UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO · veículo automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE PÚBLICA NÚCLEO DE PESQUISA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE COLETIVA O PADRÃO DE CONSUMO DE ÁLCOOL DECLARADO POR MOTORISTAS EM UM DETRAN NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO APÓS A “LEI SECA” Louise Anne Reis da Paixão RIO DE JANEIRO Julho/2012

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

    DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SADE PBLICA

    NCLEO DE PESQUISA EM ENFERMAGEM DE SADE COLETIVA

    O PADRO DE CONSUMO DE LCOOL DECLARADO POR

    MOTORISTAS EM UM DETRAN NA CIDADE DO RIO DE

    JANEIRO APS A LEI SECA

    Louise Anne Reis da Paixo

    RIO DE JANEIRO

    Julho/2012

  • 2

    O PADRO DE CONSUMO DE LCOOL DECLARADO POR

    MOTORISTAS EM UM DETRAN NA CIDADE DO RIO DE

    JANEIRO APS A LEI SECA

    Louise Anne Reis da Paixo

    Dissertao apresentado ao Programa de Ps

    Graduao da Escola de Enfermagem Anna

    Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    para obteno do ttulo de mestre em

    Enfermagem.

    Orientador: Prof. Dra Angela Maria Mendes Abreu

    RIO DE JANEIRO

    Julho/2012

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    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL

    DESTE TRABALHO , POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU

    ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE

    CITADA A FONTE.

    FICHA CATALOGRFICA

    Paixo, Louise Anne Reis da

    O Padro de consumo de lcool declarado por motoristas em um

    DETRAN na cidade do Rio de Janeiro aps a Lei Seca.Rio de

    Janeiro, EEAN, 2012.

    Dissertao apresentado ao Programa de Ps Graduao da Escola de

    Enfermagem Anna Nery-UFRJ. Departamento de Enfermagem em

    Sade Coletiva.

    Orientadora: Angela Maria Mendes Abreu

    1. Uso de lcool. 2. Preveno. 3. Fatores de Risco no trnsito.

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    FOLHA DE APROVAO

    O PADRO DE LCOO DECLARDO POR MOTORISTAS EM UM DETRAN NA

    CIDADE DO RIO DE JANEIRO APS A LEI SECA

    Louise Anne Reis da Paixo

    Orientadora: Prof. Dr. Angela Maria Mendes Abreu

    Dissertao de mestrado a ser submetida ao Programa de Ps-graduao em Enfermagem,

    Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como

    parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem.

    BANCA EXAMINADORA

    Presidente, Prof. Dr. Angela Maria Mendes Abreu (EEAN/UFRJ)

    1 examinador, Prof. Dr. Sandra Domingos Pillon (EERP/ USP)

    2 examinador, Prof. Dr Ana Ines Sousa (EEAN/UFRJ)

    Suplente, Prof. Dr. Rachel Figueir Savary (EEAN/UFRJ)

    Suplente, Prof. Dr. Jos Mauro Braz de Lima (FM/UFRJ)

    Rio de Janeiro

    Julho /2012

  • 5

    S existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e outro se chama amanh, portanto hoje o dia certo para amar,

    acreditar, fazer e principalmente viver (Tenzin Gyatso)

  • 6

    Agradecimentos Especiais

    A Deus

    Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o

    recebereis e t-lo eis

    A minha famlia

    na educao dos filhos que percebe-se a virtude dos pais (Coelho

    Neto). Agradeo a vocs que foram os protagonistas das minhas

    vitrias e os companheiros de cada momento da minha vida. Amo

    vocs!

    A minha orientadora

    Mestre no o que ensina frmulas, regras, raciocnios, mas o que

    questiona e desperta para a realidade. No aquele que d de seu

    saber, mas aquele que faz germinar o saber do discpulo (autor

    desconhecido) Obrigada!

  • 7

    Agradecimentos

    Aos meus avs, que sempre estiveram comigo e confiaram em mim. Aos meus dindos que esto sempre presentes na minha vida e torcendo pela minha felicidade e novas conquistas Aos meus amigos, que sempre me apoiaram e me incentivaram nesse longo trajeto do mestrado.

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Os Principais Fatores de Risco para Acidentes de Trnsito............................ 30

    Quadro 2- Efeitos neurocognitivos de acordo com a concentrao do lcool.................. 38

    Quadro 3 Pontuao do AUDIT................................................................................ 53

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Caractersticas socioeconmicas, declaradas pelos condutores de veculo automotor

    em um Posto do DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil-2011..............................................58

    Tabela 2 Uso de lcool declarado entre os condutores de veculo automotor em um Posto

    do DETRAN-RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2011 (n=390) .................................................60

    Tabela 3 - Descrio dos padres de consumo de lcool declarados pelos condutores de

    veculo automotor que mencionaram consumir bebida alcolica, em um Posto do DETRAN-

    RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2011........................................................................................61

    Tabela 04 Caractersticas do comportamento no trnsito relacionado ao uso de lcool e

    direo veicular referidas pelos condutores de veculo automotor em um Posto do

    DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010. ....................................................................63

    Tabela 5 Descrio do uso de dispositivos de segurana referido pelos condutores de

    veculo automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010..............63

    Tabela 6 Associao do sexo com o padro de consumo de lcool referido pelos motoristas

    de veculo automotor que mencionaram consumir bebida alcolica em um Posto do

    DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 .....................................................................65

    Tabela 7 Associao da faixa etria com o padro de consumo de lcool referidos pelos

    motoristas de veculo automotor que mencionaram consumir bebida alcolica em um Posto do

    DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 ......................................................................66

    Tabela 08 Associao da faixa etria com as caractersticas do comportamento no trnsito

    relacionado ao uso de lcool referido pelos motoristas de veculo automotor em um Posto do

    DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 .....................................................................67

    Tabela 9 - Associao entre beber e dirigir aps a Lei Seca e o padro de consumo de

    lcool referido pelos motoristas de veculo automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de

    Janeiro, RJ, Brasil 2010 ........................................................................................................69

    Tabela 10 - Associao entre o beber e dirigir aps a Lei Seca e as caractersticas

    socioeconmicas referidas pelos motoristas de veculo automotor em um Posto do

    DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010 ......................................................................70

    Tabela 11- Associao padro de consumo de lcool, segundo o AUDIT, e caractersticas de

    comportamento no trnsito relacionadas ao uso de lcool referidas pelos motoristas de veculo

    automotor em um Posto do DETRANRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2010......................... 71

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    LISTA DE SIGLAS

    ABRAMET: Associao Brasileira de Acidentes de Medicina de Trfego

    ANTP: Agncia Nacional de Transportes Pblicos

    AUDIT: Teste para Identificao de Problemas Relacionados ao Uso de lcool

    CEP: Comit de tica em Pesquisa

    CNH: Carteira Nacional de Habilitao

    CONTRAN: Conselho Nacional de Trnsito

    DENATRAN: Departamento Nacional de Trnsito

    DETRAN: Departamento Estadual de Trnsito

    DETRAN-RJ: Departamento Estadual de Trnsito do Rio de Janeiro

    EEAN: Escola de Enfermagem Anna Nery

    IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IPEA: Instituto de Poltica Econmica Aplicada

    MS: Ministrio da Sade

    OMS: Organizao Mundial de Sade

    ONU: Organizao das Naes Unidas

    OPAS: Organizao Pan Americana de Sade

    PNT: Poltica Nacional do Trnsito

    SENAD: Secretria Nacional Antidrogas

    UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro

    WHO: World Health Organization

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    Sumrio APRESENTAO.......................................................................................................................... 13

    1.INTRODUO............................................................................................................................ 17

    1.1 O Problema................................................................................................................... 17

    1.2 Objetivos........................................................................................................................ 23

    1.3 Justificativa/Relevncia................................................................................................. 23

    2.REVISO DE LITERATURA ................................................................................... 29 2.1 Trnsito.......................................................................................................................... 29

    2.2.1 Breve Histrico do Trnsito Brasileiro...................................................................... 29

    2.2.2 Acidentes de Trnsito................................................................................................. 30

    2.3.1 Breve histrico do lcool .......................................................................................... 34

    2.3.3 Metabolismo do lcool.............................................................................................. 35

    2.3.4 Efeitos do lcool........................................................................................................ 37

    2.2.4 Padro de Consumo de lcool na Populao Brasileira............................................ 40

    2.5 O Enfermeiro e o Problema de lcool e Direo.......................................................... 44

    3. METODOLOGIA......................................................................................................... 48

    3.1 Desenho do Estudo........................................................................................................ 48

    3.2 Local do Estudo............................................................................................................. 48

    3.3 Populao do Estudo..................................................................................................... 50

    3.3.1 Critrios de Incluso/Excluso................................................................................... 50

    3.4. Instrumento para Coleta de Dados................................................................................50

    3.4.1 Variveis Independentes.............................................................................................50

    3.4.2 Variveis Dependentes............................................................................................... 51

    3.5 Pr- teste........................................................................................................................ 52

    3.6 Coleta de dados............................................................................................................. 53

    3.6.1 Recrutamento dos Participantes..................................................................................53

    3.6.2 Etapas para Coleta de Dados...................................................................................... 54

    3.7 Processamento e Anlise dos Dados............................................................................. 54

    3.8 Aspectos ticos............................................................................................................. 55

    3.9 Limitaes do Estudo.................................................................................................... 55

    4. RESULTADOS..............................................................................................................48

    4.1Anlise Exploratria ...................................................................................................... 58

    4.2Anlise de Associao de Dados................................................................................... 64

    5. DISCUSSO................................................................................................................. 73

    6. CONSIDERAES FINAIS....................................................................................... 89

    REFERNCIAS................................................................................................................ 93

    ANEXOS............................................................................................................................ 105

    Anexo I - Lei 11.705/2008................................................................................................. 106

    Anexo II - Categorias de habilitao................................................................................. 107

    Anexo III - Carta de Aprovao do Comit de tica em Pesquisa.................................... 111

    APNDICES.......................................................................................................................112

    Apndice I - Contribuies e Difuso dos Dados do Presente Estudo e Atividades com o

    Grupo de Estudo sobre lcool e Direo............................................................................ 113

    Apndice II - Termo de Consentimento Livre Esclarecido ............................................... 116

    Apndice III - Instrumento para Coleta de Dados............................................................... 117

  • 12

    Apresentao

  • 13

    APRESENTAO

    Minha trajetria profissional na rea de uso/abuso de lcool comeou durante o meu

    curso de graduao, ainda quando era aluna bolsista de um projeto de atividades de extenso

    denominado Ncleo de Ateno Integrada ao Acidentado de Trnsito (NAIAT), do

    Departamento de Enfermagem em Sade Pblica da Escola de Enfermagem Anna Nery da

    UFRJ.

    Esse projeto era parte integrante do projeto intitulado Centro de Estudo e Pesquisa,

    Reabilitao em lcool e Adictologia- CEPRAL, desenvolvido no Hospital Escola So

    Francisco de Assis da UFRJ e tinha como objetivo atender clientela com problemas

    relacionados violncia no trnsito, desde a preveno at a reabilitao.

