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Universidade Federal do Rio de Janeiro CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO: UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO Viviane Conceição Antunes Lima 2009

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO:

UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Viviane Conceição Antunes Lima

2009

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CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO:

UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Viviane Conceição Antunes Lima

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Neolatinas (Língua Espanhola).

Orientadora: Profª. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio Co-orientador: Prof. Doutor Mario Eduardo Toscano Martelotta

Rio de Janeiro

Dezembro / 2009

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CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO:

UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Viviane Conceição Antunes Lima

Orientador(es): Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Prof. Doutor Mario Eduardo Toscano Martelotta

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas

(Estudos Linguísticos: Espanhol), Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em

Letras Neolatinas.

Aprovada por:

___________________________________________________________

Presidente, Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio (UFRJ)

______________________________________________________ Prof. Doutor José Carlos de Azeredo (UERJ) ______________________________________________________ Profª. Doutora Maria Maura da Conceição Cezario (UFRJ) ______________________________________________________ Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (UFRJ) ______________________________________________________ Profª. Doutora Neide Therezinha Maia González (USP) ______________________________________________________ Profª. Doutora Leticia Rebollo Couto (UFRJ) ______________________________________________________ Profª. Doutora Maria del Carmen Fátima González Daher (UFF)

Rio de Janeiro Dezembro de 2009

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Lima, Viviane Conceição Antunes.

Casos de Reinterpretação do ‘Le’ Mexicano: Um Fenômeno de Gramaticalização/ Viviane Conceição Antunes Lima. – Rio de Janeiro: UFRJ / FL, 2009. xviii,138f.: il.; 31 cm. Orientadora: Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio Co-orientador: Mario Eduardo Toscano Martelotta Tese (doutorado) – UFRJ / FL / Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, 2009. Referências bibliográficas: f.138-187. 1. Funcionalismo. 2. Gramaticalização. 3. Variante Mexicana. 4. Reinterpretação Dativa. 5. Casos de Despronominalização do Átono ‘le’. I. Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas. III. Título.

v

Dedico esta tese a Ti, Meu Senhor e Meu Deus.

Agradeço-Te, Senhor, por cada lágrima que derramei, tenho certeza de que a Tua luz não me

permitiu desistir. Sou grata pela intercessão de Nossa Senhora de Fátima, de São Jorge

Guerreiro, de Santo Antônio, de Nossa Senhora de Guadalupe e dos Anjos Protetores,

companheiros incansáveis. Também Te rendo graças por cada dom que o Divino Espírito

Santo derramou sobre mim e por cada conta de terço que dediquei àqueles que não Te

conhecem. Muito obrigada por cada minuto que consegui vencer longe do meu linguista

preferido – Ricardo Joseh Lima - e dos meus rebentos – João Pedro e Ana Cecília Antunes

Lima, minhas fontes inesgotáveis de felicidade. Sou grata por todas as vezes que vejo nos

olhos dos meus pais – Dionizia Conceição e Luiz Carlos Antunes - que valeu a pena lutar para

que sua filha única fosse feliz, honesta e digna. A Ti, Senhor, de soberania, misericórdia e

amor insondáveis, serei eternamente grata por todas as bênçãos recebidas ao longo desses 34

anos de vida, de luta, de força de vontade e de fé. A mim, a luta diária, a Ti, toda honra e toda

glória ... para siempre.

“Se eu pudesse voar... eu voava”

(Vó Ná, in memoriam)

vi

AGRADECIMENTOS

As páginas desta tese confirmam a realização de um sonho profissional que,

certamente, me ofertará outras oportunidades na área que escolhi para amar e trabalhar.

Registro aqui o meu sincero agradecimento à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

por todas as alegrias e lágrimas de esforço que me proporcionou.

Dou muito valor ao Curso de Letras. Dedicar-me a esta carreira é algo imprescindível

a minha vida. Neste sentido, devo às instituições que acolheram meu trabalho, aos meus

alunos e ex-alunos, aos amigos e profissionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de

Janeiro), do PEUL(Programa de Estudos sobre o Uso da Língua), da APEERJ (Associação de

Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro), do Colégio Pedro II, do CRDE (Centro

de Recursos Didácticos de Español), da OEM en línea (Organização Editorial Mexicana), em

especial ao Sr. Alberto Mena, da Universidade Autônoma de Nuevo León, em especial à

Professora Lidia Rodríguez Alfano, meus carinhosos agradecimentos.

Gostaria de agradecer também a todos meus familiares, em especial, às minhas sogras

– Maria Annecy Graça Lima (in memoriam) e Maria Lucia Lima Puty – a João Conceição, à

Dilce Marinho Sá, à Irenil Antunes, à Marisa Viveiros Lima, à Maria Judith Sucupira e à Rose

Vieira, pelas orações, cuidado e torcida incessantes. Aos amigos Denise Cruz Candido

Miranda de Souza, Alice Cruz Candido de Oliveira, Elane Barreto dos Santos, Talita de Assis

Barreto, Luciana Almeida de Freitas, Dayala Paiva de Medeiros Vargens, Elda Firmo Braga,

Thiago Vinícius Vieira, Samanta Mendoza, Ângela Marina Chaves de Mello, Maristela da

Silva Pinto, José Ricardo Dordron de Pinho, Viviane Guimarães, Isabela Abreu, Maria Luiza

Ramiarina, Claudia Estevam, Ana Candido Brandão, Valmir Miranda, Flavia Augusto

Severino, Rita de Cássia Rodrigues, Wagner Belo, Ana Cristina Santos, Maria Del Carmen

Daher, Cristina Giorgi, Vera Sant’Anna, Mônica Lemos de Matos, Michele Feddersen,

Luciane Cerqueira, Janaína Santos, Magdalena Paramés, Pascual Hernández e Maria Cristina

González, por todos os momentos de consideração e amizade. Seu conhecimento e

responsabilidade sempre virão a minha lembrança em minhas escolhas, tanto no âmbito

pessoal quanto no acadêmico. Recebam meu afetuoso abraço.

Reconheço toda atenção a mim dispensada por parte dos professores Maria Consuelo

Alfaro Lagorio (minha paciente, criteriosa e sábia orientadora), Mario Eduardo Martelotta

(meu atencioso co-orientador, pesquisador funcionalista de muita competência), José Carlos

de Azeredo (grande estudioso e eterno consultor), Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

(de generosidade e conhecimento indiscutíveis), Letícia Rebollo Couto (por sua competência

vii

e por ter me mostrado que dedicação, esforço e atenção são elementos indispensáveis a todo

profissional bem sucedido), Neide Therezinha Maia González (pelo contagiante

profissionalismo, inteligência, atenção e carinho), Maria Eugênia Lamoglia Duarte (cuja

humildade e conhecimento me inebriam) e Concepción Company Company (cujas produções

se tornaram inspiração para a realização desta tese).

Não poderia deixar de mencionar a atenção e o apoio que me deram os professores

Maria Maura Cezario (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro), Maria Del Carmen

Daher (UFF- Universidade Federal Fluminense), Inês Fernández-Ordóñez (UAM -

Universidad Autónoma de Madrid), Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão (UEL-

Universidade Estadual de Londrina), Francisco Moreno Fernández (UAH - Universidad de

Alcalá de Henares), Venício da Cunha Fernandes (Colégio Pedro II), Maria de Fátima

Quintela (Secretaria da Pósgraduação/UFRJ), Thiago Vinícius Vieira (CLAC/UFRJ – Curso

de Línguas Aberto à Comunidade), Samanta Mendoza (UGF - Universidade Gama Filho /

Graduação). Todos de presteza, amizade, consideração e cordialidade infinitas.

Chegar ao fim de uma jornada é algo muito gratificante, principalmente quando

estamos cientes de que nossa contribuição pode ajudar, de alguma maneira, a elucidar

questões, gerar novas discussões e permitir reflexões em prol do desenvolvimento intelectual

de outros pesquisadores. Em prol de um ensino que impulsione o desempenho de alunos

ávidos por aprender a produzir sentidos, valendo-se de uma língua de tantas culturas como o

espanhol.

viii

(...) el uso lingüístico, de manera especial el uso

sintáctico, puede estar determinado por modos

específicos de percibir y entender el mundo; es decir,

el significado — entendido de una manera amplia

— es un nivel decisivo en la codificación de la

sintaxis.

COMPANY (2002)

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RESUMO

CASOS DE REINTERPRETAÇÃO DO ‘LE’ MEXICANO:

UM FENÔMENO DE GRAMATICALIZAÇÃO

Viviane Conceição Antunes Lima

Orientador(es): Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Mário Eduardo Toscano Martelotta

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Espanhola. O uso dos clíticos se configura como um dos grandes espaços de diversidade da língua espanhola e apresenta ajustes semântico-pragmáticos diversos dependendo da área geoletal na qual se fala o espanhol. Esta tese apresenta um estudo sobre o comportamento do átono “le” na variante mexicana, principalmente no que concerne aos casos de perda referencial. Ocorrências como “eso es lo que uno le piensa”, “¡Ándale! / ésa / ésa no... ”, “hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjole!” guardam usos do átono ‘le’ que não são previstos pela norma culta. Tais dados nos mostram que, nestes contextos, ‘le’ é uma forma completamente desprovida de âncora referencial e se apóia em nuances da práxis discursiva. Orientando-nos pelo viés funcionalista e valendo-nos de 474 realizações provenientes do corpus El Habla de Monterrey (225) e da página da Organização Editorial Mexicana (249), ambicionamos, neste trabalho, dar conta de quatro metas centrais: i) apresentar o desenvolvimento da forma gramatical ‘le’, dentro da perspectiva dos estudos de gramaticalização; ii) sublinhar as etapas de gramaticalização da forma gramatical ‘le’, dando especial atenção aos contextos de perda da designação referencial; iii) evidenciar a relevância dos conceitos de divergência, persistência e metáfora na despronominalização; iv) verificar como os dados dos textos jornalísticos registram o fenômeno em questão. Insistimos que o item gramatical ‘le’ foi reanalisado sintática e semanticamente, estendeu-se a novos contextos de uso e, depois de gramaticalizado, passou a atuar também como um elemento que registra peculiaridades da relação intersubjetiva dos partícipes da interação. Palavras-chave: funcionalismo; gramaticalização; variante mexicana; reinterpretação dativa; casos de despronominalização do átono ‘le’.

Rio de Janeiro Dezembro, 2009

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RESUMEN

CASOS DE REINTERPRETACIÓN DEL ‘LE’ MEXICANO:

UN FENÓMENO DE GRAMATICALIZACIÓN

Viviane Conceição Antunes Lima

Tutor(es): Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Mário Eduardo Toscano Martelotta

Resumen da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Espanhola.

El uso de los clíticos se configura como uno de los grandes lugares de diversidad de la lengua española y presenta ajustes semánticopragmáticos diversos según el área geolectal en la cual se habla el español. Esta tesis presenta un estudio sobre el comportamiento del átono “le” en la variante mexicana, principalmente en lo que se refiere a los casos de pérdida referencial. Ocurrencias como “eso es lo que uno le piensa”, “¡Ándale! / ésa / ésa no... ”, “hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjole!” ejemplifican usos del átono ‘le’ que no prevé la norma culta. Tales datos nos muestran que, en esos contextos, ‘le’ es una forma completamente desprovenida de anclaje referencial y se apoya en matices de la praxis discursiva. Orientándonos por la vertiente de los estudios funcionalistas y valiéndonos de 474 realizaciones provenientes del corpus El Habla de Monterrey (225) y de la página de la Organización Editorial Mexicana (249), buscamos, en esta investigación, alcanzar cuatro metas centrales: i) presentar el desarrollo de la forma gramatical ‘le’, bajo la perspectiva de los estudios de gramaticalización; ii) subrayar las etapas de gramaticalización de la forma gramatical ‘le’, dando especial atención a los contextos de pérdida de la designación referencial; iii) evidenciar la relevancia de los conceptos de divergencia, persistencia y metáfora en la despronominalización; iv) verificar cómo los datos de los textos periodísticos registran el fenómeno en cuestión. Insistimos que se reanalizó el ítem gramatical ‘le’ sintáctica y semánticamente, se extendió a nuevos contextos de uso y, después de gramaticalizado, pasó a actuar también como un elemento que registra peculiaridades de la relación intersubjetiva de los partícipes de la interacción.

Palabras-clave: funcionalismo; gramaticalización; variante mexicana; reinterpretación dativa; casos de despronominalización del átono ‘le’.

Rio de Janeiro Diciembre, 2009

xi

ABSTRACT

INSTANCES OF REINTERPRETATION OF MEXICAN ‘LE’:

A GRAMMATICALIZACION PHENOMENON

Viviane Conceição Antunes Lima

Advisors: Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio

Mário Eduardo Toscano Martelotta

Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Língua Espanhola.

The usage of clitics is regarded as one favorable space of diversity in Spanish and presents a variety of semanticopragmatic adjustments according to the geographic area in which Spanish is spoken. This thesis presents a study about the behavior of the clitic le in the Mexican variety, focusing on instances of referentiality loss. Instances such as “eso es lo que uno le piensa”, “¡Ándale! / ésa / ésa no... ”, “hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjole!” show usages of the clitic le that are not predicted by Standard Spanish. Such cases show that, in these contexts, le is a form completely void of referential anchor and uses subtleties of discursive praxis as support. Based on a functionalist view and working on 474 occurrences from the corpus El Habla de Monterrey (225) and from the page of the Organización Editorial Mexicana (249), it is our purpose in this work to achieve four main goals: (i) to present the development of the grammatical form le, under the perspective of grammaticalization, (ii) to underline the moments of grammaticalization of the grammatical form le, paying special attention to the contexts of loss of referentiality, (iii) to bring attention to the relevance of the concepts of divergence, persistence and metaphor in the process of depronominalization and (iv) to observe how the data from newspapers register the phenomenon under scrutiny. We insist that the grammatical item le was syntactically and semantically reanalyzed, and has been applied to new contexts of usage and, after being grammaticalized, has been functioning as an element that registers peculiarities of the intersubjective relation of the participants of the interaction. Key-words: functionalism; grammaticalization; Mexican variety; dative reinterpretation; instances of depronominalization of clitic ‘le’.

Rio de Janeiro December, 2009

xii

SUMÁRIO

Lista de Ilustrações

Lista de Tabelas

Lista de Gráficos

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I - O FUNCIONALISMO COMO DIRETRIZ TEÓRICA

Introdução 6

1.1. Premissas funcionalistas fundamentais 6

1.2. Conceitos-chave para a compreensão dos fenômenos linguísticos 11

1.3. Subjetividade, intersubjetividade e acessibilidade de referentes 17

1.4. O conceito de transitividade: da descrição ao olhar discursivo 24

1.5. Participantes: por uma caracterização 32

1.6. Síntese do capítulo I 34

CAPÍTULO II - GRAMATICALIZAÇÃO: ANTECEDENTES, MECANISMOS E PRINCÍPIOS

Introdução 37

2.1. Fases dos estudos sobre gramaticalização 37

2.2. A abordagem funcionalista e o conceito de gramaticalização 42

2.3. Mecanismos e princípios da gramaticalização 44

2.4. Gramaticalização e mudança linguística 49

2.5. Mecanismos cognitivos da gramaticalização 52

2.6. Gramaticalização unidirecionalidade: algumas reflexões 58

2.7. Síntese do capítulo II 61

xiii

CAPÍTULO III - O DESENVOLVIMENTO DO ÁTONO ‘LE’: DAS ORIGENS AO SÉCULO XX

Introdução 64

3.1. O comportamento dos clíticos de 3ª pessoa: aspectos morfossintáticos e

fonológicos 64

3.2. Questões semântico-pragmáticas 68

3.3. O dativo: questões tipológicas 71

3.4. Mudanças sintático-semânticas do átono ‘le’: ponderações históricas

3.4.1. Delimitações pouco precisas dos casos latinos 75

3.4.2. Da forma demonstrativa latina à representação da 3ª pessoa em

espanhol 78

3.4.3. A etapa proto-romance 81

3.4.4. Casos de duplicação, despronominalização dativa, leísmo e

peculiaridades do objeto direto preposicionado: um diálogo entre

as fases medieval e moderna 83

3.4.5. Período de transição: séculos XIV e XV 92

3.4.6. Casos de pronominalização anômala e a transformação dos

clíticos em categorias afixais na fase clássica 93

3.4.7. Especificidades do átono ‘le’ em algumas áreas do mundo

hispânico e casos de debilitamento referencial no México: tensão

entre unidade e diversidade na etapa moderna da língua espanhola 96

3.5. Síntese do capítulo III 107

CAPÍTULO IV - PERDA DE DESIGNAÇÃO REFERENCIAL DO ‘LE’ MEXICANO: UM CASO DE

GRAMATICALIZAÇÃO

Introdução 110

4.1. Em busca do entendimento do fenômeno: de partícula de expressão de ‘desejo’ à

hipótese da gramaticalização por subjetivização 110

4.2. Nosso olhar investigativo: perda da função referencial do átono ‘le’ na variante

mexicana

4.2.1. Considerações gerais: descrição dos corpora e perfil da análise 115

xiv

4.2.2. O ‘le’ não referencial nos dicionários: algumas referências 118

4.2.3. Fundamentação da análise e resultados 119

4.3. A relevância da divergência, da persistência e da metáfora no processo de

gramaticalização do ‘le’ mexicano 130

4.4. Síntese do capítulo IV 133

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 135

6. REFERÊNCIAS

6.1. Fontes bibliográficas 138

6.2. Fontes eletrônicas 150

6.2.1. Fontes eletrônicas dos dados coletados na página da Organização

editorial Mexicana 151

ANEXOS

Anexo I - Dados oriundos do corpus oral El Habla de Monterrey (ALFANO, 2003)

Anexo II - E-mails de solicitação e permissão para uso dos dados escritos

Anexo III - Dados oriundos da página da Organização Editorial Mexicana

xv

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS:

Figura 1 - Conceito dinâmico de sistema. Base: COMPANY (2002). 10

Figura 2 - Domínios funcionais codificados pela linguagem humana (GIVÓN, 1984). 12

Figura 3 - Escala de Continuidade de Tópico (GIVÓN, 1983). 22

Figura 4 - Escala de Marcação de Acessibilidade (ARIEL, 1990). 23

Figura 5 - Hierarquia de transitividade proposta por LAMÍQUIZ (1998). 27

Figura 6 - Estudos da mudança semântica. Base: LLAMAS (2005). 54

Figura 7 - Domínios cognitivos e estágios de gramaticalização. 56

Figura 8 - Hierarquia categorial. Base: HOPPER e TRAUGOTT (2003 [1993]). 67

Figura 9 - Hierarquia categorial do dativo em espanhol. Base: COMPANY (2006). 74

Figura 10 - Mapeamento do leísmo em áreas peninsulares. Equipe Varilex (2002). 105

Figura 11 - Mapeamento do leísmo em áreas americanas. Equipe Varilex (2002). 106

Figura 12 - Divisão dialetal da área mexicana. Base: BLANCH (1996). 117

Figura 13 – Cadeias de gramaticalização do átono ‘le’. Variante mexicana. 132

GRÁFICOS:

Gráfico 1 – Base nominal+‘le’. Corpus oral. 120

Gráfico 2 - Base verbal+‘le’. Amostra escrita 120

Gráfico 3 - Distribuição geral dos dados escritos. Corpus oral. 121

Gráfico 4 - Distribuição dos dados ‘Le+verbo’. Corpus: El Habla de Monterrey. 122

Gráfico 5 – Semântica dos verbos (‘le+verbo’). Corpus oral. 124

xvi

Gráfico 6 – Ocorrências de ‘base verbal + le’. Corpus: El Habla de Monterrey. 124

Gráfico 7 – Construções ‘base verbal+le’. Amostra escrita (OEM). 127

Gráfico 8 – Perda de designação referencial e escolaridade. Informantes analfabetos. 128

Gráfico 9 – Perda de designação referencial e escolaridade. Ensino Fundamental. 128

Gráfico 10 – Perda de designação referencial e escolaridade. Pós-graduados. 129

Gráfico 11 - ‘Le’ não-referencial em textos jornalísticos (OEM). 130

xvii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Escalas hierárquicas givonianas.

13

Quadro 2 – Níveis de transitividade (HOPPER e THOMPSON,1980). 29

Quadro 3 – Individuação do objeto (HOPPER e THOMPSON,1980). 29

Quadro 4 – Mecanismos da gramaticalização (exemplo). 46

Quadro 5 – Instabilidade pronominal (área castelhana). Base: FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ

(1999). 101

Quadro 6 – Instabilidade pronominal (área de contato com o vasco). Base: FERNÁNDEZ-

ORDÓÑEZ (1999). 101

Quadro 7 – Instabilidade pronominal (Cidade Real, Toledo, Guadalajara, parte de Burgos).

Base: FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ (1999). 102

Quadro 8 – Instabilidade pronominal (Cidade Real, Toledo, Guadalajara, parte de Burgos).

Base: FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ (1999). 102

Quadro 9 – Instabilidade pronominal em áreas americanas. Base: LIPSKI (1994). 102

Quadro 10 – Leísmo. Áreas mapeadas pela Equipe Varilex (AOTO, 2002). 104

Quadro 11 – Fenômenos relacionados à cliticização. Linha temporal sinóptica. 108

Quadro 12 – Usos de ‘le’ no espanhol mexicano (NAVARRO, 2005). 111

xviii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Nível de transitividade –‘le + verbo’. 123

Tabela 2 – Posição das construções ‘nome+le’ e ‘verbo+le’ nas orações. Corpus oral. 126

INTRODUÇÃO

O estudo dos clíticos é um terreno bastante frutífero àqueles que se lançam à

compreensão do funcionamento da língua espanhola. Imprescindíveis à construção dos

sentidos, são elementos que, na maioria das áreas hispano-falantes, reativam referentes nos

textos e nas situações de interação. Oferecem-nos, portanto, informações relevantes no que

tange à hierarquia estrutural, a estratégias de interação e a questões relacionadas com a

normatividade.

Um olhar atento faz-se necessário quando nos referimos a esta questão. Falado em 21

países como língua materna, o espanhol encontra unidade em uma norma culta, prestigiada na

língua escrita e difundida nos ambientes escolares. Entretanto, as línguas são instrumentos de

interação social, de caráter dinâmico e registram as particularidades advindas da maneira

como seus falantes concebem o mundo e se relacionam. Assim, outras normas se configuram,

já que as formas da língua vão assumindo novas funções e estabelecendo novas redes de

significado nas situações comunicativas.

Como um dos pilares importantes da tensão unidade/diversidade, a instabilidade dos

clíticos de terceira pessoa suscita debates. A codificação clítica conforma um dos grandes

campos de diversidade do espanhol no que concerne à língua falada e está sujeita à vigilância

unificadora da língua escrita, sustentada pela variante de prestígio.

De acordo com o que nos aponta a norma culta, a distribuição dos pronomes átonos de

terceira pessoa deveria assim se configurar: ‘lo’(-s) (masculino), ‘la’(-s) (feminino) e

‘lo’(neutro) retomariam complementos diretos (função acusativa) e ‘le’(-s), por sua vez,

aludiria aos complementos indiretos (função dativa). Todavia, sabemos que a seleção

pronominal não está apenas atrelada a questões de cunho sintático, mas atende a

condicionamentos semântico-pragmáticos, delineados por questões de ordem cognitiva,

2

interacional e cultural. Por isso, o comportamento dos referidos clíticos não se dá de maneira

uniforme no mundo hispânico.

No espanhol falado no México, por exemplo, há um uso inovador que concorre com o

padrão estabelecido pela norma de prestígio: a perda de designação referencial do átono ‘le’.

Neste caso, ‘le’ não se refere especificamente a nenhum elemento do enunciado, mas é

relevante a sua construção em termos pragmáticos. É nosso intuito mostrar que este tipo de

debilitamento pronominal é um dos casos de reinterpretação da forma dativa na área geoletal

mexicana.

Orientando-nos pela corrente funcionalista, nossa hipótese principal é de que ‘le’ se

gramaticalizou, isto é, foi reanalisado em termos semântico-funcionais e passou a ser

recorrente no registro de sua nova atribuição pragmática. Esta nova atribuição foi fixada, é

reconhecida nos eventos comunicativos nos quais se inserem os falantes mexicanos e sua

função prototípica - a referencial – convive com o mencionado uso inovador.

Há realizações mexicanas do átono ‘le’ funcionando como marca intensivo-pragmática

e também como um sufixo verbal de caráter conativo. Na fala de indivíduos de outras áreas do

mundo hispânico, a forma ‘le’ é prescindível tanto em “¿Cómo le va a hacer?”, em “No / (...)

/ ya báñate/córrele ” como em “Órale chavos, jueguen futbol”. Atentos à linha de pesquisa

“Processos interculturais lingüísticos e identitários”, na qual se inserta este trabalho,

tentaremos destacar que ‘le’ traçou um único movimento de mudança, deslocando-se do nível

textual ao nível interpessoal.

Para fazê-lo, construímos esta tese de doutoramento, composta de quatro capítulos. O

primeiro trata das noções advindas do modelo funcionalista, indispensáveis ao nosso trabalho.

Alguns princípios norteiam, de uma forma geral, o estudo que aqui se apresenta: a ênfase ao

uso da língua, a concepção de que a variação lhe é inerente e a propriedade de ressaltar a

influência de particularidades semântico-pragmáticas na mudança linguística.

3

O segundo capítulo se centra nos mecanismos do processo de gramaticalização e

sustenta que a atividade comunicativa é sua motivação maior. De acordo com esta

ponderação, frisamos que os sentidos subjetivos, alicerçados no ponto de vista dos falantes, e

os intersubjetivos, pautados na interação entre os interlocutores na práxis discursiva, podem

ser codificados explicitamente na língua. Enfatizamos que a gramática (o sistema linguístico),

de alguma maneira, reflete a cognição, visto que os sentidos são ancorados na interação e são

frutos de diferentes domínios do conhecimento.

Seguindo um viés gradativo de mudança, o terceiro capítulo apresenta o

desenvolvimento do átono ‘le’, de sua origem até o século XX. Consideramos que uma leitura

pancrônica deste desenvolvimento é essencial ao entendimento do processo de debilitamento

da função referencial de ‘le’, tendo em vista que nos fornece subsídios para reconhecer que

fatores foram significativos a sua recorrência na variante mexicana do espanhol.

No quarto e último capítulo, analisamos os 226 dados provenientes do corpus El

Habla de Monterrey (ALFANO,2003), ancorados nas noções teóricas abordadas nos capítulos

anteriores. Procuramos verificar se tais ocorrências se faziam presentes em textos

jornalísticos, nos quais o cuidado com a norma culta é expressivo. Desta forma, examinamos

249 realizações oriundas da página da Organização Editorial Mexicana (OEM en línea). Não

obstante, precisamos deixar claro que, para evitar equívocos de ordem metodológica, não

comparamos as especificidades dos dados orais com as peculiaridades dos dados escritos, pois

cada corpus possui suas idiossincrasias no que tange às condições de produção.

Convém dizer que, por meio destas análises, foi possível perceber e comprovar a

validade dos conceitos de divergência, persistência e metáfora no já mencionado processo de

gramaticalização, uma descoberta que fizemos ao longo do desenvolvimento de nossa

pesquisa. Notamos que a maioria das construções (‘le+verbo’(‘le hacemos’), ‘verbo+le’

(póngale), ‘nome+le’(híjole)) é usada coloquialmente e recuperada em textos de opinião ou

4

em noticias nas quais o discurso direto é amplamente recorrente, portanto, consideramos que

são próprias da língua falada. Porém, percebemos que algumas – ainda que em um número

limitado - já se ajustam à modalidade escrita de forma menos marcada. Tal fato se dá

principalmente com as construções nas quais ‘le’ não está acoplado a uma base verbal ou

nominal.

Apresentamos nesta tese, apoiando-nos na abordagem funcionalista do conceito de

gramaticalização, a perda de propriedades referenciais do átono ‘le’ como um ajuste do

sistema da língua espanhola à necessidade dos falantes mexicanos de codificar formalmente

algumas vicissitudes da práxis discursiva nos enunciados. Sustentamos que as estruturas

linguísticas são determinadas pelas funções comunicativas do discurso e que a codificação

clítica pode revelar graus significativos de intersubjetividade, isto é, da relação entre os

partícipes na interação. Os casos de debilitamento referencial plasmam redes de sentido que

só são validadas no escopo discursivo e estas realizações particularizam, sobremaneira, a

norma desta zona geoletal, quiçá em termos identitários.

5

CAPÍTULO I

O FUNCIONALISMO COMO DIRETRIZ TEÓRICA

(...) as línguas variam e mudam ao sabor dos fenômenos de natureza

sociocultural que caracterizam a vida na sociedade. Variam pela vontade que

os indivíduos ou os grupos têm de se identificar por meio da linguagem e

mudam em função da necessidade de se buscar novas expressões para

designar novos objetos, novos conceitos ou novas formas de relação social.

(MARTELOTTA, 2008, p.19) ---------------

6

CAPÍTULO I - O FUNCIONALISMO COMO DIRETRIZ TEÓRICA

INTRODUÇÃO

Neste capítulo, apresentamos alguns aspectos centrais da vertente funcionalista,

norteadores desta tese de doutoramento. Valemo-nos da referida base teórica, pois cremos que

muito relevantes são suas contribuições aos estudos de gramaticalização, variação e mudança

sintáticas. É nosso intuito aplicá-la na compreensão do processo de gramaticalização do átono

‘le’ na língua espanhola, principalmente no que se refere às realizações não-referenciais

observadas na variante mexicana do espanhol.

1.1. Premissas funcionalistas fundamentais

Inicialmente, é importante considerar que função1 não é um termo de fácil

apreensão, tampouco o que se convém intitular funcional nos estudos linguísticos. Em um

quadro sistêmico-funcional, HALLIDAY (1985) postula três funções que registram de forma

sutil o vínculo entre a semântica, a sintaxe e a pragmática, a saber: a ideacional, a textual e a

interpessoal.

A função ideacional designa a expressão da experiência do falante no que tange ao

mundo real e ao mundo de sua consciência (nesta figuram as relações de sentido). A função

textual é concernente à construção e à organização do texto (questões de caráter sintático –

hierarquia, concordância, regência, coesão - nesta função se desvelam).

1 O termo função, segundo NICHOLS (1984), demandaria, de uma forma geral, pelo menos cinco sentidos: (a) função com o valor de interdependência entre os elementos da língua; (b) função como propósito, assinalando que a seleção de itens da língua dá pistas da intenção dos falantes; (c) função como contexto, no âmbito do texto, oferecendo referências quanto à organização do discurso e, no âmbito do evento comunicativo, refletindo as relações sociais entre os seus partícipes; (d) função como relação, indicando as relações possíveis da forma linguística no sistema; (e) função como sentido, já que um item pode apresentar diferentes funções dependendo do propósito pragmático e do contexto em que é inserido.

7

Em outro prisma, a função interpessoal está relacionada à interação, às adequações

do discurso, às expectativas do ouvinte, à visão de mundo do falante e à troca de experiências

por meio da linguagem. Enquanto a função ideacional ou reflexiva nos permite entender o

ambiente, a interpessoal ou ativa nos possibilita influir sobre o outro.

Por ser o conceito de função polissêmico e de definições complementares, há

também diferentes modelos funcionalistas. A visão funcionalista pode ser verificada, no

século XX, nos estudos de Charles Bally, Albert Sechehaye e Henri Frei, oriundos da Escola

de Genebra; nas investigações de alguns linguistas da Escola de Praga, como Martinet e

Jakobson; nos preceitos de Halliday, fundamentados na etnografia de Firth, Boas, Sapir e

Whorf; na gramática de Dik2; e no funcionalismo norte-americano, representado, por

exemplo, por Traugott, Hopper e Givón (MARTELOTTA e AREAS, 2003). O funcionalismo

norte-americano dá fundamento às nossas considerações nesta tese.

Muitos trabalhos funcionalistas vêm à tona na década de 70 em oposição à teoria

formalista proposta por CHOMSKY (1965). O conceito de langue proposto por SAUSSURE

(1916) e atualizado por CHOMSKY (1965), que o intitula competência, é posto em xeque por

HYMES (1972). HYMES questiona a existência de um falante-ouvinte ideal e o fato de as

condições de interação não receberem a importância devida na interlocução. Insiste que outros

fatores, além da codificação e decodificação das informações, tais como as referências sócio-

culturais, devem ser levados em conta na aquisição da linguagem.

Linguistic performance is most explicitly understood as concerned with the

process often termed encoding and decoding. Such a theory of competence

posits ideal objects in abstraction from sociocultural features that might enter

into their description. Acquisition of competence is also seen as essencially

independent of sociocultural features, requiring only suitable speech in the

environment of the child develop. The theory of performance is the one

sector that might have a specific sociocultural content; but while equated

2 Hoje desenvolvida por Lachlam Mackenzie e Kees Hengeveld (2008) como gramática discursivo-funcional.

8

with a theory of language use, it is essencially concerned with psychological

by-products of the analysis of grammar, not, say, with the social

interaction.(HYMES, 1972, p.55)3

Quanto aos antecedentes do funcionalismo norte-americano, FURTADO DA

CUNHA (2008) defende que é preciso considerar a contribuição de Dwigth Bolinger, tendo

em vista seu pioneirismo na evidência do papel da pragmática na ordenação das palavras nas

cláusulas. Não obstante, é preciso ressaltar que, apenas a partir da década de 70, o referido

modelo funcionalista encontrou maior expressividade. Os trabalhos de SANKOFF e BROWN

(1976), GIVÓN (1979), HOPPER (1991), HOPPER e THOMPSON (1980) e, posteriormente,

os de TRAUGOTT (1989), TRAUGOTT e HEINE4 (1991), HOPPER e TRAUGOTT (2003

[1993]) mostram a efetiva influência de motivações discursivas no sistema das línguas.

VOTRE e NARO (1989), orientados pelos pressupostos givonianos, desenvolvem

pesquisas no Brasil. VOTRE cria o Grupo de Estudos Discurso e Gramática - composto por

linguistas da UFRJ, UFF, UERJ e UFRN - que dá atenção significativa aos estudos

concernentes à gramaticalização. Frutos do Grupo de Estudos Discurso e Gramática são as

pesquisas de MARTELOTTA, VOTRE e CEZARIO (2003 [1996]); VOTRE, CEZARIO E

MARTELOTTA (2004), FURTADO DA CUNHA (2000), FURTADO DA CUNHA, RIOS DE

OLIVEIRA e MARTELLOTA (2003).

Estes pesquisadores impulsionam o funcionalismo de linha norte-americana no

contexto brasileiro. Visam analisar a língua sob a ótica do contexto e da situação

3 O desempenho linguístico é mais claramente compreendido como sendo direcionado para o processo frequentemente chamado de codificação e decodificação. Uma teoria de competência assim postula objetos ideais abstraindo traços socioculturais que poderiam entrar em sua descrição. A aquisição da competência é também vista como independente de traços socioculturais, requerendo apenas uma fala adequada no ambiente em que a criança se desenvolve. A teoria do desempenho é um setor que poderia ter um conteúdo sociocultural; mas enquanto igualada a uma teoria de uso da língua, está essencialmente preocupada com coisas periféricas da análise da gramática e não, digamos, com a interação social. 4 Bernd Heine, assim como Tânia Kuteva, é um funcionalista europeu cujos trabalhos se valem da linha norte-americana como diretriz.

9

extralingüística e, portanto, acham incoerente que se estudem as línguas de forma dissociada

da função comunicativa que lhes é inerente. No escopo da interação, no qual os usuários de

uma língua se relacionam socialmente e acionam capacidades de ordem linguístico-

pragmática, a função referencial é vista como uma ação pragmática, de caráter cooperativo.

Neste sentido, concebemos tal ação como um componente da competência comunicativa dos

falantes.

O que conforma o eixo dos estudos baseados na diretriz funcional é a maneira de

compreender e analisar a linguagem. O objeto de estudo dos funcionalistas é o uso linguístico,

por isso observam ocorrências reais dos fatos da língua para dar fundamento as suas

investigações. É na relação entre linguagem e uso que buscam subsídios para entender os

mencionados fenômenos linguísticos. Os funcionalistas veem a linguagem como um

instrumento de interação social, no qual entram em jogo as relações entre os interlocutores,

suas intenções e o contexto discursivo. Neste modo de pensar, uma língua existe porque seus

usuários se valem dela para interagir.

Por esse caminho, nos deparamos com um dos princípios que direciona o enfoque

funcionalista: o postulado da não-autonomia da sintaxe. Se por um lado, através da análise

do plano semântico é possível elucidar questões tangentes à mutabilidade sintática, por outro,

com o olhar voltado para as nuances pragmáticas, se podem tecer considerações relevantes no

que diz respeito a fenômenos concernentes à semântica. Portanto, na vertente funcionalista, a

sintaxe não é concebida como um construto autônomo.

O campo do qual partem os teóricos funcionalistas para refletir sobre as línguas é,

basicamente, o pragmático. Fundamentada na interação, a gramática funcional aponta as

peculiaridades das formas linguísticas no tocante às regras que tornam possível a

comunicação. Nesta linha de raciocínio, devemos estar cientes de que há regras que governam

a constituição das expressões linguísticas (semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas).

10

Contudo, cabe às regras pragmáticas governar os padrões da interação verbal na qual as

mencionadas expressões são usadas.

O uso não referencial de ‘le’ na variante mexicana do espanhol, por exemplo, assinala

a influência do falante nas atitudes do ouvinte. Se observarmos o seguinte dado: (1) “le dije a

ver hijo / fírmale aquí 5”, veremos que a expressão linguística sublinhada - ‘le’ - é função dos

propósitos dos falantes, principalmente, do propósito de influir na atitude do ouvinte. É

função da informação pragmática que estes sustentam e da antecipação que faz com relação à

interpretação de seu interlocutor.

Tal interpretação é função da própria expressão linguística, das informações

pragmáticas estabelecidas e do que se conseguiu perceber no que diz respeito às intenções

comunicativas dos partícipes do evento comunicativo. Aliás, cabe salientar que o

funcionalismo conferiu ao conceito de sistema um caráter muito mais dinâmico. COMPANY

(2002) defende que o sistema linguístico se comporta como um organismo que permite

sistematizações constantes, assume ambiguidades, redundâncias, instabilidades e incon-

sistências próprias das línguas. As modificações promovidas, algumas até imperceptíveis,

acabam por incidir na estabilidade do sistema. Esta maneira de concebê-lo nos possibilita

analisar a variação como processo. A figura 1 ilustra o conceito de sistema a que nos

referimos.

5 Corpus El Habla de Monterrey. Informante analfabeta de 49 anos.

11

Claro está que, de acordo com essa abordagem, o estudo do sistema linguístico está

subordinado ao uso, porque a descrição e a compreensão dos fenômenos linguísticos devem

apoiar-se em seu funcionamento, dentro de um dado contexto de utilização da língua.

MARTELOTTA e AREAS (2003) destacam que, para o funcionalismo, a compreensão do

fenômeno sintático depende da análise da língua em uso, tendo em vista que a gramática é

constituída em contextos discursivos específicos.

1.2. Conceitos-chave para a compreensão dos fenômenos linguísticos

Na concepção de GIVÓN (1984), a linguagem humana codifica domínios

funcionais hierarquicamente organizados e integrados: o semântico-lexical, o semântico-

proposicional e o pragmático-discursivo. O domínio semântico-lexical se refere ao

conhecimento compartilhado culturalmente que também se apresenta incorporado ao léxico.

Fenômenos estáveis, conceitos e pontos de referência estão presentes em uma rede que faz

parte de nosso mapa cognitivo e este, como um todo, abarca o referido conhecimento

compartilhado.

O domínio semântico-proposicional se centra na informação expressa nas

proposições que são sintaticamente codificadas como sentenças. Quanto ao domínio

pragmático-discursivo, podemos dizer que se trata de um amplo espaço contextual que dá

validade a uma proposição. Inovações - como o uso de ‘le’ desprovido de propriedades

referenciais - se dão por serem validadas neste domínio. Os objetivos comunicativo-

pragmáticos dos falantes, a interação e o contexto discursivo são os elementos que lhe dão

fundamento.

Para GIVÓN (1984), o domínio pragmático-discursivo é codificado juntamente

12

com o semântico-proposicional através da sintaxe, conforme podemos verificar na figura 2.

Assim, a seleção e o arranjo de elementos para a composição de um enunciado dependem da

inter-relação entre significado e função. Apoiados nesta reflexão, afirmamos que o que traça

diferenças tipológicas entre as línguas é a maior importância dada ao domínio semântico-

proposicional ou ao pragmático-discursivo na codificação sintática.

Reportando-se à hierarquia categorial, GIVÓN (1990) lança olhar sobre a função

caso. Como uma das categorias gramaticais do sintagma nominal, apresenta duas escalas

hierárquicas funcionais relevantes: a das funções semânticas, referente ao domínio semântico-

lexical (agente > dativo/beneficiário > paciente > locativo > instrumento > outros) e a das

funções gramaticais, concernente ao domínio semântico-proposicional (sujeito > objeto direto

> objeto indireto > outros).

