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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO
SÍLVIA EMANUELY DA SILVA
A MATERIALIZAÇÃO DA
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM OLHAR SOBRE O
CRAS DO MUNICÍPIO DE TAIPU/RN.
NATAL
2017
SÍLVIA EMANUELY DA SILVA
A MATERIALIZAÇÃO DA
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM OLHAR SOBRE O
CRAS DO MUNICÍPIO DE TAIPU/RN.
Monografia apresentada ao Curso de Serviço
Social da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.
Orientador: Fernando Teixeira Gomes
NATAL
2017
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Silva, Sílvia Emanuely da.
A materialização da Política Nacional de Assistência Social: um olhar sobre
o CRAS do município de Taipu/RN./ Sílvia Emanuely da Silva. - Natal, RN,
2017.
67 f.
Orientador: Prof. Esp. Fernando Teixeira Gomes.
Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de
Serviço Social.
1. Assistência Social - Monografia. 2. Seguridade Social - Monografia. 3.
Política Nacional de Assistência Social - Monografia. 4. Sistema Único de
Assistência Social - Monografia. I. Gomes, Fernando Teixeira. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 364.3
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu socorro presente em todas as angústias, meu porto seguro dos dias bons e
dos desagradáveis. Te agradeço por tudo, sem a sua presença nada seria possível, pois ela me
basta.
A minha mãe, Helena Eliotério, ao meu pai, Severino Eliotério, a minha imensa
gratidão pelos valores que me ensinaram a preservar, pelo esforço e dedicação para que eu me
tornasse o que sou. Obrigada pelo amor incondicional que me fez acreditar na vida.
Yasmim, filha amada, é por você que todos os dias levantei cedo e me dispus a
enfrentar o mundo, a transpor barreiras. Por você, que me ensinou o verdadeiro sentido do que
é amor, e foi por você que superei mais um obstáculo. Te amo incondicionalmente.
Ao meu esposo, Rabi, minha gratulação pela sua dedicação, paciência, respeito, e
principalmente por acreditar em uma capacidade que, confesso que algumas vezes, eu mesma
desacreditei, mas você, do seu jeito, sempre me fazia superar meus desânimos, seja me
sobrecarregando de tarefas – uma das formas mais árduas de auto avaliar-se –, ou mesmo me
deixando livre, sem qualquer atribuição ou preocupação - minha zona de conforto, e sem
dúvidas as reflexões, nesse estágio, eram bem inferiores ao outro -. Confesso que demorei pra
entender a estratégia, mas enfim, os resultados me deixaram mais resistentes às dificuldades.
Obrigada por suportar todo estresse, com ou sem TCC. Te amo!
As minhas amigas, amadas irmãs Célia França, Cely Susy obrigada pelas vezes que
me distraíram, pra não dizer que me tiraram de tempo, mesmo. Amo vocês, e sem as quais
seria um pássaro que não tem abrigo para pousar.
Aos demais familiares, a minha gratidão pelo apoio, compreensão e orações.
Grata a minha ex-supervisora, Brena Karoline, Assistente Social do Centro de Apoio
Operacional às Promotorias da Infância, juventude e Família – CAOPIJF, pela excelência
profissional, pela pessoa agradabilíssima que é, e principalmente pelos ensinamentos e
conhecimentos transmitidos, me impulsionaram a ir em busca da competência e compromisso
profissional. Agradeço verdadeiramente por me encorajar nos momentos em que já não
acreditava ser possível, que estava difícil e que, certamente, sem o seu apoio não teria
superado. Obrigada pela acolhida de todos os dias que passamos dividindo o mesmo espaço
sócio-ocupacional, enquanto estagiária.
Também ex-supervisoras, Isabel e Sara Barbalho, Assistentes Sociais – CAOPIJF –
pela paciência, disponibilidade, e auxílio profissional. Foi de suma importância tê-las como
exemplo para o fazer profissional, dedicadas sempre a fazer o melhor em suas atuações.
A Laís Jacobina (Psicóloga), Iasmin Costa (MP Residente), Drª Sandra Angélica
Santiago (Promotora Coordenadora do CAOPIJ) e aos demais que dividiram um espaço
desafiador para cada profissional e estagiário, ali lotado, meu muito obrigada. Foi uma
satisfação imensa poder compartilhar com vocês momentos agradáveis, outros nem tanto, mas
que indubitavelmente contribuíram de algum modo para o meu aprendizado.
Ao meu orientador Professor Fernando Gomes Teixeira, pela tranquilidade e
paciência, pelo incentivo, principalmente em ler “zilhões” de textos quando na verdade eu só
queria esquecê-los. Foi satisfatório poder tê-lo como mentor do meu trabalho de conclusão.
Muita agradecida.
A Professora Mestra, Mônica Mª Calixto pela dedicação, compreensão e
cuidado, principalmente, por ter sido um período muito desafiador, não apenas para ela, mas à
todos que a estimam. Sou muito grata e te admiro demais!
As minhas colegas de curso, de aventuras e desventuras, Quênia Silva, Rafaela Santos,
“Sandra Maria” e Tatiana Lima, indiscutivelmente um dos maiores presentes que a
universidade me concedeu. Obrigada pelo apoio e presença quando precisei – me refiro a
todos os momentos, desde os mais tranquilos aos mais tempestuosos –, sem dúvidas vou
sentir falta.
A Khris Evelyn, psicóloga, da minha “aborrecência” para a vida toda. Você sabe bem
do meu apreço, e quão bom foi reencontrá-la. Grata pelo apoio e encorajamento!!
Enfim, aos demais que contribuíram direta ou indiretamente, têm uma parcela de
importância, e que também contribuíram nesse percurso de aprendizagem imensurável, meus
sinceros agradecimentos.
Sílvia Emanuely
“500 anos de vida,
500 anos de sobrevivência,
500 anos de história,
500 anos de experiência,
500 anos de batalhas, derrotas e vitórias,
Desordem e progresso, fracasso, sucesso,
Dor e alegria, tristeza e paixão,
500 anos de trabalho,
e a obra ainda está em construção,
A luta continua, a vida continua,
Apesar do sangue que escorre,
O guerreiro não se cansa e acredita na mudança,
Porque a esperança é última que morre.
[...]
Eu odeio tudo isso, mas eu tenho que saber,
O que eu leio no jornal e eu vejo na TV,
Eu odeio tudo isso, mas eu tenho que vencer,
Porque eu tenho um compromisso com a vida e com você,
[...]
Não adianta ficar aqui a toa,
Só esperando pra ouvir notícia boa,
O que se planta é o que se colhe,
O futuro é um presente que a gente mesmo escolhe,
A semente já está no nosso chão,
Agora é só regar com a mente e o coração,
A transformação da revolta em amor,
A transformação… [...]”
Gabriel – O Pensador (Música )
RESUMO
O estudo se propõe a apresentar uma breve contextualização acerca da trajetória da
Assistência, abordando os principais aspectos históricos e teórico-conceituais que marcaram o
período pré e pós Constituição Federal de 1988, principalmente no que confere a relação da
Assistência com a Igreja Católica, bem como a atribuição de centralidade ocupada no Sistema
de Proteção Social Brasileiro. Buscou-se também, analisar como ocorreu o processo de
implantação do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS e a implementação da
Política Nacional de Assistência Social - PNAS e como ela vem se materializando no
município de Taipu, através desta instituição. O interesse por esta temática na Assistência
Social foi decorrente, sobretudo, da inserção nos campos de estágios, o obrigatório, realizado
no Cras Taipu no ano de 2015, e o extracurricular, que ocorreu no Ministério Público do
Estado através da minha participação, enquanto estagiária, na execução do projeto
CONVIVER SUAS, que tinha por finalidade inspecionar as instituições socioassistenciais do
estado. Para obtenção dos resultados foram realizadas pesquisas bibliográficas, documentais e
observações, consideradas as experiências do estágio supervisionado no CRAS. Os resultados
revelam que a tentativa de superar o viés caritativo que perpassa toda a trajetória da
Assistência tem exigido dos profissionais que atuam na área, maior propriedade e domínio da
perspectiva teórico-crítica para que possam reverter o cenário do assistencialismo em um
campo efetivo de garantia de direitos. Deste modo, apresenta-se como elemento fundamental
para a efetivação da justiça social, maior apropriação teórico-metodológica, ético-política e
técnico-operativa da profissão acerca das políticas sociais públicas e de tudo que for
pertinente à atuação, para que deste modo o Serviço Social possa superar a endogenia que
ainda persiste e transcender seus próprios muros.
Palavras-chave: Assistência Social. Seguridade Social. Política Nacional de Assistência
Social. Sistema Único de Assistência Social.
ABSTRACT
The study proposes to present a brief contextualization about the trajectory of the
Assistance, addressing the main historical aspects and the theoretical-conceptual aspects that
marked the period before and after the Federal Constitution of 1988. The study will focus
primarily in what it confers to the relationship of the Assistance with the Catholic Church, as
well as the assignment of centrality in the Brazilian Social Protection System. It also aims to
analyze how occurred and was materialized the implementation of the Social Assistance
Reference Center (Cras) and the National Social Assistance Policy (PNAS) in the city of
Taipu, through this institution. The interest for the theme Social Assistance was mainly due to
the insertion in the internship field, which was held at the Cras of Taipu, in the year 2015, and
the extracurricular, which occurred in the Public Ministry through my participation, as trainee,
in the execution of the project CONVIVER SUAS, whose purpose was to inspect the socio-
welfare institutions of the state. To obtain the results it was carried out bibliographical
research and observations, considering the experiences of the supervised stage in the Cras.
The results reveal that the attempt to overcome the charitable bias that permeates the whole
path of Assistance has required from the professionals working in the area, the theoretical-
critical perspective so that they can reverse the benemerence scenario in an effective field of
guarantee of rights. Thus, it is presented as a fundamental element for the realization of social
justice, greater theoretical-methodological, ethical-political and technical-operative
appropriation of the profession on public social policies and everything that is pertinent to the
action, so that the Social Service can overcome the endogeny that still persists and transcend
its own walls.
Key-word: Social Assistance. Social Security. National Social Assistance Policy. Single
System of Social Assistance.
LISTA DE SIGLAS
BM – Banco Mundial
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CadÚnico – Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal
CAPs – Casas de Aposentadorias e Pensões
CE – Código de Ética
Centro PoP – Serviço Especializada para Pessoa em Situação de Rua
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social
CF – Constituição da República Federativa do Brasil
CIT – Comissão Intergestora Tripartite
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social
CNSS Conselho Nacional de Serviço Social
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializada em Assistência Social
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
FAR – Fundo de Arrendamento Residencial
FMI – Fundo Monetário Internacional
IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
LA – Liberdade Assistida
LBA – Legião Brasileira Assistência
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e de combate à Fome
MDSA – Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário
MPRN – Ministério Público
MT – Ministério do Trabalho
NOB\SUAS – Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
NOB\RH – Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
ONU – Organização das Nações Unidas
OGU – Orçamento Geral da União
PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado à Família e Indivíduos
PAIF – Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
PBF – Programa Bolsa Família
PEP – Projeto Ético Político
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PSB – Proteção Social Básica
PSC – Prestação de Serviços à Comunidade
PSE – Proteção Social Especial
SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESC – Serviço Social do Comércio
SNAS – Secretaria Nacional de Assistência Social
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
TJ – Tribunal de Justiça
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………13
2 A TRAJETÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL…………………………18
2.1 SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO: DA FILANTROPIA À
ASSISTÊNCIA SOCIAL……..………………………………………………………......18
2.2 PROBLEMATIZANDO A CENTRALIDADE DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NA
SEGURIDADE SOCIAL…………………………………………………………………25
3 IMPLANTAÇÃO DO CRAS E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TAIPU..………………………………...35
3.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE TAIPU…........35
3.2 A IMPLANTAÇÃO DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
DO MUNICÍPIO DE TAIPU……………………………………………….....................39
3.3 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL PARTICULARIZANDO SUA INSERÇÃO
NO CRAS TAIPU…………………………………………………….............................. 54
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………………….. 59
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………….......... 61
ANEXO…………………………………………………………………………………….... 66
13
1 INTRODUÇÃO
A proposta apresentada neste trabalho advém de inquietações que ocorreram durante o
processo formativo no Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN. A aproximação com a temática abordada surgiu no decorrer da trajetória
acadêmica, através de discussões no âmbito universitário, principalmente em aulas
ministradas no decorrer da formação, – palestras, seminários de pesquisas, da inserção no
campo de estágio obrigatório, etc –, além do estágio extracurricular, que acorreu no
Ministério Público do Estado, fator determinante para definição da temática, através da
participação em alguns projetos, principalmente o CONVIVER SUAS, também foram
indispensáveis algumas apreensões como a necessidade de compreender melhor os
fundamentos históricos teóricos e metodológicos do Serviço Social e sua relevância para
formação.
A inserção no campo de estágio foi o fator determinante para tal discussão. Realizado
no Centro de Referência de Assistência Social1 – CRAS – no município de Taipu, despertou a
curiosidade em compreender alguns aspectos conjunturais que podem ser observados de modo
geral, nas instituições de base dessa política. Assim, podemos citar alguns desses aspectos,
que são: as condições socioeconômicas da população do município referenciado e as
implicações destas para os usuários da Política Nacional de Assistência Social – PNAS.
Perante algumas inflexões, tais como ausência de transporte para locomoção da equipe
psicossocial, dado que inviabiliza o acesso e a prestação de serviços aos usuários da política
em questão, principalmente a população que reside na zona rural e as pessoas idosas e/ou
pessoas que apresentam algum tipo de deficiência e necessitam de atendimento domiciliar;
bem como a falta de planejamento para superar essas fragilidades no âmbito da Assistência
Social do referido município.
Desta forma, o objetivo da pesquisa foi de alcançar elementos que possibilitem uma
melhor compreensão acerca do processo implantação do CRAS, bem como, analisar como
vem ocorrendo à implementação da PNAS no município de Taipu e seus rebatimentos para o
funcionamento dos serviços socioassistenciais ofertados no CRAS.
Considerando que, visualiza-se como elementos que afetam a consolidação da referida
1 O Centro de Referência da Assistência Social – CRAS é uma unidade pública estatal de base territorial,
localizado em áreas de vulnerabilidade social [...] (BRASIL, 2004, p.35).
14
política nos municípios brasileiros, a intervenção de políticas econômicas; a precarização dos
vínculos empregatícios; a péssima estrutura física das instituições; o desconhecimento da
territorialidade, que é um elemento essencial para efetivação do SUAS nos municípios e a
gestão centralizada dos serviços públicos.
Esses são alguns fatores que além de limitar o público alvo e reduzir a oferta dos
serviços no plano da Proteção Social Básica (PSB), influenciam diretamente no
desenvolvimento e na prestação dos serviços socioassistenciais, programas, projetos e os
benefícios que são essenciais à população usuária que estão em situação de pobreza e extrema
pobreza.
Busca-se também, caracterizar as condições socioeconômicas das famílias usuárias da
política de Assistência Social, além de problematizar as condições de trabalho dos assistentes
sociais identificando os desafios enquanto profissionais inseridos no CRAS do município em
questão.
Além desses elementos que motivaram a pesquisa sobre a materialização da Política
Nacional de Assistência Social do município de Taipu/RN, bem como a implantação e as
condições de funcionamento do CRAS, há outro fator, muito expressivo, que por sua vez, tem
demandado mais atenção por parte do poder público, e isso está relacionado intrinsecamente
às condições de vida de grande parte da população do município referenciado, cujos
munícipes, geralmente, vivem em condição de pobreza e extrema pobreza.
