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Universidade Federal do Rio de Janeiro
CONSTRUCIONALIZAÇÃO/MUDANÇAS CONSTRUCIONAIS DE PORÉM,
CONTUDO E TODAVIA: UM ESTUDO PANCRÔNICO À LUZ DOS MODELOS
BASEADOS NO USO
Simone Silva de Oliveira
2018
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CONSTRUCIONALIZAÇÃO/MUDANÇAS CONSTRUCIONAIS DE
PORÉM, CONTUDO E TODAVIA: UM ESTUDO PANCRÔNICO À LUZ
DOS MODELOS BASEADOS NO USO
Simone Silva de Oliveira
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Linguística da Universidade Federal do
Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários para
a obtenção do título de Doutor em Linguística.
Orientadora: Profª. Doutora Maria Luiza Braga
Rio de Janeiro
Agosto de 2018
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CIP - Catalogação na Publicação
Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com osdados fornecidos pelo(a) autor(a).
S48cSilva de Oliveira, Simone CONSTRUCIONALIZAÇÃO/MUDANÇAS CONSTRUCIONAIS DEPORÉM, CONTUDO E TODAVIA: UM ESTUDO PANCRÔNICO À LUZDOS MODELOS BASEADOS NO USO / Simone Silva deOliveira. -- Rio de Janeiro, 2018. 202 f.
Orientador: Maria Luiza Braga. Tese (doutorado) - Universidade Federal do Riode Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de PósGraduação em Linguística, 2018.
1. Construcionalização/mudanças construcionais. 2.Conectores. 3. Modelos Baseados no Uso. I. Braga,Maria Luiza, orient. II. Título.
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CONSTRUCIONALILAÇÃO/MlJDANÇAS CONSTRIJCIONA IS Df· PORÉA.-1, CONTUDO E TODA / 'IA: Utvl LSTlJDO PANCRÔNJCO À LUZ DOS MODFLO~
8 /\Sl:ADOS NO USO
Simone Silva
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Àqueles que são a razão do meu viver: meus pais Jacira e José,
minha irmã Rejane
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela vida e pela Sua presença Misericordiosa em
cada segundo do meu viver.
Agradeço à minha querida orientadora Maria Luiza Braga, que acompanha, com grande
entusiasmo, a minha trajetória acadêmica e profissional, há quase vinte anos, pessoa ilustre, de
caráter e delicadeza incomparáveis, por quem tenho muita admiração, respeito e, sobretudo,
afeto. Sou extremamente grata, não só pelas suas valiosas discussões teóricas e ensinamentos,
mas também por toda a sua atenção, apoio, incentivo e amizade, durante uma orientação que
foi zelosa e incansável.
Sigo agradecendo a cada um dos professores, titulares e suplentes, que aceitaram o
convite para compor a banca da minha defesa de tese: à professora Conceição Paiva que, me
conhecendo desde quando eu era bolsista de Iniciação Científica, sempre esteve pronta para me
apoiar e me incentivar a fazer descobertas linguísticas. Neste momento da minha caminhada,
mais uma vez, lançou seu olhar atento e encorajador ao meu trabalho, quando, em especial,
integrou a banca do meu exame de Qualificação. Tenho certeza de que, agora, ao participar da
minha banca de doutoramento, suas críticas e comentários continuarão a enriquecer e, muito,
esta pesquisa.
Ao professor Ivo da Costa do Rosário, pessoa amiga e dadivosa, que tendo participado
da banca do meu exame de Qualificação, ofertou-me sugestões preciosas e teceu comentários
essenciais para este trabalho. Sou muito grata por ele ter se mostrado acessível em todos os
momentos, por sua simpatia e por suas palavras sempre tão atenciosas.
À professora Nilza Barrozo Dias, quem o tempo não apagou da minha memória suas
primeiras lições da 6ª série, enquanto eu era apenas uma criança que estudava no Colégio Pedro
II. Passados tantos anos, a vida trouxe-me novamente a oportunidade de estar diante dela, com
todo o seu grande carisma e gentileza para poder desfrutar de um novo aprendizado.
À professora Mônica Maria Rio Nobre, que me estimulou a fazer o Doutorado e desde,
então, me acompanhou nesta empreitada. Agradeço pelos longos anos de convivência, desde a
época da minha graduação, em que fui sua aluna no curso de Português III na UFRJ. Seu
exemplo de sabedoria, competência, dedicação e carinho me inspiram até hoje e me
impulsionam a buscar, cada vez mais, conhecimento e aprimoramento profissional.
À professora Christina Gomes, que sempre me acolheu de forma prestativa e amável,
desde a época em que eu trabalhava como bolsista de IC no PEUL/UFRJ. Juntamente com as
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outras professoras, a “Cris” era, em qualquer momento, uma referência para os meus estudos
sociolinguísticos, que continuaram a ser engrandecidos no Doutorado, com o seu curso de
Sociolinguística: teoria e descrição.
À professora Maria Lúcia Leitão, que aceitou o meu convite com muita alegria e
respeito. Durante a realização desta tese, o contato com a história da língua foi inevitável e
certamente, o meu interesse e a minha satisfação em poder estar lidando com este tema, sem
dúvida, vieram a partir das minhas aulas de Português IV da graduação, ministradas por ela.
Sinto-me grata pela presença de todos os professores e educadores que já passaram por
minha vida, da educação básica ao doutorado, os quais vêm me ajudando a forjar todo um
conhecimento ao longo de anos, de modo que eu pudesse chegar até aqui. Gostaria de
mencionar, em especial, Tia Deise, Irmã Evangelina, Sônia Moura, Luiz Palladino Netto, Vania
Lúcia Rodrigues Dutra, Lina Maria da Silva Menezes, Cezarina, Luiz Carlos Travaglia, Mario
Eduardo Martelotta, Ruth Monserrat, Helena Gryner e Charlote Emmerich.
Agradeço aos meus amados pais, meus primeiros educadores, com quem pude, desde
muito cedo, ter acesso aos livros. Eles são a base da minha existência, tudo o que sou hoje devo
a eles. Com presença doce, suave e constante e, sobretudo, com amor incondicional, enchem o
meu coração de alegria e confiança para seguir superando cada um dos obstáculos que a vida
me impõe.
Agradeço à minha irmã, também madrinha, pela sua presença amiga em minha vida, por
ter despertado em mim, desde sempre, o gosto pelos estudos, por ter me motivado a fazer Letras
e a seguir buscando crescimento profissional e ter sido exemplo de esforço e persistência para
alcançar os sonhos que busco nesta vida.
Agradeço a todos os meus tios e primos que, estando em diferentes partes deste nosso
Brasil, estiveram orando e torcendo por mim.
Agradeço ao meu esposo Denilton Paes, companheiro de todas as horas, que com grande
paciência, sabedoria e amor, soube, nos momentos mais difíceis, entender o meu cansaço e
idiossincrasias de doutoranda. Nesses quatro anos, mesmo quando sua saúde esteve em grande
risco, suas palavras e o seu olhar carinhoso foram alento e paz para o meu espírito. Enfim, sem
ele, não conseguiria ter chegado até aqui!
Agradeço a todos os meus amigos que, sempre me desejando o bem, estiveram
mandando boas energias, pensamentos e palavras de ânimo, na torcida para que eu obtivesse
sucesso em minha trajetória no doutorado. Em especial, minha eterna gratidão a Leandro da
Silva Gomes Cristóvão, um amigo-irmão de longa data, para todas as horas, de um coração
grandiosíssimo, com quem sempre compartilhei os bons e os maus momentos, para os quais,
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invariavelmente, ele tem um sorriso e uma palavra sincera e alvissareira e a Antônio Ferreira
da Silva Júnior, um amigo generoso, pessoa extraordinária, que está sempre disponível a ajudar,
compreensivo e de incansável solicitude.
A tantos amigos, pelo apoio e por toda a força que me deram nesta caminhada: André
Silva Bern, Jefferson Jima, Renato Vazquez, Aurea Pazos, Taís Bahia, Bianca Gentil, Ana
Beatriz Rocha de Carvalho, Ana Paula Lima, Aline D’Arc, Paula Mendonça, Suelen Mendes,
Inês Canéro, José Francisco de Miranda Marques, Nadia Maria Remanowski, Áurea Gonçalves,
Priscila e Lucila Coutinho, Isabella Rocha, Teresa e Sonia Brandini, Dona Lurdes, Osvaldo
Lima, Valter Leite, Rosemary Gomes Ferreira, João Medeiros, Maurillo Pereira, Rosana Souza
Lima, Maria Helena Azevedo, Dulci Nascimento, Déborah Belo Marques...
Sou muito grata também a todos os meus amigos da Escola Municipal Montese, em
especial, à Tâmara Bitencourt e à Cristiane Moraes, pela alegria de sempre, e por toda a
preocupação que tiveram comigo nesses últimos quatro anos, me honrando com suas palavras
de incentivo e gestos de verdadeiro apoio e compreensão.