    Para cumprir esse objetivo, participei do projeto, como aluna bolsista de extenso,

    juntamente com as professoras da Escola de Enfermagem Anna Nery e um professor da

    Faculdade de Medicina da UFRJ e os demais bolsistas de extenso, desenvolvendo, aes de

    educao em sade no trnsito, sobretudo relacionadas ao uso/abuso de lcool, em escolas de

    ensino fundamental/mdio e empresas.

    Tambm participei das atividades Amigo da vez em bares e boates, no qual

    estimulvamos a escolha de um condutor que no houvesse ingerido bebida alcolica,

    podendo levar seus amigos com segurana para casa.

    Ainda tive a oportunidade, como bolsista de extenso da UFRJ, e com o fomento da

    FAPERJ, de elaborar materiais educativos como cartilhas, flderes e um vdeo, dentro da

    temtica lcool e trnsito, cujo material educativo ainda vem sendo utilizado nas atividades de

    educao em sade no trnsito do NAIAT.

    Alm dessas atividades de preveno e promoo da sade no trnsito, tambm

    realizvamos consultas de Enfermagem, na Unidade de Reabilitao do Hospital Escola So

  • 14

    Francisco de Assis (HESFA). Essas consultas eram destinadas a vtimas de acidentes de

    trnsito com sequelas diversas, principalmente pacientes com leso medular.

    Durante o stimo perodo da graduao em enfermagem, eu e outras acadmicas de

    Enfermagem, realizamos tambm um estudo sobre o perfil socio-econmico dos pacientes

    com leso medular atendidos nas consultas de Enfermagem do NAIAT. Assim, observamos

    um continente intrigante de pessoas que ficaram paraplgicas ou tetraplgicas em decorrncia

    da violncia no trnsito relacionada ao uso de lcool.

    Ainda durante a graduao, tambm tive a oportunidade de participar de um curso de

    20 horas, intitulado Interveno Breve em lcool e Outras Drogas na Ateno Bsica, o

    qual subsidiou-me ainda mais na temtica lcool. Aps essas experincias tive o interesse em

    continuar nessa linha de pesquisa e ento desenvolvi meu Trabalho de Concluso de Curso de

    Enfermagem nessa temtica, cujo objeto de estudo foi lcool e direo: comportamento no

    trnsito entre jovens universitrios no Rio de janeiro.

    No resultado da minha monografia evidenciei que a maior parte dos entrevistados

    tinha algum comportamento de risco no trnsito relacionado ao uso de lcool. Foram

    entrevistados 336 universitrios, em dois campi da UFRJ, onde a maior parte dos

    entrevistados (73,2%) consumia bebidas alcolicas. Desses, 17% afirmaram consumir, em

    situaes habituais, 4 a 6 doses-padro1 e apenas um quarto dos universitrios no foram

    ocupantes de veculos com motorista alcoolizado aps a vigncia da Lei Seca. Em relao a

    beber e dirigir, 5,3% declararam ter esse hbito.

    Aps esses resultados com esses jovens universitrios, mais indagaes foram

    surgindo, como por exemplo: ser que s os universitrios bebem e dirigem aps a Lei

    Seca, ou outros motoristas tambm? Qual ser o padro de consumo de lcool entre

    condutores de veculo automotor? Ser que os motoristas sabem o que determina a Lei

    Seca? Essas indagaes me estimularam ainda mais a buscar conhecimentos especficos

    sobre o tema, por meio do curso do mestrado.

    1 dose-padro (vol/ml)= 350 ml de cerveja ou 150 ml de vinho ou 40 ml de destilado (LIMA,2008).

  • 15

    Durante o curso de mestrado, fui bolsista do CAPES/CNPQ, o qual me aproximou

    mais ainda de atividades de preveno/promoo de sade na rea lcool e trnsito. Sendo

    assim, fui convidada pelo Departamento de Trnsito do Rio de Janeiro para dar aula de

    Primeiros SOS para os funcionrios desta instituio, onde o tema lcool e direo tambm

    foi discutido.

    Alm disso, participei na coleta de dados de um outro estudo dentro das Operaes da

    Lei Seca, na cidade do Rio de Janeiro. Tambm auxiliei nas orientaes de pesquisas

    cientficas com alunos de graduao de Enfermagem na temtica uso de lcool e outras

    drogas. Comecei a trabalhar como Enfermeira da Estratgia da Sade da Famlia, no qual

    percebo que o uso/abuso de lcool e outras drogas uma realidade constante na comunidade,

    principalmente pelos jovens.

    Portanto, frente complexidade deste tema, a presente pesquisa teve como objeto de

    estudo: o padro do consumo de lcool declarado entre condutores de veculo automotor em

    um DETRAN no municpio do Rio de Janeiro.

  • 16

    Captulo I

  • 17

    1. INTRODUO

    1. O Problema

    Os acidentes de trnsito configuram-se como um problema mundial e urgente de

    sade pblica, principalmente nos pases de baixa e mdia renda. Dessa forma, as leses do

    trnsito contribuem para aumento da morbimortalidade, trazendo consequncias para o

    indivduo, sua famlia e a sociedade em geral (ABREU, 2006; ABREU, LIMA e GRIEP,

    2009; WHO, 2009).

    De acordo com os dados da Organizao Mundial de Sade, anualmente mais de 1,2

    milho de pessoas no mundo so vtimas fatais de acidentes de trnsito, o que representa mais

    de 2,1% da mortalidade mundial, e cerca de 20 a 50 milhes so vtimas de traumatismos no

    fatais (WHO, 2004, 2009; OPAS, 2007).

    Sabe-se que a incidncia de bitos por essa causa vem aumentando progressivamente

    e, se os pases, especialmente aqueles em desenvolvimento, no tomarem as devidas

    providncias relativas segurana rodoviria, em 2020, os acidentes de trnsito podero ser a

    terceira principal causa de morte no mundo e o nmero de bitos poder alcanar cerca 2,4

    milhes de pessoas. Os acidentes de trnsito estaro frente de patologias como HIV/AIDS,

    malria e tuberculose (ONU, 2003; ABREU, 2006; MAKE ROAD SAFE, 2010).

    Pensando nisso, a Organizao das Naes Unidas estabeleceu os anos de 2011 a 2020

    como a Dcada de Aes para a Segurana Rodoviria, a fim de traar e direcionar melhor

    metas para conter o crescimento dos acidentes de trnsito, sobretudo nos pases em

    desenvolvimento (MAKE ROADS SAFE, 2010).

    Sabe-se que atualmente os acidentes de trnsito representam a principal causa de

    mortes entre as crianas e jovens no mundo, conforme dados apresentados no Relatrio da

    Primeira Conferncia Ministerial Global sobre Segurana Rodoviria, em 2009. Mais de 40%

  • 18

    das mortes oriundas desses acidentes ocorrem entre pessoas de 0 (zero) a 25 anos de idade

    (OPAS, 2007).

    Alm disso, o impacto econmico gerado pelos acidentes de trnsito alto. Estima-se

    que o custo represente 1 a 3% do PIB de cada pas (ONU, 2003; OMS, 2009) e que nos pases

    em desenvolvimento os custos sejam no mnimo de 100 bilhes de dlares por ano (MAKE

    ROADS SAFE, 2010).

    Desse modo, para reduo dessas estatsticas, os pases devem adotar leis abrangentes

    sobre a segurana rodoviria, como por exemplo, a obrigatoriedade do uso de cinto de

    segurana e do uso de capacete para motociclistas, leis que restrinjam a alcoolemia do

    motorista de veculo automotor, entre outras aes. No entanto, apenas 15% dos pases no

    mundo tm leis pautadas nestes fatores supracitados (WHO, 2009).

    Diversos estudos nacionais (DOMINGOS; PILLON, 2007; FREITAS; MENDES;

    OLIVEIRA, 2008; ABREU; LIMA; GRIEP, 2009; MARISCAL; SILVA, 2009) e

    internacionais (OPAS, 2007; WHO 2007, 2009) apontam o lcool como um importante fator

    de risco para provocar uma coliso automobilstica ou para desencadear morte ou leso de

    trnsito, visto que o uso de lcool causa prejuzo no julgamento e tempo de reao, e

    diminuio da acuidade visual do condutor (WHO, 2007).

    Nesse sentido, um estudo realizado em La Paz, Bolvia, identificou que das vtimas de

    acidentes de trnsito admitidas em uma Unidade de Emergncia, 61,3% tinham envolvimento

    com lcool no momento do acidente (MARISCAL; SILVA, 2010). Da mesma forma, em

    2010, nos EUA, 31% das vtimas fatais de acidentes automobilsticos tinha envolvimento com

    uso de lcool (NATIONAL HIGHWAY TRAFFIC TRANSPORT, 2012).

    Alm da probabilidade aumentada do condutor colidir sob a influncia do lcool, a

    intoxicao por lcool tambm influencia nos cuidados de sade prestados s vtimas de

    acidentes de trnsito, pois o lcool pode interagir com as medicaes utilizadas, ocasionando

    efeitos indesejveis (WHO, 2007).

  • 19

    Pases como Frana, Austrlia, Espanha, Portugal, EUA, entre outros, adotaram

    limites legais para alcoolemia ao volante, e com essa conduta, obtiveram xito na reduo

    destas estatsticas (WHO, 2007. Outros pases adotaram limites de alcoolemia inferiores para

    condutores recm-licenciados ou jovens, pois consideram que este grupo tem maior risco de

    se envolver em acidentes de trnsito quando esto sob a influncia do lcool (WHO, 2009).

    O uso do teste para verificar a alcoolemia do condutor pode reduzir cerca de 20% das

    mortes causadas por acidente de trnsito e lcool, conforme aponta um estudo da Organizao

    Mundial de Sade (WHO, 2009). Nos pases em desenvolvimento estima-se que em 33 a

    69% de bitos dos condutores de veculo automotor h envolvimento com lcool, j nos

    pases desenvolvidos essa proporo diminui para 20% (OPAS, 2007).

    Alm disso, a OMS, 2007, aponta que o comportamento de beber e dirigir so mais

    comumente observado entre os indivduos do sexo masculino, jovens com idade entre 18 e 24

    anos, classe econmica baixa, solteiros ou divorciados. Ressalta-se que os indivduos com

    idade entre 20 e 29 anos apresentam uma probabilidade trs vezes maior de se envolver em

    acidente automobilstico em consequncia ao uso de lcool, do que pessoas com idade igual

    ou superior a 30 anos de idade.

    No que concerne ao trnsito brasileiro, este tambm tido como um problema de

    sade pblica. Estima-se que, em todo o territrio nacional mais de 40.500 pessoas foram

    vtimas fatais de acidentes de trnsito no ano de 2010 (Padilha, 2011) e, ainda, que para cada

    morte, cerca de vinte pessoas ficam feridas em decorrncia das leses de acidentes de trnsito

    (ANTP, 2011).

