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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE ADMINISTRAÇÃO FRANCISCO ANDRÉ MEDEIROS DA CUNHA FACÇÕES DE COSTURA NO INTERIOR DO RN: DESAFIOS E POSSSIBILIDADES CURRAIS NOVOS, RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

FRANCISCO ANDRÉ MEDEIROS DA CUNHA

FACÇÕES DE COSTURA NO INTERIOR DO RN: DESAFIOS E POSSSIBILIDADES

CURRAIS NOVOS, RN

2015

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FRANCISCO ANDRÉ MEDEIROS DA CUNHA

FACÇÕES DE COSTURA NO INTERIOR DO RN:

DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Projeto de Estágio apresentado ao Curso de

Graduação em Administração da Universidade

Federal do Rio Grande Norte como parte dos

requisitos para a obtenção do título de

Bacharel em Administração.

Orientadora: Prof.ª Ms. Iris Linhares

Pimenta

Coorientador: Prof. Ms. Pio Marinheiro de

Souza Neto

CURRAIS NOVOS, RN

2015

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Francisco André Medeiros Da Cunha

FACÇÕES DE COSTURA NO INTERIOR DO RN: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

.

Data da Aprovação: _____/_____/_____

Ms. Iris Linhares Pimenta

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Orientador

Ms. Pio Marinheiro de Souza Neto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Coorientador

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado

como requisito parcial para obtenção do

título de Bacharel em Administração no

Curso de Administração da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

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Dedico este trabalho a minha mãe,

amiga de todas as horas.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus colegas de turma pela valiosa amizade e socialização. Em especial, ao

amigo Felype Nery de Medeiros Gomes que durante quase todo o curso me acompanhou nos

trabalhos acadêmicos, além de me proporcionar estadia em momentos importantes dessa

caminhada. A José Omar Barbosa da Fonseca pelo compartilhamento de proveitosos métodos

de estudo.

Ao amigo Fernando Santos da Fonseca e Maria Neuma pelas infindáveis caronas a

rodoviária.

Ao amigo José Anchieta Rodrigues de Moura Júnior pelas reflexões a respeito do tema

e pela concessão da tecnologia usada nas gravações das entrevistas.

A professora Iris Pimenta, minha orientadora, que desde do princípio se mostrou

interessada em me auxiliar na elaboração deste trabalho.

Ao professor Pio Marinheiro, que apesar de curta, sua orientação foi substancial para

finalização deste trabalho.

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“Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal.

”Millôr Fernandes

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fluxograma da cadeia têxtil de produção 26

Figura 2 – Etapas da produção da empresa Guararapes 28

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Entrevistado 1 37

Quadro 2 – Entrevistado 2 37

Quadro 3 – Entrevistado 3 37

Quadro 4 – Entrevistado 4 38

Quadro 5 – Entrevistado 5 38

Quadro 6 – Entrevistado 6 38

Quadro 7 – Empresas fornecedoras e clientes das facções 43

Quadro 8 – Análise do projeto Pró-sertão 51

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LISTA DE SIGLAS

FIERN – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte

SEDEC – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SOFTEX – Sociedade Brasileira para Exportação de Software

IEMI – Instituto de Estudos e Marketing Industrial

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil

RAE – Revista de Administração de Empresas

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte

SESI – Serviço Social da Indústria

BDTB – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

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CUNHA, Francisco André Medeiros da. Facções de costura no interior do RN: desafios e

possibilidades. 2015. 60 f. Trabalho de Conclusão de Curso. Centro de Ensino Superior do

Seridó. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015.

RESUMO

O campo de estudo deste trabalho é o segmento de facções industriais de costura no interior

do Rio Grande do Norte. O objetivo é conhecer os desafios enfrentados pelos empreendedores

faccionistas do polo Seridó de confecções na busca de se manterem no mercado e suas

perspectivas para o futuro do setor. Para tanto, foi utilizado pesquisas bibliográficas, digitais e

impressas, e também pesquisa de campo, sendo aplicado um questionário de caráter

qualitativo elaborado pelo próprio pesquisador e usado como base nas entrevistas com os

faccionistas, sujeitos da pesquisa. A fundamentação teórica abordou fatores intrínsecos ao

segmento pesquisado, com destaque a terceirização, empreendedorismo e o setor

confeccionista como um todo. Por fim, o resultado obtido através da análise revelou que o

maior desafio enfrentado pelos empreendedores consultados é o irregular abastecimento de

matéria prima, entendamos essa como as peças que são montadas pelas facções, que coloca

em risco a sobrevivência das facções. Descobriu-se também que para contornar esse problema

de abastecimento alguns faccionistas entrevistados estão abrindo sua própria marca, enquanto

que outros, como alternativa, faccionam para clientes variados, estratégia denominada mix de

clientes.

Palavras-chave: facções, faccionistas, empreendedores, confecção.

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ABSTRACT

The field of study of this work is the segment of industrial sewing factions within the Rio

Grande do Norte. The goal is to meet the challenges faced by entrepreneurs faccionistas

Seridó garment polo in seeking to remain in the market and its prospects for the future of the

industry. Therefore, book, digital and print research was used, and also the search field by

applying a qualitative questionnaire prepared by the researcher and used as the basis of

interviews with faccionistas, the research subjects. The theoretical foundation approached

factors intrinsic to the researched sector, especially outsourcing, entrepreneurship and the

clothing manufacturer sector as a whole. Finally, the results obtained by analysis revealed that

the biggest challenge facing consulted entrepreneurs is the irregular supply of raw materials,

understand this as the parts are assembled by factions, which endangers the survival of the

factions. It was also found that to work around this supply problem faccionistas some

respondents are opening their own brand, while others alternatively faccionam for varied

customers, strategy called customer mix.

Keywords: factions, faccionistas, entrepreneurs, confection.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 13

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA 13

1.2 OBJETIVOS 14

1.2.1 Objetivo Geral 14

1.2.2 Objetivos Específicos 14

1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO 14

2. REVISÃO DA LITERATURA 16

2.1 TERCEIRIZAÇÃO 16

2.1.1 Definições de terceirização 16

2.1.2 Terceirização/precarização 18

2.2 EMPREENDEDORISMO 19

2.2.1 O EMPREENDEDORISMO 19

2.2.2 EMPREENDEDORISMO NO BRASIL 21

2.2.3 O EMPREENDEDOR SERIDOENSE 24

2.3 SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO 25

2.4 O SETOR FACCIONISTA 30

3. METODOLOGIA 33

3.1 TIPO DE PESQUISA 33

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA 34

3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA 36

3.4 COLETA DOS DADOS 36

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS 37

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 38

4.1 DIFICULDADES ENFRENTADAS 38

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4.2 DINÂMICA DA PARCERIA 42

4.3 ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR A DEPENDÊNCIA 46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 52

REFERÊNCIAS 54

ANEXOS

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13

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA

A atividade têxtil vem ocupando uma posição de destaque no estado potiguar. Segundo a

Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), dentre as indústrias de

transformação, a têxtil, com 24.758 trabalhadores, é a que mais emprega com carteira

assinada (FIERN, 2014). Parte desses empregos se deve ao desenvolvimento de facções de

costura com relevância, principalmente, para a região Seridó do interior do estado que produz

atualmente 21 mil peças diárias e gera 1.800 empregos diretos. Os municípios de Acari,

Jardim do Seridó e São José do Seridó é onde está a maior concentração desses

empreendimentos.

As facções despontaram na região há aproximadamente uma década e ao longo desse

tempo o número delas foi crescendo significativamente sendo hoje o Seridó o principal polo

de investimento do setor, aglomerando o maior número de facções do estado e configurando-

se como uma das principais fontes de emprego e renda da população dessas localidades.

Elas surgem da terceirização feita pelos grandes grupos de moda e vestuário que para

obterem vantagens competitivas e reduzirem custos entre outros, decidem descentralizar parte

de sua produção para pequenas fábricas. No caso do Rio Grande do Norte o processo acontece

da seguinte forma, as pequenas indústrias recebem diariamente peças para costurar e enviar

para as grandes empresas de moda.

A distribuição e coleta se dão através de caminhões-baú da própria empresa contratante

que levam além das peças, fichas técnicas que mostram como devem ser montadas.

Inicialmente as empresas que terceirizaram sua produção para o interior foram a Hering e RM

Nor, e mais recentemente a Guararapes. O grupo Guararapes pretende até 2017 dobrar o

número de lojas no país, que atualmente é de 216. Para isso, começou a terceirizar parte de

sua produção também visando o interior do estado.

Com isso, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (SEDEC) do Rio

Grande do Norte criou o projeto Pró-Sertão que busca apoiar a implantação de novas facções

de costura no estado visando aproveitar oportunidades decorrentes da ampliação

mercadológica do setor de confecções previsto pela Guararapes para o período de 2013 a

2018.

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14

O projeto como um todo é uma parceria entre SEDEC, FIERN e SEBRAE que juntos irão

auxiliar os pequenos empreendedores no que tange os seguintes aspectos: abertura e

legalização, qualificação de mão de obra, capacitação e consultoria empresarial, saúde e

segurança no trabalho dentre outros. Conforme mostra a apresentação do programa contida na

página eletrônica do SEBRAE/RN a meta é implantar 300 novas unidades de facções até

dezembro de 2018. (SEBRAE, 2013)

Apesar do bom negócio que o segmento faccionista aponta ser para seus empreendedores,

o setor já passou por uma grave crise em meados de 2012 quando as facções deixaram de ser

abastecidas por peças pelas grandes empresas. Isso acarretou paradas na produção que trouxe

sérias consequências como demissões, férias coletivas, e até algumas facções chegaram a

encerrar suas atividades.

Diante desse contexto esse estudo busca investigar a seguinte problemática:

“Como os empreendedores faccionistas enfrentam os desafios do setor em busca de se

manterem no mercado ou almejarem novas oportunidades de negócios?”

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Conhecer os desafios enfrentados pelos empreendedores faccionistas do polo Seridó

de confecções na busca de se manterem no mercado e suas perspectivas para o futuro do setor.

1.2.2 Objetivos Específicos

Descrever quais os principais riscos inerentes a atividade faccionista de costura;

Conhecer possíveis alternativas dos faccionistas para diminuir a dependência frente as

grandes empresas contratantes;

Identificar as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores do setor;

Entender como se dá a parceria entre contratante (grandes empresas de moda) e

contratado (facções industriais de costura).

1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Localizada no polígono da seca e com escassas oportunidades de emprego, a região

Seridó do Rio Grande do Norte é uma área pouco desenvolvida economicamente. Constituída

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por 18 municípios, esta região detém apenas 5% do PIB estadual, de acordo com dados da

Federação das Indústrias do Estado do Rio grande do Norte (FIERN, 2013).

Devido a grande falta de empregos que assola essas cidades, os pequenos negócios

industriais de costura que se formaram e que crescem na região são vistos pelos seus

habitantes como uma dádiva, considerando o expressivo número de empregos que surgiram.

Dado o crescimento do negócio, a atividade já é vista como uma nova via impulsionadora do

eixo econômico da região seridoense.

Destarte, percebendo-se a importância que a indústria do vestuário alcançou na região

e sabendo das crises que o setor enfrentou nos anos de 2012 e 2013, quando houve

irregularidades no abastecimento de peças, ou seja, as facções recebiam menos peças do que

sua demanda de produção, fato que ocasionou em diversas paralizações na produção e que

culminou em demissões e fechamento de algumas facções, despertou-se a necessidade de um

estudo que trate dessa nova realidade, contribuindo para identificar a viabilidade do negócio,

como também o futuro do setor.

Pois, sabe-se que hoje a demanda do mercado está em crescimento, suprindo as

facções existentes e estimulando a abertura de novas, porém, se no futuro, novas crises de

abastecimento ocorrer, fruto de problemas enfrentados pelas grandes empresas como

sazonalidade ou mesmo por uma nova oportunidade de negócio, o que farão os faccionistas?

Eles pensam nessa hipótese? Eles têm alternativas que contorne uma possível falta de

abastecimento? Ou melhor, eles pensam em outras vias mais sustentáveis para o setor?

Além de buscar respostas para os questionamentos supracitados, este trabalho visa

também contribuir para exploração do tema posto que pouco foi encontrado na literatura sobre

o assunto pesquisado, aspecto esse que impeliu mais ainda o autor do projeto.

