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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA
ANA FRANCIELLY DANTAS FERNANDES
PREVALÊNCIA DE ENTEROBIOSE EM CRIANÇAS DOS CENTROS MUNICIPAIS DE
EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA ABIGAIL BARROS E VILMA TEIXEIRA DOURADO DUTRA LOCALIZADOS NA CIDADE DE NATAL/RN
Natal/RN
DEZEMBRO, 2017
PREVALÊNCIA DE ENTEROBIOSE EM CRIANÇAS DOS CENTROS MUNICIPAIS DE
EDUCAÇÃO INFANTIL MARIA ABIGAIL BARROS E VILMA TEIXEIRA DOURADO DUTRA LOCALIZADOS NA CIDADE DE NATAL/RN
por
Ana Francielly Dantas Fernandes
Orientador: Prof. Christiane Medeiros Bezerra
Natal/RN
DEZEMBRO 2017
Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
CURSO DE BIOMEDICINA
A Monografia “Prevalência de enterobiose em crianças dos Centros Municipais de Educação Infantil Maria Abigail Barros e Vilma Teixeira Dourado Dutra localizados na cidade de Natal/RN.” Elaborada por Ana Francielly Dantas Fernandes E aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à obtenção do título de BACHAREL EM BIOMEDICINA
Natal, 08 de Dezembro de 2017
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________ Christiane Medeiros Bezerra
(Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN)
Orientadora
_________________________________________ Louisianny Guerra da Rocha
(Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN)
1º Examinador
_________________________________________ Maria Cecília Farias dos Santos
(Bióloga do Núcleo de Hematologia e Hemoterapia, UFRN) 2º Examinador
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, e a Virgem Maria! Pois foi por meio deles que
iniciei nessa jornada, e foi preciso quase fraquejar pra perceber que eu não poderia
encerrar esse ciclo sem Eles. Que eu precisava estar mais perto de Deus pra ele me
segurar e da Virgem Maria, para que, como em tantos momentos da minha vida, ela
fosse a seta pra que eu não desviasse o olhar: e continuasse olhando pra Ele.
Agradeço a minha família, e em especial aos meus pais, por sempre acreditarem
em mim, por demonstrarem – a cada dia, que me apoiavam. Que sempre me disseram
pra não desistir! Que demonstraram ter força de vontade durante toda uma vida pra
criar a mim e meus irmãos com o melhor que podiam nos oferecer, e que sempre
demonstraram orgulho ao mencionar que a filha iria ser biomédica um dia. E aqui estou,
cheia de gratidão por tudo, dedicando essa graduação a vocês!!!
Agradeço aos professores do curso, em Especial aqueles que além de ótimos
profissionais, sempre demonstraram ter empatia com os alunos – as universidades
precisam de mais professores como vocês! E em Especial, agradeço a minha
orientadora: professora Christiane Medeiros, e a coordenadora do projeto: Cecília
Holanda: Gratidão define! Não tenho palavras para agradecer o fato de ter sido acolhida
por vocês como aluna, por toda disponibilidade que demonstraram ter durante o curso e
principalmente nessa reta final: Muito Obrigada!
Agradeço também aos meus colegas de curso pelo aprendizado compartilhado,
e em Especial, aquelas pessoas que se tornaram grandes amigas: Kícia Moraes,
Débora Hellen, Iane Caroline, Valéria Costa e Ana Luiza: sem o companheirismo de
vocês (e de algumas poucas pessoas aqui não citadas) teria sido muito mais difícil
chegar até aqui! Que o vínculo que criamos continue caminhando não só para além do
curso, mais que crie raízes em nossas vidas!
Agradeço a Lisiê Martins, pedagoga da CAENE, e ao Grupo de Apoio
Terapêutico coordenado pela psicóloga Angélica Gil, pelos quais pude ser
acompanhada em um momento do curso. Saibam que foi muito importante aprender
com vocês a entender e aceitar minhas limitações, para então buscar estratégias para
ter mais êxito na vida acadêmica. Obrigada!
Agradeço aos preceptores diretos e indiretos dos estágios: Maria Cecília, Antônia
Rosângela, Rosicléia Silva, Anne Katarina ,Guilherme Firmino, e cada profissional dos
setores em que pude estagiar que me ajudaram a crescer como estudante e futura
profissional: obrigado por cada conhecimento compartilhado! Certamente lembrarei não
só dos meus professores, mas também de vocês ao assinar o meu primeiro exame
como profissional biomédica.
E por fim, agradeço cada pessoa que durante os anos de curso me ajudaram,
independente se com apoio emocional ou com apoio acadêmico, deixo aqui minha
gratidão à vocês. E em especial, agradeço as pessoas que se tornaram singulares
nessa reta final: Júlio César, Jocilene Dantas, Vanessa Milena e Louise Alencar.
Obrigada pelo tempo que me dedicaram com o objetivo de me ajudar nesse momento
tão importante da minha vida!
