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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - CCJE INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO COPPEAD MESTRADO A INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA EMPRESA ESTATAL BRASILEIRA: O CASO PETROBRAS IVANILDO DE ALMEIDA SILVA ORIENTADORA: PROFa. ANGELA DA ROCHA RIO DE JANEIRO 2000

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - CCJE

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃOCOPPEAD

MESTRADO

A INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA EMPRESA ESTATAL BRASILEIRA:O CASO PETROBRAS

IVANILDO DE ALMEIDA SILVA

ORIENTADORA: PROFa. ANGELA DA ROCHA

RIO DE JANEIRO

2000

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A INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA EMPRESA ESTATAL BRASILEIRA:O CASO PETROBRAS

IVANILDO DE ALMEIDA SILVA

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e

Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(COPPEAD/UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau

de Mestre.

Aprovada por:

_____________________________________________ Orientadora

Prof ª Angela da Rocha (COPPEAD/UFRJ)

_____________________________________________

Prof. Agrícola de Souza Bethlem (COPPEAD/UFRJ)

_____________________________________________

Prof. Carl Christensen (UCLA)

Rio de Janeiro2000

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Silva, Ivanildo de Almeida

A Internacionalização de Uma Empresa Estatal Brasileira: O

Caso Petrobras/ ivanildo de Almeida Silva. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2000.

xii, 121p. ; il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPEAD, 2000.

1. Marketing. 2. Estratégia Empresarial. 3. Empresas.

4. Estudo de Casos. I. Título II. Tese(Mestr. -

UFRJ/COPPEAD).

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“O que for a profundeza do teu ser,

Assim será teu desejo.

O que for o teu desejo,

Assim será tua vontade.

O que for tua vontade,

Assim serão teus atos.

O que forem teus atos,

Assim será teu destino.”

(Brihadaranyaka Upanishad IV, 4.5)

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AGRADECIMENTOSApresentar uma dissertação para um curso de mestrado é um desafio que, se

atingido, é a coroação de um processo no qual o mérito jamais pode ser

restringido ao mestrando.

Agradeço ao humilde e grandioso homem que é meu pai, que me presenteou

com sua determinação e amor, e que busco retribuir com este trabalho. A meu

pai Isaias, meu muito obrigado por sua inspiração.

Não menos fundamental foi o carinho de minha mãe Iva, que me cerca com

seu zêlo e amor até os dias de hoje desta minha vida de filho caçula.

A pesquisa, algumas traduções e o ânimo necessário nos momentos de

cansaço foram obtidos com a minha maior e melhor amiga e que, também, é

minha companheira e esposa: Sheila. Sua força, amor e carinho foram

fundamentais.

Para minha filha Sarah, deixo esta obra que fica como um marco na vida de

seu pai. Mesmo sem saber, a ela devo muito da garra para enfrentar este

desafio, a ela o meu amor e carinho.

Á Petrobras, empresa que me proporcionou diversas oportunidades de

desenvolvimento, pelo apoio e patrocínio na realização de meu mestrado,

agradeço à área corporativa de Recursos Humanos, onde iniciei esta

dissertação, e à Área de Abastecimento, onde me encontro lotado ao concluí-

la: a Gerência de Recursos Humanos (Augusto), a Gerência Executiva de

Logística e Planejamento (Carlos Alberto) e aos Diretores-Gerentes de Refino

(Eider) e Marketing e Comercialização (Rogério Manso). Agradeço, ainda, a

presteza com que os gerentes da Área Internacional, no país e exterior, me

receberam quando da realização das entrevistas.

O apoio, o suporte, o rumo certo, devo à minha orientadora, Profa. Angela

Rocha. Obrigado pela acolhida e pelo conhecimento compartilhado.

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RESUMO DE DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO COPPEAD/UFRJ COMOPARTE DOS REQUISITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EMCIÊNCIAS (MSc.)

A Internacionalização de Uma Empresa Estatal Brasileira:O Caso da Petrobras

Ivanildo de Almeida Silva

Maio/2000

Orientadora: Profa. Angela da Rocha

Programa: Administração

O estudo teve como objetivo investigar o processo de internacionalização de

empresas brasileiras, através do entendimento de como ele ocorre, em que

medida as teorias existentes sobre a internacionalização de empresas explicam

a forma pela qual o processo se deu. Para cumprir este objetivo foi utilizada a

análise de caso de uma empresa brasileira do setor petrolífero, estatal, a

Petrobras.

A análise procurou identificar como o processo de internacionalização da

Petrobras se situa no contexto dos modelos abordados. Especificamente, foi

estudada a evolução do processo de internacionalização da Petrobras através

de duas de suas subsidiárias: a Braspetro e a Interbras.

As conclusões do trabalho apontam para a necessidade de maiores estudos

sobre a forma pela qual se internacionalizam as empresas estatais.

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ABSTRACT OF THESIS TO COPPEAD/UFRJ AS PARTIAL FULFILLMENTOF THE REQUIREMENTS FOR THE DEGREE OF MASTER OF SCIENCE(M.Sc)

A Internacionalização de Uma Empresa Estatal Brasileira:O Caso da Petrobras

Ivanildo de Almeida Silva

Maio/2000

Orientadora: Profa. Angela da Rocha

Programa: Administração

O estudo teve como objetivo investigar o processo de internacionalização de

empresas brasileiras, através do entendimento de como ele ocorre, em que

medida as teorias existentes sobre a internacionalização de empresas explicam

a forma pela qual o processo se deu. Para cumprir este objetivo foi utilizada a

análise de caso de uma empresa brasileira do setor petrolífero, estatal, a

Petrobras.

A análise procurou identificar como o processo de internacionalização da

Petrobras se situa no contexto dos modelos abordados. Especificamente, foi

estudada a evolução do processo de internacionalização da Petrobras através

de duas de suas subsidiárias: a Braspetro e a Interbras.

As conclusões do trabalho apontam para a necessidade de maiores estudos

sobre a forma pela qual se internacionalizam as empresas estatais.

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LISTA DE QUADROS

Quadro Título Página1.1. Fatores de Globalização..................................................... 4

1.2. Características das Organizações Internacionais.............. 8

2.1. Modelos de Internacionalização Relacionados

à Inovação.......................................................................... 17

2.2. Determinantes dos Estágios de Internacionalização.......... 20

2.8.1. Convergência e Contradições na Interpretação das

Estratégias de Internacionalização de Negócios................ 33

2.8.2. Elementos e Medidas da Estratégia de

Internacionalização de Negócios........................................ 34

4.3.1. Os Negócios Fechados até Julho de 1979......................... 90

4.3.2. O Que Negocia a Interbras................................................. 90

LISTA DE FIGURAS

Figura Título Página1.1. Evolução das Atividades Internacionais de uma

Empresa............................................................................. 6

2.1. O Modelo de Internacionalização de Uppsala.................... 14

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LISTA DE ANEXOS

Anexo Título Página4.1.1. A Nova Estrutura Organizacional da Petrobras.................. 112

4.1.2. Áreas de Atuação Internacional da Petrobras até

Dezembro de 2000............................................................. 113

4.3.1. Imagem Demonstrativa dos Produtos Exportados pela

INTERBRAS, em 1980....................................................... 114

4.3.2. Propaganda com os Produtos e Serviços Exportados

pela INTERBRAS, divulgada na Europa e EUA................ 115

4.3.3. Propaganda das Atividades da INTERBRAS, em

Espanhol............................................................................. 116

4.3.4. Propagandas de Produtos Exportados para o Oriente

Médio.................................................................................. 117

4.3.5. Outras Propagandas de Produtos Brasileiros.................... 118

4.3.6. Posição da Interbras entre as Grandes Tradings

Companies.......................................................................... 119

4.3.7. Lucro Líquido da Interbras Durante sua Existência............ 119

4.3.8. Relação entre Lucro Líquido e Vendas das Principais

Tradings Companies........................................................... 120

4.3.9. Faturamento da Interbras por Modalidade de

Faturamento....................................................................... 120

4.3.10. Evolução Anual do Faturamento da Interbras.................... 121

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SUMÁRIO

PáginaCAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO............................................................ 1

1.1. Objetivo do Estudo..................................................... 1

1.2. Importância do Estudo................................................ 1

1.3. A Internacionalização de Empresas e a

Globalização............................................................... 2

1.4. O Processo de Internacionalização no Brasil............. 3

1.5. Tipos de Empresa Internacional................................. 5

1.6. Organização do Estudo.............................................. 7

CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA...................................... 9

2.1. O Processo de Internacionalização........................... 9

2.2. O Modelo de Internacionalização de Uppsala............ 10

2.3. Modelos de Internacionalização Relacionados à

Inovação..................................................................... 15

2.3.1. O Modelo de Bilkey e Tesar....................................... 16

2.3.2. O Modelo de Cavusgil................................................ 19

2.3.3 O Modelo de Reid....................................................... 21

2.3.4. O Modelo de Rao e Naudi.......................................... 23

2.4. Críticas ao Paradigma dos Estágios de

Internacionalização..................................................... 23

2.5. As Empresas Nascidas Globais................................. 24

2.6. As Redes de Empresas.............................................. 26

2.7. O Paradigma Eclético da Produção

Internacional............................................................... 28

2.7.1. Críticas ao Paradigma Eclético................................... 30

2.8. A Estratégia de Internacionalização de

Negócios..................................................................... 31

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2.9. A Internacionalização de Empresas

Brasileiras................................................................... 35

2.9.1. Leite, Rocha e Figueiredo........................................... 35

2.9.2. Grael e Rocha............................................................. 37

2.9.3. Brasil et alli................................................................. 38

2.9.4. Barreto........................................................................ 39

2.9.5. Pinto............................................................................ 43

CAPÍTULO 3 METODOLOGIA DE ESTUDO 45

3.1. Problemas e Perguntas de Pesquisa......................... 45

3.2. Método de Pesquisa................................................... 45

3.3. Escolha do Caso......................................................... 48

3.4. Fontes de Informação e Coleta do Caso.................... 49

3.5. Análise de Dados........................................................ 50

3.6. Limitações do Estudo................................................. 50

CAPÍTULO 4 DESCRIÇÃO DO CASO 51

4.1. O Sistema Petrobras.................................................. 51

4.1.1. Breve Histórico da Empresa....................................... 51

4.1.2. O Processo de Internacionalização da Empresa........ 54

4.1.2.1. Primeiros Passos Rumo ao Exterior........................... 54

4.1.2.2. Criação das Subsidiárias Internacionais..................... 56

4.1.2.3. Situação Atual do Processo de

Internacionalização..................................................... 61

4.2. A Braspetro................................................................. 62

4.2.1. A Criação da Petrobras Internacional S. A. –

Braspetro.................................................................... 62

4.2.2. Periodização da História da Braspetro....................... 65

4.2.2.1. Primeiro Período: 1972 - 1979................................... 65

4.2.2.2. Segundo Período: 1980 a 1986.................................. 68

4.2.2.3. Terceiro Período: 1987 a 1993................................... 70

4.2.2.4. Quarto Período: 1994 a 1998..................................... 73

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4.2.3. Situação Atual............................................................. 75

4.3. A Interbras.................................................................. 79

4.3.1. A Criação da Interbras................................................ 79

4.3.2. Periodização da História da Interbras......................... 81

4.3.2.1. Primeiro Período: 1976 a 1980................................... 81

4.3.2.2. Segundo Período: 1981 a 1984.................................. 89

4.3.2.3. Terceiro Período: 1985 a 1988................................... 92

4.3.3. A Extinção da Interbras.............................................. 99

CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DE

PESQUISAS FUTURAS............................................. 102

5.1. Sumário...................................................................... 102

5.2. Conclusões................................................................. 103

5.3. Limitações do Estudo................................................. 105

5.4. Sugestões de Pesquisa Futuras................................. 106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 107

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. Objetivo do Estudo

Este estudo teve como objetivo investigar o processo de internacionalização de

uma empresa estatal brasileira, a Petrobras, de modo a buscar subsídios para

o entendimento de tais processos neste tipo de empresa.

Especificamente, buscou-se entender de que forma a empresa ingressou nos

mercados internacionais, através de duas de suas subsidiárias: a Braspetro e a

Interbras.

1.2. Importância do Estudo

A relevância do presente estudo, do ponto de vista teórico, está associada a

dois aspectos:

! a importância dos estudos sobre internacionalização de empresas no

contexto do fenômeno da globalização dos mercados, particularmente no

caso do Brasil, onde este processo vem ocorrendo tardiamente, em

comparação a de empresas de outros países;

! o entendimento de como o processo de internacionalização pode ocorrer

em uma empresa estatal brasileira, tema esse ainda não abordado em

profundidade em outros estudos.

Do ponto de vista de sua aplicação prática, o presente estudo poderá contribuir

de forma relevante para a direção das empresas estatais, ao recuperar e

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documentar experiências passadas que, de outra forma, não poderiam ser

objeto de estudo. Para a própria empresa estudada, a pesquisa se reveste de

importância, uma vez que a mesma se defronta com mudanças importantes em

seu setor de atuação, devendo atuar, no futuro, em um mercado

desregulamentado, aberto e altamente competitivo.

O presente trabalho, que integra a linha de pesquisa sobre Internacionalização

de Empresas, ligada ao Núcleo de Excelência em Internacionalização de

Empresas do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, pretende contribuir, portanto, para o melhor entendimento das

questões ligadas à internacionalização de uma empresa estatal.

1.3. A Internacionalização de Empresas e a Globalização

A crescente rivalidade internacional, a evolução/revolução da tecnologia, o

processo de união entre os países europeus, a aprovação do acordo de livre

comércio entre Canadá, México e Estados Unidos, a formação do Mercosul, o

aumento da cooperação econômica internacional, dentre outros aspectos, são

indicações das profundas mudanças que estão acontecendo na economia

mundial. Isto decorre do fortalecimento de um processo que, há alguns anos,

vem deixando suas marcas no planeta: a globalização dos mercados, que é a

causa e também o efeito de um outro fenômeno universal, que é a

internacionalização das empresas.

A escassez pode ser considerada como o propulsor de todo este processo, no

qual elementos como sobrevivência, perpetuação, otimização de recursos e

lucratividade também se integram. Processo este que não é novo, que

acompanha o homem desde que o este abandonou o comportamento nômade

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e estabeleceu suas fronteiras territoriais1, e cujas características nos dias

atuais são a velocidade e a intensidade que lhe são imprimidas.

Alguns dos problemas que cercam a globalização e, por conseguinte, o

processo de internacionalização das empresas são a crescente rivalidade

internacional e a capacidade das empresas de determinado país competirem. A

relação entre a competitividade internacional e a internacionalização implica

que este último processo não se dá sem o primeiro.

Conforme mostrado por Canals (1994), mercado, economia, governos e

empresas atuaram simultaneamente como impulsionadores e limitadores no

processo de globalização. Isto pode ser constatado no Quadro 1.1.

1.4. O Processo de Internacionalização no Brasil

Trazendo este fenômeno para o Brasil, desde seu “descobrimento” que a

atividade exportadora é praticada. Porém a história brasileira justifica os

motivos pelos quais, até hoje, o processo de internacionalização de suas

empresas não se deu como em outros países. Em termos de Brasil, definir

internacionalização como “um processo crescente e continuado de

envolvimento de uma empresa nas operações com outros países fora de sua

base de origem” é adequado. (Goulart, et al, 1996, p.21).

Desde a década de 30, quando a industrialização chegou ao Brasil motivada

pela escassez drástica de divisas, e até o final da década de 90, função de

questões político-econômicas, não se vislumbrou o desenvolvimento ou

evolução de um processo de internacionalização de empresas brasileiras. A

1 “Ninguém viveu só. À busca de alimento, riqueza, território e poder, em paz ou guerra, os homensformaram grupos, uniram-se em Nações, criaram Estados, submeteram-se a Impérios, organizaramBlocos de Comércio e montaram Organizações Internacionais. Formidáveis avanços tecnológicos,reduções de custo e aumentos de oferta de comunicações e transportes, e o progresso acelerado damicroeletrônica, uniram os anseios e as nações dos homens e motivaram a sociedade, os governos e asempresas a novos comportamentos.” (Penna et al, 1996, p.1)

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adoção de práticas protecionistas às indústrias recém instaladas na década de

30, através de uma política de substituição de importações, vigorou até a

década de 90. A partir da década de 70, passou-se a incentivar a exportação

de produtos industrializados de forma crescente. Até então, o desafio era

internacionalizar para dentro do país, expandir a atividade econômica dentro do

território nacional.

Quadro 1.1. - Fatores da Globalização

Fator Como Impulsionador Como Limitador

Mercado ! Convergência das necessidades deconsumidores estrangeiros

! Maior eficiência dos canais dedistribuição

! Diferenças nacionais (culturais)! Diferenças de estrutura de mercado! Diferenças dos canais de distribuição

Economia ! Economias de escala! Novas tecnologias! Transportes e infra-estrutura! Universalização dos mercados

financeiros! Interdependências entre os países

! Economias de escala pequenas;! Flexibilidade dos sistemas de

produção.

Governos ! Blocos regionais de comércio! Coordenação internacional de políticas

econômicas! Supressão de barreiras tarifárias

! Política cambial! Protecionismo! Incentivos a empresas nacionais

Empresas ! Estratégias de internacionalização! Penetração em outros mercados

! Poucos executivos com orientaçãoglobal

! Processos e organizaçãoFonte: (Canals, 1994)

Os choques do petróleo em 1973 e 1982 fizeram com que o governo

necessitasse fazer ajustes no setor externo da economia, através de um

programa de incentivo à exportação. Por ter sido uma saída elaborada sob um

ponto de vista econômico, de gerar divisas para cumprir compromissos com o

pagamento da dívida externa, tais medidas foram capazes de favorecer as

empresas nacionais em seu amadurecimento e desenvolvimento via ingresso

efetivo no mercado externo.

A partir de ações iniciadas no governo do Presidente José Sarney, passando

pelo Presidente Fernando Collor de Mello e aprofundadas no primeiro mandato

do Presidente Fernando Henrique Cardoso, com a eliminação das barreiras

tarifárias e não tarifárias, as empresas brasileiras encontraram um fator

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motivador adicional na busca da internacionalização de suas atividades. Os

empresários brasileiros passaram a se aproximar mais do mercado

internacional, estabelecendo-se a percepção de que produtos capazes de

concorrer internacionalmente poderiam concorrer dentro do Brasil. Isto

significava uma sensível e fundamental mudança de paradigma, impondo uma

nova visão e novas práticas à indústria brasileira. Qualidade, competitividade e

produtividade tornaram-se palavras que vieram para ficar no dia-a-dia da

indústria brasileira.

1.5. Tipos de Empresa Internacional

Recorrendo ao trabalho de Canals (1994) percebe-se que, a partir da forma

como as atividades internacionais são tratadas por uma empresa, é possível se

distinguir quatro grandes tipos de empresas internacionais, que refletem,

individualmente, os níveis e etapas do processo de internacionalização de suas

atividades (Figura 1.1.) A primeira delas reflete a forma com que normalmente

se inicia um processo de internacionalização: através de atividades de

exportação as empresas neste estágio possuíram as características de

exportar para alguns países estrangeiros e de concentração de atividades no

seu país de origem.

As empresas multinacionais teriam surgido no século XIX em países

industrializados como Inglaterra e Alemanha, embora o modelo houvesse se

consolidado no período do final da Segunda Guerra Mundial até a década de

80. A empresa multinacional pretenderia explorar as vantagens competitivas

importantes, domesticamente – uma tecnologia ou um produto especial, por

exemplo – diversificando atividades em muitos países (Caves, 1982). A

presença em países diferentes conduziria as empresas a obterem uma

adaptação completa, provocando uma descentralização elevada de todas as

atividades da empresa, desde compras, marketing, passando pela produção e

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pesquisa. O objetivo da empresa multinacional seria a reprodução quase exata

da empresa matriz em cada uma das filiais no exterior.

Figura 1.1 Evolução das Atividades Internacionais de uma Empresa

Fonte: (Canals, 1994)

Diante da tendência de adaptação local e a descentralização existente, as

empresas multinacionais, surgidas no final da década de 70 e início dos anos

80 teriam apresentado uma tendência oposta, baseada na concentração de

atividades, na busca de maior eficiência econômica. No princípio dos anos 80,

a tendência teria se invertido, com o surgimento das empresas globais. Elas se

caracterizariam primeiro por um forte peso nas operações internacionais dentro

da empresa, e também pelo alto nível de concentração das atividades -

principalmente compras, produção e P&D – no país de origem ou em poucos

países. A empresa global se diferenciaria da empresa exportadora por maior

peso nas operações internacionais. E, ainda, se diferenciaria da empresa

multinacional pela alta concentração das atividades críticas no país de origem.

A consolidação dos blocos regionais teria sido outro fator de mudança,

provocando um forte impacto, evidenciando não ser suficiente concentrar

atividades sem que isto resultasse numa capacidade de adaptação a cada país

e a cada mercado. O grande desafio imposto por esta situação às empresas

Exportação Passiva

Etapa 1Início

Etapa 2Desenvolvimento

Etapa 3Consolidação

Grau deCompromisso

com osMercadosExternos

Exportação AtivaAlianças Exportações

AliançasInvestimento Direto

Aquisições

Alto

Baixo

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com atividades internacionais seria conjugar a eficiência econômica com a

capacidade de adaptação aos mercados locais. Bartlett e Goshal (1989)

descrevem o surgimento deste novo tipo de organização que denominam de

empresa global. Esta modalidade de empresa deveria combinar

adequadamente uma máxima eficiência econômica, uma capacidade de

responder aos mercados locais e uma flexibilidade para transmitir as

experiências e inovações que surgissem em alguns dos países para toda a

organização.

Canals (1994) encerra sua análise sobre a caracterização das organizações

internacionais dizendo:

“...nenhum dos modelos de organização empresarial descritos

são isolados. Na realidade eles se mesclam entre si. Não

obstante, cada um deles reflete características e dimensões

importantes das empresas que possuem operações

internacionais”.

Estas dimensões seriam: a eficiência das atividades, o grau de adaptação às

necessidades locais, a transmissão do aprendizado na organização e a

coordenação das unidades de negócio espalhadas geograficamente. Esta

última dimensão se referia à maneira de organizar os processos de direção e

controle da empresa. O Quadro 1.2. resume algumas características das

organizações internacionais.

1.6 Organização do Estudo

O presente estudo busca analisar o caso de uma empresa que se encontra em

transição entre ser uma empresa exportadora e tornar-se uma empresa

multinacional, focando, assim, os primeiros passos no processo de

multinacionalização. Ele está estruturado em capítulos, em um total de cinco.

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Quadro 1.2 Características das Organizações Internacionais

Características EmpresaExportadora

EmpresaMultinacional Empresa Global Empresa

Transnacional

ConcentraçãoCentralização detarefas chave.Descentralizaçãoda distribuição

Descentralizaçãoe unidadesnacionaisindependentes

Centralização.Escala global

Disperção,independência eespecialização detarefas

Adaptação

Adaptação dascompetências dasede

Elevadasensibilidade àsoportunidadeslocais

Implantação dasestratégiascorporativas dasede

Contribuiçõesdiferenciais dasunidadesnacionais para asoperações globais

Aprendizagem

Desenvolvimentodo conhecimentona sede etransferência paraos outros países

Desenvolvimentodo conhecimento.Exploração doconhecimento emcada unidadelocal

Desenvolvimentoe exploração doconhecimento nasede

Desenvolvimentoconjunto eexploração global

Fonte: Canals, 1994, adaptado de Bartlett e Ghoshal (1989)

Neste primeiro, faz-se a apresentação do objetivo do estudo, suas justificativas

para realização, além de contextualizar o processo de internacionalização de

empresas tanto no cenário mundial como no brasileiro.

No segundo capítulo é apresentada a revisão da literatura sobre a

internacionalização de empresas, seus principais modelos e abordagens,

privilegiando aqueles focados na linha de pesquisa desenvolvida pelo

COPPEAD.

O terceiro capítulo apresenta a justificativa para a metodologia utilizada no

estudo, apontando suas características e limitações.

O quarto capítulo apresenta a descrição do caso Petrobras e a análise de seu

histórico de internacionalização à luz das teorias apresentadas na revisão da

literatura sobre a internacionalização de empresas.

No quinto e último capítulo são apresentadas as principais conclusões do

estudo, decorrentes da análise e contextualização feitas no capítulo anterior, e

sugeridas áreas para pesquisas futuras.

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CAPÍTULO 2

REVISÃO DA LITERATURA

2.1. O Processo de Internacionalização

Nas últimas décadas tem sido crescente a pesquisa sobre a

internacionalização de empresas. Isto reflete o também crescente processo de

internacionalização de empresas, processo este que se manifesta de diferentes

formas. Isto pode ser visto no estabelecimento de subsidiárias no exterior, em

joint ventures internacionais, em campanhas internacionais de marketing, no

comércio internacional, exposições e em vários outros eventos e ações.

