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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA
ANDERSON FELIPE JÁCOME DE FRANÇA
UMA PROTEÍNA DE SEMENTES DE Lachesiodendron viridiflorum: UMA ALTERNATIVA PARA COMBATE DE
AGENTES MICROBIANOS E CÉLULAS TUMORAIS
NATAL-RN
2018
ANDERSON FELIPE JÁCOME DE FRANÇA
PROTEÍNA GLOBULÍNICA DE SEMENTES DE Lachesiodendron
viridiflorum: UMA ALTERNATIVA PARA COMBATE DE AGENTES MICROBIANOS E CÉLULAS TUMORAIS
Tese apresentada ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Bioquímica e Biologia Molecular. Orientador: Prof. Dr. Elizeu Antunes dos Santos.
NATAL-RN 2018
Dedico esta obra
A todos que entraram na minha vida. À minha esposa, Isabelli, minha
inseparável parceira nesta longa jornada.
À minha filha, Linda.
Ao meu filho, Darwin
E aos meus pais e minha irmã, Elenilson, Helena e Andreilly, que
sempre me apoiaram em tudo.
AGRADECIMENTOS
Aprendi que devemos sempre agradecer por tudo que acontece em nossas vidas, nunca sabemos o que Deus tem pra nos dar, mas
Ele conhece nossos corações, nossos medos e nossas necessidades.
Considerando esta dissertação como resultado de uma caminhada
que não começou na UFRN, agradecer pode não ser tarefa fácil, nem justa. Para não correr o risco da injustiça, agradeço de
antemão a todos que de alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou hoje.
E agradeço, particularmente, a algumas pessoas pela
contribuição direta e indireta na construção deste trabalho:
Ao professor Elizeu Antunes, pela discussão teórica nas disciplinas que subsidiaram novas reflexões e construções em
minha prática pedagógica. Por ter sido companheiro na orientação desta tese, nas recorrentes "discussões" que
travávamos dentro e fora dos laboratórios e principalmente, por me mostrar na prática que os alunos se desenvolvem mais e
melhor quando são valorizados.
A todos os professores do programa de pós-graduação em Bioquímica, pelo estímulo acadêmico e pela valorização
cultural que atribuem ao processo pedagógico. Pela convivência que se construiu para além dos espaços das salas de aula da
universidade.
A todos os AMIGOS e AMIGAS que de alguma forma fizeram parte deste trabalho de forma profissional e/ou pessoal. Agradeço a Yago e Gabi por tudo.
Aos funcionários do departamento de Bioquímica.
Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pela aquisição das sementes
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP), Banco do Nordeste (BNB) e Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNDECI) que contribuíram com
recursos financeiros para a realização deste trabalho. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pelo apoio financeiro.
PROTEÍNA GLOBULÍNICA DE SEMENTES DE Lachesiodendron viridiflorum: UMA ALTERNATIVA PARA COMBATE DE AGENTES MICROBIANOS E CÉLULAS
TUMORAIS
RESUMO
Sementes são reservatórios de moléculas com grande potencial para a obtenção de bioprodutos e por este motivo uma especial atenção tem sido direcionada na busca de proteínas bioativas com ação antimetabólica e outras propriedades farmacológicas. Algumas sementes apresentam proteínas e peptídeos que, sozinhos, desempenham múltiplas funções tais como interações com membranas de bactérias causando disrupção, atividade fungicida e antitumoral, recrutamento de macrófagos e neutrófilos (uma ação definida como imunomodulação) e atividade hemolítica. Neste trabalho, uma prospecção de proteínas com atividade multifuncional foi realizada em extratos de sementes de quatro espécies da família Fabaceae: Senna spectabilis (Cássia-do-nordeste), Anadenanthera colubrina (Angico), Adenanthera pavonina (Carolina) e Lachesiodendron viridiflorum (Jurema-Juquiri). Os extratos foram testados com relação à presença de atividades antitríptica, antipapaínica, hemaglutinante, hemolítica e citotoxicidade sobre linhagem de célula não tumoral e, dentre eles, se destacou o extrato de L. viridiflorum, cuja proteína denominada LvP foi purificada e escolhida para os estudos posteriores. Quando analisada por SDS-PAGE, LvP apresentou uma massa molecular de aproximadamente 17 kDa, com atividades hemolítica e citotóxica para células mononucleares. Não apresentou atividade tóxica para a linhagem celular 3T3, entretanto, em baixas concentrações, LvP foi capaz de afetar a viabilidade celular das linhagens tumorais HeLa, Hep G2, HT29, B16, A-375 e A2058. LvP também foi deletéria para os fungos Candida albicans, C. tropicalis, C. dubliniensis, C. glabrata e C. parapsilosis. Todavia, quando testada contra as bactérias patogênicas Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Staphylococcus aureus resistente à meticilina - MRSA, nenhuma atividade bactericida foi detectada. Quando a LvP foi associada aos antibióticos de referência, e testada novamente contra as bactérias, ela foi capaz de reduzir o CIM do antibiótico em até uma diluição para todas as três espécies, caracterizando assim uma atividade sinérgica da proteína. Baseado nos dados obtidos, a LvP isolada corresponde a uma estrutura proteica multifuncional, e suas propriedades antitumoral, antimicrobiana, fungicida e bactericida precisam ser investigadas com mais detalhes para que seu potencial biotecnológico seja melhor avaliado.
Palavras-chave: Lachesiodendron viridiflorum, proteínas multifuncionais, proteínas promíscuas.
GLOBULINAL PROTEIN OF SEEDS OF Lachesodendron viridiforum: AN ALTERNATIVE FOR COMBATING MICROBIAL AGENTS AND TUMOR CELLS
ABSTRACT Seeds are reservoirs of molecules with great potential for obtaining bioproducts and because of this, a special attention has been directed in the search of bioactive proteins with antimetabolic action and other pharmacological properties. Some seeds present proteins and peptides that play by themselves, multiple roles, such as bactericidal, fungicidal, antitumor, immunomodulatory and hemolytic activities. In this work, a prospection of proteins with multifunctional activities was carried out in seeds extracts from four Fabaceae species: Senna spectabilis (Cassia-do-northeast), Anadenanthera colubrina (Angico), Adenanthera pavonina (Carolina) and Lachesiodendron viridiflorum (Jurema-Juquiri). The extracts were tested for antitriptic, antipapainic, haemagglutinating, hemolytic and cytotoxic on non-tumour cell line activities, highlighting, among them, the extract of L. viridiflorum, whose protein called LvP was purified and chosen for the studies later. When analyzed by SDS-PAGE, LvP had a molecular mass of approximately 17 kDa, with hemolytic and cytotoxic (for mononuclear cells) activities. Even in low concentrations, LvP was able to affect the cell viability of the HeLa, HepG2, HT29, B16, A-375 and A2058 tumor cell lines, but it did not present toxic activity to the 3T3 cell line. LvP was also deleterious for the fungi Candida albicans, C. tropicalis, C. dubliniensis, C. glabrata and C. parapsilosis. However, when tested against pathogenic bacteria Staphylococcus aureus, Escherichia coli and Methicillin-resistant Staphylococcus aureus - MRSA, no bactericidal activity was detected. When LvP was associated with the reference antibiotics, and tested again against bacteria, it was able to reduce the antibiotic MIC up to one dilution for all three species, thus characterizing a synergistic activity of the protein. Based on the data obtained, the isolated LvP corresponds to a multifunctional protein structure, and its antitumor, antimicrobial, fungicide and bactericidal properties need to be investigated in more detail so that its biotechnological potential is better assessed. Key words: Lachesiodendron viridiflorum, multifunctional proteins, promiscuous proteins.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Representação esquemática da multifuncionalidade das proteínas: níveis,
condições desencadeadoras, mecanismos moleculares e efeitos globais. .............. 22
Figura 2. (A) Micrografia eletrônica de transmissão do endosperma de arroz
mostrando corpos proteicos esféricos (S) e irregulares (IR). Os corpos proteicos
esféricos armazenam prolaminas e os corpos proteicos de forma irregular acumulam
glutelínas. Observe a conexão direta entre o retículo endoplasmático rugoso (ER) e
os corpos proteicos esféricos. (B) Corpos proteicos (PB) nos cotilédones de sementes
em desenvolvimento. Observe a ocorrência de depósitos de proteína (setas) dentro
dos vacúolos (V) amiloplastos grandes (A) também são vistos. .............................. 24
Figura 3. Senna spectabilis. (A) Semente com testa lisa, de cor marrom e pluerograma
sulcado. (B) Fruto câmara. (C) Inflorescência, uma panícula com brácteas lineares
com folhas compostas, paripinadas. (D) Taxonomia da planta. Fonte: Prof. Dr. Rubens
Queiroz, docente da UFPB – imagens, http://rubens-
plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Senna+spectabilis (acesso em 15/07/2018) e
NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018). ........................ 30
Figura 4. Anadenanthera colubrina. (A) e (B) sementes ovadas com valvas lisas e
brilhantes, com fruto na câmara. (C) observa-se uma Inflorescência axilar com folhas
alternas, bipinadas. (D) Taxonomia da planta. Fonte: Prof. Dr. Rubens Queiroz,
docente da UFPB – imagens, http://rubens-
plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Anadenanthera+colubrina (acesso em
15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018). . 30
Figura 5. Adenanthera pavonina. (A) semente obovada, com hilo central e testa dura
lisa, vermelha. (B) Legume típico com valvas lineares e presas a cápsula. (C) Folha
bipinada e inflorescência em botões florais e obovoides. (D) Taxonomia da planta.
Prof. Dr. Rubens Queiroz, docente da UFPB – imagens, http://rubens-
plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Adenanthera+pavonina (acesso em
15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018). .. 31
Figura 6. Lachesiodendron viridiflorum. (A) Fruto seco, semente castanha. (B)
Semente glabra com pleurograma fechado e obovada. (C) Folha composta, bipinada
e face adaxial. (D) Taxonomia da planta. Prof. Dr. Rubens Queiroz, docente da UFPB
– imagens, http://rubens-
plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Piptadenia+viridiflora (acesso em
15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018). . 31
Figura 7. Esquema de extração e fracionamento de proteínas das sementes com
acetona PA. ............................................................................................................. 35
Figura 8. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de S.
spectabilis (Cássia-do-nordeste). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato
Bruto; F0,5 – Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de
acetona; F2,0 – Fração com 2,0 volume de acetona; SF. – Fração do sobrenadante
final. A – Gel corado com solução de Coomassie blue coloidal; B – Gel revelado com
nitrato de prata. ....................................................................................................... 42
Figura 9. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de A.
colubrina (Angico). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato Bruto; F0,5
– Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de acetona; F2,0
– Fração com 2,0 volume de acetona; SF. – Fração do sobrenadante final. (A)
Eletroforese corado com solução de Coomassie blue coloidal; (B) Eletroforese
revelada com nitrato de prata. .................................................................................. 43
Figura 10. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de A.
pavonina (Carolina). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato Bruto; F0,5
– Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de acetona; F2,0
– Fração com 2,0 volume de acetona; SF. – Fração do sobrenadante final. (A)
Eletroforese corado com solução de Coomassie blue coloidal; (B) Eletroforese
revelada com nitrato de prata. .................................................................................. 44
Figura 11. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de L.
viridiflorum (Jurema-Juquiri). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato
Bruto; F0,5 – Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de
acetona; F2,0 – Fração com 2,0 volume de acetona; Sobre. – Fração do sobrenadante
final. (A) Eletroforese corado com solução de Coomassie blue coloidal; (B)
Eletroforese revelada com nitrato de prata. (*) por motivos desconhecidos o marcador
não acompanhou a corrida eletroforética. ............................................................... 44
Figura 12. Atividade antitríptica das frações de sementes. Sobrenadante Final S.
spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A.
pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv. ................................ 45
Figura 13. Atividade antipapaínica das frações de sementes. Sobrenadante Final S.
spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A.
pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv. ............................... 46
Figura 14. Avaliação do efeito hemolítico das frações de sementes. Sobrenadante
Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante
Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv sobre eritrócitos
humanos. Como controle negativo e positivo foram utilizados tampão fosfato salino
(PBS) e Triton X-100 1%, respectivamente. p<0,05 em relação ao controle positivo.
................................................................................................................................. 47
Figura 15. Avaliação da viabilidade celular das frações finais contra células 3T3.
Linhagem fibroblástica normal de camundongo (ATCC® número CL-173) foram
expostas por diferentes tempos (24, 48 e 72 horas) na concentração de 10,5 µg/mL
avaliadas em ensaio de MTT. p<0,05, em relação ao controle. ............................... 48
Figura 16. (A) Perfil de eluição em cromatografia de troca-iônica de SFLv. A coluna
(DEAE-Sephadex) foi previamente equilibrada com tampão tetraborato de sódio
0,02M, pH 7,5. Foram aplicados 5 mL (0,5 mg/mL) da fração. As proteínas adsorvidas
foram eluídas em gradiente Stepwise em um fluxo constante de 2 mL/min. A
absorbância foi monitorada a 280 e 216 nm. (B) M – Marcador de peso molecular; EB
– Extrato Bruto; LvP – “L. viridiflorum Proteína”. SDS-PAGE do material retido, faixa
que compreende os 10 tubos coletados, na concentração 0,5 M de NaCl denominado
LvP. (C) Eletroforese nativa da LvP. ....................................................................... 51
Figura 17. Avaliação da atividade hemolítica de LvP. Foi testado nas concentrações
de 15 -0,000007 µg/100 µL; Triton-x 100 a 1% foi utilizado como controle positivo
(100% de hemólise), enquanto a solução salina a 0,9% foi utilizada como controle
negativo (sem hemólise) do experimento. (*) P < 0,05. Os valores são expressos como
a média ± desvio padrão quando comparados ao controle positivo. ....................... 51
Figura 18 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células mononucleares do sangue
periférico humano. As células testes foram tratadas com diferentes concentrações
(10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS
(150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das
células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células
controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. .......................................... 52
Figura 19 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células HeLa. As células teste
(linhagem celular de adenocarcinoma do colo de útero humano) foram tratadas com
diferentes concentrações de LvP (10,5 – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em
microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade
celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da
viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao
controle. .................................................................................................................. 53
Figura 20 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células Hep G2. As células Hep G2
(linhagem celular de hepatocarcinoma humano) foram tratadas com diferentes
concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas
de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A
viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em
relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. ............. 54
Figura 21 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células HT-29. As células HT-29
(adenocarcinoma colo-retal humano) teste foram tratadas com diferentes
concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas
de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A
viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em
relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. ............ 56
Figura 22– Efeito da LvP sobre a viabilidade das células B16-F10, linhagem celular de
melanoma de camundongo. As células teste foram tratadas com diferentes
concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas
de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A
viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em
relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. ............. 57
Figura 23 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células A-375. As células A-375
(linhagem celular de melanoma maligno de espécime feminino humano) testes foram
tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e
72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo
à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como
porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em
relação ao controle. ................................................................................................. 58
Figura 24 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células A2058, linhagem celular de
melanoma maligno de espécime feminino humano. As células testes foram tratadas
com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas
em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à
viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem
da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao
controle. ................................................................................................................... 59
Figura 25 – Efeito da LvP sobre a viabilidade dos fungos C. albicans e C. dubliniensis.