RESUMO
As enteroparasitoses são hoje consideradas um problema de saúde pública,
principalmente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento; no Brasil
apresentam maior prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e
condições precárias de saneamento básico, sendo as crianças as mais afetadas pelo
parasitismo intestinal. A enterobiose é uma parasitose causada pelo helminto
Enterobius vermicularis, e possui como principal característica, quando sintomática, o
prurido perianal noturno que é causado pela presença de ovos e larvas do parasito na
região perianal do paciente afetado, ocasionando assim irritabilidade, insônia,
nervosismo e infecções secundárias. O presente estudo foi realizado em duas Creches
Municipais de Ensino Infantil localizadas no município de Natal-RN, a fim de identificar a
prevalência do helminto Enterobius vermicularis, como também tratar os indivíduos
afetados e proporcionar à comunidade o conhecimento de medidas profiláticas com o
objetivo de minimizar a prevalência dessa e de outras enteroparasitoses. As 62
amostras biológicas coletadas pelo método de Graham foram analisadas em
microscópio óptico pelo aumento de 10x e 40x, com positividade geral observada em
9,67% (N=6) para Enterobius vermicularis. Os resultados obtidos sugerem que o uso de
metodologia específica para a pesquisa de Enterobius vermicularis é de extrema
importância para que seja possível obter resultados fidedignos no que diz respeito à
prevalência desse parasito, e que há necessidade de medidas educativas de
conscientização para a comunidade, como também ações governamentais que
busquem minimizar assim a ocorrência de doenças ocasionadas pelo meio ambiente e
promover o melhoramento da saúde pública e ecossistema.
Palavras-chave: Enteroparasitoses, Enterobius vermicularis, Método de Graham.
ABSTRACT
Nowadays, enteroparasitosis are considered a serious public health issue, especially in
both underdeveloped and developing countries; in Brazil, they present high prevalence
in population with poor socioeconomic and basic sanitation conditions, being children
the most affected by intestinal parasitosis. Enterobiasis is a parasitosis caused by the
helminth Enterobius vermicularis, and its main feature when symptomatic is the
nocturnal perianal pruritus which is caused by the presence of eggs and larvae of the
parasite in perianal area of the affected patient, leading to irritability, insomnia,
nervousness and secondary infectious. The present work was performed in two
Municipal Nursery Schools located in Natal city, state of Rio Grande do Norte, in order to
not only identify the prevalence of the helminth Enterobius vermicularis but also to treat
the affected individuals and provide information about prophylactic measures to
community to minimize the prevalence of this enteroparasitosis and other ones. All 62
biological samples were collected using Graham technique and analyzed using optical
microscope with powers at 10x and 40x, obtaining an overall positivity observed in
9,67% (N=6) for E. vermicularis. The obtained results suggest that using a specific
methodology for the presence of E. vermicularis is extremely important in order to obtain
reliable results regarding the incidence of this parasite. It also suggests that educational
measures to promote community awareness are necessary as well as government
actions that aim to minimize diseases caused by environment and promote the
improvement of public health and ecosystems.
Keywords: Enteroparasitosis, Enterobius vermicularis, Graham method.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................10
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................11
LISTA DE QUADRO...............................................................................................13
1-INTRODUÇÃO....................................................................................................14
2-OBJETIVOS........................................................................................................26
2.1-Geral.................................................................................................................26
2.2-Específicos.......................................................................................................26
3-MATERIAS E MÉTODOS....................................................................................27
4-RESULTADOS....................................................................................................31
5-DISCUSSÃO.......................................................................................................33
6-CONCLUSÃO......................................................................................................36
7-REFERÊNCIAS...................................................................................................37
APÊNDICE...........................................................................................................40
LISTA DE ABREVIATURAS
% Porcentagem
°C Grau Celsius
µm: Micrômetro
As Clima Tropical com estação seca de Verão
cm: Centímetro
CMEI: Centro Municipal de Educação Infantil
g: Grama
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEMA Instituto de Desenvolvimento Ambiental e Meio Ambiente
kg: Quilograma
km Quilômetro
mg: Miligrama
ml Mililitro
mm: Milímetro
PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Local
PMSB Plano Municipal de Saneamento Básico
SEHARPE Secretária Municipal de Habitação, Regularização Fundiária
e Projetos Estruturantes
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1
Enterobius vermicularis. A. Macho B. Fêmea.......................15
Figuras 2a e 2b
Enterobius vermucularis– fêmea (2a) e Enterobius
vermucularis- Asas cefálicas (2b).........................................16
Figura 3
Ovo de Enterobius vermicularis com e sem
coloração...............................................................................17
Figura 4
Ciclo biológico do Enterobius vermicularis............................18
Figura 5
Método de Graham...............................................................19
Figura 6
Diagrama climático de Valter para Natal/RN........................22
Figura 7
Localização das áreas de estudo em Natal/RN, Brasil.........23
Figura 8
Localização das Zonas Administrativas do Município de
Natal/RN................................................................................23
Figura 9
Percentual de Adequação de Infraestrutura por Região
Administrativa em Natal........................................................24
Figura 10
Material utilizado para a coleta da amostra biológica pelo
método de Graham...............................................................28
Figura 11
Coleta de amostra biológica executada utilizando o método
de Graham............................................................................29
Figura 12
Frequência de amostras positivas para a presença de ovos
de Enterobius vermicularis nas 62 amostras analisadas......31
Figura 13
Ovos de Enterobius vermicularis (Método de
Graham)...............................................................................31
Figura 14 Distribuição da prevalência das 6 amostras positivas entre os
CMEIs Maria Abigail de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado
Dutra.....................................................................................32
Figura 15
Fármaco disponibilizado (Albendazol 40mg/ml) para os casos
positivos identificados no presente estudo...........................32
LISTA DE QUADRO
Quadro 1 Síntese da prevalência encontrada para Enterobius. vermicularis
em trabalhos realizados utilizando como metodologia para
identificação de parasitas a técnica de sedimentação
espontânea.....................................................................................34
14
1. INTRODUÇÃO
A coabitação das espécies no planeta é regulada por duas leis básicas que
regem a vida na Natureza: interdependência das espécies e reciclagem permanente de
todos os componentes orgânicos. Assim sendo, ao longo dos bilhões de anos de
evolução dos seres vivos, essa interdependência promoveu uma interação ou
associação dos mais diferentes tipos entre duas ou mais espécies (NEVES et al., 2012).
