UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE …2016... · Reabilitação com prótese fixa adesiva...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA CURSO DE ODONTOLOGIA REABILITAÇÃO COM PRÓTESE FIXA ADESIVA EM ODONTOPEDIATRIA RELATO DE CASO CLÍNICO ANDRESSA RODRIGUES DIAS CAVALCANTE NATAL 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA

CURSO DE ODONTOLOGIA

REABILITAÇÃO COM PRÓTESE FIXA ADESIVA EM ODONTOPEDIATRIA –

RELATO DE CASO CLÍNICO

ANDRESSA RODRIGUES DIAS CAVALCANTE

NATAL 2016

ANDRESSA RODRIGUES DIAS CAVALCANTE

REABILITAÇÃO COM PRÓTESE FIXA ADESIVA EM ODONTOPEDIATRIA –

RELATO DE CASO CLÍNICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Odontologia da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de graduação de cirurgião-dentista. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lêda Bezerra Quinderé Cardoso

NATAL 2016

Cavalcante, Andressa Rodrigues Dias.

Reabilitação com prótese fixa adesiva em odontopediatria – relato de caso

clínico/ Andressa Rodrigues Dias Cavalcante. – Natal, RN, 2016.

29 f. : il.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lêda Bezerra Quinderé Cardoso.

Monografia (Graduação em Odontologia) – Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Odontologia.

1. Odontopediatria – Monografia. 2. Trauma dental – Monografia. 3. Prótese

fixa adesiva. – Monografia. I. Cardoso, Lêda Bezerra Quinderé. II. Título.

RN/UF/BSO Black D 27

Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia

Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.

Andressa Rodrigues Dias Cavalcante

REABILITAÇÃO COM PRÓTESE FIXA ADESIVA EM ODONTOPEDIATRIA –

RELATO DE CASO CLÍNICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Odontologia da UFRN, como pré-

requisito para obtenção do grau de Cirurgião-

dentista.

Aprovado Em, _____/_____/_____

_________________________________________ Prof. (a). Drª. Lêda Bezerra Quinderé Cardoso

Departamento de Odontologia - UFRN Orientadora

_________________________________________ Prof. (a). Drª. Kathia Maria Fonseca de Brito

Departamento de Odontologia - UFRN Membro

_________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Othávio de Assunção e Souza

Departamento de Odontologia – UFRN Membro

DEDICATÓRIA

A Deus, criador de todas as coisas, que me

concedeu a graça de realizar mais um sonho.

Aos meus pais, Almiro e Neide, por tanto amor, dedicação e sacrifício e por sempre me apontarem o

caminho certo. Essa conquista é nossa.

Ao meu esposo Ewerton, que sempre esteve ao meu lado e nunca me deixou desistir, sempre me

apoiando e incentivando. Sem ele eu não teria conseguido.

Às minhas irmãs, Andrielle e Andrienni, pelo apoio e

confiança mesmo nas situações difíceis.

Essa conquista é nossa.

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora que compartilhou comigo seus conhecimentos tanto na vida acadêmica quanto na

pessoal e profissional. Pela confiança em mim, paciência, apoio, incentivo e por ter sido

fundamental para a minha formação e conclusão desse trabalho.

Aos professores Kathia e Rodrigo, pela

disponibilidade e pela confiança.

Aos mestres que ao longo desses anos apontaram o caminho do saber através de seus conhecimentos e

experiências.

À minha dupla, Denis Yuri, que por dois anos compartilhou comigo amizade, companheirismo e

conhecimento.

Aos meus amigos que me proporcionaram momentos especiais, de alegria e aprendizado.

A todos que de certa forma torceram por mim e que

de forma direta ou indireta contribuíram na construção desse trabalho.

Apega-te à instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida.

