1998) considera a linguagem como instrumento
fundamental para a socialização entre os sujeitos e os objetos de estudo. Nesse processo, a
afetividade é imprescindível para a ocorrência da aprendizagem. Vygotski (1998, 2001, 2004)
destaca que o desenvolvimento do ser humano resulta das e pelas interações que ele estabelece
a partir de um intenso processo afetivo. Entendo, pois, que as interações entre os participantes
da pesquisa-intervenção estavam carregadas de sentimentos e emoções, constituindo-se com
trocas afetivas.
Assim, de acordo com as situações referidas, destaco importantes efeitos da
intervenção no processo de aprendizagem do aluno com DI, a partir da atitude de acolhimento
instaurada nos momentos dos encontros e, consequentemente, em outras situações presentes no
ambiente escolar. No caso, aspectos metodológicos e relações interpessoais positivas se
interinfluenciaram e se determinaram mutuamente.
Verifiquei que o acolhimento exigiu-me a utilização de conhecimento pedagógico para
orientar a aprendizagem das alunas relativamente às frações, bem como conhecimento
fundamentado em Vygotski, de modo a atender ao desejo de saber e à decisão de cada aluna de
aprender.
Identifiquei que a autoconfiança se estabeleceu entre as alunas com DI, sujeitos da
pesquisa-intervenção. Passaram a responder positivamente ao desafio de aprender,
experimentando diferentes momentos de sucesso e tranquilidade, demonstrando, dessa maneira,
acolhimento ao aprender. Isso decorreu, em grande parte, pela representação favorável da
professora e colegas quanto às condições de aprendizagem das alunas com DI.
Ao construir conceitos sobre frações, as alunas expandiram suas aprendizagens para
outras áreas do conhecimento e para a formação de habilidades pessoais e sociais, inserindo-se
na coletividade escolar, ampliando suas experiências com os colegas. Esse efeito da intervenção
104
contribuiu para o desenvolvimento pessoal das estudantes e enriquecimento de suas
perspectivas sociais.
5.2.2 Frações no Scratch: aprendizagens a partir da intervenção
Para compreender os efeitos do processo de intervenção é necessário, primeiro,
entender os conhecimentos sobre os números racionais que as alunas com DI apresentavam no
período anterior à intervenção. Como exemplo, segue um fragmento do diálogo sobre o que
seria fração:
Pesquisadora: — Vamos aprender um pouco mais sobre frações?
Ametista — Eu nem sei o que é...frações.
A afirmação contou com a concordância da aluna Esmeralda.
Pesquisadora: — Não sabem nada? Têm certeza? Ametista: — Não sei nada.
Esmeralda: — Fração... humm... fração, fração, fração... O número 1 é fração.
Pesquisadora: — Por que achas que o número 1 é fração?
Esmeralda: — Porque eu acho.
Ametista: — Eu também acho. (INTERVENÇÃO 1)
Percebi, de acordo com o fragmento acima, que as respostas de Esmerada e Ametista,
demonstram não haver um significado da palavra “fração” para ambas. Na tentativa de
responder, encaminharam uma resposta, que comprovou não entenderem a questão. Ametista,
percebendo que sua resposta foi incompleta, acrescentou: “Fração é uma forma diferente de
escrever/representar uma continha”.
A seguir, apresento outro exemplo que aponta para a falta de significado da
palavra/termo para as alunas:
Pesquisadora: — Que atividades são estas? Os números aqui estão diferentes, certo?
Ametista: — São números com traço.
Pesquisadora: — Traço? O que são números com traço?
Ametista: — Número com traço é o que fica um em cima e outro embaixo. Pesquisadora: — Um em cima e outro embaixo?
Esmeralda: — É. Coloca o traço e depois tu escreve um número em cima e depois o
outro embaixo e pronto.
Pesquisadora: — Meninas, o que quer dizer o traço?
Esmeralda: — Dizer? O traço é traço.
Ametista: — Traço é a linha. Um número tem que ficar em cima e outro embaixo.
Pesquisadora: — Mas porque um número tem que ficar em cima e outro embaixo?
Esmeralda: — Não sei. A professora fez assim
Ametista: — É assim que tá no quadro. A professora fez assim. (INTERVENÇÃO 1)
105
Constatei, a partir deste relato, que as ideias iniciais das alunas sobre frações estavam
relacionadas aos números naturais ou à fração como um par destes. Ao responder, as alunas
tentaram relacionar os conhecimentos que já possuem sobre os números naturais para esse outro
universo numérico, o que indica um conhecimento (conceito) espontâneo. Vygotski (2009)
explica que os conceitos espontâneos são aqueles construídos pelas pessoas na sua experiência
pessoal e concreta, aparecendo em decorrência das interações do seu dia-a-dia. Outro episódio
que ilustra minha percepção ocorreu quando foi solicitado para as alunas que representassem,
por meio de desenhos, seu entendimento sobre frações. O fragmento a seguir descreve esse
momento:
Pesquisadora: — Vamos desenhar um retângulo? Vocês conhecem um retângulo,
certo? Ametista: — Já vi.
Esmeralda: — Sim. Pesquisadora: — Desenhem.
Pesquisadora: — Gurias, agora vamos dividir o retângulo. Ele deve ser dividido de
acordo com a ideia de fração.
Ametista: — Hummm?
Pesquisadora: — Para dividir o retângulo, com base no que sabes sobre frações,
deverás dividi-lo em partes iguais, diferentes ou tanto faz?
Esmeralda: — Não sei. Tanto faz
Ametista: — Tamanhos diferentes.
Pesquisadora: — Certo! (INTERVENÇÃO 2)
As figuras 14 e 15 apresentam os desenhos efetuados pelas alunas Ametista e
Esmeralda, a fim de atender à solicitação efetuada por mim.
Figura 14 - Representação retângulo Ametista
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
106
Figura 15 - Representação retângulo Esmeralda
Fonte: acervo da pesquisadora (2017)
Percebi pelas respostas das alunas que o conceito científico de frações como divisão
em partes iguais não está estabelecido/compreendido, embora, por meio da provocação
proposta por mim, as alunas tenham dividido a figura, o que pode ser entendido como um
indício de conceito espontâneo. As dificuldades de compreensão do conteúdo também foram
encontradas no quantitativo de acertos das mesmas na avaliação da escola (ANEXO F), dentre
as 15 (quinze) questões propostas, Esmeralda acertou 4 (quatro) e Ametista 6 (seis), assim como
nos registros dos pareceres das alunas. No fragmento abaixo, em relação à Esmeralda, consta,
no parecer do segundo trimestre (ANEXO B), que na:
Matemática é extremamente vagarosa. Não consegue acompanhar os conteúdos, não
realiza cálculos com as quatro operações. Apresenta extrema dificuldade na
compreensão dos conteúdos que envolvem frações, não conseguindo aprender seus
conceitos básicos, não atingindo os objetivos mínimos estabelecidos para o trimestre
(PARECER DO SEGUNDO TRIMESTRE, GRIFO NOSSO).
Ao que se refere à aprendizagem de Ametista consta do parecer do segundo trimestre
(ANEXO C):
Na matemática escreve somente a lápis, é lenta para copiar e realizar as tarefas, se
distrai com facilidade. É desorganizada com seu material. Apresenta significativa dificuldade de aprendizagem. Realiza todas as atividades com auxílio. Realiza
cálculos com as quatro operações, tendo mais dificuldade na multiplicação e na
divisão. A aluna consegue interpretar expressões numéricas que não sejam muito
extensas, bem como problemas onde os enunciados sejam simples. Necessita de mais
auxílio na realização de cálculos com potência e em atividades de extrair raiz
quadrada. Nas atividades com os números racionais não atingiu os objetivos
mínimos estabelecidos para o trimestre (PARECER DO SEGUNDO
TRIMESTRE, GRIFO NOSSO).
107
Os relatos acima me serviram como um diagnóstico inicial, a fim de estruturar a
proposta de intervenção, quando busquei a compreensão/reflexão por parte das alunas do
processo de aprendizagem vivenciado em sala de aula por meio das atividades realizadas.
Saliento que, as atividades não se distanciavam dos modelos propostos pela professora da classe
regular; seu diferencial era a forma de abordagem, realizada em situações compartilhadas e por
meio de um instrumento (jogo), pretendiam incidir na zona de desenvolvimento proximal do
aluno, possibilitando a ocorrência de uma boa aprendizagem, que de acordo com Vygotski
(1993) só ocorrem quando ações como essas são efetivadas.
A partir daqui, são analisadas as contribuições do jogo Frações no Scracth para
aprendizagem de conhecimentos científicos pelas alunas. A transcrição, a seguir, resulta de
diálogo, envolvendo minha participação e a das alunas com DI, abrangendo uma situação
proposta no jogo, na qual busquei trabalhar os conceitos de inteiro e metade, por meio de uma
situação cotidiana.
Pesquisadora: — A Ametista comeu um chocolate. Com que número posso
representar este chocolate?
A aluna não estava compreendendo a atividade do jogo, então a pesquisadora resolveu
exemplificar a situação utilizando seu nome. Ametista: — Um, é comer todo?
Pesquisadora: — Sim. E que número vais usar para representar?
Ametista: — Um.
Pesquisadora: — Muito bem. E se em vez de comer o chocolate todo, tu comesses só
a metade?
Ametista: — Só a metade... metade... metade.
Pesquisadora: — Sim. Tens o chocolate e vais comer só a metade. Como vais
representar isso?
Ametista: — Metade, não é todo. É pedaço!
Pesquisadora: - Certo. Então, como podes representar?
Ametista: — ½. Pesquisadora: — Ok! Explica-me como resolveste?
Ametista: — “Peguei” o chocolate e reparti em dois. (INTERVENÇÃO 2)
Segundo Ciscar e García (1988, p. 33), utilizar situações do cotidiano permite que os
alunos reconheçam a matemática no mundo que os cerca, sendo a tarefa do professor auxiliá-
los na construção do conceito matemático. Observa-se, também neste relato, minhas tentativas
em desafiar Ametista para percepção da diferença entre inteiro e metade. Nunes e Bryant (1997)
alertam para a importância do estabelecimento de uma relação entre ambos. Assim, “um” foi a
resposta de Ametista para associá-lo ao inteiro e “pedaço” à outra resposta, referindo-se à
metade. A apropriação do conceito de parte de uma quantidade, também foi evidenciada durante
a intervenção, visto que foi percebida como um fundamento importante neste contexto escolar.
Para isso, propus a seguinte atividade: dentre um número ilimitado de bolas de três cores
108
(laranja, azul e verde) diferentes, as alunas deveriam, de acordo com o comando, colocá-las em
cestos. Durante a execução da atividade, fui questionando as alunas, para que: primeiro
identificassem o total de componentes do conjunto; feito isto, solicitei que, dentre os
componentes do conjunto, relatassem quantos eram laranja e quantos eram azuis. Esse momento
está descrito no fragmento abaixo:
Pesquisadora: — Ametista, lê a pergunta, por favor. Ametista: — Coloca as bolas no cesto. Um quarto de bolas deve ser azul e 3/4 de
bolas deve ser laranja.
Pesquisadora: — Obrigada! Esmeralda, quantas bolas queremos no total no cesto? Esmeralda: 4.
Pesquisadora: — Ok! Ametista, quantas serão azuis?
Ametista: — 1.
Pesquisadora: — Por quê?
Ametista: — Tu perguntou para Esmeralda, quantos bolas deveria ter no cesto e ela
respondeu 4.
Pesquisadora: — Certo! E?
Ametista: — Tem 4 bolas: 3 são laranjas. Vai sobrar 1.
