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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA MAURÍLIA RAQUEL DE SOUTO MEDEIROS ANÁLISE COMPARATIVA DE CÉLULAS CD57+ EM CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS ORAIS DE PACIENTES ACIMA E ABAIXO DE 40 ANOS NATAL-RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA

MAURÍLIA RAQUEL DE SOUTO MEDEIROS

ANÁLISE COMPARATIVA DE CÉLULAS CD57+ EM CARCINOMA DE CÉLULAS

ESCAMOSAS ORAIS DE PACIENTES ACIMA E ABAIXO DE 40 ANOS

NATAL-RN

2014

Maurília Raquel de Souto Medeiros

ANÁLISE COMPARATIVA DE CÉLULAS CD57+ EM CARCINOMA DE CÉLULAS

ESCAMOSAS ORAIS DE PACIENTES ACIMA E ABAIXO DE 40 ANOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado na

graduação em Odontologia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Cirurgião-Dentista.

Orientadora: Profª Drª Éricka Janine Dantas

da Silveira

NATAL-RN

2014

Análise comparativa de células CD57+ em carcinoma de células escamosas orais de pacientes

acima e abaixo de 40 anos

Maurília Raquel de Souto Medeiros (MRS Medeiros)1, Caio César da Silva Barros (CCS

Barros)1, Maria Luiza Diniz de Sousa Lopes (LOPES MLDS)

2, Lélia Batista de Souza (LB

Souza)3, Polianna Muniz Alves (PM Alves)

4, Márcia Cristina da Costa Miguel (MCC

Miguel)3, Éricka Janine Dantas da Silveira (EJD Silveira)

3.

1DDS, Federal University of Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brazil

2DDS, MSc, PhD student, Postgraduate Program, Oral Pathology, Federal University of Rio

Grande do Norte, Natal, RN, Brazil.

3DDS, PhD, Professor, Postgraduate Program, Oral Pathology, Federal University of Rio

Grande do Norte, Natal, RN, Brazil.

4DDS, PhD, Professor, Dentistry Departament, States University of Paraíba, Campina

Grande-PB, Brazil.

Corresponding author:

Éricka Janine Dantas da Silveira

Dentistry Departament/ Federal University of Rio Grande do Norte

Avenida Senador Salgado Filho, 1787, Lagoa Nova, Natal-RN, Brazil

Code: 59056-000

Tel/fax: 55-84-32154138

e-mail: [email protected]

ABSTRACT

Background: The incidence of oral squamous cell carcinoma (OSCC) is rising in young

patients. The literature showed that patients younger than 40 years have higher risk for

recurrence and death compared with older patients. This study evaluated the association

between quantitative analysis of CD57+ cells with OSCC in the under-40-year old patients

and patients older than 40 years of age. Methods: Were examined 45 patients with OSCC

and the quantitative analysis of CD57+ cells were evaluated according to groups of age.

Clinical parameters (TNM and locoregional metastasis), habits were analyzed regarding aged

of patients. Results: Of the patients with OSCC, 64.4% were male, 68.9% were over age of

40 years and median of age was 53.6 years. The tongue was the major site involved (91.1 %).

Most of youngers patients has no habits (p=0.005) and showed early clinical stage. Analysis

of CD57+ not showed statistic significance between age of patients. Conclusions: Our results

suggest that infiltration of CD57+ inflammatory cells in the peritumoral stroma of OSCC is

not influenced by patient.

Key-words: oral squamous cell carcinoma, young adult, CD57 cell, immunohistochemistry.

Introdução

O câncer de cavidade oral (CO) e da faringe, segundo Warnakulasuriya (2009), é o

sexto tipo mais comum no mundo, sendo relatada uma incidência anual de 300 mil novos

casos. Acomete principalmente nos países em desenvolvimento indivíduos do sexo masculino

com idade superior a 40 anos. Estudos apontam que cerca de 4 a 6% dos COs acometem

pacientes com idade inferior a 50 anos (Falaki et al, 2011; Túri et al, 2013).

