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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MILENA DE OLIVEIRA SANTOS BULBO OLFATÓRIO DO CÃO E DO HOMEM E SEUS ASPECTOS MORFOFUNCIONAIS: UM ESTUDO DE REVISÃO NATAL/RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

MILENA DE OLIVEIRA SANTOS

BULBO OLFATÓRIO DO CÃO E DO HOMEM E SEUS ASPECTOS

MORFOFUNCIONAIS: UM ESTUDO DE REVISÃO

NATAL/RN

2017

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MILENA DE OLIVEIRA SANTOS

BULBO LFATÓRIO DO CÃO E DO HOMEM E SEUS ASPECTOS

MORFOFUNCIONAIS: UM ESTUDO DE REVISÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

para obtenção do título de Bacharel em

Ciências Biológicas.

Orientador: Juarez e Silva Chagas

NATAL/RN

2017

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MILENA DE OLIVEIRA SANTOS

BULBO OLFATÓRIO DO CÃO E DO HOMEM E SEUS ASPECTOS

MORFOFUNCIONAIS: UM ESTUDO DE REVISÃO

Trabalho de conclusão do curso de graduação em Ciências

Biológicas, Centro de Biociências da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial

para a obtenção do título de Bacharel em Ciências

Biológicas, sob orientação do Professor Dr. Juarez e Silva

Chagas.

APROVADA EM: 01/12/2017

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof. Dr. Carlos Eduardo Bezerra de Moura

Universidade Federal Rural do Semi-árido

_______________________________________________

Prof. Msc. Aldo Fonseca de Souza

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________

Prof. Dr. Juarez e Silva Chagas

Universidade Federal do rio Grande do Norte

(Orientador)

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Dedico esse trabalho aos meus pais Reilta e Sebastião, que, com muito carinho е apoio, não

mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida.

5

Agradecimentos

Agradeço ao meu orientador, Juarez Chagas, por suas críticas, incentivo, dedicação e

paciência comigo até mesmo nas horas mais difíceis da minha vida acadêmica.

Aos meus colegas de curso Glauce Campelo e Arrilton Araújo por se tornarem verdadeiros

amigos. Agradeço pela amizade, pelo incentivo, pelo companheirismo e pelo nervosismo, na

hora de provas e trabalhos.

Ao meu irmão Rayre e à minha cunhada Jailma, pelo apoio e por me darem os presentes mais

lindos da minha vida, meus sobrinhos Marcos e Miguel.

À Janine Karla, pelo incentivo e apoio para a realização desse trabalho.

Aos professores que me aceitaram para estágio em seus laboratórios Veríssimo, Kátia e

Elizeu.

A todos os professores do Centro de Biociências que contribuíram para minha formação

acadêmica.

Enfim, agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente da minha vida acadêmica e

acima de tudo a Deus por permitir essas pessoas em minha vida.

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“Não são as espécies mais fortes que

sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as

mais suscetíveis a mudanças”.

Charles Darwin

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RESUMO

O sentido do olfato tem sido ao longo do tempo, um dos principais sentidos dos Vertebrados

e, especialmente dos mamíferos, os quais dele dependem para sobrevivência, reprodução e

outros comportamentos inerentes à sua evolução no âmbito da filogenia. O Nervo Olfatório,

também anatomicamente conhecido como I par de nervo(s) craniano(s), tem sido motivo de

incontáveis trabalhos científicos e pesquisas, dado sua importância e relação com um dos

mais importantes “sentidos”, que é o olfato na identificação dos odores. Não obstante e,

embora pareça contraditório, o mecanismo do sentido do olfato, do ponto de vista funcional,

ainda carece de explicações no âmbito de sua neurofisiologia, apesar dos estudos realizados

nesta área. Portanto, ainda hoje merece releituras científicas, comparações morfofuncionais e,

sobretudo, estudos comparativos, no sentido de estabelecer ou esclarecer, cada vez mais, suas

importantes funções no que diz respeito ao comportamento animal, sua sobrevivência e,

sobretudo, através do olfato, muitas vezes associado ao paladar e também a importantes

centros neurais, estabelecendo ao indivíduo, seja animal ou humano, em sua devida posição

evolutiva, dentro da escala zoológica ou filogenética. Contudo, o presente trabalho consiste

em apresentar uma revisão bibliográfica, onde alguns aspectos morfofuncionais possam ser

apresentados evolutiva e cronologicamente por alguns importantes pesquisadores desta área

de estudo, com o intuito comparativo mais abrangente, além de comparar aspectos funcionais

evolutivos entre as duas espécies de Mamíferos, em questão, o Cão (Canis familiaris) e o

Homem (Homo sapiens).

Palavras-chaves: Nervo olfatório, bulbo olfatório, lâmina crivosa, olfato.

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ABSTRACT

The sense of smell has been, over time, one of the main senses of vertebrates, and especially

of mammals, which depend on them for survival, reproduction and other behavior inherent to

its evolution in the context of phylogeny. The Olfactory Nerve, also anatomically known as I

pair of cranial nerves, has been the subject of countless scientific studies and researches,

because of its importance and relationship with one of the most important "senses", that is the

smell. Nevertheless, and although it may seem contradictory, the mechanism of the sense of

smell, from the functional point of view, still lacks explanations in the context of its

neurophysiology, in spite of studies undertaken in this area. So, even nowadays some

reinterpretations of science, morphological e functional comparisons and, above all,

comparative studies, are important to establish and clarify, increasingly, its important

functions with regard to animal behavior, their survival and, above all, through the smell and

odor, often associated with the taste and also the important neural, centers establishing the

individual, whether animal or human, in their proper position, within the scale or zoological

phylogenetic. Therefore, the main goal of the present study is to present a literature review,

where some morphological and functional aspects can be demonstrated evolutionary and

chronologically by some important researchers in this area of study, with the aim of a

comparative study more comprehensively, in addition to compare functional aspects of

evolution between the two studied species of mammals, the dog (Canis familiaris).

Keywords: Olfactory Nerve, Olfactory bulb, cribriform plate, smell.

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Lista de Figuras

Figura 1. Crânio em corte sagital no qual está sendo evidenciado o Osso etmóide do cão.

(Foto da autora).........................................................................................................................14

Figura 2. Localização do osso etmóide no homem. Fonte: Wikipédia.....................................18

Figura 3. Vista superior do osso etmóide humano (SOBOTTA; BECHER, 1977)..................18

Figura 4. Superfície caudal da LC do cão. Adaptado de Alvites (2015)..................................19

Figura 5. Representação da Lâmina Crivosa no homem, adaptado de Sobotta & Becher

(1977)........................................................................................................................................21

Figura 6. (A). Lâmina Crivosa. (B). Crista Galli. Humano (Foto da autora)............................21

Figura 7. Encéfalo de um cão no qual se evidencia o rinencéfalo. Fonte: Blog da monitoria de

anatomia topográfica do curso de veterinária da Universidade de Uberaba (adaptado).......... 22

Figura 8. Bulbo Olfatório do cão. (Foto da autora)..................................................................24

Figura 9. Bulbo olfatório humano. (Foto da autora).................................................................27

Figura 10. Representação das células sensoriais do bulbo olfativo (adaptado de Lent,

2010).........................................................................................................................................34

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Lista de abreviações e siglas

BO – Bulbo olfatório

CG – Crista Galli

LC – Lâmina crivosa

MO – mucosa olfatória

NO – Nervo Olfatório

OE – Osso etmóide

OF – osso frontal

CEU - Comissão de Ética

DMOR – Departamento de Morfologia

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 14

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 14

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 15

4 ASPECTOS ANATÔMICOS OSSO ETMÓIDE DO CÃO E DO HOMEM ............ 16

4.1 ASPECTOS ANATÔMICOS DA LÂMINA CRIVOSA DO OSSO ETMÓIDE DO CÃO

E DO HOMEM ................................................................................................................. 19

