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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS E POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO MARIA DA CONCEIÇÃO DA SILVA BERNARDO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ IMAGO DEI: HISTÓRIA E ATUAÇÃO PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE CRIANÇAS NATAL/RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS E POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO

MARIA DA CONCEIÇÃO DA SILVA BERNARDO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ IMAGO DEI: HISTÓRIA E ATUAÇÃO

PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE CRIANÇAS

NATAL/RN

2015

MARIA DA CONCEIÇÃO DA SILVA BERNARDO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ IMAGO DEI: HISTÓRIA E ATUAÇÃO

PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE CRIANÇAS

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profª. Drª Kilza Fernanda Moreira de Viveiros.

NATAL/RN 2015

Catalogação da Publicação Biblioteca Central Zila Mamede – Setor de Informação e Referência

Bernardo, Maria da Conceição da Silva. Instituto de Educação Cristã Imago Dei: história e atuação

pedagógica na formação de crianças / Maria da Conceição da Silva Bernardo. – Natal, RN, 2015.

72 f.

Orientadora: Kilza Fernanda Moreira de Viveiros.

Monografia (Graduação em Pedagogia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Educação.

1. Educação - Monografia. 2. Educação religiosa - Monografia. 3. Educação por princípios - Monografia. 4. Memória - Monografia. I. Viveiros, Kilza Fernanda Moreira de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 37

MARIA DA CONCEIÇÃO DA SILVA BERNARDO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ IMAGO DEI: HISTÓRIA E ATUAÇÃO

PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE CRIANÇAS

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profª. Drª Kilza Fernanda Moreira de Viveiros.

Aprovada em......../......./........

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Drª. Kilza Fernanda Moreira de Viveiros

Orientadora – UFRN

Drª. Olivia Morais de Medeiros Neta

Examinador – UFRN

Ms. Alexandre Remo de Araújo

Examinador – UFRN

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, bem

como a minha querida orientadora, pela paciência e dedicação ao ensino. Também

dedico aos meus pais, a meus familiares e amigos que de alguma forma

contribuíram para o meu crescimento pessoal e acadêmico.

AGRADECIMENTOS

Toda a honra, toda a glória, todo o louvor seja dado a Jesus Cristo, pois é ele

que rege meu viver. Agradeço a minha igreja, (Igreja Batista da Convenção) que é

sua representante aqui na terra. Agradeço pelas oportunidades dadas a mim no

decorrer de todo o curso de Pedagogia na UFRN. Agradeço por cada pessoa que

conheci, com as quais aprendi e que também tive a oportunidade de ensinar.

Agradeço a minha orientadora Kilza Viveiros que se dispôs a me ensinar, a me

orientar, a ser minha mestra.

Agradeço aos meus pais e irmãos que me deram apoio para prosseguir com

meus estudos, me encorajaram e oraram por mim. A família é a base, onde fincamos

nossas raízes e voltamos sempre que preciso para recarregarmos as nossas forças.

Agradeço em especial a minha irmã Joana D’arc Bernardo Dantas e seu esposo

George Soares por me abrigarem e compartilharem comigo o seu lar. Também

agradeço a minha amiga/irmã Elizabete Nunes que me apoiou, dividiu sua casa e

esteve comigo em momentos difíceis e também felizes, assim nasceu uma bela

amizade. Agradeço a Gilvaneide Máximo, amiga para toda hora, disposta a tudo

para concretizar os seus e os nossos sonhos.

Agradeço a todos os meus professores, colegas de turma pelos 5 anos de

convivência e aprendizagem. Agradeço a Deus, por tudo e por todos, pois; sem ele

nada do que foi feito através de minha vida teria êxito.

Como Agradecer a Jesus?

Hino 422 HCC Como agradecer a Jesus o que fez por mim? Bênçãos sem medida vêm provar o seu amor sem fim. Nem anjos podem expressar a minha eterna gratidão. Tudo o que sou e o que vier a ser eu ofereço a Deus. A Deus demos glória, a Deus demos glória, a Deus demos glória pelas bênçãos sem fim.[...]

RESUMO

Trabalho realizado para conclusão do curso de Pedagogia – UFRN como requisito para conclusão de curso, em História da Educação. Objetiva pesquisar a história e atuação pedagógica na formação de crianças do Instituto de Educação Cristã Imago Dei. Para tanto, realizou-se uma breve pesquisa histórica sobre a gênesis da educação crista, para a partir daí conhecer e compreender como ocorreu a Educação Por Princípios do Instituto de Educação Cristã Imago Dei, originada nos Estados Unidos. Nesta perspectiva, traremos a história do Instituto de Educação Cristã Imago Dei, instituição que trabalha na perspectiva da Educação Por Princípios no Rio Grande do Norte. Procuramos conhecer a história de fundação, a ação pedagógica, bem como sua influência na sociedade a qual está inserida. Para tanto, foram realizadas visitas para conhecimento da escola, entrevistas com professores, o diretor; com o exproprietário da escola bem como na web da instituição. O enfoque teórico-metodológico foi respaldado nos teóricos da educação cristã evangélica, como: Borges, (2014); Portela, (2012); Hack, (2000); Champlin (1991) e em uma abordagem educacional, dialogamos com: Cool (1996), Gadotti (1993), Libâneo, (1994); Medel (2011); Placco e Almeida (2012); Saviani, (1990); Zabala, (2002). Trabalhou-se com a memória dos funcionários e do exproprietário do Imago Dei, fazendo uso das vozes de autores como Nora (1981) e Halbwachs (1990) onde vemos que a história vai além daquilo que apenas está escrito, em documentos antigos registrados em cartório, ou em lugares que deem a ele autenticidade histórica. Em cada etapa do trabalho realizado percebemos a relevância dos princípios que norteiam a educação religiosa e que servem como auxílio na construção da cidadania, contribuindo para que o cidadão se desenvolva em sua plenitude intelectual, moral, política e ética, além de viver harmonicamente em sociedade. Concluímos que na história de educação cristã do instituto pesquisado, os métodos e os conhecimentos formadores por eles implementados alcançam os objetivos propostos ao longo desses seus 21 anos. Palavras-chave: Educação – Educação Religiosa – Educação por Princípios –

Memória.

RESUMEN

Trabajo realizado para finalización del grado de Pedagogía – UFRN, como requisito para conclusión del grado, en Historia de Educación. Objetiva pesquisar la historia y actuación pedagógica en la formación de niños del Instituto de Educación Cristiana Imago Dei. Por lo tanto, se realizó una breve pesquisa histórica sobre la génesis de la educación cristiana, para desde ahí conocer y comprender como ocurrió la Educación Por Principios del Instituto de Educación Cristiana Imago Dei, originada en los Estados Unidos. En esta perspectiva, traeremos la historia del Instituto de Educación Cristiana Imago Dei, institución que trabaja en la perspectiva de la Educación Por Principios en el Rio Grande do Norte. Intentamos conocer la historia de fundación, la acción pedagógica, así como su influencia en la sociedad a la cual está inserida. Por lo tanto, fueron realizadas visitas para conocimiento de la escuela, entrevistas con profesores, el director, con el ex-propietario de la escuela bien como en la web de la institución. El enfoque teórico-metodológico fue respaldado en los teóricos de la educación cristiana evangélica, como: Borges, (2014); Portela, (2012); Hack, (2000); Champlin (1991) y en una abordaje educacional, dialogamos con: Cool (1996), Gadotti (1993), Libâneo, (1994); Medel (2011); Placco e Almeida (2012); Saviani, (1990); Zabala, (2002). Se trabajó con la memoria de los funcionarios y del ex-propietario del Imago Dei, haciendo uso de las voces de autores como Nora (1981) y Halbwachs (1990), donde vemos que la historia va allá de lo que apenas está escrito, en documentos antiguos registrados en notaría, o en lugares que le dan autenticidad histórica. En cada etapa del trabajo realizado percibimos la relevancia de los principios que guían la educación religiosa y que sirven como auxilio en la construcción de la ciudadanía, contribuyendo para que el ciudadano se desarrolle en su plenitud intelectual, moral, política y ética, allá de vivir harmónicamente en sociedad. Concluimos que en la historia de educación cristiana del instituto pesquisado, los métodos y los conocimientos formadores por ellos implementados alcanzaron los objetivos propuestos a lo largo de sus 21 años. Palabras – Clave: Educación – Educación Religiosa – Educación por Principios – Memoria.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 08

2 A EDUCAÇÃO FUNDAMENTADA NO EVANGELHO (EDUCAÇÃO RELIGIOSA

CRISTÃ) .................................................................................................................... 10

2.1 A EDUCAÇÃO POR PRINCÍPIOS ...................................................................... 15

2.2 AECEP - ASSOCIAÇÃO DE ESCOLAS CRISTÃS DE EDUCAÇÃO POR

PRINCÍPIOS .............................................................................................................. 17

3 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ IMAGO DEI .............................................. 20

3.1 CRIAÇÃO: HISTÓRIA E VIDA ............................................................................ 20

3.2 A EDUCAÇÃO NA ESCOLA .............................................................................. 21

4 A PEDAGOGIA À LUZ DA IMAGEM DE DEUS .................................................... 25

4.1 CARACTERÍSTICAS DO IMAGO DEI................................................................. 26

4.2 O CURRÍCULO E AS PRÁTICAS ....................................................................... 27

4.3 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ............................................................. 28

4.4 A GESTÃO .......................................................................................................... 30

4.5 OS ESPORTES E FESTIVIDADES .................................................................... 30

5 IMAGO DEI PELO OLHAR DE QUEM O FEZ ....................................................... 31

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 58

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62

APÊNDICE ................................................................................................................ 65

APÊNDICE 1 ............................................................................................................. 66

ANEXOS ................................................................................................................... 67

ANEXO 1................................................................................................................... 68

ANEXO 2................................................................................................................... 70

ANEXO 3................................................................................................................... 72

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1 INTRODUÇÃO

Quando penso em minha trajetória, me vêm à memória muitas coisas que

passei, sonhos realizados e outros ainda por se realizar. Também me lembro do

curso que fiz no Rio de Janeiro nos anos de 2006 a 2008 voltado para a área da

teologia e de como eu desejava articular o que aprendi lá com um novo curso,

voltado para a educação. Escolhi a pedagogia por acreditar que o curso pudesse me

proporcionar o que almejava.

Desde o inicio do curso a minha intenção era trabalhar sobre história da

educação religiosa, buscando com isso compreender a sua influência e relevância

para a educação da escola brasileira. Sabemos que por motivos diversos o ensino

religioso foi “expulso” das escolas públicas e perdeu seu espaço. É histórico seus

benefícios para a sociedade como um todo, mas por força de imposições de alguns

que não respeitavam o outro, a educação religiosa perdeu seu valor e hoje é vista

como uma intrusa no espaço escolar.

Pensando conjuntamente (aluna e orientadora) em trabalhar a influência da

educação religiosa cristã em um contexto no qual ela é tão banalizada e rejeitada,

buscamos conhecer para melhor entender a educação religiosa cristã evangélica e

também observar como funciona a parte pedagógica do Instituto de Educação Cristã

Imago Dei e sua influência na sociedade. Para tanto, foram realizadas visitas para

conhecimento da escola, entrevista com professores, diretor e ex-proprietário da

escola, assim como pesquisa no site da instituição.

Espera-se que com a pesquisa possamos conhecer a história do Imago Dei,

bem como a história da educação religiosa e sua influência para o desenvolvimento

de toda uma cultura. Pretendemos compreender como funciona a gestão de uma

escola confessional evangélica, com suas peculiaridades.

O desejo é sempre adquirir conhecimentos novos, caminhar por lugares antes

desconhecidos e colaborar com outros através de nossa pesquisa. Contribuir para

uma educação que vai agregar outras narrativas como a religião. Consideramos que

nos trará contribuições para além da escola, ou seja, para a vida.

A pesquisa faz uso de vários teóricos que não são da área da pedagogia, pois

este tema não é muito explorado pelos professores pesquisadores da academia.

Assim, buscamos teóricos que são da área da educação cristã evangélica, bem

como os teóricos que estudamos no decorrer do curso de pedagogia. Fizemos

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leituras nos autores cristãos: Borges, (2014); Portela, (2012); Hack, (2000);

Champlin (1991) e também naqueles que estudamos na pedagogia, Cool (1996),

Gadotti (1993), Libâneo, (1994); Medel (2011); Placco e Almeida (2012); Saviani,

(1990); Zabala, (2002) dentre outros.

Em Nora (1981) e em Halbwachs (1990) vemos que a história vai além

daquilo que apenas está escrito, em documentos antigos registrados em cartório, ou

em lugares que deem a ela autenticidade histórica. Neles constatamos que a

oralidade, a memória e as lembranças que guardamos conosco se constitui em

história. Uma história viva que perpassa às regras daqueles que estabeleceram que

o que é historia é apenas aquilo que está escrito. Tivemos a experiência de resgatar

as memórias, as lembranças do criador do instituto Educacional Imago Dei e ver que

ele guarda preciosas recordações que nos ajudaram a compreender como se

originou a instituição, quais foram seus primeiros alunos, professores, seus

funcionários, sua gestão bem como sua influência na sociedade.

O trabalho foi divido em capítulos para melhor compreensão. O primeiro

tratará da origem da Educação Religiosa Cristã: A Educação Fundamentada no

Evangelho (Educação Religiosa Cristã), subdividida nos tópicos: A Educação por

Princípios e AECEP - Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios.

No segundo capítulo, trataremos da história do Instituto de Educação Cristã

Imago Dei, vista pela perspectiva da atual gestão e coordenação pedagógica, o

subdividimos nos tópicos: Criação: História e vida e a educação na escola.

Buscando com isso mostrar um pouco de sua história pelo olhar da coordenadora e

também conhecer como esta instituição de ensino é gerido, conhecer seu

funcionamento e sua prática pedagógica.

No capítulo terceiro, traremos um pouco da visão de como é a Pedagogia À

Luz Da Imagem De Deus, subdividido em: características do Imago Dei, o currículo e

as práticas, O Projeto Político Pedagógico, a gestão, os esportes e festividades,

aprofundando com isso o conhecimento desta instituição que abraçou a Educação

por Princípios.

Dedicamos também um capítulo às memórias do fundador do Instituto de

educação Cristã Imago Dei, intitulado: Imago Dei pelo olhar de quem o fez. Nele

procuramos resgatar através de uma entrevista com o fundador a história da criação

do Instituto de Educação Cristã Imago Dei. É um resgate das lembranças, memórias

de um passado recente que nos proporcionou o conhecimento de fatos que

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marcaram a construção, fundamentação da escola como uma instituição de

educação cristã evangélica.

Por fim, há o espaço dedicado às nossas conclusões finais no qual

deixaremos nossas ideias, expectativas e aprendizados conquistados no decorrer de

nossa pesquisa.

2 A EDUCAÇÃO FUNDAMENTADA NO EVANGELHO (EDUCAÇÃO RELIGIOSA

CRISTÃ)

Toda sociedade, povo ou nação traz em seu cerne, uma base educacional

religiosa, uma vez que essa sociedade sempre procura transmitir a seus adeptos

mais novos a sua religião. São crenças, princípios, suas histórias da origem do

homem e da terra e da queda (quando o homem erra/peca e se afasta de seu

criador). Ponderando sobre essa perspectiva, podemos dizer que o ser humano se

difere dos outros seres da natureza por conter algo dentro de si, que se pode

chamar de espírito ou alma, esse algo dentro do homem não está satisfeito apenas

com o que os olhos enxergam e suas mãos podem apalpar, eles querem exceder

sua essência e é esta vontade de sair dos seus limites, de transpor seus extremos

que nasce a possibilidade da expressão religiosa de um povo ou sociedade. Daí

surge a necessidade de uma educação voltada para o que é sagrado e eterno.

Tomando essa premissa como verdadeira, não poderíamos dar início a um

trabalho cujo tema é a Educação Cristã, sem falarmos da educação do povo Hebreu,

que é de onde se originou a descendência de Jesus Cristo, líder supremo do

cristianismo protestante. De acordo com Gadotti (1993), a religiosidade era um traço

predominante da educação deste povo. Todo o conteúdo estudado pelos hebreus

tinha relação direta com os textos da Torá, os cinco primeiros livros do Antigo

Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) e eram

carregados de preceitos morais, éticos e espirituais.

Tendo como base as postulações de Champlin (1991), podemos aferir que a

primazia da educação judaica se dava no lar, nos quais os pais eram os primeiros

professores de seus filhos. E mesmo com o passar dos anos a educação familiar

não perdeu sua importância, era nela que as crianças aprendiam sobre Deus, seus

antepassados e suas histórias. O livro de Deuteronômio é repleto de ensinamentos

para o povo hebreu, ele funciona como um guia. Podemos observar essas

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instruções no capítulo 6 do livro, onde vemos a seguinte orientação dada por Moisés

ao povo.