O parasitismo é uma forma de associação entre as espécies que é caracterizado por
uma espoliação do hospedeiro pelo parasita, interação na qual o benefício atribuído ao
parasita consiste na obtenção de nutrientes e abrigo a partir do hospedeiro em
detrimento do mesmo (NEVES et al., 2012).
Em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, as enteroparasitoses são
consideradas um grave problema de saúde pública; e no Brasil, apresentam maior
prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e condições precárias
de saneamento básico, resultando em altos índices de morbidade. Esses fatores,
agregados ao grau de escolaridade e a noções precárias de higiene podem vir a facilitar
a disseminação dessas infestações parasitárias. E nesse sentido, vale salientar que nas
crianças, principalmente entre 0 e 5 anos, que normalmente possuem ausência de
imunidade a reinfecções e dependem de terceiros para a manutenção de sua higiene, o
parasitismo intestinal é mais comum e relevante, pois pode intervir também no
crescimento e desenvolvimento da criança por poder influenciar na possibilidade da
redução da absorção intestinal (UCHÔA et al., 2001; FLORES; MALTA; GONÇALVES,
2015).
A enterobiose é uma parasitose causada pelo helminto Enterobius vermicularis
(ou Oxyurus vermicularis), pequeno nematóide da ordem Oxyuroidea e possui como
principal característica, quando sintomática, o prurido perianal noturno que é um
sintoma causado pela presença do parasito na pele da região anal, causando assim
irritabilidade, sono intranquilo, nervosismo e desconforto ao indivíduo afetado. O ato de
se coçar pode causar escoriações na pele em torno do ânus, e consequentemente
15
possíveis infecções secundárias, como congestão anal, causando assim inflamação
com possíveis pontos hemorrágicos. Em meninas pode haver também a presença de
prurido vulvar e a possibilidade de vulvovaginites consequentes à invasão da vulva ou
vagina pelas larvas (REY, 2008; NEVES et al., 2012).
O Enterobius vermicularis é um parasito do tipo nematódeo que possui
dimorfismo sexual, mas ambos os sexos possuem cor branca e são filiformes (Figuras 1
e 2a). Possui boca pequena e lateralmente expansões vesiculosas, sendo estas
chamadas de “asas cefálicas” (Figura 2b). O esôfago é claviforme e em sua terminação
há um bulbo cardíaco. A fêmea mede 1cm de comprimento por 0,4 mm de diâmetro.
Sua cauda é pontiaguda e longa, e sua vulva abre-se na porção média anterior que é
seguida por uma vagina que se comunica com dois úteros (NEVES et al.,2012).
Figura 1: Enterobius vermicularis. A. Macho B. Fêmea.
16
Figuras 2a e 2b: Enterobius vermucularis– fêmea (2a) e Enterobius vermucularis- Asas cefálicas (2b)
Quando grávida, a fêmea possui a porção média do corpo distendida dando um
aspecto fusiforme e é capaz de reter dentro dos úteros aproximadamente 15mil ovos
microscópicos e cada ramo uterino se continua com o oviduto e ovário. Ao passo que o
macho mede 5mm de comprimento por 0,2 mm de diâmetro e, diferente da fêmea, sua
cauda é recurvada em sentido ventral e possui um espiculo e um único testículo. O ovo
mede cerca de 50 µm de comprimento por 20 µm de largura, e possui um lado
achatado e outro convexo caracterizando um formato característico de “D” (Figura 3).
Possui membrana dupla, lisa e transparente e são embrionados desde o momento de
sua oviposição (REY, 2008; NEVES et al., 2012).
2a
2b
17
Figura 3: Ovo de Enterobius vermicularis com e sem coloração.
