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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MODELO DE PORTFÓLIO DE COMPRAS HOSPITALARES MARLENE MEDEIROS NATAL, RN 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MODELO DE PORTFÓLIO DE COMPRAS HOSPITALARES

MARLENE MEDEIROS

NATAL, RN 2019

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MARLENE MEDEIROS

MODELO DE PORTFÓLIO DE COMPRAS HOSPITALARES

Tese submetida ao curso de Doutorado em Administração, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de doutora em Administração.

Área de Concentração: Gestão organizacional

Orientador: Luciano Ferreira, Dr. Coorientador: Anderson Luiz Rezende Mól, Dr.

NATAL, RN 2019

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MARLENE MEDEIROS

MODELO DE PORTFÓLIO DE COMPRAS HOSPITALARES

Tese submetida ao curso de Doutorado em Administração, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de doutora em Administração.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ LUCIANO FERREIRA, DR.

Orientador

_________________________________________________ ANDERSON LUIZ REZENDE MÓL, DR.

Coorientador

_________________________________________________ ANDRÉ MORAIS GURGEL, DR. Membro Interno – PPGA/UFRN

_________________________________________________

LISSA VALÉRIA FERNANDES FERREIRA, DR. Membro Interno – PPGTUR/UFRN

_________________________________________________

FERNANDO DIAS LOPES, DR. Membro Externo – UFRGS

_________________________________________________

RENAN FELINTO DE FARIAS AIRES, DR. Membro Externo – UFERSA

NATAL, RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte.

UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Medeiros, Marlene.

Modelo de portfólio de compras hospitalares / Marlene

Medeiros. -2019. 45f.: il.

Tese (Doutorado em Administração) - Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas,

Programa de Pós-graduação em Administração, Natal, RN, 2019.

Orientador: Prof. Dr. Luciano Ferreira.

Coorientador: Prof. Dr. Anderson Luiz Rezende Mól.

1. Administração - Tese. 2. Gestão de compras - Tese. 3.

Compras hospitalares - Tese. 4. Modelos de Portfólio de Compras

- Tese. 5. Cadeia de suprimentos - Tese. I. Ferreira, Luciano.

II. Mól, Anderson Luiz Rezende. III. Título.

RN/UF/CCSA CDU 658.716

Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404

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Dedicatória,

Aos meus filhos, Felipe e Teodoro. A vocês todo o meu amor.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por sua infinita bondade e amor. Por direcionar meu caminho e nunca

me abandonar. Obrigada por cada milagre e por cada oração respondida.

Ao meu esposo, Klaus, companheiro nessa jornada, sendo o meu maior e

incansável incentivador. Obrigada por todos os acolhimentos.

A minha mãe pelas orações, pelo exemplo de dignidade, persistência e fé.

Aos meus filhos, Felipe e Teodoro, razão das minhas conquistas.

Aos meus colegas de turma pelo aprendizado conjunto. Agradeço em especial

a Aline e Rômulo, companheiros diários de estudo, que durante esses quatro anos me

ajudaram a tornar os dias mais leves. A Maxwell que foi canal para viabilizar a coleta

em um hospital local.

Aos colegas de trabalho que foram peças fundamentais para o meu

afastamento: Denise Momo, Aline Pompeu, Fabrícia Abrantes e Paulo de Tarso. A

Thiago Valentim, Cesimar Xavier e Diego Nascimento pela disponibilidade em ajudar

sempre que precisei.

A todos os professores do PPGA que contribuíram com nossa trajetória de

desenvolvimento enquanto pesquisadores. Em especial, agradeço a Professora

Anatália Ramos por seu entusiasmo e generosidade em nos ensinar.

Ao Professor Anderson Mól, pelo pronto aceite ao convite de colaboração na

coorientação.

Agradeço aos membros da banca, os professores André Gurgel, Fernando

Lopes, Lissa Ferreira e Renan Aires, pelas contribuições para melhoria desse

trabalho.

Ao meu orientador Professor Luciano Ferreira pela parceria desde o mestrado.

Obrigada por acreditar em mim, por ter me confiado um doutorado a distância, pelo

apoio em todos os momentos dessa etapa. O senhor é um exemplo para mim de

compromisso e ética docente.

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RESUMO

A gestão de compras hospitalares trabalha com diferentes categorias de itens. Tais

categorias, em função da sua natureza de oferta, de demanda e de conhecimento

tecnológico, afetam a racionalidade do comprador. Considerando os critérios e as

estratégias de compras intrínsecas ao contexto hospitalar, o presente estudo tem por

objetivo propor um modelo de portfólio de compras hospitalares para classificação dos

itens comprados. Os interesses conflitantes entre os atores da cadeia de suprimentos

hospitalar são discutidos à luz da Teoria da Agência. No aspecto metodológico, o

estudo utiliza abordagem qualitativa e quantitativa. Uma revisão sistemática de

literatura (RSL) foi efetivada para identificar os critérios e estratégias, utilizados no

processo decisório de compras hospitalares. Os critérios, oriundos da RSL, foram

avaliados por meio de uma survey on-line com 39 gestores de compras de hospitais

particulares de grande porte, pertencentes às regiões Sul, Sudeste e Nordeste do

Brasil. Os dados foram submetidos à análise de componentes principais (PCA)

validando onze critérios (tempo, custo, reputação, negociação, monopólio, volume,

customização, armazenagem, assistência, preferência médica e conhecimento). As

variáveis latentes, oriundas da PCA, formaram as dimensões do modelo proposto:

parâmetros universais de compras; dependência no fornecimento; e assimetria de

conhecimento. O modelo foi aplicado em um hospital privado de grande porte,

analisando uma amostra de doze itens de compras hospitalares. Na etapa de

classificação dos itens, foi utilizado o método Fuzzy-TOPSIS. Dos doze itens da

amostra, dois foram classificados na categoria “não-crítico”, dois na “alavancagem”,

dois na “gargalo”, três na “estratégico” e três na “crítico”. O resultado foi validado pelos

gestores de compras do hospital. Uma análise de sensibilidade atestou a robustez do

modelo.

Palavras-chave: Compras hospitalares. Modelo de portfólio de compras. Gestão de

compras. Teoria da agência. Itens de preferência médica.

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ABSTRACT

Hospital’s purchasing management deals with different item categories. These

categories, due to their nature of supply, demand and technological knowledge, affect

buyer’s rationality. Considering the criteria and strategies for purchasing intrinsic to

hospital’s context, the present study aims to propose a hospital purchasing portfolio

model to classify purchasing items. Conflicting interests within hospital supply chain

actors are discussed based on Agency Theory. In the methodological aspect, the study

uses qualitative and quantitative approaches. A systematic literature review (RSL) was

performed to identify the criteria and strategies used in hospital’s purchasing decision

process. The criteria, derived from RSL, were assessed through an online survey with

39 purchasing managers from large private hospitals in the southern, southeastern and

northeastern regions of Brazil. Data were subjected to principal component analysis

(PCA) validating eleven criteria (lead-time, cost, reputation, negotiation, monopoly,

volume, customization, storage, assistance, physician’s preference and knowledge).

The latent variables from PCA formed the dimensions of the proposed model: universal

purchasing parameters; dependence on supply; and knowledge asymmetry. The

model was applied in a large private hospital, analyzing a sample of twelve hospital

purchasing items. On the item classification step, the Fuzzy-TOPSIS method was

used. Of the twelve items in the sample, two were classified in the “non-critical”

category, two in “leverage”, two in “bottleneck”, three in “strategic” and three in “critical”.

The result was validated by hospital purchasing managers. A sensitivity analysis

attested the robustness of the model.

Keywords: Hospital purchasing. Purchasing portfolio model. Purchasing Management.

Agency theory. Physicians preference items.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 20

1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 23

1.1.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 23

1.1.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 24

1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 24

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................................... 28

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 31

2.1 CADEIA DE SUPRIMENTOS E COMPRAS HOSPITALARES ......................... 31

2.1.1 A Teoria da Agência ......................................................................................... 33

2.1.2. Os Conflitos de Agência na Cadeia de Suprimentos Hospitalares .................. 35

2.1.3 Critérios de Decisão em Compras Hospitalares ............................................... 41

2.2 ESTRATÉGIAS UTILIZADAS EM COMPRAS HOSPITALARES ...................... 48

2.2.1 Estratégias Tecnológicas de Suporte ............................................................... 49

2.2.2 Estratégias de Gestão de Suprimentos ............................................................ 52

2.2.3 Estratégia Colaborativa Intraorganizacional ..................................................... 54

2.2.4 Estratégias Colaborativas Interorganizacionais ........................................... 56

2.3 MODELOS DE PORTFÓLIO DE COMPRAS.................................................... 64

2.3.1 Estado da Arte em Modelos de Portfólio de Compras ...................................... 68

2.3.2 Síntese das Críticas e Proposições de Melhoria da Literatura ......................... 92

3 MODELO DE DECISÃO MULTICRITÉRIO ..................................................... 96

3.1 CARACTERÍSTICAS DE UM PROBLEMA DE DECISÃO MULTICRITÉRIO .... 99

3.2 PROBLEMÁTICAS E MÉTODOS DE DECISÃO MULTICRITÉRIO ................ 101

3.3 FUZZY-TOPSIS ............................................................................................... 105

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4 METODOLOGIA ............................................................................................ 107

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ................................................................ 107

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA .............................................................. 108

4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA ........................................................................... 113

4.3.1 Cálculo Amostral ............................................................................................ 116

4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................. 117

4.4.1 Coleta de Dados para Análise de Componentes Principais ........................... 117

4.4.2 Pré-teste e Aplicação do Questionário ........................................................... 119

4.4.3 Coleta de Dados para Fuzzy-TOPSIS ............................................................ 120

4.5. REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA ................................................. 121

4.6 ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS................................................. 125

5 MODELO PROPOSTO .................................................................................. 128

5.1 DEFINIÇÃO DOS DECISORES ................................................................. 128

5.1.1 Perfil dos Decisores ....................................................................................... 128

5.1.2 Agregação das Preferências Multidecisor ...................................................... 132

5.2 DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS, DIMENSÕES E CLASSES DE ITENS ...... 133

5.2.1 Validação dos Critérios via Análise de Componentes Principais .................... 133

5.3 O MODELO TÉORICO DE PORTFÓLIO DE COMPRAS HOSPITALARES ... 141

5.3.1 Interpretação das Dimensões e Critérios do Modelo ...................................... 141

5.3.2 Classes de Itens de Compras Hospitalares .................................................... 148

6 APLICAÇÃO E VALIDAÇÃO DO MODELO PROPOSTO ............................. 151

6.1 CONTEXTO DE APLICAÇÃO .................................................................... 151

6.2 ESTRUTURAÇÃO E RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE DECISÃO .......... 153

6.3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE .................................................................. 166

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7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 171

7.1 IMPLICAÇÕES GERENCIAIS ........................................................................ 175

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 195

APÊNDICE A – DEFINIÇÕES BÁSICAS DOS NÚMEROS E CONJUNTOS FUZZY

209

APÊNDICE B – ETAPAS DO MÉTODO FUZZY-TOPSIS ....................................... 211

APÊNDICE C - DEFINIÇÃO DA ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA)

217

APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO ................................................... 219

APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO ........................................................................... 220

APÊNDICE F - SIMULAÇÕES PCA NO STATA POR CORRELAÇÃO DE PEARSON

226

1ª ANÁLISE – TODOS OS CRITÉRIOS ....................................................................... 226

2ª ANÁLISE – EXCLUÍDO O CRITÉRIO “RISCO” .......................................................... 229

3ª ANÁLISE – EXCLUÍDOS OS CRITÉRIOS “RISCO” E “PPI” .......................................... 231

4ª ANÁLISE – EXCLUÍDOS OS CRITÉRIOS “RISCO” E “VOLUME” ................................... 234

5ª ANÁLISE – MODELO REESPECIFICADO VALIDADO: EXCLUÍDOS OS CRITÉRIOS “RISCO” E

“TABELA” ................................................................................................................ 237

APÊNDICE G – MODELO VALIDADO POR PCA VIA CORRELAÇÃO POLICÓRICA

241

APÊNDICE H – ROTEIRO ORIENTATIVO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

DOS ITENS DE COMPRA ...................................................................................... 245

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LISTA DE SIGLAS

ABC - Custeio Baseado em Atividades (Activity based costing)

AHP - Analytic Hierarchy Process

ANAHP - Associação Nacional de Hospitais Particulares

AF – Aliança com Fornecedor

BDTD - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BPS - Banco de Preços em Saúde

CCI – Coeficiente de Proximidade

CE – Comitê de Equivalência

CDPS – Compra Direta pelo Plano de Saúde

CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CVC – Consolidação do Volume Comprado

DEA - Data Envelopment Analysis

DMI - Dispositivos Médicos Implantáveis

EBSERH - Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

EE – Economia de Escala

ES – Estoque de Segurança

EFA – Análise Fatorial Exploratória (Exploratory Factor Analysis)

ELECTRE - Elimination e Choix Traduisant la Realité

FA – Fornecedor Alternativo

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GPO - Organização de Grupos de Compras (Group Purchasing Organization)

KMO - Kaiser-Meyer-Olkin

KPM - Modelo de Portfólio de Kraljic

MAT/MED - Materiais e Medicamentos

MAUT - Multi-Attribute Utility Theory

MCDA - Multicriteria Decision Analysis

NIS - Solução Ideal Negativa

OPME - Órteses, Próteses e Materiais Especiais

PC – Portais de Compras

PCA – Análise de Componentes Principais (Principal Component Analysis)

PIS - Solução Ideal Positiva

PPI - Itens de Preferência Médica (Physician Preference Items)

PROMETHEE - Preference Ranking Organization Method for Enrichment Evaluations

REHUF - Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais

RIM - Reference Ideal Method

RSL - Revisão Sistemática de Literatura

SD - Science Direct

SIG – Sistema de Informação Gerencial

SMART - Simple Multiatribute Rating Technique

SUS - Sistema Único de Saúde

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TA – Teoria da Agência

TCLE - Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido

TPC - Teoria de Portfólio de Compras

TOPSIS - Technique for Order of Preference by Similarity to Ideal Solution

VIKOR - Visekriterijumska Optimizacija I Kompromisno Resenje

VMI - Estoque Administrado pelo Fornecedor (Vendor Management Inventory)

WOS - Web of Science

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura Conceitual da Teoria da Agência ............................................... 33

Figura 2 - Relacionamentos na Cadeia de Suprimentos Hospitalares ...................... 40

Figura 3 - Hospitais Credenciados pela Rede EBSERH ........................................... 62

Figura 4– Matriz de Portfólio de Compras de Kraljic (1983) ...................................... 66

Figura 5 - Publicações Anuais em Journals Acerca de Portfólio de Compras ........... 69

Figura 6 - Matriz de Portfólio de Compras de Olsen e Ellran (1997) ......................... 71

Figura 7 - Matriz de Portfólio de Compras de Pagell, Wu e Wasserman (2010) ...... 73

Figura 8 - Matriz de Portfólio de Compras de Bildsten (2014) ................................... 74

Figura 9 - Matriz de Portfólio de Compras de Viio e Grönroos (2014) ....................... 75

Figura 10 – Matriz de Portfólio de Compras de Cox (2015) ...................................... 76

Figura 11 - Matriz de Portfólio de Compras de Park et al. (2010) ............................. 83

Figura 12 - Matriz de Portfólio de Compras de Drake, Lee e Hussain (2013) ........... 85

Figura 13- Etapas de Resolução de um Problema de Decisão Multicritério ........... 101

Figura 14 - Caracterização Metodológica da Pesquisa ........................................... 108

Figura 15 - Etapas da Pesquisa .............................................................................. 109

Figura 16 - Etapa de Classificação dos Itens .......................................................... 112

Figura 17 - Representação das Regiões e Número de Leitos dos Hospitais

Participantes ............................................................................................................ 129

Figura 18 - Formação x Cargos Ocupados pelos Compradores ............................. 129

Figura 19 - Capacitação X Cargos dos Compradores ............................................. 130

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Figura 20 - Tempo de Experiência no Cargo........................................................... 131

Figura 21 - Gráfico Scree ........................................................................................ 138

Figura 22 - Dimensões e Critérios Influenciadores do Modelo de Portfólio de Compras

Hospitalares ............................................................................................................ 147

Figura 23 - Modelo de Portfólio de Compras Hospitalar: Classificação dos Itens ... 150

Figura 24 - Árvore de Decisão da Problemática ...................................................... 155

Figura 25 – Representação Gráfica da Classificação dos Itens de Compra Hospitalar

................................................................................................................................ 165

Figura 26 - Comparativo dos CCi's: Dimensão Parâmetros Universais de Compras

................................................................................................................................ 168

Figura 27 - Comparativo dos CCi's: Dimensão Dependência no Fornecimento ..... 169

Figura 28 - Comparativo dos CCi's: Dimensão Assimetria de Conhecimento ......... 169

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição dos Planos de Saúde Suplementar no Brasil ....................... 38

Tabela 2 - Regras de Decisão para Classificação dos Itens em Cada Dimensão ... 111

Tabela 3 - Regras de Decisão para Classificação dos Itens no Modelo de Portfólio de

Compras Hospitalares ............................................................................................. 112

Tabela 4 - Número de Estabelecimentos de Saúde com Leitos Existentes no Brasil,

Classificados por Natureza Jurídica e Tipologia...................................................... 114

Tabela 5 - Estabelecimentos de saúde por Região - Privados com Fins Lucrativos

................................................................................................................................ 114

Tabela 6 - Classificação dos Hospitais por Número de Leitos ................................ 114

Tabela 7 - Observações Excluídas .......................................................................... 120

Tabela 8 - Proporção da Formação e Capacitação dos Compradores por Região . 131

Tabela 9 - Alpha de Crombach Geral e por Componente Principal ......................... 135

Tabela 10 - Teste de Esfericidade de Bartlett ......................................................... 136

Tabela 11 - Índice de Adequação da Amostra (KMO) por Variável ......................... 136

Tabela 12 - Matriz de Autovalor do Modelo Reespecificado ................................... 137

Tabela 13 - Cargas das Componentes no Modelo Não Rotacionado ..................... 139

Tabela 14 - Cargas das Componentes no Modelo Rotacionado ............................. 140

Tabela 15 - Singularidades das Variáveis ............................................................... 141

Tabela 16 - Termos Linguísticos e Números Fuzzy Trapezoidais Associados ....... 156

Tabela 17 - Fuzzificação dos Pesos do Critérios .................................................... 157

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Tabela 18 - Matriz de Decisão ................................................................................. 158

Tabela 19 - Matriz de Decisão Fuzzy (D) ................................................................ 159

Tabela 20 - Matriz de Decisão Fuzzy Ponderada .................................................... 160

Tabela 21 - Solução Ideal Positiva (FPIS) e Ideal Negativa (FNIS) ....................... 161

Tabela 22 - Distância di* e di

- das Alternativas ....................................................... 161

Tabela 23 - Cálculo do CCi e Classificação Parcial das Alternativas em Cada

Dimensão do Modelo .............................................................................................. 163

Tabela 24 - Classificação Final das Alternativas no Modelo de Portfólio de Compras

Hospitalar ................................................................................................................ 164

Tabela 25 - Pesos dos Critérios Utilizados na Análise de Sensibilidade ................. 167

Tabela 26 - CCi's Análise de Sensibilidade ............................................................. 167

Tabela 27 – Estratégias Gerenciais e suas Implicações nos Custos dos Itens ....... 178

Tabela 28 - Dados de Compra do BPS para os itens A2 e A3 ................................ 186

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Fatores Dificultadores do Processo Decisório de Compras Hospitalares 46

Quadro 2 – Critérios de Decisão em Compras Hospitalares ..................................... 47

Quadro 3 - Estratégias Utilizadas no Processo de Compras Hospitalares ................ 63

Quadro 4 - Alavancas Táticas Aplicadas a Categorias de Itens ................................ 80

Quadro 5 - Estudos em Portfólio de Compras ........................................................... 86

Quadro 6 - Dimensões e Critérios dos Estudos que Aplicaram Modelos de Portfólio

.................................................................................................................................. 90

Quadro 7 - Modelos de Portfólio: Críticas e Proposições .......................................... 94

Quadro 8 - Relações de Preferência e suas Propriedades ....................................... 98

Quadro 9 -Tipos de Problemáticas, Abordagens e Principais Métodos Multicritério

................................................................................................................................ 103

Quadro 10 -Aplicação de MCDA em Pesquisas do Contexto Hospitalar ................ 104

Quadro 11 - Design da Pesquisa ............................................................................ 113

Quadro 12 – Revisão Sistemática da Literatura ...................................................... 124

Quadro 13 - Dimensões do Modelo de Portfólio de Compras Hospitalares ............ 142

Quadro 14 - Perfil das Classes de Itens Hospitalares ............................................. 148

Quadro 15 - Amostra de Itens de Compra Hospitalares .......................................... 154

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1 INTRODUÇÃO

A função de compras tem um forte impacto nos custos totais de uma empresa

e, por consequência, no seu lucro potencial (DUBOIS; PEDERSEN, 2002). Nas

últimas décadas, a função de compras tem migrado de uma atividade transacional, ou

seja, aquela que se reduz ao ato de comprar, baseado na melhor oferta, para uma

vertente estratégica (HESPING; SCHIELE, 2015; PARK et al., 2010).

O crescimento da concorrência forçou as empresas a inovar para atender a

uma demanda cada vez mais exigente. A busca por inovação e redução dos custos,

para se tornar mais competitivo, mudou o papel da gestão de compras para uma

postura estratégica, demandando novas atribuições, possibilitando, assim, um

controle efetivo sobre as operações realizadas (GELDERMAN; VAN WEELE, 2005;

ÚBEDA; ALSUA; CARRASCO, 2015).

A gestão estratégica de compras, na área da saúde, é uma atividade de longo

prazo que inclui não só a aquisição de itens, mas também a seleção e gerenciamento

da base de fornecedores, recorrendo a práticas, ferramentas e métodos que

maximizem a relação custo/benefício, resultando em uma melhor qualidade do serviço

prestado para o paciente e melhor desempenho financeiro para o hospital (BASTANI

et al., 2016; METTLER; ROHNER, 2009).

No setor hospitalar, a ampla variedade de serviços prestados, aliada ao elevado

custo, volume e mix de processos e produtos, tornam a cadeia de suprimentos um

alvo de preocupações constantes de gestores e pesquisadores (FORD; HUGHES,

2007; GOBBI; HSUAN, 2015). Nesse cenário, o setor de compras hospitalares está

sujeito a uma maior pressão financeira e responsabilidade, por lidar com vidas (HAAS;

KAPLAN, 2017). Outrossim, os compradores hospitalares não exercem suas funções

de forma isolada. Os múltiplos stakeholders envolvidos (médicos, enfermeiros,

fornecedores, gerentes hospitalares, planos de saúde, pacientes e grupos de

compras), além de influenciarem nas decisões das compras, tornam a racionalidade

do comprador mais vulnerável, em função dos chamados conflitos de agência

(NUDURUPATI et al., 2015; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015; PANDA; LEEPSA,

2017; SATO, 2007).

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21

As compras de itens hospitalares são consideradas um dos principais fatores

de geração de custos, podendo representar até 40% do orçamento hospitalar (FORD;

SCANLON, 2007; VOLLAND et al., 2017). Itens de saúde chegam a variar de três a

dez vezes no preço, indicando que existe espaço para redução de custos por meio de

uma melhor gestão de compras (AGWUNOBI; LONDON, 2009). Essa informação é

exemplificada ao se analisar a variação dos preços de stentes coronários. No ano de

2017, no portal do Banco de Preços em Saúde (BPS) do governo brasileiro, os preços

dos stentes coronários, adquiridos por diferentes hospitais, variaram em 32%

(MEDEIROS; FERREIRA, 2018).

Hospitais têm buscado a implementação de estratégias que contribuam para o

gerenciamento dos itens comprados e dos custos a estes relacionados (CARVER;

PARSONS, 2012; ROBINSON; BROWN, 2014; SMITH; FLANEGIN, 2004). Alguns

estudos mostram que, em hospitais, a adoção de diferentes estratégias e ferramentas

de compras, que auxiliam a tomada de decisão, pode reduzir significativamente os

custos (ARNEY et al., 2014; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; NYAGA;

YOUNG; ZEPEDA, 2015; ROBINSON; BROWN, 2014). Ao mesmo tempo, diferentes

práticas provocam resultados distintos nas classes de itens hospitalares (MCKONE-

SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

Por outro lado, hospitais que utilizam uma mesma política de gestão para todas

as categorias de itens, sem considerar a natureza da demanda e demais fatores que

influenciam no processo de compras, podem vir a ter problemas com rupturas de

estoques e aumentos nos custos (KRITCHANCHAI; MEESAMUT, 2015;

KRITCHANCHAI; SUWANDECHOCHAI, 2010). Nesse cenário, destaca-se a

relevância da classificação dos itens comprados, como etapa inicial da gestão de

compras hospitalares.

Alguns modelos de classificação de itens de compra são reconhecidos na

literatura. Os mais utilizados são a classificação ABC (Custeio Baseado em Atividades

- Activity based costing) e os modelos de portfólio de compras. No entanto, a

classificação ABC tem recebido críticas na literatura; uma delas é sua restrição quanto

a identificação da classe do item baseada em custos, não refletindo a complexidade

que envolve o contexto (LEE; DRAKE, 2010). Além disso, não prevê recomendações

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22

de estratégias de compras, tampouco possíveis relacionamentos com fornecedores

para cada categoria de itens (ARABZAD et al., 2013; GELDERMAN; VAN WEELE,

2005; HARTMANN; RITTER; GEMÜNDEN, 2001).

Os estudos utilizando a classificação ABC incluindo múltiplos critérios no

contexto da saúde, não incluem variáveis intrínsecas ao contexto que permitam

compreender os fatores que interferem nas compras de itens (QATAWNEH; HAFEEZ,

2015).

Os modelos de portfólio de compras preenchem a lacuna da classificação ABC.

Os modelos de portfólio de compras são reconhecidos tanto no contexto acadêmico,

quanto na prática de gestores de compras, devido à sua facilidade de entendimento e

comunicação das informações. Além disso, fornecem orientações práticas quanto às

diferentes situações de compra (GELDERMAN; MAC DONALD, 2008; GELDERMAN;

SEMEIJN, 2006; GELDERMAN; VAN WEELE, 2005; HEIKKILÄ et al., 2016).

Apesar de o modelo teórico de portfólio de compras, proposto por Kraljic (1983),

ser o mais reconhecido na literatura (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; KNIGHT;

TU; PRESTON, 2014; LUZZINI et al., 2012), sua utilização, no setor hospitalar, requer

adaptações, devido às particularidades desse contexto (GOBBI; HSUAN, 2015;

KRITCHANCHAI; MEESAMUT, 2015; KRITCHANCHAI; SUWANDECHOCHAI, 2010;

METTLER; ROHNER, 2009).

A lacuna observada na literatura da área refere-se à escassez de modelos de

portfólio para realidades específicas, como é o caso das compras hospitalares, que

possuem particularidades não contempladas nos modelos tradicionais (HESPING;

SCHIELE, 2015, 2016).

Em face do exposto, a presente tese defende a existência de múltiplas classes

de itens de compras hospitalares. Essas classes se originam em função de critérios

específicos do contexto hospitalar, e que interferem no processo decisório de

compras. Esses critérios exercem diferentes impactos, para as distintas categorias de

itens.

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23

Nesse sentido, o estudo em questão objetiva desenvolver um modelo de

portfólio de compra para o contexto hospitalar, permitindo que os hospitais atuem com

abordagens distintas de gerenciamento de itens, de acordo com as particularidades

de cada categoria, rompendo com as ineficiências da classificação ABC. Será

desenvolvido um modelo de classificação de itens comprados que possibilite

identificar as categorias de itens que são mais sensíveis aos critérios que influenciam

as decisões de compras nos hospitais.

Assim, esta é a questão de pesquisa que norteará o desenvolvimento deste

trabalho: como desenvolver um modelo de portfólio de compras para representar as

categorias de itens do contexto hospitalar?

Para responder a esta questão de pesquisa, inicialmente, foi realizada uma

Revisão Sistemática de Literatura (RSL) buscando identificar uma incógnita que ainda

se mantém na fronteira da investigação da gestão hospitalar: os critérios que

influenciam a gestão compras hospitalares. A originalidade do modelo é legitimada na

evidenciação dos critérios e dimensões que o compõe.

Os critérios levantados na RSL foram avaliados por meio de uma survey on-

line com 39 gestores de compras de hospitais particulares de grande porte,

localizados nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Os dados foram

submetidos a análise de componentes principais (Principal Components Analysis –

PCA), possibilitando: a validação dos critérios iniciais; a obtenção das dimensões do

modelo de portfólio proposto, e, viabilizando a definição das classes de itens de

compras hospitalares.

A questão de pesquisa apresentada foi traduzida nos objetivos geral e

específicos, os quais delimitam o presente estudo.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Desenvolver e validar um novo modelo de portfólio de compras para o contexto

hospitalar.

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24

1.1.2 Objetivos Específicos

Identificar os critérios de decisão do processo de compras hospitalares.

Validar os critérios junto a gestores de compras hospitalares.

Definir as dimensões e classes de itens do modelo proposto.

Validar o modelo de portfólio de compras proposto.

1.2 JUSTIFICATIVA

Os estudos relacionados à gestão de compras de itens hospitalares ainda são

escassos, quando comparados aos das demais indústrias (VOLLAND et al., 2017).

Existe uma carência de estudos acerca das estratégias utilizadas pelo setor de

suprimentos hospitalares (NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015), bem como estudos que

identifiquem as barreiras na implementação dessas práticas (MCKONE-SWEET;

HAMILTON; WILLIS, 2005).

Pesquisas publicadas, nos últimos vinte anos em journals e periódicos

nacionais e internacionais, abordaram as práticas estratégicas utilizadas por

compradores hospitalares, descrevendo uma ou outra prática, mas de maneira

isolada.

No contexto internacional, Nollet e Beaulieu (2005), Hu, Schwarz e Uhan

(2012), Nollet, Beaulieu e Fabbe-Costes (2017) e Callea et.al. (2017) se dedicaram a

investigar a contribuição dos grupos de compras hospitalares. Burns e Lee (2008),

Gobbi e Hsuan (2015), Hegwer (2013) e Oumlil e Williams (2011) estudaram as

alianças formadas por hospitais e entre hospitais e fornecedores. A formação de

equipes ou comitês, para tratar da equivalência de itens hospitalares de preferência

médica, tem sido discutida por Montgomery e Schneller (2007), Hoeksema (2010) e

Naranjo-Gil e Ruiz-Muñoz (2015). A utilização de portais de compras no âmbito

hospitalar e como estes afetam os relacionamentos com fornecedores, foi tratada na

literatura por Sigulem e Zucchi (2009) e White e Daniel (2004). O auxílio dos sistemas

no gerenciamento das informações de compra e estoques foi discutido por Rossi, Fort

e Karolys (2002) e Smith e Flanegin (2004). As implicações dos estoques

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administrados pelo fornecedor, via sistemas compartilhados, foram apresentadas por

Haavik (2000) e Budgett, Gopalakrishnan e Schneller (2017). Entre as temáticas

atuais, a de compras baseada em valor hospitalar vem sendo debatida por Carver e

Parsons (2012), Srinivasan e MPH (2017) e Norton et.al. (2017).

A carência de trabalhos voltados para a gestão de compras hospitalares se

amplia quando se investigam as pesquisas dessa área no contexto brasileiro. Em

pesquisa realizada na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD),

foram encontrados seis estudos acadêmicos (três teses e três dissertações

acadêmicas) que contemplam a temática. Os estudos nacionais, na área de compras

hospitalares, se concentraram: na avaliação da adoção de tecnologia de informação

no processo de compras hospitalares (BUZZO, 2015); nos fatores dificultadores e

facilitadores do processo de aliança hospitalar (ARAÚJO, 2015); na análise da

variação de preços de medicamentos (CARRARO, 2015); nos fatores que favorecem

e inibem a gestão de custos interorganizacionais (CAMACHO, 2010); no

relacionamento dos atores internos (compradores, médicos, diretores hospitalares) da

cadeia de suprimentos hospitalares (OKAZAKI, 2006).

A dissertação de Medeiros (2015), e o artigo dela originado (MEDEIROS;

FERREIRA, 2018) aplicaram a matriz de portfólio de compras proposta por Kraljic

(1983), adaptando-a ao contexto de um hospital particular brasileiro. Nessa

adaptação, dois critérios, oriundos do contexto hospitalar (risco e lead time), foram

sugeridos pelos entrevistados e incorporados ao modelo. No entanto, por se tratar de

um estudo de caso único, a pesquisa apresentou as seguintes limitações: ausência

de aprofundamento dos critérios influenciadores do processo de compras hospitalares

e a utilização de um instrumento generalista.

O presente estudo apresenta-se como extensão de Medeiros (2015) e

Medeiros e Ferreira (2018), tendo por objetivo o desenvolvimento de um modelo de

portfólio específico para classificação de itens de compras hospitalares,

acrescentando as seguintes contribuições:

Proposição de um modelo original para realidade hospitalar, rompendo com as

ineficiências da classificação ABC.

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Desenvolvimento de um modelo de portfólio com base em critérios intrínsecos

ao contexto hospitalar, levantados por meio de uma revisão sistemática da

literatura (RSL) específica dessa área. No estudo anterior foram utilizados os

critérios do modelo de Kraljic (1983) e acrescentados dois critérios, baseados

no estudo de caso.

Os critérios obtidos na RSL foram avaliados por 39 gestores de compras

pertencentes a hospitais particulares de médio e grande porte localizados nas

regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. A validação dos critérios e as

dimensões que compõem o modelo foram obtidas utilizando a técnica de

análise de componentes principais. No estudo anterior, utilizaram-se as

dimensões do modelo de Kraljic (1983) e entrevista com um gerente de compra

e um médico, para estruturação e validação do modelo.

Levantamento das principais estratégias e alavancas táticas utilizadas no

processo de compras hospitalares com base na revisão de literatura da área.

No campo acadêmico, os estudos envolvendo a Teoria de Portfólio de Compras

(TPC) têm crescido, mostrando uma ampla aceitação na literatura de gerenciamento

da cadeia de suprimentos (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; KNIGHT; TU;

PRESTON, 2014; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; PAGELL; WU;

WASSERMAN, 2010). Já as aplicações práticas de modelos de portfólio de compras,

específicas para determinados contextos, ainda são escassas (HESPING; SCHIELE,

2015, 2016). Gelderman e Van Weele (2005) reforçam a importância prática dos

modelos de portfólio de compras, quando com base em uma pesquisa empírica com

238 compradores de diferentes empresas, afirmam que o uso dos modelos está

relacionado positivamente com um melhor profissionalismo e posicionamento

estratégico do setor de compras. Entre os benefícios advindos da utilização dos

modelos de portfólio, destacam-se:

Prescrição de um gerenciamento de compras apropriado a cada categoria

(DUBOIS; PEDERSEN, 2002; GELDERMAN; VAN WEELE, 2003, 2005;

KRALJIC, 1983).

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Gerenciamento de fornecedores de modo estratégico, focando nos

fornecimentos chave (KRALJIC, 1983; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE,

2018).

O diagnóstico possibilita uma maior discussão com a equipe de compras, para

o desenvolvimento de estratégias diferenciadas para cada categoria de itens

(CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; FORMENTINI et al., 2018;

GELDERMAN; VAN WEELE, 2005).

Potencialização do conhecimento da equipe de compras (GELDERMAN;

SEMEIJN, 2006; GELDERMAN; VAN WEELE, 2005).

Estabelecimento de estratégias para uma mudança de classes de determinado

item, buscando uma condição de fornecimento mais confortável para a

empresa. Medeiros e Ferreira (2018) demonstraram que itens classificados

como estratégicos em função de seu alto custo, após a aplicação do modelo de

portfólio e alavancas táticas apropriadas, tiveram uma redução no preço de

compra variando entre 30% a 45%, viabilizando uma reclassificação do item

para categoria de alavancagem.

Possibilidade de análise das dependências e interdependências existentes nos

relacionamentos, internos e externos à empresa compradora (DUBOIS;

PEDERSEN, 2002; GELDERMAN; VAN WEELE, 2005; WAGNER; JOHNSON,

2004).

No tocante à importância do desenvolvimento de um modelo de portfólio de

compras para o contexto hospitalar, este estudo se respalda em pesquisas

anteriores da área de compras hospitalares, como os de Mettler e Rohner (2009),

Nudurupati et al.,(2015), Mettler (2013) e Walker et al., (2013). Embora estes não

apliquem diretamente a matriz de portfólio de compras, eles referenciam a importância

da ferramenta na análise das categorias de itens hospitalares, visando a um melhor

gerenciamento dos itens e das relações com fornecedores.

Outros estudos, apesar de não citarem a matriz de portfólio de compras,

reconhecem a existência de diferentes classes de itens comprados no contexto

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hospitalar e que necessitam de diferentes estratégias de gestão (BUDGETT;

GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; RODRIGUES; SOUSA, 2015).

Outrossim, este trabalho apresenta-se em consonância com a Agenda Nacional

de Prioridades de Pesquisa em Saúde (BRASIL, 2015a) que tem por objetivo delimitar

as áreas prioritárias para produção do conhecimento, bens e serviços em saúde, a

partir da necessidade brasileira. Entre as 24 subáreas apontadas como prioritárias

pela agenda, o subitem 14.3.4 dá ênfase a necessidade de estudos prospectivos

sobre gastos em saúde, enquanto o subitem 20.3.1 prioriza estudos que abordem

metodologias de apoio à decisão em sistemas e serviços de saúde.

Por fim, considera-se que a presente tese pode contribuir para o avanço do

campo acadêmico da área, na medida em que apresenta e discute um modelo

específico para compras de itens hospitalares no sistema brasileiro, buscando

melhorar a eficiência da gestão de compras.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este projeto de tese está organizado em cinco capítulos, abordando os

seguintes pontos:

a) O Capítulo 1 apresenta a contextualização deste trabalho e o problema de

pesquisa. A seção 1.1 contempla os objetivos gerais (seção 1.1.1) e

específicos (seção 1.1.2). A seção 1.2 destaca as justificativas e relevância

deste estudo. A seção 1.3 mostra a estrutura do trabalho.

b) O capítulo 2 traz o referencial teórico que aborda compras hospitalares e

modelos de portfólio de compras. O capítulo é dividido em três seções e

suas respectivas subseções. A seção 2.1 trata dos conceitos de cadeia de

suprimentos e compras hospitalares, dividida nas seções 2.1.1, 2.1.2 e

2.1.3. A seção 2.1.1 apresenta a teoria da agência. A seção 2.1.2 discute

os conflitos de agência oriundos da relação dos atores da cadeia de

suprimentos hospitalares. A seção 2.1.3 aborda os critérios inerentes ao

processo decisório de compras hospitalares. A seção 2.2 explora as

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estratégias utilizadas por hospitais e seus compradores para otimizar a

gestão de compras. Essa seção é dividida em quatro subseções: a seção

2.2.1 trata das estratégias tecnológicas de suporte; a seção 2.2.2 apresenta

as estratégias de gestão de suprimentos; a seção 2.2.3 traz a estratégia

colaborativa intraorganizacional; a seção 2.2.4 expõe as estratégias

colaborativas interorganizacionais. A seção 2.3 disserta sobre a Teoria de

Portfólio de Compras (TPC) e seus modelos. A seção 2.3.1 contempla o

estado da arte em modelos de portfólio de compras. Essa seção é

subdividida em cinco clusters, cada um apresentando tipos de estudos na

área de portfólio de compras: cluster I - estudos que desenvolveram

modelos de portfólio de compras originais; cluster II - estudos que

abordaram discussões teóricas acerca das proposições realizadas na obra

de Kraljic (1983); cluster III - estudos que testaram, empiricamente, as

proposições realizadas na obra de Kraljic (1983); cluster IV - estudos que

aplicaram o modelo de portfólio de Kraljic em diferentes contextos; cluster

V - estudos que aplicaram modelos combinados de portfólio. Por fim, a

seção 2.3.2 apresenta as críticas, apontadas na literatura, aos modelos de

portfólio de compras e proposições de melhoria.

c) O capítulo 3 discorre sobre os modelos de decisão multicritério,

apresentando as características destes modelos (seção 3.1), as principais

problemáticas de decisão e métodos multicritérios para trata-las (seção 3.2)

e, por fim, expõe o método multicritério Fuzzy-Topsis (seção 3.3) que será

utilizado neste estudo para classificar uma amostra de itens hospitalares,

na etapa de validação do modelo proposto.

d) O capítulo 4 trata da metodologia proposta, dividido em seis seções. A

seção 4.1 apresenta a caracterização do estudo. A seção 4.2 discorre sobre

as etapas da pesquisa. A seção 4.3 delimita a população e amostra

utilizada. A seção 4.4 discorre sobre o instrumento de coleta utilizado. A

seção 4.4.1 apresenta a coleta de dados para aplicação da PCA; 4.4.2

descreve a fase de pré-teste do questionário e a seção 4.4.3 apresenta as

etapas da coleta de dados para aplicação do Fuzzy-TOPSIS. A seção 4.5

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30

apresenta as etapas da revisão sistemática de literatura, utilizada para

compor o referencial teórico desta tese. A seção 4.6 trata do método

estatístico de análise de componentes principais.

e) O capítulo 5 disserta sobre o modelo proposto sendo composto por três

seções e 5 subseções. A seção 5.1 versa sobre os compradores que tiveram

o papel de decisores no modelo, apresentando seus perfis (5.1.1) e como

foi realizada a agregação de suas preferências (5.1.2). A seção 5.2

apresenta o modelo proposto, discorrendo acerca da validação dos critérios

(5.2.1). A seção 5.3 discute o modelo teórico: a interpretação das

dimensões do modelo (5.3.1) e a definição das classes dos itens de

compras hospitalares (5.3.2).

f) O capítulo 6 apresenta a aplicação do modelo teórico proposto em um

hospital. A seção 6.1 apresenta as principais características do hospital e

de seu processo de compras. A seção 6.2 demonstra a estruturação do

problema de decisão e sua resolução utilizando o método Fuzzy-TOPSIS.

A seção 6.3 apresenta a análise de sensibilidade realizada para testar a

robustez do modelo.

g) O capítulo 7 traz a discussão dos resultados da classificação dos itens na

matriz de portfólio de compras hospitalares, incluindo uma análise das

implicações gerenciais da utilização do modelo proposto (seção 7.1).

h) Por fim, o capítulo 8 apresenta as considerações finais do trabalho, suas

contribuições, limitações e sugestões de pesquisas futuras.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos e discutir as duas principais

temáticas dessa tese: compras hospitalares e modelos de portfólio de compras.

A seção 2.1 discute sobre a cadeia de suprimentos e o setor de compras

hospitalares, a relação de poder e dependência, os conflitos de agência entre os

atores da cadeia de suprimentos hospitalar e os critérios inerentes ao processo de

compras hospitalares. A seção 2.2 explora as estratégias e alavancas táticas

utilizadas por gestores para melhorar a eficiência nesse contexto. Por fim, a seção 2.3

aborda a TPC, suas características e contribuições, apresentando o estado da arte

dos estudos em portfólio de compras, as principais críticas apontadas aos modelos

desenvolvidos e proposições de melhoria.

2.1 CADEIA DE SUPRIMENTOS E COMPRAS HOSPITALARES

A gestão da cadeia de suprimentos busca a eficiência da operação dos seus

membros, de maneira alinhada, por meio da coordenação de suas atividades, visando

promover a melhoria dos processos ao longo da cadeia (FORD; SCANLON, 2007).

