UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ -...
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ -...
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRPPG – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação IV SIEPE – Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão XX EVINCI – Outubro de 2012
Estudo da evolução e aplicação da terra em habitações unifamiliares
Pillar Muzillo IC-Bolsa/TN Orientador: Prof. Dr. Antonio Castelnou Projeto: Habitações em terra: da arquitetura vernácula aos princípios da Green Architecture BANPESQ/THALES: 201125331
OBJETIVOS:
Abordar os princípios da arquitetura em terra, os quais permitiriam classificá-la como mais sustentável que outras tecnologias de construção,
partindo-se do estudo de sua evolução histórica até sua prática contemporânea; De modo específico, selecionar, descrever e
analisar 04 (quatro) exemplares que ilustrariam a citada técnica.
JUSTIFICATIVAS:
A atual discussão sobre a busca de alternativas mais sustentáveis para a construção civil tem promovido uma série de pesquisas sobre materiais e tecnologias que garantam menor impacto ambiental e reduzam ao máximo o desperdício energético, o que vem ocorrendo tanto no país como no mundo.
Uma das tendências corresponde justamente ao resgate de técnicas vernáculas, das quais a arquitetura em terra tem se destacado, por encontrar suas bases na própria história das construções e estar fundamentada na memória, prática e tradição popular de muitas sociedades, incluindo o Brasil.
METODOLOGIA:
De caráter teórico e exploratório, a pesquisa seguiu, basicamente, as seguintes etapas:
I. Revisão Bibliográfica e Coleta de Dados: Leitura e fichamento de textos;
II. Seleção e Mapeamento de Obras: Busca de exemplares para análise qualitativa;
III. Análise e Avaliação dos Casos: Descrição e análise de suas características funcionais, técnicas e estéticas voltadas à sustentabilidade do projeto e construção;
IV. Conclusão e Redação Final: Elaboração do relatorio de pesquisa e apresentação oral.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Seleção de 04 obras construídas com terra que tivessem diferentes condicionantes climáticas, bem como distância cronológica – abrangendo o período desde a década de 1960 até os dias de hoje, fora e dentro da país.
Buscou-se, assim, maior variedade quanto às possibilidades de uso do material, além da evolução de seu uso dentro do período estabelecido.
CASO I - Anos 1960/70: New Baris Village (1967, Kharga, Egito)
CASO II - Anos 1980: Hörnerkirchen House (1987, Hamburgo, Alemanha)
CASO III - Anos 1990: Vivienda Rodriguez (1998, Montevideo, Uruguai)
CASO IV - Anos 2000: Casa Taipa (2008, Limeira SP, Brasil)
CASO I
Obra: New Baris Village (1967) Autor: Hassan Fathy Localização: Oásis de Kharga, Egito Clima: Quente
Conjunto residencial executado após a
descoberta de uma fonte d'água a 6 km;
Inspiração na arquitetura vernácula local
(introversão, presença de pátios internos
e ruas estreitas, periodicamente cobertas,
criando áreas sombreadas);
Sistema de túneis de vento (ventilação e
climatização natural, favorecendo
também o armazenamento de grãos e
outros alimentos no subsolo).
O projeto, entretanto, não chegou a ser
concluído devido à Guerra dos Seis Dias
(1967).
Análise:
Facilidade de obtenção da matéria-
prima (terra), extraída do próprio
local da obra;
Uso de técnicas e elementos
tradicionais como arcos e abóbadas
(identidade cultural);
Tecnologia de baixo custo e pouco
impacto ambiental (superação de
condições regionais hostis);
Criação de pátios e corredores
para sombreamento e circulação de
ar (conforto ambiental);
Iluminação e ventilação naturais
por meio de elementos vazados e
tuneis de vento (economia
energética).
Discussão: Retomada da arquitetura tradicional egípcia – importante na superação das condições impostas pelo clima (adequação climática), bem como na identificação entre o projeto e o usuário (identidade cultural).
CASO II
Obra: Hörnerkirchner House (1987) Autor: Dirk Bäumer Localização: Hamburgo, Alemanha Clima: Frio
Casa em dois pavimentos e planta livre
(116m²) com uso da terra associada a outros
materiais (madeira e concreto), tanto para
estrutura quanto para isolamento.
Paredes externas construídas c/quadros de
madeira preenchidos com barro acrescido de
argila expandida e isolamento térmico
adicional (lã mineral e ar), sobre o qual foram
aplicadas tábuas;
Paredes internas erguidas também
c/quadros de madeira, mas preenchidos
c/alvenaria de tijolos reciclados;
Estufa integrada ao ambiente interno da
casa (luz natural) e aquecedor a gás
c/painéis de água quente ao nível do piso.
Análise:
Emprego da terra associada
a outros materiais tradicionais
(tijolo, fibra de coco e cortiça);
Aproveitamento de antigos
materiais (tijolos) por meio da
reciclagem (barateamento e
ampliação da vida útil dos
materiais de construção);
Utilização da luz natural,
graças à estufa incorporada
à casa (economia energética);
Uso de tecnologias de
menor impacto ambiental
(conforto ambiental e
isolamento térmico).
Discussão:
Uso da terra em
associação com outros
materiais, alguns dos quais
provêm de obras anteriores
(baixo impacto ambiental);
Incorporação de uma
estufa ao corpo da casa:
forma de obtenção de luz
natural;
Superação do clima frio
por meio do isolamento
térmico e do aquecimento
a gás (ênfase ao conforto
ambiental).