1 Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir; 2 para que temas ao SENHOR, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados. 3 Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o SENHOR, Deus de teus pais. 4 Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. 5 Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. 6 Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; 7 tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. 8 Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. 9 E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. (BÍBLIA SAGRADA, Deuteronômio, cap. 6. 1-9)

A educação religiosa de forma sistemática e fora dos lares só aconteceu com

o advento dos Juízes, período datado por volta de 1200 e 1020 a.C., que tem como

narrativa as ações dos juízes para garantir a conquista da Terra Prometida ao povo

Hebreu, assim como a vida das tribos. Neste período surgiram as escolas, onde os

profetas de origem da tribo de Levi ficavam encarregados da transmissão das leis e

preceitos ao povo. Segundo Champlin (1991), os profetas não eram apenas

educadores, eles também figuravam como líderes espirituais e tinham como norte os

princípios ensinados por Moisés, líder escolhido por Deus para guiar o povo Hebreu.

Na Idade Moderna, um marco importante para a reestruturação da educação

religiosa é a Reforma Protestante que aconteceu em 31 de outubro de 1517, no qual

Martinho Lutero (1483-1546) fixou à porta da catedral de Wittenberg suas 95 teses.

Sua intenção era assinalar algumas falhas e contradições que ele via na Igreja

Católica. Por obra de sua ação, outros líderes também geraram ações que foram

consideradas reformistas, nos quais se encontram Jean Calvino (1509-1564), a

reforma Anglicana, encabeçada por Henrique VIII (1491-1547) e a de Thomas

Munzer (1489-1525) que fundou uma seita paralela ao luteranismo, denominada

Anabatistas.

Segundo Valentin (2010), com o advento da Reforma foi criado um

embasamento para um novo pensamento, que se denominou protestantismo.

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Diversos discursos são tecidos a partir de um alicerce, do que Deus atua em

benefício da humanidade, oferecendo a salvação pelo envio de Jesus Cristo. Ao

homem cabia corresponder à ação de Deus através da sua fé em Cristo. Para os

reformadores, a Bíblia Sagrada possuía os subsídios necessários para orientar e

dirigir os homens. Ela figura como a agência mediadora entre o homem e Deus, pois

é nela que se encontram as orientações dadas por Deus à humanidade.

Esses pensamentos foram a base do protestantismo e para que a reforma

pudesse abranger o máximo de pessoas, os reformadores pensavam que a

população precisava ter acesso à educação religiosa, como um direito para que,

desta forma, ela chegasse ao conhecimento pleno da vontade de Deus. Assim, era

imprescindível oferecer instrução às pessoas. Lutero como o encabeçador da

Reforma Protestante, pensava sobre os benefícios de uma boa educação, e que ela

por sua vez deveria estar à disposição de todas as classes sociais, de acordo com

Monroe (1979, p. 179) citado por Valentim (2010):

O ensino deveria chegar a todo o povo, nobre e plebeu, rico e pobre; deveria beneficiar meninos e meninas – avanço notável; finalmente, o Estado deveria decretar leis para frequência obrigatória […] Era opinião de Lutero, ainda, que o Estado tinha o dever de obrigar os seus súditos a enviar seus filhos à escola, da mesma forma que compelia todos eles a prestar serviço militar para sua defesa e prosperidade. Consequentemente, a educação deveria ser mantida e dirigida pelo Estado (grifo nosso).

Percebeu-se que a Reforma Protestante deu subsídios para a educação de

forma significativa. Seus idealizadores, não apenas se preocuparam com a formação

espiritual de seus seguidores, mas também buscavam um alicerce cultural concreto.

Um ensino tal que levasse os indivíduos a serem benéficos não apenas a sua igreja

local, mas também à sua sociedade, Valentin (2010).

Em consequência dos princípios postulados na Reforma, houve uma ênfase à

necessidade da leitura, na compreensão e na interpretação da Bíblia. Com todos

esses acontecimentos, começa a surgir a necessidade de uma educação geral, que

abranja tanto a educação religiosa como a tradicional, sempre tendo como base a

leitura das Sagradas Escrituras e suas aplicações na vida do homem. Hack (2000,

p.77) em seu livro “Protestantismo e Educação Brasileira”, embasa essa

preocupação com o ensino das Escrituras quando diz que “a responsabilidade

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pessoal, diante de Deus, implica forçosamente a liberdade individual de ler e estudar

a verdade revelada na Palavra de Deus”.

A base da educação cristã é Cristo, e toma como fundamento primordial sua

vida e ensinamentos. A educação religiosa tem como alvo o crescimento do ser

humano como um todo: corpo, alma e espírito. Para tanto, o educador precisa olhar

o homem em seu contexto de vida, levando em consideração que este pode estar

inserido em um local que por vezes é desfavorável ao seu desenvolvimento

educacional. É imprescindível que se veja o homem como um ser sociável,

dinâmico, que interage com o seu meio e não como um ser isolado, que vive à parte

dos acontecimentos de sua comunidade. A meta de toda a educação pautada nos

ensinos de Jesus é que o homem chegue à plenitude do conhecimento, que saiba

interagir com aqueles que estão a sua volta de maneira a mostrar as atitudes de

Cristo em seu viver e não apenas ser mais um no meio da multidão

Reconhece-se que a religião é uma das bases para a educação integral e que a instituição do ensino não pode desprezá-la. Como a formação do caráter, a construção de uma sólida moral e o estabelecimento de princípios éticos são básicos para a definição da personalidade humana, nota-se que a religião não pode ser relegada a um segundo plano. (HACK, 2000; p.71)

Com esse ensino pretendem formar pessoas que estejam engajadas,

mostrando compromisso com Deus e com a sua comunidade, cultivando os valores

morais, éticos e espirituais que estão contidos na Bíblia, tais como: o amor

“Respondeu Jesus: ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua

alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o

segundo é semelhante a ele: ame o seu próximo como a si mesmo.” (Mt. 22. 37-39),

a justiça, “ A justiça seguirás, somente a justiça, para que vivas.” (Dt. 16.20), a

verdade, “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo. 8.32), a

responsabilidade social, a igualdade de direitos, de deveres que cada pessoa tem

“Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

(Mc. 12.17, Lc. 20.25)

A Educação Religiosa tem por objetivo a formação de uma consciência que

oriente a conduta do cristão à luz da Bíblia e desenvolva o seu caráter de modo a

reproduzir nele o caráter de Jesus Cristo na adoração, no comportamento ético em

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todos os aspectos do seu viver e na submissão ao propósito redentivo do amor do

Criador. Visa, sobretudo, o aperfeiçoamento espiritual, moral e cultural do homem.

A Educação Religiosa é matéria de estudos para vários educadores, não se

baseia apenas em doutrinas bíblicas, mas em estudos aprofundados de

pesquisadores que veem na educação cristã um marco, que pode contribuir na

mudança da sociedade. Um dos autores desta área define educação religiosa como

“o córrego por onde flui o cristianismo vital. Na verdade, é a nascente de tudo o que

é significativo na religião cristã.” (SISEMORE, 1990, p.20). Seguindo o mesmo

direcionamento, Smith (1995), diz que, a ER1 tem como base o conceito de que

Deus se revela como verdade infinita e que o ser humano é capaz de conhecê-lo em

parte, mesmo que redentivamente. Isso deve levar a pessoa humana a crescer na

graça e no conhecimento de Cristo, até alcançar o pleno conhecimento da verdade.

Podemos também conceituar a educação cristã como sendo o conjunto de

ideias e meios que possui como objetivo educar, utilizando os conhecimentos com

relação a Jesus e a obra dos apóstolos. No intuito de colaborar no aperfeiçoamento,

na transformação, na edificação, e desenvolvimento do homem enriquecendo sua

vida á luz de sua relação com Deus, com Cristo e com seus semelhantes. Camargo

(1986, p.23) afirma que, "[...] a Educação Religiosa é o processo pelo qual a

experiência, isto é, a própria vida da pessoa, se transforma, desenvolve, enriquece e

aperfeiçoa mediante sua relação com Deus, em Jesus Cristo". É um processo de

aprendizagem guiado pelo conhecimento da vida e obra de Jesus Cristo, no qual se

propõe providenciar uma base de dados para o conhecimento e sabedoria através

da Bíblia Sagrada, conjuntamente com os outros conhecimentos das ciências

naturais, humanas e exatas ensinadas na escola, possibilitando, desta forma, ao

aluno uma visão ampla do mundo.

Com base no que já foi descrito acima, podemos dizer que a educação

religiosa objetiva levar o educando a alcançar a plena maturidade como ser humano,

criado à imagem e semelhança de Deus. Tomando como referencia a vida e do

legado de Jesus, influenciou a vida de muitas pessoas através da história.

E crendo no poder transformador da Bíblia Sagrada, e também crendo que

ela pode servir como base da educação dos homens para proporcionar a eles uma

1 ER – Abreviação de Educação Religiosa.

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educação de forma integral que abarque tanto o espiritual como o não espiritual, que

surgiu a Educação por Princípios.

Trataremos sobre a Educação por Princípios nas próximas seções, buscando

mostrar como esta surgiu no cenário da educação mundial, qual o seu objetivo

educacional, como também a instituição responsável por sua disseminação no

território brasileiro e posteriormente no estado do Rio Grande do Norte.

2.1 A EDUCAÇÃO POR PRINCÍPIOS

A Educação por Princípio surgiu do desejo de Verna M. Hall e Rosalie Slater

de conhecerem a história cristã americana desde 1940, nessa busca feita em fonte

como os sermões, documentos públicos da época dos fundadores e as cartas das

mulheres colonizadoras, elas descobriram que eles se baseavam nos princípios

bíblicos de governo e também na educação.

Em suas primeiras percepções daquilo que denominaram de declínio e

degeneração da América (EUA), Verna M. Hall e Rosalie Slater resolveram dar início

a uma verificação, em busca de respostas, e isso as encaminharam para a

compreensão de que a razão pela qual, segundo suas pesquisas, se instaurava

esse declínio visível na América não era tão somente econômico, político, social ou

até mesmo moral, mas sim espiritual.

Com base nessa pesquisa, ambas resgataram essa forma de educação e

com isso trouxeram à luz o método bíblico histórico de raciocínio e anotações, que

foi fundamental na educação colonial na época da Constituição. A partir daí surgiu

no ano de 1965, o ministério da F.A.C.E. - Fundação para a Educação Cristã

Americana. As fundadoras escreveram diversos livros sobre o assunto2 (Anexo 1).

Na visão de ambas, apenas a Bíblia poderia restaurar a ligação com Deus, e que ela

também era a base para todas as áreas de aprendizagem americana. Depois disso,

apareceram diversos ministérios que exploravam os conceitos e aperfeiçoavam a

prática do que foi chamado de Educação por Princípios (Principle Approach

Education).

Rosalie J. Slater definiu essa abordagem como uma metodologia cristã

histórica que utilizava a Bíblia e seus preceitos, fazendo das verdades que se

2 A breve biografia das fundadoras da F.A.C.E, com suas publicações, pode ser consultada no Anexo

1, ao final deste trabalho.

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encontram nela o pilar de cada assunto contido no currículo escolar. Ela baseia-se

na aplicação de quatro passos: Pesquisar, Raciocinar, Relacionar e Registrar, para

promover o raciocínio com padrões cristãos e a expansão do entendimento,

SLATER, (1980).

A Educação por Princípios consiste em um enfoque educativo, um modo de

ensinar e aprender, que tem a Bíblia como o cerne de cada disciplina e ensina o

discente como raciocinar e instruir-se. É uma abordagem educacional que busca

possibilitar ao indivíduo o desenvolvimento de sua potencialidade, formando um

caráter que se assemelhe ao de Cristo, construindo uma cultura fundamentada

numa visão cristã, que colabore na habilitação de líderes que sejam servos de seus

semelhantes.

As estratégias utilizadas na Educação por Princípio, que se diferenciam das

demais é que ela envolve uma abordagem metodológica que privilegia todo o

processo que envolve o ensino/aprendizagem do aluno, levando em consideração

que ele é um ser dotado de corpo, alma e espírito. Ela dá uma atenção maior a

pesquisa, ao desenvolvimento do raciocínio, aos registros e aplicações dos

conteúdos na vida do aluno e também aos relacionamentos aluno/aluno,

aluno/professor, aluno/família, aluno/sociedade.

Nessa abordagem há a utilização de cadernos de anotações, nos quais as

crianças utilizam como um instrumento de registro e domínio da aprendizagem,

também há um enfoque na tutoria, usada para identificar a maneira como cada aluno

aprende a aprender. Além de possuir como base o caráter cristão, que guia toda a

metodologia de ensino e aprendizagem das escolas que seguem a essa abordagem

de ensino.

Na Educação por Princípios busca-se ensinar ao aluno a história em uma

perspectiva, onde ele possa vislumbrar a providência de Deus no decorrer da

História da humanidade e também que a família esteja integrada nesse processo de

ensino/aprendizagem, colaborando, participando ativamente na vida escolar de seu

filho.

Compreende-se a Educação por Princípios como um procedimento que

almeja passar para as gerações futuras não apenas o conhecimento científico, como

também um legado com valores ético e morais que habilitem o homem a interagir

construtivamente com sua comunidade/sociedade. Assim, como vimos na educação

do povo Hebreu, aqui nesta abordagem de ensino crer-se que a educação primária é

17

responsabilidade da família do educando. Cabe aos pais educar seus filhos e não

apenas a escola. Assim sendo, os pais figuram diretamente como os responsáveis

pelos resultados da educação das crianças.

Esse sistema educacional fundamenta-se em uma filosofia, em um currículo e

em metodologias com ênfase cristã. Todos voltados para a Educação por

Princípios3.

Para que o trabalho desenvolvido pelas escolas que utilizam essa abordagem

de ensino seja aperfeiçoado, existem capacitadores na área da Educação por

Princípios que trabalham no apoio ao desenvolvimento das escolas associadas.

Para dar apoio a essas escolas que desejavam inserir em seu currículo

educacional os princípios da Educação por Princípio, surge no Brasil uma

organização não governamental que se responsabilizou por propagar e capacitar as

equipes de professores, gestores e diretores das escolas associadas, a AECEP -

Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios, com sede em Belo

Horizonte – MG.

2.2 AECEP - ASSOCIAÇÃO DE ESCOLAS CRISTÃS DE EDUCAÇÃO POR

PRINCÍPIOS

Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios – AECEP que se

estruturou no ano de 1997 na cidade de São Paulo/SP, configura-se em uma

organização não governamental e de cunho interdenominacional, ou seja, ela não

estar diretamente ligada a uma denominação eclesiástica específica. A associação

nasceu da demanda de escolas cristãs de diversas localidades, que buscavam a

colaboração na implementação da Educação por Princípios, bem como, na

constituição e desenvolvimento de suas instituições educacionais.

Atualmente ela dispõe de escolas e educadores associados presentes na

maioria dos estados brasileiros, e está em crescimento contínuo. A organização é

estruturada e organizada a partir dos conceitos e práticas pedagógicas e de gestão

escolar fundamentadas na Educação por Princípios desenvolvidos pelos seus

fundadores, capacitadores e associados.

3 A Estruturação da Educação por Princípios 2008 – rev. 2012, pode ser consultada no Anexo 2, ao

final deste trabalho.

18

A AECEP espalha seus conhecimentos através de eventos nacionais e

regionais, promovidos anualmente por ela, na busca pelo fortalecimento dos

relacionamentos entre as escolas associadas. Ela é a entidade responsável pela

Educação por Princípios (Principle Approach Education) no Brasil e têm por missão,

visão e valores, os seguintes:

MISSÃO: Promover a formação e apoiar o desenvolvimento de escolas cristãs com base na Educação por Princípios. VISÃO: Escolas, famílias, igrejas e membros da comunidade integrados na formação de uma geração com caráter e competência, manifestando o valor do modelo educacional bíblico para transformar a nação. VALORES: - Cooperação nas realizações e no desenvolvimento de soluções. - Intercâmbio de conhecimento e de experiências para crescimento corporativo . - Compromisso com a Bíblia como fundamento. - Unidade de princípios e propósito entre associados. - Excelência em todas as ações como expressão do caráter de Deus. (AECEP, Missão, Visão e Valores, s.p.)

A associação declara sua fé em Cristo, sua crença na Bíblia como sendo a

única regra de fé e prática do Cristão e que ela é a Palavra de Deus revelada ao

homem à qual nada pode ser acrescentado ou retirado. Dessa forma, entende-se

que a educação é um processo de desenvolvimento da vida humana e que para

alcançar o verdadeiro potencial dado a ele por Deus é necessário o estabelecimento

de fundamentos bíblicos para a educação, o governo, a economia e a política.

Observa-se o princípio do semear e do colher, ou seja, o que se plantar hoje,

na educação das crianças, colhe-se no futuro quando esta estiver adulta. É uma

ação gradual, que se desenvolve através da Educação Cristã, onde se semeia os

princípios que estão na Bíblia Sagrada para que se produzam frutos em todos os

aspectos que envolvem a vida do homem: o pessoal, o social, o político e o

econômico. Para tanto, é necessário a presença efetiva da família, da igreja local e

da escola Cristã que adota a Educação por Princípio, que devem ser comprometidas

com a educação de toda uma geração, almejando que esta esteja preparada e

habilitada para aplicar princípios bíblicos em todas as áreas da vida.

A AECEP concebe a educação como uma estratégica, que serve tanto para

estabelecer os princípios do Cristianismo, e consequentemente o estabelecimento

do Reino de Deus aqui na terra, assim como para desenvolvimento do Brasil, visto

que, vivemos em nosso país um período no qual a educação está ao encargo do

governo e é reconhecida como prioridade nacional.