Ao longo destes anos o processo de internacionalização vem sendo analisado,

de um lado, sob o enfoque econômico, na combinação de diversas teorias

sobre competição monopolística, posição competitiva e custos de transação.

De outro, um significativo número de pesquisas sobre o processo de

internacionalização analisado sob o ponto de vista dos aspectos

comportamentais/psicológicos tem surgido, merecendo destaque e abrindo

uma outra perspectiva de análise deste processo.

A abordagem do processo de internacionalização sob o ponto de vista

econômico é a responsável pelo surgimento do Paradigma Eclético, que tenta

explicar a extensão, a forma e o padrão da produção internacional relacionado

a diferentes tipos de vantagens competitivas percebidas pela empresas

(Dunning, 1988, p.2). Além do Paradigma Eclético, há a Teoria de Custos de

Transação, que analisa o controle das atividades da empresa decorrentes do

grau de integração dos canais no mercado externo e a relação risco-retorno e

as teorias de internacionalização, que estudam as decisões de

internacionalização via estrutura da própria empresa (hierarquia) versus o uso

de agentes externos (mercado).

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A abordagem comportamental do processo de internacionalização busca

determinar as influências que a tomada de decisão provoca no rumo e na

velocidade da empresa na busca dos mercados internacionais. Nesta

abordagem aspectos como distância cultural, incerteza, risco, entre outros, são

analisados.

Para a presente monografia a pesquisa bibliográfica não se aprofundará na

abordagem econômica, abordando tão somente o Paradigma Eclético, por

duas razões básicas: em primeiro lugar, tal abordagem não parece se aplicar

às fases iniciais da internacionalização, como identificado na linha de pesquisa

em internacionalização do COPPEAD, e por ser a abordagem comportamental

aquela que se pretende testar no caso estudado. Serão analisados o Modelo

de Uppsala e aqueles denominados Modelos Relacionados à Inovação

(Andersen, 1993), que consideram que o processo de internacionalização se

dá de forma semelhante à adoção de uma inovação pela empresa. Serão,

ainda, abordados o papel das Redes (Networks) no processo de

internacionalização de empresas e as Born Global Firms (Empresas Nascidas

Globais), que se colocam como um desafio aos modelos de internacionalização

existentes. A pesquisa bibliográfica se concluirá com os resultados de

pesquisas sobre o processo de internacionalização em empresas brasileiras.

2.2. O Modelo de Internacionalização de Uppsala

Este modelo, desenvolvido por Johanson e Vahlne (1977), é baseado em

observações empíricas decorrentes dos estudos desenvolvidos em negócios

internacionais na Universidade de Uppsala, particularmente os relativos a um

estudo de casos desenvolvido por Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) sobre

o processo de internacionalização de quatro empresas suecas: Sandvick, Atlas

Copco, Facit e Volvo. O modelo de Uppsala foi chamado por Andersen (1993)

de “Modelo U”. Inicialmente, e até 1990, os padrões que fundamentavam este

modelo eram os da Cadeia de Estabelecimento e o da Distância Psicológica.

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Relativamente ao primeiro padrão, no estudo de 1975, Johanson e

Wiederscheim-Paul observaram que as empresa suecas freqüentemente

desenvolveram suas operações internacionais através de passos pequenos,

até certo ponto, para então realizaram grandes investimentos em produção no

exterior. Verificaram que, normalmente, as empresas começam exportando

para um país através de um representante, depois estabelecem uma

subsidiária de vendas e, eventualmente, em alguns caso, começam a produzir

no país anfitrião. Assim se definiram os quatro estágios de envolvimento

internacional, formadores da Cadeia de Estabelecimento, ratificados nos

estudos de Johanson e Vahlne em 1977. São eles:

• Estágio 1: não existência de atividades regulares de exportação;

• Estágio 2: exportação feita através de representantes

independentes;

• Estágio 3: estabelecimento de uma subsidiária de vendas no

exterior;

• Estágio 4: unidades de operações no exterior (produção, por

exemplo).

“Em termos do modelo do processo, essa seqüência de

estágios indica o comprometimento crescente de recursos com

o mercado. Ela indica, ainda, as atividades correntes

(operações) que se diferenciam em razão da experiência

acumulada”.(Johanson e Vahlne, 1990, p.13)

Já quanto ao segundo padrão, o da Distância Psicológica, também conhecido

como Distância Cultural, é definida como o somatório de fatores que

prejudicam o fluxo de informações do mercado e para o mercado, tais como

diferenças de idioma, práticas de negócio, desenvolvimento industrial,

educação e cultura.

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Em 1990, um novo trabalho dos autores do modelo de Uppsala foi publicado,

ajustando o que eles mesmos identificaram como equívocos e distorções de

interpretação dos fundamentos do modelo2. De tal revisão surgiram os padrões

de Comprometimento com o Mercado e de Conhecimento do Mercado,

contrapondo-se aos padrões anteriores de Cadeia de Estabelecimento e

Distância Psicológica que, anteriormente, fundamentavam o modelo. Estes dois

últimos padrões passaram a ser vistos tão somente como manifestações

possíveis no processo de internacionalização de uma empresa.

“Deve se observar, entretanto, que esses padrões são manifestações

do processo de internacionalização da empresa. O processo é um

modelo teórico baseado em suposições acerca das relações entre os

conceitos de comprometimento de mercado, conhecimento de

mercado, atividades de negócios correntes e decisões de

comprometimento. Os padrões podem ser vistos como

operacionalizações do modelo do processo onde os estágios e a

distância psicológica são indicadores possíveis. Outros indicadores

também são possíveis. O comprometimento de mercado pode ser

indicado pelo tamanho do investimento no mercado ou pela força dos

vínculos com os mercados estrangeiros, i.e., o grau de integração

vertical. Outros padrões podem ser derivados como, por exemplo, uma

joint venture ou aquisição versus investimentos do tipo greenfield.”

(Johanson e Vahlne, 1990, p. 13)

Segundo o Modelo de Uppsala, o processo de internacionalização de uma

empresa ocorre segundo um mecanismo composto de dois conjuntos de

elementos: os aspectos de estado e aspectos de mudança. Os aspectos do

estado da internacionalização são o comprometimento com o mercado externo

2 “Neste modelo, a internacionalização da empresa, que teve sua base teórica na teoria comportamental daempresa (Cyert and March, 1963; Aharoni, 1966) e na teoria de crescimento da empresa de Penrose’ s(1959), é vista como um processo no qual a empresa gradualmente amplia seu envolvimentointernacional. Este processo evolui, por um lado, pela interação entre o desenvolvimento doconhecimento sobre operação e mercado externo e, por outro lado, por um crescente comprometimento derecurso para o mercado externo.” (Johanson e Vahlnet, 1990, p.11)

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(comprometimento com recursos para o exterior) e o conhecimento desse

mercado (sobre operações e sobre o mercado estrangeiro), enquanto os

aspectos de mudança são as atividades de negócios correntes no mercado

externo (a maneira como eram desenvolvidas) e decisões de comprometimento

(investimento) neste mercado. O modelo assume que o conhecimento de

mercado e o comprometimento com o mercado afetam as decisões relativas ao

comprometimento de recursos para o mercado externo e a forma como as

atividades correntes são desenvolvidas. Conhecimento do mercado e

comprometimento com o mercado são, por sua vez, afetados pelas atividades

correntes e pelo comprometimento das decisões (Figura 2.1). Sendo assim,

este processo pode ser visto como uma relação de causa e efeito (Andersen,

1993).

Este modelo evidencia a oposição à abordagem econômica do processo de

internacionalização de empresas, uma vez que se baseia estritamente em

aspectos comportamentais. Para os autores, o processo de

internacionalização não pode ser resultante de uma decisão ótima de alocação

de recursos em países distintos, como forma de se decidir qual a melhor

alternativa de se explorar um mercado externo específico. Para eles, o

processo de internacionalização é “um processo de ajustes incrementais às

condições variáveis da empresa e do seu ambiente”. (Johanson e Vahlne ,

1977, p. 26).

Como um dos fundamentos do modelo de internacionalização, após a revisão

de 1990, o conhecimento foi abordado por Johanson e Vahlne (1977), segundo

a visão contida no estudo de Penrose (1959), classificando-o de duas

maneiras: como conhecimento objetivo3 e como conhecimento empírico4. Na

visão de Johanson e Vahlne (1990), o conhecimento empírico é um tipo de

conhecimento crítico no contexto da pesquisa, exatamente por não poder ser

facilmente adquirido, como o conhecimento objetivo:

3 Conhecimento objetivo é aquele que pode ser repassado.4 Conhecimento empírico é aquele cujo aprendizado só se dá através de uma experiência pessoal, nãopodendo ser repassado.

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“Um aspecto importante do conhecimento empírico é que ele provê

um framework para perceber e formular oportunidades. Com a

experiência do conhecimento objetivo é possível formular apenas

oportunidades teóricas. Conhecimento empírico possibilita a

percepção de oportunidades concretas – ter um feeling sobre como

enfrentar as atividades atuais e futuras”. (Johanson e Vahlne, 1993,

p. 38).

Figura 2.1 O Modelo de Internacionalização de Uppsala

Fonte: Johanson, J. e Vahlne, J.E., 1990

Segundo os autores, seria perigoso assumir que o conhecimento do mercado,

que inclui percepções de oportunidades e problemas, fosse obtido

principalmente através da experiência decorrente das atividades dos negócios

correntes no mercado. O conhecimento empírico de mercados é o que gera

oportunidades de negócios, constituindo-se numa força indutora para o

processo de internacionalização. Porém, conhecimento empírico é também

assumido como a primeira forma de redução das incertezas de mercado. Desta

forma, num país específico, pode se esperar que a empresa comprometa

Comprometimentocom o Mercado

Conhecimento doMercado

Decisões deComprometimento

AtividadesCorrentes

Aspectos de Estado Aspectos de Mudança

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recursos mais significativos à medida que ganha experiência com suas

atividades correntes no mercado.

Sobre o outro fundamento para o modelo, o comprometimento com o mercado,

este conceito diz respeito a dois aspectos: o volume de recursos

comprometidos e o grau de comprometimento. Este grau de comprometimento

sugeriria, ainda, que compromissos adicionais de mercado poderiam ser

estabelecidos em pequenas etapas, excetuando-se na ocorrência de três

situações:

- quando as empresas tivessem abundância de recursos que tornassem

possível o avanço no processo de internacionalização;

- quando a empresa pudesse generalizar o uso de suas experiências

adquiridas e mercados com características semelhantes;

- quando houvesse estabilidade nas condições de mercado que

permitisse a absorção de conhecimento do mercado adquirido através

de outros mecanismos que não os da experiência.

Segundo Andersen (1993), o conhecimento relativo de um mercado significaria

comprometimento da empresa em relação a este mercado. Ele aumentaria na

medida em que o conhecimento sobre o mercado aumentasse.

2.3. Modelos de Internacionalização Relacionados à Inovação

Denominados por Andersen (1993) como “Modelos I”, eles foram concebidos

sob a orientação da teoria comportamental e possuem características comuns.

Eles descrevem o processo de internacionalização em estágios e, em alguns

casos, através de variáveis exploratórias que identificam a progressão de uma

empresa de um estágio do processo para outro. Os autores compartilham a

idéia de que, tal qual o movimento de anéis de ondas na água (Madsen e

Servais, 1996), numa seqüência determinada dos estágios de

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internacionalização e rumo aos mercados que apresentem uma distância

psíquica cada vez maior. O Quadro 2.1 sumariza alguns modelos distintos no

processo de internacionalização.

2.3.1. O Modelo de Bilkey e Tesar (1977)

Desenvolvido no mesmo ano que o modelo de Uppsala, este modelo busca

fornecer uma base estatística para o processo de desenvolvimento exportador

da empresa, a partir de uma amostra aleatória fechada de 816 empresas de

manufatura de pequeno e médio porte de Wisconsin, das quais 52%

devolveram o questionário enviado pelos pesquisadores. A tese era que o

desenvolvimento deste comportamento exportador se daria em seis estágios

gradativos, tendo o estudo se concentrado nos estágios 3, 4 e 5. Estes

estágios foram tratados como varáveis dependentes de suas respectivas

equações de regressão múltipla e posteriormente as mesmas variáveis

independentes foram testada para cada estágio, a fim de melhorar o coeficiente

de correlação múltipla.

Exploração da Possibilidade de Exportar (estágio 3)Neste estágio, a variável dependente foi se a administração da empresa

estudava ou não as possibilidades da empresa no mercado externo. Não foi

verificada correlação significativa entre as expectativas da administração

relacionadas a lucro ou outros impactos sobre a empresa decorrentes da

exportação. A maior correlação foi verificada com a pergunta que buscava

identificar se a administração havia planejado ou não exportar, acompanhada

da correlação com as percepções das administrações quanto às vantagens

competitivas de suas respectivas empresas.

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Quadro 2.1 Modelos de Internacionalização Relacionados à InovaçãoBilkei e Tesar (1977) Cavusgil (1980) Reid (1981) Rao e Naidu (1992)

Estágio 1Administração nãointeressada na exportação

Estágio 2Administração disposta aatender pedidosinesperados, mas se esforçapara explorar a possibilidadeda atividade exportadora

Estágio 1Marketing Doméstico:empresa produz apenaspara o mercado doméstico,não tendo interesse emexportar

Estágio 1Estágio de export awareness5:empresa reconhece aexistência de oportunidadesexportadoras e os problemasassociados a isso

Estágio 1Não Exportador: não háatividade de exportaçãonem interesse emdesenvolvê-los

Estágio 3Administração exploraativamente a possibilidadede atividade exportadora

Estágio 2Pré-exportação: empresapesquisa informações eavalia possibilidade deexportar

Estágio 2Intenção de exportar: envolveexpectativas e postura daadministração qto a atividadeexportadora

Estágio 2Pretendente: não háexportação mas háinteresse em exploraroportunidades

Estágio 4Empresa exporta em caráterexperimental para paísespsicologicamente próximos

Estágio 3Envolvimento Experimental:empresa exporta em baseslimitadas para alguns paisespsicologicamente próximos

Estágio 3Experimentação: respostapositiva a um pedidoespontâneo do exterior

Estágio 3Exportador Exporádico:exportação exporádica

Estágio 5Empresa é um exportadorexperiente

Estágio 4Envolvimento Ativo:exportação mais para novospaíses - exportações diretas-aumentando volume devendas

Estágio 4Avaliação: se resultadosconfirmarem as expectativas aexportação pode se tornaratividade e então estratégia decrescimento para a empresa

Estágio 4Exportação irregular:exportação irregular

Estágio 6Administração explora apossibilidade de exportarpara paísespsicologicamente maisdistantes

Estágio 5Comprometimento: gestãoconstantemente decidesobre alocação de recursosentre mercados domésticose exterior

Estágio 5Adoção: confirmada a validadeda exportação, essa atividadeintegra estratégia de negócioda empresa

Fonte: Adaptado de Andersen (1993)

Se não era o lucro o motivador para a exportação, duas proposições foram

encaminhadas: a de que os administradores tenderiam a perceber a

exportação como algo positivo por si só, e a de que o perfil internacional dos

executivos de topo influenciaria o desejo de internacionalizar suas atividades.

Tais proposições foram baseadas em estudos anteriores de Simpson (1973) e

de Langston e Teas (1976), e convergem com a visão de Johanson e Vahlne

(1977) na questão da distância cultural.

Exportação Experimental (estágio 4)A pesquisa teve como determinante mais importante o fato de que 60% das

empresas respondentes receberam pedidos espontâneos (não esperados)

vindos do exterior. O segundo determinante mais forte foi o relativo à qualidade

e dinamismo da administração da empresa. Como no estágio anterior,

5 “export awaraness”: apesar da dificuldade de encontrar uma palavra que capte o sentido da palavra“awareness”, este estágio pode ser traduzido como o reconhecimento da exportação como uma alternativa

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constatou-se que as expectativas de lucros e crescimento não tinham

importância relativa, o que os pesquisadores justificam pelo fato de serem

ações aleatórias, não se podendo projetar sobre elas estimativas precisas.

(Bilkey e Tesar, 1977, p.94).

Ao agruparem as empresas situadas neste estágio, segundo seus primeiros

pedidos do exterior, independente de espontâneos ou não, percebeu-se que

empresas que buscaram exportar para o exterior por iniciativa própria

possuíam pedidos quase duas vezes e meia maiores em número de

empregados; possuíam expectativas mais favoráveis quanto às vantagens de

exportar; tinham gerencias melhores e mais dinâmicas e percebiam menos

barreiras à exportação.

Segundo Andersen (1993), as descobertas de Bilkey e Tesar, onde o tamanho

da empresa não era tão importante para o comportamento exportador como a

qualidade e o dinamismo da gestão, podem ter sido influenciadas pela escolha

de classificar o tamanho da empresa em seis categorias ao invés de usar o

número exato de empregados.

Exportação Experiente (estágio 5)A análise das empresas situadas no quinto estágio revelou um processo de

tomada de decisão racional, já que as expectativas e as barreiras percebidas

mostraram ser as variáveis independentes mais importantes. Apesar da

variável independente “barreiras à exportação” ter atingido significância apenas

no estágio cinco, foi observado que outras variavam diretamente com o estágio

importador em que a empresa se situava:

- dificuldade de entendimento das práticas de comércio exterior;

- padrões de produto e padrões de consumidor no exterior diferentes,

tornando os produtos norte-americanos impróprios para exportação;

- dificuldade em receber pagamentos do exterior;

- dificuldade em obter representação adequada em mercados externos

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Mais uma vez foi verificado o relacionamento com o modelo de Johanson e

Vahlne (1977; 1990), já que os conceitos de distância psicológica e de

conhecimento do mercado externo encontravam-se relacionados à primeira e

última barreiras, respectivamente.

Ao final do estudo, Bilkey e Tesar confirmaram a tese de evolução gradativa

nos estágios de comportamento exportador e concluíram que os fatores que

permitiriam a passagem da empresa de um nível de comportamento para outro

iriam variar de acordo com o estágio da empresa.

2.3.2 O Modelo de Cavusgil (1980)

Redigido a partir de vários estudos empíricos conduzidos em diversos países

industrializados, Cavusgil conceitualizou o envolvimento inicial de empresas em

atividades no mercado internacional. Em seu modelo, o envolvimento em

mercados internacionais era visto como um processo seqüencial, marcado por

cinco estágios distintos (quadro 2.1), determinados por suas atividades críticas.

Sendo a atividade exportadora a mais freqüentemente observada, o modelo

buscou explicar como a empresa se envolveria com esta atividade, os estágios

deste processo, as variáveis internas e externas que determinavam a

passagem de um estágio para o outro. O Quadro 2.2. oferece uma visão de tais

variáveis em seus respectivos estágios.

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Quadro 2.2 Determinantes dos Estágios de Internacionalização

Estágios Determinantes

1. Mercado Doméstico! Simples falta de interesse em exportar

! Falta de conhecimento de oportunidade no mercado estrangeiro

2. Pré – Exportação

Estímulos Externos! Pedidos não esperados de compradores ou distribuidores

estrangeiros ou agentes domésticos de exportaçãoEstímulos Internos

! Vantagens competitivas (diferenciação): produtos, processos,

recursos

! Necessidade de superar dificuldades no mercado doméstico:

saturação de mercado, pressões competitivas, capacidade ociosa

! Tomaodres de decisãp audaciosos, dotados de perspectiva supra-

nacional

! Tomada de decisão baseada nas imprwessões quanto à

atratividade da atividade exportadora, uma vez que faltam

informações relativas a custos, riscos etc.

3. Envolvimento experimental! Impressões favoráveis quanto às possibilidades de exportação

! Objetivos de curto prazo (lucro)

! Concentração em países com menor dist6ancia cultural

4. Envolvimento Ativo

! Expansão do volume de exportação

! Maior necessidade de informação

! Expectativas baseadas na experiência

! Disponibilidade em alocar recursos-chave (estrutura

organizacional apropriada, destacando a função de marketing

internacional, viagens freqüentes de executivos aos mercados

estrangeiros etc)

5. Comprometimento

! Competência em gerenciar o marketing mix

! Comprometimento com objetivos de longo prazo

! Superação de barreiras:

" Restrições às exportações/importações

" Disponibilidade e custos de transporte

" Flutuações da taxa de câmbio

" Adequação da rede de distribuição

! Elementos críticos nas operações internacionais:

" Qualidade e projeto de produtos e embalagens

" Desenvolvimento de canais de distribuição

" Preços competitivos

" Limite de Crédito

Fonte: (Cavusgil, 1980)

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Suas ConclusõesSegundo Cavusgil, o envolvimento inicial das empresas no mercado externo

repousaria na premissa de que os gerentes entenderiam as decisões que

envolvessem o mercado externo em etapas. Esta natureza incremental na

tomada de decisão refletiria a sua cautela com o mercado externo. O

comprometimento seria gradual, quando mais informações e experiências

fossem adquiridas ao longo do caminho.

Para ele, a internacionalização não seria fruto de uma deliberação, de passos

planejados a partir de um problema claramente definido, decorrentes de uma

análise racional das alternativas comportamentais. Características pessoais,

como a ausência de informação dos tomadores de decisão, percepção do risco

e a presença da incerteza mostraria ser valioso o entendimento do

envolvimento das empresas em mercados internacionais.

Seu estudo teve forte relação com os estudos de Johanson e Vahlne (1977),

caracterizando-se como um modelo de natureza essencialmente

comportamental, que atribuía a concepção do nível de envolvimento no

mercado internacional às percepções daqueles que tomam as decisões, fruto

de suas expectativas subjetivas e aspirações gerenciais, entre outros fatores.

2.3.3 O Modelo de Reid (1981)

Este modelo foi centrado no papel do tomador de decisão de entrada e

expansão no mercado externo das empresas de menor porte e,

particularmente, em como a interação entre as suas características pessoais e

as características da empresa determinaria o comportamento exportador da

organização. Para Reid, o fenômeno poderia ser melhor compreendido se

analisado sob a ótica da introdução de uma inovação, o que daria consistência

à sua premissa de “considerar o comportamento exportador como um

processo” (Reid, 1981, p.109).

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A postura de Reid era altamente crítica. Ele observou que os demais modelos

tratavam a internacionalização de forma generalizada, já que suas premissas

se referiam tanto a empresas grandes como pequenas. A análise do processo

em empresas pequenas proporcionaria resultados diferentes, pois “é provável

que o comportamento de entrada no exterior de uma empresa grande seja

mais estruturado”. (Reid, 1981, p.101). Outra crítica era de que os demais

trabalhos estariam voltados para a análise de um comportamento passado, e

não para o estudo do processo de decisão. A exceção seria o trabalho de

Cavusgil (1980).

Quanto aos cinco estágios do modelo de Reid (Quadro 2.1), em que pese

terem sido concebidos dentro de uma seqüência cronológica, alguns deles

poderiam ocorrer simultaneamente. Cada estágio seria caracterizado por

variáveis específicas da empresa e outras específicas do tomador de decisão.

A fim de explicar o papel fundamental do decisor no processo de entrada e

expansão nos mercados externos, Reid usou o conceito de “orientação para

mercados externos”, que se aproxima do conceito da “distância psicológica”.

Para ele esta orientação “representa uma dimensão avaliadora. Ela é uma

medida da diferença percebida entre mercados externos e o mercado

doméstico, no escopo o mercado da empresa, ao longo das dimensões

econômicas, cultural, política e de estratégica de mercado”. (Reid, p.107).

O processo de definição dos mercados-alvo de entrada ou expansão da

empresa seria balizado e estruturado pela orientação para o mercado externo.

Desta forma, os contatos anteriores com mercados externos e o grau em que o

executivo foi submetido à exposição anterior ao estrangeiro influenciariam no

tamanho e nos conjuntos de mercados considerados.

Entendendo que a exportação é a adoção de uma inovação, Reid considerou

que o processo de escolha do mercado externo, tanto para entrada como para

expansão, seria afetado pelas interações entre o decisor, através de suas

características pessoais, e as características da empresa. Para ele, os

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determinantes do engajamento da empresa em atividades no mercado externo

seriam as atitudes, a experiência, a motivação e as expectativas do decisor.

2.3.4 O Modelo de Rao e Naudi (1992)

Este estudo propôs um modelo de quatro estágios (Quadro 2.1) e procurou

identificar diversos fatores que estimulavam a estagnação ou a progressão da

empresa quando na direção para tornar-se um exportador regular.

O resultado do estudo confirmou a hipótese de que são identificados estágios

no processo de internacionalização de uma empresa. Empresas não

exportadoras foram identificadas como estando inibidas por recursos limitados

e pela ausência de comprometimento gerencial com o desenvolvimento do

mercado exportador. As pretendentes à exportação necessitaram de

aprendizado operacional adicional e assistência para o ingresso nos mercados

exportadores. As exportadoras esporádicas encontravam-se inseguras sobre o

balanceamento dos esforços demonstrados na direção do mercado exportador

e no desenvolvimento do mercado doméstico. Finalmente, em relação aos

quatro estágios, as empresas exportadoras regulares mostraram estar na

direção certa da internacionalização, alocando recursos substanciais para a

atividade de marketing internacional.