Não menos importante, outro fator que justifica o interesse do autor pelo tema

pesquisado é o fato do mesmo residir em Jardim do Seridó, onde convive diariamente com a

realidade das facções.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 TERCEIRIZAÇÃO

2.1.1 DEFINIÇÕES DE TERCEIRIZAÇÃO

Com as transformações ocorridas no âmbito empresarial advindas principalmente da

globalização, as empresas foram obrigadas a repensarem suas maneiras de produção como

forma de não perder competitividade, nesse sentido adotaram medidas com intuito de

concentrar esforços na sua “atividade-fim” terceirizando suas atividades secundárias. Segundo

LEIRIA (2006, p. 81):

Terceirização é a técnica administrativa pela qual uma organização, para alcançar

ganhos de produtividade, concentra suas energias em suas atividades vocacionais –

as denominadas atividades-fim – contratando empresas especializadas e idôneas para

a execução das necessárias atividades de apoio. Logo: sem idoneidade e

especialização não haverá Terceirização.

Goularti Filho e Jenoveva Neto (1997, p.21) confirmam a definição de Leiria sobre

terceirização1: “TERCEIRIZAÇÃO é a passagem de atividades e funções específicas a

terceiros especializados. A empresa detém sua atenção voltada à atividade-fim; (...), passando

a terceiros a administração da atividade-meio”.

Ao passo que WOLFF (2001, p.111) terceirização2 ou outsourcing (uso de recursos

externos) caracteriza-se:

[...] pela transferência de uma atividade desenvolvida internamente na empresa para

uma outra empresa especializada na atividade em questão, ou seja, a empresa deverá

possuir capacidades específicas que a qualifiquem a ser fornecedoras para essa

atividade.

Seguindo o mesmo raciocínio, está Girardi (1998, p. 27) terceirização é “um modelo

administrativo que tem como objetivo a concentração de esforços na razão de ser da empresa

1 Segundo Leiria e Saratt (1995), o criador do termo “terceirização” foi Aldo Sani, engenheiro e diretor

superintendente da Riocell – empresa de celulose de Guaíba (RS) – no início da década de 1970. 2 A palavra “terceirização” é um neologismo; sua origem é latim terciariu, derivada do ordinal tertiariu. Ao que

tudo indica, esse neologismo é uma exclusividade brasileira; em todos os outros países, o termo usado refere-se à relação entre duas empresas, ou seja, é sempre a tradução da palavra subcontratação: em francês, soustraitance, em italiano, subcontrattazione, em espanhol subcontratación, no inglês, outsourcing, em Portugal, subcintratação. (MARCELINO e CAVALCANTE, 2012)

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(atividade-fim), podendo transferir para terceiros, especialistas e idôneos, tudo aquilo que não

fizer parte do negócio principal da empresa”.

Comumente segue Giosa (1999, p. 14), que considera terceirização como um processo

de gestão pelo qual são repassadas algumas atividades empresariais para terceiros – com os

quais se estabelece uma relação de parceria – ficando a empresa concentrada apenas em

tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua.

Além da globalização, outros fatores trazidos pela nova ordem econômica

internacional, como reorganização das economias centrais, formações de blocos econômicos,

revolução tecnológica e outros, contribuíram para o aumento da concorrência internacional.

Assim, para continuar sendo competitivas as empresas aderiram a novos padrões de estrutura

organizacional com vistas à descentralização produtiva. Nesse cenário, a terceirização surge

com o seguinte objetivo, segundo Amato Neto (1995, p. 37):

Fazer com que a grande empresa (“empresa-mãe”) possa se concentrar (“focalizar”)

em apenas um conjunto limitado de tarefas operacionais e gerenciais, construindo,

para isto, uma rede de fornecedores competentes, tanto no nível do outsourcing

interno (isto é, o fato de a empresa poder subcontratar produtos ou serviços de

outras, instaladas no próprio país de atuação) como do globalsourcing (que implica

um entrelaçamento mais abrangente com uma rede de fornecedores de outros

países).

Ainda de acordo com Amato Neto (1997) o termo terceirização, bastante em voga

atualmente nos círculos empresariais, refere-se ao ato de transferir a responsabilidade por um

determinado serviço ou operação/fase de um processo de produção ou de comercialização, de

uma empresa para outra(s), neste caso conhecida(s) como terceira(s). Nesta forma, a empresa

contratante deixa de realizar alguma ou várias atividades cumpridas com seus próprios

recursos (pessoal, instalações, equipamentos etc.) e passa-as para empresa(s) contratada(s).

Já na visão de Oliveira terceirizar é buscar racionalmente os melhores resultados em

escala de produção, a maior flexibilidade operacional e uma adequada redução de custos

administrativos, juntamente com a concentração e a maximização de oportunidades para

enfrentar o mercado. (OLIVEIRA, 1994, p. 43 apud WOLFF, 2001, p. 110)

Por fim, Queiroz traz uma definição mais completa das citadas, [...] terceirização é

uma técnica administrativa, uma metodologia e um processo. Como técnica administrativa

possibilita o estabelecimento de um processo gerenciado de transferência, a terceiros, das

atividades acessórias e de apoio ao escopo das empresas que é a sua atividade-fim, permitindo

a estas se concentrarem no seu negócio, ou seja, no objetivo final. É uma metodologia de

motivação e fomento à criação de novas empresas, que possibilita o surgimento de mais

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empregos; incentiva o aparecimento de micro e médias empresas; e ainda o trabalho

autônomo; gerando também a melhoria e incremento nas empresas existentes no mercado,

com ganhos de especialidade, qualidade e eficiência. É o processo da busca de parcerias,

determinado pela visão empresarial moderna e pelas imposições do mercado. (QUEIROZ,

1994, p. 43 apud WOLFF, 2001, p. 110)

2.1.2 TERCEIRIZAÇÃO/PRECARIZAÇÃO

A maioria das definições sobre terceirização referenciadas acima focalizam para um

mesmo ponto, mais pragmático e funcional, no qual afirmam que terceirizar é centralizar

esforços nas atividades fins da organização e designar as atividades-meio a outras empresas

especializadas. Porém, além desse viés objetivo com vistas aos benefícios para as empresas,

existe outro lado, digamos, negro desse processo, de que as terceirizações podem levar à

precarização das relações de trabalho e emprego.

Araújo e Amorim (2001/02, p. 275), afirmam que a terceirização tem imposto aos

trabalhadores relações de emprego instáveis, redução de salários, de benefícios e condições de

trabalho degradadas, que têm como consequências o aumento de acidentes de trabalho e das

doenças profissionais. Mostram ainda que essa terceirização tem levado ao desalojamento de

uma parcela dos(as) trabalhadoras(es) para a economia informal, submentendo-as(os) a

condições precárias de trabalho e excluindo-as(os) dos benefícios assegurados por lei e da

representação sindical.

Vasapollo (2005) denomina o fenômeno da precarização de “trabalho atípico”, visto

que vai de encontro às normas trabalhistas vigentes, ou seja, segue contrário às formas de

trabalho regulamentadas e relativamente estáveis. Em tempos de reestruturação produtiva,

desencadeada pela crise do fordismo, na busca pela recuperação do padrão de acumulação

capitalista, o trabalho atípico é uma estratégia empresarial de ampliação das formas de

exploração da força de trabalho.

Para Marcelino e Cavalcante (2012), dadas as condições básicas de funcionamento de

qualquer economia capitalista e da produção complexa em larga escala, em um contexto de

globalização, as empresas tenderão a buscar serviços cada vez mais especializados para

incremento da sua produtividade e da “qualidade” dos seus produtos. Elas passam, assim, a

subcontratar força de trabalho, deixando de ser responsáveis, diretamente, por parte da

produção ou dos serviços a ela ligados.

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E continua, como toda empresa capitalista precisa sobreviver no mercado, algumas

acabam se valendo do artifício das subcontratações para simplesmente reduzir seus custos,

com pouca ou nenhuma preocupação sobre como e que condições esse trabalho subcontratado

será desempenhado. Assim, ao invés de o resultado ser a proliferação de empresas

“modernas” e pautadas pela qualidade do processo produtivo, criam-se várias formas de

burlar à legislação trabalhista, o que faz aumentar a precarização do trabalho.

Entende-se, que para esse autor o fenômeno da precarização é “culpa” do sistema

econômico vigente, o capitalismo. Que para sobrevivência das empresas frente às constantes

mudanças no mercado a única solução fosse precarizando as formas de trabalho.

Por outro lado, ele fala que se a empresa central (contratante) estabelece vínculos

baseados em estratégias competitivas, de cooperação, sobre produtos técnicos mais

complexos, haverá melhores condições para existência de formas estáveis e não precárias de

emprego. Porém, se a relação é de subordinação e as intenções somente giram em torno da

redução de custos, os contratos de trabalho geralmente têm sido precários. (MARCELINO e

CAVALCANTE, 2012).

Ruduit (2002, p.422) traz uma afirmativa interessante a respeito da precarização, para

o autor: “[...] quanto mais próxima da empresa central estiver a empresa contratada, maiores

seriam as chances de práticas não precárias de emprego.” Ou seja, para ele quanto maior for a

distância entre a empresa contratante e a contratada, maiores serão as chances de acontecer

práticas precárias de emprego.

A abordagem desse tema se dá visto que por meio de pesquisas acerca da terceirização

no Brasil, foram encontrados na literatura acadêmica muitos estudos que tratam da

precarização no setor têxtil.

2.2 EMPREENDEDORISMO

2.2.1 O EMPREENDEDORISMO

Há um número relevante de estudiosos no campo do empreendedorismo, entretanto

não é de se admirar, o assunto está ligado ao surgimento de novas empresas e essas, implicam

em mudanças no modo de vida das sociedades.

Para Fahar et al. (2008, p.1) existe um crescente interesse nacional e internacional em

estudar temas voltados ao empreendedorismo, uma vez que a geração de negócios está

diretamente ligada à prosperidade das nações, e a ação empreendedora é o processo dinâmico

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pelo qual se pode gerar mais riquezas. Essa prosperidade é obtida por pessoas que assumem

riscos, em termos de patrimônio, tempo ou comprometimento. Tais pessoas são chamadas

empreendedoras e podem ser encontradas em diversas situações.

Logo, o empreendedor não é somente um fundador de novas empresas, o construtor de

novos negócios ou o consolidador e impulsionador de negócios atuais. Ele é muito mais do

que isso, pois proporciona a energia que move toda a economia, alavanca as mudanças e

transformações, produz a dinâmica de novas ideias, cria empregos e impulsiona talentos e

competências. (CHIAVENATO, 2012)

Por isso, o processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações

associadas com a criação de novas empresas. Em primeiro lugar, o empreendedorismo

envolve o processo de criação de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o

comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer. E em

terceiro, que riscos calculados sejam assumidos e decisões críticas tomadas; é preciso ousadia

e ânimo apesar de falhas e erros. (DORNELAS, 2008)

Percebe-se, então, que o empreendedor está relacionado a uma gama de fatores que

permeiam o mundo dos negócios. E essa diversidade que o abrange permite que tenhamos

muitas definições a seu respeito.

Em se tratando disso, uma das definições mais antigas e que talvez melhor reflita o

espírito empreendedor no olhar de Dornelas é a de Joseph Schumpeter (1949 apud

DORNELAS, 2008, p. 22): “O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica

existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de

organização ou pela exploração de novos recursos e materiais”.

Fahar também menciona os escritos do economista austríaco Joseph Schumpeter

(1984, p. 35, FAHAR et al., 2008, p.2):

O empreendedor é o responsável pelo processo de destruição criativa, sendo o

impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista,

constantemente criando novos produtos, novos métodos de produção, novos

mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos métodos eficientes e mais

caros.

Kirzner (1973) tem uma abordagem diferente de Schumpeter. Para esse autor, o

empreendedor é aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em

um ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na ordem presente.

Ambos, porém, são enfáticos em afirmar que o empreendedor é um exímio identificador de

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oportunidades, sendo um indivíduo curioso e atento às informações, pois sabe que suas

chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. (DORNELAS, 2008)

Veja o que afirma CHIAVENATO (2012, p. 1-2):

O empreendedor é a pessoa que indica e/ou dinamiza um negócio para realizar uma

ideia ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando

continuamente. Essa definição envolve não apenas os fundadores de empresas e

criadores de novos negócios, mas também os membros da segunda ou terceira

geração de empresas familiares e os gerentes-proprietários que compram empresas

já existentes se seus fundadores. Mas o espírito empreender está também presente

em todas as pessoas que – mesmo sem fundar uma empresa ou iniciar seus próprios

negócios – estão preocupadas e focadas em assumir riscos e inovar continuamente

mesmo que não estejam em seus próprios negócios.