Provérbio de Salomão

RESUMO

Introdução: A perda precoce dos dentes decíduos ocorre principalmente por

motivos de cárie e traumatismo dentário (TD), sendo este muito comum durante a

infância e adolescência. Dentre as possiblidades para o tratamento dos TDs em que

ocorre fratura coronária extensa do dente superior anterior, encontram-se as

próteses removíveis ou parciais fixas, sendo a primeira opção a mais utilizada.

Relato do caso clínico: O presente relato de caso tem por objetivo apresentar uma

conduta terapêutica reabilitadora do segmento anterior do arco dentário com prótese

fixa adesiva, de perda precoce do incisivo decíduo central superior esquerdo. A

paciente YSV, com cinco anos de idade, do gênero feminino, foi submetida ao

tratamento na Clínica Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

Departamento de Odontologia, com relato de trauma dentário (fratura coronária

extensa do 61 envolvendo esmalte, dentina e polpa), com queda da própria altura,

aos dois anos e oito meses de idade. Conclusão: Os benefícios envolvidos no

tratamento reabilitador com prótese fixa adesiva são resolutivos em repor: a estética,

manter espaços nos arcos dentários ou a integridade no desenvolvimento da

dentição, prevenindo e corrigindo hábitos deletérios (a exemplo da interposição

lingual apresentada no caso clínico) e/ou anormalidades na fala, sem gerarem

interferência no crescimento dos maxilares, além do ganho do restabelecimento

psicológico da criança.

Palavras chaves: odontopediatria, trauma dental, prótese fixa adesiva.

ABSTRACT

Introduction: The early loss of deciduous teeth occurs mainly for caries reasons and

dental trauma (DT), which is very common during childhood and adolescence.

Among the possibilities for the treatment of DT in which there is extensive coronary

fracture of the upper anterior teeth, are found fixed or removable partial dentures, the

first option being the most used. Case report: This case report aims to present a

rehabilitative therapeutic management of anterior segment of the dental arch with

adhesive fixed prosthesis, of early loss of deciduous incisors left top center. The YSV

patient, five-year-old female, was subjected to treatment in the Children's Clinic of the

Federal University of Rio Grande do Norte - Department of Dentistry, with dental

trauma report (extensive coronary fracture of 61 involving enamel, dentin and pulp),

falling from height, to two years and eight months old. Conclusion: The benefits

involved in the rehabilitation treatment with adhesive fixed prosthesis are resolutive

on restore: the aesthetic maintain spaces in dental arches or integrity in the

development of the dentition, preventing and correcting harmful habits (such as the

tongue interposition presented in the clinical case) and / or abnormalities in speech,

without generating interference with the growth of the jaws, in addition to gain the

child's psychological recovery.

Key words: pediatric dentistry, dental trauma, adhesive fixed prosthesis.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA................................................ 10

2 RELATO DE CASO........................................................................................... 14

3 DISCUSSÃO...................................................................................................... 16

4 CONCLUSÃO.................................................................................................... 19

LISTA DE FIGURAS......................................................................................... 20

Prancha 01 - Consulta e exames iniciais................................................... 20

Prancha 02 - Moldagens e confecção do modelo de trabalho................ 21

Prancha 03 - Confecção da faceta em resina composta fotopolimerizável.........................................................................................

22

Prancha 04 - Passo a passo pré-instalação da prótese fixa adesiva..... 23

Prancha 05 - Instalação da prótese fixa adesiva...................................... 24

Prancha 06 - Aspecto clínico pós-instalação da prótese fixa adesiva... 25

Prancha 07 - Orientação de higiene oral................................................... 26

