UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
MIDIAM DE SOUZA FERNANDES
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
um estudo com egressos do Curso de Licenciatura Plena em Música da UFRN
NATAL/RN
2017
MIDIAM DE SOUZA FERNANDES
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
um estudo com egressos do Curso de Licenciatura Plena em Música da UFRN
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na linha de pesquisa: Processos e
Dimensões da Formação em Música, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música.
Orientação: Prof.ª Drª Valéria Lazaro de
Carvalho.
NATAL/RN
2017
MIDIAM DE SOUZA FERNANDES
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
um estudo com egressos do Curso de Licenciatura Plena em Música da UFRN
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Música (PPGMUS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) na linha de pesquisa: Processos e Dimensões da Formação em Música, como requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Música.
Aprovada em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________________ PROFª. DRª. VALÉRIA LAZARO DE CARVALHO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
ORIENTADORA
_________________________________________________________ PROFª. DRª. CARLA PEREIRA DOS SANTOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) MEMBRO DA BANCA
_________________________________________________________
PROFª. DRª. ELIANE LEÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
MEMBRO DA BANCA
Dedico este trabalho aos que me ensinam ao comigo aprenderem,
os meus queridos e amados alunos.
(Afinal, não há docência sem discência).
AGRADECIMENTOS
Agradeço a senhora Terezinha de Souza Fernandes e ao senhor João Raimundo
Fernandes por terem me dado vida, por terem se doado à minha assistência, por terem sido os
primeiros e mais valiosos educadores da minha vida, pois, me ensinaram (e ensinam sempre)
sobre a maior das lições de vida: o amor.
Agradeço a senhora Maria da Conceição de Melo, por ter sido alicerce em meu viver,
bem como por toda a paciência, tolerância, respeito e afeto que a mesma demonstra para
comigo, a partir de uma postura materna a qual eu interpreto como essencial e necessária ao
meu viver.
Agradeço a Profª. Drª. Valéria Lazaro de Carvalho por sua doçura, confiança e por ter
acreditado que eu seria capaz de cursar e concluir este Programa de Pós-Graduação, bem
como por todo incentivo e participação na construção do conhecimento em mim, desde a
minha Licenciatura Plena em Música quando a mesma também foi minha orientadora.
Agradeço a todos os professores que mediaram o meu processo de construção do
conhecimento, aos de cada fase de minha infância, aos que estiveram junto a mim durante o
período de minha adolescência, aos que estiveram junto a mim durante toda a minha
juventude e, posteriormente, aqueles que comigo estiveram já durante a minha adultez.
Ao professor José Estevam de Oliveira por me ensinar que o melhor professor de
Música é aquele que se mostra HUMANO. Por ter sido (e por ser) o melhor professor de
Música que eu tive, pois, me ensinou que aprender a tocar um instrumento musical é ousar,
acreditar em si, e que o melhor tempero para tudo isso é a alegria e a gratidão pelo viver, um
pai musical que mora em meu coração.
Ao Prof°. Gilberto Cabral por toda a doação que teve por mim no início de meus
estudos em Música, ainda durante a minha adolescência. Por me ensinar sobre como a
simplicidade é maravilhosa.
Aos maus e aos males professores que também tive, aos quais agradeço por terem me
ensinado a como nunca ser.
A todos os colegas que conquistei durante minha vida de estudante na Escola de
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN), bem como, a todos os
professores desta Instituição que contribuíram, de alguma forma, para a construção do meu
conhecimento em Música. Bem como aos colegas e professores com os quais convivi durante
o meu período de aprendizagem musical no Instituto de Música Waldemar de Almeida.
Aos amigos, aos amores...
As escolas de Educação Infantil que, no momento, acreditam e respeitam e que me
valorizam como Educadora Musical, permitindo assim, que eu tenha trabalho.
À minha perseverança em viver...
Não importa com que faixa etária trabalhe o educador ou a educadora. O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca. Gente formando-se, mudando, crescendo, reorientando-se, melhorando, mas, porque gente, capaz de negar os valores, de distorcer-se, de recuar, de transgredir. Não sendo superior nem inferior a outra prática profissional, a minha, que é a prática docente, exige de mim um alto nível de responsabilidade ética de que a minha própria capacitação científica faz parte. É que lido com gente. Lido, por isso mesmo, independentemente do discurso ideológico negador dos sonhos e das utopias, com os sonhos, as esperanças tímidas, às vezes, mas às vezes, fortes, dos educandos. Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar. Lido com gente e não com coisas.
(FREIRE, 2014, p. 141).
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo analisar o processo de autonomia docente
construído pelo educador musical egresso do Curso de Licenciatura Plena em Música
(CLPM) da UFRN, a partir do Estágio Supervisionado. É uma Pesquisa de base qualitativa,
com fundamentação teórica baseada no diálogo com autores como Freire (2014), Pimenta
(2012), Contreras (2002) e Zatti (2007). A inserção da pesquisadora no campo deu-se a partir
do cumprimento do componente curricular Estágio Supervisionado I pelo CLPM ofertado
pela UFRN, no período de 2014.1, tendo assim por via desta vivência, adquirido certa
experiência para com o público alvo referido. Esta pesquisa foi realizada com 6 egressos do
referido Curso que cumpriram o componente curricular referente ao Estágio Supervisionado I
(na Educação Infantil) nos períodos de 2013.1 e 2014.1. A partir do estágio realizado em
contextualizações diversas de Educação Infantil, foi investigado como se estruturou o
processo inicial de autonomia docente do educador musical que fez o seu Estágio
Supervisionado direcionado à Educação Infantil nestes contextos. Dessa forma, o Estágio
Supervisionado é percebido como uma prática que proporciona posturas autônomas e que
ressignifica ações da prática pedagógica, compondo assim um repertório didático que
favorece a ação do estagiário junto ao compromisso com a qualidade do trabalho que
desenvolverá após sua formação inicial. Como técnica de pesquisa, foi aplicado um
questionário aberto acerca da contextualização entre seus estágios e o locus aonde os estágios
foram cumpridos, bem como através da análise de relatório de estágio e da própria estrutura
curricular do CLPM / UFRN. Os resultados da pesquisa deram-se por uma análise de
conteúdo baseada nas fundamentações de Bardin (2011). Por meio desta investigação,
conhecemos as experiências profissionais vivenciadas pelos egressos do CLPM da UFRN,
que contribuíram para a construção de uma autonomia docente a partir da inserção destes
estagiários nas escolas de Educação Infantil, experiências estas, que marcaram a vida inicial
destes (as) educador (as). Os (as) participantes desta pesquisa são jovens recém-formados (as)
que estão agora a adentrar oficialmente no universo da docência. Esta pesquisa também traz
considerações sobre a infância, onde são traçados diálogos com autores envolvidos no
processo do educar nesta fase de aprendizagem. Os diálogos traçados apontam a criança como
um ser social, bem como traça um breve histórico sobre o período da Educação Infantil.
Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Educação Infantil. Autonomia Docente. Educação
Musical.
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the process of teacher autonomy built by the musical
educator graduated from the course of Full Licenciate in Music (CLPM) of UFRN, from the
supervised stage. It is a qualitative research, with a theoretical basis based on dialogue with
authors such as Freire (2014), Pimenta (2012), Contreras (2002) and Zatti (2007). The
insertion of the researcher in the field was based on the completion of the curricular
component Supervised Stage I by CLPM offered by UFRN, in the period of 2014.1. Of this
experience, acquired certain experience with the target public referred to. This research was
carried out with six graduates of this Course who fulfilled the curricular component related to
Supervised Internship I (in Early Childhood Education) in the periods of 2013.1 and 2014.1.
From the stage realized in diverse contextualizations of Early Childhood Education, it was
investigated how the initial process of teacher autonomy of the Musical Educator was
structured that made its supervised stage directed to Early Childhood Education in these
contexts. In this way, the supervised stage is perceived as a practice that provides autonomous
postures and that resigns actions of the pedagogical practice, thus composing a didactic
repertoire that favors the action of the trainee along with the commitment to the quality of the
work that will develop after his initial formation. As a research technique, an open
questionnaire was used about the contextualization between is stages and the locus where the
stages were fulfilled, as well as through the analysis of the internship report and the CLPM /
UFRN curriculum structure. The results of the search were based on a content analysis based
on the foundations of Bardin (2011). Through this research we know the professional
experiences experienced by the graduates of the undergraduate CLPM of UFRN, who
contributed to the construction of a teaching autonomy from the insertion of these trainees in
the schools of Early Childhood, impressions these, which marked the initial life of these
educators. The participants of this research are young graduates who are now officially
entering the universe of teaching. This research also brings considerations about childhood,
where dialogues are drawn with authors involved in the process of educating in this phase of
learning. The dialogues traced the child as a social being, as well as a brief history about the
period of Early Childhood Education.
Key-words: Supervised Internship. Child Education. Teacher Autonomy. Musical Education.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Algumas conceituações para o termo Autonomia.................................... 27
Quadro 2 – Modelo do Professor Especialista Técnico.............................................. 30
Quadro 3 – Modelo do Professor Profissional Reflexivo............................................ 31
Quadro 4 – Modelo do Professor Intelectual Crítico.................................................. 31
Quadro 5 – Características fundamentais do Estudo de Caso..................................... 38
Quadro 6 – Tipologia das palavras.............................................................................. 46
Quadro 7 – Modelo do Professor Profissional Reflexivo............................................ 86
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Sequência lógica básica seguida para o desenvolvimento da pesquisa.... 34
Figura 2 – Cinco características da Pesquisa Qualitativa.......................................... 35
Figura 3 – Formulação de um problema de pesquisa................................................ 36
Figura 4 – O esquema da hipótese............................................................................. 37
Figura 5 – Fases de um Estudo de Caso.................................................................... 40
Figura 6 – Fases da Análise de Conteúdo.................................................................. 47
Figura 7 – Resolução do CNE, Art. 6º....................................................................... 59
Figura 8 – Categorias de Estágio Supervisionado no CLPM / UFRN....................... 66
Figura 9 – Atuação das Atividades Orientadas no CLPM / UFRN........................... 67
Figura 10 – Dados pessoais do (a) Egresso (a) A........................................................ 71
Figura 11 – Dados pessoais do (a) Egresso (a) B........................................................ 72
Figura 12 – Dados pessoais do (a) Egresso (a) C........................................................ 72
Figura 13 – Dados pessoais do (a) Egresso (a) D........................................................ 73
Figura 14 – Dados pessoais do (a) Egresso (a) E........................................................ 74
Figura 15 – Dados pessoais do (a) Egresso (a) F........................................................ 74
Figura 16 – Campo x Expectativas.............................................................................. 77
Figura 17 – As dificuldades elencadas........................................................................ 79
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AC – Análise de Conteúdo
AOs – Atividades Orientadas
Art. – Artigo
CD – Compact Disc
CLPM – Curso de Licenciatura Plena em Música
CNE – Conselho Nacional de Educação
CP – Conselho Pleno
EB – Educação Básica
EF – Educação Formal
EI – Educação Infantil
EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ENF – Educação Não Formal
ES – Estágio Supervisionado
GRUMUS – Grupo de Estudos e Pesquisa em Música
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
PPGMUS – Programa de Pós-Graduação em Música
PPP – Projeto Político Pedagógico
RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
1 UM SIGNIFICATIVO ENCONTRO COM O UNIVERSO DA
PESQUISA CIENTIFICA..............................................................................
14
1.1 Vivenciando e praticando a teoria na contextualização escolar.................. 16
2 O ALICERCE DO CONHECIMENTO CONSTRUÍDO EM
CONJUNTO.....................................................................................................
21
2.1 Sobre Autonomia............................................................................................. 26
2.2 Concepção de Autonomia a partir de três modelos profissionais de
professores e suas dimensões da profissionalidade .......................................
29
3 O CAMINHO PERCORRIDO....................................................................... 33
3.1 O Estudo de Caso............................................................................................. 37
3.2 Coleta, sistematização e análise dos dados desta pesquisa........................... 40
3.3 O desenvolvimento da análise da pesquisa.................................................... 42
4 DISCUSSÕES SOBRE O TEMA ESTÁGIO E SUA IMPORTÂNCIA
COMO COMPONENTE CURRICULAR NOS CURSOS DE
LICENCIATURA............................................................................................
49
5 A EDUCAÇÃO INFANTIL E OS SEUS ATORES..................................... 54
5.1 A criança e a sua diferença............................................................................. 56
5.2 A Educação Infantil: um desafio para o (a) estagiário (a)........................... 57
5.3 A aula de Música na Educação Infantil......................................................... 59
6 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO
COMPONENTE CURRICULAR DO CURSO DE LICENCIATURA
PLENA EM MÚSICA DA UFRN..................................................................
62
6.1 Sobre a proposta curricular do Curso de Licenciatura Plena em Música
ofertado na UFRN............................................................................................
64
6.2 Os Estágios Supervisionados e as Atividades Orientadas (AOS)................ 66
7 RESULTADOS DA PESQUISA..................................................................... 68
7.1 Sobre os participantes desta pesquisa............................................................ 70
7.2 Significância do Estágio Supervisionado e do Campo de Estágio............... 74
7.3 Desafios e superações....................................................................................... 79
7.4 Autonomia desenvolvida................................................................................. 83
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 88
REFERÊNCIAS............................................................................................... 92
APÊNDICE A – CARTA CONVITE.............................................................
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO...............................................................
99
100
14
1 UM SIGNIFICATIVO ENCONTRO COM O UNIVERSO DA PESQUISA
CIENTIFICA
No ano de 2014, a pesquisa científica começou a fazer parte da rotina acadêmica da
autora desta dissertação a partir do momento em que começou a frequentar o Grupo de
Estudos e Pesquisa em Música (GRUMUS) da Escola de Música da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (EMUFRN). O principal motivo que levou a autora deste trabalho a
fazer parte desse Grupo, foi o desejo de participar dos estudos ali desenvolvidos, a
curiosidade em saber como era ser um (a) pesquisador (a), como era fazer parte de um grupo
de pesquisa em Música.
Nesta época, a autora desta pesquisa havia escrito o seu primeiro artigo científico, uma
produção em conjunto com uma professora da área de Educação Musical, e esse trabalho a
incentivou para o estudo sobre pesquisa e produção científica na área. Compreendeu-se que
ingressar no GRUMUS deixaria a autora deste trabalho mais próxima da produção de estudos
voltados para a área de Educação Musical, fato este, que se comprovou após a sua entrada no
Grupo, pois, foi possível estudar sobre metodologia em pesquisa científica e assim nortear a
sua própria produção de trabalhos acadêmicos.
As reuniões do GRUMUS aconteciam uma vez por semana, aonde eram discutidos e
abordados inúmeros aspectos técnicos e humanos do fazer científico em Música. A partir de
então, a autora deste trabalho se percebeu, mais precisamente, como uma educadora
pesquisadora que construía o seu próprio entendimento sobre o educar a partir da pesquisa em
Música. Compreendeu, a partir desta vivência, que ser professor (a) é ser pesquisador (a), mas
que ser pesquisador (a) exige metodologia científica, uma metodologia que valide e qualifique
os resultados de pesquisas e estudos que serão em algum momento da profissão do (a)
pesquisador (a) educador (a) musical uma referência para a sua prática docente.
O envolvimento da autora desta dissertação com a pesquisa cientifica continuou se
desenvolvendo com o seu ingresso no Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Todo conhecimento construído a
partir das investigações suscitadas pela curiosidade epistêmica desenvolvida durante este
processo inicial de descoberta e desenvolvimento como pesquisadora foi, ao mesmo tempo,
descortinado, posto em prática, pois, em coexistência com todo este processo, esteve sempre à
atuação docente da autora deste trabalho, o que a possibilitou utilizar o conhecimento
científico que estava sendo alicerçado, através da prática da investigação científica no seu
15
fazer docente, portanto, construir conhecimento e aplicar esse conhecimento no seu cotidiano
foi um dos pontos de partida para o interesse em estudar a temática autonomia docente.
O PPGMUS da UFRN conscientizou a autora desta dissertação de que as vertentes
ideológicas influenciam na postura do sistema de Educação e, consequentemente, na postura
dos educadores. Assim, percebeu-se, então, como transformar conceitos em acordo com os
próprios interesses, percepções e constatações.
Percebendo a ação docente com um olhar de conscientização, buscou-se estudar sobre
o assunto encontrando o seu primeiro referencial teórico nesta temática em Contreras (2002),
aonde se pôde constatar que autonomia docente é um processo dependente de fatores
diversos, que perpassam por ideologias e modos de construir-se como docente.
Com um olhar crítico reflexivo, começou-se a indagar o processo de formação inicial
pelo qual passou a autora deste trabalho que se questionou sobre até que ponto o seu processo
de formação inicial, ainda como licencianda em Música, poderia ter influenciado na sua
autonomia docente. Buscou-se respostas na investigação científica, estudando sobre o
processo inicial da autonomia docente desenvolvido a partir da experiência com o Estágio
Supervisionado (ES), mais precisamente, o estágio na Educação Infantil (EI).
Contando então com a colaboração de 6 egressos (as) do Curso de Licenciatura em
Música (CLPM) da UFRN, pôde-se, na condição de pesquisadora, construir conhecimentos e
compreensões acerca deste processo de desenvolvimento da autonomia docente a partir da
formação inicial do educador musical.
Trata-se, de uma pesquisa qualitativa pelo fato de que esta abordagem considera que:
[...] há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem (KAUARK; MANHÃES, 2010, p. 26).
Assim sendo, a abordagem qualitativa atende as necessidades desta pesquisa e
contribui para que o processo de investigação flua de maneira condizente com as experiências
vivenciadas pelos (as) 6 egressos (as) do CLPM / UFRN que dele participaram.
16
1.1 Vivenciando e praticando a teoria na contextualização escolar
As experiências mais decisivas na vida da autora desta dissertação quanto ao
desempenho do papel de educadora musical, foram os ES que fazem parte do currículo do
CLPM da UFRN e, precisamente, o Estágio Supervisionado I que trata da experiência com a
EI. Este estágio na EI foi um divisor de águas na vida profissional da autora deste trabalho,
quando, a partir desta experiência, sentiu-se capacitada para se assumir como educadora
musical. Diante disso, entende-se que estes estágios foram potencializadores do que hoje a
autora desta dissertação vivencia como autonomia docente.
Baseado no pensamento de Pimenta (2012, p. 205) de que o estágio “[...] é uma
atividade teórica de conhecimento da práxis dos professores [...]”, compreende-se que o ES se
caracteriza como uma etapa de grande significância para a formação docente, pois, aproxima
o futuro educador do cotidiano da escola, fazendo com que seja selecionado os principais
aspectos educativos que possam ser analisados, refletidos, significados, investigados bem
como abordados pelo (a) estagiário (a) com a finalidade de qualificação profissional.
O (a) estagiário (a) pauta as suas ações docentes vivenciadas e experimentadas durante
o período de ES em práticas assertivas e construtivas para o desenvolvimento da sua futura
atividade profissional. Como afirma Pimenta (2012, p. 205), o estágio como “[...] atividade
teórica possibilita conhecer a realidade (a prática objetiva), tomando-se essa realidade como
objeto de conhecimento, como referência, para, a seguir, estabelecer-se idealmente a realidade
que se quer”.
Por se tratar, o ES, de uma etapa decisória nos cursos de Licenciatura e aqui,
especificamente, no CLPM / UFRN, o qual executa o papel de componente curricular
obrigatório, torna-se também uma forma de o (a) licenciando (a) conhecer e se aproximar do
seu futuro campo de atuação profissional.
A experiência vivencial que é promovida pelo ES pode proporcionar para o (a)
estagiário (a) condições de uma formação que o (a) conduza para a autonomia do ser docente,
pois, ao construir formas de atuação desenvolvidas a partir da experiência em um contexto
real sendo também uma experiência que conduz ao exercício de uma prática docente, ou seja,
ao contato com a sala de aula, assim o (a) estagiário (a) finda agregando conhecimentos
práticos aos conhecimentos teóricos apresentados no decorrer de sua formação inicial.
Acreditando-se então que “[...] ninguém é sujeito da autonomia de ninguém [...]”
(FREIRE, 2014, p. 105), a autonomia do educador musical é conquistada a cada dia através de
17
sua prática docente, prática a qual se é exposta ao (a) estagiário (a), ou seja, ao futuro
educador musical, desde a experiência das regências de suas aulas em seus estágios
curriculares obrigatórios.
A experiência adquirida pelo (a) licenciando (a) durante sua vivência no ES é marcada
por descobertas e afirmações que serão adotadas como parte do aprender a ser deste (a)
educador (a) em formação, pois, assim como nos pauta Santos e Fernandes (2014), o ES é
uma prática que coloca o (a) licenciando (a) em contato com o universo da educação escolar
conduzindo-o (a) para além dos limites dos muros da Universidade.
