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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL MARIA IVANEIDE ALVES A DROGADIÇÃO COMO UM FENÔMENO SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE AS PRINCIPAIS CAUSAS DA EVASÃO NO TRATAMENTO DOS USUÁRIOS DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS- CAPS AD PARNAMIRIM-RN. NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MARIA IVANEIDE ALVES

A DROGADIÇÃO COMO UM FENÔMENO SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE AS

PRINCIPAIS CAUSAS DA EVASÃO NO TRATAMENTO DOS USUÁRIOS DO

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS-

CAPS AD PARNAMIRIM-RN.

NATAL/RN

2016

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MARIA IVANEIDE ALVES

A DROGADIÇÃO COMO UM FENÔMENO SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE AS

PRINCIPAIS CAUSAS DA EVASÃO NO TRATAMENTO DOS USUÁRIOS DO

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS-

CAPS AD PARNAMIRIM-RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, como requisito para obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ma. Luciana do Nascimento

Simião

NATAL/RN

2016

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AGRADECIMENTOS

A Deus por tantas oportunidades concedidas e pela sua presença

infinita em minha vida.

Aos meus pais Lucineide e Manoel e aos meus irmãos pelo amor

incondicional e incentivo durante todos os momentos da minha existência, em

especial meu irmão Ivanilson que esteve presente, acreditando em mim e

financiando todas as minhas necessidades ao longo do curso.

A minha Tia Ana Lúcia e a minha prima Samara pelo incentivo e por

estarem presentes em toda a minha jornada acadêmica, e pela força nos

momentos que pensei em desistir.

Aos meus avós, que sempre acreditaram que eu conseguiria ir além,

pessoas simples que sempre me passaram um enorme carinho e grandes

ensinamentos de vida. Em especial, minha avó Antônia, que faleceu no

decorrente ano e não poderá estar presente fisicamente neste celebre

momento, mas sei que estará em espírito.

Aos meus queridos amigos do grupo católico Jovens Sementes da Paz

- JOSP, por sempre me apoiarem e acreditarem em mim.

As minhas colegas de sala pela grande família que construímos, em

especial as minhas amigas Andriele, Ronize, Nayara, Jocilda, Lionete e Layssa

por sempre estarem comigo me apoiando assim como sempre estarei apoiando

vocês. Aos mestres pelos ensinamentos e aprendizagens durante a graduação.

A minha Supervisora de estágio Elizângela Brito Fernandes, pela

atenção e ensinamentos sobre os instrumentais da profissão, principalmente

pelo carinho com o qual sempre me tratou. Também, agradeço a todos os

profissionais do Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas – CAPS

ad pelo aprendizado do trabalho em equipe.

A minha orientadora Luciana do Nascimento Simião pelas

maravilhosas orientações no período do estágio obrigatório e no processo de

elaboração do presente Trabalho de Conclusão de Curso.

Enfim, a todas as pessoas que torceram, acreditaram e estiveram

presentes nesta etapa da minha vida, meu sincero: MUITO OBRIGADA!

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“A reforma veio então para propor um

novo olhar sobre a loucura, porque as

pessoas veem o que estão

acostumadas a ver. [...] é preciso ver

diferente para mudar. ”

(Janio Muniz)

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RESUMO

Na atualidade os principais serviços que disponibilizam tratamento para

pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e outras drogas

seguem os princípios do Sistema Único de Saúde brasileiro e são orientados

pela atual política de Saúde Mental. Objetivou-se através desta pesquisa, de

maneira geral, analisar as principais causas de evasão entre adolescentes do

CAPS ad no município de Parnamirim-RN. Os objetivos específicos:

problematizar a política de saúde e o atendimento em saúde mental no

contexto brasileiro da década de 1930 aos dias atuais, considerando o papel do

Estado no exercício das políticas, em tempos neoliberais; Historicizar a

contribuição do Serviço Social no campo da saúde mental; Analisar os serviços

prestados pela instituição vinculado à Secretaria de Saúde do Município, a

articulação com o sistema de garantia de direitos, seus desafios e perspectivas.

Foram utilizadas literaturas referentes à Política de Saúde Mental, a

participação do Serviço Social nessa Política, sendo ela uma profissão inserida

na divisão sociotecnica do trabalho, atuante em favor das demandas da classe

trabalhadora. As técnicas metodológicas foram a análise documental dos

prontuários dos usuários, entrevista aberta semiestruturada a 5 adolescentes

com idades entre 15 e 17 anos que não estão frequentando o CAPS ad.

Diferentes aspectos intrínsecos e extrínsecos foram referidos como favoráveis

à adesão e ao abandono do tratamento. Os dados encontrados apontados

podem contribuir para a elaboração de propostas de intervenções terapêuticas,

direcionadas a adolescentes usuários de drogas com a inclusão dos familiares

como apoio para a redução de danos.

Palavras-Chaves: Atenção Psicossocial, Política de Saúde Mental, Política de

redução de danos, adolescentes usuários de drogas, Serviço Social.

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ABSTRACT

At present the main services that available treatment for people with associated

to abusive of alcohol and other drugs follow the principles of the Brazilian

Unique Health System and are oriented by the current mental health politics.

The objective of this research, in general, to analyze the main causes of

evasion in between adolescents CAPS ad in the municipality of Parnamirim-RN.

The specific objectives: Problematize health politic and mental health

attendance in the Brazilian context of the 1930 decade until today, considering

the state's role in the assignment of politics, neoliberal times; historicizing the

contribution of social service in the mental health field; to analyze the services

provided by the institution linked to the County Health Department, the link with

the duties assurance system, its challenges and perspectives. Literatures were

used referent to Mental Health Politic, the participation of Social Service in this

politic, it is a profession inserted in socio-technical division of labor, acting in

favor of the demands of the working class. The methodology techniques were

the documentary analysis of records of users, open interview semistructured 5

adolescents aged 15 to 17 who are not frequenting the CAPS ad. Different

intrinsic and extrinsic aspects were referred to as favorable and abandonment

of treatment. The appointed found data can contribute to the development of

proposals for therapeutic interventions aimedat adolescent drug users with the

inclusion of family as support for damage reduction.

Key Words: Psychosocial Care, Mental Health Politics, damage reduction

politics, adolescent drug users, Social Service.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: Rede de Saúde Mental distribuída nacionalmente .................40

GRÁFICO 2: Natureza das Instituições de Saúde Mental ...........................41

GRÁFICO 3: Perfil dos usuários do Serviço de Saúde mental.....................86

GRÁFICO 4: Público atendido no CAPS ad atualmente...............................93

GRÁFICO 5: Nível de escolaridade dos usuários adultos e adolescentes...94

GRÁFICO 6: Meios de subsistência..............................................................95

GRÁFICO 7: Demanda por bairro.................................................................96

GRÁFICO 8: Relacionamento familiar adultos e adolescentes.....................97

GRÁFICO 9: Saúde Clínica...........................................................................98

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Modalidades de Centros de Atenção Psicossocial existentes e o

contingente populacional de abrangência.....................................................39

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LISTA DE SIGLAS

ABPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABSS – Associação Brasileira de Serviço Social

AGS – Agentes de Saúde

AIS – Ações Integradas de Saúde

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CAPs – Caixas de Aposentadoria e Pensões

CCPAR –Centro Clínico de Referência

CEBES– Centro Brasileiro de Estudo de Saúde

CONASP – Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS– Centro de Referência Especializado de Assistência Social

DINSAM – Divisão Nacional de Saúde Mental

IAPs – Instituto de Aposentadorias e Pensões

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INSS – Instituto Nacional de Seguro Social

MPC – Modo de Produção Capitalista

MTSM – Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental

NAPS – Núcleo de Apoio Psicossocial

NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família

PNE – Política Nacional de Estágio

PRH – Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar

RRAS – Redes Regionais de Atenção à Saúde

RAPS – Rede de Atenção Psicossocial

SESP – Serviço especial de Saúde

SISNAD– Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas

SUDS– Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

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SUS– Sistema Único de Saúde

UBS– Unidade Básica de Saúde

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

2. REFORMA PSIQUIÁTRICA: PRIMÓRDIOS DA LUTA ANTIMANICOMIAL NO

BRASIL. ..................................................................................................................... 20

2.1. Processo histórico de construção e os desafios para a efetivação da

Política de Saúde no território Brasileiro. ........................................................... 21

2.2. Resgate histórico sobre a implementação da Política de Saúde Mental

no Brasil ................................................................................................................. 32

2.3. “Por uma sociedade sem manicômios”: Eclosão do movimento de

Reforma Psiquiátrica............................................................................................. 41

3. CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E CRISE: IMPACTOS NA POLÍTICA DE

SAÚDE MENTAL ....................................................................................................... 50

3.1. A Política de Saúde Mental no Capitalismo contemporâneo ................... 50

3.2. Legislação e Saúde mental no Brasil ........................................................ 60

3.3. Serviço Social e sua relação com a Saúde Mental ................................... 71

4. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E OS SUJEITOS ENVOLVIDOS:

ENTENDENDO OS FATORES QUE OCASIONAM O FENÔMENO DA EVASÃO

ENTRE ADOLESCENTES DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E

OUTRAS DROGAS – CAPS AD/ PARNAMIRIM-RN ................................................. 85

4.1. Histórico Institucional e caracterização do público usuário do CAPS ad

Parnamirim/RN ...................................................................................................... 85

4.2. Evasão entre adolescentes do CAPS ad: Suas diversas faces e

implicações .......................................................................................................... 102

4.3. “Sim aos cuidados, não à exclusão”: Reflexões e Apontamentos sobre a

realização da pesquisa ....................................................................................... 117

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 121

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 125

7. APÊNDICE ........................................................................................................ 130

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1. INTRODUÇÃO

O uso abusivo de álcool e outras drogas é um fenômeno social que

agrega em si uma série de variáveis que transcende sua particularização nos

indivíduos e atinge o status de questão social, posta uma realidade histórica

marcada pelo recrudescimento das relações sociais que obstaculizam e

vulnerabilizam as condições de existência das pessoas não apenas do ponto

de vista das condições materiais concretas, mas é, sobretudo, do ponto de

vista subjetivo. De modo que, sua análise requer um olhar atento à dinâmica

da vida em sociedade, saturando-o de determinações históricas.

Isto considerando que estamos imersos em um sistema opressor em

sua essência, em que o cotidiano expressa uma dinâmica perversa cujo vínculo

estrutural é inegligenciável, como fator analítico fundamental ao entendimento

desse problema social e de saúde pública, embora o seja frequentemente

naturalizado, tornado de responsabilidade dos indivíduos que vivenciam, em

detrimento da contribuição da sociedade e do Estado por sua existência.

E, a crise socioeconômica e política que evidencia tempos sombrios na

história do capitalismo, hoje concretiza a barbárie vivenciada concretamente

pelos setores mais oprimidos da sociedade, gerando outros agravos, como a

recorrência ao uso abusivo de álcool e outras drogas, que causa dependência

e provoca uma conjuntura caótica na vida dos indivíduos, no seu convívio

social, familiar e comunitário. Embora nossa análise, apesar de reconhecer os

riscos sociais e de saúde, não se confunda com o reforço da criminalização

dura do uso das drogas, em caráter moderado, com fins medicinais, dentre

outras formas, conforme expressa a cultura de comunidades tradicionais (como

indígenas, quilombolas, etc.). Essas últimas, originárias do conhecimento e

sabedoria milenar da cultura desses povos que muitas vezes expressam o

vínculo com suas divindades.

Dentre os diversos problemas enfrentados na contemporaneidade, está

o crescimento da comercialização e uso de substâncias psicoativas, tornando-

se mais um dos agravos que abalam a saúde dos indivíduos, sendo mais uma

possibilidade de elaborações de políticas que visam o enfrentamento da

problemática da drogadição e do uso de bebidas alcoólicas, com isso:

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(...) devido à dependência decorrente de seu uso e os efeitos produzidos pela progressão no consumo, ao poliuso e ao uso crônico; à gravidade de seus efeitos, que ultrapassa o limite do biológico; e ao aumento vertiginoso da prevalência do consumo na população. (SANTOS JAT, 2012. p. 83)

Em sua atual gestão o Ministério da Saúde assume o papel desafiante

de prevenir, tratar e reabilitar aqueles que consomem álcool e outras drogas de

forma abusiva, assumindo uma característica/ dimensão. Assim como foi

sugerido durante a III Conferência de Saúde Mental, ocorrida no ano de 2001.

Na legislação está previsto que deverá ser ofertado à pessoa que

busca o tratamento para o uso de drogas opções de atendimento, de forma a

garantir a integralidade e a efetividade no tratamento, incluindo a atenção

específica direcionada à criança e adolescente que necessitem de tal

intervenção.

Diversos são os motivos para o início do uso de drogas na atualidade,

pois é possível estabelecer diferentes modos de relação com as drogas, de

maneira que nem sempre quem as usa ou experimenta desenvolve algum

problema relacionado à dependência. Ao longo da história, as substâncias

psicoativas estiveram inseridas em diferentes culturas, possibilitando diferentes

vínculos.

Para entender a questão do uso de drogas como um problema de saúde pública é necessário compreender a utilização dessas substâncias ao longo da própria história da humanidade. O uso de substâncias que alteram a percepção habitual da realidade e transformam estados psíquicos caminha, paralelamente, à trajetória do homem, desde épocas passadas até o período contemporâneo. (ALARCON; JORGE, 2012, p.212)

Na atualidade percebe-se o aumento do consumo de entorpecentes

para fins recreativos, a redução da idade de iniciação e a facilidade de

obtenção dos mesmos. Isso proporcionado pelas diferentes formas de

produção e preços mais acessíveis.

É fato que os problemas advindos do uso abusivo de drogas são

vários: conflito familiar, dificuldades para trabalhar e/ou estudar, problemas de

relacionamentos, relação conflituosa com a polícia (etc.).

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Para o atendimento dessa demanda, o Ministério da Saúde estabelece

a Rede de Atenção Psicossocial direcionada a pessoas diagnosticadas com

transtorno mental e com necessidades provenientes do uso de crack, álcool e

outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Dentro dessa

Rede de atendimentos, estão os Centros de Atenção Psicossociais – CAPS

voltados para a demanda de álcool e outras drogas. Geralmente, os

atendimentos são direcionados a adolescentes e a adultos usuários de

substâncias psicoativas.

Os adolescentes são encaminhados a instituição por medidas judiciais,

que tem como objetivo inseri-los no tratamento especializado na tentativa de

reduzir os danos causados pelo uso de psicotrópicos, com isso, contribuir para

recuperação dos laços sociais e familiares rompidos.

O CAPS ad objetiva a garantia de tratamento para pessoas com

transtornos nos mais variados espaços/ dimensão da vida, decorrentes da

dependência química que, apresentam danos físicos e psíquicos, além de

riscos sociais, de forma a promover o ser humano em toda a sua

complexidade, trabalhando a superação do estigma da dependência química e

contribuindo com a reflexão dos usuários, sobre a retomada da cidadania como

um processo de reconstrução social e familiar.

São objetivos também relevantes: a manutenção da adesão ao

tratamento e a reinserção do indivíduo na sociedade. Sendo assim, o CAPS ad

tem como intenção evitar internações, garantir direitos sociais e reduzir danos

decorrentes do uso prejudicial de substâncias psicoativas.

Entretanto, ao longo do período destinado ao estágio obrigatório

percebi que essa adesão ao serviço diminuiu entre adultos e adolescentes,

este último podemos afirmar que consideravelmente. Em alguns casos chega

ao conhecimento dos profissionais dessa instituição que alguns indivíduos

acabaram sendo vitimados pela violência que assola a sociedade devido ao

tráfico e o consumo de drogas. Outros, segundo informes institucionais, eram

participativos e aceitavam bem o tratamento, porém, acabaram sumindo e a

instituição não obteve nenhum tipo de justificativa da parte deles.

Diante disso, o presente trabalho buscou analisar os principais fatores

que condicionam para a ocorrência da evasão dos usuários, especificamente

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adolescentes com faixa etária de 15 a 17 anos de idade, atendidos pelo CAPS

ad, localizado no município de Parnamirim-RN.

É fato que o abandono do serviço de saúde mental no referido

município é uma característica marcante entre os pacientes, o que dificulta que

a assistência a sua saúde seja efetiva em toda a sua complexidade.

O interesse por essa temática, se deu através da inserção da

pesquisadora no campo de estágio durante o ano de 2015, pois houve a

percepção de que muitos adolescentes não estavam comparecendo ao serviço

quando solicitado pela justiça, outros comparecem, porém, não são assíduos.

Essa percepção em si, foi bem maior quando na elaboração do projeto

de intervenção, possibilitado pelo estágio em Serviço Social, foi solicitada a

quantidade de participantes nas oficinas terapêuticas, percebeu-se que de 40

usuários adultos que deveriam estar presentes nas atividades, 30 ou menos

ainda comparecem mesmo que alguns não sejam assíduos.

Já com o público adolescente esse número se torna bem mais crítico,

muitos são encaminhados ao serviço pelo Ministério Público, mas apenas 2 ou

3 comparecem a instituição, outros vão poucas vezes e, após determinado

tempo acabam desistindo.

Para o Serviço Social, não só para a profissional lotada no CAPS ad,

mas a todos de modo geral, trata-se de uma temática de grande relevância que

possibilita grandes debates, em muitos casos polêmicos. O que nos remete a

reflexão sobre alguns fatores, tais como: a inserção precoce de adolescentes

ao submundo das drogas, em que circunstâncias isso ocorre, e, principalmente

pensar os fatores que levam os adolescentes a não aceitarem o projeto

terapêutico criado para eles.

Os profissionais devem estar munidos de aporte teórico atualizado

referente a temática da drogadição dentro da Saúde Mental, para pensar

formas, estratégias e instrumentais eficazes de atuação profissional que

fortaleçam os fatores de proteção em conjunto com a equipe multiprofissional.

É importante pontuar que a questão do uso de drogas é um problema

de saúde pública, associado a criminalidade e práticas antissociais, abordando

as pessoas de diversas maneiras por vários motivos e em diferentes ambiente

e situações. É algo que afeta o convívio familiar e social. Cabe ao poder

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público criar medidas e políticas públicas mais eficazes ou reorganizar as que

já existem para que passem a funcionar como estão previstas nas leis.

Na atual conjuntura do CAPS ad são notáveis os fatores que podem

levar a uma situação de evasão. As hipóteses levantadas abordam, que

possivelmente, esse fenômeno pode estar acontecendo devido ao aumento da

criminalidade: prisões, assassinatos e ao uso desenfreado de substâncias

psicoativas, que por sua vez geram doenças físicas psíquicas e podem chegar

a causar a morte do indivíduo.

É fato, também, que alguns acabam sendo ameaçados de morte e

necessitam de abrigo em pontos distantes de seus territórios de origem, a partir

disso há o abandono do tratamento. Em outros casos tem-se a religiosidade,

que de certa forma se torna um apoio para que eles deixem o uso das

mesmas. Dessa maneira, acreditam não necessitar mais de tratamento através

de medicamentos e das idas frequentes à instituição, o que os faz abandonar o

serviço e buscam a fé como o principal meio de amparo.

Também existe a possibilidade da falta de interesse pelo tratamento,

pois há preferência por continuar com o uso de drogas sem nenhum tipo de

ajuda. Em certos casos, existem aqueles que conseguiram encontrar trabalho

formal ou informal e a disponibilidade de tempo não permite que eles

compareçam as oficinas realizadas na unidade.

Sendo o CAPS ad criado com intuito de aceitar demanda espontânea e

também pensado para atender os princípios da Reforma Psiquiátrica, não cabe

a nenhum técnico forçar o indivíduo a aceitar aquilo que ele não quer, e sim

levá-lo a conhecer o que a instituição pode oferecer em termos de projeto

terapêutico. Nessa perspectiva, a última hipótese levantada, trata-se da relação

entre usuários e técnicos. Com base nisso, o fenômeno da evasão e a falta de

adesão ao projeto terapêutico individualizado ou em grupo por parte dos

usuários, pode estar associado a falta de atendimento qualificado e

humanizado por parte de profissionais não capacitados para atender a

demanda.

Metodologicamente a pesquisa foi pensada da seguinte forma:

inicialmente foi realizada uma pesquisa teórica trazendo a análise crítica,

através do método crítico-dialético em Marx. “[...] O método dialético de Marx

enquanto método de investigação e de exposição distingue, sem separar,

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esses dois momentos, pressupondo que o objeto só pode ser exposto depois

de ser investigado, analisado, criticamente em suas determinações essenciais.

” (CHAGAS, 2016).

Sendo assim, a partir da pesquisa de campo foi possível observar os

fatos e o fenômeno da evasão entre adolescentes do CAPS em seu contexto

macro, e refletir por meio da coleta de dados o que ocorre na realidade a ser

pesquisada em conjunto com o aporte teórico que tratam sobre a temática.

Para que fosse realizada qualitativamente, foram realizadas algumas

visitas a instituição para obtenção de dados precisos relacionados aos usuários

que desistiram do tratamento. Esses dados foram adquiridos através dos

arquivos institucionais inativos obtidos a partir dos acolhimentos que foram

realizados quando os pacientes procuraram o CAPS pela primeira vez. Só para

constar, esses documentos foram analisados pela pesquisadora com o

consentimento da equipe multiprofissional da instituição.

Após essa primeira etapa, foi solicitada e aceita de antemão, a

contribuição da instituição e da Secretaria Municipal de Saúde para que fossem

realizadas buscas ativas a pelo menos 5 adolescentes que abandonaram o

tratamento com a finalidade de aplicação de um questionário semiestruturado

com perguntas abertas. A escolha foi feita de forma aleatória dentro da

totalidade de 52 prontuários (dos adolescentes) que foram consultados. Quanto

as buscas, seriam realizadas com o transporte do CAPS ad e com a ajuda da

profissional do Serviço Social.

Sobre as visitas, a perspectiva foi levar aos sujeitos um questionário

com perguntas abertas, para ser utilizado em forma de entrevista. Em relação à

escolha desse instrumental para a coleta de dados, deu-se pelo fato desta ser

uma técnica que permite uma melhor aproximação entre as pessoas. Porém,

especificamente com o público alvo escolhido foi realizada de forma tranquila,

tentando manter um parâmetro de conversa formal e informal, para que eles

não se sentissem pressionados e nem policiados devido a situação complexa

em que vivem.

Ao término do processo de visitas e entrevistas, deu-se início a

tabulação dos dados colhidos com os usuários, familiares e consulta as fichas

de acolhimento, separando as partes principais que vão de encontro a temática

proposta.

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Inicialmente o capítulo 2 deste trabalho, e seus subitens abordam um

breve apanhado histórico que envolve a temática da Reforma Psiquiátrica,

tendo como fundamento a luta Antimanicomial, cujo o principal objetivo é a

manutenção dos vínculos sociais e familiares dos indivíduos com transtornos

mentais, e não a ideia de exclusão a partir de isolamento em Hospitais

Psiquiátricos. Luta essa que foi se consolidando com o advento da Constituição

Federal de 1988 em conjunto com o surgimento do Sistema Único de Saúde

(SUS). Com isso foi possível pensar uma nova forma de ação para que a

população com transtorno mental fosse vista sem nenhum tipo de distinção.

Nesse mesmo capítulo aponta-se os principais desafios enfrentados

pela Política de Saúde Mental para se efetivar em consonância com os

princípios que regem o Sistema Único de Saúde – SUS.

Dentro do contexto neoliberal problematizado no capítulo 3, a literatura

traz apontamentos sobre o processo de desinstitucionalização que provocou

consideráveis mudanças na rede de Saúde Mental em todo país. Apesar dos

avanços, quanto a luta pelo rompimento com o modelo Hospitalocêntrico, a

partir dos anos 1990, essa política começa a sentir os rebatimentos do

neoliberalismo.

Ainda durante a discussão do terceiro capítulo, em seu subitem 3.2

tornou-se imprescindível trazer a legislação referente a saúde mental, seus

avanços e retrocessos. O rumo da Política de Saúde Mental, será abordada

neste subitem, dentro do conjunto de normas legais reguladoras, apontando

para a contínua expansão e consolidação desta rede de atenção extra-

hospitalar.

No subitem 3.3 será analisada a inserção do Serviço Social na atenção

à Saúde Mental, que se deu na década de 1940. Atualmente existe dentro da

categoria profissional, a ideia reproduzida pelo senso comum pautado na ideia

de que a profissão no âmbito da Saúde Mental, é uma temática nova e a partir

desse pensamento, muitos assistentes sociais não se sentem preparados

metodologicamente para atuarem nessa área. Contudo, a literatura traz uma

reflexão contrária a essa ideologia. O Serviço Social na Saúde Mental tem sua

marca histórica acompanhada pelo movimento de reconceituação da profissão,

que modificou a forma de atuação dessa categoria, em especial no período pós

ditadura militar.

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No capítulo 4 primeiramente será apresentado através de um histórico

institucional o local onde a pesquisa foi proposta, logo após, no subitem 4.2

temos a apresentação dos sujeitos envolvidos, os adolescentes e familiares

participantes das entrevistas. Bem como, serão apresentados os resultados

obtidos e analisados por autores referenciados ao longo do trabalho. No último

subitem (4.3) a pesquisadora faz suas reflexões sobre a presente temática

apontando os limites e os desafios para que fosse concretizada.

Mediante aos fatos apontados buscamos analisar os fatores sociais

que incidem na evasão dos usuários nos serviços do CAPS ad, voltados ao

trato terapêutico da demanda, ao constatar uma realidade de descontinuidade.

Especificamente, objetivou-se problematizar a política de saúde e o

atendimento em saúde mental no contexto brasileiro da década de 1980 aos

dias atuais, considerando o papel do Estado no exercício das políticas em

tempos neoliberais. Foram relevantes, também, abordar alguns marcos

históricos relacionados a contribuição do Serviço Social no campo da saúde

mental, partindo da atuação da profissão no modelo asilar até a

contemporaneidade com a Política de CAPS ad.

Além disso, as análises proporcionais à temática levantada recaem

sobre os serviços prestados pela instituição, circunstanciadamente, a respeito

das possíveis articulações da Rede de Atenção em Saúde Mental com o

sistema de garantia de direitos proporcionados pela promulgação da

Constituição Federal de 1988.

2. REFORMA PSIQUIÁTRICA: PRIMÓRDIOS DA LUTA

ANTIMANICOMIAL NO BRASIL.

A conjuntura atual apresenta significativas barreiras para a

concretização da universalização das políticas públicas. Vivenciamos o

enfrentamento das tendências de focalização, fragmentação e privatização que

assolam o conjunto de políticas sociais, incluindo aquelas destinadas a área da

saúde. Com base no que foi dito, o presente item visa trazer a análise histórica

sobre a trajetória da Política de Saúde no Brasil a partir da década de 1930 até

os dias atuais para melhor entendermos os acontecimentos relacionados a

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saúde, de modo geral, e, em específico, na Saúde Mental apresentada nos

próximos itens.

2.1. Processo histórico de construção e os desafios para a

efetivação da Política de Saúde no território brasileiro.

Inicialmente entende-se que a política de saúde no Brasil, ao longo dos

anos, caracterizou-se por ser um eficaz instrumento de controle político e social

do Estado sobre a classe trabalhadora formal. De acordo com Bravo (2001,

p.2) com o advento da industrialização nos países centrais a assistência à

saúde dos trabalhadores ficou sob responsabilidade do Estado, em paralelo

com o surgimento da medicina social na Alemanha, França e Inglaterra.

A conquista de alguns direitos sociais pelas classes trabalhadoras foi mediada pela interferência estatal, no seu papel de manutenção da ordem social capitalista e de mediação das relações entre classes sociais. No século XX, esta interferência será aprofundada, com a elaboração de políticas para o setor e o surgimento de diversas propostas (BRAVO, 2001, p.2).

Porém, no Brasil, a intervenção do Estado só teve início a partir do

século XX, especificamente no ano de 1930. Anterior a essa época,

basicamente o século XVIII, aponta-se que a assistência médica se resumia a

filantropia e a prática liberal. Nesse mesmo período, o país continuava com o

estatuto de colônia ainda como sociedade rural, que sobrevivia por meio da

exportação de produtos agrícolas e minerais. Viviam sobre o domínio dos

grandes latifundiários articulado economicamente com o regime escravagista.

(BRAVO, 2013, p.111).

Segundo Bravo (2013, apud SINGER et al., 1978) o histórico desse

período tem como características a proliferação de doenças e pestilências,

dentre elas: varíola e febre amarela, elevando consideravelmente a taxa de

mortalidade daquele lugar. Eram, também, precárias as condições de

saneamento, existia o abastecimento de água, porém, não havia sistema de

esgoto. Grande era a precarização dos serviços de saúde em todo o Brasil,

sendo o seu maior índice no Rio de Janeiro, e os atendimentos médicos se

baseavam nos conhecimentos tradicionais sem a utilização da ciência.

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Por não existir ensino superior no Brasil, se tornava impossível

relacionar diretamente a questão saúde aos médicos. Portanto, a medicina não

era tida naquele período como uma política especializada e específica

responsável pela situação de saúde da população.

Ainda sobre o século XVIII, dados analisados pela autora apontam que

houve um aumento do número de alunos brasileiros inscritos no curso de

medicina na Universidade de Coimbra, bem como o interesse pelo estudo da

flora brasileira baseada na contribuição da mesma nas virtudes terapêuticas.

(BRAVO, 2013). Já sobre as particularidades do século XIX ela traz a reflexão

que

Em decorrência das transformações econômicas e políticas, algumas iniciativas surgiram no campo da saúde pública, como a vigilância do exercício profissional e a realização de campanhas limitadas. Nos últimos anos do século, a questão saúde já aparece como reivindicação no nascente movimento operário. No início do século XX, surgem algumas iniciativas de organização do setor saúde, que serão aprofundadas a partir de30. (BRAVO, 2001, p.2).

Mediante as modificações no âmbito da medicina, durante o século

XIX, a autora BRAVO (2001) aponta reflexões pertinentes sobre duas das

principais características que nos possibilitam relacionar com a situação geral

da sociedade. A primeira está baseada à penetração da atuação médica na

sociedade brasileira e a segunda ao apoio científico indispensável ao Estado.

Já o início do século XX, a história da política de saúde está marcada

pela reflexão da problemática da saúde como “questão social” no Brasil “[...] no

bojo da economia capitalista exportadora cafeeira, refletindo o avanço da

divisão do trabalho, ou seja, a emergência do trabalho assalariado” (BRAVO,

2001, p.3).