REFERÊNCIAS................................................................................................. 27

APÊNDICE........................................................................................................ 29

10

1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA

Os dentes decíduos permanecem na cavidade oral por um curto período de

tempo e mesmo assim, estes possuem um papel fundamental no crescimento e

desenvolvimento da criança.8 Por desempenharem importante papel na mastigação,

articulação, oclusão, fonação e estética, e por serem responsáveis pela correta

evolução do sistema mastigatório, são também considerados excelentes

“mantenedores de espaço naturais”. No entanto, existem situações em que ocorre a

perda precoce dos dentes decíduos, principalmente por motivos de cárie e

traumatismo dentário.2,4,9,15

O traumatismo dentário (TD) é muito comum durante a infância e

adolescência. Na dentição decídua, as injúrias mais comuns acometem os tecidos

periodontais devido à sua maior plasticidade. Alguns traumatismos envolvendo os

dentes também podem ocorrer, sendo o incisivo central superior o dente mais

frequentemente afetado.2 Dependendo do estudo e do tipo de amostragem deste,

existe uma variação dos valores da prevalência dos diferentes tipos de

traumatismos.16 A incidência do TD é maior em crianças com idade escolar, na fase

de crescimento, tendo uma maior proporção no sexo masculino e os fatores de risco

comumente associados são: overjet aumentado, ausência de selamento labial e

protrusão dos incisivos superiores.9,16

A literatura aponta uma classificação dos TDs que vai desde uma simples

fratura em esmalte até a perda definitiva do dente e o tratamento dessas lesões

pode variar de acordo com a idade e cooperação do paciente. Dentre os vários tipos

de lesões, as fraturas de esmalte e dentina são os tipos mais comuns de fraturas

coronárias na dentição permanente. Já as fraturas complicadas, que envolvem o

esmalte, dentina e a polpa, são pouco frequentes em dentes decíduos e o

tratamento preconizado é o tratamento pulpar seguido de reconstrução coronária.4

Tal situação envolve o acarretamento de problemas funcionais na deglutição,

mastigação, fonética, instalação de hábitos deletérios, estéticos e ainda uma

repercussão psicossocial na vida da criança.9 A perda precoce de dentes anteriores

pode levar a quatro consequências principais: mordida aberta com interposição de

língua, posição inadequada da língua promovendo desvio de padrão de deglutição,

efeitos deletérios na fala e dificuldades na mastigação com perda de eficiência

mastigatória, perda de espaço e consequentemente desequilíbrio oclusal.8,12,14 Tão

11

pouco não se pode ignorar as consequências psicológicas que podem afetar tanto à

família quanto à criança e o comprometimento estético.4,13,14

A perda precoce poderá criar influências negativas do ponto de vista

psicológico; as crianças sentem-se “diferentes” de seus pares, e a falta dos dentes

pioram suas atitudes em relação aos outros e consigo mesmas, especialmente se

for visível durante a fala e o riso, na maioria das vezes sorri muito pouco ou coloca a

mão sobre a boca para disfarçar a diferença, piorando a atitude da criança com

relação a si mesma e aos outros. 5,10

A articulação das palavras, uma consequência da perda precoce, poderá ser

autocorrigida com o tempo, mas em algumas crianças se faz necessária terapia com

fonoaudiólogo, pois muitos sons são produzidos quando a língua toca a papila

palatina por trás dos incisivos superiores e podem ocorrer compensações fonéticas

inadequadas na ausência desses dentes; a projeção lingual durante a emissão dos

fonemas /T/, /D/, /N/ e /L/, bem como, o ceceio anterior ou sigmatismo nos fonemas

/S/ e /Z/, são comumente observados em consequência da perda precoce dos

incisivos decíduos superiores.5,10,13 Na ausência desses dentes, a criança tende a

compensar pelo estabelecimento de hábitos incorretos, que podem ser difíceis de

serem tratados mais tarde, como a interposição lingual durante a fonação, a

deglutição e o repouso. A mastigação também é afetada com a perda dos dentes

anteriores superiores, visto que morder os alimentos pode ser um problema,10

afetando também, diretamente, a deglutição e o desenvolvimento dos músculos da

face.14

O diagnóstico e tratamento do TD objetivam o controle da dor e prevenção de

possível dano ao germe do dente permanente em desenvolvimento, em virtude da

proximidade anatômica, guiar a erupção do mesmo e ainda devolver função,

prevenir má-oclusão e perda de espaço, distúrbios na fala, restaurando a função

mastigatória e a estética, sempre visando a manutenção da saúde oral.1,3,10

Dentre as possiblidades para o tratamento dos TDs em que ocorre perda do

dente superior anterior, encontram-se as próteses removíveis ou parciais fixas,

sendo a primeira opção a mais utilizada, principalmente por sua associação com os

aparelhos da Ortodontia Interceptativa. Os diversos recursos protéticos utilizados na