Esta pesquisa traz a possibilidade de conhecer a aplicabilidade do ES em dois
contextos diferenciados de instituições que ofertam a EI, aonde 4 dos (as) 6 (a) alunos (a)
egressos (as) do CLPM / UFRN realizaram seus estágios em escolas da rede particular de
Educação, enquanto 2 dos (as) alunos (as) egressos (as) colaboradores (as) da pesquisa
realizaram os seus estágios em um Colégio de Aplicação.
A EI é uma etapa da Educação Básica (EB) que necessita do educador a consciência
de que o cuidar e o educar, neste contexto educacional, são conceitos indissociáveis o que, por
vezes, pode constituir-se em um desafio a mais para este futuro educador. Para Pimenta
(1997), a partir da experiência no ES, o (a) estagiário (a) compreende o ensino como uma
prática social que constitui e transforma os saberes e fazeres docentes.
O (a) estagiário (a), através de uma práxis responsável, crítica e reflexiva que busca
sempre a assertividade em sua ação educativa, pode já ir internalizando a autonomia em sua
construção docente. A autonomia docente é “[...] uma necessidade educativa, e não só
trabalhista, é que as características educativas da profissão de professor nos informam da
maneira pela qual a autonomia dos professores deve ser entendida” (CONTRERAS, 2002, p.
195), podemos compreendê-la então, como sendo relativa e relacional, a qual é construída
sobre tudo na relação com o outro. Esta necessidade educativa, estando sendo vivenciada de
forma consciente, alicerça o real desenvolvimento da autonomia docente em sua prática após
sua formação, posto que a autonomia do professor é indissociável à sua prática docente,
mesmo que essa autonomia seja limitada pelo contexto que este educador vivencie, pois
Quando pensamos a práxis do professor, entendemos que esta é a exteriorização dos sistemas das disposições estruturadas (no meio social) e estruturantes (nas mentes), portanto reveladora da ação do habitus, que por sua vez é capaz de expressar num movimento dialético as trocas entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo. Isto nos leva a pensar que cada experiência vivida pelo agente pode forjar um novo habitus, como produto das experiências práticas, em condições específicas da docência. Essas
18
relações levam o indivíduo a desenvolver gostos, sentimentos, valores, vontades, capacidade de escolhas que não podem ser calculadas de maneira mecânica. O modo de perceber e fazer suas escolhas passa a ser a exteriorização da incorporação desse novo habitus adquirido. Partindo dessa premissa, pode-se afirmar que o professor é um agente social, fruto das várias interações estabelecidas entre vários outros campos sociais e, portanto, traz consigo estruturas incorporadas que influenciarão a sua práxis no âmbito escolar. Esse agente é capaz de internalizar em suas práticas os ideais e valores de um determinado grupo social e/ou indivíduos produtos de uma mesma trajetória social (SILVA; ASSIS, 2014, p. 81).
Essa pesquisa então traz as impressões de 6 egressos (as) do CLPM / UFRN no que se
refere ao componente curricular Estágio Supervisionado I (na EI). Trata-se de 6 jovens recém-
formados.
Para explicitar, de forma mais ampla, o caminho que cada um (a) dos (as) egressos
(as) que participaram desta pesquisa fizeram, até chegarem à aurora de sua autonomia docente
a partir da experiência do Estágio Supervisionado I, explora-se aqui também aspectos que
tiveram de ser vencidos, ou seja, barreira de entendimento e postura profissionais com as
quais esses (as) egressos (as) em sua atuação, como licenciandos estagiários, tiveram que
romper. Entendendo, pois que
A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependência e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis (BARROSO, 1996, p. 17).
Compreendendo que uma prática docente autônoma é uma prática que articula saberes,
envolvidos por um sentimento de pertencimento, percebe-se que a experiência docente
construída através do ES pode vir a agregar valores positivos para uma posterior prática
profissional do (a) estagiário (a), pois, com a experiência desta vivência, o (a) estagiário (a)
adquire um saber desenvolvido pelas interações educativas / educacionais expostas em seu
cotidiano durante o período de seu estágio.
A princípio foram elencados os seguintes objetivos:
Objetivo Geral
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Compreender como o campo de estágio colaborou e influenciou o desenvolvimento
da autonomia docente dos (as) participantes da pesquisa.
Objetivos Específicos
Conhecer as superações que o ES na EI desenvolve nos (as) estagiários (as);
analisar o processo de autonomia docente construído pelo (a) educador (a) musical
egresso (a) do CLPM da UFRN, a partir do ES;
descobrir habilidades docentes adquiridas e desenvolvidas a partir da prática do ES;
apontar as principais dificuldades encontradas pelo licenciando a partir da vivência
proporcionada pelo estágio.
Esta pesquisa pretende contribuir para a construção do conhecimento na área da
Educação Musical e, precisamente, colaborar com a consciência da importância e dos
benefícios de estreitar o caminho entre a teoria e a prática docente, sendo este estreitamento
conduzido com responsabilidade e sentimento de respeito aos envolvidos em todo o processo
educativo ao qual o componente curricular ES depende para a sua existência e manutenção.
Neste primeiro capítulo, temos a trajetória de vida que conduziu a pesquisadora até o
presente momento, bem como expõe-se as causas que consolidaram o interesse pelo tema
desta pesquisa.
No segundo capítulo, é exposto as bases teóricas que fundamentam esta pesquisa.
Essas bases discutem sobre os temas Autonomia, Autonomia Docente, ES, Saberes Docentes,
bem como a Criança e a EI.
No terceiro capítulo, o texto descreve a metodologia, o caminho percorrido, traçando
cada etapa da pesquisa, desde a sua natureza até a instrumentalização para a análise dos dados
e obtenção dos resultados.
O quarto capítulo traz o estado do conhecimento desta pesquisa, discussões sobre o
tema estágio e sua importância como componente curricular nos cursos de Licenciatura.
O quinto capítulo versa sobre a EI e os seus atores, destacando a criança e as suas
diferenças.
O sexto capítulo traz a contextualização do Estágio Supervisionado I como
componente curricular do CLPM / UFRN.
O sétimo capítulo expõe os resultados da pesquisa.
O oitavo capítulo é composto pelo texto das considerações finais.
20
Os apêndices trazem a carta de aceite (APÊNDICE A) e o questionário de pesquisa
(APÊNDICE B).
21
2 O ALICERCE DO CONHECIMENTO CONSTRUÍDO EM CONJUNTO
No momento em que a autora desta dissertação começou a escrever o projeto desta
pesquisa para concorrer a uma vaga no PPGMUS da UFRN, teve que mergulhar no universo
da pesquisa científica, compreender seus caminhos e traçar, a partir desta compreensão, um
projeto que pudesse estar qualificado para ser aprovado no PPGMUS / UFRN. Logo nesta
fase de estudos para a escrita do seu pré-projeto de pesquisa, começou a conhecer alguns de
seus referenciais teóricos, referenciais estes que a fizeram compreender que o mundo da
pesquisa científica, na verdade, sempre fez parte da sua vida enquanto acadêmica.
Compreendeu que os métodos de pesquisa são caminhos que tomam a trajetória do (a)
pesquisador (a) organizado e favorece resultados precisos sobre o objeto de pesquisa.
Enquanto pesquisadora, a temática do Humano sempre a interessou, desenvolvendo o
interesse por descobrir as motivações e os caminhos que as pessoas percorrem para serem e
fazerem o que fazem.
A imersão em um Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu fomentou e ampliou a
sua capacidade de perceber o universo da pesquisa por angulações ampliadas, pois, dentro
deste Programa de Pós-Graduação pôde enquanto neófita na área da pesquisa científica, trocar
informações com outros colegas que, ao longo do seu processo de formação contínua,
contribuíram para a construção do seu conhecimento sobre pesquisa científica.
O alicerce desta pesquisa começou a ser traçado e construído, nas aulas do PPGMUS /
UFRN, quando a autora desta dissertação tomou contato com a exposição de seus colegas e de
suas pesquisas, através das discussões, das leituras, colocações e impressões que foram
traçadas ao longo de sua convivência, dito isto, afirma-se que, antes de todo literário
especializado que será apresentado a seguir, foi construído um referencial Humano junto aos
colegas e professores do PPGMUS / UFRN aos quais não se pode deixar de também
referenciar, pois trata-se de um referencial construído em conjunto, através da disposição que
se teve enquanto grupo, de respeitando as diferenças e as divergências, construindo
conhecimento científico e dividindo esse conhecimento em partes inteiras de cada um dos
envolvidos neste processo.
O contexto desta pesquisa apresenta a construção do conhecimento partir da
experiência vivenciada pelo (a) estagiário (a) de Música na EI, o ES é um dos componentes
curriculares da formação dos professores que aproxima a teoria com a prática, promovendo o
22
desenvolvimento de vivências que requerem o envolvimento do docente em formação com o
cotidiano escolar.
O tipo de ação docente que o ES conduz é uma experiência que leva esclarecimento ao
entendimento de questões lançadas durante os primeiros anos do curso de Licenciatura,
desenvolvendo então, nos (as) licenciandos (as), a preparação para o exercício da docência,
assim como podemos entender a partir das colocações de Pimenta (2001, p. 183):
O estágio é um dos componentes do currículo do curso de formação de professores. Currículo que é profissionalizante – isto é, prepara para o exercício de uma profissão. Essa preparação é uma atividade teórica, ou seja, atividade cognoscitiva (conhecer) e teleológica (estabelecer finalidades; antecipar idealmente uma realidade que ainda não existe e que se quer que exista).
Dito isto, compreende-se que o conceito de prática está relacionado com o estágio, e
para o entendimento de sob que luz existe essa relação, toma-se como uma das bases teóricas
os estudos que direcionam o olhar para o estágio e para que tipo de construção docente ele se
volta, para isto, Pimenta (2012, p. 35) colabora com esta pesquisa através do conceito de
prática como aquisição de experiência, afirmando que:
O exercício de qualquer profissão é prático nesse sentido, na medida em que se trata de fazer ‘algo’ ou ‘ação’. A profissão de professor é também prática. E se o curso tem por função preparar o futuro profissional para praticar, é adequado que tenha a preocupação com a prática. Como não é possível que o curso assuma o lugar da prática profissional (que o aluno exercerá quando for profissional). O seu alcance será tão somente possibilitar uma noção da prática, tomando-a como preocupação sistemática no currículo do curso.
Estar entrando em contato com o futuro campo de trabalho faz com que o (a)
estagiário (a) tenha a possibilidade de praticar, mesmo que de forma simulada, a sua futura
profissão, com isso, vai-se descortinando, todo um contexto específico da sua futura área de
atuação, contexto este que vai melhor explicando-se no decorrer do seu estágio.
Desta forma, descobrindo inúmeras formas de conhecer, saber, fazer e ser, o (a)
estagiário (a), ou seja, a partir de sua atuação no campo, vai se tornando responsável por uma
futura práxis profissional que possa desenvolver valores humanos que estejam além de uma
repetição de conceitos verticais, como nos afirmam Vasconcelos e Brito (2006),
desenvolvendo assim uma práxis docente significativa, ou seja, a consciência de sua ação
docente, uma ação que o (a) faça conhecer a sua realidade para que, possa então refletir sobre
23
essa realidade e, finalmente, questioná-la.
Entende-se, pois, que ao estagiar, o (a) então licenciando (a) entra em contato também
com o Humano e suas diversidades, pois os saberes construídos no campo, só se
desenvolvem e se descortinam pela tomada de consciência de que a prática docente engloba
não apenas saberes técnicos da profissão, mas também o contato direto com outros seres
humanos, outras realidades de vida, para com as quais este (a) estagiário (a) direcionará a sua
ação docente, assim como nos conceitos de saberes experienciais de Freire (2014) que aponta
uma igual importância ao educador e ao educando, entende-se o fazer educação, como uma
mão dupla, em que os saberes são desenvolvidos de maneira conjunta entre os envolvidos.
A contribuição do pensamento de Freire (2014) nessa pesquisa volta-se para a
compreensão do termo autonomia docente, onde não se conceitua o termo autonomia, mas
apresentam-se posturas as quais relaciona a uma prática docente autônoma, principalmente
por apontar a postura ética do docente, aonde a coerência do falar (teoria) e do fazer (prática)
ganha destaque. Freire (2014, p. 101) afirma que:
Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica. Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que faço. É a preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário, com humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu saber de ‘experiência feito’ que busco superar com ele. Tão importante quanto o ensino dos conteúdos, é a minha coerência na classe. A coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço.
É interessante apontar o (a) estagiário (a) como agente propulsor desta adequação
fazendo de sua vivência no ES uma prática que possibilite articular teoria, pesquisa e prática,
ficando o (a) estagiário (a) responsável por praticar o exercício da sua docência
supervisionada de forma qualificada e que, assim sendo, possa responder aos anseios de
contribuição docente para uma educação que integre todo o ser, possibilitando que esse (a)
estagiário (a) constitua-se em um sujeito pensante, crítico e reflexivo. Por esse viés, trazemos
o pensamento de Bellochio e Beineke (2007, p. 75) ao afirmarem que:
[...] o estágio supervisionado não pode ser tomado como uma etapa em que o aluno transpõe os conhecimentos teóricos adquiridos durante a formação inicial formal para a prática. Deve constituir-se como um dos momentos integrantes fundamentais do curso de formação de professores, integrado ao âmbito de todos os componentes curriculares e experiências já
24
internalizadas. Ao mesmo tempo, deve ser tomado como um momento de produção reflexiva de conhecimentos, em que a ação é problematizada e refletida no contexto presente e, após sua realização, momento este que envolve a discussão com a orientação do estágio e pares da área.
Sobre esse pensamento, que integraliza o fazer da educação como um todo, se traz o
pensamento de Morin (2008) que aponta que se deve ecologizar as disciplinas, levar em conta
todo o seu contextual inclusive as condições culturais e sociais, ver em que meio elas nascem,
seus problemas, suas escleroses e transformações. Ainda de acordo com Morin (2008), é
preciso que uma disciplina seja, ao mesmo tempo, aberta e fechada e, a partir desta premissa,
pode-se questionar na prática do estágio como componente curricular, uma possível
flexibilização necessária ao contexto que o (a) estagiário (a) diagnostica como necessidades
de troca de diretrizes que possam ser encontradas durante o seu período de ES.
Entendendo-se que se deve relacionar e articular junto ao quadro de experiências
acumuladas, sendo estas compatíveis com os esquemas de percepção desenvolvido pelo (a)
licenciando (a) no decorrer do seu Curso de formação inicial, o ES pode então promover, nos
(as) licenciandos (as) estagiários (as), a consciência do refletir docente, assim sendo, o estágio
pode, dependendo dos atores envolvidos, professor (a) orientador (a), professor supervisor,
contexto educacional, contribuir de forma positiva para o processo de autonomia docente do
(a) futuro (a) educador (a), pois
O ES constitui-se na ação do licenciando em sua articulação com o curso de licenciatura em música (espaço no qual são construídos conhecimentos e vivências musicais, assim como representa local de discussão sobre a docência em música) e com a docência em música realizada em espaço de atuação profissional. Essa ação real é, ao mesmo tempo, objetiva e subjetiva. Objetiva porque implica o trabalho com conteúdos específicos de música, e subjetiva por produzir diversos sentidos e significados nos envolvidos (estagiários e alunos) (BELLOCHIO, 2012, p. 245).
Percebe-se que o ES pode constituir-se como uma circunstância de reflexão, de
formação contínua e de ressignificação de saberes da prática docente assim como nos pauta
Pimenta e Lima (2012).
Torna-se inevitável a partir da nova contextualização do ensino da Música nas escolas
da rede de EB brasileira em que a música é componente curricular obrigatório a partir da Lei
11.769 / 2008 (BRASIL, 2008), que os (as) educadores (as) musicais, sejam exigidos (as) em
suas funções com expectativa de qualificação profissional adequada para tal, o que neste
ponto vê-se que o ES pode contribuir para tal realidade pois, se torna, de certa forma, um elo
25
entre a formação acadêmica e a funcionalidade desta. Nesse sentido, a reflexão sobre a prática
torna-se então uma grande aliada de todo esse processo educativo. Nas palavras de Gainza
(2003, p. 12, tradução nossa) acerca das reflexões que o educador musical na
contemporaneidade deve fazer para desenvolver um trabalho assertivo, vemos que:
A realidade atual mostra-nos reiteradamente a potência criativa das novas gerações. É necessário que os docentes de música e de arte se acerquem para interagirem trocando inquietudes e reflexões sobre o que os guiam, aprendendo a discernir o supérfluo do profundo, o falso do verdadeiro, o urgente do fugaz e desnecessário.1
Sobre este aspecto, ainda contribuindo com o diálogo traçado nesta pesquisa,
consideram-se as colocações de Campos (2013) ao afirmar que os saberes devem se integrar
para assim promover habilidades essenciais à atuação docente.
Se faz indispensável para o alicerce teórico desta pesquisa, o diálogo com Contreras
(2002), visto ser um autor significativo para esta temática. A partir da leitura da sua obra, foi
traçada a base de entendimento e esclarecimento sobre o tema autonomia docente que traz
interpreta a autonomia docente à luz de três diferentes tradições docentes. Para Contreras
(2002, p. 193):
[...] a autonomia, no contexto da prática do ensino, deve ser entendida como um processo de construção permanente no qual devem se conjugar, se equilibrar e fazer sentido muitos elementos. Por isso, pode ser descrita e justificada, mas não reduzida a uma definição autoexplicativa.
Quanto aos conhecimentos na área da EI, esta pesquisa fez suas buscas em diretrizes
oficiais, tais como, Brasil (1998a, 1998b, 2009, 2014) bem como na literatura voltada para a
criança percebida como ser histórico e social. Para tanto, se dialoga com Victório (2015),
Richter e Barbosa (2013), Ariès (c1981), Paschoal e Machado (2009), Faria e Finco (2013),
Abramowicz; Vandenbroeck (2013).
Por fim, colaborando para o entendimento mais amplo do conceito de autonomia se
traz o pensamento de Zatti (2007), AUTONOMIA (2006), Barroso (1996) e AUTONOMIA
(2007). A partir destas contribuições, entende-se que não existe apenas um conceito de
1“La realidad actual nos muestra reiteradamente la po tencia creativa de las nuevas generaciones. Es necesario
que los docentes de música y de arte se acerquen para conocerse mejor, para intercambiar inquietudes y
reflexionar con apertura acerca de los móviles comunes que los guían, aprendiendo a discernir lo superfluo de
lo profundo, lo falso de lo verdadero, lo urgente de lo fugaz e innecesario.” (GAINZA, 2003, p. 12).
26
autonomia, mas que este é um termo polissêmico, ao qual várias ideologias veem fazendo uso
ao logo da história da humanidade.
2.1 Sobre Autonomia
Autonomia se conceitua da seguinte forma:
AUTONOMIA [...] Termo introduzido por Kant para designar a independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto de desejo e a sua capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria, que é a da razão. Kant contrapõe a A, à heteronomia, em que a vontade é determinada pelos objetos da faculdade de desejar. Os ideais morais de felicidade ou perfeição supõem a heteronomia da vontade porque supõem que ela seja determinada pelo desejo de alcançá-los e não por uma lei sua. A independência da vontade em relação a qualquer objeto desejado é a liberdade no sentido negativo, ao passo que a sua legislação própria (como ‘razão prática’) é a liberdade no sentido positivo. ‘A lei moral não exprime nada mais do que a da razão pura prática, isto é, da liberdade’ [...]. Em virtude de tal A., ‘todo ser racional deve considerar-se fundador de uma legislação universal’ [...]. Esse ficou sendo o conceito clássico da A. Mais genericamente, fala-se hoje, p. ex., de ‘princípio autônomo’ no sentido de um princípio que tenha em si, ou ponha por si mesmo, a sua validade ou a regra da sua ação. (AUTONOMIA, 2007, p. 97-98).
Assim como AUTONOMIA (2007), cita-se também AUTONOMIA (2006)2 proferida
pelo filósofo Kant em sua definição para a autonomia a partir da modernidade:
autonomia [...] 1. *Liberdade política de uma sociedade capaz de governar-se por si mesma e de forma independente, quer dizer, com autodeterminação. 2. Em Kant. a autonomia é o caráter da vontade pura que só se determina em virtude de sua própria lei, que é a de conformar-se ao dever ditado pela razão prática e não por um interesse externo: ‘A autonomia da vontade é essa propriedade que tem a vontade de ser por si mesma sua lei (independentemente de toda propriedade dos objetos do querer). Portanto, o princípio da autonomia é: sempre escolher de tal forma que as máximas de nossa escolha sejam compreendidas ao mesmo tempo como leis universais nesse mesmo ato de querer’. Toda a moral kantiana repousa na distinção entre a legalidade e a moralidade: uma ação legal é aquela que é feita em conformidade com o dever: uma ação moral é aquela que é feita por dever.
Na contemporaneidade, o tema autonomia é um tema pertinente em diversos setores
do conhecimento, tornando-se então em um discurso constante por diversas contextualizações
2Documento não paginado.
