UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · os objetos o que compõem através do movimento...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA REJANE MAGALHÃES BERNARDINO FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA: O DIÁLOGO COM A PSICOMOTRICIDADE NATAL-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

REJANE MAGALHÃES BERNARDINO

FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA: O DIÁLOGO COM A PSICOMOTRICIDADE

NATAL-RN

2016

REJANE MAGALHÃES BERNARDINO

FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA: O DIÁLOGO COM A PSICOMOTRICIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso, na modalidade de

Artigo, apresentado ao Curso de Pedagogia, do

Departamento de Práticas Educacionais e Currículo, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

exigência parcial para conclusão do Curso de Licenciatura

em Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª MARIA APARECIDA DIAS

NATAL-RN

2016

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus filhos Erico, Rhobson, Jhoseanne e Jhobson,

os quais tanto insistiram para que eu voltasse a estudar e mostraram o quanto

ficaram felizes quando entrei na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo

sistema do vestibular.

Ás minhas noras, Lilian Kelly, Caroline de Fátima e Tatiane Fonseca, as quais

sempre demonstraram acreditar em meu potencial.

Ao meu querido genro, Jobson de Barros, o qual, muitas vezes, me levou e

me pegou na Universidade, demonstrando, dessa maneira, o apoio aos meus

estudos.

Á minha mãe, Diva Marques Magalhães, por sempre entender que, quando

eu não podia ficar com ela, era porque iria para a faculdade.

A todos os meus sobrinhos e sobrinhas que acreditaram no meu potencial.

Às minhas irmãs, cunhadas e cunhados.

Aos meus amigos, que sempre deram força para que eu não desistisse,

demonstrando a torcida pelo meu sucesso, bem como aos que ajudaram de uma

maneira ou de outra para que eu chegasse ao fim da graduação.

E, em especial, ao meu querido marido, José Bernardino Sobrinho, mais

conhecido por “amor”, que, além do incentivo, sempre me apoiou em tudo e em

todos os momentos da minha graduação. Foi companheiro, atencioso, colaborador e

muito compreensivo, sempre.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, a meu adorado marido Sobrinho, para os outros e para mim

AMOR, que sempre me apoiou e entendia as minhas ausências em certos

momentos.

Aos meus queridos filhos: Erico, Rhobson, Jhoseanne e Jhobson, por todos

os incentivos e apoio. As minhas noras: Lilian, Carol e Tatiane. Meu querido genro

Jobinho, os quais sempre demostraram satisfação com o meu desempenho na

academia. Agradeço de coração.

Agradeço a minha querida mãe Diva Magalhães, que hoje está com oitenta e

sete anos e terá a honra de ter uma filha formada em uma Universidade Federal.

Agradeço aos familiares: irmão, irmãs, principalmente à minha irmã Vera

Lúcia, por ficar com minha mãe enquanto eu estava na universidade; à minha irmã

Dineuza, por compreender meus momentos de estresse e quando eu necessitava

descansar um pouco para, mais tarde, puder fazer as atividades acadêmicas; às

sobrinhas, sobrinhos, cunhados e cunhadas, os quais, de uma maneira ou de outra,

contribuíram para a minha jornada com os elogios e incentivos.

A todos os amigos dentro e fora da faculdade, e, dentre estes, em especial, a

amiga Karolyne de Carvalho, a qual sempre foi meu anjo da guarda, sempre me

apoiando e ajudando quando necessário.

Agradeço a todo corpo docente, meus mestres, os quais fizeram parte da

minha formação e contribuíram bastante para o meu desempenho acadêmico.

Agradeço a Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Dias, por ter aceitado ser orientadora desse

trabalho tão importante para minha formação, a Prof.ª Dr.ª Mariza Narciso Sampaio

por ter aceitado fazer parte da banca examinadora, assim como também, agradeço

a Prof.ª Dr.ª Jacyene Melo de Oliveira por ter aceitado o convite para compor a

banca examinadora.

E, por fim, especialmente, agradeço ao Pai, ao Filho e ao Espirito Santo.

Pois, sem eles, não chegaria a lugar nenhum.

RESUMO

Este artigo tem como finalidade, descrever e refletir sobre o que foi observado

durante uma experiência vivida no ano de dois mil e quinze em um Centro Infantil da

rede municipal da cidade do Natal, a importância de se trabalhar o movimento para o

desenvolvimento do indivíduo em vários aspectos, assim mostrar a necessidade do

conhecimento sobre como trabalhar movimento, com crianças, não somente como

recreação. Na ocasião estava realizando o Estágio Supervisionado, o qual é uma

exigência do componente curricular de Estágio de Formação de Professores I. Nesta

primeira experiência como futura educadora numa sala de aula de Educação Infantil,

em uma nova realidade, procuro mostrar, a partir de um olhar pautado pelo

conhecimento da psicomotricidade e sua relação com o desenvolvimento da criança,

em uma perspectiva educativa e inclusiva, a falta que faz este conhecimento para

professores e professoras. Na metodologia, além da descrição de uma experiência

vivida, foram utilizadas análises documental e bibliográfica, dessa forma, esta

pesquisa tem uma estrutura, qualitativa, tendo como referenciais teóricos, Dias;

Fonseca e Oliveira. Dessa maneira, faço uma reflexão sobre a necessidade da

inclusão no curso de Pedagogia de um componente curricular obrigatório que

aborde o trabalho com movimento, para que se possa melhor orientar os futuros

professores.

Palavras-chave: Movimento; Psicomotricidade; Pedagogia.