Odontopediatria proporcionam condições para a prevenção e correção de maus

hábitos, permitindo o desenvolvimento saudável do sistema mastigatório até a

erupção dos dentes permanentes. As indicações da prótese fixa são: estabelecer a

12

estética, manter espaços nos arcos ou a integridade no desenvolvimento da

dentição, prevenir ou corrigir hábitos deletérios e/ou anormalidades na fala, ou para

melhorar a função. Quando aplicada em indicações precisas e idade adequada, não

gera interferências ao crescimento maxilar, dispensa desgastes nos dentes suportes

e devolve, com riqueza de detalhes, a função e a estética do paciente

odontopediátrico.8,12,13,14 Nas próteses fixas adesivas, as principais vantagens estão

relacionadas com a dispensa de preparo cavitário nos dentes suportes, preservando

as estruturas dentárias, como também, o baixo custo, principalmente quando

comparado ao das próteses convencionais.3,12 Dessa forma, mostra-se um método

viável e econômico para esse tipo de reabilitação oral.15

Como principais desvantagens das próteses fixas temos a longevidade

discutível, a baixa resistência ao deslocamento e limitações ao uso das próteses

adesivas como perdas múltiplas (espaço extenso) e mordida fechada (sem espaço

no trespasse horizontal e vertical). Entretanto, podemos ressaltar que na dentição

decídua, essa prótese tem caráter apenas de uma substituição temporária,

mantendo-se em função por aproximadamente dois a três anos, tempo de

permanência definido pela época de erupção do sucessor permanente.5,12,15

Dentre as próteses fixas, temos: prótese fixa anterior confeccionada pelo

sistema tubo-barra, pode ser toda de acrílico (necessitando de pequeno desgaste no

dente suporte) ou em aço com faceta em acrílico. Elas surgem como opção de

recurso estético e funcional para crianças pouco colaboradoras aos aparatos

removíveis. Porém, além de serem dispendiosas e necessitar de desgastes nos

dentes suportes, requerem muito tempo de consultório. Apesar de ser fixa, não

impede o desenvolvimento normal da maxila permanecendo na boca até a época

normal da esfoliação dos elementos-suportes, quando se observa a abertura do

sistema tubo-barra, devido ao crescimento da maxila. Esse cuidado que se tem em

construir um aparelho que não seja rígido é para que, se houver crescimento em

lateralidade, a articulação permitirá que este ocorra (BENGTSON et al.22 1989 e

WALTER et al.23 1999 apud PEREIRA; MIASATO 2010).3,6,8,12,13,14

Na clínica infantil, as próteses fixas em cantilever (balanço) com facetas

estéticas na região anterossuperior são utilizadas para a substituição de somente

um elemento perdido e os dentes retentores não devem apresentar reabsorção

radicular em estado avançado, o que pode comprometer o sucesso da prótese,

expondo as raízes a um esforço exagerado.3,12,13,14

13

A prótese adesiva direta pode ser reforçada com fita de fibra de polietileno ou

com fio ortodôntico. É um mantenedor fixo de espaço estético-funcional, indicado

nos casos de perda prematura de um único dente decíduo anterior, apresenta

técnica de confecção simples, menor tempo clínico (considerando número de

sessões) quando comparado às outras próteses fixas adesivas indiretas, possui

baixo custo, preenchendo os requisitos necessários para devolver o equilíbrio oral e

psicológico o mais rápido possível à criança, restaurando sua estética e função

dentária. Independe da cooperação do paciente, deve ser indicado para crianças

que apresentam baixo risco à doença cárie e higiene oral satisfatória.5,12,13,14

Tendo em vista a complexidade da abordagem do paciente com história de

traumatismo dentário, o presente relato de caso tem por objetivo apresentar uma

conduta terapêutica reabilitadora do segmento anterior do arco dentário frente a um

caso clínico envolvendo fratura coronária extensa, comprometendo esmalte, dentina

e polpa.

