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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRISCILA DA SILVA JANUÁRIO O ÚLTIMO DEBATE: PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE PERSUASÃO APRESENTADAS PELOS PRESIDENCIÁVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2018 CURITIBA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PRISCILA DA SILVA JANUÁRIO

O ÚLTIMO DEBATE: PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE PERSUASÃO APRESENTADAS

PELOS PRESIDENCIÁVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2018

CURITIBA

2018

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PRISCILA DA SILVA JANUÁRIO

O ÚLTIMO DEBATE: ANÁLISE DAS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE PERSUASÃO

APRESENTADAS PELOS PRESIDENCIÁVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2018

Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciências Sociais, linha de formação em Ciência Política, Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Sociais. Orientador: Prof. Dr. Rafael Cardoso Sampaio

CURITIBA

2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

PRISCILA DA SILVA JANUÁRIO

O ÚLTIMO DEBATE: ANÁLISE DAS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE PERSUASÃO

APRESENTADAS PELOS PRESIDENCIÁVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2018

Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciências Sociais, linha

de formação em Ciência Política, Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal

do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências

Sociais.

______________________________________

Prof. Dr. Rafael Cardoso Sampaio

Orientador – Departamento de Ciência Política, UFPR

______________________________________

Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi

Departamento de Ciência Política, UFPR

______________________________________

Prof. Dr. Nelson Rosário de Souza

Departamento de Ciência Política, UFPR

Curitiba, 15 de novembro de 2018.

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À minha mãe, Edna.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, à minha mãe, Edna, por sempre ter lutado para

que eu conseguisse chegar até aqui. Obrigada por acreditar em minha aprovação no

vestibular, em meus anos de muito esforço para conseguir me manter na

universidade, e em minha capacidade para realizar este trabalho de conclusão de

curso para, finalmente, caminhar em direção ao meu título de Bacharel em Ciências

Sociais.

À Casa da Estudante Universitária de Curitiba (CEUC), pelos três anos de

acolhimento. E também pelas amizades e pelas memórias que guardarei com imenso

carinho durante toda vida.

Ao meu orientador, Rafael Cardoso Sampaio, por ter me ajudado a abrir tantas

portas e a enxergar o meu real valor enquanto estudante.

Aos amigos que passaram por mim e, principalmente, aos que permaneceram

comigo durante esses quatro anos. Pelos dias, noites e madrugadas de estudo. Pelos

choros, risadas e experiências compartilhadas. A universidade não teria sido a mesma

coisa sem vocês.

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“Social man is the masterpiece of existence”

Émile Durkheim, 1897.

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RESUMO

Com base no último debate presidencial das eleições de 2018, o presente

trabalho tem como propósito analisar as principais estratégias de persuasão utilizadas

pelos candidatos. Sendo o objetivo dos debates eleitorais, para os candidatos, o de

vencer as eleições, pode-se considerar hipoteticamente, a partir da Teoria Funcional

de Benoit, que a estratégia mais utilizada pelos presidenciáveis no debate aqui

referido foi ataque. O fato de um dos presidenciáveis, Jair Bolsonaro, não ter

comparecido ao debate o tornou o principal alvo de ataques de seus opositores. A

partir da análise dos discursos, a hipótese aqui apresentada é validada, uma vez que

os resultados indicam que a estratégia mais utilizada pelos presidenciáveis em suas

falas foi o ataque, enquanto a exaltação e a defesa foram as menos utilizadas.

Palavras-chave: Debates eleitorais televisivos. Eleições 2018. Eleições brasileiras.

Estratégias de persuasão eleitoral.

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ABSTRACT

Based on the last presidential debate of the 2018 elections, this paper aims to

analyze the main strategies of persuasion used by the candidates. Since the objective

of electoral debates for candidates is to win elections, it can be hypothesized from

Benoit's Functional Theory that the strategy most used by presidential candidates in

the debate here was attack. The fact that one of the presidential candidates, Jair

Bolsonaro, did not appear in the debate made him the main target of attacks by his

opponents. From the discourse analysis, the hypothesis presented here is validated,

since the results indicate that the strategy most used by the presidential candidates in

their speech was the attack, while exaltation and defense were the least used.

Keywords: Television election debates. Elections 2018. Brazilian elections. Strategies

for electoral persuasion.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – MAPA DA VITÓRIA, PRIMEIRO TURNO DE 2018.................................15

FIGURA 2 – MAPA DA VITÓRIA, SEGUNDO TURNO DE 2018...............................16

FIGURA 3 – DEBATE NO PRIMEIRO TURNO REALIZADO PELA REDE GLOBO..17

FIGURA 4 – BOULOS (PSOL) À ESQUERDA E HADDAD (PT) À DIREITA...............18

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – DIMENSÃO TEMPORAL....................................................................19

GRÁFICO 2 – FOCO DO DISCURSO.......................................................................20

GRÁFICO 3 – ESTRATÉGIA DISCURSIVA..............................................................21

GRÁFICO 4 – DIREÇÃO DO ATAQUE.....................................................................22

GRÁFICO 5 – TEMAS...............................................................................................24

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – RESULTADOS PRIMEIRO E SEGUNDO TURNO.................................16

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LISTA DE SIGLAS

DATAFOLHA - Datafolha – Instituto de Pesquisas

HGPE - Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral

IBOPE - Instituto Brasileiro de Pesquisa de Opinião

SPC – Serviço de Proteção ao Crédito

CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

PIS/PASEP – Programa de Integração Social/Programa de Formação do Patrimônio

do Servidor Público

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

ITR – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

FMI – Fundo Monetário Internacional

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

SIGLAS DE PARTIDOS

DEM - Democratas

PDC - Partido Democrata Cristão

PDT - Partido Democrático Trabalhista

PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PPS - Partido Popular Socialista

PSB - Partido Socialista Brasileiro

PSD - Partido Social Democrático

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira

PSL - Partido Social Liberal

PT - Partido dos Trabalhadores

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

PV - Partido Verde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

1.1 DEBATES TELEVISIVOS DE 2002 A 2014 .......................................................... 4

1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 7

1.3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 7

1.3.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 8

1.3.2 Objetivos específicos.......................................................................................... 8

1.4 METODOLOGIA .................................................................................................... 8

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 11

3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 14

3.1 CONTEXTO POLÍTICO E SOCIAL DAS ELEIÇÕES DE 2018 ........................... 14

3.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DO ÚLTIMO DEBATE TELEVISIVO DE 2018 ..... 17

3.2.1 Dimensão temporal predominante ................................................................... 19

3.2.2 Foco do discurso .............................................................................................. 19

3.2.3 Estratégia discursiva ........................................................................................ 20

3.2.4 Direção do ataque ............................................................................................ 22

3.2.5 Temas .............................................................................................................. 24

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 25

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 27

ANEXO 1 – LIVRO DE CÓDIGOS ........................................................................... 29

ANEXO 2 - TRANSCRIÇÃO DO DEBATE................................................................30

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1

1 INTRODUÇÃO

O primeiro debate eleitoral televisivo aconteceu nos EUA, em 26 de setembro

1960, entre os candidatos à presidência Richard Nixon, do Partido Republicano, e

John Kennedy, do Partido Democrata. O debate foi acompanhado por

aproximadamente 70 milhões de pessoas. Após isso, vários outros debates

aconteceram em eleições na Europa e, posteriormente, pelo mundo.

Por conta dos regimes militares, os países da América Latina foram uns dos

últimos a iniciarem os debates eleitorais no campo televisivo. No Brasil, houve uma

primeira tentativa de realizar um debate em 1960 entre Adhemar de Barros, Teixeira

Lott e Jânio Quadros. Tal tentativa foi mal sucedida principalmente pelo fato de Jânio

Quadros ter se recusado a participar. Alguns anos mais tarde, por consequência da

deflagração do Golpe de 1964, houve a criação da Lei Falcão, de 1976, na qual o

então ministro da justiça, Armando Falcão, elaborou um decreto que exigia uma série

de regras para a transmissão de propagandas eleitorais. O objetivo era restringir as

propagandas e torná-las o mais simples possível.

A primeira temporada de debates eleitorais televisivos ocorreu entre 1982 e

1985. O primeiro debate foi transmitido pela TVS em 22 de março de 1982, e

participaram os então candidatos Franco Montoro (PMDB) e Reynaldo de Barros

(PDS). Apesar disso, somente nas eleições de 1989 os debates começaram a ser

transmitidos ao vivo e tiveram popularidade desde as classes mais baixas até as mais

altas da população. Nessa eleição, as emissoras responsáveis pelas transmissões se

multiplicaram, sendo exibidos debates na Rede Bandeirantes, Rede Manchete e SBT.

No segundo turno dessas eleições, as duas sabatinas entre Lula e Collor

foram marcadas por terem sido realizadas por quatro emissoras ao mesmo tempo:

Rede Bandeirantes, Rede Manchete, Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e Rede

Globo. Cada emissora disponibilizou um jornalista responsável por entrevistar os

candidatos em um dos blocos. Após o último debate do segundo turno, realizado pela

TV Globo, e a posterior vitória de Collor, houve a polêmica de que a emissora havia

editado o debate de forma a favorecer Collor. A emissora transmitiu, no Jornal

Nacional, um breve resumo de seis minutos, no qual afirmou ter destacado os

melhores momento de cada candidato e, juntamente a isso, ter divulgado uma

pesquisa telefônica em que a maioria dos eleitores alegavam ter sido Collor o

vencedor do debate. A polêmica se deveu ao fato de o resumo conter, de fato, os

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melhores momentos de Collor, porém destacar os piores momento de Lula. Além

disso, a pesquisa telefônica foi realizada pela mesma empresa responsável pelo

marketing político de Collor. Após 22 anos, em 2011, José Bonifácio, diretor geral da

Globo na época dessas eleições, em entrevista à Globo News confessou ter editado

o debate de 1989 entre Collor e Lula a fim de favorecer Collor.1

A abertura dos debates eleitorais costumam seguir um padrão, com pequenas

variações dependendo da emissora. Geralmente a figura do mediador é a primeira a

aparecer. Ele pode apresentar o estúdio, os candidatos e explicar como serão as

regras, por exemplo.

William Bonner: Boa noite, bem-vindos aos Estúdios Globo no Rio de Janeiro para o último debate entre os candidatos à Presidência neste primeiro turno da eleição. É mais uma oportunidade para avaliar planos e ideias dos candidatos. Álvaro Dias, do Podemos; Ciro Gomes, do PDT; Henrique Meirelles, do MDB; Guilherme Boulos, do PSOL; Geraldo Alckmin, do PSDB; Marina Silva, da Rede, e Fernando Haddad, do PT...

O trecho acima diz respeito ao último debate realizado entre os

presidenciáveis antes do primeiro turno para eleições majoritárias de 2018. Foi exibido

pela Rede Globo em 4 de outubro.

As regras dos debates variaram bastante ao longo dos anos, apesar de

costumeiramente seguirem o padrão de perguntas, respostas, réplicas, tréplicas,

direitos de resposta e considerações finais feitas individualmente por cada candidato.

Tais considerações também podem ser feitas antes do início do debate, apesar de

não ser tão comum. As perguntas são sorteadas pelo mediador, assim como os temas.

Da mesma forma, pode haver o sorteio para determinar quais candidatos farão as

perguntas, e cada pergunta terá um tempo pré-determinado para ser feita. Após a

pergunta ser destinada ao opositor da escolha do candidato sorteado, ele possuirá um

tempo para responder. O candidato que realizou a pergunta tem o direito de refutar,

ou seja, de dar uma réplica à resposta de seu opositor. Igualmente, o opositor primeiro

interrogado poderá realizar uma tréplica. Como mencionado anteriormente, todas as

falas possuem um tempo para sua execução, e exposto pelo mediador no início do

_______________ 1 Editorial Pragmatismo. “Após 22 anos, Boni admite que Globo armou contra Lula para eleger Collor”.

Pragmatismo Político, 29 de novembro de 2011. Disponível em <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2011/11/apos-22-anos-boni-admite-que-globo.html> Acessado em 22 de novembro de 2018.

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debate, podendo se repetido ao longo da transmissão. Geralmente é utilizado um

cronômetro na tela do telespectador para marcar a passagem do tempo. Abaixo há

um exemplo de explicação das regras pelo mediador William Bonner, durante o último

debate exibido antes do primeiro turno de 2018, pela Rede Globo:

William Bonner: [...] então, nós vamos começar... Como eu disse, nesse primeiro bloco o tema é livre e todos os candidatos têm que ser questionados uma vez e fazer a pergunta a algum candidato que ainda não tenha respondido… Como eu disse teve um sorteio, e o sorteio determinou que quem faz a primeira pergunta dessa noite é o candidato do PDT, Ciro Gomes... Eu peço ao candidato que se aproxime aqui do púlpito... Essa é uma dinâmica que vai se repetir ao longo do debate... Boa noite, candidato... Por favor, me diga a quem o senhor quer dirigir a sua pergunta…

Em relação à mobilidade dos candidatos no estúdio, a Rede Globo introduziu

um novo modelo durante o segundo turno de 2002, denominado arena. Na arena, o

estúdio é formado como uma espécie de palanque redondo, e os candidatos podem

circular quase livremente. Antes da criação da arena, os candidatos eram obrigados

a ficar atrás de suas bancadas, enquanto apenas o mediador obtinha o direito de

circular livremente entre eles.

Devido à polêmica em torno do suposto favorecimento da Rede Globo ao

então candidato Fernando Collor, nas eleições de 1989, em 1997 surgiu a Lei Eleitoral

no. 9504 que impede a emissora de introduzir efeitos visuais durante a transmissão

do debates. Da mesma forma, em 2007 foi vetado aos candidatos o uso de papeis e

pastas de quaisquer espécie durante os debates. Isso se deu, novamente, pelo

ocorrido em 1989, quando Collor de Mello apresentou várias pastas com o intuito de

desestabilizar seu opositor, Lula.

De acordo com a Teoria Funcional de Benoit (1996), existem três principais

estratégias, constituídas em padrões de comportamento, presentes em praticamente

todos os debates televisivos. São elas: aclamação, ataque e defesa. A aclamação

acontece quando o candidato volta seu discurso aos feitos que ele mesmo ou seus

aliados realizaram enquanto políticos. Além disso, buscam destacar as características

que mais julgam importantes para a opinião dos eleitores, e tratam de temas que

agradem, como a saúde e a educação, mas evitam os polêmicos. Com o ataque, os

candidatos possuem como objetivo apontar as fraquezas de seus opositores. Fazem

isso mencionando escândalos de corrupção envolvendo o próprio opositor ou apenas

seus aliados, apontando déficits do governo, entre outras coisas. Na defesa, buscam

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justificar-se frente ao ataques proferidos por seus opositores. Para Benoit, quando

feita com cuidado, a defesa pode fazer com que o candidato recupere a confiança dos

eleitores.

A partir da Teoria Funcional, a proposta deste trabalho é a de apresentar as

estratégias mais utilizadas pelos presidenciáveis durante o último debate das eleições

de 2018, realizado no dia 4 de outubro e transmitido pela Rede Globo, além da

identificação do principal alvo do debate. A hipótese é a de que, dentre as três

estratégias propostas por Benoit, a mais utilizada foi o ataque, e o alvo central dos

ataques foi o candidato Jair Bolsonaro (PSL), devido ao fato de não ter comparecido

à sabatina e, assim, ter estado vulnerável às ofensas sem poder se defender. A

metodologia utilizada para validar a hipótese foi a de análise de conteúdo,

especificamente dos discursos dos candidatos. Assim, nenhum aspecto audiovisual

foi levado em consideração.

1.1 DEBATES TELEVISIVOS DE 2002 A 2014

Após os últimos debates em 1989, o Brasil passou um período de 13 anos

sem debates eleitorais, retomados somente em 2002. Os debates exibidos nas

eleições majoritárias de 2002 ganharam o status de “eventos midiáticos”, ou seja,

acontecimentos que atraem a atenção de todos os meios de comunicação e tem a

audiência de praticamente toda a população. Foram três debates com a presença dos

principais candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Serra (PSDB), Anthony

Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS). Os candidatos Rui Pimenta (PCO) e Zé Maria

(PSTU) não participaram pelo fato de que não tinham representatividade na Câmara

Federal. O primeiro debate foi exibido pela Rede Bandeirantes em 4 de agosto,

seguido pelo segundo, exibido em 2 de setembro pela Rede Record e pelo último,

realizado pela Rede Globo em 3 de outubro.

No segundo turno, a Rede Globo introduziu um formato diferente de debate,

no qual os candidatos Lula (PT) e José Serra (PSDB) podiam circular livremente num

palco em formato de arena. Neste formato, a plateia foi constituída por cinquenta e

três eleitores indecisos, selecionados aleatoriamente pelo Ibope. O debate foi dividido

em cinco blocos, sendo que em cada um desses, quatro eleitores foram escolhidos

para fazer uma pergunta de trinta segundos. O mediador, por outro lado, poderia fazer

perguntas quando julgasse necessário, podendo elas serem respondidas em até

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quarenta e cinco segundos. Os candidatos tiveram dois minutos para a réplica, tréplica

e, quando necessário, direito de resposta. Ao final do debate, os candidatos tiveram

dois minutos reservados para apresentação das considerações finais.

Em 2006, por Lula (PT) não ter comparecido ao último debate do primeiro

turno, os eleitores já esperavam seu comparecimento ao primeiro debate do segundo

turno. As expectativas eram em torno de Lula dar uma explicação às denúncias da

suposta compra de um dossiê, realizada pelo PT, contra Geraldo Alckmin. Apesar de

tais expectativas, o candidato à presidência pelo Partidos dos Trabalhadores

novamente não compareceu ao debate, o que deixou os eleitores frustrados. Em vez

disso, Lula optou por participar de um comício realizado em São Bernardo do Campo,

cidade onde seu partido tem sede até hoje.

O debate de mais audiência em 2006 aconteceu em 19 de outubro e foi

veiculado pela Rede Bandeirantes. Esse debate foi dividido em cinco blocos. No

primeiro, os candidatos responderam a perguntas feitas pelo mediador, Ricardo

Boechat. No segundo e terceiro blocos, os dois candidatos fizeram perguntas um ao

outro, com direito a resposta, réplica e tréplica. No quarto bloco, responderam a

perguntas elaboradas por jornalistas como Fernando Vieira de Mello, Franklin Martins,

entre outros. No último bloco, Lula e Alckmin voltaram a perguntar um para o outro.

Por fim, os dois tiveram três minutos cada para as últimas considerações. Apesar das

denúncias e suspeitas de corrupção em torno de Lula e do PT, a aceitação do

candidato durante as eleições de 2006 estavam em torno de 43%, ante apenas 15%

de reprovação.

Nas eleições de 2010, o governo de Lula havia chegado a uma aprovação

recorde de 87%. Tal aprovação se dava principalmente pelo crescimento econômico

e pelos programas sociais como Bolsa Família, Programa Universidade Para Todos

(PROUNI) etc. 2 Sua sucessora, Dilma Rousseff, havia desempenhado um papel ativo

durante os dois mandatos de Lula. Dilma foi ministra de Minas e Energias, ministra da

Casa Civil e também uma das responsáveis pelo Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC). Durante a campanha presidencial de 2010, o então presidente

_______________ 2 BONIN, Robson. “Popularidade de Lula bate recorde e chega a 87%, diz Ibope”. G1, 16 de dezembro

de 2010. Disponível em <http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/12/popularidade-de-lula-bate-recorde-e-chega-87-diz-ibope.html> Acessado em 22 de novembro de 2018.

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realizou diversas campanhas, principalmente no HGPE, em que apresentava Dilma

Rousseff como a única opção para um governo que deu certo.3

No primeiro turno, praticamente todos os principais candidatos compareceram

aos debates: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de

Arruda Sampaio (PSOL). No segundo turno, o debate da Rede Globo, em 29 de

outubro, teve a presença dos dois candidatos com mais votos, Dilma Rousseff e José

Serra. Foi formado por quatro blocos. O primeiro e terceiro blocos foram destinados a

perguntas feitas pelos candidatos, um para o outro. Cada candidato respondeu a três

perguntas feitas pelo seu oponente, com direito a resposta, réplica e tréplica. O

segundo e quarto blocos foram destinados a perguntas formuladas tanto pelos

presentes na plateia, quanto por eleitores indecisos.

O primeiro debate da sequência realizada nas eleições majoritárias de 2014

foi exibido, como de costume, pela Rede Bandeirantes, em 26 de agosto. Esse

primeiro debate foi adiado devido à morte do candidato Eduardo Campos (PSB)4.

Deveria ter sido realizado, originalmente, no dia 21 de agosto. O SBT, diferente da

tradição de exibição dos debates no início da noite, optou por utilizar um horário

alternativo, exibindo o debate no dia primeiro de setembro, às 17h45m.

Como de costume, a Rede Bandeirantes, além de abrir a série de debates,

também foi responsável pela realização do último do segundo turno, transmitido em 2

de outubro. Os debates do primeiro turno contaram com a presença de todos os

candidatos: Dilma Rousseff (PT), Luciana Genro (PSOL), Aécio Neves (PSDB),

Eduardo Jorge (PV), Marina Silva (PSB), Levy Fidelix (PRTB) e Pastor Everaldo

(PSC). A emissora ficou marcada por transmitir os debates em formatos diferentes. O

primeiro, exibido em 26 de agosto, teve duração de aproximadamente duas horas e

meia, com participação apenas dos candidatos que possuíam representação na

Câmara dos Deputados: Luciana Genro (PSOL), Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves

(PSDB), Marina Silva (PSB), Eduardo Jorge (PV), Pastor Evaristo (PSC) e Levy Fidelix

(PRTB). Foi segmentado por quatro blocos. No primeiro e terceiro, cada candidato

_______________ 3 REUTERS, E. “Dilma é escolhida pessoal de Lula para a sucessão”. O Globo, 31 de março de 2010.

Disponível em <https://oglobo.globo.com/politica/dilma-escolha-pessoal-de-lula-para-sucessao-3031135> Acessado em 22 de novembro de 2018.

4 Editorial R7. “Morte de Campos faz Band adiar debate entre presidenciáveis”. Portal R7, 15 de agosto de 2014. Disponível em <https://noticias.r7.com/eleicoes-2014/morte-de-campos-faz-band-adiar-debate-entre-presidenciaveis-15082014> Acessado em 22 de novembro de 2018.

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teve o direito de fazer perguntas a seus oponentes. No segundo e quarto, os

candidatos tiveram que responder perguntas baseadas em termas sorteadas ao vivo.

O último debate do segundo turno, realizado pela Rede Globo entre os

candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), foi marcado pela presença de

uma plateia composta por setenta eleitores indecisos, selecionados aleatoriamente

pelo IBOPE em todas as regiões do país. Todos esses eleitores tiveram o direito de

formular uma pergunta para alguém dos dois candidatos. Entre as perguntas, apenas

oito foram selecionadas por sorteio ao longo do debate e respondidas pelos

candidatos durante o segundo e quarto blocos. No primeiro e terceiro blocos, Dilma e

Aécio fizeram perguntas entre si. Ao final do confronto, no quarto bloco, cada

candidato teve alguns minutos reservados para as considerações finais.

1.2 JUSTIFICATIVA

Ao longo dos anos eleitorais em que os debates televisivos tiveram espaço, é

possível observar alguns padrões comportamentais por parte dos candidatos. Esses

padrões são, em sua maioria, previamente elaborados pela equipe de marketing dos

presidenciáveis, a fim de buscar direcionar o maior número de votos possível. Os

debates podem ser considerados um dos meios mais importantes pelos quais a voz

dos candidatos chega até a população. Durante os anos, houveram algumas

mudanças no formato desses debates, como por exemplo quando passou a ser

obrigatória a transmissão ao vivo e não editada dos confrontos. Isso faz com que os

eleitores conheçam seus candidatos de forma mais sincera, e ajuda a exaltar o papel

democrático ao qual os debates são associados. Com base nisso, essa forma de

comunicação política, além de representar grandes eventos midiáticos, também

ajudam a reforçar a importância da constante reafirmação da democracia. Trata-se de

um cenário social e político onde os candidatos apresentam preocupação diante de

sua imagem frente à população civil. Assim, entende-se como de suma importância a

continuidade no estudo científico dos debates eleitorais, e é a partir disso que a

existência do presente trabalho pode ser justificada.