SUMÁRIO

Introdução ..........................................................................................................

7

Aprendendo e conhecendo com uma nova realidade .......................................

9

A ausência de um componente curricular no Curso de Pedagogia que aborde movimento .........................................................................................................

14

A disciplina de Psicomotricidade, do Departamento de Educação Física .........

18

A necessidade da inclusão da Psicomotricidade na estrutura Curricular do Curso de Pedagogia presencial no campus central da UFRN ..........................

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Considerações Finais ........................................................................................

23

Referências ........................................................................................................ 24

7

INTRODUÇÃO Este trabalho mostra uma Experiência vivida no ano de dois mil e quinze, em

um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da rede municipal da cidade do

Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, na ocasião em que realizei o estágio

supervisionado. Nesse sentido, procurarei evidenciar aqui, o despreparo de uma

estagiária que almeja trabalhar com a educação infantil, onde a mesma, não tem

orientação alguma sobre como e porque, trabalhar o movimento com seus prováveis

alunos e só percebe na ocasião em que se encontra pela primeira vez em uma sala

de aula de um CMEI, como estagiaria.

O estágio supervisionado é uma exigência do componente curricular de

Estágio de Formação de Professores I, o qual da oportunidade ao discente a ter

contato com a prática, permitindo assim, aliar teoria e prática, complementando a

relação entre o ensino e a aprendizagem. Para Pimenta (1994, p.29), o estágio

supervisionado é uma atividade teórica instrumentalizada da práxis, é entendida

como uma atitude teórica, uma prática humana, que transforma a natureza e a

sociedade. Não basta conhecer e interpretar o mundo (teórico) é preciso transformá-

lo (prática).

O presente documento tem como objetivo, promover uma discussão sobre a

necessidade de se incluir na estrutura curricular do Curso de Pedagogia presencial

do campus central, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a disciplina

Psicomotricidade, considerando-se a importância dos conhecimentos adquiridos a

partir da necessidade sobre a relação entre movimento e aprendizagem não só da

criança, como também, dos jovens e adultos.

O interesse sobre o referido tema surgiu a partir de uma observação particular

quando realizava o Estágio de Formação de Professores I, em um Centro Infantil da

rede municipal da cidade do Natal (CMEI). Acredito que existe a necessidade de se

trabalhar o movimento corporal, compreendendo a relação entre o movimento e a

cognição, uma vez que a educação psicomotora objetiva a descoberta do próprio

corpo, a capacidade de execução do movimento, a descoberta do outro e do meio,

promovendo uma utilização melhor das capacidades psíquicas do educando,

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facilitando a aquisição de aprendizagens posteriores, como nos ensina Lapierre

(1986).

Entendi que, ao trabalhar a educação psicomotora, com o “sujeito” aluno,

este, além de descobrir seu próprio corpo, através do movimento, descobrirá,

também, o outro e o meio, por intermédio de estímulo que o levará a utilizar melhor

suas funções psíquicas, preparando-o para futuras aquisições de saberes.

De acordo com Oliveira (2015, p.32) ao perceber os estímulos do meio pelos

seus sentimentos e suas sensações, quando consegue agir sobre o mundo e sobre

os objetos o que compõem através do movimento de seu corpo, o individuo está

ampliando e desenvolvendo suas funções intelectuais.

Ou seja, trabalhar o movimento corporal, auxilia no desenvolvimento

intelectual do aluno (a), a partir do momento que ele (a) passa a perceber o meio em

que está inserido (a).

Assim, entendendo a importância, a falta que faz, e a necessidade de uma

disciplina na estrutura curricular do Curso de Pedagogia, a qual situe o futuro

professor a trabalhar movimento corporal e mente baseado em conhecimentos

científicos, resolvi fazer uma reflexão a respeito da inclusão da disciplina de

Psicomotricidade sobre a possibilidade da mesma passar a fazer parte da estrutura

curricular do Curso de Pedagogia presencial do campus central, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como uma disciplina obrigatória, que possa dar

parâmetros ao futuro educador (a), a trabalhar corpo e movimento, dentro da

perspctiva educativa para que, assim, o futuro professor possa ter embasamentos.

Para isso, resolvi mostrar através de descrição uma experiência, vivenciada

durante o Estágio Supervisionado de Professores I; e através de análises

bibliográfica e documental dentre as quais foram consultadas: Associação Brasileira

de Psicomotricidade; BRASIL (MEC); Arribas; Dias; Fonseca; Frias; Oliveira;

Pimenta; UFRN e Veenman para, assim, constatar a importância desta disciplina

passar a fazer parte, em caráter obrigatório, da estrutura curricular do Curso de

Pedagogia presencial do campus central, da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), na intenção de capacitar o futuro professor, a saber, mediar o

desenvolvimento psíquicomotor, cognitivo e afetivo de seus alunos.

O trabalho foi organizado em seções, assim distribuídas: na primeira seção

apresentarei, aprendendo e conhecendo com uma nova realidade, onde descrevo a

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minha experiência no componente curricular de Estágio Supervisionado de

Professores I, que foi realizado em um Centro Municipal de Natal, no ano de 2015.

