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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA AQUÁTICA E PESCA
MESTRADO EM ECOLOGIA AQUÁTICA E PESCA
ASSEMBLÉIAS DE CICLÍDEOS NA ÁREA FOCAL DA RESERVA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ, MÉDIO RIO SOLIMÕES,
AMAZONAS, BRASIL
Ludmilla Costa Ferreira Pereira
BELÉM-PA
2010
ii
Ludmilla Costa Ferreira Pereira
ASSEMBLÉIAS DE CICLÍDEOS NA ÁREA FOCAL DA RESERVA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ, MÉDIO RIO SOLIMÕES,
AMAZONAS, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca, nível mestrado, da Universidade Federal do Pará – UFPA, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Ecologia Aquática e Pesca.
Orientador: Prof. Dr. Mauricio Camargo Zorro
BELÉM-PA
2010
iii
Ludmilla Costa Ferreira Pereira
ASSEMBLÉIAS DE CICLÍDEOS NA ÁREA FOCAL DA RESERVA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ, MÉDIO RIO SOLIMÕES,
AMAZONAS, BRASIL
Belém-PA, 19 de março de 2010.
Banca Examinadora
_______________________________________
Prof. Dr. Mauricio Camargo – IFPA (orientador)
_______________________________________
Prof. Dr. Helder Lima de Queiroz – IDSM
_______________________________________
Prof. Dr. Edinbergh Caldas de Oliveira – UFAM
_______________________________________
Prof. Dr. Israel Hiderburgo Aniceto Cintra - UFRA
iv
Aos meus queridos pais,
irmãos e amigos, eu
dedico.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, nosso Senhor, por todas as coisas
boas que traz para minha vida; “Deus nunca erra!”
A meus pais, João Borges e Maria Domingas que ao amo demais e
admiro, pela vida, pelo apoio que me deram quando tive que vir morar em
Belém;
A meus irmãos Kamila e Jomar, pela amizade e pela companhia;
Ao meu grande amor, Diego, por todos os momentos que vivemos e
viveremos juntos.
As amigas que residiram comigo em Belém, Claudia e Mariana, pela
companhia nos momentos de saudade de casa e pelos momentos de diversão;
Aos amigos que fiz em Belém, principalmente a turma de Química do
IFPA e professores.
A meus primos, tios e tias e demais parentes;
Ao meu orientador que tenho grande admiração, pelos conselhos,
incentivo, pela amizade, pela companhia na ida a Tefé;
Ao Prof. Dr. Helder Queiroz do IDSM pela ajuda e oportunidade; e
demais funcionários do Instituto Mamirauá, especialmente a Marcela, que
realizou as coletas e pela ajuda nos dados;
Aos amigos que fiz em Tefé, serão para sempre lembrados.
Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca, a todos
os professores pelos ensinamentos adquiridos; e as meninas da turma de 2008
e demais alunos.
A agência financiadora Capes, pela bolsa que recebi durante o
mestrado;
A todas as pessoas que de alguma forma me ajudaram na vinda a
Belém e na conclusão deste trabalho, eu agradeço do fundo do meu coração.
vi
RESUMO
Este estudo lista a diversidade de peixes da família Cichlidae em
diferentes ambientes (lagos, ressacas e paranas) e habitats (macrófitas
aquáticas, galhadas, praias e margens dos rios e lagos) da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) localizada no médio rio
Solimões, Amazonas. As coletas foram realizadas em dois momentos: 1) nos
meses de março, julho e dezembro de 2003 em 19 pontos em torno da
Reserva; 2) coletas mensais entre setembro de 2003 e agosto de 2004 em 5
lagos com presença das macrófitas aquáticas Eichornia crassipes e Paspalum
repens. Foram utilizados a malhadeira, o rapiché e rede de arrasto. Ao final do
estudo foram capturados 6.397 peixes da família Cichlidae, correspondentes a
um peso de 35 quilogramas, distribuídos em 28 espécies e 16 gêneros. Os
Ciclídeos representaram, aproximadamente, 35% do número total de peixes
coletados. O volume das capturas foi dominado por formas juvenis ou espécies
de pequeno porte. Mesonauta insignis e Cichlasoma amazonarum dominaram
em abundância e peso durante todo o estudo. No período 1 foram capturadas
28 espécies e 1.876 indivíduos, enquanto no período 2 foram 18 espécies e
5.365 indivíduos. Nove espécies não ocorreram em ambientes de lagos com
macrófitas aquáticas. O estudo mostrou que os Ciclídeos se deslocam entre os
ambientes e habitats da Reserva em busca de melhores condições para a
sobrevivência destes.
vii
ABSTRACT
This study aims to know the fish diversity of the family Cichlidae in
different habitats (lakes, ressacas and river banks) and habitats (floating
macrophytes, branches and beaches) on Sustainable Development Reserve
Mamiraua (RDSM), medium Solimoes River, Amazonas. Samples were
collected in two periods: 1) Three months sampled in March, July and
December 2003 in 21 environments; 2) from September 2003 to August 2004 in
five lakes with presence of the floating meadows Eichornia crassipes and
Paspalum repens. Were used gillnets, hand nets and seine nets. Were
collected 6397 fishes and 350 kilograms, represented in 28 species and 16
genera. Cichlids represented approximately 35% of the total number of fish
collected. The composition of the catch was dominated by juvenile forms or
small fishes. Mesonauta insignis and Cichlassoma amazonarum dominate in
abundance and weight along the study. Species richness was larger in the
period I (28 species), while during the period II were recorded 19 species. Nine
species were absent in lakes with floating meadows. The study showed that the
cichlids moving between environments and habitats of the Reserve in search of
better conditions for their survival.
viii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS......................................................................................... v
RESUMO........................................................................................................... vi
ABSTRACT .......................................................................................................vii
LISTA DE FIGURAS............................................................................................x
LISTA DE TABELAS..........................................................................................xii
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 13
1.1 A Família Cichlidae..................................................................................... 14
1.2 Hipóteses.................................................................................................... 15
1.3 Objetivos..................................................................................................... 17
1.3.1 Geral........................................................................................................ 17
1.3.2 Específicos .............................................................................................. 17
2. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 18
2.1 Descrição da área de estudo...................................................................... 18
2.2 Métodos de coleta ...................................................................................... 20
2.3 Procedimentos pós-capturas ...................................................................... 23
2.4 Análise de dados ........................................................................................ 24
2.4.1 Riqueza, Diversidade de espécies, Abundância e equitatividade............ 24
2.4.2 Cálculo da riqueza e rarefação................................................................ 24
2.4.3 Análise da similaridade............................................................................ 24
2.4.4 Análise dos dados abióticos .................................................................... 25
2.4.5 Correlação entre as variáveis bióticas e abióticas ................................... 25
3. RESULTADOS ............................................................................................. 26
3.1 PERÍODO I - Ciclídeos da área focal da RDSM ......................................... 26
ix
3.1.1 Diversidade e abundância ....................................................................... 26
3.1.2 Índices de estrutura de Cichlidae coletados com uso de rede arrasto..... 30
3.1.3 Similaridade entre os habitats ................................................................. 31
3.1.4 Riqueza ................................................................................................... 33
3.1.5 Rarefação ................................................................................................ 34
3.1.6 Discussão ................................................................................................ 36
3.2 PERÍODO II - Ciclídeos associados a macrófitas
aquáticas em lagos de várzea .......................................................................... 39
3.2.1 Diversidade e abundância ....................................................................... 39
3.2.2 Índices de estrutura de Cichlidae............................................................. 41
3.2.3 Riqueza ................................................................................................... 43
3.2.4 Rarefação ................................................................................................ 44
3.2.5 Fatores abióticos ..................................................................................... 44
3.2.6 Correlação entre os fatores bióticos e abióticos ...................................... 52
3.2.7 Similaridade entre os lagos ..................................................................... 53
3.2.8 Discussão ................................................................................................ 55
4. CONCLUSÃO GERAL.................................................................................. 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Área focal da Reserva no setor do médio rio Solimões - RDSM...... 18
Figura 2 - Distribuição dos tipos de ambientes nos rios e lagos do médio de rio Solimões........................................................................................................... 19
Figura 3 - Nível da água na RDS Mamirauá durante o período de estudo ....... 21
Figura 4 - Apetrechos utilizados durante as coletas na Reserva de Desenvolvimento Mamirauá nos anos de 2003 e 2004. ................................... 22
Figura 5 - Coleta de peixes em capim flutuante ............................................... 23
Figura 6 - N° de espécies da família Cichlidae para cada habitat da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003............... 28
Figura 7 - N° de indivíduos da família Cichlidae para cada habitat da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003............... 28
Figura 8 - N° de espécies da família Cichlidae para cada ambiente da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003 ...... 29
Figura 9 - N° de indivíduos da família Cichlidae para cada ambiente da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003 ...... 30
Figura 10 - Dendograma de similaridade de Bray-Curtis com os dados de abundância dos Ciclídeos coletados na área focal da RDS Mamirauá ............ 32
Figura 11 - Análise de MDS para os ambientes da RDS Mamirauá................. 32
Figura 12 - Curva acumulativa de espécies em relação aos ambientes coletados com rede de arrasto na RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2003............................................................................................ 33
Figura 13 - Curva acumulativa de espécies para os habitats macrófitas, galhada e margem coletados com rede de arrasto na RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2003 .................................................................... 34
Figura 14 - Curva de rarefação para os ambientes Lago, Parana e Ressaca coletados com malhadeira na RDS Mamirauá, nos meses de março, julho e dezembro de 2003............................................................................................ 35
Figura 15 - Curva de rarefação para os habitats macrófitas, galhada e margem coletados com malhadeira na RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2003............................................................................................ 35
xi
Figura 16 - Densidade dos ciclídeos coletados com rede de arrasto em lagos com presença de macrófitas aquáticas na RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 ................................................................ 40
Figura 17 - Curvas acumulativas de espécies dos Ciclídeos coletados em macrófitas de lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004................................................................................................. 43
Figura 18 - Curvas de rarefação calculadas para os cinco lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 ........................ 44
Figura 19 - Temperatura média da água (°C) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 .45
Figura 20 - Oxigênio dissolvido médio (mg/L) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 .45
Figura 21 - Condutividade média (µS.cm-1) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 .46
Figura 22 - pH médio durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 ......................................... 47
Figura 23 - Transparência média (cm) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004................ 47
Figura 24 - Profundidade média (cm) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004................ 48
Figura 25 - Análise de Componentes Principais (PCA) para os dados abióticos dos lagos da RDSM no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 ........ 49
Figura 26 - Gráficos da correlação de Pearson em relação ao nível da água para o período de coleta de setembro de 2003 a agosto de 2004 ................... 51
Figura 27 - Ordenação gerada através da análise de correspondência canônica – CCA para as espécies mais abundantes em lagos com presença de macrófitas aquáticas na RDS Mamirauá .......................................................... 52
Figura 28 - Dendograma de similaridade de Bray-Curtis com os dados de abundância de Ciclídeos coletados em lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 ................................................................ 53
Figura 29 - Análise de MDS das amostras coletadas nos quatro lagos em diferentes períodos do ciclo sazonal ................................................................ 54
xii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Número absoluto de exemplares de Ciclídeos coletados na área Focal da RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2004. .... 26
Tabela 2 - Índice de estrutura de Ciclídeos coletados em ambientes da RDS Mamirauá.......................................................................................................... 31
Tabela 3 - Valores da análise de Variância - ANOVA para os parâmetros de estrutura de comunidade utilizando como fatores os pontos (ambientes) e períodos de coleta ............................................................................................ 31
Tabela 4 - Resultado do ANOSIM para as variáveis habitat e período hidrológico baseada na matriz de dados transformados em log (x+1) ............. 33
Tabela 5 - Diversidade de Ciclídeos coletados em lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 .............................................. 39
Tabela 6 - Densidade de indivíduos por m2 coletados em macrófitas aquáticas de lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 em relação aos períodos de coleta................................................................... 41
Tabela 7 - Parâmetros da estrutura da comunidade de peixes coletada em cinco lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004.................................................................................................................. 42
Tabela 8 - Valores da análise de Variância - ANOVA para os índices de estrutura de comunidade, utilizando como fatores os pontos de coleta (lago) e os períodos de coleta ....................................................................................... 43
Tabela 9 - Scores da Análise de Componentes Principais (PCA) .................... 49
Tabela 10 - Dados da análise de Componentes Principais .............................. 49
Tabela 11 - Valores calculados para a Correlação Linear de Pearson para as varáveis físico-químicas em relação ao nível da água da RDS Mamirauá durante o período de coleta.............................................................................. 50
Tabela 12 - Resultados da Análise de Correspondência Canônica - CCA....... 52
Tabela 13 - Resultado do ANOSIM para as variáveis habitat e período hidrológico baseada na matriz de dados logaritmizados .................................. 54
Tabela 14 - Contribuição das espécies (%) para os grupos formados com a análise de MDS e Cluster ................................................................................. 54
13
1. INTRODUÇÃO
Uma comunidade biológica pode ser definida com base nas interações
entre as populações associadas. Usualmente, os ecólogos usam o termo
assembléia para denotar populações que ocorrem em uma mesma área e
comunidade para denotar uma assembléia de populações que interagem entre
si (Ricklefs, 2003). Magurran (2003) destaca que as assembléias são
compostas por espécies (ou táxons) de uma comunidade filogenéticamente
relacionados.