As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10 µg/mL – 0,078125
µg/mL) por 48 horas em microplacas de cultura. Meio Ágar Sabouraud Dextrose - ADS
foi usado como controle positivo à viabilidade celular e o antibiótico anfotericina (1
µg/mL) como controle negativo. A viabilidade das células tratadas foi expressa como
porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em
relação ao controle................................................................................................... 60
Figura 26 – Efeito da LvP sobre a viabilidade dos fungos C. parapsilosis e C. tropicalis.
As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10 µg/mL – 0,078125
µg/mL) por 48 horas em microplacas de cultura. Meio Ágar Sabouraud Dextrose –
ADS foi usado como controle positivo à viabilidade celular e o antibiótico anfotericina
(1 µg/mL) como controle negativo. A viabilidade das células tratadas foi expressa
como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas.
*p<0,05, em relação ao controle. ............................................................................. 61
Figura 27 – Efeito da LvP sobre a viabilidade dos fungos C. glabrata e C. krusei. As
células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10 µg/mL – 0,078125
µg/mL) por 48 horas em microplacas de cultura. Meio Ágar Sabouraud Dextrose - ASD
foi usado como controle positivo à viabilidade celular e o antibiótico anfotericina (1
µg/mL) como controle negativo. A viabilidade das células tratadas foi expressa como
porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em
relação ao controle................................................................................................... 61
Figura 28. Ensaio de poço controle com os fungos. C. albicans (A), C. dubliniensis (B),
C. parapsilosis (C), C. tropicalis (D), C. glabrata (E) e C. krusei (F). Os números de 1
a 10 correspondem as concentrações testadas de 10 a 0,01953125 µg/mL
respectivamente. As placas de Petri foram identificadas com algarismo romano de um
I a V. A placa de número IV contaminou com um fungo anaeróbico. ....................... 62
Figura 29. Efeito da LvP sob o crescimento das cepas bacterianas E. coli, S. aureus e
MRSA. A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de LvP (10 a
0,01953125 µg/mL) por 24 horas em microplacas de cultura. Bactéria mais meio e
antibiótico foi usado como controle negativo, controle positivo bactéria mais meio e
controle somente para o meio (CM). O crescimento das células tratadas com LvP foi
expressa como a porcentagem em relação as células controle não tratadas. *p<0,05,
em relação ao controle. ............................................................................................ 63
Figura 30. Efeito da LvP + tetraciclina sob o crescimento de E. coli. A cepa teste foi
tratada com diferentes concentrações de tetraciclina (1 a 0,03906 µg/mL) e uma
concentração fixa de LvP de 20 µg/mL por 24 horas em microplacas de cultura.
Controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O
crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em
relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. ............. 64
Figura 31. Efeito da LvP + tetraciclina sob o crescimento da cepa bacteriana S. aureus.
A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de tetraciclina (1 a 0,03906
µg/mL) e uma concentração fixa de LvP de 20 µg/mL por 24 horas em microplacas de
cultura. Controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O
crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em
relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. ............. 65
Figura 32. Efeito da LvP + tetraciclina sob o crescimento da cepa bacteriana MRSA.
A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de tetraciclina (1 a 0,03906
µg/mL) e uma concentração fixa de LvP de 20 µg/mL por 24 horas em microplacas de
cultura. Controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O
crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em
relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle. ............ 65
LISTA DE TABELA
TABELA 1. Proteínas e/ou Peptídeos com outras atividades biológicas ................. 16
TABELA 2. Peptídeos com atividades biológicas .................................................... 21
TABELA 3. Avaliação da atividade hemaglutinante das frações de sementes.
Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc,
Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv.
(UH) – Unidade de Hemaglutinação ........................................................................ 41
TABELA 4. Resumo dos resultados experimentais das frações de sementes..
Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc,
Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv.
................................................................................................................................. 44
TABELA 5. Inibição total do crescimento das leveduras em relação ao poço controle
para todos fungos do gênero Candida testados. ..................................................... 57
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ATCC The American type culture collection
IC50 Dose efetiva capaz de inibir 50 % da viabilidade celular
MIC Concentração inibitória mínima
MAP Peptídeo com múltiplas atividades
UFC Unidade formadora de colônia
BSA Albumina sérica bovina
EB Extrato Bruto
F0,5 Fração obtida com acetona equivalente a metade do volume do EB
F1,0 Fração obtida com acetona equivalente à um volume do EB
F2,0 Fração obtida com acetona equivalente à dois volumes do EB
SF Sobrenadante Final
SFSs Sobrenadante Final de Senna spectabilis
SFAc Sobrenadante Final de Anadanathera columbria
SFAp Sobrenadante Final de Adenathera pavonina
SFLv Sobrenadante Final de Lachesiodendron viridiflorum
LvP Lachesiodendron viridiflorum Proteína
Bórax Tetraborato de Sódio
NaCl Cloreto de Sódio
UH Unidade de Hemaglutinação
mg Miligrama
µL Microlitro
µg Micrograma
CMN Células Mononucleares
kDa Quilodalton
M Molar
nm Nanômetro
p:p Relação peso:peso
SDS Dodecil sulfato de sódio
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 20
1.1. Plantas, uma fonte de moléculas bioativas com potencial biotecnológico ...... 20
1.2. Proteínas e/ou Peptídeos Multifuncionais ...................................................... 21
1.3. Proteínas e/ou Peptídeos Multifuncionais em Sementes ............................... 22
1.4. Potencial Medicinal ........................................................................................ 27
2. OBJETIVO ........................................................................................................... 28
2.1. Geral.............................................................................................................. 28
2.2. Específico ...................................................................................................... 28
3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 29
3.1. Material .......................................................................................................... 29
3.1.1. Equipamentos ............................................................................................. 29
3.1.2. Reagentes .................................................................................................. 29
3.1.3. Biológico ..................................................................................................... 30
3.1.3.1. Sementes ................................................................................................ 30
3.1.3.2. Sangue Humano ...................................................................................... 31
3.1.3.3. Obtenção de Células Mononucleares (CMN) de Sangue Periférico Humano ................................................................................................................ 32
3.1.3.4. Linhagens Celulares Eucarióticas ............................................................ 33
3.1.3.5. Linhagens Celulares Procariontes ........................................................... 34
3.2. Métodos ......................................................................................................... 34
3.2.1. Preparo da Farinha das Sementes ............................................................. 34
3.2.2. Preparo do Extrato Bruto das Sementes ..................................................... 34
3.2.3. Fracionamento com Acetona ...................................................................... 34
3.2.4. Quantificação das proteínas ....................................................................... 35
3.2.5. Cromatografia Líquida de troca-iônica (DEAE-Sephadex) .......................... 35
3.2.6. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida – “PAGE”, “SDS-PAGE” e revelação com nitrato de prata .............................................................................................. 36
3.2.7. Detecção de Proteínas de Defesa nas Frações .......................................... 36
3.2.7.1. Ensaios de Inibição de Atividade Enzimática ........................................... 36
3.2.7.1.1. Atividade antitríptica.............................................................................. 36
3.2.7.1.2. Atividade antipapaínica ......................................................................... 37
3.2.7.1.3. Ensaio de Hemaglutinação ................................................................... 37
3.2.7.2. Teste de Citotoxicidade Sobre Células Procarionte e Eucarionte ............ 38
3.2.7.2.1. Atividade Hemolítica ............................................................................. 38
3.2.7.2.2. Ensaio de Citotoxicidade contra Células Mononucleares ...................... 38
3.2.7.2.3. Avaliação da atividade do % de redução do MTT ................................. 39
3.2.7.2.4. Teste de Atividade Antifúngica e Determinação da Concentração Fungicida Mínima (CFM) ...................................................................................... 39
3.2.7.2.5. Teste de Atividade Bactericida e Sinergismo com antibiótico................ 40
3.2.8. Estatísticas ................................................................................................. 41
4. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................................. 42
4.1. Análise eletroforética dos extratos de sementes. ........................................... 42
4.2. Prospecção de Proteínas e/ou Peptídeos Multifuncionais em Sementes da Família Fabaceae ................................................................................................. 45
4.3. Isolamento e Caracterização de Peptídeos de L. viridiflorum......................... 49
4.3.1. Cromatografia de Troca-iônica, Eletroforese e hemólise de LvP................. 49
4.4. Efeitos da LvP Sobre a Viabilidade de Células Eucariontes e Procariontes ... 52
4.4.1. Citotoxicidade da LvP para Células Mononucleares ................................... 52
4.4.2. Efeitos da LvP Sobre a Citotoxicidade em Linhagens Celulares Tumorais 53
4.4.3. Efeitos da LvP Sobre o Crescimento de Fungos Patogênicos ................... 59
4.4.4. Teste de Citotoxicidade de LvP com Bactérias Patogênicas ...................... 62
6. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 67
7. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 68
I n t r o d u ç ã o | 20
1. INTRODUÇÃO
1.1. Plantas, uma fonte de moléculas bioativas com potencial biotecnológico
As plantas estão susceptíveis a uma ampla gama de fatores estressantes em
seu ambiente, uma vez que são organismos sésseis. Além das condições ambientais,
há também a constante ameaça de patógenos e herbívoros. Para lidar com essas
várias condições desfavoráveis, as plantas passaram por múltiplas pressões
ecológicas que propiciaram diversas adaptações evolutivas. Como consequência
disso houve uma elaboração de sofisticadas estratégias de defesa e concomitante a
isso, a síntese de uma diversidade impressionante de compostos bioativos naturais
(DANG; VAN DAMME, 2015; MAAG et al., 2015). Dentro desse arsenal metabólico de
defesa, podemos destacar a síntese de proteínas, que ajudam a planta em sua
contínua batalha pela sobrevivência (CARLINI; GROSSI-DE-SÁ, 2002; DANG; VAN
DAMME, 2015).
As plantas expressam uma variedade de proteínas tóxicas que conferem
resistência contra eventuais injurias causadas por microrganismos e/ou
macrorganismo. Algumas famílias bem conhecidas de proteínas incluem as:
albuminas 2S, proteínas ricas em glicina, vicilinas, patatinas, octatinas, tarinas,
lectinas, proteases inativadoras de ribossomos (RIPs), inibidores de protease e de α-
amilase, ureases, arcelinas e peptídeos antimicrobiano (AMPs). A maioria dessas
proteínas tende a se acumular nas partes vulneráveis da planta, como sementes,
nozes e grãos; parênquima do caule das árvores e algumas raízes e tubérculos. Esses
órgãos são responsáveis pela síntese e armazenamento de proteínas, apresentando
alto teor de proteína. As proteínas armazenadoras compõem uma excelente fonte de
aminoácidos e podem ser mobilizadas e utilizadas para manutenção, defesa e
crescimento de plantas, bem como nos estágios embrionário e de desenvolvimento
(CâNDIDO et al., 2011; CARLINI; GUIMARÃES, 1981; MÜNTZ, 1998; OLSNES, 2004;
OSBORNI et al., 1988). Estudos sobre proteínas vegetais tóxicas evidenciam que a
suas nocividades estão envolvidas na defesa de plantas contra organismos fitófagos
e patógenos de origem fúngica, viral e bacteriana. Dentro do contexto das proteínas
de armazenamento, pode-se afirmar que algumas dessas proteínas apresentam
características de agentes antimicrobianos, atuando na defesa de plantas, e também
estão relacionadas à defesa contra patógenos não-relacionados, como patógenos
I n t r o d u ç ã o | 21
humanos (CâNDIDO et al., 2011; CARLINI; GROSSI-DE-SÁ, 2002; DANG; VAN
DAMME, 2015).
1.2. Proteínas e/ou Peptídeos Multifuncionais
A visão convencional de que proteínas e peptídeos possuem uma estrutura
absoluta e diretamente relacionada a uma única função vai de encontro com sua
capacidade de desenvolver novas funções. Considerando essa ideia expansiva, a
multifuncionalidade proteica se torna uma realidade, na qual múltiplas funções podem
estar associadas a um único peptídeo ou estruturas proteicas, vem ganhando atenção
em diversos campos de pesquisa (FRANCO, 2011; NOBELI; FAVIA; THORNTON,
2009).