O ciclo biológico desse parasito é do tipo monoxênico e quando a cópula
acontece, os machos são eliminados com as fezes e morrem. As fêmeas, porém, se
desprendem do ceco em direção ao ânus, cheias de ovos, principalmente no período
noturno. O modo como os ovos são eliminados pela fêmea ainda não é bem definido,
pois alguns autores acreditam que ela realiza oviposição na região perianal, ao passo
que outros afirmam que a fêmea não é capaz de realizar postura de ovos, e deste modo
a sua eliminação não seria possível. Sendo assim, a liberação dos ovos ocorreria
devido a um rompimento da mesma a partir de algum tipo de dessecamento ou
traumatismo. Os ovos liberados, já embrionados, se tornam infectantes com o passar
de algumas horas, e após sua ingestão rompem com conseguinte eclosão das larvas
no intestino delgado. Durante o trajeto até o ceco as larvas rabditoides sofrem duas
mudas para se transformarem em vermes adultos, e após cerca de 30 a 60 dias as
fêmeas podem ser encontradas na região perianal (Figura 4). (REY, 2008; NEVES et
al., 2012).
18
Figura 4: Ciclo biológico do Enterobius vermicularis.
Os mecanismos de transmissão inerentes ao Enterobius vermicularis ocorrem de
cinco modos distintos, sendo estes: heteroinfecção, processo que acontece quando há
o contágio de um novo hospedeiro a partir da deglutição ou inalação de ovos
embrionados de um indivíduo infectado; autoinfecção indireta, que ocorre quando o
indivíduo infectado inala ou deglute ovos embrionados que o mesmo eliminou;
autoinfecção direta - a forma mais comum de transmissão - acontece quando o próprio
indivíduo infectado leva os ovos presentes na região perianal até a boca; autoinfecção
interna, processo que é caracterizado pela eclosão das larvas ainda dentro do reto, que
migram para o ceco onde se transformam em vermes adultos; e retro infecção, que
acontece quando as larvas eclodem na região perianal e internalizam no ânus, e em
seguida migram para o ceco onde podem se transformar em vermes adultos.
É importante mencionar que devido ao ciclo biológico do parasito em questão, a
transmissão da enterobiose possui maior probabilidade de ocorrer principalmente em
locais fechados, visto que seu modo de transmissão, e assim sua prevalência,
independem de um hospedeiro intermediário ou da evolução deste helminto no solo.
19
Além disso, o compartilhamento de roupas íntimas ou toalhas, como também a
ausência de higienização de roupas de cama ou o manter das unhas grandes
contribuem para a transmissão da doença (FERREIRA et al., 1989; ARAÚJO;
FERREIRA, 1995; SANTOS et al., 2015; NEVES et al., 2012).
As suspeitas clínicas referentes à enterobiose estão diretamente relacionadas à
percepção da presença de ovos e/ou fêmeas adultas nas fezes que podem ser vistas
macroscopicamente ou a partir de uma alteração na mucosa do ânus que se torna
congesta e coberta por muco com ovos e larvas adultas causando o prurido anal. Essa
alteração, e consequente sintoma, induzem ao hospedeiro a coçar a região por causa
do evidente incomodo causado, o que pode lesar o local e consequentemente
possibilitar que possa haver o desenvolvimento de infecções secundárias (NEVES et
al., 2012).
O diagnóstico preciso da enterobiose é possível a partir da coleta de amostra
pelo método de Graham (Graham et al., 1941) (Figura 5), observação microscópica da
presença de larvas ou pesquisa de ovos de Enterobius vermicularis. E nesse sentido, é
importante mencionar que o melhor período para a realização da coleta da amostra
biológica é pela manhã, antes do paciente defecar ou tomar banho, uma vez que a
migração das fêmeas grávidas do ceco até a região perianal ocorre durante a noite, fato
justificado pela diminuição diária da temperatura retal do paciente (NEVES et al., 2012;
REY, 2008; CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).
Figura 5: Método de Graham
20
O tratamento desta doença é possível a partir da administração de fármacos anti-
helmínticos, como por exemplo: Pamoato de Pirantel com indicação de 10 mg /kg em
dose única, não devendo ultrapassar 1 g, por via oral, preferencialmente em jejum.
Entre seus efeitos adversos podem ocorrer cefaléia, tonturas e distúrbios
gastrointestinais leves. Vale ressaltar que esse medicamento não deve ser administrado
em gestantes e, preferencialmente, o paciente deve ser comunicado que o fármaco
poderá produzir cor vermelha na urina e fezes. Mebendazol e albendazol apresentam
também o mesmo esquema preconizado em dose única e repetição em 2 semanas O
mebendazol é administrado por via oral, 100 mg, independente da idade do paciente. O
albendazol é receitado na dose de 400 mg, sendo indicado para crianças acima de dois
anos de idade. Os efeitos adversos podem ser náuseas, vômitos, diarreia, secura na
boca e prurido cutâneo, porém é raro o seu acometimento. A ivermectina e a
nitazoxanida são medicamentos recentemente descritos também para o tratamento de
infecções por helmintos. (CIMERMAN; CIMERMAN, 2005).
Vale ressaltar que medidas profiláticas específicas devem ser feitas de modo a
aperfeiçoar o tratamento e a minimizar possíveis reinfecções, como o tratamento de
todas as pessoas que compõem o grupo familiar do paciente que também estejam
infectadas e a repetição da administração do medicamento a cada 20 dias por pelo
menos duas vezes ou até que nenhuma pessoa do grupo familiar apresente sintomas,
como também a limpeza doméstica com aspirador de pó, corte de unhas do mesmo,
bem como a higienização de roupas com água fervente (REY, 2008).