No entendimento de Dolabela (1999b, p. 68 apud Vieira, 2011, p. 13),

empreendedorismo é um neologismo derivado da livre tradução de entrepreneurship e

utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu

sistema de atividades, seu universo de atuação é antes de tudo, aquele que se dedica à geração

de riquezas em diferentes níveis de conhecimento, inovando e transformando conhecimento

em produtos ou serviços em diferentes áreas.

Para finalizar, Farah et al. (2008, p. 1) esclarece que, em muitos estudos realizados

sobre o fenômeno empreendedorismo (entrepreneurship), observa-se que não há consenso

entre estudiosos e pesquisadores a respeito da exata definição de empreendedor. Para muitos

autores, as dificuldades encontradas para definir o termo são decorrentes de concepções

errôneas postuladas, principalmente pela mídia e pelo senso comum, que distorce alguns

conceitos.

2.2.2 EMPREENDEDORISMO NO BRASIL

Oriundo da França3, o tema empreendedorismo vem sendo amplamente explorado no

Brasil. Vários aspectos justificam o grande interesse nacional pelo assunto, sobretudo, o

expressivo aumento do número de pequenas empresas e a necessidade de prolongamento de

suas atividades é o principal motivo do interesse.

O Kauffman Center for Entrepreneurial Leadership fez uma pesquisa para o Global

Entrepreneurship Monitor (GEM) – uma instituição criada pela London Business

School e pelo Babson College de Boston – em cerca de 29 países, para comparar o

3 O termo “empreendedor” – do francês entrepreneur – significa aquele que assume riscos e começa algo

inteiramente novo. (CHIAVENATO, 2012, p. 1)

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grau de empreendedorismo de cada povo, envolvendo a população entre 18 e 64

anos de idade. Na pesquisa, o Brasil tem um lugar importante: quase um

empreendedor para cada sete pessoas. Em busca de realização pessoal,

independência financeira ou simples sobrevivência, uma enorme fatia da população

brasileira registrou nas juntas comerciais milhões de empresas. Cerca de 14,2 da

população adulta está envolvida em alguma atividade empreendedora. Imagine se

houvesse mais investimento em educação, infraestrutura, mais crédito, dinheiro mais

barato, menos burocracia e se a sociedade valorizasse mais os investimentos de

risco. Além disso, o país tem uma das maiores taxas de criação de empresas por

necessidade – 41%. A maioria das empresas está concentrada no Sudeste. A região

Norte é a que registra o menor número de empreendimentos. [...] (CHIAVENATO,

2012, p. 17-18)

.

Dornelas (2008) explica que a preocupação com a criação de pequenas empresas

duradouras e a necessidade da diminuição das altas taxas de mortalidade desses

empreendimentos são, sem dúvida, motivos para a popularidade do termo empreendedorismo,

que tem recebido especial atenção por parte do governo e de entidades de classe. Pois nos

últimos anos, após várias tentativas de estabilização da economia e da imposição advinda do

fenômeno da globalização, muitas grandes empresas brasileiras tiveram de procurar

alternativas para aumentar a competitividade, reduzir os custos e manter-se no mercado.

Um dos efeitos imediatos foi a guinada crescente que ocorreu no índice de

desemprego, principalmente nas grandes cidades, onde concentra mais empresas. Sem opções,

os ex-funcionários dessas empresas começaram a criar novos negócios, às vezes mesmo sem

nenhuma experiência no ramo, utilizando o pouco que ainda lhes restou de economias

pessoais, fundo de garantia etc. Quando percebem, esses profissionais já estão do outro lado.

Agora são patrões e não mais empregados. Muitos ficam na economia informal, motivados

pela falta de crédito, pelo excesso de impostos e pelas ainda altas taxas de juros. Outros,

recentemente, foram motivados pela nova economia, a internet, que teve seu ápice de criação

de negócios pontocom entre os anos 1999 e 2000. (DORNELES, 2008)

Foi exatamente nos anos 90 do século passado que o empreendedorismo tomou

impulso no Brasil. Apesar do termo “empreendedor” ter sido abordado muito antes, nos idos

do século 18, pelo economista Richard Cantillon.

O termo “empreendedor” (derivado da palavra francesa entrepreneur) foi usada pela

primeira vez em 1725 pelo economista Richard Cantillon, que dizia ser entrepreneur

um indivíduo que assume riscos. Em 1814, o economista francês Jean-Baptiste Say

(1767-1832) usou a palavra para identificar o indivíduo que transfere recursos

econômicos de um setor de produtividade baixa para um setor de produtividade mais

elevado. (CHIAVENATO, 2012, p. 6)

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Segundo Dornelas (2008, p.10), o movimento do empreendedorismo no Brasil

começou a tomar forma na década de 1990, quando entidades como SEBRAE (Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e SOFTEX (Sociedade Brasileira para

Exportação de Software) foram criadas. Antes disso não se falava em empreendedorismo e

em criação de empresas.

O SEBRAE é um dos órgãos mais conhecidos do pequeno empresário brasileiro, que

busca junto a essa entidade todo suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como

consultorias para resolver pequenos problemas pontuais de seu negócio. O SOFTEX é uma

entidade que foi criada com o intuito de levar as empresas de software do país ao mercado

externo, por meio de várias ações que proporcionavam ao empresário de informática a

capacitação em gestão e tecnologia. (DORNELAS, 2008)

Dados publicados pelo SEBRAE em 2005 no Boletim Estatístico das Micro e

Pequenas Empresas, mostram que, em conjunto, as micros e pequenas empresas responderam,

em 2002, por 99,2% do número total de empresas formais, por 57,2% dos empregos totais e

26,0% da massa salarial. O número de microempresas no Brasil, entre 1996 e 2002, evoluiu

de 2.956.749 para 4.605.607, com crescimento acumulado de 55,8%, passando a participação

percentual no total de empresas de 93,2%, em 1996, para 93,6%, em 2002. O número total de

pessoas ocupadas nas microempresas passou de 6.878.964 para 9.967.201, com crescimento

de 44,9% entre os dois anos, elevando a participação percentual no total de ocupações nas

empresas de 31,8% para 36,2%.

No tocante a indústria têxtil, números do Instituto de Estudos e Marketing Industrial

(IEMI) mostram que indústria de vestuário no Brasil é composta de empresas de pequeno,

médio e grande porte, mas a sua grande maioria é de pequenas empresas, como exibi tabela

abaixo.

Tabela 1 – Distribuição por porte das empresas

Distribuição por porte das empresas

2004 2005 2006 2007 2008

Pequenas 13.707 14.751 15.250 16.201 16.842

Médias 4.906 5.567 5.915 6.274 6.631

Grandes 642 703 733 801 865

Fonte: IEMI/2009

Com relação ao ensino do empreendedorismo no Brasil Dornelas (1999, p. 54 apud

Vieira, 2011, p. 16) afirma que no Brasil pode-se dizer que o empreendedorismo está apenas

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começando, mas os resultados alcançados no ensino indicam que estamos no início de uma

revolução silenciosa. O primeiro curso de que se tem notícia na área surgiu em 1981, na

Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, por iniciativa

do professor Ronald Degen e se chamava “Novos Negócios”.

2.2.3 O EMPREENDEDOR SERIDOENSE

Compreendida em pleno semiárido, com área de solos de baixíssima fertilidade (salvo

esparsos aluviões), e submetida a regime de escassez e desigual distribuição das chuvas. A

região do Seridó, apesar dessa restrição do quadro natural, possui 300 mil pessoas, 11% da

população estadual. Durante muito tempo, a economia dessa região foi atrelada à agricultura,

por meio da cotonicultura, e à pecuária de leite. (SEBRAE/RN, 2011)

Historicamente uma das fontes de expansão da economia da região foi o algodão,

produto ligado a cadeia têxtil, que era extraído em grande quantidade na região durante o

século passado.

O algodão foi considerado um dos meios de produção que alavancou a economia do

estado em larga escala entre os anos de 70 e 80. Subsidiou a existência de uma fonte de renda

que culminou na produção de novos empregos para os seridoenses e, consequentemente, para

o homem do campo nos tempos áureos. Com o processo de industrialização e beneficiamento

do algodão, foi possível utilizar as fibras para a produção dos mais diversos produtos, como

fios, redes, tecidos, roupas e bonés. (SEBRAE, 2011, p. 116)

Foi nessa época que surgiu no município de Jardim de Piranhas, situado na

Microrregião do Seridó Ocidental, a indústria de tecelagem, a economia local inicialmente

pautada na agropecuária se volta para o campo industrial aflorando as primeiras indústrias de

tecelagem consolidada através de artefatos têxtis, com destaque para mantas, redes de dormir

e panos de pratos.

Diante deste contexto, considerando agora o finalzinho dos anos noventa e a primeira

década do século XXI, nascem as facções de montagem de peças do vestuário. Surgida no

município de São José do Seridó pelo saudoso empreendedor Simão José, pioneiro no ramo

de facções.

A partir do crescimento da atividade no município são-joseense empreendedores de

cidades vizinhas foram copiando o negócio e abrindo suas facções, como aconteceu nos

municípios de Jardim do Seridó e Acari, que possuem hoje um número vultoso de facções.

Em Jardim do Seridó e São José do Seridó as facções adentraram o sertão alcançando a zona

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rural, em Jardim do Seridó, o povoado Currais Novos possui duas unidades produtivas e em

São José a fábrica fica no povoado Caatinga Grande. Existem facções também em Parelhas,

Santana do Seridó, Serra Negra do Norte, Cerro Corá, além de outras cidades e regiões do

interior do estado.

Além das facções, destacam-se nessa região negócios como pousadas, restaurantes,

comércio varejista, sobressaindo-se supermercados, lojas do vestuário e lanchonetes.

Indústrias de mineração e também a fruticultura. Ademais, no ramo de confecção aparecem

fábricas voltadas para produção de redes, panos de prato, confecções, bonelarias, bordados e

as facções de costura.

Das indústrias em atividades na região seridoense, a grande maioria é de micro e

pequeno porte com uma pequena porcentagem sendo de médio porte. Não há indústrias de

grande porte na região do Seridó. Dados da FIERN (2013) traz a seguinte divisão com relação

a distribuição das empresas:

- 99,3% das indústrias são de micro e pequeno porte, com 91,7% dos empregados.

- 0,7% das indústrias são de médio porte, com 8,3% do total de empregados.

É provável que o número de empresas de micro e pequeno porte deva aumentar

substancialmente nos próximos anos em razão da necessidade de facções apontada pela

organização Guararapes. A expansão prevista pelo grupo do ano de 2013 a 2018 prevê uma

demanda de mercado para 300 pequenas unidades de confecções. Acredita-se que uma boa

parte dessa demanda seja suprida por empreendedores seridoenses, dado a especialidade e o

potencial que a região do Seridó tem no segmento.

No sentido de auxiliar e orientar os empreendedores que pretendem se inserir no

campo das facções, o SEBRAE, em parceria com o projeto do Governo Estadual Pró-sertão,

desenvolveu uma espécie de plano de negócio intitulado de perfil de negócio. O referido

perfil4 é um guia que traz informações básicas sobre facções como características,

oportunidades e riscos. Assim como, os aspectos fundamentais à implantação e ao adequado

funcionamento de uma facção.

2.3 SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO

As facções industriais de costura estão inseridas no segmento de confecção que é a

ponta final da extensa cadeia têxtil. A matéria-prima usada no processo produtivo das facções

4 Fonte: http://www.rn.sebrae.com.br/uploads/8d36bed159e3d5805212bd8c4f36a484ac8d272b.pdf

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passa antes por várias fases do processo de transformação industrial que compõem o

complexo têxtil.

Levando-se em consideração relatório setorial da indústria têxtil brasileira do Instituto

de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), a cadeia têxtil pode ser segmentada em três grandes

conexões industriais: a produção de fibras químicas, a produção de têxteis básicos (fios,

tecidos e malhas) e o segmento de confeccionados, que é composto de vestuário, linha lar e

artigos técnicos industriais.

