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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ALEXSANDER JOÃO GUERIOS OS ANNALES E A MICRO-HISTÓRIA: UM VIÉS HISTÓRIOGRÁFICO PELAS OBRAS DO HISTORIADOR ITALIANO CARLO GINZBURG. CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ALEXSANDER JOÃO GUERIOS

OS ANNALES E A MICRO-HISTÓRIA: UM VIÉS HISTÓRIOGRÁFICO PELAS OBRAS DO HISTORIADOR ITALIANO CARLO GINZBURG.

CURITIBA

2011

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ALEXSANDER JOÃO GUERIOS

OS ANNALES E A MICRO-HISTÓRIA: UM VIÉS HISTÓRIOGRÁFICO PELAS OBRAS DO HISTORIADOR ITALIANO CARLO GINZBURG.

Monografia apresentada à disciplina de Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica como requisito parcial à conclusão do Curso de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná

Orientador: Prof. Dr. José Roberto Braga Portella.

CURITIBA

2011

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Dedico este trabalho aos meus pais, amigos e irmãos e ao

meu orientador José Roberto Braga Portella.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor José Roberto Braga Portella por toda a ajuda que sempre me

disponibilizou, assim como as inúmeras conversas as quais me foram muito úteis, e por todo o

aprendizado que tive com ele.

E agradeço também aos meus pais e colegas por sempre estarem ao meu lado em

todas as horas, tanto as ruins quanto as boas.

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“Assim eles [historiadores] atuarão sobre sua época. Assim farão com que seus

contemporâneos e seus concidadãos possam compreender melhor os dramas dos quais vão

ser, dos quais já são, ao mesmo tempo, os atores e espectadores. Assim trarão os mais ricos

elementos de solução aos problemas que perturbam os homens de seu tempo."

Lucien Febvre.

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RESUMO A presente monografia pretende traçar as possíveis influências dos historiadores Marc

Bloch e Lucien Febvre - fundadores da escola historiográfica Francesa chamada de “Escola

dos Annales” - nas obras feitas pelo historiador italiano Carlo Ginzburg ligado ao ramo

historiográfico chamado de Micro História.

Com isso procurou-se mostrar se houve influências ou rupturas no tipo de escrita da

história feita por Carlo Ginzburg nas obras Os andarilhos do Bem”, “O queijo e os vermes” e

“História Noturna” , assim como o próprio autor se remete sobre essas influências.

Procurando assim traçar uma trajetória intelectual do historiador italiano e seu diálogo

com os historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch.

Palavras chave: Carlo Ginzburg; Annales; Lucien Febvre.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 08

CAPITULO I – Os Annales e a Micro História, situando o debate.................................11

CAPITULO II –Os Annales e a Micro História.................................................................20

CAPITULO III - Carlo Ginzburg uma trajetória intele ctual ........................................31

CONCLUSÃO - ................................................................................................................... 39 FONTES.................................................................................................................................42

REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 43

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INTRODUÇÃO

A presente monografia pretende traçar as possíveis influências dos historiadores Marc

Bloch e Lucien Febvre - fundadores da escola historiográfica Francesa chamada de “Escola

dos Annales” - nas obras feitas pelo historiador italiano Carlo Ginzburg ligado ao ramo

historiográfico chamado de Micro História.

As fontes analisadas são os prefácios das obras do historiador Carlo Ginzburg “Os

andarilhos do Bem1” (1966), “O queijo e os vermes2 (1976) e “História Noturna3” (1989),

obras publicadas entre as décadas de 60 e 80, e onde se tentará perceber a existência ou não de

um diálogo com conceitos e métodos usados por Lucien Febvre e Marc Bloch, bem como o

diálogo com a história das mentalidades desenvolvida pelos Annales da terceira geração na

década de 70, também são analisadas entrevistas dadas por Ginzburg a respeito da própria

obra e suas influências.

No primeiro capitulo, intitulado “Os Annales e a Micro História, situando o debate”,

procura-se dizer quem são os Annales, dando uma maior ênfase a Marc Bloch e Lucien

Febvre, descrevendo assim desde a fundação da revista Annales d´histoire économique et

sociale em 1929, passando pela segunda geração (1956 a1968) tendo Fernand Braudel na

direção até a terceira geração (1968-1989), a qual vai ser dada maior ênfase neste trabalho,

pois as obras analisadas foram desenvolvidas durante a época a qual os Annales estavam

passando pela sua terceira geração.

Essa aproximação com os Annales da terceira geração será discutido neste capitulo

dando uma maior importância para o diálogo com a história das mentalidades.

Neste capitulo também é descrito o que é a Micro História, como ela surgiu e quais as

suas principais linhas metodológicas, assim quais são os historiadores ligados à essa escola

historiográfica, dando um maior ênfase na figura do historiador Carlo Ginzburg.

1 GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo:Cia

das Letras, 1988.

2 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras,1986

3 GINZBURG, Carlo .História noturna:decifrando o sabá. São Paulo: Companhia das Letras,1991.

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No segundo capitulo, intitulado “Os annales e a micro história”, procurou-se levantar a

discussão da hipótese de que os Annales não se constituiriam em uma escola fechada em si ,

mas sim um grupo de historiadores ligados à revista Annales d´histoire économique et sociale,

em que cada um teve trajetória própria, não constituindo assim uma unidade.

Abrindo assim a discussão para pensar se Carlo Ginzburg teve direta ou indiretamente

a influência metodológica desenvolvida pelos pais fundadores dos Annales, Marc Bloch e

Lucien Febvre, e como esses métodos são vistos nas suas obras.

Procurou ser traçada nesta monografia a discussão sobre a influência da historiografia

dos Annales sobre a produção histórica italiana desde a década de 1950, a qual se remetia

segundo Henrique Espada Lima necessariamente à obra La Méditerranée et le Monde

Méditerranéen a l'époque de Philippe II(1949) de Fernand Braudel.

É descrito a importância da obra de Fernand Braudel e também como foi a recepção

desta pelos historiadores ligados a Micro História, bem como a importância da Ècole

Pratiques dês Hautes Ètudes (EPHE) para o diálogo e as trocas historiográficas dos

historiadores franceses e italianos.

O terceiro capitulo, intitulado “Carlo Ginzburg uma trajetória intelectual”, é onde é

trabalhado as fontes, as quais são os prefácios das obras citadas e também entrevistas dele,

encontradas na obra “As muitas faces da história4”,.

Neste capitulo procurou-se trabalhar as fontes, apontando trechos onde Ginzburg se

remete às influências dele nas obras citadas, e também o que seria a história das mentalidades

- como ela surgiu e de que maneira ela foi produzida no meio acadêmico francês e também

fora dele.

Neste capitulo são discutidas também as obras de Carlo Ginzburg e como foi a

influência das propostas metodológicas feitas por Lucien Febvre e Marc Bloch e também se

houve uma continuação ou ruptura nas obras “Os andarilhos do Bem”, “O queijo e os

vermes” e “História Noturna”.

A base metodológica dessa discussão se situa no campo da Teoria da História e é

usada para discussão o texto “A especificidade lógica da História” do historiador José Carlos

4 BURKE,Maria Lúcia Pallares. As muitas faces da história. São Paulo: Unesp, 2000

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Reis o qual diz que a então chamada teoria da história seria um caleidoscópio, que há cerca de

2500 anos ela existe em permanente crise, autodefinindo-se vagamente5.

Essa idéia do autor é utilizada no presente trabalho para se perceber se há uma

permanência ou ruptura no tipo de historiografia feita pelo historiador Carlo Ginzburg em

comparação com os pais fundadores dos Annales.

Assim também seguindo a lógica de March Bloch que diz que “A história é a ciência

dos homens no tempo”6, portanto o historiador também faz parte do seu tempo. Esse conceito

foi usado para entender como se deu o contexto histórico acadêmico francês na época em que

Carlo Ginzburg desenvolveu suas obras .“Os andarilhos do Bem”, “O queijo e os vermes” e

“História Noturna”.

5REIS, José Carlos. História e Teoria. Historicismo, Modernidade, Temporalidade e Verdade. Rio de Janeiro: ed. FGV, 2003 p.101

6BLOCH, Marc. Apologia da História: ou oficio de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001 p.55

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OS ANNALES E A MICRO HISTÓRIA, SITUANDO O DEBATE

Para começarmos o debate sobre os Annales e a Micro História, é necessário situar

quem são eles e quem são os seus historiadores dando maior ênfase aos historiadores que

serão elencados nesse trabalho, portanto começaremos descrevendo o que seria a chamada

Escola dos Annales onde e como ela surgiu bem como as suas propostas metodológicas, e

abordando também esses aspectos com a Micro História, propondo assim traçar uma trajetória

intelectual do Historiador Carlo Ginzburg com os pais fundadores dos Annales.

Os Annales.

A Escola dos Annales é uma escola historiográfica francesa que desde a sua primeira

fase em 1929 na revista Annales d´histoire économique et sociale aonde ela nasceu, deu

ênfase em uma história interdisciplinar, não factual (Èvénementielle7),e nem uma história

política que privilegiava os grandes homens, como faziam os metódicos que foram muito

criticados pelos pais fundadores Marc Bloch e Lucien Febvre .