Sinto-me muito grata, principalmente, por Deus ter colocado no meu caminho muitas
outras pessoas maravilhosas que puderam me ajudar imensamente durante essa caminhada e
que se tornaram meus amigos, companheiros, verdadeiros anjos da guarda, que me
proporcionaram encontros preciosíssimos! Cada um, à sua maneira, trouxe-me contribuições
valiosas, acadêmicas e de todas as outras esferas da vida, falo dos meus queridos parceiros da
UFRJ: Quézia Lopes, Priscila Thaiss da Conceição, Diego Leite de Oliveira, Cassiano Santos,
André Vieira, Manuela Oliveira, Bruno Araújo, Rubens Loiola e Eliaine Gomes.
Por fim, e de modo muito especial, gostaria de agradecer a todos os professores do
Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL/UFRJ), onde, em 1999, pude iniciar minha
trajetória de pesquisa linguística como bolsista de IC. A professora Nelize Pires de Omena foi
quem, generosamente, me deu essa oportunidade e a quem serei eternamente grata. Foi ela que
me apresentou e me proporcionou trocar experiências com outros professores que hoje são
verdadeiros ícones na área dos estudos linguísticos. Dessa forma, além de Maria Luiza,
Conceição, Christina e Helena, como já referenciadas, ofereço meus mais profundos votos de
agradecimento a Anthony Julius Naro, Maria Eugênia Lamoglia Duarte, Maria Marta Pereira
Scherre, Maria Cecilia Mollica e Vera Lúcia Paredes Silva.
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Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
Mario Quintana.
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Oliveira, Simone Silva de. Construcionalização/mudanças construcionais de porém, contudo e
todavia: um estudo pancrônico à luz dos Modelos Baseados no Uso. Rio de Janeiro: 2018. Tese
(Doutorado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Faculdade de Letras,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
RESUMO
Nesta tese, mediante um estudo pancrônico, à luz dos modelos baseados no uso, investigam-se
a construcionalização/mudanças construcionais de porém, contudo e todavia, com foco nos
fatores semântico-pragmáticos que podem ter motivado sua neoanálise, nos termos de Traugott
e Trousdale (2013). Segundo estes autores, primeiramente, ocorre uma sucessão de mudanças
na forma e no conteúdo, seguida por uma reorganização estrutural do material linguístico. Em
segundo lugar, há o consequente surgimento de um novo nó na rede, que leva a uma
reconfiguração do esquema ao qual a construção pertence. Nesse sentido, sabe-se também que
a esquematicidade, a produtividade e a composicionalidade da construção são afetadas pela
construcionalização, que, depois de consolidada, pode, ainda, alimentar novas mudanças
construcionais. Dessa forma, a pesquisa objetiva analisar as micromudanças que levaram à
mudança dos links e à criação ou ao apagamento de nós da rede construcional a que porém,
contudo e todavia estão vinculados. Para tanto, faço uma análise de diferentes textos do século
XIII ao século XXI, em que examino o contexto onde porém, contudo e todavia estão inseridos,
buscando semelhanças e diferenças em seus processos de construcionalização e de pós-
construcionalização. Ademais, investigo como esquematicidade, produtividade e
composicionalidade estão envolvidos nos vários estágios de mudança das referidas
microconstruções.
Palavras-chave: construcionalização/mudanças construcionais; rede construcional; Modelos
Baseados no Uso.
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Oliveira, Simone Silva de. Constructionalization/constructional changes of porém, contudo and
todavia: a panchronic study in light of the Usage-Based Models. Rio de Janeiro: 2018. Thesis
(Doctorate in Linguistics). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Faculdade de Letras,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
ABSTRACT
In this thesis, through a panchronic study, in the light of Usage-Based Models, the
constructionalization/constructional changes of, porém, contudo and todavia are investigated
with focus on the semantic-pragmatic factors that may have motivated its neoanalysis, in the
words of Traugott and Trousdale (2013). According to these authors, first, there is a gradual
accumulation of contextual constraints, followed by a structural reorganization of the linguistic
material. Second, there is the consequent emergence of a new node in the network, which leads
to a reconfiguration of the schema to which the construction belongs. In this sense, it is also
known that the schematicity, productivity and compositionality of the construction are affected
by the constructionalization, which, once consolidated, can also enable new constructional
changes. Thus, the research aims to analyze the micro-changes that led to the change of links
and the creation or deletion of nodes of the constructional network to which porém, contudo
and todavia are linked. To do so, I make an analysis of different texts from the thirteenth to the
twenty-first century, in which I examine the context where porém, contudo and todavia are
inserted, seeking similarities and differences in their processes of constructionalization and
post-constructionalization. In addition, I investigate how schematicity, productivity and
compositionality are involved in the various stages of change of the microconstructions.
Key words: constructionalization/constructional changes; constructional network; Usage-
Based Models.
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Posição de porém dentro da oração ao longo dos séculos XVI ao XXI 61
Gráfico 2: Formas de expressão dos sujeitos das orações com porém ao longo 63
dos séculos XVI ao XXI
Gráfico 3: Correferencialidade entre os sujeitos das orações com porém ao 67
longo dos séculos XVI ao XXI
Gráfico 4: A leitura que emerge da combinação das orações relacionadas por 69
porém ao longo dos séculos XVI ao XXI
Gráfico 5: Correlação modo-temporal das orações com porém ao longo dos 71
séculos XVI ao XXI
Gráfico 6: A polaridade nas orações com porém ao longo dos séculos XVI ao XXI. 73
Gráfico 7: Aspecto em relação às orações combinadas por porém ao longo dos 74
séculos XVI ao XXI
Gráfico 8: Uso de porém nos gêneros textuais ao longo dos séculos XVI ao XXI 75
Gráfico 9: Posição de contudo dentro da oração ao longo dos séculos XVII ao XXI 92
Gráfico 10: Formas de expressão dos sujeitos das orações com contudo ao longo 94
dos séculos XVII ao XXI
Gráfico 11: Correferencialidade entre os sujeitos das orações com contudo ao longo 95
dos séculos XVII ao XXI
Gráfico 12: Correlação modo-temporal das orações com contudo ao longo dos 97
séculos XVII ao XXI
Gráfico 13: A leitura que emerge da combinação das orações relacionadas por 100
contudo ao longo dos séculos XVII ao XXI
Gráfico 14: A polaridade nas orações com contudo ao longo dos séculos XVI ao 102
XXI
Gráfico 15: Aspecto em relação às orações combinadas por contudo ao longo dos 104
séculos XVI ao XXI
Gráfico 16: Uso de contudo nos gêneros textuais ao longo dos séculos XVI ao XXI 105
Gráfico 17: Posição de todavia dentro da oração ao longo dos séculos XIX ao XXI 124
x
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Gráfico 18: Formas de expressão dos sujeitos das orações com todavia ao longo 127
dos séculos XIX ao XXI
Gráfico 19: Correferencialidade entre os sujeitos das orações com todavia ao 128
longo dos séculos XVI ao XXI
Gráfico 20: Correlação modo-temporal das orações com todavia ao longo dos 130
séculos XIX ao XXI
Gráfico 21: A leitura que emerge da combinação das orações relacionadas por 133
todavia ao longo dos séculos XIX ao XXI
Gráfico 22: A polaridade nas orações com todavia ao longo dos séculos XIX ao 135
XXI
Gráfico 23: Aspecto em relação às orações combinadas por todavia ao longo dos 136
séculos XIX ao XXI
Gráfico 24: Uso de todavia nos gêneros dos séculos XVI ao XXI 137
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Posição de porém dentro da oração ao longo dos séculos XVI ao XXI 61
Tabela 2: Formas de expressão dos sujeitos das orações com porém ao longo 64
dos séculos XVI ao XXI
Tabela 3: Correferencialidade entre os sujeitos das orações com porém ao 67
longo dos séculos XVI ao XXI
Tabela 4: A leitura que emerge da combinação das orações relacionadas por 69
porém ao longo dos séculos XVI ao XXI
Tabela 5: Correlação modo-temporal das orações com porém ao longo dos 71
séculos XVI ao XXI
Tabela 6: A polaridade nas orações com porém ao longo dos séculos XVI ao XXI. 73
Tabela 7: Aspecto em relação às orações combinadas por porém ao longo dos 74
séculos XVI ao XXI
Tabela 8: Uso de porém nos gêneros textuais ao longo dos séculos XVI ao XXI 75
Tabela 9: Posição de contudo dentro da oração ao longo dos séculos XVII ao XXI 92
Tabela 10: Formas de expressão dos sujeitos das orações com contudo ao longo 94
xi
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dos séculos XVII ao XXI
Tabela 11: Correferencialidade entre os sujeitos das orações com contudo ao longo 96
dos séculos XVII ao XXI
Tabela 12: Correlação modo-temporal das orações com contudo ao longo dos 98
séculos XVII ao XXI
Tabela 13: A leitura que emerge da combinação das orações relacionadas por 100
contudo ao longo dos séculos XVII ao XXI
Tabela 14: A polaridade nas orações com contudo ao longo dos séculos XVI ao 102