Conforme Hiratuka et al (2008), a indústria têxtil e de confecção é bastante ampla e é

composta por várias etapas produtivas inter-relacionadas. Basicamente, podem ser destacadas

4 etapas: 1) fiação: produção de fios ou filamentos que serão preparados para a etapa da

tecelagem; 2) tecelagem: fabricação de tecidos planos ou tecidos de malha (malharia) e de

tecnologia de não-tecidos; 3) acabamento: operações que conferem ao produto conforto,

durabilidade e propriedades específicas; 4) confecção: desenho, confecção de moldes,

gradeamento, encaixe, corte e costura. Na etapa final, os produtos podem tomar a forma de

vestuário, de artigos para o lar (cama, mesa, banho, decoração e limpeza), ou para a indústria

(filtros de algodão, componentes para o interior de automóveis, embalagens etc.).

Para melhor entendimento e visualização dessas etapas produtivas, temos a seguir uma

ilustração tipo fluxograma que melhor exemplifica toda a cadeia produtiva5 têxtil, segundo

abordagem de Hiratuka.

Figura 1 – Fluxograma da cadeia têxtil de produção

Fonte: Própria (2014)

5 É o conjunto de atividades econômicas que se articulam progressivamente desde o início da elaboração de

um produto. Isso inclui das matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos intermediários até o produto final, a distribuição e a comercialização. São esses elos que formam, de maneira geral, uma cadeia produtiva. Fonte: (http://www.liber.ufpe.br/teses/arquivo/20040708121745.pdf)

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O produto final de cada uma dessas fases é a matéria-prima da fase seguinte, o que

denota à cadeia têxtil e de confecção um caráter bastante diversificado, sendo cada setor

composto por grande número de segmentos diferenciados, com dinâmicas, estruturas físicas e

players próprios.

Assim, essa imensa diversidade e descontinuidade do processo e produtos, e a grande

possibilidade de utilização e combinação de matérias-primas, ocasiona diferentes

oportunidades quanto ao processo técnico a ser utilizado, como também as formas de

organização da produção, variando de acordo com o interesse da empresa e a velocidade de

mudança do mercado. (MARQUES e ALMEIDA, 2014)

Dessa forma, a possibilidade de fragmentar o processo produtivo em etapas resultou

em uma cadeia produtiva integrada internacionalmente e comandada por grandes empresas

especializadas na gestão da marca e da comercialização, ou nas próprias empresas de varejo

comandando as etapas mais intensivas de mão de obra para países em desenvolvimento com

baixos custos salariais. O acirramento da concorrência internacional obrigou os produtores

dos países a uma intensa reestruturação nas suas formas de inserção no mercado e nas

estratégias de organização da produção. (HIRATUKA, 2008)

Observando a gravura abaixo na qual mostra as etapas que compõe a cadeia produtiva

da empresa Guararapes, ou seja, os caminhos percorridos pela produção até o produto final

chegar as lojas Riachuelo em todo Brasil, constatamos que parte do processo é confeccionado

em outro país, nesse caso específico o tecido plano é adquirido da China, fato que confirma a

ideia de Hiratuka. A complexidade da cadeia têxtil faz com que o processo seja dividido em

várias etapas se tornando uma cadeia de caráter global pela sua integração internacionalmente.

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Figura 2 – Etapas da produção da empresa Guararapes.

Fonte: (http://tribunadonorte.com.br/costurandoodesenvolvimento/#mercado)

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A terceirização da confecção feita pela Guararapes por intermédio das facções

industriais é recente, iniciou no começo de 2013. Até pouco tempo atrás a companhia não

apostava nessa hipótese. Como a empresa pretende dobrar sua produção para abastecer suas

novas lojas, então adotou esse modelo, pois além de reduzir custos, torna o processo mais

ágil, segundo o vice-presidente da empresa, Flávio Rocha.

A organização busca com essa medida alcançar o custo ou se aproximar do que é

cobrado pelo mesmo serviço na China, onde a mão de obra é mais barata. “Queremos chegar

mais perto do custo da China, que chega a ser 30% menor que o custo no Brasil”, pondera o

diretor industrial do grupo, Jairo Amorim. Outro mercado de custo mais barato e que atrai

investidores de várias partes do mundo inclusive do Brasil é o paraguaio, o custo de uma calça

jeans fabricada naquele país é 35% inferior ao do Brasil, devido, principalmente, a mão de

obra que é 35,5% mais barata que à brasileira, segundo estudo produzido pela Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP6). Enquanto que no Brasil uma calça jeans sai para

o fabricante a US$ 7,75, no Paraguai é de US$ 5,73.

Esse modelo de descentralização horizontal através de facções foi implantado no

estado pela empresa Hering e RM Nor. As duas juntamente com a Guararapes possuem

fábricas próprias de maior porte na região metropolitana de Natal e complementam sua

produção no interior com as facções. Outras empresas do segmento têxtil também atuam no

Rio Grande do Norte como a Vicunha Têxtil e a Coteminas, essa, inclusive, transferiu uma de

suas unidades de fiação e tecelagem que ficava em São Gonçalo do Amarante para o estado

da Paraíba, deixando centenas de desempregados.

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil7 (ABIT), o Brasil

possui uma das últimas cadeias têxteis completas do ocidente, produzindo desde fibras até

confecções. O setor reúne mais de 32 mil empresas, das quais mais de 80% são confecções de

pequeno e médio porte. Emprega 1,7 milhão, sendo 75% funcionários do segmento de

confecções. Em 2012, o setor têxtil e de confecção faturou US$ 56,7 bilhões, contra US$ 67

bilhões em 2011. Sinal de que vem perdendo competitividade.

Segundo Goularti Filho e Jenoveva Neto (1997, p.56) “a indústria de confecção do

vestuário é a principal produtora de bens finais do complexo têxtil”.

6 http://www.fiesp.com.br/noticias/paraguai-oferece-vantagens-competitivas-para-setor-textil-destaca-

diretor-do-departamento-de-relacoes-internacionais-e-comercio-exterior-da-fiesp/ 7 Fonte: http://www.abit.org.br/conteudo/links/cartilha_rtcc/cartilha.pdf

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2.4 O SETOR FACCIONISTA

Dada a abundância de etapas produtivas que compõem o complexo têxtil, o segmento

da economia que envolve essa produção é um dos mais pujantes e diversificados que existem,

bem como um dos que oferecem maiores oportunidades para a criação de micro e pequenas

empresas. Dentre estas, destaca-se a atividade denominada facção, ou seja, aquela

fundamentada na prestação de serviços de corte, costura e acabamentos direcionados para as

indústrias de confecção. (SEBRAE, 2007)

As facções são divididas, segundo a Classificação Nacional de Atividade Econômica –

CNAE8, em:

Facções de roupas íntimas e compreende:

- Os serviços industriais de facção de roupas íntimas e roupas de dormir (corte e

costura de golas, punhos e outras partes das roupas).

Facções de peças do vestuário, exceto facções de roupas íntimas e compreende:

- Os serviços industriais de facção de blusas, camisas, vestidos, saias, calças, ternos e

outras peças do vestuário (corte e costura de golas, punhos ou outras partes das

roupas).

Atualmente, a atividade faccionista vem crescendo consideravelmente, pois existe um

interesse das grandes empresas de confecção em buscar ganhos de escala sem comprometer

seus custos. Como em seus processos de fabricação a parte mais manual, isto é, que envolve

maior quantidade de mão de obra é a etapa de costura, as grandes empresas do setor

terceirizam essa parte do seu processo produtivo surgindo assim às facções.

Enquanto as etapas de tecelagem e, principalmente a fiação, são relativamente mais

intensivas em capital e escala, com maior possibilidade de automatização do processo

produtivo, a etapa de confecção e vestuário continua sendo bastante intensiva em mão de

obra. (HIRATUKA, 2008)

A esse respeito, Payés e Teixeira (2009) trazem em seu estudo a seguinte declaração

de Campos et.al. (2002):

As pequenas empresas concentram-se principalmente no segmento de vestuários,

podendo estabelecer relacionamentos com firmas maiores principalmente através de

serviços complementares de facção. No segmento têxtil, as pequenas firmas

interagem com empresas de médio e grande porte através do fornecimento de

produtos e serviços complementares (como o tingimento) sem maiores

complexidades tecnológicas. O processo de imitação de produtos locais, nacionais

ou estrangeiros é uma prática bastante comum entre estas firmas (CAMPOS et al.,

2002, p.12).

8 Fonte: http://www.cnae.ibge.gov.br/pesquisa.asp

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A função das “facções industriais” consiste na sistemática prestação de serviços, ou

seja, uma subcontratada para outra indústria confeccionista, recebendo todos os aviamentos e

os tecidos cortados na justa medida sendo portanto responsáveis pela montagem das peças do

vestuário. Os “faccionistas” recebem essa denominação no setor de confecção referindo-se a

proprietários de oficinas especializadas em apenas algumas fases do processo produtivo

representando para isto uma mão de obra assalariada. (NAVEIRA, 2002, p. 73)

Segundo Knuth (2005) as empresas do setor faccionista são organizações abertas,

inseridas em um macro sistema: são geralmente empresas terceirizadas, que prestam serviços

às grandes indústrias têxteis, as quais buscam se adequar uma nova realidade mercadológica,

dinâmica e competitiva, reestruturando seu processo produtivo e delegando à terceiros parte

de sua produção.

Entretanto, como em todo processo de mudança, alguns problemas são eminentes,

como por exemplo, são as relações estabelecidas entre facção industrial de costura e suas

contratantes, pois a forma pela qual a empresa faccionista de costura está estruturada no

mercado, não se permite ter garantias efetivas de sua sustentação. (KNUTH, 2005)

O modelo empregado na contratação destas pequenas empresas, não torna clara a

relação entre o capital e o trabalho, pois embute uma ideologia de “autonomia” onde, o

trabalhador até então assalariado, passa a se entender como proprietário – percebendo-se

como “igual” a contratante. Por trás desse “empreendedorismo” repentino, o que se encontra

são fabriquetas montadas em pequenas garagens e mesmos nas residências destes “novos

empresários”, garantindo a produção desejada, a reprodução da força de trabalho pertinente,

porém, desonerando a contratante de vários de seus compromissos legais e financeiros – para

não falar dos sociais. (MELIANE e GOMES apud RIBEIRO, 2011, p. 62)

A energia consumida pelas máquinas e equipamentos, os resíduos gerados na

produção também são exemplos de variáveis que saem da responsabilidade das contratantes e

vão para as mãos das contratadas – atingindo também os serviços prestados pelo poder

público municipal, como a coleta de lixo, pois os resíduos da produção se misturam com o

lixo doméstico e dessa forma, parte do encargo empresarial é transferido para a sociedade.

(MELIANE e GOMES apud RIBEIRO, 2011, p. 62)

Um dos aspectos que essa pesquisa busca entender é a forma que se dá a parceria entre

contratantes (grandes empresas têxteis e lojas de departamento) e contratadas (facções

industriais de costura), como as empresas de pequeno porte consegue se manter no mercado,

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visto as “intempéries” sofridas pelo setor, como a concorrência com outros mercados

internacionais.

Conforme Fernandes e Cario (2008), a reformulação da indústria têxtil brasileira

aconteceu no início dos anos 90, em decorrência da abertura econômica. Em um primeiro

momento, a indústria se posicionou de forma defensiva frente aos produtos importados, mas

logo após, as empresas trataram de aproveitar a oportunidade para revitalizar seus parques

fabris tendo em vista o padrão da indústria internacional. Como consequência do novo layout

produtivo, abriu-se espaço para as facções, uma vez que o setor optou pela desverticalização

de seu processo, delegando a seus peares, parte dele.

As facções de costura seridoenses são especialistas na montagem de peças. Matos et

al. (2013, p. 89) trazem as máquinas e suas determinadas funções desse processo de

montagem:

A fase da montagem é a costura propriamente dita, âmago da indústria do vestuário,

e abrange costura reta, interlock (fecha a peça), overlock (reforça a costura),

máquina de rebater (persponto), máquina mosqueadeira (caseia) e máquina de

travetes (reforço em bolso, zíper e final de costura). [...]

No Rio Grande do Norte, a atividade faccionista surgiu há aproximadamente 15 anos,

tendo origem no município interiorano de São José do Seridó, distante 251 Km de Natal,

capital do estado, onde fica as fábricas e os centros de distribuição das grandes empresas. E de

onde é transportada a matéria prima usada nas facções.

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33

3. METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

Previamente, o trabalho se deu através de pesquisa bibliográfica com o objetivo de

coletar material científico que desse suporte na construção do trabalho, de modo a embasar o

referencial teórico assim como outros pontos do projeto. Para isso, utilizou-se das fontes de

pesquisa mencionadas abaixo:

Meio físico: livros, revistas, periódicos, monografias, dissertações, artigos, teses.