A denominação de multifuncionalidade pode ser dada para determinado objeto
que realiza sozinho várias funções. No caso de proteínas e peptídeos multifuncionais
essa denominação vem sendo bastante empregada nos últimos anos para proteínas
e peptídeos que sozinhos desempenham múltiplas funções, tais como interações com
membranas de bactérias, causando disrupção, e no recrutamento de macrófagos,
neutrófilos (uma ação definida como imunomodulação). Essas múltiplas funções estão
sempre associadas com uma única estrutura tridimensional, com homólogos
semelhantes, e tem vindo a ganhar a atenção em vários campos de investigação,
incluindo a imunologia e enzimologia (FRANCO, 2011; MIGLIOLO et al., 2012;
NOBELI; FAVIA; THORNTON, 2009). Na tabela 1 são observadas algumas proteínas
e/ou peptídeos com diversas funções biológicas.
TABELA 1 Proteínas e/ou Peptídeos com outras atividades biológicas.
NOMES ESPÉCIES ATIVIDADE
HETEROLOGAS REFERÊNCIAS
Pyrularia Pyrularia pubera AB, CT, AC (EVANS et al.,
1989)
Mastoparam-X Vespula lewisii AB, CM, IM (HIRAI et al., 1979)
Defencina Phyllomedusa bicolor AB, AF, CM (MOR; NICOLAS,
1994)
Magainina-2 Xenopus laevis AB, AV, AF, AP, AC, IM (RAMOS et al.,
2012)
Octatina Oxalis tuberosa AB, AF (FLORES et al.,
2002)
Foulicidina Gallus domesticus AB, AF, AV, IM (XIAO et al., 2006)
LL-37 Homo sapiens AB, AV, AF, CM, IM (INTO et al., 2010)
Cn-AMP1 Cocos nucifera AB, AF, AF, IM (SILVA et al., 2012)
I n t r o d u ç ã o | 22
Kalata-b2 Oldenlandia affinis AB, UT, IM (MYLNE et al.,
2010)
Cr-ACP1 Cycas revoluta AB, AF, IM (MANDAL et al.,
2012)
Antibacteriana: AB; antiviral: AV; antifúngica: AF; anticâncer: AC; antiparasitária: AP; Células de mamíferos: CM; Imunomodulatória: IM; Uterotônica: UT e Citotóxica: CT.
Nobeli e colaboradores (2009) definiram que a capacidade multifuncional de
proteínas e peptídeos são manifestações que ocorrem em diferentes níveis no
constructo proteico, sendo desencadeadas por diferentes condições, e que empregam
mecanismos diferentes e provavelmente resultam em efeitos diverso, mas que estes
mecanismos estão disponíveis em qualquer nível, podendo ser desencadeados por
qualquer condições e efeitos fisiológicos (figura 1). Algumas funções alternativas
podem ser associadas da seguintes formas: um único gene (uma sequência única de
DNA); um transcrito (uma sequência única de RNA); uma única proteína (uma
sequência única de aminoácidos), proteínas homólogas próximas (alta identidade na
sequência, membros da mesma família) ou proteínas homólogas remotas (baixa
identidade na sequência, membros da mesma superfamília) na mesma espécie ou em
organismos diferentes (NOBELI; FAVIA; THORNTON, 2009).
Figura 1: Representação esquemática da multifuncionalidade das proteínas: níveis, condições desencadeadoras, mecanismos moleculares e efeitos globais. Fonte: Nobeli et al., 2009. Adaptado.
1.3. Proteínas e/ou Peptídeos Multifuncionais em Sementes
I n t r o d u ç ã o | 23
As plantas são uma importante fonte de diversas moléculas com potencial
farmacológico. Elas produzem proteínas e peptídeos como um mecanismo de defesa
natural, que pode ser expresso constitutivamente ou induzido em resposta a um
ataque de patógeno em todos os órgãos. Eles possuem uma abundância de
transcritos, por um único gene, que portanto, requerem menor biomassa e consumo
de energia, nas diferentes espécies de plantas, podendo representar até 3% do
repertório de genes de plantas. A eficiência depende de várias características da
proteína ou peptídeo, incluindo massa molecular, sequência, carga, conformação,
estruturas secundárias e terciárias, presença ou ausência de ligações dissulfeto e
hidrofobicidade (CâNDIDO et al., 2011; GUZMÁN-RODRÍGUEZ et al., 2015; JEAN-
FRANÇOIS et al., 2008; LAY; ANDERSON, 2005; SILVERSTEIN et al., 2007; STOTZ;
THOMSON; WANG, 2009; WANG; LI; WANG, 2009).
As proteínas armazenadas nas sementes, acumulam-se significativamente
durante o desenvolvimento, cuja função principal é atuar como reserva de nitrogênio,
carbono e enxofre, uma das principais características das são seus níveis elevados.
Essas proteínas se acumulam dentro de organelas ligadas à membrana, chamadas
de corpos proteicos (figura 2). A compartimentalização dessas proteínas no interior
corpos proteicos, garante que essas estruturas se mantenham separadas dos
compartimentos metabólicos da célula, sendo recrutadas somente quando
necessárias (KRISHNAN; COE, 2001).
As principais atividades biológicas das proteínas e/ou peptídeos produzidos por
plantas são antifúngicos, antibacterianos e contra insetos herbívoros. Além disso,
também exibem atividades inibitórias enzimáticas e têm papéis na tolerância a metais
pesados, estresse abiótico e desenvolvimento. Com alguns, apresentando atividade
citotóxica contra células de mamíferos e/ou atividade anticancerígena contra células
de câncer de diferentes origens. Nos vegetais, podemos destacar três famílias de
moléculas de origem proteica que contêm membros com propriedades citotóxicas e
anticancerígenas, as defensinas, as tioninas e os ciclotídeos (ALLEN et al., 2007;
BARBOSA PELEGRINI et al., 2011; CARRASCO et al., 1981; GERLACH et al., 2010;
GUZMÁN-RODRÍGUEZ et al., 2015; HE et al., 2011; JOHANSSON et al., 2003;
KOIKE et al., 2002; LI et al., 2002; MIROUZE et al., 2006; MISHRA et al., 2014; NGAI;
NG, 2004; STOTZ; WALLER; WANG, 2013).
I n t r o d u ç ã o | 24
Figura 2. (A) Micrografia eletrônica de transmissão do endosperma de arroz mostrando corpos proteicos esféricos (S) e irregulares (IR). Os corpos proteicos esféricos armazenam prolaminas e os corpos proteicos de forma irregular acumulam glutelínas. Observe a conexão direta entre o retículo endoplasmático rugoso (ER) e os corpos proteicos esféricos. (B) Corpos proteicos (PB) nos cotilédones de sementes em desenvolvimento. Observe a ocorrência de depósitos de proteína (setas) dentro dos vacúolos (V) amiloplastos grandes (A) também são vistos. Fonte: Krishnan & Coe, 2001. Adaptado.
Tradicionalmente, as proteínas das sementes são classificadas em quatro
grupos com base nas suas propriedades de solubilidade. Proteínas solúveis em água
são conhecidas como albuminas, em soluções salinas como globulinas, em soluções
alcoólicas como prolaminas, e em meio ácido ou alcalino como glutelínas. Embora
essa classificação não seja absoluta, uma vez que um grupo de proteínas pode ser
solúvel em mais de um solvente, ela ainda fornece um método conveniente para
agrupar proteínas de sementes em diferentes classes. Atualmente, as proteínas
armazenadas em sementes são classificadas com base na função e nas relações
moleculares/bioquímicas. Com base na sua função, as proteínas das sementes são
classificadas como proteínas de armazenamento, estruturais-metabólicas e de
defesa. Essas proteínas de defesa desempenham um papel no fornecimento de
resistência contra pragas, dessecação e patógenos (KRISHNAN; COE, 2001).
A multifuncionalidade de proteínas e/ou peptídeos é relativamente comum, nos
quais uma única alteração estrutural tem poder de gerar múltiplas funções. Como
exemplo, podemos descrever a família de defensinas isoladas de Vigna unguiculata,
nas quais diferentes formas homólogas desses peptídeos podem ter ação antifúngica,
antibacteriana e de inibidores enzimáticos. Dados semelhantes foram obtidos com
peptídeos ciclotídeos que mostram múltiplas atividades. Algumas espécies de plantas
das famílias Violaceae e Rubiaceae são capazes de sintetizar mais de cem peptídeos
cíclicos, de múltiplas funções. Existem relatos similares, encontrados para o complexo
formador de mirosinases de alta massa molecular, que correspondente à faixa entre,
I n t r o d u ç ã o | 25
250-1000 kDa, com atividade antibacteriana e antifúngica (CâNDIDO et al., 2014;
CARVALHO; GOMES, 2009; CRAIK, 2010; WEERDEN; ANDERSON, 2012;
WEIDMANN; CRAIK, 2016).
Dentro da composição proteica defensiva das sementes podemos destacar: as
Defensinas, esse peptídeo mostrou-se com atividade multifuncional. Existe uma
diversidade de atividades biológicas descrita para essa família, que incluem atividades
antifúngicas e antibacterianas, além de atividades inibidoras de proteinase ou amilase
classicamente. Em Cp-tionina II, obtida de Vigna unguiculata, popularmente
conhecido como feijão-macáçar, foi avaliada contra bactérias Gram-positivas e
negativas, revelando uma atividades bactericidas excelente contra Staphylococcus
aureus, Escherichia coli e Pseudomonas syringae (FRANCO et al., 2006). O peptídeo
antifúngico e antibacteriano Lunatusina, isolado de Phaseolus lunatus, também inibiu
a proliferação das células epiteliais de glândula mamária de humano (MCF-7) e a
tradução de células reticulares de coelho, e reduziu a atividade da transcriptase
reversa em HIV-1. Mostrando assim a multifuncionalidade deste peptídeo (GUZMÁN-
RODRÍGUEZ et al., 2015; WONG; NG, 2005) (Tabela 2).
Outra família de peptídeos que apresentou várias atividades biológicas são as
Tioninas. Foram descobertas em 1940 enquanto procuravam a substância que estava
causando uma redução na qualidade da panificação da farinha de trigo. Assim que a
substância foi obtida em uma forma cristalina, ela foi testada quanto à toxicidade
contra um número de microorganismos e em concentrações relativamente baixas, ela
é tóxica para leveduras, bactérias e fungos in vitro. Além das atividades descritas,
várias tioninas vegetais apresentam atividade citotóxica e anticâncer. A Pirularia,
tionina obtida de Pyrularia pubera mostrou uma atividade antineoplásica contra células
do câncer cervical (HeLa) e em linhages de célula B16 (linhagem de celular tumoral
de camundongo, Mus musculus, usada como modelo para câncer de pele humana),
entretanto, ela é citotóxica porque causa hemólise. Outro grupo de Tioninas com
atividade anticancerígena e citotóxica são as viscotoxinas de Viscum spp. A visotoxina
B2 mostrou atividade anticancerígena contra o sarcoma semelhante ao osteoblasto
de rato. Por outro lado, as viscotoxinas A1, A2, A3 e 1-PS foram citotóxicas para
linfócitos humanos, devido ao fato de induzirem a produção de espécies reativas de
oxigênio (ROS) e a permeabilização da membrana celular (FLORACK; STIEKEMA,
1994; GUZMÁN-RODRÍGUEZ et al., 2015) (Tabela 2).
I n t r o d u ç ã o | 26
A terceira família descrita, quando presente no pool genético da planta, é
principal linha de defesa, e justamente por isso são expressas em grandes
quantidades. Estamos falando do Ciclotídeos, moléculas que ocorrem em plantas das
famílias: Violaceae, Rubiaceae, Cucurbitaceae, Fabaceae e Solanaceae. Possui uma
excepcional estabilidade o que levou à sua utilização como base para o de desenho
de fármacos. Essa sua estabilidade, permitiu uma excelente defesa natural as plantas
contra eventuais pragas ou patógenos, Entretanto, também observou-se outra
funções biológicas, como antitumorais, anti-HIV, nematicidas, hemolíticas, inseticidas
e antimicrobianas. Todas essas bioatividades tornam os ciclotídeos atrativos e
promissores para fins terapêuticos e diagnósticos (CâNDIDO et al., 2014; GUZMÁN-
RODRÍGUEZ et al., 2015; HENRIQUES; CRAIK, 2015; WEIDMANN; CRAIK, 2016).
Uma das primeiras e principais atividades relatadas para os ciclotídeos foi a
atividade hemolítica, que ocorre apenas na condição cíclica. As cicloviolacinas O2 e
O13 de Viola odorata possuem diferentes atividades hemolíticas. Ambas as moléculas
diferem apenas em um resíduo de aminoácido. A cicloviolacina O2 tem um resíduo de
serina, enquanto a cicloviolacina O13 tem uma alanina na mesma posição. A perda
do grupo hidroxila altera a atividade hemolítica em mais de 3 vezes (GUZMÁN-
RODRÍGUEZ et al., 2015; IRELAND; COLGRAVE; CRAIK, 2006) (Tabela 2).
TABELA 2 Peptídeos com atividades biológicas.
NOMES ESPÉCIES FUNÇÕES
BIOLÓGICAS REFERÊNCIAS
Tioninas Arabidopsis thaliana
Pyrularia pubera Crambe abyssinica
AB, CT, AF, AC, AP
(DANG; VAN DAMME, 2015;
GUZMÁN-RODRÍGUEZ et al.,
2015)
Defensinas
Vigna unguiculata Phaseolus lunatus
P. vulgaris P. angularis
AB, CT, AF, AC
(CâNDIDO et al., 2014; GUZMÁN-
RODRÍGUEZ et al., 2015)
Ciclotídeos
Viola abyssinica V. odorata
Oldenlandia affini Clitoria ternatea
AB, AV, CT, BI, AC
(CâNDIDO et al., 2014; GUZMÁN-
RODRÍGUEZ et al., 2015)
Antibacteriana: AB; antiviral: AV; antifúngica: AF; anticâncer: AC; antiparasitária: AP e Citotóxica: CT.