1.3 OBJETIVOS

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1.3.1 Objetivo geral

Com fundamento no problema de pesquisa e hipótese, o objetivo deste

trabalho será o de analisar o último debate televisivo das eleições majoritárias de

2018, realizado em 4 de outubro e transmitido pela Rede Globo. Com isso, há

pretensão em testar a hipótese baseada no funcionalismo proposto por Benoit.

1.3.2 Objetivos específicos

Realizar uma fundamentação teórica com base na literatura.

Investigar o contexto social e político das eleições majoritárias de 2018.

Analisar as principais estratégias verbais de persuasão apresentadas pelos

presidenciáveis no último debate televisivo presidencial de 2018 com base na

Teoria Funcional de Benoit.

1.4 METODOLOGIA

A Teoria Funcional, desenvolvida por William Benoit e autores (1996), é

fundamentada no princípio de que os candidatos participam dos debates para

alcançar um único fim, o de se tornar eleitos. Para alcançar este fim, embasam todos

seus discursos e atitudes em três principais estratégias: aclamação, defesa e ataque.

Explicitamente 1) aclamação: tática utilizada pelos candidatos partindo-se da

premissa de que os eleitores fazem escolhas racionais. Desse modo, os candidatos

tendem a utilizar o debate como uma forma de exaltar suas qualidades mais

interessantes ao eleitorado. Para ir ao encontro do que os eleitores esperam e

procuram, os candidatos tratam dos temas que mais estão em pauta, como a saúde,

a educação e a segurança; 2) defesa: é onde os candidatos buscam defender-se dos

ataques auferidos pelos seus oponentes. Se realizada com cuidado, a defesa pode

livrar, frente ao eleitor, o candidato das acusações recebidas; 3) ataque: os

candidatos focam-se em debilitar seus oponentes. Para tal, tecem críticas ao mal

desempenho dos adversários (ou de seus aliados) enquanto administradores públicos

ou destacam escândalos envolvendo o nome do adversário, partido ao qual pertence

ou de algum aliado.

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Essa teoria, de acordo com Sandra Mara (2014, p. 68), parte de seis principais

pressupostos baseados em Benoit (2010): 1) votar é um ato comparativo; 2) os

candidatos devem distinguir-se dos oponentes; 3) mensagens da campanha política

são importantes veículos para os candidatos se diferenciarem; 4) os candidatos

estabelecem Preferability através da aclamação, ataque e defesa, ou seja, a

preferência ou escolha do eleitor é construída através dos três aspectos utilizados

como forma de diferenciação entre os candidatos; 5) na campanha eleitoral, os

candidatos podem focar tanto em assuntos políticos de relevância para o momento

(como, por exemplo, a segurança pública, no caso das eleições de 2018) quanto em

sua própria imagem caso tenha desempenhado um bom papel enquanto

administrador público. Todavia, Benoit aponta para o fato de que os eleitores aceitam

com maior facilidade os discursos mais focados em assuntos da política atual do que

na imagem dos presidenciáveis, logo 6) um candidato deve obter a maioria (ou uma

pluralidade) dos votos expressos nas eleições.

Os autores da Teoria Funcional, a partir dos seis pressupostos expostas

acima, formularam seis hipóteses, nomeadamente: 1) a aclamação seria a função

mais frequente e a defesa, a função menos comum; 2) os tópicos sobre política (ações

do governo e suas consequências) seriam mais comuns do que características e

qualidades dos candidatos; 3) o candidato do partido que estava no poder faria mais

aclamações e menos ataques do que o oposicionista; 4) o candidato do partido da

situação usaria a experiência passada mais para a aclamação e menos para o ataque;

5) “Na campanha o discurso pode focar em questões políticas ou de imagem” (Benoit,

2010, p. 16), como explicado acima; 6) “Um candidato deve obter a maioria (ou uma

pluralidade) dos votos expressos nas eleições” (Benoit, 2010, p. 17). O

estabelecimento de metas e objetivos futuros seria utilizado mais para aclamar do que

para atacar. Ideias, valores e princípios – enquanto características dos candidatos –

seriam utilizados mais para aclamar do que para atacar. Ao final da pesquisa, os

autores chegaram à conclusão de que, nos debates estadunidenses, a

aclamação, com viés mais política do que de imagem, é o recurso mais utilizado pelos

candidatos. Por outro lado, a defesa seria a estratégia menos notada.

Com base na metodologia proposta por Benoit (2010) a partir da Teoria

Funcionalista, o intuito deste trabalho será o de analisar o último debate ocorrido nas

eleições gerais de 2018 e exibido no dia 4 de outubro pela Rede Globo. A partir de um

livro de códigos, será feita uma análise de conteúdo das falas dos candidatos, ou seja,

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10

dos aspectos verbais do debate. Desse modo, pretende-se validar a hipótese aqui

proposta: com base nas três estratégias apresentadas por Benoit, a mais corriqueira

no debate de 4 de outubro é a de ataque. Isso se justifica pelo fato de um dos

candidatos, Jair Bolsonaro, não ter comparecido ao debate e, por tal motivo, ter sido

o principal alvo de seus oponentes. Resumidamente, é proposto a utilização da

metodologia quantitativa de análise de conteúdo. Como bem especifica Márcio

Carlomagno e Leonardo Caetano da Rocha:

[...] a designação se seu método é quantitativo ou qualitativo se refere a como você sistematiza os dados com os quais trabalha, não a natureza de sua análise. Não importa que, por exemplo, ao identificar os argumentos presentes em determinada mensagem, você esteja verificando “qualidades” deste objeto. Se você sistematiza (e de alguma forma quantifica) estas informações em uma planilha, banco de dados ou em uma folha de caderninho, esta pesquisa é, portanto, quantitativa-categórica. (Carlomagno & Rocha, 2016, p. 5).

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11

2 REVISÃO DE LITERATURA

Em 1927, Harold Lasswell formulou uma das primeiras teorias da

comunicação, a Teoria Hipodérmica. A teoria surgiu no período entre guerras e foi

uma tentativa de entender as relações entre a comunicação de massa e a opinião

pública. Conhecida também como “efeito da agulha hipodérmica” e “teoria da bala

mágica”, essa hipótese, em sua forma original, afirma que as mensagens transmitidas

pelos meios de comunicação seriam recebidas de forma pacífica pelos receptores.

Para Lasswell, devido às devastações causadas pela Guerra, a propaganda surgiu

para manipular a população de forma a mantê-la unida através de ideias expressadas

através do rádio, cartazes, jornais etc. Dessa forma, para o autor os efeitos da

comunicação sobre as pessoas poderiam ser considerados previsíveis. Tal

perspectiva ia ao encontro das teorias psicológicas da época, como o Behaviorismo,

que defendia que todos os comportamentos humanos não passam de reflexos de

estímulos externos.

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Lasswell, Lazarsfield e Merton, em

1978, também teorizaram a respeito dos efeitos da comunicação de massa. Além das

três formas de Lasswell, acrescentaram uma quarta, a do entretenimento. Para os

pesquisadores, o papel da comunicação também seria o de provocar uma “disfunção

narcotizante” nas massas, a fim de fazê-las se desinteressarem pela política ao

ficarem viciadas na mídia de entretenimento.

Por outro lado, a partir dos anos 1970 começaram a surgir pesquisas e teorias

que iam contra a ideia de que os receptores eram manipulados pela mídia, sem

exercer nenhum senso crítico em cima das mensagens recebidas. Até mesmo

Lasswell foi um dos responsáveis por repensar sua Teoria Hipodérmica, abrindo

espaço para as teorias de efeitos limitados. Autores como Wolf (2005) estudam os

efeitos da mídia como efeitos de longo prazo e não isolados. Isso quer dizer que após

receptar as mensagens, as pessoas as relacionavam com outros fatores da vida

social, filtrando o que seria mais relevantes para cada contexto social.

Ao longos dos anos, os estudos sobre os efeitos da comunicação de massa

foram sendo cada vez mais aprofundados. A partir da segunda metade do século XX,

ganharam ênfase as teorias dos efeitos cognitivos, que tratavam a recepção das

mensagens como sendo processos longos e duradouros, afetando diversos aspectos

da vida social e emocional dos indivíduos.

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12

Outra importante teoria da comunicação política é a chamada agenda-setting,

publicada pela primeira vez em 1972 por Maxwell McCombs e Donald Shaw. Essa

teoria defendia a hipótese de que os meios de comunicação de massa eram os

responsáveis por determinar o que as pessoas pensam sobre política. Dessa forma,

todas as principais notícias a permear a sociedade seriam escolhidas pela mídia.

Elaborada em 1957 por Kurt Lewin, o conceito de gatekeepers introduziu aos

estudos de mídia uma análise dos emissores das notícias. A teoria afirma a existência

de “guardiões do portão”, ou seja, profissionais de comunicação responsáveis por

determinar quais notícias serão circuladas, e quais não sairão dos bastidores.

Ainda sobre a perspectiva dos emissores das notícias, Mauro Wolf (1985)

introduziu o conceito de newsmaking, metodologia que analisa a produção das

notícias pelos canais de comunicação. Dessa forma, existiriam três critérios principais

para a produção das notícias: 1) tornar relevante um fato até então desconhecido, 2)

tentar relatar os acontecimentos de forma clara, evitando refletir valores pessoas, 3)

organizar, temporal e especialmente, o trabalho, de modo que os acontecimentos

noticiáveis possam seguir uma linha de apresentação.

Saindo um pouco da contribuição norte-americana às teorias da comunicação,

outra importante contribuição para a compreensão da comunicação de massa foi a da

Escola de Frankfurt. Ao longo do século XX, estudiosos como Theodor Adorno, Max

Horkheimer, Jürgen Habermas, entre outros, não focaram suas pesquisas nos

emissores nem no receptores, mas nas mensagens. A Escola defendeu a hipótese,

fundamentada no marxismo, de que o surgimento da comunicação de massa deu

espaço à indústria cultural, uma forma de doutrinação ideológica da classe

hegemônica capitalista. Dessa forma, os conteúdos difundidos pelos meios de

comunicação teriam como principal objetivo fazer com que a população não exercesse

senso crítico em cima das informações consumidas, aceitando de forma passiva a

ideologia dominante.

Mais próximo à análise dos debates televisivos, há a Teoria da Escolha

Racional, formulada originalmente por economistas para explicar o comportamento

político e econômico dos indivíduos. Em meados do século XX, pesquisadores de

outras áreas se apropriaram da teoria para explicar o comportamento eleitoral, como

mostrado nas obras The People’s Choice (1944) e Voting (1954), de Lazarsfeld. Com

isso, surgiu a corrente sociológica da escolha racional. Nesses estudos, os

pesquisadores levam em consideração, para determinar as decisões dos eleitorais,

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13

variáveis tais como ocupação, distribuição geográfica, situação econômica e social,

religião, sexo etc. Por outro lado, também teve espaço a corrente da psicologia, com

obras como The American Voter (1964), de Campbell. Assim, essa corrente leva mais

em consideração aspectos da psicológicos dos indivíduos, analisando elementos

como a educação, a socialização e o modo de pensar. A formulação original da Teoria

Racional, proposta por Anthony Downs em An Economic Theory of Democracy (1957),

propõe que nenhum aspecto isolado determina por completo o comportamento

individual. As escolhas são estipuladas pelo conjunto de vários aspectos, como

economia, política, entre outros.

Desse modo, é possível chegar à conclusão de que a escolha racional é a teoria

que melhor se encaixa quando relacionada ao aspecto político e eleitoral. Isso

acontece pelo fato de os debates televisivos surtirem grande repercussão midiática,

sendo assistidos por um grande número de eleitores. Com isso, faz sentido afirmar a

tendência de os indivíduos buscarem por informações antes de decidirem o voto, uma

vez que “a intensidade da incerteza pode ser reduzida pela informação” (Downs 1999,

p. 284). Pelo fato de os debates acontecerem de forma rápida, ao vivo e sem edições,

os eleitores possuem uma tendência a consumir esse tipo de informação mais

facilmente, por ser uma forma de comparar os candidatos, conhecer suas propostas

e analisar suas reações frente a confrontos mais inesperados.

Para Katz (1980), Benoit (1996; 2006), e Benoit e Klyukovski (2006), os debates

televisivos eleitorais constituem-se de grandes eventos midiáticos. Isso acontece

porque as emissoras mudam toda sua programação para a transmissão desses

eventos. Além disso, é possível afirmar, historicamente, que os debates costumam

bater recordes de audiência, tornando-se o assunto principal antes, durante e após

suas exibições. Toda essa expectativa gerada em torno dessas transmissões ocorrem

porque os espectadores entendem os debates televisivos como sendo oportunidades

para assistir, ao vivo e sem cortes, as reações de seus candidatos frente a temas

variados e muitas vezes inesperados. Ainda de acordo com alguns dos autores

anteriormente mencionados, sobretudo Benoit (2001), os debates geralmente não

fazem os eleitores mudarem de opinião, mas apenas reforçam escolhas previamente

feitas. Além do mais, os canais de comunicação são locais onde os candidatos

buscam, principalmente, diferenciação, para assim ganharem a preferência do

eleitorado e expor suas opiniões e propostas sem o auxílio de intermediários.

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14

3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

3.1 CONTEXTO POLÍTICO E SOCIAL DAS ELEIÇÕES DE 2018

Seguindo a tradição das eleições anteriores, o contexto político das eleições

de 2018 foi marcado por notada polarização ideológica.5 Os participantes e

apoiadores dos movimentos sociais contra Dilma, Lula e PT são geralmente pessoas

de classe média-alta, conservadoras em costumes e ideologias, liberais na economia

e quase sempre cristãs.6 Essas são as principais posições defendidas pelo candidato

do PSL, o que refletiu em sua grande popularidade nas eleições de 2018. Jair

Bolsonaro ficou conhecido após se envolver em diversas polêmicas devido a suas

posições de extrema direita, como por exemplo ser contra a legalização do aborto, da

maconha, além de falas machistas, racistas e homofóbicas.7

Em 6 de setembro de 2018, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi agredido com

uma facada nas costas em Juiz de Fora, MG, enquanto fazia uma campanha e era

carregado nos braços de apoiadores. A notícia repercutiu durante todo o resto das

eleições, sendo manchete, todos os dias, nos principais jornais do Brasil. O candidato

ficou internado por vários dias em uma UTI, e recuperou-se rapidamente.8 O autor do

crime foi identificado no mesmo dia e preso. As consequências deste atentado podem

ter influenciado definitivamente a corrida presidencial, mas essa hipótese demandaria

outra pesquisa mais aprofundada. Bolsonaro, por estar debilitado, suspendeu suas

atividades de campanha e não compareceu a mais nenhum debate, nem mesmo no

segundo turno contra Fernando Haddad (PT). O fato de não ter aparecido nos debates

pode ser entendido como uma forma estratégica de não ser exposto de forma negativa

_______________ 5 PASSARINHO, Nathalia. “Bolsonaro presidente: qual o possível impacto do ‘abismo ideológico’ do

Brasil no futuro governo”. BBC Brasil, 28 de outubro de 2018. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45996590> Acessado em 22 de novembro de 2018.

6 BALLOUSSIER, Anna Virginia. “Metade dos evangélicos vota em Bolsonaro, diz Datafolha”. Folha de S. Paulo, 4 de outubro de 2018. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/metade-dos-evangelicos-vota-em-bolsonaro-diz-datafolha.shtml> Acessado em 22 de novembro de 2018.

7 CEST. “O que Bolsonaro já disse de fato sobre mulheres, negros e gays”. El País, 7 de outubro de 2018. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/06/politica/1538859277_033603.html> Acessado em 10 de novembro de 2018.

8 SOARES, Jussara. “Bolsonaro apresenta melhora e deixa UTI do hospital”. O Globo, 12 de setembro de 2018. Disponível em <https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-apresenta-melhora-deixa-uti-do-hospital-23060076> Acessado em 22 de novembro de 2018.

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frente ao eleitorado. O mesmo ocorreu com Luís Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições

de 2006. Para Fausto Neto (2006), Lula utilizou a estratégia de não comparecer para

evitar um processo de midiatização em sua imagem que, até o momento, estava

dando certo para a campanha.

Ainda no contexto político e social das eleições majoritárias de 2018, um termo

do jornalismo ganhou enorme destaque com o uso do Whatsapp pelos eleitores

durante o período. As chamadas fake news, que significam notícias falsas, passaram

a circular de forma rápida e em grande quantidade através do aplicativo de mensagens

instantâneas. Essas notícias falsas circularam principalmente no segundo turno,

sendo os dois candidatos igualmente alvos dos ataques e falsas polêmicas.9

O primeiro turno das eleições ocorreu dia 7 de outubro, e o resultado foi a

liderança de Bolsonaro (PSL), com 46,03% dos votos. Logo atrás, em segundo lugar,

ficou Haddad (PT), com 29,28%, seguido por Ciro Gomes (PDT), com 12,47%.

FIGURA 1 – MAPA DA VITÓRIA, PRIMEIRO TURNO DE 2018

Fonte: Wikipédia (2018).

Já no segundo turno entre Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT), houve vitória do

candidato do PSL com 55,13% dos votos, isto é, mais de 57 milhões de votos. Por

outro lado, o candidato do PT obteve 44,87%.

FIGURA 2 – MAPA DA VITÓRIA, SEGUNDO TURNO DE 2018

_______________ 9 MONNERAT, Alessandra. “Fake news devem causar impacto em eleições de 2018”. Estadão, s/d.

Disponível em <http://infograficos.estadao.com.br/focas/politico-em-construcao/materia/fake-news-devem-causar-impacto-em-eleicoes-de-2018> Acessado em 22 de novembro de 2018.

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Fonte: Wikipédia (2018).

Na tabela abaixo, extraída do site do TSE, é possível observar os resultados

de todos os candidatos no primeiro e segundo turno.

TABELA 1 – RESULTADOS PRIMEIRO E SEGUNDO TURNO

Fonte: TSE (2018).

A vitória de Jair Bolsonaro (PSL) significou uma ruptura no poder majoritário

entregue ao Partido dos Trabalhadores desde a primeira nomeação de Lula, em 2002.

Além disso, a nomeação do novo presidente repercutiu fortemente na imprensa

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17

internacional. O New York Times, por exemplo, descreveu o novo presidente como

sendo de extrema direita.10

3.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DO ÚLTIMO DEBATE TELEVISIVO DE 2018

O último debate presidencial televisivo das eleições de 2018 ocorreu no dia 4

de outubro e teve participação de apenas sete dos treze candidatos. Os que

compareceram foram Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad

(PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB)

e Marina Silva (Rede). Jair Bolsonaro, do PSL, recusou-se a participar, pois afirmou

que ainda não havia se recuperado totalmente da facada que levou em 6 de setembro,

apesar de ter recebido alta hospitalar no dia 29 de setembro.

FIGURA 3 – DEBATE NO PRIMEIRO TURNO REALIZADO PELA REDE GLOBO

Fonte: Veja (2018).

Quatro blocos dividiram este sétimo debate. No primeiro e no terceiro, os

candidatos puderam realizar perguntas um para os outros com tema livre. No segundo

e quarto blocos, os temas das perguntas foram delimitados por sorteio. Ainda no

quarto e último bloco, os candidatos tiveram um tempo para as considerações finais.

Ao longo do debate, exibido em forma de palanque eletrônico pela Rede Globo, os

_______________ 10 Disponível em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/the-new-york-times/2018/10/08/brasileiros-aprovam-candidato-de-extrema-direita-no-primeiro-turno-das-eleicoes.htm. Acessado em 9 de novembro de 2018.

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candidatos discutiram, além dos temas propostos por sorteio, principalmente a

respeito da ausência de Bolsonaro (PSL) e da polarização causada por ele e pelo

candidato do PT, Fernando Haddad.

FIGURA 4 – BOULOS (PSOL) À ESQUERDA E HADDAD (PT) À DIREITA

Fonte: Veja (2018).

Com base na Teoria Funcional, elaborada principalmente por Benoit (1996;

2010) e anteriormente apresentada, serão expostos os resultados das análises feitas

a partir dos discursos dos candidatos. Ou seja, foram analisados apenas os aspectos

verbais do debate, divididos entre 120 falas dos sete candidatos presentes e

segmentados entre sete variáveis, sendo:

1. Candidato: indica de qual candidato é a fala em questão.

2. Direção da pergunta/discurso: indica a quem a pergunta ou discurso é dirigido.

3. Dimensão temporal predominante: classifica o tempo predominante na fala do

candidato.

4. Foco do discurso: determina a quem o candidato se refere na maior parte do

tempo.

5. Estratégia discursiva: indica, com base na Teoria Funcionalista, quais das três

estratégias apresentadas por Benoit está mais presente no discurso do

candidato. A Estratégia discursiva será contabilizada na codificação somente

se for dirigida a algum candidato, político ou partido.

6. Direção do ataque: busca indicar a quem a estratégia ataque é dirigida.

7. Tema: refere-se ao tema tratado pelo candidato, independente da pergunta

dirigida a ele.

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3.2.1 Dimensão temporal predominante

Nesta variável, foram analisadas as dimensões temporais que mais

predominaram nos discursos dos candidatos. Como é possível observar no gráfico

abaixo, a maioria desses discursos fizeram referência ao futuro.

GRÁFICO 1 – DIMENSÃO TEMPORAL

FONTE: AUTORA (2018).

Isso é explicado pelo fato de que os candidatos, majoritariamente, terem

focado suas falas em propostas de governo, apesar de a dimensão presente e

passado também aparecer com frequência. Em relação aos discursos com foco em

acontecimentos do presente, predominaram as falas que descreveram e criticaram a

atual situação econômica, social e política do Brasil.

3.2.2 Foco do discurso

O principal foco dos discursos dos candidatos foi nos opositores. Isso não

inclui apenas os ataques, mas também os direcionamentos desses discursos.

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GRÁFICO 2 – FOCO DO DISCURSO

FONTE: AUTORA (2018).

Essa variável é bastante influenciada pela variável que será tratada a seguir,

da estratégia discursiva. Abaixo é possível observar um trecho, na fala do candidato

Guilherme Boulos (PSOL), em que o foco principal é dirigido ao seu opositor Geraldo

Alckmin.

Boulos (PSOL), em pergunta no primeiro bloco: Alckmin, boa noite a você e a todos e todas que nos assistem... Você, junto com o Temer, o Bolsonaro, apoiou a reforma trabalhista que retirou direitos históricos dos trabalhadores... Para vocês, para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter direitos. Para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter carteira assinada, férias... Aliás, o vice do Bolsonaro defendeu a mesma coisa... Quero saber, Alckmin, por que sempre vocês cortam nos direitos e nunca nos privilégios da sua turma…

Ao longo do debate, foi possível observar que a maioria das falas de Boulos

(PSOL) foi voltada aos opositores. O candidato falou poucas vezes sobre seu

programa, e assim deu preferência a apontar os erros passados de seus opositores.

Apesar de isso não ter sido regra para todos os sete candidatos presentes no debate,

é possível afirmar, com base também no gráfico, que todos os candidatos fizeram

referências diretas a seus opositores.

3.2.3 Estratégia discursiva

O gráfico da tabela afirma, em parte, a hipótese aqui apresentada de que, a

partir da Teoria Funcional, a estratégia discursiva mais utilizada no debate foi o

ataque. Em seguida, veio a exaltação e, em quarto lugar, a defesa, muito pouco

utilizada pelos candidatos.