Na segunda seção, será mostrado, através de um gráfico elaborado por mim, a partir

do fluxograma entregue aos alunos no início do Curso de Pedagogia, a estrutura

curricular do Curso de Pedagogia presencial do campus central da UFRN, bem

como, discute sobre a ausência de um componente curricular no Curso de

Pedagogia presencial que aborde o movimento e como a falta desse componente

pode dificultar uma boa formação do pedagogo para atuar com movimento na

educação, principalmente na educação infantil, por ser no período da infância que o

indivíduo inicia seu desenvolvimento. Na terceira sessão, será apresentada a

disciplina de Psicomotricidade, do Departamento de Educação Física e a

quantificação de alunos e cursos matriculados no ano de dois mil e dezesseis nessa

disciplina, através de um gráfico elaborado por mim, a partir das informações

contidas no Sistema Integrado de Gestão e Atividades Acadêmicas (SIGAA),

mostrando, ainda a disciplina como uma nova luz, a qual, oferecendo subsídios

teóricos e práticos, contribuiu para a minha formação. E, ainda, abordarei a

necessidade da inclusão da Psicomotricidade na estrutura curricular do Curso de

Pedagogia presencial do campus central da UFRN.

Nas considerações finais, faço uma breve reflexão sobre o porquê da

necessidade da disciplina psicomotricidade passar a fazer parte do currículo

pedagógico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em uma perspectiva

de se obter o conhecimento cientifico, sobre como trabalharmos a educação através

do movimento principalmente na Educação Infantil, para, dessa forma, poder melhor

capacitar os futuros professores a mediar a educação de seus educandos com base

em uma formação consciente.

Aprendendo e conhecendo com uma nova realidade

Foi por meio da Disciplina de Estágio Supervisionado de Professores I que

tive o primeiro contato com a sala de aula na visão de educadora. Naquele momento

estava no quinto período do curso de graduação em Pedagogia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, e tive a oportunidade de vivenciar a realidade de

uma escola e, principalmente, a realidade de uma sala de aula. Segundo Santa

Catarina (2008, p. 4) o estágio é a oportunidade em que o aluno entra em contato

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direto com a realidade profissional (problemas e desafios) na qual irá atuar, para

conhecê-la e para desenvolver as competências e habilidades necessárias ao

futuro exercício profissionais. Além do conhecimento da realidade da sala de aula

tive a oportunidade de estabelecer a relação entre a teoria e a prática, Segundo

Scalabrin e Molinari (2013, p.3),

O tradicional estágio se configura como uma possibilidade de fazer uma relação entre teoria e prática, conhecer a realidade da profissão que optou para desempenhar, pois, quando o acadêmico tem contato com as atividades que o estágio lhe oportuniza, inicia a compreensão aquilo que tem estudado e começa a fazer a relação com o cotidiano do seu trabalho.

Durante o Estágio Supervisionado I, temos que realizar a observação de sala

de aula, fazer a elaboração e execução de um projeto de intervenção. Durante o

período de observação um fato que chamou minha atenção foi de haver na sala de

aula uma criança com paralisia cerebral (PC). Cheguei a questionar sobre quais

benefícios a escola teria para aquela criança. Com certeza, esse meu

questionamento surgiu devido à falta de conhecimento a respeito do que venha a ser

a paralisia cerebral.

Na sala em que estava estagiando, além de haver a criança com paralisia

cerebral, havia uma criança agitada demostrando a falta de concentração, outras

muito quietas e algumas com dificuldades motoras, tais como: dificuldade de segurar

o lápis, movimentos lentos ao levar o copo ou o talher à boca, não ter firmeza ao

simples ato de caminhar.

E mesmo com estas situações tão diversas, identifiquei também, que só havia

uma professora e uma auxiliar de sala para dar conta desta diversidade. Percebi ali,

que a realidade de uma sala de aula é diferente do que pensava, e que vai além do

que estudamos na academia, pois, por está já no quinto período da formação

acadêmica, idealizei que já teria condições para enfrentar uma sala de aula de

verdade, usando as práticas que nos foram passadas durante esses períodos de

estudos, porém não foi bem assim, percebi ali, que o professor deve procurar

conhecer a realidade da escola, as necessidades de seus alunos e procurar nas

indicações teóricas, as quais nos são dadas na academia, parâmetros que se

adeque a realidade da escola na qual estiver atuando.

Segundo Veenman (1988, p.5), “os professores enfrentam o choque

de realidade, isto é, a diferença entre o idealizado nos cursos de formação e o

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encontrado na realidade cotidiana das escolas”. No meu caso, tive o choque da

realidade ainda no curso de formação; então, tive que me apoiar na colega que

formava dupla comigo, para enfrentar a minha insegurança e juntas tentarmos

construir uma articulação entre a teoria e a prática sobre o trabalho com movimento

em uma perspectiva educacional.

Observei que a auxiliar da sala tomava conta da criança com Paralisia

Cerebral. E, em relação à criança que demostrava atitudes diferentes das demais

crianças, nem a professora titular sabia dizer qual era o seu problema. Observei

também que a professora só dava atenção às crianças que, aparentemente, não

apresentavam dificuldades significativas. Confesso que na ocasião cheguei a

pensar: talvez uma professora tivesse que agir assim mesmo, pois, a professora da

sala em que estava estagiando falou que já tinha bom tempo em sala de aula na

educação de crianças. Então, deduzir que ela já tendo experiências e considerando

a maneira como ela agia, ela estaria fazendo o correto.

Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira,

Nº9394/96, aborda a obrigatoriedade em acolher e matricular todos os alunos,

independentemente de suas necessidades ou diferenças. Mas, sabemos que é

necessário o desenvolvimento de atividades pedagógicas que assegurem a

permanência dos alunos, por meio da prática que permita o desenvolvimento e o

avanço da aprendizagem do educando, garantindo, assim, o acesso e a

permanência no ensino.