19

A associação tem por compromisso oferecer a atual geração e também as

decorrentes, uma educação de qualidade, que se fundamente nos princípios bíblicos

e que prepare o aluno para exercer os propósitos de Cristo e que cumpra suas

responsabilidades, sua vocação diante de sua comunidade e sociedade. A AECEP é

responsável pela FACE - FOUNDATION FOR AMERICAN CHRISTIAN

EDUCATION, como sua parceira em território nacional, cooperando no

desenvolvimento da Educação por Princípios e também de suas publicações para o

português.

Na busca em alcançar efetivamente seus associados, a AECEP viabiliza

treinamentos para os professores através de capacitações em Educação por

Princípio, através de eventos espalhados pelo Brasil. Mas, com o crescimento das

escolas associadas viu-se a necessidade de elaborar uma estratégia que pudesse

alcançar um maior número de pessoas, que tivesse qualidade e uma Certificação.

Ela também dispõe de uma editora própria, a Editora AECEP, que oferece livros e

outros materiais didáticos que estão disponíveis às escolas para serem adquiridos

para uso em suas dependências.

Para suprir essa necessidade, surgiu a EAD - Ensino a Distância da AECEP

que pôde colaborar na capacitação dos associados e oferecer flexibilidade na

gerência dos horários de seus estudos, a minimização de recursos financeiros, e a

oportunidade de criar uma relação com outros educadores de estados distintos dos

seus, favorecendo com isso uma troca de saberes, propiciando a conexão entre as

variadas culturas de regiões próximas ou distantes das escolas associadas.

A AECEP disponibiliza de um instrumento que colabora com a implementação

da Educação por Princípios nas escolas, desde seu planejamento até sua

implantação e parte da gestão, buscando o aperfeiçoamento contínuo e a qualidade

da escola, auxiliando na solidificação e relevância na comunidade onde a escola se

encontra. É o Programa de Reconhecimento de Escolas Cristãs de Educação por

Princípios – PRECEP. O programa visa

Favorecer o planejamento, implantação e avaliação da gestão escolar e o aprimoramento contínuo da qualidade da escola; contribuir efetivamente para a consolidação, sustentabilidade e relevância da escola no contexto social; reconhecer a escola como uma autêntica escola cristã de Educação por Princípios. (AECEP – PRECEP. 2008; s.p.)

20

Com o PRECEP, a Associação de Escolas Cristãs de Educação por

Princípios, busca garantir uma concordância com os valores da Educação por

Princípios, alçando a excelência em seu ensino.

Aqui no Estado do Rio Grande do Norte, a escola que tem como proposta

educacional a Educação por Princípios e é associada à AECEP é o Instituto de

Educação Cristã Imago Dei, que se localiza a Rua Cícero Fernandes Pimenta, 433 -

Monte Castelo - Parnamirim/RN. Passamos a conhecer um pouco da história do

Instituto Imago Dei, desde a sua criação, até os dias atuais.

3 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ IMAGO DEI

3.1 Criação: História e vida

O Instituto de Educação Cristã Imago Dei, é uma escola particular que

oferece em suas dependências o ensino nos Níveis da Educação Infantil e do

Ensino Fundamental I e II. É conhecida por ter sua orientação pedagógica com base

nos princípios estabelecidos por Cristo, é confessional Cristã Evangélica, portanto se

encaixa no artigo 20 da Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira (LDB,

1996), que fala que, as instituições privadas confessionais são compreendidas como

"[...] as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais

pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas

[...]". Como enfoque da escola de aprendizagem é o modelo cognitivo-interacionista,

pois compreendem ser esse o que melhor se alinha aos seus propósitos

educacionais.

O Imago Dei teve sua origem no ano de 1993, desde então ele busca prestar

serviço às famílias da cidade onde ele se localiza. De início seus trabalhos

principiaram em um Bairro de Parnamirim/RN chamado Cohabinal, mas, logo em

seguida foi transferido para outra localidade, o bairro Monte Castelo, Rua Cícero

Fernandes Pimenta, nº 433, onde fixou sua sede. Nos meados do ano de 2003, a

escola optou por um enfoque cristão para sua educação, visando se diferenciar das

demais escolas da cidade. O seu fundador foi o casal Rubens e Daniella Cartaxo4,

que sempre obtive ajuda de várias famílias e pessoas que deram crédito a sua

4 O nome dos fundadores aparece na página de internet que a escola disponibiliza para seus

usuários.

21

iniciativa, acreditando na educação integral e com fundamentos, princípios e valores

tendo como alicerce a Bíblia Sagrada e seus ensinamentos para a humanidade.

O Instituto de Educação Cristã Imago Dei, tem no decorrer de seus 21 anos

realizado diversos seminários, assim como eventos para a ampliação da visão cristã

de educação, procurado desta forma contribuir por meio dos seus educadores com o

fortalecimento de outras escolas, não apenas aqui no estado, como também em

vários outros estados do Brasil.

No ano de 2014, os fundadores do Imago Dei, os senhores Rubens e Daniella

Cartaxo, passaram o governo da escola para a Igreja Batista Vida Nova, com sede

na BR 101 em frente ao Parque Aristófanes Fernandes. É liderada pelo pastor sênior

Micaías Vieira, que firmou o compromisso de dar continuidade ao projeto

educacional, assim como o de avançar no propósito de disseminar a Educação

firmada no evangelho de Cristo. O pastor, conjuntamente com a Igreja Batista Vida

Nova, comissionaram os docentes Júlio Araújo e Janaína Silva como os novos

diretores da escola, com o encargo de progredir na estruturação de uma educação

escolar cristã focada na Educação por Princípios tendo como alvo, não apenas a

cidade de Parnamirim, onde se localiza o Imago Dei, mas também a Grande Natal e

as demais cidades do estado do Rio Grande do Norte, a ideia é ir além, alcançando

outras cidades do Brasil.

3.2 A educação na escola

A educação no Imago Dei está firmada na proposta educacional, que baseia-

se na abordagem Educação por Princípios, que como foi pontuado anteriormente,

procura inculcar no centro do processo de ensino-aprendizagem a Bíblia e seus

princípios. Suas crenças estão fundamentadas em pilares firmados que tem:

A Bíblia como fundamento para a verdade; O processo de ensino e aprendizagem é relacional; A lei moral de Deus é o referencial para a ética e moral dos relacionamentos; Liderança através do serviço; Todo o conhecimento vem de Deus e revela a sua glória; A prosperidade individual como resultado do trabalho diligente e responsabilidade coletiva; O conhecimento deve produzir respostas para os problemas cotidianos e servir a nossa geração para melhoria de qualidade de vida; Conhecimento do caráter de Deus e o seu plano redentivo para o homem e a Terra; Ter a família presente no processo educacional escolar, pois os pais são os responsáveis diretos pela educação dos seus filhos; Fortalecer as instituições

22

básicas da sociedade - família / governo civil / igreja; Amor a nossa nação, povo, cultura e língua; Ordem e disciplina como indispensáveis na formação do caráter e no desenvolvimento acadêmico; Promover a erudição e excelência acadêmica; Buscar o desenvolvimento integral da criança, isto é, em todas as suas

dimensões (física, intelectual, moral(social) e espiritual). (IMAGO DEI – Instituto de Educação Cristã, 2014, s.p.)

A escola possui uma visão de mundo no qual não há um isolamento entre a fé

e a ciência, defende-se o criacionismo5, pois se compreende que a origem da vida,

da humanidade e do mundo não ocorreu por acaso, mas sim com um propósito e

planejamento do Deus criador.

O currículo da escola é elaborado de maneira que alcance as quatro

dimensões: física, intelectual, moral e espiritual, que são basilares do homem. Seu

currículo tem a peculiaridade característica da escola e esse é delineado em formato

espiral de maneira que fiquem difundidos os princípios fundantes para cada área do

conhecimento desde a Educação Infantil; estes, serão ampliados no decorrer dos

anos escolares. Todos os alunos são educados a desvendarem os princípios que

conduzem todo o mundo em seu entorno e aproveitá-los em outros campos da sua

vida. São considerados todos os assuntos preditos na Base Curricular Nacional bem

como outros conteúdos atitudinais.

Para por em prática a sua filosofia de educação, o Instituto Imago Dei faz uso

de uma metodologia para o desenvolvimento de seu currículo, a escola utiliza-se de

determinados métodos que estão em consonância com o seu enfoque de ensino-

aprendizagem. São eles

Método dos 4 Passos de Ensino e Aprendizagem (pesquisar, raciocinar, relacionar e registrar), - Método de Estudo de palavras, - Programa de leitura de clássicos, - Oportunidade de serviço, - Pesquisas orientadas, - Aulas expositivas e Aulas de campo, Perguntas de raciocínio, Registros e composições / Ensaios, Estudos biográficos, A vida do professor como principal método. (IMAGO DEI – Instituto de Educação Cristã, 2014, s.p.)

A metodologia na propagação do ensino faz uso do caderno de anotações,

onde cada professor acompanha o desenvolvimento do aluno, (a escola não faz uso

de livros didáticos seriados nas séries iniciais), assim como o desenvolvimento de

5 Os Sete Princípios Bíblicos Fundamentais, seguidos pelo Imago Dei podem ser consultados no

Anexo 3, ao final deste trabalho.

23

uma linha do tempo do aluno, o baú do tesouro de palavras, o palanquinho da

poesia, a constituição da sala de aula, as conferências finais das séries, a

celebração do aprendizado em festivais típicos da escola e um memorial

denominado: Cerimônia da Caneta.

Os compromissos firmados pelo Instituto Imago Dei estão em consonância

com os princípios postulados na Educação por Princípio, os quais são

Formação acadêmica de excelência através de uma filosofia de educação clássica e bíblica. - Um currículo vivo e significativo desenhado para nutrir integralmente as nossas crianças; - Utilização de métodos que valorizam o potencial elevado de nossas crianças e que já possuem comprovação histórica dos seus resultados; -Zelar por um ambiente de ordem, disciplina e limpeza como parte do currículo oculto da escola; - Investimento constantes na estrutura da escola e no treinamento dos professores e demais profissionais da educação; - Manter e refinar a interação entre família e escola; - Buscar ouvir mais as famílias e colaboradores envolvidos para priorizar as ações e melhorias do processo. (IMAGO DEI – Instituto de Educação Cristã, 2014, s.p.)

A escola tem como missão e meta, prover para as futuras gerações uma

cosmovisão que seja firmada em Jesus Cristo, para que esta geração atue de

maneira digna em suas tarefas e ações, colocando em prática suas habilidades

dadas por Deus a cada homem. Sua visão é provida de um sentimento de qualidade

e excelência, onde o desenvolvimento do caráter acadêmico possa refletir a Imagem

de Deus (Imago Dei = Imagem de Deus, de origem do latim) em cada um dos seus

professores e discentes.

Por ser uma escola confessional cristã evangélica, o Instituto de Educação

Cristã Imago Dei tem valores fundamentados na Bíblia, e por esta razão, a escola

procura não fazer distinção entre aquilo considerado “sagrado” e o considerado

“profano”, entre aquilo que diz-se da vida diária e da religiosa. Pois, compreende-se

a vida em um aspecto irrestrito, e mais que a espiritualidade do ser humano não está

à parte de sua vida cotidiana, mas se entrelaçam. Para eles não há uma dualidade

entre aquilo dito pela ciência e o que está escrito na Bíblia, ambas sempre

concorreram para um acordo, mostrando em todas as disciplinas ministradas na

escola que Deus é o arquiteto de tudo.

O Instituto de Educação Cristã Imago Dei declara-se como criacionista e em

consequência disto, crê que a origem da vida como um todo, não aconteceu por

24

obra do acaso, mas que existiu um propósito maior, um plano de inteligência que fez

com que surgisse o mundo em que vivemos; o mundo adequado para que a

humanidade sobrevivesse. E o criador, o ser inteligente é o próprio Deus, autor de

toda a Criação. Por conseguinte, toda a base educacional (A linguagem, a história,

as ciências) segue esse raciocínio.

Para a escola que usa a Bíblia como um crivo de sua prática educacional, a

terra onde vivemos pertence a Deus, somos mordomos, cuidadores desta habitação

e por esta razão daremos conta de todas as coisas que nos foram entregues para

serem cuidadas. Por este prisma, são tratados os assuntos relacionados à educação

ambiental e desenvolvimento sustentável. Creem que a moral, a ética, é uma

condição externa ao homem e foi originada pelo Criador, em seus moldes e

condutas aceitáveis para as relações humanas profícuas.

Seu enfoque educacional, bem como já visto anteriormente é baseado em

uma filosofia que como bem pontua Saviani, (1990, p.7) é “também entendida como

concepção de mundo que se expressa em seu nível mais elaborado, logicamente

consistente e coerente.” Desta forma, o alicerce cristão de educação que rege o

Imago Dei, é a Educação por Princípio. O Instituto Imago Dei adota esta metodologia

em sua prática educacional, onde se tem visto através do uso desta abordagem um

aperfeiçoamento acadêmico, no caráter dos professores e na formação de alunos

com uma cosmovisão da Bíblia e que sejam conscientes de sua ação para um bom

andamento da sociedade.

Os principais diferenciais oferecidos pela escola a seu público alvo, estão no

propósito que,

O processo de ensino e aprendizagem envolve: pesquisa, raciocínio, relacionamento, registro/ aplicação; • Caderno de Anotações como instrumento para registro e domínio da aprendizagem pessoal; • Abordagem tutorial que identifica o estilo de aprendizagem de cada aluno; • Princípios de caráter cristão permeiam todo o processo de ensino e aprendizagem; • Perspectiva providencial da História; • Visão criacionista das origens - planejamento e propósito para a vida; • Participação integrada da família. (IMAGO DEI – Instituto de Educação Cristã, 2014, s.p.)

25

4 A PEDAGOGIA À LUZ DA IMAGEM DE DEUS

Quando se fala de uma pedagogia à luz da imagem de Deus, pensamos logo

que ela é centrada nos ensinos da Bíblia Sagrada, que está imersa de ensinamentos

voltados para o povo cristão, ou não. O Instituto de Educação Cristã Imago Dei

desenvolve uma educação pautada na busca por desenvolver em seus alunos a

imagem do Deus Criador, sabendo que o homem é constituído de uma

espiritualidade e que tem suas significações e seus valores adquiridos no seu

convívio social.

Para a Instituição, a ação de formar o discente para o futuro gera a

responsabilidade de se desenvolver competências e habilidades para que estes

possam construir uma sociedade mais justa e que reflitam as determinações de

Deus em seus atos. O instituto Imago Dei almeja inserir na sociedade pessoas

capazes de se relacionarem com seus semelhantes, que estejam prontos a

responderem quando indagados e assumam suas responsabilidades, que sejam

íntegros em sua vida. Esses ideários não fogem das diretrizes curriculares que

regem a educação brasileira, como podemos observar no artigo 1º da LDB, que diz

Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. (BRASIL, LDB, 1996)

Esta educação está sujeita a educadores que estejam engajados na tarefa de

ensinar a Educação com Propósito, de maneira que o aluno seja educado com amor

e a dedicação que o ato de educar exige. Tendo a educação como uma missão, e

missão esta recheada de responsabilidades. Há o desejo de ir além, de levar o aluno

a reflexão e ao aperfeiçoamento de todas as áreas de sua vida. Morin (2001, p.102),

nos diz que esta missão de educar “supõe, evidentemente, a fé: fé na cultura e fé

nas possibilidades do espírito humano... é missão muito elevada e difícil, uma vez

que supõe, ao mesmo tempo, arte, fé e amor”. Uma fé, centrada em Deus e em

Cristo, na busca por transmitir aos discentes o amor a Deus e aos homens.

26

E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. (BÍBLIA SABRADA, Marcos 12: 29-31, grifo nosso)

Em outras palavras é, está disposto a se colocar no lugar do outro sempre o

respeitando e buscando o seu bem, sem esperar receber algo em retribuição, é

simplesmente amar sem olhar a quem.

4.1 Características do Imago Dei

O Instituto de Educação Cristã Imago Dei atende uma clientela composta por

294 alunos, para tal a escola conta com 41 funcionários, sendo: 25 professores e 5

auxiliares de classes, duas coordenadoras, sendo uma para a Educação Infantil e

outra para o Ensino Fundamental, um diretor administrativo e outro pedagógico; uma

nutricionista, uma psicopedagoga, uma estagiária de psicologia, assim como 5

funcionários de apoio.

A instituição tem uma estrutura física, que dispõe de: 11 salas de aula, 9

banheiros, sendo um banheiro com dois vasos sanitários e mictório, outro com duas

divisórias para meninas e um banheiro com acessibilidade para deficientes físicos,

um banheiro para os professores, uma biblioteca, uma cozinha, uma quadra de

esportes, uma sala de vídeo e um auditório, um pátio, um bosque (utilizado para

momentos de recreação), um parque para as crianças, duas piscinas, uma

secretaria, uma sala da direção, e a sala dos professores.

A escola recebe o alunado não apenas da cidade de Parnamirim, mas

também de Natal e Nova Parnamirim. Tudo que a escola disponibiliza para seus

alunos está em bom estado e é utilizado por todos. Seguindo a indicação de Mendel

que diz que, “a organização do ambiente educativo, tanto interno como externo,

deverá promover a convivência das pessoas a cargo do processo educativo,

favorecendo as interações positivas” (MEDEL, 2011).