27
Histórico / Sociais. Para iniciar este diálogo sobre autonomia situa-se o (a) leitor (a) em
algumas de suas conceituações.
De acordo com Zatti (2007, p. 12, grifos do autor): “[...] etimologicamente autonomia
significa o poder de dar a si a própria lei, autós (por si mesmo) e nomos (lei). Não se entende
este poder como algo absoluto e ilimitado, também não se entende como sinônimo de
autossuficiência.” Zatti (2007, p. 12, grifos do autor) ainda coloca que:
Indica uma esfera particular cuja existência é garantida dentro dos próprios limites que a distinguem do poder dos outros e do poder em geral, mas apesar de ser distinta, não é incompatível com as outras leis. Autonomia é oposta a heteronomia, que em termos gerais é toda lei que procede de outro, hetero (outro) e nomos (lei).
Sobre a heteronomia, Zatti (2007) afirma que é antônima da Autonomia, assim sendo,
um indivíduo não construiu sua autonomia ainda estando na heteronomia. Embora existam
diversos conceitos sobre o que seja Autonomia, conceitos estes, que são determinados a partir
do contexto em que são vivenciados, Zatti (2007, p. 12) faz a seguinte afirmação:
Apesar de o conceito de autonomia ter sido definido e adquirido centralidade na modernidade, especialmente com Kant, já no pensamento grego era desenvolvida uma noção de autonomia. Ao longo da história essa noção vai adquirindo significados diferentes e, assim, vai sendo elaborada. Por isso, para entendermos a concepção de autonomia de um autor, precisamos olhar a qual heteronomia ele se opôs e o contexto histórico e teórico que o envolvia.
Em seguida demonstra-se o Quadro 1 com algumas das conceituações elencadas:
Quadro 1 - Algumas conceituações para o termo Autonomia (continua)
Na Grécia antiga
A noção de autonomia dos historiadores gregos fica
restringida à ideia de autodeterminação das unidades
políticas, as cidades. Ela é distinta da noção de soberania,
de autarquia, de poder absoluto. É aproximada do conceito
de autarquia, suficiência, de não ter necessidade de
ninguém.
28
Quadro 1 - Algumas conceituações para o termo Autonomia
(continuação)
Platão
(428/427 a.C. - 347 a.C.)
Em Platão, a noção de autonomia ainda não possui caráter
moral, mas ele, indiretamente, contribui para o
desenvolvimento do caráter moral do conceito moderno de
autonomia por ter pensado o autodomínio, somos bons
quando a razão governa e maus quando dominados por
nossos desejos [...].
Aristóteles
(384/383 a.C. - 322 a.C.)
Em Aristóteles a noção de autarquia recebe uma dimensão
moral. Agora se refere ao indivíduo humano e o que ele
visa na busca da felicidade. O Bem se basta por si mesmo,
é o seu próprio fim, é livre de toda necessidade. Assim a
felicidade e a autonomia se dão ao sujeito que possui tal
Bem [...].
Os estóicos
Embora ainda não usassem o termo autonomia, trouxeram
ideias que contribuíram muito para a evolução da noção,
como independência de toda regulação e de todo
constrangimento vindo do exterior, satisfação das próprias
necessidades sem que a cidade ou o indivíduo precise estar
em dependência de outro [...]
Maquiavel
(1469-1527)
Desenvolveu seu conceito pioneiro de autonomia política,
na obra Discursos [...], combinando dois sentidos de
autonomia. Um primeiro como liberdade de dependência, e
o segundo como poder de auto legislar.
Martinho Lutero
(1483-1546)
A autonomia como liberdade de dependência passa a ser
liberdade espiritual, interior, em relação ao corpo e suas
inclinações. Assim, o sujeito seria autônomo na medida em
que estivesse livre das inclinações do corpo e poderia
obedecer a Deus [...].
29
Quadro 1 - Algumas conceituações para o termo Autonomia
(conclusão)
Kant
Autonomia ganha maior força e centralidade, ele faz uma
transposição filosófica e crítica da autonomia religiosa de
Lutero para a autonomia moral. Ainda, Kant combina os
dois sentidos usados por Maquiavel numa explicação de
determinação da vontade. Autonomia, para ele, designa a
independência da vontade em relação a todo objeto de
desejo (liberdade negativa) e sua capacidade de
determinar-se em conformidade com sua própria lei, que é
a da razão (liberdade positiva). Na obra Sobre a Pedagogia,
ele vai propor a disciplina como a parte negativa e a
instrução como a parte positiva de uma educação
formadora de sujeitos autônomos.
Fonte: Zatti (2007).
Nota: Quadro 1 idealizado pela autora desta dissertação baseado em Zatti (2007).
Exposto o Quadro 1 conceitual sobre Autonomia descrito por Zatti (2007), e outros,
percebe-se que os conceitos descritos para autonomia estão sempre voltados para um certo
grau de decisão e escolhas próprias.
No que diz respeito à fundamentação teórica a qual esta pesquisa traz acerca da
autonomia contextualizada com o fazer docente tem-se como alicerce a obra de Contreras
(2002) que desenvolve o conceito de autonomia docente a partir de três modelos de
professores que nascem de três concepções ideológicas diferentes sobre a profissão de
professor.
2.2 Concepção de Autonomia a partir de três modelos profissionais de professores e suas
dimensões da profissionalidade
Contreras (2002, p. 269) entende que a autonomia:
[...] não consiste nem no isolamento nem no abandono de escolas e professores à própria sorte. Parte, mais precisamente, de conceber as relações entre professores e sociedade sob outras bases (as da constituição comunitária), de forma que os vínculos não sejam de natureza burocrática nem mercadológica, mas política e pessoal.
30
Para Contreras (2002), cada um dos três modelos de professor citados entende de
forma diferente as competências que a prática docente exige, estabelece também âmbitos de
decisão e responsabilidades diferentes para com a prática docente, logo, para cada um destes
três modelos que são expostos a seguir, há uma versão de autonomia, pois o significado
adquirido para a autonomia profissional nestes casos, depende da forma com que se resolve a
relação entre prática, finalidade, exigências e condições de cada contexto. Pode-se observar
em cada um destes modelos, as vantagens e inconvenientes apresentados em cada uma destas
visões de autonomia.
Diante disso, segue o Quadro 2, 3 e 4 que apresentam as dimensões da
profissionalidade do professor de acordo com os três modelos de professores elencados por
Contreras (2002):
Quadro 2 - Modelo do Professor Especialista Técnico
DIMENSÕES DA PROFISSIONALIDADE DO PROFESSOR
Especialista Técnico
Obrigação moral
Rejeição de problemas normativos.
Os fins e valores passam a ser resultados estáveis e bem
definidos, os quais se espera alcançar.
Compromisso com
a comunidade
Despolitização da prática.
Aceitação das metas do sistema e preocupação pela eficácia e
eficiência em seu êxito.
Competência
profissional Domínio técnico dos métodos para alcançar resultados previstos.
Concepção de
autonomia
profissional
Autonomia como status ou como atributo.
Autoridade unilateral do especialista.
Não ingerência.
Autonomia ilusória: dependência de diretrizes técnicas,
insensibilidade para os dilemas, incapacidade de resposta
criativa diante da incerteza.
Fonte: Contreras (2002).
Nota: Quadro 2 idealizado pela autora desta dissertação baseado em Contreras (2002).
31
Quadro 3 - Modelo do Professor Profissional Reflexivo
DIMENSÕES DA PROFISSIONALIDADE DO PROFESSOR
Profissional Reflexivo
Obrigação moral
O ensino deve guiar-se pelos valores educativos pessoalmente
assumidos.
Definem as qualidades morais da relação e da experiência
educativas.
Compromisso com
a comunidade
Negociação e equilíbrio entre os diferentes interesses sociais,
interpretando seu valor e mediando política e prática entre eles.
Competência
profissional
Pesquisa / reflexão sobre a prática.
Deliberação na incerteza acerca da forma moral ou
educativamente correta de agir em cada caso.
Concepção de
autonomia
profissional
Autonomia como responsabilidade moral individual,
considerando os diferentes pontos de vista.
Equilíbrio entre a independência de juízo e a responsabilidade
social.
Capacidade para resolver criativamente as situações problemas
para realização prática das pretensões educativas.
Fonte: Contreras (2002).
Nota: Quadro 3 idealizado pela autora desta dissertação baseado em Contreras (2002).
Quadro 4 - Modelo do Professor Intelectual Crítico (continua)
DIMENSÕES DA PROFISSIONALIDADE DO PROFESSOR
Intelectual Crítico
Obrigação moral Ensino dirigido à emancipação individual e social, guiada pelos
valores de racionalidade, justiça e satisfação.
Compromisso com
a comunidade
Defesa de valores para o bem comum (justiça, igualdade e
outros).
Participação em movimentos sociais pela democratização.
Competência
profissional
Auto-reflexão sobre as distorções ideológicas e os
condicionamentos institucionais.
Desenvolvimento da análise e da crítica social.
Participação na ação política transformadora.
32
Quadro 4 - Modelo do Professor Intelectual Crítico
(conclusão)
DIMENSÕES DA PROFISSIONALIDADE DO PROFESSOR
Intelectual Crítico
Concepção de
autonomia
profissional
Autonomia como emancipação: liberação profissional e social
das opressões.
Superação das distorções ideológicas.
Consciência crítica.
Autonomia como processo coletivo (configuração discursiva de
uma vontade comum), dirigido à transformação das condições
institucionais e sociais do ensino.
Fonte: Contreras (2002).
Nota: Quadro 4 idealizado pela autora desta dissertação baseado em Contreras (2002).
Ressalta-se que, em se tratando de analisar a postura profissional de um (a) recém-
formado, ou seja, de um (a) educador (a) que começa agora a exercer a sua profissão, pode-se
ter um olhar menos determinista para com a postura profissional deste, pois a experiência na
área pode vir a fazer com que este profissional se adapte e se flexibilize a outros contextos
trabalhistas que no decorrer de sua vida lhes exijam uma revisão em sua postura profissional.
33
3 O CAMINHO PERCORRIDO
De acordo com Laville e Dionne (1999, p. 11) método é uma palavra derivada do
grego aonde “methodos” e formado por “meta” que significa “para” e “hodos” que significa
“caminho”, portanto, de acordo com esta colocação, estamos diante do caminho para, ou
seja, pesquisa.
Ludke e André (2015) nos coloca a questão de que a palavra pesquisa vem se
popularizando e, de uma maneira que chega, por vezes, ao comprometimento de sua essência,
visto os estreitamentos causados por atividades que não representam verdadeiramente a
essência do ato de pesquisar, que não passam de atividades de consultas, o que não condiz
com o que seja a ação de pesquisar.
Uma pesquisa científica se faz pela promoção de confronto entre os dados, as
evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico
construído. A respeito deste, Ludke e André (2015, p. 2) também afirmam que:
Em geral isso se faz a partir de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita a sua atividade de pesquisa a determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento. Trata-se, assim, de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar conhecimentos sobre aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas. Esses conhecimentos são, portanto, frutos da curiosidade, da inquietação, da inteligência e da atividade investigativa dos indivíduos, a partir e em continuação do que já foi elaborado e sistematizado pelos que trabalharam o assunto anteriormente. Tanto pode ser confirmado ou negado pela pesquisa o que se constituiu a respeito deste assunto, mas o que não pode é ser ignorado.
O ponto de partida para a organização desta pesquisa deu-se a partir da exposição que
Laville e Dionne (1999) indica, como caminho, sequência básica a seguir, alertando, que se
trata apenas de um caminho lógico, uma base, na qual o (a) pesquisador (a) norteia-se para dar
início ao seu trabalho de pesquisa científica, trata-se pois, da seguinte lógica:
34
Figura 1 - Sequência lógica básica seguida para o desenvolvimento da pesquisa
Fonte: Laville e Dionne (1999). Nota: Figura 1 idealizada pela autora desta dissertação baseado em Laville e Dionne (1999).
Laville e Dionne (1999) afirmam que destas etapas básicas de um processo de
pesquisa supõe certos outros números de operação e que o pesquisador experiente sabe que
existe e assim lança mão de outras tantas relações lógicas que são derivadas deste
procedimento básico.
Walliman (2015, p. 5) coloca que “Pesquisa, de forma geral, define uma atividade que
envolve descobertas diversas, de um modo sistemático”. Também afirma que: “Uma
interpretação mais científica, todavia, é que a pesquisa proporciona o avanço da fronteira do
conhecimento, corroborando ou refutando algo que possivelmente já existia” (WALLIMAN,
2015, p. 5). Ainda complementa o seu raciocínio da seguinte forma:
Métodos de pesquisa são técnicas utilizadas para a realização das pesquisas e proporcionam os caminhos possíveis que devem ser delineados pelo pesquisador para coletar, ordenar e analisar informações, de modo a tecer conclusões. Ao escolher o método apropriado ao seu tipo de pesquisa, será possível atribuir validade às suas conclusões, garantindo que o novo conhecimento tenha bases sólidas (WALLIMAN, 2015, p. 5).
Diante do exposto, será descrito a partir de agora, o processo metodológico pelo qual
passou esta pesquisa. Esta pesquisa é de natureza qualitativa, que, nas palavras de Yin
(2016), é um campo multifacetado de investigação, marcado por diferentes orientações
metodológicas. Yin (2016) nos aponta cinco características da pesquisa qualitativa:
35
Figura 2 - Cinco características da Pesquisa Qualitativa
Fonte: Yin (2016). Nota: Figura 2 idealizada pela autora desta dissertação baseado em Yin (2016).
A pesquisa qualitativa envolve primeiro estudar o significado da vida das pessoas, tem
a capacidade de representar as visões e perspectivas dos participantes de um estudo bem como
captura suas perspectivas, desta forma, os eventos e ideias oriundos da pesquisa qualitativa
podem representar os significados dados a fatos da vida real pelas pessoas que os vivenciam,
abrange condições contextuais sejam essas condições, sociais, institucionais e ambientais.
Diante disso, a pesquisa qualitativa é guiada pelo desejo de explicar acontecimentos, por meio
de conceitos existentes ou emergentes. A pesquisa qualitativa procura coletar, integrar e
apresentar dados de diversas fontes de evidencia (YIN, 2016).
O objeto de estudo desta pesquisa começou a ser delimitado, a partir da compreensão
de que o ES caracteriza-se como uma etapa com grande valor de significado para a formação
inicial do (a) docente, pois, aproxima o (a) futuro (a) educador (a) do cotidiano da escola,
fazendo com que sejam selecionados pelo (a) discente do Curso de Licenciatura em Música,
os principais aspectos educacionais que possam ser analisados, refletidos, significados,
investigados bem como abordados enquanto estando este (a) licenciando (a) na condição de
estagiário (a), com vistas à contribuir de forma significativa para a qualificação profissional,
pautando assim este (a) estagiário (a), as suas ações docentes durante o período de ES, em
práticas assertivas e construtivas para o desenvolvimento da sua futura atividade profissional.
A compreensão da importância e relevância desta temática se consolidou com a etapa
da investigação do estado do conhecimento produzido na área até então. A partir desta etapa
foi formulado o problema de pesquisa.
Para Gil (2002) toda pesquisa se inicia com algum tipo de problema, ou indagação, o
problema de pesquisa pode ser determinado por razões de ordem prática ou de ordem
36
intelectual. A formulação do problema desta pesquisa deu-se após um longo processo de
reflexão e de imersão em fontes adequadas, aonde se iniciou o estado do conhecimento sobre
a temática do ES. Gil (2002, p. 25) também coloca que: “Um pesquisador pode interessar-se
por áreas já exploradas, com o objetivo de determinar com maior especificidade as condições
em que certos fenômenos ocorrem ou como podem ser influenciados por outros”.
O esquema básico que foi seguido para a formulação do problema desta pesquisa
apresenta-se a seguir na Figura 3:
Figura 3 - Formulação de um problema de pesquisa
Fonte: Laville e Dionne (1999).
Nota: Figura 3 idealizada pela autora desta dissertação baseado em
Laville e Dionne (1999).
A delimitação do objeto de estudo desta pesquisa, que é a relação existente entre a
autonomia docente desenvolvida a partir do componente curricular Estágio I, que, no CLPM /
UFRN é correspondente ao ES desenvolvido na EI e um grupo de egressos (as) do CLPM da
UFRN, deu-se a partir da seguinte questão (problema de pesquisa):
O contexto escolar pode influenciar no desempenho e desenvolvimento da
autonomia docente, desenvolvido a partir do ES em Música na EI? Sob que ou quais aspectos
pode acontecer essa influência?
Para Laville e Dionne (1999), o problema de pesquisa é o que mobiliza a pesquisa por
busca de maiores entendimentos, conhecimentos, compreensões e/ou soluções das questões
postas pelo real. O problema de pesquisa é um problema que se pode resolver com
conhecimentos e dados já disponíveis ou com aqueles factíveis de serem produzidos.
37
A partir deste ponto, seguiu-se para a construção da hipótese da pesquisa. O esquema
seguido para a elaboração da hipótese que respondeu provisoriamente à questão do problema
de pesquisa foi:
Figura 4 - O esquema da hipótese
Fonte: Laville e Dionne (1999). Nota: Figura 4 idealizada pela autora desta dissertação baseado em Laville e Dionne (1999).
A hipótese desenvolvida responde que, possivelmente, o contexto escolar pode
influenciar no desempenho e desenvolvimento da autonomia docente, desenvolvido a partir
do ES em Música na EI e este contexto se confirma sobre diversos aspectos.
A hipótese consiste em fornecer uma solução possível embora seja esta de natureza
provisória. Segundo Gil (2002) a hipótese é a proposição testável que pode vir a ser a solução
do problema. A partir da consciência de que esta hipótese além de não ser a única possível e
também pela consciência que a mesma poderia ser confirmada e/ou refutada, se deu o início
da investigação que proporcionou-nos encontrar respostas para o nosso problema de pesquisa
e para tal, delimitou-se a natureza, a abordagem e os instrumentos de coleta de dados bem
como para a análise destes dados de pesquisa coletados.
3.1 O Estudo de Caso
Em acordo com o até aqui exposto, esta pesquisa traz como abordagem metodológica
o estudo de caso, para Ludke e André (2015) o estudo de caso é um estudo de um caso seja
ele simples e específico, ou, complexo e abstrato. Complementam afirmando que o caso é
delimitado, com contornos claramente definidos, podendo o caso ser similar a outros, embora
ao mesmo tempo distinto, pelo fato de ter um interesse próprio e singular. Também afirmam
que na área da Educação existe uma representativa adesão a esse tipo de estudo.
Esta pesquisa leva em consideração o contexto dos (as) estagiários (as) do CLPM /
UFRN na EI, buscando relatar a realidade de forma profunda e concreta. Também conta com
38
o estudo das divergências de opiniões entre os participantes, tendo por vistas, o pressuposto
de que a realidade pode ser vista de várias perspectivas, embora, claro, existam as conclusões
feitas tendo por base de aferição o referencial teórico, conforme as principais características
expostas por (LUDKE; ANDRÉ, 2015).
Sobre os dados coletados em um estudo de caso, Ludke e André (2015) afirma que o
material obtido nestas pesquisas é rico em descrições de pessoas, situações e acontecimentos
bem como que o significado que os participantes do estudo de caso dão à sua vida é foco de
atenção especial pelo pesquisador. Ludke e André (2015) apontam como características
fundamentais do estudo de caso:
Quadro 5 - Características fundamentais do Estudo de Caso
(continua)
CARACTERÍSTICA REPRESENTAÇÃO DA
CARACTERÍSTICA
Os estudos de caso visam a
descoberta
Mesmo que o (a) investigador (a) parta de alguns
pressupostos iniciais, ele procurará se manter sempre
atento a novos elementos que podem emergir durante
o estudo. O quadro teórico original servirá de
estrutura básica a partir da qual novos aspectos
poderão ser detectados, novos elementos ou
dimensões poderão ser acrescentados na medida em
que o caso avance.
Os estudos de caso enfatizam a
interpretação em contexto
Um princípio básico deste tipo de estudo é que, para
uma apreensão mais completa do objeto, é preciso
levar em conta o contexto que ele se situa.
Os estudos de caso buscam
retratar a realidade de forma
concreta e profunda
O (a) pesquisador (a) procura relevar revelar a
multiplicidade de dimensões presentes em uma
determinada situação ou problema, focalizando-o
como um todo.
Os estudos de caso usam uma
variedade de fontes de
informação
Com essas informações oriundas de fontes variadas,
o (a) pesquisador (a) pode cruzar informações,
confirmar ou rejeitar hipóteses, descobrir novos
dados, afastar suposições ou levantar hipóteses
alternativas.