O Enterobius vermicularis é um parasita que possui um caráter cosmopolita, isto
é, presente em grandes centros urbanos e possui maior prevalência em regiões de
clima frio e temperado, devido a menor frequência de banhos e ao uso mais constante
de roupas íntimas que permanecem dias sem troca, além do confinamento em
ambientes fechados. E nesse sentido, vale salientar que a enterobiose apresenta-se
como uma endemia de caráter focal, constituindo a casa, ou melhor - a família - o foco
epidemiológico elementar. Para outros autores, não é tanto o clima frio ou o estado de
saneamento geral, mas os hábitos pessoais de cada membro da população que podem
21
ser determinantes para a prevalência da doença citada. Estima-se que no Brasil, a
enterobiose possui uma prevalência de 1,4 % a 4,0% em exames coproparasitológicos
(MACEDO, 2005; REY 2008).
O presente estudo teve como principal público alvo crianças de creches
localizadas nos bairros de Lagoa Azul, Zona Norte de Natal e de Capim Macio, Zona
Sul de Natal, uma vez que a enterobiose é mais prevalente na infância, tendo em vista
que as crianças em idade escolar são as mais parasitadas, o que demonstra ser a
escola um lugar de intensa disseminação das formas infectantes. Os pré-escolares
ocupam o segundo lugar, como grupo de risco, seguido pelo das mães que cuidam das
crianças parasitadas. Além disso, as crianças em idade escolar não possuem
conhecimento a respeito dos riscos ambientais a que podem estar expostas. E nesse
sentido, é importante mencionar que é necessário que haja o desenvolvimento de
projetos de estudo que possam fornecer o conhecimento sobre bons hábitos de higiene
para crianças, a fim de que elas possam compreender o porquê e a importância de se
adotar determinadas medidas profiláticas como também pais ou responsáveis, e
professores de cada instituição. Além do mais, a manutenção dos ciclos biológicos de
cada parasito é favorecida pela ausência de cuidados básicos de higiene e pela falta de
informação, e somente com um trabalho educativo somado ao tratamento ideal, as
enteroparasitoses podem ser combatidas de maneira eficaz (SANTOS et al., 2015;
FERREIRA, 2008; REY, 2008; NEVES et al., 2012).
Segundo dados do IDEMA, o município de Natal está inserido no litoral oriental
(leste) do Estado do Rio Grande do Norte - Nordeste do Brasil - com área
correspondente a aproximadamente 167,2 km² e seus limites estão localizados entre
Extremoz ao Norte, Parnamirim ao Sul, a Oeste São Gonçalo do Amarante, Macaíba, e
Parnamirim e ao Leste, o Oceano Atlântico (IDEMA 2013).O clima de Natal é
classificado como tropical com verão seco (AS), segundo a classificação climática de
Koppen (ALVARES et al., 2013). De acordo com Barros (2017, p. 34),
a cidade de Natal está localizada em uma zona tropical da Terra, recebendo grande quantidade de radiação solar e precipitação pela influência da maritimidade [...] Natal apresenta um período
22
úmido na maior parte do ano, de janeiro a setembro, e as temperaturas variam de 24,9 °C a 27,6 °C e a precipitação média anual é de 1.737,7 mm
No diagrama climático de Natal (Figura 6), é possível perceber que a
cidade tem um período úmido na maior parte do ano
Figura 6: Diagrama climático de Valter para Natal/RN.
A cidade de Natal possui uma população total de 803.739 habitantes, e segundo
dados do Plano Local de Habitação de Interesse Local (PLHIS) (SEHARPE, 2014), de
um total de 235.721 domicílios permanentes particulares, considerando a faixa de 0 a 3
salários mínimos, na Capital do Rio Grande do Norte existem cerca de 85.690
domicílios que são considerados inadequados por carência de esgotamento sanitário;
ao passo que 2.106 são assim classificados por carência de abastecimento de água,
10.703 por carência de coleta de lixo e cerca de 2.655 que não possuem nem banheiro,
nem sanitário.
O presente estudo foi realizado especificamente nos bairros de Lagoa Azul e de
Capim Macio na cidade de Natal, (Figura 7); O bairro de Lagoa Azul está localizado na
Região Administrativa Norte da capital, que possui 303.543 habitantes, correspondendo
a 37,77% da população da cidade. Capim Macio está localizado na Região
Administrativa Sul de Natal e possui 166.491 habitantes, correspondendo a 20,71% da
população da cidade (Figura 8) (SEMURB 2016).
23
Figura 7: Localização das áreas de estudo em Natal/RN, Brasil
Figura 8: Localização das Zonas Administrativas do Município de Natal/RN
.
Em uma análise sobre os indicadores de abastecimento de água e esgotamento
sanitário por região administrativa no município de Natal, estudos apontam que as
regiões Norte e Oeste possuem os menores índices de adequação com relação ao
esgotamento sanitário, enquanto que as regiões Leste e Sul apresentam melhores
índices, sobretudo porque já possuem uma infraestrutura mais consolidada e poucas
24
áreas de expansão, diferentemente das outras duas regiões da cidade (Figura 9)
(IDEMA 2013/ SEHARPE, 2014).