I n t r o d u ç ã o | 27
1.4. Potencial Medicinal
As proteínas e/ou peptídeos de multifuncionais de plantas estão sendo cada
vez mais considerados como potenciais agentes terapêuticos, devido principalmente
à resistência a múltiplas drogas e infecções hospitalares. Essas moléculas exibem um
amplo espectro de ação contra fungos e bactérias patogênicas, sendo estendidas a
vírus, parasitas, analgésicos, imunomoduladores ou no tratamento de desordens
neurológicas, além das suas aplicações como inseticidas e antimicrobianos
fitopatogênicos na semente silvestre. Alguns se mostraram promissores como
agentes anticâncer devido às suas atividades contra células-alvo e/ou ao fato de
desencadearem uma resposta imune que pode ser eficaz no controle de infecções e
na diminuição do progresso do tumor. Vários estudos mostram excelentes atividades
antitumorais e/ou antivirais combinadas com o tratamento tradicional, assim
mostrando uma sinérgica a tratamentos convencionais. Alguns dessas proteínas e
peptídeos vegetais, como outros de diferentes fontes, estão presentes principalmente
em concentrações muito baixas. Para uso em aplicações farmacêuticas ou biológicas,
é necessária uma quantidade razoável de moléculas purificadas e ativas. Assim, o
isolamento desse material de origem proteica a partir de uma fonte natural é uma
estratégia que não é economicamente sustentável para empresas farmacêuticas,
sendo restrita a universidades e laboratórios de bioprospecção. Entretanto, estas
técnicas são importantes na descoberta de novos peptídeos (ALBA; LÓPEZ-
ABARRATEGUI; OTERO-GONZÁLEZ, 2012; BECKER-RITT; CARLINI, 2012;
CâNDIDO et al., 2014; GONG et al., 2011; LI, 2011; MANDAL et al., 2011; OTERO-
GONZALEZ et al., 2010; SCHROEDER et al., 2012; SCHWARTZ et al., 2012; WANG
et al., 2009; ZELENA et al., 2009).
Neste trabalho, foi realizada uma bioperscrutação nas sementes de Senna
spectabilis (DC.) H.S. Irwin & Barneby, Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan,
Adenanthera pavonina Linnaeus e Lachesiodendron viridiflorum (Kunth) P. G. Ribeiro,
L.P. Queiroz & Luckowi, todas da família Fabaceae. Onde um peptídeo de L.
viridiflorum apresentou resultados satisfatórios contra células tumorais, bactérias e
fungos patogênicos.
O b j e t i v o | 28
2. OBJETIVO
2.1. Geral
Realizar uma bioprospecção de frações proteicas obtidas das sementes da
família Fabaceae, Senna spectabilis (DC.) H.S. Irwin & Barneby (Cássia-do-nordeste),
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. colubrina (Angico), Adenanthera
pavonina Linnaeus (Carolina) e Lachesiodendron viridiflorum (Kunth) P. G. Ribeiro,
L.P. Queiroz & Luckowi (Jurema-Juquiri) e investigar o potencial multifuncional de um
peptídeo purificado de uma das sementes.
2.2. Específico
• Obter os extratos proteicos das sementes;
• Fracionar os extratos proteicos e caracterizá-los por eletroforese;
• Avaliar o potencial dos sobrenadantes finais de sementes da família Fabaceae
como fonte de proteínas e/ou peptídeos com atividades multifuncionais;
• Purificar e caracterizar um peptídeo de uma das sementes.
• Verificar a viabilidades celular do peptídeo da semente escolhida contra
diferentes células tumorais e não tumorais in vitro;
• Verificar a viabilidades celular do peptídeo da semente escolhida, contra
bactérias patogênicas;
• Verificar a viabilidades celular do peptídeo da semente escolhida, contra fungos
patogênicos do gênero Candida.
M a t e r i a l e M é t o d o s | 29
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Material
3.1.1. Equipamentos
Além dos aparelhos usuais do laboratório, pode-se destacar:
• Banho Maria (Tecnal – Te 056);
• Balança analítica eletrônica - BEL Engineering;
• Balança eletrônica – Tecnal (mod. B-tec 2200);
• Centrífuga refrigerada HITACHI CR G;
• Cuba de eletroforese BIORAD;
• Espectrofotômetro Pharmacia Biotec (mod, ultrospec 2100 – pro);
• Purificador de água Milli-Q® Water System (Millipore Corp.);
• FPLC AKTA Purifier (GE Healthcare Bio-Sciences Corp.);
• Liofilizador Labconco-Freezone com bomba Chemistry Hibrid Pump RC
6;
• Leitor de Microplaca BIOTEK-Epoch;
• Microcentrífuga para eppendorf 5410;
• Microcentrífuga para hematócrito (Modelo spin 1000);
• pHmetro Analyser (pH 300);
• Sistema de eletroforese vertical Amersham Biosciences;
• Moinho Tecnal (TE 631/2);
3.1.2. Reagentes
Todos os reagentes utilizados neste trabalho foram de grau analítico,
adquiridos comercialmente, sendo manuseados segundo recomendação do
fabricante, quando especificado.
M a t e r i a l e M é t o d o s | 30
3.1.3. Biológico
3.1.3.1. Sementes
As sementes utilizadas neste trabalho, Senna spectabilis (DC.) H.S. Irwin &
Barneby (Cássia-do-nordeste) (Figura 3), Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var.
colubrina (Angico) (Figura 4), Adenanthera pavonina Linnaeus (Carolina) (Figura 5) e
Lachesiodendron viridiflorum (Kunth) P. G. Ribeiro, L.P. Queiroz & Luckowi (Jurema-
Juquiri) (Figura 6), foram fornecidas pela divisão técnica – setor de sementeiras do
Instituto Chico Mendes de Biodiversidade - Nísia Floresta, RN. Da sua coleta a análise
em laboratório, as sementes foram armazenadas em sacos de papel sob temperatura
e umidade controlada, para não perder sua composição proteica selvagem.
Figura 3. Senna spectabilis. (A) Semente com testa lisa, de cor marrom e pluerograma sulcado. (B) Fruto câmara. (C) Inflorescência, uma panícula com brácteas lineares com folhas compostas, paripinadas. (D) Taxonomia da planta. Fonte: Prof. Dr. Rubens Queiroz, docente da UFPB – imagens, http://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Senna+spectabilis (acesso em 15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018).
Figura 4. Anadenanthera colubrina. (A) e (B) sementes ovadas com valvas lisas e brilhantes, com fruto na câmara. (C) observa-se uma Inflorescência axilar com folhas alternas, bipinadas. (D) Taxonomia da planta. Fonte: Prof. Dr. Rubens Queiroz, docente da UFPB – imagens, http://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Anadenanthera+colubrina (acesso em 15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018).
A
B
C
A C
B
D
D
M a t e r i a l e M é t o d o s | 31
Figura 5. Adenanthera pavonina. (A) semente obovada, com hilo central e testa dura lisa, vermelha. (B) Legume típico com valvas lineares e presas a cápsula. (C) Folha bipinada e inflorescência em botões florais e obovoides. (D) Taxonomia da planta. Prof. Dr. Rubens Queiroz, docente da UFPB – imagens, http://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Adenanthera+pavonina (acesso em 15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018).
Figura 6. Lachesiodendron viridiflorum. (A) Fruto seco, semente castanha. (B) Semente glabra com pleurograma fechado e obovada. (C) Folha composta, bipinada e face adaxial. (D) Taxonomia da planta. Prof. Dr. Rubens Queiroz, docente da UFPB – imagens, http://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/search?q=Piptadenia+viridiflora (acesso em 15/07/2018) e NCBI – Taxonomy Browser – Taxonomia (acesso em 15/07/2018).
Todas as sementes pertencem à família Fabaceae, sendo três nativas de
biomas brasileiros (S. spectabilis, A. colubrina e L. viridiflorum) e uma amplamente
utilizada na arborização das cidades brasileiras, nativa da América Central (A.
pavonina).
3.1.3.2. Sangue Humano
Os eritrócitos humanos foram obtidos através de doações de bolsas de sangue
pelo HEMOCENTRO DALTON CUNHA BARBOSA – RN. As bolsas fornecidas
encontravam-se fora do prazo de validade para transfusões.
A
B C
A
B
C D
D
M a t e r i a l e M é t o d o s | 32
3.1.3.3. Obtenção de Células Mononucleares (CMN) de Sangue Periférico
Humano
Para a obtenção de CMN, 10 mL de sangue venoso foi utilizado. Em tubos
Vacutainer heparinizados, realizou-se a diluição de 20µL de sangue em 400µL de
reagente de Turck para a contagem de leucócitos totais. Foi realizada distensão
celular a partir do sangue total para contagem do diferencial de leucócitos. O sangue
total heparinizado foi centrifugado durante 20 minutos a 2000 x g sob temperatura de
18 ºC para obtenção do anel leucocitário. O anel leucocitário foi extraído, transferido
para um tubo Falcon e adicionada Solução Salina Tamponada (PBS) a fim de
completar 10 mL. Posteriormente, para obtenção das CMN, o homogeneizado foi
aplicado sobre o meio de gradiente de densidade (Ficoll-Paque, densidade = 1, 077
g/L, Amersham). Esta solução foi centrifugada por 20 minutos a 3000 x g sob
temperatura de 18ºC para obtenção da nuvem leucocitária. As células da interfase
foram extraídas com o auxílio de uma pipeta de Pasteur e lavadas por 3 vezes em
PBS (10 minutos, 2000 x g, 18ºC). Após a última lavagem, as células foram mantidas
em meio RPMI 1640 com 20 mM de HEPES (Gilco-BRLTM, Grand Island, NY, EUA)
acrescido de 10% de Soro Fetal Bovino (SFB), 2mM de L-glutamina (GibcoBRLTM).
A avaliação do grau de recuperação ocorreu por meio da correlação entre o
número de CMN presentes na distensão celular realizada com o sangue total, com o
número de CMN presentes após a separação celular contadas na câmara de
Neubauer. O grau de recuperação foi determinado pela relação entre a porcentagem
de CMN antes e após a separação.
Para a realização do teste de viabilidade celular foi utilizado o corante de
exclusão Trypan Blue que apresenta afinidade maior por proteínas do soro do que por
proteínas celulares e onde as células não viáveis ficam coradas de azul. Para tanto,
se utilizou 10 µL da suspensão de CMN diluída em 20 µL do corante, sendo a leitura
realizada na câmara de Neubauer. Foram utilizadas no experimento as suspensões
celulares que apresentaram o grau de viabilidade ≥95%.
O grau de pureza foi determinado a partir da porcentagem de CMN da
suspensão após a separação em relação à presença de polimorfonucleares. Para
tanto, foi realizada uma distensão celular corada pelo Giemsa e realizada leitura em
microscopia ótica comum. Foram contadas 100 células para quantificação percentual
de CMN. A porcentagem aceitável para a realização do experimento foi ≥ 90%.
M a t e r i a l e M é t o d o s | 33
A partir da padronização do cultivo celular, 2x105 células/mL foram distribuídas
em cada poço da placa de cultivo em meio RPMI, acrescido de 10% de SFB. O cultivo
foi realizado em triplicada com e sem a utilização da amostra.
3.1.3.4. Linhagens Celulares Eucarióticas
As linhagens de células tumorais e não tumorais usadas foram, B16-F10, uma
linhagem celular de melanoma de camundongo (ATCC® número CRL-6475) e 3T3,
uma linhagem fibroblástica normal de camundongo (ATCC® número CL-173), HeLa,
uma linhagem celular de adenocarcinoma do colo de útero humano (ATCC® número
CCL-2), Hep G2, uma linhagem celular de hepatocarcinoma humano (ATCC® número
HB-8065), HT-29, uma linhagem celular de adenocarcinoma coloretal humano
(ATCC® número HTB-38), A-375, uma linhagem celular de melanoma maligno de
espécime feminino humano (ATCC® número CRL-1619) e A2058, uma linhagem
celular de melanoma de espécime masculina humano. Todas as linhas foram obtidas
da American Type Culture Colletion (ATCC®, Rockville, MD, USA). Todas as linhagens
foram cultivadas em meio DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium),
suplementadas com 10% de soro fetal bovino. Ao meio DMEM foram adicionados
estreptomicina (5000 µg/mL) / penicilina (5000 ui). As células foram mantidas em
ambiente estéril com 5% de CO2. Os ensaios com células tumorais foram realizados
graças à colaboração do prof. Dr. Hugo de Oliveira Rocha, do Laboratório de
Biotecnologia de Polímeros Naturais – BIOPOL, Departamento de Bioquímica da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Para atividade antifúngica foram utilizadas: Candida albicans (ATCC® número
90028), C. tropicalis (ATCC® número 13803), C. dubliniensis (CBS® númeor 7987), C.
glabrata (ATCC® número 2001), C. parapsilosis (ATCC® número 22019), C. krusei
(ATCC® número 6258). Os ensaios antifúngicos foram realizados graças à
colaboração do prof. Dr. Guilherme Maranhão Chaves, do Departamento de Análises
Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia - Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
M a t e r i a l e M é t o d o s | 34
3.1.3.5. Linhagens Celulares Procariontes
As linhagens celulares bacterianas utilizadas neste estudo foram:
Escherichia coli, linhagem de bactéria gram-negativa aeróbica (ATCC® número
25922), Staphylococcus aureus aureus, linhagem de bactéria gram-positiva aeróbica
(ATCC® número 25923) e Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA) BMB
9393. Todas as bactérias foram acondicionadas entre 2 a 8ºC em meio Mueller Hinton
(Sigma-Aldrich número 70192).
3.2. Métodos
3.2.1. Preparo da Farinha das Sementes
As sementes secas de S. spectabilis, A. colubrina, A. pavonina e L. viridiflorum
tiveram seus tegumentos removidos, e em seguida seus cotilédones foram triturados
em moinho elétrico refrigerado para obtenção de uma farinha de granulação fina.