5 RINENCÉFALO ............................................................................................................. 22

6 BULBO OLFATÓRIO .................................................................................................... 23

6.1 BULBO OLFATÓRIO DO CÃO E DO HOMEM ........................................................... 24

7 ÓRGÃO VOMERONASAL ........................................................................................... 28

8 ALTERAÇÕES NO SISTEMA OLFATÓRIO NO CÃO E NO HOMEM ............... 30

9 FISIOLOGIA DO OLFATO .......................................................................................... 32

9.1 PLASTICIDADE NEURAL ............................................................................................. 34

10 ASPECTOS FILOGENÉTICOS ................................................................................... 35

11 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 36

12 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 40

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1 INTRODUÇÃO

Os animais terrestres vivem em um ambiente repleto de moléculas as quais não podem

ser vistas a olho nu. Essas moléculas estão presentes no ar e são advindas dos mais diversos

fatores e podem ser sentidas através do olfato. A capacidade de detectar as substâncias

presentes no ar é uma característica primitiva que alerta os animais - inclusive o ser humano -

sobre as mais diversas moléculas que podem estar no ambiente, por exemplo, alimento, perigo

e até mesmo parceiro sexual (MARIEB; HOEHN, 2009). O nariz é o órgão responsável pela

captação dos odores que são conduzidos pelos quimiorreceptores (existentes na mucosa nasal)

até o bulbo olfatório (LENT, 2010). A percepção dos químicos que estão a certa distância do

corpo ocorre por intermédio das células quimiorreceptoras que constituem o sistema olfatório

dos Vertebrados (MOYES; SCHULTE, 2010).

Estudos comparativos e evolutivos no mundo dos Vertebrados, em especial dos

Mamíferos, mostram que apesar do olfato do ser humano tem assumido, ao longo do tempo,

características não somente adaptativas como também seletivas, quando analisados diversos

tipos de cheiros e odores considerados, passam a ser escolhas pessoais e coletivas. Bem como

suas necessidades e prazeres, especialmente para aqueles que, circunstancialmente, tenham

perdido algum dos outros órgãos dos sentidos. Quando comparada essa capacidade olfatória

do homem (Homo sapiens) com as de outros mamíferos, especialmente a do cão (Canis lupus

familiaris), percebe-se uma maior eficácia do olfato desse animal em relação à do homem

(LOURENÇO; FURLAN, 2007).

O sentido do olfato no ser humano, provavelmente é o menos compreendido, pois

podem existir anormalidades entre o olfato e o paladar. Porque a superfície receptora dos

aromas está localizada na região superior da cavidade nasal e, geralmente, sua área mede

apenas 2,4 cm2 (PALHETA NETO et al., 2011).

O bulbo olfatório do cão é bem maior em comparação ao do homem. No entanto,

apenas este, não pode ser o único aspecto levado em consideração em relação às habilidades

olfativas do cão. Atualmente, se discute a questão do olfato sob vários aspectos científicos,

tais quais fisiológicos e bioquímicos. Não obstante, é inegável que, o devido conhecimento

estrutural anátomofuncional seja imprescindível para quaisquer outros estudos posteriores,

uma vez que, sem o conhecimento estrutural e orgânico, não seria possível analisar seus

aspectos funcionais e evolutivos.

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Contudo, este trabalho desenvolveu uma de revisão bibliográfica sobre o bulbo

olfatório do cão, comparado ao do homem, em seus aspectos morfofuncionais, do ponto de

vista estrutural e orgânico, observando seus aspectos evolutivos e sua primordial importância

para os cães e para os humanos.

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2 OBJETIVOS

Dado a importância de estudos comparativos sobre aspectos evolutivos morfofuncionais do

bulbo olfatório do cão e do homem, o principal objetivo deste trabalho é apresentar uma

consistente revisão bibliográfica para avaliar relações anátomofuncionais da estrutura em

discussão com sua função olfativa e sua importância evolutiva.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Observar os aspectos anatômicos do osso etmóide do cão e do homem;

Verificar os aspectos anatômicos da lâmina crivosa do osso etmóide;

Mostrar o rinencéfalo;

Evidenciar a importância do órgão vomeronasal;

Considerar algumas alterações do sistema olfatório do cão e do homem;

Analisar a fisiologia do olfato;

Perceber os aspectos filogenéticos.

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3 METODOLOGIA

O presente trabalho teve como meta a revisão bibliográfica para constar os aspectos

comparativos do BO. Foram utilizadas busca por periódicos informatizados para a coleta de

dados, usando as palavras “bulbo olfatório”, “bulbo olfatório do cão” e “olfato no cão” em

Português e “olfactory bulb” em Inglês. Realizou-se também busca em publicações científicas

e livros acadêmicos.

Apesar de ser um trabalho de revisão foi indispensável à realização de um estudo

prático com o método tradicional, apenas para serem fotografadas as estruturas

correlacionadas com o bulbo olfatório do cão e do homem, inclusive o próprio bulbo

olfatório. Portanto, foram utilizados um crânio e três encéfalos de cães, de médio porte, de

raça indefinida e, igualmente um crânio e três encéfalos dissecados de cadáveres

desconhecidos, anteriormente doados para o DMOR para fins de estudos didáticos.

É importante observar que os encéfalos, tanto de cães como de humanos, utilizados

neste trabalho eram peças do acervo cedidas pelas Disciplinas de Anatomia Comparada dos

Vertebrados e Anatomia Humana, do Departamento de Morfologia do Centro de Biociências.

Portanto, não foi necessário à aprovação pela CEU- Comissão de Ética no uso de animais

local, uma vez que não houve utilização de animais de laboratório, para este fim.

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4 ASPECTOS ANATÔMICOS OSSO ETMÓIDE DO CÃO E DO HOMEM

Para estudo, pesquisa e compreensão do Bulbo Olfatório (BO), é necessário

reconhecimento da anatomia, topografia e suas associações estruturais, assim como uma breve

revisão teórico-prática desta estrutura, uma vez que a relação crânio-encefálica tem grande

importância morfofuncionalmente. Portanto, visto que o BO tem suas relações estruturais,

especialmente com o Osso Etmóide (OE), sobre o qual repousa, a identificação destas

estruturas se faz necessário, caso as mesmas sejam acometidas de agressões físicas, patologias

ou quaisquer outros danos que possam repercutir diretamente na atuação e função olfatórias.

Situado entre as regiões facial e cranial o OE (Figura 1) é uma estrutura complexa a

qual não pode ser visualizada, em um crânio intacto, portanto, seu estudo ocorre com peças

desarticuladas do crânio. Apesar de ser um osso único, suas porções se desenvolvem em

cortes e ele se encontra organizado entre as paredes das duas órbitas sendo margeado

posteriormente pelo osso frontal, pelo maxilar na região lateral e, pelos ossos vômer e

palatino na parte rostral. Também podemos dizer que ele está composto por quatro porções:

lâmina perpendicular mediana, duas partes laterais cobertas pela lâmina externa e a lâmina

crivosa (EVANS, 1993).

Figura 1. Crânio em corte sagital no qual está sendo evidenciado o Osso etmóide do cão. (Foto da autora).