Figura 9: Percentual de Adequação de Infraestrutura por Região Administrativa em Natal Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2017; SEHARPE, 2014)
É importante mencionar que, segundo alguns autores, na América do Sul,
Caribe, África, Ásia e na parte Leste da Europa, ainda no século XXI, os países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento que não alcançaram a universalização dos
serviços públicos de saneamento básico têm como característica comum a persistência
do caráter endêmico das doenças infecto-parasitárias relacionadas à insalubridade
ambiental. Nestes países, as doenças infecto-parasitárias relacionadas à ausência ou
precariedade dos serviços públicos de saneamento básico e às condições inadequadas
de higiene são extremamente custosas às famílias acometidas e aos sistemas públicos
de saúde (CUNHA, 2013).
Determinadas por um contexto de extrema desigualdade social justaposta à
injustiça ambiental, estes males à saúde estão concentrados em populações de baixa
renda e determinados grupos étnicos excluídos do acesso às políticas sociais. E nesse
sentido, vale ressaltar que as ações sanitárias integrantes do saneamento ambiental e
de cunho socioeconômico visam alcançar a salubridade ambiental desejável, que desse
modo, proporcionam o controle de doenças transmissíveis, com a finalidade de
assegurar condições de saúde aos indivíduos residentes nas zonas urbana e rural
(CUNHA, 2013; RIBEIRO et al., 2011).
25
Não menos importante, reforçar a necessidade de projetos educativos visando à
divulgação sobre bons hábitos de higiene para crianças, a fim de que elas possam
compreender o porquê e a importância de se adotar determinadas medidas profiláticas,
uma vez que no caso da enterobiose a transmissão via fômites é de extrema
importância para a propagação doença (SANTOS et al., 2015).
26
2. OBJETIVOS
2.1. Geral
Identificar a prevalência de enterobiose em crianças dos Centros Municipais de
Educação Infantil (CMEI) Maria Abigail Barros de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado
Dutra.
2.2. Específicos
Diagnosticar os casos de enterobiose em crianças participantes do estudo;
Possibilitar o tratamento adequado para os casos positivos para Enterobius.
vermicularis;
Conscientizar crianças e responsáveis sobre medidas profiláticas a serem
adotadas para evitar a prevalência de enterobiose e outras parasitoses.
27
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no período de Julho a Setembro de 2015, com
62 crianças dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) Maria Abigail Barros
de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado Dutra localizados, respectivamente, nos bairros
de Lagoa Azul e Capim Macio, Natal-RN.
Para melhor êxito do trabalho, a execução do mesmo foi dividida em etapas de:
divulgação/coleta, análise das amostras, entrega de resultados (e medicamentos para
os casos positivos) e palestra de conscientização.
Os indivíduos incluídos neste estudo foram previamente esclarecidos sobre a
realização desta pesquisa e após concordância de sua participação, seus responsáveis
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias (Apêndice).
Foram excluídas as crianças cujos pais/responsáveis não consentiram à
participação, situação esta verificada no momento da abordagem para esclarecimentos
sobre o trabalho a ser realizado.
Etapa de divulgação e de coleta das amostras biológicas
A divulgação do presente estudo ocorreu por meio de uma abordagem com as
responsáveis pelos Centros Municipais de Ensino Infantil (CMEI) Maria Abigail Barros
de Azevedo e posteriormente no CMEI Vilma Teixeira Dourado Dutra, localizados
respectivamente, no conjunto de Nova Natal - bairro de Lagoa Azul e no conjunto de
Mirassol, pertencente ao bairro de Capim Macio, na zona sul de Natal.
Nas creches em que a pesquisa foi feita, inicialmente foram realizadas reuniões
com os coordenadores dessas instituições para que assim, com a devida autorização e
28
contribuição dos mesmos, uma reunião pudesse ser realizada posteriormente com os
pais e responsáveis das crianças para fins de divulgação e esclarecimento do trabalho.
A coleta das amostras biológicas era realizada na presença dos pais ou
responsáveis de cada criança, e o método utilizado para este fim escolhido foi o método
de Graham (Graham et al., 1941); essa técnica consiste na utilização de uma espátula
envolvida com uma fita adesiva com a parte colante para fora (Figura 10) sendo
posteriormente pressionada nas pregas anais e perianais do pacientes (Figura 11) para
obtenção do material biológico necessário para a pesquisa do Enterobius vermicularis.
Vale salientar que na sala em que a coleta era realizada, permaneciam apenas os
estudantes com material necessário para a execução da técnica e as crianças
acompanhadas pelos pais ou responsáveis, só e somente só, no momento da coleta do
material biológico.
Figura 10: Material utilizado para a coleta da amostra biológica pelo método de Graham.
29
Figura 11: Coleta de amostra biológica executada utilizando o método de Graham.
A recomendação dada aos responsáveis das crianças era que as trouxessem
sem terem tomado banho e sem higienização das partes íntimas, uma vez que o
enteroparasita que causa a enterobiose possui hábitos noturnos devido ao seu ciclo
biológico, motivo este pelo qual a coleta só era realizada no período da manhã e com o
cumprimento das orientações recomendadas, a fim de se evitar resultados falsos
negativos.