3.2.2. Preparo do Extrato Bruto das Sementes
O extrato bruto da farinha das sementes foi obtido a partir da homogeneização
em tampão tetraborato de sódio 0,02 M, 1% ácido fórmico e 1% de NaCl em pH 7,5
na proporção de 1:10 (m:v) sob agitação constante por 4 h à temperatura ambiente.
A suspensão foi centrifugada a 12.000 x g por 30 minutos a 4 °C. O sedimentado foi
descartado e o sobrenadante filtrado em lã de algodão foi denominado de Extrato
Bruto (EB).
3.2.3. Fracionamento com Acetona
O extrato bruto foi fracionado por precipitação com acetona PA em três faixas
de volumes. Após cada etapa de fracionamento, as soluções permaneceram a 4 °C
por aproximadamente 16 horas e, posteriormente foi centrifugada a 12.000 x g durante
30 minutos, a 4 °C. Os precipitados resultantes de cada fracionamento foram
dissolvidos em tetraborato de sódio 0,02 M, cloreto de sódio 0,15 M, pH 7,5 e
submetidos à diálise, com poros de 1 kDa, para exclusão de proteínas de baixa massa,
M a t e r i a l e M é t o d o s | 35
durante 48 horas a 4 °C contra o mesmo tampão. Após diálise, as frações resultantes
foram denominadas: F0,5; F1,0; F2,0, de acordo com o volume de acetona na qual
precipitaram e o Sobrenadante Final - SF (Figura 7).
Figura 7. Esquema de extração e fracionamento de proteínas das sementes com acetona PA.
3.2.4. Quantificação das proteínas
A concentração de proteínas foi determinada pelo método colorimétrico
(BRADFORD, 1976). Para o ensaio, 10 µL de amostra proteica foram conjugados com
200 µL com Reagente de Bradford. A reação foi incubada em temperatura ambiente
por 10 min. As leituras das amostras foram realizadas à absorbância a 595 nm. A
concentração proteica das amostras foi calculada a partir da equação da curva obtida
para Albumina Serica Bovina - BSA.
3.2.5. Cromatografia Líquida de troca-iônica (DEAE-Sephadex)
A fração denominada SF da semente de L. viridiflorum foi dialisada contra
tetraborado de sódio (bórax) 0,02 M, pH 7,5 e foi aplicada na coluna de troca-iônica
DEAE-Sephadex (A25120 aniônica) com volume de 9,15 cm³. O material não-retido
da coluna foi retirado da coluna com o tampão Bórax 0,02 M, pH 7,5. Já as proteínas
M a t e r i a l e M é t o d o s | 36
retidas na matriz, por sua vez, foram eluídas de forma “stepwise” com concentrações
fixas e crescentes de NaCl: 0,01, 0,05, 0,1, 0,5, 1 e 2M, a um fluxo de 2 mL/min. O
material eluído foi novamente dialisado contra água destilada, quantificado e liofilizado
para experimentos posteriores.
3.2.6. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida – “PAGE”, “SDS-PAGE” e revelação
com nitrato de prata
Para avaliar o perfil proteico e o grau de pureza das amostras, as mesmas
foram submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida de 12% e 20% na presença
e ausência de agentes desnaturantes e redutores (LAEMMLI, 1970). Em seguida os
géis de poliacrilamida foram submetidos a revelação com nitrato de prata (ZHAO et
al., 2012).
3.2.7. Detecção de Proteínas de Defesa nas Frações
A presença de outras proteínas de defesa de plantas foi monitorada ao longo
do processo de purificação. As frações obtidas em todas as etapas de purificação
foram submetidas a ensaios inibitórios contra enzimas digestivas do tipo serínicas e
cisteínicas. Para detecção da presença de possíveis lectinas, também foram
realizados ensaios de hemaglutinação em todos os passos de purificação.
3.2.7.1. Ensaios de Inibição de Atividade Enzimática
3.2.7.1.1. Atividade antitríptica
A atividade antitríptica do extrato bruto e das frações obtidas pelo
fracionamento com acetona foram determinadas utilizando uma solução de
azocaseína 1% como substrato. Alíquotas de 10 µL de solução de tripsina bovina (0,3
mg/mL em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5) foram pré-incubadas por 15 minutos a 37
ºC, com 120 µL de HCl 0,0025 M, 320 µL de tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5 e 50 µL
do inibidor. Após esse período, a reação foi iniciada adicionando-se 200 µL de
azocaseína 1%. A reação prosseguiu por mais 30 minutos nas mesmas condições de
incubação, sendo interrompida adicionando-se 300 µL de ácido acético 20%. A
M a t e r i a l e M é t o d o s | 37
formação de p-nitroanilina foi monitorada em espectrofotômetro a 440 nm. Provas em
branco foram realizadas e os ensaios foram feitos em triplicata e repetidos três vezes.
Os resultados foram expressos em UI (unidade de inibição)/mg de proteína ou em
percentual de inibição (XAVIER-FILHO et al., 1989).
3.2.7.1.2. Atividade antipapaínica
A atividade antitríptica do extrato bruto e das frações obtidas pelo
fracionamento com acetona, foram determinadas utilizando uma solução de
azocaseína 1% como substrato. Alíquotas de 20 µL de uma solução de papaína (0,2
mg/mL em tampão fosfato de sódio monobásico 0,25 M em pH 6,0) foram pré-
incubadas com 0,002 M de EDTA e 0,003 M de DTT, com 440 µL de fosfato de sódio
monobásico 0,25 M em pH 6,0 e 50 µL das frações, por 10 min, a 37 °C. Após o tempo
de pré-incubação foram adicionados 200 µL de solução de azocaseína 1%, e a mistura
de reação permaneceu por mais 20 minutos nas mesmas condições. A reação foi
parada pela adição de 300 µL de solução de TCA 20%. O material foi centrifugado por
15 min a 10.000 x g e alíquotas de 700 µL do sobrenadante foram alcalinizadas com
o mesmo volume de NaOH 2 N. O efeito das proteínas sobre a atividade proteolítica
a pH 7,5 foi observado pela medida da absorbância a 440 nm originada dos peptídeos
diazotizados. Realizados em triplicatas e provas em branco foram feitas. Os
resultados foram expressos em UI (unidade de inibição)/mg de proteína ou em
percentual de inibição (XAVIER-FILHO et al., 1989).
3.2.7.1.3. Ensaio de Hemaglutinação
A atividade hemaglutinante foi testada em placas de microtitulação de fundo
em V de 96 poços, por meio de diluição seriada das amostras testes (DEBRAY et al.,
1981). Foram testados contra eritrócitos, lavados com solução de NaCl 0,15 M, sem
tratamento e tratados enzimaticamente com tripsina e papaína (BENEVIDES et al.,
1998). Em volume final de 50 µL foram adicionados 25 µL de uma suspensão de 4%
de eritrócitos humanos dos tipos A, B e O e 25 µL de solução contendo proteínas. A
reação foi incubada a temperatura ambiente (25 ºC). Após uma hora a aglutinação foi
observada, e o título expresso em unidades de hemaglutinação (UH), que foi definido
como o inverso da maior diluição da amostra que tenha apresentado nítida aglutinação
M a t e r i a l e M é t o d o s | 38
(MOREIRA; PERRONE, 1977). A atividade hemaglutinante específica foi obtida pela
razão entre UH e a quantidade de proteína (mg) existente na alíquota de 25 µL
testada.
3.2.7.2. Teste de Citotoxicidade Sobre Células Procarionte e Eucarionte
3.2.7.2.1. Atividade Hemolítica
A atividade hemolítica da foi avaliada sobre células do sangue periférico
humano. Hemácias humanas foram separadas do plasma por sedimentação e lavadas
três vezes com solução salina (NaCl 0,9%). A mesma solução foi utilizada para
preparar uma suspensão 1% (v/v) de hemácias e solubilizar as amostras. Em tubos
de 1,5 mL, 100 µL da suspensão de hemácias foram incubados com 100 µL da
amostra por 60 minutos, à temperatura ambiente. As referências de 100% e de 0% de
hemólise foram feitas incubando-se 100 µL da suspensão de hemácias com 100 µL
Triton X-100 1% (v/v) ou com 100 µL da solução salina, respectivamente. Após a
incubação, os tubos foram centrifugados a 3000 x g por 2 minutos e alíquotas de 100
µL dos sobrenadantes foram transferidas para microplacas de 96 poços e analisadas
em leitura de 405 nm (JOHANSSON et al., 2002).
3.2.7.2.2. Ensaio de Citotoxicidade contra Células Mononucleares
O ensaio de citotoxicidade foi realizado utilizando o corante Trypan Blue nas
soluções. A concentração celular utilizada foi 2 x 105 células/mL em cada poço da
placa de cultivo celular, juntamente com 20 µL das diferentes concentrações das
amostras: 10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL em triplicata. As CMN expostas ou não as
amostras foram incubadas e visualizadas em diferentes períodos: 24, 48 e 72 horas.
Realizou-se a homogeneização das células de cada poço antes da retirada de uma
alíquota de 10 µL, sendo esta posteriormente homogeneizada com 20 µL de Trypan
Blue para contagem em câmara de Neubauer. A visualização da viabilidade celular foi
determinada uma vez que as CMN vivas possuem a membrana celular intacta, não
permitindo que as mesmas sejam coradas. Assim, as células coradas indicaram morte
celular.
M a t e r i a l e M é t o d o s | 39
3.2.7.2.3. Avaliação da atividade do % de redução do MTT
As linhagens celulares foram tratadas e avaliadas pelo método colorimétrico de
MTT ([brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio]) (MOSMANN, 1983). 5
X 103 células foram cultivadas em placas de Elisa estéril de 96 poços para um volume
final de 100 μL de meio DMEM 10% de soro fetal bovino. Posteriormente, as células
foram incubadas com diferentes concentrações do inibidor purificado. Após 24, 48 e
72 horas, o reagente MTT (1 mg/mL) foi adicionado às células, e incubado por mais 4
horas. Após este período, o meio foi aspirado e foram adicionados 100 μL de
dimetilsulfóxido P.A. para dissolução dos cristais de formazan precipitados. A
quantificação da absorbância foi realizada em leitor de microplacas, em um
comprimento de onda de 570 nm. O cálculo de inibição da proliferação celular foi
realizado em comparação com o controle contendo células não tratadas com o inibidor
de protease, conforme a fórmula a seguir: Onde: I%, percentual de inibição; A570C,
absorbância a 570 nm do controle e A570A, absorbância a 570 nm da amostra.
Onde: I%, percentual de inibição; A570C, absorbância a 570 nm do controle e A570A,
absorbância a 570 nm da amostra.
3.2.7.2.4. Teste de Atividade Antifúngica e Determinação da Concentração
Fungicida Mínima (CFM)
A Concentração Inibitória Mínima foi baseada no protocolo clínico M27-A2 do
Laboratory Standards Institute (CLSI) com adaptações para produtos naturais. Os
inóculos de todas as estirpes testadas, descritas no item 3.1.3.4., foram obtidos com
48 h de cultivo em SDA a 35ºC e uma suspensão inicial preparada de acordo com a
escala McFarland de 0,5 (1,5 x 108 unidades formadoras de colônias - UFC/mL). Em
seguida, foram realizadas duas diluições seriadas, a primeira em solução salina (1:50)
e a segunda em meio de crescimento Mueller-Hinton (Difco) (1:30). Em seguida,
alíquotas de 100 μL da solução final do inóculo foram distribuídas em placas de
microtitulação de 96 poços contendo 100 μL de várias concentrações da amostra. A
faixa testada foi de 10000 µg/mL a 19,53 µg/mL. Finalmente, as placas foram
M a t e r i a l e M é t o d o s | 40
incubadas a 37°C e a leitura do teste foi feita após 48 h de incubação. A CIM foi
considerada a menor concentração da amostra capaz de inibir 50% do crescimento
de cada espécie, tomando como referência o respectivo controle positivo (tratado da
mesma maneira, mas sem adição da amostra às células de levedura) e controle
negativo onde foi adicionada anfotericina na concentração de 1 mg/mL (REX et al.,
2008).
Após a realização da atividade antifúngica foi verificado a inibição total do
crescimento das leveduras em relação ao poço controle para todas as espécies de
Candida testadas. Com base nisso, foi determinou-se a concentração fungicida
mínima.
Tomou-se uma alíquota de 100 µL de cada poço onde não foi possível detectar
crescimento visual, bem como dos poços dos controles positivo e negativo de
crescimento, e semeou-se em meio de cultura Ágar Sabouraud Dextrose (Sigma-
Aldrich) na forma de spots. A ausência de crescimento no spot foi considerada como
a concentração fungicida mínima do composto para cada espécie de Candida spp
(REX et al., 2008).
3.2.7.2.5. Teste de Atividade Bactericida e Sinergismo com antibiótico
A concentração inibitória mínima foi determinada somente para as amostras
das sementes 50 mg/ml e tetraciclina 1 mg/ml, ambos em diluição seriada. O ensaio
foi realizado para três linhagens bacterianas, descritas no item 3.1.3.5., em microplaca
de 96 poços com fundo reto. Em cada poço foi aplicado 158 μL de meio Mueller Hinton
(MH) líquido esterilizado em autoclave (121º C por 20 min), 2 μL de suspensão
bacteriana, ajustada para turvação correspondente a 0,5 da escala de McFarland. Isto
significa que há aproximadamente 1,5 x 108 unidades formadoras de colônias
(UFC)/mL, 20 μL de amostra e 20 μL de Antibiótico. Para as duas linhagens foi
realizado o controle positivo (198μL de meio MH + 2μL de suspensão bacteriana),
controle negativo (178μL de meio MH + 2μL de suspensão bacteriana + 20μL de
antibiótico) e o controle veículo (200μL de meio MH). A placa foi incubada em estufa
bacteriológica por 24h a 37ºC. O resultado foi determinado pelo método com
Resazurina (20μL).