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GRÁFICO 3 – ESTRATÉGIA DISCURSIVA

FONTE: AUTORA (2018).

Abaixo é possível observar dois exemplos de discursos em que os candidatos

atacaram um ou mais opositores.

Alvaro Dias (Podemos), em tréplica a Meirelles, no primeiro bloco: Olha, eu trouxe a pergunta por escrito e eu vou entregar, ao final, ao Haddad, para que ele leve ao candidato do PT, que está preso em Curitiba, já que ele o visita todas as segundas-feiras... E eu quero dizer ao Meirelles que nós estamos discutindo muito nessa campanha eleitoral o que é periférico... Estamos deixando de discutir o que é essencial, o modelo que nos governa... Esse modelo corrupto, incompetente... Esse balcão de negócios, do aparelhamento do estado, do loteamento dos cargos, da relação desonesta entre os poderes, dos privilégios das autoridades, do governo inchado e gastador, do legislativo também inchado e gastador... Quando nós falamos em reduzir o número de políticos nós encontramos resistência, mas se nós não mudarmos esse modelo, Meirelles, podem chamar o Meirelles e ele não resolverá problema algum…

Boulos (PSOL), também no primeiro bloco, dirigiu seu primeiro ataque a

Alckmin (PSDB):

BOULOS (PSOL), em pergunta a Alckmin (PSDB): Alckmin, boa noite a você e a todos e todas que nos assistem... Você, junto com o Temer, o Bolsonaro, apoiou a reforma trabalhista que retirou direitos históricos dos trabalhadores... Para vocês, para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter direitos. Para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter carteira assinada, férias... Aliás, o vice do Bolsonaro defendeu a mesma coisa... Quero saber, Alckmin, por que sempre vocês cortam nos direitos e nunca nos privilégios da sua turma...

Foi possível observar que Alvaro Dias (Podemos), assim como Boulos

(PSOL), direcionou boa parte de seu discurso aos opositores, principalmente para

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atacar. Isso somado ao fato de o candidato não ter apresentado quase nenhuma

proposta ao longo do debate.

3.2.4 Direção do ataque

Hipótese: A partir das questões encontradas em torno do tema proposto, pode-se considerar hipoteticamente que a estratégia mais utilizada pelos candidatos presentes é a de ataque. Isso acontece porque um dos presidenciáveis, Jair Bolsonaro, não compareceu ao debate, o que o tornou o principal alvo de ataque dos demais.

Como 51% dos discursos foram ataque, e 12% foram ataques para mais de

um candidato ao mesmo tempo, é possível afirmar que a hipótese formulada neste

trabalho foi comprovada. Atrás apenas dessas duas variáveis que não dizem respeito

especificamente a nenhum outro candidato presente no debate, os ataques a Jair

Bolsonaro (PSL) somam aproximadamente 10% dos 120 discursos analisados.

GRÁFICO 4 – DIREÇÃO DO ATAQUE

FONTE: AUTORA (2018).

Entre os aproximadamente 13 discursos direcionados a ataques a Bolsonaro (PSL), a

maioria disse respeito a suas posições entendidas como autoritárias e contra os

direitos das minorias. A seguir, é possível observar, no discurso do candidato Boulos

(PSOL), uma grande preocupação com a questão da segurança e sua abordagem

militarizada defendida por Bolsonaro (PSL):

Boulos (PSOL), em resposta a Ciro Gomes (PDT) no primeiro bloco: Olha, Ciro, primeiro dizer que a política que tem sido feita no país, da

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chamada guerra às drogas, de combater supostamente o tráfico de drogas, indo para as favelas, militarizando, colocando polícia, como seu comando do crime organizado tivesse dentro do barraco de uma favela... A gente sabe muito bem que o comando do crime organizado nesse país está muito mais perto da Praça dos Três Poderes em Brasília ou da grande indústria da arma do que de qualquer favela desse país... A droga não nasce lá dentro do morro... Ela chega lá... Chega dos atacadistas e, olha, essa ideia de que o usuário de droga tem que ser tratado com porrada, com bomba, com prisão, essa ideia está superada com todas as partes do mundo e nós precisamos superar aqui também... A questão das drogas não pode ser um tema do código penal, porque isso só leva ao encarceramento em massa... A população de presos no Brasil dobrou nos últimos dez anos... Eu pergunto: Alguém está se sentindo mais seguro com isso? Eu creio que não... Essa ideia do Bolsonaro de que tem que prender mais, dar mais arma, colocar mais polícia, essa idéia não resolve aqui e nem em nenhuma outra parte do mundo... A droga não é caso do código penal, não é caso de polícia... Abuso de substância química é caso de saúde pública, é caso do SUS... E é assim que tem que ser tratada e é assim que nós vamos tratar…

Além disso, houve críticas a respeito da polarização causada pelo PSL e pelo

PT. Essas críticas foram feitas principalmente por Marina Silva (Rede).

Marina Silva (Rede), em pergunta a Ciro (PDT) no primeiro bloco: Ciro, eu não acredito que, a permanecer essa polarização, se tenha condição de governar o Brasil... Nós temos a oportunidade agora de poder fazer a mudança... O voto de uma pessoa pode ser usado para melhorar a saúde, melhorar a educação, melhorar, sobretudo, o sistema político que está degradado... A permanecer essa guerra, em que alguns estão votando por medo do Bolsonaro, e outros estão votando por medo do Haddad, ou estão votando porque têm raiva um do outro, o Brasil vai ficar quatro anos vivendo uma situação de completa instabilidade econômica, política e social…

Ainda no primeiro bloco, Ciro Gomes (PDT), em resposta a Meirelles, também

atacou Bolsonaro ao criticar a polarização:

Ciro Gomes (PDT), em resposta a Meirelles (MDB) no primeiro bloco: Meu Caro Meirelles, essa é uma pergunta muito importante porque talvez seja a hora mais grave do brasileiro: nós todos aprendermos a importância de votar em projeto, em ideia... Porque os homens devem ter a noção de que nós somos passageiros e, nenhum de nós é dono da verdade, nenhum de nós é capaz de governar uma nação de 208,5 milhões de pessoas com mil contradições, mil lindezas, mil maravilhas, mil defeitos, mil dificuldades... E esse é o grande drama do Brasil nesse momento: o choque entre duas personalidades exuberantes - é o lulismo, e o antilulismo que o Bolsonaro representa... Eu compreendo isso, compreendo, sou humilde diante da realidade, por isso que eu estou determinado…

Esses são apenas três exemplos de vários discursos envolvendo ataques ao

candidato do PSL tanto direta quanto indiretamente. Seus opositores que

compareceram ao debate apresentaram críticas a inúmeros aspectos dos discursos e

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24

atitudes passadas de Bolsonaro, envolvendo escândalos de corrupção, retirada de

direitos, autoritarismo e polarização política.

3.2.5 Temas

Além dos temas sorteados, os candidatos abordaram outras questões que

permeiam a sociedade brasileira. Contudo, todos os temas foram pouco explorados e

aprofundados. Os discursos, em sua maioria, foram rasos e repetitivos.

GRÁFICO 3 – DIREÇÃO DO ATAQUE

FONTE: AUTORA (2018).

A questão das minorias foi abordada diretamente apenas uma vez. Outras

questões mais polêmicas, como casamento homoafetivo, legalização do aborto,

legalização da maconha, entre outros, tão discutidas entre a população -

principalmente na internet - foram evitadas ao máximo pelos candidatos durante todo

o debate. Em vez disso, o debate aconteceu em torno de temas muito previsíveis e

relativamente fáceis de debater, uma vez, como já mencionado anteriormente, que

não foram abordados com profundidade. A corrupção foi o assunto de maior destaque

do debate, principalmente pelo fato de Lula (PT) ter sido preso e sua candidatura ter

sido cassada.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste trabalho, foram abordados os debates ocorridos no brasil

entre a década de 1980 e 2018. Em seguida, houve a explicação de diversas teorias

dentro da comunicação política e da economia a fim de fundamentar e dar

consistência ao tema proposto. Foi possível observar que os primeiros debates

brasileiros ocorreram ainda em 1989, e foram se desenvolvendo ao longo dos anos,

até chegarem no formato em que se encontram hoje: exibidos por diversas emissoras

de televisão aberta e obrigatoriamente ao vivo e sem cortes. Além disso, também

houve a explicação de alguns fatos marcantes no contexto político e social das

eleições de 2018, como a polarização política. A partir desses detalhamento, houve a

possibilidade de ser realizado um estudo acerca das principais estratégias de

persuasão apresentadas pelos presidenciáveis em 2018. Com orientação da Teoria

Funcional (1996; 2010), constatou-se que o ataque foi a estratégia mais discursada

durante o último debate dessas eleições, transmitido pela Rede Globo em 4 de outubro

de 2018.

Por mais que cada debate seja peculiar, em todos eles os candidatos

apresentam padrões de comportamento estratégico, como bem colocou Benoit

(2010). Nas eleições de 2018 não foi diferente. Após a análise dos discursos que os

candidatos apresentaram em 4 de outubro, foi possível chegar à conclusão de que

todas as três estratégias, sendo elas exaltação, ataque e defesa, foram utilizadas.

Mais importante, é possível afirmar que a hipótese inicialmente apresentada é válida.

Os sete presidenciáveis presentes na última sabatina de 2018 utilizaram o ataque a

Jair Bolsonaro (PSL) com maior frequência.

Apesar de os temas tratados no debate de quase três horas de duração terem

sido bastante variados, o foco permaneceu, de forma negativa, no candidato ausente.

Isso ocorreu devido a inúmeras variáveis presentes no contexto social e político do

Brasil, apesar de ter sido desencadeado por acontecimentos relativamente pontuais,

como as polêmicas envolvendo as posições conservadoras de Bolsonaro, o medo de

uma ameaça à democracia, os privilégios políticos existentes durante seus quase 30

anos de vida pública, etc. Contudo, os inúmeros ataques a Bolsonaro e sua

impossibilidade de defesa durante o debate não foram o suficiente para causar um

impacto radical entre seus eleitores. Mesmo tendo sido exposto de maneira tão

negativa, Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil no dia 28 de outubro.

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Além dos apontamentos feitos em relação aos ataques contra o candidato do

PSL, é também interessante considerar os outros resultados da análise de conteúdo

realizada a partir do debate. O foco do discurso dos candidatos foi majoritariamente

em cima de seus opositores e o tema mais discutido foi a questão da corrupção,

principalmente porque Lula (PT) foi acusado e preso por corrupção passiva. Haddad

(PT), por ter sido escolhido para ocupar o lugar de Lula nessas eleições, foi o segundo

principal alvo dos ataques, principalmente os de corrupção e de falhas na gestão do

PT durante os 12 anos de governo.

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REFERÊNCIAS

CARLOMAGNO, Márcio C; ROCHA, Leonardo Caetano da. Como criar e classificar categorias para fazer análise de conteúdo: uma questão metodológica. Revista Eletrônica de Ciência Política, [s.l.], v. 7, n. 1, p.5-5, 18 jul. 2016. VASCONCELOS, Fábio S. Do confronto à conciliação: debates presidenciais na TV como eventos persuasivos de campanha. Tese de Doutorado, orientado por Marcus F. Figueiredo. Rio de Janeiro: IESP / UERJ. 2013.

VEIGA, Luciana; SOUZA, Nelson R.; AVI DOS SANTOS, Sandra. Debate Presidencial: as estratégias de Lula e Alckmin na TV Bandeirantes. Política e Sociedade, Vol. 10, n. 1, abril 2007, pp. 195-217.

LOURENÇO, Luiz Carlos. Abrindo a Caixa-Preta: da indecisão à escolha – a eleição presidencial de 2002. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: IUPERJ, 2007.

LEITE, J. Os Presidenciáveis no Ringue Eletrônico. XXVI Congresso Anual em Ciência da comunicação. Belo Horizonte/ MG, 02 a 06 de setembro 2003.

BORBA, Felipe. Razões para a escolha eleitoral: A influência da campanha política na decisão do voto em Lula durante as eleições presidenciais de 2002. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado, 2005.

BORBA, Felipe de M. A propaganda negativa: estratégia e voto nas eleições brasileiras. Tese de Doutorado. Orientado por Marcus F. Figueiredo. Rio de Janeiro: IESP / UERJ. 2012.

BENOIT, Willian e WELLS, W. T. Candidates in conflict: Persuasive attack and defense in the 1992 presidential debates. Tuscaloosa: University of Alabama Press. 1996. BENOIT, William L. The emergence of discursive conventions in presidential advertising. Advertising & Society Review, v. 4, n. 3, 2003. BENOIT, William, L. “The Functional Theory Of Political Campaign Discourse”. Proceedings Of Ural State Pedagogical Linguistics, 2006, n.18, pp. 10- 34. BENOIT, William e KLYUKOVSKI, Andrew. “A functional analysis of 2004 Ukrainian presidential debates”. In: Argumentation and Advogacy. Springer 2006, pp. 209-225.

BOZZA, Gabriel A. e PANKE, Luciana. “Estratégias persuasivas no debate eleitoral na televisão – estudo de caso sobre as eleições presidenciais mexicanas em 2012.” Revista Crítica e Sociedade, 2014, vol. 3, n. 1. pp. 15-38. LAZARSFELD, Paul e MERTON, Robert King. “Comunicação de massa, gosto popular e ação social organizada” in Gabriel Cohn Comunicação e indústria cultural. São Paulo: T.A. Queiroz, 1987.

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ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

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ANEXO 1 – LIVRO DE CÓDIGOS

VARIÁVEL 1 - Candidato

Indica de qual candidato é a fala em questão.

1 - Alvaro Dias (Podemos)

2 - Ciro Gomes (PDT)

3 - Fernando Haddad (PT)

4 - Geraldo Alckmin (PSDB)

5 - Guilherme Boulos (PSOL)

6 - Henrique Meirelles (MDB)

7 - Marina Silva (Rede)

VARIÁVEL 2 - Direção da pergunta/discurso

Indica a quem a pergunta ou discurso é dirigido.

1 - Alvaro Dias (Podemos)

2 - Ciro Gomes (PDT)

3 - Fernando Haddad (PT)

4 - Geraldo Alckmin (PSDB)

5 - Guilherme Boulos (PSOL)

6 - Henrique Meirelles (MDB)

7 - Marina Silva (Rede)

8 - Mais de um

9 - Eleitores

10 - Outros

VARIÁVEL 3 - Dimensão temporal predominante

Classifica o tempo predominante na fala do candidato.

1 - Passado

2 - Presente

3 - Futuro

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VARIÁVEL 4 - Foco do discurso

Determina a quem o candidato se refere na maior parte do tempo.

1 - Próprio candidato

2 - Opositor(es)

3 - Status quo

4 - Eleitores

5 - Outros

VARIÁVEL 5 - Estratégia discursiva

Indica, com base na Teoria Funcionalista, quais das três estratégias apresentadas por

Benoit está mais presente no discurso do candidato. A Estratégia discursiva será

contabilizada na codificação somente se for dirigida a algum candidato, político ou

partido.

1 - Ataque

2 - Defesa

3 - Exaltação

4 - Mais de um

99 - Não se aplica

VARIÁVEL 6 - Direção do Ataque

Busca indicar a quem a estratégia Ataque é dirigida.

1 - Álvaro Dias (Podemos)

2 - Ciro Gomes (PDT)

3 - Fernando Haddad (PT)

4 - Geraldo Alckmin (PSDB)

5 - Guilherme Boulos (PSOL)

6 - Henrique Meirelles (MDB)

7 - Marina Silva (Rede)

8 - Jair Bolsonaro (PSL)

9 - Dilma Rousseff (PT)

10 - Michel Temer (PMDB)

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11 - Outros

12 - Mais de um

99 - Não se aplica

VARIÁVEL 7 - Tema

Refere-se ao tema tratado pelo candidato, independente da pergunta dirigida a ele.

1 - Educação

2 - Saúde

3 - Segurança

4 - Infraestrutura/Saneamento

5 - Economia

6 - Emprego/Desemprego

7 - Minorias

8 - Meio ambiente

9 - Privatização

10 - Democracia

11 - Custo Brasil

12 - Transportes/Mobilidade

13 - Impostos

14 - Corrupção

15 - Vários

16 – Outros

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ANEXO 2 – TRANSCRIÇÃO DO DEBATE

BLOCO 1

00:00:01

BONNER: Olá, boa noite, bem-vindos aos Estúdios Globo no Rio de Janeiro para o último debate entre os candidatos à Presidência neste primeiro turno da eleição... É mais uma oportunidade para avaliar planos e ideias dos candidatos. Alvaro Dias, do Podemos; Ciro Gomes, do PDT; Henrique Meirelles, do MDB; Guilherme Boulos, do Psol; Geraldo Alckmin, do PSDB; Marina Silva, da Rede, e Fernando Haddad, do PT… O candidato Jair Bolsonaro, do PSL, também foi convidado, mas informou que não poderia comparecer porque ainda se recupera do atentado que sofreu no dia 6 de setembro… Um sorteio determinou o posicionamento dos candidatos no estúdio... E para não prejudicar os candidatos e quem acompanha pela TV, eu peço que os convidados aqui atrás se mantenham em silêncio na plateia, mas só depois dos aplausos para os nossos candidatos… Muito obrigado, muito obrigado pela presença na plateia, que atendeu prontamente ao pedido de aplausos.... Agradeço a plateia, agradeço a presença aqui do senhores candidatos… Nesse debate, os candidatos vão fazer perguntas entre si ao longo de quatro blocos... No primeiro e no terceiro, com tema livre... No segundo e quarto blocos, com temas sorteados por mim aqui... A ordem das perguntas já foi sorteada na presença dos representantes dos candidatos... No fim do quarto bloco, cada um vai ter direito a uma mensagem final para o eleitor, em ordem também já estabelecida por um sorteio… O candidato que se sentir ofendido ou caluniado pode pedir para exercer o direito de resposta... Eu e a produção do debate vamos analisar o pedido e anunciar a decisão assim que possível... Se esse pedido for considerado procedente, o candidato ofendido vai ter um minuto para se defender… Então, nós vamos começar... Como eu disse, nesse primeiro bloco o tema é livre e todos os candidatos têm que ser questionados uma vez e fazer a pergunta a algum candidato que ainda não tenha respondido… Como eu disse teve um sorteio, e o sorteio determinou que quem faz a primeira pergunta dessa noite é o candidato do PDT, Ciro Gomes... Eu peço ao candidato que se aproxime aqui do púlpito... Essa é uma dinâmica que vai se repetir ao longo do debate... Boa noite, candidato... Por favor, me diga a quem o senhor quer dirigir a sua pergunta...

CIRO: Boa noite, Bonner... Eu convido a candidata Marina Silva...

BONNER: Candidata, por favor, pode vir ao púlpito... A pergunta tem trinta segundos, a resposta tem um minuto e meio...

(D001) CIRO: Minha cara Marina... Em 2014, Aécio e Dilma marcaram uma disputa assentada no ódio, praticamente empataram a eleição, a diferença foi mínima... E a partir daí a política brasileira não teve mais sossego... Até desaguarmos para o impeachment, para o Temer, e a pior crise da história do Brasil... Parece que as coisas no Brasil caminham para uma repetição trágica dessa história... Você acha que um presidente eleito nessa mesma circunstância vai conseguir governar ou será que haverá um outro impeachment no Brasil?

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(D002) MARINA: Ciro, eu não acredito que, a permanecer essa polarização, se tenha condição de governar o Brasil... Nós temos a oportunidade agora de poder fazer a mudança... O voto de uma pessoa pode ser usado para melhorar a saúde, melhorar a educação, melhorar, sobretudo, o sistema político que está degradado... A permanecer essa guerra, em que alguns estão votando por medo do Bolsonaro, e outros estão votando por medo do Haddad, ou estão votando porque têm raiva um do outro, o Brasil vai ficar quatro anos vivendo uma situação de completa instabilidade econômica, política e social... Nós temos a oportunidade agora de fazer a diferença, mas essa diferença é a população que pode fazer... Nós temos alternativas para poder fazer essa escolha e é por isso que eu tenho me colocado como uma alternativa, porque desde 2010, Ciro, eu estou dizendo que o Brasil ia para essa situação que estamos hoje de ódio, de separação... E nesse momento agora, com as propostas que tenham apresentado para a saúde eu estou preparada para unir o Brasil, porque graças a deus tenho dito desde 2010 que, se ganhar, vou governar com os melhores porque não tenho preconceito contra ninguém...

BONNER: Candidato, o senhor tem um minuto para a réplica...

(D003) CIRO: As palavras da Marina são muitos sábias e o povo brasileiro, que está nos ouvindo, que não decidiu ainda ou que admite mudar o seu voto, deve ouvi-las porque eu as repetirei ao longo desse debate: o Brasil tem problemas que nós precisamos ajuizar... O que está em jogo aqui não é paixão partidária... O que está em jogo aqui não é ódio, muito menos... O que está em jogo aqui, meu irmão, minha irmã, e brasileiros, são 13 milhões e 700 mil pessoas desempregadas, 32 milhões de brasileiros saindo de manhã, de madrugada, para viver de bico, desprotegidos de qualquer lei... O que está em jogo aqui são 63 milhões de brasileiros com o nome humilhado no SPC... 63 mil jovens brasileiros foram assassinados nos últimos doze meses... 60 mil brasileiras mulheres foram estupradas e nem sequer justiça temos... Eu acumulei a ficha limpa e experiência que tenho um projeto, mas respeito outras forças que estão aqui, mas afirmo a você, meu irmão e minha irmã, o Brasil precisa construir um novo caminho...

(D004) MARINA: Precisa construir um novo caminho, uma nova maneira de caminhar, como diz o poeta Thiago de Mello, e nós haveremos de encontrar... Eu não acredito nessa tentativa de fazer com que as eleições sejam apenas um plebiscito a partir das pesquisas... Até o dia 7 de outubro, você tem a oportunidade de pôr um basta nessa ideia de que a gente vai para a urna para decidir em função do medo ou em função do ódio... Você tem que decidir porque você tem esperança em um Brasil que seja justo, em um Brasil que não feche as portas para o seu futuro... Nós estamos fechando a porta para o futuro se continuarmos fazendo a política do medo... É por isso que eu tenho comigo as melhores pessoas para governar o Brasil, eu tenho a pessoa que idealizou o SUS, o Plano Real e o Bolsa Família, e assim que nós vamos governar o Brasil, com uma equipe competente...

BONNER: Candidatos muito obrigado... Vou pedir agora que se aproxime por favor o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que pelo sorteio é quem tem direito a fazer a pergunta agora... Candidato o senhor escolhe a quem vai dirigir a sua pergunta...

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ALCKMIN: Eu vou fazer a pergunta ao candidato Fernando Haddad...

BONNER: Por favor candidato... A pergunta tem 30 segundos... Lembrando, a resposta, um minuto e meio...

(D005) ALCKMIN: Quero cumprimentar o candidato Fernando Haddad e dizer o seguinte: nós estamos vivendo no Brasil o resultado de um grande equívoco de natureza econômica... O PT acabou gastando mais do que arrecadava, quem assumir no ano que vem vai ter um déficit... Já assume com um déficit de quase 139 bilhões de reais, 13 milhões de pessoas desempregadas... O candidato vai insistir no modelo petista de governar?