Situação esta, que se intensifica ainda mais, devido à imensa concentração de poder
econômico e político de uma pequena parcela de empresários e latifundiários que estão
instalados na região em questão. Grande extensão territorial concentrada sob domínio de
poucos indivíduos, o que gera uma dependência considerável da classe menos favorecida,
levando a reprodução da desigualdade, fator que contribui com o crescimento da
subalternidade e agravamento das expressões da questão social no município, ou seja, da
população, isso reafirma a necessidade da efetivação da PNAS.
Em detrimento das dificuldades apresentadas desde o período do estágio curricular
obrigatório, optou-se pela elaboração de uma pesquisa documental e bibliográfica,
consideradas as limitações do arcabouço teórico da instituição e demais órgãos que pudessem
cooperar com o desenvolvimento da pesquisa.
15
O materialismo histórico dialético foi utilizado como principal método de pesquisa,
pois, é através dele que se pode obter uma análise crítica da realidade em sua totalidade,
considerando suas contradições. “[...] a dialética nos fornece os fundamentos para fazermos
um estudo em profundidade, visto que o método dialético requer o estudo da realidade em seu
movimento, analisando as partes em contraste relação com a totalidade” (OLIVEIRA, 2012,
p. 53). Possibilita conhecer o objeto em sua base, ultrapassando o aparente, exprime maior
compreensão do movimento que parte do real concreto.
No que tange a metodologia de análise, dispõe-se aqui da abordagem qualitativa, tendo
em visto é que se refere a um recurso facilitador na produção descritiva. Deste modo, “[...]
pode ser caracterizada como sendo uma tentativa de se explicar em profundidade o
significado e as características dos resultados das informações obtidas através de entrevistas
ou questões abertas, sem mensuração quantitativa de características ou comportamento”
(OLIVEIRA, 2012, p. 59).
Neste aspecto foi realizado um estudo acerca de literaturas que possibilitassem a
apropriação da temática de forma qualificada e abrangente. Para materialização da pesquisa,
recorreu-se a autores como, Iamamoto (2009); Guerra (2014); Mota (2008); Santos (2012);
Silva (2014); Simões (2012); Sposati (2011); Bravo (2004), dentre outros, dos quais suas
abordagens trazem elementos essenciais para se pensar na atuação profissional, bem como
refletir sobre as contradições que perpassam a política de assistência social.
Para tanto, a estrutura da pesquisa se dá através da explanação de dois capítulos. O
primeiro versa sobre A TRAJETÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL, será
estruturado em dois tópicos, que serão respectivamente: 2.1 Sistema de Proteção Social
Brasileiro: da filantropia à assistência social, que aborda os fundamentos históricos da
assistência social no país.
Discorre-se também sobre a “pseudoproteção social” advinda com o avanço das
medidas adotado pelo neoliberalismo2; discute ainda sobre qual a função do Estado no que
2 O neoliberalismo pode ser considerado como uma teoria econômica, como utopia, como ética ou
como filosofia do ser humano. Na realidade, é uma filosofia que se apresenta como teoria econômica,
como todo valor científico que o mundo atual costuma atribuir à economia. É uma utopia, mas que
pretende estar fundamentada na ciência pura. Desta maneira pretende dar uma visão completa do ser
humano, inclusive uma ética. [...] O capitalismo adotou o neoliberalismo achando nele a melhor arma
para conquistar as mentes do mundo ocidental e inclusive do mundo inteiro. No entanto, o capitalismo
16
concerne a garantia de direitos e como a sociedade civil encara essa atuação.
O segundo tópico 2.2 problematizando a centralidade da assistência social na
seguridade social aborda as principais tendências da seguridade social, quais suas implicações
para a política de assistência social e quais suas consequências tanto para o campo da
seguridade quanto para as políticas sociais no decorrer das transformações históricas a partir
da década de 1980, período em que as ofensivas neoliberais chegaram mais intensamente no
Brasil.
No segundo capítulo foi abordado acerca da IMPLANTAÇÃO DO CRAS E
IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, para tanto,
encontra-se estruturado em três subitens, dos quais, o 3.1 Caracterização socioeconômica
do município de Taipu trará um recorte das características históricas com intuito de resgatar o
processo de emancipação política, contribuindo deste modo para facilitar o entendimento
sobre a atual conjuntura de civilidade do município.
No tópico 3.2 A implantação do Centro de Referência de Assistência Social do
município de Taipu fundamenta a construção do cenário a partir dos aspectos relacionados à
instituição do CRAS Taipu, através da Política Nacional de Assistência Social. Tratou-se
acerca da conjuntura de sua implantação, das condições de funcionamento, de instalações, da
infraestrutura, bem como quais são os rebatimentos da PNAS para o funcionamento dos
serviços socioassistenciais ofertados no CRAS deste município.
Por fim, porém não menos importante, o 3.3 A atuação do Serviço Social
particularizando sua inserção no CRAS Taipu refletido acerca das condições da atuação
profissional do Serviço Social e seu papel no CRAS, considerando que se trata de uma
categoria fundamental para atuar na defesa intransigente de direitos sociais à população, além
de ser um profissional indispensável na composição da equipe multiprofissional de elaboração
e constituição de políticas sociais e públicas, na busca de uma sociedade mais justa e
igualitária.
Com o intuito de contribuir com as pesquisas desenvolvidas no âmbito da
operacionalização da Política de Assistência, no que tange a atuação profissional junto ao
CRAS, o presente estudo se dará no sentido de refletir acerca da conjuntura da implantação e
não está comprometido pela ideologia neoliberal. Pode abandoná-la e escolher outra mais eficiente no
dia em que o neoliberalismo se revelar menos eficiente, menos vantajoso. (COMBLIN, 2000, p. 15)
17
as condições de funcionamento do CRAS Taipu, e em que circunstância a política de
assistência social enquanto política de proteção social garantidora de direitos aos cidadãos
está se materializando, bem como o Serviço Social está sendo exercido.
Deste modo, através das inflexões no âmbito das políticas públicas, principalmente, no
que se refere à garantia de direitos aos que mais necessitam, a relevância da pesquisa será de
trazer para a atuação profissional em Serviço Social, através de reflexões críticas, a realidade
e as particularidades do modo como vem sendo implementada a Política Nacional de
Assistência Social no município de Taipu.
Neste sentido, propomos aqui um resgate do processo sócio histórico do município de
Taipu, no que tange ao período de implantação da Política Assistência Social, ou seja, desde a
promulgação da PNAS e instalação do CRAS, com o intuito de contribuir com a
desconstrução do viés conservador, clientelista e patrimonialista em que se é tratada a política
de Assistência Social do município. Além de contribuir com o acervo documental desta
instituição, outro elemento motivador e de fundamental relevância para o estudo.
18
2 A TRAJETÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL
A discussão deste capítulo dedicou-se a contextualizar a relação da Assistência Social
no Sistema de Proteção Social brasileiro, haja vista que aquela não surgiu como uma forma de
proteção, mas como reafirmação da pobreza, subalternidade e da filantropização, através de
ações solidárias e humanitárias, principalmente com o advento do processo de
industrialização.
Fez-se também, um breve relato sobre os aspectos históricos e teórico-conceituais
anterior e posteriormente a década de 1980, tendo em vista que no período precedente marca
as ações caricatas no país como forma de apoio moral aos “pobres”, “adoentados”,
“incapazes” e “miseráveis”, e o posterior caracteriza-se pelas várias tensões e mobilizações
em busca de efetivação de direitos socioassistenciais, neste último nos deteremos mais
detalhadamente.
Buscamos também compreender de que forma esse cenário de benemerência e
assistencialismo foi superado/se ocorreram mudanças e como procederam? Como se
constituiu o Sistema de Proteção Social no Brasil? Se foi efetivado, e de que forma ocorre a
relação da proteção social com os usuários.
Para tanto, foram utilizados como fontes teóricas para a pesquisa os ensaios de Mota
(2008); Iamamoto e Carvalho (2009); Sposati (1992 e 2007); Behring (2003, 2009); Mioto
(2009). Os pesquisadores supracitados são de grande importância para compreensão da
proposta estudada, além de facilitar o entendimento em cada contexto mencionado, tratam de
perspectivas críticas diferenciadas em suas abordagens que potencializam a nossa prática
profissional.
2.1 Sistema de Proteção Social brasileiro: da filantropia à Assistência Social
Para melhor compreender o modelo de proteção social adotado no Brasil, se faz
necessário um retrospecto histórico no cenário da Assistência Social do país, tendo em vista
que esta tem suas raízes imbricadas na caridade e na filantropia, em razão das ações de
solidariedade da Igreja Católica, que dispensou grande influência religiosa desde a Idade
19
Média, e da classe burguesa que também realizava essas ações, ambas com caráter de
dominação da sociedade.
No Brasil, essa prática alcançou maior expressividade entre os anos de 1920 a 1930,
este último, representa o período em que a questão social se instalava no país. O modo de
prestar assistência como caridade no país permaneceu fortemente até a década de 1940, e foi
utilizado como forma de minorar as expressões da questão social, porém, em meados dessa
data já vinha ocorrendo modificações nesse viés caritativo, devido aos movimentos operários
que, além de se identificarem como categoria – classe trabalhadora, operária –, uniam-se
também por notar, ainda que de forma sucinta, a ausência de compromisso do Estado, no que
concerne a garantia de direitos (SPOSATI et al., 1992).
Isso ocorreu devido aos cenários de tensões e reivindicações, principalmente pelo “[...]
crescimento da prática política-organizativa de algumas categorias profissionais [...] ocasionava a
emergência de reivindicações por serviços e benefícios sociais como parte de acordos
coletivos de trabalhos” (MOTA, 2008, p.15). Nessa perspectiva, podemos perceber que essa
categoria buscava, na verdade, a superação desses direitos apenas na esfera trabalhista, havia
necessidade do reconhecimento legal também na esfera política e abranger os já existentes na
área social.
Para Iamamoto (2009), historicamente a “assistência social” 3 emerge no Brasil em um
contexto de contradições e antagonismos, entre salário e capital, proletariado e burguesia, de
relações conflituosas entre o poder público e instituições privadas.
Data-se um período característico que engloba todas essas categorias nessa correlação
adversa, no campo econômico tem-se o processo emergente do modelo industrial e a
centralização do poder político nacionalista no país, eis a era varguista. E é em meio a essa
configuração de expansão da era industrial e decadência da hegemonia cafeeira, que a
emergência da industrialização do capital adentra o solo brasileiro, fazendo surgir a
assistência social.
[...] a centralização do poder é a grande marca de Getúlio, que implementa um
“governo forte” e inaugura um discurso nacionalista, tendo em vista transferir para
si as bases de poder arraigadas no regionalismo, de que São Paulo é o exemplo mais
3 Consultar Aldaíza de Oliveira Sposati (Organizadora). Assistência na trajetória das Políticas Sociais brasileiras:
uma questão em análise. São Paulo: Cortez, 1992 (veja-se o capítulo 4, Assistência – Assistencialismo: uma
busca pela superação da questão).
20
típico. [...] já dá mostras, a partir do governo provisório (1930 - 1934) e se acentua
ainda mais com seu segundo golpe – em 1937, conhecido como “Estado Novo” – a
pretexto da manutenção da “segurança nacional” que estaria ameaçada [...].
(SANTOS, 2012, p. 73)
Anteriormente, havia uma sociedade basicamente agrária, com predomínio da economia
cafeeira, a população vivia sob o comando dos donos de grandes latifúndios (os chamados
barões do café, latifundiários ou coronéis). A herança política de servidão, do ser escravo
do período colonial, do mando e da obediência, era percebida fortemente nessa época, e eram
na mesma dimensão as ações de benesses (SILVA, 2014).
Esse ato de “doação”, de bondade humana, se configurava como certo domínio sob essa
população, dado que facilitou a naturalização com que essa prática foi absorvida pela grande
parte da população brasileira. Isso nos leva a compreender a pouca ou quase nenhuma
participação popular nas medidas decisórias do país na época.
Conforme Mota (2008), com o advento da industrialização, muda-se completamente as
relações econômicas e sociais do contexto. Silva (2014) ressalta que a transição do modelo
agrário-exportador hegemônico do momento, perdia forças e mão de obra aos novos arranjos
econômicos. Concomitantemente, houve também uma grande migração da população do
campo para os centros urbanos em busca de novos espaços de trabalho, bem como “melhores
condições de vida”.
Nesse sentido, no decorrer da década de 1930, grandes transformações ocorreram no
país, que de fundamentalmente agrícola e rural passou a ampliar seu espaço
industrial e urbano focando um possível desenvolvimento econômico a partir do
incremento de sua produção por meio da ampliação e da diversidade de seu parque
industrial (BAPTISTA, 2012, p. 182)
A passagem da população do meio rural para a cidade fez surgir uma nova configuração
de sociedade, que além do inchaço urbano, suscitou nas expressões da questão social4
(SILVA, 2014), outrora tratada pontualmente como caso de polícia ou como benemerência
pelas instituições filantrópicas.
A concentração da produção, reunindo os trabalhadores na linha de montagem das
fábricas e intensificando a divisão social do trabalho, leva à concentração da
população operária que, residindo nos seus arredores, vai incrementar o processo de
4 Sobre a questão social, Iamamoto (2009, p. 27) vai dizer que: “ [...] Questão Social é apreendida como um
conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação
dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade [...]”.
21
industrialização. Era flagrante a ausência de investimentos em infraestrutura urbana,
o desprezo pelas condições de vida operária, significativos níveis de morbidade,
mortalidade da população infantil e adulta, habitação em locais insalubres, doenças,
fome, baixos salários. (SANTOS, 2012, p.37).
Os desdobramentos do período de transição que acarretou na ruptura da hegemonia da
aristocracia agrária e o surgimento de novos agentes econômicos desencadeou uma “nova
sociedade nacional” (SILVA, 2014), a qual marca também a intervenção estatal, que
precipuamente se caracteriza no mérito ocupacional do indivíduo.
A ruptura com a homogeneidade da aristocracia agrária e o surgimento de novos
agentes econômicos, sob a pressão da divisão do trabalho, contribuíram para a
construção de uma “nova sociedade nacional”, onde a ausência de compromisso
com qualquer defesa mais contundente dos direitos do cidadão por parte das elites
econômicas-políticas refletem uma marca indelével de nossa formação. (SILVA,
2014, p.84)
Ou seja, a superação do modelo de economia agroexportadora faz surgir outro, do qual
são desencadeadas novas formas e modos de trabalhos, novas relações e reproduções sociais,
sobretudo com o aparecimento das grandes indústrias, motivando um considerável avanço
econômico, em contrapartida, o deslocamento de pessoas que residiam no campo a migrarem
para as cidades na tentativa de espaços de trabalho, porém grande parcela destas eram
desprovida de habilidades para o mercado que surgira, consequentemente, de onde sobrevêm
maiores expressões da questão social, que requer intervenção estatal.
Assim,
Com a expansão do capital e a pauperização da força do trabalho, a assistência irá
sendo apropriada pelo Estado sob duas formas: uma que se insinua como
privilegiada para enfrentar politicamente a questão social: outra para dar conta de
condições agudizadas de pauperização da força de trabalho. (SPOSATI, et al., 1992,
p. 41)
Nesse sentido, no que tange a responsabilização estatal diante desse cenário, o Estado se
colocava como apoio ou ente fiscalizador das ações interventivas no campo assistencial, pelas
instituições solidárias. Vale salientar que essas entidades compreendiam que
prestar assistência seria um ato de amor aos desvalidos.
