UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · prevalência do helminto Enterobius...

40
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA ANA FRANCIELLY DANTAS FERNANDES PREVALÊNCIA DE ENTEROBIOSE EM CRIANÇAS DOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA ABIGAIL BARROS E VILMA TEIXEIRA DOURADO DUTRA LOCALIZADOS NA CIDADE DE NATAL/RN Natal/RN DEZEMBRO, 2017

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · prevalência do helminto Enterobius...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA

ANA FRANCIELLY DANTAS FERNANDES

PREVALÊNCIA DE ENTEROBIOSE EM CRIANÇAS DOS CENTROS MUNICIPAIS DE

EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA ABIGAIL BARROS E VILMA TEIXEIRA DOURADO DUTRA LOCALIZADOS NA CIDADE DE NATAL/RN

Natal/RN

DEZEMBRO, 2017

PREVALÊNCIA DE ENTEROBIOSE EM CRIANÇAS DOS CENTROS MUNICIPAIS DE

EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA ABIGAIL BARROS E VILMA TEIXEIRA DOURADO DUTRA LOCALIZADOS NA CIDADE DE NATAL/RN

por

Ana Francielly Dantas Fernandes

Orientador: Prof. Christiane Medeiros Bezerra

Natal/RN

DEZEMBRO 2017

Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

A Monografia “Prevalência de enterobiose em crianças dos Centros Municipais de Educação Infantil Maria Abigail Barros e Vilma Teixeira Dourado Dutra localizados na cidade de Natal/RN.” Elaborada por Ana Francielly Dantas Fernandes E aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à obtenção do título de BACHAREL EM BIOMEDICINA

Natal, 08 de Dezembro de 2017

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Christiane Medeiros Bezerra

(Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN)

Orientadora

_________________________________________ Louisianny Guerra da Rocha

(Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN)

1º Examinador

_________________________________________ Maria Cecília Farias dos Santos

(Bióloga do Núcleo de Hematologia e Hemoterapia, UFRN) 2º Examinador

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, e a Virgem Maria! Pois foi por meio deles que

iniciei nessa jornada, e foi preciso quase fraquejar pra perceber que eu não poderia

encerrar esse ciclo sem Eles. Que eu precisava estar mais perto de Deus pra ele me

segurar e da Virgem Maria, para que, como em tantos momentos da minha vida, ela

fosse a seta pra que eu não desviasse o olhar: e continuasse olhando pra Ele.

Agradeço a minha família, e em especial aos meus pais, por sempre acreditarem

em mim, por demonstrarem – a cada dia, que me apoiavam. Que sempre me disseram

pra não desistir! Que demonstraram ter força de vontade durante toda uma vida pra

criar a mim e meus irmãos com o melhor que podiam nos oferecer, e que sempre

demonstraram orgulho ao mencionar que a filha iria ser biomédica um dia. E aqui estou,

cheia de gratidão por tudo, dedicando essa graduação a vocês!!!

Agradeço aos professores do curso, em Especial aqueles que além de ótimos

profissionais, sempre demonstraram ter empatia com os alunos – as universidades

precisam de mais professores como vocês! E em Especial, agradeço a minha

orientadora: professora Christiane Medeiros, e a coordenadora do projeto: Cecília

Holanda: Gratidão define! Não tenho palavras para agradecer o fato de ter sido acolhida

por vocês como aluna, por toda disponibilidade que demonstraram ter durante o curso e

principalmente nessa reta final: Muito Obrigada!

Agradeço também aos meus colegas de curso pelo aprendizado compartilhado,

e em Especial, aquelas pessoas que se tornaram grandes amigas: Kícia Moraes,

Débora Hellen, Iane Caroline, Valéria Costa e Ana Luiza: sem o companheirismo de

vocês (e de algumas poucas pessoas aqui não citadas) teria sido muito mais difícil

chegar até aqui! Que o vínculo que criamos continue caminhando não só para além do

curso, mais que crie raízes em nossas vidas!

Agradeço a Lisiê Martins, pedagoga da CAENE, e ao Grupo de Apoio

Terapêutico coordenado pela psicóloga Angélica Gil, pelos quais pude ser

acompanhada em um momento do curso. Saibam que foi muito importante aprender

com vocês a entender e aceitar minhas limitações, para então buscar estratégias para

ter mais êxito na vida acadêmica. Obrigada!

Agradeço aos preceptores diretos e indiretos dos estágios: Maria Cecília, Antônia

Rosângela, Rosicléia Silva, Anne Katarina ,Guilherme Firmino, e cada profissional dos

setores em que pude estagiar que me ajudaram a crescer como estudante e futura

profissional: obrigado por cada conhecimento compartilhado! Certamente lembrarei não

só dos meus professores, mas também de vocês ao assinar o meu primeiro exame

como profissional biomédica.

E por fim, agradeço cada pessoa que durante os anos de curso me ajudaram,

independente se com apoio emocional ou com apoio acadêmico, deixo aqui minha

gratidão à vocês. E em especial, agradeço as pessoas que se tornaram singulares

nessa reta final: Júlio César, Jocilene Dantas, Vanessa Milena e Louise Alencar.

Obrigada pelo tempo que me dedicaram com o objetivo de me ajudar nesse momento

tão importante da minha vida!

RESUMO

As enteroparasitoses são hoje consideradas um problema de saúde pública,

principalmente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento; no Brasil

apresentam maior prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e

condições precárias de saneamento básico, sendo as crianças as mais afetadas pelo

parasitismo intestinal. A enterobiose é uma parasitose causada pelo helminto

Enterobius vermicularis, e possui como principal característica, quando sintomática, o

prurido perianal noturno que é causado pela presença de ovos e larvas do parasito na

região perianal do paciente afetado, ocasionando assim irritabilidade, insônia,

nervosismo e infecções secundárias. O presente estudo foi realizado em duas Creches

Municipais de Ensino Infantil localizadas no município de Natal-RN, a fim de identificar a

prevalência do helminto Enterobius vermicularis, como também tratar os indivíduos

afetados e proporcionar à comunidade o conhecimento de medidas profiláticas com o

objetivo de minimizar a prevalência dessa e de outras enteroparasitoses. As 62

amostras biológicas coletadas pelo método de Graham foram analisadas em

microscópio óptico pelo aumento de 10x e 40x, com positividade geral observada em

9,67% (N=6) para Enterobius vermicularis. Os resultados obtidos sugerem que o uso de

metodologia específica para a pesquisa de Enterobius vermicularis é de extrema

importância para que seja possível obter resultados fidedignos no que diz respeito à

prevalência desse parasito, e que há necessidade de medidas educativas de

conscientização para a comunidade, como também ações governamentais que

busquem minimizar assim a ocorrência de doenças ocasionadas pelo meio ambiente e

promover o melhoramento da saúde pública e ecossistema.