O carcinoma de células escamosas (CCE) é o tipo de câncer mais comum na região de

cabeça e pescoço, correspondendo a 90% das neoplasias que se desenvolvem na cavidade oral

e orofaringe e assim como ocorre em vários outros carcinomas, o risco deste é ampliado com

o aumento da idade (Liao et al, 2014), sendo a língua a região mais afetada. A origem do

carcinoma de células escamosas oral (CCEO) é multifatorial sendo relatada associação com

exposição à radiação ultravioleta (UV), para os localizados em lábio, tabaco e álcool para os

intraorais; além de agentes biológicos como papiloma vírus humano e fatores intrínsecos

como determinantes genéticos, imunológicos e deficiências nutricionais. De forma diferente

dos CCEs de pacientes idosos, os que acometem os jovens não estão relacionados à exposição

aos fatores de risco tradicionais como mencionado (Majchrzak et al, 2014).

Na maioria dos casos, o CCEO exibe caráter agressivo, com altas taxas de mortalidade,

porque geralmente é diagnosticado em estágios avançados com metástases em linfonodos

regionais no momento do diagnóstico (Dissanayaka et al, 2012).

Vários estudos demonstram que as características do infiltrado inflamatório representam

um parâmetro importante no comportamento biológico do CCEO e que o mesmo pode estar

presente tanto para impedir a progressão da neoplasia como produzindo substâncias que

podem favorecer o crescimento tumoral (Tamaki et al, 2008; Türkseven & Oygür, 2010;

Zancope et al, 2010). No estudo clássico de MacFarlane Burnet (1970) foi descrito que o

sistema imunológico é responsável pela vigilância, reconhecimento e destruição de clones de

células transformadas, antes que originem tumores, além de destruir os tumores já formados.

As células Natural Killer (NK) constituem um tipo de linfócito do sistema imunológico inato

envolvido na defesa precoce contra células estranhas e autólogas que sofreram estresse, tais

como infecção microbiana ou transformação tumoral ( Montaldo et al, 2014)

Estudos in vitro demonstram que muitos tipos de células tumorais que possuem uma

expressão reduzida da molécula do Complexo Principal de Histocompatibilidade I (MHC-I)

são destruídas pelas células NK, visto que continuam a expressar ligantes para receptores

ativadores dessas células. Uma diminuição no número de células NK em lesões

potencialmente malignas pode refletir as primeiras alterações do microambiente celular

durante a carcinogênese, tornando o ambiente mais favorável para a proliferação de células

neoplásicas (Zancope et al, 2010).

O desenvolvimento das células NK ocorre não somente na medula óssea, mas também

órgãos linfoides periféricos e não linfoide. Diferentes condições patológicas podem

influenciar em seu desenvolvimento ( Montaldo et al, 2014). Tem sido relatado que a infecção

por citomegalovírus em pacientes que sofreram transplante de medula óssea pode induzir a

rápida diferenciação das células NK em CD56dim

, CD56+, CD57+KIR

CD56- , CD16+

representam células NK em diferenciação terminal. Adicionalmente, as propriedades e

fenótipos funcional destas células maduras podem também ser alteradas pela interação com

células neoplásicas e ambiente tumoral.

Desta forma, as células NK em diferenciação terminal podem ser identificadas através

de marcadores de superfície como o antígeno CD-57 (HNK-1 ou Leu-7), uma glicoproteína

tipicamente encontrada em 15-20% das células mononucleadas do sangue que estão presentes

na inflamação, estando presente também nos linfócitos T (CD4+ e CD8+) (Fraga et al, 2012;

Nielzen et al, 2013).

Mesmo diante dos numerosos estudos desenvolvidos envolvendo parâmetros clínico-

patológicos e fatores prognósticos relacionados aos CCEOs, ainda existem es132

Dessa forma, o presente trabalho objetivou avaliar a expressão imuno-histoquímica da

proteína CD57 em lesões de CCEOs no sentido de comparar quantitativcamente a resposta

imunológica mediada pelas células CD57+ nesses tumores.

