UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PROGRAMA DE …¡vio-Augusto-de-Freitas... · Porque Deus...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA SÍNTESE DE NANOPARTÍCULAS MESOPOROSAS DE SÍLICA PARA USO EM LIBERAÇÃO CONTROLADA DE SURFACTANTES OBTIDOS A PARTIR DE MATÉRIAS-PRIMAS RENOVÁVEIS: APLICAÇÃO EM RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE PETRÓLEO Flávio Augusto de Freitas Rio de Janeiro 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    INSTITUTO DE QUMICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    SNTESE DE NANOPARTCULAS MESOPOROSAS DE SLICA PARA

    USO EM LIBERAO CONTROLADA DE SURFACTANTES OBTIDOS A

    PARTIR DE MATRIAS-PRIMAS RENOVVEIS: APLICAO EM

    RECUPERAO AVANADA DE PETRLEO

    Flvio Augusto de Freitas

    Rio de Janeiro

    2015

  • FLVIO AUGUSTO DE FREITAS

    SNTESE DE NANOPARTCULAS MESOPOROSAS DE SLICA PARA USO EM

    LIBERAO CONTROLADA DE SURFACTANTES OBTIDOS A PARTIR DE

    MATRIAS-PRIMAS RENOVVEIS: APLICAO EM RECUPERAO AVANADA

    DE PETRLEO

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa

    de Ps-graduao em Qumica da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

    requisitos necessrios obteno

    do ttulo de Doutor em Cincias (Qumica).

    Orientadores: Regina Sandra Veiga Nascimento e

    Elizabeth Roditi Lachter

    Rio de Janeiro

    2015

  • F862e Freitas, Flvio Augusto de. Sntese de nanopartculas mesoporosas de slica para uso em liberao

    controlada de surfactantes obtidos a partir de matrias-primas renovveis:

    aplicao em recuperao avanada de petrleo / Flvio Augusto de Freitas

    Rio de Janeiro: UFRJ, IQ, 2015

    196 f.: il. Orientadores: Regina Sandra Veiga Nascimento e Elizabeth Roditi

    Lachter

    Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto

    de Qumica, Programa de Ps-Graduao em Qumica, 2015.

    1. Borras cidas. 2. Surfactantes. 3. Recuperao avanada de

    petrleo. 4. Nanocarreadores. 5. Liberao controlada. I. Nascimento,

    Regina Sandra Veiga et. al. II. Lachter, Elizabeth Roditi. III. Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, IQ, Programa de Ps-Graduao em Qumica.

    IV. Ttulo.

    CDD: 547

  • Porque Deus amou o mundo de tal maneira

    que deu seu filho unignito, para que todo

    aquele que Nele cr no perea,

    mas tenha a vida eterna.

    Joo 3:16

  • O mais competente no discute,

    domina a sua cincia e cala-se.

    (Voltaire)

  • AGRADECIMENTOS

    Deus por ser a base do meu viver, me ajudando em todas as conquistas da minha vida,

    alm de estar comigo tambm nos momentos difceis.

    Aos meus pais, Enilda e Raimundo, e aos meus Irmos, Fbio, Fernanda e Flvia pelo

    amor, ensinamentos e apoio que sempre me dedicaram, apesar da distncia.

    minha namorada Emlia, por toda compreenso e ajuda nos tempos difceis.

    professora Regina Sandra Veiga Nascimento que forneceu orientaes preciosas para

    o desenvolvimento deste trabalho, alm de vrios conselhos de vida.

    professora Elizabeth Roditi Lachter, que alm do suporte intelectual, forneceu tambm

    um significativo apoio psicolgico, com palavras de nimo e confiana.

    Aos meus sobrinhos Isabele, Gustavo e Yasmim, para que esse trabalho os sirva de

    motivao aos estudos.

    A todos os amigos do antigo laboratrio 617, Suellen Tozetti, Gil Mendes, Giselle Corra,

    Aline Viana, Mrcio Vieira, Rodrigo Lannes e Viviane Marques pela ajuda, apoio e amizade

    durante todo o trabalho.

    A todos os amigos de trabalho do Plo de Xistoqumica, por facilitarem a caminhada da

    rdua jornada com boas conversas e muitas risadas.

    Ao professor Mrcio Nele, por permitir o livre acesso ao seu laboratrio.

    professora Anna Maria Raspolli Galletti da Universidade de Pisa, por ter aceitado me

    orientar no doutorado sanduche e pelo suporte.

    A todos do laboratrio de catlise da Universidade de Pisa, por toda ajuda e compreenso.

    Aos amigos que fiz na Itlia, Adam Majewski, Alessio Santoro, Carlo Behtash, Domenico

    Licursi, Fabian Haag, Jacopo Polini, Marco Campani, Marco Omes e Rosy Giordano per avermi

    aiutato a fare la bella vita in Italia.

    Ao Denilson Vieira e famlia, por me receberem to bem em sua casa e por ele, com toda

    boa vontade, ter sido meu guia turstico em Veneza. Obrigado por todos os ensinamentos e

    conselhos.

    Aos alunos David Keils e Henrique Hoshima, os quais tive o prazer de orientar. Obrigado

    pela ajuda nos estudos de tensiometria e companhia nos sbados de trabalho e pelo empenho

    na sntese dos steres e amidas;

    MIRACEM-NOUDEX pelas amostras de borras cidas concedidas.

    A todos que contriburam de maneira direta ou indireta para a realizao deste trabalho.

    CAPES pela concesso da bolsa de doutorado e doutorado sanduche.

  • RESUMO

    FREITAS, Flvio Augusto de. Sntese de nanopartculas mesoporosas de slica para uso em

    liberao controlada de surfactantes obtidos a partir de matrias-primas renovveis: aplicao

    em recuperao avanada de petrleo. Tese (Doutorado em Qumica) Instituto de Qumica,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

    Na indstria do petrleo existem diversas tcnicas para aumentar a recuperao do petrleo. As

    tcnicas convencionais: recuperao primria e secundria e as tcnicas especiais: recuperao

    terciria ou avanada. Uma das tcnicas de recuperao avanada mais eficiente a utilizao

    de surfactantes, contudo a perda por adsoro do surfactante e o preo podem inviabilizar todo

    o projeto. Este trabalho objetivou a sntese de dietanolamidas (DEA) de baixo custo a partir de

    rejeitos (borras cidas) dos leos de coco, mamona e soja e tambm a sntese de nanopartculas

    mesoporosas de slica para armazenar os surfactantes e liber-los quando em contato com o

    petrleo, evitando a perda por adsoro. Os rejeitos foram caracterizados por FTIR, RMN 1H,

    RMN 13C e CG-EM. As slicas sintetizadas e comercial foram caracterizadas por FTIR, RMN

    29Si, BET, DLS, difratometria de raios X de baixo e alto ngulo. Por esterificao e posterior

    amidao dos rejeitos, sintetizou-se os surfactantes (amidas graxas), e estudou-se algumas

    propriedades: tenso superficial e interfacial em sistemas gua/leo e soluo KCl 6%/leo. A

    amida de soja apresentou excelente resultado reduzindo a tenso interfacial de 33 para 4,9x10-

    3 mN/m. A slica SBA-15 sintetizada mostrou uma maior capacidade de adsoro de surfactante

    DEA comercial de coco (160,11 mg/g) do que as outras slicas utilizadas nesta tese. A

    capacidade de adsoro seguiu a seguinte ordem: Coco>Mamona>Soja. Constatou-se que a

    adio de KCl nas solues no apresentou grande alterao na CMC, mas a sua presena

    mostrou-se eficaz na reduo da tenso interfacial ajudando na reduo da tenso. Os sistemas

    SBA-DEA foram caracterizados por FTIR e TGA aps lavagem com H2O, mostrando que os

    surfactantes continuam adsorvidos mesmo aps a lavagem. Foi avaliada a liberao do

    surfactante por tensiometria. Os estudos de liberao controlada dos surfactantes mostraram

    que no ocorre liberao do surfactante em gua durante 7 horas de anlise, mas no contato dos

    sistemas SBA-DEA com o leo ocorre uma rpida dessoro. Nos estudos de liberao

    controlada tambm se observou um sinergismo entre os surfactantes e as nanopartculas de

    slica SBA-15, visto que a tenso interfacial foi reduzida a valores menores que 1 mN/m depois

    de 6 horas de anlise, mostrando que a perda de surfactantes por adsoro nas rochas

    reservatrio pode ser evitada ao utilizar este novo sistema de liberao controlada.

  • ABSTRACT

    In the oil industry there are several techniques for increasing oil recovery. Conventional

    techniques: primary and secondary recovery and special techniques: tertiary or enhanced oil

    recovery. One of the enhanced oil recovery techniques more efficient is the use of surfactants.

    However, the loss by adsorption of the surfactant at rocks and the price of them may prevent

    the entire project. This study aimed to synthesize low-cost surfactants from waste of coconut

    oil, castor oil and soybeans and the synthesis of silica mesoporous nanoparticles to store the

    surfactants and release them when in contact with oil, avoiding loss adsorption. The wastes

    were characterized by FTIR, 1H NMR, GC and GC-MS. The synthesized silicas and the

    commercial one were characterized by FTIR, 29Si NMR, BET, DLS, X-ray diffraction and

    SAXS. The soapstocks were esterified with subsequent amidation, obtaining the fatty amides

    (surfactants). It was studied some properties of the surfactants: CMC, surface tension and

    interfacial tension of water/oil systems using Wilhmels plate Method and spinning drop

    method. It was found that the addition of the KCl solutions showed no significant change in

    CMC, but its presence was positive in interfacial tension measurements to help in reducing the

    interfacial tension. Soy amide showed excellent results reducing the interfacial tension of 33 to

    4,9 x 10-3 mN / m (ultra-low tensions). The synthesized SBA-15 showed a greater adsorption

    capacity (160.11 mg / g) having an order of adsorption capacity Coco> Castor> Soy. The SBA-

    DEA systems were characterized by FTIR and TGA, showing that the adsorbed surfactant

    remain adsorbed even after washing. In addition, it was studied the controlled releases of

    surfactant by tensiometry. The controlled release of surfactant using mesoporous silica (SBA-