39
Quadro 5 - Características fundamentais do Estudo de Caso
(conclusão)
CARACTERÍSTICA REPRESENTAÇÃO DA
CARACTERÍSTICA
Os estudos de caso revelam uma
experiência vicária e permite
generalizações naturalísticas
O (a) pesquisador (a) procura relatar as suas
experiências durante o estudo de modo que o leitor
ou usuário possa fazer as suas generalizações
naturalísticas. Em lugar da pergunta: este caso é
representativo do quê? O leitor vai indagar: o que eu
posso (ou não) aplicar deste caso na minha situação?
Os estudos de casos procuram
representar os diferentes pontos
de vista presentes numa situação
social
Quando o objeto ou situação estudado pode suscitar
opiniões diferentes, o (a) pesquisador (a) vai procurar
trazer para o estudo essa divergência de opiniões,
revelando ainda o seu próprio ponto de vista sobre a
questão. O pressuposto que fundamenta essa
orientação é o de que a realidade pode ser vista sob
diferentes perspectivas, não havendo uma única que
seja a mais verdadeira. Assim, são dados vários
elementos para que o (a) leitor (a) possa chegar as
suas próprias conclusões e decisões, além,
evidentemente, das conclusões do (a) próprio (a)
investigador (a).
Os relatos de estudos de caso
utilizam uma forma mais
acessível do que os outros
relatórios de pesquisa
Os dados do estudo de caso podem ser apresentados
numa variedade de formas, tais como: dramatizações,
desenhos, fotografias, colagens, slides, discussões,
mesas redondas, etc. Os relatos escritos apresentam
realmente um estilo informal, narrativo, ilustrado por
figuras de linguagem, citações, exemplos e
descrições.
Fonte: Ludke e André (2015). Nota: Quadro 5 idealizado pela autora desta dissertação baseado em Ludke e André (2015).
Ludke e André (2015) afirmam que no estudo de caso o objeto estudado é tratado
como único, uma representação da realidade que é multidimensional e historicamente situada.
Para tanto, acreditam que o estudo de caso tem três fases.
40
Figura 5 - Fases de um Estudo de Caso
Fonte: Ludke e André (2015).
Nota: Figura 5 idealizada pela autora desta dissertação baseado
em Ludke e André (2015).
Na primeira fase, o estudo de caso começa com um plano muito incipiente que se vai
delineando mais claramente à medida do seu desenvolvimento, trata-se da fase exploratória.
Na segunda fase, o estudo de caso, uma vez identificados os elementos chaves e
contornos do (s) problema (s), dar-se então a coleta sistemática de dados.
Na terceira fase, o estudo de caso segue-se a apresentação dos resultados a partir da
análise sistemática dos mesmos.
3.2 Coleta, sistematização e análise dos dados desta pesquisa
Esta pesquisa contou com a colaboração de 6 alunos (as) egressos (as) do CLPM da
UFRN que atuaram como estagiários na EI nos períodos 2013.1 e 2014.1. A princípio foi feito
um levantamento entre os 24 participantes, aos quais foram enviados e-mails e mensagem on-
line, questionando-se a estes (as) potenciais participantes se teriam a disponibilidade de
participar desta pesquisa, aonde apenas 10 potenciais participantes responderam que sim,
sendo que os demais não responderam a este primeiro contato, dos 10 potenciais participantes,
4 não corresponderam os critérios para a participação.
Os critérios para a participação destes (as) egressos (as) nesta pesquisa deram-se por:
disponibilidade para a participação na pesquisa;
os (as) egressos (as) teriam que ter cursado o componente curricular ES nos anos de
2013 e 2014, tendo em vistas, se obter visões atuais sobre as práticas vivenciadas durante esse
período;
41
optou-se pela participação de jovens que estivessem começando sua vida
profissional;
optou-se pela participação de homens e mulheres, deixando a pesquisa com
participação e vistas à ambos os gêneros, tendo então com isto equidade de escuta e diálogo
representativo entre os (as) participantes da pesquisa.
Os procedimentos técnicos seguiram então com o objetivo de nos fazer compreender
e, posteriormente, interpretar os dados da nossa pesquisa coerentemente. Desta feita,
prosseguiu-se com a elaboração dos questionários (APÊNDICE B), aos quais se optou por
serem abertos, ou seja, de natureza dissertativa, pois assim acreditamos que os colaboradores
de nossa pesquisa ficariam mais livres para explorar os temas propostos nas questões.
A partir desta premissa, deu-se a elaboração dos questionários (APÊNDICE B)
utilizados como fonte principal e esclarecedora para o nosso problema de pesquisa. Sabendo-
se, pois, da importância e do valor de se fazer as perguntas certas para que assim, igualmente,
se possa ser assertivo nas respostas, foi elaborado um questionário (APÊNDICE B) de
natureza aberta contendo 3 questões que tratam de dados pessoais e 14 questões
interpretativas, descritivas e dissertativas, dividido em 4 partes descritas a seguir:
dados pessoais (contendo 3 questões);
informações sobre as instituições em que foi feito o ES na EI (contendo 6
questões);
informações sobre o componente curricular Estágio Supervisionado I (contendo 4
questões);
autonomia: contribuições para a sua identidade docente (contendo 4 questões).
Assim sendo, conseguiu-se uma maior familiaridade com o problema podendo então
torná-lo mais explícito. Entendendo-se que o ES é uma prática que direciona o (a) estagiário
(a) para uma ação que (re)significa ações da prática pedagógica, compondo assim um
repertório didático que favorece a sua ação junto ao compromisso com a qualidade do
trabalho docente que o (a) estagiário (a) desenvolve durante o período de seu ES.
A entrega dos questionários (APÊNDICE B) juntamente com a carta de aceite
(APÊNDICE A) foi feita on-line, pois se acreditou que, desta feita, ganhar-se-ia mais
objetividade tanto para a distribuição quanto para o recolhimento dos dados. Esse processo
deu-se entre o final do segundo semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016.
Compreendendo-se que se podia fazer uma complementação a estes dados recolhidos
através do questionário (APÊNDICE B), foi solicitado aos participantes da pesquisa uma
42
cópia dos relatórios de estágios, mas, só foi obtida uma (1) resposta positiva para esta
solicitação, os (as) demais participantes alegaram que não se sentiriam à vontade para
participar desta etapa, mesmo que tenha sido assegurado total sigilo das informações contidas
neste documento ao qual teve a função de ajudar a compreender as percepções que, até então,
os licenciados / egressos (as) deram ao CLPM / UFRN como retorno da vivência em seus
estágios.
Analisou-se o que foi respondido nos questionários abertos (APÊNDICE B) que foram
aplicados aos nossos colaboradores classificando categorias, pois assim pode-se compreender
o que as suas respostas, de uma maneira mais prática e objetiva nos dizem. Para isto,
seguimos algumas etapas: primeiro, foi feita uma pré-análise do material. Em seguida, fez-se
a exploração do material para culminarmos com a interpretação dos dados seguindo a
orientação de Bardin (2011).
3.3 O desenvolvimento da análise da pesquisa
O procedimento de análise dos dados desta pesquisa, iniciou-se desde o momento em
que foram retornados os primeiros questionários (APÊNDICE B) respondidos pelo grupo
focal (6 egressos (as) do CPLM / UFRN). A partir deste retorno, foram criadas pastas
individualizadas para cada questionário (APÊNDICE B) com a identificação do (a)
respondente. Tais pastas foram todas anexadas a um arquivo ao qual se deu a nomeação de
Egressos CLPM / UFRN. Essa etapa deu-se por questão de organização prévia do material a
ser analisado, pois, desta forma, os procedimentos da análise de conteúdos destes dados
seriam objetivados, visto a organização e identificação de cada um dos questionários
respondidos (APÊNDICE B) por pastas. Essa ação de organização prévia do material a ser
analisado, findou por tornar as inúmeras consultas aos dados ainda em fases primeiras de
análise mais fluentes.
Dando prosseguimento a primeira etapa de organização do material a ser analisado por
pastas individuais, partiu-se para a etapa que Bardin (2011) denomina por pré-análise que teve
como finalidade, tornar as ideias iniciais da pesquisa sistematizadas e operacionais, assim
fazendo fluir de forma adequada os demais procedimentos da análise dos dados. Nesta fase,
foram novamente consultados os objetivos desta pesquisa, para assim elaborar-se os
indicadores de fundamentação e interpretação da análise final.
43
Partindo-se deste ponto de organização, começou-se a análise de conteúdo
propriamente dita por uma leitura flutuante de cada um dos questionários (APÊNDICE B).
Sobre a leitura flutuante, Bardin (2011, p. 126) coloca que “[...] consiste em estabelecer
contato com os documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por
impressões e orientações [...] pouco a pouco a leitura vai se tornando mais precisa.”
A partir desta fase, recorreu-se ao problema de pesquisa e a hipótese lançada a priori,
para que assim, a análise de conteúdo desta pesquisa pudesse estar em conformidade com os
objetivos lançados para a mesma bem como para as categorias que já tinham sido pré-
definidas nesta etapa, categorias essas relacionadas ao referencial teórico da pesquisa e aos
objetivos da mesma. Seguiu-se, então, para a classificação de elementos textuais que
permitiram que a análise de conteúdo entrasse na etapa de procedimentos exploratórios.
Começou-se, então, na análise do conteúdo dos dados desta pesquisa pelo
procedimento de referenciação dos índices e pela elaboração de indicadores. Nesta etapa,
foram separadas as respostas em grupos e, cada grupos de respostas foi arquivado em pastas
caracterizadas pela letra R (Resposta) seguida de uma numeração, por exemplo: R3.1. Esta
representação correspondeu precisamente ao grupo de respostas dadas pelos (as) participantes
a pergunta de número 3.1 do questionário aplicado (APÊNDICE B), acontecendo assim nesta
etapa da análise de conteúdo dos dados levantados por esta pesquisa, a codificação do
material.
Antes de ser feita a contagem das unidades de registro (as palavras plenas) foi efetuada
uma análise nas unidades de contexto dos dados, o que tornou a compreensão das unidades de
registro mais exata. Segundo Bardin (2011) torna-se necessário, em alguns casos, fazer
referência ao contexto próximo ou longínquo da unidade a ser registrada. Deu-se então, a
partir desta etapa, o destaque dos termos (sinônimos e classes) ligados e correspondentes as
categorias pré-estabelecidas. Esse destaque foi feito a partir de cores definidas para cada
conjunto de palavras plenas (as unidades de registro). Tal procedimento aconteceu visando a
objetivação na contagem das repetições de cada um destes termos (palavras plenas).
Nesta etapa, iniciou-se a primeira fase da análise de conteúdo desta pesquisa, a
chamada codificação. Bardin (2011) afirma que a codificação corresponde a uma
transformação nos dados do texto (o que aqui corresponde às respostas do questionário
(APÊNDICE B)) a partir de regras precisas, o que pode acontecer por recorte, agregação e
enumeração, esta ação é assim suscetível a esclarecer as características do texto para quem o
está analisando.
44
Assim, a partir da finalização destas etapas iniciais, foi iniciado o processo de
categorização, o que nas palavras de Bardin (2011), é uma operação de classificação e
reagrupamento de elementos de um conjunto de elementos constitutivos, sendo assim as
categorias classes, as quais reúnem os grupos de elementos, as unidades de registro. O critério
de categorização utilizado pela análise de conteúdo desta pesquisa foi léxico, o que significa
que foi utilizada a classificação das palavras e agrupamento das mesmas segundo o seu
sentido próximo e sinônimos.
Prontamente, a análise de conteúdo desta pesquisa prosseguiu por uma segunda fase a
qual Bardin (2011) nomeia de exploração do material. Sobre a exploração do material de
análise torna-se significante afirmar que não houve a utilização de programa (s) de
computador, embora se tenha utilizado alguns gráficos para ilustrar esta dissertação, a
exploração destes dados deu-se manualmente, em seguida, os dados seguiram para a terceira
fase da análise em que foram tratados e interpretados.
Considera-se no referente à análise dos dados provenientes desta pesquisa, que por ter-
se optado por trabalhar com a análise de conteúdo valendo-se, para isto, da fundamentação
desenvolvida a partir do referencial teórico de Bardin (2011) agregou-se refinamento quanto à
qualificação nas percepções do objeto de pesquisa.
Entende-se que nesse referencial teórico, Bardin (2011) cumpre com as prorrogativas
necessárias ao descrever o conteúdo do processo de comunicação entre os nossos
colaboradores, ou seja, proporcionou uma interpretação íntegra e contextualizada das
respostas obtidas através dos questionários (APÊNDICE B) que foram respondidos pelos (as)
participantes desta pesquisa. Sobre a análise de conteúdo (AC), Cavalcante; Calixto; Pinheiro
(2014, p. 15), contribui a partir da compreensão de que:
A análise de conteúdo, neste cenário, emerge como técnica que se propõe à apreensão de uma realidade visível, mas também uma realidade invisível, que pode se manifestar apenas nas ‘entrelinhas’ do texto, com vários significados. Neste sentido a análise requer uma pré-compreensão do ser, suas manifestações, suas interações com contexto, e principalmente requer um olhar meticuloso do investigador. Para isso, é importante verificar os níveis que estruturam uma pergunta de pesquisa tais como o saber que penetra tangencialmente ou lateralmente, o saber concomitante e atemático e ainda o pré-saber não singularmente determinado. Em síntese, a atitude científica é por buscar respostas e consequentemente o encontro ou a aproximação com as soluções encontradas por meio de procedimentos metodológicos estruturados no ato de perguntar. É neste contexto que a análise de conteúdo se insere, pois, possui a sistematização necessária à produção de respostas frente aos questionamentos, mas precisa ser utilizada onde a pergunta de pesquisa remete a este método. É neste sentido que se
45
complementam ‘pergunta’ e método de análise com o intuito de respostas ou aproximações fidedignas. Pode estar aqui a gênese de uma boa pesquisa e da evolução do conhecimento.
De acordo com Bardin (2011, p. 15) “[...] a análise de conteúdo é um conjunto de
instrumentos metodológicos cada vez mais sutis e em constante aperfeiçoamento, que se
aplicam a discursos (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Ainda
complementa afirmando que, é, pois, uma hermenêutica controlada, baseada na dedução: a
inferência.
Os métodos de análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2011), tem como
objetivos:
a superação da incerteza;
e o enriquecimento da literatura.
As superações das incertezas fazem com que o (a) pesquisador (a) se pergunte se a sua
interpretação da mensagem está sendo coerente, ao ponto de que esta visão particular do (a)
pesquisador (a) possa ser partilhada e compreendida por outros (leitores em geral de suas
aferições).
Já sobre o enriquecimento da leitura, Bardin (2011) coloca que, sendo o olhar imediato
fecundo bem mais então será o olhar atento (uma leitura atenta), pois, com isso, aumenta a
produtividade e pertinência sobre o lido, pelo entendimento que o propósito da mensagem
passa bem como a partir de um maior esclarecimento através de uma leitura correta feita sobre
os elementos de significações desta leitura.
A AC, segundo Bardin (2011), possui as seguintes funções:
Heurística: a AC enriquece a tentativa exploratória e aumenta a propensão para a
descoberta;
Administração da prova: a AC funciona com o sentido de confirmação ou de
infirmação de hipóteses ou afirmações provisórias.
O campo de aplicação da AC é o campo das comunicações, por isso, a AC é um
conjunto de técnicas de análises das comunicações. A natureza do código e do suporte da
mensagem bem como a quantidade de pessoas implicadas na comunicação são critérios que
sistematizam o conjunto dos tipos de informação, potencializando a aplicação das técnicas da
análise de conteúdo.
A AC pode tanto destinar-se a análise de significantes quanto de significados. Por
análise de significantes pode-se citar, como exemplo, a análise lexical bem como a análise
46
temática que exemplifica uma AC destinada a analisar o significado (BARDIN, 2011).
Bardin (2011) também aponta que a inferência de conhecimentos relativos à condição de
produção é a intenção da análise de conteúdo.
Nesta pesquisa foi utilizada a análise de significantes, ou seja, uma análise lexical.
Sobre a análise lexical, Bardin (2011), afirma que, para fazer um estudo do código de um
texto, são necessárias:
Convenções: Quanto ao vocabulário, pode-se enumerar num texto:
o número total de palavras presentes ou ocorrências;
o número total de palavras diferentes ou vocábulos; estes vocábulos representam o
vocabulário (ou reportório léxico, campo lexical) que o autor do texto utiliza;
a relação ocorrências / vocábulos (ou O / V) dá conta da riqueza (ou da pobreza) do
vocabulário utilizado pelo autor da mensagem, visto que indica o número médio de repetições
por vocábulo no texto.
Bardin (2011) também coloca que existe dois tipos, duas formas de classificação das
unidades de vocábulo, são elas as palavras plenas e as palavras instrumento:
Quadro 6 - Tipologia das palavras
PALAVRAS PLENAS PALAVRAS INSTRUMENTO
Palavras portadoras de sentido (substantivos,
adjetivos, verbos).
Palavras funcionais de ligação (artigos,
preposições, pronomes, conjunções, etc.).
Fonte: Bardin (2011).
Nota: Quadro 6 idealizado pela autora desta dissertação baseado em Bardin (2011).
O modo e/ou tempo dos verbos presentes no texto também podem ser estudados desde
que o (a) pesquisador (a) analista credite significado para esta ação.
Sobre a análise qualitativa das unidades de vocábulo por ordenação frequência, Bardin
(2011, p. 83) coloca que:
Por último, a análise qualitativa das unidades de vocabulário por ordenação frequencíal segundo o sentido, pode fornecer informações. De igual modo, alguns aspectos sintáticos - organização da frase, por exemplo, - são susceptíveis de ser reveladores das características de um discurso, ou podem fornecer a confirmação de certas hipóteses formuladas.
As fases da análise de conteúdo são três:
47
Figura 6 - Fases da Análise de
Conteúdo
Fonte: Bardin (2011).
Nota: Figura 6 idealizada pela autora
desta dissertação baseado em Bardin (2011).
Na pré-análise se faz a “[...] organização propriamente dita. Corresponde a um período
de intuições, mas, tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de
maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num
plano de análise” (BARDIN 2011, p. 126). Ainda afirma que: “A pré-análise tem por objetivo
a organização, embora ela própria seja composta por atividades não estruturadas, ‘abertas’,
por oposição à exploração sistemática dos documentos” (BARDIN, 2011, p. 126).
Na exploração do material, Bardin (2011, p. 131) expõe que:
Se as diferentes operações da pré-análise foram convenientemente concluídas, a fase de análise propriamente dita não é mais do que a administração sistemática das decisões tomadas. Quer se trate de procedimentos aplicados manualmente ou de operações efetuadas pelo ordenador, o decorrer do programa completa-se mecanicamente. Esta fase, longa e fastidiosa, consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas.
Com relação à terceira fase, o tratamento dos resultados obtidos e interpretação e
inferência são vistos por Bardin (2011, p. 131) como:
Os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos (‘falantes’) e válidos. [...] O analista, tendo à sua disposição ·resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos - ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas.
48
A inferência dos dados na AC qualitativa, de acordo com Bardin (2011) caracteriza-se
pela presença do índice, que pode ser o tema, a palavra, um personagem e etc.
Sobre a categorização, Bardin (2011, p. 147) discorre da seguinte forma:
A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias, são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos. O critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas: por exemplo, todos os temas que significam a ansiedade, ficam agrupados na categoria «ansiedade», enquanto que os que significam a descontração, ficam agrupados sob o título conceptual ‘descontração’), sintático (os verbos, os adjetivos), léxico (classificação das palavras segundo o seu sentido, com emparelhamento dos sinônimos e dos sentidos próximos) e expressivo (por exemplo, categorias que classificam as diversas perturbações da linguagem).
Nesta pesquisa foi feito o emparelhamento dos sinônimos e sentidos próximos, ou
seja, a AC desta pesquisa deu-se pelo critério léxico, o que correspondeu de forma positiva
para o decorrer do processo de análise e interpretação dos dados. “Classificar elementos em
categorias, impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. O que
permite o seu agrupamento, é a parte comum existente entre eles” (BARDIN, 2011, p. 148).
As etapas da categorização são o inventário que consiste em isolar elementos e a classificação
que impõe certa organização a mensagem.
A interpretação dos dados foi realizada a partir da triangulação de dados, literatura
fundamentadora e dos dados secundários (documentos oficiais que regularizam a prática do
ES no CLPM / UFRN). Os referidos documentos são: matriz curricular, Projeto Político
Pedagógico (PPP) do CLPM / UFRN bem como a leitura do relatório de estágio de um dos
participantes da pesquisa, o qual trouxe dados de ordem estrutural que serviram como base de
compreensão sobre características da estrutura do componente curricular ES do CLPM /
UFRN.
49
4 DISCUSSÕES SOBRE O TEMA ESTÁGIO E SUA IMPORTÂNCIA COMO
COMPONENTE CURRICULAR NOS CURSOS DE LICENCIATURA
A partir da leitura do trabalho intitulado A formação do professor de música no
Brasil (SOARES; SCHAMBECK; FIGUEIREDO, 2014) foi optado por se fazer uma busca
nos repositórios das universidades federais que oferecem, de acordo com a pesquisa citada, o
CLPM. Sendo assim, foi feito um levantamento do estado do conhecimento na área do ES em
Música produzido por algumas destas universidades.