Sua preocupação vai além da compra e venda de produtos e serviços. Busca entender

como cada participante da cadeia pode melhorar suas práticas, visando a um

crescimento do todo (FORD; HUGHES, 2007; FORD; SCANLON, 2007).

O gerenciamento da cadeia de suprimentos torna-se, pois, uma ferramenta

estratégica na busca por redução de custos. Entender quais são os atores da cadeia

de suprimentos hospitalares e, o papel desempenhado por cada um; é fundamental

para identificar como ela funciona, as melhorias que precisam ser implementadas e,

ainda, os pontos críticos da cadeia (MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005;

MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Hospitais têm buscado a redução dos seus custos operacionais, por meio da

ênfase no setor de compras e nos atores da cadeia de suprimentos hospitalares

(NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

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O centro de compras é o setor responsável pelas compras organizacionais.

Seus membros são divididos de acordo com sua responsabilidade e poder de decisão

(MOON; TIKOO, 2002).

O estudo de Webster Jr. e Wind (1972), com mais de 1.200 citações, é um dos

mais relevantes e apresenta um framework sobre o comportamento das compras

organizacionais. Tem-se a descrição dos fatores que interferem nos processos de

compras e os atores que compõem os centros de compras das empresas.

Os fatores apresentados por Webster Jr. e Wind (1972) se subdividem em

individuais, ambientais, organizacionais e grupais. Os fatores individuais dizem

respeito à racionalidade ou preferências dos membros dos centros de compras. Os

fatores ambientais estão relacionados às mudanças no contexto externo à

organização, mas que afetam as decisões de compras. Os fatores organizacionais

dizem respeito ao alinhamento do centro de compras, com os objetivos e estratégia

organizacional.

Em seu modelo, Webster Jr. e Wind (1972) definem o centro de compras

composto por diversos atores, que possuem diferentes papéis inter-relacionados. São

estes: os compradores, influenciadores, decisores, guardiões e usuários (WEBSTER

JR; WIND, 1996).

No setor hospitalar, esses papéis não são tão definidos, podendo um mesmo

ator participar de mais um papel (BURNS et al., 2002). Os compradores são aqueles

contratados para este fim, possuindo a responsabilidade pela aquisição. No hospital,

em algumas circunstâncias, o médico assume o papel de comprador, devido ao seu

conhecimento técnico a respeito do item e da saúde do paciente (BURLAMAQUI;

GODOY, 2008; BUZZO, 2015; WEBSTER JR; WIND, 1996).

Os influenciadores são todos que, de alguma forma, atuam no processo, por

meio de informações ou avaliações sobre os itens comprados (WEBSTER JR; WIND,

1996). No caso dos hospitais, esse papel é exercido por médicos, enfermeiros, grupos

de compra e fornecedores. Os guardiões são aqueles que detêm as informações

sobre o processo de compras (WEBSTER JR; WIND, 1996). Os decisores são os que,

em uma situação conflituosa, detêm a autoridade para tomar a decisão de compra

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(compradores, médicos, diretores). Por fim, os usuários são os membros da

organização que utilizam os produtos e serviços comprados, sendo representados por

médicos, enfermeiros e pacientes (BURLAMAQUI; GODOY, 2008; BUZZO, 2015;

WEBSTER JR; WIND, 1996). Essas características revelam que na cadeia de

suprimentos hospitalar um mesmo ator desempenha diferentes papéis, que envolve

interesses distintos, gerando o que a Teoria da Agência (TA) define por problemas ou

conflitos de agência (JENSEN; MECKLING, 1976; MOLINER, 2009; SATO, 2007).

2.1.1 A Teoria da Agência

A Teoria da Agência (TA), desenvolvida por Jensen e Meckling (1976), entende

que as relações econômicas são regidas por contratos, responsáveis por

regulamentar os direitos e deveres entre stakeholders de um negócio: o “principal”

(proprietário, acionistas) e o agente contratado (executivos, tomador de decisão)

(PANDA; LEEPSA, 2017).

A TA tem, em sua estrutura conceitual, três pilares: os riscos da agência, os

problemas da agência e os custos da agência, conforme ilustrado na Figura 1. Esses

pilares atuam, concomitantemente, nos contratos entre principal e agente.

Figura 1 - Estrutura Conceitual da Teoria da Agência

Fonte: Yan, Yang e Fang (2014)

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Na TA, o risco de agência é uma condição de ameaça, assumida pelo principal,

por meio do contrato principal-agente. O risco ocorre porque o principal não está à

frente de todas as decisões. Por sua vez, o agente, tomador de decisão, não age

imbuído das mesmas cautelas e interesses que o principal (YAN; YANG; FANG,

2014). O risco pode ser moral, financeiro ou ambos. O risco moral ocorre, quando uma

das partes que detém maior conhecimento, tem uma propensão a agir com interesses

próprios, desfavorecendo a outra (GODDARD; MANNION; SMITH, 2000).

O principal, ao delegar o poder de decisão ao agente, tem a maximização da

eficiência de sua organização, dependente das decisões deste último (JENSEN;

MECKLING, 2008). Como os objetivos dos investidores do capital (principal) não estão

alinhados com os objetivos particulares das pessoas que gerenciam o negócio

(agente) (PANDA; LEEPSA, 2017), ocorrem os problemas ou conflitos de agência

entre principais e agentes, tais como: assimetria de informação, não comprometimento

com a ética, busca de lucros extracontrato (JENSEN; MECKLING, 1976).

Para lidar com os conflitos de agência, as organizações buscam criar

mecanismos de governança que regulem o comportamento dos agentes, reduzindo

os riscos e incertezas (JENSEN; MECKLING, 1976; PANDA; LEEPSA, 2017). Os

conflitos de agência e mecanismos de governança geram os “custos de

agência”(JENSEN; MECKLING, 1976).

Os custos de agência estão relacionados às práticas para compensar os

agentes, motivando-os a agir conforme o interesse do principal, como por exemplo as

remunerações sob resultados; ou ainda, práticas que visam inibir e controlar o

comportamento inadequado do agente, por meio da utilização de auditorias externas,

sistemas de informação, entre outras ferramentas de controle (JENSEN; MECKLING,

1976; MOLINER, 2009). Nos hospitais, os sistemas de monitoramento buscam reduzir

despesas médicas desnecessárias, evitando, assim, o desperdício (YAN; YANG;

FANG, 2014).

A cadeia de suprimentos hospitalar é complexa e envolve vários atores, que

ora atuam no papel de principal; ora, no papel de agente, dependendo da parte com

a qual esteja se relacionando. O hospital pode ser visto como principal, na relação

desse com os médicos (agentes) (CONRAD, 2015; TRYBOU; GEMMEL;

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ANNEMANS, 2014). Ao mesmo tempo, o hospital pode ser um agente, quando

considerado sua relação com planos de saúde (principal) (YAN; YANG; FANG, 2014).

Estudos recentes têm discutido a teoria da agência no setor de saúde, porém

em menor número quando comparado a outras organizações. Na perspectiva do

hospital como o principal e médicos como agentes Conrad (2015) explica os diferentes

modelos de incentivos de pagamento, utilizados na redução dos conflitos de agência

entre médicos e hospitais. Schramko (2007) identificou as características para reduzir

os problemas de agência na relação médico-hospitalar. Trybou, Gemmel e

Annemans (2014) analisaram, à luz da teoria da agência, as questões contratuais e

relacionais que moldam a contratação médico-hospitalar. O estudo de Yan, Yang e

Fang (2014) analisou a teoria da agência no contexto da saúde na perspectiva de

planos e seguradoras de saúde como principal e hospitais como agentes. Tofan,

Bodolica e Spraggon (2013) realizaram uma revisão de literatura dos estudos

publicados sob a perspectiva médico (agente) e paciente (principal).

Neste estudo, a TA é aplicada como base para entender o relacionamento entre

os atores da cadeia de suprimentos hospitalar. Defende que as relações entre os

atores da cadeia de valor em saúde (BURNS et al.2002) - aqui tratados como atores

da cadeia de suprimentos hospitalares - influenciam o processo decisório de compras

hospitalares (BURNS et al., 2002). Nesse sentido, as próximas seções tratam de

explicitar as relações de conflito de agência entre esses atores (2.1.2) e os critérios

que influenciam o processo de compras hospitalares (2.1.3).

2.1.2. Os Conflitos de Agência na Cadeia de Suprimentos Hospitalares

Os atores envolvidos na cadeia de suprimentos hospitalares têm relações de

conflito e interdependência (ABDULSALAM et al., 2015; BURNS et al., 2002). Em

algumas circunstâncias, a influência de um sobre o outro é mais forte, determinando

quem tem mais poder (FORD; SCANLON, 2007; LIGHT, 1991).

Poder e interdependência são conceitos importantes para entender as

relações entre compradores e fornecedores e as implicações dessas relações no

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processo de compra, no entanto, ainda é um tema pouco explorado em pesquisas

empíricas (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007).

A literatura distingue poder e dependência em relação ao fornecedor e ao

comprador. Afirma-se que o comprador tem uma dependência do fornecedor quando

a organização de compras tem uma alta necessidade dos produtos fornecidos, porém

não tem domínio de atratividade na relação. Por outro lado, pode-se dizer que o

fornecedor tem uma dependência da organização de compras, quando essa última é

responsável por um percentual alto do mercado total do fornecedor (BOHME et al.,

2008; CANIËLS; GELDERMAN, 2007; COX, 2001, 2015)

No setor de saúde, a relação de poder e dependência entre hospitais e

fornecedores não é direta. Ela sofre influência de outros atores e elementos, internos

e externos a esse processo, como é o caso dos médicos, planos de saúde, pacientes

e agentes de regulação (BURNS et al., 2009, 2018; MONTGOMERY; SCHNELLER,

2007).

A mão de obra médica é o serviço que exerce maior impacto na cadeia (BURNS

et al., 2002; FORD; HUGHES, 2007). É por meio da consulta, do diagnóstico e/ou da

prescrição médica que toda rede de outros serviços será requerida: exames, compra

de medicamentos, materiais, internações, procedimentos, cirurgias, direcionando os

gastos financeiros ao longo da cadeia (FORD; HUGHES, 2007).

Nos hospitais, os médicos detêm influência na compra de determinados itens,

podendo exercer o poder de decisão no lugar do comprador, em especial, em itens

implantáveis, como órteses e próteses (ABDULSALAM et al., 2015; TROMBETTA,

2007).

Neste sentido, os médicos se tornam alvos dos hospitais e dos compradores.

No primeiro caso, na busca pelo comprometimento na redução dos custos; no

segundo, pela conscientização na prescrição dos itens (BURNS et al., 2009, 2018).

Os médicos terminam se alinhando mais com os fornecedores do que com a

gerência de compras do hospital. Esse alinhamento deve-se aos benefícios

financeiros e de serviços, oferecidos pelos fornecedores (BURNS et al., 2009). Além

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disso, em muitos hospitais, parte dos médicos são apenas prestadores de serviços,

sem integrar a equipe de funcionários daquela instituição.

Percebe-se um conflito de agência entre médicos, fornecedores, compradores

e hospitais, em que o envolvimento dos médicos com os objetivos organizacionais é

prejudicado, gerando uma despreocupação com os custos do hospital (ABDULSALAM

et al., 2015; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

Para reduzir esse distanciamento, algumas práticas são utilizadas na busca do

alinhamento entre compradores, médicos, enfermeiros e hospitais, tais como:

treinamento dos médicos em metodologias de padronização; formação de equipes

para análise da cadeia de valor; liderança de um médico no processo de negociação;

indicadores de custos de procedimentos; contratação direta de médicos e enfermeiros

na equipe hospitalar (BUDGETT; GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; NYAGA;

YOUNG; ZEPEDA, 2015; TROMBETTA, 2007).

O fornecedor é um ator determinante na cadeia de suprimentos hospitalares.

Atua como facilitador do processo, diante das informações que detém sobre os itens,

podendo, inclusive fornecer informações enviesadas, favorecendo a venda de itens

do seu interesse (WALKER et al., 2013).

Na cadeia de suprimentos global, os fornecedores podem contribuir para a

vantagem competitiva das organizações (STEINLE; SCHIELE; ERNST, 2014). Se, por

um lado, o mercado global aumenta a concorrência entre os fornecedores,

configurando um ponto positivo para as organizações, por outro, em alguns

segmentos, onde há escassez de fornecimento, a demanda global exerce um efeito

inverso, gerando gargalos e rupturas de fornecimento. Neste segundo aspecto citado,

ter alianças com fornecedores-chave é o caminho para gerar vantagem competitiva

frente aos concorrentes (STEINLE; SCHIELE, 2008; STEINLE; SCHIELE; ERNST,

2014).

Na cadeia de suprimentos hospitalares, o papel do fornecedor vai além da

disponibilidade do suprimento. Em alguns casos, repassa conhecimento

especializado a médicos e compradores acerca dos produtos fabricados, chegando a

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participar de procedimentos e auxiliando, tecnicamente, os médicos

(MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Os planos de saúde atuam como distribuidores dos serviços de saúde. Para os

pacientes, que estão a jusante da cadeia, ele vende o serviço no varejo. A montante

eles negociam seu poder, por meio do volume de clientes que pode beneficiar os

hospitais, atuando, também, como regulador financeiro da cadeia (FORD; SCANLON,

2007).

Os planos de saúde têm controlado, cada vez mais, o pagamento pelos

serviços prestados por médicos e hospitais, fazendo com que eles, também,

controlem mais seus gastos com insumos (NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

No Brasil, o setor de planos de saúde é conhecido por sistema de saúde

suplementar. O setor é regulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Têm-se, atualmente, cadastradas 1.276 operadoras de planos de saúde, totalizando

cerca de 47 milhões de beneficiários (CNES, 2018). A Tabela 1 mostra a distribuição

de operadoras de planos de saúde, por região brasileira.

Tabela 1 - Distribuição dos Planos de Saúde Suplementar no Brasil

OPERADORAS COM REGISTRO NA ANS

DISTRIBUIÇÃO REGIONAL

NORTE 42

NORDESTE 162

CENTRO-OESTE 94

SUDESTE 781

SUL 197

TOTAL: 1.276

Fonte: CNES, 2018

Os pacientes são alvos do gerenciamento de custos dos planos de saúde. A

geração de despesas, assim como o lucro de toda a cadeia de suprimentos

hospitalares, são oriundos dos cuidados prestados aos pacientes (FORD; SCANLON,

2007).

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Ao mesmo tempo que os pacientes escolhem os médicos que vão realizar suas

consultas, recebem influência desses acerca dos hospitais onde devem efetuar seus

procedimentos (MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Não obstante a importância para cadeia de suprimentos hospitalares, os

pacientes tiveram, historicamente, poucos incentivos à sua participação na busca por

redução de custos (FORD; SCANLON, 2007). Apenas recentemente, mecanismos de

coparticipação passaram a ser utilizados por planos de saúde, como forma de reduzir

a demanda (FORD; SCANLON, 2007).

Os hospitais detêm o espaço físico e equipamentos para a efetivação do

trabalho médico e controlam o processo de compras, sendo os principais clientes

diretos dos fornecedores (MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Os compradores são os profissionais responsáveis pela gestão das compras

nos hospitais. A habilidade de barganhar de um comprador é um dos principais fatores

influenciadores nas variações de preços de compra de um mesmo produto. Cerca de

79% dos casos de variação dos preços de stents coronários em 96 hospitais dos

EUA, podem ser explicados pela capacidade de negociação dos compradores

(GRENNAN, 2014). Esse achado demonstra o quanto que a rentabilidade do hospital

depende do conhecimento do comprador.

O poder de barganha do comprador é enfraquecido quando a visibilidade e a

importância do departamento de compras não são notórias para a alta gestão

hospitalar (METTLER; ROHNER, 2009).

O fato de não existir no conselho executivo do hospital, um representante do

setor de compras para discutir os principais problemas, bem como mostrar as ações

e resultados do setor, contribui para, além de desconhecimento das funções

estratégicas que podem ser desempenhadas pelo comprador, um distanciamento

entre os objetivos organizacionais do hospital e a operacionalização das compras

(MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005).

A Figura 2 ilustra as relações entre os atores da cadeia de suprimentos

hospitalares, que impactam, diretamente, no processo decisório de compras.

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Figura 2 - Relacionamentos na Cadeia de Suprimentos Hospitalares

Fonte: Elaboração própria, 2019

Os interesses conflitantes, entre os membros da cadeia de suprimentos

hospitalares, são barreiras à sua eficiência (FORD; SCANLON, 2007; FORMENTINI

et al., 2018; MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005; MONTGOMERY;

SCHNELLER, 2007). Os conflitos entre essas relações podem ser amenizados por

meio de ações colaborativas, desenvolvidas por equipes multifuncionais

interorganizacionais e intraorganizacionais (MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS,

2005).

Diferentes relacionamentos colaborativos podem ocorrer na busca de uma

melhor aquisição. Os principais são: os relacionamentos comprador-fornecedor, os

de co-competição e comprador-comprador (WALKER et al., 2013).

O relacionamento colaborativo mais usual é o relacionamento comprador-

fornecedor, em que, apesar de existirem diferentes interesses, ambos são

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beneficiados pela cooperação. Relacionamentos do tipo co-competição são aqueles

em que diferentes fornecedores colaboram entre si, mesmo sendo concorrentes, para

atender a uma necessidade de um comprador. Relacionamentos comprador-

comprador são aqueles em que compradores de diferentes organizações se unem

para alcançar um melhor poder de negociação, geralmente utilizados em grupos de

compra (WALKER et al., 2013).

O comportamento organizacional reflete na capacidade de negociação de seus

compradores (GRENNAN, 2014). As relações interorganizacionais têm influência nas

relações interprofissionais. Um estudo com compradores hospitalares demonstrou

que hospitais que expressavam confiança junto aos seus fornecedores e encorajavam

relações de parcerias, tinham resultados mais positivos, visto que reduzia a

insegurança dos compradores envolvidos no processo (HAUSMAN, 2001).

Deste modo, o relacionamento na cadeia de suprimentos hospitalares não

deve ser visto, apenas, interorganizações, mas também intraorganização. Faz-se

necessário perceber o quão fortes ou frágeis essas relações estão, e entre quais

membros precisam ser fortalecidas, visando minimizar o impacto negativo que

essa fragilidade pode acarretar (HAUSMAN, 2001). Cada stakeholder envolvido

tem objetivos organizacionais distintos, mas que precisam se integrar e trabalhar

de maneira sinérgica para que todo o setor ganhe (VECINA NETO; MALIK, 2007).

A próxima seção discute os fatores que dificultam o processo de compras

hospitalares e os critérios de decisão desse contexto.

2.1.3 Critérios de Decisão em Compras Hospitalares

Os custos com compras hospitalares são elevados, chegando a comprometer

até 40% dos custos totais dos hospitais, sendo um dos principais desafios para sua

redução o comprometimento que esta pode gerar à saúde do paciente

(KRITCHANCHAI; MEESAMUT, 2015; KRITCHANCHAI; SUWANDECHOCHAI,

2010; MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005).

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Reduzir esses custos não é algo simples, devido às particularidades do

contexto hospitalar e aos critérios que influenciam nas decisões de compras: alta

variedade de itens; preferência médica por itens/fornecedores específicos; ausência

de padronização de equivalência de itens; risco de sequelas para o paciente; ausência

de vínculo direto entre quem compra e quem faz uso dos suprimentos; frequentes

inovações tecnológicas que necessitam de constante atualização de conhecimentos

e que tornam o ciclo de vida dos produtos cada vez menor (TYSON, 2010; CHEN;

PRESTON; XIA, 2013; GOBBI; HSUAN, 2015; HOEKSEMA, 2010; LAMBERT;

ADAMS; EMMELHAINZ, 1997).

A escassez de itens em estoque pode afetar a vida do paciente, ocasionando

sequelas, ou mesmo, a morte de um paciente, em caso de itens ou medicamentos

vitais que precisam ser administrados, mas que estão em falta (BURLAMAQUI;

GODOY, 2008; KRITCHANCHAI; MEESAMUT, 2015; MEDEIROS; FERREIRA,

2018).

Compradores hospitalares precisam lidar com o paradoxo de não poder

armazenar grandes quantidades de itens, devido à limitação de custo, características

do item e condições de armazenagem do hospital, ao mesmo tempo que não podem

deixar ocorrer rupturas de estoque, que venham a comprometer a saúde dos

pacientes e o serviço prestado pelo hospital (KRITCHANCHAI; MEESAMUT, 2015).

A quantidade de diagnósticos e de tratamentos realizados, em um hospital,

reflete no volume e variedade de itens que ele necessita para sua operação. Além do

grande número de equipamentos, os materiais, também, apresentam diferentes

funções, riscos e finalidades, que vão desde os medicamentos, materiais

descartáveis, esterilizáveis, dispositivos médicos implantáveis, reagentes, itens para

diagnósticos, entre outros.

A alta variabilidade de itens é um dos fatores responsáveis pelo aumento dos

custos, em especial quando se trata de itens com a mesma função, mas que são

comprados de diferentes fabricantes (MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

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Em alguns casos, a variabilidade é ocasionada pela ausência de

direcionamento quanto à equivalência de itens, prevalecendo a preferência do médico

por determinado fabricante (TYSON, 2010; MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

A preferência médica é fortemente influenciada pela tecnologia empregada na

fabricação do item e pelo serviço prestado pelo fornecedor do mesmo, como, por

exemplo, a assistência durante procedimentos (BURNS et al., 2018). Essa preferência

gera consequências, como: a redução da racionalidade do comprador e da sua

importância na negociação, a potencialização do poder de barganha do fornecedor e

o aumento dos custos hospitalares (BURNS et al., 2018; MONTGOMERY;

SCHNELLER, 2007).

Apesar de não existir consenso na literatura, quanto à influência dos itens de

preferência médica (physician preference items - PPI), nos custos das compras de

suprimentos hospitalares, alguns autores chegam a afirmar que chega a ser

superior a 40% (BURNS et al., 2018;TYSON, 2010).

Diferentemente do que ocorre nos itens de preferência médica , em que o custo

do item não tem impacto na escolha de compra (BURNS et al., 2018), para os

medicamentos, o preço de venda tem impacto no comportamento de escolha dos

médicos. Os médicos são mais sensíveis em prescrever medicamentos que são mais

baratos (MIAO-SHENG; YU-TI, 2008).

A influência da preferência médica ocorre, em especial, com órteses, próteses

e materiais especiais (OPME). As órteses são dispositivos implantáveis temporários,

auxiliares para o funcionamento de um órgão, como por exemplo stents coronários.

As próteses são equipamentos implantáveis utilizados para substituir um órgão que já

não consegue exercer sua função, como por exemplo implante cocleares e prótese

de joelho. Já os materiais especiais são equipamentos utilizados tanto na função

terapêutica quanto na função de diagnósticos, podendo estes ser implantáveis ou não,

como por exemplo os catéteres utilizados em procedimentos de cateterismo e

materiais para cirurgias laparoscópicas (BRASIL, 2015b). Para esses itens, o médico

tem poder de decisão sobre a compra, devido ao seu conhecimento acerca da

condição físico/clínica do paciente (TYSON, 2010).

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Em hospitais, a ausência de procedimento padrão para avaliar a equivalência

de itens de compras também é uma problemática que gera uma maior dependência

do comprador em relação ao médico e, de ambos, em relação ao fornecedor

(DEJOHN, 2005).

Nas compras de OPME, não há critérios mensuráveis para determinar, entre

os itens disponíveis, aqueles que possuem qualidade equivalente, ficando muitas

vezes, a critério do médico, a indicação do fornecedor a quem se deve comprar

(MONTGOMERY;SCHNELLER,2007). Esses itens são os que apresentam mais

dificuldades para os comitês de equivalência chegarem a um consenso. Isso se

deve à personalização que alguns pacientes exigem e que nem todo fornecedor

consegue atender (GOBBI; HSUAN, 2015; HOEKSEMA, 2010).

Os itens OPME, apesar de comprados em menor volume, estão entre os

maiores geradores dos custos hospitalares (BURNS et al., 2018; CALLEA et al.,

2017; TYSON, 2010), concorrendo com medicamentos que, também, são

apontados como líderes deste ranking (BASTANI et al., 2016; SIGULEM; ZUCCHI,

2009). Esses valores quando analisados em relação ao volume total de compra

anual do hospital geram economias exponenciais.

Ao contrário dos medicamentos que têm seus preços praticados pelo

fornecedor em nível global, os preços das OPME são negociados entre fornecedores

e compradores que, em muitos casos, o médico ocupa o papel de decisor na

negociação (CALLEA et al., 2017). Sem uma tabela de preços padrão, não é difícil

encontrar diferenças de preços aplicados em um mesmo produto, para diferentes

hospitais, o que gera a necessidade de um maior controle na gestão de compras

(CALLEA et al., 2017).

Outro fator complicador é o monopólio ou oligopólio de patentes. O estudo de

Silva e Caetano (2014) analisou os gastos com aquisição de medicamentos no

município do Rio de Janeiro no período de 2002-2011. Foi evidenciado que produtos

com monopólio de fabricação tiveram maior variação de preço (SILVA; CAETANO,

2014). Outros autores, porém, defendem que a variabilidade nos preços pode ser um

indicativo de ineficiência na gestão de informações das compras hospitalares

(NARANJO-GIL; RUIZ-MUÑOZ, 2015).

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Outros fatores também estão relacionados a uma boa aquisição de itens

hospitalares, tais como: o acesso a informações quanto a preços e qualidade dos

itens; o poder de barganha do comprador e a colaboração entre os membros da cadeia

(BASTANI et al., 2016; GRENNAN, 2014).

Resumindo os pontos discutidos nessa seção, os Quadros 1 e 2 apresentam,

respectivamente, os fatores dificultadores e os critérios inerentes ao processo

decisório de compras de itens hospitalares.

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Quadro 1 - Fatores Dificultadores do Processo Decisório de Compras Hospitalares

Fatores Autores

Materiais

Complexidade e variabilidade dos itens comprados e serviços prestados pelo hospital.

Burlamaqui e Godoy (2008)

Falta de nomenclatura e codificação padronizada de itens

Mckone-Sweet, Hamilton e Willis (2005)

Pessoas

Ausência de comitês de equivalência para itens.

Buzzo (2015); Montgomery e Schneller (2007); Naranjo-Gil e Ruiz-Muñoz (2015); Nyaga, Young

e Zepeda (2015)

Falta de conhecimento técnico da equipe de compras

Budgett, Gopalakrishnan e Schneller (2017); naranjo-Gil e Ruiz-Muñoz (2015)

Interesses conflitantes entre os membros da cadeia de suprimentos.

Ford e Scanlon (2007); Mckone-Sweet, Hamilton e Willis (2005); Nollet, Beaulieu e

Fabbe-Costes (2017); Nyaga, Young e Zepeda (2015)

Resistência à mudança por parte dos membros.

Ford e Hughes (2007)

Profissionais de diversas áreas envolvidos na utilização dos itens comprados.

Burlamaqui e Godoy (2008)

Falta representatividade do setor, no conselho executivo do hospital.

Mckone-sweet, Hamilton e Willis (2005)

Financeiro

Sistemas de pagamentos não atrativos.

Ford e Hughes (2007); Ford e Scanlon (2007)

Aquisição de Conhecimento

Ausência de indicadores de desempenho.

Mckone-Sweet, Hamilton e Willis, (2005); Nollet, Beaulieu e Fabbe-Costes (2017)

Falta de conhecimento técnico da equipe de compras.

Naranjo-Gil e Ruiz-Muñoz (2015); Budgett; Gopalakrishnan e Schneller (2017)

Disseminação da Informação

Falta de investimento em tecnologia de informação.

Ford e Hughes (2007); Mckone-Sweet, Hamilton e Willis (2005)

Assimetria de informação.

Ford e Hughes (2007); Ford e Scanlon (2007); Meijboom, Schmidt-Bakx e Westert (2011)

Fonte: Elaboração própria, 2019

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Quadro 2 – Critérios de Decisão em Compras Hospitalares

Critério Descrição Autor/ano

Preferência Médica

A preferência médica por determinada marca/modelo de item.

Montgomery e Schneller (2007); Nyaga, Young e Zepeda (2015)

Conhecimento

A ausência de conhecimento técnico/clínico do comprador para

decidir sobre o custo/benefício do item comprado.

Montgomery e Schneller (2007)

Risco

O risco de vida ou sequela que pode incorrer ao paciente, no caso da falta

de estoque do item.

Burlamaqui e Godoy (2008); Kritchanchai e Meesamut (2015);

Medeiros e Ferreira (2018); Priyan e Uthayakumar (2014);

Provines (2010)

Customização do item

A necessidade de personalização de um item, para atender necessidades

específicas de um paciente.

Burns et al. (2018); Gobbi e Hsuan (2015)

Assistência do fornecedor

A necessidade de assistência do fornecedor durante a realização de um

procedimento médico com o item.

Burns et al. (2018); Karsak e Dursun (2014); Montgomery e

Schneller (2007)

Monopólio de patentes

O monopólio de patentes ou nº de fornecedores reduzidos para

determinados itens.

Bastani et al. (2016); Provines (2010); Silva e Caetano (2014)

Volume O volume de itens comprados. Karsak e Dursun (2014); Nyaga,

Young e Zepeda (2015)

Tempo O tempo de entrega (lead-time) do

fornecedor. Chen, Preston e Xia (2013); Medeiros e Ferreira (2018)

Custo O custo do item comprado.

Bastani et al. (2016); Chen, Preston e Xia (2013); Grennan

(2014); Karsak e Dursun (2014); Ng et al. (1996)

Habilidade de negociação

A habilidade de negociação do comprador para negociar preços,

prazos e produtos.

Bastani et al. (2016); Grennan (2014)

Reputação do fornecedor

A reputação do fornecedor baseada no histórico de compras.

Burns et al. (2009, 2018)

Tabelas de preço

A ausência de preços tabelados para limitar preço dos fornecedores.

Callea et al. (2017)

Armazenagem As condições de armazenagem do

hospital (espaço, equipamentos adequados).

Kritchanchai e Meesamut (2015); Kritchanchai e Suwandechochai

(2010)

Fonte: Elaboração própria, 2019

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Para gerenciar os fatores que dificultam as compras, e obter um melhor controle

sobre os critérios que influenciam esse processo, hospitais e compradores se utilizam

de práticas estratégicas e alavancas táticas, buscando melhorar a eficiência e

prestação do serviço hospitalar. Estas serão apresentadas na próxima seção.

2.2 ESTRATÉGIAS UTILIZADAS EM COMPRAS HOSPITALARES

A adoção de estratégias adequadas, na gestão da cadeia de suprimentos

hospitalares, possibilita, em média, a redução de custos, em até 29,9% nos itens e

procedimentos hospitalares, sendo que, para alguns deles, essa redução pode atingir

59% (ROBINSON; BROWN, 2014).

A estratégia e a tática referem-se às abordagens que os tomadores de decisão

irão adotar para alcançar os objetivos organizacionais e setoriais (HESPING;

SCHIELE, 2016). Estas, por sua vez, se materializam por meio de um conjunto de

práticas, ações ou ferramentas que viabilizam o alcance dos resultados esperados

(HESPING; SCHIELE, 2016).

Na função de compras, não se tem uma estratégia única. Do contrário, a

maturidade da gestão de compras de uma organização pode ser evidenciada por meio

de ampla utilização de estratégias e diversas alavancas táticas (HESPING; SCHIELE,

2015, 2016).

Diferentes categorias de itens estão relacionadas a diversas estratégias de

compras, impulsionando a adoção de alavancas e ações específicas para cada

categoria (LUZZINI et al., 2012).

A gestão de compras estratégica vai além da seleção de fornecedores,

administração de contratos e sistemas de pagamento. Ela requer uma abordagem

sistêmica que compreenda os fatores inerentes ao contexto na qual a organização

atua, interferindo, assim, na capacidade gerencial do setor (BUSSE et al., 2007).

O gerenciamento estratégico de compras requer a escolha de relacionamentos

com fornecedores e práticas de gestão, adequadas ao tipo de produto, visando

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aumentar a eficiência de compras (BENSAOU, 1999; GELDERMAN; VAN WEELE,

2005; HESPING; SCHIELE, 2015; KRALJIC, 1983; LEE; DRAKE, 2010; PAGELL;

WU; WASSERMAN, 2010).

Na literatura de compras hospitalares, foram levantadas estratégicas utilizadas

por hospitais e compradores, bem como as alavancas táticas a essas relacionadas.

Apesar de terem objetivos e resultados distintos, não são mutualmente excludentes;

ao contrário, se complementam. Essas estratégias se subdividem em quatro tipos: (1)

estratégias tecnológicas de suporte; (2) estratégias de gestão de suprimentos; (3)

estratégias colaborativas intraorganizacionais e (4) estratégias colaborativas

interorganizacionais.

As estratégias designadas de tecnológicas de suporte dizem respeito ao uso

de ferramentas tecnológicas para auxiliar nos procedimentos de compra. As

estratégias de gestão de suprimentos dizem respeito à utilização de táticas para

melhor selecionar e gerenciar o fornecimento. As estratégias colaborativas

intraorganizacionais referem-se às práticas internas da equipe hospitalar, para

melhorar o desempenho em compras e na prestação do serviço. Por fim, as

estratégias interorganizacionais são aquelas em que parcerias entre diferentes

organizações são formadas, visando o crescimento conjunto. Em comum, elas

buscam à otimização do processo de compras, à redução de custos e à melhoria da

prestação do serviço, porém operando em diferentes frentes.

Os próximos tópicos apresentam as ferramentas, alavancas táticas e práticas,

utilizadas em cada tipo de estratégia acima citada.

2.2.1 Estratégias Tecnológicas de Suporte

As estratégias tecnológicas de suporte são constituídas por sistemas de

informações gerencias e portais de compras.

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a) Sistemas de Informações Gerenciais

O compartilhamento de informações é uma ferramenta poderosa, desde que

seja bem utilizada, para identificação de melhores práticas na gestão de compras

hospitalares (NARANJO-GIL; RUIZ-MUÑOZ, 2015).

Os sistemas de informações gerenciais, utilizados no processo de compras,

são sistemas para o gerenciamento dos processos de compras visando gerenciar os

volumes comprados, preços praticados, níveis de estoque e pontos de pedido

(BUDGETT; GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017).

Os sistemas de informação têm trazido, para o contexto de compras

hospitalares, disponibilidade e velocidade nas informações, e, por consequência,

agilizado a tomada de decisão e a transparência nos processos (BUDGETT;

GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; METTLER; ROHNER, 2009).

No Brasil, o Banco de Preços em Saúde (BPS) - um sistema de informações

criado pelo Ministério da Saúde - disponibiliza acesso de dados acerca de instituições

compradoras, fornecedoras, itens comprados, quantidades e preços praticados em

itens de suprimentos de saúde. Os dados são inseridos por instituições previamente

cadastradas e que podem ter acesso a informações de compras realizadas em

diferentes períodos e modalidades (BRASIL, 2016).

O objetivo da criação do BPS é que funcione como portal de consulta de preços

praticados, visando melhorar a gestão das compras de instituições públicas de saúde.

Apesar de a inclusão das informações não ser obrigatória, o Ministério Público e

Tribunal de Contas da União recomendam a inserção e a consulta das informações

no BPS (BRASIL, 2016).

Apesar do avanço que o BPS possibilita na transparência das informações,

algumas falhas comprometem o uso do sistema, em especial, a inserção errada de

preços, ausência de ferramentas de buscas mais detalhadas e codificação/descrição

confusa dos itens. Em muitos casos, os itens recebem códigos diferentes, mas com a

mesma descrição, não sendo percebido a real diferença entre eles. Esse mesmo

problema foi encontrado no estudo de Walker et al., (2013), em que a ausência de um

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sistema confiável de codificação e categorização dos produtos terminava levando os

compradores a confiar nas informações, advindas de fornecedores.

Apesar da comprovação quanto às melhorias promovidas pela utilização de

sistemas de informação na área da saúde, ainda é limitado o número de pesquisas

empíricas que detalhe acerca dos resultados dessa adoção (KLEIN, 2012; METTLER;

ROHNER, 2009). Nos Estados Unidos, para incentivar o uso dessas tecnologias entre

os médicos, foram fornecidos prêmios financeiros para os primeiros adotantes (KLEIN,

2012).

b) Portais de Compras

Procedimentos de compra eletrônica (e-procurement) têm tido ampla aceitação

no contexto hospitalar. Tais procedimentos dizem respeito ao uso de sistemas de

informação interorganizacionais para compra de itens (SIGULEM; ZUCCHI, 2009).

Sua utilização tem possibilitado a redução do número de fornecedores, bem como um

relacionamento mais próximo entre os participantes (WHITE; DANIEL, 2004).

Em hospitais e indústrias farmacêuticas, a automação dos processos de

compras via e-procurement pode possibilitar, além da compra on-line, identificação de

fornecedores disponíveis, tomada de preços, prazos de entrega e qualificação dos

fornecedores (SIGULEM; ZUCCHI, 2009; SMITH; FLANEGIN, 2004).

Entre os procedimentos de e-procurement, o de portal de compras é uma

ferramenta que tem sido utilizada por hospitais brasileiros, mas ainda pouco praticada

por organizações internacionais (BUZZO, 2015).

Os portais de compras são ferramentas transacionais em que compradores e

fornecedores têm acesso a um grande número de cotações, oferta e procura por itens

e serviços.

Hospitais brasileiros que trabalham com portais de compras atestam os ganhos

obtidos por meio dessas ferramentas, principalmente, em função do ganho de tempo

e volume de cotações que os portais possibilitam; do aumento na concorrência entre

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fornecedores; e da redução nos preços de compras (BUZZO, 2015; RODRIGUES;

SOUSA, 2015). Outro ganho considerável com o uso dos portais de compras é a

transparência nas transações para compradores e hospitais e possibilidade de

maiores volumes de vendas para os fornecedores (SIGULEM; ZUCCHI, 2009).

O fato de se trabalhar com o portal de compras não restringe o hospital a

comprar por meio dessa ferramenta. Os compradores e médicos podem optar por

fornecedores que não estejam fazendo suas negociações pelo portal (BUZZO, 2015).

Esse fato gera maior concorrência entre fornecedores, ao mesmo tempo que

possibilita um menor controle na seleção do fornecedor, visto que outras variáveis,

como, por exemplo, a urgência na aquisição, podem servir de justificativas para tal

procedimento.

O estudo de Burlamaqui e Godoy (2008) evidenciou que as principais fontes de

informação utilizadas por compradores hospitalares do Rio Grande do Sul, ao buscar

fornecedores de medicamentos, são os representantes de medicamentos e a mídia.

No entanto, estudos mais recentes mostram que a utilização de portais de compras

por hospitais tem reduzido a influência dos representantes sobre os compradores,

visto que estes últimos têm acesso a um volume maior de informações por meio dos

portais (BUZZO, 2015).

Esse fato revela que as empresas fornecedoras devem investir mais nos portais

e no cumprimento do que tem sido ofertado nos portais, visto que estes também

funcionam como canal de avaliação/qualificação de fornecedores. Do mesmo modo,

hospitais devem analisar o custo benefício dessa ferramenta e as empresas

fornecedoras devem repensar o papel dos representantes (BUZZO, 2015).

2.2.2 Estratégias de Gestão de Suprimentos

As estratégias de gestão de suprimentos são compostas pela seleção e gestão

de fornecedores, consolidação do volume comprado e limitação do preço de compra.

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a) Seleção de Fornecedores

A seleção de fornecedores é uma das atividades críticas da gestão de compras.

Seu objetivo é selecionar fornecedores que garantam o fornecimento de itens que

atendam aos requisitos de qualidade, custo e prazo, requeridos pela empresa

compradora (KARSAK; DURSUN, 2014, 2015).

O processo de seleção de fornecedores implica diferentes etapas: identificação

do problema; identificação dos critérios de decisão; avaliação das alternativas, no

caso, os fornecedores disponíveis; e a seleção final (DE BOER; LABRO;

MORLACCHI, 2001).

O ponto de partida, para uma eficiente seleção de fornecedores, consiste em

identificar os critérios que precisam ser atendidos pela empresa, em relação ao

produto que está sendo adquirido (KARSAK; DURSUN, 2014).

No contexto hospitalar, os principais critérios utilizados na seleção de

fornecedores são: qualidade do item, lead-time, custo, disponibilidade do fornecedor

para assistência do produto (BAHADORI et al., 2017; KARSAK; DURSUN, 2014,

2015).

b) Gestão de Fornecedores

A gestão de fornecedores, também, é uma prática utilizada no setor hospitalar,

visando o gerenciamento do serviço prestado e a colaboração entre as partes, como

caminho para reduzir custos e melhorar a qualidade do serviço prestado (METTLER,

2013; METTLER; ROHNER, 2009). Apesar de necessário, em muitos casos, não se

faz o uso de métricas adequadas para medir a maturidade dos relacionamentos com

fornecedores (METTLER, 2013).

No entanto, nem todas as relações interorganizacionais necessitam ser de

longo prazo ou colaborativas. Gastar recursos, buscando fortalecer relações não

estratégicas, é um desperdício de investimento (HAUSMAN, 2001).

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c) Consolidação de Volume Comprado

Hospitais que operam com maior volume, pagam melhores preços em suas

aquisições quando usam procedimentos mais controlados, demonstrando que esses

recursos são facilitadores da gestão estratégica de compras (SILVA; CAETANO,

2014).

As compras em maior volume constituem um atrativo para fornecedores que

operam em grandes escalas. Desta forma, hospitais que compram maiores volumes,

aumentam o poder de barganha do comprador (BURNS; LEE, 2008; NYAGA;

YOUNG; ZEPEDA, 2015).

d) Limitação do Preço de Compra

Para driblar a ausência de regularização dos preços operados pela indústria

farmacêutica e de materiais médico-hospitalares, hospitais, planos e operadoras de

saúde têm limitado o preço de negociação de compra de determinados itens (CALLEA

et al., 2017).

Esse “teto” estimado de preço é conhecido como modelo de limite de

pagamento e funciona como limitador, forçando fornecedores a repensar suas

margens de lucro, para estarem aptos a participar do processo de cotação (BURNS

et al., 2018; HESPING; SCHIELE, 2016; MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

2.2.3 Estratégia Colaborativa Intraorganizacional

A estratégia colaborativa intraorganizacional utilizada pelos hospitais é a

formação de comitês de equivalência de itens.

a) Comitês de Equivalência

Hospitais têm usado estratégias para restringir o uso da prática da

preferência por determinados itens/fornecedores. Alguns hospitais têm adotado a

política de limitar o preço dos itens adquiridos. Outros têm usado o modelo de

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formulário, que limita o número de fornecedores de um item (BURNS et al., 2018;

MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Uma estratégia que tem ganhado força, nos últimos anos, é o comparativo

de equivalência entre itens, como forma de justificar a preferência e reduzir a gama

de itens excluídos do processo de compras (BURNS et al., 2018; MONTGOMERY;

SCHNELLER, 2007).

Os comitês de equivalência recebem outros nomes, como, por exemplo,

comissão interna de padronização (BUZZO, 2015). Esses comitês são formados por

uma equipe multidisciplinar (médicos, compradores, enfermeiros), tendo como

objetivo a avaliação de itens comprados, visando à aprovação ou rejeição para

próximas compras. Os comitês executam análises comparativas entre itens, criando

uma lista de produtos equivalentes, e, portanto, substituíveis entre si, visando

aumentar as possibilidades de compras (MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Nas comparações de equivalência, os itens são avaliados quanto a sua função,

custo-efetividade, eficiência e segurança para o paciente (HOEKSEMA, 2010;

MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007). A exemplo, no estudo de Sigulem e Zucchi

(2009), sete hospitais universitários brasileiros, que realizaram compras conjuntas,

constituíram um comitê para padronizar os medicamentos que seriam utilizados pelos

hospitais participantes.