Análise dos dados
A análise das amostras foi feita no Laboratório de Aulas Práticas de Parasitologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sob supervisão da professora
coordenadora do projeto, como também por colaboradores pertencentes ao
Departamento de Microbiologia e Parasitologia da universidade em questão, a partir da
análise microscópica das lâminas confeccionadas em aumento de 10x e de 40x.
30
Etapas de entrega dos resultados (e medicamentos para os casos
positivos) e palestra de conscientização
Após a análise das lâminas e obtenção dos resultados, foi possível agendar um
dia nas escolas participantes para a entrega dos resultados e a realização de um teatro
de fantoches seguido à palestra sobre parasitoses e sobre as medidas profiláticas que
devem ser adotadas para evitar a propagação de enteroparasitoses.
A entrega dos medicamentos para as crianças que tiveram resultados positivos
para a pesquisa de Enterobius vermicularis foi feita de modo discreto e particular com
cada responsável a fim de se manter a confidencialidade do resultado do teste, como
também evitar possíveis constrangimentos. O fármaco de escolha para este fim foi o
albendazol 40 mg/ml em suspensão oral, adquirido a partir da participação de alunos de
medicina no presente trabalho e do médico responsável pela prescrição do
medicamento mencionado.
31
4. RESULTADOS
Dentre as 62 amostras coletadas e analisadas foi observada prevalência de
9,67% (06) de positividade para a presença de ovos de Enterobius vermicularis (Figuras
12 e 13). Foi encontrada também uma (01) amostra positiva para Trichuris trichiura.
Figura 12: Frequência de amostras positivas para a presença de ovos de Enterobius vermicularis nas 62 amostras analisadas.
Figura 13 : Ovos de Enterobius vermicularis ( Método de Graham)
Quanto à prevalência de amostras positivas para Enterobius vermicularis entre
os Centros Municipais de Ensino Infantil, tanto o CMEI Vilma Teixeira Dourado Dutra
localizado no bairro de Capim Macio, quanto o CMEI Maria Abigail de Azevedo
localizado no bairro Lagoa Azul, apresentaram o mesmo número de casos (03),
32
representando 50% de positividade em cada CMEI (Figura 14). A amostra de Trichuris
trichiura foi encontrada no CMEI Vilma Teixeira Dourado Dutra.
Figura 14: Distribuição da prevalência das 6 amostras positivas entre os CMEIs Maria Abigail de Azevedo e Vilma Teixeira Dourado Dutra.
As sete crianças que apresentaram positividade para os parasitas identificados
receberam o fármaco albendazol em suspensão oral de 40 mg/ml (Figura 15), para ser
utilizado em dose única, no tratamento. Além disso, todas as crianças, pais e
responsáveis participantes da pesquisa receberam orientações à respeito de medidas
profiláticas, a fim de que por meio dessas ações pudessem minimizar a prevalência de
possíveis casos de enteroparasitoses posteriormente.
Figura 15 : Fármaco disponibilizado (Albendazol 40mg/ml) para os casos positivos identificados no
presente estudo.
33
5. DISCUSSÃO No presente estudo foi encontrada prevalência de 9,67% de Enterobius
vermicularis, além de uma amostra positiva com ovos de Trichuris trichiura.
Considerando que as infecções parasitárias pelo Enterobius vermicularis ocorrem
principalmente por meio de seus mecanismos de transmissão somado ao seu ciclo
biológico característico, tais achados reforçam que a prevalência desse helminto ocorre
preferencialmente em ambientes fechados e está presente, desse modo, em creches e
escolas de modo significante.
Flores, Malta e Gonçalves (2015), estudando a prevalência de enteroparasitoses
em crianças de 4 a 12 anos de idade em escolas municipais na cidade de Candiba,
Bahia, pelo método da sedimentação espontânea, obtiveram resultados semelhantes
ao presente trabalho, com uma prevalência de 9,4% de Enterobius vermicularis em um
total de 32 amostras positivas. No município de Pará de Minas, em Minas Gerais,
Marzagão et al. (2010) em amplo estudo realizado com diferentes faixas etárias,
constataram prevalência de 5,9% de Enterobius vermicularis num total de 170 amostras
positivas na faixa etária de 1 a 14 anos, e de apenas 1,1% nas faixas etárias de 15 a 30
e 31 a 50 anos. Esses dados, assim como os encontrados no presente estudo,
corroboram a ideia de que as crianças estão mais propícias a adquirir infecções de
qualquer espécie, sobretudo por possuírem um sistema imunológico menos
desenvolvido, além de serem desprovidas de conhecimentos básicos de higiene, sendo
dependentes de cuidados por terceiros.
Em outros trabalhos realizados no Brasil para identificação de enteroparasitoses,
utilizando crianças como público alvo, as prevalências de Enterobius vermicularis foram
de 1,5% em São João De-Rey/MG (Belo et al., 2012), 2,2% em Porto Alegre/RS
(Bencke et al., 2006) e 4,4% em Guaratinguetá/SP (Rosa et al., 2009), quando utilizado
o método da sedimentação espontânea de Hoffman, Pons e Janer. Por outro lado,
Macedo et al. (2005) e Silva et al (2010), encontraram prevalências de enterobiose
inferior a 1%, sendo de 0,9% e 0,6%, respectivamente.