São estabelecidas, então, as hierarquias de pessoa, animacidade, temacidade, gênero

agentividade e função gramatical. Em nossa concepção, escalas como essas representam as

prioridades de nossa categorização cognitiva. Cremos que estas são permeadas pela cultura e

por nossas experiências de vida e estas são refletidas, de alguma forma, no discurso, conforme

apresenta o quadro 1.

13

Atento às especificidades da pragmática, GIVÓN (1990) propõe que os itens mais

importantes comunicativamente, em comparação com outros constituintes dos enunciados, se

colocam à esquerda em muitas línguas, pois nesta posição obterão maior atenção do ouvinte.

Aqui também nos referimos à noção de topicalidade, na qual o tópico é visto com uma

informação dada, menos marcada, mais definida.6 As unidades de maior importância no

enunciado, na maioria das vezes, são as mais significativas na organização textual.

Se por um lado a linguagem é funcional por integrar o sistema linguístico e seus

elementos com as funções que têm a desempenhar, por outro é dinâmica, algo plenamente

verificável na variabilidade entre estrutura e função. Por isso, a gramática funcional não se

concentra apenas nas peculiaridades próprias da sistematicidade da estrutura linguística ou

somente em sua instrumentalidade, mas rechaça a tese que sustenta a arbitrariedade total da

relação entre o aspecto funcional e o gramatical, entre função e forma.

GIVÓN (1995) parte do princípio de que o surgimento da gramática (do sistema

6 Para exemplificar, GIVÓN (1990) sublinha que, no que se refere à hierarquia das funções gramaticais, o sujeito apresenta um nível de topicalidade maior que todos os outros itens da escala e, em segundo lugar, está o objeto direto. Isso se dá porque o sujeito é um sintagma nominal mais pressuposto que outros.

14

linguístico) pode ter sido motivado pela função, por meio da qual a estrutura assume sua

atribuição comunicativa e cognitiva. Frisa que o norte dos estudos linguisticos deve ser aquele

de onde se adquire a língua, de onde a gramática surge e muda: do lugar da interação. Neste

espaço, a estrutura linguística se adequa a novas funções, a novos sentidos.

Se fizermos alusão ao objeto de estudo desta tese, será válido dizer que, na práxis

interacional, o átono ‘le’ adquiriu outros valores, permitindo que seu uso estabelecesse novas

redes de sentido. Logo, é válido observar a relação existente entre a estrutura linguística e as

funções que desempenha no discurso. Assim, damos margem ao entendimento da variação em

suas diversificadas instâncias e assinalamos a relevância do plano pragmático na compreensão

da linguagem.

Voltando aos conceitos-chave da vertente funcionalista, nos compete lembrar que

três dogmas do estruturalismo saussureano foram postos em xeque por GIVÓN (1995): a) a

arbitrariedade do signo; b) a separação entre sincronia e diacronia; e c) a valorização da

estrutura em detrimento do uso, na análise linguística.

Muito do que há na língua é icônico, não arbitrário. O Princípio Universal da

Iconicidade é um dos focos de estudo centrais da corrente funcionalista norte-americana. De

acordo com este princípio, entendemos que as estruturas linguísticas são determinadas pelas

funções comunicativas do discurso. A iconicidade se faz presente na ordem dos constituintes

das sentenças, no grau de informatividade e na seleção dos itens do discurso.

GIVÓN (1990) estabeleceu os seguintes subprincípios de iconicidade: (i)

quantidade (quanto maiores e menos previsíveis forem e mais importância tiverem as

informações, maior será o material necessário para codificá-las); (ii) proximidade (os

operadores gramaticais se mantêm próximos aos seus operandos, isto é, aos que lhes são

conceptualmente importantes); (iii) ordem linear (a ordem das sentenças no discurso tende a

corresponder à ordem de ocorrência dos eventos descritos) e (iv) ordem sequencial e

15

topicalidade (quanto mais importante, mais urgente ou menos acessível for a informação,

maiores são as chances de ocupar a primeira posição).

Os estudos givonianos retomaram o princípio da marcação, proveniente da Escola

de Praga. Quando se referiam a este princípio, não limitavam seu cuidado apenas à

complexidade formal da estrutura marcada e não-marcada ou à frequência distribucional

(figura x fundo), mas davam atenção aos fundamentos (comunicativo, sociocultural, cognitivo

ou neuro-biológico) que podem explicar por que as categorias marcadas e não-marcadas

possuem tais status. De acordo com seus preceitos, a complexidade estrutural, a distribuição

da frequência e a complexidade cognitiva são critérios que revelam traços significativos da

iconicidade sintática.

Nas ocorrências em que ‘le’ sofre perda referencial, como em: (2) “¡Pásele al

debate, sí hay! (OEM)), há uma relação icônica no que tange ao seu uso como partícula que

chama a atenção do ouvinte, levando-o a tomar uma determinada atitude. A iconicidade

também se estabelece em contextos no quais ‘le’, prototipicamente, retoma entidades

animadas. Ao nosso ver, este átono é menos marcado que ‘lo’ na variante mexicana do

espanhol, já que: é mais recorrente; pode retomar itens em função de objeto direto ou indireto,

de acordo com as peculiaridades da norma nesta área geoletal; e recupera comumente o

pronome de tratamento ‘usted’. A frequência de uso deste item, a tendência a ancorar

vicissitudes discursivas e outros fatores que veremos adiante, o levaram a fixar novas funções

semântico-pragmáticas nesta região.

A proposta estruturalista de opor os estudos sincrônicos a diacrônicos, isto é, de vê-

los como perspectivas de análise dicotômicas é um princípio saussureano rejeitado pela

corrente funcionalista. Tal incompatibilidade é reducionista, posto que, no âmbito dos

processos de variação e mudança linguísticas, há especificidades que permanecem na história

das línguas e merecem a atenção dos pesquisadores. A quebra deste dogma ou a visão

16

pancrônica dos estudos linguísticos abre espaço para os estudos de gramaticalização.

A motivação principal do fenômeno de gramaticalização é a comunicação,

responsável por consolidar novas maneiras de codificar a realidade. Para HOPPER e

TRAUGOTT (2003 [1993]), consiste em um processo de mudança, a partir do qual elementos

lexicais e construções sintáticas começam a desempenhar funções gramaticais e, com o

desenvolvimento do processo, tendem a assumir novas atribuições na língua.

Considerando que as modificações sofridas pela língua são paulatinas e graduais,

propor um estudo sincrônico, completamente desprovido de referências diacrônicas, pode

limitar, e muito, a análise dos fenômenos linguísticos. Este posicionamento nos levou a

construir o capítulo 3 desta tese. De grande valia, foi trazer à baila o comportamento de ‘le’

desde a sua formação até a sua realização mexicana não-referencial no século XX. Se não nos

valêssemos de uma análise pancrônica, seria complicado mostrar como o mencionado átono

recebeu novas atribuições na língua espanhola, mais especificamente no espanhol falado no

México.

O papel da frequência de uso no processo de gramaticalização também merece

destaque. A frequência impulsiona a mudança, é resultado da gramaticalização e um dos

fatores imprescindíveis ao seu desenvolvimento. BYBEE (2003) parte do princípio de que a

gramaticalização transforma expressões linguísticas ou morfemas usados comumente em

unidades de processamento, os tornando automáticos. Em formas como “órale” e “híjole”, por

exemplo, a automatização é clara. Quando o falante as utiliza, não as relaciona mais com o

“ora” (agora) ou com “hijo” (filho), porque já não guardam mais as noções sustentadas por

seus componentes em separado. Além disso, ‘le’ não é mais um item anafórico nestes

contextos, mas uma partícula intensivo-pragmática.

Estas observações vão ao encontro do processo de ritualização7 proposto por

7 Sinônimo de rotinização. Termo utilizado por COMPANY (2002).

17

HAIMAN (1994). Os aspectos que caracterizam o mencionado processo são: i) o hábito

(resultado da repetição que esvazia um objeto cultural e seu significado original); ii) a

automatização (reinterpretação de uma sequência de palavras como um bloco); iii) a

redução de formas; iv) e a emancipação (utilização do item em novos contextos e com

novos sentidos).

Percorrendo as reflexões de BYBEE (2003), é possível concluir que a ritualização

de um item pode: conduzir a perdas semânticas e à redução e/ou fusão fonológica; oferecer

maior autonomia às formas ou expressões linguísticas; promover a ampliação dos contextos

de uso das referidas formas e levá-las a estabelecer novas redes de sentido. Além disso,

devido à autonomia, as construções passam a penetrar mais na língua. Por outro lado, convém

lembrar que podem guardar algumas de suas peculiaridades morfossintáticas.

Muito do que se refere ao saber gramatical dos falantes se fundamenta no reajuste,

na adaptação de recursos já expostos nas interações verbais, devido às constantes reutilizações

e ritualizações das expressões linguísticas nos diversos contextos nos quais se inserem os

interlocutores (VÁZQUEZ ROZAS e GARCÍA-MIGUEL: 2006). Com efeito, o conteúdo do

que é repetido e o modo como os indivíduos selecionam os constituintes para produzir

enunciados são imprescindíveis à representação cognitiva e ao processo de gramaticalização.

1.3. Subjetividade, intersubjetividade e acessibilidade de referentes

Outros conceitos relevantes para esta tese, usados com grande propriedade pelos

funcionalistas norte-americanos, são os de subjetividade e de intersubjetividade. Para

TRAUGOTT e DASHER (2003), os falantes internalizam um sistema ou gramática e,

valendo-se de diversas estratégias de produção e de percepção, usam a língua e realizam

várias atividades por meio dela. Com efeito, o falante/escritor e o destinatário/leitor são peças

18

centrais nas atividades de uso da língua, uma vez que a interação só se dá efetivamente se

estas peças estiverem engajadas no processo de produção e interpretação discursiva.

Os locutores se propõem como sujeitos, são capazes de fazê-lo. A subjetividade

consiste em uma unidade psíquica que supera o conjunto de experiências vividas e que dá

base à permanência da consciência. Trata-se, portanto, de uma propriedade essencial da

linguagem e que pode ser experimentada quando um ‘eu’ se dirige ao outro, a um ‘tu’. A

dualidade eu ↔ tu move as atividades de uso da língua, conforme sinalizou BEVENISTE

(1995).

A linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito,

remetendo a ele mesmo como eu no seu discurso. Por isso, eu propõe outra

pessoa, aquela que, sendo embora exterior a 'mim' torna-se o meu eco - ao

qual digo tu e que me diz tu. A polaridade das pessoas é na linguagem a

condição fundamental, cujo processo de comunicação, de que partimos, é

apenas uma consequência totalmente pragmática. Polaridade, aliás, muito

singular em si mesma, e que apresenta um tipo de oposição do qual não se

encontra o equivalente em lugar nenhum, fora da linguagem. Esta polaridade

não significa igualdade nem simetria, o ego tem sempre uma posição de

transcendência quanto a tu; apesar disso, nenhum dos dois termos se

concebe sem o outro; são complementares8 (...) (BENVENISTE, 1995,

p.286).

A relação entre eu ↔ tu influencia a construção da comunicação linguística, já

que, ao produzir seu discurso, o falante/escritor assume as expectativas do destinatário/leitor

para lograr seus objetivos comunicativos. Tem em conta, portanto, noções a respeito do

conhecimento e da competência linguística do destinatário/leitor e de algumas convenções

necessárias à práxis interacional. Tais noções podem direcionar a escolha de expressões e de

formas da língua.

De um ângulo mais amplo, VÁZQUEZ ROZAS e GARCÍA-MIGUEL (2006)

8 Grifo nosso.

19

explicam que as manifestações da subjetividade não se limitam a marcas gramaticais. A

seleção dos parâmetros de pessoa, do tipo e tempo verbais, dos itens e de sua ordem nos

enunciados também indica a presença da subjetividade na produção discursiva. Reconhecer a

relação entre falante/escritor e destinatário/leitor como condição ou fundamento para que a

comunicação linguística se estabeleça significa examinar a linguagem a partir de seu caráter

interacional de forma mais efetiva, sob a luz da intersubjetividade. Implica sublinhar

também que cada partícipe registra dados de seus propósitos nos momentos de interação, ou

seja, dá pistas de maneira de ver o mundo, das impressões que tem de si mesmo e do que sabe

ou consegue inferir do olhar do outro.

A interação é, por essência, o campo da intersubjetividade, porque se constitui, na

maioria das vezes, como base na atenção ao jogo de sentidos estabelecido pelos partícipes da

situação comunicativa. Este jogo de sentidos intersubjetivos permite que os falantes

mexicanos acoplem um ‘le’ despronominalizado, de fundamentação pragmática, em

construções como “córrele”,”ándale” sem que haja ruído comunicativo algum.

Observam TRAUGOTT e DASHER (2003) que existem expressões mais

objetivas, outras mais subjetivas e significados intersubjetivos. As expressões mais objetivas

quase não dependem de inferências baseadas na relação entre os interlocutores da interação,

são minimamente marcadas por modalidade, os itens lexicais são minimamente dêiticos e os

sentidos tendem a ser mais explícitos. Por outro lado, as expressões mais subjetivas são

caracterizadas por dêixis espaciais, temporais e por marcadores. Neste contexto, os sentidos

dependem mais das atitudes do falante/escritor.

Quanto aos significados intersubjetivos, podemos dizer que são de caráter

interpessoal, isto é, são sustentados pela interação entre dois participantes da situação de

comunicação. Por conseguinte, estão intrinsecamente vinculados à dêixis social, ou seja, a

atitudes que reforçam relações de poder, à polidez, por exemplo. Acreditamos que, neste

20

sentido, a codificação clítica pode revelar graus significativos de intersubjetividade, ou seja,

está relacionada aos significados intersubjetivos, pois se fundamenta na situação de produção

discursiva.

No nível textual, o arranjo dos elementos e das relações está atrelado à tessitura, à

coesão. Desta forma, os constituintes dos textos são colocados de acordo com o que já foi dito

pelo falante (dado, recuperável) e como o que lhe será apresentado (novo, não

recuperável)9. As considerações sobre as noções dado/novo se inserem no âmbito do estatuto

informacional dos constituintes da oração. Para CHAFE (1976, p.31), o falante presume que

um determinado elemento está (dado) ou não (novo) no plano de acesso referencial do

ouvinte, com base em pistas interacionais obtidas na situação comunicativa. A informação

dada tende a demandar do falante menos esforço linguístico, por isso pode ser codificada por

um pronome.

Os elementos dados estão contidos na informação pragmática do falante. Isso

significa que podem estar sujeitos às peculiaridades concernentes à concepção de mundo, a

referências culturais, a nuances da relação afetiva dos participantes e a especificidades do

contexto situacional. Em termos cognitivos, o ponto de vista (empatia) e o fluxo de atenção

são noções pertinentes para que se possam determinar os valores das entidades presentes em

um evento real, posto que assinalam sua relativa importância comunicacional.

O fundamento cognitivo da noção de ponto de vista se apóia no fato de as pessoas,

além de terem sua própria opinião com relação ao mundo, possuírem a capacidade de filtrar o

que observam a partir da perspectiva de outrem. No que concerne à caracterização, o ponto de

vista pode ser externo (de um observador desinteressado) ou interno (de um observador

interessado). No que tange ao fluxo de atenção, podemos dizer que pode ser analisado

linguisticamente tendo em conta a marcação de caso, a concordância verbal e a ordem dos

9 De certa maneira, uma retomada dos conceitos de tema (elemento depreensível) e rema (item sobre o qual se faz comentário) da Escola de Praga.

21

constituintes.

É o fluxo de atenção que determina a ordenação linear dos SNs. Os SNs na

sentença são apresentados na sequência desejada pelo falante para que o

ouvinte atente para eles. Alterações de ordem como alterações de voz e

topicalizações são mecanismos usados para controlar o fluxo de atenção

(PEZATTI, 2004, p.188).

O trabalho de GIVÓN (1983) tangente ao status de topicalidade dos referentes,

conforme já apresentado brevemente, também é de grande valia quando refletimos sobre a

retomada de itens no discurso. Assevera que quanto mais recorrente for o elemento na

produção discursiva, mais comumente é codificado por anáfora zero ou por pronomes

anafóricos. Propõe, então, a “hipótese da continuidade de tópico”, também conhecida como

“hipótese de continuidade temática ou referencial”.

Ao lermos sobre a mencionada hipótese, verificamos que, atendendo a questões

de continuidade e descontinuidade, os diferentes mecanismos referenciais são distribuídos em

uma escala. Nesta, se colocam os graus de disponibilidade dos referentes. Convém frisar que a

única estratégia anafórica que supera os clíticos em termos de acessibilidade é a anáfora zero.

Vejamos, na figura 3, a disposição dos mecanismos referenciais, segundo a hipótese da

continuidade de tópico.

22

O grau de acessibilidade de um item do discurso é maior se o falante supõe que

este está disponível para o interlocutor. O grau de ativação cognitiva das entidades pode ir de

um extremo a outro na escala, ou seja, de um nível máximo ao mínimo de disponibilidade.

Quanto menor for o conteúdo descritivo da expressão anafórica, maior é seu grau de acesso.

Por isso, concordamos plenamente com VÁZQUEZ ROZAS (2004): a acessibilidade é

codificada linguisticamente com base no princípio de iconicidade.

El análisis que se deriva de la teoría de la accesibilidad es, sin duda,

intuitivamente plausible, y encaja perfectamente en el principio de

iconicidad mencionado según el cual a menor coste cognitivo - mayor

accesibilidad - , menor carga de material léxico será necesaria (de ahí el

empleo de desinencias y clíticos), mientras que un mayor coste cognitivo de

activación - menor accesibilidad - requerirá el empleo de expresiones

léxicamente plenas (frases nominales).VÁZQUEZ ROZAS (2004, p. 33)10

As expressões referenciais indicam influências do falante sobre a representação mental

10 A análise que é derivada da teoria da acessibilidade é, sem dúvida, intuitivamente plausível, e se encaixa perfeitamente no princípio de iconicidade mencionado, segundo o qual a menor esforço cognitivo - maior acessibilidade – menor carga de material léxico será necessária (daí o emprego de desinências e clíticos), enquanto que um maior esforço cognitivo de ativação – menor acessibilidade – requererá o emprego de expressões lexicalmente plenas (sintagmas nominais). VÁZQUEZ ROZAS (2004, p. 33)

23

do referente que possui o receptor. O status de acessibilidade dos referentes é um tipo de

informação a que só podemos ter acesso a partir do contexto. Este se desdobra em três

componentes: o situacional, concernente ao intercâmbio comunicativo; o cultural, no qual se

concentram o conhecimento enciclopédico e de mundo dos interlocutores; e o discursivo, que

engloba o contexto linguístico ou co-texto.

Segundo GIVÓN (1992), o co-texto - de menor variabilidade que o situacional e o

cultural - nos fornece indícios sobre o comportamento discursivo das expressões referenciais,

além disso, pode ser empiricamente quantificado. Um dos modelos que alcança essa base

empírica é o modelo de distância referencial. A acessibilidade aumenta quanto menor for a

distância entre a ancoragem e o termo anafórico.

Buscando compreender as vicissitudes da questão da acessibilidade, ARIEL (1990,

p.73) também reconhece que o nível de acesso aumenta quando a entidade a ser retomada no

discurso é um elemento presente em enunciações recentes. Caso a referência dependa das

experiências de vida e dos conhecimentos compartilhados pelos partícipes da situação

comunicativa, o nível de acessibilidade se reduz expressivamente. Tal posicionamento nos

leva a crer que as informações, advindas dos componentes situacional e cultural, são deveras

importantes na compreensão dos casos de perda referencial. Podemos observar tal redução se

examinando atentamente a figura 4.

24

O antecedente, de acordo com o que viemos apresentando até aqui, não se deve

entender apenas como um elemento do contexto linguístico, mas também como uma

representação mental. Tal representação, codificada por uma expressão referencial, é

selecionada pelo enunciador porque este sabe que, através de inferências pragmáticas, o co-

enunciador será capaz de estabelecer a identificação.

É oportuno ressaltar que a teoria da acessibilidade, embora seja um avanço nos estudos

da anáfora, não dá conta dos traços semânticos da expressão referencial e nem do papel do

enunciador ao trazer à baila o antecedente no discurso. Certamente, uma análise mais

aprofundada deve levar em consideração tais questões, visto que a seleção clítica nos revela

nuances da dimensão subjetiva do enunciador.

1.4. O conceito de transitividade: da descrição ao olhar discursivo

A transitividade tem sido vista tradicionalmente nos estudos hispânicos como um

processo no qual o verbo é colocado como regente central, como o elemento fundamental a

que todos os outros constituintes estão atrelados. Concebendo-o como uma categoria

gramatical, TORREGO (2002) classifica os verbos em três planos: morfológico ( regulares,

irregulares e defectivos); sintático (transitivos, intransitivos, causativos ou factitivos11,

pronominais, copulativos e auxiliares); e semântico (de ação, processo ou estado). Se nos

fixarmos no direcionamento sintático estabelecido por TORREGO (2002), podemos dizer que

a exigência ou não de complementos ou o fato de servir de ponte entre um atributo e um

sujeito, são referências suficientes para dar conta do mecanismo da transitividade.

De forma similar, expõe LLORACH (1995) que a possibilidade ou a

impossibilidade de que o verbo admita complemento direto é critério de classificação de

11 Variante dos verbos transitivos. Em: “Me operé de apendicitis”, o sujeito “eu” não é o agente, mas outra pessoa. TORREGO (2002) afirma que o verbo “operar”, neste contexto, é causativo ou factitivo.

25

transitivos e intransitivos. Não ressalta os pormenores de sua conclusão, mas garante que a

presença ou ausência de objeto depende da intenção comunicativa do falante. Ao examinar a

questão, FRANCH e BLECUA (1998) destacam que os termos ‘transitivo’ e ‘intransitivo’ -

responsáveis por definir a capacidade designativa do verbo - se apresentam com uma

imprecisão considerável.

Em uma perspectiva descritiva e realizando uma análise criteriosa, CAMPOS

(1999) questiona se a transitividade é propriedade das construções ou dos verbos. Enfatiza

que a intenção expressiva do falante em cada evento comunicativo é regulada pelos verbos e

acredita também que o uso alguns verbos como transitivos em alguns contextos e intransitivos

em outros12 pode ser explicado em termos cognitivos, isto é, a seleção dos argumentos verbais

depende da intenção expressiva dos falantes. Esta intenção atende às características

semânticas das formas verbais, principalmente no que se refere ao objeto direto.13

Llamaremos ‘complemento directo’ al sintagma nominal que está regido

tanto sintáctica como semánticamente por el verbo. La rección sintáctica se

manifiesta en el hecho de que el verbo determina que tal complemento ha de

ser un sintagma nominal. La rección semántica la vemos en el hecho de que

sólo ciertos tipos de complementos nominales califican como complementos

directos. (CAMPOS, 1999, p.1529)14

Acentua CAMPOS (1999): é o verbo que solicita lexicalmente um objeto indireto e

este só faz parte da estrutura argumental quando co-aparece com o objeto direto. Cumpre

12 Casos como: Pablo lee historietas de aventuras x Pablo lee (CAMPOS,1999, p.1523). 13 HALLIDAY (1985) propõe uma classificação semântica dos verbos. Estes se dividiriam em três grandes grupos: os de processo material (de situações dinâmicas ou de transformação); mental (do mundo da consciência) e relacional (das situações estáticas). De acordo com esta perspectiva, há mais três grupos secundários ou ditos mixtos: de processo verbal, de conduta e existencial. Esta classificação nos ajudará no cruzamento dos valores semânticos dos verbos com as realizações não referencias de ‘le’, mais propriamente no capítulo 4. 14 Chamamos ‘complemento direto’ o sintagma nominal que é regido - tanto sintática como semanticamente - pelo verbo. A regência sintática se manifesta no fato de que o verbo determina que tal complemento tem que ser um sintagma nominal. Vemos a regência semântica no fato de que somente certos tipos de complementos nominais funcionam como complemento direto.

26

assinalar que, dentro deste enfoque, a função acusativa exercida pelo objeto direto é

necessariamente argumental, contudo a função dativa só é argumental quando as

peculiaridades léxico-semânticas dos verbos a tomam como imprescindível à construção do

enunciado.

Em estudos anteriores aos apresentados aqui15, se faz presente o postulado da

centralidade verbal, proveniente dos trabalhos de TESNIÉRE (1959). Conforme as noções

arroladas neste postulado, o verbo é o eixo central e integra diferentes elementos em um

conjunto. Desse modo, a oração é construída com base nas relações de dependência e

hierarquia: o verbo rege actantes (argumentos) e o número de actantes por ele regido

proporcionará a caracterização de sua valência.16

No enunciado: (3)“y ahí les llevaba el lonche”17, há, portanto, três actantes e o

verbo “llevar” é trivalente. Os três actantes são: o sujeito, o objeto direto e o indireto. É válido

ressaltar que, de acordo com o princípio da centralidade verbal, o sujeito também é requerido

pelo verbo, por isso é considerado um argumento verbal. Assim sendo, o primeiro actante é o

elemento que realiza a ação, o segundo é afetado por ela e o terceiro funciona como um item

que recebe algo em decorrência das relações entre os componentes da oração.

Embora não consiga distinguir bem actantes e circunstantes, o postulado da

centralidade verbal oferece aos estudos da sintaxe algumas contribuições. A oração não é

analisada apenas de forma linear, porque as relações de dependência se estabelecem de

maneira um pouco mais clara; a dicotomia sujeito x predicado é desfeita; o sujeito é entendido

como um dos argumentos do verbo; e há, de maneira sutil, uma preocupação com as

propriedades semânticas das formas verbais.

15 Até então, as noções de transitividade trazidas à baila neste capítulo enfocaram a relação de regência entre o verbo e possíveis objetos da oração, orientadas pelo direcionamento latino, assumido, de um modo geral, pelas gramáticas normativas de espanhol. Não obstante, o termo transitividade nas gramáticas especulativas medievais é mais abrangente e se estende a todo tipo de construções. (GARCÍA-MIGUEL, 1992, p.82) 16 Valência é um termo proveniente da química, usado na linguística com referência ao número e ao tipo de laços que poderiam existir entre os elementos sintáticos. (CRYSTAL,1985,p.264). 17 Corpus “El Habla de Monterrey”. Informante analfabeta, de 49 anos.

27

Reconsiderando questões concernentes ao mencionado postulado de TESNIÈRE

(1959), HELBIG e SCHENKEL (1983)18 incluem o vínculo entre o contexto sintático e o

contexto semântico na análise das valências e da distribuição sintática. Defendem que a

valência verbal é determinada apenas pelo número de actantes obrigatórios e que

especificidades de caráter sintático e semântico são imprescindíveis à valência qualitativa.

Neste ponto de vista, em (3) “y ahí les llevaba el lonche” há um verbo trivalente, tendo em

vista que o enunciado é constituído por três actantes indispensáveis à produção de sentidos.

Dando uma dimensão um pouco mais discursiva ao processo, LAMÍQUIZ (1998)

insiste que, quando funciona morfossintaticamente, o valor semântico do lexema verbal pode

originar diferentes pautas hierárquicas: intransitiva (que oferece semanticamente significados

que se ajustam perfeitamente à captação comunicativa); transitiva (de significação geral ou

ambígua que precisa completar-se) e copulativa (que estabelece na oração uma relação de

identificação ou atributiva). Na concepção de LAMÍQUIZ (1998), como os copulativos

necessitam de uma predicação semântica atributiva ou nominal, ultrapassam o limite da

transitividade e, desta forma, são excluídos da escala. A figura 5 nos auxilia na compreensão

da referida classificação.

18 HELBIG, G.; SCHENKEL, W. Wörterbush zur Valenz und Distribution deutscher Verben. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1983. Apud NEVES (2002).

28

Na escala apresentada, a fronteira entre os verbos transitivos e os intransitivos é

pouco precisa e só pode ser entendida se nos basearmos nas peculiaridades léxico-semânticas

das formas verbais. Convém elucidar que a projeção hierárquica nos mostra apenas a

gradação de probabilidade do uso de complementação e não desfaz a falta de precisão na

referida classificação. Não obstante, LAMÍQUIZ (1998) nos apresenta duas ponderações

relevantes: há uma dependência semântico-funcional entre os itens dos enunciados e

diferentes graus de transitividade.

(...) la necesidad de complementación y, con ella, la probabilidad de que

aparezca el implemento tras un verbo es inversamente proporcional a la

independencia semántica del lexema de dicho verbo. Si bien se observa, la

motivación es semántica y la consecuencia es funcional. Ahora bien, la

lengua es un sistema de comunicación donde todo está en función de todo:

estructuralmente no hay nada independiente. Por ello nos atrevemos a

afirmar que no existen verbos intransitivos, sino que todo verbo es más o

menos transitivo. (LAMÍQUIZ,1998, p.174)19

A dimensão discursiva é deveras relevante aos estudos referentes à transitividade.

Uma valiosa contribuição do funcionalismo é a reformulação deste conceito por HOPPER e

THOMPSON (1980). Para estes linguistas, a transitividade é uma relação crucial nas línguas e

dela derivam consequências de ordem gramatical. Suas propriedades são determinadas pelo

discurso, não se restringem apenas, como tradicionalmente se coloca, às peculiaridades dos

verbos.

A transitividade, neste escopo de análise, é entendida como um contínuo, uma

atividade transferida de um agente a um paciente, que se estende ao enunciado como um todo.

HOPPER e THOMPSON (1980, p.251) elencaram componentes que configuram a noção de

19 (...) a necessidade de complementação e, com ela, a possibilidade de que apareça o implemento depois de um verbo é inversamente proporcional à independência semântica do lexema deste verbo. Porém como se observa, a motivação é semântica e a consequência funcional. Entretanto, a língua é um sistema de comunicação onde tudo está em função de tudo: estruturalmente não há nada independente. Por isso, nos atrevemos a afirmar que não existem verbos intransitivos, mas que todo verbo é mais ou menos transitivo.

29

transitividade e que são codificados na produção do discurso. Identificaram parâmetros de

base sintático-semântica que fornecem subsídios para que possamos classificar os níveis de

transitividade dos enunciados. Dez são os parâmetros de transitividade propostos. Vejamos

como se distribuem no quadro 2:

No tocante à individuação do objeto, ainda podem ser arroladas outras

peculiaridades:

Como pudemos notar, há um vínculo claro entre a transitividade e a função

pragmática. A organização discursiva é determinada, por um lado, pelos objetivos

comunicativos dos falantes e, por outro, pela antecipação das necessidades dos interlocutores.

Os falantes, a partir da seleção e ordenação de itens no enunciado, dão pistas ao seu

interlocutor a respeito do que é central (figura) ou periférico (fundo) em seu discurso20. É

fundamental dizermos que, para HOPPER e THOMPSON (1980), a transitividade prototípica, 20 A estrutura fundamental do texto que o permite progredir se intitula figura. Porém existem elementos que, embora não façam parte da referida estrutura e nem promovam a progressão discursiva, lhe dão suporte e possibilitam sua contextualização. Tais elementos constituem o que chamamos fundo.

30

isto é, a relação de transitividade mais representativa, de maior nível, se fundamenta em ações

com dois participantes: um agente que move e controla a ação e um paciente afetado por ela.

Para efeitos de esclarecimento, sua organização nos planos de figura e fundo

também dá suporte discursivo a esses traços. Os estudos de HOPPER (1979) frisam que as

narrativas se organizam textualmente em dois planos complementares: o de figura e o de

fundo. O primeiro se centra nos acontecimentos sobre os quais recai o foco narrativo. Estes

acontecimentos têm em conta a iconicidade, isto é, a ordem que os caracteriza no mundo real.

O segundo se vincula às informações que ambientam os acontecimentos principais.

HOPPER e THOMPSON (2001) revisitam o assunto, ao dirigirem sua atenção à

fala informal. Apesar de realizarem algumas ponderações com relação à análise anterior,

mantiveram similar linha de raciocínio. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos

parâmetros de transitividade citados:

(1) Participantes

As ações são transferidas de um participante a outro. Assim, para que a transitividade se dê, é

necessário que haja pelo menos dois participantes. Conforme já ressaltamos, um deles move e

o outro é afetado pela ação.

(2) Cinese

O dinamismo da oração está vinculado ao conceito de cinese. Verbos cinéticos são aqueles

que provocam modificações, são elementos situados no âmbito da figura, centrais no que se

refere à estrutura do texto.

(3) Aspecto

O fato de a ação ter sido concluída (aspecto perfectivo/télico) ou não (aspecto

imperfectivo/atélico) também influencia de maneira significativa no grau de transitividade. Se

31

o aspecto verbal for perfectivo, assinala que o evento é visto de forma completa no que tange

ao universo do discurso.

(4) Pontualidade

A pontualidade garante o efetivo afetamento do evento, por isso está atrelada ao alto nível de

transitividade. Verbos não-pontuais são utilizados para dar corpo, para contextualizar o plano

textual, não afetam diretamente a ação.

(5) Intencionalidade / (8) Agentividade do sujeito

Estes parâmetros estão vinculados à participação do sujeito na predicação verbal. Se o sujeito

praticar a ação intencionalmente e for agente, o nível de transitividade é maior.

(6) Polaridade / (7) modalidade da oração

De acordo com o parâmetro da polaridade, as orações podem ser afirmativas ou negativas, e,

segundo a modalidade, reais ou irreais. As orações afirmativas são as mais propensas a se

ancorar em eventos reais, por isso sua realização contribui para aumentar o nível de

transitividade.

(9) Afetamento / (10) Individuação do objeto

O foco destes parâmetros é o perfil argumental. Se o argumento foi modificado de alguma

maneira pelo sujeito e não pertence a um grupo de elementos será classificado como afetado e

individuado. PEZATTI (2004, p.193) declara que este perfil caracteriza um item como um

elemento sujeito à perfectividade semântica do verbo e como um argumento referencial

definido. Tais singularidades possibilitam que o referido argumento seja tomado como um dos

elementos centrais do discurso do falante.

32

Em: (4)“le di dos de los negocios”21, há três participantes, o verbo é de ação, de

aspecto perfectivo e pontual. Trata-se de uma oração afirmativa e de modalidade real. Além

disso, o sujeito é agentivo e realizou a ação intencionalmente. Embora os argumentos “le22

/dos de los negocios“ não sejam afetados e apenas um seja individuado (le), os outros

parâmetros garantem ao enunciado um alto grau de transitividade.

Por outro lado, em “camino una hora” 23, só o fato de possuir apenas um

participante diminui, consideravelmente, seu nível de transitividade. Dois dos dez parâmetros

de análise (9 e 10) sequer podem ser aplicados, assim como nos casos de perda de capacidade

referencial de ‘le’. Como em: (5)“Hoy o mañana, ¡pero lléguele! ...(OEM)”

Esta maneira de entender o processo de transitividade é modelo para esta tese, pois

a partir dele notamos com mais clareza que as particularidades semântico-discursivas dos

componentes de um enunciado influenciam as conexões e a hierarquia dos constituintes da

língua no plano sintático.

1.5. Participantes: por uma caracterização

Neste subitem, baseando-nos no conceito de transitividade preconizado por HOPPER

e THOMPSON (1980), fazemos uma rápida alusão aos participantes das cláusulas, isto é, aos

itens centrais aos quais outros elementos se subordinam: sujeito, complemento direto e

indireto. Sua seleção é direcionada pelos falantes, que elegem, de acordo com o que é mais

importante no seu discurso, os sintagmas nominais que obterão maior relevo. Todavia,

convém reconhecer que, embora o valor dos participantes seja determinado pelo contraste

entre os mesmos, há particularidades impostas pela seleção do predicado no que concerne aos

21 Corpus El Habla de Monterrey. Informante de 37 anos, pós-graduada. 22 Pronome anafórico. 23 Idem.

33

argumentos.

Conforme expusemos anteriormente, a transitividade prototípica se configura na

relação polarizada entre o sujeito e o complemento direto. As características destes

participantes se desvelam como traços opostos, pois enquanto o sujeito tende a ser agente,

animado, de alta continuidade discursiva, definido e tópico primário, o complemento direto

tende a ser paciente, inanimado, de baixa continuidade discursiva, indefinido e tópico

secundário. Neste prisma, o complemento indireto, compartilha muito mais traços com o

sujeito do que com o complemento direto.

Na verdade, o sujeito e o complemento indireto são diferentes pelo fato de aquele estar

no primeiro nível, no que diz respeito à topicalidade, e de ser, necessariamente, argumental.

Há que se considerar que, mesmo quando o dativo não é argumental, pode ser concebido

pelos falantes como um elemento de figura e não de fundo, porque é visto como central na

produção do enunciado. (GARCIA-MIGUEL,1992; VÁZQUEZ ROZAS, 1989).

Por su carácter de “función central no inherentemente valencial”, el CIND

termina siendo muchas veces el medio más adecuado o el único para que el

hablante presente como central una entidad que a priori sería marginal en el

estado de cosas designado. (GARCÍA-MIGUEL,1992, p.75)24

Entendemos que o complemento indireto é um “agente potencial” (GARCÍA-

MIGUEL, 1992), porque possui maior controle sobre a ação do que o complemento direto.

Precisamos reconhecer também que os traços de animacidade e de determinação aproximam

muito o sujeito e o complemento indireto, algo que pode realçar a força subjetiva do dativo

mesmo nos casos em que não se constitui como argumento. Em: (6)“..."Ya párenle", pide

Ninel Conde a la prensa Hola, hola amigos, ¿cómo están? Me da mucho gusto volverlos a

24 Por seu caráter de “função central não inerentemente valencial”, o complemento indireto acaba sendo muitas vezes o meio mais adequado ou o único para que o falante apresente como central uma entidade que a priori seria marginal no estado de coisas designado.

34

saludar esta semana, espero que se la estén pasando ...(OEM)”, o ouvinte é impelido pelo

emissor a realizar uma ação, a ação de parar. Subjetivamente esta interpelação é acentuada

pelo dativo não-argumental ‘le’.

Porém, não podemos nos esquecer que, mesmo que a carga subjetiva seja maior, as

cláusulas constituídas por SUJEITO – PREDICADO – COMPLEMENTO INDIRETO

apresentam um nível de transitividade mais baixo, pois em termos hierárquicos o

complemento indireto é o terceiro elemento da escala argumental. Além disso, estas cláusulas

são mais marcadas que as prototípicas (SUJEITO – PREDICADO - COMPLEMENTO

DIRETO).

1.6. Síntese do capítulo I

O capítulo I teve como finalidade dar relevo ao marco teórico norteador desta tese de

doutoramento. Nesta seção, optamos por elencar os conceitos-chave do funcionalismo que nos

auxiliaram em nossas reflexões e na construção de nossa pesquisa tangente à perda de

referencialidade do ‘le’ na variante mexicana do espanhol. Dentre eles destacamos: i) algumas

premissas gerais que identificam os modelos funcionalistas, tais como o conceito de função,

de concepção de linguagem, o postulado da não-autonomia da sintaxe e a visão dinâmica de

sistema; ii) questões tangentes à hierarquia categorial, à revisão de dogmas estruturalistas e a

sucintas noções sobre gramaticalização; iii) breves observações sobre (inter)subjetividade e o

vínculo entre este conceito e a acessibilidade de referentes; iv) a relevância do conceito de

transitividade; iv) e os traços que caracterizam os participantes do enunciado: sujeito, objeto

direto e objeto indireto.

Para entender as etapas de gramaticalização pelas quais passou o pronome átono ‘le’

na língua espanhola e tecer considerações sobre seus usos não-referenciais na variante

35

mexicana, decidimos pautar-nos no modelo funcionalista, uma vez que, assim como seus

representantes, acreditamos que o componente discursivo é peça de fundamental relevância

nas inovações e modificações do sistema de uma língua.

Este posicionamento reforça a idéia de que a utilização das formas e expressões

linguísticas pode tomar novos caminhos semânticos devido à pressão do uso e a aspectos de

caráter pragmático e cognitivo. O capítulo 2, também de cunho teórico, sustenta tais

posicionamentos e trata, efetivamente, sobre o processo de gramaticalização.

36

CAPÍTULO II

GRAMATICALIZAÇÃO: ANTECEDENTES, MECANISMOS E PRINCÍPIOS

Gramaticalização designa um processo unidirecional, segundo o qual

itens lexicais e construções sintáticas, em determinados contextos,

passam a assumir funções gramaticais e, uma vez gramaticalizados

continuam a desenvolver novas funções gramaticais. (FURTADO DA

CUNHA, 2008, p. 173).