Os preços com aquisições de itens podem variar muito, em função de diversos

fatores: volume comprado, fornecedor, poder de barganha do comprador. Os comitês

de equivalência multidisciplinar podem influenciar nos preços de itens comprados

(HAAS; KAPLAN, 2017). A presença de comitês de equivalência nos hospitais se

mostrou, estatisticamente, mais significante, para explicar a redução de preço de

compra de próteses de joelho, do que o volume comprado deste item (HAAS;

KAPLAN, 2017).

A padronização de itens, por meio de comitês de equivalência, apesar de ser

uma estratégia que gera ganhos para o hospital, é um desafio, pois necessita da

cooperação e busca de consenso entre diversos profissionais (BUDGETT;

GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

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No entanto, o levantamento de equivalência de itens e a legitimação dos

resultados, por parte da equipe médica, não são procedimentos aceitos de forma

amena (MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

É necessário entender que a formação de um comitê de equivalência não é

uma tarefa fácil. Se, por um lado, têm-se os compradores com carência de

conhecimentos técnicos, por outro tem-se o corpo clínico, que não conhece os

pormenores dos processos de aquisição de itens, os custos indiretos relacionados

(MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007). Porém, embora complexo, se torna

necessário, pois hospitais que têm a responsabilidade da SCM, envolvendo

profissionais de diferentes áreas, tendem a produzir resultados mais consistentes e

duradouros (MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005).

2.2.4 Estratégias Colaborativas Interorganizacionais

As estratégias colaborativas interorganizacionais são formadas pelos grupos

de compras, as compras baseadas em valor hospitalar, alianças com fornecedores,

estoques administrados por fornecedores e afiliações a sistemas hospitalares.

a) Grupos de Compra

As alianças interorganizacionais são formadas buscando atingir benefícios, que

não seriam viáveis de forma individual (OUMLIL; WILLIAMS, 2011).

Entre as alianças interorganizacionais, os grupos de compra são provedores

de serviços que propiciam operações entre compradores e fornecedores,

aumentando o poder de barganha dos primeiros e a quantidade vendida dos

fornecedores (NOLLET; BEAULIEU; FABBE-COSTES, 2017).

Os grupos ou alianças de compras, conhecidos como group purchasing

organization (GPO), são sistemáticas de compras coletivas, onde empresas de um

mesmo segmento se unem a outras para comprar em maior volume, aumentando o

poder de barganha e reduzindo os preços em função do volume comprado, gerando

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economias de escala (BURNS; LEE, 2008; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015). Em

alguns casos, a redução média nos preços de compras dos itens, após implementação

do GPO, chegou a 28% (GOBBI; HSUAN, 2015; SIGULEM; ZUCCHI, 2009).

Os GPO’s tanto são indicados para compra de commodities (SIGULEM;

ZUCCHI, 2009), como também para itens sob monopólio de fornecedores (LIAO;

CHEN, 2013), vistos que esses últimos têm demanda menor por hospital, mas que,

no GPO, se consegue economia de escala, devido ao volume comprado.

Nos GPO’s, as características dos membros (porte, volume comprado,

capacidade financeira), devem ser a mais homogênea possível, para evitar conflitos

de interesses. Essas condições devem ser analisadas previamente, evitando objetivos

conflitantes entre os membros e perda da autonomia de decisão (NOLLET;

BEAULIEU, 2005).

O resultado esperado em uma aliança com GPO’s é a redução do custo total e

o ganho de vantagens competitivas (OUMLIL; WILLIAMS, 2011). No entanto, não é

consenso vantagens de sua utilização, havendo alguns contrapontos na literatura.

Nyaga, Young e Zepeda (2015) encontraram evidências que os GPO’s não

impactam na eficiência da cadeia de suprimentos hospitalares. Esse fato pode ser

explicado pelas taxas administrativas que os fornecedores pagam aos GPO’s,

enviesando as ações que tendem a favorecer os grandes grupos, promovendo

produtos em função das taxas recebidas dos fornecedores (MCKONE-SWEET;

HAMILTON; WILLIS, 2005). Além disso, ao participar de um GPO, o hospital terá mais

uma gama de atores envolvidos nas decisões de compras, ou seja, todos os demais

hospitais que também fazem parte do mesmo GPO, para negociar e defender seus

interesses, que podem ser conflitantes com alguns de seus membros (NOLLET;

BEAULIEU, 2005).

A interdependência também está presente nas relações entre GPO, hospitais

e compradores. Os GPO’s precisam de dados como volume da demanda,

especificação de cada item, sendo fornecidas por todos os hospitais membros.

Compradores, por sua vez, precisam do valor do item/por volume para decidir a

quantidade a ser comprada, em função do preço negociado. Chegar a um consenso

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de qual fornecedor se vai comprar é um ponto de conflito, visto que nem sempre

hospitais e médicos têm as mesmas preferências (NOLLET; BEAULIEU; FABBE-

COSTES, 2017).

Outras reclamações acerca da operação do GPO incluem o tempo de resposta,

que, geralmente, é bem maior que o das consultas diretas do comprador hospitalar

aos fornecedores; outro fato é que muitos itens, de interesse do hospital, não são

negociados pelo GPO (NOLLET; BEAULIEU; FABBE-COSTES, 2017).

b) Compras Baseada em Valor Hospitalar

Outra estratégia colaborativa interorganizacional é o programa de incentivos a

redução de custos hospitalares e a melhoria do serviço prestado ao paciente,

conhecido por compras baseada em valor hospitalar. O programa visa reduzir a

variação de itens, de procedimentos e de níveis de qualidade nos resultados dos

serviços de saúde (SRINIVASAN; DESAI, 2017). Essas variações impactam,

diretamente, nos custos hospitalares, nos erros operacionais e em retrabalhos, que

têm custado a saúde de paciente (SRINIVASAN; DESAI, 2017).

A estratégia de compras baseadas em valor hospitalar, também conhecida

como modelo de colaboração de ganhos, tem sido adotada como forma de alinhar

os médicos, com o objetivo organizacional de redução dos custos hospitalares

(BURNS et al., 2018; MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007). O fato é que o

programa mudou o paradigma das compras baseadas em volume para compras

baseadas em qualidade e valor (NORTON et al., 2018).

O Medicare - a maior seguradora e pagadora dos serviços de saúde nos

Estados Unidos - aderiu ao programa e criou uma série de indicadores de

desempenho, para medir a qualidade do serviço prestado. Cada hospital participante

tem seu bônus ou ônus financeiro, medidos em função dos resultados por paciente,

nos seguintes indicadores de desempenho: cuidados clínicos (medidos em relação

aos procedimentos e aos resultados), redução de custos x eficiência, segurança e

experiência do paciente. O resultado do desempenho hospitalar do ano anterior,

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reflete no montante financeiro que o hospital receberá no ano seguinte (CARVER;

PARSONS, 2012; NORTON et al., 2018).

O programa de compras baseada no valor hospitalar requer uma mudança

comportamental em toda a cadeia de suprimentos, visto que apesar dos incentivos e

penalidades serem aplicadas aos hospitais, prestadores de serviço, fornecedores e

principalmente pacientes, são diretamente afetados (NORTON et al., 2018;

SRINIVASAN; DESAI, 2017), necessitando para seu sucesso, de maior integração

não só desses atores, mas também da família do paciente (CARVER; PARSONS,

2012).

No contexto internacional, os pagadores estão, cada vez mais, aderindo a

critérios qualitativos, que medem a qualidade do serviço prestado e a real

preocupação em cadeia, pela redução dos custos nos serviços de saúde. O programa

de compras baseada em valor hospitalar, implementado nos Estados Unidos, a cada

ano tem aumentado o percentual de hospitais e serviços pagos, por meio dessa

diretriz (PROVINES, 2010; SRINIVASAN; MPH, 2017).

O programa de compras baseado em valor configura uma tendência futura e

aponta para a necessidade de mudanças efetivas na cadeia de suprimentos,

requerendo um trabalho integrado de compradores, fornecedores, equipe de saúde e

hospitais. De igual modo, essa integração precisa ter, como aliada, informações

confiáveis, em tempo real e ferramentas de gestão, que possibilitem a tomada de

decisão mais assertiva (CARVER; PARSONS, 2012).

c) Alianças com Fornecedores

O contexto hospitalar ainda tem dificuldades na implementação de

estratégias integradas na gestão de compras que exijam uma maior participação

de todos os atores da cadeia (FORD; SCANLON, 2007).

Alianças com fornecedores são práticas usuais na busca da redução de

custos e melhoria da qualidade do serviço de saúde. No entanto, precisam ser

avaliadas em função da característica do mercado de fornecimento do item, visto que

o desenvolvimento de parcerias implica custos, dedicação de tempo para se chegar

no alinhamento necessário e riscos durante sua operacionalização, não sendo

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aconselhada para todo tipo de fornecimento (BENSAOU, 1999; PAGELL; WU;

WASSERMAN, 2010).

Algumas práticas auxiliam no processo de colaboração entre compradores

e fornecedores: preços fixos para determinados itens; custos/recompensas

compartilhadas, gerando uma corresponsabilização; pagamento por pacotes de

itens/serviços vendidos, em que se tem uma redução percentual no preço, à

medida que o mix/volume de compra aumenta (HEGWER, 2013).

d) Estoque Administrado pelo Fornecedor

Os sistemas atuam como novos atores no processo de compra, modificando

relações que, historicamente, eram exercidas por meio de venda direta externa, em

que o fornecedor ora se relacionava com os compradores, ora com os médicos, por

meio dos seus representantes (KLEIN, 2012).

Os sistemas atuam como auxiliares no processo de redução de custos com a

força de venda externa, e, em casos de maior investimento e cooperação, os

fornecedores passam a atuar no gerenciamento dos estoques das empresas

compradoras, de seus itens fornecidos por meio dos sistemas VMI (vendor

management inventory). Nesse caso, o VMI apresenta-se como estratégia tecnológica

e, ao mesmo tempo, colaborativa.

O sistema VMI é um sistema que possibilita que o fornecedor visualize, em

tempo real, o consumo e níveis de estoque. As ordens de compra são geradas,

automaticamente, com base em uma de definição prévia de ponto de pedido (HAAVIK,

2000).

A implementação do sistema VMI requer, além de confiança na capacidade de

gerenciamento e entrega do fornecedor, condição financeira e de capacidade de TI

para tal (HAAVIK, 2000). Sua utilização gera reduções de custos hospitalares com

armazenagem e custos operacionais com compras (BUDGETT; GOPALAKRISHNAN;

SCHNELLER, 2017).

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e) Afiliação a Sistemas Hospitalares

A associação entre hospitais também tem sido utilizada por gestores como

forma de fortalecer, estrategicamente o grupo. Com atuação multidisciplinar, os

hospitais filiados buscam melhorias nos serviços prestados, em um melhor

desempenho financeiro, e melhor gerenciamento dos seus processos (NYAGA;

YOUNG; ZEPEDA, 2015).

No Brasil, têm-se dois grupos que sobressaem: a Associação Nacional de

Hospitais Privados (ANAHP) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

(EBSERH).

No Brasil, nos 101 hospitais privados credenciados da ANAHP, os custos

somados de medicamentos e OPME, representam 18,5% dos custos totais destes

hospitais em 2017 (ANAPH, 2018).

Segundo o observatório anual da ANAHP, um tema central, nos eventos do ano

de 2018, será o combate ao desperdício em saúde. A associação trata como

desperdício, inclusive compras indevidas, ou gastos a mais, quando poderiam ser

substituídos por procedimentos ou itens de menor custo e qualidade equivalente,

demonstrando o impacto da gestão de compras nesse quesito (ANAHP, 2018).

Enquanto a ANAHP tem, como foco hospitais privados, a rede EBSERH tem,

como foco, hospitais vinculados a universidades federais. Como parte do Programa

Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF), a

EBSERH foi fundada em 2011, vinculada ao ministério da educação, com foco na

recuperação dos hospitais vinculados. Atua na gestão estratégica dos 40 hospitais

vinculados, buscando o desenvolvimento tecnológico e de gestão dos seus afiliados,

enquanto centros de formação de profissionais da saúde e prestação de assistência

à saúde da população (EBSERH, 2018). A Figura 3 ilustra a distribuição dos 40

hospitais universitários, credenciados pela EBSERH.

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Figura 3 - Hospitais Credenciados pela Rede EBSERH

Fonte: EBSERH, 2018

O Quadro 3 apresenta um resumo desta seção, apontando as estratégias

utilizadas por hospitais e compradores no processo de compras hospitalares, o

objetivo de cada estratégia e sua classificação.

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Quadro 3 - Estratégias Utilizadas no Processo de Compras Hospitalares

Estratégias Objetivo Autor/ano

Tecn

oló

gic

a d

e

Su

po

rte

Sistemas de informação

Controlar estoques, gastos, preços e volumes comprados; reduzir tempos nos processos de compras (cotação, comparação de preços).

Budgett, Gopalakrishnan e Schneller (2017); Naranjo-Gil e Ruiz-Muñoz (2015); Rossi, Fort e Karolys (2002)

Portais de compras

Reduzir tempos de cotação; dar mais transparência ao processo de compras; reduzir a dependência da falta de informação; maior gestão sobre custos.

Buzzo (2015); Rodrigues e Sousa (2015); Sigulem e Zucchi (2009)

Gestã

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up

rim

en

to

Seleção de fornecedores

Selecionar, entre os fornecedores disponíveis no mercado, aqueles que melhor atendem às necessidades hospitalar.

Benyoucef e Canbolat (2007); Karsak e Dursun (2014, 2015)

Gestão de fornecedores

Acompanhar o do desempenho de fornecedores.

Mettler (2013); Mettler e Rohner (2009)

Limitação do preço de compra

Limitar o preço máximo para um determinado item

Hesping e Schiele (2015)

Consolidação do volume comprado

Agrupar volumes maiores de compra de um item, visando a economia de escala.

Hesping e Schiele (2015, 2016); Karsak e Dursun (2014); Nyaga, Young e Zepeda (2015)

Co

lab

ora

tiv

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Intr

ao

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iza

cio

nal

Comitês de equivalência

Identificar, entre os itens de diferentes fornecedores, aqueles que são equivalentes em relação à eficiência e à segurança para o paciente, aumentando a possibilidade de compras.

Budgett, Gopalakrishnan e Schneller (2017); Buzzo (2015); Hoeksema (2010); Naranjo-Gil e Ruiz-Muñoz (2015)

Co

lab

ora

tiv

a In

tero

rgan

izacio

nal

Estoque administrado pelo

fornecedor

Reduzir custos de armazenagem e rupturas de estoque.

Montgomery e Schneller (2007)

Grupos de compras

Formar grupos para centralizar as compras, aumentando o volume comprado e, consequentemente, reduzir o custo, por meio de economia de escala.

Burns e Lee (2008); Callea et al. (2017); Gobbi e Hsuan (2015); Nollet e Beaulieu (2005); Nyaga, Young e Zepeda (2015)

Compras baseada em valor hospitalar

Reduzir os custos hospitalares e melhorar o serviço prestado ao paciente. O pagamento do serviço ao hospital é em função de alcance de metas em indicadores de desempenho, que medem a qualidade dos resultados e redução dos custos.

Carver e Parsons (2012); Norton et al. (2017); Srinivasan e Desai (2017)

Alianças com fornecedores

Garantir fornecimento de itens a preços mais competitivos e evitar rupturas de estoque.

Burns e Lee (2008)

Afiliação a sistemas

hospitalares

Fortalecer estrategicamente um grupo de hospitais, por meio da associação entre esses.

Nyaga, Young e Zepeda (2015)

Fonte: Elaboração própria, 2019

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64

Existem divergências quanto à eficiência de cada estratégia para diferentes

categorias de itens. A exemplo, Kastanioti et. al. (2013) consideram a prática de grupo

de compras relevante para a redução dos custos com OPME. Já Burns e Lee (2008)

e Callea et al. (2017) afirmam que ela funciona melhor para redução de custos de

commodities hospitalares, não tendo os mesmos resultados para as OPME.

Essas divergências demonstram que não existe uma única modelagem

operacional para se alcançar eficiência na gestão de compras hospitalares; ao

contrário, é preciso identificar as práticas que melhor se ajustem as particularidades

das categorias de itens com que se trabalha, para, posteriormente identificar as

estratégias de compras adequadas a cada uma delas.

A próxima seção trata de modelos de portfólio de compras presentes na

literatura.

2.3 MODELOS DE PORTFÓLIO DE COMPRAS

Os modelos de portfólio de compras apontam para a aplicação de estratégias

diferenciadas de compras e de gerenciamento de fornecedores (LIU; XU, 2008). A

Teoria de Portfólio de Compras (TPC) (HESPING; SCHIELE, 2016; KRALJIC, 1983)

tem um caráter de diagnóstico e prescrição, ao auxiliar os gestores no gerenciamento

de suprimentos e nos relacionamentos adequados com os fornecedores de cada

categoria (MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; PAGELL; WU;

WASSERMAN, 2010).

A TPC propõe um modelo para classificação de itens, baseado em um conjunto

de critérios, visando identificar o perfil das classes de itens que a empresa compradora

trabalha (KRALJIC, 1983; PARK et al., 2010). Com base na classificação dos itens

comprados, a gestão de relacionamento com os fornecedores deve adequar-se a cada

categoria (KRALJIC, 1983).

O perfil das classes de itens reflete pontos, tais como: a dependência da

empresa compradora em relação a seus fornecedores; seu poder de barganha em

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65

função do volume comprado e, ainda a quantidade de itens substitutos no mercado,

entre outras questões (OLSEN; ELLRAM, 1997).

Organizações que não adotam análise gerencial em nível de itens, como

defendido na TPC, tendem a tratar fornecedores de commodities como se fossem

fornecedores de itens estratégicos, ou vice-versa (PAGELL; WU; WASSERMAN,

2010).

Kraljic (1983) desenvolveu a TPC e propôs um modelo de classificação dos

itens comprados, conhecido como modelo de portfólio de compras de Kraljic (KPM).

O KPM é dividido em duas etapas.

A primeira etapa consiste na classificação dos itens comprados. Para os itens

classificados como estratégicos, é realizada uma segunda etapa, cujo objetivo é a

avaliação do posicionamento estratégico, por meio da análise da força da empresa

compradora versus a força do fornecedor desses itens.

Na primeira etapa, os itens comprados são classificados em quatro categorias:

não-crítico, alavancagem, gargalo e estratégico, com base na análise de duas

dimensões: impacto no lucro e risco de fornecimento. Cada dimensão é composta por

um conjunto de critérios. A análise dos itens, baseada em cada critério, define a

classificação deles matriz (KRALJIC, 1983). A Figura 4 ilustra as matrizes de

classificação dos itens comprados e do posicionamento estratégico com fornecedores,

propostas no KPM.

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66

Figura 4– Matriz de Portfólio de Compras de Kraljic (1983)

Fonte: Adaptado de Kraljic (1983)

A categoria não-crítico refere-se a itens de baixo custo, com grande volume de

produtos substitutos e fontes alternativas de fornecimento, possibilitando à empresa

uma condição favorável de compra. Para esses itens, é indicado um processamento

de compras padronizado e eficiente, buscando reduzir os custos de transação e o

tempo gasto (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; KRALJIC, 1983).

A categoria alavancagem representa itens de alto impacto no lucro, devido à

sua rentabilidade, e com muitos fornecedores no mercado, o que possibilita à empresa

um ganho nas negociações. Para esses itens, deve-se buscar explorar o poder de

compra junto aos fornecedores, negociação de preços de forma mais agressiva, além

de otimização de volume de compra (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; KRALJIC,

1983).

Os itens da categoria gargalo, apesar de não terem um forte impacto nos

custos, têm limitações de fornecimento, necessitando de um gerenciamento mais

criterioso. Esses itens requerem estoques de segurança maiores, reduzindo riscos de

rupturas, além de um gerenciamento mais aproximado com fornecedores-chave,

buscando fortalecer parcerias com estes, visando à redução dos riscos e custos

(KRALJIC, 1983; PAGELL; WU; WASSERMAN, 2010).

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67

Os itens da categoria estratégica são os que geram maior preocupação, visto

que, além do alto valor agregado, têm um mercado de fornecimento restrito, devido

ao número limitado de fornecedores (KRALJIC, 1983). São itens que têm como

característica o alto impacto no lucro da categoria alavancagem, associado ao elevado

risco de fornecimento da categoria gargalo.

Os itens da categoria estratégica requerem uma gestão de fornecedores

direcionada a relacionamentos de longo prazo, buscando parcerias estratégicas com

foco no crescimento conjunto das organizações e redução da incerteza de

fornecimento, devido à restrição das fontes de fornecimento (HESPING; SCHIELE,

2016). Ressalta-se que nem todas as relações com fornecedores precisam ser

estratégicas (BÖHME et al., 2008; XU; LIU, 2009), porém, para aquelas em que existe

um domínio do fornecedor, a parceria funciona como minimizador da dependência,

haja vista a sua conotação colaborativa (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007).

Para os itens estratégicos sugere-se analisar a relação de poder entre a

empresa compradora e a fornecedora, indicando três estratégias de compra: explorar

(quando o poder de barganha do comprador for alto), balancear (quando o poder

estiver equilibrado) e diversificar o fornecimento (quando o fornecedor dominar a

relação) (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; KRALJIC, 1983; PAGELL; WU;

WASSERMAN, 2010).

Kraljic (1983) propôs uma divisão entre táticas de alavancagem, sugeridas para

cada categoria de itens isoladamente, porém outros estudos têm evidenciado a

utilização de uma mesma alavanca em diferentes categorias (HESPING; SCHIELE,

2016).

Cada dimensão, no modelo teórico proposto por Kraljic (1983), está relacionada

a um contexto diferente. A dimensão impacto no lucro vincula-se a critérios internos à

organização, enquanto a dimensão risco de fornecimento, a critérios externos

(NELLORE; SÖDERQUIST, 2000). Porém, no contexto de compras, apesar de serem

duas dimensões separadas, elas são interdependentes (DUBOIS; PEDERSEN,

2002). Essa interdependência inerente ao modelo, para ser captada, depende da

utilização de métodos adequados, que tenham características aditivas, visto que se

trata de duas dimensões que sintetizam múltiplos critérios.

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68

Os modelos de portfólio têm características de problemas de decisão

multicritério. São modelos em que a classificação de um item, na matriz, é realizada

com base na avaliação de múltiplos critérios, com diferentes pesos de influência. A

avaliação dos pesos dos critérios, bem como da influência dos critérios em cada item,

é efetivada por um ou mais decisores (MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018).

Um ponto crítico para o sucesso do modelo é que o conjunto de critérios

utilizados deve ser intrínseco ao contexto e a intenção da classificação, refletindo a

realidade (KRALJIC, 1983; LIU; XU, 2008; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE,

2018). Os critérios envolvem tanto a realidade da empresa compradora, quanto o

contexto do fornecimento, expandindo a visão de classificação dos itens comprados

para uma análise externa à empresa (DUBOIS; PEDERSEN, 2002).

Na sequência, serão apresentados os demais modelos e estudos sobre

portfólio de compras, que se sucederam após a obra seminal de Kraljic (1983).

2.3.1 Estado da Arte em Modelos de Portfólio de Compras

A obra seminal de Kraljic (1983) é o modelo de portfólio de compras mais

reconhecido na literatura (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007; HESPING;

SCHIELE, 2015, 2016; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; PAGELL; WU;

WASSERMAN, 2010) e utilizado na prática empresarial por gestores de compras

(CANIËLS; GELDERMAN, 2005; GELDERMAN; MAC DONALD, 2008;

GELDERMAN; SEMEIJN, 2006)

Alguns pesquisadores, baseados na obra de Kraljic (1983), refinaram os

conceitos propostos originalmente, indicando outras possibilidades e pontos de vista

de análise. Esses novos apontamentos não negam a importância do modelo seminal.

Surgem tanto da necessidade do setor em que a matriz está sendo empregada,

quanto das mudanças econômicas ocorridas ao longo do tempo e que impactaram na

gestão de compras (PAGELL; WU; WASSERMAN, 2010).

Evidencia-se que, ao longo dos anos, os estudos na área de portfólio de

compras vêm ganhando destaque. Da publicação da obra seminal de Kraljic (1983)

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até o segundo estudo a ser lançado (OLSEN; ELLRAM, 1997), demorou 14 anos.

Porém, foi a partir dos anos 2000, que os estudos, nessa área, começaram a se

destacar. Esse crescimento foi impulsionado pela globalização das transações

comerciais, pelas coordenações das cadeias de suprimentos e, por consequência, por

um novo direcionamento do papel de compras, para compras estratégicas

(MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018).

Após o lançamento do KPM, até meados de 2008, com exceção de Olsen e

Ellran (1997), que, também, propuseram um novo modelo, grande parte dos estudos

se concentrou em discutir os conceitos e proposições fundamentais do KPM. Uma

outra característica dessa fase foi a predominância de abordagens qualitativas nos

estudos. Pode-se denominar essa fase como fase de amadurecimento e

fortalecimento da TPC, proposta por Kraljic (1983).

No período seguinte, entre os anos de 2009-2019, outros modelos teóricos de

portfólio de compras foram propostos para atender a novas realidades. Esse período,

também, é caracterizado pelo crescente número de estudos quantitativos, em sua

maioria visando à aplicação do KPM. Pode-se denominar essa fase como fase de

consolidação da TPC, e do KPM como modelo mais proeminente. A Figura 5 ilustra o

crescimento de estudos nessa área nos últimos anos.

Figura 5 - Publicações Anuais em Journals Acerca de Portfólio de Compras

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

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Analisando os objetivos e metodologias dos estudos publicados ao longo desse

período, foi realizada uma classificação identificando cinco clusters: (1) estudos que

desenvolveram modelos originais; (2) estudos de discussões teóricas sobre o KPM;

(3) testes empíricos de proposições do KPM; (4) aplicações do KPM; (5) aplicação de

modelos combinados.

Na sequência, serão discutidos os estudos pertencentes a cada cluster e, no

final da seção, os Quadros 5 e 6 apresentam uma síntese dos pontos discutidos.

Cluster I - Desenvolvimento de Modelos Originais

O primeiro cluster é formado por estudos que desenvolveram modelos de

portfólio originais, constituindo, no total, 11 modelos. Alguns estudos propuseram,

apenas, o modelo teórico conceitual (KRALJIC, 1983; OLSEN; ELLRAM, 1997),

outros; além de desenvolver o modelo conceitual, aplicaram o mesmo empiricamente

(BILDSTEN, 2014; BOHME et al., 2008; COX, 2015; LAMENZA; FONTAINHA;

LEIRAS, 2019; LEE; DRAKE, 2010; LUZZINI et al., 2012; PAGELL; WU;

WASSERMAN, 2010; TRAUTMANN; BALS; HARTMANN, 2009; VIIO; GRÖNROOS,

2014) .

Como tratam de modelos específicos, serão apresentados, separadamente, na

sequência.

a) Modelo de Olsen e Ellran (1997)

Baseados na obra de Kraljic (1993), Olsen e Ellran (1997) desenvolveram um

modelo teórico de portfólio. Os autores, apesar de não aplicarem, empiricamente, o

modelo, sugeriram, para obtenção dos pesos das dimensões e critérios, o método de

apoio à decisão Analytic Hierarchy Process (AHP). Foi a primeira vez que o método

foi indicado para resolução de problemas de portfólio de compras, sendo,

posteriormente, utilizado em outros estudos da área (DRAKE; LEE; HUSSAIN, 2013;

PARK et al., 2010).

O modelo de Olsen e Ellran (1997) faz uma análise dos itens comprados,

considerando a situação ideal da empresa em relação aos produtos comprados (etapa

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1). A classificação dos itens, nessa etapa, se dá por meio da análise de duas

dimensões: importância estratégica da compra e dificuldade em gerir a situação de

compra.

A segunda etapa representa a situação real. É analisado o relacionamento que

a empresa tem com os fornecedores dos itens classificados como estratégicos na

primeira etapa. Na análise de relacionamento, são consideradas as dimensões de

atratividade do fornecedor e intensidade do relacionamento. Com base nesse

diagnóstico, o modelo sugere um plano de ação para alcançar a situação ideal

(OLSEN; ELLRAM, 1997).

A Figura 6 ilustra as matrizes de classificação dos itens comprados e do

relacionamento com fornecedores, proposta no modelo de portfólio de compras de

Olsen e Ellran (1997).

Figura 6 - Matriz de Portfólio de Compras de Olsen e Ellran (1997)

Fonte: Olsen e Ellran, 1997

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b) Modelo de Böhme et. al. (2008)

Em uma análise empírica de poder e dependência entre fornecedores e

compradores, discutida nos estudos de Caniëls e Gelderman (2005, 2007), aponta-se

o estudo de Böhme et al. (2008). Os autores propuseram um modelo de portfólio para

analisar esses constructos em indústrias. O modelo tem como dimensões a

dependência do comprador e a dependência do fornecedor. Ele foi testado numa

amostra de 141 indústrias, buscando classificar os relacionamentos entre

compradores e fornecedores.

c) Modelo de Trautmann, Bals e Hartmann (2009)

Trautmann, Bals e Hartmann (2009) desenvolveram um modelo de carteira de

compras globais que oferece uma visão relevante para organizações de compras

híbridas, a partir do modelo de portfólio de Kraljic (1983). A base teórica decorre da

teoria do processamento da informação, do comportamento de compra organizacional

e da economia dos custos de transação.

d) Modelo de Pagell, Wu e Wasserman (2010)

Pagell, Wu e Wasserman (2010) readaptaram a matriz de portfólio para análise

de cadeias de suprimentos sustentáveis. Pagell, Wu e Wasserman (2010) definem

esse tipo de cadeia, como aquelas em que os relacionamentos são de longo prazo e

baseados na medida de desempenho sustentável do triple bottom line, no qual aborda

não apenas o lucro, mas também o impacto da cadeia nos sistemas sociais e

ambientais. Os autores substituem a categoria de alavancagem do modelo original de

Kraljic (1983), propondo, em seu lugar, três novas categorias: commodity estratégica,

commodity transitória e commodity real. O modelo proposto foi testado por meio de

estudo de caso em 10 indústrias de diferentes setores. A Figura 7 ilustra o modelo de

Pagell, Wu e Wasserman (2010).

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Figura 7 - Matriz de Portfólio de Compras de Pagell, Wu e Wasserman (2010)

Fonte: Pagell, Wu e Wasserman, 2010

e) Modelo de Lee e Drake (2010)

Lee e Drake (2010) propuseram um modelo de portfólio para gestão de

componentes de um produto. Os autores utilizaram as mesmas categorias do modelo

de Kraljic (1983), modificando os critérios para uma análise relacionada a custo,

qualidade, flexibilidade e velocidade. A etapa de validação do modelo proposto foi

realizada na análise de peças de uma indústria de elevadores, utilizando o método

multicritério AHP.

f) Modelo de Luzzini et al. (2012)

Luzzini et al. (2012) combinaram a TPC de Kraljic (1983) com a teoria de custos

de transação. Como resultado, propuseram um modelo de classificação de itens

baseado em critérios advindos das duas teorias. Este foi testado, empiricamente, com

análise fatorial confirmatória, tendo, como amostra, compradores de diversas

indústrias.

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g) Modelo de Bildsten (2014)

Bildsten (2014) propôs um modelo de classificação baseado no

relacionamento com fornecedores. Sua matriz é composta pelas dimensões de

proximidade do relacionamento (solto/fechado) e duração da relação (curto / longo

prazo). O modelo foi testado em um estudo de múltiplos casos, considerando quatro

indústrias de construção civil. A Figura 8 ilustra o modelo proposto por Bildsten (2014).

Figura 8 - Matriz de Portfólio de Compras de Bildsten (2014)

Fonte: Bildsten, 2014

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h) Modelo de Viio e Grönroos (2014)

Viio e Grönroos (2014) propuseram um modelo baseado em três fatores:

adaptação do processo de vendas, orientação das relações e carteira de compras. O

desenvolvimento da teoria proposta tinha como objetivo entender como os diferentes

modos de adaptação do processo de vendas estão relacionados às categorias de

itens e à orientação de relacionamento vendedor-comprador. A análise do modelo foi

realizada em uma empresa prestadora de serviço de dados móveis, sendo utilizada a

metodologia de estudo de caso. A Figura 9 ilustra o modelo de Viio e Grönroos (2014).

Figura 9 - Matriz de Portfólio de Compras de Viio e Grönroos (2014)

Fonte: Viio e Grönroos, 2014

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i) Modelo de Cox (2015)

Ao criticar o modelo de Kraljic (1983), Cox (2015) propôs um modelo que tinha

como foco mostrar várias análises não feitas pelo primeiro. O modelo foi testado com

base em uma comparação dos resultados do modelo de Kraljic (1983) e o sugerido

por Cox (2015), usando o método de estudo de caso em uma indústria de petróleo e

gás.

Cox (2015) comprovou que critérios mais rigorosos, que apresentem mais

especificidade com o contexto, assim como a análise de dependência, alteram a

classificação de itens na matriz. Uma contribuição do estudo relaciona-se à

dinamicidade da classificação de itens. Com base na utilização de melhores práticas,

é possível reduzir a dependência da empresa compradora e, com isso, permitir a

modificação do posicionamento de um item para uma categoria menos restritiva (COX,

2015). A Figura 10 ilustra o modelo sugerido por Cox (2015).

Figura 10 – Matriz de Portfólio de Compras de Cox (2015)

Fonte: Cox, 2015

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j) O Modelo de Lamenza, Fontainha e Leiras (2019)

Lamenza, Fontainha e Leiras (2019) desenvolveram um modelo de portfólio

para o contexto de compras em eventos humanitários. O modelo que apresenta as

mesmas dimensões do KPM, inova em relação aos critérios utilizados. Os autores

utilizaram o método AHP e aplicaram em uma instituição de logística humanitária

de São Paulo (CEDEC-SP).

Cluster II - Discussões Teóricas das Proposições do KPM

Um segundo cluster de estudos, em menor número, buscou discutir,

teoricamente, as proposições, conceitos e framework propostos no modelo de Kraljic

(1983), sem testar, empiricamente, suas análises (DUBOIS; PEDERSEN, 2002;

TIEMAN; GHAZALI; CHE GHAZALI, 2013).

Dubois e Pedersen (2002) analisaram as suposições do KPM à luz da

abordagem de rede industrial. O foco é a relação comprador-fornecedor e como essa

pode interferir na complexidade do fornecimento. À medida que se aumenta a

interdependência, se torna mais caro mudar de comprador ou de fornecedor. Nessa

situação, deve-se desenvolver a co-criação de valor entre as partes, o que resultará

em um melhor relacionamento e desenvolvimento conjunto (DUBOIS; PEDERSEN,

2002)

Em uma proposta de conjugar modelos, Tieman e Ghazali (2013) analisaram

as implicações da certificação e requisitos Halal para a função de compras, buscando

compreender os desafios e soluções que cercam as práticas de abastecimento das

empresas que possuem certificação Halal. O trabalho utiliza o modelo de portfólio de

compra Kraljic (1983) e o modelo de processo de compra de Van Weele (2010) como

parâmetro para a discussão proposta.

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Cluster III - Análise Empírica das Proposições do KPM

O terceiro cluster reúne estudos que testaram, empiricamente, as proposições

propostas no modelo de Kraljic (1983) (CANIËLS; GELDERMAN, 2005, 2007;

GELDERMAN; SEMEIJN, 2006; GELDERMAN; VAN WEELE, 2002, 2003, 2005;

HESPING; SCHIELE, 2016; HOMBURG; KUESTER, 2001; KANG et al., 2018;

KNIGHT; TU; PRESTON, 2014).

Em relação aos estudos do terceiro cluster, o autor mais proeminente é

Gelderman, estando presente em seis dos nove estudos do grupo. Em parceria com

outros autores, ele testou diversas proposições da obra original de Kraljic (1983).

Gelderman e Van Weele (2002) aplicaram o KPM propondo estratégias e

alavancas táticas adequadas a cada categoria de itens. Em 2003, os autores

analisaram as metodologias utilizadas para classificação dos itens nas categorias do

KPM, em empresas que aplicam esse modelo. Além disso, analisaram as estratégias

utilizadas por essas empresas para mover os itens para categorias menos críticas

(GELDERMAN; VAN WEELE, 2003). Em 2005, avaliaram e confirmaram que a

utilização de modelos de portfólio de compras está relacionada à maturidade, ao

profissionalismo e à sofisticação em compras (GELDERMAN; VAN WEELE, 2005).

Gelderman e Semeijn (2006) analisaram os ganhos obtidos por indústrias que

utilizavam o KPM. O estudo de caso foi efetivado em uma indústria têxtil.

Caniëls e Gelderman (2005, 2007) estudaram as relações de poder e

dependência entre compradores e fornecedores, analisando as quatro categorias de

itens, propostas por Kraljic (1983). Enquanto Kraljic (1983) pressupõe que as relações

de poder e dependência, na categoria de itens estratégicos, podem estar equilibradas

ou com uma das partes dominando; os estudos empíricos de Caniëls e Gelderman

(2005, 2007) apontam que, para essa categoria de itens, mesmo havendo relações

de parceria, o poder do fornecedor é predominante. Os autores, também, reforçam a

necessidade de analisar o poder e a dependência para todas as demais categorias.

Homburg e Kuester (2001) analisaram o comportamento de compras em

relação ao número de fornecedores, baseados nas propostas do KPM. O estudo teve

como amostra 165 compradores de diferentes indústrias. Por meio de regressão

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múltipla, três hipóteses foram suportadas: quanto mais complexa a situação de

compra, maior os custos de transação e um menor número de fornecedores estão

envolvidos; produtos de maior impacto financeiro necessitam de um número maior de

fornecedores; e produtos, com exigências altas, tendem a ter um número de

fornecedores limitados, o que seria o caso dos itens estratégicos e gargalos

(HOMBURG; KUESTER, 2001).

Knight, Tu e Preston (2014) avaliaram trinta e três habilidades necessárias aos

compradores para negociar em cada categoria de compras. A aplicação foi realizada

com 72 compradores de diferentes indústrias, utilizando a análise de cluster tanto para

classificação das categorias de compras, quanto para classificar as habilidades

necessárias a cada categoria. Foram formados três clusters divididos em compras

estratégicas, táticas e de rotina e as habilidades necessárias a cada um.

Hesping e Schiele (2016) utilizaram a técnica de análise fatorial confirmatória

para analisar, entre sete alavancas táticas, aquelas que estavam relacionadas as

categorias de itens. Foi considerada uma amostra de 107 itens de compras da

indústria automobilística. Inicialmente, os itens foram classificados nas categorias

propostas por Kraljic (1983) e, posteriormente, avaliadas quanto às táticas utilizadas

pelos compradores. O estudo comprovou que uma mesma alavanca é utilizada para

diferente categoria de itens, o que também foi defendido por Ateş et al. (2015), Caniëls

e Gelderman (2005) e Cox (2015). Uma crítica ao estudo é que a baixa amostragem

de itens não-críticos e alavancagem pode influenciar na confiabilidade dos resultados.

O Quadro 4 apresenta os resultados do estudo de Hesping e Schiele (2016).

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Quadro 4 - Alavancas Táticas Aplicadas a Categorias de Itens

Alavancas táticas Categorias de Itens

Não-crítico n=11

Alavancagem n=8

Gargalo n=55

Estratégico n=33

1.Consolidação de volume * *

2.Limitação prévia de preço * * *

3.Extensão da base de fornecedores * *

4.Otimização do produto * * *

5.Otimização do processo * *

6.Otimização das relações de fornecimento

* * *

7.Otimização por categoria de itens * *

Fonte: Hesping e Schiele, 2016

Kang et al. (2018) analisaram se os estilos de negociação de compradores

estão alinhados com o gerenciamento das categorias de itens propostas pelo KPM.

Os autores concluíram que compradores mais experientes não se limitam a seguir as

sugestões do KPM; buscam seguir combinar estilos e analisar o contexto, para

maximizar seus resultados (KANG et al., 2018).

Cluster IV - Aplicações do KPM

O quarto cluster de estudos agrupa aqueles que fizeram aplicações práticas do

KPM. Parte dessas aplicações utilizou metodologia qualitativa (GELDERMAN; MAC

DONALD, 2008; HEIKKILÄ et al., 2016; JAIPURIA; JENAMANI; RAMKUMAR, 2016).

Outros, em maior escala, metodologias quantitativas (ARANTES; FERREIRA;

KHARLAMOV, 2014; BIANCHINI et al., 2019; FERREIRA, LUÍS MIGUEL D.F.

ARANTES; KHARLAMOV, 2014; LIU; XU, 2008; MEDEIROS; FERREIRA, 2018;

MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; PADHI; WAGNER; AGGARWAL, 2012;

WAGNER; PADHI; BODE, 2013).

Gelderman e Mac Donald (2008) analisaram se o KPM poderia ser aplicado em

ambientes onde a infraestrutura logística fosse pouco desenvolvida. Nesse sentido,

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81

os autores utilizaram um estudo de caso em uma indústria de petróleo no Suriname,

país onde há poucos fornecedores qualificados, tornando o suprimento mais crítico.

O estudo mostra as adaptações necessárias para aplicação do portfólio de compras

em condições remotas.

Jaipuria, Jenamani e Ramkumar (2016) aplicaram o KPM em uma indústria

metalúrgica apenas adaptando os critérios ao contexto. No estudo, foi utilizado

método qualitativo, com foco em entrevistas com gestores, tanto para identificação

dos critérios, quanto na classificação dos itens.

Heikkilä et al. (2016) utilizaram a matriz de Kraljic para analisar as relações

entre uma empresa operadora de hub, seus fornecedores e investidores, buscando

entender os desafios da coinovação entre esses atores. O estudo de natureza

qualitativa utilizou 17 entrevistas, divididas entre cada ator.

Os estudos de Xu e Liu (2009), Padhi, Wagner e Aggarwal (2012) e Wagner,

Padhi e Bode (2013), Ferreira, Arantes e Kharlamov (2015) e Medeiros e Ferreira

(2018) têm em comum a proposta de metodologias quantitativas, para auxiliar

gestores na classificação dos itens na matriz, proposta por Kraljic(1983). A diferença

entre os estudos está nos métodos empregados e contextos de aplicação.

Xu e Liu (2009) utilizaram o método fuzzy para classificar itens da indústria

siderúrgica. Padhi, Wagner e Aggarwal (2012) propuseram a classificação com uso

de abordagem multiatributo combinada com números fuzzy e escalonamento

multidimensional (MDS), sendo estes aplicados a itens de commodities rurais. Já

Wagner, Padhi e Bode (2013) utilizaram a abordagem multiatributo simples e o MDS,

aplicados para itens de uma indústria automobilística.

Arantes, Ferreira e Kharlamov (2014) e Ferreira, Arantes e Kharlamov (2015)

aplicaram a matriz de Kraljic (1983) em uma indústria da construção civil. Os autores

utilizaram as mesmas dimensões e classes de itens da obra seminal, porém

adaptaram os critérios ao contexto da organização estudada. O método multicritério

AHP foi utilizado no levantamento do peso dos critérios. Nessa mesma linha, o estudo

de Medeiros e Ferreira (2018) aplicou o método fuzzy-TOPSIS, adaptando dois dos

critérios propostos por Kraljic (1983), ao contexto hospitalar e o estudo de Bianchini

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82

et al. (2019) aplicou o KPM em uma indústria de lâmpadas visando classificar

fornecedores de acordo com a criticidade do lead-time de fornecimento, utilizando o

método AHP.