XXI
Tabela 15: Aspecto em relação às orações combinadas por contudo ao longo dos 104
séculos XVI ao XXI
Tabela 16: Uso de contudo nos gêneros textuais ao longo dos séculos XVI ao XXI 105
Tabela 17: Posição de todavia dentro da oração ao longo dos séculos XIX ao XXI 124
Tabela 18: Formas de expressão dos sujeitos das orações com todavia ao longo 127
dos séculos XIX ao XXI
Tabela 19: Correferencialidade entre os sujeitos das orações com todavia ao 129
longo dos séculos XVI ao XXI
Tabela 20: Correlação modo-temporal das orações com todavia ao longo dos 131
séculos XIX ao XXI
Tabela 21: A leitura que emerge da combinação das orações relacionadas por 135
todavia ao longo dos séculos XIX ao XXI
Tabela 22: A polaridade nas orações com todavia ao longo dos séculos XIX ao 137
XXI
Tabela 23: Aspecto em relação às orações combinadas por todavia ao longo dos 137
séculos XIX ao XXI
Tabela 24: Uso de todavia nos gêneros dos séculos XVI ao XXI 138
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Dimensões da construção porém antes e após a construcionalização 18
Quadro 2: Dimensões da construção contudo antes e após a construcionalização 19
Quadro 3: dimensões da construção todavia antes e após a construcionalização 19
Quadro 4: Aspectos morfossintáticos, semânticos e gráficos de porém ao longo dos 55
séculos XIII ao XXI
Quadro 5: Fatores que alcançaram estabilidade, instabilidade ou que sofreram possíveis 76
mudanças após a construcionalização de porém
Quadro 6: Aspectos morfossintáticos, semânticos e gráficos de contudo ao longo dos 88
séculos XIV ao XXI
Quadro 7: Fatores que alcançaram estabilidade, instabilidade ou que sofreram 106
possíveis mudanças após a construcionalização de contudo
Quadro 8: Aspectos morfossintáticos, semânticos e gráficos de todavia ao longo 120
dos séculos XIII ao XXI
Quadro 9: Fatores que alcançaram estabilidade, instabilidade ou que sofreram 139
possíveis mudanças após a construcionalização de todavia
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo da estrutura simbólica de uma construção na Gramática 17
de Construção Radical
Figura 2: Gradiência das relações hierárquicas entre as construções 23
Figura 3: Gradiência das relações hierárquicas entre as construções porém, contudo e 24
todavia
Figura 4: Construcionalização de porém ao longo do tempo 59
Figura 5: Construcionalização de contudo ao longo do tempo 90
Figura 6: Construcionalização de todavia ao longo do tempo 122
Figura 7: Contextos específicos de uso de porém durante a construcionalização 144
Figura 8: Contextos específicos de uso de contudo durante a construcionalização 144
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Figura 9: Contextos específicos de uso de todavia durante a construcionalização 145
Figura 10: Representação da posição de porém dentro da oração através do tempo 146
Figura 11: Representação da posição de contudo dentro da oração através do tempo 146
Figura 12: Representação da posição de todavia dentro da oração através do tempo 147
Figura 13: Representação das formas de expressão do sujeito das orações com 148
porém ao longo do tempo
Figura 14: Representação das formas de expressão do sujeito das orações com 148
contudo ao longo do tempo
Figura 15: Representação das formas de expressão do sujeito das orações com 148
todavia ao longo do tempo
Figura 16: Representação da correferencialidade entre os sujeitos das orações com 149
porém ao longo do tempo
Figura 17: Representação da correferencialidade entre os sujeitos das orações com 149
contudo ao longo do tempo
Figura 18: Representação da correferencialidade entre os sujeitos das orações com 149
todavia ao longo do tempo
Figura 19: Representação da correlação modo -temporal das orações com porém, 150
contudo e todavia ao longo do tempo
Figura 20: Representação da leitura que emerge da combinação de orações 150
relacionadas por porém ao longo do tempo
Figura 21: Representação da leitura que emerge da combinação de orações 151
relacionadas por contudo ao longo do tempo
Figura 22: Representação da leitura que emerge da combinação de orações 151
relacionadas por todavia ao longo do tempo
Figura 23: Representação do uso de porém nos gêneros textuais ao longo tempo 152
Figura 24: Representação do uso de contudo nos gêneros textuais ao longo tempo 152
Figura 25: Representação do uso de todavia nos gêneros textuais ao longo tempo 153
Figura 26: Esquema das construções de contraste no século XVI 154
Figura 27: Esquema das construções de contraste no século XVII 155
Figura 28: Esquema das construções de contraste no século XIX 155
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LISTA DE ABREVIATURAS
anáf. – anáfora
corref. – correferencialidade
narrat. – narrativa
pré-constr. – pré-construcionalização
SN subst. – sintagma nominal substantival
suj. – sujeito
t. arg. – texto argumentativo
t. jorn. – texto jornalístico
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5
2.1. Os Modelos Baseados no Uso 5
2.2 O conceito de construção 14
2.3 Construcionalização/mudanças construcionais 17
2.4 Conjunções adversativas 28
2.5 O conceito de contraste 37
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 41
3.1 Análise baseada no uso 41
3.2 Os corpora 43
3.3. Procedimentos de coleta e análise de dados 46
CAPÍTULO 4 – PORÉM: CONSTRUCIONALIZAÇÃO E MUDANÇAS 49
CONSTRUCIONAIS
4.1. Construcionalização de porém 49
4.2. Mudanças construcionais após a construcionalização de porém 59
4.3 Porém: um conector prototípico? 77
CAPÍTULO 5 – CONTUDO: CONSTRUCIONALIZAÇÃO E MUDANÇAS 81
CONSTRUCIONAIS
5.1. Construcionalização de contudo 81
5.2. Mudanças construcionais após a construcionalização de contudo 91
5.3 Contudo: um conector prototípico? 107
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CAPÍTULO 6 – TODAVIA: CONSTRUCIONALIZAÇÃO E MUDANÇAS 111
CONSTRUCIONAIS
6.1. Construcionalização de todavia 111
6.2. Mudanças construcionais após a construcionalização de todavia 122
6.3 Todavia: um conector prototípico? 140
CAPÍTULO 7 – A REDE DE CONECTORES CONTRASTIVOS 143
7.1 O papel do contexto no desenvolvimento das construções porém, contudo e todavia 143
7.2 Esquematicidade, produtividade e composicionalidade em foco 153
CAPÍTULO 8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 157
CAPÍTULO 9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 160
ANEXO 1 165
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Capítulo 1 _______________________________
Introdução
Ao longo da história do pensamento ocidental, a natureza da linguagem humana tem
suscitado inúmeras reflexões de pensadores e estudiosos, os quais, por sua vez, adotam
diferentes perspectivas sobre a questão da linguagem e a sua relação com as línguas naturais.
Apesar da existência de distintas abordagens, nesta tese, baseio a minha discussão no
princípio de que as habilidades linguísticas humanas estão intimamente relacionadas às
habilidades cognitivas gerais. Essa interação, na verdade, possui um grande papel, não só na
mudança linguística, mas também na aquisição e no uso da língua.
Por conseguinte, a linguagem é caracterizada como um grande complexo comunicativo
que integra também atividades cognitivas e sociais fortemente ligadas a outros aspectos da
psicologia humana. Tal visão é representada por um grupo de teóricos que a denominam de
linguística funcional baseada no uso, que tem como preceito fundamental a ideia de que a
estrutura linguística emerge do uso linguístico (LANGACKER, 1987; GOLDBERG, 1995,
2006; GIVÓN, 1995; BYBEE, 1985, 1995, 2002; TOMASELLO, 1998, 2003 E BARLOW E
KEMMER, 2000).
Em especial, Tomasello (2003) defende que a gramática emerge quando os falantes de
uma língua criam construções linguísticas a partir de sequências recorrentes de símbolos, pois
para ele, a essência da linguagem é a sua dimensão simbólica. A esse respeito, ele afirma:
“quando os seres humanos usam símbolos para se comunicar uns com os outros, unindo-os em
sequências, surgem padrões de uso que se consolidam em construções gramaticais.”1
As reflexões feitas nos parágrafos anteriores, portanto, serão fundamentais para se
discutirem as questões que serão expostas ao longo desta tese e que se encontram, a seguir,
descritas.
Estudos anteriores (SILVA, 2010, ROCHA, 2006) já mostraram que as formas porém,
contudo e todavia, tradicionalmente classificadas pela maioria das gramáticas normativas do
português como conjunções adversativas, passaram por um processo de gramaticalização.
Embora a categorização das referidas formas seja discutível — uma vez que, com exceção de
1 “when human beings use symbols to communicate with one another, stringing them together into sequences, patterns of use emerge and become consolidated into grammatical constructions.” (Tomasello, 2003, p. 5)
1
-
mas, que é a conjunção prototípica, os elementos anteriormente mencionados não têm um
comportamento sintático prototípico de conjunções — considera-se que todas, de alguma
forma, se tornaram mais gramaticais desde suas origens medievais até hoje.
A maioria dos trabalhos, como o de BARRETO (1999), afirma que a motivação para a
gramaticalização dos itens em pauta foi metonímica, por influência da presença de elementos
de sentido negativo em posição adjacente à deles, no português medieval.