A década de 1930, para Santos (2012), foi sem sombra de dúvidas, um marco de
mudanças significativas referentes à intervenção do Estado na garantia de direitos sociais à
sociedade. Nesse período foram afiançadas algumas proteções e preservadas outras já
22
existentes, principalmente com a implantação de vários institutos5, entretanto, as garantias
advindas destes, além de serem exíguas, restringia-se apenas a área trabalhista6.
Há de se destacar a intensificação na área previdenciária, sobretudo com a implantação
dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs)7 em 1933, sendo esta uma reformulação
das até então Caixas8 de Aposentadorias e Pensões (CAPs), instituídas através da Lei nº
4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecida como a Lei Elói Chaves estabelecida para os
trabalhadores.
Na constituição de 1934, o Estado tanto preservaria os direitos sociais quanto
regularia os contratos de trabalhos (com carteira de trabalho), as profissões e os
sindicatos, através do Ministério do Trabalho e essas características ficariam
conhecidas, juntamente com o “controle ideológico do governo sobre os
sindicatos, como “corporativismo sindical””. As ações posteriores na previdência
social modificam alguns aspectos administrativos, mas cristalizam a estrutura [...].
(SANTOS, 2012, p. 75)
Reitera-se que o Ministério do Trabalho – MT – foi instituído 4 (quatro) anos antes da
referida constituição, no Governo Provisório, com a “função de harmonizar as relações entre
os que dão e os que recebem, [...]” (CARONE, 1991, p. 25 apud COUTO, 2004, p. 95),
porém, este atua fortemente em regime controlador e fiscalizador das relações trabalhistas,
principalmente no tocante as instituições organizativas da categoria.
[...] os institutos constituíram-se em espaço privilegiado para a manutenção do
controle dos trabalhadores, pois embora os mesmo fossem geridos com paridade
entre empregadores e empregados, a presidência era instituída por indicações do
5 [...] São eles: Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos (IAPM), em 1933; Instituto de Aposentadoria
e Pensão dos Comerciários (IAPC), em 19934; Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários (IAPB), em
1934; Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (Iapi), em 1936; Instituto de Aposentadoria e
Pensão dos Trabalhadores do Transporte e Carga, em 1938; e Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores
Civis (Ipase), em 1938. (COUTO, 2004, p. 98) 6 A legislação trabalhista incidiu sobre a regulamentação do trabalho feminino e dos menores na indústria; a
fixação de jornada de trabalho de oito horas para os comerciários e industriários; alteração na forma de
negociação salarial, com a instituição das convenções coletivas de trabalho; comissões mistas de conciliação e
julgamento; a instituição de férias aos comerciários e operários industriais; e o estabelecimento de normas
reguladoras da questão dos acidentes do trabalho. (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA, 1983
apud COUTO, 2004, p. 98) 7 [...] seguia o caráter centralizador do Estado [...]. Os institutos começaram a ter a característica de atuarem
congregando todos os trabalhadores brasileiros do âmbito de sua competência; no entanto, oportunizaram a
fragmentação e o controle da classe trabalhadora, organizando-a nacionalmente, mas estimulando a criação de
benefícios diferenciados e criando novos mecanismos de controle do Estado frente as suas demandas,
constituindo-se em elementos adicionais de divisão da classe trabalhadora, “à medida que obstaculiza a
organização do conjunto de trabalhadores em torno de interesses comuns”. (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E
ESTATÍSTICA, 1983, p. 31 apud COUTO, 2004) 8 As CAPs asseguravam como benefícios o direito à aposentadoria (velhice ou invalidez), obtenção de socorro
médico (para si e a sua família), o reconhecimento de pensão ou pecúlio pelos familiares, e a compra de
medicamentos a preços reduzidos, sendo mantidos pela contribuição compulsória dos empregados e
empregadores, sem a participação do Estado. (COUTO, 2004, p. 96-97)
23
governo, que, assim, tinha poderes de intervir na administração dos recursos da
categoria, [....]. (COHN, 1999, p 19, apud COUTO, 2004, p. 97).
Tratando-se ainda sobre aparatos de colaboração do governo em prol do
desenvolvimento industrial, na década de 1940 inicia-se a criação do Sistema “S”: Serviço
Social do Comércio (Sesc) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), instituído
através de um Decreto-lei Federal, voltado para formação profissional técnica de todo país,
para atender as necessidades específicas do processo de industrialização, bem como buscava a
organização nos serviços de saúde do trabalhador (IAMAMOTO, 2009).
Em 1942 é criada a primeira grande instituição nacional de assistência social, a Legião
Brasileira Assistência (LBA), com principal objetivo de atender as famílias dos pracinhas que
estavam na guerra – Segunda Guerra Mundial –. Antecedendo esse marco, o Conselho
Nacional de Serviço Social (CNSS) havia sido reconhecido legalmente através do decreto-lei
nº 525, de 1º de julho de 1938, como prestador de serviços sociais públicos nacional, com
função de órgão consultivo do governo, porém não havia sido atuante, conforme Iamamoto
(2009).
A relação da LBA com o Estado Novo – apresentado como o segundo golpe do governo
de Getúlio Vargas –, fez com que as raízes do primeiro damismo emergissem no país,
elemento que tem acompanhado o desenvolvimento da política de Assistência Social, e
precisa de iniciativas que faça enfrentamento a essa prática, tendo em vista que, esse cenário
de “ajudar” a população pobre, particularmente, a ações voltadas ao usuário – de modo
individualizado – e familiares quando “achar” conveniente, de forma mimética e focalizada,
sob a perspectiva de clientelismo, tem se apresentado como um desafio para as políticas
sociais.
A LBA assegura estatutariamente sua presidência às primeiras damas de República,
imprimindo dessa forma a maca do primeiro-damismo junto à assistência social e
estende sua ação às famílias da grande massa não previdenciária, atendendo na
ocorrência de calamidades com ações pontuais, urgentes e fragmentadas.
(LONARDONI, 2016, p. 2)
Assim, a assistência social surge como mecanismo de controle social, no sentido de
manipular e oprimir as massas, para o Estado9, no que se refere ao controle da reprodução
9 O Estado brasileiro, desde sua constituição, definiu-se pautado em relações privatistas. Os direitos sociais
garantidos pelo governo do Presidente Getúlio Vargas na década de 30 do século passado reproduziram
desigualdades na sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que o alcance a esses direitos se deu pelas relações
estabelecidas nos contratos de trabalhos. Aos que ficaram de fora, restou-lhes a filantropia associada ao Estado,
que continuava por discriminar e tratar a pobreza sob a ótica do fracasso e da não cidadania . São os não iguais,
24
social no modo de produção capitalista, através do mérito nos contratos trabalhistas, cujo
representava para o operariado, uma forma de garantia de direitos, mesmo sendo estes
advindos do próprio dispêndio de suas forças, ou seja, não se caracterizava como direitos, não
obstante, se expressava como ações compensatórias, o que (BEHRING, 2008) vai denominar
de “pseudoproteção”.
E é com a herança do qualificar ou desclassificar a população de acordo com suas
ocupações ou pertencimento a uma classe que se instituiu o sistema de proteção social
brasileiro. E este é denominado como modelo meritocrático, levando em conta que,
[..] é inspirado nos moldes de seguro privado, porém diferenciando-se dele pela
intervenção estatal, que, por meio da burocracia atuante, reconhece e legitima as
diferenças entre os grupos ocupacionais [...]. Fundamenta-se em princípios de
solidariedade, tendo status de privilegiado e busca manter o indivíduo no mesmo
nível de vida, ainda que lhe ocorra algum imprevisto ou infortúnio, garantindo por
meio da contribuição compulsória efetuada ao longo do tempo de serviço. [...]
diferencia-se por categoria de trabalho e suas condições de inserção na estrutura
produtiva, denominada de cidadania regulada (FLEURY 1994, apud SILVA 2014,
p. 85-86).
Desse modo, a partir dessa breve explanação observa-se que antes da Constituição
Federal a Assistência Social era vista como práticas isoladas, todavia, com o advento da CF
de 1988, essa lógica se redefine devido aos próprios infortúnios acometidos pelo capital,
assim a assistência assume um caráter de política social não contributiva, isso implica dizer
que, aquelas pessoas que, seja por questões geracionais (infância e velhice), por motivo de
incapacidade laboral – questões psicomotoras ou físicas – ou qualquer que seja a contingência
social que impossibilite essas de prover suas necessidades materiais, dentre outras, passaram a
ser assistidas por uma política governamental.
No novo cenário de políticas públicas legalmente estabelecidas pela Constituição, a
assistência social ganha nova roupagem, ao menos no que está prescrito, e se constitui como
política pública10
. É incluída no âmbito da Seguridade Social, juntamente com as demais
políticas que constituem esse sistema, e passa a ser regulamentada, apenas em 1993, pela Lei
os pobres, os que são privados de qualificação para o trabalho, figura clássica da destituição (Telles 2001 apud,
Silva 2012, p 85). 10
“a) linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei; b) atitude institucional
positiva, isto é, ativa, que exige providências concretas em direção à satisfação de necessidades sociais. É
mediante as políticas públicas que são atribuídos ou redistribuídos bens e serviços sociais demandados pela
sociedade em sua relação de reciprocidade e antagonismo com o Estado. Neste sentido, o direito que fundamenta
a política pública é um direito coletivo e não individual e, por isso, refuta, por princípio, o individualismo
possessivo pregado pelo neoliberalismo.” (PEREIRA, 1996, p. 130).
25
Orgânica da Assistência Social (LOAS), que conforme Couto e Silva (2009, p. 30), é “a partir
da qual inicia-se o processo de reorganização da assistência no país e a necessidade de revisão
dos conceitos assistencialistas que permeavam o campo da política social”.
Passar a atuar com direcionamento ao campo dos direitos, da universalização dos
acessos e da responsabilidade estatal. A LOAS cria uma nova matriz para a política de
assistência social, inserindo-a no sistema do bem-estar social brasileiro concebido como
campo de Seguridade Social, configurando o triângulo (sustentação da seguridade) juntamente
com a saúde e a previdência social. Nesse sentido a Política Pública de Assistência Social
marca sua especificidade no campo das políticas sociais, pois configura responsabilidades de
Estado próprias a serem asseguradas aos cidadãos brasileiros (BRASIL, 2004, p. 32).
Reafirmando assim, seu posicionamento, traz em seu capítulo inicial, que trata sobre as
definições e objetivos, a LOAS, exprime claramente que,
Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizadas através
de um conjunto integrado de ações de iniciativas pública e da sociedade, para
garantir o atendimento à necessidades básica. (BRASIL, 2015, p. 7)
Como exemplifica a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004, p. 33), esta
política
“[...] realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, considerando as
desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos
sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à
universalização dos direitos sociais. Sob essa perspectiva, objetiva, em conjunto ou
separadamente, a proteção social básica, especial e a especial direta, visando
assegurar a defesa dos direitos, para tanto, instituindo benefícios, serviços, planos,
programas e projetos de assistência social [...]”.
Dos quais trataremos mais detalhadamente logo adiante.
2.2 Problematizando a centralidade da Assistência Social na Seguridade Social
A Seguridade Social é um sistema constituído por três políticas públicas: Saúde,
Assistência Social e a Previdência Social, no caso da composição brasileira. Para Cabral
(2000, p. 119), é “[...] decorrente do direito social e entendida como garantia de proteção
26
social a ser assumida primordialmente pelo Estado, sob os princípios da universalidade11
,
uniformidade, equidade e descentralização”.
Esse tripé é reconhecido como um aparato de proteção social, porém, afirma Draibe
(2002, p. 1) que este é “um sistema de proteção social incompleto, frágil, incapaz de afetar
positiva e significativamente os indicadores de desigualdade e exclusão social”. Além do
mais, essas políticas são disponibilizadas aos usuários conforme sua participação ou não no
mercado de trabalho, e a partir desta a contribuição para o acúmulo do capital.
Grande parte dos países capitalistas latino-americanos, Chile, Bolívia, México, El
Salvador, República Dominicana, Peru, Colômbia, Argentina, Uruguai, Costa Rica, Brasil,
Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Haiti entre outros, implantaram, de algum modo o
sistema de seguridade a partir dos anos de 1920 a 1930, com única premissa, a base estrutural
na organização social do trabalho. Isso implica dizer que tem sua gênese voltada apenas para
as necessidades dos trabalhadores com vínculos empregatícios, configurando-se também
como uma ação regulatória da reprodução social do trabalho. (BOSCHETTI, 2009).
Vale destacar que, no sistema de seguridade brasileiro, temos a saúde como uma
política integralizadora e universal; a Assistência Social, a quem dela necessitar e; a
Previdência Social, portanto, para aqueles que contribuem financeiramente – àqueles que
estão inseridos na lógica de mercado, que vendem sua força de trabalho –, seja através de
contratos trabalhistas formais ou informais – este último, através dos seguros privados –, ou
seja, aqueles que têm acesso às vantagens da produção do mercado capitalista.
Para Boschetti (2009), o termo seguridade social é utilizado de maneira diferente, dado
que, possivelmente, faz com que ocorram mudanças no modo de atuação entre um país e
outro, considerando que, nem sempre esse sistema é constituído pelas mesmas políticas
sociais.
Nesse contexto, problematizar o processo histórico da Assistência enquanto política
social inserida na Seguridade social facilitará o nosso entendimento acerca do seu
enquadramento na centralidade. Compreender essa trajetória é um fator muito importante para
que se possa avaliar se a incumbência da referida política nesse momento foi realmente uma
11
As políticas universalistas assentam no pressuposto de que a vida social e política participativa das pessoas
dependem de seu pleno acesso à garantia dos direitos sociais, devendo ser assegurados a todos, indistintamente
(conceito positivo de liberdade); por meio de critérios do tipo “gatilho”, segundo as quais as pessoas que os
satisfaçam adquirem o respectivo direito, independente de seus rendimentos (por exemplo, o direito à saúde)
(SIMÕES, 2012, p. 32)
27
tomada de medidas à proteção social voltadas para a população, ou se esta surgiu como
amparo a política econômica, rendendo-se aos certames do capitalismo e suas fases, os
modelos urbano-industrial, desenvolvimentismo e, ao neoliberalismo – a mundialização da
economia/globalização –, historicamente falando, esses são os mais expressivos no país.
Acerca do que vem sendo discutido, não é tarefa difícil compreender a conjuntura que
tendenciou a Assistência ao patamar central das políticas públicas, apesar de não ter de fato
assumido tal papel. Pode-se assim dizer que, devido ao posicionamento meritocrático que o
modelo de proteção social12
brasileiro assume, com seus objetivos substancialmente
orientados pela acumulação produtiva, há de se imaginar que, diante de uma conjuntura
contraditória, do surgimento de uma sociedade urbano-industrial, alguém dentro dessa
sociabilidade ficaria exposto a algum tipo de risco ou contingência social, os quais não seriam
amparados ou sequer reconhecidos pelas políticas que compunham inicialmente esse sistema.
Considerando que este modelo de proteção foi pensado exatamente para assistir a
população do meio urbano e que estivesse incluída no mercado de trabalho, havia benefícios
presumidos em lei, que reconhecia legalmente13
, apesar da pouca expressividade, alguns
direitos ao trabalhador. Assim, foi determinado que as políticas sociais: Saúde e a Previdência
Social representariam e assegurariam esses direitos, mesmo que de modo precarizado e
compulsório.