Preza-se por um currículo que possa alcançar a vida do aluno nas áreas,

física, espiritual e social. Onde estes desenvolvam um caráter a semelhança de

27

Cristo Jesus. É no currículo que são estabelecidos a construção de significados e

valores.

4.2 O Currículo e as práticas

A escola desenvolve uma ordem de ensino, onde os conteúdos dos livros

didáticos estudados pelos alunos seguem a cronologia bíblica. A referência para

tudo que se estuda é a Palavra de Deus, assim, quando o aluno vai estudar sobre a

criação dos seres vivos na disciplina de ciências, a ordem utilizada é a que o livro de

Gênesis oferece. Desta forma, o aluno vê que aquilo que está estudando tem um

embasamento na Bíblia e que ela é o crivo que deve ser usado em todos os

momentos da vida estudantil. O capítulo 1º do livro de Gênesis é a base do ensino

da criação.

1 No princípio criou Deus o céu e a terra. 2 E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. 3 E disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4 E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. 5 E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. 6 E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. 7 E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. 8 E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo. 9 E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. 10 E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom. 11 E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. 12 E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. 13 E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro. 14 E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. 15 E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. 16 E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. 17 E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra, 18 E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom. 19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto. 20 E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. 21 E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas

28

espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. 22 E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. 23 E foi a tarde e a manhã, o dia quinto. 24 E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi. 25 E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. 26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. 27 E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28 E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. 29 E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. 30 E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. 31 E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.

Da mesma maneira, também usa-se a Bíblia para se ensinar as outras

disciplinas (português, matemática, geografia, história, etc.), na área da linguagem

os alunos aprendem que Deus criou o homem já com o aparelho fonador, desta

forma, primeiro veio a oralidade e depois a escrita. O intuito é uma renovação de

mente, pelo uso da Bíblia Sagrada, ela é a base para tudo.

4.3 O Projeto Político Pedagógico

O PPP da instituição encontra-se, segundo a diretora, em fase de

reelaboração, visto que a gestão assumiu a escola em janeiro de 2014, e também

porque periodicamente ele passa por revisão e aprimoramento. Por esta razão, a

diretora pedagógica informou que ele está sendo reelaborado para que fique de

acordo com os princípios compartilhados pela doutrina protestante, de modo que

abarque todas as áreas necessárias para uma boa estrutura educacional.

Entendendo que o PPP - Projeto Político Pedagógico dá suporte à ação

educativa desenvolvida na instituição escolar, por isso a sua importância para o

processo de ensino-aprendizagem em que deve estar em constante construção para

que haja uma contínua reflexão sobre a prática pedagógica e que após a sua

29

finalização é necessário uma ação que promova a integração de todos participantes

da comunidade escolar, permitindo, assim, alcançar diretrizes, objetivos e metas.

Com base no que falou a diretora pedagógica podemos pensar que, assim

como nos diz Oliveira;

O Projeto é o que confere consistência, amplitude e sentido à prática pedagógica, porque é através dele que se congregam as energias, se traçam perspectiva e se organiza o processo de trabalho na escola. (OLIVEIRA, 2009, p.41)

E que é no currículo que são estabelecidos a construção de significados e

valores além dos fatos, como bem pontua Silva (1999) em suas palavras.

O currículo envolve a construção de significados e valores culturais. O currículo não está simplesmente envolvido com a transmissão de “fatos” e conhecimentos “objetivos”. O currículo é um local onde, ativamente, se produzem e se criam significados sociais. (SILVA, 1999, p. 55).

Percebe-se que a elaboração de um projeto curricular pressupõe a tradução,

em relação à funcionalidade, de três princípios considerados básicos: o ideológico; o

pedagógico e o psicopedagógico. Portanto, o currículo é um elo entre a declaração

dos seus princípios e objetivos gerais, bem como uma prévia prescrição de sua

aplicação operacional; teoria educacional e a realidade do aluno e do meio ambiente

que o cerca. O que irá gerar a prática pedagógica observável no dia a dia é o

planejamento educativo e a ação pedagógica entre o que se prevê, ou seja, o que é

prescrito, e o que realmente acontece em sala de aula e escola, Cool (1996).

Compreendemos que a colaboração de todos os atores que estão envolvidos

no processo ensino/aprendizagem é de suma importância, pois isso possibilita o

desenvolvimento de diversas ações que ajudam no progresso dos alunos. Placco e

Almeida (2012) reafirmam essa importância do coletivo para o bom andamento da

escola, quando nos diz que,

A ação coletiva implica o enfrentamento dos desafios presentes na escola, de modo que uma ação coesa e integrada dos gestores da escola --- direção e coordenadores pedagógico-educacional ---- e dos demais profissionais da educação, a partir de uma reflexão sobre o papel desses gestores na articulação e parceria entre os atores pedagógicos, reverta em um processo pedagógico que melhor atenda às necessidades dos alunos. (PLACCO e ALMEIDA, p.27, 2012).

30

Nesse prisma, entendemos que a gestão da escola deseja reelaborar o PPP

de maneira a deixá-lo num formato que alcance os objetivos de uma Educação por

Princípios, exemplificado nesse trabalho em capítulos anteriores.

4.4 A Gestão

A escola conta com um diferencial em relação a outras instituições de ensino,

pois ela conta com uma mantenedora, que é a Igreja Batista Vida Nova, que possui

um conselho formado por membros da igreja que decidem o que vai acontecer na

escola como um todo. Todavia, o fato do Instituto de Educação Cristã Imago Dei ter

uma mantenedora não o isenta de ter em sua gestão escolar duas diretorias, uma

administrativa e uma pedagógica, e conta também com duas coordenadoras (Infantil

e Fundamental). Não existe um conselho formado especificamente pelos pais dos

alunos, porém, se estes desejarem pode ter acesso às reuniões bimestrais feitas na

escola.

4.5 Os Esportes e Festividades

A escola disponibiliza para seus alunos esportes na área da natação, do futsal

e do Karaté, os campeonatos são internos, competições entre as turmas. Há um

aluno que representa a escola em campeonatos fora da instituição.

O Imago Dei possui uma parceria com a escola L’ABRARTE (Associação

Rookmaaker para Estudos em Arte e Cosmovisão), que oferece aos alunos aulas de

arte como: canto, instrumentos musicais, musicalização infantil, desenho, pintura,

teatro, dança e seminários sobre a arte e fé cristã. É uma entidade cristã de caráter

civil, sem fins lucrativos que promove e dá apoio a programas e iniciativas que visem

à investigação e o desenvolvimento dos aspectos criativos, artístico-culturais,

socioeducativos e científicos a partir das reflexões e contribuições do historiador da

arte e pensador Hans Rookmaaker.

A Associação desenvolve trabalhos educativos de incentivo ao protagonismo

juvenil através de retiros temáticos e seminários voltados ao público jovem, como

também a capacitação de docentes na área de arte e música. Buscam discutir e

disseminar ferramentas de análise da arte, cultura e cosmovisões com o intuito de

31

equipar os cristãos para atuarem decisivamente na transformação da esfera pública

através dos valores cristãos.

As festividades da escola acontecem em consonância com o currículo

estudado pelos alunos, respeitam-se todas as datas comemorativas existentes no

calendário nacional: dias dos pais, das mães, dia do índio, páscoa, etc. a diferença

está no fato que a escola faz uma interpretação dessas datas utilizando a Bíblia

como crivo, as transforma com um foco cristão. Exemplo disto é a Festa da Colheita,

que acontece no mês que se comemora o São João, nesta festa comemora-se a

colheita, a prosperidade.

No decorrer da história do Instituto de Ensino Cristão Imago Dei, é possível

notar que ele foi construído com o apoio e colaboração de diversas famílias e

pessoas que acreditaram na iniciativa de se implantar uma escola com bases e

valores cristãos, acreditando que a educação integral pode influenciar a geração

presente, garantido um futuro menos aterrador. Com base nas pesquisas na pagina

que o Instituto disponibiliza na internet e em entrevistas com funcionários,

poderemos responder a seguinte pergunta: “Quem foram as pessoas que

acreditaram nesse projeto?”. Buscaremos conhecer a história de sua fundação,

sua gênesis; quem foram aqueles que deram crédito ao Instituto de Educação Cristã

Imago Dei, através de uma entrevista com seu fundador, almejamos com isso poder

rever suas memórias e lembranças e também ter acesso a essa história, que teve

inicio em meados do ano de 1993.

5 IMAGO DEI PELO OLHAR DE QUEM O FEZ

Ao deparar-se com a necessidade de conhecer a história da Instituição Imago

Dei, através das memórias de quem o idealizou, ou seja, seus criadores, nos foi

concedida a oportunidade de adentrar na área da história que lida com as memórias

do passado como fonte de conhecimento. Para Thompson (1992) o passado

lembrado, ou as memórias que guardamos tem seu valor, pois ele nos dá a

oportunidade de estar diante de informações significativas do passado e que por

vezes estas serão as únicas que teremos acesso. Ele nos diz que, através destas

memórias podemos transmitir tanto a consciência individual como as que são

coletivas, pois estas também fazem parte do nosso passado.

32

Partindo desse entendimento, percebe-se a importância da entrevista6 com o

fundador, visto que ela nos proporcionará adentrar nas memórias do Imago Dei e

conhecer como ele surgiu, como foi sua gestão, quem foram seus primeiros

professores, funcionários e alunos. Procuraremos compreender os silêncios em sua

fala, pois como postula Thompson (1992, p. 204-205) “[...] a lição importante é

aprender a estar atento àquilo que não está sendo dito, a considerar o que

significam os silêncios. Os significados mais simples são provavelmente os mais

convincentes.” O uso da memória nos possibilitará a compreensão do

funcionamento da escola no momento de sua criação até os dias atuais.

Para a realização da entrevista, recorremos a pessoas que trabalharam com

os fundadores da instituição, ou que tivessem acesso a elas. O primeiro contato foi

através de mensagem via e-mail, enviada diretamente para o fundador do Imago Dei

que será tratado aqui pelo pseudônimo de Josué Silva, para salvaguardar a sua

identidade. Pontuamos neste e-mail que seria muito importante para a construção de

nosso trabalho, as suas memórias sobre a escola, visto que; ele esteve presente em

todos os momentos de sua fundação na cidade de Parnamirim/RN. A resposta à

solicitação para a entrevista foi positiva, ele aceitou realizá-la, esta foi marcada para

o dia 25 de novembro de 2014, às 16 horas em sua residência que se localiza na

cidade de Parnamirim/RN. Também ligamos para confirmar o dia e hora da

entrevista, buscando desta forma evitar desencontros. No dia marcado, a entrevista

realizou-se com sucesso, esta teve duração de 59m e 31s.

Consideramos de grande relevância essa rememoração pelo fundador, pois

nos mostra a importância de compreender a história, pois ela traz em si verdades

que antes não tínhamos acesso, pensando desta maneira poderemos vislumbrar a

oralidade como uma fonte repleta de informações valiosas sobre um passado

recente do Instituto de Educação Imago Dei. Segundo Thompson

[...] Para aprendermos alguma coisa, temos primeiro que compreendê-la. Nós a aprendemos em categorias, percebendo como as informações se ajustam, e isso nos possibilita reconstruí-la numa ocasião futura, ou reconstruir alguma aproximação daquilo que compreendemos [...]”. (THOMPSON, 1992, p.150 grifo nosso)

6 O referido instrumento de coleta de dados pode ser consultado no Apêndice 1, ao final deste

trabalho.

33

Assim, a entrevista nos deu essa possibilidade de um novo conhecimento

sobre como surgiu o Instituto de Educação Cristã Imago Dei, bem como seus

primeiro passos como uma instituição de ensino cristão na cidade de

Parnamirim/RN.

Na entrevista priorizou-se as perguntas que pudessem nos trazer o

conhecimento sobre a gênesis do Imago Dei. Estas abordavam a identificação da

escola; a organização pedagógica da escola; a organização filosófica evangélica e

os aspectos físicos da escola. A nossa proposta era ter em mãos um suporte ao qual

pudéssemos recorrer tendo em vista a construção da história da referida escola, as

dificuldades vivenciadas pelos seus fundadores, seu reconhecimento perante a

sociedade e as possíveis contribuições oferecidas aos seus alunos.

Para que essas memórias fossem reconstruídas, foi preciso uma disposição

do entrevistado em se disponibilizar a nos relatar fatos acontecidos, situações

embaraçosas e também as memórias coletivas daqueles que estiveram presentes

na fundação e foram importantes para que o Imago Dei existisse como escola cristã.

[...] Não é suficiente reconstituir peça por peça a imagem de um acontecimento do passado para se obter uma lembrança. É necessário que esta reconstrução se opere a partir de dados ou de noções comuns que se encontram tanto no nosso espírito como no dos outros, porque elas passam incessantemente desses para aquele e reciprocamente, o que só é possível se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma sociedade. Somente assim podemos compreender que uma lembrança possa ser ao mesmo tempo reconhecida e reconstruída. [...] (HALBWACHS,1990, p.22)

A história é coletiva, e traz em si lembranças que são ricas de detalhes, por

isso, tivemos conhecimento de coisas inerentes à fundação da escola, como de

onde surgiu a ideia de sua construção. Segundo o entrevistado, a ideia surgiu no

Setor I da UFRN, onde sua esposa 7Débora e sua colega de curso de Pedagogia

chamada Sônia, pensaram na possibilidade de fazer a escola, pensando em inserir

seus filhos na época pequenos, num contexto escolar diferenciado, oferecendo a

eles uma educação com orientação cristã. No dia 10 de dezembro do mesmo ano -

1992 a escola foi aberta oficialmente.

No período de sua construção aconteceram diversas situações que testaram

esse desejo de fundar uma escola cristã, de acordo com Josué Silva, em janeiro de

7 Os nomes Débora e Sônia são fantasia.

34

1993 o esposo de Sônia foi transferido para outro lugar (ele pertencia ao quadro de

servidores das forças armadas) e isso fez com que a escola ficasse ao encargo

exclusivo de sua família. Eles por sua vez, já haviam investido tempo e recursos na

abertura do local, onde se depararam com muitos desafios, tais como: encontrar o

lugar e montar o espaço da escola.

O Imago Dei funcionou a princípio em uma casa alugada na Coabhinal, bairro

de Parnamirim/RN, mas do primeiro para o segundo ano sofre mais um baque, pois

a proprietária do local que tinha alugado a casa por 5 anos, solicitou o espaço sem

aviso prévio, pois o havia vendido. E essa ação faz com que surgisse a necessidade

de uma nova procura por espaço adequado para o funcionamento da escola.

Nesse momento de procura por espaço para o funcionamento do Imago Dei,

uma professora que fazia parte do quadro de funcionários da escola e uma irmã8 da

igreja9 dos proprietários fizeram uma sociedade para que se pudesse, desta forma,

comprar o terreno para a construção da escola. Com a posse do terreno, este que

se tornaria a sede permanente da escola, eles dispuseram de pouco tempo para

construir e fazer a mudança, foram 4 meses de intensa correria, mas por fim a

escola que dispunha de 4 salas, 2 banheiros, com os ensinos de Educação Infantil e

ensinos de 1º e 2º ano, ficando assim por dois anos. Posteriormente acrescentou o

3º e 4º ano, que nessa época o Ensino Fundamental era só de 4 anos. Nos anos

seguintes foram sendo acrescentadas outras turmas gradativamente.

Seguindo com a entrevista, fizemos um resgate às memórias sobre as

pessoas que estiveram presentes no início de tudo, apoiando o projeto da

construção do Imago Dei. O entrevistado disse que, a proposta da escola desde o

começo era ser uma escola fundamentada em princípios cristãos e que haviam

alguns professores que apoiavam a iniciativa, e também alguns pais que esperavam

por tal educação. Para ele, se não houvesse esse apoio da comunidade

reconhecendo o valor de uma escola cristã, ela não teria como existir, visto que ela é

pautada em uma proposta educacional com um foco, com um objetivo. Ele pontuou

em sua fala, o fato que existe a liberdade dada pela lei, como já observado

anteriormente em nossa fala (Art. 20º, parágrafo III da LDB, 1996), as escolas

particulares podem ser confessionais sem problemas, mas as públicas não, por

8 Irmã: denomina-se assim a pessoa que congrega na mesma igreja e confessa a mesma fé (cristã-

evangélica). 9 Não nos foi informada a igreja a qual o ex-proprietário congregava na ocasião.

35

serem consideradas laicas há barreiras que inviabilizam isso, ou seja, o ensino

pautado em princípios bíblicos. No livro “Educação e Personalidade: a dimensão

sócio histórica da educação cristã”, a autora Inez Augusto Borges faz um breve

relato das contribuições da educação cristã para a sociedade, ela traz autores do

campo pedagógico que tiveram como base de seus pensamentos educacionais os

pressupostos cristãos, são estes: João Amós Comenius, Celestin Freinet e Lev

Semyonovitch Vygotsky. Borges (2014, p.23) diz que,

Aliada às praticas extraídas da pedagogia Freinet e à fundamentação científica proporcionada pelas premissas de Vygotsky, a Educação por Princípios constitui recurso valioso na tentativa de construção de uma prática educativa que resgate os principais postulados da Didática Magna de Comenius, essencialmente aqueles fundamentados nos ensinos de Jesus Cristo. Dessa forma, será possível uma educação cristã que contribua para influenciar o desenvolvimento da personalidade de meninos e meninas “a fim de que se chamem carvalho de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória.” (Is.61.3) (grifo da autora)

Há uma intencionalidade na educação pautada na Bíblia, o intuito é conduzir

o homem ao conhecimento de sua capacidade mediante o reconhecimento da

soberania de Deus na criação.