Apesar de porém, contudo e todavia serem vistos como elementos gramaticalizados que
assumiram status de conjunção, NEVES (2000), em sua Gramática de usos do português, os
chama de advérbios juntivos de valor anafórico por ocorrerem numa oração ou sintagma,
referindo-se a alguma porção da oração ou do sintagma anterior, indicando contraste. Os
exemplos abaixo, extraídos de NEVES (2000) ilustram tal situação:
• Muito áspera foi e está sendo a jornada que vivemos a partir de 1964. Os resultados alcançados são, PORÉM, indiscutivelmente, positivos, marcantes mesmo.
• Pelo menos teríamos um final de temporada com o estádio bem mais animado. CONTUDO, isto dificilmente ocorrerá.
• O espiritismo define-se então como religião, ciência e filosofia. Será TODAVIA tratado aqui como religião.
Neves (2000, p 241).
Como se pode observar, diferentemente do conector mas, as formas porém, contudo e
todavia, por vezes, não ocupam a posição inicial das orações como ocorre com os conectores
prototípicos. Apesar de já terem sido discutidos na literatura linguística, esses elementos não
recebem um tratamento consensual entre os estudiosos.
Além disso, cabe salientar que, embora os estudos sobre a gramaticalização já tenham
contribuído notadamente para entendermos a formação de novos itens gramaticais na língua,
em especial, os conectores em língua portuguesa (cf. MARTELOTTA et al, 1996; BRAGA,
2000, 2003; PAIVA, 2001; SILVA E SILVA, 2001; SILVA, 2010), eu adoto, para o presente
estudo, uma nova abordagem teórica, que leva em conta a inserção dos elementos na rede
linguística e também a atuação de fatores como a esquematicidade, a produtividade e a
composicionalidade.
Na tentativa, portanto, de investigar a fluidez categorial de porém, contudo e todavia,
este trabalho tem como objetivo principal apresentar um estudo sobre essas construções,
baseado no modelo da construcionalização/mudança construcional apresentado por Traugott e
2
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Trousdale (2013), procurando analisar as micromudanças que levaram à mudança dos links e à
criação ou ao apagamento de nós da rede construcional.
Para tanto, será feito um estudo pancrônico de diferentes textos do século XIII ao século
XXI, disponíveis em bases de dados online de conceituadas universidades, bem como
hemerotecas virtuais e livros em formato .pdf, todos listados na seção Procedimentos
Metodológicos deste trabalho.
A hipótese central é que porém, contudo e todavia vêm sofrendo um processo de
construcionalização. É possível que a origem de porém, contudo e todavia seja reconhecida, a
partir da análise das mudanças graduais em cada micropasso, desde os primeiros contextos
linguísticos que propiciaram o surgimento dessas construções até os seus usos como conectores
que exprimem contraste.
Será aplicada, aqui, a linha teórico-metodológica da Linguística Funcional Centrada no
Uso (BARLOW E KEMMER 2000; BYBEE, 2010; TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013), que
incorpora alguns dos pressupostos da Linguística Funcionalista norte-americana e da
Linguística Cognitiva, em especial, a Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995; CROFT,
2001).
Considerando as reflexões acima apresentadas, pretendo responder a uma série de
questionamentos, os quais estão elencados abaixo:
1) Que processos e mecanismos propiciaram a construcionalização de porém, contudo
e todavia?
2) Após a construcionalização, porém, contudo e todavia estão sofrendo alguma
mudança construcional?
3) Qual a categorização mais adequada de porém, contudo e todavia?
4) Porém, contudo e todavia sofreram as mesmas mudanças construcionais?
5) Que restrições explicam o uso das construções porém, contudo e todavia?
É levando em conta os questionamentos acima apresentados, que proponho uma análise
pancrônica, à luz dos pressupostos teóricos que serão delineados no próximo capítulo deste
trabalho, o qual está organizado da seguinte forma: no segundo capítulo, são discutidos alguns
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pressupostos e princípios centrais do quadro teórico em que o presente estudo está alicerçado.
No terceiro capítulo, são apresentados os procedimentos metodológicos da pesquisa. No quarto,
encontram-se a descrição e a análise dos resultados para porém; no quinto, para contudo; no
sexto, para todavia. No sétimo capítulo, há uma discussão sobre a rede dos conectores que
exprimem contraste e no capítulo seguinte, são apresentadas as considerações finais do trabalho.
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Capítulo 2 _______________________________
Fundamentação teórica
Neste capítulo, são expostos os pressupostos teóricos que norteiam esta pesquisa.
Primeiramente, no item 2.1, discorre-se a respeito da abordagem baseada no uso. O item 2.2
trata de estabelecer o conceito do termo construção. Em 2.3, disserta-se sobre o modelo da
construcionalização/mudança construcional. Na seção seguinte, há um exame sobre os
elementos considerados como conjunções adversativas do português e por fim, no item 2.5, há
uma explanação do que se entende sobre o conceito de contraste trabalhado na presente tese.
2.1. Os modelos baseados no uso
Para os modelos baseados no uso, a gramática é vista como a representação cognitiva
da experiência dos indivíduos com a língua. Essa abordagem teórica dialoga com a Linguística
Cognitiva e com a Gramática de Construções. Além disso, busca verificar os processos de
domínio geral que criam as estruturas linguísticas e situam a língua num contexto mais amplo
do comportamento humano, isto é, esses processos são chamados de domínio geral porque não
são exclusivos da linguagem e estão presentes em outras habilidades que o ser humano possui,
como a visão e o pensamento abstrato.
Na linguagem, eles têm importante papel em fenômenos de variação, mudança e
estabilidade das construções. Os processos de domínio geral apresentados por Bybee (2010, p.
7-8) são:
(1) categorização – aqui, a autora refere-se à correspondência que ocorre quando
palavras, frases e seus componentes são reconhecidos e associados a representações
armazenadas. As categorias resultantes disso são a base do sistema linguístico, sejam elas
fonemas, morfemas, palavras, frases ou construções. Para Bybee, esse processo é de domínio
geral, no sentido de que as categorias perceptuais de vários tipos são criadas a partir da
experiência, independentemente da língua. Além disso, é o mais central, uma vez que ele
interage com os demais.
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(2) chunking – diz respeito ao processo pelo qual sequências de unidades são usadas
juntas para formar unidades mais complexas. Na língua, esse é um processo básico para a
formação de unidades sequenciais, expressas como construções, constituintes e expressões
formulaicas. Nesse sentido, sequências repetidas de palavras ou morfemas são estocadas em
conjunto na cognição de modo que podem ser acessadas como uma única unidade. A interação
do chunking com a categorização resulta em sequências convencionais que variam em graus de
analisabilidade e composicionalidade2. Como um processo de domínio geral, o chunking ajuda
a explicar o motivo pelo qual as pessoas, com a prática, desempenham melhor as tarefas
cognitivas e neuromotoras.
Por exemplo, porém, contudo e todavia ilustram bem o caso de chunking, pelo fato de
terem sofrido alterações no seu significado e na sua forma. Essas construções, ao longo do
tempo, perderam o seu sentido original — no caso de porém, sentido conclusivo-explicativo:
“por essa razão”; no caso de contudo, sentido fórico: “com todas essas/as coisas” e, todavia,
sentido espacial: “em todo o caminho” — para ganharem um sentido adversativo, o qual não
pode ser depreendido quando analisado o significado de suas partes. Além disso, essas
construções também passaram por modificações em sua forma, as quais podem ser explicadas
conforme o esquema abaixo, onde se observa a mudança da configuração morfossintática de
preposição e nome; preposição e pronome, e determinante e nome para conector,
respectivamente.
por ende = Prep + N > porém = conector
con todo = Prep + Pro > contudo = conector
toda via = Det + N > todavia = conector
(3) armazenamento mnemônico rico (rich memory) – tem a ver com o armazenamento
que se faz na memória dos detalhes da experiência que se tem com a língua, incluem-se aqui
detalhes fonéticos, contextos de uso, significados e inferências. Bybee afirma que a
categorização é o processo pelo qual essa memória é mapeada em representações existentes. A
memória linguística é representada em exemplares, os quais são construídos a partir de
ocorrências (tokens). Cada experiência com a língua tem um impacto nas representações
cognitivas.
2 Nesta tese, trabalho com o conceito de composicionalidade de Traugott e Trousdale (2013), que não separam o parâmetro de analisabilidade e composicionalidade. A visão de que estes devem ser considerados como dois
parâmetros independentes pode ser observada em Bybee (2010).
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(4) analogia – diz-se do processo pelo qual enunciados novos são criados com base em
enunciados anteriores. Para Bybee, a analogia também depende da categorização, já que partes
das ocorrências anteriores devem ser analisadas em unidades que são alinhadas e categorizadas
antes que novos enunciados possam ser formados. Como processo de domínio geral, a analogia
tem sido estudada em termos de estruturas relacionais em estímulos visuais, como cenas, formas
e cores.
(5) associação transmodal – é a habilidade que propicia o link entre o significado e a
forma. Ellis (1996 apud BYBEE, 2010, p. 8) discute esse princípio mais básico, pelo qual as
experiências coocorrentes tendem a ser cognitivamente associadas (Lei da Contiguidade, de
James, 1950/1980).