(D006) HADDAD: Boa noite, telespectador, boa noite, Geraldo... Os nossos governos foram responsáveis pela maior economia nas contas públicas do país... Enquanto quem governava era Fernando Henrique Cardoso, partidário Geraldo Alckmin, a carga tributária aumentou de 26% para 32% e a dívida pública dobrou no mesmo período... Detalhe: a carga tributária aumentou 6% do PIB no lombo do trabalhador, imposto sobre consumo... No nosso período, a dívida pública caiu à metade: nós pagamos o FMI, nós acumulamos quase 400 bilhões de dólares de reservas cambiais... O que o candidato Geraldo Alckmin não reconhece é que depois que o seu partido foi derrotado em 2014, e infelizmente correligionário dele admitiu em entrevista recente, o PSDB e se associou ao Michel Temer para sabotar o governo, aprovando as chamadas pautas bombas: gastos desnecessários, aumento para a cúpula do funcionalismo público, um absurdo, aumentando acima do teto, com o auxílio dos mais diversos, salário de quem já ganhava bem... E foi isso que levou o país à crise. E não a política responsável com as finanças públicas que nós fizemos...

(D007) ALCKMIN: Olha, nós discordamos totalmente... Eu quero falar com você que está nos ouvindo... O PT terceiriza a responsabilidade... O PSDB está fora do governo há 16 anos... O que que o Fernando Henrique tem que ver com isso a não ser o fato de que ele fez o Plano Real? E o PT e votou contra o Plano Real... Como o PT votou sempre contra e a favor do corporativismo... Nós temos… quem escolheu o Temer foi o PT, foi a Dilma... Quando disse que ia fazer o diabo para ganhar a eleição... Ganhar a eleição dando golpe no eleitor, porque depois ficou ingovernável o país... Eu não acredito que o PT e nem também o Bolsonaro vão tirar o Brasil da crise... Eu acho que nós precisamos unir o país e fazer as reformas de forma rápida, do começo do governo, recuperar a confiança... E o Brasil vai voltar a crescer, mas não com a irresponsabilidade do PT...

(D008) HADDAD: Geraldo, nós vamos recuperar as finanças públicas, mas não como vocês querem, cortando direitos... Vocês estão cortando direitos do trabalhador, vocês estão cortando direitos sociais, apoiando o governo Temer da primeira hora, indicaram quatro ministros... Por que o PT não tem ministro do governo Temer e o PSDB tem quatro ministros? Ainda agora tem um remanescente das Relações Exteriores, inclusive elogiando o Bolsonaro, que você critica... Isso é grave... Cortar direito do trabalhador para acertar as contas públicas não se faz... Tem que cobrar do andar de

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cima e não dar privilégio para o andar de cima, como vocês recentemente fizeram, aprovando reajuste no Judiciário, que é o funcionário público que mais ganha, e querendo aprovar uma Reforma Previdenciária no lombo do trabalhador rural, da pessoa com deficiência... Isso não se faz... Isso o PT jamais fará...

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Agora é a vez de chamar aqui ao púlpito o candidato ao Alvaro Dias, porque é ele quem vai fazer a próxima pergunta... Candidato, a quem o senhor vai dirigir a sua pergunta?

ALVARO: Ao Meirelles...

BONNER: Candidato Henrique Meirelles, MDB, também pode ir para a frente... 30 segundos para a pergunta, candidato...

(D009) ALVARO: Finalmente estou aqui neste grande palanque eletrônico do país, o maior de todos, seguramente, posso dizer: Muito prazer, William Bonner... Eu o vejo pessoalmente pela primeira vez... Outros tiveram o privilégio antes, aqui estiveram muitas vezes e derramaram a sua enxurrada de propostas... Hoje eu gostaria de fazer uma pergunta ao candidato do PT, mas ele não está aqui, está preso em Curitiba...

BONNER: Seu tempo candidato...

ALVARO: Eu pergunto, então, ao Meirelles... O que você fará…

BONNER: Candidato, acabou o seu tempo...

ALVARO: O que o senhor fará...

BONNER: Candidato, eu tenho que interrompê-lo, perdão... O senhor ultrapassou o seu tempo de 30 segundos... Para sermos justos, me perdoe, eu agradeço... Candidato Meirelles o senhor tem um minuto e meio...

(D010) MEIRELLES: Eu acho ótimo... Nós estamos vivendo uma situação aqui onde estamos vendo muita briga de candidatos e muito poucas propostas... No entanto, é um momento de fazermos propostas... É o momento em que o Brasil quer saber o que que cada candidato propõe para os próximos anos... E eu tenho uma história para mostrar... E portanto eu tenho condições de dizer que eu vou trabalhar para criar empregos no Brasil e para melhorar a sua renda, para criar condições para que todos os brasileiros possam melhorar a sua vida, possam mandar os seus filhos para as escolas e podermos, aí sim, com o país crescendo, aumentando a arrecadação, nós vamos ter condições de ter uma boa educação, de ter segurança, porque todos têm direito de dormir em paz, trabalhar em paz e não se preocupar com seus filhos, porque é dever do Estado garantir segurança... E ao mesmo tempo, vamos também fazer com que a saúde possa atender a população como a população merece, nós vamos informatizar o SUS e fazer com que cada um possa marcar a sua consulta

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eletronicamente e não vai esperar em fila, principalmente, quando está doente... E vamos melhorar a educação para todos, principalmente, a qualidade da educação...

(D011) ALVARO: Olha, eu trouxe a pergunta por escrito e eu vou entregar, ao final, ao Haddad, para que ele leve ao candidato do PT, que está preso em Curitiba, já que ele o visita todas as segundas-feiras... E eu quero dizer ao Meirelles que nós estamos discutindo muito nessa campanha eleitoral o que é periférico... Estamos deixando de discutir o que é essencial, o modelo que nos governa... Esse modelo corrupto, incompetente... Esse balcão de negócios, do aparelhamento do estado, do loteamento dos cargos, da relação desonesta entre os poderes, dos privilégios das autoridades, do governo inchado e gastador, do legislativo também inchado e gastador... Quando nós falamos em reduzir o número de políticos nós encontramos resistência, mas se nós não mudarmos esse modelo, Meirelles, podem chamar o Meirelles e ele não resolverá problema algum...

BONNER: Tempo esgotado... Candidato, a tréplica do candidato Meirelles em um minuto...

(D012) MEIRELLES: Vocês podem também chamar o Meirelles que nós vamos desenvolver o Brasil e melhorar a sua vida... Mas eu tenho absoluta tranquilidade para lidar com o tema de uso de cargos e de corrupção e de tudo aquilo que preocupa hoje fortemente os brasileiros... Porque, em 33 anos de trabalho em empresa, em dez anos de serviço público, eu nunca tive uma denúncia por corrupção, não tenho nenhum processo, aliás, candidato, eu estou pensando em criar o movimento dos “sem processo”, porque com isso nós vamos de fato fazer algo importante para a população brasileira hoje... Eu vou propor que de um lado se dê toda a força sim à Lava Jato, por outro lado nós vamos fazer com que se nomeie sempre uma equipe de qualidade como eu sempre fiz, primeira linha...

BONNER: Obrigado, candidatos... O sorteio determina agora que se aproxime, por favor, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, e que tem o direito a escolher a quem vai dirigir a pergunta...

BOULOS: Vou perguntar ao candidato Geraldo Alckmin...

BONNER: Candidato Alckmin, por favor... Lembrando, 30 segundos para a pergunta, candidato...

(D013) BOULOS: Alckmin, boa noite a você e a todos e todas que nos assistem... Você, junto com o Temer, o Bolsonaro, apoiou a reforma trabalhista que retirou direitos históricos dos trabalhadores... Para vocês, para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter direitos. Para o trabalhador ter emprego, ele não pode ter carteira assinada, férias... Aliás, o vice do Bolsonaro defendeu a mesma coisa... Quero saber, Alckmin, por que sempre vocês cortam nos direitos e nunca nos privilégios da sua turma...

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(D014) ALCKMIN: Olha, aqui é uma grande diferença... O Boulos, como o PT, defende o corporativismo, e nós não... A reforma trabalhista foi necessária, ela foi importante para acabar com cartórios... O país tinha 17 mil, ainda tem, 17 mil sindicatos mamando lá no imposto sindical, na contribuição obrigatória... Aliás, o mais absurdo, 5.700 patronais... E isso é um absurdo verdadeiro... Nenhum direito foi tirado... Nenhum... E nem pode tirar… Nenhum... Então é uma inverdade isso que está colocada... O que o Brasil precisa é voltar a crescer e para o Brasil voltar a crescer, sair esse marasmo, nós temos que fazer reformas... Reforma política, reforma tributária, simplificar o modelo tributário... Reforma do Estado... O PT criou 43 empresas estatais, inclusive a TV do Lula, gastou mais de R$ 2 bilhões... A Santa Casa aqui da cidade do Rio de Janeiro está fechada por falta de R$ 200 milhões... Eu vou enxugar a máquina, fazer a reforma do Estado, privatizar, trazer investimento para o Brasil, recuperar a confiança e o Brasil vai voltar a crescer... Porque o que a população quer é emprego, e nós vamos trabalhar para ter emprego na veia... O governo perdeu capacidade de investimento... Nós vamos trazer investimento privado para o Brasil voltar a crescer...

(D015) BOULOS: Olha, nós estamos de fato em lados opostos... Você é da turma dos privilégios, eu sou da turma dos direitos... Dizer que a reforma trabalhista não retirou direitos dos trabalhadores é brincar com você que está nos assistindo, que sabe hoje o quanto é difícil encontrar um emprego com carteira assinada, e ficou ainda pior... Veja, vocês chamam, Alckmin, de Custo Brasil... Para vocês, direito é um custo, para nós, custo é outra coisa... Custo é um bilhão de reais que vai para pagar auxílio-moradia de juiz e deputado que mora em mansão... Custo é 400 bilhões de reais que vão todos os anos para pagar juros abusivos para banqueiros e agiotas, no sistema da dívida pública... Nós temos coragem para enfrentar esses privilégios e para revogar essa reforma trabalhista absurda… Nós vamos anular isso... Por isso, no domingo, é que vale a pena botar 50, votar no PSOL...

(D016) ALCKMIN: Ele não citou um direito que foi retirado, porque não foi retirado direito nenhum e nem é possível retirar direito... Não existe isso... A gente precisa falar as coisas verdadeiras... O maior desafio do mundo moderno é o emprego em razão das mudanças tecnológicas... O país não pode ter uma lei da década de 80, então é evidente que a reforma foi necessária, de lá para cá, 210.000 empregos foram criados... Essa questão do Temer, quero aqui também responder ao Haddad, que ele teve a última palavra, o Temer é responsabilidade do PT... Foi o PT que escolheu o Temer, aliás, escolheu duas vezes e escolheu em 2014... Eu não votei no Temer... Então, é um absurdo, é a terceirização da responsabilidade... Não assumem responsabilidade e querem terceirizar para os outros... O meu governo vai ser do emprego, da renda do desenvolvimento do país...

BONNER: Candidato, obrigado... O próximo candidato a fazer pergunta pelo sorteio é Henrique Meirelles, ao candidato Ciro Gomes... Por favor, candidato Ciro Gomes, do PDT... 30 segundos para pergunta candidato...

(D017) MEIRELLES: Há quase trinta anos, o Brasil escolheu Fernando Collor, um presidente que se intitulava o salvador da pátria... Ele confiscou a poupança, a inflação voltou e tudo terminou em desastre; ele sequer terminou o mandato sofrendo,

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impeachment... Candidato, por que essa história de salvador da pátria sempre dá errado e termina em desastre e sofrimento para a população?

(D018) CIRO: Meu Caro Meirelles, essa é uma pergunta muito importante porque talvez seja a hora mais grave do brasileiro: nós todos aprendermos a importância de votar em projeto, em ideia... Porque os homens devem ter a noção de que nós somos passageiros e, nenhum de nós é dono da verdade, nenhum de nós é capaz de governar uma nação de 208,5 milhões de pessoas com mil contradições, mil lindezas, mil maravilhas, mil defeitos, mil dificuldades... E esse é o grande drama do Brasil nesse momento: o choque entre duas personalidades exuberantes - é o lulismo, e o antilulismo que o Bolsonaro representa... Eu compreendo isso, compreendo, sou humilde diante da realidade, por isso que eu estou determinado... Tenho pedido a Deus que ilumine a minha palavra para que a gente possa oferecer ao povo brasileiro um outro caminho... Não é para negar ninguém, mas na sua pergunta tem uma sabedoria... Não existe salvador da pátria... Vamos raciocinar um pouquinho: aqueles programas todos que você estava falando passam também por problemas econômicos... 220 mil lojas fecharam no Brasil nos últimos três anos, 13 mil indústrias fecharam no Brasil nos últimos três anos... É uma coisa absolutamente grave e complexa o momento brasileiro e o cenário internacional numa guerra importante comercial como essa dos EUA com a China exigido muita experiência e muita capacidade de intervenção... E o Brasil dançando na beira do abismo com esse tipo de confrontação...

(D019) MEIRELLES: Concordo integralmente, acho que é um momento em que o Brasil precisa de competência, é o momento em que o Brasil precisa de experiência e o Brasil precisa de propostas concretas... Alguém que já tenha mostrado resultado e que tem condições de administrar o país... Eu trabalhei no governo durante dez anos, criei, através das políticas que implantei, cerca de 12 milhões de empregos e, mais importante do que isso, a vida dos brasileiros melhorou nesse período... Agora, por exemplo tirei o Brasil da maior recessão da história... Chegamos na superfície, saímos do fundo do poço, mas está na hora de começar a crescer... Eu tenho várias propostas objetivas para o país como, por exemplo, criação do Pró Criança, um programa para fornecer creches para toda a população infantil, são 7 milhões de crianças precisando de creche, e outras propostas…

(D020) CIRO: O estimado amigo, nós somos colegas, não é? Tem uma história de vida brilhante... Menos essa passagem com Michel Temer, que de fato não lhe honra, nem lhe faz a melhor justiça, o que não desmerece a sua longa folha de serviços prestados ao Brasil... E por isso eu lhe respeito e lhe tenho na conta de um bom amigo, discordando de todas as compreensões... O Brasil precisa ativar quatro motores para de fato falarmos em desenvolvimento, emprego, salário e dinheiro para melhorar a saúde, a educação, a segurança e a infraestrutura, tudo em pandarecos... Resolver o endividamento das famílias, o programa Nome Limpo, para limpar o nome das pessoas, com 63 milhões estão com o nome no SPC... Resolver o colapso do endividamento dos empresários, tem que trazer uma reestruturação da capacidade de investimento do empresário, corrigir a conta pública, cobrando mais imposto dos muito ricos e diminuindo a tributação na classe média e do povo trabalhador... E, por fim, buscar um caminho de indústria naqueles caminhos que o Brasil tem: petróleo,

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gás e bioenergia são exemplos junto com saúde, o complexo industrial de defesa e o complexo industrial do agronegócio…

BONNER: Obrigado, candidatos... O próximo candidato é Fernando Haddad do PT, segundo o sorteio de que participaram já os assessores de todos os partidos... Candidato Haddad, a quem o senhor quer fazer a pergunta?

HADDAD: Para quais candidatos eu posso fazer a pergunta?

BONNER: Boulos e Alvaro Dias…

HADDAD: Boulos…

BONNER: Por favor, Guilherme Boulos do PSOL…

(D021) HADDAD: Boulos, eu te escolhi porque você é um candidato sério... E eu queria perguntar pra você o seguinte: há três candidatos que apoiam o governo Temer, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin e o deputado há 28 anos, Jair Bolsonaro... Só falam em cortar direitos... Bolsonaro agora veio com a ideia de cortar o 13º, abono de férias, cobrar Imposto de Renda dos pobres, que são isentos, e cortar o Bolsa Família e introduzir a CPMF... O que você acha disso?

(D022) BOULOS: Olha Haddad, a sua pergunta é muito importante e verdadeira, coloco essas questões... Mas eu quero falar aqui de outra coisa que eu acho que não merece riso, porque o momento é grave... Não dá para a gente fingir que está tudo bem: nós estamos há meses fazendo uma campanha que está marcada pelo ódio, faz 30 anos que esse país saiu de uma ditadura, muita gente morreu, muita gente foi torturada, tem mãe que não conseguiu enterrar o seu filho até hoje... Outro dia eu conversava com meu sogro e ele contava das torturas que sofreu durante a ditadura militar... Faz 30 anos, mas eu acho que a gente nunca esteve tão perto disso que aconteceu naquele momento... Se nós estamos aqui hoje podendo discutir o futuro do Brasil, é porque teve gente que derramou sangue para ter democracia... Se você vai poder votar no domingo é porque teve gente que deu a vida para isso... E, olha, quando eu nasci, o Brasil estava numa ditadura; eu não quero que as minhas filhas cresçam no país com uma ditadura... Sempre começa assim, com arma, com tudo se resolve na porrada, que a vida do ser humano não vale nada... Eu acho que nós temos que dar um grito nesse momento, colocar a bola no chão e dizer: ditadura nunca mais…

BONNER: Eu peço, por favor, à plateia, que não se manifeste, por gentileza... Candidato Haddad…

(D023) HADDAD: Olha, eu agradeço a sua resposta pelo alerta que você faz à nação... Chamo a atenção para os riscos que nós estamos correndo... Sem democracia não há direitos... Se foi possível construir um país com direitos, se foi possível gerar 20 milhões de empregos em apenas doze anos, se foi possível fazer o

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jovem trabalhador de classe pobre, o filho do pedreiro, entrar na universidade, isso tudo se deve à democracia... Minha Casa, Minha Vida não existiria... Bolsa Família não existiria... Luz para Todos não existiria sem democracia... É a liberdade que te permite reivindicar, votar, exigir dos governantes compromisso social... O que está acontecendo no Brasil é um descalabro... Os seus direitos estão sendo cortados todo o santo dia, todo dia uma notícia ruim para você... Você é parte da solução... Se o seu salário aumentar, se os seus direitos forem garantidos, a economia volta a girar e a geração de empregos vai continuar…

BONNER: Candidato Boulos…

(D024) BOULOS: Olha, essa turma do ódio, a turma do Bolsonaro, é também a turma da destruição dos direitos... O vice dele disse outro dia que o 13º, que férias, é coisa que não deve existir e que ele era contra... Esse ódio que eles propagam nasce da indiferença... Eu estou há 16 anos lutando nas periferias desse país ao lado do povo que não tem casa, ao lado do povo que sofre, de pessoas que sempre foram acostumadas a ir pelo elevador de serviço, a entrar pela porta dos fundos, a baixar a cabeça e dizer: Sim senhor... A gente foi perdendo a capacidade de se indignar, de se sensibilizar... A gente perdeu a capacidade de sentir a dor do outro... Quando a gente passa numa rua e vê alguém jogado, sem teto, e acha isso normal, passa reto... Quando uma criança estende a mão e fecha o vidro... Nós precisamos trazer para a política essa solidariedade... É com o fim da indiferença que a gente vai vencer o ódio…

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Eu vou pedir que se aproxime do púlpito a candidata Marina Silva, que é quem vai fazer a próxima pergunta, e o candidato Alvaro Dias porque, pelas regras, é ao senhor que ela deve dirigir a pergunta final dessa rodada do primeiro bloco do nosso debate...

(D025) MARINA: Alvaro, nós estamos vivendo um momento difícil para a população brasileira, com o desemprego, muito sofrimento... E nesses momentos, como já foi dito, aparecem os salvadores da pátria, pessoas achando que para governar basta ter alguém que tenha a força... Eu quero perguntar para você: quais são os atributos que um governante deve ter para ajudar a tirar o povo brasileiro desse sofrimento?

(D026) ALVARO: Que tristeza, Marina, você que é uma mulher que tem alma, uma sensibilidade humana que conhece o drama das pessoas e deve sofrer como muitos brasileiros que não admitem ver mais tanta corrupção nesse país, confrontando com uma miséria de mais de 52 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, gente debaixo da ponte, debaixo da árvore, sem onde morar, sem salário... E nós olhamos o Palocci denunciando que em apenas duas eleições eles gastaram 1 bilhão e 400 milhões de reais... Isso é um acinte, isso é um afronta... E nós olhamos hoje na capa da revista IstoÉ denúncias de corrupção... E nós olhamos a delação do Marcos Valério, denúncia de corrupção... Mas nós não imaginávamos que a operação Lava Jato pudesse ter chegado ao seu limite, e nós estamos longe do fundo do poço... Assaltaram esse país e nós vamos aqui ficar falando em propostas para gerar emprego, para melhorar a segurança e não vamos falar em acabar com essa

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roubalheira, com essa corrupção, com esse modelo perverso que é, sem dúvida nenhuma, a conspiração contra a operação Lava Jato…

BONNER: Candidato, seu tempo acabou... A réplica por favor…

(D027) MARINA: Eu acredito que os melhores atributos para que a gente possa enfrentar tudo isso que você acaba de dizer é, primeiro, compromisso para fazer tudo aquilo que se promete em uma campanha, para os eleitores... A outra coisa que se deve fazer é ter uma boa equipe, porque não existe salvador da pátria, é por isso que como eu disse eu me orgulho das pessoas que estão andando comigo, como é o caso de André Lara Resende, como é o caso de Ricardo Paes de Barros, como é o caso do meu vice, Eduardo Jorge... E mais: ter a autoridade moral, coragem moral para poder combater a corrupção sem tréguas, porque é isso que está tirando dinheiro da saúde... Foi 1 trilhão do BNDES que poderia ter sido usado para o crédito, microcrédito... Para que os nossos jovens não estejam entregues à própria sorte…

(D028) ALVARO: Marina, você tem razão, é preciso acabar com esse tempo do “rouba, mas faz”, é preciso fazer muito mais do que fizeram, sem roubar, sem deixar roubar, e colocando na cadeia quem rouba... Essa é a sentença, esse é o programa de governo... Eu e o meu vice-presidente Paulo Rabello temos cerca de mil páginas de propostas para governar o Brasil; só em relação a reforma do estado são 260 páginas, mas do que adiantam essas propostas se nós preservarmos esse modelo perverso... Com ele, o país não vai alcançar os índices de crescimento econômico compatíveis com a sua grandeza... E eu não vejo entre os fantasmas que nos rondam pelas extremas, eu não vejo ninguém - de um lado, uma organização criminosa, e de outro lado, a marcha da insensatez empurrando o país para um desfiladeiro sem fim…

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Termina assim o primeiro bloco do nosso debate... A seguir, os candidatos à Presidência farão perguntas sobre temas determinados por sorteio... Até já...

00:36:11

SEGUNDO BLOCO

BONNER: Estamos de volta com o debate com os candidatos à Presidência da República... Neste segundo bloco, vou sortear os temas de cada pergunta... A ordem dos candidatos que perguntam já foi sorteada em uma reunião com os assessores deles... Todos vão fazer perguntas e sempre a algum candidato que ainda não tenha sido questionado nesse bloco... Vamos, então... Qual será o primeiro tema de pergunta neste bloco? Aqui está... "Custo Brasil" é o tema da primeira pergunta, que será feita pelo candidato do PSOL, Guilherme Boulos... Eu peço ao senhor que se aproxime e, com a mesma dinâmica do primeiro bloco, o senhor escolhe a quem vai fazer a pergunta... Candidato...

BOULOS: Eu vou perguntar novamente ao Geraldo Alckmin…

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BONNER: Candidato Alckmin, por favor, pode se aproximar... Lembrando, então, o tema é “Custo Brasil”...

(D029) BOULOS: Alckmin, primeiro só fazer uma correção em relação ao bloco anterior... Nós poderíamos citar vários casos da reforma trabalhista... Mulher grávida poder trabalhar em local insalubre, terceirização generalizada, o trabalhador brasileiro sabe disso... Agora, falam muito de Custo Brasil, como se o grande empresário é que arcasse com a conta... No seu governo em São Paulo, Alckmin, foram 15 bilhões em desonerações fiscais para os grandes empresários, mais do que se destinou para as universidades públicas... É essa a política que você quer levar para o Brasil?