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A lâmina perpendicular é uma camada vertical mediana, tendo o vômer abaixo e os

processos dos ossos frontal e nasal, logo acima, formam o septo do osso nasal. Este septo

ósseo é continuado rostralmente pelo septo da cartilagem nasal. Caudalmente, ele se fusiona

com a lâmina crivosa, porém normalmente se continua para formar a Crista Galli (CG),

formando ventralmente parte do septo nasal como as lâminas dos ossos frontal e nasal

imergindo parcialmente para baixo, à medida que as lâminas dos septos dos ossos frontal e

nasal continuam parcialmente para baixo e se fusionam ao mesmo. A lâmina externa

desenvolve-se da porção linear do fundo nasal. Ela é extremamente fina e, é deficiente nas

áreas quando reveste a superfície interior dos ossos mais pesados que formam esta parte da

face. Esta lamina é dividida em partes dorsal, lateral e ventral, comumente chamada de teto,

lado e soalho, das massas laterais respectivamente. De sua origem na lâmina perpendicular

externa dirige-se dorsalmente em contato com as partes frontal e nasal do septo, gira

lateralmente sobre o labirinto etmoidal, formando as lâminas do teto e desce cada lado,

lateralmente. Esta porção da lamina é muito fina, incompleta em algumas áreas e porosa. Sua

parte rostrolateral é canalizada para formar o processo uncinado, a qual é parte da primeira

endoturbinada, tão bem quanto a lamina orbital. A incisura uncinada no meato entre as duas

primeiras endoturbinadas, está localizada dorsocaudal ao processo uncinado. A área com

depressão da lâmina da órbita, a fossa maxilar, forma a parede medial do recesso maxilar

(EVANS, 1993).

A lâmina externa é caudalmente deficiente, atuando apenas como uma fina camada,

placas irregulares que permanecem atadas a lâmina basal das linhas do osso. As turbinas

individuais dirigem-se do teto e da porção lateral desta delicada cobertura. A lâmina ventral

ou transversa, a qual forma o soalho da lâmina, pode ser isolada como uma folha fina e macia

fusionada à superfície medial da maxila. Ela continua da parte ventral da lâmina orbital

medialmente para o osso vômer num arco transverso e dorsalmente convexo. Ela está

proximalmente junta à parte horizontal do vômer. O labirinto etmoidal forma a maior parte da

massa lateral. Ela é composta a partir de robustas linhas ósseas, as quais se aderem à lâmina

externa através da lamina basal e adere-se caudalmente à lâmina crivosa. Da mesma forma, a

lâmina crivosa adere-se dorsalmente à plataforma mais interna do osso frontal (OF), o qual

em crânios longos e velhos é separado da plataforma exterior por mais de 2 cm.

Anatomicamente considerando, fica muito claro que, várias estruturas similares entre o

homem e o cão, apresentam suas especificidades decorrentes, principalmente, das diferentes

posições anatômicas peculiares a ambos, uma vez que a posição bípede e a quadrúpede,

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embora seccionadas pelos mesmos eixos e planos, mantém não apenas diferenças em alguns

termos, porém muitas variações anatômicas decorrentes de suas adaptações às suas posições

específicas. Podemos falar em relação à gravidade para cujo centro não apenas os corpos dos

indivíduos convergem, mas principalmente a distribuição do sentido das estruturas orgânicas

se ajusta, fazendo com que ocorram muitas adaptações estruturais, principalmente levando-se

em conta o meio ambiente e o tipo de vida dos indivíduos (EVANS, 1993).

No ser humano, o OE é um osso extremamente esponjoso e leve (Figura 2 e 3). Está

localizado anteriormente na base do crânio, entre as duas órbitas, formando a parte das

paredes da região superior da cavidade nasal. O OE é constituído de quatro partes: lâmina

crivosa, lâmina perpendicular, e duas massas laterais (GRAY, 1977).

Figura 2. Localização do osso etmóide no homem. Fonte: Wikipédia.

Figura 3. Vista superior do osso etmóide humano (SOBOTTA; BECHER, 1977).

Lâmina crivosa

com forames

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4.1 ASPECTOS ANATÔMICOS DA LÂMINA CRIVOSA DO OSSO ETMÓIDE DO CÃO

E DO HOMEM

No cão os aspectos anatômicos, estruturais e orgânicos básicos, assemelham-se de

modo geral, aos do crânio humano, devendo, portanto considerar as variações anatômicas

pertinentes e, em razão, principalmente da posição anatômica do quadrúpede. É importante

também observar o crânio como um todo, inclusive sua cavidade craniana, forma e situação

topográfica, uma vez que os bulbos olfatórios se projetam para a Lâmina Crivosa (LC) do

osso etmóide, tal qual ocorre no ser humano (EVANS, 1993).

Por outro lado, diferentes raças caninas apresentam grandes variações crânio-

encefálicas, há aquelas que têm um crânio longo e estreito que são denominados

dolicocéfalicos. Outros dispõem de um crânio largo e curto, chamados de braquiocefálicos. E

os crânios com uma formação intermediária a estes são os mesaticefálicos. Normalmente a

extensão do crânio é medida a partir da crista nucal até o limite anterior da sutura

interincisiva, e a largura entre os ápices dos arcos zigomáticos (GETTY, 1975). Na pesquisa

de Alvites (2015) observou seis crânios de cães com idade, sexo e raça desconhecidos e

percebeu que nenhuma das LC analisadas, apresentou total simetria entre as duas metades e

que de fato as duas partes da lâmina se distinguem tanto pela localização e arranjo dos

forames entre si quanto pelo número total dos mesmos. O lado direito da lâmina tende a

possuir um número maior de forames, em consequência do seu tamanho que se torna superior

ao lado esquerdo (Figura 4).

Figura 4. Superfície caudal da LC do cão. Adaptado de Alvites (2015).

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Na cavidade craniana é encontrado o encéfalo com seus envoltórios e vasos. Na

porção denominada fossa craniana está situado o BO e os seus tratos, e as estruturas restantes

dos lobos frontais do cérebro. Essa fossa repousa numa área mais alta e mais estreita que o

seu soalho craniocaudal e seguido anteriormente pela fossa etmoidal profunda. Assim como

no homem, o OE do cão também é provido da LC, que pode ser equiparada a uma peneira por

conter cerca de 300 forames cribiformes, alguns medem até 15mm de diâmetro, tais orifícios

permitem que os feixes de fibras nervosas, dos nervos olfatórios, atravessem a lâmina até a

mucosa olfatória (MO). Nas bordas laterais situadas mais perto do plano sagital mediano do

que do plano transverso, se forma uma depressão profunda. A LC é uma estrutura côncava e

bem proeminente na parte rostral que se articula posteriormente com as fissuras do osso

frontal e, ventral e dorsalmente com o osso pré-esfenoide. As duas metades da LC se

delimitam em planos sagitais e se apresentam na porção anterior num ângulo de 45°.

Diferentemente dos humanos, no cão a CG aparece apenas em cães idosos e sua crista vertical

mediana geralmente se encontra na metade da porção rostral da fossa etmóide. Grande parte

dos espécimes possui uma linha que aponta a borda caudal da lâmina perpendicular do osso

etmóide, substituindo a CG (EVANS, 1993).

No homem, a LC está situada na incisura etmoidal do osso frontal (OF) formando o

teto da cavidade nasal (Figuras 5 e 6). Localiza-se na região superior interna da fossa

craniana, nela se observa um seguimento triangular na linha mediana dessa placa, que é a CG

(Figura 6). Por sua vez, essa crista possui uma borda posterior longa e fina que dá suporte a

inserção da foice do cérebro, já a borda anterior se apresenta curta e espessa, ela se articula

com o OF, predispondo duas asas pequenas, as quais fazem ligação em depressões

correspondentes do OF completando o forame cego. A LC se torna estreita nas laterais da CG,

apresentando vários sulcos, ele dá suporte ao BO e permite a passagem dos nervos olfatórios

através dos orifícios chamados de forames cribiformes (GRAY, 1977).

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Figura 5. Representação da Lâmina Crivosa no homem, adaptado de Sobotta & Becher (1977).

Figura 6. (A). Lâmina Crivosa. (B). Crista Galli. Humano (Foto da autora).