    Os atropelados representam as vtimas de maior incidncia, e, a cada 34

    atropelamentos, h uma morte nas rodovias federais. Estima-se que ocorra um atropelamento

    a cada duas horas (IPEA, 2006).

    Segundo o relatrio do Ministrio da Sade, em 2010, houve 145.920 internaes de

    vtimas de acidentes no trnsito financiadas pelo Sistema nico de Sade (SUS), o que remete

  • 20

    que, a cada 100 mil brasileiros, 76,5 foram internados em decorrncia de acidentes no trnsito

    (MS, 2011).

    Dentre as vtimas supracitadas, 78,3% eram do sexo masculino e, dentre as pessoas

    internadas, houve maior concentrao de indivduos de 15-59 anos de idade. Ressalta-se que a

    regio Sudeste concentrou quase a metade dessas internaes (44,9%) (MS, 2011). No estado

    do Rio de Janeiro a taxa de vtimas fatais de 5,4 para 10.000 veculos (RENAEST, 2008).

    Contudo, acredita-se que as incidncias de fatalidade na circulao viria brasileira so

    imprecisas e subnotificadas devido precariedade e falta de padronizao da coleta e

    tratamento dessas informaes. Assim, estima-se que as estatsticas dos acidentes de trnsito e

    suas vtimas sejam bem superiores quando comparados com os pases desenvolvidos (PNT,

    2004; ANTP, 2011).

    Os custos oriundos desses agravos so altos. Estima-se que haja um gasto de 6,5

    bilhes de reais por ano para o governo brasileiro. Os custos mdios associados a pessoas so

    superiores quando comparados aos custos relativos aos veculos; esses custos englobam

    atendimento pr-hospitalar, hospitalar, reabilitao, translado, custo para processos judiciais,

    entre outros (IPEA, 2006).

    S no ano de 2010, o custo com internao hospitalar em redes conveniadas ao SUS

    foi de aproximadamente R$ 187 milhes (MS, 2011). Alm disso, segundo o DPVAT, de

    janeiro a setembro de 2010, mais de 1,6 bilhes de reais foram pagos s vtimas indenizadas

    do trnsito (DPVAT, 2012).

    Alm dos custos mensurveis, existem as sequelas invisveis que geram um impacto

    psicossocial nas vtimas dos acidentes de trnsito e em todas as pessoas que compem os seus

    crculos sociais. Esses indivduos podem desenvolver comorbidades, mais frequentemnete a

    depresso e a ansiedade (IPEA, 2006).

    O I Levantamento Domiciliar sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao

    Brasileira (2007) estimou que 52% da populao brasileira faz uso de lcool (LARANJEIRA

  • 21

    et al., 2007). De acordo com Lima (2008), nos ltimos cinco anos, o consumo de cerveja

    dobrou, sendo os jovens os mais responsveis na participao desse aumento.

    A pesquisa supracitada ainda acrescenta que dois teros dos indivduos que dirigiam

    bebiam acima dos limites legais estabelecidos pela antiga legislao do trnsito, no qual

    permitia at 0,6 gramas de lcool por litro de sangue (LARANJEIRA et al., 2007). O estudo

    por fim demonstrou, que alm de os condutores arriscarem suas vidas aliando lcool e

    direo, 34% dos brasileiros receberam carona de pessoas que, segundo eles, tinham bebido

    demais.

    Nesse sentido, Montal e Almquist (2008) identificaram a relao entre a taxa de

    alcoolemia e os prejuzos das habilidades fundamentais para a conduo de veculo

    automotor. Verificaram que com a taxa de 0,4 g/l de lcool ocorre uma alterao grave na

    capacidade de percepo visual da cor vermelha e reduo do campo visual, j com uma taxa

    igual 0,5 g/l de lcool, observa-se piora significativa na direo automobilstica.

    Em uma pesquisa realizada no Instituto Mdico Legal de So Paulo, o nmero de

    vtimas fatais de trnsito com alcoolemia positiva foi de 44,5%, em relao aos bitos de

    pedestres; 43,5% encontravam-se sob a influncia do lcool no momento de sua morte e 45%

    das vtimas fatais que eram ocupantes de veculos que colidiram tambm estavam sob

    influncia do lcool no momento do acidente (LEYTON, et al., 2009).

    Corroborando esses achados, um estudo realizado tambm no IML, da cidade do Rio

    de Janeiro, verificou que o nmero de vtimas fatais dos acidentes de trnsito envolvidas com

    o uso de lcool foi de 42,5% (ABREU; LIMA; GRIEP, 2009).

    Dessa forma, em resposta a esses nmeros, o governo brasileiro adotou em 2008 a

    mais recente lei para enfrentar essa problemtica, instituindo a Lei 11.705 de 19/06/2008, que

    determina alcoolemia zero para dirigir qualquer veculo automotor e altera a Lei 9.503 de

    23/09/1997 do Cdigo de Trnsito Brasileiro (LEI 9.503/97; LEI 11.705/08).

    Em um estudo nacional que analisou a base de dados do Sistema de Informaes sobre

    Mortalidade e o Sistema de Informaes Hospitalares do Sistema nico de Sade (SIH/SUS)

  • 22

    nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, identificou-se que, no segundo semestre de

    2008, houve uma reduo de 23,2% de internaes por acidentes de trnsito quando

    comparada com esse mesmo perodo de 2007. Quanto mortalidade houve, reduo de

    22,6%, sendo que nas capitais do sudeste a reduo foi mais alta, 42,4% (MALTA et al.,

    2010).

    Outra medida adotada pelo governo brasileiro foi o Pacto Nacional pela Reduo dos

    Acidentes no Trnsito Pacto pela Vida, o que oficializa a entrada do Brasil na Dcada

    Internacional de Aes para Segurana do Trnsito (2011-2020), reforando o compromisso

    do pas em reduzir suas estatsticas de acidentes automobilsticos.

    No lanamento deste Pacto, foram apresentados dados de uma pesquisa cientfica

    patrocinada pelo Ministrio da Sade, que analisou a associao entre o consumo de lcool e os

    acidentes de trnsito em seis capitais do Brasil, demonstrando que os pedestres, ciclistas e

    passageiros tambm so responsveis pelos acidentes de trnsito, o que refora a necessidade de

    polticas pblicas de educao voltadas tambm a esse pblico (MS, 2011).

    Essas estatsticas demonstram que os acidentes de trnsito j so uma epidemia

    internacional que necessita de aes de todas as esferas do governo no combate a estas taxas

    alarmantes de bitos e leses de trnsito. Refora-se, ento, a necessidade de uma educao

    contnua aliada com polticas pblicas eficazes em todo o territrio brasileiro, para que assim

    haja o enfrentamento desta problemtica.

    Diante deste contexto, este estudo traz os seguintes objetivos:

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo Geral

    Descrever o padro de consumo de lcool, como um dos fatores de risco no trnsito,

    entre os condutores de veculo automotor em um DETRAN da cidade do Rio de

    Janeiro, aps a implementao da Lei Seca, no pas.

  • 23

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Identificar o perfil socioeconmico e o padro de consumo de lcool entre os

    condutores de veculo automotor em um DETRAN da cidade do Rio de Janeiro;

    Associar o padro de consumo de lcool com o perfil da populao e o comportamento

    de risco no trnsito entre a populao de estudo;

    Analisar a prtica do uso de bebida alcolica antes da direo veicular, aps a

    implementao Lei Seca no pas, entre a populao de estudo.

    1.3 Justificativa/ Relevncia

    Como visto, os acidentes de trnsito constituem um problema internacional de sade

    pblica que afeta, sobretudo, os jovens. Nesse sentido, diferentes pases vm se mobilizando para

    implementar aes mais efetivas para o enfrentamento desta problemtica.

    Dentre as vrias aes internacionais que vm sendo desenvolvidas, ressalta-se,

    novamente, o perodo entre 2011 a 2020, que constitui a Dcada de Ao para Segurana no

    Trnsito, na qual os pases membros, como o Brasil, comprometem-se a elaborar um plano

    diretor para guiar suas aes na reduo dos acidentes automobilsticos, tendo como meta

    estabilizar e reduzir em at 50% os acidentes de trnsito em todo o mundo (MS, 2011).

    Especialistas, segundo o relatrio feito pela Make Road Safe2, acreditam que, com a

    adoo internacional da dcada de segurana rodoviria e sua ao correta, at cinco milhes de

    vidas podem ser salvas e 50 milhes de casos de ferimentos podem ser evitados durante o

    2 Campanha Global de segurana viria, presidida pelo ex-membro da OTAN Lord Robertson de Port Ellen

  • 24

    perodo de ao. Isso representaria uma reduo global de cerca de 50% sobre o nmero previsto

    de mortos at 2020 (MAKE ROAD SAFE, 2010).

    Outra medida preventiva internacional foi a incluso, pela OPAS, da promoo de

    aes centradas na preveno de leses do trnsito e reduo do consumo de lcool como um dos

    seus objetivos estratgicos de ao. A OPAS estabeleceu, ainda, como meta para o ano de 2013,

    a ampliao do nmero de pases que implementam polticas pblicas, planos ou programas para

    a preveno de problemas decorrentes do consumo de lcool, drogas e outras substncias

    psicoativas, como por exemplo, o uso de lcool ao volante (OPAS, 2011).

    A OPAS inclui, em um dos seus objetivos estratgicos, a promoo e a intensificao da

    ateno primria, o desenvolvimento e fortalecimento das polticas pblicas de sade e a

    produo de pesquisas cientficas que sustentem e ampliem a difuso de informaes e

    conhecimento para melhoria dos setores de sade (Op cit).

    Nesse sentido, a ONU j em 2003, recomendava que fossem feitas urgentemente mais

    pesquisas para uma anlise precisa do problema para traar estratgias eficazes e de baixo custo

    para preveno dos acidentes de trnsito em diferentes contextos. Em 2007/2009, a OMS

    reforou a necessidade de pesquisas que busquem reduzir os acidentes automobilsticos e ainda

    acrescentou que o setor de sade tem um papel importante a desempenhar em pesquisas nesta

    rea.

    Dessa forma, a OMS em 2009, recomendou que os pases fizessem uma avaliao

    completa da magnitude dos acidentes de trnsito em seu territrio nacional, considerando

    aspectos relacionados ao custo econmico, a extenso da morbimortalidade ocasionada pelos

    acidentes de trnsito, assim como os tipos de intervanes realizadas para sua populao (OMS,

    2009).

    Sendo assim, com adoo de medidas que previnam os acidentes de trnsito, a OMS

    acredita que o setor econmico do pas ser favorecido, pois haver uma reduo de vtimas de

    acidentes terrestres e de acesso aos servios de emergncia (WHO, 2007).