Na várzea amazônica, a variação sazonal causada pela enchente e
vazante dos rios que banham a área se constitui um dos fatores determinantes
da distribuição, comportamento e diversidade de formas de vida aquática que
habitam nestes ambientes (Crampton, 1999). Esta sazonalidade resulta em
inúmeras e marcadas alterações na disponibilidade de habitats e nas
condições físicas gerais influenciando na estrutura e na composição das
comunidades a ela associadas (Henderson, 1999).
As condições criadas pelas variações do nível do rio limitam o número
de espécies que conseguem sobreviver nessa dinâmica, favorecendo o
surgimento de adaptações pelas espécies que aí vivem (IDSM, 2007). As
várzeas amazônicas são utilizadas intensivamente como áreas de exploração,
seja para pesca, piscicultura e produção de alimentos na fase terrestre (Junk,
1980; Tundisi & Tundisi, 2008).
A pesca de peixes ornamentais na Amazônia representa uma importante
fonte de renda e entrada de divisas para a região (Prang, 2007). A demanda
por peixes ornamentais vem crescendo no mercado internacional, e as
espécies amazônicas possuem um especial atrativo para os aquaristas
(Batista, 2004).
Cerca de 15 milhões de peixes ornamentais são exportados anualmente,
com o cardinal (Paracheirodon axelrodi) e o acará disco (Symphysodon
aequifasciatus) como as espécies amazônicas mais solicitadas no mercado
14
mundial. Esta preferência tem ameaçado a manutenção dos estoques naturais
destas espécies, levando a extinção comercial das mesmas em alguns rios da
região do alto rio Negro (Leite & Zuanon, 1991).
Dentre os peixes ornamentais, os ciclídeos apresentam grande
importância econômica como proteína animal e ornamental. Kullander (2003)
cita que devido ao comportamento variado, as cores atraentes e ao tamanho
moderado, estas espécies são comumente mantidas como ornamentais. O
mesmo autor comenta que, praticamente, os representantes de todos os
gêneros e mais da metade das espécies conhecidas têm sido mantidos em
aquários em algum momento.
Leite & Zuanon (1991) ressaltam o quão fundamental é a realização de
estudos sobre a biologia básica das espécies no comércio de peixes
ornamentais, com a caracterização de seus biótopos. Uma vez que, com estes
conhecimentos haverá um melhor entendimento das relações existentes entre
os organismos e seus ambientes naturais, o que é fundamental como subsídio
para políticas públicas de exploração destes recursos.
1.1. A Família Cichlidae
A família Cichlidae, da ordem Perciformes, engloba peixes de água doce
e representa uma das mais diversas dentre os peixes existentes (Kullander,
1986), com cerca de 105 gêneros e aproximadamente 1900 espécies
(Kullander, 2003).
Os ciclídeos possuem o corpo comprimido lateralmente, uma narina
apenas por lado do corpo, a linha lateral dividida e espinhos nas nadadeiras
dorsal e anal. O grupo caracteriza-se ainda pela presença de dentes nas duas
mandíbulas e na garganta e pelo intestino, que sai do estômago pelo lado
esquerdo (ao contrário dos grupos restantes de peixes) (Keith et al., 2000).
15
Os ciclídeos se distribuem pelos mais diferentes habitats, como margens
dos rios, igarapés, florestas alagadas, lagos e corredeiras, preferindo em sua
maioria ambientes lênticos (Lowe-McConnel, 1991) e por sua vez, toleram e
sobrevivem em águas salobras (Kullander, 1986).
Estudos mostram que este grupo possui grande plasticidade ecológica,
genética e evolutiva, como resultado de várias adaptações que desenvolveram
ao longo do tempo (Lowe-McConnell, 1991). Entre estas adaptações, se
destaca a sua habilidade para viver em ambientes anóxicos e com amplas
variações nas condições físico-químicas da água (Chiparri-Gomes, 2005).
Os ciclídeos têm ampla distribuição geográfica nas Américas, África,
Madagascar, litoral sul da Índia, Sri Lanka e Oriente Médio. Foram introduzidos
em vários países dos quatro continentes, e em alguns constituem a única fonte
de proteína animal para milhões de pessoas (Kullander, 1986).
Espécies de ciclídeos apresentam alta endemicidade em águas
continentais, como por exemplo, nos lagos africanos (Vitoria, Malawi e
Tanganica). A maior diversidade se encontra na África, estando a América do
Sul em segundo lugar (Tundisi & Tundisi, 2008).
Os ciclídeos nativos da América do Sul estão representados nas bacias
Amazônica, das Guianas, norte do Orinoco, sul da região paranaense e nos
rios do leste brasileiro (Lowe-McConnell, 1991). Na América do Sul são
conhecidas cerca de 291 espécies válidas distribuídas em 39 gêneros sendo
que mais da metade delas ocorrem na bacia Amazônica (Kullander, 1995,
2003).
Devido a diversidade de espécies desta família na bacia amazônica, a
importância econômica dos ciclídeos é muito grande (Chao, 1995). Os gêneros
mais explorados pela pesca comercial, como fonte de proteína, são: Cichla,
Geophagus, Astronotus e Chaetobranchus, e as espécies do gênero Cichla que
são exploradas na pesca esportiva (Nascimento et al., 2001; Chao, 2001). Por
16
sua vez, os gêneros mais explorados para fins ornamentais são Apistogramma,
Crenicichla, Pterophyllum e Symphysodon (Chao, 2001).
Estudos referentes à ecologia dos ciclídeos em ambientes de várzea são
limitados, se destacando Kullander (1986), Crampton (1999), Chiparri-Gomes
(2005), dentre outros. Desta forma, este estudo pretende contribuir para o
conhecimento da diversidade de peixes da família Cichlidae que utilizam o
setor Médio rio Solimões como habitat natural.
1.2. HIPÓTESES
I. Os representantes da família Cichlidae dos ambientes aquáticos da RDS
Mamirauá se associam em assembléias que se correlacionam com os
ambientes e habitats estudados.
II. A variação sazonal influencia na distribuição das espécies para diferentes
ambientes e habitats estudados.
III. Existe um padrão de uso do espaço pelas espécies de ciclídeos de acordo
com as características ambientais do habitat formado pelas macrófitas
aquáticas.
17
1.3. OBJETIVOS
1.3.1. Geral
Estudar a diversidade de Ciclídeos em diferentes ambientes e habitats
na área Focal da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM),
médio rio Solimões, ao longo da variação sazonal.
1.3.2. Específicos
• Listar as espécies de peixes da família Cichlidae para diferentes ambientes
e habitats da área Focal da RDS Mamirauá.
• Associar a diversidade e a abundância dos Ciclídeos com a variação
espaço-temporal para ambientes e habitats da Reserva.
• Avaliar o efeito da sazonalidade nas mudanças físico-químicas da água, e
na ocupação das macrófitas aquáticas por estas espécies.
• Identificar as espécies com potencial para possível exploração como
ornamentais na área da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá (RDSM).
18
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Descrição da área de estudo
O estudo foi realizado na área Focal da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Mamirauá, que representa 260.000ha e está totalmente inserida
em ambiente de várzea (Figura 1).
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) está
localizada na região centro-oeste do estado do Amazonas (03º08'S, 64º45'W e
2º36'S, 67º13'W), nas proximidades da cidade de Tefé. Possui uma extensão
de 1.124.000ha, sendo delimitada pelos rios Solimões, Japurá e pelo Auati-
Paraná, um braço do Solimões que deságua no curso médio do Japurá, na
Amazônia Central. Este ecossistema representa 200.000km2, ou cerca 2% de
toda extensão da floresta Amazônica, sendo considerada a maior unidade de
conservação brasileira localizada em ambiente de várzea, possuindo até 80km
de floresta completamente alagada (Viana, 2004; Téran, 2005; Queiroz, 2007).
Figura 1 - Área focal da Reserva no setor do médio rio Solimões - RDSM
19
Nesta área prevalece um clima tropical úmido, com pluviosidade anual
média de 2.373mm (Ayres, 1993), e uma temperatura média anual em torno de
27°C (Barthem & Fabré, 2004), sujeita a inundações periódicas de intensidade
que varia de acordo com os ciclos anuais de precipitação pluviométrica (Téran,
2005). O período de águas altas, ou cheia, inicia em maio estendendo-se até
meados de julho. A seca compreende o período de setembro a novembro. A
enchente inicia no final de novembro e se estende até o início de maio,
enquanto que a vazante começa em meados de julho e se estende até o mês
de setembro (Ramalho et al., 2009). Os alagamentos sazonais dos rios
Solimões e Japurá causam uma elevação do nível de água de 10 a 12m da
estação seca para a cheia anualmente (Queiroz, 2005).
A geomorfologia característica de Mamirauá permite a ocorrência de um
grande número de ambientes aquáticos dentro da Reserva. Estes variam
desde o hábitat de água aberta dos rios e braços de rios (ou paranas), dos
canais e lagos, até outros ambientes não perenes, como os baixios com
campos alagados ou as florestas alagadas (Queiroz, 2005) (Figura 2).
Figura 2 - Distribuição dos tipos de ambientes nos rios e lagos do médio de rio Solimões. Fonte: Barthem, 1999
20
Os paranas ligam o canal principal ao lago, e apresentam altos teores de
oxigênio e turbidez durante a seca. Enquanto que as ressacas correspondem a
braços de rios sem comunicação com os lagos. Já os lagos são corpos d’água
resultantes do transbordamento do canal principal do rio, durante a enchente,
que permanecem parcial ou temporariamente isolados (Lowe-McConnell,
1999). Estes lagos resultantes da variação sazonal, não podem ser
considerados verdadeiros, mas sim lagos de várzea, pois se conectam durante
a época da cheia formando um único corpo d’água contínuo, onde os mesmos
tornam-se simplesmente espaços abertos dentro da floresta alagada
(Henderson, 1999).