O estado do conhecimento que foi levantado para o norteamento desta pesquisa tem no
ES o seu enfoque principal. Foi feito um levantamento da produção acadêmica brasileira
sobre o tema, o que atendeu as necessidades de conhecimento sobre o que esta produção
acadêmica nos diz a respeito da temática trabalhada. Buscou-se também bases para o
entendimento deste campo na produção literária especializada no assunto bem como em Anais
e revistas especializadas em Educação e Educação Musical. Segue-se algumas das principais
colocações que enriquecem o diálogo sobre o tema. Sobre os estudos acerca do ES nas
instituições brasileiras de formação de professores, Bellochio (2012, p. 228) nos afirma que:
Estudos acerca do estágio supervisionado (ES) nos cursos de licenciaturas do Brasil e de suas implicações no processo formativo de professores, na vida acadêmica dos licenciandos e na organização das práticas docentes nas escolas de educação básica têm sido ampliados na última década.
Bellochio (2012, p. 228) também nos afirma que esta realidade nos estudos acerca do
ES também se encontra recorrente. É interessante o tratamento que Bona (2013) faz ao
comparar o Estágio com uma pesquisa científica, pois o estagiário se vale de pontos comuns
ao ato de pesquisar. De acordo com Bona (2013, p. 15), o estágio pode ser, inclusive, uma
forma de iniciação à pesquisa, pois:
Pressupõe-se que, além de validar as práticas educativas, o estágio possa ser, simultaneamente, uma introdução às ações de pesquisa, dadas as semelhanças existentes entre os procedimentos – observação, coleta de dados, análise, reflexão, produção de relatório –, a fim de que o caráter investigativo desperte maior motivação no comportamento dos estagiários.
Percebe-se, nesta literatura voltada para as questões da formação de professores e
estágio, apontamentos em relação prática – teoria - prática que se faz necessária para a
50
formação qualificada do professor de Música bem como podemos perceber nas palavras de
Santos (2015)3 ao afirmar que:
Através da literatura, é possível notar que a área de educação musical, que trata sobre formação de professor e estágio supervisionado, têm considerado a ação e experiência prática na sala de aula como componente fundamental para a formação do professor de música. Ações essas, que tenham a prática como ponto de partida e os estudos, orientações e reflexões teóricas como suporte.
Com relação à prática que é proporcionada pelo estágio, Bellochio e Beineke (2007)
colocam que o estágio promove no (a) estagiário (a) aquilo que denominam como
conhecimento prático, tendo em vista o enfrentamento do desafio que é a articulação dos
conhecimentos construídos na academia e aqueles construídos fora da academia, com as
necessidades cotidianas de uma sala de aula. Desta forma, Bellochio e Beineke (2007, p. 74)
afirmam que:
Entendemos que as ações pedagógicas dos estagiários revelam-se no contexto da sala de aula, em um momento importante de sua formação inicial, quando enfrentam o desafio de articular os conhecimentos construídos até então, fora e dentro do contexto universitário, com as necessidades cotidianas de sala de aula. Dessa forma, no momento da ação docente / prática educativa, o estagiário produz um tipo particular de conhecimento na prática e para a prática, denominado ‘conhecimento prático’, de modo semelhante a um professor que já está inserido na escola.
Assim, Bellochio e Beineke (2007, p. 75) também colocam que:
[...] o estágio supervisionado não pode ser tomado como uma etapa em que o aluno transpõe os conhecimentos teóricos adquiridos durante a formação inicial formal para a prática. Deve constituir-se como um dos momentos integrantes fundamentais do curso de formação de professores, integrado ao âmbito de todos os componentes curriculares e experiências já internalizadas. Ao mesmo tempo, deve ser tomado como um momento de produção reflexiva de conhecimentos, em que a ação é problematizada e refletida no contexto presente e, após sua realização, momento este que envolve a discussão com a orientação do estágio e pares da área.
A respeito desta questão da reflexão sobre a ação proveniente do ES, para Mateiro e
Souza (2009) é válido colocar que, o estágio além de proporcionar que o (a) futuro (a)
professor (a) reflita sobre as tarefas características da sua profissão, também tem a função de a
3Documento online não paginado.
51
partir da experiência de campo, permitir que o (a) estagiário (a) se comprometa com a
profissão de ser professor (a).
É importante ressaltar o papel que o curso de Licenciatura tem ao propiciar o
desenvolvimento das posturas investigativas em seus discentes.
O ES é um momento em que o (a) licenciando (a), por vezes, também assume o papel
de investigador (a) de sua própria ação, pois, ao adentrar na realidade de contexto da
Educação formal como estagiário (a), o (a) mesmo (a) vê-se diante de algumas situações de
cunho diversos, com as quais este (a) estagiário (a) só poderá manter uma relação assertiva se
o (a) mesmo (a) tornar-se pesquisador (a) de sua própria ação. A partir desta postura de
reflexão, aonde, por vezes, este (a) estagiário (a) terá que afastar-se de valores aos quais
pudesse julgar indiscutíveis no que diz respeito às suas ações dentro do contexto escolar,
Ribeiro (2008, p. 56) coloca que:
[...] a educação musical no âmbito da formação inicial de professores de música tem exigido reflexões mais complexas considerando sujeitos, subjetividades, linguagens, diferenças musicais, sociais, políticas, humanas, que hibridizam a vida social contemporânea. A situação vivenciada oferece reflexões para que a formação inicial procure se afastar de valores considerados verdadeiros e indiscutíveis acerca das práticas musicais escolares [...].
Sobre o preparo do (a) estagiário (a), Mateiro e Téo (2003, p. 93) afirmam que:
O estagiário deve estar preparado – e preparar-se – para o contato com a prática, não só no sentido teórico-pedagógico, mas também para as especificidades cotidianas, sejam burocráticas ou no âmbito das relações profissionais, para que possa exercer o uso de seus direitos e deveres, construindo sua autoestima enquanto sujeito no processo de construção do conhecimento.
Com relação à falta de preparo do (a) estagiário (a), coloca-se que essa ausência pode
acarretar alguns conflitos junto ao desenvolvimento do estágio, pois:
O despreparo para o estágio torna-se ainda mais agudo com o desconhecimento dos papéis de cada sujeito presente nessa etapa da graduação. Justamente por não estar alerta para os limites e necessidades durante a orientação e a supervisão do estágio, o estudante acaba por aceitar uma realidade que não é a ideal, e que poderia ser mudada através de discussões acerca de problemas então encarados como normais ou aceitáveis, ocasionando desapontamentos e decepções com a profissão de educador musical (MATEIRO; TÉO, 2003, p. 93).
52
A partir destas colocações, percebe-se que é importante que os cursos de Licenciatura
atentem, cada vez mais, para as necessidades específicas para a ação do (a) licenciando (a)
dentro do contexto em que se cumpre o ES, mesmo que esta atenção esteja contida na
percepção de que os contextos educacionais / educativos mudam com frequência, devendo
assim os Cursos se adaptarem a estes movimentos para que possam assim conduzir a prática
do ES de forma assertiva com a contemporaneidade e suas respectivas necessidades. Campos
(2010, p. 33) nos coloca que:
Ainda hoje os cursos de licenciatura sofrem transformações na estrutura curricular a fim de melhor exercer as funções educacionais e adaptarem-se às novas vertentes do mercado de trabalho, além de uma formação ampla e unificada, principalmente no que diz respeito aos cursos de graduação em música.
Ainda sobre as transformações em estruturas curriculares pelos cursos de Licenciatura
e, especificamente, na área da Educação Musical, é de total importância que estes currículos
também voltem suas atenções para a questão da formação humana. Santos e Fernandes
(2014) consideram que a formação do professor não se constitui apenas de técnicas, mas,
sobretudo, de experiências humanas que, quanto mais diversificadas, mais rica e significativa
torna a formação e atuação do professor.
O ES leva o (a) licenciando (a) ao conhecimento da ação necessária a uma pratica
docente que esteja condizente com as necessidades dos alunos com os quais ele (a), no papel
de estagiário (a), se defronta. Diante disso, Benvenuto (2012, p. 47) afirma que:
A importância do estágio como componente curricular está no fato de levar os licenciandos para a escola objetivando estimular a compreensão da dinâmica do cotidiano escolar e a reflexão sobre a prática docente. A experiência vivida no espaço escolar permite um contato mais próximo com a profissão e direciona os olhos do estudante para as exigências que permeiam o dia-a-dia do professor. O estágio supervisionado leva o futuro professor a um contato intenso com o ambiente que será seu campo de atuação profissional.
Já com relação a este aspecto da importância do ES ser considerada pelo fato de
aproximar o licenciando à escola, Buchmann (2008, p. 32) amplia esta visão afirmando que:
Percebe-se que as concepções a respeito do estágio foram se complementando e adquirindo maior consistência ao longo do tempo. Na década de 90, as discussões giravam em torno do estágio como espaço de prática, de conhecimento da profissão e autoconhecimento enquanto pessoa
53
e professor. Não se pode negar a relevância dessa discussão, que ainda hoje é válida, no entanto, outras questões emergiram, ampliando ainda mais o leque das discussões. Um exemplo disso é a cooperação entre as instituições envolvidas no processo.
Tendo por vistas este estudo feito sobre o estado do conhecimento, percebe-se, que os
profissionais aqui citados, concordam em relação à importância deste componente curricular –
ES - para a formação inicial do educador bem como a sua importância que, vai além de
aproximar o licenciando ao cotidiano / escola visto que o ES articula a ação docente como um
todo.
54
5 A EDUCAÇÃO INFANTIL E OS SEUS ATORES
Para começarmos esse diálogo...
A infância constitui para todos uma caixa, uma caixa imaginária onde permanecem registradas as experiências, onde se recorre sempre que se deseja encontrar tesouros, pedaços de infância, vozes da infância. Pedaços e vozes da infância que são tão preciosos e mágicos que, em alguns textos, podem ser usados para curar (RICHTER; BARBOSA, 2013, p. 38).
O principal ator da EI é a criança, é para a criança e pela criança que as ações dos
educadores devem ser pensadas. Nem sempre as crianças tiveram seus direitos valorizados e
respeitados. Airès (1981) nos afirma que, na Idade Medieval, a criança não possuía ainda, a
chamada infância, como um sentimento que a distinguisse do ser adulto. Em suas palavras,
Airès (1981, p. 97) a seguinte consideração:
Na sociedade medieval, que tomamos como ponto de partida, o sentimento da infância não existia [...] O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia.
Já na contemporaneidade, a criança deve ter os seus direitos respeitados e ser
valorizada como um ser repleto de particularidades, que constitui a sua presença no mundo e
assim deve ser compreendida.
Paschoal e Machado (2009, p. 79) nos afirma que:
Do ponto de vista histórico, a educação da criança esteve sob a responsabilidade exclusiva da família durante séculos, porque era no convívio com os adultos e outras crianças que ela participava das tradições e aprendia as normas e regras da sua cultura. Na sociedade contemporânea, por sua vez, a criança tem a oportunidade de frequentar um ambiente de socialização, convivendo e aprendendo sobre sua cultura mediante diferentes interações com seus pares.
Na contemporaneidade, a história da infância enquanto constructo social e enquanto
agente da EI, começou a ser delineada com a passagem da produção doméstica para a
produção fabril:
55
Na Europa, com a transição do feudalismo para o capitalismo, em que houve a passagem do modo de produção doméstico para o sistema fabril, e, consequentemente, a substituição das ferramentas pelas máquinas e a substituição da força humana pela força motriz, provocando toda uma reorganização da sociedade. O enorme impacto causado pela revolução industrial fez com que toda a classe operária se submetesse ao regime da fábrica e das máquinas. Desse modo, essa revolução possibilitou a entrada em massa da mulher no mercado de trabalho, alterando a forma da família cuidar e educar seus filhos (PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 79).
No Brasil, o surgimento da EI deu-se a princípio com um caráter diferenciado dos
países europeus, as primeiras tentativas de organização de creches e orfanatos surgiram com
um caráter assistencialista (PASCHOAL; MACHADO, 2009), embora, segundo Faria e Finco
(2013) tenha surgido a partir do movimento feminista e da luta pela independência das
mulheres bem como motivado pelo ingresso das mulheres no mercado de trabalho, através das
reivindicações destas mulheres junto aos sindicatos pelo direito de colocarem seus filhos em
creches, começado a ganhar um caráter diferenciado em que a educação das crianças foi
também dividida com a sociedade. Diante disso, Faria e Finco (2013, p. 113) também
afirmam que:
A constituição Brasileira de 1988 garante não só o direito das mulheres e dos homens trabalhadores, do campo e da cidade, a terem creches e pré-escolas para seus filhos, mas assegura, como opção da família, o direito da criança de zero a seis anos de ser educada em um contexto público e coletivo, tendo creches e pré-escolas como agências educativas.
Bem como que:
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em seu artigo 29, determina que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança, até os seis anos, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade, buscando ultrapassar o falso antagonismo educação/assistência das práticas do cotidiano das creches e pré-escolas (FARIA; FINCO, 2013, p. 114).
Atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ressalta a questão da EI
não mais como assistencialismo, mas com caráter de primeira etapa da EB, o que ajuda o
fortalecimento e respeito para com as infâncias e suas características.
56
5.1 A criança e a sua diferença
Atualmente, o tema das diferenças na EI vem se fortificando, propondo que a EI
trabalhe com questões pertinentes como o antirracismo e o multiculturalismo, visando a
compreensão do que sejam diferenças e como o Educador da / na EI pode lidar com essas
diferenças, o que se opõe nas palavras de Abramowicz e Vandenbroeck (2013, p. 10) quando
afirmam que há “[...] uma subalternização de relações em nome de um contrato social em que
o indivíduo é educado para um lugar definido na sociedade, seja o de opressor, seja o de
oprimido, reacionário ou revolucionário, alienado ou socialmente consciente.”
Abramowicz e Vandenbroeck (2013, p. 11, grifo do autor) também nos declara que:
“[...] queremos pensar uma educação com a criança, no espaço público, em que todos possam
ser afetados de maneira que criem novas redes de solidariedade e de pensamento.”
Nesta linha de raciocínio, Abramowicz e Vandenbroeck (2013, p. 15) problematizam
a EI hoje da seguinte forma: “[...] A negação da diversidade sugere que se trate ‘todas as
crianças do mesmo jeito’[,,,]”.Abramowicz e Vandenbroeck (2013) também nos chama a
atenção para o essencialíssimo que implica a redução de uma criança à sua família ou a sua
origem étnica ou cultural. Complementando este discurso, ainda afirma que não podemos
abraçar a ideia estereotipada da criança.
De acordo com Faria, Macedo e Santos (2013) a criança não pode ser tratada como um
vir a ser, incompleto, que não pensa e que só terá valor quando adulto. A criança é um ser
criador, produtora de artefatos culturais e deve ser posta em uma condição ativa e não passiva
em relação ao meio social. Existe, neste pensamento, um questionamento sobre o tipo de
conteúdo conformista, sexista, racista, classista, autocêntrico, que se passa por neutro ao qual
deve o educador que valoriza a criança como ser único e diferente, estar atento (FARIA, 2011
apud FARIA; MACEDO; SANTOS, 2013).
De acordo com Qvortrup (2010), a infância, como categoria, pressupõe uma
pluralidade de infâncias, sendo assim a infância não se dissolve porque existe uma pluralidade
de infâncias; ao contrário, confirma-se por meio destas.
Faria e Finco (2013) afirmam que a vida da criança merece atenção no presente, não
simplesmente para os efeitos de uma vida futura. Também nos chamam a atenção quando
afirmam que a criança reclama visibilidade concreta e que essa visibilidade a difere de uma
criança homogeneizada. Apontam ainda que é preciso refletir sobre a questão das diferenças
57
na EI e priorizar a formação dos profissionais de EI. Assim, visto as exigências desta primeira
etapa da EB, Faria e Finco (2013, p. 120) acreditam que:
Educar crianças pequenas exige um/a profissional docente que também esteja atento/a para as especificidades e para o protagonismo das crianças, na construção de pedagogias que questionem práticas homogeneizadoras que neutralizam e apagam as diferenças que as crianças nos trazem.
Essa forma de pensar uma EI que valoriza e respeita as especificidades das crianças,
também exige de seus (as) educadores (as) que busquem pensar acerca das políticas públicas
para a EI, bem como, indica ações que construam novos relacionamentos sociais entre os
pares envolvidos na EI. A proposta é, de acordo com Faria e Finco (2013), que os
profissionais da EI construam pedagogias descentralizadoras, que assim problematizem o
olhar autocêntrico que transforma diferença em desigualdade.
O olhar autocêntrico que transforma diferença em desigualdade não dá a devida
atenção à criança no presente, mas, determina seu futuro, desrespeitando a sua história de vida
e os seus valores como um ser que pensa e tem vontades próprias, um ser que vive no agora e
que, por suas especificidades e necessidades, precisa da mediação de profissionais que
estejam comprometidos com essa valorização, assim tornando real o que nos propõe a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) quando afirma que o desenvolvimento
integral da criança é finalidade da EI (BRASIL, 1996).
5.2 A Educação Infantil: um desafio para o (a) estagiário (a)
Ao interagir no contexto da EI, o (a) estagiário (a) deve estar, de alguma forma, ciente
do público para o qual irá articular seus saberes docentes. A docência na EI não é uma tarefa
simples, para tal tarefa o (a) estagiário (a) terá, principalmente, que estar preparado para o
educar e para o cuidar que, para a EI, são conceitos indissociáveis. Sobre este aspecto,
Victório (2015, p. 23) nos relata que:
Na educação Infantil, as dimensões do educar e cuidar são aspectos indissociáveis. Por isso, os profissionais que nela atuam devem estar atentos e ocupados em oferecer um ambiente rico em experiências que atendam às necessidades, respeitam às particularidades que envolvem as diferentes pessoas, favoreçam a autoestima, estimulem a reflexão sobre o mundo e promovam situações que contribuam para a formação da identidade.
58
Ainda sobre a temática descrita anteriormente, o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (RCNEI) coloca que:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998a, v. 1, p. 23).
Expostas as considerações sobre as dimensões do educar e cuidar na EI, observa-se
que o estágio na EI é marcado por particularidades significativas, particularidades estas que
fazem com que o (a) licenciando(a) que esteja exercendo o papel de Estagiário (a) na EI esteja
atento, sobretudo, ao fato de que, nas turmas iniciais, o (a) estagiário (a) tem que lidar com
uma criança em processo de adaptação, o que, de certa forma, pode fragilizar a atuação deste
(a) estagiário (a). Faz-se então necessário que o (a) estagiário (a) esteja atento as necessidades
de acolher essa criança. Fernandes (2015)4 coloca que nesta fase:
[...] uma vida de descobertas principia-se merecendo e requerendo do educador musical um olhar delicado e cuidadoso, necessitando deste profissional que sua sensibilidade esteja adequada com a realidade e necessidade do significado da educação para este ambiente, assim procedendo certamente o educador musical promoverá um excelente trabalho, pois estará alicerçado por princípios que fortalecem o bem estar e interação ideal para o desenvolvimento da confiança e credibilidade do seu trabalho, favorecendo assim a integração entre o plano a prática e a análise pedagógica do seu trabalho, valorizando sempre a visão e interações dos envolvidos no processo.
A EI é a primeira fase da EB, devendo ser oferecida para as crianças na faixa etária de
0 a 5 anos. Os espaços institucionais em que a EI é ofertada atendem pela denominação
genérica de creches que atendem as crianças de 0 a 3 anos e 11 meses e pré-escola, que atende
as crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses. De acordo com o Conselho Nacional de Educação
(CNE) através da Resolução do nº 5, de 17 de dezembro de 2009, em seu Art5. 6º, apresenta as
propostas pedagógicas de EI que devem respeitar os seguintes princípios:
4Documento online não paginado.
5Artigo (Art.).
59
Figura 7 - Resolução do CNE, Art. 6°.
Fonte: Brasil (2009, p. 19).
Estes princípios deixam claro que o (a) educador (a) na EI tem que ser sensível para
com eles e em sua construção pedagógica, ou seja, construindo uma ação docente voltada para
o desenvolvimento destas bases, o que indica que toda a ação didática do (a) estagiário (a) em
Música deverá também adaptar-se a tal realidade.
5.3 A aula de Música na Educação Infantil
A Música é uma ação constante dentro das instituições de EI, visto ser uma expressão
que tem uma aproximação cotidiana junto às brincadeiras e cultura da infância. Esta
constância da presença da Música na EI é uma vivência que pode ser positiva, sobre tudo,
quando a equipe gestora da instituição de EI é comprometida com a valorização da Música
entre as crianças. Em relação à presença da Música na EI, Brasil (1998b, v. 3, p. 45) coloca
que:
Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas instituições encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Constata-se uma defasagem entre o trabalho realizado na área de Música e nas demais áreas do conhecimento, evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em detrimento de atividades voltadas à criação e à elaboração musical. Nesses contextos, a
60
música é tratada como se fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir, e não uma linguagem cujo conhecimento se constrói.