A finalidade de todos os esforços escolares, numa autentica escola cristã, não poderia ser outro senão “destruir fortalezas, anulando nós, sofismas e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.4-5) [...] Todo o ensino que merece ser compartilhado, todo o conhecimento que possa ser adquirido, todas as técnicas, toda arte e todo o domínio de todas as línguas nada representa sem o adequado conhecimento de Deus e sem que se atribua a ele a honra devida pela maravilhosa graça através da qual nos fez participantes dessas coisas. (BORGES, 2014, p.163, grifo nosso)

Todo o ensino pautado em princípios bíblicos visa o aperfeiçoamento do

homem, para que este possa contribuir com a sociedade na qual ele está inserido e

que revele a glória de Deus em suas atitudes e ações.

Para uma escola cristã existir, prossegue Josué, “ela precisa de uma

comunidade de pais, um grupo de família que queiram o mesmo objetivo”. No

começo houve um grupo de professores que os apoiaram na fundação da escola,

como também um grupo de pais, isso foi de suma importância e decisivo no começo

para a concretização do projeto do Imago Dei. As memórias não são apenas

36

individuais, mas também do grupo, e as memórias relembradas sempre traz

recordações marcantes, que nos leva a lugares que vivenciamos no coletivo e no

individual, mesmo ela sendo do grupo é necessário que o indivíduo faça esse

resgate. Nora postula que

[...] A coerção da memória pesa definitivamente sobre o indivíduo e somente sobre o indivíduo, como sua revitalização possível repousa sobre sua relação pessoal com seu próprio passado. A atomização de uma memória geral em memória privada dá a lei da lembrança um intenso poder de coersão interior. Ela obriga cada um a se relembrar e a reencontrar o pertencimento, princípio e segredo da identidade. [...] Quando a memória não está mais em todo lugar, ela não estaria em lugar nenhum se uma consciência individual, numa decisão solitária, não decidisse dela se encarregar. Menos a memória é vivida coletivamente, mais ela tem necessidade de homens particulares que fazem de si mesmos homens-memória. (NORA, 1981, p.18, grifo nosso)

A memória visitada na entrevista fez com que o entrevistado revivesse o

passado, pois como demonstrado por ele, este passado é importante e significativo.

Nesta visita às lembranças, Josué relembrou o público que frequentava a escola, ele

disse que eram crianças provenientes do bairro, algumas da igreja e estas se

deslocavam de lugares um pouco mais distantes para estudar lá, por entenderem a

proposta de ensino que a escola oferecia. Porém, a grande maioria dos alunos

sempre foi da região em que a escola se situava. Segundo ele, o fato da maioria dos

alunos serem da vizinhança da escola demonstrava uma característica típica da

época, que seria a de que os pais colocavam seus filhos em escolas próximas as

suas residências para facilitar seu translado. O que acontece com menos frequência

nos dias atuais, pois existe a facilidade do transporte escolar.

Ainda falando sobre a clientela da escola, questionou-se sobre a classe social

dos alunos que estudavam no Imago Dei, Josué falou “para se estudar em uma

escola particular a pessoa precisa ter um certo poder aquisitivo para poder arcar

com as despesas, a mensalidade e os custos que envolve um sujeito manter um

filho em uma escola privada”. Assim sendo, a maioria dos alunos eram filhos de

funcionários públicos, de militares que somam um grande número de servidores

públicos na cidade de Parnamirim, que na época caracterizava o perfil dos pais

matriculados no Imago Dei.

No entanto, essa realidade a mudar no decorrer dos 22 anos de história da

instituição. Na época em que a escola foi fundada, as pessoas que moravam em

37

volta dela era que matriculava o filho nela, pois era mais cômodo para a pessoa,

visto que era perto, próximo das residências. Nos dias atuais, há o transporte

escolar e também a possibilidade dos pais levarem seus filhos. Assim, era comum

atender a clientela daquele bairro, devido ao fato de que poucas pessoas se

disponham a se deslocar e levar seu filho às escolas distantes de suas residências.

A história é dinâmica, um dia estamos aqui, outro poderemos está em um

lugar totalmente diferente, mas as nossas memórias por vezes param no tempo e

isso nos dá a oportunidade de recorrer a elas quando precisamos. O nosso passado

às vezes se esconde atrás de muralhas que necessitam ser ultrapassadas, dessa

forma podemos relembrar o que nos é importante para nossa história de vida, para

Nora,

Nossa percepção do passado é a apropriação veemente daquilo que sabemos não mais nos pertencer. Ela exige a acomodação precisa sobre um objeto perdido. A representação exclui o afresco, o fragmento, o quadro de conjunto; ela procede através de iluminação pontual, multiplicação de tomadas seletivas, amostras significativas. (NORA, 1981, p.20)

Dessa forma, continuamos a relembrar a história do Imago Dei pensando na

clientela da escola, o que havia mudado no decorrer dos anos. Segundo seu

fundador a realidade da clientela do Imago Dei mudou radicalmente, e nos últimos

anos a escola passou a ter alunos da cidade de Natal e de outros bairros distantes.

Segundo Josué Silva, “as pessoas que se dispõem a pagar uma escola, está mais

sofisticado, mais exigente, e observam os detalhes de tudo que tem haver com a

estrutura da escola.” Portela, pontua em seu livro “O que estão ensinando a nossos

filhos?” que:

“[...] os pais cristãos devem se aperceber de que nas escolas onde os seus filhos estudam a questão vai além de “como as coisas estão sendo ensinas”; na realidade, eles devem demonstrar intenso interesse pelo conteúdo ministrado às suas crianças e com o tipo de formação existente na escola. (PORTELA, 2012, p.43)

Essa fala vem ao encontro do que relatou Josué, quando diz que os pais

estão cada vez mais cuidadosos com a educação de seus filhos e por isso a

exigência quanto a tudo o que envolve a organização de uma escola privada.

Referindo-se aos primeiros professores da escola, Josué nos informou que,

“no inicio de tudo, ainda existia a questão do magistério, que os professores para a

38

educação infantil e o fundamental I, para ensinar o primário, ou seja, as 4 séries

iniciais bastava ter magistério, e a escola tinha professores com magistério”. 10

anos depois do funcionamento da escola, surgiu a lei que estabelecia que para

ensinar tanto a educação infantil, quanto o fundamental o professor precisa ter

formação em pedagogia ou outras licenciaturas. Para que essa mudança ocorresse,

o governo estabeleceu um prazo longo, o que ocasionou uma série de mudanças no

funcionamento da escola. A Lei nº 9.394/96 no Art. 62º dispõe que

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, Lei nº 9.394/96)

Por razão da LDB 9.394/96 acima, nos 10 últimos anos da existência da

escola todos os professores precisaram ter uma formação em pedagogia, ou em

outras licenciaturas para exercer a docência. No caso do Imago Dei, era de costume

dos gestores usar como método de entrada para seus professores o estágio, onde

os estagiários colaboravam com o professor titular e permaneciam nesta função

durante um, dois ou três anos. À medida que fosse abrindo vagas o estagiário era

incorporado ao quadro da escola como um professor titular.

A escola efetuava o contrato seguindo alguns passos determinados

anteriormente pela direção, procedia desta forma: no primeiro ano o contrato

normalmente era em regime de estágio para quem ainda está cursando a

graduação, o que é previsto na Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/95) que

dispõe em parágrafo único que “O estágio realizado nas condições deste artigo não

estabelecem vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio,

estar segurado contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na

legislação específica”. No segundo ano ele já era contratado como professor auxiliar

e à medida que ele fosse alcançando o perfil que se esperava, era promovido como

professor titular e assumia turmas. Essa era a forma de ingresso para ser professor

do Imago Dei, pois mesmo sendo já formado, devido a abordagem educacional

diferenciada adotada pela escola, era requerida adaptação por parte do novo

professor. Eles precisavam se adaptar as propostas de educação que a escola

39

propunha oferecer a seus alunos, ou seja; uma educação cristã evangélica com

princípios firmados na Bíblia Sagrada.

No ano de sua fundação a escola contava com 120 alunos, alcançando até os

200 nos 5 primeiros anos, chegando a ter 300 a 400 alunos na fase seguinte mas,

depois por opção a direção preferiu reduzir algumas turmas. A escola passou um

período contando cerca de 200 alunos, buscando com isso poder atender melhor,

isso ocorreu quando se abraçou a educação por princípios de maneira mais

profunda.

Com esse tipo de educação foram reduzidas turmas, alunos por turma, assim

como foram fechadas turmas. A quantidade de alunos por turma era bem limitado,

variava de 14 a no máximo 18 alunos, dessa forma podia-se fazer um trabalho mais

individualizado. A escola possuía de início um quadro limitado de funcionários

começou com 12 pessoas e chegou aos 37 e nos últimos tempos ela estava com

uns 30 funcionários no quadro.

Prosseguindo no resgate às memórias da fundação do Instituto de Educação

Cristã Imago Dei, Josué nos informou que o Imago Dei abriu suas portas a primeira

vez no dia 10 de dezembro de 1992. Disse que a escola sempre respondeu por esse

nome, Imago Dei, “Instituto Educacional Imago Dei” sempre foi o nome fantasia da

instituição de ensino. A empresa era chamada de Instituto Educacional Imago Dei

Limitado-LTA o qual também configurasse como sua razão social.

Este nome “Imago Dei!” surgiu do desejo dos fundadores de fazer uma escola

numa perspectiva bíblica. Na busca de alcançar esse ideal não se podia deixar de

falar da “imagem de Deus”, daí vem a origem do nome da instituição, que provêm do

latim “Imago Dei”.

Os fundadores compreendem que a criança é feita a imagem e semelhança

de Deus, e olham para a criança nessa perspectiva, de que ela tem essa imago dei,

ou seja, a imagem de Deus. A educação da criança é observada do ponto de vista

do efeito da queda do homem onde a imago dei “imagem de Deus” é afetada, a

queda é relatada no livro de Gênesis da Bíblia que diz

Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a

40

serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes. Fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu. Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida. (BÍBLIA SAGRADA, Gênesis 3:1-24)

Desta forma, o que a educação cristã se predispõe é resgatar, restaurar essa

imago dei na criança, para que o potencial que ela tem como a imagem de Deus

venha se mostrar e não o potencial que ela tem devido o efeito da queda, ou seja, a

separação do homem de Deus, consequência do pecado da desobediência de Adão

e Eva, o primeiro homem e mulher criados por Deus. A intenção da escola era

oferecer ao público cristão uma educação que visasse a restauração da Imago Dei,

da imagem de Deus, assim sendo, o nome da instituição foi escolhido em função

disso, e seu significado está implícito em seu nome.

41

Na segunda parte da entrevista, as perguntas foram feitas buscando conhecer

a organização pedagógica da Escola. As perguntas foram as seguintes: como foi

organizado os primeiros planejamentos e o acompanhamento deles. Se ocorriam

reuniões pedagógicas? Com qual periodicidade? Qual a metodologia utilizada

nessas reuniões. Como ocorria o acompanhamento pedagógico dos alunos em seus

processos de aprendizagens?

Farias, (2009, p. 113), recorrendo a Lei No 9.394/96 (Artigo 14 e 15), nos

lembra que a presença docente na gestão da educação, efetivada na construção do

projeto pedagógico da escola e na constituição dos conselhos escolares, é direito e

dever instituídos. Nesse sentido, podemos argumentar em favor de um planejamento

participativo e contextualizado com a demanda da escola, dos professores e alunos

como práticas a serem consolidadas. Para compreender esse contexto no âmbito

educacional, devemos entender que a gestão educacional tem natureza e

características próprias, devido à sua especificidade e aos fins a serem alcançados.

A escola é uma instituição social, tem sua lógica organizativa e suas finalidades

demarcadas pelos fins políticos-pedagógicos que ela segue.

Respondendo a respeito de como foi organizado os primeiros planejamentos

e o acompanhamento deles, o senhor Josué relatou que um fato a ser considerado,

é que inicialmente apesar da equipe ser de orientação cristã evangélica; a equipe de

diretores e 70% dos pais também eram cristãos e estavam lá por acreditar que fosse

ensinado aquilo que eles acreditavam como visão de mundo. Apesar da escola ter a

diretoria composta por evangélicos, era organizada numa perspectiva pedagógica de

filosofia educacional e estruturação pedagógica semelhantes a outras escolas. Sua

filosofia baseava-se na abordagem pedagógica do momento, o construtivismo.

O Imago Dei passou pela fase do construtivismo, que era bem intenso na

época de sua criação, numa busca por romper com a escola tradicional. O

construtivismo é uma teoria desenvolvida por Jean Piaget (1896-1980) que

considera que o conhecimento é um resultado de interações entre o sujeito e o lugar

onde ele vive Portela (2012, p.53), seguindo com seu discurso o mesmo autor

pondera em sua fala dizendo que "[...] O construtivismo nunca pode ser entendido

como uma metodologia educacional, mas como uma filosofia que atinge tanto a

esfera cognitiva como a moral, com consequentes reflexos na totalidade da

existência tanto dos educandos como dos educadores. [...]". Nesse entendimento, o

42

construtivismo não é uma linha pedagógica a ser seguida piamente por uma escola

cristã, pois ela tem divergências que vão de encontro à filosofia cristã.

A filosofia da fé cristã tem uma posição singular e especifica nessa questão. Ela não se alicerça no “realismo moral”, como definido por Piaget, (pois o bem não é definido por obediência) nem nas conclusões libertarias e subjetivas do construtivismo. Com o “realismo”, na verdade, tem em comum que aceita absolutos morais, como realidades objetivas que devem ser alvo de instrução, utilizadas na formação das crianças. Como acreditamos que os valores morais procedem de Deus e são um reflexo dos seus atributos no homem, não aceitamos que tais valores existem “independentemente da consciência”. Cremos que de Deus procede unidade, metafisica e física. Mesmo conscientes de que o pecado perturba o equilíbrio e o conhecimento, sabemos que quando proposições objetivas e determinações morais corretas estão sendo transmitidas às crianças, encontram eco em suas consciências. Seus valores não são firmados em um vácuo, mas alicerçados numa

criação gerada à imagem e semelhança de Deus. (PORTELA, 2012, p.53-54, grifo do autor)

Por seguir a abordagem construtivista Josué disse que, “não havia o

diferencial que se esperava da escola confessional, era como se fosse duas coisas a

parte, por que a medida que se buscava fazer uma educação cristã autêntica, eles

operavam como uma escola qualquer, como todas as escolas da época pensava”.

Ao conhecer a abordagem da educação cristã por princípio em 2003, os fundadores

do Imago Dei, viram a possibilidade de colocar em prática o sonho de oferecer uma

educação cristã autêntica, que tivesse a Bíblia como base para seu currículo, pois

compreenderam que era possível essa educação diferenciada, e que existia de fato

uma filosofia de educação cristã, uma abordagem metodológica e curricular coerente

com esta filosofia. Também compreenderam que existe uma filosofia e abordagem

de educação genuinamente cristã à filosofia de educação cristã por princípio, eles a

abraçaram, bem como uma abordagem metodológica coerente com ela.

Quando a escola passou a funcionar com esse formato, tomou um novo

impulso, tornando-se uma escola muito forte, pois, isso consolidou a identidade da

escola e a metodologia. A escola definiu seu perfil de filosofia educacional, e as

metodologias de ensino-aprendizagem, de acordo com Josué agia-se pensando “eu

escolho isso por causa daquilo, eu não escolho aquela metodologia por conta disso

e disso” relembrou. Prosseguindo, ele disse que foi com base nessa fundamentação

adquirida através do conhecimento da educação por princípio, que foram escolhidos

os métodos, e “foi a partir daí que a escola tomou um impulso muito grande e

43

ganhou muita profundidade em termos de qualidade, ganhou estabilidade, ganhou

até um corpo docente muito estável também, por que a gente foi se estruturando

como uma comunidade de aprendizagem em torno de uma abordagem educacional

e isso é muito bom, todo mundo cresce junto e você forma aquele corpo de

aprendizagem”.

O objetivo de Educação Escolar Cristã deve ser o de proporcionar à pessoa que está sendo educada, não apenas a obtenção de conhecimentos variados uns dos outros e da sua própria constituição física e moral, mas sim o de conceder o entendimento de uma visão integrante e coerente de vida, relacionada com o Criador e com os seus propósitos. [...] (PORTELA, 2012, p.132-133).

Assim percebeu-se que apesar da escola ter uma fundamentação evangélica

ela se comportava como as outras, numa perspectiva pedagógica, não era

percebido diferença relevantes. A diferença pedagógica e filosófica aconteceu

quando surgiu no seio da escola a influência da Educação por Princípios.