(D030) ALCKMIN: Olha, primeiro destacar, sobre a questão da reforma trabalhista, que ela não tira um direito... O funcionário de uma empresa terceirizada tem o mesmo direito do outro... É da economia moderna você fazer a atividade principal... Você, quando faz uma atividade montadora, você vai recebendo, várias empresas prestam o serviço... Isso é normal, é natural, não tem um direito a menos... A questão de grávida precisa ser regulamentada e eu vou corrigi-la... Em relação à questão do Custo Brasil, é uma barbaridade: 143 empresas estatais, 43 foram criadas pelo PT... Até a do trem-bala... Não tem trem, não tem ferrovia, não tem nada, mas está aí a estatal... É preciso uma reforma do Estado, que eu vou fazer, como fiz em São Paulo... A crise pegou o Brasil inteiro, todo o Brasil teve crise... São Paulo, fizemos superávit de 5,3 bilhões de reais, e reduzindo o imposto para o contribuinte... Nós reduzimos o imposto de remédio... Todos os genéricos, de 18 para 12... Reduzimos imposto do etanol, do carro, da pessoa que coloca o etanol como combustível, de 25 para 12... É a menor do país... Zerei o ICMS do trigo, da farinha do trigo, do pão, do macarrão, das bolachas sem recheio... Reduzimos impostos em quase todas as áreas... Agora, eu defendo a reforma tributária…

(D031) BOULOS: Olha, Alckmin, o trabalhador brasileiro gostaria muito de viver nesse mundo da fantasia que você apresenta... Agora, em relação ao Custo Brasil, nós precisamos fazer uma diferenciação do que é o pequeno empresário, que esse de fato está esganado e precisa de crédito público, precisa de desburocratização e apoio do governo, e o grande empresário, que se recebe todo tipo de tapete vermelho, champanhe e benesses... Só neste ano foram 280 bilhões de reais em desonerações fiscais, ou seja, de liberar esses grandes empresários de pagar imposto... O Alckmin deu a contribuição dele, o Temer também, todos eles deram essa bolsa empresário... Para nós, tem que diferenciar bem o que é gasto e investimento... Olha, educação e saúde não é gasto, é investimento no futuro... Gasto é bolsa empresário... Gasto é fazer com que o super rico não paga imposto... É aí que tem que ser enfrentado privilégio…

(D032) ALCKMIN: Olha, eu defendo a reforma tributária... Nós temos imposto demais e muito altos... Nós vamos reduzir cinco impostos para um só, que é o imposto de valor agregado... É isso que eu vou fazer, e fazer rapidamente... Reforma tributária, reforma política e reforma do Estado... O Brasil é um país caro... Por que o Brasil ficou caro? Você compra um produto, paga muito mais do que em outros países... Primeiro, o custo do dinheiro... Os Estados Unidos têm 4 mil bancos, o Brasil tem meia dúzia...

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Nós vamos fazer uma grande reforma bancária para trazer mais bancos e ter mais competição e desregulação... A outra é reforma tributária, imposto demais onerando o trabalhador e o empreendedor... Burocracia, esse cartório verdadeiro que temos no país e logística ruim... Mas o quinto para reduzir custo Brasil é não eleger nem o PT nem o Bolsonaro porque nenhum dos dois vai resolver a crise... O que podem é agravar a crise, isso sim…

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Eu peço agora que quem se aproxime seja a candidata Marina Silva, da Rede, porque, pelo sorteio, é ela que vai dirigir a pergunta a um outro candidato na segunda rodada de perguntas e respostas do nosso debate... A quem a senhora quer fazer a sua pergunta, candidata? Desculpe, perdão, acabei de cometer o primeiro erro da noite... Antes eu preciso fazer... Ainda bem, fui salvo pelo ponto eletrônico... Porque, primeiro, eu tenho que descobrir qual é o tema... "A legislação trabalhista". Não é um ano fácil, candidata... Legislação trabalhista é o tema... Agora, sabendo do tema, a senhora vai escolher a quem vai fazer a pergunta... Perdão…

MARINA: O tema legislação trabalhista... Eu vou chamar o Henrique Meirelles.. . BONNER: Não vai acontecer de novo... Perdão por esse erro... Candidato... Candidata, a senhora tem 30 segundos para a pergunta…

(D033) MARINA: Candidato Meirelles, você, juntamente com o governo Temer, propuseram uma reforma trabalhista que prejudicou o direito dos trabalhadores... Em nome da modernização, criaram relações pré-modernas de trabalho... Uma mulher trabalhar em atividade insalubre, uma pessoa ter de pagar para ter uma perícia técnica para poder entrar na Justiça, tudo isso é inadmissível... Você vai corrigir esses erros?

(D034) MEIRELLES: Existe a necessidade, certamente, de corrigir alguns problemas que precisam ser endereçados imediatamente como essa questão, por exemplo, do trabalho insalubre e, principalmente, para a mulher grávida, mas para todos... Temos que enfrentar esse problema com rigor... Por outro lado, também nós temos que dizer que a legislação trabalhista brasileira, de fato, ela estava no século passado, e criando um problema grave para o país crescer... E criando um problema para os trabalhadores, criando problema para as empresas e criando problema para a população brasileira... Porque vou dar um exemplo para você que talvez você não conheça: lá na Europa, por exemplo, tinha uma grande, tem uma grande empresa que tem um número grande de funcionários no Brasil, cerca de 70 mil, e um número grande de funcionários nos Estados Unidos, também cerca de 70 mil... Esta mesma empresa nos Estados Unidos tem 27 causas trabalhistas e tem dois advogados trabalhando em período parcial... No Brasil, 25 mil causas trabalhistas e 150 advogados... Isso não é bom para os trabalhadores – é a mesma empresa com a mesma prática trabalhista... Nós temos que ter condição de ter um país em que o trabalhador tenha condições de optar qual é o sistema em que ele quer trabalhar... Neste caso, por exemplo, nós temos que ter relações modernas entre o trabalhador a empresa…

(D035) MARINA: É fundamental que se faça uma reforma trabalhista, inclusive para ajudar que os trabalhadores possam entrar na formalidade... Ela é necessária, mas

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eu vou corrigir todos esses erros que foram cometidos por vocês... E eu vou citar um exemplo que, com certeza, você não conhece... Quando eu era ministra do Meio Ambiente, encontramos em uma fazenda lá no interior do Pará mais de 38 pessoas vítimas de trabalho escravo... Uma pessoa que é vítima de trabalho escravo não tem como pagar uma perícia técnica para poder reclamar seus direitos na Justiça... Uma pessoa que ganha salário mínimo não tem como fazer uma perícia técnica... Uma mulher grávida tem que ser protegida e uma pessoa tem que ter o direito a pelo menos uma hora para poder se alimentar e se conectar consigo mesma... Eu vou mudar essas atrocidades…

(D036) MEIRELLES: O trabalho escravo, não é, vai além do problema trabalhista... É uma questão de polícia... Nós temos aqui é que garantir que as pessoas sejam tratadas com dignidade, e isso é uma questão de direitos humanos, não é meramente uma questão trabalhista... O país tem que respeitar os seus cidadãos, seja a empresa, seja o governo, sejam os trabalhadores e sejam os políticos, que têm que levar a política a sério, têm que levar o eleitor a sério, têm que levar as pessoas para que não fiquemos aqui simplesmente fazendo demagogia, palavras populistas que possam lhe enganar... Nós temos que trabalhar com seriedade porque o Brasil precisa melhorar a sua vida, precisa crescer, precisa trabalhar com justiça social, sim... Mas com eficiência, para que você possa, trabalhando o mesmo número de horas, com dignidade, ganhar mais, produzir mais e produzir melhor…

BONNER: Candidata Marina, eu agradeço a sua presença... Candidato Meirelles, eu peço ao senhor que fique onde está porque é o senhor que vai fazer a próxima pergunta sobre o tema que eu vou sortear aqui... “Saúde”... Agora, o senhor diz a quem o senhor quer prazer a pergunta sobre saúde…

MEIRELLES: Ao Alvaro, por favor…

BONNER: Candidato Alvaro Dias... 30 segundos para pergunta por favor, candidato…

(D037) MEIRELLES: Candidato, nós temos uma situação de saúde dramática no Brasil... Já por um longo tempo nós temos uma população que tem um serviço de qualidade baixa do SUS... Nós temos que informatizar o SUS, sim, mas o que nós podemos fazer para garantir que as pessoas tenham um atendimento de qualidade, que possam, estando doentes, ser atendidos imediatamente e não esperar em fila durante, inclusive, a madrugada…

(D038) ALVARO: Em primeiro lugar é não roubar, em segundo, ter competência de gestão... Vocês não tiveram... O senhor estava lá... O senhor, chamado, esteve lá em todos esses governos... Lula, Dilma e Temer... O senhor esconde Dilma... Esteve lá como autoridade olímpica no governo Dilma... Não esconda a dona Dilma... Na verdade, nos últimos 15 anos, 160 bilhões de reais que estavam provisionados para a saúde foram desviados... Aí o que ocorreu? Os procedimentos médicos tiveram pagamentos defasados e foram comprometidos... O SUS, que é um grande programa, acabou sendo um programa pífio, um desastre, um caos... O que é preciso fazer? Revitalizar o SUS com a tabela única, priorizar a atenção básica porque aí apenas

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20% do doente chegará a atendimento de média e alta complexidade, reduziremos o sofrimento do povo e reduziremos as despesas do governo... Portanto, a questão de saúde, o Banco Mundial já disse, não é uma questão só de dinheiro, é de competência, planejamento e organização e menos corrupção…

(D039) MEIRELLES: Eu tenho a ficha limpa, eu não fui nunca, em nenhum momento, acusado de corrupção... Eu sou um candidato da minha história, e não tenho nenhum processo porque o meu foco é a competência... Sim, trabalhei e fiz um programa junto com o Banco Mundial visando analisar a estrutura do serviço público no Brasil... Podemos sim melhorar o SUS, podemos sim fazer com que cada um tenha um cartão eletrônico em que possa, chegando no médico com horário marcado ter um atendimento que já tenha ali no cartão tudo aquilo que ele já teve e tudo o que é o tratamento proposto... Para isso é necessário competência e menos demagogia e menos falatório…

BONNER: Candidato, a tréplica agora…

(D040) ALVARO: Eu ia falar só de saúde dessa vez... Mas o senhor me deu a grande oportunidade de dizer que ficha limpa não tem quem é cúmplice de corrupção, quem participa de governo que se transforma em organização criminosa... O senhor leu a delação do Palocci? O senhor leu a delação do Marcos Valério? O senhor estava lá... O senhor admite gastar 1 bilhão e 400 milhões de reais numa campanha eleitoral? Quantas casas se construiria no “Minha Casa, Minha Vida” com 1 bilhão e 400 milhões de reais? Mas, em matéria de saúde, eu vou também instituir, se for Presidente da República, que Deus me permita ser presidente, eu vou instituir o “Médico Federal” no lugar do Mais Médicos, que é outra corrupção... É dinheiro que vai para Cuba... Vai para Cuba um balaio de dinheiro e volta uma cestinha para o Brasil…

BONNER: Tempo... Muito obrigado... Candidato Meirelles, o senhor pode retornar... O senhor é que vai fazer a próxima pergunta, mas nessa bancada cinza que serve de referência para a câmera... Eu vou sortear o tema e depois o senhor diz para quem vai fazer a pergunta... “Gastos públicos” é o tema da sua pergunta para ao candidato... Por favor…

ALVARO: Qual sobrou aí, William?

BONNER: Temos Guilherme Boulos, Marina Silva, Fernando Haddad e Ciro Gomes...

ALVARO: Ah, o Fernando Haddad, claro...

BONNER: 30 segundos para a sua pergunta, por favor, candidato…

(D041) ALVARO: Ao final do programa, eu vou entregar a você a pergunta que você levará ao verdadeiro candidato do PT à Presidência da República, porque o senhor aqui é apenas o representante dele - ele é o seu padrinho... Em matéria de gastos públicos, vocês gastaram horrorosamente, especialmente na Petrobras; gastaram,

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não, roubaram o dinheiro público... Eu gostaria de perguntar a você o que você vai fazer com essa ação última em relação aos acionistas americanos?

(D042) HADDAD: Em primeiro lugar, eu acho que você deveria ter mais compostura nesse debate... O senhor não respeita tempo, não respeita seus adversários, não respeita as regras do debate, faz brincadeira com coisa séria... Coisa muito séria... Eu quero dizer para o senhor que, em termos de gastos públicos, os nossos governos pela primeira vez colocaram o pobre no Orçamento... Todos os programas sociais conhecidos no Brasil, Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, ProUni, universidades públicas federais, institutos federais, transposição do São Francisco... O senhor imaginar, foi feito nos governos nossos com os resultados sociais conhecidos... Agora, nós vamos retomar muita coisa que vocês destruíram, estão destruindo... Nós vamos retomar o crescimento do Brasil, diminuindo os impostos dos mais pobres para que eles aumentem o poder de compra e possam voltar a comprar para ativar a economia e gerar empregos... Nós vamos enquadrar os bancos, porque os bancos estão cobrando juros extorsivos da população, sobretudo do empresário, daquele que precisa fazer um crediário e daquele que está endividado e não consegue pagar as suas contas... Nós vamos fazer tudo que for necessário... A reforma fiscal para retomar os investimentos públicos gerando emprego... É isso que eu vou fazer a partir de 1º de janeiro de 2019…

(D043) ALVARO: Olha, eu não estou brincando, estou falando muito sério, olho no olho, papo direto, vocês é que são uma brincadeira governando... E, aliás, quando você fala do seu desempenho no Ministério da Educação, eu fico pensando que você estava na Dinamarca... Mas o que eu estou dizendo é que só nesta ação da Petrobras, na última, de 20 bilhões, esse acordo para evitar o prosseguimento de uma ação judicial, de acionistas americanos porque a Petrobras foi assaltada pelo PT nos últimos anos, foi pilhada, de 20 bilhões de reais... Sabe o que significa isso? A construção de 200 mil casas, onde morariam quatro pessoas... Igual, quatro pessoas, 800 mil pessoas, igual a capital de Maceió... É levar Maceió para o Renan Calheiros e para o Collor para Nova York... Esse é o tamanho do rombo do PT só nesse caso…

BONNER: Tempo, candidato... Candidato Alvaro Dias... Eu interrompo por causa do tempo e peço para o senhor, por favor, que dê um passinho à sua direita, para se centralizar a essa mesa cinza porque senão o senhor não aparece... Candidato Haddad…

ALVARO: Tá legal. É que eu quero ficar bem de frente com o Haddad…

BONNER: É porque senão o senhor encobre o outro candidato com aquela câmera que está atrás... É esse o pedido que eu lhe faço faz mais uma vez... Candidato Haddad, agora sim, por favor, mais um minuto…

(D044) HADDAD: O senhor está atrapalhado em relação ao tempo e ao espaço... O senhor precisa se situar aqui... 15 bilhões de dólares custava a Petrobras, quando nós assumimos. Hoje ela custa 80 bilhões de dólares a valor de mercado... Sabe por quê? Porque nós multiplicamos por 10 o investimento da Petrobras... Sem isso, nós jamais

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acharíamos o pré-sal, que é o passaporte para o futuro se vocês pararem de vender para os americanos o que é do povo... Eu vou retomar o petróleo da Petrobras para investir em saúde e educação, e você aprovou uma lei para alienar, para os americanos, o que é dos brasileiros... Isso eu não vou permitir... Isso vai ser revisto no dia 1º de janeiro de 2019, posso te assegurar isso... Em relação ao meu trabalho no Ministério da Educação, você não sonha com isso... Os governos que você apoiou não fizeram 10% do que eu fiz para o filho do trabalhador entrar na universidade pela primeira vez na história do país…

BONNER: Tempo esgotado... Muito obrigado, candidatos... Quem eu vou sortear aqui a próxima pergunta que é... Candidato Meirelles está pedindo direito de resposta, nós vamos analisar a sua questão, certo? Eu vou aqui sortear o tema da próxima pergunta... “Transportes”... Quem vai fazer essa pergunta pelo sorteio é o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB... É uma pergunta sobre transportes... O senhor vai dirigi-la a quem, candidato?

ALCKMIN: Candidata Marina Silva…

BONNER: Candidata Marina... 30 segundos para a pergunta, candidato…

(D045) ALCKMIN: Marina, eu viajei bastante nesse período da campanha eleitoral verificando os grandes problemas de transporte e de logística... Fui ao Norte, estive lá em Porto de Miritituba, no Rio Tapajós, Santarém, depois estive também em Marabá, no Tocantins, e vejo que há um grande problema de Custo Brasil... Ou seja, não consegue tirar a soja do Mato Grosso para chegar até lá no porto de Miritituba, Itaituba, e depois a Transamazônica, a BR-163, ferrovias... Qual a sua proposta?

(D046) MARINA: A minha proposta é de que se tenha infraestrutura para o desenvolvimento sustentável... Quando eu fui ministra do Meio Ambiente tive a oportunidade de fazer os licenciamentos mais difíceis, inclusive a BR 163, que liga a estrada Cuiabá-Santarém... E eu tenho a exata noção da dificuldade que temos em relação a infraestrutura do Brasil... Hoje nós perdemos 30% da nossa produção agrícola por falta de infraestrutura logística, por falta de armazenamento, por falta de de portos... E no meu plano de governo nós vamos trabalhar diferentes modais, vamos investir em rodovias, recuperando e criando algumas... Vamos investir em hidrovias... Na Amazônia é um potencial muito grande, inclusive no estado do Amazonas, que é o que tem maior potencial... E vamos investir em ferrovias, que é um transporte mais barato, ambientalmente mais sustentável e mais adequado para algumas regiões do Brasil... A infraestrutura gera emprego, gera renda, gera vida digna, mas tem que ser feita em bases sustentáveis... Não pode ser feito de qualquer jeito... O projeto para ser feito tem que ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável e é isso que nós vamos fazer no Brasil inteiro…

(D047) ALCKMIN: Eu pretendo desenvolver um grande programa de obras... Nossa prioridade é emprego, emprego e emprego... Trazer investimento privado para se somar a investimento público, hidrovias (do Rio Madeira, do Rio Tapajós, do Rio Tocantins, Amazonas), para ir para o norte do mundo toda a nossa produção de

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alimentos - o Brasil vai ser o maior produtor de proteína animal e de grãos do mundo... Investir também em ferrovias, obras paradas como a Fiol [Ferrovia de Integração Oeste-Leste], Transnordestina, imediatamente retomá-las - se o concessionário não fizer, nós vamos substituí-lo e estabelecer as punições... Integrar com os modais rodoviários e, nas grandes cidades, metrô e trem: transporte de alta capacidade e de qualidade... Metrô ou trem, corredores de ônibus, VLT, monotrilhos, qualidade de vida para a família poder chegar mais cedo em casa, ficar com seus filhos e ter vida melhor…

(D048) MARINA: Quando eu cheguei no Ministério do Meio Ambiente, existiam muitos projetos parados, um deles era a BR 163, da época do governo do PSDB, e eu tenho compromisso de fazer com que a infraestrutura do nosso país possa ser trabalhada, em parceria com a iniciativa privada... Possa ser trabalhada, sobretudo, ouvindo as populações locais em algumas áreas, sobretudo no caso da Amazônia... Hoje é uma demanda muito grande para que a região possa se desenvolver... E nós vamos fazer isso, porque temos capacidade técnica e temos autoridade para poder debater com a sociedade quais são os projetos que podem ser feitos em termos de rodovias, de ferrovias e de hidrovias... E no caso das cidades nós vamos fazer com que o transporte público seja de qualidade para que não se tenha que se viver como se vive aqui em São Paulo, horas e horas dentro de um ônibus…

BONNER: Tempo, candidatos, muito obrigado... Eu peço que retornem aos seus lugares... Candidato Meirelles, o senhor tem direito a uma resposta agora... Daí mesmo, candidato, o senhor não precisa se levantar... Porque o senhor foi chamado de cúmplice de corrupção... O senhor tem um minuto para se defender da acusação...

(D049) MEIRELLES: O candidato Alvaro Dias está confuso, inclusive sobre o que é um ficha limpa... Eu nunca tive uma acusação sequer por corrupção na vida... Trabalhei dez anos no serviço público, 33 anos em empresa, não tenho nenhum processo... Isto é um ficha limpa e é isso que, neste festival de delações e denúncias muito importante que está acontecendo no Brasil, meu nome nunca foi citado... Por quê? Porque o meu trabalho é um trabalho que não diferencia um governo de outro... Eu divido o Brasil entre quem trabalha pelo Brasil e quem não trabalha pelo Brasil... E quem é ficha limpa e quem não é ficha limpa, e eu sou um candidato que tem um histórico de honestidade…

BONNER: Seu tempo, candidato... Obrigado... Por favor, o público não se manifesta... Agora é a vez do candidato do PT, Fernando Haddad... Candidato, o tema da pergunta que o senhor vai fazer é “Meio Ambiente”...

HADDAD: Quem são os…

BONNER: O senhor precisa fazer a pergunta obrigatoriamente a Ciro Gomes...

(D050) HADDAD: Pois não... Ciro, existe uma contradição aparente no Brasil entre o agronegócio e o meio ambiente... Então, tem muito diz que me disse em torno disso, e muitas vezes o Brasil deixa de avançar em função dessa contradição, por falta de

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uma solução para esse problema, uma vez que o agronegócio gera emprego, gera exportação, gera divisas, precisa ser apoiado, mas o ambiente não pode ser descuidado... Como é que você pretende resolver essa equação?

(D051) CIRO: Eu tenho o privilégio de ter escolhido para a minha vice uma mulher que é a melhor cabeça em matéria de compreensão desse grave problema que é a sustentabilidade do desenvolvimento agropastoril do Brasil... E não só a minha vivência... Trabalhei com Marina no licenciamento da BR-163, o Brasil talvez seja o último país do mundo onde o conceito de desenvolvimento sustentável possa ser praticado... Isso significa coisas concretas, por exemplo, está se plantando cacau lá nas alturas da Transamazônica... Já é mais produtivo do que na Bahia, onde ele teve um problema sério, que é a praga da vassoura de bruxa... Está se plantando teca, que é uma essência, madeira, muito mais cara do que o mogno... Mas isso tudo está sendo feito meio que avulso... O que resolve isso são ferramentas modernas em que nós fazemos o zoneamento econômico, ecológico e desestressamos, ou seja, geramos atividades produtivas para trás, para proteger a floresta, porque a floresta, modernamente, vale economicamente muito mais em pé do que a derrubada e desmatada... Mas, no Brasil, nós empurramos os migrantes do Sul e do Nordeste para ir para a Amazônia e a condição de eles terem o título da terra, Haddad, lá atrás, era desmatar... E de repente se mudam as leis e não se ensinou a população brasileira dos rincões, do interior do Centro-Oeste, do interior da Amazônia, especialmente onde essa questão é mais grave, as outras alternativas... Esse é o meu caminho... Mudar o perfil econômico e oferecer atividades alternativas que sejam protetivas das populações tradicionais e das áreas mais sensíveis…

(D052) HADDAD: Ciro, eu concordo com as suas ideias, são muito boas para o agronegócio, mas eu faria uma proposta adicional.. No Brasil, para aumentar a produção agrícola, nós não precisamos derrubar uma única árvore, desde que nós combatamos a especulação de terras.. Tem muita terra desmatada já que não tem produtividade, e uma das razões para isso é que tem uma tabela antiga, dos anos 70, que não foi atualizada até hoje em função da pressão dos ruralistas para que ela não seja atualizada... Isso impede o governo de sobretaxar a terra improdutiva ou mesmo de desapropriar a partir da concessão de títulos da dívida agrária... Portanto, nós vamos ter que enfrentar esse desafio... Nós sabemos que os ruralistas modernos, esses estão produzindo... Não são problema... Mas os ruralistas arcaicos, que estão apoiando, inclusive, o Bolsonaro, estão resistindo a modernizar o campo no Brasil…

(D053) CIRO: Se há um país, volto a dizer, que tem condição de buscar a harmonia entre a produção, a necessidade de gerar riqueza, de gerar emprego para o nosso povo, e a necessária preservação dos nossos recursos naturais, biomas sensíveis, aquíferos, enfim, populações tradicionais, esse país no mundo é o Brasil... O que falta no país, entretanto, é uma estratégia, um projeto... Eu, Haddad, sou candidato, eu tenho que dizer a você que, apesar de ter colaborado, enfim, o PT teve esses 14 anos no poder e não teve essa audácia de fazer... Não é que não tenha feito coisas boas, fez, mas também perdeu a condição política de reunir a população brasileira... E essa é a minha preocupação nesse instante... Boas ideias, mudanças estruturais, mas isso necessita um ambiente político em que a gente tenha energia e condição política para enfrentar

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o fascismo, a radicalização estúpida que o Bolsonaro representa... Essa é a minha preocupação na noite de hoje…

BONNER: Obrigado, candidatos... Candidato Ciro Gomes, o senhor permanece... É o senhor que vai fazer a próxima pergunta e essa pergunta será para o candidato Boulos... Enquanto isso, eu vou sortear aqui... O senhor pode se aproximar, candidato... Na dinâmica é a última dupla possível... Eu vou sortear aqui o tema: “Combate às Drogas”... É a pergunta que o senhor vai dirigir ao candidato Boulos…

(D054) CIRO: Meu caro Guilherme, assim chamado Boulos, o Brasil tem hoje 760 mil pessoas presas... 70% disso jovens, presos pela polícia com minúsculas quantidades de drogas para fazer estatística ou, simplesmente, para matá-los... E ao entrar no presídio essa garotada acaba se transformando em soldados do crime organizado e das facções, senão morre... Qual é a sua compreensão desse problema?