Esmeralda: — O que sobrou será uma fração
Pesquisadora: — Muito bem!! Continuem jogando. (INTERVENÇÃO 4)
Por meio desse episódio, foi possível perceber a capacidade de Ametista de utilizar as
suas funções psicológicas superiores, principalmente a memória e o raciocínio lógico, ao
responder às questões propostas por mim, comprovando, assim, diferentemente do que declara
a escola, que ela tem condições de pensar, raciocinar e, consequentemente, aprender.
Durante a intervenção, incentivei as alunas a relatarem, ao final dos encontros, o
processo vivenciado. Isso ocorreu no quarto momento13. Este visava a tomada de consciência,
tendo, por finalidade, contribuir com a aprendizagem das alunas. No exemplo a seguir, as alunas
relataram o que foi trabalhado no encontro de intervenção:
Pesquisadora: — Gurias, nosso horário está chegando ao fim. Agora, preciso que
vocês digam tudo o que fizemos hoje. Vocês falam e eu vou escrevendo no quadro, certo? Podem começar!
Ametista: — Hoje, fizemos um brinquedo para adivinhar o futuro.
Esmeralda: — O origami do oráculo e brincamos.
Ametista: — Jogamos no Scratch um jogo de responder às perguntas.
Esmeralda: — As perguntas eram sobre um chocolate.
Ametista: — Falamos de fração... fração é uma parte de um todo.
Pesquisadora: - E o que mais?
Ametista: - Tem mais... mas eu não sei dizer.
Pesquisadora: — E tu Esmeralda, o que mais podes contar?
Esmeralda: — Que fração divide.
Pesquisadora: — Querem acrescentar mais alguma coisa?
13 Lembrando: embora já esteja presente e explicado na metodologia, o quarto momento evidencia, nesta
subcategoria, sua importância, visto que é, em essência, ele que representa o próprio mecanismo de internalização.
109
Ametista: — Não.
Esmeralda: — Não. (INTERVENÇÃO 2)
É possível perceber, no relato acima, que as alunas tiveram dificuldade em atender à
minha solicitação, não apresentando, em sua descrição, elementos que indicassem reflexão
sobre o processo vivenciado ou aprendizagem ocorrida. Com o transcorrer do processo
interventivo, essa realidade foi se alterando e esse momento contemplou minha expectativa,
que consistia em observar, por meio da narrativa efetuada pelas alunas, utilizando suas próprias
palavras, se houve aprendizagem, ou melhor, se estava ocorrendo no âmbito intrapsicológico
uma reestruturação das relações que ocorrem no âmbito interpsicológico. O fragmento a seguir
ilustra essa situação:
Pesquisadora: — Vamos relatar o nosso trabalho de hoje?
Esmeralda: — Tá bem.
Pesquisadora: — Quem começa?
Ametista: — Eu.
Pesquisadora: — Pode começar.
Ametista: — Fizemos a brincadeira da corrida de frações.
Pesquisadora: — Certo. E o que mais?
Esmeralda: — Vimos que na fração existem dois números separados por um traço.
Ametista: — O numerador e o ... Esmeralda: — Denominador.
Ametista: — O denominador é o número abaixo do traço. O número acima do traço é
chamado de numerador.
Esmeralda: — O numerador indica quantas partes foram tomadas.
Pesquisadora: — Tomadas de onde?
Esmeralda: — Do inteiro.
Ametista: — O denominador indica em quantas partes iguais foi dividido
Pesquisadora: — Então os termos da fração são numerador e o denominador.
Ametista: — É.
Esmeralda: — Professora, vamos dizer certo agora.
Pesquisadora: — Certo? Agora não vai ser mais número de cima e o número de baixo. Esmeralda: — Não. Agora vai ser numerador e denominador. (INTERVENÇÃO 5)
Depreende-se do fragmento acima uma evolução por parte das alunas, pois a síntese
realizada encaminhou para a formação de um conceito, sobre os termos que compõem uma
fração. Ao construir conceitos sobre frações, as alunas expandiram suas aprendizagens para
outras áreas do conhecimento e para a formação de habilidades pessoais e sociais, inserindo-se
na coletividade escolar, ampliando suas experiências com os colegas. Esse efeito da intervenção
contribuiu para o desenvolvimento pessoal das estudantes e enriquecimento de suas
perspectivas sociais, assim como vem servindo de desafio para que a escola construa “(...) novas
representações sociais da matemática que permitirão que a numeração seja vista como um valor
para todos de uma forma nova” (NUNES; BRYANT, 1997, p. 230).
110
A fração, a partir de uma situação problema, também foi evidenciada durante o
desenvolvimento da intervenção. A opção por esse enfoque tinha a intenção de objetivar o
desenvolvimento da ação investigadora por parte dos alunos, a partir de questões guias. No
fragmento abaixo é possível verificar essa intenção:
Pesquisadora: — Ametista, favor ler a questão proposta!
Ametista: — Certo. Cintia repartiu um bolo em 6 pedaços. Ela comeu 1/6 e Gilson também comeu do bolo 1/6. Que fração representa a parte do bolo que Cintia e Gilson
comeram?
Esmeralda: — O quê? Não sei!
Pesquisadora: — Precisamos resolver!!! Como poderemos fazer?
Esmeralda: — Não sei, não sei.
Pesquisadora: — Ametista, lê de novo.
Ametista: — Tá bem!
Pesquisadora: — Temos uma questão a ser resolvida. Como podemos fazer?
Alunas observam atentas a tela do computador.
Ametista: — A fração tem dois números iguais.
Pesquisadora: — Tem? Qual é? Ametista: — Os denominadores, lê de novo
Pesquisadora: — O que devo fazer então?
Esmeralda: — Juntar?
Pesquisadora: — Juntar para saber o quê?
Ametista: — Para achar a reposta!
Pesquisadora: — Muito bem! E qual é a resposta, ou melhor, como fizeste?
Ametista: — Olha! Eu somei um mais um que “tava” em cima e depois deixei o seis
que estava embaixo.
Pesquisadora: — Ok! (INTERVENÇÃO 7)
Conversei com as alunas e disse que a atividade também representava uma adição com
frações. Salientei que há diferentes maneiras de propor uma adição. Solicitei que, em grupo,
fosse definido um modo de realizar a tarefa, onde todos compreendessem o processo e não mais
simplesmente somassem todos os termos. O fragmento a seguir apresenta a síntese ou “regra”
formulada pela aluna:
Ametista: — Quando tiver que somar frações, olho os termos... Se for igual o
denominador... Eu conto só o numerador.
Esmeralda: — Se for diferente os termos... Tenho que lembrar.
Pesquisadora: — Não entendi! Digam novamente.
Ametista: — Se os denominadores forem iguais, eu só conto (somo) os numeradores.
Esmeralda: — É! Só vale se os denominadores forem iguais. Pesquisadora: — Ok! (INTERVENÇÃO 7)
Durante a realização da intervenção, a opção por trabalhar em grupos mostrou-se uma
estratégia bastante exitosa e comprovou sua importância no processo de aprendizagem das
alunas. Vygotski (1984) considera em relação ao aluno: “Trabalhando com um ou vários
parceiros, ele vivencia no plano externo o que irá internalizar, posteriormente”. Moysés (1997)
111
ratifica a afirmação do autor e complementa: “(...) a atividade compartilhada é fundamental
para o desenvolvimento coletivo do aluno”. Na situação transcrita a seguir, isso pode ser
observado. A atividade realizada em duplas consistiu em associar a representação gráfica de
uma fração com sua representação numérica. O colega, componente da dupla de Esmeralda,
percebendo a dificuldade dela para realizar a tarefa, propôs ajudá-la, como pode ser observado
no episódio abaixo:
Esmeralda: — Eu não sei.
Colega: — Eu te ajudo.
Esmeralda: — Tá bem
Colega: — Primeiro, tu vais contar quantos pedaços tem na figura toda.
Esmeralda: — Certo. Um, dois, três, quatro, cinco, seis.
Colega: — Contou?
Esmeralda: — Sim. Colega: — Agora, tens que ver quantos pedaços estão pintados, coloridos.
Esmeralda: — Um, dois, três.
Colega: — Aí tu tem que juntar.
Esmeralda: — Juntar?
Colega: — O desenho com o número. Olha aqui!
Esmeralda: — Vou tentar... Consegui! (INTERVENÇÃO 6)
Vygotsky (1998) argumenta que as atividades em grupo oferecem vantagens
indisponíveis em ambientes individualizados, pois as constituições dos sujeitos, assim como
seu aprendizado e seus processos de pensamento, ocorrem mediadas pelas relações com outras
pessoas. A seguir, outro exemplo que retrata a importância do outro no processo de
aprendizagem.
Pesquisadora: — Esmeralda, agora é tua vez.
Colega: — Eu não quero.
Pesquisadora: — Por quê?
Esmeralda: — Eu não entendi. Eu não consigo encaixar.
Ametista: — Vem cá, Esmeralda. Olha como eu faço. Tem que arrastar para juntar.
Esmeralda: — É.
Ametista: — Arrasta. Conta quantos pedaços tem. Depois tu contas quantos estão
pintados.
Pesquisadora: — E depois? Esmeralda: — Tenho que procurar o número para juntar?
Pesquisadora: — Número14 ou fração15?
Esmeralda: — Achar o número fracionado. (INTERVENÇÃO 4)
14 Número é um conceito matemático para a representação de medida, ordem ou quantidade. Os números de ordem
são designados por ordinais e os de quantidade são designados por cardinais. Em Matemática, os números são
classificados como naturais, inteiros, racionais e reais. 15 Fração - pertencente ao conjunto dos números racionais. Esse conjunto pode apresentar-se sob a forma de
número fracionário ou um número decimal.
112
Quando perguntei à Esmeralda: por quê? Ametista se dispôs a auxiliá-la. Neste breve
relato, observei que há duas pessoas auxiliando Esmeralda. A participação dessas duas pessoas
na relação com Esmeralda foi fundamental para que ela passasse a querer realizar a tarefa.
Destacaram-se dois aspectos primordiais para o processo de aprendizagem com base em
Vigotski: o primeiro envolvendo o conceito de ZDP, conceito que indica:
A distância do nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da
solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros capazes (VYGOTSKI, 2007, p. 97).
O segundo aspecto referiu-se ao fato de que a colega com DI se dispôs a ajudar.
Vygotski (1997, p. 219) explica:
Por tanto, si se pregunta de dónde nacen, cómo se forman, de que modo se desarrollan
los procesos superiores del pensamiento infantil, debemos responder que surgen en el
proceso del desarrollo social del niño por medio de la traslación a si mismo de las
formas de colaboración que el niño asimila durante la interacción con el medio social
que lo rodea. Vemos que las formas colectivas de colaboración preceden a las formas
individuales de la conducta, que crecen sobre la base de las mismas y constituyen sus
progenitoras directas y las fuentes de su origen. En esto reside el sentido fundamental de la ley formulada por nosotros sobre la doble aparición de las funciones psíquicas
superiores en la historia del desarrollo del niño. De manera que de la conducta
colectiva, de la colaboración del niño con las personas que lo rodean, de su experiencia
social, nacen las funciones superiores de la actividad intelectual16.
Percebi, no decorrer dessas intervenções, a importância do trabalho colaborativo, o
qual implica interação entre sujeitos. Neste sentido, se encontra um dos pressupostos básicos
da teoria histórico-cultural: o sujeito aprende e se desenvolve no processo de interação com o
outro, ou seja, conforme Vygotski (1988), o desenvolvimento psíquico é feito do plano
interpsicológico (interação com o outro) para o plano intrapsicológico (mente do sujeito).