Palavras-chave: Enteroparasitoses, Enterobius vermicularis, Método de Graham.

ABSTRACT

Nowadays, enteroparasitosis are considered a serious public health issue, especially in

both underdeveloped and developing countries; in Brazil, they present high prevalence

in population with poor socioeconomic and basic sanitation conditions, being children

the most affected by intestinal parasitosis. Enterobiasis is a parasitosis caused by the

helminth Enterobius vermicularis, and its main feature when symptomatic is the

nocturnal perianal pruritus which is caused by the presence of eggs and larvae of the

parasite in perianal area of the affected patient, leading to irritability, insomnia,

nervousness and secondary infectious. The present work was performed in two

Municipal Nursery Schools located in Natal city, state of Rio Grande do Norte, in order to

not only identify the prevalence of the helminth Enterobius vermicularis but also to treat

the affected individuals and provide information about prophylactic measures to

community to minimize the prevalence of this enteroparasitosis and other ones. All 62

biological samples were collected using Graham technique and analyzed using optical

microscope with powers at 10x and 40x, obtaining an overall positivity observed in

9,67% (N=6) for E. vermicularis. The obtained results suggest that using a specific

methodology for the presence of E. vermicularis is extremely important in order to obtain

reliable results regarding the incidence of this parasite. It also suggests that educational

measures to promote community awareness are necessary as well as government

actions that aim to minimize diseases caused by environment and promote the

improvement of public health and ecosystems.

Keywords: Enteroparasitosis, Enterobius vermicularis, Graham method.

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................10

LISTA DE FIGURAS...............................................................................................11

LISTA DE QUADRO...............................................................................................13

1-INTRODUÇÃO....................................................................................................14

2-OBJETIVOS........................................................................................................26

2.1-Geral.................................................................................................................26

2.2-Específicos.......................................................................................................26

3-MATERIAS E MÉTODOS....................................................................................27

4-RESULTADOS....................................................................................................31

5-DISCUSSÃO.......................................................................................................33

6-CONCLUSÃO......................................................................................................36

7-REFERÊNCIAS...................................................................................................37

APÊNDICE...........................................................................................................40

LISTA DE ABREVIATURAS

% Porcentagem

°C Grau Celsius

µm: Micrômetro

As Clima Tropical com estação seca de Verão

cm: Centímetro

CMEI: Centro Municipal de Educação Infantil

g: Grama

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA Instituto de Desenvolvimento Ambiental e Meio Ambiente

kg: Quilograma

km Quilômetro

mg: Miligrama

ml Mililitro

mm: Milímetro

PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Local

PMSB Plano Municipal de Saneamento Básico

SEHARPE Secretária Municipal de Habitação, Regularização Fundiária

e Projetos Estruturantes

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1

Enterobius vermicularis. A. Macho B. Fêmea.......................15

Figuras 2a e 2b

Enterobius vermucularis– fêmea (2a) e Enterobius

vermucularis- Asas cefálicas (2b).........................................16

Figura 3

Ovo de Enterobius vermicularis com e sem

coloração...............................................................................17

Figura 4

Ciclo biológico do Enterobius vermicularis............................18

Figura 5

Método de Graham...............................................................19

Figura 6

Diagrama climático de Valter para Natal/RN........................22

Figura 7

Localização das áreas de estudo em Natal/RN, Brasil.........23

Figura 8

Localização das Zonas Administrativas do Município de

Natal/RN................................................................................23

Figura 9

Percentual de Adequação de Infraestrutura por Região

Administrativa em Natal........................................................24

Figura 10

Material utilizado para a coleta da amostra biológica pelo

método de Graham...............................................................28

Figura 11

Coleta de amostra biológica executada utilizando o método

de Graham............................................................................29

Figura 12

Frequência de amostras positivas para a presença de ovos

de Enterobius vermicularis nas 62 amostras analisadas......31

Figura 13

Ovos de Enterobius vermicularis (Método de

Graham)...............................................................................31

Figura 14 Distribuição da prevalência das 6 amostras positivas entre os

CMEIs Maria Abigail de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado

Dutra.....................................................................................32

Figura 15

Fármaco disponibilizado (Albendazol 40mg/ml) para os casos

positivos identificados no presente estudo...........................32

LISTA DE QUADRO

Quadro 1 Síntese da prevalência encontrada para Enterobius. vermicularis

em trabalhos realizados utilizando como metodologia para

identificação de parasitas a técnica de sedimentação

espontânea.....................................................................................34

14

1. INTRODUÇÃO

A coabitação das espécies no planeta é regulada por duas leis básicas que

regem a vida na Natureza: interdependência das espécies e reciclagem permanente de

todos os componentes orgânicos. Assim sendo, ao longo dos bilhões de anos de

evolução dos seres vivos, essa interdependência promoveu uma interação ou

associação dos mais diferentes tipos entre duas ou mais espécies (NEVES et al., 2012).

O parasitismo é uma forma de associação entre as espécies que é caracterizado por

uma espoliação do hospedeiro pelo parasita, interação na qual o benefício atribuído ao

parasita consiste na obtenção de nutrientes e abrigo a partir do hospedeiro em

detrimento do mesmo (NEVES et al., 2012).