2.4. Críticas ao Paradigma dos Estágios de Internacionalização

Apesar de uma série de estudos empíricos dedicarem-se à avaliação da

validade dos modelos seqüencias de estágios de internacionalização, este

paradigma passou a receber inúmeras críticas, dentre as quais as que se

seguem.

Os modelos de estágios de comportamento não consideraram aspectos que

poderiam contribuir para o processo de internacionalização, focando apenas a

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atividade exportadora. Segundo Leonidou e Katsikeas (1996), atividades como

a expansão doméstica, acordos de fornecimento, desenvolvimento de novos

produtos, diversificação em outras áreas de negócio, seriam atividades da

empresa que muito poderiam influenciar no seu processo de

internacionalização.

O processo de exportar seria altamente dinâmico mas os modelos possuíam

alto grau de inércia. Leonidou e Katsikeas (1996) observaram que esta inércia

ocorreria dentro de um mesmo estágio e entre estágios. A velocidade de

mudança não seria considerada, sendo o que era mais comum. Alterações na

tecnologia, no ciclo de vida do produto e no custo de P&D seriam fortes

exemplos.

Melin (1992) e Andersen (1993) compartilharam da mesma crítica, de que o

modelo de estágios de comportamento seria por demais determinístico, não

enxergando que a empresa pode fazer suas próprias escolhas quanto ao modo

de entrada e de expansão dos mercados externos. Pesquisas realizadas por

Jarillo e Martinez (1991) reforçam esta crítica quando, num estudo junto a 35

empresas espanholas, foi verificado que a teoria não se aplicava totalmente, já

que algumas empresas seguiram o modelo enquanto outras regrediram ou

iniciaram o processo de internacionalização pelo último estágio.

2.5 As Empresas Nascidas Globais

Chamadas por Knight e Cavusgil (1995) e Madsen e Servais (1996) de born

globals, por Oviatt e McDougall (1994) de international new ventures e por

alguns outros autores de start-ups e high technology, há um consenso de que

as alterações tecnológicas havidas nos últimos anos foram o determinante para

o seu surgimento, particularmente as ocorridas no setor de transporte,

telecomunicações e microeletrônica (Madsen e Servais, 1996; Knight e

Cavusgil, 1995).

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25

As born globals são um desafio à teoria tradicional de estágios de

internacionalização por serem empresas que, desde sua origem, já atuam

focadas no comércio internacional. Segundo Oviatt e McDougall (1994) as

condições que favoreciam o surgimento das born globals poderiam simplificar e

acelerar sua internacionalização:

“as empresas podem saltar estágios de internacionalização

observados no passado, ou a internacionalização pode ocorrer sem se

dar, absolutamente, por estágios...Entretanto, não significa dizer que as

teorias estabelecidas estejam erradas: elas ainda se aplicam a algumas

empresas e indústrias. Porém, significa sim que elas são menos

aplicáveis em um numero cada vez maior de situações onde a

tecnologia, o ambiente específico da indústria e as competências das

empresas mudaram conforme apresentado.” (p.52)

Em uma outra forma de enxergar a questão, Madsen e Servais (1996)

entenderam que uma born global se desenvolveria em consonância com o

paradigma evolucionário. Alinhados com o pensamento de Johanson e Vahlne

(1990), para Madsen e Servais os aspectos de estado e de mudança – os

fundamentos do conhecimento e comprometimento – ajudariam na

compreensão dos padrões de internacionalização destas empresas. A forma

como estes fundamentos se manifestariam é que seriam, contudo, diferentes,

já que as condições de mercado em muito diferiam das daquele modelo. A

aquisição do conhecimento do mercado externo, que conduz ao

comprometimento com o mesmo mercado, se daria em um cenário diferente do

existente no modelo de Uppsala. A figura do empreendedor, por exemplo,

tenderia a ter experiência internacional anterior, a semelhança dos mercados

permitiria que eles fossem mais facilmente entendidos, as experiências em

outros países seriam mais facilmente transferíveis e haveria um acesso mais

rápido à informação.

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26

Nas born globals há um número cada vez maior de pessoas com experiência

internacional em negócios, adquirida, segundo Knight e Cavusgil (1995), pela

internacionalização “de fora para dentro”. Com isto, se ampliariam as

possibilidades de exploração das mudanças tecnológicas havidas nos

mercados internacionais em benefício da empresa, já que estariam disponíveis

cada vez mais pessoas que são capazes de interagir com culturas diferentes

da sua cultura nativa. A experiência do empreendedor se destacaria tanto por

Oviatt e McDougall (1994) como por Madsen e Servais (1996) como importante

para o entendimento do fenômeno das born globals.

Apesar da não existirem pesquisas que possibilitassem melhor entender seu

funcionamento e aprofundar as questões até então levantadas sobre as born

globals, é é inegável que elas introduziram um novo capítulo no estudo da

internacionalização das empresas. Aspectos como cultura organizacional,

sistemas de informação e gestão dos recursos humanos são apenas alguns

que teriam forte impacto com o advento das Born Global Firms.

2.6 As Redes de Empresas

Johanson e Vahlne (1990) discutiram algumas deficiências no processo do seu

modelo, relacionando o processo de internacionalização com o conceito de

network industrial. Pesquisas empíricas mostraram que empresas do mercado

industrial estabeleceram, desenvolveram e mantiveram relacionamentos de

negócio duradouros com outros atores do negócio. Assim indicaram os estudos

de Hakansson (1982), Turnbull e Valla (1986) e Hallen et al, (1987), que

mostram, ainda, que os relacionamentos se desenvolveriam através da

interação entre as partes onde cada uma seria responsável pela construção de

uma base de confiança mútua e do conhecimento, o que resultaria em relações

com elevado grau de comprometimento. (Ford, 1979).

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27

Segundo Cunningham (1985), uma rede poderia ser definida como “um vasto

número de elos que existem entre as organizações que atuam direta ou

indiretamente num determinado mercado”. (p.3). Seria a resultante de

processos interdependentes e cumulativos de investimento em

relacionamentos pelas empresas que integram a rede. A posição de cada

empresa na rede seria definida pelas funções que exercem em relação aos

outros integrantes, função da solidez de suas relações, sua importância ou

dominância e pela identidade das empresas com aquelas que tivessem

relacionamentos diretos ou indiretos (Mattsson, 1989).

Segundo Johanson e Vahlne (1990), a entrada de uma empresa em

determinado mercado externo poderia ser o resultado da ação de outras

empresas pertencentes a uma rede de determinado país. Porém, para alguém

que já integrasse a rede, as chances de interação nesse sentido seriam

maiores. Desta forma, o processo de internacionalização seria ampliado de

uma visão isolada para uma visão integrada onde atuariam diversas empresas:

uma rede. A expansão de uma rede para além das fronteiras domésticas

impactaria o processo de internacionalização das empresas que a integrassem.

O recebimento de pedidos espontâneos, que seria o ponto de partida para uma

atuação internacional, teria muito maior possibilidade de acontecer do que se a

empresa estivesse isolada. Por esta razão, Johanson e Vahlne (1990) citaram

que não apenas as relações de uma empresa poderiam permitir o acesso a

outras redes, mas a própria empresa poderia ser pressionada a se

internacionalizar por conta de sua rede doméstica.

Em termos de rede, internacionalização significaria que a empresa

desenvolveria relacionamentos de negócios em rede em outros países.

(Johanson e Mattsson, 1988). Segundo estes, isto poderia ser conseguido:

- estabelecendo relacionamentos no país da rede que fossem novos

para empresa, isto é, expansão internacional;

- desenvolvendo relacionamentos nestas redes, isto é, penetração;

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28

- conectando-se a redes em diferentes países, isto é, integração

internacional.

2.7 O Paradigma Eclético da Produção Internacional

O conceito do paradigma eclético da produção internacional foi apresentado

primeiramente em 1976, numa apresentação em Estocolmo em um Simpósio

Nobel sobre a distribuição da atividade econômica internacional. “A escolha da

palavra “eclético” foi ambiciosa, ainda que deliberada. Ela pretendia transmitir

a idéia de que uma explanação completa das atividades transnacionais de

empreendimentos necessitaria contemplar várias linhas da teoria econômica; e

que investimentos diretos do exterior seriam apenas um dos possíveis canais

de envolvimento econômico internacional, sendo cada qual determinado por

alguns fatores comuns”. (Dunning, 1988, p.1)

Ele foi definido por seu autor, John H. Dunning (1988), como o financiamento

da produção por investimentos externos diretos feitos por empresa

multinacionais. A intenção era fornecer uma estrutura de trabalho holística que

possibilitasse compreender a abrangência, forma e padrão da produção

internacional, com base em três grupos de vantagens: vantagens específicas

da propriedade, vantagens da internacionalização e vantagens de localização.

Vantagens específicas da propriedadePara competir no exterior com empresas que atuam no seu próprio país, uma

empresa necessitaria ter algumas vantagens específicas à natureza de sua

atividade e/ou à nacionalidade de sua posse. Tais vantagens – algumas vezes

chamadas de vantagens competitivas ou vantagens monopolísticas –

precisariam ser suficientes para compensar os custos adicionais de se

estabelecer e operar, além dos custos já enfrentados pelos produtores locais

ou produtores potenciais. Elas poderiam ser vantagens estruturais, se

decorrentes da propriedade em si mesma, de acesso privilegiado a um ativo,

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ou transacional, se a vantagem fosse decorrente da hierarquia da empresa

multinacional se aproveitar das imperfeições existentes no mercado e pela

gestão conjunta de seus ativos distribuídos pelos diversos países que atua.

Vantagens de InternalizaçãoReferem-se à capacidade e vontade da empresa multinacional em transferir

ativos através das fronteiras nacionais valendo-se da sua estrutura

organizacional, mais do que vendê-las ou permitir seu uso por empresas

estrangeiras locais. O que normalmente fazia com que as empresas

buscassem internalizar mercados seria : garantir o fornecimento de recursos

essenciais, assegurar a qualidade de seus produtos, proteger seus direitos de

propriedade e controlar seus preços e diluir custos fixos.

Vantagens de LocalizaçãoSeriam aquelas que determinariam onde se daria a produção. Quando

derivadas de algum tipo de intervenção governamental que afetasse receitas e

custos, estas vantagens seriam denominadas estruturais. Quando decorrentes

do aproveitamento de oportunidades oferecidas pelo mercado, por condições

decorrentes de contratos estabelecidos com clientes ou fornecedores, tais

vantagens seriam denominadas conjunturais.

O paradigma eclético sustenta-se, então, na combinação dos três parâmetros

apresentados:

- as vantagens específicas decorrentes da propriedade da empresa

relativas à produção no exterior;

- a propensão a internalizar mercados estrangeiros e;

- a atratividade da localização da produção no exterior.

Estes três elementos (produção, internalização e localização) seriam

fundamentais na decisão das empresas em produzir nos mercados

internacionais.

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2.7.1 Críticas ao Paradigma Eclético

As críticas ao modelo de Dunning são originárias tanto do campo da economia

quanto da administração. Pelas razões já apresentadas de que a presente

monografia não procurará analisar os modelos econômicos associados ao

processo de internacionalização, não serão analisadas as críticas oriundas do

campo econômico.

Johanson e Vahlne (1990) discorreram sobre o contraste entre o Modelo do

Processo de Internacionalização e o Paradigma Eclético, contrapondo os dois

modelos. Segundo eles, o Paradigma Eclético se propunha a explicar a

extensão, a forma e o padrão da internacionalização da produção, enquanto o

Modelo de Internacionalização objetivava explicar o padrão e o modelo de

estabelecimento de operações orientadas para o mercado, incluindo a

produção para mercados domésticos. Um padrão implicaria em escolha de

localização. Segundo eles, o paradigma eclético previa que a empresa se

estabeleceria onde vantagens pudessem ser desfrutadas. O modelo de

internacionalização previa, contabilizando apenas os custos da distância

psicológica, que as empresas poderiam iniciar invadindo (no sentido cultural)

os mercados vizinhos e mais tarde, com o avanço da experiência, alcançariam

mercados mais distantes.

Johanson e Vahlne (1990) reconheceram que, em termos de variáveis

explanatórias, a diferença entre seu modelo e o paradigma eclético era

significativa, por ser o modelo de internacionalização mais aplicável nos

estágios iniciais do processo. Por ser um modelo comportamentalista, ele se

aplicaria melhor às empresas menos experientes, enquanto o paradigma

eclético teria um poder explanatório maior junto às empresas multinacionais e

que, por pressupor um perfeito acesso às informações pelos tomadores de

decisão, ele seria mais consistente com empresas experientes.

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31

Finalmente, enquanto o paradigma eclético era visto por Johanson e Vahlne

(1990) como um modelo estático por natureza, o modelo de internacionalização

era por eles considerado dinâmico por considerar as mudanças nas variáveis

explanatórias ao longo do processo.

Para Johanson e Vahlne (1990), os dois paradigmas, em sua forma existente,

eram inconsistentes em suas premissas básicas e, por isso, incompatíveis

entre si.

2.8. A Estratégia de Internacionalização de Negócios

Sullivan e Bauerschmidt (1990) realizaram uma pesquisa entre os executivos

de 63 empresas dentre as 500 maiores contidas na relação da revista Fortune.

A análise dos resultados sugeriu uma estrutura de discussão decorrente do

contexto das noções de integração multinacional, internacionalização através

da inovação e receptividade nacional. O resultado sugere que a estratégia é

reduzida aos conceitos básicos de eficiência, eficácia, conhecimento e, mais

importante, como os executivos gerenciam simultaneamente tais dimensões.

Segundo os autores,

“a estratégia de internacionalização de negócios não é mais apenas

uma noção especulativa conectada a certos tipos de empresas que

operam sob certos tipos de condições industriais diante de certos

tipos de regulamentações governamentais. Muitos acreditam que a

estratégia internacional de negócios é a reconciliação da empresa da

obrigatoriedade dúbia (Doz, 1986), é a configuração e a coordenação

de atividades de valor (Porter, 1986) e é a administração das

operações de mercados internalizados (Buckley/Casson, 1985;

Barlett/Goshal, 1989)”.

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32

Eles compilaram uma série de recomendações de estrategistas, apresentadas

no Quadro 2.8.1. Apesar da variedade de opções estratégicas poder ter se

tornado confusa pela diversidade de posições, eles entenderam que,

trabalhando com a estrutura do quadro, seria possível avaliar as crenças

gerenciais sobre os conceitos básicos da estratégia de internacionalização de

negócios: integração multinacional, receptividade nacional e vantagens

intangíveis. Os autores, através do Quadro 2.8.2, apresentaram estes

conceitos, além do esboço das medidas operacionais desenvolvidas por Arpan

e al (1986) e Sullivan (1988).

O ponto de partida para o estudo de Sullivan e Bauerschmidt foi o alerta de

Hamel e Prahalad (1989) para se repensar “conceitos básicos” de estratégia.

Ao concluírem a apresentação do estudo, eles confirmaram e consolidaram

sugestões e concluíram que, entre grandes empresas multinacionais, tais

conceitos básicos são a inovação, eficiência e a efetividade. Para eles, analisar

cada dimensão isoladamente, sob a presunção de uma lógica rígida, seria um

ato de miopia. A confirmação da simultaneidade estratégica estabeleceu a

discussão da estratégia de internacionalização de negócios de grandes

empresas multinacionais através da inovação, integração multinacional e

receptividade nacional.

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33

Quadro 2.8.1 Convergência e Contradições na Interpretação dasEstratégias de Internacionalização de Negócios

Pesquisas Obrigatoriedade Estratégica LimitaçãoEstratégica

LógicaEstratégica

Hout, Porter,Rudden e Vogt(1982)

Subsidiárias interdependentes obrigando acompetitividade no âmbito nacional. Lógica dedecisões inovadoras mudando a escala e oescôpo da competição.

Antecipação eficiente aoscompetidores globais limitada aoacesso de mercado.

Tomadas de decisãosinérgicas, tambémchamadas de “pontos dealavancagem”,impondobarreiras de entrada e demobilidade.

Levitt (1983) Padronização de produtos para explorareconomias de escala; comprometimento parabaixos custos de produção e alta qualidade deprodutos.

Representação de nacionalismoeconômico e cultural paraimpedir padronização;transferência temporária dasdesvantagens.

Bombardear a mesmacoisa, do mesmo modo eem todos os lugares.

Hamel ePrahalad (1983;1984)

Dominação de marca mundial permitindo aalavancagem tecnológica e dos canais dedistribuição; Diminuir o ciclo de vida dosprodutos acelerando a sua saída. Gestão defluxo de caixa para subsidiar subsidiárias.

Intenção das subsidiárias emreter autonomia na alocação derecursos. Pressão política paracentros de decisão nacionais.

Alavancar tecnologiaprópria através de canaispróprios de distância,enquanto que adisponibilidade de caixa dagerencia circula paraatacar e defender a divisãodo mercado.

Kogut (1985 A;1985 B)

Abastecimento de multimercados edeslocamento da produção para enfrentarimperfeições de mercado e desequilibrioseconômicos.

Riscos políticos e incertezas deinformação podem criar aineficiência em transaçõesinternas e externas.

Substituir a estratégia deencaixe pela estratégia daflexibilidade para obtervantagem competitiva.

Quelch e Hoff(1986)

Ênfatizar o uso global eficiente das boasidéias de mercado mais que pradronizar paraganhar escala; Instalar uma organização queincentive a transferência de informação.

Tendência dos gerentes em vero mercado global tanto comopadronização quanto adaptação.A expansão da burocracia dasede retarda o tempo deresposta e eleva custos.

Confeccionar operaçõesglobais para maximizar aefeci6encia nodesenvolvimento deconceitos e a eficácia nadistribuição local

Porter (1986) Configurar atividades de valor para explorarfatores diferencias de custo; Estendervantagens competitivas coordenandointerrelações

Imperfeições políticas e demercado ameaçam separaratividades de valor

Obter integraçãoconfigurandoeficientemente ecoordenando efetivamentea cadeia de valor global

Ghoshal (1987) Competitividade global apoiada na aquisiçãode efeitos de escala, gerenciamento de riscosde serviço, desenvolvimento de sistemasinternos de informação e adaptação.

Crenças incorretas na noção dedeterminismo da industria;Inabilidade em separar riscosoperacionais e estratégias;incapacidade de alavancaraprendizado.

Gerenciar globalmentetarefas estratégicas é fazeruso de fontes de vantagemcompetitiva para,simultaneamente, otimizareficiência, risco eaprendizado.

Barlett e Goshal(1989)

Desenvolvimento de uma capacidadetransnacional de gerenciar através dasfronteiras, uma tarefa que requer um processointegrador que mova a empresa de umafilosofia de encaixe para uma filosofia deflexibilidade

Legado de herançaadministrativa que écontraditória aotransnacionalismo. Tendência aimitar as capacidadesorganizacionais doscompetidores.

Controle estratégico daempresa e coordenaçãoglobal são precursores dosucesso no mercadointernacional.

Hamel ePrahalad (1989)

Criação de um senso de urgência entre osgerentes. Uma considerável inteligência decompetidores. Trabalhadores engenhosos.Checagens claras e equilíbrio.

Desafio para as visõestradicionais dos gerentes noplanejamento. As análises sãoparciais, na direção demercados domésticos.

A intensão estratégicacapta a essência devencer, é estável atravésdo tempo e estabelecemetas que mereçamcomprometimento.

Stalk e Hout(1989)

Operações focadas na ênfase da fabricaçãofllexível e sistemas de respostas rápidasconstruídos sobre a base de P&D.

Um portfólio de produtos nãorelacionados e uma organizaçãoque dá ênfase a custos erespostas rápidas.

A sustentação da posiçãointernacional requer ofornecimento de maiorvalor para o menor custono menor tempo.

Ohmae (1989) Princípio da equidistância na visão gerencial– pensando e vendo globalmente. Gerenciarabordagens diferenciadas para produtosglobais exige as tais chamadasinternalizações de habilidades funcionais.

Reflexo doméstico errado naimplementação do modelo daONU. A inércia burocráticadestrói colaborações.

A isca de um produtoglobal é uma tentaçãofalsa. Considerar ainternalização de forçasfuncionais é o caminhopara o sucesso global.

Fonte: Sullivan e Bauerschmidt, 1991.

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34

Quadro 2.8.2 Elementos e Medidas da Estratégia de Internacionalizaçãode Negócios

Fonte: Sullivan e Bauerschmidt, 1991.

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35

2.9. A Internacionalização de Empresas Brasileiras

Considerada uma economia fechada pelos padrões internacionais até a década

de 50, o Brasil experimentou na década de 70 resultados animadores que

trouxeram novos desafios, mas também vários problemas, em função da

adoção, muitas vezes, de políticas econômicas incoerentes com o

comportamento exportador ideal.

Neste mesmo período começam a surgir diversos estudos sobre a

internacionalização de empresas brasileiras. Para efeitos desta monografia, e a

fim de fortalecer sua proposição, serão verificados, a seguir, alguns destes.

2.9.1. Leite, Rocha e Figueiredo (1988)

O estudo proposto por seus autores objetivava observar o quanto a percepção

de diferenças e semelhanças culturais entre países afetava a percepção dos

tomadores de decisão a respeito das ações de ampliação das atividades da

empresa além das fronteiras domésticas.

Na época os poucos estudos disponíveis fizeram com que fosse necessário

recorrer a outras áreas das Ciências Sociais para obter suporte técnico para o

estudo, optando-se por adotar um enfoque comportamental que, além dos

aspectos psicológicos já enfocados por alguns estudos, considerasse os

aspectos culturais.

Para reforçar a ausência de estudos que enfocassem o processo decisório das

empresas do ponto de vista comportamental, Leite, Rocha e Figueiredo (1988)

fazem a seguinte observação:

“É importante notar que Baumol (1968), em clássico estudo sobre a

personalidade do empresário, sustenta que ele foi ignorado pela

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36

Teoria da Firma, porque essa teoria é um instrumento de análise de

problemas bem definidos, exatamente os problemas que não

precisam do empresário para sua solução. Já Keets de Vries (1977)

vai mais além, quando diz que as ações, muitas vezes “irracionais” e

imprevisíveis do empresários não se ajustam aos esquemas lógicos e

“racionais”dos economistas e tendem a perturbar a harmonia implícita

dos seus modelos”.

O estudo levou os autores a comprovarem que a decisão de mercados de

exportação é influenciada pela percepção que o tomador de decisão possui a

respeito dos países nesse processo. Constatou-se que os executivos

brasileiros consideravam a atividade exportadora para países vizinhos uma

prática doméstica, encarando tais mercados como a extensão de suas

fronteiras. A postura passiva dos decisores não permitiu se enxergar tal

atividade como estratégica para o desenvolvimento da empresa. São os

seguintes os comentários conclusivos sobre o estudo:

“...não obstante a comprovação das hipóteses da pesquisa mostrar a

existência de correlação positiva entre a percepção de diferenças e

semelhanças culturais entre o Brasil e outros países, por parte dos

executivos de topo das empresas exportadoras, e os mercados para

as quais essas empresas exportam, esses executivos não estão

otimizando os resultados das atividades de exportação de suas

empresas. Ou seja, por não estarem conscientes da importância

desses fatores na facilitação do processo de comercialização de seus

produtos no exterior, esses executivos deixam de exportar para

países cujo idioma eles dominam; do mesmo modo, deixam de

exportar para países cujos costumes e cuja raça são percebidos

como afins com o Brasil. E mais: deixam de maximizar os resultados

de suas atividades de exportação, não direcionando suas viagens ao

exterior de modo a diminuir barreiras culturais, aumentar

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37

conhecimentos e promover contratos entendidos como

indispensáveis”.

2.9.2. Grael e Rocha (1988)

A fim de contribuir para o entendimento do processo de internacionalização de

empresas, os autores valeram-se do estudo de caso, aplicando-o à rede Globo

de Televisão, realizando um estudo este que se tornou exemplo clássico na

demonstração dos estágios percorridos por uma empresa até atingir o mercado

exterior: domínio do mercado interno, ingresso no mercado externo via

exportações e investimento direto no exterior, estabelecendo-se lá.

É interessante notar que, relativamente à postura da Rede Globo, é de que a

exportação era encarada como um imperativo na sua estratégia, estivessem

seus diretores conscientes ou não. A associação com parceiros externos, a

busca de profissionais de alto nível no mercado, a ênfase na qualidade da

produção, entre outros, eram uma forte indicação da importância desta

atividade na estratégia desta empresa.

A decisão de exportar foi associada à questão de imagem da empresa.