A organização dos grupos também foi um aspecto evidenciado ao longo do
desenvolvimento do trabalho, visto que busquei formar grupos heterogêneos. As práticas que
buscam criar grupos homogêneos, de acordo Vygotski (1997, p. 225), resultam evidentes
16 Portanto, se perguntamos de onde nascem, como se formam, de que modo se desenvolvem os processos
superiores do pensamento infantil, devemos responder que surgem no processo de desenvolvimento social da
criança por meio da transposição a si mesmo das formas de colaboração que a criança assimila durante a interação
com o meio social que o rodeia. Vemos que as formas coletivas de colaboração precedem as formas individuais
de conduta, que crescem sobre a base delas mesmas e constituem suas progenitoras diretas e as fontes de sua
origem. Nisto reside o sentido fundamental da lei formulada por nós sobre a dupla aparição das funções psíquicas
superiores na história do desenvolvimento infantil. De modo que da conduta coletiva, da colaboração da criança
com as pessoas que o rodeiam, de sua experiência social, nascem as funções superiores da atividade intelectual.
113
(...) cuan profundamente antipedagógica es la regia según la cual, por comodidad,
seleccionamos colectividades homogéneas de niños retrasados. AI proceder así, no
solo vamos contra la tendencia natural en el desarrollo de los niños, sino - que es
mucho más importante- al privar al niño mentalmente retrasado de la colaboración
colectiva y de la comunicación con otros niños que están por encima de él, no
atenuamos sino que acrecentamos la causa inmediata que determina el desarrollo
incompleto de sus funciones superiores17.
Assim, reunindo-os a partir do mesmo grau de deficiência, privam “(...) as crianças do
potencial que há na comunicação e colaboração coletiva – a diferença de níveis entre pessoas
que colaboram seja condição importante para a atividade coletiva” (CENCI, 2015, p. 12). No
relato abaixo, há um trecho que aponta esse processo:
Ametista: — Posso fazer dupla com a Esmeralda?
Pesquisadora: — Querida, os grupos serão organizados de uma maneira diferente.
Escutem, por gentileza: façam um círculo e coloquem as mãos para trás. Vou
depositar, nas mãos de vocês, papeizinhos com letras de músicas. Quando terminar de distribuir, eu vou para o centro da roda e quero que todos leiam ao mesmo tempo seus
papéis e cantem suas respectivas músicas. Todos ao mesmo tempo! Cada um
cantando, vai procurando os colegas que estão cantando a mesma música que a sua.
Ao encontrar, forma-se o trio para realização da atividade. As músicas são as
seguintes: Escravos de Jó; Atirei o pau no gato; A canoa virou; Ciranda, cirandinha;
Peixe vivo e Sapo-cururu.
Pesquisadora: — Todos entenderam? Podemos começar?
Turma: — Sim
Pesquisadora: — 1, 2, 3 e já! Todo mundo cantando.
Pesquisadora: — Quem já achou seu trio? Assim que encontrar, está formado o seu
grupo de trabalho, ok! Ametista: — Eu não fiquei com a Esmeralda...
Pesquisadora: — Não tem problema. Aqui todos são amigos, certo?
Ametista: — Certo.
Pesquisadora: — Lembra que, para ficares junto com ela, a música deveria ser a
mesma. (INTERVENÇÃO 4)
Ao organizar os grupos desta maneira, cumpri um dos fundamentos defendido por
Vygotski (1997, p. 224) que afirma:
Las colectividades compuestas por niños con distinto nivel de retraso son las más
frecuentes, estables y duraderas. Uno de los procedimientos tradicionales de nuestra práctica pedagógica es el medo de completar, seleccionar los grupos escolares según
el nivel de desarrollo mental. Se supone que los niños con el mismo nivel de retraso
forman las mejores colectividades. La investigación muestra que, si se los deja actuar
libremente, los niños retrasados nunca se agrupan según esta ley. Más exactamente,
siempre la infringen. AI analizar los datos obtenidos, dice el autor, solo es posible
17 Quão profundamente antipedagógica é a regra segundo a qual, por comodidade, selecionamos coletividades
homogêneas de crianças com retardo. Ao proceder assim, não só vamos contra a tendência natural no
desenvolvimento infantil, senão – o que é muito mais importante - ao privar a criança mentalmente atrasada da
colaboração coletiva e da comunicação com outras crianças que estão acima dela, não atenuamos, mas
acrescentamos a causa imediata que determina o desenvolvimento incompleto de suas funções superiores.
114
llegar a una conclusión: las combinaciones sociales más deseables, a las que los niños
recurren con mayor frecuencia, son las formadas por el idiota y el imbécil, el imbécil
y el débil de grado profundo18.
Vygotski (1997, p. 224) ainda registra:
En la relación social se produce una especie de servicio mutuo. EI que es
intelectualmente más dotado adquiere la posibilidad de manifestar su actividad social
con respecto al que es menos dotado y activo. Este último, a su vez, extrae de la
comunicación social con el más activo aquello que todavía le resulta inaccesible, lo
que con frecuencia constituye un ideal inconsciente al que tiende el niño
intelectualmente deficiente. La diferencia de edad más común en los agrupamientos
sociales libres de niños es de tres - cuatro años. Estos dos parecen repetir la misma
regularidad que existe también con respeto a la diferencia de desarrollo intelectual en
el niño normal19.
No decorrer do trabalho, foi necessário efetuar algumas combinações com todos os
alunos, referentes ao desenvolvimento da proposta. Em algumas dessas situações, as alunas
Esmeralda e Ametista tentaram não cumprir algumas das combinações, cabendo-me, ao
perceber tais tentativas, intervir. Os excertos a seguir demonstram esta situação:
Pesquisadora: — Vamos fazer um acordo? Nenhuma das alunas respondeu, apenas
trocaram olhares.
Esmeralda: — Que acordo? Pesquisadora: — O acordo é o seguinte: dizer só: acho, bom, gostei sobre as atividades
não vale. Tem que explicar, certo?
Ametista: — Explicar???
Pesquisadora: — Sim. Dizer com tuas palavras o que aconteceu. A regra vale para
todos, para todos!
Esmeralda: — Tá.
Ametista: — Tá. (INTERVENÇÃO 1)
Pesquisadora: — Meninas, computadores ligados, certo? Mas, antes de iniciarmos as
atividades de hoje, quero que vocês relatem o nosso encontro passado. Pode ser? Ametista: — Relatar???
18 As coletividades compostas por crianças com diferentes níveis de retardo são as mais frequentes, estáveis e
duradouras. Um dos procedimentos tradicionais de nossa prática pedagógica é o medo de completar, selecionar os
grupos escolares de acordo com o nível de desenvolvimento mental. Supõe-se que as crianças com o mesmo nível
de retardo formam as melhores coletividades. A investigação mostra que, se são deixados atuar livremente, as
crianças com retardo nunca se agrupam de acordo com essa lei. Mais exatamente, sempre a infringem. Ao analisar os dados obtidos, disse o autor, só é possível chegar a uma conclusão: as combinações sociais mais desejáveis,
aquelas que as crianças recorrem com maior frequência, são as formadas pelo idiota e o imbecil, o imbecil e o
deficiente de grau profundo. 19 Na relação social é produzida uma espécie de serviço mútuo. O que é intelectualmente mais dotado adquire a
possibilidade de compartilhar sua atividade social com o que é menos dotado e ativo. Este último, por sua vez,
extrai da comunicação social com aquele mais ativo aquilo que ainda o é inacessível, o que com frequência
constitui um ideal inconsciente ao que tende a criança intelectualmente deficiente. A diferença de idade mais
comum nos agrupamentos sociais livres de crianças é de três - quatro anos. Estes dados parecem se repetir com a
mesma regularidade também com respeito a diferencia de desenvolvimento intelectual na criança normal.
115
Pesquisadora: — Relatar é dizer como foi, o que fizemos. Ou melhor, o que vocês
lembram, o que a gente fez?
Ametista: — Não quero.
Pesquisadora: — Querida, isso faz parte de nosso trabalho, é uma de nossas
combinações... E será cumprido por todos!
Esmeralda: — Tá.
Pesquisadora: — O que vocês falarem eu vou escrever no quadro, certo? Podemos
começar?
Esmeralda: — Pode.
Ametista: —Tá bem! Pode. (INTERVENÇÃO 2)
A DI não pode ser justificativa para permissão de quebra de acordos. Os alunos
precisam ser lembrados das combinações realizadas coletivamente na sala de aula: permitir que
os estudantes com DI não as cumpram seria prejudicar o seu processo educativo. O trabalho de
Selau, Hammes e Damiani (2015) aponta para o fato de que o tratamento desigual, gerado pelo
preconceito, pode interferir negativamente no processo de aprendizagem dos deficientes e, em
alguns casos, até mesmo ferir seus direitos humanos.
Finalizo a avaliação das aprendizagens a partir da intervenção apresentando os dados
referentes à reaplicação da avaliação e do parecer descritivo para as estudantes. Na avaliação
aplicada antes da intervenção, a aluna Esmeralda acertou 4 (quatro) e Ametista 6 (seis) das 15
(quinze) questões propostas. Ao término da intervenção, esse quantitativo aumentou:
Esmeralda acertou 10 (dez) questões e Ametista chegou a 13 (treze) acertos. O parecer do
terceiro e último trimestre (ANEXO D) das alunas referente aos números racionais também se
alterou, constando agora que:
Esmeralda, na disciplina de Matemática, parece estar mais atenta. Questiona durante
a realização das atividades. Em relação ao conteúdo de frações (números racionais)
parece ter compreendido os conceitos básicos, o que é fundamental para entendimento deste conjunto numérico. (PARECER DO TERCEIRO TRIMESTRE)
De acordo com o parecer da professora, (ANEXO E): “Ametista conseguiu
compreender as noções básicas referentes a esse conjunto numérico, o que facilitará a
aprendizagem dos demais conteúdos deste conjunto”. Acredito que a análise dos resultados
deixa claro que as alunas conseguiram internalizar adequadamente os conteúdos desenvolvidos.
Como efeito da intervenção, ficou evidente que as alunas com DI passaram a perceber
a importância da matemática no seu cotidiano, desprendendo-se da ideia de que se constitui em
um conhecimento difícil. Perceberam que a matemática é uma atividade socialmente definida,
assim como explicita Dunn (1997, p. 09): “O modo como as crianças abordam problemas
matemáticos depende crucialmente de como elas definem e respondem à situação na qual estes
116
são apresentados”. Nesse sentido, as alunas com DI evidenciaram grande interesse em seu
conhecimento em situações fora da escola e as aprendizagens escolares.
5.2.2.1 Considerações frente à proposta de intervenção: o olhar dos envolvidos no processo
Com o objetivo de avaliar a proposta, foi solicitado aos envolvidos que respondessem
como perceberam, no contexto escolar, a intervenção por mim realizada. Início com os
pareceres das profissionais da escola sobre o processo vivenciado. De acordo com eles, a
proposta justificou-se a partir de algumas considerações, sendo elas: em primeiro lugar, o
caráter mobilizador/motivador que a proposta trouxe ao ambiente escolar. Marta avaliou: “Ele
se sente estimulado, se pega resolvendo as atividades, pode não ser no mesmo nível dos outros,
mas se pega sabendo contar, mostra para os outros colegas que ele também domina”
(ENTREVISTA 1). Graça destacou: “Por meio do jogo, sente- se participando das aulas, isso é
algo muito bom. Dá confiança ao aluno, bem como possibilita a realização das atividades em
diferentes espaços” (ENTREVISTA 3).
Em segundo lugar, pelo novo olhar docente direcionado às alunas com DI e,
consequentemente, aos sujeitos com deficiência no contexto escolar. Para Débora, foi possível
“(...) novos olhares sobre o processo de aprendizagem dos alunos com deficiência”
(ENTREVISTA 2). Káthia indicou: “Eu nunca tinha pensando em usar a tecnologia com o 6º
ano, e principalmente com estas alunas, porque pensava que não entenderiam” (ENTREVISTA
6).