37

CAPÍTULO II - GRAMATICALIZAÇÃO: ANTECEDENTES, MECANISMOS E PRINCÍPIOS

INTRODUÇÃO

Este capítulo constitui, em conjunto com as considerações de caráter funcional

discriminadas no capítulo 1, o suporte teórico-metodológico de nossa pesquisa. Percorrendo

as reflexões referentes aos mecanismos e princípios do processo de gramaticalização,

pretendemos traçar os caminhos que alicerçarão as metas desta tese de doutoramento.

2.1. Fases dos estudos sobre gramaticalização

No que diz respeito aos antecedentes dos estudos de gramaticalização, HEINE

(2003) assegura que há três fases que merecem ser discriminadas. A primeira se fundamenta

no trabalho dos filósofos franceses e britânicos do século XVIII: CONDILLAC (1746) e

HORN TOOKE (1786).

CONDILLAC (1746) observou que inflexões verbais tinham sido originadas de

palavras independentes por abreviação ou mutilação. HORN TOOKE (1786), por sua vez,

dividiu em categorias hierárquicas as palavras necessárias (nomes e verbos) e as

abreviadas, provenientes das primeiras. Postulou que a linguagem, em seu estado original, é

concreta e que, posteriormente, dos conceitos concretos surgiriam os abstratos.

GARACHANA CAMARERO (1997) insiste que essa consideração foi base de algumas

hipóteses sobre os condicionamentos da ‘evolução’ das línguas, pois a relacionavam com o

desenvolvimento da capacidade humana para comunicar-se.

A segunda fase abarca os trabalhos dos linguistas germânicos do século XIX.

BOPP (1816,1833) verificou que a mudança de formas lexicais a gramaticais poderia ser um

dos princípios básicos da gramática comparativa. O comparativismo foi palco de estudos

38

sobre o comportamento das formas gramaticais ao longo do tempo.

Dentre as várias pesquisas que merecem relevo, também está a contribuição de

HUMBOLDT (1857), tendo em vista que reconheceu quatro estágios que demonstram o

possível deslocamento das formas gramaticais de um nível concreto a um nível abstrato. O

primeiro compreende a fase em que as relações entre orações eram inferidas e não explícitas;

o segundo, por conseguinte, registra a marcação explícita das relações sintagmáticas e

oracionais. O terceiro estágio assinala a ocorrência de clitização, no qual palavras funcionais

se transformavam em clíticos. O quarto apresenta a formação de palavras complexas (raiz +

afixos).

Um dos problemas das orientações humboldtianas é a compreensão do conceito de

gramaticalização como um grande processo de perdas; por um lado, perdas fonológicas e, por

outro, perdas semânticas. De uma maneira mais sucinta, cumpre salientar que para

HUMBOLDT (1857) o significado dos elementos se perde, devido ao desgaste dos sons no

uso da língua. A nosso ver, é um posicionamento um pouco limitado, assim como o conceito

de palavra que este estudioso propõe.

HUMBOLDT (1857) sublinhou que as palavras só se modificam por conta da

flexão. Em sua concepção, as palavras são únicas, pertencem a uma parte específica do

discurso e possuem um sentido igualmente específico, vinculado à sua origem. Além disso, no

que concerne à mudança linguística, a palavra é tratada como fruto de mecanismos

analógicos, isto é, o surgimento de uma palavra se deve à existência de outra.

Ainda tratando de mudanças linguísticas, GABELENTZ (1891) as concebeu como

cíclicas, ou seja, insistiu que os processos de recriação gramatical voltam a ocorrer de maneira

similar ao longo da história da língua. Assim, a gramaticalização resultaria de dois caminhos:

(i) da busca em facilitar a articulação - equívocos articulatórios poderiam causar o surgimento

de novas palavras; (ii) da interpretação das formas linguísticas. Enfatizou, assim, a recorrência

39

da recriação gramatical, apontando que as mudanças ocorrem de maneira muito similar.

Percorrendo outro viés de investigação e preocupado com as implicações

semânticas dos processos de mudança, BRÉAL (1897) procurou comprovar que as formas

gramaticais podem perder seu significado referencial e receber a atribuição de instrumento

gramatical. As ponderações apresentadas foram de grande valia ao desenvolvimento dos

estudos sobre gramaticalização, contudo, não podemos deixar de frisar que a primeira alusão

direta ao termo gramaticalização advém dos trabalhos de MEILLET (1912).

Ao dividir as palavras em três tipos - principais, acessórias e gramaticais – ressaltou

que não podem ser vistas como categorias discretas, mas que, entre elas, poderia se dar uma

transição gradual. Entendia que tanto a expressividade como o uso são fatores decisivos à

‘evolução linguística’. A partir desse momento, se começa a questionar a idéia de que o

surgimento de novas formas se dá apenas por conta da analogia, conforme afirmara

HUMBOLDT (1857). O processo de gramaticalização se torna imperativo, no ponto de vista

de MEILLET (1912), já que novas palavras ou categorias gramaticais podem surgir sem que

tenham que apoiar-se em um modelo já estabelecido.

MEILLET (1912) propõe que a analogia e a gramaticalização são os dois processos

que propiciam o surgimento de novas formas e sentidos na língua. Se por um lado a analogia

reconsidera formas, por outro a gramaticalização gera mudanças no sistema. Assim sendo,

classifica em três os tipos de palavras: principais, acessórias e gramaticais. Demonstra que

pode haver entre estas uma transição de caráter gradual: as palavras acessórias intensificam

uma expressão; depois de enfraquecidas, passam a instrumentos gramaticais. Novas palavras

surgem, então, com o intuito de reforçar a expressão e, de forma cíclica, tudo recomeça.

Na ótica de POGGIO (2002), MEILLET (1912), atento às transformações dos itens

gramaticais, preconizava que o uso diminuia a expressividade dos elementos linguísticos e

que a repetição os desgastava. A gramaticalização, se nos basearmos em tais considerações,

40

poderia avançar à ordem das palavras nos enunciados. Não obstante, entendemos que as

primeiras décadas do século não são muito propícias às pesquisas sobre gramaticalização,

porque o advento da linguística como ciência produz o desvínculo entre sincronia e diacronia.

Na década de sessenta, constataram WERNER e KAPLAN (1963) que as formas

ou as expressões linguísticas poderiam semantizar-se, isto é, uma forma poderia passar a ser

polissêmica e, assim, começaria a singularizar uma categoria em termos de sentido. Sob este

ângulo, a gramaticalização, na realidade, se configuraria como uso de velhos meios para

novas funções.

As pesquisas de KURYLOWICZ (1965) complementam o posicionamento de

MEILLET (1912), ao ratificar que gramaticalização é o aumento do alcance de um morfema

que avança de um status menos gramatical para mais gramatical. Na década de setenta, coube

ao localismo25 e a GIVÓN (1971) trazer novamente o tema à tona. Este período, para HEINE

(2003), conforma a terceira fase de desenvolvimento dos estudos sobre gramaticalização.

Para GIVÓN (1971), a compreensão da estrutura de uma língua depende do

entendimento que se tem de seus estágios de desenvolvimento. GIVÓN (1971) adverte que,

de certa forma, há que se considerar uma evolução cíclica, unidirecional26: Discurso >

Sintaxe > Morfologia > Morfofonêmica > Zero. Sua célebre frase marcou o período:

Today´s morphology is the yesterday’s sytax.27

Torna-se, pois, apropriado ressaltar a contribuição de LEHMANN (1982) a esta

questão, porque com ele a gradualidade nos processos de gramaticalização foi posta em

destaque, ou seja, se começa a compreender a mudança como paulatina e gradual. Com a

proposta de GIVÓN (1979), o contexto pragmático passa a ser visto como algo deveras

25 “Abordagem de análise linguística que propõe que as expressões de locação (no tempo e no espaço) são mais básicas para uma análise gramatical ou semântica do que outros tipos de expressões, vistas como derivadas.” (CRYSTAL, 1985, p.165) 26 Segundo HEINE (2003), a questão da unidirecionalidade já tinha sido vislumbrada nos trabalhos de CONDILLAC (1746) no século XVIII. 27 A morfologia de hoje é a sintaxe de ontem.

41

significativo para o desenvolvimento dos referidos processos.

Uma definição de gramaticalização endossada nas investigações de

MARTELLOTA, VOTRE e CEZARIO (2003 [1996]) e de FURTADO DA CUNHA (2008),

de grande valia para esta tese, é a de HOPPER e TRAUGOTT (2003 [1993]).

We defined grammaticalization as the process whereby lexical items and

constructions come in certain linguistic contexts to serve grammatical

functions, and, once grammaticalized, continue to develop new grammatical

functions.(HOPPER & TRAUGOTT, 2003 [1993] , p. xv )28

Compreendemos que a definição de gramaticalização como o desenvolvimento de

uma forma de um nível lexical a gramatical ou de um nível gramatical a outro mais gramatical

se amplia, alça horizontes mais frutíferos. Por um lado, devemos a GIVÓN (1979) a noção de

que, a gramaticalização pressupõe a revisão de padrões discursivos em padrões gramaticais29.

Por outro, é de fundamental importância o que destacaram HOPPER e TRAUGOTT (2003

[1993]) e LICHTENBERK (1991): o processo de gramaticalização não se restringe apenas ao

percurso de um elemento lexical ao gramatical, mas também ao fato de que um item, depois

de gramaticalizado, pode continuar assumindo novas atribuições na língua.

Apoiados nesta linha de raciocínio, muitos linguistas no final do século XX

desenvolveram pesquisas fundamentadas nestes preceitos, tais como: Bernd Heine, Elizabeth

Traugott, Tania Kuteva, Richard Dasher e outros. Estes veem a língua como um produto

histórico e apontam que forças históricas também influenciam as construções de hoje. Damos

especial atenção às particularidades do contexto nos processos de gramaticalização,

acreditamos que estas são imprescindíveis à análise sincrônica, e ao avanço das categorias que

28 Definimos gramaticalização como o processo em que itens lexicais e construções aparecem em certos contextos linguísticos para servir a funções gramaticais, e uma vez gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais. 29 No caso da despronominalização do item ‘le’, a necessidade de marcar na língua através de um afixo pragmático a influência do emissor nas atitudes tomadas pelo ouvinte.

42

se dá de um status concreto (lexical) ao abstrato (significados gramaticais). Em nossa

concepção, estes posicionamentos revelam o valor dos condicionamentos pragmáticos e

cognitivos ao entendimento da gramaticalização.

2.2. A abordagem funcionalista e o conceito de gramaticalização

Cremos que duas visões, plenamente complementares, valorizam os fatores

extralinguísticos na gramaticalização de itens das línguas: a pragmático-discursiva e a

cognitiva (BUENAFUENTES DE LA MATA (2007)). Com relação à primeira, cabe dizer que

a gramaticalização está vinculada a fenômenos de ordem pragmática. A segunda assinala que

a gramaticalização é motivada pela estrutura conceptual humana, por vicissitudes de caráter

metafórico.

De acordo com o que viemos apresentando ao longo destas páginas, pensar nos

processos de mudança de uma língua pressupõe dar atenção à dinamicidade que lhe é

inerente. Conforme frisamos no capítulo anterior, não a analisamos como um sistema fechado,

mas como uma entidade modelada por forças cognitivas, pragmáticas e históricas

(HEINE,1993). Para explicar os casos de variação e mutabilidade linguísticas, é necessário,

portanto, estarmos atentos aos fatores extralinguísticos, à maneira como concebemos o mundo

e como se conceptualizam as experiências de vida.

Neste sentido, a atividade comunicativa é a grande motivação para o

desenvolvimento do processo de gramaticalização. O uso de formas linguísticas que dá conta

de significados concretos, de fácil acesso e claramente definido passa a expressar também

significados menos concretos, menos acessíveis e de conteúdo menos definido, mais

subjetivo. É coerente dizer que os falantes se valem de regras (gramaticais, fonológicas e de

formação de palavras) e rotinizam expressões, vinculando formas a novos sentidos e

43

possibilitam a geração de novas unidades no inventário da língua.

Há muita propriedade na convergência teórica entre funcionalismo e

gramaticalização, característica das investigações norte-americanas (SILVA-CORVALÁN

(2001)). Se um dos princípios centrais da corrente funcionalista é mostrar que para que se

compreendam as línguas é preciso dar atenção aos seus mecanismos de mudança,

consideramos plenamente justificável e plausível que esta vertente teórica acolha os estudos

referentes à gramaticalização. O processo de gramaticalização está alicerçado em um conceito

de língua cujo sistema é entendido como dinâmico e propenso a mudanças, tal como focaliza

a diretriz funcionalista. Conforme podemos notar, é no mínimo incoerente intitular-se

funcionalista e/ou explicar os processos de gramaticalização sem valer-se do uso linguístico

como fonte de análise.

As investigações norteadas pelas vicissitudes do processo de gramaticalização são de

grande pertinência pelo fato de apontar regularidades no que diz respeito à natureza da

conduta linguística e da linguagem humana. Ao definir o termo “gramaticalização”, convém

frisar que se trata de um processo gradual no tocante ao tempo, à sociedade e, principalmente,

ao indivíduo, pois a subjetividade é um elemento indispensável ao seu desencadeamento.

A gramaticalização tende a seguir padrões unidirecionais através das línguas e que, de

alguma forma, resultam na extensão metafórica dos significados. Deste modo, concluimos

que as escalas de abstração metafórica podem compor as cadeias da gramaticalização.

Partindo do pressuposto de que a mudança linguística é de caráter semântico-pragmático,

asseguramos que significados proposicionais podem desenvolver significados textuais e/ou

expressivos.

Se nos reportamos ao tema desta tese de doutorado, cabe dizer que o dativo “le”, na

variante mexicana do espanhol, além de fundamentar a referencialidade em alguns contextos

44

(significado textual: (7) “fui y le dije a mi señora órale vieja”, exemplo no qual ‘le’ alude à

palavra ‘señora’) é capaz de registrar noções totalmente subjetivas, expressivas, em outros

(significado expressivo, (8) “... para luego decirle a Miguel Angel que "ya sabes de qué se

trata ¿no?, si no quieres que te remitamos al MP, éntrale con 500 mil pesos"...”exemplo no

qual ‘le’, despronominalizado, serve à necessidade comunicativa do falante).

2.3. Mecanismos e princípios da gramaticalização

Existem quatro mecanismos - ou parâmetros, conforme intitulam HEINE e KUTEVA

(2005; 2007) - se inter-relacionam na gramaticalização de expressões da língua: (i) a

dessemantização ou redução semântica; (ii) a extensão ou generalização contextual; (iii) a

descategorização ou perda de características morfossintáticas e do status de palavra

independente; (iv) a erosão ou redução fonética. Cada mecanismo apresentado está atrelado a

um aspecto da estrutura da língua ou de seu uso, respectivamente: semântica, pragmática,

morfossintaxe e fonética.

Acreditamos que, em determinados contextos, as formas linguísticas de significados

concretos (“le” clítico pronominal) podem ser reinterpretadas e sinalizar significados

gramaticais mais abstratos (“le” desprovido de âncora referencial). De certo modo, formas

que possuem duas ou mais funções gramaticais poderão perdê-las, isto é, poderão perder seu

valor representacional, se dessemantizar. Quando assumem uma nova atribuição na língua, as

referidas formas adquirem outras funções de natureza pragmático-discursiva, conforme

assinala MARTELOTTA (2009).

A reanálise dos itens mencionados provoca a dessemantização e, em alguns casos,

interfere em sua configuração morfossintática. Baseando-nos nas considerações de

GARANCHANA CAMARERO (1997), sustentamos que a reanálise é um mecanismo

45

indispensável à mudança sintática, possui natureza semântica e se fundamenta na referência a

processos pragmático-sintáticos que possibilitam a reinterpretação dos constituintes das

orações e do discurso.

Así, entenderemos reanálisis como una regla de cambio que modifica la

configuración morfosintáctica de las unidades linguísticas mediante procesos

de naturaleza abductiva30. Dicha modificación conlleva una alteración

categorial de la pieza o piezas afectadas, cambios en el alcance de las

palabras que se gramaticalizan, así como modificaciones de la movilidad

sintáctica de estas. Todos estos cambios repercuten directamente en la

estructura de constituyentes y en las relaciones gramaticales entre los

elementos que entran en las construcciones que se gramaticalizan. En efecto,

a menudo se produce una reorganización de los límites entre los

constituyentes de la expresión gramaticalizada y puede llegar incluso a

producirse fusión de dos o más formas. (GARANCHANA CAMARERO,

1997, p.124) 31

Quando um item passa a ser usado em contextos que previamente não era solicitado,

se dá o processo de extensão. Depois de gramaticalizado, o item tende se tornar cada vez

mais divergente, a ser recuperado em contextos mais diversificados. Em decorrência desse

processo, perde propriedades de cunho categorial (descategorização) e, por conseguinte,

além de passar a ser mais frequente e previsível, pode perder substância fonética (erosão). A

descategorização leva uma forma linguística a fazer parte de um espaço categorial mais

fechado e, geralmente, é responsável pela perda de autonomia da mencionada forma.

Acompanhemos o quadro 4 e verifiquemos os mecanismos que fizeram possível a formação

30 A abdução aqui é concebida como um mecanismo lógico essencial aos modelos culturais e às vicissitudes da linguagem. 31 Assim, entenderemos reanálise como uma regra de mudança que modifica a configuração morfossintática das unidades linguísticas mediante processos de natureza abdutiva. Tal modificação implica uma alteração categorial da peça ou peças afetadas, mudanças no alcance das palavras que se gramaticalizam, assim como assim como mudanças em sua mobilidade sintática. Todas estas mudanças repercutem diretamente na estrutura dos constituintes e nas relações gramaticais entre os elementos que entram nas construções gramaticais que se gramaticalizam. Com efeito, frequentemente se produz uma reorganização dos limites entre os constituintes da expressão gramatical e pode chegar inclusive a produzir-se fusão de duas ou mais formas.

46

da construção ‘jíjole’32.

Realça BUENAFUENTES DE LA MATA (2007) que tanto a reanálise como a

analogia, são mecanismos básicos da gramaticalização. Ponderamos que muito criticadas

foram as idéias de HUMBODT (1857), uma vez que sublinhavam que a mudança linguística

dependia basicamente dos processos analógicos. Hoje, os estudos sobre gramaticalização não

se centram apenas na questão analógica, todavia, não podemos deixar de considerá-la como

um dos possíveis mecanismos de mudança, intrinsecamente vinculada à reanálise em alguns

casos. A reanálise é um dos espaços de generalização da analogia e sua atualização pode

pressupor modificações de cunho analógico.

Haja vista a inter-relação destes mecanismos, é válido deixar claro que os processos de

cunho semântico, morfossintático e fonético são afetados pelo fenômeno da gramaticalização,

de um modo geral, nesta sequência cronológica. O processo de gramaticalização pode

resultar: por um lado, na modificação da complexidade semântica e, por outro, na aquisição

32 Expressão que assinala surpresa, espanto.

47

de novos valores expressivos; no reajuste pragmático com ganho na significação sintática33;

numa maior fixidez da ordem; na obrigatoriedade de uso em certos contextos; na coalescência

ou em perdas fonéticas.

Julgamos preponderante, neste momento, tratarmos com um pouco mais de atenção da

coalescência, porque é algo que caracteriza as construções complexas analisadas nesta tese,

tais como: “ándale, córrele, híjole,órale”. A coalescência, uma das últimas etapas do processo

de gramaticalização, é caracterizada pela fusão de morfemas em uma só palavra devido à

rotinização, responsável por conduzir os itens a uma reanálise como uma única unidade de

sentido.

Mesmo que nem todas as formas passem por este estágio, cumpre mencionar os três

momentos de coalescência trazidos à baila por LEHMANN (1982): clitização, algutinação e

fusão. A cliticização se dá quando uma forma independente se torna um clítico e a aglutinação

ocorre quando um clítico se converte em afixo. A fusão se configura quando um afixo,

gramaticalizado, se coesiona com uma base também gramaticalizada34. Algo que se deu nas

construções discriminadas anteriormente, já que, nestes casos, “le” funciona como um afixo

intensivo-conativo.

Apresentados os mecanismos de gramaticalização, é necessário fazer menção aos seus

princípios, outra proposta deste subitem. Segundo HOPPER (1991), são cinco: i) a

estratificação (coexistência de diferentes codificações (antigas e novas) em um mesmo

domínio funcional); ii) a divergência (desenvolvimento de novas funções para uma mesma

forma); iii) a especialização (redução das possibilidades de seleção, assim, um dos itens

existentes passa a ser obrigatório); iv) a persistência ( presença de resquícios do sentido

original da forma em sua inovação); v) a descategorização35 (neutralização de marcadores

33 Ou o contrário, como no caso apontado por LICHTENBERK (1991), quando um item já gramatical recebe novas funções. 34 Vide quadro 4, p.46. 35 Vista por HEINE (2003) como um dos mecanismos da gramaticalização.

48

morfológicos e de singularidades sintáticas plenas, diminuição do status de categoria).36

Acreditamos que a gramaticalização leva uma forma a abrigar novos sentidos, assim

como ocorreu com o clítico “le”. À proporção que aumenta o grau de gramaticalização de um

item da língua, aumenta também seu grau de generalização semântica e sua dependência

contextual. Mais adiante, mais propriamente no capítulo 4, veremos como os princípios de

divergência e persistência são relevantes para o entendimento dos casos de perda referencial

do átomo “le”.

Além de ter se descaracterizado, pois era usado como um elo coesivo e passou a

funcionar também como um ítem do discurso, sob uma mesma forma “le” alicerça diferentes

funções. Além disso, em uma leitura pancrônica, algo do “le” prototípico se manteve na sua

inovação: a marca da subjetividade interacional. Essenciais à nossa análise, os mecanismos e

os princípios aqui apontados caracterizam os processos de gramaticalização.

De caráter histórico e dinâmico, estes podem promover, por um lado, novas codificações

de forma e significado, mais previsíveis, mais propensos às restrições do sistema linguístico,

mais fixas e, por consequência, menos livres (como no caso das conjunções, preposições ou

clíticos). A gramaticalização, neste sentido, contribui para a economia linguística e para o

ajuste entre os conteúdos cognitivos e suas designações.

Por outro lado, recuperando os estudos de TRAUGOTT e DASHER (2005) o

desenvolvimento de elementos mais livres, como os marcadores discursivos e marcas de

modalidade, também pode ser incluídos nos processos de gramaticalização, uma vez que são

elementos gramaticais e veiculam estratégias intersubjetivas, de grande relevância ao

processamento textual. 36 Exemplos: (i) uso de formas como ‘diré’ (direi) e ‘voy a decir’ (vou dizer) codificando o mesmo domínio funcional: a representação do futuro; (ii) uso de ‘le’ como clítico pronominal e como item pragmático despronominalizado, isto é, uma mesma forma codificando diferentes domínios funcionais; (iii) a conversão de ‘mente’ - que significava ‘mente’, ‘espírito’ - em um sufixo adverbializador (‘amblemente’ (amávelmente), ‘felizmente’...);(iv) a manutenção do sentido de mostração e sinalização dos clíticos pronominais em espanhol é um caso de persistência, já que estes sentidos são provenientes dos demonstrativos que os originaram; (v) pelo fato de ter perdido, em alguns contextos, sua capacidade referencial no espanhol mexicano, ´le´ se descategorizou, neutralizando o marcador morfológico de número.

49

2.4. Gramaticalização e mudança linguística

Uma construção linguística, ao gramaticalizar-se, registra mudança e não há mudança

que dispense alterações de ordem semântica. Nesta linha de raciocínio, uma expressão

linguística dada pode sofrer gramaticalização e adquirir um ou mais modelos de uso. Para

HEINE (2003), passado o momento de ambiguidade, o novo modelo de uso substitui o

original. Além disso, uma mesma forma também pode codificar diferentes domínios

semântico-funcionais, conforme vimos no item 2.3, no que tange ao conceito de divergência.

A frequência de uso, um dos fatores essenciais à mudança, conforme verifica

COMPANY (2003), trata-se de “un arma de doble filo”, de “uma faca de dois gumes”, pois ao

mesmo tempo em que pode gerar mudanças na língua, possibilita que o uso cristalize

construções. Quanto mais frequente é uma palavra, mais sujeita a transformações de todas as

ordens: fonética, morfossintática, semântica e pragmática. Em outra ordem de coisas, a baixa

frequência também pode motivar as mudanças. Formas infrequentes podem ser mal

empregadas, causar equívocos no uso e provocar mudanças, como no caso do quesuísmo em

espanhol37.

Mas, sobretudo, indispensável à mudança das línguas é a interação falante-ouvinte.

Convém asseverar que a subjetivização é um dos fatores que impulsiona as mudanças, pois a

gramática da língua, o sistema, assume significados pragmáticos vários que codificam atitudes

e atribuição de valores por parte dos falantes diante do que está sendo proferido. Tem-se em

conta as especificidades que caracterizam a relação falante/ouvinte, seja esta de proximidade,

distância, de ordem afetiva ou social.

A subjetividade, se nos pautamos nos trabalhos de TRAUGOTT (1990), diz respeito a

37 Substituição do adjetivo relativo “cuyo” pela construção “que su” na variante castelhana do espanhol. Ex.: [...] el es un jugador que su máxima cualidad es la de crear fútbol (Abc, 9-8-05).

50

uma tendência que explica o fato de algumas palavras deixarem de focar valores referenciais e

começarem a dar ênfase a valores textuais, metatextuais ou interpessoais. Tais considerações

podem reforçar a hipótese da regularidade da mudança semântica. Precisamos sublinhar que

tanto significados pragmático-subjetivos, ancorados no ponto de vista do falante (uso de “le”

como objeto direto), quanto pragmático-intersubjetivos (uso de ‘le’ em construções como

ándale), baseados na interação entre interlocutores, podem encontrar codificação explícita na

língua. Marcas formais e consequências sintáticas são, em sua maioria, pistas subjetivas

deixadas pelos usuários de uma língua na práxis discursiva, embora tais pistas também sejam

desveladas na própria seleção e ordem dos constituintes dos enunciados.

Devemos acrescentar a essas colocações o fato de a gramaticalização se apresentar em

cadeias, dentro de um continuum e, geralmente, partir do plano semântico. É possível afirmá-

lo, porque nem sempre as mudanças são decisivas à engrenagem do sistema; há um número

considerável de formas heterossêmicas e há inovações que não chegam a ser usadas por toda a

comunidade de fala. Isso significa que, embora o espanhol seja falado em 21 países, há

inovações que não se dão em todas as áreas geoletais e nem em todas as partes de uma mesma

área geoletal.

Quanto menores forem as restrições semânticas das formas e quanto mais requisitadas,

maiores são as chances de se gramaticalizarem e de incorporarem outras peculiaridades em

termos de sentido. Por isso, não consideramos a gramaticalização apenas como um mero

processo de perdas semânticas. Por outro lado, as investigações de GIVÓN (1991) mostram

que uma expressão linguística pode desenvolver-se de forma gradual no tempo e pode chegar

a uma gramaticalização plena depois de passar por diferentes estágios.

As mudanças morfossintáticas causadas são paulatinas e podem passar por longos

estágios de gramaticalização. IBBA (2008) propõe três fases que marcam a referida

gradualidade: i) a forma inovadora é utilizada em contextos não marcados; ii) o item chega a

51

contextos não tão favoráveis à sua realização; iii) a forma inovadora se inserta em contextos

próprios do item conservador. Portanto, nada impede que as formas antigas convivam por

longos períodos com as novas ou até que predominem.

Ocorre, na verdade, uma inversão de marcação, menciona COMPANY (2003). Um

elemento, depois de gramaticalizado, pode perder conteúdo fonológico e adquirir

características mais polissêmicas. Com relação ao significado, o mencionado elemento, na

maior parte dos casos, pode passar a ser:

i) mais gramatical que lexical ou mais relacional e funcional que referencial;

ii) mais abstrato, geral e extensional;

iii) codificado convencionalmente;

iv) menos dependente do contexto;

v) menos redundante na seleção de contextos;

vi) mais frequente;

vii) menos restrito em termos contextuais;

viii) menos marcado;

ix) menos icônico;

x) mais coeso ou mais livre38 em termos estruturais;

xi) mais obrigatorio, não parafraseável.

A mudança semântica é recorrente em um amplo escopo de estruturas conceptuais.

Independente do status gramatical do lexema em questão, TRAUGOTT e DASHER (2005)

reconhecem que as regularidades não são absolutas, há exceções que podem ser influenciadas

pelo estilo de vida e ideologia dos falantes. Neste viés, concebemos que as mudanças de

38 No caso dos marcadores discursivos, por exemplo. Vide último parágrafo do item 2.3. Base: TRAUGOTT e DASHER (2005).

52

significado irregulares parecem ocorrer no domínio sujeito às especificidades

extralinguísticas, tais como, mudança na natureza, construção social do referente e

identificação de grupo, por exemplo. Neste contexto, se tornam mais propensas à

generalização linguística.

2.5. Mecanismos cognitivos da gramaticalização

De algum modo a gramática reflete a cognição? Se entendermos a linguagem como

uma forma de ação e que por meio dela experimentamos os papéis sociais que nos são

atribuídos (MARTELOTTA e PALOMANES, 2008), não é muito complexo entender que os

significados não estão prontos ou limitados às expressões linguísticas. Os significados, nesta

perspectiva, estão fundamentados nos contextos interacionais e são resultados de diversos

domínios do conhecimento. Por este ângulo, é possível dizer que as formas linguísticas dão

pistas para as atividades cognitivas que estão associadas à linguagem.

Assim como os funcionalistas, os adeptos à linguística cognitiva não dissociam o

estudo da estrutura da língua da produção de sentidos, das peculiaridades que o contexto

comunicativo e a relação intersubjetiva lhe imprimem. COMPANY (2002) observa que tanto

os trabalhos de cunho funcional quanto os de cunho cognitivista têm dirigido sua atenção a

duas importantes considerações: (i) há uma relação entre a concepção de mundo e a estrutura

da língua39; (ii) a língua é o sistema mais próximo da organização conceitual do ser humano.

A produção de sentidos está vinculada à codificação sintática. Assim sendo, uma

possibilidade de compreendermos os fenômenos de variação sintática dialetal é conceber a

funcionalidade dos itens da língua como diferentes modos de construção de um mesmo

mundo conceitual. Se compararmos os enunciados “corre” e “córrele”, percebemos que o que

39 De acordo com a perspectiva funcionalista, a linguagem - que conforma cognição, cultura e interação – delineia a compreensão do mundo.

53

está em jogo não é a diferente escolha de formas ou construções linguísticas, mas a diferente

seleção de sentidos que estas guardam, isto é, os processos de significação que fundamentam.

Ao dizer “córrele”, o falante mexicano interfere muito mais na atitude do ouvinte.

A isto se deve acrescentar o fato de que a variação linguística, analisada com base em

um conceito dinâmico de sistema, geralmente se configura com a manifestação de pequenas

rupturas que podem levar a singularidades dialetais e mudanças futuras. Neste contexto, o

conceito de gramaticalização ganha especial atenção, porque é deveras relevante na inter-

relação entre a estrutura gramatical sincrônica e a variação linguística, bem como entre as

peculiaridades sintáticas e a organização conceitual dos falantes.

Na maioria das vezes, os falantes encontram maneiras de por em evidência, por meio

da língua, tudo o que lhes é significativo: “aquello que es semántica y pragmáticamente

importante en una determinada comunidad lingüística encuentra codificación o

manifestación gramatical explícita (COMPANY, 2002, p.43).40 Convém frisar, então, que a

metáfora é de fundamental importância nesse processo, pois facilita a interpretação de

domínios cognitivos mais complexos. Através da metáfora, conceitos abstratos se tornam

mais concretos e mais próximos de nossas experiências.

Desde a Antiguidade, há uma preocupação no que diz respeito a que mecanismos

geram mudanças semânticas. A atenção dispensada às mudanças de sentido das palavras abriu

espaço para o estudo da metáfora na linguística e, posteriormente, aos estudos semânticos

como disciplina. Nesta linha de raciocínio, vemos a metáfora tanto como recurso que gera

mudança como um tipo de associação mental fundamentada nas relações de semelhança entre

os objetos.

Salienta LLAMAS (2005) que a metáfora está vinculada aos processos de designação,

aos processos de uso, responsáveis por registrar a criatividade linguística dos usuários de uma

40 “aquilo que é semântica e pragmaticamente importante em uma determinada comunidade linguística encontra codificação ou manifestação gramatical implícita.” (COMPANY,2002, p.43).

54

língua. Portanto, ao mesmo tempo em que é um tema que diz respeito às especificidades da

linguagem, também tem relação com a cognição. O século XX nos oferece vários estudos que

procuraram analisar as causas da mudança semântica. Vejamos uma simples representação

baseada em trabalhos produzidos até a década de 60 (figura 6).

Os estudos apresentados, ora dão atenção aos fatores psicológicos, ora aos

sociológicos e, por vezes, os integram a outros condicionamentos como contextuais e

funcionais, como notamos no trabalho de NYROP (1913). No tocante ao trabalho de

MEILLET (1926), ainda que tivesse dado ênfase a fatores de cunho social, tendo em vista que

este critério apresenta claramente suas influências, não descartou as causas linguísticas e

históricas do referido processo. Em outro prisma, ULLMANN (1962), retomando as

colocações de SPERBER (1923), insistiu na relevância do fator psicológico na mudança, bem

como da influência de outras línguas e da necessidade de criação de novas palavras.

Compete-nos também fazer menção ao trabalho de COSERIU (1958), pois adverte,

com propriedade, que nenhuma mudança pode ser analisada sem que se tenha em conta a

intencionalidade dos sujeitos que usam a língua. Desta forma, além da mudança ser uma

manifestação da criatividade e da subjetividade da linguagem na história das línguas, é algo

que lhes é totalmente inerente.

As influências históricas, sociais e psicológicas são refletidas nas línguas e nosso

55

conhecimento linguistico nos ajuda a expressá-las materialmente. Muitas vezes representamos

mentalmente uma realidade a partir de outra, com a qual observamos algum elo de

semelhança, assim se configura a conceptualização metafórica nas línguas. Os processos do

pensamento humano são em grande parte metafóricos e assim se estrutura e se delineia o

sistema conceptual humano. (LLAMAS, 2005)

Entretanto, precisamos deixar claro que ainda há muitas questões a serem discutidas

no tocante à compreensão da metáfora como procedimento de conceptualização da realidade.

Cremos que o avanço das pesquisas nesta área poderá apresentar pontos mais significativos

desta relação. De qualquer forma, as atividades próximas às experiências interacionais dos

falantes podem condicionar o jogo metafórico, pois tendem a servir à subjetividade dos

falantes. A produção de sentidos, nesta linha de raciocínio, abre caminho às mudanças

semânticas.

As expressões linguísticas podem desenvolver significados mais abstratos e, para

HEINE; CLAUDI e HÜNNEMEYER (1991), estes são também os mais gramaticais. Neste

modo de pensar, os itens mais gramaticais derivam de palavras menos gramaticais; têm traços

mais específicos do que as formas com as quais compete; geralmente, não possuem o traço

[+hum]; e encabeçam sintagmas nominais ou orações.

Por esse caminho, HEINE; CLAUDI e HÜNNEMEYER (1991) procuram mostrar que

os itens que expressam condição ou maneira, são mais gramaticais que os espaciais. Além

disso, os elementos que expressam lógica são mais gramaticais do que aqueles que registram

noções temporais. Por sua vez, estes são menos gramaticais do que os elementos que

expressam relação de causa ou condição. Assim se configuram critérios que, mesmo que

pretendam ser apenas uma generalização, contribuem ao entendimento dos processos de

gramaticalização.

HEINE (1991) reforça que há um arranjo de categorias conceptuais, o que resultaria

56

no que vem sido intitulado “metáforas categoriais”. Destas considerações provém a escala de

abstratização que direciona o processo metafórico: PESSOA > OBJETO > ESPAÇO >

TEMPO > PROCESSO > QUALIDADE. Contudo, importa-nos dizer que a gramaticalização

não se limita à metaforização: a metáfora e a metonímia são complementares. A transição de

um domínio-origem para o domínio-destino envolve um período intermediário que delineia a

coexistência dos dois conceitos mencionados. A gramaticalização registra, assim, a extensão

gradual do uso de uma entidade original.

Admitimos que os dois mecanismos estão inter-relacionados no processo de

gramaticalização, posto que a transferência conceptual é metafórica e a reinterpretação

possibilitada pelo contexto é de cunho metonímico. Vejamos o que nos sugere a figura 7.

Se tomarmos como exemplo a palavra ‘pero’, é importante dizer que em seu domínio-

origem, funcionava como um complemento circunstancial. Esta palavra passou por estágios

de gramaticalização (domínios-destino) e, assim, depois de reanalisada, descategorizada e

57

dessemantizada, começou a registrar outra função: a de relacionante supra-oracional pelo

valor dêitico de ‘hoc’. Após estes processos, começa a funcionar, em espanhol, como

conjunção coordenativa e também como elo de parágrafos e intervenções. Concluímos que a

redução da complexidade cognitiva é metafórica, mas as reinterpretações do item são

metonímicas.

A metonímia pode ser um fator importante no que tange à mudança linguística,

porque é dependente em termos contextuais. Pode ser entendida como uma manipulação de

caráter pragmático-discursivo, ou seja, através da metonímia os conceitos estão condicionados

a peculiaridades contextuais na interpretação. A metonímia se estabelece quando algum tipo

de relação, que não seja semelhança, se dá entre duas realidades designas pelo mesmo nome,

tais como as relações de lugar, parte, agente, instrumento e tempo (LLAMAS, 2005).

O uso não pronominal de “le”, por exemplo, representa uma manipulação de caráter

pragmático-discursivo, pois o sentido conotativo que desvela só tem validade por estar

ancorado na interação. O referido uso também é metafórico, porque permite diminuir a

complexidade da interpelação ao ouvinte. Alguns processos inferenciais podem ser

metonímicos, principalmente aqueles que dependem da relação eu ↔ tu, aqui ↔ agora,

fundamentados nas situações de interação, na intersubjetividade.

Duas, portanto, a metáfora e a metonímia, são as motivações de ordem pragmático-

cognitiva não-excludentes. É interessante frisar que a metáfora está sujeita a motivações

culturais próprias das línguas onde se constituem. Com relação à metonímia, cabe dizer que,

prototipicamente, é de base referencial, tendo em vista que uma entidade passa a ser tangível

devido à presença de outra, menos relevante, que a evoca. De caráter metonímico, o contexto

morfossintático e pragmático, em que as expressões são empregadas, veicula as metáforas.

58

2.6. Gramaticalização e unidirecionalidade: algumas reflexões

Com base no princípio de unidirecionalidade, entendemos a gramaticalização como

um processo evolutivo, através do qual as categorias lexicais passam a assumir funções de

caráter gramatical e/ou formas gramaticais passam a registrar atribuições ainda mais

gramaticais, conforme viemos frisando ao longo deste capítulo. A unidirecionalidade se

manifesta nas mudanças semânticas, quando as formas passam a designar significados

abstratos e relacionais; nas mudanças sintáticas, representada pelos mecanismos de

descategorização ou rigidez sintática; e nas mudanças de caráter fonológica, nos casos de

fusão de formas e erosão.

CASTILHO (1997), COMPANY (2003), MARTELOTTA (2009), por exemplo,

acreditam na irreversibilidade das mudanças citadas anteriormente. Argumentam que os

processos que atendem a tais particularidades são graduais e tendem a desenvolver-se em uma

única direção. Entretanto, Lyle Campbell, Richard Janda, Frederick J. Newmeyer e outros

linguistas têm encontrado problemas no tocante à unidirecionalidade e à teoria da

gramaticalização, pondo em xeque tais conceitos e aplicação.

Em Campbell e Janda (2001) podem ser vistos vários artigos, não apenas

criticando o princípio da unidirecionalidade, mas questionando o status da

gramaticalização como uma teoria da linguagem e de seu funcionamento,

propondo que a gramaticalização não passa de um epifenômeno, ou seja, o

resultado casual da atuação de fatores ligados a outros fenômenos

linguísticos. (MARTELOTTA, 2009. Prelo)

Na literatura sobre o tema, podem ser facilmente encontrados posicionamentos que

59

ressaltam ser a lexicalização41, a desclitização42 e a regramaticalização43 contra-exemplos

de unidirecionalidade. A lexicalização, na concepção de GARANCHANA CAMARERO

(1997), não pode ser entendida desta forma, uma vez que a evolução do significado

gramatical pressupõe tanto processos que se estendem do âmbito lexical ao gramatical, como

do gramatical ao lexical. E, por outro lado, se a regramaticalização é um mecanismo a partir

do qual uma nova função gramatical é formada com base em uma palavra também gramatical,

não se trata, portanto, de um contraexemplo, mas de outro exemplo que reafirma a validade

do continuum unidirecional.