(D055) BOULOS: Olha, Ciro, primeiro dizer que a política que tem sido feita no país, da chamada guerra às drogas, de combater supostamente o tráfico de drogas, indo para as favelas, militarizando, colocando polícia, como seu comando do crime organizado tivesse dentro do barraco de uma favela... A gente sabe muito bem que o comando do crime organizado nesse país está muito mais perto da Praça dos Três Poderes em Brasília ou da grande indústria da arma do que de qualquer favela desse país... A droga não nasce lá dentro do morro... Ela chega lá... Chega dos atacadistas e, olha, essa ideia de que o usuário de droga tem que ser tratado com porrada, com bomba, com prisão, essa ideia está superada com todas as partes do mundo e nós precisamos superar aqui também... A questão das drogas não pode ser um tema do código penal, porque isso só leva ao encarceramento em massa... A população de presos no Brasil dobrou nos últimos dez anos... Eu pergunto: Alguém está se sentindo mais seguro com isso? Eu creio que não... Essa ideia do Bolsonaro de que tem que prender mais, dar mais arma, colocar mais polícia, essa idéia não resolve aqui e nem em nenhuma outra parte do mundo... A droga não é caso do código penal, não é caso de polícia... Abuso de substância química é caso de saúde pública, é caso do SUS... E é assim que tem que ser tratada e é assim que nós vamos tratar…

(D056) CIRO: Você falou em da indústria da arma, eu vou só fazer um parênteses nesses minutinhos que eu tenho... As ações da Taurus, uma fábrica de armas no Brasil, aumentaram 180% – e tem várias pessoas associadas à turma do Bolsonaro ganhando muito dinheiro com a evolução das pesquisas... Isso é o que o Brasil precisa saber, 180%... Enquanto a caderneta de poupança rende 6% ao ano, quem especulou com ações da fábrica de armas em cima de um discurso de um candidato que fala nisso toda hora – e se ausentou do debate aqui, eu queria tirar a máscara dele na frente de todo mundo aqui – ganhou 180% em 60 dias... Esse é um país assaltado... Sobre a questão [das drogas], entretanto, nós precisamos fazer a correção da lei de 2006... Foi uma lei equivocada que foi feita em 2006, sob governo progressista, que permitiu que um juiz no Pará considere uma quantidade minúscula de droga uma mera contravenção que não tem pena, e a mesma quantidade de droga no Rio de Janeiro vai para a cadeia... Isso é uma aberração que nós precisamos corrigir…

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(D057) BOULOS: É isso... Nós temos que descriminalizar o consumo de drogas e, mais do que isso, Ciro, nós temos que rever o modelo de segurança pública no Brasil... Esse modelo está falido, o modelo que é só repressão, policiamento ostensivo, militarização... O estado do Rio de Janeiro está sob intervenção militar... Os índices só pioraram... O caminho não é esse; o caminho é antes de tudo atuar com prevenção: nós não queremos construir presídios, nós queremos construir escola... Nós não queremos dar a primeira arma para o nosso jovem; nós queremos dar o primeiro emprego, a oportunidade, e evidentemente precisamos resolver o problema de quem hoje é assaltado no ponto de ônibus... Agora, isso não se resolve com mais violência, com mais polícia, essa não é a receita... Isso se resolve com inteligência, para não deixar a arma chegar onde ela está chegando hoje... Combatendo o tráfico de armas e munições que tem relação com as grandes empresas de arma, que ganham com isso... Para dar um rápido exemplo aqui no estado do Rio de Janeiro a maior apreensão de arma não foi nenhuma favela, foi no aeroporto do Galeão e foi prender o responsável em Miami…

BONNER: Estamos concluindo aqui o segundo bloco do nosso debate... Daqui a pouco os candidatos a presidente voltam a fazer perguntas sobre temas livres... Até já...

00:01:14

3.3 TERCEIRO BLOCO

BONNER: Estamos de volta ao debate entre os candidatos à Presidência e, enquanto a plateia faz silêncio e se senta de volta, cada um no seu lugar, eu quero pedir a todos os candidatos que se lembrem de que aqui no púlpito tem uma marca cinza que serve de referência para os senhores para que se centralizem sempre... Porque as câmeras são cruzadas... Se vocês saírem da posição, acaba atrapalhando a câmera que capta a imagem do seu oponente aqui no púlpito... Bom, nesse bloco, o tema das perguntas volta a ser livre, a exemplo do que aconteceu no primeiro bloco, e cada candidato, aqui tem uma diferença, cada candidato vai poder ser escolhido para responder a no máximo duas perguntas... Não apenas uma, mas duas, mas no máximo duas... E na ordem determinada pelo sorteio, quem vai abrir essa rodada é a candidata da Rede, Marina Silva, a quem eu peço que se aproxime do púlpito novamente, e a senhora vai escolher a quem vai fazer a pergunta…

MARINA: Fernando Haddad.. . BONNER: Candidato Fernando Haddad…

(D058) MARINA: Eu iria fazer essa pergunta também para o candidato Bolsonaro, que mais uma vez amarelou, deu uma entrevista na Record, e não está aqui debatendo conosco... E a pergunta é: Nós temos um país…

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BONNER: Eu peço que… Só minuto, candidata... Eu vou parar o relógio... Eu vou pedir que não se manifestem, porque como eu disse na abertura do programa isso atrapalha muito para quem está em casa... Não é possível escutar a pergunta... Por favor, o seu tempo, eu vou lhe conceder um tempo adicional para a pergunta…

MARINA: Eu iria fazer essa pergunta para o candidato Bolsonaro, mas como ele mais uma vez amarelou, deu uma entrevista para a Record e não veio aqui debater conosco... Nós temos hoje uma situação em que 25% está votando porque não quer o Bolsonaro, 25% vota porque não quer o candidato do PT, que é você... 50% não quer nenhum dos dois... Diante dessa situação desoladora da política brasileira e da grave crise que o Brasil está vivendo, qual é a autocrítica que você faz em relação a tudo isso, da contribuição do PT para esse momento difícil?

(D059) HADDAD: Olha, Marina, eu agradeço a pergunta... Eu estou em campanha há apenas 22 dias... Eu entrei numa situação completamente anormal... O líder das pesquisas, que figurava na dianteira, podendo ganhar no primeiro turno, não pode participar da eleição em função de uma decisão arbitrária, arbitrária... Foi condenado sem provas e hoje é considerado pelo mundo inteiro um preso político, inclusive por um comitê das Nações Unidas, que vai julgar o mérito dessa ação em março do ano que vem... Você sabe de quem eu estou falando... Estou falando do Lula, que estava com 40% de intenção de voto... Eu estou me apresentando ao eleitorado porque eu represento nesse momento um projeto que deu certo... O Lula saiu com 86 % de aprovação... Um presidente que governou para todos... Quando falam que o Lula é radical, que o Lula instituiu o ódio... Quando isso? O Lula tratou do servente ao banqueiro, do catador de papel ao empresário, com a mesma dignidade... Abriu as portas do Palácio do Planalto para todo o povo brasileiro e governou olhando para os mais pobres, que é o que eu pretendo fazer a partir de 1º de janeiro... Reabrir o Palácio do Planalto para todos os brasileiros, de preferência para aqueles que mais precisam da ação do Estado... Essa é a minha formação de professor, e esse é o meu valor maior…

(D060) MARINA: É lamentável que você não reconheça nenhum dos erros... Abrir o Palácio para os pobres, mas o Bolsa Empresário, só no BNDES, foi um trilhão para meia dúzia... Isso é o equivalente a 35 anos de Bolsa Família... O Bolsa Empresário, 5% do PIB... O Bolsa Família, 0,5%, Haddad... Vários casos de corrupção... Você tem agora a oportunidade de olhar para o povo brasileiro e reconhecer os erros, e você não faz... Você reitera todos os erros cometidos, e ainda faz o elogio do mesmo jeito, como se pedir desculpas, como se reconhecer erros fosse um problema... Não é... Quando a gente está diante de uma crise como essa que nós estamos vivendo a gente tem que pensar em um projeto de país, não é em projeto de poder... O Brasil está à beira de ir para o esgarçamento sem volta, entre a sua candidatura e a do Bolsonaro... É preciso por um termo em tudo isso…

BONNER: Candidato…

(D061) HADDAD: Marina, você não está sendo correta... Você não está sendo fiel à verdade... Eu dou entrevistas reconhecendo ajustes que precisam ser feitos, reconhecendo erros que foram cometidos, mas eu não vou jogar a criança com a água

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do banho... Eu sei o que foram os 12 anos do governo do PT, eu sei o que foi gerar 20 milhões de empregos, e eu tenho duas obsessões na vida... Só duas... Eu vivo de salário, Marina... Eu sou professor universitário, eu e minha esposa com quem eu sou casado há 30 anos... Eu tenho ética, eu tenho uma história, eu tenho uma vida pública sem nenhum reparo... Posso te garantir isso... Estou olhando aqui no olho do eleitor dizendo: não existe nada que não seja, na minha vida, produzir o bem, trabalho e educação... Eu, como ministro da Educação, ofereci todas as oportunidades que eu podia... Trabalhava 18 horas por dia para abrir as portas das universidades para os pobres... Vou fazer agora em relação ao trabalhador desempregado…

BONNER: A senhora tem direito a réplica... Ah não, perdão, desculpe, os dois podem sair... Segundo erro da noite... Eu estou fazendo aqui o meu próprio ranking, candidata... Mas a culpa é só minha, não é dos jornalistas como um todo, eu assumo essa culpa aqui... Candidato Meirelles, eu peço ao senhor que se aproxime... Pelo sorteio é o senhor o próximo... O senhor só precisa escolher a quem vai fazer a pergunta... Tema livre, lembrando…

MEIRELLES: Vou fazer uma pergunta ao candidato Ciro Gomes...

CIRO: Agora fui eu…

BONNER: O senhor pode guardar também o microfone no bolso…

CIRO: Para quem veio no debate da outra vez com uma sonda pendurada na perna, isso aqui não é nada…

(D062) MEIRELLES: Ciro, 7 milhões de crianças no Brasil estão em idade de ir para a creche e não podem ir porque não têm uma creche pública perto da casa da família e o pai e a mãe e precisam ir trabalhar... A Dilma prometeu entregar 6 mil creches e entregou 80... Como nós vamos resolver esse problema das creches para as crianças carentes no Brasil?

(D063) CIRO: A minha proposta contempla a ideia de creche em tempo integral para todas as crianças, de zero a três anos, em seis anos... Portanto, extrapolando dois anos de um mandato, cuja honra possa me dar ao povo brasileiro, de servir a essa grande nação como seu presidente... Mas aquela outra demanda, das crianças de 3 a 6: são mais ou menos 2.300.000... Dá para resolver no primeiro mandato e estou com esse compromisso no meu programa de governo... Isso é uma razão bastante, porque as ciências modernas afirmam que é na primeira infância, ali no zero a três anos, que se formam as aptidões das crianças... Só agora se descobriu que se a criança não tiver a devida alimentação, o devido processo de socialização, de carinho, de estimulação neuro-hormonal e todas aquelas condições, nutrição, fisioterapia, atenção médica e odontológica, ela pode se comprometer para o resto da vida... Portanto, isso não pode ser mais adiado, por esta razão mesma de darmos às crianças, os filhos dos trabalhadores que não podem pagar creche, uma condição de, enfim, de implementarem suas melhores aptidões e nós termos então uma geração

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de brasileiros ainda mais forte, ainda mais trabalhadora, ainda mais culturalmente criativa... E há um drama grave, porque com 13.700.000 pessoas desempregadas e com 32.200.000 pessoas na informalidade é preciso garantir que as crianças estejam protegidas, alimentadas, para que a mulher brasileira vá à luta, porque não está fácil para ninguém…

(D064) MEIRELLES: A minha proposta é criar o “Pró-criança”, que é o maior programa de valorização e de oportunidade de aprendizado para a criança, de fato, nesse período, onde a criança aprende a aprender... Então nós temos que conjugar em primeiro lugar a alimentação e o estímulo adequado... O programa “Pró-criança” é uma extensão do ProUni para as creches e onde se possa usar uma creche privada que tenha a localidade perto de onde está morando a família, e, a partir daí, a família possa usar essa creche e não ter que se transportar para buscar a creche pública... E com isso nós vamos ganhar muito recurso, porque vamos usar a estrutura disponível... Para isso é preciso de competência, experiência e seriedade…

(D065) CIRO: Quando governei o Ceará, eu consegui com creches comunitárias, sem maiores comprometimentos com prédio, mas apenas fazendo adaptações a casas de pessoas pobres da própria comunidade, um programa parecido com esse... E eu saí muito orgulhoso do governo do Ceará, porque a gente cearense me deu a condição de ser o governador melhor avaliado do país... Estou me apresentando aqui para aquele brasileiro que está me conhecendo hoje, são muitos brasileiros que não me conhecem ainda... Pois bem, eu consegui abrir uma creche a cada dois dias de governo, e isso me permitiu, o resultado, ir no plenário das Nações Unidas, na ONU, receber por uma política que tinha iniciado já no meu antecessor, governador Tasso Jereissati, que é do PSDB, mas é justiça que se faça, não é, nós conseguimos, eu fui lá receber o prêmio mundial de combate à mortalidade infantil... E hoje o Ceará tem uma das menores mortalidades infantis do Brasil e é um dos estados mais pobres do país. Ora, se o Ceará pode fazer, me dê uma oportunidade, brasileiro, eu quero fazer por todo o Brasil…

BONNER: Obrigado, candidatos... Agora é a vez do candidato do PSOL, Guilherme Boulos, se dirigir ao púlpito e dizer para a gente a quem o senhor vai dirigir a sua pergunta, candidato…

BOULOS: Ao Meirelles…

BONNER: Candidato Meirelles pode retornar, então…

(D066) BOULOS: Mas não vou chamar o Meirelles, não... Já disse que vou taxar o Meirelles... Meirelles, o Temer foi denunciado duas vezes por corrupção... Nas duas vezes ele se salvou com o famoso ‘toma lá, dá cá’, comprando parlamentar em troca de emenda e de cargo... Eu tenho muito orgulho de fazer parte do PSOL, partido em que todos os deputados votaram para cassar o Michel Temer... Como você, Meirelles, como o povo pode acreditar que você vai combater a corrupção, se você parte da turma do Temer, do partido do Temer?

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MEIRELLES: Eu sou um candidato que faço parte da minha história... E a minha história é uma história de quem trabalha em primeiro lugar... Eu sei que pode parecer estranho para você, essa história de trabalhar…

BONNER: Por favor, silêncio…

(D067) MEIRELLES: ...eu trabalho duro e não tenho nenhuma denúncia por corrupção na vida inteira... E não tenho nenhum processo... Portanto, eu posso sim, com muito orgulho, dizer que tenho um passado e um presente Ficha Limpa... Como eu já disse, eu penso, inclusive, em criar o movimento dos sem processo, e eu sou um candidato independente... Por quê? Porque eu não devo nada a ninguém... Eu já fui convidado, trabalhei para o governo do Lula, trabalhei para o governo do Temer, trabalhei para os governos que me dão a oportunidade de trabalhar pelo Brasil... Porque eu não divido o Brasil em quem gosta do FHC, quem não gosta... Quem gosta do Temer, quem não gosta... Quem gosta do Lula e quem não gosta... Eu divido o Brasil entre quem trabalha pelo país e quem não trabalha... E eu trabalhei pelo Brasil e mostrei resultado concreto, com uma vida de honestidade…

(D068) BOULOS: Olha, Meirelles, primeiro de fato você falar em trabalho me parece algo muito estranho, porque você é um banqueiro, banqueiro não trabalha... E me parece mais estranho ainda, porque você é um dos responsáveis de ter tanto desempregado no país que você deveria falar em desemprego, não em trabalho, vai mais com a sua cara... Agora, quero dizer o seguinte, o sistema político brasileiro está podre... A turma do PMDB, do Meirelles, essa turma toda que, aliás, o Bolsonaro faz parte, que diz que é de fora do sistema, mas é deputado há trinta anos, recebeu auxílio-moradia tendo casa, enriqueceu na política, comprou mais imóveis do que aprovou projeto, essa turma toda não vai mudar... O único jeito de mudar o sistema político é trazendo o povo para o centro da decisão... Democracia não pode ser apertar um botão a cada quatro anos e depois ir embora... Não pode ser como o Big Brother, que as pessoas decidem quem fica na casa e quem sai da casa, mas não decidem o que acontece dentro da casa... O povo tem que ser chamado a decidir com plebiscitos referendos... Nós não temos medo da decisão popular…

BONNER: A sua tréplica, candidato…

(D069) MEIRELLES: De fato nós não podemos e não temos medo da atenção popular... Por isso, é que eu estou apresentando essas propostas de criação de emprego no Brasil... Por quê? Porque quando eu fui presidente do Banco Central, talvez você não tem acompanhado, isso eu estabilizei a economia e o Brasil criou 10 milhões de empregos, naquela época... E depois tiramos o Brasil da maior recessão da história e criei mais de 2 milhões de empregos na economia brasileira... E tenho um compromisso, porque eu não acredito em promessas, se promessa resolvesse problemas, o Brasil seria uma maravilha, mas o que eu vou fazer é me comprometer a criar 10 milhões de empregos em quatro anos de mandato como presidente da República…

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BONNER: Muito obrigado, candidato... Terminada essa rodada, é a vez do candidato do Ciro Gomes, do PDT, se dirigir ao púlpito para fazer a próxima pergunta... O senhor só precisa dizer a quem é…

CIRO: Eu convido o candidato Meirelles…

BONNER: Candidato Meirelles retorna, então, pela segunda vez, é a segunda... Nessa rodada, só lembrando, nessa rodada os candidatos poderão responder a duas perguntas no máximo... Por favor, candidato Ciro…

(D070) CIRO: Meirelles, eu gostaria de fazer essa pergunta que eu vou lhe fazer ao candidato Bolsonaro... E eu suspendi a minha campanha porque, quando aconteceu aquele absurdo atentado, eu fiquei muito mal... Passei ali uns quatro dias ligando para o hospital para ter alguma condição psicológica de volta à luta porque fui colega dele... Entretanto, ele hoje está de alta e deu uma entrevista longa, muito maior do que o que nós estamos conversando aqui, cada um de nós vai falar dez minutos... E fugiu... Você acha correto que um homem que quer ser presidente do Brasil não se submeta ao debate?

(D071) MEIRELLES: Não, isso está errado... E mostra alguém que não só está fugindo do debate, mas está fugindo do seu compromisso com a população... E, mais importante, não é meramente o debate, é a questão de estar aqui sujeito a crítica, sujeito a ataque, sujeito a discordância, muitas vezes a até ofensas ou coisas injustas ou falsas, mas que cada um de nós está aqui e enfrentando isso com seriedade e com respeito ao eleitor... E isto é que é importante, o eleitor merece respeito... Por quê? Porque nós temos aqui que apresentar propostas que o país precisa e também dizer o que fizemos... Cada um pode dizer o que já fez ou pode dizer o que não fez, ou pode simplesmente estar acusando ou brigando com outros candidatos por falta do que dizer... Mas é muito importante que o eleitor tenha a capacidade e a possibilidade de ver isso... Se alguém foge do debate, se alguém se esconde, se alguém não aparece e só vai dar uma entrevista numa situação de absoluto controle e numa situação amigável significa que essa pessoa, na minha visão, não tem condições de administrar o país... E por quê? Alguém para administrar o país tem que enfrentar as intempéries, tem que enfrentar chuvas e tempestades, tem que estar disposto a se expor…

(D072) CIRO: É importante isso, brasileiro... O candidato que lidera as pesquisas tem o seu vice dizendo que vai acabar com o décimo terceiro salário e adicional de férias, tem o seu economista principal, a quem ele disse que vai consultar, porque não entende de economia, dizendo que vai diminuir os impostos dos ricos e aumentar os impostos dos pobres, unificando alíquota do imposto de renda... Chegou a propor a CPMF... E o Bolsonaro, quando vê a repercussão dessas coisas todas, nega para a imprensa... Aqui tem duas coisas: uma mentira, que precisava que ele tivesse aqui pra gente esclarecer, e eu acho que é uma mentira grossa, porque eu já ouvi o Bolsonaro dizendo que o brasileiro tem que optar entre emprego e direitos... E apenas o general Mourão parece que, tosco como é, falou com sinceridade, sem ter as habilidades políticas de um mentiroso, que fala a mesma coisa, e o general Mourão indicou quais são as coisas... Mas o que me assusta não é só a mentira, o que assusta

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é que há uma equipe de três pessoas — Bolsonaro, Mourão e Guedes — brigando na véspera da eleição... Você imagina que isso vai dar certo no Brasil?

BONNER: A tréplica, por favor…

(D073) MEIRELLES: Não, não vai dar certo... A eleição, porque eu não acredito que o povo brasileiro vai assumir essa aventura... O Brasil já se cansou de aventura... A população não pode mais viver esse tipo de aventura... Nós não podemos ter mais esse tipo de risco... O Brasil já correu muito risco, Brasil já enfrentou muitas aventuras... E o resultado tem sido lamentável... Portanto, é um momento em que nós precisamos de segurança, precisamos de competência e uma coisa que está aqui colocada com clareza, precisamos de seriedade... Seriedade no que fala, seriedade em seguir a sua própria história... Alguém que apresenta suas propostas, que vota, mas depois é coerente com isso e as suas propostas, a sua visão de país, o que ele fala tem que estar consistente com tudo aquilo que ele já fez e já votou no seu papel de congressista…

BONNER: Obrigado, candidatos... Convido agora o candidato Alvaro Dias, do Podemos, para se dirigir ao púlpito e escolher a qual candidato ele vai fazer a próxima pergunta... Esse bloco, que eu lembro, tem tema livre…

ALVARO: Quem é que sobra aí, é Geraldo Alckmin?

BONNER: O senhor pode perguntar a todos, só não pode perguntar ao candidato Meirelles…

(D074) ALVARO: Geraldo Alckmin... Geraldo, eu te respeito muito e há pouco, mais uma vez aqui, se confirmou que na olimpíada da mentira, o PT ganha medalha de ouro... A todo momento afirma-se coisas que não aconteceram, por exemplo, que eu apoiei isto apoiei aquilo... Eu fui oposição a vida inteira... Só sete meses eu fui governo, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso... Qual a sua proposta para mudar esta realidade do país, o modelo que está vigente?