  • 25

    Alm disso, os nmeros de leitos hospitalares estaro em maior nmero, preparados para

    internao de vtimas por outra causa de emergncia, e os servios mdicos de emergncia

    disposio da comunidade sero intensificados (WHO,2007).

    A OMS ainda acrescenta que o uso de lcool antes da direo veicular um forte fator de

    risco para provocar leses no trnsito. No entanto, esta temtica ainda necessita ser trabalhada

    junto com a populao, e deve haver um forte compromisso poltico, implementaes de

    legislaes rigorosas, fiscalizao e aplicao de penalidades para o infrator, divulgao de

    campanhas, educao pblica para mudanas das atitudes sobre beber e dirigir (WHO, 2007).

    Desse modo, dentro das polticas pblicas no Brasil sobre a questo dos acidentes de

    trnsito, pode-se ainda apontar outras medidas, como: a Poltica Nacional de Trnsito (2004),

    que tem entre suas diretrizes gerais: aumentar a segurana de trnsito; promover a educao para

    o trnsito; garantir a mobilidade e acessibilidade com segurana e qualidade ambiental a toda

    populao; promover o exerccio da cidadania, a participao e a comunicao com a sociedade.

    A Poltica Nacional de Trnsito ressalta a importncia da educao no trnsito, que tida

    como o elemento-chave para disseminao de informaes e participao da populao,

    principalmente quando se refere implantao de mudanas com incorporao de novos hbitos

    e atitudes frente no trnsito.

    Esta mesma poltica ainda coloca como metas para 2014 a implantao de programa

    de educao para cidadania do trnsito em todos os municpios no Brasil; a realizao de

    programas educativos de mbito nacional; o fomento de projetos no mbito da segurana no

    trnsito entre outras metas.

    Sendo assim, diante do panorama geral dos acidentes de trnsito e a sua

    morbimortalidade, em 2008, a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade definiu

    como prioridade de pesquisa no Brasil o desenvolvimento de estudos na rea de acidentes de

    trnsito. E neste mesmo ano, como j mencionado, foi promulgada a Lei 11.705/2008 que

    estabeleceu alcoolemia zero para o condutor de veculo no Brasil, a qual rege at os dias de

  • 26

    hoje.Aps a adoo desta lei, constatou-se uma reduo imediata nas taxas de acidentes de

    trnsito (MOREIRA, 2008; MALTA et al, 2010; JORGE E KOIZUMI, 2009).

    A Lei 11.705/08 veio ao encontro da atual Poltica Nacional sobre o lcool de 2007

    que tambm prioriza o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao uso indevido de lcool e

    sua associao com a violncia no trnsito e com a Poltica Nacional de Trnsito que ressalta a

    necessidade de fiscalizao das infraes por uso de bebida alcolica pelos condutores

    (BRASIL, 2007).

    Alm disso, como j mencionado, foi implementada pela ONU a Dcada de Ao da

    Segurana Viria, no qual o Brasil tambm se comprometeu em estabilizar e reduzir o nmero

    de mortes e leses provocadas por acidentes automobilsticos nesta dcada (ANTP, 2011; MS,

    2011).

    Alm das atuais polticas supracitadas, destaca-se que, desde 1998, com a Resoluo

    n 30 de 21/05/1998 do CONTRAN, o governo brasileiro j se preocupava com a necessidade

    de realizar campanhas permanentes de segurana no trnsito e j inclua, poca, a ingesto de

    lcool, como um dos principais fatores de risco.

    Desse modo, hoje em dia, o DETRAN-RJ, refora que

    A qualificao e a conscientizao dos condutores so fundamentais para a

    segurana no trnsito. S com investimentos em educao vamos alcanar o

    objetivo de reduzir os riscos no trnsito e consequentemente o nmero de acidentes

    no Brasil (DETRAN-RJ, 2010).

    Nesse sentido, em 2011, o Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN)

    elegeu o lcool e o excesso de velocidade como temas das campanhas educativas no trnsito

    (DENATRAN, 2011).

    Alm disso, a educao destacada como um dos seis pilares para o

    desenvolvimento do Plano Nacional de Reduo de Acidentes e Segurana Viria, Projeto Vida

    no Trnsito, para a dcada 2011-2020, com a finalidade de promover aes que incentivem a

    mudanas comportamentais para um trnsito mais seguro.

    Dessa forma, as pesquisas cientficas devem estar articuladas com as polticas

    pblicas de sade, no intuito de ampliar o banco de informaes e sustentar o conhecimento

  • 27

    real da situao-problema do pas, no contexto da reduo dos acidentes de trnsito, sobretudo

    relacionados ao binmio lcool e direo, contribuindo, assim, para implementaes de novas

    polticas pblicas e/ou garantir o continuum de informaes para as polticas pblicas j

    implementadas.

    Por conseguinte, a Sade Pblica tem papel fundamental nas atividades de promoo

    em sade e preveno destes eventos. Torna-se evidente a importncia de estudos

    epidemiolgicos que identifiquem a prtica do beber e dirigir, sobretudo aps a Lei Seca, e o

    padro de consumo de lcool dos motoristas de veculo automotor, para que assim, possamos

    planejar e direcionar melhor as intervenes nesse contexto.

    Cabe ressaltar que os profissionais da sade tm uma contribuio singular nas questes

    de segurana rodoviria, sendo esta vista como uma questo transdisciplinar. Nesse sentido, o

    Enfermeiro deve estar inserido e atuante nesta problemtica, contribuindo significativamente

    para a construo de conhecimento e avaliao de prticas de sade, principalmente aquelas

    relacionadas sobre uso/abuso de lcool.

    Salienta-se a importncia do Enfermeiro, sobretudo na Ateno Primria em Sade,

    nessa problemtica, visto que o Enfermeiro um dos profissionais responsveis por promover

    essa mudana comportamental a respeito dos aspectos de segurana viria (BOVA E WALL,

    2005; ABREU, 2010).

    Portanto, espera-se que os resultados aqui obtidos possam ser utilizados como

    referncia para outras pesquisas que contemplem esta temtica e ampliem e subsidiem

    discusses nessa rea da academia no nvel de graduao e ps-graduao, sobretudo para o

    Ncleo de Pesquisa em Sade Coletiva (NUPENSC), ao qual esse estudo est vinculado,

    possibilitando uma postura reflexiva e crtica para o enfrentamento deste problema, de maneira

    a contribuir tambm para as polticas pblicas de sade.

  • 28

    Captulo II

  • 29

    2. REVISO DE LITERATURA

    2.1 Trnsito

    2.1.1 Breve Histrico do Trnsito Brasileiro

    No Brasil, em 1871 desembarcava o primeiro veculo a vapor. J em 1886, Daimler e

    Benz experimentavam veculos movidos por motor combusto interna. Nessa poca, no

    existia licena para automvel, nem exame para habilitao de motoristas (PECHANSKY;

    DUARTE; BONY, 2010).

    O primeiro automvel criado no Brasil foi em 1908, pelo imigrante italiano Cludio

    Bonardeli. O veculo foi feito artesanalmente em um perodo de dois anos, criando-se assim

    um carro exclusivo (PECHANSKY; DUARTE; BONY, 2010).

    Na dcada de 30, as importaes de automveis ganharam fora e aumentaram as

    compras de veculos. No entanto em 1953, o governo brasileiro proibiu esse tipo de

    importao e, em 1960, a produo de veiculo era cem por cento nacional (PECHANSKY;

    DUARTE; BONY, 2010).

    De acordo com a demanda, novas estradas e rodovias foram sendo construdas, por

    exemplo, em 1939, foi inaugurada a primeira estrada de longo percurso chamada de BR

    393/116, que ligava o estado do Rio do Janeiro Bahia, sendo esta a primeira via efetiva de

    integrao nacional (PECHANSKY; DUARTE; BONY, 2010).

    Assim, o primeiro Cdigo Nacional de Trnsito brasileiro foi institudo em 28 de

    janeiro de 1941, por meio do Decreto Lei n. 2.994, no qual foi revogado pelo Decreto Lei n.

    3.651, de 11 de setembro 1941 que deu nova redao ao Cdigo e estabelecia regras gerais

    para circulao de veculos no pas.

    Ressalta-se que este cdigo j redigia sobre a obrigatoriedade de socorro as vtimas

    dos acidentes de trnsito, demonstrando que essa problemtica antiga no Brasil e ainda em

  • 30

    seu artigo 130, diz que, se uma autoridade verificar que o condutor se tornou alcolatra ou

    toxicmano, sua carteira de habilitao ser cassada (Decreto Lei n. 3.651, de 11 de setembro

    1941).

    Posteriormente, em 1966, o Cdigo Nacional de Trnsito brasileiro foi alterado pela

    lei 5.108 de 21 de setembro de 1966, que dispunha entre outros captulos a administrao do

    trnsito, tendo o Conselho Nacional de Trnsito como rgo normativo e coordenador. Em

    1997 foi promulgado o atual Cdigo Nacional de Trnsito, Lei 9.503 de 23 de setembro que

    rege at hoje, sofrendo uma pequena modificao em 2008, com a regulamentao da Lei

    Alcoolemia Zero, Lei 11.705/08.

    2.1.2 Acidentes de Trnsito

    O Acidente de trnsito todo acidente com veculo ocorrido na via pblica... (CID,

    2008). Assim sendo, o Cdigo Brasileiro de Trnsito, diz que:

    Considera-se trnsito a utilizao das vias por pessoas, veculos e animais, isolados

    ou em grupos, conduzidos ou no, para fins de circulao, parada, estacionamento e

    operao de carga ou descarga. O transito, em condies seguras, um direito de

    todos e dever dos rgos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trnsito

    (Art. 1 2 do CTB LEI N 9.503,).

    Para que ocorra ento o acidente de trnsito alguns componentes bsicos devero

    estar inter-relacionados de forma dinmica. Esses componentes so: (DENATRAN, 2006).

    Pessoa(s) envolvida(s): indivduos com traumatismos, indivduos com

    traumatismos fatais e indivduos ilesos.

    Veculo(s) envolvido(s)

    A via e o meio ambiente: destinam-se s propriedades pblicas e privadas

    envolvidas neste contexto, assim como as condies que compem o meio ambiente como

    iluminao e vegetao, por exemplo.

  • 31

    Suporte institucional e aspectos socioambientais: administrao, fiscalizao e

    legislao sob a via, bens e pessoas em circulao, assim como a cultura regional que pode

    interferir na ocorrncia dos acidentes.

    Com a agregao desses componentes, haver o acidente de trnsito no qual poder ser

    de diferentes tipos, tais como (DETRAN RJ, 2010):

    Coliso: ocorre com dois veculos em movimento;

    Coliso misteriosa: ocorre apenas com um veculo, no qual o condutor no

    sabe a causa do acidente;

    Abalroamento: ocorre quando o veculo atingido lateralmente;

    Capotagem: ocorre quando o veculo gira em seu prprio eixo em 360 graus;

    Tombamento: ocorre quando o veculo gira em seu prprio eixo quando

    inferior a 360 graus;

    Choque: ocorre quando o veculo em movimento bate em um objeto fixo, como

    um poste. Esse tipo de acidente comumente acontece quando o motorista est cansado ou sob

    a influncia do lcool.