Durante o período do estágio, pude observar que não havia atividades as

quais fossem destinadas àquelas crianças com necessidades educacionais

especiais, que pudessem dar-lhes uma mínima oportunidade de inserção. Segundo

Frias e Menezes (2008/2009), um grande desafio é fazer com que a inclusão ocorra

sem perdermos de vista que, além das oportunidades, é preciso garantir o avanço

na aprendizagem, bem como no desenvolvimento integral do indivíduo com

necessidades educacionais especiais.

Infelizmente encontramos ainda uma realidade em que as práticas

pedagógicas não contribuem para permanência dos educandos, pois elas, em sua

maioria, são excludentes tendo em vista a falta de estrutura da escola, o despreparo

de alguns professores (a), o excesso de alunos em sala para um único profissional

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da educação, dar conta, assim como a falta de conhecimento da sociedade quanto

dos pais, sobre a importância da escola para o desenvolvimento da criança.

Após o período de observação, em conversa com a professora titular, para

saber em que poderiamos contribuir em sua sala de aula durante as intervenções

pedagógicas. Ela pediu que trabalhássemos movimento, eixo norteador do

Referencial Curricular para Educação Infantil (BRASIL, 1998, p.18), segundo o qual,

O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana, pois ao movimentarem-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. Pois, essa é uma possibilidade de interação com o mundo.

Ao receber a orientação, que deveria trabalhar o eixo temático de movimento

e que deveria incluir as crianças com necessidades educacionais especiais,

confesso que fiquei preocupada. Simplesmente não sabia o que fazer, pois o

conhecimento que tinha sobre movimento era apenas a definição apresentada no

Referencial Curricular. Não sabia como realizar a inclusão utilizando movimento,

porque o nosso currículo oferece apenas uma disciplina obrigatória sobre educação

especial e não havíamos tido nenhuma indicação teórica de como agir em uma

situação desta. Até então, não havia visto nada concreto sobre como utilizar o

movimento corporal na educação com proposito educacional, não tinha

conhecimentos plausíveis a esse respeito.

Sem embasamento teórico, e sem saber como agir, procurei orientações com

algumas professoras da escola. Para a minha surpresa, as mesmas demostraram

não terem conhecimentos teóricos a respeito do assunto. Como constatei esse fato?

Constatei, após indagar a varias professoras, e as respostas que obtive eram as

mesmas. Ou seja, só nos indicaram brincadeiras como, pular corda, passar dentro

dos bambolês, e a construção de um túnel, para que as crianças pudessem passar

em sequência de ordem alfabética.

Hoje, percebo através do que observei que, naquele espaço, à compreensão

do movimento como linguagem e como mecanismo de aprendizado não era

entendido, pois, o mesmo era realizado como manifestações corporais, sem

intencionalidade. Nesse sentido, o movimento humano constitui-se em uma

linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico, e atuarem sobre o

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ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo

(BRASIL, 1998, p.18).

Com essa percepção, observei que as brincadeiras feitas em sala de aula

eram realizadas sem nenhuma finalidade de aprendizagem e de desenvolvimento

para a criança. Pelo contrario, o que notei era que a professora titular liberava a

brincadeira em sala para que ela pudesse resolver algum problema pessoal.

Em nossa trajetória acadêmica, nos foi ensinado que a brincadeira tem que

acontecer de forma mista e em momento espontâneo. Ou seja, deve ser realizada

em um momento de forma direcionada e em outros livres, pois, é ao brincar que as

crianças desenvolvem as múltiplas linguagens, as habilidades, a imaginação, a

concentração, a expressão, e adquirem conhecimento. É nesse sentido que se

assegura que o trabalho com a brincadeira e o movimento é necessário (BRASIL,

1998, p.15), porque,

Contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança.

A minha indagação era, como realizar intervenções pedagógicas com

brincadeiras e principalmente com movimento, para incluir crianças com

necessidades especiais que contribuíssem para o aprendizado das mesmas? É aí

que podemos refletir que, a falta de conhecimentos nos leva a cometer erros para

com os nossos educandos, enquanto educador infantil.

Com o conselho das professoras, planejamos (eu e minha dupla), a nossa

intervenção baseada em uma brincadeira na qual tivessem princípios educativos.

Desta forma, buscamos ter uma intencionalidade com a música, que era o

reconhecimento dos ritmos, do mais lento ao mais agitado. Pois, segundo Arribas

(2004, p.53):

É necessário que haja intencionalidade educativa que exija cuidado na elaboração dos planejamentos e para direcionar as atividades, estimulá-las em prol do conhecimento do corpo como relevante em qualquer proposta educativa em todas as áreas de aprendizagem e desenvolvimento.

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No entanto, no dia da prática a criança com paralisia cerebral não foi à escola

e as brincadeiras fluíram normalmente. E, assim, conseguimos “êxito” na nossa

proposta. Contudo, eu ainda estava em conflito: Nós, estudantes de Pedagogia, não

éramos capazes de realizar intervenções pedagógicas que respeitassem os

nossos educandos e como realizar práticas de movimento de forma inclusiva. Então

percebi que, em nosso curso estava faltando algum componente pelo qual nos

desse suporte nesse sentido.

A ausência de um componente curricular no Curso de Pedagogia presencial do

campus central, que aborde o corpo em movimento.