Métodos

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (parecer Nº 266.863 de 26 de abril de 2013). Trata-se de um

estudo descritivo e retrospectivo onde foi realizada a observação e análise da expressão

imunoistoquímica do anti-CD57 em uma série de casos de CCEO divididos em dois grupos de

pacientes (até 40 anos e mais de 40 anos de idade).

O universo deste estudo foi representado por todos os casos de CCEO diagnosticados no

Serviço de Anatomia Patológica da Disciplina de Patologia Oral do Departamento de

Odontologia da UFRN e no Hospital Dr. Napoleão Laureano, João Pessoa-PB, Brasil. A

seleção da amostra foi intencional, sendo esta composta por um total de 45 casos de CCEO.

Foram incluídos na amostra casos cujos prontuários continham as informações clínicas

necessárias para realização da pesquisa e casos cujos espécimes apresentaram quantidade de

material biológico suficiente para análise. Foram excluídos casos de CCE localizados em

lábio na orofaringe e casos tratados com quimioterapia ou radioterapia prévia.

O estudo clínico foi feito a partir das fichas clínicas de requisições de biópsias e

prontuários clínicos arquivadas nos referidos serviços, sendo obtidas informações referentes

ao gênero, idade, raça, hábitos dos pacientes, localização das lesões, TNM e presença de

metástase em linfonodos cervicais.

Para o estudo imuno-histoquímico, os blocos parafinados de CCEO foram submetidos a

cortes histológicos de 3µm de espessura, que foram montados em lâminas de vidro preparadas

com adesivo à base de Organosilano (3-aminopropyltrietoxy-silano, Sigma Chemical CO, St

Louis, MO, USA), sendo submetidos à técnica da imunoperoxidase pelo método da

estreptoavidina-biotina (LSAB, do inglês Labeled Streptavidin Biotin), utilizando o anticorpo

primário anti-CD57 (clone 8144B), Dako North America INc., Carpinteria, CA, USA , com

diluição de 1:100, recuperação antigênica em solução de TRIS/EDTA (pH 9.0) em Pascal por

3 minutos e tempo de incubação de 60 minutos. A reação foi desenvolvida com

diaminobenzidina (DAB) como cromógeno. Os espécimes foram contra-corados com

hematoxilina de Mayer e montados em resina Erv-mount (Easy Path®). Para controle

positivo, foram utilizados espécimes de linfonodos cervicais e como controle negativo foi

realizada substituição do anticorpo primário por albumina de soro bovino (BSA – Bovine

Serum Albumin) a 1% em solução tampão.

Para a análise da imunomarcação, as lâminas foram escaneadas pelo Scanner Panoramic

MIDI (3DHISTECH®, Budapest, Hungary) e então, com a ajuda do programa de

visualização Pannoramic Viewer 1.15.2 (3DHISTECH®, Budapest, Hungary) foi possível

examinar toda a extensão dos espécimes para seleção das áreas com maior imunoexpressão.

Destas áreas, foram obtidas imagens (100 µm) de 5 campos consecutivos para contagem das

células CD57+ por dois examinadores previamente calibrados com o auxílio do programa

Imaging Processing and Analysis in Java (ImageJ®, National Institute of Mental Health,

Bethesda, Maryland, USA). Foi então calculada a média de células positivas de cada caso.

Após a coleta dos dados, os mesmos foram digitados em planilha eletrônica Excel (Microsoft

Office 2013® para Windows) e posteriormente exportados para o programa estatístico SPSS

(Statistical Package for the Social Sciences) na versão 20.0, no qual inicialmente foi realizada

a análise descritiva dos dados. Foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson para testar

associação das variáveis qualitativas, faixa etária e hábitos. Os dados quantitativos das células

CD57+ foram submetidos ao teste de Kolmogorov-Smirnov, que revelou ausência de

distribuição normal. Assim, utilizou-se o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para

verificar se houve diferenças estatisticamente significativas na expressão do marcador entre os

casos estudados, levando em consideração a faixa etária (≤ 40 anos ou > 40 anos), com um

nível de significância de 5% (α=0,05).