    Alm disso, alguns fatores de risco contribuem para facilitar o acidente

    automobilstico,ou para potencializar a sua gravidade. Ressalta-se que o uso de lcool

    contribui no s para ocorrncia do acidente, mas para sua gravidade e severidade da leso

    aps acidente (Op. Cit.). A seguir, observa-se o quadro com os principais fatores de risco para

    ocorrncia dos acidentes de trnsito.

  • 32

    Quadro 1- Os Principais Fatores de Risco para Acidentes de Trnsito

    Fatores de risco que

    influenciam os acidentes de

    trnsito

    Fatores de risco que

    influenciam a gravidade do

    acidente

    Fatores de risco que

    influenciam a gravidade da

    leso ps-acidente

    Velocidade inadequada ou

    excessiva

    Velocidade inadequada ou

    excessiva

    Tempo para assistncia pr-

    hospitalar

    Uso de lcool ou outras

    drogas

    Uso de lcool ou outras

    drogas

    Uso de lcool ou outras

    drogas

    Motoristas inexperientes

    e/ou jovens

    Fatores de tolerncia humana Dificuldade de extrao das

    vtimas no veculo

    Uso de celular ao volante No uso de cinto de

    segurana

    Falta de cuidados

    hospitalares

    Motorista com fadiga No uso de cadeiras de

    proteo para crianas

    Veculo com falta de

    manuteno

    No uso de capacete para

    veculos de duas rodas

    Estradas com falta de

    manuteno

    Falta de objetos de proteo

    na estrada

    Ser pedestre ou ciclista

    Ser homem jovem Fonte: Relatrio Mundial sobre Preveno de Traumatismos Rodovirios (OMS, 2004 p.71).

    Quanto aos fatores protetores, um estudo qualitativo realizado com adolescentes

    listou os seguintes fatores: maior policiamento, melhora das estradas, reduo do consumo

    de substncias psicoativas e no receber carona de quem bebe (BENINCASA E

    REZENDE, 2006).

    O primeiro acidente de trnsito com automvel a gasolina registrada no mundo foi

    em 1891, pelo condutor William James Lambert, na cidade de Ohio. Ele bateu na raiz de

    uma rvore, deixando o carro fora de controle e colidindo ento em um poste (SOCIETY,

    2006). J no Brasil o primeiro registro foi em 1897 com o carro de Jos do Patrocnio

    dirigido por Olavo Bilac, que colidiu com uma rvore na estrada Velha da Tijuca

    (PONTES, 2003).

    Com o aumento da frota de veculo e, consequentemente, com o aumento do nmero

    dos acidentes de trnsito, hoje estes so vistos como um dos principais problemas de sade

    pblica que necessita urgentemente de intervenes de diferentes setores do governo, visto

  • 33

    que contribuem negativamente para a qualidade de vida da vtima, podendo provocar

    leses, incapacidades e at mesmo a morte. As taxas de mortalidade so mais elevadas nos

    pases de renda baixa e mdia quando comparadas com os pases de renda alta (WHO,

    2009).

    Entre os pases desenvolvidos e subdesenvolvidos, as caractersticas dos acidentes de

    trnsito diferem-se um pouco, visto que nos pases de alta renda as vtimas mais acometidas

    pelos acidentes de trnsito so os condutores. J nos pases de baixa e mdia renda os mais

    acometidos so os pedestres, motociclistas, ciclistas e passageiros de transporte

    pblico/particular (OPAS, 2007).

    Para o Brasil esta problemtica no difere, o DPVAT cita que o Ministrio da Sade

    calcula que a cada 30 segundos h um acidente de trnsito nas rodovias brasileiras e

    consequentemente a cada um minuto o DPVAT paga duas indenizaes s vtimas de

    acidentes de trnsito (DPVAT, 2012). Estima-se que a taxa de fatalidade no Brasil muito

    superior quando comparado com os pases desenvolvidos e essa estatstica demonstra uma

    causa de morte prematura da populao economicamente ativa (PNT, 2004).

    Nesse sentido, os acidentes de trnsito representam um custo anual de 6,5 bilhes de

    reais para os cofres pblicos (IPEA, 2006). Os custos provocados pelos acidentes de trnsito

    so diversos; incluem (DENATRAN, 2006):

    Associados aos indivduos: custo pr-hospitalar, hospitalar, ps-hospitalar,

    translado e gasto previdencirio.

    Associados aos veculos: danos materiais, remoo do veculo, despesa

    financeira devida substituio do veculo.

    Associados via e ao meio ambiente

    Custos institucionais: processos judiciais e honorrio dos policiais.

    Outros custos: bito, estresse ps-traumtico, leses permanentes...

  • 34

    Bocchieri e Barros (2011), em um estudo comparativo, identificaram que de 1998 a

    2008 houve um aumento de 10% na morte dos ocupantes de veculos e no perodo de 10

    anos (19998-2008) houve um crescimento de 121% das vtimas fatais dos acidentes de

    trnsito. Isso refora a necessidade de intervenes eficazes e urgentes no trnsito.

    2.2 lcool

    2.2.1 Breve Histrico do lcool

    O etanol tem destaque na humanidade h pelo menos oito mil anos (KATZUNG et. al,

    2006). Desde os tempos pr-bblicos j existia tecnologia para a produo do lcool,

    predominavam-se as bebidas fermentadas como vinhos e cervejas (LARANJEIRA; PINSKY,

    2005). Existem evidncias arqueolgicas que o lcool era utilizado em celebraes, ritos ou

    simples aglomeraes de indivduos (FERREIRA et al., 2011).

    Na Bblia, desde os primrdios da civilizao, so descritos diferentes relatos sobre o

    uso de vinho e sua intoxicao. E comeou No a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha.

    E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se nu no meio de sua tenda (Gnesis 9: 20-

    21). Assim como esta, diversas passagens sobre bebidas alcolicas podem ser encontradas na

    Bblia e em outros livros sagrados, como o Alcoro (LIMA, 2008).

    Na Idade Mdia, tambm havia descries sobre o uso/abuso de lcool entre os

    indivduos. Desse modo, na Frana, o rei Franois I institui a lei que punia qualquer pessoa

    que fosse encontrada alcoolizada pelas ruas (LIMA, 2008).

    Na sociedade ocidental, o vinho e a cerveja eram utilizados comumente na vida diria

    dos indivduos. Muitas vezes, essas bebidas eram preferidas gua, e a ingesto excessiva do

    lcool levava a diferentes patologias (KATZUNG et. al, 2006).

    Com o passar dos anos, aps a Revoluo Industrial, o lcool passou a ser produzido

    pelas fbricas, e aumentou-se a quantidade em larga escala. Alm disso, mudouse o tipo de

    bebida produzida, pois com a nova tecnologia podia-se aumentar o teor alcolico e produzir

    outros tipos, como as bebida destiladas (LARANJEIRA; PINSKY, 2005).

  • 35

    Tambm com a Revoluo Industrial houve aumento da produo, e diminuram-se os

    preos, tornando a bebida alcolica mais acessvel a toda populao. Consequentemente

    aumentou-se o nmero dos consumidores/abusadores e comeou-se a observar uma srie de

    complicaes decorrentes do uso do lcool (Op Cit.).

    No Brasil antes da chegada dos portugueses, o cauim (bebida resultante da

    fermentao do milho e da mandioca) j era produzido e consumido pelos ndios. Aps a

    colonizao portuguesa, a cachaa se popularizou em virtude da grande disponibilidade da

    cana-de-acar (GAULDOROZ E CARLINI, 2001).

    Hoje o Brasil o maior produtor mundial de cachaa e um dos maiores produtores

    tambm da cerveja. As consequncias nocivas do abuso de lcool, sempre existiram, no

    entanto eram subestimadas ou negadas (LIMA, 2008). Somente no sculo XIX, o ato de

    consumir bebida alcolica em excesso passou a ser encarado como um problema de sade

    tanto nos EUA quanto na Europa (LARANJEIRA; PINSKY, 2005).

    Hoje em dia, a cada momento, so registrados novos pontos de uso/abuso de lcool

    como bares, boates, discotecas entre outros. A produo e o consumo de lcool no tm

    parado de crescer (LIMA, 2008).

    2.2.2 Metabolismo do lcool

    Hoje, a bebida alcolica no Brasil definida como aquela que contm 0,5 grau Gay-

    Lussac ou mais de concentrao, incluindo-se bebidas destiladas, fermentadas e quaisquer

    outras preparaes (DECRETO N 6.117, 2007).

    Qualquer uma das bebidas alcolicas de acordo com a sua dose padro (quantidade

    em volume em ml da bebida), contm 12 a 14 gramas de lcool, comprovando,dessa forma,

    que no existe bebida leve, isto , todas as bebidas tm a mesma quantidade de lcool puro

    por dose padro (LIMA et. al, 2008; ABREU et.al, 2009).

  • 36

    Quanto quantidade de lcool puro que contm uma bebida alcolica (teor alcolico)

    uma bebida difere da outra, isto , seus teores alcolicos variam entre si. Por exemplo, uma

    dose de cerveja tem 5% de teor alcolico/volume, j o vinho tem 12% a 14% e os destilados

    como whisky e cachaa variam entre 45% e 50% (LIMA et. al., 2008).

    O etanol uma pequena molcula hidrossolvel, que absorvida rapidamente pelo

    trato gastrointestinal, principalmente pelo intestino delgado. Em jejum, as concentraes

    sanguneas mximas do lcool so alcanadas em trinta minutos; entretanto na presena de

    alimentos, essa absoro mais lenta (KATZUNG et al., 2006; FILHO, ANDR, 2002).

    A distribuio do etanol acontece pelo corpo todo; ele atravessa facilmente as barreiras

    biolgicas, visto que o volume de distribuio do etanol aproxima-se o da gua corporal

    (KATZUNG et al., 2006; FILHO; ANDR, 2002).

    Desse modo, 98% do lcool metabolizado no fgado e aps 3 a 12 horas de ingesto,

    este pode ser encontrado no sangue. Na urina, pode ser encontrado em at trs dias depois do

    consumo de bebida alcolica, j no suor esta substncia pode ser encontrada em at 21 dias.

    Como o lcool tambm metabolizado nos pulmes, pode ser detectado na respirao atravs

    por meio dos testes feitos com o bafmetro (FILHO; ANDR, 2002).

    A enzima lcool desidrogenase (ADH) a principal via de metabolismo do lcool,

    localizada principalmente no fgado, mas em menor proporo em outros rgos como

    estmago e crebro (KATZUNG et al., 2006).

    Com a oxidao do etanol, ocorrem reaes qumicas, podendo gerar um acmulo de

    acetaldedo no organismo do indivduo. Desse modo, uma srie de sinais e sintomas podem

    ocorrer como rubor na face, sensao de calor, taquicardia e queda da presso arterial

    (FILHO; ANDR, 2002).