Lâmina Crivosa

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5 RINENCÉFALO

O grupamento dos fatores que constituem a via olfatória é denominado Rinencéfalo, o

qual, também pode ser chamado de encéfalo olfatório ou lobo olfatório, ele é constituído por:

receptores olfatórios; nervo olfatório; bulbo olfatório; tratos olfatórios intermédio, medial e

lateral; tubérculo olfatório; lobo piriforme, onde se encontra o Córtex olfatório. Embora,

alguns termos sejam utilizados tanto pelos autores em Anatomia Humana quanto em

Anatomia Animal os termos tratos olfatório (lateral e medial) e tubérculo olfatório são

inadequados em referência aos mamíferos macrosmáticos, sendo, portanto mais indicados em

relação aos microsmáticos (PRADA, 2014).

O rinencéfalo é filogeneticamente primitivo e pode ser dividido em três partes: a

porção basal, formada do BO e uma porção ventral do hemisfério; a porção septal constituída

das estruturas que compõem a borda medial do corno ventral do ventrículo lateral e a porção

límbica, composta por estruturas ligadas ao hipocampus (Figura 7). Ele se encontra separado

do neocórtex por intermédio das regiões ventral e posterior do sulco rinal lateral. Um sulco

rinal medial distingue o pedúnculo olfatório do neocórtex, do giro reto por toda a extensão

medial do hemisfério (EVANS, 1993). Nos humanos o rinencéfalo possui uma área

comparativamente reduzida em relação ao desenvolvimento do neopálio, sendo encoberto por

outros componentes estruturais. No entanto, nos invertebrados inferiores como também em

vertebrados macrosmáticos essa estrutura se encontra bastante evidente e bem desenvolvida

(CARPENTER, 1978).

Figura 7. Encéfalo de um cão no qual se evidencia o rinencéfalo. Fonte: Blog da monitoria de anatomia

topográfica do curso de veterinária da Universidade de Uberaba (adaptado).

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6 BULBO OLFATÓRIO

O bulbo olfatório (BO) em mamíferos varia consideravelmente em forma e tamanho

relativo. É muito grande em monotrômetros e insetívoros, de tamanho moderado na maioria

dos amalhados, pequenos e pedunculados em primatas e ausentes em alguns cetáceos

(ALLISON, 1953). O BO possui um formato ovoide achatado e, encontra-se prostrado em

cima da Lâmina Crivosa do Osso Etmóide (CARPENTER, 1978).

O Nariz dos mamíferos em geral possui uma anatomia bem adaptada para que o ar

inspirado seja bem conduzido dentro da cavidade nasal, que é revestida por uma mucosa, na

qual ficam inseridos os quimiorreceptores olfatórios. Na mucosa existem glândulas

produtoras de uma secreção serosa, esta secreção é denominada muco olfatório e nele se

dissociam previamente as moléculas aromáticas para posterior contato com os neurônios

receptores presentes no trato olfatório. Os quimiorreceptores olfatórios penetram na cavidade

craniana pelos orifícios da LC e seguem formando filetes nervosos que constituem o Nervo

Olfatório (NO) e dão origem ao BO (LENT, 2010).

O BO corresponde ao segmento final do NO, ele integra o Sistema Nervoso Central e

reflete evaginações do Telencéfalo (CARPENTER, 1978). Esse Bulbo é ainda o responsável

por transportar os estímulos iniciados nos quimiorreceptores nasais, esses estímulos, passam

por todo o trato olfatório e seguem até a seção medial do lobo temporal do cérebro. Tornando

assim, o sentido do olfato depende totalmente da funcionalidade do NO (LUNDY-EKMAN,

2000). Anatomicamente, o NO, está diretamente ligado ao telencéfalo e tem sua origem

aparente do encéfalo no BO e, em relação à área óssea, no crânio, e mais precisamente na LC.

O NO é constituído por fibras aferentes que se formam fora do encéfalo, a partir de

grupos de células neurais que geralmente incidem em um gânglio ao longo do nervo. Assim,

os processos centrais das células neurais adentram no encéfalo, formando grupos celulares

denominados núcleos sensitivos (O’RAHILLY, 1985). Esse nervo ainda pertence ao grupo

dos órgãos dos sentidos especiais, por possuir receptores denominados “especiais” que se

diferenciam dos outros receptores delimitados pelo corpo chamados de gerais. A partir de

receptores gustativos e olfatórios classificados como viscerais, nascem às fibras aferentes

viscerais especiais, as quais são os elementos “especiais”, que se conceituam em viscerais, por

estarem situados nos sistemas viscerais, como por exemplo, o digestório (MACHADO, 1998).

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O I Par de Nervos Cranianos é classificado como um nervo sensorial específico, uma vez que

possui uma função específica que é o sentido do olfato (LUNDY-EKMAN, 2000).

6.1 BULBO OLFATÓRIO DO CÃO E DO HOMEM

O bulbo olfatório do cão é bem evidente, ele aparece como um prolongamento ventral

do pedúnculo olfatório, ambos são rasos e contêm um ventrículo olfatório que ocasionalmente

retém uma ligação com os cornos ventral e lateral do ventrículo, e o pedúnculo é o

responsável em fazer a ligação do BO com o cérebro (Figura 8). A parede do BO é de fora

para dentro, constituída, por sete camadas histológicas entre as quais: a primeira camada é o

NO; a segunda é uma camada glomerular; a terceira é a camada plexiforme externa com

células em tufos; a quarta é a camada de células mitrais consistindo de células cônicas

organizadas em fila; a quinta é a camada plexiforme interna delgada; a sexta é a camada de

células granulares; e a sétima é uma camada perivascular formada por axônios de projeção

que entram ou saem do bulbo (EVANS, 1993).

Figura 8. Bulbo Olfatório do cão. (Foto da autora).

A partir de um entrelaçamento das terminações das células olfativas e dos dendritos

das células mitrais formam-se os glomérulos, sendo independentes uns dos outros, não

ocorrendo anastomose. As fibrilas olfativas do cão se encontram livres no glomérulo, e cada

glomérulo recebe uma grande quantidade de células mitrais. Tanto no homem quanto no cão,

um grande número de neurônios bipolares está conectado a uma célula mitral, mas cada célula

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olfativa da mucosa está ligada apenas uma, e raramente a duas células mitrais, e em geral no

glomérulo cada célula olfativa termina com apenas uma célula mitral. Em todos os animais

em que o sentido do olfato é maior e cada célula bipolar pode estar em contato com várias

células mitrais, não pela bifurcação da fibra que se conecta a células distintas, mas porque

podem ser encontrados dendritos de várias células mitrais no mesmo glomérulo (GOLGI,

1875 apud READ, 1908).

As glândulas olfativas também conhecidas por glândulas de Bowman, foram

reconhecidas como um dos traços característicos da mucosa olfativa em todos os vertebrados

terrestres. Essas glândulas se mostram como uma extensão do epitélio olfatório e desaparecem

abruptamente no início da mucosa respiratória. Elas têm um formato simples túbulo-alveolar

brevemente ramificada e com ductos curtos que se abrem para a superfície do epitélio olfativo

em intervalos regulares. As células que constituem as glândulas possuem um formato

triangular ou colunar e são coradas pelo azul de metileno. A secreção das glândulas é liberada

uniformemente em todo o epitélio olfativo e em nenhum outro lugar, ela banha as expansões

terminais das células receptoras, com seus prolongamentos minuciosos. E consequentemente,

as partículas que envolvem odor se dissolvem nessa secreção, e estimulam a ação das células

sensoriais (ALLISON, 1953).

No interior do bulbo olfatório existe uma lacuna que diz respeito à expansão do corno

anterior do ventrículo lateral correspondente. Em sua parede rostral, mais espessa, é

encontrada unicamente substância cinzenta e, ao mesmo tempo, sua parede dorsal, mais

delgada, é provida apenas de substância branca composta por fibras advindas das laterais do

bulbo olfatório e seguem no trato olfatório intermédio. Assim como no humano, o caminho da

olfação tem início com as células olfatórias viscerais aferentes da mucosa, estas células são

neurônios do tipo bipolares presentes na mucosa olfatória, com fibras centrais desprovidas de

mielina que cruzam os forames da lâmina crivosa do osso etmóide chegando ao bulbo

olfatório (PRADA, 2014).