Em terceiro lugar, pela apropriação de dois espaços no contexto escolar, até então
pouco explorados: o Laboratório de Informática e o uso da Quadra Poliesportiva. A professora
Lis, comenta o uso da quadra poliesportiva nos momentos iniciais, denominados no relatório
como Momentos de Acolhida: “Que legal! A princípio, só via a quadra para realização da
Educação Física ou brincadeiras de rodas com os pequenos” (ENTREVISTA 4).
Para Graça, a “tomada” do Laboratório de Informática como um espaço pedagógico
apontou “(...) novas alternativas metodológicas para trabalhar com os alunos com deficiência e
pode ser um caminho efetivo para auxiliar o processo de inclusão” (ENTREVISTA 3). De
acordo com Débora,
A atividade que desenvolveste no Laboratório contribuiu para uma nova visualização
e interação professor/aluno, pois trouxe a tecnologia para dentro do ensino de
matemática, motivando o aluno pelos conteúdos trabalhados, deixando a forma
tradicional e possibilitando novos caminhos para o aprendizado. (ENTREVISTA 2)
117
Lis considerou que esse procedimento apresentou um novo aspecto à prática
pedagógica – o trabalho coletivo. Segundo ela, “(...) o trabalho coletivo, que vi os alunos
fazerem contigo, deveria ser feito também por nós professores em nossos planejamentos”
(ENTREVISTA 4). Pode-se depreender dessa afirmação que há percepção da necessidade de
mudança dos processos pedagógicos e valorização do planejamento coletivo como forma de
qualificar a prática docente. Nesta nova concepção de aprendizagem, Lis comentou:
(...) se o aluno estava com dificuldade de fazer alguma coisa, ele senta com outro e
começa a ver como aquele faz para resolver, e aí ajuda ou resolve a tarefa; se tem
dificuldade ao pronunciar determinada palavra, eles ouvem o outro e conseguem
pronunciar com clareza. (ENTREVISTA 4)
E acrescentou: “O desenvolvimento não tem que ocorrer somente na questão dos
conteúdos, das tarefas da escola. Pode ser também das coisas da vida, das coisas boas”
(ENTREVISTA 4). Isso, conforme ela enfatizou, demonstra a importância dos pares para a
internalização de conhecimentos. O trabalho colaborativo entre os pares tem, como base, o
referencial histórico-cultural, em que “(...) o mais adiantado ajuda o colega menos adiantado na
realização das tarefas” (PLETSCH, 2009, p. 150). Este procedimento foi apontado como
positivo para esses alunos de acordo com Káthia, pois:
Com os colegas, ela procede diferente. Pede minha autorização para sentar com os
colegas em quem confia e busca realizar a tarefa. Ela sempre pergunta como podem
juntos resolver o exercício. Quando está junto a algum colega, observa atentamente
como o mesmo procede para realização da tarefa. Acho bem interessante a atenção
dela, quando está acompanhada de outro aluno. (ENTREVISTA 6)
Para Lis, “(...) o trabalho é bem importante. Ele já deu um alerta na escola”
(ENTREVISTA 4). Ela destacou a importância do trabalho realizado, sinalizando que o uso das
tecnologias pode ser incorporado às práticas pedagógicas desenvolvidas no espaço escolar.
Ana, ao avaliar o trabalho desenvolvido, comentou: “A escola, ela “grita” por algo mais claro
para que ela consiga trabalhar de forma mais eficiente, mais definitiva e proveitosa com este
aluno” (ENTREVISTA 5). Salientando a necessidade de buscar novas alternativas para o
trabalho junto aos alunos; o enfoque foi o aluno com deficiência, mas os demais alunos também
“ganham” com a mudança das práticas pedagógicas e reiterou:
A intervenção possibilitou novos conhecimentos ao grupo de professores, pois, ele
(professor) ainda sente que precisa estar se alimentando de conhecimento para o
trabalho que deseja desenvolver com este aluno como afirma. Ao efetivares uma nova
118
prática pedagógica e socializá-la junto aos teus pares. Este conhecimento foi
disponibilizado e novas perspectivas apontadas. (ENTREVISTA 5)
De acordo com Esmeralda e Ametista (APÊNCICE J), a proposta foi boa, pois
apresentou um novo jeito de aprender o conteúdo. Para Ametista “Ficou mais fácil. Porque tu
fez as atividades que a gente faz lá, só que de um jeito mais divertido”. Esmeralda
complementou: “Assim é bom de aprender. Aula assim não cansa”. “Jogar é bom. É outro jeito
de fazer”. A palavra “jeito”, enfatizada pelas alunas durante a intervenção, chamou muito minha
atenção. Ao utilizarem a mesma com frequência me fizeram pensar que o tal jeito era a forma
como o processo de ensino havia ocorrido, ou melhor, o instrumento de mediação escolhido
para aprendizagem. Posso inferir, assim, que o mesmo foi um motivador neste processo.
Para as alunas, essa metodologia, dentre os inúmeros “ganhos”, propiciou visibilidade
às mesmas dentro do contexto escolar e confiança na sua própria capacidade de aprendizagem.
Tais evidências estão presentes nas afirmações das alunas. Esmeralda expressou: “Eu ensinei
para a turma do Pré a música dos Escravos de Jó. Eles gostaram, e eu também. Eu não esqueci”
(INTERVENÇÃO 6). Ametista revelou: “Eu gostei de iniciar a brincadeira... É bom saber
explicar como se faz!” (INTERVENÇÃO 6).
A aluna Esmeralda ficou satisfeita por sentir-se importante no âmbito escolar, pela
atividade desenvolvida junto à turma da Pré-Escola. A satisfação relaciona-se ao fato de ter
ensinado. Ensinar para a aluna mostra uma nova condição naquele espaço, ela conseguiu
efetivar uma aprendizagem ao lembrar-se da música. Ametista enfatizou a satisfação em poder
liderar uma atividade e ser reconhecida pelo seu saber. Ressalto que, no decorrer da intervenção,
expressões como: “É difícil!”, “Não sei!”, foram substituídas por “Eu consegui!”
(ESMERALDA, INTERVENÇÃO 7), “Não tem problema errar, né?” (AMETISTA,
INTERVENÇÃO 8) o que me causou uma grande satisfação e a certeza acerca da escolha da
proposta. Assim, acredito que o trabalho salientou a importância de possibilitar aos alunos com
deficiência diferentes experiências pedagógicas que visem ao desenvolvimento de suas
capacidades, ou como afirma o teórico que norteia este trabalho: o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores não poderá ocorrer se as práticas pedagógicas estiverem atreladas à
incapacidade desses alunos de aprenderem.
Outro significativo efeito da intervenção está relacionado ao reconhecimento dos
profissionais da necessidade de imediata mudança da prática pedagógica escolar, abrangendo a
todos os estudantes e não somente aqueles com deficiência. Nesse sentido, urge o envolvimento
pessoal do professor em relação à singularidade de seus alunos e à própria tarefa de ensinar.
119
Assim, outro efeito identificado está relacionado ao pressuposto de que todos os alunos
têm direito à educação e que todos podem aprender. Esse é um entendimento fundamental para
que ocorra efetivamente o processo de inclusão social e escolar preconizado pelos direitos
humanos. Verifiquei, também, que a acolhida fruiu como atitude inovadora, ocupando os
diferentes espaços, provocando reflexões e questionamentos entre os profissionais da escola
quanto às práticas pedagógicas adotadas. Instalou-se, desse modo, entre professores e gestores,
o desejo de mudar e transformar a proposta educativa vigente na instituição, superando o inerte
procedimento de adaptar-se à deficiência que valorizava o simples treinamento das funções
sensoriais e motoras, passando a vislumbrar a possibilidade de atuar para o desenvolvimento
das funções cognitivas.
Como decorrência dessa perspectiva inovadora, outro efeito importante começou a ser
construído: a consciência de que o professor precisa investir em sua formação de forma
contínua, conhecendo teorias que expliquem os processos de ensinar e aprender, as bases do
trabalho colaborativo, os estudos sobre vias colaterais, dentre outras.
Registro, ainda, algumas alternativas que poderão contribuir para o aperfeiçoamento
de outras intervenções, tais como: ampliar e sistematizar o horário destinado à prática
intervencionista; diversificar as atividades componentes do jogo; manter parceria entre os
diversos profissionais da escola com a professora da sala regular, dando continuidade à
pesquisa-intervenção, reorganizando o Projeto Político-Pedagógico e as atividades do
Laboratório de Informática.
120
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Relatório Crítico-Reflexivo é resultado de pesquisa que teve como objetivo
planejar e implementar uma proposta interventiva para formação de conceitos científicos, por
meio da inserção de um jogo educacional digital de Matemática, abordando o conjunto dos
números racionais, procurando avaliar se a utilização de tal recurso colaboraria com o
aprendizado de estudantes com deficiência intelectual - DI.
Neste estudo, enfatizo a abordagem metodológica da pesquisa intervencionista do tipo
pedagógica, na qual o pesquisador deve planejar e intervir, com a intenção de produzir avanços
nos espaços onde atua e, posteriormente, avaliar os efeitos decorrentes de sua ação.
Os sujeitos-foco da pesquisa foram duas alunas, cursando o 6º ano da Escola Municipal
de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”, na cidade de Pelotas (RS). O método de
intervenção teve, como eixo mobilizador, a inserção do jogo educacional digital denominado
Frações no Scratch. A intencionalidade primeira do uso desse software foi o de ampliar a
utilização de mídias no espaço escolar, permitindo a comunicação, o compartilhamento e a
sistematização de conhecimento entre professores, alunos e demais sujeitos da comunidade
escolar. Considero que essa intencionalidade mobilizou estudantes e profissionais, valorizando
o laboratório de informática para as atividades escolares cotidianas e para o desenvolvimento
de habilidades diversas. As considerações, a seguir, estão organizadas a partir das categorias de
análise estabelecidas, após a análise dos dados obtidos.
A avaliação da intervenção pretendeu descrever minuciosamente os instrumentos de
coleta e análise de dados, o que me possibilitou a construção de um novo conhecimento
relacionado ao processo de ensino-aprendizagem de uma abordagem significativa da
matemática, assim como me proporcionou importantes momentos de partilha com alunos,
professores e gestores.
Realizadas essas considerações gerais, passo a apresentar as considerações finais
relativas às categorias organizadas de acordo com os achados da pesquisa.
A primeira categoria – Pensamento dos professores sobre Educação Inclusiva na
escola – deu origem à subcategoria “Importância do estudo sobre inclusão/escola inclusiva”.
Nessa direção, ficou evidente o ressignificado da visão de educação inclusiva, bem como a
instalação de um novo modo de perceber o direito de todos à educação. Os sujeitos da escola
entendem que a inclusão como responsabilidade de todos,um movimento alicerçado no
paradigma que associa igualdade e diferença rumo à equidade social e escolar. Há fortes
121
indicíos de que a escola se encaminha para reafirmar o direito de todos à educação, sem
qualquer tipo de discriminação ou obstáculo.