    15) showed that there is no surfactant release in water for 7 hours, but when the silica

    nanoparticles was contact with the oil, occurs a rapid desorption. In the controlled release

    studies also was observed a synergism between the surfactant and nanoparticles silica SBA-15,

    as the interfacial tension has been reduced to values less than 1 mN / m after 6 hours analysis,

    showing the loss of surfactant by adsorption on reservoir rocks can be avoided by using this

    new controlled release system.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Etapas para a obteno da borra cida...................................................................23

    Figura 2.2 Exemplo de surfactante, dodecilsulfato de sdio, comercialmente conhecido como

    SDS ...........................................................................................................................................28

    Figura 2.3 Representao de algumas propriedades fsico-qumicas em funo da

    concentrao do surfactante SDS..............................................................................................30

    Figura 2.4 Exemplo de peneiras moleculares.........................................................................37

    Figura 2.5 Distribuio de dimetro de poros de slidos porosos...........................................38

    Figura 2.6 Seletividade com relao aos reagentes................................................................39

    Figura 2.7 Seletividade com relao ao produto ....................................................................39

    Figura 2.8 Seletividade com relao ao estado de transio ..................................................40

    Figura 2.9 Artigos publicados relacionados a sntese ou uso de slica mesoporosas do tipo

    MCM-41 ou SBA-15 ................................................................................................................41

    Figura 2.10 Exemplo de grupos encontrados na superfcie de uma slica e suas respectivas

    estruturas ..................................................................................................................................41

    Figura 2.11 Esquema representativo dos diferentes tipos de MCM .......................................42

    Figura 2.12 Difratograma tpico da MCM-41 comparado a um difratograma de uma peneira

    com os canais desordenados .....................................................................................................43

    Figura 2.13 Representao esquemtica do arranjo mesoporoso da slica MCM-41 antes e

    aps calcinao..........................................................................................................................44

    Figura 2.14 Partcula de SBA-15 mostrando as paredes microporosas e os canais

    mesoporosos .............................................................................................................................45

    Figura 2.15 Regulao de armazenamento de frmacos e liberao em slica mesoporosa

    mediante foto-estmulos ...........................................................................................................46

    Figura 2.16 Nanoesferas dendrticas de slica mesoporosa com estrutura de poros

    hierrquicos ..............................................................................................................................47

    Figura 2.17 Nanopartculas de slica mesoporosas modificadas com um sistema de gate dual

    responsivo para entrega seletiva de drogas antitumorais ...........................................................49

    Figura 2.18 Isoterma de adsoro para um surfactante inico ...............................................53

    Figura 2.19 Esquema da formao do complexo entre SDS e -ciclodextrina.......................59

    Figura 3.1 Fluxograma resumindo o trabalho feito nesta tese................................................60

  • Figura 3.2 Esquema reacional da esterificao das borras cidas...........................................63

    Figura 3.3 Esquema reacional da amidao dos steres metlicos .........................................64

    Figura 3.4 Fotografia do tensimetro Krss, modelo K100 (Esquerda) e medida de tenso

    interfacial pelo mtodo da placa de Wilhelm ............................................................................65

    Figura 3.5 Exemplo de interseo das retas antes e depois da CMC para o SDS.................66

    Figura 3.6 Representao da anlise de tenso superficial...................................................67

    Figura 4.1 Espectro na regio do infravermelho das borras cidas de coco, mamona e soja...76

    Figura 4.2 Ressonncia Magntica Nuclear de Hidrognio da borra de Coco e estrutura do

    cido lurico..............................................................................................................................77

    Figura 4.3 Ressonncia Magntica Nuclear de Hidrognio da borra de mamona...................78

    Figura 4.4 Ressonncia Magntica Nuclear de Hidrognio da borra de soja..........................78

    Figura 4.5 Espectro obtido na regio do infravermelho para os steres metlicos proveniente

    das borras cidas de coco, mamona e soja..................................................................................82

    Figura 4.6 Espectro de RMN 1H dos steres metlicos provenientes da borra de coco...........83

    Figura 4.7 Espectro na regio do infravermelho da dietanolamida graxa comercial............84

    Figura 4.8 Espectro na regio do infravermelho da dietanolamidas graxas sintetizadas........85

    Figura 4.9 Espectro de RMN de prton da dietanolamida graxa comercial proveniente do

    leo de coco...............................................................................................................................86

    Figura 4.10 Espectro de RMN 1H da dietanolamida proveniente da borra de soja..................87

    Figura 4.11 Espectro na regio do infravermelho das slicas sintetizadas..............................88

    Figura 4.12 Espectro de ressonncia magntica nuclear de silcio da slica MCM-41............90

    Figura 4.13 Isoterma de adsoro/dessoro SBA-15............................................................93

    Figura 4.14 Isoterma de adsoro/dessoro MCM-41..........................................................95

    Figura 4.15 Difratogramas de raio X de alto ngulo das slicas sintetizadas e comercial

    (NP)...........................................................................................................................................96

    Figura 4.16 Espalhamento de raios X de baixo ngulo das slicas sintetizadas e comercial

    (NP)...........................................................................................................................................97

    Figura 4.17 Resultados da anlise de DLS para a slica SBA-15............................................98

    Figura 4.18 Resultados em duplicata das medidas de tenso superficial da DEA comercial de

    coco em gua.............................................................................................................................99

    Figura 4.19 Modelo de adsoro das amidas graxas na interface gua/ar..........................104

    Figura 4.20 Efeito salino na CMC da DEA comercial utilizando-se diferentes concentraes

    de KCl.....................................................................................................................................105

  • Figura 4.21 Curvas obtidas nas anlises de tenso superficial pelo mtodo da placa de

    Wilhelm em gua e em soluo KCl 6% para as DEAs sintetizadas e para a DEA comercial..107

    Figura 4.22 Espectro na regio do infravermelho do leo mineral.......................................110

    Figura 4.23 Variao da tenso interfacial com o tempo pelo mtodo da placa de Wilhelm

    para os sistemas a) H2O/leo e b) soluo KCl 6%/leo, a diferentes concentraes da DEA

    comercial de coco....................................................................................................................110

    Figura 4.24 Variao da tenso interfacial com a concentrao de surfactante para os sistemas

    gua/leo e soluo KCl 6%/leo............................................................................................113

    Figura 4.25 Variao da tenso interfacial com a concentrao de surfactante em sistemas

    gua/leo pelo mtodo da gota giratria..................................................................................115

    Figura 4.26 Isotermas de adsoro da DEA de coco comercial nas diferentes nanopartculas

    mesoporosas de slica SBA-15, MCM-41 e nanopartcula comercial (NP).............................118

    Figura 4.27 Regies caractersticas da adsoro de surfactantes em slidos......................119

    Figura 4.28 Modelos de adsoro dos surfactantes nas slicas: A. Modelo da dupla camada e

    B. Modelo de partculas de slicas decoradas por micelas....................................................120

    Figura 4.29 - Representao esquemtica do perfil de soluo fora da superfcie da slica.....121

    Figura 4.30 Resultados de tamanho de partcula (DLS) das slicas antes e depois da adsoro

    da DEA de coco comercial.......................................................................................................122

    Figura 4.31 Isotermas de adsoro das slicas sintetizadas em slica SBA-15......................127

    Figura 4.32 Espectro obtido na regio do infravermelho para a slica SBA-15 e para o sistema

    SBA-DEA depois da lavagem.................................................................................................132

    Figura 4.33 Curvas termogravimtricas dos sistemas SBA-DEAs obtidos nos estudos de

    adsoro..................................................................................................................................133

    Figura 4.34 Isotermas de adsoro para a DEA de coco comercial em areia e calcrio........134

    Figura 4.35 Variao da tenso superficial com o tempo pelo mtodo da placa de Wilhelm

    para os diferentes sistemas analisados.....................................................................................138

    Figuras 4.36 Imagens dos sistemas gua/leo mineral durante as medidas de tenso

    interfacial................................................................................................................................140

    Figura 4.37 Imagem aproximada a fim de uma melhor visualizao das interfaces gua/leo

    Figura 4.38 Resultados obtidos para o estudo de liberao dos surfactantes adsorvidos slica

    SBA-15....................................................................................................................................141

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 Vantagens e desvantagens dos diferentes mtodos de refino................................24

    Tabela 2.2 Tipos de recuperao avanada utilizando mtodos qumicos..............................34

    Tabela 3.1 Reagentes e solventes utilizados...........................................................................61

    Tabela 4.1 Comparao entre os resultados de percentual de cidos graxos presentes em

    borras de coco de diferentes origens..........................................................................................80

    Tabela 4.2 Comparao entre os resultados de percentual de cidos graxos presentes em

    borras cidas de mamona de diferentes origens.........................................................................80

    Tabela 4.3 Comparao entre os resultados de percentual de cidos graxos presentes em

    borras de soja de diferentes origens...........................................................................................81

    Tabela 4.4 Principais estruturas encontradas nas slicas, seus nomes e deslocamentos

    qumicos obtidos em RMN 29Si.................................................................................................91

    Tabela 4.5 Percentual de intensidade das unidades estruturais Q2, Q3 e Q4 para as slicas

    sintetizadas e comercial.............................................................................................................92

    Tabela 4.6 Resultados das anlises morfolgicas obtidos para as slicas sintetizadas e para a

    slica comercial (NP).................................................................................................................96

    Tabela 4.7 Tamanho de partcula das slicas sintetizadas e da slica comercial medidos por

    DLS...........................................................................................................................................98

    Tabela 4.8 Resultados obtidos atravs das medidas de tenso superficial para as amidas

    graxas sintetizadas no presente trabalho e a DEA de coco comercial.......................................100

    Tabela 4.9 Clculo dos parmetros termodinmicos da variao da energia livre de

    micelizao e da energia livre de adsoro para os surfactantes em meio salino e em gua......108

    Tabela 4.10 Efeito da concentrao do surfactante e da salinidade do meio para as medidas

    de tenso interfacial (mN/m) obtidos pelo mtodo da placa de Wilhelm para todos os

    sistemas...................................................................................................................................111

    Tabela 4.11 Efeito da concentrao de surfactante na tenso interfacial () (mN/m) gua/leo

    para as DEAs sintetizadas a partir das borras cidas de coco, mamona e soja e tambm para a

    DEA comercial de coco pelo mtodo da gota giratria............................................................114

    Tabela 4.12 Tenso interfacial () (mN/m) em funo da concentrao de surfactante para as

    DEAs sintetizadas a partir das borras cidas de coco, mamona e soja e tambm da DEA

    comercial de coco pelo mtodo da gota giratria em sistemas soluo KCl 6%/leo...............116