Normalmente estes ambientes (paranas, ressacas e lagos) comportam
diferentes habitats tais como: capim flutuante, galhadas e praias. Nos capins
flutuantes predominam macrófitas como Eichornia crassipes e Paspallum
repens (Crampton, 1999). As galhadas são habitats nos quais predominam
galhos de árvores caídas ao longo das margens dos lagos ou canais que
servem ou viram um novo habitat. Já as praias são terrenos que se formam
principalmente nas margens e nos leitos dos rios e paranas, possuem solos
arenosos ou areno-argilosos (Henderson, 1999). Estes habitats são de grande
importância servindo, principalmente, de abrigo e alimento para muitas
espécies que tem nestes seu habitat natural (Queiroz, 2007).
2.2. Métodos de coleta
Compõem este estudo dois períodos de coletas: período I, março, julho
e dezembro de 2003 utilizando diferentes tipos de apetrechos em diferentes
ambientes e habitats; e período II, coletas mensais de setembro de 2003 a
agosto de 2004, utilizando rede de arrasto em lagos com predominância de
macrófitas aquáticas. (Figuras 1 e 3)
21
Figura 3 - Nível da água na RDS Mamirauá durante o período de estudo. Fonte: Ramalho et al. (2009)
Para a o período I as coletas totalizaram cerca de dezenove pontos nos
ambientes (Lago, Parana e Ressaca) e habitats (macrófitas aquáticas, galhada,
margens e praias) dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, utilizando malhadeiras, rede de arrasto e rapiché (Figura 4; Anexo
A).
As malhadeiras foram utilizadas em habitats de águas abertas, durante
24 horas. Assim, foram construídas duas baterias, cada uma com cinco
malhadeiras de tamanho de malha de 35, 40, 60, 100 e 120mm entre nós
opostos, e com medidas de 15m de comprimento por 2,5m de altura. No caso
do rapiché, cada coleta correspondeu a 120 lances que foram realizados nas
margens de rios e lagos. O rapiché foi de formato circular, com tamanho de
malha de 5mm. A rede de arrasto foi utilizada nos habitats marginais e
macrófitas aquáticas. Esta rede mediu 30x6m e malha 5mm entre nós opostos
(Anexo B).
22
Figura 4 - Apetrechos utilizados durante as coletas na Reserva de Desenvolvimento Mamirauá nos anos de 2003 e 2004. (1) malhadeira, (2) rapiché, (3) rede de arrasto. (Fotos: Alexandre Hercos e Mauricio Camargo)
Para o período II, a rede de arrasto foi utilizada em habitats formados
por macrófitas aquáticas, em cinco lagos situados dentro do Setor Mamirauá,
na RDS Mamirauá: lago Araçazinho, Juruá Grande, Juruázinho, Pagão e
Tracajá.
Durante cada mês, foram feitas cinco réplicas de 4x4m de macrófitas em
cada um dos lagos, sendo que estas foram selecionadas de forma aleatória, e
cobrindo uma área total de 80m2 por lago. Esta rede mediu 30x6m e malha
5mm entre nós opostos (Figura 5).
23
Figura 5 - Coleta de peixes em capim flutuante. (a) cerco do capim com a rede de arrasto (b) corte do capim com terçado, (c) separação do capim cortado do banco principal, e (d) medidas efetuadas no local da coleta. (Fotos: Marcela B. Sobanski)
Em cada coleta foram medidos os parâmetros físico-químicos d’água
tais como: transparência (cm), profundidade (cm), condutividade (µS.cm-1),
temperatura (°C), oxigênio dissolvido (mg/L) e pH. Todas as medições foram
realizadas com um multianalisador modelo YSI-85, a exceção da transparência
que foi medida com um disco de Secchi; e profundidade medida com auxílio de
um peso acoplado em corda graduada em intervalos de 0,20m.
2.3. Procedimentos Pós-capturas
Todos os peixes coletados foram preservados e etiquetados. Para
determinar a porcentagem do volume da captura total que correspondeu em
peso (g) aos ciclídeos, foi pesada toda a captura por cada amostra e em
seguida os ciclídeos.
24
Foi realizada a identificação de todos os espécimes de Cichlidae ao
menor nível taxonômico possível, contando com o auxílio de bibliografia
especializada (Kullander,1986; 1989; 1995; Keith et al., 2000 e Barata &
Lazzarotto, 2008).
Para determinar a variação de tamanho e peso por coleta por amostra,
todos os exemplares capturados tiveram seus comprimentos totais (CT)
medidos com auxílio de paquímetro com precisão de 0,01mm e peso com
balança de precisão de 0,1g. Os dados bióticos e abióticos para cada uma das
amostras foram inseridos em um banco de dados no Excel.
2.4. Análise de dados
2.4.1. Riqueza, Diversidade de espécies, Abundância e Equitatividade
A riqueza foi definida como número de espécies encontradas em cada
ambiente e por período de coleta. Para caracterizar a diversidade de espécies
foi empregado o índice de Simpson, e com base nas abundâncias das espécies
foi calculada a equitatividade de Pielou (J’) no programa Primer 6.0 (Clarke &
Warwick, 1994).
Para verificar se a diversidade foi influenciada pela variação temporal e
espacial, os valores da equitatividade e diversidade de Simpson foram testados
através da Análise de variância (ANOVA) (Magurran, 2003). Para a coleta
realizada no período II foi calculada a densidade pela fórmula N=n°ind/área
cercada em cada lago (m2) e a biomassa w=g/m2.
2.4.2 Cálculo da riqueza e rarefação
Para definir se foi alcançada a assíntota da riqueza de espécies com o
esforço aplicado foi construída uma curva acumulativa de espécies que
relaciona o esforço para obter o valor assintótico de riqueza de espécies e uma
curva de rarefação com uso do programa Biodiversity Professional version 2.
2.4.3. Análise de similaridade
25
Para determinar o grau de similaridade entre as assembléias foi feita
uma análise de agrupamento com a matriz de similaridade de Bray-Curtis
(Clarke & Warwick 1994). Para confirmar os agrupamentos do CLUSTER, os
dados foram submetidos a uma análise de ordenação MDS (Multi Dimensional
Scaling) (Valentin, 2000).
As diferenças significantes entre as amostras foram testadas através de
uma análise de similaridade (ANOSIM – um critério), procurando observar
diferenças entre os períodos hidrológicos e os ambientes. Das variáveis que
apresentaram diferenças significativas através da análise ANOSIM foi realizada
uma análise de SIMPER, para identificar as espécies que contribuem com a
similaridade dentro dos grupos encontrados (Clarke & Warwick, 1994).
2.4.4. Análise dos dados abióticos
Para avaliar a variação destes parâmetros na escala espacial e sazonal,
foram construídos gráficos indicando os valores de cada variável analisada
para os períodos de coleta. Diferenças significativas dos dados abióticos, entre
os períodos e os lagos, foram testadas através de uma análise de variância
(ANOVA). Os dados foram sintetizados através de uma análise de
componentes principais (PCA) e relacionados através da correlação de
Pearson para verificar o grau de associação entre as variáveis com o nível da
água durante o período de coleta.
2.4.5. Correlação entre as variáveis bióticas e abióticas
Para verificar se os dados físico-químicos explicaram os padrões
biológicos observados, foi aplicada uma Análise de Correspondência Canônica
(CCA), as matrizes dos dados bióticos e abióticos, utilizando o programa MVSP
3.1 (Multi-Variate Statistical Package).
26
3. RESULTADOS
3.1. PERÍODO I - CICLÍDEOS DA ÁREA FOCAL DA RDS MAMIRAUÁ
3.1.1. Diversidade e abundância
Foram coletados 1876 Ciclídeos distribuídos em 28 espécies e 16
gêneros. A espécie com maior número de indivíduos foi Mesonauta insignis
(n=583), seguida de Cichlasoma amazonarum (n=386) e Apistogramma
eunotus (n=270) (Tabela 1). As espécies Mesonauta insignis e Cichlasoma
amazonarum representaram 50% dos peixes coletados.
Em relação ao período de coleta, o maior número de espécies foi
capturado no período da enchente (n=25) e o menor durante a cheia (n=14); o
maior número de indivíduos foi coletado durante a seca (n=877) e o menor
durante a cheia (n=389). Quatorze espécies foram capturadas em todos os
períodos (cheia, enchente e seca). Apistogramma pertensis (n=08), Laetacara
tayeri (n=1) e Geophagus proximus (n=1) foram capturadas somente durante a
seca. Enquanto, Chaetobranchus flavescens (n=08), C. semifasciatus (n=01),
Crenicichla sp2 (n=03), Crenicichla sp4 (n=01), Crenicichla sp5 (n=01) e
Satanoperca cf. acuticeps (n=02) ocorreram somente na enchente (Tabela 1).
Os maiores números de espécies e indivíduos foram coletados com rede
de arrasto (n=28; n=1698) e os menores com malhadeira (n=7; n=21). Seis
espécies foram coletadas com os três apetrechos (Aequidens tetramerus,
Cichlasoma amazonarum, Crenicichla sp1, Crenicichla regani, Hypselecara
temporalis e Mesonauta insignis), enquanto dezesseis foram coletadas
somente com rede de arrasto (Tabela 1).
27
Tabela 1 - Número absoluto de exemplares de Ciclídeos coletados na área Focal da RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2004. Sendo: a: rede de arrasto, r: rapiché, m: malhadeira.
Espécie apetrecho cheia Enchente seca Total Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) a 60 25 85 Acaronia nassa (Heckel, 1840) r,a 7 12 12 31 Aequidens tetramerus (Heckel, 1840) m,r,a 11 13 4 28 Apistogramma agassizii (Steindachner, 1875) a 1 4 8 13 A. bitaeniata (Pellegrin, 1936) a 10 18 27 55 A. eunotus (Kullander, 1981) a,r 10 54 206 270 A. pertensis (Haseman, 1911) a 8 8 Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) a 1 3 1 5 Chaetobranchus flavescens (Heckel, 1840) m,a 8 8 C. semifasciatus (Steindachner, 1875) a 1 1 Cichla monoculus (Spix & Agassiz, 1831) a,r 1 1 14 16 Cichlasoma amazonarum (Kullander, 1983) m,a,r 184 78 124 386 Crenicichla lugubris (Heckel, 1840) a 3 1 4 Crenicichla regani (Ploeg, 1989) m,a,r 31 3 8 42 Crenicichla sp1 m,a,r 8 19 27 Crenicichla sp2 a 3 3 Crenicichla sp3 a 1 31 32 Crenicichla sp4 a 1 1 Crenicichla sp5 a 1 1 Geophagus proximus (Castelnau, 1855) a 1 1 Heros efasciatus (Heckel, 1840) a,r 2 20 19 41 Hypselecara temporalis (Günther, 1862) m,a,r 4 6 51 61 Laetacara thayeri (Steindachner, 1875) a 1 1 Mesonauta insignis (Heckel, 1840) m,a,r 124 210 249 583 Pterophyllum leopoldi (Gosse, 1963) a 22 9 31 P. scalare (Lichtenstein, 1823) a,r 1 57 31 89 Satanoperca cf. acuticeps (Heckel 1840) a 2 2 Satanoperca jurupari (Heckel 1840) a 2 21 28 51 Total 389 610 877 1876
Para as coletas com nas galhadas rede de arrasto, se registrou a maior
diversidade (n=27) e nas praias a menor (n=05) (Figura 6). Durante a enchente
e seca, nas galhadas foi capturado o maior número de espécies, enquanto na
cheia foi nas macrófitas.