Quanto à subcategoria “Deficiência e inclusão: a perspectiva dos professores”, ficou
evidente uma situação contraditória entre o entendimento de que a inclusão de pessoas com
deficiência é indiscutível. Apontam, no entanto, muitas questões, consideradas como grandes
obstáculos a superar. Parece predominar um sentimento de comiseração, quando afloram
sentimentos de “pena”, percebido por mim como um sentimento que não está adequado ao
trabalho pedagógico inclusivo. Essa compreensão pode implicar na limitação de experiências
dirigidas aos alunos com deficiência, na superproteção ou na postura de superioridade do
professor para com esses estudantes. Mesmo diante dessas situações, verifiquei a intenção dos
docentes de inovar suas práticas, pretendendo produzir melhores resultados de aprendizagem e
encontrar novos rumos para a inclusão de alunos com deficiência. As entrevistadas
demonstraram concordar, de forma unânime, com a inclusão desses sujeitos, ainda que se
encontrem divididas entre o desejo de promover a inclusão e o reconhecimento do processo no
ambiente escolar. Destacaram, também, que o processo de inclusão de alunos com deficiência
poderá se construir em um espaço de acolhimento à diversidade e à diferença pelos estudantes
declarados como “normais”.
A terceira subcategoria denominou-se “Deficiência intelectual: caracterização e
aprendizagem”, em que foi possível observar que a compreensão/conceituação de deficiência
intelectual, ainda, não está satisfatoriamente construída pelos profissionais, situando-a somente
em relação ao tempo diferente dos alunos DI para a aprendizagem, estabelecendo comparação
entre a aprendizagem dos alunos “normais” e aqueles com deficiência intelectual. Há ênfase à
memorização e à limitação para a aprendizagem. Verifiquei forte tendência em considerar as
classes homogêneas. Esse modo de compreender a deficiência intelectual provoca equívocos e
inadequações na efetivação do trabalho pedagógico. O significado de inclusão precisa ser
revisitado pelos professores e a proposta inclusivista precisa voltar sua atenção para todos os
alunos indistintamente, acreditando que cada ser humano é único e que todos têm capacidade
para aprender. Foi possível concluir que alguns professores defendem o papel do docente como
mediador do processo de aprendizagem dos alunos como condição indispensável à efetiva
aprendizagem do aluno com DI.
Em outra categoria, analisei o “Aluno com deficiência intelectual no contexto escolar:
relacionamento e mediação”. As entrevistadas consideraram que o relacionamento entre os
alunos – “normais” e com deficiência – é mais fácil na infância, quando as crianças estão
despidas de preconceitos. Essa realidade se altera e, à medida que os alunos crescem, a
122
convivência se torna mais difícil. É importante considerar que os adolescentes percebem as
diferenças entre os alunos e precisam aprender a respeitá-las. Os professores reconhecem a
importância da mediação do conhecimento, o que proporcionará ao aluno a construção de
conceitos e o relacionamento com o mundo através de ferramentas e signos proporcionados
pela ação pedagógica.
A quinta subcategoria refere-se às “Condições pedagógicas no contexto da inclusão”.
Os professores concordaram com a necessidade de implantação de uma prática pedagógica que
atenda, efetivamente, à realidade de cada aluno. Para tanto, indicaram algumas condições, ainda
inexistentes na instituição escolar: disponibilidade de carga horária dos profissionais destinada
ao planejamento do trabalho; alocação de recursos financeiros, de modo a viabilizar materiais
pedagógicos; apoio pedagógico por parte de profissionais especializados; auxílio de cuidadores
e professores auxiliares; revisão da quantidade de conteúdos elencados para cada ano escolar.
As entrevistadas apontam para a revisão do processo avaliativo da aprendizagem dos alunos
com DI, permitindo que professor e alunos conheçam o processo de aprendizagem realizado e
que as informações sirvam para o planejamento de estratégias que atendam às necessidades de
aprendizagem. Esse intento implica reorganização do sistema avaliativo da escola, rompendo
com o modelo tradicional da aula expositiva, da repetição, da resposta única.
Demonstraram desejo de mudar a prática, sem, no entanto, assumirem corajosamente
a transformação premente, investindo em amplos estudos a respeito do processo de
aprendizagem. Atribuíram à SRMF importante possibilidade educativa, valorizando a
existência desse espaço na escola. Contudo, destacaram que o encaminhamento desse aluno
para a SRMF pode marcar o estudante como “diferente”, podendo contribuir para a exclusão.
Em geral, as entrevistadas apontaram para a necessidade de reestruturação dos currículos de
formação de professores, os quais devem incluir abordagens relativas à inclusão e ao
atendimento ao aluno com deficiência. A ação docente tem, ainda, a característica empírica.
Destacaram a importância da formação continuada que proporcione sustentação teórica a
respeito do tema. A pesquisa revelou a insuficiente preparação dos professores, a fim de
efetivarem o processo de inclusão social/escolar.
Foi reafirmada a necessidade de urgente mudança na prática pedagógica, a qual deve
se assentar em consistentes referenciais teóricos. A inovação da prática deverá permitir a
construção de conceitos previstos no currículo escolar. Ainda que não totalmente configurado,
permeou a fala das educadoras a ideia de um novo paradigma que sustente o processo de ensino-
aprendizagem do aluno com deficiência. O acesso à aprendizagem é incontestável e precisa ir
além da memorização e da repetição. Considero que a aprendizagem do estudante com
123
deficiência deve ocorrer com base na zona de desenvolvimento proximal ou potencial (ZDP),
efetivada de forma espiralar e levando em conta as possibilidades de desenvolvimento da pessoa
com deficiência, superando a prática pautada no déficit do sujeito. Por fim, sugiro que os
estudos sobre Educação Especial e Educação Inclusiva, incluam o estudo do pensamento dos
professores sobre estes processos, pois, a maneira como pensam estes profissionais interfere
no desenvolvimento do trabalho pedagógico. Saliento que, neste trabalho isso foi realizado por
meio da análise das entrevistas realizadas.
A segunda categoria de análise – Efeitos da intervenção no processo de
aprendizagem do aluno com DI – compõe-se por duas subcategorias: “Acolhida como ponto
de partida” e “Frações no Scratch: aprendizagens a partir da intervenção”. Esta subcategoria
subdivide-se em “Considerações frente à proposta de intervenção: o olhar dos envolvidos no
processo”.
Os objetivos previstos para o momento da acolhida foram satisfatoriamente atingidos.
Estabeleci, de imediato, vínculos com as alunas com DI, confirmando o pressuposto defendido
por Vygotski que considera o aspecto emocional tão importante quanto outros aspectos e deverá
merecer a atenção dos educadores nas mesmas proporções observadas em relação à inteligência
e à vontade dos sujeitos. Mantive, ao longo dos encontros, atitude de acolhida e demonstrei
interesse em conhecer outros momentos da vida das alunas, abrindo espaço para que elas
compartilhassem experiências. A interação foi condição fundamental para o êxito da
intervenção.
Outro objetivo definido para o momento da acolhida referiu-se ao despertar do
interesse das alunas pela abordagem relativa às frações. Procurei desenvolver atividades lúdicas
no desenvolvimento da aprendizagem, o que agradou imensamente as alunas, as quais se
mostraram descontraídas, participativas, estimuladas, protagonistas de seu aprendizado. Afirmo
que as relações afetivas, presentes no processo ensino-aprendizagem, aproximaram as alunas
do conhecimento, conforme afirma Vygotski (1995): as relações afetivas proporcionam o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
Destaco que as interações entre os participantes da pesquisa-intervenção estiveram
carregadas de sentimentos e emoções, permitindo que aspectos metodológicos e relações
interpessoais positivas se interinfluenciassem e se determinassem mutuamente.
A segunda subcategoria – “Frações no Scratch: aprendizagens a partir da intervenção”
– comportou, primeiramente, a necessidade de averiguar o conhecimento que as alunas com DI
possuíam acerca de números racionais, ou seja, as aprendizagens realizadas no período anterior
à intervenção. Conclui que as duas alunas não tinham construído o conceito científico sobre
124
fração. Encontravam-se no período dos conceitos espontâneos, o que ficou evidenciado pelo
nexo vago, subjetivo e orientado pela percepção, além dos registros dos pareceres avaliativos
emitidos pelos professores. A partir de então, organizei a proposta de intervenção, cujas
atividades se distanciavam da metodologia desenvolvida pela professora da classe regular. As
práticas de intervenção se caracterizaram por situações compartilhadas e pela utilização do
jogo, objetivando incidir na Zona de Desenvolvimento Potencial.
Nesse sentido, enfatizei, durante os encontros no laboratório de informática,
diversificadas atividades, que envolviam os conteúdos trabalhados pela professora responsável
pela disciplina de matemática, tais como: representação, leitura de frações, termos e operações.
Assim, o procedimento de tomada de consciência das aprendizagens efetivadas ocorreu por
meio das ações desenvolvidas pelas alunas durante a realização do jogo. Para contribuir com o
estudo, utilizei diversos autores, os quais ajudaram a embasar as discussões, análises e
subsidiaram os encontros.
Como o objetivo principal da pesquisa foi a formação de conceitos científicos,
seguindo a teoria de Vygotski com alunos com DI, por meio de um jogo, conclui, baseada nas
observações e transcrições dos diálogos realizados por mim, alunas com DI e demais alunos
durante a execução do jogo, que esse objetivo foi cumprido. Esta conclusão está relacionada
aos resultados das avaliações da disciplina de matemática e pareceres trimestrais
disponibilizados pela escola. O fato de trabalharem de forma colaborativa também contribuiu
neste processo.
Avalio que os dados obtidos por meio de observações, entrevistas semiestruturadas e
análise documental permitiram-me perceber a construção de conceitos científicos que
envolveram a representação de quantidades intensivas (razões e frações); a compreensão da
representação de quantidades por razões ou frações; conexões entre a linguagem de frações e
de razões.
Os estudos de Vygotski me proporcionaram relevantes elucidações sobre a formação
de conceitos. Ressalto que as alunas com DI e os alunos participantes dos encontros de
intervenção revelaram interesse na organização das informações sobre frações, agindo no
sentido de organizarem as informações que internalizaram, entendendo esse processo como
uma condição inarredável para compartilharem da cultura de seu grupo de colegas.
Nessa direção, o estudo sobre frações permitiu que as alunas com DI desenvolvessem
uma “teoria de mundo”, tentado compreender seu funcionamento a partir dos conceitos
científicos construídos. Coube à escola, por meio da intervenção deste projeto, refletir a respeito
de sua proposta educativa no que tange à construção de conceitos científicos por seus alunos.
125
Essa visão inovadora se expandiu junto aos gestores e docentes da escola, que passaram a
perceber a urgência de ressignificar suas práticas educativo-pedagógicas.
Destaco que, no processo de construção de conceitos científicos, alguns pressupostos
já se impuseram no espaço escolar, tais como:
— a percepção e a linguagem são condições indispensáveis na formação de conceitos;
— a formação de conceitos tem início na infância e progride no decorrer de outras
etapas da vida;
— a construção de conceitos caracteriza-se como um processo complexo, no qual
todas as funções intelectuais são ativadas, e não somente a memória;
Esses entendimentos estão se constituindo como desafios à escola e ao processo de
inclusão de alunos com deficiência intelectual.
A área da matemática, de modo geral, se caracteriza como ponto de estrangulamento
no processo de progressão escolar. Essa realidade acentua-se quando se trata da aprendizagem
de alunos com deficiência intelectual. Identifiquei a necessidade de que a escola, através de
reflexões profundas de seus profissionais, reconheça que a atividade em sala de aula, conforme
apontam Nunes et al. (2005, p. 10), “(...) envolve simultaneamente dois processos de ensino-
aprendizagem: um relacionado à aprendizagem do aluno e o outro relacionado à aprendizagem
do professor”. Assim, os resultados não satisfatórios em matemática precisam ser vistos,
também, sob a ótica da aprendizagem do professor, o qual deve entender que seus
conhecimentos e suas práticas não se apresentam como soluções permanentes para o ensino. A
instituição escolar e seus professores têm de reanalisar continuamente, em razão dos avanços
das ciências, suas propostas e práticas educativas. Ficou instaurado, pois, esse desafio para a
escola no sentido de substituir o modismo pela inovação científica.