Resultados

Perfil da amostra

A Tabela 1 demonstra o perfil da amostra desta pesquisa, que foi constituída de 45

casos de CCEO. Os dados revelaram que o sexo masculino foi mais prevalente,

correspondendo a 64.4%. A idade média foi de 53.36+16.75 anos. Para fins comparativos a

amostra foi dividida em dois grupos etários, sendo o primeiro composto por indivíduos mais

jovens com idade até 40 anos e o segundo por pacientes com idade superior a 40 anos. O

segundo grupo etário foi o mais prevalente representando 68.9% dos indivíduos, quando

comparado ao primeiro (31.1%). Em relação à raça, houve predomino da parda (57.8%),

sendo os indivíduos restantes da raça branca (42.2%). Quanto à localização, a gengiva (4.4%),

palato duro (2.2%), e assoalho bucal (2.2%) foram os menos comuns e a língua foi o principal

sítio acometido com 91.1% dos casos.

Foi observado que a maioria dos indivíduos relatou não possuir hábitos (50.0%),

porém, dentre aqueles que possuíam hábitos, houve predomínio do tabagismo e etilismo

concomitantes (28.9%). O estudo também avaliou a distribuição dos hábitos (nenhum,

tabagismo ou etilismo, e tabagismo e etilismo) de acordo com a faixa etária. Foi observado

que a maioria dos indivíduos jovens (< 40 anos de idade) não possuía hábitos (78.6%),

enquanto grande parte dos indivíduos com mais de 40 anos de idade era tabagista e etilista

(41.7%). Esta associação demonstrou significância estatística (p=0.021; Tabela 2).

As tabelas 3 e 4 evidenciam associação do estadiamento clinico (TNM) e presença de

matástase em linfonodos cervicais no momento do diagnóstico de acordo com a faixa etária

do paciente. Não foi encontrada diferença estatisticamente significante nesta associação (p>

0.05), porém verificou-se que dos 14 pacientes jovens da amostra, 10 (71.4%) exibiram

estágios clínicos I e II e não evidenciaram metástases em linfonodos cervicais. No grupo de

idosos, houve predominância dos estágios III e IV.No que diz respeito à metástase de CCEO

para linfonodos cervicais, observou-se que a maioria dos indivíduos de idade até 40 anos

(78.6%), bem como de idade acima de 40 anos (54.8%) demonstrava ausência de metástase.

O teste Qui-quadrado revelou ausência de associação significativa para este resultado

(p=0.128; Tabela 5).

Resultados imuno-histoquímicos

A imunoexpressão de CD57 foi observada no front de invasão dos 45 casos de

CCEOs. A positividade foi verificada principalmente no citoplasma de células inflamatórias

mononucleares do estroma tumoral.

A comparação da expressão de CD57 no estroma tumoral do front de invasão nos dois

grupos de faixas etárias revelou uma marcação discretamente maior nos indivíduos mais

jovens (< 40 anos) (Figura 1), que nos indivíduos com mais de 40 anos de idade (Figura 2).

Porém, estas diferenças não foram estatisticamente significativas (p=0.825; Tabela 5).