Segundo Read (1908) os nervos olfatórios podem ser visualizados claramente de

forma irregular sobre a lâmpada olfativa, em secções transversais e sagitais do bulbo olfatório

e da mucosa olfatória do cão. As fibras individuais podem ser rastreadas por uma distância

considerável e, em alguns casos quase através da lâmina crivosa. O autor não conseguiu

visualizar os nervos bifurcados na camada, porém descreve que estes permanecem como

26

fibras individuais próximas ao glomérulo, mas a sua entrada se subdividem formando muitos

ramos que se entrelaçam, eles não se anastomosam com outros tipos de fibras lá encontradas.

O nervo olfatório do cão está posicionado ventralmente ao diencéfalo. Os filetes

olfatórios conectam-se com o hipotálamo e também com outras regiões do sistema límbico

para gerar um feedback comportamental adequado para o olfato (CHRISMAN, 1985).

Axônios de neurônios mitrais e em tufos deixam o bulbo como tratos olfatórios (células

mitrais ativam aminoácidos excitatórios como neurotransmissores. A camada de células

granulares recebe feedback do núcleo ao longo do trajeto e do bulbo olfatório contralateral.

Células granulares inibem as células em tufos, as quais excitam reciprocamente as células

granulares (EVANS, 1993).

A lâmpada olfativa é constituída pelas camadas de fibras nervosas olfativas, pelos

glomérulos e pelos feixes de fibras olfatórias sendo delimitada no interior por meio das

células mitrais. A célula mitral é grande, possui apenas um dendrito principal, que atinge um

único glomérulo, e uma série de dendritos acessórios que terminam na camada plexiforme. Os

feixes são de tamanho médio e, assim como a célula mitral, possuem um único dendrito

principal que se finaliza em um glomérulo e um ou mais dendritos acessórios na camada

plexiforme externa. Na camada plexiforme interna os axônios de células mitrais e dos feixes

passam de volta ao caminho olfatório secundário, e um grande número de dendritos

recorrentes viajam horizontalmente por uma curta distância antes de virar para fora para

terminar na camada plexiforme externa. Na camada granular encontram-se as células

granulares, envolvidas em um denso plexo de fibras finas que, como na camada

periventricular, parece derivar em grande parte de fontes extrabulbar. Os axônios das células

granulares e algumas células grandes na quinta camada termina na camada plexiforme

externa, juntamente com colaterais recorrentes de células mitrais e tufadas, em relação aos

dendritos de células mitrais e tufadas. Os glomérulos nas proximidades são relacionados por

células periglomerulares de axônio curto (ALLISON, 1953).

As fibras nervosas olfativas terminam em corpos esféricos bem definidos, os

glomérulos. Essas estruturas podem ser consideradas como a característica mais diferenciada

da lâmpada olfativa, formando um estrato claramente definido perto da periferia da lâmpada.

Além disso, a sinapse de alta entre as séries primária e secundária de neurônios olfativos

ocorre nos glomérulos, e isso por si só deve indicar que têm um significado fisiológico

considerável. Eles são limitados e parecem ter a capacidade de atuar de maneira independente.

27

Portanto, o glomérulo atua para efetuar soma espacial, e isso o torna responsável pela

funcionalidade do sentido do olfato. Ao mesmo tempo, o sistema glomerular pode funcionar

de maneira independente, desempenhando um papel importante no mecanismo central da

olfação, porque eles são capazes de funcionar em caminhos fechados. Apesar de essas

considerações serem generalizadas, podem ser muito limitadas para os mamíferos, em que se

sugere que o tamanho dos glomérulos varia em proporção quase direta ao tamanho da

lâmpada olfativa, de modo que o número total de glomérulos permanece bastante constante

(ALLISON, 1953).

O bulbo olfatório humano tem basicamente o formato de um gânglio e está

estrategicamente posicionado na base do encéfalo, sobrepondo-se sobre a lâmina crivosa ou

placa crivosa do osso etmóide a qual seus orifícios permitem a passagem das fibras do nervo

olfatório até a mucosa olfatória (Figura 9). As informações que chegam ao bulbo olfatório

seguem diretamente para o córtex cerebral sem passar pelo tálamo. A área inervada é extensa

e forma o chamado córtex piriforme um tipo de córtex primitivo, que por sua simplicidade é

denominado paleocórtex o qual se comunica com o tálamo, e este posteriormente, faz ligação

com o lobo frontal do neocórtex. Contudo, considera-se essa rota como a promotora dos

aspectos conscientes da via sensorial olfatória (LENT, 2010).

Figura 9. Bulbo olfatório humano. (Foto da autora).

No encéfalo humano o NO projeta-se em ambos os lados da cavidade nasal por meio

dos inúmeros feixes de fibras nervosas que são a extensão dos neurônios da mucosa olfatória

do nariz (GRAY, 1977). Read (1908) afirma que as células sensoriais presentes na mucosa

são as células nervosas os seus prolongamentos centrais são os NO, que se estendem para

28

formar glomérulos olfativos no bulbo olfatório. Ele ainda descreve que, em humanos, os NO

se estendem por uma área que mede cerca de um terço do septo e quase toda concha superior,

e que os nervos se prolongam em feixes não anastomosantes para a lâmpada olfativa.

Os quimiorreceptores do olfato são neurônios do tipo bipolar, que se estendem até a

superfície do epitélio presente na cavidade nasal, e se ramificam em cílios olfatórios que se

encontram no muco da mucosa olfatória. As extensões centrais dos neurônios são mais

delgadas e centenas delas formam os filetes olfatórios, os quais são pequenos feixes de fibras

nervosas amielínicas. Existem aproximadamente vinte filetes de cada lado que se prolongam

em glomérulos do bulbo olfatório, uma estrutura oval medindo cerca de 3 mm x 15 mm, que

repousa sobre a lâmina crivosa do osso etmóide. Esses filetes olfatórios acabam formando o

nervo olfatório propriamente dito (GRAY, 1977). Portanto, é impossível falar do bulbo

olfatório sem citar o nervo olfatório, pois essas estruturas estão totalmente interligadas.

Read (1908) verificou a lâmpada olfatória no homem, apenas em preparações

grosseiras. Foram feitas análises dos nervos olfatórios da lâmina crivosa do osso etmoide para

a camada externa do bulbo olfatório e, observou-se que os glomérulos se formam a partir de

um cruzamento dos axônios dos neurônios olfativos e os dendritos das células mitrais, do

mesmo modo que nos animais inferiores. Cada axônio advém de uma célula olfativa

individual, mas os dendritos podem surgir de um único axônio ou de várias células mitrais.

Foi observado que os dendritos de diferentes células mitrais no cão, migram para um

glomérulo e um único dendrito se ramificou para três glomérulos diferentes.

7 ÓRGÃO VOMERONASAL

Pode se observar que na maioria dos mamíferos existe a presença de um bulbo olfativo

acessório, denominado órgão vomeronasal (OV), como parte do seu sistema olfatório, essa

estrutura é um tanto similar em suas conexões periféricas para o principal BO, mesmo sendo

claramente bem menor quando separado dele (McCOTTER, 1912). Essa estrutura foi

descoberta pelo cirurgião dinamarquês Jacobson, em 1811, é um órgão pequeno e atraiu o

interesse de muitos anatomistas comparativos na época (ALLISON, 1953). É possível

perceber que esse órgão possui uma função olfativa e promove a formação de filamentos

nervosos, como os da mucosa olfatória, que formam feixes que atravessam a LC para

alcançarem a região do NO (McCOTTER, 1912).