Além disso, o conceito de rede desempenha um papel significativo dentro dos modelos
baseados no uso. Ele tem importância fundamental na linguística cognitiva, devido à ideia de
que a organização da língua não é intrinsecamente diferente da organização de outros aspectos
da cognição. Segundo Bybee (2010 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013, p. 50):
a padronização da língua faz parte da nossa capacidade de domínio-
geral para categorizar, estabelecer relações e operar em ambos os
níveis, local e global, isto é, dentro dessa perspectiva, o conhecimento
da língua faz parte de um sistema de conhecimento maior, que inclui
outras habilidades cognitivas.
Para Langacker (2008 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013, p.50), a língua é “um
inventário estruturado de unidades linguísticas convencionais. Esta estrutura – a organização
de unidades em rede – está intimamente relacionada ao uso linguístico, formatando-o e sendo
formatada por ele.”
Segundo Barlow e Kemmer (2000), as tendências mais dominantes em linguística, nas
últimas gerações, têm focalizado a língua como um sistema mais ou menos fixo, o qual pode
ser estudado independentemente do contexto e uso e independentemente das suas interações
com outros aspectos da cognição.
Por outro lado, os mesmos linguistas apontam que há, pelo menos, duas tradições
principais que antecedem os enfoques atualmente concebidos como modelos baseados no uso:
a tradição Firthiana, que enfatiza a importância do contexto, incluindo seus aspectos sociais; e
a linguística enunciativa, que defende a ideia de que as teorias da estrutura linguística sejam
baseadas nos atos de fala. Segundo os referidos estudiosos, os modelos baseados no uso
compartilham uma série de características as quais serão discutidas a seguir.
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No que diz respeito à íntima relação entre as estruturas linguísticas e o uso da língua,
Barlow e Kemmer (2000) afirmam que o termo “estrutura linguística” é ambíguo, ou seja, ele
pode se referir a estruturas hipotéticas derivadas pelo analista a partir da observação de dados
linguísticos, sem nenhuma expectativa de que tais estruturas sejam cognitivamente instanciadas
(o sistema linguístico externo), ou alternativamente, a estruturas postuladas pelo analista como
uma afirmação decorrente de operações e estruturas mentais (o sistema linguístico interno).
Um modelo baseado no uso sustenta que o sistema linguístico do falante é
fundamentalmente baseado em eventos de uso: instâncias de produção e compreensão
linguísticas de um falante. “Fundamentalmente baseado em”, significa que as representações
linguísticas estão intimamente ligadas aos eventos de uso de três maneiras. Primeiro, esses
casos são a base a partir da qual o sistema linguístico de um falante é formado, ou seja, são
experiências a partir das quais o próprio sistema é inicialmente abstraído.
Segundo, a relação entre as representações mais abstratas na gramática do falante e os
eventos de uso experimentados por ele é muito mais direta do que normalmente é assumido.
Barlow e Kemmer ressaltam, ainda, que as representações gerais que emergem a partir da
operação do sistema, necessariamente, estão ligadas a exemplos específicos desses padrões e
que as unidades da língua não são fixas, mas dinâmicas, sujeitas à extensão criativa e à
reformulação com o uso.
Em terceiro lugar, as produções linguísticas não são apenas produtos do sistema
linguístico do falante, mas também fornecem uma entrada para o sistema de outros falantes,
não só na aquisição inicial, mas no uso da língua por toda a vida. Assim, entendem que os
eventos de uso desempenham um duplo papel no sistema: ambos resultam do, e também
formam o próprio sistema linguístico em uma espécie de retroalimentação (feedback).
Outro ponto destacado pelos referidos autores é que a frequência de ocorrências é um
fator primordial na estrutura e funcionamento do sistema. A frequência teria um papel
indispensável em qualquer explicação da língua, uma vez que a frequência de um padrão de
uso particular é, além de um resultado, uma força de formação de um sistema.
A maior frequência de uma unidade ou modelo resulta em um grau maior daquilo que
Langacker chama de “enraizamento” (entrenchment), ou seja, a rotinização cognitiva, que afeta
o processamento da unidade. O papel da frequência para o enraizamento de unidades no sistema
linguístico é um aspecto crucial dos modelos de Langacker e Bybee.
Um outro pressuposto assumido é o de que a compreensão e a produção são parte
integrante, ao invés de periférica, do sistema linguístico. Como os eventos de uso levam à
formação e ao funcionamento do sistema linguístico interno, a estrutura desse sistema não é
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separada, de forma alguma, dos (cumulativos) atos de processamento mental que ocorrem no
uso da língua. A habilidade linguística do falante é, de fato, constituída por regularidades no
processamento mental e na produção da linguagem.
Os modelos baseados no uso focalizam o papel da aprendizagem e da experiência na
aquisição da linguagem e reconhecem que produção e compreensão linguísticas são de
importância central para a estrutura do sistema linguístico e devem ser entendidas como
especialmente significativas para a aquisição da linguagem.
Para muitos cientistas cognitivos, é óbvio que a aprendizagem é um ponto central para
a aquisição da linguagem. Muitos linguistas, entretanto, poderiam colocar isso em dúvida. Na
história recente da linguística, a aquisição da linguagem pela criança é colocada como o
problema fundamental a ser explicado e a solução oferecida tem sido admitir a existência de
estruturas linguísticas inatas específicas.
Dentro da perspectiva dos modelos baseados no uso, porém, existem pesquisas que
mostram como os primeiros enunciados das crianças são baseados em itens lexicais específicos,
notavelmente, verbos. Outra linha de pesquisadores focaliza como as crianças aprendem
padrões linguísticos baseados nas suas experiências de rotina social e com o seu próprio corpo,
conforme referenciado por Barlow e Kemmer (2000).
Em relação às representações linguísticas, estas são vistas como emergentes, ao invés
de armazenadas como entidades fixas. As unidades linguísticas são, aqui, entendidas como
rotinas cognitivas, ou seja, padrões recorrentes de ativação mental. Quando nenhum
processamento está ocorrendo, a informação representada por essas unidades simplesmente
reside em padrões de conectividade resultantes de ativações anteriores.
Para os modelos baseados no uso, existe uma grande importância dos dados de uso na
construção e descrição teóricas. Dentro dessa abordagem, as teorias da linguagem devem ser
fundamentadas na observação dos dados de usos reais da língua, visto que o sistema linguístico
é tão intimamente ligado ao uso. Dessa forma, uma teoria baseada no uso deve considerar que
o objeto principal de estudo é a língua que as pessoas realmente produzem e compreendem.
Em um modelo de cunho cognitivo, como este sobre o qual se discorre, o uso, a variação
sincrônica e a mudança diacrônica possuem uma íntima relação. As variantes linguísticas
podem ser entendidas como alternativas licenciadas pela rede em que as estruturas da língua se
organizam. A seleção pela ativação de uma dada variante enraizada é governada por um
complexo conjunto de fatores motivacionais, incluindo tanto fatores internos, quanto fatores
contextuais relativos à situação comunicativa.
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O uso linguístico é visto como o lugar onde a mudança ocorre. Os efeitos de uso do
sistema da língua certamente mostram que a língua dos falantes é influenciada pelas produções
que eles ouvem em determinadas comunidades de fala dos quais são membros. Tudo isso
motiva o surgimento de variantes e influencia a frequência de uso dessas, o que mais tarde pode
vir a gerar um novo padrão na língua. Mudança e variação linguísticas são vistas, portanto,
como reflexos da dinamicidade da linguagem.
De acordo com os modelos baseados no uso, há a interconectividade entre o sistema
linguístico e os sistemas cognitivos não linguísticos. A estrutura linguística é um subconjunto
da estrutura conceptual. Os modelos cognitivos e culturais são vistos como quadros de
compreensão do significado das expressões linguísticas. Esses modelos são sistemas coerentes
de conhecimento dos vários graus de complexidade, desde esquemas mais simples até os mais
complexos, como aqueles que envolvem modelos mais específicos, extraídos da experiência
social e cultural.
Segundo os modelos baseados no uso, o contexto, na operação do sistema linguístico,
possui um papel crucial. Os padrões linguísticos e não linguísticos são processados e aprendidos
de forma integrada. Todos os aspectos da língua, da fonética à semântica, estão abertos à
influência dos contextos linguístico e não linguístico. Há sempre uma interação complexa entre
as representações cognitivas e os fatores contextuais na situação imediata de uso.
A língua não detém ou "transmite" um significado em si; simplesmente, fornece pistas
para a construção do significado no contexto. Quando uma conceituação ocorre em uma
instância específica de uso da língua, ela é evocada pelas formas linguísticas utilizadas, mas é,
necessariamente, muito mais rica do que qualquer informação associada, especificamente, com
aquelas formas, tais informações são apenas uma abstração da experiência, ou do uso das
formas.
Em síntese, tem-se, aqui, as características fundamentais de uma concepção
fundamentalmente baseada no uso da língua; seu estudo, conforme ilustrado acima, poderá
dizer muito sobre a forma como a linguagem humana funciona.
Com efeito, a abordagem baseada no uso considera a linguagem como um sistema capaz
de se auto-organizar e a gramática, no que diz respeito tanto à morfossintaxe, quanto à
fonologia, como emergente desse sistema. A linguagem possui mecanismos que operam sempre
quando a língua está sendo usada, tais como a habilidade para categorizar informações da
experiência e de fazer inferências. Por isso, essa abordagem está tão preocupada com os fatores
semânticos, pragmáticos, discursivos e, principalmente, cognitivos, ou seja, com a experiência,
a compreensão e o armazenamento de memória.