Exportar produções de uma empresa de televisão brasileira geraria status e

prestígio, fortalecendo sua posição de competitividade no mercado

internacional. E assim se deu, escolhendo-se o mercado português, o que

reforçou a teoria de Uppsala (Johanson e Vahlne, 1977) de que as empresas,

inicialmente, buscam exportar para países onde a distância psíquica seja

menor.

Após o ingresso no mercado externo, as ações decorrentes foram no sentido

de fortalecimento e ampliação deste espaço. Foi criado na empresa um

departamento internacional e abriram-se escritórios no exterior: na Europa

(Roma) e América do Norte (New York).

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Assim concluem os pesquisadores do caso:

“Apesar de seu ajuste à teoria sobre o comportamento exportador, o

caso da rede Globo surge como uma exceção, entre as empresas

brasileiras exportadoras, cuja passagem pelo mercado internacional é

muitas vezes efêmera, não obedecendo ao modelo sequencial de

comprometimento com a exportação. Talvez a chave para o

entendimento da questão esteja justamente no fato de a

internacionalização representar para a Rede Globo, um imperativo

estratégico para a continuidade de seu crescimento, o que já não

ocorre com a grande maioria das empresas brasileiras, que

encontram no mercado interno suas oportunidades de crescimento.”

2.9.3 Brasil et alli (1996)

Os pesquisadores verificaram que, na década de 80, houve um incremento no

número de empresas envolvidas no processo de comercialização com o

exterior, demonstrando um perfil contingencial no processo de

internacionalização das empresas brasileiras. As formas de entrada não

obedeceram necessariamente àquelas etapas descritas no modelo evolutivo.

O processo de internacionalização foi visto sobre o enfoque de investimento e

presença física no exterior, escolhendo-se um universo de 160 empresas mais

representativas na atuação do Brasil no exterior. Dos 160 questionários

enviados a estas empresas, 57 foram devolvidos.

Quanto aos fatores determinantes para a presença das empresas brasileiras no

exterior, dois aspectos estiveram relacionados a esta questão. A primeira

relacionada ao papel das lideranças, fator este que pesou fortemente na

inserção da empresa no mercado internacional, onde os aspectos culturais

associados às iniciativas pesaram fortemente, principalmente pelo fato de os

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principais executivos das empresas respondentes - na maioria fundadores das

empresas - possuírem raízes européias. O segundo aspecto é o que se refere

ao estabelecimento de alianças e parcerias, que se deram, principalmente,

para as questões associadas ao acesso à tecnologia, conhecimento de

mercado, perfil da concorrência e para superação de barreiras culturais.

A pesquisa levou seus pesquisadores a inferirem que a participação das

empresas brasileiras no exterior será crescente, abandonando a posição de

simples exportadora para a abertura de escritórios, depósitos e sucursais. A

tendência seria de uma concentração maior na América Latina, em razão do

Mercosul, que servirá de aprendizado para a ampliação da presença brasileira

no resto do continente americano.

2.9.4. Barreto (1998)

Este estudo objetivou investigar a internacionalização de empresas brasileiras

através de três dimensões: os processos utilizados, as características dos

dirigentes responsáveis pela decisão e o envolvimento das empresas em redes

(networks).

Para atender este objetivo o autor desenvolveu o estudo de caso de dez

empresas brasileiras cujo processo de internacionalização compreendia

investimento direto no exterior. Das dez empresas estudadas uma era

prestadora de serviços e as demais eram manufatureiras.

Para cada dimensão foram elaboradas proposições: treze para o processo de

internacionalização, quatro para as características dos tomadores de decisão e

cinco para o envolvimento com redes de empresas.

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Principais conclusões sobre a relação entre os modelos deinternacionalização e o comportamento das empresas pesquisadasOs resultados do estudo deram apoio parcial à proposição de que a

internacionalização segue um processo gradual e progressivo que vais desde a

inexistência da atividade exportadora até a fabricação local. Já para a

proposição de que a seqüência dos modos de entrada pela empresa, -

exportação, investimento direto no exterior e licenciamento - não houve

suporte.

O ciclo conhecimento-comprometimento, postulado por Johanson e Vahlne

(1990), foi constatado em sete das dez empresas analisadas. De fato, as

empresas ampliam seu conhecimento sobre os mercados em que atuam e

avançam com aquele mercado à medida que os conhecem mais. No entanto

foram encontradas duas exceções.

A primeira se referia às empresas onde a decisão de internacionalização se

deu pela entrada em indústrias globalizadas. Por se encontrarem em uma

posição inferior às gigantes globais, atuando na periferia de redes com

ramificações por todo o planeta, não era permitido a empresas que assim se

encontravam decidir em que mercados elas estariam presentes. Elas

simplesmente seguiam onde, e apenas onde, fosse de interesse e

conveniência de suas parceiras internacionais, o que significava dizer que a

presença em determinados mercados e o grau de comprometimento esperado

já eram dados de partida.

A segunda exceção foi encontrada em uma única empresa, que tomava

decisões de investimentos com base em critérios de oportunidade. Esse perfil

era incompatível com a idéia de comprometimento crescente a partir de um

maior conhecimento do mercado.

As empresas que atuavam em mais de uma região geográfica doméstica

tinham maior probabilidade de se internacionalizar.

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O construto da distância psicológica demonstrou ser útil para o entendimento

da ordem cronológica de entrada em mercados no exterior. A proposição de

que quanto maior a distância cultural, maior seria a probabilidade de se

escolher uma joint venture, ao invés de uma aquisição, não foi confirmada. Dos

seis casos encontrado no estudo de investimento direto em países

culturalmente mais distantes, quatro foram através de aquisição e dois através

de joint venture.

Não se encontraram evidências empíricas que apoiassem a proposição de que

a continuidade da empresa na atividade internacional se relacionasse ao seu

tamanho.

Uma interessante constatação foi obtida quando da verificação das motivações

para o ingresso e continuidade das atividades internacionais da empresa, se as

mesmas variavam de acordo com o estágio da internacionalização, com o tipo

de empresa e a regularidade da atividade internacional. Em que pese a

confirmação da proposição, foram encontrados por trás desta grande variedade

de fatores que motivam a empresa a se internacionalizar aquilo que o autor

chamou de “padrões dominantes de motivação” que eram: crescimento,

consolidação, sobrevivência, oportunidade e visão estratégica. No caso de

internacionalização por oportunidade e por visão estratégica, são as

características e valores do líder empresarial que ditam o padrão dominante de

motivação. No caso de internacionalização para crescimento, o fator dominante

é a participação da empresa no mercado doméstico. Na internacionalização por

consolidação, o fator determinante é a existência de grandes clientes em

mercados externos, que precisam ser atendidos com rapidez, flexibilidade e

serviços. Na internacionalização para sobrevivência, o fator determinante é a

estrutura da indústria.

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Principais conclusões sobre as características das empresas e dosdecisores associadas ao padrão de internacionalização adotadoEm oito, das dez empresas estudadas, o papel do líder do processo de

internacionalização mostrou-se fundamental para o entendimento desse

processo. Todos se caracterizavam por um perfil empreendedor.

A simbiose entre as características individuais dos líderes dessas empresas e a

natureza das mesmas era tão grande que era separar uma da outra. Em

empresas dirigidas por empreendedores isto é uma conseqüência natural.

Em duas empresas a vivência do executivo-chefe no exterior parecer ter

influenciado a escolha dos mercados. Tal decisão se dá através da redução da

distância psicológica, como se o executivo fizesse uso de “mapa cognitivo”.

Nos demais casos estudados tais aspectos não foram verificados.

O papel das redes de empresa no processo de internacionalização dasempresas pesquisadasO estudo mostrou evidências que deram suporte empírico às proposições

relativas ao papel das redes na internacionalização das empresas. Com

relação à influência das redes no início do processo, dois casos estudados em

que consórcios de empresas locais tiveram influência decisiva no processo de

internacionalização suportou a proposição de que a decisão de exportar e/ou

aumentar o comprometimento poderiam se dar baseadas na experiência

coletiva da rede a que a empresa pertence, e de que o ingresso da empresa no

mercado externo poderia se dar através de uma rede.

A proposição de que fatores como contatos interpessoais, relações de amizade

entre donos de empresa e comunicação boca-a-boca eram de grande

importância para estimular as empresas em seu processo de

internacionalização foi fortemente confirmada.

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O estudo mostrou que as redes, sejam elas pessoais ou empresariais, surgiram

não como exceção mas como regra para o balizamento do comportamento de

empresas em mercados internacionais.

2.9.5 Pinto (1998)

O estudo procurou investigar o processo de internacionalização de empresas

brasileiras, especialmente no âmbito do Mercosul, enfocando fatores de ordem

comportamental e econômica que poderiam influenciar a tomada de decisão de

internacionalização e a definição do modo de entrada em um determinado

mercado estrangeiro.

Foi feita a análise de caso de uma empresa brasileira do setor de serviços, que

decidiu internacionalizar-se no Mercosul à luz do Modelo do Processo de

Internacionalização, dos modelos seqüenciais e de natureza microeconômica

(Paradigma Eclético e Custos de Transação).

O autor constatou que, por se tratar da análise de uma empresa de serviços, a

análise do caso à luz dos princípios padrões do Modelo do Processo de

Internacionalização (conhecimento do mercado e comprometimento com o

mercado) não pareceu adequada. Da mesma forma no que diz respeito aos

fundamentos dos modelos relacionados à inovação.

Por se tratar de uma empresa de serviço, a ela não dispôs da possibilidade de

simplesmente exportar seus serviços, muito menos de percorrer as etapas de

estágios propostos nos modelos seqüenciais, que se adequam melhor a

empresas manufatureiras.

Em relação à distância psicológica, a decisão da empresa em se estabelecer

inicialmente nos Estados Unidos e depois na Argentina contrariou o que dizem

os modelos de natureza comportamental. Certamente questões de natureza

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estratégica ou percepções pessoais do tomador de decisão poderiam ter

influenciado mais fortemente do que a percepção genérica do distanciamento

psicológico.

Através da análise do caso, contatou-se a importância de fatores associados à

pessoa do tomador de decisão, como sua forte orientação internacional e a sua

tolerância à incerteza e ao risco. Verificou-se, ainda, a confirmação de

aspectos como a percepção de oportunidades de negócio, disponibilidade de

recursos e a dificuldade de se encontras profissionais especializados no

exterior.

Quanto ao Paradigma Eclético e a Análise de Custos de Transação, eles

pareceram ser bastante consistentes ao caso estudado. Vantagens específicas

de propriedade, de internalização e de localização foram constatadas, bem

como especificidade de ativos, incerteza interna e externa, inseparabilidade da

produção e consumo de serviços e importância dada à marca. Tais aspectos

justificaram a escolha do investimento direto como modo de entrada da

empresa no Mercosul, através do mercado argentino.

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45

CAPÍTULO 3

METODOLOGIA DE ESTUDO

3.1. Problemas e Perguntas de Pesquisa

O presente trabalho se propõe a examinar o processo de internacionalização

de uma empresa estatal brasileira do setor petrolífero, a Petrobras.

Duas são as perguntas que orientaram este trabalho:

a) Como ocorreu o processo de internacionalização de uma empresa

estatal brasileira, a Petrobras?

b) Em que medida as teorias existentes de internacionalização explicam

a forma pela qual ocorreu este processo na Petrobras?

3.2. Método de Pesquisa

O método científico na pesquisa social empírica permite que se faça

levantamento, observação e experimento, fornecendo conhecimento sobre

opiniões, atitudes, crenças e percepções dos indivíduos, sejam eles agentes ou

pacientes de um processo (Campomar, 1982).

Segundo Yin (1993), para realização de trabalhos de pesquisa em

Administração, a maioria dos autores classifica os estudos em exploratórios,

descritivos e explanatórios. Os estudos exploratórios, como o próprio nome

indica, buscam investigar novas questões ainda não suficientemente

estudadas. Os estudos descritivos apresentam características e fatos sobre

situações em estudo. Finalmente, os estudos explanatórios buscam identificar

relações de causa e efeito entre variáveis.

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46

A maioria dos pesquisadores em Administração classifica seus estudos como

explanatórios e causais. Esta é uma classificação acadêmica que recebeu

diversas críticas e superposições, mas que ajuda na compreensão das

estratégias utilizadas para realização de uma pesquisa. Tais estudos são, em

geral, estudos para a construção de teorias ou modelos que explicam uma

situação prática (Eisenhardt, 1989).

Porém, para qualquer tipo de estudo em desenvolvimento podem ser utilizados

métodos qualitativos ou quantitativos.

Nos métodos quantitativos se procura encontrar medidas em populações.

Quando da existência de limitações de recursos, que impedem a obtenção de

tais medidas de forma direta, recorre-se à obtenção das mesmas através da

inferência estatística, valendo-se de amostras de população e testes de

inferência paramétricos ou não paramétricos.

Nos métodos qualitativos não existem medidas, as possíveis inferências não

são estatísticas e se busca fazer análises de profundidade, se obtendo

percepções dos elementos pesquisados sobre os eventos de interesse.

Yin (1989) apresenta cinco métodos básicos de realização de uma pesquisa

social. São elas: experimentos, surveys, análise de arquivos, histórias e

estudos de casos. Para se determinar qual o melhor método a ser utilizado

numa pesquisa social, Yin (1989) diz ser necessário atentar para três questões:

a) o tipo de pergunta da pesquisa

b) o grau de controle que o pesquisador possui sobre o evento em

estudo;

c) o evento analisado ser contemporâneo ou histórico

Quanto à primeira indicação, perguntas do tipo “o que”, “quem”, “onde” e

“quanto” indicam a utilização de surveys ou análises de arquivos, já que elas se

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associam à determinação da incidência ou freqüência de eventos. Perguntas

iniciadas por “como” e “por que” indicam a utilização de experimentos, histórias

e estudo de caso, já que se direcionam para o contexto e a dimensão temporal

dos fenômenos, não se importando com as medidas de freqüência.

Na seqüência das condições estabelecidas por Yin (1989), deve ser verificado

o nível de controle que o pesquisador tem sobre o evento analisado, e este

evento é passado ou contemporâneo. Para perguntas do tipo “como” e “por

que” a história é o método mais adequado para a realização da pesquisa, caso

o pesquisador não tenha controle sobre o evento, uma vez que o fato em

questão reside completamente no passado, sem a possibilidade de valer-se de

depoimentos de testemunhas, o que o obriga a fazer uso unicamente de fontes

documentais de evidência. Em se tratando de um evento contemporâneo, o

método de estudo de caso apresenta vantagem sobre o método de história, por

permitir tal ao pesquisador, além da consulta a documentos, a observação

direta e a realização de entrevistas.

Sendo assim, o método adequado para a presente pesquisa qualitativa é o

estudo de caso, uma vez que ela está relacionada a eventos contemporâneos

sobre os quais o pesquisador não possui controle, e as perguntas da pesquisa

se enquadram nesta metodologia.

De acordo com Yin (1989), uma análise de caso “é uma pesquisa empírica que

investiga um fenômeno contemporâneo no seu contexto real, quando as

fronteiras entre o fenômeno e o contexto não se encontram nitidamente

definidas e em que diversas fontes de informação são utilizadas”. (p.23).

Segundo Goode e Hatt, (1975), o estudo de caso não é uma tendência

específica. É meio de organização de dados que preserva o caráter unitário do

objetivo social estudado. Dito de outra forma, o estudo de caso seria uma

abordagem que considera qualquer unidade social como um todo.

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A maior parte das dificuldades atribuídas a esta metodologia de pesquisa

poderia ser reduzida a uma, assim descrita por Goode e Hatt (1975): “É

interessante notar que o perigo básico no seu uso é a resposta do pesquisador.

O pesquisador chega a ter uma falsa sensação de certeza sobre suas próprias

conclusões”.

Segundo Yin (1993), um estudo de caso pode basear-se em um único caso ou

em casos múltiplos, podendo ser exploratório, descritivo ou explanatório. Yin

diz, ainda, que existem seis combinações possíveis entre as possibilidades,

que fazem com que um caso possa ser:

• simples e exploratório

• simples e descritivo

• simples e explanatório

• múltiplo e exploratório

• múltiplo e descritivo

• múltiplo e explanatório

Um caso é exploratório quando busca definir as questões e hipóteses para um

estudo subseqüente ou determinar a viabilidade de um instrumento de

pesquisa. Um estudo de caso é descritivo quando apresenta a descrição

abrangente de um evento dentro de seu contexto. Na presente pesquisa,

utilizou-se o estudo de caso simples e descritivo.

3.3. Escolha do Caso

O caso objeto da pesquisa refere-se ao processo de internacionalização da

Petrobras, a maior empresa brasileira e uma das maiores da América Latina,

estatal e que atua no exterior desde 1972, diante da abertura de mercado do

setor petróleo, ocasionada pelo quebra do monopólio da União.

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49

Neste ponto reside a relevância do caso selecionado, uma vez que, exposta à

concorrência, a Petrobras se encontrava diante do desafio de mostrar-se ao

mundo como empresa ágil e competitiva não mais protegida pelos muros do

monopólio.

O fato de o pesquisador atuar na referida empresa e de ser o tema da pesquisa

item relevante no Plano Estratégico da Petrobras para o período 2000-2010

favoreceram a escolha do tema, pois estudar a sua experiência de atuação

internacional pode vir a contribuir para o êxito de novas incursões

internacionais da empresa.

3.4. Fontes de Informação e Coleta do Caso

A primeira etapa da coleta de dados constituiu em recorrer às informações

disponíveis sobre a atuação internacional da Petrobras em seus relatórios

anuais, estudos internos e publicações internas e externas.

Posteriormente, a pesquisa dirigiu-se para a revisão da literatura existente

sobre a internacionalização de empresas e os aspectos envolvidas na tomada

de decisão de entrada em um mercado externo.

A procura de informações históricas sobre uma das subsidiárias da Petrobras,

a Interbras, extinta em março de 1990, levou-nos aos arquivos do jornal O

GLOBO, que permitiram agregar depoimentos sobre a situação ocorrida e uma

visão alternativa aos fatos ocorridos.

Foram ainda realizadas entrevistas com três executivos da empresa.

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50

3.5. Análise dos Dados

A análise das informações obtidas foi submetida constantemente à verificação

de atendimento das perguntas que fundamentaram a pesquisa: como se deu o

processo de internacionalização da empresa estudada e qual a relação entre o

processo ocorrido com as teorias sobre internacionalização de empresas.

3.6. Limitações do Estudo

Segundo Goode e Hatt (1975), os elementos únicos de qualquer fenômeno são

precisamente aqueles eliminados pela abstração científica. Na medida em que

essas características são realmente únicas, é impossível considerá-las em

termos de generalizações científicas. Por isso, o método do caso não pode ser

considerado capaz de captar o único, mas sim como uma tentativa de manter

juntas, como uma unidade, aquelas características importantes para o

problema científico que está sendo investigado. Assim sendo, o método não

permite generalizações para outros casos além daquele estudado.

Os autores dizem que a maior das dificuldades no uso do estudo de caso

reside na pessoa do pesquisador, mais especificamente na sua resposta, pela

falsa sensação de certeza sobre suas próprias conclusões.

Além das limitações decorrentes do método, dificuldades relativas à obtenção

de dados também ocorreram, especificamente quando da necessidade de se

obter informações sobre a Petrobras Comércio Internacional S. A. – Interbras,

extinta em 1990 e sem um acervo adequado de informações a seu respeito,

limitando-se a alguns relatórios anuais, matérias de revistas e citações em

estudos sobre exportações e trading companies.

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51

CAPÍTULO 4

DESCRIÇÃO DO CASO

4.1. O Sistema Petrobras

A principal atividade da Petrobras é a criação de uma infra-estrutura de

exploração, produção e abastecimento de derivados para o desenvolvimento

industrial do Brasil. Estas áreas são integradas com mais onze órgãos de

apoio, chamados de serviços, e formam o Sistema Petrobras.

Além das atividades da holding, o Sistema Petrobras inclui cinco subsidiárias –

empresas independentes com diretorias próprias interligadas à sede. São elas:

Petrobras Química S.A. (Petroquisa), que atua na indústria petroquímica;

Petrobras Distribuidora S.A. – BR, na distribuição de derivados de petróleo;

Petrobras Internacional S.A. – Braspetro, que atua nas atividades de

exploração e produção e na prestação de serviços técnicos e administrativos

no exterior e a Petrobras Gás S.A. – Gaspetro, responsável pelo Gasoduto

Bolívia-Brasil e a Petrobras Transporte S.A. – Transpetro, criada para executar

as atividades de transporte marítimo da Companhia e de dutos e terminais de

transferência de óleo e derivados. A figura 1 mostra a estrutura vigente da

Petrobras até o final de 1999.

4.1.1. Breve Histórico da EmpresaA Petrobras, através da Lei 2.0046, foi criada em 3 de outubro de 1953, e

iniciou suas atividades com acervo recebido do antigo Conselho Nacional do

6 Lei que estabelecia o monopólio da União federal sobre as atividades integrantes da indústria dopetróleo: pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluidos e gases raros existentesno território nacional; refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; transporte marítimo do petróleobruto de origem nacional ou de derivados de petróleo produzidos no país; e transporte, por meio de dutosde petróleo, de petróleo bruto e seus derivados, assim como de gases raros de qualquer origem. A Lei2004 estabelecia, também, que a União Federal estava autorizada a construir a petróleo Brasileiro S.A. –

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Petróleo (CNP): campos de petróleo com capacidade para produzir 2.700 bpd7;

bens da comissão de Industrialização do Xisto Betuminoso; Refinaria de

Mataripe (BA), processando 5.000 bpd; refinaria em fase de montagem, em

Cubatão (SP); vinte petroleiros com capacidade para transportar 221.295

toneladas; reservas recuperáveis de 15 milhões de barris; consumo de

derivados de 137.000 bpd; e a fábrica de fertilizantes em construção (Cubatão

–SP).

Em 1974, foi descoberto óleo na Bacia de Campos. O Campo de Garoupa era

a primeira descoberta, e se tornava a maior província petrolífera do País e um

ponto de aplicação para tecnologias avançadas para a produção de petróleo

no mar.

Em 1981, os campos de Garoupa, Namorado, Anchova, Pampo e Badejo

entraram em atividade, chegando a 53,9% da produção marítima do País.

Naquele ano, a produção marítima (offshore) de óleo e líquidos de gás natural

correspondia a 73% do total.

Em 1988, o artigo 177 da Constituição federal consagrou o monopólio da União

sobre a pesquisa e a lavra de jazidas de hidrocarbonetos fluidos, o refino de

petróleo nacional ou estrangeiro, a importação e exportação de petróleo e seus

derivados básicos, assim como o transporte marítimo por dutos de petróleo e

seus derivados. A lei 2.004/53 permaneceu como o instrumento de regulação

do setor e a Petrobras se consolidou como a única executora do monopólio da

União.

O reconhecimento da competência tecnológica da empresa viria em 1992,

quando a Petrobras foi considerada pela OffShore Tecnology Conference

(OTC) a empresa que mais contribuiu, em nível mundial, para o

Petrobras, como empresa estatal de petróleo para execução do monopólio, incluindo a execução dequaisquer atividades correlatas ou afins àquelas monopolizadas. Surgia, assim, a Petrobras, constituídaem 12 de março de 1954, durante a 82a Sessão Extraordinária do CNP. Em 2 de abril de 1954, O GovernoFederal aprovava a decisão com o Decreto nº 35.308.7 BPD = Barris de Petróleo Por Dia

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desenvolvimento tecnológico da indústria do petróleo no mar. A Petrobras

iniciou o PROCAP 2000, programa que visava a capacitação tecnológica para

exploração e desenvolvimento de reservas de petróleo entre 1.000 e 2.000

metros de lâmina d’agua no mar.8

Entre 1954 e 1994, a Petrobras investiu cerca de US$ 85 bilhões no País, dos

quais US$ 74 bilhões com recursos próprios e o restante através da

reaplicação de dividendos, isenções tributárias e impostos autorizados pela

União. A inversão direta do Governo foi de US$ 600 milhões.

Em novembro de 1995, o Congresso Nacional aprovou a Emenda

Constitucional nº 9, que confirmava a União como detentora do monopólio dos

hidrocarbonetos líquidos tal como definido no Art. 177 da Constituição.

Permitira, porém, que empresas públicas ou privadas pudessem participar da

execução do monopólio da União. A regulamentação dessas mudanças

entrava em discussão no Congresso Nacional. Isso significava, na prática, a

perda da posição da Pertrobras como única executora do monopólio de

petróleo da União.

Em 1996, concluiu-se a regulamentação do setor do petróleo. A Petrobras

investiu em novos empreendimentos em upstream9 e outras empresas

começavam a contatar a Companhia. Cento e vinte memorandos de

entendimentos foram assinados, dados foram divulgados e reuniões técnicas

foram realizadas.