Em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, as enteroparasitoses são

consideradas um grave problema de saúde pública; e no Brasil, apresentam maior

prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e condições precárias

de saneamento básico, resultando em altos índices de morbidade. Esses fatores,

agregados ao grau de escolaridade e a noções precárias de higiene podem vir a facilitar

a disseminação dessas infestações parasitárias. E nesse sentido, vale salientar que nas

crianças, principalmente entre 0 e 5 anos, que normalmente possuem ausência de

imunidade a reinfecções e dependem de terceiros para a manutenção de sua higiene, o

parasitismo intestinal é mais comum e relevante, pois pode intervir também no

crescimento e desenvolvimento da criança por poder influenciar na possibilidade da

redução da absorção intestinal (UCHÔA et al., 2001; FLORES; MALTA; GONÇALVES,

2015).

A enterobiose é uma parasitose causada pelo helminto Enterobius vermicularis

(ou Oxyurus vermicularis), pequeno nematóide da ordem Oxyuroidea e possui como

principal característica, quando sintomática, o prurido perianal noturno que é um

sintoma causado pela presença do parasito na pele da região anal, causando assim

irritabilidade, sono intranquilo, nervosismo e desconforto ao indivíduo afetado. O ato de

se coçar pode causar escoriações na pele em torno do ânus, e consequentemente

15

possíveis infecções secundárias, como congestão anal, causando assim inflamação

com possíveis pontos hemorrágicos. Em meninas pode haver também a presença de

prurido vulvar e a possibilidade de vulvovaginites consequentes à invasão da vulva ou

vagina pelas larvas (REY, 2008; NEVES et al., 2012).

O Enterobius vermicularis é um parasito do tipo nematódeo que possui

dimorfismo sexual, mas ambos os sexos possuem cor branca e são filiformes (Figuras 1

e 2a). Possui boca pequena e lateralmente expansões vesiculosas, sendo estas

chamadas de “asas cefálicas” (Figura 2b). O esôfago é claviforme e em sua terminação

há um bulbo cardíaco. A fêmea mede 1cm de comprimento por 0,4 mm de diâmetro.

Sua cauda é pontiaguda e longa, e sua vulva abre-se na porção média anterior que é

seguida por uma vagina que se comunica com dois úteros (NEVES et al.,2012).

Figura 1: Enterobius vermicularis. A. Macho B. Fêmea.

16

Figuras 2a e 2b: Enterobius vermucularis– fêmea (2a) e Enterobius vermucularis- Asas cefálicas (2b)

Quando grávida, a fêmea possui a porção média do corpo distendida dando um

aspecto fusiforme e é capaz de reter dentro dos úteros aproximadamente 15mil ovos

microscópicos e cada ramo uterino se continua com o oviduto e ovário. Ao passo que o

macho mede 5mm de comprimento por 0,2 mm de diâmetro e, diferente da fêmea, sua

cauda é recurvada em sentido ventral e possui um espiculo e um único testículo. O ovo

mede cerca de 50 µm de comprimento por 20 µm de largura, e possui um lado

achatado e outro convexo caracterizando um formato característico de “D” (Figura 3).

Possui membrana dupla, lisa e transparente e são embrionados desde o momento de

sua oviposição (REY, 2008; NEVES et al., 2012).

2a

2b

17

Figura 3: Ovo de Enterobius vermicularis com e sem coloração.

O ciclo biológico desse parasito é do tipo monoxênico e quando a cópula

acontece, os machos são eliminados com as fezes e morrem. As fêmeas, porém, se

desprendem do ceco em direção ao ânus, cheias de ovos, principalmente no período

noturno. O modo como os ovos são eliminados pela fêmea ainda não é bem definido,

pois alguns autores acreditam que ela realiza oviposição na região perianal, ao passo

que outros afirmam que a fêmea não é capaz de realizar postura de ovos, e deste modo

a sua eliminação não seria possível. Sendo assim, a liberação dos ovos ocorreria

devido a um rompimento da mesma a partir de algum tipo de dessecamento ou

traumatismo. Os ovos liberados, já embrionados, se tornam infectantes com o passar

de algumas horas, e após sua ingestão rompem com conseguinte eclosão das larvas

no intestino delgado. Durante o trajeto até o ceco as larvas rabditoides sofrem duas

mudas para se transformarem em vermes adultos, e após cerca de 30 a 60 dias as

fêmeas podem ser encontradas na região perianal (Figura 4). (REY, 2008; NEVES et

al., 2012).

18

Figura 4: Ciclo biológico do Enterobius vermicularis.

Os mecanismos de transmissão inerentes ao Enterobius vermicularis ocorrem de

cinco modos distintos, sendo estes: heteroinfecção, processo que acontece quando há

o contágio de um novo hospedeiro a partir da deglutição ou inalação de ovos

embrionados de um indivíduo infectado; autoinfecção indireta, que ocorre quando o

indivíduo infectado inala ou deglute ovos embrionados que o mesmo eliminou;

autoinfecção direta - a forma mais comum de transmissão - acontece quando o próprio

indivíduo infectado leva os ovos presentes na região perianal até a boca; autoinfecção

interna, processo que é caracterizado pela eclosão das larvas ainda dentro do reto, que

migram para o ceco onde se transformam em vermes adultos; e retro infecção, que

acontece quando as larvas eclodem na região perianal e internalizam no ânus, e em

seguida migram para o ceco onde podem se transformar em vermes adultos.

É importante mencionar que devido ao ciclo biológico do parasito em questão, a

transmissão da enterobiose possui maior probabilidade de ocorrer principalmente em

locais fechados, visto que seu modo de transmissão, e assim sua prevalência,

independem de um hospedeiro intermediário ou da evolução deste helminto no solo.

19

Além disso, o compartilhamento de roupas íntimas ou toalhas, como também a

ausência de higienização de roupas de cama ou o manter das unhas grandes

contribuem para a transmissão da doença (FERREIRA et al., 1989; ARAÚJO;

FERREIRA, 1995; SANTOS et al., 2015; NEVES et al., 2012).