Montgomery, Ogden e Boehmke (2018), utilizando a matriz de classificação de

itens proposta por Kraljic (1983), tiveram como foco do seu estudo a proposição de

um método multiobjetivo para classificação dos itens na matriz. O objetivo da

aplicação era auxiliar a empresa a classificar os itens de compras que melhor

permitisse uma maximização do valor estratégico e a minimização dos riscos de

suprimentos. Para cada dimensão do modelo, foi utilizada uma função de valor de

atributo único, desenvolvida a partir de entrevistas com os gestores, de modo a captar

as preferências do decisor. Na etapa de elicitação, foi utilizado o método de swing e,

ao final, realizada uma etapa de análise de sensibilidade para testar a robustez do

modelo. Os autores não citam a área da organização em que aplicaram o método.

Ghanbarizadeh et al. (2019) propuseram uma aplicação multimétodo,

combinando os métodos multicritério DEMATEL, ANP e VIKOR, para resolver

problemas de classificação no KPM. O estudo foi aplicado em uma indústria da

construção civil.

Cluster V - Aplicação de Modelos Combinados

O quinto cluster está relacionado a estudos que aplicaram, empiricamente

modelos de outros autores ou combinação de modelos (DRAKE; LEE; HUSSAIN,

2013; PARK et al., 2010; WU; SHEN, 2006).

Com base no modelo de portfólio de Olsen e Ellran (1997), Wu e Shen (2006)

avaliaram o relacionamento com fornecedores de 194 empresas de manufatura. O

estudo identificou que os relacionamento com fornecedores têm estratégias de

compras diferenciadas, a depender da categoria de itens (WU; SHEN, 2006). Itens

não-críticos têm a estratégia baseada no menor preço. Itens de alavancagem, além

do preço, a capacidade tecnológica e a confiabilidade do fornecedor também são

fatores importantes. Para itens gargalos, a segurança financeira e a consistência no

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · variáveis latentes, oriundas da PCA, formaram as dimensões do modelo proposto: parâmetros universais de compras; dependência

83

fornecimento são fatores de maior peso. Paro os itens estratégicos, além da

capacidade tecnológica, confiabilidade, consistência do fornecimento e finanças, o

fator relacionamento também é considerado (WU; SHEN, 2006).

O estudo de Park et al. (2010), baseado numa visão integrada do conceito de

gestão de relacionamento com fornecedores, analisa a estratégia de compra

desenvolvida pela empresa, sua seleção, avaliação e desenvolvimento com

fornecedores. O modelo de portfólio de compras é visto por Park et al. (2010), como

etapa fundamental na gestão de compras e gerenciamento de fornecedores. Os

autores aplicaram o modelo proposto em uma empresa coreana de semicondutores,

utilizando o método multicritério AHP para ponderar os pesos dos critérios.

O modelo de portfólio de compras de Park et al. (2010) é dividido em três

etapas: análise dos itens comprados, análise dos relacionamentos com fornecedores

e plano de ação. A etapa de análise de itens comprados é baseada nos critérios do

modelo de Kraljic (1983), enquanto a etapa de análise de relacionamento com

fornecedores é baseada no modelo de Olsen e Ellran (1997).

Nesse modelo, os autores dividem as categorias originais propostas por Kraljic

(1983) em duas principais: baixo risco de fornecimento e alto risco de fornecimento.

Para itens classificados nesta última categoria, é sugerida uma abordagem de compra

colaborativa e uma gestão de relacionamento com fornecedores mais atuantes. A

Figura 11 ilustra o modelo de portfólio proposto por Park et al. (2010).

Figura 11 - Matriz de Portfólio de Compras de Park et al. (2010)

Fonte: Park et al., 2010

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84

Alguns estudos de portfólio têm utilizado critérios sem garantir a

independência entre eles (KEENEY, 1982; KEENEY; SEE; VON WINTERFELDT,

2006). A exemplo, tem-se o estudo de Park et. al. (2010), que utilizou os critérios

“escassez da oferta”, “condições de monopólio ou oligopólio” e “possibilidades de itens

substitutivos”, na análise da dimensão “risco de fornecimento”. Esses critérios

sugerem uma mesma condição de mercado, visto que se existe condição de

monopólio, consequentemente haverá escassez na oferta e pouca ou nenhuma

quantidade de itens substitutos.

Drake, Lee e Hussain (2013) propuseram uma nova classificação para as

categorias, por meio de um novo modelo a partir de uma visão de fornecimento ágil e

enxuto, em que classifica os componentes em: não-crítico, ágil, enxuto e ágil/enxuto.

A oferta enxuta está associada a itens com foco no baixo custo e qualidade; a

oferta ágil está voltada para produtos em que a velocidade de processamento e a

flexibilidade são fatores de impacto determinantes. Os itens, em que esses quatro

fatores são determinantes, vão requerer uma estratégia de fornecimento ágil/enxuta.

Já os itens que não têm um impacto significativo em nenhum dos quatro fatores são

os considerados não-críticos (DRAKE; LEE; HUSSAIN, 2013).

O modelo proposto foi testado em duas indústrias. Em uma, foram analisados

os itens que compõem uma caldeira e, em outra, foram analisados os itens que

compõem um elevador. Para a validação do modelo, Drake, Lee e Hussain (2013)

utilizaram o método AHP para medir a força dos fatores de custo, qualidade,

flexibilidade e velocidade.

A Figura 12 ilustra o modelo de portfólio proposto por Drake, Lee e Hussain

(2013).

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85

Figura 12 - Matriz de Portfólio de Compras de Drake, Lee e Hussain (2013)

Fonte: Drake, Lee e Hussain, 2013

Nesta mesma linha, Formentini et al., (2019) e Rezaei e Lajimi, (2018)

propuseram combinações de modelos, visando melhorar a gestão estratégica de

fornecimento. Formentini et al. (2019) propuseram a combinação dos modelos

propostos por Kraljic (1983), Olsen e Ellran (1997) e Scott e Westbrook (1991) para

desenvolver e implementar uma estrutura estratégica de compras. Os autores

testaram sua proposta em uma indústria de aço. Rezaei e Lajimi (2019)

desenvolveram um nova matriz de gestão de fornecedores que combina a matriz de

portfólio de compras proposta por Kraljic (1993) com a matriz de fornecedor potencial

proposta por Rezaei e Ortt (2012).

Finalizando essa seção, o Quadro 5 expõe um resumo dos pontos discutidos,

apresentando os estudos desenvolvidos acerca de portfólio de compras. São

apresentados: os clusters a que esses estudos pertencem, os métodos utilizados, o

contexto de aplicação e os respectivos objetivos de cada estudo.

Na sequência, o Quadro 6 apresenta as dimensões e critérios utilizados nos

estudos que aplicaram modelos de portfólio. Os asteriscos em vermelho indicam os

critérios e dimensões propostas pelo modelo original de Kraljic (1983) e autores que

os replicaram em seus estudos, reforçando a relevância do KPM, em relação aos

demais modelos.

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86

Quadro 5 - Estudos em Portfólio de Compras

AUTOR ANO NATUREZA ABORDAGEM MÉTODO MODELO OBJETIVO APLICAÇÃO

Cluster I: Estudos que propuseram modelos de portfólio de compras originais

Kraljic 1983 Teórico Qualitativo - KPM

Propõe modelo teórico para classificação de itens de compra, prescrevendo estratégias de compras para cada categoria de itens. Além da análise do posicionamento

estratégico da empresa compradora

n/a

Olsen e Ellran

1997 Teórico Qualitativo - Novo Propõe modelo para análise de relacionamento com

fornecedores. Analisa a posição real da empresa, em relação a seus fornecedores, visando migrar para posição ideal

n/a

Böhme et. al.

2008 Empírico Qualitativo Estudo de

casos múltiplos

Novo Propõe um modelo de portfólio para analisar as relações de

poder e dependência entre compradores e fornecedores

141 compradores de

indústrias diversificadas

Trautmann, Bals e Hartmann

2009 Empírico Qualitativo Estudo de

caso Novo

Desenvolve um modelo de carteira de compras globais, baseado na economia de escalas, na economia de

informação e na economia de processamento

1 Indústria

Pagell, Wu e Wasserman

2010 Empírico Qualitativo Estudo de

caso Novo

Propõe um modelo de portfólio para análise de cadeias de suprimentos sustentáveis, baseadas na medida de

desempenho sustentável do triple bottom line.

10 Indústrias diversificadas

Lee e Drake 2010 Empírico Quantitativo AHP Novo Propõe um modelo de portfólio para gestão de componentes

de um produto, por meio de critérios de custo, qualidade, flexibilidade e velocidade

Componentes de elevador

Luzzini et. al.

2012 Empírico Quantitativo Análise fatorial

confirmatória Novo

Propõe um modelo de portfólio integrando as dimensões tradicionais do KPM, a teoria de custos de transação.

68 compradores de indústrias

diversificadas

Bildsten L., 2014 Empírico Qualitativo Estudo de

casos múltiplos

Novo Propõe um modelo baseado no relacionamento com

fornecedores 4 Indústrias de

construção civil

Viio P., Grönroos C.,

2014 Empírico Qualitativo Estudo de

caso Novo

Identifica como os diferentes modos de adaptação do processo de vendas, estão relacionados a categorias de

itens e à orientação de relacionamento vendedor-comprador

1 Prestador de serviço de dados

móveis.

Cox 2015 Empírico Qualitativo Estudo de

caso Novo Propõe um modelo baseado na análise de dependência com

fornecedores

Indústria de Petróleo e gás

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87

AUTOR ANO NATUREZA ABORDAGEM MÉTODO MODELO OBJETIVO APLICAÇÃO

Lamenza, Fontainha e Leiras

2019 Empírico Quantitativo AHP NOVO Propor um modelo para atender o contexto de eventos

humanitários

Centro de logística

humanitária

Cluster II: Estudos que discutiram teoricamente as proposições do KPM

Dubois e Pedersen

2002 Teórico Qualitativo - KPM Compara a proposta do modelo teórico de portfólio de

compras e o modelo de rede industrial n/a

Tieman e Ghazali

2013 Teórico Qualitativo - KPM Analisa as implicações da certificação e requisitos Halal para

a função de compras. n/a

Cluster III: Estudos que testaram empiricamente as proposições do KPM

Homburg e Kuester

2001 Empírico Quantitativo Regressão m

últipla KPM

Analisa o impacto do número de fornecedores para as diferentes categorias de itens

165 compradores industriais

Gelderman e Van Weele

2002 Empírico Qualitativo Estudo de

Caso KPM

Aplica o KPM, propondo estratégias de compras adequadas a cada categoria de itens

1 indústria química

Gelderman e Van Weele

2003 Empírico Qualitativo Estudo de

caso KPM

Analisa as estratégias usadas pelas empresas que utilizam o KPM para classificar os itens em cada categoria e como

mover os itens para outras categorias 3 indústrias

Caniëls e Gelderman

2005 Empírico Quantitativo Média

Marginal Estimada

KPM Analisa as relações de poder e dependência entre

compradores e fornecedores, baseadas no modelo de Kraljic

216 compradores de

indústrias

Gelderman e Van Weele

2005 Empírico Quantitativo Regressão

logística KPM

Avalia e confirma que a utilização de modelos de portfólio de compras está relacionada à maturidade, ao profissionalismo

e à sofisticação em compras.

216 compradores de

indústrias

Gelderman e Semeijn

2006 Empírico Qualitativo Estudo de

caso KPM

Identifica, empiricamente, com indústrias que já utilizam o KPM os ganhos obtidos com o mesmo

1 indústria têxtil

Caniëls e Gelderman

2007 Empírico Quantitativo Fatorial

exploratória KPM

Analisa as relações de poder e dependência entre compradores e fornecedores

216 compradores de

indústrias

Knight L., Tu Y.-H., Preston J.,

2014 Empírico Quantitativo Cluster KPM Avalia habilidades necessárias a um comprador, para

negociar em cada categoria de itens. 72 compradores

de indústrias

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88

AUTOR ANO NATUREZA ABORDAGEM MÉTODO MODELO OBJETIVO APLICAÇÃO

Hesping e Schiele

2016 Empírico Quantitativo Fatorial

confirmatória KPM

Analisa quais as táticas são direcionadas para cada categoria de itens.

107 itens de compras

Kang et. al. 2018 Empírico Qualitativo Estudo de

Caso KPM

Analisa o alinhamento entre o gerenciamento das categorias de itens com os estilos de negociação dos

compradores. 77 compradores

Cluster IV: Estudos que fizeram aplicações do KPM em diferentes contextos

Gelderman e Mac Donald

2008 Empírico Qualitativo Estudo de

caso KPM

Avalia se o KPM se aplica a localizações onde a infraestrutura logística é pouco desenvolvida

1 Indústria de petróleo

Xu e Liu 2009 Empírico Quantitativo Fuzzy KPM Propõe o método fuzzy para classificação dos itens no KPM. 1 Indústria siderúrgica

Padhi, Wagner e Aggarwal

2012 Empírico Quantitativo Multiatributo Fuzzy e MDS

KPM Propõe uma metodologia quantitativa para classificação dos

itens no KPM

1 Indústria de commodities

rurais

Wagner, Phadi e Bode

2013 Empírico Quantitativo Multiatributo e

MDS KPM

Propõe uma metodologia quantitativa para classificação dos itens no KPM

1 indústria automotiva

Arantes, Ferreira e Kharlamov

2014 Empírico Quantitativo AHP KPM Aplica o KPM na indústria de construção civil 1 Indústria de

construção civil

Ferreira, Arantes e Kharlamov

2015 Empírico Quantitativo AHP KPM Aplica o KPM na indústria de construção civil 1 Indústria de

construção civil

Heikkilä M. et.al.

2016 Empírico Qualitativo Estudo de

caso KPM

Aplica o KPM para analisar a relação com fornecedores de um operador de hub

1 operador de Hub

Jaipuria, Jenamani e Ramkumar

2016 Empírico Qualitativo Estudo de

caso KPM Aplica o KPM na indústria metalúrgica

1 Indústria metalúrgica

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89

AUTOR ANO NATUREZA ABORDAGEM MÉTODO MODELO OBJETIVO APLICAÇÃO

Montgomery, Ogden e Boehmke

2018 Empírico Quantitativo Função objetivo

KPM Propõe uma metodologia quantitativa para classificação dos

itens no KPM 1 Organização

Medeiros e Ferreira

2018 Empírico Quantitativo Fuzzy-

TOPSIS KPM

Aplica o KPM na classificação de itens hospitalares, utilizando o método fuzzy-TOPSIS

1 hospital

Bianchini et. al.

2019 Empírico Quantitativo AHP KPM Classifica fornecedores de acordo com a criticidade do lead-

time de fornecimento. 1 Indústria de

Lâmpadas

Ghanbarizadeh et al., (2019)

2019 Empírico Quantitativo ANP,

DEMATEL e VIKOR

KPM Propõe uma metodologia quantitativa para classificação dos

itens no KPM 1 Indústria de

construção civil

Cluster V: Estudos que aplicaram empiricamente modelos de outros autores ou combinação de modelos

Wu e Shen 2006 Empírico Quantitativo Componentes Principais e

fatorial

Olsen e Ellran (1997)

Analisa as estratégias de compras adequadas as diferentes categorias de itens e relacionamento com fornecedores.

194 indústrias de manufatura

Park et. al. 2010 Empírico Quantitativo AHP

KPM/ Olsen e Ellran (1997)

Propõe uma combinação dos modelos propostos por Kraljic (1983) e Olsen e Ellran (1997), para analisar a estratégia de

compra desenvolvida pela empresa

1 Indústria de semicondutores

Drake, Lee e Hussaim

2013 Empírico Quantitativo AHP Lee e Drake (2010)

Propõe uma nova classificação para as categorias: não-crítico, ágil, enxuto e ágil/enxuto.

Componentes de elevadores e de

caldeiras

Formentini et al.

2019 Empírico Qualitativo Pesquisa-

ação

KPM/ Olsen e Ellran

(1997)/ Scott e

Westbrook (1991)

Propõe uma combinação dos modelos propostos por Kraljic (1983), Olsen e Ellran (1997) e Scott e Westbrook (1991)

para desenvolver e implementar uma estrutura estratégica de compras.

1 Indústria de aço

Rezaei e Lajimi

2019 Empírico Quantitativo Best Worst

Method (BWM)

KPM/ Rezaei e

Ortt (2012)

Propõe uma combinação da matrix de portfólio de compras proposta por Kraljic (1993) com a matriz de fornecedor

potencial proposta por Rezaei e Ortt (2012).

70 fornecedores Indústria de Hardware

Fonte: Elaboração própria, 2019

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90

Quadro 6 - Dimensões e Critérios dos Estudos que Aplicaram Modelos de Portfólio

Autores

Arantes, Ferreira e Kharlamov (2014); Ferreira, Arantes e Kharlamov (2015); Gelderman e Van Weele (2002); Heikkilä et al. (2016); Jaipuria, Jenamani e Ramkumar (2016); Kraljic (1983); Medeiros e Ferreira (2018); Montgomery, Ogden e Boehmke (2018); Padhi, Wagner e Aggarwal (2012); Wagner, Padhi e Bode (2013); Xu e Liu (2009)

Olsen e Ellram (1997); Park et al. (2010)

Böhme et al. (2008)

Trautmann, Bals e Hartmann, (2009)

Pagell, Wu e Wasserman (2010)

Drake, Lee e Hussain (2013); Lee e Drake (2010)

Bildsten (2014)

Padhi, Wagner e Aggarwal (2012)

Dim

en

es d

o M

od

elo

Impacto no lucro * * *

Risco de fornecimento * * *

Ameaça ao Botom Tripple Line

*

Dificuldade de gerir a situação de compras

*

Importância estratégica *

Potencial de Sinergia *

Produção ágil *

Produção enxuta *

Dependência do comprador

*

Dependência do fornecedor

*

Duração da relação *

Proximidade da relação *

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91

Autores

Arantes, Ferreira e Kharlamov (2014); Ferreira, Arantes e Kharlamov (2015); Gelderman e Van Weele (2002); Heikkilä et al. (2016); Jaipuria, Jenamani e Ramkumar (2016); Kraljic (1983); Medeiros e Ferreira (2018); Montgomery, Ogden e Boehmke (2018); Padhi, Wagner e Aggarwal (2012); Wagner, Padhi e Bode (2013); Xu e Liu (2009)

Olsen e Ellram (1997); Park et al. (2010)

Böhme et al. (2008)

Trautmann, Bals e Hartmann, (2009)

Pagell, Wu e Wasserman (2010)

Drake, Lee e Hussain (2013); Lee e Drake (2010)

Bildsten (2014)

Padhi, Wagner e Aggarwal (2012)

Cri

téri

os d

o M

od

elo

Custo do item * * * * * *

Valor agregado do item * *

Rentabilidade do item * * *

Volume comprado * * * *

Avanço tecnológico * * * *

Nº fornecedores alternativos

* * * *

Barreiras a entradas * * *

Custos e complexidade logísticos

*

Know-How do fornecedor * *

Recursos do fornecedor *

Reputação *

Nº de compradores alternativos

*

Velocidade de Informação

*

Incerteza de fornecimento

*

Impacto social *

Impacto ambiental *

Qualidade *

Flexibilidade *

Fonte: Elaboração própria, 2019

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92

A próxima seção tem por objetivo apresentar as principais críticas recebidas

pelos modelos de portfólio de compras, bem como, as proposições de melhoria

apontadas na literatura. No final da seção são apresentadas as contribuições deste

estudo, buscando solucionar os pontos frágeis apontados aos modelos.

2.3.2 Síntese das Críticas e Proposições de Melhoria da Literatura

Algumas críticas são citadas na literatura quando se trata de modelos de

portfólio de compras. Estas críticas podem ser minimizadas por meio de melhorias na

operacionalização dos modelos. Na sequência serão apontadas as principais críticas

e as sugestões para resolução das mesmas.

A primeira crítica é em relação a estrutura do modelo, que não pode ser

generalizada para todos os tipos de organização, necessitando ser adaptado a cada

realidade (DUBOIS; PEDERSEN, 2002). Este problema pode ser solucionado

desenvolvendo modelos que sejam fiéis as características específicas do contexto

estudado (DRAKE; LEE; HUSSAIN, 2013; NUDURUPATI et al., 2015).

Outro ponto sensível é a escolha das dimensões e critérios. O uso de critérios

apropriados é de fundamental importância para uma classificação assertiva

(GELDERMAN; VAN WEELE, 2003; NELLORE; SÖDERQUIST, 2000). Apesar da

ampla aceitação dos modelos de portfólio pelos profissionais de compras

(GELDERMAN; MAC DONALD, 2008), ainda falta fundamentação teórica que

justifique os critérios e dimensões que compõem os modelos (LUZZINI et al., 2012).

Este problema pode ser solucionado a partir de uma análise aprofundada do contexto,

tanto do ponto de vista acadêmico, quanto da escuta de especialistas da área, para

identificar a sua complexidade e, assim, propor critérios adequados (HEIKKILÄ et al.,

2016; MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; NUDURUPATI et al., 2015).

Dubois e Pedersen (2002) fizeram uma crítica ao modelo original, ao propor a

análise da interdependência não considerado na obra de Kraljic (1983). A

classificação não deve se basear somente nas características do item e do mercado

de fornecimento, individualmente, mas na interdependência da rede de

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93

relacionamento (DUBOIS; PEDERSEN, 2002). A crítica de Dubois e Pedersen (2002),

podem ser resolvidas utilizando critérios que captem a interdependência entre os

atores (HEIKKILÄ et al., 2016).

A operacionalização do modelo também é um ponto criticado. As organizações

que aplicam modelos de portfólio, tendem a utilizar diferentes métodos para se

alcançar a classificação (GELDERMAN; VAN WEELE, 2003). Em sua maioria, são

abordagens qualitativas, em geral, discussões entre os membros, até se chegar ao

consenso (GELDERMAN; VAN WEELE, 2003). A falta de rigor analítico na etapa de

classificação dos itens nos quadrantes, bem como, na ausência de robustez nas

recomendações práticas, é também apontada como uma fragilidade nos estudos

(COX, 2015; LUZZINI et al., 2012).

Os modelos de portfólio de compras são, em essência, modelos multicritério,

que consideram, em sua análise, critérios qualitativos e quantitativos

(MONTGOMERY; OGDEN; BOEHMKE, 2018; REZAEI; FALLAH LAJIMI, 2018;

REZAEI; ORTT, 2013). A aplicação de metodologias, sejam estas quantitativas ou

qualitativas, requer a utilização de procedimentos sistemáticos que garantam o rigor

analítico das técnicas empregadas (EISENHARDT, 1991). Embora não haja um

protocolo universal descrito na literatura, alguns pressupostos são recomendados,

para garantir o rigor dos procedimentos metodológicos quando se trata de modelos

multicritérios:

Em relação aos critérios é indicado que: (i) os critérios devem ser indicadores

significativos de desempenho; (ii) a definição do atributo deve ser concisa e

clara; (iii) o conjunto de critérios deve abordar todos os aspectos críticos de um

problema; e (iv) o conjunto de critérios deve ser definido de tal forma que a

mesma dimensão não seja medida por vários critérios diferentes e

independentes entre si (KEENEY, 1982; KEENEY; RAIFFA, 1976).

O uso da lógica fuzzy é viável para lidar com a incerteza e imprecisão no

julgamento de critérios intangíveis (BAHADORI et al., 2017; KAHRAMAN;

CEBECI; ULUKAN, 2003).

Em relação as preferências de modelagem, é indicado a utilização do

procedimento de Swing de pesos (EDWARDS, W.; BARRON, 1994). Quando

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94

se usa o procedimento de pesos, sem explicitar o critério com “melhor” e o “pior”

avaliação, obtém-se uma noção geral de importância, que está sujeita a grande

variação de argumentos entre os decisores (WATSON; BUEDE, 1987).

Uma etapa de análise de sensibilidade deve ser incluída para demonstrar a

robustez e estabilidade dos resultados obtidos, diante de mudanças nas

estruturas de preferência do decisor (ZARBINI-SYDANI; KARBASI; ATEF-

YEKTA, 2011);

O Quadro 7 resume os pontos tratados nesta seção, indicando as principais

críticas feitas aos modelos de portfólio de compras, bem como, proposições visando

à resolução das mesmas, baseadas na literatura.

Quadro 7 - Modelos de Portfólio: Críticas e Proposições

CRÍTICAS AUTOR/ANO PROPOSIÇÕES AUTOR/ANO

Generalização do modelo para realidades diferentes

Dubois e Pedersen (2002)

O modelo deve refletir características específicas do

contexto

Drake, Lee e Hussain (2013); Nudurupati et al.

(2015)

Ausência de rigor analítico escolha dos critérios e na classificação dos

itens

Cox (2015); Gelderman e Van

Weele (2003); Luzzini et al.

(2012); Nellore e Söderquist (2000)

Estudo aprofundado do contexto, utilizando critérios que captem sua complexidade

Heikkilä et al. (2016); Montgomery, Ogden e

Boehmke (2018); Nudurupati et al. (2015)

Ausência de análise de

interdependência

Dubois e Pedersen (2002)

Utilização de critérios que captem a

interdependência entre os atores

Dubois e Pedersen (2002); Heikkilä et al.

(2016)

Subjetividade na operacionalização

do modelo e classificação dos

itens

Gelderman e Van Weele (2003); Luzzini et al.

(2012); Olsen e Ellram (1997)

Utilização de protocolo metodológico que

garanta o rigor analítico

Bahadori et al. (2017); Edwards e Barron (1994); keeney, 1982; Keeney e

Raiffa (1976); Montgomery, Ogden e

Boehmke (2018)

Ausência de etapa de

validação dos resultados

Luzzini et al.

(2012)

Utilização de etapas de validação dos

modelos propostos

Luzzini et al. (2012); Zarbini-Sydani, Karbasi e

Atef-Yekta (2011)

Fonte: Elaboração própria, 2019

As críticas apontadas na literatura de modelos de portfólio se dão em torno de

dois pontos centrais: (1) generalização dos modelos e critérios, não respeitando as

especificidades dos diferentes contextos de aplicação; (2) operacionalização dos

modelos, sem rigor analítico na ponderação dos critérios, alternativas e classificação

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95

dos itens. Mesmo quando utilizam métodos quantitativos, não realizam etapas de

validação dos resultados. De fato, estes aspectos tornam os modelos frágeis e seus

resultados inconsistentes, podendo gerar uma classificação errônea dos itens, o que

irá prejudicar as etapas posteriores da gestão de compras.

Em face das fragilidades dos modelos de portfólio de compras e das

proposições de melhoria apontadas na literatura, resumidas no Quadro 7, este estudo

pretende contribuir com o estado da arte ao propor o desenvolvimento de um modelo

de portfólio de compras para o contexto hospitalar, em que serão explorados os

seguintes aspectos:

a) O modelo proposto é baseado na realidade do contexto hospitalar. Os critérios

que compõem o modelo são intrínsecos a esta realidade e estabelecidos a

partir do levantamento na literatura específica (seção 2.1.3 - Quadro 2) e

validados por profissionais da área hospitalar (seção 5.2.1), primando o rigor

analítico desta etapa.

b) As dimensões (eixos) da matriz de classificação dos itens, emergem a partir da

análise dos critérios do modelo (seção 5.3.1), refletindo as características do

processo de compras hospitalares.

c) A análise da interdependência entre o setor de compras e os demais atores

que compõe a cadeia de suprimentos hospitalares será captada pelos critérios:

preferência médica, conhecimento, monopólio de patentes, assistência do

fornecedor, apontados no Quadro 2 (seção 2.1.3).

d) O desenvolvimento do modelo é constituído por etapas qualitativas e

quantitativas, conforme explicado na seção 4, tornando o modelo mais robusto.

e) Os resultados da classificação serão validados por profissionais que

participarão da etapa de classificação dos itens. Além disso, a confiabilidade e

robustez do modelo serão atestadas por uma etapa de análise de sensibilidade.

O próximo capítulo retrata sobre os modelos de decisão multicritério.

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96

3 MODELO DE DECISÃO MULTICRITÉRIO

As decisões impactam diretamente a competitividade organizacional. Os

gestores são responsáveis por tomar decisões em função dos fatores e restrições

inerentes a cada situação (GOMES; GOMES; ALMEIDA, 2002). Desse modo, os

problemas organizacionais devem ser analisados de forma criteriosa, pensando nas

consequências de cada decisão.

Os modelos e métodos multicritério auxiliam decisores na compreensão da

problemática e na sua resolução por meio de métodos consistentes (ALMEIDA, 2013).

A análise de decisão multicritério (multicriteria decision analysis - MCDA), além de

incluir aspectos tangíveis e intangíveis em suas avaliações, possibilita o

reconhecimento de problemas complexos de forma transparente e compreensível

(GURTNER, 2014).

Um modelo de decisão multicritério é uma representação simplificada de um

problema real, compreendendo: múltiplos critérios, alternativas e a presença de um

ou mais decisores, responsáveis por avaliar a situação, considerando suas

preferências (ALMEIDA, 2013). Por se tratar de uma simplificação, não existe modelo

perfeito, porém, apesar de seus erros, ele é útil para tratar de realidades complexas

(ALMEIDA, 2013).

O desenvolvimento de modelos multicritério têm por função estruturar o

problema de decisão de forma ordenada, decompondo-o em critérios, alternativas,

tipo de problema a ser tratado, estrutura de preferências do (s) decisor (es), tornando

o problema mais claro, facilitando, assim, sua análise (CABLES; LAMATA;

VERDEGAY, 2016).

Os modelos são específicos, pois tratam da análise de uma problemática

(seleção de fornecedores, classificação de produtos, escolha de indicadores, etc.) em

um contexto particular (universidades, indústria, hospitais etc.) (GOMES; GOMES;

ALMEIDA, 2002).

Já os métodos multicritério são utilizados como ferramentas para

operacionalização dos modelos. Enquanto os modelos são particulares, os métodos

são gerais. Um mesmo método pode ser aplicado a diferentes problemas e contextos

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97

(ALMEIDA, 2013). Os métodos devem ser adequados ao tipo de problema, respeitar

as estruturas axiomáticas e estruturas de preferências do decisor (ALMEIDA, 2013).

Entre os elementos básicos do MCDA, estão a estrutura de preferências do

decisor, as avaliações intracritério e intercritério e os procedimentos de normalização

(ALMEIDA, 2013), conforme explicados a seguir.

a) Estrutura de Preferências do Decisor

Um modelo de preferência é uma representação formal de comparação de

elementos. As relações binárias são utilizadas para estabelecer a comparação entre

conjuntos de pares ordenados. Uma relação binária R, sobre um conjunto de

elementos A={a,b,c,...,n}, é um subconjunto do produto cartesiano A x A, ou seja, é

um conjunto de pares ordenados (a,b), onde a relação R poderá ser estabelecida para

alguns destes elementos: aRb ou R(a,b). Quando a relação R não existe, é

representada como não(aRb) (ALMEIDA, 2013).

Um sistema de relações de preferência ou uma estrutura de preferências é um

conjunto de relações de preferência, aplicadas sobre um conjunto A, tal que: para

cada par de elementos de A, pelo menos, uma das relações se aplica (exaustividade),

e visto que uma delas se aplica, nenhuma outra pode ser aplicada (exclusividade)

(ALMEIDA, 2013). As principais estruturas de preferência, utilizadas em MCDA são:

Estrutura (P,I); Estrutura (P, Q, I); Estrutura (P, Q, I, R); onde, P (preferência forte) , Q

(preferência fraca), I (indiferença) e R (incomparabilidade) (ALMEIDA, 2013).

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98

Quadro 8 - Relações de Preferência e suas Propriedades

RELAÇÕES DEFINIÇÃO PROPRIEDADES

INDIFERENÇA (I)

Existência de equivalência entre dois elementos (alternativas ou critérios).

Reflexiva aIa ; Simétrica aIb => bIa

PREFERÊNCIA FORTE

(P)

Existência de preferência significativa por um dos elementos em relação ao outro.

Assimétrica: aPb => não(bPa)

PREFERÊNCIA FRACA (Q)

Existência de preferência por um dos elementos em relação ao outro, embora esta preferência seja baixa.

Assimétrica: aQb => não(bQa)

INCOMPARABILIDADE (R)

Não é possível a comparação entre os elementos.

Simétrica aRb => bRa Não reflexiva não(aIa)

Fonte: Adaptado de Almeida (2013)

b) Avaliação Intercritério e Intracritério

A avaliação intercritério diz respeito aos pesos, ou seja, a avaliação que

considera a análise de importância relativa dos diferentes critérios . A avaliação

intracritério diz respeito à avaliação de cada alternativa 𝑖, para cada critério 𝑗, o que

leva a função de valor 𝒗𝒋(𝒂𝒊). A avaliação intracritério permite representar o problema

por meio da matriz de consequências (ALMEIDA, 2013).

c) Procedimentos de Normalização

Os procedimentos de normalização visam efetivar uma transformação na

escala de avaliação de modo que os valores da escala estejam em um intervalo entre

0 e 1, em que as alternativas e critérios de menor importância estão mais próximos ao

0, enquanto as de maior importância mais próximas do 1 (ALMEIDA, 2013). Os três

procedimentos de normalização são: a normalização pela soma, a normalização pelo

máximo e a normalização pelo máximo/mínimo, conforme segue:

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I. Normalização pela soma: O valor global de cada 𝑣𝑗(𝑎𝑖) é dividido pelo

somatório de todos 𝑣𝑗(𝑎𝑖). Esse procedimento indica cada 𝑣𝑗(𝑎𝑖) como sendo

um percentual do valor total.

(1)

II. Normalização pelo máximo: O valor global de cada 𝑣𝑗(𝑎𝑖) é dividido pelo maior

valor de 𝑣𝑗(𝑎𝑖). Esse procedimento indica a distância das demais alternativas,

em relação a alternativa líder, sendo mantido a proporcionalidade.

(2)

III. Normalização pelo máximo/mínimo: O valor global de cada 𝑣𝑗(𝑎𝑖) é subtraído

do menor valor de 𝑣𝑗(𝑎𝑖) e dividido pela subtração do maior valor de 𝑣𝑗(𝑎𝑖) com

o menor valor de 𝑣𝑗(𝑎𝑖). Esse procedimento indica uma faixa de variação entre

o Max 𝑣𝑗(𝑎𝑖) e o Mín 𝑣𝑗(𝑎𝑖).

(3)

No processo de decisão multicritério, alguns elementos básicos precisam ser

definidos: problemática, decisores, critérios e alternativas (GOMES; GOMES;

ALMEIDA, 2002). A seção 3.1 explica o papel dos decisores, critérios e alternativas

em um problema de decisão. A seção 3.2 apresenta as principais problemáticas e

métodos a essas associadas.

3.1 CARACTERÍSTICAS DE UM PROBLEMA DE DECISÃO MULTICRITÉRIO

Um problema de decisão multicritério, com m alternativas e n critérios, pode ser

representado por uma matriz de avaliação, conforme segue (CABLES; LAMATA;

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100

VERDEGAY, 2016):

(4)

Onde:

(𝐴1, 𝐴2, … 𝐴𝑚) são alternativas.

(𝐶1, 𝐶2, … 𝐶𝑛) são os critérios de avaliação.

𝑋𝑖𝑗 é o desempenho da alternativa 𝐴𝑖 no critério 𝐶𝑗.

(𝑊1, 𝑊2, … 𝑊𝑛) é o vetor de pesos que expressa a importância relativa do critério para

o decisor.

Os decisores são os responsáveis pela avaliação dos critérios e alternativas.

Um problema de decisão pode ter um ou mais decisores. O importante, para

assegurar uma solução consistente, é que o(s) decisor (es) tenha (m) conhecimento

em profundidade do contexto da problemática, garantindo, assim, uma avaliação

rigorosa dos critérios e alternativas (ALMEIDA, 2013; CABLES; LAMATA;

VERDEGAY, 2016).

As alternativas são as opções disponíveis para ser escolhidas, ordenadas ou

classificadas pelo decisor, dependendo do tipo de problemática (ALMEIDA, 2013;

CABLES; LAMATA; VERDEGAY, 2016).

Os critérios podem ser os atributos, características ou parâmetros que

influenciam determinado conjunto de alternativas, permitindo modelar as preferências

do decisor. Alguns axiomas devem ser respeitados na escolha final dos critérios; são

eles: exaustividade, coesão, diferenciação, e não redundância (KEENEY; RAIFFA,

1976), conforme descrito a seguir.

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101

a) Os critérios do modelo devem conter todos os parâmetros relevantes para

análise das alternativas (exaustividade).

b) Os critérios do modelo devem ser plausíveis de avaliação pelo decisor, de

modo a diferenciar alternativas a partir de sua avaliação (diferenciação).

c) Os critérios devem ser precisos e existir coerência entre preferências de

avaliação (coesão).

d) Os critérios deverão ser, mutuamente, exclusivos para evitar a avaliação em

duplicidade (não-redundância).

A resolução de um problema de decisão multicritério prevê uma sequência de

etapas, conforme ilustrado na Figura 13.

Figura 13- Etapas de Resolução de um Problema de Decisão Multicritério

Fonte: Adaptado de Almeida (2013).

3.2 PROBLEMÁTICAS E MÉTODOS DE DECISÃO MULTICRITÉRIO

Entre as problemáticas tratadas pela MCDA, destacam-se as problemáticas de

escolha, ordenação, classificação e descrição. Essas problemáticas não são

mutuamente excludentes; pelo contrário, em alguns problemas, são utilizadas de

forma complementar (GOMES; GOMES; ALMEIDA, 2002).

Definição dos critériosDefinição do (s)

decisor (es)Identificação das

alternativas

Definição das escalas Elicitação dos pesosAvaliação das

alternativas

Avaliação do desempenho global

ValidaçãoAnálise de

sensibilidade

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102

A problemática de escolha (P.α) tem por objetivo reduzir um subconjunto de

alternativas, com base em um conjunto maior, selecionando as melhores alternativas.

A problemática de ordenação (P.𝛾) visa ao estabelecimento de um ranking entre as

alternativas. A problemática de classificação (P.𝛽) tem por objetivo separar as

alternativas em subgrupos, formando categorias. A problemática de descrição (P.𝛿)

visa descrever uma problemática de decisão tornando claro o contexto da decisão e

a estrutura de preferência do decisor. Na problemática de descrição não se chega a

um resultado, mas se tem um ponto de partida estruturado para se utilizar um método.

Outra problemáticas, como a de design e a de portfólio, também são utilizadas em

problemas multicritérios, porém com menos frequência (ALMEIDA, 2013).

As abordagens multicritério podem ter características compensatórias ou não-

compensatórias. A abordagem compensatória é aquela em que uma má avaliação de

uma alternativa, em relação a um critério, pode ser compensada por um desempenho

superior dessa alternativa em outros critérios; enquanto a abordagem não-

compensatória considera a incomparabilidade entre as alternativas, não permitindo a

compensação de desempenho entre as alternativas (ALMEIDA, 2013).

A escolha do método multicritério a ser utilizado depende da problemática a ser

tratada, da abordagem do problema (se compensatória ou não-compensatória) e da

estrutura de preferências do decisor, anteriormente explicada.

A Escola Americana tem, como concepção, o uso de uma função utilidade

como forma de agregar as avaliações, baseada em uma abordagem compensatória.

Os principais métodos da Escola Americana são: Analytic Hierarchy Process (AHP);

Simple Multiatribute Rating Technique (SMART); Technique for Order of Preference

by Similarity to Ideal Solution (TOPSIS) e Multi-Attribute Utility Theory (MAUT)

(CABLES; LAMATA; VERDEGAY, 2016). Já a Escola Francesa tem, como

concepção, o estabelecimento de uma relação de preferência entre alternativas,

baseado numa abordagem não-compensatória. Estes são os principais métodos da

Escola Francesa: Elimination e Choix Traduisant la Realité (ELECTRE) e o

Preference Ranking Organization Method for Enrichment Evaluations (PROMETHEE)

e suas variantes (CABLES; LAMATA; VERDEGAY, 2016). O Quadro 9 apresenta os

principais métodos, utilizados para cada tipo de problema/abordagem.

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103

Quadro 9 -Tipos de Problemáticas, Abordagens e Principais Métodos Multicritério

Abordagem Tipos de Problemas

Seleção Ordenação Classificação

Compensatória

AHP

ANP

MACBETH

TOPSIS

MAUT

AHP

ANP

MACBETH

TOPSIS

MAUT

AHP-SORT

TOPSIS-SORT

Não-compensatória ELECTRE

PROMETHEE

ELECTRE

PROMETHEE ELECTRE-TRI

Fonte: Elaboração própria, 2019

O método AHP e ANP são os mais utilizados em problemas de ranking e

seleção, enquanto TOPSIS e DEA (Data Envelopment Analysis) são mais apropriados

quando se faz necessária a construção de modelos de decisão (CHAI; LIU; NGAI,

2013). A integração multimétodos tem crescido nas publicações acadêmicas, se

consolidando como tendência, sendo a combinação de métodos MCDA e fuzzy, a

mais utilizada (CHAI; LIU; NGAI, 2013).

Os métodos multicritério têm sido amplamente aplicados em pesquisas nos

mais diferentes contextos. Na área hospitalar, os MCDA têm sido utilizados como

auxiliares da tomada de decisão e na otimização do sistema de saúde (FRAZÃO et

al., 2018), tanto de problemas clínicos, quanto organizacionais, como apresentado no

Quadro 10.

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104

Quadro 10 -Aplicação de MCDA em Pesquisas do Contexto Hospitalar

Autor/ Ano Objetivo Método

Li et al. (2018) Seleção de tratamentos cirúrgicos para o câncer gástrico.

Fuzzy-TOPSIS

Medeiros e Ferreira (2018)

Classificação de itens de compra hospitalares. Fuzzy-TOPSIS

Chauhan e Singh (2016)

Selecionar um local sustentável para instalação de um depósito de descarte de resíduos hospitalares.

Fuzzy-AHP; Fuzzy-TOPSIS

Abbasgholizadeh rahimI et. al. (2016)

Priorização de pacientes cirúrgicos baseado em riscos e incertezas.

Fuzzy-AHP; DEA; MRA

Adebanjo, Laosirihongthong e Samaranayake (2016)

Priorizar iniciativas de SCM enxutas em operação de serviço de saúde

Fuzzy-AHP

Karsak e Dursun (2015)

Seleção e gerenciamento de fornecedores hospitalar. Fuzzy-MCDM

Wang e Chou (2015) Propor um modelo de decisão para avaliar a qualidade da segurança do paciente

Fuzzy-TOPSIS

Ahmadi, Nilashi e Ibrahim (2015)

Adoção de sistemas de informação hospitalares DEMATEL; ANP

Ivlev, Vacek e Kneppo (2015)

Seleção de dispositivos médicos para ressonância magnética.

AHP; DELPHI

Amaral e Costa (2014) Gerenciamento de recursos para otimização do setor de emergência hospitalar.

PROMETHEE II

Gurtner (2014) Identificar critérios relevantes para compra de tecnologias em hospitais.

AHP; ANOVA

Fonte: Elaboração própria, 2019

Neste estudo será utilizado o método Fuzzy-TOPSIS na etapa de classificação

dos itens comprados. A escolha pelo método deve-se: a) a lógica do TOPSIS é

simplificada, tornando mais compreensível sua aplicação (CABLES; LAMATA;

VERDEGAY, 2016; HUANG, 2016); b) o método utiliza um valor escalar que

representa a melhor e pior alternativa simultaneamente (ARABZAD et al., 2013); c) o

método oferece melhor capacidade de distinção entre alternativas, o que produz

resultados mais próximos da realidade e com melhor qualidade de análise (CHU et al.,

2007); d) em problemas de decisão multicritério, a utilização de valores numéricos, na

avaliação de critérios e alternativas sofre limitações por lidar com incertezas

(KROHLING; CAMPANHARO, 2011), por outro lado, avaliações linguísticas utilizadas

no Fuzzy-TOPSIS tornam a abordagem mais realista (CHEN; LIN; HUANG, 2006).