M a t e r i a l e M é t o d o s | 41
3.2.8. Estatísticas
Todos os dados representam pelo menos três experimentos independentes e
foram expressos com média ±DP (Desvio Padrão). Quando identificado uma diferença
nos tratamentos pela análise de variância (ANOVA). As análises dos dados foram
feitas pela análise de variância não paramétrica, Kruskal-Wallis, seguido do teste de
hipótese de Dunn, utilizando-se o programa GraphPad Prism versão disponível
gratuitamente.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 42
4. RESULTADO E DISCUSSÃO
4.1. Análise eletroforética dos extratos de sementes.
Os materiais fracionados oriundos das sementes S. spectabilis, A. colubrina e
L. viridiflorum e A. pavonina foram submetidos a dosagem proteica, constatando a
eficiência da extração e orientando o fracionamento posterior com acetona, já que em
todas as frações foi possível observar a presença de constructos proteicos. As frações
foram analisadas por eletroforese, sendo possível observar a presença de diversas
bandas proteicas globulínicas com variada faixa de massa molecular (figuras 8 a 11).
A semente de S. spectabilis apresentou uma ampla diversidade proteica,
entretanto, notoriamente observa-se uma ou duas bandas majoritárias em
praticamente todas as frações. A exceção foi observada na fração sobrenadante final
que apresentou bandas proteicas minoritárias, vista de maneira mais clara, na
revelação com prata. Na fração F2,0 foi vista uma banda majoritária, abaixo do
marcador de massa molecular de 38 kDa (figura 8).
Figura 8. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de S. spectabilis (Cássia-do-nordeste). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato Bruto; F0,5 – Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de acetona; F2,0 – Fração com 2,0 volume de acetona; SF. – Fração do sobrenadante final. A – Gel corado com solução de Coomassie blue coloidal; B – Gel revelado com nitrato de prata.
A semente de A. colubrina apresentou também uma ampla diversidade
proteica, entretanto, não foram observadas bandas majoritárias nas frações obtidas.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 43
O sobrenadante final, semelhante às outras frações, mostrou bandas proteicas
minoritárias, ressaltando claramente a variedade delas (figura 9).
Figura 9. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de A. colubrina (Angico). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato Bruto; F0,5 – Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de acetona; F2,0 – Fração com 2,0 volume de acetona; SF. – Fração do sobrenadante final. (A) Eletroforese corado com solução de Coomassie blue coloidal; (B) Eletroforese revelada com nitrato de prata.
A semente de A. pavonina apresentou uma ampla diversidade proteica,
entretanto, notoriamente observa-se uma ou duas bandas majoritárias em
praticamente todas as frações. A fração sobrenadante final apresentou várias bandas
proteicas minoritárias, vista de maneira mais clara somente na revelação com prata,
entretanto, entre os marcadores de massa molecular 31 e 38 kDa, foi possível ver uma
proteína majoritária, vista também na fração F2,0 (figura 10).
A semente de L. viridiflorum apresentou uma baixa diversidade proteica,
entretanto, notoriamente observa-se uma ou duas bandas majoritárias em
praticamente todas as frações. A fração sobrenadante final apresentou uma única
banda proteica majoritária, vista em ambas as condições de visualização (coloração
com comassie e revelação com prata). Essa banda mostrou uma alta capacidade de
difundir além das margens do poço referente à sua corrida eletroforética. Condição
essa, que é típica de constructos proteicos de baixa massa molecular (figura 11).
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 44
Figura 10. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de A. pavonina (Carolina). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato Bruto; F0,5 – Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de acetona; F2,0 – Fração com 2,0 volume de acetona; SF. – Fração do sobrenadante final. (A) Eletroforese corado com solução de Coomassie blue coloidal; (B) Eletroforese revelada com nitrato de prata.
Figura 11. Eletroforese em gel de poliacrilamida (15%) das frações da semente de L. viridiflorum (Jurema-Juquiri). M – marcador de peso molecular (kDa); EB – Extrato Bruto; F0,5 – Fração com 0,5 volume de acetona; F1,0 – Fração com 1,0 volume de acetona; F2,0 – Fração com 2,0 volume de acetona; Sobre. – Fração do sobrenadante final. (A) Eletroforese corado com solução de Coomassie blue coloidal; (B) Eletroforese revelada com nitrato de prata. (*) por motivos desconhecidos o marcador não acompanhou a corrida eletroforética.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 45
4.2. Prospecção de Proteínas e/ou Peptídeos Multifuncionais em Sementes da
Família Fabaceae
As frações denominadas sobrenadante final (SF) por apresentar proteínas de
baixo peso molecular foram selecionadas para análises futuras quanto à sua
capacidade multifuncional. As frações ricas em proteínas de natureza globulínica,
foram testadas com relação à presença de atividades antitríptica (figura 12) e
antipapaínica (figura 13), hemaglutinante (tabela 3), hemolítica (figura 14) e avaliação
da toxicidade das frações finais sobre células não tumorais (figura 15).
A análise dos sobrenadantes finais revelou a presença de inibidores de tripsina
nas frações SFSs e SFAc, em valores de 96,2 (± 20) e 156,86 (± 5) UI/mg de proteína,
respectivamente (figura 12). As frações SFAp e SFLv não apresentaram resultado
inibitórios para tal teste.
A análise dos sobrenadantes finais quanto à atividade antipapaínica revelou a
presença de inibidores nas frações SFAc e SFAp, em valores de 2250,98 (± 150) e
826,77 (± 200) UI/mg de proteína, respectivamente (figura 13). As frações SFSs e
SFLv não apresentaram resultado inibitório para tal teste.
F ra ç ã o
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Figura 12. Atividade antitríptica das frações de sementes. Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 46
F ra ç ã o
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3 0 0 0
Figura 13. Atividade antipapaínica das frações de sementes. Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv.
A análise dos sobrenadantes finais quanto a presença da atividade
hemaglutinante revelou a presença de aglutinação nas frações SFAc e SFAp, nas
diluições 1:2 e 1:4 respectivamente. Com atividade específica de 0,36 UH/mg para
SFAc e 0,31 UH/mg para SFAp. As frações SFSs e SFLv não apresentaram atividade
aglutinante para eritrócitos.
TABELA 3 Avaliação da atividade hemaglutinante das frações de sementes. Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv. (UH) – Unidade de Hemaglutinação
FRAÇÃO TOTAL DE PROTEÍNAS
(mg) ATIVIDADE TOTAL
(UH-1) ATIVIDADE ESPECIFICA
(UH/mg)
SFSs 7,9 0 0
SFAc 5,625 2 0,36
SFAp 12,7 4 0,31
SFLv 3,9 0 0
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 47
A análise dos sobrenadantes finais quanto a presença da atividade hemolítica
revelou a presença de lise em uma única na fração SFLv. Esta fração mostrou um
potencial hemolítico extremamente alto, com um percentual por volta de 91,1 (± 5)
(figura 14).
Ati
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ad
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00
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5 0
1 0 0
Figura 14. Avaliação do efeito hemolítico das frações de sementes. Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv sobre eritrócitos humanos. Como controle negativo e positivo foram utilizados tampão fosfato salino (PBS) e Triton X-100 1%, respectivamente. p<0,05 em relação ao controle positivo.
A análise dos sobrenadantes finais quanto à redução do MTT na presença da
linhagem celular 3T3, mostrou que somente a fração SFAc, quando comparada com
o controle negativo (DMEM), causou uma diminuição da viabilidade celular nos
tempos de 24, 48 e 72 horas, em valores de 40, 53 e 50%, respectivamente (figura
15). As demais frações analisadas, quando comparadas com o controle, não
apresentaram diferença significativa, revelando, assim, ausência de toxicidade sobre
a linhagem 3T3.
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H o ra s
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S F S s
S F A c
S F A p
S F Lv
Figura 15. Avaliação da viabilidade celular das frações finais contra células 3T3. Linhagem fibroblástica normal de camundongo (ATCC® número CL-173) foram expostas por diferentes tempos (24, 48 e 72 horas) na concentração de 10,5 µg/mL avaliadas em ensaio de MTT. p<0,05, em relação ao controle.
A análise conjunta dos parâmetros testados das quatro frações finais (tabela 4)
foi utilizada como critério para selecionar qual delas seria mais indicada para dar
continuidade aos estudos posteriores. A fração denominada SFSs apresentou
somente atividade antitríptica e uma viabilidade celular intermediária. A fração SFAp
apresentou baixa atividade antitríptica, hemaglutinante e viabilidade celular. A fração
SFAc apresentou uma alta atividade antitríptica e antitríptica, baixa atividade
hemaglutinante, e alta viabilidade celular e obtenção regular dos eventuais peptídeos.
A fração SFLv não exibiu toxicidade para células 3T3 (embora tenha sido hemolítica)
e apresentou um alto rendimento de obtenção. Considerando, ainda, o grau de pureza
(determinada pela análise eletroforética) das proteínas nas diversas frações, julgou-
se a fração SFLv como a mais promissora para obtenção de uma proteína com menos
passos de purificação.
Uma serie proteínas constitutivas/defesa podem ser observadas em sementes.
As atividades antitríptica e antipapaínica, vistas nas frações SFSs, SFAc e SFAp,
provavelmente se devam à presença de inibidores de protease, que possivelmente
são da família Kunitz e Bowman-Birk, obtida em sementes, possui atividade contra
serinoproteinases, tais como tripsina, quimotripsina, elastase e subtilisina. Eles
também inibem outras classes de proteinases, incluindo as proteinases aspárticas e
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 49
cisteínicas, como catepsina D e papaína, respectivamente (MIGLIOLO et al., 2010).
Já em relação à capacidade de aglutinar eritrócitos, podemos destacar a presença
das Lectinas, também denominadas de aglutininas, por terem a capacidade de
aglutinar células, graças à existência um domínios não catalíticos de ligação a
carboidratos específico na superfície celular. Estas possuem uma grande amplitude
de massa molecular, que pode ir de 11 a 110 kDa (WRIGHT, 1997).
TABELA 4 Resumo dos resultados experimentais das frações de sementes. Sobrenadante Final S. spectabilis – SFSs, Sobrenadante Final A. colubrina – SFAc, Sobrenadante Final A. pavonina – SFAp e Sobrenadante Final L. viridiflorum – SFLv.
Parâmetros Analisados SFSs SFAc SFAp SFLv
Obtenção do Peptídeo + + +++
Ativ. Antitríptica + +++
Ativ. Antipapaínica +++ +
Ativ. Hemaglutinante + +
Ativ. Hemolítica +++
Viabilidade Celular ++ + +++ +++
(+) Baixa, (++) Média e (+++) Alta.
A fração SFLv mostrou, exclusivamente, atividade hemolítica (figura 14) e não
apresentou toxicidade para célula 3T3, linhagem fibroblástica normal de camundongo
(figura 15), essa mesma condição observada para linhagens não tumorais foi
observada em outras proteínas em concentrações semelhantes a utilizada neste
experimento (RABELO et al., 2012). Há vários relatos de extratos e frações proteicas
de sementes, que demonstram a presença de atividade hemolítica, dentre eles
podemos destacar o extrato proteico de Bauhinia acuminata e as proteínas obtidas de
Croton tiglium, Glycine max e Clitoria ternatea (BANERJEE; SEN, 1981;
GESTETNER; BIRK; TENCER, 1968; NGUYEN et al., 2011; PHANSRI et al., 2011).
4.3. Isolamento e Caracterização de Peptídeos de L. viridiflorum.
4.3.1. Cromatografia de Troca-iônica, Eletroforese e hemólise de LvP
Frequentemente, as cromatografias de troca-iônica são uma das categorias de
técnicas mais usadas para obtenção de moléculas de origem proteica carregadas
eletricamente e com baixa massa molecular (MOTOYAMA et al., 2007; RECIO;
VISSER, 1999). Então, tendo sido escolhida para as análises avançadas, a fração
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 50
denominada sobrenadante final de S. viridiflorum foi submetida a uma cromatografia
de troca-iônica, utilizando a resina aniônica DEAE-Sephadex. O material não-retido
na matriz foi eluído com o tampão de aplicação tetraborato de sódio 0,02 M, pH 7,5
com um volume de fracionamento de 4 mL a um fluxo de 2 mL/min, enquanto o
material aderido à matriz foi eluído em sistema de “Stepwise” em concentrações
crescentes de NaCl: 0,01; 0,05; 0,1; 0,5; 1 e 2 M. O acompanhamento por absorção
em u.v. (280 e 216 nm) e eletroforese em poliacrilamida 20% dos eluatos (figura 16),
permitiu selecionar a fração de NaCl 0,5 M, que correspondeu a uma faixa de dez
tubos coletados, entre os tubos 181 a 191 (indicado pela linha negra horizontal no
cromatograma da figura 16A), utilizada para eluir o material retido na matriz. A fração,
observada em eletroforese, mostra-se como uma banda proteica majoritária com
aproximadamente 17 kDa, determinado por migração em eletroforese (SDS-PAGE)
(figura 16.B). A eletroforese nativa da fração, quando revelada com prata, mostrou
uma única banda, indicando que a mesma provavelmente se trate de uma única
proteína com as respectivas atividades biológicas, citadas anteriormente, atribuída a
ela. Desse ponto em diante a proteína obtida foi denominada LvP – “L. viridiflorum
Proteína”. Em vários trabalhos podemos observar uma série de proteínas de massa
molecular baixa, que corresponde a diversas famílias de proteínas e/ou peptídeos
multifuncionais (CâNDIDO et al., 2011, 2014; FELÍCIO et al., 2017; FRANCO, 2011;
NOBELI; FAVIA; THORNTON, 2009).