A regulamentação das relações entre capital e trabalho foi a tônica do período, o que
parece apontar uma estratégia legalista na tentativa de interferir autoritariamente, via
legislação, para evitar conflito social. Toda a legislação trabalhista criada na época
embasava-se na ideia do pensamento liberal brasileiro, onde a intervenção estatal
buscava a harmonia entre empregadores e empregados. Era bem vinda, na
concepção dos empresários, toda a iniciativa do Estado que controlasse a classe
operária. Da mesma forma, era bem vinda por parte dos empregados, pois contribuia
para melhorar suas condições de trabalho (CARONE 1991, apud COUTO 2004, p.
95)
Então, através desse argumento reforça-se a questão do trabalho formal firmado em
contratos como mérito e como critérios estabelecidos de inclusão e exclusão dos benefícios
sociais. Estes critérios colocavam somente os trabalhadores urbanos em posição de
12
[...] O governo Vargas investiu na formulação de legislações que foram delineando uma política baseada na
proposta de um Estado social autoritário que buscava sua legitimação em medidas de cunho regulatório e
assistencialista. Essas características apontam a conformação inicial de um sistema de proteção social de tipo
conservador e meritocrático-particularista, com fortes marcas corporativas e clientelistas na consagração de
privilégios e na concessão de benefícios (DRAIBE 1993 apud, COUTO 2004, p. 96) 13
[...] na maioria delas, a criação de um corpo de direitos reconhecidos pela lei, a realidade da sociedade
brasileira tem mostrado situações paradoxais, resultantes de vários embates, com avanços e retrocessos no
campo dos direitos civis, políticos e sociais. (COUTO, 2004, p. 90)
28
privilégios, pois sua vinculação ao mercado formal era a garantia de inclusão nas políticas
sociais da época (COUTO, 2004, p. 96). É interessante ressaltar que, apesar das legislações,
essas garantias aos trabalhadores eram insuficientes, e lhes asseguravam somente alguns
benefícios deficientes enquanto eram mantidos nos chãos de fábricas, submetidos a longas
jornadas de trabalhos, as funções laborais oferecidas a esses trabalhadores foram, em sua
maioria, atribuídas de forma insalubres.
Destaca-se que, especialmente, na era Getulista, que “o governo atuou fortemente no
campo previdenciário” (COUTO, 2004, p. 96), ocorreram mudanças significativas no âmbito
dessas duas políticas. A saúde que deveria ser de caráter universal14
acaba se subdividindo: a
saúde pública15
e a medicina previdenciária16
; e a previdência aparece como reconhecimento
legal de direitos provenientes do trabalho, ou seja, aqueles benefícios assegurados aos
trabalhadores contribuintes – “aposentadorias (velhice ou invalidez), a obtenção de socorro
médico (para si e sua família), o recebimento de pensão ou pecúlio pelos familiares, e a
compra de medicamentos a preços reduzidos [...]” – (COUTO, 2004 p. 96).
Logo, tínhamos a Saúde que operava através da prestação de serviços para quem podia
custear – ademais, esta supria as condições mínimas de acesso aos serviços para parcela
extremamente pobre –; a Previdência com caráter de contribuição compulsória, para os que
tivessem vínculos formais com as grandes indústrias, empresas ou fábricas, e por fim, a
Assistência Social surgiria para os necessitados, de modo geral, para assistir os riscos dos
trabalhadores excluídos das atividades laborais, pejorativamente conhecidos como
vagabundos, vadios, os chamados “pobres antigos”.
E essa seria a “clientela” da Assistência Social, como bem caracteriza Comblin (2000,
p. 24), a categoria “pobres antigos” era aquela parte da humanidade que não tinha entrado no
processo de desenvolvimento: camponeses sem terra, imigrantes nas grandes cidades, sem
preparação para o trabalho industrial, vítimas dos flagelos, das guerras, da violência diária,
viúvas, órfãos, [...].
14
[...] a despeito do estatuto universal, a realidade aponta para o acesso a serviços privados como parte dos
benefícios ocupacionais oferecidos pelos empregadores e a expansão de planos saúde populares, com oferta
precária e restrita a serviços ambulatoriais de baixo custo operacional. (MOTA, 2008, p. 137) 15
Entendida como intervenção do Estado, a saúde pública foi predominante até meados dos anos 60 e teve como
características: ênfase nas campanhas sanitaristas; interiorização das ações para as áreas de endemias rurais e a
criação de serviços de combate às endemias. (BRAVO et al, 2004, p. 26) 16
A medicina previdenciária teve como marco a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) que
substituíram as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) criadas em 1923. (BRAVO et al, 2004, p. 26)
29
Pode-se verificar, deste modo que, as políticas sociais que constituíam a seguridade
social, desde o seu advento, surgem para subsidiar a lógica capitalista e, portanto, necessitaria
de outra política que comportasse, exclusivamente, aquela parcela que não estava, até então,
amparada pelos critérios estabelecidos para obtenção da proteção social, ou seja, aqueles que
não contribuiam para o acúmulo da produção capitalista.
Conforme apurado, a Assistência Social revela-se na sua gênese, uma política de cunho
assistencial e focalizada, voltada à ajuda aos pobres, como afirmativa ideológica capitalista de
culpabilizar os “indivíduos ou clientes” dessa política pelos infortúnios acometidos, e
consequentemente, a reiteração da subalternidade. Tratava-se inegavelmente de uma política
conservadora e focalizada17
na benemerência que vem perpassando sua trajetória.
Deste modo, seria um erro, porém, creditar todas essas características de benesse, de
ações conservadoras, do clientelismo, do compadrio, da ajuda ao próximo, ao modelo de
produção capitalista, haja vista que, sob essa ótica, “produzir serviços assistenciais não é
simplesmente filantropia da iniciativa privada, é modalidade de execução das políticas sociais
pelo Estado brasileiro, não chegando a constituir direitos para o cidadão”, aponta (SPOSATI,
1992, p. 58).
Nesse sentido, a origem da centralidade da Assistência, enquanto política estatal é
facilmente encontrada no quadro histórico-socioeconômico do país. Não resta dúvida de que
durante décadas a Assistência social assumiu essa condição para, de certa forma, manter o
equilíbrio do sistema capitalista e desresponsabilizar o Estado, fomentando o consumo através
do repasse da renda mínima, possibilitando, ao sujeito que se encontra fora da esfera
produtiva, o consumo, que vai além das necessidades básica, mas principalmente o incentivo
a bens e serviços, ainda que estes sejam desnecessários. Dado que, fortalece a subordinação
da Assistência Social às políticas econômicas, uma vez que não possui mais o trabalho
como categoria fundamental da sua intervenção.
Como bem nos assegura (MOTA, 2014, p. 16), pode-se dizer que, isso se deve a um
determinado período em que “a ofensiva das classes dominantes em dar centralidade à
Assistência Social como mecanismo de enfrentamento das desigualdades sociais, típicas das
relações que se estabelecem no capitalismo”. O mais preocupante, contudo, é constar que essa
17
As políticas focalizadas elegem com critérios, para o acesso à população, às referidas prestações, basicamente
a situação de renda, pobreza ou exclusão social (conceito negativo de liberdade), entre outros, em que a proteção
social se torna apenas residual (por exemplo, o BPC). (SIMÕES, 2012, p. 322)
30
centralização serviria para subsidiar as necessidades daqueles que não estão inseridos nas
relações da reprodução social, os excluídos do mercado de trabalho. Assim, não seria exagero
afirmar que estes, possivelmente, também não seriam assistidos por essa política.
É interessante, aliás, afirmar que, a Assistência Social no âmbito das políticas públicas
nos levará a patamares contraditórios e apartados do seu objetivo principal, entretanto, a
inserção da referida política no sistema de Seguridade Social, em 1988 pela Constituição
Federal, é um fator que se sobrepõe a essa conjuntura.
Para concretizar um direito legalmente reconhecido não basta inscrevê-lo na lei. [...]
As inovações legais estabelecidas na Constituição e na Loas, por si só, são incapazes
de transformar automática e rapidamente as práticas seculares sedimentadas na
filantropia, no clientelismo, no prebendalismo. (BOSCHETTI, 2003, p. 119)
No entanto, vale salientar que mesmo assim, parece não haver razão para que a
Assistência, enquanto política garanta a proteção social a quem dela precisar, pois, permanece
com um caráter de práticas isoladas, mesmo já alcançado a legalidade. Isso é um índice de
que, em decorrência das ofensivas neoliberais e da reincidência de crises econômicas, cujas
auxiliam na reestruturação da lógica capitalista, tenham, certamente, lhe apregoado outro
sentido de enfrentamento.
Pode-se dizer que as contradições existentes na sociedade capitalista são indispensáveis
para a sua estruturação e permanência: “o discurso da igualdade e a realização da
desigualdade”, como bem nos aponta (IAMAMOTO e CARVALHO, 2009, p. 90).
Diante disso, fica clara a necessidade emergente de instituir a assistência social como
política pública. Contudo, é importante destacar que ela não surge como instrumento de
enfrentamento às desigualdades geradas por essa sociabilidade, mas como mecanismo de
manutenção e controle das massas, com funções determinadas pela classe dominante.
Não é exagero afirmar, que a partir da redefinição dessa política social, a sua finalidade
tenha sobrepujado espaços bem maiores dos quais esta suportaria assistir, tendo em vista os
cenários de crises econômica e política que alcançou as áreas periféricas e desencadeou o
desemprego estrutural.
A saber, no que tange a centralização da Assistência Social na seguridade social,
podemos entender de modo sucinto que, ocorreu devido à focalização das ações
compensatórias governamentais, como forma de garantir os mínimos sociais. Cabe salientar
31
que estas ações se referem principalmente as transferências de renda18
como condição para
superação das desigualdades sociais, e, sobretudo pela posição contraditória das políticas que
compõem o sistema brasileiro.
Os programas de transferência de renda apresentam características bem
diferenciadas dos benefícios previdenciários vinculados ao trabalho. São todos
categorias, no sentido de serem focalizados em categorias (idosos, pessoas com
deficiência, jovens etc.) e \ ou em situações bem específicas, ligadas à miséria
absoluta e vulnerabilidade extrema. [...], ou seja, possuem um caráter de
minimização da situação já instalada e não de prevenção (BOSCHETTI, 2008, p.
192).
Diante do exposto, então apresentamos aqui o que temos assegurado como princípio
estratégico da assistência social, submetido aos ditames das orientações de organismos
internacionais, como o Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI),
Organização das Nações Unidas (ONU) entre outros: os programas de Transferência de
Renda, que são propostos como a garantia de transferência direta de uma renda mínima como
forma complementar a renda das famílias que se encontram em situação de pobreza ou
extrema pobreza. Como descrito por Silva, Yazbek e Giovanni (2008, p. 38), [...] essas
famílias seriam identificadas pela fixação de um determinado corte de renda, acrescido a
outros critérios, em especial, a existência de crianças em idade escolar na família e residência
desta, por determinado tempo [...]. As autoras afirmam que,
[...] os Programas de Transferência de Renda inauguraram um debate, que se
aprofundou durante toda a década de 1990, passando a se constituir, nesse início de
século XXI, o que já se pode considerar a estratégia principal no eixo da Política de
Assistência Social do Sistema Brasileiro de Proteção na atualidade (SILVA e
SILVA, YAZBEK e GIOVANNI, 2008, p. 38).
Cabe apontar que, a conjuntura política atual é bastante semelhante ao período em que
emergiu a iniciativa da Proteção Social, precipuamente a Assistência, que surgiu como ações
isoladas, a realidade atual apresenta um quadro pouco mais distinto do que se tinha antes, no
que concerne a efetivação desta, tendo em vista as várias conquistas na área das políticas
públicas, sobretudo, em relação às legislações e as regulamentações promulgadas, fruto das
18
A Transferência de Renda passou a ser o eixo central da denominada “Rede de Proteção Social” direcionada a
população pobre do país. Trata-se de um esforço articulador de programas, notadamente compensatórios, com
ações no campo da educação, da saúde e do trabalho, destacando-se: o Benefício de Prestação Continuada –
BPC –; o Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil – PETI; o Programa Agente Jovem, todos do Ministério
de Assistência Social; o Programa Nacional de Renda Mínima, vinculado à Educação – “Bolsa-Escola”, do
Ministério da Educação; o Programa Bolsa-Alimentação, do Ministério da Saúde; o Auxílio-Gás, do Ministério
de Minas e Energia, e, mais recentemente, o Programa Cartão-Alimentação, do Ministério Extraordinário de
Segurança Alimentar e Combate à Fome. (SILVA, YAZBEK, GIOVANNI, 2004, p. 101-102)
32
mobilizações sociais em prol do universalismo de políticas garantidoras de direitos.
“[...] enquanto avançam a mercantilização e privatização das políticas de saúde e
previdência, restringindo o acesso e os benefícios que lhes são próprios, a assistência
social se amplia,na condição de política não contributiva, transformando-se num
novo fetiche de enfrentamento à desigualdade social, na medida em que se
transforma no principal mecanismo de proteção social no Brasil. ” (MOTA, 2008, p.
133-134)
Na busca de democratizar os direitos sociais instituídos pela Carta Magna, que apesar de
expressos, ainda não alcançaram de fato o patamar de legitimidade, a efetivação destes como
reconhecimento de que o direito é dever do Estado, tem sido pauta trivial nos debates sobre
políticas sociais e públicas. Acerca dessa afirmativa, temos o seguinte esclarecimento em
Boschetti (2003, p. 122), “[...] Como parece já ser regra no Brasil, o Executivo descumpriu as
determinações e prazos e a recomposição do campo assistencial foi marcada pela lentidão,
pela manutenção de velhas e conservadoras práticas clientelistas e pela centralização do
poder”.
Pode-se constatar que é uma prática corriqueira o descaso com as políticas sociais,
presume-se, assim, que os avanços alcançados ocorrem em círculos, e por mais que
avancemos, eles são tendenciosos a retroagir.
Conforme Boschetti (2003, p. 29-30),
Nesse contexto, o movimento rumo à universalização dos direitos sociais cede lugar
ao que passou a ser considerado como um movimento de focalização, todavia longe
de significar uma discriminação positiva em direção aos segmentos mais pobres da
população brasileira.
Em relação ao retrocesso, vale ressaltar também que, os desdobramentos das inovações
do modo de produção capitalista, ou seja, os rebatimentos da mutação do capitalismo vai
redesenhar a estrutura das políticas sociais, transformando-as em instrumentos estratégicos de
regulação do capital, proferindo outros significados que estão um tanto quanto distante do que
representaria as proteções advindas dessas políticas.
Quanto a isso, Sposati (2013, p. 655), afirma que,
Esse processo, marcado por interrupções, intervalos, incompletudes, ao contrário de
configurar uma irracionalidade, expressa sim uma forma estratégica em manter o
campo de proteção social com baixa estabilidade, de modo a que, mais facilmente,
possa sofrer ajustes sob crises conjunturais ou estruturais do capital. Outra face
desse processo estratégico consiste em manter capacidade para reproduzir, com mais
celeridade, a desigualdade que distingue os brasileiros entre si e impede a afirmação
da universalidade da cidadania.