Continuando com os questionamentos sobre a organização pedagógica da

escola, perguntamos como ocorriam as reuniões pedagógicas, assim como com

qual periodicidade e qual a metodologia utilizada nessas reuniões. Compreendemos

que, como diz Dourado,

A efetivação de novas dinâmicas de organização e gestão escolar, baseadas em processos que favoreçam a participação coletiva na tomada de decisões, é fundamental para que a escola cumpra com as suas finalidades sociais. A participação efetiva de todos os membros da comunidade escolar e local é a base para a democratização da escola e de sua gestão. (DOURADO; 2006, p.53)

Segundo o entrevistado, as reuniões ocorriam sempre e era algo muito

valorizado na escola, para manter a proximidade com a equipe e construir uma

identidade pedagógica. Essa unidade só era possível tendo reuniões, desta forma

havia reuniões semanais e depois passaram a ter reuniões duas vezes por semana

no turno vespertino só para fins de estudo e planejamento com os professores que

trabalhavam no turno matutino. As reuniões eram utilizadas para estudo de livros

dentro da visão educacional que a escola abraçou. Também eram tratadas questões

do dia a dia do planejamento escolar.

44

Perguntamos como ocorria o acompanhamento pedagógico dos alunos e de

seus processos de aprendizagens. O entrevistado respondeu que sempre teve

reuniões periódicas com os pais. E que é importante ter os pais dentro da escola

acompanhando o processo de ensino de seus filhos. Também para os alunos era

dispensado todo um cuidado, que poderia ser resumido numa das características da

abordagem por princípio, que é valorizar o que chamam de abordagem tutorial, que

é o professor mais perto possível do aluno. É uma troca de conhecimento, onde o

professor está sempre preocupado em desenvolver no aluno o seu potencial, é ter o

aluno perto agindo em sua dificuldade.

[...] no processo educacional, tanto o educando como o educador têm um caráter ativo, sendo que essa atividade é potencializada e desenvolvida a partir da relação social. A mobilização, como toda realidade humana, tem um substrato pessoal e social, dialeticamente articulados. O professor, como coordenador do trabalho (na medida em que sabe o que busca), tem a tarefa de desencadear, de provocar inicialmente este processo. Uma vez iniciado, no entanto, todos são responsáveis por ele, havendo continuas interações, retroalimentações. (VASCONCELLOS, 2005, p.66, grifo nosso)

Mesmo que a ação de acompanhar o aluno individualmente fosse difícil, a

tutoria buscava essa aproximação do professor com o aluno, Portela (2012, p.142)

postula que “[...] o professor cristão é a chave do sucesso da Escola Cristã, bem

como o seu requisito principal. Sem ele nada adiantará a correta orientação

filosófica, pois esta não conseguirá ser transmitida adequadamente aos alunos. [...]”

o professor é uma peça chave nesse processo de ensino-aprendizagem.

Dando prosseguimento à entrevista, passamos a parte de perguntas voltadas

para a organização filosófica evangélica do Imago Dei, foram feitas perguntas que

buscavam conhecer a base da filosofia da escola e como se deu a união do Imago

Dei com a AECEP (associação de escolas de educação cristã por princípio). As

perguntas foram as seguintes: qual a influência filosófica na escolha metodológica

aplicada na escola; como surgiu a parceria com a AECEP e qual a importância dela

na organização e gerenciamento da escola, qual a importância de uma escola

confessional evangélica, que segue princípios bíblicos para a sociedade e como se

deu o crescimento do Imago Dei, e como a Escola ganhou credibilidade na

sociedade.

45

Falando sobre a influência filosófica na escolha metodológica aplicada na

escola, Josué Silva, disse que em primeiro momento escolheu-se uma abordagem

filosófica, que no caso da escola, foi uma escolha por uma abordagem de filosofia de

educação cristã, onde os pressupostos são cristãos e existe uma gama de teóricos

que discorrem sobre essa educação. Sobre os teóricos podemos citar Justino, que

afirmava que “o cristianismo é a mais alta forma de sabedoria, a única forma de

chegar à visão do autor da vida: Deus” (BORGES, 2014, p.35). Clemente de

Alexandria que de acordo com a mesma autora,

[...] escreve a primeira exposição sistemática da educação cristã. Sua obra, denominada O Educador, apresenta Jesus como um mestre diferente dos mestres gregos, pois enquanto estes procuravam desenvolver as capacidades próprias de cada aluno, Jesus é apresentado como o modelo em quem o aluno pode encontrar o exemplo, o preceito, a exortação, a correção e o amor. Clemente destaca o caráter prático da pedagogia de Jesus ao enfatizar que o ensino do Mestre visa uma organização da vida que

propicie um estado de espírito satisfatório e belo [...] (BORGES, 2014, p.35)

A autora também faz menção a Agostinho, figura essa que para ela é

destaque entre os teólogos e intelectuais da Igreja Cristã nos primeiros séculos.

[...] Para Agostinho, todo processo educativo deve ter como meta o conhecimento que conduz à verdadeira sabedoria, e que é diferente da ciência comum. A sabedoria verdadeira é aquele tipo de conhecimento ou de saber que torna feliz quem o possui e cultiva. A busca do conhecimento sem uma razão eterna proporciona simples vaidade e não conduz á verdadeira sabedoria. Para que esta seja atingida, é imprescindível que aquele que a busca tenha como base uma inabalável consciência da realidade de Deus e da divindade de Cristo. O ponto de partida para o verdadeiro conhecimento é um desejo de conhecer a Deus, motivado por um sentimento de incompletude – própria do ser humano – provocado pelas operações

internas da alma. [...] (BORGES, 2014, p.36)

Poderemos também citar pensadores cristãos que surgiram com o advento da

Reforma Protestante, os mais influentes foram Martinho Lutero, Felipe Melanchthon

e João Calvino. Todos esses pensadores possuíam uma maneira de entender a

vida, o mundo e o homem em uma perspectiva bíblica.

Após a escolha da abordagem filosófica partia-se para a escolha da

abordagem metodológica e da abordagem curricular. O entrevistado relatou que a

46

escolha filosófica por uma educação com princípios cristãos possibilitou a escola a

concretude da gênese de sua criação, onde a ideia era oferecer uma educação

cristã. Ele disse que “durante muito tempo, a gente acreditava em determinadas

coisas a cerca da vida, do homem, de como que é a alma humana, de como se dar

o desenvolvimento humano, a gente acreditava de um jeito por sermos cristãos, mas

quando você ia educar aquela criança na escola, você educava igual a todo mundo

fazia, então tinha uma incoerência, uma ruptura no pensamento”. Com a chegada da

Educação por Principio no funcionamento da escola essa realidade mudou, pois

segundo sua fala “a gente conheceu também uma filosofia cristã e encontramos uma

metodologia que é coerente com a filosofia cristã, para a educação escolar mesmo”.

Quanto a como surgiu a parceria com a AECEP e qual seria a importância

dela na organização e gestão da escola, pensando como Dourado (2007, p. 925);

nos lembra que:

a articulação e a rediscussão de diferentes ações e programas, direcionados à gestão educacional, devem ter por norte uma concepção ampla de gestão que considere a centralidade das políticas educacionais e dos projetos pedagógicos das escolas, bem como a implementação de processos de participação e decisão nessas instâncias, balizados pelo resgate do direito social à educação e à escola, pela implementação da autonomia nesses espaços sociais e, ainda, pela efetiva articulação com os projetos de gestão do MEC, das secretarias, com os projetos político-pedagógicos das escolas e com o amplo envolvimento da sociedade civil organizada.

Desta forma, deve-se entender a educação como um campo de

conhecimento, de atuação profissional e de política educacional pública para sua

consolidação, reafirmando compromissos sociais, históricos e políticos. Josué

respondeu que a parceria surgiu na época da crise com relação a filosofia que regia

o ensino da escola. Como falado anteriormente por ele, “a ideia de ter uma escola

com abordagem cristã era que fosse algo diferente, quando a gente se viu fazendo a

mesma coisa das outras escolas, a gente resolveu que ia desistir da educação por

que a gente não queria ser mais uma escola, a gente queria ser uma escola

realmente com um diferencial e isso foi extremante frustrante por que o nossos

alunos não tinham nenhuma diferença das outras escolas”. Para os fundadores, ser

uma escola cristã, não é apenas ensinar versículo bíblico, nem cantar as musicas da

igreja. Também “não é ensinar a orar na hora do lanchar, nem dar um enfoque

47

diferente para as datas comemorativas como a páscoa, dizer que não é coelho, que

a páscoa é Jesus e o natal não é papai Noel”. Ele vê a escola cristã como um estilo

de vida, uma maneira de entender o mundo, o que influencia na abordagem a cerca

do conhecimento.

A prática da verdadeira educação sob prisma cristão, evangélico, transcende a utilização de ações e frases cristãs. Por mais apropriadas e bem intencionadas que estas sejam, nunca conseguirão preencher a plenitude de nossa missão. Essa missão é gigantesca; é extraordinária; é imensa; parece quase impossível – mas é simultaneamente gloriosa! É poderosa! É gratificante! E é, sobretudo, divina! (PORTELA, 2012, p.203)

O mesmo autor continua;

Não podemos, como escolas evangélicas, cristãs, confessionais, ter o mesmo conteúdo, o mesmo ensino que as escolas seculares vizinhas – por melhores e mais academicamente reconhecidas que essas sejam. Excelência de ensino é parte inegociável de nossa Confessionalidade, mas o “x” da questão é como estamos apresentando as verdades do universo a ser descoberto às mentes em formação que nos foram confiadas. Não estou falando de proselitismo ou de evangelismo explícito ou disfarçado. Estou me referindo a uma questão de mera honestidade intelectual. Se cremos no Deus Soberano do universo, no trabalho do Santo Espírito aplicando a obra divina e na redenção trazida e efetivada na pessoa de Jesus Cristo [...] (PORTELA, 2012, p.203)

A educação cristã, segundo Josué Silva, possibilita aos educadores

responder do que é feito o conhecimento, o que é o homem, o que é a vida, as

origens. Todas essas coisas interferem, de acordo com o entrevistado “na maneira

como você vai estudar a linguagem, como você vai estudar a história, como você vai

compreender a geografia, as ciências naturais, tudo”. O ensino voltado para

entender o mundo numa cosmovisão cristã, o olhando com outra perspectiva.

Entende-se por cosmovisão “[...] na verdade a cosmovisão de uma pessoa é algo

intensamente prático. É simplesmente a soma total de suas crenças sobre o mundo,

o “grande desenho" que dirige as suas decisões e ações diárias. [...]” (COLSON,&

PEARCEY, 2010, p.32). A direção da escola não abria mão da visão que a escola,

mesmo que seja cristã, continua a ser uma escola, ela não pode se transformar em

uma extensão da igreja local e não tem a finalidade de fazer proselitismo e nem tão

pouco de doutrinar o aluno. A escola não abriu mão de ser uma escola confessional,

48

e como tal, mostrava abertamente que adotava uma filosofia cristã para a sua

educação.

A AECEP (Associação de Escolas de Educação Cristã por Princípio) é uma

associação de escolas cristã espalhada pelo Brasil inteiro, que adota uma filosofia

educacional para educação e tem uma abordagem metodológica coerente com essa

filosofia. Segundo o entrevistado, o Imago Dei se uniu a AECEP em uma parceria

de mão dupla, eles partilhavam das experiências que aconteciam em outras escolas,

como também partilhavam de suas próprias experiências, baseados nessa

abordagem diferenciada. Josué Silva nos informou que o Imago Dei estava sozinho

na região, “durante muito tempo a gente ficou sozinho aqui, praticamente na região

nordeste todinha, só tinha a gente, com essa abordagem. Por que escola evangélica

tem muito, mas o que acontece é o que a gente já tinha vivido, é uma escola

evangélica, mas em se tratando de uma abordagem educacional, ela é igualzinha a

qualquer outra”.

Para o entrevistado existe uma dificuldade muito grande, pois os professores

que trabalham na escola são formados em uma academia, “que desconhece até

uma filosofia cristã pra educação, que desqualifica essa filosofia educacional, apesar

dela ser sociologicamente comprovada, historicamente comprovada, ela tem todos

os pressupostos necessários, existe todo um corpo de conhecimento, todo um corpo

de teóricos, mas a academia brasileira, ela desprestigia, desqualifica essa

abordagem”. Em consequência disso, os professores, que tanto foi educado, como

também aprendeu a educar, quando este fez uma licenciatura, irá transmitir esse

ensinamento em suas aulas em uma perspectiva humanista, com base em uma

cosmovisão marxista, neomarxista.

[...] a prática da Educação Cristã esbarra, com frequência, na formação recebida por seus professores nas faculdades, pois as metodologias e conceitos de ensino aos quais foram submetidos chegam eivados de uma filosofia própria. Apresentam postulados que contrariam não somente a filosofia da fé cristã, mas até mesmo o bom senso comum. (PORTELA, 2012, p.245-246, grifo do autor)

O entrevistado prossegue dizendo que “a escola brasileira é por esse viés,

materialista, um mundo que não consideram a existência de Deus e tantas outras

coisas”. Quando esse docente chega para atuar em uma escola cristã, que possui

uma filosofia educacional que “considera o mundo, como o mundo de Deus, aonde

49

ele é presente, ele atua, onde ele é a razão e é o principal ancoradouro de todas as

crenças, e de todos os valores, os princípios”, ele precisa do estágio para que este

conheça a filosofia educacional que a escola abraça e também entenda essa

abordagem, assim como sua fundamentação filosófica educacional que tem sua

base cristã.

Quanto ao apoio da Associação de Escolas de Educação Cristã por Princípio-

AECEP, Josué disse que “era muito discreto, era mais em termos de visão

educacional, de filosofia educacional, e de colaboração entre as escolas, nada

assim, ajudar numa perspectiva administrativa, de gestão, era muito discreto a coisa

na associação, ainda hoje é muito discreto”.

Inferimos sobre a importância de uma escola confessional evangélica para a

sociedade, compreendemos como escola confessional aquela que tem a educação

cristã como forma particular de educar “que reflete os princípios, valores, diretrizes e

verdades contidas nas Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamento”

(PORTELA, 2012, p.201-202). Podendo ser também simplesmente definida como a

instituição que traz ao homem a instrução formal feita sob a perspectiva do

cristianismo, como o processo de abordar todas as áreas do conhecimento a partir

de uma cosmovisão cristã da realidade (SANTOS, 2008). Como resposta, Josué

Silva, disse que “uma escola confessional genuína tem uma importância impar”. Pois

segundo ele, a escola oferece à sociedade na qual está inserida, “primeiro, um

contra ponto para o que estar posto aí, você oferecer uma outra perspectiva.

Segundo, você oferecer às famílias cristãs uma condição de seus filhos serem

educados de maneira coerente com a fé cristã, para que ele não sofra esse

distanciamento, ao passo que em casa e na igreja ele escuta uma coisa e na escola

ele escuta outra”. Sabendo que a escola possui uma influência muito grande na vida

de uma criança, pois ela passa uma quantidade de tempo considerável nela, assim,

uma escola cristã é essencial para as famílias cristãs, pondera Josué.

Portela (2012, p.132-133) vem ao encontro dessa fala quando o mesmo diz

que;

O objetivo da Educação Escolar Cristã deve ser o de proporcionar à pessoa que está sendo educada, não apenas a obtenção de conhecimentos variados uns dos outros e da sua própria constituição física e moral, mas sim o de conceder o entendimento de uma visão integrada e coerente de vida, relacionada com o Criador e com os Seus propósitos. [...]

50

Diante disso, o entrevistado considera a educação cristã muito importante

para toda comunidade, “por que o resultado de uma educação cristã é que você

forma pessoas honestas, pessoas de moral elevada, pessoas que amam a nação,

que amam o próximo, e isso tudo é resultado de um temor a Deus, que é o princípio

de tudo. E esse temor a Deus, e reverência para com Deus acaba que desembocar

em todas essas coisas que são benéficas, sempre foi historicamente,

comprovadamente foram benéficas”. Não é uma questão de religiosidade, de acordo

com Josué, a escola Imago Dei nunca foi uma escola religiosa “de ficar ensinando

religião, nós compartilhávamos um estilo de vida, uma maneira de viver, não era

uma religião”. A escola era uma escola aberta a qualquer pessoa, porém, ela

precisava antes de efetuar a matrícula entender que aquela era uma escola

confessional, aceitar e concordar com a filosofia educacional adotada pela escola.

Essa abertura fez com que a escola recebesse muitos alunos que não era do

seguimento cristão evangélico, e o fato de ter alunos que não eram evangélicos não

inviabilizava o ensino baseado na filosofia cristã de educação, pelo contrário,

segundo relatou o proprietário “não tínhamos problema nenhum, e nunca também

me deram problema nenhum”. Percebeu-se em suas palavras que ele valoriza a

educação cristã por princípios e que a considera de grande relevância para a

sociedade como um todo e não apenas para aqueles que são do seguimento cristão

evangélico. A premissa da escola cristã é segundo Portela (2012, p.204, grifo do

autor) “[...] transmitir uma visão de mundo e de vida com honestidade intelectual –

em todas as áreas de conhecimento – centrada em Deus. [...]”