  • Tabela 4.13 Resultados de adsoro obtidos atravs dos modelos matemticos para as

    isotermas de Langmuir, Freundlich, Tenkim e DubininRadushkevich..................................124

    Tabela 4.14 Resultados obtidos atravs dos modelos matemticos para as isotermas de

    Langmuir, Freundlich, Tenkim e DubininRadushkevich para a adsoro das amidas

    sintetizadas em SBA................................................................................................................129

    Tabela 4.15 Resultados obtidos atravs de anlise termogravimtrica dos sistemas SBA-

    DEA........................................................................................................................................134

    Tabela 4.16 Resultados obtidos atravs dos modelos matemticos para as isotermas de

    Langmuir, Freundlich, Tenkim e DubininRadushkevich para a adsoro da DEA

    comercial.................................................................................................................................135

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    AGL - cidos graxos livres;

    ASP lcalis-Surfactante-Polmero;

    BET BrunauerEmmettTeller (Isoterma de adsoro de nitrognio);

    CG Cromatografia gasosa;

    CMC Concentrao micelar crtica;

    DEA Dietanolamida;

    DLS Dynamic light scattering;

    EOR Enhanced oil recovery (Recuperao avanada de petrleo)

    FTIR Fourier transform infrared spectroscopy;

    LSWF Low salinity water flooding

    MCM-41 Mobil Composition of Matter of Number 41 (Tipo de slica);

    RMN Ressonncia magntica nuclear;

    RQ Refino qumico;

    SBA-15 - Santa Barbara Amorphous (Tipo de slica);

    SBA-DEA Sistema slica-surfactante (surfactante adsorvido na partcula);

    SDS Sodium dodecyl sulfate;

    NP Nanopartcula comercial;

    TGA Termogravimetria.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................................. 18

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................................... 23

    2.1 Processo de refino dos leos vegetais para obteno das borras ................................. 23

    2.1.1 Refino do leo bruto ............................................................................................. 23

    2.1.2 Degomagem .......................................................................................................... 24

    2.1.3 Refino Qumico .................................................................................................... 24

    2.1.4 Refino Fsico ........................................................................................................ 25

    2.1.5 Branqueamento, Esfriamento e Desodorizao .................................................... 26

    2.2 BORRAS CIDAS ..................................................................................................... 26

    2.3 SURFACTANTES ...................................................................................................... 28

    2.3.1 Concentrao Micelar Crtica (CMC) .................................................................. 29

    2.4 RECUPERAO AVANADA DE PETRLEO .................................................... 32

    2.4.1 Mtodos Convencionais de Recuperao ............................................................. 33

    2.4.2 Mtodos de Recuperao Avanada (Enhanced Oil Recovery EOR) ............... 33

    2.4.2.1 Mtodos Qumicos ............................................................................................. 34

    2.5 SLICAS MESOPOROSAS ........................................................................................ 36

    2.5.1 Histrico ............................................................................................................... 36

    2.5.2 Materiais Mesoporosos ......................................................................................... 40

    2.5.3 Uso de Slicas Mesoporosas na Liberao Controlada de Frmacos ................... 45

    2.5.4 Diferentes Usos de Nanopartculas de Slica em EOR ......................................... 49

    2.6 Adsoro e Liberao Controlada de Surfactantes ...................................................... 52

    2.6.1 Mecanismo de adsoro de surfactantes em superfcies slidas .......................... 52

    2.6.2 Modelos Isotrmicos de adsoro......................................................................... 53

    2.6.3 Adsoro de surfactantes em slicas ..................................................................... 55

    2.7 Liberao Controlada de Surfactantes ......................................................................... 58

    3 MATERIAIS E MTODOS ............................................................................................... 60

    3.1 MATERIAIS ............................................................................................................... 61

    3.2 Mtodos qumicos e fsicos de caracterizao ............................................................. 62

    3.2.1 Espectroscopia na regio do infravermelho.......................................................... 62

    3.2.2 Ressonncia magntica nuclear de hidrognio (RMN 1H) ................................... 62

    3.2.3 Cromatografia gasosa (CG) .................................................................................. 62

    3.2.4 Cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG-EM) ............... 63

    3.2.5 Sntese das dietanolamidas graxas (DEA) ............................................................ 63

    3.2.5.1 Esterificao das borras cidas .......................................................................... 63

    3.2.5.2 Amidao dos steres metlicos ......................................................................... 64

    3.3 Medidas de Tensiometria............................................................................................. 65

  • 3.3.1 Concentrao micelar crtica (CMC) .................................................................... 65

    3.3.2 Tenso interfacial ................................................................................................. 68

    3.3.2.1 Tenso interfacial em soluo salina ................................................................. 69

    3.3.2.2 Medidas de tenso interfacial em tensimetro de gota giratria ....................... 69

    3.4 Sntese das slicas ........................................................................................................ 69

    3.4.1 SBA-15 ................................................................................................................. 70

    3.4.2 MCM-41 ............................................................................................................... 70

    3.5 Caracterizao das slicas ............................................................................................ 70

    3.5.1 Espectroscopia na regio do infravermelho.......................................................... 71

    3.5.2 Espectroscopia de ressonncia magntica nuclear de silcio (RMN 29Si) ............ 71

    3.5.3 Adsoro e dessoro de nitrognio ..................................................................... 71

    3.5.4 Difratometria de raios X (DRX) ........................................................................... 71

    3.5.5 SAXS .................................................................................................................... 72

    3.5.6 Espalhamento dinmico de luz (DLS) .................................................................. 72

    3.6 Estudo de adsoro ...................................................................................................... 72

    3.6.1 Estudo de adsoro dos surfactantes em slicas.................................................... 72

    3.6.2 Termogravimetria (TGA) ..................................................................................... 74

    3.7 Estudo da liberao controlada dos surfactantes adsorvidos ....................................... 74

    3.7.1 Estudo da liberao em gua ................................................................................ 75

    3.7.2 Estudo da liberao de surfactante em sistemas gua/leo .................................. 75

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ....................................................................................... 76

    4.1 Caracterizao das borras cidas ................................................................................. 76

    4.1.1 Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho....................................... 76

    4.1.2 Ressonncia Magntica Nuclear de Hidrognio (RMN 1H) ................................. 77

    4.1.3 Cromatografia a gs acoplada espectrometria de massas (CGEM) ................. 79

    4.2 Caracterizao das Dietanolamidas Graxas (DEA) ..................................................... 82

    4.2.1 Espectroscopia vibracional na regio do infravermelho e RMN 1H .................... 82

    4.2.1.1 Caracterizao dos steres metlicos ................................................................. 82

    4.2.1.2 Caracterizao das amidas graxas ..................................................................... 84

    4.3 Caracterizao das Slicas ........................................................................................... 87

    4.3.1 Espectroscopia na regio do infravermelho.......................................................... 88

    4.3.2 Ressonncia Magntica Nuclear de Silcio (RMN 29Si) ....................................... 89

    4.3.3 Adsoro e Dessoro de Nitrognio ................................................................... 93

    4.3.4 DRX ...................................................................................................................... 96

    4.3.5 SAXS (Baixo ngulo) .......................................................................................... 97

    4.3.6 Espalhamento Dinmico de Luz (Dynamic Light Scattering DLS) .................. 97

    4.4 Estudos de Tensiometria .............................................................................................. 99

  • 4.4.1 Tenso Superficial ................................................................................................ 99

    4.4.2 Tenso Interfacial ............................................................................................... 109

    4.5 Ensaios de Adsoro .................................................................................................. 117

    4.5.1 Adsoro da DEA comercial de coco nas slicas (SBA-15, MCM-41 e NP) ..... 117

    4.5.2 Adsoro das DEAs sintetizadas em slica SBA-15 ........................................... 127

    4.5.3 Caracterizao do sistema slica-surfactante (SBA-DEAs)................................ 131

    4.5.3.1 Espectroscopia na regio do Infravermelho dos sistemas slica-surfactante ... 131

    4.5.3.2 Termogravimetria ............................................................................................ 132

    4.6 Estudos de liberao do surfactante .......................................................................... 136

    4.6.1 Estudos de liberao do surfactante em gua ..................................................... 137

    4.6.2 Estudos de liberao do surfactante na interface gua/leo ............................... 139

    5 CONCLUSES ................................................................................................................ 144

    6 REFERNCIAS ............................................................................................................... 146

    7 ANEXOS ........................................................................................................................... 179

  • 18

    1 INTRODUO

    O principal rejeito da indstria de refino de leos vegetais a borra cida. Ela

    constituda principalmente de uma mistura de cidos graxos que so retirados durante o refino

    do leo bruto. No Brasil, so produzidas 50.000 toneladas/ano da borra de soja (Holanda,

    2004). Essa borra um dos subprodutos da produo dos leos comestveis e do refino do leo

    para produo de biodiesel, pois para os dois casos necessrio um leo com baixa acidez.

    Assim, ao se adicionar hidrxido de sdio, ocorre a precipitao dos cidos graxos (sob a forma

    de sais de cidos graxos) que se misturam gua, fosfolipdios, material insaponificvel,

    produtos de degradao do leo e triglicerdeos. Essa mistura denominada de borra bruta e

    contm, normalmente, um percentual entre 35 50 % de cidos graxos totais e a borra

    concentrada, conhecida como borra cida, obtida pela destilao da borra bruta, apresenta entre

    85 95% de cidos graxos (Swern, 1982).

    Os cidos presentes no leo bruto so conhecidos como cidos graxos livres (AGL). Eles

    esto relacionados com a rancidez (deteriorao do sabor e do odor), que um dos fenmenos

    de deteriorao mais importantes nos leos. Assim, para evitar tais alteraes, os cidos graxos

    livres so removidos por meio do refino, de forma a evitar tambm a perda do valor comercial

    dos produtos (Fr, 2009).

    Na produo do biodiesel, a remoo dos cidos graxos livres tem como objetivo a

    obteno de elevados rendimentos nas reaes de transesterificao dos glicerdeos na presena

    de catalisadores bsicos (NaOH ou KOH), pois a presena desses cidos neutraliza a ao

    cataltica e forma sabes de difcil separao, o que tambm causa perdas no rendimento da

    mistura de steres (Fr, 2009).