    Alm disso, quando o organismo do indivduo no consegue metabolizar o volume de

    lcool em excesso, suas clulas tornam-se mais suscetveis ao txica do lcool, levando a

    sua desidratao e at a morte celular, apoptose. Contudo, alguns fatores interferem na

  • 37

    metabolizao e absoro do lcool, como peso corporal, predisposio biolgica,

    alimentao entre outros (LIMA et al., 2008).

    Outro fator que interfere na metabolizao do lcool est relacionado ao sexo. Sabe-se

    que as mulheres so mais vulnerveis aos efeitos do lcool, em comparao com os homens.

    Os indivduos do sexo masculino apresentam nveis de 70% a 80% a mais da enzima

    desidrogenase do lcool, o que provavelmente contribui para essa diferena entre os gneros

    (SENAD, 2007).

    Alm disso, as alteraes hormonais femininas tambm afetam a alcoolemia, as

    mulheres ficam intoxicadas por mais tempo no perodo que compreende uma semana pr-

    menstruao e uma semana ps-menstruao (SENAD, 2007).

    Alm disso, os homens geralmente pesam mais que as mulheres e possuem mais gua

    corporal (65%) do que as mulheres (45-55%), e quanto mais gua corporal, maior a diluio

    do lcool no sangue. Cada dose de lcool ingerida geralmente leva mais de uma hora para ser

    totalmente metabolizada no corpo de um homem sadio com peso de 70 kg e altura de 1,70

    (SENAD, 2007).

    2.2.3 Efeitos do lcool

    O lcool o primeiro fator de risco em relao doena e morte precoce. Nesse

    sentido, a origem de mais de sessenta tipos de doenas e leses. Tambm responsvel por

    causar danos sociais, mentais, emocionais como criminalidade e violncia (OPAS, 2008).

    Quando o consumo do lcool constante e exagerado, seus efeitos txicos podem

    ocasionar complicaes secundrias, tais como: demncia alcolica, miopatia alcolica,

    hipertenso, cardiomiopatias, hepatite alcolica, cirrose de Laennec, hepatocarcinoma,

    pancreatite, amenorreia, atrofia dos testculos, osteoporose (FILHO; ANDR, 2002).

    A leso mais observada a gastrointestinal, pois o lcool promove lentido no

    esvaziamento gstrico, resultando no aumento de secrees digestivas que lesionam a mucosa

  • 38

    do estmago (PULCHERIO et al., 2002). Os efeitos neurocognitivos podem ser observados

    no quadro a seguir:

    Quadro 2-Efeitos neurocognitivos de acordo com a concentrao do lcool

    Alcoolemia Manifestaes Neurocognitivas

    0,4-0,6g/l Relaxamento, sociabilidade, desconcentrao

    0,6-1,0g/l Euforia, desinibio, habilidade varivel, impulsividade, agressividade ou

    passividade

    1,0-2,0g/l Ataxia, fala comprometida, humor exaltado ou deprimido, desorientao no

    tempo e no espao

    >4,0g/l Torpor, distrbios cardiorrespiratrios, coma e morte

    Fonte: LIMA, 2008.

    Alm disso, o etanol teratognico e, com seu uso contnuo durante a gravidez pode

    provocar a Sndrome Alcolica Fetal (SAF), na qual causa alteraes faciais e no sistema

    nervoso central do feto, deficincia do crescimento pr-natal e ps-natal, dentre outras

    consequncias ( FILHO;ANDR, 2002; LIMA, 2008).

    J nos achados laboratoriais, usualmente so encontradas as seguintes alteraes:

    diminuio no nmero de hemcias, aumento do volume corpuscular mdio (VCM), elevao

    das enzimas gama-glutamiltransferase (gama-GT), alaninoaminotransferase e

    aspartatoaminotransferase, entre outras (FILHO; ANDR, 2002).

    Portanto, alguns autores (OPAS, 2008; ANDERSON; BAUMBERG, 2006) relatam

    que uma pequena dose de consumo de lcool reduz o risco de doena coronria, contudo no

    se sabe qual a dimenso da reduo do risco e qual seria o nvel desse consumo. H

    evidncias que demonstram que o lcool em doses baixas pode reduzir o risco de demncias

  • 39

    provocadas por problemas vasculares, clculos na vescula e diabetes, embora estas

    descobertas ainda no sejam consistentes.

    Diversos autores apontam a relao estreita entre o uso abusivo de lcool e acidentes

    de trabalho, atos de violncia e acidentes de trnsito (OPAS, 2008; OMS 2009; MOURA et

    al., 2009; LIMA et al., 2008). E ainda os autores Filho e Andr (2002) afirmam que os custos

    sociais advindos do uso de lcool so: aposentadoria precoce, absentesmo, acidentes de

    trabalho, mortes violentas e consequncias mdicas da violncia.

    Outrossim, uma pesquisa na Unio Europeia revelou que, em 2005, sete milhes de

    adultos afirmaram ter se envolvidos em brigas enquanto bebiam e o custo econmico dos

    crimes referente s consequncias do lcool foi estimado em 33 bilhes em 2003

    (ANDERSON; BAUMBERG, 2006).

    Nesse sentido, com o uso contnuo das bebidas alcolicas o individuo pode

    desenvolver a dependncia alcolica ou alcoolismo. Este acontece quando o lcool se torna

    prioritrio para o indivduo, em oposio a outras atividades e obrigaes que anteriormente

    eram mais importantes. A dependncia acontece por um conjunto de fenmenos

    comportamentais, cognitivos e fisiolgicos (OPAS, 2008).

    Estima-se que 10% da populao brasileira seja dependente do lcool (LARANJEIRA

    et al., 2005). Os fatores genticos desempenham papis importantes no risco de se atingir o

    uso nocivo do lcool ou a dependncia, pois os genes esto envolvidos no aumento ou

    diminuio destes quadros (OPAS, 2008). Estudos demonstraram que filhos de pessoas

    alcolatras tendem a ter maior tolerncia ao lcool quando comparado com os filhos de pais

    no alcoolistas (PULCHERIO et al., 2002).

    Diante disso, h disponveis diferentes testes psicolgicos para deteco precoce dos

    problemas relacionados ao uso do lcool, como o CAGE, TACE, Avaliao de Michigan

    (SMAST) (FILHO E ANDR, 2002), AUDIT, entre outros.

  • 40

    2.2.4 Padro de consumo de lcool da Populao brasileira

    Nos ltimos 50 anos, o consumo de bebidas alcolicas vem crescendo

    progressivamente. O crescimento urbano desordenado e o excesso de propaganda e marketing

    contriburam muito para esse fenmeno (LIMA et al., 2008).

    Em nosso pas, o consumo per capita da cerveja + 55 litros/pessoa ano, a de vinho +

    2,2 litros/pessoa ano e destilados + 8 litros/pessoa/ano (Op. Cit.). Estima-se que o consumo de

    lcool no Brasil, obedea as seguintes faixas:

    Figura 1- Padro de Consumo de lcool em uma determinada Populao

    Fonte: Lima et al (2008)

    Dessa forma, o I Levantamento Nacional sobre os padres de consumo de lcool na

    populao brasileira identificou que 52% dos brasileiros acima de dezoito anos fazem uso de

    lcool. A maior parte destes do sexo masculino (65%). Sobre o beber episdico pesado de

    lcool, que corresponde a 5 doses de lcool padro ou mais no ltimo ano, observou-se que

    homens (60%) bebem mais que as mulheres (33%).

  • 41

    No que se refere faixa etria, percebeu-se que adultos jovens e adultos so os que

    bebem com maior frequncia (Op cit.)

    Reforando estes achados Wolle et al. (2011) observaram que em nosso pas os jovens

    so os que ingerem bebidas alcolicas e que o sexo masculino bebe mais frequentemente

    lcool do que as mulheres. Ainda destacam que, na populao de jovens brasileiros a

    diferena entre o uso de lcool entre os gneros est tendendo a diminuir.

    2.3 Panorama Geral sobre Uso de lcool e Acidentes de Trnsito No Brasil

    No Brasil, o tema lcool e direo j tratado desde a criao Cdigo Nacional de

    trnsito em 1941, que cassava a habilitao do condutor se este fosse alcolatra. Em 1966,

    com a promulgao do Cdigo Nacional de Trnsito estabelecido pela Lei 5.108, de 21 de

    setembro de 1966, em seu artigo 89, institua que todo condutor de veculo estava proibido a

    III- Dirigir em estado de embriaguez alcolica ou sob o efeito de substncia txica de

    qualquer natureza (LEI 5.108, de 21 de setembro de 1966).

    Em 1997, houve a criao de um novo cdigo de nacional de trnsito, a Lei

    9.507/1997, que em seu artigo art. 276 dispe que A concentrao de seis decigramas de

    lcool por litro de sangue comprova que o condutor se acha impedido de dirigir veculo

    automotor".

    No entanto, mesmo com esse limite de alcoolemia supracitado diversas pesquisas

    demonstravam que os condutores dirigiam com alcoolemia acima daquela estabelecida na lei,

    demonstrado uma fiscalizao nacional precria. E mesmo aqueles que dirigiam entre os

    limites previstos na legislao tambm se envolviam em acidentes de trnsito (ABREU, 2006,

    2009; MOURA et al.,2008; FREITAS; MENDES; OLIVEIRA, 2008).

    Como exemplo, em uma pesquisa realizada no Distrito Federal em 2005 identificou-se

    que 42,8% das vtimas fatais apresentavam nveis de alcoolemia acima do permitido em lei e

  • 42

    84,6% das vtimas fatais eram condutores com nveis de alcoolemia bem elevado (MODELLI;

    PRETESI; TAUIL, 2008)

    Desse modo, nas vsperas do carnaval de 2008, o governo Federal instituiu a MP 415

    a fim de proibir a venda de bebidas alcolicas nos estabelecimentos comerciais situados nas

    rodovias federais ou em proximidades (MOREIRA, 2008).

    Com isso, constatou-se uma reduo significativa nas taxas de mortalidade advindas

    dos acidentes de trnsito. Contudo, os representantes de comrcios destes locais questionaram

    esta medida, alegando que quem deveria ser fiscalizado eram os condutores e no os

    estabelecimentos comerciais (MOREIRA, 2008).

    Assim sendo, foi criada a Lei 11.705 de 19 de Junho de 2008 (Anexo I) que estabelece

    alcoolemia zero para os condutores de veculos circulantes no Brasil. O descumprimento desta

    implica penalidades mais severas para os condutores de veculos que dirigirem sob a

    influncia do lcool.

    Dessa forma, dirigir sob a influncia de lcool ou de qualquer outra substncia

    psicoativa que determine dependncia considerado infrao gravssima e crime de trnsito

    de leso corporal culposa. A penalidade consiste em multa (cinco vezes) e suspenso do

    direito de dirigir por 12 (doze) meses. A medida administrativa consiste em reteno do

    veculo at a apresentao de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitao

    do condutor infrator (LEI 11.705/2008).