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 51
Figura 16. (A) Perfil de eluição em cromatografia de troca-iônica de SFLv. A coluna (DEAE-Sephadex) foi previamente equilibrada com tampão tetraborato de sódio 0,02M, pH 7,5. Foram aplicados 5 mL (0,5 mg/mL) da fração. As proteínas adsorvidas foram eluídas em gradiente Stepwise em um fluxo constante de 2 mL/min. A absorbância foi monitorada a 280 e 216 nm. (B) M – Marcador de peso molecular; EB – Extrato Bruto; LvP – “L. viridiflorum Proteína”. SDS-PAGE do material retido, faixa que compreende os 10 tubos coletados, na concentração 0,5 M de NaCl denominado LvP GEL DE 20%. (C) Eletroforese nativa da LvP.
O mesmo foi submetido a ensaios de hemólise, onde constatou-se a alta
capacidade de lise celular da LvP (Figura 17).
L v P (µ g /1 0 0 µ L )
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Figura 17. Avaliação da atividade hemolítica de LvP. Foi testado nas concentrações de 15 -0,000007 µg/100 µL; Triton-x 100 a 1% foi utilizado como controle positivo (100% de hemólise), enquanto a solução salina a 0,9% foi utilizada como controle negativo (sem hemólise) do experimento. (*) P < 0,05. Os valores são expressos como a média ± desvio padrão quando comparados ao controle positivo.
A atividade hemolítica observada na fração, manteve-se mesmo quando
submetida a um novo passo de purificação. Esse comportamento citotóxico manteve-
se alto até a concentração de 0,014645 µg/100 µL, ficando por volta de 90 %, quando
comparada com o controle positivo. Entre a concentração de 0,000045 e 0,000007
µg/100 µL, a faixa de atividade hemolítica ficou entre 40 e 60%. Isso representou uma
queda praticamente pela metade da atividade. Essa evidência demonstra uma das
principais características observada para este peptídeo, que uma alta capacidade de
lisa eritrócito humano em baixíssima concentração. Fato esse que não é incomum,
haja vista, que outros trabalhos já demonstraram tal função para diferentes famílias
de proteínas e peptídeos multifuncionais, como: Tioninas, Defensinas, Ciclotídeos,
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 52
Knotinas, Albuminas 2S e Proteínas Ricas em Glicinas (CâNDIDO et al., 2011, 2014;
GUZMÁN-RODRÍGUEZ et al., 2015)
4.4. Efeitos da LvP Sobre a Viabilidade de Células Eucariontes e Procariontes
4.4.1. Citotoxicidade da LvP para Células Mononucleares
A alta atividade hemolítica da LvP observada na figura 17, nos levou a testar a
capacidade da proteína em reduzir MTT quando analisada em células mononucleares
de sangue periférico (figura 18).
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Figura 18 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células mononucleares do sangue periférico humano. As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Os resultados indicam que todas as concentrações se mostraram bastante
citotóxicas, quando comparadas com o controle negativo. Sendo o máximo de
redução do MTT em cerca de 30%, em todos os tempos testados, na menor
concentração analisada, que foi de 0.000336 µg/mL (figura 18). Essa toxicidade alta,
provavelmente tem relação com a alta capacidade hemolítica da proteína.
Evans e colaboradores (1989) observaram essa mesma condição em uma
proteína da família das tioninas. Ao contrário de outros trabalhos (BASAK et al., 2016;
RABELO et al., 2012), o ensaio de viabilidade das células mononucleares de sangue
periférico, mostrou uma capacidade citotóxica para LvP para tal célula.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 53
4.4.2. Efeitos da LvP Sobre a Citotoxicidade em Linhagens Celulares Tumorais
Mesmo apresentando toxicidade para eritrócitos e células mononucleares de
sangue periférico a LvP foi testada contra linhagens de células tumorais, devido ao
seu alto potencial deletério.
Para a linhagem celular HeLa, a LvP mostrou-se muito citotóxica nas cinco
primeiras concentrações em 24, 48 e 72 horas (figura 19). A única concentração de
0,00336 µg/mL, e não apresentando toxicidade a célula tumoral então testada (figura
19), quando comparada ao controle. A IC50 calculada para 24 horas foi de 2,97 µg/mL,
para 48 horas, 3,58 µg/mL e para 72 horas, 4,04 µg/mL.
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Figura 19 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células HeLa. As células teste (linhagem celular de adenocarcinoma do colo de útero humano) foram tratadas com diferentes concentrações de LvP (10,5 – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Uma tionina multifuncional isolada de Arabidopsis thaliana apresentou uma
viabilidade celular de 61,7% na concentração 2,5 µg/mL em 24 horas (LOEZA-
ÁNGELES et al., 2008). Entretanto, neste trabalho foi observado para o mesmo tempo,
na concentração de 0,0168 µg/mL, viabilidade celular de apenas 30,4%. Já em
Capsicum chinense, uma defensina apresentou inibição de viabilidade celular de
100% na concentração de 1,8 µg/mL, em 24 horas (ANAYA-LÓPEZ et al., 2006).
Neste trabalho, em 24 horas, a viabilidade celular de LvP, na concentração de 0,42
µg/mL, foi de 6,6%. Isso demonstra a eficiência da LvP quando comparado com os
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 54
resultados encontrados por Anaya-lópez e colaboradores (2006), a concentração
utilizada é aproximadamente 4,3 vezes inferior a utilizadas por eles.
A linhagem celular Hep G2, diferentemente das anteriores, se mostrou
vulnerável a LvP nas concentrações de 10,5 a 2,1 µg/mL em 24, 48 e 72 horas (figura
20). A concentração de 0,084 µg/mL, não foi muito eficiente em seu efeito deletério
quando comparada às três concentrações iniciais e ao controle. Entretanto,
apresentou, em média, uma citotoxicidade na faixa de 50% nos três tempos
analisados. Nas concentrações 0,0168 e 0,00336 µg/mL, LvP se mostrou inerte para
a célula tumoral então testada, quando comparada ao controle. A IC50 estimada para
24 horas foi de 2,50 µg/mL, para 48 horas, 2,80 µg/mL e para 72 horas, 3,45 µg/mL.
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0 .0 1 6 8 g /m L
0 .0 0 3 3 6 g /m L
Figura 20 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células Hep G2. As células Hep G2 (linhagem celular de hepatocarcinoma humano) foram tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Duas defensinas, uma de Phaseolus vulgaris e outra de Gymnocladus
chinensis, foram eficientes em inibir o crescimento de células de hepatoma humano,
assim como a descrita neste trabalho (LIN; WONG; NG, 2010; WONG; NG, 2003). Um
concentrado de peptídeos, obtido de fracionamento de milho, foi testado com células
de hepatoma humano. Os melhores resultados foram obtidos na concentração de
5120 μg/mL em 96 horas, com inibição do crescimento celular em 61,66% (LI et al.,
2013). Comparativamente, a eficiência de LvP foi observada em três parâmetros
analisados: (1) tempo, onde o fracionado de milho mostrou atividade relativa em 96
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 55
horas. Em contrapartida, a LvP mostrou-se eficiente em 72 horas. (2) Viabilidade
celular, o fracionado de milho apresentou 38,34%, a LvP mostrou uma viabilidade
celular de apenas 16,13%. (3) Grau de pureza da amostra, o trabalho de Li e
colaboradores foi realizado com uma fração proteica, que provavelmente continha
uma diversidade de moléculas. Ao contrário da LvP, que se mostra, claramente em
eletroforese de poliacrilamida com uma proteína majoritária.
Na linhagem celular HT-29, foi observado um padrão bem semelhante ao
descrito para Hep G2. Mostrando que a LvP nas concentrações de 10,5 a 2,1 µg/mL
em 24, 48 e 72 horas foi citotóxica para estas linhagens. Na concentração de 0,084
µg/mL, também não foi muito eficiente em seu efeito deletério quando comparada às
três iniciais e ao controle. Demonstrou viabilidade celular por volta de 63% para o
tempo de 24 horas, 42% para 48 horas e 24% em 72 horas. Nas concentrações 0,0168
e 0,00336 µg/mL LvP foi inerte para a célula tumoral (figura 21), quando comparada
ao controle. A IC50 calculada para 24 horas foi de 8,80 µg/mL, para 48 horas, 12,12
µg/mL e para 72 horas, 12,73 µg/mL.
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Figura 21 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células HT-29. As células HT-29 (adenocarcinoma colo-retal humano) teste foram tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Três ciclotídeos, dois obtidos de Oldenlandia affinis e um de Viola odorata, bem
como uma defensina de Phaseolus vulgaris e um inibidor de tripsina e quimotripsina
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 56
da família das proteinases Bowman-Birk, isolado de Pisum sativum, mostraram-se
eficientes na inibição do crescimento celular da linhagem HT-29, assim como descrito
para este trabalho (BURMAN et al., 2011; CLEMENTE et al., 2005; LIN; WONG; NG,
2010). Entretanto, as concentrações nas quais a LvP foi testada foi muito inferior às
empregadas para as proteínas citadas anteriormente.
Todas a linhagens testadas até o presente momento, foram linhagens que para
uma ação efetiva da LvP em um organismo, necessita que a mesma, seja ministrada
por alguma via sistêmica. E devido à alta citotoxicidade demonstra a importância de
uma amenização dos efeitos da proteína, para torná-la mais eficiente em sua proposta
para um eventual fármaco.
Os testes que se seguem foram realizados com linhagens tumorais de
melanomas. O que evidencia o potencial da LvP para uso tópico. Os resultados
indicam que a LvP mostrou-se citotóxica para a linhagem B16-F10 entre as
concentrações de 10,5 µg/mL e 0,0168 µg/mL, em 48 e 72 horas (figura 22). No tempo
de 72 horas somente a concentração de 0,00336 µg/mL não afetou o crescimento da
célula tumoral testada. A IC50 estimada para 24 horas foi de 0,62 µg/mL, para 48 horas,
0,77 µg/mL e para 72 horas, 2,25 µg/mL.
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0 .0 0 3 3 6 g /m L
Figura 22– Efeito da LvP sobre a viabilidade das células B16-F10, linhagem celular de melanoma de camundongo. As células teste foram tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
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Uma tionina obtida da semente de Pyrularia pubera, denominada Pyrularia,
mostrou-se tóxica em 48 horas com uma IC50 de 50 µg/mL, uma concentração, pelo
menos, cinco vezes superior à testada com LvP (EVANS et al., 1989). Em outro
trabalho, realizado com Moringa oleifera, uma lectina apresentou IC50 de 250 µg/mL
em 48 horas todos para B16-F10. Novamente evidenciando uma concentração em
muito superior à obtida neste trabalho para o mesmo tempo teste e para todas as
concentrações testadas (LUZ et al., 2017).
Resultados semelhantes aos da linhagem B16-F10 foram obtidos para A-375,
outra linhagem de melanoma. LvP mostrou-se citotóxica em cinco concentrações
(10,5 µg/mL a 0,0168 µg/mL) em 24, 48 e 72 horas (figura 23). Nos tempos 24, 48 e
72 horas somente a concentração de 0,00336 µg/mL não afetou o crescimento da
célula tumoral testada. A IC50 para 24 horas foi de 0,71 µg/mL, para 48 horas, 1,11
µg/mL e para 72 horas, 2,54 µg/mL.
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0 .0 0 3 3 6 g /m L
Figura 23 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células A-375. As células A-375 (linhagem celular de melanoma maligno de espécime feminino humano) testes foram tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
A-375 foi testada com uma lectina de Polygonatum cyrtonema, por 24 horas,
exibindo uma IC50 de 15 µg/mL (LIU et al., 2009a). Já a Concavalina A, ConA, uma
lectina isolada de Canavalia ensiformis, quando testada com a linhagem tumoral A-
375 apresentou uma IC50 de 25 µg/mL em 24 horas (LIU et al., 2009b). No presente
trabalho, em 24 horas de experimento, a IC50 foi de 0,71 µg/mL, aproximadamente 21
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 58
vezes menor que o descrito para a lectina de P. cyrtonemaI e 35 vezes para ConA.
Tais resultados reforçam o potencial citotóxico da LvP.
Já na linhagem celular A2058, foi observado um padrão de citotoxicidade da
LvP bem estabelecido para a concentração 10,5 µg/mL em 24, 48 e 72 horas (figura
24). Nas demais concentrações, no tempo de 24 horas, houve uma baixa redução do
crescimento celular na faixa de concentração que compreende de 2,1 a 0,0168 µg/mL.
O tempo de 48 horas apresentou uma viabilidade celular inferior a 50% na faixa de
concentração de 10,5 a 0,0168 µg/mL. Em 72 horas de ensaio a concentração 10,5
µg/mL mostrou-se como melhor resultado para a referida linhagem, com as
concentrações subsequentes diminuindo sua ação sucessivamente. Na concentração
de 0,00336 µg/mL, LvP foi inerte para a célula tumoral testada, quando comparada ao
controle, nos três tempos do ensaio. A IC50 estimada para 24 horas foi de 1,05 µg/mL,
para 48 horas, 1,21 µg/mL e para 72 horas, 4,54 µg/mL.
Até a presente data não foi possível encontrar trabalhos científicos que
fornecessem embasamento teórico, relacionado ao objetivo e objeto do então
trabalho, contudo podemos destacar o pioneirismo deste trabalho em testar proteínas
oriundas de sementes com a linhagem celular A2058.