Depois desse episódio e diante dessa constatação, podemos perceber que,

se o professor “antigo”, com experiência na prática docente tem essa dificuldade,

imaginemos os futuros professores que não tiverem, em sua formação, acesso aos

conhecimentos inerentes ao corpo, movimento, mente e aprendizagem. Com

certeza, afetará a prática pedagógica desses futuros professores, principalmente

para os que forem trabalhar em uma sala que haja alguma criança com necessidade

especial. Ou seja, um professor recém-formado, o qual não teve nenhuma ou pouca

experiência na área educacional a respeito de motricidade, poderá encontrar

dificuldades em ajudar uma criança a se desenvolver como sujeito ativo na

sociedade através do movimento, como rege as Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil (DCNEI, 2013).

Considero que utilizar o recurso da brincadeira só por brincar auxilia sim, no

desenvolvimento da criança, mas tomar o brincar como uma atividade pedagógica,

voltada para atingir determinados objetivos, através da mediação dos

conhecimentos, deixando que a criança desenvolva o seu cognitivo, conhecendo o

seu corpo, através de movimentos orientados, de forma que ela possa adquirir

autonomia para enfrentar os desafios no seu dia a dia na escola, ajudará e muito em

seu desenvolvimento de aprendizado. E, acima de tudo, ajudará a mesma, aprender

a se aceitar e reconhecer que é possível interagir, participar e contar com o apoio

dos demais. É preciso, portanto, que façamos uma reflexão a respeito do Projeto

Político Pedagógico do Curso de Graduação em Pedagogia presencial do campus

central, já que se prestarmos a devida atenção, veremos que nenhuma orientação a

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respeito de Psicomotricidade é dada aos futuros educadores, que estão em

formação.

De acordo com o Projeto Politico do Curso de Pedagogia Presencial do

campus Central (PPCP), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2009,

p.19),

A formação do pedagogo deverá contribuir para a compreensão do processo educativo e sua relação com a sociedade, em uma postura crítica e consciente sobre esta relação e agindo de forma autônoma e cooperativa para a constituição de processos pedagógicos mais coerentes com os ideais de emancipação educacional.

Porém, acredito que, para que a formação do pedagogo possa contribuir para

o processo educativo, tanto na Educação Infantil como também no Ensino

Fundamental e na EJA, é necessário que façamos uma reflexão sobre a inclusão de

uma disciplina que envolva o trabalho com corpo e movimento, a qual auxilie no

desenvolvimento da mente, já que sabemos se tratar de um procedimento coerente,

tanto para o desempenho do educador quanto para o desenvolvimento do

educando, em sua estruturação como sujeito pleno, que vive em uma sociedade na

qual interage diretamente com o outro.

Ainda, de acordo com o Projeto Politico do Curso de Pedagogia presencial do

campus central da UFRN (2009, p.19),

A formação do pedagogo deve possibilitar uma visão global do fenômeno educativo, bem como o desenvolvimento de capacidades diversificadas e mais abrangentes para atuação/intervenção nos diversos contextos educacionais. O pedagogo assume múltiplas funções no seu fazer pedagógico o que implica a construção de conhecimentos coerentes com o cenário de transformações sociais e com as novas demandas socioeducativas.

Nesse sentido, só nos resta perceber que a falta de uma discplina que oriente

o futuro professor a trabalhar corpo e movimento, que possibilite ao educador

trabalhar seus educandos em uma perspectiva pela qual facilite o desenvolvimento

dos mesmos, a nosso ver, dificulta o trabalho pedagógico. Penso que, quando o

profissional da educação não trabalha e não reconhece questões ligadas ao corpo e

movimento, mente e motricidade, esse profissional possivelmente encontrará

dificuldades em suas intervenções educativas, principalmente na área da educação

infantil. Porquanto, sabemos que é nesse período, que a criança se encontra em

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desenvolvimento, e a falta de um trabalho com o movimento orientado, dificultará

seu aprendizado, não havendo, assim, compreensão global entre a mente, a

identidade e o sujeito. A esse respeito, observei que o que rege o Projeto Político

Pedagógico do Curso de Pedagogia Presencial, do campo central, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (2009, p.20) é que:

Assim, a formação do pedagogo deverá propiciar a produção de conhecimentos em educação e a intervenção competente nos processos pedagógicos, com base em uma determinada concepção de sociedade. Essa relação não privilegia apenas a memorização e a reiteração de procedimentos, mas exige atividades intelectuais e competências cognitivas que se desenvolvem em situações de aprendizagem interativas, dialógicas e dinâmicas envolvendo o aprendiz e os objetos de conhecimento.

É nesse sentido que se faz necessária a inclusão de disciplinas que tratem

dos conteúdos corpo, movimento e aprendizagem estabelecendo uma relação entre

eles. Somente assim, o futuro professor poderá interagir com a real situação da

sociedade, na qual se fazem presente pessoas com necessidades especiais e

superdotadas, bem como pessoas de baixa renda, que são oprimidas. Portanto, é

necessário realizar ações que permitam a inclusão de todos.

Essa perspectiva formativa traz novas exigências para o Pedagogo, as quais

devem ser vistas muito além do patamar existente hoje, implicando em uma

reinvenção da profissão docente, onde o professor deve está sempre preparado

para novos desafios.

No entanto, em se tratando de parâmetros relacionados ao trabalho com

Psicomotricidade, o nosso currículo deixa a desejar, pois, o RCNEI (BRASIL, 1998),

cita a importância do trabalho com movimento corporal para o bom desempenho da

criança, e sobre movimento, não vemos nada em nossa estrutura curricular com

fundamentação. Ainda, de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de

Pedagogia presencial-UFRN (PPCP, 2009, p.20/21), torna-se imprescindível a

reconfiguração do projeto pedagógico do curso de Pedagogia, como alternativa para

melhor qualificar os profissionais formados na Instituição para o exercício de suas

funções profissionais e sociais.