As suspeitas clínicas referentes à enterobiose estão diretamente relacionadas à

percepção da presença de ovos e/ou fêmeas adultas nas fezes que podem ser vistas

macroscopicamente ou a partir de uma alteração na mucosa do ânus que se torna

congesta e coberta por muco com ovos e larvas adultas causando o prurido anal. Essa

alteração, e consequente sintoma, induzem ao hospedeiro a coçar a região por causa

do evidente incomodo causado, o que pode lesar o local e consequentemente

possibilitar que possa haver o desenvolvimento de infecções secundárias (NEVES et

al., 2012).

O diagnóstico preciso da enterobiose é possível a partir da coleta de amostra

pelo método de Graham (Graham et al., 1941) (Figura 5), observação microscópica da

presença de larvas ou pesquisa de ovos de Enterobius vermicularis. E nesse sentido, é

importante mencionar que o melhor período para a realização da coleta da amostra

biológica é pela manhã, antes do paciente defecar ou tomar banho, uma vez que a

migração das fêmeas grávidas do ceco até a região perianal ocorre durante a noite, fato

justificado pela diminuição diária da temperatura retal do paciente (NEVES et al., 2012;

REY, 2008; CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Figura 5: Método de Graham

20

O tratamento desta doença é possível a partir da administração de fármacos anti-

helmínticos, como por exemplo: Pamoato de Pirantel com indicação de 10 mg /kg em

dose única, não devendo ultrapassar 1 g, por via oral, preferencialmente em jejum.

Entre seus efeitos adversos podem ocorrer cefaléia, tonturas e distúrbios

gastrointestinais leves. Vale ressaltar que esse medicamento não deve ser administrado

em gestantes e, preferencialmente, o paciente deve ser comunicado que o fármaco

poderá produzir cor vermelha na urina e fezes. Mebendazol e albendazol apresentam

também o mesmo esquema preconizado em dose única e repetição em 2 semanas O

mebendazol é administrado por via oral, 100 mg, independente da idade do paciente. O

albendazol é receitado na dose de 400 mg, sendo indicado para crianças acima de dois

anos de idade. Os efeitos adversos podem ser náuseas, vômitos, diarreia, secura na

boca e prurido cutâneo, porém é raro o seu acometimento. A ivermectina e a

nitazoxanida são medicamentos recentemente descritos também para o tratamento de

infecções por helmintos. (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).

Vale ressaltar que medidas profiláticas específicas devem ser feitas de modo a

aperfeiçoar o tratamento e a minimizar possíveis reinfecções, como o tratamento de

todas as pessoas que compõem o grupo familiar do paciente que também estejam

infectadas e a repetição da administração do medicamento a cada 20 dias por pelo

menos duas vezes ou até que nenhuma pessoa do grupo familiar apresente sintomas,

como também a limpeza doméstica com aspirador de pó, corte de unhas do mesmo,

bem como a higienização de roupas com água fervente (REY, 2008).

O Enterobius vermicularis é um parasita que possui um caráter cosmopolita, isto

é, presente em grandes centros urbanos e possui maior prevalência em regiões de

clima frio e temperado, devido a menor frequência de banhos e ao uso mais constante

de roupas íntimas que permanecem dias sem troca, além do confinamento em

ambientes fechados. E nesse sentido, vale salientar que a enterobiose apresenta-se

como uma endemia de caráter focal, constituindo a casa, ou melhor - a família - o foco

epidemiológico elementar. Para outros autores, não é tanto o clima frio ou o estado de

saneamento geral, mas os hábitos pessoais de cada membro da população que podem

21

ser determinantes para a prevalência da doença citada. Estima-se que no Brasil, a

enterobiose possui uma prevalência de 1,4 % a 4,0% em exames coproparasitológicos

(MACEDO, 2005; REY 2008).

O presente estudo teve como principal público alvo crianças de creches

localizadas nos bairros de Lagoa Azul, Zona Norte de Natal e de Capim Macio, Zona

Sul de Natal, uma vez que a enterobiose é mais prevalente na infância, tendo em vista

que as crianças em idade escolar são as mais parasitadas, o que demonstra ser a

escola um lugar de intensa disseminação das formas infectantes. Os pré-escolares

ocupam o segundo lugar, como grupo de risco, seguido pelo das mães que cuidam das

crianças parasitadas. Além disso, as crianças em idade escolar não possuem

conhecimento a respeito dos riscos ambientais a que podem estar expostas. E nesse

sentido, é importante mencionar que é necessário que haja o desenvolvimento de

projetos de estudo que possam fornecer o conhecimento sobre bons hábitos de higiene

para crianças, a fim de que elas possam compreender o porquê e a importância de se

adotar determinadas medidas profiláticas como também pais ou responsáveis, e

professores de cada instituição. Além do mais, a manutenção dos ciclos biológicos de

cada parasito é favorecida pela ausência de cuidados básicos de higiene e pela falta de

informação, e somente com um trabalho educativo somado ao tratamento ideal, as

enteroparasitoses podem ser combatidas de maneira eficaz (SANTOS et al., 2015;

FERREIRA, 2008; REY, 2008; NEVES et al., 2012).

Segundo dados do IDEMA, o município de Natal está inserido no litoral oriental

(leste) do Estado do Rio Grande do Norte - Nordeste do Brasil - com área

correspondente a aproximadamente 167,2 km² e seus limites estão localizados entre

Extremoz ao Norte, Parnamirim ao Sul, a Oeste São Gonçalo do Amarante, Macaíba, e

Parnamirim e ao Leste, o Oceano Atlântico (IDEMA 2013).O clima de Natal é

classificado como tropical com verão seco (AS), segundo a classificação climática de

Koppen (ALVARES et al., 2013). De acordo com Barros (2017, p. 34),

a cidade de Natal está localizada em uma zona tropical da Terra, recebendo grande quantidade de radiação solar e precipitação pela influência da maritimidade [...] Natal apresenta um período

22

úmido na maior parte do ano, de janeiro a setembro, e as temperaturas variam de 24,9 °C a 27,6 °C e a precipitação média anual é de 1.737,7 mm

No diagrama climático de Natal (Figura 6), é possível perceber que a

cidade tem um período úmido na maior parte do ano

Figura 6: Diagrama climático de Valter para Natal/RN.