A próxima seção descreve o método multicritério Fuzzy-TOPSIS.

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105

3.3 Fuzzy-TOPSIS

O método de decisão multicritério TOPSIS (Technique for Order Performance

by Similarity to Ideal Solution), proposto por Hwang e Yoon (1981), baseia-se na

escolha das melhores alternativas em relação a sua aproximação com a solução ideal

positiva (PIS) e maior distanciamento da solução ideal negativa (NIS). O método que,

originalmente, foi pensado para seleção de alternativas, passou a ser utilizado

também, em problemas de classificação (CHEN; LIN; HUANG, 2006; MEDEIROS;

FERREIRA, 2018; SHIRAZ; ŞENGÜL; EREN, 2014).

Diferentes versões do TOPSIS têm sido desenvolvidas adaptando o método a

problemáticas diversas. Chen (2000) desenvolveu uma abordagem difusa para o

método, amplamente conhecida como Fuzzy-TOPSIS, em que variáveis linguísticas

são utilizadas na avaliação de alternativas e elicitação de pesos dos critérios. Essas

variáveis podem ser expressas por meio de números fuzzy triangulares ou

trapezoidais (CHEN; LIN; HUANG, 2006). Cables, Lamata e Verdegay (2016)

propuseram uma adaptação dos métodos TOPSIS e VIKOR (Visekriterijumska

Optimizacija I Kompromisno Resenje ), para situações em que a solução ideal positiva

não, necessariamente, será o maior valor, como estabelecido pelo TOPSIS. O método

desenvolvido pelo autores Cables, Lamata e Verdegay (2016) é conhecido por

Reference Ideal Method (RIM). Ferreira et al. (2018) desenvolveram uma extensão do

TOPSIS chamada FTOPSIS-Class. A Extensão proposta por Ferreira et al. (2018) se

adapta à problemática de classificação nos casos em que se tem uma predefinição do

perfil de cada classe;

O método Fuzzy-TOPSIS tem sido aplicado em diferentes contextos. Rashidi e

Cullinane (2019) fizeram uma comparação entre as versões Fuzzy dos métodos DEA

e TOPSIS, aplicando na seleção de fornecedores sustentáveis. Han e Trimi (2018)

utilizaram Fuzzy-TOPSIS na avaliação de desempenho da logística reversa em

comércios sociais; Hancerliogullari, Hancerliogullari e Koksalmis (2017) avaliaram oito

opções de métodos de anestesia, utilizando Fuzzy-TOPSIS; Li et al., (2018)

selecionaram os melhores procedimentos cirúrgicos para o tratamento de câncer

gástrico; Rouhani, Ghazanfari e Jafari (2012) propuseram um modelo para avaliar

sistemas corporativos de business intelligence. Kaya e Kahraman (2011) utilizaram o

método na seleção da melhor alternativa de tecnologia de energia. A seleção de

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106

fornecedores foi amplamente estudada por meio da aplicação de Fuzzy-TOPSIS

(KANNAN et al., 2013; KANNAN; JABBOUR; JABBOUR, 2014; LIAO; KAO, 2011;

SHEN et al., 2013; WANG; CHENG; HUANG, 2009)

Um maior detalhamento de estudos que utilizaram o TOPSIS e Fuzzy-TOPSIS

pode ser consultado em Behzadian et al. (2012) e Salih et al. (2019). Ambos os

estudos apresentam um levantamento do estado da arte das publicações dos

métodos.

Os Apêndices A e B contêm, respectivamente, as definições básicas acerca

dos números e conjuntos Fuzzy (CHEN, 2000; CHEN; LIN; HUANG, 2006; ZADEH,

1975) e as etapas para aplicação do método Fuzzy-TOPSIS (CHEN, 2000; CHEN;

LIN; HUANG, 2006).

O próximo capítulo apresenta o percurso metodológico do estudo.

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107

4 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta o percurso metodológico seguido para atendimento

dos objetivos desta tese. A seção 4.1 traz a caracterização do estudo e sua

classificação. A seção 4.2 descreve o delineamento da pesquisa. A seção 4.3

identifica a população e amostra do estudo. A seção 4.4 descreve o instrumento de

coleta. A seção 4.5 explica o processo de revisão sistemática de literatura; por fim, a

seção 4.6 apresenta o método estatístico de análise de componentes principais.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Quanto à abordagem, o presente estudo é de natureza híbrida, tendo etapas

qualitativas e quantitativas. A combinação de abordagens é incentivada para

proporcionar resultados mais ricos e confiáveis (MINGERS, 2001), além de

necessária, visto que, em diferentes etapas da pesquisa, um método se torna mais

pertinente que o outro (CRESWELL, 2012; MINGERS, 2001).

A abordagem utilizada é vinculada à pesquisa operacional, que utiliza

modelos científicos aplicados a problemas reais (BERTRAND; FRANSOO, 2002). A

modelagem multicriterial, utilizada nesse estudo, tem por característica a utilização da

combinação de abordagens qualitativas e quantitativas (ENSSLIN, 2008). A

abordagem qualitativa está voltada ao aspecto da construção da problemática a partir

da análise do contexto decisório, permitindo a construção do modelo. Enquanto sua

abordagem quantitativa está relacionada aos fundamentos matemáticos utilizados em

seus métodos (ENSSLIN, 2008). A abordagem quantitativa também se faz presente

na utilização do método estatístico de análise de componentes principais.

O presente estudo tem modelagem caracterizada como empírica descritiva,

visto que segue o ciclo de conceituação do modelo proposto, baseado em padrões

publicados na literatura científica, seguindo da etapa de modelagem e posterior

validação (BERTRAND; FRANSOO, 2002).

Quanto aos objetivos, o presente estudo se caracteriza como exploratório e

descritivo. É descritivo na medida em que se propõe a descrever fatores

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108

influenciadores do processo de compras hospitalares (TRIVIÑOS, 2009). É

exploratório, por estar propondo um modelo de classificação para compras

hospitalares, não encontrado na literatura da área, sendo necessário um

aprofundamento no conhecimento (TRIVIÑOS, 2009).

Quanto aos procedimentos, este estudo se classifica como estudo de caso

incorporado. Um caso para análise pode ser uma organização, um indivíduo, uma

cultura, um grupo, um processo decisório, entre outras categorias, desde que essas

possam ser delimitadas dentro de determinados parâmetros (CRESWELL, 2012).

Será aplicado o estudo de caso incorporado, caracterizado pelo estudo de um mesmo

contexto, analisado por meio de diversas unidades de análise. Nesta tese, o contexto

de análise é o processo decisório de compras hospitalares, enquanto as unidades de

análise são os compradores de insumos médico/hospitalares (YIN, 2005). A Figura

14 ilustra a caracterização da pesquisa.

Figura 14 - Caracterização Metodológica da Pesquisa

Fonte: Elaboração própria, 2019

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O desenvolvimento desta pesquisa compreende três fases: estruturação,

modelagem e aplicação do modelo proposto, conforme ilustrado na Figura 15.

Cara

cte

riza

çã

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eto

do

lóg

ica

da

P

es

qu

isa

Natureza Pesquisa Operacional Empírica Descritiva

Abordagem

Qualitativa

Quantitativa

Objetivos

Exploratória

Descritiva

ProcedimentosEstudo de Caso

Incorporado

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109

Figura 15 - Etapas da Pesquisa

Fonte: Elaboração própria, 2019

Na sequência, será explicada cada uma das fases ilustradas na Figura 15.

I. FASE DE ESTRUTURAÇÃO DA PESQUISA

A fase de estruturação da pesquisa iniciou-se por meio de uma revisão

sistemática da literatura (RSL). A RSL teve por objetivo: a) identificar as lacunas e

definir o problema de pesquisa (capítulo 1); b) levantar o conjunto de critérios que

estruturaram o problema de decisão (seção 2.1.3); c) levantar as estratégias utilizadas

na gestão de compras hospitalares (seção 2.2); d) levantar o estado da arte em

modelos de portfólio de compras (seção 2.3). A seção 4.5 descreve as etapas

seguidas na RSL.

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110

Essa fase teve grande relevância para o estudo, servindo de base para

estruturação inicial do modelo proposto. Não foram encontrados trabalhos

acadêmicos anteriores que apontassem para o conjunto de critérios influenciadores

no processo de compras de itens hospitalares, sendo necessária a sistematização de

várias pesquisas, para se alcançar o quadro teórico de critérios a ser utilizados no

modelo proposto (Quadro 2 - seção 2.1.3).

II. FASE DE MODELAGEM

Após o levantamento teórico, uma próxima fase foi a modelagem da pesquisa.

Nessa fase, foi realizada: a definição da problemática multicriterial, a escolha dos

métodos a ser utilizados na análise dos dados, o procedimento de coleta de dados, a

escala de avaliação a se utilizar, o pré-teste do instrumento, a coleta dos dados, a

validação dos critérios, a definição dos pesos dos critérios, a composição das

dimensões do modelo e, por fim, o desenvolvimento do modelo proposto.

Este estudo trata de uma problemática multicriterial de classificação (P.𝛽), visto

que o objetivo é propor um modelo para classificação de itens de compras

hospitalares. Por se tratar de um estudo exploratório, se faz necessária uma etapa de

validação dos critérios propostos. Para tal, foi desenvolvido um instrumento para

coleta de dados (Apêndice E) os quais foram obtidos por meio de aplicação de uma

survey transversal on-line (seção 4.4), junto a gestores de compras hospitalares

(seção 4.3), utilizando uma escala de avaliação psicométrica. Foi realizado um pré-

teste do instrumento, conforme descrito na seção 4.4.1.

Os dados coletados foram submetidos à análise da técnica estatística de

análise componentes principais (PCA) (seção 4.6; Apêndice C), utilizando o software

estatístico Stata® versão 13.0 (Apêndices F e G).

A PCA teve por objetivo: a) agregar as avaliações dos múltiplos compradores

(seções 5.1.2 e 5.2.1); b) validar os critérios levantados na literatura (seção 5.2.1); c)

identificar as dimensões do modelo portfólio de compras hospitalares, por meio das

variáveis latentes, oriundas da PCA (seção 5.3.1);

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111

III. FASE DE APLICAÇÃO DO MODELO

Após a validação dos critérios pela análise de componentes principais, o

método multicritério Fuzzy-TOPSIS será utilizado para classificar uma amostra de

itens, testando a aplicabilidade e a validade do modelo proposto.

Com base na definição da amostra de itens a serem avaliados, a próxima etapa

consiste na classificação desses itens na matriz de portfólio de compras hospitalares.

Por se tratar de um modelo tridimensional, a etapa de classificação ocorreu em

três rodadas sequenciais do método Fuzzy-TOPSIS. Cada rodada visa classificar os

itens em relação ao conjunto de critérios que compõe cada dimensão individualmente.

Desse modo, a primeira rodada do método visa classificar os itens nos critérios (C1-

tempo, C2- custo, C3- reputação, C4- monopólio, C5- negociação e C6- volume) que

compõe a dimensão “Parâmetros universais de compras” (D1). A segunda rodada

classifica os itens nos critérios (C7- customização, C8- armazenagem e C9-

assistência) que compõe a dimensão “Dependência de fornecimento” (D2) e a terceira

rodada classifica os itens nos critérios (C10- PPI e C11- conhecimento) que compõe

a dimensão “Assimetria de conhecimento” (D3).

A partir do coeficiente de proximidade (CCi) encontrado no Fuzzy-TOPSIS, em

cada uma das rodadas, cada item é classificado, separadamente, em cada dimensão,

baseado na regra de decisão: “baixo” (itens que apresentaram na dimensão avaliada,

CCI entre 0,00 e 0,50) ou “alto” (itens que apresentaram na dimensão avaliada, CCI

entre 0,51 e 1,00), conforme mostrado na Tabela 2.

Tabela 2 - Regras de Decisão para Classificação dos Itens em Cada Dimensão

DIMENSÃO CCI ϵ [0,00; 0,50] CCI ϵ [0,51; 1,00]

Parâmetros Universais de Compra

Baixo Alto Dependência de Fornecimento

Assimetria de Conhecimento

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Após a classificação de cada item, em cada uma das dimensões do modelo,

uma nova regra de decisão é atribuída, desta vez, para classificar os itens em relação

às classes do modelo, conforme explicitado na seção 5.3.2. A Tabela 3 apresenta as

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112

regras de decisão para classificação dos itens nas classes do modelo de portfólio de

compras hospitalares proposto; a Figura 16 ilustra a sequência de etapas, envolvida

na classificação dos itens.

Tabela 3 - Regras de Decisão para Classificação dos Itens no Modelo de Portfólio de Compras Hospitalares

Parâmetros Universais de Compra

Dependência de Fornecimento

Assimetria de Conhecimento

Classe

CCI ϵ [0,00; 1,00] CCI ϵ [0,51; 1,00] CCI ϵ [0,51; 1,00] Crítico

CCI ϵ [0,00; 1,00] CCI ϵ [0,00; 0,50] CCI ϵ [0,51; 1,00] Estratégico

CCI ϵ [0,00; 1,00] CCI ϵ [0,51; 1,00] CCI ϵ [0,00; 0,50] Gargalo

CCI ϵ [0,51; 1,00] CCI ϵ [0,00; 0,50] CCI ϵ [0,00; 0,50] Alavancagem

CCI ϵ [0,00; 0,50] CCI ϵ [0,00; 0,50] CCI ϵ [0,00; 0,50] Não-Crítico

Figura 16 - Etapa de Classificação dos Itens

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

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113

Uma etapa de análise de sensibilidade será efetivada para avaliar a robustez

do modelo, e os resultados serão validados pelos profissionais que participaram da

etapa de avaliação das alternativas.

O Quadro 11 representa um resumo do design da pesquisa, identificando, com

base na questão de pesquisa, os objetivos específicos propostos e o percurso

metodológico seguido, para respondê-los.

Quadro 11 - Design da Pesquisa

Questão de Pesquisa: como desenvolver um modelo de portfólio de compras para representar as categorias de itens do contexto hospitalar?

Ob

jeti

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Ge

ral:

dese

nvolv

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hosp

ita

lar.

Objetivos Específicos Método/

Técnica de coleta

Método/ Técnica de análise

Identificar os critérios de decisão do processo de compras hospitalares.

- RSL

- RSL

Validar os critérios junto a gestores de compras hospitalares.

- Survey - PCA

Definir as dimensões e classes de itens do modelo proposto.

- Survey - PCA

- AnáliseTeórica

Validar, empiricamente, o modelo de portfólio de compras proposto.

Modelagem Multicriterial

- Fuzzy-TOPSIS - Análise de sensibilidade

População: Gestores de compras que trabalham em hospitais gerais de médio porte a extra, de natureza jurídica particular com fins lucrativos, localizados nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil.

Amostra: 39 gestores de compras.

Fonte: Elaboração própria, 2019

4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA

No Brasil, dos 7.514 estabelecimentos de saúde com leitos, 2.538 (33,78%) são

privados com fins lucrativos. Entre os privados com fins lucrativos, 1.394 (55%) são

hospitais gerais, conforme mostra a Tabela 4.

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114

Tabela 4 - Número de Estabelecimentos de Saúde com Leitos Existentes no Brasil, Classificados por Natureza Jurídica e Tipologia

Fonte: Ministério Da Saúde, 2018

Observados esses valores por região, percebe-se que as regiões Sudeste, Sul

e Nordeste, juntas, representam 78% do número de estabelecimentos de saúde com

leitos, de natureza privadas com fins lucrativos, conforme mostrado na Tabela 5.

Tabela 5 - Estabelecimentos de saúde por Região - Privados com Fins Lucrativos

REGIÃO PRIVADOS COM FINS LUCRATIVOS %

SUDESTE 934 37%

NORDESTE 718 28%

SUL 321 13%

CENTRO-OESTE 379 15%

NORTE 186 7%

TOTAL 2.538 Fonte: CNS FBH (2018)

O número de leitos hospitalares são indicadores que mensuram a estrutura e a

capacidade de atendimento de média e alta complexidade (CNS; FBH, 2018). Em

relação ao porte dos hospitais, eles são classificados por número de leitos, conforme

Tabela 6.

Tabela 6 - Classificação dos Hospitais por Número de Leitos

Nº de Leitos Porte

Até 50 leitos Pequeno

De 51 á 150 leitos Médio Porte

151 á 500 leitos Grande Porte

Acima de 500 leitos Extra

Fonte: Ministério da Saúde, 2018

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115

Os hospitais privados com fins lucrativos de pequeno porte são maioria no

Brasil (71,7%), o que representa aproximadamente 1819 hospitais (CNS; FBH, 2018).

Os hospitais com fins lucrativos entre médio porte e porte extra, são em torno de 719

unidades no Brasil (CNS; FBH, 2018).

Nesta pesquisa, a população estudada é composta por compradores que

trabalham em hospitais gerais de médio porte a extra, de natureza jurídica particular

com fins lucrativos, localizados nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil. A

escolha por compradores de hospitais com estas características deve-se:

a) Estudos anteriores comprovam que hospitais de excelência em gestão tem como

característica ser privados, de grande porte e generalistas (RAKOVSKA;

STRATIEVA, 2018).

b) À proporção significativa que os hospitais gerais privados com fins lucrativos

representam no setor de saúde brasileiro, como apontado na Tabela 4.

c) Aos hospitais privados terem uma perspectiva de compra que não está direcionada

tão somente para o menor custo do item, como ocorre nas licitações do setor

público, considerando outros critérios na análise.

d) Ao gerenciamento da compra ser mais incisivo em hospitais privados com fins

lucrativos. O item comprado, além de ter a finalidade de atender à necessidade dos

pacientes, tem, como função, oferecer rentabilidade ao hospital, à medida que este

item é revendido aos pacientes/planos de saúde.

e) Ao fato de hospitais gerais, de médio e grande porte, lidarem com uma variedade

de itens com características distintas, o que leva a uma maior complexidade da

compra e necessidade de recursos para auxiliar na gestão destas.

f) À representatividade dos hospitais privados das regiões Sudeste, Sul e Nordeste,

conforme apontado na Tabela 5.

g) Ao fato de a região Sudeste localizar hospitais privados com eficiência reconhecida

internacionalmente, servindo de benchmarking para os demais hospitais, sendo

importante entender o processo decisório de seus compradores.

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116

Nesse sentido, a amostra escolhida foi estratificada, não-probabilística do tipo

intencional, sendo a amostragem escolhida em função dos interesses da pesquisa

(FLICK, 2009).

4.3.1 Cálculo Amostral

Devido ao desconhecimento do tamanho da população de compradores

hospitalares, foi utilizada a Equação (5) (LOHR, 2010) para determinação do tamanho

da amostra (n). A Equação (5) permite estabelecer o número de amostras para

calcular uma proporção �� desejada, a um grau de confiança estabelecido por z,

aceitando-se o erro percentual representado por e (LOHR, 2010).

𝑛 = (𝑧𝛼/2𝑠

𝑒)

2 ou n = z2.

p.q

e2 (5)

Onde:

n = O tamanho da amostra que se quer encontrar

Z = É o desvio do valor médio aceito para alcançar o nível de confiança desejado.

Em função do nível de confiança que se deseja, utiliza-se um valor determinado pela

distribuição de Gauss:

Nível de confiança 90% -> Z=1,645

Nível de confiança 95% -> Z=1,96

Nível de confiança 99% -> Z=2,575

e = É a margem de erro máximo que se admite, em função do nível de confiança

desejado.

�� = Proporção amostral, que estima a verdadeira proporção populacional p.

�� = Complemento da proporção de uma amostra: 𝒒 = 1 – p

Quando se desconhece ��, usa-se ��. ��=0,25 , que corresponde a pior estimativa de

erro padrão.

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117

Assim, considerando um nível de confiança de de 0,95 (Z=1,96), uma margem

de erro de 5% (e= 0,05) e, como a proporção amostral (��) é desconhecida, utilizou-se

o valor de ��. ��=0,25. Substituido na Equação (5) encontra-se que a amostragem ideal

seria n= 384.:

n = 1,962.0,25

0,052 = 384

Apesar de o tamanho amostral utilizado nesse estudo (n=39) ser inferior ao

tamanho da amostra indicada, tanto a PCA, quanto o Fuzzy-TOPSIS, não exigem um

número mínimo amostral, por não se tratar de métodos inferenciais. Além disso, o

estudo buscou primar pela qualidade amostral e maior homogeneidade dessa,

reduzindo possíveis vieses de resposta. A utilização de amostras estratificadas tende

a ser mais precisa, devido à semelhança entre os respondentes, que uma amostra

aleatória de toda a população (LOHR, 2010).

4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

4.4.1 Coleta de Dados para Análise de Componentes Principais

O levantamento dos dados empíricos, para testar o modelo proposto, se deu

por meio de uma survey transversal on-line, utilizando questionário fechado aplicado

a gestores de compras de itens hospitalares. O questionário aplicado está disponível

no Apêndice E. Os dados estão disponíveis mediante solicitação ao autor do trabalho.

O questionário foi desenvolvido, utilizando a plataforma onlinepesquisa.com®.

O instrumento foi composto, inicialmente, por um termo de conhecimento livre e

esclarecido –TCLE (Apêndice D) e, na sequência, por blocos de questões.

O primeiro bloco, composto por quatro questões, visa identificar o perfil do

hospital. No segundo bloco, têm-se seis questões referentes ao perfil do respondente.

As demais questões referem-se ao processo decisório de compras de itens

hospitalares. A questão 10 visa identificar os critérios influenciadores do processo de

compra. Essa questão é subdividida pela análise de treze critérios (Quadro 2 – seção

2.1.3), avaliados por uma escala likert de sete pontos, com base em níveis de

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118

influência. A questão 11 identifica a maturidade dos hospitais em relação às

estratégias utilizadas pela gestão de compras (HESPING; SCHIELE, 2015, 2016). Na

questão 11, o comprador deveria indicar em relação as estratégias apontadas, quais

as utilizadas pelo hospital onde trabalha e, em caso positivo, indicar se o hospital faz

uso da estratégia há menos de cinco anos ou há mais de cinco anos.

O questionário, além de fornecer uma definição concisa de cada critério para

garantir uma interpretação consistente, incluiu instruções relativas ao procedimento

de respostas. Na questão 10, que continha avaliações em escalas psicométricas,

orientava-se que os respondentes realizassem as avaliações dos critérios baseadas

no procedimento de swing de pesos (EDWARDS; BARRON, 1994), iniciando pela

definição dos critérios de maior importância; em seguida, os de menor importância, e

por fim, os critérios de importância intervalar entre os extremos da escala. Esse

procedimento auxilia o decisor a uma melhor compreensão de suas preferências,

evitando concentrar suas avaliações em alguns pontos da escala (EDWARDS;

BARRON, 1994).

O envio do questionário se baseou em critérios de acessibilidade da amostra e

do perfil do respondente, conforme descrito na seção 4.3. A captação dos

respondentes se deu via rede social. A rede social escolhida para essa captação foi o

Linkedin®, por se tratar de uma rede social que visa o network entre profissionais.

Desse modo, foi possível observar antecipadamente a descrição do perfil dos

respondentes, permitindo uma amostragem mais qualitativa, em termos de

capacitação/cargos dos respondentes. Ademais foi utilizado o procedimento bola de

neve (FLICK, 2009), em que é solicitado a um respondente a indicação de outro

possível respondente com perfil similar.

No primeiro contato via Linkedin®, se fez uma breve apresentação da

pesquisadora, solicitando o aceite na sua rede de relacionamentos. A partir desse

aceite, era enviado uma sucinta descrição da pesquisa e solicitado o aceite para envio

do questionário para o e-mail do comprador. Mediante esse aceite, um link para

acesso ao questionário era enviado. Caso não fosse respondido em um prazo de 7

dias, uma nova solicitação era realizada.

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119

4.4.2 Pré-teste e Aplicação do Questionário

Para análise do instrumento de pesquisa, foi realizada, inicialmente, uma

aplicação do questionário com dois doutorandos, um comprador e um ex-comprador,

sendo estes dois últimos com experiência em hospitais particulares. A aplicação do

pré-teste com os doutorandos teve por objetivo revisar o questionário verificando a

clareza textual, número de questões, ordenação das questões e descrição dos

constructos utilizados. Algumas melhorias foram apontadas e realizadas, e, na

sequência, o instrumento foi aplicado com dois compradores.

No pré-teste com o comprador e o ex-comprador, além dos pontos

anteriormente citados, foi analisado, também, o tempo médio de resposta, se algum

critério deveria ser incluído ou excluído e a clareza dos enunciados de cada questão.

Nenhum critério foi acrescentado, porém foi indicada a exclusão na questão 11 da

estratégia “compras baseada em valor”. O que motivou a exclusão foi o fato de a

estratégia não está em pleno uso nos hospitais brasileiros. O que existe é uma

discussão inicial da mesma e sua presença pode gerar dúvidas nos respondentes. A

indicação foi acatada, após verificar que os artigos ainda não tratavam da

implementação dessa estratégia por parte de hospitais no Brasil.

A captação de respondentes e a aplicação do instrumento final ocorreram no

período de 13.08.2018 a 12.11.2018. Utilizando uma amostra inicial com os 15

primeiros questionários respondidos, foi realizado um novo pré-teste para medir a

confiabilidade e validade do instrumento por meio da avaliação do alpha de Cronbach.

O alfa de Cronbach, encontrado nesta etapa, para o conjunto de questões que visava

avaliar os critérios de compra, foi de 0.68, o que viabilizou a continuidade da coleta.

No total, foram contatados 232 compradores, dos quais 89 responderam ao

questionário, totalizando uma taxa de resposta de 38%. Foram excluídas 50

observações, restando 39 questionários válidos, conforme apresentado na Tabela 7.

A exclusão das observações teve, como foco, primar por uma amostra mais

qualitativa, buscando priorizar respondentes com poder de decisão, excluindo

auxiliares e assistentes de compras. Ademais, foram excluídos questionários

incompletos. Em relação ao tipo e porte dos hospitais, buscou-se uma maior

homogeneidade nesse perfil, excluindo hospitais de pequeno porte, hospitais

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120

especializados e de natureza jurídica pública, filantrópica ou pertencentes a planos de

saúde.

A Tabela 7 expõe as motivações das observações excluídas.

Tabela 7 - Observações Excluídas

Relacionado Motivo da Exclusão Nº de Observações Excluídas

Hospital

Hospitais públicos e filantrópicos 8 Hospitais pertencentes a planos de saúde 9

Hospitais com menos de 51 leitos 2 Hospitais especializados 6

Localizado na região Centro-Oeste 1

Respondentes Questões com respostas incompletas 16

Não possuir poder de decisão (auxiliares e assistentes) 6 Outliers 2

Total 50

Fonte: Dados da pesquisa, 2018

4.4.3 Coleta de Dados para Fuzzy-TOPSIS

Na coleta de dados para etapa multicriterial cujo objetivo é a validação do

modelo proposto, foi escolhido um dos hospitais que tivesse participado da primeira

etapa da pesquisa.

Como a etapa multicriterial requer um conhecimento mais aprofundado do

contexto de aplicação e do processo de tomada de decisão do setor estudado, é

importante que haja uma interação mais efetiva entre a analista de decisão

(pesquisadora) e os gestores de compras (decisores), visando reduzir as dúvidas, em

especial, na etapa de elicitação dos pesos e desempenho das alternativas. Desse

modo, foi escolhido um hospital localizado na região Nordeste, para facilitar a logística

da coleta de dados.

Houve seis encontros presenciais entre os decisores e a analista de decisão.

No primeiro encontro, foi explicado o objetivo da pesquisa, os resultados obtidos na

PCA e como se daria a etapa de análise multicriterial. O segundo, o terceiro e o quarto

encontro foram realizados separadamente, com cada gestor: de compras de materiais

e medicamentos (MAT/MED) e com o de OPME. Com cada gestor, esses encontros

tiveram por objetivo identificar a amostra de itens a ser analisada e avaliar o

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121

desempenho desses itens em relação aos critérios. O quinto e o sexto encontro

ocorreram, também com cada gestor em separado, para mostrar os resultados da

classificação e validar se esses estavam coerentes com a realidade do contexto de

compras do hospital.

Para orientar todo o processo de coleta de dados, além da presença do analista

de decisão elucidando e mediando cada etapa, foram utilizados roteiros orientativos:

a) o Quadro 2 (seção 2.1.3), que descreve os critérios do modelo; b) as Figuras 22

(seção 5.3.1) e 23 (seção 5.3.2) que ilustram, respectivamente, os resultados da PCA,

mostrando os critérios associados a cada dimensão e as classes de itens propostas

pelo modelo. c) a escala utilizada para avaliação do desempenho das alternativas em

relação os critérios (Apêndice H).

4.5. REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

Neste estudo, a revisão sistemática da literatura (RLS) foi o primeiro passo

metodológico. A RSL consiste na identificação, seleção e avaliação de pesquisas

relevantes, por meio da utilização de critérios sistemáticos e explícitos (GRANT;

BOOTH, 2009; SHAMSEER et al., 2015). A RLS se dá em torno de uma questão de

pesquisa, contexto ou fenômeno de interesse (SHAMSEER et al., 2015).

O processo de RSL foi baseado no protocolo proposto por Koller, Couto e

Hohendorff (2014), baseado em oito etapas: 1.delimitação da questão de pesquisa;

2. seleção das bases de dados; 3. eleição das palavras-chave, strings e operadores

boleanos utilizados na busca; 4. busca e armazenamento dos resultados; 5. seleção

de artigos pelo resumo, de acordo com critérios de inclusão e exclusão; 6. extração

dos dados dos artigos selecionados; 7. avaliação dos artigos; 8. síntese e

interpretação dos dados (KOLLER; COUTO; HOHENDORFF, 2014). O processo da

RSL será descrito na sequência. As etapas 7 e 8 do protocolo acima citado, derão

origem ao capítulo 2 dessa tese.

Considerando que o objetivo geral desta pesquisa é a proposição de um

modelo de portfólio de compras para o contexto hospitalar, a RSL foi utilizada como

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122

base para identificar a partir da leitura e análise das pesquisas publicadas na área de

compras hospitalares e de modelos de portfólio de compras:

Os critérios influenciadores do processo de compras hospitalares, discutidos na

seção 2.1.2 e resumidos no Quadro 2 da seção 2.1.3.

As estratégias e alavancas táticas, utilizadas por hospitais no processo de compras,

discutidas na seção 2.2 e resumidas no Quadro 3.

O estado da arte em estudos de portfólio de compras, identificando os modelos

propostos, suas metodologias e contribuições, conforme apresentados na seção

2.3, e resumidos nos Quadros 5 e 6.

Um aprofundamento no conteúdo da literatura existente sobre compras

hospitalares e modelos de portfólio de compras, da qual emergiu a lacuna teórica

e problema de pesquisa desta tese.

A revisão sistemática foi realizada mapeando os estudos disponíveis nas

principais bases de artigos e teses nacionais e internacionais: Scopus, Web of Science

(WOS), Science Direct (SD), Spell, Sciello e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e

Dissertações (BDTD), utilizando diferentes termos-chave e operadores boleanos, que

deveriam ser citados no título, resumo ou palavras-chave, dos artigos levantados

(Quadro 12).

As restrições, em todas as buscas, se referiram ao período de publicação, tipo

do estudo e campos da busca. Para os estudos de portfólio de compras, não foi

restringido o período de publicação, visto que a obra seminal (Kraljic, 1993) ainda é a

mais referenciada, mesmo nos estudos atuais. Para os estudos de compras

hospitalares, foram selecionados estudos publicados nos últimos 20 anos (1998 e

2018), visto que foi percebido que os estudos anteriores a esse período já tinham suas

discussões contempladas nos estudos atuais. Na sequência, será detalhada a triagem

realizada para estudos sobre compras hospitalares.

O levantamento dos artigos, nas bases, trouxe, inicialmente, 12.754 estudos de

compras hospitalares; tendo sido submetidos a cinco etapas de triagem: limitação por

artigos publicados em Journals; retirada de estudos em duplicidades; leitura dos

resumos; leitura do texto completo; e exclusão de artigos não disponíveis.

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123

Foram selecionados estudos do tipo artigo ou review, publicados em periódicos,

e, no caso da base BDTD, restringiu-se a teses ou dissertações acadêmicas. Foram

excluídas as dissertações de mestrado profissional devido ao pouco aprofundamento

metodológico. Após essa limitação, dos 12.754 estudos iniciais, restaram 583.

Dos 583 estudos, 89 foram excluídos devido à duplicidade, restando 494. Na

etapa de leitura dos resumos, foram suprimidos 354 estudos que tinham como foco:

estudos clínicos, compras de equipamentos hospitalares, políticas públicas de saúde,

finanças, nutrição hospitalar, desempenho hospitalar, qualidade em serviço, gestão

de estoques sem foco em compras. Os critérios de inclusão dos estudos, para o

escopo desta pesquisa, se referiam a estudos que tivessem como foco: a relação

comprador-fornecedor ou comprador-equipe médica, compra de medicamentos,

órteses ou próteses, estratégias de compras, custos relacionados a compras e

classificação de itens, restando 140 estudos.

Em um segundo momento, os 140 estudos foram submetidos a uma leitura

mais detalhada. Nessa fase, foram eliminados 57 estudos por estar fora do escopo da

pesquisa, e 22 por não ter seus artigos disponibilizados. Dos 61 estudos restantes,

foram acrescidos mais seis, a partir das referências, restando 67 estudos para compor

a amostra inicial dos artigos para leitura sobre compras hospitalares.

As mesmas fases descritas acima, para os estudos na área de compras

hospitalares, foram realizadas para os estudos de portfólio de compras. O Quadro 12

apresenta o quantitativo de artigos, inicialmente, filtrados em cada base, os termos-

chave, bem como o total de artigos restantes após a etapa de exclusão.

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124

Quadro 12 – Revisão Sistemática da Literatura

Tema Busca Termos-chave/ operadores

boleanos Base Qt.Geral

Limite por tipo

Excluídos por

duplicidade

Excluídos após ler resumos

Excluídos após

leitura

Texto não disponível

Acrescentados baseado nas referências

Seleção final

CO

MP

RA

S H

OS

PIT

AL

AR

ES

1 “supplier relationship” AND “health care” OR “hospital”

Scopus 34 28

89 291 52 22 6 59

WOS 4 3

SD 1 1

2 “strategic purchase” OR

“strategic purchasing” AND “health care” OR “hospital”

Scopus 31 24

WOS 8 8

SD 3 3

3

"kraljic portfolio" OR "purchase portfolio" OR "purchasing

portfolio" AND “health care” OR “hospital”

Scopus 1 1

WOS 1 1

SD 1 1

4 “purchase” OR “purchasing” AND “health care” OR “hospital” AND

“Supply Chain Management”

Scopus 59 47

WOS 22 18

SD 0 0

5 “purchase” OR “purchasing” AND

“health care” OR “hospital”

Scopus 9731 261

WOS 2059 49

SD 710 54

“purchase” OR "purchasing" AND “hospital” OR “hospitalar”

Scielo 8 8

Subtotal compras hospitalares internacional 12.673 507 89 291 52 22 6 59

6 “compras” AND “hospital” OR

“hospitalar”

BDTD 79 74 63 5

8 Spell 2 2

Subtotal compras hospitalares nacional 81 76 63 5 8

Total de estudos sobre compras hospitalares 12.754 583 89 354 57 22 6 67

PO

RT

FO

LIO

DE

CO

MP

RA

S 7 “purchase portfolio” OR “purchasing portfolio”

Scopus 87 68

43 26 6 1 3 WOS 47 27

SD 18 18

Subtotal portfólio de compras internacional

152 113 43 26 6 1 3 40

8 "portfólio de compras" Spell 0 0

BDTD 7 7

Subtotal portfólio de compras nacional 7 7 0 0 0 0 0 7

Total de estudos sobre portfólio de compras 156 117 43 26 6 1 3 47

Total geral de estudos selecionados 114

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125

4.6 ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS

A análise de componentes principais (PCA) é uma técnica estatística que utiliza

uma transformação linear para reduzir a dimensionalidade de um conjunto de

variáveis, excluindo a multicolinearidade, sem comprometer a perda de informação

(FORGHANI; SADJADI; MOGHADAM, 2018; PEARSON, 1901; SCALA et al., 2016).

Esse novo conjunto de dados não-correlacionados são chamados de

componentes principais (ζ s) são combinação lineares que captam a maior parte da

variabilidade total dos dados originais (PEARSON, 1901). A primeira componente

principal será uma combinação linear de todas as variáveis, que capta a quantidade

máxima de informações dos dados originais, explicando a maior parte da variação dos

dados. A segunda componente principal será uma segunda combinação linear que

explica a maior parte de informação residual, não explicada pela primeira componente,

e assim sucessivamente (LATTIN; CARROL; GREEN, 2011).

As cargas das variáveis (autovetores) em cada componente principal

representam o peso dessa variável para composição da componente (FORGHANI;

SADJADI; MOGHADAM, 2018; LATTIN; CARROL; GREEN, 2011). A PCA também

pode ser útil quando se deseja entender os padrões de associação entre as variáveis;

visto que as variáveis que têm cargas mais altas em uma mesma componente,

representam aquelas que têm uma covariação mútua (LATTIN; CARROL; GREEN,

2011). O Apêndice C contém a definição da PCA, conforme descrita por Forghani,

Sadjadi e Moghadam (2018).

Quando não se tem um volume de observações suficientes para utilização de

uma análise fatorial exploratória (exploratory factor analysis - EFA), a PCA pode ser

utilizada visando entender a associação entre as variáveis e propor taxonomias a

partir da análise das variáveis latentes que formam cada componente (LATTIN;

CARROL; GREEN, 2011).

Tanto a PCA quanto a análise fatorial exploratória são técnicas estatísticas

multivariadas que têm, como objetivo comum, a redução da dimensionalidade dos

dados (LATTIN; CARROL; GREEN, 2011). A principal diferença entre essas técnicas

está na variância dos dados explicada em cada uma. A PCA gera componentes que

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126

extraem a variância total (variância específica + variância comum) do conjunto de

variáveis que compõem cada componente principal, enquanto a análise fatorial

exploratória gera fatores que só consideram a variância comum entre as variáveis que

compõem cada fator.

Neste estudo, a PCA é utilizada para validar o número de critérios, minimizando

a dimensionalidade do conjunto de dados originais, para um novo conjunto de

componentes principais não-correlacionados, removendo a multicolinearidade

existente entre os critérios (SARKAR; SAHA; AGRAWAL, 2014). A PCA também

possibilitou a agregação das avaliações dos decisores em relação ao peso dos

critérios, visto que a carga fatorial de cada critério representa a contribuição deste

para a componente principal relacionada (FORGHANI; SADJADI; MOGHADAM,

2018; LIANG; LIU; LI, 2018; MIN, 2010; SARKAR; SAHA; AGRAWAL, 2014; SCALA

et al., 2016).

Com base nas variáveis latentes oriundas da PCA, foram estabelecidos os

constructos que melhor explicavam a relação entre os critérios da pesquisa, formando

as dimensões do modelo proposto. Como a compreensão de constructos latentes é

própria da EFA, e essa só é adequada para amostras acima de 100 observações

(HAIR et al., 2010), indica-se que ao utilizar a PCA com fins de fatorial exploratória,

sejam realizados os testes pressupostos desta última, para imprimir robustez aos

resultados.

Entre os pressupostos da EFA, estão: a) o teste de esfericidade de Barllet que

indica se a matriz de correlação da população não é uma matriz de identidade. b) o

teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) que mede a adequação da amostra para ser

aplicada à análise fatorial (HAIR et al., 2010). Valores de KMO abaixo de 0,5 são

considerados inaceitáveis; valores entre 0,5 e 0,6 são considerados medíocres, porém

aceitáveis; valores entre 0,7 e 0,8 são considerados bons; valores maiores que 0,8

são considerados ótimos e acima de 0,9 são considerados excelentes (HAIR et al.,

2010).

Na EFA Quando uma ou mais variáveis possuem cargas relevantes para mais

de uma componente (cross-loading), é necessário fazer um procedimento de rotação.

Esse procedimento realiza uma rotação eixos das componentes, com o objetivo de se

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127

ter uma solução visivelmente mais simples e mais fácil de se interpretar. A matriz

rotacionada apresenta de forma mais clara a relevância de cada variável em cada

componente (LATTIN; CARROL; GREEN, 2011).

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128

5 MODELO PROPOSTO

Neste capítulo, serão descritos os elementos necessários à estruturação do

modelo de portfólio de compras de itens hospitalares. A seção 5.1 expõe a respeito

dos decisores, gestores de compras hospitalares, que participaram da pesquisa. A

seção 5.1.1 exibe o perfil desses decisores; na sequência, a seção 5.1.2 defende a

metodologia utilizada na agregação das preferências. A seção 5.2 trata da definição

dos critérios, dimensões e classes de itens do modelo. A seção 5.2.1 apresenta os

resultados da PCA por meio da qual os critérios iniciais foram validados. A seção 5.3

explica o modelo teórico em relação a suas dimensões e classes de itens. As variáveis

latentes oriundas das componentes principais formaram as dimensões do modelo

(seção 5.3.1) e, com base nesses resultados, as classes de itens foram definidas

(seção 5.3.2).

5.1 DEFINIÇÃO DOS DECISORES

Por se tratar de uma pesquisa exploratória que visa apontar os critérios que

influenciam nas decisões de compra, neste estudo foi adotada uma abordagem

multidecisor, permitindo a contribuição de uma maior variedade de perspectivas. A

amostragem foi composta por 39 gestores de compras de hospitais particulares.

O próximo tópico expõe o perfil dos 39 respondentes que desempenham o

papel de decisores do modelo multicritério desenvolvido; na sequência, será

apresentado o método utilizado na agregação das preferências.

5.1.1 Perfil dos Decisores

A Figura 17 mostra a divisão dos respondentes por região e número de leitos

dos hospitais onde trabalham. Os hospitais são predominantemente da região

Sudeste (72% - 28 casos), seguido pelas regiões Nordeste (18% - 7 casos) e Sul (10%

- 4 casos). Hospitais de grande porte constituem maioria na amostra, sendo 17 casos

de hospitais acima de 500 leitos (43%), 12 casos de hospitais entre 151 e 500 leitos

(31%) e 10 casos de hospitais entre 51 e 150 leitos (26%). Optou-se por trabalhar na

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129

pesquisa com hospitais gerais e de grande porte, visto que a complexidade

operacional é maior, o que se reflete na necessidade de uma maior eficiência e

conhecimento do setor de compras.

Figura 17 - Representação das Regiões e Número de Leitos dos Hospitais Participantes

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Dos participantes, 74% (29 casos) são do gênero masculino e 26% (10 casos)

do gênero feminino. As Figura 18 e 19 ilustram a representatividade da amostra em

relação à formação e à capacitação dos cargos ocupados pelos compradores. 38%

dos respondentes ocupam cargos de diretoria, gerência ou coordenação de compras,

36% ocupam cargos de supervisão ou de analista de compras e 26% ocupam cargos

de comprador (Figura 19). Apenas 2 participantes possuem nível técnico/médio. Nos

cargos de direção e gerência, profissionais com pós-graduação são predominantes.

Figura 18 - Formação x Cargos Ocupados pelos Compradores

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

24

1

9

5

14

1 12

151 à 500Leitos

51 à 150Leitos

acima de500 Leitos

151 à 500Leitos

51 à 150Leitos

acima de500 Leitos

151 à 500Leitos

51 à 150Leitos

acima de500 Leitos

Nordeste Sudeste Sul

Qt.

de

Ho

spit

ais

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130

Concernente à atualização do conhecimento, 74% dos respondentes afirmam

haver participado de cursos, simpósios, feiras ou congressos anualmente,

demonstrando, assim, uma preocupação no investimento em capacitação (Figura 18).