    Os cidos graxos possuem grande potencial como agentes surfactantes e possuem uma

    estrutura que pode ser facilmente modificada e transformada em outros surfactantes que podem

    ter um papel importante na produo de petrleo.

    No Brasil, a produo de petrleo dificultada, pois o petrleo considerado pesado e a

    sua retirada torna-se ainda mais difcil. Durante o tempo de vida de um reservatrio essa

    produo decresce, no apenas pela diminuio do volume de petrleo no reservatrio e pela

    queda de presso, mas tambm pelas mudanas das propriedades fsico-qumicas do leo, como

    densidade e viscosidade. Essas mudanas dificultam a produo do leo, se tornando cada vez

    mais difcil e mais desfavorvel economicamente. Dependendo da situao, a produo em

  • 19

    determinado reservatrio pode chegar a ser considerada invivel, mesmo possuindo mais de 70

    % do leo original (Santos et al., 2007). O desenvolvimento de mtodos que levem uma maior

    extrao deste leo permite aumentar a rentabilidade dos campos petrolferos e estender sua

    vida til.

    Um grande fator a ser considerado em um reservatrio petrolfero a sua vida produtiva,

    composta cronologicamente pelas etapas de recuperao primria, secundria e terciria. A

    recuperao primria a produo dependente apenas da energia natural do reservatrio. Ao se

    introduzir novas tecnologias para a recuperao do petrleo d se o nome de recuperao

    secundria, de recuperao terciria e assim por diante. A recuperao secundria ficou

    conhecida como a injeo de gua ou de gs por ser comumente utilizada ao acabar a energia

    natural do poo, ou antes mesmo disso. As recuperaes primrias e secundrias costumam ser

    conhecidas como mtodos convencionais de recuperao. Contudo, os mtodos convencionais

    apresentam uma certa desvantagem, a qual proveniente da baixa eficincia de deslocamento

    e, consequentemente, das baixas recuperaes quando o fluido injetado no consegue deslocar

    o leo atravs dos poros na direo do poo produtor, devido s altas tenses interfaciais

    existentes nos sistemas. Com esses mtodos geralmente se recupera no mximo 30 % do leo

    residual, fazendo-se necessrio a utilizao de outros processos. Depois da recuperao

    secundria, usam-se processos mais complexos que recebem o nome de recuperao terciria,

    mtodos especiais de recuperao ou EOR (Enhanced Oil Recovery) (Thomas, 2001).

    Esses mtodos especiais podem ser:

    Mtodos Trmicos funcionam basicamente diminuindo a viscosidade do leo com o

    aumento da temperatura. H dois tipos: Injeo de fluidos aquecidos (injeo de gua em

    temperatura elevada ou gua na forma de vapor) e a combusto in situ (a combusto gerada

    no interior do reservatrio em parte do leo existente com injeo de ar quente).

    Mtodos Miscveis consiste na injeo de fluidos que se tornem ou que sejam miscveis

    com o petrleo no reservatrio, diminuindo as tenses interfaciais existentes. Normalmente,

    utiliza-se CO2, gs natural ou N2 para o deslocamento miscvel.

    Mtodos Qumicos so os processos onde ocorrem interaes qumicas entre os fluidos

    injetados e os presentes no reservatrio. So eles: a injeo de polmeros (esses polmeros

    aumentam a viscosidade do fluido injetado fazendo com que o fluido no escolha outros

    caminhos, se difundindo mais nos poros e aumentando a eficincia do varrido); injeo de

    soluo de surfactantes (so adicionados na gua injetada, objetivando reduzir as tenses

  • 20

    interfaciais entre a gua e o leo, pois a tenso interfacial uma medida de miscibilidade);

    injeo de microemulso (injeta-se uma mistura de surfactantes, co-surfactantes, lcool e

    salmoura, formando microemulso e obtendo tenses interfaciais ultrabaixas); injeo de

    soluo alcalina (geralmente utiliza-se NaOH pela disponibilidade e preo; tem a finalidade

    de reagir com certos cidos orgnicos presentes em alguns leos, produzindo surfactantes

    dentro do prprio reservatrio, e tambm diminuindo a adsoro de alguns surfactantes s

    rochas, o que leva ao aumento da produo de leo) (Thomas, 2001).

    O uso de surfactantes na indstria do petrleo tem crescido muito nos ltimos anos e o

    desenvolvimento de sistemas ecologicamente corretos e baratos para este fim seria de grande

    interesse.

    Os surfactantes so compostos que agem na superfcie interfacial, tais como ar-gua, leo-

    gua, e na superfcie de slidos. Tambm so conhecidos como agentes tensoativos. Vrias

    classes de surfactantes tm sido empregadas na recuperao avanada de petrleo como

    sulfonatos, dietanolamidas, alquil-poliglicosideos e sais de sdio do alquil-propoxisulfato

    (Iglauer et al., 2010; Mandal e Kar, 2016).

    Um dos grandes problemas do uso de surfactantes na recuperao avanada de petrleo,

    alm de seus preos, que eles devem ser adicionados em altas concentraes, pois a maior

    parte das molculas se adsorve superfcie das rochas no chegando a entrar em contato com

    o leo e, portanto, no proporcionando benefcio algum ao processo.

    Os custos em EOR, se tratando da injeo de surfactantes, so regidos por vrios fatores

    que afetam as operaes no campo de petrleo, tais como o custo do fluido injetado, instalaes

    na superfcie, exigncias de perfurao de poos adicionais, royalty, impostos, e mais

    significativamente o preo do petrleo (Wyatt et al, 2008). No entanto, o custo de

    implementao da injeo de surfactante determinado pelo preo do mesmo, que geralmente

    a metade ou mais do custo total do projeto (Sheng, 2011) que deve incluir previamente o

    investimento para adquirir o surfactante e o custo do excesso utilizado para substituir o

    surfactante perdido pela adsoro na superfcie das rochas reservatrio (Alhassawi e Romero-

    Zern, 2015).

    Assim, o uso desses compostos muitas vezes no compensa, pois a produo de petrleo

    pode ficar com um custo muito elevado. Por causa dos altos preos, procura-se cada vez mais

    produzir espcies que diminuam a tenso interfacial e que sejam de baixo custo. Uma das

    grandes sadas utilizar rejeitos industriais. Por outro lado, a perda por adsoro poderia ser

  • 21

    minimizada por mecanismos de liberao controlada, onde o surfactante poderia ser adsorvido

    primeiramente em um nanomaterial para posterior liberao somente ao entrar em contato com

    o petrleo, reduzindo ento a tenso interfacial do sistema gua/leo.

    Nanomateriais tm recebido muita ateno nos ltimos anos em vrias aplicaes e

    possvel citar como exemplo a bioseparao, adsoro, catlise, liberao controlada de

    frmacos, marcadores qumicos, hormnios, peptdeos, corantes, cosmticos entre outras

    (Kappor et al., 2010; Beck et al., 1992; Zhao et al., 2006; Shen et al., 2014). Dentre os

    nanomateriais, as slicas mesoestruturadas tm se destacado e podem ser usadas como suportes

    para diversos fins devido sua alta rea especfica (>1000 m2g-1), volume de poros grande (1

    cm3) e poros na faixa de 2-10 nm. Esses materiais apresentam alta estabilidade mecnica e

    qumica, e so biodegradveis (Kappor et al., 2010; Vallet-Regi et al., 2007; Slowing et al.,

    2007). O arranjo linear dos canais mesoporosos da slica pode favorecer o armazenamento de

    molculas orgnicas grandes e a liberao controlada das mesmas (Anderson et al., 2004). Em

    geral a imobilizao de biomolculas ou drogas no material mesoporoso pode ser feita atravs

    de ligao covalente ou interao de Van der Waals (Lin et al., 2011). Entretanto, para que a

    substncia orgnica fique ligada fortemente ao suporte, evitando lixiviao durante o preparo,

    podem ser feitas funcionalizaes da slica (Kappor et al., 2010). O encapsulamento via

    impregnao feito atravs da adsoro da substncia de interesse com o auxlio de solventes

    orgnicos (Sun et al., 2011). O grupo silanol serve de ponto de ancoragem para a molcula

    orgnica de interesse que se adsorve na superfcie atravs de ligaes de hidrognio, caso a

    molcula apresente grupos polares (Sun et al., 2011). Com a presena dos grupos silanois nas

    slicas, no se faz necessrio funcionaliz-las para prover bons grupos de ancoragem.

    As slicas mesoporosas com morfologia esfrica podem ser obtidas atravs da sntese

    hidrotrmica com o uso de surfactantes catinicos, aninicos, no inicos ou misturas de

    surfactantes (Dhainaut et al., 2010). A estrutura e propriedade dos surfactantes tm influncia

    na morfologia e estrutura do material final (Dhainaut et al., 2010).

    Na literatura j existem vrios estudos relacionados ao encapsulamento ou adsoro de

    drogas em slicas mesoporosas, modificadas ou no modificadas, usadas para a liberao

    controlada ou de entrega seletiva, como por exemplo, a entrega de drogas antitumorais

    altamente txicas, tais como o taxol (Radin et al., 2001; Aughenbaugh et al., 2001 e Xiao et al.,

    2014) e tambm outras drogas (Slowing et al., 2007; Zhao, 2009; Y. Zhang et al., 2010 e Shen

  • 22

    et al., 2014), tendo por objetivo aperfeioar a eficincia de algumas drogas, reduzindo efeitos

    colaterais adversos.

    No foram encontrados na literatura consultada estudos sobre a liberao controlada ou

    entrega seletiva de surfactantes utilizando slicas mesoporosas para a utilizao em recuperao

    avanada de petrleo.

    Assim, o objetivo geral desse trabalho foi sintetizar surfactantes de baixo custo a partir de

    rejeitos obtidos no refino de leos vegetais (borras cidas) e desenvolver um novo sistema de

    liberao controlada dos surfactantes sintetizados, utilizando slicas mesoporosas sintetizadas

    como nanocarreadores, a fim de evitar a perda dos surfactantes por adsoro.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Sintetizar e caracterizar diferentes surfactantes a partir de borras cidas de diversos leos

    vegetais (coco, mamona e soja), o que reduziriam os custos dos surfactantes, alm de dar

    utilidade aos rejeitos;

    Avaliar o desempenho dos surfactantes sintetizados na reduo das tenses superficial e

    interfacial em sistemas gua/leo e soluo KCl 6%/leo;

    Sintetizar slicas mesoporosas com tamanho nanomtrico;

    Estudar a adsoro dos surfactantes sintetizados nas slicas sintetizadas e comercial, a fim

    de verificar qual delas apresenta uma maior capacidade de adsoro;

    Avaliar o potencial das slicas como carreadoras dos surfactantes atravs de estudos de

    tensiometria, objetivando a liberao dos surfactantes somente quando em contato com o

    leo, evitando a perda dos surfactantes por adsoro nas rochas;

    Desenvolver um novo sistema de liberao controlada de surfactantes para EOR.