29

Read (1908) observou as estruturas olfativas do gato, do cão e do humano e nas suas

pesquisas percebeu que as inervações do OV se encontraram apenas nos epitélios do cão e do

gato. Allison (1953) afirmou que esse órgão geralmente tem a forma de um tubo longo e fino

deitado no sobre o assoalho da cavidade nasal ao lado do septo nasal e protegido por osso ou

cartilagem e ele é parcialmente revestido pelo epitélio sensorial. Essa estrutura está ausente ou

é apenas vestigial em humanos.

Após remover cuidadosamente a pia-máter se observa os nervos vomeronasais que

surgem em grande número de filamentos da superfície mediana do órgão vomeronasal. Esses

filamentos se unem e formam oito cordas nervosas que deixam a borda dorsal do órgão. Num

breve afastamento, se unem gerando quatro grandes feixes. Os quatro feixes passam

caudalmente e pela submucosa do septo nasal até a lâmina crivosa do osso etmóide. Eles

entram no crânio por duas aberturas e depois se unem em um único tronco de nervo, que

passa em torno da margem espessa mediana da lâmpada olfativa, onde, girando lateralmente

em sua superfície dorsal, do nervo sai uma rede de fibras que se inserem no bulbo olfativo

acessório. Na superfície dorsal do bulbo olfativo, os nervos vomeronasais são intimamente

aplicados na camada de fila olfatória (McCOTTER, 1912).

SALAZAR; CIFUENTES; SÁNCHEZ-QUINTEIRO (2013) ainda afirmam que o OV

integra o ducto vomeronasal que está rodeado de tecido mole anexado pelo tecido conjuntivo,

juntamente com uma considerável quantidade de glândulas, vasos e nervos. Tais estruturas

estão cobertas por uma lâmina cartilaginosa incompleta, que é envolvida externamente pela

mucosa da cavidade nasal. O ducto vomeronasal pode ser isolado por meio de dissecção e

microdissecção, visto que mede aproximadamente 80mm e sua extremidade anterior se abre

para o ducto incisivo. Esse ducto se comunica com as cavidades nasais e bucais. Esta

comunicação se torna bem evidente por causa da papila incisiva que é uma proeminência

específica da cavidade oral. Em contraste, na cavidade nasal, o ducto incisivo é difuso e pode

ser considerado como a projeção da mucosa, que cobre as bordas da fissura palatina. Além

disso, a parte anterior da cartilagem vomeronasal está associada à mesma fissura, e sua

extensão por meio da papila incisiva promove um reforço incompleto do ducto incisivo.

McCotter (1912) afirma que no cão, a grande lâmpada olfativa possui um formato de

quadrilátero e que ela é comprimida pela região frontal do cérebro de um lado e a estrutura do

nasal do outro. A superfície dorsocaudal é côncava e moldada no limite anterior do lobo

frontal. O pedúnculo olfativo se estende para a região posterior a partir da parte ventrolateral

30

desta superfície. A região anteroventral situa-se contra a lâmina crivosa de maneira oblíqua.

Ela recebe os nervos olfatórios que se espalham em uma rede espessa sobre a superfície da

lâmpada olfativa. A margem mediana espessada da lâmpada olfativa é separada do bulbo

oposto pela extensão dorsal da placa perpendicular. A lâmpada olfativa acessória é menor no

cão do que no coelho, rato e cobaia. Formando uma pequena elevação oval na superfície

mediana do pedúnculo olfativo.

8 ALTERAÇÕES NO SISTEMA OLFATÓRIO NO CÃO E NO HOMEM

A cavidade nasal humana se encontra revestida por um epitélio ciliado não sensorial

que limpa, aquece e umidifica parcialmente o ar inspirado. Na cavidade nasal posterior, se

observa uma mucosa olfativa sensorial. Essa mucosa apresenta um neuroepitélio avascular

constituído especialmente de quatro tipos de células (células receptoras olfativas, células de

apoio, células basais e células microvíricas) e uma lâmina própria de tecido conjuntivo

subjacente, contendo feixes de nervos, glândulas de Bowman e vasos sanguíneos. Arranjos de

tecido não sensorial surgem constantemente na região na qual acreditava-se ser puramente

olfativa. O significado desses arranjos não foi encontrado, mas podem ser considerados

consequências da exposição a agentes ambientais ou mudanças que ocorrem durante o

processo normal de envelhecimento (MORRISON; COSTANZO, 1992).

Jafek et al. (1989 apud MORRISON; COSTANZO, 1992, p.59) observaram estruturas

resultantes de biópsia de pacientes anósmicos com lesão na cabeça. Os pesquisadores

verificaram que o neuroepitélio olfatório teria sofrido um bloqueio celular, visto que, o os

seus núcleos se encontravam totalmente espalhados em todo o epitélio, alguns bem próximos

à mucosa. Outro fator encontrado foi uma extinção quase que total dos cílios nos botões

olfativos, mesmo na presença dos corpos basais. Próximos à lâmina basal estavam os axônios

olfatórios dispersados por todo o epitélio formando feixes no interior da lâmina própria.

Contudo, foi possível constatar que houve a possibilidade substituição neuronal do epitélio

olfatório humano e formação de estruturas neurais. Porém, os axônios das células olfatórias

não estabeleceram um crescimento central, assim, não foi possível chegar ao bulbo olfatório

em virtude da fibrose da lâmina crivosa.

Oliveira et al. (2014) observaram áreas do tronco encefálico que estão relacionadas

com doenças neurodegenerativas, prevalentes em idosos, como Alzheimer e Parkinson. Eles

selecionaram as seguintes regiões específicas de interesse: o mesencéfalo (substância cinzenta

31

ao nível do surgimento do nervo oculomotor), Ponte (seção que inclui o segmento do lócus

cerúleos) e bulbo (ao nível do núcleo motor dorsal do vago). Além dessas regiões, ainda

avaliaram o bulbo olfatório, que foi examinado por completo e impregnado na parafina na

orientação craniocaudal. Os pesquisadores analisaram 14 cérebros de cadáveres com uma

média de 72 anos de idade. Seis desses 14 cérebros analisados apresentaram alterações

macroscópicas. Os autores encontraram a presença de atrofia frontal leve com expansão do

nervo frontal dos ventrículos laterais como o achado mais frequente (encontrado em 3 casos).

Detectaram atrofia temporal com redução volumétrica do hipocampo no cérebro número de

10. O cérebro número 3 era de um paciente com diagnóstico clínico de atrofia de sistema

múltiplo e apresentava atrofia cerebelar grave, predominantemente na substância branca,

putamen, base da ponte e pedúnculo cerebelar, bem como um pequeno clareamento da

substância cinzenta. Em 11 dos 14 casos, não foram identificadas alterações histológicas no

bulbo olfatório. No entanto, para a análise com a proteína tau fosforilada, três destes

apresentaram positividade difusa e forte ao anticorpo tau, sob a forma de neurite distrófica,

principalmente na camada plexiforme externa. Toda via os pesquisadores não encontraram

sinais clínicos de Doença neurodegenerativa precoce associação entre os depósitos de

proteínas e as alterações clínicas.

Hirai et al. (1996) estudaram as alterações do sistema olfatório do cão em relação à

idade, ele examinou 22 cães com idade entre 10 e 19 anos, sendo que 10 eram do sexo

masculino e 12 do sexo feminino, alguns foram eutanasiados e outros morreram de alguma

doença, incluindo dirofilariose, insuficiência renal e tumor nos órgãos genitais. Cães jovens e

maduros ainda foram usados como grupo controle. E amostras da mucosa olfatória, bulbo

olfatório e cérebro foram coletadas rapidamente após a necropsia. As análises foram

realizadas com imuno-histoquímica e microscopia eletrônica. Na técnica de imuno-

histoquímica utilizaram o anticorpo anti-carnosina como marcador para as células olfativas, e

evidenciaram uma redução da quantidade de células. Na microscopia eletrônica, observaram

uma diminuição no número de cílios das células olfativas e microvilos de células basais. Em

animais com idade acima de 17 anos considerados idosos, observaram atrofias com aspectos

regenerativos apareceram raramente, e que grânulos de um tipo de lipofuscina no epitélio

olfatório se tornaram volumosos com a idade. Eles ainda afirmam que alterações relacionadas

com a idade foram igualmente encontradas no epitélio olfativo de homens e ratos.