33
Com isso, o quadro de conquistas democráticas das políticas sociais esbarra numa
conjuntura política em que se faz presente, privatização das estatais, reformas administrativas,
mundialização da economia (do capital), ou seja, introdução de medidas contencionistas que
atingem sobremaneira a esfera da proteção social, incidindo diretamente na condição de vida
da população, principalmente na classe trabalhadora que está mais vulnerável ao incentivo à
informalidade, a competitividade, ao individualismo, a salários reduzidos, gerados pelos
rebatimentos neoliberais, que, além disso, irão possibilitar a coerção das empresas
internacionais as nacionais (considerando as várias concessões e benefícios que o país oferece
as multinacionais).
A lógica da sociedade do capital é antagônica à proteção social por considerá-la
expressão de dependência, e atribuir às suas ações o contorno de manifestações de
tutela e assistencialismo, em contraponto a liberdade e autonomia que, pelos valores
da sociedade do capital, devem ser exercidas pelo “indivíduo” estimulando sua
competição e desafio empreendedor (SPOSATI, 2013, p. 656).
Os rebatimentos do neoliberalismo no campo dos direitos sociais, estão relacionados a
diminuição de recursos voltados às políticas sociais. Isso ocorre, no ponto de vista de
Comblin (2000, p. 21) em virtude de que “ a política neoliberal tende a destruir todos os
“coletivos” que servem para defender os indivíduos. A meta é deixar os indivíduos isolados
no mercado, entregue as forças de mercado sem possibilidades de resistência”.
Deste modo, o Estado enquanto ente regulador das relações sociais e econômicas,
responde à sociedade com políticas minimalistas, seletivas e, sobretudo excludentes. Tudo
como forma de beneficiar os investimentos neoliberais, principalmente as empresas, que além
de isentas de suas responsabilidades, cuja recai sobre a sociedade, através do aumento de
impostos, de taxas e juros, torna a população desassistida e submetida à lógica do mercado
competitivo para tentar sobreviver, sob os ditames dos “senhores” empresários (MOTA,
2008).
E mesmo com todos esses elementos contrários a formulação e a evolução de políticas
sociais que possibilitam a proteção social, os movimentos que pressionaram a classe política
(governos e gestores) durante todo processo histórico da Assistência Social, fizeram com que
ela pudesse ser reconhecida legalmente como Política Pública no ano de 1988, citada, mais
precisamente, na Seção IV, Artigos 203 e 204 das disposições que trata sobre a Assistência
Social inserida seguridade social Constituição Federal. Esta viabiliza a garantia dos mínimos
sociais e a universalização dos direitos sociais.
34
Com base em todo o processo de amadurecimento da assistência social, denota-se que a
efetivação dessa política, dentro de alguns espaços em que ela é ofertada, ainda pode perceber
a forma mimética a qual é gestada, marcada fortemente pelo conservadorismo,
apadrinhamento, e principalmente pela transferência de responsabilização, que deveria ser
assumida pelo Estado, é transmitida a sociedade civil.
35
3 IMPLANTAÇÃO DO CRAS E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TAIPU
O propósito deste capítulo é apresentar um breve histórico das principais características
socioeconômicas do município de Taipu\RN. E nesse contexto, apontar-se também as
particularidades do território, considerando a importância deste para o desenvolvimento das
ações e projetos da política de Assistência Social, bem como os desdobramentos da atuação
da assistência social no município, através do CRAS, objeto do nosso estudo.
Ressalta-se que foi feita uma síntese da conjuntura da política de Assistência Social pós-
Constituição de 1988, em razão da importante visibilidade que foi aferida ao campo dos
direitos sociais, através da assistência. No que se refere a apresentação da proteção social,
estruturada em dois níveis de atenção, a Proteção Social Especial (subdividida por grau de alta
e média complexidade); e a Proteção Social Básica, de modo intencional, descreve-se o
percurso inverso, conforme a legislação, considerando que este último foi o foco central da
análise abordada nesta pesquisa.
3.1 Caracterização socioeconômica do município de Taipu
O município de Taipu, que originariamente foi constituído pela repartição de terras da
capitania19
do Rio Grande através de doações de sesmarias20
, contudo detinha pouca
influência e expressividade por ser a mais remota dentre as demais regiões. Historicamente
essas sesmarias eram caracterizadas por três estereótipos de etnias e raças: os aborígenes –
escravos –; aldeados – os que viviam no mato, provavelmente índios – e os invasores que
eram homens brancos, livres e proprietários e livres não proprietários.
Foi esta uma das regiões mais densamente povoadas da Capitania do Rio Grande do
Norte, em fins do século XVII. Em 1742, o território era denominado Taipu Grande,
e a população local, disseminada por grande número de propriedades rurais,
dedicava-se ao cultivo de cereais. (IBGE - ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS,
1960, p. 166)
19
As capitanias eram imensos tratos de terras que foram distribuídos entre fidalgos da pequena nobreza, homens
de negócios, funcionários burocratas e militares. Entre os capitães que receberam donatarias, contam-se feitores,
tesoureiros do reino, escudeiros reais e banqueiros. (http://historiarn.blogspot.com.br/2011/05/os-documentos-
de-sesmarias.html) 20
A sesmaria era uma subdivisão da capitania com o objetivo de que essa terra fosse aproveitada. A ocupação da
terra era baseada em um suporte mercantil lucrativo para atrair os recursos disponíveis
[...](http://historiarn.blogspot.com.br/2011/05/os-documentos-de-sesmarias.html)
36
Data-se que, pela localização da região, esta foi constituída pelo aldeamento do segundo
grupo estereotipado, os índios. Estes foram povoando as fazendas da região, a principal delas
era conhecida como Fazenda Tabuleiro do Barreto que, hoje um dos distritos do município,
deu origem a aldeia Itaipi ou Itaipu, Também de onde provém o nome Taipu.
Posteriormente, passou a ser denominada por PICADA, devido à localização
geográfica, situada entre o Sertão e a Zona da Mata. Nesse período sua extensão territorial
pertencia ao município de Touros. Assumira condição de distrito no ano de 1851, e em junho
de 1889 foi reconhecido como Taipu, nome que expressa suas origens indígenas.
Desmembrou-se de Touros, passando a ser território do município de Ceará Mirim, como está
descrito no site Histórias Brasileira – HB –.
A então esperada emancipação política do município chegara apenas em 1907 “com a
implantação da estrada de ferro ligando Taipu a Natal”, de acordo com informações acessadas
no site supracitado, dado que impulsionou o progresso da localidade e possibilitou o
desenvolvimento e a implantação do “mercado consumidor e o escoamento da produção
agrícola”, conforme site citado anteriormente, passando a assumir a posição literal de
município do Rio Grande do Norte. Não obstante, já havia deixado de pertencer ao município
de Ceará Mirim desde o ano de 1891, através do Decreto nº 97 de 10 de março, data de
emancipação política que ocorreu 16 anos após este decreto.
Sobre a questão territorial atual, em concordância com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010a), a cidade atualmente possui uma extensão de terra de
352,818 km², equivalente a aproximadamente 0,66% do território estadual. Sua abrangência
territorial faz divisão com os seguintes municípios: Poço Branco, Pureza, Ielmo Marinho e
Ceará Mirim.
O censo do IBGE de 2010b apresenta ainda que a cidade possui um percentual
populacional aproximadamente 11.836 em 2010, com estimativa de 12.398 habitantes em
2016. Dentre estes, 35% residem na área urbana e 65% na área rural.
Em relação ao índice populacional, pode-se constar que grande parte da população vive
em condições insalubres de moradia, não dispondo de condição habitacional adequada, tendo
em vista que, apesar da maioria residir em domicílios particulares que não dispõe de
saneamento básico adequado, dado que consequentemente, está ligado diretamente a questão
da renda mensal per capita das famílias.
37
Conforme nos mostra o IBGE (2010c), este rendimento mensal domiciliar per capita
médio mensal é de aproximadamente R$ 255,50 (duzentos e cinquenta e cinco reais e
cinquenta centavos), correspondendo a renda de 50% da população. Ressalta-se ainda que
cerca de 26,8% dos munícipes que se encontra nessa mesma situação de insalubridade
habitacional, sobrevivem com renda de até R$ 70,00 (setenta reais) mensais por família.
Conforme Fávero (2014, p. 23), se trata de “uma população da sociedade que sobrevive
com dificuldade no que se refere ao suprimento de necessidades básicas como alimentação,
habitação, saúde, educação, lazer, segurança, em sua maioria sem nenhum acesso a programas
de proteção social”.
Os dados anteriormente expostos apontam que parcela significativa dos cidadãos
taipuenses não dispõe de saneamento básico adequado, dado que demonstra a necessidade de
projetos por parte do poder público municipal, principalmente no que concerne à articulação
das políticas públicas, considerando as diferenças particulares entre a população urbana e
rural, tendo em vista a possibilidade de maior eficiência no trabalho desenvolvido.
No que concerne ao índice educacional, através de informações acessadas no site do
IBGE (2010), tem-se um percentual de mais de 60% da população, um número expressivo
que não concluíram o ensino fundamental, e não possuem instrução alguma, dado que nos
leva a uma análise direta de que, possivelmente, seria esse percentual que exprime maior
demanda da proteção social básica, tendo em vista que seria esse o público alvo que acessaria
aos serviços e projetos ofertados pelo CRAS.
Nesse caso, associando-se, não apenas as informações sobre a educação, mas
também os índices que envolvem o desenvolvimento dos demais segmentos do município,
pode-se perceber que estes também apontam evidências da necessidade de intervenção através
de políticas sociais públicas específicas, que forneçam possibilidades a superação de
vulnerabilidades e riscos sociais eminentes da população, principalmente aquelas vinculadas a
questão educacional, a renda ou a habitação, pois, nota-se que esses quesitos interferem
diretamente, tanto na condição de vida dos sujeitos, quanto no desenvolvimento das
capacidades humano genéricas, conforme sinaliza (BARROCO, 2003).
Outro dado que pode ser passível de intervenção é que grande parte dos moradores
residem em área rural, cuja não tem acesso ou não dispõe de acesso aos direitos sociais, como
estão assegurados constitucionalmente no capítulo II, artigo 6º que versa sobre os direitos
38
sociais: “[...] a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”. (BRASIL, 2012, p. 18)
Segundo o censo do IBGE do ano de 2010 referente ao quadro situacional da saúde
pública de Taipu, temos informações que neste período o município dispunha de
estabelecimentos de Saúde com atendimento médico ambulatorial com especialidades básicas
adequados, acessível a grande parte da população. Destaca-se ainda dentre estão inclusas as
unidades de atendimento odontológico.
No que se refere à atividade econômica do município, a principal fonte de renda
permanece ligada a agricultura, principalmente a agricultura familiar de subsistência, porém,
ultimamente, vem ocorrendo um crescimento considerável em relação a indústria e a
prestação de serviços, este tem se sobressaído em relação às demais atividades, considerando
o crescente número de contratos terceirizados, sendo a empresa pública municipal o principal
órgão empregador.
Consoante aos dados gerais dos relatórios de programas e ações do Ministério de
Desenvolvimento Social e Agrário (BRASIL, 2017, s\p), este município possuía em 2010,
2.049 munícipes em situação de extrema pobreza, vale destacar que há um índice de 634
pessoas em superação da extrema pobreza, de acordo com os relatórios do MDSA, para o ano
de 2017.
Concernente aos serviços socioassistenciais, o município de Taipu possuía uma
estimativa em 2010 um quantitativo de 2.113 famílias com perfil Cadastro Único. Entretanto,
em 2016 o número famílias inseridas no CadÚnico estava em torno de 2.699 famílias. Vale
ressaltar que dentre estas, apenas 64% são beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF),
representando um quantitativo de 1.970 assistidas pelo programa.
Através desses dados e das pesquisas realizadas na área das políticas sociais, é notável
que, na maioria dos municípios do país, há uma tendência, ainda muito elevada de sujeitos
desassistidos, que não tem acesso aos direitos sociais básicos, que poderiam possibilitar
melhores condições de vida, menor quantitativo de famílias inseridas na extrema pobreza ou
dependentes diretamente de benefícios socioassistenciais, realidade que particulariza o
município em questão.
39
3.2 A implantação do Centro de Referência de Assistência Social do município de Taipu
Diante da conjuntura que vem sendo discutida sobre a trajetória histórica da Assistência
Social, antes da discussão sobre a implantação do CRAS, um dos instrumentos de efetividade
da política de assistência, não se pode deixar de tratar acerca do cenário em que emergiu a
Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que concedeu novos direcionamentos aos
elementos centrais da Assistência social, e “[...] atualmente em vigência, propõe a
consolidação da assistência social como política pública e direito social na perspectiva do
Sistema Único de Assistência Social, [...]” (COUTO e SILVA, 2009, p. 31).
Nesse sentido, é possível afirmar que no período anterior a CF de 1988 e a aprovação da
LOAS, ocorreu, segundo Yazbek (2007, p. 41) “[...] uma espécie de “cultura política” que
nega a identidade social dos subalternos e seu pertencimento a uma classe; [...]”. Para tanto,
como superação do viés das ações assistencialistas como elemento eventual, ocorreram vários
movimentos e pressões sociais que tencionaram grupos políticos na tentativa de legitimar e
assegurar algumas garantias por meio de recursos legalmente reconhecidos.
Como representante inicial da longa e árdua jornada de legitimidade da Assistência
Social no campo das políticas públicas, após sua inserção no sistema de Bem-Estar Social
brasileiro, concebido como campo da Seguridade Social, tem-se a Saúde e a Previdência
Social juntamente com a Assistência, a configuração do tripé de sustentação desse sistema,
em 1993 foi promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), através da lei 8.742 de
7 de dezembro.
[...] a LOAS inovou ao apresentar novo desenho institucional para a assistência
social, ao afirmar seu caráter de direito, [...] a centralidade do Estado na
universalização e garantia de direitos e de acesso aos serviços socias e com
participação popular. Inovou também ao propor o controle da sociedade na
formulação, gestão e execução das políticas assistenciais e indicar caminhos
alternativos para a instituição de novos parâmetros de negociação de interesses e
direitos de seus usuários. [...] ou seja, da cidadania e da democracia. (COUTO et al.,
2011, p. 34).
A LOAS estabelece uma nova organização na matriz da assistência social. Um grande
avanço para a população brasileira, pois esta salta do campo “de uma ação social, ou
promoção social dentro do conceito de desenvolvimento social” (SPOSATI, 2011, p. 10),
para, através da política de assistência, conferir seguranças e proteção social21
, além de
21
Por proteção social entende-se a atenção às populações excluídas e vulneráveis socialmente, operacionalizada
40
garantir e assegurar a cidadania aos sujeitos, regendo-se pelos seguintes princípios, descritos
em seu capítulo II, seção I:
I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de
rentabilidade econômica;
II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e
serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer
comprovação vexatória de necessidade;
IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer
natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais;
V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem
como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.
Através da LOAS e dos demais instrumentos normativos, foram instituídos conselhos
na esfera estadual, do distrito federal e dos municípios22
, sendo suas composições paritárias,
como forma de representatividade da sociedade civil, que passou a ter participação direta nas
decisões políticas deliberativas que conferem os direitos assistenciais. A oportunidade de
debater e decidir dentro de um processo democrático repleto de contradições, configura-se um
avanço indispensável na construção da emancipação humana do sujeito de direito, outrora
marginalizado.
Esses instrumentos normativos estabelecem as condições de gestão,de
financiamento, de controle social, de competências dos níveis de governo com a
gestão da política, de comissões de pactuação e negociação e de avaliação. Criam
por exemplo, conselhos deliberativos e controladores da Política de Assistência
Social, Fundos Especiais para alocação de recursos financeiros específicos da
Assistência Social e órgãos gestores da Política de Assistência Social [...]