H O R A S
% d
e r
ed
uç
ão
do
MT
T
24
48
72
0
5 0
1 0 0 D M E M
1 0 .5 g /m L
2 .1 g /m L
0 .4 2 g /m L
0 .0 8 4 g /m L
0 .0 1 6 8 g /m L
0 .0 0 3 3 6 g /m L
Figura 24 – Efeito da LvP sobre a viabilidade das células A2058, linhagem celular de melanoma maligno de espécime maculino humano. As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10,5 µg/mL – 0,000336 µg/mL) por 24, 48 e 72 horas em microplacas de cultura. PBS (150 mM) foi usado como controle positivo à viabilidade celular. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 59
4.4.3. Efeitos da LvP Sobre o Crescimento de Fungos Patogênicos
A LvP mostrou-se extremamente eficiente na inibição do crescimento dos
fungos: C. albicans (IC50 1,25 µg/mL), C. dubliniensis (IC50 1,56 µg/mL), C. tropicalis
(IC50 6,25 µg/mL), C. krusei (IC50 1,56 µg/mL) e C. glabrata (IC50 1,56 µg/mL), nas
concentrações de 10 e 5 µg/mL (Figuras 25, 26 e 27). Já para C. parapsilosis (IC50
0,39 µg/mL) a inibição ficou abaixo de 20% na faixa de concentração que corresponde
entre 10 a 1,25 µg/mL (Figura 26). Das sementes de Pisum sativum e P. guajava foram
isolados peptídeos, que testados contra C. albicans apresentaram uma citotoxicidade
moderada (CâNDIDO et al., 2014; OARD; ENRIGHT, 2006). Lin e colaboradores
(2010) isolaram uma defensina que se mostrou extremamente tóxica para vários
fungos, inclusive C. albicans. Resultado semelhantes ao encontrados para LvP, foram
relatados para a defensina isolada da pele de sapo, Phyllomedusa sauvugii, que inibiu
o crescimento celular de C. albicans em 100% (CIM de 60 µg/mL) em 48 horas. Em
uma concentração menor, 5 µg/mL, e no mesmo tempo, a LvP mostrou uma inibição
do crescimento celular de aproximadamente 92%.
Em Trapa natans, um peptídeo inibiu 50% do crescimento de C. tropicalis, na
concentração de 16 µg/mL, em 48 horas (MANDAL et al., 2011). No mesmo tempo, a
LvP em uma concentração inferior, 5 µg/mL, inibiu em aproximadamente 90% a
viabilidade celular.
Na verificação da inibição total em poço do crescimento de todas as espécies
de leveduras testadas, observou-se uma repetição dos resultados obtidos em
microplaca, como podemos ver na figura 27 e tabela 4. Foi possível observar
macroscopicamente a inibição do crescimento fúngico para todas espécies testadas
nas maiores concentrações testadas.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 60
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
C. alb
icans
C. dublin
iensis
0
5 0
1 0 0
A D S
1 0 g /m L
5 g /m L
2 .5 g /m L
1 .2 5 g /m L
0 .6 2 5 g /m L
0 .3 1 2 5 g /m L
0 .0 7 8 1 2 5 g /m L
A n tib ió tic o
Figura 25 – Efeito da LvP sobre a viabilidade dos fungos C. albicans e C. dubliniensis. As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10 µg/mL – 0,078125 µg/mL) por 48 horas em microplacas de cultura. Meio Ágar Sabouraud Dextrose - ADS foi usado como controle positivo à viabilidade celular e o antibiótico anfotericina (1 µg/mL) como controle negativo. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
C. para
psilo
sis
C. tr
opic
alis
0
5 0
1 0 0
A D S
1 0 g /m L
5 g /m L
2 .5 g /m L
1 .2 5 g /m L
0 .6 2 5 g /m L
0 .3 1 2 5 g /m L
0 .0 7 8 1 2 5 g /m L
A n tib ió tic o
Figura 26 – Efeito da LvP sobre a viabilidade dos fungos C. parapsilosis e C. tropicalis. As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10 µg/mL – 0,078125 µg/mL) por 48 horas em microplacas de cultura. Meio Ágar Sabouraud Dextrose – ADS foi usado como controle positivo à viabilidade celular e o antibiótico anfotericina (1 µg/mL) como controle negativo. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 61
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
C. gla
bra
ta
C. kru
sei
0
5 0
1 0 0
A D S
1 0 g /m L
5 g /m L
2 .5 g /m L
1 .2 5 g /m L
0 .6 2 5 g /m L
0 .3 1 2 5 g /m L
0 .0 7 8 1 2 5 g /m L
A n tib ió tic o
Figura 27 – Efeito da LvP sobre a viabilidade dos fungos C. glabrata e C. krusei. As células testes foram tratadas com diferentes concentrações (10 µg/mL – 0,078125 µg/mL) por 48 horas em microplacas de cultura. Meio Ágar Sabouraud Dextrose - ASD foi usado como controle positivo à viabilidade celular e o antibiótico anfotericina (1 µg/mL) como controle negativo. A viabilidade das células tratadas foi expressa como porcentagem da viabilidade em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
TABELA 5 Inibição total do crescimento das leveduras em relação ao poço controle para todos fungos
do gênero Candida testados.
Espécies de Fungos MIC
(µg/mL)
Candida albicans 2500
Candida dubliniensis 2500
Candida parapsilosis 1250
Candida tropicalis 1250
Candida glabrata 1250
Candida krusei 1250
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 62
Figura 28. Ensaio de poço controle com os fungos. C. albicans (A), C. dubliniensis (B), C. parapsilosis (C), C. tropicalis (D), C. glabrata (E) e C. krusei (F). Os números de 1 a 10 correspondem as concentrações testadas de 10 a 0,01953125 µg/mL respectivamente. As placas de Petri foram identificadas com algarismo romano de um I a V. A placa de número IV contaminou com um fungo anaeróbico.
Por carência de resultados oriundos de estruturas de constituição proteica e
originaria de sementes para efetuar as correlações necessárias, não foi possível
realizar tal comparação. A ausência de dados na literatura científica de proteínas de
sementes capazes de inibir o crescimento de leveduras, demonstra a importância e
pioneirismo do presente trabalho.
4.4.4. Teste de Citotoxicidade de LvP com Bactérias Patogênicas
Os ensaios de citotoxicidade foram feitos com três cepas de Escherichia coli,
(bactéria gram-negativa aeróbica, ATCC® 25922), Staphylococcus aureus aureus,
(gram-positiva aeróbica, ATCC® 25923) e Staphylococcus aureus resistente a
meticilina (MRSA) (BMB 9393). Previamente à realização dos ensaios, os inóculos
foram testados quanto à sua viabilidade após 60 minutos de incubação a 37 ºC com
solução salina (NaCl 0,9%). Após este tempo, repiques foram feitos em placa de petri
com ágar nutriente e incubado por 24h a 37 ºC. Para o teste, a mensuração do
crescimento das cepas foi realizado com concentrações variadas da LvP (10 a
I II III
IV V
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 63
0,01953125 µg/mL), utilizando como controle positivo a bactéria mais o meio e como
controle negativo, a bactéria mais o meio e o antibiótico e um terceiro controle só com
o meio. O teste indicou que a incubação por até 1 hora sem meio de cultura não altera
a viabilidade das cepas bacterianas utilizadas.
Para as três cepas citadas anteriormente, não foi observada inibição do
crescimento, não obstante, algumas concentrações foram capazes de causar um
aumento deste crescimento num percentual praticamente igual (figura 29).
H O R A S
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
S. aure
us
E. coli
MR
SA
0
5 0
1 0 0
C tr l +
1 0 g /m L
5 g /m L
2 .5 g /m L
1 .2 5 g /m L
0 .6 2 5 g /m L
0 .3 1 2 5 8 g /m L
0 .1 5 6 2 5 g /m L
0 .0 7 8 g /m L
0 .0 3 9 0 6 g /m L
0 .0 1 9 5 3 1 2 5 g /m L
C tr l -
C M
Figura 29. Efeito da LvP sob o crescimento das cepas bacterianas E. coli, S. aureus e MRSA. A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de LvP (10 a 0,01953125 µg/mL) por 24 horas em microplacas de cultura. Bactéria mais meio e antibiótico foi usado como controle negativo, controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Teste do efeito sinérgico de LvP com tetraciclina foi realizado, mostrando uma
redução na CMI para todas as cepas empregadas. Enquanto o antibiótico, sozinho,
só promove redução do crescimento de E. coli com 0,125 µg/mL, na presença da LvP
(20 µg/mL) a concentração para obter o mesmo resultado caiu para 0,0625 µg/mL
(figura 30).
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 64
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
Tetr
acic
llin
a
Tetr
acic
lin
a +
LvP
0
5 0
1 0 0 1 g /m L
0 .5 g /m L
0 .2 5 g /m L
0 .1 2 5 g /m L
0 .0 6 2 5 g /m L
0 .0 3 9 0 6 g /m L
C tr l +
C M
Figura 30. Efeito da LvP + tetraciclina sob o crescimento de E. coli. A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de tetraciclina (1 a 0,03906 µg/mL) e uma concentração fixa de LvP de 20 µg/mL por 24 horas em microplacas de cultura. Controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Nas cepas de S. aureus e MRSA também foi mostrada uma ação sinérgica de
LvP com o antibiótico, reduzindo a CMI para ambas. Nas duas cepas foi observada
uma redução da concentração de 0,25 µg/mL, quando tratadas apenas com o
antibiótico, para 0,125 µg/mL, quando na presença de LvP (figuras 31 e 32).
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
Tetr
acic
llin
a
Tetr
acic
lin
a +
LvP
0
5 0
1 0 0 1 g /m L
0 .5 g /m L
0 .2 5 g /m L
0 .1 2 5 g /m L
0 .0 6 2 5 g /m L
0 .0 3 9 0 6 g /m L
C tr l +
C M
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 65
Figura 31. Efeito da LvP + tetraciclina sob o crescimento da cepa bacteriana S. aureus. A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de tetraciclina (1 a 0,03906 µg/mL) e uma concentração fixa de LvP de 20 µg/mL por 24 horas em microplacas de cultura. Controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Via
bil
ida
de
Ce
lula
r
(%
)
Tetr
acic
llin
a
Tetr
acic
lin
a +
LvP
0
5 0
1 0 0 1 g /m L
0 .5 g /m L
0 .2 5 g /m L
0 .1 2 5 g /m L
0 .0 6 2 5 g /m L
0 .0 3 9 0 6 g /m L
C tr l +
C M
Figura 32. Efeito da LvP + tetraciclina sob o crescimento da cepa bacteriana MRSA. A cepa teste foi tratada com diferentes concentrações de tetraciclina (1 a 0,03906 µg/mL) e uma concentração fixa de LvP de 20 µg/mL por 24 horas em microplacas de cultura. Controle positivo bactéria mais meio e controle somente para o meio (CM). O crescimento das células tratadas com LvP foi expressa como a porcentagem em relação as células controle não tratadas. *p<0,05, em relação ao controle.
Os antibacterianos derivados de plantas são sempre novas fontes terapêuticas.
Uma rápida olhada no modo como a natureza, especialmente as plantas, está lidando
com a questão da infecção fornecerá uma compreensão mais profunda da
metodologia, que precisa ser adotada para o projeto e desenvolvimento de novos
agentes antiinfecciosos altamente eficazes e em geral antimicobacterianos em
particular. A escassez de doenças infecciosas em plantas silvestres é, por si só, uma
indicação dos mecanismos de defesa bem-sucedidos. Uma gama de compostos
secundários, terpenoides, glicosteroides, flavonoides e polifenóis, produzidos pelas
plantas já mostraram sua eficiência em eliminar eventuais patógenos
(HEMAISWARYA; KRUTHIVENTI; DOBLE, 2008; LAHMAR et al., 2017).
As sementes possuem um papel extremamente importante na natureza, sendo
elas responsáveis pela manutenção da vida e consequentemente da sua respectiva
R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o | 66
espécie. Como se trata de uma estrutura inerte, quando desprendida da planta mãe,
faz-se necessário armazenamento prévio, em seus estágios embrionário, de
estruturas de origem proteica que vão lhe fornecer uma fonte excelente de
aminoácidos e quando requisitado, que podem ser mobilizadas e utilizadas para
defesa e crescimento da planta (MÜNTZ, 1998). Diante dessa perspectiva e ciente
que as sementes são fontes importantes de proteína e peptídeos multifuncionais fez-
se necessário uma investigação, mesmo que superficial, dessa associação entre
fármacos tradicionais e algumas estruturas proteicas com potencial para tratamento
tradicionais de eventuais patógenos.
C o n c l u s ã o | 67
6. CONCLUSÃO
O sobrenadante final obtido pelo fracionamento dos extratos brutos de
diferentes sementes se mostrou uma potencial fonte de proteínas e/ou peptídeos com
atividade multifuncional. Do sobrenadante final de L. viridiflorum foi purificada um
peptídeo de origem globulínica, contendo aproximadamente 17 kDa (determinada por
SDS-PAGE). A proteína, denominada LvP, com alta atividade hemolítica, se mostrou
citotóxica para células mononucleares. Embora não tenha apresentado atividade
tóxica para a linhagem celular 3T3, LvP foi muito eficiente em reduzir a viabilidade
celular das linhagens tumorais HeLa, Hep G2, HT29, B16, A-375 e A2058, mesmo em
baixas contrações. O mesmo foi observado para fungos C. albicans, C. tropicalis, C.
dubliniensis, C. glabrata e C. parapilosis, que, na presença da LvP, tiveram redução
do seu crescimento. Contom tudo, quando testada contra bactérias patogênicas S.
aureus, E. coli e MRSA, nenhuma atividade bactericida foi detectada nas
concentrações testadas. Quando associada aos antibióticos de referência, e testada
novamente contra as bactérias, LvP foi capaz de reduzir o CIM do antibiótico em até
uma diluição para todas as três espécies, caracterizando assim uma atividade
sinérgica da LvP. Baseado nos dados obtidos, a LvP isolada corresponde a um
peptídeo multifuncional, e suas propriedades anti-tumoral, antimicroniana, fungicida e
bactericida, precisam ser investigadas mais aprofundadamente para que seu potencial
biotecnológico seja explorado.
R e f e r ê n c i a s | 68
7. REFERÊNCIAS
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