28
0
5
10
15
20
25
30
rapiché rede de arrasto
apetrecho
n°
de
esp
éci
es
Macrófitas
Margem
Galhada
Praia
Figura 6 - N° de espécies da família Cichlidae para cada habitat da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003
Durante todo período de coleta nas macrófitas aquáticas se registrou o
maior número de indivíduos enquanto que nas margens e praias o menor
(Figura 7). Com o apetrecho rapiché foram capturados indivíduos somente no
período da seca, com maior número de indivíduos nas margens e menor nas
macrófitas.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
Ma
cró
fita
s
Marg
em
Ma
cró
fita
s
Ga
lha
da
Marg
em
Pra
ia
rapiché rede de arrasto
Apetrecho/Microhabitat
N°
ind
ivíd
uo
s
seca
enchente
cheia
Figura 7 - N° de indivíduos da família Cichlidae para cada habitat da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003
29
Seis espécies foram capturadas em todos os habitats (Acaronia nassa,
Aequidens tetramerus, Apistogramma eunotus, Cichlasoma amazonarum,
Crenicichla sp1 e Mesonauta insignis), enquanto oito espécies foram
encontradas exclusivamente nas galhadas (Chaetobranchus flavescens, C.
semifasciatus, Crenicichla regani, C. lugubris, Crenicichla sp2, Crenicichla sp3,
Laetacara tayeri, Satanoperca cf. acuticeps).
Com rede de arrasto, nos ambientes de ressacas foi registrada a maior
diversidade (n=23) e nos paranas a menor. Na enchente as ressacas tiveram o
maior número de espécies, na cheia, os lagos e na seca, os paranas (Figura 8).
0
5
10
15
20
25
malhadeira rapiché rede de arrasto
apetrecho
n°
de
esp
éci
es
Lago
Paraná
Ressaca
Figura 8 - N° de espécies da família Cichlidae para cada ambiente da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003
Nos lagos foi capturado o maior número de indivíduos (n=456) e nos
paranas o menor. No período da seca e cheia o maior número de indivíduos foi
coletado nos lagos, enquanto na enchente foram as ressacas que tiveram o
maior número (Figura 9).
Quando a coleta foi realizada com rapiché e malhadeira o maior número
de indivíduos foi capturado nos lagos. As malhadeiras não capturaram
indivíduos nas ressacas e o rapiché nos paranas.
30
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Lag
o
Pa
ran
á
Lag
o
Re
ssa
ca
Lag
o
Pa
ran
á
Re
ssa
ca
malhadeira rapiché rede de arrasto
Apetrecho/Habitat
N°
Ind
ivíd
uo
a
seca
enchente
cheia
Figura 9 - N° de indivíduos da família Cichlidae para cada ambiente da área focal da RDS Mamirauá, coletados em março, julho e dezembro de 2003
Onze espécies ocorreram em todos os habitats (Acaronia nassa,
Aequidens tetramerus, Apistogramma agassizii, A. bitaeniata, A. eunotus,
Cichla monoculus, Crenicichla sp1, Heros efasciatus, Mesonauta insignis,
Pterophyllum scalare e Satanoperca jurupari). Apistogramma pertensis ocorreu
somente nos lagos; Chaetobranchus semifasciatus, Crenicichla sp2 e
Satanoperca cf. acuticeps nas ressacas e Geophagus proximus e Pterophyllum
leopoldi nos paranas.
3.1.2. Índices da estrutura de Cichlidae coletados com rede de arrasto
A maior e menor riqueza foi registrada respectivamente na ressaca no
período da enchente (n=24) e na cheia (n=02). A média da equitatividade foi de
0,69, sendo maior na ressaca no período da cheia (J’=1,0) e menor na ressaca
na enchente e no lago na seca (J’=0,56). Para o índice de diversidade de
Simpson obteve-se uma média de 0,68, com maior valor no habitat parana no
31
período da cheia (D’=0,71) e menor na ressaca no período da seca (D’=0,64)
(Tabela 2).
Tabela 2 - Índice de estrutura de Ciclídeos coletados em ambientes da RDS Mamirauá. Sendo: S: Riqueza de espécies, N: número de indivíduos, J': equitatividade de Pielou
Amostra S N J' Simpson
Cheia 13 276 0,58 0,68 Enchente 11 236 0,63 0,69 Lago
Seca 15 400 0,56 0,68
Cheia 8 38 0,74 0,71 Enchente 9 306 0,62 0,67 Parana
Seca 16 182 0,58 0,69
Cheia 2 4 1,00 0,66
Enchente 24 542 0,56 0,70 Ressaca
Seca 3 18 0,92 0,64
Não foram observadas diferenças significativas para a equitatividade e
diversidade de Simpson (Tabela 3).
Tabela 3 - Valores da análise de Variância - ANOVA para os parâmetros de estrutura de comunidade utilizando como fatores os pontos (ambientes) e períodos de coleta. Sendo: ns: não significativo; J’: equitatividade; Simpson: índice de diversidade de Simpson
Fator SS Grau de liberdade MS F P
habitat 2157,56 2 1078,78 0,92 0,47 ns J' período 2876,22 2 1438,11 1,22 0,39 ns
habitat 2404,22 2 1202,11 0,93 0,47 ns Simpson período 3076,22 2 1538,11 1,19 0,39 ns
3.1.3. Similaridade entre os habitats
As análises de Cluster e MDS separaram os dados de abundância em
três grupos em relação aos habitats e períodos hidrológicos nas coletas com
rede de arrasto com uma similaridade de 40% (Figuras 10 e 11). A ressaca no
período da cheia mostrou maior dissimilaridade entre as amostras, separando-
se dos demais grupos.
32
Figura 10 - - Dendograma de similaridade de Bray-Curtis com os dados de abundância dos Ciclídeos coletados na área focal da RDS Mamirauá
Transform: Log(X+1)Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
Similarity40
LagoCH
LagoEN
LagoSE
ParanaCH
ParanaEN
ParanaSE
RessacaCH
RessacaEN
RessacaSE
2D Stress: 0,01
Figura 11 - Análise de MDS para os ambientes da RDS Mamirauá
A análise de ANOSIM indicou que os fatores habitats e período
hidrológico se mostraram pouco significativos na distribuição das assembléias
(Tabela 4).
Grupo I
Grupo II
Grupo III
33
Tabela 4 - Resultado do ANOSIM para as variáveis habitat e período hidrológico baseada na matriz de dados transformados em log (x+1)
Fator R Nível de significância habitat 0,037 0,339 período 0,029 0,368
3.1.4. Riqueza
A curva acumulativa de espécies para os ambientes mostrou que para
um esforço de 50 amostras a riqueza foi de aproximadamente 19 espécies para
os lagos, enquanto para a ressaca foi de 23 espécies para um esforço de 25
amostras. Apenas os lagos e os paranas apresentaram tendência a
estabilização (Figura 12).
Figura 12 - Curva acumulativa de espécies em relação aos ambientes coletados com rede de arrasto na RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2003
Já a curva acumulativa de espécies para os habitats mostrou que para
um esforço de 60 amostras as macrófitas aquáticas apresentaram uma riqueza
de 19 espécies, enquanto para as galhadas a riqueza foi maior para um esforço
de 30 amostras. Observou-se que nas galhadas a riqueza tendeu a aumentar
com o aumento de indivíduos coletados, o mesmo não ocorreu com as
macrófitas que apresentaram tendência a estabilização (Figura 13).
34
Figura 13 - Curva acumulativa de espécies para os habitats macrófitas, galhada e margem coletados com rede de arrasto na RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2003
3.1.5. Rarefação
As curvas de rarefação mostraram que para o lago quando a captura
atingiu 450 indivíduos a riqueza foi maior se comparada ao ambiente Parana,
que mostrou 262 indivíduos coletados. Já este ultimo ambiente foi menor se
comparado a ressaca que apresentou 282 indivíduos. Observou-se que os
lagos, mesmo tendo o maior número de indivíduos, não excederam o número
de espécies das ressacas (Figura 14).
35
Figura 14 - Curva de rarefação para os ambientes Lago, Parana e Ressaca coletados com malhadeira na RDS Mamirauá, nos meses de março, julho e dezembro de 2003
Para os habitats observou-se que mesmo apresentando o maior número
de indivíduos, as macrófitas aquáticas não excederam a riqueza das galhadas,
que teve um aumento na diversidade a medida que incrementou-se o número
de indivíduos. Nas macrófitas aquáticas percebeu-se uma tendência a
estabilização (Figura 15).
Figura 15 - Curva de rarefação para os habitats macrófitas, galhada e margem coletados com malhadeira na RDS Mamirauá nos meses de março, julho e dezembro de 2003
36
3.1.6. Discussão
Os ciclídeos dos ambientes estudados na área focal da RDSM
corresponderam a 17% da captura total em número e 19% do peso total
durante o período de amostragem. Onze espécies foram consideradas raras
por apresentarem menos que 10 indivíduos coletados, enquanto que
Mesonauta insignis, Cichlasoma amazonarum e Apistogramma eunotus foram
mais abundantes para todos os ambientes e habitats. Prado et al. (2009),
estudando a diversidade de peixes em bancos de macrófitas aquáticas dos
lagos de várzea do Baixo rio Solimões, registraram estas mesmas espécies
como as mais abundantes dentre a família Cichlidae.
A maior diversidade foi registrada na enchente, enquanto que a maior e
menor abundância foi registrada para a seca e a cheia, respectivamente.
Possivelmente ocorrem movimentos laterais dos ciclídeos dentre os habitats
em busca de condições limnológicas adequadas para a sobrevivência destes.
Movimentos sazonais nos ambientes de várzea já foram registrados para
outras espécies de peixes amazônicos (Junk, 1983) e para Pygocentrus
nattereri (Camargo & Queiroz, 2005).
Junk et al. (1980) afirmam que as variações sazonais expandem e
contraem sazonalmente os ambientes, regulando as comunidades aquáticas e
tornando os ambientes muito dinâmicos e diversos. Desta forma, as ressacas
foram o habitat onde ocorreu a maior diversidade. Diferente dos lagos, que
neste estudo tiveram a maior abundância de indivíduos. Desta forma, os lagos
de várzea podem ser os habitats mais importantes, por causa da sua
produtividade e principalmente porque permitem o uso de uma variedade de
apetrechos (Junk, 1980).
Os peixes usam estruturas físicas do ambiente, tais como rochas,
madeiras submersas, macrófitas aquáticas como abrigo, proteção contra
predadores e como sítios de forrageio e reprodução (Helfman, 1981 in Oliveira
e Goulart, 2000). Neste estudo, o maior número de espécies foi registrado nas
37
galhadas, enquanto o maior número de indivíduos foi capturado em habitats
com presença de macrófitas aquáticas.
Bulla et al. (2005) ressaltam que as macrófitas aquáticas, em
comparação a outros habitats, suportam maiores densidades de indivíduos e
de espécies de peixes, devido à presença de substratos para desova, recursos
alimentares abundantes e refúgio contra predadores. Por sua vez, as
macrófitas se constituem dispersores para a fauna aquática em grandes rios e
lagos (Schiesari et al., 2003).