Ahora bien, como apuntábamos más arriba, estas dos líneas evolutivas

suponen procesos distintos cuyo único punto de unión es la implicación del

significado gramatical. Por consiguiente, no puede identificarse la

lexicalización con la gramaticalización; la lexicalización no constituye un

fenómeno de gramaticalización. (GARANCHANA CAMARERO, 1997,

p.179)44

Entretanto, GARANCHANA CAMARERO (1997) assinala que o único caso que

poderia ser tomado como um contraexemplo de unidirecionalidade é a desclitização, pois

pressupõe que uma palavra deixe de ser dependente em termos prosódicos e passe a funcionar

como item independente. É um caso que, a grosso modo, invalidaria a tendência da perda da

autonomia dos itens no processo de gramaticalização. Contudo, TRAUGOTT e HEINE

(1991) defendem que a desclitização se trata apenas de um processo de reanálise, porque

resulta tanto em um significado gramatical, como em uma forma gramatical.

41 Exemplo: auto (mesmo, próprio) + ayuda: autoayuda. A lexicalização de ‘auto’ reduziu sua estrutura interna e o conduziu ao inventário lexical. 42 O processo de desclitização se dá quando uma palavra dependente adquire acento e se torna independente. IBBa (2008, p.43) nos oferece exemplos do Japonês. No exemplo a seguir o clítico pode funcionar como conector. Exemplo: “Taro-wa mada kodomo-da. Da-kara sore-wa muri-da.”(Taro é ainda pequeno. Por isso, não é capaz de realizar esta tarefa ). 43 Segundo SÁNCHEZ (2002), a marca de plural em verbos impessoais seria uma caso de regramaticalização. Como em: “llovían billetes” (Choviam passagens). 44 Contudo, como sinalizávamos mais acima, estas duas linhas evolutivas supõem processos distintos cujo único ponto de união é a implicação do significado gramatical. Por conseguinte, a lexicalização não pode ser identificada com a gramaticalização; a lexicalização não constitui um fenômeno de gramaticalização. (GARANCHANA CAMARERO, 1997, p. 179)

60

A gramaticalização é uma teoria que focaliza o desenvolvimento das formas verbais e

possibilita a descrição do surgimento dos elementos gramaticais ao logo do tempo. Portanto, a

gramaticalização é, somente, um dos tipos de mudança linguística e que, por isso, tem

motivações diferentes de outros processos, como a lexicalização, por exemplo.

(MARTELOTA, 2009).

Nestes termos, ainda que a gramaticalização seja uma tendência expressiva, sua

atuação sobre os elementos linguísticos não é exclusiva, outras motivações podem se dar e

apontar distintos caminhos à mudança. A unidirecionalidade se sustenta nos processos de

gramaticalização pela força dinâmica oriunda das situações de interação e este fato não

impede que outros mecanismos sejam acionados no processo comunicativo.

A âncora do fluxo básico de mudança, motivado pelo uso da língua, é constituída pela:

iconicidade, frequência de uso, expressão de domínios abstratos em domínios concretos,

competição entre as forças de economia e clareza, tendência ao uso de expressões novas,

seleção de estruturas ótimas por parte dos ouvintes, bem como pela negociação intersubjetiva.

Estes são fatores que possibilitam a unidirecionalidade na gramaticalização, assevera

MARTELOTTA (2009).

Sob ótica de TRAUGOTT e DASHER (2005), podemos dizer que o processo de

mudança, fundamentado na gramaticalização, conforma cinco estágios: i) a alta

previsibilidade de um item que, devido à frequencia de uso, o conduz a um baixo nível de

informatividade; ii) o item pode perder massa fonética ou fundir-se a outras formas; iii) a falta

de esforço em termos de processamento pode ocasionar desgaste semântico; iv) o item

desenvolve sentidos mais interpessoais em detrimento dos representacionais; v) os falantes

podem começar a valer-se do recurso intitulado renovação, ou seja, podem procurar novas

formas para expressar o sentido anteriormente indicado pelo item.

Há alguns caminhos previsíveis para a mudança semântica, acentuam TRAUGOTT e

61

DASHER (2005). Estes podem ser evidenciados se estivermos atentos às estruturas

conceptuais e aos domínios de função da linguagem. Nesta perspectiva, ainda que as

taxonomias insistam que as mudanças e os significados sejam bidirecionais, existem estudos,

fundamentados na história dos lexemas, que atestam o valor da unidirecionalidade nos

processos de mudança lingüística.

2.7. Síntese do capítulo II

Neste capítulo, procuramos fazer menção aos antecedentes, conceitos, mecanismos e

princípios da gramaticalização. A linha teórico-metodológica desta tese foi delineada com

base nas considerações feitas neste e no capítulo 1, que abordam desde a concepção que

temos de língua até o que entendemos com relação aos processos que afetam a mudança

semântica.

Buscamos frisar que ao configurar-se a gramaticalização de itens lexicais ou de

construções sintáticas, os falantes lhes atribuem novas funções nas situações de interação das

quais se inserem. Tais itens lexicais e construções sintáticas, geralmente devido a sua

freqüência de uso, adquirem novos sentidos e sua recorrência permite que sejam utilizadas na

práxis discursiva.

Demonstraremos que este processo está ocorrendo com forma átona ‘le’, tendo em

vista que vem assumindo diferentes atribuições na língua espanhola pelo fato de ter sido

gramaticalizada. Nos casos de perda de designação referencial de ‘le’, devido à reanálise e a

descategorização, este item perdeu sua mobilidade sintática. Por conta de uma necessidade

comunicativa dos falantes, passou a funcionar de forma autônoma no que tange à predicação.

Neste capítulo, assinalamos que, a língua reflete dados da cognição e, através daquela,

encontramos formas de dar relevo ao que é importante à produção de sentidos. Além disso,

62

verificamos que a subjetivização está relacionada aos mecanismos cognitivos da

gramaticalização, principalmente no que se refere à metáfora, responsável por desabstratizar

conceitos demasiado complexos à interpretação dos falantes.

A partir do que viemos delineando ao longo deste capítulo, asseveramos que o átono

“le” está realmente passando por um processo unidirecional de mudança. Por ter começado a

registrar, em alguns contextos, sentidos relacionais, por ter se descategorizado e ter adquirido

uma rigidez de caráter sintático, inclusive por ter se ligado a bases verbais e nominais,

fundamentando uma fusão em construções diversas.

O capítulo a seguir apresenta o desenvolvimento da forma gramatical ‘le’, desde sua

origem até o século XX. Nesta parte do trabalho, também destacamos o papel das

especificidades sintáticas e semântico-pragmáticas na codificação dativa, com base em uma

perspectiva pancrônica de análise e orientando-nos pelo viés funcionalista dos estudos de

gramaticalização.

63

CAPÍTULO III

O DESENVOLVIMENTO DO ÁTONO ‘LE’:

DAS ORIGENS AO SÉCULO XX

El sistematizar y explicar el fenómeno de los pronombres

átonos es, en algún sentido, un reto.

(SORIANO,1993, p.13)

64

CAPÍTULO III - O DESENVOLVIMENTO DO ÁTONO ‘LE’: DAS ORIGENS AO SÉCULO XX

INTRODUÇÃO

Para que possamos apresentar uma visão panorâmica do comportamento do clítico

dativo, pautada na orientação funcionalista dos estudos de gramaticalização, faz-se mister

referir-nos a sua origem. A realização deste recorte histórico nos permitirá observar os pontos

de interseção entre acusativo e dativo e entender algumas motivações para os usos peculiares

da forma ‘le’ na língua espanhola.

Este capítulo objetiva trazer à baila um estudo que leve em consideração

desenvolvimento do átono ‘le’, desde a sua origem latina à fase moderna da língua espanhola.

É importante dizer que procuramos esabelecer uma relação entre o surgimento dos fenômenos

de cliticização e seu comportamento no espanhol atual.

Desta forma, visamos: i) tratar dos aspectos morfossintáticos e fonológicos dos clíticos

de 3ª pessoa; ii) traçar uma breve tipologia do dativo; iii) oferecer dados históricos que

contemplem o desenvolvimento do átono ‘le’ na língua espanhola; iv) registrar os processos

de gramaticalização da referida forma até o século XX. Valemo-nos das ponderações de

caráter histórico com a finalidade de realizar um estudo de caráter pancrônico. Ainda que seja

uma síntese, temos ciência de que em nossas mãos se desenha uma meta ambiciosa.

3.1. O comportamento dos clíticos de 3ª pessoa: aspectos morfossintáticos e

fonológicos

Ao tecer considerações a respeito do sistema pronominal espanhol, FERNÁNDEZ-

ORDÓÑEZ (1993) afirma que os átonos de 3ª pessoa são as formas que melhor conservaram

heranças do latim. ‘Le’(s), ‘lo (s)’, ‘la(s)’, ‘lo’ correspondem às formas latinas ille(illis), illum

65

(illos), illam (illas), illud. Assim sendo, seguindo a referida orientação, a forma le(s) deveria

retomar entidades em função de objeto indireto nos enunciados e ‘lo (s)’, ‘la(s)’, ‘lo’

deveriam ser usados na recuperação de objetos diretos masculinos, femininos e neutros –

respectivamente. Em construções triactanciais ou trivalentes, quando se faz necessário

resgatar por meio de clíticos os argumentos em função acusativa e dativa, o átono ‘se’ deveria

codificar o dativo, segundo a orientação normativa.

45

Analisando o comportamento dos clíticos mencionados, FERNÁNDEZ RAMÍREZ

(1987) esclarece que os pronomes de 3ª pessoa são dêiticos, mas dá à sua função sintática

maior relevância. Neste prisma, a referência idêntica remete à relação de concordância entre a

entidade a ser recuperada e o clítico. As funções etimológicas dão conta desta relação e, nesta

perspectiva, deveria ser fundamentada nas diretrizes do uso conservador.

Los pronombres personales realizan una DEIXIS EXTRATEXTUAL a las

personas del discurso. El de tercera persona (especialmente el neutro y las

formas átonas concordantes) actúa en el campo sintáctico con referencia

idéntica e intrínseca. (FERNÁNDEZ RAMÍREZ,1987, p.22).46

Acompanhando as ponderações de MARCOS MARÍN (1978), LAPESA (1981) e

FLORES (2006), ressaltamos que há que se ter cuidado com a utilização dos termos

45 Corpus El Habla de Monterrey. Informante masculino, de 54 anos, ensino fundamental. Tradução: “que lhe digam que alguém vai segunda-feira.” 46 “Os pronomes pessoais realizam uma dêixis extra-textual às pessoas do discurso. O de terceira pessoa (especialmente o neutro e as formas átonas concordantes) atua no campo sintático com referência idêntica e intrínseca”.

66

‘etimológico’ e ‘não-etimológico’, bastante recorrente nos estudos tangentes aos pronomes

átonos. Tal classificação pode ser válida apenas em caráter didático, no sentido de diferenciar

os direcionamentos sintáticos primeiros - os conservadores - das inovações. Conforme

verificaremos mais adiante, as fronteiras entre os casos não eram tão firmes no latim.

Ressaltamos que, de um modo geral, o sistema pronominal da língua espanhola

apresenta complexidades: i) o fato de existir uma série átona e outra tônica, bem como

lexemas diferentes para as pessoas gramaticais; ii) a falta de uma distinção de gênero

uniforme; iii) a existência de formas neutras – tanto no que diz respeito ao grupo dos átonos

como dos tônicos; iv) o fato de a flexão de número, tangente aos átonos de terceira pessoa, ser

similar a dos nomes, em contraposição a dos de primeira e segunda pessoa cujos lexemas são

diferentes se compararmos o singular e o plural; v) a distinção, frágil em alguns contextos,

entre formas acusativas e dativas apenas nas formas de terceira pessoa; vi) o uso de ‘se’,

invariável em gênero e número, como codificador dativo47.

Por conta desta complexidade, SÁNCHEZ DORESTE (2005) insiste que a

heterogeneidade conceptual se manifesta na diversidade formal que apresenta a subclasse dos

pronomes pessoais. Esta diversidade é oriunda de algumas características do sistema latino

que se mantiveram e de algumas mudanças feitas ao longo do desenvolvimento do castelhano.

É oportuno dizer que os clíticos de 3ª pessoa são formas dependentes, de função

adverbial e são empregados, na maioria das áreas geoletais, como itens referenciais. São

fonologicamente dependentes do verbo, por este motivo não são capazes de constituir por si

só um enunciado. Inclusive, são itens que não podem ser acompanhados de determinantes ou

modificadores, porque constituem uma expansão máxima nominal 48. Em, (10)“En ese

instante entró su concubina Gabriela y que ella le dijo: "Éntrale" y él, jugando, le puso la

47 Vide exemplo 4. 48 Expressão utilizada por SORIANO (1993).

67

escopeta en el tórax y le jaló el gatillo...”, “le” recupera a palavra ‘él’ (ele). Neste caso, se

trata de uma expansão máxima nominal por funcionar como sintagma nominal pleno.

Os clíticos pronominais diferem dos morfemas porque se coesionam ao sintagma e não

a uma palavra específica, desta maneira, podem ser denominados afixos frasais ou

sintagmáticos. A propriedade adverbial lhes é garantida por formarem com o verbo uma

unidade acentual, tanto em posição enclítica como proclítica. Entre os clíticos e o verbo não

se admite nenhuma outra palavra a não ser outro clítico, propriedade que reforça seu caráter

afixal (SORIANO, 1993). Não podemos deixar de enfatizar que os clíticos se adéquam a uma

ordem de pessoa e conformam hierarquicamente peculiaridades também de caráter

morfológico.

HOPPER e TRAUGOTT (1993), pensando na escala da hierarquia cognitiva,

interpretam os pronomes pessoais como elementos pertencentes a uma categoria menor. Por

outro lado, deixam claro que os pronomes pessoais se vinculam aos dois componentes

situados na categoria de maior nível, os nomes e os verbos. Tal consideração, em nossa

concepção, reafirma sua importância na construção de enunciados e, principalmente, na

produção de sentidos. Verifiquemos com atenção a figura 8, referente à mencionada

classificação.

68

3.2. Questões semântico-pragmáticas

Dando atenção a nuances da práxis discursiva, BENVENISTE (1995) define que a

noção de pessoa é característica da 1ª e da 2ª pessoa, uma vez que estão fundamentadas na

interação e são imprescindíveis à mesma. A 3ª, ‘a não-pessoa’, alude à situação objetiva, daí

seu perfil dêitico, advindo dos demonstrativos que a originaram. Neste sentido, é

caracterizada por aludir aos constituintes do enunciado, é, portanto, de suma relevância no

escopo da enunciação.

Os pronomes pessoais constituem uma classe substantiva, isto é, compartilham

propriedades com os nomes, adjetivos e artigos. Dentre as diferenças entre os pronomes

pessoais e os nomes, uma é bastante recorrente nas gramáticas normativas de língua

espanhola (R.A.E.(1998), FRANCH & BLECUA (1998), TORREGO (2002)): o fato de os

pronomes serem desprovidos de especificidades semânticas.

GILI GAYA (2007) explica que, em termos semânticos, os clíticos aos quais dirigimos

nossa atenção, são desprovidos de significado pleno, porque este está vinculado ao contexto

linguístico em que são utilizados. Neste ponto, consideramos mais razoado o raciocínio de

BENVENISTE (1995), porque compreende que a propriedade que merece mais atenção do

item referencial não é a ausência de significado, mas o fato de se reportar a uma informação

que só tem validade em um contexto específico.

Partimos do princípio de que a seleção pronominal não se alicerça apenas em

particularidades sintáticas, mas também em especificidades semântico-pragmáticas. Nesta

perspectiva, convém reforçar que a seleção pronominal registra dados de iconicidade e de

subjetividade na práxis discursiva. Isto significa que dados da relação entre os falantes e os

valores que atribuem à entidade a ser recuperada, bem como a relação entre os partícipes da

interação, influenciam na escolha do item que reapresentará a entidade no discurso.

69

Por outro lado, é importante ressaltar que a questão referencial está extremamente

ligada ao controle do falante com relação ao que já foi apresentado no discurso, ao fluxo

informacional. Se examinarmos o seguinte exemplo (11): “este era una muchacha que se

encerraba y no... / no... / hacía de comer ni comía / ¿sabes cómo le hacía yo para que comiera?

/ le llevaba el plato”, observamos que ‘le’ não tem um conceito, mas é uma forma que nos

leva a outra dotada de conceito (muchacha).

O uso de ‘le’, em destaque no exemplo supracitado, além de ser icônico, aciona a

capacidade do ouvinte de resgatar a entidade mencionada sem que haja esforço de

compreensão. Tanto o antecedente (muchacha) como a âncora textual (le) estão assinalados

com um índice referencial responsável por mostrar que os dois elementos concernem à mesma

entidade discursiva. Eis o uso prototípico do mecionado clítico pronominal.

Oriundo de fonte popular e acolhido, com algumas restrições pela tradição gramatical,

o termo ‘leísmo’ se refere aos casos em que ‘le’ recupera itens em função de objeto direto.

Sob a ótica de LLORACH (1995), SARMIENTO e SÁNCHEZ PÉREZ (1997), pautados em

estudos do século XIX (CUERVO, 1895), por uma tendência à supressão das diferenças entre

acusativo e dativo em favor da distinção de gênero, este átono passou a reiterar sintagmas

nominais em função acusativa. Em nossa concepção, o leísmo conforma das etapas de

gramaticalização do dativo em espanhol, como explicaremos mais adiante, não se trata apenas

de uma questão da preponderância do gênero em relação ao caso.

Devido às pressões do uso linguístico e por encontrar legitimidade nos textos

literários, a Real Academia Espanhola aceitou parcialmente o leísmo. Dizemos parcialmente,

porque alguns tipos de leísmo e alguns usos peculiares de ‘le’ não encontraram espaço na

norma culta, tais como o leísmo feminino e o leísmo de objeto (até o século XIX aceito pela

mencionada Academia).

70

Os exemplos (14) no qual “le” se centra nas particularidades do evento, (15) e (16) que

apresentam um “le” desprovido de âncora referencial, são frequentes no discurso de falantes

mexicanos. A estes lançaremos um olhar investigativo no capítulo 4. Trata-se de realizações

que sequer são previstas pela norma de prestígio e nem são produtivas em outras áreas

geoletais.

(12) I: Pos sí / sí stán buenas //E: ¿En inglés / d'ésas / con letritas? // I:

Sí stán buenas / sí / aunque no les entienda / y se rían estos / me 'icen /

amá / ¿y usté qué le ve? / l'igo no... / si no entienden uste's / pe'o yo /

yo / con que l'entienda / yo / mira / aunque ustedes digan / que no [

películas] 49

(13) “... puro trabajo / si no trabaja uno no come así es que / hay que

buscarle.”50

(14) “ ¿Y qué raíz le ves a eso?” 51

(15) “...pos ándale regálame y / e...m / aprendiste a negociar”.52

(16) “ Híjole pos en realidad son muy... /distintos”53

Diante do que foi exposto, é necessário afirmar que se a forma dativa adquiriu outras

atribuições na língua, é sinal de que se gramaticalizou, isto é, foi reinterpretada em termos

semânticos e morfossintáticos em determinados contextos, se dessemantizou e se

descategorizou, aumentando, assim, sua funcionalidade, principalmente no que se refere ao

espanhol falado no México54. Algumas destas funções foram endossadas (como o leísmo

masculino), outras foram descartadas (como o leísmo feminino e de objeto) e outras nem

49 Corpus: El habla de Monterrey. Informante analfabeta de 36 anos. 50 Corpus: El habla de Monterrey. Informante analfabeta de 49 anos. 51 Corpus: El habla de Monterrey. Informante graduada de 37 anos. 52 Corpus: El habla de Monterrey. Informante graduada de 37 anos. 53 Corpus: El habla de Monterrey. Informante pós-graduada de 25 anos. 54 O capítulo quatro se centrará mais nesta questão.

71

foram levadas em conta pela norma culta (como o leísmo oracional e o uso de ‘le’ como

partícula intensivo-pragmática).

3.3. O dativo: questões tipológicas

Seguindo uma diretriz descritiva, CAMPOS (1999) assevera que os objetos

indiretos ou dativos argumentais em língua espanhola são aqueles que: i) expressam o destino

do que reforça o predicado ( Le llevé varios regalos a Gilhermo – dativo de recepção); ii)

recebem algum benefício ou prejuízo (Le corté el césped a Maggie – dativo de interesse ou

commodi-incommodi); iii) assinalam separação (Le robaron la bicicleta a Michel – dativo de

separação); iv) conformam uma parte do corpo de alguém ou parte que se considera íntima

(Le besé la mano a María – dativo de posse ou simpatético).

Na mencionada classificação, não são considerados argumentais o dativo de

suficiência (A Maggie le sobró pastel), o dativo ético (Me suspendieron al niño de la escuela)

e o dativo de relação (A los Morales les será difícil decidir ese asunto).55 Diferentemente de

CAMPOS (1999), entendemos que as formas tomadas como não-argumentais são relevantes à

expressividade do enunciador e todos possuem uma ancoragem referencial, mesmo que esta

esteja mais centrada em uma relação subjetiva do processo interacional.

Em outro recorte teórico-metodológico, ORDÓÑEZ (1999) classifica os dativos

argumentais em dativos objetivos ou complementos indiretos e os não-argumentais em

dativos de interesse56. Adverte que os dativos não-argumentais não possuem âncora

referencial; são sempre clíticos, ou seja, sua função é pronominal; não ocupam nem a função

periférica nem a central; são opcionais. Isto significa que podem coaparecer com outros

55 Os exemplos dados neste parágrafo se encontram em CAMPOS (1999, p.1547). 56 ORDÓÑEZ (1999) segue uma orientação similar a de BELLO (2002), que os chamava de dativos superfluos.

72

complementos ou qualquer outra função sintática; e podem vincular-se, em princípio, a

qualquer tipo de verbo.

Outra questão a se analisar é o fato de garantir que os dativos não-argumentais podem

ser ligados a qualquer verbo. Muitos são os motivos que podem levar um falante a se valer de

um dativo não-argumental. Os condicionamentos vão desde questões intersubjetivas

alicerçadas em peculiaridades das comunidades de fala a especificidades sintático-semânticas

das formas que compõem os enunciados. Por isso, ponderamos que a expressão “em

princípio” ameniza pouco o grau de generalização da afirmação dada.

Por outro lado, como nos baseamos no enfoque funcionalista de análise, consideramos

no mínimo complicado afirmar que os dativos argumentais são opcionais. Se o falante

seleciona ‘le’ em contextos como: (17) “En ese entonces no había de que 'párenle tantito,

volvemos a repetirí. Nada. Era necesario alcanzarlo, pero poco a poco se fue educando”

(OEM, dado 315), o fez motivado por uma intensão de caráter discursivo. O intuito era o de

marcar uma influência sobre a atitude do ouvinte com relação à execução da ação. Os itens da

língua são selecionados na constituição de enunciados de acordo com os propósitos

comunicativos dos falantes.

Voltando a nossa atenção para outras questões tangentes aos dativos, há que se

considerar que, prototipicamente, o objeto indireto é o ‘locus’ da ação, o lugar no evento.

Assim, segundo os estudos de MALDONADO (1998) – apoiados no conceito de

subjetividade - o objeto indireto (dativo argumental concernente ao locus da ação) é o

primeiro da escala de proximidade no que se refere à ação verbal.

COMPANY (2006) afirma que o objeto indireto é uma entidade estável no que tange à

forma (se manifesta como clítico pronominal e como sintagma preposicional encabeçado pela

preposição ‘a’) e à semântica. Em nossa concepção, apenas o dativo argumental, o

tradicionalmente chamado de objeto indireto é estável em termos semânticos, já que é,

73

enquanto argumento, o destino no qual a ação do verbo é concluída. A heterossemia do ‘le’ é

influenciada tanto pelos diferentes graus de dependência e vínculo com o verbo, como pelas

peculiaridades dos parâmetros de transitividade.

Segundo este viés de análise, em termos funcionais, o dativo pode ser: relevante à

estrutura da oração, mesmo que não seja um argumento verbal; pragmaticamente importante e

marginal em termos sintáticos; e ser carente de propriedades referenciais. Tais realizações são

comuns na variante mexicana do espanhol. Vejamos:

(18) “¿verdad? / embarras el pan / pones el jamón / y córrele a la escuela / y

las comidas más…”57

(19) “I: Y todo era porque taba mi señora con que / ándale llévame / no

porque a mí no me gusta / (risa) no / pos vas ahí / te…”

(20) “E: ¿Y todavía tiene niños chiquitos? I: Sí / todavía. E: ¿Le alcanza? I:

Pues sí / porque pu’s / póngale que / comoquiera ¿vedá? / pues / los

muchachos orita / tengo dos / trabajando…”

(21) “/ fui y le dije a mi señora órale vieja / ahí te van cuatrocientos

pesos…”

(22) “y qu’iba a cruzar la calle / y ¡que m'encuentro al otro muchacho! / y

¡ay! / híjole / y l’o pu’s / ¡ay! / no hallé qué hacer / y l’o digo /…”

O comportamento sintático destes dativos pode ser disposto em um continuum

categorial de datividade, ou seja, em uma escala que apresenta valores +/- argumentais.

Ponderamos que, num prisma unidirecional, a gradação se daria do nível +argumental ao

+pragmático. Adotamos o continuum categorial dativo proposto por COMPANY(2006),

57 Corpus El Habla de Monterrey (ALFANO, 2003). Identificação dos dados: (18) informante pós-graduado de 26 anos; (19) informante de 39 anos, sexo masculino, nível de escolaridade ensino fundamental; (20) informante analfabeta de 49 anos; (21) informante de 61 anos, sexo masculino, nível de escolaridade ensino fundamental; (22) informante de 20 anos, sexo feminino, nível de escolaridade ensino fundamental.

74

contudo, achamos imperativo acrescentar outro nível: o interpelativo. Este valor assinala a

influência que exerce o emissor na realização da atividade por parte do ouvinte. Observemos a

figura 9:

Os dados (18), (19) e (20) estão entre os níveis intensificador e interpelativo, ao passo

que no nível pragmático se encontram os dados (21) e (22). Um dos níveis desta escala

merece ser elucidado: o supérfluo. Acreditamos que ‘supérfluo’ é o primeiro nível do

continuum em que o dativo deixa de ser argumental, embora continue sendo importante no

que tange às peculiaridades da construção dos enunciados, do evento e da própria práxis

discursiva.

O comportamento do objeto indireto em língua espanhola também não é algo muito

fácil de analisar, tendo em vista que suas codificações o aproximam de outros participantes

oracionais. O fato de poder ser representado por um sintagma preposicional encabeçado por

‘a’ o assemelha aos complementos circunstanciais e aos locativos. Por outro lado, por ser

argumental, se aproxima também dos complementos diretos, objeto primeiro na escala

hierárquica de participantes.

Este carácter fronterizo del OI constituye una característica tipológica

recurrente y muy extendida de la datividad, ya que en muchas lenguas el

dativo se suele situar en la frontera entre oblicuo y argumento, y en la

frontera entre objeto segundo y primero. (COMPANY, 2006, p.484)58

58 Este caráter fronteiriço do objeto indireto constitui uma característica tipológica recorrente e muito estendida da datividade, já que, em muitas línguas, o dativo costuma situar-se na fronteira entre oblíquo e argumento, e na fronteira entre objeto segundo e primeiro.

75

Neste prisma, é pertinente explicar que houve, com relação aos aspectos sintáticos do

dativo argumental, uma reanálise categorial e um movimento expressivo de extensão, uma

vez que ‘le’ passou a ser utilizado em contextos que não condiziam com sua função

prototípica. O espanhol falado no México, no conjunto de pesquisas que analisamos, pode ser

o único cujo nível de datividade tenha chegado à pragmática nestes termos.

Diante das necessidades de ordem comunicativa, os falantes buscam meios que os

auxiliem na produção dos sentidos dos enunciados. Enfatizam, de acordo com as referidas

necessidades e intencionalidade, os valores dos itens aos quais querem dar mais destaque e

que consideram mais importantes no escopo da enunciação. Eis a hipótese da subjetivização

(TRAUGOTT, 1995): a origem da mudança lingüística se encontra no emissor, responsável

por realizar mudanças na língua ao plasmar, subjetivamente, em suas mensagens seus valores

e atitudes. Assim, consideramos que fatores de ordem subjetiva e intersubjetiva são decisivos

à reinterpretação dativa e, em um patamar mais amplo, aos casos de mudança lingüística.

3.4. Mudanças sintático-semânticas do átono ‘le’: ponderações históricas

3.4.1. Delimitações pouco precisas dos casos latinos

Convém considerar que o latim clássico exibia uma liberdade de ordenar as palavras,

por conta da marcação de caso, algo que não era comum na fala (LAPESA, 1981). Na

modalidade falada, as palavras modificadas eram colocadas junto às modificantes, isto é, os

termos que eram relacionados com base nas peculiaridades de sentido e de concordância se

mantinham próximos. Por isso, a posição das palavras nas orações foi orientando, com o

passar do tempo, sua função sintática. Eis o reflexo da iconicidade no arranjo dos

constituintes do enunciado.

76

As desinências não eram mais suficientes para expresar de forma precisa as

atribuições dos casos. Até mesmo no latim arcaico, eram utilizadas preposições

especificadoras para ajudar a delimitá-los de maneira mais efetiva, inclusive na vertente

escrita. Tal reformulação também se deu com relação ao dativo.

Las construcciones con de + ablativo y ad + acusativo invadieron los

restantes dominios del genitivo ( “de Deo munus”, “de sorore nepus”) y del

dativo (“hunc ad carnificem dabo”, Plauto; “ad me magna nuntiauit”). El

acusativo se empleó con preposiciones que antes eran exclusivas de ablativo:

inscripciones pompeyanas dan “cum iumentum”, “cum sodales” en vez de

“cum iumento”, “cum sodalibus”. (LAPESA, 1981, p.68-69) 59.

O sistema de casos começa a demonstrar pistas de seu deterioro no século I d.C.

(AGUILAR,2002), ainda que se sustentasse de maneira satisfatória nos textos escritos.

Algumas questões contribuíram para a mencionada deteriorização, tais como: i) o uso de

sintagmas preposicionais em detrimento da marcação de alguns casos, como nos casos DE +

Ablalivo e de AD + Acusativo em lugar do genitivo e do dativo, respectivamente; ii) as

freqüentes oscilações no uso dos casos por conta de perdas fonéticas; iii) o fato se ter dado

margem a que o acusativo ocupasse quase todas as posições do substantivo, devido a

alterações de caráter fônico.

No que tange às modificações fônicas, no latim vulgar, a distinção entre vogais longas

e breves foi desfeita pela supressão do /m/ final, desse modo, as desinências coincidiam no

singular. No caso da palavra “rosa”, por exemplo, o nominativo, o acusativo e o ablativo não

poderiam ser delimitados. Também a título de exemplificação, com relação à palavra

‘amigo’, como se poderia reconhecer, através da desinência, a diferença entre o nominativo

59 As construções com de+ablativo e ad+acusativo invadiram os restantes domínios do genitivo (“de Deo munus”, “de sorore nepus”) e do dativo (“hunc ad carnificem dabo”, Plauto; “ad me magna nuntiauit”). O acusativo foi empregado com preposições que antes eram exclusivas do ablativo: inscrições pompeianas resultam em “cum iumentum”, “cum sodales” ao invés de “cum iumento”, “cum sodalibus”.

77

(amicŭ), o acusativo (amicŭ(m)) e o ablativo (amicō) ?

Ademais, atendendo a questões diatópicas e diastráticas, o /s/ final do nominativo era

suprimido. Quanto ao plural, no latim escrito, se distinguia o nominativo do acusativo nas

duas primeiras declinações. Porém, as palavras de temas em “–a” ou “–o”, no nominativo

plural e no genitivo e dativo singular, apresentavam as mesmas terminações.

As preposições, como ressaltamos, poderiam auxiliar na diferença de desinências

casuais de um mesmo número, mas o único caso que marcava com clareza a distinção de

número era o acusativo (rosa(m) x rosās). A marcação de número foi, analogicamente, se

restringindo a uma forma de singular e outra de plural. A “disputa” foi vencida pelo acusativo.

A oposição localidade x não localidade se refletia no sistema vulgar. O acusativo e o

ablativo eram casos locativos, mas não o eram genitivo e o dativo, por isso os casos não-

locativos não eram propensos a ser acompanhados por preposição (COSSÍO, 1994). Neste

sentido, enquanto o dativo codificava o aspecto teleológico, o acusativo estava vinculado ao

movimento físico-expansivo. Razoamos que, por um movimento de extensão, reanalisada em

termos funcionais e semânticos, a preposição “ad” passa a acompanhar o dativo e a registrar

uma nova noção de movimento, agora físico-teleológico, também em contextos

especificamente pessoais.

O acusativo absorveu, além do dativo, os casos genitivo e ablativo, passando a ser

única forma que sobreviveu à queda do sistema de casos. Houve uma aproximação entre o

movimento concreto, assegurado pelo acusativo, e o aspecto teleológico, antes designado pelo

dativo. Surge, então, um novo modo de codificar o movimento no latim vulgar, por conta da

gramaticalização da preposição “ad”. O acusativo preposicionado referente a pessoas ou a

entes personificados, no castelhano, não é oriundo da preposição locativa latina “ad”, mas da

forma já gramaticalizada, portanto fisico-teleológica, “ad”.

Importa-nos dizer também que no latim a alternância entre acusativo e dativo era algo

78

comum. A título de ilustração, FLORES (2006) destaca algumas destas oscilações, tais como:

nocere aliquem / nocere frugibus; curare negotia aliena / curare rebus publicis; ignoscere

peccatum / ignoscere alicui; seruire aliquem / seruire alicui. Nestes contextos, embora forma

acusativa assinale um caráter causativo ao evento e a dativa ofereça um traço de interesse à

entidade, as fronteiras na seleção dos casos registravam opacidade em muitos enunciados.

Ainda que pareça óbvio, convém lembrarmos que os termos acusativo e dativo não se

referem mais às mesmas propriedades que possuíam seus correspondentes latinos. Inclusive,

usar o termo “casos” em espanhol - com base na acepção latina - é no mínimo complexo. De

acordo com os estudos de COSSÍO (1994), muitos teóricos usam o termo ‘caso’ e suas

designações como sinônimo de “função”. Valendo-nos destas considerações, decidimos

empregar os termos ‘dativos argumentais’e ‘dativos não-argumentais’, e não vemos

problemas em lançarmos mão da expressão ‘função acusativa’, ao referirmos à função -

tradicionalmente chamada - de objeto direto.

3.4.2. Da forma demonstrativa latina à representação da 3ª pessoa

em espanhol

O sistema de dêiticos latinos era fundamentado em relações de distância: HIC se referia

à 1ª pessoa; ISTE, à 2ª pessoa; e ILLE à 3ª pessoa60. Obedecendo a condicionamentos de ordem

semântico-pragmática, no século IV, a forma ILLE passa a ser utilizada como pronome pessoal,

pois no paradigma pronominal não havia itens que representassem formalmente a 3ª pessoa.

Assim, uma lacuna estrutural é preenchida. ILLE, ao contrário das formas prescindíveis EGO e

TU, dá conta do que antes era de total responsabilidade do contexto situacional.

60 Tais dêiticos sofreram modificações de cunho fonético e se transformaram em ISTE / IPSE / ACCU ILLE e deram origem aos atuais demosntrativos espanhóis ESTE / ESE / AQUEL.

79

La influencia del lenguaje coloquial, que daba amplio margen al elemento

deíctico o señalador, originó un profuso empleo de los demostrativos.

Aumentó, sobre todo, el número de los que acompañaban al sustantivo, en

especial haciendo referencia (anáfora) a un ser u objeto nombrado antes. En

este empleo anafórico, el valor demostrativo de ille (o de ipse, según las

regiones) se fue desdibujando para aplicarse también a todo sustantivo que

indicara seres u objetos consabidos sin menció previa; tal fue el punto de

partida en la formación del artículo determinante, instrumento desconocido

para el latín clásico y que se desarrolló al formarse las lenguas romances.

(LAPESA, 1981, p.71).61

O valor situacional autônomo de ILLE se debilita e, ao invés de dar conta apenas de

relações dêiticas, começa a estabelecer elos baseados na referenciação.62 Entendemos que

ILLE se gramaticalizou, passou a codificar novos sentidos e adquiriu uma nova atribuição

funcional, preenchendo a lacuna da representação pronominal da 3ª pessoa.

El latín disponía de pronombres específicamente personales tan sólo para la

1ª y 2ª personas gramaticales; para la 3ª debía servirse de cualquiera de los

demostrativos (IS, HIC, ISTE, ILLE), si bien fue ILLE el que finalmente

triunfó y se convirtió en el origen de los pronombres personales españoles de

3ª persona. (PENNY, 2000, p.133).63

Quando não funcionavam como sujeito ou eram precedidos de preposição, os

61 A influência da linguagem coloquial, que dava ampla margem ao elemento dêitico sinalizador, originou um profuso emprego dos demonstrativos. Aumentou, sobretudo, o número dos que acompanhavam o substantivo em especial fazendo referência (anáfora) a um ser ou objeto nomeado antes. Neste emprego anafórico, o valor demonstrativo de ille (ou de ipse, segundo as regiones) foi desfigurando-se para aplicar-se também a todo substantivo que indicasse seres ou objetos consabidos sem menção prévia; tal foi o ponto de partida na formação do artigo determinante, instrumento desconhecido para o latim clássico e que se desenvolveu ao ser formadas as línguas romances. (LAPESA, 1981, p.71).61 62 A princípio, ILLE era usado apenas como elemento anafórico. 63 O latim dispunha de pronomes especificamente pessoais tão somente para a 1ª e 2ª pessoas gramaticais; para a 3ª devia servir-se de qualquer dos demonstrativos (IS, HIC, ISTE, ILLE), mas foi ILLE o que finalmente triunfou e se converteu na origem dos pronomes pessoais espanhóis de 3ª pessoa. (PENNY, 2000, p.133).

80

pronomes pessoais perdiam seu acento e se transformavam em clíticos. Para a perspectiva

funcionalista, norteadora deste trabalho, eis aqui um caso de gramaticalização concernente à

origem dos pronomes átonos, pois os demonstrativos assumiram uma função ainda mais

gramatical, sustentada pela fixação de uma nova estratégia discursiva. Houve um processo de

gramaticalização, visto que se tornaram ainda mais gramaticais e adquiriram novas

propriedades funcionais. Perderam também, nos novos contextos de atuação, uma

característica que lhes era fundamental, isto é, o status pleno de formas independentes, tendo

em vista que foram cliticizados (perda de autonomia).

Nesta questão, dados do princípio de persistência (HOPPER, 1991) eram registrados,

porque os mecanismos de “sinalização”, de vínculo e de “mostração” assinalam resquícios das

particularidades de ILLE como demonstrativo nos pronomes átonos de 3ª pessoa e também nos

artigos. Uma mesma forma cumpriu a função de demonstrativo, sujeito e artigo. Estamos

diante de um caso de divergência.

LÓPEZ GARCÍA (2000) pondera que, por conta dos clíticos, as dependências

argumentais deixam de ser implícitas e passam a ser explícitas, porque são, segundo suas

palavras, verdadeiros pontos de apoio do sentido do verbo no mundo exterior. Assim também

são os artigos, os demonstrativos e os possessivos com relação aos substantivos.

No que diz respeito à hierarquia oracional, o latim dos séculos IV ao VII se diferencia

do latim clássico pelo predomínio paulatino da ordem SVO em detrimento de SOV. Enquanto

no latim clássico os sintagmas nominais (sujeito e objeto) aparecem com maior destaque se

comparados aos verbos, no latim dos séculos IV ao VII se delineia um vínculo dual, opondo o

sujeito ao predicado. A introdução da marcação formal de 3ª pessoa acompanha uma paulatina

e significativa mudança hierárquica.

Podemos asseverar que entre os séculos IV e VII surge o embrião do sistema de

ancoragem situacional românica. O caráter unificador do latim, observado na administração e

81

no serviço militar, se enfraquece no século V, devido ao isolamento provocado pela

conversão de províncias em estados bárbaros e pela decadência das escolas (LAPESA, 1981).

Como não era mais possível freiar oscilações e mudanças de cunho fonético e sintático, se

origiraram os romances, dentre eles o castelhano.

3.4.3. A etapa proto-romance

Na etapa proto-romance, compreendida entre os séculos VIII a XI, novas modificações

ocorreram no que concerne à ancoragem referencial de argumentos: as formas ILLE e IPSE,

principalmente a primeira, começam a funcionar como artigos definidos, aludindo a

elementos já conhecidos pelos interlocutores. Um caso de gramaticalização, conforme

apontamos no item anterior (3.4.2), já que ILLE, depois de gramaticalizado, foi novamente

reinterpretado em termos funcionais e semântico-pragmáticos e recebeu uma nova atribuição

na língua, a de artigo definido. A força do uso e a rotinização também levaram a forma ILLE a

sofrer perdas fonéticas no final desta etapa.