A cidade de Natal possui uma população total de 803.739 habitantes, e segundo

dados do Plano Local de Habitação de Interesse Local (PLHIS) (SEHARPE, 2014), de

um total de 235.721 domicílios permanentes particulares, considerando a faixa de 0 a 3

salários mínimos, na Capital do Rio Grande do Norte existem cerca de 85.690

domicílios que são considerados inadequados por carência de esgotamento sanitário;

ao passo que 2.106 são assim classificados por carência de abastecimento de água,

10.703 por carência de coleta de lixo e cerca de 2.655 que não possuem nem banheiro,

nem sanitário.

O presente estudo foi realizado especificamente nos bairros de Lagoa Azul e de

Capim Macio na cidade de Natal, (Figura 7); O bairro de Lagoa Azul está localizado na

Região Administrativa Norte da capital, que possui 303.543 habitantes, correspondendo

a 37,77% da população da cidade. Capim Macio está localizado na Região

Administrativa Sul de Natal e possui 166.491 habitantes, correspondendo a 20,71% da

população da cidade (Figura 8) (SEMURB 2016).

23

Figura 7: Localização das áreas de estudo em Natal/RN, Brasil

Figura 8: Localização das Zonas Administrativas do Município de Natal/RN

.

Em uma análise sobre os indicadores de abastecimento de água e esgotamento

sanitário por região administrativa no município de Natal, estudos apontam que as

regiões Norte e Oeste possuem os menores índices de adequação com relação ao

esgotamento sanitário, enquanto que as regiões Leste e Sul apresentam melhores

índices, sobretudo porque já possuem uma infraestrutura mais consolidada e poucas

24

áreas de expansão, diferentemente das outras duas regiões da cidade (Figura 9)

(IDEMA 2013/ SEHARPE, 2014).

Figura 9: Percentual de Adequação de Infraestrutura por Região Administrativa em Natal Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2017; SEHARPE, 2014)

É importante mencionar que, segundo alguns autores, na América do Sul,

Caribe, África, Ásia e na parte Leste da Europa, ainda no século XXI, os países

subdesenvolvidos ou em desenvolvimento que não alcançaram a universalização dos

serviços públicos de saneamento básico têm como característica comum a persistência

do caráter endêmico das doenças infecto-parasitárias relacionadas à insalubridade

ambiental. Nestes países, as doenças infecto-parasitárias relacionadas à ausência ou

precariedade dos serviços públicos de saneamento básico e às condições inadequadas

de higiene são extremamente custosas às famílias acometidas e aos sistemas públicos

de saúde (CUNHA, 2013).

Determinadas por um contexto de extrema desigualdade social justaposta à

injustiça ambiental, estes males à saúde estão concentrados em populações de baixa

renda e determinados grupos étnicos excluídos do acesso às políticas sociais. E nesse

sentido, vale ressaltar que as ações sanitárias integrantes do saneamento ambiental e

de cunho socioeconômico visam alcançar a salubridade ambiental desejável, que desse

modo, proporcionam o controle de doenças transmissíveis, com a finalidade de

assegurar condições de saúde aos indivíduos residentes nas zonas urbana e rural

(CUNHA, 2013; RIBEIRO et al., 2011).

25

Não menos importante, reforçar a necessidade de projetos educativos visando à

divulgação sobre bons hábitos de higiene para crianças, a fim de que elas possam

compreender o porquê e a importância de se adotar determinadas medidas profiláticas,

uma vez que no caso da enterobiose a transmissão via fômites é de extrema

importância para a propagação doença (SANTOS et al., 2015).

26

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

Identificar a prevalência de enterobiose em crianças dos Centros Municipais de

Educação Infantil (CMEI) Maria Abigail Barros de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado

Dutra.

2.2. Específicos

Diagnosticar os casos de enterobiose em crianças participantes do estudo;

Possibilitar o tratamento adequado para os casos positivos para Enterobius.

vermicularis;

Conscientizar crianças e responsáveis sobre medidas profiláticas a serem

adotadas para evitar a prevalência de enterobiose e outras parasitoses.

27

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no período de Julho a Setembro de 2015, com

62 crianças dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) Maria Abigail Barros

de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado Dutra localizados, respectivamente, nos bairros

de Lagoa Azul e Capim Macio, Natal-RN.

Para melhor êxito do trabalho, a execução do mesmo foi dividida em etapas de:

divulgação/coleta, análise das amostras, entrega de resultados (e medicamentos para

os casos positivos) e palestra de conscientização.

Os indivíduos incluídos neste estudo foram previamente esclarecidos sobre a

realização desta pesquisa e após concordância de sua participação, seus responsáveis

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias (Apêndice).

Foram excluídas as crianças cujos pais/responsáveis não consentiram à

participação, situação esta verificada no momento da abordagem para esclarecimentos

sobre o trabalho a ser realizado.

Etapa de divulgação e de coleta das amostras biológicas

A divulgação do presente estudo ocorreu por meio de uma abordagem com as

responsáveis pelos Centros Municipais de Ensino Infantil (CMEI) Maria Abigail Barros

de Azevedo e posteriormente no CMEI Vilma Teixeira Dourado Dutra, localizados

respectivamente, no conjunto de Nova Natal - bairro de Lagoa Azul e no conjunto de

Mirassol, pertencente ao bairro de Capim Macio, na zona sul de Natal.

Nas creches em que a pesquisa foi feita, inicialmente foram realizadas reuniões

com os coordenadores dessas instituições para que assim, com a devida autorização e

28

contribuição dos mesmos, uma reunião pudesse ser realizada posteriormente com os

pais e responsáveis das crianças para fins de divulgação e esclarecimento do trabalho.

A coleta das amostras biológicas era realizada na presença dos pais ou

responsáveis de cada criança, e o método utilizado para este fim escolhido foi o método

de Graham (Graham et al., 1941); essa técnica consiste na utilização de uma espátula

envolvida com uma fita adesiva com a parte colante para fora (Figura 10) sendo

posteriormente pressionada nas pregas anais e perianais do pacientes (Figura 11) para

obtenção do material biológico necessário para a pesquisa do Enterobius vermicularis.