Crampton (1999) observou que muitos dos peixes que vivem na floresta
alagada durante a cheia são confinados as galhadas durante a seca. Neste
microhabitat se encontra uma comunidade de peixes que aproveita uma ampla
variação de nichos espaciais e alimentares, com destaque do acará disco
(Symphysodon aequifasciatus) e acará boari (Mesonauta insignis). Outras
espécies como o tucunaré (Cichla monoculus), se reproduzem no final da seca,
quando a água começa a subir, sobre os galhos ou outras estruturas
submersas e então protegem energicamente seus ovos e alevinos contra
potenciais predadores.
A diversidade e a equitatividade da comunidade estão diretamente
associadas com a abundância de indivíduos e com a riqueza de espécies.
Quanto menos uniforme é a abundância de exemplares, menores são os
valores da diversidade e da equitatividade (Lemes e Garuti, 2002). Os valores
de equitatividade maiores que 0,5 denotam uma distribuição equitativa dos
dados de abundância entre as espécies.
As análises de Cluster e MDS mostraram que a ressaca no período da
cheia mostrou maior dissimilaridade entre as amostras, separando-se dos
demais grupos, provavelmente por apresentar a menor densidade de
indivíduos e diversidade.
As curvas de rarefação comparando as assembléias de peixes dos
ambientes em relação à riqueza de espécies mostraram que os lagos
38
apresentaram uma tendência à estabilização ao se comparar com os valores
obtidos para a ressaca e os paranas. Por sua vez, com pequeno acréscimo do
esforço nas ressacas, espera-se atingir sempre um maior número de espécies,
ao se comparar com os valores previstos para a os lagos e paranas.
Para os habitats, a diversidade nas galhadas aumenta com o acréscimo
nos indivíduos coletados, enquanto que nas margens e nas macrófitas
aquáticas observou-se uma tendência à estabilização à medida que aumentou
a abundância.
Os padrões de co-ocorrência registrados para algumas espécies durante
a variação sazonal foram evidenciados no presente estudo, possivelmente
como estratégias para evitar fatores limitantes tais como limitações de oxigênio,
condições extremas de enxofre ou de pH como registrado para alguns
ambientes de várzea por Camargo & Queiroz (2005).
39
3.2. PERÍODO II - Ciclídeos associados às macrófitas aquáticas em lagos de
várzea
3.2.1. Diversidade e abundância
A composição das capturas foi dominada por formas juvenis ou de
pequeno porte. O comprimento e o peso médio foram de 49 ± 25,28mm e 4,75
± 9,3g. Ao final do estudo foram capturados 5.365 espécimes, que pesaram
23,7 quilogramas, distribuídos em 18 espécies e 16 gêneros. As espécies mais
abundantes foram Mesonauta insignis (n=2.967), Cichlasoma amazonarum
(n=1.272), Cichla monoculus (n=224), Satanoperca jurupari (n=190), Heros
efasciatus (n=167) e Apistogramma eunotus (n=119). As espécies Mesonauta
insignis e Cichlasoma amazonarum constituíram cerca de 80% do peso total da
biomassa capturada (Tabela 5).
Tabela 5 - Diversidade de Ciclídeos coletados em lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
Espécies N° indv. % Peso Total(g) (%)
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) 105 1,96 242,53 1,02 Acaronia nassa (Heckel, 1840) 116 2,16 1486,35 6,27 Aequidens tetramerus (Heckel, 1840) 6 0,11 44,00 0,19 Apistogramma bitaeniata (Pellegrin, 1936) 33 0,62 10,61 0,04 Apistogramma eunotus (Kullander, 1981) 119 2,22 53,91 0,23 Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) 7 0,13 509,12 2,15 Chaetobranchus semifasciatus (Steindachner, 1875) 1 0,02 1,31 0,01 Cichla monoculus (Spix & Agassiz, 1831) 224 4,18 384,52 1,62 Cichlasoma amazonarum (Kullander, 1983) 1272 23,71 7271,71 30,66 Crenicichla regani (Ploeg, 1989) 12 0,22 31,92 0,13 Crenicichla sp1 87 1,62 1086,88 4,58 Heros efasciatus (Heckel, 1840) 167 3,11 222,04 0,94 Hypselecara temporalis (Günther, 1862) 10 0,19 129,15 0,54 Laetacara tayeri (Steindachner, 1875) 1 0,02 14,55 0,06 Mesonauta insignis (Heckel, 1840) 2967 55,30 12804,16 53,98 Pterophyllum leopoldi (Gosse, 1963) 27 0,50 177,87 0,75 Pterophyllum scalare (Lichtenstein, 1823) 21 0,39 201,58 0,85 Satanoperca jurupari (Heckel 1840) 190 3,54 821,05 3,46
40
O lago Juruá Grande apresentou a maior diversidade de espécies
(n=16), e o lago Araçazinho teve a menor durante o período de coleta.
O Lago Pagão apresentou o maior número de indivíduos (n=1.868),
seguido do lago Juruá Grande (n=1.178) e o lago Araçazinho com menor.
Na variação sazonal, observou-se que na enchente ocorreu a maior
riqueza de espécies (n=16), seguida da seca (n=15) e vazante/03 (n=12). A
menor riqueza foi observada na vazante/04 (n=07). A seca a maior densidade,
seguida da vazante/03, e a cheia com a menor (Figura 16).
Figura 16 - Densidade dos ciclídeos coletados com rede de arrasto em lagos com presença de macrófitas aquáticas na RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
Cinco espécies ocorreram em todos os períodos (Acaronia nassa,
Cichlasoma amazonarum, Crenicichla sp1, Mesonauta insignis e Satanoperca
jurupari), enquanto Pterophyllum scalare ocorreu somente durante a seca e
Chaetobranchus semifasciatus e Laetacara tayeri durante a enchente (Tabela
6).
41
Tabela 6 - Indivíduos por m2 coletados em macrófitas aquáticas de lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004 em relação aos períodos de coleta
Vazante03 Seca Enchente Cheia Vazante04
Acarichthys heckelii 0.008 0.035 0.058 Acaronia nassa 0.055 0.029 0.014 0.030 0.047 Aequidens tetramerus 0.008 0.002 0.001 Apistogramma bitaeniata 0.021 0.020 0.004 Apistogramma eunotus 0.031 0.097 0.004 0.003 Astronotus ocellatus 0.006 0.001 Chaetobranchus semifasciatus 0.001 Cichla monoculus 0.204 0.006 0.005 Cichlasoma amazonarum 0.453 0.475 0.217 0.269 0.201 Crenicichla sp1 0.078 0.046 0.004 0.004 0.003 Crenicichla sp2 0.008 0.004 0.001 0.008 Heros efasciatus 0.137 0.018 0.004 Hypselecara temporalis 0.004 0.005 Laetacara tayeri 0.001 Mesonauta insignis 0.411 2.357 0.172 0.085 0.195 Pterophyllum leopoldi 0.021 0.004 Pterophyllum scalare 0.020 Satanoperca jurupari 0.029 0.031 0.127 0.002 0.003
3.2.2. Índices de estrutura de Cichlidae
A média do índice de equitatividade de Pielou (J’) foi de 0,60, sendo
maior no Lago Tracajá, na vazante/04 (J’=0,90), e menor no lago Araçazinho
na enchente (J’=0,14). Para o índice de diversidade de Simpson, a média dos
lagos foi de 0,54, sendo o valor máximo registrado para o lago Tracajá na
enchente (D’=0,79) e menor para o lago Juruázinho na vazante/04 (D’=0,18)
(Tabela 8).
Os cálculos do número de indivíduos e do peso (g) mostraram que o
Lago Pagão na seca foi o que apresentou os maiores valores, e os menores
valores foram encontrados no período da vazante/04. Os maiores valores de
densidade foram registrados para o período de seca para todos os lagos,
exceto para o lago Araçazinho (Tabela 7).
42
Tabela 7 - Parâmetros da estrutura da comunidade de peixes coletada em cinco lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
Lago Período S N J' D’ Peso (g) Ind.m-2 g.m-2 Vazante/03 6 87 0,65 0,63 230,04 1,09 1,28 Seca 5 51 0,62 0,51 201,69 0,64 1,12 Enchente 2 97 0,14 0,40 145,68 1,21 0,81 Cheia 6 139 0,34 0,27 377,43 1,74 4,72
Araçazinho
Vazante/04 3 72 0,87 0,59 284,00 0,90 1,58 Vazante/03 8 106 0,43 0,41 724,29 1,33 4,02 Seca 12 836 0,50 0,52 4694,12 10,45 26,08 Enchente 10 103 0,75 0,77 473,28 1,29 2,63 Cheia 4 99 0,69 0,57 219,58 1,24 1,22
Juruá Grande
Vazante/04 5 34 0,74 0,65 113,59 0,43 0,63 Vazante/03 7 64 0,58 0,51 788,23 0,80 4,38 Seca 12 522 0,51 0,57 2582,56 6,53 14,35 Enchente 9 190 0,67 0,72 461,02 2,38 2,56 Cheia 3 56 0,53 0,35 67,06 0,70 0,37
Juruázinho
Vazante/04 2 11 0,44 0,18 31,81 0,14 0,18 Vazante/03 9 142 0,70 0,70 1431,90 1,78 7,95 Seca 10 1626 0,31 0,32 6438,05 20,33 35,77 Enchente 9 46 0,57 0,56 142,48 0,58 0,79 Cheia 3 44 0,60 0,42 290,21 0,55 1,61
Pagão
Vazante/04 3 10 0,82 0,60 86,04 0,13 0,48 Vazante/03 3 24 0,90 0,62 95,98 0,30 0,53 Seca 12 587 0,60 0,71 3692,42 7,34 20,51 Enchente 11 292 0,74 0,79 1013,83 3,65 5,63 Cheia 8 78 0,68 0,71 550,32 0,98 3,06
Tracajá
Vazante/04 6 49 0,59 0,54 357,68 0,61 1,99
A análise de variância mostrou diferenças significativas para os valores
médios de equitatividade e diversidade de Simpson (Tabela 8). O lago
Araçazinho foi o que mais contribuiu para essa diferença, por apresentar os
menores valores de número de indivíduos.
43
Tabela 8 - Valores da análise de Variância - ANOVA para os índices de estrutura de comunidade, utilizando como fatores os pontos de coleta (lago) e os períodos de coleta. Sendo sg: significativo; ns: não-significativo; J’: equitatividade; Simpson: índice de diversidade de Simpson
fator SS GL MS F P
período 50,0 4 12,5 0 0,0000* sg J'
lago 1250,0 4 312,5 0 0,0000* sg
período 86,0 4 21,5 14,3 0,000037 sg D’
lago 1190,0 4 297,5 198,3 0,000000 sg
3.2.3. Riqueza
As curvas acumulativas de espécies para os cinco lagos estudados
mostraram que no Juruá Grande ocorreu a maior riqueza (16 espécies), e os
lagos Juruázinho, Pagão e Tracajá ocorreram riquezas similares (14 espécies)
e o Araçazinho com a menor (10 espécies). As curvas mostraram que, com o
esforço aplicado, os lagos Juruá Grande e Tracajá já atingiram a assíntota
prevista de riqueza de espécies (Figura 17).