El artículo definido tiene como función fundamental el hacer referencia a un

elemento o elementos (cosas o personas) no presentes ante los participantes

en el diálogo pero cuya existencia es cosabida para el (los) oyente (s); ej. “

Érase una vez un rey. El rey tenía tres hijas”. Resulta comprensible que en

estas circunstancias del discurso los hablantes de latín empleasen como

artículo definido un adjetivo enfático o que compartía los rasgos de

énfasis/identidad (IPSE RĒX “el rey en persona”) o un demostrativo apropiado

para aludir a un individuo ausente (ILLE RĒX “ese rey”); con esta función se

utilizó IPSE en algunas zonas del mundo latino, pero en la mayor parte se

prefirió ILLE. (PENNY,2000, p.147)64

64 O artigo definido tem como função fundamental fazer referência a um elemento ou elementos (coisas ou pessoas ) não presentes diante dos participantes no diálogo, mas cuja existência é consabida para o (s) ouvinte (s); ex. “ Era uma vez um rei. O rei tinha três

82

Precedidos por ILLE, os sintagmas nominais aludiam a elementos conhecidos ou a

antecedentes de um pronome relativo que lhes dão relevo. Tais considerações e o fato dos

artigos não estarem vinculados a questões de localização, algo inovador para o período,

aproximam o comportamento dos artigos do século XI ao comportamento dos artigos do

espanhol atual.

Observamos que a influência germânica, visigoda (também de origem germânica, a

partir do século V) e, principalmente, árabe (do século VIII ao XV) ofereceu contribuições à

fonética, ao léxico e à morfologia da língua espanhola. No tocante à sintaxe, em versões

castelhanas de textos árabes, era muito recorrente o uso da preposição “de” atrelada a um

pronome pessoal no lugar de um possessivo (“las pisadas dellos”); o uso de possessivo

pleonástico (“su vida del hermitanno”); a utilização do sujeito impessoal, expresso por formas

verbais na terceira pessoal do plural; o uso expressivo da conjunção copulativa “e” e, após

incisos, da conjunção subordinativa “que”.

Estes empregos, ainda que possam ser verificados em outras línguas românicas, não

eram próprios da sintaxe romana, mas, da árabe. Entretanto, interessa-nos dizer que, nas

versões castelhanas de textos árabes, o emprego da preposição “a” acompanhando pronome

pessoal tônico em detrimento do átono (“ya encontré a ellos” por “ya los encontré”) era

bastante significativo. Informação relevante no que concerne à estrutura oracional, uma vez

que mostra uma menor adjunção entre verbo e objeto.

Fazendo menção aos séculos XII e XIII, que já compreendem a etapa romance, é

preciso reconhecer que a categoria dos artigos se firmou e foi relevante para determinar a

função substantiva e dar relevo à ordem SVO. Os sujeitos, então, passaram a ser

filhas”. É compreensível que nestas circunstâncias do discurso os falantes de latim empregassem como artigo definido um adjetivo enfático ou que compatilhava traços de ênfase/ identidade (IPSE RĒX “o rei em pessoa”) ou um demonstrativo apropriado para aludir a um indivíduo ausente (ILLE RĒX “esse rei”); com esta função IPSE foi utilizado em algumas zonas do mundo latino, mas na maior parte se preferiu ILLE.

83

acompanhados de artigos, mas os objetos direto e preposicional não.

Recuperando a escala de hierarquia categorial dos participantes (HOPPER e

THOMPSON, 1980), também chamada de escala de hierarquia de função gramatical

(GIVÓN, 1990), os artigos auxiliam no reforço do traço [+definitude], de grande validade ao

perfil dos participantes. Cremos que a ordem SVO relativiza a dependência dos outros

constituintes com relação ao verbo e o artigo amplia seu campo de atuação. Por conseguinte,

uma relação mais estreita entre o sujeito e o verbo proporciona uma recorrência mais

expressiva dos pronomes átonos.

3.4.4. Casos de duplicação, despronominalização dativa, leísmo e

peculiaridades do objeto direto preposicionado: um diálogo entre as fases

medieval e moderna

Os primeiros textos escritos em espanhol (tangentes aos séculos XII) recuperam

particularidades da sintaxe vasca e devem ter sido escritos em área bilíngüe, ainda que

saibamos que a língua vasca tenha sido escrita em etapa bem posterior ao romance. Apoiando-

nos nos estudos de LÓPEZ GARCÍA (2000), entre as muitas influências, se destacam a

reduplicação dos clíticos pronominais, os casos de leísmo, o objeto direto preposicional, o

dativo simpatético e os verbos pronominais.

Quanto aos átonos de terceira pessoa, é relevante afirmar que, de uma forma geral, as

formas le e les, oriundas de illī, illīs indicavam o dativo, independente do gênero do

antecedente; lo, proveniente de illŭm e illŭd, representava o acusativo masculino singular e o

neutro; los, originado a partir de illōs, retomava entidades acusativas masculinas no singular;

e os átonos la e las, formados a partir de illam e illās, recuperavam antecedentes acusativos

femininos no singular e no plural, respectivamente.

84

As formas ille e illīs, que apenas retomavam entidades [+humanas], ainda nesta fase,

passaram a recuperar as [-humanas]. Entretanto, surgiram, fenômenos que não acompanharam

o arranjo do sistema pronominal apresentado. Provenientes da época medieval são as

realizações de duplicação pronominal, a utilização de ‘le’ em referência a entidades

dativas no plural e o leísmo.

Entendemos que a duplicação pronominal, muito mais do que uma redundância (ou

incorreção (R.A.E.,1998), é uma manifestação clara de concordância entre o verbo e o objeto

(GARCIA-MIGUEL, 1991). Neste sentido, em “Et al león cayóle esta palabra en el coraçón”

65, “le” funciona como um morfema objetivo do verbo “caer”, um afixo que registra no verbo

a co-ocorrência do dativo. Assim, ocorre uma inovação de caráter sintático-semântico, uma

mudança no domínio semântico-proposicional. Esta inovação é condizente com os parâmetros

da hierarquia de agentividade, na qual o dativo se apresenta como mais próximo ao sujeito

que o paciente (de função acusativa).

É importante ressaltar que, no século XIII, poucos são os dados de reduplicação

pronominal de 1ª e 2ª pessoas, contudo a reduplicação de objetos diretos ou indiretos era mais

freqüente, seja quando o complemento aparecia em primeira posição, seja para efeitos de

ênfase. A duplicação se expande no século XVI, se generaliza na alusão a entidades não-

humanas no século XVIII. É um fenômeno tão recorrente que, como previra BELLO (2002

[1954]), constitui norma no espanhol atual.

Como a língua espanhola expressa no verbo a função de sujeito, tende a fazê-lo com

outras funções centrais, neste caso, a de dativo. O pronome dativo é reanalisado e, devido à

sua centralidade argumental, incorpora no predicado um clítico correferencial. Vejamos

alguns exemplos da variante mexicana do espanhol do final do século XX:

65 COMPANY (2006, p. 536, (a)).

85

(23) (...) oiga / Lupe / dígale a Rogelio que si me hace el favor...66

(24) se ha mandado sea congruente con lo que yo le encuentro al

enfermo / una vez67

Para BASCUÑÁN (2006), é importante considerar a relevância da hipótese da

subjetivização no entendimento do fenômeno de duplicação pronominal. Destaca que fatores

pragmáticos de ± ênfase e de ± empatia sofrem uma gradação retórica causada pelo avanço do

processo de reanálise do clítico pronominal dativo. Quanto maior a ênfase e a empatia,

maiores são as chances de se dar a duplicação.

Pensamos que el hablante ante la falta de otras herramientas pragmáticas y

ante la necesidad de expresar empatía con la tercera persona del coloquio,

recurre a medios que recalquen lo que está diciendo para que no quede duda

de su intencionalidad, recurre a medios que le den fuerza a su expresión (…)

Nuestro empleo de los conceptos de subjetividad y objetividad abarcan la

misma idea que encontramos en la “hipótesis de la subjetivización” de

TRAUGOTT (1995) que plantea que el emisor es el origen del cambio

lingüístico al subjetivizar sus mensajes (BASCUÑÁN, 2006, p.17)68

A utilização de ‘le’ em referência a dativos no plural – marca de concordância objetiva

- é, para COMPANY (2006), um dos primeiros passos em direção à despronominalização.

De uma forma geral, se compreende o fenômeno como uma imobilização de número

rechaçada pela norma culta (TORREGO (2002), R.A.E. (1998), LLORACH (1995)). Este

66 Corpus El Habla de Monterrey (ALFANO, 2003). Informante analfabeta de 50 anos. 67 Corpus El Habla de Monterrey (ALFANO, 2003). Informante pós-graduado de 43 anos. 68 Pensamos que o falante diante da falta de outras ferramentas pragmáticas e diante da necessidade de expressar empatia com a terceira pessoa do colóquio, recorre a meios que enfatizem o que está dizendo para que não haja dúvida em sua intenção, recorre a meios que deem força a sua expressão (…) Nosso emprego dos conceitos de subjetividade e objetividade abarcam a mesma idéia que encontramos na “hipótese de subjetivização” de TRAUGOTT (1995) que propõe que o emisor é a origem da mudança lingüística ao subjetivizar suas mensagens… (BASCUÑÁN, 2006, p.17)

86

fenônomeno surge entre os séculos XII e XIII, ganha mais terreno no século XVI e está

intrinsecamente relacionado com os casos de duplicação clítica.

Assim como a duplicação, a codificação de dativos plurais em ‘le’, atualmente, se dá

comumente na fala e em dados de escrita da modalidade mexicana do espanhol, quase

categórica quando concerne a entidades não-humanas e em contextos onde prepondera a

inanimacidade (HUERTA, 2000). Ocorre com menos frequência que ‘les’ na escrita, mas é

significativo o número de ocorrências e que merece nossa atenção. Observemos os dados:

(25) A mi prima María de Morales y a su marido le dareis mis

besamanos.69

(26) incluido el gobierno estatal, la administración municipal del alcalde José

Angel Pérez Hernández no debe hacer lo contrario y por ello le pedirán a los

diputados que frenen la intención de aplicar "el índice inflacionario" a los

impuestos el año próximo. (...)70

(27) E: ¿Por qué se vino / de allá? I: Pu’s / para estar un poco más mejor /

que allá en el rancho // para darle estudio / (…) / a mis hijos

Pautando-nos no exemplo (27), podemos notar que o receptor (a mis hijos) e não o

paciente (estudio) controla a concordância entre o verbo e o objeto. A função anafórica de ‘le’

cede lugar à função de marcador cujo propósito é sinalizar a existência de um argumento, de

um locus. Com este fenômeno, o átono ‘le’, deixa de ser apenas um item referencial, isto é,

começa a perder seu status de pronome, sua propriedade prototípica.

Outro fenômeno que não condiz com os parâmetros do sistema pronominal

conservador é o leísmo, uso do pronome clítico dativo ‘le’ na recuperação de entidades

69 COMPANY (2006, p. 547, dado referente ao século XVI). 70Disponível em: http://www.oem.com.mx/noticiasdelsoldelalaguna/notas/n966152.htm. Texto de

11/12/2008. Acesso: 01/09/2009.

87

acusativas no discurso. Na época medieval, os casos de leísmo se davam, principalmente, em

referência a entidades masculinas e no singular. Desde o Cantar de Mio Cid há dados

significativos deste fenômeno:

(28) por mio Çid el Campeador que Dios le curie de mal,

¡quando oy nos partimos en vida nos faz juntar!" [Cantar I, 18]

(29) Por todas essas tierras los pregones dan,

gentes se ajuntaron sobejanas de grandes con aquestos dos reyes que dizen

Ffariz e Galve; al bueno de mio Çid en Alcoçer le van çercar. [Cantar I, 32]

Os estudos de CUERVO (1895) são de suma importância no que tange à explicação do

leísmo e se apresentam como um dos pontos de partida para seu entendimento. Em busca da

compreensão do referido fenômeno, CUERVO (1895) já havia entendido que os casos de

apócope71 do castelhano medieval não foi decisiva para a extensão de ‘le’ a contextos

acusativos, porque não conseguiram afetar as realizações do neutro.

Ressaltou que houve uma tendência à eliminação do caso em favor da distinção do

gênero, hipótese também acolhida por FERNÁNDEZ RAMÍREZ (1987). Se o que previa

CUERVO (1895) sobre o comportamento dos clíticos de 3ª pessoa acontecesse, ‘le’ se

restringiria ao masculino, ‘lo’ ao neutro e, por analogia, ‘la’ ao feminino, o que permitiria a

criação de um sistema flexional unicasual, similar ao dos demonstrativos que os originaram.

Não obstante, sabemos que isto não ocorreu.

A eliminação casual em favor da distinção genérica não conseguiu dar conta das

ocorrências de leísmo feminino e plural. Além disso, a forma ‘le’ não era usada em referência

a todo tipo de complemento direto; o clítico ‘lo’ não se limitou ao neutro e nem ‘la’ e ‘lo’

imperaram como clíticos dativos, isto é, o laísmo e o loísmo não superaram as ocorrências de 71 Uso de fallol em lugar de fallolos, por exemplo.

88

‘le’ na codificação dativa. Havia, então, outros fatores mais complexos interferindo na seleção

pronominal.

No século XIII, já se registram ocorrências de leísmo de coisa (alusivo a objetos),

além disso, bastante vacilante era a regência de alguns verbos. A recorrente utilização da

apócope dos pronomes átonos, ‘-l’, causou incongruências, tendo em vista que podia

representar tanto o acusativo masculino como o dativo. Inclusive, sugere LAPESA (1993),

que poderíamos até pensar que tal fenômeno estaria diretamente vinculado à deflagração do

leísmo. Porém coloca que a confirmação desta hipótese dependeria de um trabalho cauteloso

e, principalmente, de um sério cruzamento de dados, sem o qual não haveria validade.

LAPESA (1993) insistiu que as informações lexicais e argumentais dos verbos

influenciaram muito mais do que a apócope nas ocorrências dos usos intitulados inovadores

do sistema pronominal castelhano. Alguns verbos intransitivos prolongavam o uso latino do

dativo (amenazar, ayudar, nozir, obedecer...) e a oscilação entre os usos transitivo e

intransitivo registrava a variação entre ‘le’, ‘li’, ‘lo’ e ‘la’. O dativo, nesta ordem de coisas, se

vinculava mais aos verbos que assinalavam relações humanas (vencer, conbidar, saludar,

prender, tomar, quemar...), em um processo analógico, e estabelecia confronto com o

acusativo.72

As reflexões de FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ (1993), concernentes ao entendimento do

leísmo, se baseiam na tendência do espanhol em diferenciar seres animados de inanimados

(consideração totalmente descartada por CUERVO (1895), mas levada em conta por

72 O trabalho de TORREGO (2002) e a página eletrônica da R.A.E. (http://www.rae.es. Acesso: 04/08/2008), retomam referências deste estudo de LAPESA (1993). Observam que o sistema pronominal da língua espanhola é visivelmente complexo e acreditam na existência de uma relação intrínseca entre a semântica do verbo e a seleção dos clíticos de terceira pessoa. TORREGO (2002) dedica um exaustivo estudo à “norma” dos pronomes e insiste que a semântica dos verbos e a questão da regência verbal são responsáveis pela confusão na escolha de ‘lo’ e ‘le’.

89

FERNÁNDEZ RAMÍREZ (1987)). Neste sentido, também seria preciso observar como a

interpretação do verbo influenciava nesta questão, já que este possui informações lexicais

importantes que poderiam funcionar como parâmetros semânticos na codificação clítica.

FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ (1993) reconhece a pertinência dos estudos de CUERVO

(1895) e LAPESA (1993) sobre o leísmo, porém aponta seus desvios. Embora tenham

reconhecido certa conexão entre o leísmo, o laísmo e o loísmo, não ofereceram explicações

que dessem conta da mesma. Por outro lado, deixaram de analisar a variação pronominal com

base em referências diatópicas seguras, algo que pode ter causado problemas na compreensão

dos fenômenos supracitados.

Quanto às origens do leísmo, laísmo e loísmo, se faz mister assinalar a pertinência da

investigação de FLORES (1997) sobre a individuação das entidades. Tendo como corpus

1.950 fichas com dados de El Cid, La Crónica General de España e La Celestina, a referida

pesquisadora mostra que o leísmo não afeta a todo tipo de entidade. Concentra-se, pois, nos

referentes masculinos, é mais freqüente com entidades animadas e no singular.

Esclarece a mencionada pesquisadora que a baixa freqüência de leísmo com entidades

no plural ocorre porque estas possuem uma natureza que as tornam semelhantes aos nomes

coletivos, de baixa individuação. Considerando essa hipótese, quanto maior o grau de

animacidade e de individuação do referente, maiores são as chances da eleição de ‘le’ na

retomada de itens no discurso.

Las entidades plurales poseen una naturaleza conceptual que las hace

semejante a masas (…). Esto contribuiría a que los referentes plurales se

sintieran muy cómodos al abrigo de la forma los, analógicamente con lo que

sucede en el acusativo singular, donde las entidades no discretas tienden a

mantener la forma lo.( CERVANTES,1997, p.55)73

73 As entidades no plural possuem uma natureza conceitual que as fazem semelhantes a massas (...). Isto contribuiria a que os referentes no plural se sentissem muito cômodos ao abrigo da forma los,

90

Seguindo a linha de raciocínio delineada por COMPANY (2006), acreditamos que por

possuir, na maior parte das vezes, o traço [+agente], assim como o sujeito (primeiro

participante da hierarquia gramatical) e por uma tendência de caráter topical, o pronome

dativo ‘1e’ tende a se elevar à condição de objeto primeiro (o objeto direto). Em nossa

concepção, beneficiado por ser menos marcado no que diz respeito ao gênero, o dativo, que só

recuperava entidades [+humanas] no discurso, começa a retomar também as [-humanas],

reiterpretação semântica que lhe abriu espaço à extensão ao acusativo. É reanalisado em

termos semântico-funcionais e pragmáticos, se dessemantiza e se descategoriza, adquirindo

essa nova função na língua espanhola.

No que diz respeito a esta fase, há outras duas informações de suma relevância: i) os

clíticos podiam aparecer separados do verbo por um advérbio, por um pronome sujeito ou por

outros itens da língua, mesmo que tal procedimento fosse mais raro; ii) existe uma forte

tendência ao uso do objeto direto preposicionado. Se a duplicação, a utilização de ‘le’ em

referência a dativos plurais e o leísmo são fenômenos que reforçam a concordância entre o

dativo e os verbos, sua ampla recorrência pode ter interferido no arranjo posicional dos

clíticos nos enunciados.

Os objetos diretos preposicionados, mais que simplemente diminuir problemas de

distinção entre este e o sujeito ou de funcionar como marca de potência, independência

sintática ou ênfase, na verdade, são objetos indiretos em posição de segundo argumento. O

acusativo, além de participar das proposições em termos de figura (verbo+acusativo), o faz

também em termos de fundo ( grupos preposicionados + acusativo).

LACA (2006), observando textos castelhanos do século XII a XIX, propõe a

existência de três hipóteses para o estabelecimento do acusativo preposicionado na língua

analogicamente com o que acontece no acusativo singular, onde as entidades não discretas tendem a manter a forma lo.

91

espanhola. Este poderia: i) evitar a mescla entre sujeito (caracterizado pelos traços de

definitudes e animacidade) e objeto, confusão gerada pela supressão dos casos (hipótese da

distinção do sujeito); ii) promover a distinção entre objetos inanimados, afetados pela ação, e

animados, interesse da ação (hipótese da analogia dativa) ; iii) marcar, estilisticamente, o

referente do objeto direto, com o intuito de enfatizá-lo, indicá-lo como tópico (hipótese do

status de tópico ou da prominência pragmatico-referencial).

Insistimos na validade da hipótese da prominência pragmatico-referencial, tendo

em vista que o acusativo preposicional é, originariamente, uma marca de topicalização, e

alcança uma generalização máxima ao se associar à duplicação pronominal mediante clítico.

Em: A las sus fijas enbraço las prendia [Cid, 275]74, percebemos que o referente do objeto

direto é um tópico marcado, de realce discursivo, sobre o qual a proposição é expressa.

Salienta DETGES (2005) que os mencionados objetos não são apenas

preferencialmente humanos ou animados, guardam também uma significativa carga de

agentividade. De acordo com suas considerações, no espanhol medieval os objetos diretos

preposicionados funcionavam como marca de respeito, como um elemento focalizador ou de

relevância. Tais ponderações que vão ao encontro das realizadas por LACA (2006) no que

tange à hipótese de status de tópico.

O forte latinismo sintático promove modificações importantes, por isso, na fase

romance, não é incomum enunciados cujos verbos se encontram no final da frase. Quanto à

ordem, cabe dizer que, nos casos de ênfase, por seu caráter temático, topical, o objeto direto

preposicionado assume a primeira posição no espanhol medieval.

74 Exemplo apresentado por LACA (2006, p.428)

92

3.4.5. Período de transição: séculos XIV e XV

Devido à necessidade de produzir textos legais, ao aumento da população por causa

das reconquistas de territórios e tendo em vista a evolução de Castilha em termos políticos e

sócio-econômicos, o romance começa a ser usado amplamente. A instabilidade fonética,

verificável até o século XIV, afeta a sintaxe do espanhol em sua fase arcaico-medieval. As

formas me, te, se, le e lo (masculino) sofriam apócope quando vinculadas ao particípio, ao

gerúndio, a outros pronomes, substantivos, ao advérbio não e à forma que. Por conta de tais

ocsilações, o átono ‘ge’, forma dativa de construções triactanciais, começa a alternar com ‘se’,

que amplia seu campo de atuação no século XV.

Mesmo sendo muito mais expressivo com relação a entidades masculinas no singular,

o átono ‘le’ começa a dedicar-se, neste período, à retomada de quaisquer entidades em função

de objeto direto – salvo o oracional - em um amplo movimento de reanálise e extensão. O

pronome dativo gramaticalizado, alcança praticamente todas as possibilidades referenciais

acusativas. Em outro prisma, o neutro e o caso, categorias perdidas no paradigma nominal,

procuram se manter no sistema pronominal.

Entre o final do século XV até princípios do XVI, a unidade lingüística do centro da

Península estava praticamente consolidada, auxiliada pela difusão da imprensa e do

castelhano como língua literária. No final do século XV, mais precisamente em 1492, é

publicada a Gramática de Antonio de Nebrija. Fixam-se normas para dar consistência ao

castelhano, suas referências gramaticais são tomadas como relevantes para a aprendizagem do

latim (LAPESA,1981). Cabe acrescentar que, no que concerne a questões de ordem dos

átonos de 3ª pessoa nos enunciados, a Gramática de La Lengua Castellana (1492) nos oferece

uma quantidade significativa de exemplos que mostram a inexistência de uma posição fixa

para os pronomes no final do século XV.

93

(30) (...) et entonces hazemos le injuria

(31) (...) et por que este género de nombres aún no tiene nombre, osemos

le nombrar aumentativo

(32) (…) el dios delos dioses. et entonces assi le damos articulo

(33) Mas como dios sea comun nombre: quitamos le el articulo cuando se

pone por el verdadero que es…

3.4.6. Casos de pronominalização anômala e a transformação dos clíticos

em categorias afixais na fase clássica

No século XVI, o castelhano era falado em Castilha, em Aragão, em Murcia, na

Andaluzia, na Galicia, em Astúrias e Navarra. É neste momento que se torna plenamente

coerente empregar o título língua espanhola, pois existe uma comunidade hispânica unificada.

No que tange ao clítico dativo, a forma “ge”, relegada à linguagem rústica a partir de 1530,

utilizada em construções como “ge lo di”, por exemplo, é substituída pelo forma “se” , por

conta das oscilações fonéticas entre /s/, /ž/, e /š/ e da existência do dativo reflexivo “se”, como

o qual se confundia.75

Aproximadamente um século depois, surge uma marcação anômala do dativo com

relação ao acusativo em construções triactanciais. Em construções como estas, onde se

configura um novo processo de reanálise, o clítico dativo, rompendo com a regra de

concordância, projeta no acusativo peculiaridades de gênero e número que, por seu perfil

morfossintático, não poderia marcar. Este tipo novo tipo de cliticização, deflagrado pela pouca

transparência da forma dativa, é mais um dos graus da invasão do dativo na tentativa de se

tornar o primeiro objeto da hierarquia de participantes.

Os primeiros dados desta marcação anômala começaram a generalizar-se, no México,

no final do século XVIII (COMPANY, 2006). Em construções como estas, o dativo funciona

75 No que diz respeito a esta questão, no século XIII, oscilavam as expressões “le lo” / “ge lo”. O pronome átono ‘le’ sofreu uma mudança de caráter fonêmico devido à sequenciada apresentação das laterais.

94

como objeto único, algo que debilita claramente a relevância do acusativo. Em nosso corpus

de análise – El Habla de Monterrey (ALFANO, 2003) - é um dos mais recorrentes fenômenos

de cliticização, porém, como se trata de um fenômeno de extensão do dativo ao acusativo, não

era nosso objetivo coletar suas ocorrências.

(34) Y las tiro / y... / cuando ya se los vienen a pedir / ya les anda / pos ni

modo / ya / simplemente les digo / no le anden prestando nada / a los míos /

no me les presten revistas / porque nada les / presten un libro bueno /

¡hombre! / una Biblia / o algo / para que se... / su mente... / pongan a

trabajar76

(35) y no andan batallando en primer lugar con que / ¿cuándo les toca? /

¿qué hay que ponerle? / ¿quién se las va a poner? /

(36) Por una ventana / de allá de la cocina / se la safaron / entraron / y se

llevaron / nomás lo que les gustó / la tele / la tele / el abanico / unas monedas

que tenían / qu’en el / ropero / y así nomás las cositas que le gustaron / pero

le dejaron todo voltiado

Os séculos XVI e XVII também foram frutíferos à duplicação clítica, aos casos de ‘le’

na retomada de dativos plurais, ao leísmo e aos casos de objeto direto preposicionado.

Acrescentamos que, embora haja um número significativo de ocorrências, o uso de la, e

principalmente de lo, como dativos, casos conhecidos como laísmo e loísmo, não eram tão

recorrentes como o leísmo, principalmente no que diz respeito ao leísmo de pessoa.

(...) en la primera mitad del siglo XVI este acusativo le domina en los

escritores de Castilla la Vieja y León, a los que se suman después alcalaínos

y madrileños, como Cervantes, Lope, Tirso, Quevedo, Calderón y Solís. No

faltan, desde los textos más viejos, quienes se valen de le para el acusativo

de persona y de lo para el de cosa, introduciendo así en el régimen

76 (39) Informante analfabeta de 36 anos. (40) Informante pós-graduado de 26 anos. (41) Informante de sexo feminino, 54 anos, ensino fundamental.

95

pronominal una clasificación como la que establecía la presencia de a ante

el acusativo nominal de persona. (LAPESA, 1981, p. 387)77

Contudo, a predominância da ênclise observada no século XIV compete com o uso

freqüente da próclise nos séculos XVI e XVII, principalmente depois de oração subordinada

ou inciso. Também devemos registrar que a próclise não atinge de forma efetiva o imperativo,

o infinitivo e o particípio, o uso preferido continuava a ser o enclítico. Notamos que, neste

período, começa a delinear-se uma fixação de parâmetros para a colocação dos pronomes

átonos.

O século XVII conforma o auge do leísmo pessoal e não pessoal e dá lugar a uma

posição fixa para os clíticos, restringindo à ênclise formas no gerúndio, infinitivo, imperativo

e particípio78. Deu-se, portanto, uma reestruturação na natureza da cliticização que

transformou elementos livres ou semilivres em categorias afixais. Outro caso típico de

gramaticalização, já que os referidos pronomes átonos avançaram a um nível ainda mais

gramatical por conta dessa peculiaridade hierárquica.

Nesta mudança, interferiram nuances do ritmo, questões de distribuição da informação

e uma especificidade sintática: a busca pela criação de uma posição fixa para os clíticos na

oração (SORIANO, 1993). Se nos basearmos na última ponderação, tal procedimento

possibilitou a reorganização da oração em termos de seu ponto de vista prosódico, algo que

permitiu a adjunção entre clíticos e verbos. A colocação dos verbos e dos pronomes átonos

oferece mudanças significativas no âmbito da sintaxe. No século XVI, os autores que seguiam

uma tendência de cunho latino punham o verbo geralmente no final da frase, porém, tal

77 (...) na primeira metade do século XVI este acusativo le domina nos los escritores de Castilla la Vieja y León, aos que se somam depois aos alcalaínos e madridenhos, como Cervantes, Lope, Tirso, Quevedo, Calderón e Solís. Não faltam, desde os textos mais antigos, aqueles que se valem de le para o acusativo de pessoa e de lo para o de coisa, introduzindo assim no sistema pronominal uma clasificação como a que establecia a presença de a diante do acusativo nominal de pessoa (LAPESA, 1981, p. 387).77 78 Uso menos expressivo. Hoje, o uso enclítico se restringe ao infinitivo, gerúndio e ao imperativo. (R.A.E., 1998; TORREGO, 2002).

96

tendência perde força no século XVII.

Visto como uma das línguas do mundo moderno, o espanhol encontra no período

clássico (séculos XVI a XVII) sua consolidação como língua de relevância incontestável.

Passa a ser, então, objeto de estudo e foi contemplado com gramáticas79 que expunham muitas

de suas especificidades, com numerosas traduções e dicionários à luz da Idade de Ouro.

3.4.7. Especificidades do átono ‘le’ em algumas áreas do mundo

hispânico e casos de debilitamento referencial no México: tensão

entre unidade e diversidade na etapa moderna da língua espanhola

Na fase moderna da língua espanhola – compreendida entre os séculos XVIII e XX – a

tensão entre a unidade e a diversidade do espanhol é tratada com um pouco mais de

preocupação. Neste período, a Real Academia Espanhola é fundada, mais precisamente em

1713. A R.A.E. assume uma função de caráter reintegrador, uma tarefa de caráter normativo e

de unificação do idioma.

COMPANY (2002), ao analisar textos mexicanos (Documentos linguísticos de la

Nueva España – DLNE) e espanhóis (Moratín) do século XVIII, observa que o leísmo

mexicano apresenta características diferentes do leísmo espanhol. O leísmo mexicano focaliza

muito mais as propriedades do evento que a unidade referencial em si. Nestes textos, as

ocorrências mexicanas são sensíveis à animacidade do sujeito, a verbos que não evidenciam

realização, ao aspecto menos pontual e perfectivo, ou seja, se realizam em contextos de baixa

transitividade.

Acreditam TORRES CACOULLOS (2002) e COMPANY (2006) que o processo de

79 Diálogo de la lengua (Juan Valdés, 1535), Discurso sobre la lengua castellana (Ambrosio de Morales, 1546), Gramática Castellana (Pedro Simón Abril, 1569), Gramática Castellana (Cristóbal de Villalón, 1558), Las instituciones de la gramática española (Jiménez Patón, 1614), Arte Kastellana (Gonzalo de Correas, 1627). Estas referências se acham em TORRENS ÁLVAREZ (2008).

97

perda de designação referencial pode ter se dado pelo uso do pronome de tratamento ‘usted’,

que se estendeu devido à necessidade do preenchimento da lacuna deixada pelo não uso de

‘vosotros’ em terras americanas. Ao nosso ver, o leísmo relacional do século XVIII muito

contribuiu para o desenvolvimento do processo no México, um vez que sua realização

dependia muito mais das particularidades do discurso que das propriedades das unidades.

Estamos diante de um mesmo fenômeno, expansão do dativo ao acusativo (leísmo),

mas que registra distintas motivações semântico-pragmáticas, distintas peculiaridades

discursivas em diferentes áreas geoletais: a espanhola e a mexicana. Concluímos que estas

ponderações podem explicar muitos casos de instabilidade clítica no mundo hispânico, já que,

certamente, na codificação linguística, deixamos pistas de nossas intenções comunicativas.

Por isso, um mesmo fenômeno como o leísmo pode apresentar motivações semântico-

pragmáticas distintas em diferentes áreas geoletais.

Mesmo que COMPANY (2002) não tenha dado mais ênfase a esta questão em

trabalhos posteriores, acreditamos que o fato de o leísmo ter sido relacional no México, pode

ter favorecido o uso não-referencial de ‘le’. Insistimos nesta possibilidade por estar mais

condicionado às especificidades do evento que às características da entidade a ser recuperada

no discurso. Ainda no século XIX, na variante mexicana, a perda de designação referencial se

dá primeiro no âmbito do núcleo verbal (“¿Cómo le hago?”/ “¡Ándale!”) e posteriormente, em

seu processo analógico, com base nominal (com em “órale” e “híjole”). Nestes casos, cremos

que houve um esvaziamento da capacidade referencial de “le” em prol da codificação de

viscissitudes discursivas.

O século XVIII é, por um lado, palco de crise política e, por outro, da plena ascensão

geográfica da língua espanhola, pois nesta época seu número de falantes quintuplicou. A parte

sudoeste dos Estados Unidos, México, América Central e Meridional (exceto do Brasil e

Guianas), Cuba, Santo Domingo, Porto Rico e parte de Filipinas tinham o espanhol como

98

idioma. Todavia, como sabemos, uma língua falada por 21 diferentes culturas não é imune a

mudanças, assim como nenhuma outra língua o é. A manutenção de sua unidade se deve

muito a tradição literária, a partir da qual se elege um uso culto, uma norma culta escrita, que

tenta freiar variações de caráter regional.

Porém, esse diálogo entre a literatura e a norma culta, no que concerne à codificação

clítica, não foi estabelecido logo de imediato. As gramáticas da R.A.E. (1796, 1851 e 1854)

consideravam equivocados os usos de alguns representantes da literatura espanhola que não

tomavam o leísmo pessoal e de objeto como regra para a recuperação de entidades acusativas

masculinas no singular.

Ántes se há de creer que está mal dicho: el juez persiguió á un ladrón, lo

prendió, lo castigó; ó F. compuso un libro, y lo imprimió, en lugar de le. Y

en respecto de los autores que le han usado, como Granada, Cervantes y

otros, se ha de decir, ó que hay falta de corrección en las impresiones de sus

obras, ó que fueron poco exactos en el uso de estas terminaciones, ó que por

cuidar alguna vez con demasia del número armonioso de la oración,

sacrificaron las reglas de la gramática a la delicadeza del oído80. (R.A.E.,

1851, p. 59).81

Grifamos, na citação anterior, um exemplo de leísmo oracional, no qual ‘le’82, em

lugar de ‘lo’, é responsável por se referir ao que foi apresentado no contexto anterior. Cabe

afirmar que na gramática de 1858, não há este fragmento, mas, no quadro de uso dos

pronomes, ‘lo’ e ‘le’ estão presentes como possibilidades de codificação acusativa.

Um dos pontos mais polêmicos levantados pela norma culta no século XIX é a

questão da intercambialidade de “le” e “lo” na retomada de itens no discurso. Para MORENO 80 Grifo nosso. 81 Antes de mais nada há que se crer que está incorreto: el juez persiguió á un ladrón, lo prendió, lo castigó; ó F. compuso un libro, y lo imprimió, ao invés de le. E no que diz respeito aos autores que usaram tais construções, como Granada, Cervantes e otros, há que se dizer, ou que há falta de correção nas impressões de suas obras, ou que foram pouco exatos no uso destas terminações, ou que por cuidar alguma vez com demasia do número harmonioso da oração, sacrificaram as regras da gramática à delicadeza do ouvido81. (R.A.E., 1851, p. 59). 82 Atualmente, o leísmo oracional sequer é previsto pela norma culta.

99

FERNÁNDEZ (1998), dos formas de decir lo mismo83 são equivalentes, porém em termos

semânticos há nuances que as divergem. Em nossa concepção, se há duas formas na língua,

estas possuem marcas, fixadas nos contextos de interação, que justificam seu uso em

contextos específicos. Além disso, consideramos que a sintaxe deve ser compreendida via

semântica, dentro do escopo da pragmática.

Desta maneira, não concebemos ‘le’ e ‘lo’ como formas intercambiáveis, mas

entendemos que suas peculiaridades semântico-pragmáticas são imprescindíveis à seleção

clítica. Avançando um pouco mais a discussão, achamos de grande pertinência os estudos de

TRUJILLO (1999) que propõem que não há alternativas expressivas, mas expressões distintas

em termos semânticos, que oferecem representações cognitivas singulares.

Para elucidar esta questão, TRUJILLO (1999) se vale de alguns exemplos com base na

questão da diatopicidade. Afirma que, se nos pautarmos no espanhol falado na área

castelhana, por exemplo, quando alguém diz “súbele”, pode estar se referindo tanto a uma

pessoa do sexo masculino ou a algum objeto, mas “súbelo”, provavelmente alude a um objeto.

Assim, entendemos que a escolha de uma das formas marca a mudança ótica a partir da qual

se concebe o referente. Nesta linha de raciocínio, ‘le’ e ‘lo’ contrastam em traços de sentido,

interpretáveis segundo as peculiaridades interacionais e bases culturais das comunidades de

fala.

Os trabalhos de FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ (1999), LIPSKI (1994) e KLEIN-

ANDREU (1993), no século XX, ancorados em uma proposta sociolinguística, dão pistas

seguras do raciocínio de COMPANY (2002) e de TRUJILLO (1999), expostos anteriormente.

Acreditamos que as peculiaridades léxico-semânticas das entidades, a relação entre os

partícipes da interação e a entidade, especificidades da relação intersubjetiva, nuances de

ordem pragmática, tais como empatia e ênfase, características do evento, influenciam,

83 Duas formas de dizer a mesma coisa.

100

sobremaneira a codificação clítica.

FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ (1999) acentua que a seleção pronominal está atrelada a

idiossincrasias diatópicas. Quanto às zonas espanholas não conservadoras, convém dizer que

o sistema pronominal predominante é o referencial. Neste, a seleção pronominal depende de

nuances animação e continuidade do termo antecedente. Ao fazer alusão a áreas

conservadoras (Asturias, Navarra, Aragón, León, Extremadura, La Mancha, Murcia e

Andaluzia oriental), mostra a existência de dois tipos de leísmo: o masculino singular pessoal

e o de cortesia.

De uso estendido nessas zonas, o leísmo de cortesía atende a duas necessidades

lingüísticas básicas: desfaz a ambigüidade da terceira pessoa e marca formalmente maior

importância do ouvinte com relação a um terceiro partícipe não envolvido na situação

comunicativa. Estamos referindo-nos a um uso que põe em destaque a condição de

tratamento de respeito própria da forma usted, como nos apresenta o seguinte exemplo: (37)

E: ¿Y alguna de esas salidas haya’l… / a…- / algo que le haya / llamado l'atención? (Corpus

oral. El Habla de Monterrey).

O leísmo de cortesía é outra atribuição assumida pela forma ‘le’ nas áreas

distinguidoras de caso e esta, especificamente, assinala o distanciamento existente entre os

interlocutores na práxis comunicativa. Em uma leitura funcionalista, evidenciamos, desta

forma, outro estágio de gramaticalização do átono em questão, pois passa a codificar nuances

da relação de poder entre os partícipes da interação. TORRES CACOULLOS (2002) destaca

este leísmo como importante para o fenômeno da perda de designação referencial, pois suas

motivações são discursivas.

KLEIN-ANDREU (1993) desenvolveu uma pesquisa sobre o emprego dos clíticos de

3ª pessoa na produção discursiva dos falantes de Castilla la Vieja. Baseada em um corpus

oral, distingue os usos legitimados na língua culta (oral ou escrita) e na língua popular.

101

Constatou que o sistema estándar (prestigiado pelas gramáticas normativas) funciona como

um ponto de equilíbrio, como um sistema de compromisso que abarca peculiaridades do

sistema casual e do referencial. Desta forma, em Castilla La Vieja, de acordo com os

resultados obtidos, houve uma revisão dos usos dos átonos de terceira pessoa, algo que aponta

para uma forte tendência à utilização de ‘le’ ao âmbito da animacidade.

Além de concordarmos com COMPANY (2006) que sob um mesmo expoente formal

(em nossa pesquisa, ‘le’) podem fundamentar-se diferentes funções gramaticais e pragmático-

comunicativas, destacamos que, no que diz respeito à língua espanhola, por particularidades

diatópicas, culturais e identitárias, algumas funções podem ter sido recorrentes em uma zona e

não em outras. Tais ponderações podem nos ajudar a compreender melhor os casos de

instabilidade clítica no mundo hispânico.

Para apresentar de maneira mais esquemática a instabilidade dos pronomes átonos em

função de objeto direto no século XX e as influências de ordem semântica que condicionam a

codificação clítica, construímos cinco quadros, baseados nos trabalhos de FERNÁNDEZ-

ORDÓÑEZ (1999) e LIPSKI (1994). Vejamos.