  • 23

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Processo de refino dos leos vegetais para obteno das borras

    2.1.1 Refino do leo bruto

    O leo bruto refinado atravs de vrios processos para remover os componentes

    indesejveis antes de estar disponvel para o consumo humano. Estes processos so amplamente

    descritos na literatura (Dumont e Narine, 2007). A Figura 2.1 resume as etapas do

    processamento do leo bruto convencional, encontrado para vrios tipos de leos refinados e a

    Tabela 2.1 resume as vantagens e desvantagens desses processos.

    Figura 2.1 Etapas para a obteno da borra cida (Adaptado de Dumont e Narine, 2007).

    BORRAS CIDAS

  • 24

    2.1.2 Degomagem

    A primeira etapa do refino envolve a remoo de fosfolipdios utilizando o processo de

    degomagem. Estas molculas esto presentes nas formas hidratveis e no-hidratveis. A forma

    no-hidratvel composta por fosfolipdios combinados com ons clcio, magnsio e ferro.

    Esses fosfolipdios so tratados pela degomagem cida, com o objetivo de convert-los na

    forma hidratvel. A forma hidratvel tratada com gua, assim os fosfolipdios so convertidos

    diretamente em gomas hidratadas. Por centrifugao removem-se as gomas formadas.

    Tabela 2.1 Vantagens e desvantagens dos diferentes mtodos de refino (Dumont e Narine,

    2007).

    Mtodo de Refino Vantagens Desvantagens

    Refino Qumico

    (RQ)

    (1) Processo funcional

    (2) No restringido pelo tipo

    de leo

    (3) Boa reduo dos AGL

    (1) Produo de rejeitos

    (2) Processo caro

    (3) Perda de um alto

    percentual de leo

    Refino Fsico

    (1) Mais barato do que o RQ

    (2) Menor produo de

    rejeitos que RQ

    (3) Menor consumo de

    energia que o RQ

    (1) No adequado para

    todos os tipos de leo

    (2) Requer vcuo e altas

    temperaturas

    (3) Pode ocorrer reaes

    secundrias

    Desacidificao Micelar

    (1) Mnima perda de leo

    (1) Gerao de Borras

    (2) No adequada para

    todos os tipos de leos

    (3) Caro

    2.1.3 Refino Qumico

    A etapa de degomagem nem sempre feita antes do refino qumico. O processo mais

    conhecido e mais utilizado o refino qumico com soda custica (NaOH), onde, primeiramente

    adicionado cido fosfrico ao leo bruto, a fim de precipitar os fosfolipdios, ocorrendo em

  • 25

    seguida a adio de uma soluo alcalina. A soluo alcalina neutraliza os AGL (reao 1) e

    qualquer excesso de cido fosfrico (reao 2).

    RCOOH + NaOH RCOONa + H2O (reao 1)

    H3PO4 + 3NaOH Na3PO4 + H2O (reao 2)

    A reao 1 leva formao de sabo. A borra gerada separada continuamente por

    centrifugao (OBrien, 2004). O refino qumico convencional demorado e tem vrias

    desvantagens: requer muita energia e formam-se produtos secundrios (borra e destilado

    desodorizado) com baixo valor comercial. Alm de haver uma perda considervel do leo, onde

    50% do peso da borra obtida pode ser do leo neutro. Apesar de tantas desvantagens, esse ainda

    o processo mais utilizado pelas indstrias devido reduo bem-sucedida dos cidos graxos

    livres (AGL) para o nvel desejado.

    Outra forma de refino qumico a desacidificao micelar. um processo pouco utilizado

    que envolve uma ligeira modificao do processo de refino qumico. Nesse processo o leo

    misturado com hexano para que haja a formao de micelas. Depois, ao se formarem as micelas,

    adiciona-se NaOH em uma etapa de neutralizao e, em seguida, esse NaOH reage com os

    fosfatdeos. Este processo tambm provoca a descolorao do leo, o que bom para alguns

    casos de leos muito escuros como o leo da semente de algodo. A borra, neste processo,

    removida por centrifugao, o que resulta em uma mnima perda do leo neutro. Porm, esse

    mtodo muito caro e a remoo do hexano requer etapas adicionais (Bhosle e Subramanian,

    2005).

    2.1.4 Refino Fsico

    O processo de refino fsico utiliza vapor de gua sob vcuo para evitar o uso da

    neutralizao por processos qumicos. uma operao simplificada que remove os AGL,

    substncias no saponificveis e compostos pungentes, alm de reduzir a quantidade de leo

    perdido. Ele consome menos gua, vapor e energia e requer menos investimento de capital do

    que o processo de refino qumico (Cvengros, 1995).

    Existem dois processos de refino fsico semelhantes que podem ser utilizados. A escolha

    de um deles depender da quantidade de fosfatdeos existentes no leo bruto, isto , se for baixa

    ou alta a sua concentrao. O tratamento do leo com baixa concentrao de fosfatdeos

  • 26

    consiste de uma srie de etapas: degomagem seca, desparafinagem hidrogenao

    fracionamento, destilao e desodorizao.

    O tratamento de um leo com alta concentrao de fosfatdeos consiste de um refino cido

    ou uma etapa de degomagem antes da degomagem seca ou branqueamento. Em leo com baixos

    teores de fosfatdeos no necessrio fazer um refino cido ou etapas de degomagem (OBrien,

    2004). O refino fsico de leos vegetais apresenta vrias vantagens sobre o processo tradicional

    com soda custica. Por exemplo, mais simples, apresenta maior rendimento do produto

    desejado, utiliza menos energia e gera menos poluentes ambientais, contudo, nem todo tipo de

    leo pode ser utilizado nesse processo (Hartman, 1978). O uso de altas temperaturas e vcuo,

    muitas vezes, leva formao de produtos secundrios, tais como polmeros e ismeros trans

    (Sengupta e Bhattacharyya, 1992).

    2.1.5 Branqueamento, Esfriamento e Desodorizao

    Carotenides, pigmentos cloroflicos, sabo residual, fosfolipdios, metais e produtos

    oxidados so removidos pela etapa de branqueamento, onde esses compostos so adsorvidos

    por argilas aquecidas. Em seguida, o leo rapidamente esfriado (winterizao) para a

    precipitao dos traos de ceras, sendo estas compostas por steres de cidos graxos ou lcoois

    de cadeias longas. As partculas formadas so facilmente removidas por filtrao. A

    desodorizao remove os aldedos, cetonas e outros compostos volteis que poderiam

    comprometer o sabor e o odor do leo (Dumont e Narine 2007).

    2.2 BORRAS CIDAS

    Sabes de sdio so formados durante a etapa de neutralizao no refino qumico de leos

    brutos, atravs da reao com hidrxido de sdio para a remoo de cidos graxos livres. Os

    carboxilatos de sdio e a maioria do material no oleoso incorporado ao sistema so separados

    do leo por centrifugao e denominados de borra, a qual consiste basicamente de gua, sais de

    sdio, triglicerdeos, fosfolipdios, produtos insaponificveis e de degradao do leo.

    Os cidos graxos presentes no leo provocam a rancidez, que o fenmeno de

    deteriorao mais importante nesse tipo de produto. Este fenmeno muda o sabor e o odor do

    leo. Por isso, os cidos graxos so removidos do leo durante o refino de leos e gorduras a

    fim de evitar a perda do valor comercial do produto. J na produo de biodiesel a finalidade

    de remoo desses cidos graxos livres a obteno de altos nveis de rendimento durante a

  • 27

    transesterificao dos glicerdeos, na presena de catalisadores bsicos, como os hidrxidos

    alcalinos. A produo do biodiesel deve ser feita somente com leos neutros ou de baixa acidez,

    no mximo 3%, pois a presena dos AGL neutraliza a ao cataltica. Alm disso, a formao

    de sabes durante a esterificao dos leos indesejada, j que a separao dos sabes formados

    difcil e conduz perda no rendimento da mistura de steres (Fr, 2009).

    As borras resultantes da neutralizao podem ser empregadas diretamente na fabricao

    de sabes. No Brasil, so tambm comercializadas sob a forma de leo cido, aps a reao de

    acidulao para a liberao dos cidos graxos e separao da gua nelas contidas. Este leo

    cido uma matria-prima bastante procurada como fonte de cidos graxos de custo menos

    elevado.

    A borra bruta contm de 35 50% de cidos graxos totais e a forma concentrada (borra

    cida) normalmente apresenta entre 85 95% (Swern, 1982).

    A borra bruta pode ser usada como uma fonte de nutrientes para microorganismos,

    matria-prima para reaes qumicas, ingredientes para fertilizantes e como fonte de cido

    graxo para uso na produo de biodiesel e rao para animais.

    Os cidos graxos resultantes da acidulao da borra tambm podem ser utilizados no

    tratamento de minrios, que consiste basicamente de uma srie de processos que tm em vista

    a separao das partculas minerais valiosas dos minerais de ganga (partculas do minrio que

    no so de interesse) e a obteno final de um produto concentrado com um teor elevado e

    adequado do mineral desejado. Eles so capazes de alterar a superfcie das espcies minerais,

    revestindo seletivamente a superfcie mineral de interesse tornando-a hidrofbica (Fr, 2009).

    Alm disso, as borras cidas possuem inmeras aplicaes industriais, tais como as

    alimentcias, tintas e vernizes, fertilizantes, agroqumicos, plsticos, borrachas, resinas,

    surfactantes, steres, lubrificantes, cosmticos e biocombustveis.