Ainda de acordo com Bravo (2001, p.3), em 1920 a saúde pública

ganha novo destaque no discurso de poder com a tentativa de ampliação dos

atendimentos ofertados pela área por parte do poder central através da

Reforma Carlos Chagas, de 1923. Dessa forma, constituindo uma estratégia

para a ampliação do poder nacional frente à crise política vivenciada naquele

momento.

Neste período, também foram colocadas as questões de higiene e saúde do trabalhador, sendo tomadas algumas medidas que se constituíram no embrião do esquema previdenciário brasileiro, sendo a mais importante criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões

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(CAPs) em 1923, conhecida como Lei Elói Chaves. As CAPs eram financiadas pela União, pelas empresas empregadoras e pelos empregados. (BRAVO, 2001, p.3).

Em 1930, a intervenção do Estado na saúde possibilitou o

planejamento de políticas sociais nacionais. Os reflexos da “Questão Social”

em geral e da saúde em particular, precisavam se transformar em questão

política com intervenção estatal e o surgimento de novos aparelhos que

atendessem, de algum modo, os trabalhadores assalariados das cidades. A

política de saúde dessa conjuntura foi formulada para atender nacionalmente,

com subdivisão em dois setores: o de saúde pública e o de medicina

previdenciária. (LIMA et al, 2016)

As políticas sociais eram organizadas pelas grandes empresas de

maneira que apenas elas conseguiam manter. O comando das CAPs era

designado pelo Presidente da República, sendo que os patrões e os

empregados participavam da administração. Os beneficiários recebiam

proporcionalmente de acordo com aquilo que havia contribuído. Para tanto,

eram previstos “[...] assistência médica-curativa e fornecimento de

medicamentos; aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez,

pensão para os dependentes e auxílio funeral”. (BRAVO, 2001, p.3).

A partir da década de 1930, as alterações que aconteceram na

sociedade, aponta o processo de industrialização como principal indicador para

tais momentos, bem como, a redefinição sobre o papel do Estado, o

surgimento das políticas sociais e outras respostas advindas pelas pressões

exercidas pelos trabalhadores que passaram a lutar por melhores condições de

trabalho.

A conjuntura de 30, com suas características econômicas e políticas, possibilitou o surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem as questões sociais de forma orgânica e sistemática. As questões sociais em geral e as de saúde em particular, já colocadas na década de 20, precisavam ser enfrentadas de forma mais sofisticada. Necessitavam transforma-se em questão política, com intervenção estatal e as criação de nos aparelhos que contemplassem, de algum modo, os assalariados urbanos, que se caracterizavam como sujeitos sociais importantes no cenário político nacional, em decorrência da nova dinâmica de acumulação. (BRAVO, 2001).

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Sob domínio do capital industrial, este processo se caracterizou pela

aceleração da urbanização e o aumento da massa trabalhadora em precárias

condições de higiene, saúde e habitação. Para Lima et al (2016)

O subsetor de saúde pública será predominante até meados de 60 e centralizou-se na criação de condições sanitárias mínimas para as populações urbanas e, restritamente, para as do campo. O subsetor de medicina previdenciária só virá sobrepujar o de saúde pública a partir de 1966.

Bravo (2001, apud BRAGA e PAULO, 1986, p.2) aborda dados

bastante relevantes sobre as principais alternativas pensadas para a saúde

pública, durante o período de 1930 a 1940.

Ênfase nas campanhas sanitárias;

Coordenação dos serviços estaduais de saúde dos estados de fraco pode político e econômico, em 1937, pelo Departamento Nacional de Saúde;

Interiorização das ações para as áreas de endemias rurais, a partir de 1937, em decorrência dos fluxos migratórios de mão-de-obra para as cidades;

Criação de serviços de combate às endemias (Serviço Nacional de Febre Amarela, 1937; Serviço de Malária no Nordeste, 1939; Serviço de Malária da Baixada Fluminense, 1940, financiados, os dois primeiros, pela Fundação Rckfeller – de origem norte-americana);

Reorganização do Departamento Nacional de Saúde, em 1941, que incorporou vários serviços de combate às endemias e assumiu o controle da formação de técnicos em saúde pública.

Ainda na década de 1930, houve também a criação da medicina

previdenciária com o surgimento dos Institutos de Aposentadorias e Pensões

(IAPs). O objetivo era a expansão para um grande número de categorias de

trabalhadores urbanos, os seus benefícios como forma de antecipar as

reivindicações dessas categorias.

Oliveira e Teixeira (1986, p. 61-65) analisam que foi entre os anos 30 e

40 no Brasil que aconteceu um processo de orientação para contenção de

gastos, totalmente contraditório ao modelo dominante no país no período

anterior, entre 1923 a 1930. Para esses mesmos autores, o principal

determinante para a contenção foi o aumento da massa de trabalhadores

inseridos nos meios de produção.

Diante dessa situação, a previdência procurou centrar seus esforços e

atenção na acumulação de reservas financeiras, bem mais do que na

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prestação de serviços. O poder legislativo do período de 1930, decidiu pela

distinção entre previdência e assistência social, que antes não se tinha. A partir

disso foram definidos o limite do orçamento para as despesas destinadas a

assistência médico-hospitalar e farmacêutica.

Entre os anos de 1945 a 1964, os gastos direcionados a saúde foram

um pouco mais favoráveis, condicionando uma leve melhoria nas condições

sanitárias, apesar disso não conseguiu conter o quadro de doenças infecciosas

e parasitárias, bem como a eliminação das taxas de morbidade, mortalidade

infantil e a taxa de mortalidade geral.

Dentro do período citado, especificamente nos anos de 1950, começou

a ser montada a estrutura hospitalar de caráter privatista, cuja direção era

apontada na formação das empresas médicas, ligada aos interesses

capitalistas, com organização voltada a pressionar o Estado para que o mesmo

passasse a financiá-lo (BRAVO, 2001, p.6). Apesar do que foi abordado, a

autora afirma que:

Apesar das pressões, a assistência médica previdenciária até 1964, era fornecida basicamente pelos serviços próprios dos Institutos. As formas de compra dos Serviços médicos a terceiros aparecem como minoritárias e pouco expressivas no quadro geral da prestação da assistência médica pelos institutos. Esta situação vai ser completamente diferente no regime que se instalou no país após 1964. (BRAVO, 2001, p.6)

Durante a ditadura militar, os grandes problemas advindos dos reflexos

da “questão social” foram intensificados, tornando-os cada vez mais complexos

de serem amenizados. Diante disso:

Em face da “questão social” no período 64/74, o Estado utilizou para sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de acumulação do capital. (BRAVO, 2001, p.6)

Para Bravo (2001) foi nesse período que aconteceu a imposição da

medicalização da vida social na Saúde Pública e, também, nos serviços

previdenciários. Com isso, a manifestação das modificações tecnológicas

ocorridas no exterior. E, em 1966, a Saúde Pública enfrentou um período de

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queda, o que favoreceu ainda mais a medicina previdenciária após a

reestruturação do setor principalmente.

Porém, em 1964 o bloco de poder instalado no Brasil, não conseguiu

consolidar a tão almejada hegemonia, buscou paulatinamente garantir boa

relação com a sociedade civil. Foi preciso a estabelecer diretrizes para “[...] que

legitimassem a dominação burguesa e suas consequências políticas,

econômicas e sociais”. (BRAVO, 2001, p.7).

Segundo Bravo (2001), a política social, entre 1974 a 1979, objetivou

ações mais centradas ao que tange o enfrentamento da “questão social”, afim

de encaminhar as reivindicações e pressões da população. Sobre a Política

Nacional de Saúde a autora apresenta algumas dificuldades do setor para que,

de fato, o direito à saúde fosse efetivado, dentre elas:

(...) tensão entre a ampliação dos serviços, a disponibilidade de recursos financeiros, os interesses advindos das conexões burocráticas entre os setores estatal e empresarial médico e a emergência do movimento sanitário. As reformas realizadas na estrutura organizacional não conseguiram reverter a ênfase da política de saúde, caracterizada pela predominância da participação da Previdência Social, através de ações curativas, comandadas pelo setor privado. (BRAVO, 2001, p.7)

Passado todo o período de dominação ditatorial no Brasil, o país

vivenciou nos anos de 1980 o processo de democratização política, e provou

de uma forte e prolongada crise econômica que persiste até os dias. Tal

transição democrática gerou decepções, principalmente com seu giro

conservador no ano de 1988, o que não se traduziu em ganhos materiais para

a população.

Ainda na década acima citada, a política de saúde contou com a

participação da sociedade civil nas discussões sobre as condições de vida dos

brasileiros, bem como a mesma contribuiu no debate sobre algumas pautas

governamentais apresentadas para a área da saúde. Tratou-se de um longo

debate que permeou toda a sociedade. Dessa forma, a saúde passou a ser

discutida democraticamente, tomando uma dimensão política.

Dos personagens que entraram em cena nesta conjuntura, destaca-se: os profissionais de saúde, representados pelas suas entidades, que ultrapassaram o corporativismo, defendendo questões mais gerais como a melhoria da situação da saúde e o fortalecimento do setor público; o movimento sanitário, tendo o Centro Brasileiro de Estudo de Saúde(CEBES) como veículo de difusão e ampliação do debate em torno da Saúde e Democracia e elaboração de contra-

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proposta; os partidos políticos de oposição, que começaram a colocar nos seus programas a temática e viabilizaram debates no Congresso para a discussão da política do setor e os movimentos sociais urbanos, que realizaram eventos em articulação com outras entidades da sociedade civil. (BRAVO, 2001, p.8-9).

Esse debate proporcionou elencar algumas propostas fundamentais

para a garantia e melhoria da Política de Saúde ofertada para a população. De

acordo com Bravo (2001, p.9) São elas:

A universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema Unificado de Saúde visando um profundo reordenamento setorial com um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão – os Conselhos de Saúde.

O marco principal para a discussão da questão saúde no Brasil,

aconteceu durante a preparação da 8ª Conferência Nacional de Saúde – CNS,

ocorrida no ano de 1986, em Brasília, contando com a participação de quatro

mil e quinhentas pessoas (4.500), dentre elas mil delegados. Com isso, o

conceito de saúde foi ampliado no sentido de apresentá-la como um direito

inerente a personalidade e à cidadania, a reformulação do Sistema Nacional de

Saúde e o financiamento do setor de modo amplo1, como resultante das

condições de alimentação, moradia, educação, lazer, transporte, emprego,

acesso a serviços de saúde e a posse da terra.

Esses são fatores determinantes e condicionantes da saúde como

destacados no artigo 3º da Lei Orgânica da Saúde de nº 8.080/90. A partir

dessa definição pode-se reconhecer o ser humano como um ser integral e a

saúde como qualidade de vida.

De acordo com o artigo 196 da Constituição Federal de 1988,

“(...) a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos; ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).

Com base nesse artigo, podemos observar semelhanças entre

objetivos da Conferência e os que foram alcançados no texto da Constituição

1 De acordo com Bravo (2001) foram participantes da Plenária: “os sindicatos e centrais sindicais, associações profissionais e culturais, partidos políticos progressistas, movimentos populares, associações de usuários, entre outros”.

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de 1988, pois foi através dos debates, que o relatório da 8ª Conferência

destacou as diretrizes para a reorganização do sistema e estabeleceu que a

mesma deveria “[...] resultar na criação de um Sistema Único de Saúde - SUS

que efetivamente represente a construção deum novo arcabouço institucional

separando totalmente saúde de previdência, através de uma ampla Reforma

Sanitária”.

Os princípios que deveriam orientar a organização do novo Sistema

Nacional de Saúde também foram apresentados naquela Conferência. Além de

serem elencadas propostas incluindo a definição de responsabilidade da União

entre Estados e Municípios na gestão do sistema de saúde. Todas essas

propostas foram importantes para que o texto constitucional aprovado em 1988

contemplasse grande parte das proposições debatidas na 8ª CNS.

As diretrizes estão determinadas na Lei Orgânica da Saúde que

regulamenta, em todo território nacional, as ações do SUS, estabelecendo as

prerrogativas para seu gerenciamento e descentralização, detalhando,

também, as competências de cada esfera governamental.

Enfatiza a descentralização administrativa por meio da municipalização

dos serviços e das ações de saúde com redistribuição de poder, competências

e recursos, direcionados aos municípios. Para tanto, são competências do

SUS: a definição de critérios, valores e qualidade dos serviços, trata da gestão

financeira; define o Plano Municipal de Saúde como base das atividades e da

programação de cada nível de direção do SUS e garante a gratuidade das

ações e dos serviços nos atendimentos públicos e privados contratados e

conveniados.

A lei orgânica do SUS 8080/1990, indica quais são seus princípios:

Universalidade –Atendimento a todos, sem distinções ou restrições, ofertando toda atenção necessária sem custos; Integralidade – o SUS deve oferecer a atenção necessária à saúde da população, promovendo ações continuas de prevenção e tratamento aos indivíduos e as comunidades, em quaisquer níveis de complexidade. Equidade –o SUS tem o dever de disponibilizar recursos e serviços com justiça, de acordo com as necessidades de cada um, dando maior atenção aos que mais necessitam. Participação Social –é direito e dever de a população participar das gestões públicas em geral, e da saúde em particular; é dever do Estado garantir as condições para essa participação, assegurando a gestão comunitária do SUS

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Descentralização – é o processo de transferência de responsabilidade de gestão para os municípios, atendendo às determinações constitucionais e legais que embasam o SUS, definidor de atribuições comuns e competências específicas à União, aos estados, ao Distrito federal e os municípios.

Diante do que foi colocado vale salientar que é dever do Estado

proporcionar o acesso a política de saúde, bem como um atendimento digno e

de qualidade; hospitais e unidades de saúde com estruturas adequadas para

atender usuários, profissionais qualificados, medicamentos gratuitos, entre

outros.

Outro ponto discutido na 8ª CNS tratou-se da relação do poder público

com a rede privada que presta serviço a uma parcela da população, deve ser

fundamentado no controle efetivo do público para com o privado. Com isso a

conferência trouxe a discussão da implementação imediata e sobre novos

moldes, de um novo relacionamento entre eles. Seria implementado um novo

contrato-padrão entre instituições privadas que se relacionavam com o Instituto

Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS, esse novo

contrato seria regido pelos princípios do direito público, com isso o serviço

privado seria concessionário do serviço público.

- As novas relações devem possibilitar a intervenção governamental, que pode chegar à expropriação, sempre que caracterizada a existência de fraude ou conduta dolosa. Trata-se, por conseguinte, de aplicar no campo da saúde instrumentos de proteção da sociedade similares aqueles já adotados nas relações do governo com outros setores. (RELATÓRIO FINAL- 8ª CNS.p.15).

De acordo com o Relatório Final da 8ª CNS, nas localidades que se faz

necessária a ampliação da cobertura assistencial quando houver escassez de

serviços ofertados pelo poder público, procederia da seguinte maneira:

- o redirecionamento dos fundos públicos, tais como FAS/ Caixa Econômica Federal e FINSOCIAL/ Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para financiamento exclusivo da rede do setor público estadual e municipal; -a suspensão imediata de financiamento, por parte desses fundos (FAS/CEF e FINSOCIAL/BNDES), para a ampliação, reforma e construção de estabelecimentos privados ou para compra de equipamentos. (RELATÒRIO FINAL – 8ª CNS.p.16).

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Ainda segundo o Relatório, seria importante a constituição de um novo

Conselho Nacional de Saúde, que fosse integrado por representações dos

Ministérios da área social, dos governos estaduais e municipais e das

entidades civis de caráter nacional (filantrópicas), de forma que se encaixam os

partidos políticos, centrais sindicais e os movimentos populares. O principal

papel desses participantes tratava-se de avaliar o desempenho do novo

sistema de saúde que estava surgindo. Definindo assim, as políticas,

orçamentos e as ações que começariam a ser desenvolvidas.

O texto Constitucional apresentado por Sérgio Arouca, foi assinado por

mais de 50 mil eleitores, durante a Plenária da Constituinte. Visto que, após

vários acordos e pressão popular a favor da Reforma Sanitária, atende em

grande parte às pautas levantadas pelo movimento sanitarista. O que trouxe

prejuízo aos empresários do setor hospitalar e aos farmacêuticos. Os principais

aspectos analisados por Teixeira, (1989 apud BRAVO, 2001, p.10) sobre a

Constituinte foram:

O direito universal à saúde e o dever do Estado, acabando com discriminações existentes entre segurado/não segurado, rural/urbano;

As ações e Serviço de Saúde passaram a ser considerados de relevância pública, cabendo ao poder público sua regulamentação, fiscalização e controle;

Constituição do Sistema Único de Saúde integrando a todos os serviços públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e atendimento integral, com participação da comunidade;

A participação do setor privado no sistema de saúde deverá ser complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo vedada a destinação de recursos públicos para subvenção às instituições com fins lucrativos. Os contratos com entidades privadas prestadoras de serviços far-se-ão mediante contrato de direito público, garantindo ao Estado o poder de intervir nas entidades que não estiverem seguindo os termos contratuais;

Proibição da comercialização de sangue e derivados. (TEIXEIXA, 1989, apud BRAVO, 2001, p. 10).

Essas são algumas das propostas levantadas pelo movimento sanitário

que basicamente se tornaram uma conquista. Apesar de terem sido levantadas

outras demandas que não foram atendidas por confrontar os interesses

empresariais ou dos setores governamentais.

Quanto ao fator orçamentário, ficou pouco definido. Não fora

estabelecido um percentual sobre os orçamentos e nem de onde eles se

originariam. Com relação aos medicamentos, foi-se pensado que o novo

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sistema seria capaz de fiscalizar sua produção. Aos trabalhadores não foi

possível a garantia do direito a recusa de trabalho comprovadamente insalubre

e nem de obter informações sobre a manipulação de produtos tóxicos no

ambiente de trabalho.2

Os anos de 1990, sob a influência da política de ajuste neoliberal, o

Estado passa por um redirecionamento do seu papel. Com isso, apesar dos

avanços trazidos pela Constituinte, houve forte ataque por parte da classe

dominante, aliado aos grupos dirigentes. “A Reforma Constitucional,

notadamente da Previdência Social e das regras que regulamentam as

relações de trabalho no Brasil é um dos exemplos dessa aliança”. (BRAVO,

2001, p.13).

Com o agendamento da reforma da previdência, a intenção foi que

houvesse o desmonte da proposta de Seguridades Social (o tripé que abarca

Saúde, Assistência Social e Previdência Social) contida na Constituição de

1988.

O Estado passaria a ser o regulador, deixando de ser responsável pelo

desenvolvimento econômico e social. Tudo para que o mercado pudesse atuar

sobre a sociedade com garantia de lucros. “O referido Plano propôs como

principal inovação a criação de uma esfera pública não estatal que, embora

exercendo funções públicas, devem fazê-lo obedecendo leis do mercado”.

(PEREIRA, 1995).

Os períodos que finalizam as décadas de 80 e 90 no Brasil, dentro da

Política de Saúde, foi marcado pelo embate entre duas correntes sobre o

Estado: o neoliberalismo em defesa da mínima participação do Estado e o

mercado como o principal regulador da economia; a segunda corrente buscava

a presença de um Estado democrático, demandado por políticas de ajuste

estrutural com foco em amenizar as desigualdades sociais (BERTOLOZZI,

1996 apud COHN, 1995).

Por fim, para a atualidade, de forma geral, Bravo (2001) traz a reflexão

que como aspectos de continuidade da política de saúde dos anos 1990,

destaca-se no atual governo a continuidade de Políticas focalizadas, precárias,

com terceirização dos recursos humanos, desfinaciamento e a falta de vontade

2 Análise problematizada por BRAVO, 2001.

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de alguns governantes de viabilizar os direitos sociais adquiridos com a

Constituição Federal de 1988 proporcionados pelo tripé da Seguridade Social.

2.2. Resgate histórico sobre a implementação da Política de Saúde

Mental no Brasil

Considerando a particularidade brasileira no que se refere à saúde

pública e especificamente, a fração dela que é destinada a oferecer proteção

aos sujeitos com algum tipo de transtorno mental de natureza patológica ou

socialmente adquirida, assumimos como referencial histórico o lastro temporal

do século XIX aos diais atuais como ponto de partida da nossa reflexão.

3No período pré-republicano, em meados do século XIX, os ditos

“loucos” sobreviviam nas ruas e não internados em manicômios. Já no período

colonial, Medeiros (1993) afirma que a loucura era entendida como algo que

não necessitava de acompanhamento médico e terapêutico. Esse pensamento

foi um dos determinantes para a não elaboração de Políticas Públicas

direcionadas a essa demanda, bem como a exclusão dos mesmos das políticas

médico-hospitalares da época.

Os alienados, os idiotas e os imbecis foram tratados de acordo com suas posses. Os abastados e relativamente tranquilos eram tratados em domicílio e às vezes enviados para a Europa quando as condições físicas dos doentes o permitiam e nos parentes, por si ou por conselho médico, se afigurava eficaz a viagem. Se agitados punham-nos em algum cômodo separado, soltos ou amarrados, conforme a intensidade da agitação. Os mentecaptos pobres, tranquilos, vagueavam pela cidade, aldeias ou pelo campo entregues às chufas da garotada, malnutridos pela caridade pública. Os agitados eram recolhidos às cadeias onde, barbaramente amarrados ou piormente alimentados, muitos faleceram mais ou menos rapidamente (MEDEIROS, 1993, p. 75).

O autor acrescenta ainda, que o indivíduo diagnosticado com algum

tipo de transtorno mental era tolerado pela população, que os enxergavam de

maneira caridosa. Trata-se de um estigma bastante recorrente na

contemporaneidade. Dentre as várias rotulações existentes estavam: “os

alienados”, “os idiotas” e os “imbecis”. Foi nesse mesmo período do século XIX,

3 Dados apresentados segundo a Revista de Psicologia da UNESP (2007).

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que as Santas Casas de Misericórdia passaram a atendê-los e muitos foram

retirados das ruas. (MEDEIROS, 1993).

No ano de 1930 foram idealizadas as primeiras organizações políticas,

em que médicos passaram a reivindicar a competência de lidar com a loucura,

afim de mobilizar a opinião pública em prol da construção de um hospital

psiquiátrico, pois haviam denúncias de maus-tratos nas Santas Casas do Rio

de Janeiro. (COSTA, 1981).

De acordo com Disete Costa (1981), o início da Psiquiatria no Brasil foi

marcado pela inauguração, em 1852, do hospício Pedro II, em homenagem ao

então Imperador D. Pedro II, o segundo momento foi marcado pela

Proclamação da República em 1889, que coincidiu com o advento da

psiquiatria científica, marcada pela aliança entre ciência psiquiátrica e os

projetos estatais de controle social.

Após a constituição da psiquiatria, o “louco” passou a ser considerado

“doentio” e suscetível a tratamento. Com a ideia de isolamento, o Hospício

Pedro II recebeu as primeiras intervenções de caráter experimental da recém-

criada ciência psiquiátrica, cujo modelo de atuação era com vigilância,

regulação de tempo e repressão. (COSTA, 1981).

No ano de 1881, a direção do Hospital Psiquiátrico foi assumida pelos

médicos, e com a Proclamação da República, o então denominado Hospício

Nacional dos Alienados passou a ser controlado pelo Estado e não mais pela

Santa Casa, com isso ocorreu o processo de laicização do asilo. Tendo como

primeiro diretor em 1886, Teixeira Brandão, o grande defensor da

medicalização. Enquanto deputado conseguiu a aprovação da primeira Lei

brasileira do alienado, fazendo do hospício o único lugar com possibilidades de

receber “loucos” com internação comprovada a partir de parecer médico.

(COSTA, 1981).

Ainda sobre a jornada da saúde mental no Brasil, Costa (1981) aponta

que no trabalho pela humanização da assistência na década de 1920 a 1940

Ulisses Pernambucano, médico psiquiatra, foi o pioneiro na luta contra as

barbáries e a violência sofridas pelos internos das Santas Casas.

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Em 1931, inaugurou a Assistência aos Psicopatas de Pernambuco, trabalho pioneiro, especialmente no que se refere à concepção de um sistema assistencial. Tratava-se de uma rede de serviços que era composta por um Serviço de Higiene Mental, um Ambulatório e Serviço Aberto, um Hospital Psiquiátrico para agudos, um Manicômio Judiciário e uma colônia de Alienados (COSTA, 1981 apud CERQUEIRA, 1989),

Ulisses Pernambucano ficou conhecido como a primeira figura da

Reforma do modelo Hospitalocêntrico recém surgido, ou seja, a criação de

instituições abertas, mas ainda como uma forma de suprir o que faltava nos

hospitais psiquiátricos, como veremos a seguir os motivos que fizeram tanto o

Governo do Estado de São Paulo quanto o Governo Federal adotaram essa

política, determinando a subsequente expansão da rede de hospitais

psiquiátricos privados.

Os hospícios, hospitais e colônias, no final da década de 50, tinham como características a “superlotação, deficiência de pessoal, maus-tratos, condições de hotelaria tão más ou piores quanto as dos piores presídios, a mesma situação que Teixeira Brandão denunciava quase 100 anos antes” (Resende, 1987: 60). O panorama geral da assistência psiquiátrica era sombrio; o poder público muito pouco ou quase nada fazia, e o movimento internacional de desinstitucionalização do pós-guerra não repercutiu no país de maneira significativa (CERQUEIRA, 1989).

Segundo Costa (1981) os anos 70 foram marcados pelo início da

assistência psiquiátrica no Brasil. Um processo histórico duradouro de

formulação crítica, com o objetivo de questionar e elaborar propostas que

trouxessem mudanças ao modelo asilar. As pautas eram essencialmente a

exclusão e a violência do modelo Hospitalocêntrico. Os processos de

transformações vinham acontecendo em resposta as reivindicações no campo

da Atenção à Saúde Mental dando início a luta Antimanicomial.

Os passos a seguir datados a partir da década de 1960, de acordo com

Costa (1981), em primeira instância, foi o movimento pala transformação da

Saúde Mental no Brasil, logo após a I Conferência de Saúde Mental das

Américas, especificamente na cidade do Texas. Nesse momento foram

pensadas formas de acrescentar a proposição de realizar estudos

epidemiológicos e criação de serviços de modalidade comunitária, ratificando a

“Ata de Porto Alegre” que citava a possibilidade de ampliação da rede extra-

hospitalar, reestruturação do Serviço Nacional de Doentes Mentais, integração

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da saúde mental à saúde pública e formulação de programas para capacitação

de pessoal.

Em 1969, acontece o terceiro encontro (Encontro de Vinã del Mar-

Chile), com participação do Ministro da Saúde do Brasil, nesse encontro foi

enfatizado a meta de implantação do Sistema Psiquiátrico Comunitário no

Brasil. Além desses encontros outros foram acontecendo ao longo dos anos

com a finalidade de extinguir os hospitais manicomiais, na tentativa de inserção

social e não mais de isolamento. Com isso, o movimento da Reforma

Psiquiátrica ganha maior ênfase no final dos anos 1970, com destaque para as

Conferências de Saúde Mental, as Portarias Ministeriais e a Lei 10.216/2001.

Em 1986, o Instituto Nacional da Previdência Social (INAMPS), através

da Portaria 3344, organizou um grupo assessor para definir e formular

propostas de normas operativas a Saúde Mental para uma rede própria que se

encaixasse nas diretrizes das Ações Integradas de Saúde (AIS) tendo como

objetivo a redução de internações psiquiátricas (COSTA, 1981).

Ainda conforme Costa (1981), foi no ano de 1987 a criação do primeiro

Cetro de Atenção Psicossocial (CAPS) que recebeu o nome do Professor Luiz

da Rocha Cerqueira, surgiu como forma intermediária entre o Hospital

Psiquiátrico e o Ambulatório de Saúde Mental do Estado de São Paulo. A partir

dessa primeira experiência foram possíveis a divulgação e a multiplicação do

CAPS (s) pelo Brasil. Com o surgimento desses Centros foi possível, pós

década de 1980, pensar o ideário e as práticas substitutivas ao modelo

Hospitalocêntrico. Em 1989, na cidade de Santos, Estado de São Paulo, a

gestão municipal inspirados na psiquiatria democrática da Itália aboliu o

hospital psiquiátrico, na busca pela desinstitucionalização implementou os

Núcleos de Apoio Psicossocial (NAPS) cuja responsabilidade era o

atendimento integral às demandas regionais. Na citação abaixo temos a

diferença entre CAPS/NASP

Já deram o primeiro passo especificando os CAPS como instância intermediária que supõe, portanto, a existência do Hospital Psiquiátrico, e o NAPS como dispositivo integral e substitutivo ao Hospital. Certamente compreenderemos melhor as vicissitudes da Reforma Psiquiátrica Brasileira quando compreendermos os fatores desse amálgama NAPS/CAPS. (COSTA, 1987).

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O modelo de psiquiatria democrática italiana ganhou espaço com a

Constituição Federal de 1988, em que indicava os princípios da Reforma

Sanitária e entre estes se consagrava o Sistema Único de Saúde (SUS) que

viria a ser legalizado em 19 de setembro de 1990 pela Lei nº 8.080. O SUS

trouxe consigo a proposta de universalização da saúde e municipalização de

sua gestão, além dos princípios norte de suas ações que são: universalidade,

integralidade e equidade social.

O conceito de saúde abordado pela 8ª Conferência Nacional de Saúde

– CNS realizada em 1986, traz um sentido ampliado do conceito de saúde.

Dessa forma foi apresentada como direito de caráter não contributivo e de

acesso igualitário para quem dela necessitar, a reformulação do Sistema

Nacional de Saúde e o financiamento do setor. Em sentido macro, o trato da

saúde não se configura apenas ao trato de doenças físicas, mas também

mental e a prevenção das mesmas. Cabe aqui colocar as condições de

alimentação, moradia, educação, lazer, transporte emprego, saneamento

básico, acesso a serviços de saúde e a posse da terra. Esses fatores são

determinantes e condicionantes da saúde como destaca o art. 3º da Lei

Orgânica da Saúde nº 8.080/90. Que reconhece o ser humano como ser

integral e a saúde como qualidade de vida.

Direito a saúde significa, a garantia, pelo estado de condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário as ações e serviços de promoção, proteção e recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade. (RELATÒRIO FINAL – 8ª CNS, p. 15).