Outro aspecto a considerar na conclusão deste projeto de pesquisa-intervenção está
associado ao conceito de inteligência, tradicionalmente entendida como um dom, uma
determinação genética. Essa visão vem sendo questionada e substituída pelos estudos de
pesquisadores como Vygotski por meio da teoria histórico-cultural, fonte orientadora deste
trabalho. Nessa compreensão, a ação educativa assume papel fundamental no desenvolvimento
do aluno, possibilitando-lhe utilizar instrumentos culturalmente disponíveis e que servem para
ampliar e sistematizar suas habilidades cognitivas e sociais. Esse pressuposto foi amplamente
verificado no decorrer da intervenção, o que deverá servir como base para novas experiências
matemáticas.
A formação de conceitos foi aspecto crucial no desenvolvimento da intervenção, sendo
que a opção por trabalhar em grupos se mostrou como uma estratégia exitosa no processo de
126
aprendizagem das alunas com DI, confirmando a premissa defendida por Vygotski de que as
atividades colaborativas oferecem vantagens indisponíveis em ambientes individualizados, pois
os aprendizados dos sujeitos e de seus processos de pensamento ocorrem mediados pelas
relações interativas.
Os profissionais da escola avaliaram a proposta de intervenção e consideraram positivo
o caráter mobilizador/motivador que a mesma trouxe ao ambiente escolar. Alguns entrevistados
entenderam que os alunos se sentiram estimulados para a aprendizagem e que, por meio do
jogo, participaram efetivamente das aulas, o que evidenciou a confiança adquirida pelos
estudantes com DI. Passaram os professores a acreditar nas possibilidades de aprendizagem das
alunas com DI, destacando a importância e validade do uso de tecnologias naquele processo.
Enfatizaram que o espaço de construção de conhecimento não se restringe à sala de aula formal:
reconhecem a Sala de Recursos Multifuncionais, o Laboratório de Informática e a Quadra
Poliesportiva como espaços pedagógicos de muita validade.
Afirmaram que a intervenção proposta apresentou um novo aspecto à prática
pedagógica – o trabalho colaborativo, o qual contribui para o desenvolvimento de habilidades
afetivas e sociais, verificando-se o apoio dispensado por um aluno a outro colega na realização
de tarefas.
Entenderam que a intervenção proporcionou um novo olhar dos docentes para com as
alunas com DI e, consequentemente, para todos os sujeitos com deficiência da instituição. Os
profissionais perceberam que a escola se encontra em “estado de alerta” para a reinvenção da
prática pedagógica e que o uso de tecnologias digitais deverá ser incorporado ao cotidiano das
salas de aula como significativa alternativa de trabalho escolar.
As alunas também apresentaram suas avaliações em relação à proposta de intervenção.
Referem que a forma de mediação proporcionada para a aprendizagem se mostrou mais fácil,
mais divertida, mais prazerosa, menos cansativa. A internalização do conhecimento, decorrente
dessa metodologia, permitiu maior visibilidade às alunas com DI no contexto escolar, assim
como o desenvolvimento da confiança em suas capacidades de aprendizagem.
Ressalto, ainda, o evidente fortalecimento da compreensão de que todos os alunos têm
direito à educação e que a escola precisa encontrar alternativas de intervenção que lhes
garantam esse direito. Cabe à escola ampliar o processo de inclusão escolar/social,
independentemente da condição pessoal de cada estudante.
Como foi uma proposta inovadora, que ora relato, tenho a expectativa de que esta
experiência possa servir de reflexão aos colegas quanto à necessidade de se repensar as práticas
127
pedagógicas direcionadas aos alunos com DI, como também mostrar que todos, no contexto
escolar, podem aprender.
Sugiro, ainda, que a universidade, como agência formadora de profissionais da
educação, reavalie seus currículos e incentive a realização de experiências inovadoras,
proporcionando crescentes oportunidades de inclusão em todos os níveis escolares. Destaco que
os estudos no Mestrado e a organização desta proposta de intervenção constituíram-se em duas
enriquecedoras experiências pessoais e profissionais, fortalecendo e ampliando minhas
referências teóricas para a efetivação de uma escola inclusiva.
128
REFERÊNCIAS
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327 f. Tese (Doutorado em Psicologia) — Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação,
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ALVAREZ, Maria Esmeralda B. Organização, sistemas e métodos. São Paulo: McGraw Hill,
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139
APÊNDICES
APÊNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido escola
Solicito à direção da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim
Assumpção” autorização para realização da pesquisa e utilização das imagens (fotos) do prédio
da referida Instituição Escolar na pesquisa intitulada “O Jogo Digital como Recurso Pedagógico
na Aprendizagem de Alunos com Deficiência Intelectual”, sob responsabilidade da professora
Sastria de Paula Rodrigues e com orientação do professor Dr. Bento Selau da Silva Júnior, do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Pampa-UNIPAMPA.
Comprometo-me a seguir as normas e rotinas da escola, zelar pelo sigilo ético dos
depoentes e dados obtidos da pesquisa. Haverá o compromisso de divulgação dos dados obtidos
apenas em reuniões e publicações científicas com sigilo e resguardo ético da Instituição.
Informo que a pesquisa será realizada com dois sujeitos com Deficiência Intelectual
do Ensino Fundamental de Nove Anos e que pais e alunos estão cientes da pesquisa, dos quais
obtive autorização para a coleta de dados.
Pelotas, agosto de 2016.
__________________________________ __________________________
Sastria de Paula Rodrigues Leda Pistolleti Dias
Responsável pela Pesquisa Diretora da Escola
140
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
Título do projeto: O Jogo Digital como Recurso Pedagógico na Aprendizagem de
Alunos com Deficiência Intelectual
Pesquisador responsável: Sastria de Paula Rodrigues
Pesquisadores participantes: Bento Selau da Silva Jr. e Sastria de Paula Rodrigues
Instituição: Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA
Telefone celular do pesquisador para contato: (53)84132164 (53)84264190. Serão
aceitas ligações a cobrar.
E-mail: [email protected]
Senhor (a)!
Seu filho (a), ........................, está sendo convidado (a) para participar, como
voluntário(a), na pesquisa “O Jogo Digital como Recurso Pedagógico na Aprendizagem de
Alunos com Deficiência Intelectual”. Esta pesquisa é desenvolvida no Curso de Mestrado
Profissional em Educação da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – Câmpus
Jaguarão, na linha de pesquisa “Gestão das Práticas Docentes na Diversidade Cultural e
Territorial”, que tem, por objetivo, analisar como a inserção de Tecnologias da Informação e
Comunicação – TIC –, mais especificamente jogos digitais, podem qualificar o processo de
aprendizagem de alunos com deficiência intelectual, procurando avaliar se a utilização dessas
facilita a aprendizagem dos conteúdos da área de Matemática.
A pesquisa justifica-se pela necessidade de se pensar/inserir novos procedimentos
metodológicos na prática pedagógica da área de Matemática, nos anos finais do Ensino
Fundamental da Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção” para alunos com deficiência
intelectual, visando a sua plena inclusão no contexto escolar, além de despertar, na comunidade
docente, o potencial pedagógico presente nas TIC.
A base teórica da referida pesquisa encontra-se nos estudos de Lev Semyonovich
Vygotski, referentes à Teoria Histórico-Cultural, com ênfase nos Fundamentos da Defectologia,
que propõe o uso de vias alternativas de desenvolvimento para pessoas com deficiência,
procurando avaliar se a utilização destas facilita a aprendizagem dos conteúdos da área de
Matemática.
Por meio deste documento e a qualquer tempo, o (a) senhor (a) poderá solicitar
esclarecimentos adicionais sobre o estudo, tanto pessoalmente como por telefone, utilizando o
número indicado pelo pesquisador, inclusive com ligações a cobrar. Também poderá retirar seu
consentimento ou interromper a participação a qualquer momento, sem sofrer nenhum tipo de
141
penalidade ou prejuízo. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de
permitir que seu (sua) filho (a) faça parte do estudo, assine, ao final deste documento, que está
em duas vias. Uma delas é sua e a outra será arquivada pela pesquisadora responsável.
A proposta de trabalho consiste na organização de 15 (quinze) encontros, que ocorrerão
semanalmente, no Laboratório de Informática da Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção”, no
turno inverso ao da sala de aula de ensino regular, com duração de 50 (cinquenta) minutos cada um,
com a presença da pesquisadora e dos alunos convidados (sujeitos participantes), os quais deverão
executar as tarefas do jogo denominado Frações no Scratch. O mesmo abordará os conteúdos de
frações desenvolvidos pela professora da sala de aula do ensino regular da disciplina de Matemática.
As atividades serão mediadas pela professora pesquisadora, que organizará o ambiente e os recursos
necessários para o desenvolvimento das tarefas.
As intervenções ocorrerão no decorrer dos encontros, visando a aprendizagem dos
referidos conteúdos. As observações realizar-se-ão durante todo o processo de desenvolvimento do
jogo. As anotações serão realizadas seguindo uma pauta de observação. A pesquisa exigirá a
presença dos participantes durante todos os encontros e o desenvolvimento das
atividades propostas pelo jogo. Para participar deste estudo, seu (sua) filho (a) não terá nenhum
custo, nem receberá qualquer vantagem financeira.
Os gastos necessários para participação na pesquisa, como passagens para seu
deslocamento e lanche, serão assumidos pela professora pesquisadora. O nome e a identidade de
seu (sua) filho (a) serão mantidos em sigilo e os dados da pesquisa serão armazenados pela
pesquisadora responsável. Os resultados poderão ser divulgados em publicações científicas,
revistas, periódicos, sites ou outra forma de divulgação.
Os resultados do referido projeto de intervenção, em seus diferentes aspectos, serão
disponibilizados no relatório crítico reflexivo e aos responsáveis pelos alunos (as), professora
de Matemática da sala de aula do ensino regular, equipe diretiva e comunidade docente da
Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção”, por meio de reuniões/encontros na própria
Instituição Escolar e previamente agendado com os interessados.
Ciente e de acordo.
_______________________
Participante da Pesquisa
142
__________________________________
Responsável pelo Participante da Pesquisa
__________________________________
Sastria de Paula Rodrigues
Pelotas, ____ de _____________ de 2016.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa
– CEP/UNIPAMPA – Campus Uruguaiana – BR 472, Km 592, Prédio Administrativo – Sala 23, CEP: 97500-970
Uruguaiana – RS. Telefone: (55) 3413 4321 - Ramal 2289 ou ligações a cobrar para 55-84541112. E-mail:
143
APÊNDICE C- Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
Título do projeto: O Jogo Digital como Recurso Pedagógico na Aprendizagem de Alunos com
Deficiência Intelectual
Pesquisador responsável: Sastria de Paula Rodrigues
Pesquisadores participantes: Prof. Dr. Bento Selau e Sastria de Paula Rodrigues
Instituição: Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA
Telefone celular do pesquisador para contato: (53) 84132164 e (53) 84264190. Serão aceitas
ligações a cobrar.
E-mail: [email protected]
Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa “O Jogo
Digital como Recurso Pedagógico na Aprendizagem de Alunos com Deficiência Intelectual”.