Os pais fundadores dos Annales tiveram um grande dialogo com as outras áreas do

conhecimento como a ciência social a geografia, a psicologia e a Antropologia. Podemos

observar esse dialogo com as outras disciplinas em seus respectivos trabalhos tais como “A

sociedade Feudal” obra de Marc Bloch onde ele usa a metodologia de história comparada,

esta já muito conhecida pelos sociólogos.

A obra “A sociedade Feudal” é uma síntese que abrange mais de quatro séculos de

história da Europa que vai de 900 a 1300, com enfoque em vários tópicos como liberdade,

servidão, monarquia sagrada e outros. A obra preocupa-se com a sociedade feudal como um

todo, com o que hoje designaríamos “a cultura do feudalismo”8

A sociedade Feudal é uma obra que tem um grande dialogo com conceitos

Durkheiminianos, pois utiliza a linguagem de Consciência Coletiva da memória e das

representações coletivas assim como a coesão social um dos temas principais da obra de

Durkheim.

7 Método historiográfico desenvolvido pela Escola Métodica de Charles Langlois e Charles Seignobos.

8 BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da

Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997 P.25

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Essa forma particular de coesão, ou de “laços de dependência” (na sociedade feudal), é

explicada de uma maneira essencialmente funcionalista, isto é, como uma adaptação às

“necessidades” de um meio social específico, mais precisamente como uma resposta a três

ondas de invasão – a dos viquingues, a dos muçulmanos e a dos magiares”.9

Assim tanto a comparação, a tipologia e a evolução social deixaram suas marcas num

capítulo ao foral do livro, intitulado “O feudalismo como tipo social”.

E também houve um dialogo com a psicologia e a antropologia como pode se ver na

sua obra “Os Reis Taumaturgos” a qual Marc Bloch tem como objeto da história aquilo que

era considerado folclore, o toque real dos reis que curavam as escrófulas.

A obra “Os Reis Taumaturgos” de Marc Bloch, partia do principio de analisar o toque

real dos reis que diziam curar as escrófulas e como esse costume sobreviveu, e ainda mais

floresceu no século XVII , a época das luzes . O livro era uma contribuição ao que Bloch

denominava “psicologia religiosa”. O tema central da obra era a história dos milagres e como

explicar que o povo pudesse acreditar em tais “ilusões coletivas”.

Também podemos observar nas obras de Lucien Febvre esse diálogo com as outras

ciências como exemplo a obra “O Reno” o qual ele dialoga com a geografia, e a obra “O

problema da Incredulidade no Século XVI”, o qual ele também faz um diálogo com a

psicologia .

Os Annales da primeira geração, como ressalta Peter Burke, começaram como uma

seita herética contra o tipo de história feita no circulo acadêmico, pois como Lucien Febvre

declarou em sua aula inaugural no Collége de France é necessário ser “Herético”10

As propostas descritas por Lucien Febvre e Marc Bloch tinham em mente não só tirar

a história do seu isolamento, mas também usar novos tipos de fontes para a pesquisa histórica.

Na segunda geração, tendo Braudel na direção (1956 a1968) continuou–se com o

programa interdisciplinar com as outras ciências.

A hegemonia historiográfica francesa iniciada pelos primeiros Annales alcançou seu

apogeu durante o período da direção de Fernand Braudel, entre os anos de 1956 e 1968. Tal

hegemonia, explica o crescente fortalecimento institucional e o aumento de poder acadêmico

que a corrente dos Annales conquistou nessa conjuntura hegemônica.

9 Idem,ibidem p.25

10 Idem,ibidem p.30

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O segundos Annales conhecidos como Annales Braudelianos, embora remontem ao

período dos Annales de Lucien Febvre, só se firmam e se desenvolvem realmente depois de

sua morte, em setembro de 1956, quando Fernand Braudel assume, sozinho, a direção da

revista11.

Esses perfis encontram-se resumidos e claramente delimitados no célebre artigo

publicado no último número dos Annales de 1958, redigido pelo mesmo Fernand Braudel e

intitulado História e ciências sociais: a Longa duração.

Neste ensaio de 1958, percebemos a perspectiva global da longa duração histórica que

serviu de fio condutor para a elaboração e construção progressiva dos Annales dos período

1956-1968. O argumento central anunciado no próprio titulo do ensaio, é o da exposição da

teoria Braudeliana das diferentes temporalidades histórico sociais, em particular das

realidades de longa duração.

Assim os Annales da ‘segunda geração’ colocaram no centro de seu projeto

intelectual, as novas investigações sobre os distintos estudos de historia econômica e as

investigações da recém-criada história demográfica e certas áreas específicas da história

social, estabelecendo mútua colaboração e apoio, entre os Annales braudelianos e

o(s)marxismo(s) do Ocidente, bem como o projeto central de Fernand Braudel de produzir

uma história de longa duração12.

Já na terceira geração dos Annales 1968-1989, os historiadores vão se distanciar das

abordagens mais quantitativas da história, para trabalharem em uma história mais

antropológica. Essa terceira geração surge em um contexto marcado pelos efeitos da

revolução cultural de 68, sobre o conjunto da historiografia mundial, sendo definidos como a

historiografia voltada ao estudo de temas culturais, com profunda descontinuidade quanto aos

Annales anteriores.

11

AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Uma história dos Annales (1921-2001). Tradução de Jurandir Malerba. Maringá: Eduem, 2004 p.92

12 ROIZ,Diogo da Silva .O movimento dos Annales e a escrita da sua história, Ágora, Santa Cruz do Sul, v. 13,

n.2, p. 277-283, jul./dez. 2007 p.281

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É a partir dessa terceira geração, que a dimensão antropológica se faz mais presente na

historiografia contemporânea. Surgida em fins da década de 1970, como uma reação à história

quantitativa , predominante na geração anterior, esse movimento, denominado “virada

antropológica”, "pode ser descrito, com mais exatidão, como uma mudança em direção à

antropologia cultural ou 'simbólica' " 13

Os historiadores dos anos de 1970 e 1980 estabeleceram um diálogo mais intenso e

profícuo com a antropologia, vários antropólogos como Pierre Bourdieu, Michel de Certeau,

Erving Goffman e Victor Turner vão influenciar os trabalhos desses historiadores. As idéias

que migraram da chamada "nova antropologia simbólica" para história, foram adotadas,

adaptadas e utilizadas para construir uma história mais antropológica.14

A inserção de novas temáticas, assim como, uma apreensão do simbólico por parte do

historiador, tem sido pontos fundamentais nesse novo saber e fazer histórico. Temas como o

medo, o corpo, a morte, a loucura, o clima, a feminilidade, entre outros, tem sido objetos de

estudo desse novo historiador, o que na perspectiva da história tradicional era algo

praticamente impensável. Todos estes aspectos da vida humana passam a ter uma nova

dimensão, ou seja, a perspectiva cultural15.

No decorrer dos anos 60 e 70 os historiadores vão se distanciar das analises

econômicas feitas na segunda geração, e vão transferir o interesse pela base econômica para a

“superestrutura” “cultural, essa virada metodológica vai ser chamada “do porão ao sótão”, e

também essa idéia vai ser impulsionada por pensadores de outras áreas como o filósofo

Michel Foucault e o antropólogo Claude Lévi-Strauss.

A terceira geração pode ser descrita como uma fase de desfragmentação, como analisa

Burke, pois segundo ele, o problema está em que é mais difícil traçar o perfil da terceira

geração do que das duas anteriores. Ninguém neste período dominou o grupo como o fizeram

Febvre e Braudel. Alguns comentadores chegaram mesmo a falar numa fragmentação.16

13 BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo:

Fundação Editora da UNESP, 1997.p.94

14 Idem Ibidem, p.94

15 Idem,Ibidem p.94

16Idem,Ibidem. p.7

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Apesar de não terem sido hegemônicos em termos de inovação e de redefinição de

novos rumos historiográficos, os terceiros Annales se difundiram em todo o mundo,como

conseqüência da difusão midiática dos produtos históricos e do processo de incorporação

dentro do establishment cultural na França.

Nas palavras do historiador Antonio Carlos Aguirre Rojas:

“São os Annales mais traduzidos e difundidos e conhecidos em escala planetária, embora perdendo a hegemonia dentro da Europa e do Ocidente, quanto à inovação historiográfica e à definição dos destinos principais da historiografia contemporânea17”

Ao mesmo tempo em que os Annales estavam passando pela sua terceira geração

outro tipo de historiografia estava sendo produzida pela chamada micro-história .

A Micro - História Italiana

A denominada Micro História é a escola historiográfica italiana que começou a surgir

primeiramente nos artigos intitulados “Quaderni Storici’na década de 70 e depois pela criação

da coleção chamada “Micro-História” dirigida por Carlo Ginzburg e Giovanni Levi em 1981.