De acordo com o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, a saúde

é direito de todos e dever do Estado, deverá ser garantida por meio de políticas

sociais e econômicas que possibilitem a redução de doenças e de outros

agravos

Retornando a década de 1990 temos o surgimento da lei nº 8.142 que

viria assegurar que os recursos financeiros fossem destinados às ações em

saúde repassados diretamente aos Municípios, Estados e Distrito Federal.

Logo, foram estabelecidas as condições institucionais para a implantação de

novas políticas de saúde, dentre elas a de Saúde Mental seguindo em paralelo

com as bases de lutas que norteiam a Reforma Psiquiátrica.

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O movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira vem encampando propostas de desinstitucionalização reforçadas pela Luta Antimanicomial. Este projeto de mudança representado no nível federal pelo projeto de lei supracitado, e em alguns Estados da federação por projetos similares – como, por exemplo, no Rio Grande do Sul, em 1992; no Ceará, em 1993; em Pernambuco, em 1994; no Rio Grande do Norte, em 1995; em Minas Gerais, em 1995 e no Paraná, em 1995 – é o resultado de um dos mais importantes processos de mudanças culturais para a sociedade brasileira nesse final de século, que diz respeito a uma revisão dos aparatos científicos, administrativos, jurídicos e éticos, relacionados com a doença mental. (MEDEIROS; GUIMARÃES2002, p. 577).

Segundo Lima e Neto (2016) O início da Reforma Psiquiátrica no Brasil

é contemporâneo do “movimento sanitário”, eclodido nos anos 1970, que lutara

pela mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde,

equidade na oferta dos serviços e protagonismo dos trabalhadores e usuários

dos serviços de saúde nos processos de gestão

(...) é um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e seus familiares, nos movimentos sociais e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcada por impasses, tensões, conflitos e desafios. (LIMA; NETO apud DELGADO 2007, p. 39).

Ainda sobre a década de 1990 tem-se o histórico da realização da

Conferência Regional de Caracas, patrocinado pela Organização Pan-

Americana de Saúde, resultando na Declaração de Caracas. Foi um marco

fundamental que subsidiou as iniciativas de avaliação e reestruturação no que

tange à atenção em saúde mental no Continente. Após 15 anos de tal

acontecimento, o Brasil abriu as portas, em 2005, para a Conferência Regional

de Reforma dos Serviços de Saúde Mental (LIMA; NETO,2016). Logo abaixo

os autores apresentam trechos do Relatório da referida conferencia que aborda

à Reforma Psiquiátrica.

Embora contemporâneo da Reforma Sanitária, o processo de Reforma Psiquiátrica relação tem uma história própria, inscrita num contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar. Fundado, ao final dos anos 70, na crise do modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico, por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo da Reforma Psiquiátrica brasileira é maior do que a sanção de novas leis e

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normas e maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos serviços de saúde. A Reforma Psiquiátrica é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios. (LIMA; NETO, 2016 apud RELATÓRIO DA CONFERENCIA REGIONAL DE

CARACAS, 1990, p. 08)

Assim, nesse contexto, ainda conforme a análise de Lima e Neto:

É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade. (LIMA; NETO, 2016 apud RELATÓRIO DA CONFERENCIA REGIONAL DE CARACAS, 1990, p. 08).

Diante dessa perspectiva, possibilita-se afirmar que os hospitais

psiquiátricos são instituições deficientes e violadoras dos direitos humanos. Foi

a partir de tal avaliação que foi possível inserir, paulatinamente, no território

brasileiro a Reforma Psiquiátrica. Os direitos devem ser pensados

considerando o ser humano como sujeito de direitos de onde se reforça a sua

própria concepção e natureza, a dignidade humana; da mesma forma, eles só

terão sentido em um mundo que garanta o atendimento das necessidades

básicas e um nível de vida digno, que proporcione também o fortalecimento

dos vínculos familiares e sociais. E não será trancado em um hospital

psiquiátrico que isso irá ocorrer.

Enfrentamos ainda a existência de cerca de 60 mil leitos. Destes, cerca de 80% pertencem a uma rede privada conveniada que

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consome quase meio bilhão de reais por ano dos recursos do SUS. Deste total, cerca de 20 mil leitos estão ocupados por pacientes-moradores. Este é o retrato mais perverso da psiquiatria. São pessoas completamente abandonadas pela família e pela sociedade, sem nenhuma perspectiva de vida e que representam, individualmente, em termos de custo ao Estado, cerca de R$ 1.000,00 por mês, repassados diretamente para estas instituições asilares. (BRASIL, 2002, p. 131)

Diante disso, foi na primeira década do ano 2000, que o Ministério da

Saúde designou oficialmente o CAPS como experiência substitutiva aos

hospitais psiquiátricos, dando atenção a demanda territorial, assimilando

alguns princípios que norteavam os NAPS. Com isso, o Município tem maior

responsabilidade sobre o que é demandado em um CAPS.

Atualmente, os municípios podem contar com cinco tipos diferentes de

Instituições Psicossociais, cada uma com atendimentos a uma demanda

específica. Para que seja implementado um CAPS faz-se necessário um

contingente populacional determinado, como podemos ver na tabela abaixo:

TABELA 1:

CAPS Existentes: Contingente Populacional:

CAPS I 70.000 (setenta mil) habitantes.

CAPS II 70.000 (setenta mil) a 200.000 (duzentos

mil habitantes).

CAPS III Maior do que 200.000 (duzentos mil)

habitantes.

CAPS i Em municípios de médio porte.

CAPS AD Inserido em cidades de médio porte.

Dados da Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde 2004, citado por SANTOS

(2010).

Com o nascimento desse novo modo de atendimento, são oferecidos

cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar,

possibilitando, também, a interação com a rede de serviços relativos a Saúde

Mental. São centros constituintes de um serviço comunitário cuja função é

cuidar de pessoas com transtornos mentais decorrentes de algum fator

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biológico ou do uso abusivo de substâncias psicoativas, no seu território de

abrangência. (SANTOS, 2010, p.9).

O CAPS I é um serviço destinado a municípios com [...] demanda de crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos portadores de transtornos mentais severos e/ou decorrentes da dependência química, diagnosticados como neuróticos ou psicóticos graves, funcionando somente durante o dia. Já o CAPS II é um serviço [...] com as mesmas especificidades citadas para o CAPS I. O CAPS III, por sua vez, se destina a municípios que tenha contingente populacional maior do que 200.000 (duzentos mil) habitantes, oferecendo um serviço de internação durante vinte e quatro horas para pessoas em momentos de surto que necessitem ficar em observação pela equipe multiprofissional, disponível para pessoas adultas. O CAPS i oferece um serviço especializado para crianças e adolescentes portadores de transtorno mental, em municípios de médio porte, funcionando durante o dia. Por fim, o CAPS ad que oferece um serviço para usuários abusivos de álcool e outras drogas, geralmente inserido em cidades de médio porte, funcionando com tratamento terapêutico também durante o dia. (SANTOS, 2010, p. 8-9).

Santos (2010) traz em seu cenário institucional, alguns dados expostos

pela Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde no ano de 2004.

Que trata sobre a distribuição desses CAPS nacionalmente, bem como sua

natureza institucional. Vejamos suas colocações em forma de Gráficos:

Gráfico 1

Santos, (2010) apud Coordenação de Saúde Mental do Ministério da saúde (2004).

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Gráfico 2

Santos, (2010) apud Coordenação de Saúde Mental do Ministério da saúde (2004).

Esses Centros surgem com um princípio norteador que se baseia no

respeito às diferenças e na promoção da equidade social, sendo responsáveis

pelo acolhimento de toda a demanda que se apresenta em seu território de

abrangência. Tem também como premissa o acolhimento de qualidade, em

ambiente adequado. Que possa incluir pacientes em situação de

vulnerabilidade social que não consigam acompanhar as atividades propostas

na unidade. Ademais, devem apresentar ideias de gerenciamento dos casos,

personalizando o projeto de cada paciente na unidade e fora dela,

desenvolvendo atividades que permitam a permanência dos usuários no

serviço.

2.3. “Por uma sociedade sem manicômios”: Eclosão do movimento

de Reforma Psiquiátrica

No item anterior trouxemos à reflexão que a condição da assistência à

pessoa em sofrimento mental tem sua trajetória histórica nas sociedades

ancorada em processos de exclusão social, em outras palavras, a anulação do

sujeito enquanto detentor de direitos, eximindo-o da sua cidadania efetiva.

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Decorrente dessa condição de subjugação, subalternidade e anulação

social forçada, especificamente na década de 1970, setores da sociedade,

dispostos a discutir a “loucura” num viés mais crítico e histórico passaram a se

organizar, construir estratégias políticas e movimentar a luta pelo direito do

exercício da cidadania, mediante espaços dignos de atenção à saúde mental e

um trato humanizado da questão – o que demandaria a posteriori uma ação

sistemática e contínua do Estado nesse campo.

Nesse contexto, os movimentos sociais irão desempenhar um

importante papel no exercício das lutas. Os movimentos sociais, segundo Ghon

(1997) têm como característica fundante a realização de ações sociais e

políticas organizadas por sujeitos coletivos, de caráter social, articulados em

determinados cenários da realidade socioeconômica e política do país onde se

concentram.

Assim, criam um campo político forte dentro da sociedade civil. São

eles os responsáveis pela geração de inovações nas esferas estatais e não

estatais, possuem grande participação, direta e indiretamente na luta política.

Suas bases de suporte são as entidades e as organizações da sociedade civil,

bem como partidos políticos. Administram uma agenda de atuação construída a

partir das demandas socioeconômicas, que englobam as problemáticas

conflituosas da sociedade.

[...] o movimento social é a ação dos homens na história social, por ser construído a partir de determinados problemas sociais e de suas demandas, e ter como categorias teóricas de formação a participação, a experiência, os direitos, a cidadania, dentre outros. (TRENTINI 2010 apud GHON 1997, p.51).

Na década de 1970 foram contabilizadas, pelo Ministério da Saúde,

várias denúncias relacionadas à política brasileira de saúde mental, pois a

atenção era voltada a privatização da política de assistência psiquiátrica por

parte da previdência social, quanto às condições (públicas e privadas) de

atendimento psiquiátrico à população. Diante desse cenário, temos o

surgimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Foi possível contar com

pequenos núcleos estaduais, foram participantes os Estados de São Paulo, Rio

de Janeiro e Minas Gerais. Esses constituíram o Movimento de Trabalhadores

em Saúde Mental (MTSM).

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Dados apresentados pelo Ministério da Saúde (2005) dão conta de que

no ano de 1978 aconteceram os primeiros registros de organização política do

movimento social de Luta Antimanicomial em nosso país. Surgiu a partir da

tomada de consciência do pluralismo de ideias dos trabalhadores da área da

saúde, bem como de integrantes do movimento sanitário, associações de

familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e de antigos

internos de hospitais psiquiátricos.

Diante disso, é propício afirmar que tanto o movimento sanitarista

quanto o MTSM buscavam através de suas lutas, a transformação do sistema

de atenção à saúde, pois a crise desse setor era vista como reflexos da

situação política do Brasil. Uma política de privatização da saúde, direcionada a

prática de controle e reprodução das desigualdades sociais.

O Projeto do MTSM era tanto de transformação psiquiátrica quanto de organização do sistema assistencial psiquiátrico, que lutava pela questão do direito à cidadania das pessoas em sofrimento mental através de uma reconstrução democrática dos dispositivos terapêuticos e instituições do setor psiquiátrico. (TRENTÍNI, 2010, p.52).

Ainda sobre o período da década de 1970 foram organizadas pelo

movimento várias denúncias relacionadas à política brasileira de saúde mental,

pois a atenção era voltada a privatização da política de assistência psiquiátrica

por parte da previdência social, quanto às condições (públicas e privadas) de

atendimento psiquiátrico à população.

Denúncias e mobilização pela humanização dos hospitais psiquiátricos tanto públicos quanto privados, alguns dos quais foram identificados como verdadeiros campos de concentração;

Denúncia da indústria da loucura nos hospitais privados conveniados do então INAMPS;

Denúncia e reivindicações por melhores condições de trabalho nos hospitais psiquiátricos, principalmente no Rio de Janeiro;

Primeiras reivindicações pela expansão de serviços ambulatoriais em Saúde Mental, apesar do movimento não ter ainda

bem claro como deveriam ser organizados tais serviços. (ROSA, etal,

2008, p.23).

Com base nisso, é feita a primeira tentativa de mudança do sistema de

saúde que predominava na década de 1970 (o plano PREV-SAÚDE), tentativa

essa, que deu lugar a Reforma Sanitária, basicamente proporcionada pela

iniciativa do Movimento dos trabalhadores de Saúde em geral. Apontando para

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um novo modelo de Sistema de Saúde regionalizado, integrado e

hierarquizado.

O MTSM é sobretudo um Movimento que através de variados campos

de luta, entra para a história por protagonizar e construir durante esse período

formas de denúncia pelos casos de violência sofridos pelos asilados em

manicômios, “da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede

privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado

saber psiquiátrico e ao modelo Hospitalocêntrico4 na assistência às pessoas

com transtornos mentais”. (BRASIL, 2005).

É importante pensar a democracia enquanto processo direcionado a

organização e na formação de uma tomada de consciência coletiva da classe

trabalhadora para a construção de um projeto emancipatório. (TRENTÍNI,

2010).

Para Trentíni (2010) o MTSM é considerado o sujeito político

fundamental quando se trata do Projeto da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Sua

base de luta era subsidiada pela ideia de transformação psiquiátrica e,

também, de organização do sistema assistencial psiquiátrico, que lutava pelo

direito à cidadania das pessoas com transtornos mentais, isso através de uma

reconstrução democrática dos aparatos terapêuticos, bem como das

instituições psiquiátricas.

No ano de 1978, precisamente no Rio de Janeiro, eclode o Movimento

dos Trabalhadores da Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM) trazendo o

questionamento sobre a política psiquiátrica que era ofertada no país. Com isso

foi possível dar visibilidade social a uma problemática complexa,

multidimensional e carregada de um peso histórico negativo, onde “[...] tais

movimentos fazem ver à sociedade como os loucos representam a radicalidade

da opressão e da violência imposta pelo estado autoritário”. (BRASIL, 2015).

Como parte integrante do processo de construção da democracia em

nosso país, temos o surgimento do movimento da Reforma Psiquiátrica. Este

trouxe o debate sobre as possibilidades de substituição do modelo

Hospitalocêntrico, dentro do movimento intitulado de “sociedade sem

manicômios”, em luta para que a sociedade fosse capaz de abrigar as pessoas

4Modelo Hospitalocêntrico: Atenção assistencial em que o Hospital é o centro do Sistema de Saúde e o médico o principal tomador de decisões.

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com transtornos mentais de caráter biopsicossocial ou adquirido pelo uso

abusivo de substâncias psicoativas. Essa é uma das principais pautas

apresentadas pelo movimento denominado de “Luta Antimanicomial” até os

dias atuais.

O Ministério da Saúde (2005) aponta outras pautas importantes,

levantadas pelo movimento de Reforma Psiquiátrica:

(...) mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços, e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de tecnologias de cuidado. (BRASIL, 2005, p. 6).

Em suas análises, Medeiros e Guimarães problematizam que:

O movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira vem encampando propostas de desinstitucionalização reforçadas pela Luta Antimanicomial. Este projeto de mudança representado no nível federal pelo projeto de lei supracitado, e em alguns Estados da federação por projetos similares – como, por exemplo, no Rio Grande do Sul, em 1992; no Ceará, em 1993; em Pernambuco, em 1994; no Rio Grande do Norte, em 1995; em Minas Gerais, em 1995 e no Paraná, em 1995 – é o resultado de um dos mais importantes processos de mudanças culturais para a sociedade brasileira nesse final de século, que diz respeito a uma revisão dos aparatos científicos, administrativos, jurídicos e éticos, relacionados com a doença mental. (MEDEIROS; GUIMARÃES 2002, p. 577).

Dados levantados pelo Ministério da Saúde (2005), apontam que a

Reforma Psiquiátrica brasileira, esteve inscrita em um contexto internacional de

mudanças que visam a superação do isolamento vivido por pessoas com

algum histórico de transtorno psicossocial.

O modelo Hospitalocêntrico fundado em meados da década de 1970,

em plena crise do modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico, em

contrapartida, pela eclosão dos movimentos sociais pautados na luta pelos

direitos dos pacientes psiquiátricos. O processo da Reforma Psiquiátrica

brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e maior do que o

conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos serviços de saúde.

(...) é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e

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de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios. (BRASIL, 2005, p.6).

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (2005), a Reforma

Psiquiátrica brasileira apresenta-se como movimento contemporâneo ao

período da Reforma Sanitária, levando em conta as reivindicações dos anos

1970. Dessa forma, o autor evidencia que:

A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é inspiradora, e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas, como, por exemplo, na Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Passam a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da assistência. O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em 1987, adota o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Neste mesmo ano, é realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro). Neste período, são de especial importância o surgimento do primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1987, e o início de um processo de intervenção, em 1989, da Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local de maus-tratos e mortes de pacientes. É esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou de forma inequívoca a possibilidade de construção de uma rede de cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico. Neste período, são implantados no município de Santos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, são criadas cooperativas, residências para os egressos do hospital e associações. A experiência do município de Santos passa a ser um marco no processo de Reforma Psiquiátrica brasileira. Trata-se da primeira demonstração, com grande repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica, não sendo apenas uma retórica, era possível e exequível. (BRASIL,2005).

Ressalta-se que, a despeito de todo o avanço marcado pelo alcance

dessa perspectiva de análise e concepção de Saúde Mental, bem como, do

entendimento do necessário avanço na direção da implementação da reforma

psiquiátrica, o que se percebe é que ainda, na atenção à Saúde Mental, os

hospitais psiquiátricos persistem na reprodução de um perfil institucional

predominantemente limitado, com reforço de antigas práticas manicomiais, de

isolamento e trato repressivo da “loucura”, portanto, caminhando na direção

oposta ao exercício dos direitos humanos.

As políticas públicas devem ser pensadas considerando o ser humano

como sujeito de direitos de onde se reforça a sua própria concepção e

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natureza, a dignidade humana; da mesma forma, eles só terão sentido em um

mundo que garanta o atendimento das necessidades básicas e um nível de

vida digno, que proporcione também o fortalecimento dos vínculos familiares e

sociais. E não será no “cárcere privado” de um hospital psiquiátrico, cerceador

da liberdade e baseado em um modelo opressor, que isso irá ocorrer.

No Rio de Janeiro se iniciou em 1980 o processo chamado de “Co-Gestão” entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência para administração dos hospitais públicos, que permitiu, por um lado, a abertura de um importante espaço político para lideranças do MTSM implementarem processos de reforma e humanização dos hospitais psiquiátricos públicos e, por outro lado, preparou o terreno para o lançamento do plano CONASP em 1982-83, que possibilitou a implementação gradativa em todo país do modelo sanitarista das chamadas “Ações Integradas de saúde” (ROSA, 2008, p.24).

Em 1982, com a vitória de governos oposicionistas (Tancredo Neves e

Franco Montoro), nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, foi possível a

entrada de lideranças do MSTM nas secretarias estaduais de Saúde, o que

facilitou intervenções crescentes nos hospitais psiquiátricos estatais e privados

e, também, a implementação do Conselho Nacional de Administração da

Saúde Previdenciária (CONASP), proporcionando a expansão da rede

ambulatorial em saúde e saúde mental (ROSA, 2008, p.24).

A plataforma política do MTSM na década de 1980, tinha como

objetivos principais:

a) não criação de novos leitos em hospitais psiquiátricos

especializados, e redução onde possível e/ou necessário; b) regionalização das ações em saúde mental, integrando setores

internos dos hospitais psiquiátricos ou hospitais específicos com serviços ambulatoriais em áreas geográficas de referência;

c) controle das internações na rede conveniada de hospitais psiquiátricos privados via centralização das emissões de AIH nos serviços de emergência do setor público;

d) expansão da rede ambulatorial em saúde, com equipes multiprofissionais de saúde mental, compostas basicamente por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais e, às vezes, também por enfermeiros, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos;

e) humanização e processos de reinserção social dentro dos asilos estatais, também com equipes multiprofissionais. (ROSA, 2008, p.24-25).

Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentralizado de

Saúde - SUDS, como uma consolidação das chamadas Ações Integradas de

Saúde - AIS, que emprega como diretrizes a universalização e a equidade, a

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integralidade, a regionalização e implementação de distritos sanitários, a

descentralização, o desenvolvimento de instituições colegiadas gestoras e o

desenvolvimento de uma política de recursos humanos.5 Tais ações

constituíram uma estratégia de relevante importância para o processo de

descentralização da saúde e foram essenciais para a implementação do

Sistema Único de Saúde - SUS.

Foi através da Constituição de 1988, que foi criado o SUS, formado

pela articulação entre as gestões Federal, Estadual e Municipal, sob o poder de

controle social, exercido através dos “Conselhos Comunitários de Saúde”.

Segundo o Ministério da Saúde o Sistema deveria funcionar da seguinte forma:

[...] Estado democrático e da cidadania plena como determinante de uma “saúde como direito de todos e dever do Estado” previsto na Constituição Federal de 1988. Esse sistema alicerça-se nos princípios de acesso universal, público e gratuito às ações e serviços de saúde; integralidade das ações, cuidando do indivíduo como um todo e não como um amontoado de partes; equidade, como dever de atender igualmente o direito de cada um respeitando suas diferenças; descentralização dos recursos de saúde, garantindo cuidado de boa qualidade o mais próximo dos usuários que dele necessitam; Controle Social exercido pelos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde com representação dos usuários, trabalhadores, prestadores, organizações da sociedade civil e instituições formadoras (BRASIL,2005, p.13).

De acordo com a CF de 88, art.196.

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL,1988).

Portanto, é dever do Estado proporcionar o acesso a política de saúde,

bem como um atendimento digno e de qualidade, com hospitais, unidades de

saúde com estruturas adequadas para atender os usuários; profissionais

qualificados, medicamentos gratuitos entre outros.

O Ministério da Saúde (2005) afirma que foi no ano de 1989, que deu

entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado

(PT/MG), propondo uma lei que reconheça os direitos da pessoa com

5 Informações referenciadas segundo o Portal Saúde e Cidadania. (2016)

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transtornos mentais e a extinção dos manicômios no país. “É o início das lutas

do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativo e normativo”.

(BRASIL,2005).

Durante o ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto

de Lei Paulo Delgado, conseguem a aprovação em vários Estados brasileiros

as primeiras regulamentações que preconizam a substituição progressiva dos

leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. É a

partir deste momento que a política do Ministério da Saúde para a Saúde

Mental, acompanhando das solicitações e pautas que norteiam a Reforma

Psiquiátrica, começa a ganhar contornos mais definidos.

Já na década de 1990, o marco foi o compromisso firmado pelo Brasil

na assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência

Nacional de Saúde Mental, passando a entrar em vigor no país as primeiras

normatizações de cunho federais que regulamenta a implantação de serviços

de atenção Psicossocial com atendimentos diários, fundadas nas experiências

dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para

fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos.

Neste período, o processo de expansão dos CAPS e NAPS é

descontínuo. As novas normatizações do Ministério da Saúde de 1992, embora

regulamentassem os novos serviços de atenção diária, não instituíam uma

linha específica de financiamento para os CAPS e NAPS. Do mesmo modo, as

normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos não

previam mecanismos sistemáticos para a redução de leitos. Ao final deste

período, o país tem em funcionamento 208 CAPS, mas cerca de 93% dos

recursos do Ministério da Saúde para a Saúde Mental ainda eram destinados

aos hospitais psiquiátricos.

Foi na primeira década do ano 2000, que o Ministério da Saúde

designou oficialmente o CAPS como experiência substitutiva aos hospitais

psiquiátricos, dando atenção a demanda territorial, assimilando alguns

princípios que norteavam os NAPS. Com isso, o Município passa a ter maior

responsabilidade sobre o que é demandado em um CAPS.

A Luta Antimanicomial possibilitou o desenvolvimento de pontos

extremamente importantes para a desinstitucionalização da loucura. Podemos

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mencionar aqui o surgimento de relevantes serviços de atendimentos Extra-

Hospitalares que só foram possíveis com o advento da Reforma Psiquiátrica.

A Reforma ficou conhecida por protagonizar os acontecimentos do

Movimento de Luta Antimanicomial, objetivando a desinstitucionalização dos

hospitais psiquiátricos. Tem-se a compreensão sob a égide dos conjuntos de

transformações de prática, saberes, valores sociais e culturais.

É no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações

interpessoais que o movimento avança, um período marcado por impasses,

tensões, conflitos e desafios. Pode-se afirmar que não há como dissociar a

Reforma Psiquiátrica do movimento de Luta Antimanicomial, a partir desse

vínculo é projetada a finalidade de intervenção no então modelo vigente de

atendimento e lutando pelo fim da mercantilização da loucura.

Dessa forma, o que se busca, é a construção coletiva da crítica ao

saber psiquiátrico e ao modelo de assistência as pessoas com transtornos

mentais. Apesar do estigma ainda existente na presente sociedade,

percebemos que não é uma luta em vão, temos aí, a criação dos Centros de

Atenção Psicossociais como modelo substitutivos, que garantem novas

possibilidades de desenvolvimento reinserção familiar e social aos usuários.

3. CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E CRISE: IMPACTOS NA POLÍTICA

DE SAÚDE MENTAL

O processo de desinstitucionalização provocou consideráveis

mudanças quanto à rede de saúde, principalmente, na rede de atenção à

saúde mental em muitos Estados e Municípios do país. Apesar dos avanços

conquistados com a criação dos serviços substitutivos, na perspectiva de

romper com o modelo manicomial, já na entrada dos anos 1990, tal política

passa a sofrer os rebatimentos da investida neoliberal que ganha importância

na abordagem da política econômica do Brasil dentro da sociedade capitalista

consubstanciado em crises que afetam as políticas sociais.

3.1. A Política de Saúde Mental no Capitalismo contemporâneo

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Segundo Tonet (2009.p.1) as formas de sociabilidade que passam por

uma crise profunda, agravam consideravelmente o sofrimento da humanidade.

Até mesmo os principais beneficiados pelo sistema social em que estão

inseridos não ficam livres dos problemas causados por ela.

As crises são constitutivas do modelo de organização econômica do

Modo de Produção Capitalista - MPC como descrita por Netto e Braz

(2009.p.157). Os referidos autores ainda evidenciam um momento real do

processo de construção sócio-histórica na qual se insere o desenvolvimento do

capitalismo desde sua emergência.

A análise teórica e histórica do MPC comprova que a crise não é um acidente de percurso, não é aleatória, não é algo independente do movimento do capital. Nem é uma enfermidade, uma anomalia ou uma excepcionalidade que pode ser suprimida no capitalismo. Expressão concentrada das contradições inerentes ao MPC, a crise é constitutiva do capitalismo: não existiu, não existe e não existirá capitalismo sem crise. (NETTO; BRAZ, 2009.p.157).

O caráter eventual das crises capitalistas se torna diferenciado

daqueles encontrados na sociedade pré-capitalistas, em que predominava a

diminuição da força de trabalho, ocasionando menor produção. Na sociedade

capitalista a crise decorre vinculada superprodução de valores-de-uso, que não

são consumidos; com isso “[...] a oferta de mercadorias torna-se excessiva em

relação à procura (demanda). ” (NETTO; BRAZ, 2007, p. 158).

Entretanto, em outras ocasiões, elas estavam relacionadas à

subprodução dos valores-de-uso, produzidas pela baixa do desenvolvimento

das forças produtivas, e, também, com os entraves ocorridos no âmbito das

relações de produção, responsáveis pela produção insuficiente dos valores-de-

uso, aumentando o empobrecimento e a miséria. (SILVA; MOURA, 2015, p.

105)

Nesta perspectiva, a mudança radical nas causas essenciais da crise,

demostram que a sociabilidade capitalista está colocada como base antagônica

e contraditória. De acordo com Marx (2011) apud Silva e Moura (2015), a lei de

acumulação capitalista, se diferencia pela crescente socialização da produção

social, contrária a apropriação privada da riqueza produzida, fundamentando a

exploração do trabalho.

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Segundo Boschetti (2010) existe uma incompatibilidade estrutural do

sistema, em que seu fundamento está vinculado a forma como se organiza a

economia, que de modo crescente, busca a expansão e a acumulação de

capital; e as relações sociais, em que estão nas mãos de uma minoria a posse

dos meios de produção, enquanto uma maioria possui somente a sua força de

trabalho a ser vendida como uma mercadoria. Netto e Braz (2009) apontam

que as crises são uma resultante das contradições que permeiam o modo de

produção capitalista.

Historicamente, o sistema capitalista foi marcado por sua dinâmica de

crescimentos, seguindo de fases depressivas.

A crise é, pois, a perturbação ocorrida no movimento do capital – expresso a partir da fórmula D – M – D, na qual o capitalista investe dinheiro para produzir mercadorias, cuja finalidade é a obtenção de (mais) dinheiro do que aquele investido inicialmente –, em que a mercadoria produzida não consegue converter-se em (mais) dinheiro e, consequentemente, não realiza a mais-valia extraída no processo de exploração do trabalho, caracterizando uma fase regressiva da acumulação capitalista. (SILVA; MOURA, 2015, p. 105).

Somente quando há a conversão da mercadoria em dinheiro e a

extração da mais-valia, é que ocorre a expansão da acumulação do capital.

(NETTO; BRAZ, 2009). Com tudo, os ciclos econômicos marcam o período

entre uma crise cíclica do capital e outra. São subdivididos em quatro etapas: a

crise, a depressão, a retomada e o auge.6

Diante do viés contraditório em que está inserido o capitalismo, as

crises se apresentam como resultados da dinâmica desse sistema. Porém, não

existe apenas uma causa, dentre elas está a anarquia da produção. Nesta, não

há planejamento ou controle global determinado por esse modo de produção, o

que ocasiona descontrole. De maneira contrária, o capital não deve submeter-

se a qualquer tipo de controle, caso contrário sempre estará suscetível a crises,

“[...] o sistema do capital é orientado para a expansão e movido pela

acumulação. ” (SILVA; MOURA 2015 apud MÉSZÁROS, 2011, p. 100).