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O referido modelo teórico rejeita a autonomia da sintaxe, incorpora a semântica e a
pragmática às análises linguísticas, assume a não distinção estrita entre o léxico e a sintaxe,
busca a íntima relação entre a estrutura das línguas e o uso que os falantes fazem delas nos
contextos reais de interlocução. Assim, esse quadro teórico entende que se deve analisar os
dados linguísticos, sejam de fala ou escrita, provenientes de enunciados que ocorrem em
contextos efetivos de comunicação, inseridos no discurso natural, abstendo-se de investigar
frases inventadas, isto é, apartadas de sua verdadeira função durante a interação.
Tendo em vista que os modelos baseados no uso não reconhecem uma rígida distinção
entre léxico e sintaxe, o paradigma denominado Gramática de Construções vem propor, em seu
lugar, um continuum de construções, onde as expressões linguísticas, desde as mais simples até
as mais complexas, constituem unidades simbólicas baseadas em correspondências entre forma
e significado (cf. FERRARI, 2016).
A gênese de uma gramática de construções ocorre nos finais da década de oitenta, em
Berkeley, quando Fillmore cunha o termo Gramática de Construções (cf. TRAUGOTT E
TROUSDALE, 2013), cujo objetivo é fornecer uma abordagem capaz de explicar os fenômenos
regulares da língua, a partir da explicação das construções irregulares, admitindo o fato de que,
estabelecidos os princípios norteadores dessas irregularidades, os mesmos explicariam os
fenômenos regulares.
Segundo Ferrari (2016), esse paradigma teórico é inaugurado com o trabalho de
Fillmore, Kay e O’Connor (1988). Neste estudo, os autores estabelecem uma tipologia de
expressões idiomáticas; para tanto, argumentam que construções gramaticais complexas têm as
mesmas propriedades semânticas e pragmáticas que os itens lexicais. Destacam-se aí os estudos
sobre expressões idiossincráticas e idiomatismos3, tais como let alone (Fillmore, Kay, e
O’Connor , 1988 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 3) e what’s X doing Y, por
exemplo, What’s this fly doing in my soup? (Kay e Fillmore 1999 apud TRAUGOTT E
TROUSDALE, 2013 p. 3)
Outra vertente da Gramática de Construções, apontada por Traugott e Trousdale (2013)
é a Gramática de Construções Baseada no Signo, cujo objetivo principal é formalizar uma
abordagem que possa dar conta de identificar propriedades universais da língua, inclusive a
questão da recursividade que tem recebido pouca atenção entre aqueles que trabalham com o
modelo da gramática de construções.
3 No original: idioms.
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Sua consideração básica é a de que a língua é um sistema baseado em signos, retomando,
assim, o modelo Saussureano que considera a língua como um sistema de signos formados pela
união de um significante e de um significado, noção que estende para construções complexas.
Porém, aqui, o signo abarca a estrutura fonológica, a forma (morfológica), a categoria sintática,
a semântica e os fatores contextuais, tais como a estrutura da informação.
Traugott e Trousdale, (2013) citam, ainda, a Gramática de Construções Cognitiva cujas
principais referências são os trabalhos de Lakoff (1987) e Goldberg (1995, 2006). Esta última
estudiosa concentra suas análises em algumas construções do inglês, tais como as construções
bitransitivas (como em I gave/baked John a cake) e a construção de movimento causado (por
exemplo, Frank sneezed the napkin off the table) (cf. TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013). A
autora defende que as próprias construções têm significado, independentemente das palavras
que as constituem. Para ela, as construções da língua são pareamentos entre forma e significado
e, sendo assim, os atributos semânticos de cada estrutura linguística ganham grande destaque.
Vale lembrar também que Goldberg afirma que as construções podem ser de qualquer tamanho,
desde orações complexas a afixos flexionais e sugere, ainda, que a totalidade do nosso
conhecimento sobre a língua é capturada por uma rede de construções.
A Gramática de Construções Radical é outra que compõem o quadro das gramáticas de
construções e foi proposta por Croft (2001). Segundo Traugott e Trousdale (2013), esta
abordagem preocupa-se com a relação entre a descrição gramatical e a tipologia linguística.
Assim como Goldberg, Croft assume que construções são pareamentos convencionais de forma
e significado, estando a forma ligada às propriedades fonológicas, morfológicas e sintáticas, e
o significado, às propriedades semânticas, pragmáticas e discursivo-funcionais.
Ainda no rol dos modelos teóricos em Gramática de Construções, Traugott e Trousdale
(2013) mencionam a Gramática Cognitiva, que tem como referência os trabalhos de Langacker
(1987, 1991, 2005). O referido autor (2009 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 7)
rejeita a noção de um componente sintático da gramática e concebe o signo linguístico como
uma ligação entre a estrutura semântica e a fonológica.
A ausência da sintaxe nesse modelo o distingue de todos os outros anteriormente citados
(Fillmore, Croft e Goldberg). Langacker ressalta a habilidade dos usuários da língua em
construírem uma mesma situação a partir de maneiras alternativas, de modo que ele ressalta
que estão aí envolvidos conceitos tais como perspectiva, ponto de vantagem e direção de
escaneamento mental4 (TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 7).
4 “Construal involves perspective, specifically vantage-point and direction of mental scanning...” Langacker
(2009 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 7)
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Feitas essas considerações, é importante entender o rótulo de Gramática de Construções
Baseada no Uso. Importa saber, como bem explica Diessel (2015), que, nesta abordagem, a
gramática é vista como um sistema auto organizado de categorias emergentes e construções
fluidas, que, em princípio, estão sempre mudando, sob a influência de processos cognitivos de
domínio geral envolvidos no uso linguístico, tais como a analogia, a categorização e a
automatização (ou chunking).
Ainda segundo o referido autor, há dois princípios básicos que fundamentam a análise
da estrutura linguística nessa abordagem. Em primeiro lugar, a estrutura linguística é composta
por signos, isto é, construções e, em segundo lugar, as construções estão ligadas entre si por
vários tipos de links, criando um intrincado sistema de elementos interconectados que pode ser
caracterizado como uma rede dinâmica.
Ele ressalta também que, na visão da linguística gerativa, a gramática e o léxico são dois
componentes estritamente distintos (módulos), mas no modelo da Gramática de Construções
Baseada no Uso, a divisão entre léxico e gramática é abandonada em favor de um modelo de
rede no qual todos os elementos linguísticos estão potencialmente conectados uns com os
outros. A esse respeito, Diessel (2015, p. 302) afirma:
modelos de rede têm uma longa tradição na ciência cognitiva. Existem
muitos tipos diferentes de modelos de rede - alguns teóricos, alguns
computacionais - que variam em relação a uma ampla gama de
parâmetros; mas o que todos os modelos de rede têm em comum é que
eles são projetados para "processar" dados e "aprender" da experiência
através do processamento de dados. Modelos de rede são, portanto,
modelos baseados em uso por definição.
O autor salienta que, tradicionalmente, a noção de signo é reservada para expressões
lexicais, mas na linguística cognitiva, este conceito estendeu-se a entidades gramaticais,
notadamente as construções. Uma construção é como uma unidade gramatical na qual um
padrão estrutural particular é associado a uma função ou significado específico.
Como declara Diessel (2015, p. 298), sem dúvida, a Gramática de Construções
desempenhou um importante papel no desenvolvimento da abordagem baseada no uso. De fato,
na literatura, a Gramática de Construções é frequentemente descrita como parte integrante da
abordagem baseada no uso para o estudo da gramática (BYBEE, 2010; GOLDBERG, 2006;
HILPERT, 2014; LANGACKER, 2008; TOMASELLO, 2003); mas a noção de Gramática de
Construções refere-se a toda uma família de teorias que não necessariamente são consideradas
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como baseadas no uso. De fato, uma das primeiras e mais influentes teorias baseadas na noção
de construção, desenvolvida por FILLMORE E KAY (1999), adota a divisão gerativa entre
competência e desempenho e desconsidera o uso linguístico.
Outras variedades da Gramática de Construções, como as já referidas Gramática
Cognitiva (LANGACKER, 2008) e Gramática Radical da Construção (CROFT, 2001), adotam
uma perspectiva dinâmica e já deram importantes contribuições à abordagem baseada no uso
(BYBEE, 2010; GOLDBERG 2006; TOMASELLO 2003).
A maioria das teorias gramaticais pressupõe um conjunto de categorias sintáticas
anteriores à sua própria análise; mas na abordagem baseada no uso, categorias sintáticas são
emergentes da experiência dos usuários da língua com as construções.
2.2. O conceito de construção
Embora utilizado por vários pesquisadores, o termo construção não tem um significado
unânime. Por esse motivo, pretende-se, aqui, mostrar algumas das diferentes definições de
construção, a fim de se esclarecer o sentido com que esse termo é empregado nesta tese. Para
tanto, será feita, inicialmente, uma apresentação dos conceitos estabelecidos por alguns autores.