    As borras cidas apresentam variadas vantagens, o que as torna uma valiosa matria-

    prima bsica, uma vez que so biodegradveis, renovveis, alm de sua disponibilidade e

    origem vegetal. Existem na literatura dados sobre aplicaes de borras cidas em:

    Dieta animal, na qual a borra cida adicionada rao animal (Kovacic, 2003; Martnez-

    Aispuro et al., 2012; Pea et al., 2014; Vieira et al., 2015);

    Fertilizante, no qual a borra adicionada juntamente com farelo de arroz e uria no solo

    (Finea e Colea, 2013);

  • 28

    Biodiesel, o qual sintetizado por intermdio da esterificao da borra cida (Fernando e

    Jha, 2006; Usta et al., 2005; Park et al., 2010; Su e Wei, 2014; Serres et al., 2015; ztrk,

    2015);

    Fluido de perfurao, onde essas borras so utilizadas como aditivos para melhorar a

    viscosidade ou propriedades reolgicas (Mironenko et al.,1989);

    Lubrificantes, no qual a borra adicionada buscando-se a melhoria das propriedades

    adesivas e estabilizantes (Khasanov et al., 1988, Razak et al., 2015);

    Graxas lubrificantes, usadas no setor automotivo e motores eltricos, na qual as borras so

    utilizadas como aditivos espessantes (Delgado, et al., 2006);

    Biosurfactantes, nos quais as borras cidas tm sido utilizadas como substratos (Benincasa,

    et al., 2002; Bednarski, et al., 2004; Hazra et al., 2015; Lotfabad et al., 2015).

    2.3 SURFACTANTES

    Os surfactantes possuem uma vasta rea de atuao, participando em vrios processos da

    indstria petrolfera, indstria farmacutica, produo de cosmticos e materiais de limpeza.

    Alguns compostos, como por exemplo os cidos graxos, so anfiflicos ou anfipticos,

    isto , eles tm uma parte de sua molcula com afinidade apolar (cauda hidrofbica) e outra

    parte com afinidade polar (cabea hidroflica). Essas molculas se orientam nas interfaces de

    modo a formar uma monocamada que apresenta atividade superficial, ou seja, elas diminuem a

    tenso superficial ou interfacial do meio em que esto dissolvidas. Em alguns casos,

    surfactantes so definidos como molculas capazes de se associar e formar micelas. A estrutura

    de um dos surfactantes mais conhecidos, o dodecil sulfato de sdio, pode ser observada na

    Figura 2.2.

    Figura 2.2 Exemplo de surfactante, dodecilsulfato de sdio, comercialmente conhecido como

    SDS

    A cabea polar ou grupo inico usualmente interage fortemente com o meio aquoso. Ela

    solvatada via interaes dipolo-dipolo ou on-dipolo. com base na natureza da cabea ou do

  • 29

    grupo inico que os surfactantes so classificados em diferentes categorias, tais como, aninico,

    catinico, no inico e zwitterinico (ou anftero) (Wang et al, 2009; Wang e Miller, 2013).

    Esses compostos so chamados de surfactantes, anfiflicos, agentes ativadores de

    superfcies ou tensoativos. O termo surfactante provavelmente o mais utilizado no meio

    cientfico. Essa palavra teve origem em uma companhia que produzia agentes ativadores de

    superfcies, a General Aniline and Film Corp (GAF Corps). Foi ela que criou e registrou esse

    termo como marca para seus produtos e, depois de um tempo, por volta de 1950, a companhia

    tornou a palavra de domnio pblico para que outros pudessem utiliz-la (Stevens, 1969).

    Os sabes e sabonetes, muito presentes no nosso dia-a-dia, so sais de cidos graxos e

    quando esses sabes contm no mnimo oito carbonos so considerados surfactantes. O

    detergente, outro produto muito presente na nossa vida, tambm considerado um surfactante

    ou uma mistura de surfactantes. Esses produtos tm a propriedade de reduzir a tenso interfacial

    gua/leo.

    Os surfactantes so muito usados industrialmente, principalmente em indstrias de

    petrleo, cosmticos, higiene e limpeza (Banat, 2000). O setor de higiene e limpeza utiliza o

    maior percentual dos surfactantes produzidos como matria-prima para a fabricao de

    detergentes e materiais de limpeza para uso domstico (Nitschke et al., 2002).

    Os surfactantes so utilizados desde o incio da indstria do petrleo com diferentes

    aplicaes. Atualmente, os mtodos qumicos para a recuperao avanada foram renovados e

    a utilizao de surfactantes, na recuperao secundria e terciria, representa uma alternativa

    atrativa para o aumento da recuperao de leo (Stoll et al, 2010). Em EOR, eles podem ser

    usados em vrias misturas para aumentar a produo de petrleo (Samanta et al., 2001).

    Algumas destas misturas so surfactantes e substncias alcalinas (lcalis), surfactante e

    polmeros, e lcalis-polmero-surfactante, tambm conhecido como ASP (Elraies et al., 2011).

    2.3.1 Concentrao Micelar Crtica (CMC)

    Em solues diludas as molculas de surfactantes atuam como eletrlitos tpicos na

    formao de monmeros, orientando-se preferencialmente nas interfaces, formando uma

    monocamada que diminuir a tenso interfacial.

    medida que se aumenta a quantidade de surfactante a ser dissolvida em um dado

    solvente, tende-se a um valor limite de concentrao que determina a saturao da interface.

    Depois da saturao da interface, forma-se uma monocamada e, assim, as molculas no podem

    mais se adsorver na interface (seja ela lquido-gs, lquido-lquido, lquido-slido). Ento,

  • 30

    inicia-se o processo espontneo de formao de micelas. A Figura 2.3 ilustra as variaes que

    ocorrem nas propriedades fsicas em uma soluo surfactante em funo da concentrao.

    Inicialmente a soluo mostra vrias propriedades similares quelas para qualquer tipo de

    eletrlito. Entretanto, a uma determinada concentrao, as propriedades fsicas da soluo

    apresentam uma variao pronunciada. Essa concentrao conhecida como concentrao

    micelar crtica (CMC) e a partir desta que se inicia o processo de micelizao.

    Figura 2.3 Representao de algumas propriedades fsico-qumicas em funo da

    concentrao do surfactante SDS (Adaptado de Preston, 1948).

    Sabe-se que as propriedades fsico-qumicas dos surfactantes variam acentuadamente em

    valores acima e abaixo de uma concentrao especfica, o valor da CMC (Israelachvili e

    Wernnerstrm, 1990). Abaixo dos valores da CMC as propriedades fsico-qumicas de um

    surfactante inico, como condutividade, se parecem com as propriedades de um eletrlito forte.

    Acima dos valores da CMC essas propriedades mudam drasticamente, indicando que acontece

    um processo de associao altamente cooperativo. De fato, um grande nmero de resultados

    experimentais pode ser resumido em uma simples observao: quase todas as curvas de

    propriedades fsico-qumicas versus concentrao, para um dado sistema solvente-surfactante,

    mostraro uma mudana abrupta na inclinao da curva ou reta em uma pequena faixa de

    concentrao, onde est o valor da CMC.

  • 31

    Em termos de modelo micelar, o valor da CMC tem uma definio precisa para o modelo

    de separao da pseudofase, no qual as micelas so tratadas como uma fase separada. O valor

    da CMC definido em termos do modelo da pseudofase, como a concentrao de mxima

    solubilidade dos monmeros em um solvente em particular. O modelo de pseudofase tem uma

    srie de deficincias. Entretanto, o conceito do valor de CMC, como descrito em termos para

    esse modelo, muito utilizado quando se discute a associao dos surfactantes dentro das

    micelas. por essa razo que o valor da CMC , talvez, o parmetro micelar mais

    frequentemente discutido (Lindman e Wernnerstrm, 1980).

    Valores de CMC so importantes em todas as aplicaes de surfactantes da indstria de

    petrleo. Por exemplo, um grande nmero de processos de recuperao avanada de petrleo

    envolve o uso de injeo de surfactantes, inclusive na forma micelar, injeo da mistura

    lcali/surfactante/polmero (ASP) e injeo de gs (hidrocarbonetos, N2, CO2 ou vapor). Nesses

    processos, os surfactantes devem estar em concentraes acima da CMC para que se obtenha

    um maior efeito do surfactante, pois baixas tenses interfaciais (Schramm, 1992) ou ganho na

    estabilidade das espumas (Schramm, 1994) so obtidos quando uma concentrao significativa

    de micelas est presente. A CMC tambm de interesse porque em concentraes acima deste

    valor a adsoro do surfactante na superfcie dentro das rochas reservatrio aumenta muito

    pouco. Assim, a CMC representa a concentrao em que uma soluo surfactante ter um

    mximo de adsoro.

    Alguns fatores podem alterar a CMC, como por exemplo:

    Tamanho da cadeia hidrofbica, onde quanto maior essa cadeia, menor ser a CMC

    (Yoshimura et al., 2013, Carmona et al., 2015);

    Nmero de grupos hidroflicos, os quais aumentam a solubilidade do surfactante,

    aumentando tambm a CMC (Yoshimura et al., 2013);

    Contraon, onde quanto menor o raio deste contraon, maior ser a CMC. Este fato

    atribudo ao maior grau de hidratao dos ons menores (mais eletropositivos), tornando

    maior o trabalho eltrico para a formao da camada de Stern e, consequentemente, da

    micela (Naskar et al., 2013, Pal e Chaudhary, 2014);

    Presena de sais (efeito salino), onde a adio de sal a uma soluo contendo surfactante

    inico causa uma blindagem das foras de repulso eletrostticas existentes entre os grupos

    carregados da camada de Stern. Este fenmeno favorece a micelizao do surfactante

    (ocorre uma diminuio da CMC), e permite a formao de micelas maiores (Minatti e

    Zanette, 1996; Naskar et al., 2013).

  • 32

    Alguns autores tm sintetizado surfactantes a partir de leos vegetais, tais como Babu et al,

    2015, que sintetizaram ster metlico sulfonato de sdio provenientes do leo de mamona e

    obtiveram bons resultados na reduo de tenses interfaciais. Zhang et al., 2015 tambm

    sintetizaram surfactantes a partir do leo de mamona. Contudo eles sintetizaram um novo

    surfactante anftero alcanando tenses interfaciais ultrabaixas.

    Assim, vemos que muitas so as fontes para a sntese de surfactantes, contudo utilizar leos

    vegetais no muito vivel, pois estes podem ter diferentes utilidades, tais como na indstria

    alimentcia, biodiesel, entre outras. Isso mostra que economicamente mais vivel utilizar

    rejeitos para a produo de surfactantes.