Dessa forma, a produção é comandada somente pelo capitalista com

seus interesses privados, tendo como premissa a obtenção do lucro, cuja

6Com base na reflexão de Silva e Moura (2015)

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interrupção pode gerar a crise. Com isso, outra causa é a queda da taxa de

lucro, em que:

[...] a forma como cada capitalista, individual e privadamente, responde à queda da sua taxa de lucro; então, verificamos que a resultante da resposta da maioria dos capitalistas a essa tendência contraria a intencionalidade de cada um deles e seu efeito, enfim, acaba por efetivamente contribuir para a eclosão das crises. (NETTO; BRAZ, 2009, p. 161).

Por último, tem-se como causa das crises o subconsumo das massas

trabalhadoras. Tendo em vista que, a oferta de mercadorias é maior que a

capacidade de consumo da classe trabalhadora. Nesse sentido,

[...] a razão última de todas as crises reais é sempre a pobreza e a restrição ao consumo das massas em face do impulso da produção capitalista a desenvolver as forças produtivas como se apenas a capacidade absoluta de consumo da sociedade constituísse seu limite. (SILVA; MOURA, 2015 apud MARX, 1985, p. 24).

A crise é, contraditoriamente, o processo de interrupção da

acumulação da rotação do capital, mas, é também, o momento em que se

recupera violentamente a unidade das fases do processo produtivo e de

reprodução social do sistema (SILVA; MOURA, 2015 apud BEHRING, 2012).

Mediante a reflexão,

[...] as crises, expressando a contraditoriedade inerente ao sistema capitalista, são elas mesmas contraditórias: de uma parte, trazem à luz as contradições do sistema capitalista; de outro, criam as contradições para uma reanimação e um novo auge, isto é, para um novo ciclo. As crises são funcionais, pois constituem os mecanismos mediante os quais o sistema capitalista se restaura, sempre em níveis mais complexos e instáveis, as condições necessárias à sua continuidade. (NETTO; BRAZ, 2007, p. 162).

Com base nisso, a compreensão de que as crises são constitutivas ao

desenvolvimento do capital – demonstrando mais claramente sua face

contraditória –, a crise estrutural tem como caráter, o fator de universalidade,

pois abrange a totalidade do sistema em seu movimento; possui um alcance

global, atingindo grande parte dos países, se não todos. A crise estrutural deve

ser analisada, considerando os determinantes sociais, políticos e econômicos

que permeiam o sistema. Ou seja,

[...] em termos simples e gerais, uma crise estrutural afeta a totalidade de um complexo social em todas as relações com suas partes constitutivas ou subcomplexos [...]. Diferentemente, uma crise não estrutural afeta apenas algumas partes do complexo em questão, e assim, não importa o grau de severidade em relação às partes afetadas, não podendo pôr em risco a sobrevivência contínua da

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estrutura global. (SILVA; MOURA, 2015 apud MÉSZÁROS, 2011, p. 797).

Netto e Braz (2009.p. 159) afirmam que a crise pode emergir por

incidente econômico ou político, de maneira que diminuem consideravelmente

as operações comerciais, as mercadorias ficam estagnadas, a produção

diminui ou paralisa, os preços e os salários apresentam baixa; as empresas

apresentam quebra, há o aumento do desemprego, atingindo a classe

trabalhadora que entra em pauperização absoluta.

Não se trata de nenhum economicismo, ou seja, de afirmar que a causa direta e imediata de todos os problemas atuais da humanidade está na economia. Trata-se apenas de deixar claro que a raiz mais profunda da crise que o mundo vive hoje está nas relações que os homens estabelecem entre si na produção da riqueza material. (TONET, 2009, p.1)

Esses são aspectos recorrentes e aprofundados na

contemporaneidade com a crise do capital, cuja a solução não reside na defesa

do neoliberalismo (participação mínima do Estado na economia e o mercado

como principal regulador) e nem na tentativa de retomar resultados alcançados

no período histórico da crise de 1929 – a maior crise cíclica registrada no

Sistema Capitalista – através da adoção do padrão Keynesiano-fordista7, que

contribuiu para a expansão e crescimento do capitalismo durante três décadas.

(SILVA; MOURA, 2015 apud BEHRING; BOSCHETTI, 2009).

Portanto, para Mészáros (2011), os rebatimentos das estratégias

utilizadas pelo sistema capitalista, pensadas para minimizar as consequências

da mesma dentro do processo de expansão e acumulação do capital, na

procura por recompor as taxas de lucro, envolve transformações societárias

importantes no âmbito do Estado, “[...] especialmente, no tocante ao

desenvolvimento das políticas sociais, em que se registram limites e

retrocessos para a sua efetivação como, por exemplo, para a política de saúde

pública”. (MÉSZÁROS, 2011).

7O Fordismo foi um modelo de produção caracterizado pela produção padronizada em larga

escala e consumo em massa. Flexibilização do Trabalho, com salários ascendentes proporcionando a movimentação do capital e garantias trabalhistas; participação sindical forte. A doutrina era keynesiana (Welfare State, ou estado de bem-estar social), defendia a intervenção do Estado na economia em vários aspectos. (Portal Resuminhos, 2016)

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Diante da atual crise estrutural do capital, tem-se buscado meios de enfrentamento às suas consequências. As respostas a este cenário requisitaram estratégias como a restruturação produtiva, a financeirização do capital e o neoliberalismo, cujas sequelas podem ser percebidas através das profundas transformações societárias ocorridas na sociedade no pós-1970. (SILVA; MOURA, 2015, p.108).

Conforme Netto (1996), o Welfare State foi vivenciado pelos países

capitalistas centrais, com o ideário de ampliação dos direitos sociais,

consequentemente, a expansão das políticas sociais. Porém, com a eclosão da

crise estrutural em 1970, dá-se início a conjuntura de regressão dos direitos

sociais, por meio de cortes nas políticas de cunho social, bem como a redução

da participação do Estado no social, pressuposto do pensamento neoliberal.

Essa realidade dentro da política de saúde pública no Brasil, aponta

para os rebatimentos do ajuste neoliberal, tendência para o desmonte das

políticas sociais, que passam a ter um perfil fragmentado, seletivo e focalizado;

além da precarização dos serviços sociais que são ofertados a população.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, entra uma nova

fase trazendo a democratização das ações e funções estatais. Mas, esse

cenário incide em aspectos políticos e socioeconômicos, um campo

contraditório de ideias. De um lado a constituição cidadã, abordando a

ampliação de direitos sociais, principalmente ao estabelecimento da

Seguridade Social; composta pela Saúde, Previdência e Assistência Social. Por

outro lado, tem-se o pensamento neoliberal que começa a influenciar na

efetivação das Políticas Públicas no Brasil.8

O neoliberalismo, ao contrário do processo de redemocratização, defende o fortalecimento da iniciativa privada, a redução do valor da força de trabalho e do tempo necessário à produção dos bens, além de incentivar a liberdade de mercado e, sobretudo, a não intervenção do Estado direcionada a área social (SILVA; MOURA, 2015 apud MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).

O modelo neoliberal, historicamente, chega ao Brasil e ganha força

durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se

materializando através “da elaboração do Plano da Reforma do Estado,

encaminhado ao Congresso Nacional em agosto de 1995”. (SILVA; MOURA,

2015, p.109).

8Conforme Silva e Moura (2015.p.109).

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O pensamento defendido pelo plano de reforma problematizava o

entendimento de que as funções estatais eram de “[...] coordenar e financiar as

políticas públicas e não de executá-las. ” (SILVA; MOURA, 2015 apud

REZENDE, 2008, p. 25). A execução ficaria sob a responsabilidade, a princípio,

da sociedade civil e de instituições privadas em parceria com o Estado.

Sobre outros serviços além dos inseridos no tripé da Seguridade

Social, Silva e Moura (2015) afirmam que:

Dentro do plano supramencionado, aqueles serviços sociais competitivos, tais como a educação, a cultura, a saúde, entre outros, que se adequavam às características da concorrência de mercado e, portanto, eram geradores de lucratividade, deveriam ser transferidos do âmbito do Estado para a condução da iniciativa privada, que assumiria a responsabilidade de executá-los com maior eficiência e menor custo (REZENDE, 2008).

Portanto, há uma redefinição das funções do Estado sob a premissa de

encontrar solução para a crise estrutural do capital financeiro que teve início na

década de 1970 até a atualidade. A finalidade é a retomada do crescimento

econômico. Levando em consideração as particularidades da formação

histórico-social do Brasil, o neoliberalismo tenta derrubar os princípios

constitucionais democráticos e afastando as ações estatais do campo social,

com redução dos investimentos no âmbito da Seguridade Social especialmente

na área da saúde.

O programa de contrarreforma encontra na mercantilização dos direitos sociais fonte de lucratividade para o grande capital, em que os serviços sociais antes de responsabilidade do Estado passam a ser transferidos para a iniciativa privada. Com o processo de privatização, estabelece-se uma pactuação com instituições privadas, que passam a participar ativamente da gestão das políticas sociais públicas antes, prioritariamente, de responsabilidade estatal. (SILVA; MOURA, 2015, p.109)

Esse processo, criticamente denominado de contrarreforma do Estado,

trouxe retrocesso para a efetivação do Sistema Único de Saúde - SUS, pois

para o neoliberalismo era, e, continua sendo prescindível o avanço para

transformar à saúde em uma mercadoria que garanta retorno viável ao

desenvolvimento do Sistema Capitalista. O neoliberalismo entra em cena

defendendo o modelo privado de atendimento no setor de saúde. Diante disso,

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destaca-se a existência, na atualidade, de um tensionamento que diverge os

três projetos relacionados à saúde: “o projeto de reforma sanitária, o do SUS

possível e o privatista”. (SILVA; MOURA, 2015, p.110). Destaca-se, portanto:

[...] o projeto SUS possível é defendido pelas lideranças que diante dos limites da política econômica defendem a flexibilização da reforma sanitária, mas a nomeiam esse processo de reatualização, modernização ou mesmo continuidade desta. [...] [Portanto] as conquistas da reforma sanitária vão dando lugar as propostas hegemônicas do SUS possível e do projeto privatista (SILVA; MOURA, 2015 apud SOARES, 2012, p. 93, grifos da autora).

Ainda sobre a problemática da implementação do SUS, de acordo com

as reflexões das autoras Silva e Moura (2015):

[...] refere à dificuldade da consolidação dos princípios democráticos instituídos com a implementação do SUS mediante a conjuntura socioeconômica atual. Emerge deste contexto uma relativa distinção entre o SUS na prática cotidiana, em sua forma de execução e materialidade, e o SUS conceitual, que se propõe enquanto direito de todos e dever do Estado. Isso ocorre em todos os setores que compõem o conjunto da política de saúde pública brasileira

Com base nisso, afirmamos que o desenvolvimento neoliberal passa a

ser enfrentado como um desafio frente a execução das políticas sociais e

particularmente na área da saúde, atacando princípios importantes do SUS;

que preconiza a saúde como um direito universal. O que também atinge de

maneira direta a política de saúde mental do Brasil.

Para o campo da saúde mental, desdobrou-se desse contexto o

processo de Reforma Psiquiátrica brasileira. Deste modo, atualmente o estado

da saúde mental brasileira é destacada como resultante do Movimento da

Reforma Psiquiátrica que se iniciou a partir de 1979 (SILVA; MOURA, 2015

apud DELGADO,1987). Foram pensadas alternativas diferenciadas destinadas

ao tratamento psiquiátrico centrado, até então, nos grandes hospitais.

O movimento de Reforma Psiquiátrica, mundialmente falado, foi

inspirado no projeto de Franco Basaglia, médico italiano psiquiatra e

sanitarista, que propôs o rompimento do modelo Hospitalocêntrico,

intencionando não somente a desospitalização, mas também o rompimento

com práticas e valores do modelo manicomial.

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Sobre essa análise as autoras Silva e Moura (2015) consideram que

essa forma de enxergar o sofrimento psíquico, através da Reforma Psiquiátrica,

interferia de certa forma nas relações de poder de caráter neoliberais. Isso

ocorria por causa das lutas pela conquista dos direitos das pessoas egressas

em instituições psiquiátricas, tendo como principal questionamento a crítica a

estigmatização da loucura. “A Reforma em questão objetivava que as pessoas

em sofrimento psíquico vivessem com qualidade de vida, sendo reconhecidas

na sociedade como cidadãos dotados de direitos” (SILVA; MOURA, 2015,

p.110).

O sentido de doença, então, passa a ser diferenciado, deixando de ser

considerada doença mental e passa a ser vista como questão de saúde mental.

Foi pensando nisso, que buscou-se reformular o atendimento, que nos dias

atuais está baseado na ação comunitária integrando o contexto familiar e

social.

O processo de desinstitucionalização provocou consideráveis mudanças quanto à rede de saúde, principalmente, na rede de atenção à saúde mental em muitos Estados e municípios do país. Apesar dos avanços identificados a partir da criação dos serviços substitutivos, na perspectiva de romper com o modelo manicomial, já na entrada dos anos 1990, tal política passa a sofrer os rebatimentos da investida neoliberal que ganha notoriedade na abordagem da política econômica do Brasil. (SILVA; MOURA. 2015, p. 111).

Diante dessa conjuntura geradora de perdas para as políticas sociais,

em que há uma desresponsabilização do Estado quanto à garantia dos

serviços sociais, bem como das respostas destinadas à questão social

mediante as políticas sociais, tal contexto acarreta, ainda, repercussões

demasiado danosas para o mundo do trabalho.

O neoliberalismo busca uma flexibilidade no processo de trabalho que

segue a linha da desregulamentação dos direitos trabalhistas e sociais. Um dos

fenômenos que marcaram a década de 1990, foi o processo de globalização

que trouxe mudanças importantes nas relações sociais, vale destacar: as

transformações no processo de reprodução da força de trabalho e na

reorganização do mercado. Diante disso, salientamos que o neoliberalismo

sempre redireciona para o corte de gastos sociais, desativação dos programas

e a redução da participação do Estado em sua responsabilidade. Dessa forma,

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afirmamos que a política neoliberal, com seu ajuste, não afeta somente a

economia, mas redefine o campo político institucional e as relações sociais.

(BEHRING, 2011).

Os reflexos da redução do Estado frente à influência neoliberal, na qual

persiste a redução orçamentária por parte do governo em gerir os serviços

sociais, afeta a política de Saúde Mental, enquanto novo modelo assistencial

proposto pela Reforma Psiquiátrica. Baseado nessa afirmação, observa-se

aberturas para o setor privado, com o ideário de obtenção de lucro através da

comercialização da saúde.

A desresponsabilização do Estado incide não somente sobre a

diminuição dos serviços prestados, mas também, na assistência à população

usuária da rede de saúde mental. Com isso tem-se, o incentivo a utilização de

medicamentos para o tratamento de pessoas com transtorno mental

ocasionados pelos danos referentes as formas de atendimentos precarizados

devido ao corte de gastos. “A busca da medicalização através da indústria

farmacêutica e do tratamento baseado em remédios como saída para o

atendimento em massa”. (SILVA; MOURA, 2015 apud BARBOSA, 2006, p. 91-

92).

Sobre as relações de trabalho, as referidas autoras fazem as seguintes

análises:

(...) a precarização ocorrida nas relações de trabalho na contemporaneidade, compatíveis com as formas de desresponsabilização do Estado, refletem no âmbito da política de saúde mental. Silva (2010) destaca que tal cenário não tem promovido as condições necessárias para que os trabalhadores da referida política possam desenvolver a assistência proposta pela Reforma, naqueles espaços em que a mesma deve ser operacionalizada. (SILVA; MOURA, 2015, p.111)

A redução da participação do Estado, quanto ao custeio das condições

necessárias para a efetivação da política de saúde mental, recebe influência

direta das ideias neoliberais, objetivando manter a ordem social estabelecida

pelo capitalismo. Dentro dessa perspectiva, os gastos sociais são considerados

desnecessários comprometendo, assim, o desenvolvimento da política

supracitada.

Essa conjuntura afeta fortemente as políticas sociais, não seria

diferente no campo da saúde mental, haja vista que essa situação está

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deixando os usuários diagnosticados com transtorno mental desprovidos de

meios de amparo social e de benefícios para o seu bem-estar físico, mental e

social.

Dentro do contexto neoliberal há o desmonte das políticas públicas, de

maneira que são impostos limites à atuação dos/as profissionais, à medida em

que a realidade atual propõe que aconteça a redução dos gastos sociais.

“Não se consubstanciam direitos sociais sem políticas públicas que os concretizem e liberem indivíduos e grupos tanto da condição de necessidade quanto do estigma produzido por atendimentos sociais descomprometidos com a cidadania. ” (POTYARA, 2011. p.99).

A sociedade confere poderes exclusivos ao Estado para que o mesmo

exerça a garantia de direitos sociais, apesar de fazê-lo de forma limitada cabe

a ele essa função.

Dentro da historicização da precarização da Política de Saúde Mental,

estão os vínculos trabalhistas, sendo estes, em grande escala, instituídos por

meio de contratos temporários. Isso reflete, também, nas formas de

atendimento ao público usuário.

Portanto, a discussão aqui abordada é fundamentada a partir da

objetivação de que a política de saúde mental, partindo da sua construção

jurídico-formal até a sua concretização, está inserida na sociabilidade

capitalista de tal maneira que recebe influências determinadas pelas

condicionantes conjunturais sócio-históricas em que vivemos.

O Brasil vivencia hoje uma forte crise em sua economia, que está

gerando grandes agravos para as políticas públicas. Estamos sentindo isso não

só no aumento dos preços de bens de consumo, mas, também, em diversos

setores que necessitam de investimentos para sua funcionalidade.

Com base no que aqui foi problematizado, percebe-se a necessidade

de olhares mais atentos a essa política e ao seu processo de desenvolvimento

no país. Considerando que a Política de Saúde Mental passa por momentos de

desafios que geram problemas para a efetivação dos seus avanços, tendo em

vista o contexto histórico atual, representado por um cenário, em que o capital

busca se recuperar da crise estrutural de seu sistema.

3.2. Legislação e Saúde Mental no Brasil

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A Política de Saúde Mental no decorrer da última década, passou por

importantes e significativas transformações, evoluindo em definitivo passando

do modelo Hospitalocêntrico, para um modelo de atenção diversificada, de

base territorial comunitária.

É dever de honestidade conceitual e política reconhecer que esse

consenso político ainda não se encontra plenamente refletido no conjunto da

atenção em saúde mental do SUS, pois continua sendo despendido parcela

significativa dos seus recursos com a área hospitalar. Mas, o rumo da Política

de Saúde Mental, que será abordada no presente subitem, dentro do conjunto

de normas legais reguladoras, é evidente, e aponta para a contínua expansão

e consolidação desta rede de atenção extra-hospitalar.

Segundo os autores Bardálio e Júnior (2013, p.376) para a história da

saúde mental, durante seu processo histórico, a loucura é encontrada como a

frequente identificação do sujeito tido como “louco” tratado como diferente,

como o não tolerável pela sociedade cuja a ideia era de excluir quem não fosse

tido como “normal”.

Sempre existiu o temor da sociedade com relação ao desconhecido, o receio quanto a essa pessoa que se expressa de forma confusa, com comportamentos peculiares, e muitas vezes, perturbadores da ordem pública, sem que pareça ter noção dos danos que possa provocar ou do esforço que se faz no sentido de conter ou minimizar os seus atos. (BARDÁLIO; JÚNIOR, 2013, p.376).

A sociedade, para programar ações efetivas relacionadas às pessoas

consideradas “estranhas” passou a selecioná-los, levando em consideração a

dificuldade estabelecidas sobre os limites da normalidade, em paralelo ao

comportamento humano.

Ainda de acordo com Bardálio e Júnior (2013), a legislação de Saúde

Mental no Brasil acompanhou as transformações do pensamento sobre a

loucura, desde o momento em que as ideias sobre psiquiatria passaram a ser

questionadas pela corrente antipsiquiátrica.

O principal questionamento dessa corrente, estava baseado no

conhecimento científico da psiquiatria convencional, alegavam fragilidades nas

próprias bases que fundamentavam a existência da doença mental.

(BARDÁLIO; JÚNIOR, 2013, p.378).

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Para esses teóricos, a loucura não era doença, mas um reflexo do desiquilíbrio social e familiar do meio onde o indivíduo se encontra inserido, devendo o empenho em sua cura se localizar nessas causas, excluindo as disfunções orgânicas tão propagadas (...) (BARDÁLIO; JÚNIOR, 2013, p.378).

No período da década de 1960, a cidade italiana de Trieste,

protagonizava as primeiras organizações políticas de Reforma Psiquiátrica, que

se alastraria por vários países nas décadas seguintes, inclusive pelo Brasil.

Seu principal incentivador foi Franco Basaglia, que não optou pela negação da

doença, e propôs a reformulação do estudo relacionado a psiquiatria9. Com

base nisso, os referidos autores ainda trazem a reflexão de que:

(...) desenvolveu-se ao doente mental a sua identificação enquanto cidadão, haja vista que essa identificação lhe foi tirada quando de seu tratamento em instituição asilar, quando adquiriu o estigma de incapaz, perigoso ou antissocial. Essa inovação da metodologia empregada se fez por meio do Hospital-dia, que permitia a continuidade da inserção do indivíduo em seu meio social e familiar na constância do tratamento. (BARDÁLIO; JÚNIOR, 2013, p.379).

Como já aprofundado no subitem 2.3 da presente pesquisa, a realidade

brasileira vivenciou o desenrolar da Reforma Psiquiátrica a partir da década de

1970, em meio a crescentes organizações políticas de alguns setores da

sociedade com intuito de lutar pela redução da repressão a liberdade individual

traduzido em manicômios.

Além disso, procurou-se uma nova perspectiva de modelo assistencial,

que promovesse a saúde mental, ao invés de direcionar a ação apenas no que

já existia, ou seja, no desequilíbrio psíquico já instalado. (SILVA; MOURA,

2015, p.110).

Em 1989, o Congresso Nacional brasileiro recebe o projeto de lei do

Deputado Petista do Estado de Minas Gerais, Paulo Delgado, “[...] propondo a

regulamentação dos direitos das pessoas com transtornos mentais e a extinção

dos manicômios do país”. (BARDÁLIO; JÚNIOR, 2013, p.380).

Também é imprescindível problematizar a lei 8.142/90 que regulamenta

a participação da sociedade civil na gestão do SUS, como um grande ponto

das mudanças no Sistema de Saúde. A partir dessa legislação foram criadas

9Segundo os autores Bardálio e Júnior (2013).

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duas instâncias colegiadas expressas nas Conferências de Saúde e nos

Conselhos de Saúde. Sobre as conferências de saúde, o Ministério da Saúde

(2007) afirma que elas são realizadas a cada quatro anos com a representação

dos vários segmentos sociais e tem por objetivo avaliar a situação de saúde da

população, analisar os avanços e retrocessos do SUS e propor as diretrizes

para a formulação da política de saúde de modo geral.

Em primeiro lugar, garante a representação dos seguintes segmentos: governo, prestadores de serviços, profissionais de saúde e usuários. Em seguida, define a paridade da composição de usuários em relação aos demais segmentos. Isto significa que 50% do número total de conselheiros será de representantes dos usuários enquanto que os outros 50% será de representantes dos demais segmentos. Neste caso, o Conselho Nacional de Saúde recomenda que as vagas sejam distribuídas da seguinte maneira: 25% para trabalhadores de saúde e 25% para prestadores de serviços públicos e privados. (DEPARTAMENTO DE SAÙDE, 2014)

Com base nos dados acima apresentados, é cabível afirmar que

participação dos cidadãos no controle social deve ser vista pela ótica dos níveis

de concessão dos espaços de poder e, portanto, pela sua maior ou menor

ruptura com a estrutura tradicionais e autoritárias. Pois, configura-se a

possibilidade de os cidadãos assumirem um papel relevante no processo de

dinamização da sociedade, e vem reforçar o exercício de um controle mais

permanente e consistente dos usuários na gestão das políticas públicas,

sustentando no acesso à informação sobre as reais condições das políticas

sociais, em especial da saúde.

Por isso, o controle social e a participação dos cidadãos aproximam-se

das necessidades da comunidade tendo em vista a identificação das

comunidades e a melhoria das intervenções no âmbito da saúde através do

planejamento participativo das ações a serem realizadas pelo serviço de

saúde, contribuindo dessa forma para a implementação do SUS pautada nos

seus princípios.

Mediante a essa problematização, é relevante trazer a reflexão sobre o

ano de 1992, em que os movimentos sociais, por inspiração ao Projeto de Lei

de Paulo Delgado, conseguem aprovar em diversos Estados do Brasil as

primeiras leis que preconizavam a substituição progressiva dos leitos

psiquiátricos, por uma rede de atenção à saúde mental. Depois desse período,

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a política do Ministério da Saúde para a saúde mental começa a modificar

paulatinamente os contornos do atendimento psiquiátrico. (ROSA, 2008, p.26).

Entende-se ser de grande importância trazer pontos da legislação

complementar estadual de São Paulo aprovada no ano de 1995 n° 791/95

sobre o código de saúde, que aponta disposições em seu Artigo 33 dedicando

uma seção a saúde mental:

Artigo 33 - No tocante à saúde mental, o SUS, estadual e municipal, empreenderá a substituição gradativa do procedimento de internação hospitalar pela adoção e o desenvolvimento de ações predominantemente extra-hospitalares, na forma de programas de apoio à desospitalização que darão ênfase à organização e manutenção de redes de serviços e cuidados assistenciais destinada a acolher os pacientes em seu retorno ao convívio social, observados, ainda, os seguintes princípios: I - Desenvolvimento, em articulação com os órgãos e entidades, públicas e privadas, da área de assistência e promoção social, de ações e serviços de recuperação da saúde de pessoas acometidas de transtorno mental e sua reinserção na família e na sociedade; II - A atenção aos problemas de saúde mental, em especial os referentes à psiquiatria infantil e à psicogeriatria, se realizará, basicamente, no âmbito comunitário, mediante assistência ambulatorial, assistência domiciliar e internação de tempo parcial, de modo a evitar ou a reduzir, ao máximo possível, a internação hospitalar duradoura ou de tempo integral; III - Toda pessoa acometida de transtorno mental terá direito a tratamento em ambiente o menos restritivo possível, o qual só será administrado depois de o paciente estar informado sobre o diagnóstico e os procedimentos terapêuticos, e expressar seu consentimento; IV - A internação psiquiátrica será utilizada como último recurso terapêutico, e objetivará a mais breve recuperação do paciente; V - Quando necessária a internação de pessoa acometida de transtorno mental, esta se dará, preferentemente, em hospitais gerais; VI - A vigilância dos direitos indisponíveis dos indivíduos assistidos será realizada de forma articulada pela autoridade sanitária local e pelo Ministério Público, especialmente na vigência de internação psiquiátrica involuntária. (BARDÁRO; JÚNIOR, 2013, p.380).

Dinis e Matheus (2013) afirmam que foi com o advento do SUS, que a

saúde pública protagonizou vários fatores de mudanças, e as duas últimas

décadas assistem à efetivação da reforma da Assistência psiquiátrica do Brasil.

Sobre esses acontecimentos os referidos autores expõem que:

Em 1990 é criada a Coordenação Geral de Saúde Mental (CGSM), no lugar da Divisão Nacional de Saúde Mental, que até aquele momento exercia funções de planejamento de campanhas de saúde mental e manutenção de alguns hospitais psiquiátricos públicos. A CGSM passa a efetivamente coordenar a política de saúde mental do país e,

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potencializada pela emergência do SUS, implanta ações de grande impacto no sistema público de saúde, como redução de leitos em hospitais psiquiátricos e o financiamento de serviços na comunidade. (DINIS; MATHEUS, 2013.p.21 apud BORGES e BAPTISTA, 2008).

Já no ano 2000, datada mais especificamente em 11 de fevereiro,

destaca-se a Portaria GM (Gabinete do Ministro) n° 106. De acordo com os

autores Bardáro e Júnior (2013) foi a que instituiu os serviços prestados pelas

Residências Terapêuticas, as quais recebiam os portadores de transtornos

mentais advindo de internações psiquiátricas de longa permanência, e que já

não haviam mais vínculos sociais e familiares.

Sobre as residências, foram pensadas como uma modalidade

assistencial substitutiva de internação psiquiátrica prolongada. Foi estabelecido

que a medida que fossem feitas transferências pacientes do Hospital

Especializado para o serviço de Residência Terapêutica, seriam amenizados o

credenciamento com o SUS, bem como o número de leitos nos hospitais

psiquiátricos.

Segundo Souza (2012, p.13), foi somente em 6 de abril de 2001 que a

lei federal n.º 10.216, de autoria do Deputado Paulo Delgado, foi sancionada no

Brasil. O aparato legal “(...) dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas

portadoras de transtornos mentais” (SOUZA, 2012, p.13). De maneira que

redireciona o modelo assistencial em Saúde mental.

Com a promulgação da Lei 10.216/2001 passou a existir a

possibilidade de oferta de tratamento em “Serviços de Base Comunitária”, para

atendimento, reabilitação psicossocial e integração social fora da unidade

hospitalar, mas não foi claramente instituído com a finalidade de extinguir

progressivamente as instituições psiquiátricas.

A promulgação da Lei federal n.º 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da lei n.º 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental que a Política de Saúde Mental do governo federal, alinhada com as Diretrizes da reforma Psiquiátrica, passa a se consolidar, ganhando maior sustentação e visibilidade. (BARDÁRO; JÚNIOR, 2013, p.382).

São muitas as leis que possibilitam as transformações na Saúde

Mental desde a década de 90 até os dias atuais. Entre elas também se

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encontra a lei federal n.º 10.708, de 31 de julho de 2003, preconizando o

auxílio-reabilitação, que garante o acompanhamento dos usuários acometidos

por transtorno mental. Esse auxílio faz parte de um programa de

ressocialização dos pacientes internados em hospitais psiquiátricos

denominado de “De volta para casa” coordenado pelo Ministério da Saúde.10

Ainda sobre o processo das legislações que norteiam a saúde mental

no Brasil, conforme os autores Bardáro e Júnior (2013, p. 384). Temos:

A portaria n.º 52, de 20 de janeiro de 2004 institui o Programa anual de Reestruturação da Assistência Psiquiatra Hospitalar no SUS – 2004.propõe que o processo de mudança do modelo assistencial deve ser conduzido de modo a garantir uma transição segura, onde a redução dos leitos hospitalares possa ser planificada e acompanhada da construção concomitante de alternativas de atenção no modelo comunitário.

E, também, o Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar:

(...) o Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS (PRH); a instituição do Programa de Volta Para Casa e a expansão de Serviços como os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas, permitiram a redução de leitos psiquiátricos no país e o fechamento de vários hospitais psiquiátricos (BARDÁRO; JÚNIOR, 2013, p.384).