Discussão

O CCEs oral é uma doença que ocorre principalmente em pacientes das 5ª e 6ª décadas

de vida, fumantes e etilistas, porém em cerca de 5% dos casos esta neoplasia acomete

pacientes entre 25 e 40 anos sem significante exposição ao fumo ou álcool (Monsjou et al,

2013). Conforme relatos de Troeltzsch et al, (2014), está havendo aumento da incidência

deste tipo de câncer em pacientes jovens. Na pesquisa realizada por estes autores foi detectado

que os CCEs de pacientes jovens acometeram mais a língua e em idosos o assoalho e que o

grupo dos idosos foi associado significativamente à exposição a fumo e álcool, porém a

presença do HPV foi semelhante em ambos grupos. De forma semelhante, a amostra da

pesquisa foi composta principalmente por pacientes acima de 40 anos (68.9%). A maioria dos

fumantes e etilistas pertencia a este grupo (P<0.005).

A língua tem sido apontada como a localização mais comum para os CCEs de cabeça

e pescoço em adultos jovens (Hirota et al, 2008; Mallet et al, 2009). Na pesquisa de Ubeador

et al (2012), o assoalho foi o sítio mais comum nesse grupo de pacientes, que foi diferente do

encontrado em nossa amostra, já que a língua foi o sítio mais acometido em ambos os grupos.

Nos adultos jovens da nossa pesquisa, apenas um caso ocorreu em assoalho de boca.

O comportamento biológico do CCEO entre esses dois grupos etários é variável,

alguns autores descrevem que indivíduos com idade inferior a 40 anos apresentam forma mais

agressiva do CCEO, com um maior índice de mortalidade, quando comparados aos indivíduos

com maior idade (Majchrzak et al, 2014). Mesmo sem haver diferença estatisticamente

significativa na amostra da presente pesquisa, foi detectado que indivíduos abaixo de 40 anos

exibiam CCEs em estágios iniciais e sem metástase em linfonodos cervicais, quando

comparados aos grupos de pacientes acima de 40 anos, dados semelhantes aos encontrados

por Ubeador et al (2012), os quais sugeriam em sua pesquisa que adultos jovens portadores de

CCE oral e de orofaringe podem ter melhor prognóstico.

De fato, os resultados constantes na literatura são conflitantes no tocante a diferenças

no comportamento biológico desta neoplasia entre esses grupos de pacientes. Mallet et al

(2009) em uma pesquisa multicêntrica de CCE de cabeça e pescoço em pacientes jovens na

França também detectaram que a maioria dos pacientes da sua pesquisa apresentou tumores

T1 e T2 e este fato discorda da sugestão de Garavello et al (2007), de que pacientes adultos

jovens exibem CCEs mais agressivos com maior incidência de metástases em linfonodos

cervicais e recorrência local após o tratamento, quando comparado com pacientes mais

velhos, fato diferente também do perfil de pacientes jovens da presente pesquisa, já que a

maioria exibiu tumores com estádios clínicos iniciais e ausência de metástase em linfonodos

cervicais. Acreditamos que adultos jovens percebem a doença em estágio inicial e procuram

atendimento mais rapidamente, o que favorece o diagnóstico precoce da doença.

Algumas pesquisas tem evidenciado que o sistema imunológico do hospedeiro

melhora a reação contra os tumores. Porém, mesmo diante de evidencias que o sistema imune,

através da vigilância imune previne a transformação maligna e proliferação das células

tumorais, sabe-se que este não é completamente eficiente (Türkseven e Oygüir, 2010). Um

dos mecanismos mais efetivos do sistema imune contra as células tumorais são as células NK,

que constituem um sistema de defesa precoce contra células estranhas e autólogas que

sofreram estresse, tais como infecção microbiana ou transformação tumoral, sendo estas

células a primeira linha de defesa contra os tumores (Nielsen et al, 2013). As células NK

constituem um tipo de linfócito inato que tem capacidade de destruir células infectadas por

vírus ou que sofreram transformações malignas ( Eversloh et al, 2013; Nielsen et al, 2013).

Conforme Carsen et al (2014) , essas células atuam no controle do crescimento das células

neoplásicas em fase precoces da oneogenese nos sítios intratumorais. Em 1997, Caca et al

identificaram que pacientes portadores de carcinoma coloretares com pouca ou moderada

densidade dessas células exibiam menores taxas de sobrevida.