    Qualquer que seja a concentrao de lcool por litro de sangue ser sujeita s

    penalidades e o rgo do Poder Executivo federal disciplinar as margens de tolerncia para

    casos especficos. O agente de trnsito poder aplicar s penalidades mediante a obteno de

    provas, como notrios sinais de embriaguez, excitao ou torpor, apresentados pelo condutor.

    (LEI 11.705/2008).

    Ao condutor que se recusar a submeter-se a qualquer dos procedimentos institudos

    pela lei 11.705 sero aplicadas s penalidades e as medidas administrativas. Qualquer

  • 43

    condutor de veculo automotor que estiver sob suspeita de dirigir sob a influncia de lcool

    ser submetido a testes de alcoolemia ou outros exames que, por meios tcnicos ou

    cientficos, permitam certificar seu estado (LEI 11.705/2008).

    A multa referente a esta infrao, gravssima, de R$ 957, 70, alm da apreenso da

    Carteira Nacional de Habilitao, reteno do veculo at a apresentao de condutor

    habilitado e o recolhimento do documento de habilitao.Esta punio administrativa ocorre

    quando o condutor apresenta mais de 2 decigramas de lcool por litro de sangue ou mais de 1

    miligrama por litro de ar expelido (DETRAN, 2008; ALBERTO, 2010).

    Quando o condutor apresenta mais de 6 decigramas de lcool por litro de sangue ou 3

    miligramas por litro de ar expelido, alm das punies supracitadas, ele encaminhado a uma

    Delegacia de Polcia, onde ser detido, podendo pagar fiana de at R$1.200,00, onde ser

    aberto do processo criminal no qual poder redundarem recluso de 6 meses a 3 anos

    (DETRAN, 2008; ALBERTO, 2010).

    Com adoo desta lei, diferentes pesquisas (JORGE; KOIZUMI, 2009; MALTA et al.

    2010) vem demonstrando a reduo dos acidentes de trnsito nas rodovias brasileiras. Por

    exemplo, um estudo comparativo na cidade do Rio de Janeiro demonstrou que houve uma

    reduo de 12,9% entre as vtimas fatais no IML que deram entrada em julho de 2007, antes

    da lei, e julho de 2008, aps a lei (ABREU, et al., 2011).

    Dessa forma, no primeiro semestre de 2009, na cidade do Rio de Janeiro, deu-se incio

    Operao Lei Seca, a fim de promover a obedincia da Lei 11.705/08. Com 18 meses de

    funcionamento, 376.705 condutores foram abordados e, destes, 3.568 (0,9%) pontuaram no

    etilmetro 0,11 a 0,29 miligramas e 1.249 (0,3%) pontuaram no teste do bafmetro acima de

    0,29 mg. Esses condutores que infringiram a Lei foram penalizados, de acordo com a

    legislao brasileira (LOPES, 2010).

    Salienta-se que, para intensificar estes resultados, a disseminao sobre educao no

    trnsito deve ser cada vez mais explorada e as operaes de fiscalizao da Lei 11.705/2008

  • 44

    devem ser constantemente realizadas. Isso vem sendo feito pelo cidade do Rio de Janeiro,

    onde se fiscalizam esta lei por meio da Operao Lei Seca em parceria com DETRANRJ,

    municpio do Rio de Janeiro e estado.

    2.5 O Enfermeiro e o Problema de lcool e Direo

    Em um estudo realizado no Rio de Janeiro, tendo como sujeito os Enfermeiros da rede

    extra hospitalar, constatou-se que poucos Enfermeiros prestam orientaes aos usurios de

    lcool e outras drogas durante a consulta de enfermagem. Dos enfermeiros entrevistados 80%

    informaram que discutiram o tema lcool e outras drogas somente durante o curso de

    graduao. Os dados revelaram que a maioria dos enfermeiros da ateno bsica no foi

    capacitada para atuar com usurios de lcool e outras drogas (GONALVES; TAVARES,

    2007), o que evidencia a necessidade de o Enfermeiro se aprofundar em questes referentes

    ao uso/abuso do lcool.

    Em contrapartida, em um estudo que buscou verificar a produo cientfica sobre a

    temtica atitudes e conhecimentos de profissionais de sade diante do lcool, do alcoolismo e do

    alcoolista, nos ltimos 50 anos, constatou-se que quanta categoria profissional, os Enfermeiros

    so os profissionais que mais produziram artigos cientficos nesta rea (SOARES, VARGAS E

    OLIVEIRA, 2010).

    Em um estudo de reviso bibliogrfica identificou-se que a que a enfermagem tem

    contribudo para construo de conhecimento cientfico sobre o consumo de bebidas

    alcolicas. Este estudo ainda, destaca que o Enfermeiro um profissional competente para

    desenvolver aes relativas preveno de agravos do consumo de lcool, seja no ambiente

    laboral, em unidades de ateno primria, escolas, entre outras (JOMAR E ABREU, 2011).

    O enfermeiro um agente participativo na implantao de programas e projetos de

    promoo de sade e preveno do uso e abuso de lcool e outras drogas (GONALVES;

    TAVARES, 2007). Nesse sentido, o cuidado de enfermagem aos usurios de lcool deve ser

    um continuum da sua prtica profissional, por meio de atividades teraputicas, como aes de

    interveno primria (orientaes breves e objetivas), a fim de promover a reduo de danos,

    alm da identificao precoce por testes curtos e padronizado e, como aplicao de

  • 45

    ferramentas, como o questionrio AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test),

    avaliao do estado de sade e necessidades humanas, preveno de recadas, interveno

    breve entre outros (PILLON; LUIS, 2004).

    Desse modo, o enfermeiro pode auxiliar o usurio de lcool a assumir uma

    responsabilidade consciente sobre o seu uso, promovendo ento melhora na qualidade de vida

    em todos os nveis. Um dos cuidados que pode ser utilizado pelo enfermeiro o

    aconselhamento, a fim de provocar reflexes e mudanas de comportamento de maneiras

    enfticas (PILLON; LUIS, 2004).

    No que concerne preveno de acidentes de trnsito, tem se a educao como

    elemento chave para as intervenes de enfermagem. O Enfermeiro tem papel fundamental na

    promoo de aes educativas neste mbito (BOVA; WALL, 2005). Ressalta-se que essa

    temtica deve ser trabalhada na formao do enfermeiro visto que este um profissional

    atuante na Ateno Bsica de Sade e desempenha um papel importante na preveno desse

    tipo de acidente (JOMAR et al, 2010).

    Dentre as aes que vem sendo desenvolvidas por Enfermeiros no contexto do

    consumo de lcool e direo veicular, podem-se destacar as aes educativas realizadas pelo

    NAIAT (Ncleo de Ateno Integral aos Acidentados de Trnsito), pertencente ao Ncleo de

    Pesquisa em Sade Coletiva do Departamento de Enfermagem em Sade Pblica da UFRJ.

    Por meio do NAIAT, so desenvolvidas palestras em escolas de ensino fundamental/mdio e

    em empresas, com intuito de difundir o conhecimento e promover a mudana comportamental

    sobre o uso de lcool antes da direo automobilstica; alm destas questes tambm so

    abordadas outras temticas como outros aspectos da segurana viria e os efeitos nocivos do

    lcool quando consumido em grande quantidade.

    O processo de preveno de acidentes de trnsito envolvendo o uso de lcool est

    diretamente relacionado com a atuao do Enfermeiro, visto que ele um profissional

    integrante da equipe de sade, que busca promover a sade. Dessa forma, deve estar inserido,

    com os demais profissionais, no mbito de programas relacionados ao uso de lcool e direo

  • 46

    veicular a fim de promover aes de prevenes sobre esta prtica, alm de participar do

    planejamento e ao dos cuidados diretos e indiretos direcionados populao em geral.

    Nesse sentido, as aes do Enfermeiro vo ao encontro das recomendaes

    preconizadas pelas polticas pblicas de sade sobre o uso de lcool e segurana viria.

    Ressalta-se que as competncias do Enfermeiro neste contexto, so extensas e necessitam de

    atualizao constante sobre essa temtica a fim de melhorar os cuidados e a qualidade de vida

    dos clientes em qualquer esfera da assistncia desde a preveno/promoo de sade ao,

    tratamento/ cuidados de reabilitao.

  • 47

    Captulo III

  • 48

    3. METODOLOGIA

    3.1 Desenho do Estudo

    Trata-se de um estudo seccional exploratrio descritivo.

    O estudo seccional ou transversal aquele que se caracteriza pela observao direta de

    uma quantidade pr-planejada de indivduos, que costumam ser selecionados ao acaso, em

    uma nica oportunidade. comum que nesses estudos se obtenham vrias informaes de

    cada indivduo pesquisado; a finalidade estabelecer associaes entre as variveis

    investigadas (MEDRONHO et al., 2003).

    Portanto, em princpio, um estudo seccional um excelente mtodo para descrever

    as caractersticas de uma populao em uma determinada poca. A descrio da

    distribuio de um agravo de sade em uma populao uma das fontes

    imprescindveis para o planejamento e administrao de aes voltadas para

    preveno, tratamento e reabilitao, tanto no nvel coletivo como individual

    (MEDRONHO et al., 2003 p. 127).

    3.2 Local do Estudo

    O estudo foi realizado na matriz do DETRAN do estado do Rio de Janeiro no setor

    denominado Centro de Atendimento de Habilitao ao Cidado.

    Esse local foi escolhido por ser o DETRAN-RJ o rgo responsvel em selecionar e

    aprovar os condutores, emitir a permisso para habilitao e a carteira nacional de habilitao,

    assim como realizar a sua renovao (DETRAN-RJ, 2010).

    3.3 Populao do Estudo

    A populao do estudo foi composta por indivduos que estavam no DETRAN-RJ

    renovando ou retirando a segunda via da suas carteira nacional de habilitao e/ou obtendo a

    CNH internacional e/ou adicionando alguma nova categoria (Anexo II) a sua CNH, no

    momento da coleta de dados.

  • 49

    No local do estudo, so atendidas, em mdia por dia duzentas pessoas por dia, logo em

    um ano, so atendidas 48 mil pessoas. Desse modo, adotou-se como populao do estudo o

    nmero de pessoas atendidas em um ano N= 48.000.

    O tamanho da amostra total de indivduos foi estimado no software Epi-Info verso

    3.5.1 para clculo amostral em estudos seccionais, a partir da seguinte frmula:

    n=Nz2p(1-p)/[d2(N-1)+z2p(1-p)]a

    O tamanho da amostra calculado foi de 375 pessoas. No entanto, planejou-se estudar

    412, estimando-se uma perda em torno de 10% por recusa ou outros motivos.