14

2 RELATO DE CASO

Paciente YSV, com 5 anos de idade, do gênero feminino, compareceu à

Clínica Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Departamento de

Odontologia (DOD), com ausência da coroa do elemento 61. Foi relatado pela mãe

da paciente que a criança sofrera traumatismo há aproximadamente 2 anos e 8

meses e que já tivera realizado um tratamento endodôntico no referido dente. O

tratamento de reabilitação protética não fora concluído por questões financeiras à

época do trauma. (Figuras 1A, 1B e 1C).

Durante a anamnese, a paciente apresentava boa saúde geral. Ao exame

clínico foi observada a ausência da coroa do 61 e uma boa higiene oral. Não

apresentava má oclusão, nem sobressaliência ou mordida aberta. Mas possuía o

hábito de colocar e pressionar a língua no lugar da coroa ausente, o que gerou uma

leve inclinação para a vestibular da raiz do mesmo dente. No exame radiográfico,

observou-se imagem radiolúcida compatível com reabsorção radicular patológica

assim como, imagem radiopaca compatível com material obturador, que ao ser

comparado com as radiografias do período do tratamento endodôntico e seus

controles foi possível verificar o insucesso do tratamento realizado (Figuras 1D, 1E e

1F).

Após a avaliação clínica e radiográfica, cogitou-se a hipótese de remover o

resto radicular, uma vez que a raiz apresentou grande reabsorção externa.

Entretanto, por ser a paciente uma criança não cooperadora, de difícil

condicionamento, optamos por realizar o tratamento reabilitador com prótese fixa

adesiva e seguir acompanhando o caso até condicioná-la para a remoção radicular.

Após a autorização da mãe através da Declaração de Conformidade e Autorização

para Tratamento Odontológico, presente no prontuário da faculdade, demos início ao

tratamento.

Na 1ª sessão foi realizada a seleção das moldeiras e a moldagem com

alginato (Jeltrate - Dentsply®) dos arcos dentários superiores e inferiores, vazamento

em gesso especial para a obtenção dos modelos de trabalho e o registro da mordida

em cera 7 rosa (Asfer®). Durante o procedimento, a criança chorou, apresentando

certa resistência. Posteriormente, foi realizada uma moldagem da região anterior

superior com silicona de condensação (Perfil - Coltene®), o que nos forneceu maior

fidelidade na cópia das estruturas dentárias e circunvizinhas, necessárias à

15

confecção da prótese fixa, para a qual os dentes 51 e 62 foram selecionados como

dentes suportes.

Os moldes foram vazados com gesso especial tipo IV (Durone – Dentsply®),

obtendo-se os modelos de trabalho (arcos superior e inferior). Antes de encaminhar

ao laboratório foram selecionadas as cores A2E e A1B (3M Filtek Z-350®) e

confeccionado uma prótese com fio ortodôntico número 0,6 e resina

fotopolimerizável (3M Filtek Z-350®), simulando a prótese final para motivação da

criança (Figuras 2A a 2F, 3A a 3D e 4A a 4F). A prótese fixa confeccionada no

laboratório foi composta por fio ortodôntico número 0,6 e resina acrílica

autopolimerizável (Dencôr - Clássico), cor 61, associada ao carbonato de cálcio na

porção correspondente à coroa do dente 61.