Poderia se dizer que a Micro História surgiu como uma reação ao desgaste das

abordagens, marxistas, estruturalistas e econômico sociais como analisa Jacques Revel:

A micro história nasceu a partir de uma série de propostas há dez ou quinze anos por um grupo de italianos dedicados a empreitadas comuns. Não constitui absolutamente uma técnica menos ainda uma disciplina. Deve na verdade ser compreendida como um sintoma: como uma reação a um momento especifico da história social, da qual propõe reformular certas exigências e procedimentos.18

17AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Uma história dos Annales (1921-2001). Tradução de Jurandir Malerba. Maringá: Eduem, 2004 p. 118

18 LEVI, Giovanni. A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p.8

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Giovanni Levi também se refere ao nascimento da chamada micro história como uma

reação aos paradigmas dominantes na historiografia da década de 70, segundo ele naquela

época muitas das esperanças e mitologias que antes haviam orientado o debate cultural,

incluindo o domínio da historiografia estavam se comprovando não tanto inválidas, mas

inadequadas diante das imprevisíveis conseqüências dos acontecimentos políticos e das

realidades sociais , realidades segundo ele que estavam longe de estar em conformidade com

os grandes modelos otimistas propostos pelos marxistas e os funcionalistas19.

Nas próprias palavras de Giovanni Levi :

A micro história em si nada mais é que uma gama de possíveis respostas que enfatizam a redefinição de conceitos e uma analise aprofundada dos instrumentos e métodos existentes20.

O historiador Peter Burke também se refere ao nascimento da Micro História como

uma reação a um certo estilo de história social que seguia o modelo da história econômica,

empregando métodos quantitativos e descrevendo tendências gerais, sem atribuir muita

importância à variedade ou à especificidade de culturas locais21.

Para Peter Burke:

A micro história era uma reação a crescente desilusão com a chamada “narrativa grandiosa” do progresso,[...] Essa História Triunfalista passava por cima das realizações e contribuições de muitas outras culturas22.

A Micro-História também foi uma reação ao encontro com a Antropologia, pois os

antropólogos ofereciam um modelo alternativo, que era a ampliação do estudo de caso onde

havia espaço para a cultura, para a liberdade em relação ao determinismo social e econômico,

e para os indivíduais rostos na multidão23.

19LEVI,Giovanni. Sobre a micro história. in: BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora da UNESP, 1992. p.134

20Idem,ibidem p.133

21 BURKE, Peter .O que é história Cultural?.Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 2005 p.60-61

22 Idem,ibidem p.60

23Idem,Ibidem. p 61

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Assim o Microcóspio era uma alternativa atraente para o telescópio, permitindo que as

experiências concretas, individuais ou locais, reingressasem na história24

O Historiador Henrique Espada Lima também vai ao encontro dessas idéias e diz que

a Micro história teria um dialogo com a história social pois esta traria a tona novos

personagens e novos métodos os quais não se enquadravam nas perspectivas historiográficas

tradicionais e marxistas da época.

Nas Palavras de Henrique Espada Lima então:

“ A história Social desenhava-se, portanto na avaliação daqueles historiadores como um instrumento de análise dessas formas de estratificação social que fugiam das noções estereotipadas usadas pela historiografia tradicional marcada,ao menos no caso do marxismo, por uma bipolaridade rígida em direção a uma visão mais atenta á heterogeneidade e que poderia ser, na convição de muitos deles, mais concreta25.

Sobre o Método usado pelos Micro Historiadores Giovanni Levi diz que a micro

história é uma prática essencialmente baseada na redução de escala de observação, em uma

analise microscópica e em um estudo intensivo do material documental. Para a Micro

História, a redução de escala é um procedimento analítico, que pode ser aplicado em qualquer

lugar, independentemente das dimensões do objeto analisado, e o principio unificador de toda

pesquisa micro histórica é a crença em que a observação microscópica revelara fatores

previamente não observados.

Já a historiadora Sandra Pesavento entende que a Micro História seria um método ou

estratégia de abordagem do empírico, que implica o uso conjugado de dois procedimentos:

redução de escala do recorte realizado pelo historiador no tema, transformado em objeto pela

pergunta formulada, e ampliação das possibilidades de interpretação, pela intensificação dos

cruzamentos possíveis, intra e extratexto, a serem feitos naquele recorte determinado.

Segundo ela, esse método que utiliza-se da redução de escala foi considerado um

ganho e um avanço nos métodos utilizados pela historiografia pois, a positividade pode ser

atribuída pela valorização do empírico, resgatando a importância do trabalho de arquivo e

com isso enfatizando que, sem a presença da marca de historicidade a fonte, o traço, o

24Idem,Ibidem p.61

25 LIMA, Henrique Espada. A Micro História italiana: escalas,indícios e singularidades.São Paulo: Record, 2006. p 51

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registro, o indício objetivo de alguém ou algo que teve lugar no passado –, não há trabalho

histórico possível.

Para Sandra Pesavento a Micro História também dialogaria com a chamada Nova

História cultural e seria então:

“ [...]uma postura atualizada e condizente com as preocupações de seu tempo, esta era da dúvida e tempo da suspeita, onde tudo parece se colocar sob interrogação e questionamento, onde se amplia o leque dos possíveis e se reduz o horizonte das certezas.Tal postura garante para a micro-história um lugar privilegiado nesta corrente historiográfica contemporânea que se convencionou chamar de História Cultural ou ainda uma Nova História

Cultural26.

A Micro História se utiliza de um método de analise histórica a qual analisa a história

ao rés do chão ou como analisa Jacques Revel, dando voz aquelas pessoas e comunidades que

muitas vezes passam despercebidas pela história.

Como já falado por vários historiadores a Micro História nasceu como uma resposta

ao desgaste das abordagens historiográficas da sua época, podemos pensar esse dialogo com

os pais fundadores dos Annales Marc Bloch e Lucien Febvre, na questão de que as propostas

destes eram de resposta as abordagens da época que não estavam mais dando conta das

explicações históricas, no caso dos Annales a chamada escola Metódica e a sua historiografia

dita como positivista, e na Micro História as abordagens marxistas econômicas e sociais que

estavam dando sinais de desgastes, ou seja ambas são filhas do seu tempo

Carlo Ginzburg

Entre os historiadores dessa escola historiográfica italiana podemos citar como um dos

mais importantes o historiador Carlo Ginzburg , este historiador possui uma vasta gama de

obras publicadas dentre elas podemos destacar” Os andarilhos do bem” (1966), O queijo e os

26

PESAVENTO,Sandra Jatahy .O corpo e a alma do mundo. A micro-história e a construção do passado. História Unisinos, Vol 8,N.10 Jul/Dez p. 181

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vermes em (1976) Mitos, emblemas, sinais (1986)” História Noturna decifrando o sabá

(1989)” e “ O fio e os rastros, verdadeiro falso ficticio(2006)” .

O historiador Carlo Ginzburg como já dito é uma pessoa de destaque na Micro

História pelas suas obras e as suas contribuições metodológicas ,mas para tentarmos traçar

uma trajetória intelectual com os pais fundadores dos Annales, devemos primeiro pensar

sobre o que seriam os Annales e também discutindo a problemática se haveria uma

continuação ou ruptura nas obras feitas por Ginzburg com o tipo de historiografia feita pelos

pais fundadores dos Annales bem como ele se remete a uma suposta influência deles em suas

obras.

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OS ANNALES E A MICRO HISTÓRIA

Para traçarmos uma trajetória intelectual do historiador Italiano Carlo Ginzburg bem

como suscitar a discussão de possíveis influências francesas vistas em suas obras, devemos

primeiro dizer como foi a troca historiográfica entre franceses e italianos nas décadas de

1950-1970.

Para isso devemos analisar como foi o debate sobre esse assunto pelos historiadores

que se debruçaram sobre esse tema e também analisar o contexto que gerou a Micro história,

assim como foi o dialogo entre historiadores Italianos e Franceses neste período.

Segundo Henrique Espada Lima Falar da influência da historiografia dos Annales

sobre a produção histórica italiana remetia, necessariamente à influencia da obra mediterranée

de Fernand Braudel. Até a publicação desse livro, o interesse dos historiadores franceses pela

Itália era, por um lado, a história contemporânea (A unidade, o século XX, o fascimo) e por

outro os estudos mais próximos do interesse geral dos Annales, sobre a idade Média Italiana.

Esse quadro muda radicalmente com o Mediterranée.

Maurice Aymard, em uma apresentação sobre o “impacto” da revista francesa nos

países mediterrâneos, afirmava que o livro de Braudel havia sido para eles um presente

inestimável” ele Braudel deu lhes um novo mundo mediterrâneo. Ele abriu – lhes os olhos

tanto para suas dimensões especiais quanto para a sua profundidade temporal, para as

limitações do meio e as regulares repetições da vida material, para os longos movimentos da

economia e os rápidos espasmos do curto período27.

Deixando de lado o tom Triunfalista de Aymard, o impacto do livro de Braudel foi

evidente, como demonstra sua rápida tradução tanto para o italiano quanto para o Espanhos já

em 1953(vinte anos antes, como enfatiza o mesmo Aymard , da tradução inglesa).