A esse respeito, diz Oliveira (2005, p.14):

17 A nosso ver, precisar-se-ia capacitar melhor os professores para que estejam sempre aptos para promover uma educação integral do aluno, para detectando os que não acompanham o ritmo dos colegas e reconhecendo onde estão as falhas. Realizar uma reeducação quando se fizer necessário e ao âmbito de sala de aula e encaminhar ao profissional competente quando os seus recursos se esgotarem.

Obviamente, um professor (a) orientado pelos embasamentos teóricos visto

em sua formação, estará preparado, e poderá auxiliar seu aluno a enfrentar e até

resolver alguma situação de incomodo muitas vezes imperceptível em um primeiro

momento, porém, se o mesmo não tiver visto no período de sua formação, nenhuma

referência sobre motricidade, movimento corporal, no sentido de educar, esse (a)

professor (a) talvez encontre dificuldades em suas orientações sobre como trabalhar

o movimento em uma perspectiva pedagógica.

A estrutura curricular do Curso de Pedagogia presencial do campus Central é

formada por cinquenta e uma disciplinas, que são divididas de acordo com o

Departamento de Práticas Educacionais e Currículo e o Departamento de

Fundamentos e Políticas da Educação, como mostra o gráfico a seguir.

Figura 1 - Representação gráfica da grade curricular do Curso de Pedagogia

presencial do campus central da UFRN. O gráfico foi desenvolvido a partir do Fluxograma

entregue aos alunos do Curso de Pedagogia- UFRN no inicio do curso de graduação.

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Pelo exposto no gráfico, podemos perceber que em nosso currículo não há

disciplina que aborde o corpo em movimento e na relação com a aprendizagem. Foi,

pois, com essa percepção, que constatei que não tínhamos nem experiências nem

prática em Psicomotricidade. Então, resolvi ir atrás de algo que me desse uma base

com fundamentação. Ou seja, foi aí que vi a necessidade de cursar uma disciplina

que me orientasse melhor nesse sentido, e, procurando entre as ofertas de

disciplinas optativas, que são decididas de acordo com o interesse de cada um para

complementar suas áreas de interesse, que encontrei uma no Departamento de

Educação Física ( DEF).

A Disciplina de Psicomotricidade, no Departamento de Educação Física, uma

nova luz.

Tendo como referencial o relato de alguns colegas de curso e a descrição das

disciplinas ofertadas no período de matrícula, encontrei a disciplina de

Psicomotricidade que é oferecida no primeiro semestre de cada ano letivo pelo

Departamento de Educação Física (DEF), a qual aborda questões ligadas ao

movimento, corpo e aprendizagem e suas inter-relações.

A ementa da disciplina de psicomotricidade tem como objetivo discutir os

processos epistemológicos da Psicomotricidade considerando dois aspectos: a

psicomotricidade na reabilitação e na educação. “Contemplar a amplitude dos

estudos da psicomotricidade na filogênese, ontogênese e retrogênese humana”, que

vai estudar o movimento em contextos interdisciplinar e o homem como sujeito de

uma sociedade.

No decorrer da disciplina tive oportunidade de ter aulas práticas e teóricas

que abordavam o conceito de tônus, lateralidade, motricidade fina e global, esquema

e imagem corporal, que são aspectos psicomotores que estão relacionados ao

movimento onde se trabalha espaço, tempo, ritmo e o cognitivo.

A disciplina teve um papel fundamental, pois, mais do que nunca,

compreendo que o movimento tem relação sim com a aprendizagem e que é papel

do educador permitir intervenções pedagógicas que auxiliem seu educando a

compreender a motricidade. Desse modo, para mim, a disciplina foi como uma luz no

fim do túnel, pois percebi que não teríamos, ainda na academia, uma disciplina

que oferecesse suporte para essas questões. Mesmo assim, considero que ainda é

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pouco, por várias questões e porque a disciplina acaba sendo restrita, por se

tratar de uma disciplina optativa e pouco divulgada pelo Centro de Educação.

A disciplina é oferecida apenas no primeiro semestre de cada ano letivo, tem

quantidade máxima de alunos, dos quais abrange diversos cursos de graduação.

Neste caso, não é possível que todos os graduandos de Pedagogia participem e

tenham acesso a esse conhecimento. Como exemplo, podemos analisar o gráfico

elaborado por mim com a intenção de melhor representar o número de matriculados

na disciplina no semestre de 2016.1 e os diversos cursos a participarem da mesma.

Utilizei como fonte a lista de presença presente do Sistema Integrado de

Gestão Atividades Acadêmicas (SIGAA).

Figura 2 - Alunos matriculados na disciplina de Psicomotricidade no 1° semestre de

2016.

Com a representação do gráfico observamos que os alunos de Pedagogia

são maioria. Compreendo que isso aconteça pela necessidade formativa de

compreender a relação entre o movimento e aprendizagem, pois a Psicomotricidade

auxilia na formação do aluno, como confirma Oliveira (2015, p.23), “[...] é importante

evidenciar como a Psicomotricidade pode auxiliar o aluno a alcançar um

desenvolvimento mais integral que o conduzirá a uma aprendizagem mais

satisfatória”.

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Foi daí que surgiu o questionamento, por que na estrutura curricular do Curso

de Pedagogia não temos essa disciplina como sendo obrigatória?