Para a fixação da prótese adesiva foram realizados os seguintes passos:

profilaxia com pedra pomes (Biodinâmica®) e pasta profilática (Shine - Maquira®),

lavagem abundante e secagem do campo operatório com a seringa tríplice; prova da

prótese; condicionamento com ácido fosfórico a 37% das superfícies palatinas dos

dentes suportes (51 e 62) por 30 segundos (Condac 37 – FGM® - 37%); lavagem

abundante por 1 minuto e secagem do campo operatório com a seringa tríplice;

isolamento relativo com algodão rolete; aplicação do sistema adesivo (Prime e Bond

2.1 - Dentsply®) e fotopolimerização por 40 segundos; inserção da prótese com os

primeiros incrementos de resina composta nas alças de retenção, fotopolimerização

por 40 segundos; inserção dos demais incrementos de resina, fotopolimerização por

40 segundos; colocação de isolante para fotopolimerização final (KY Gel – Johnson

e Johnson®); fotopolimerização final da camada superficial por 60 segundos; ajuste

de oclusal com carbono (Preven®); polimento com pontas Enhance®; e orientações

de higiene oral com escova e fio dental. (Figuras 5A a 5E, 6A a 6F e 7A a 7C). O

aparelho fotopolimerizador utilizado foi LD Max Gnatus®.

16

3 DISCUSSÃO

Durante muitos anos a exodontia foi o tratamento mais indicado para os

grandes comprometimentos coronários dos dentes incisivos decíduos superiores,

pela dificuldade de retenção dos materiais restauradores às estruturas dentárias,

assim como, pela dificuldade do controle comportamental das crianças.7 Nos últimos

cinquenta anos, com a evolução dos materiais restauradores estéticos e o

desenvolvimento de novas técnicas restauradoras adesivas, as opções de

tratamento se ampliaram, de forma que muitos casos clínicos têm sido solucionados,

empregando-se dentre outras, as próteses fixas adesivas. 14 Nos casos de sua perda

precoce, devemos como conduta clínica, fazer uso de mantenedores estético-

funcionais como reposição dos dentes perdidos, analisando em cada caso os

fatores: idade do paciente, estágio de desenvolvimento da dentição, localização e

extensão das lesões traumáticas.5,10,13

Alguns autores consideram que, quando a perda prematura dos incisivos

superiores decíduos ocorre após a erupção dos caninos decíduos superiores, não

há necessidade de se usar mantenedores, uma vez que não há perda de espaço.5,13

Porém, a integridade dos dentes e das arcadas é de importância fundamental para a

manutenção da oclusão, da estética, da fonética e do bem-estar emocional tanto da

criança como de seus pais.5,10,13

Existem inúmeras alternativas para reabilitar o segmento anterossuperior do

paciente pediátrico, que tenha sofrido traumatismo dentário, ou que seja portador de

cárie severa. Cada profissional deve escolher a técnica, de acordo com as

características que o quadro clínico apresenta e a sua capacidade de trabalho. Ao

eleger a técnica a ser executada, deve-se considerar o maior número possível de

vantagens como: menor tempo de cadeira, qualidade em estética, boa resistência do

material utilizado, restabelecimento de equilíbrio oclusal, entre outras.3,13 A maioria

dos casos de perda prematura na dentição decídua anterior tem sido resolvida

através de aparelhos removíveis, próteses fixas convencionais ou com encaixe, as

quais, apesar de eficazes, são dispendiosas, exigem muito tempo de trabalho clínico

e laboratorial, bem como a colaboração da criança.8

Durante o planejamento, deve ser também considerado a dificuldade de

cooperação da criança. Há necessidade de grande cooperação da criança para o

uso de uma prótese removível, quando comparada à prótese fixa. Ainda segundo

17

Dominguez e Aznar (2004 apud OTO, et al 2014), crianças muito pequenas têm

dificuldades em usar aparelhos removíveis por vários fatores, entre eles o

desconforto, dificuldade de adaptação, perda do aparelho e relatos dos pais que as

crianças muito novas se recusam absolutamente ao uso do dispositivo durante o

sono. Adicionalmente, a prótese fixa anterior é um mantenedor de espaço que

possibilita guiar a erupção dos permanentes sucessores e previne a extrusão dos

antagonistas.11,13

Assim, nesse caso clínico, optamos pela confecção de um aparelho fixo para

a reabilitação da saúde oral da paciente, pelo baixo custo, facilidade de confecção

laboratorial e tempo clínico reduzido. A prótese fixa anterior tem como característica

principal a utilização de resina composta, como material, na técnica de colagem.