32

9 FISIOLOGIA DO OLFATO

Na camada mucosa que reveste a cavidade nasal se encontram os receptores de

proteínas ligantes de odorantes. Proteínas presentes no muco se ligam as moléculas

aromáticas que adentram a cavidade nasal, essas proteínas permitem a locomoção das

substâncias lipofílicas dissolvidas na mucosa. As células receptoras dessas proteínas são

neurônios bipolares do epitélio olfatório que se prolongam e fazem sinapses com os

interneurônios presentes no BO (MOYES; SCHULTE, 2010). Então, esses neurônios fazem

sinapses com os neurônios de segunda ordem presente nos glomérulos, em que cada

glomérulo caracteriza um ponto que capta um sinal específico de odorífero e são ativados

vários grupos de glomérulos, que convergem para as células mitrais as quais ampliam e

difundem o sinal. As células granulares que liberam GABA e inibem a ação das células

mitrais (MARIEB; HOEHN, 2009).

As proteínas receptoras de odorantes são receptores acoplados à proteína G, que

possuem características muito semelhantes à ação hormonal. A proteína G se torna ativa

quando uma molécula odorante se une a um receptor, acarretando uma alteração na

configuração do próprio receptor. Depois de ativada essa proteína aciona uma via de

transdução do sinal envolvendo adenilato-ciclase e consequentemente gera um potencial

despolarizante (MOYES; SCHULTE, 2010). Uma subunidade alfa desprende-se da proteína

G, sempre que o receptor é excitado, alfa ativa a adenilciclase. Ao ser ativada a ciclase

transforma as moléculas de trifosfato de adenosina intracelular em monofosfato cíclico de

adenosina (AMPc). O AMPc age com outra proteína de membrana próxima, permitindo a

entrada de uma grande quantidade de íons de sódio no citoplasma da célula receptora, estes

íons de sódio contribuem positivamente para o interior da membrana celular, agindo assim

sobre neurônios olfatórios que transmitem potencial de ação para dentro do SNC, através do

próprio nervo olfatório. Este mecanismo é importante porque ativa os nervos olfatórios

fazendo com que o efeito excitatório se multiplique enormemente na mais fraca partícula

odorífera (GUYTON; HALL, 1996).

Outro mecanismo é o do epitélio do órgão vomeronasal que apresenta

quimiorreceptores os quais detectam moléculas químicas ambientais, os feromônios, que são

substâncias liberadas e reconhecidas por animais da mesma espécie. Distintamente do epitélio

olfatório, os receptores dos feromônios estimulam um sistema de transdução de sinal

agregado à PLC (Phospholipase C), que hidrolisa o fosfatidilinositol-4-5-bisfofato na

33

membrana plasmática, formando trifosfato de inositol e diacilglicerol, que acarretam um

aumento do Ca2+

intracelular e abre os canais de Cl- na membrana plasmática (MOYES;

SCHULTE, 2010). Segundo Allison (1953) a maioria dos sistemas sensoriais consiste

principalmente do nervo medulado de fibras de diâmetro espesso que é comparativamente

fácil detectar degenerações em experimentos. No entanto, as fibras nervosas olfativas, são

extremamente finas e de difícil identificação histológica, e era impossível observar potenciais

elétricos com os métodos de amplificação existentes na época. Os centros olfativos estão

situados na base do telencéfalo e na maioria dos mamíferos, eles se encontram sob uma

grande massa de tecido cortical e, também não são facilmente abordados experimentalmente.

No caso da formação olfativa acessória ou órgão vomeronasal de Jacobson e suas conexões

centrais, a situação é ainda mais complicada, porque o órgão é vestigial ou ausente no

homem, e o observador é obrigado a confiar em experimentos realizados em animais

inferiores para obter evidências indiretas quanto à sua importância.

Os receptores olfatórios são neurônios bipolares, especializados na detecção de

moléculas aromáticas. Eles são encontrados no revestimento do neuroepitélio na porção

anterior da cavidade nasal. Na região apical do corpo da célula surge um dendrito único e não

ramificado que se prolonga até a superfície epitelial. Entre as células de suporte adjacentes ou

ao longo do percurso olfatório, os dendritos podem seguir diretamente ou seguir um caminho

torto, eles alcançam a região epitelial, eventualmente entrelaçados com dendritos de neurônios

adjacentes. Os processos dendríticos geralmente medem de 1-2µm de diâmetro diminuindo

ligeiramente à medida que se estendem para a superfície epitelial. Os dendritos finalizam em

intumescências perto da porção epitelial, essas intumescências são os denominados

glomérulos, os quais normalmente se estendem acima da superfície epitelial, processo

observado na figura 10 (MORRISON; COSTANZO, 1992).

O epitélio olfatório está projetado sobre a lâmpada olfativa, os axônios das células

receptoras olfativas se unem e constituem os folhetos do nervo olfativo que seguem um curso

paralelo nas camadas mais profundas da mucosa que seguem em direção ao osso etmoide

(Figura 8.). Eles passam para a fossa craniana anterior, e os feixes são entrelaçados de uma

forma mais complexa na camada mais externa da lâmpada olfativa. Nas seções histológicas da

lâmpada olfativa corados com prata, os feixes de fibras são vistos entrando em cada

glomérulo de vários ângulos. Portanto, é impossível determinar uma localização topográfica

34

da projeção do epitélio olfatório na lâmpada olfativa sem o auxílio de experimentos

(ALLISON, 1953).

Na pesquisa de Hirai et al. (1996), podemos destacar os achados do BO em cães, eles

observaram a frequente presença de amiloidose cerebrovascular nas meninges e às vezes no

parênquima tanto pela imuno-histoquímica P-amilóide quanto pela coloração com tioflavina-

S. Em quase todas as camadas da lâmpada olfativa encontrou-se gliose astrocítica. Arranjos

de ubiquitina que estão atrelados à idade foram achados principalmente na substância branca.

Todos esses apanhados estão relacionados e se tornaram protuberantes de acordo com o

tempo de vida de cada animal. Não foram encontrados placa senil, nem emaranhados

neurofibrilares no bulbo olfativo, por meio das técnicas utilizadas, até mesmo em animais

com um grande número de placas senis no córtex cerebral.

Figura 10. Representação das células sensoriais do bulbo olfativo. (adaptado de Lent, 2010).

9.1 PLASTICIDADE NEURAL

Geralmente, no sistema nervoso central, não ocorre substituição dos neurônios quando

eles morrem após uma lesão ou uma doença. Em relação a essa característica, o epitélio

olfatório, possui uma grande capacidade de reposição neuronal regularmente e após uma

lesão. Essa possibilidade existe por causa da provável capacidade de neurogênese de um

grupo de células-tronco neuroblásticas e de células basais. Essa eficácia não é encontrada em

outros neurônios do SNC vertebrado. A longevidade dos neurônios olfatórios pode ser

35

acometida por interferências ambientais. As células maduras com sinapses vivem por muito

tempo e constatou-se que podem superar até um ano de vida. A morte celular foi observada

especialmente em células receptoras jovens que não desenvolveram contato sináptico com a

lâmpada olfativa. Assim, tanto os fatores genéticos quanto os ambientais podem interferir em

ambos os processos (MORRISON; COSTANZO, 1992).