Vale salientar que na sala em que a coleta era realizada, permaneciam apenas os

estudantes com material necessário para a execução da técnica e as crianças

acompanhadas pelos pais ou responsáveis, só e somente só, no momento da coleta do

material biológico.

Figura 10: Material utilizado para a coleta da amostra biológica pelo método de Graham.

29

Figura 11: Coleta de amostra biológica executada utilizando o método de Graham.

A recomendação dada aos responsáveis das crianças era que as trouxessem

sem terem tomado banho e sem higienização das partes íntimas, uma vez que o

enteroparasita que causa a enterobiose possui hábitos noturnos devido ao seu ciclo

biológico, motivo este pelo qual a coleta só era realizada no período da manhã e com o

cumprimento das orientações recomendadas, a fim de se evitar resultados falsos

negativos.

Análise dos dados

A análise das amostras foi feita no Laboratório de Aulas Práticas de Parasitologia

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sob supervisão da professora

coordenadora do projeto, como também por colaboradores pertencentes ao

Departamento de Microbiologia e Parasitologia da universidade em questão, a partir da

análise microscópica das lâminas confeccionadas em aumento de 10x e de 40x.

30

Etapas de entrega dos resultados (e medicamentos para os casos

positivos) e palestra de conscientização

Após a análise das lâminas e obtenção dos resultados, foi possível agendar um

dia nas escolas participantes para a entrega dos resultados e a realização de um teatro

de fantoches seguido à palestra sobre parasitoses e sobre as medidas profiláticas que

devem ser adotadas para evitar a propagação de enteroparasitoses.

A entrega dos medicamentos para as crianças que tiveram resultados positivos

para a pesquisa de Enterobius vermicularis foi feita de modo discreto e particular com

cada responsável a fim de se manter a confidencialidade do resultado do teste, como

também evitar possíveis constrangimentos. O fármaco de escolha para este fim foi o

albendazol 40 mg/ml em suspensão oral, adquirido a partir da participação de alunos de

medicina no presente trabalho e do médico responsável pela prescrição do

medicamento mencionado.

31

4. RESULTADOS

Dentre as 62 amostras coletadas e analisadas foi observada prevalência de

9,67% (06) de positividade para a presença de ovos de Enterobius vermicularis (Figuras

12 e 13). Foi encontrada também uma (01) amostra positiva para Trichuris trichiura.

Figura 12: Frequência de amostras positivas para a presença de ovos de Enterobius vermicularis nas 62 amostras analisadas.

Figura 13 : Ovos de Enterobius vermicularis ( Método de Graham)

Quanto à prevalência de amostras positivas para Enterobius vermicularis entre

os Centros Municipais de Ensino Infantil, tanto o CMEI Vilma Teixeira Dourado Dutra

localizado no bairro de Capim Macio, quanto o CMEI Maria Abigail de Azevedo

localizado no bairro Lagoa Azul, apresentaram o mesmo número de casos (03),

32

representando 50% de positividade em cada CMEI (Figura 14). A amostra de Trichuris

trichiura foi encontrada no CMEI Vilma Teixeira Dourado Dutra.

Figura 14: Distribuição da prevalência das 6 amostras positivas entre os CMEIs Maria Abigail de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado Dutra.

As sete crianças que apresentaram positividade para os parasitas identificados

receberam o fármaco albendazol em suspensão oral de 40 mg/ml (Figura 15), para ser

utilizado em dose única, no tratamento. Além disso, todas as crianças, pais e

responsáveis participantes da pesquisa receberam orientações à respeito de medidas

profiláticas, a fim de que por meio dessas ações pudessem minimizar a prevalência de

possíveis casos de enteroparasitoses posteriormente.

Figura 15 : Fármaco disponibilizado (Albendazol 40mg/ml) para os casos positivos identificados no

presente estudo.

33

5. DISCUSSÃO No presente estudo foi encontrada prevalência de 9,67% de Enterobius

vermicularis, além de uma amostra positiva com ovos de Trichuris trichiura.

Considerando que as infecções parasitárias pelo Enterobius vermicularis ocorrem

principalmente por meio de seus mecanismos de transmissão somado ao seu ciclo

biológico característico, tais achados reforçam que a prevalência desse helminto ocorre

preferencialmente em ambientes fechados e está presente, desse modo, em creches e

escolas de modo significante.

Flores, Malta e Gonçalves (2015), estudando a prevalência de enteroparasitoses

em crianças de 4 a 12 anos de idade em escolas municipais na cidade de Candiba,

Bahia, pelo método da sedimentação espontânea, obtiveram resultados semelhantes

ao presente trabalho, com uma prevalência de 9,4% de Enterobius vermicularis em um

total de 32 amostras positivas. No município de Pará de Minas, em Minas Gerais,

Marzagão et al. (2010) em amplo estudo realizado com diferentes faixas etárias,

constataram prevalência de 5,9% de Enterobius vermicularis num total de 170 amostras

positivas na faixa etária de 1 a 14 anos, e de apenas 1,1% nas faixas etárias de 15 a 30

e 31 a 50 anos. Esses dados, assim como os encontrados no presente estudo,

corroboram a ideia de que as crianças estão mais propícias a adquirir infecções de

qualquer espécie, sobretudo por possuírem um sistema imunológico menos

desenvolvido, além de serem desprovidas de conhecimentos básicos de higiene, sendo

dependentes de cuidados por terceiros.

Em outros trabalhos realizados no Brasil para identificação de enteroparasitoses,

utilizando crianças como público alvo, as prevalências de Enterobius vermicularis foram

de 1,5% em São João De-Rey/MG (Belo et al., 2012), 2,2% em Porto Alegre/RS

(Bencke et al., 2006) e 4,4% em Guaratinguetá/SP (Rosa et al., 2009), quando utilizado

o método da sedimentação espontânea de Hoffman, Pons e Janer. Por outro lado,

Macedo et al. (2005) e Silva et al (2010), encontraram prevalências de enterobiose

inferior a 1%, sendo de 0,9% e 0,6%, respectivamente.