Com isso se consolida a Reforma Psiquiátrica como política de

Governo, conferindo aos Centros de Atenção Psicossocial – CAPS o valor

estratégico para mudança do modelo de assistência, e que passou a defender

a construção de uma política de saúde mental, também, para os usuários de

álcool e outras drogas, estabelecendo o controle social como garantia do

avanço da Reforma Psiquiátrica no país.

Os CAPS são os principais equipamentos de referência em Saúde

Mental do SUS, regulamentados pela portaria MS/GM n.º 336, de 20 de

fevereiro de 2002 e pela portaria MS/GM n.º 2.841, de 20 de setembro de

2010). E que estão inseridos em uma Rede, como vemos na citação abaixo:

(...) atualmente a ênfase das políticas públicas em saúde mental do Sistema Único de Saúde – SUS é a construção da Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, regulamentada pela Portaria n.º 3.088, de 23

10Reflexão sobre a legislação de Saúde Mental abordada por Bardáro e Júnior (2013).

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de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, como integrante das Redes Regionais de Atenção à Saúde – RRAS definidas pelo decreto n.º 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei Orgânica da Saúde (lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990). (BARDÁRO; JÚNIOR, 2013, p.382).

De acordo com a autora Rocha (2012) surgimento dos CAPS e

Ambulatórios reafirmam os avanços no campo dos direitos humanos aos

usuários com diagnóstico de transtorno mental, isso através de tratamentos

terapêuticos que promovam a saúde mental dos mesmos.

“A portaria 224/92 estabelece as diretrizes e normas do atendimento

em ambulatórios, Centros e Núcleos de Atenção psicossocial, normas de

internação e leitos psiquiátricos”. (ROCHA, 2012.p.24). Sobre o atendimento

ambulatorial a portaria define que a atenção à saúde:

(...) deverá incluir as seguintes atividades desenvolvidas por equipes multiprofissionais: - atendimento individual (consulta, psicoterapia, dentre outros); - atendimento grupal (grupo operativo, terapêutico, atividades socioterápicas, grupos de orientação, atividades de sala de espera, atividades educativas em saúde); - visitas domiciliares por profissional de nível médio ou superior; - atividades comunitárias, especialmente na área de referência do serviço de saúde. (ROCHA, 2012, p.24 apud Portaria 224 de 1992).

Portanto, a normatização desses serviços leva em consideração a

variedade de atendimentos em saúde mental que são assegurados como

reflexo das demandas proporcionadas pela Reforma Psiquiátrica. Os

ambulatórios passam a ser parte importante na composição da rede de baixa e

média complexidade, “atendendo o doente mental em seu território e

comunidade, sob a perspectiva de sanar e administrar os problemas mentais

com psicotrópicos, aliados a terapias e políticas sociais [...]”. (ROCHA, 2012,

p.24).

A legislação é o aparato de extrema importância no processo de

construção da Política de Saúde Mental. Ela propõe a defesa dos direitos dos

indivíduos acometidos por transtornos mentais, bem como o direito ao

tratamento e a proteção contra a discriminação e marginalização econômica.

Nessa perspectiva, considera-se a lei como produto da Política de Saúde

Mental e como parte estratégica para consolidação dessa Política. (DINIS;

MATHEUS, 2013 apud WHO, 2003).

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Além da defesa dos direitos, a legislação é responsável pela regulação

do sistema de atendimento em saúde mental, com base em seu financiamento,

credenciamento dos técnicos e serviços, padrões mínimos de qualidade, entre

outros.

Uma das principais estratégias no Brasil para se implementar a política de saúde mental passa pela regulamentação do sistema, por meio do arcabouço normativo dentro do SUS. O Ministério da Saúde publicou, de1990 a 2010, 68 portarias versando sobre a área de Saúde Mental: regulamentação dos serviços, formas e valores no financiamento, criação de programas e grupos de trabalho. (DINIS; MATHEUS, 2013 apud BRASIL, 2004)

Com o surgimento da chamada epidemia de crack – droga derivada da

cocaína – fez com que surgissem campanhas de combate ao uso de drogas,

impulsionada a partir de 2009. A partir desse momento, o crack entra

definitivamente na agenda política, estando presente nos meios de

comunicações, em debates e eventos relacionados a saúde e segurança

pública. Graças a estas campanhas, o discurso contra a reforma da falta de

leitos psiquiátricos ganhou força, especialmente através da pressão dos

psiquiatras, desta vez sob o argumento da necessidade da criação de novos

leitos e centros especializados em saúde mental para tratar os usuários de

drogas. (SOUZA, 2012, p.16).

Inseridos na questão de saúde mental, estão os usuários de álcool e

outras drogas e as políticas públicas voltadas para redução de danos causados

por substâncias psicoativas, normatizados pela legislação n° 11.343/2006.

Temos a instituição do SISNAD (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre

Drogas), tal sistema prevê medidas para a prevenção do uso indevido, atenção

e reinserção dos usuários e dependentes de drogas.

Essa lei é o marco jurídico que reconhece as diferenças entre usuários,

a pessoa em uso indevido, o dependente e o traficante de drogas, com

tratamento diferenciado, porém sem descuidar e negligenciar os mecanismos

de repressão ao tráfico. Vejamos alguns pontos importantes da lei, que deram

um novo norte ao paradigma sobre o uso dessas substâncias:

Art.5° O SISNAD temos seguintes objetivos: I – contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torna-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso

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indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamento correlacionados; III – promover a integração entre políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal e Municípios; §1° As medidas submetem-se quem para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas a preparação de pequena quantidade de substâncias ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

A presente legislação pressupõe que os usuários e dependentes, não

estarão sujeitos a privação de liberdade, os mesmos passarão a cumprir

medidas socioeducativas aplicadas pelos Juizados Especiais Criminais. É aqui

que entra o papel do Estado na formulação de políticas ou programas sociais

que atendam a essa demanda.

Antes da promulgação da lei supracitada, os sujeitos eram vistos como

uma ameaça à sociedade. Com isso, eram restritos a ações policiais, quase

sempre violentas, e também submetidos a encaminhamentos a hospitais

psiquiátricos como pessoas com transtorno mental. Com essa nova lei, o

usuário processado por posse de drogas para o uso próprio deverá ser

encaminhado a uma instituição que definirá um projeto terapêutico grupal e

individualizado, como medida de ressocialização e para redução de riscos e os

danos que afetam a saúde desses indivíduos.

Nesse contexto, torna-se claro a urgência e emergência para com as

questões referentes aos indivíduos que fazem uso abusivo de substâncias

psicoativas. Mesmo estando bem longe de um Estado de Bem-Estar Social, o

Estado através da reforma psiquiatra trouxe alguns ganhos com equipamentos

de saúde mental (CAPS) para os usuários que necessitam de tratamento em

todo o território nacional.

As políticas voltadas para a saúde mental vêm se configurando com

uma grande importância na sociedade, visto que tivemos avanços no que diz

respeito a essa área. Dentre outras políticas, hoje a população pode usufruir do

serviço de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS ad. No âmbito

jurídico existem leis e portarias que normatizaram diretrizes para a criação e o

funcionamento desses. O Relatório Anual do CAPS (2014) revela que:

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A Lei 10.216/2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. A Lei indica uma direção para a assistência psiquiátrica e estabelece uma gama de direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; regulamenta as internações involuntárias, colocando-as sob a supervisão do Ministério Público, órgão do Estado guardião dos direitos indisponíveis de todos os cidadãos brasileiros. (RELATÓRIO ANUAL DO CAPS AD PARNAMIRIM/RN 2014).

Diante desse cenário, a pessoa acometida por transtorno mental passa

a ter direito às melhores possibilidades de tratamento, como preconiza a

Constituição Federal de 1988, quando afirma que a saúde é direito universal,

devendo ser realizado com humanidade e respeito. Também lhes é assegurado

a proteção contra qualquer forma de exploração e o direito de receber as

informações necessárias sobre sua doença. Cabe aos profissionais da Saúde,

autoridades públicas e poder judiciário zelar pelo direito desses sujeitos.

De acordo com a lei federal n.º 10.216/2001 em seu primeiro Artigo,

Art.1. ° Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e o grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Em qualquer das internações psiquiátricas, seja ela compulsória, com

determinação judicial ou nas internações de modo geral, a constatação de

qualquer tipo de transtorno mental deverá passar pelo cumprimento da lei

acima citada.

O artigo 4° dessa mesma (Lei 10.216/2001), também, expressa o

redimensionamento do modelo de assistência á saúde mental, elencando como

prioridade a reinserção social do sujeito no meio social a qual pertence,

explicitando o fim das internações eternas e do enclausuramento da loucura.

“Art. 4º A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. § 1º O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. ”

A rede de saúde mental no Brasil, atua de maneira articulada e

comunitária, para prestar, de forma eficaz, os atendimentos necessários as

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pessoas diagnosticadas com transtorno mental. Sendo responsabilidade do

Estado o desenvolvimento da Política de saúde mental, na promoção de ações

que contribuam no tratamento desses sujeitos, devendo ser prestadas em

instituições de saúde mental que ofereçam assistência nessa área.

No tocante as ações desenvolvidas na área de atenção à Saúde

Mental, temos a inserção do Serviço social, elaborando ações para que haja a

viabilização dos direitos dos usuários dos Serviços psiquiátricos. Como será

problematizado no subitem a seguir.

3.3. Serviço Social e sua relação com a Saúde Mental

Existe, dentro da categoria profissional, o discurso reproduzido pelo

senso comum pautado na ideia de que o Serviço Social perpassando a Saúde

Mental, se trata de uma temática nova, por isso, encontram muitas dificuldades

ao atuar nesta área. Muitos Assistentes sociais não se sentem alicerçados

metodologicamente. Entretanto, esta ideologia é historicamente contestável e,

por outro lado, as origens de tantos dilemas podem estar relacionadas ao fruto

de uma herança história que marca a atuação desses profissionais.

Rocha (2012), traça um breve histórico que determina a inserção do

Serviço Social na Saúde Mental. Com base nisso, foi a partir da década de

1940, possivelmente por ser um período que marca a “consolidação da

formação profissional e de chegada dos primeiros agentes profissionais ao

mercado de trabalho no Brasil” (ROCHA, 2012.p.34).

O modelo histórico do Serviço Social na área psiquiátrica brasileira é muito diferente da estuniense. No Brasil, o Serviço Social começou como assistência aos trabalhadores para “amenizar” a relação entre capital e trabalho, através da intervenção nas refreções mais imediatas da “questão Social”, tais como fábricas, previdência, assistência social (BISNETO, 2011 apud IAMAMOTO e CARVALHO,1998).

Nesse período, o Serviço Social de forma imediata passou a integrar a

lista de profissões da área da saúde. Entretanto, ainda não constituiria o

quadro de profissionais a atuarem na psiquiatria, pois era vista como campo de

atuação separada no Serviço Social, isso consequentemente estava

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relacionado à baixa demanda de assistentes sociais trabalhando

exclusivamente com a saúde mental. (BISNETO, 2011, p.21).

Segundo Vasconcelos (2008) após o período de formação dos/as

primeiros Assistentes sociais. As escolas de Serviço Social, passaram a tentar

inserir esses profissionais nos hospitais psiquiátricos, com a função direcionada

ao atendimento na área de Assistência Social. Sua atuação caracterizou-se

como porta de entrada dos hospitais psiquiátricos, com traços de

subalternidade:

(...) aos médicos, e à direção da instituição, atendendo prioritariamente as suas demandas por levantamentos de dados sociais e familiares dos pacientes e/ou de contatos com os familiares para preparação para alta, de confecção de atestados sociais e de realização de encaminhamentos, em um tipo de prática semelhante, porém mais burocratizada e massificada (...) (ROCHA, 2012 apud VASCONCELOS, 2000, p. 187)

Neste sentido, destaca-se as dificuldades de discussões burocráticas,

superficiais e assistencialistas da época, devido a insuficiência de aporte

teórico referente à inserção do/a Assistente Social no campo da saúde mental.

As intervenções aconteciam de forma acrítica, sem nenhum tipo de

questionamento sobre a forma de atuação da instituição em sua totalidade e,

também, sobre as intervenções profissionais em sua totalidade.

Para Rocha (2012) o objetivo do trabalho profissional não estava

direcionado na reflexão sobre as condições objetivas para a reabilitação

psicológica dos sujeitos diagnosticados com transtorno mental, todavia, existia

a culpabilização das famílias pela situação em que eles viviam. Por outro lado,

“os relatórios sociais serviam, em muitos dos casos, para legitimar internações

irresponsáveis fruto de interesses econômicos presentes na medicina

mercantilizada” (ROCHA, 2012, p. 34-35).

Dessa maneira, as justificativas para a internação ou a continuidade da

mesma, estavam condicionadas em conformidade com a situação de pobreza

em que se encontravam os usuários. A pobreza era associada como a principal

barreira para um possível retorno do indivíduo ao âmbito familiar. O trabalho

do/a Assistente Social estava centrado nos interesses da medicina

mercantilizada, proporcionando a legitimação das práticas manicomiais

existentes nesse período.

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As práticas profissionais não colocavam como objetivo a mudança de concepção, do contexto e da prática profissionais dentro da instituição como um todo, nem tinham uma proposta de reabilitação psicossocial efetiva que abrangesse o conjunto das dimensões existenciais e sociais do usuário. (ROCHA, 2012 apud VASCONCELOS, 2000, p. 188)

Diante desde processo, caracterizado pelo Serviço Social conservador,

a psicologização11 das relações sociais marca a prática profissional no cenário

brasileiro, isto é, o foco é direcionado a culpabilizar o sujeito e a adaptação à

ordem estabelecida. Segundo Siqueira (2014, p. 243)

A ordem social, para ser preservada na sua normalidade, deve enfrentar essas formas de patologias e desajustes. A pobreza é aqui concebida como uma patologia, como um desajuste, que deve ser curado, extirpado do organismo saudável. O indivíduo (pobre), responsável pela sua situação de “desajuste”, de “patologia”, deve ser “refuncionalizado”, “curado” da sua condição, como forma de devolver a normalidade ao sistema.

No período pós-64 temos a primeira direção para a renovação do

Serviço Social - perspectiva modernizadora, através dela o Serviço Social

tentou afastar-se do senso comum, da filantropia e de sua vinculação com a

Igreja católica. Um esforço para adequar a profissão, já que possui como um

de seus objetos de atuação a intervenção inserido no arsenal de técnicas

sociais e estratégias a serem utilizadas no decorrer do desenvolvimento

capitalista.

É a esta concepção desenvolvimentista que se conecta a perspectiva renovadora configurada nos documentos de Araxá e Teresópolis: o processo de desenvolvimento é visualizado como elenco de mudanças que, levantando barreiras aos projetos de eversão das estruturas socioeconômicas nacionais e de ruptura com as formas dadas de inserção na economia capitalista mundial, demanda aportes técnicos elaborados e complexos – além, naturalmente, da sincronia de “governos” e “populações” -, com uma consequente valorização da contribuição profissional dos agentes especializados em “problemas econômicos e sociais.” (NETTO, 2010, p. 166-167)

11O fenômeno da psicologização diz respeito a uma prática de buscar explicações e soluções

de todos os problemas, numa perspectiva direcionada a uma abordagem clínica individualizada, não se levando em conta a realidade de inserção social e familiar dos sujeitos. (BEAUTHENEY,2016) “(...) desviando o enfoque da transformação social para a transformação individual como meio de soluções de problemas”. (BISNETO, 2011, p. 54)

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Porém, afirma Netto, (2010) que essa perspectiva, não era uma

tendência contestadora da ordem vigente e do tradicionalismo que

influenciavam o Serviço Social. O que lhe confere peculiaridade é a nova

fundamentação para tornar a profissão legitimada, identificando o papel e os

procedimentos cabíveis para a atuação dos profissionais.

A atuação dos assistentes sociais, com base nos apontamentos

levantados por Rocha (2012.p.36).

(...) caracterizou-se por ajustar os indivíduos ao modelo de desenvolvimento social do ciclo autocrático, sendo o assistente social um profissional privilegiado para reproduzir o binômio que caracterizou este ciclo: repressão x assistência. Este fato serviu para legitimar o status quo, contribuir para a neutralização dos conflitos e, principalmente, culpabilizar os indivíduos pelas mazelas do desenvolvimento tardio do capitalismo, assim, a proposta de trabalho era caracteriza pelo ajustamento e manipulação em prol da adaptação dos sujeitos à ordem estabelecida.

A emergência da autocracia burguesa na década de 60 marca o início

de profundas mudanças na saúde mental e, também, na categoria profissional

dos/as assistentes sociais. De imediato, houve a diminuição da visibilidade

social dentro dos hospitais psiquiátricos, por outro lado, a partir de experiências

de países como Inglaterra e Estados Unidos, foram criadas várias

Comunidades Terapêuticas pelo Brasil. Segundo Vasconcelos:

Durante o período militar, com a repressão aos dispositivos de luta e participação política mais ampla na sociedade, a relativa pouca visibilidade social dentro dos muros dos hospitais psiquiátricos e a influência de experiências internacionais anteriores e do projeto pioneiro da Clínica Pinel de Porto Alegre (VASCONCELOS, 2008, p. 189).

Historicamente, essas comunidades, surgiram com o propósito de

tratamento de neuroses acometidas por soldados ingleses, combatentes de

guerra. Nesse período, a terapia era centrada em abordagens de cunho

educativo, peças teatrais e debates sobre variadas temáticas. Tudo isso dentro

deum ambiente de convivência grupal. (DAMAS, 2013, p.12).

Na mesma década, de 1950, as Comunidades Terapêuticas foram

pensadas como alternativa ao tratamento manicomial com contribuição do

Serviço Social.

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Neste sentido, representavam o embrião de práticas questionadoras da psiquiatria clássica, que apostavam em uma aliança com os familiares para construir uma rede de acompanhamento externo, e, por outro lado, mas não dissociado, investindo na democratização e humanização das práticas hospitalares, estimulando a criação de espaços coletivos de participação. Neste processo o Serviço Social teve importante contribuição na intervenção junto aos familiares dos internos e uma maior complexidade técnica, advinda do movimento de modernização da profissão, fortemente embasada no domínio de técnicas. (ROCHA, 2012, p.36)

Contudo, apesar de seu surgimento ser proposto como alternativa ao

modelo manicomial, muitas delas facilmente passaram a adotar o asilamento,

característicos do modelo Hospitalocêntrico.

Nessa mesma década, Rocha (2012) aponta que durante a ditadura foi

ampliado o número de manicômios, impulsionado pela centralização e

privatização da área da saúde, fortalecendo assim a “indústria da loucura”.

Houve a abertura de clínicas privadas mantidas pelo INAMPS. Esse

movimento trouxe rebatimentos no âmbito do Serviço Social, pela possibilidade

de maior inserção de Assistentes Sociais no mercado de trabalho, o que se

consolidou no ano de 1973.

(...) é a partir de 1973 – quando o INPS enfatizava a importância da equipe interprofissional para a prestação de assistência ao doente mental, numa de suas tentativas de melhorá-la - que se abriu um maior espaço para o Serviço Social nas Instituições Psiquiátricas. (BISNETO, 2011 apud SOUZA, 1986, p. 118).

Nessa perspectiva, a inserção do/a profissional, Assistente Social, na

saúde mental passou a reproduzir a lógica imposta pela autocracia burguesa.

Ainda segundo Rocha (2012), eram profissionais demandados para inserir e

compatibilizar os setores da sociedade civil à modernização conservadora do

Estado, responsáveis por mediar conflitos sob a ideia de silenciar a classe

trabalhadora sobre a dicotomia repressão versus assistência.

A atuação do Serviço Social em saúde mental é marcada por uma forte indefinição teórica, oriunda da dificuldade do aporte teórico construído pela perspectiva modernizadora em responder às crescentes expressões da questão social e, principalmente, na perspectiva de pensar o fazer profissional em um campo fortemente marcado pela subjetividade, recaindo, sempre e recorrentemente, na psicologização das relações sociais, embora, neste momento, a profissão é demandada pelo Estado para efetivação das crescentes políticas públicas, que tinham por objetivo conter as massas. (ROCHA, 2012, p. 37).

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É importante destacar, também, que o exercício profissional foi

fortemente orientado pelas lógicas de atuação de caso, grupo e comunidade,

modelos de intervenção sob influência do desenvolvimentismo - fenomenologia

e marxismo, influências tradicionais e emergentes - quando a profissão

mantinha uma linha tecnicista (BISNETO, 2011, p. 58) elaborando estratégias

para amenizar conflitos e controlar o cotidiano das classes. Os profissionais

passaram a atuar também em estabelecimentos filantrópicos, privado e

conveniados além dos manicômios estatais já existentes desde a década de

1940.

Conforme Bardaro e Júnior (2013) não se pode desconsiderar os

avanços, até mesmo aqueles oriundos das comunidades terapêuticas, que

possibilitaram a inspiração da transformação de paradigmas profissionais a

partir da década de 1980. Estas experiências acabaram proporcionando uma

influência ao Serviço Social, garantindo o envolvimento político e

comprometimento com o processo de transformação institucional; levantando

questionamentos sobre subalternidade profissional e, também, sobre a divisão

do trabalho em saúde mental, com fortes tendências ao trabalho

interdisciplinar.

No bojo dessas mudanças sinalizadas no trabalho do Serviço Social em Saúde Mental, devemos levar em conta que as possibilidades de avanços numa perspectiva de crítica das práticas profissionais são influenciadas pelo movimento de resistência democrática à ditadura, que, dentre inúmeras denúncias, publicizavam, no cenário nacional, a “indústria da loucura”. Este movimento estabelece relações com o processo de reforma sanitária através do questionamento da política de saúde da ditadura, isto é, há uma confluência na convicção de que o modelo curativo, mercantilizado da saúde era impossível de responder às demandas da população. (ROCHA, 2012, p.38)

Portanto, a análise sobre o avanço e profissionalização do Serviço

Social no âmbito da saúde mental, aponta que devemos sempre manter vivo o

contexto de críticas ao regime e modelo de sistema vigente de obtenção de

lucro através da exploração da classe trabalhadora.

A reorganização da política de Saúde mental no Brasil, abarcou

importantes mudanças no trato da atenção ao paciente com transtorno mental

e na rede de serviço disponibilizada e, a partir dessas mudanças, é

imprescindível fazer o elo com o movimento de reconceituação do Serviço

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Social articulado ao surgimento de instituições e modelo de atenção

direcionado a esse público usuário.

No campo da Saúde Mental a década de 1990 inaugurou um novo modelo de atenção, no qual o foco de atuação não estava centrado na patologia, mas sim no sujeito e no seu ambiente de vida, portanto, há uma ruptura com a psiquiatria clássica. Neste processo de quebra dos paradigmas da psiquiatria tradicional, as práticas profissionais voltam-se para além da patologia, ou seja, a medicina deixa de ser central na Saúde Mental - embora o paradigma da superioridade deste campo do saber precisa ser cotidianamente combatido -, há o reconhecimento de que o processo de reabilitação do doente mental não se dá somente na relação médico-paciente, com o foco na doença cura. (ROCHA, 2012, p. 39)

Consequentemente, a reabilitação do indivíduo deixou de ser vista

como uma patologia suscetível a tratamento, mas sim, o tratamento do sujeito

não só no plano subjetivo. Devido a essa nossa perspectiva alterou-se o termo

para tratamento Psicossocial.

Sobre esse processo, a autora Rocha (2012) levanta a discussão de

que a partir desse momento, o Serviço Social na psiquiatria deixou de ser a

profissão com características de subalternidade à categoria médica, e passa a

ter seu espaço sócio-ocupacional, o que abriu margem aos profissionais

utilizarem técnicas de investigação das condições objetivas da vida do usuário

com transtorno mental, deixando de lado o método de culpabilização dos

sujeitos.

Com isso foi possível potencializar e integrar políticas públicas que

respondessem as demandas, com garantia das condições objetivas de saúde

aos usuários das Políticas de Saúde Mental.

Ao construir o paradigma da reabilitação psicossocial em detrimento do paradigma da patologização dos indivíduos, a reforma psiquiátrica parte do reconhecimento de que a dimensão social da vida dos indivíduos é um aspecto central em sua reabilitação psicológica ou psiquiátrica, ou seja, reconhece-se que os modos de vida, os ambientes de vivências e as condições sociais dos sujeitos podem favorecer a reabilitação ou, por outro lado, acirrar ainda mais o sofrimento mental. (ROCHA, 2012, p.40)

As experiências do cerceamento devido as internações manicomiais,

baseadas na exclusão/ desumanização, provou de forma negativa que os

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ambientes e os determinantes sociais influenciam em grande parcela na

recuperação dos pacientes.

Como já foi abordado no item 2.3 do presente trabalho, as

transformações no âmbito da Política de Saúde Mental foram fortemente

impulsionadas pelo Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental, portanto,

exige novas posturas profissionais, que estejam de acordo com o novo modelo

de atenção proposto.

A construção desse novo modelo de atenção, é caracterizado como

descentralizado, em que o manicômio deixa de ser o aparato central da rede de

serviços, o que vai demandar cada vez mais profissionais comprometidos com

os princípios conquistados através da reforma psiquiátrica brasileira fortemente

capazes de contribuir para a materialização da política de saúde mental.

Somente resgatando a integralidade da seguridade, é possível

responder os reflexos da questão social em suas diversas determinações, isto

é, com a articulação da assistência, saúde e previdência podemos atender às

demandas postas pelos sujeitos e romper com a fragmentação das políticas

públicas. Conforme com Bisneto (2003, p.115) apud Rocha (2012):

(...) este movimento enfatiza a importância da reabilitação social dos portadores de sofrimento mental, por meio de programas nas áreas de trabalho, habitação, lazer (práticas que não são especificamente “psi”), ressaltando a necessidade de se estabelecer uma cidadania efetiva para o usuário de Saúde Mental: os aspectos sociais são essenciais para um serviço integralizado de assistência

Diante desses aspectos, cabe abordar o processo de transformação

vivenciada pelo Serviço Social, para então, pensar se a saúde mental pós-

reforma é um espaço sócio-ocupacional do/a assistente social, considerando

as mudanças vivenciadas na política e na profissão.

A década de 1980 é apontada como um momento único para a

profissão, em que ocorre a ruptura com as bases conservadoras que

perpassavam toda a história do Serviço Social. Certamente, apenas com a

clareza acerca do projeto profissional hegemônico da profissão em âmbito

brasileiro avançaremos na problematização sobre o trabalho profissional na

área da saúde mental.

Sobre a perspectiva de intenção de ruptura, Netto (2010) argumenta

que a proposta era de um projeto profissional com a perspectiva teórica de

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superação e crítica radical das práticas profissionais conservadoras, muito

presentes no Serviço Social desde sua gênese. As crises que afetaram o

regime autocrático perpassaram o Serviço Social, que devido à sua inserção na

divisão social e técnica do trabalho, acabou se aproximando dos movimentos

sociais e dos setores críticos da classe trabalhadora.

Este fato deve-se, em grande medida, pela ocupação do cenário nacional ao longo da década de 1980 por estes movimentos, que, ao exigir do Estado ampliação de sua intervenção no campo dos direitos, colocava indiretamente à profissão questionamentos acerca de seu posicionamento ético-político. A expressão deste amplo movimento popular que permeava a sociedade brasileira manifesta-se nas greves operárias do ABC Paulista na década de 1980, amplificadas em greves gerais, desembocando no processo constituinte de 1989. Este contexto certamente contribuiu para a hegemonização da perspectiva de intenção de ruptura, para uma crítica radical ao trabalho profissional e para a construção de um projeto profissional afinado e comprometido com os interesses da classe trabalhadora. (ROCHA, 2012, p.42)

Com base nisso, o fato acima apresentado é fortemente impulsionado

pelo movimento de reconceituação do Serviço Social latino-americano;

proporcionado pelo retorno das obras marxistas às universidades, pelo contato

dos profissionais com a população usuária “[...] através da clássica prática da

década de 1970 do desenvolvimento de comunidade; pelo contexto

efervescente que perpassa toda a década de 1980”. (ROCHA, 2012, p. 42).

Neste sentido, o processo de renovação do Serviço Social possibilita a

reformulação das bases teórico-práticas, ético-políticas e teórico-metodológicas

do trabalho profissional como unidade indissolúvel e articulada, o rompimento

com o conservadorismo que sempre esteve presente na história do Serviço

Social. Passando a levantar uma ampla crítica teórica as correntes de

pensamento que eram subsídio para a atuação do/a assistente social: a

fenomenologia, positivismo e o humanismo cristão.

Portanto, o projeto profissional marxista apresenta a possibilidade de

uma sociedade antagônica à capitalista, ou seja, vincula-se a categoria

profissional aos interesses da classe trabalhadora, buscando contribuir

historicamente para a superação da dominação.

O projeto profissional no Brasil reconhece a dimensão contraditória das demandas que se apresentam à profissão, expressão das forças sociais que nelas incidem: tanto o movimento do capital, quanto os direitos, valores e princípios que fazem parte das conquistas e o

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ideário dos trabalhadores. São essas forças contraditórias, inscritas na própria dinâmica dos processos sociais, que criam as bases reais para a renovação do estatuto da profissão conjugadas à intencionalidade de seus agentes. (...) O Serviço Social é reconhecido como uma especialização do trabalho, parte das relações sociais que fundam a sociedade do capital. Estes são, também, geradoras da questão social em suas dimensões objetivas e subjetivas, isto é, em seus determinantes estruturais e no nível da ação do sujeito, na produção social, na distribuição desigual dos meios de vida e do trabalho, nas suas objetivações políticas e culturais. (ROCHA, 2012 apud IAMAMOTO, 2008, p. 182: Grifos da autora)

A renovação profissional permitiu que os profissionais interpretassem

corretamente a funcionalidade do seu trabalho dentro da sociedade capitalista,

ou seja, o reconhecimento de que os assistentes sociais são demandados pelo

Estado que atende aos interesses do capital, para a execução e formulação

das políticas sociais que, dentro dessa sociabilidade serve para reproduzir a

exploração da força de trabalho.

As materializações destas mudanças se manifestam no Código de

Ética dos/as assistentes sociais (1993), nas Diretrizes Curriculares (1996) e na

Lei de Regulamentação da Profissão (1993). Estas legislações integram o

projeto profissional em suas dimensões ético-política, teórico-prática e técnico-

operativa, atribuindo a este projeto um direcionamento marxista.