Acesso: Biblioteca Setorial do Centro Regional, Currais Novos e a Biblioteca

Pública Manoel Moisés de Medeiros, anexo II da câmara municipal de Jardim do

Seridó.

Meio digital: sites de empresas privadas, públicas e do terceiro setor. Além de

bibliotecas digitais, como LUME Repositório Digital (www.lume.ufrgs.br),

Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTB (bdtd.ibict.br),

Portal de Periódicos CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior (www.periodicos.capes.gov.br), Google Acadêmico

(www.scholar.google.com.br) e outros. Tendo também visitado sítios

especializados na área de administração, RAE – Revista de Administração de

Empresas (www.rae.fgv.br), O Portal da Administração

(www.administradores.com.br).

Sobre pesquisa científica Vergara (2007, p. 11) defende que: a atividade básica da

ciência é a pesquisa. Todavia, convém não esquecer que as lentes do pesquisador, como as de

qualquer mortal, estão impregnadas de crenças, paradigmas, valores. Negar isso é negar a

própria condição humana de existir. Refuta-se, portanto, a tão decantada “neutralidade

científica”.

A pesquisa bibliográfica é, assim, o primeiro momento de reflexão sobre a viabilidade

da pesquisa, pois pode indicar a existência de dados disponíveis a serem pesquisados. Ou

identificar que o proposto tema em questão receberá resposta tão ampla que, se não

delimitada, poderá trazer dificuldade de interpretação e, portanto, imprestabilidade científica

da pesquisa. (VELOSO, 2011, p. 46)

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34

Considerando-se a essência do trabalho, no qual procura conhecer os desafios e

possibilidades dos empreendedores faccionistas, realizou-se uma investigação exploratória e

descritiva.

Exploratória porque apesar de existir certo número de estudos sobre as facções de

costura, não se verificou estudos com tona aos aspectos que essa pesquisa pretende abordar,

que é conhecer os desafios enfrentados pelos empreendedores faccionistas na busca de se

manterem no mercado e suas perspectivas para o futuro do setor. Vergara (2007) alerta que a

investigação exploratória não deve ser confundida com leitura exploratória, é realizada em

área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Descritiva porque procura

identificar algumas peculiaridades do segmento, como por exemplo, os riscos e desafios

enfrentados pelos faccionistas. “A pesquisa descritiva expõe características de determinada

população ou de determinado fenômeno” (VERGARA, 2007, p. 47).

Com relação a abordagem do problema essa se classifica como qualitativa. Souza;

Fialho e Otani (2007) esclarece que há uma relação entre o mundo real e o sujeito, isto é, um

vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser

traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são

básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas

estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o

instrumento-chave.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos de três cidades da região Seridó do Rio

Grande do Norte, sendo elas: Acari, Jardim do Seridó e São José do Seridó. São faccionistas

com perfis variados, uns com mais experiência e outros há pouco tempo no mercado.

Nos quadros a seguir serão mostrados os perfis dos entrevistados, trazendo

informações quanto aos seguintes aspectos: localização, sexo, idade, número de facções,

número de funcionários, cargo e tempo no mercado.

Quadro 1 – Entrevistado 1

ENTREVISTADO 1

Localização: Jardim do Seridó

Sexo: Masculino

Idade: 39 anos

Número de facções: 2 facções

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35

Número de funcionários: 97

Cargo: Diretor

Tempo no mercado: 11 anos

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Quadro 2 – Entrevistado 2

ENTREVISTADO 2

Localização: Jardim do Seridó

Sexo: Feminino

Idade: 28 anos

Número de facções: 1 facção

Número de funcionários: 29

Cargo: Proprietária

Tempo no mercado: 2 anos e meio

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Quadro 3 – Entrevistado 3

ENTREVISTADO 3

Localização: Acari

Sexo: Feminino

Idade: 30 anos

Número de facções: 1 facção

Números de funcionários: 29

Cargo: Gestora

Tempo no mercado: 3 anos

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Quadro 4 – Entrevistado 4

ENTREVISTADO 4

Localização: Acari

Sexo: Masculino

Idade: 48 anos

Número de facções: 2 facções

Números de funcionários: 80

Cargo: Diretor

Tempo no mercado: 13 anos

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Quadro 5 – Entrevistado 5

ENTREVISTADO 5

Localização: São José do Seridó

Sexo: Feminino

Idade: 33 anos

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36

Número de facções: 1 facção

Número de funcionários: 40

Cargo: Gerente

Tempo no mercado: 6 anos e meio

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Quadro 6 – Entrevistado 6

ENTREVISTADO 6

Localização: São José do Seridó

Sexo: Feminino

Idade: 34 anos

Número de facções: 8 facções

Número de funcionários: 334

Cargo: Diretora

Tempo no mercado: 6 anos

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA

Em se tratando do instrumento de pesquisa, percebe-se que para esse caso o método

mais coerente para obtenção de informações será a entrevista individual. Portanto forma

realizadas entrevistas individuais com os empreendedores do polo Seridó de facções de

costura buscando conhecer, dentre outros fatores, o que os empreendedores pensam sobre o

futuro do setor. Quanto a estrutura de uma entrevista individual Vergara (2009) classifica-as

em fechada, semiaberta e aberta, sendo a semiaberta a escolhida para esse trabalho.

Para Vergara (2009) um roteiro cuja estrutura seja semiaberta, tal como o roteiro da

estrutura fechada, é focalizado. Porém, ao contrário da estrutura fechada, permite inclusões,

exclusões, mudanças em geral das perguntas, explicações ao entrevistado quanto a alguma

pergunta ou alguma palavra, o que lhe dá um caráter de abertura.

3.4 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados através de entrevistas com os faccionistas ocorridas entre os

dias 07 e 22 de abril de 2015. Os entrevistados responderam a pesquisa nos escritórios dos

seus próprios empreendimentos. Todas as falas foram gravadas com aparelhos eletrônicos,

sendo usado, por precaução, dois tipos de capturadores de áudio, um aparelho específico para

gravação de áudio, o IC Recorder, e um celular com tal função. O tempo médio de duração

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37

das entrevistas foi de 16 minutos e 30 segundos, a menos demorada cronometrou 14 minutos

e a mais longa, 29 minutos e 30 segundos.

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

Antes da entrevista propriamente dita, foi enfatizada a importância que um estudo

dessa magnitude traz, tanto a cunho acadêmico como realização pessoal. E por sua vez, a

significância para o segmento explorado, o setor faccionista norte-rio-grandense.

Para evitar perder alguma informação e ao mesmo tempo manter a plenitude dos

dados, as entrevistas foram gravadas e, posteriormente transcritas para facilitar a compreensão

do discurso dos entrevistados.

Os dados de caráter qualitativos que foram coletados frente aos faccionistas receberam

uma perspectiva de análise do tipo análise de discurso. Esse tipo de análise trabalha com o

sentido e não com o conteúdo do texto, um sentido que não é traduzido, mas produzido; pode-

se afirmar que o corpus da AD é constituído pela seguinte formulação: ideologia + história +

linguagem. A ideologia é entendida como o posicionamento do sujeito quando se filia a um

discurso, sendo o processo de constituição do imaginário que está no inconsciente, ou seja, o

sistema de ideias que constitui a representação; a história representa o contexto sócio histórico

e a linguagem é a materialidade do texto gerando “pistas” do sentido que o sujeito pretende

dar. (CAREGNATO; MUTTI, 2006)

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 DIFICULDADES ENFRENTADAS

Na avaliação da maioria dos faccionistas entrevistados, a principal dificuldade

enfrentada por eles é a falta de regularidade no abastecimento de matéria-prima, que no caso

específico das facções, são peças de roupa para serem montadas, podendo ser da parte de

baixo do vestuário, como calças e shorts ou da parte de cima; camisas, jaquetas etc. Como as

facções não tem sua própria marca, elas funcionam como prestadoras de serviço para as ditas

contratantes do setor que são as redes de lojas de departamento e grandes conglomerados

têxteis. Para essas empresas é mais viável economicamente terceirizar a parte de confecção,

porque necessita de grande quantidade de mão de obra.

Amato Neto (1997) explica que a terceirização, refere-se ao ato de transferir a

responsabilidade por um determinado serviço ou operação/fase de um processo de produção

ou de comercialização, de uma empresa para outra(s), neste caso conhecida(s) como

terceira(s). Nesta forma, a empresa contratante deixa de realizar alguma ou várias atividades

cumpridas com seus próprios recursos (pessoal, instalações, equipamentos etc.) e passa-as

para empresa(s) contratada(s).

Enquanto as etapas de tecelagem e, principalmente a fiação, são relativamente mais

intensivas em capital e escala, com maior possibilidade de automatização do processo

produtivo, a etapa de confecção e vestuário continua sendo bastante intensiva em mão de

obra. (HIRATUKA, 2008)

A entrevistada 3, faccionista na cidade de Acari, expressou a instabilidade do setor

como a principal dificuldade que enfrenta. Há três anos exercendo a atividade de faccionista

disse ser esse o seu maior problema, apesar de também ter dificuldade para gerir o quadro de

pessoal.

“Assim, eu acho que a maior dificuldade é trabalhar com gente, sabe? No dia a dia,

trabalhar com gente é difícil. E outra, essa questão da gente trabalhar para empresa

grande, falta de abastecimento, se a gente trabalhar tendo abastecimento

constantemente a gente consegue. Pronto! O problema principal é esse. Se não faltar

abastecimento pra gente, a gente consegue viver bem. Eu acho que até agora o

principal é esse.” (ENTREVISTADA 3)

Assim como a entrevistada 3, a entrevistada 5, empreendedora no município de São

José do Seridó desde 2009, ela disse ser muitas as dificuldades, porém a mais recorrente é a

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inconstância no abastecimento de peças. Outra dificuldade apontada foi a de mão de obra

qualificada, que segundo ela praticamente inexiste no município.

“São muitas (dificuldades), mas a parte de abastecimento a gente sofre muito.

Temos dificuldade com gente também, não tem pessoas capacitadas, precisa de uma

pessoa não tem, nós temos que treinar, a mão de obra está escassa. Já estamos

contratando de outras cidades, Cruzeta e Caicó, por exemplo.” (ENTREVISTADA

5)

A escassez de mão de obra parece ser mesmo um grande entrave para o avanço do

setor no município são-joseense. A cidade de 4.231 habitantes possui 17 pequenas indústrias

de confecção sendo oito delas pertencentes somente a entrevistada 6, que afirmou está

fazendo investimentos empresarias em outra localidade da região, já que a cidade não

comporta mais facções devido a carência de mão de obra. Indagada se havia outro motivo que

teria levado a transferir os investimentos, respondeu que não. É bom frisar que essa

dificuldade foi aparecendo com o tempo, dado que no início eram poucos os

empreendimentos no município.

Além disso, a entrevistada 6 revelou que pela grande quantidade de desafios que tem

que encarar, acha difícil enumerá-los. Mesmo assim, elencou vários, sendo eles: absenteísmo,

logística, fornecimento precário de energia; internet e telefonia, fora outros insumos básicos.

“As dificuldades elas são praticamente difíceis de enumerar, são muitas mesmo em

razão da localização da gente, em razão dos serviços oferecidos por algumas

instituições como COSERN. Nós temos hoje um problema muito grande com

fornecimento de energia. Nós temos um problema muito grande de absenteísmo. O

fornecimento no interior ele ainda é muito precário, em determinadas épocas de

chuva há muitos episódios de queda de energia e, esses episódios eles afetam muito

a indústria e, agora com os aumentos na tarifa.” (ENTREVISTADA 6)

Sucintamente, ela ainda disse que as dificuldades estavam atreladas a três fatores, que

considera essências para a indústria: energia, mão de obra e mercado.

“A indústria sobrevive de três pilares, energia, mão de obra e o varejo, a venda, o

mercado. Então nós temos essas dificuldades, a dificuldade em termo de logística,

de tá um pouco distante do tomador de serviço, nós temos as dificuldades com

relação ao fornecimento de internet, fornecimento de energia e de telefonia que é

péssimo.” (ENTREVISTADA 6)

Com relação a distância entre a contratante e a contratada, Ruduit (2002, p.422) traz

uma afirmativa interessante a respeito, para ele: “[...] quanto mais próxima da empresa central

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estiver a empresa contratada, maiores seriam as chances de práticas não precárias de

emprego.”