34

Esses dados evidenciam que embora seja possível encontrar positividade para a

presença de ovos de Enterobius. vermicularis (Quadro 1) em amostras analisadas por

métodos de sedimentação, o exame coproparasitológico de fezes não deve ser

considerado o mais fidedigno para o diagnóstico de enterobiose, sendo o método de

Graham a metodologia mais específica para essa finalidade, uma vez que não é

característico das fêmeas realizarem oviposição no lúmen intestinal (REY 2008; NEVES

et al., 2012). E nesse sentido Silva et al. (2010) demonstraram que a realização do

método de Graham aumenta em até 6,6 vezes a prevalência para enterobiose quando

comparada ao método de Lutz.

Quadro 1: Síntese da prevalência encontrada para Enterobius vermicularis em trabalhos

realizados utilizando como metodologia para identificação de parasitas a técnica de sedimentação

espontânea

Autor

Cidade

E. vermicularis (%)

Flores et al. (2015) Candiba/BA 9,4

Belo et al. (2012) São José Del-Rey/MG 1,5

Rosa et al. (2009) Guaratinguetá/SP 4,4

Bencke et al. (2006) Porto Alegre/RS 2,2

Macedo et al. (2005) Paracatu/MG 0,9

Silva et al. (2010) Patos de Minas/MG 0,6

35

É preciso destacar que o Enterobius vermicularis pode provocar vários sintomas

ou até mesmo complicações secundárias em pacientes que estejam infectados. Altun et

al. (2017) menciona, por exemplo, que infestações parasitárias estão entre as causas

prováveis na etiologia da apendicite, sendo a presença do Enterobius uma dessas.

Além disso, a enterobiose também está relacionada com enurese noturna em crianças,

como mencionado por Campos, Silva e Campos (2011), que estudando crianças de um

orfanato de Natal, notou que a medida que as mesmas receberam tratamento para a

erradicação do helminto, houve uma proporcional diminuição dos sintomas de enurese

noturna.

Sendo assim, é importante ressaltar que os dados obtidos neste estudo assim

como aqueles vistos em outros já realizados, sugerem que ações educativas para a

diminuição de casos de enterobiose em creches e escolas são tão essenciais, quanto

seu diagnóstico precoce. Além disso, reiteramos o que foi dito por Melo, Ferraz e Aleixo

(2010) que ressaltaram que além da disponibilização do tratamento medicamentoso, as

autoridades governamentais deveriam também dedicar-se à adoção de medidas

profiláticas através da conscientização da população no que diz respeito aos bons

hábitos de higiene e também por meio da disponibilização de saneamento básico para

a população a fim de diminuir a prevalência de enteroparasitoses.

36

6. CONCLUSÃO

Através do presente trabalho foi possível observar positividade para a presença

de enterobiose em 9,67% das amostras.

As crianças que apresentaram positividade para os parasitas identificados

receberam o medicamento Albendazol, em dose única, para ser administrado por via

oral no tratamento.

Além disso, todos participantes da pesquisa, incluindo crianças,

pais/responsáveis e professores receberam orientações à respeito de medidas

profiláticas, a fim de que por meio dessas ações pudessem minimizar a prevalência de

possíveis casos de enteroparasitoses posteriormente.

Portanto, diante dos dados obtidos pelo presente estudo, é possível afirmar que

escolas e creches são de fato lugares de disseminação do helminto Enterobius

vermicularis, e que ações educativas a respeito de medidas básicas de higiene são tão

importantes para evitar sua prevalência, quanto seu diagnóstico precoce.

37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTUN, Eren; AVCI, Veli; AZATÇAM, Meltem. Parasitic infestation in appendicitis: A retrospective analysis of 660 patients and brief literature review. Saudi Medical Journal, Bingol, p.314-318, 2017

ALVARES, Clayton Alcarde et al. Ko¨ppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, Stuttgar, v. 22, n. 6, p.711-728, jan. 2014.

ARAÚJO, Adauto; FERREIRA, Luiz F.. Oxiuríase e Migrações Pré-Históricas. História, Ciências e Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, p.99-109, 1995.

BARROS, Jocilene Dantas. Distribuição espacial e qualificação da cobertura vegetal do município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. 2017. 100 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

BELO, Vinícius Silva et al. Fatores associados à ocorrência de parasitoses intestinais em uma população de crianças e adolescentes. Revista Paul Pediatr, Minas Gerais, v. 30, n. 2, p.195-201, 2011

BENCKE, Amanda et al. ENTEROPARASITOSES EM ESCOLARES RESIDENTES NA PERIFERIA DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL. Revista de Patologia Tropical, Porto Alegre, p.31-36, 2006.

CAMPOS, Carlos Alberto Moreira; SILVA, Emanuelly Bernardes Oliveira da; CAMPOS, Nathalia Weyl Costa. Associação entre enterobiose e enurese em crianças de um orfanato de Natal, RN, BRASIL. Revista de Patologia Tropical, Natal, v. 40, n. 3, p.247-252, set. 2011

CIMERMAN, Sérgio; CIMERMAN, Benjamin. Enterobíase. Revista Panamericana de Infectologia, Brasil, v. 7, n. 3, p.27-30, set. 2005. Disponível em: <http://www.revistaapi.com/wp-content/uploads/2014/02/materia-04.pdf>. Acesso em: em 10.11.2017

CUNHA, Gabriel Muricy. Prevalência da Infecção por Enteroparasitas e sua Relação com as Condições Socioeconômicas e Ambientais em Comunidades Extrativistas do Município de Cairu-Bahia. 2013. 247 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho, Universidade de Medicina da Bahia, Salvador, 2013.

Disponível em: <

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Enterobius_vermicularis_LifeCycle_pt-version.svg> Acesso em: 15/11/17.