    2.4 RECUPERAO AVANADA DE PETRLEO

    Tambm conhecida como recuperao terciria, especial ou melhorada, so mtodos de

    recuperao empregados para atuar onde a recuperao primria e secundria no atuariam, ou

    falhariam caso fossem utilizadas. A produo insatisfatria resultante dos mtodos

    convencionais pode ser atribuda principalmente a dois aspectos: altas tenses interfaciais entre

    os fluidos injetados e o petrleo e elevada viscosidade do leo encontrado no reservatrio.

    Havendo altas tenses interfaciais, reduz-se a capacidade do fluido injetado de retirar o

    leo dos poros da rocha-reservatrio por conta da capilaridade, o que causa elevadas saturaes

    residuais de leo nas regies j varridas pelo fluido injetado.

    Quando o fluido injetado apresenta viscosidade muito inferior ao fluido a ser deslocado,

    este se move com maior facilidade no meio poroso, percorrendo caminhos preferenciais e sendo

    produzido rapidamente. Por conta disso, o leo fica retido j que o fluido injetado no varre o

    reservatrio uniformemente, permanecendo grandes reas de rocha nos quais no ocorreu a

    varredura.

    Estas duas situaes ilustram bem os principais objetivos dos mtodos utilizados para

    recuperao avanada, iniciando a diviso dos processos utilizados em trs categorias: mtodos

    qumicos, trmicos e miscveis, sendo classificados de acordo com a natureza dos processos e

    a rea de atuao principal (Thomas, 2001).

    A classificao acima no nica e existem alguns processos que poderiam estar inclusos

    em diferentes categorias.

  • 33

    2.4.1 Mtodos Convencionais de Recuperao

    Os mtodos convencionais so conhecidos tambm como recuperao primria e

    secundria. O mtodo de recuperao primria tem incio ao se perfurar o poo produtor, onde

    o petrleo, por conta da diferena de presso, expulso dos poros e jogado para fora da rocha

    reservatrio, sendo iniciada a produo do petrleo. Essa produo vai diminuindo ao longo do

    tempo e mudanas vo ocorrendo no poo: reduo do volume de leo no reservatrio, queda

    da presso, aumento da viscosidade e diminuio da densidade. Essas mudanas ocasionam a

    necessidade de novos meios para extrair o leo (Thomas, 2001).

    O mtodo de recuperao secundria consiste na injeo de fluidos no poo para que esses

    fluidos empurrem o leo para fora dos poros, por meio de um processo mecnico. Nesse

    processo no ocorre nenhuma interao qumica ou termodinmica entre os fluidos ou entre os

    fluidos e a rocha, pois se trata de um processo no miscvel de injeo de gua ou gs. Ou seja,

    no se espera que os fluidos se misturem ou interfiram na rocha-reservatrio (Thomas, 2001).

    O fluido injetado ou fluido deslocador, deve empurrar o leo, chamado de fluido

    deslocado, para fora dos poros da rocha e ao mesmo tempo ir ocupando o espao deixado

    medida que este vai sendo expulso. Nem todo leo removido com esse mtodo de recuperao.

    Estima-se que, ao se utilizar mtodos convencionais, 60 a 70% do leo ainda fique retido. O

    leo retido nos poros da zona invadida pela gua ou gs imiscvel, denominado leo residual,

    consequncia do efeito da capilaridade. Classifica-se como Recuperao Convencional, alm

    da obtida com os processos de injeo mencionados anteriormente, a recuperao devido

    energia primria do reservatrio (Curbelo, 2006).

    2.4.2 Mtodos de Recuperao Avanada (Enhanced Oil Recovery EOR)

    Esses mtodos so utilizados quando os mtodos convencionais no apresentam mais

    uma grande eficincia. Em alguns casos, ao se utilizar o mtodo secundrio de recuperao, a

    produo passa a consistir basicamente do fluido injetado, tornando-se necessrio um novo

    mtodo para aumentar o percentual de extrao do leo, tendo incio a chamada recuperao

    terciria, avanada, especial ou melhorada. Esse mtodo tercirio caracterizado de acordo

    com a sua natureza: mtodos qumicos, mtodos trmicos e mtodos miscveis, mas nesse

    trabalho se abordar apenas os mtodos qumicos.

  • 34

    2.4.2.1 Mtodos Qumicos

    Dos mtodos utilizados em EOR os qumicos so os mais bem-sucedidos em reservatrios

    depletados. sempre bastante estudado antes da sua utilizao para evitar mudanas drsticas

    no poo, o que pode inutiliz-lo, e tambm para tornar o processo o mais economicamente

    vivel (Demirbas et al., 2015).

    So processos nos quais so necessrias interaes qumicas entre os fluidos injetados

    e os fluidos do reservatrio e/ou reservatrio, dois quais os principais so a injeo de

    surfactantes, injeo de microemulses, injeo de soluo alcalina, injeo de polmeros, entre

    outros, como pode-se observar na Tabela 2.2.

    Tabela 2.2 Tipos de recuperao avanada utilizando mtodos qumicos (Demirbas et al.,

    2015)

    Produtos Injetados

    Papel na recuperao

    avanada

    Impactos Causados

    Surfactantes

    Reduz a tenso interfacial em

    sistemas gua/leo

    Os surfactantes aninicos so

    comumente usados.

    lcali-Surfactante-polmero

    (ASP)

    O mtodo ASP reduz com

    eficincia a tenso interfacial

    usando baixas concentraes.

    As baixas concentraes de

    surfactantes neste processo

    reduzem os gastos.

    Injeo de gua de baixa

    salinidade (LSWF)

    LSWF contribui para o

    aumento de recuperao do

    petrleo a partir da fonte

    disponvel mais prxima.

    A salmoura pode conter metais

    pesados txicos e substncias

    radioativas, sendo muito

    prejudicial para fontes de gua

    potvel.

    Polmeros Os polmeros aumentam a

    viscosidade do fluido,

    melhorando a eficincia de

    varrido, a mobilidade,

    melhorando significativamente

    a recuperao do leo.

    Devido a consideraes

    tcnicas e econmicas, a

    injeo de polmero

    atualmente considerada como a

    tcnica de EOR preferida.

    Microemulses

    Surfactantes, co-surfactantes,

    lcool e salmoura so injetados

    no reservatrio, formando

    microemulses e obtendo

    tenses interfaciais ultrabaixas.

    Podem ser utilizadas com bom

    desempenho em temperaturas

    ou salinidades altas e em reas

    de baixa permeabilidade onde

    polmeros e/ou lcalis no

    funcionam.

    lcali

    lcalis reduzem a adsoro do

    surfactante na superfcie das

    rochas e reagem com os cidos

    carboxlicos presentes no leo

    criando um surfactante natural.

    O NaOH o mais utilizado

    reduzindo a tenso superficial,

    revertendo a molhabilidade das

    rochas, emulsificando o leo e

    mobilizando o petrleo,

    ajudando na extrao do leo.

    Dixido de carbono

    Supercrtico (SCCD)

    SCCD um mtodo miscvel

    particularmente efetivo em

    reservatrios com profundidade

    superior a 700 m.

    Espera-se que o CO2 miscvel

    seja usado em larga escala com

    maior contribuio para o EOR

    no futuro.

  • 35

    Como se pode perceber, nos mtodos qumicos no existe um nico propsito como nos

    mtodos de recuperao convencional, sendo que alguns destes mtodos poderiam ser

    classificados como mtodos miscveis.

    Quando o petrleo tem viscosidade um pouco elevada, como no caso da maioria dos leos

    brasileiros, pode-se utilizar a adio de polmeros gua de injeo com o objetivo principal

    de aumentar a viscosidade do fluido injetado, deslocando-o no meio poroso com a mesma

    mobilidade que o leo, evitando, assim, que a gua escolha um caminho preferencial por conta

    da diferena de viscosidade, aumentando a eficincia de varrido. Contudo, ao injetar a soluo

    polimrica nas rochas-reservatrio, os poros podem ficar permanentemente obstrudos pelos

    polmeros. Alm disso o uso de polmeros em EOR dificultado tanto pela degradao qumica

    quanto pela degradao trmica (Levitt e Pope, 2008). Outro problema apresentado pelos

    polmeros na recuperao avanada que, geralmente eles apresentam uma grande massa

    molar, o que causa grandes problemas em reservatrios que apresentam baixa permeabilidade

    (Wu et al., 2012).

    De um modo geral, os mtodos miscveis so pouco eficientes em relao a um aumento

    da eficincia de varrido. Pois as solues utilizadas normalmente apresentam viscosidades

    muito inferiores que a do leo, deixando a maior parte do reservatrio sem ser varrida. No

    entanto, existem surfactantes que propiciam altas recuperaes com boas eficincias de varrido.

    Ao se adicionar um surfactante gua de injeo, na verdade o que est se fazendo um

    deslocamento miscvel com gua. O surfactante tem a finalidade de reduzir as tenses

    interfaciais entre a gua e o leo, ampliando a eficincia de deslocamento.

    A eficincia dos mtodos qumicos est relacionada com alguns parmetros, tais como:

    viscosidade, molhabilidade, permeabilidades relativas e a capilaridade (Liu, 2008). A

    capilaridade (Nc) uma correlao entre a velocidade de Darcy (v), a viscosidade () da fase

    aquosa mvel, e a elevada tenso interfacial () entre a fase aquosa e a fase de leo retido

    (Berger e Lee, 2006), como se pode ver na equao 2.1.

    =

    Equao 2.1

    Aumentando-se a capilaridade, diminui-se a saturao de leo residual e a forma mais

    lgica para se aumentar a capilaridade diminuindo-se a tenso interfacial (Berger e Lee, 2006;

    Liu, 2008). Portanto, um dos objetivos principais do processo qumico reduzir a tenso

  • 36

    interfacial, de modo que a produo do leo seja ampliada, pois uma diminuio da tenso, na

    ordem de 10-2 a 10-1, j ser suficiente para diminuir as foras viscosas que mantm as gotas de

    leo aprisionadas s rochas (Hah e Schechter, 1977).