Falta de autonomia foi a principal dificuldade apontada pelo faccionista (entrevistado

1) que está a mais tempo faccionando na cidade de Jardim do Seridó. Mesmo estando há 11

anos no mercado têxtil, o entrevistado alega não ter autonomia nenhuma diante de seus

clientes que são as empresas terceirizadoras e isso tem deixado os empreendedores do setor

preocupados. Disse que o mercado inchou com a quantidade de facções que foram abertas

recentemente e usa uma metáfora para explicar o momento atual do segmento, a “fatia do

bolo” diminuiu, referindo-se a quantidade de peças que as facções recebem para produzir.

“O mercado hoje tá muito restrito, foram abertas muitas facções e a gente costuma

até comparar a fatia do bolo, ou seja, nós hoje vivemos num mundo dos negócios

onde nós não temos autonomia de preço, não temos autonomia de modelo, nem

temos autonomia do que é pra fazer. A gente tudo depende das nossas âncoras. Eles

são quem mandam no preço e quem ditam todas as regras.” (ENTREVISTADO 1)

Em outras palavras, compreende-se que não surgiram empresas clientes suficientes

para acompanhar a demanda de novos pequenos negócios que foram criados e, isso teria

diminuído a “fatia do bolo”, ou seja, a disponibilidade de peças para as facções. Mas, então, o

que teria estimulado a abertura de tantas facções?

Um comentário feito pela entrevistada 3 pode ajudar a descobrir uma das causas que

teria ocasionado a explosão no número de unidades de costura. Segundo ela, o que teria a

levado abrir uma facção foi ao perceber que muitas abriam e se davam bem. Assim, por essa

percepção, o aumento constante de abertura de facções impulsionava a chegada de novas e

assim por diante. Esta lógica é perfeitamente perceptível nas palavras da entrevista 3, quando

afirma:

“Assim, ao ver que muitos tinham facção achei que daria dinheiro e investi.”

(Entrevistada 3)

Uma dificuldade perceptível comum a duas faccionistas consultadas foi com relação

ao controle financeiro do negócio, mesmo não tenho assinalado isso como uma dificuldade,

em dado momento da fala ficou nítido que elas estão confusas com relação ao retorno

financeiro dos seus referidos empreendimentos.

“Até agora, dá até dá um dinheirinho, mas dá mais prejuízo do que ganho. Na

realidade eu vejo é isso, porque eu invisto constantemente e vejo o lucro bem longe,

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mas não vejo que é aquilo que eu pensava não, que eu almejava.”

(ENTREVISTADA 3)

“Muita gente dizia que não dava certo e, até hoje, tá dando, assim, não é muito bom,

mas tá dando certo.” (ENTREVISTADA 5)

A entrevistada 3 tem o ensino médio completo e a 5 não chegou a conclui-lo. Ambas

começaram trabalhando como costureiras e viraram empreendedoras de seus próprios

negócios, o que sabem aprenderam na prática através do conhecimento empírico. Dornelas

(2008) argumenta que muitos ex-funcionários que fundam novos negócios, às vezes mesmo

sem nenhuma experiência no ramo, mergulham no desafio de ser empreendedor munido

apenas do pouco que ainda lhes restou de economias pessoais, fundo de garantia etc. Quando

percebem, esses profissionais já estão do outro lado. Agora são patrões e não mais

empregados. Consequentemente muitos ficam na economia informal, motivados pela falta de

crédito, pelo excesso de impostos e pelas ainda altas taxas de juros.

A questão do descompasso no acesso aos recursos materiais volta a tona com o

entrevistado 4, para ele o problema crucial é justamente em relação ao fornecedor, que são

poucos e ainda por cima tem seus períodos sazonais.

“A grande dificuldade que o setor faccionista enfrenta é a questão do mercado e

fornecedor. Antigamente nós tínhamos um único fornecedor (...). Aqueles

faccionistas que tão dependendo de um único fornecedor, o mercado oscila muito

têm épocas que o mercado tá bem abastecido, tem épocas que o mercado tá fraco,

principalmente final de ano: novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março são os

meses de baixa estação. E aqueles que dependem de um único fornecedor tem

dificuldade.” (ENTREVISTADO 4)

Segundo Sampaio e Mello (1988), quando uma empresa (de qualquer porte) não tem

como suprir seus pedidos, a facção é buscada como auxílio, sendo o mesmo por tempo

determinado ou não. Isso é um dos elementos básicos que define a facção. Em outros casos, a

empresa necessita de uma facção devido ao tipo de peça que ela produz. Nesse caso, a facção

pode se especializar na produção de alguns artigos do interesse da empresa que subcontrata.

Seguindo a mesma linha se apresenta a entrevistada 2, de acordo com ela o campo da

terceirização é de incerteza, em virtude da submissão que as facções se encontram frente às

contratantes. Além desse, elegeu como outras dificuldades, a ausência de incentivos fiscais e

alta taxa tributária.

“A maior dificuldade que eu acho é devido à terceirização. Quem terceiriza você vai

dormir é uma coisa escura, amanhã você pode está sem nada. Além do mais, nós não

temos incentivos fiscais. Não temos incentivos de prefeitura e de nenhuma parte do

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governo. Ser empreendedor no Brasil não é fácil só vai quem tem coragem, porque

os impostos, carga tributária são muitos e alto.” (ENTREVISTADA 2)

Essa faccionista revelou que está há quase um ano sem receber abastecimento de uma

determinada empresa e, caso não tivesse aparecido outra empresa para faccionar teria fechado

sua facção.

Como se pode perceber, a falta de regularidade no abastecimento das facções

predomina entre os faccionistas entrevistados como a principal dificuldade. Mas, em

documento feito pelo SEBRAE essa dificuldade apontada pelos empreendedores é

referenciada como um risco. Segundo o documento, os principais riscos de quem pretende

enveredar nesse tipo de negócio são a ineficiência, baixa qualidade dos produtos

confeccionados, a falta de regularidade no abastecimento das empresas de confecções, o baixo

preço a ser pago pelo serviço de costura e a dependência a um único comprador. O documento

citado, no qual o empreendedor pode ter acesso no site do SEBRAE, é perfil de negócio

criado para apoiar os futuros empreendedores na implantação das facções.

4.2 DINÂMICA DA PARCERIA

Nessa etapa se buscou entender como é firmada a parceria entre a empresa contratante

(grandes empresas têxteis e lojas de departamento) e contratada (facções de costura). O

primeiro passo foi conhecer para que empresas tomadoras de serviço as facções trabalham.

Assim, foram reveladas três empresas que são fornecedoras e clientes das facções,

identificaremos por empresa A, empresa B e empresa C, como mostra o quadro abaixo.

Quadro 7 – Empresas fornecedoras e clientes das facções

Faccionistas Local Fornecedora

Entrevistado 1 Jardim do Seridó Empresas A e C.

Entrevistado 2 Jardim do Seridó Empresa C.

Entrevistado 3 Acari Empresa A.

Entrevistado 4 Acari Empresas A e C.

Entrevistado 5 São José do Seridó Empresas A e C.

Entrevistado 6 São José do Seridó Empresas A, B e C.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Todos os faccionistas consultados declararam que trabalham ou já trabalharam para a

empresa A. Cinco deles ainda continuam produzindo para essa empresa, como podemos

constatar no quadro, porém quatro faccionam também para a empresa C devido a irregular

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distribuição no fornecimento daquela. O caso relatado pela entrevistada 2, que iniciou

confeccionando também para a empresa A, é mais grave do que se pensa, ela contou que

desde setembro de 2014 que não recebe peças da empresa e isso ocorreu sem eles prestar

nenhuma explicação, simplesmente pararam de fornecê-la.

“Eu ainda tô com o contrato com a empresa A, mas eu não recebo peça desde

setembro de 2014 e já estamos em abril de 2015, mas o contrato ainda tá assinado.”

(ENTREVISTADA 2)

Para o entrevistado 1, a possibilidade de trabalhar com mais de um fornecedor

representa abertura do mercado, fato de suma importância para o setor.

“É a possibilidade da abertura de novos clientes, que é o que a gente hoje tem como

prioridade. O setor faccionista de modo geral já tá procurando ampliar cliente para

que quando o mercado estiver em baixa para um cliente, o outro vem para a gente

poder suprir a nossa produção, nosso planejamento.” (ENTREVISTADO 1)

Metade dos entrevistados, isto é, 50%, disse ter iniciado faccionando com a

fornecedora B, porém apenas um continua produzindo peças para este fornecedor. De acordo

com a entrevistada 5 sua parceria com a empresa B acabou, pois sofria com falta de

pagamento e atrasos. Enquanto que o entrevistado 4 disse não faccionar mais para essa

empresa, visto que ela está praticamente fora do mercado do Rio Grande do Norte.

“Eu trabalhava para a empresa B, só que com o tempo por falta de pagamento, de

atraso eu deixei e procurei a empresa A. E agora produzo para as empresas A e C.”

(ENTREVISTADA 5)

“Ela (empresa B) continua no estado, mas praticamente só com a unidade interna lá

em Parnamirim, a não ser final de ano, quando chega aproximadamente agosto,

setembro e outubro, ela procura as facções dos interiores pra ver aquelas que possam

fazer alguma coisa pra eles. Totalmente sazonal.” (ENTREVISATDO 4)

De todos os examinados, a entrevistada 6 é a que possui mais fornecedores e clientes.

“Nós começamos em março de 2009 com essas duas empresas parceiras (empresas

A e B), permanecemos até hoje com elas duas e incrementamos com a maior delas

hoje (empresa C) e alguns pequenos clientes, clientes pontuais. Clientes de marca

própria, daqui do estado mesmo que trabalha com eventualidade. Quando tem

alguma necessidade específica nos procuramos e a gente atende sem comprometer o

volume do cliente principal.” (ENTREVISTADA 6)

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Embora já venha anos a fio passando por dificuldades quanto ao abastecimento de

peças, a entrevistada 3 não pretende, pelo menos a curto prazo, fabricar para outra empresa.

Considera prematuro migrar para uma empresa que está há pouco tempo no mercado. Então

prefere trabalhar com uma única fornecedora mesmo que essa não atenda suas necessidades

totais, a faccionar para uma empresa que está surgindo no mercado.

“Faz cinco meses que a gente tá praticamente sem abastecimento. Isso sem contar

2013 que foi péssimo e 2014 que foi mais ou menos. Tem a (empresa C), mas

começou há pouco tempo, eu até tenho vontade de ir para a (empresa C), mas vou

primeiro ver, porque é assim, no início é tudo muito bom, tudo muito bonito, mas

depois quando tem muitas facções trabalhando para a mesma empresa (...). Com a

(empresa A) foi assim. Hoje têm muitas facções trabalhando para eles, por isso que

eles não conseguem abastecer a todas num certo período, é o mesmo medo que eu

tenho com a (empresa C), ela promete abastecer sempre, só que tem poucas facções

trabalhando para eles hoje em dia. Tá no início, o meu medo é quando expandir

acontecer a mesma coisa, então vou esperar.” (ENTREVISTADA 3)

Segundo a entrevistada acima, mesmo sem cumprir com o abastecimento adequado, a

empresa A exige que os faccionistas paguem salário fixo. Araújo e Amorim (2001/02, p. 275),

afirmam que a terceirização tem imposto aos trabalhadores relações de emprego instáveis,

redução de salários, de benefícios e condições de trabalho degradadas, que têm como

consequências o aumento de acidentes de trabalho e das doenças profissionais. A faccionista

admitiu que para manter os salários dos seus colaboradores em dia teve que recorrer a

sucessivos empréstimos bancários.

O segundo ponto levantando foi se existia um contrato formalizado entre elas. Para

este questionamento a resposta foi unânime, todos declararam existir um contrato formal entre

a facção e a contratante. Um faccionista respondeu que o contrato foi firmado em cartório,

enquanto os demais disseram que não.

“Existe um contrato entre a empresa fornecedora e a facção. O contrato formal

registrado em cartório, onde têm as suas cláusulas e a gente tem que cumprir como

qualquer outro contrato.” (ENTREVISTADO 1)

Alguns disseram não conhecer por inteiro o contrato e esses, pouco souberam

acrescentar sobre o assunto. Já outros veem o contrato como uma confusão, ou melhor, um

acordo de mão única, cujo todas as regras são delimitadas pela fornecedora. Conforme relata

um dos faccionistas:

“O contrato é outro imbróglio do nosso setor porque nós que trabalhamos pra eles,

nós não determinamos regras, eles é quem determinam as regras, e nós só podemos

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assinar o contrato. Eles fazem o contrato com todas as exigências, botando tudo que

tem no contrato deles, se eles só fazem cobrar da gente, nós temos essa dificuldade

nos contratos, eu não sei com essa nova política, que tá sendo discutida no congresso

nacional, essa questão da terceirização, estão se formalizando a terceirização, eu não

sei se isso vai nos beneficiar, acarretar alguma mudança nesses contratos das

terceirizadas com os parceiros que somos nós.” (ENTREVISTADO 4)

Em seguida, perguntou-se se as organizações fornecedoras exigia exclusividade, isto é,

se quando firmada a parceria entre elas, a fornecedora proibia a facção de firmar contratos

também com outras empresas. Sessenta por cento (60%) dos entrevistados responderam que

não. E em contrapartida, quarenta por cento (40%), disseram que sim.