O questionamento por parte de especialistas com relação a esta exposição, é pelo risco
de empobrecimento e redução das inúmeras funções que a Música pode exercer dentro da EI,
isso, quando sendo trabalhada por especialistas da área. A presença do (a) educador (a)
musical na EI, certamente, valoriza os momentos em que a criança está exposta aos estímulos
sonoros, bem como, propicia uma vivência musical que contribui para o desenvolvimento
global destas crianças. Sobre esta questão da Música na escola, Fernandes (2016, p. 2) afirma
que:
A educação musical diferencia-se em partes da música na escola, pois, essa em detrimento da primeira, necessariamente pode não estar inserida especificamente como uma área do conhecimento, que como tal contribui de forma significativa para o desenvolvimento global da criança e que deve ser integrada de forma sistematizada dentro do cotidiano da escola de educação infantil. Embora saibamos dos inúmeros benefícios da interseção da música no cotidiano das escolas de EI é necessário que exista a atuação de um profissional especializado que possa conduzir o processo ensino/aprendizagem da música como conteúdo de forma competente que favoreça o desenvolvimento e a construção do conhecimento musical junto as crianças.
Existe, atualmente no Brasil, a ação da Lei 11.769 / 2008 (BRASIL, 2008) que versa
sobre a presença da Música como componente curricular obrigatório para a EB, o que
favorece a entrada de profissionais devidamente formados para exercer com compromisso
profissional a boa qualidade da aula de Música na EI.
Brasil (1998b, v. 3, p. 48) coloca que aprender Música significa integrar experiências
que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez
mais elaborados. Aponta também que a Música, enquanto linguagem musical, tem estrutura e
características próprias, devendo ser considerada como:
• produção - centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição; • apreciação - percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento; • reflexão - sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores musicais (BRASIL, 1998b, v. 3, p. 48).
61
Brasil (1998b, v. 3) também pontua questões interessantes como a consideração de que
a Música, como meio de expressão e forma de conhecimento, é também acessível a faixa
etária com que a EI trabalha incluindo as crianças com necessidades educativas especiais.
Uma das questões mais pontuais contidas em Brasil (1998b, v. 3) em relação a aula de Música
na EI diz respeito às orientações didáticas para cada etapa do desenvolvimento infantil, o que
reforça a questão do cuidado e atenção para com uma atuação docente pautada em ideais de
compromisso com o desenvolvimento integral das infâncias na contemporaneidade.
62
6 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO
COMPONENTE CURRICULAR DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM
MÚSICA DA UFRN
O estágio e aqui se tratando especificamente do ES na EI torna-se um norteamento
influente na futura atividade docente do (a) licenciando (a), por ser aonde os (as) licenciandos
(as) podem estar em contato com o conhecimento da Pedagogia de forma ativa e que vem
para complementar e significar a teoria estudada em suas Licenciaturas.
Um profissional, cada vez mais qualificado, é o que vem sendo solicitado para o atual
contexto da Educação Musical, portanto, novos campos de atuação que são crescentes para o
educador musical. Tendo em vista também, a atual contextualização do ensino de Música
dentro da rede de EB brasileira que, desde o ano de 2008, por razão da Lei n. 11.769 / 2008
(BRASIL, 2008) torna o ensino de Música um conteúdo curricular obrigatório. Sendo assim,
o (a) educador (a) musical ganha com este novo cenário uma ampliação em seu campo de
atuação e igual valorização da profissão que também vem sendo crescente em vista das vagas
que surgem a partir da ação prática da referida Lei.
Sobre a importância de se formar um (a) profissional que esteja em consonância com a
contemporaneidade, o Projeto do CLPM / UFRN coloca que:
É de fundamental importância que o professor de música hoje, esteja preparado e domine conhecimentos que lhe possibilitem desenvolver uma educação musical que integre contemporaneidade e diversidade cultural, que respeite e reconheça o conhecimento e as experiências que os alunos possuem, fruto do seu meio sociocultural, de seu cotidiano e que fundamentalmente possa contribuir para ampliar o universo desse conhecimento [...] o professor deverá exercer uma atividade profissional de natureza pública (que diz respeito a toda a sociedade), uma prática compartilhada que terá dimensão coletiva e pessoal e que implicará simultaneamente em autonomia e responsabilidade (BRASIL, 2004, p. 12).
É inevitável que, a partir da nova contextualização do ensino da Música nas escolas da
rede de EB brasileira, os (as) educadores (as) estejam sendo exigidos em suas funções com
expectativa de qualificação profissional adequada para tal, o que neste ponto, o ES pode
contribuir para tal realidade, pois se torna de certa forma, um elo entre a formação acadêmica
e a funcionalidade desta.
63
Para começar-se a discorrer sobre o estágio na EI é preciso que antes sejam expostas
as validações oficiais em que se constitui esta primeira etapa da EB. Sobre EI, Brasil (2016, p.
13) nos traz as seguintes definições:
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II – pré-escolas, para as crianças de quatro a cinco anos de idade. Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: I – avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; II – carga horária mínima anual de oitocentas horas, distribuída por um mínimo de duzentos dias de trabalho educacional; III – atendimento à criança de, no mínimo, quatro horas diárias para o turno parcial e de sete horas para a jornada integral; IV – controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas; V – expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Do ambiente escolar e pelo ambiente escolar em que o (a) estagiário (a) vivencia a
prática do seu estágio podem surgir algumas posturas docentes que são diretamente
dependentes do contato com este ambiente e deste ambiente, sejam essas posturas de cunho
social, político-social, educacional e/ou existencial e outras que podem conduzir o (a)
estagiário (a) para a construção da sua identidade profissional o que, de certa forma, sinaliza
uma postura autônoma advinda da condição reflexiva de estar-se inserido em um contexto
Educacional X ao qual o (a) estagiário (a) teve total liberdade de escolher, pois, é válido
reiterar que os colaboradores de nossa pesquisa enquanto estagiários (as) tiveram a liberdade
de decidir aonde estagiar. Sendo assim, as instituições de EI em que estagiaram foram
escolhidas por eles próprios. É válido afirmar que o sistema educacional representado através
das escolas específicas em que acontece a prática do ES pode exercer certa influência na
formação deste (a) profissional. Para explicitar um pouco mais esta fala, leia-se o que Pelozo
(2007, p. 4) escreve:
Mesmo que o indivíduo não tenha experiência como docente, o mesmo pode ter uma formação sólida, amparada em teoria, prática e reflexão. A formação
64
desse profissional, que se baseia na prática investigativa, permite que o mesmo crie e recrie ideias sobre o trabalho escolar. Assim sendo, ao adentrar o sistema educacional, o aluno/estagiário terá adquirido habilidades e competências que permitirá que o mesmo trabalhe no sentido de atingir a educação humanizadora, necessária ao indivíduo emancipado.
Sobre a importância do locus do estágio pode-se dizer que este é parte representativa
do processo, mas que não está sobre ele toda a responsabilidade de sucesso ou insucesso do
(a) estagiário (a), pois se entende que:
Nessa trajetória o tripé formado pelo acadêmico, pela universidade e pela escola pode ter avanços consideráveis nos conhecimentos em jogo: o acadêmico, enquanto alguém que busca sua formação para a docência, se beneficia da experiência de profissionais da escola; a universidade, enquanto formadora de professores, que por um lado pode modificar e enriquecer sua proposta curricular a partir da apropriação de vivências do estágio de seus acadêmicos e, por outro lado, ao valorizar a contribuição das escolas-campo, é efetivamente parceira destas no processo de formação inicial de professores; e o acolhimento do aluno-estagiário pela escola e pelo professor, que além de contribuir na formação dos futuros educadores, concorre para a formação contínua do professor por meio do compartilhamento das experiências e de sua reflexão, o que pode significar um debruçar-se sobre o que faz, como faz e a explicitação de referenciais teóricos que embasam esse fazer (FRANTZ; MALDANER, 2010, p. 19).
Torna-se importante creditar que o locus do ES em sua função educativa como um
todo, ou seja, com suas facilitações de cunho didático / pedagógico e/ou até mesmo pessoal,
pode exercer representativa motivação docente bem como possibilitar que o (a) estagiário (a)
possa manter uma postura didática mais fluente e agregar valores ao seu trabalho docente.
6.1 Sobre a proposta curricular do Curso de Licenciatura Plena em Música ofertado na
UFRN
A proposta curricular do CLPM ofertado pela UFRN tem como um de seus pilares a
contemplação de uma pluralidade que venha proporcionar uma construção do conhecimento
que seja aberta no sentido que envolva tanto o (a) discente quanto o (a) docente neste ato,
podendo isto contribuir para a integração dos processos educacionais que ali são
desenvolvidos, tendo em vista que:
O Curso de Licenciatura em Música da UFRN se propõe não propriamente a romper pura e simplesmente com o modelo tradicional no que se refere à riqueza da tradição musical, mas sim com a mecânica prescritiva dos
65
conteúdos pré-moldados, sejam eles de cunho tradicional europeu, sejam eles de natureza regional ou local. Não é a pura substituição de um modelo prescritivo por outro que pode conduzir a uma formação que contemple em alguma extensão a diversidade da cultura musical, mas sim a integração nos processos educacionais da própria dinâmica das diferentes manifestações musicais a que todos os seres humanos são expostos (BRASIL, 2004, p. 9).
Com isso, o referido Projeto Pedagógico afirma que:
O planejamento das atividades de ensino/aprendizagem, pesquisa e extensão dirigidas à formação do educador musical deverá estar voltado para o desenvolvimento de uma proposta integradora, partindo da observação, da vivência e interação da realidade musical, estimulando a produção de novos conhecimentos musicais, abarcando gradativamente outras dimensões estéticas e socioculturais. Desta forma, estaremos enfrentando o desafio de uma aprendizagem constante, pela qual se pode acompanhar e participar das transformações sociais e culturais do nosso tempo (BRASIL, 2004, p. 10).
A partir destas premissas, percebe-se que o CLPM da UFRN é um Curso que se
preocupa com a qualidade crítica e participativa de seus licenciandos em seus processos de
formação, procurando formar licenciados que possam estar de acordo com a contextualização
da Educação contemporânea, desenvolvendo, em seus licenciados, capacidades que vão da
observação até a articulação de diferentes paradigmas que transpassam a Educação Musical
na contemporaneidade. O CLPM da UFRN pauta a sua proposta pedagógica na articulação da
teoria com a prática. Desta feita, o ES é citado na referida Proposta Pedagógica como sendo:
“[...] o estágio supervisionado é o momento de efetivar, sob supervisão de um profissional
experiente, um processo de ensino/aprendizagem que se tornará concreto e autônomo quando
da profissionalização desse estagiário” (BRASIL, 2004, p. 16).
E, ao citar como a prática, está presente no curso o Projeto Pedagógico do CLPM /
UFRN que diz:
A Prática como componente curricular estará presente desde o início do Curso e deverá se estender ao longo de todo o seu processo. Em articulação com o estágio supervisionado e com as atividades de trabalho acadêmico, a prática concorre conjuntamente para a formação da identidade do professor como educador. A relação dialógica do binômio teoria/prática, entendida como eixo articulador da produção do conhecimento na dinâmica do currículo, estará presente desde o primeiro ano do curso, mediante projetos e atividades, incluídos na carga horária dos diferentes componentes curriculares. É com essa lógica que a Resolução CNE / CP62 / 2002 fala da prática como componente curricular (BRASIL, 2004, p. 17).
6Conselho Pleno (CP).
66
O estágio como componente curricular do CLPM / UFRN está disposto em um núcleo
formado por 3 áreas do conhecimento: área de Conhecimento Instrumental, área de
Conhecimento de Fundamentos Teóricos e pela área de Conhecimento Humanístico
Pedagógico e Pesquisa onde, encaixa-se aqui, os componentes curriculares Estágios
Supervisionados I, II, III e IV.
6.2 Os Estágios Supervisionados e as Atividades Orientadas (AOS)
Categoria de cada um destes estágios e período em que são cursados:
Figura 8 – Categorias de Estágio Supervisionado no
CLPM / UFRN
Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (2009)7
É importante deixar registrado que o licenciando só poderá cumprir esta carga horária
com os estágios se, anteriormente a isto, tenha cumprindo as AOs, que dão um alicerce
didático / pedagógico para que o licenciando possa estar, de certa forma, já se familiarizando
com os campos de atuação dos estágios que cumpridos na carga horária de seu Curso.
Atuação de cada atividade orientada e período em que são cursadas:
7Documento online não paginado.
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Figura 9 – Atuação das Atividades Orientadas no CLPM / UFRN
Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (2009)8
As AOs consistem nas observações da atuação docente em sala de aula. Tais
atividades tornam-se o primeiro desvendar da atuação docente, aonde muita curiosidade sobre
o campo de atuação docente se faz sanada. Desta feita, o licenciando, que aqui exerce o papel
de observador, começa a compreender o campo de atuação docente ao qual estará retornando
para atuar na condução da atuação docente através do ES, servindo, a atividade orientada,
como um tempo de reconhecimento de campo de atuação.
8Documento online não paginado.
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7 RESULTADOS DA PESQUISA
Esta pesquisa resulta de constatações que circulam ao redor da passagem de uma
consciência a qual se chamou de ingênua (FREIRE, 2014) visto as dependências ao suporte
teórico elencado na matriz curricular do Curso de formação inicial dos (as) docentes
licenciados (as) em Música pela UFRN para a consciência crítica reflexiva que, através das
compilações desta suposta dependência teórica é, de certa forma, nascida da mesma.
Estando o (a) licenciando (a) enquanto estagiário (a) valendo-se do seu suporte teórico
e de fatores de percepção pessoal, este (a), passa a ser um indivíduo que começa a fazer uso
de sua consciência crítica e, consequentemente, a partir desta mudança, como indivíduo
conscientemente crítico e reflexivo, passa também a propiciar mudanças na sua própria forma
de aprender e ensinar.
Trazemos para a nosso diálogo, a fala de Freire (2014), quando em sua obra
Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa discorre sobre as
consciências ingênua e crítica:
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunde com a prática. O seu ‘distanciamento’ epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise e maior comunicabilidade exercer em torno da superação da ingenuidade pela rigorosidade. Por outro lado, que quanto mais me assumo como estou assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica. Não é possível a assunção que o sujeito faz de si numa certa forma de estar sendo sem a disponibilidade para mudar. Para mudar e de cujo processo se faz necessariamente sujeito também (FREIRE, 2014, p. 40).
O pensamento que emerge da experiência de ver-se e sentir-se um (a) profissional
capaz de pensar a Educação Formal (EF) de maneira crítica a partir da experiência do ES na
EI, é um pensamento propício ao fazer-se assertivo na ação docente, a qual o (a) licenciando /
estagiário (a) estará apto (a) a desenvolver após sua formação inicial, pensamento esse, que
vai se tornando vivo a partir da experiência do estágio e com todo o estreitamento que dar-se
entre a teoria e a prática que perpassa a formação inicial deste futuro (a) docente licenciado
(a). Bem como:
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A conscientização não pode existir fora da ‘práxis’, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens. Por isso mesmo, a conscientização é um compromisso histórico. É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece (FREIRE, 1980, p. 26).
Quando o (a) licenciando (a), ou seja, um (a) docente em processo de formação inicial
entra em contato com o seu futuro campo de trabalho, através da experiência do ES faz-se
notório que ele (a) reconheça uma parte do caminho que o (a) conduzirá para o encontro da
sua autonomia profissional, pois é esperado que este (a) estagiário (a), que está em processo
de formação inicial, venha a passar por uma etapa heterônoma consciente e necessária para a
capacitação ao exercício de sua autonomia docente ao longo de sua vida profissional,
começando assim também o desenvolvimento de sua própria identidade profissional. Sobre
identidade profissional, concorda-se com Pimenta (2000, p. 19) quando afirma que:
Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade.
Os resultados desta pesquisa apenas refletem impressões que, de maneira alguma,
podem ser interpretadas como deterministas, pois se faz importante lembrar que a natureza
desta pesquisa, deixa espaço para releituras e ressignificações, sobretudo, pelo entendimento
de que cada pesquisador assume na sua investigação por pontos de vistas únicos, ou seja, o
que foi descoberto e explorado de certa maneira nesta pesquisa, poderia ser descoberto e
explorado de outra maneira por outro (a) pesquisador (a).
Começa-se agora a exposição dos resultados desta pesquisa, apresentando o perfil de
cada um dos (as) participantes.
A partir do procedimento metodológico explicitado no terceiro capítulo desta
dissertação, serão expostos agora os resultados aferidos, pela análise dos dados.
Foram elencadas 3 categorias a saber:
significância do ES e do Campo de Estágio;
70
desafios e superações; e
autonomia desenvolvida.
7.1 Sobre os participantes desta pesquisa
Os (as) participantes desta pesquisa optaram por terem suas identidades preservadas,
para isto, esta dissertação traz a identificação de cada um dos participantes pela
correspondência de seus nomes como as primeiras 6 letras do alfabeto, ficando, pois, assim a
seguinte identificação pessoal de cada um dos participantes:
Egresso (a) A
Egresso (a) B
Egresso (a) C
Egresso (a) D
Egresso (a) E
Egresso (a) F
Todos (as) os (as) egressos (as) participantes desta pesquisa concordaram em manter-
se em anonimato, tendo suas identidades em sigilo, o que provocou por parte da redação desta
dissertação, alguns cuidados, para que os (as) mesmos (as) não tivessem este direito
infringido.
Optando-se assim por generalizar informações, como o período em que foram
cumpridos os seus ES bem como em que período do Curso cada um dos participantes
estavam. Para isto, foi utilizada apenas a identificação de que os estágios foram realizados nos
períodos de 2013.1 e 2014.1, assim como também foram resguardados os nomes das
instituições educacionais nas quais foram feitos os estágios pelos participantes. No que se
refere à ética na pesquisa, concorda-se que:
[...] beneficência, não maleficência, justiça e equidade são fundamentais para a pesquisa. Em relação à pesquisa social podemos dizer que estes aspectos também são válidos, uma vez que o objetivo deles é preservar a dignidade da pessoa humana. Ao efetivar o consentimento livre e esclarecido o pesquisador adquire maior segurança no desenvolvimento e obtenção dos dados. Isso porque há por um lado, segurança e compromisso de proteção do pesquisado quanto ao sigilo das informações e, por outro lado, há para o pesquisador uma confiabilidade das informações observadas na interação
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com o pesquisado. Esse trato, ou contrato entre eles, favorece a fidelidade das informações uma vez que há a aceitação de fazer parte da investigação como partícipes da pesquisa. Cabe ao pesquisador buscar, junto ao pesquisado, o que é essencial para seu trabalho investigativo. Respeitar, obviamente as questões éticas prementes nessa ação de investigar (DALBERIO, 2008, p. 92).
Sobre o tempo de experiência com a docência em Música, percebe-se que os (as)
participantes trazem experiências tanto na EF como na Educação Não Formal (ENF), bem
como que, estas experiências, em alguns dos casos, são inclusive anteriores à formação inicial
como licenciados (as) pela UFRN. Essa realidade dar-se, principalmente, por em certos
contextos não ser exigido do (a) docente em Música a formação superior em Música.
Sobre o perfil do (a) Egresso (a) A:
O (a) egresso (a) A cumpriu o seu Estágio Supervisionado I em uma escola da rede
particular de Educação. Sendo assim, o (a) mesmo (a) declarou que a referida instituição na
qual foi cumprido o seu Estágio Supervisionado I não realizou nenhum trabalho de
acolhimento e que todas as informações com relação à escola foram colhidas durante o
desenvolvimento do Estágio Supervisionado I por iniciativa e necessidade do (a) docente
(EGRESSO (A) A, [2015 ou 2016]).
Figura 10 - Dados pessoais do (a) Egresso (a) A
Fonte: A autora (2016).
Sobre o perfil do (a) Egresso (a) B:
O (a) egresso (a) B cumpriu o seu Estágio Supervisionado I em uma escola da rede
particular de Educação. Diante disso, o (a) mesmo (a) declarou que na referida instituição na
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qual foi cumprido o seu Estágio Supervisionado I, o (a) mesmo (a) foi levado pelo (a)
coordenador (a) a conhecer toda a estrutura da escola bem como o seu PPP, tendo assim total
apoio pedagógico desta instituição (EGRESSO (A) B, [2015 ou 2016]).
O (a) egresso (a) B colocou que houve, inclusive, durante o seu Estágio
Supervisionado I o acompanhamento da Coordenação da escola (EGRESSO (A) B, [2015 ou
2016]).
Figura 11 - Dados pessoais do (a) Egresso (a) B
Fonte: A autora (2016).