No dia 6 de agosto de 1997, o governo regulamentou a Emenda Constitucional

nº 9, abrindo as atividades da indústria petrolífera à iniciativa privada. Com a

lei, foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), encarregada de regular e

fiscalizar as atividades do setor; e o Conselho Nacional de Política Energética,

órgão formulador da política pública de energia.

8 Lâmina D’agua é o termo que dado à distância entre a superfície e o fundo do mar.9 Upstream é o termo que, na indústria do petróleo, congrega as atividades de exploração e produção depetróleo. Downstream é o nome que, na industria do petróleo, congrega as atividades de refino,distribuição e comercialização de petróleo e derivados.

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Em março de 1999, tomou posse o novo presidente da Petrobras, Henri

Philippe Reichstul, foram escolhidos os novos Conselhos Fiscal e de

Administração e foi aprovado o novo estatuto da Companhia. Seu atual

organograma está descrito no Anexo 4.1

4.1.2 O Processo de Internacionalização da Empresa

4.1.2.1 Primeiros Passos Rumo ao ExteriorA primeira menção à internacionalização das atividades da Petrobras foi feita

pelo geólogo norte-americano Walter Link, responsável pela condução das

atividades de exploração e produção no Brasil, nos anos 50. Diante dos

insucessos de uma campanha exploratória regional conduzida nas bacias

paleozóicas que representavam juntas cerca de 80% da área sedimentar

brasileira, Walter Link alinhavou em uma nota técnica conhecido como

“Relatório Link”, algumas recomendações para a estratégia de atuação da

Petrobras no upstream. Ele assinalava que a área sedimentar terrestre, apesar

de extensa, apresentava chances reduzidas de conter reservas de petróleo que

atendessem à demanda doméstica, recomendando a reorientação dos esforços

exploratórios para províncias petrolíferas situadas no exterior e para o offshore

”nacional”. As conclusões do “relatório Link”, quando divulgadas, causaram

profundo mal-estar na opinião pública nacional, acarretando o seu afastamento

da Petrobras.

A idéia de concretizar a presença da Petrobras além do território brasileiro data

de 1965, apesar desta possibilidade já estar prevista na lei 2.004 que a criou,

em 03 de Outubro de 1953.

Geonísio Carvalho Barroso, então Diretor da Petrobras, fez uma exposição de

motivos ao Conselho de Administração. O Conselho, acatando a proposta do

Diretor de dar início aos estudos da companhia para o exterior, autorizou, em

1966, a criação do Grupo de Trabalho de Exploração no Exterior - GTEE. O

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GTEE teve o objetivo de obter dados e elementos seguros e realizar estudos

extraordinários que possibilitassem a participação da Petrobras, com um

máximo de segurança técnico-gerencial, em exploração e produção fora do

território nacional. Este grupo de profissionais das áreas de exploração,

engenharia de petróleo, direito, economia e finanças dedicou-se durante dois

anos a estudar os complexos aspectos que envolveriam a participação da

companhia na exploração de petróleo fora do território nacional.

Os referenciais do GTE eram:

- que os programas exploratórios da Petrobras não poderiam ser afetados

pela possível decisão da companhia em voltar-se para fora de suas

fronteiras;

- que o fato de o Brasil ser um mercado consumidor fazia com que já se

viesse pagando, no preço da importação, a pesquisa e o

desenvolvimento das jazidas em território estrangeiro;

- que mesmo que o Brasil alcançasse a auto-suficiência em petróleo, a

presença da Petrobras no exterior possibilitaria, além de lucros a auferir,

a preservação das reservas brasileiras.

O coordenador do GTE, Geonísio Barroso, apresentou à Direção da

Companhia, em 1968, relatório que concluía pela presença da Petrobras no

exterior. A partir de então, intensificaram-se os estudos e o GTE, acrescido de

um maior número de técnicos, iniciou contatos com empresas estrangeiras,

“in loco” ou através de correspondência, analisando propostas de associações

dirigidas à Petrobras. Neste período foram tomadas as providências no sentido

de adequar o art. 41 da Lei 2.004 à nova realidade.

Em 1973, com acesso a óleos do Oriente Médio excedentes a sua

necessidade, a Petrobras fechou um contrato de refino com as refinarias

italianas Saras e Saron, que vigorou até 1976. Os produtos obtidos do

processamento eram vendidos, principalmente na Europa, tendo sido alugada

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tancagem em Rotterdam. Em determinadas ocasiões, foram também

destinados aos EUA ou, eventualmente, trazidos para o Brasil. Esta foi a

primeira operação offshore de porte do sistema. A principal motivação desta

operação estava estreitamente associada à garantia de suprimento do

mercado nacional.

O refino na Itália, desenvolvido inicialmente através do escritório da Petrobras

nos Estados Unidos – ESCEU, acabou sendo transferido para a

responsabilidade do escritório de Paris. A atividade, então com sua

rentabilidade comprovada, serviu ao interesse de se afirmar a viabilidade da

Braspetro. Na expiração do contrato, as condições de mercado já não se

projetavam favoráveis, o que levou o Departamento Comercial da Petrobras –

DECOM a recomendar a não renovação do acordo. Como conseqüência, foi

gerado um conflito com a Braspetro, dependente do citado departamento, e

cuja posição acabou prevalecendo. Contribuiu, também, para tal decisão,

aspectos relativos à segurança de suprimento do país. O acordo foi renovado

e, após um período de perdas acumuladas, acabou sendo rescindido, com o

pagamento de multas pelo sistema Petrobras. Como conseqüência positiva, o

acordo serviu para firmar o nome da companhia no exterior.

4.1.2.2. Criação das Subsidiárias InternacionaisNo início dos anos setenta, a diretoria da Petrobras formalizou a sua atuação

no exterior, como conseqüência natural de seu desenvolvimento e em virtude

da necessidade de consolidar o “status” internacional da Petrobras e da

necessidade de diversificar as fontes de suprimento do país. Para levar adiante

esta iniciativa, considerou-se como melhor opção a organização de uma

subsidiária.

A Petrobras Internacional S.A. – Braspetro foi criada em 5 de abril de 1972,

para atuar no exterior com os mesmos objetivos amplos da Petrobras, visando,

também, a prestação de serviços técnicos e a abertura de mercados para

exportação de bens. Com a criação da Braspetro, a responsabilidade de dar

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continuidade às negociações em desenvolvimento lhe foi outorgada, bem como

de cumprir os termos dos acordos já firmados.

Desta forma, implementava-se a segunda recomendação do “Relatório Link”. A

primeira, da atuação offshore, se concretizou quase que na mesma época,

quando, também em 1972, no Congresso Brasileiro de Geologia, realizado em

Aracaju, foram divulgadas as primeiras informações sobre o campo de

Guaricema, descoberto pelo poço offshore localizado na Plataforma

Continental do estado de Sergipe em uma lâmina d’água de 27m.

Os choques do petróleo, juntamente com a renúncia do Tratado de Bretton

Woods por parte dos EUA, que passou a adotar unilateralmente taxas

flutuantes de câmbio, e a ampliação exagerada dos fluxos de capitais,

alavancaram o crescimento do comércio internacional. A grande parte dos

países importadores de petróleo tentava equilibrar suas balanças de

pagamento através de “superávits” comerciais, provocando uma competição

comercial generalizada.

O governo brasileiro, através da implementação do II Plano Nacional de

Desenvolvimento (1974-1979), passou também a perseguir crescentes

superávits na balança comercial, estratégia esta sustentada até o início dos

anos 90. Neste contexto, a Braspetro passou a exportar produtos brasileiros

para o mercado europeu e, posteriormente, para países exportadores de

petróleo. A utilização da companhia como instrumento de comércio

internacional deu resultados imediatos, sendo considerada pela Associação

Brasileira de Marketing a empresa com melhor desempenho no ramo de

negócios em 1975. Como resultado do acelerado desenvolvimento destas

operações, a Petrobras decidiu criar uma nova subsidiária: a Petrobras

Comércio Internacional S.A. – Interbras, que viria a ser extinta em março de

1990.

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No tocante à indústria petrolífera nacional, o ano de 1975 não foi apenas

marcado pela criação da Interbras, mas também pelas primeiras descobertas

comerciais na Bacia de Campos. No plano externo, a Braspetro descobriu no

Iraque os campos gigantes de Majnoon e Nahr-Umn (reservas recuperáveis de

10 a 30 bilhões de barris) em 1976 e 1978, respectivamente. Esses bons

resultados ocorreriam até o segundo choque do petróleo (1979) e a guerra Irã-

Iraque (iniciada em 1980), tendo esta última como palco justamente a área de

operações da Braspetro no Iraque. Diante do recrudescimento da crise do

petróleo, a conta corrente brasileira registrou um déficit acumulado de quase

US$ 77 bilhões entre 1979 e 1982. O governo brasileiro decidiu reorientar sua

estratégia, adotando as seguintes ações:

1. Depreciação cambial da moeda nacional (cruzeiro) emrelação ao dólar para favorecer as exportações brasileiras;

2. Acentuação da política de substituição de importações;

3. Ampliação dos investimentos no upstream nacional e nasdemais indústrias energéticas domésticas.

Independente da expropriação dos direitos de produção dos campos iraquianos,

a Braspetro não teria capacidade financeira para empreender um projeto

daquela envergadura - produção em 1.000.000 bopd10 e cifras, na época,

superiores a US$ 1,5 bilhão, uma vez que a Petrobras situava-se num país

“insolvente”. Somando-se a isso, o sistema financeiro internacional suspendia

as linhas de crédito para investimentos em países de elevado risco político.

Ao final dos anos 70, o mercado internacional de serviços petrolíferos estava

sobreaquecido, com a demanda por equipamentos de perfuração e produção

atingindo níveis elevados nos EUA – principal base de companhias de serviço.

Diante desta conjuntura, a Braspetro decidiu criar uma subsidiária para atuar

nesse segmento de negócio: a Braspetro Oil Services Company – Brasoil. Duas

sondas foram então adquiridas com o objetivo de prestar serviços para a sua

controladora e para outras companhias petrolíferas. Em 1987, a visão de que as

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atividades de prestação de serviços ampliariam as perspectivas da Braspetro

levou-a a atuar no afretamento e venda de plataformas em Angola, e a

tentativas sem sucesso de diversificação, tais como: perfuração de poços de

água na Líbia (Projeto Sarir’ Tazerbo) e a participação acionária em uma fábrica

alemã de tubos flexíveis (PAG-O-FLEX) para fins de transferência de

tecnologia.

Diferentemente da evolução da maioria dos países em desenvolvimento, os

países industrializados retomaram o crescimento das suas economias na

segunda metade dos anos 80. Esta retomada foi favorecida por vários fatores,

sendo relevante destacar a redução dos preços do petróleo e das taxas reais de

juros praticadas pelo sistema financeiro internacional. Neste contexto, as

companhias petrolíferas reorientaram suas atividades, objetivando a

consolidação de suas posições nos grandes mercados consumidores, em

especial nos EUA. Este processo resultou de uma visão econômica oposta

àquela predominante até a metade dos anos 80 – supply side economics –

estimulando, inclusive, estratégias empresariais cooperativas entre companhias

estatais dos principais países exportadores de petróleo e as corporações dos

grandes países importadores, tradicionais rivais na industria petrolífera mundial.

No caso do upstream, as províncias petrolíferas dos EUA, especialmente o

Golfo do México, e a do Mar do Norte, Reino Unido e Noruega, passaram a ser

alvo preferencial das companhias internacionais. Acompanhando esta

tendência, a Braspetro redirecionou boa parte dos seus investimentos em

países tradicionalmente exportadores de petróleo, onde atuava com o objetivo

de garantir e otimizar o suprimento nacional, para os mercados de exploração e

produção supramencionados. As subsidiárias Petrobras Norge AS (Noruega),

Petrobras América Inc - PAI e Brasoil UK Ltd. - BUK, foram criadas entre 1987 e

1989, marcando um amplo reposicionamento do Sistema Petrobras em relação

às suas atividades internacionais.

10 BOPD = Barris de Petróleo Por Dia

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Após a crise, aumentou a necessidade de controle sobre fatores que estavam a

influir diretamente sobre a Petrobras. O ambiente externo tornava-se mais

turbulento. O Brasil desenvolvia-se rapidamente, sua dependência de petróleo

aumentava; a Petrobras buscava acompanhar tal demanda. A segurança do

suprimento era considerada crítica.

Nessa época, segurança significava assegurar óleo em volumes superiores às

necessidades, através de contratos ou de reservas. Significava, também,

assegurar elevada capacidade de transporte, para fazer frente à eventualidade

e investir em capacidade de refino. Disso resultou uma ampliação nos volumes

de óleo contratados pela Petrobras, no número de supridores, no número de

navios sob contrato e encomendados. Conseqüentemente, a atividade

internacional se expandiu em toda a sua estrutura, aproveitando-se, em alguma

medida, daquela que houvera sido implantada no período pré-crise, cujos

objetivos eram menos associados à garantia do suprimento e mais vinculados à

expansão quantitativa e qualitativa da atividade internacional.

No final da década de 70, início da década de 80, com o agravamento da crise

cambial do país, a Petrobras adotou decisões na área do dowstream,

destacando-se as seguintes:

- Operações de contrapartida;

- Incremento das exportações de derivados;

- Programa fundo-do-barril (Departamento Industrial - DEPIN);

- Programa VIPE (Petroquisa)

- Contratos de refino no Brasil;

- Extinção da GEPETRO;

- Dissolução da área de comercialização de transporte e novas

construções da Frota Nacional de Petroleiros - FRONAPE;

- Cumprimento da obrigatoriedade de exportações com bandeira

nacional; e

- Exportações de álcool.

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4.1.2.3. Situação Atual do Processo de Internacionalização

No segundo semestre de 1999, a Petrobras divulgou seu plano estratégico

para o período 2000-2010. Nele, um novo objetivo foi traçado para o Sistema

Petrobras, onde a atuação internacional obteve destaque:

“A Petrobras atuará com crescente autonomia no negócio de

energia, atingindo US$ 35 bilhões de receitas e uma

rentabilidade de pelo menos 12% sobre seu Patrimônio

Líquido, com uma atuação integrada e internacional, sendo

reconhecida pela sua contribuição para o País e pela

qualidade de seus produtos e serviços” (1).

A expansão das receitas brutas da Petrobras deveria ocorrer pela expansão

acelerada de seus negócios internacionais e das vendas de gás natural,

passando de 6% do faturamento em 1999 para 21%, em 2005.

Esta atuação internacional deveria ter foco regional, em oposição a uma

atuação global, buscando-se a integração da cadeia de valor e conquistando

presença seletiva através de ativos integrados e carteira de investimentos

balanceada.

Um outro indicativo de que a atuação internacional da Petrobras ganharia

destaque era o novo modelo de organização da Petrobras, implantado em

novembro de 2000 e apresentado na figura 4.1.1, onde as atividades

internacionais da Petrobras passaram a ser integradas numa única área. A

condução das atividades internacionais de produção, refino e comercialização,

de responsabilidade da Braspetro, passaram a ser responsabilidade da Área

Internacional. A Braspetro e suas subsidiárias foram mantidas como

instrumentos legais da Petrobras; as operações dessas empresas foram

incorporadas à Área Internacional. As operações internacionais da BR (redes

de postos de gasolina) também foram incorporadas à Área Internacional para

promover a integração das atividades de abastecimento (downstream) e a

distribuição nos mercados externos em que a Petrobras atuava.

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A figura 4.1.2 demonstra as áreas de atuação internacional da Petrobras em

dezembro de 2000.

4.2 A Braspetro

4.2.1 A Criação da Petrobras Internacional S.A. - BraspetroNo início dos anos setenta, como já observado, a diretoria da Petrobras

formalizou a sua atuação no exterior, como conseqüência natural de seu

desenvolvimento e em virtude da necessidade de consolidar o status

internacional da Petrobras e da necessidade de diversificar as fontes de

suprimento do país. Para levar adiante esta iniciativa, considerou-se como

melhor opção a organização de uma subsidiária.

A Petrobras Internacional S.A. - Braspetro foi criada em 5 de abril de 1972,

para atuar no exterior com os mesmos objetivos amplos da Petrobras, visando,

também, a prestação de serviços técnicos e a abertura de mercados para

exportação de bens. Com a criação da Braspetro, a responsabilidade de dar

continuidade às negociações em desenvolvimento lhe foi outorgada, bem como

de cumprir os termos dos acordos já firmados. Como declarou um executivo

entrevistado:

“Atuar na Indústria do Petróleo como o braço internacional da Petrobras.”

Apenas para relembrar, assim se implementava a segunda recomendação do

“Relatório Link”. A primeira, da atuação offshore, se concretizou quase que na

mesma época, quando, também em 1972, no Congresso Brasileiro de

Geologia, realizado em Aracaju, foram divulgadas as primeiras informações

sobre o campo de Guaricema, descoberto pelo poço offshore localizado na

Plataforma Continental do estado de Sergipe.

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O primeiro Relatório Anual da Braspetro11, em 1973, informava aos acionistas:

“Carta aos Acionistas

...A Petrobras S.A. criou a Braspetro em 5 de abril de 1972 e

transferiu para ela a responsabilidade dos projetos já em

andamento no exterior. Para propósitos contábeis, este relatório

também inclui os projetos que foram coordenados e executados

pela Petrobras no primeiro quarto do ano.

Neste estágio inicial de suas atividades, a Braspetro foi

organizada numa forma que a permite cumprir certos projetos,

isto é, o estabelecimento de filiais no exterior para facilitar a

execução de contratos que já permitiu que a Braspetro

apreciasse o desafio que a realização de seus objetivos irá

representar...

Um Resumo da História das Atividades da Braspetro em 1972

A Petrobras, à luz das rápidas e crescentes necessidades

domésticas por petróleo e seus derivados, juntamente com a

necessidade de normalizar garantir o suprimento futuro de óleo

cru, encarregou-se, no segundo quarto de 1972, de criar a

Petrobras Internacional S.A. – Braspetro...

...Para esta nova subsidiária foram delegadas autoridade e

responsabilidade de coordenar e executar toda a política

externa de petróleo. Além disso, permitiu-se que a nova

subsidiária tivesse um capital autorizado de Cr$ 20.000.000,00,

equivalentes a US$ 333,000,000.00, cuja maior parte seria

advinda da empresa holding Petrobras, e o resto pelo público.

11 Braspetro. First Annual Report of Petrobras Internacional S. A . Rio de Janeiro, 31 de Janeiro de 1973

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...A Petrobras, holding da Braspetro, está diretamente envolvida

nas atividades que vão desde a exploração e produção até o

refino, comercialização e transporte dopetróleo e seus

derivados. A Braspetro, à luz de seus objetivos, pretende

representar no exterior o papel de sua holding no Brasil: uma

empresa de petróleo totalmente integrada...

...Concluindo, 1972 foi um ano de realização para a Braspetro.

As bases necessárias para a realização dos objetivos da

Braspetro foram estabelecidas. Levando-se em consideração a

crise de energia mundial, os objetivos da Braspetro se tornaram

de extrema importância para a continuação do desenvolvimento

econômico do Brasil”.

Na verdade, a criação da Braspetro foi uma antecipação do governo brasileiro

a uma crise de abastecimento que então se configurava na indústria mundial

do petróleo. A crise confirmou-se no último trimestre de 1973, atingindo seu

clímax no início dos anos 80.

O forte impacto nos preços de importação de petróleo, decorrente do ônus

crescente que se constituía a pesquisa e o desenvolvimento de jazidas

estrangeiras por terceiros, as fortes e imprevisíveis exigências resultantes do

desenvolvimento brasileiro à época, a conseqüente e necessária diversificação

de fontes de suprimentos e a necessidade maior de manutenção das reservas

nacionais de petróleo compuseram o cenário que levou a Petrobras a

transcender os limites físicos de suas áreas operacionais.

Um executivo declarou o seguinte:

“a idéia era garantir o abastecimento nacional de petróleo. Na época

da criação da Braspetro as atividades offshore ainda estavam muito

incipientes no Brasil. Anteriormente à descoberta das reservas da

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Bacia de Campos, em 1974, havia uma grande dúvida na Petrobras

de como se garantiria o abastecimento nacional de petróleo” .

Algumas atitudes pioneiras tomadas no início dos anos 70 revelavam o grau de

conscientização do Sistema Petrobras em relação ao mercado internacional,

no tocante às atividades de downstream:

- em 1972 cria-se a Braspetro;

- em 1973 fecha-se contrato para o refino na Itália (SARAS e

SAROM);

- em 1974/75 a Braspetro passa a administrar o refino na Itália;

- em 1974/75 a Frota Nacional de Petroleiros – FRONAPE começa a

participar de forma sistemática no transporte de carga

internacionais de produtos de fora do Sistema Petrobras.

4.2.2. Periodização da História da Braspetro

4.2.2.1. Primeiro Período: 1972 – 1979Esta fase caracterizou-se pelo conhecimento da atividade exploratória, em

ambiência competitiva, e pela própria implementação da Braspretro.

Neste período em que a empresa não possuía tradição no mercado

internacional, sua interação com as companhias líderes da indústria petrolífera

mundial foi muito limitada. Como conseqüência imediata constatou-se que, nas

áreas em que a Braspetro era operadora, detinha 100% dos interesses, sem

sócios, portanto. Nas áreas em que se encontrava associada a terceiros não

era operadora.

Suas áreas de atuação concentraram-se no Oriente Médio e na África do

Norte, além da Colômbia, onde a Braspetro assumiu os interesses da

Petrobras na Petroleos Colombo – Brasileiros S.A. – COLBRAS. No período, a

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Braspetro esteve presente em 10 países: Iraque, Irã, Egito, Argélia, Líbia,

Guatemala, Colômbia, Madagascar, Filipinas e Itália. Um executivo da área de

planejamento da Braspetro comenta:

“Eu não estava aqui na época, mas sei que à época existiam contratos

de óleo com a Argélia, Líbia, e contratos que exigiam contrapartida:

você comprava óleo e tinha o direito de reter 1 dólar por barril comprado

para aplicar esse dinheiro na exploração no próprio país, para incentivar

e fazer circular toda a cadeia de petróleo no próprio país. Então, como

éramos um grande importador de petróleo, com isso se gerou uma

grande disponibilidade de recursos que, ou eram utilizados em

atividades exploratórias nesses países, ou voltaria para o governo.

Isso motivou o pessoal a gastar dinheiro em exploração nesses países.

A idéia era se aproximar dos grandes. Tanto que o primeiro ciclo da

Braspetro se deu com a Líbia, Argélia, Iraque e Egito, exatamente

países onde havia muito petróleo e de onde se importava muito.”

Destaca-se o desempenho da Braspetro no Iraque, pelas descobertas dos

Campos Majnoon (1976) e Nar-Umr (1978), que reservas recuperáveis

estimadas em dez bilhões de barris de óleo (reavaliadas em 1990 em mais de

trinta bilhões de barris12). Ao final de 1979, como conseqüência de negociações

entre a Petrobras e a Iraq National Oil Company – INOC, foi modificado o

status das relações expressas no contrato de 1972, sendo a Braspetro

indenizada pelos seus investimentos no Iraque. A Braspetro permaneceu no

Iraque prestando serviços de assistência técnica até 1980, quando as

operações de perfuração foram suspensas pela guerra entre Irã e Iraque.

Nessa fase de atuação da Braspetro foram investidos US$ 407 milhões,

obtendo-se os seguintes benefícios diretos:

• Colômbia

12 Relatório de Avaliação de Desempenho da Braspetro de dezembro de 1990.

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Dividendos e vendas de interesses US$ 30 milhões

• ArgéliaVenda de 2,6 milhões de barris de óleo US$ 34 milhões

• GuatemalaVenda de 44 mil barris de óleo US$ 1 milhão

• Iraque US$ 418 milhões

! 11,25 milhões de barris de óleo recebidos a

título de indenização e transferidos à

Petrobras a preços oficiais e por ela pagos

em cruzeiros....................................US$ 304

milhões

! Receita proveniente de embarques de

óleo............................................US$ 114

milhões

• TOTAL US$ 483 milhões

Da renegociação do contrato com o Iraque decorreram, ainda, benefícios

oriundos de preços favoráveis de aquisição de petróleo que totalizaram US$

759 milhões.

Desta forma, foram gerados benefícios diretos e indiretos avaliados num total

de US$ 1,402 bilhão, qualificando esta fase como bem sucedida para a

Braspetro.

Além disso, a Braspetro pôde, com os US$ 304 milhões recebidos a título de

indenização do contrato com o Iraque, reembolsar a Petrobras, na mesma

época, em US$ 97 milhões correspondentes aos recursos por ela adiantados,

desde 1972 até aquela data, para os investimentos da Braspetro. Os US$ 207

milhões restantes, acrescidos dos US$ 114 milhões provenientes das receitas

de embarque de óleo do Iraque, passaram a ser utilizados a partir de 1980,

para financiar os investimentos da Braspetro e cobrir suas despesas até o ano

de 1985. Um executivo comentou o seguinte:

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“A guerra entre o Irã o e Iraque se desenvolveu exatamente sobre as

reservas que a Braspetro descobrira. Por volta de 77, 78, o governo

iraquiano teve que negociar a devolução dos campos com a gente. A

Petrobras teve um ganho fantástico com essa indenização pela

devolução. Pelo que se conta foi uma garantia de suprimento de muitos

milhares de barris por dia a um preço preço fixo diferenciado, abaixo do

preço praticado pelo mercado à época. O mercado subia muito os

preços e nós tínhamos uma garantia de suprimento a um preço muito

melhor.”