Verifica-se que a preocupação com a capacitação está presente em todos os cargos,

embora seja maior para cargos de diretoria/gerência.

Dos 39 respondentes, aproximadamente, 70% se encontram na função há mais

de 5 anos (Figura 19), demonstrando que além de estar em funções que exercem a

tomada de decisão cotidianamente, têm muita experiência nos cargos ocupados.

Figura 19 - Capacitação X Cargos dos Compradores

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Os cargos de diretoria e gerência, além de serem ocupados, em sua maioria,

por profissionais que possuem pós-graduação, como mostrado na Figura 18, são

cargos com baixa rotatividade. Na amostra, a maioria dos ocupantes de cargos de

direção e gerência estão nessa função há mais de cinco anos (Figura 20).

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131

Figura 20 - Tempo de Experiência no Cargo

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Ao verificar, proporcionalmente, o número de respondentes de cada região em

relação à formação e à capacitação desses (Tabela 8), percebe-se que a região

Nordeste possui um quadro de gestores com elevado investimento em pós-

graduação.

Os gestores de compras das regiões Sudeste e Nordeste têm se empenhado

em atualizar seus conhecimentos anualmente, por meio de participação em cursos,

feiras, congresso (Tabela 8). Os gestores da região Sul, apesar de apresentar uma

proporção de atualizações anuais inferior às duas regiões anteriormente citadas,

possuem um bom índice de capacitação, visto que seus gestores não passam mais

do que dois anos sem participar de eventos que promovam o aperfeiçoamento e

aquisição de novos conhecimentos.

Tabela 8 - Proporção da Formação e Capacitação dos Compradores por Região

Região/n Formação Atualização

Pós-Graduados Graduados Técnico Anual Há 2 anos Nunca

Nordeste (7) 71% 29% - 72% 14% 14%

Sudeste (28) 43% 57% - 78% 14% 7%

Sul (4) 25% 25% 50% 50% 50% -

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

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132

O perfil dos respondentes sinaliza a preocupação com a qualidade dos dados

coletados. A amostra, apesar de pequena, tem uma valorosa representatividade por

ser constituída por grupos hospitalares de grande porte, reconhecidos por sua

capacidade tecnológica em medicina avançada, inclusive com alguns dos

compradores participantes, pertencentes a hospitais que sobressaem como centros

de referência internacional em cuidados da saúde; a maioria desses hospitais estão

situados no Sudeste do país. Ademais, primou-se pelo conhecimento e poder

decisório dos respondentes, priorizando aqueles que ocupem cargos de decisão na

área de compras.

5.1.2 Agregação das Preferências Multidecisor

Alguns problemas de decisão tratados na literatura são avaliados por

especialistas individualmente; outros casos tratam de tomada de decisão em grupo

(CHEN; LEE, 2006; GURTNER, 2014; HERRERA; MARTINEZ; SÁNCHEZ, 2005; LI

et al., 2018; PADHI; WAGNER; AGGARWAL, 2012).

A decisão em grupo reduz a influência de vieses individuais por utilizar de

múltiplas visões (GURTNER, 2014), tornando o julgamento mais robusto (SCALA et

al., 2016). Um dos problemas da tomada de decisão em grupo é a agregação das

avaliações, visto que, individualmente, cada especialista expressa suas preferências

de acordo com suas experiências, visão e com o contexto organizacional do qual faz

parte (HERRERA; MARTINEZ; SÁNCHEZ, 2005).

Tradicionalmente, as médias geométricas e aritméticas são utilizadas em

procedimentos de agregação multidecisor (SCALA et al., 2016). A média aritmética

foi proposta para obter a agregação dos decisores que utilizaram uma escala Fuzzy

na avaliação de suas preferências individuais (BORAN et al., 2009; CHEN, 2000;

HERRERA; MARTINEZ; SÁNCHEZ, 2005; PADHI; WAGNER; AGGARWAL, 2012). A

combinação de médias aritméticas e geométricas foi utilizada para agregar as

avaliações de decisores em um problema de adoção de tecnologias em hospitais

(GURTNER, 2014).

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133

Apesar do crescente uso da PCA para reduzir a dimensionalidade dos

critérios, um dos trabalhos que melhor esclarece as possibilidades da PCA, em

MCDA, é o estudo de Scala et al. (2016). Os autores defendem o uso da PCA para

quando se fazem necessárias a elicitação e a agregação de pesos multidecisor.

No estudo de Scala et al. (2016) é utilizado o método AHP em combinação

com PCA. Outros estudos combinaram PCA e MCDA. Liang, Liu e Li (2018)

analisaram a capacidade sustentável de pontos turísticos chineses utilizando PCA em

combinação com TOPSIS. Forghani, Sadjadi e Moghadam (2018) utilizaram PCA

combinada com Fuzzy-TOPSIS para selecionar fornecedores de suprimentos

farmacêuticos.

Nesta pesquisa a PCA foi utilizada para validar o número de critérios do

modelo, estabelecer os seus pesos, por meio das cargas oriundas do modelo

rotacionado e definir as dimensões por meio das variáveis latentes extraídas das

componentes principais.

A próxima seção trata das etapas para definição dos critérios e dimensões do

modelo proposto.

5.2 DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS, DIMENSÕES E CLASSES DE ITENS

Nesta seção, serão apresentados os resultados da PCA. Inicialmente, os testes

e resultados estatísticos serão exibidos e, na sequência, serão discutidos os critérios,

a interpretação das variáveis latentes (dimensões) e a definição das classes de itens

do modelo de portfólio de compras para itens hospitalares.

5.2.1 Validação dos Critérios via Análise de Componentes Principais

O modelo proposto visa, inicialmente, identificar os critérios que influenciam as

decisões de compras dos itens hospitalares, considerando o nível de influência de

cada critério. A identificação dos critérios permite aos gestores hospitalares entender

quais os fatores que tornam mais complexa a tomada de decisão de compra no

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134

cotidiano hospitalar, e a natureza desse fator, se é uma deficiência interna da

organização, ou causada por relações externas a estas. A clareza desses aspectos é

o ponto de partida para o desenvolvimento de estratégias contínuas para minimizar

os problemas.

Um conjunto de treze critérios, levantados na literatura (Quadro 2 – seção

2.1.3), foi submetido a uma validação estatística usando PCA. O modelo original com

treze critérios foi reespecificado diversas vezes, produzindo diferentes estruturas de

componentes principais, a partir de distintas combinações das variáveis, até se

alcançar uma melhor representação dos dados (HAIR et al., 2010).

A busca por um modelo mais parcimonioso, em que as componentes e critérios

relacionados tivessem uma interpretação teórica adequada e aplicabilidade exequível,

foram os principais aspectos considerados para escolher a solução de PCA que

melhor representasse a estrutura conceitual das variáveis (HAIR et al., 2010; LATTIN;

CARROL; GREEN, 2011).

O modelo reespecificado escolhido validou onze critérios pertencentes a três

componentes principais. Foram excluídos os critérios “tabela de preço” e “risco”. O

critério “tabela de preço” foi excluído por apresentar singularidade alta e KMO baixo.

O critério “risco” foi retirado por ser um critério que estava “perturbando” o modelo, de

modo que sua permanência causava singularidades altas em outros critérios. Alguns

testes foram realizados a fim de verificar a confiabilidade e robustez dos resultados

obtidos.

Quando se utilizam escalas ordinais em um método estatístico em que é

recomendado o uso de variáveis contínuas, deve-se tomar algumas precauções

(YUAN; JIANG; CHENG, 2017). A primeira delas é buscar trabalhar com escalas

ordinais com mais de cinco pontos, visando produzir estimativas de parâmetros com

pouco viés (YUAN; JIANG; CHENG, 2017). Em caso da utilização de escalas com

menos de cinco pontos, é recomendado que a análise seja submetida via correlação

Policórica, ao invés da correlação de Pearson (YUAN; JIANG; CHENG, 2017). Essa

medida é adequada visto que a correlação Policórica produz estimativas de

parâmetros mais precisas em escalas ordinais (YUAN; JIANG; CHENG, 2017).

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135

Neste estudo, a escala utilizada, na avaliação dos critérios, foi uma escala

Likert de sete pontos, como já afirmado na seção 4.4. Porém, como forma de imprimir

confiabilidade nos resultados apresentados, a PCA foi gerada pelo método tradicional

(correlação de Pearson) e comparada seus resultados por meio da correlação

Policórica.

O Apêndice F mostra os resultados da aplicação da PCA por correlação de

Pearson, desde o modelo original (Apêndice F – 1ª análise), até o modelo

reespecificado validado (Apêndice F – 5ª análise). O Apêndice G apresenta os

resultados da aplicação da PCA via correlação de Policórica para o modelo

reespecificado validado por correlação de Pearson. Os resultados do modelo

reespecificado validado são apresentados nas Tabelas 9,10, 11, 12, 13, 14 e 15.

A consistência interna (alpha de Crombach- α) da escala geral foi de α=0.85

para o modelo por correlação de Pearson e α=0.83 para o modelo por correlação

Policórica, confirmando uma boa consistência interna e a confiabilidade do

questionário utilizado (HAIR et al., 2010). As subescalas, analisadas por grupo de

variáveis, que compõem cada componente principal, também apresentaram valores

aceitáveis de α nos dois modelos, conforme apresentado na Tabela 9.

Tabela 9 - Alpha de Crombach Geral e por Componente Principal

Alpha Crombach (α) Pearson Policórica

Componente 1 0.850 0.863

Componente 2 0.818 0.868

Componente 3 0.651 0.817

Geral 0.848 0.829

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Com o intuito de testar os pressupostos para aplicação de análise de

componentes principais e sua validade para o conjunto de dados, foram verificados

os testes de esfericidade de Barllet e medida de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO). O teste

de esfericidade de Barllet apontou um resultado estatisticamente significante (p-valor

<0,000) e com um qui-quadrado aproximado de 182.968, indicando que a matriz de

correlação da população não é uma matriz de identidade, e, portanto, os dados são

apropriados para análise (Tabela 10).

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136

Tabela 10 - Teste de Esfericidade de Bartlett

Qui-Quadrado aproximado 182.968

Nível significância (p-value) 0.000

Graus de Liberdade 55

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A adequação da amostra foi analisada para o modelo geral e separadamente

para cada variável, conforme mostrado na Tabela 11. Com exceção da variável “PPI”

(itens de preferência médica), que apresentou um valor de 0.541 no teste de KMO, o

que é considerável aceitável em estudos exploratórios (HAIR et al., 2010); todas as

demais variáveis apresentaram valores >0.7, indicando que o conjunto de dados é

adequado para análise por componentes principais ((HAIR et al., 2010).

Tabela 11 - Índice de Adequação da Amostra (KMO) por Variável

Variáveis KMO (Pearson) KMO (Policórica)

Volume 0.786 0.777

Custo 0.753 0.677

PPI 0.541 0.458

Armazenagem 0.753 0.747

Customizar 0.708 0.581

Negociação 0.742 0.636

Conhecimento 0.752 0.743

Assistência 0.809 0.705

Reputação 0.816 0.676

Monopólio 0.786 0.789

Tempo 0.724 0.614

KMO Geral 0.756 0.675

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A Tabela 12 apresenta os autovalores de cada componente e a variância

explicada acumulada do modelo reespecificado.

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137

Tabela 12 - Matriz de Autovalor do Modelo Reespecificado

Componentes

Pearson (KMO = 0.756) Policórica (KMO = 0.675)

Autovalor Variância Explicada

Proporcional

Variância Acumulada

Autovalor Variância Explicada

Proporcional

Variância Acumulada

Comp.1 4.620 0.420 0.420 4.916 0.447 0.447

Comp.2 1.521 0.138 0.558 1.548 0.140 0.588

Comp.3 1.441 0.131 0.689 1.468 0.133 0.721

Comp.4 0.754 0.068 0.758 0.734 0.067 0.788

Comp.5 0.690 0.062 0.820 0.641 0.058 0.846

Comp.6 0.514 0.046 0.867 0.475 0.043 0.889

Comp.7 0.426 0.038 0.906 0.428 0.039 0.928

Comp.8 0.342 0.031 0.937 0.273 0.025 0.953

Comp.9 0.296 0.270 0.945 0.249 0.023 0.976

Comp.10 0.241 0.021 0.986 0.190 0.017 0.993

Comp.11 0.149 0.013 1.000 0.073 0.007 1.000

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Em ambos os casos, o critério de Kaizer indica a extração de três componentes

principais, que possuem autovalores maiores que 1 (HAIR et al., 2010). Para o modelo

via Policórica, os três componentes representam 72% da variância explicada; na

correlação de Pearson, essa variância é um pouco menor (69%), porém, em estudos

exploratórios, em especial nas Ciências Sociais, em que o fator imprecisão se torna

maior, são satisfatórios os modelos que representem 60% da variância (HAIR et al.,

2010).

O gráfico Scree foi utilizado como confirmação da quantidade de componentes

que se deveria reter. Essa abordagem visa analisar a variância explicada por cada

componente de forma gráfica. Busca-se encontrar o ponto (nº de componentes) a

partir do qual a variância explicada passa a declinar de forma mais linear, sinalizando

pouca variação. As componentes, localizadas abaixo desse ponto, podem ser

descartadas (LATTIN; CARROL; GREEN, 2011). O gráfico Scree (Figura 21) dos

dados confirmam para retenção de três componentes.

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138

Figura 21 - Gráfico Scree

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Para definir a quantidade de componentes a reter no modelo, tão importante

quanto os valores do teste de Kaizer, a projeção do gráfico Scree e a variância

explicada pelo conjunto de variáveis, é analisar se a estrutura interna das variáveis

que compõem cada componente é confiável, e, essencial para as análises

subsequentes (LATTIN; CARROL; GREEN, 2011). A análise da praticabilidade do

modelo e a sua parcimônia, constituem fatores importantes nessa decisão de manter

três componentes (HAIR et al., 2010). Apesar do modelo com quatro componentes

aumentar a variância explicada de 72% para 79% (a exemplo do resultado com a

correlação Policórica), do ponto de vista de interpretação dos resultados, esse

modelo, não apresentava parcimônia, tampouco, coerência teórica.

Os modelos não rotacionados evidenciaram similaridades na distribuição das

variáveis em cada componente, porém apresentaram cross-loading para os critérios

“Monopólio” e “Tempo”, como demonstrado na Tabela 13.

01

23

45

Eig

enva

lues

0 5 10Number

Scree plot of eigenvalues after pca

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139

Tabela 13 - Cargas das Componentes no Modelo Não Rotacionado

Variáveis Correlação Pearson Correlação Policórica

Cp.1 Cp.2 Cp.3 Cp.1 Cp.2 Cp.3

Volume 0.3056 -0.1166 -0.1143 0.3081 -0.1265 -0.1403

Custo 0.3589 -0.2787 0.1103 0.3595 -0.2718 0.0881

PPI 0.1099 0.5881 0.3205 0.1261 0.5558 0.3744

Armazenagem 0.2954 0.1368 -0.5011 0.3024 0.1570 -0.4718

Customizar 0.2675 0.1233 -0.5358 0.2551 0.1568 -0.5319

Negociação 0.3541 -0.1221 0.0329 0.3592 -0.0790 0.0636

Conhecimento 0.1997 0.5536 0.1999 0.2118 0.5154 0.2719

Assistência 0.3422 0.2262 -0.2056 0.3118 0.2835 -0.2458

Reputação 0.3624 -0.1364 0.2078 0.3643 -0.1708 0.2017

Monopólio 0.3006 0.0650 0.3779 0.3044 0.0231 0.3274

Tempo 0.3207 -0.3654 0.2539 0.3270 -0.4123 0.2013 Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Para obter uma representação mais significativa da estrutura fatorial foi

aplicada a rotação ortogonal Varimax. A escolha por esse tipo de rotação deve-se à

sua aplicabilidade quando se trata de simplificação das componentes numa matriz

fatorial, maximizando a variância das cargas quadradas de um fator (coluna) em todas

as variáveis (linhas), atribuindo mais facilmente uma variável em um único fator

comum (HAIR et al., 2010).

Após a aplicação da rotação ortogonal Varimax, os cross-loading foram

resolvidos. Os modelos via correlação de Pearson e via correlação Policórica

apresentam comportamentos semelhantes para a distribuição das variáveis em cada

componente, conforme apresentado na Tabela 14.

As cargas dos critérios no modelo rotacionado por correlação de Pearson,

apresentados na Tabela 14, serão utilizadas para estabelecer os pesos agregados

dos decisores no modelo multicriterial.

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Tabela 14 - Cargas das Componentes no Modelo Rotacionado

Variáveis Correlação Pearson Correlação Policórica

Cp.1 Cp.2 Cp.3 Cp.1 Cp.2 Cp.3

Volume 0.2505 0.2299 -0.0669 0.2592 0.2373 -0.0843

Custo 0.4558 0.0388 -0.0967 0.4519 0.0409 -0.0708

PPI -0.0470 -0.0642 0.6741 -0.0496 -0.0591 0.6775

Armazenagem -0.0265 0.5968 -0.0157 -0.0024 0.5814 -0.0251

Customizar -0.0567 0.6068 -0.0497 -0.0605 0.6034 -0.0696

Negociação 0.3508 0.1353 0.0042 0.3464 0.1185 0.0728

Conhecimento -0.0082 0.0738 0.6171 0.0033 0.0553 0.6176

Assistência 0.0895 0.4031 0.2000 0.0197 0.4467 0.1952

Reputação 0.4340 -0.0053 0.0686 0.4442 -0.0154 0.0703

Monopólio 0.3627 -0.1297 0.2983 0.3429 -0.0880 0.2740

Tempo 0.5218 -0.1183 -0.1207 0.5359 -0.1083 -0.1365

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A Tabela 15 apresenta a singularidade de cada variável, ou seja, a parte da sua

variância não explicada pelos componentes, que não deve ser maior que 0.4. Apesar

da variável “Volume” haver apresentado uma carga baixa para componente 1

(Pearson:0.250; Policórica:0.259) e Singularidade alta (Pearson:0.529;

Policórica:0.479), por questões de importância teórica dessa variável para a

problemática de critérios influenciadores de compras hospitalares, decidiu-se manter

a mesma no modelo. (KARSAK; DURSUN, 2015; MEDEIROS; FERREIRA, 2018;

NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

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Tabela 15 - Singularidades das Variáveis

Variáveis Singularidade

(Pearson) Singularidade

(Policórica)

Volume .529 .479

Custo .269 .239

PPI .270 .238

Armazenagem .206 .185

Customizar .232 .226

Negociação .396 .350

Conhecimento .291 .259

Assistência .320 .309

Reputação .302 .243

Monopólio .370 .386

Tempo .229 .151 Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Demonstrado a robustez dos resultados da PCA, visto que são semelhantes,

tanto via correlação de Pearson, quanto via correlação Policórica, a próxima seção

discute os resultados. Para fins de análise da solução, serão considerados, a partir

desse ponto, os resultados obtidos na PCA por correlação de Pearson, por uma

questão de melhor interpretabilidade.

5.3 O MODELO TÉORICO DE PORTFÓLIO DE COMPRAS HOSPITALARES

Essa seção visa descrever teoricamente os quadrantes (dimensões) do modelo

proposto, a partir da análise dos critérios a esses relacionados (seção 5.3.1), bem

como, discriminar as fronteiras entre as classes de itens propostas (seção 5.3.2).

5.3.1 Interpretação das Dimensões e Critérios do Modelo

Os constructos indicados para definir as dimensões do modelo proposto são

resultantes da análise das variáveis latentes (componentes principais) e critérios a

essas relacionadas. O Quadro 13 apresenta o constructo associado a cada dimensão,

sua descrição e os critérios agrupados. Na sequência, esses serão discutidos.

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Quadro 13 - Dimensões do Modelo de Portfólio de Compras Hospitalares

Dimensões/Constructos Descrição Critérios

D1- Parâmetros Universais de Compras

A dimensão reúne critérios inerentes as premissas básicas de compras, independente do tipo de organização que esteja comprando, seja essa hospitalar ou não.

Tempo; custo; reputação; monopólio;

negociação e volume.

D2- Dependência no Fornecimento

A dimensão é formada por critérios que evidenciam a dependência do hospital com seus fornecedores.

Customização; armazenagem e

assistência.

D3- Assimetria de Conhecimento

A dimensão é caracterizada por critérios que revelam a discrepância de conhecimento entre os gestores de compras e a área médica, contribuindo com a preferência por determinadas marcas de itens.

Preferência médica e conhecimento.

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A primeira componente (D1) agrupou seis critérios: C1 -“tempo” (Lead-time do

fornecedor), C2- “custo” (custo do item comprado), C3- “reputação” (reputação do

fornecedor), C4- “monopólio” (nº de fornecedores disponíveis), C5-“negociação”

(habilidade de negociação do comprador) e C6- “volume” (quantidade comprada).

Percebe-se que, apesar de o estudo buscar identificar os critérios influenciadores para

um modelo de portfólio de compras de itens hospitalares, os critérios pertencentes à

1ª componente são critérios universais, ou seja, do ponto de vista de decisão de

compra, independentes da natureza da instituição onde trabalham, os compradores

consideram estes critérios como premissas em suas decisões.

O custo do item comprado é um critério crucial na decisão de compra,

impactando diretamente na economia da empresa. No caso dos hospitais, o custo do

item tem uma particularidade: o médico (prestador de serviço) é quem gera a

demanda para a compra do item, porém o impacto financeiro do custo da compra é,

inicialmente, do hospital, que, por sua vez, transfere esse custo para operadoras de

planos de saúde, para o SUS ou para usuários particulares, gerando um conflito de

interesses.

O tempo que o fornecedor demora para entregar a mercadoria influencia,

muitas vezes, até mais que o custo, dependendo da urgência na aquisição de um item

no hospital. A reputação do fornecedor é analisada pelos compradores a fim de avaliar

seu histórico e selecionar aqueles considerados confiáveis. O número de

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143

fornecedores disponíveis dita a lei da oferta e da demanda, sendo um fator relevante

a se considerar.

A habilidade de negociação do comprador influencia em melhores condições

de compras e prazos de pagamento para os hospitais. Em situação de itens com

preços não regidos por tabelas fixas, como é o caso de stents coronários, a habilidade

de negociação do comprador é a principal responsável por conseguir melhores preços

de compra (GRENNAN, 2014).

O volume comprado tem relação direta com a economia de escala, sendo um

critério que influencia as decisões de compra. Assim, a variável latente, oriunda da

primeira componente, é interpretada como a dimensão “parâmetros universais de

compras” (D1).

Entre os critérios que compõem a dimensão “parâmetros universais de

compras” (D1), o tempo mostrou-se ser o critério que mais contribuiu na formação

dessa 1ª componente (0.52). Isso pode ser explicado por dois motivos: (1) os

hospitais, em geral, destinam pouco espaço físico para armazenagem, visto que a sua

prioridade é aumentar o número de leitos para atendimento, por consequência,

precisa-se de fornecedores que tenham lead-time menores e maior frequência de

entrega; esse é um critério importante na decisão de compra; (2) a urgência por

determinados materiais, em especial os de alto custo e de demanda ocasional, porém,

nem todo item se mantém estoque, em função de demandas não-previsíveis. Nesses

casos, o lead-time de fornecimento também é um fator decisivo nas compras de itens

hospitalares, dado que a ruptura de estoque de determinados itens, podem gerar

sequelas e até risco de vida em pacientes (MEDEIROS; FERREIRA, 2018).

A segunda componente (D2) agrupou três critérios: C7- “customização”

(necessidade de customização do item para atendimento de demanda específica),

C8- “armazenagem” (espaço insuficiente ou inadequado do hospital para

armazenagem de itens) e C9- “assistência” (necessidade de assistência do

fornecedor). Os critérios agrupados na segunda componente tem em comum o papel

do fornecedor como provedor de soluções, o que gera uma dependência do hospital

a este ator da cadeia de suprimentos hospitalar. Assim, a variável latente, oriunda da

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144

segunda componente, é interpretada como a dimensão “dependência no

fornecimento” (D2).

Dados do Ministério da Saúde do Brasil apontam que as multinacionais

representam 10% das empresas que dominam o fornecimento de OPME. As

empresas nacionais, apesar de numerosas (90%), são constituídas por empresas

de pequeno e médio porte. Apesar do grande número de fabricantes e distribuidores

desses itens (3.600), a variedade de produtos faz com que, em vários segmentos,

apresente situações de monopólio ou oligopólio, tornando a dependência do

hospital em relação aos fornecedores um fator crítico (BRASIL, 2015b).

A customização de itens é uma realidade que atinge, em especial, os itens

de OPME. Pacientes que perderam a função parcial ou total de um órgão,

decorrente de uma doença ou acidente, em geral, necessitam de uma reconstrução

desses órgãos por meio de implante de órteses ou próteses. As órteses e próteses

devem ser adaptadas em função de várias características, tais como: peso, altura,

idade, necessidades do paciente (se é um atleta, por exemplo, ou criança em fase

de crescimento), área a ser coberta pelo implante e se necessita de fármacos ou

microeletrônicos embarcados em sua fabricação (BRASIL, 2015b). Essas

condições têm implicações no material utilizado na sua fabricação, nas

características mecânicas e estruturais do material, e nos métodos empregados em

sua fabricação (BURNS et al., 2018; JARDINI et al., 2014).

Nos últimos anos, novas tecnologias foram surgindo possibilitando órteses e

próteses mais leves, seguras e duráveis, como, por exemplo, a manufatura aditiva

ou prototipagem rápida que, associadas a outras técnicas, como, tomografia

computadorizada e ressonância magnética, consegue reproduzir peças adaptadas

à necessidade de cada paciente (JARDINI et al., 2014). Casos em que a

especificidade e criticidade do paciente é maior, um número menor de fornecedores

estão aptos a atender, tornando a dependência do hospital maior em relação a estes

(GOBBI; HSUAN, 2015).

A assistência prestada pelo fornecedor aos hospitais é vinculada, na maioria

dos casos, a instrumentais e equipamentos utilizados nas colocações de

dispositivos implantáveis, fornecidos em regime de comodato (MONTGOMERY;

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SCHNELLER, 2007). Cabe aos fornecedores disponibilizar os instrumentais

necessários à implantação do item de OPME, como também os profissionais

especializados na organização e manutenção dos equipamentos e de laudos

médicos, caso sejam necessários (BRASIL, 2015b).

A assistência de fornecedores junto à equipe médica, apesar de necessária

em alguns casos, também é motivo de preocupação em função dos custos que

incorrem nessas operações (BRASIL, 2015b). No manual de boas práticas em

OPME, desenvolvido pelo grupo de trabalho GTI-OPME, foi proposto que, na

aquisição desse tipo de item, seja apresentado, além da requisição, um termo de

referência que atenda a todos os requisitos da aquisição. O mesmo deve ser

elaborado por servidor com qualificação profissional compatível às especificidades

do item comprado e avaliado por uma comissão técnica interdisciplinar, como forma

de garantir um maior controle (BRASIL, 2015b).

A armazenagem de itens tem sido um dos custos que os hospitais têm

repassado aos fornecedores, como forma de reduzir os custos e despesas,

otimizando o espaço físico hospitalar em troca do fornecimento “just in time”

(BUDGETT; GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; KRITCHANCHAI;

MEESAMUT, 2015; MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

Entre os 70.000 diferentes itens cadastrados nos hospitais pertencentes à

ANAHP, cerca de 63.000 desses itens são não estocáveis, cabendo aos fornecedores

um controle sob armazenagem e fornecimento destes (ANAHP, 2018). A

dependência, nesses casos, se apresenta, quando se trata de um item com poucos

fornecedores/distribuidores, em que a localização geográfica interfere no custo do

item, ou mesmo o lead-time de entrega (CHEN; PRESTON; XIA, 2013).

A terceira componente (D3) agrupou dois critérios: C10- “preferência médica”

(preferência médica por determinada marca/modelo de item) e C11- “conhecimento”

(ausência de conhecimento clínico/técnico do comprador, que o incapacita a decidir

sobre a compra de determinado item). Os critérios agrupados, nessa componente,

dizem respeito a uma problemática oriunda do conflito de agência (JENSEN;

MECKLING, 1976; MOLINER, 2009; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015). Assim, a

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variável latente, oriunda da terceira componente, é interpretada como a dimensão

“assimetria de conhecimento” (D3).

A assimetria de conhecimento termina por reduzir a racionalidade de compra

do hospital, deixando a critério do médico a decisão do item a ser comprado. Como o

médico não tem interesses comuns com os do hospital, a gestão da compra termina

fragilizada (NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015).

Além da assimetria de conhecimento, a assimetria de informação é um fator

dificultador. Nem toda informação está disponível, e alguns fornecedores e médicos

têm privilégios de informação em relação aos demais colaboradores (STEINLE;

SCHIELE; ERNST, 2014).

Para Teoria da Agência a assimetria de informação é uma realidade intrínseca

da relação agente/principal, aqui representada pelo gestor de compras hospital

(principal) e médico (agente). Nesse contexto, os agentes podem se utilizar de

informações diferenciadas e do poder de conhecimento, a seu favor, onerando custos

a outra parte (SATO, 2007).

Para reduzir a assimetria de informação, além de um maior envolvimento e

compartilhamento de conhecimento entre as partes, é necessário também garantir

que incentivos diferentes não sejam oferecidos para médicos e compradores, de modo

a expor esses ao oportunismo de fornecedores (ABDULSALAM et al., 2015).

Como no mercado de OPME não existe preço tabelado para a maioria dos

itens, a negociação do preço é realizada caso a caso, podendo um mesmo item sofrer

diferenças de preços abusivas (BRASIL, 2015b). As atas de registros de preço e o

banco de preços em saúde (BPS) são algumas medidas que o Ministério da Saúde

do Brasil tem implementado visando a melhoria da transparência no processo de

compras (BRASIL, 2016, 2015). O objetivo central das atas e do BPS é tornar público

os preços, efetivamente praticados, de itens da saúde e, com isso, reduzir a incidência

de preços abusivos operados nesse mercado (BRASIL, 2015b)

Essa questão revela um importante ponto a ser tratado na cadeia de valor em

saúde: o envolvimento do médico nas decisões gerenciais, não de forma isolada, mas

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147

pensando conjuntamente em função dos objetivos organizacionais do hospital e

melhoria do serviço prestado, reduzindo os conflitos de agência (ABDULSALAM et al.,

2015; VECINA NETO; MALIK, 2007). O médico deve ser um aliado do hospital na

busca de uma melhor gestão de compras e seu conhecimento utilizado a favor desse

propósito. Essa realidade pode ser conquistada por meio de mecanismos que

reforcem a integração médico-hospitalar (ABDULSALAM et al., 2015), como por

exemplo, os comitês de equivalência (HOEKSEMA, 2010; MONTGOMERY;

SCHNELLER, 2007).

Resumindo os pontos apresentados nessa sessão, a Figura 22 ilustra o modelo

obtido para classificação de itens de compras hospitalares, composto pelas

dimensões: D1- “parâmetros universais de compra”, D2- “dependência no

fornecimento” e D3- “assimetria de conhecimento”. Cada dimensão tem seus critérios

associados e a carga de contribuição desse critério, para formação da componente a

ele relacionada.

Figura 22 - Dimensões e Critérios Influenciadores do Modelo de Portfólio de Compras Hospitalares

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

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5.3.2 Classes de Itens de Compras Hospitalares

O cruzamento das análises das três dimensões do modelo permite a

proposição de cinco perfis de classes de itens, baseadas nas atribuições que cada

item recebe nos critérios que compõem o modelo, conforme descrito no Quadro 14.

Quadro 14 - Perfil das Classes de Itens Hospitalares

Classes Característica

Crítico

Classe formada por itens que incorporam, simultaneamente, as características das categorias “gargalos” e “estratégicos”, ou seja, que recebem, concomitantemente, uma maior influência dos critérios relacionados às dimensões “dependência no fornecimento” e “assimetria de conhecimento”.

Estratégico

Classe formada por itens avaliados com alta influência em relação aos critérios da dimensão “assimetria de conhecimento”, ou seja, com preferência médica por determinadas marcas/modelos e conhecimento técnico/clínico insuficiente da equipe de compras, para selecionar o melhor produto em relação ao custo/benefício.

Gargalo

Classe formada por itens avaliados com alta influência em relação aos critérios da dimensão “dependência no fornecimento”, ou seja, com dependência do mercado de fornecimento, devido à necessidade de customização do item, a assistência do fornecedor durante o procedimento clínico ou a armazenagem do item ser de responsabilidade do fornecedor.

Alavancagem

Classe formada por itens avaliados com alta influência em relação aos critérios da dimensão parâmetros universais de compras, porém com baixa influência nos critérios das demais dimensões.

Não-Crítico

Classe formada por itens avaliados com baixa influência em todas as dimensões do modelo, tendo o processo de aquisição simplificado e sobre o domínio da gestão de compras.

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A divisão das classes de itens se dá em função da criticidade na gestão de

compras desses itens; assim, os itens considerados “críticos” são aqueles que sofrem,

concomitantemente, uma maior influência dos critérios relacionados às dimensões

“dependência no fornecimento” e “assimetria de conhecimento”. A categoria de itens

críticos incorpora, simultaneamente, as características das categorias “gargalos” e

“estratégicos”.

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Nesse estágio o hospital tem por opção, tratar separadamente das condições

que o tornam o item estratégico, minimizando as questões relacionadas aos conflitos

de agência, de modo a possibilitar o deslocamento desse item para categoria gargalo.

Pode optar ainda por trabalhar inicialmente de melhorar as condições de

fornecimento, por meio de alianças com fornecedores e busca por fornecedores

alternativos, redirecionando esse item para classe estratégico, ou mesmo, trabalhar

mutuamente nas duas frentes.

Uma segunda classe de itens, denominada de “estratégico” reúne itens que

sofrem influência da “assimetria de conhecimento”, ou seja, são itens em que a equipe

de compras não tem conhecimento técnico/clínico suficiente para decidir o melhor item

a ser comprado e/ou itens que cuja preferência médica interfere na decisão de

compra. Esses itens são tidos como estratégico visto que sua condição de

complexidade (disseminação do conhecimento) pode ser resolvida internamente no

hospital, refletindo em reduções de custos substanciais para o hospital.

A classe de itens “gargalo”, refere-se a itens em que o hospital tem alta

dependência dos fornecedores desses itens, seja por necessidade de assistência do

fornecedor durante o procedimento clínico, ou por necessidade de customização do

item para atendimento de demanda específica ou ainda, pelo fato de a armazenagem

desse item ser de responsabilidade do fornecedor.

A classe de itens “alavancagem” é composta por itens que têm uma condição

de compra livre de “dependência no fornecimento” e de “assimetria de conhecimento”,

porém, são itens que requerem uma maior cautela em relação aos critérios da

dimensão parâmetros universais de compra, pois sofrem influência alta desses.

Por fim, a classe de itens “não-crítico” é composta por itens em que o processo

de compra é controlado, pois não há uma interferência alta dos critérios do modelo,

sendo seu gerenciamento mais estável.

A Figura 23 ilustra as classes de itens do modelo de portfólio de compras de

itens hospitalares.

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Figura 23 - Modelo de Portfólio de Compras Hospitalar: Classificação dos Itens

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

O modelo proposto permite identificar os itens hospitalares mais suscetíveis à

dependência junto a fornecedores ou que sofrem interferência no seu processo de

compras devido a uma má disseminação do conhecimento, além dos itens que têm

seu processo de compra mais estabilizado, sendo influenciados, apenas, por

parâmetros universais de compra.

A classificação não é definitiva; pelo contrário, ela é um diagnóstico que serve

para alertar o hospital das ações que precisam ser levadas a efeito, visando melhorar

a condição da gestão e compras, e, consequentemente, migrar os itens para

categorias menos críticas.

A próxima etapa deste estudo será a validação prática desse modelo, por meio

de sua aplicação em uma amostra de itens de compras hospitalares, e a discussão

de sua relevância empírica. Para classificação dos itens hospitalares será aplicado o

método Fuzzy-TOPSIS (CHEN, 2000), por se tratar de um método multicritério já

reconhecido para lidar com a problemática de classificação (CHEN; LIN; HUANG,

2006; FERREIRA et al., 2018; MEDEIROS; FERREIRA, 2018). Após a validação

prática, uma etapa de análise de sensibilidade será realizada para verificar a robustez

do modelo.

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151

6 APLICAÇÃO E VALIDAÇÃO DO MODELO PROPOSTO

Este capítulo trata de explicar a aplicação e validação do modelo de portfólio

de compras para itens hospitalares. O modelo foi validado por meio de modelagem

multicriterial. Para a resolução da problemática que trata esta tese (problemática de

classificação), será aplicado o método Fuzzy-TOPSIS em uma amostra de itens de

compras hospitalares, indicados e avaliados por gestores de compras de um hospital

geral particular.

A resolução de um problema, baseado em modelagem multicriterial, deve

obedecer a uma sequência de etapas, conforme explicado na seção 3.1 e ilustrado na

Figura 13 da mesma seção. Este capítulo expõe essas etapas e é composto por três

seções: a seção 6.1 faz uma breve descrição do hospital onde a aplicação do modelo

foi realizada. A seção 6.2 apresenta a estruturação do problema de decisão. A seção

6.3 procede a uma análise de sensibilidade com a finalidade de avaliar a robustez do

modelo.

6.1 CONTEXTO DE APLICAÇÃO

A escolha do hospital, para se aplicar o modelo, foi baseada em alguns critérios:

a) o hospital deveria ter participado da primeira etapa da pesquisa (validação dos

critérios); b) acessibilidade aos dados: o hospital deveria autorizar ao gestor de

compras, repassar as informações necessárias para a pesquisa; c) localização

geográfica do hospital. A modelagem multicriterial exige um conhecimento mais

aprofundado do contexto, sendo necessária a realização de entrevistas com os

decisores. Desse modo, a localização do hospital na região Nordeste era um fator

determinante para tornar viável, financeiramente, a coleta dos dados.

O hospital escolhido, para participar da etapa de aplicação do modelo, é um

Hospital geral de grande porte, localizado na região Nordeste do Brasil, no estado do

Rio Grande do Norte. O hospital atende às mais diversas áreas médicas, sendo

referência nas áreas de ortopedia, cardiologia, neurologia, clínica médica e

intensivista. O atendimento no hospital se dá por meio particular ou plano de saúde,

sendo este último, responsável por mais de 70% da receita do hospital.

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152

Desde 2013, o hospital é certificado pelo selo NBR ISO 9001:2008. A

certificação abrange todos os processos que envolvem a prestação de serviço de

saúde ao paciente. Além disso, dispõe de um núcleo de estudos sobre a segurança

do paciente. Esse núcleo é formado por uma equipe multiprofissional cujo objetivo é

promover a melhoria contínua do serviço prestado pelo hospital a seus pacientes,

focando na segurança e bem-estar destes.

O setor de compras do hospital é composto por oito profissionais, divididos em

duas equipes em função do tipo de material, complexidade da compra e custo. Uma

equipe de cinco funcionários é responsável pela compra dos materiais do tipo OPME

(órteses, próteses e materiais especiais). Os demais materiais (medicamentos,

material de hotelaria, nutrição e material administrativo) são comprados por uma

equipe de três funcionários.

O hospital não trabalha com um método de classificação para todos os itens

comprados. Para os itens da área clínica a curva ABC é utilizada, apenas, para

medicamentos, sendo analisados: o valor total em estoque, prazos de validade e

acurácia de estoque.

O processo operacional de compras ocorre de forma diferente, dependendo do

tipo de item comprado. Itens de OPME são comprados em regime de consignação e

sob demanda. Para esses itens, o hospital não possui um sistema de comparativo

orçamentário, inviabilizando a análise de preço em vários fornecedores

concomitantemente.

A informação de preço de compra é realizada mediante pedido de orçamento

aos fornecedores. Porém, quando se trata de itens de OPME, alguns planos de saúde

têm, como prática, ser responsabilizar pela cotação e a compra do item. Nesses

casos, o setor de compras do hospital repassa ao plano de saúde a informação do

paciente e os itens de OPME solicitados para a realização do procedimento, o plano

cota, compra e o fornecedor entrega no hospital.

Mesmo quando o item de OPME é cotado diretamente pelo hospital, o fato de

não se ter um portal de compras para esse tipo de item, aliado ao fato de que essas

ocorrem com um lead-time pequeno em relação ao prazo para realização do

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153

procedimento, faz com que os números de cotações sejam reduzidos, em relação ao

universo de fornecedores disponíveis.

Já os demais itens (medicamentos, dispositivos médicos implantáveis (DMI),

descartáveis de uso clínico, etc.) são comprados por meio do Portal BIOnexo®. A

BIOnexo® é uma plataforma privada especializada na cadeia de suprimentos da

saúde, interligando compradores e fornecedores dos mais diferentes produtos desse

setor (descartáveis, materiais médicos, medicamentos, OPME, EPI, etc.). A adesão a

esta plataforma se dá em módulos, ficando a cargo dos operadores (hospitais, planos

de saúde, fornecedores), comprar os módulos que desejam para sua organização.

Assim, um hospital pode ter acesso ao módulo de compras de medicamentos, mas

não ao módulo de OPME, como é o caso do hospital aqui tratado.

Ao contrário do que ocorre com o OPME, o uso do portal, para compras de

medicamentos e materiais médico/hospitalares, torna possível estabelecer um

comparativo entre as informações disponibilizadas pelos fornecedores, tais como:

quantidade em estoque, preço de venda, prazos de entrega, data de fabricação e

validade, situação do alvará de funcionamento, farmacêutico responsável e situação

da documentação do mesmo, entre outros. Além desses dados, é possível cadastrar

e também consultar reclamações e outras informações complementares acerca da

experiência de compra. O portal permite ainda o contato direto com o fornecedor para

uma negociação de valores e prazos de pagamento. O que ficar acordado no contato

entre comprador e fornecedor, é registrado no portal.

A próxima seção abordará a estruturação do problema de decisão para validar

o modelo desenvolvido.

6.2 ESTRUTURAÇÃO E RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE DECISÃO

Nesta tese, a estruturação do problema de decisão obedecerá às etapas

propostas por Chen, Lin e Huang (2006), quando da utilização do método Fuzzy-

TOPSIS. Essas etapas constam no Apêndice B; os próximos pontos, apresentarão os

resultados do método Fuzzy-TOPSIS nos dados coletados.

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1ª Etapa: Definição dos decisores, composição das alternativas e escalas de

avaliação.

Dois gestores de compras do hospital fizeram o papel de decisores no modelo

multicriterial: o gestor de compras responsável pela aquisição de materiais e

medicamentos (MAT/MED) e o gestor responsável pela aquisição de OPME. A cada

um desses gestores foi atribuída a função de indicar uma amostra de seis itens

(alternativas) para ser avaliada mediante os critérios do modelo (Figura 22 – seção

5.3.1), totalizando doze alternativas.

Foi solicitado aos gestores que indicassem itens de compras que possuíssem

diferentes níveis de influência em cada um dos critérios do modelo. O Quadro 15

mostra uma breve definição dos itens escolhidos, enquanto a Figura 24 ilustra a árvore

de decisão da problemática aqui exposta.

Quadro 15 - Amostra de Itens de Compra Hospitalares

Alternativa Item Definição

A1 Sonda endotraqueal 7,5 mm Utilizada em procedimentos de entubação de pacientes.

A2 Imunoglobulina humana 5mg Utilizado em pacientes com baixa imunidade

A3 Equipo para bomba de infusão

enteral

Utilizado em procedimentos de dieta enteral. O equipo faz o transporte da dieta enteral do frasco para a sonda do paciente, controlando volumes e quantidade pela bomba de infusão.

A4 Kit de cateterização arterial Utilizado em procedimento de acesso venoso central em pacientes debilitados ou que já não se consegue acesso nas veias.