Peter Burke também fala sobre esse dialogo dos Annales da geração de Braudel e a

Micro História dizendo que somente na época que Fernand Braudel (1956-1968) dirigia a

revista é que os Annales foram conhecidos em toda a Europa, ele também concorda com

27

LIMA, Henrique Espada. A Micro História italiana: escalas,indícios e singularidades.São Paulo: Record, 2006. PP.64-65

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Maurice Aymard em dizer que O mediterranée escrito por Fernand Braudel teve grande

influência na historiografia Italiana daquele periodo.

Historiadores Italianos e Frances tiveram um maior dialogo nessa época, segundo as

palavras de Peter Burke:

“Dois italianos, Ruggiero Romano e Alberto Tenenti, estavam entre os colaboradores mais próximos de Braudel. Alguns dos mais destacados historiadores italianos da década de 50 eram amigos de Febvre e simpatizavam com o movimento dos Annales .Eles vão desde Armando Sapori, historiador dos mercadoresi talianos medievais, a Delio Cantimori, que partilhava do interesse de Febvre nos heréticos do século XVI. A enorme História da Itália, lançada pelo editor Giulio Einaudi em 1972, está centrada no desenvolvimento na longa duração, presta

homenagem a Bloch no título do primeiro volume e inclui um longo ensaio de Braudel28

Maurice Aymard diz que com isso novos problemas e novas oportunidades

começaram a surgir no meio acadêmico Italiano, em primeiro lugar a oportunidade de testar

as hipóteses de Braudel de retomar questões não resolvidas e seguir trilhas abertas por ele.

Com isso a década de 1950 viu um esforço de pesquisas sem precedentes sobre as

fontes Européias. De certa maneira, e pela primeira vez no universo dos Annales, foi colocado

em prática o projeto de História “total” proposto por Mac Bloch em 1928: o de uma história

comparada das sociedades européias; uma história global da Europa que só se torna realizável

a partir do programa de pesquisas desenhado pelo trabalho de síntese de Braudel29.

Essa expansão do universo de pesquisa e a conseqüente ampliação das fronteiras da

investigação historiográfica implicaram igualmente um novo e importante conjunto de

“trocas historiográficas” entre diferentes tradições nacionais de pesquisa histórica.

Essa discussão também foi suscitado por Carlo Ginzburg, Enrico Castelnuovo e Carlo

Poni na coleção chamada “Micro-História e outros ensaios”30 em um capitulo intitulado “ O

nome e o como, troca desigual e Mercado Historiográfico”.

Neste capitulo é dito que haveria uma troca historiográfica entre a Itália e a França

muito desequilibradas e que :

28BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997.pp.109-110

29LIMA, Henrique Espada. A Micro História italiana: escalas,indícios e singularidades.São Paulo: Record, 2006. p.65

30 GINZBURG,Carlo. Micro-História e Outros Ensaios. Lisboa: Difel, 1991.

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22

“A persistência deste equilíbrio de fundo não significa naturalmente que a relação entre historiadores italianos e historiadores Frances (mais precisamente historiadores franceses ligados ao grupo dos Annales) tenha permanecido no decurso de cinquenta anos imutável” 31

Essa discussão também vai ao encontro com a suscitada por Henrique Espada Lima

sobre a circulação de historiadores nos arquivos italianos pois como dito nesse capitulo essa

circulação sempre foi grande e:

[...]a situação de dependência da Itália é notoriamente acompanhada de uma extraordinária riqueza daquele material de documentação sem o qual o historiador não pode trabalhar(Estamos a referirmos não só aos documentos conservados nos arquivos e nas bibliotecas, mas à paisagem, a forma das cidades, à expressão gestual das pessoas: A Itália inteira pode ser considerada um imenso arquivo32.

Henrique Espada Lima suscita essa discussão dizendo que ao analisarmos o contexto

historiográfico que gerou os Quaderni Storici, podemos ver que os Annales serviram como

um “modelo inspirador”, essa discussão sobre a influência da revista francesa sobre a

historiografia italiana havia sido um dos “temas quentes” das discussões entre os historiadores

italianos por toda a década de 197033.

Mas se falamos em influência dos Annales sobre a micro-história, temos que designar

um local onde gerou essas trocas historiográficas, esse lugar poderia ser dito que era sem

duvida a VI Séction da prestigiosa instituição de pesquisa universitária francesa a Ècole

Pratiques dês Hautes Ètudes (EPHE), criada por Lucien Febvre em 1947.

Na década de 1950, já sob a direção de Fernand Braudel , podia ser considerado o

principal centro de pesquisas em ciências sociais da Europa ocidental. E em contrapartida, do

lado italiano, pesquisadores como P. Sardella, Alberto Tenenti, Carlo M. Cipolla, Ruggiero

Romano e Alberto Caracciolo vão desenvolver seus estudos na VI Séction34.

A circulação de pesquisadores nessa instituição não apenas levou historiadores

franceses a trabalhar em arquivos de outros países, mas trouxe igualmente historiadores de

outros lugares para a França. No caso italiano, essa influência da historiografia francesa não 31Idem ibidem.p.170

32 Idem,ibidem p.170

33 LIMA, Henrique Espada. A Micro História italiana: escalas,indícios e singularidades.São Paulo: Record, 2006. p.64

34 Idem, Ibidem. p.66

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23

se deu de outro modo. Não apenas Braudel, mas outros historiadores franceses como Jean

Delumeau, Jacques Heers e Maurice Aymard, debruçaram–se sobre os arquivos italianos,

abrindo caminhos para outros pesquisadores.

Maurice Aymard, que participou desse processo, divide entre as décadas de 1950 e

1970,em três momentos essa sucessiva aproximação entre os Annales e a Historiografia

Italiana.

O primeiro deles, nos anos de 1950, foi marcado pelos estudos da história da Itália

moderna, do “longo século XVI”, baseados nas abundantes fontes italianas que

testemunhavam suas realidades econômicas – registros cartoriais, contabilidades públicas e

privadas, correspondências comerciais, registros portuários e que permitiam uma extensa

quantificação.

O segundo momento, a partir do meio da década de 1970, é influenciado desde o lado

francês pelos estudos de história rural, trabalhos monográficos de caráter regional, como os de

Pierre Goubert sobre o Beuvaisis, René Baehrel sobre a Basse Provence rural ou ainda

Emmanuel Le Roy Ladurie sobre o Languedoc.

Esse novo momento do contato entre as duas historiografias é particularmente

importante aqui, na medida em que essa maior “permanência” traduzia-se em um contato

maior com os pesquisadores locais, na atuação em grupos de pesquisa e mesmo na formação

de pesquisadores na cidade École Française de Rome e na publicação em revistas e editoras

locais.

Em 1972, nas páginas da Rivista Storica Italiana, Furio Diaz, historiador do

Iluminismo italiano e europeu, publicava uma longa resenha tendo como tema precisamente a

recente historiografia francesa sobre o fim do Ancién Regime que intitulava, ironicamente “O

cansaço de Clio”. O artigo que partia de uma crítica de Pierre Chaunu sobre a História da

Europa dês Lumières e sua aproximação quantitativa, era antes de tudo a defesa de uma

história atenta a dimensões não passíveis de quantificação da história ameaçada de ser

colocada a margem e considerada superada pelo novo modelo da história econômica social

proposto pelos franceses.

Segundo Aymard essa foi uma característica da recepção francesa aos Annales: uma

relação “ambígua” marcada pela fórmula do “sim , mas”. Em outras palavras, se por um lado

reconhecia-se a importância de sua contribuição historiográfica, por outro chamava-se a

atenção, como fazia Diaz para o fato de que a proposta não era tão original quanto se

apregoava.

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24

Já na década de 70 se for possível fazer um balanço das relações entre a tradição dos

Annales e a historiografia italiana nesse periodo, naquilo que diz respeito ao debate sobre a

Micro História, este seria marcado pelas incorporações e reproposição de temas importantes

na produção histórica ligada a revista francesa. Assim Carlo Ginzburg e outros historiadores

interessados pela história da cultura discutiam a história das mentalidades, da cultura material

ou da religião. Outros como Giovanni Levi, ligados aos estudos de economia, demografia e de

história social, voltavam-se para os estudos da família e da comunidade. A Antropologia

histórica aparecia como um elemento unificador dessas discussões.35

A rede de influência mútua que se estabeleceu entre historiadores franceses e italianos

Maurice Aymard, Gérard Delille, Jacques Revel e Giovanni Levi são exemplos que vão

permitir não apenas que as discussões da península fossem enriquecidas pela influência

cultural da tradição historiográfica francesa mas também que o debate italiano começasse a

influenciar os termos do debate histórico na França. Mais uma vez, é uma dinâmica

construída sobre projetos comuns, discussões coletivas e no empenho didático de formação de

historiadores no horizonte cultural que estava se formando36.

Assim podemos ver então que houve um dialogo e uma troca historiográfica entre

Franceses ligados aos Annales e Italianos ligados a Micro História mesmo que nem sempre

tivesse se dado de maneira direta mas sim em termos de dialogo tanto entre trabalhos

publicados quanto em obras lidas por ambos.

A “Escola” dos Annales uma problematização.