4.2.2.2. Segundo Período: 1980 – 1986Além de maior aproximação da Braspetro das grandes empresas mundiais de

petróleo, as majors, em decorrência dos bons resultados obtidos na primeira

fase, esta segunda caracterizou-se fundamentalmente pelo apoio à Petrobras

na busca da garantia de suprimento de petróleo para o mercado nacional, em

especial no início deste período.

Contornadas as dificuldades de abastecimento no primeiro semestre de 1980,

graças aos benefícios advindos da presença da Braspetro no Iraque, a

insegurança quanto ao abastecimento voltou a se fazer presente diante da

crescente instabilidade dos preços do petróleo e à sua escassez no mercado

internacional, agravadas pelo início, em setembro do mesmo ano, da guerra Irã

- Iraque, com conseqüente fechamento do Golfo Pérsico.

A possibilidade de nova crise no mercado mundial e a vulnerabilidade do Brasil

em razão da sua dependência de petróleo importado, particularmente aquele

transportado na rota em conflito, levaram a Petrobras a redirecionar o

programa Braspetro visando, em troca de contratos de exploração (Argélia e

Líbia), a aproximação com fornecedores não tradicionais fora do Golfo, à busca

de reservas próprias e oportunidades de negócios em contrapartida comercial

com a África Ocidental (Angola e Congo) e a retomada de atividades em áreas

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geopoliticamente mais favoráveis na América Latina (Colômbia e Guatemala).

A Braspetro esteve também presente nesta fase na China, Índia e Iêmen do

Sul, como observou um entrevistado:

“Quando a Petrobras foi para Angola, ela já não foi sozinha. Ela

começou sua fase de associação. A Braspetro já tinha visto que estar

sozinha não era vantajoso, uma vez o que risco era muito grande. Você

estar numa área só e operar sozinho é como se pusesse todos os ovos

numa mesma cesta. É melhor você estar em duas áreas com um sócio,

ou três áreas com dois sócios, porque você estará distribuindo melhor

os seus recursos e ampliando sua probabilidade de sucesso.”

Identificou-se, durante esse período (1980/1986), uma alteração na política de

atuação da Braspetro, que passou a dar ênfase às associações e a operar,

inclusive, associada a terceiros, para reduzir seu risco.

Também durante este período, a Petrobras deu início à sua atividade de

prestação de serviços e assistência técnica, com destaque para os trabalhos

realizados no Iraque e para as três sondas que estiveram em constante

atividade na Líbia, em Angola e no Iêmen do Sul.

O projeto Angola contribuiu positivamente neste período. Até dezembro de

1986 haviam sido produzidos 19,8 milhões de barris de óleo (2,78 milhões

pertencentes à Braspetro) e as reservas provadas eram de 150 milhões de

barris (cabendo à Braspetro 22 milhões de barris).

As condições que orientaram os investimentos da Braspetro nesta fase não lhe

permitiram analisar os seus resultados do ponto de vista estritamente

econômico. Isto pelo fato de que os benefícios comerciais e estratégicos

proporcionados ao Sistema Petrobras não foram explicitados nos

demonstrativos financeiros da Braspetro.

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Sendo assim, a análise sob o ponto de vista exclusivamente econômico é

limitada à Braspetro, mostrando que o resultado poderia ser classificado como

insatisfatório, pois para um investimento no período (1980 a 1986) de US$ 388

milhões, o benefício resultante foi de US$ 94,4 milhões. Destes, US$ 93,2

milhões foram provenientes da receita da venda de óleo de Angola e US$ 1,2

milhão proveniente da venda de 100% dos seus interesses no Congo para a

AMOCO.

4.2.2.3 Terceiro Período: 1987 – 1993Esta fase caracteriza-se pela abertura de mercados para a obtenção de

tecnologia de ponta no ramo upstream, com o objetivo de ampliar a capacidade

técnico-gerencial do Sistema Petrobras em águas profundas, em razão das

descobertas na bacia de Campos, Rio de Janeiro.

Em conseqüência, a Braspetro ingressou nas atividades exploratórias do Mar

do Norte, no setor norueguês, através de sua subsidiária Petrobras Norge A/S,

e no setor britânico, representada pela Subsidiária Brasoil U. K. Ltd., bem como

no Golfo do México, nos Estados Unidos, através da sua subsidiária Petrobras

América Inc. – PAI. Comentou um executivo:

“Ao final da década de 80, o então vice-presidente da Braspetro, que

estava ligada ao diretor de upstream (nesta época as subsidiárias da

Petrobras eram subordinadas hierarquicamente a um Diretor da

Petrobras) deu asa a sua visão de que não adiantava à Braspetro ficar

apenas nos países que até então estava. Este vice-presidente disse ser

importante para a Braspetro iniciar um processo de monitoramento do

que estava acontecendo pelo mundo em águas profundas e tecnologia

. Esta decisão de negócio, fruto desta visão pessoal, fez com que se

abrissem os escritórios nos EUA, Noruega e Inglaterra, justamente

países que estavam iniciando em águas profundas, tinham tecnologia,

e se poderia aprender muita coisa. Era quase que um projeto piloto de

monitoração do que se passava lá fora. Nesta época, aqui no Brasil,

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estávamos fazendo investimentos fantásticos no campo de Marlin, no

início da década de 90. Os primeiros campos geraram uma demanda

enorme de investimentos, e o país, com as dificuldades de sempre,

problemas de caixa e tudo mais, o que impediu uma postura agressiva

no exterior.”

Nesse período verifica-se, ainda, uma orientação dos investimentos da

empresa para países da América Latina, em consonância com a estratégia da

Petrobras de participar da política brasileira de integração econômica no

continente, com ênfase em países produtores, tais como a Colômbia e o

Equador.

Esta fase distinguiu-se, também, pelo aproveitamento de oportunidades de

aquisições de reservas de óleo e gás. Esta estratégia era vista como de vital

importância na implementação da política da empresa de operar no Mar do

Norte e no Golfo do México, tendo em vista que aquisições de reservas nessas

áreas geravam créditos fiscais destinados a subsidiar despesas exploratórias.

Assim, foram adquiridas reservas no Mar do Norte Britânico (2,5% do Campo

de Magnus) e a participação da Texaco (50%) no campo de gás de Frederick,

Estados Unidos, cuja descoberta ocorreu em 1988, durante os trabalhos do

consórcio Braspetro/Texaco.

“Com relação ao Mar do Norte, na Noruega, as oportunidades eram

grandes mas bem caras. O modelo utilizado lá é caro, apesar do

retorno, mas exige um investimento muito alto. Eu me lembro que nós

tentamos adquirir uma participação num grande campo, e o governo

norueguês ofereceu uma contrapartida. O Brasil tinha um déficit na

conta de serviços com a Noruega, basicamente de importação e

afretamento e o governo de lá ofereceu uma participação neste campo

específico, a fim de aumentar a participação da Noruega na região. Era

um campo controlado por empresa do governo, o que era comum em

quase todos os campos do lado norueguês. Era um campo onde nós

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estimávamos quase 1 milhão de barris, e acabou se provando que a

área do bloco, não só os campos satélites, tinha muito mais que isso.

Era um negócio de peso, e nos foi oferecido um percentual de 10% ou

15%. Mas aí vinha a seguinte questão: se nós precisamos de dinheiro

para desenvolver nossos campos gigantes (Marlim e Albacora), por que

razão vamos investir lá fora?. Eu me lembro que nesta época eu estava

fazendo a avaliação deste campo lá na Noruega. O então vice-

presidente da Braspetro era favorável, mas outras correntes existentes,

em razão do volume do investimento envolvido. Esse conflito era muito

nítido na época. No Brasil, estávamos sob a obrigação legal de suprir e

abastecer todo o país. A Petrobras tinha que aumentar a produção,

reduzir a dependência de importação, o pessoal estava preocupado

como a iminência de um outro choque do petróleo. Como as jazidas

aqui eram enormes, tudo levou à decisão de concentrar os esforços

aqui. Por conta disso, as unidades nos EUA, Inglaterra e Noruega

ficaram quase como unidades piloto. Ficaram pequenas, embrionárias,

monitorando e aprendendo com as práticas, as técnicas, interagindo,

conhecendo mais as companhias, treinando gerentes. Por ser uma

empresa muito doméstica, era necessário investir na capacitação de

gerentes num cenário internacional.”

A desocupação do Kuwait e a desagregação da União Soviética não afetaram

significativamente o mercado de petróleo em 1991, não permitindo que a

intenção da OPEP em estipular o preço do barril de petróleo em US$ 21 fosse

alcançado.

Sensível aquecimento nas atividades off-shore no noroeste da Europa, com

investimentos de US$ 23 bilhões no upstream. No continente europeu, pela

primeira vez, o número de plataformas móveis em atividade superou o da

América do Norte. Previa-se que, até 1995, metade do mercado mundial para

equipamento de produção submarina estivesse concentrado naquele

continente.

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O portfólio da Braspetro foi racionalizado, através de uma reavaliação dos

projetos existentes. Incrementou-se a atuação para o downstream,

especificamente na América do Norte, pela exportação de derivados de

petróleo, através da Petrobras América Inc. – PAI.

4.2.2.4. Quarto Período: 1994 - 1998No início dessa fase, a Braspetro adotou a política de consolidar sua posição

em países onde já produzia petróleo e buscar novos negócios, em especial no

segmento downstream e preferencialmente na América Latina. Assim, foi

concretizada a venda da subsidiária da Braspetro Petrobras Norge A/S, foram

realizadas gestões para a ampliação da atuação na Argentina e iniciadas

negociações para a participação em empreendimentos na Bolívia, Colômbia,

Peru e Venezuela.

Na Colômbia, adquiriu a participação em três campos e dois oleodutos,

negociou dois blocos para exploração e produção na Bolívia, com aumento

significativo de reservas e também no Equador e Argentina com quem assinou,

ainda, contrato para operar no offshore.

Destaca-se a aquisição da Lasmo Oil Colômbia Ltd., com reservas de 48

milhões de barris de óleo equivalente (boe). A aquisição triplicou as dimensões

da empresa na Colômbia, então com reservas totais de 69,4 milhões de beo e

produção média anual de 8,4 mil boe.

No Reino Unido foi adquirida a Santos Europe Ltd., com a incorporação de

interesses em três campos com reservas de 13,2 milhões de boe e produção

total de 2,3 mil, elevando a produção média anual para 10,7 mil barris de óleo

equivalente por dia (boed) em 1998.

A subsidiária Brasoil iniciou a busca de novas oportunidades de negócios na

Costa Ocidental da África, com a realização de serviços na Namíbia e a

conquista de clientes em potencial na Costa do Marfim. Foi criada a Brasoil

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Bolívia, objetivando ocupar parte daquele mercado que se apresentava em

crescimento.

Foi assinado um contrato de exploração e produção com Cuba, para operar um

bloco offshore, a cerca de 300km da costa de Havana. Na Nigéria, foi

celebrado contrato de exploração de petróleo, envolvendo bloco em lâmina

d’agua profunda, com potencial para reservas de centenas de milhares de

barris de petróleo. Comentou um executivo sobre a atuação da empresa na

Nigéria:

“A atuação da Petrobras da Nigéria iniciou-se em 1997, de forma

semelhante à de outros países. Nós ficamos acompanhando alguma

empresa estrangeira que esteja explorando um bloco. Empresas com

blocos oferecidos pelo governo e que precisem de parcerias fortes para

crédito, exploração e produção. Todas essas oportunidades são

avaliadas, e foi assim que obtivemos dois blocos na Nigéria. Estes

blocos foram obtidos através de negociações com os detentores dos

direitos, que os obtinham junto ao governo nigeriano. O primeiro bloco

foi obtido com a TOTAL, e o segundo com a TEXACO, este último

obtido em troca de áreas a serem exploradas no Brasil. Na Nigéria os

campos são offshore, e este é um fator importante que fez com que a

Braspetro fosse procurada para as parcerias: sua experiência e

liderança em produção em águas profundas. Esta é uma região

geologicamente rica.“

Sobre a atuação da Braspetro em Cuba, seu principal executivo naquele país

faz os seguintes comentários:

“Como nos demais países, a decisão de explorar petróleo em Cuba

levou em consideração aspectos técnicos e econômicos, avaliados

dentro de uma estratégia corporativa (geografia, tipo de hidrocarboneto,

potencial futuro). Em Cuba, o contrato de partilha de produção foi

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assinado em novembro de 98. Os motivos que levaram a Braspetro a

ingressar em Cuba reúnem um prospecto de alto risco exploratório,

associado a um alto risco exploratório, associado a um alto prêmio e

com capital de risco baixo. A título de ilustração, o risco geológico está

avaliado em 1:8 (12% de chance de sucesso), mas com reservas

recuperáveis de 700 milhões de barris, um campo gigante. O período

desde a consideração inicial deste mercado até a definição de nele

entrar levou 5 anos. A expansão das atividades em Cuba dependerá

dos resultados deste primeiro poço que, se for satisfatório, permitirá

frentes interessantes para a Companhia em upstream, downstream e

águas profundas. Na Nigéria a Braspetro não é operadora e sim

parceira, participando deste empreendimento. São 16% de participação

no bloco da TEXACO e 30% na TOTAL”.

4.2.3. Situação AtualEm seus 27 anos, seja atuando sozinha, através de suas subsidiárias e

sucursais, ou associada às maiores companhias de petróleo do mundo, a

Braspetro fez-se presente em quatro continentes e 32 países. Atualmente, atua

nos seguintes países: Angola, Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba, Equador,

Estados Unidos, Guiné Equatorial, Líbia, Nigéria, Peru, Reino Unido e Trinidad

& Tobago. A figura 3 relata esta atual área de atuação.

As atividades da Braspetro estão concentradas nos segmentos upstream

(exploração & produção) e downstream (refino, marketing & comercialização,

transporte & logística) e na prestação de serviços de engenharia e de

perfuração de poços de petróleo. Suas áreas de atuação concentraram-se,

inicialmente, no Oriente Médio, na África do Norte e na Colômbia. Cabe

destacar, nos cinco primeiros anos de atuação da empresa, a magnitude das

descobertas realizadas no Iraque (campos de Majnoon e Nahr-Umr), que

totalizaram reservas recuperáveis estimadas em dez bilhões de barris de óleo.

No início da década de 80, a empresa iniciou sua atividade de prestação de

serviços e assistência técnica. Atualmente, a Braspetro pretende expandir suas

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atividades em projetos de maior vulto situados em águas profundas, com

destaque para a África Ocidental, Mar Cáspio e Extremo Oriente.

A atividade de prestação de serviços de perfuração de poços de petróleo,

através da sua subsidiária Braspetro Oil Services Co. - Brasoil, tomou novo

impulso, com a abertura de mais uma subsidiária na Bolívia para perfuração de

poços terrestres. Atualmente, a Brasoil opera uma unidade offshore em Angola

- Petrobras XI e uma unidade terrestre na Bolívia, SC-110, com capacidade

para perfurar poços de até 6.000 metros de profundidade.

No final de 1999, a aquisição de participação acionária (70%) em duas

refinarias na Bolívia (Cochabanba e Sta Cruz de La Sierra), bem como, em

2000, o fechamento de um acordo com a Repsol/YPF, de troca de ativos, são

importantes indicadores do foco de atuação da Petrobras na América Latina,

conforme sinalizado em seu Plano Estratégico 2000-2010, na qual pretende

assumir a liderança no setor. Sobre o acordo com a REPSOL/YPF, a Petrobras

adquire integralmente uma refinaria em Baia Blanca e mais 300 postos de

gasolina, em troca da participação de 30% na refinaria do Paraná, a REPAR,

que se transformará em REPAR S/A, até o final de 2001.

O depoimento de dois executivos da Braspetro revela outros aspectos sobre o

negócio na Bolívia:

“A Bolívia é um projeto de muito tempo. O projeto de gás para o Brasil é

antigo, deve ter algo em torno de 40 anos. Várias evoluções e

discussões ocorreram desde então, até que nos anos 90 foram feitos

vários estudos, e a discussão toda na época era: será que existem

reservas suficientes para justificar tal gasoduto? Em 96, depois de

várias idas a bancos, para buscar financiamentos e estudos que

garantissem a rentabilidade para o investimento, assinou-se um

contrato de exploração de 2 blocos. A partir daí, nós nos instalamos e

começou-se o processo de abertura do escritório e os trabalhos

técnicos. O mercado mudou e, ao mesmo tempo em que a Petrobras

contratou esses dois blocos, a equação do financiamento foi sendo

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ajustada e se deu partida no gasoduto. Quando isso aconteceu,

paralelamente, o governo boliviano fez uma grande licitação, colocou

áreas e as outras empresas perceberam que sendo aquela área uma

grande fonte de gás natural, e que os cenários de mercado favoreciam

os investimentos, valia a pena se posicionaram na Bolívia. Hoje não só

nós, mas muitas outras empresas estão em volta do bloco descobrindo

gás no mesmo contexto que a gente.”

“A entrada no mercado na Bolívia veio vinculada ao gasoduto Brasil-

Bolívia. A condição estabelecida pela Petrobras, que lá atuava em

parceira com a YPF-B (empresa Argentina de petróleo na Bolívia) para

participação nesse negócio era de que o primeiro gás a ser exportado

da Bolívia para o Brasil seria um gás oriundo dos campos em que o gás

tivesse participação. A primeira vez que se falou em gasoduto da

Bolívia para o Brasil foi em 1930, quando do acordo de Guamoré, onde

estava vinculado à construção da estrada de ferro para Santa Cruz de

LaSierra o gasoduto. Mas o Brasil não tinha recursos para, naquela

época, construir um gasoduto destas dimensões. Talvez tenha faltado

aos homens públicos da época a visão da importância do gás na matriz

energética brasileira, o que foi favorecido pelos baixos preços do

petróleo, e não existência de nenhuma crise no setor. O país ainda

acreditava muita na energia hidroelétrica, o que não colocava o gás

como alternativa viável para o país. Porém a atual necessidade de

energia do país, que é o mercado para o gás na América Latina, fez o

gasoduto ser um grande negócio para o Brasil, e um grande negócio

para a Bolívia. As reservas de gás no Brasil não são grandes. Na

América do Sul o gás está na Bolívia, Argentina e talvez no Peru. A

participação acionária em 70% das ações de duas refinarias com a

Perez Compam é uma marca da posição da Petrobras no América do

Sul. Como lá a Braspetro produz óleo, estas refinarias são estratégicas

para o processamento deste petróleo uma vez que, pela localização do

país, a distribuição deste petróleo e seus derivados para o Brasil é

difícil. Lá garantimos mercado para o óleo que produzimos. Para o

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refinador a Bolívia é um mercado bem protegido que, a longo prazo, é

bastante viável.”

O processo de escolha das pessoas que participariam das atividades

internacionais é um ponto interessante de ser observado, e que reflete em si a

estratégia de entrada em novos mercados no exterior, é assim retratado por um

executivo da Braspetro:

“A competência técnica é o fator essencial a ser considerado. Isto

porque a Braspetro começa pequena. A estratégia é essa, de começar

com custos baixos, além de uma competência gerencial, uma

experiência gerencial vivida no Brasil. Um outro fator preponderante é a

família do empregado. As pessoas que você irá movimentar para o

exterior deverão ser pessoas cuja família possa se movimentar com

facilidade, dado que existem pessoas que são profundamente

arraigadas ao lugar em que nasceram ou se desenvolveram, e que

quando são movimentadas, apesar do talento profissional, são afetadas

por problemas que envolvem a família. A estas coisas, se soma, é claro,

o conhecimento da língua estrangeira, especificamente o inglês.

Experiência internacional anterior não é fator decisivo”.

Sua atual estrutura organizacional pode ser vista na figura 4.1.

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4.3. A Interbras

4.3.1. A Criação da Interbras

Esta subsidiária da Petrobras nasceu da Braspetro. Quando esta começou a

operar no exterior, em 1972, nas atividades de prospecção e exploração de

petróleo, logo recebeu consultas sobre compras de produtos brasileiros. Em

pouco tempo, o volume de operações com primários e manufaturados

justificava a criação de uma empresa especializada. Surgiu, assim, a Petrobras

Comércio Internacional S. A. – Interbras, fundada em fevereiro de 1976.

Em reportagem do jornal O Globo, de 19 de fevereiro de 1976, o seu Vice-

Presidente, Carlos Santana, declarou que a Interbras pretendia atuar nos

moldes de uma trading company. Seus princípios básicos, segundo Santana,

residiam em quatro pontos: atuar numa economia de escala, aprimorar sua

capacidade gerencial em áreas de atuação e planejar seu crescimento a médio

e longo prazo, reduzindo os custos e riscos. Para ele, a Interbras se dispunha a

ser tão importante para o país no seu campo de atuação como a Petrobras era

importante para o Brasil.

Segundo o Jornal do Brasil, de 20 de fevereiro de 1976, a Interbras buscaria

associações de capital com indústrias do Brasil e do exterior, adotando um

comportamento semelhante às empresas multinacionais do Japão. Na visão

de Carlos Santana, a Interbras representava a solução imediata diante das

alternativas adotadas pelo governo brasileiro à época, para enfrentar a crise

provocada pelo aumento dos custos de importação e pela diminuição da

receita de exportação dos produtos primários. Carlos Santana não via limite em

suas ambições de tornar a Interbras a primeira multinacional brasileira

integrada, com todas as implicações que o nome admitia, indo além:

“No Brasil (...) somente as empresas nacionais poderosas, como

a Petrobras, terão condições de enfrentar e competir com as

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multinacionais dos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão e

com as importantes organizações estatais da União Soviética e

do Leste Europeu”.

Posicionar a Interbras numa economia de escala foi o primeiro de vários

princípios adotados no início desta subsidiária. Os outros princípios eram, pela

ordem, o aprimoramento da capacidade gerencial, a diversificação de áreas de

atuação e o planejamento de sua expansão a médio e longo prazo,

minimizando custos e riscos.

Esses princípios definiram uma diferença básica entre a Interbras e a

Braspetro. Enquanto esta última atuava nos moldes de uma trading company,

procurando minorar os efeitos negativos da importação de petróleo no balanço

de pagamentos, a Interbras pretendia agir nos moldes das grandes

companhias multinacionais que exploravam matérias-primas, industrializavam

e exportavam, sem se restringir ao comércio do país sede.

Na cerimônia de posse da diretoria da Interbras, empresários presentes

levantaram dúvidas a respeito, entre diversos assuntos, daqueles relacionadas

ao desenvolvimento das exportações das empresas particulares para os países

do Oriente Médio e da área socialista. Segundo eles, se a Interbras

monopolizasse estes mercados, a iniciativa privada ficaria tolhida, restando-

lhes atuar nos mercados mais competitivos como Europa Ocidental e os

Estados Unidos.

Para o Brasil, o ano de 1976 foi um ano de recuperação, embora lenta, dos

efeitos da crise que se iniciou no início de 73. Houve um maior dinamismo nas

atividades econômicas em todo o mundo. Registravam-se avanços na luta

contra a inflação, na retomada dos níveis anteriores da atividade industrial, na

redução das taxas de desemprego, na elevação dos preços dos produtos

primários e na intensificação do comércio internacional.

Como resultado, melhores índices de crescimento para a maioria dos países

industrializados. Nos países em desenvolvimento, persistiram os problemas

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decorrentes da expansão inflacionária, da contenção dos investimentos, do

aumento dos déficits comerciais e da dívida externa, fatores que se refletiram

na queda dos índices de crescimento.

4.3.2. Periodização da História da Interbrás

4.3.2.1. Primeiro Período: 1976 a 1980O objetivo inicial da Interbras era comprar e vender alimentos. Ela começou

com uma aventura, que foi preparar o design, mandar confeccionar e exportar

quatro mil bandeiras para o Movimento Popular de Libertação de Angola

(MPLA), juntamente com botas, armas e caminhões. O pedido foi feito às

pressas, sob a pressão da guerra civil angolana, e as bandeiras foram

confeccionadas por uma empresa gaúcha.

Cinco meses após o início de suas atividades, em entrevista ao Jornal do Brasil

em 31 de junho, o vice-presidente executivo da Interbras, Carlos Santana disse

que a empresa estava mantendo negociações com cadeias de supermercados

nos Estados Unidos e na Europa para adquirir participação acionária nestas

empresas. Segundo ele, seriam grandes as possibilidades que se abririam de

exportações brasileiras, o que garantiria o suprimento constante de bens para

esses mercados.