Dando prosseguimento a entrevista, perguntamos sobre a organização

filosófica evangélica, sobre como se deu o crescimento do Imago Dei, e como a

Escola ganhou credibilidade na sociedade. Sobre isso, Josué Santos disse que “o

crescimento em número é uma coisa e isso é natural, agora o crescimento mais

importante de uma escola é exatamente esse, o crescimento na sua credibilidade, e

isso tem muito a ver com os resultados, aquilo que você diz que vai fazer e o que

realmente você entrega”. O fato de ter encontrado o equilíbrio em sua filosofia

educacional ao abraçar a educação por princípio deu ao Imago Dei a credibilidade,

pois mostraram uma maneira mais coerente e mais consistente de abraçar uma

filosofia de educação, criando raízes, o que acabou proporcionando e influenciando

nos resultados da escola.

51

Para o entrevistado, com o crescimento da escola os professores também

cresceram e em consequência disso os alunos foram no mesmo caminho, como

algo que acontece naturalmente. Saber onde se está pisando, conhecer e entender

o que se deseja, assim como levar isso a sério, de acordo com Josué “você só vai, é

só questão de tempo para colher os frutos”. Ele também ponderou que a escola

oferecia a seus alunos “um diferencial, numa perspectiva acadêmica, assim, num

desenvolvimento integral. Você via os alunos bem, num aspecto físio-motor, a gente

via os alunos bem... bem colocados numa questão assim, de domínio de

conhecimento mesmo... naquilo que era previsto para eles conhecer as habilidades

e competências, a gente via os alunos também com muita habilidade para saber o

que é certo e o que é errado, fazer escolhas morais corretas, elevadas”. Libâneo

(1994, p.115) fala sobre a importância do professor na concretização dos

conhecimentos adquiridos pelos alunos na escola.

[...] Professor que tem clareza dos objetivos educativos da sua profissão e dos propósitos a respeito da formação intelectual e moral dos alunos, que revela um verdadeiro interesse pela preparação cultural das crianças e para a vida adulta, que incute nos alunos o senso de responsabilidade, certamente terá meio caminho andado para conseguir um aproveitamento escolar satisfatório das crianças.

O entrevistado celebra o fato de observar em seus alunos um

desenvolvimento também na área espiritual, onde os alunos se percebem como ser

espiritual, se conhecem, sabe o lugar dele, o propósito de vida, entendem a vida

numa perspectiva muito mais ampla, na Bíblia Sagrada encontramos, “E o próprio

Deus de paz vos santifique completamente, e o vosso espírito, e alma e corpo sejam

irrepreensíveis para a vida de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5.23).

Complementando essa parte que cabia ao conhecimento da filosófica que regia o

Imago Dei, Josué Silva diz que “o melhor conhecimento para escola, eu acho que é

esse. É você crescer como escola, como equipe, é você ter assim um corpo, assim

uma comunidade de aprendizagem entorno de um conhecimento, que cria essa

identidade, e os alunos também”.

Como último ponto abordado na entrevista, buscou-se conhecer um pouco

mais sobre os aspectos físicos da escola, fazendo questionamentos sobre: a

quantidade de cômodos na escola no ato de sua fundação, o material para utilização

em sala de aula; a escolha do material didático, como livros, artefatos, etc.; a

52

organização do calendário escolar com suas (festas, datas comemorativas, reuniões

religiosas, etc.).

Em resposta à quantidade de cômodos que tinha a escola no ato de sua

fundação, Josué Silva disse que, no início a escola funcionou com poucas salas, e

prosseguiu no discurso dizendo que “foi sendo construída pouco a pouco, foi feito

um projeto geral e que a cada ano que passava ia implementando, então, se fez um

projeto geral que era tipo 10 salas, e vários banheiros, bibliotecas, tudo, tudo o que é

previsto em uma escola, só que isso foi sendo feito pouco a pouco”. A escola

funcionou em seu primeiro ano com quatro salas, aqui ele disse que “nos primeiro e

segundo ano, um grupo de quatro salas com: uma sala para coordenação, direção e

secretaria e os banheiros, acho que era só”. Aos poucos eles foram construindo o

restante, uns 10 anos depois, eles já tinham a estrutura planejada, e foi construída

no endereço atual.

Além disso, conforme explica Oliveira (1998, p. 25),

[...] o projeto de escola, seja ela qual for, é elaborado prevendo espaços para trabalhos com determinados métodos. E os métodos não duram para sempre. Ficam obsoletos e exigem reciclagem, o que nem sempre acontece, com a mesma velocidade, com o espaço construído. Daí a importância de pensar edifícios que levem em conta a mutabilidade, tão natural nas coisas humanas.

Com isso, percebeu-se a importância do espaço para o desenvolvimento do

educando, e que os mesmos devem ser planejados e organizados para dar suporte

às diversas práticas pedagógicas que possam contribuir para o alcance dos

objetivos educativos propostos pela escola.

Continuando, foram feitas ao entrevistado perguntas sobre o material para

utilização em sala de aula, buscando saber como era feito seu uso, se a escola

dispunha deles e como o professor o utilizava. Vemos que é de fundamental

relevância para os profissionais de educação entender a importância na escolha dos

conteúdos escolares. Zabala (2002) traz uma crítica em relação ao sistema

educacional, pois muitas escolas possuem uma prática voltada para o trabalho e,

devemos entender a educação como algo que têm várias dimensões, tais como,

afetiva, sensório-motor, corporal, instrumental, enfim deve-se trabalhar todos os

conteúdos: os procedimentais, os factuais, os comportamentais e os atitudinais,

entendendo sua importância para o desenvolvimento do aluno.

53

A finalidade e função da educação devem definir os conteúdos, levando em

consideração que tipo de indivíduo pretende-se formar. Como a escola é cristã, os

princípios estabelecidos proveem das Escrituras Sagradas e existe um grupo que

tem o poder de definir quais conteúdos serão melhor empregados, esse poder

relacionado, envolve os responsáveis pelo que os alunos precisam aprender e sua

relevância para o desenvolvimento desses alunos, grupo esse composto por

professores, alunos, pais, equipe pedagógica, ou seja, toda a comunidade escolar.

Josué Silva disse que “sempre, na escola particular isso aí é muito, qualquer escola

que se preze acaba dispondo de grandes recursos para os professores, acho que a

maior dificuldade não é nem da escola adquirir, mas de ver os professores

utilizando”.

Libâneo (1994) postula em sua fala que o professor precisa está ciente de

seus objetivos de ensino, para que dessa forma ele faça a escolha do melhor

método a ser utilizado em suas aulas.

Em virtude da necessária vinculação dos métodos de ensino com os objetivos gerais e específicos, a decisão de selecioná-los e utilizá-los nas situações didáticas específicas depende de uma concepção metodológica mais ampla do processo educativo. Nesse sentido, dizer que o professor “tem método” é mais do que dizer que domina procedimentos e técnicas de ensino, pois o método deve expressar, também, uma compreensão global do processo educativo na sociedade: os fins sociais e pedagógicos do ensino, as exigências e desafios que a realidade social coloca, as expectativas de formação dos alunos para que possam atuar na sociedade de forma crítica e criadora, as implicações da origem de classe dos alunos no processo de aprendizagem, a relevância social dos conteúdos de ensino etc. (LIBÂNEO, 1994, p.149-150)

Nesse ponto da entrevista, Josué observou a dificuldade enfrentada pela

coordenação “muitas vezes a gente não adquiria material, por não ver o professor

interessado em utilizar, você comprava, tinha um bocado de material lá, a gente

comprava aqueles painéis, aquelas coisas, e jogos e tudo, mas se você não ficasse

ali em cima cobrando pra colocar no planejamento e tal, em reunião, não vinga não,

vai pra sala só com o livro praquela aula expositiva, dependendo é só aquilo, se

você não puxar, não sai nada diferente”. Quanto as aulas expositivas Libâneo (1994,

p.161) diz,

Neste método, os conhecimentos, habilidades e tarefas são apresentadas, explicadas ou demonstradas pelo professor. A

54

atividade dos alunos é receptiva, embora não necessariamente passiva. O método expositivo é bastante utilizado em nossas escolas, apesar das críticas que lhe são feitas, principalmente por não levar em conta o principio da atividade do aluno. Entretanto, se for superada esta limitação, é um importante meio de obter conhecimentos. A exposição lógica da matéria continua sendo, pois, um procedimento necessário, desde que o professor consiga mobilizar a atividade interna do aluno de concentrar-se e de pensar, e a combine com outros procedimentos, como o trabalho independente, a conversação e o trabalho em grupo. (grifo nosso)

Com essa fala ele fez uma observação, de que não é só necessário que a

escola tenha o material, mas “tem que ter e existir um projeto pedagógico que

oportunize aquilo e ações pedagógicas consistentes da coordenação, por parte da

direção pra cobrar que aquilo seja útil”. Não basta a escola possuir materiais

sofisticados para usar em sala de aula se o professor não o domina e faz uso dele

em suas aulas práticas. Libâneo (1994, p.173) faz uma ressalva, “Os professores

precisam dominar, com segurança, esses meios auxiliares de ensino, conhecendo-

os e aprendendo a utilizá-los. O momento didático mais adequado de utilizá-los vai

depender do trabalho docente prático, no qual se adquirirá o efeito traquejo na

manipulação do material didático. [...]”.

Para exemplificar sua fala sobre ter materiais na escola, mas os professores

não fazer uso deles, Josué citou a escola em que suas filhas estudavam, disse que

lá, eles não utilizavam os espaços que a escola disponibilizava, como a sala de

física e química. Disse ainda que durante os anos que suas filhas estudaram lá elas

só foram levadas apenas duas vezes a essas salas.

Continuando falando sobre coisas concernentes à parte física da escola,

perguntou-se sobre a escolha do material didático, como livros, artefatos, etc. como

resposta, obtivemos algo que se espera de qualquer escola. Josué Silva disse que

era parecido com as demais escolas, “é tudo igual a uma outra escola, como outra

qualquer, o que muda é o enfoque.” Em seu discurso ele relatou que se trabalhava o

folclore, assim como as outras escolas, porém tinha um enfoque diferente do que é

dado em escolas normais, “aquilo do folclore que realça, que glorifica a Deus, que

serve pra pessoa, aquilo vai ser enfocado. Aquilo que é contrário, que contradiz uma

abordagem cristã de mundo, de vida, aquilo não é pontuado”. Ele deu o exemplo da

lenda do Saci Pererê, “por exemplo, o saci, a lenda do saci Pererê tá bom! É

cultural, da cultura brasileira e eles têm conhecimento disso, mas você pode fazer

um contraponto. Até que ponto esse personagem que acaba influenciando a vida de

55

um monte de gente, porque essas histórias influenciam. Até que ponto, era correto

as atitudes dele? É correto ele sair por aí fazendo o mal, jogando areia na panela

das pessoas, derrubando, fazendo essas traquinagens, então tem muita coisa que

você pode questionar a partir disso”. Todos os ensinos são passados pelo crivo das

Sagradas Escrituras, como já observados em outras falas no decorrer da entrevista,

o papel da escola é levar o aluno ao conhecimento do propósito de Deus para sua

vida. Portela, autor cristão citado com frequência em nossa fala, diz em seu livro “O

que estão ensinando aos nossos filhos” que,

[...] a Escola Cristã deve ser considerada uma extensão do lar cristão. Ela deve estar sempre consciente de que a justificativa para a sua existência é o mandato concedido pelos pais. Os pais e a escola, juntos, trabalham com um só propósito, que é o de conceder à criança a possibilidade de atingir a maturidade cultural e espiritual. Isto capacitará as pessoas a entrarem numa vida de adoração e serviço ao Deus soberano, com humildade e fé, destacando-se como bons especialistas e cidadãos nas atividades para as quais demonstraram talentos naturais e nas quais receberam o melhor treinamento. Nesse sentido ela tem de ser devidamente equipada e contar com o pessoal mais qualificado possível. (PORTELA, 2012, p.141)

Da mesma forma que as lendas folclóricas sofriam um enfoque diferenciado,

as cantigas infantis também passavam pelo crivo da educação por princípio,

segundo Josué “as cantigas de ninar, todas elas são colocando medo na criança,

então simplesmente por ser folclórica e por ser da cultura você não vai questionar

isso?”. Para ele a escola cristã deve falar dessas coisas, mas “com uma perspectiva

diferente, aquilo que é dom, é reforçado, é valorizado. Agora aquilo que não é, é

questionado, não é porque é folclore que você aceita”. Pelo que ele relatou, não

existe um conteúdo específico tratado nas datas comemorativas do calendário

escolar das escolas públicas e privadas não confessionais, os conteúdos são os

mesmo, mas com um tratamento pautado na visão da filosofia de educação cristã.

Por fim, perguntou-se a respeito da organização do calendário escolar do

Imago Dei, se tinham festas específicas, datas comemorativas ou reuniões religiosas

que marcavam presença no decorrer do ano letivo. Levando em consideração o

currículo oculto, aquele que fica por trás, que nos leva a ter uma visão ampla do

ensino transmitido na escola para além do oficial presente em sua estrutura,

trazemos aqui a fala de Silva (2001, p.78), quando o mesmo se expressa sobre o

currículo oculto “[...] todos aqueles aspectos do ambiente escolar que não fazem

56

parte do currículo oficial, explícito, contribuem de forma implícita, para

aprendizagens sociais relevantes”. Quanto ao currículo diferenciado, Josué Silva

disse que “não! Tinha assim, que a escola cristã ela valoriza muito essa questão do

memorial, da celebração da aprendizagem, então, disso aí a escola é cheia disso”.

Segundo ele, o fato da escola ter essas comemorações “é uma questão de

entendimento, parte da filosofia de educação cristã do que é o aprendizado, do que

tudo isso representa”. Não havia celebrações “especiais”, nada tão diferente das

outras escolas, o diferente era o enfoque à celebração da aprendizagem que era

dado, “não é nada assim, há é porque é cristão, é uma escola religiosa, então, tem

festas que só são comemoradas lá, não! Não é por conta disso não. É porque tem

uma abordagem diferente para o aprendizado”. Por considerarem que o

aprendizado é importante, a escola celebra o aprendizado.

Quando o aluno conclui a leitura de um livro, esse momento é celebrado com

festa, o entrevistado, falou que “quando o aluno termina de ler um livro grosso, um

clássico com os alunos e tudo, a gente faz um festival para fechar aquilo porque

houve um aprendizado muito grande. Então, aquele aprendizado é celebrado com

os alunos, é celebrado com a comunidade escolar, chamam os pais, a gente

interage. Aquele aprendizado é compartilhado fora na comunidade, leva as crianças

para apresentarem em outras escolas pra outras crianças, em outros lugares”.

Nesse processo também é visto um momento de aprendizado, eles estão

aprendendo e quando é dado aos alunos e aos seus pais oportunidade de

compartilhar o que aprenderam, todos aprendem juntos e é um reforço do

aprendizado, é para que este aprendizado seja significativo e se torne consistente.

Nessa tarefa de educar, os pais procuram encorajar, enquanto ensinam; demostram o resultado dos esforços de cada criança, definem limites, obrigações e privilégios, enfatizam o respeito às demais pessoas – superiores, pares e inferiores, seguindo em todos esses aspectos, com sabedoria, as abundantes diretrizes bíblicas do relacionamento interpessoal determinado por e que agrada a Deus. Todos esses aspectos podem e devem ser emulados pela escola e pelos educadores, sem a pretensão de substituição da autoridade paternal. (PORTELA, 2012, p.140)

Entretanto, Josué adverte que “não é uma coisa assim... por ser cristão é que

é desse jeito. Não! É por... é mais profundo ainda”. Também ele nos relatou que

todas as datas comemorativas são observadas, entretanto, elas são visitadas pelos

57

fundamentos da educação cristã por propósito. Depois desta revisão, elas são

passadas para os alunos conforme a visão bíblica cristã.

Como visto no decorrer do trabalho, toda a estrutura pedagógica e curricular

da escola é pensada visando o crescimento do aluno não apenas no que concerne a

sua vida espiritual, mas também há uma preocupação com seu crescimento

intelectual, com o seu bem estar físico e psicológico. O pensamento da escola é

cooperar para que seus alunos sejam cidadãos responsáveis e conscientes de seus

direitos e deveres diante da sociedade na qual vivem.

58

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do trabalho, percebemos que existe uma historia, uma vida

educacional tecida a partir da Educação Cristã, e que por ela ser de cunho

“religioso” finda sendo mal interpretada, tida como um empecilho para o

desenvolvimento do homem, isso devido ao fato de que o ensino religioso foi por

muito tempo imposto à sociedade, não havendo um aprofundamento sobre os

benefícios que ela pode oferecer ao homem e sua formação intelectual, cívica e

moral.

Recorremos para nossos estudos sobre a história e atuação pedagógica na

formação de crianças do Imago Dei, a autores cristãos evangélicos, que trabalham

em uma abordagem histórica da educação evangélica e também a autores que

trabalhamos no decorrer da graduação da área da pedagogia, bem como autores

que fazem o resgate das memórias como história.