(D075) ALCKMIN: Olha, eu acho que nós já tivemos, Alvaro Dias, você, que tem uma larga experiência, governador, senador, nós já tivemos a experiência do PT e vimos o resultado disso... O resultado foram 13 milhões de desempregados, criminalidade na altura, saúde deteriorada, contas públicas com problemas, empresas fechadas... Esse é o dado de realidade... E sempre terceirizam, né... A culpa é sempre de terceiros... Agora, também de outro lado, e eu venho há meses falando isso, o caminho também não é um radical de direita, que não tem a menor sensibilidade, entendeu? Esses dias ouvi falar que saúde não precisa de mais dinheiro... Ora, saúde está um caos... Como é que não precisa de mais dinheiro com uma população ficando mais idosa e a medicina mais cara? É uma barbaridade... Que quer fazer imposto novo, CPMF, que é um imposto ruim, porque pega toda, em cascata, prejudica a população... Que não tem sensibilidade com os trabalhadores, que sustentam esse país, carregam nas costas esse país, as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros... Não tem a menor sensibilidade com as mulheres... Então, nós que sempre estamos em um outro

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caminho que não dos radicais de direita e de esquerda temos que nesses três dias levar a uma reflexão profunda do Brasil... Não podemos ir para esse segundo turno de extremos…

(D076) ALVARO: Olha, eu digo que nós estamos discutindo muito assuntos periféricos... Estamos deixando aquilo que é central para o futuro do país... É o modelo... Esse modelo de governança corrupto, se ele prevalecer, vai continuar sendo fábrica de escândalos, produzindo os ladrões da República... Há um conluio, há uma associação do sistema financeiro nacional, com mão grande, e parte da política, essa parte da política que apodreceu... E nesse conluio o governo enche as burras dos banqueiros, 72% do crédito nacional é ação bancada pelo governo... Os bancos não precisam, não precisam do mercado, não disputam no mercado... Por isso não há competição, e a taxa de juros não recua... Porque o governo absorve 72%... Temos que transferir isso para o setor privado…

(D077) ALCKMIN: Olha, eu quero falar com você que está nos acompanhando até essa hora aqui, através desse importante debate, na antevéspera da eleição, de que o Brasil já tem problema demais... Os brasileiros já têm problemas demais... Nós não podemos ter presidente para também ser problema... Nós precisamos ter presidente para resolver os problemas, para colocar a coisa no caminho correto, com segurança... O Brasil só vai mudar com as reformas... Se não, vai ser esse marasmo, esse lelelé, com as reformas, com a reforma política... Esse sistema nosso está falido: 35 partidos políticos... Reforma previdenciária, para acabar com o privilégio... O legislativo federal ganha vinte vezes mais do que você que trabalha na agricultura, na indústria, no comércio, na aposentadoria… Reforma tributária para simplificar o modelo tributário, e reforma de Estado, para privatizar, enxugar, diminuir o tamanho do Estado brasileiro…

BONNER: Obrigado candidatos... O próximo candidato a fazer pergunta, tema livre, é Fernando Haddad, do PT, a quem eu peço por favor que se dirija aqui ao púlpito... E o candidato deve escolher a quem vai a dirigir a sua pergunta…

(D078) HADDAD: Ao Guilherme Boulos... Guilherme, você, como eu, é professor, vive do seu salário, tem orgulho da sua profissão e muitas vezes é incompreendido por pessoas que ganharam dinheiro muito fácil no Brasil... Qual é a sua proposta para o Ensino Médio do país? Porque eu sinto que o Ensino Médio é o que exige mais atenção por parte do poder público porque foi a etapa de ensino que menos reagiu aos estímulos que foram dados…

(D079) BOULOS: Nós temos que retomar o investimento em educação pública no Brasil, Haddad... Isso passa, em primeiro lugar, por revogar a Emenda Constitucional 95, que congelou investimentos, inclusive em educação e saúde, pelos próximos vinte anos no Brasil... Nós vamos revogar ela... Retomando o investimento, é possível cumprir o Plano Nacional de Educação e investir o custo-aluno-qualidade, que prevê 50 bilhões para o Ensino Básico no Brasil, equipando as escolas, inclusive com Wi-Fi, em todas as escolas e criando as condições para que os professores ganhem um salário digno e tenham plano de carreira... Isso é essencial... Nós temos que fazer um debate também sobre currículo... A reforma do Ensino Médio, feita pelo governo

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Temer, que tirou a filosofia, tirou a sociologia, ela é uma reforma que tira o pensamento crítico... Nós precisamos revogar essa retoma porque ela foi feita sem discutir com ninguém, e mexer no currículo, porque a escola não pode ser para formar os nossos jovens apenas para fazer uma prova no fim do ano... Tem que ser para formar para a vida e por isso os grandes temas têm que ir para o currículo, inclusive, a questão de gênero, diversidade sexual e racismo, isso tem que ser debatido desde as escolas, porque quando não se debate, gera preconceito, e o preconceito estimula o ódio e a intolerância... É isso que nós vamos fazer no Ensino Médio brasileiro..

(D080) HADDAD: Guilherme, você sabe, você acompanhou, fez parte dessa luta... Nós abrimos as portas das universidades para os jovens... 2 milhões de bolsas concedidas pelo Prouni, dobramos as vagas nas universidades federais, multiplicamos o financiamento estudantil sem fiador para que o pobre pudesse ter acesso... Mas temos um gargalo no Ensino Médio que precisa ser corrigido... Qual é a nossa proposta? As escolas de Ensino Médio no Brasil, as melhores, públicas e privadas, elas são as federais… As públicas federais... E nós espalhamos essas escolas federais por todo o país... Só eu e inaugurei 214 escolas de ensino médio federal... Nossa proposta é que essas escolas sejam o padrão de referência do ensino médio dos estados... 90% da matrícula é estadual, não é federal... Nós queremos apoiar essas escolas estaduais a partir da experiência exitosa dos institutos federais das escolas militares e das escolas dos Sesi e do Senac…

(D081) BOULOS: Olha, Haddad, em relação ao ensino superior que você mencionou, de fato é importante ter ampliado vagas na universidade e ter feito programa de cotas... Agora, nós temos um problema aí... Hoje, vai mais dinheiro para o Fies do que para a universidade pública... Nós temos é que criar mais vagas na universidade pública e criar um modelo de transição... Porque a universidade pública tem pesquisa, tem extensão, tem ciência... Esse dinheiro que hoje vai para a universidade privada tem que ir para as públicas, inclusive fazer uma auditoria porque ele tem uma verdadeira caixa-preta aí dos grandes grupos de ensino privados educacionais... Agora você mencionou um tema na início da sua resposta, da sua pergunta, que eu vou colocar aqui... Eu, com muito orgulho, faço parte do movimento que luta por moradia, dos sem-teto, de pessoas que todo fim do mês têm que fazer a dura escolha, como muitos que estão nos assistindo, entre pagar aluguel e botar comida na mesa... Para mim, esse é um orgulho enorme, estar ao lado dessas pessoas... Eu ando com sem-teto, eu ando com sem-terra, eu só não ando com sem-vergonha…

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Agora é a vez do candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, dirigir a pergunta ao candidato que ele escolher…

ALCKMIN: Eu escolho a candidata Marina Silva…

BONNER: Candidata Marina, pode vir até o púlpito... 30 segundos para sua pergunta, candidato…

(D082) ALCKMIN: Marina, um tema que preocupa o Brasil inteiro, inclusive aqui no Rio de Janeiro, onde nós estamos, é segurança pública... Nós, em São Paulo,

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conseguimos um resultado importante... Nós tínhamos, há 18 anos, 13 mil assassinatos por ano... Reduzimos para o 11 mil, 7 mil, 5 mil, e no ano passado foram 3.503... Reduzimos 75% os homicídios... Qual a sua proposta para a segurança pública?

(D083) MARINA: Nós temos uma situação dramática, em que 63 mil pessoas são assassinadas por ano... A nossa proposta de segurança pública é, inclusive, para frear o que está acontecendo no Brasil, em que quadrilhas e organizações criminosas, que só existiam em grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e, principalmente, aqui em São Paulo, como é o caso do PCC, estão indo para estados que não têm a menor condição de lidar com esse time de crime... O meu estado do Acre, um estado frágil, hoje está sendo invadido por organizações criminosas... Por isso a nossa proposta é de um sistema único de segurança pública... Nós vamos investir em inteligência para que as abordagens sejam mais efetivas, treinar e pagar adequadamente os policiais... Vamos equipar e ampliar o contingente da Polícia Federal Rodoviária e da Polícia Federal para combater crime organizado... E não vamos permitir que aqueles que são criminosos fiquem comandando o crime organizado de dentro das cadeias, como acontece em muitos casos, inclusive aqui em São Paulo, que consegue exportar essas organizações criminosas para outras regiões do Brasil... Nós vamos ter o sistema único de segurança pública que trata a questão da violência não só como caso de polícia, mas como caso de justiça econômica social, para que a população possa ter alternativa…

(D084) ALCKMIN: Eu, quando algum estado consegue um sucesso, um estado irmão, eu fico feliz, reconheço, aplaudo, fico feliz... É importante reconhecer também os avanços de São Paulo... Nós reduzimos de 13 mil para 3 mil, são 10 mil vidas salvas por ano... Negros, caiu 35% por ano a morte de negros; jovens, quase 40%; mulheres, feminicídio... Então, nós resolvemos lá, vamos levar esse modelo para a todo o Brasil: tecnologia, combate ao tráfico de drogas, sistemas de fronteira, combate ao tráfico de armas e mudança da legislação: essa história de que prender não resolve não é verdade... Você tem que prender, tirar o criminoso da rua, é importante isso... Vamos aperfeiçoar a lei de execuções penais, aperfeiçoar o Código de Processo Penal e fazer parcerias com estados e municípios e criar uma guarda nacional em caráter permanente…

(D085) MARINA: O problema é que quando as coisas não são feitas de forma bem feita, o problema é que acontece em um estado e acaba indo para um outro estado que é o que eu percebo que aconteceu em vários estados que tinham verdadeiras quadrilhas... Hoje, essas quadrilhas são uma realidade, Alckmin, elas foram para outros estados... Por isso que eu quero um sistema único de segurança pública, onde o governo federal junto com os governos estaduais e os governos municipais possam ter uma abordagem do combate ao crime, às organizações criminosas e à violência de forma efetiva, para que não se tire com a mão e bote com a outra, porque é isso que acontece... Nós temos que celebrar quando a não tiver violência em São Paulo, quando não tiver violência no Acre, não tiver violência no Ceará e no Rio de Janeiro ou em qualquer lugar do Brasil... Essa é a proposta que eu tenho: segurança para todo o estado brasileiro junto com estados e municípios…

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BONNER: Muito obrigado... Rodada encerrada... Depois do intervalo, nós teremos o último bloco do debate aqui nos Estúdios Globo... Os candidatos à Presidência da República voltarão a discutir temas determinados por sorteio... Até já...

00:01:58

3.4 QUARTO BLOCO

BONNER: Muito bem, estamos de volta ao debate entre os candidatos à Presidência... Mais uma vez, nesse bloco cada candidato vai poder responder a no máximo duas perguntas, e sobre temas que eu vou sortear... Começando, então, agora, pelo sorteio do próximo tema de pergunta, que é: “Previdência”... Tema importantíssimo, e quem vai fazer a primeira pergunta desse bloco é Fernando Haddad, candidato do PT... Candidato, o senhor tem que escolher a quem vai endereçar a pergunta sobre “Previdência”...

HADDAD: Ciro Gomes...

BONNER: Candidato Ciro Gomes…

(D086) HADDAD: Ciro, tramitou e tramita ainda no Congresso Nacional uma proposta de reforma da Previdência que, na minha opinião, é nefasta para o país, porque ela não diferencia os brasileiros... Tem brasileiro que, em determinados estados, tem uma média de 60 anos de vida, e tem outros que tem 70 anos de vida... O trabalhador rural é uma realidade, a pessoa que ganha Benefício de Prestação Continuada é outra realidade... Qual é a sua visão sobre a reforma da Previdência?

(D087) CIRO: A proposta que Michel Temer fez, e que ainda está aí engatilhada, esperando que a população brasileira tome uma decisão errada nessa noite – eu peço a Deus que abençoe essa grande nação para que a gente ache o caminho correto – é uma aberração... Ela é uma aberração por dois lados... Primeiro, ela é injusta... O trabalhador rural do Nordeste, eu sou o único candidato nordestino, tem que falar essa voz aqui, que é uma origem de uma honra para mim... O trabalhador rural nordestino não pode ter a mesma idade mínima que um trabalhador de trabalho intelectual da praia de Fortaleza, ou da avenida Paulista, ou do Leblon, em São Paulo ou Rio de Janeiro. Um professor em nenhum lugar do mundo é obrigado a dar 49 anos de aula para ter direito à aposentadoria integral... Nunca se viu, em lugar nenhum do planeta, um policial correr atrás de bandido 49 anos, para ter direito à aposentadoria integral... Essa é a grande aberração... Ela é injusta, ela é selvagem... Ela guarda coerência com essa matriz de economia política que o Bolsonaro... Não é o Bolsonaro, é o Paulo Guedes... É só as pessoas lerem... Parece que eu estou aqui embirrando, implicando, não... É o Brasil, e o candidato que está na frente das pesquisas tinha que estar aqui para responder... Infelizmente fugiu e está dando entrevista na outra emissora, concorrente aqui da Globo. E o outro problema é que o sistema de repartição, só o Brasil e a Argentina e a Venezuela praticam. Isso está quebrado... Nós precisamos

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criar outro regime de capitalização que seja garantido para todos os brasileiros, sem ferir nenhum direito adquirido…

(D088) HADDAD: Olha, concordando com as premissas do seu raciocínio, nós temos uma ideia... A ideia é tirar da idade mínima, da discussão da idade mínima, quem ganha até uma determinada faixa de renda, e o trabalhador rural... Não dá para ter a mesma regra para todo mundo... Os brasileiros que, infelizmente eu digo isso, são muito diferentes, a expectativa de vida dos brasileiros é muito diferente, dependendo da região e dependendo da renda... Então, qualquer mexida na Previdência que não levar em conta que nós somos diferentes e que temos que ser tratados diferente, ela vai ser injusta... Tudo o que o governo Temer está fazendo acaba recaindo o ônus da reforma sobre quem mais precisa do Estado, sobre quem mais precisa do apoio estatal nos serviços públicos, inclusive, da Previdência pública... Então nós vamos discutir isso com a sociedade, mas com essas premissas... O trabalhador da classe pobre não vai pagar a conta do ajuste fiscal…

(D089) CIRO: Quatro das cinco maiores centrais sindicais do Brasil estão comigo... Uma com você e 4 comigo... Nesse caso aqui, pelo menos nessa pesquisa, está 4 a 1 para mim... E dali veio, de um debate com eles, uma ideia que eu achei mais interessante do que essa e mais coerente com a vida do brasileiro... A ideia de que nós partamos da idade mínima que temos hoje e, a cada ano de expectativa de vida maior que o IBGE anote, a gente aumente três meses, quatro meses, na idade mínima para todas as categorias, inclusive guardando as diferenças dos trabalhadores rurais e dos urbanos, das mulheres e dos homens, porque isso é que é justiça... O maior problema do Brasil, se você me pedir numa palavra, é desigualdade... E a desigualdade no nosso país é pior do mundo... Entra governo, sai governo, a gente atenua, mas aí sobe, melhora um pouquinho, daqui a pouco escorrega que nem um pau de sebo, que também é um assunto bastante conhecido do Nordeste querido, de onde eu venho, e pra onde eu daqui a pouco vou de volta para encerrar a campanha na minha querida Sobral…

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Candidato Ciro Gomes, o senhor pode permanecer... Pelo sorteio, é o senhor que vai fazer a próxima pergunta... O senhor pode escolher...

CIRO: Uma caminhadinha, né?

BONNER: O senhor tem esse direito, desde que o senhor diga a quem vai fazer a pergunta...

CIRO: Não tem mais tema?

BONNER: Ah, é... Eu estou aqui involuntariamente provocando…

CIRO: Acabei de merecer ganhar o seu voto…

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BONNER: É verdade, o senhor foi mais rápido do que o ponto eletrônico…

CIRO: É como eu vou governar o Brasil…

BONNER: Segurança é o tema da próxima pergunta... Agora sim, por favor, e perdão mais uma vez... Tem uma hora que o cansaço bate…

CIRO: Eu quero convidar o candidato Meirelles…

BONNER: Candidato Henrique Meirelles... Lembrando só o tema, é segurança, por favor…

(D090) CIRO: Meirelles, o Brasil assistiu, apatetadas as autoridades, a 63.888 homicídios nos últimos 12 meses oficialmente apurados... Quase todos os jovens, quase todos, negros, quase todos filhos da periferia das cidades brasileiras... 60 mil mulheres brasileiras foram estupradas, e é bom que a gente lembre que pode ser a nossa filha, a nossa mãe... Eu tenho uma filha e uma neta que são o meu orgulho, e que não foram resultado de nenhuma fraquejada, são o meu orgulho, razão da minha alegria... Qual a sua proposta para enfrentar isso?

(D091) MEIRELLES: O Brasil precisa antes de mais nada de um sistema unificado de segurança, porque o que está acontecendo hoje é que muitas vezes a polícia está andando atrás do crime organizado... Ou mesmo do crime comum... Então nós precisamos ter uma polícia bem formada... Hoje, como nós sabemos bem, muitas vezes a Polícia Militar não troca informação com a Polícia Civil, que não troca informações com a Polícia Federal e um estado não troca a informação com outro... Então nós temos que ter, antes de mais nada, um Sistema de Informação Unificada, controlado e administrado pela Polícia Federal... Segundo, e também muito importante, o estado tem que comprar o equipamento, contratar policiais... Nós temos aí estados brasileiros que passam dez anos ou mais sem contratar um policial, por falta de recurso... Então nós temos que garantir o crescimento econômico... Precisa ter uma política econômica bem feita, administrada para crescer... O estado vai arrecadar mais, ele vai ter condições, primeiro, de contratar efetivo; segundo de comprar equipamentos, comprar armamento... Finalmente nós temos que ter policiamento de fronteira para prevenir o contrabando... Tem já tecnologia para isso, existe o satélite geoestacionário que tem condições de dar informações em tempo real... O que precisa de novo é competência e inteligência…

(D092) CIRO: Eu fico muito feliz de estar ajudando a aclarar o debate brasileiro... Parte importante dessas idéias não são minhas, eu consultei especialistas, elas estão escritas no meu programa e eu fico feliz de vê-las repetidas na voz de pessoas ilustres que estão disputando comigo essa grave tarefa, porém maior de todas razões, de servir ao Brasil como seu presidente... Mas deixa eu dizer ao brasileiro e à brasileira que estão nos ouvindo: o governo Temer meteu na Constituição brasileira uma emenda que chama-se emenda 95... Por essa emenda 95, o Brasil está proibido, escute bem o que eu estou lhe dizendo, não tem exagero nenhum, proibido de expandir o gasto com saúde, educação, segurança e tudo mais por 20 anos...

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Portanto, se nós queremos mudar na direção de um sistema único baseado em inteligência e satélite, drone e infiltração, caminhar, percorrer o caminho do dinheiro, controlar as facções criminosas, é preciso revogar ainda 95…

(D093) MEIRELLES: Antes de mais nada, o gasto público brasileiro tem crescido numa escala descontrolada e é absolutamente normal que todo político, governante, gosta de gastar mais, portanto, qualquer limitação a gasto público tem grande reação... Mas é importante dizer que no Brasil o gasto com segurança, por exemplo, ou ainda mais importante, no gasto com saúde e educação não há um teto, isso é uma má informação... O que há é um piso, é o contrário, estabelecer um mínimo... O que há um teto é para a despesa com o desperdício, combate a privilégios e todo aquele tipo de coisas que nós temos que enfrentar com as reformas fundamentais que são tão importantes para o Brasil hoje, para dar segurança à população que o seu dinheiro é bem administrado, como você faz na sua casa…

BONNER: Candidato Meirelles, agora é a sua vez de permanecer... Obrigado, candidato Ciro... E eu vou sortear o tema para que o senhor faça a pergunta sobre “políticas sociais”, candidato... “Políticas sociais” é o tema da sua pergunta para o candidato Alckmin...

(D094) MEIRELLES: Candidato, no Brasil nós temos muitas carências e tem um programa de Bolsa Família que, aliás, existe porque o Brasil cresceu no período onde eu estava no Banco Central e isso permitiu a criação do Bolsa Família... Mas qual é a sua proposta para reforçar a política social e fazer com que menos pessoas precisem do Bolsa Família?

(D095) ALCKMIN: Olha, só tem um caminho, que é a retomada da economia, a retomada do emprego... Há uma crise de confiança, o investidor não investe porque não tem confiança, o consumidor também reduz o consumo e o país não cresce, perdendo a oportunidade que a economia mundial deve crescer perto de 4% quase este ano... O Brasil tinha que estar liderando esse trabalho... E isso nós vamos ter que resolver com as reformas... Elas são necessárias e quero destacar aqui, acho que a gente tem que falar a verdade para as pessoas, é a reforma política, essencial para o país poder avançar mais, reforma tributária, simplificar o modelo tributário, reforma previdenciária para acabar com privilégio, que é o regime geral de previdência do setor público e do setor privado, e a reforma de Estado... O Bolsa Família nasceu com o presidente Fernando Henrique, quando tinha o Bolsa Educação, Vale Gás e a Bolsa Saúde... Foi unificado no governo do PT e foi amplificada... Está correto e nós vamos manter o Bolsa Família e vamos fazer, Meirelles, um retorno automático... Hoje, às vezes, a pessoa não quer sair do Bolsa Família, porque tem medo de amanhã perder o emprego e não conseguir voltar para o Bolsa Família... Nós vamos garantir o retorno automático, para a pessoa poder, tendo oportunidade, conseguir um emprego... E trabalhar para o Brasil ter investimento... Crescer e ter emprego…

(D096) MEIRELLES: De fato, a melhor política social que existe é o emprego... Não há dúvida que alguém que não tem emprego, ou que não possa, ou que não tenha condições, é muito importante o Bolsa Família, é muito importante o programa social... Agora, a criação de emprego é que resolve de fato o problema de cada brasileiro... E

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é o aumento da renda de cada um... E isso se consegue sim uma política econômica bem sucedida... Uma política econômica de sucesso, que aumenta a sua renda, e tem condições de aumentar, inclusive, o valor do Bolsa Família, e permitir que as pessoas saiam também do Bolsa Família, para isso é preciso de competência... Eu sei como fazer, já mostrei que posso fazer isso, e eu peço uma oportunidade para que todos possam ver com que isto sim pode ser feito no Brasil, dar a oportunidade para aumentar a renda de toda a população…

(D097) ALCKMIN: Eu entendo que a questão social, ela envolve múltiplas aspectos... Habitação... Então nossa proposta são 3 milhões de moradias... A gente vai atender, de um lado, o emprego, que a construção civil gera muito emprego e casa para quem precisa. Aliás, São Paulo foi um exemplo: nós investimos 1% do ICMS só para habitação... Então, quem ganha um salário mínimo tem acesso à casa própria... Então, habitação... Saneamento básico: é a população mais pobre que mais sofre com a falta de saneamento básico... Nós adquirimos uma expertise em razão até da seca que sofremos no estado, e vamos fazer um grande programa de saneamento básico... E salário mínimo... Quero assumir um compromisso aqui com quem está nos assistindo: a política é para diminuir a desigualdade, para conseguir enxergar aquele que passa dificuldade... O salário mínimo vai crescer acima da inflação e vou mantê-lo à sua vinculação com a aposentadoria, pensão e benefício de prestação continuada…

BONNER: Candidatos, obrigado... Agora é a vez do candidato Guilherme Boulos vir ao púlpito e dirigir a pergunta a algum candidato a quem ele quiser sobre o tema saneamento…

BOULOS: O vou perguntar ao Alckmin…

BONNER: Candidato Alckmin, pode retornar, por favor…

(D098) BOULOS: Alckmin, quase metade da população brasileira não tem acesso ou à água limpa, ou o ao esgoto tratado, não têm acesso ao saneamento básico... Esse é um drama que afeta milhões de pessoas que, às vezes, têm uma vala no fundo da sua casa. Isso, inclusive, tem feito surgir epidemias no país... Vocês têm uma receita que é a da privatização... Eu queria saber de você: saneamento é um negócio ou é um direito?