CASO III
Obra: Vivienda Rodriguez (1997/98) Autores: Kareen Herzfeld/ J. Luis Mazzeo Localização: Montevideo, Uruguai Clima: Temperado
Casa com dois pavimentos (120m²)
construída em argila, palha de trigo e
madeira, extraídos do próprio local da obra;
Alicerce em concreto (isolamento das
paredes da umidade do solo e da chuva);
Estrutura (pilares e vigas) executada em
madeira (taquaras de eucalipto da região);
Paredes de argila e palha de trigo, inseridas
em cofragem de madeira (reboco com argila,
areia, cal e palha por dentro e mistura
reforçada com cimento por fora) c/tubulação
e instalação elétrica embutidas.
Aproveitamento máximo da energia solar
passiva (aberturas ao N e fechamento p/o S)
Análise:
Possibilidade de auto-
construção e rapidez
construtiva;
Facilidade de obtenção de
materiais (argila, palha e
madeira);
Adequação topográfica e
climática (menor impacto
ambiental);
Bom isolamento térmico e
economia energética (energia
solar passiva);
Bom resultado estético,
iluminação, ventilação e
amplitude espacial.
Discussão:
Construção a partir do material disponível em seu próprio entorno, utilizando
– assim como no caso anterior – diferentes materiais associados à terra:
maiores possibilidades técnicas e estéticas (economia e criatividade).
Rapidez construtiva e adaptabilidade à topografia local
Aproveitamento de energia solar ativa e, principalmente, passiva (baixo
impacto ambiental).
CASO IV:
Obra: Casa Taipa (2008) Autor: Marcelo Venâncio Localização: Limeira, SP, Brasil Clima: Subtropical úmido
Casa com 07 cômodos e 90m² de área, feita
em estrutura de tijolos de solo-cimento;
Vedações externas em taipa de mão e
internas em pau-a-pique, c/armação interna de
eucalipto e bambu;
Estrutura do telhado e piso dos dormitórios
em eucalipto; e rebocamento com uma mistura
de terra, areia, água e cimento;
Revestimento interno e esquadrias
reaproveitados de construções anteriores.
O projeto utilizou também soluções para
economia energética (ventilação cruzada,
captação de águas pluviais e aquecimento
solar), sendo descrita como uma opção de
baixo custo, a R$ 70,00 por m² .
Análise:
Aproveitamento de recursos
disponíveis no terreno (terra);
Uso de tecnologias de baixo
impacto ambiental, como bambu
e eucalipto (madeira de
reflorestamento);
Bom isolamento térmico e
ventilação natural;
Aproveitamento da energia
solar e das águas pluviais
(economia energética);
Baixo custo financeiro
(sustentabilidade
socioeconômica).
Discussão:
Retomada de técnicas tradicionais de construção (taipas de mão e de pilão),
às quais foi acrescida também a reciclagem de materiais descartados de
obras anteriores
Aproveitamento da luz solar e a captação de águas pluviais (economia
energética).
Baixo custo financeiro, o que lhe tornaria uma alternativa acessível a
diferentes camadas sociais (ponto relevante na discussão da Green
Architecture, que defende a universalidade de suas soluções arquitetônicas).
CONCLUSÕES:
Similaridades entre os quatro exemplares: abordagem quanto à questão do conforto ambiental, bem como na escolha de materiais empregados, priorizando a iluminação e ventilação naturais e aos materiais de baixo impacto ambiental, podendo estes ser, inclusive, reaproveitados ou reciclados. À exceção do , todos os demais possuem área entre 90 e 120m². O uso da terra crua, seja na forma de adobe ou taipa, além de reduzir custos com materiais industrializados e transporte, representa uma alternativa mais sustentável e potencialmente eficaz na solução de questões relativas ao conforto ambiental;
Embora seja um material que necessite de cuidados para garantir maior resistência e durabilidade, vem compor uma das opções tecnológicas para a obtenção de uma arquitetura de menor impacto ao meio ambiente e maior acessibilidade socioeconômica;
O fato de ser um material física e economicamente acessível, bem como de apresentar características técnicas aparentemente adequadas e de baixo impacto ambiental, a terra crua possibilita atender de forma satisfatória às premissas da Green Architecture. Tendo isto em vista, faz-se necessário um estudo de maior profundidade técnica acerca de suas possibilidades de uso, bem como de sua aplicabilidade em diferentes contextos – o que seria feito por meio do desenvolvimento de novas pesquisas, de caráter científico.
O presente estudo, de caráter introdutório, atingiu seus objetivos de iniciação ao tema específico – arquitetura de terra –, contribuindo deste modo para o despertar do interesse para a pesquisa e ação na área de sustentabilidade nas construções civis.
FONTES DE CONSULTA:
ARCHNET. Hassan Fathy. Disponível em: <http://archnet.org/library/documents/onedocument.jsp?document_id=4354 >. Acesso em: 20.jun.2012.
BIBLIOTHECA ALEXANDRINA. Hassan Fathy. Disponível em: <http://www.bibalex.org/attachments_en/Publications/Files/hassan_fathy.pdf>. Acesso em: 20.jun.2012.
CONTIN, A. Em Limeira, uma casa ecologiocamente correta. In: JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO (24.set.2008). Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,em-limeira-uma-casaecologicamente-correta,247036,0.htm >. Acesso em: 25.jun.2012.
ECOCASA. Disponível em: <http://www.ecocasa.com.br/produtos.asp?it=849651>. Acesso em: 25.jun.2012.
MINKE. Manual de construccion en tierra: La tierra como material de construcción y sus aplicaciones en la arquitectura actual. 2. ed. Montevideo: Nordan-Comunidad, 2001.
PLANETASUSTENTÁVEL. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/album/premio-planetacasa-categoria-projeto-arquitetonico-508824.shtml?foto=1>. Acesso em: 08.jul.2012.
PROYECTO HORNERO. Disponível em: <http://proyectohornero.itgo.com/Html/jotapgEj.html>. Acesso em: 20.jun.2012.