A5 Tazobactan + Cefetilozano 1,5

mg Potente antimicrobiano da classe das penicilinas

A6 BERIPLEX 500ui ampola Potente anti-hemorrágico utilizado em hemorragias crônicas.

A7 ACL Tightrope Utilizado em cirurgia de ligamento de joelho, em que é utilizada a técnica Tightrope.

A8 Prótese customizada de calota

craniana Utilizada em cirurgia de reconstituição de crânio, em situações de traumas cranioencefálicos.

A9 Tesoura ultrassônica Utilizada em cirurgias gerais e laparoscópica. São itens não reutilizáveis.

A10 Kit canulas para rizotomia Utilizadas em tratamento de dor crônica de coluna cervical e lombar.

A11 Kit ureterorreno rígida Utilizados em procedimentos para retirada ou fragmentação de cálculos renais.

A12 Prótese cardiáca mitral

biológica Utilizadas em cirurgias cardíacas em que existe a necessidade de substituição da válvula mitral.

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

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Figura 24 - Árvore de Decisão da Problemática

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Os critérios do modelo foram definidos utilizando a PCA, e as cargas de cada

critério correspondem aos pesos que esses representam em cada componente

principal (FORGHANI; SADJADI; MOGHADAM, 2018; LATTIN; CARROL; GREEN,

2011), conforme explicado nas seções 4.6 e 5.2.

Os termos linguísticos, utilizados na escala de avaliação dos critérios e

alternativas, foram expressos por meio de funções de pertinência trapezoidais. A

utilização de números fuzzy trapezoidais é indicada para capturar a incerteza e a

imprecisão das avaliações linguísticas (CHEN; LIN; HUANG, 2006; SHIRAZ;

ŞENGÜL; EREN, 2014). O Apêndice A deste estudo contém as definições básicas

dos conjuntos fuzzy.

A Tabela 16 apresenta os termos linguísticos e os números fuzzy trapezoidais

a estes associados, usados na ponderação da importância relativa dos critérios do

modelo e na avaliação do desempenho das alternativas (itens de compra).

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Tabela 16 - Termos Linguísticos e Números Fuzzy Trapezoidais Associados

Termos Linguísticos Sigla Número Fuzzy

Influência nula IN (0,0; 0,0; 0,10; 0,20)

Influência baixíssima IBX (0,05; 0,15; 0,15; 0,20)

Influência baixa IB (0,20; 0,30; 0,40; 0,50)

Influência moderada IM (0,40; 0,50; 0,50; 0,60)

Influência alta IA (0,50; 0,60; 0,70; 0,80)

Influência altíssima IMA (0,70; 0,80, 0,80; 0,90)

Influência extrema IE (0,80; 0,90; 1,00; 1,00)

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

As cargas dos critérios, oriundas da PCA, foram submetidas a um procedimento

de normalização pelo valor máximo. A escolha por esse procedimento deve-se ao fato

de que esse tipo de normalização indica a distância dos demais critérios, em relação

ao critério líder, sendo mantida a proporcionalidade (ALMEIDA, 2013).

Os valores normalizados foram submetidos a uma etapa de fuzzyficação

utilizando uma função de pertinência fuzzy trapezoidal (6) (CHEN; LIN; HUANG, 2006;

KAUFMANN, A.; GUPTA, 1991). A função de pertinência indica o nível de pertinência

de um valor a um determinado conjunto fuzzy. Um número fuzzy trapezoidal �� pode

ser definido como �� = (𝑛1, 𝑛2, 𝑛3, 𝑛4), conforme a função de pertinência 𝜇��(𝑥):

(6)

A Tabela 17 apresenta:

(I*) - Os valores iniciais das cargas dos critérios obtidos na PCA via correlação de

Pearson (Tabela 14 – seção 5.2.1).

(II*) - Esses valores foram submetidos ao procedimento de normalização pelo máximo,

conforme descrito no capítulo 3.

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(III*) - Após normalizados, foi avaliado o nível de pertinência utilizando a função de

pertinência 𝜇��(𝑥) (6).

(IV*) - Por fim, correlacionados aos números fuzzy trapezoidais correspondentes e os

termos linguísticos associados (Tabela 16).

Tabela 17 - Fuzzificação dos Pesos do Critérios I* II* III* IV*

C1 0,52 0,78 IA 0,50 0,60 0,70 0,80

C2 0,45 0,67 IA 0,50 0,60 0,70 0,80

C3 0,43 0,64 IA 0,50 0,60 0,70 0,80

C4 0,36 0,54 IM 0,40 0,50 0,50 0,60

C5 0,35 0,52 IM 0,40 0,50 0,50 0,60

C6 0,25 0,37 IB 0,20 0,30 0,40 0,50

C7 0,61 0,91 IE 0,80 0,90 1,00 1,00

C8 0,60 0,90 IE 0,80 0,90 1,00 1,00

C9 0,40 0,60 IA 0,50 0,60 0,70 0,80

C10 0,67 1,00 IE 0,80 0,90 1,00 1,00

C11 0,62 0,93 IE 0,80 0,90 1,00 1,00

I* Cargas da PCA

II* Valores Normalizados

III* Termos Linguísticos Associados

IV* Números Fuzzy Associados Fonte: Dados da pesquisa,2019

Etapa 2: Agregar os valores linguísticos de cada um dos decisores, em relação

à ponderação dos critérios j e alternativas i.

Definidos critérios, decisores, alternativas e as escalas de avaliação do

problema de decisão, a próxima etapa consiste em agregar os valores linguísticos de

cada um dos decisores, em relação à ponderação dos critérios j e alternativas i,

conforme a matriz de decisão apresentada na Tabela 18.

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Tabela 18 - Matriz de Decisão

D1 D2 D3

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11

A1 IA IB IMA IB IMA IA IN IN IN IB IB

A2 IMA IM IE IE IMA IB IBS IA IN IN IN

A3 IMA IBS IE IE IBS IE IE IM IA IN IN

A4 IBS IB IE IE IE IB IN IB IE IE IM

A5 IN IMA IE IE IN IN IN IE IN IE IMA

A6 IB IE IA IE IA IM IN IA IN IB IB

A7 IBS IE IE IE IA IN IN IE IMA IE IM

A8 IE IE IMA IMA IM IN IE IE IMA IA IE

A9 IN IA IA IA IA IMA IB IB IBS IA IBS

A10 IBS IBS IM IM IA IB IM IA IMA IM IM

A11 IN IB IB IA IA IE IBS IM IMA IMA IA

A12 IBS IE IE IE IA IBS IA IE IA IA IA

Ꞷ IA IA IA IM IM IB IE IE IA IE IE Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Etapa 3: Obtenção da Matriz de Decisão Fuzzy (��)

Os valores linguísticos, apresentados na Tabela 18, foram associados a

números fuzzy trapezoidais, conforme Tabela 16, formando a matriz de decisão fuzzy

(��), apresentada na Tabela 19.

Etapa 4: Obtenção da Matriz de Decisão Fuzzy Normalizada e Ponderada

Como a escala utilizada foi a mesma para a avaliação de todas as alternativas

e critérios, não se fez necessário usar um procedimento de normalização. A Tabela

20 apresenta a matriz de decisão fuzzy ponderada.

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Tabela 19 - Matriz de Decisão Fuzzy (��)

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

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Tabela 20 - Matriz de Decisão Fuzzy Ponderada

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

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Etapa 5: Determinar a solução ideal positiva fuzzy (FPIS) e a solução ideal

negativa fuzzy (FNIS) (Tabela 21).

Tabela 21 - Solução Ideal Positiva (FPIS) e Ideal Negativa (FNIS)

Fonte: dados da pesquisa, 2019

Etapa 6: Calcular a distância di* de cada alternativa em relação à FPIS e à

distância di- de cada alternativa em relação a FNIS (Tabela 22).

Tabela 22 - Distância di* e di

- das Alternativas

Fonte: dados da pesquisa, 2019

C6

FPIS (A*) 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,50

FNIS (A-) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,03 0,03 0,03 0,10 0,10 0,10 0,10 0,08 0,08 0,08 0,08 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

FPIS (A*) 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,80 0,80 0,80 0,80 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

FNIS (A-) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

C1 C2 C3

D2 - Dependência no Fornecimento D3 - Assimetria de Conhecimento

C7 C8 C9 C10 C11

C5C4

D1 - Parâmetros Universais de Compra

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Etapa 7: Calcular o coeficiente de proximidade (CCi) de cada alternativa.

Nessa etapa, após o cálculo do CCi para cada alternativa, a regra de decisão

(Tabela 2 - seção 4.2), foi executada, permitindo a classificação parcial dos itens em

cada dimensão, conforme mostrado na Tabela 23.

Etapa 8: Ordenar as alternativas de forma decrescente pelo CCi.

A ordenação das alternativas de forma decrescente, baseada no CCi

encontrado, faz sentido quando se busca uma ordenação ou ranking, das alternativas.

No estudo em questão, a problemática tratada é de classificação multidimensional.

Nesse caso, as alternativas foram submetidas à regra de decisão (Tabela 3 - seção

4.2), para classificação final das mesmas nas categorias de itens do modelo de

portfólio de compras hospitalares: não-crítico, alavancagem, gargalo, estratégico e

crítico, conforme mostrado na Tabela 24.

A Figura 25 ilustra a representação gráfica da classificação dos itens. O

primeiro quadrante mostra a classificação geral nas três dimensões do modelo. Por

se tratar de um modelo tridimensional, para uma melhor visão de perspectiva das

classificações, os demais quadrantes correspondem a classificação dos itens por

pares de dimensões.

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Tabela 23 - Cálculo do CCi e Classificação Parcial das Alternativas em Cada Dimensão do Modelo

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

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Tabela 24 - Classificação Final das Alternativas no Modelo de Portfólio de Compras Hospitalar

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

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Figura 25 – Representação Gráfica da Classificação dos Itens de Compra Hospitalar

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

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166

6.3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

Para avaliar a robustez dos resultados do método Fuzzy-TOPSIS apresentados

na seção 6.2, foi realizada uma etapa de análise de sensibilidade que permite avaliar

o impacto na classificação dos itens na matriz de portfólio de compras hospitalares ao

se alterar os pesos dos critérios, identificando possíveis vieses na modelagem do

problema, ou mesmo, na elicitação dos pesos (HAN; TRIMI, 2018).

Como no modelo geral foram utilizados os pesos agregados dos trinta e nove

respondentes da survey por meio das cargas oriundas da PCA, na etapa de análise

de sensibilidade foi solicitado que cada gestor do hospital realizasse a elicitação dos

pesos, individualmente, para seu grupo de compras.

Na análise de sensibilidade, o modelo foi rodado três vezes em separado. Na

primeira rodada, foram utilizados os pesos originais que o gestor de compras de

MAT/MED elicitou para cada critério, considerando a influência desses para o seu

grupo de compras. Na segunda rodada, foram considerados os pesos elicitados pelo

gestor de OPME, considerando a influência desses para o seu grupo de compras. Na

terceira rodada, baseado na aplicação de Kannan et al. (2013), foi realizada a

alteração nos pesos extremos do modelo original (ω PCA). Foram alterados os pesos

dos critérios C6 (de IB para IE) e dos critérios C7, C8, C10 e C11 (de IE para IB). Os

resultados dessas análises foram comparados com os apresentados na seção 6.2.

A Tabela 25 apresenta:

(Ꞷ PCA) - Os pesos rodados no modelo geral e apresentados na Tabela 17 da seção

6.2.

(Ꞷ OPME) - Os pesos elicitados pelo gestor de OPME do hospital analisado.

(Ꞷ MAT/MED) - Os pesos elicitados pelo gestor de MAT/MED do hospital analisado.

(Ꞷ ALTERAÇÃO DOS CRITÉRIOS EXTREMOS) - Foram alterados os critérios que

obtiveram pesos extremos.

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Os pesos destacados em vermelho, na Tabela 25, referem-se àqueles que

diferem dos pesos originais da PCA (Ꞷ PCA).

Tabela 25 - Pesos dos Critérios Utilizados na Análise de Sensibilidade

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11

Ꞷ PCA IA IA IA IM IM IB IE IE IA IE IE

Ꞷ OPME IB IE IMA IE IMA IB IA IB IE IE IA

Ꞷ MAT/MED IE IE IMA IM IA IMA IB IMA IM IA IE

Ꞷ Alteração Critérios Extremos IA IA IA IM IM IE IB IB IA IB IB Fonte: Dados da pesquisa, 2019

A Tabela 26 apresenta os CCi’s encontrados para cada alternativa/dimensão

do modelo, em cada cenário analisado.

Tabela 26 - CCi's Análise de Sensibilidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Observa-se que nos dois primeiros cenários (Ꞷ OPME e Ꞷ MAT/MED) não

houve alteração nas classes dos itens, o que demonstra que as avaliações em

separado dos gestores do hospital, estão em consonância com a avaliação dos 39

gestores que participaram da etapa inicial.

No terceiro cenário identificou-se que os itens suscetíveis a alteração de classe

são os itens A7 (ACL Tighrope) e A12 (prótese cardíaca mitral biológica). Com base

na análise de sensibilidade, constatou-se que alterações na avaliação dos critérios C6

de “IB” para “IE” e C7, C8, C10 e C11 de “IE” para “IB”, suscitou na alteração de classe

dos itens A7 de “crítico” para “alavancagem” e do item A12 de “crítico” para “gargalo”.

CCi - D1 CCi - D2 CCi - D3 CLASSE CCi - D1 CCi - D2 CCi - D3 CLASSE CCi - D1 CCi - D2 CCi - D3 CLASSE CCi - D1 CCi - D2 CCi - D3 CLASSE

A1 0,47 0,11 0,34 Não-crítico 0,47 0,11 0,33 Não-crítico 0,52 0,10 0,33 Não-crítico 0,50 0,10 0,30 Não-crítico

A2 0,56 0,30 0,11 Alavancagem 0,61 0,20 0,11 Alavancagem 0,59 0,32 0,11 Alavancagem 0,54 0,22 0,10 Alavancagem

A3 0,47 0,61 0,11 Gargalo 0,45 0,60 0,11 Gargalo 0,52 0,53 0,11 Gargalo 0,53 0,52 0,10 Gargalo

A4 0,45 0,37 0,64 Estratégico 0,55 0,46 0,64 Estratégico 0,46 0,40 0,58 Estratégico 0,45 0,44 0,51 Estratégico

A5 0,40 0,36 0,77 Estratégico 0,49 0,23 0,74 Estratégico 0,39 0,42 0,72 Estratégico 0,36 0,26 0,60 Estratégico

A6 0,52 0,28 0,34 Alavancagem 0,59 0,19 0,33 Alavancagem 0,54 0,32 0,33 Alavancagem 0,52 0,21 0,30 Alavancagem

A7 0,49 0,52 0,64 Crítico 0,60 0,49 0,64 Crítico 0,49 0,58 0,58 Crítico 0,45 0,49 0,51 Estratégico

A8 0,56 0,76 0,71 Crítico 0,59 0,70 0,65 Crítico 0,57 0,71 0,69 Crítico 0,51 0,63 0,56 Crítico

A9 0,43 0,28 0,37 Não-crítico 0,49 0,24 0,40 Não-crítico 0,47 0,26 0,32 Não-crítico 0,48 0,22 0,31 Não-crítico

A10 0,27 0,57 0,47 Gargalo 0,31 0,57 0,45 Gargalo 0,28 0,55 0,45 Gargalo 0,28 0,52 0,38 Gargalo

A11 0,35 0,40 0,66 Estratégico 0,39 0,45 0,64 Estratégico 0,39 0,43 0,62 Estratégico 0,42 0,43 0,52 Estratégico

A12 0,50 0,66 0,60 Crítico 0,60 0,59 0,57 Crítico 0,50 0,64 0,57 Crítico 0,46 0,55 0,48 Gargalo

Classificação ω Alt.Critérios ExtremosCenário Original (PCA) Classificação ω OPME Classificação ω MAT/MED

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A AS comprova que a estrutura subjacente da modelagem proposta é robusta.

Não obstante a mudança de pesos em diferentes critérios, nos dois cenários iniciais

a classificação dos itens, se manteve. No terceiro cenário, pode-se afirmar que a

mudança de classe do item A7 é previsível visto que o mesmo obteve um score limite

no CCi da dimensão (0,52) “D2” (dependência no fornecimento), fazendo com que as

alterações nos pesos dos critérios C7 e C8 influencie na mudança de classe.

A 12 foi o item que mais sofreu com a mudança dos pesos no terceiro cenário.

A mudanças de classe só ocorrem quando C10 e C11, que receberam avaliação de

influência extrema (IE) nesse item, tem sua avaliação reduzida em 6 pontos na escala,

o que necessitaria de mudanças extremas na gestão de compras do hospital de modo

a excluir a preferência médica (C10) e capacitar os compradores com conhecimento

clínico (C11) para que esses não dependam dos médicos para tomar decisões de

compras.

As Figuras 26, 27 e 28 ilustram, de forma mais clara, as alternativas mais

suscetíveis a alterações na etapa de análise de sensibilidade, em função dos CCi’s

encontrados em cada dimensão.

Figura 26 - Comparativo dos CCi's: Dimensão Parâmetros Universais de Compras

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80CCI - A1

CCI - A2

CCI - A3

CCI - A4

CCI - A5

CCI - A6

CCI - A7

CCI - A8

CCI - A9

CCI - A10

CCI - A11

CCI - A12

Cenário Original (PCA) Cenário OPMECenário MAT/MED Cenário Alteração Critérios Extremos

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169

Figura 27 - Comparativo dos CCi's: Dimensão Dependência no Fornecimento

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

Figura 28 - Comparativo dos CCi's: Dimensão Assimetria de Conhecimento

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

0,000,100,200,300,400,500,600,700,80

CCI - A1

CCI - A2

CCI - A3

CCI - A4

CCI - A5

CCI - A6

CCI - A7

CCI - A8

CCI - A9

CCI - A10

CCI - A11

CCI - A12

Cenário Original (PCA) Cenário OPMECenário MAT/MED Cenário Alteração Critérios Extremos

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80CCI - A1

CCI - A2

CCI - A3

CCI - A4

CCI - A5

CCI - A6

CCI - A7

CCI - A8

CCI - A9

CCI - A10

CCI - A11

CCI - A12

Cenário Original (PCA) Cenário OPME

Cenário MAT/MED Cenário Alteração Critérios Extremos

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170

Os resultados reforçam o argumento de que os critérios do modelo e as

preferências de valor foram capturadas, adequadamente, para representar os itens de

compras hospitalares.

Além da análise de sensibilidade utilizada para avaliar a robustez do modelo,

os resultados obtidos foram validados pelos gestores participantes da análise

multicriterial. Ambos concordaram com a classificação proposta pelo modelo, em

função da consonância entre as características do processo de compra dos itens e

das classes nas quais eles foram agrupados. Tanto a etapa de coleta de dados para

aplicação do método multicritério, quanto a validação dos resultados, foram processos

ricos em aprendizagem e reflexão para todos os envolvidos.

O próximo capítulo discute os resultados encontrados e as implicações

gerenciais da utilização do modelo.

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171

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A discussão dos resultados está dividida em dois pontos. Inicialmente, serão

descritas as características do processo de compras dos itens classificados em cada

categoria. Na sequência (seção 7.1), são apontadas as implicações gerenciais

traduzidas nos benefícios da utilização do modelo proposto e nas recomendações de

práticas gerenciais adequadas.

Com base na amostra de 12 itens, descritos no Quadro 14 (seção 6.2), o

modelo classificou dois itens na categoria não-crítico: A1- Sonda Endotraqueal e A9

– Tesoura Ultrassônica. Dois itens foram classificados na categoria alavancagem: A2-

Imunoglobulina Humana e A6- Beriplex 500ui. Três itens classificados na categoria

estratégico: A4 – Kit de Cateterização Arterial; A5 – Tazobactan + Cefetilozano 1,5mg

e A11 – Kit Ureterorreno Rígida. Dois itens foram classificados na categoria gargalo:

A3 – Equipo para Bomba de Infusão e A10 –. Kit para Cânulas de Rizotomia. Três

itens foram classificados na categoria crítico: A7 – Tightrope®; A8- Prótese

Customizada Craniana e A12 – Prótese Cardíaca Mitral Biológica, conforme

apresentado na Tabela 24 (seção 6.2).

Dos dois itens não-críticos classificados no modelo, A1 é da gestão MAT/MED

e A9 é da gestão OPME. Os itens classificados como não-críticos têm como

característica, a não dependência de fornecimento e o amplo conhecimento da equipe

de compras para gerenciar a compra. Não havendo assimetria de conhecimento ou

dependência de fornecimento, são itens mais influenciados por critérios universais da

gestão de compras; desse modo, os compradores estão mais bem preparados para

administrar as situações de compra, podendo padronizar esse processo (KRALJIC,

1983).

O item A1 (sonda endotraqueal) é utilizado nas unidades de terapia intensiva

(UTI) durante procedimentos de entubação. É um item que salva vidas, portanto,

imprescindível na unidade hospitalar. Por ocupar pouco espaço de armazenagem, e

ter prazo de validade estendida, possibilita ao hospital uma compra de maior volume,

resultando em reduções de custo.

O Item A9 (tesoura ultrassônica) é um item de OPME, classificado como não-

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172

crítico. Esse é um achado importante da pesquisa. Os itens de OPME, devido ao seu

alto custo, são tratados, tanto na literatura, quanto na prática hospitalar, como itens

críticos (CALLEA et al., 2017). Se analisados somente pela ótica do custo, como

realizado na classificação ABC, essa pode ser considerada uma verdade. O modelo

proposto, ao assumir outros critérios importantes, demonstra que, mesmo um item de

OPME, pode ter seu processo de compras controlado.

A tesoura ultrassônica (A9), utilizada em cirurgias gerais e laparoscópicas, é

um item de compra frequente no hospital. A princípio, esse item era reutilizável, após

rigoroso procedimento de esterilização. Em função das novas normas de segurança

do paciente, efetivadas no hospital, esse item passou a ser de uso único sendo

descartado posteriormente. Em face dessa nova realidade, se tornaria impraticável

aumentar o volume de compra mantendo o valor comprado.

Os itens A2 e A6, classificados na categoria alavancagem, são da gestão

MAT/MED. Os itens da categoria alavancagem, apesar de ter seu processo de compra

controlado pela gestão do hospital, são itens que em termo de preço, lead-time,

volume e negociação precisam de uma atenção maior que a dos itens não-críticos.

O item A2 (imunoglobulina humana) é utilizado em pacientes imunodeprimidos

ou com doenças autoimunes. A Imunoglobulina está entre os três medicamentos de

alto custo de maiores gastos no Brasil (BRANDÃO et al., 2011; SOPELSA et al., 2017).

Uma característica desse item é que a matéria-prima para sua composição, no geral,

é importada, sendo o lead-time de fornecimento mais alto. Devido à escassez de

matéria-prima no mercado nacional, o preço desse item é ditado pelo fornecedor. O

comprador não tem poder de barganha para negociar o seu preço. É um item de

demanda ocasional, mas, quando ocorre, utiliza grande volume da medicação e não

pode faltar estoque.

O item A6 (Beriplex 500ui) é um anti-hemorrágico utilizado em pacientes com

hemorragias crônicas, configurando, assim, uma demanda ocasional do hospital.

Ademais, é um medicamento de alto custo, porém, ao contrário de A2, o lead-time de

fornecimento é curto, proporcionando ao hospital a possibilidade de não ter grandes

estoques do produto. Por existirem poucos fornecedores no mercado, quem

determina o preço é o fornecedor.

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173

Dos três itens classificados na categoria estratégico, dois são da gestão

MAT/MED (A4 e A5), e um de OPME (A11). Essa categoria de itens tem, como

característica, a influência médica no processo de compras, o que reduz a

racionalidade do comprador (NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015), tornando os conflitos

de agência mais presentes (SCHNEIDER; MATHIOS, 2006; SCHRAMKO, 2007).

O item A4 (kit de cateterização arterial) é utilizado em procedimento de acesso

venoso central em pacientes debilitados ou que já não se consegue acesso nas veias.

Esse item é afetado pela preferência médica.

O item A5 (Tazobactan + Cefetilozano 1,5mg) é um potente antimicrobiano da

classe das penicilinas, utilizado em infecções agudas. Atualmente, somente um

laboratório fornece essa associação medicamentosa. A preferência médica, nesse

caso, se dá em função dos resultados comprovados com a medicação.

O item A11 (kit ureterorreno rígida) é utilizado em cirurgias de cálculo renal. A

preferência médica existente, nesse item, resulta de uma parceria entre médico e

fornecedor, em que esse último disponibiliza o equipamento de fibra a lazer e os

instrumentadores para o momento do procedimento, otimizando o tempo e o resultado

do mesmo.

Os dois itens classificados, na categoria gargalo, um pertence a gestão

MAT/MED (A3 – Equipo para Bomba de Infusão) e outro à gestão OPME (A10 – Kit

para Cânulas de Rizotomia). Essa categoria tem, como característica, a dependência

do hospital em relação aos fornecedores. Essa dependência torna o processo de

compras inflexível.

O equipo para bomba de infusão (A3) é utilizado na administração de dietas

enterais. Esse item é considerado gargalo para o hospital, pois existe uma

dependência de fornecimento. O fornecedor oferece em regime de comodato o

equipamento para administração das dietas enterais, porém o equipamento aceita,

apenas, equipos da mesma marca. O treinamento de novos técnicos de enfermagem,

para manusear o equipamento, também é de responsabilidade do fornecedor. Mesmo

tendo um equipo mais barato sendo oferecido no mercado, a compra é realizada com

o fornecedor do contrato de comodato. A customização necessária ocorre em função

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174

do equipamento utilizado.

O kit para cânulas de rizotomia (A10) é utilizado no tratamento de dor crônica

em cirurgia de coluna (lombar e cervical). Esse item tem uma forte dependência de

fornecimento, considerando que, durante o procedimento, é necessário que o

fornecedor providencie um gerador que irá produzir uma corrente elétrica de alta

frequência, transmitida mediante de um eletrodo (probe), que, por sua vez, é inserido

nas cânulas. Nesse caso, a assistência do fornecedor tanto diz respeito ao

fornecimento do gerador, quanto na instrumentação desse. Apesar de não haver uma

customização para atender a uma necessidade específica de um paciente, existe a

necessidade de que o kit comprado seja compatível com o gerador que será utilizado.

Os três itens, classificados como críticos, são da gestão OPME: A7 – Tightrope;

A8- Prótese Craniana Customizada e A12 – Prótese Cardíaca Mitral Biológica. Esses

itens têm características de assimetria de conhecimento, em que o comprador não

tem conhecimento técnico suficiente para decidir a compra, e de dependência de

fornecimento, concomitantemente.

As cirurgias de ligamento de joelho podem ser realizadas utilizando diferentes

técnicas. O TightRope® (A7) é utilizado, nessas cirurgias, em uma técnica específica

que dispensa o uso de parafusos. Essa técnica reduz o tempo de cirurgia, e o

fornecedor se responsabiliza pela instrumentação durante o procedimento cirúrgico,

sendo, por isso, preferida pelos médicos. Por ser um item sob vigência de patente,

tem fornecimento exclusivo, gerando a dependência do hospital a um único

fornecedor. Assim como apontado pela literatura internacional (BURNS et al., 2018),

a área de ortopedia no hospital estudado é uma das mais afetadas pela preferência

médica.

A prótese customizada craniana (A8) foi utilizada em uma cirurgia de

reconstituição craniana. O fato de a prótese ser customizada garante um melhor

resultado estético e clínico para o paciente, além de maior segurança para a cirurgia.

Com base em imagens da tomografia do paciente, um modelo virtual é desenvolvido

e, posteriormente, ele é fabricado por uma impressora 3D. O hospital realizou uma

única cirurgia com esse item. A não experiência do setor em compras dessa natureza

e a falta de conhecimento técnico para seleção de fornecedores, concorreram para

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175

que a negociação desse item fosse conduzida pelos médicos responsáveis pela

cirurgia.

A prótese cardíaca mitral biológica (A12) é utilizada em cirurgias cardíacas

quando há necessidade de substituição da válvula mitral do paciente. As cirurgias

cardíacas são rotineiras no hospital, e os itens dessa área são, em geral, de alto custo.

Apesar de a equipe de compras já ter familiaridade com a compra desses itens, é uma

área onde o médico ainda define o fornecedor.

7.1 IMPLICAÇÕES GERENCIAIS

Gerenciar com ferramentas inadequadas pode ser mais prejudicial do que não

gerenciar. A ferramenta inadequada mostra resultados mascarados, que não

traduzem a realidade, o que leva ao gestor a tomar medidas ineficazes. Desse modo,

o primeiro ponto que se irá discutir nas implicações gerenciais do modelo é mostrar a

ineficiência da gestão hospitalar ao fazer uso de uma ferramenta não adequada para

seu contexto.

O modelo proposto se diferencia das demais proposições de classificação de

itens de compras hospitalares presentes na literatura, ao identificar os fatores críticos

que intervêm nas compras desses itens e que tornam o processo de compras mais

complexo e oneroso: a preferência médica (BURNS et al., 2018; MONTGOMERY;

SCHNELLER, 2007; TYSON, 2010) , a assimetria de informação entre os membros

da cadeia hospitalar: médicos, planos de saúde, fornecedores e gestores hospitalares

(ABDULSALAM et al., 2015; FORD; HUGHES, 2007; TYSON, 2010; YAN; YANG;

FANG, 2014), a dependência de fornecedores em relação à ausência de espaço de

armazenagem, requerendo lead-times cada vez menores (BUDGETT;

GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; KRITCHANCHAI; MEESAMUT, 2015;

MONTGOMERY; SCHNELLER, 2007).

No contexto hospitalar, observam-se variáveis que não são comportadas em

uma classificação ABC. Isso se justifica pelo fato de não estar se tratando, apenas,

de identificar quais itens são mais ou menos importantes, mas de identificar classes

vulneráveis a questões intrínsecas a esse contexto. Comparando a classificação dos

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176

itens da amostra, no modelo proposto com a classificação ABC, comumente utilizada

por hospitais (QATAWNEH; HAFEEZ, 2015), é possível identificar as lacunas não

analisadas nessa última.

Na classe de MAT/MED os itens A2 e A6, que seriam classificados no

procedimento ABC como itens da classe A, devido ao seu alto custo, tiveram suas

classificações no modelo de portfólio de compras hospitalar como itens de

alavancagem. Semelhantemente, os itens A3, A4 e A5, que seriam classificados como

itens da classe C, no procedimento ABC, foram classificados como gargalo (A3) e

estratégicos (A4 e A5).

Em relação aos itens de OPME (A7 a A12), que no procedimento seriam

classificados como itens das classes B (A7, A9 e A11) e classe A (A8, A10 e A12),

tiveram suas classificações no modelo de portfólio de compras hospitalar

diversificadas entre itens não-crítico (A9), estratégico (A11), gargalo (A10) e crítico

(A7, A8 e A12).

Essas diferenças nas classificações reforçam o quanto a classificação ABC é

frágil. Ao mesmo tempo que a curva ABC enfatiza a atenção da gestão para itens de

alto custo/volume comprado, desmerece outros que, apesar de ter um custo mais

baixo, enfrentam dificuldades no fornecimento e possuem uma relação complexa

entre os membros da cadeia de suprimentos hospitalar. A classificação do modelo

proposto, nessa tese, comprova que nem todo item de OPME é crítico, bem como, um

item de MAT/MED pode ser mais vulnerável que o primeiro.

Uma segunda implicação gerencial diz respeito à etapa pós-classificação. A

questão aqui tratada não é, apenas, identificar a classe a que o item pertence, mas

também de prescrição: quais medidas devem ser tomadas, uma vez que as classes

dos itens foram identificadas? No modelo ABC, tem-se a indicação de aumentar o

número de inventários para os itens mais importantes, identificando mais rapidamente

itens com prazos de validades próximos a vencer e possíveis avarias. São medidas

que se resumem a um simplificado controle de estoques.

Para demonstrar o impacto do modelo de portfólio proposto, foi realizado um

comparativo dos preços de compra dos doze itens utilizados na amostragem. O

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177

objetivo foi identificar estratégias que, quando utilizadas, possibilitam reduzir o

impacto dos critérios relacionados às dimensões: parâmetros universais de compra,

dependência de fornecimento e a assimetria de conhecimento, gerando melhores

margens de ganhos para o hospital.

A Tabela 27 apresenta os itens utilizados na amostra desse estudo,

demonstrando: a) as diferenças nas classificações desses itens quando realizadas

pela classificação ABC e pelo modelo de portfólio proposto; b) as variações de preço

desses itens quando se utilizam estratégias de compras adequadas; c) as margens

de redução de custos que um gerenciamento eficiente de compras hospitalares pode

fornecer.

Para efetivar o comparativo de preços apontados na Tabela 27 foram utilizadas

fontes de informação, provenientes tanto de instituições públicas de saúde, no caso

do BPS; informações do hospital pesquisado, que é de natureza privada; tanto de

fontes da literatura. O objetivo do uso de diferentes fontes é mostrar que os problemas

da gestão de itens ocorrem nas duas esferas, pública e privada, e que a ferramenta

proposta, aliada a práticas gerenciais adequadas, são úteis para reduzir os custos de

ambas.

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178

Tabela 27 – Estratégias Gerenciais e suas Implicações nos Custos dos Itens

Fonte: Dados da pesquisa, 2019

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179

O hospital analisado faz uso de portal de compras (PC) como estratégia para

cotação e decisão de compra de todos os itens da gestão MAT/MED. O PC funciona

também como um SIG (sistema de informação gerencial), que armazena histórico de

compras, permitindo diferentes análises e comparativos.

Os itens não-críticos são, em geral, itens em que se tem um maior volume e

frequência de compra (PAGELL; WU; WASSERMAN, 2010) e que requerem um

processo de compra mais simplificado e padronizado (FERREIRA, LUÍS MIGUEL D.F.

ARANTES; KHARLAMOV, 2014), não significando que são isentos a acréscimos ou

reduções em seus custos, dependendo das estratégias utilizadas no seu

gerenciamento (NG et al., 1996).

O foco de compras para itens não-críticos deve ser preço, prazos de entrega e

prazos de validade, visto que não há diferenças substanciais na qualidade do item

fornecido entre os fornecedores disponíveis (PAGELL; WU; WASSERMAN, 2010).

Investir em relacionamentos a longo prazo seria um desperdício de recursos

(PAGELL; WU; WASSERMAN, 2010). A Tabela 27 demonstra os ganhos que a

gestão hospitalar, pode conseguir, com base no conhecimento mais aprofundado dos

fatores que interferem na compra desses itens.

Para o item A1 (sonda traqueal 7,5ml), a consolidação do volume de compra

(CVC) foi utilizada para conseguir junto ao fornecedor uma redução de 33% na compra

do item. O poder de barganha do hospital se mantém em função do alto volume de

compras (BURNS; LEE, 2008; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015). Essa estratégia é

compatível com a realidade do item, pelo fato de ele ter prazo de validade estendida

e ocupar pouco espaço de armazenagem.

Entre os itens não-críticos, o item A9 (tesoura ultrassônica) foi o que gerou um

maior impacto na redução de custo de compra (70%). Corroborando a literatura

(BASTANI et al., 2016; GRENNAN, 2014), a negociação do comprador foi

fundamental para possibilitar essa redução. A negociação teve como foco o poder de

barganha em relação ao volume de compra do hospital, propondo uma aliança com

um dos fornecedores (AF) do item. O resultado da aliança foi uma negociação ganha-

ganha: o fornecedor adquiriu a fidelização do hospital com um volume de compra

considerável. O hospital ganhou na redução do custo de compra de um item de alto

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180

custo. Considerando um volume de compra anual de 60 unidades, a economia média,

gerada com a compra desse item, seria de R$ 290.400,00.

Os itens da categoria alavancagem (A2 e A6) não demonstraram redução de

custos consideráveis, quando comparados aos demais da amostra. Isso deve-se a

características da demanda e fornecimento desses dois itens em especial, sendo o

estoque de segurança (ES) considerada a melhor estratégia para ambos, evitando

comprar emergenciais.

O item A2 (imunoglobulina humana) não é um item de consumo constante,

porém, dependendo do caso clínico, o volume de utilização desse item pode ser alto,

tendo um grande impacto nos custos totais. Para exemplificar esse impacto, os dados

de gastos por paciente do SUS, submetidos a transplante hepático, em 2004, foi de

R$ 52.172,60, e o gasto com administração da imunoglobulina da hepatite B, no pós-

transplante, foi de R$ 35.200,00, totalizando gasto final de R$ 87.372,60 (CASTELO

et al., 2007). A imunoglobulina foi responsável por 40% dos custos totais com o

tratamento desses pacientes.

A estratégia utilizada para redução do custo de A2 - item de oferta oscilante –

consiste em acompanhar pelo portal de compras (PC) a melhor oferta de preço e

manter um estoque de segurança (ES) para evitar a ruptura. Apesar de ser um item

não-crítico, devido ao seu alto custo, uma pequena redução no preço de compra, tem

um alto efeito na economia de escala. Considerando o menor preço ofertado pelo SIG,

o hospital conseguiu uma redução de 14% no custo unitário, o que, para um volume

de compra de 10 unidades, representou uma economia de R$ 1.620,00.

Para o item A6 (Beriplex 500 ui), apesar de não se conseguir reduções de

custo, deve-se utilizar uma estratégia de manter um estoque de segurança (ES) baixo.

Por ser um item de demanda ocasional, o quadro clínico do paciente é quem

determina o consumo. Assim, o ES é utilizado para garantir o atendimento nos

primeiros dias, até chegar o ressuprimento, dispensando o uso de compras

emergenciais, que acarreta um aumento considerável no preço final do item

(ARCELUS; GOR; SRINIVASAN, 2012).

Para os itens classificados na classe estratégico (A4, A5 e A11), é necessário

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181

utilizar estratégias que venham a limitar/excluir a preferência médica. Um primeiro

passo é a utilização de comitês de equivalência (CE). A estratégia CE é uma forte

aliada não só na eliminação da preferência médica, como também na redução da

assimetria de conhecimento, visto que as discussões oportunizadas no comitê,

promovem um alinhamento do conhecimento de seus membros (BUDGETT;

GOPALAKRISHNAN; SCHNELLER, 2017; HOEKSEMA, 2010; NARANJO-GIL; RUIZ-

MUÑOZ, 2015).

Um dos planos de saúde, que tem uma significativa parcela no faturamento

hospitalar, passou a não aceitar o preço praticado no item A4 (kit de cateterização

arterial), glosando parte do custo, advindo desse item. Por meio de um comitê de

equivalência (CE), o hospital reavaliou fornecedores que atendessem aspectos de

qualidade, segurança e se adequasse à tabela de preço praticada pelo plano de

saúde. A eliminação da preferência médica resultou em uma redução de 43%, como

evidenciado na Tabela 27.

No item A5 (Tazobactan + Cefetilozano 1,5mg), um CE avaliou outras

interações medicamentosas e fornecedores disponíveis no PC, e indicaram a

mudança para medicamento genérico equivalente, possibilitando uma economia de

44%.

Em uma relação entre planos de saúde (principais) e hospitais (agentes), os

problemas de agência se potencializam quando medidas não são tomadas para contê-

los, contribuindo, assim, para a informação assimétrica, oportunismo e preferência

médica (YAN; YANG; FANG, 2014).

Nos hospitais, os médicos controlam as internações, em termos de tempo e

recursos utilizados (LIGHT, 1991; NYAGA; YOUNG; ZEPEDA, 2015). Esse poder de

decisão dos médicos influencia os ganhos e as despesas de todos os demais

membros da cadeia: pacientes, planos de saúde, hospitais e indústria.

Preocupados com a influência da preferência médica no processo de compras

e verificando que, em muitos casos, os hospitais, apesar de reconhecerem a situação,

têm ingerência sobre essa, alguns planos de saúde deliberam absorver a etapa do

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processo de compras de itens de alto custo, estratégia aqui nominada de compra

direta pelo plano de saúde (CDPS).

A CDPS, instituída pelos planos de saúde, é uma medida de contenção aos

problemas de agência entre esses primeiros e os hospitais, ao perceberem que esses

últimos não estão tendo uma ação efetiva na resolução dos seus conflitos de agência

para com médicos e fornecedores.

Para se ter uma ideia do impacto dos planos de saúde na receita dos hospitais

brasileiros, pesquisa, realizada pela Associação Nacional dos Hospitais Particulares

(ANAHP), afirma que, em 2017, 90,3% das receitas financeiras dos 101 hospitais

associados advêm de planos de saúde; 3,7% de pacientes particulares; 5,3% do

Sistema Único de Saúde (SUS); e 0,7% de outras fontes pagadoras (ANAHP, 2018).

Em face desse cenário, os planos de saúde têm um alto poder de barganha

junto aos fornecedores. Os planos barganham o preço de compra do item em função

do impacto que esses têm na parcela do mercado. Para um fornecedor, é mais

vantagem vender ao plano de saúde com uma menor margem de lucro, do que ficar

de fora da negociação e perder o volume de vendas que o plano pode proporcionar.

Uma das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil tem utilizado a

prática CDPS com itens de OPME. Como esses itens são reconhecidos por ter uma

maior incidência de preferência médica (BURNS et al., 2018; TYSON, 2010), essa

operadora, atualmente, é responsável pela cotação e compra desses itens para os

pacientes por ela assegurados no hospital estudado. A gestão de OPME do hospital

passa a solicitação realizada pelo médico responsável pelo procedimento, o plano de

saúde compra e o fornecedor entrega o item diretamente no hospital.

Na Tabela 27, é exemplificada, por meio dos itens A10 (gargalo), A11

(estratégico) e A12 (crítico), a diferença de preço de um item comprado pelo hospital

analisado e esse mesmo item, quando comprado pelo plano de saúde e repassado

ao hospital.

Um achado importante desse estudo é a identificação de que uma mesma

estratégia pode ser utilizada para diferentes categorias de itens hospitalares. Não

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183

existem estratégias exclusivas para cada classe de item, como proposto por Kraljic

(1983). No exemplo dos item A10, A11 e A12, verifica-se que um mesmo item requer

estratégias diferenciadas, corroborando outros achados da literatura, que defende que

a combinação de estratégias pode maximizar os resultados (KANG et al., 2018).

O CE do plano de saúde é responsável de analisar a equivalência quanto à

qualidade do item oferecido pelos diversos fornecedores. O CDPS atua suprimindo a

ausência de poder de barganha do hospital, visto que o volume de compra do plano

é muito superior ao de um único estabelecimento hospitalar. A AF (Aliança com

Fornecedor) é usada como forma de fidelizar o fornecimento que, aliada ao volume

de compra do plano, favorecem a redução do preço. Esse mesmo conjunto de

estratégias utilizadas, pelo plano de saúde, é exemplificado na Tabela 27 para os itens

A10, A11 e A12.

Apesar de A10 (kit para cânulas de rizotomia) não ser um item de preferência

médica, é um item que a seleção do fornecedor, implica no fornecimento do gerador

utilizado no procedimento. O plano de saúde é responsável por cerca de 90% dos

procedimentos de rizotomia no hospital e se utiliza desse poder de barganha para

impor o preço de compra. Considerando que a operadora do plano, quando acorda

um preço com o fornecedor, ele irá fornecer para todos os hospitais credenciados; o

fornecedor acata o preço sugerido para não ficar fora da operação e ganhar em

volume de vendas com base na aliança estabelecida.

Enquanto um kit de cânulas (A10) com o gerador para ser utilizado no

procedimento de rizotomia, é ofertado, em média para o hospital por R$ 8.500,00,

para o plano de saúde em questão o item é comprado por R$900,00, gerando uma

economia de R$ 76.000,00 a cada dez procedimentos.