(LONARDONI et al., 2016, p. 7).
Ainda na esfera desses avanços, na perspectiva de materialização das diretrizes da
por meio de ações de redistribuição de renda direta e indireta e pelos serviços, que integram a rede de proteção
social básica e especial; nessa populações incluídas as que estão em situação de risco pessoal ou social e de
eventos. (SIMÕES, 2012, p. 316, grifos do autor) 22
[...] os conselhos devem integrar as prefeituras e não participar apenas como organismos assessores,
externos e consultivos. Participam, com outros órgãos municipais, para: atuar na formulação e no controle da
execução da política municipal assistencial; deliberar sobre os planos de assistência social; fiscalizar o fundo
de assistência social; propor medidas para o aperfeiçoamento dos serviços; fiscalizar denúncias, em
colaboração com a prefeitura, para tal fim. (SIMÕES, 2012, p. 121, grifos meus)
41
LOAS, acontece mais uma conquista relevante no âmbito da Assistência Social, a aprovação
da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, pela Resolução de nº 145, de 15 de
outubro de 2004, através do aval do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS. “Sua
antecessora era a PNAS de 1998, que centrou o âmbito da assistência social como política de
combate à pobreza, focalizada nesses “destinatários” (SPOSATI, 2011, p. 9).
A PNAS-2004 vai explicitar e tornar claras as diretrizes para a efetivação da
Assistência Social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado, apoiada
em modelo de gestão compartilhada pautada no pacto federativo, no qual são
detalhadas as atribuições e competências dos três níveis de governo na provisão de
atenções socioassistenciais, em consonância com o preconizado na Loas e nas
Normas Operacionais (NOBs) editadas a partir das indicações e deliberações das
Conferências, dos Conselhos e das Comissões de Gestão Compartilhadas
(Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite – CIT e CIBs) (COUTO et al., 2011,
p. 38).
A PNAS do ano de 2004 surge como resultante de intensas manifestações, debates
descentralizados por todo o país, principalmente, por ter sido pauta ininterrupta das
deliberações das Conferências de Serviço Social, essencialmente a IV conferência, realizada
em dezembro de 2003 em Brasília.
Apresenta-se como “o processo de construção e normatização nacional do Sistema
Único de Assistência Social – SUAS23
, aprovado em julho de 2005 pelo CNAS (por meio da
NOB ”(COUTO et al., 2011, p. 38).
Assim, mediante informações da Norma Operacional Básica24
(NOB – SUAS) de 2005,
a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é fruto de uma iniciativa do Conselho e da
Secretaria Nacional de Assistência Social (CNAS e SNAS), por decisão do MDS,
demonstrando interesse na construção coletiva do (re)desenho da política de Assistência
Social, com possibilidade de implantar o Sistema Único de assistência Social (SUAS)
(BRASIL, 2004).
Essa política assume a responsabilidade de implantar o SUAS. Um sistema pensado e
articulado para ofertar serviços na ordem da política de assistência social à população que
23
O SUAS é o sistema que consolida a Política Nacional de Assistência Social, tendo por funções assistenciais: a
proteção social, a vigilância socioassistencial e a defesa dos direitos socioassistenciais ( art. 2º LOAS). (Simões,
2012, p. 321) 24
A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social–NOB SUAS, aprovada em 15 de julho
de 2005 pela Resolução do CNAS n. 130. Esta constrói as bases do SUAS e de sua forma de operação.
(SPOSATI, 2011, p. 11).
A NOB–SUAS, a terceira NOB exarada pós–LOAS, para orientação da Política de Assistência Social, é basilar
na constituição da unidade da política nacional, caracterizando cada ente gestor em um nível de habilitação
(SPOSATI, 2011, p. 13).
42
dela necessitar, como concretude de direito legalmente reconhecido. Deste modo, esse sistema
tem como eixos estruturais a matricialidade sociofamiliar e a territorialização.
A Política de Assistência, no novo direcionamento, passa a atuar no “campo dos
direitos, da universalização do acesso e da responsabilidade estatal”. Nesse sentido, a Política
Pública de Assistência Social marca sua especificidade no campo das políticas sociais, pois
configura responsabilidades de Estado próprias a serem asseguradas aos cidadãos brasileiros
(BRASIL, 2004, p. 8).
É importante salientar também, que este cenário é marcado por lutas e conquistas, não
apenas para a política de Assistência, mas principalmente para as demais políticas sociais,
uma vez que a PNAS “se articula a outras políticas do campo social, voltadas à garantia de
direitos e de condições dignas de vida”(BRASIL, 2005, p. 25), além de estabelecer novo
reordenamento a política em questão, na tentativa de barrar a judicialização dos direitos
sociais e balizar o enfrentamento das expressões da questão social.
A Política Nacional de Assistência Social promove, sobretudo, a defesa e atenção
dos interesses e necessidades sociais, particularmente das famílias, seus membros e
indivíduos mais empobrecidos e socialmente excluídos. Cabem, por isso, à
assistência social, segundo essa política, as ações de prevenção, proteção, promoção
e inserção; bem como o provimento de um conjunto de garantias ou seguranças que
cubram, reduzam ou previnam a vulnerabilidade, o risco social e eventos; assim,
como atendam as necessidades emergentes ou permanentes, decorrentes de
problemas pessoais ou sociais de seus usuário e beneficiários (SIMÕES, 2012, p.
314, grifos do autor).
Portanto, baseada na Constituição Federal de 1988 e na LOAS, a organização dessa
política tem as seguintes diretrizes:
I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais
à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e
municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, 26 garantindo o
comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as
características socioterritoriais locais;
II - Participação da população, por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;
III - Primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência
social em cada esfera de governo;
IV - Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços,
programas e projetos. (BRASIL, 2004, p. 32-33).
43
Através dos seus eixos de sustentação, a PNAS, dedica-se atentamente a matricialidade
familiar e a intersetorialidade, o que demonstra a possibilidade de um nível de proteção mais
amplo e elevado, resultando na efetivação dos direitos ao público alvo da política. Deste
modo “[...] A proteção social é hierarquizada em básica e especial; esta última se organiza por
graus de complexidade, mas, sobretudo, deve iniciar a instalação do que será a unidade básica
de proteção social não contributivo em todo território nacional [...]” (SPOSATI, 2011, p. 10 ).
Conforme afirma Simões (2012, p 314, grifos do autor),
“[...] como medidas de iniciativa do Poder Público, [...] “ O plano tem, por objeto,
conjunta ou separadamente a proteção social básica (CRAS), a proteção social
especial (CREAS) e a proteção especial direta,visando assegurar a defesa dos
direitos socioassistenciais, para tanto instituindo benefícios, serviço, planos,
programas e projetos de assistência social (arts. 20 a 26 LOAS).
Considerando que a base estrutural deste trabalho ocorre em torno da Proteção Social
Básica (PSB) que é ofertada pelo CRAS, inicialmente, tratar-se-á da Proteção Social Especial
(PSE), para posteriormente discorrer com mais especificidade na PSB, a proteção basilar de
toda a política de assistência, tendo em vista que se trata de questões imprescindíveis como a
prevenção, proteção e promoção dos usuários, garantindo possíveis evoluções de riscos e
vulnerabilidades desse público.
Nesse sentido, pode-se conceituar a Proteção Social Especial (PSE) como uma
modalidade de atendimento assistencial que se destina às famílias e indivíduos em situação de
risco pessoal, social ou de eventos25
, cujos direitos tenham sido violados ou ameaçados. “[...]
as ações desenvolvidas na PSE devem ter centralidade na família e como pressuposto o
fortalecimento e o resgate de vínculos familiares e comunitários, ou a construção de novas
referências, quando for o caso” (BRASIL, 2004, p. 18).
Deste modo para integrar as ações da Proteção Especial, é necessário que o cidadão
esteja enfrentando situações de violações de direitos por decorrência de violência física ou
psicológica, abuso ou exploração sexual; abandono, rompimento ou fragilização de vínculos
ou afastamento do convívio familiar, dentre outros.
Os serviços prestados pela PSE são divididos por níveis de média e alta complexidade
considerando a hierarquia da especialização exigida no atendimento. Geralmente, estes
serviços aspiram uma relação conjunta com todo o Sistema de Justiça (Ministério Público,
25
Eventos são as ocorrências, nas pessoas, consideradas individual ou coletivamente, de efeitos indesejados e
inesperados de fatos da natureza (calamidades, epidemias e outros). (SIMÕES, 2012, p. 317)
44
Tribunal de Justiça, Defensorias e demais órgãos), possibilitando a garantia completa, no que
concerne defesa de direitos aos usuários.
A prestação de serviços da PSE do nível de complexidade média é prestada através do
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS26
), “[...] compreende as
atenções e orientações direcionadas para a promoção de direitos”, cujos vínculos familiares e
comunitários não foram rompidos.” (BRASIL, 2004, p. 38).
I – Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade:
a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos –
PAEFI;
b) Serviço Especializado em Abordagem Social;
c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida
Socioeducativa de Liberdade Assistida – LA – e de Prestação de Serviços à
Comunidade – PSC;
d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoa com Deficiência, Idosa, e
suas Famílias;
e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP).
(SIMÕES, 2012, p. 331)
Na Proteção Social Especial de Alta Complexidade, para que haja a intervenção destes
serviços, as situações descritas na média complexidade apresentam-se com um elevado grau
de agudização, ou seja, além da violação de direitos, os vínculos afetivos já estão rompidos,
dado que exige a retirada do assistido do convívio, tanto no âmbito familiar quanto do
comunitário.
II – Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade:
a) Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades:
– abrigo institucional;
– casa- lar;
– casa de passagem;
– residência inclusiva.
b) Serviço de Acolhimento em República;
c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora;
26
O CREAS é um equipamento estatal, que presta serviços de proteção social especial de MÉDIA
COMPLEXIDADE, junta às famílias, seus membros e indivíduos, em seu contexto comunitário, tendo por
finalidade a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário, em atendimento especialmente provocado pela
violação de direitos. (SIMÕES, 2012, p. 337, grifos meus)
45
d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas Emergenciais.
(SIMÕES, 2012, p. 331)
Vale destacar que esses e outros serviços socioassistenciais encontram-se consolidados
e classificados na Resolução CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, a qual aprovou a
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, resultado de um percurso amplo de
discussões, principalmente no que diz respeito ao processo de pactuação na Comissão
Intergestores Tripartite – CIT27
–, através da qual se estabelece negociações e pactuações no
que versa as políticas e programas sociais.
No que se refere ao âmbito da Proteção Social Básica, a qual tem como unidade
referenciada o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que é uma instituição que
presta serviços de Proteção Básica à população em vulnerabilidade social que tem como
objetivo a prevenção de situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades
do usuário, bem como atua no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
A PNAS “Prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos locais de
acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação
da situação de vulnerabilidade apresentada.” (BRASIL, 2004, p. 34). A articulação da rede
socioassistencial de proteção social básica viabiliza o acesso efetivo da população aos
serviços, benefícios e projetos de assistência social.
Deste modo, compreende-se como serviços socioassistenciais da PSB, os seguintes:
I – Serviços de Proteção Social Básica:
a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF;
b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;
c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoa com deficiência e
idosas. (SIMÕES, 2012, p. 331)
Esses são destinados à população que vive em situação de ausência de renda, de
fragilidade decorrente da pobreza, que geralmente é resultado do acesso precário ou nulo de
equipamentos básicos e serviços públicos ou fragilidade de vínculos afetivos – discriminações
etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras demandas – (BRASIL, 2009).
Neste sentido, o CRAS se constitui como uma instituição descentralizada de
assistência social, comprometida com a defesa de direitos, capaz de transpor as práticas
conservantistas e tecnocráticas. Assume para si a identidade das bases estruturais do SUAS,
27
Comissão Intergestora Tripartite, integram, além de gestores estaduais e municipais, os representantes do
governo federal. (SIMÕES, 2012, p. 333)
46
que está centrado na matricialidade sociofamiliar e na territorialidade, conforme preconiza a
PNAS.
A matricialidade sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social
fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de assistência
social. A família, segundo a PNAS, é o conjunto de pessoas unidas por laços
consangüíneos, afetivos e ou de solidariedade, cuja sobrevivência e reprodução
social pressupõem obrigações recíprocas e o compartilhamento de renda e ou
dependência econômica. (BRASIL, 2009, p. 12)
Conforme o prescrito nas orientações técnicas do CRAS, sobre esse eixo, se dá como
forma preventiva e de apoio às famílias através da rede socioassistencial, garantindo
condições de acessos aos direitos sociais, além de possibilitar condições de mobilidade social.
De mesmo modo, apresenta-se a territorialização, como
[...] à centralidade do território como fator determinante para a compreensão das
situações de vulnerabilidade e risco sociais, bem como para seu enfrentamento. A
adoção da perspectiva da territorialização se materializa a partir da descentralização
da política de assistência social e consequente oferta dos serviços socioassistenciais
em locais próximos aos seus usuários. Isso aumenta sua eficácia e efetividade,
criando condições favoráveis à ação de prevenção ou enfrentamento das situações de
vulnerabilidade e risco social, bem como de identificação e estímulo das
potencialidades presentes no território. (BRASIL, 2009, p. 13)
Analisando a conjuntura atual do Brasil, tem-se acrescido as competências desse
instrumento, pela grande parte dos municípios do país, um caráter minimalista, tecnicista,
conservador e principalmente vem sendo reforçando as práticas paternalista e assistencialistas,
sendo está última a mais comum dentre elas, levando em consideração a forte manipulação
política que existe dentro desses instrumentos sociais.
Para tanto, como forma de enfrentamento as expressões da questão social eminente no
país, foi deliberado pelo governo federal na década de 2000, a implantação de Centros de
Referência de Assistência Social (CRASs) em todo território nacional. Como prerrogativas
para que os municípios pudessem contemplar o financiamento para construção da instituição
foi determinado, como emergente, os municípios que apresentassem o menor Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH.
Deste modo, através de um recenseamento realizado pelo Governo Federal, com o
objetivo de implantar nos municípios com índice demográfico de maior pauperização, os
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), foi possível diagnosticar e classificar o
grau de necessidades de cada cidade do país.
Salienta-se que esse período foi marcado por um cenário de fortes mudanças políticas,
principalmente pela transição de um “modelo econômico”, para uma quebra de paradigmas.
47
Partindo de modo econômico neoliberal, gestado por Fernando Henrique Cardoso (FHC),
cujo o seu governo foi, em sua essência, voltado para culpabilizar o indivíduo pelo
desenvolvimento e bem-estar pessoal e familiar.
Após este modelo, surgiu um outro paradigma de atuação política “social
democrático” na tentativa de propiciar melhor qualidade de vida a sociedade, a mudança de
um Estado mínimo a um patamar de garantia de direitos sociais. A inclusão social através das
políticas públicas, fundamentou o enfrentamento às expressões da questão social no governo
de Luiz Inácio da Silva (Lula).
Não que tenha sido, este modelo político, a solução para as questões sociais, pois
percebe-se também, nessa atuação política, uma forma de gerenciar “sabiamente”, utilizando
o populismo (“carisma”) e a política de transferência de renda como instrumentos
manipuladores das massas sociais e consequentemente o controle social do país.