Esta disciplina, no meu entender, é de suma importância para que o

Pedagogo tenha conhecimento sobre o movimento e a aprendizagem, pois, de

acordo com Oliveira (2015, p. 36), “o movimento é um suporte que ajuda a criança

adquirir o conhecimento do mundo que a rodeia através de seu corpo, de suas

percepções e sensações”. O que podemos entender nesse caso, é que a

psicomotricidade contribui para uma vida em sociedade, principalmente na educação

infantil, pois é nessa etapa da educação que o educando tem os primeiros estímulos

ao desenvolvimento nas áreas da psicomotricidade, cognição, afetividade e

linguagem, que são eixos que estão interligados. E, ainda, a educação psicomotora

pode ser vista como preventiva na medida em que dá condições à criança de se

desenvolver melhor em seu ambiente (OLIVEIRA, 2015, p.36).

Diante de todos os benefícios que o trabalho com o movimento traz para a

educação, podemos perceber a falta que faz um componente do qual possa orientar

o futuro educador no sentido de se trabalhar movimento com seus educandos.

A necessidade da inclusão da Psicomotricidade na estrutura curricular do

Curso de Pedagogia presencial do campus central da UFRN

É necessária a inclusão da Psicomotricidade na estrutura Curricular de

Pedagogia presencial, pois, segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade

(ABP), a Psicomotricidade,

É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.

Isto, só reforça o que Oliveira diz a respeito: “A Psicomotricidade, pois, se

caracteriza por uma educação que se utiliza do movimento para atingir outras

aquisições mais elevadas, como as intelectuais” (Oliveira, 2015, p.9). E, ainda, de

acordo com a ABP,

Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

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Com isto, podemos reforçar como se faz necessária a inclusão da disciplina

de Psicomotricidade na estrutura curricular do Curso de Pedagogia presencial no

campus central da UFRN, pois, a meu ver, um professor precisa estar apto para

trabalhar o movimento organizado e integrado, e não aleatoriamente como vimos em

nosso estágio. Principalmente na educação infantil, por ser nessa faze da educação

que o sujeito estar no processo de descobertas. Assim, ele, o professor, poderá agir

como mediador no processo de aprendizagem da criança, através do trabalho com a

Motricidade, a mente e a afetividade, contribuindo, dessa forma, com o equilíbrio

sócio afetivo de um ser que está em pleno desenvolvimento.

Devo salientar que a Psicomotricidade também trabalha a lateralidade, a

questão da noção do tempo e de espaço, fazendo com que a criança tenha

autonomia em seu movimento intencional, o que favorecerá a aquisição de uma

consciência corporal. Pois, se assim não ocorrer, ficará difícil, no meu entender, uma

criança poder ser inserida no contexto escolar, considerando os aspectos voltados

para suas aprendizagens.

Compreendo que não adianta utilizar questões do movimento ligadas

somente ao uso das brincadeiras, músicas ou educação física, como algo

esporádico, ou seja, de vez em quanto, sem intencionalidade. É necessário também,

que o (a) professor (a) utilize o movimento com as crianças a partir de um trabalho

planejado e intencional para o desenvolvimento global. Assim, a criança adquire

conhecimentos sobre si, o outro e o espaço.

Hoje, depois de cursar a disciplina, na qual pude perceber que, além da

escrita e da leitura, o aluno necessita se auto conhecer, perceber o outro, o mundo e

a sociedade; entender que suas dificuldades de aprendizagem não são unicamente

suas. Perceber que cada um tem seu tempo e seu ritmo de aprendizagem e

conhecer seu papel na sociedade. É por tudo isso, que podemos entendermos da

importância de se trabalhar motricidade, processo cognitivo e a afetividade através

do movimento.

Considero que tanto para a escola quanto para o corpo de professores, é

necessário ter o conhecimento sobre a Motricidade, pois esses conhecimentos

poderão representar um ganho para a qualificação dos professores e da própria

escola. Não defendo, com isso, formar especialistas em Psicomotricidade dentro

do Curso de Pedagogia; simplesmente, o que defendo aqui, é a inclusão de uma

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disciplina que nos mostre um caminho, uma noção de como podemos, através do

movimento, auxiliar nas possíveis dificuldades do (a) aluno (a) e assim quem sabe,

solucionar alguns problemas, os quais, muitas vezes, são confundidos como

neurológico, como afirma Oliveira (2015, p. 9), quando diz:

Muitos professores, preocupados com o ensino das primeiras letras, e não sabendo como resolver as dificuldades apresentadas por seus alunos, várias vezes os encaminham para as diversas clínicas especializadas que os rotulam como “doentes”, incapazes ou preguiçosos. Na realidade, muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas dentro da própria escola.

É por esses e outros tantos motivos, os quais não vem ao caso explicitar aqui,

que devemos fazer sim, uma reflexão do Projeto político Pedagógico do Curso de

Pedagogia presencial do campus central da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, para que, assim, aconteça uma mudança na preparação do futuro profissional

da educação, preparando-o, principalmente, para seu início da realidade, a qual

enfrentará. Tenho convicção de que, com a inclusão da Psicomotricidade como

componente curricular obrigatório, estaremos sendo melhores preparados, pois, os

dizeres de Dias (2012, p. 18) são de que:

O homem é aquilo que experimenta e que a vivência proporcionada por essas experimentações favorecem a sua construção, levando o ser humano a reconhecer, identificar, criticar, elaborar, criar e refletir, partindo da sua unidade como ser universal em busca de uma personalidade própria e contribuidora, possibilitando uma qualidade fundamental em suas aprendizagens, tornando-se agente efetivo na ação escolar e no mundo, atento aos seus deveres, desejos, responsabilidades e respeito a si próprio e a sociedade na qual se integra.