Uma marca na trajetória do Serviço Social é a Associação Brasileira de

Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) antiga Associação Brasileira

de Serviço Social - ABSS. Tem se caracterizado como um processo

democrático representado pela participação intensa dos indivíduos que

possibilitam a construção da formação profissional, através de debates

enraizados nas unidades de formação acadêmica. Vem sendo assim, desde a

elaboração do currículo mínimo de 1982 que trouxe a afirmação da nova

direção social hegemônica na formação acadêmica desses profissionais12.

O projeto profissional procura absorver as transformações societárias

protagonizadas pelo Brasil ao longo da década de 1980, reordenando o

trabalho profissional, separando as respostas profissionais dos interesses de

12O que culminou na elaboração das Diretrizes Curriculares para a graduação em Serviço

Social, aprovada pela categoria em 1996 e aperfeiçoado pela Comissão de Especialistas em documento de 1999, bem como a aprovação da Política Nacional de Estágio (PNE) em 2012. Disponibilizado pelo Portal da ABEPSS em: http://www.abepss.org.br/historia

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seu empregador e vinculando-se aos interesses históricos da classe

subalterna.

De acordo com Barroco, a perspectiva de intenção de ruptura

consolidou:

(...) a negação da base filosófica tradicional, nitidamente conservadora, que norteava a ética da ‘neutralidade’, e afirmação de um novo perfil técnico, não mais um agente subalterno e apenas executivo, mas um profissional competente teórico, técnica e politicamente. (BARROCO, 2009, p. 200).

Com base nos estudos Iamamoto (2008), a autora Rocha (2012) afirma

que o projeto profissional crítico que surge com a hegemonização da

perspectiva de intenção de ruptura, contribuiu para consolidar um novo

direcionamento ao trabalho profissional, de maneira que rompe com o

conservadorismo que marcava a profissão, levando em consideração, as

seguintes mudanças:

um novo trato teórico aos instrumentais utilizados pela categoria profissional, rompendo com a utilização das técnicas de forma burocrática, para dominação, fiscalização e enquadramento dos indivíduos; um novo direcionamento teórico de compreensão da realidade, negando as inspirações de origem positivistas e humanistas-cristãs, comprometidas com a reprodução da ordem burguesa; uma nova compreensão acerca dos valores, de suas origens e sua universalidade, resultando na construção de uma ética profissional radicalmente crítica no campo valorativo e material, aprofundando as mediações com valores ontológicos, coerentes com o projeto societário da classe trabalhadora.

Sendo o Serviço Social uma profissão inscrita na divisão socio-técnica

do trabalho, inserida na teia de relações sociais, possui princípios e parâmetros

que norteiam o fazer profissional, podemos citar o primeiro princípio, que trata

da relação profissional que o mesmo tem que estabelecer com os usuários,

com outros profissionais e com todos os indivíduos na luta para que haja

“reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas

políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos

indivíduos sociais”. (CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL, 1993,

p.121).

A profissão fundamentada nos princípios éticos-políticos, tem em vista

a luta por direitos sociais, busca a construção da cidadania e autonomia dos

usuários, estimulando a integração social e familiar. Por isso, torna-se

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indispensável a atuação desse profissional em todas as áreas, principalmente

para a de saúde mental.

Pensar a atuação do/a assistente social na referida área exige uma

análise do contexto social, econômico e político que o país vive. O modo de

produção é capitalista, onde o direito é uma arena de conflitos. Contexto de

regressão de direitos, de políticas focalizadas e seletivas, em que as políticas

públicas sofrem rebatimentos do estado neoliberal. As políticas públicas,

sociais, lutas de classes são exemplos de mediações.

A autonomia do profissional é tensionada pela compra e venda da força

de trabalho especializada, donde é chamado para responder as demandas de

forma imediata, prejudicando assim a análise crítica da realidade. Sendo

assim, a profissão se configura e se recria dentro das relações entre o Estado e

a sociedade civil, com as particularidades, determinantes de ordem

macroestruturais. Iamamoto assinala que:

Assim, as alterações que incidem no chamado “mundo do trabalho” e nas relações entre o Estado e a sociedade- que têm resultado em uma radicalização da questão social-, atingem diretamente o trabalho cotidiano do assistente social. O trabalho profissional, é, pois, parte do trabalho coletivo produzido pelo conjunto da sociedade, operando a prestação de serviços sociais que atendem a necessidades sociais e realizando, nesse processo, práticas socioeducativas, de caráter político-ideológico, que interferem no processo de reprodução de condições de vida de grandes segmentos populacionais alvos das políticas sociais. (IAMAMOTO, 2015, p.23).

É imprescindível entendermos que a “Questão Social” está

intrinsicamente relacionado com a relação capital/trabalho. Várias são as

expressões dela, por exemplo, a pobreza, é tida como responsabilidade do

indivíduo, é tida como fenômeno natural dissociada do contexto macro. Ainda

por cima, presenciamos diariamente a marginalização da pobreza. O

tratamento do Estado dado à “Questão Social” resume-se a problemática de

ordem individual, moral e psicológica. Netto (1996) afirma que:

As contradições do sistema capitalista não podem ser resolvidas somente por meio da prática dos assistentes sociais e que a questão social não é objeto privativo dessa categoria profissional. Contudo, o que define a especificidade do Serviço Social em relação à questão social é a sua apreensão como decorrência da contradição entre o capital e o trabalho. Hegemonicamente, os assistentes sociais entendem que, para a construção de uma sociedade sem desigualdades, é preciso transformar a ordem social capitalista e,

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para isso ocorrer, é necessária a união dos trabalhadores em torno dos seus interesses de classe.

Sobre a problemática da “questão social” e o Serviço Social, Santos

(2012) afirma que:

“O movimento por meio do qual o debate da “questão social” se consolidou entre assistentes sociais aponta o essencial dessa conceituação, ou seja, o fato de a “questão social” resultar das relações de exploração do trabalho pelo capital. Entretanto, por ser a variável que provoca as respostas da classe dominante no contexto do capitalismo dos monopólios, pela via das políticas sociais, fica clara a necessidade de ampliar a compreensão em torno da “questão social” considerando-a também em suas dimensões histórico-concretas”. (SANTOS, 2012, p. 432-433).

Para Iamamoto (1983), o capitalismo surgiu com suas contradições

inerentes a sua continuidade, entre elas estão: o discurso da igualdade e a

realização da desigualdade. Traz, também, a afirmação de liberdade do

indivíduo e a igualdade dos direitos e deveres dos cidadãos, estas foram às

condições para que obtivessem um bom funcionamento da economia de

mercado.

Se de um lado temos promessas de igualdade e suas contradições de

desigualdade, por outro temos a desigualdade inerente pela organização da

sociedade assentada em relação de poder e exploração, que se dá pela classe

dominante (capitalista) que desde sua gênese passou a explorar a força de

trabalho dos sujeitos desprovidos dos meios de produção.

Iamamoto (1983) ainda traz a análise sobre os Serviços Sociais que

são prestados à população, dentro uma perspectiva neoconservadora,

apresentam-se como uma forma de devolver ao trabalhador o valor por ele

criado, e que foi apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, eles poderão ser

públicos ou privados.

Aparecem como boas ações advindas do poder público e do capital,

como forma de mostrar uma face humanitária do capitalismo. Tais serviços

representam a consolidação da conquista da classe trabalhadora, sua

generalização trouxe o reconhecimento da cidadania dos operários na

sociedade burguesa.

Entretanto, ainda existem motivos para continuar as organizações

políticas da classe pauperizada, como por exemplo: a defesa de salários reais,

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direito à educação, saúde, cultura, moradia, mais emprego etc. Essas

reivindicações ao serem absorvidas pelo Estado e pela classe patronal,

passam a ser devolvidas aos trabalhadores em forma de benefícios indiretos,

que são organizados por instituições assistenciais, porém de forma burocrática

e sob controle do Estado.

São serviços que favorecem o trabalhador até determinado ponto, por

um lado, se configura como resultado das suas conquistas, por outro lado, eles

passam a ser organizados pela classe dominante, que faz uso de instrumentos

políticos para o reforço do seu poder frente ao conjunto da sociedade para

mediar conflitos e manter a classe subalterna controlada e gerando lucro para o

capital.

(...) cuja mentalidade é moldada por valores aristocráticos combinados ao que há de mais conservador em termos do imperialismo mundial, a lógica de valorização do capital comanda muito mais uma reestruturação organizacional do que produtiva e tecnológica. O objetivo primordial é a remoção do obstáculo representado pelo trabalho organizado e o reforço à sua precarização via redução de direitos e aumento do desemprego. (SANTOS, 2007, p.27)

Aliado ao neoliberalismo, percebe-se que essa conjuntura afeta

fortemente as políticas sociais, não seria diferente no campo da Saúde Mental.

Considerando que essa situação deixa os usuários dessas políticas

desprovidos de meios de amparo social e de benefícios para o seu bem-estar

físico, mental e social. Como estudamos na disciplina de Política Social,

durante o período letivo de 2014.1, dentro do contexto neoliberal há o

desmonte das políticas públicas, de maneira que são impostos limites a

atuação dos profissionais, à medida em que a realidade atual propõe que

aconteça a redução dos gastos sociais e a precarização das políticas públicas.

Iamamoto (2010), vem trazendo em suas análises, que a assistência

está situada no campo contraditório, em que temos a afirmação e negação

doas direitos. A assistência do estado não contribui para o processo de

emancipação das classes sociais. A autora argumenta que existem propostas

de críticas ao neoliberalismo, mas que as críticas não apresentam um

aprofundamento que aborde a luta de classes e a hierarquização das classes

sociais bem como uma possível mudança das relações de poder na sociedade.

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E o assistente social, enquanto trabalha com as políticas públicas,

sendo o Estado o seu maior empregador, o mesmo vai responder aos

interesses do capital, pois sua situação também é de trabalhador assalariado,

de um vendedor de força de trabalho, que encontra limites para a sua atuação.

Sua autonomia irá depender das suas possibilidades, necessidades, suas

condições de trabalho, das demandas do seu empregador, vão interferir na sua

autonomia, no significado social da profissão.

4. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E OS SUJEITOS ENVOLVIDOS:

ENTENDENDO OS FATORES QUE OCASIONAM O FENÔMENO DA

EVASÃO ENTRE ADOLESCENTES DO CENTRO DE ATENÇÃO

PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – CAPS AD/

PARNAMIRIM-RN

Após esse breve apanhado histórico, político, social e econômico

vinculados aos processos de lutas para a melhoria das políticas de Saúde

Mental no território Brasileiro, desde a década de 1930 até os dias atuais, nos

ateremos a problemática proposta no decorrer do presente capítulo.

4.1. Histórico Institucional e caracterização do público usuário do

CAPS ad Parnamirim/RN

De todas as Instituições referidas no subitem 2.2, a partir de agora,

trataremos de analisar aquela em que estive inserida enquanto estagiária de

Serviço Social. Trata-se do CAPS ad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e

outras Drogas), de natureza pública municipal, que atende à demanda

populacional da cidade de Parnamirim no Estado do Rio Grande do Norte.

Conforme preconizado na Portaria 336/GM, datada em 19 de fevereiro de 2002, que veio atualizar as normas da Portaria nº 224/92, em consonância com as diretrizes do SUS, os Centros de Atenção Psicossociais tornam-se legalmente o sistema alternativo de tratamento para os portadores de transtornos mentais. Ademais, a Portaria nº 224/92 indica e recomenda a liberação de leitos para pacientes portadores de transtornos mentais em hospitais gerais de referência. (SANTOS, 2010, p.10).

Segundo Santos (2010), junto ao desenvolvimento econômico e

crescimento populacional a cidade Trampolim da Vitória, também assim

denominada, apresenta os reflexos negativos dessa ascensão como outras

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tantas cidades do Brasil e do mundo. Dentre esses está a drogadição muito

vinculada a “Questão Social”.

A Lei Municipal 1.430/2009 autorizou a criação da Rede que atende o

dependente químico no município, a partir de então iniciou-se a mobilização de

ações e estratégias para trazer a cidade uma política voltada a redução de

danos ocasionados pelo uso de substâncias psicoativas. Além disso, foi

organizado um matriciamento, no qual participaram 2.214 (dois mil, duzentos e

quatorze) pessoas entrevistadas por Agentes de Saúde (AGS) no decorrer de

junho a outubro do ano de 2009.

Através dessa iniciativa foi possível mapear e identificar o perfil dos

usuários de Serviços de Saúde Mental. Com as informações em mãos poderia

se ter uma ideia sobre a média do consumo de drogas lícita e ilícitas no

território Parnamirinense. Vejamos no gráfico:

GRÁFICO 3: PERFIL DOS USUÁRIOS DO SERVIÇO DE SAÚDE

MENTAL

Santos (2010) apud Relatório do Matriciamento em Parnamirim/RN (2009).

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Vejamos através da leitura do gráfico o alto índice de consumidores

psicotrópicos em Parnamirim/RN. O que fez com que os órgãos públicos

buscassem a implementação do CAPS ad com o objetivo de enfrentamento a

problemática.

O projeto para essa finalidade foi enviado em junho de 2009 para o

Ministério da Saúde afim do recebimento de recursos federais necessários.

Sabe-se que mesmo após a intervenção do Ministério Público determinando

que fosse executado o Projeto tanto do CAPS ad quanto do CAPS i, esse

último tratava-se de uma Organização Não Governamental - ONG que recebia

apoio financeiro e Humano da Prefeitura, eles só vieram receber a verbas

federais no mês de março de 2010.

Parnamirim está localizada na região metropolitana de Natal (Capital

do Rio Grande do Norte), com população de 202.456 (duzentos e dois mil,

quatrocentos e cinquenta e seis) habitantes (IBGE, 2014). Salienta-se que o

município de Parnamirim se inclui nas condições de implantação do

equipamento de saúde mental- CAPS ad, preconizado pelo Ministério da

Saúde, Portaria 336/GM, em 19 de fevereiro de 2002. Logo abaixo temos a

localização Geográfica da Instituição destacado em vermelho.

Fonte: www.parnamirim.rn.gov.br

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A missão do CAPS ad é justamente disponibilizar atendimentos diários

a pessoas que sofrem com transtornos mentais, decorrentes do uso abusivo de

álcool e outras drogas, oferecendo cuidados clínicos e reabilitação

psicossocial, dentro de uma perspectiva individualizada de evolução contínua.

Elabora ações tanto para atendimentos individuais quanto grupais (terapêuticos

e operativos), realiza oficinas terapêuticas e visitas domiciliares.

O serviço tem como objetivo a garantia de tratamento para pessoas

com transtornos comportamentais decorrentes da dependência química que

apresentam danos físicos e psíquicos, além de riscos sociais promovendo o ser

humano em toda a sua complexidade, trabalhando a superação do estigma da

dependência química e contribuindo com a reflexão dos usuários, sobre a

retomada da cidadania como um processo de reconstrução social e familiar.

O CAPS ad foi fundado no dia 04 de março de 2010 na referida cidade,

no início o logradouro era a Rua Luiz Soares da Câmara, n° 8, no bairro

Passagem de Areia, com o atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às

16h. Suas atividades eram direcionadas apenas ao público adulto usuários de

álcool e drogas.

No mesmo ambiente funcionavam o CAPS i (Centro de Atenção

Psicossocial Infantil), o CAPS ad (Adulto dependente do Álcool e outras

Drogas), CAPS iad (Infantil e adolescente-usuários de Álcool e outras Drogas)

e CAPS II (Transtorno-Adulto). Com o surgimento das dificuldades ligadas ao

espaço físico, as atividades eram organizadas da seguinte forma: nas

segundas, terças e quartas-feiras eram feitas marcações de consultas e

encaminhamentos para outras instituições, nas quintas e sextas-feiras

aconteciam as atividades terapêuticas, acolhimentos, atendimento médico,

reuniões e encaminhamentos.

Em 2013, especificamente no mês de maio, houve a transferência do

CAPS ad para o bairro Liberdade, Rua Tomaz Antônio Gonzaga, 251. Os dias

de funcionamento foram mantidos até a conjuntura atual e houve a inserção do

público adolescente ao serviço. Hoje os adultos são atendidos na parte da

manhã, das 8h às 12h e os adolescentes das 13h às 16h, ambos de segunda a

sexta-feira. Atualmente, a equipe é composta por profissionais de nível

superior: 1 Médico Psiquiatra, 1 Clínico Geral, 1 Assistente Social, 1

Coordenadora Técnica, 1 Educador Físico, 1 Pedagoga, 1 Psicóloga, 1

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Terapeuta Ocupacional, 1 Enfermeira, 2 Nutricionistas e, também, de nível

médio, uma Técnica de Enfermagem, Artesã, Auxiliar de Serviços Gerais,

Cozinheira, um Monitor, Motorista e Porteiro.

Conforme o Art. 4º da Portaria 336/GM, alínea “d” propõe que o CAPS

ad funcione com uma equipe de profissionais de nível superior, são eles:

Psicólogo, Assistente Social, Enfermeiro, Terapeuta Ocupacional, Pedagogo ou

outro profissional necessário ao projeto terapêutico.

O CAPS ad é uma instituição pública, subordinada à Secretaria de

Saúde do Município de Parnamirim/RN, coordenado pela Estratégia de Saúde

da Família e Gerência de Saúde Mental do município, está entre as 3

instituições de saúde Mental existentes na cidade.

A instituição realiza encaminhamentos movimentando a Rede

Socioassistencial do Município, cabe aqui citar as Unidades Básicas de Saúde

- UBSs. Lá, os usuários são atendidos para consultas odontológicas,

preventivos com relação a saúde da mulher. São também encaminhados para

os Centros de Referencias de Assistência Social - CRAS e para a Secretaria

Municipal de Assistência Social.

No Centro Clínico de Referência (CCPAR), os usuários encaminhados

pelo CAPS ad são atendidos em diversas especialidades médicas. E quando

necessitam de medicamentos podem ir até o Galpão da Prefeitura, levando a

receita médica para poder obter o remédio. As receitas podem ser entregues

pelo psiquiatra da instituição, pelo Clínico Geral ou pela Enfermeira. Essa

última pode receitar apenas alguns tipos de medicamentos, só os que são

autorizados, outros apenas o médico registrado no Conselho Regional de

Medicina quem pode prescrever ao paciente.

Além desses encaminhamentos acima citados tem também os do

Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, pois vários usuários recebem

benefícios ou vão em busca de orientações com a Assistente Social da

instituição. Então ela se encarrega dos procedimentos para encaminhá-los até

o órgão da previdência social e também a Secretaria Municipal de Habitação

responsável pelo Programa Minha Casa, Minha Vida.

Sobre a correlação de forças dentro do ambiente de trabalho,

percebemos que sempre houve e sempre haverá conflitos, porque, existe o

pensamento hegemônico capitalista que embasa muitas profissões, o que

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destoa do pensar da profissional do Serviço Social. Deve-se ter unidade no que

diz respeito a matéria de intervenção da equipe no que tange ao

direcionamento das ações de acordo com as diretrizes da política em questão,

sempre na direção dos direitos.

O entendimento sobre as questões relacionadas a temática trabalhada

no CAPS ad e como o usuário deve ser visto será sempre um ponto a ser

confrontado. De acordo com a profissional do serviço social, atuante na

instituição há 6 (seis) anos, o usuário deve ser visto como um sujeito de direitos

e que ela busca pautar seus atendimentos em ações éticas, nos interesses

coletivos, orientando-os na perspectiva da emancipação humana e de ser

protagonista na construção de um novo olhar sobre sua vida e de como se

relacionar com esse “novo” mundo.

Quanto as condições de estrutura é perceptível que há ausência de

outras salas para o atendimento, principalmente, psicossocial que acaba

interferindo de maneira negativa na eficácia dos atendimentos; a falta de leito

para descanso feminino; faltam banheiros melhores estruturados e destinados

a esse público, uma cozinha apropriada de acordo com recomendações da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; faltam mesas para

atendimento nas oficinas; refeitório; material para elaboração das atividades

terapêuticas; uma linha telefônica independente (as ligações têm que ser

solicitadas à secretaria de saúde), entre outros.

Com relação ao repasse de recursos é algo complicado, pois, a

instituição ainda não possui cadastro no Ministério da Saúde. Segundo dados

coletados na referida instituição, quando há necessidade de materiais para que

as atividades aconteçam são feitos memorandos de solicitação, que nem

sempre são atendidos. Então, a equipe mobiliza estratégias de

encaminhamento dos serviços, considerando esses entraves administrativos.

Assim, como preconiza o Ministério da Saúde, o CAPS ad - Parnamirim

possui na sua equipe multiprofissional, o/a Assistente Social. Desde o início do

serviço que apenas uma assistente social faz gozo de seu trabalho na

instituição. A profissional encontra-se lotada como profissional com carga

horária de 40 horas semanais.

O que se observa nesta instituição é um compromisso da profissional

de Serviço Social com a qualidade dos serviços prestados à população, que

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segue a premissa da leitura crítica das demandas, num diálogo horizontal e

respeitoso, humanizada. Logo, uma postura profissional alinhada ao Projeto

Ético-Político da categoria em questão. Segundo Azevedo & Miranda (2010)

CAPS ad tem por finalidade proporcionar atendimento à população, respeitando-se a adstrição do território, oferecendo-lhe atividades terapêuticas e preventivas, tais como: atendimento diário aos usuários dos serviços, dentro da lógica de redução de danos; gerenciamento dos casos, oferecendo cuidados personalizados; condições para o repouso e desintoxicação ambulatorial de usuários que necessitem; cuidados aos familiares dos usuários dos serviços e ações junto aos usuários e familiares, para os fatores de proteção do uso e da dependência de substâncias psicoativas.

Dessa forma, podemos dizer que existem objetivos em comuns, que na

medida do possível se conversam. Pois, existem objetivos profissionais que

são diferentes dos institucionais. Embora a assistente social estabeleça

finalidades ao seu trabalho, as instituições, as políticas públicas, o contexto

macro impõem empecilhos à concretização das finalidades.

A saúde mental é composta por vários dispositivos assistenciais que

proporcionam atenção psicossocial aos pacientes com transtornos mentais. A

Portaria 224/92, estabelece o componente de atenção hospitalar de referência,

que orienta a liberação de leitos para esses pacientes em hospitais, nesse

sentido temos em Parnamirim o Hospital Regional Deoclécio Marques de

Lucena, que deveria disponibilizar leitos para esses pacientes, mas,

oficialmente não o faz. Sendo assim, o Estado disponibiliza leitos do Hospital

Psiquiátrico Doutor João Machado para esse fim e assim, o hospital fica

sobrecarregado com a quantidade de pacientes.

De acordo com o coordenador estadual de saúde mental, psiquiatra

Adriano Araújo (2014), o número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é

insuficiente, pois, o Estado possui apenas 38, tendo em vista que Rio Grande

do Norte tem 167 municípios. Ele acrescenta que,

A melhor cobertura de CAPS está na 7ª Regional de Saúde (Natal, Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo e Extremoz), área que tem mais serviços para tratamento de transtornos mentais, álcool e drogas junto com Mossoró e São José de Mipibu. Na região de Assú só tem um serviço e Angicos e Afonso Bezerra já sinalizaram a abertura de CAPS. Pau dos Ferros tem problema sério de referência e precisa de mais serviços. Na política nacional de saúde mental, o Estado assume o papel de regulador e coordenador das redes da atenção à saúde de modo geral, que inclui a rede de atenção psicossocial. Em curto prazo serão abertos dois leitos pediátricos no Maria Alice

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Fernandes com equipe completa, inclusive com psiquiatras. Em Mossoró, o Hospital São Camilo passou da rede particular para a prefeitura e em Caicó depois da desativação do Hospital Milton Marinho, o CAPS tipo III, com atendimento 24 horas, tem 10 leitos e mais 8 leitos em hospitais gerais.

Segundo Guaraci Barbosa, membro da Associação Norte-Rio-

Grandense de Psiquiatria e do Sindicato dos Médicos do RN, os hospitais

gerais são incapazes de prestar atendimento especializado a pacientes com

transtornos mentais.

Para a caracterização do público usuário enquanto estagiária no ano

de 2015, foi realizado juntamente com a assistente social, uma pesquisa nas

fichas de acolhimento dos usuários, no total foram estudados trinta e quatro

(34) prontuários dos pacientes. A partir da coleta de informações, foi possível

realizar o estudo do perfil socioeconômico da população atendida no CAPS ad,

pertencente ao sexo feminino e masculino, adolescente e adultos residentes

em Parnamirim.

O levantamento de informações revelou-nos a predominância do

público adulto do gênero masculino totalizado em 85%. Os homens têm idade

compreendida entre 19 e 62 anos. Enquanto o feminino é contabilizado em 6%.

As mulheres têm idade compreendida entre 32 a 33 anos. Os adolescentes do

sexo masculino e feminino representam 9%, com idade entre 15 a 17 anos.

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GRÁFICO 4:

Pesquisa realizada no ano de 2015. Dados obtidos através dos prontuários do CAPS ad pela

pesquisadora do presente trabalho.

Um dos dados que chamam atenção é o elevado número de indivíduos

(adultos e adolescentes) que apresentaram ter o Ensino Fundamental

Incompleto em 50%, com idade entre 15 a 60 anos. Os sujeitos que possuem o

Ensino Fundamental Completo representam 9%, com idade entre 36 a 62 anos.

Os usuários que possuem Ensino Médio completo expressam 13%, com idade

entre 49 e 58 anos. Os pacientes que possuem Ensino Médio Incompleto

demarcam 12%, com idade 27 a 53 anos. Os indivíduos que possuem o Ensino

Superior completo são compostos por 3%, na faixa etária de 42 anos. Os não

alfabetizados compreendem a estatísticas em (13%), com idade 33 a 58 anos.

É perceptível que alguns são inteirados, atualizados, participativos, sensíveis e

detêm conhecimentos.

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GRÁFICO 5:

Pesquisa realizada no ano de 2015. Dados obtidos através dos prontuários do CAPS ad pela

pesquisadora do presente trabalho.

Não é difícil entender o alto índice de usuários que não possui

benefício e nem tem ocupação (41%), pois, as drogas em sua maioria tiram a

liberdade e autonomia dos sujeitos para trabalhar e estudar. Muitas vezes, o

preconceito se faz presente quando se busca um emprego e tem-se a

informação de que aquele sujeito faz ou fez uso de substâncias psicoativas,

tudo se complica diante da negativa de trabalho.

Um número bastante expressivo (41%) recebe benefício, seja por

aposentadoria por idade, afastamento do trabalho para tratamento por tempo

indeterminado, poucos recebem o Benefício de Prestação Continuada – BPC,

alguns recebem o auxílio doença e outros o Bolsa Família.

Um número pequeno encontra-se empregado 5%, conseguem conciliar

tratamento e atividade laborativa. Existe um número que não é tão grande,

13%, mas expressa que alguns usuários conseguem alguma atividade

remunerada, mesmo não possuindo uma profissão com registro na carteira de

trabalho, é o chamado trabalho informal, comumente chamado de “bico”, outros

dependem da ajuda de familiares e amigos para subsistir.

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GRÁFICO 6:

Pesquisa realizada no ano de 2015. Dados obtidos através dos prontuários do CAPS ad pela

pesquisadora do presente trabalho.

Todos os usuários são residentes dos bairros do Município de

Parnamirim/RN. Sendo que no gráfico apresentamos um atendimento feito a

uma pessoa do município de Natal. Alguns usuários pegam comprovante de

residência de familiares ou amigos residentes no município, por isso, são

atendidos como se fossem moradores da cidade. Os bairros, do município de

Parnamirim, compreendidos no gráfico são tidos como periféricos afastados do

centro da cidade, onde o índice de criminalidade e uso de drogas crescem

consideravelmente.

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GRÁFICO 7:

Pesquisa realizada no ano de 2015. Dados obtidos através dos prontuários do CAPS ad pela

pesquisadora do presente trabalho.

A pesquisa evidenciou relação familiar satisfatória em 70%. É um

número bastante expressivo, já que se configura como maioria. Mas, temos

que ter cuidado nessa questão, pois, as informações dos usuários são auto

declarativas, por se tratar de um problema tão complexo, e alguns omitem

informações para o técnico que está fazendo a ficha de acolhimento. No

entanto, quando há reunião com os familiares, percebemos que as relações

não são bem harmônicas, como declaram no momento do acolhimento.

O número de indivíduos que disseram não possuir relação familiar ficou

contabilizado em 17%. Entretanto, nem todos podem contar com o apoio da

família nesse momento difícil. Não é novidade afirmar que as drogas afetam de

várias formas a vida do indivíduo, trazendo prejuízos pessoais e

sociofamiliares. Sabemos que com a ajuda da família o processo de tratamento

se torna menos complexo. Abaixo temos o gráfico que revela essas

estimativas:

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GRÁFICO 8:

Pesquisa realizada no ano de 2015. Dados obtidos através dos prontuários do CAPS ad pela

pesquisadora do presente trabalho.

Outro aspecto a ser ressaltado e de grande relevância na vida de

qualquer pessoa é a sua saúde. Podemos observar o grande número de

doenças crônicas decorrentes do uso de substâncias psicoativas em 55% do

público atendido no CAPS ad.

É notável, também, o número de usuários que não possuem doenças

crônicas, representado em 45%. O preconceito, discriminação e estigma aos

usuários são elementos que interferem no acesso ao tratamento, eles são

vistos como perigosos, violentos e únicos responsáveis pela sua condição. Eles

são estigmatizados e isso os excluem do direito ao cuidado à saúde, no sentido

de que muitos usuários sentem desânimo ou medo de sofrerem o estigma pelo

uso de drogas.

Em certos casos, pode haver o estigma internalizado, que se

caracteriza com a concordância da visão negativa da sociedade e estereótipos

negativos a si mesmo. Pode-se afirmar que todo contexto acaba que excluindo

o “cuidado” que todos devem ter não só com a saúde, mas, também,

desconsidera outras questões ou responsabilidades.

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GRÁFICO 9:

Pesquisa realizada no ano de 2015. Dados obtidos através dos prontuários do CAPS ad pela

pesquisadora do presente trabalho.

O público atendido no CAPS ad, usufrui de alguns projetos e serviços.