    Muitos so os artigos encontrados na literatura nos quais divulgam trabalhos que utilizam

    surfactantes buscando uma recuperao terciria eficiente, como por exemplo, Iglauer, et al.,

    2010, analisaram a injeo de diferentes surfactantes em tarugos de rocha e com o surfactante

    dietanolamida de coco conseguiram uma recuperao de aproximadamente 80% do leo

    original. Ko et al., 2014 examinaram a relao entre diferentes estruturas de dodecil sulfato e

    alguns leos brutos por meio de teste de comportamento de fase atravs da estabilidade de

    microemulses. Usando uma soluo 2 % (m/m) de surfactante, variaram salinidade,

    temperatura, estrutura molecular e proporo de leo-gua, comprovando que o surfactante

    ramificado foi mais eficaz do que o surfactante linear, e o sistema ficou estvel em

    concentraes salinas < 3% (m/m). Com a adio de uma pequena quantidade de co-surfactante,

    a estabilidade da emulso aumentou. No teste em tarugo de rocha, injetando 1VP (volume

    poroso) de 2 % em massa de soluo de surfactante com 3% em massa de salinidade, foram

    produzidos 26,6% a mais de petrleo. Com a adio de apenas 0,01% em peso de co-surfactante,

    a produo de petrleo aumentou 1,6%. Howe et al, 2014 testaram os surfactantes lcool

    propoxisulfatos (C12 e C13) e sulfonatos com olefinas internas (C20 a C24) juntamente com

    butan-2-ol como co-surfactante em solues com diferentes concentraes de NaCl a fim de

    observar quais os tipos de microemulses a serem formadas. Eles observaram que variando a

    concentrao de NaCl poderiam obter microemulses do tipo leo em gua (L1), gua em leo

    (L2) e bi-contnua (L3). As microemulses L1 e L3 foram escolhidas para serem formadas

    dentro dos tarugos de rocha, pois alcanaram os melhores resultados em tenses interfaciais,

    0.10 and 0.006 mN/m, respectivamente. O deslocamento dos fluidos dentro do tarugo foi

    monitorado por espectroscopia de RMN espacialmente resolvida e por modelos de microfluidos

    por microscopia ptica. Eles obtiveram uma boa recuperao utilizando a formulao para

    formar a microemulso L1, permanecendo somente 8% do leo residual.

    2.5 SLICAS MESOPOROSAS

    2.5.1 Histrico

    Ao observar que algumas pedras ferviam ao serem aquecidas, devido gua

    acumulada nos microporos, o sueco Axel Cronstedt, em 1756, descobriu as zelitas. H quase

  • 37

    50 anos elas comearam a ser utilizadas como catalisadores em reaes de craqueamento,

    tornando-se fundamentais para a indstria qumica (Luna; Schuchardt, 2001). As zelitas so

    capazes de diminuir a energia de ativao de reaes, causada pela proximidade entre as

    molculas dos reagentes ao entrarem nos canais, alm de isolar, craquear e direcionar as

    molculas do reagente, em condies semelhantes a reao gasosa, dando origem a uma reao

    mais rpida e eficaz (Luna; Schuchardt, 2001).

    A fim de classificar o grande conjunto de materiais porosos, a Internacional Union of

    Pure and Applied Chemistry (IUPAC), determinou dois critrios: 1. O tipo de estrutura:

    utilizando um cdigo de trs letras da IZA Internacional Zeolite Association ou 2. dimetro dos

    poros.

    Quanto ao dimetro dos poros, estes materiais podem ser classificdos segundo os

    critrios da IUPAC (1978):

    Peneiras moleculares microporosas: Dp

  • 38

    VPI-5 um aluminofosfato microporoso Dp 1,4nm;

    M41S uma famlia de materiais microporosos.

    Figura 2.5 Distribuio de dimetro de poros de slidos porosos (Adaptado de Gomes, 2005).

    Grande parte dos slidos porosos comuns tem sua faixa de dimetro de poro acima de

    10 nm, o que por algum tempo deixou uma lacuna na faixa inferior dos mesoporos. Esta lacuna

    foi preenchida com a descoberta dos mesoporosos da famlia M14S (famlia de materiais

    mesoporosos que agrega MCM-41 Mobil Compositon of Matter of Number 41, MCM-48 e

    MCM-50) e correlatos. Nesta famlia os materiais apresentam arranjo regular de mesoporos

    com dimetros uniformes (Gomes, 2005).

    Este material apresenta algumas propriedades peculiares:

    (i) Alta capacidade de adsoro, variando as propriedades de adsoro entre altamente

    hidrofbica e altamente hidroflica e alta rea superficial;

    (ii) Estrutura que facilita a criao de stios ativos como stios cidos ou bsicos;

    (iii) Dimenses de canais e cavidades compatveis com grande parte das matrias-primas

    utilizadas na industrias;

    (iv) Complexas redes de canais, conferindo diferentes tipos de seleo: de forma, de

    reagentes, de produtos e de estado de transio (Luna; Schuchardt, 2001).

    O uso das peneiras moleculares pode proporcionar um aumento na seletividade com

    relao formao de produtos com menor dimetro cintico, por conta das limitaes

    histricas e disfuncionais dos poros do catalisador. Um bom exemplo deste efeito chamado

  • 39

    de seletividade de forma, com a adio cclica do dixido de carbono em epxidos, gerando um

    produto que apresenta grande variedade de aplicaes, o que desperta o interesse industrial

    (Martins e Cardoso, 2007).

    Exemplos de seletividade por forma podem ser observados nas Figuras 2.6, 2.7 e 2.8,

    onde estas seletividades permitem aos reagentes uma difuso para o interior dos poros presentes

    no material, como por exemplo, as zelitas. Portanto, conduzem a reao cataltica na direo

    do produto esperado, evitando reaes paralelas indesejadas (Luna; Schuchardt, 2001).

    a) Seletividade com relao ao reagente: quando ocorrem limitaes de acesso de reagentes aos

    stios catalticos presentes no interior das zelitas, como pode ser observado na Figura 2.6.

    Figura 2.6 Seletividade com relao aos reagentes (Adaptado de Luna; Schuchardt, 2001).

    b) Seletividade com relao aos produtos: ocorrem quando os produtos formados no interior

    dos canais sofrem algum tipo de restrio para sarem, como o exemplo ilustrado na Figura 2.7.

    Figura 2.7 Seletividade com relao ao produto (Adaptado de Luna; Schuchardt, 2001).

    c) Seletividade com relao ao estado de transio: identificada quando os stios catalticos

    ativos esto presentes em locais com pouco espao, limitando assim, a formao do estado de

  • 40

    transio durante a reao. Ocorrem principalmente em reaes que envolvem rearranjo

    molecular ou em reaes bimoleculares, como pode-se observar na Figura 2.8.

    Figura 2.8 Seletividade com relao ao estado de transio (Adaptado de Luna; Schuchardt,

    2001).

    2.5.2 Materiais Mesoporosos

    Muitos so os trabalhos publicados na literatura sobre a sntese e aplicao de slicas

    mesoporosas dos tipos MCM-41 ou SBA-15 (Fig. 2.9). A maioria das aplicaes concentraram-

    se em catlise, mas recentemente uma expanso para outras reas levou sua utilizao em

    materiais encapsuladores de droga e em camadas com baixa carga dieltricas em

    microeletrnica. Aplicaes ambientais de mesoslica tambm tm sido desenvolvidas para uso

    em uma gama diversificada de aplicaes em biossensores para dispositivos ticos.

  • 41

    Figura 2.9 Artigos publicados relacionados a sntese ou uso de slica mesoporosas do tipo

    MCM-41 ou SBA-15 (Adaptado de Gibson, 2014).

    A superfcie destas slicas apresenta vrios grupos hidroxila, chamados silanois (Si-

    OH), como pode ser visto na Figura 2.10 as diferentes estruturas presentes nesta superfcie,

    sendo Q2, Q3 e Q4 as estruturas dos grupos SiO2(OH)2, SiO3(OH) e SiO4, respectivamente (Yao

    et al., 2015). Estes grupos no apresentam uma distribuio regular, gerando uma diferena na

    densidade eletrnica, o que leva a um comportamento de cido de Bronsted da superfcie da

    slica. Esse comportamento tem uma funo importante nos processos relacionados superfcie

    (Iler, 1979). Os grupos siloxanos (Si2O) so considerados relativamente hidrofbicos, enquanto

    os grupos silanol (SiOH) so hidroflicos.

    Figura 2.10 Exemplo de grupos encontrados na superfcie de uma slica e suas respectivas

    estruturas (Adaptado de Zhuravlev, 2000)

  • 42

    Os grupos silanois so considerados ncoras de adsoro, conferindo propriedades

    polares slica. Os poros presentes na slica juntamente com os grupos silanois transformam

    estes materiais em poderosos adsorventes, incorporando um extenso nmero de espcies

    qumicas, tais como grandes molculas orgnicas (Xiao et al., 2014), metais (Wang et al., 2015),

    surfactantes (Zargartalebi et al., 2015) e polmeros (Ponnapati et al., 2011). O grupo silanol

    anfotrico, podendo atuar tanto como base quanto cido. Assim, quando a slica est em contato

    com uma soluo, a carga da superfcie determinada pela densidade de grupos silanois na

    superfcie, pela fora inica da soluo e o seu pH (Stlgren, 2002), sendo o ponto isoeltrico

    da slica, tambm conhecido como ponto de carga zero, prximo de pH 2 e a carga torna-se

    negativa entre pH 6 e 11 (Paria e Khilar, 2004).

    2.5.2.1 Famlia de Materiais Mesoporosos: M41S

    Os pesquisadores da Mobil Oil Corporation publicaram, em 1992, a sntese de uma

    famlia de materiais mesoporosos, chamada M41S, constituda pelos seguintes materiais:

    a) MCM-41, uma slica com estrutura hexagonal e sistema unidimensional de poros;

    b) MCM-48 com estrutura cbica e sistema tridimensional de poros interconectados;

    c) MCM-50 apresentando uma estrutura lamelar e sistema bidimensional de camada de slicas

    alternativas por camadas duplas de surfactantes.

    Na Figura 2.11 pode-se observar melhor as diferenas estruturais apresentadas por estes

    materiais.

    Figura 2.11 Esquema representativo dos diferentes tipos de MCM (Adaptado de Gibson,

    2014).

    As zelitas podem ser aplicadas como catalisadores industriais e geralmente apresentam

    poros menores que 2 nm, ou seja, na faixa de microporo, os quais no permitem o

    processamento de molculas de grandes dimetros, tais como as molculas de leos e gorduras

  • 43

    para a transesterificao, e assim, para a produo do biodiesel. Para viabilizar o processamento

    dessas molculas pode-se empregar slicas mesoporosas como peneiras m