Foi no viés dessa transição que surgiu o projeto de implantação dos CRAS nos
municípios. E um dos principais objetivos é que em sua composição de recursos humanos,
contivesse no mínimo uma equipe socioassistencial que atendessem as demandas das
expressões sociais de cada município, respeitando suas limitações.
Assim, no ano de 2004, o Estado do Rio grande do Norte foi contemplado com a
implantação de 17 Centros de Referência de Assistência Social, considerando o pré-requisito
elencado pelo governo federal, o IDH de cada município. A cidade de Taipu foi beneficiada
por ter na época o menor IDH dentre o estado. A construção da referida unidade aconteceu no
corrente ano.
Todavia, vale ressaltar que devido a emergência em balizar os infortúnios sociais
presentes no território municipal, houve um movimento dos profissionais da Prefeitura
Municipal (dentre eles, os do Serviço Social) para elaborar o projeto de instalação, cujo foi
avaliado pelo governo federal e, posteriormente o projeto foi aprovado, ocorrendo no mesmo
período a liberação dos recursos para implantação do CRAS, unidade responsável por
desenvolver os serviços socioassistenciais da proteção social básica no município.
O município de Taipu, localizado na região do “Mato Grande” do Rio Grande do
Norte, nesse período passava por enfrentamentos de combate à fome e a pobreza extrema, e
apesar de ser um município de pequeno porte, esse cenário de pauperização e das diversas
expressões da questão social permanece até os dias atuais.
O processo de implantação ocorreu no ano de 2004, sob condições físicas adversas e
48
situações precárias de trabalhos, tais como locação de prédio em condição estrutural péssima
e pouco acessível à população usuária dos serviços ofertados pela política de Assistência
Social. Localizava-se, inicialmente, na Rua Manoel Alfredo de Miranda, s\n, centro, Taipu.
Na época, atuava uma equipe técnica reduzida, composta por uma psicóloga e uma
assistente social, para cobrir as demandas voltadas aos serviços. No período, os serviços
básicos, eram ofertados através de ações sociais, como entrega de cestas básicas, leite, sopa,
dentre outras atividades nada emancipatórias.
Saliente-se que este quadro, pouco antes da equipe multiprofissional se estabelecer, as
atividades correspondentes, a assistência social, eram desenvolvidas por uma professora, que
possivelmente, tinha apenas o magistério como grau de instrução. Há relatos de que esta quem
elaborava textos descritivos sobre as situações socioeconômicas das famílias. Destaca-se que
as informações aqui expressas, foram resultantes de diálogos com uma Assistente Social
efetiva do município, a qual fez parte de todo o processo de construção da implantação do
CRAS.
No decorrer do processo de implantação da unidade socioassistencial não houve
preocupação em localizá-la em áreas preconizadas pela legislação, que são os espaços de
maior incidência de pobreza e extrema pobreza, ou seja, em áreas com maior índice de
vulnerabilidade e risco social, como prescrito na Norma Operacional Básica/ SUAS
(NOB/SUAS), na PNAS e reconhecida pela Tipificação Nacional dos serviços
socioassistenciais e pela Norma de Orientações Técnicas do CRAS.
Todavia, a situação de vulnerabilidade social das localidades, reconhecidas pela
NOB/SUAS, como uma condição de difícil diagnóstico, neste caso,
[...] admite que os CRAS sejam instalados, prioritariamente, em territórios com
maior concentração de famílias com renda per capita mensal de até ½ salário
mínimo, uma vez que, as vulnerabilidades sociais podem ser agravadas pela situação
de empobrecimento das famílias. Em geral, territórios com concentração de famílias
pobres são mais vulneráveis pois, desprovidos de serviços, o que evidencia a
necessidade de uma maior atenção do Estado (BRASIL, 2009, p. 34.).
Sabe-se que devido aos impasses políticos, esses e outros aspectos relacionados a esta
implantação dificultaram sua execução e efetividade, visto que, não seria interessante para
gestão vigente, localizá-lo devidamente no território previsto, uma vez que a política
assistencialista e patrimonialista, transformava em barganhas os direitos sociais arduamente
conquistados.
49
Se faz necessário que este instrumento seja localizado nas áreas pré-estabelecidas, para
facilita tanto o contato dos usuários aos serviços ofertados, quanto para que haja o
conhecimento do território e das famílias por parte dos profissionais, o que possibilita maior
planejamento para intervir nas necessidades reais dos munícipes.
A oferta dos serviços no CRAS deve ser planejada e depende de um bom
conhecimento do território e das famílias que nele vivem, suas necessidades,
potencialidades, bem como do mapeamento da ocorrência das situações de risco e de
vulnerabilidade social e das ofertas já existentes. (BRASIL, 2009, p. 9)
De acordo com a proposta da política de assistência do município, vale salientar que
mediante o cenário político, postulava-se nesses serviços uma visão patrimonialista,
clientelista, assistencialista, que aliada aos interesses políticos estava totalmente desvinculada
da política direcionada aos direitos sociais como garantia de cidadania, entretanto baseada na
prática caritativa e no ajustamento das massas, que favorecia a prática coronelista. Assim, os
serviços socioassistencial prestado por esse equipamento, nessa época, fortalecia a ideia de
assistência por meio de ações como “a entrega do sopão”, leite, cestas básicas, etc.
Este cenário não se difere do que acontecia/acontece em âmbito nacional. Deste modo,
esta prática corrobora com o cenário histórico, político e social do Brasil, que antecedeu a
criação da Política Nacional de Assistência Social, que só então “mudou-se” a compreensão
sobre a referida política, pois, esta, juntamente com as políticas setoriais, visa o
enfrentamento as desigualdades socioterritoriais, a garantia dos mínimos sociais, melhor
qualidade nos serviços e a universalização dos direitos sociais.
A implantação desta Unidade pressupõe diálogo com os elementos fundamentais do
Sistema Único de Assistência Social, tais como: proteção básica e especial
(articulação e fluxos na relação com os serviços socioassistenciais do território e
com proteção especial); responsabilidade das três esferas na oferta e
cofinanciamento da proteção básica; e rede que integra o SUAS - pública e privada
sem fins lucrativos, no território de abrangência dos CRAS. Além disso, chama-se
atenção para a importância da articulação do PAIF (Programa de Atenção Integral à
Família) aos demais serviços setoriais, uma responsabilidade do gestor municipal.
(BRASIL. 2009, p. 7)
No que se refere aos Recursos Humanos da maioria dos CRAS do país, particularizando
a realidade do município estudado, apresentam-se de modo precarizado, insalubre, que de
acordo com IAMAMOTO e CARVALHO (2009) é este o “[...] fato que descaracteriza as
práticas do Assistente Social, [...] se caracteriza como um núcleo de número reduzido de
pessoas, que desenvolvem uma atuação limitada a pequenos grupos e de pouco alcance
social”, incapazes de fazer análise e refletir sobre a realidade social da população.
50
Com relação aos recursos humanos, o CRAS dispõe de: 1 coordenador; 1 assistente
social; 1 psicólogo; 1 recepcionista; 4 auxiliares de Serviços Gerais, cumprindo as exigências
básicas. Apesar da equipe de referência está completa, vale salientar que os vínculos de todos
os profissionais deste órgão são precários e insalubres. De acordo com o que a NOB-
RH/SUAS, descreve sobre a equipe de referência,
São aquelas constituídas por efetivos responsáveis pela organização servidores e
oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e
especial, levando-se em consideração o número de famílias e indivíduos
referenciados, o tipo de atendimento e as aquisições que devem ser garantidas aos
usuários. (BRASIL, 2005, p. 27)
É comum, no contexto político socioassistencial do país, essa descaracterização na
atuação do profissional de Serviço Social, visto que, estes fazem parte da lógica
capitalista enquanto profissionais assalariados inseridos no mercado de trabalho, atuam como
mão de obra barata, principalmente em virtude da precarização dos vínculos empregatícios (à
maioria estão sob contratos temporários), dado que evidencia a fragmentação da continuidade
dos serviços socioassistenciais prestados, bem como implica diretamente na relativa
autonomia destes trabalhadores, dado constatado, através da análise participante, no CRAS
Taipu.
No que se refere ao funcionamento desse instrumento social, podemos perceber que,
devido aos impasses políticos, a regularização e instalação do funcionamento do CRAS
permanece em condições insatisfatórias, uma vez que não atende as recomendações do
previstas na NOB\SUAS e NOB\RH. Quanto à disposição dos espaços, segue com déficit,
haja vista que são mínimos para realização das atividades, dados que acentuam e dificultam o
acesso de alguns usuários.
Ressalta-se ainda que, há necessidade de adequar a ventilação, conservação,
privacidade e acessibilidade de todos esses espaços, como exemplo, a sala de atividades
coletivas e comunitária por estar próximo a sala de atendimento inviabiliza a acolhida dos
outros usuários assim prejudicando o andamento das demais atividades realizadas neste
ambiente. Lembrando que a nova sede, a qual está sendo construída dentro do padrão de
normatização da NOB SUAS encontra-se em atraso.
Levando em consideração as Orientações Técnicas desenvolvida pelo Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o CRAS.
Representa a principal estrutura física local para a proteção social básica,
51
desempenha papel central no território onde se localiza, possuindo a função
exclusiva da oferta pública do trabalho social com famílias por meio do serviço de
Proteção e Atendimento Integral a Famílias (PAIF) e gestão territorial da rede
socioassistencial de proteção social básica. (BRASIL, 2015, PORTAL MDS)
No que se refere a inclusão e o custeio de despesas referente à necessária estruturação
física, aos recursos humanos, as despesas necessárias e adequadas ao funcionamento do
CRAS, algumas são custeadas pela prefeitura municipal, outras através do repasse financeiro
do Fundo Público, respectivamente.
Sobre a oferta de dos serviços, a unidade realiza apenas atividades essenciais. Possui o
serviço ainda em aperfeiçoamento voltado para o trabalho social com famílias do Programa de
Atenção Integral à Família (PAIF), vale salientar que este é o programa base do CRAS, no
momento trabalha-se apenas com um grupo de mulheres com encontros mensais,
acompanhamento familiar e de indivíduos, isso inclui as visitas domiciliares, apesar de não
serem frequentes, atendimentos de demandas espontâneas.
Além desses, o CRAS oferece também o Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos (SCFV), ambiente compartilhado com as demandas específicas. Estes serviços
abrangem também os usuários da zona rural.
No tocante ao público alvo de atendimento da Proteção Social Básica, geralmente, são
usuários que estão em condição de vulnerabilidade e risco social, que se encontram
localizados nas áreas subalternizadas da cidade ou distritos. São, em sua maioria, pessoas
desprovidas das mínimas condições necessárias de sobrevivência, apresentam problemas de
saúde, condições de moradias precárias e trabalhos insalubres e a educação que, ainda,
alimenta um analfabetismo funcional.
A maior parte dos usuários procuram o CRAS, em busca “ajuda” para suprir algumas
necessidades básicas, como: alimentação, seja através de cesta de básica ou mesmo de uma
refeição; de provimentos para pagar contas de água, luz, e outros. Tem-se também, os que
buscam esclarecimento acerca de alguns serviços, projetos, benefícios e programas, entre os
quais podemos citar o Benefício de Prestação Continuada (BPC) que é um benefício não
vitalício e intransferível, que garante 1 (um) salário mínimo mensal ao idoso, com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais, à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com
impedimento de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, conforme
estabelecido no artigo 20 da LOAS.
O Programa Minha Casa Minha Vida, que é a transferência de recursos para o Fundo
52
de Arrendamento Residencial (FAR), oriundos do Orçamento Geral da União (OGU), para
viabilizar a construção de unidades habitacionais, o Programa Bolsa Família (PBF), este é a
garantia de uma renda mínima que se resume em apenas transferência de renda e de
responsabilidade aos beneficiários, de fazer com que esta seja suficiente para suprir as
necessidades, cuja não proporciona mudança na realidade de vida desses usuários, senão, de
apenas provocar nesses sujeitos a sensação de “bem estar” e que de algum modo, ainda,
contribuem para o acúmulo de capital.
Ainda existem as demandas que não conseguem chegar até o serviço, e este, por sua
vez, também não consegue alcançá-las pelo simples motivo de não possuir um meio de
transporte, nem mesmo compartilhado, para que a equipe socioassistencial possa suprir o
atendimento dessas, ainda que de forma superficial, a partir do momento em que a dimensão
investigativa não é posta em prática, não se apropriam de todos os fatos relevantes que
fundamentam e qualificam as demandas, conforme (GUERRA, 2014).
A principal característica dos usuários do CRAS, é que, grande parte, acreditam que é
benevolência do profissional, da gestão ou qualquer outro que seja, mas desconhecem que é
dever do Estado cumprir esse direito, uma vez não se evidencia ou esclarecidos como direito
do usuário.
No que tange as demandas do Centro de Referência de Assistência Social, em suma
são espontâneas, porém possui um grande percentual de solicitações da Promotoria municipal
de Justiça (órgão judiciário), parte dessas, são contrarreferência, que não deveriam ser
direcionadas ao CRAS, e as demais são encaminhadas de instituições intersetoriais.
Os usuários que chegam neste instrumento com demandas espontâneas, o procuram
pelas necessidades enfrentadas “[...] decorrente da pobreza, da privação e/ou da fragilização
de vínculos afetivos, relacionais e de pertencimento social [...].” (BRASIL, 2005, p. 33).
No que tange ao horário de funcionamento da instituição, atendimento ocorre das 8 às
17 horas. Tem suas atividades fragilizadas em alguns dias da semana, devido ao quadro
insuficiente de funcionários, além do revezamento entre os profissionais da equipe técnica,
fato que condiciona o atendimento as demandas espontâneas e principalmente a busca ativa.
Denota-se que devido as condicionalidades imposta pelos interesses políticos e o
momento de crise estrutural do país, este instrumento não dispõe de grande parte das
adaptações relacionados à melhoria da estrutura física, dos recursos materiais, recursos
humanos, o que evidencia a fragmentação da continuidade dos serviços socioassistenciais
prestados.
53
Percebe-se que isso ocorre, principalmente, por esta instituição desempenhar em seu
campo de atuação um papel preventivo, de capacitação – empoderamento humano –, de
proteção e promoção, possibilitando a automanutenção, no que se refere ao suprimento das
necessidades básicas da condição humana. Assim, a proteção social para o modo de produção
capitalista é percebida como transgressoras das normas que constituem a acumulação do
capital (SPOSATI, 2013).
Mediante o contexto de crise e recessão de gastos públicos no Brasil, se faz necessário
resistir e persistir para que as conquistas e “muitas das inovações na área social alcançadas em
curso” (COUTO; SILVA, 2009, p. 32), até aqui, principalmente no que concerne a inclusão
social, que não seja tratada como revelia de governos, pois esses avanços, além de custar
décadas de lutas e pressão da sociedade sobre o governo, se reafirmam através de políticas
públicas, após a Constituição Federal de 1988, mais especificamente na década de 2000,
quando foram sancionados algumas leis, tais como a LOAS, a Tipificação Nacional dos
Serviços Socioassistenciais de 2009, a Norma Operacional Básico do Sistema Único de
Assistência Social de 2011, a Norma Operacional básica de Recursos Humanos 2011, entre
outros documentos que qualificam e concretizam os direitos estabelecidos, além de nortear a
atuação de profissionais do Serviço Social e demais áreas,
3.3 A atuação do Serviço Social particularizando sua inserção no CRAS Taipu
Mediante dados coletados através de uma assistente social, a qual representou a
categoria profissional na inserção da mão de obra neste município, mais precisamente no
CRAS. Esta afirmou que a inserção da categoria ocorreu desde a criação da instituição no ano
de 2004, por determinação do Governo Federal.