102

Ao analisar os quadros, nos damos conta do nível de instabilidade clítica no mundo

hispânico. Inclusive, um mesmo fenômeno pode apresentar diferentes particularidades

103

dependendo dos aspectos semântico-pragmáticos que o condicionam. A partir deste pequeno

levantamento, chegamos a algumas conclusões. Ainda que o uso de ‘le’ em contextos

acusativos seja um recurso que também retome entidades inanimadas, a animacidade é um

traço bastante expressivo em sua realização nas zonas (4), (6) e (9). Além disso, o caráter

incontável do antecedente pode bloquear sua ocorrência e dar lugar a ‘lo’.

‘Lo’, tão recorrente nas três primeiras áreas em referência a antecedentes incontáveis,

é freqüente na área peninsular (4) no que concerne a entidades inanimadas (masculinas e

neutras, seguindo, em parte, a orientação conservadora). Na zona peninsular (5), ‘lo’ é

utilizado em mais contextos que ‘le’, independente do traço de animacidade. Contudo, na área

americana (8), toma um caráter genérico, se gramaticaliza, passa a retomar todo tipo de

antecedente, seja este masculino ou feminino, esteja ou não no plural. 84

Vale considerar que, nas áreas (4) e (6), a não-representação formal do objeto, o objeto

nulo, se restringe à recuperação de termos inanimados, ao passo que na área (9) retoma todo

tipo de antecedente. Acreditamos que o contato do espanhol com o quechua, com o aimara e

com o guarani, nas áreas (6) e (9), pode ser um dos fatores que favorece os casos de objeto

nulo, pois estes casos são recorrentes nas referidas línguas indígenas.

Um mapeamento do uso do átono ‘le’ em contextos acusativos nos chamou muito a

atenção. O Instituto Nacional de Língua Japonesa (NIJLA), dirigido por Takuichiro Onishi,

Harumi Mitsui e Masako Yoshida, desenvolveu um sistema catográfico chamado “Language

Map System” (LMS). AOTO (2002) e outros representantes da equipe Varilex85 aplicaram o

referido programa a alguns fenômenos de variação do mundo hispânico, a saber: leísmo,

voseo86, passado imediato (‘pretérito perfecto’) e usos dos verbos ‘estar’ e ‘ir’ acompanhados

de gerúndio. As cidades analisadas foram:

84 Como em “Lo quiere a su hijita”, ao invés de “Quiere a su hijita”. (LIPSKI, 1993). 85 Pesquisa: “Variación Léxica del español en las ciudades del mundo hispanohablante”. (AOTO, 2002) 86 Uso do pronome de tratamento ‘vos’, muito recorrente na Argentina e em outras áreas americanas.

104

Ainda que a preocupação principal tenha sido, a princípio, diatópica e cartográfica, e

o exemplo dado faça menção apenas à retomada de entidades masculinas e humanas (“No, no.

al tio ese no lo/le vi ayer”) , achamos relevante o mapeamento realizado. Afirmamo-lo porque

contribui para rechaçar a antiga e defasada falácia de que o uso de ‘le’ em contextos

acusativos é um fenômeno recorrente apenas em áreas peninsulares, conforme destaca a

página do Centro Virtual Cervantes87. Consideramos, no mínimo, complicado que se refiram

a um fenômeno, recorrente na língua espanhola desde a etapa medieval, nos termos que se

apresentam abaixo.

Son muchos los visitantes de nuestro Museo de los horrores a quienes les gustaría ver colgado de sus paredes uno de los horrores más habituales en algunas regiones de España: la utilización no normativa de los pronombres personales átonos de tercera persona: le, la y lo, con sus correspondientes plurales: les, las y los. (…) Pero esta sencilla clasificación teórica no resulta tan fácil en la práctica. Hemos de tener en cuenta que en Madrid y otras zonas del centro peninsular los errores en el uso de los pronombres átonos son muy frecuentes, y que de ahí han pasado también a ser frecuentes en muchos de nuestros medios de comunicación.88

87 http://cvc.cervantes.es/alhabla/museo_horrores/museo_033.htm. Acesso: 17/11/2009. 18:52 88 São muitos os visitantes de nosso Museu dos horrores que gostariam de ver pendurado em suas paredes um dos horrores mais habituais em algumas regiões da Espanha: a utilização não normativa dos pronomes pessoais átonos de terceira pessoa: le, la e lo, com seus correspondentes plurais: les, las e los (...). Porém esta simples classificação teórica não é tão fácil na prática. Temos que ter em conta que em Madri e outras zonas do centro

105

As regiões leístas de acordo comos dados de Varilex, seriam: a castelhana (Salamanca,

Madrid, Córdoba etc.), Ibiza, das Ilhas Baleares, Santiago (República Dominicana), San Juan

(Porto Rico), Monterrey (México), Tegucigalpa, León (Nicarágua), Medellín e Assunção.

Barcelona, Valencia, Santiago de Cuba, Guatemala, Bogotá, Ciudad Bolívar, Caracas,

Montevidéu e cidades argentinas não são leístas.

A mencionada equipe também ressalta que Barcelona e Valencia podem não ser leístas

tendo em vista que se encontram em áreas onde há outros dialetos. Consideramos que tal

posicionamento precisa ser repensado, uma vez que há ocorrências de leísmo em Ibiza, ilha

que está localizada nas proximidades destas duas cidades. Este dado é mais um índice que

confirma a nossa hipótese: devido a aspectos de ordem semântico-pragmática, o átono ‘le’

codifica um mesmo campo funcional, mas com motivações discursivas diferentes, atendendo

aos propósitos comunicativos dos falantes. Observemos a distribuição realizada nas figuras

(10) e (11).

peninsular os erros no uso dos pronomes átonos são muito frequentes, e que daí passaram a ser frequentes em muitos de nossos meios de comunicação.

106

Na etapa moderna, há uma recorrência quase categórica à duplicação clítica

(principalmente no que se refere ao objeto indireto) e uma expansão considerável do leísmo

pessoal em muitas áreas do mundo hispânico. Na segunda metade do século XX, o uso de ‘le’

em alusão a entidades dativas no plural (marca de concordância objetiva, fase inicial do

processo de despronominalização) toma força, mas é no final do século XIX que surgem os

casos de debilitamento referencial do dativo na área mexicana. Sua recorrência aumenta nos

séculos XX e XXI.

Em casos como: (38) “Alvarez, ese gran luchador por la democracia en nuestro país,

me dijo: "Bájele, Memo, qué no ve que si en lugar de los del PRI fuéramos los del PAN”; a

forma ‘le’ não faz menção a nenhum argumento, mas marca objetivos pragmáticos

sustentados apenas nas particularidades da interação. De grande produtividade no México,

realça um total esvaziamento do pronome que originalmente funcionava como item de

107

evocação de entidades dativas.

3.5. Síntese capítulo III

Partindo do pressuposto de que a mudança linguística é de caráter semântico-

pragmático, asseguramos que significados proposicionais podem desenvolver significados

textuais e/ou expressivos, conforme aconteceu com o átono ‘le’ no México. Decorre destas

considerações que o estudo da gramaticalização não tem o propósito de remontar a história

das línguas, mas é uma maneira de compreender o desenvolvimento das formas gramaticais e,

por conseguinte, entender melhor a mudança linguística em uma perspectiva pancrônica, já

que muitos fenômenos que acontecem com a gramática sincrônica encontram motivações em

estágios anteriores.

Devido à extensão deste capítulo, construímos um quadro sinóptico remontando o

desenvolvimento os fenômenos relacionados com a reinterpretação do dativo, desde a etapa

medieval até os casos de perda referencial na fase moderna, concernentes à variante mexicana

do espanhol. Gostaríamos de dar destaque à ruptura que se realiza nesta área no século XVIII:

as ocorrências do leísmo mexicano, nesta época, dependem mais de condicionamentos

baseados nas especificidades do evento que das propriedades da unidade a ser retomada.

Asseveramos que este pode ser um dado muito importante à compreensão do debilitamento

referencial. Vejamos, então, o quadro 11.

108

Em resposta às necessidades dos usuários, itens de diferentes categorias podem mover-

se ou rearranjar-se. A mudança lenta e gradual de tais itens permite que a gramática da língua

encontre novas maneiras de se acomodar (NEVES, 2002). Nossa pesquisa nos permite

reafirmar a validade da gramaticalização para o tratamento funcionalista no estudo das

línguas, porque ressalta a dinamicidade e a flexibilidade dos sistemas. Equilibram-se,

coerentemente, a força do uso e as possibilidades de sua reestruturação interna, conforme

veremos no capítulo 4.

Fase medieval Período de transição

Fase clássica Fase moderna

(Séculos XII e XIII) (Séculos XIV e XV) (Séculos XVI e XVII)

(Séculos XVIII ao XX)

- Primeiros casos de duplicação, marca de concordância objetiva e leísmo referencial.

- Leísmo referencial recuperando quaisquer entidades (como não-humanas e femininas, por exemplo).

- Expansão e auge do fenômeno de duplicação. - Expansão dos casos de marca de concordância objetiva. - Primeiros casos de construções anômalas com ‘se’. - Auge do leísmo referencial (pessoal e não-pessoal). - Fixação de parâmetros para a colocação pronominal.

- Leísmo referencial é bastante expressivo no mundo hispânico. - Leísmo relacional no México. - Auge das construções anômalas com ‘se’ no espanhol mexicano. - Casos de perda referencial no espanhol mexicano. - Casos de marca de concordância objetiva são bastante representativos no México. - A duplicação é quase categórica no mundo hispano-falante.

Quadro 11. Fenômenos relacionados a cliticização. Linha temporal sinóptica.

109

CAPÍTULO IV

PERDA DE DESIGNAÇÃO REFERENCIAL DO ‘LE’ MEXICANO:

UM CASO DE GRAMATICALIZAÇÃO

A noção de unidirecionalidade, tal como proposta pela teoria da

gramaticalização, leva à hipótese de que existem fatores de ordem

cognitiva, sociocultural e comunicativa que norteiam a mudança.

(MARTELOTTA, 2008, p.59)

110

CAPÍTULO IV. PERDA DE DESIGNAÇÃO REFERENCIAL DO ‘LE’ MEXICANO: UM CASO DE

GRAMATICALIZAÇÃO.

INTRODUÇÃO

Sistematizadas as bases teóricas que fundamentam nossa pesquisa e atentos ao

desenvolvimento do átono ‘le’, desde a etapa medieval até o século XX, a meta última desta

tese é explicar como se deu o processo de perda de designação referencial de ‘le’ na variante

mexicana do espanhol. Para tal, nos referiremos aos trabalhos que dispensaram atenção a esse

tema (de antemão ressaltamos que são poucos); descreveremos o corpus de análise que

sustentará nossa argumentação; apresentaremos os resultados e diremos em que medida a

despronominalização se faz presente na escrita.

Por fim – acreditando que a perda de designação referencial está vinculada aos

princípios de divergência, persistência e metáfora, hipótese central desta tese, procuraremos

mostrar de que maneira ‘le’ passou a codificar relações interpessoais, de cunho totalmente

discursivo, na referida área geoletal e se gramaticalizou.

4.1. Em busca do entendimento do fenômeno: de partícula de expressão de

‘desejo’ à hipótese da gramaticalização por subjetivização

Os estudos de BOYLD-BOWMAN (1960) se centram nas ocorrências de Guanajuato.

Partindo de uma análise semântica, considera que ‘le’, quando acoplado a uma base verbal ou

nominal, funciona como uma partícula que expressa desejo e que, de certa forma, atenua a

força da ordem das construções imperativas. De acordo com esta linha de raciocínio, ‘le’ não

se configura como argumento. Neste sentido, a formação de unidades linguísticas como

111

híjole, órale, újule... seria resultado de uma ‘contaminação’, isto é, um registro de processo

analógico, já que as expressões verbo+le (ándale, córrele...) são anteriores.

KANY (1976) fez alusão ao assunto, mas suas ponderações não foram muito

diferentes das de BOYLD-BOWMAN (1960). Também concebe ‘le’ como uma partícula

expletiva, de caráter atenuante. Contudo, ressalta que em construções como: “¿cómo le

hacemos?”, ‘le’ faria menção ao que foi dito anteriormente, isto é, teria adquirido as

propriedades do ‘lo’ neutro. KANY (1976) chega a considerar que este item seria empregado

com o sentido de ‘no más’, dando maior expressividade à construção imperativa.

Os trabalhos de MASULLO (1992) e de NAVARRO (2005), ancorados em uma

perspectiva formalista, também nos chamaram a atenção. Para este dois linguistas, o uso de

‘le’ nos enunciados mencionados é um caso de incorporação pronominal. Ao analisar os ver-

bos - tradicionalmente chamados de transitivos – MASULLO (1992) afirma que se trata de

uma tendência de antipassivização, ou melhor, uma tendência que favorece a inclusão de um

argumento adicional, levando o objeto direto à obliquidade. Um dos pontos dessa análise que

precisaria ser revisto é o fato de se restringir aos verbos transitivos e, além disso, o

mencionado pesquisador crê que que este fenômeno se trata apenas um caso de incorporação

sintática.

Por outro lado, NAVARRO (2005) dá base à hipótese da incorporação semântica

pronominal. Sua pesquisa visa compreender a função de ‘le’ nos predicados complexos

(verbo+le) e registra quão produtivo é este átono no espanhol falado no México:

112

NAVARRO (2005) buscou provar que os traços semânticos de meta se acham

gramaticalizados em construções como “Le abrió la puerta a Juan” e “Le bailó toda la

noche.” Sugere que esta realização é oriunda de uma metaforização da meta dativa, motivação

que também pode ter dado origem à duplicação. Neste sentido, argumenta que por ser

desprovido de antecedente sintático, se dá uma incorporação do clítico ao verbo devido à

unificação de papéis temáticos.

Neste sentido, o comportamento de ‘le’ se assemelharia a de um predicado,

contribuindo para o traço semântico de meta, que corresponde ao papel temático de dativo.

Seria um tipo de incorporação semântica, porque se cria um novo sentido quando ‘le’ se soma

ao verbo. Esse processo resulta em um predicado complexo, no qual ‘le’ passa a preencher o

lugar de um argumento interno, embora não seja anafórico: El caso de le en español mexicano

es un ejemplo de Incorporación Pronominal. Su análisis confirma que en la formación de

predicados complejos intervienen procesos sintáctico-semánticos como lo es la

Incorporación.89

Estas ponderações levam NAVARRO (2005) a conceber este clítico como uma

variável, que dependendo do contexto, pode atuar como livre, atendendo o traço de meta, ou

ligada, estabelecendo relações anafóricas. Tomar ‘le’ como uma variável é um dos pontos de

discussão da análise de Navarro (2005), com o qual não estamos de acordo. Acreditamos que,

enquanto referencial, ‘le’ exerce funcional, semântica e pragmaticamente atribuições

diferentes da desempenhada pelo ‘le’ não-referencial.

Outra hipótese que tenta dar conta do fenômeno é a da intensificação, oriunda dos

trabalhos de TORRES CACOULLOS (2002), de certa forma endossada posteriormente nos

trabalhos de COMPANY (2006). TORRES CACOULLOS (2002) expõe que ‘le’ realizou um 89 O caso do ‘le’ no espanhol mexicano é um exemplo de Incorporação Pronominal. Sua análise confirma que na formação de predicados complexos intervêm processos sintático-semânticos como a Incorporação o é.

113

percurso: de pronome a intensificador pragmático do evento. Em construções como

“¡Apágale!”, ‘le’ funciona como elemento que bloqueia a realização do acusativo,

intensificando o evento que expressa o verbo ‘apagar’. Se fizermos referência aos parâmetros

de transitividade propostos por HOPPER e THOMPSON (1980) e ao continuum categorial de

COMPANY (2006), verificaremos que o nível de transitividade do enunciado é maior e que

‘le’ também se encontra em um nível de argumentabilidade maior.

COMPANY (2004) concorda com a questão da intensificação pragmática proposta por

TORRES CACOULLOS (2002), porém, acrescenta que o debilitamento referencial de ‘le’

está atrelado ao fenômeno de subjetivização e assevera que, neste caso, há prescindibilidade

sintática. Isto significa que as construções experimentam um processo de subjetivização,

apresentam rigidez sintática, cancelam sua propriedade referencial sintática e se isolam,

gerando um empobrecimento sintático compensado pelo enriquecimento pragmático.

Segundo COMPANY (2004) três efeitos sintáticos podem ocasionar a subjetivização:

o debilitamento (perda do controle do agente sobre o evento); a ampliação do alcance do

predicado e o isolamento (autonomia predicativa). De um modo geral, os sujeitos das

expressões subjetivas são inanimados, não agentivos e não volitivos.

A confluência dessas características provoca uma integração de constituintes tão forte

que a interpretação do enunciado só pode ser feita de maneira global, atenta ao todo

significativo. Além disso, o alcance da expressão se amplia de tal forma que seu significado

pode incidir sobre todo o enunciado.90 Em: (39) Y cuando "El Churumbel" quiso entrar con

EL a la CMIC, éste lo instó: "Ya, llégale" (OEM), ‘le’, por um lado, apresenta maior rigidez

sintática e, por outro, a autonomia e a independência da predicação se estabelecem em termos

prosódicos.

A estes efeitos sintáticos se soma o debilitamento do significado etimológico original,

90 Propriedade de alguns advérbios.

114

uma mudança de caráter semântico. Para que os itens adquiram significados expressivos de

cunho subjetivo é necessário que haja um esvaziamento de seu significado etimológico, seja

este referencial ou situacional, conforme assegura (COMPANY, 2004). Concluímos, a partir

desta consideração, que o esvaziamento do significado, ao qual fizemos alusão, favorece a

dinâmica da mudança, uma vez que as formas passam a assumir significados mais abstratos e

estes possibilitam que circulem em contextos diferentes dos que comumente eram inseridos.

Ao contrário do que assinalam MASULLO (1992) e NAVARRO (2005), em nosso

modo de pensar, não há uma incorporação pronominal sintática e nem semântica, mas

pragmática. O significado intensivo se acha em construções como “¿Cómo le hacemos?” /

“¡Apáguele!” / “¡Híjole!” porque ‘le’ deixa de focalizar o SN de uma possível relação

argumental e passa a focalizar a ação, o evento.

No que diz respeito às formações de base verbal, ‘le’ focaliza um argumento

pragmático e permite ao falante interferir na ação do ouvinte, realizar uma exortação. Como

podemos observar em: (40) “al cabo / ya'stábamos acabando / pásele / pásele / par'acá pa

dentro”.91 Quando se trata de bases nominais, o próprio falante avalia o evento, oferecendo

um caráter mais subjetivo que interpelativo à construção: (41)“I: Sí... (risas) / flojiando

porque / ¡ay! ¡n’hombre! / es que tiene cuatro niños pero... / ¡o...y ay ¡híjole! son

tremendos”.92

Até aqui, acompanhamos o raciocínio de COMPANY (2006) e de TORRES (2002).

Mas, embora saibamos que a subjetivização e a função da intensificação pragmática sejam

relevantes ao entendimento das realizações de ‘le’, desprovido de especificidades referenciais,

procuraremos provar que a divergência, a persistência e o processo cognitivo de metáfora em

muito contribuem no processo de gramaticalização deste item. 93 Vejamos como se

comportam os dados de ‘le’ não-referencial no corpus “El Habla de Monterrey” e nas

91 Corpus El Habla de Monterrey. Informante de 49 anos, sexo feminino, analfabeta. 92 Corpus El Habla de Monterrey. Informante de 22 anos, sexo feminino, ensino fundamental. 93 Daremos mais detalhes do valor destes princípios no item 4.3.

115

ocorrências da Organização Editorial Mexicana. Posteriormente, mostraremos o caminho que

consideramos equilibrado para a compreensão deste fenômeno.

4.2. Nosso olhar investigativo: perda da função referencial do átono ‘le’ na

variante mexicana

4.2.1. Considerações gerais: descrição dos corpora e perfil da análise

Nosso corpus oral de análise – cujos dados são do final do século XX - nos foi

fornecido pela Universidade de Nuevo León, mais propriamente o conseguimos por

intermédio da Profa. Lidia Rodríguez Alfano. É importante deixarmos claro que, nossa

preocupação não se centra na realização de um estudo sociolingüístico, mas de verificar,

efetivamente, o comportamento do átono ‘le’ em ocorrências que registram perda de

designação referencial.

Convém dizer que tivemos que produzir uma amostra, pois não temos a quantidade de

entrevistas necessárias para analisar os dados em termos idade, escolaridade e sexo de

maneira uniforme. Esta amostra soma um total de 225 dados, distribuídos em 7 entrevistas de

pós-graduados, 11 de ensino fundamental e 15 de analfabetos. Procuramos contar o número

de palavras e relacionar com a frequência das realizações para não incorrermos em equívocos.

As pesquisas referentes à divisão dialetal da área mexicana têm demonstrado certas

complexidades e despertado inquietações. As ponderações de BLANCH (1996) sobre o

assunto partem dos estudos de Henríquez Ureña (1921)94, que sinalizou uma divisão da

referida área em cinco regiões dialetais: i) norte; ii) altiplano central; iii) terras quentes da

costa oriental; iv) Yucatán; e v) Chiapas.

94 Observaciones sobre el español de América (1921, p.357-390). Apud BLANCH (1996), p.87.

116

O trabalho de Henríquez Ureña é revisto por BLANCH (1996) e, embora considere

sua revisão dialetológica imprecisa e plenamente sujeita a modificações, propõe que a área

geoletal mexicana seja analisada levando-se em conta dez (10) regiões:

i) Yucatán;

ii) Chiapas;

iii) Tabasco;

iv) os falares veracuzanos;

v) os falares de oaxaquenhos, ao centro;

vi) o altiplano central que engloba a Cidade do México e outras cidades adjacentes;

vii) a região de Oaxaca e Gerrrero, próximas do Oceano Pacífico;

viii) a zona noroeste, que compreende desde Sinaloa a Chihuahua, Sonora e Baixa

Califórnia;

ix) a zona concernente a Durango, Zacatecas e San Luis de Potosí;

x) a área de Nuevo León e Tamaulipas.

Este trabalho segue a orientação de divisão dialetal proposta por BLANCH (1996),

que sugere que as regiões de Jalisco e Michoacán devam conformar, futuramente, mais duas

áreas dialetais. É esclarecer também que nos valemos de 249 dados provenientes da página da

Organização Editorial Mexicana – todos do século XXI - coletados no período de 26/08/2009

a 01/09/2009. Contudo, nossa intenção não é comparar as peculiaridades das ocorrências do

corpus escrito com as especificidades das ocorrências do corpus oral, mas mostrar em que

medida a perda referencial de ‘le’ é registrada nos textos jornalísticos.

Com relação ao corpus oral, procuramos observar a distribuição dos dados por região;

os usos mais expressivos tendo em conta a escolaridade; a posição das construções

‘verbo+le’, ‘nome+le’ nas orações; e o nível de transitividade das realizações ‘le+verbo’. No

117

que concerne aos dados escritos, verificamos os usos mais representativos; em que gêneros de

textos há mais ocorrências de ‘le’ não referencial; em que medida os dados se dão na escrita

(na recuperação da língua falada ou se são propriamente usados como elementos da língua

escrita).

A figura 12 95 ilustra a divisão dialetal da área mexicana. Delimita também as zonas

mais representativas no que diz respeito à ocorrência de dados orais (região 9 (56% -

127/225)) e escritos (região 6 (57% - 142/249))96. No que tange aos dados orais, os 44%

(98/225) restantes são provenientes da região 10.

95 Mapa dialetal construído a partir da imagem disponível em: http://tigrepelvar4.files.wordpress.com/2007/12/mapa-de-mexico.gif. Acesso: Agosto de 2009. 96 Os demais dados escritos se distribuem entre as regiões 9, 8, 4,3 e2

118

4.2.2. O ‘le’ não referencial nos dicionários: algumas referências

Éjele, jíjole (alteração fonética sofrida por híjole), le aunque ( uso de ‘le’ vinculado a

conjunção concessiva aunque, geralmente significa “não importa”), nójole (fusão de

‘no+híjole’), quihúbole (fusão de ‘que+ hubo (perfeito do verbo ‘haber’ (haver)) + le’, passou

a significar ‘olá’), újule (provavelmente uma fusão de ‘uh (interjeição) +le’) são construções

que só foram coletadas na amostra escrita97. Não obstante, todos são provenientes da

retomada de fala através do discurso direto nos textos da Organização Editorial Mexicana.

Buscamos algumas referências de dados de perda referencial de ‘le’ com a finalidade

de mostrar se os dicionários os registram e como o fazem. Para tal, nos valemos do DEM

(2005) e de SILVA (2008), centrados no espanhol do México, de FITCH (2006) e RICHARD

(2000), que dirigem sua atenção às peculiaridades do léxico hispanoamericano.

¡ÁNDALE! = (De anda + le). Conduz o interlocutor a animar-se para realizar algo. ¡Ándale pues! =

expressão de acordo (DEM, 2005; FITCH, 2006; RICHARD, 2000; SILVA, 2008)98.

¡ÉJELE! = Referente à gozação, em tom amigável. (SILVA, 2008; FITCH, 2006)

¡HÍJOLE! ≅≅≅≅ ¡HÍJOLES! ≅≅≅≅ ¡JÍJOLE! = interjeição de surpresa, assombro, ponderação ou desilusão.

JIJO = pronúncia enfática e pejorativa de ‘hijo’ (filho). (DEM, 2005; FITCH, 2006; SILVA, 2008;

RICHARD, 2000).

-LE = Sufixo expletivo (SILVA, 2008). Em FITCH (2006) e no DEM (2005), não há referência de ‘–

le’ como sufixo, embora registre formas como ándale, híjole...

¡ÓRALE! ≅ ¡ÓRALE PUES! = (De ‘ahora’ (agora)). Interjeição que conduz ao trabalho, à atividade,

a animar-se. Expressão de estímulo e também de fastidio. (SILVA, 2008; DEM, 2005; FITCH, 2006).

97 (46) Ujule julieta, ya esta haciendo una epidemia.. denuncian a otra maestra golpeadora. 98 As entradas ‘nójole’, ‘le aunque’ e ‘póngale’, encontradas nas páginas da OEM en línea, não foram registradas nas obras citadas.

119

¡PÁRALE! / ¡ YA PÁRALE! = Expressão utilizada para evitar incômodo. (SILVA, 2008).

¡PÁSALE! ≅ ¡PÁSELE! ≅ ¡PÁSENLE! = Convite para entrar em algum lugar; permissão (DEM,

2005; SILVA, 2008). Não se registram em FITCH (2006).

¿QUÉ LE HACE?¿QUÉ LE HACEMOS? = Podem significar: Que importa? O que podemos

fazer? Com relação a este segundo enunciado, registra certa impotência diante de uma situação-

problema. (FITCH, 2006; RICHARD, 2000; SILVA, 2008).

¡QUIÚBO! = Interjeição coloquial. ‘Hola’ (Olá). Usado para chamar a atenção. ¡QUIÚBOLE! = (De

¿qué hubo? + le). Saudação familiar. (SILVA, 2008; DEM, 2005; FITCH, 2006)

¡ÚJULE! = (Talvez de ‘uh!’ + le). Interjeição de desdém, admiração, surpresa, decepção ou gozação

(SILVA, 2008; FITCH, 2006). Não registrado pelo DEM (2005).

4.2.3. Fundamentação das análises e resultados

A hipótese norteadora deste trabalho é que o fenômeno de perda referencial de ‘le’

registra um caso de gramaticalização marcado pela divergência, persistência e metaforização.

Construímos este subitem com o intuito de refletir sobre os resultados das análises, confirmar

ou rechaçar sub-hipóteses que, de certa forma, motivaram a realização deste trabalho.

Em primeiro lugar, asseveramos que as construções compostas por “nome+le”,

conforme dissemos em páginas anteriores, surgiram analogicamente, isto é, foram formadas

após e em consonância com as construções “verbo+le”. No corpus oral, El Habla de

Monterrey, as constituídas por “nome+le”, conformam 17% do total de ocorrências (37/225).

Dos 37 dados corpus oral, híjole e órale somam 98% das realizações.

Cabe apontar que, quando há mais de um participante, ‘le’ pode receber a marca de

plural, como em: (47) -/ vamos a sobre / salir sobre d'ellos / a que ellos se ocupen y... / pos ya

no vamos a pedir tantos requisitos / ¡órales! / a trabajar / a trabajar. Convém deixar claro que

tais realizações se dão apenas duas vezes no universo de dados apresentado. O gráfico 1 nos

120

ajuda a dar fé a tais ponderações.

Na amostra escrita (dados oriundos da Organização Editorial Mexicana), as

construções ‘nome+le’ conformam 26% das ocorrências (65/249). Vejamos o gráfico 2.

Éjele, híjole, jíjole, nójole e órale funcionam como marcadores discursivos ou

121

pragmáticos. Híjole e jíjole são de base substantiva (hijo ≅ jijo = filho), sendo o segundo o

resultado de alteração fonética do primeiro, devido à freqüência de uso. Jíjole é mais

recorrente em áreas rurais e assinala um caráter depreciativo. Órale e nójole são compostos,

respectivamente, pelos advérbios ahora (agora) e no (não), e pelo átono le. Todas estas

formas já foram automatizadas pelos falantes, ou seja, seus constituintes compõem uma única

palavra, em termos de produção de sentido.

Híjole e órale são as mais recorrentes construções de base nominal na amostra escrita

(23% (57/249). De acordo com nossos resultados, quando ‘le’ é acoplado a uma base nominal,

seu nível categorial alcança o patamar +pragmático. É claramente de cunho subjetivo e está

ancorado nas peculiaridades da interação. As realizações de ‘le’ [+interpelativo; -argumental;

+pragmático] no corpus oral, se distribuem da maneira com nos apresenta o gráfico 3.

Como podemos verificar, a produtividade do uso do átono ‘le’ como item interpelativo

é expressiva (‘base verbal+le’: ((48) “andan sin chamba / ¿me da un rai carnal? / pásale /

porque yo yo...”). A força interpelativa leva o ouvinte a realizar a ação, o foco é a interação

entre os partícipes, não o evento. Entretanto, em (49) “I: Sí / y despachar a la gente / le

hacemos de todo ahí las dos…”, ‘le’ ainda apresenta resquícios de argumentalidade. ‘Le’

122

realça peculiaridades do evento e não recupera itens no discurso. Uma das mais recorrentes

construções evidenciadas no espanhol falado no México, apresentada neste escopo de análise,

é a observada no exemplo (49). Dos 124 dados coletados, 60 é o número de vezes que se

constrói enunciados pautados em “le+hacer”. Vejamos o gráfico 4.

Certamente, tal fato ocorre devido à flexibilidade semântica do verbo ‘hacer’ (fazer).

Aliás, é oportuno acrescentar que, de uma maneira geral, quanto mais baixo é o nível de

transitividade do enunciado, maiores são as chances do átono ‘le’ se encontrar em um nível [–

argumental]. Assim, enunciados como ‘¿cómo le hace?’ apresentam um baixo nível de

transitividade, já que são restritas a um participante. Os parâmetros afetação e individuação do

objeto sequer podem ser levados em consideração em sua análise.

Mesmo que o número de participantes, o aspecto imperfectivo, a não-pontualidade

garantam a baixa transitividade deste tipo de orações (conforme ilustra a tabela 1), convém

observarmos que há nestas orações um ambiente condizente com a função prototípica de ‘le’:

123

participar de enunciados cujo sujeito é agentivo e intencional. A presença de ‘le’, nos

contextos não-referenciais, pode assinalar uma tendência à transitivização, influenciada por

sua força agentiva, mas não realizada porque não há transferência de propriedades, já que só

há um participante.

Verificamos que os verbos de realização estão mais propensos a formar unidades com

‘le’, por isso o verbóide ‘hacer’ é um dos mais recorrentes, inclusive é uma das realizações

mais comuns nos textos escritos. Os verbos que registram o processo de posse, o processo

relacional, o verbal e o existencial somam juntos apenas 4% das ocorrências. Comprovemos

tal consideração observando o gráfico 5:

124

Ao analisar as 64 ocorrências de ‘base verbal+le’ do corpus El Habla de Monterrey,

isolamos algumas realizações mais recorrentes, tais como: ándale, ándele e póngale.

Observemos o gráfico 6.

125

Ainda nos referindo ao corpus oral, 68% dos dados possuem em sua composição o

verbo andar. ‘Póngale’ também é recorrente, embora em menor proporção. É curioso verificar

que há bases que sofreram flexão de número. Este fato demonstra que as expressões de ‘base

nominal+le’ se acham mais gramaticalizadas que as de base verbal.

As construções de ‘base verbal+le’ constituem 67% das ocorrências da amostra escrita.

Isolamos alguns usos que nos pareceram representativos. São produtivas as expressões ándale

(28/249), ándele (18/249). Todavia, não podemos deixar de levar em conta o número

significativo de ocorrências de ‘base verbal (plural)+le’ (25/249) e de pásele (16/249).

Por serem mais gramaticalizadas, acreditamos que as ocorrências de ‘nome+’le’

estariam mais propensas a constituírem enunciado e a encabeçar orações. Confirmamos

apenas parcialmente mencionada hipótese. No que se refere a constituir sozinhas um

enunciado, as formas ‘nome+’le’ realmente apresentam um maior número de realizações. Não

obstante, pelo menos no universo dedados com o qual estamos trabalhando, não há uma

distância significativa no que concerne ao número de ocorrências na posição inicial e medial.

No caso de híjole, por exemplo, há mais dados na posição medial que inicial.

Entretanto, há que se ter em conta também que as formas ‘ándale’ e ‘ándele’ se acham

bastante gramaticalizadas, talvez por estarem no grupo das pioneiras a registrar o fenômeno.

Assim, constituem enunciado na maior parte das realizações, se distanciando de outras

construções de base verbal. Tais considerações podem ser comprovadas se observarmos

atentamente tabela 2.

126

Ainda nos referindo ao corpus oral, 68% dos dados possuem em sua composição o

verbo andar. ‘Póngale’ também é recorrente, embora em menor proporção. É curioso verificar

que há bases que sofreram flexão de número. Tal fato demonstra que as expressões de ‘base

nominal+le’ se acham mais gramaticalizadas que as de base verbal.

As construções de ‘base verbal+le’ constituem 67% das ocorrências da amostra escrita.

Isolamos alguns usos que nos pareceram representativos. São altamente produtivas as

expressões ándale (28/249), ándele (18/249). Todavia, não podemos deixar de levar em conta

o número significativo de ocorrências de ‘base verbal (plural)+le’ (25/249)99 e de pásele

(16/249). Observemos tal distribuição no gráfico 7.

99 De acordo com nossas análises, parece que se trata de um tipo de realização que tem grandes chances de ser recorrente no espanhol falado no México.

127

No que tange à amostra escrita, duas ocorrências nos chamaram a atenção: ‘le aunque’

((50) Lo que tiene verdes -no le aunque100 que sean azules o amarillos- de envidia a los otros

31 Chanos. IFE: oyen tronar y no hincan...) e ‘quihúbole’ ((51) - ... Escuchar ese

"Quihúbole101 hijo, cómo estás"...). A primeira funciona realmente como um verbo em termos

semântico-pragmáticos. Aliás, ambas são itens automatizados e, fonológica e semanticamente,

‘le aunque’ , como ‘quihúbole’, é apenas uma palavra, um todo significativo.

Tecemos algumas considerações vinculando os casos de perda de designação

referencial à escolaridade. Contudo ressaltamos que se trata de um estudo preliminar, porque

necessitamos de mais dados para construir afirmações mais embasadas. De qualquer forma,

apreciemos os gráficos 8, 9 e 10.

100 Não importa. 101 Olá.

128

129

Evidenciamos que a pluralização das bases verbais acopladas a ‘le’ é pouco

representativa nos três níveis de escolaridade. Por outro lado, esperávamos que, por conta da

vigilância da norma culta, a taxa de ocorrências de ‘le’ despronominalizado, acoplado a uma

base verbal ou nominal, fosse bem menor no discurso dos informantes pós-graduados.

Confirmamos nossa hipótese, porém, essas construções (‘nome+le’, ‘verbo+le’) são mais

recorrentes em dados do ensino fundamental em comparação com os dados dos informantes

analfabetos. De acordo com a linha de raciocínio que estamos apresentando, deveria acontecer

justamente o contrário. Cremos que uma análise mais apurada e com um universo maior de

dados daria conta desta questão.

Por fim, pensávamos que as construções ‘nome+le’ e ‘verbo+le’ se apresentariam na

escrita como dados de discurso direto, devido a se ancorarem com mais freqüência em textos

menos formais e serem muito utilizadas na produção de discursos orais. Esta hipótese foi

parcialmente confirmada, pois se apresentam também um discursos intiretos e nas próprias

considerações dos autores dos textos. Insistimos, inclusive, que tal fato se deu para marcar

130

uma certa cumplicidade com o leitor mexicano, estas construções podem também ter sido

usadas como marca identitária. De qualquer forma, pelos resultados apresentados, concluímos

que estas realizações são típicas da língua falada e que o uso de ‘le+verbo’ é menos marcado

em textos escritos que as outras construções.

Precisamos ressaltar, reforçando a questão da busca pela cumplicidade com leitor e a

necessidade de trazer para o texto o discurso de outrem, que os gêneros discursivos que mais

apresentam dados de ‘le’ não-referencial foram as notícias (53/249) e os textos de opinião

(94/249). Conformam 59% dos dados de perda de designação referencial.

102

4.3. A relevância da divergência, da persistência e da metáfora no processo de

gramaticalização do ‘le’ mexicano

Conforme vimos apresentando até aqui, entendemos a gramaticalização como um

processo de mudança. A partir deste processo, o ‘le’, originalmente clítico dativo referencial,

102 * Dados de fala textualizados na escrita.

131

por força da necessidade comunicativa dos falantes, passou a desempenhar na língua

espanhola novas funções e assim recebeu a atribuição na variante mexicana de codificar

nuances da relação intersubjetiva da práxis discursiva.

De acordo com os estudos de COMPANY (2006), o item mencionado está inserido em

dois diferentes processos de mudança: um de extensão do dativo ao acusativo e outro de

debilitamento referencial. Em nossa concepção, não há dois rumos de mudança, mas

apenas um: unidirecional. Assim, o átono ‘le’ se estende a novos contextos de uso e:

(1) passa a codificar também entidades dativas não-humanas,

(2) reforça a sua agentividade, duplicando-se;

(3) se estende ao acusativo, codificando primeiramente entidades masculinas,

individuadas;

(4) passa a retomar antecedentes acusativos com outras características (entidades

inanimadas, antecedentes no plural e no feminino);

(5) se desenvolve como marca objetiva de concordância com o verbo;

(6) se estende ao acusativo, configurando um leísmo relacional no México, mais

voltado para as vicissitudes do evento, de baixo nível de transitividade, algo que

também debilita suas propriedades referenciais;

(7) perde a designação referencial passando a ser empregado em verbos de baixa

transitividade, adquirindo grande subjetividade e pragmaticidade (em dados como

ándale, póngale...);

(8) e em um processo de inferência sugerida103, de cunho analógico, se funde a bases

nominais, reforçando-lhes o caráter subjetivo.

103 Esta expressão se acha em TRAUGOTT e DASHER (2005).

132

Compreendemos que a gramaticalização tende a seguir padrões unidirecionais através

das línguas e que, de alguma forma, resultam na extensão metafórica dos significados. Deste

modo, concluímos que as escalas de abstração metafórica podem compor as cadeias da

gramaticalização. Vejamos, na figura 13, como isso se deu com o átono ‘le’.

Baseando-nos nos princípios de gramaticalização, através de nossa pesquisa

verificamos que neste processo se registram particularidades de:

(1) divergência, já que novos valores de ‘le’ convivem com o prototípico,

funcionando, portanto como um termo polissêmico;

(2) persistência, pois:

133

i) o caráter anafórico persiste no leísmo;

ii) nos casos de duplicação persiste a função pronominal e acumula a função de

anáfora e catáfora;

iii) no caso de marcação objetiva (‘le’ em referência a entidades dativas no plural),

persiste a relação intrínseca de concordância com o verbo, característica dos clíticos;

iv) nas ocorrências de perda de referencialidade persiste a relação entre o clítico e o

verbo e o nível de subjetividade aumenta;

v) nas realizações de ‘le’ acoplado a base nominal, o que persiste é o valor subjetivo,

por um processo de inferência sugerida.

Neste sentido, pudemos comprovar a relevância dos princípios de divergência,

persistência no entendimento do fenômeno em questão e, além disso, do processo cognitivo

de gramaticalização da metáfora, já que de um domínio-origem (argumental) à

gramaticalização plena (perda de designação referencial), ‘le’ que codificava dados concretos,

passou a codificar, metaforicamente, dados abstratos da práxis discursiva. Tal processo

singulariza a norma da área geoletal mexicana e guarda traços cognitivos, socioculturais e

também identitários, pois a identidade de um indivíduo se alicerça na língua e por meio desta

se fundamenta.