Nesta mesma entrevista, Carlos Santana comentou a constituição de pools de

produtores de diversos setores da indústria que produziriam para a Interbras

mercadorias com uma marca especial, que seriam exportados pela Interbras.

Disse, ainda, que na indústria de eletrodomésticos a Interbras procuraria

exportar o que talvez não encontrasse mercado interno em função das

recentes medidas de restrição ao crédito. Com tais pools, o país poderia

manter exportações constantes de manufaturados.

Nos quatro primeiros meses de atividades, a Interbras, até o final de junho,

havia realizado exportações no valor, à época, de US$ 160 milhões. Desse

total, cerca de 90% se constituíram de vendas de comodities, em geral

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produtos agrícolas que o Brasil já tradicionalmente exportava. Seus esforços se

concentravam no sentido da conquista de novos mercados e da

comercialização de produtos não tradicionais. Articulou-se com empresas

nacionais e multinacionais, visando agilizar o processo de exportação, cujo

desempenho o Governo considerava prioritário para o equilíbrio da balança

comercial.

Com esse intuito, a Interbras estabeleceu quatro escritórios regionais no país

(São Paulo, Porto Alegre, Franca e Novo Hamburgo) e dez escritórios no

exterior (Londres, Nova York, Kuwait, Caracas, Paris, Cairo, Moscou, Tóquio,

Lagos e Teerã), tendo criado uma subsidiária internacional, a Interbras

Cayman Company, nas Ilhas Cayman, no Caribe.

Fechando 1976, com nove meses de vida, a Interbras realizou da ordem de

US$ 500 milhões, correspondendo mais de dois terços a exportações e o

restante à revenda de produtos estrangeiros nos mercados externo e interno.

Neste período foram realizadas negociações com mais de 200 entidades, entre

empresas privadas e cooperativas.

Em sua atividade principal - exportações de produtos primários, manufaturados

e serviços, a Interbras concretizou negócios da ordem de US$ 300 milhões,

dos quais 40% na modalidade C&F . Esta modalidade de exportações C&F

veio ao encontro de um dos objetivos básicos da empresa, ou seja, o de

procurar desenvolver negociações cujas receitas de fretes constituíssem

ingressos de divisas para o País. Nesta linha destacava-se a venda para o

Japão de 150 mil toneladas nesta modalidade C&F, que pela primeira vez

adquirira soja brasileira. Em 1976, o volume de exportações de soja alcançou

um total de 400 mil toneladas.

Em termos de manufaturados, as principais vendas da Interbras foram de

calçados para a União Soviética e a Alemanha Ocidental. A Interbras também

estava atuando na área de exportação de serviços e possuía, ao final de 1976,

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mais de 30 negócios em andamento para transferência de tecnologia nacional

para países árabes, africanos e latino-americanos. Os principais projetos, que

sempre eram em associação com empresas brasileiras, eram de construção de

rodovias e de um complexo siderúrgico no Equador, de uma ferrovia no Iraque,

uma hidrelétrica no Suriname e uma fábrica de tratores na Venezuela.

No primeiro ano de atividade, que pode ser considerado de implantação, a

Interbras se colocou, em poucos meses de funcionamento, entre as principais

empresas exportadoras nacionais.

As expectativas da Interbras em relação a 1977 eram de um ano de

exportações excelentes. Os preços do café e de outros produtos de base

permitiam esperar um maior desenvolvimento das vendas no exterior. Alguns

artigos manufaturados como veículos automotores, barcos pesqueiros,

maquinas e equipamentos e calçados deveriam alcançar boa posição nas

exportações brasileiras, segundo boletim da empresa divulgado em Paris no

dia 13 de abril de 1977. A Interbras declarara que a principal meta para 1977

seria a exportação de manufaturados. Em 1976, a Interbras abriu mercado

para diversos produtos brasileiros, como a União Soviética, Austrália, China e

EUA.

No dia 2 de janeiro de 1978, o jornal The New York Times publicou extensa

reportagem sobre a Interbras, que definia a empresa como uma multinacional

criada para competir contra as empresa privadas nacionais e internacionais

que exploravam comercialmente os produtos primários brasileiros. “A Interbras

foi uma conseqüência da situação presente na economia mundial” disse o

jornal. E mais:

“Se a euforia econômica da década de 60 tivesse persistido,

ela poderia ter sido dispensável. Mas desde a crise do

petróleo, as potências intermediárias como o Brasil, acharam-

se despreparadas para conduzir o comércio exterior. As

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alternativas que restaram ao Brasil, nesse contexto, foram:

usar a estrutura das multinacionais no mercado externo ou

usar a estrutura do Estado”, assinalou David Vidal, autor da

reportagem.

Um mês antes o mesmo jornal dedicara uma reportagem à Interbras,

focalizando tão somente a sua atuação na Bolsa de Café e Açúcar de Nova

Iorque, onde ela comprara grandes volumes de café.

A reportagem continuou dizendo que, sem qualquer produção própria, e agindo

meramente como agente para abrir portas no exterior aos produtos

domésticos, a Interbrás, beneficiando-se da experiência de mercado e do

poder de barganha da Petrobras, vendeu água mineral para o Kuwait,

Volkswagen para a Argélia, calçados para a União Soviética e arroz para a

Europa Oriental. A reportagem falava, ainda, sobre a controvérsia sobre a

estatização no Brasil:

“O surgimento de mais uma empresa estatal com o sufixo já

encontrado na Telebrás, Portobras, Siderbras, Eletrobrás e

outras aumentou o receio dos empresários brasileiros, que se

vêem imprensados entre as companhias do Governo e as

poderosas empresas multinacionais estrangeiras. Cerca de

metade de toda a indústria no Brasil está sob controle

estrangeiro e a maior parte do restante encontra-se nas mãos

do estado, que domina a siderurgia, as ferrovias, o petróleo e

petroquímicos, as telecomunicações e a mineração de ferro,

assim como a área crítica dos bancos”.

Em abril de 1978 a Interbras dava seu primeiro passo no marketing de

exportação em grande escala. Era o lançamento dos produtos brasileiros no

mercado da Nigéria, cuja estratégia objetivava tornar conhecidos na África uma

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linha de eletrodomésticos com a marca Tama, que ia desde ferros de passar

roupas a congeladores.

Na época, estavam sendo vendidos na Nigéria ônibus e aparelhos elétricos de

origem brasileira. Sob o ponto de vista geográfico, os dois países se situavam

relativamente próximos e ambos eram tropicais. Sendo os dois países

apaixonados por futebol, a Interbras não deixou passar despercebido este

detalhe quando da preparação da campanha, ao convidar para nela figurar o

jogador de futebol Pelé.

A reportagem se encerrava informando que, no início de 1978, os produtos

alimentares representavam 85% do comércio de exportação da Interbras. A

exportação de serviços, incluindo a construção de estradas de ferro e

instalação de comunicações estava sendo impelida pela Petrobras para o que

a Interbras atuava na qualidade de “coordenadora e associada idônea de

grupos de empresas participantes do setor privado”. A exportação de produtos

manufaturados subira 35% em 1977, sendo maiores ainda as perspectivas

que se faziam para o ano de 1978.

Em reportagem do jornal O Globo de 27 de junho de 1978, Carlos Santana

declarou que:

“A Interbras não pretende contribuir para a estatização do

comércio exterior nacional. Nossa ação visa, sobretudo,

aproveitar todas as vantagens externas, usando posições de

barganha no mercado internacional para facilitar a colocação

de produtos brasileiros no exterior”.

Tal declaração se deu quando da assinatura de contrato de venda de

equipamentos brasileiros de manutenção de rodovias com a Caterpillar, que

exportaria esse tipo de mercadoria para o Equador no valor, à época, de US$ 9

milhões, dentro de um contrato mais geral com a Interbras de US$ 20 milhões.

A operação se deu por conta de uma oportunidade de oferecimento dos citados

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equipamentos para uma concorrência internacional aberta pelo Ministério de

Obras Públicas daquele país. Por ser o Brasil comprador de petróleo no

mercado internacional e o Equador vendedor, a Interbras entrou com a oferta.

Ela reuniu os fabricantes nacionais que, depois de diversos acertos – inclusive

com suas matrizes – aceitaram participar nas negociações. Após a assinatura

do contrato na sede da Interbras, no Rio de Janeiro, o gerente de exportação

da Carterpillar deu a seguinte declaração: “Foi um excelente negócio para nós”.

Durante 1978, a situação da economia mundial não se alterou

substancialmente. Embora os países desenvolvidos tenham conseguido

manter o mesmo ritmo de crescimento verificado em 1977, houve em

contrapartida modestos resultados no combate à inflação e ao desemprego.

Por outro lado, o empenho em evitar déficit comercial, aliado às medidas

antinflacionárias e de preservação de seus mercados de trabalho, levou a que

as nações industrializadas recorressem a medidas protecionistas cada vez

mais severas. Estabeleceu-se, em função disso, um círculo vicioso de

restrições ao livre comércio, tanto da parte dos parceiros industrializados

quanto das nações menos prósperas, tornando as atividades do setor cada vez

mais difíceis. Estava configurado um clima de mercado no qual todos queriam

vender – ao mesmo tempo em que restringiam suas compras e barganhavam

com os fornecedores.

Esse quadro confrontou os países em desenvolvimento que não eram

produtores ou auto-suficientes em petróleo com o impacto das ameaças de

recessão, do recrudescimento das pressões inflacionárias internas e do

desequilíbrio de suas contas de comércio. Eram problemas agravados pelos

preços da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), pelos

custos ascendentes dos insumos e equipamentos importados dos países

desenvolvidos, cujos mercados se retraíam progressivamente, enquanto

baixavam as cotações dos produtos do mundo em desenvolvimento.

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Apesar de tal cenário, a Interbras realizou negócios no valor de US$ 838

milhões, em 1978, superando em US$ 3 milhões os números atingidos no ano

anterior, quando alcançara o montante de US$ 835 milhões. Ainda que

positivo, pois foi mantida a tendência de crescimento das operações da

Interbras desde a sua fundação, o resultado alcançado em 1978 espelhou

fielmente o problema causado pela quebra das principais safras agrícolas

brasileiras.

Em 25 de janeiro de 1979, o Jornal do Brasil divulgava o resultado da Interbras

no ano de 1978. Ela fechara aquele ano com US$ 863 milhões, valor à época,

o que significavam US$ 28 milhões de dólares, valor à época, a mais que e

m1977. Pela primeira vez os manufaturados – aproximadamente US$ 349

milhões, principalmente máquinas, gasolina, querosene de aviação para

nações africanas – superaram as vendas de produtos primários – US$ 322

milhões de dólares, menos US$ 270 milhões que em 1977.

Durante 1978 a Interbras realizara operações offshore (compra e venda para

terceiros países) no montante de US$ 85 milhões, principalmente comprando

milho nos EUA e Argentina para vender a importadores europeus. Seu setor de

serviço fechara o maior negócio da empresa: a construção de uma ferrovia de

550 km no Iraque, a ser realizada pela Mendes Junior, no montante de US$ 1

bilhão 209 milhões. A Interbras estimara que somente contratos de serviço

iriam gerar comissões de US$ 50 milhões.

Em 22 de julho de 1979, o Jornal do Brasil publicou artigo onde a Interbras

apresentou seus resultados do primeiro trimestre daquele ano e rebateu

algumas críticas de que a estatal estaria prejudicando interesses privados ou

possuía déficit em suas operações. Sergio Barcellos, vice-presidente da

trading, declarou que “a Interbras não produz, não fabrica, nem constrói nada:

tudo o que vende é adquirido antes no produtor nacional”. A reportagem diz

que “até junho, apenas no primeiro semestre deste ano, a subsidiária da

Petrobras para o comércio obteve um lucro líquido de apenas Cr$ 97milhões,

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sobre o faturamento bruto de Cr$ 7 bilhões e 800 milhões”. O, então,

presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros, Laerte Setúbal Filho,

disse que, se uma empresa privada possuísse toda a infra-estrutura com que

conta a Interbras, ela certamente teria um rendimento melhor.

Em resposta, Barcellos fez a seguinte declaração:

“Discutir a privatização ou estatização em termos de comércio

exterior brasileiro me parece ser um exercício de radicalismo

ideológico, pois na realidade, o que importa é propiciar ao Brasil o

uso efetivo de instrumentos estatais ou privados como veículo de

expansão de suas exportações. Se a Interbras funciona para colocar

produtos brasileiros na China, o que se tem de fazer é usá-la para

abrir portas no mercado chinês ao empresariado privado brasileiro.

Os países de economia centralizada exigem, em suas negociações, a

presença do Estado do outro lado da mesa. Na esteira desse diálogo,

é possível respaldar o empresário brasileiro”.

Na seqüência, Barcellos citou alguns exemplos como a venda de café solúvel

das marcas Globo e Cacique para a China, a venda dos hotéis e estradas de

ferro para o Iraque, a exportação de café em grãos para a Alemanha Oriental

(mais de 200 mil sacas em 1978) e também para a Argélia; de farelos de soja

para a Alemanha Oriental e Iugoslávia. Não é por outra razão que os principais

clientes da Interbras, à época, eram o Oriente Médio (Iraque, Irã, Kuwait, Qatar

e Emirados Árabes), o Leste Europeu (RDA, Romênia, Tcheco-Eslováquia e

Iugoslávia, mas não a União Soviética), o Norte da África (Argélia) e o Ocidente

da África (Angola, Nigéria), além da Ásia (Japão e China).

A Associação dos Exportadores Brasileiros seguia criticando a Interbras que,

para eles, atrapalhava seus negócios, atravessando alguns negócios já

praticamente fechados com preços mais baixos. Segundo o vice-presidente da

Interbras, Sergio Barcellos, pela inexperiência dos operadores, ela poderia ter

atravessado alguns negócios, mas sustentou que isto já havia passado e que a

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Interbras se concentrava em áreas, produtos e oportunidades bem definidas,

sem prejuízo ao exportador privado. O quadro 4.3.1. indica os negócios

fechados pela Interbras até julho de 1979, e o 4.3.2. os produtos exportados

pela Interbras até então. As figuras 4.3.1 e 4.3.2. ilustram estes aspectos. A

figura 4.3.3 apresenta as atividades desenvolvidas pela Interbras.

4.3.2.2. Segundo Período: 1981 a 1984Em 15 de janeiro de 1982, no jornal O Globo (coluna do Swan) é publicada a

seguinte nota sob o título “Exportar, exportar, exportar”:

O faturamento de vendas da Interbras em 1982 chegou a US$ 2,75

bilhões, com crescimento de 55% em relação a 1981. O lucro líquido

ainda não foi precisado, mas posso revelar que será expressivo,

superando o desconto da inflação no mesmo período. Um dos itens

bem sucedidos da pauta da Interbras foi o dos calçados que lançou

nos States a marca Hipoppotamus, com os quais faturou US$ 40

milhões e mereceu do The New York Times, o título de melhor

campanha promocional de 82 para novos produtos. Não adianta

chorar, a solução é exportar”.

“Uma política mais dinâmica no mercado internacional, inclusive com a

abertura de novos escritórios em países estratégicos”. Assim começa

a reportagem divulgada pelo jornal O Globo, de 12 de maio de 1983,

que tinha como título a abertura de novos escritórios no exterior pela

Interbras. Na mesma reportagem o então vice-presidente da empresa,

Lauro Vieira, declarou que naquele ano de 1983, a Interbras pretendia

vender, pelo menos, US$ 3 bilhões, contra os US$ 2,6 bilhões obtidos

no ano de 1982.

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Quadro 4.3.1. Os Negócios Fechados até Julho de1979

Descrição do Negócio País Fornecedor Cliente Valor U$$Rodovia Safwa-Al-Jubayl A. Saudita Beter Ministério das

Comunicações 40 milhões

Centros residenciais Argélia ECEL Sonatrach 83 milhões

Esgoto em S. José Costa Rica EtescoInstitutoCostarricensede Acueductos

7 milhões

Destilaria de Álcool, etc. Costa Rica Codistil Codesa 12 milhões

Bases de suprimento Equador Projeta/Techint CEPE 2 milhões

Construção de dois hotéis– Basrah e Bagdá Iraque A. Mathias/

Esusa

OrganizaçãoEstatal deTurismo

29 milhões

Olaria Nigéria BonfantiPlanave Poço Minerals 2 milhões

Industrialização demandioca Nigéria Dándrea

Planave

National Root& CropsProduction

1 milhão

Ferrovia Bagdá/Hsaibah-Al Qaim/Akshat Iraque Mendes

JuniorIrac RepublicRailways

1 bilhão e223milhões

Fonte: Jornal do Brasil, 22/7/99, 1º caderno

Quadro 4.3.2. O Que Negocia a Interbras

1. Soja em grãos

2. Farelo de Soja

3. Óleo de Soja

4. Milho

5. Trigo

6. Sorgo

7. Cacau em grãos

8. Manteiga de cacau

9. Licor de cacau

10. Café em grãos

11.Café solúvel

12. Açucar

13. Arroz

14. Pimenta

15. Carne (boi e cavalo)

16.Enlatados (corned beef)

17. Frangos congelados

18. Fibras (sisal)

19.Essências (cravo, menta)

20. Peixe congelado

21. Fermento seco

22. Madeiras

23. Calçados

24. Têxteis

25. Top de lã

26. Fios

27. Vestuário

28. Farmaceuticos

29. Eletrodomésticos

30. Equipamentos

31. Bicicletas

32. Maquinas

operatrizes

33. Veículos

automotores

34. Gusa

35. Metais (estanho)

36. Derivados de

petróleo (asfalto e

parafina)

37. Petroquímicos

(vários)

38. Chapas acrílicas

39. Insumos agrícolas

Fonte: Jornal do Brasil, 22/7/99, 1º caderno

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A reportagem continuava com o relato de Lauro Vieira, que em março daquele

ano (1983), haviam sido vendidas 50 mil toneladas de milho para a União

Soviética, volume que poderia ser mais significativo se houvesse maior

disponibilidade no mercado nacional. A previsão de venda de calçados para os

EUA era de US$ 50 milhões. A Interbras procurava, também, diversificar

mercados para a venda de álcool. Em maio de 1983 era aberto um escritório na

Costa do Marfim, de onde produtos e manufaturados brasileiros poderiam

atingir os demais países africanos, envolvendo uma população, à época, de

400 milhões de pessoas.

Em março de 1984, em reportagem do jornal Folha de São Paulo, Caderno

Economia, página 2, os resultados da Interbras em 1983 foram criticados por

analistas financeiros, onde se dizia que era “um fenômeno escandaloso de

lucro de papel”, destinado a mascarar mais um ano de prejuízos operacionais.

A reportagem seguia dizendo que a Interbras contou com “o apoio decisivo da

Petrobras” para enfrentar “com sucesso os múltiplos obstáculos e dificuldades

presentes nos mercados internacionais, em particular os resultados da falta de

liquidez de inúmeros países importadores”.

Quatro meses mais tarde, a Interbras divulgava sua intenção de vender para o

mercado internacional, naquele ano, 30% dos principais produtos agrícolas

brasileiros de exportação, com destaque para soja, café, cacau e açúcar. Ao

todo, a empresa projetava gerar uma receita cambial de, à época, US$ 3

bilhões com sua atuação no comércio exterior do país. Em entrevista ao jornal

O Globo, em 18 de junho de 1984, o então vice-presidente da subsidiária,

Lauro Vieira, declara que o resultado da empresa poderia ser mais positivo

caso não tivesse sofrido “violento corte nos recursos orçamentários”. Ele

continua falando que “com a política geral do Governo de contenção de

despesas das empresas estatais, por causa dos compromissos com o Fundo

Monetário Internacional (FMI), não fomos contemplados com linhas de crédito

específicas para apoiar as exportações”.

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4.3.2.3. Terceiro Período: 1985 a 1988

Em 15 de abril de 1985, o Jornal do Brasil publicou reportagem sob o título

“Interbrás perde nos EUA US$ 30 milhões com venda de álcool”, relatando a

conseqüência de sua política de estocagem e venda de combustível nos

Estados Unidos. Como fruto de uma política concebida pelo então presidente

da Petrobras, Shigeaki Ueki, de “inundar o mercado norte-americano” com o

produto brasileiro, a Interbrás executou esta política que, na verdade, fora

concebida pelo Departamento Comercial da Petrobras, em 1983, e ganhou

força em 1984, apesar dos prejuízos trazidos à companhia.

No dia seguinte, 16 de abril de 1985, O Globo divulgava notícia de que a

Interbrás houvera obtido um lucro líquido de divisas de US$ 50 milhões em

1984 com as exportações de álcool combustível para os Estados Unidos, que

permitiram uma margem de lucro final, descontados os custos em moeda

nacional, de 3%. Esta informação fora dada pelo Diretor da Petrobras, Carlos

Santana. Segundo ele, foram exportados, em 1984, 119 milhões de galões

pela Interbrás, dos quais 70 milhões foram vendidos.

Em 7 de junho de 1985, conforme constava de notícia publicada pelo Jornal do

Brasil, a Interbras divulgou sua estimativa de exportações para o ano, que

deveria superar em 400 milhões de dólares o volume de 1984, alcançando 4

bilhões de dólares. A notícia foi dada pelo presidente da empresa, Armando

Guedes Coelho. Ele informou, ainda, que os veículos automotores também

passariam a ser parte dos countertraders (sistema de trocas no mercado

internacional), a exemplo do que já acontecera com os, à época, principais

produtos da pauta de exportação do Brasil, como aço, petroquímica, café, soja,

açúcar, cacau e manufaturados.

Em 7 de agosto de 1985, o jornal O Globo noticiou que a Interbras, desde sua

criação em 1976, até maio daquele ano, exportara US$ 3,1 bilhões de dólares

para 26 países africanos. Foram negociados neste período 80 produtos

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diferentes, principalmente derivados de petróleo (US$ 1,9 bilhão); produtos

primários e alimentícios (US$ 550 milhões); serviços de engenharia (US$ 525

milhões) e químicos e petroquímicos (29 milhões). Até então, os principais

parceiros comerciais da Interbras eram o Zaire, Argélia, Congo, Nigéria e

Angola, esta última, à época, o mais novo país parceiro. As vendas para estes

cinco países correspondiam a 60% das exportações totais para o continente

africano. “Além de realizar exportações pioneiras, como bombas de gasolina

para a Líbia, peles curtidas para Lesoto e pilhas elétricas e máquinas de

escrever para a Argélia, a Petrobras destaca que os eletrodomésticos

brasileiros, com a marca TAMA, tem encontrado grande aceitação no mercado

africano, onde são vendidos em mais de dez países.” A reportagem terminava

com a informação de que “nos últimos anos, a Interbras vendeu mais de 200

mil toneladas de produtos petroquímicos e efetuou vários trabalhos de serviços

de engenharia.”

Mas o ano de 1985 se encerrou com especulações e críticas sobre a Interbras.

Em 13 de dezembro, o jornal O Globo noticiou: “AEB quer saber que benefícios

a Interbras traz para o Brasil”. Nela, empresários da área de exportação

declaravam que gostariam que a estatal se submetesse à uma auditoria

externa, para verificar os benefícios que a Interbras proporcionava ao país. A

Associação de Comércio exterior do Brasil – AEB, enviara documento ao

governo como uma contribuição para a criação de uma política de comércio

exterior, e durante coletiva à imprensa o representante da entidade fizera tais

comentários. Segunda a AEB, “o comércio exterior deve ser área específica da

iniciativa privada, e a Interbras é o exemplo mais notável da desnecessária

participação do governo nessa área”. A queixa era de que “ninguém sabe se

essa empresa dá lucros ao país, porque suas contas são misturadas no bolo

da Petrobras”. Dentro diversas reivindicações, o documento da AEB pedia a

incorporação de diversos órgãos governamentais à CACEX . Os primeiros

seriam a Comissão de Política Aduaneira (CPA) e o BEFIEX. Numa etapa

posterior, até as áreas de comercialização do IBC e do IAA deveriam ser

transferias para a CACEX.

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No dia seguinte a esta notícia, o governo divulgou declaração do então Ministro

da Fazenda, Dílson Funaro, de que era favorável à liberalização e privatização

do comércio exterior. Porém, Funaro afastara a hipótese de privatização da

Interbras, mas admitiu limitar a ação da empresa. Segundo ele, a Interbras

atuaria em projetos que envolvessem a venda de manufaturados em troca de

petróleo e importações essenciais ao país, como as de alimentos, quando

feitas com urgência pelo Governo.

O jornal O GLOBO, de 6 de fevereiro de 1986, anuncia que cerca de 17% do

lucro líquido da Interbras foi destinado à distribuição de dividendos aos

acionistas da Petrobras. Na mesma reportagem, foi informado que, em 1985, o

lucro da subsidiária havia sido 34% menor que o obtido no ano anterior. Tal

fato se deveu ao efeito negativo da correção monetária sobre o ativo

permanente e o patrimônio líquido. Naquele ano, o faturamento foi inferior ao

de 1984 em 11,3%.