Sobre o perfil do (a) Egresso (a) C:
O (a) egresso (a) C cumpriu o seu Estágio Supervisionado I em uma escola vinculada
à uma igreja evangélica. Dentro desse contexto, o (a) mesmo (a) declarou que as propostas
pedagógicas da escola foram conhecidas através de sua busca pessoal no site da própria escola
(EGRESSO (A) C, [2015 ou 2016]). O (a) egresso (a) C ainda declarou ter sido bem acolhido
(a) na escola por parte da Coordenação Pedagógica (EGRESSO (A) C, [2015 ou 2016]).
Figura 12 - Dados pessoais do (a) Egresso (a) C
Fonte: A autora (2016).
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Sobre o perfil do (a) Egresso (a) D:
O (a) egresso (a) D cumpriu o seu Estágio Supervisionado I em colégio de aplicação
vinculado à rede federal de Educação. Assim, o (a) mesmo (a) declarou que a instituição fez
um trabalho pertinente com vistas a toda a proposta pedagógica da escola bem como sua
caracterização, deixando-o (a), assim, conhecedor (a) de toda a estrutura física e pedagógica
da instituição (EGRESSO (A) D, [2015 ou 2016]).
Figura 13 - Dados pessoais do (a) Egresso (a) D
Fonte: A autora (2016).
Sobre o perfil do (a) Egresso (a) E:
O (a) egresso (a) E cumpriu o seu Estágio Supervisionado I em uma escola da rede
privada. Sendo assim, o (a) egresso (a) E declarou ter feito tal escolha de cumprir o seu
Estágio Supervisionado I em uma escola da rede privada por poder ter experiência com alunos
de uma classe social diferente dos alunos que, até então, este (a) egresso (a) já tinha tido
(EGRESSO (A) E, [2015 ou 2016]).
Sobre o seu acolhimento na escola, declarou que a instituição jamais havia recebido
um estagiário em Música antes bem como que lhe foi mostrada toda a estrutura física e
pedagógica, julgando o (a) mesmo (a) ter tido um acolhimento razoável nesta instituição
(EGRESSO (A) E, [2015 ou 2016]).
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Figura 14 - Dados pessoais do (a) Egresso (a) E
Fonte: A autora (2016).
Sobre o perfil do (a) Egresso (a) F:
O (a) egresso (a) F cumpriu o seu Estágio Supervisionado I em um colégio de
aplicação vinculado à rede federal de Educação. Diante disso, o (a) mesmo (a) declarou que
esta instituição lhe preparou para que ele (a), ao entrar para a instituição exercendo o papel de
estagiário (a), pudesse cumprir de forma responsável (EGRESSO (A) F, [2015 ou 2016]).
Para tanto, foi apresentado ao (a) egresso (a) F tanto a estrutura física da instituição quanto ao
seu PPP, tendo esta apresentação acontecido uma semana antes da entrada deste (a) estagiário
(a) em sala de aula.
Figura 15 - Dados pessoais do (a) Egresso (a) F
Fonte: A autora (2016).
7.2 Significância do Estágio Supervisionado e do Campo de Estágio
Todos (as) os (as) participantes alegaram significância ao Estágio Supervisionado I,
principalmente por perceberem, nesta experiência, a oportunidade de novas descobertas, ao
mesmo tempo, em que também o percebem como uma oportunidade de superar limitações.
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Para exemplificar a situação, transcreveu-se o pensamento de 2 egressos (as)
participantes da pesquisa.
Egresso (a) A
As contribuições referentes à prática pedagógica relacionadas ao estágio supervisionado na Educação Infantil foram relevantes, uma vez que me permitiu conhecer a realidade educacional deste nível de ensino. Portanto, pude conhecer metodologias e abordagens que são referências na minha prática pedagógico-musical até os dias atuais, bem como, a forma de avaliação para Educação Infantil (EGRESSO (A) A, [2015 ou 2016])9.
Egresso (a) B
“O estágio supervisionado me auxiliou bastante na autonomia docente, principalmente
porque sou bastante tímida e tinha certo receio de como agir em sala de aula, essa timidez só
foi passando com a prática e nisso o estágio supervisionado pôde contribuir.” (EGRESSO (A)
B, [2015 ou 2016])10.
Aprender a profissão docente no decorrer do estágio supõe estar atento às
particularidades e as interfaces da realidade escolar em sua contextualização na sociedade
(PIMENTA; LIMA, 2012). Completa-se esse pensamento com a seguinte afirmação, no
trânsito da universidade para o campo de ES e, deste, para a universidade, os (as) estagiários
(as) podem ir construindo novos conhecimentos, relações humanas e aprendizagens.
Ao serem questionados sobre se a escola em que estagiaram teve um papel significante
em sua formação bem como no desenvolvimento de sua autonomia docente, os (as)
pesquisados (as) deram respostas bem diferenciadas. Para tanto, foram apontados os seguintes
pontos como sendo as principais colaborações do campo de ES para a formação inicial dos
participantes:
Desenvolvimento na formação profissional;
liberdade para tomar decisões;
construção da identidade docente;
vivência da realidade;
pesquisa;
9Documento online não paginado.
10Documento online não paginado.
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elaboração de atividades;
enfretamento e preparação da sala de aula;
despertar a vontade de trabalhar na EI;
término quanto ao medo da sala de aula;
diminuição da timidez.
Tornou-se perceptível através do (s) depoimento (s) dos (as) participantes desta
pesquisa, o comprometimento com o ato de educar, pois existiu, desde seus estágios, a
preocupação para com o planejamento adequado das suas aulas, um reflexo de toda a base
teórica anterior ao momento do estágio e foi devidamente articulada pelo próprio
conhecimento e aprendizagem construídos no CLPM / UFRN desde o início de suas vidas
acadêmicas.
Do contato com o cotidiano da Escola - campo do Estágio Supervisionado I -
nasceram novos conhecimentos que foram articulados de forma a acrescentar qualidade tanto
reflexiva e/ou crítica, de ordem didático / pedagógico / musical, ou seja, uma intencionalidade
de sentidos. Nesse aspecto, concorda-se com Nóvoa (2003, p. 27), quando afirma que:
O conhecimento do professor depende de uma reflexão prática e deliberativa. Depende, por um lado, de uma reelaboração da experiência a partir de uma análise sistemática das práticas. É essa análise sistemática que permite evitar as armadilhas de uma mera reprodução de ideias feitas. Depende por outro lado, de um esforço de deliberação, de escolha e de decisão que passa por uma intencionalidade de sentidos.
Quando questionados sobre se o campo de estágio correspondeu às expectativas, os
(as) participantes, 4 destes, (as) responderam que sim e os (as) outros (as) 2 responderam em
parte e deixou a desejar.
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Figura 16 - Campo x Expectativas
Fonte: A autora (2016).
As expectativas dos (as) participantes com relação ao campo de estágio mostraram-se
de diversas naturezas, desde o desejo de trabalhar com um público diferenciado, até conseguir
desenvolver um trabalho criativo junto ao público da EI.
Vejamos, em seguida, a resposta do (a) egresso E para a questão da expectativa
correspondida, com relação ao campo dos seus estágios:
Acredito que sim, pois o meu objetivo inicial era de ter o contato com um público diferente, que no caso eram alunos de famílias com boas condições financeiras. Vivenciei e pude perceber que é um público com características tão interessantes quanto os da escola pública, são menos carentes do que os do ensino público, são um pouco mais manhosos, etc (EGRESSO (A) E, [2015 ou 2016])11.
Percebe-se na fala do (a) egresso (a) E que a principal motivação para que ele (a)
tenha feito a procura por estagiar na escola X foi uma curiosidade de cunho social e que a
mesma curiosidade foi sanada com o contato vivencial de seu estágio nesta escola.
Este é um exemplo que demonstra traços de um educador musical que, possivelmente,
seja engajado em uma tendência pedagógica que se preocupa com o social e o humano
advindo das relações sociais, o que caracteriza também, um traço autônomo da sua identidade
docente, pois o (a) egresso (a) E foi motivado pela vontade de conhecer um público ao qual
ele (a) creditou diferenças comportamentais, pelo fato de esse público pertencer a uma classe
social X. Assim, ao ter escolhido a escola X para nela cumprir o seu ES, o (a) egresso (a) E
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Documento online não paginado.
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enquanto estagiário (a), já mobilizava ideais de cunho social na construção de sua identidade
profissional bem como fez uso de suas vontades e crenças sem a interferência de terceiros.
Faz-se aqui um link com o pensamento de Freire (2014, p. 95) sobre uma suposta neutralidade
em espaços pedagógicos, quando o mesmo afirma que: “[...] o espaço pedagógico, neutro por
excelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira
humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.”
O (a) egresso (a) E demonstra que já possui certo grau de convicção sobre o papel
político que é indissociável ao ser Educador e assim, já no começo de sua formação como
tal, articula sua ideologia a sua prática docente, mesmo que esta prática ainda não seja a sua
real prática docente, pois embora se trate de uma vivência em um espaço dentro do sistema
de Educação, ainda está sobre um certo grau de heteronomia perante as suas limitações
autônomas advindas da função que deve exercer um estagiário em seu campo de atuação.
Sobre a insatisfação do campo do Estágio Supervisionado I, o (a) egresso (a) A,
problematizou da seguinte forma:
A escola na qual realizei meu estágio supervisionado na Educação
Infantil, deixou um pouco a desejar nesse sentido, expectativa X realidade, uma vez que a escola não dispunha de recursos pedagógico-
musicais para uma prática efetiva, como também, não dispunha de um espaço adequado para a realização das aulas, o que dificultou a execução de alguns tipos de atividades, principalmente, as
relacionadas ao movimento (EGRESSO (A) A, [2015 ou 2016])12.
Percebe-se na resposta do (a) egresso (a) A, uma preocupação com o desenvolvimento
de uma regência que, de certa forma, foi afetada pela ausência de alguns elementos aos quais
o (a) egresso (a) julga ideal para a execução adequada ao seu planejamento de aulas. Percebe-
se nestas colocações, que há nesta resposta um senso de responsabilidade profissional já bem
maduro, pois trata-se de uma problematização de ordem instrumental o que inferiu certo
raciocínio autônomo de que seu estágio poderia ter tido um aproveitamento qualitativo
superiormente diferenciado do que teve. Considerando a importância do envolvimento dos
pares que fazem a institucionalização do ES, sobre este aspecto, Aroeira (2014, p. 114) coloca
que:
[...] estamos imbricados numa diversidade de diálogos existentes entre nós (supervisores, estagiários, professores das escolas, escolares), buscamos
12
Documento online não paginado.
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novos saberes e chegamos a outro momento, a um cenário em que somos muitos, e talvez nada, principalmente, quando identificamos que é no sucesso das responsabilidades compartilhadas entre universidades e escola que avançamos para a formação de profissionais da educação de qualidade.
Logo, se as responsabilidades do insucesso do (a) estagiário (a), sob condições
inadequadas para o desenvolvimento de seu trabalho, descaírem apenas sobre o estagiário,
fica evidente um certo descaso dos atores que nele estão envolvidos, sobretudo, das
instituições universidade e escola (campo de ação do ES).
7.3 Desafios e superações
Aqui se tem uma demonstração de que toda a preparação teórica, ou seja, todo o
embasamento construído a partir da matriz curricular do CLPM / UFRN torna-se um divisor
entre a consciência ingênua (do conhecimento teórico) e da consciência crítica (FREIRE,
2014), considerando a funcionalidade da teoria aprendida, estando em ação no decorrer do
ES. Assim, a superação de desafios só são conquistados e vencidos com uma prática docente
que faça escolhas assertivas, para assim ver-se os desafios desta ação propostos pelo ES
superados. Para isso, a autonomia dos (as) estagiários (as) que é inerente de fazer escolhas e
refletir sobre que tipo de educador musical se é e se faz essencial neste processo.
Figura 17 - As dificuldades elencadas
Fonte: A autora (2016).
80
O (a) egresso (a) C faz a seguinte colocação sobre as dificuldades encontradas no
campo.
A maior dificuldade foi elaborar uma aula, ter a criatividade de poder criar uma aula para alunos de pouca idade, a sala que eu estava estagiando era alunos de 3 anos, correspondente ao nível III, todos em fase de adaptação em começo de ano, realmente eu não sabia o que poderia fazer (EGRESSO (A) C, [2015 ou 2016])13.
Já o (a) egresso (a) F aponta em relação às dificuldades que:
O maior desafio para mim foi no que escolher para abordar como conteúdo nas aulas, temos um leque gigantesco de opções de conteúdo, temáticas, temos os documentos norteadores, mas mesmo assim, pensar em um conteúdo para educação infantil é também pensar num aparato lúdico. Qual a melhor maneira de se trabalhar, fazendo com que a criança vivencie a música em sua totalidade, explorando o movimento, canção. O desafio é unir os mais diversos recursos para chegarmos ao objetivo final (EGRESSO (A) F, [2015 ou 2016])14.
Nas respostas aferidas por ambos os (as) egressos (as) C e F existe a preocupação com
a escolha do conteúdo e metodologia a serem trabalhados com as crianças, pois, ambos
refletiram sobre um conteúdo que estivesse de acordo com o mundo da criança, seus limites e
potencialidades.
O (a) egresso (a) C nos demonstra que teve dificuldade em lidar com a idade das
crianças e com a criação de uma aula que estivesse proporcional a esta faixa etária das
crianças. Seu depoimento revela-nos uma desorientação bem significativa, um processo ao
qual comparamos com a menoridade a qual foi citada por Kant (1784) como sendo um dos
conceitos que, de certa forma, se opõe ao ato autônomo; o (a) egresso (a), enquanto estagiário
(a), sabia sobre o certo, mas tinha receio por não o fazer e assim, por julgar não o saber fazer.
O (a) estagiário (a) nos mostra senso de responsabilidade por saber analisar e,
consequentemente, trabalhar em suas limitações. Temos para consulta sobre este tema, Idade
x Conteúdos, no RCNEI que:
A organização dos conteúdos para o trabalho na área de Música nas instituições de educação infantil deverá, acima de tudo, respeitar o nível de percepção e desenvolvimento (musical e global) das crianças em cada fase,
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Documento online não paginado. 14
Documento online não paginado.
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bem como as diferenças socioculturais entre os grupos de crianças das muitas regiões do país (BRASIL, 1998b, v. 3, p. 56).
Egresso (a) A ([2015 ou 2016])15:
Meus desafios estavam relacionados, principalmente, a falta de acompanhamento pedagógico por parte do docente responsável pela disciplina de estágio supervisionado, o que dificultou minha atuação enquanto educadora musical, uma vez que não possuía a formação necessária para domínio da sala de aula. Outro fator desafiador durante minha atuação enquanto estagiaria foi a questão da falta de recursos pedagógico-musicais para a realização de uma prática efetiva, a falta de recursos é um grande limitador da prática pedagógica docente na educação infantil, uma vez que necessitamos de recursos lúdicos para o trabalho com crianças.
Podemos articular essa fala do (a) egresso (a) A com a seguinte afirmação:
A reflexão crítica não se pode ser concebida como um processo de pensamento sem orientação. Pelo contrário, ela tem um propósito muito claro, ao definir-se diante dos problemas e atuar consequentemente, considerando-os como situações que estão além de nossas próprias intenções e atuações pessoais, para incluir sua análise como problemas que têm sua origem social e histórica (CONTRERAS, 2002, p. 163).
Todos (as) os (as) egressos (as) participantes da pesquisa declararam que haviam
superado os desafios apresentados por seus ES. Sendo a pesquisa uma questão bem relevante
junto ao depoimento destes (as) participantes, percebeu-se com isto, que houve o rompimento
com questões limitadoras, aonde o ser docente nestes (as) estagiários (as) transporta-se da
inconsciência para a tomada de consciência, da dependência heterônima à liberdade
autônoma.
O estágio é uma ação que depende da atuação coletiva de todos os envolvidos, o ES é,
por assim dizer, uma construção coletiva de conhecimentos, onde o (a) estagiário (a) é
dependente de muitos fatores que tem influência direta não só no desenvolvimento do
trabalho da regência em sala de aula como também no desempenho de posturas autônomas
que podem ser exigidas ao longo do processo do estágio, para que o mesmo possa ser
desenvolvido de forma positiva. Diante disso, admite-se que:
O estágio caracteriza-se como um momento fundamental na formação do professor de música. É no estágio que o acadêmico coloca em prática os
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Documento online não paginado.
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saberes musicais e pedagógico-musicais aprendidos durante sua licenciatura, testando, analisando e comprovando as informações assimiladas teoricamente (FIALHO, 2009, p. 53).
Quando perguntados sobre a postura dos (as) professores (as) supervisores (as) e do
(a) professor (a) ministrante do componente curricular Estágio Supervisionado I, se obteve
algumas respostas que apontam um certo grau de problematização para com o
comprometimento ou não destes (as) profissionais que tem um papel fundamental na
formação do (a) licenciando (a) enquanto estagiário (a). Freire (2014, p. 96) aponta que
ensinar exige comprometimento:
Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos [...] é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar a verdade. Ético por isso mesmo tem que ser o meu testemunho.
A postura assumida por alguns / algumas dos (as) professores (as) supervisores (as)
dos (as) licenciandos (as) enquanto estagiários (as), tornou-se uma postura preocupante para
alguns dos respondentes desta pesquisa e assim, foi encarada como um dos desafios
encontrados por estes (as) estagiários (as) os quais acreditam que existiu um déficit das
capacidades de analisar e avaliar. Na opinião dos (as) egressos (as) participantes desta
pesquisa, a postura desses (as) professores (as) supervisores (as) apresenta grandes lacunas
inclusive de relações humanas.
Com relação às respostas dos (as) egressos (as), 2 deles responderam que houve
auxílio dos professores, 2 egressos (as) responderam que em parte (no caso apenas o
professor do componente curricular na UFRN lhes auxiliou) e os outros 2 responderam que
haviam elaborado sozinhos (as). Entende-se, por essa amostra, que se trata aqui de uma
problematização a qual deve ser, de alguma forma, questionada junto ao CLPM / UFRN, pois,
tem-se uma lacuna imensa entre o que se propõe para com componente curricular Estágio
Supervisionado e essa falta de acompanhamento que, de certa forma, pode influenciar
negativamente a ação do (a) estagiário (a) bem como os resultados do seu ES.
O (a) egresso (a) A ([2015 ou 2016])16 informa que: “O planejamento do meu estágio
supervisionado na educação infantil foi realizado sem o auxílio dos professores responsáveis
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Documento online não paginado.
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pela disciplina, tanto o ministrante quanto o supervisor. Portanto, elaborei sozinho (a) meu
plano de ensino, buscando auxilio na literatura”.
Pela resposta do (a) egresso (a) A constata-se que o que poderia ser negativo foi
convergido em uma saída racional e responsável, pois ao se ver sozinho (a) na elaboração do
seu planejamento, este (a) egresso (a) teve a autonomia de buscar resposta para o seu
problema na literatura. Aqui fica claro que a autonomia docente pode fluir também a partir
de desafios que contrarie os ideais especulativos dos (as) estagiários (as). De acordo com
todos os participantes da pesquisa de alguma forma os desafios encontrados foram superados.
7.4 Autonomia desenvolvida
Durante seus ES, os (as) egressos (as) participantes da pesquisa vivenciaram
realidades desconhecidas, realidades das quais estavam expostas até então na teoria de seus
Cursos, mas que a partir da atividade curricular Estágio Supervisionado I, estes (as) egressos
(as), no papel de estagiários (as), passaram a ter contato, dificuldades de naturezas diversas no
âmbito escolar, psicológico, metodológico, didático e inclusive pessoal.
Constatou-se, através desta pesquisa, que o caráter reflexivo presente na proposta
pedagógica do próprio CLPM / UFRN de fato, vem sendo executado, pois, constata-se nestes
(as) egressos (as) através de suas respostas ao questionário de pesquisa (APÊNDICE B), que
seus perfis estão encaixados no tipo de docente que Contreras (2002) define como:
profissional reflexivo.
Os (as) egressos (as), enquanto estagiários (a), fundamentaram suas práticas em
saberes da docência, mobilizando-os e articulando de acordo com as suas escolhas didático /
pedagógicas / musicais, agindo assim com autonomia, ou seja, com autonomia docente. O
campo do ES torna-se um potencializador da articulação deste processo, tanto com suas
facilitações quanto por suas conveniências didático / pedagógicas.
Os (as) participantes desta pesquisa, quando questionados (as) sobre se a escola (o
campo do ES) em que estagiaram contribuiu para o desenvolvimento de sua autonomia
docente, responderam que sim, tratando-se esta autonomia docente de uma autonomia que,
posteriormente, com o decorrer da experiência profissional se caracterizará por novas bases
que nascem no decorrer do exercício docente. Aponta-se, então, que a contribuição para a
autonomia docente dos (as) estagiários (as) neste período de vivência em seus ES é sim, uma
84
das características que marcam as suas docências. De acordo com Pimentel; Pontuschka
(2014, p. 73):
Durante o curso de graduação começam a ser construídos os saberes, as habilidades, posturas e atitudes quem formam o profissional. Em períodos de estágio, esses conhecimentos são ressignificados pelo aluno estagiário a partir de suas experiências pessoais em contato direto com o campo de trabalho que, ao longo da vida profissional vão sendo reconstruídos no exercício da profissão.