Os critérios que definem o acesso a eles são os seguintes: ser dependente de

substâncias psicoativas, se for maior de 18 anos será acolhido para fazer

tratamento pela manhã, se for adolescente fará o tratamento à tarde. Eles

podem ser encaminhados pela Justiça, Conselho Tutelar, Centro de Referência

de Assistência Social - CRAS, Centro de Referência Especializada de

Assistência Social - CREAS, Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF,

Unidade Básica de Saúde - UBS, entre outras instituições, além da demanda

espontânea.

Quando o indivíduo chega pela primeira vez ao CAPS ad, de forma

espontânea ou encaminhado, o técnico o convida para conversar em uma sala

reservada, explica o que é, e como funciona a instituição. Depois, explica que

precisa aplicar um questionário e solicita a documentação original e xerox do

RG, Cartão do SUS e comprovante de residência.

O profissional deverá observar como será construído o Projeto

Terapêutico Singular do usuário, a partir daí são feitos os encaminhamentos

para psiquiatra, psicólogos e para as oficinas; é feito o agendamento para os

atendimentos e observa se há necessidade de inseri-lo no serviço de

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transporte do CAPS. Vale salientar que o acolhimento pode ser feito por

qualquer profissional de nível superior, porém, em geral, mesmo quando a

demanda é espontânea, as pessoas vêm ao CAPS ad e solicitam atendimento

com a Assistente Social. Já existe um entendimento entre as pessoas que esse

profissional os irá encaminhar para outras especialidades e outros serviços.

Na instituição, os usuários são divididos em três modalidades:

intensivos frequentam todos os dias, necessitam de atendimento diário; semi-

intensivo frequentam duas ou três vezes por semana, necessitam de

acompanhamento frequente; e não intensivo comparecem apenas para o

atendimento médico, a frequência é menor. Todas as modalidades irão

depender do quadro clínico dos pacientes.

O CAPS ad possui um transporte que faz a locomoção de alguns

usuários (adolescentes, adultos da modalidade intensiva) que moram distante

da unidade e não possuem meios e nem condições de se deslocar para o

acompanhamento terapêutico. Mas, o transporte não atende a toda a demanda

e por isso, existe um rodízio para buscá-los e deixá-los.

Apesar dos esforços para manter o atendimento, atualmente a

instituição vem apontando baixo índice de participação de usuários no

tratamento, em sua maioria o público adolescente não está comparecendo ao

CAPS. Diariamente são recebidos pelos profissionais vários documentos do

Ministério Público solicitando respostas sobre o acompanhamento a esse

público em específico.

Com base nisso, se caracteriza como importante a problematização

sobre as principais causas para que o processo de evasão aconteça no âmbito

institucional, bem como apresentar as medidas que estão sendo

providenciadas para sanar esse fenômeno.

A princípio a proposta geral da presente pesquisa foi analisar as

múltiplas determinações (históricas, sociais, econômicas, culturais e de saúde)

do fenômeno “evasão” dos usuários adolescentes do Centro de Atenção

Psicossocial-CAPS AD Parnamirim-RN.

De maneira a abordar a problematização sobre a política de saúde e o

atendimento em saúde mental no contexto brasileiro da década de 1980 aos

dias atuais, considerando o papel do Estado no exercício das políticas, em

tempos neoliberais. Bem como, historicizar a contribuição do Serviço Social no

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campo da saúde mental, partindo da experiência do CAPS-AD Parnamirim-RN.

Trazer a análise dos serviços prestados pela instituição in lócus de pesquisa

vinculado à Secretaria de Saúde do Município, a articulação com o sistema de

garantia de direitos, seus desafios e perspectivas. Com base nisso, identificar

as múltiplas expressões do fenômeno “evasão”.

Na atual conjuntura do CAPS ad, as hipóteses apontadas pela

pesquisadora são analisadas pelos muitos fatores que podem ocasionar uma

situação de evasão em uma instituição que faz atendimento a usuários em

situações complexas. Acreditamos que isso vem acontecendo devido ao

aumento da violência no município: prisões, assassinatos e ao uso

desenfreado de substâncias psicoativas que por sua vez geram doenças e

podem chegar a causar a morte do indivíduo.

É fato, também, que alguns acabam sendo ameaçados de morte e

buscam esconderijos em outras localidades, com isso há o abandono do

tratamento. Em outros casos tem-se a religiosidade, que de certa forma, se

torna um apoio para que eles deixem o uso das mesmas. Dessa maneira,

acreditam não necessitar mais de tratamento através de medicamentos e das

idas frequentes a instituição, abandonam o serviço e buscam a fé como o

principal meio de amparo. Também existe a possibilidade da falta de interesse

pelo tratamento, pois há preferência por continuar com o uso de drogas sem

nenhum tipo de ajuda.

Possivelmente há aqueles que conseguem encontrar trabalho formal

ou informal e a disponibilidade de tempo não permite que eles compareçam as

oficinas realizadas na unidade. Sendo o CAPS ad criado com intuito de aceitar

demanda espontânea e também pensado para atender os princípios da

Reforma Psiquiátrica, não cabe a nenhum técnico forçar o indivíduo a aceitar

aquilo que ele não quer, e sim levá-lo a conhecer o que a instituição pode

oferecer em termos de Projeto terapêutico.

É possível que o fenômeno da evasão e a falta de adesão ao Projeto

terapêutico individualizado ou em grupo por parte dos usuários, esteja

vinculado a falta de atendimento qualificado e humanizado por parte dos

profissionais não capacitados para atender a demanda.

Para análise das hipóteses acima levantadas, inicialmente foi proposta

a pesquisa teórica trazendo a análise crítica da temática, através do método

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crítico-dialético em Marx, que abre espaço para os métodos de investigação e

de exposição. Sendo assim, a partir da pesquisa de campo pode-se observar

os fatos e o fenômeno da evasão entre adolescentes do CAPS em seu

contexto macro, e refletir por meio da coleta de dados o que ocorre na

realidade a ser pesquisada em conjunto com o aporte teórico que tratam sobre

a temática.

Para que a pesquisa fosse realizada de maneira qualitativa, foram

pensadas, a princípio, algumas visitas a instituição para obtenção de dados

precisos relacionados aos usuários que desistiram do tratamento. Esses dados

foram adquiridos através dos arquivos institucionais inativos obtidos, a partir

dos acolhimentos que foram realizados quando os mesmos procuraram o

CAPS pela primeira vez. Só para constar, esses documentos seriam

analisados pela pesquisadora deste trabalho, com o consentimento da equipe

multiprofissional da instituição.

Após essa primeira etapa, foram realizadas buscas ativas a pelo

menos 6 adolescentes que abandonaram o tratamento com a finalidade de

aplicação de um questionário semiestruturado com perguntas abertas. Essas

buscas seriam feitas com o transporte do CAPS ad e com a ajuda da

profissional do Serviço Social da instituição. Também fora elaborado um

questionário para o pessoal da equipe para saber se estão sendo criadas

medidas para combater o fenômeno da evasão.

Sobre as visitas, a ideia foi levar aos sujeitos um questionário com

perguntas abertas, para ser utilizado em forma de entrevista, em relação à

escolha desse instrumental para a coleta de dados, deu-se pelo fato desta ser

uma técnica que permite uma melhor aproximação entre as pessoas. Porém,

especificamente com o público alvo que escolhi deverá ser realizado de forma

tranquila, tentando manter um parâmetro de conversa formal e informal, para

que eles não se sintam pressionados e nem policiados devido a situação

complexa em que vivem. Seria solicitado a permissão para gravar as

conversas, o que não era esperado êxito quanto a isso, entretanto, para uma

boa pesquisa e coleta de dados é importante estar preparado com um bloco de

anotações para a transcrição do que é dito em entrevistas.

Ao término do processo de visitas e entrevistas, foi dado início a

tabulação dos dados, separando as partes principais que vão de encontro a

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temática proposta, trazendo os principais autores que fazem o debate sobre o

assunto.

A pesquisa foi realizada com sujeitos adolescentes (entre 15 e 17 anos

que não estão comparecendo a instituição), aqueles que foram encaminhados

pelo Ministério Público e que deveriam participar das atividades oferecidas pelo

tratamento especializado, residentes no município de Parnamirim.

4.2. Evasão entre adolescentes do CAPS ad: Suas diversas faces e

implicações

Para a realização da presente pesquisa foi elaborado um questionário

semiestruturado com perguntas abertas, direcionado ao público adolescente.

Neste subitem serão expostos os principais fatores que interferem no processo

de reabilitação psicossocial desses sujeitos, bem como, apontamos ser

relevante trazer as reflexões de alguns autores que tratam da temática

adolescência, álcool e drogas e atenção psicossocial. Devido à complexidade

da temática abordada, e por se tratarem de adolescentes usuários de drogas,

serão utilizados nomes fictícios para preservar a identidade dos mesmos.

De acordo com a Política de Saúde brasileira são adolescentes

aqueles com faixa etária de 10 a 14 anos, adolescentes jovens de 15 a 19 anos

e adultos jovens de 20 a 24 anos. Com base nesses dados é possível a

formulação de ações na área da saúde voltadas para o público em questão.

(FERREIRA et al., 2007).

No atendimento a essa população usuária da área da saúde, em

específico da saúde mental, está o CAPS ad. Portanto, foram sujeitos do

presente estudo 5 (cinco) adolescentes que atualmente não estão

comparecendo ao CAPS ad para as atividades terapêuticas oferecidas pela

instituição. Sendo 3 (três) adolescentes são do sexo masculino e 2(duas)

sendo do sexo feminino, as idades variam entre 15 e 17 anos e 3 (três) se

caracterizam como sendo pardos, 1(um/a) Negra e 1(um/a) branca.

Determinados apontamentos relevantes para a pesquisa não foram

possíveis analisar por se tratar de usuários de drogas em conflitos sociais,

familiares e com a lei. Isso dificultou a apreensão de alguns dados ao que

tange a totalidade dos entrevistados.

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Alguns questionamentos levantados, não quiseram responder ou não

lembravam, outros sujeitos não foram encontrados, porém, foi feita uma

reunião com as mães de dois deles que aceitaram ser entrevistadas, o que

possibilitou a obtenção de dados. Também foram feitas análises das fichas de

acolhimento que os 5 usuários responderam aos técnicos da instituição no

período em que iniciaram o tratamento terapêutico.

A adolescência é um período marcado pelas mudanças e adaptações

que ocorrem na vida do indivíduo, uma fase de transição para a fase adulta. É

um momento caracterizado como crítico, em que há o desenvolvimento de

competências pessoais, aquisição de habilidades e tomada de decisões.

Além disso, trata-se de um momento em que o adolescente busca a

descoberta daquilo que é “novo”, algo que ele possa se identificar, geralmente

isso ocorre com associações a grupos. O consumo de drogas entre

adolescentes vem ganhando amplitude dentro da sociedade contemporânea. A

medida que seu consumo ocorre precocemente, as consequências ou

prejuízos também irão aparecer cada vez mais cedo na vida desses sujeitos.

De acordo com Yasbek (2007), é crescente a violência contra esse público em

específico. A autora ainda afirma que:

Empurradas precocemente pela pobreza crescente em direção ao mercado de trabalho, quando não para a vida na rua, crianças e adolescentes paradoxalmente não melhoram muito os baixos níveis de vida das suas famílias. Sem possibilidades de escolarização e profissionalização, ocupam posições ocupacionais desqualificadas e com baixos salários, situação que muitas obedientemente tendem a reproduzir na vida adulta. Outras acabam por se inserir no mundo da delinquência. (YASBEK, 2007, p.14)

Com base nisso, afirmamos que é direto da criança e do adolescente o

crescimento e desenvolvimento em família, comunidade, longe dos fatores que

proporcionem a violência. Entretanto, sabe-se que muitas crianças e

adolescentes, em todos os lugares do mundo, vivem em situação de rua,

inseridos em um sistema de exploração infantil ou em instituições (abrigos). No

Brasil, por motivos de pobreza e violência, bem como pelas formas

equivocadas de proteção, institucionalizam os sujeitos ao invés de recorrer a

superação da violação (RIZZINI, et al. 2006, p.9).

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De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 277

É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 2012c, s/p).

O aparato constitucional estabelece que as crianças e adolescentes

brasileiros deverão ser protegidos por uma série de normas e legislações

estabelecidas. Sendo, portanto, dever da sociedade e do poder público a

proteção desses sujeitos contra todas as formas de violência.

Referente a pesquisa realizada, trazemos as características gerais dos

pesquisados, o primeiro adolescente a ter sido entrevistado será chamado de

Leo. O garoto tem 15 anos de idade, atualmente reside com a família nuclear

biológica, composta pelos genitores e uma irmã mais nova. Iniciou o uso das

drogas aos 9 anos de idade, e ainda se encontra sob ameaça de morte em

razão de sua relação com o uso de drogas.

O segundo participante da pesquisa, se trata de uma garota que será

chamada de Dany. Dany tem 16 anos, faz uso de drogas desde os 10 anos de

idade. Atualmente reside com a mãe e o padrasto no bairro de Passagem de

Areia no município de Parnamirim. Também, encontra-se sob ameaça de

morte, pelo mesmo motivo do nosso primeiro entrevistado.

Segundo dados levantados pelo Índice de Homicídios na Adolescência

– IHA, com base na pesquisa realizada em 2012, cerca de 42 mil adolescentes,

com idades entre 12 e 18 anos, poderão ser vítimas de homicídios nas cidades

brasileiras que possuam mais de 100 mil habitantes entre os anos de 2013 e

2019.

Tais apontamentos ainda dão conta de que para cada mil pessoas com

12 anos completos no ano de 2012, cerca de 3,32 correm o risco de serem

vítimas de assassinatos antes dos 19 anos de idade. Apresentando um

aumento de 17% em relação a 2011, em que o IHA ficou em torno de 2,84.

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A região Nordeste apresenta maior ocorrência de homicídios contra

adolescentes, chegando a 5,97. Por outro lado, o Sudeste aponta números

bem menores, por volta de 2,25 jovens em cada mil adolescentes.

O IHA aborda, também, a relação do perfil dos adolescentes inseridos

em maior situação de vulnerabilidade social, a pesquisa revela alto índice de

possibilidade do maior número de vítimas de homicídios entre adolescentes

serem negros, cerca de 2,96, sendo esse total duas vezes superior aos

brancos. Relacionado aos adolescentes do sexo masculino, há o índice de

11,92 vezes superior ao das meninas, sendo o principal instrumento utilizado a

arma de fogo.

De acordo com esta 5ª edição do IHA, o Rio Grande do Norte está

entre os estados brasileiros com mais riscos de homicídios entre a população

supracitada. Ele aparece com 6ª colocação no ranking, em que adolescentes

entre 12 e 18 anos encontram-se sob risco de morte. E entre as cidades com

mais de 200 mil habitantes, Parnamirim encontra-se na 12ª colocação, com

índice de 6,81 adolescentes assassinados a cada mil habitantes.

O terceiro adolescente participante da pesquisa será chamado de

David, ele tem 15 anos de idade, mora com a avó paterna e um irmão mais

novo que tem 13 anos. A mãe é falecida e o pai não é participante ativo da vida

do filho. Segundo informações colhidas com a avó do garoto, o mesmo faz uso

de drogas desde os 13 anos de idade.

Devido a dinâmica da vida cotidiana e, também, mediante a

complexidade da temática abordada, não foi possível conversar com David,

como era proposto para a realização da pesquisa. Entretanto, foi organizada

uma reunião com os responsáveis pelos adolescentes, como já dito

anteriormente, com isso foi possível conversar com a avó de David e levantar

alguns questionamentos. O que contribuiu muito com os objetivos do presente

trabalho.

O quarto adolescente com pseudônimo de Félix, tem 15 anos de idade,

reside com a mãe e 1 irmão. Apesar dos pais serem separados o pai

demonstra ser participante ativo na vida dos filhos. Iniciou o uso de drogas aos

13 anos de idade, e os pais só vieram descobrir no ano de 2015.

A quinta e última adolescente pesquisada se trata de Paula, atualmente

com 17 anos de idade. Iniciou o uso das drogas (Tabaco, maconha, cocaína,

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bebida alcoólica, medicamentos e depois Crack) aos 12 anos de idade. A

mesma residia em um abrigo para meninas organizado pela filantropia.

Atualmente mora com sua companheira com a qual mantem uma relação

homoafetiva.

Segundo Montaño (2002), a diminuição da responsabilidade do Estado

frente a “questão social”, mediante a transferência das responsabilidades do

Estado para o “terceiro setor”, identificado como sociedade civil, altera de certa

maneira a orientação e a funcionalidade das políticas sociais.

O questionário referente a presente pesquisa, levou em consideração,

também, a questão da inserção dos pesquisados em Comunidades

Terapêuticas para fins de tratamento. Nenhum deles procuraram as referidas

instituições com esse intuito. Porém, Leo já foi encaminhado pela promotoria

do município a uma delas para que houvesse garantia de proteção a vida do

mesmo.

O período de estágio no CAPS ad proporcionou grandes reflexões.

Dentre elas, o papel do Estado frente as políticas públicas, como já

mencionado anteriormente. As falhas são enormes e os serviços públicos não

dão conta de atender a demanda conforme o que é preconizado pelas

legislações.

Com isso, temos o surgimento de instituições organizadas pela

sociedade civil que atendem usuários de álcool e outras drogas, sobretudo, as

Comunidades Terapêuticas, praticamente todas são despreparadas para lidar

com usuários de álcool e drogas.

A princípio os sujeitos devem pagar uma taxa que pode chegar a 1

salário mínimo para ajudar a manter a unidade que, também, recebe doações.

Quando não possuem nenhum tipo de benefício ou salário também podem

fazer o tratamento lá, porém, isso deve trazer um retorno. Que acontece a

partir do uso da força de trabalho: arrancando mato, limpando a sede da

instituição, organizando plantações e vendendo objetos de consumo em

transportes coletivos e nas residências.

A Reforma Psiquiátrica Brasileira aponta para uma nova concepção de

atenção à saúde mental que possibilite a garantia de nova perspectiva de

atenção psicossocial, que não seja voltada para o modelo de privação de

liberdade.

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A proposta da então reforma psiquiátrica, é um processo de

desinstitucionalização dos sujeitos diagnosticados com transtorno mental e

comportamental, com a inclusão dos usuários de álcool e drogas na

perspectiva de redução de danos físicos e psicossociais causados por essas

substâncias.

Neste sentido, as Comunidades Terapêuticas vão de encontro à Lei

10.216/2001, por ter como principal método o isolamento social, a internação e

por utilizar como premissa o paradigma da abstinência, tida como principal

meio de retirar o usuário das condições de uso de drogas totalmente contrário

ao que prega a Política Nacional de Redução de Danos em álcool e outras

drogas.

Sejam de fundamentação religiosa ou médica, as CT’s têm sido inspiradas num modelo proibicionista, de guerra contra as drogas, centradas no objeto e não no sujeito e violação dos direitos das pessoas em tratamento. Assim, o modelo CT não só é uma afronta à Lei 10.216/2001 e aos anos de construção da Reforma Psiquiátrica Brasileira, mas também ao caráter laico do Estado brasileiro. (CRESS/RN, 2016)

Dessa maneira, o Conselho Regional de Serviço Social do Rio Grande

do Norte – CRESS/RN, aponta a importância de reafirmar que as ações das

comunidades terapêuticas necessitam do entendimento científico sobre sua

eficácia e seu funcionamento. Atualmente elas não oferecem praticamente

nenhum parâmetro de avaliação, fiscalização e controle social. Muitas delas

são administradas por instituições religiosas que pregam a “libertação do uso”

através da abstinência, oração e ocupação da mente através do trabalho.

Questionados sobre o nível de escolaridade, apenas Félix encontra-se

frequentando o ensino regular matriculado no 6° ano do Ensino Fundamental.

Os demais interromperam os estudos ainda no ensino fundamental, apenas

David demonstra interesse em continuar os estudos através do supletivo.

Dados obtidos através do senso do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -

Pnad 2012 demonstram que entre os jovens de 15 a 17 anos, a estatística de

adolescentes que não estudam e nem trabalham chega a 59,6% da população

que se encontram nessa faixa etária.

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Levantado o questionamento sobre a vida laboral dos adolescentes, foi

constatado que 4 deles não exercem atividades trabalhistas. Apenas Paula

está inserida no mercado de trabalho e busca qualificações profissionais

através de cursos disponibilizados pelo o Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego. Sobre isso, o Estatuto da Criança e do

Adolescente preconiza em seu Art. 60 que “É proibido qualquer trabalho a

menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz” e, em seu

Art. 65 “Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os

direitos trabalhistas previdenciários”.

A relação entre baixo rendimento ou evasão institucional e uso de

drogas não é apontado como um debate recorrente na literatura, não da

mesma forma que é a temática da evasão escolar entre estudantes. Nesse

último caso, a exclusão da educação formal pode eliminar a escola enquanto

uma via de acesso as políticas de prevenção às drogas, embora os

adolescentes não percebam a escola enquanto fator de proteção.

Quando é proporcionado a reflexão sobre as causas que podem levar

um adolescente ao consumo de drogas, é imprescindível levar em

consideração, que não são motivos pequenos. Geralmente, existe uma série de

fatores que acabam interferindo no contexto social, familiar, escolar, econômico

e cultural em que o mesmo está inserido. (PRATTA; SANTOS, 2009 apud

Galduróz et al., 1997).

Sobre o início do uso de entorpecentes, a mãe do adolescente Félix

afirmou que quem ofereceu a droga ao garoto foi seu filho mais velho. “Ele foi

quem ofereceu no quintal de casa” (mãe de Félix). Ela ainda relata que só

começou a suspeitar no ano de 2015, após o assassinato do irmão mais velho

de Félix. Nesse mesmo período o garoto passou a apresentar um

comportamento agressivo, tendo em vista, de acordo com a genitora, que ele

sempre foi um garoto tranquilo. Em casa faz uso de cigarro comum em respeito

à presença materna, fora da residência consome maconha.

Já o adolescente Leo, em entrevista, afirmou que o convite para fazer

uso de drogas partiu de um conhecido, porém ele não quis falar muito sobre o

início do uso, e em respeito a situação de vulnerabilidade em que o mesmo se

encontra e pela complexidade do presente estudo, foi preferível evitar o reforço

da pergunta, para que não gerasse desconforto entre as partes, entrevistado e

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pesquisador. Contudo Leo iniciou aos 9 anos de idade com o uso da maconha,

cocaína, cigarro comum e álcool.

No caso de Dany, foram os “amigos” que ofereceram os entorpecentes.

A usuária tem um histórico de vários conflitos com a mãe e o padrasto,

possivelmente esses conflitos familiares podem ter sido um dos fatores que

contribuíram para que ela adentrasse no submundo das drogas.

Com base no relato dos usuários sobre a questão do início do uso de

psicotrópicos, os autores Pratta e Santos (2009) procuram relacionar os fatores

de risco vinculando-os ao abuso de drogas em categorias mais gerais, da

seguinte forma:

a) Fatores Familiares: neste caso são ressaltados aspectos do contexto familiar como história de alcoolismo ou de uso de drogas na família, permissividade ou autoritarismo e conflitos familiares; b) Problemas comportamentais: nesta categoria os autores pontuam aspectos como comportamento antissocial, negativismo, baixa adaptabilidade, impulsividade, agressividade, experiência sexual precoce e problemas de atenção; c) Fatores escolares: neste grupo estão localizados aspectos como repetência precoce, falta de compromisso escolar além da não realização das tarefas escolares solicitadas; d) Amigos/companheiros que utilizam drogas; e) História de abuso sexual; f) Fatores sociais: como fácil acesso às drogas, tolerância ao álcool e às drogas ilícitas, vizinhança desorganizada, deteriorada e superpopulosa. (PRATTA; SANTOS, 2009.p. 33)

Contudo, a relação familiar, em alguns casos, é vista como estímulo

para a busca pela política de redução dos danos causados pelas drogas e o

álcool no organismo por se encontrar fragilizada, segundo os adolescentes,

como decorrência do uso de drogas. Com isso eles, de certa forma, acabam se

culpabilizando pelas desavenças no âmbito familiar, isso pode ser

externalizado através da procura pela instituição, pela aceitação em estar lá

conhecendo como funciona o tratamento.

Dos adolescentes pesquisados 4 deixaram claro, através de entrevista

com a pesquisadora e com os técnicos da instituição, que possuem bom

relacionamento familiar, com exceção de Dany, que enfrenta vários conflitos

com a mãe e o padrasto.

Sobre as famílias trazemos as potencialidades da vida cotidiana

doméstica que se caracteriza pelo atendimento às necessidades físicas e

psicológicas dos diferentes membros da família. É no seu contexto social que

se salvaguarda a saúde e se lida com as doenças. A família representa, na

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verdade, a unidade básica de atenção à saúde; é o primeiro nível de atenção à

saúde. Nesse sentido, o cuidado familiar constitui o fundamento do cuidado

comunitário.

Portanto, torna-se fundamental a presença dos familiares durante os

atendimentos e reuniões, trazendo dúvidas e conhecendo melhor o trabalho do

CAPS ad, para que assim possam interagir de forma mais ativa com o

processo terapêutico, como também incentivar diretamente os usuários a

participarem das atividades.

Um dos objetivos do CAPS é incentivar para que as famílias participem

da melhor forma possível do cotidiano dos serviços. Os familiares são, muitas

vezes, o elo mais próximo que os usuários têm com o mundo, e por isso são

pessoas muito importantes para o trabalho do CAPS. No caso, a família

também necessita de um acompanhamento psicológico, de certa forma, pois é

complicado se manter sempre forte em determinadas situações que envolvem

os usuários de drogas ou álcool. Nas reuniões familiares que acontecem no

CAPS ad percebemos que alguns familiares se encontram cansados, mas que

apesar disso continuam lutando para retirar aquele familiar da dependência

química.

Sobre a renda familiar, a avó de David respondeu que sobrevivem, ela

e os dois netos, com um salário mínimo disponibilizado pelo INSS, ela não

soube informar o tipo de benefício que está recebendo. Já a mãe de Félix, após

a separação, deixou o trabalho para se dedicar aos filhos, sobrevivem

atualmente através da pensão alimentícia paga pelo pai dos garotos.

A pensão alimentícia está relacionada as prestações devidas,

realizadas para que os indivíduos que a recebe possa subsistir, realizar o

direito à vida, tanto física como intelectual e moral.

Ainda sobre a renda dos adolescentes e familiares, a adolescente

Paula atualmente está trabalhando e provendo suas necessidades. Não

obtivemos informações sobre a renda de Dany e Leo.

Os adolescentes entrevistados não recebem nenhum benefício voltado

para eles, pois não estão frequentando o ensino regular devido as

consequências do uso abusivo de drogas. O adolescente Leo relatou que a

mãe só recebe o Bolsa família de sua irmã mais nova, pois o garoto não está

estudando.

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Na vivência desses adolescentes destaca-se, também, a ausência de

atividades motivadoras, propícias ao desenvolvimento pessoal, ou que

proporcionem prazer e diversão (seja por meio de atividades lúdicas, culturais

ou esportivas), e, ainda, tais momentos de diversão restritos aos “eventos

sociais” (festas) parecem estar relacionados ao maior consumo de drogas.

Isso nos permite diversas reflexões sobre as possibilidades reais de

lazer em determinados contextos que não festas ou na rua, ou mesmo sobre o

quanto é efetivo o direcionamento das atividades no tempo livre, sem trabalhar

questões como as escolhas, pressão do grupo ou alívio de estresse.

(...) os homens e as mulheres continuarão a enfrentar problemas, a indagar por que vivem e por que morrem, empenhados em encontrar sentido para suas vidas limitadas – alguns, muitos, se encontrarão vulnerabilizados, formas de cooperação e apoio mutuo serão requisitados e desenvolvidos. (NETTO, 2001, p. 49)

A promoção da saúde se faz presente por meio da educação, da

aquisição de um estilo de vida saudável, do desenvolvimento de aptidões e

capacidades individuais, da vivência em ambientes saudáveis. Os principais

métodos de cooperação e apoio para o enfrentamento, do que se tem como

reflexo da “questão social” se trata, então, da formulação de políticas públicas

que prezem pelo desenvolvimento pessoal e social dos sujeitos.

Destaca-se, que está vinculada a sociedade e ao poder público a

busca pela garantia de implementação dessas políticas direcionadas a

qualidade de vida, bem como a análise deforma crítica da realidade,

promovendo a transformação dos condicionantes da saúde.

Quando direcionada a questão sobre o apoio familiar durante o

tratamento, no caso de Paula, a parceira homoafetiva foi citada como estímulo

para a redução do uso de drogas. Dessa forma:

A família contemporânea não deixa de ser uma instituição, apesar das mudanças. Valores como amor, cuidado, proteção, investimento, apoio na velhice, afinidades conjugais, sexualidade, intimidade, entre outros são valores que remetem os deveres familiares atuais, para além da consolidação do casamento (PEREIRA; SCHIMANSKI, 2013).

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Na sociedade, as instituições sociais produzem e reproduzem

discursos do senso comum. Aquilo que se aprende é ensinado e construído

pelas instituições e a família como uma delas é responsável por disseminar tais

discursos que rotulam e trazem um posicionamento patriarcal que nega a

existência das novas formas de família na contemporaneidade.

Nesse sentido, podemos identificar que os discursos em torno da

família ideal vêm sendo construídos historicamente. Por outro lado, quando se

trata de novas configurações identifica-se que os discursos podem ser

reconstruídos, os quais vão possibilitando novas formas de se pensar a

instituição família.

O início do tratamento terapêutico no CAPS ad, de todos os

adolescentes, se deu essencialmente por encaminhamentos, sejam eles

judiciais (associados a atos infracionais ou acompanhamento por Conselho

Tutelar) ou realizados pelos familiares enquanto demanda espontânea.

Em conformidade com os diferentes modelos de tratamento

especializados para a questão das drogas, em todos se observa que o

indivíduo pode se envolver com o tratamento proposto ou abandoná-lo, isto é,

não aderir ao tratamento, isso trata-se de uma questão relativa de

condicionantes da realidade cotidiana.

Segundo Espinola (2013) Apesar da “adesão” ter como premissa se

manter abstinente em relação à droga, pode-se ir além e sugerir que adesão a

um tratamento envolve o estabelecimento de vínculo entre usuário do serviço e

equipe multiprofissional, de forma que haja compromisso mútuo nas atividades

integradas ao tratamento e, decorrente disso, o favorecimento de mudanças no

comportamento em relação ao uso da droga. Como no caso do usuário Leo,

que questionou o porquê de o transporte não estar passando em sua

residência e alegou estar com saudades da equipe do CAPS ad.