Conforme relatos de Nielsen et al (2014) a proteína CD57 é um marcador útil de

manutenção da célula NK, que identifica células com elevado potencial citotóxico, mas

sensibilidade diminuída a citocinas e reduzida capacidade replicativa, sendo as células NK

CD57+ uma subpopulação estável de células, que aumenta com a idade e exposição a

patógenos.

Desse modo, a presente pesquisa comparou quantitativamente a expressão de células

CD57 em uma série de casos de CCEO em pacientes acima e abaixo de 40 anos.

Ishigami et al (2000) relataram que as células NK e células dendríticas podem

influenciar nas características clínicas de vários tipos de câncer gastrointestinais. Esses

autores detectaram que a quantidade de células NK diminuía gradualmente de acordo com a

progressão do tumor e envolvimento nodal. Türkseven e Oygür (2010) também detectaram

que a densidade de células CD57+ foi estatisticamente menor em CCE orais gradados como

tumores de pobre prognóstico. Na presente pesquisa, a média das células CD57 foi

semelhante nos dos grupos de pacientes portadores de CCEO estudados. Fraga et al (2012)

relataram que durante a tumorigênese ocorre um aumento também de células NK no estroma

peritumoral. Essa sugestão pode justificar a quantidade semelhante de células NK em

pacientes idosos e em estágios avançados da presente pesquisa. Conforme Stojanovc e

Ceravenka (2011) durante a transformação maligna, as células neoplásicas interagem entre si

com células presentes no microambiente tumoral, sendo relatado por Deschoolmester et al

(2010) que em tumores sólidos, elevada quantidade de células NK e CD8+ está

correlacionada com melhor prognostico. Estes autores sugerem que estratégias terapêuticas

que aumentem o número dessas células podem melhorar os protocolos atuais de imunoterapia.

Adicionalmente, Nyuyen e Duc (2006) e Chang e Fercone (2006) relataram que as

células neoplásicas de CCEs de cabeça e pescoço podem apresentar múltiplas ferramentas

para evasão das células de defesa, fato esse que pode justificar a presença de células CD57 em

pacientes acima de 40 anos e em estágios clínicos avançados do nosso estudo.

Na presente pesquisa o pequeno tamanho da amostra de casos de pacientes jovens

pode ter influenciado na ausência de significância estatística entre os grupos e, além disso,

não foi possível por imuno-histoquímica determinar o fenótipo funcional das células CD57.

Mais pesquisas devem ser desenvolvidas com alvo na determinação do fenótipo do infiltrado

inflamatório no ambiente de CCE orais, pois os resultados podem auxiliar na compreensão

dos mecanismos relacionados a progressão clinica de tumores de mesmo estágio clinico.

Conclusões

Os resultados da presente pesquisa nos permite sugerir que os pacientes com menos de

40 anos exibiram tumores em estágios iniciais e em sua maioria não exibiam exposição a

tabaco e álcool. A idade não influenciou na densidade das células CD57+ . Mais pesquisas

precisam ser realizadas para esclarecer diferenças se realmente existem diferenças no

comportamento biológico de CCEO de acordo com a idade dos pacientes e se essas diferenças

encontram-se relacionadas ao perfil de células do sistema imunológico no microambiente

tumoral.

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TABELAS

Tabela 1. Perfil da amostra. Natal, RN-2014.