“Não, nenhuma exige exclusividade, a gente tem o mercado aberto. Eles exigem

apenas que nós compramos o que é planejado.” (ENTREVISTADO 1)

“No contrato não, mas verbalmente eles querem exigir. Que trabalhe só para eles.”

(ENTREVISTADO 2)

“Não, não exige exclusividade.” (ENTREVISTADO 3)

“No começo a (empresa A) exigia isso, depois que nós fomos buscar novas parcerias

(...). Hoje ela já não exige mais.” (ENTREVISTADO 4)

“Não. O diretor da (empresa A) veio e disse que não tem importância eu costurar pra

duas empresas.” (ENTREVISTADO 5)

“Não, pelo contrário, até recomenda que não tenhamos um parceiro exclusivo.”

(ENTREVISTADO 6)

Por fim, procurou-se descobrir mais dois aspectos relativos ao contrato. Primeiro se

havia alguma garantia de fornecimento dada pelas contratantes e segundo, se havia alguma

negociação com relação ao preço que é pago pelas peças montadas pelas facções. As respostas

quanto à garantia foram uniformes, não há garantia nenhuma de tempo determinando até

quando as facções serão abastecidas. Caso a contratante, por algum motivo, deixe de

faccionar para determinada facção, o acordo é que ela comunique o desligamento 30 dias

antes. No que tange a negociação do preço pago pelo serviço feito pelas facções às

fornecedoras são inflexíveis.

“Nós temos essa luta constante de embargue de preço. Muitas vezes aquela peça é

inviável pra gente fazer pelo preço que ela nós repassa e muitas vezes nós somos

sujeito a fazer. Mas isso não acontece com todas as empresas. Tem empresa que

paga por minuto, nós fazemos o tempo da peça e mostramos pra ela tecnicamente

que tá errado e ela corrige o preço.” (ENTREVISTADO 4)

“Dificilmente tem negociação, eles botam aquele preço, se a gente questionar as

vezes até baixa. A gente não prefere nem questionar ficar calado, porque muitas

vezes a gente questionou eles baixam. O preço diminui em vez de aumentar. E a

gente tem que se adaptar a isso. Trabalhar dessa forma.” (ENTREVISTADA 2)

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4.3 ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR A DEPENDÊNCIA

As estratégias das grandes empresas que comandam a cadeia têxtil-vestuário tem sido

concentrar suas atividades e esforços sobre os ativos intangíveis como marca,

desenvolvimento de produto, marketing, canais de distribuição e comercialização, enquanto

deslocam suas atividades produtivas para regiões/países onde a mão de obra é mais barata.

“Esse deslocamento da produção pode ser via investimento direto ou por meio de

subcontratação, caso mais frequente e crescente”. (FINEP, 2006, p. 6)

A caça incessante das grandes empresas por mão de obra mais barata coloca em jogo a

sobrevivência das facções e consequentemente de todo o setor faccionista.

Na China o custo de mão de obra chega a ser 30% menor que no Brasil. Outro

mercado de custo mais barato e que atrai investidores de várias partes do mundo inclusive do

Brasil é o paraguaio, o custo de uma calça jeans fabricada naquele país é 35% inferior ao do

Brasil, devido, principalmente, a mão de obra que é 35,5% mais barata que à brasileira,

segundo estudo produzido pela FIESP. Enquanto que no Brasil uma calça jeans sai para o

fabricante a US$ 7,75, no Paraguai é de US$ 5,73.

Diante dessa perspectiva, quais seriam as alternativas de sobrevivência para o setor

faccionista da região Seridó do Rio Grande do Norte se as empresas que hoje faccionam parte

de sua produção nessa área migrarem para esses mercados internacionais.

Muitos dos faccionistas pesquisados não acreditam nessa hipótese. Falaram que as

empresas fazem investimentos na região e por isso elas não deixariam de terceirizar aqui. No

entanto se isso acontecesse eles fechariam.

“Eu, por exemplo, fecharia. Só que ela (empresa A) também expande aqui no

nordeste, também estão abrindo outras facções, eu não acredito que ela vá fazer a

covardia de deixar, de abandonar. Até porque eles lucram muito aqui no estado.

Lucram muito! Até onde eu sei em cálculos a gente já foi visto, eles lucram muito.” (ENTREVISTADA 3) “Agora agora não tenho alternativa, seria fechar. Ou fecha ou buscar outro parceiro,

se tiver outro parceiro.” (ENTREVISTADA 5)

“De imediato não vejo nenhuma saída.” (ENTREVISTADA 2)

Diferentemente, outros entrevistados são mais informados e cientes do problema, eles

já tomaram conhecimento que algumas dessas empresas estão terceirizando nesses mercados

internacionais. O entrevistado 1, citou duas alternativas para o problema, como podemos ver

na fala abaixo:

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“Hoje é mais o paraguaio, o chinês não tá afetando não devido a alta do dólar, o

paraguaio hoje é uma ameaça grande. Mas o chinês é pontual agora devido o dólar.

Algumas empresas que nós faccionamos já tão migrando pra lá. Uma parte já tão pra

lá. Então temos que buscar novos clientes ou criar nossa própria marca.”

(ENTREVISTADO 1)

Dentre as alternativas apontadas a mais excêntrica foi a do entrevistado 4, ele defende

que o governo deveria obrigar as grandes empresas abastecerem as facções regularmente, pois

se elas recebem incentivos fiscais do governo para se instalarem aqui deveria retribuir

mantendo as facções abastecidas constantemente.

“O mercado tem na verdade declinado, acho que eles vão fazer fora do país, vão

fazer na China e tem deixado nós que estamos no ramo sofrendo com essa falta de

abastecimento. Hoje é pior porque no começo se existia tipo uma parceria com a

sociedade, pagava por produção, aí nós empresários não tinha tanta dificuldade

financeira porque se trabalhava só quinze pagava só quinze dias, hoje é diferente,

eles exigem que a gente pague o salário cheio mesmo que não trabalhe o tempo

todo. Se a gente não pagar eles não mandam abastecimento. A alternativa que eu

vejo é que o próprio governo, o macro governo federal e até o governo do estado

que dá incentivo fiscais para empresas obrigar elas a manter o abastecimento

constante de no mínimo que dê pra pagar as despesas fixas das

empresas”(ENTREVISTADO 4)

A faccionista 6 admite que não tem como concorrer com esses mercados onde a mão

de obra é muito barata, porém as facções seridoenses tem pontos positivos que pode

compensar, como a qualidade e a rapidez que são grandes diferenciais.

“Olhe, eu acredito nós temos muitas desvantagens em relação a essa terceirização

pra fora, Paraguai e China é muito barato, não tem como a gente concorrer, mas nós

também devemos ter as nossas, os nossos pontos positivos. Então, assim, se fosse,

que não acredito de jeito nenhum, se fosse direcionar toda a produção, a

terceirização fora, eu acredito que a facção ela iria ter por obrigação de produzir algo

que pudesse vender, é a marca própria. Não tinha outra alternativa, porém eu

acredito que os pontos positivos da facção, de tá ao lado do cliente, de ter um lead

time infinitamente menor, a peça que é pedida no Paraguai hoje e é pedida no Seridó

hoje, com certeza, dá uma diferença de tempo muito grande, a peça tá pronta no

depósito do cliente muito mais rápido a que foi feita no Seridó. E a qualidade é um

dos grandes diferenciais. Apesar de que hoje o produto chinês ele evoluiu muito, o

produto paraguaio se equipara em qualidade, mas a gente tem também algumas

vantagens, alguns diferenciais que cada faccionista procura pra garantir o seu.”

(ENTREVISTADA 6)

A alternativa de buscar novos clientes não parece uma saída sustentável a longo prazo,

porque a tendência será que no futuro esses novos clientes também busquem mercados com

custos de produção mais atraentes. Mas a opção levantada por uma das faccionistas, na qual

chamou de mix de clientes, onde a facção produziria para clientes de variados tamanhos, essa

sim apresenta ser mais sustentável.

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“Eu vejo o mix de clientes como a grande sacada. Buscar novos clientes, clientes

grandes, clientes pequenos, clientes médios, do estado e de fora.”

(ENTREVISTADA 6)

Ao questionar se no futuro eles pretendiam ter sua própria marca, visto que isso

pudesse diminuir a forte dependência que se tem em trabalhar para as grandes empresas, a

pesquisa descobriu que alguns faccionistas estão com o projeto de criação de marca própria.

São cinco faccionistas (coincidentemente dois dos consultados) de três cidades da região,

Jardim do Seridó, Acari e Cerro Corá, que juntos, brevemente, irão lançar sua marca.

“Juntou-se 5 empresas do setor faccionista, aqui do Seridó, tem dois de Acari, dois

de Jardim do Seridó e um de Cerro Corá, onde estamos lançando, organizando nossa

marca própria este ano, é a Virgulino moda masculina que será lançada em breve.”

(ENTREVISTADO 4)

Goularti Filho e Jenoveva Neto (1997) dividem os processos de produção da cadeia

têxtil em cinco etapas: 1) criação; 2) modelagem, 3) corte; 4) montagem e 5) acabamento.

Geralmente as grandes empresas descentralizam geograficamente essas etapas em diferentes

regiões dentro de um país ou mesmo a nível global, por isso que diz que essa cadeira tem

perfil internacional. Tanto para dinamizar o processo como também para barateá-lo. Quais

seriam as estratégias dos faccionistas quanto a essa cadeia?

Inicialmente, um problema que os empreendedores da marca própria irão enfrentar é

quanto ao corte do tecido, pois no Seridó ainda não existe empresas especializadas nesse tipo

de serviço. Então no que se refere a esse processo eles responderam que por enquanto estão

cortando em um galpão na cidade de Cerro Corá com a ajuda do SENAI, porém pretendem

mais adiante fazer esse serviço através de uma parceria com o IFRN de Caicó que possui um

laboratório têxtil.

“Por enquanto, estamos cortando manualmente, tá sendo cortado lá em Cerro Corá.

Alugamos um galpão, montamos esse corte e fizemos uma capacitação com os

jovens lá da cidade, aonde está sendo capacitado por uma pessoa do SENAI.

Tivemos que capacitar gente para cortar as peças, embora o IFRN de Caicó tem um

curso de vestuário hoje, aonde estamos fazendo uma parceria com eles, assim que

aprontar o corte do IF e também a lavanderia. É uma parceria interessante, para o IF

questão de aulas práticas com seus alunos, pra gente possa melhorar e ter um corte

automatizado para começar.” (ENTREVISTADO 4)

Aproveitando essa descoberta inesperada, a pesquisa se aprofundou tentando garimpar

dos futuros detentores da marca própria suas principais ideias de implementação do novo

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negócio. Sendo assim, indagou-se sobre quais seriam os produtos fabricados, assim como o

(s) tipo (s) de tecido, mercado consumidor e outros fatores.

“O tecido a gente comprou diretamente das grandes empresas do país, no caso a

Vicunha que é uma das melhores fornecedores de tecido, que ela tem representante

no estado do RN.” (ENTREVISTADO 4)

“Já estamos catalogando vendedores, vamos mostrar o nosso produto para que eles

possam levar e ofertar não só na região, mas sim também em outros estados e

também na capital. Vale salientar que só o Seridó tem um mercado consumidor de

300 mil pessoas, só o Seridó, claro, nós não vamos começar com uma quantidade

muito grande de peças, nós estamos começando por que nosso primeiro projeto,

nosso primeiro negócio é faccionar, e vamos introduzindo dentro das nossas

unidades, breve, a nossa marca.” (ENTREVISTADO 4)

Em alguns pontos, notou-se que os empresários ainda divergem... Ao comentarem do

tipo de tecido que irão fabricar seus produtos...