A afirmação do adolescente nos propicia a reflexão de que os métodos

utilizados na instituição proporcionam a eles diversas reflexões sobre o

cotidiano de suas vidas. Trazem de certa forma perspectivas para o

desenvolvimento pessoal e o rompimento com o que é ilícito. De acordo com

Martins (2002, p.9)

Tudo de sensato e fundamentado que se fizer e propuser no sentido de acelerar a inclusão social e política das populações pobres no

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processo de desenvolvimento econômico, para com ele compatibilizar o ritmo do desenvolvimento social, será historicamente bem-vindo. Tanto no âmbito do estado e das políticas públicas quanto no âmbito da sociedade civil. Seria igualmente perverso recusar a diversidade das inspirações e das ações de intervenção na realidade problemática.

Martins (2002, p.44) ainda aborda que a exclusão está interligada ao

plano de vivência e da sobrevivência. Existe a tentativa de negação da

realidade, como algo que não se quer reconhecer. “Falar de exclusão ao

“excluído” é humilhá-lo um gesto de prepotência interpretativa próprio de quem

pertence ao mundo do mando e não ao mundo dos nós e da partilha”. Não é

algo que está pautado apenas na renda, sobre isso a autora Yasbek (2007,

p.23) reflete que:

Embora a renda se configure como elemento essencial para a identificação da pobreza, o acesso a um patamar de “mínimos sociais [...] compreendido por um conjunto de bens e serviços sociais ao lado de outros meios complementares de sobrevivência, precisa ser considerado para definir as situações de pobreza.

Questionados sobre os motivos pelos quais não estão frequentando a

instituição para o tratamento terapêutico, Leo e a mãe de Félix responderam

que o carro da instituição não estava passando para ir buscá-los em suas

residências. De acordo com a mãe de Leo o garoto passou vários dias

desaparecido, consequentemente devido ao uso de drogas.

A genitora de Félix comentou que as vezes o filho não tem vontade de

sair de casa, de ir à igreja ou até mesmo ao CAPS, porém, quando o pai dele

conversa com ele e argumenta sobre a importância do tratamento, da interação

com outras pessoas, o garoto logo se anima.

Em conversa informal com a diretoria do CAPS ad, foi repassada a

informação de que o regulamento interno da instituição prevê, que o motorista

deverá buscar os pacientes que não possuem meios para se locomover para a

realização do tratamento. Contudo, o paciente não estando em casa em três

tentativas consecutivas nos dias combinados, o mesmo será desligado da lista

do transporte, cedendo a vaga para outro usuário.

Ainda de acordo com a diretoria, o transporte foi conquistado por

iniciativa do Serviço Social da instituição para facilitar o comparecimento dos

indivíduos adultos e adolescentes ao CAPS, mesmo sendo uma instituição que

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recebe demanda espontânea e por medidas judiciais, não caberia a instituição

demandar um transporte para ir buscá-los nas residências.

Sobre a ausência de Dany na instituição, atualmente, não está

frequentando a instituição por causa dos vários conflitos em que se encontra.

Suas características são de uma pessoa violenta quando está sobre o efeito de

substâncias psicoativas. É autora de várias infrações, em que ameaça as

vítimas com arma de fogo. Aparentemente uma pessoa sem controles dos seus

atos quando utiliza drogas. A garota possui histórico de apreensão no Centro

de Internação para Adolescentes Infratores (CIAD) e encaminhamentos ao

Conselho Tutelar do Município.

O Ministério Público solicitou ao CAPS ad a realização de busca ativa a

residência de Dany, para saber da adolescente o porquê do não

comparecimento dela ao tratamento, e, também para convidá-la a voltar. Ela

afirmou que gostaria de retomar as atividades terapêuticas.

Já a adolescente Paula, afirma ter deixado o uso de drogas e que

arrumou emprego. Aparentemente tem boas relações familiares e com a

companheira com a qual vive atualmente. Com relação ao adolescente David,

não conseguimos obter tais informações.

Familiares e adolescentes participantes da pesquisa afirmaram ser de

grande importância o atendimento realizado pelo CAPS ad, sendo uma

instituição que sabe acolher o adolescente o compreendendo em toda sua

complexidade.

Dos 5 adolescentes, apenas Leo, Dany e Félix esboçaram o desejo de

retomar ao tratamento. De David não obtivemos resposta e Paula diz ter

deixado em definitivo o uso de drogas.

Não houve dificuldades apontadas para a realização das atividades

terapêuticas segundo os pesquisados. Porém, mediante os fatos aqui

apresentados, pode-se afirmar que o (re) envolvimento com as drogas foi o

fator preponderante elencadas como barreiras ao tratamento desses

adolescentes, exceto no caso de Paula.

O serviço é bastante relevante frente a proposta de garantir a

participação da família para reverter a situação, solicitação de audiências para

mostrar aos familiares a importância de acompanhar seus filhos no CAPS ad e

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na escola; matriciamento em instituições da rede para divulgar a instituição e a

importância de trabalhar interagindo e articulando a rede socioassistencial.

Sobre a atuação do CAPS ad, os usuários apontam satisfação e um

vínculo com a equipe multiprofissional, apesar da inquietação psicológica

devido ao consumo de psicotrópicos, e das atividades, que em muitos casos,

não conseguem realizar, apesar disso eles gostam de estar na instituição.

Caracteriza-se como essencial a capacitação dos profissionais. A

Portaria 336-02 do Ministério da Saúde que subsidia a atuação dos CAPS (s),

alínea “e”, preconiza ser de extrema importância “supervisionar e capacitar as

equipes de atenção básica, serviços e programas de saúde mental local no

âmbito do seu território e/ou módulo assistencial. ” (BRASIL,2002). Uma vez

que a forma do atendimento pode ocasionar um impacto no atendimento direto

aos usuários que necessitam acessar tal atendimento, pode-se afirmar que, à

medida em que se capacita os profissionais há também a melhoria na

qualidade do serviço, o que pode evitar transtornos futuros relacionados a

segurança dos funcionários, como, também, a evasão de usuários.

Diante isso, é importante afirmar que o acolhimento se trata de uma

prática relevante, uma vez que a Reforma Psiquiátrica se caracteriza pela

criação de novos serviços e estratégias que geram o cuidado no campo da

Saúde Mental. A partir da ideia de desinstitucionalização territorialização e

acolhimento, operar uma transformação no modelo assistencial.

Entretanto, ainda existem lacunas nesse modelo de atenção e na forma

como esses serviços são gerenciados, e também, como o usuário é acolhido.

Dentro da realidade dos CAPSs, o primeiro contato com o usuário é crucial

para o processo de acompanhamento e tratamento, assim, pode-se nessa fase

estabelecer vínculos entre a equipe multiprofissional e o sujeito com

diagnóstico de uso abusivo de substâncias psicoativas.

Os usuários desse tipo de serviço caracterizam-se, além de outros

fatores, por ser fortemente marcada pelo sentimento contraditório em relação a

si e à necessidade de um tratamento. As pessoas que buscam o CAPS contra

a dependência geralmente chegam ao serviço com motivações conflitantes,

tornando-as mais sensíveis ao modo como são abordadas pelos técnicos.

As presentes reflexões reafirmam a ideia de que é necessário o

acolhimento desses sujeitos mediante a oferta de uma escuta qualificada e

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terapêutica pela equipe multiprofissional, sem nenhum tipo de preconceito para

com o sujeito, reconhecendo e respeitando suas necessidades e diferenças.

Sobre a intervenção do CAPS ad, o adolescente Leo afirmou que se

sentiu bem na instituição, e que, segundo ele, diminuiu por um período o uso

do psicotrópico.

A PNAD reconhece ainda que é incerto o grau de envolvimento de

cada usuário, pois o uso de substâncias psicoativas pode variar em cada caso,

uma vez que existem diferentes padrões de uso, não somente a dependência.

Dessa forma, é necessário pensar diferentes ações assistenciais, como a

prevenção, o tratamento e a reinserção social, que atendam aos usuários de

acordo com o grau de problemas vivenciados.

Constatou-se através da realização desta pesquisa que o uso de

drogas é o principal fator que leva os usuários adolescentes a abandonarem o

tratamento, mas que ainda assim, a família continua sendo a base para um

trabalho qualificado, pois trata-se da instituição de maior importância na vida

desses adolescentes. Percebemos que a maioria dos entrevistados tem boa

relação familiar, que se esforçam para deixar o vício, porém, situações diversas

de negação de direitos, conflitos sociais, afetam as possibilidades de

reinserção ao convívio comunitário.

Torna-se fundamental a presença dos familiares durante os

atendimentos e reuniões trazendo dúvidas e conhecendo melhor o trabalho do

CAPS ad, para que assim possam conhecer de forma mais ativa o processo

terapêutico, como também incentivar diretamente os usuários a participarem

das atividades.

Dos resultados a que chegamos podemos indicar que a maioria dos

casos de evasão institucional estão relacionados ao aprofundamento do vício,

do consumo de entorpecentes. Dos 5 adolescentes entrevistados 4 deles não

se sentem motivados a comparecer a instituição, ou possuem relações como

tráfico e dívidas de drogas, em razão disso estão sob ameaça de morte,

precisando de medidas protetivas. 1 (uma) das adolescentes encontra-se

trabalhando e segundo ela deixou as drogas.

Dois deles falaram que o transporte não estava passando para buscá-

los, entretanto, existe uma contradição entre as falas. A direção da instituição

afirma que o motorista passou nas residências, mas os adolescentes não

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respondiam. A mãe de um deles afirmou que o filho passou dias desaparecido

e sem paradeiro, isso pode ter sido a causa dos desencontros.

4.3. “Sim aos cuidados, não à exclusão”: Reflexões e

Apontamentos sobre a realização da pesquisa

São vários fatores que podem determinar o tipo de comportamento que

o indivíduo poderá apresentar, isso poderá advim da forma como se dá a

relação familiar dessas pessoas ou até mesmo como forma de resposta por

não haver aceitação das regras sociais que são colocadas.

De acordo com o Portal Natividade Gomes Augusto (2014) as leis

podem ser originadas através de diversas fontes, em muitos casos criadas e

impostas por sistemas religiosos, político e até mesmo econômico. Isso faz

com que a sociedade seja complementada por um conjunto de regras, normas

e ações, pensamentos e sentimentos que vão além da consciência individual.

Elas definirão a forma como o indivíduo deverá se comportar, as

condutas que são tidas como certas e as que não são apropriadas. Ainda de

acordo com o Portal Natividade (2014) a quebra de regras está condicionada

pelo modo como o sujeito vê as leis. Se nele não existir uma consciência de

obediência a moral que é colocada como a adequada, o mesmo será visto pela

sociedade como uma pessoa de comportamento desviante.

Dentro desse contexto estão justamente os adolescentes, bastante

conhecidos como aquele segmento que historicamente se opõe as regras

sociais. O autor Giovani Levi (1996, p.11) nos diz que a juventude é uma fase

difícil, pois se inicia o processo de formação e de transformação de cada um,

tanto do corpo quanto do espírito, também é o começo de tomadas de decisões

definitivas na vida em comunidade.

Diante do que foi dito, Levi (1996) vai tratar as categorias adolescência

e juventude, como o momento das tentativas sem futuro, das vocações

incertas, das aprendizagens profissionais e militares, bem como a descoberta

da sexualidade. Como foi apontado antes, acabam sendo momentos cheios de

incertezas e que alternam entre êxitos e fracassos. É pensada como uma fase

de transição no ciclo da vida, da infância para a maturidade, que segundo a

autora Helena W. Abramo (1997, p.29) é um momento crucial no processo de

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socialização e integração dos indivíduos com a sociedade, isso a partir da

aquisição de elementos culturais e de responsabilidades e atitudes de adultos.

A adolescência é o momento de preparação de sujeitos sociais

interiorizados com gênese nos valores, normas e comportamentos adquiridos

socialmente. É perceptível que a sociedade espera que os jovens sejam a

continuidade de todo o processo de sociabilidade, sendo algo que pode se

realizar ou não. Com isso as ações relativas a adolescência irá recair sobre o

seu processo de socialização e também sobre suas possíveis disfunções, ou

seja, a fuga das leis, valores culturais colocados pelos integrantes da

sociedade.

As oficinas terapêuticas ofertadas pelo CAPS ad são momentos

cruciais para que os jovens possam expor os seus sentimentos, e em algumas

atividades extravasar as sensações que para eles os impedem de viver da

forma como almejam. Elas possibilitam o esquecimento, mesmo que

temporário, de situações cotidianas negativas vivenciadas por eles ao logo de

sua trajetória de vida.

Muitos jovens da nossa sociedade usam as drogas como tentativa de

fugir da realidade, por não aguentar o pai que bate na mãe, os conflitos com os

pais decorrente da fase da adolescência, tida como um período complicado.

De acordo com a leitura das referências indicadas e com a visita

realizada na instituição, destacou-se a importância desse serviço, pois, a

maneira como é realizado pode sim proporcionar mudanças satisfatórias ou

não, na vida desses adolescentes e jovens para os quais o serviço é voltado,

como também para as suas famílias, através do acompanhamento sistemático

envolvendo os familiares.

É fato que as dificuldades são muitas para alcançar os objetivos do

serviço, mas particularmente, é notável o compromisso ético-profissional nas

ações dos/as profissionais da instituição. Percebe-se, também, a preocupação,

dedicação e respeito na prestação do serviço realizado, principalmente das

profissionais do Serviços Social e da Psicologia, que apesar de enfrentarem

barreiras por causa da falta de materiais e da atuação neoliberal com cortes de

gastos, lutam para tornar o serviço mais eficaz.

Foram perpassadas diversas barreiras para que a pesquisa fosse

concretizada. A primeira delas foi a questão do transporte para a realização do

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instrumental Busca Ativa. O CAPS ad encontra-se atualmente sob regime de

escala por falta de alimentação na instituição para os pacientes. Com isso, não

há possibilidades de os mesmos profissionais estarem no mesmo dia in lócus.

Mediante a tal acontecimento as solicitações do Ministério Público para

realização de visitas domiciliares foram se acumulando. Como as respostas

tinham que ser imediatas, os profissionais precisaram do transporte, por esse

motivo houve a impossibilidade de entrevistar os adolescentes nas datas

previstas pelo cronograma.

A segunda dificuldade foi encontrar 5 (cinco) adolescentes usuários

que deixaram de frequentar a instituição, mas apesar disso o trabalho não

deixou de ter qualidade, com reflexões pontuais e importantes apontadas por

vários autores, para a discussão referente a saúde mental e uso de drogas na

adolescência.

Sobre o primeiro entrevistado, pode-se afirmar que foi relativamente

fácil encontrá-lo, pois o garoto encontrava-se em sua residência.

Aparentemente bem mais magro do que quando iniciou as atividades no CAPS.

A mãe do garoto informou que ele havia sumido por vários dias e que não

sabia por onde ele andava e nem o que estava fazendo. Como já dito no item

anterior o rapaz encontra-se ameaçado de morte, devido ao envolvimento com

as drogas. Ele estava aguardando resposta da promotoria de justiça sobre um

encaminhamento do mesmo a um abrigo para garantir sua integridade física.

Minhas impressões sobre a entrevista com Leo, foi de alguém que se

relaciona bem com seus familiares, que gosta de ir à instituição e dos

profissionais que trabalham lá. Falou em entrevista que é um lugar que o faz se

sentir bem e queria retornar.

Sobre a adolescente Paula, percebi que aparentemente trata-se de

uma jovem que tem objetivos, que colocou como perspectiva de vida deixar as

drogas e se qualificar, ter uma melhor condição de vida. Encontrou o apoio da

sua atual companheira, dentro da conjuntura do que se entende por novas

configurações de família.

Relacionado a David, não consegui conversar com ele, porém houve

uma reunião com os responsáveis pelos adolescentes na instituição, na qual a

avó dele compareceu e falou sobre o neto. Segundo a avó do garoto, o rapaz

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tem vontade de continuar seus estudos. As características dele são de alguém

que necessita de mais aproximação da família, principalmente do pai.

A reunião com os familiares, da qual participei surgiu por iniciativa da

instituição como forma de combater a evasão entre adolescentes, cujo o

principal objetivo foi levar os familiares a entenderem como funciona o

tratamento e saber como os mesmos estão em suas relações familiares. O que

acabou contribuindo com a pesquisa. Só para constar, se tratou de uma

coincidência muito agradável, que foi de encontro a minha proposta de estudo.

As minhas percepções sobre Félix são de um garoto calmo, comento

isso porque já tive contato com ele em outras ocasiões enquanto estagiária.

Além da tranquilidade o garoto, também, expressa um amor incondicional por

sua família. Porém, a mãe relatou na reunião que ele andava muito alterado e

agressivo há alguns dias atrás, logo após a separação dos pais. Que apesar do

ocorrido sempre estão acompanhando e incentivando seu desenvolvimento

social, pessoal e saída das drogas.

Assim como no caso de Félix, também, tive uma aproximação, só que

maior, com a adolescente Dany enquanto estagiária do CAPS ad. Percebi nela

uma fonte de carência afetiva, revolta e falta de consciência nos atos que

comete. Um dia pensou estar grávida, questionei o que aconteceria caso fosse

comprovada a gravidez, ela respondeu que a criança seria a força para que ela

saísse das drogas, que mudaria de vida.

É difícil interpretar e compreender a mente humana, somos cheios de

complexidades, pensamentos contraditórios. Apesar disso, em suas ações,

Dany apresenta um comportamento de revolta contra o sistema e contra a

repressão policial que acontece quando ela é apreendida. Percebi isso quando

perguntei o que ela gostaria de ser quando concluísse os estudos, a resposta

foi policial, porque a polícia tem liberdade para fazer o que quiser, sem

punições aparentes.

Ainda sobre as dificuldades encontradas para a elaboração deste

trabalho, cito aqui a procura por referências bibliográficas, apesar de não ser

uma temática nova, pouquíssimos autores tratam sobre evasão institucional de

adolescentes usuários de drogas. Não é um assunto tão discutido em trabalhos

acadêmicos, quanto a evasão escolar.

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Nesse sentido, conclui-se que há um grande desafio a ser enfrentado

coletivamente por todos os envolvidos sejam eles gestores, profissionais,

entidades e serviços. Desafio este, importante para um bom desempenho da

política de Saúde Mental, pois, neste trabalho foi apontado o apoio familiar

como peça fundamental na execução da Política de Saúde Mental.

Abordar a questão da família não é uma tarefa fácil, tendo em vista as

diferentes formas e mudanças no seio dessa instituição, além das

peculiaridades existentes em cada sociedade e períodos históricos. Apesar

disso, a família continua sendo a base de todo ser humano, fundamentando os

processos essenciais do desenvolvimento psíquico do sujeito.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho surgiu com o propósito de responder o

questionamento sobre as principais causas que levam aos adolescentes

abandonarem o tratamento ofertado pelo serviço especializado do CAPS ad,

que tem como proposta a redução de danos causados pelo uso abusivo de

substâncias psicoativas. Com isso, foi elencado como objetivo geral a análise

sobre as múltiplas determinações (históricas, sociais, econômicas, culturais e

de saúde) que causam a “evasão” dos usuários adolescentes do Centro de

Atenção Psicossocial álcool e outras drogas - CAPS AD Parnamirim-RN.

Através de pesquisas bibliográficas, consultas aos prontuários dos

usuários e, também, por meio de entrevistas com adolescentes e familiares, foi

possível levantar dados expressivos sobre a temática.

Para chegar ao debate sobre essa temática, foi característico e

imprescindível trazer os apontamentos sobre a política de saúde desde 1930,

passando pelo advento da Constituição Federal de 1988, em que a saúde

passa a ser vista como um direito de todos, não apenas de quem contribuía

com a previdência. Mediante a essa afirmação, se torna papel do Estado

garantir a universalidade do novo sistema, denominado de Sistema Único de

Saúde - SUS.

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Considera-se, também, o papel do Estado no exercício das políticas

públicas em tempos neoliberais, em que predomina os cortes nos gastos

direcionados aos serviços públicos, bem como a redução da participação

estatal, sendo assim, proposta a mercantilização da saúde.

Através dos autores referenciados ao longo do trabalho, foi possível

analisar o conteúdo histórico do início da Política de Saúde Mental, em que os

indivíduos eram tratados com discriminação e isolamento. Inicialmente em

Santas Casas de Misericórdia, como uma forma de higienização das cidades,

isso porque a maioria eram moradores de rua, logo depois passaram a ser

tratados em hospitais psiquiátricos, na perspectiva do modelo Hospitalocêntrico

de cerceamento de liberdade.

Foi a partir do Movimento de Reforma Psiquiátrica, paralelo ao

movimento de Reforma Sanitária em 1970, que se deu início a luta pela

mudança nos modelos de atendimentos aos portadores de transtornos mentais.

Especificamente a luta Antimanicomial começou por iniciativa dos

Trabalhadores em Saúde Mental, que não aceitavam a ideia de “tratar” por

meio privação de liberdade, maus tratos e afastamento da família e do convívio

em sociedade.

O Serviço Social no campo da Saúde Mental, surgiu com a função

voltada para a assistência social, como caridade. Sua atuação era

caracterizada por ser a porta de entrada dos hospitais psiquiátricos, meramente

com traços de subalternidade e burocracia, sem nenhum tipo de criticidade.

Era um trabalho direcionado apenas para as condições objetivas dos

sujeitos e não em sua totalidade, reabilitar através da psicologização e

culpabilização das famílias dos pacientes pelos agravos da saúde dos

indivíduos com transtorno mental. O que foi sendo modificado a partir do

movimento de reconceituação da profissão no período pós-64, com a intenção

de ruptura com os dogmas da igreja católica e o conservadorismo.

O profissional de Serviço Social, na atual conjuntura, possui uma

grande importância para o funcionamento dos serviços de Saúde Mental, uma

vez que esses serviços, após a reformulação, apresentam uma formação

direcionada a uma postura política, ética de comprometimento com a

efetivação dos direitos aos usuários, a realização do trabalho sempre deverá

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ser realizada da melhor forma possível, apesar dos vários entraves

relacionados a atuação neoliberal na sociedade capitalista.

No cotidiano profissional, o diálogo com os usuários é permanente.

O/A assistente social tem o domínio para orientar, informar e encaminhar não

só aos usuários como também aos familiares destes, isso com certeza, tem

uma grande diferença na resolução da questão e/ou problema, quando os

usuários sabem o caminho que devem percorrer, maiores são as chances de

obter os resultados os quais se quer chegar.

No processo de desinstitucionalização da loucura, na década de 2000,

o Ministério da Saúde lança os CAPS como modelos substitutivos dos hospitais

psiquiátricos, dentre eles está o voltado para álcool e drogas, na perspectiva de

redução de danos.

Esses Centros foram elaborados para realizar atendimentos diários a

sujeitos com transtornos mentais provenientes do uso de substâncias

psicoativas. A instituição disponibiliza cuidados clínicos e reabilitação

psicossocial e familiar.

Com base nos objetivos específicos da pesquisa, também foi possível

trazer a análise sobre os serviços prestados pelo CAPS - ad município de

Parnamirim-RN. São vários os encaminhamentos realizados pela instituição

com o intuito de garantir os direitos dos usuários do serviço, dentre eles estão:

benefícios da previdência social, a Centros Clínicos, ao Programa Minha Casa

Minha Vida, UBSs para consultas preventivas e com dentistas, a Unidade de

Pronto Atendimento, etc. Com essas e outras ações de articulação em rede, é

possível ampliar o sistema de garantia de direitos, cuidando do usuário em toda

a sua complexidade.

Percebeu-se que apesar de todo esse acompanhamento, os usuários

adolescentes apresentam baixo índice de participação nas atividades

terapêuticas propostas pela instituição, baseado nisso surgiu o interesse pela

pesquisa.

Em síntese, pode-se afirmar que os objetivos específicos da pesquisa

foram alcançados, pois para se ter um melhor entendimento sobre a temática,

é preciso uma investigação aprofundada, com a contribuição de autores, para

compreender como surgiu a Política de Saúde Mental no Brasil e todo o seu

processo para paulatinamente acabar com o modelo centrado em hospitais

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psiquiátricos. E, também, para se ter a ideia sobre as motivações que fizeram

os adolescentes não comparecerem ao CAPS.

Dessa forma, o objetivo principal da pesquisa foi alcançado tendo em

vista as considerações iniciais deste capítulo. Apesar das barreiras

encontradas, esse tema é de grande relevância, não para culpabilizar o sujeito,

mas para buscar formas para que a política de saúde mental ganhe mais

eficácia, principalmente para o público adolescente com inserção familiar como

apoio, já que a família é a instituição base na vida dos sujeitos sociais.

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7. APÊNDICE

I – QUESTIONÁRIO REALIZADO COM OS USUÁRIOS DO CAPS AD

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

DISCENTE PESQUISADORA: Maria Ivaneide Alves, Matrícula:

2012961629

QUESTIONÁRIO: Para os usuários

1. Perfil: preenchimento dos dados pessoais, familiares, das condições de

moradia, da raça, etnia, identidade de gênero e sexualidade.

2. Qual sua ocupação atual? Trabalha e/ou estuda? Se não, no que isso

interfere na sua vida? Você identifica alguma relação disso com o uso

abusivo de drogas?

3. Recebe algum benefício do governo e o considera importante?

4. Qual (ais) tipo (s) de droga (s) você utiliza (ou)?

5. Como e quando começou a utilizar drogas? Por qual motivo?

6. Por que não frequenta mais o CAPS?

7. Você considera importante o atendimento que é realizado no CAPS? Se

não, o que você considera que falta para o serviço atender mais as

necessidades dos usuários?

8. Pensa em retornar?

9. Frequenta algum outro espaço que auxilie no tratamento (ONG, Centro

de recuperação, Instituições Religiosas, etc.)?

10. Quais as principais dificuldades que você encontrou para realizar o

tratamento?

11. Sua família contribui no seu tratamento e o que isso significa para você?

É importante ou não para você?

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II – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: Estudo sobre as principais causas da evasão entre

adolescentes usuários do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras

drogas- CAPS ad Parnamirim-RN.

Pesquisador (a): Maria Ivaneide Alves

Estudante do Curso de Serviço Social da UFRN

OBJETIVO:

Este estudo envolve pesquisa, tendo como objetivo principal analisar as

múltiplas determinações (históricas, sociais, econômicas, culturais e de

saúde) do fenômeno “evasão” dos usuários adolescentes do Centro de

Atenção Psicossocial-CAPS AD Parnamirim-RN.

DA OBSERVAÇÃO E DAS ENTREVISTAS:

A pesquisa envolverá observação e entrevistas com 05 (cinco)

adolescentes, que possuem prontuário na Instituição, porém, não estão

comparecendo ao tratamento terapêutico. Aqueles, pois, que concordarem

em participar da pesquisa, devem saber que esta tratará da sua ausência

no Projeto Terapêutico ofertado pelo CAPS AD.

SOBRE OS RISCOS:

Não há riscos físicos relacionados à participação neste estudo, uma vez

que não haverá nenhuma intervenção que possa trazer danos à saúde,

nem utilização de nenhuma substância físico-química nos participantes do

mesmo. Os únicos riscos que poderiam porventura acontecer se restringem

a constrangimento em relação a alguma pergunta efetuada. Nesse caso, o

entrevistado deve exercer o pleno direito de não a responder. Ainda assim,

se no período de ocorrência desta pesquisa, algum indivíduo pesquisado

apresentar algum transtorno de ordem psicológica, o (a) pesquisador (a)

assume o compromisso de encaminhá-lo para atendimento na Clínica de

Psicologia da UFRN.

SOBRE OS BENEFÍCIOS:

Os benefícios associados à participação nesta pesquisa são de ordem

coletiva, uma vez que as respostas dadas poderão contribuir para dar

visibilidade acadêmica a temática aqui exposta.

CONFIDENCIALIDADE DO ESTUDO:

O registro da participação neste estudo será mantido em sigilo. Será

garantida a confidencialidade na coleta, tabulação e análise dos resultados.

Somente o (a) pesquisador (a) e a orientadora da pesquisa terão acesso às

informações. Se qualquer relatório ou publicação resultar deste trabalho, a

identificação do entrevistado só será revelada se este o permitir.

DANOS ADVINDOS DA PESQUISA:

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Apesar de não estar previsto, se houver algum dano ou se algum problema

ocorrer decorrente deste estudo, o participante será indenizado, sendo isto

providenciado pelo (a) pesquisador (a). Além disso, se no período de

ocorrência desta pesquisa, algum indivíduo pesquisado apresentar algum

transtorno de ordem psicológica, o (a) pesquisador (a) assume o

compromisso de encaminhá-lo para atendimento na Clínica de Psicologia

da UFRN.

PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA:

Toda participação é voluntária. Não há penalidade para alguém que decida

não participar deste estudo. Ninguém também será penalizado se decidir

desistir de participar do estudo, em qualquer época.

PERGUNTAS:

Estimulamos que os pesquisados façam perguntas a respeito desta

pesquisa. Caso haja alguma pergunta, deve contatar o (a) pesquisador (a)

Maria Ivaneide Alves, no endereço ([email protected]). Deve

contatar também a Profa. Luciana do Nascimento Simião no endereço

([email protected]).

CONSENTIMENTO DO ENTREVISTADO PARA PARTICIPAÇÃO:

Estou de acordo com a participação na pesquisa acima explicada. Fui

devidamente esclarecido quanto aos objetivos da mesma e sobre a

entrevista a qual serei submetido. Foi garantido o meu direito a qualquer

esclarecimento solicitado durante o desenvolvimento da pesquisa, assim

como o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que a

desistência implique em qualquer prejuízo para a minha pessoa. A minha

participação na pesquisa não implicará em custos ou prejuízos adicionais,

sejam esses custos ou prejuízos de caráter econômico, social, psicológico

ou moral, sendo garantido o anonimato e o sigilo dos dados referentes a

minha identificação, se eu assim o quiser.

Nome do entrevistado (letra de forma): ____________________________.

Assinatura do Entrevistado: _____________________________________.

Testemunha 1: _____________________________________________.

Testemunha 2: _____________________________________________.

COMPROMISSO DO (A) PESQUISADOR (A)

Eu discuti as questões acima apresentadas com os indivíduos participantes

no estudo ou com os seus representantes legalmente autorizados. É minha

opinião de que o indivíduo entende os objetivos, assim com os riscos e

benefícios deste projeto e as obrigações do (a) pesquisador (a).

_______________________________. Data: ___/___/___.

Nome do pesquisador

RG e CPF