38

Disponível em: http://monitoria-parasito.blogspot.com.br/2010/06/nematoda-familias-ascarididae-oxyuridae.html Acesso em: 18/11/17,

Disponível em:< http://www.ucv.ve/typo3temp/pics/1f50f94eb7.gif> Acesso em: 15/11/17

Disponível em:< http://www.ufrgs.br/para-site/siteantigo/Imagensatlas/Animalia/Enterobius%20vermicularis.htm> Acesso em: 15/11/17

FERREIRA, Edna Alves. Projeto Educação e Saúde: a importância das medidas de higiene para a profilaxia de doenças parasitárias. 2008. 15 f. Trabalho de Conclusão de

Curso (Graduação em Ciências Biológicas), Universitário Metodista Izabela Hendrix, Belo Horizonte, 2008

FERREIRA, Luiz Fernando et al. Infecções por Enterobius Vermicularis em populações agro-pastoris pré-colombianas de San Pedro de Atacama, Chile. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, p.197-199, 1989.

FLORES, Manoel Carlos Padro et al. PREVALENCIAS DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE GRUPOS ESCOLARES MUNICIPAIS DA CIDADE DE CANDIBA - BAHIA. 2015. 18 f. TCC (Graduação) - Curso de Biomedicina, Faculdade Guanambi, Guanambi, 2015.

GRAHAM, C. F. A device for the diagnosis of Enterobius vermicularis. American Journal of Tropical Medicine, v. 21, p. 159-161, 1941

HOFFMAN, W. A.; PONS, J.a; J.L.JANER. THE SEDIMENTATION-CONCENTRATION METHOD IN SCHISTOSOMIASIS MANSONI. .tournal Of Public Health And Trop. Medicina, Porto Rico, v. 5, n. 8, p.283-291, ago. 1933

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO NORTE (IDEMA). Perfil do seu município: Natal. 2013. Disponível em: <http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/idema/DOC/DOC000000000016677.PDF> Acesso em:19 de nov. 2017.

MACEDO, Hélica Silva. Prevalência de Parasitos e Comensais Intestinais em Crianças de Escolas da Rede Pública Municipal de Paracatu (MG). Revista Brasileira de Analíses Clínicas, Minas Gerais, p.209-213, jan. 2005

MARZAGÃO, Marcilene et al. Ocorrência de parasitoses intestinais em habitantes do município de Pará de Minas, MG – Brasil. Revista Brasileira de Farmácia, Pará de Minas, v. 91, n. 4, p.183-188, 2010

MELO, Erenilson Moreira; FERRAZ, Fabiana Nabarro; ALEIXO, Denise Lessa. IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR. Sabios-revista de Saúde e Biologia, Campo Mourão, p.43-47, 2010

39

NATAL. Lei complementar nº 082, de 21 de junho de 2007. Plano diretor de Natal, 2007.

____Anuário de Natal 2016. Natal: SEMURB, 2016

NEVES, David Pereira. MELO, Alan Lane. LINARDI, Pedro Marcos. VITOR, Ricardo W Almeida. Parasitologia humana. 12ª Edição. São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, 2012.

REY, Luís. Parasitologia. Parasitos e Doenças Parasitárias do Homem nos Trópicos Ocidentais. 4ª Edição. Rio de Janeiro, 2008.

RIBEIRO, Maria José Rocha et al. Insalubridade ambiental e aspectos sociais associados a patógenos intestinais isolados de dípteros. Engenharia Sanitária Ambiental, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p.83-90, mar. 2011

ROSA, Ana Paula Pereira et. al. Prevalência de enteroparasitas em crianças de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP. Vale do Paraíba, p.1-26, 2012. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/0217_0393_01.pdf> Acesso em: 16 de novembro de 2017

SANTOS, Sheila da Mota dos et al. Estratégias didáticas para abordagem da Enterobiose na educação básica. Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Águas de Lindóia, p.1-8, 2015

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE HABITAÇÃO , REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA E PROJETOS ESTRUTURANTES –SEHARPE. Plano Municipal de Saneamento Básico do Município de Natal/RN. Natal.2014. Disponível em: <https://natal.rn.gov.br/seharpe/File/PMSB_CARACTERIZACAO_GERAL.pdf>. Acesso em 19 de nov. 2017. SILVA, Luciana Pereira; SILVA, Regildo Márcio Gonçalves da. OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE PATOS DE MINAS, MG, BRASIL. Jornal Bioscience, Minas Gerais, v. 26, n. 1, p.147-151, fev. 2010.

UCHÔA, Cláudia M.a. et al. Parasitoses intestinais: prevalência em creches comunitárias da cidade de Niterói, Rio de Janeiro – Brasil. Revista do Instituto Adolfo Lutz, Rio de Janeiro, p.97-101, 2001.

40

APÊNDICE

Apêndice A

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Eu, _________________________________________________________________________________ (nome por

extenso), declaro que concordo com a minha participação VOLUNTÁRIA ou com a participação VOLUNTÁRIA do

(a) meu (minha) filho (a) no trabalho de extensão universitária (campo) que faz parte do curso de graduação em

Biomedicina da UFRN, intitulado “Enterobiose humana: como diagnosticar, tratar e prevenir?”, desenvolvido por

Ana Francielly Dantas Fernandes e sua equipe e sob orientação da professora Drª Cecília Maria de Carvalho X.

Holanda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Tenho ciência de que o objetivo deste trabalho é

estritamente acadêmico, sendo, em linhas gerais, de Saúde Pública. Fui também informado (a) de que a minha

participação ou a de meu (minha) filho (a) é totalmente voluntária, podendo eu recusar a autorização de tal

participação ou mesmo desistir a qualquer momento, sem que isto acarrete em qualquer ônus ou prejuízo à minha

pessoa ou à de meu (minha) filho (a). Sei também que a minha participação ou a de meu(minha) filho(a) se fará de

forma anônima, por meio de entrevista e de material coletado, e que essas informações serão utilizadas somente para

os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a minha

identidade e a de meu(minha) filho(a). Declaro, por fim, que fui devidamente esclarecido (a) de que os usos das

informações por mim oferecidas estão submetidos às normas éticas da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN e atesto

que recebi uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Natal (RN),_______de _____________________ de 2015.

Assinatura do responsável pela criança: ____________________________________________________

Assinatura do pesquisador:_____________________________________________________________

Assinatura da testemunha: _____________________________________________________________