(D099) ALCKMIN: Olha, primeiro destacar a importância do saneamento básico... Se a gente olhar o copo meio cheio ou meio vazio, o meio cheio é que as pessoas estão… Melhorou, as pessoas estão vivendo mais e vivendo melhor. Três coisas fizeram esse salto, a gente viver aí 77 anos, vai passar de 80... Primeira coisa foi água tratada... Água tratada... Segunda foi vacina... Terceira, antibiótico... Então, o saneamento básico é essencial para a saúde da nossa população... O que nós vamos fazer? Hoje, as empresas de saneamento, a maioria, 98 % delas, são estatais, ou municipal ou estadual, elas pagam PIS/PASEP e COFINS... É um absurdo, o governo federal tributa água e esgoto em um país que não tem água, 30% da população não tem água e metade da população praticamente não tem coleta de esgoto... Nós vamos devolver

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esse dinheiro para investimento em água e esgoto... Se você tiver um bom… São Paulo é estatal, a Sabesp é uma empresa estatal, mas se tiver um bom marco regulatório você, pode trazer investimento privado para poder investir mais... Nós precisamos é de investimento, colocar água dentro da casa das pessoas, coletar e tratar o esgoto sanitário... E quero trazer uma palavra sobre o Rio São Francisco que nós somos fazer em grande trabalho…

(D100) BOULOS: Olha, Alckmin... A Sabesp é uma estatal, mas foi aberta ao capital na Bolsa de Valores no seu governo... A água não pode ser mercadoria, a água tem que ser direito, não deve servir para o lucro... Esse é um ponto fundamental... Agora, a questão do saneamento também passa por investimento... Eles gostam de dizer que não tem dinheiro... Dinheiro tem, é que está mal distribuído e não chega aonde tem que chegar... Tem que fazer com que os ricos desse país comecem a pagar imposto... Pobre já paga demais, classe média já paga demais... Rico tem que começar a pagar... Talvez você não saiba, mas quem tem um carro paga imposto e IPVA; quem tem jatinho e helicóptero não paga R$ 1... Por isso nós vamos fazer uma reforma tributária para que comecem a pagar... E o centro da questão do saneamento é uma lógica urbana que joga os mais pobres sempre para mais longe, onde não tem infraestrutura, onde não tem nada... É preciso cumprir o estatuto das cidades, desapropriar imóveis abandonados das regiões centrais, porque o pobre tem o direito de morar no centro, onde tem saneamento e serviços públicos…

(D101) ALCKMIN: Olha, o saneamento básico é prioridade absoluta... Eu até me dediquei muito a isso em razão da seca que nós tivemos lá no estado de São Paulo... Nós vamos investir em saneamento, isso gera também muito emprego... A Sabesp é uma empresa estatal; o fato de ter acionista minoritário é ótimo, é governança corporativa... A Petrobras tem, Banco do Brasil tem, todas praticamente as estatais têm, você está capitalizando a empresa, investe mais e ela é controlada pelo Estado... O que precisa ter é um bom marco regulatório... Habitação, eu fiz a primeira PPP do país de habitação para retomar moradia no centro expandido de São Paulo, foi a primeira e muito bem sucedida, em áreas que estavam abandonadas... Voltamos e fizemos a 3,5 mil apartamentos, revitalizando a região central e a pessoa poder morar mais perto do seu trabalho... É isso que nós vamos levar para o Brasil, esses bons projetos que deram certo e vão beneficiar a população…

BONNER: Candidato Alckmin, agora é a sua vez... Eu peço ao senhor que permaneça... Eu vou sortear aqui o tema da próxima pergunta... É educação... E o senhor escolhe a qual candidato que vai dirigir…

ALCKMIN: Eu escolho Alvaro Dias...

BONNER: Candidato do Podemos, Alvaro Dias, pode vir ao púlpito... Pergunta sobre educação…

(D102) ALCKMIN: Nós temos, Alvaro, um grande desafio no Brasil, e há às vezes uma inversão de prioridades... Quer dizer, nós temos crianças fora do ensino infantil, da educação infantil, crianças de zero a cinco anos de idade, e o governo federal gasta

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muito pouco com a questão do ensino infantil... Para ter uma ideia, foram feitas pouco mais de 200 creches para o Brasil inteiro... Qual a sua proposta para a educação e mais a educação infantil?

(D103) ALVARO: Eu confesso, Alckmin, que às vezes eu fico constrangido em falar de propostas, porque eu acho que os brasileiros estão enjoados de nos ouvir todos os dias com essa enxurrada de propostas sem dizer como fazer... Sem o dinheiro para fazer, sem mudar o modelo que nós temos... Mas em respeito a você eu vou responder... Ali está o meu formulador, um dos formuladores, que é o Pedro, aliás, o Paulo Rabello, o meu vice-presidente, grande formulador de propostas, economista do ano... E nós temos uma proposta para a educação que começa valorizando a primeira infância... O grande investimento na primeira infância será, sem dúvida nenhuma, a grande prioridade do nosso governo. Investir com a instituição de mais 4 milhões de matrículas, desde o pré-natal até os 6 anos de idade... Educação, alimentação adequada, segurança, nós vamos com esse investimento certamente reduzir os índices de violência, os índices de corrupção no país, nós vamos melhorar os índices de produtividade e vamos influenciar no crescimento econômico do país... Porque o investimento nessa faixa etária de um dólar tem um retorno assegurado de 12 a 13 dólares... Essa é a nossa grande proposta…

(D104) ALCKMIN: Certa vez perguntaram a uma mãe qual dos filhos ela mais amava, e ela respondeu... Ela disse: o pequenino até que cresça, o doente até que sare, o ausente até que volte... O pequenino até que cresça... Eu quero ser o presidente da primeira infância... Nós vamos zerar o mais rápido possível, primeiro a pré-escola... Tem 440 mil crianças fora, de 4 e 5 anos de idade, fora da Emei e da pré-escola... Já deveria ter sido cumprido isso há três anos atrás... Nós vamos zerar o mais rápido possível... E as creches, ampliar ostensivamente, através de convênio com as prefeituras municipais e entidades da sociedade civil... E no ensino médio, para o jovem, implantar a reforma, que é uma reforma boa, dando oportunidade de ensino técnico, para ele já também conseguir um bom emprego ou ir para a universidade…

(D105) ALVARO: Nós vamos instituir, eu repito, 4 milhões de matrículas nas creches... Eu fui relator do Plano Nacional de Educação, e nós aqui deveríamos ter, já em 2017, 30% das crianças de zero a três anos nas creches, aliás, deveríamos ter 50%, temos 30%... Se continuarmos nesse ritmo, levaremos vinte anos para colocar todas as crianças na creche... Nós vamos instituir o vale-creche, ou cheque creche, para que a mãe possa escolher a creche privada ou, se preferir, leve à creche pública... E, em seguida, nós vamos instituir, criar, 500 centros de formação para o trabalho para atender um milhão de jovens que estarão preparados para a atividade profissional, já que hoje temos um perfil de emprego diferente, como a automação, e é preciso tirar esses jovens da marginalidade, e muitos deles da marginalidade, para o emprego com essa escola…

BONNER: Muito obrigado, candidatos... Agora é a vez da candidata da Rede, Marina Silva, se aproximar aqui do púlpito... Enquanto a senhora se aproxima, eu vou sortear aqui o tema da próxima pergunta... Desta vez eu acertei, hein candidato... A senhora vai fazer uma pergunta sobre impostos, e pode escolher a quem fazer, só não pode ser o candidato Alckmin, que já respondeu a duas…

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MARINA: Guilherme Boulos…

BONNER: Candidato do PSOL, Guilherme Boulos... O tema é "Impostos", candidato…

(D106) MARINA: Boulos, nós estamos chegando à reta final dessa campanha e a sociedade está desolada... De um lado, dá um voto anti PT, do outro, dá um voto anti Bolsonaro... Boa parte disso tem a ver com a decepção... Uma delas é de pagar muitos impostos e ter péssimos serviços... Eu estou aqui para ser a candidata da esperança que quer ajudar o Brasil a sair da crise... Qual é a sua proposta para que o povo tenha a esperança do uso correto dos seus impostos?

(D107) BOULOS: Olha, Marina... Primeiro você tem razão quando diz que o trabalhador e a classe média já pagam impostos demais... Aliás, quem quer aumentar imposto para os mais pobres é o Jair Bolsonaro... O economista dele propôs uma alíquota de 20% para imposto de renda... Você que ganha R$ 2 mil, e hoje está isento, teria que pagar R$ 400 de imposto... Agora, se a gente olhar no andar de cima, acontece o contrário... O governo no Brasil é como se fosse um Robin Hood ao contrário... Ele tira dos mais pobres para dar para os mais ricos... Super rico no Brasil não está acostumado a pagar imposto, banqueiro não paga imposto, grande empresário paga muito pouco imposto... O bolsa empresário, por exemplo, é de R$ 283 bilhões em desonerações fiscais, liberou para o empresário não pagar... Isso dá dez vezes o valor do Bolsa família. Já disse aqui: quem tem um carro paga IPVA, quem tem um jatinho ou helicóptero não paga nada... Isso daria R$ 4 bilhões se arrecadarmos esse imposto, o que dá para fazer 100 mil casas populares... Nós temos que fazer com que quem tem menos pague menos, com que quem tem mais pague mais... Isso seria uma justiça tributária e é isso que nós vamos fazer... Esse dinheiro será investido em políticas sociais, em creches, em escola, em posto de saúde, em moradia popular e saneamento básico, que é o que o povo precisa…

(D108) MARINA: Eu quero dizer para vocês que a esperança que eu falo que eu sou é porque eu vou usar o imposto que você paga para que você possa ter educação de qualidade... Nós vamos criar a renda jovem, para que 2 milhões de jovens tenham uma poupança quando terminarem o ensino médio e passar no ENEM... R$ 3,7 mil para acabar com a evasão escolar... Nós vamos usar o seu imposto, o imposto que você paga, para que se tenha 2 milhões de vagas em creches, para que a mulher possa deixar o seu filho e estudar e trabalhar... Nós vamos usar o imposto, que você paga, para que você possa ter uma saúde de qualidade, ser atendido rápido, ser atendido com respeito, e na hora que você mais precisa…

(D109) BOULOS: Olha, Marina, de fato essa questão dos impostos é fundamental... Você sabe que um dos setores da economia que mais leva a farra das desonerações é o agronegócio: o ITR que é imposto territorial rural tem uma arrecadação minúscula no país... É menor do que a arrecadação de três meses do IPTU da cidade de São Paulo... Dizem que o agronegócio carrega o Brasil nas costas, a gente já ouviu aqui defesa a defesa do agronegócio nesse debate; é o contrário: é o Brasil que carrega o

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agronegócio nas costas como desonerações e isenções abusivas; 70% de tudo que a gente come vem da agricultura familiar; nós vamos fazer uma reforma agrária agroecológica para ter comida sem transgênico, sem agrotóxico, com desmatamento zero... Eu tenho muito orgulho de ter como vice a Sonia Guajajara, liderança indígena, para dizer o seguinte: que para nós, ao contrário do que se diz aqui na Globo, o agro não é pobre, o agro é tóxico, o agro mata…

BONNER: Terminada esta rodada, candidatos... Eu vou chamar então que se aproxime o candidato Alvaro Dias, enquanto eu sorteio aqui o tema da pergunta que o senhor vai fazer, candidato. É sobre “Corrupção”... E o senhor pode escolher a quem vai fazer a pergunta, só não pode ser o candidato Geraldo Alckmin, que já respondeu a duas questões…

ALVARO: Eu vou chamar o Haddad para responder essa pergunta…

BONNER: Candidato Fernando Haddad... Pergunta sobre corrupção... 30 segundos, candidato…

(D110) ALVARO: Fernando Haddad, eu sinto que há uma conspiração contra a Operação Lava Jato... Nesta campanha eleitoral especialmente eu vejo conspiradores que anunciam, inclusive, medidas que podem ser adotadas contra a Operação Lava Jato... E o povo brasileiro tem a Operação Lava Jato como a sua prioridade... Certamente temos que valorizá-la e, no seu governo, o que ocorrerá com a operação Lava Jato?

(D111) HADDAD: Eu agradeço a pergunta... Nós vamos fazer o que um governo tem que fazer… O governo tem que fortalecer os órgãos de combate à corrupção, que foi o que nós fizemos... A Polícia Federal nunca recebeu tanto apoio quanto na época dos nossos governos... Vou dar um exemplo para você, numérico: oito anos de governo Fernando Henrique e 40 operações especiais da Polícia Federal... Doze anos de governo do PT e 2.100 operações da Polícia Federal... Por que isso aconteceu? Liberdade para investigar, apoio à inteligência, carreira nova, contratação de pessoal, autonomia para a Polícia Federal... Ministério Público: sempre escolhemos o mais preparado para ser o procurador-geral da República... Anteriormente, engavetador-geral da República... Aquilo que chegava lá era engavetado, ou seja, sujeira para baixo do tapete... Depois que nós entramos, não tem mão na cabeça... O que precisa ser investigado é investigado, doa a quem doer... O que é errado? Partidarizar... Você não pode deixar um promotor ou um juiz querer incidir no processo eleitoral para beneficiar amigos e prejudicar inimigos... Tem que se fazer justiça a com muita seriedade…

(D112) ALVARO: Palavras soltas ao vento... À pouco eu vi o candidato Haddad afirmando que Lula está preso injustamente... As provas são cabais, definitivas, provas materiais, testemunhais, primeira instância, segunda instância, julgamento com transparência, com o direito de defesa... Há outros inquéritos em curso... Não há como admitir que alguém que pense isso durante a campanha eleitoral vá valorizar o Ministério Público, a Polícia Federal, vai modernizar a legislação para torná-la mais

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rigorosa no combate à corrupção... Quem diz que Palocci mente diante dos fatos que ele revela, certamente não será um presidente capaz de impor rigor no combate à corrupção... Com tantos escândalos de corrupção no governo do PT, o senhor diz que vai combater a corrupção sendo presidente?

(D113) HADDAD: Alvaro, a legislação que você elogia, e com razão, é toda do nosso período... Não houve nenhuma legislação anterior que fosse mais rigorosa do que a gente aprovou... Sabe quem elogiou a legislação que nós aprovamos? Os procuradores da Lava Jato, reconheceram que o governo fez o seu trabalho... E, repito, a sujeira que era posta para baixo do tapete, ela agora vem à tona para a gente corrigir as falhas do nosso sistema político... Quem vos fala, Álvaro, é aquele que criou a controladoria geral do município em São Paulo que recuperou 300 milhões de reais de dinheiro desviado de outras administrações... Máfia do ISS, o túnel da Água Espraiada, dinheiro do Maluf das ilhas Jersey, que foram retomados... É uma pessoa que recuperou dinheiro desviado, que diz que vai combater a corrupção…

BONNER: Candidatos, muito obrigado... Estamos terminando assim as rodadas de perguntas entre os candidatos... E, a partir de agora, cada um vai ter um minuto para deixar a sua mensagem aos eleitores... Essa ordem também foi estabelecida por um sorteio previamente... O primeiro é o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB. Candidato, por favor, um minuto aqui no púlpito para suas considerações finais…

(D114) ALCKMIN: Olha, uma palavra de agradecimento à população brasileira... Percorri o Brasil do Oiapoque ao Chuí, todas as regiões do Brasil. O carinho, a receptividade... Isso me lembra Câmara Cascudo, que dizia: “O melhor produto do Brasil ainda continua sendo os brasileiros”. Povo maravilhoso. Agradecer a toda a equipe que nos ajudou e a duas mulheres, Ana Amélia Lemos, a nossa candidata a vice-presidente da República, e a minha querida Lu, esposa há 40 anos, que nos acompanhou em toda esta jornada... Pedir o voto de vocês... Agora que vai decidir: 20% do voto decide nos últimos dias... Peço o seu voto para que a gente saia desse triste resultado que tem tido até agora, do radicalismo, do ódio, do preconceito, que não vai levar a nada... Acumulei experiência e espírito público para trabalhar pelo Brasil... Que Deus nos abençoe…

BONNER: Candidato, muito obrigado... agora é a vez do candidato do Podemos, Alvaro Dias, se dirigir ao seus eleitores... em um minuto, candidato, por favor…

(D115) ALVARO: Muito obrigado por esse apoio, por essa energia... Confesso que trabalhei a vida toda no meu estado e no Senado para ganhar o respeito da nossa gente... Estou de consciência tranquila, combati corrupção, sim, a minha vida toda, prendi gente como governador, cancelei licitações fraudadas, anulei aposentadorias imorais e acabei com privilégios... Acabei com os meus próprios privilégios: não recebo aposentadoria de ex-governador, não recebo auxílio-moradia, não recebo verba indenizatória... Quero mudar o Brasil com seu apoio... Eu sei: o Brasil só muda se nós trabalharmos com ética, com correção, com honestidade... Trabalharei duro quatro anos para deixar um legado de mudança para o povo brasileiro, especialmente para os pobres desse país... Dezenove…

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BONNER: Muito obrigado, candidato... Candidato Ciro Gomes, do PDT, pela ordem estabelecida em sorteio pode se dirigir aos eleitores para sua mensagem final, candidato…

(D116) CIRO: Há quatro anos o nosso país está parado, paralisado por uma crise política assentada no ódio, no desfazimento de um pelo outro, e agora esse filme parece que está querendo se repetir... Eu teria muita vontade de agradecer, de fazer um carinho, de passar o meu olho no meu coração por todo o território brasileiro que eu conheço tão bem, mas esse é o ponto... Essa divisão não vai permitir que o Brasil supere a sua crise... Essa divisão tende a aprofundar essa crise grave e nós temos clareza hoje... O que está posto aí pelas pesquisas é um empate entre Haddad e Bolsonaro... Eu ali chegando no terceiro lugar, as coisas melhorando, mas ainda no terceiro lugar... Aprofundar essa divisão simplesmente não permitirá ao Brasil se reconciliar e trabalharmos aquilo que interessa... Eu peço humildemente uma oportunidade... Sou ficha limpa, tenho experiência e uma proposta para resolver os problemas brasileiros... Ganho do Haddad e do Bolsonaro no segundo turno com grande folga, mas preciso do seu voto no primeiro turno, para ser presidente de todos os brasileiros…

BONNER: Candidato, muito obrigado... Agora é a vez do candidato Henrique Meirelles, do MDB, também com um minuto para se dirigir aos eleitores em sua mensagem final desse debate…

(D117) MEIRELLES: Agora é o momento de comparar, é o momento em que nós temos para definir qual será o Brasil dos próximos anos... E eu lhe peço que compare competências, compare história... Eu trabalhei 33 anos em empresas, dez anos em governo e nunca tive uma denúncia de corrupção... E ódio não gera emprego... Vingança não cria segurança, nem educação, nem lhe dá boa assistência de saúde... O que o Brasil precisa agora é de confiança, porque confiança traz crescimento, traz emprego, traz renda... E confiança não se compra... Confiança se conquista, com uma vida de competência, de trabalho sério, de trabalho honesto e de credibilidade... Chame o Meirelles, peço o seu voto…

BONNER: Obrigado, candidato... Agora é a vez. Silêncio, por favor... Por favor, silêncio... Agora, o candidato Fernando Haddad, do PT, é o próximo a se dirigir aos eleitores para endereçar a sua mensagem final…

(D118) HADDAD: Eleitor, eleitora, agradeço a sua atenção... Sou neto de um líder religioso, sou filho de um agricultor familiar... E aprendi com meu pai que um homem e uma mulher tem que acordar e saber para onde ir... Precisa ter trabalho ou educação, ou as duas coisas... É muito ruim um brasileiro, ou uma brasileira, acordar e não ter destino... Aprendi com o Lula que é possível oferecer essa oportunidade para todos, sem exceção, sobretudo para quem mais precisa... Portanto, as minhas obsessões durante os quatro anos de mandato vão ser trabalho e educação para todos... Não há nenhum problema no Brasil que não se resolva com trabalho e educação... Aprendi isso com meu pai, vou seguir esse princípio à risca até o fim do meu mandato... Muito obrigado... Conto com o seu voto... Vote 13…

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BONNER: Obrigado, candidato... E agora é a vez da candidata Marina Silva, da Rede... Na ordem determinada pelo sorteio de que participaram seus assessores antes desse debate... Candidata, um minuto…

(D119) MARINA: Eu quero agradecer a Deus por ter participado dessa campanha e agradecer a Deus por não ter caído na tentação de ir pela porta larga que leva ao caminho da perdição, do ódio, da mentira, das falsas promessas que, depois que se ganha, não tem como ser cumprida... Eu estou aqui porque eu sei que eu sou uma pacificadora... Uma pacificadora que muitas vezes é mal compreendida porque as pessoas entendem quem tem uma postura de amor no coração e respeito pelo próximo como se fosse uma pessoa fraca... Esse país não está precisando de força física, esse país precisa de força moral, precisa de respeito com o seu dinheiro, com a Constituição, com a diversidade religiosa, com a diversidade cultural... Eu estou aqui porque eu sei que eu sou a melhor pessoa para o unir o Brasil e eu estou pronta para governar o Brasil e unir os brasileiros a favor de um Brasil próspero para todos…

BONNER: Muito obrigado... Por fim, na ordem determinada em sorteio, é a vez do candidato do PSOL, Guilherme Boulos, com um minuto, candidato…

(D120) BOULOS: Eu quero agradecer a toda a militância dessa nossa aliança, que construiu junto a jornada até aqui... Quero agradecer a você, que está nos assistindo... Chegou a hora da sua decisão... Domingo é dia de barrar o atraso, não vote com ódio... Naquela urna só vai estar você, a sua consciência e o seu sonho... Não vão estar ali os seus amigos do WhatsApp, não vai estar ali o seu patrão... Vote com esperança... Pense nos seus filhos... Pense no futuro, se você quer um futuro sem direitos, um futuro com a violência e com ódio... Não vote com ódio, mas também não vote com medo... Nós só vamos mudar o Brasil enfrentando de verdade os privilégios e mudando o jeito de fazer política... Nós não vamos desistir dos nossos sonhos, nós temos lado. Se você está nesse mesmo lado, vote no que você acredita, vote 50... Vote nos deputados e senadores e governadores do PSOL e do PCB. Vote com esperança, vote Boulos 50…

BONNER: Candidato, muito obrigado... Bom, faltam 15 para a 1h da manhã de sexta-feira no horário de Brasília... Nós estamos encerrando aqui esse último debate entre os candidatos à Presidência da República antes da votação de domingo... Agradecemos aos candidatos que nos prestigiaram aqui com a sua presença... Agradecemos aos convidados aqui, que se comportaram tão bem, muito obrigado... Peço desculpas pelas minhas próprias falhas aqui... E a você, claro, que em casa se manteve aí, acompanhando tudo até agora, faltando menos de 60 horas para o início da votação... Muito obrigado a todos... Boa noite e um bom voto no domingo...

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