Após explicado brevemente como se deu o dialogo entre os Annales e a Micro

História , passamos para a discussão sobre o conceito de “Escola” aplicado aos Annales

Pois para pensarmos em uma possível influencia em termos de historiografia entre os

Annales e a Micro historia na figura de Carlo Ginzburg se faz necessário uma

problematização do que seria realmente os Annales se estes se constituíram em uma escola

35

Idem,ibidem.p.85

36Idem,ibidem p.85

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25

historiográfica francesa fechada em si ou se foram um grupo de Historiadores cada um com

sua própria trajetória, e também ter em vista a discussão se haveria algo em comum que uniria

esse grupo de historiadores .

Começo então pela discussão suscitada pelo Historiador Mexicano Antonio Carlos

Aguirre Rojas.

Rojas se posiciona contra o uso do termo “Escola” dos Annales pois segundo ele pelo

fato dos Annales serem mundialmente conhecidos e alguns intelectuais se debruçarem muitas

vezes em trabalhos que visam a discussão dessa corrente historiográfica francesa, esse termo

“Escola” acabou sendo erroneamente consagrado.

Ainda que esse termo foi amplamente difundido ele é amplamente criticado e

desqualificado pelos próprios Annales, pois nas próprias palavras de Rojas :

“Desde o próprio Lucien Febvre até Bernand Lepetit e Jean-Yves Grenier, passando por

Fernand Braudel, Marc Ferro, Jacques le Goff ou Jacques Revel, entre outros multiplicaram-

se as declarações explicitas e as reiteradas negações em torno da legitimidade desta celebre

conotação, seguidas sempre da explicação de que não se trata, em termos estritos, de uma

“escola” – o que implicitamente supõe a essencial unidade de um mesmo projeto intelectual e

de um horizonte teórico metodológico, mantido sem mudanças fundamentais ao longo de

quatro gerações de historiadores – mas apropriadamente de um simples e cômodo

qualificativo.37”

Rojas atenta –se para o fato de que a revista que foi inicialmente batizada de Anais de

História econômica e Social e foi publicada por mais de 70 anos (1929-2001) , teria dado uma

falsa impressão de continuidade e de profunda unidade das sucessivas fases e etapas de vida

da corrente.

37 AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Uma história dos Annales (1921-2001).

Tradução de Jurandir Malerba. Maringá: Eduem, 2004 p.10

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26

O historiador cita as próprias palavras de Lucien Febvre como base de seu argumento

para dizer que os próprios Annales desde o seu inicio não se caracterizavam como um escola.

Analisando as próprias palavras de Lucien Febvre:

“Quanto aos Annales, nem Bloch nem eu jamais pretendemos criar ou construir uma “escola”.. Uma escola é

algo fechado, com um pontífice ou dois no ápice, e com discípulos, atentos em acompanhar os passos do mestre.

Todos adotando os gestos, mentais e verbais, e as vezes até físicos do mestre. Submetem-se todos a uma

disciplina comum, assumindo uma estrita noção da ortodoxia ou da heterodoxia, aplicando-se eventualmente as

censuras e respondendo aos chamados a ordem, que eles mesmos infringem, por seu turno, aos “sectários”.

Nesse sentido, uma escola supõe também a existência de um credo.. Mas isso não perdura. O credo se

desmorona e os temperamentos livres manifestam-se rapidamente. Então, sobre certos pontos essenciais, os

chefes da escola em segunda geração chegam, trinta anos mais tarde, a defender quase exatamente o contrário

daquilo que haviam predicado no principio38.

Fernand Braudel também se posiciona contra esse termo empregado aos Annales

dizendo que :

“ A escola dos Annales não é uma escola no sentido estrito do termo, ou em todo caso apenas o seria no sentido de uma escola literária ou artística. Não se entra para se fazer carreira ou para fechar-se em certos dogmas. Os limites são bastante elásticos. O principio está com Marc Bloch e Lucien Febvre, que foram grandes personagens a quem eu devo muito. Eles são meus predecessores e, ainda que eu me considere da mesma geração cultural de lucien Febvre, ele tinha 24 anos mais que eu, de qualquer modo. Seu desaparecimento em 1956 me fez seu herdeiro. Depois, eu segui meu próprio caminho. Da mesma forma, aqueles que vieram depois de mim – LE Roy Ladurie, Duby, Chaunu, Ferro – tiveram sua própria trajetória pessoal”39.

38 Lucien Febvre, Pro parva nostra domo, Annales E.S.C, ano 8, v.4,1953.

39 Fernand Braudel, La derniére interview du maitre de L’histoire Lente. Le Nouvel Observateur, n 1100,

dez.1985.

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27

Conforme as próprias palavras dos historiadores dos Annales pode-se pensar que eles

não se viam como uma escola, segundo Fernand Braudel cada historiador ligado aos Annales

teria a sua própria trajetória Intelectual .

Podemos então pensar e problematizar qual seria o fator comum que uniria esse grupo,

como já dito por Rojas a revista a qual esses historiadores publicavam deixou sim uma

impressão de unidade e continuidade.

Sobre a unidade dos Annales Rojas diz que :

[..]evidentemente, semelhante unidade não existe no passado, sendo, pois, extemporâneo continuar-se falando de uma “Escola” dos Annales. O que este termo conota é em realidade uma história múltipla, de sucessivos e às vezes muito diferentes projetos intelectuais. Organizando-se materialmente sempre em torno de publicação regular e permanente de uma revista de história, a revista que quase todo o tempo, e salvo em um curto período de três anos, durante a segunda guerra Mundial, manteve em seu título a expressão Annales aqueles sucessivos projetos sofreram o impacto das transformações e das mudanças principais do contexto intelectual francês e europeu40.

Segundo ele essas modificações e a substituições de uns projetos intelectuais por

outros, estão de acordo com as conjunturas sociais e culturais que constituem a própria

história da França, da Europa, e de todo o mundo durante as últimas décadas41.

Sobre a unidade dos Annales o historiador Trevor Ropper tentou responder essa

pergunta sobre qual fator chave uniria esse grupo de historiadores dizendo que os Annales

possuíam um certo “Espírito” ou uma filosofia do método desenvolvida por eles durante as

gerações .

Nas palavras de Trevor Ropper:

Se eu fosse tentar capturar a filosofia da escola dos Annales, enfatizaria três elementos 1º há uma tentativa de aprender a totalidade e a coesão vital de qualquer período histórico ou sociedade [...]; 2ºhá a convicção de que a história é, pelo menos em parte, determinada por forças externas ao homem, mas não são inteiramente neutras ou independentes dele: forças em partes físicas, visíveis e imutáveis ou que mudam lentamente. Como a geografia e

40

AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Uma história dos Annales (1921-2001).

Tradução de Jurandir Malerba. Maringá: Eduem, 2004 pp.10-11

41 Idem,ibidem p.11

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28

o clima; e as que são em parte intangíveis, perceptíveis apenas intelectualmente, como as formações sociais e as tradições intelectuais, 3º) há a determinação, embora sem perder de vista a totalidade da ação42

Segundo Trevor Ropper então os Annales sempre procuraram produzir seus trabalhos

visando uma história total e também procurando o dialogo com outras disciplinas como a

geografia .

Essa discussão retomou com mais fôlego em 1979 na comemoração do cinqüentenário

da publicação do primeiro numero da revista dos Annales, um dos membros do grupo

problematizou a questão da unidade destes historiadores, e procurou responder a ela de forma

particular usando o conceito de paradigma43.

Jacques Revel (1979) se perguntou se ao longo das três gerações dos Annales teria

havido uma permanência , uma continuidade entre a terceira geração e a primeira.

Para ele não haveria um único paradigma ou um “Espírito dos Annales” que justifica

uma unidade entre as gerações , mesmo indo contra esse termo ele não descarta a

possibilidade mas diz que existem inúmeros paradigmas particulares que se sucederam sem se

eliminar44.

Para ele, o que haveria de comum entre os pais fundadores Marc Bloch e Lucien

Febvre que fundarão a revista Annales d'histoire économique et sociale e as outras gerações

que a sucederam não constituindo assim uma “escola”, seria a manutenção do programa

central dos fundadores que seria tirar a história do seu isolamento e aproximar ela das outras

ciências socais.

Por outro lado o historiador André Burguiere diz haver um “programa dos Annales”

para ele :

O programa proposto pelos fundadores consistia fundamentalmente no seguinte: a interdisciplinaridade, a mudança dos objetos de pesquisa, que passavam a ser as estruturas econômico – social – mental, a mudança na estrutura da explicação – compreensão em história, a mudança no conceito de fonte histórica e, sobretudo,

42 REIS,José Carlos. A História entre a filosofia e a ciência. 3.ed., 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.70

43 Idem, ibidem p. 71

44 Idem, ibidem p.71

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29

embasando todas as propostas anteriores, a mudança do conceito de tempo histórico, que agora consiste, fundamentalmente, na superação estrutural do evento” 45

Assim discutida essa problematização do conceito de “Escola” aplicado aos Annales,

podemos observar que esse grupo de historiadores em suas gerações sempre quiseram alargar

os limites do campo da história ou seja continuar com o projeto feito pelos pais fundadores

que seria tirar a história do seu isolamento, fazendo assim um dialogo com outras ciências

humanas esses fatores seriam descritos por alguns historiadores como o “Espírito dos

Annales” e também como um “programa dos Annales” continuado por eles nas suas gerações.