Em seu livro A Construction Grammar Approach to Argument Structure, Goldberg
(1995) considera que construções sejam as unidades básicas da língua. Ela afirma que os
sintagmas são considerados construções se algo sobre a sua forma ou o seu significado não
advém inteiramente das propriedades das partes dos seus componentes, ou não decorre de outras
construções. Portanto, para a referida autora, uma construção pertence à gramática se o seu
significado e/ou sua forma não é composicionalmente derivado de outras construções existentes
na língua. Para ilustrar, Goldberg cita os morfemas como sendo exemplos claros de construções
que configuram pareamentos de significado e forma, os quais não podem ser previsivelmente
derivados de qualquer outra construção. Além disso, ela reconhece que esse tipo de definição
tem como consequência o fato de que o léxico não seja exatamente diferenciado do resto da
gramática.
Em Construction at Work, Goldberg (2006) explica que construções são pareamentos
entre forma e função e que todos os níveis de análise gramatical envolvem construções, isto é,
pareamentos aprendidos de forma com função semântica ou discursiva, incluindo morfemas,
palavras e expressões idiomáticas, por exemplo. Para a autora:
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qualquer padrão linguístico é considerado como uma construção desde que
algum aspecto de sua forma ou função não seja estritamente previsível a partir
das partes que o compõem ou a partir de outras construções reconhecidamente
existentes. Além disso, padrões são armazenados como construções, mesmo
os totalmente previsíveis, desde que ocorram de forma suficientemente
frequente. (GOLDBERG, 2006, p.5)
A autora ainda argumenta que “a descrição das ricas restrições semântico/pragmáticas
e complexas restrições formais sobre os padrões (lexicais) se estende facilmente sobre padrões
mais gerais, simples e regulares.” (GOLDBERG, 2006, p. 5). Em outras palavras, não há uma
separação nítida entre o léxico, possuidor de rica semântica, e a sintaxe, de semântica limitada,
mas sim uma sintaxe que, na verdade, não difere muito do léxico em termos semânticos.
A estudiosa considera que, como o padrão não é completamente previsível, uma
construção deve ser considerada de modo que especifique a forma particular e a função
envolvida.
Some-se às considerações acima, o fato de que as construções existem em cada língua
e que elas são essenciais para um entendimento efetivo de padrões incomuns ou especialmente
complexos e podem auxiliar na compreensão de padrões básicos e regulares da língua também.
TAYLOR (2002), em Cognitive Grammar, diz que uma construção pode ser definida
como qualquer estrutura analisável em partes e que existem três tipos de entidades reconhecidos
na Gramática Cognitiva, são elas: estruturas fonológicas, estruturas semânticas e estruturas
simbólicas. Dentro de cada um desses domínios, o autor afirma que é possível reconhecer
construções. Ele fornece os seguintes exemplos:
(i) construções fonológicas: [kæt] constitui uma construção fonológica, em que a
estrutura complexa pode ser analisada em três segmentos componentes, a saber: [k], [æ] e [t].
(ii) construções semânticas: [BLACK CAT] constitui uma construção semântica, que
pode ser analisada em duas unidades semânticas componentes, a saber: [BLACK] e [CAT].
(iii) construções simbólicas: [BLACK CAT] / [blæk kæt]: constitui uma construção
simbólica, em que duas unidades simbólicas componentes podem ser identificadas, a saber
[BLACK] / [blæk] e [CAT] / kæt].
Taylor (2002) declara, ainda, que, quando se investigam construções, sejam elas
fonológicas, semânticas ou simbólicas, vários tipos de relação podem manter-se entre elas. Em
suas palavras:
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Uma construção pode ser esquemática para outra construção; uma
construção pode ter, como uma de suas partes, uma construção menor;
e as construções podem se relacionar por similaridade. Em segundo
lugar, as construções podem variar de acordo com seu grau de
entrincheiramento. No caso das construções esquemáticas, a questão da
produtividade também surge: quão prontamente os falantes de uma
língua criam expressões que instanciam o esquema construcional?
(TAYLOR, 2002, p. 562)
Em suma, para Taylor, as construções podem ser especificadas com graus variados de
esquematização. Uma construção esquemática (também conhecida como um esquema
construcional) captura um padrão geral para a combinação de unidades menores em unidades
maiores
Croft (2001), em Radical Construction Grammar, explica que construções são as
unidades básicas de representação sintática. Para ele, categorias gramaticais são definidas por
construções, e não o contrário, e define construção como objetos de representação sintática que
também contêm informações semânticas e até mesmo fonológicas (como os itens lexicais
substantivos individuais nos idioms parcialmente esquemáticos, ou padrões prosódicos
especiais ou regras especiais de redução fonológica, como em I wanna go too).
O autor distingue construções de itens lexicais, considerando o fato de que os itens
lexicais são substantivos e atômicos (isto é, unidades sintáticas mínimas), enquanto que as
construções podem ser esquemáticas e complexas (quando consiste de mais de um elemento
sintático).
Além disso, as construções são pensadas como o mesmo tipo teórico de objeto de
representação, tais como os itens lexicais, embora sintaticamente complexos e, pelo menos,
relativamente esquemáticos. Assim, há um continuum entre o léxico e as construções sintáticas.
Na visão de Croft (2001), construções são unidades simbólicas e consistem de
pareamentos de forma-sentido, pelo menos, parcialmente arbitrários. A forma compreende as
propriedades sintáticas, morfológicas e fonológicas; e o sentido, propriedades semânticas,
pragmáticas e discursivo-funcionais, numa correspondência simbólica interna à construção,
conforme ilustrado na figura abaixo (CROFT, 2001, p.18).
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Figura 1 – Modelo da estrutura simbólica de uma construção na Gramática de Construção Radical (CROFT,
2001, p. 18)
Para Traugott e Tousdale (2013), construção é um pareamento de forma e significado,
de acordo com o seguinte modelo: [[F]] [[M]], em que F representa a forma, isto é,
compreende os domínios da sintaxe, morfologia e fonologia, enquanto que M representa o
significado, nos níveis do discurso, da semântica e da pragmática. Nesse esquema, as duas setas
especificam a ligação entre a forma e o significado e os colchetes externos denotam que o
pareamento forma-significado é uma unidade convencionalizada.
A definição de construção, portanto, varia na literatura, porém, nesta tese, o referido
termo será usado no sentido de Traugott e Trousdale (2013).
2.3. Construcionalização e mudanças construcionais
A gramática de construções, criada no âmbito da Linguística Cognitiva, tem como
princípio básico o fato de que a língua é constituída de pareamentos de forma e significado, as
chamadas construções, organizados em uma rede. A ideia de rede reflete o fato de que a língua
é um sistema de construções interconectadas.
As construções são entendidas como unidades simbólicas convencionais. São unidades
porque algum aspecto do símbolo é tão idiossincrático ou tão frequente, que ele é armazenado
como um pareamento de forma e significado na mente do usuário da língua. Simbólicas, porque
são símbolos, associações arbitrárias de forma e significado e convencionais, porque são
compartilhadas pelos mesmos falantes.
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Assim, neste trabalho, foi adotado o conceito de construção como o pareamento
convencionalizado de forma e significado e consequentemente, assumida a concepção de
gramática como rede de construções. Dessa forma, o objeto de análise define-se, não só por si,
mas na relação com outras unidades da língua. A gramática é vista como uma rede de relações
de formas e sentidos.
Para Traugott e Trousdale (2013), construções distinguem-se em três dimensões:
tamanho, grau de especificidade fonológica e tipo de conceito. No que diz respeito à dimensão
tamanho de uma construção, os autores afirmam que ela pode ser atômica ou complexa, ou
ainda estar entre uma classificação ou outra. Construções atômicas são monomorfêmicas,
enquanto complexas referem-se ao fato de serem unidades de chunks analisáveis.
No que tange à sua especificidade fonológica, as construções podem ser substantivas,
ou seja, preenchidas fonologicamente ou esquemáticas, quando caracterizarem uma abstração,
ou, ainda, podem ser uma construção intermediária, isto é, parte da construção é substantiva e
parte é esquemática.
Em relação ao seu conceito, as construções podem ser de conteúdo (quando lexicais) ou
procedurais (quando gramaticais). O quadro abaixo ilustra as características da construção
porém, antes e após a construcionalização.
Quadro 1 – Dimensões da construção porém antes e após a construcionalização
No caso de porém, as construções das quais deriva são complexas (composta de chunks
analisáveis); procedurais (gramaticais); de caráter referencial e o resultado das mudanças
ocorridas é uma construção atômica (monomorfêmica), menos referencial, mais abstrata e
procedural. A sua dimensão fonológica, tanto antes, quanto após a construcionalização, é
sempre substantiva, isto é, preenchida fonologicamente.