Como mantenedor fixo e adesivo, não traz maiores consequências em relação ao

crescimento e desenvolvimento do segmento superior anterior, uma vez que as

grandes alterações dimensionais dessa região ocorrem na faixa etária de seis a sete

anos,5,11,13 faixa etária em que ocorrerá a erupção do sucessor permanente,

evidentemente mais cedo, em função da perda precoce.10

No início do tratamento se planejou a exodontia da raiz do 61 e colocação da

prótese fixa, em razão deste apresentar reabsorção radicular externa excessiva

após 2 anos e 10 meses da realização do tratamento endodôntico. Entretanto, por

não apresentar reabsorção óssea e face ao comportamento psicológico difícil da

criança, optamos pela permanência da raiz e controle clínico-radiográfico periódico.

As fases clínicas e laboratoriais transcorreram normalmente sem que houvesse

nenhum problema, apenas a corrida contra o tempo para a conclusão do caso

clínico e a sua apresentação dentro do prazo estabelecido.

Sabemos que ao confeccionarmos próteses de qualquer natureza em

substituição aos dentes naturais, estas devem manter as características

morfofuncionais e estéticas específicas da dentição decídua.14 No presente caso

clínico, não foi possível obedecer a dimensão cérvico-incisal da coroa (dente pôntico

da prótese fixa), em virtude de se tentar ocultar o remanescente radicular

vestibularizado, sem que acrescentássemos resina acrílica mimetizando a gengiva.

Apesar disto, observamos que não houve prejuízo da estética, porque a linha do

sorriso da criança não é alta. Ressaltamos que para a obtenção da cor branco

leitoso (característica do dente decíduo), foi adicionado carbonato de cálcio à resina

acrílica autopolimerizável.

18

A criança e seus pais se apresentaram bastante motivados e cooperaram ao

máximo. Os pais redobraram seus esforços trazendo-a a todas as sessões

necessárias, porque foram informados dos benefícios funcionais que estavam sendo

devolvidos à criança e a criança que durante a prova da faceta percebeu a mudança

estética também se tornou mais colaborativa.

Após a colocação da prótese fixa, os pais foram orientados quanto à dieta da

criança, para se evitar alimentos excessivamente duros e para não fazer um esforço

mastigatório muito grande na região. A distribuição das forças oclusais

desenvolvidas na mastigação e as tensões de deslocamento geradas sobre o

agente de união devem ser minimizadas, permitindo que a prótese mantenha-se no

local com distribuição equilibrada das forças mastigatórias.8,12 Também receberam

orientação quanto à higienização da cavidade oral e da prótese fixa, essencial ao

sucesso do tratamento devendo ser constante e rigoroso, evitando, assim, futuros

problemas com relação à cárie e doença periodontal.. Apesar da criança ainda não

apresentar coordenação motora para realizar sua auto-higiene, ela também foi

incentivada para realizá-la.

Além dos cuidados com a dieta e higiene, deve-se ressaltar a necessidade do

acompanhamento periódico, em que será avaliado se a prótese esta permitindo o

crescimento normal da pré-maxila e verificar o estágio de erupção do dente

permanente sucessor, geralmente quando estes apresentam dois terços de

formação da raiz está indicada a remoção da prótese fixa, para que haja adequada

erupção do mesmo.5,8,11,15 Neste caso, também será necessária a extração da raiz

remanescente do dente 61, momento em que a criança deve estar preparada

psicologicamente para um procedimento mais invasivo.