Com as discussões expostas pelos historiadores citados anteriormente, uma idéia ficou

bem implícita em todas as explicações sobre a unidade dos Annales que seria que houveram

vários programas individuais entre os historiadores que estavam ligados aos Annales e que se

modificaram conforme as conjunturas sociais e culturais da França e da Europa

Apesar destes programas ou trajetórias individuais terem se modificado ao longo das

gerações os historiadores ligados aos Annales sempre tiveram um compromisso de

continuação do programa proposto pelos pais fundadores.

Carlo Ginzburg e os Annales.

Com essa discussão de influências e trocas historiográficas e também sobre como se

deu o dialogo entre os historiadores Franceses e Italianos podemos problematizar a seguinte

questão, já que os Annales não se reconhecem como uma escola fechada em si como já

discutido anteriormente e sim um grupo de historiadores cada um com uma trajetória

particular e que tem o compromisso de continuar com o projeto inicial feito pelos pais

fundadores dos Annales que seria tirar a história do seu isolamento,podemos pensar como se

deu essa influência francesa nas obras do Historiador Italiano Carlo Ginzburg bem como foi

feito ou modificado esse programa dos pais fundadores dos Annales.

E também pensando essa discussão de como foram utilizadas ou repensadas as

metodologias desenvolvidas por Lucien Febvre e Marc Bloch nas obras deles e de que modo

elas podem serem percebidas nas obras de Carlo Ginzburg.

45Reis José Carlos. A História entre a filosofia e a ciência. 3.ed., 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p.77-78

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30

Para isso devemos nos remeter a obras como “Os andarilhos do Bem”, “História

Noturna” e “O queijo e os vermes”, obras que podem serem pensadas como havendo um

dialogo com conceitos e métodos usados por Lucien Febvre e Marc Bloch , bem como o

dialogo com a história das mentalidades desenvolvida pelos Annales da década de 70.

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31

CARLO GINZBURG UMA TRAJETÓRIA INTELECTUAL

Tendo discutido brevemente sobre a Micro História e os Annales, passamos então para

a discussão sobre a trajetória intelectual do Historiador Carlo Ginzburg

Antes de entrarmos na discussão de como foi percebido essa influência na obra citada

devemos explicar o que foi a história das mentalidades e como ela foi pensada e desenvolvida

no âmbito francês ligado aos Annales.

A história das Mentalidades

A história das mentalidades e o ramo historiográfico concentrado particularmente no

estudo das atitudes mentais, visões coletivas, universos culturais,sentimentos e crenças de

uma sociedade ou época determinada, preocupada com o exame dos distintos aspectos das

realidades culturais ou mentais dos homens46.

Essa história das mentalidades teve uma aproximação com a antropologia, pois

considerando-se as tantas e tão diversas definições do que sejam essas mentalidades,

ocasionalmente nelas também incluem as realidades estudadas pela antropologia histórica.

Essa linha dos Analles foi cultivada por Jacques Le Goff com a obra “o nascimento do

purgatório” e pessoas mais ou menos próximas à corrente, como Georges Duby, Philippe

Áries, Michel Vovelle, Jean Delumeau entre outros.

Segundo Rojas essa história das Mentalidades foi produzida no Âmbito Francês como

já dito pelos Annales, mas ela não foi continuada por eles, a história das mentalidades

praticada por esses terceiros Annales suscitou, desde sua origem, toda uma série de críticas

sérias e bastante pertinentes. Em primeiro lugar, uma critica ao caráter indefinido e ambíguo

do próprio conceito. Apresentando um caráter mais conotativo que propriamente rigoroso e

articulado em termos teóricos, o conceito de mentalidades foi definido de distintas maneiras

por cada um dos autores, adquirindo um sentido antes de designação de um certo gênero de

problemas, do que propriamente um estatuto claramente estabelecido e estruturado.

46AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Uma história dos Annales (1921-2001). Tradução de Jurandir Malerba. Maringá: Eduem, 2004 p.119

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32

Segundo o autor ainda ele diz que basta comparar com cuidado as definições

diferentes, quando não excludentes, que foram dadas às mentalidades por autores como

Robert Mandrou, Georges Duby, Michel Vovelle, Philippe Áries ou Jacques Le Goff, para se

notar que o conceito nunca alcançou uma elaboração teórica forte e acabada47.

Rojas diz que esse tipo de história foi muito criticada ele aponta algumas definições do

porque de ela ter sido tão criticada e posteriormente abandonada pelos historiadores, segundo

ele a critica a esse conceito de mentalidade foi a de que, devido à falta de sistematização e de

maior rigor, tratava-se de um conceito que deixava em suspenso a relação que teriam as

mentalidades,independentemente do que se entende, com a totalidade do social. O conceito de

mentalidade em sua ambigüidade e indeterminação, deixava completamente em aberto esse

problema, acolhendo posturas que reivindicavam desde a absoluta autonomia e auto

suficiência explicativa do mental, até posições que, ao contrário, pugnavam por estabelecer e

reconstruir de distintas maneiras as conexões com o todo social.

Assim cada autor que se ocupava de usar o termo “Mentalidades” sentia-se obrigado a

dar a sua própria definição das mesmas, cada um resolveu de maneira distinta este ponto de

articulação das mentalidades de articulação das mentalidades com os restantes níveis de ou

dimensões do tecido social. O que confirma o fato já assinalado de que essa história das

mentalidades não é nem um paradigma teórico nem uma perspectiva metodológica, mas tão

somente um novo campo problemático, suscetível de ser abordado de perspectivas, enfoques,

paradigmas e aproximações históricas muito distintas48.

Uma terceira critica central à história das mentalidades é a de seu pretendido caráter

tranclassista ou universal. Ao se aceitar a definição de Jacques Le Goff, de que a mentalidade

é aquilo “que compartilhava Napoleão com o mais humilde de seus soldados, ou Cristovão

Colombo com o último de seus marinheiros”, esvazia-se o papel fundamental do conflito de

classes na esfera cultural, e também a muito relevante distinção entre a cultura das classes

dominantes e a cultura popular. Dois parâmetros de análise dos fenômenos culturais, que ao

serem ignorados, comprometem inevitavelmente toda a análise possível dessas heterogêneas

realidades incluídas no termo mentalidades.

47

Idem,ibidem p.122

48 Idem,ibidem p.123

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33

Ainda que houve muitas criticas a essa história das mentalidades ela foi amplamente

difundida tanto na França quanto fora dela durante a conjuntura dos anos 1968 –1989.

Mesmo esta sendo um ramo historiográfico Francês ela foi mais produzida fora da

academia francesa do que dentro dela.

Segundo Antonio Carlos Aguirre Rojas:

“Embora autores como Le goff também tenham contribuído para a construção da história das mentalidades, não foram eles nem os pioneiros que relançaram nos anos 60 e 70- pioneiros como Robert Mandrou, Georges Duby, Michel Vovelle e Philippe Áries -, nem mesmo seus únicos representantes relevantes”49.

Assim Carlo Ginzburg foi um dos continuadores da história das mentalidades proposta

por Lucien Febvre como já foi discutido, mesmo anos depois da primeira edição da obra ele

tenha mudado de propostas metodológicas .

Os andarilhos do bem (1966).

A obra intitulada “Os andarilhos do bem “ foi uma das primeiras obras de Carlo

Ginzburg datada de 1966 com o titulo original de “I benandanti: stregoneri e culti agrari tra

Cinquecento e Seicento". Nesta obra ele estuda a mudança das atitudes religiosas dos

camponeses em vista da pressão exercida pela Inquisição. Ao focalizar um culto

fundamentalmente agrário de raízes pagãs, Ginzburg capta as mudanças sutis operadas pelos

mecanismos de repressão até transformá-lo num culto diabólico.

A pesquisa sobre "Os Andarilhos do Bem" circunscreve-se à região do Friul, nordeste

da Itália, e ao período que se estende do final do século XVI até meados do século XVII.

Valendo-se de fontes inquisitoriais, o autor percorre o fascinante trajeto de recuperação de

vozes camponesas, sufocadas pela mentalidade deformadora dos inquisidores e, a partir de

idéias aparentemente soltas e desconexas, constrói o vasto tecido de crenças populares da

época. Nesta obra podemos ver uma aproximação a “história das mentalidades” desenvolvida

pelos Annales da primeira geração e posteriormente retomada pela terceira geração pós-68 .