Dimensões da construção
porém
Antes da
construcionalização
Após a
construcionalização
Tamanho complexa atômica
Especificidade fonológica substantiva substantiva
Tipo de conceito procedural procedural
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Em relação a contudo, as características da construção, tanto antes quanto após a
construcionalização, são semelhantes àquelas que pertencem a porém, conforme mostra o
quadro abaixo:
Quadro 2 – Dimensões da construção contudo antes e após a construcionalização
No que se refere a todavia, as construções das quais deriva são complexas, mas, ao
mesmo tempo, seu conceito é procedural e lexical, referencial e o resultado das mudanças
ocorridas é uma construção atômica (monomorfêmica), menos referencial, mais abstrata e
procedural. A sua dimensão fonológica, tanto antes, quanto após a construcionalização, é
sempre substantiva, isto é, preenchida fonologicamente, conforme mostra o quadro abaixo:
Quadro 3 – Dimensões da construção todavia antes e após a construcionalização
Nessa abordagem, os olhares voltam-se para a história da convencionalização do
pareamento e de todas as estruturas concorrentes, ou seja, em competição, das construções. É
importante destacar que as construções surgem a partir do desenvolvimento de micro passos ou
micro inovações no uso, porém, nem toda inovação leva necessariamente à mudança, isto é, ao
surgimento de uma nova construção. Mudanças só na forma, ou só no sentido são chamadas de
mudanças construcionais e não constituem uma nova construção. Uma inovação só constitui
mudança quando atinge o pareamento forma e significado e essa mudança é, então,
disseminada, isto é, convencionalizada pela comunidade linguística.
Dimensões da construção
contudo
Antes da
construcionalização
Após a
construcionalização
Tamanho complexa atômica
Especificidade fonológica substantiva substantiva
Tipo de conceito procedural procedural
Dimensões da construção
todavia
Antes da
construcionalização
Após a
construcionalização
Tamanho complexa atômica
Especificidade fonológica substantiva substantiva
Tipo de conceito procedural/de conteúdo procedural
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Traugott e Trousdale (2013) apresentam uma proposta de se verificar a mudança a partir
de dois tipos: a mudança construcional — a mudança da construção, a qual pode ser fonética,
morfológica, semântica — e a construcionalização, que é o surgimento da nova construção, uma
mudança na forma e no sentido, ou seja, no pareamento entre forma e função.
Segundo os autores, “uma mudança construcional é uma mudança que afeta uma
dimensão interna de uma construção. Ela não envolve a criação de um novo nó.” (p.26). Já a
construcionalização envolve mudanças simultâneas na forma e no significado e geram um novo
nó na rede, isto é, uma nova construção, levando essa rede a se reorganizar com novas relações
entre as construções. Segundo os autores:
a construcionalização é a criação de nova forma e novo significado
(combinação de) signos. Ela forma novos nós, os quais têm nova sintaxe
ou morfologia e novo significado codificado na rede linguística de uma
população de falantes. Ela é acompanhada por mudanças no nível de
esquematicidade, produtividade e composicionalidade. A
construcionalização de esquemas sempre resulta de uma sucessão de
micro-passos e é, portanto, gradual. Novas micro-construções podem,
de forma semelhante, ser criadas gradualmente, mas elas podem
também ser instantâneas. Gradualmente criadas, as micro-construções
tendem a ser procedurais e instantaneamente criadas, as micro-
construções tendem a ter conteúdo. (TRAUGOTT E TROUSDALE,
2013, p. 22)
Conforme o pensamento dos referidos linguistas, dentro da concepção de gramática
como rede de construções, uma nova construção é entendida como uma espécie de solução para
o mismatch que se cria entre forma e significado (a incongruência entre forma e função) num
determinado momento. Para eles, ocorreria uma perda de links entre os elementos da
microconstrução. A partir dessa perda de composicionalidade, haveria o aumento, então, da
produtividade e o aumento da esquematicidade. A criação de novos nós na língua pode ser de
natureza gramatical (construcionalização gramatical) ou lexical (construcionalização lexical).
Como o fenômeno analisado neste trabalho está relacionado à construcionalização gramatical,
apenas esse tipo de construcionalização será focalizado.
Para entender melhor essa dinâmica, é preciso esclarecer os referidos conceitos citados
anteriormente. Para Traugott e Trousdale (2013), existem três conceitos que são muito
importantes, pois regem o processo de construcionalização, são eles: a esquematicidade, a
produtividade e a composicionalidade.
Em primeiro lugar, a esquematicidade consiste numa propriedade de categorização que
envolve crucialmente abstratização. “Um esquema é uma generalização taxonômica das
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categorias, linguísticas ou não”. (TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013, p. 13). Os esquemas
linguísticos são abstratos, tomados como grupos de construções, procedurais ou de conteúdo,
são abstrações em torno de uma série de construções as quais são inconscientemente percebidas
pelos usuários da língua como altamente relacionados entre si na rede construcional.
Existem graus de esquematicidade, que se referem a níveis de generalidade ou
especificidade. Eles exemplificam esse rótulo com o conceito de móveis, que é mais abstrato,
mais do que cadeira e o conceito de cadeira, que, por sua vez, é mais abstrato do que o conceito
de poltrona. Igualmente, um substantivo é mais abstrato do que substantivo contável, verbo é
mais geral do que verbo transitivo ou verbo de ligação.
Para esses linguistas, esquemas linguísticos são instanciados por subesquemas e, nos
níveis mais baixos, por microconstruções: membros-type específicos de esquemas mais
abstratos. Isso pode ser entendido através do seguinte exemplo que eles fornecem: poder é uma
microconstrução do subesquema de modais; modal é um subesquema do esquema auxiliares.
Por sua vez, subesquemas podem ser desenvolvidos ao longo do tempo (por exemplo,
subconjuntos de modificadores perifrásticos de NP, (Van de Velde, 2011 apud TRAUGOTT E
TROUSDALE, 2013 p. 14), ou perdidos (por exemplo, subconjuntos de verbos bitransitivos,
Coleman e De Clerck, 2011 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 14). O surgimento e
a perda de subesquemas envolvem mudanças construcionais antes e após a construcionalização.
A esquematicidade de uma construção refere-se ao quanto ela captura padrões mais
gerais em toda uma série de construções mais específicas. (Tuggy 2007, Barddal 2008 apud
TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 14).
Na verdade, Traugott e Trousdale (2013) reconhecem que há outras definições para
esquematicidade, esse termo, por exemplo, também tem sido referido como ‘generalidade’ em
Langacker (2008: 244 e Trousdale, 2008 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 14). Na
visão de Bybee (2010 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 14), a esquematicidade
envolve posições e preenchimento através de uma variedade de palavras e sintagmas. Ela
também define esquematicidade como o grau de dissimilaridade dos membros e como grau de
variação dentro de uma categoria.
Já para Traugott e Trousdale (2013), os esquemas são frequentemente discutidos em
termos de slots e como as estruturas simbólicas são formadas dentro deles. Para ilustrar, diz-se
que uma construção pode consistir inteiramente de slots esquemáticos abstratos, como o
componente da forma do esquema bitransitivo [SUBJ V OBJ1 OBJ2], ou pode ser parcialmente
esquemática na medida em que contém uma construção substantiva como a way-construction (
[SUBJi [V POSSi way] DIR]).
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Outra questão é que os falantes, muitas vezes, generalizam e estendem as fronteiras de
uma determinada construção. Tais inovações podem, com o tempo, transformar-se em mudança
linguística.
Ainda na perspectiva de Traugott e Trousdale (2013), a esquematicidade é gradiente de
duas maneiras. Por um lado, uma boa formação é uma questão de convenção e, por vezes, a
sanção é apenas parcial. Como citado por eles, “uma quantidade considerável de não
convencionalidade é tolerada (e muitas vezes esperada) como uma característica normal de uso
da língua” (Langacker, 1987: 69 apud TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013 p. 16). Esta
tolerância para não convencionalidade é de grande importância na mudança: extensões
parcialmente sancionadas de uma construção convencionalizada existente podem, ao longo do
tempo, tornar-se casos totalmente sancionados de uma construção esquemática mais geral, que
tenha mudado como resultado da experiência do falante / ouvinte com a língua.
Uma segunda maneira pela qual a esquematicidade seria gradual é em termos das
distinções hierárquicas que podem ser feitas. Como já visto, buscando manter o foco na forma
e no significado, Traugott e Trousdale (2013) propõem o seguinte conjunto mínimo de níveis
de construção, como um recurso heurístico para a descrição e a análise da mudança
construcional: esquemas, subesquemas e microconstruções. Porém, os autores entendem que
essas não são distinções absolutas e, com o tempo, as relações entre eles podem mudar. Para
eles, a mudança construcional começa quando novas associações entre construtos5 e
construções emergem ao longo do tempo. A figura 2, a seguir, sintetiza e exemplifica essas
distinções. O nível mais alto inclui todos os tipos de quantificadores, aqueles que indicam
quantidades pequenas, grandes ou intermediárias, ou que sejam binominais e monomorfêmicas.
No nível medial, de subesquemas, as distinções são feitas entre as quantidades grandes,
pequenas e intermediárias; e no nível mais baixo, encontram-se os vários tipos de
microconstruções.
5 Nos termos de Traugott e Trousdale (2013, p. 2), o construto é o locus da mudança, uma instância de uso. De
acordo com Braga e Paiva (2016), “as microconstruções se manifestam por construtos, que são tokens atestados
empiricamente.”
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Figura 2: Gradiência das relações hierárquicas entre as construções
many a lot of few a bit of
Outro exemplo de esquema construcional é o esquema de contraste, que se refere às
construções ora em estudo. O nível mais alto inclui todos os tipos de contr