No item A11 (kit ureterorreno rígida), a assessoria prestada por alguns

fornecedores faz com que a preferência médica seja “legitimada” pelo hospital,

considerando os benefícios que trazem ao serviço prestado; no entanto, resulta em

custos superiores ao que é praticado no mercado. A economia gerada para esse plano

de saúde no item A11 é de 80%, enquanto, no item A12 (prótese cardíaca mitral

biológica), a economia chega a 50% do valor do item.

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As reduções no preço unitário dos itens A10, A11 e A12 são acima de 50%, o

que está em consonância com a literatura que aponta que itens de OPME chegam a

representar 60% da receita do hospital, podendo gerar, individualmente, até 150% de

lucro para organização (TROMBETTA, 2007). O primeiro passo, para que o plano de

saúde consiga uma expressiva redução nos custos de compras dos itens A10, A11 e

A12, foi identificar que esses itens são acometidos de assimetria de conhecimento e

de dependência de fornecimento.

Pesquisa recentes tem demonstrado que a qualidade do item não é o fator

determinante da preferência médica (BURNS et al., 2018). A familiaridade do médico

com os produtos/serviços de um determinado fornecedor foi indicada como fator

importante na preferência médica (BURNS et al., 2018). Esse achado sugere um

hábito médico em permanecer em uma zona de conforto. Por outro lado, a falta de

conhecimento clínico da equipe de compras leva-os a entender que a escolha médica

é sempre em função de uma melhor qualidade. O emprego de médicos, na área de

gerenciamento de suprimentos hospitalares, já foi comprovado que melhora a

eficiência da cadeia de suprimentos, tendo um impacto até maior que consolidação

de volume comprado e afiliação a grupos de compras (NYAGA; YOUNG; ZEPEDA,

2015).

Além do item A10, o item A3 (equipo para bomba de infusão) foi, também,

classificado na categoria gargalo. Esse foi um item em que o hospital não conseguiu

a redução do custo. O contrato com o fornecedor tem vigência anual e, antes de sua

renovação, os custos são reanalisados, considerando a proposta de fornecedores

cadastrados no PC e que são compatíveis com o regime de comodato.

Para os itens críticos A7 e A8, as estratégias foram diferentes das adotadas

para o item A12, citado anteriormente. O item crítico A7 (Tightrope®) teve sua

preferência médica justificada por se tratar de uma técnica exclusiva, que traz

benefícios como a qualidade pós-operatória do paciente e a redução do tempo de

cirurgia; isso possibilita ao hospital maior produtividade no centro cirúrgico. A

alternativa, nesse caso, foi buscar uma aliança com o fornecedor (AF). O ganho de

5% no custo do item, apesar irrisório, tem impacto significativo nos custos totais,

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devido ao alto custo do item e à quantidade de procedimentos realizados, promovendo

economia de escala.

O item A8 (prótese customizada de calota craniana) foi também classificado

como crítico. Para esse item, o hospital não tinha parâmetros de redução de custos,

por ter realizado uma única cirurgia. Para compor o exemplo de redução de custo

desse item foi analisada a grey literature (KOLLER; COUTO; HOHENDORFF, 2014)

buscando informativos/reportagens que indicassem o preço de compra de itens

similares, visto que não foi encontrado custo do item na literatura acadêmica.

A prototipagem de próteses conhecida, também, como tecnologia de fabricação

aditiva (additive manufacturing technology) tem avançado nos últimos anos (JARDINI

et al., 2014). A tecnologia permite a produção de modelos e implantes que respeitam

a real necessidade de cada paciente, otimizando os resultados cirúrgicos e reduzindo,

consideravelmente, o tempo cirúrgico, o custo e os riscos para o paciente (JARDINI

et al., 2014).

No Brasil, centros de pesquisa universitários, como o instituto de pesquisa de

biofabricação (INCT-BIOFABRIS), da universidade de Campinas/SP, têm investido

em impressoras 3D para fabricação de próteses sob medida, visando à redução de

custo desses itens, possibilitando sua utilização por pacientes mais carentes

(MARICEVICH; CAMPOLINA, 2017).

O custo de uma prótese fabricada por um fornecedor alternativo, como o INCT-

BIOFABRIS, chega a custar 3% do valor de uma prótese convencional (JCC, 2017).

Em 2017, uma prótese craniofacial, fabricada pelo INCT-BIOFABRIS ao custo de

R$20.000,00, foi implantada em um paciente (JCC, 2017). Esse valor representa uma

redução de 75% em relação ao valor pago pelo hospital.

Além da discussão acerca das estratégias que viabilizaram a redução dos

custos dos itens, serão demonstrados, na sequência, exemplos da má utilização de

ferramentas disponíveis, gerando custos para a organização.

Para exemplificar essa situação, foram analisadas duas estratégias

reconhecidas pelos ganhos gerados em relação à redução de custos com itens

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hospitalares: sistemas de informação gerencial (SIG) e economia de escala (EE). Foi

analisada parte das compras de dois itens utilizados na amostra: a Imunoglobulina

humana (A2) classificado como um item não-crítico e o equipo para bomba de infusão

(A3), classificado como um item gargalo para o hospital analisado. Para esses itens,

foram consultados os dados de compra do ano de 2018 no portal BPS, que é um SIG

do Ministério da Saúde, como explicado na seção 2.2.1 desta tese.

Analisando as compras dos itens A2 e A3, foram selecionados exemplos em

que os princípios da economia de escala e a utilização do BPS, enquanto sistema de

gerenciamento da informação, não foram bem empregados, conforme demonstrado

na Tabela 28.

Tabela 28 - Dados de Compra do BPS para os itens A2 e A3

Fonte: BPS, 2019

Na Tabela 28, verifica-se que os itens A2 e A3, quando comprados no seu

maior volume de compra, apresentaram o maior preço unitário, o que contradiz os

princípios da economia de escala. Em ambos os casos, os itens foram entregues para

estados de uma mesma região, não justificando o aumento do preço em função do

custo logístico. Em relação ao item A2, tem-se ainda outro agravante: uma compra

realizada no mês 04/2018, em quantidades maiores que a realizada em 02/2018, tem

um acréscimo no preço unitário de R$8,66 em relação ao valor desse item em

02/2018.

Os sistemas de informação gerenciais (SIG) e os portais de compra (PC) são,

atualmente, as estratégias de base utilizadas por grande parte dos hospitais. Isso

porque possibilitam, além de um histórico das compras, a cotação simultânea com

vários fornecedores, promovendo redução de custos. Porém, como toda estratégia,

requer análise das informações fornecidas, consistência em sua utilização e

comprometimento do usuário para se atender aos objetivos organizacionais. Se a sua

Descrição   Data Compra  Qtd Itens Comprados Preço Unitário

IMUNOGLOBULINA HUMANA 02/01/2018 500 197,50R$

IMUNOGLOBULINA HUMANA 21/02/2018 210 170,00R$

IMUNOGLOBULINA HUMANA 26/04/2018 450 178,66R$

EQUIPO BOMBA INFUSORA 02/04/2018 12.000 20,60R$

EQUIPO BOMBA INFUSORA 27/04/2018 2.500 0,82R$

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utilização não for pautada, nesse protocolo, não se pode garantir a eficiência nos

resultados.

Esses exemplos demonstram que, mesmo os gestores tendo disponível um

SIG, que possibilita a comparação de preços aplicados por diferentes fornecedores,

nem sempre essa informação é utilizada. Esse mau uso da informação disponível é

característica de hospitais subdesenvolvidos (RAKOVSKA; STRATIEVA, 2018).

Em face dos achados da pesquisa, apontados ao longo desse capítulo,

algumas considerações são pertinentes e serão destacadas na sequência.

O estudo demonstra que, mesmo os itens considerados não-críticos, são

passíveis de redução de custo, desde que se utilizem as estratégias de forma

adequada para sua gestão; do contrário, se oneram custos para gestão hospitalar,

consequentemente, para os usuários do serviço de saúde.

Tanto a literatura acadêmica como a gestão hospitalar tendem a discriminar os

itens de OPME como críticos. Do ponto de vista de custo sim, pois, no geral, são itens

de alto valor agregado. No entanto, alguns deles têm aspectos no gerenciamento de

compra que são mais vulneráveis, seja relacionado ao fornecimento, ou à relação

comprador/equipe médica. Os itens de OPME foram categorizados em diferentes

classes; isso demonstra a contribuição do modelo para perceber melhor as questões

implícitas no processo de compras hospitalar.

A preferência médica, vista como um problema na gestão de compras

hospitalar, deve ser tratada por meio de ferramentas eficazes. O ponto de partida é

identificar os itens acometidos pela preferência (BURNS et al., 2018). O modelo aqui

proposto é eficaz nessa questão. Indica-se, ainda, a incorporação de profissionais

com conhecimento clínico na equipe de compras, ou ainda a utilização dos comitês

de equivalência para avaliação dos itens. A literatura tem sinalizado que essas

práticas são eficazes na redução de preferência médica e levam a uma melhor análise

custo/benefício dos itens comprados (BUDGETT; GOPALAKRISHNAN;

SCHNELLER, 2017; NARANJO-GIL; RUIZ-MUÑOZ, 2015).

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A unificação/discussão das preferências médicas já foi evidenciada como uma

das boas práticas da logística hospitalar (RAKOVSKA; STRATIEVA, 2018). Desse

modo, o comitê de equivalência deve atuar, visando à redução de custos, nos

seguintes pontos críticos: identificar itens equivalentes, focando nos menos

dispendiosos; comparar despesas de produtos descartáveis x reutilizáveis; excluir

itens que não tenham justificativa clínica para seu uso (HOEKSEMA, 2010).

A distribuição assimétrica do conhecimento nos hospitais, caracterizada na

falta de conhecimento técnico/clínico da equipe de compras hospitalar, favorece a

agência (médicos), possibilitando buscar seu próprio interesse, ou negligencie o

interesse do principal (hospital) (YAN; YANG; FANG, 2014).

Neste estudo foi evidenciado que planos de saúde, ao se sentirem prejudicados

pela distribuição assimétrica do conhecimento, têm buscado intervir nas compras dos

itens. Essa questão mostra um enfraquecimento das organizações hospitalares que,

por não tratarem os conflitos de agência entre essas e os médicos, geraram um

conflito com os planos de saúde, seus principais pagadores.

Os planos de saúde têm usado do seu poder de compra, em função do alto

volume, barganhando com fornecedores, em troca de menor preço. Exemplos, como

esses de relacionamentos colaborativos, tornam-se um fator determinante na

garantia do suprimento a um menor custo (RAKOVSKA; STRATIEVA, 2018).

Verificou-se que, nos casos em que os planos de saúde mitigaram a preferência

médica e a assimetria de conhecimento, por meio da utilização de um conjunto de

estratégias, a redução de custos, nos itens comprados, foi significativa, demonstrando

que é possível reduzir os conflitos de agência por meio de investimento em

mecanismos de controles e que esse investimento é vantajoso.

Outrossim, já foi evidenciado que os custos de agência, no contexto da saúde,

atenuam as assimetrias de informação e comportamentos de interesse próprio (YAN;

YANG; FANG, 2014) ao passo que o principal (hospital) não investe em ferramentas

de regulação, isso se torna um incentivo para o comportamento disfuncional

(GODDARD; MANNION; SMITH, 2000).

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A preocupação demasiada dos hospitais com redução de custo não deve os

impedir de ver as práticas e ferramentas gerenciais como investimentos e não

como despesas (FORD; HUGHES, 2007; FORD; SCANLON, 2007). Por fim, a

literatura internacional tem apontado que a estratégia de pagamento baseado em

valor, ainda pouco utilizada por hospitais brasileiros, tem se mostrado uma alternativa

eficaz no alinhamento de interesses entre principal (hospital) e agentes (médicos)

(CONRAD, 2015).

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão de compras de itens hospitalares é uma área crítica de hospitais,

sejam esses públicos ou privados. A redução de custos, nesse contexto, é uma

preocupação constante de gestores e pesquisadores. A utilização de ferramentas em

que as particularidades, pontos críticos e dificuldades cotidianas sejam identificadas

e avaliadas, torna-se uma aliada, possibilitando uma gestão mais eficiente dos itens

de compras hospitalares.

Em face desse cenário, este estudo teve por objetivo propor um modelo de

classificação para itens de compras hospitalares, considerando critérios inerentes a

esse contexto e que interferem no cotidiano da gestão de compras.

O objetivo da pesquisa foi alcançado por meio de um framework metodológico.

Inicialmente, uma revisão sistemática de literatura foi realizada objetivando a

identificação dos critérios influenciadores do processo de compras hospitalares. A

análise de componentes principais viabilizou a validação dos critérios, a estimação de

sua influência (pesos), e a taxonomia das dimensões do modelo com base na análise

teórica das variáveis latentes de cada componente. A modelagem multicriterial,

utilizando o método Fuzzy-TOPSIS, possibilitou a aplicação do modelo em um hospital

da região Nordeste do Brasil. Os resultados foram validados pelos decisores que

participaram da etapa de aplicação do modelo. Uma etapa de análise de sensibilidade

atestou a robustez do modelo.

O modelo de portfólio de compras para itens hospitalares, proposto neste

estudo, se apresenta não só como uma ferramenta para classificação de itens

comprados, mas também, como um mecanismo de governança, ao possibilitar aos

gestores hospitalares identificar os itens suscetíveis à assimetria de conhecimento,

gerados pelo conflito de agência entre gestores de compras, planos de saúde e

médicos. O modelo torna-se, assim, um mecanismo de controle na redução de itens

de preferência médica, por meio da regulação do comportamento dos agentes,

norteando as decisões futuras dos gestores hospitalares.

Com base no estudo, algumas considerações e recomendações são sugeridas

aos gestores hospitalares, conforme segue.

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191

Na fase de modelagem e desenvolvimento do modelo, buscou-se trabalhar com

gestores de compras de hospitais particulares, por entender que esses utilizam as

melhores práticas de gestão de compras. Isso possibilitou o desenvolvimento de um

modelo de visão mais sistêmica, analisando não só as variáveis chaves de compras,

mas também a elucidação de critérios implícitos nos relacionamentos entre

compradores, fornecedores, planos de saúde e equipe médica, que influenciam direta

e indiretamente a eficiência desse setor. A ideia implícita na escolha da amostragem

foi de buscar hospitais de excelência, reconhecidos como benchmark na prestação do

serviço e gestão hospitalar, resultando em um modelo que siga essa premissa.

O modelo é generalista, podendo ser utilizado pelos diferentes órgãos de saúde

- públicos ou privados - visto que se trata de um modelo que tem por objetivo direcionar

gestores hospitalares a identificar as classes dos itens comprados e entender quais

fatores interferem nessas classes, para que assim, possam utilizar de práticas que

promovam melhorias do processo de compras de itens pertencentes a cada classe

(não-crítico, alavancagem, gargalo, estratégico e crítico).

A classificação interfere na forma como a organização vai identificar, de

maneira clara, sistemática e protocolar, os itens que são afetados pelas preferências

médicas, vieses de fornecimento, assimetria de conhecimento entre equipe clínica e

equipe gestora. Desse modo, a classificação não restringe organizações que

comprem, por exemplo, via processo licitatório, pois não interfere no modo de

comprar.

A classificação correta dos itens no modelo depende dos critérios utilizados e

da avaliação dos gestores, em relação aos critérios e itens de compra. Essa é uma

etapa crítica do processo, não podendo ser negligenciada. Cada hospital tem

características diferentes em seus processos de compra e fornecimento; desse modo,

um item classificado como não-crítico em um hospital, por ter seu processo de

compras controlado; para outro, pode ser um item gargalo, devido à dependência de

fornecimento que esse segundo hospital venha a ter.

É necessário considerar que se trata de um modelo dinâmico, em que prevê a

inclusão de novos critérios, dependendo do processo de compras do hospital a ser

analisado. Sua análise também é dinâmica, visto que a contribuição do modelo

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192

ultrapassa a classificação dos itens em relação às classes a que pertencem. O seu

propósito é, além de identificar as classes de itens, possibilitar ao gestor analisar quais

estratégias podem ser trabalhadas para migrar itens de uma classe para outra,

minimizando as interferências na gestão racional de compras. Logo, essa

classificação não é estática; deve ser refeita, periodicamente, pois, mesmo que não

se tenha tomado nenhuma medida entre uma classificação e outra, esse fato pode,

também, contribuir para que itens que, até então, não apresentavam influência, por

exemplo, de preferência médica, passem a ter.

Todas as categorias de itens são importantes no gerenciamento hospitalar,

uma vez que todas são passíveis de aumentos ou reduções em seus custos. Os itens

da categoria não-crítico são mais facilmente gerenciáveis, que as demais categorias,

visto que não sofrem perturbações dos conflitos de agência hospitalar. No entanto,

são itens que, se negligenciados, provavelmente provocarão aumento de custos, que

podem ser evitados, pelo uso eficiente de estratégias básicas, como o sistema de

consulta de preço.

O modelo proposto não tem a presunção de solucionar os problemas dos

altos custos de compras de itens hospitalares, mas de contribuir para as atuais

discussões acadêmicas e gerenciais da gestão de compras hospitalar. Destaca-

se como contribuição desse estudo:

a) A identificação dos critérios influenciadores do processo de compras de

itens hospitalares, levantados, inicialmente por uma vasta revisão de

literatura da área e validados, empiricamente, por meio de survey com

gestores de compras de hospitais renomados do Brasil.

b) Utilização da PCA na modelagem multicriterial, possibilitando a

agregação das preferências multidecisor, reduzindo os vieses da

avaliação individual.

c) Estimação dos pesos de cada critério, identificando os fatores que mais

influenciam no processo de compras hospitalar.

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193

d) Proposição de um modelo genérico, que pode ser aplicado tanto em

hospitais particulares, públicos, nacionais e internacionais, visto que os

critérios propostos foram levantados, eminentemente, na literatura

internacional de alto impacto, sendo validados por gestores de compras

de hospitais brasileiros.

e) Proposição de uma modelagem dinâmica, oferecendo aos gestores a

possibilidade de identificação dos critérios que mais contribuem para

classificação do item em uma determinada categoria, podendo esse

migrar para uma classe menos crítica, com base na utilização de

estratégias adequadas.

f) Indicação de combinação de estratégias que possibilitam a redução de

custos, oriundos dos conflitos de agência entre os principais e agentes

da cadeia de suprimentos hospitalar.

g) O processo de aprendizagem para os gestores que participaram da

pesquisa, levando-os a refletir, de forma sistemática, acerca dos fatores

que interferem em sua gestão.

Como limitações do estudo, vale ressaltar:

a) Amostra reduzida de gestores validados na survey (n=39). Embora

seja um quantitativo pequeno, foi uma opção da pesquisa trabalhar com uma

amostra mais homogênea e qualitativa, composta por gestores de hospitais que

são referência na prestação de serviço de saúde no Brasil.

b) Utilização, apenas, de hospitais brasileiros privados e de médio e grande

porte na pesquisa. Embora sejam hospitais que utilizam as melhores práticas, são

indicadas pesquisas futuras com hospitais com outras características (pequeno porte,

hospitais públicos, filantrópicos, pertencentes a planos de saúde, de outros países).

c) Todo modelo é limitado e passível de melhorias. Sua validade consiste

em oportunizar um melhor conhecimento do ambiente e das variáveis que interferem

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no contexto, consequentemente, na melhoria da sua gestão.

Finalmente, como sugestão de pesquisas futuras, indica-se a aplicação do

modelo de portfólio de compras de itens hospitalares em outros contextos,

corroborando a sua validação, além de, pesquisas empíricas que ampliem a análise

do impacto da utilização das estratégias auxiliares da gestão de compras (comitês de

equivalência, VMI, sistemas de gerenciamento de preço e cotação, etc.) para as

diferentes classes de itens hospitalares.

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209

APÊNDICE A – DEFINIÇÕES BÁSICAS DOS NÚMEROS E CONJUNTOS FUZZY

Definições básicas apresentadas por Chen (2000) e Chen, Lin e Huang (2006)

acerca dos números e conjuntos fuzzy.

Definição 1: Um conjunto fuzzy Ñ do universo de discurso X, é definido por uma

função de pertinência µñ(x), que associa a cada elemento x do conjunto Ñ, o grau de

pertinência µñ(x), com o qual x pertence a Ñ, de forma que:

Se, µñ(x) = 1, então x pertence completamente a Ñ;

Se, µñ(x) = 0, então x não pertence a Ñ;

Se, 0 < µñ(x) < 1, então x pertence a Ñ, com grau µñ

(x) .

Definição 2: Um número fuzzy é definido por Chen (2000) como um conjunto fuzzy

em um universo de discurso X que é normal e convexo.

A normalidade de um conjunto fuzzy Ñ é determinada pela altura do conjunto fuzzy.

O maior grau de pertinência de um elemento desse conjunto, para ser considerado

normal, deve ser igual a 1.

Um conjunto fuzzy Ñ é convexo se entre dois cortes (α1 e α2), obtêm-se intervalos

delimitados não-vazio contido em X e seus valores são estritamente crescentes e/ou

decrescentes, dentro desse intervalo.

Conjunto Fuzzy Normal e Convexo

Fonte: Chen (p. 2, 2000).

Definição 3: Um número fuzzy trapezoidal positivo (PTFN) ñ é caracterizado por um

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210

intervalo de quatro pontos (n1, n2, n3,n4).

Número Fuzzy Trapezoidal Positivo (ñ)

Fonte: Chen, Lin e Huang (p. 292, 2006).

Definição 4: A função de pertinência µñ(x) de um número fuzzy trapezóidal positivo ñ, pode

ser definida como:

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211

APÊNDICE B – ETAPAS DO MÉTODO FUZZY-TOPSIS

Etapas da aplicação do método Fuzzy-TOPSIS, conforme Chen (2000) e Chen, Lin e

Huang (2006).

1. Estruturado o problema de decisão, identificado decisores, e o conjunto de critérios

e alternativas, deve-se escolher os termos linguísticos apropriados para mensurar

a importância relativa dos critérios e para avaliar o desempenho das alternativas

em relação a esses critérios. Esses termos linguísticos serão associados a números

fuzzy trapezoidais positivos (TPFN).

2. Agregar os valores linguísticos de cada um dos decisores, em relação à

ponderação dos critérios j e alternativas i, associados a números fuzzy

trapezoidais.

A avaliação do decisor em relação aos pesos fuzzy (��𝒋) de cada critério, pode ser,

assim, descrita:

��𝑗 = ( 𝑤𝑗1,𝑤𝑗2,𝑤𝑗3,𝑤𝑗𝑘,)

No caso de mais de um decisor, a agregação dos pesos pode ser calculada,

conforme segue:

𝑤𝑗1 = min𝑘

{𝑤𝑗𝑘𝑙}, 𝑤𝑗2 = 1

𝑘 ∑ 𝑤𝑗𝑘2,

𝑘

𝑘=1

𝑤𝑗3 = 1

𝑘 ∑ 𝑤𝑗𝑘3, 𝑤𝑗4 = max

𝑘{𝑤𝑗𝑘4}

𝑘

𝑘=1

Onde:

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212

j1, j2, j3 e j4, representam os quatro pontos do número fuzzy trapezoidal

associados na ponderação dos critérios.

𝒘𝒋𝟏 = 𝐦𝐢𝐧𝒌

{𝒘𝒋𝒌𝒍}, refere-se ao menor valor do ponto j1, no conjunto das avaliações

de wj1.

𝒃𝒊𝒋 = 𝟏

𝒌 ∑ 𝒃𝒊𝒋𝒌,

𝒌𝒌=𝟏 refere-se à média dos valores do ponto j2, no conjunto das

avaliações de wj2.

𝒄𝒊𝒋 = 𝟏

𝒌 ∑ 𝒄𝒊𝒋𝒌,

𝒌𝒌=𝟏 refere-se à média dos valores do ponto j3, no conjunto das

avaliações de wj3.

𝒅𝒊𝒋 𝐦𝐚𝐱𝒌

{𝒅𝒊𝒋𝒌}, refere-se ao maior valor do ponto j4, no conjunto das avaliações de

wj4.

As avaliações dos decisores em relação ao desempenho das alternativas (��𝒊𝒋),

podem ser, assim, descritas:

��𝑖𝑗 = ( 𝑎𝑖𝑗, 𝑏𝑖𝑗, 𝑐𝑖𝑗, 𝑑𝑖𝑗,)

No caso de mais de um decisor, a agregação das avaliações do conjunto de

decisores pode ser calculada conforme segue:

𝑎𝑖𝑗 = min𝑘

{𝑎𝑖𝑗𝑘}, 𝑏𝑖𝑗 = 1

𝑘 ∑ 𝑏𝑖𝑗𝑘,

𝑘

𝑘=1

𝑐𝑖𝑗 = 1

𝑘 ∑ 𝑐𝑖𝑗𝑘,

𝑘

𝑘=1

𝑑𝑖𝑗 max𝑘

{𝑑𝑖𝑗𝑘}.

Onde:

a, b, c e d, representam os quatro pontos do número fuzzy trapezoidal associados

na avaliação das alternativas (i), em relação aos critérios (j).

𝒂𝒊𝒋 = 𝐦𝐢𝐧𝒌

{𝒂𝒊𝒋𝒌}, refere-se ao menor valor do ponto a, no conjunto das avaliações

de aij.

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213

𝒃𝒊𝒋 = 𝟏

𝒌 ∑ 𝒃𝒊𝒋𝒌,

𝒌𝒌=𝟏 refere-se à média dos valores do ponto b, no conjunto das

avaliações de bij.

𝒄𝒊𝒋 = 𝟏

𝒌 ∑ 𝒄𝒊𝒋𝒌,

𝒌𝒌=𝟏 refere-se à média dos valores do ponto c, no conjunto das

avaliações de bij.

𝒅𝒊𝒋 𝐦𝐚𝐱𝒌

{𝒅𝒊𝒋𝒌}, refere-se ao maior valor do ponto d, no conjunto das avaliações de

dij.

3. Construir a matriz de decisão fuzzy. Uma matriz de decisão fuzzy �� corresponde

ao desempenho do conjunto de alternativas (m), em relação ao conjunto de critérios

(n) e um vetor de pesos (w), podendo ser descrita conforme abaixo:

𝐶1 𝐶2 ⋯ 𝐶𝑛

��𝐾 =

𝐴1

𝐴2

⋮𝐴𝑚

[

��11 ��12 ⋯ ��1𝑛

��21 ��22 ⋯ ��2𝑛

⋮ ⋮ ⋱ ⋮��𝑚1 ��𝑚2 ⋯ ��𝑚𝑛

]

�� = [��1, ��2 … ��𝑛]

Em que:

��𝒌 corresponde à matriz fuzzy. ��𝟏𝟏 corresponde ao desempenho da alternativa A1,

em relação ao critério C1 e �� é o vetor de pesos.

4. Obter a matriz de decisão fuzzy normalizada e ponderada.

A matriz fuzzy normalizada pode ser representada por:

�� = [��𝑖𝑗] 𝑚 ⊗ 𝑛

A normalização da matriz fuzzy pode ser obtida conforme segue:

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214

Normalização pelo Máximo: Dividindo-se os valores de cada xij da matriz ��, pelo

maior valor do conjunto de critérios referente a benefícios (B), tal que:

��𝑖𝑗 = (𝑎𝑖𝑗

𝑑𝑗∗ ,

𝑏𝑖𝑗

𝑑𝑗∗ ,

𝑐𝑖𝑗

𝑑𝑗∗ ,

𝑑𝑖𝑗

𝑑𝑗∗ ) , 𝑑𝑗

∗ = 𝑚𝑎𝑥𝑖 𝑑𝑖𝑗, 𝑗 ∈ B

Normalização pelo Mínimo: Dividindo-se o menor valor do conjunto de critérios

referente a custos (C), por cada cada xij da matriz ��, tal que:

��𝑖𝑗 = ( 𝑎𝑗

𝑑𝑖𝑗,𝑎𝑗

𝑐𝑖𝑗 ,

𝑎𝑗−

𝑏𝑖𝑗 ,

𝑎𝑗−

𝑎𝑖𝑗 ) , 𝑎𝑗

− = 𝑚𝑖𝑛𝑖 𝑎𝑖𝑗, 𝑗 ∈ C

A matriz fuzzy ponderada (��) é obtida por meio da multiplicação da matriz normalizada

(��), pela importância relativa de cada critério, conforme segue:

�� = [

��11 ��12 ⋯ ��1𝑛

��21 ��22 ⋯ ��2𝑛

⋮ ⋮ ⋱ ⋮��𝑚1 ��𝑚2 ⋯ ��𝑚𝑛

], i = 1,2, ..., m; j = 1,2, ..., n

Onde:

��𝒊𝒋 Corresponde ao desempenho normalizado da alternativa Ai, multiplicado pelo peso

do critério Cj, tal que:

��𝑖𝑗 = ��𝑖𝑗 ∗ ��𝑗

5. Determinar a solução ideal positiva fuzzy (FPIS) e a solução ideal negativa fuzzy

(FNIS).

O FPIS (A*) é um conjunto formado pelo maior valor de cada critério, entre todas as

alternativas, e pode ser descrito como:

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215

𝐴∗ = (��1∗ , ��2 ,….,

∗ ��𝑛∗ )

Onde:

��𝑗∗ = 𝑚𝑎𝑥𝑖 {𝑣𝑖𝑗3} , 𝑖 = 1, 2, , … , 𝑚; 𝑗 = 1, 2, … . , 𝑛

O FNIS (A-) é um conjunto formado pelo menor valor de cada critério, entre todas as

alternativas, e pode ser descrito como:

𝐴− = (��1− , ��2 ,….,

− ��𝑛− )

Onde:

��𝑗− = 𝑚𝑖𝑛𝑖 {𝑣𝑖𝑗1} , 𝑖 = 1, 2, … . , 𝑚; 𝑗 = 1, 2, … . , 𝑛

6. Calcular a distância di* de cada alternativa em relação a FPIS e a distância di- de

cada alternativa em relação a FNIS.

As distâncias di* e di- podem ser calculadas conforme segue:

𝑑𝑖∗ = ∑ 𝑑 (��𝑖𝑗 , ��𝑗

∗)

𝑛

𝑗=1

, 𝑖 = 1,2, … , 𝑚

𝑑𝑖− = ∑ 𝑑 (��𝑖𝑗 , ��𝑗

−)

𝑛

𝑗=1

, 𝑖 = 1,2, … , 𝑚

Onde:

d (��𝒊𝒋 , ��𝒋) representa a distância entre dois números fuzzy, que pode ser obtida por

meio do método do vértice, conforme abaixo:

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216

𝑑(��, ��) = √1

4[(𝑚1 − 𝑛1)2 + (𝑚2 − 𝑛2)2 + (𝑚3 − 𝑛3)2 + (𝑚4 − 𝑛4)2]

Onde:

�� = (𝑚1,𝑚2,𝑚3,𝑚4 ) 𝑒 �� = (𝑛1,𝑛2,𝑛3,𝑛4 )

7. Calcular o coeficiente de proximidade (CCi) de cada alternativa, conforme segue:

𝐶𝐶𝑖 = 𝑑𝑖

𝑑𝑖− + 𝑑𝑖

∗ , 𝑖 = 1,2, … , 𝑚

8. Ordenar as alternativas de forma decrescente pelo CCi, dado que quanto maior o

CCi, melhor será a alternativa, pois a mesma estará mais próxima estará da FPIS e,

ao mesmo tempo, mais distante da FNIS.

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217

APÊNDICE C - DEFINIÇÃO DA ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA)

Forghani, Sadjadi e Moghadam (2018) definem a PCA conforme segue:

Dada uma matriz de dados X = (x1, x2, ..., xj, ..., xp) e n o número de

observações alocadas para cada variável:

A PCA propõe um novo conjunto de variáveis ζs , onde ζs = (ζ 1s , ζ 2s ,…, ζ ns )

são as combinações lineares de x , em que ζ 1 a ζ p são não-correlacionadas.

(21)

Onde 𝛼𝑖𝑗 representa o peso, ou seja, contribuição vetorial de x j para ζ i.

(22)

A normalização de 𝛼𝑖𝑗 pode ser realizada conforme segue:

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218

(23)

A variância total explicada pela PCA (ScorePCA) é definida como:

(24)

Onde 𝜇1 representa o peso contribuição de ζi para a variância total explicada

pela PCA, em que (μ 1 > μ 2 > ...> μ i > ...> μ k,).

K representa o número de ζs selecionados para reter. K pode ser determinado

de duas maneiras (FORGHANI; SADJADI; MOGHADAM, 2018):

1) selecionando o ζi em que o valor µi é maior que 1.

2) selecionando o maior número de ζs em que a soma total de Σ μ contribuição

é maior do que 85%.

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219

APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) PROCESSO DECISÓRIO EM COMPRAS DE ITENS HOSPITALARES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO -PPGA/UFRN

Prezados compradores,

Este questionário faz parte de uma pesquisa de doutorado, que tem por objetivo

analisar os critérios que influenciam a tomada de decisão dos compradores de itens

hospitalares. Para tal, precisaremos de sua contribuição respondendo este

questionário.

A pesquisa está sobre a responsabilidade da aluna de doutorado do

programa de pós-graduação em Administração da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Marlene Medeiros e, sob a orientação

do Professor Dr. Luciano Ferreira (FURGS).

As informações obtidas serão utilizadas somente para fins acadêmicos

(defesa de Tese, publicação de artigos). Os dados solicitados nos questionários

NÃO INCLUEM, nome ou nenhum outro documento (CPF, CNPJ), capaz de

identificar o respondente ou o hospital no qual o mesmo trabalha, assegurando a

confidencialidade do respondente e da instituição.

O tempo médio para resposta do questionário é de 15 minutos. O ideal é que

o mesmo seja respondido em um computador ou notebook. Essa orientação é dada

para que se tenha uma melhor visão das perguntas e alternativas. Em aparelhos

com telas pequenas, a visibilidade é comprometida.

Abaixo segue o WhatsApp e e-mail do pesquisador, podendo tirar suas

dúvidas sobre o estudo. Caso prefira, poderá ser marcada uma seção via Skype,

para que a pesquisadora, possa auxiliar na condução dos respondentes.

Desde já, agradeço a atenção e aceite em participar da pesquisa.

Atenciosamente,

Doutoranda: Marlene Medeiros

WhatsApp: (84) 99937-8313

E-mail: [email protected]

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/1316211255036866

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APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO

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APÊNDICE F - SIMULAÇÕES PCA NO STATA POR CORRELAÇÃO DE

PEARSON

1ª ANÁLISE – Todos os critérios

1ª Análise: 13 variáveis / 39 observações:

Observações quanto aos resultados: - O modelo sugere três componentes principais, os quais explicam 64% da variância dos dados. - O modelo apresentou cross-loading no critério “Risco”.

- O modelo apresentou singularidades altas nos critérios: “Volume”, “Risco” e “PPI” - O modelo apresentou cargas negativas para os critérios: “Risco”, “Monopólio” e “Tempo”.

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- O modelo foi rotacionado utilizando a rotação varimax, o que resolveu o problema das cargas negativas, porém, o cross-loading apresentou-se no critério “Monopólio”.

- Foi analisado o KMO para decidir qual variável retirar.

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- Optou-se por rodar o modelo, excluindo o critério “Risco”, que apresentou singularidade alta (0.497) e KMO baixo (0.563).

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2ª ANÁLISE – Excluído o critério “risco”

2ª Análise: 12 variáveis (sem o critério “Risco”) / 39 observações:

Observações quanto aos resultados: - O modelo sugere três componentes principais, os quais explicam 67% da variância dos dados.

- O modelo apresentou cross-loading nos critérios: “Custo”, “Monopólio” e “Tempo”. - O modelo apresentou singularidades altas nos critérios: “Volume” e “PPI”

- O modelo apresentou cargas negativas para os critérios: “Custo”, “Armazenagem” e “Customizar”.

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- O modelo foi rotacionado utilizando a rotação Varimax, o que resolveu o problema de cargas negativas, porém, o cross-loading permaneceu no critério monopólio.

- Foi analisado o KMO para decidir qual variável retirar.

- Dentre os critérios que se apresentavam como sugeridos para retirar do modelo, seja por singularidade alta ou por KMO mais baixo, estavam os critérios: “PPI” (Sing.= 0.400; KMO=0.612 ) “Volume” ( Sing.=0.523; KMO= 0.765) e “Tabela” ( Sing.= 0.381; KMO= 0.6886).

Iniciou-se retirando o critério “PPI”.

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3ª ANÁLISE – Excluídos os critérios “risco” e “ppi”

3ª Análise: 11 variáveis (Excluídos os critérios “Risco” e “PPI”/ 39 observações:

Observações quanto aos resultados:

- O modelo sugere três componentes principais, os quais explicam 69% da variância dos dados. - A retirada do critério “PPI” aumentou o número de critérios que apresentaram cross-loading: “Custo”, “Customizar”, “Conhecimento”, “Tabela”, “Monopólio” e “Tempo”.

- O modelo apresentou singularidades altas nos critérios: “Volume” e “Conhecimento”

- O modelo apresentou cargas negativas para os critérios: “Custo”, “Armazenagem”, “Customizar” e “Tempo”.

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- O modelo foi rotacionado utilizando a rotação varimax, o que resolveu o problema de cargas negativas, porém, o cross-loading permaneceu no critério monopólio.

- Foi analisado o KMO para decidir qual variável retirar.

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- Foi rodado novamente o modelo, incluindo novamente o critério “PPI” e retirado o critério “Volume”, por apresentar singularidade alta.

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4ª ANÁLISE – Excluídos os critérios “risco” e “volume”

4ª Análise: 11 variáveis (Excluídos os critérios “Risco” e “Volume”/ 39 observações:

Observações quanto aos resultados:

- O modelo sugere três componentes principais, os quais explicam 69% da variância dos dados. - O modelo apresentou cross-loading nos critérios: “Custo”, “Monopólio” e “Tempo”. - As singularidades altas desapareceram.

- O modelo apresentou cargas negativas para os critérios: “Custo”, “Armazenagem”, “Customizar” e “Tempo”.

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- O modelo foi rotacionado utilizando a rotação Varimax, o que resolveu o problema de cargas negativas, porém, o cross-loading permaneceu no critério monopólio.

- Foi analisado o KMO para decidir qual variável retirar.

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- O KMO apresentou bons resultados para todas as variáveis. Em função do modelo permanecer com cross-loading, foi realizada uma nova análise, incluindo novamente o critério Volume e excluindo o critério “Tabela”, como sugerido na 2ª análise.

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5ª ANÁLISE – Modelo reespecificado validado: excluídos os critérios “risco” e

“tabela”

5ª Análise: 11 variáveis (Excluídos os critérios “Risco” e “Tabela”/ 39 observações:

Observações quanto aos resultados:

- O modelo sugere três componentes principais, os quais explicam 69% da variância dos dados. - O modelo apresentou cross-loading nos critérios: “Monopólio” e “Tempo”.

- O modelo apresentou singularidade alta para o critério “Volume”.

- O modelo apresentou cargas negativas para os critérios: “Armazenagem”, “Customizar” e “Tempo”.

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- Após a rotação Varimax, foi resolvido o problema de cross-loading e das cargas

negativas.

- A variável “Volume” aparece com cargas inferiores a 0.30. Afim de identificar a carga

da mesma para a Componente 1, foi reduzido o ponto de corte da carga para 0.25,

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até então limitado para 0.30. A identificação da variância explicada por esta variável,

é necessária para ser usada como o resultado da agregação das preferências dos

decisores como peso deste critério.

- Foi analisado o KMO do modelo. Apesar de apresentar um KMO baixo para a variável

“PPI”, este valor é aceitável.

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- Teste de Esfericidade de Bartllet do modelo final

- Alpha de Crombach do modelo final por correlação de Pearson

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APÊNDICE G – MODELO VALIDADO POR PCA VIA CORRELAÇÃO

POLICÓRICA

- O modelo validado (Apêndice D – 5ª Análise), foi submetido a PCA via correlação Policórica. - Foi gerada a matriz de correlação Policórica no Stata.

- A matriz foi nomeada de “hospitaisprivados”.

- Após nomeação da matriz, foi gerada a PCA, via matriz de dados por correlação Policórica. - O modelo sugeriu três componentes principais, os quais explicam 72% da variância dos dados. - O modelo apresentou singularidade alta para o critério “Volume”.

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- O modelo apresentou cross-loading no critério “Monopólio”

- O modelo foi rotacionado via rotação Varimax, o que resolveu o cross-loading.

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- Foi analisado o KMO do modelo e das variáveis.

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- Foi analisado o alpha de Crombach geral e por componente principal

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APÊNDICE H – ROTEIRO ORIENTATIVO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

DOS ITENS DE COMPRA

- Em relação a amostra de itens escolhida, avalie o desempenho de cada item de

acordo com os critérios do modelo.

- Em cada critério, o item deverá ser avaliado quanto ao seu desempenho /

comportamento no processo de compra, considerando uma escala que varia de

influência nula à influência extrema.

- Um item será considerado mais crítico para determinado critério, quando tiver seu

desempenho avaliado mais próximos dos valores extremos da escala.

Escala Definição

Inf.nula O critério analisado não influencia no processo de compra do item.

Inf.baixíssima O critério analisado quase não exerce influência no processo de compra do item.

Inf.baixa O critério analisado exerce pouca influência no processo de compra do item.

Inf.moderada O critério analisado influencia no processo de compra do item moderadamente.

Inf.alta O critério analisado exerce alta influencia no processo de compra do item.

Inf.altíssima O critério analisado exerce influência muito alta no processo de compra do item.

Inf.Extrema O critério analisado exerce influência extrema no processo de compra do item.

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Tempo Custo Reputação Negociação Monopólio Volume Customização Armazenagem Assistência PPI Conhecimento

ALTA: se o lead-

time do fornecedor

é superior a 5 dias.

ALTA: se o item é de

alto custo.

ALTA: se tem poucos

fornecedores para o

item com boa

reputação.

ALTA: se a

capacidade de

negociação do

comprador não

influência na redução

dos custos de compra

do item.

ALTA: se tem pouco

fornecedores

disponíveis para o item.

ALTA: Se a

quantidade comprada

deste item é em

grande escala.

ALTA: Se este item

precisa de

customizações para

atender demanda

específicas de

pacientes/hospital

(itens sob medida).

ALTA: Se a

armazenagem deste

item é realizada pelo

fornecedor (pedido

sob demanda)

ALTA: Se existe

necessidade de

assistência do

fornecedor para

instrumentalização

ou realização de

procedimento com

este item, incluindo

comodatos de

equipamentos para

utilização do item.

ALTA: Se na compra

deste item, o médico

é quem decide o que

será comprado.

ALTA: O comprador

não tem

conhecimento

técnico/clínico para

compra deste item,

precisando recorrer

a orientação da

equipe clínica.

BAIXA: se lead-time

do fornecedor é

igual ou inferior a 5

dias.

BAIXA: se o item é

de baixo custo.

BAIXA: se tem muitos

fornecedores para o

item com boa

reputação.

BAIXA: se a

capacidade de

negociação do

comprador não

influencia no processo

de compras do item

(ex:preço fixado).

BAIXA: se tem muitos

fornecedores

disponíveis par ao item.

BAIXA: Se o volume

comprado para o

item, é baixo, por

pedido de compra.

BAIXA: Se este item

não precisa ser feito

sob medida.

BAIXA: Se o hospital

tem estoque do

item.

BAIXA: Não há

necessidade de

assistência do

fornecedor.

BAIXA: Se na

compra deste item, o

comprador é quem

decide o processo de

compra.

BAIXA: Se o

conhecimento do

comprador é

suficiente para

decidir a compra do

item, sem precisar

de orientação da

equipe clínica.

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