“A China é o grande novo mercado, com necessidades de cereais, máquinas,

equipamentos e muita coisa mais”. Assim falou o Vice-Presidente Executivo da

Interbras, Josemar Nascimento, em entrevista publicada no jornal O Globo, de

7 de julho de 1986. Naquele ano sentia-se a redução de vendas para os

Estados Unidos, motivada pelo aumento do protecionismo e à queda do dólar,

que tornou mais competitiva a indústria local. “A Interbras chegou a ter marca

especial de sapatos nos Estados Unidos, a Hippopotamus, mas já a vendeu e

agora tem a marca Unichicken e Unibeef para os mercados árabes e Brasmar

para a calda de lagostas nos Estados Unidos. A Argélia é um caso especial. Lá

lançamos, com o jogador Pelé, a marca Tama de eletrodomésticos, que é um

sucesso, e venda de pilhas e máquinas de escrever. São produtos que

compramos no Brasil, de diversos fabricantes, e lá colocamos com o nome

Tama. Embora o mercado americano esteja mais difícil, lá é o único local onde

temos dois escritórios, em Nova York e Houston, pois a potencialidade é

enorme e uma venda pode atingir um valor fantástico”, declarou Josemar

Nascimento.

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Em 25 de março de 1987, o Jornal do Brasil noticia o afastamento da diretoria

da Interbras com o seguinte título: “Interbras afasta diretoria para retornas às

origens”. Com exceção do então vice-presidente Josemar Ferreira do

Nascimento, toda a diretoria fora destituída para permitir que a Interbras

retornasse aos seus objetivos básicos, reduzindo o leque de produtos que

vinha exportando. Para o presidente Carlos Santanna a Interbras, na gestão do

presidente Shigeaki Ueki, havia se afastado de suas diretrizes, diversificando

largamente a pauta de exportações, comercializando de balas e pilhas a pneus

e lagostas, além de criar uma série de escritórios no exterior, aumentando o

seu custo operacional com poucos ganhos em termos de divisas.

Em 26 de março, o Jornal do Brasil noticiava que “Faturamento da Interbras cai

36,2%”. A reportagem se iniciava dizendo que a “Interbras não conseguiu

inverter a trajetória de queda no faturamento bruto, registrada no ano passado,

e nos dois primeiros meses de 1987, faturou apenas USS 324 milhões,

apresentando uma redução de 36,2% em relação ao mesmo período de 1986.

Em 1986, o faturamento da empresa havia caído 10%, totalizando cerca de

US$ 2,5 bilhões”. Entre os motivos que levaram à queda no faturamento, o

então vice-presidente da estatal, Josemar Ferreira do Nascimento, citou a

redução dos preços dos derivados de petróleo e a suspensão das exportações

de álcool para os Estados Unidos. Além disso, segundo o vice-presidente,

haviam contribuido a redução dos preços dos produtos petroquímicos no

mercado internacional e as cotações dos produtos agrícolas. A reportagem era

concluída com a informação de que a Interbras concentraria as exportações

em produtos agrícolas, siderúrgicos, petroquímicos, alumínio e derivados de

petróleo, mantendo as vendas externas de produtos agrícolas basicamente

para o Oriente Médio. A empresa não mais comercializaria balas, lagostas,

pneus, pilhas e tratores, como vinha fazendo, muitas vezes em conflito com

empresas privadas. A figura 4.3.4 apresenta uma propaganda com os produtos

exportados para o Oriente Médio.

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Em 5 maio de 1987, foi anunciado o fechamento dos escritórios da Interbras

em Paris e em vários estados do país. O jornal O Globo notificou que a

Interbras já havia fechado diversos escritórios em Praga, na Tchecoslováquia;

em Roterdã, na Holanda; no México; e em Caracas, na Venezuela. O novo

vice-presidente da Interbras, Hamilton Sérgio Albertazzi, informou que o

fechamento desses escritórios não tinha o objetivo básico de reduzir custos,

mas de otimizar as operações de trading, “de modo a torná-la mais forte e ágil

e agressiva, para competir em melhores condições no mercado externo”.

Segundo Albertazzi, a companhia pretendia atuar mais em mercados não

convencionais com produtos não tradicionais, sem competir com a iniciativa

privada. O desafio da nova equipe era grande: reverter a queda de faturamento

verificada nos últimos dois anos, que de US$ 3 bilhões, em 1984, caiu para

US$ 2, 4 bilhões em 1986. Neste momento, a principal meta da diretoria era

fazer com que as exportações voltassem a representar 10% do total exportado

do país. Das exportações brasileiras previstas para 1987, de US$ 22 bilhões, a

Interbras pretendia participar com US$ 2,4 bilhões. As linhas de produtos que

não forem proporcionalmente rentáveis em relação ao esforço dispendido

seriam eliminadas. Por esta razão, as exportações se concentrariam nos

derivados de petróleo, produtos petroquímicos, siderúrgicos e industrializados,

que tivessem maior valor agregado.

“Interbras dispensa pessoal para se ajustar e aumentar sua eficiência”. Assim

noticiava o jornal O Globo, de 20 de junho de 1987. Foram 75 funcionários que,

segundo o seu então presidente Carlos Santana, “eram ineficientes, não

qualificados, ociosos e incompetentes. O objetivo é conseguir que a campanha

se ajuste à situação atual do país e seja eficiente. Ou se torna eficiente ou

fecha”.

A Interbras passava por profundas reformulações, desde sua política de

atuação – com extinção de linhas de produtos que não eram rentáveis, e busca

de novos mercados – à redução do quadro de pessoal que era, à época, de

1.400 funcionários, e ao fechamento de escritórios no país e no exterior.

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Em 5 de junho de 1988, era divulgada a estratégia da Interbras de apoio às

exportações das pequenas empresas. Produtores nacionais poderiam se

associar a ela, usando toda a sua infra-estrutura e facilidades, ou até realizar

joint-ventures. “Hoje a Interbras é conhecida como a exportadora de produtos

brasileiros e não como trading internacional. Com essa mudança, se

conseguirá uma atuação mais eficiente e agressiva na exportação dos

produtos brasileiros. Não é fácil exportar produtos brasileiros, principalmente os

manufaturados. Por isso, é preciso se montar mecanismos possíveis, com

associações, operações tripartite, enfim, tudo que viabilize as exportações”,

declarou o vice-presidente da Interbras, Hamilton Sérgio Albertazzi. A

reportagem posicionava a Interbras como a maior trading do Brasil, com

exportações que representavam, em média, 8% de todas as exportações do

país. A segunda trading era a Cotia, com exportações em torno de US$ 200

milhões/ano. Nos quatro primeiros meses de 1988, a Interbras exportara US$

717 milhões, e previa atingir US$ 2 bilhões naquele ano, contra US$ 1,9

bilhões conseguidos em 1987. Os principais produtos exportados eram os

derivados de petróleo, carne bovina, açúcar refinado, petroquímicos, café em

grão, produtos siderúrgicos, entre outros. Os principais mercados da Interbras

eram os Estados Unidos, Iraque, Holanda, China, Zaire, Irã, Japão, Índia,

Cingapura, Agentina, Taiwan. “Este é o ano decisivo para a Interbras”, afirmou

Albertazzi.

Em 1988, os rumos do comércio internacional delinearam uma tendência

irreversível no sentido da formação de grandes blocos econômicos e empresas

transnacionais. A unificação da Comunidade Econômica Européia, programada

para 1992, bem como o acordo entre Estados Unidos e Canadá para a

eliminação das fronteiras comerciais entre os dois países eram indícios de que

as principais nações industrializadas optaram pela integração de suas

economias numa postura de semi-isolacionismo, contornado com práticas

protecionistas em detrimento do ingresso de produtos estrangeiros em suas

fronteiras.

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Além disso, as indústrias japonesas continuaram seus programas de

investimentos na Ásia, Europa e América do Norte, enquanto que as empresas

dessas duas últimas regiões aceleraram durante o ano processos de fusão ou

de colaboração estreita, visando a superar o problema do protecionismo

através da criação de mega grupos empresariais, capazes de atuar

autonomamente e partir de diversos continentes sem prejuízo de suas

atividades.

Tais características implicaram em que o porte das empresas que operaram no

comércio internacional fosse de fundamental importância para o nível de

competitividade, não somente em termos de presença nos mercados mas

também no que tangia à garantia de fornecimento de seus produtos.

Visualizando tal ambiência, a Interbras em 1988 prosseguiu com sua política

de atuação em larga escala, atingindo mais de 60 países em operações das

mais variadas modalidades e diversidade de produtos, aproveitando a

oportunidade conferida pelo porte da empresa, e a confiança já conquistada no

exterior, bem como por sua configuração junto ao Sistema Petrobras. Cabe

assinalar que esses fatores foram fundamentais para a superação das

restrições externas impostas pelo protecionismo, a falta de liquidez

internacional e a competição marcada pelo confronto com grandes grupos

multinacionais na conquista de mercados.

No que diz respeito à atuação no país, a Interbras foi importante pólo

canalizador de exportações de empresas atingidas pela crise econômica,

servindo como alternativa para a queda da demanda que afetou o sistema

produtivo nacional. O Brasil, embora tenha atingido um resultado recorde na

Balança Comercial, de US$ 19,1 bilhões, não cresceu, uma vez que a sua taxa

do PIB não apresentou variação real. Além disso, a inflação brasileira atingiu o

seu recorde absoluto, até então, com 993,6%, segundo indicadores oficiais.

No ano de 1988, a Interbras atingiu um faturamento de US$ 2,465,7 milhões,

obtendo incremento de 5,5% sobre o faturamento do exercício anterior. Deste

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total, 47,42% deveu-se ao setor Petróleo e Derivados, 17,08% ao setor

Primário, 15,88% ao setor Químico e Petroquímico, 15,38% ao setor

Manufaturado, 4,10% a Agroindustriais e 0,14% a Serviços. Este ano se

encerrou com um Lucro Líquido de US$ 26,6 milhões.

4.3.3. A Extinção da Interbras

Em reportagem no jornal O Globo, de 9 de março de 1990, o então futuro

Ministro da Infra-estruta, Ozires Silva, revelou que a Interbras, trading company

da Petrobras, seria fechada se não fosse privatizada. A informação foi dada

durante almoço com um grupo de 40 empresários de diferentes setores. Neste

almoço, Ozires Silva revelou, ainda, que das 103 empresas da Petrobras –

entre subsidiárias e coligadas – só não seriam privatizadas a Petrobras, a

Braspetro e a BR Distribuidora.

A matéria do jornal O Globo fazia um pequeno histórico da Interbras,

denominado de ”conturbado”. Nela era dito que a Interbras havia se tornado “a

maior trading company (companhia de comércio exterior) do Brasil,

basicamente devido ao apoio do enorme poder de barganha da sua holding, a

Petrobras”. A matéria dizia que o crescimento da Interbras não havia ocorrido

sem problemas. Em 1983, observava a matéria, o vice-presidente Augusto

Barcellos, havia se recusado a cumprir ordens de Shigeaki Ueki, então

Presidente da Petrobras, de exportar velas, licor de café e até pirulitos.

Segundo Barcellos faltavam estudos de viabilidade econômica para tais

operações. Em 1987, o então presidente da Interbras, e que em1990 se tornara

presidente da Petrobras, havia fechado escritórios da subsidiária no exterior e

reduzido o leque de produtos exportados. O objetivo era retornar às origens,

abandonando a estratégia de expansão a qualquer preço adotada, à época, por

Shigeaki Ueki.

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“Lucro em 89 não impede o fechamento da Interbras”. Este era o título da

manchete de reportagem publicada em O Globo, no dia 17 de março de 1990,

extinta um dia antes por decisão do Governo. A notícia dizia que durante toda a

sua existência, a Interbras sempre havia gerado polêmicas a respeito de suas

operações no exterior. “Muitas vezes acusada de fazer operações que

causaram prejuízos e também de competir com a iniciativa privada. A empresa

exporta desde derivados a produtos primários como, soja, cacau, carne bovina

e frango e produtos petroquímicos”.

“Sem Interbras, Brasil perde exportações para a Argentina”. A notícia era de O

Globo, de 21 de março de 1989. Após a extinção da Interbrás, cinco dias antes,

o Brasil perdeu para a Argentina exportações de carne para o Irã, no valor de

US$ 60 milhões. O Irã, assim como o Iraque e outros fornecedores de petróleo

para o Brasil, só negociava compras de produtos entre governos. Das

importações de petróleo feitas pela Petrobras, cerca de 40% eram feitas, à

época, pelo sistema de contrapartidas com produtos nacionais. Com o fim da

estatal, alguns analistas previam que o pequeno e médio exportador, que

realizava seus negócios através da Interbras, seria prejudicado. Em 1989, a

Interbras faturara US$ 2,7 bilhões, enquanto a segunda maior trading, a Cotia,

realizara negócios de US$ 200 milhões, segundo os mesmos analistas.

A extinção da Interbras deixou uma pergunta no ar: quem iria tomar o mercado

de US 2,7 milhões deixado por ela? Em reportagem do Jornal do Brasil, de 23

de março de 1990, sob o título “Mercado da Interbras atrai”, analistas

especulavam sobre a reconfiguração deste setor no país:

”Nos bastidores das tradings companies a retaliação dessa herança,

em que são incluídos alguns funcionários graduados da estatal que

acaba de ser extinta pelo presidente Collor de Melo, virou a grande

preocupação. Sem a Interbras, o Rio perde a área de comércio

exterior para São Paulo, onde se localizam as principais tradings do

país, como a Cotia e a IAT. A grande conquista seria herdar o

mercado do Oriente Médio, nosso maior fornecedor de petróleo e

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que garante a contrapartida de importação de produtos brasileiros.

Mas esse filé mignon pode ir parar nas mãos das tradings

multinacionais. Acontece que as negociações comerciais entre o

Brasil e os países do Oriente Médio são realizadas de governo para

governo e com base em petróleo. De forma que a herança da

Interbras pode ir para as tradings internacionais, como a Phillip

Brothers americana, que importaria o óleo desses países, ou para a

suíça Marc Rich. No Brasil, só quem importa petróleo é a

Petrobras.”

Com o fim da Interbras o Brasil teve uma perda imediata de US$ 700 milhões

anuas de exportações vinculadas à compra de petróleo e que deixaram de ser

feitas com a sua extinção. Assim se iniciava reportagem publicada em O Globo,

em 1 de abril de 1989. A reportagem citava que a Interbras, a maior trading da

América Latina, com faturamento de US$ 2,7 bilhões, em 1989, competia com

as maiores tradings internacionais como a Mitsui, com faturamento anual de

US$ 126 bilhões; a C. Itoh, US$ 88,5 bilhões; a Mitsubishi, US$ 86,7 milhões e

a Sumitomo, US$ 80 bilhões. Técnicos do setor acreditavam que só a notícia

da extinção da Interbras abalou a credibilidade do País no mercado.

As figuras de 4.3.6 a 4.3.10 demonstram a posição da Interbras e seus

resultados durante o período de sua existência.

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CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

5.1 Sumário

O presente estudo objetivou investigar o processo de internacionalização de

uma empresa estatal brasileira, entender como ele se dá, e em que medida as

teorias existentes sobre a internacionalização de empresas explicam a forma

pela qual este processo ocorreu.

Valendo-se da metodologia de estudo de caso, estudou-se o caso da

Petrobras, através de uma de suas subsidiárias, a Braspetro, e de outra já

extinta, a Interbras.

A relevância do trabalho se deve ao caráter de ineditismo de um estudo sobre

o processo de internacionalização da Petrobras, fato ainda não abordado em

profundidade em outros estudos. Além disso, ele contribui para aprimorar o

entendimento do fenômeno da globalização dos mercados, particularmente no

caso do Brasil, onde este processo vem ocorrendo tardiamente, em

comparação a de outras empresas e outros países.

Duas foram as perguntas que orientaram este trabalho: Como ocorreu o

processo de internacionalização de uma empresa estatal brasileira, a

Petrobras? Em que medida as teorias existentes de internacionalização

explicam a forma pela qual ocorreu este processo na Petrobras?

Inicialmente, contextualizou-se o processo de internacionalização na Brasil,

assim como se busca proporcionar um entendimento sobre o processo de

globalização.

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A seguir, foi feita a revisão da literatura encontrada sobre o processo de

internacionalização de empresas. A presente pesquisa não pretendeu analisar

o processo de internacionalização valendo-se da abordagem econômica, e sim

os aspectos comportamentais associados ao mesmo. São apresentados os

modelos de Uppsala (1977) - o mais conhecido - e aqueles relacionados à

inovação: Billkei e Tesar(1977), Cavusgil (1980), Reid (1981), Rao e Naudi

(1992). Além disto, foram discutidos os conceitos de empresas born globals, ou

international new ventures, além das networks de empresas.

Adotou-se a metodologia de estudo de casos, cuja sustentação teórica é dada

por vários autores citados.

Os resultados dos estudo descrevem a atuação das subsidiárias estudadas:

Braspetro e Interbras. Esta última extinta em 1990, por ser massa falida, foi

motivo de dificuldade para obtenção de informações que permitissem identificar

a trajetória do negócio e sua estratégia, comparando-a com os modelos de

internacionalização estudados. A história das subsidiárias é dividida em

períodos e a elas acrescentou-se o depoimento de executivos que vivenciam

ou vivenciaram experiências na atuação internacional das empresas

estudadas. Tais depoimentos serviram para validar aquilo que os modelos

teóricos descrevem etapas e aspectos de um processo de internacionalização,

associados a aspectos comportamentais.

5.2 Conclusões

Antes de iniciar as conclusões obtidas com o presente estudo, cabe ressaltar a

diferença existente entre as indústrias pesquisadas para fundamentação das

teorias apresentadas na pesquisa bibliográfica e a indústria do petróleo. Não há

correlação entre tais atividades, mas é possível traçar paralelos entre as

características do processo de internacionalização entre empresas do setor de

bens e a empresa do setor petróleo.

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No processo de internacionalização da Petrobras pode se observar uma

proximidade com o que diz o Modelo de Uppsala. As empresas suecas, base

para o estudo, freqüentemente desenvolveram suas operações internacionais

através de passos pequenos, até certo ponto, para então realizarem grandes

investimentos em produção no exterior. Também assim, a Petrobras se lançou

no mercado internacional, inicialmente de forma pequena, começando de forma

modesta essas experiências, para então evoluir para passos maiores.

Levada a buscar novos espaços para encontrar óleo e gerar resultado

inicialmente pelas crises do petróleo da décadas de 70 e 80, hoje a Petrobras é

levada para o cenário internacional por outro motivo: a perda do monopólio

estatal do petróleo. Hoje, exposta à concorrência, os investimentos domésticos

necessários somente serão viabilizados através de parcerias, o que reduz sua

participação doméstica. A opção é crescer para fora, ampliar seu parque de

refino fora, produzir óleo e gás fora. Conhecimento de mercado e

comprometimento com o mercado afetam e são afetados pelas decisões

relativas ao comprometimento de recursos com as atividades internacionais e a

forma como as atividades existentes são desenvolvidas.

Reforçando esta conclusão está a citação contida no estudo de Johanson e

Vahlne que diz que “o processo de internacionalização é um processo de

ajustes incrementais às condições variáveis da empresa e do seu ambiente”.

Os modelos de internacionalização baseados em inovação, os modelos “I”,

abordados nesta dissertação, também podem ser ajustados à indústria do

petróleo e, especificamente no caso Petrobras, um mix dos quatro modelos

abordados poderia ser obtido. Substituindo a palavra “exportar” por ”atuar”

poderemos vê-la iniciando no primeiro estágio do modelo de Cavusgil,

passando pelo seu segundo estágio, situando-se hoje num momento de

transição do que poderia ser o terceiro estágio de Cavusgil ou de Bilkei e

Tesar, para um quarto estágio do modelo de Reid.

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Dentre os determinantes dos estágios de internacionalização, a Petrobras

encontra-se, atualmente, no estágio de “Envolvimento Ativo”, com expansão de

sua atuação internacional, o que a faz necessitar de maior volume de

informação, valendo-se de suas experiências anteriores para ajustar sua

participação em áreas que realmente agreguem valor ao negócio, seja na

atividade de upstream ou downstream, e disposta a alocar recursos-chave para

tal (vide página xx).

5.3 Limitações do Estudo

A dificuldade de obter informações sobre a Interbras, subsidiária extinta da

Petrobras, fez com que as fontes de informações se limitassem a alguns

relatórios anuais e à reportagens da imprensa escrita, obtida em pesquisa junto

a arquivo dos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Por ser massa falida, não foi

possível encontrar estudos internos e outras fontes de informação que

pudessem oferecer maior fundamentação. A realização de entrevistas com

pessoas da Petrobras que atuavam nas subsidiárias, foi uma fonte alternativa

para ancorar determinados assuntos observados nas reportagens pesquisadas

e considerados relevantes para o objetivo da dissertação. Infelizmente, não foi

possível obter a colaboração de ex-funcionários da Interbras, que não puderam

ser localizados ou não aceitaram a entrevista.

A metodologia adotada para esta dissertação, a do Método do estudo de Caso,

possui limitações intrínsecas ao método, que não permitem generalizar as

conclusões para outras empresas que estejam em determinado estágio de

internacionalização. Alem disso, o ramo de atuação da empresa estudada

possui características específicas, que não permitem a plena comparabilidade

com empresas do setor manufatureiro ou de serviços.

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5.4 Sugestões de Pesquisas Futuras

Constatou-se a necessidade de atualização dos estudos realizados sobre o

tema. Os modelos apresentados na presente dissertação foram realizados há

bastante tempo, e em cenários bastante distintos do atual, no que diz respeito

às práticas de mercado e da economia mundial.

No cenário brasileiro, com ao avanço do fenômeno da globalização, diversas

foram as empresas do setor privado que ingressaram no mercado externo,

quer como exportadores ou, até, estabelecendo subsidiárias no exterior, e que

poderiam ser objeto de estudos específicos.

Da mesma forma, um sem número de empresas internacionais aqui se

estabeleceram na última década, transformando as práticas de mercado e dos

negócios em que atuam. Conhecer tais experiências e desenvolver estudos

que permitam avaliar a contribuição que tais empresas trouxeram para as

empresas nacionais, quer seja pela necessidade de adaptação destas últimas,

modernização de suas práticas ou até de fusões. Se existem estudos que

analisam a expansão de determinada empresa no mundo, a existência de

estudos que avaliem a entrada de empresas internacionais no país e seu

impacto no setor, poderia ser uma importante contribuição de entendimento

das praticas de gestão de negócios, pessoas e cultura organizacional.

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112

FIGURAS

4.1.1 A Nova Estrutura Organizacional da Petrobras

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4.1.2 Áreas de Atuação Internacional da Petrobras até Dezembro de 2000

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4.3.1 Imagem Demonstrativa dos Produtos Exportados pela INTERBRAS,em 1980.

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115

4.3.2 Propaganda com os Produtos e Serviços Exportados pelaINTERBRAS, divulgada na Europa e EUA.

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116

4.3.3 Propaganda das Atividades da INTERBRAS, em Espanhol.

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4.3.4 Propagandas de Produtos Exportados para o Oriente Médio.

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4.3.5 Outras Propagandas de Produtos Brasileiros.

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4.3.6. Posição da Interbras entre as Grandes Tradings Companies

TRADINGS COMPANIES Faturamento Lucro LíquidoTRADINGS US$ Milhões Vendas

Mitsubishi (1987) 86.7 0.2Sumitomo (1986) 80.6 0.2C.Itoh (1986) 88.5 0.1Mitsui (1988) 126.0 0.2Interbras (1989) 27 0.2

Escritórios noTRADINGS

EmpregadosExterior

C.Itoh 10.000 180Mitsubishi 8.692 140Sumitomo 8.500 131Interbras 916 15

4.3.7. Lucro Líquido da Interbras Durante sua Existência

Ano Lucro Líquido US$ Mil1976 475.71977 2920.91978 860.21980 3.971.21981 4.382.51982 5.108.91983 22.156.21984 67.003.31985 38.650.01986 25.813.41987 493.71988 4.476.91989 9.472.3

TOTAL 205.404.6

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4.3.8. Relação entre Lucro Líquido e Vendas das Principais TradingsCompanies

Lucro Líquido/Vendas

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25

Mitsui

Sumitomo

Interbras

Mitsubishi

C.Itoh

4.3.9. Faturamento da Interbras por Modalidade de Faturamento

Faturamento da INTERBRAS por Modalidade

0

10

20

30

40

50

60

70

80

75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90

%

FOB

CIF/C&F

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4.3.10. Evolução Anual do Faturamento da Interbras

Evolução Anual do Faturamento

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

76 78 80 82 84 86 88 90

US$

Milh

ões