Com a intenção de compreender a visão particular que cada um dos participantes tem
sobre o que seja autonomia docente e com isto fazer um link com os 3 tipos de professores
(as) que Contreras (2002) apresenta, perguntou-se aos (as) participantes, sobre o que significa
autonomia docente.
Ao serem questionados (as) sobre o entendimento que cada um (a) tem sobre a
autonomia docente, os (as) egressos (as) participantes da pesquisa responderam da seguinte
maneira17:
Egresso (a) A ([2015 ou 2016], grifo nosso)18: “Em minha concepção, autonomia
docente está relacionada a identidade pedagógica, portanto, a maneira particular com a qual
o educador musical irá desenvolver suas aulas, é algo construído na prática cotidiana da sala
de aula”.
Egresso (a) B ([2015 ou 2016], grifos nossos)19: “Autonomia docente é saber como
agir adequadamente no ambiente escolar. Age adequadamente o professor que busca sempre
de forma integrada o bem para os alunos, para educação e para a escola”.
Egresso (a) C ([2015 ou 2016], grifos nossos)20: “É poder ter a liberdade para
elaborar e colocar em prática as aulas, poder tomar algumas decisões que cabe somente ao
professor fazer”.
Egresso (a) D ([2015 ou 2016], grifos nossos)21:
É tudo que eu possa utilizar em sala de aula sem que exista uma ordem de
terceiros, desde que meus conteúdos estejam condizentes com a proposta da Educação Musical e com a função de educador que busque a própria autonomia dos educandos e o desenvolvimento global do indivíduo.
17
Os grifos estão relacionados com os conceitos filosóficos de autonomia destacados no segundo capítulo desta
dissertação. 18
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85
Egresso (a) E ([2015 ou 2016], grifos nossos)22:
Autonomia docente para mim é todo o processo que engloba as ações do
professor como pesquisador, elaborador e executante em sala de aula, ressalto que este processo se inicia antes da atuação e seu desenvolvimento
autônomo é momentaneamente inconsciente e só conseguimos percebe-lo depois em outras elaborações, quando nossa percepção está um pouco
mais atenta para determinadas práticas.
Egresso (a) F ([2015 ou 2016], grifos nossos)23:
Para mim autonomia docente é estar preparado para conduzir uma sala de aula, é entender como se dá o ensino, nesse caso o ensino de música, é entender como trabalhar com cada nível de ensino, seja ele infantil, fundamental ou ensino médio. É construir o seu modo de dar aula, alicerçado nas mais diversas abordagens e metodologias que possuímos para o ensino de música, se atualizando frente às matérias disponíveis (livros, cd’s24), ser um docente autônomo é ser um professor pesquisador, crítico -
reflexivo, é entender a prática na teoria e saber teorizar a sua prática, prática que foi construída na experimentação diária, ser autônomo é levar em
consideração os seres humanos com quem estamos lidando, é ver não apenas com nossos olhos mas ver com os olhos de quem estar ao nosso redor.
Pode-se perceber que estes (as) educadores (as) musicais valoram a autonomia como
ação docente que engloba tanto os processos de saberes e pertencimento na atuação como
docente em sala de aula.
Outro fator importante é que todas as falas evocaram a autonomia docente como um
ato relacional, ou seja, para nossos (as) pesquisados (as), a autonomia docente está sempre
relacionada a alguma dependência, seja ela de ordem administrativa, burocrática, da
instituição em que se desenvolve o trabalho docente e/ou mesmo de ordem interpessoal.
Percebe-se que, em todas as falas, existe alguma ligação com a didática, ou seja, a
funcionalidade dos saberes docentes aplicados em sala de aula e para a sala de aula. Entende-
se, pois, que, na visão dos (as) colaboradores (as) desta pesquisa, autonomia docente é o
reflexo exterior de toda uma preparação e formação acadêmica posta em ação através
da atuação no contexto educativo, sendo esta uma ação do pensar, do elaborar, do
investigar e do atuar em sala de aula. Contreras (2002, p. 200) afirma que:
22
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Compact Disc (CD).
86
[...] tanto a autonomia profissional como pessoal não se desenvolvem nem se realizam, nem são definidas pela capacidade de isolamento, pela capacidade de ‘se arranjar sozinho’, nem pela capacidade de se evitar influencias ou as relações. A autonomia se desenvolve em um contexto de relações, não isoladamente. Tem a ver, portanto, com uma forma de manter relações. Conseguintemente, as qualidades que essas ações reunirem são as que poderão favorecer ou entorpecer. Uma perspectiva de relação e construção da autonomia a define não como a posse de direitos e atributos, mas como a busca e construção de um encontro pedagógico em que as convicções e pretensões abrem um espaço de entendimento no qual podem se desenvolver por meio do diálogo, tanto em sua significação quanto em sua realização. Por tanto autonomia tanto faz referência a uma disposição de encontro pedagógico, como a qualidade e consequência deste.
Fazendo um link com o Quadro 7, percebe-se que os (as) egressos (as) participantes
desta pesquisa estão todos dentro deste perfil docente, o perfil do professor reflexivo.
Quadro 7 - Modelo do Professor Profissional Reflexivo
DIMENSÕES DA PROFISSIONALIDADE DO PROFESSOR
Profissional Reflexivo
Obrigação moral
O ensino deve guiar-se pelos valores educativos pessoalmente
assumidos.
Definem as qualidades morais da relação e da experiência
educativas.
Compromisso com
a comunidade
Negociação e equilíbrio entre os diferentes interesses sociais,
interpretando seu valor e mediando política e prática entre eles.
Competência
profissional
Pesquisa / reflexão sobre a prática.
Deliberação na incerteza acerca da forma moral ou
educativamente correta de agir em cada caso.
Concepção de
autonomia
profissional
Autonomia como responsabilidade moral individual,
considerando os diferentes pontos de vista.
Equilíbrio entre a independência de juízo e a responsabilidade
social.
Capacidade para resolver criativamente as situações problemas
para realização prática das pretensões educativas.
Fonte: Contreras (2002, p. 192).
87
Destaca-se a fala do (a) egresso (a) B ([2015 ou 2016], grifos nossos)25 que faz a
seguinte declaração sobre o que para ele (a) é autonomia didática: “Autonomia docente é
saber como agir adequadamente no ambiente escolar. Age adequadamente o professor que
busca sempre de forma integrada o bem para os alunos, para educação e para a escola”.
Esta fala nos remete diretamente ao pensamento de Freire (2014, p. 142) quando este nos
afirma, por exemplo, que:
É esta percepção do homem e da mulher como seres ‘programados, mas para aprender’ e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que me faz entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos. Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura reacionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual.
Constata-se, pois, que, ao conquistar certo grau de autonomia docente no processo do
ES na EI, estes sujeitos (os (as) egressos (as) participantes desta pesquisa) antes tiveram que
aprender a ser coletivo, pois, mesmo aqueles sujeitos que disseram que não tiveram auxílio
para o desenvolvimento de seus planos de ação em sala de aula, viram-se dependentes de
conciliações, fossem estas de ordem individual e/ou em relação à hierarquia a qual estes
estavam expostos haja vista que o ES, “[...] além de proporcionar o aperfeiçoamento dos
conhecimentos profissionais, a colaboração entre pares promove o desenvolvimento do
trabalho autônomo dos professores e [...] dos futuros professores” (AROEIRA, 2014, p. 144).
Sendo assim, os caminhos que foram percorridos a partir dos processos de análise
feitos por essa pesquisa trazem em seus resultados, a compreensão de que os (as) egressos (as)
do CLPM que dela participaram, indicam que são sujeitos que se constituem provedores de
sua própria ação profissional, o que denota a presença da autonomia docente e que esta
postura teve início a partir dos primeiros contatos com o cotidiano escolar durante o período
em que cumpriram o componente curricular ES, em suas Licenciaturas.
25
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88
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar é algo, a princípio, paradoxo, pois parece ser antes, um ato de fé, afinal a
partir de uma hipótese que pode ou não ser confirmada, o (a) pesquisador (a) traça todo um
caminho metódico e metodológico, acreditando, algumas vezes, em princípio tão somente na
sua intuição que, ao longo do processo, vai se corporificando, tornando-se realidade. O (a)
pesquisador (a) é um (a) visionário (a), por vezes até um revolucionário, tendo em vista que
algumas descobertas científicas podem influenciar, de forma conceitual, a produção do
conhecimento na área pesquisada.
A pesquisa ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: um estudo com egressos do Curso de Licenciatura Plena em Música da UFRN,
traz as impressões de 6 egressos (as) do CLPM / UFRN, jovens recém-formados (as) com
idades entre 21 e 25 anos de idade, sobre componente curricular Estágio Supervisionado I,
desta forma, também traz ao conhecimento do leitor, o que estes (as) pesquisados (as)
reconhecem por autonomia docente.
Algumas percepções conferem ao Estágio Supervisionado I, bases para que o (a)
estagiário (a), ou seja, o (a) licenciando (a) em Música possa agir de forma autônoma sobre a
sua prática docente inicial, sobretudo, no tocante as decisões de ordem de saberes
profissionais em articulação com a prática didático / pedagógica / musical a partir do
primeiro estágio que cumpre o ES que atende ao público que compreende a infância.
É interessante que, antes de discorrer sobre a autonomia docente na formação inicial
destes (as) licenciados (as), egressos (as) participantes da pesquisa, o qual é o objeto direto
desta investigação e, mais precisamente, sobre os resultados desta pesquisa, possamos
compreender que: o (a) estagiário (a) bem como o ES ao qual se presta a investigação desta
pesquisa é parte do currículo de um curso de formação de licenciados em Música, sendo
ofertado por uma instituição de Ensino Superior e que esta instituição deixa explícito em seus
documentos oficiais a preocupação com a formação de profissionais capazes de serem
autônomos em suas práticas. Vale salientar que, essa mesma instituição, estrutura toda a sua
matriz curricular de forma a tornar esse objetivo evidente e contundente, portanto, essa
pesquisa além de demonstrar resultados que estão ligados, diretamente, aos indivíduos que
assumiram seus papéis de estagiários (as) enquanto licenciandos (as) com formação inicial no
CLPM / UFRN, indissociável está também validando as premissas dos ideais pedagógicos do
CLPM / UFRN.
89
Seria improvável que ao falar sobre autonomia docente deixássemos de contextualizar
o termo autonomia docente com o cotidiano do trabalho docente, pois essa autonomia de que
falamos é uma autonomia viva em sociedade e contextualizada com a mesma. Quando já na
escolha da instituição de Educação ao qual servirá de campo para a vivência do estágio, o (a)
estagiário (a) utiliza-se de ideologias próprias para a escolha de tal espaço, em particular, para
vivência do cotidiano docente. Assim, fica explícito que esse (a) docente em formação, está
ativo (a) em sua autonomia docente desde o papel representativo de suas escolhas primárias,
em sua ação de optar por essa e não por aquela outra instituição, dando para esta escolha,
representação e significado de crenças pessoais. Assim procedendo, esse docente em
formação se mostra responsável por suas escolhas e pelas respostas obtidas das mesmas em
seu cotidiano profissional.
Em se tratando das proposições as quais esta pesquisa se empenhou em descobrir é
válido, por princípio afirmar que, os (as) pesquisados (as) demonstraram que estiveram
enquanto estagiários (as) de Música, em uma ação reflexiva no que se refere ao desempenho
assertivo da prática docente em sala de aula, uma busca que, notoriamente, foi além de um
mero cumprimento curricular, e, é exatamente neste contexto que pode-se afirmar que, à todo
momento, estes (as) estagiários (as) mantiveram uma postura autônoma enquanto docentes
em formação através da vivência experienciada em seus ES.
Acredita-se que os resultados desta pesquisa, apresentados aqui nesta dissertação,
poderão colaborar com pesquisas de outros colegas que estejam enveredando pelo caminho da
investigação do fazer educativo musical dos licenciandos em Música, tendo em vistas que é
desejo desta pesquisa dar contribuições significativas para a construção do conhecimento na
área da Educação Musical, colaborando com o conhecimento que nasce do estreitamento entre
teoria e prática docente, mesmo que tendo esta prática docente um certo caráter de simulação
do cotidiano docente.
Notou-se, através dos resultados apresentados, que este estreitamento é de substancial
importância para a formação inicial dos (as) licenciados (as) em Música, pois, pode-se
constatar que existe um sentimento de responsabilidade e respeito mútuo envolvendo todos os
que deste processo participam, mesmo que de forma indireta, tendo-se em conta que a
manutenção desta vivência depende, diretamente, de um bom relacionamento interpessoal de
todos os atores que estão envolvidos neste processo educativo.
Percebeu-se que, quando o (a) licenciando (a), ou seja, um (a) docente em processo de
formação inicial, entra em contato com o seu futuro campo de trabalho, através da experiência
90
do ES, ele (a) reconhece uma parte do caminho que o (a) conduzirá para o encontro da sua
autonomia profissional, pois este (a) estagiário (a), que está em processo de formação inicial,
passa por uma etapa heterônoma consciente e necessária para a sua capacitação ao exercício
de sua autonomia docente ao longo de sua vida profissional, levando em consideração todos
os limites impostos pela liberdade que este (a) estagiário (a) terá durante o processo do
exercício mesmo que, de certa forma, simulado da docência em um contexto educativo real.
Conclui-se que o processo de autonomia docente que o (a) estagiário (a) começa a
desenvolver a partir da prática junto ao componente curricular Estágio Supervisionado I, o
qual se destina a prática docente na EI é um marco divisor de comportamentos e percepções
sobre a prática docente, visto que, como coloca Contreras (2002), a autonomia é uma
necessidade da docência e não um slogan para ser seguido cegamente.
O (a) estagiário (a) da EI tem a chance de poder praticar e experimentar toda a teoria
estudada e todo o conhecimento adquirido, até então, dentro dos limites da universidade,
passando este à experimentá-los na prática, encarando tanto o processo de frustação quanto o
de realização a partir de sua prática inicial dentro do contexto no qual passa a atuar.
Fica evidente com os resultados desta pesquisa, que o cumprimento do componente
curricular na primeira fase da EB, ou seja, na EI, agregou, de uma forma geral, a todos os (as)
egressos (as) que dela participaram, a superação de algum limite bem como que, a partir dos
desafios encontrados, aconteceu um processo de acentuação nos processos de reflexão,
pesquisa e consciência crítica desenvolvidos por estes (as) egressos (as), durante as
superações envolvidas no período de seus estágios, provindos diretamente do campo (escola)
aonde atuaram como estagiários (as).
A pesquisa indica, a partir da análise do conteúdo das falas dos (as) participantes, que
todos (as) eles (as) se sentiram, de certa forma, se desenvolvendo e formando uma certa
identidade docente, levando em consideração as posturas que foram desenvolvidas por cada
um (a) deles (as) durante esse primeiro contato ativo dentro do ambiente escolar.
Conclui-se que, a hipótese lançada foi confirmada, embora também tenha sido
problematizada. Constatou-se que a escola (campo do estágio) exerce influências sobre o
desenvolvimento da autonomia docente nos (as) estagiários (as) e que esta influência é
relativizada, tendo em vista a superação individual desses (as) estagiários (as) além de que, a
escola (campo do estágio), ao oferecer uma estrutura mais organizada para a prática docente a
partir do ES, permite vivências fluentes de maneira mais positiva do que quando o campo do
estágio não oferece certa organização estrutural.
91
Por fim, parafraseando uma das referências teóricas desta pesquisa - Freire (1991) -
afirma-se que nenhum (a) dos (as) egressos (as) participantes desta pesquisa nasceu educador
(a), nem começou a sê-lo (a) em um dia exato da semana, em uma hora também exata, mas,
que estão percorrendo o caminho que os (as) conduzem a uma prática reflexiva durante este
processo que, por vezes, são autônomos, no sentido das escolhas profissionais que fazem para
a condução do seu trabalho, por outras, podem ainda está em um processo oposto, ou seja, em
uma heteronomia, na qual se compreende fazer parte do caminho do esclarecimento, afinal,
não haveria autonomia se não houvesse o processo de rompimento da ingenuidade
heterônima, a autonomia docente também é um processo de ensino / aprendizagem.
92
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99
APÊNDICE A – CARTA CONVITE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
um estudo com egressos do Curso de Licenciatura Plena em Música da UFRN
INFORMAÇÕES GERAIS
Este questionário faz parte da pesquisa que está sendo desenvolvida pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em nível de Mestrado sob orientação da professora
Dra. Valéria Lazaro Carvalho do Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da
UFRN. O estudo pretende conhecer como o Estágio Supervisionado na Educação Infantil
pode ser um agente que, na formação inicial docente em Música, promova uma ação
autônoma do professor e como a instituição de Educação Infantil na qual o seu estágio foi
feito contribuiu para o desenvolvimento desta autonomia, estudo feito com egressos do Curso
de Licenciatura Plena em Música da UFRN.
Sua participação, de caráter voluntário e não identificado, certamente irá contribuir
para essa pesquisa e, consequentemente, para o desenvolvimento da Educação Musical.
Caso queira receber os resultados desta pesquisa, escreva seu e-mail abaixo:
E-mail: [email protected]
Desde já, agradecemos sua participação.
Midiam de Souza Fernandes Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Música - UFRN
Mat. 2015103222
100
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
1- INFORMAÇÕES SOBRE O PROFESSOR DE MÚSICA
1.1- Idade: 1.2- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 1.3- Tempo de docência
em Música:
____________________
2- INFORMAÇÕES SOBRE A INSTITUIÇÃO EM QUE FOI FEITO O SEU
ESTÁGIO SUPERVISIONADO I (EDUCAÇÃO INFANTIL).
2.2- Onde foi realizado o seu Estágio Supervisionado enquanto licenciando em
Música da Escola de Música da UFRN (EMUFRN)?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2.2.1- Quando você fez este Estágio Supervisionado?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2.2.2- A Coordenação da escola em que você estagiou fez algum trabalho de
acolhimento com você, do tipo caracterização da escola, lhe foi apresentada a
Proposta Pedagógica da escola e o objetivo da Educação Musical dentro deste
contexto (dentro da Proposta Pedagógica da escola)? Comente sua resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
101
2.2.3- A escola em que você estagiou correspondeu suas expectativas como
estagiário quanto à realidade da atuação de um professor de Música na Educação
Infantil? Comente sua resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2.3- Quais foram os principais desafios encontrados por você em relação a sua
atuação como estagiário na Educação Infantil?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2.4- Durante o seu estágio na Educação Infantil, você teve alguma orientação do
professor supervisor da escola onde atuou como estagiário (ou seja, do professor
efetivo da turma em que você atuou)? Comente a sua resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3- INFORMAÇÕES SOBRE O COMPONENTE CURRICULAR ESTÁGIO
SUPERVISIONADO I (EDUCAÇÃO INFANTIL): METODOLOGIA E
DIDÁTICA APLICADAS EM SEU ESTÁGIO
3.1- Como foi feito o planejamento do seu estágio? Você o fez sozinho ou teve
auxílio do professor ministrante do componente curricular na UFRN e do
professor supervisor na escola em que você estagiou?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
102
3.2- Quais foram os conteúdos abordados junto à turma na qual você estagiou?
Quais critérios você utilizou para a escolha deste conteúdo? Você fez utilização do
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3.3- Você seguiu a metodologia utilizada pelo seu professor supervisor (professor
efetivo da turma em que você atuou) durante o seu estágio? Comente a sua
resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3.4- Enquanto estagiário você compreendeu os fundamentos, natureza e objetivos
do seu Estágio Supervisionado? Comente sua resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4- AUTONOMIA (S) DESENVOLVIDA (S) EM SEU ESTÁGIO:
CONTRIBUIÇÕES PARA A SUA IDENTIDADE DOCENTE
4.1- Hoje, professor (a) formado (a), você atua na Educação Infantil?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
103
Gratidão por sua colaboração para com esta pesquisa!
Midiam de Souza Fernandes.
4.2- Se a resposta anterior (4.1) for sim, você poderia responder quais
contribuições o seu Estágio Supervisionado I trouxe para sua autonomia docente
(em relação a sua prática na Educação Infantil)?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4.3- A escola em que você estagiou contribuiu para o desenvolvimento de sua
autonomia docente? Você acredita que esta instituição na qual você cumpriu o seu
Estágio Supervisionado I – Educação Infantil teve um papel significante em sua
formação bem como no desenvolvimento da sua autonomia docente? Comente a
sua resposta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4.4- O que é, no seu entendimento, a autonomia docente?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________