4.4. Síntese do capítulo IV

Neste capítulo, revisitamos os poucos, mas relevantíssimos, estudos existentes sobre o

debilitamento referencial do ‘le’ no espanhol mexicano (BOYLD-BOWMAN (1960), KANY

(1976), MASULO (1992), NAVARRO (2005), TORRES CACOULLOS (2002), COMPANY

(2004, 2006)). Tecemos também algumas considerações sobre este fenônmeno a partir da

134

análise dos dados do corpus oral El Habla de Monterrey, complementando-as com algumas

referências das realizações coletadas na página da Organização Editorial Mexicana.

Das hipóteses apresentadas, são a de intensificação pragmática (TORRES

CACOULLOS, 2002) e a de gramaticalização por subjetivização (COMPANY, 2006) que

mais se aproximam da nossa concepção de entendimento do fenômeno. Contudo,

acrescentamos e comprovamos que os princípios de divergência, persistência e metáfora são

de grande valia nesta questão. Além disso, destacamos que o leísmo relacional mexicano, do

século XVIII, pode ter contribuído com o desenvolvimento da perda de propriedades

referenciais de ‘le’, singularizando esta área geoletal.

Analisando as ocorrências oriundas dos corpora citados, concluímos que os dados de

perda referencial, até então, são essencialmente orais. Os que se encontram na escrita, estão

recuperando dados da língua falada e se configurando como elementos que marcam traços

identitários e socioculturais.

135

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a perspectiva funcionalista, as funções comunicativas do discurso

determinam as estruturas da língua que revelam dados da iconicidade. O subprincípio da

iconicidade, chamado proximidade, marca a trajetória do átono ‘le’: sempre esteve ligado ao

verbo como um operando gramatical de relevância conceptual. Essa ligação se deu de maneira

tão expressiva que um dos primeiros indícios de perda referencial ocorre quando o átono ‘le’

perde características morfológicas, mas não se desvincula do verbo.

A frequência, um dos mecanismos que promove a mudança, permite que construções

como “ándele, ándale, párele, pásele, póngale, híjole, órale, újule…” sejam usadas como

unidades de processamento, num mecanismo caracterizado pela ritualização. ‘Póngale’, em

muitos contextos, significa ‘imagine’, não tem uma relação direta com ‘por’, por exemplo. A

frequência esvaziou o sentido de seu significado original, houve uma fusão fonológica

(ponga+le), a construção foi automatizada (reinterpretada como um todo) e se emancipou,

passando a ser utilizada em outros contextos com um sentido diferente do original.

Na variante mexicana do espanhol, a forma ‘le’, quando desprovida de sua designação

referencial, deixa de retomar elementos apresentados no discurso e passa a reforçar as

relações intersubjetivas. Assim, deixa de codificar apenas dados da relação textual e começa a

dar conta do nível da interação. Não mais se vincula ao plano de acessibilidade de itens, mas

ao plano interacional, acentuando valores de caráter pragmático, relevantes à produção de

sentidos na situação comunicativa.

O ‘le’ não referencial, na variante mexicana do espanhol, pode registrar: a interpelação

do enunciador com relação ao coenunciador (como em ‘Bájele el volumen’) ; a relevância

pragmática da ação (‘le pienso’); e o teor também pragmático da expressão do que precisa

ressaltar enunciador em algumas situações (como nos casos de ‘éjele’, ‘híjole’, ‘órale’). Em

136

contextos nos quais está desprovido de sua característica referencial, não tem a capacidade de

ativar cognitivamente as entidades (perde a função de acessar um tópico do discurso), mas

aciona as peculiaridades intensivo-discursivas.

A seleção de ‘le’ - como um item fundamentado nas vicissitudes da práxis discurva

nos dados sustentados pela dimensão intersubjetiva dos partícipes da interação - particulariza

a norma do espanhol falado no México. As orações construídas por ‘le’, como em “cómo le

haces para comer…”, não possuem paciente. Desta forma, são praticamente restritas a um

número reduzido de participantes, em sua maioria um (1), conforme mostram os resultados da

investigação realizada. Não podem ser avaliadas no que diz respeito aos parâmetros de

afetamento e individuação do objeto e os verbos que lhes dão fundamento, em sua maioria,

não são perfectivos, nem pontuais.

Ocorrências como a apresentada não conformam as relações prototípicas da

transitividade, embora haja um agente que move a ação, não há um paciente por ela afetado.

Nestes casos, ‘le’ pode funcionar como uma marca intensivo-pragmática e/ou interpelativa

que acentua a agentividade, a intencionalidade, a alta continuidade discursiva e o grau de

topicalidade primária do sujeito, com o qual prototipicamente guarda semelhanças. Mesmo

que ‘le’, não seja argumental, não deixa de ser um item central na constituição de sentido dos

enunciados aos quais fazemos alusão.

Os primeiros estudos sobre gramaticalização, já assinalavam que os conceitos

abstratos são posteriores aos concretos. Com a evolução destes estudos, podemos também

observar formas gramaticais que podem passar a ser ainda mais gramaticais e formas livres

que podem tornar-se mais livres, como os marcadores discursivos, por exemplo. O uso

gramaticalizado de ‘le’ é, portanto, posterior ao seu uso concreto, responsável por recuperar

itens já apresentados no escopo discursivo. Ainda que mantenha sua atribuição textual

(concreto) em alguns contextos, em outros desempenha uma função interpessoal (abstrata) e

137

dependente das particularidades interacionais.

Se nos pautarmos em uma perspectiva pragmático-discursiva, cabe dizer que a forma

‘le’, registra um caso típico de gramaticalização. Este, em um movimento unidirecional e

significativo de mudança, apresenta em espanhol uma escala de gramaticalização, que vai do

nível +argumental ao +pragmático, no qual se sustentam os casos de perda referencial. Uma

trajetória de mudança marcada pela divergência, persistência e pela metáfora. Em termos

cognitivos, o leísmo mexicano, já no século XVIII, alcança um alto nível de iconicidade, de

extensão metafórica e relacional, aumentando as chances de “le” codificar dados de cunho

interacional.

Como pudemos perceber ao longo deste trabalho, nuances semântico-pragmáticas,

cognitivas, socioculturais e identitárias, se são realmente importantes à interação, encontram

codificação na língua. Esta tese nos permitiu refletir sobre o papel da pragmática nos

processos de mudança, sobre a validade de um estudo pancrônico nos estudos de

gramaticalização e nos levou a lançar um olhar discursivo ao estudo dos clíticos.

Além disso, os resultados de trabalhos como estes nos possibilitam afirmar que, ainda

que se mantenha a unidade no mundo hispânico, a codificação clítica delineia um dos grandes

espaços de diversidade no âmbito sintático e desvela dados da relação dos partícipes da práxis

discursiva. O que nos fascina no conhecimento é a certeza de que as reflexões e as

descobertas não se encerram em uma tese, ainda que termine aqui nosso trabalho.

138

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5 de mayo de 2007.

188

ANEXOS

Anexo I. Dados oriundos do corpus oral. El Habla de Monterrey (ALFANO: 2003)

1- Pos no / como siempre está arriba / no... / no la bajamos / par'abajo E: Está lista para /

espantarnos (risa). I: ¡Váyase! / ¡sálgase! / ¡ándele! ( refiriéndose a la perra)

2- E: Muchas veces pueden ser ricos de... / materialmente / pero pobres espiritualmente. I:

Exacto / ándele / entons / aquí es lo que nos pasa' nosotros

3- I: vean la felicidad d'esta manera / porque / nadien lo ve / pueden decir / oye / ¿estos cómo

le hacen? / tán felices / a (...)

4- I: tengo una tía / que... / al ver telenovelas / se quedaba tan... / metida en la telenovela. I:

¡Ándele! / ajá

5- E: O que la historia ya’stá muy rebuscada / I: ¡Ándele! / que ya’stán muy... / muy así / ya

pasadas / unas tres veces //

6- E: ¿En inglés / d'ésas / con letritas? // I: Sí stán buenas / sí / aunque no les entienda / y se

rían estos / me 'icen / amá / ¿y usté qué le ve? /

7- I: Eso / eso es lo que uno le piensa cuando quiera hacer algo por ellos / porque como'stán

chicos

189

8- [ E: Ninguno habla inglés / o... //I: No / hasta orita no / hasta orita no / le quieren entrar /

pero no / todavía no // (entrar en el curso de inglés)

9- [ E: Porque muchas veces las amistades influyen mucho /I: ¡Ándale! / con quén se junta /

yo / batallo / para... / esta niña

10- cuál es el gobierno que sí va... / a salir bueno / y cual es el gobierno va’ salir bueno // así

es como le hace /

11- I: Pues sí / porque pu’s / póngale que / comoquiera ¿vedá? / pues / los muchachos orita /

tengo dos / trabajando -

12- I: Y a batalla’le / pu’s a ver / ¿qué le hacemos? / por eso digo que... / pos / yo digo / quién

sabe / si taré equivocada ¿verdá? / po' eso digo / que quién sabe

13- ¿verdá? que... / por decir a la gente / de más... / categoría ¿vedá? / yo he ido / dos veces /

que ándele vamos

14- E: ¿Toma muchas cocas? I: Es que le han de 'ber dado / los muchachos / ¿quién te dió

soda? (risas) / ¡allá juera / ándele vaya / que le limpien las narices

15- en los ranchos es muy difícil / porque... / pu’s en los ranchos a veces que no hay nada / ¿a

quién le trabaja? / todos tán igual

16- I: Pásense / dale la silla ándale

190

17- también ese era / de agujas / y estuve llendo tamién un año fíjese

(risa) / ¡n'hombre! / pero... / ¡híjole! / ése / ponía / los brazos /

18- I: ¡Ándale! / ésa / ésa no... / no hace tanto daño / dice el doctor / la qui hace daño es

otra / que ponen / Herminia

19- I: Toña / no / no / pasele hermano

20- al cabo / ya'stábamos acabando / pásele / pásele / par'acá pa dentro

21- / al cabo / ya'stábamos acabando / pásele / pásele / par'acá pa dentro

22- I: Y salga adelante digo porque / yo tengo una chamaca que le gusta y... / pos que siga

estudiando / a lo mejor ya cuando yo no pueda yo / que le siga

23- fue más trabajo y más trabajo ¿verdá? / pero este / pos quién sabe si yo le he seguido /

estuviera orita muy bien /

24- / ya hace / ya me hice clienta de ellos y ya / me cono'ieron / y siempre me decían / ¿y

todavía le va a seguir? / pos sí / mientras pueda ¿verdá?

25- I: (…) // no... pero comoquiera ya no tienen muchos como uno ¿verdá? /porque ya le

piensa / siempre uno está sobr'eso

191

26- / da un poquito de temor y lueo / ya le piensan más / y es que es cierto porque uno con

mucha familia no puede salir a ningún lado

27- ¿quién no necesita dinero? le digo pero ahora yo necesito dinero pa seguirle porque ya... /

ya me metí y ahora salgo como pueda //

28 - yo me fijaba cómo el señor preparaba el yeso / ¿verdá? cómo / le hacía pa enyesar y todo

/ entons mi hermano / este / se ofreció qu'iban a / a usar el yeso

29- Por ahi tengo la carta / sí / y este y / y se fue con él / nombre / yo le lloré a esa mujer /

pero bastante /

30- este era una muchacha que se encerraba y no... / no... / hacía de comer ni comía / ¿sabes

cómo le hacía yo para que comiera? / le llevaba el plato

31- y a veces la traía muy bien / y nosotros comoquiera / mira hija / Hombre ándele a ver si /

chambea y / pa que no anduviera batallando ella

32- me dice güelita nos tiene trabajando en un / con un señor que hace zapatos / el chamaquito

no / le dije a ver hijo / fírmale aquí /

33- le dije a ver hijo / fírmale aquí / dice tu papá que tu vas a recibir dinero y que firmas / a

ver fírmale / no pudo el niño ni hacer su firma

34- viejos / gorrudos / latosos / o... / o ciérrale a la pue’ta pa que no lleguen / ¿eh? / no / m /

192

yo mi mis / mis respetos con ellos

35- pos ahí estoy / apretándome las manos que no tengo dinero / y que ¿cómo le hago? / y que

válgame Dios / y que /

36- ¿eh? / usté es / vengo yo / como cobrador / a su casa / y le digo / este... / señora el abono /

¡ay! fíjese que no tengo .... / párele

37- párele / ni me la recoge / ni se la entriego / y / y ni se la doy / ni me la quita / ¿eh? / no me

niego / a no paga’le / ¿eh? / saque sangre di una piedra

38- ¿eh? / y es todo / es todo lo que hacemos aquí nosotros / luego a veces / me voy al centro /

pe…ro / le pienso / que voy con mi hermana

39- le pienso / salir / porque’l... / tengo que tomar dos camiones de aquí p’allá / y dos de allá

p’acá / ni modo de pedir un ride / ¿quién me lo da?

40- E: Bueno / le voy a hacer unas preguntitas / unas preguntas / ya pos / ¿sí? / me puede / (...)

aquí. I: Ándele sí / cómo no /

41- taba yo cantándole una canción a Chuy / el cobrador / y tenía una grabadora / ¡híjole! / y

que lueo que / que apaga la grabadora / y que pone la... / la canción

42- yo me quedaba / durante quince años / entons sí trabajaba / y ora pos no / le hago (...) a…

/ a los ñietos / porque / para que m'hija trabaje

193

43- I: Es que a mí me gusta’a mucho trabajar / mucho me gustó trabajar / y así aunque m'esté

muriendo yo comoquiera / ahí le ando / haciendo

44- como Dios me dio licencia y / nunca me faltó / hasta / orita gracias a Dios / y yo le hacía’

todo / a la cocina / a lavar / a planchar / [catáfora oracional]

45- a todo le hacía aquí / y l'o / pos allá en Monclova / me sacrificaba mucho porque / yo

hacía todo / el quehacer y / yo hacía frente al negocio

46- don Panchito le va’ matar dos castrados

47- E: ¿No se compara con la Macroplaza? I: ¡No...! / ni cuando le llegue ese mugrero

(risas) / ¡n'ho…mbre! / ¡qué tiene!

48- E: ¿Y usted cómo ve la situación en México? I: Tá dura orita. E: ¿Por qué? I: Pos así

como vamos / ¡híjole! / ya no / ya no alcanza uno ni pa / comer

49- I: Bueno / pero nosotros / pero nosotros / bueno / póngale que no los levantan / lo hemos

visto / pre'isamente anoche

50- fi'ate ellos se asustan con una cosa d'ésas / póngale / que no les hace uno nada

51- y no'stá bueno eso tampoco / d'ellos / póngale que uno es mandao d'él / pero tamién ellos

deben de da'le a uno / oportunidá

194

52- precisamente 'igo en la vigilancia / nos dejan muy aparte / porque aquí en las noches no /

hay ve's que no se aguanta hay veces que ¡ay híjole!

53-/ ps ándale / sigue adelante / yo soy correcto / a ve's / con deci'le que hay veces que duro /

todo el día sin comer / no'stá pa sabe'lo /

54- no dijo / mira aquí stá fí'ate / ¡n'hombre! pos ponle (...) la / la casa / saltó el recibo por

cinco / pero muchos vienen nomás apuntan / y vámonos / y llévatelo

55- y hasta yo tamién / cuando vengan / hasta les doy una soda / ¡órale! échense / dos tres

cuatro sodas /

56- ella no 'ice nada / pos qué le hace que un achichincle diga / pero ella no 'ice nada / hace

poquito me la regañaron /

57- pos ayúdanos un poco ¿vedá? / para / para así esta crisis / póngale qu'el que tiene / pos es

muy poquito / ¿pero el pobre que no tiene? / ¿cómo le hace?

58- ¿pero el pobre que no tiene? / ¿cómo le hace? / pos mucha gente se queja que / trabaja dos

tres días y paga mil / dos mil de pasaje

59- y juntarnos ahí con el mayor / u... / a ver cómo le hacemos con el grande porque / la

Madrí stá allá en México

195

60- E: ¿Usted cree / que podamos salir de la crisis / o que vamos de mal en pior? I: Pos eso sí

quén sabe / (risa) / par'atinarle / no sabemos

61- I: (...) hace ratito dijeron / qu'iban aumentar las tortillas / ¿cómo le haríamos con esas

cosas?

62- ¿quén más me lo puede 'ecir? / más qu'él / no se conformaron con el ‘umento de los

camiones (...) ¿cómo le vamos a hacer con eso? (...) /

63- y por eso / como le digo / póngale que nosotros / pos (...) y traimos / poquito / pero Dios

nos ha ayudao /

64- nomás vuélvemelo porque / pos no quero pedí'selo ¿vedá? / ni / ni deci'le nada / van mi

chavo y me lo train / y así yo le hago / y... / para salir de la crisis

65- nesitamo qu'el mismo gobierno de cada pueblo nos ayude / para... / pos sí / una gente

reunida le 'icen a... / qu’el y pos / párale a / a la inflación /

66- I: Me dejan solo (risa) / sí el / ve aquí mucha gente / y no quiere salir de aquí a... / de aquí

al al / a la parada de las peseras / pos ¿cómo le vamos a hacer?

67- lo que me cobra cada mes / poquito que sale / lo hago rendir / porque / pos yo soy el que

le trabajo ahí / para que no haiga fuga de nada ¿vedá?

68- pos sí como 'ice usté / cómo le haríamos con la crisis / pos sabrá Dios / solamente / todos

196

/ apoyaos por el gobierno

69- ese tipo de música no me gusta / ni para ellos / a veces hasta / m'enojo / pero es que /

ponen la... / el radio / y se ponen a bailar / parecen locos / ¡párenle!

70- / ¡párenle!

71- / ¡párenle a su cosa!

72- I: Pos orita ya un... / un bulto de cemento ya le cuesta como... / cerca de dos mil pesos /

uno ponle qu'esté ahí en ellos / compran... / por cantidades ¿veá? /

73- / ahorita póngale comoquieras / pero... / tán empezando / ahorita / pero ya al rato /

tienen que tamién / nesitar de trabajar y / y tanta / ¿qué hace o qué?

74- I: Y quién sabe / sabrá Dios / cómo le vayan a hacer / y ni quién creía qu'iba... / cerrarse /

(...) / a darles / ni una (...)

75- I: Y no debe de ser así ¿vedá? / debemos de ayudarnos / pos si aquel pobre'l... / pos / te

faltan dos pesos / ¡órale! / lléveselo y después me los da

76- si aquel pobre le faltan cinco pesos / le faltan diez / ándale / lléveselo / a usté le falta eso /

mañana me los paga... / o si tiene voluntá hasta...

77- con aquellas ganas / de comerse un pedacito de carne con su familia / ya no se la va'

197

comer / porque no completa / pos ándale / mira... / compañera

78- usted le pide un préstamo / al patrón / no / ¿pos de dónde? / si no traigo /… / entons en la

siguiente semana / le vuelve hacer lo mismo /

79- porque yo he visto a patrones que así li hacen

80- porque digo yo / yo no voy a flojear / me trabajan lo...s / dos tres muchachos / a ver hijo /

vamos a trabajar ¡órale! /

81- / y con reló / y acá / y así / y ya / ya le salgo 'aquella otra persona / pero yo no sé como

vive aquella otra persona también / ¿vedá?

82- hombre! / pos ya esto ya aquí no se va' mover / al contrario / vamos a sobre / vamos a ver

cómo le hacemos / porque tanta gente qu'está sin trabajo

83-/ vamos a sobre / salir sobre d'ellos / a que ellos se ocupen y... / pos ya no vamos a pedir

tantos requisitos / ¡órales! / a trabajar / a trabajar

84- entoes / ¿cuánto aumentó? / ¿veá? / mil quinientos (...) / pos ya otro que venga / pos ya

tengo que / subi'le la / el / lo que m'están cobrando orita

85- o ca' cuatro meses / depende / si no se lo manchan / sí le puede aguantar los seis meses /

pero si / cualquier cosita que le caiga

198

86- que pinte uno de los pisos / con pintura buena / entons ya le aunmentaríamos / por 'ecir así

/ pos lo que cuesta el litro [ la pintura]

87- E: ¿Y cómo prepara el pico de gallo? I: Bueno pos / se hace / cebolla / tomate / y chile / y

l'o s'echa tantito aceite y se guisa / y revuélvele a la sopita /

88- E: ¿Cómo se la preparan? I: CONASUPO / porque pos ahí cuesta doscientos y / y feria

la... / la bolsita ¿vedá? / ahi revuélvele / tomate / cebolla / y...

89- revolve'le a la sopita / y eso es todo

90- / hay que menia'le a la olla / el que tenga hambre

91-/ hay que atiza'le a l'olla ¿vedá? / es como le 'igo / no / no todos los días se come cñarne /

no porque tamién a la... / ahí / ahí tá / la la / las ayudas que le dan a uno

92- ¡n'hombre! no le / no tiene po'que pedir otra carne más que / segui'le / con ésa / y es muy

buen alimento / ps alimentos / son alimentos del monte

93-I: Bueno pos / fi'me unas camisetas / camisas / o algo así / y pos / pos sí stá bien ¡ándale!

94- I: Bueno / pos ahí voy / ahí llevo yo / me... / m'endrogaba / pa ir a la cantina / ¡órale! /

l'icía al cantinero / ¡órale! / aquí stán unos calzoncillos

95- I: Bueno / pos ahí voy / ahí llevo yo / me... / m'endrogaba / pa ir a la cantina / ¡órale! /

199

l'icía al cantinero / ¡órale! / aquí stán unos calzoncillos

96- no tengo trabajo / o'stoy enfermo / nesito esto / nesito blanquillos / nesito frijol / nesi- /

¡ándale! / que al cabo / nomás que jales / sí... / l'o lueo

97- solamente por el gusto / de ve’lo rodao / sí... / ¡hombre! / ahí pide lo que quieras /

¡échale! / ¡eh! / cantinero

98- I: ¡Echale! / pero por ve'lo / ya eso es con mala intención

99- pos sí / no hay / no hay modo de remediar nada ¿veá? por mucho que le piense uno / ya

no se remedea nada

100- I: No... / pos uno ya tiene sus / sus métodos / ahí / pa hacerse / uno que ya le sabe / ése

se hace con pura manteca / manteca y harina

101- / si un padre / o la madre / ¡ándale m'hijo! / los domingos / todos cambiaditos / anque

sea / bañaditos /

102- E: Sí / a la hora / de la comida. I: En el trabajo / qu'esta uno /

¡órale! / ponle ya / vino Porfirio / y ya se tá poniendo la pistola / (risas)

103- I: (…) / entoes / pos ahí se trata de medida / tamién / se trata / de usá la cinta / ¿ya sabe

como le hacía? / con un / compás

200

104- E: ¡Ande! / a ver si me pasa / la receta de los marranitos / porque a mi mamá me gusta...

/ a mi mamá l'encantan (risa) I: ¡Ándele! / ¡ándele! / ¿po' qué no?

105- I: ¡Ándele! / ¡ándele! / ¿po' qué no?

106- por ejemplo a...quí tá una clínica que / ahí / le hacen / si no lleva dinero /pos no le cobran

nada / no traigo dinero / no tengo / no tengo trabajo y toy enfermo

107- I: Porque a mí cuando se ha ofrecido / ¿cuántos años tiene fulano? / pos atínele (risas)

108- indicadores de lo que l'está ocurriendo E: Y... / algún / algún niño con el que tengas

/este...1 I: Híjole pos en realidad son muy... / distintos

109- por el hecho de que / en ese momento dije yo / es un paquetón muy grande / ¿y cómo le

voy a hacer si'stoy empezando? / no sé por dónde empezar

110- es típico que si hay sobras / o algo / haces tortas / o haces este... / por ejemplo si hay

milanesas nomás / le cambias el hecho de hacerlas vienesas /

111- E: ¿Y cuál es tu comida favorita? I: ¡Híjole! / orita ya no sé / este... / pues me fascinan /

los chiles rellenos / entonces /

112- E: ¿Y qué estación? I: ¡Híjole! / no sé ni qué / es la Noventa y Nueve / es /

113- E: cómo estamos ahorita / la situación? / ¿sí has notado tú / pues desde que saliste...?

201

I: ¡Híjole! / tá muy difícil / bastante

114- E: ¿Y en qué año terminó? I: Pues yo creo (...) / yo creo / si le apachurras ahí te digo yo

los años / no me acuerdo (risas) /

115- I: (…) a la mayoría l’encan- / que a la gente le gusta y le cae bien / o pechugas de

pollo / y le varío / al estilo que (…)

116- E: ¿Y ustedes qué comían? I: ¿En el viaje? / pu’s le variábamos según / ya ves que / allí...

/ lo qu’es / Luisiana /

117- y el carro le implica seguro / ya orita ya no es posible

118- comprar una casa / o un terreno / no sé cómo le van a hacer / estando ellos trabajando /

119- pues como empleados / realmente creo que va’ ser / más difícil / no sé cómo le van a

hacer

120- y al día / y al día siguiente que le vuelves a dar tú eso / le va' pensar / cuando no huela a

ajo /

121- / ¿verdad? / embarras el pan / pones el jamón / y córrele a la escuela / y las comidas más

/ pues ya más formalmente ¿verdad?

122- I: Pues bastante trabajo / y para irlos a gastar ya le piensas dos veces / antes de gastarlos

202

123- I: Pue…s / ¿qué te diré? / taba como administrador más bien / o sea como empleado

vamos a ponerle

124- y te puedes hacer más / o vas te compras / y lueo ya pos existía la cosa de que / pos

ándale regálame y / e...m

125- tuvimos una conversación muy interesante que no se me olvida que / decía bueno /

cómo le hicieron los inges / los inges eran mis papás / a mi papá

126- ¿cómo le hicieron para / par’hacer lo que hicieron con nosotros? / porque ahora que yo

lo / tengo que hacer / me tengo que sentar a pensar /

127- ¿cómo le hicieron / para qu- / obtener los mismos resultados / o mejores // no es fácil

¿vedá?

128- / le vo’a apretar las tuercas / ya nomás lo vo’a dejar ir al Campestre dos veces a la

semana / pos eso no es apretar las tuercas ¿vedá?

129- / allá vas / y a ver cómo le haces / aquí stá el cheque // desde que tenía... / seis siete ocho

nueve diez años

130- no te puedo recoger / una de las dos / si quieres ir / a ver cómo le haces / pero aquí

tienes qu'estar a tal hora

203

131-E: Sería libertad / con esfuerzo. I: Exactamente / ¿m'entiendes? entonces // le hacías ¿eh?

/ porque te / porque te quieres ir a la piñata por supuesto

132- E: Me dice que se fue / y ni siquiera sabía mucho inglés. I: No / yo no sé como le hizo /

pero aquí consiguió que / Miss Olivia le / porque el inglés

133- pero salió adelante ¿ves? // a señas y... hasta que pues dice que / un año estuvo allá / pero

sí son cosas que tú dices pero / ¿pos cómo le hizo?

134- y hazle /

135- y recógele aquí y... / contraté dos niños / y uno barría / y otro trapeaba / y los jineteo

136- yo querer mantenerla sino porque / que / él temía / que la

muchacha se fuera' cansar / de su trabajo / no era atenido ni nada. I: ¿Y qué raíz le ves a eso?

137- I: Sí / cada quien... / según como le vaya en el baile

138 - si no es pescado / si no es pollo / si no es mole / si / de to’o le hacen ahí / y asao y que /

to’ / e e / y l'o… / hay guisado tamién / a veces hacen de carne (...)

139- y qu’iba a cruzar la calle / y ¡que m'encuentro al otro muchacho! / y ¡ay! /híjole / y l’o

pu’s / ¡ay! / no hallé qué hacer / y l’o digo / y l'o dice ¿a ónde vas?

140- en esa ocasión se fue mamá / pos córrele / yo tamién me fui (risas)

204

/ no / pero lueo luego / me / me vino / me / vine aquí con mi cuñada aquí en San Nicolás

141- vas a perder el trabajo // entonces / dijo Jorge / ¿cómo le hago? / pos si voy / entonces

se... / vuelve a... / aflojar /

142- echando / barajas / y el chiquitillo este que salió / tamién le llena / en media hora /

quinientos tacos / o... / lo que sea / (...) /

143- él los de frijoles / los / yo los de carne / y rápido / ándale / ya s'iba /pos sí... en veces uno

preparaba los tacos

144- él andaba puchando la moto / ¡qu’híjole! / se bat- / hemos batallado mucho / aquí en

muchas / puchándolo p’allá / y no quiere / que la cadena se cayó

145- ver un hijo sufrir y... / sin dinero / y ahí / ¿qué? / ¿qué le puede hacer usted?

146- junta... / ramitas hijito / a mí no me pesa / no tengo pa'l gas / no le hace /

147- le llevaba shampoo / jabón / ¡ándale! ten / y ahora / me ve así... / que yo (...) pero bendito

sea Dios

148- usté nunca ha salido / le 'igo no le hace / que al cabo mientras trabaja tu papá / ya

trabajando él ya / le 'igo al rato / al rato salimos

205

149- porque veo que se ríe / porque mi esposo / sie...mpre me dice / ándale qu’está una

película de pistolazos

150- ¡ah! sí llegaron / orita que / a todo volumen / y ya bájenle a esa cosa / l'igo / sí me gusta /

pero despacito / pero estos niños / ¡n'hombre! / te cansa’ veces

151- I: Sí / ¡ándele! / porque / má’ se llega el mes / cuando ya se vino el otro / no ve que se

junta la renta

152- I: el gas va’ cobrar más / pa cobrarnos nomás la renta y / como nadie le insiste

153- I: O sea que... / cada casa tiene su medidor / quién sabe cómo le haría pa poner gas /

sería un... / un medidor directo / o sea / quién sabe cómo sería

154- I: Sí / y despachar a la gente / le hacemos de todo ahí las dos

155- I: Ándale / sí / a veces platicamos ella y yo

156- I: Ándele / tienen otras ondas / son hombres y / ellos son más fuertes / más )

157- I: Ándele / uno es más sensible qu'ellos // si nomás lo que me hace moverme

158- I: En cambio / si uno da choque de / un choque de cincuenta mil pesos / ¡órale! / pero

tan- / tanto / no tanto por uno –

206

159- 'orita el mínimo van a ser de / once mil y feria / póngale doce ¿vedá?

160- entoes este 'ijo / ¿me da un rai? / pasa / pásale / y ya después /volvió / volvió de jefe

161- andan sin chamba / ¿me da un rai carnal? / pásale / porque yo yo...

162- I: Pásale / pásale / antoes digo / hay otros / operadores que no no no no

163- I: Pásale / pásale / antoes digo / hay otros / operadores que no no no no

164- pos tamién los cupones de a dos mil / tres mil pesos / (risas) l'igo / ¿cómo le haces? /

dice ¡n'hombre! /

165- ahí hay mucho' individuos / qu'echa / le hacen / dos mil / tres mil pesos

166- si traigo mil peso' y... / digo (...) pos ¡órale! / hasta la fecha hay ve's que / com'ora /

com'ora es miércoles /

167- cuando tá lloviendo / ahí toy / y hay otros que / que / que... / tá lloviendo / ¡ay! ¡órale! /

¡n'home!

168- le doy tanto dinero a / mi señora / ya pa... / ora / fí'ate no tengo nada Pos ¡órale! / vete

¿veá?

169- I: Antons orita / si no hay frijol no llenas (risas) / no le hace que no haya carne pero /

207

habiendo frijoles y sopa / y chile / entons este

170- onde trabajo yo / es que... / sube con un / unas jóvenes (...) ¡órale! (risas) / entoes este /

pos / hay ve's que... / yo la / yo como

171- I: Y todo era porque taba mi señora con que / ándale llévame / no porque a mí no me

gusta /

172- pu’s / mucho gorro venir al Seguro cada rato ¡ándele! / ¡ándele! / ¿eh?

173- / pu’s / mucho gorro venir al Seguro cada rato ¡ándele! / ¡ándele! / ¿eh?

174- I: Sí trai / entoes / este / sí... / sí / así es / porque / si no le hace na' el Seguro / pos oye /

aquí...

175- ¡eh! / ¿no va' denunciar? / l'igo al cuate / ¡hey! vente ándale / no... / dije ¡chihua! lo

agunta- / lo van a soltar

176- puente ahí en Bernardo Reyes / y Ruiz Cortines / pos ahí 'cía / a un viejito / ¡eh! / pásale

por el / pásale p'atrás / voy pagando ¿no? / sí / tá bien /

177- puente ahí en Bernardo Reyes / y Ruiz Cortines / pos ahí 'cía / a un viejito / ¡eh! / pásale

por el / pásale p'atrás / voy pagando ¿no? / sí / tá bien

178- pero después / ¡órale! / entoes este... / no... / ps... / chamba muy... / a la vez bien / a la

208

vez mal / porque / se te atraviesa uno / (...)/

179- y yo nomás oí que grité / que gritaron y... / ¡híjole! / y dijo / el pasaje / ¡vámono! /

180- no traiba nada / (risas) antons ¡órale! / échele / ahí / mucha gente que se sube por atrás /

se caí

181- E: Eso es todo I: ¡Ándele!

182- E: Muchas gracias señor. I: Pásele / pásele

183- E: Muchas gracias señor. I: Pásele / pásele

184- E: ¡Ah! ¿sí? / ¿así como el mole más o menos? I: Ándale así / más o menos

185- E: Así es / / que les den muchas facilidades / prestaciones I: ¡Ándale! / sí / y no trabajar

nada

186- E: Todos cobraban y… / no cobraban / un sueldo / muy bajo que digamos / sino que

grandes sueldos I: ¡Ándele! / sí

187- E: Sino que quería / ser más independiente y po- / dedicarse al comercio I: Sí / ¡ándale!

188- E: Según esto les ayuda y… I: ¡Ándele! / sí

209

189- E: ¿Ponen en el poder? I: Sí / ¡ándale!

190- E: ¡Ah! sí sí / creo que sí / ¿es de… / Cobra? I: ¡Ándele! / ésa / sí

191- Este… / pues / novelas policíacas / así E: ¡Ah! el / el libro… / Semanal y… I: ¡Ándale!

192- E: El libro (…) I: ¡Ándele!

193- y pu’s no sé cómo cómo se hace cómo le irá a hacer uno pero / por ejemplo ahora que

ora que viene la la... / que se va allá... a recibir / quién -

194- diga ya me vo'a casar / ¡a...y! ahí es donde dice uno híjole bueno ni modo /

195- pero a hacer su trabajo social / muchas veces no le no hay empresas yo he visto ahí en /

la vez pasada / no me

196- y dicen n'hombre mira ps / tú le haces así mira / vamos a hacerle así y a lo mejor nos

ahorramos -

197- son más inteligentes que los qu'están ahí y y dicen n'hombre mira ps / tú le haces así

mira / vamos a hacerle así y a lo mejor nos ahorramos

198- hace ocho años había vendido seiscientos pesos / fui y le dije a mi señora órale vieja /

ahí te van cuatrocientos pesos

210

199- ándale a ver / pa comprar mandado dijo / ¿a quién asaltastes? / dije a nadie / a nadie

200- porque tenía una mesa más fea / acabo de hacer este otro / y le quiero seguir hasta allá

201- I: Sí / es la ventaja de trabajar uno de / de por sí / tiene que / trabajarle como... / pior que

si estuviera asalariado

202- I: Sí / para venderlos sí... / y este / pues el negocio sí / está bien / todos los compañeros

aquí / pu’s / le hacemos

203- I: Ahí va / sí / y nesita uno / pos pensarle... / p'adelante y p'adelante

204- a los artesanos / entonces llego él / y comenzaron a / pos ora no vamos a venderle tienen

que entenderse con / con Juan José /

205- pues es parranda porque / órale primo una cervecita / y luego en otra parte órale primo /

ahí está una copa y / pos cállese que...

206- así con verdura / verdura y... / Julia / no trái zapatos Lupe / ¡ah! bueno ándale /

207- I: Sí... (risas) / flojiando porque / ¡ay! ¡n’hombre! / es que tiene cuatro niños pero... /

¡o...y ay ¡híjole! son tremendos

208- I: Sí / pos más bien porque pues este... / a veces la mando sola / nomás que ¡híjole! / mi

marido es bien desconfiado / dice

211

209- porque pues / este’n las mañanas no’stá / pero ya nomás a eso de las cuatro / y órale

hijitas

210- se llama Nacho o sea de Ignacio / le dice / ándale Nacho / cómprame un... / yoyo / o un

211- (...) allá / ¡a...y! / ¡n’hombre! yo dije / ¡híjole! se me va’ armar ¿verdá?

212- sí viene y nomás llegando / y ándale ve compra lo que / querías /

213- y este / y él... / y si mi mamá cumple años / él siempre le trai / ¡órale! manita a hacerle

de perdido una / cena o algo /

214- nunca me terquea de que ¡ándale! / ya / vamos a tener otro /

215- me voy ‘andar riendo y dice... / bueno pero tú te (...) / l’igo bueno l’ije / ni modo pos así

soy yo / qué / qué le voy a hacer

216- nunca me ha / nunca me ha golpiado así / sí nos decimos ¡híjoles! hasta lo que no (risas)

/ ¿vedá? /

217- no me decía mamá ni nada / no ella chica / y / le di- / y le / le decía’ mi mamá / ¡híjole! /

ésta cómo me chiquea todo el día / /

218- cuando me mira y que se (risas) / le digo a veces yo (risas) / sí ya nomás dice / ¡ay! /

212

comadre... / ya voy... / bueno ándele / pu’s ya váyase / es

219- I: Sí / ¡ándale! / sí / más las tropicales me gustan bastante pero... / pues no / no las oigo /

a veces / que vamos allá a la

220- I: Están cuidando / la guardia dice mire / hay mucho carro y no se puede entrar / deje su

carro aquí y camínele hasta allá

221- la antigüedad pos no no le veo gran valor ¿verdá?

222- I: Yo llegué / llegué yo a un a un compañero / no unos varios / digo pero / este señor le /

le tenía síntomas ya de... / e...h / parálisis

223- I: Mucho ruido porque / trabaja también con mucha / aire / puro ruido / ruido híjole no

se oye nada / a veces a pura seña (risa)

224- y a veces no / porque / uno va con un rumbo / y otro para otro / y / pos cada quien / por

su rumbo / (…) // a ver / contéstale vieja / m...

225- ya con agarrar un camión / además / le hago otra aceleración / a mí nunca me gustó

manejar camiones

213

214

Anexo II. E-mails de solicitação e permissão para uso dos dados escritos

-----Original Message-----

From: Viviane Antunes Lima <[email protected]>

To: Alberto Mena <[email protected]>

Date: Wed, 4 Nov 2009 09:26:25 -0200

Subject: Re: Tesis doctoral-Respuesta

Estimado Alberto Mena:

Ante todo, perdóneme por la molestia.

Soy estudiante de la Universidad Federal de Rio de Janeiro y necesito datos de la variante

mexicana del español para concluir mi tesis doctoral. Hice muchas búsquedas y encontré en

su sitio todo lo que necesitaba: fragmentos textuales en los cuales había expresiones como

híjole, ejele, ándele, quihúbole...

Los objetivos de mi tesis son presentar el desarrollo de la forma dativa ‘le’ en español e

intentar mostrar cómo se viene despronominalizando el ‘le’ mexicano en algunos contextos.

Para hacerlo, necesito la autorización de la OEM, como se registra en el aviso legal de la

página: "Está totalmente prohibido usar, copiar, reproducir, distribuir, publicar,

transmitir,difundir, o explotar comercialmente cualquiera de los contenidos, fotografías,

logotipos, imágenes, html, código publicados en este sitio sin la autorización por escrito de la

Organización Editorial Mexicana." [http://www.oem.com.mx/oem/avisolegal.aspx]"

Quisiera saber si puedo valerme de los datos que encontré en los textos electrónicos de la

OEM, mencionando la dirección, la fecha y el horario de acceso. Puedo enviarle el viernes

una carta firmada por mi tutora, formalizando la solicitud, y nuestros datos personales y

215

académicos.

Muchísimas gracias por su atención y por contestarme pronto

Saludos desde Rio de Janeiro

Viviane C Antunes Lima

--------

Alberto Mena

mostrar detalhes 4 nov

Viviane:

Con gusto le autorizamos la utilización de nuestro material, solo y cuando nos de crédito en

sus trabajos.

En lo personal, me agradaría que si es posible me regalara una copia de su trabajo cuando lo

termine, además de conocerlo, presentarlo a las autoridades de la OEM para su conocimiento.

Alberto Mena

Coordinador Nacional de OEMENLINEA

216

Anexo III. Dados oriundos da página da Organização Editorial Mexicana

Dados escritos. Amostra O.E.M.