VARIÁVEIS n (%)

GÊNERO

Masculino 29 (64.4)

Feminino 16 (35.6)

IDADE

≥ 40 anos 31 (68.9)

< 40 anos 14 (31.1)

RAÇA

Branca 19 (42.2)

Parda 26 (57.8)

HÁBITOS*

Nenhum

Etilismo

Tabagismo

Etilismo e Tabagismo

19 (50.2)

1 (2.6)

7 (18.4)

11 (28.9)

LOCALIZAÇÃO

Língua 41 (91.1)

Gengiva 2 (4.4)

Palato duro

Assoalho de boca

1 (2.2)

1 (2.2)

ESTADIAMENTO CLÍNICO (TNM)

Estágio I 9 (20.0)

Estágio II 16 (35.6)

Estágio III 17 (37.8)

Estágio IV 3 (6.7)

METÁSTASE PARA LINFONODOS

Sim 17 (37.8)

Não 28 (62.2)

GRADAÇÃO HISTOLÓGICA

Baixo grau de malignidade 17 (37.8)

Alto grau de malignidade 28 (62.2)

TOTAL 45 (100.0)

Fonte: Laboratório de histopatologia da disciplina de Patologia Oral – UFRN.

*Em sete casos esta informação estava indisponível.

Tabela 2. Distribuição absoluta e relativa dos hábitos dos indivíduos de acordo com a faixa etária sua faixa

etária. Natal – RN, 2014.

Faixa Etária

Hábitos

Total

n (%)

p(1)

Nenhum

n (%)

Tabagismo ou

Etilismo

n (%)

Tabagismo e

Etilismo

n (%)

< 40 anos 11 (78.6) 2 (14.3) 1 (7.1) 14 (100,0) 0.021

> 40 anos 8 (33.3) 6 (25.0) 10 (41.7) 24 (100,0)

TOTAL+ 19 (50.0) 8 (21.1) 11 (28.9) 38 (100,0)

Fonte: Laboratório de histopatologia da disciplina de Patologia Oral – UFRN.

(1): Teste Qui-quadrado de Pearson

Tabela 3. Distribuição absoluta e relativa do estadiamento clínico (TNM) de acordo com a faixa etária dos

indivíduos. Natal– RN, 2014.

Faixa Etária

Estadiamento Clínico

Total

n (%)

p(1)

Estágio I ou II

n (%)

Estágio III ou IV

n (%)

< 40 anos 10 (71.4) 4 (28.6)

17 (54.8)

21 (46.7)

14 (100,0) 0.102

> 40 anos 14 (45.2) 31 (100,0)

TOTAL+ 24 (53.3) 45 (100,0)

Fonte: Laboratório de histopatologia da disciplina de Patologia Oral – UFRN.

(1): Teste Qui-quadrado de Pearson

Tabela 4. Distribuição absoluta e relativa da presença ou não de metástase linfonodal de acordo com a faixa

etária dos indivíduos. Natal– RN, 2014.

Faixa Etária

Metástase Linfonodal

Total

n (%)

p(1)

Sim

n (%)

Não

n (%)

< 40 anos 3 (21.4) 11 (78.6)

17 (54.8)

28 (62.2)

14 (100,0) 0.128

> 40 anos 14 (45.2) 31 (100,0)

TOTAL+ 17 (37.8) 45 (100,0)

Fonte: Laboratório de histopatologia da disciplina de Patologia Oral – UFRN.

(1): Teste Qui-quadrado de Pearson

Tabela 5. Tamanho da amostra, mediana, quartis 25 e 75, média dos postos, soma dos postos, estatística U e

significância estatística (p) para os valores de imunopositividade para CD57 no front de invasão com relação à

faixa etária. Natal, RN-2014.

Faixa etária n Mediana Q25-Q75

Média dos

postos

Soma dos

postos U p

(1)

< 40 anos 14 18.0 12.8-33.3 23.90 331.0 208.0 0.825

> 40 anos 31 16.8 10.0-38.2 22.71 704.0

Fonte: Laboratório de histopatologia da disciplina de Patologia Oral – UFRN.

(1): Teste Mann-Whitney.

Figuras

Figura 1 Imunoexpressão de CD57 no front de invasão de CCEO em paciente com 36 anos

de idade (LSAB; Barra=100 µm). Natal, RN-2014.

Figura 2 Imunoexpressão de CD57 no front de invasão de CCEO em paciente com 66 anos

de idade (LSAB; Barra=100 µm).