Figura 17 - Curvas acumulativas de espécies dos Ciclídeos coletados em macrófitas de lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
44
3.2.4. Rarefação
A curva de rarefação calculada para os cinco lagos mostrou um rápido
acréscimo da riqueza com o aumento do número de indivíduos, seguido de
uma tendência à estabilização, exceto para o lago Pagão. Observou-se que,
mesmo tendo o maior número de indivíduos, o lago Pagão não excedeu a
riqueza do lago Juruá Grande (Figura 18).
Para um esforço mínimo de 500 indivíduos, por exemplo, o lago Juruá
Grande teve maior riqueza, enquanto que o Lago Araçazinho teve a menor.
Figura 18 - Curvas de rarefação calculadas para os cinco lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
3.2.5. Fatores abióticos
A temperatura da água variou de 26,4 a 34,2°C. Os maiores valores
foram registrados para a seca e os menores para a cheia. Os lagos Pagão e
Araçazinho tiveram os maiores valores 34,2°C (Figura 19). A temperatura não
sofreu variação significativa entre os períodos de amostragem (ANOVA,
F=1,68; p=0,20) e entre os pontos de coletas (ANOVA, F=1,04; p=0,42).
45
25
26
27
28
29
30
31
32
33
vazante/03 seca enchente cheia vazante/04
período
Tem
per
atu
ra (
°C)
Araçázinho
Juruá Grande
Juruázinho
Pagão
Tracajá
Figura 19 - Temperatura média da água (°C) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
O oxigênio dissolvido variou entre 0,07 e 12,6mg/L. Os valores foram
máximos no período da seca para o lago Pagão, na enchente para o Lago
Tracajá e na cheia para os demais lagos (Figura 20). Não houve diferenças
significativas entre os pontos (ANOVA, F=0,48; p=0,75) e períodos de coleta
(ANOVA, F=0,37; p=0,83).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
vazante/03 seca enchente cheia vazante/04
período
OD
(m
g/L
)
Araçázinho
Juruá Grande
Juruázinho
Pagão
Tracajá
Figura 20 - Oxigênio dissolvido médio (mg/L) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
46
A condutividade variou entre 44,3 e 385,5µS.cm-1. Na seca ocorreu um
aumento da condutividade que decresceu intensamente,nos outros períodos
com destaque no período da vazante (Figura 21). Enquanto que o lago
Araçazinho apresentou as maiores condutividades, o lago Pagão teve as
menores. A análise de variância mostrou diferenças significativas entre os
pontos de coleta. (ANOVA, F=14,77; p<0,05)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
vazante/03 seca enchente cheia vazante/04
período
con
du
tivi
dad
e (u
S.c
m-1
)
Araçázinho
Juruá Grande
Juruázinho
Pagão
Tracajá
Figura 21 - Condutividade média (µS.cm-1) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
O pH da água manteve-se de neutro a levemente alcalino,(6,8 a 8,1). Os
maiores valores ocorreram na cheia e menores na vazante/03. A maior média
foi registrada para o lago Juruá Grande (8,1) (Figura 22). Não foram
encontradas diferenças significativas entre os pontos (ANOVA, F=2,92; p=0,05)
e entre os períodos de coleta (ANOVA, F=0,96; p=0,46).
47
6,5
6,7
6,9
7,1
7,3
7,5
7,7
7,9
8,1
8,3
vazante/03 seca enchente cheia vazante/04
período
pH
Araçázinho
Juruá Grande
Juruázinho
Pagão
Tracajá
Figura 22 - pH médio durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
A transparência da água variou entre 20 e 150cm. Foi menor na seca,
aumentando durante a enchente, com máxima transparência na vazante
(Figura 23). Não houve uma variação significativa entre os pontos (ANOVA,
F=0,28; p=0,89) e meses de coleta (ANOVA, F=1,80; p=0,18).
0
20
40
60
80
100
120
140
vazante/03 seca enchente cheia vazante/04
período
tran
spar
ênci
a (c
m)
Araçázinho
Juruá Grande
Juruázinho
Pagão
Tracajá
Figura 23 - Transparência média (cm) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
48
A profundidade variou entre 30 e 899cm. Para todos os lagos houve um
declínio da transparência durante os meses de seca, aumentando com o
aumento do nível da água. A maior média foi registrada para o lago Tracajá
(587,5cm) e a menor para o lago Juruázinho (85,4cm) (Figura 24). Não foram
observadas diferenças significativas entre os meses (ANOVA, F=0,35; p=0,84)
e entre os pontos de coleta (ANOVA, F=0,46; p=0,76).
0
100
200
300
400
500
600
700
vazante/03 seca enchente cheia vazante/04
período
pro
fun
did
ade
(cm
)
Araçázinho
Juruá Grande
Juruázinho
Pagão
Tracajá
Figura 24 - Profundidade média (cm) durante o período de coleta nos lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
Através da análise de PCA observou-se que as variáveis que tiveram
correlação positiva foram o pH, a transparência (cm) e a profundidade (cm). A
temperatura (°C), o oxigênio dissolvido (mg/L) e a condutividade (µS.cm-1)
tiveram uma correlação negativa (Figura 25). Na Tabela 9 apresenta-se o
gráfico da pontuação para o componente obtido.
49
Axi
s 2
Axis 1
-0.01
-0.03
-0.04
-0.05
-0.06
0.01
0.03
0.04
0.05
0.06
-0.01-0.03-0.04-0.05-0.06 0.01 0.03 0.04 0.05 0.06
Temperatura (°C)
Oxigênio (mg/L)
Condutividade(uS.cm-1)
Ph Transparência (cm)
Profundidade (cm)
Vector scaling: 0.07
Figura 25 - Análise de Componentes Principais (PCA) para os dados abióticos dos lagos da RDSM no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
Tabela 9 - Pontuações da Análise de Componentes Principais (PCA)
Variáveis Fator 1 Fator 2
Temperatura (°C) -0.052 -0.01 Oxigênio (mg/L) -0.332 -0.941 Condutividade (µS.cm-1) -0.534 0.195 pH 0.009 -0.037 Transparência (cm) 0.284 -0.051 Profundidade (cm) 0.722 -0.269
O primeiro PCA (Fator 1) explicou 66% da variância dos dados originais,
enquanto a PCA 2 explicou 24%. Os resultados aplicando a PCA são
mostrados na Tabela 10.
Tabela 10 - Dados da análise de Componentes Principais
Fator 1 Fator 2
Autovalores 0.154 0.055 Porcentagem 65.893 23.639 Porcentagem acumulada 65.893 89.531
50
A análise de correlação de Pearson mostrou que as variáveis
temperatura (°C), oxigênio dissolvido (mg/L) e condutividade (µS.cm-1)
apresentaram correlação negativa com o nível da água, enquanto o pH,
transparência (cm) e profundidade (cm) tiveram correlação positiva (Figura 26;
Tabela 11).
Tabela 11 - Valores calculados para a Correlação Linear de Pearson para as varáveis físico-químicas em relação ao nível da água da RDS Mamirauá durante o período de coleta
r (Pearson) IC 95% R2 GL (p)
T °C -0.82 -0.95 a -0.46 0.6663 10 0.001 sg
OD mg/L -0.04 -0.60 a 0.54 0.0019 10 0.894 ns
Condutividade µS.cm-1 -0.82 -0.95 a -0.46 0.669 10 0.001 sg
pH 0.59 0.02 a 0.87 0.3435 10 0.045 sg
Profundidade cm 0.61 0.06 a 0.88 0.3741 10 0.035 sg
Transparência cm 0.93 0.76 a 0.98 0.8625 10 < 0.0001 sg
Figura 26 - Gráficos da correlação de Pearson em relação ao nível da água para o período de coleta de setembro de 2003 a agosto de 2004
52
3.2.6. Correlação entre os fatores bióticos e abióticos
Os resultados da Análise de Correspondência Canônica (CCA) são
mostrados na Tabela 12 e Figura 27. Os autovalores (eigenvalues) para os dois
primeiros eixos foram 0,154 e 0,037, sendo que as correlações espécie-
ambiente apresentadas por estes eixos foram 0,617 e 0,336. As porcentagens
das variâncias acumuladas por estes eixos foram 80% e 99%.
Tabela 12 - Resultados da Análise de Correspondência Canônica - CCA
Fator 1 Fator 2
Eigenvalues 0,154 0,037 Porcentagem 8,033 1,915 Porcentagem acumulada 8,033 9,948 Correlação espécie-variáveis ambientais 0,617 0,366
A transparência (cm) e profundidade (cm) definiram a abundância da
espécie Acaronia nassa, enquanto que o oxigênio dissolvido (mg/L) definiu a
abundância de Acarichthys heckelii, Cichla monoculus, Heros efasciatus e
Mesonauta insignis; e o pH determinou a abundância da espécie Cichlasoma
amazonarum.
Eix
o 2
Eixo 1
A. heckelii
A. nassa
A. eunotus
C. monoculus
C. amazonarum
Crenicichla sp2
H. efasciatus M. insignisS. jurupari
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
-1.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
-0.2-0.4-0.6-0.8-1.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
T (°C)
DO (mg/L)
Cond (uS.cm-1)
Ph
Transp (cm)
Prof (cm)
Vector scaling: 0.90
Figura 27 - Ordenação gerada através da análise de correspondência canônica – CCA para as espécies mais abundantes em lagos com presença de macrófitas aquáticas na RDS Mamirauá
53
3.2.7. Similaridade entre os lagos
O agrupamento de Cluster e a analise de MDS mostraram que os dados
de abundância constituíram-se em três grupos principais com similaridade de
60% (Figuras 28 e 29). No primeiro grupo ocorreram as amostras da seca e
enchente, enquanto que no segundo agrupou a maior parte das amostras da
cheia e vazante. As amostras do lago Araçazinho na seca e do lago Pagão na
enchente apresentaram a maior diferença em relação aos demais, separando-
se dos grupos.
JuGENJurzENTracENTracSEPagSEJuGSEJurzSEAracSE
JurzVZ04AracENJurzCHPagCH
PagVZ04TracVZ03
PagENJuGVZ03JurzVZ03PagVZ03
AraCHTracCH
JuGVZ04AracVZ04
JuGCHAracVZ03TracVZ04
Am
ostr
as
100 80 60 40Similaridade
Transform: Log(X+1)Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
Figura 28 - Dendograma de similaridade de Bray-Curtis com os dados de abundância de Ciclídeos coletados em lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004
54
.
Transform: Log(X+1)Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
Similarity
60
AraCH
AracEN
AracSE
AracVZ03
AracVZ04JuGCH
JuGEN
JuGSE
JuGVZ03 JuGVZ04
JurzCH
JurzENJurzSE
JurzVZ03
JurzVZ04PagCH
PagEN
PagSE
PagVZ03
PagVZ04
TracCH
TracEN
TracSE
TracVZ03
TracVZ04
2D Stress: 0,12
Figura 29 - Análise de MDS das amostras coletadas nos quatro lagos em diferentes períodos do ciclo sazonal
A análise de ANOSIM indicou que o período hidrológico foi o único que
influenciou significantemente a distribuição das assembléias (Tabela 13).
Tabela 13 - Resultado do ANOSIM para as variáveis habitat e período hidrológico baseada na matriz de dados logaritmizados
Fator R Nível de significância lago 0,027 0,605
período 0,83 0,001
A análise de Simper mostrou que Cichlasoma amazonarum e
Mesonauta insignis foram as espécies que mais contribuíram para a
similaridade entre os lagos ao longo dos períodos hidrológicos (Tabela 14).