Neste estudo, pretendemos avaliar se o uso de um jogo educacional digital de Matemática, como
recurso pedagógico, contribui para a aprendizagem dos conceitos científicos do referido campo
curricular. O motivo que nos leva a estudar esse assunto é a necessidade de se repensar os
procedimentos pedagógicos voltados aos alunos com Deficiência Intelectual (DI) no contexto
escolar. Para este estudo, adotaremos os seguintes procedimentos: observação sistemática e
assistemática, análise documental e entrevista semiestruturada. A proposta de trabalho consiste
na organização de 15 (quinze) encontros, que ocorrerão semanalmente, no Laboratório de
Informática da Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção”, no turno inverso ao da sala de
aula de ensino regular, com duração de 50 (cinquenta) minutos cada um, com a presença da
pesquisadora e dos alunos convidados (sujeitos participantes), os quais deverão executar as
tarefas do jogo denominado Frações no Scratch.
O mesmo abordará os conteúdos de frações desenvolvidos pela professora da sala de
aula do ensino regular da disciplina de Matemática. As atividades serão mediadas pela
professora pesquisadora, que organizará o ambiente e os recursos necessários para o
desenvolvimento das tarefas. As intervenções ocorrerão no decorrer dos encontros visando a
aprendizagem dos referidos conteúdos. As observações realizar-se-ão durante todo o processo
de desenvolvimento do jogo. As anotações serão realizadas seguindo uma pauta de observação.
Para participar deste estudo, o responsável por você deverá autorizar e assinar um
termo de consentimento. Você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem
financeira. Você será esclarecido (a) em qualquer aspecto que desejar e estará livre para
participar ou recusar-se. O responsável por você poderá retirar o consentimento ou interromper
a sua participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar
144
não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido (a) pelo
pesquisador que irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Você não será
identificado em nenhuma publicação. Os resultados estarão à sua disposição, quando finalizada.
Seu nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a permissão do
responsável por você. Este termo de assentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo
que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável e a outra será fornecida a você.
Eu, ________________________________________________________, fui informado (a)
dos objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei
que a qualquer momento poderei solicitar novas informações, e o meu responsável poderá
modificar a decisão de participar, se assim o desejar. Tendo o consentimento do meu
responsável já assinado, declaro que concordo em participar deste estudo. Recebi uma cópia
deste termo de assentimento e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
___________________________ ___________________________
Assinatura do (a) menor Assinatura da pesquisadora
Pelotas, __ de agosto de 2016.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa
– CEP/UNIPAMPA – Campus Uruguaiana – BR 472, Km 592, Prédio Administrativo – Sala 23, CEP: 97500-970
Uruguaiana – RS. Telefone: (55) 3413 4321 - Ramal 2289 ou ligações a cobrar para 55-84541112. E-mail:
145
APÊNDICE D - Termo De Consentimento Livre E Esclarecido Entrevista Professores
Prezado (a) professor:
Sou discente do Programa de Mestrado Profissional em Educação da Universidade
Federal do Pampa – Câmpus Jaguarão, Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa “Gestão das
Práticas Docentes na Diversidade Cultural e Territorial”. Estou realizando uma pesquisa, sob
orientação do professor Dr. Bento Selau da Silva Jr., a qual tem, como objetivo, implementar
uma intervenção pedagógica junto a alunos com Deficiência Intelectual (DI), no Laboratório
de Informática da Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção”, Pelotas/RS, utilizando, como
recurso pedagógico, um jogo educacional digital de Matemática, procurando avaliar se o uso
dessa tecnologia, como mediadora do processo pedagógico, contribui para a aprendizagem dos
conceitos científicos do referido campo curricular.
Sua contribuição será responder a uma entrevista, que será gravada, se assim permitir,
envolvendo questões pertinentes aos alunos com Deficiência Intelectual (DI) presentes na turma
pesquisada. A participação, nesse estudo, é voluntária e, se decidir não participar ou quiser
desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.
Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida em rigoroso
sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo (a). Para colaborar com
este estudo, você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira, mas
contribuirá significativamente para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de
conhecimento científico.
Eu, ________________________________________________, fui informado (a)
sobre os objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas.
Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações. Consinto em participar deste
estudo e declaro ter recebido uma cópia deste Termo de Consentimento.
146
________________________ ___________________________
Assinatura do Professor Assinatura da Pesquisador
Pelotas, __ de agosto de 2016
___________________________________________________________________________
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UNIPAMPA – Câmpus Uruguaiana – BR 472, Km 592, Prédio Administrativo – Sala 23, CEP: 97500-970
Uruguaiana – RS. Telefone: (55) 3413 4321 - Ramal 2289 ou ligações a cobrar para 55-84541112. E-mail:
147
APÊNDICE E - Termo de consentimento livre e esclarecido entrevista diretora
Prezada diretora:
Sou discente do Programa de Mestrado Profissional em Educação da Universidade
Federal do Pampa –UNIPAMPA- Câmpus Jaguarão, do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa
“Gestão das Práticas Docentes na Diversidade Cultural e Territorial”. Estou realizando uma
pesquisa, sob orientação do professor Dr. Bento Selau da Silva Jr., a qual tem, como objetivo,
implementar uma intervenção pedagógica junto a alunos com Deficiência Intelectual (DI) no
Laboratório de Informática da Escola Municipal “Dr. Joaquim Assumpção, utilizando, como
recurso pedagógico, um jogo educacional digital de Matemática, procurando avaliar se o uso
dessa tecnologia, como mediadora do processo pedagógico, contribui para a aprendizagem dos
conceitos científicos do referido campo curricular. Sua contribuição será responder a uma
entrevista, que será gravada, se assim permitir, envolvendo questões pertinentes ao processo de
inclusão vivenciado pela escola.
A participação, nesse estudo, é voluntária e, se decidir não participar ou quiser desistir
de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo. Na publicação dos
resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas
todas as informações que permitam identificá-la. Para colaborar com este estudo, você não terá
nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira, mas contribuirá significativamente
para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.
Eu, ________________________________________________, fui informada sobre os
objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que
a qualquer momento poderei solicitar novas informações. Consinto em participar deste estudo
e declaro ter recebido uma cópia deste Termo de Consentimento.
148
______________________ ___________________________
Assinatura Diretora Assinatura Pesquisadora
Pelotas, ____ de _____________ de 2016.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa
– CEP/UNIPAMPA – Campus Uruguaiana – BR 472, Km 592, Prédio Administrativo – Sala 23, CEP: 97500-970
Uruguaiana – RS. Telefone: (55) 3413 4321 - Ramal 2289 ou ligações a cobrar para 55-84541112. E-mail:
149
APÊNDICE F - Entrevista diretora
Identificação
Sexo: ________________________________________________
Idade: ________________________________________________
Formação acadêmica: ___________________________________
Tempo de atuação no magistério: __________________________
Tempo de atuação na função de gestora (diretora): _____________
Carga-horária de trabalho: ________________________________
Data entrevista: _________________________________________
1) Como percebes a questão da inclusão escolar de alunos com deficiência na rede regular?
2) Quais as ações desenvolvidas pela equipe gestora para favorecer o processo de inclusão?
3) Quais as expectativas sobre o processo de ensino-aprendizagem deste(s) aluno(s)?
4) Descreva a relação:
-equipe gestora- família aluno deficiente;
-equipe gestora- aluno(s) deficiente(s);
-equipe gestora-professor- aluno deficiente.
- equipe gestora- aluno deficiente-aluno “normal”
5) Quando pensa no futuro dos alunos com deficiência, o que vislumbra para eles?
6) Observações e outras contribuições para a pesquisa:
150
APÊNDICE G - Entrevista professor escola
Identificação
Sexo: ____________________
Formação acadêmica: _______
Idade: ___________________
Disciplina: _______________
Tempo de atuação: _________
Carga-horária de trabalho: ___
Data entrevista: ____________
1) Qual a sua percepção sobre a Deficiência Intelectual?
2) Qual é o seu sentimento em relação à (ao) aluna (o) com Deficiência Intelectual?
3) Percebe os alunos com Deficiência Intelectual como seres com potencialidade de
aprendizagem? Justifique seu posicionamento.
4) Quando pensa no futuro dos alunos com deficiência, o que vislumbra para eles?
5) Quais as relações que estabelece entre a situação sociopolítica do país e as
possibilidades/dificuldades de alunos com deficiência?
6) Como percebe a relação do aluno com Deficiência Intelectual com os demais sujeitos da
Escola?
7) Observações e outras contribuições para a pesquisa
151
APÊNDICE H - Pauta de observação
Aluno: ..................................................................................................................
Data: ...................................
Atividade proposta: ..............................................................................................
A pauta de observação será composta pelas questões abaixo:
a) Relato do comportamento/atitudes do aluno frente às tarefas propostas.
Exemplo: interesse, envolvimento, curiosidades etc.
b) Conhecimentos utilizados pelo aluno para realização das tarefas. Exemplo:
Processo cognitivo para alcançar o objetivo do jogo.
c) Conhecimentos/habilidades que o aluno apresenta como dificuldades.
152
APÊNDICE I - Entrevista com a professora de matemática após intervenção
Dados de Identificação
Nome do aluno:
Idade:
Ano Escolar
Data:
Questões
1) Como descreve o desempenho do aluno em seu componente curricular, após a
intervenção?
2) Observou alguma mudança (comportamento, relacionamento, processo de
aprendizagem) do aluno após a intervenção?
153
APÊNDICE J - Entrevista com sujeitos da pesquisa
Dados de Identificação
Nome: __________________________
Ano: ___________________________
Data: ___________________________
Questões
1. O que achaste das atividades propostas aqui no laboratório de informática?
2. Gostaste ou não de ficar jogando durante esse tempo?
3. Nas atividades que realizaste, o que aprendeste?
4. Nas atividades que realizaste, o que não aprendeste?
5. Consideras que esse modo de aprender é bom ou ruim? Por quê?
6. Depois das atividades realizadas no laboratório de informática, ficou mais fácil
ou mais difícil realizar as atividades em sala de aula? Por quê?
154
APÊNDICE L - Relação dos conteúdos abordados no jogo frações no scratch
Apresento, aqui, os conteúdos que envolveram o jogo Frações no Scratch. É
importante salientar que os conteúdos estavam diretamente relacionados aos objetivos da
disciplina de Matemática para o 6º ano, conforme orientações da mantenedora.
Conteúdos:
— Frações (retomada do conceito de fração);
— Frações - Ideias associadas à fração (parte/todo);
— Numerador e denominador de uma fração;
— Operações com frações (adição e subtração).
155
ANEXOS
ANEXO A – Ficha de Anamnese
156
157
158
159
160
ANEXO B - Parecer Trimestral
Parecer descritivo
A aluna é assídua, gosta de participar de todas as atividades realizadas pela turma.
Locomove-se com dificuldades, mas com autonomia pelas dependências da escola. Na
disciplina de Matemática é extremamente vagarosa. Não consegue acompanhar os conteúdos,
não realiza cálculos com as quatro operações. Apresenta extrema dificuldade na compreensão
dos conteúdos que envolvem frações, não conseguindo aprender seus conceitos básicos não
atingindo os objetivos mínimos estabelecidos para o trimestre. Possui dificuldade de
concentração e apreensão dos conteúdos, tem um comportamento ansioso frente as suas
dificuldades, continua esquecendo com rapidez o que foi aprendido, aparenta cansaço e certa
irritabilidade diante de suas dificuldades. Em Geografia e História apresentou uma sensível
melhora na aquisição dos conhecimentos e nas avaliações, que são realizadas em sala de aula.