Considerando que o Serviço Social é uma profissão que adquire materialidade no
conjunto das normativas que regulamentam a profissão, sendo os principais, o Código de
Ética do Assistente Social (1993) e a Lei 8.662, 7 de junho de 1993, que regulamenta a
profissão. Estes dispõem sobre os parâmetros da atuação profissional e dá outras
providências.
Nesse sentido, a prática profissional da/o assistente social, é orientada pelos princípios
e direitos firmados na Constituição de 1988 e pelas normativas complementares referente às
54
políticas sociais e aos direitos da população.
Apresenta-se como uma profissão bastante atuante na defesa de direitos, passa a
ocupar espaços sócio-ocupacionais, perpassados por inúmeros desafios e contradições, que de
certa forma, implica no cotidiano, ou seja, no fazer profissional do Assistente Social. E é
devido a esses conflitos que alguns profissionais de Serviço Social se distanciam dos valores
defendidos, bem como demais documentos que balizam a profissão, esta realidade se faz
presente na grande parte dos CRAS.
De acordo com as dimensões constitutivas da nossa profissão que ao mesmo tempo
em que se apresenta como defesa do profissional, serve também como baliza para o
enfrentamento das demandas postas ao profissional de Serviço Social em atuação, se faz
necessário uma perspectiva crítica destas, para alicerçar e incorporar a dimensão ético-político
ao projeto de intervenção e a atuação profissional.
Portanto, cabe ao profissional apoderar-se de todo arcabouço teórico-metodológico,
ético político, técnico-operativo para desempenhar as atividades devidas ao Serviço Social
nessas instituições.
As estratégias e competências materializam princípios ético-políticos profissionais
que, com rigor teórico-metodológico, técnico e político, considerando as
prerrogativas e legislações sociais, em condições objetivas, possibilitam a
construção de mediações na direção do fortalecimento da participação, da cultura do
direito, do controle democrático, da formação de consciência crítica, da expansão
dos direitos. [...]. (CFESS, 2011, p.14)
Além de garantir ao profissional a possibilidade de
[...] desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de
trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das demandas
emergentes no cotidiano. [...] ser um profissional propositivo e não executivo.
(IAMAMOTO, 2009, p. 20)
Os Assistentes Sociais atuam nas manifestações mais contundentes da questão social,
tal como se expressam na vida dos indivíduos sociais de distintos segmentos das classes
menos favorecidas.
Realizam estudos e pesquisas para avaliar a realidade social, além de produzir parecer
social e propor medidas sociais; realizam estudos socioeconômicos com indivíduos e grupos
para fins de acesso a benefícios e serviços sociais; planejam, elaboram e executam, planos,
programas e projetos; orientam indivíduos e grupos, auxiliando na identificação de recursos e
proporcionando o acesso aos direitos sociais; bem como, atuam na defesa e na efetivação da
ampliação dos direitos de cidadania e nas correspondentes políticas públicas.
55
Destaca-se aqui alguns instrumentais utilizados no fazer profissional do assistente
social no CRAS. Então, podemos citar:
a) Acolhimento – é o instrumental utilizado para realizar o primeiro contato com o usuário na
instituição. É como um dos elementos básicos dos CRAS. Durante a acolhida, se faz
necessário que os profissionais estejam dispostos a receber os usuários com equidade,
humildade, acolher suas demandas, interesses, necessidades e possibilidades, e principalmente
assegurar a privacidade; (BRASIL, 2009, p.7)
b) Abordagem social – é o Serviço ofertado, de forma continuada e programada, com a
finalidade de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique, nos
territórios, a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes,
situação de rua, dentre outras. Deverão ser consideradas praças, entroncamento de estradas,
fronteiras, espaços públicos onde se realizam atividades laborais, locais de intensa circulação
de pessoas e existência de comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros; (BRASIL,
2009, p. 21)
c) Visita domiciliar – é uma ação voltada para localizar famílias potenciais usuárias do
serviço, previamente identificadas, compreender a realidade do grupo familiar, suas demandas
e necessidades, recursos e vulnerabilidades, fortalecer os vínculos familiares e comunitários,
fortalecer o vínculo da família com o serviço, avaliar as mudanças ocorridas a partir da sua
participação no serviço.
d) Entrevista – é um procedimento que serve para acolher, conhecer, coletar dados, orientar,
acompanhar e avaliar e avaliar a demanda trazida pelo usuário. [...] deve ser realizada em
local que assegure a privacidade da (as) pessoa (as). [...] é composto de questões qualitativas
captar a família em singularidade; (BRASIL, 2005, p. 22).
e) Encaminhamento e acompanhamento – procedimentos que visam facilitar o acesso de
famílias, seus membros e indivíduos aos projetos, benefícios e serviços socioassistenciais,
através da identificação da demanda, indicação apropriada aos serviços oferecidos pela rede
de Proteção Social de Assistência Social e verificação e avaliação da efetividade dos
atendimentos e encaminhamentos realizados. Incluí encaminhamentos para a proteção social
especial e demais serviços ofertados por outras políticas públicas no território de abrangência
do CRAS ou por redes municipais ou regionais. Todo encaminhamento deve ter um
acompanhamento definindo a necessidade de avaliação de sua efetividade. (BRASIL, 2005, p.
29).
56
f) Relatório – é um documento específico que se traduz na apresentação descritiva e
interpretativa de uma situação ou expressão da questão social. Tem como finalidade informar,
subsidiar, esclarecer, documentar um auto processual, entre outros. Este documento deve
apresentar o objeto de estudo, os sujeitos envolvidos e a finalidade à qual se destina, bem
como ser guiado pelos princípios éticos enquanto definição do que se deve ou não
documentar, tendo em vista que este instrumental poderá ser exposto a análise de outros
agentes ou que poderão vir a público. (CFESS, 2014, p. 56).
g) Parecer Social – diz respeito ao esclarecimento e análises, com base em conhecimentos
específicos do Serviço Social, a uma questão ou questões relacionadas a decisões a serem
tomadas. Trata-se de exposição e manifestação sucinta, com o foco na questão ou situação
social analisada e os objetivos do trabalho solicitado e apresentado; a análise da situação,
referenciada em fundamentos teóricos, éticos e técnicos, inerentes ao Serviço Social. (CFESS,
2014, p. 59).
Contudo, vale salientar que, não significa dizer que estes compõem, de forma eficiente
a realidade do município estudado, haja vista que estes instrumentais têm pouca
expressividade, considerando que é uma instituição marcada fortemente pelo
conservadorismo e pragmatismo, corroborando com o não cumprimento das competências e
atribuições privativas, bem como, com o comprometimento das dimensões técnicas da
profissão, da defesa da dignidade, da liberdade e da emancipação social e política dos
usuários.
Para tanto, enquanto profissionais executores desses instrumentais, se faz necessário
“[...] traçar horizontes que façam frente a questão social e que sejam solidários com a vida
daqueles que vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação
e conquista de sua vida, da sua humanidade”. (IAMAMOTO, 2009, p. 75).
Deste modo, o profissional, dentre suas atribuições privativas, expressas pelo Código
de Ética que dispõe de um caráter de obrigatoriedade, ao estabelecer direitos e deveres do
Assistente Social, seguindo princípios e valores para o seu cotidiano, destacam-se:
Art. 4º É vedado ao Assistente social:
a) Transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de Regulamentação da
Profissão;
b) Praticar e ser conivente com condutas anti-éticas, crimes ou contravenções penais na
prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste Código, mesmo que
estes sejam praticados por outros/as profissionais;
57
c) Acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste Código;
d) Compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagiários/as
que exerçam atribuições específicas, em substituição aos/às profissionais;
e) Permitir ou exercer a supervisão de aluno/a de Serviço Social em Instituições Públicas
ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize
acompanhamento direto ao/à aluno/a estagiário/a;
f) Assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado/a pessoal e
tecnicamente;
g) Substituir profissional que tenha sido exonerado/a por defender os princípios da ética
profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão ou transferência;
h) Pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo exercidos
por colega;
i) Adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou estudos de que
tome conhecimento;
j) Assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalho de terceiros, mesmo que
executados sob sua orientação.
Art. 5º São deveres do/a assistente social nas suas relações com os/as usuários/as:
a) Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas
decisões institucionais;
b) Garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências das
situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos/as usuários/as,
mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos/as profissionais,
resguardados os princípios deste Código;
c) Democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos/as
usuários/as;
d) Devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos/às usuários/as, no
sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses; e-
informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro audiovisual e
pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos.
Diante dessas normativas supracitadas que balizam o fazer profissional do Assistente
social, e que implicam na direção ético-política dessa categoria, percebe-se que a prática
58
profissional segue as prerrogativas instituídas em lei. Entretanto, o fazer profissional com
direcionamento ético-político é um desafio premente e cotidiano que exige um processo de
qualificação continuada, de releitura do fazer profissional constante, diálogo com outras áreas
do conhecimento, dentre outras questões.
Estas que se apresentam ao profissional como um desafio necessário para prestação de
um serviço de qualidade e que de fato possa assegurar direitos. Logo, o fazer profissional que
transcenda a esfera do imediato, da mera reprodução burocrática de políticas que exige um
perfil estritamente técnico-operativo, requer do profissional um compromisso constante com a
formação e qualificação que o processo da graduação não consegue encerrar.
Isto posto, considerando tais as contradições que permeiam o fazer profissional,
inclusive, no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS de Taipu, o desafio maior é
o de fortalecer os espaços de construção dessa política, em articulação com a população, os
usuários e movimentos sociais, tencionar o Estado para que assuma suas responsabilidades e
função social.
Reitera-se aqui, que as competências e atribuições privativas dos profissionais de
Serviço Social, em alguns estes espaços sócio ocupacionais são burladas ou sofrem algumas
alterações devido à correlação de forças existentes, ou mesmo pelo distanciamento dos
profissionais de tais instrumentos. Fato que consubstancia a atuação profissional como uma
prática polivalente, que não possui matéria específica de trabalho.
Por isso a necessidade de uma atuação qualificada e completa para que os
profissionais possam materializar o projeto ético político da profissão. Para os desafios
postos, a grande parte dos profissionais de Serviço Social, de acordo com Mota (2014), é
garantir que os avanços teórico-políticos e acadêmicos do Serviço Social brasileiro, gestados
desde a década de 1980, mantenham uma relação de unidade com a prática e a formação
profissional (o que se distingue radicalmente da ideia de identidade e/ou de aplicabilidade).
Além de compreender a dinâmica sócio histórica da profissão, a materialização do
Projeto Ético político, se reconhece como profissional na luta pela constituição de políticas
sociais, pela democratização e pela efetivação dos direitos conquistados. Em contrapartida,
deve-se haver um fortalecimento nas dimensões ético-política, teórico metodológica e técnico
operativa para redimensionar a profissão e superar a mera instrumentalização das políticas
sociais, as quais são atribuídos aos profissionais à defendê-las.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do estudo apresentado proporcionou uma análise de como está
sendo gestado o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e como a Política Nacional de
Assistência Social – PNAS vem sendo materializada no município de Taipu. Possibilitou
ainda, fazer uma reflexão acerca dos desafios postos à efetivação da Assistência Social,
enquanto política pública, além de permitir a avaliação sobre a prestação e execução dos
serviços socioassistenciais a partir do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS.
De modo geral, pode-se perceber que a conjuntura apresentada no município de Taipu
acerca da política de Assistência Social, não é um caso isolado, uma realidade vivenciada
apenas por esta cidade, mas, ela identifica as fragilidades de grande parte dos municípios
brasileiros, salvo as particularidades de cada um, compartilham dos mesmos entraves e
desafios na tentativa de efetivação do SUAS.
Sobre os limites e desafios enfrentados, apreende-se que estão intrinsecamente ligados a
atuação de cada gestão que, geralmente, possuem um perfil altamente assistencial, controlador
e manipulador das massas sociais, o que é facilmente reproduzido pelos órgãos de apoio,
neste caso, as instituições que prestam serviços socioassistenciais. Estas, em sua maioria,
possuem um índice de substituição profissional muito elevado, o que contribui para
fragmentação dos serviços e impossibilita sua efetividade.
Além disso, pode-se apresentar como fragilidades, no que se refere aos recursos
humanos nessas instituições, a questão da composição da equipe técnica, em suma, são
compostas por apenas uma equipe de referência, ou seja, um assistente social e um psicólogo,
o que impossibilita a realização de algumas atividades, como por exemplo, os relatórios, que
para que haja precisão em sua elaboração e não comprometam os resultados fins, deve ser
produzido em curto prazo, o que possivelmente não ocorre, devido ao quantitativo de
demandas para poucos profissionais.
Considerando que o cotidiano destes profissionais, nos equipamentos socioassistenciais,
mais precisamente no CRAS, são marcados pela correlação de forças e contradições na
mediação e na garantia de direitos aos usuários, (geralmente, é na mediação que se é
articulado as possibilidades de fortalecer a rede socioassistencial para que assim possam
potencializar os serviços desenvolvidos no CRAS), portanto, o desafio maior é o da
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implantação da política nesse contexto adverso, e de um exercício profissional que fortaleça o
Projeto Ético Político (PEP) do Serviço Social nessa conjuntura.
Através dessa análise, evidencia-se que as limitações presentes na esfera social, dizem
muito sobre o modo como foi instituída a assistência Social no país. E na busca de romper
com os traços conservadores da atuação dessa política, ainda há muito a ser feito, a começar
pela equipe de profissionais que a executam, principalmente os assistentes sociais.
Pois, apesar das limitações e dificuldades, é através da prática profissional que se
alicerça bases críticas, pautadas em parâmetros e normativas que o Serviço Social prioriza
como balizas para que possa enfrentar a questão social e suas diversas expressões com
eficiência, além de traçar planos que possibilitem a efetivação do SUAS.
Nesse sentido, dada a importância do tema, apresenta-se como fator necessário o
incentivo à formação profissional continuada dos trabalhadores do SUAS, visando melhores
condições de atuação e compromisso com a defesa de direitos ao público alvo da política de
assistência social, além do reconhecimento e a valorização da força de trabalho desses
profissionais, haja vista, que estão na linha de frente, constituem a base de enfrentamentos aos
infortúnios acometidos aos usuários da política. Em suma, são responsáveis em garantir
melhores condições de vida a população, salvo suas atribuições e competências. Salienta-se
também, que essa responsabilidade diz respeito ao fazer profissional, desde que haja as
condições adequadas para uma atuação eficiente e efetiva.
Mediante esta experiência, vale ressaltar a importância da reafirmação do PEP, na
atuação profissional, das diretrizes que norteiam a nossa profissão, bem como o Código de
Ética (CE), para que assim, possamos construir, conforme a análise crítica da “dinâmica da
vida social”, alternativas para desenvolver frentes de trabalho inovadoras e criativas,
direcionamentos de Iamamota e Carvalho (2007, p. 21), o que consideram uma atuação
crítica, intelectual, operativa e propositiva, deste modo, evitando atitudes fatalistas, a
rotinização e burocratismo do trabalho, distantes das dimensões teórico-metodológica (o saber
fazer), ético-política (poder fazer) e técnico-operativo (como fazer).
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ANEXO
67
MAPA DE ABRANGÊNCIA TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE TAIPU