49

Idem,ibidem p.120

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34

Bem como pode-se observar as influências metodológicas propostas por Lucien

Febvre na sua obra “Le problème de l'incroyance au XVI siècle: la réligion de

Rabelais(1946), conceitos como “mentalidades coletivas” e “mentalidades individuais” são

usadas nesta obra, Carlo Ginzburg se remete a essa suposta influência, no prefácio da obra

dizendo:

“Estudei nesse livro as atitudes religiosas e, em sentido lato a mentalidade de uma sociedade camponesa – a friuliana – entre o final do século XVI e meados do século XVII, de um ponto de vista extremamente circunscrito: a história de um núcleo de crenças populares que, pouco a pouco, em decorrência de pressões bastante precisas, foram assimiladas à feitiçaria50”

Com estas palavras de Ginzburg podemos pensar então que ele teve uma aproximação ou uma

possível influência por parte da metodologia desenvolvida por Lucien Febvre na sua obra

“Rabelais”, ele retomou essa discussão em um Pós- escrito de 1972 o qual ele diz :

“ Hoje não repetiria mais a ingênua contraposição entre “mentalidade coletiva” e “atitudes individuais”. É claro que este livro também é , ao seu modo, um estudo sobre a mentalidade” coletiva” ( no sentido de não meramente individual). Mas havia algo que me induzia a recusar esse termo – mesmo tendo bem presente o meu débito para com Lucien Febvre e o filião de pesquisas que ele propusera e, sob certos aspectos, inaugurara51.”

Podemos então observar que Ginzburg nesse primeiro momento teve um diálogo com

Lucien Febvre e sua escrita da história e usou conceitos como “mentalidade coletiva” e

“atitudes individuais” nessa obra.

Essa obra marca o fim da história das mentalidades usada por ele, bem como a

aproximação com as metodologias desenvolvidas por Lucien Febvre.

50

GINZBURG,Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia das Letras, 1988 p.7

51 Idem,ibidem pp.15-16

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35

O queijo e os vermes (1986)

A obra “O queijo e os vermes”, é a obra a qual fez Ginzburg ser conhecido no meio

acadêmico,ele demonstra como a visão de um moleiro perseguido pela inquisição chamado

Domenico Scandella, conhecido como Menocchio pode ajudar compreender algo maior do

que ele, ou seja os mecanismos da sociedade a qual ele vivia bem como a mentalidade da sua

época.

Segundo Peter Burke o livro pode ser descrito como uma “história vista de baixo”

porque se concentra na visão de mundo de um membro do que o marxista italiano Antonio

Gramsci chamava de “classes subalternas”52.

Menocchio dizia perante comissões inquisitoriais, que o universo havia sido criado de

um colossal queijo podre e que Deus e os anjos eram originariamente vermes que habitavam

seu interior.

Na análise do historiador, aquele relato revelava um conflito entre duas culturas que

ainda habitavam, no século XVI espaços similares. A cultura dos inquisidores, erudita, de

saber clerical, a qual tendia a classificar as idéias do moleiro segundo diagramas cultos de

conhecimento, com seus tratados de demonologia, seus bestiários e processos anteriores. E do

outro lado, a cultura de Menocchio, popular, com raízes em remotas tradições camponesas, as

quais davam uma interpretação amplamente não canônica a origem católica do mundo,

Menocchio sabia ler e Ginzburg conseguiu inclusive mapear os livros que teria lido e havia

interpretado os códigos da cultura erudita.

Para isso Ginzburg emprega o conceito de “circularidade cultural”, termo tomado de

empréstimo a Mikhail Bakhtin que seria:

“A circularidade, ou seja, o “[...] influxo recíproco entre cultura subalterna e cultura hegemônica, particularmente intenso na primeira metade do século XVI53”

52

BURKE, Peter .O que é história Cultural?.Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p.62

53 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras,1986 p.13

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36

Assim Ginzburg vai contra o termo de “Mentalidades coletiva”s e “Mentalidades

individuais” desenvolvido por Lucien Febvre , pois o termo Circularidade cultural sugere que

há uma circularidade entre a cultura Erudita e a cultura popular, pois Menochio era um

camponês que teve acesso a cultura erudita da época pelos livros os quais ele leu e formou

assim uma opinião sobre as questões ligadas a igreja.

Sobre a história das Mentalidades Ginzburg se posiciona quanto a fragilidade desta e

dos problemas teóricos que ela possue dizendo que:

“[...] a conotação terminantemente interclassista da história das mentalidades. Esta, como ja foi dito, estuda o que tem em comum "Cesar e o ultimo soldado de suas legiões e, São Luis e o camponês que cultivava as suas terras, Cristovão Colombo e o marinheiro de suas caravelas". Nesse sentido, na maior parte das vezes, o adjetivo coletiva acrescentado a "mentalidade" é pleonástico. Ora, não queremos negar a legitimidade de investigações desse tipo, porem o risco de chegar a extrapolações indevidas é muito grande. Ate mesmo um dos maiores historiadores deste século, Lucien Febvre, caiu numa armadilha desse gênero. Num livro inexato mas fascinante, tentou, através da investigação sobre urn individuo - ainda que excepcional, como Rabelais -, identificar as coordenadas mentais de toda uma era54.”

Assim Carlo Ginzburg se posiciona contra a história das mentalidades, pois como ele

mesmo disse ela procura ser universal ou como citado acima “identificar as coordenadas

mentais de toda uma era”. Sobre a Obra Rabelais de Lucien Febvre ele a critica dizendo que:

“Enquanto se trata de demonstrar a inexistência de um presumível "ateísmo" em Rabelais, nenhum problema. Entretanto, quando se adentra o terreno da "mentalidade (ou psicologia) coletiva", sustentando que a religião exercia sobre "os homens do século XVI" uma influencia, ao mesmo tempo, profunda e opressora, da qual era impossível escapar, como não escapou Rabelais, a argumentação se toma inaceitável.55”

Dessa maneira nessa obra, Ginzburg procura ver a particularidade da visão de mundo

de Menocchio, ou seja ele emprega o termo “circularidade cultural” em detrimento de

54

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras,1986 p.24

55 Idem,ibidem p.24

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“Mentalidades”, não colocando assim como uma visão de mundo que refletia o pensamento

de toda uma época histórica, segundo ele :

“O termo circularidade: entre a cultura das classes dominantes e a das classes subalternas existiu, na Europa pré-industrial, um relacionamento circular feito de influências recíprocas, que se movia de baixo para cima, bem como de cima para baixo [...]56“

Ginzburg também procura fazer uma análise de classes em detrimento de uma análise “interclassista” feita pela história das mentalidades citando diretamente Lucien Febvre dizendo que:

Com isso não se está de maneira alguma afirmando a existência de uma cultura homogênea, comum tanto aos camponeses como aos artesãos da cidade (para não falar dos grupos marginais, como os vagabundos), na Europa pré-industrial. Apenas se esta querendo delimitar urn âmbito de pesquisa no interior do qual e preciso conduzir analises particularizadas como a que fazemos aqui. Só desse modo será possível eventualmente generalizar as conclusões a que se chegou neste estudo”[..] Uma analise de classes é sempre melhor que uma interclassista “.57

Apesar das críticas a Lucien Febvre, ele reconhece que o método desenvolvido por ele

é exemplar em traçar fios que liguem os indivíduos a uma sociedade historicamente

determinada.

“Apesar desses limites, o modo como Febvre consegue separar os múltiplos fios que liguem um individuo a um ambiente, a uma sociedade, historicamente determinados, permanece exemplar.Os instrumentos que usou para analisar a religião de Rabelais podem servir também para analisar a religião, tão diversa, de Menocchio. Em todo caso, a esta altura ja deve estar claro porque à expressão "mentalidade coletiva" seja preferível a também pouco

satisfatória expressão "cultura popular58".

Assim Ginzburg procurou mostrar nessa obra a “cultura popular” em detrimento de

uma história das mentalidades.

56

Idem,ibidem, p. 13

57 Idem,ibidem p.25

58 Idem,ibidem p.25

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História Noturna(1989)

Segundo Guilherme Nannini Silva, Ginzburg publicou História noturna: decifrando o

sabá na Itália em 1989 e no Brasil em 1991, esse é seu último livro a respeito da cultura

popular. Na busca das raízes folclóricas do sabá o autor estudou, mais uma vez, feitiçaria e

cultos agrários, contudo o objeto foi expandido para muito além das fronteiras do Friul –

região que se desenrolam os processos contra os benandanti no primeiro livro da série

estabelecida59

Nesta obra é percebido mais precisamente o quanto Ginzburg se afastou das

metodologias desenvolvidas por Lucien Febvre, fazendo assim uma ruptura com as história

das mentalidades, no prefácio analisado da obra ele nem chega sequer a citar Lucien Febvre

ou falar da história das mentalidades, ele cita Marc Bloch no prefácio dizendo que no

primeiro capitulo da obra faz uma história parecida com a de Marc Bloch em Les rois

thaumaturges.

Mas isso é contestado por ele mesmo em uma entrevista quando perguntando sobre

uma suposta influência de Marc Bloch sobre o “ídolo das origens” o qual Marc Bloch

denunciou em seus trabalhos, Ginzburg responde dizendo que:

“Sou ainda fiel a essa idéia de Bloch concordo em que a permanência de uma instituição não pode ser explicada pelas suas origens, ou melhor , pelo seu estágio inicial. Ele não dizia que não se devia buscar origens, mas criticava a idéia de transformar a explicação dos estágios iniciais de uma instituição em razões para a sua persistência. O que pode causar a impressão de que eu próprio procurava contradizer Bloch no meu História noturna é que me inspirei muito em Lévi Strauss e me interessei pelo que dizia sobre estrutura versus história”60. Assim essa obra é muito mais uma aproximação a conceitos propostos por Lévi

Strauss e a antropologia simbólica, no lugar das metodologias desenvolvidas por Marc Bloch

ou Lucien Febvre.