34
Esses dados evidenciam que embora seja possível encontrar positividade para a
presença de ovos de Enterobius. vermicularis (Quadro 1) em amostras analisadas por
métodos de sedimentação, o exame coproparasitológico de fezes não deve ser
considerado o mais fidedigno para o diagnóstico de enterobiose, sendo o método de
Graham a metodologia mais específica para essa finalidade, uma vez que não é
característico das fêmeas realizarem oviposição no lúmen intestinal (REY 2008; NEVES
et al., 2012). E nesse sentido Silva et al. (2010) demonstraram que a realização do
método de Graham aumenta em até 6,6 vezes a prevalência para enterobiose quando
comparada ao método de Lutz.
Quadro 1: Síntese da prevalência encontrada para Enterobius vermicularis em trabalhos
realizados utilizando como metodologia para identificação de parasitas a técnica de sedimentação
espontânea
Autor
Cidade
E. vermicularis (%)
Flores et al. (2015) Candiba/BA 9,4
Belo et al. (2012) São José Del-Rey/MG 1,5
Rosa et al. (2009) Guaratinguetá/SP 4,4
Bencke et al. (2006) Porto Alegre/RS 2,2
Macedo et al. (2005) Paracatu/MG 0,9
Silva et al. (2010) Patos de Minas/MG 0,6
35
É preciso destacar que o Enterobius vermicularis pode provocar vários sintomas
ou até mesmo complicações secundárias em pacientes que estejam infectados. Altun et
al. (2017) menciona, por exemplo, que infestações parasitárias estão entre as causas
prováveis na etiologia da apendicite, sendo a presença do Enterobius uma dessas.
Além disso, a enterobiose também está relacionada com enurese noturna em crianças,
como mencionado por Campos, Silva e Campos (2011), que estudando crianças de um
orfanato de Natal, notou que a medida que as mesmas receberam tratamento para a
erradicação do helminto, houve uma proporcional diminuição dos sintomas de enurese
noturna.
Sendo assim, é importante ressaltar que os dados obtidos neste estudo assim
como aqueles vistos em outros já realizados, sugerem que ações educativas para a
diminuição de casos de enterobiose em creches e escolas são tão essenciais, quanto
seu diagnóstico precoce. Além disso, reiteramos o que foi dito por Melo, Ferraz e Aleixo
(2010) que ressaltaram que além da disponibilização do tratamento medicamentoso, as
autoridades governamentais deveriam também dedicar-se à adoção de medidas
profiláticas através da conscientização da população no que diz respeito aos bons
hábitos de higiene e também por meio da disponibilização de saneamento básico para
a população a fim de diminuir a prevalência de enteroparasitoses.
36
6. CONCLUSÃO
Através do presente trabalho foi possível observar positividade para a presença
de enterobiose em 9,67% das amostras.
As crianças que apresentaram positividade para os parasitas identificados
receberam o medicamento Albendazol, em dose única, para ser administrado por via
oral no tratamento.
Além disso, todos participantes da pesquisa, incluindo crianças,
pais/responsáveis e professores receberam orientações à respeito de medidas
profiláticas, a fim de que por meio dessas ações pudessem minimizar a prevalência de
possíveis casos de enteroparasitoses posteriormente.
Portanto, diante dos dados obtidos pelo presente estudo, é possível afirmar que
escolas e creches são de fato lugares de disseminação do helminto Enterobius
vermicularis, e que ações educativas a respeito de medidas básicas de higiene são tão
importantes para evitar sua prevalência, quanto seu diagnóstico precoce.
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APÊNDICE
Apêndice A
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
Eu, _________________________________________________________________________________ (nome por
extenso), declaro que concordo com a minha participação VOLUNTÁRIA ou com a participação VOLUNTÁRIA do
(a) meu (minha) filho (a) no trabalho de extensão universitária (campo) que faz parte do curso de graduação em
Biomedicina da UFRN, intitulado “Enterobiose humana: como diagnosticar, tratar e prevenir?”, desenvolvido por
Ana Francielly Dantas Fernandes e sua equipe e sob orientação da professora Drª Cecília Maria de Carvalho X.
Holanda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Tenho ciência de que o objetivo deste trabalho é
estritamente acadêmico, sendo, em linhas gerais, de Saúde Pública. Fui também informado (a) de que a minha
participação ou a de meu (minha) filho (a) é totalmente voluntária, podendo eu recusar a autorização de tal
participação ou mesmo desistir a qualquer momento, sem que isto acarrete em qualquer ônus ou prejuízo à minha
pessoa ou à de meu (minha) filho (a). Sei também que a minha participação ou a de meu(minha) filho(a) se fará de
forma anônima, por meio de entrevista e de material coletado, e que essas informações serão utilizadas somente para
os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a minha
identidade e a de meu(minha) filho(a). Declaro, por fim, que fui devidamente esclarecido (a) de que os usos das
informações por mim oferecidas estão submetidos às normas éticas da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN e atesto
que recebi uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Natal (RN),_______de _____________________ de 2015.
Assinatura do responsável pela criança: ____________________________________________________
Assinatura do pesquisador:_____________________________________________________________
Assinatura da testemunha: _____________________________________________________________