A esse respeito Farias (2009, p.20) nos diz que,

“A educação pelo movimento na escola auxilia o professor e o aluno na construção de valores necessários a conquistas cotidianas, pautando seu trabalho na transformação social, canalizando ações, efetivando os seus sonhos e seus direitos”.

E nesse sentido, percebo que, ao trabalharmos com a criança movimento,

respeitando suas limitações, acredito estarmos contribuindo para a sua construção

de sujeito. Pois, são através do conhecimento do seu próprio corpo, suas

habilidades, que ele será capaz de se reconhecer na sociedade em que vive, e

assim ao experimentar a vivência no meio em que vive será capaz de criticar, criar e

refletir. Dessa forma, tornar-se-á um sujeito pleno de suas funções na sociedade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Temos em nosso percurso acadêmico o estágio obrigatório, o qual nos dá a

oportunidade de perceber o que talvez esteja nos faltando, para um perfeito

desempenho em nossas funções como educadores e assim tentar encontrar uma

possível solução para o problema.

E foi em minha experiência, como estagiária, que pude constatar não ser a

única que estava despreparada para trabalhar movimento corporal com os alunos.

Algumas professoras também mostraram despreparo nesse segmento. E, assim,

percebi que, igualmente a mim, elas também não devem ter cursado nenhum

componente, em sua formação, que lhes garantisse um conhecimento com

embasamento teórico, que lhes dessem consciência da importância da

Psicomotricidade, dando-lhes segurança na hora de trabalhar o corpo em

movimento.

Considerando que, com a disciplina de Psicomotricidade aprendi que ao

trabalharmos a educação através do movimento com o aluno, estaremos ajudando o

desenvolvimento das suas habilidades psicomotoras, afetivas e na sua maturação.

Dessa forma, estaremos cuidando e preparando o mesmo para enfrentar os

desafios, seus medos e sua realidade existencial no meio em que está inserido,

preparando-o para um melhor convívio na sociedade.

Considerando ainda, minha experiência, o meu despreparo para trabalhar

movimento em uma perspectiva pedagógica, a constatação de uma realidade em

uma sala de aula, o que rege o MEC, o que dita o Projeto político Pedagógico do

Curso de Pedagogia presencial do campus central da UFRN, aliando-se às

afirmações a respeito do movimento e da Psicomotricidade ditas pelos teóricos

estudados para a elaboração desse trabalho, podemos perceber quão importante é,

para nosso curso, um componente curricular que aborde assuntos sobre movimento

em uma perspectiva educacional. Provavelmente, isso dará subsídio aos futuros

profissionais da educação, para que eles não venham passar pelo que passei, em

suas primeiras experiências dentro de uma sala de educação infantil.

Espero que com este trabalho, possa está contribuindo para uma reflexão e

uma possível reelaboração do nosso Projeto Pedagógico num futuro bem próximo,

permitindo, desta forma, que os novos discentes possam contar com esse subsídio

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tão importante para a sua formação, os quais terão, como função, mediar o

desenvolvimento do seu educando, trabalhando não só a motricidade, a mente e a

afetividade, através do movimento, para um desenvolvimento pleno do aluno.

Contudo, no meu entender, para que essa formação ocorra, é necessária a

inclusão do componente Psicomotricidade, tornando-o obrigatório em nossa

estrutura curricular, pois é na formação inicial que temos a formação da nossa base,

e, com essa base, teremos referência para prosseguir em nossos estudos em busca

cada vez mais de conhecimentos.

Espero estar contribuindo, através de uma reflexão sobre o assunto, para que

outros estudos possam ser feitos com o objetivo de fazer uma reformulação na

estrutura Curricular do Curso de Pedagogia presencial do campus central, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e assim, incluirmos um

componente curricular que trabalhe movimento com base teórica.

REFERÊNCIAS

ARRIBAS, Teresa Lleixà. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. O que é psicomotricidade. Disponível em: http://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/. Acesso em 27 de setembro de 2016. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretária de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF,1998. DIAS, Maria Aparecida. O corpo na pedagogia Freinet. São Paulo, Editora Livraria

da Física, 2012. FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. 2ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

FRIAS, Elzabel Maria Alberton; MENEZES, Maria Christine Berdusco. Inclusão escolar do aluno com necessidades educacionais especiais: contribuições ao professor do ensino regular. Disponível em: <

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1462-8.pdf>. Acesso em: 02 de outubro de 2016. LAPIERRE, A. & LAPIERRE, A. A educação psicomotora na escola maternal.

São Paulo: Manole, 1986.

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OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Edição 20. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2015.

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade, teoria e prática. São Paulo: Cortez, 1994. SANTA CATARINA. Diretrizes para a realização de prática de ensino e de estágio supervisionado de cursos de licenciatura nas escolas de educação básica da rede pública estadual. Florianópolis, 2008.

SCALABRIN, Izabel; MOLINARI, Adriana. A importância da prática do estágio supervisionado nas licenciaturas. Disponível em:

<revistaunar.com.br/cientifica/documentos/vol7_n1_2013/3_a_importancia_da_pratica_estagio.pdf>. Acesso em 10 de outubro de 2016. UFRN. Curso de Pedagogia. Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia Presencial. Colegiado do Curso, 2009. VEENMAN, Simon. El processo de llegar a ser professor: un analises de la formacion inicial. In VILLA, A. (coord.). Perspectiva, problemas de la funcion

docente. Madrid, Espanha: Warcea,1988.