    Desse modo, 434 indivduos foram selecionados aleatoriamente para participar da

    pesquisa. No entanto, houve perda de 10,14% dos participantes, visto que 4% se enquadravam

    aos critrios de excluso e os outros 6,1% no responderam pelo menos um dos trs grupos

    das variveis do instrumento de coleta dados (Identificao, AUDIT e Comportamento no

    trnsito relacionado ao uso de lcool), compondo a amostra final do presente estudo 390

    sujeitos.

    a Onde N= populao total de pessoas que so atendidas no DETRAN-RJ no setor do Centro de Atendimento de Habilitao ao Cidado ; z= valor correspondente ao nvel de confiana ao quadrado (1,96

    2

    =3,84); d= preciso absoluta ao quadrado (0,062 =0,0036); p=proporo da populao com a caracterstica em

    estudo (0,5).

  • 50

    Figura 2. Diagrama da Populao do Estudo

    3.3.1 Critrios de Incluso e Excluso

    Foram includos neste estudo, indivduos de ambos os sexos que possuam carteira

    nacional de habilitao para qualquer tipo de categoria (Anexo II), seja para veculo

    automotor de duas rodas ou de quadro rodas.

    Ressalta-se que os condutores s recebem a Carteira Nacional de Habilitao aps o

    trmino de um ano da Permisso para Dirigir concedida pelo DETRAN aps aprovao do

    teste prtico de direo.

    Populao elegvel/ano

    N= 48.000 condutores

    Amostra aleatria

    simples representativa

    n=375 condutores

    Amostra de participantes

    do estudo

    n= 434 condutores

    Perdas

    n= 44 (10,14%)

    Populao do Estudo

    n= 390 condutores

  • 51

    Dessa forma, foram excludos do estudo os sujeitos que estavam obtendo a Permisso

    para Dirigir, visto que eles ainda no eram condutores de veculo automotor, e aqueles que

    estavam retirando a sua carteira de habilitao novamente, pois tiveram a sua CNH aprendida

    ou suspensa devido a alguma infrao cometida no trnsito.

    3.4. Instrumento para Coleta de Dados

    O instrumento para coleta de dados dividiu-se em 3 etapas: (i) Identificao com

    variveis de caracterizao socioeconmica (ii) Alcohol Use Disorders Identification Test

    (AUDIT) (iii) variveis referentes ao beber e dirigir (apndice IV).

    3.4.1 Variveis Dependentes

    A varivel dependente foi o padro de consumo de lcool classificado segundo o

    questionrio Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT):

    1) Consumo de baixo risco;

    2) Consumo de risco;

    3) Consumo nocivo;

    4) Provvel dependncia.

    O questionrio Alcohol Use Disorders Identification Test, AUDIT, foi publicado em

    1989 (apndice IV) pela OMS e validado em diferentes pases, inclusive no Brasil .Este um

    mtodo simples de investigao do uso de lcool e possui dez questes relativas ao uso de

    lcool a fim de identificar o padro de consumo de lcool, como consumidor de risco,

    consumidor nocivo ou dependente (BARBOR et al., 2003).

    Desse modo, optou-se em utilizar o questionrio AUDIT neste estudo com intuito de

    identificar o condutor que faz uso de risco e nocivo de lcool, pois estes tm maior

    probabilidade de se envolver em acidentes automobilsticos devido a mistura lcool e direo,

    como tambm aqueles dependentes do lcool embora esses em muitos casos j no esto

    dirigindo. Alm disso, segundo Babor et al. (2003), o questionrio AUDIT, quando

  • 52

    comparado a outros como CAGE e ao MAST, o melhor instrumento de rastreamento de

    problemas advindos do lcool na ateno primria .

    Assim sendo, o questionrio AUDIT composto por dez questes, cujas respostas

    apresentam um escore de 0 a 4 e a soma de suas respostas pode variar de 0 a 40 pontos. O

    AUDIT pode ser aplicado por meio de entrevista ou questionrio autoaplicvel, pode ou no

    ser combinado com outras questes. Geralmente leva-se de dois a quatro minutos para o seu

    preenchimento. (BABOR et al., 2003).

    De acordo com a pontuao total, o indivduo foi classificado mediante o seguinte

    padro de consumo de lcool:

    Quadro 3- Pontuao do AUDIT

    Nveis de

    Risco

    Pontuao AUDIT Intervenes

    Baixo Risco 0-7 Educao para o lcool

    Risco 8-15 Orientaes bsicas

    Nocivo 16-19 Orientaes bsicas mais

    Aconselhamento breve e

    monitoramento continuado

    Provvel

    Dependncia

    20-40 Encaminhamento para

    Especialista

    Fonte: OPAS, 2008; Babor et al, 2003

    3.4.2 Variveis Independentes

    As variveis independentes estudadas relacionam-se s caractersticas

    socioeconmicas (idade, sexo, profisso/ocupao, estado civil, escolaridade, renda familiar,

    dependentes da renda familiar, idade com que aprendeu a dirigir, tempo que possui a CNH e

    frequncia que dirige) e as relacionadas ao comportamento no trnsito relacionado ao uso de

    lcool (carona de motorista alcoolizado, bebe e depois dirige, conhecimento sobre a Lei

  • 53

    Seca, envolvimento com acidente de trnsito e brigas no trnsito devida ingesto de lcool,

    prevalncia do uso de cinto de segurana e capacete antes e aps o uso de bebida alcolica)

    3.5 Pr-teste

    Com a finalidade de testar a logstica do estudo e identificar possveis erros no

    instrumento de coleta de dados, foi realizado um pr-teste com 12 acadmicos da

    EEAN/UFRJ que possuam CNH e que no fizeram parte da amostra final da pesquisa. Aps

    o pr-teste, optou-se por retirar uma questo do instrumento de pesquisa, que versava sobre as

    chances de ser parado pela Operao Lei Seca. Achamos que est varivel ficou ambgua,

    ento resolvemos retir-la.

    3.6 Coleta de Dados

    Os dados foram coletados, pela prpria autora, no setor de Centro de Atendimento de

    Habilitao ao Cidado na matriz do DETRAN-RJ, nos meses de setembro e outubro de 2011,

    comparecendo ao local uma a trs vezes por semana.

    3.6.1 Recrutamento dos Participantes

    Para renovar a CNH ou emitir a segunda via do documento, o sujeito dever ter

    efetuado o pagamento do Documento nico do DETRAN de Arrecadao (DUDA) e

    comparecer ao posto do DETRAN no dia e horrio agendado (DETRANRJ, 2011).

    Em caso de roubo ou furto da CNH, o motorista pode solicitar a iseno da taxa de

    segunda via do documento. Para isso, preciso comparecer ao posto-sede do DETRANRJ

    (DETRANRJ, 2011).

    Para obter a Permisso Internacional para Dirigir (PID), o motorista dever efetuar o

    pagamento do DUDA e fazer um agendamento no Posto-Sede do DETRAN (DETRANRJ,

    2011).

  • 54

    Desse modo, os condutores de veculo automotor que compareceram no posto do

    DESTRANRJ estavam pr-agendados, exceto aqueles que compareceram a este posto porque

    tiveram a sua CNH furtada ou roubada.

    3.6.2. Etapas para a Coleta de Dados

    a) Identificao dos sujeitos que estavam renovando a sua carteira nacional de

    habilitao e ou retirando a sua segunda via e/ou adicionado nova categoria sua CNH e/ou

    obtendo a carteira de habilitao internacional, na fila de espera do setor do Centro

    Atendimento de Habilitao ao Cidado no Posto do DETRAN-RJ.

    b) Explicao do estudo e seus objetivos, assim como a participao voluntria dos

    sujeitos;

    c) Entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual uma via ficava

    com o participante da pesquisa;

    d) Entregava-se um questionrio auto-aplicvel e a pesquisadora retirava possveis

    dvidas quando solicitada;

    e) Os participantes que pontuavam no questionrio AUDIT a zona correspondente a III

    e IV recebiam orientaes, no local, sobre os malefcios do lcool, sobretudo em relao a

    direo automobilstica..

    3.7 Processamento e Anlise dos Dados

    Os dados coletados foram digitalizados e processados eletronicamente pelo software

    EPI-INFO verso 3.5.1, e foram realizadas anlises uni e bivariadas da populao do estudo.

    Com a finalidade de verificar a associao entre as variveis estudadas, foi considerado o

    ponto de corte de em 0,05 para a obteno de medidas estatisticamente significativas.

    A anlise do AUDIT foi realizada mediante a pontuao total obtida de cada

    participante; estes foram divididos nas categorias recomendadas pela OMS: bebedor de baixo

  • 55

    risco (Zona I, pontuao de 0-7), bebedor de risco (Zona II, pontuao de 8-15), bebedor

    nocivo (zona III, pontuao de 16-19), provvel dependncia (Zona IV, pontuao 20-40).

    3.8 Aspectos ticos

    Para atender e cumprir as normas ticas determinadas pela Resoluo 196/96 do

    Conselho Nacional de Sade, que dispe sobre diretrizes regulamentadoras de pesquisas

    envolvendo seres humanos, o referido estudo foi submetido aos procedimentos normativos do

    Comit de tica em Pesquisa da Escola Anna Nery (EEAN/HESFA/UFRJ), sob o protocolo

    do nmero 065/2011, em 16 de agosto de 2011.

    A Carta de Autorizao para, que concedeu a realizao da Pesquisa nesse posto do

    DETRAN encontra-se nos apndices deste estudo (apndice II).

    3.9 Limitaes do estudo

    Uma das limitaes do estudo foi o possvel vis de falsa-resposta, que diz respeito a

    questes embaraosas ou invasivas (MEDRONHO et al., 2003). Isso possivelmente se deu

    devido ao fato de os dados serem coletados no DETRAN, que consiste em um rgo

    responsvel por fiscalizar os condutores, dentre outras funes.

    Desse modo, para minimizar esse possvel vis de informao foi explicado para cada

    participante que essa pesquisa no tinha nenhum vnculo com o DETRAN e as respostas

    obtidas no estudo no trariam nenhum malefcio para o sujeito da pesquisa e os dados tratados

    seriam utilizados apenas para fins cientficos.

    Outra limitao que essa pesquisa encontrou, foi o fato de que em geral, a fila de

    espera do cenrio da pesquisa durava em torno de cinco a dez minutos, ento mesmo quando

    o sujeito aceitava participar do estudo, ele entregava o instrumento de coleta de dados

    incompleto alegando que estava com pressa. Com isso houve, uma perda de 6% da amostra,

    ou a resposta de algumas variveis ficavam em branco, sendo registradas na anlise dos dados

    como ignorado.

  • 56

    Captulo IV

  • 57

    4. RESULTADOS

    Neste captulo, so apresentados os principais resultados encontrados nesse estudo. Os

    dados foram agrupados em tabelas e em um grfico, as anlises foram realizadas da seguinte

    forma:

    4.1 Anlise Exploratria

    Parte I - Descrio das caractersticas socioeconmicas da populao de

    estudo.

    Parte II - Descrio do padro de consu