19

4 CONCLUSÃO

Os benefícios envolvidos no tratamento reabilitador com prótese fixa adesiva

são resolutivos em repor: a estética, manter espaços nos arcos dentários ou a

integridade no desenvolvimento da dentição, prevenindo e corrigindo hábitos

deletérios (a exemplo da interposição lingual apresentada no caso clínico) e/ou

anormalidades na fala, sem gerarem interferência no crescimento dos maxilares,

além do ganho do restabelecimento psicológico da criança.

Sugerimos que pela fácil execução, baixo custo, técnica extremamente

conservadora, e pelo quanto a função estética influencia psicologicamente as

crianças, evitando e interceptando problemas emocionais e comportamentais, que

as prótese fixas adesivas sejam mais largamente empregadas pelos

odontopediatras.

20

LISTA DE FIGURAS

Prancha 01 - Consulta e exames iniciais.

Figura 1A. Consulta clínica inicial. Figura1B. Visão do exame clínico extra-oral. Figura 1C. Visão do sorriso ao exame clínico inicial.

A B

C

F Figura 1D. Imagem radiográfica após o tratamento endodôntico, aos 2 anos e 4 meses de idade. Figura 1E. Imagem radiográfica após 1 ano e 4 meses de controle pós operatório. Figura 1F. Imagem radiográfica após 02 anos e 10 meses de controle pós-operatório.

D E

21

Prancha 02 - Moldagens e confecção do modelo de trabalho.

A B Figura 2A. Registro da mordida em cera 7.

C D

Figura 2C e 2D. Moldagens em alginato dos arcos dentários superior e inferior.

E F Figura 2E. Moldagem em silicona de condensação da região anterior. superior.

Figura 2B Moldeiras selecionadas, mordida em cera e material de moldagem (alginato).

Figura 2F. Modelo de trabalho apresentando haste metálica.

22

Prancha 03 - Confecção da faceta em resina composta fotopolimerizável.

A B

C

D

Figura 3A. Medição da distância mesio-distal do dente homólogo do 61.

Figura 3C. Faceta vestibular confeccionada em resina composta fotopolimerizável.

Figura 3D. Prova da faceta.

Figura 3B. Medição da distância cérvico-incisal do dente homólogo do 61.

23

Prancha 04 - Passo a passo pré-instalação da prótese fixa adesiva.

A B C D

Figura 4A. Profilaxia.

E F

Figura 4E. Aplicação do sistema adesivo. Figura 4F. Fotopolimerização do adesivo.

Figura 4B. Condicionamento ácido.

Figura 4C. Lavagem com água.

Figura 4D. Secagem.

24

Prancha 05 - Instalação da prótese fixa adesiva.

A

Figura 5A. Vista vestibular e palatina da prótese fixa adaptada no modelo de trabalho.

B C

Figura 5B. Prótese fixa com os primeiros incrementos de resina composta, nas alças de retenção.

D E

Figura 5D. Fotopolimerização.

Figura 5E. Polimento realizado com ponta Enhance®.

Figura 5C. Adaptação da prótese fixa à cavidade oral.

25

Prancha 06 - Aspecto clínico pós-instalação da prótese fixa adesiva.

A B

Figura 6A. Visão clínica lateral direita. Figura 6B. Visão clínica lateral esquerda.

C D

Figura 6C. Visão clínica frontal. Figura 6D. Visão clínica palatina.

E F

Figura 6E. Linha do sorriso. Figura 6F. Linha do sorriso.

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Prancha 07 - Orientação de higiene oral

A B

C

Figura 7A. Orientação da higiene oral com o auxílio da escova dentária.

Figura 7C Higiene oral supervisionada com o auxílio do fio dental realizada pela mãe da criança.

Figura 7B. Orientação da higiene oral com o auxílio do fio dental.

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REFERÊNCIAS

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12 PAULILO, A. R.. Oclusão e prótese na dentadura decídua. 1998. 48 f. Monografia (Especialização) - Curso de Odontologia, Faculdade de

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APÊNDICE

Apêndice A - Termo de Autorização do prontuário do DOD – Clínica Infantil