Tabela 14 - Contribuição das espécies (%) para os grupos formados com a análise de MDS e Cluster
Grupo Espécies % Contribuição
Mesonauta insignis 54,29 Cichlasoma amazonarum 23,45
A Satanoperca jurupari 6,69 Heros efasciatus 5,2
Cichlasoma amazonarum 53,36 B Mesonauta insignis 34,17 Acaronia nassa 9,1
C Cichlasoma amazonarum 68,08 Mesonauta insignis 31,92
Grupo A Grupo B Grupo C
55
3.2.8. DISCUSSÃO
Durante todo o período de coleta, os ciclídeos representaram, 35% do
total de indivíduos capturados. O maior número de espécies foi registrado para
a enchente, sendo que houve um grande decréscimo em relação ao período da
vazante. As maiores abundâncias ocorreram durante a seca, justamente
quando as temperaturas foram maiores, em função da diminuição da coluna d’
água. Estes resultados confirmam os achados de Henderson (1999) que afirma
que a perda no tamanho e na diversidade de habitats que ocorre na seca
resulta num aumento da predação, à medida que os animais tornam-se mais
concentrados, devido a pouco ou falta de abrigo dentro dos lagos.
Durante a cheia foi capturado o menor número de indivíduos, o que se
atribui a um aumento do espelho de água e por tanto maior dispersão dos
organismos. Crampton (1999) comenta que a maioria dos peixes que se
encontram durante a cheia nas macrófitas aquáticas de lagos e canais de
várzea são jovens de espécies que passam a vida adulta na floresta alagada
ou em água aberta. Espécies como o acará-açu (Astronotus ocellatus) e acará-
roxo (Heros efasciatus) visitam as macrófitas durante a cheia para desovar.
O lago Pagão apresentou o maior número de indivíduos e o lago Juruá
Grande a maior riqueza. Estes lagos apresentam características semelhantes
como tipo de vegetação circundante e coloração de água. Ambos apresentam
restinga baixa, chavascais e coloração de água típica de águas brancas
(Chaves, 2006).
O padrão de poucas espécies dominantes em número de indivíduos e
muitas espécies raras com pequeno número de indivíduos foi mantido neste
estudo conforme os achados de Goulding et al. (1988) para outros ambientes
amazônicos.
Mesonauta insignis e Cichlasoma amazonarum ocorreram e dominaram
em número durante todos os meses e lagos amostrados. Este resultado indica
que estas espécies têm ampla capacidade euritópica suportando mudanças
56
ambientais nos lagos de várzea. Sanchez-Botero & Araújo-Lima (2001) e Prado
et al. (2009) também registraram estas espécies como dominantes em estudos
nas várzeas do rio Amazonas. Crampton (1999) enfatiza que Cichlasoma
amazonarum é residente permanente nas macrófitas aquáticas, onde é
encontrada em forma juvenil, alimentando-se, principalmente, de invertebrados
associados às raízes.
O predomínio de juvenis durante todo o período de amostragem
evidencia que estas espécies utilizam as macrófitas aquáticas como abrigo ou
refúgio contra predadores (Sánchez-Botero, 2007). Crampton (1999) comenta
que os alevinos e as espécies de pequeno porte geralmente ficam restritos ao
abrigo das macrófitas nas margens dos lagos e canais. O risco de predação
parece ser o fator determinante do predomínio de formas menores dos peixes
neste ambiente. Acredita-se também, que espécies de pequeno porte e formas
jovens de espécies maiores seriam favorecidas em ambientes com hipóxia, em
função de uma menor pressão por predação existente nesses habitats, em
decorrência da limitação à presença de certos grupos de peixes piscívoros
(Zuanon et al., 2008).
Resultados semelhantes foram encontrados em estudos realizados na
Bacia do rio Parana e do rio Orinoco. As raízes das macrófitas dos lagos de
várzea do rio Mogi Guaçú e do rio Orinoco são colonizadas por espécies jovens
de muitas espécies de peixes, incluindo espécies migradoras e exploradas pela
pesca (Meschiatti et al., 2000; Machado Allinsson, 1987 in Sánchez-Botero &
Araújo-Lima, 2001).
De acordo com Ludwig & Reynolds (1988), o índice de equitatividade de
Pielou (J’) indica o grau de distribuição dos indivíduos no seu habitat, e
resultados acima de 0,5 indicam uma distribuição uniforme entre as espécies.
As curvas acumulativas de espécies, comparando os cinco lagos,
indicaram que, para valores similares de esforço, o lago Juruá Grande foi o que
apresentou maior diversidade (16 espécies), enquanto o Araçazinho teve a
menor (10 espécies). Por sua vez, através das curvas foi evidente que, com o
57
esforço aplicado, para alguns lagos já foi atingida a assíntota prevista de
riqueza de espécies.
A curva acumulativa de espécies indica que para estimar o número real
de espécies em lagos de várzea com características semelhantes aos
estudados, o esforço de pesca deve ser superior a 50 amostras. É importante
ressaltar que para se estimar a riqueza de espécies é necessário que se
combine mais de um método de captura.
As curvas de rarefação mostraram que a riqueza apresentou uma
tendência à estabilização exceto para lago Pagão ao se comparar com os
valores previstos.
A ordenação de espécies através das análises de estatística
multivariada (Cluster e MDS) evidenciou que a estrutura das comunidades de
peixes nos lagos estudados é influenciada pelo período hidrológico, com alta
similaridade entre amostras dos diferentes lagos num mesmo período sazonal.
No que diz respeito às características físico-químicas das águas das
várzeas amazônicas, Junk (1980) afirma que são fortemente influenciadas
pelos maiores rios. A limnologia básica dos corpos aquáticos da RDSM é
determinada pela composição físico-químico dos rios Solimões e Japurá,
embora alguns lagos apresentem características físico-químicas bem distintas
daquelas dos grandes rios (Henderson, 1999). Um fator determinante na
composição físico-química da água desses ambientes é a quantidade de
detritos provenientes da decomposição das macrófitas aquáticas (Pagioro &
Thomaz, 1999). A oscilação do nível da água por sua vez determinou a
estruturação das comunidades ictiofaunísticas destes sistemas aquáticos, que
por sua vez conduzem a mudanças na temperatura, concentração de O.D.,
matéria orgânica em decomposição, competição por alimento e espaço, e
cobertura vegetal (Marques, 2005).
Camargo e Queiroz (2005), em estudo com as piranhas (Pygocentrus
nattereri) em lagos de várzea, verificaram que sua distribuição local está
58
determinada especificamente pela concentração de oxigênio dissolvido e
principalmente do ácido sulfídrico, que torna as águas indisponíveis para a
manutenção de estas espécies não migradoras e por tanto sendo obrigadas a
realizar deslocamentos laterais entre os lagos na busca de melhores condições
destas variáveis.
A temperatura da água influencia potencialmente os processos
fisiológicos e comportamentais dos peixes (Huntchison, 1975). Este fator é
determinado pelo volume de água dos lagos, quando a radiação solar e
temperatura do ar não variam muito (Queiroz, 1997). Neste estudo, observou-
se pouca variação na temperatura, sendo que os maiores valores foram
registrados para os meses de seca e os menores para os meses de cheia. Na
enchente existe uma maior quantidade de chuvas e menor amplitude térmica.
Na vazante esta amplitude aumenta, atingindo os níveis mais altos na seca,
quando também são registrados os menores índices de precipitação. (Relatório
SCM, 1996)
Durante alguns períodos de inundação, em determinados lagos
ocorreram períodos de anoxia ou condições de hipoxia, o que submete os
peixes a um estresse elevado (Camargo e Queiroz, 2005). A concentração de
oxigênio dissolvido na água pode sofrer drástica redução quando ocorre
aumento considerável da concentração de material em suspensão na água
após intensas precipitações e drenagem para lagos, represas ou rios (Tundisi &
Tundisi, 2008).
Durante certos períodos do ano, grandes extensões de várzea
permanecem intensamente hipóxicas, limitando a presença de boa parte das
espécies de peixes. A distribuição diferencial de oxigênio entre os habitats
presentes na várzea pode ter conseqüências ecológicas importantes, além da
limitação à presença das espécies (Junk et al. 1983). Nos mesmos lagos de
várzea com baixas concentrações de oxigênio e altas de enxofre, no fim do dia
quando a coluna da água sofre inversão térmica, a diversidade de peixes é
extremamente baixa com registro somente da sardinha (Triportheus sp) e jeju
59
(Hoplerythrinus unitaeniatus), que tomam o oxigênio disponível na camada
superficial de contato água-atmosfera (Camargo & Queiroz, 2005).
As macrófitas oxigenam a água, e atuam como filtros solares, atenuando
o aquecimento das águas principalmente durante os períodos de hipóxia nos
lagos no período seco. Assim, com aumento da densidade vez aumentada à
abundância das mesmas no ambiente há um aumento de oxigênio dissolvido
na água, propiciando a ocupação por novas espécies de peixes (Junk et al.,
1983). Os lagos de várzea do Amazonas produzem altas quantidades de
matéria orgânica, portanto, o predomínio da respiração sobre a produção de
oxigênio dissolvido por atividade fotossintética explica por que a água desses
lagos geralmente são sub-saturadas com o oxigênio dissolvido (Tundisi &
Tundisi, 2008).
Como a solubilidade do oxigênio diminui com o aumento da temperatura,
as águas da Amazônia frequentemente possuem baixos níveis de oxigênio, o
que pode ser percebido nas muitas adaptações para respiração observadas
nos peixes de várzea (Henderson, 1999).
Esteves (1998) enfatiza que a condutividade esta relacionada com as
características geoquímicas da região onde se localizam e com as condições
climáticas. A condutividade teve sua maior média durante o período da seca
(350µS.cm-1). Alguns lagos da reserva tem durante o período da seca valores
maiores que 180µS.cm-1 a 20°C, este alto valor esta provavelmente ligado a
decomposição das macrófitas aquáticas (Henderson & Robertson, 1999). Os
menores valores de condutividade registrados durante as chuvas parecem
estar associados com o aumento do nível da água com a entrada da água dos
rios como fator diluidor. Henderson (1999) sugere que o aumento da
condutividade durante outros períodos, deve-se ao material dissolvido foi
previamente retido dentro das várzeas da RDSM.
O equilíbrio interno do pH é fundamental para a fisiologia dos peixes,
portanto, a sua variação no ambiente aquático afeta suas habilidades em
relação à ocupação dos habitats. Neste trabalho, os valores de pH variaram
60
pouco, com menores registros no período de cheia. Junk (1980) comenta que o
pH dos rios de água branca geralmente ocupam uma posição intermediária, já
Henderson (1999) registrou valores de 7,20 e 6,36, para os rios Solimões e
Japurá, respectivamente.
Os valores da Análise de Correspondência indicaram que as variáveis
ambientais medidas foram suficientes para explicar a maior parte da variação
da abundância das espécies relacionadas ao ambiente, embora reste ainda
uma quantidade de variação não explicada. Neste estudo, os valores das
variáveis abióticas não foram influenciados pela variação espaço-temporal,
exceto para a condutividade (µS.cm-1) que foi significante para o fator ponto de
coleta.
O estudo mostrou que a dinâmica do nível da água é um fator
determinante na diversidade, distribuição e abundância dos ciclídeos nos lagos
da RDS Mamirauá, entretanto, a continuidade das pesquisas ao longo dos
anos permitirá uma análise mais acurada dos dados. Crampton (1999)
observou que a inundação e a seca destroem e recriam elementos do habitat.