59

OLIVEIRA,Guilherme Nanini da silva. O mito e o rito na história noturna: uma análise da obra de Carlo

Ginzburg. Monografia (Bacharelado e Licenciatura em História). Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010. p.37

60 PALLARES BURKE,Maria Lúcia. As muitas faces da história. São Paulo: Unesp, 2000.PP.286-287

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CONCLUSÃO

Podemos compreender então que os historiadores ligados a Micro História desde o seu

surgimento nos artigos da revista Quaderni Storici’na década de 70 e depois pela criação da

coleção chamada “Micro-História” dirigida por Carlo Ginzburg e Giovanni Levi em 1981,

tiveram uma aproximação com os Annales,mais precisamente desde a época Braudeliana com

a obra o “La Méditerranée et le Monde Méditerranéen a l'époque de Philippe II(1949)” a

qual foi de grande ajuda para fazer os Annales serem reconhecidos fora do circulo intelectual

Francês.

Mesmo havendo um dialogo entre historiadores franceses e italianos essa relação com

a historiografia francesa foi feita de maneira Ambígua.

Podemos perceber como se deu essas trocas historiográficas entre a Micro História e

os Annales, na década de 70 onde houve um dialogo com a história das mentalidades, pois

podemos perceber que tanto Carlo Ginzburg quanto Jacques Le goff tiveram trabalhos

desenvolvidos que podem serem descritos como trabalhos ligados a história das mentalidades,

como a obra “O Nascimento do Purgatório” do historiador Jacques Le goff e a obra “Os

Andarilhos do Bem” do historiador Carlo Ginzburg.

Para isso é necessário dizer qual tipo de história das mentalidades eles tiveram essa

aproximação.

Segundo José Adil Blanco, o Historiador Ronaldo Vainfas tentou delimitar quatro

variantes da história das mentalidades. A primeira seria aquela dos fundadores dos Annales,

que muito deve aos estudos antropológicos de Lucien Lévy-Brhul e aos estudos sociológicos

de Emilé Durkheim (representados por Marc Bloch e Lucien Febvre). A segunda seria aquela

que é herdeira da tradição de Bloch e Febvre, reconhecendo que o estudo do mental só tem

sentido se vinculado com as totalidades explicativas (caso de historiadores como Jacques Le

Goff, Jean Delumeau, Georges Duby, Philippe Ariés e Emmanuel Le Roy Ladurie). A terceira

seria aquela que possui formação marxista, preocupada em relacionar mentalidades com

ideologia, assim como minorar a frialidade da longa duração (exemplos de Michel Vovelle e

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Robert Mandrou). A quarta e última seria a história das mentalidades que o autor brasileiro

chama de “pouco problematizada”61.

Assim historiadores como Carlo Ginzburg tiveram uma aproximação com a historia

das mentalidades ligada a Lucien Febvre, o qual a desenvolveu em suas obras como exemplo

a obra intitulada “Le problème de l'incroyance au XVI siècle: la réligion de Rabelais(1946).

Essa influência pode ser percebida na obra “Andarilhos do Bem” Ginzburg usou

conceitos como mentalidade coletiva e mentalidades individuais para descrever as atitudes

religiosas camponesas, essa obra também marcou o fim do uso da história das mentalidades

nas obras produzidas por ele.

Mesmo Ginzburg não sendo ligado aos Annales os quais aqui são pensandos pela

hipótese de que não se constituíam uma escola historiográfica francesa fechada em si, ele teve

uma aproximação a essa metodologia desenvolvida no âmbito intelectual francês na obra já

citada.

Na obra “O queijo e os vermes” ficou claro essa superação da história das

mentalidades que é ligada ao modelo francês feito por Lucien Febvre e Marc Bloch como já

dito por Ronaldo Vainfas .

Ginzburg além de não seguir o modelo metodológico visto na sua obra anterior,

também superou este apontando os erros deste, como visto ao analisar o prefácio da obra.

Nesta obra fica claro que Ginzburg migrou por assim dizer para uma nova proposta metodológica ou micro histórica por assim dizer, em detrimento de uma história das mentalidades. Pelo prefácio analisado isso fica muito claro quando ele faz uma critica à história das

mentalidades está por tentar generalizar toda a mentalidade de uma época, em detrimento

disso ele procura fazer uma história das “cultura populares” dando ênfase ao micro a

particularidade, mostrando que Menocchio era o exemplo de uma mentalidade distinta da

época a qual ele pertencia mas não fazendo assim uma generalização de que isso seria o

reflexo de toda uma mentalidade constituída historicamente daquele período.

61

LIMA, José Adil Blanco de. Das mentalidades à micro-história: a trajetória de Ginzburg. Monografia (Bacharelado e Licenciatura em História). Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.p.6

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Portanto o conceito de “circularidade cultural” foi uma ferramenta muito útil para

Ginzburg poder compreender a cultura a qual Menocchio possuía, nesse ponto a história das

mentalidades estilo Lucien Febvre não conseguiria dar conta de trabalhar com o objeto o qual

Ginzburg trabalha na sua obra, que seria perceber em Menochio tanto a cultura popular de

uma época quanto erudita .

Assim mesmo Ginzburg tendo citado Lucien Febvre no prefácio e dito que a sua obra

“Le problème de l'incroyance au XVI siècle: la réligion de Rabelais(1946)”possui erros

ingênuos , ele não descarta a possibilidade de esta ser muito útil para traçar as mentalidades

de uma época.

Já a obra “História Noturna” esta não foi possível perceber uma aproximação com

Lucien Febvre, como já dito isso mostra mais uma vez o distanciamento do dialogo com a

história das mentalidades e uma aproximação com a antropologia de Levi Strauss, Marc

Bloch é citado no prefácio analisado mas não seguido metodologicamente na obra.

Analisando assim as obras descritas anteriormente podemos perceber então que Carlo

Giznburg teve essa relação ambígua com as metodologias desenvolvidas por Lucien Febvre e

Marc Bloch, isso se deve ao fato de que a história das mentalidades pelas várias criticas como

já exposto por Antonio Carlos Aguirre Rojas, não possibilitou assim uma melhor

compreensão metodológica por parte dos historiadores.

Carlo Ginzburg utilizou-se dela em seu trabalho, mas ele com a aproximação com a

antropologia percebeu que este ramo historiográfico carência de melhores fundamentos

metodológicos.

Ginzburg é mais um caso dos historiadores que começaram na história das

mentalidades mas aos poucos migraram para a micro história e a nova história cultural.

Durante a terceira geração dos Annales os historiadores ligados a história das

mentalidades também aos poucos perceberam que este ramo historiográfico possuía uma

carência de uma melhor compreensão metodológica, exemplo disso os trabalhos de Jacques

Le Goff e Georges Duby, ambos tiveram obras que podem ser descritas como sendo da

história das mentalidades, mas estes não desenvolveram trabalhos posteriores usando

novamente essa metodologia.

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FONTES

Prefácio e Pós-escrito de 1972. In: GINZBURG,Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia das Letras, 1988.

Prefácio in :GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras,1986

Prefácio in: GINZBURG, Carlo .História noturna:decifrando o sabá. São Paulo: Companhia das Letras,1991.

BURKE,Maria Lúcia Pallares. As muitas faces da história. São Paulo: Unesp, 2000.

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Referências Bibliográficas

LIMA, Henrique Espada. A Micro História italiana: escalas,indícios e singularidades.São Paulo: Record, 2006.

GINZBURG,Carlo. Micro-História e Outros Ensaios. Lisboa: Difel, 1991

AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Uma história dos Annales (1921-2001). Tradução de Jurandir Malerba. Maringá: Eduem, 2004

REIS, José Carlos. A História entre a filosofia e a ciência. 3.ed., 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2006

LEVI, Giovanni. A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000

BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da

Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997

BURKE, Peter .O que é história Cultural?.Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 2005

LEVI,Giovanni. Sobre a micro história. in: BURKE, Peter. A escrita da história: novas

perspectivas. São Paulo: Editora da UNESP, 1992.

PESAVENTO,Sandra Jatahy .O corpo e a alma do mundo. A micro-história e a construção do passado. História Unisinos, Vol 8,N.10 Jul/Dez

REIS, José Carlos. História e Teoria. Historicismo, Modernidade, Temporalidade e Verdade. Rio de Janeiro: ed. FGV, 2003.

BLOCH, Marc. Apologia da História: ou oficio de historiador. Rio de Janeiro: Jorge

Zarah Editor, 2001.

ROIZ,Diogo da Silva .O movimento dos Annales e a escrita da sua história, Ágora, Santa Cruz do Sul, v. 13, n.2, p. 277-283, jul./dez. 2007

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LIMA, José Adil Blanco de. Das mentalidades à micro-história: a trajetória de Ginzburg. Monografia (Bacharelado e Licenciatura em História). Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

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