O que ainda atrapalha um pouco é sua ansiedade, mas com a chegada de outra colega, começou
a fazer as atividades em dupla, o que foi muito benéfico. Na disciplina de Português a aluna é
calma, educada e prestativa. Apresenta dificuldades na pronuncia de palavras, mas se faz
entender. Possui muita dificuldade na aprendizagem apesar da grande vontade de aprender, está
escrevendo de maneira um pouco mais legível e organizada. Participa com entusiasmo das
aulas, possui dificuldades na coordenação de ideia e na articulação e verbalização dessas ideias
ao ser perguntada. Literatura busca realizar as atividades propostas demonstrando interesse e
força de vontade. Em Educação Física a aluna demonstrou empenho em participar das
atividades motoras, tendo dificuldade nas atividades de coordenação viso-motora; apresenta
bom relacionamento com os colegas, as vezes se atrapalha um pouco, mas logo corrige onde
errou e fica feliz com a própria evolução. Em Filosofia apresenta dificuldade em interpretar e
Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”
Nome do Aluno: Esmeralda
Código do aluno:
Ano/Série/Turno: A6A –manhã Trimestre: 2º Ano:2016
Dias letivos:69 Faltas:08
161
compreender o que é solicitado nas atividades, mas é muito esforçada. Deve continuar
estudando. Em Espanhol a aluna demonstra interesse e motivação na aprendizagem da
disciplina, tem um bom relacionamento com colegas e professora, mas é dispersa e não
consegue acompanhar as aulas por esse motivo. Na disciplina de Música a aluna participa de
todas as atividades práticas, mostrou interesse em aprender, fez colocações pertinentes quando
se manifestava, muito interessada. Em Artes apresentou um excelente comportamento nas
aulas, demonstrando interesse e rendimento na realização de suas atividades de desenho de
modelo vivo, desenho e aplicação das linhas, dobradura e recorte. Necessita de explicações
mais particularizadas para que desenvolva melhor o trabalho, exigindo maior atenção. Em
Ciências demonstra interesse em aprender e realizar as atividades; encontra dificuldades em
reter informações. Apresenta dificuldade na organização do conteúdo. Em Religião a aluna é
participativa e carinhosa. Realiza todas as atividades propostas com interesse. Relaciona-se bem
com colegas e professora. Mostra-se sempre solicita e disposta para as atividades.
162
ANEXO C - Parecer Trimestral
Parecer descritivo
Em Língua Espanhola, a aluna é frequente e organizado com o seu material. Tem
dificuldade de interagir com os colegas e, nas atividades em que é proposta a união dos alunos
em grupos, prefere trabalhar sozinha. Apresenta limitações na compreensão dos conteúdos
estudados, mas não reage positivamente a ajuda da professora. A aluna é assídua, colabora nas
atividades coletivas, tem um bom relacionamento com colegas e professores; consegue se
expressar oralmente, porém está mais desconcentrada e começa a emitir sinais de desinteresse
no trimestre. Na matemática escreve somente a lápis, é lenta para copiar e realizar as tarefas; se
distrai com facilidade. É desorganizada com seu material. Apresenta significativa dificuldade
de aprendizagem. Realiza todas as atividades com auxílio. Realiza cálculos com as quatro
operações, tendo mais dificuldade na multiplicação e na divisão. A aluna consegue interpretar
expressões numéricas que não sejam muito extensas, bem como problemas onde os enunciados
sejam simples. Necessita de mais auxílio na realização de cálculos com potência e em atividades
de extrair raiz quadrada. Nas atividades com os números racionais não atingiu os objetivos
mínimos estabelecidos para o trimestre. Na Educação Física participa das atividades com
interesse e respeito as regras estabelecidas, não apresenta dificuldades motoras e mostra-se
solícita com os colegas, melhorou seu rendimento/desempenho neste trimestre. Na disciplina
de Religião continua participando pouco das atividades propostas. Prefere fazer trabalhos
individuais. Distrai-se com facilidade. Nas disciplinas de História e Geografia apresentou um
progresso no interesse em realizar as atividades propostas. Tem copiado todo o conteúdo, bem
como respondido aos exercícios passados, em aula com maior quantidade de acertos nas
respostas. Em História realizou um trabalho sobre Revolução Farroupilha muito bom. Deve
continuar esforçando-se para obter bons resultados. É assídua nas aulas, melhorou
comportamento, pois está conversando menos durante as aulas. Em Música se mantém
participativa nas atividades propostas pela referida disciplina. Possui bom relacionamento com
Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Joaquim Assumpção
Nome do Aluno: Ametista
Código do aluno:
Ano/Série/Turno: A6A – manhã Trimestre: 2º Ano:2016
Dias letivos: 69 Faltas:06
163
seus colegas de turma. Apresenta boa organização das ideias por meio de suas manifestações
orais e demonstra sensibilidade diante das práticas musicais, o que pode ser percebido por meio
da sua interação com os instrumentos ou pela sua reação diante ao estímulo musical/sonoro.
Demonstra respeito aos colegas e professor. Em Artes possui bom convívio social com os
colegas e a professora. Demonstra vontade de realizar as atividades da disciplina, mas nem
sempre consegue realizá-las até o fim, desviando sua atenção para qualquer acontecimento.
Distrai-se demasiadamente com as conversas dos colegas. Não costuma levantar-se nem
movimentar-se na aula, permanecendo em seu lugar. Seus trabalhos são pouco elaborados,
optando por resumir o traçado e os detalhes de sua composição quando percebe que a aula está
acabando. Em Filosofia a aluna consegue alcançar os objetivos propostos, porém precisa ser
mais responsável com as atividades e respeitar as datas para entrega de trabalhos. Nas
disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura apresenta dificuldades na interpretação e
expressão oral, organização de ideias e frases. A grafia é legível, está interagindo melhor com
os colegas. Deverá melhorar a concentração durante às aulas. Observa-se que os trabalhos
elaborados em casa vêm completos, talvez pelo apoio que recebe. Em sala de aula é educada.
A aluna nem sempre consegue acompanhar a turma, quando copia, sendo necessário que
termine o trabalho (s) em casa.
164
ANEXO D - Parecer Trimestral
Parecer descritivo
Na disciplina de Espanhol a aluna é assídua, traz seu material organizado. Neste
trimestre, diminuiu a sua dificuldade em trabalhar em grupos. A aluna interagiu mais com as
colegas, mas apresenta limitações no aprendizado e na interpretação de textos orais e escritos.
Necessita de um acompanhamento individualizado para melhor aproveitamento das aulas em
sala de aula. Em matemática parece estar mais atenta. Questiona durante a realização das
atividades. Em relação ao conteúdo de frações (números racionais) parece ter compreendido os
conceitos básicos, o que é fundamental para entendimento deste conjunto numérico. Apresenta
um progresso na aquisição de aprendizagem. Está conseguindo acompanhar os conteúdos. Nas
disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura a aluna continua apresentando boa convivência
com os colegas, tem bom comportamento e juntamente com a turma conseguiu melhorar seu
desempenho, atingiu os objetivos propostos pela disciplina. Na disciplina de Ciências, a aluna
é assídua, realiza as atividades, trabalha em grupo, mas conversa bastante. Apresentou neste
trimestre melhor compreensão dos conteúdos relativos à série. Em Filosofia a aluna tem
realizado todas as atividades propostas com sucesso, tem demonstrado responsabilidade na
entrega de trabalhos solicitados. Religião apresenta bom rendimento. Relaciona-se bem com
colegas e professora. Tem condições de melhorar seu aproveitamento. Nas disciplinas de
História e Geografia a aluna realiza com maior interesse e atenção as atividades quando são
realizadas em dupla ou grupos. Nas avaliações da disciplina houve uma grande melhora. Seu
comportamento é bom. É amiga dos professores e colegas. Em Artes apresentou neste trimestre
bastante interesse. Gosta de desenhar e procura realizar seus desenhos superando suas
dificuldades, buscando concluir todas as tarefas. Necessita de atenção e incentivo. Em Música
realizou todas as atividades propostas pela disciplina. Na Educação Física é assídua e carinhosa
com os colegas e professora. Aprecia atividades em grupo e respeita as regras. No decorrer do
trimestre foi bastante participativa.
Escola Municipal De Ensino Fundamental Dr. Joaquim Assumpção
Nome do Aluno: Esmeralda
Código do aluno:
Ano/Série/Turno: A6A –manhã Trimestre: 3º Ano:2016
Dias letivos: 65 Faltas:10
165
ANEXO E - Parecer Trimestral
Parecer descritivo
Em Espanhol a aluna é assídua e responsável, demonstrou um bom
relacionamento com colegas e professora. Teve um bom desempenho na assimilação e
utilização dos conceitos estudados, tanto gramaticais quanto comunicativos. Nas
disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura a aluna apresentou um ótimo desempenho
no decorrer deste trimestre e tem plenas capacidades de continuar avançando junto com a
turma e agora no mesmo ritmo. Em Filosofia atingiu os objetivos estabelecidos para
disciplina. Em Artes a aluna tem bom relacionamento com os colegas e a professora,
mostra-se muito afetiva. É interessada e participativa realizando com interesse e
entusiasmo as propostas de atividades de aula. Religião realizou todas as atividades
desenvolvidas pela disciplina. Nas disciplinas de História e Geografia contemplou as
expectativas da disciplina. Em Música atingiu os objetivos propostos para disciplina neste
trimestre. Observou-se uma maior interação da aluna com professores e colegas, como
também mais confiança na realização das atividades. Na Educação Física é assídua e
prestativa, dedicada, realiza todas as atividades com êxito, as vezes se atrapalha um pouco,
mas logo corrige onde errou e fica feliz com a própria evolução, é amiga dos colegas,
interage com todos e é muito interessada. Em matemática conseguiu compreender as
noções básicas referentes ao conjunto dos números racionais (fração), o que facilitará a
aprendizagem dos demais conteúdos deste conjunto. Apresentou um bom progresso na
aquisição de aprendizagem. Conseguiu acompanhar os conteúdos, realiza cálculos com as
seis operações (adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação e raiz quadrada).
Interpreta expressões numéricas. Durante as aulas de Ciências a aluna neste trimestre
mostra-se bastante interessada, acompanha a dinâmica da aula, mantém seu caderno
sempre em dia e é bastante curiosa sobre o conteúdo estudado. Tem seu material didático
organizado e é bem cuidadosa com o mesmo, bem como procura ficar a par do que foi
Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Joaquim Assumpção
Nome do Aluno: Ametista
Código do aluno:
Ano/Série/Turno: A6A –manhã Trimestre: 3º Ano:2016
Dias letivos: 65 Faltas:03
166
trabalhado em dias que precisou faltar a aula. A aluna tem boa frequência. Relaciona-se
bem com os professores e apresentou uma melhora significativa no decorrer do trimestre.
167
ANEXO F - Avaliação de Matemática
I) Relaciona a 2ª coluna de acordo com a 1ª (2,0 cada)
(a) Denominador ( ) Indica o número de partes que foram tomadas do inteiro
(b) Numerador ( ) É a representação da parte de um todo
(c) Fração ( ) Indica o número de partes em que o inteiro foi dividido
II) Responda: (2,0 cada)
a) Qual a fração cujo denominador é 12 e o numerador 7? -------------
b) Um mês tem trinta dias. Escreva a fração do mês correspondente a:
*1 dia - ----------- * 6 dias- --------------
c) Que fração do dia representam 17 horas? ----------
d) Que fração da semana representam 4 dias? --------
e) Que fração do ano representam 8 meses? ----------
III) Indica as frações correspondentes a cada situação: (2,0 cada)
Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Joaquim Assumpção”
Nome: ________________________
Data: _________________________ Turma:______
Professora: XXXXXXXXXXXXXX
Valor: 30,0 Nota: _______ Boa sorte!!!!!!
168
a) Mariane comeu 3 doces de uma caixa que continha 8 doces. ---------------
b) João comprou 7 cadernos de um pacote que continha 10 cadernos. ---------------
IV) Observa as figuras e diga quanto representa cada parte da figura e a
parte pintada: (2,0 cada)
a) b)
c)
d)