A interface aquático-terrestre através da paisagem dado que o pulso sazonal
de inundação interfere na estruturação dos organismos associados ao
substrato, continuamente desorganizando e reorganizando as mesmas em
outros habitats.
61
4. CONCLUSÃO GERAL
O padrão de poucas espécies dominantes em número de indivíduos e
muitas espécies raras com pequeno número de indivíduos foi mantido neste
estudo.
A riqueza foi diferente para os dois períodos, se mostrou maior no
período I (28 espécies), enquanto que para o período II teve 18 espécies, o que
sugere que a maior diversidade de espécies deve-se a maior variedade de
habitats estudados no período I.
Mesonauta insignis e Cichlasoma amazonarum foram dominantes
durante todo o estudo em todos os ambientes e habitats. Estas espécies
podem ser consideradas euritópicas, pois tem grande capacidade de
adaptação às mudanças ambientais. Estas espécies poderiam ser indicadas
como objeto de manejo como peixes ornamentais dentro da reserva.
Nove espécies não ocorreram nos lagos com macrófitas aquáticas.
Comparando as espécies que ocorreram associadas às macrófitas aquáticas
dos dois períodos, o período II teve duas espécies a menos. As espécies
Laetacara tayeri e Chaetobranchus semifasciatus ocorreram apenas nas
macrófitas do período II, enquanto Apistogramma agassizii, A. pertensis,
Crenicichla sp2, Crenicichla sp3, Crenicichla sp4 e Geophagus proximus
ocorreram apenas no período I.
O estudo mostrou que os Ciclídeos se deslocam entre os ambientes e
habitats da Reserva em busca de melhores condições para a sobrevivência
destes.
62
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67
ANEXOS
Anexo A - Coordenadas dos pontos de coleta
Lago S W Lago Aiucá 2º43'25'' 65º17'40'' Lago Araçazinho 2º59'23'' 64º51'34'' Lago da Volta 2º25'26'' 65º18'22'' Lago Juruá Grande 3º01'56'' 64º51'12'' Lago Juruazinho 3º02'31'' 64º51'00'' Lago Pagão 3º02'45'' 64º50'23'' Lago Preguiça 2º24'49'' 65º08'40'' Lago Tapiú 2º26'35'' 65º15'28'' Lago Tracajá 3º06'46'' 64º46'35' Parana do Apara 2º59'07'' 64º51'57'' Parana do Cauaçu 3º01'52'' 66º59'41'' Parana do Jarauá 3º08'40'' 64º56'29'' Ressaca do Araçazinho 3º00'26'' 65º08'27'' Ressaca do Jarauá 3º08'40'' 65º03'30'' Ressaca do Maciel 2º49'25'' 65º01'26'' Ressaca do Pagão 4º57'18'' 65º09'35'' Ressaca do Putiri 3º15'48'' 65º06'40'' Ressaca do Rato 3º11'08'' 66º58'35'' Ressaca do Tijuaca 2º30'07'' 64º41'57''
68
Anexo B - Apetrechos utilizados por nas coletas na área Focal da RDS Mamirauá
Microhabitat Habitat
Apetrecho Capim Flutuante Galhada Margem Praia Lago Parana Ressaca
Malhadeira x x
Rapiché x x x x
Rede de arrasto x x x x x x x
Anexo C – Lista de espécies de Ciclídeos com referencia e nome comum, coletados na RDS Mamirauá durante todo período de coleta.
Espécie Nome local Período I Período II Microhabitat Habitat
Acarichthys heckelii Acará* + + Ma, g, m L,p,r Acaronia nassa Acará-lanterna + + Ma, g, m, pr L, p,r Aequidens tetramerus Acará-bocudo + Ma,g, m, pr L, p, r Apistogramma agassizii Acará* + + Ma, g, m L, p, r A. bitaeniata Acará* + + Ma, g, m L, p, r A. eunotus Acará* + Ma, g, m, pr L, p, r A. pertensis Acará* + + Ma, g L Astronotus ocellatus Acará-açu + Ma, g L, r Chaetobranchus flavescens Acará-branca + + g L, r C. semifasciatus Acará-tucunaré + + g R Cichla monoculus Tucunaré + + Ma, g L, p, r Cichlasoma amazonarum Acará* + Ma, g, m, pr L,p, r Crenicichla regani Jacundá* + g L, r C. lugubris Jacundá* + + g L, r Crenicichla sp1 Jacundá-cametá + Ma, g, m, pr L, p, r Crenicichla sp2 Jacundá* + g R Crenicichla sp3 Jacundá* + + g P, r Crenicichla sp4 Jacundá* + Ma, g L Crenicichla sp5 Jacundá* + Ma, g P, r Geophagus proximus Acará-roe roe + + Ma P Heros efasciatus Acará-roxo + + Ma, g L, p,r Hypselecara temporalis Acará-vinagre + + Ma, g, m L, r Laetacara tayeri Acará* + + g Mesonauta insignis Acará-boari + + Ma, g, m, pr L,p,r Pterophyllum leopoldi Acará-bandeira leopoldi + + Ma,g P P. scalare Acará-bandeira + Ma, g L, p, r Satanoperca cf. acuticeps Acará* + + g R S. jurupari acará-bicudo + + Ma, g, m L, p, r
*Habitats: Ma=macrófitas aquáticas, g=galhada,m=margem,p=praia; Habitat: L=lago; p=Parana, r=ressaca
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Anexo D - Média e desvio padrão dos parâmetros físico-químicos da água de lagos da RDS Mamirauá no período de setembro de 2003 a agosto de 2004. M=média; DP= desvio padrão; VZ03=vazante/2003; SE=seca; EN= enchente; CH=cheia; VZ= vazante/2004
Temperatura (°C)
VZ03 SE EN CH VZ04
Lago M DP M DP M DP M DP M DP
Araçazinho 29.10 0.69 31.52 1.67 29.09 0.28 27.50 0.35 27.74 0.29 Juruá Grande 28.88 0.08 31.45 0.60 29.82 0.22 28.23 0.59 29.48 0.98 Juruázinho 27.94 0.68 31.17 0.26 30.01 1.38 29.01 1.41 28.20 0.21 Pagão 27.60 0.16 32.06 1.36 30.03 1.67 26.79 0.29 27.02 0.08 Tracajá 29.12 0.20 32.14 0.86 30.52 0.68 27.81 0.74 28.38 0.41
Média geral 28.53 0.77 31.70 1.14 29.89 1.11 27.87 1.07 28.16 0.94
Condutividade (µS.cm-1)
VZ03 SE EN CH VZ04
Lago M DP M DP M DP M DP M DP
Araçazinho 75.96 1.48 346.71 22.58 164.42 59.03 65.42 10.02 52.28 0.33 Juruá Grande 77.68 1.80 229.61 63.30 126.54 32.58 65.11 13.42 53.30 0.42 Juruázinho 89.72 5.29 178.76 4.19 127.12 33.20 68.71 12.69 53.10 0.60 Pagão 98.66 4.65 164.53 18.97 112.06 11.30 71.79 17.55 54.76 0.46 Tracajá 82.48 0.79 186.55 25.58 122.77 16.81 70.85 11.06 55.10 0.56
Média geral 84.90 9.07 224.27 76.00 130.58 38.49 68.38 13.13 53.71 1.17
Transparência (cm)
VZ03 SE EN CH VZ04
Média geral M DP M DP M DP M DP M DP
Araçazinho 118.00 11.25 38.87 14.53 63.20 14.34 95.13 13.83 109.40 7.27 Juruá Grande 93.20 6.98 46.40 11.23 84.30 34.27 50.80 8.45 69.80 6.30 Juruázinho 68.20 6.34 57.10 6.12 54.15 17.57 58.67 7.51 81.20 4.82 Pagão 58.00 8.75 49.13 7.08 54.45 11.44 104.33 23.60 102.20 3.42 Tracajá 78.40 5.59 59.00 19.85 70.00 7.51 91.20 11.16 104.60 8.38
Total geral 83.16 22.60 49.60 14.77 65.22 22.07 80.03 25.42 93.44 16.60
70
cont. Anexo D
Oxigênio (mg/L)
VZ03 SE EM CH VZ04
Lago M DP M DP M DP M DP M DP
Araçazinho 3.04 0.65 1.56 0.94 1.15 1.11 3.32 2.93 0.40 0.04 Juruá Grande 0.93 0.73 2.91 0.66 1.70 1.20 2.61 1.32 0.42 0.06 Juruázinho 0.30 0.16 2.82 1.08 2.01 1.43 2.77 1.31 0.34 0.05 Pagão 0.13 0.05 6.94 3.00 3.34 2.62 2.55 2.54 0.31 0.07 Tracajá 0.50 0.23 2.98 1.40 3.89 1.17 2.93 2.26 0.38 0.06
Média geral 0.98 1.16 3.49 2.50 2.42 1.89 2.83 2.13 0.37 0.07
pH
VZ03 SE EM CH VZ04
Lago M DP M DP M DP M DP M DP
Araçazinho 6.88 0.04 7.53 0.30 7.64 0.51 7.93 0.39 7.50 0 Juruá Grande 7.14 0.42 7.47 0.34 7.61 0.33 8.11 0.43 7.50 0 Juruázinho 6.72 0.25 7.13 0.05 7.74 0.41 8.07 0.44 7.50 0 Pagão 7.08 0.37 7.65 0.39 7.68 0.40 7.93 0.43 7.50 0 Tracajá 7.02 0.11 7.61 0.42 7.65 0.47 7.98 0.21 7.50 0
Média geral 6.97 0.30 7.51 0.37 7.66 0.42 8.00 0.39 7.50 0
Profundidade (cm)
VZ03 SE EM CH VZ04
Lago M DP M DP M DP M DP M DP
Araçazinho 367.6 24.3 101.3 31.42 292.60 109.04 497.60 56.14 508.00 30.03 Juruá Grande 240.2 13.2 87.07 29.16 304.95 63.89 449.47 71.58 404.80 61.47 Juruázinho 262.8 25.1 85.40 16.45 284.95 136.25 553.60 86.07 517.20 46.47 Pagão 288.6 40.3 107.3 32.27 287.05 105.81 571.93 30.41 486.00 32.40 Tracajá 368.6 87.2 163.0 44.43 313.30 148.10 587.53 131.01 487.60 52.98
Média geral 305.5 68.7 110.5 43.02 296.57 114.48 532.03 95.15 480.72 58.58
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Anexo E - Valores da análise de Variância - ANOVA para os parâmetros abióticos, utilizando como fatores os pontos de coleta (lago) e os períodos de coleta. Sendo: ns=não significativo e sg=significativo
Parâmetros abióticos Fator SS Grau de liberdade MS F p
Lago 5305,8 4 1326,4 1,68 0,20 ns Temperatura (°C) período 3298,2 4 824,5 1,04 0,42 ns
Lago 2923,4 4 730,9 0,48 0,75 ns Oxigênio dissolvido (mg/L) período 2261,0 4 565,3 0,37 0,83 ns
Lago 1822,2 4 455,5 14,77 0,00003 sg Condutividade (µS.cm-1) período 113,4 4 28,3 0,92 0,48 ns
Lago 6380,2 4 1595,1 2,92 0,05 ns pH período 2099,4 4 524,9 0,96 0,46 ns
Lago 14189,8 4 3547,5 0,28 0,89 ns Profundidade (cm) período 93089,0 4 23272,3 1,80 0,18 ns
Lago 521,4 4 130,3 0,35 0,84 ns Transparência (cm) período 695,0 4 173,7 0,46 0,76 ns