Dados Ocorrências Data de acesso

Hora de acesso/confecção

do arquivo ándale 28 23/092009 23:49 ándele 16 23/09/2009 23:49 ándenle

2 23/09/2009 23:49 atínele

4 27/08/2009 17:45 bájele 2 01/09/2009 11:07 bájenle 7 01/09/2009 11:07 córrale 2 26/08/2009 17:34 córranle 2 26/08/2009 17:34 córrele 5 26/08/2009 17:34 éjele 4 31/08/2009 11:39 éntrale 5 29/08/2009 12:05 éntrele 3 29/08/2009 12:05 éntrenle 4 29/08/2009 12:05 híjole 25 29/08/2009 23:05 jíjole 2 02/09/2009 09:35 le aunque 3 01/09/2009 09:11 le pensamos

2 27/08/2009 17:46 le pienso 4 27/08/2009 17:46 llégale 2 26/08/2009 17:30 lléguele 3 26/082009 17:30 lléguenle 3 26/08/2009 17:30 nójole 1 30/08/2009 08:40 órale 36 01/09/2009 09:04 párale 10 29/08/2009 10:58 párele 14 29/08/2009 10:58 párenle 12 29/08/2009 10:58 pásale 6 29/08/2009 17:30 pásele 16 29/08/2009 17:30 péguele 1 26/08/2009 19:00 pensándole

3 27/08/2009 17:46 pensarle 5 27/08/2009 17:46 póngale 34 26/08/2009 18:54 quihúbole 3 26/082009 18:59 újule 4 29/08/2009 13:06 vuélale 2 27/08/2009 17:48

217

226 - se indignaron por el incremento salarial de ocho mil pesos mensuales que se auto

asignaron los consejeros electorales, aun en año no electoral, bájele a su irritación.

227 - ... Alvarez, ese gran luchador por la democracia en nuestro país, me dijo: "Bájele,

Memo, qué no ve que si en lugar de los del PRI fuéramos los del PAN los que ...

228 - ... Éjele. Le falló. No era cierto. En eso llegó Sebastián. Cuya verdadera identidad es

Enrique Carvajal. ...

229 - ... -Éjele mi doc... -Ya ni la chingas, como vas a apoyar a Jaime Valls para presidente

municipal de Tuxtla Gutiérrez, si cuando trabajó en el ...

230- Y recuerde, yo invito y cuando pago, todos pagan...abur...Y éjele: arrivedercci.

231- ... Por su belleza y carácter a prueba de olvidos y porque, ¡éjele!, hoy cumple años.

BITÁCORA Caminar a las 12 del día por el centro de Tuxtla Gutiérrez. ...

232 - ... Bájenle a violencia y discriminación contra ellas: MEC. La Prensa.

233- Bájenle al consumo de drogas y venta de armas.

234- ... Salustio Arrevillaga exige a inconformes: "bájenle al agua" Tapachula Chiapas.-

Habitantes de la colonia El Progreso I, localizada rumbo al ...

218

235- ... Carlos Santos Bouché, a quien señaló de haberle proferido amenazas como: "ya sabes

por donde viene esto, así es que bájenle de huevo". ...

236- Ya bájenle de volumen y si no saben pregunten: el único de la moraliza que ha

trascendido en la política es el que no pudo noquear a los viejitos del PAN…

237- Ya bájenle a su duelo, Mejía Claudia y Tomás, en lugar de trabajar todo el día se

cuidaban de Chabelo; ahí están las consecuencias de su actuar contumaz, ...

238- fue Salustio Arrevillaga quien les dijo: "bájenle al nivel del agua, ya que apoyaré a la

colonia

239 - ... ya que primeramente estaremos en el Zócalo de la capital, de ahí nos vamos a la

delegación Coyoacán, de ahí córrele para Gustavo A. Madero y …

240- ...Uno 23 Jul 2009 de los que me habían invitado a robar me alcanzó y me dijo:

«Córrele que ahí viene la tira»". Pero él no había participado, puntualiza. ...

241- ...En su caso, ¿así se va a gobernar al país durante los próximos seis años: córrele que ahí

vienen, aprovecha que se fueron? Nota bene. ...

242- ... Córrele porque a tu papá le pegaron y está tirado en la calle, así fue como el joven

Gabriel García recibió el presagio de que su progenitor había pasado a ...

219

243- ... Con los gritos, de córrele..., ¡no me quiten!, ¿en qué les molesta que venda, a quién le

hacemos daño?, fueron algunas de las manifestaciones de protesta de ...

244- ... Córrale porque se acaban. Suerte. (PRE) CANDIDATOS Los dizque precandidatos

del PAN-Panal (César Serrano) y PRD-PVEM-PT y Convergencia ...

245- ... ¡Córrale, Padre Panchito! ¡Que vaya a santoliar a un moribundo! Me dice jadeante un

rapaz que frena su veloz carrera frente a mi vieja poltrona, ...

246 - ... ¡Orale!, ¡órale, muchachos, ¡córranle, que ahí viene Juan Blanco!

247- ¡Córranle!.. papás; prevén caótico regreso a clases. Miles de papás se esforzaban por

hacer rendir el dinero para comprar los útiles y uniformes escolares ...

248 - ... para luego decirle a Miguel Angel que "ya sabes de qué se trata ¿no?, si no quieres

que te remitamos al MP, éntrale con 500 mil pesos", ...

249- ... No se descarta, desde aquel memorable "Éntrale, Pelón", que le asestó Felipe

Calderón, el hombre juega sus cartas. Se oye en Tierra Blanca que Pancho Lara,

250- En ese instante entró su concubina Gabriela y que ella le dijo: "Éntrale" y él, jugando, le

puso la escopeta en el tórax y le jaló el gatillo, ...

251- ... ¡Éntrale!... QUE EL NACIMIENTO DE LA LIGA MUNICIPAL DE FÚTBOL de

Veteranos de Tapachula, mucho tuvieron que ver los integrantes del equipos

220

252 - ... donde las alas lo son todo-, aquel que una vez le dijo el candidato Calderón "Éntrale,

Pelón", cuando le comentó que a él le gustaba la política. ...

253- ... Éntrele... "De a cinco pesos...Lléveselo... Son las 12. El mediodía. Graves, agudas,

frescas, atipladas. Las gargantas venden. ...

254 - ... Fíjese que este jueves habrá bufete y no se va a cerrar ningún día del puente, así que

desde hoy dese la vuelta y éntrele a la lengua en salsa verde y al ...

255 - ... de Hostiotipaquillo el Grande: Había de dos sopas, pero como de una ya se acabó

pues éntrele mi amigo a las sobras de las sobras, de nuestra muerte. ...

256 - ... "Éntrenle en serio con toda honestidad", les dijo. "No quiero decirte que nunca

confié en esa estructura pero siento que no se les había ...

257- ... de contrapesos serios, reflexivos, proposititos, no dejen solos al PRI y al PAN,

éntrenle como el tercero en discordia, pero primero, limpien la casa. ...

258- ... ¡Éntrenle cabros grandes!... Y ESTÁ MUY BIEN QUE POR FIN JUAN ESCUTIA

ANDRADE actúe en contra de los ...

259 - ... ¡Éntrenle!... ¡No le saquen!... SALUDOS CORDIALES PARA LA GUAPA Úrsula

Hom Bravo, hija de Mario, nieta de "La Chata" y conductora de los noticiarios de ...

221

260 - ... "Híjole, es que hay unas muy buenas, te quiero decir que hicimos 'El hijo de Juan

charrasqueado', fue una historia mía, yo la escribí, ...

261 - ... ¡híjole! esta cosa se cae, santo ma... zapanazo que me daría; pero créame estimado

lector, esos arnés son muy seguros y no se va a caer. ...

262- ... -Híjole, por el acento eres alguien de Izta o de Neza. -No te hagas la graciosita que te

puedo decir tus precios. -¡Mi querido estratega Puma, ...

263- ... "Híjole, fue la verdad muy dramática, porque son carros muy fuertes, muy

competitivos, con gente muy experimentada, que van con mucho oficio ...

264 - ... "¡Híjole...! ¿Qué será? Fíjate, siempre le decía a mi antiguo apoderado, don José

Abedrop, que llegando a las mil corridas me retiraba. ...

265 - ... Híjole, pero quisiera no ser drástico. Ojalá que los directivos y todos los que están

involucrados en el futbol lo entendieran en otro sentido, ...

266- ... Híjole, de cuántas cosas me enteré el fin de semana. El sábado me fui a cenar al Au

Pied de Couchon con nuestra única "Diva", Silvia Pinal, invitados por ...

267- ... ¡híjole!, de una manera muy bonita e increíble con Lagrimita y Costel; a pesar de que

muchas veces no estamos aquí, siempre nos han apoyado". ...

268- ... -¡Híjole, pues ha de ser Presidente, no? Trabajador por su cuenta no. Póngale "otros"

222

en ocupación. Tiene servidor público, en clasificación, le preguntó a ...

269- ... "Híjole, no sé. Tengo en Olimpiadas, Panamericanos, por equipos, dobles, y todavía

me quedan dos años de juvenil, por lo que quiero más ...

270- ... "Híjole, es que estaba comiendo y ya casi entro a trabajar". Dentro del penal, labora

en el taller de lencería y corsetería.

271 - "Híjole, el nivel esta súper, pero siempre estuvimos en la pelea; realmente fue un

descuido que tuvimos, y ojalá que eso no cueste la ...

272 - Y ahorita lo decíamos ¿no?, Manuel quiere ser gobernador y yo digo: ¡híjole!, hoy está

invirtiendo 250 millones de pesos en un Centro de ...

273- ¡Híjole!... qué buena pregunta, pero yo de ninguno de esos, estoy más cerca del libro de

la vida... -¿Trágico o cómico? ...

274 - de Luis Hidalgo Monroy de la Escuela Normal de Veracruz ¡Híjole!" "Quizá sea

pariente de aquellos maestros Monroy Padilla que como María ...

275- Híjole, mi mayor miedo es que le pase algo a mi familia o que mi familia se deshaga.

¿CUAL ES LA MUSICA QUE MAS TE GUSTA? ...

276- Híjole, me acuerdo requetebién: mi sueldo allí eran 15 pesotes al mes, por barrer y, ora sí

que hacerle los mandados a todos los jefes y ...

223

277- "Híjole que cachaza, que poca madre cuando demagógicamente se utiliza Plazuela de

Acuña. Mire usted, un día antes, estos le habían pasado el ...

278 -Híjole... a mí la política no me gusta mucho, pero creo que aquí más que nada tiene que

ver que la gente sepa trabajar y trate bien a los ...

279 - ... "¡Híjole, se me pasó!" "Pues escríbele una nota en tu crónica"-recomendó David. Y

como éste, cumpliremos 40 años de amistad Joaquín y yo, ...

280- ... "Híjole, por acá hace un calor tremendo como de 38 grados centígrados. Mi papá

Valentín me dijo que en México llueve demasiado. ...

281- ... Tía Tila: ¡Híjole!, chobino, ora sí me siento ancha como eje vial al alternar con tantas

personas tan "leidas y escribidas"; cómo adornaron ...

282- ... ¡Híjole! La verdad es que yo nunca he tenido una experiencia como esa... - Ni yo

tampoco, compadre... - ¡Así que nomás me estuvo cotorreando! ...

283 -¡Híjole, tía Tila, cuando me miras así me das más miedo que Jorge Vergara cuando se le

suelta la lengua! -Chobino, sólo necesitas disciplina, ...

284- ... "Híjole. La verdad está difícil, pero creo que hay muchas posibilidades. Ahí está Paola

Espinosa, Rommel Pacheco y Yahel Castillo, ...

224

285- ... Lo que tiene verdes -no le aunque que sean azules o amarillos- de envidia a los otros

31 Chanos. IFE: oyen tronar y no hincan. ...

286- ... "más vale prevenir que amamantar", "al mal paso darle gerber", "no le aunque que

nazcan chatos, nomás que rezollen bien". ...

287-... Sí que estuvo a "reventar" el recinto de los gallos, que le aunque, que fuera lunes, que

al otro día se tuvieran actividades escolares o de trabajo, ...

288- ...y a pesar de que es suplente del legislador en el Senado siguió los pasos de Simón

Pedro y negó que fueran amigos. Ujule pos nójole.

289- ... suelen ganar más que sus homólogos estadounidenses, como es el caso de diputados,

senadores, gobernadores, presidentes municipales y párele de contar. ...

290- ... se ha conocido por ahí del diputado local es que se reunió con algunos dirigentes de

taxistas y transportistas piratas de Cosautlán y párele de contar, ...

291- ... Su currícula apenas registra cargos menores en la administración pública y partidista,

una diputación local y párele de contar. ...

292- ... a la espera del segundo refuerzo importado, pues a la fecha se mantiene en el equipo

el uruguayo Nicolás Olivera y párele de contar. ...

293- ... para legitimar el proceso de 'elección' de la Procuradora de Justicia de Chihuahua,

225

Patricia González Rodríguez y párele de contar. ...

294- ... Fidelac, se iniciaba la construcción de Fertimex y párele de contar. En esa época de

repente pegó duro una de las crisis económicas, ...

295 - ... esta institución ha sido prácticamente manejada por médicos, abogados, historiadores

y párele de contar, porque ahí, nomás sus chicharrones truenan. ...

296- ... Yo la verdad muy poco, sólo de vez en cuando llegan noticias de que participaron en

tal o cual actividad y párele de contar. ...

297- ... Y párele... La interpretación de las cifras de esta encuesta, por lo demás lícita, coloca

a los partidos en un verdadero aprieto, ...

298- ... Presidente, párele porque este volcán está haciendo erupción". No hacerlo así, cuando

la droga que mantienen "vivimos" a millones de enfermos ...

299- ... Resaltó que cuando le dicen: "Ya párele, señor gobernador, son tiempos electorales",

ante miles de habitantes de este municipio respondió …

300- Ya, ya, ya, párele, jefe. Mejor debía aprender a bailar chachachá, ahora que está de

moda. -Mejor aprendo el vals, que también está de moda. ...

301 - ... Ya párele, compadre, que todavía no han derogado la 'Ley Mordaza'... ¡Salud,

compadre...!

226

302- ... "-Párale tantito, mi buen jediondo. Bien sabés que el Milito fue echado de la asamblea

del PRD porque nadie lo acepta como tal y menos como…

303- ... "Ya párenle", expresó, dirigiéndose a los políticos y medios de difusión que han dado

en desparramar el mencionado rumor. ...

304-... ¡Ya párenle!

305- ... en tanto que Edgar apenas hizo 28 y de ahí p´al rial, párenle de contar, porque la

charreada fue para Enqeique Limón con sus 153 puntos, ...

306- ... Establecieron su posición de no realizar viajes a cargo del erario público y ahí párenle

de contar. Pasaron "de noche" para ellos temas como ...

307- ... Ya párenle con Márquez. HASTA EL PRÓXIMO SILBATAZO

308- ... Y párenle de contar. Hagan sus apuestas, los dos que seguramente se medirán en el

2012, Fidel y Peña Nieto, ahí van, canturreando sus ...

309- ...La famosa toma de Oswaldo Sánchez señalando el 1-0 y ya párale, es para mí el ya

párenle a algo que no es noticia y que nos demuestra cómo nuestra querida ...

310- ..."Ya párenle", pide Ninel Conde a la prensa Hola, hola amigos, ¿cómo están? Me da

mucho gusto volverlos a saludar esta semana, espero que se la estén pasando ...

227

311- ...Párenle, como lo dijo Kofi Annan, secretario General de la ONU. Cese al fuego y que

entren los cascos azules y formen un cinturón de seguridad, ...

312- ... En ese entonces no había de que 'párenle tantito, volvemos a repetirí. Nada. Era

necesario alcanzarlo, pero poco a poco se fue educando". ...

313- ...Y claman miles de desempleados por las medidas adoptadas por el Gobierno: ¡Ya

párenle!... Si no trabajo no como y entonces ¡sí me voy a morir de hambre! ...

314- ...¡Ya párenle chicos!, que las fiestas nunca se terminan. Bueno amigos, este espacio se

nos agotó, nos despedimos deseándol es un año lleno de alegría y ...

315-... Un amigo que lo acompañaba le dijo: "Chupón, ya párale, ahorita vemos cómo le

hacemos, chance si le ofrecemos una lana nos devuelven tu ...

316- ... Como respuesta obtuvo que "no le sigas, ya párale, mejor ya vete, porque si no te

vamos a encerrar y de ahí te pasan al Hongo, ...

317- ... "¡Ya párale tío!", dice mi sobrino El Tony. "tú hablando de manjares y nosotros

comiendo frijoles negros con epazote". ¿Qué pues? No le digo. ...

318- ...Ya párale, ya párale, que del susto se me está corriendo la pintura de payaso. Mac.-

Toma, échate un pisto y te alivianas. Aure.- Sabes que no pisteo porque ...

228

319- ... No sé de tecnología (enciendo la pecé, y párale). No tengo banco ni casa de bolsa.

Tampoco sé dar masajes. Pero cuenten conmigo. Notas relacionadas ...

320 - ... Y ya párale columnista hablaste mucho de ese equipillo. Por el otro lado, tengo que

insistir en el desarrollo de la liguilla de las divisiones inferiores, ...

321- ... actuación del rebaño sagrado ante Tigres, con el empate a 0-0 la oncena tapatía

continua de líder de la tabla general con 14 puntos y párale de contar. ...

322- ... Otra cosa, ha de disculpar. Péguele, duro, pero duro a terminar las obras en proceso, o

se lo van a cobrar en julio a su partido.

323- (póngale lo que quiera), que por mucho, mucho tiempo, esas heridas tardarán en sanar y

sobre todo, dejan recuerdos amargos y tristes. ...

324- ... ¿Se administran bien los dineros... en el hogar, en ... (póngale lo que usted guste)? .

325- ... Chiapa, Jiquipilas y póngale casi todos los pueblos porque todos tienen sus brujos y

sus políticos de a "chipo" que los consultan y los usan para todo, ...

326- ... Por su trabajo recibe como pago 40 pesos al día, "ni pal´ pollo me alcanza, porque

póngale un paquete de Maseca ya llegó a 54 pesos y pos ...

327 - ... Tienen tierra, tienen agua, póngale ganas.

229

328- Y conste que se reconoce que en una fábrica, en un departamento comercial, en una

oficina de gobierno (póngale lo que quiera) cualquier empleado reconoce ...

329 - ... Póngale que así sea... Pero el trámite se podría hacer mediante una computadora que,

entre otras cosas, la búsqueda del acta original es ...

330- ... "pero no nos queda de otra", indica, pues el gobierno municipal no tiene para

vendernos uno, "ah, y póngale ahí que no queremos que nos ...

331- ... Al tomarle las fotos correspondientes alcanzaron a decir: "Póngale en la nota que nos

deben tres quincenas de pago". LOS VESTIDORES ...

332 - póngale lo que quiera de su cosecha). Desde luego no crea que me olvido que por

primera vez inició el conteo de las medallas que hasta ahora ha ganado ...

333- (póngale lo que guste) al cabo que ya aumento todo, la leche, los huevos, la carne, las

tortillas no tardan, el pan de harina por el otro yo no me meto con ...

334-"Póngale que sí se hayan salvado, pero es difícil que estén vivos; si andan arriba de la

balsa puede que sí, pero si andan nadando, no creo, porque el agua ...

335- Pidió: póngale que somos de Paso la Pigua, que somos 20 familias y desde el

336- Póngale que la gente tiene miedo por lo que pasó; que estamos a cuatro ...

230

337-... Ujule.. Los pobres agentes soplando duro el pito para ver de donde sacan para su

Navidad y los jefes y asesores tomando trago todos los días y comenzando ...

338- ... ¡Ujule!, nomás eso me faltaba: jodido y delicado el perruno. Pero bueno, ya

recuperado y luego del aplauso de la raza, le dije a mi tía que a ver cuando me ...

339- ... El acaba de reeditar " Ujule Julián", un cuento infantil y su ultimo trabajo es " La

ultima espera".. Don Orlando, agradeció este reconocimiento que lo ...

340 - ... Ujule Julita.. El día que nacieron los hombres ilustres de México: El 21 de marzo..

¿Hombres ilustres?.. ¡Yes!. Nació don Benito Juárez y nació el papucho ...

341- ... ¡Jíjole güera, dígame usted si no soy un verdadero charro mexicano!...¿Y usted mi

reina, cuénteme qué es?"...Pues mire señor…

342- ... ¡Jíjole! A veces pensamos que ser mexicano es tan sacrificado y tan heroico para el

pueblo pobre como ser ciudadano de Irak. Pero ni modo, en este país nos ...

343- ... Y cuando "El Churumbel" quiso entrar con EL a la CMIC, éste lo instó: "Ya, llégale".

344 - No te aburras, llégale a la diversión por internet.

345- ... Usted puede adquirirlos en la librería "El Quijote" allí en la 4ª. Avenida Norte junto a

la escuela Leona Vicario. ¡lléguele! Hoy o mañana, ¡pero lléguele! ...

231

346- ... Usted puede adquirirlos en la librería "El Quijote" allí en la 4ª. Avenida Norte junto a

la escuela Leona Vicario. ¡lléguele! Hoy o mañana, ¡pero lléguele! ...

347- Lléguele... Trabajos garantizados.. O se divorcia o enterramos a la vieja del coraje que va

a hacer cuando escuche a "Los Arrejuntados". ...

348- Lléguele... La entrada es de gorrita roja... UJULE JULIETA, YA ESTA haciendo una

epidemia.. Denuncian a otra maestra golpeadora. ...

349- ¡Lléguenle! (título)

350- "¡Lléguenle! "No es necesario confirmar pero es preferible…

351- ... se empezó a ir sobre nosotros, los policías nos empezaron a insultar y finalmente nos

dijeron: Lléguenle o los levantamos por andar escandalizando". ...

352- "Órale chavos, jueguen futbol" Fuera de la cancha son amigos

353-"Órale chavos, jueguen al futbol, no hay pretexto", comentó Javier ...

354- ... el departamento de alumbrado público realiza trabajos de mantenimiento y cambio de

lámparas (con la nueva tecnología de leds, ¡órale! ...

355- ¡Órale! Hay quienes apuestan 2 a 1 que no lo harán. TORNEO DE SQUASH Después de

9 años que no se realizaba un torneo nacional de squash en Fresnillo (cuna).

232

356- ... Órale. Ya vas. Y el 'jale' es matar a un desconocido. Y al instante regresar el arma. Y

recibir los mil, dos mil pesos pactados. Adiós. ...

357-... "Órale, 'Negro', párate y sigue con las 'picchurs', qué no ves que se te va mi mejor

ángulo", pidió mientras se acomodaba el bigote y su ...

358- ... PILOTO: Órale la turbulencia de éste. COPILOTO: Ay güey (sonido similar a la

alarma de desconexión del piloto automático, normal cuando es ...

359- ... Todos listos en sus marcas/ que se les llegó la hora,/ órale charro malora/ no te atores

en las trancas/.- En estos principios del Siglo XXI ...

360- ¡Órale!, calladita la boca, don Adolfo tuvo su hija de temporal, aparte de los de riego.

Flor Trujillo, nació y creció en la Ciudad de ...

361- ¡Órale! EN ENTREGAS ANTERIORES, EN donde tocamos el tema de los servicios

públicos…

362- ... director de mercadotecnia; Daniel Berrios, director general, y Mark Smucker, quien es

descendiente directo del fundador de la empresa, ¡órale! ...

363- "La misma gente que anda con Adriana nos echa porras, o nos dicen órale, échenle

ganas". Manifestó que no critica a los que siguen a la candidata del PRI, ...

233

364- ... Es mundo interior propio, hay veces que de repente se te ocurre una idea, y pues

órale... Si fuera mi mundo, me gustaría que fuera eso. ...

365- ... sí tienen un presupuesto altísimo, hablemos de 300 o 500 millones (¡órale!, ¿pedrada

para el IEV?), no organismos enanos en presupuesto. ...

366- ... Órale Hace también mucho rato que no saludo a mi amiga gloria Luna, una de las

panistas más congruentes, comprometidas y trabajadoras. ...

367- ... Grabó en Xalapa la película Orale güey; este año estrenará varios filmes. Diario de

Xalapa.

368- ... Qué habrá dicho Lety al ver el closet del papá de sus hijos vacío: '¡órale, cuánto

espacio para mis rodilleras!' Lo que sí es cierto es que ...

369- ... -¡Órale, no asustes! ¿Pues dónde te has metido? "En los ruedos, matando toros a

puerta cerrada". -Yo te hacía retirado. ...

370 - ... "El chofer le pide a uno dinero y me dijo ¡órale coopera con la aduana!, yo di 80

pesos en la primera aduana, había gente que llevaba ...

371- ... "El disco se llama "Agárrese" y ésta es una expresión que usamos mucho nosotros,

como para decir, "órale primo agárrese" y trae unos temas ...

372- ... ¡Y órale, échate otra!, ¡Y órale, échate otra!!.. Llorones... YA NOS VAMOS…

234

373- ... Una vez más, el "Bofo" irrumpió con su cámara: "foto, foto... órale cabrones, que no

les dé pena". Fue una tarde distinta, una tarde libre, ...

374- ... por qué el no puede ser gobernador... órale... y ya que hablamos de fechas y de

personajes destacados, quien el próximo martes 31 de ...

375 - Por eso a las seis de la mañana órale mis valientes a levantarse y a trotar en el estadio

"Pancho Villa" y no se me esfuercen, el corazón estalla, ...

376- ... Órale mis precandidatos, anímense, no se minusvaloren. Declaraciones del rector.

Samuel Flores, rector impuesto por el gobernador Agúndez en ...

377-... ¡Órale!, para que se le quite. Podrán ser días, meses o años de angustia para el cliente,

mientras el veredicto del juez supremo decide si tales bigotes o ...

378- ... -Órale 'Pelón', te estamos esperando, ya todos los pasajeros están a bordo, te

esperamos nomás porque le ganaste a Australia , ¿eh?, ...

379- ... aunque no recordaba su nombre, dijo, tratando de identificarla dijo que era una señora

muy buena onda...órale...por lo pronto anunció

380- ... El Maño, bien mañoso les dio a tomar Piperawit, jarabe vermífugo, y les dijo con

inspirado acento: "órale flojos, vamos bien, ...

235

381-... ante el Grupo Político Lázaro Cárdenas de Tijuana de que si dentro de unos años

respira, es que aspirará... órale pues... como dijera CHAYITO VALDEZ. ...

382-... SI EN LA MUERTE DEL POBRE policía municipal de Cacahoatán, Ángel Roblero

Roblero, hay algún delito que perseguir, ¡órale!, hay que hacer ...

383-... -Órale, vamos a ver cómo está el de menta. "Yo quiero de dos sabores... a ver". Luego

nos sentamos en un jardín. TRANSICIÓN ...

384- ... ¡Pásele al debate, sí hay!

385 - ... ¡Pásele, pásele, pásele!, fueron sus palabras al vernos llegar a su establecimiento,

pero al comentarle la razón por la cual estábamos ahí, ...

386- ... Pásele, pásele, llévese el pipían, bolsitas de camarón seco para sus tortitas, tenemos

nopalitos, lentejas, chacales todo para su miércoles ...

387- ... "Pásele, pásele", el negocio de tomarse fotografías con su artista favorito fue parte del

negocio de esta dulce y sin más pretenciones obra ...

388- ... el que por que eres Armando Rivera pásele por acá,…

389- pásele por allá. Le digo y una vez que tenga mi licencia me van a escuchar. ...

390 - ... Los primeros gritos surgen con los primeros clientes, "Pásele, pásele, acá esta lo

236

barato",

391- "llévele seño, aquí las mochilas y los cuadernos…"

392- "Pásele seño... si quiere pancita aquí hacemos una muy buena... Le va a gustar". Y

hablando de albures tenemos el chicozapote, que es una fruta muy mexicana ...

393- ... Durante un recorrido de más de tres horas, entre olores, sabores y colores, y con el

clásico grito de "pásele marchanta", el Alcalde recorrió los puestos de ...

394-... Los gritos, inmediatamente ingresan al edificio, empiezan a confundirse: ¡pásele aquí,

aquí está la birria!, ¡a sus órdenes!, ...

395-... Al grito de "pásele marchanta, aquí están las tangas y calzones rojo y amarillo", llaman

la atención de algunas compradoras, porque no todas se animan a ...

396-... A esa hora oía el rítmico ruido del bastón de su papá, quien me decía: "¿Otra vez usted

aquí?, hombre, venga, pásele". ...

397- ... Otros operadores solamente se limitaron a permanecer callados y decirle al usuario en

espera de su cambio: "pásele, ya, así está bien". ...

398- "Pásele, pásele, seño; compre sus florecitas, veladoras y rosarios para sus muertitos;

todo barato. Lléguele para que no se sientan solitos los difuntitos ...

237

399- ... Entre gritos de ¡pásele pásele güerito", "llévelo, llévelo güerita" y ¡qué va a usted a

llevar marchantito", acompañados de altos decibeles de música ...

400- ... ¡Pásele.., Pásele! Se escuchaban incesantes las voces de los vendedores que

promocionaban la venta de cornetas, antifaces, huevos rellenos de confeti, ...

401- "Nos exigían nuestra credencial de elector para dejarnos pasar; los elementos de Tránsito

finalmente nos dijeron: Pásale, quieres ser ...

402- ... Con una gran satisfacción reflejada en el rostro, el dueño de la casa dijo: "Pásale por

favor, tienes el trabajo, toda mi confianza y un ...

403- ... Una feria del siglo XXI, los merolicos con sus gritos de "pásale, pásale, que el

Gobierno del Cambio, le ofrece la ganga del tractor, la trilladora y el ...

404- ... -ooooiiiitttttttttttt -respondió el interfecto- pásale, que andas haciendo por estos lares

que te vayan a ver. -fíjate que vengo muy contento a comentarte ...

405- ... La señora Dolores Acosta Pérez, ella tiene un establecimiento pequeñito de artesanías

también, pásale Dolores, por favor; y el señor Ernesto Concepción ...

406- ¡Pásale que estás espantado! -inmediatamente sacó la albahaca, un limón, piedra lumbre

y después de acostarlo en el camastro que tenía ex profeso, ...

407- ... Y después de mucho pensarle, desembolsarán una fuerte cantidad por Daniel

238

Montenegro, ídolo del Independiente, equipo dirigido por el "Tolo" ...

408- ... El castigo con cárcel seguramente -dijo- obligará a los delincuentes a pensarle antes

de entrar a una casa a robar independientemente del ...

409- ... no vienen, no ganan y eso debe de aceptarlo, para el próximo torneo tendrá que

pensarle dos veces antes de buscara refuerzos foráneos, ...

410 - ... "Vamos a pelear en nuestro país, pero si hay que llevar esto a cortes internacionales,

lo vamos hacer porque no hay mucho qué pensarle para quién irían ...

411 - ... Hay que pensarle, sin duda alguna. Lo anterior ya ha pasado en otras ocasiones y el

PRI podría perder muchas presidencias municipales. ...

412- ... Agregó, "el participar salió de un deseo, pero ya pensándole bien, hay mil cosas que

resolver para el Municipio, proyectos importantes que no han salido, ...

413- ... Para eso se debe cambiar la ley y tipificar estas llamadas falsas o de broma como un

hecho delictivo, porque pensándole un poco pudiera tratarse de ...

414 – ... pues ni para atrás ni para adelante, y ocupa más tiempo en su pleito personal contra el

zoológico, y eso que ya tienen casi un año pensándole. ...

415- ... Tomo uno por otro y le pienso: "aburrido". En el cajón la carta bajo el libro, palabras

mal trazadas que vuelan al pálido muro, ...

239

416- ... Me enfrentaré contra quien sea necesario, pero es determinante mi decisión y no le

pienso dar a este señor la oportunidad de laborar en mi gobierno". ...

417- ... relaciones y eso es lo que más me duele, pensar que sólo me utilizó, no sé sí buscarlo

o dejar las cosas así, yo lo quiero, pero no le pienso rogar. ...

418 - reclamo que hizo porque lo cambié de habitación, nunca quiero abrirlo, por eso me

mira, además, cínicamente le pienso que esta noche es de Bukowski

419- ... o por ejemplo en estas fechas ya le pensamos para comprar frutas como la manzana

que está carísima, mejor compramos plátano", dijo. ...

420- ... En la prehistoria de nuestro idioma, por ejemplo, se relacionan el brazo y el arma y si

le pensamos un poquito, veremos que es muy lógico: para nuestros ...

421- ... Escuchar ese "Quihúbole hijo, cómo estás", era siempre el arranque de una sabrosa

conversación de futbol, sobre cualquier otro tema, ...

422- ... ¡Quihúbole! Realmente los puchófilos quieren pasarse de protectores ya que VCC

sabe defenderse solo.

423- ... "¿Quihúbole tío?, se le acabó la tos al gato, ¿verdad?", me dijo mi sobrino El Tony,

quien sintiéndose muy sácalepunta, me espetó en la jeta: "¿no que no ...

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424-... te estamos esperando, ya todos los pasajeros están a bordo, te esperamos nomás porque

le ganaste a Australia , ¿eh?, así que vuélale. ...

425- ... corre a la casa y trae unos tacos y un apilolito (cantarito de barro de tres litros de

capacidad) de pulque, pero vuélale, salí rápido, ...

426- ... -Ándale ya danos chance de pasar, mira, aunque no todos tenemos credencial de

elector, pues nos vamos a ir pronto- dijo Arturo, ...

427 - ... Y ándale "Chatito" López... Trabajo querías, ¡pos trabajo tienes!... PARA HACER

MÁS AMENO ESTE dominguito alegre sale bonche de notitas-nototas. ...

428- ... ÁNDALE YA SE SUPO..."Comerciantes son extorsionados por policías", dijo ayer

DIARIO DEL SUR en su página número seven y si lo dijo DIARIO ...

429- ... ¿y esto?, ocupada, güey, yo en mi escritorio, déjamelo, ándale, ya déjame, porque si

no, no me voy a largar nunca, ahí gracias Arthur. ...

430- ... En efecto, exactamente a las siete horas de recorrido, amanecimos en el puerto

anhelado y prometido, pero ¡ándale! Que al pasar a recoger mi ...

431 - ... "Ándale, ándale enano", decía Jared fuera de micrófono, y cuando tomó la palabra

sólo dijo: "Ojalá que cuando llegues a mi edad sigas aquí...". ...

432- ... -Ándale, si a ti te gusta, una chupadita nada más ... ¡No! que pueden bajar... Ándale,

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no seas así ... He dicho que no, que no y que no. ...

433 - ... quien recibió durante el interescuadras varios gritos de aliento del auxiliar Juan

Carlos Ortega ¡Ándale Édgar, que se sienta que eres líder, grita! ...

434- ... Él me miró a los ojos y respondió: "Sí, sí, ándale... pero mejor ponte a trapear y a

limpiar los extensibles". Al paso del tiempo, gracias a Dios y a mi ...

435- ... ¡Ándale! Y el que rompió cochinito y echó la casa por la ventana fue otro Arturo...

¡yes en inglés!, Arturo Molina estuvo activísimo ...

436 - ... Ándale pues. Pero como le decía, estuvo de tutifruti y…

437-... (muchos de los cuales parecía que andaban drogados) que persiguieran a la diputada

Barbie Botello con gritos de "¡ándale p... vieja, te voy a ch. ...

438- ... bailar con él esa noche (sustituto emergente); así que Cristina entró a la casa y me dijo

¡ándale arréglate rápido, que fulano quiere bailar contigo! ...

439-... R. Já, já, já... ándale, y bueno también he realizado uno que otro proyecto de teatro

clásico y últimamente me he dedicado más a lo que es ...

440- ... las manos y se las ató, al igual que los pies, con un pedazo de plástico, al tiempo que

se dirigía a otro tipo apurándole: "ándale güey, ándale güey". ...

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441- ... Por eso se le advierte con una sentencia tan sencilla: "ándale pues, pedazo de

pendejo". ¿Por qué me acordé de mi viejo amigo, que seguramente con esta ...

442- ... "Ándale nalgocinto, aprovecha la viada y vota por mí" Arengaba la profe a uno que

otro legislador de figura esférica para que la designaran merecedora de ...

443- ¡Ándale!, hasta médico resulté, pero aparte de que de médico, poeta y loco, todos

tenemos un poco, más se puede dar un consejo que en lo personal me ha ...

444- ... ¡Ándale, ingenuotes! Ya para cerrar el siglo pasado e iniciar este, la historia se repitió

en Irak. Miles de años antes de que los estadounidenses llevaran ...

445- ... Ándale pues, madrina. El segundo consejo yasabenqué es primo hermano del primero

y nos invita a no sentirnos culpables por nada...

446- ... ¡Ándale Ximena!. ¡Párate Oscar Emilio!... ¡Vístete Valeria!... ¡No llores Jeshua

Daniel!. Ya estamos viendo a Ingrid y Magali correteando a los hijos. ...

447- ... calcular el presupuesto federal y, ¡ándale!, que baja el precio internacional del barril

de crudo respecto al que acordaron los legisladores. ¡Gulp! ...

448- ... -Ándale, así sí te creo; sí se llegara a autorizar la pena capital y el juicio sumario, se

desparasitaría el país en corto plazo; pero creo que para eso ...

449- ... La frase paranoica: "¡Revisa el condón, ándale!". La frase adolorida: "Sóplame que

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me arde".

450- ... ÁNDALE. LE DIERON CHICHARRÓN a un líder de la OPEZ... Pobrecito...

451- ... uno de los delincuentes se expresaba hacia ella de manera muy amable diciéndole

"ándale hija, por favor entréganos el dinero, así no saldrás lastimada". ...

452- ... "¡Ándale vieja, levántate y vete a trabajar!... ¡Yo te cuido los niños y te hago la

comida!... ¡Déjame el dinero para las tortillas!". ...

453- ... ¡Ándale pues!... LO DICHO. PLATICANDO SE ENTIENDE la gente...

454- ... Pero ándele, que por poco me voy para atrás cuando me cobraron mil 500 pesos",

contó. Apenas traía "lo suficiente para comerme un taco pero luego me ...

455- ... ¡Ándele! Ya está agarrando la onda... - ¿Y dónde está el negocio...? - Al final de cada

prueba, se invita a los peatones participantes a que ...

456- ... Más barato que el año pasado, ándele guerita, aquí le vendo calidad, prueba y

compruébalo. Estos son los gritos que se escuchan por los ...

457- ... "Ándele, ese sí era un ídolo auténtico del futbol mexicano. Yo era Chiva hasta las

cachas con todos ellos, Héctor Hernández, el "Jamaicón" ...

458- ... porque se definen de otra manera... ándele pues... en este caso particular, quién sabe si

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pueda haber dos diputados federales... ya que ...

459- ¡Ándele! Es gastar nuestro dinero en tonterías... Por ejemplo, algo bien urgente es

aumentar la producción de desayunos escolares, enseñar a las familias a ...

460- ... cuando lo ven aplastado le indica su chiquillo: " ándele, ahora a prender la lumbre y

luego luego las cebollitas cambray y los chiles para rellenar... ...

461- ... Ándele!...Y como la música es un arte dijo sentencioso que "el arte es la herramienta,

mientras los espíritus son los obreros". ...

462- ... Ándele..., un mini... Y me pasó algo increíble... Resulta que iba circulando por la

Mariano Escobedo, allá por donde está Soriana, ya ve que están montando ...

463- ... ¡Ándele...! Pos, ahí, que orita está vacío el local donde estaba el billar y que lo están

acondicionando para poner una pista de patinaje. ...

464 - ... El "no gracias" lo respondieron con un "ándele, sólo le cuesta 10 pesos, llévesela". El

"no" fue rotundo. No probé esas naranjas que hasta se miraban con ...

465- ... Ándele, tipo Pedro cuando negó a Jesús. Recibió favores El que no niega que recibió

favores de Winti es el coordinador de la bancada priísta ( porque ...

466- ... ¡Ándele pues, compadre...! ¡Salud...!

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467- ... que termina el 30 de este abril, ¡en mero Coatlán del Río, Morelos; si señor!; ándele,

váyase animando, quien quite y hasta se le despierte el antojo, ...

468- ... Ándele, tómese este te para que se le recoja la bilis... - ¿Te, compadre? ¡Uta! Ni

cuando me sentía inglés... ¡No chingue...! - Sí, compadre. ...

469- ... ¡Ándele, compadre...! - ¡Qué...! - Pues, podríamos pensar que... - Pero como nos

excedemos en todo lo dicho, entonces... - Debemos pensar lo contrario. ...

470- ... "Ándenle, gringos, ahora sí los pateamos", dijo alguien en medio de la euforia,

haciendo referencia al comentario virtual de un jugador ...

471- ¡Atínele ! Y por hoy es todo. Gracias por leerme.

472- ... salvo que se trate de la venta de la paraestatal, o bien de concesionar la extracción del

oro negro, y atínele usted, bajo qué bases. ...

473- ... sido estafados por un sujeto que se dedica a los juegos de azar en lo que se refiere a

"Atínele a la bolita", aspecto que dijeron es un total fraude. ...

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474- … dispuesto a defender mi honor con todas las balas de mi pistola. ¡Jíjole güera, dígame

usted si no soy un verdadero charro mexicano!