“Pra começar, iniciaremos com a moda masculina, camisa, calça, bermuda, bermuda

cargo e bermuda tactel. Praticamente a moda masculina inteira, camisa de tecido,

camisa de malha também, camisa de manga comprida, camisa manga curta e camisa

gola polo.” (ENTREVISTADO 4)

“O produto é a linha masculina, exclusivamente masculino adulto, calça e camisa.

Tecido plano, malha não. A parte de tecido plano.” (ENTREVISTADO 1)

A parte de lavanderia ligada à etapa de acabamento é um dos processos da cadeia têxtil

que dá nuanças finais a peça, atribuindo efeitos, formas e outros detalhes.

“A parte de lavanderia vai ser via parceria com IF. Pra depois se realmente o

produto entrar no mercado, aí sim a gente vai procurar outras etapas.”

(ENTREVISTADO 1)

Na contramão aparece a faccionista 6, para ela o momento não está adequado para

criar uma marca, então pretende se estabilizar no ramo faccionista usando estratégias como o

mix de clientes e outras.

“Diante das dificuldades que nós enfrentamos agora, não pretendo ter marca própria.

Eu penso em estabilizar mesmo como faccionista. E nós temos algumas alternativas

pra buscar, outros clientes grandes, de fora, que com a ajuda de algum órgão do

governo, secretaria de desenvolvimento econômico ou com a ajuda da própria

FIERN a gente conseguiria trazer para o estado do RN. Outros magazines, outros

clientes maiores, de camisaria, de parte de baixo, que pudesse dar um suporte

também.” (ENTREVISTADA 6)

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Assim como a supracitada, estão outras 2 facionistas que também disseram que não

enxergam seu futuro fabricando para si própria.

“Não. Eu acho muito difícil, muito complicado. Eu não compro nada, só pago mão

de obra, então criar marca e assim depender de vendedor, tem que existir vendedor,

procurar cliente, assim até hoje eu não tenho visão pra isso. Até hoje minha visão

não é de marca própria. Difícil.” (ENTREVISTADA 5)

“Eu, até teria vontade de ter minha marca, mas a questão é condições financeiras.

Mas é bem difícil isso. Impossível!” (ENTREVISTADA 3)

No ano de 2013, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (SEDEC) do

Rio Grande do Norte criou o projeto Pró-sertão que segundo o SEBRAE visa contribuir para a

geração de emprego e renda, através do apoio à implantação de facções de costura no Rio

Grande do Norte, visando o aproveitamento das oportunidades decorrentes da ampliação

mercadológica do setor de confecções prevista para os próximos seis anos. Sendo assim, a

presente pesquisa perguntou aos entrevistados se o projeto ajuda a diminuir a dependência

decorrente das poucas empresas fornecedoras presentes no mercado. O quadro abaixo traz a

opinião dos entrevistados sobre o projeto.

Quadro 8 – Análise do projeto Pró-sertão

ESTÃO NO PROJETO O QUE PENSAM

Entrevistado 1

“Com certeza, se não fosse a entrada do pró-sertão juntamente

com a Guararapes tinha fechado muitas facções no estado.

Inclusive algumas encerraram.”

Entrevistado 4

“Com certeza, com a entrada da Guararapes, diminuiu muito a

dependência de peças com uma única empresa, chegou um

novo parceiro e o projeto Pró-sertão, do governo, na verdade,

não é só trazer a Guararapes para esse segmento, a ideia é

trazer novos parceiros, aonde o governo conseguiu unir o que

nós não conseguimos quanto associação é todos os “esses”,

SESI, SENAI, SEBRAE, FIERN, todo mundo num grupo só

para fomentar esse projeto.”

Entrevistada 6

“Vou tratar até como benção, a maior benção pra o estado do

Rio Grande do Norte, não é para o faccionista que já existia

não, para o estado do RN foi a criação desse projeto Pró-

sertão. O Pró-sertão ele veio pra trazer força para o segmento,

ele veio pra trazer sustentabilidade, ele veio pra trazer

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crescimento dos interiores e assim, e a gente sabe de números,

que eu acredito que só de empresa nova já é mais de quarenta,

ou cinquenta, novas facções que surgiram depois do projeto,

nós antes do projeto, eu credito que nós tínhamos 5 facções,

após o lançamento do projeto nós temos oito (...).”

Entrevistada 3

“Eu sou do Pró-sertão. Mas até agora eu não vi diminuir isso

não. Sinceramente eu não vi em que ajudou.”

NÃO ESTÃO NO PROJETO O QUE PENSAM

Entrevistada 2

“Eu não me escrevi no projeto, eu não vi nenhuma vantagem

pra quem já estava no mercado. Tem pra quem iria começar,

mas mesmo assim, a longo prazo né? Influenciou mais a

demanda de abrir mais, mas tirando isso, pra mim, eu não vi

nenhum resultado, pode ser que alguém já tenha, tem pessoas

que conseguiram mais com mais facilidade.”

Entrevistada 5

“Não sei, por que eu não tenho conhecimento do Pró-sertão.

Nunca fui às reuniões do Pró-sertão, fui convidada, mas não

tive oportunidade de ir por que nunca dá certo pra mim ir, não

tenho conhecimento do Pró-sertão.”

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Como podemos observar no “quadro 8”, 4 dos faccionistas entrevistados faz parte do

programa Pró-sertão. Desses, os entrevistados 1, 4 e 6, acreditam que o programa trouxe

melhorias para o setor. Segundo esses entrevistados, o programa ajuda a melhorar o

abastecimento de peças como também aproxima organizações importantes para o

desenvolvimento da atividade, como as empresas do sistema “S” que auxiliam as facções

adeptas do projeto. Já a entrevistada 3, apesar de também participar do programa não ver

melhora nenhuma. Enquanto que a entrevistada 5 pouco sabe a respeito do Pró-sertão, pois,

segundo ela, não teve nenhuma oportunidade de conhecê-lo.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as transformações ocorridas no plano organizacional originárias da globalização,

a busca constante pela competitividade alimentou a criação de formas de produção mais

enxutas e flexíveis como, por exemplo, as facções industriais. Então este estudo buscou

conhecer o que pensa os micro empresários conhecidos como faccionistas no quesito

dificuldades enfrentadas, perspectivas a longo prazo e possíveis alternativas que possam dar

mais sustentação ao segmento.

Após a análise, percebe-se que todos os faccionistas, sem exceção, já passaram ou

ainda passam por dificuldades semelhantes. O caso mais citado é a irregular distribuição do

abastecimento de peças, pois os fornecedores são poucos e o número de facções de uma certa

forma cresce, segundo relato dos próprios faccionistas. Apesar de ter sido citada como

dificuldade, o problema de abastecimento parece ser um risco endógeno do segmento em si

como mostra o plano de negócio implementado pelo SEBRAE.

Outras dificuldades apresentadas são mais setoriais, mas não menos relevantes. Em

São José do Seridó, por exemplo, a escassez de mão de obra impede o crescimento do

segmento, e além do mais, há fragilização na distribuição de insumos básicos como energia,

telefonia e internet que complica o dia a dia dos empreendedores.

É perceptível a dependência que as facções de costura têm diante de seus

fornecedores, nos vêm logo a interrogação: por que as facções não passam a fabricar sua

própria marca? A pesquisa descobriu que a cadeia produtiva têxtil é extensa e complexa, são

etapas e mais etapas para que o processo industrial de uma vestimenta possa ser concluído.

Além de requerer um investimento financeiro elevado, é notório que a região Seridó ainda não

possui infraestrutura necessária para tal, mesmo assim, como a análise mostra, um grupo de

faccionistas estão em processo inicial de fabricação de um produto próprio. Diante das

dificuldades, eles desenvolveram parcerias criativas para tocar o negócio, junto ao SEBRAE e

o IFRN da cidade de Caicó, que possui curso técnico e laboratório na área têxtil, eles estão

recebendo auxílio para as fases de corte e lavanderia.

Uma alternativa que pode ganhar força num futuro próximo e ser uma saída forte para

a dependência é a denominada de mix de clientes, a proposta foi citada por uma faccionista

que não pretende ter marca própria e que já vem produzindo para uma gama de clientes e vem

dando certo.

Um fato curioso e que limitou momentaneamente o início das entrevistas foi quanto a

impossibilidade de alguns facionistas procurados, visto que tinham fechado seus negócios.

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Um disse ter fechado por falta de administração, o que não dá para saber o real motivo, pois

esse é um problema que pode está inerente a vários fatores organizacionais, já outro

procurado disse que tinha encerrado as atividades por falta de abastecimento, o que denota a

fragilidade que é esse tipo de empreendimento. Alegando falta de tempo alguns dos

entrevistados remarcaram as entrevistas em até três vezes, teve também aqueles que não

responderam a solicitação para participar da pesquisa.

Acredita-se que as descobertas alcançadas com esta pesquisa foram de suma

importância, principalmente por abordar um tema atual e que pouco o tem encontrado na

literatura administrativa. A área tem muito ainda o que se explorar este trabalho é apenas o

início de outros que poderão vir. Fica evidente que ainda existe muito a ser pesquisado sobre

o setor faccionista seridoense. Desta forma, espera-se que esse estudo possa contribuir para o

maior conhecimento sobre o setor e ao mesmo tempo ser ponto de partida para futuras

pesquisas da academia.

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ANEXOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS - DCSH

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

QUESTIONÁRIO

PARTE I – PERFIL DO EMPREENDEDOR (A).

1) Sexo:

2) Idade:

3) Naturalidade: [por que se mudou? (pra pessoas que nasceram em locais diferentes dos

que trabalham como faccionista)]

4) Escolaridade:

5) Estado civil:

6) Ocupação da esposa:

7) Escolaridade da esposa:

8) Filhos:

9) Idade:

10) Início da vida profissional:

11) Possui quantas facções:

12) Cargo que ocupa:

13) Número de costureiros:

14) Está há quanto tempo no mercado?

15) O senhor (a) exerce outra atividade além de faccionista?

16) Possui ou já teve outros empreendimentos? Se possui: qual? Se já possuiu: por que

deixou?

17) Como nasceu a ideia do empreendimento e o que o (a) levou investir no segmento de

facções?

PARTE II – DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS FACCIONISTAS.

1) Quais as dificuldades enfrentadas por você no desenvolver da atividade faccionista?

2) Qual é a principal dificuldade enfrentada pela sua facção?

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PARTE III – DINÂMICA DA PARCERIA.

3) O senhor começou produzindo para qual empresa? Por que essa empresa? Ainda

continua produzindo para essa empresa?

Para resposta sim: Por quê?

Para resposta não: Por que passou a produzir para outra empresa?

4) Como se dá o contrato de formalização da parceria e quais as condições que o regem?

5) O contrato exige exclusividade, ou seja, impedi que trabalhe para outras empresas?

6) Existe negociação entre a facção e a contratante com relação ao preço que será pago

por peça produzida?

7) Caso ela exija exclusividade, qual a garantia que as empresas oferecem aos

faccionistas?

PARTE IV – ALTERNATIVAS PARA DIMINUIR A DEPENDÊNCIA.

8) É sabido que a falta de regularidade no abastecimento de peças é um dos principais

entraves do setor, sua facção já foi afetada com isso? O que o senhor pensa a esse

respeito? Existe alguma alternativa que possa contornar esse problema?

9) Muitas empresas do setor têxtil, inclusive brasileiras, estão terceirizando sua produção

em outros países devido o custo ser menor, como por exemplo, o mercado chinês e

paraguaio. Se essas empresas que hoje terceirizam sua produção no interior do estado

do Rio Grande do Norte migrar para esses mercados qual será a alternativa para o

setor?

10) O senhor (a) pensa em ter sua própria marca, fabricando assim seu próprio produto?

Para resposta sim:

Quais as causas que levaram a migrar para a produção própria?

Quais as estratégias que usará para implantar o seu negócio?

A cadeira produtiva têxtil é complexa e longa, então, sabendo-se que as

facções da região seridoense são especialistas apenas na montagem de peça,

como fará com as outras etapas da produção como, por exemplo, corte e

lavagem?

Terá sócios ou parcerias com outros faccionistas?

Como está se programando pra isso e quando pretende começar?

Quais serão os produtos fabricados?

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Para resposta não:

Por que pretende continuar fabricando para outras empresas?

Pensa em deixar ou mudar de ramo? Por quê?

11) A entrada da empresa Guararapes no processo de terceirização e o projeto Pró-sertão

idealizado pelo governo do estado que tem o objetivo de auxiliar e apoiar a abertura de

novas facções, ajuda a diminuir a dependência frente essas empresas?