Caminhamos pela história da Educação Cristã conhecendo sua origem, que

ocorreu na comunidade hebraica, que posteriormente ficou conhecido como o povo

judeu. Vimos que os preceitos educacionais religiosos eram passados no lar, que os

pais eram os primeiros educadores de seus filhos, indo depois desta base para as

escolas de profetas onde os Levitas ensinavam os ensinos contidos na Torá os

cinco primeiros livros do Antigo Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,

Deuteronômio). Após essa passagem pelo povo hebreu, vimos a influência da

Reforma Protestante encabeçada por Martinho Lutero que fixou as 95 teses na

catedral de Wittenberg onde ele colocou sua indignação a respeito de como a igreja

Católica conduzia os ensinos das Sagradas Escritura, relegando ao povo apenas as

migalhas e não sua completitude, suas verdades e preceitos que poderiam conduzir

o homem ao crescimento não apenas espiritual, como também intelectual, moral,

ético e cívico.

Para Lutero, a educação tinha que chegar a massa, ao povo e para que isso

ocorresse era preciso que o povo compreendesse aquilo que estava escrito na

Bíblia, para tanto ele mesmo traduziu-a para a sua língua vernácula, para que cada

homem pudesse entender os sermões que eram pregados nas igrejas. A Reforma

também influenciou as escolas e universidades. O intuito era que o homem

chegasse ao conhecimento do propósito de Deus para sua vida, ter uma formação

intelectual, cultural, ética, moral e espiritual elevada.

59

Também conhecemos a origem da Educação por Princípio, descobrimos que

ela surgiu nos Estados Unidos através da vida de Verna M. Hall e Rosalie Slater,

que desejavam mudar o panorama da educação americana. Para tanto eles

recorreram aos primórdios da criação da nação e descobriram por intermédio de

documentos e sermões que a base da educação naquela época era a Bíblia e seus

preceitos para a vida do homem, a partir daí, elas fundaram em 1965, o ministério da

F.A.C.E. - Fundação para a Educação Cristã Americana. Buscando com isso

restaurar a educação moral, ética e espiritual da nação americana. Foi desta

fundação que surgiu a abordagem de ensino Educação por Princípios, que como

vimos é firmado em quatro passos, o pesquisar, o raciocinar, o relacionar e o

registrar. É um método bem estruturado e tem como norte principal os ensinos

transmitidos por Jesus Cristo através das Sagradas Escrituras.

A Educação por Principio ganhou o mundo e chegou ao Brasil por intermédio

da AECEP - Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios que em

conjunto com outras escolas e intuições de ensino cristão evangélico trabalha para

manter o ensino cristão firmado nos princípios ensinados por Jesus aos seus

discípulos. A Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios, como

vimos dispõe de materiais para auxiliar os professores, gestores e alunos na

educação. Ela tem realizado palestras, capacitações e conferencias que podem

colaborar com a escola cristã. Todos os passos são pensados para alcançar o

propósito da Educação por Princípio que é formar o homem de maneira cívica,

moral, política e eticamente. A AECEP trabalha no viés de que o homem é formado

pela tríade corpo, alma e espírito e por esta razão, todo o ensino das escolas

parceiras é voltado para a formação do aluno nesses três âmbitos, pois desta

maneira ela poderá atuar na sociedade de forma consciente.

Continuando nosso estudo, buscamos conhecer um pouco da história do

Instituto de Educação Cristã Imago Dei que é a instituição de ensino que trabalha na

perspectiva da Educação por Princípio aqui no Rio Grande do Norte. Assim,

pesquisamos no site que a escola disponibiliza na internet para que os pais e alunos

possam ter acesso as informações daquilo que ocorrer na escola, nele conhecemos

um pouco de sua origem e funcionamento. Entretanto, ainda faltava preencher

algumas lacunas, para tanto, formos à escola, conversamos com a diretora

pedagógica e uma coordenadora para que pudéssemos conhecer a rotina da escola,

seu funcionamento, sua gestão. Coletamos informações preciosas, descobrimos que

60

ela conta com uma mantenedora, que é a Igreja Batista Vida Nova e que a escola

disponibiliza para seus alunos esportes na área da natação, do futsal e do Karaté, os

campeonatos são internos, competições entre as turmas. O Imago Dei possui uma

parceria com a escola L’ABRARTE (Associação Rookmaaker para Estudos em Arte

e Cosmovisão), que oferece aos alunos aulas de arte como: canto, instrumentos

musicais, musicalização infantil, desenho, pintura, teatro, dança e seminários sobre

a arte e fé cristã.

O Imago Dei oferece aos alunos uma gama de instrumentos que colaboram

para o crescimento deste como um todo. Percebemos que não há a preocupação

apenas com o desenvolvimento intelectual do aluno, mas também com o emocional,

o físico e principalmente o espiritual, visto que a escola prioriza o ensino pautado na

Bíblia Sagrada. Todos os conteúdos, métodos e propostas apresentadas pela escola

é para formar o homem na tríade corpo, alma e espírito. Os ensinos são olhados à

luz da Bíblia, o folclore é trabalhado na perspectiva bíblica, no São João é festejada

a festa da colheita, no natal o nascimento do salvador Jesus Cristo. Tudo é passado

pelo crivo da Bíblia.

Por fim, enriquecemos nosso trabalho buscando no criador do Imago Dei

algumas respostas e conhecemos de onde surgiu a ideia de criar a escola, quais

foram as primeiras pessoas a trabalharem, como seu deu a união Imago Dei e

AECEP e como a Educação por Princípio chegou ao currículo da escola. Fizemos

um resgate das memórias do criador, onde ele nos trouxe lembranças de como

ocorriam as reuniões pedagógicas, dos primeiros alunos, dos professores e

funcionários, lembranças de como a escola foi se tornando o que é hoje, respeitada

e reconhecida como uma escola cristã confessional evangélica.

Ele teceu conosco uma “colcha de retalhos”, onde cada lembrança foi

resgatada e pontuada de maneira a nos dar certeza de que o que eles, os

fundadores do Imago Dei, haviam pensando no ato de sua criação foi alcançado e

que muitos alunos e pais demonstravam que o ensino pautado na Bíblia é valido

para os dias atuais. E que a Educação por Princípio ofereceu à escola os recursos

necessários para disponibilizar ao seu público não apenas o conhecimento das

ciências, mas também uma formação completa que abranja a área intelectual, a

moral, a política e a ética.

Foi uma caminhada de aprendizado e conhecimento, vimos que o Instituto de

Educação Cristã Imago Dei se faz relevante na vida de muitas pessoas e que a

61

Educação por Princípio pode colaborar na formação de cidadãos comprometidos

com a sociedade, formar indivíduos de moral elevada, que tenham ética em suas

ações, que respeitem seu próximo e atuem onde estiverem com responsabilidade.

Aprendemos que as memórias podem ser um auxiliar na construção de nossa

história, pois elas guardam verdadeiras surpresas quando recorremos a elas para

resgatar as lembranças esquecidas pelo tempo.

Assim, pensamos que a Educação Religiosa pode sim ser um elo na

construção da cidadania, do respeito ao próximo, na construção de valores que são

essenciais ao homem, para que este viva em uma sociedade harmônica. Não

podemos taxar a Educação Religiosa como vilã, precisamos sim pensar nela como

um suporte que pode ajudar o professor na sua tarefa de ensinar.

Não defendo que sejam ensinados os preceitos cristãos em todas as escolas,

até porque, nosso país é laico e não cabe a nós dizer que o ensino cristão

evangélico é o melhor, o mais adequado. Mas também sabemos que todas as

religiões oferecem ao homem ensinamentos que podem ajudá-los em sua educação

intelectual, moral, ética, política e espiritual. O resgate deve ser de valores humanos

como o respeito, a solidariedade, a humildade, etc. que possamos pensar sobre e

agir naquilo que pode ser benéfico ao aluno, aos pais, aos professores e a

sociedade no geral.

A ideia é conhecer para poder aprender e agir sobre o novo conhecimento.

Que o resgate da história da Educação Religiosa e do Imago Dei possa contribuir

para o conhecimento da história da Educação Cristã Evangélica, no Brasil e no

mundo.

Vale uma ressalva sobre o Instituto de Educação Cristã Imago Dei, que se

verificou no transcorrer de nossa pesquisa, que no mês de novembro de 2014 ele

mudou de nome, passando a ser chamado de Colégio Batista Vida Nova. Os

princípios defendidos pela instituição de ensino permanecem os mesmo, não

sofreram mudanças em sua essência, todo o ensino prossegue sendo pautado no

livro sagrado a Bíblia Sagrada.

62

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APÊNDICE

APÊNDICE 1

ROTEIRO PARA A ENTREVISTA COM O SR. JOSUÉ SILVA

1. Identificação da Escola:

1.0. Quais foram os fundadores da escola?

1.1. Quais pessoas estiveram com vocês nesse início (como professores, pessoas da

comunidade e funcionários)?

1.2. Qual foi a primeira clientela? Quem eram as crianças, a que grupo social

pertenciam?

1.3. Quais eram os primeiros professores e sua formação.

1.4. Quantos alunos, quantos funcionários e quantos professores tinha a escola no ano

de sua fundação?

1.5. Qual o dia e ano da inauguração da escola?

1.6. Qual o nome fantasia e a razão social da escola?

1.8. Porque escolheram este nome? Qual o significado dele e o que ele representa para os

fundadores e para a comunidade educativa?

2. Organização pedagógica da Escola:

2.1. Como foi organizado os primeiros planejamentos e o acompanhamento deles?

2.2. Ocorriam reuniões pedagógicas? Com qual periodicidade? Qual a metodologia utilizada

nessas reuniões?

2.3. Como ocorria o acompanhamento pedagógico dos alunos em de seus processos de

aprendizagens?

3. Organização Filosófica Evangélica:

3.1. Qual a influência filosófica na escolha metodológica aplicada na escola?

3.2Como surgiu a parceria com a AECEP e qual a importância dela na organização e

gerenciamento da escola?

3.3. Qual a importância de uma escola confessional evangélica, que segue princípios

bíblicos para a sociedade?

3.4. Como se deu o crescimento do Imago Dei, e como a Escola ganhou credibilidade na

sociedade?

4. Aspectos físicos da escola:

4.1. Quantos cômodos tinha a escola no ato de sua fundação?

4.2. Material para utilização em sala de aula?

4.3. A escolha do material didático, como livros, artefatos...?

4.4. Organização do calendário escolar? (Festas, datas comemorativas, reuniões religiosas,

etc.).

ANEXO

(ANEXO 1) BREVE BIOGRAFIA DE VERNA M. HALL E ROSALIE J. SLATER

ANEXO 2

ESTRUTURAÇÃO DA EDUCAÇÃO POR PRINCÍPIO

(ANEXO 3) OS SETE PRINCÍPIOS BÍBLICOS FUNDAMENTAIS DA EDUCAÇÃO POR PRINCÍPIO

A proposta aqui é de apresentar estes sete principais princípios descritos no

livro de Gênesis na bíblia. Estes mesmos princípios são padrões de pensamentos que poderão ser identificados em muitos outros lugares na bíblia e também em situações da vida, pois fazem parte da organização implícita da Criação. Podemos raciocinar através deles e conduzir os nossos pensamentos para tomarmos decisões seguras com base nos padrões de pensamento do próprio Criador. Estes mesmos princípios são também encontrados regendo todo mundo natural em nossa volta. São os princípios com os quais o criador estabeleceu toda a sua Criação.

Na educação escolar podemos encontrar estes princípios nos rudimentos de cada disciplina(ou assunto acadêmico) e através deles podemos fazer associações para questões morais e até espirituais. Na escola cristã o currículo é sempre desenhado para nutrir as quatro dimensões(física, intelectual, moral e espiritual) e desenvolver a criança integralmente, desta forma, a utilização dos princípios como temas transversais aos assuntos é de extrema importância como fator integralizador de todas as disciplinas e da própria vida. O resultado disto é um conhecimento que produz vida e sabedoria e equipa o aluno com uma grande capacidade de discernimento para as decisões da vida.

Este princípios não são os únicos, eles poderão ser expandidos e combinados de modo a compor muitos outros, da mesma forma como podemos escrever uma sinfonia com apenas sete notas musicais.

Como proposta educacional, a Abordagem por Princípios*, ou como é conhecida no Brasil, a Educação por Princípios, além de toda a sua fundamentação em uma filosofia cristã de educação, também utiliza-se de um método de ensino e aprendizagem reflexivo. Neste método (o método dos 4 passos) são identificados em cada disciplina os seus princípios fundantes e a partir daí todo o estudo do assunto passa a ser orientado por este princípio. Daí a importância de conhecermos estes sete princípios mais abrangentes, pois todos os demais, de alguma forma estarão sustentados por um ou mais destes.

São eles: 1. Gênesis 2:15 “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no Jardim do Édem,

para o cultivar;” Isto significa trabalhar arduamente, afadigar-se, ou seja, implica forjar caráter. Princípio de Deus de Caráter: O desejo de Deus de formar a imagem e a

natureza de Jesus dentro do cristão, através de pressão e conflito. 2. Gênesis 2:15 “... e o guardar” Isto significa observar, tomar conta com atenção, guardar com cuidado,

implicando uma mordomia. Princípio de Deus de Mordomia: Deus, como proprietário de todas as coisas,

tem dado ao homem a responsabilidade de possuir propriedades externas e internas.

3. Gênesis 2:16b e17 “De toda a árvore do jardim comerás livremente mas da árvore do

conhecimento do bem e do mal não comerás”

Estas foram as instruções de governo provando o domínio próprio de Adão. Princípio de Deus de Governo: (Autogoverno ou Domínio próprio) O plano de

Deus é que todas coisas sejam governadas de dentro para fora. 4. Gêneses 2:17b “porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” - Isto implica causa e o efeito da desobediência, ou seja a lei da semeadura e

colheita Princípio de Deus de Semear e Colher: Quando alguém dá, o retorno é

reproduzido e esta é a maneira de Deus de plantar e colher a verdade: semear e colher.

5. Gêneses 2:19 – 23 “... todavia não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea”. - Aqui Deus pensa junto com Adão levando-o a dar nome a todos os animais

da criação, os quais vinham em pares, permitindo assim que Adão chegasse à mesma conclusão com relação ao plano de Deus para ele.

Isto implica Soberania, onde um Deus soberano discute com sua criação mais elevada, permitindo-lhe planejar, julgar e executar junto com Ele.

Princípio de Deus de Soberania: Deus, como o Supremo Soberano de todas as coisas é a fonte e a força da soberania do homem.

6. Gêneses 2:20 “Deu nome o homem (Adão) a todos os animais domésticos, as aves do céu” - Isto implica a individualidade de toda a criação, tendo variedades distintas e

natureza singulares. Isto também estabelece o fundamento do domínio do homem sobre a Terra como a criação superior.

Princípio de Deus da Individualidade: Todas as coisas que Deus criou tem uma identidade distinta.

7. Gêneses 2:24 “Pôr isso deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os

dois uma só carne.” - Isto implica o estabelecimento de um pacto sobre a Terra, expressado pela

primeira vez na família. Princípio de Deus de União(Pacto ou Unidade): Todas as coisas são

designadas para funcionarem em harmonia internamente mesmo que permaneçam distintas. É necessário ter unidade interna antes que exista harmonia.

Aqui estes princípios foram apresentados de maneira muito suscinta a partir do relato do estabelecimento da primeira família no livro de Gênesis. Para mais informações sobre estes sete princípios, contate-nos ou adquira o livro "As sete colunas da Sabedoria - de Paul Jehle" no site da AECEP.

Veja também uma outra visão destes princípios com base em textos do Novo Testamento: Os sete princípios bíblicos.

PRINCÍPIOS X DISCIPLINAS Toda a Criação(o mundo natural) revela a glória, sabedoria e o caráter do seu

autor – Deus. No mandato cultural dado por Ele ao homem de dominar sobre a sua Criação, temos a responsabilidade de conhecer o mundo a nossa volta para, como bons mordomos, para administrá-lo da melhor maneira usufruindo dos seus recurso

com responsabilidade. Cada disciplina básica é uma destas áreas a serem dominadas.

Os conteúdos das disciplinas são os veículos através dos quais Deus expressa sua natureza. A bíblia é o divino catalisador que abraça a verdade e lhe dá significado. A verdade é a unidade de todo conhecimento. Todas as matérias são reconhecidas como uma revelação de seu corpo unificado de verdade. A bíblia deve ser central para todos os cursos de estudo. Não é a quantidade de bíblia ensinada, mas antes os princípios bíblicos que permeiam os currículos em todos os níveis e em cada disciplina que farão a diferença. Sl 19:8

É o raciocinar com a revelação da verdade bíblica que ilumina todas as disciplinas. Um fundamento bíblico é colocado para cada matéria e os princípios revelam a natureza e o caráter de Deus através delas. A bíblia promove o critério pelo o qual todas as matérias são julgadas. (Christian Curriculum Design – Elizabeth Youmans)

Modelo sugestivo de interação entre as componentes curriculares (disciplinas) com os princípios. Interação entre os princípios e as disciplinas

Nota: as disciplinas são apresentadas de forma paralela apenas para visualização do corpo de conhecimentos similares, porém ao longo do processo elas tecem juntas a compreensão da realidade geral através da sua interação. A interação dos princípios é similar a proposta dos PCNs para os temas transversais.

BIBLIOGRAFIA: Parent-Teacher Training Manual of The New Testament Christian School, by

Paul W. Jehle Teaching and Learning America’s Christian History: The Principle Approach,

by Rosalie Slater