10 ASPECTOS FILOGENÉTICOS

O sistema olfatório é constante em todos os vertebrados por esse motivo, esse sistema

se torna de muita importância para os neurologistas comparativos. Os animais pertencentes ao

Filo Vertebrata apresentam bulbo olfatório e centros similares em estrutura e compõem uma

porção de um cérebro relativamente inalterado, mas que sofreu uma série de

desenvolvimentos complicados. Tais aspectos consideraram que o sentido do olfato é

extremamente primitivo, e que foi determinado no princípio da evolução dos vertebrados,

após a formação das áreas olfativas o prosencélafo teve seu total desenvolvimento. No auge

da neurologia comparativa (entre 1890-1920), considerou-se que para se entender a evolução

do prosencéfalo seria necessário investigar o sistema olfatório (ALLISON, 1953).

“As vias filogeneticamente mais elevadas do Sistema Olfatório são complexas e

sujeitas às influências modificadoras, provenientes de várias fontes. Algumas destas

vias, que envolvem sistemas multissinápticos são submetidas a outros tipos de

influências e perderam completamente sua especificidade olfatória original”

(CARPENTER, 1978).

O epitélio olfatório humano pode ter aspectos análogos a outras espécies de

vertebrados. No entanto, em alguns casos, o arranjo do seu epitélio sensorial não é

homogêneo, pois possui pontos do epitélio não sensorial constantemente percebido nas áreas

olfatórias. Ainda não foi constatado o motivo dessas áreas irregulares, mas existe a hipótese

que podem ser consequências de agentes ambientais, doença ou o resultado do processo

natural de envelhecimento dos seres humanos. Toda via, ainda existem estudos que

pressupõem a capacidade de reposição dos neurônios olfatórios no ser humano, em que um

prolongamento da reativação funcional varia de acordo com o grau da injúria e a

predisposição da regeneração axonal para atingir o bulbo olfatório (MORRISON;

COSTANZO, 1992).

36

11 DISCUSSÃO

Como pode ser visto ao longo deste trabalho pautado nas questões morfofuncionais do

bulbo olfatório do Cão e do Homem e, mais especificamente observações de pesquisas e

trabalho sobre esse órgão do sentido, descrito por vários autores, torna-se possível discutir

estudos comparativos do ponto de vista evolutivo, tanto estrutural quanto funcionalmente,

focando essas duas espécies de mamíferos, cada uma com suas especificidades e estruturas

orgânicas e funcionais adaptadas.

Muitos têm sido os pesquisadores e estudiosos do sentido do olfato, dado sua

importância para os Vertebrados, especialmente os mamíferos, filogeneticamente

considerados mais evoluídos, inclusive o ser humano, que do olfato dependem para manter o

equilíbrio com o ambiente e ter suas funções orgânicas adaptadas, garantindo assim

sobrevivência, reprodução e alimentação, para citar apenas as mais importantes.

Revendo alguns dos mais importantes trabalhos e pesquisas sobre o tema, um dos

artigos a chamar a atenção da comunidade científica, mostra que é notória a importância da

revisão, ora em discussão, uma vez que nos traz dados iniciais sobre aspectos evolutivos, ao

longo do tempo, como oportunamente observou Read (1908) diz que “a região olfativa tem

sido objeto de investigação especial por muitos anos. Foram publicadas várias opiniões sobre

os fins dos nervos olfativos. Alguns pontos de vista foram refutados e, ele ainda ressalta que

em 1856, Max Schultze estabeleceu com uma certeza considerável as condições verdadeiras

das terminações dos nervos olfativos na mucosa nasal. Uma revisão da literatura dará o ponto

de vista atual”. Pautado no trabalho de revisão para o momento atual, teremos uma cronologia

evolutiva importante para rebuscar uma pesquisa comparativa sobre a evolução do bulbo

olfatório e o sentido da olfação, o que permite observar uma desenvoltura comportamental no

mundo animal e humano, como Jia et al. (2014) afirmam que humanos dependem das

habilidades olfativas de cães para difíceis tarefas, como a detecção de bombas, minas

terrestres, produtos químicos perigosos e substâncias ilícitas. Portanto, uma compreensão

mecânica do sistema olfativo em cães é de grande interesse científico.

Retomando um dos trabalhos mais distantes dos de hoje, observamos que pouca coisa

mudou no que se refere aos aspectos anátomofuncionais e, de certa forma, fisiológicos, muito

embora a terminologia anatômica tivesse que ser adaptada, através do tempo, por questões de

nomina anatomica, como podemos ver que McCotter (1912) afirma que no cão, a grande

37

lâmpada olfativa possui um formato de quadrilátero e que ela é comprimida pela região

frontal do cérebro de um lado e a estrutura do nasal do outro. A superfície dorsocaudal é

côncava e moldada no limite anterior do lobo frontal. O pedúnculo olfativo se estende para a

região posterior a partir da parte ventrolateral desta superfície. A região anteroventral situa-se

contra a lâmina crivosa de maneira oblíqua. Ela recebe os nervos olfatórios que se espalham

em uma rede espessa sobre a superfície da lâmpada olfativa. A margem mediana espessada da

lâmpada olfativa é separada do bulbo oposto pela extensão dorsal da placa perpendicular. A

lâmpada olfativa acessória é menor no cão do que no coelho, rato e cobaia. Formando uma

pequena elevação oval na superfície mediana do pedúnculo olfativo.

Enquanto Kavoi & Jameela (2011) realizaram uma análise morfométrica do bulbo,

trato e estria olfativos em animais ecologicamente diversos, com o intuito de apontar

diferenças morfométricas relacionadas à função olfativa. Foram utilizados cérebros inteiros de

humanos e de cães, cinco de cada espécie, fixados por perfusão com 10% de formalina. Os

pesquisadores correlacionaram os volumes e as medidas sequenciais das estruturas olfativas

com os do cérebro e do cérebro inteiro, e observaram que o volume da lâmpada olfativa foi

maior em cães que em seres humanos constituindo 0,31% e 0,01%, respectivamente, do

volume cerebral. Do mesmo modo, a dimensão do volume do bulbo, trato e estria para o

cérebro foi de 1,95% no cão e 0,03% no ser humano. A largura da lâmpada foi maior (p

<0,05) em cães (10,80 ± 1,64 mm) comparada com a do homem (5,50 ± 0,71 mm), e

apresentaram uma amplitude do hemisfério de 42,91% e 8,94%, respectivamente. No entanto,

o comprimento total do bulbo, trato e estrias olfativas aumentou na ordem humano (36,25 ±

1,70 mm) e cão (48,20 ± 1,92 mm) e constituiu 51,87% e 72,30%, respectivamente, do

comprimento do hemisfério. Esses resultados sugerem que as adaptações morfométricas dos

componentes olfativos à função olfativa, podem indicar a variação das necessidades

funcionais olfativas em relação à diversidade ecológica das espécies. Nesse estudo

compararam os cérebros de humanos, cães e cabras. No entanto, descartamos os dados

obtidos para cabras.

Para compreender os substratos neurais de nível cognitivo Jia et al. (2014) usaram a

ressonância magnética para investigar como o comportamento é conduzido por representações

sensoriais filtradas em áreas cognitivas de ordem superior. Para isso, eles construíram um

sistema de entrega de odorantes controlado por um computador adaptado o qual teria sido

sincronizado com a captação de imagens, possibilitando a análise das áreas cerebrais ativadas

38

pelas substâncias aromáticas. Assim, os pesquisadores perceberam que o bulbo olfatório e os

lobos piriformes foram normalmente acionados em cães anestesiados e acordados, enquanto o

córtex frontal foi ativado basicamente em cães conscientes.

Assim sendo, este trabalho traz uma importante observação do ponto de vista

evolutivo, porém independente da sequência e disposição dos vertebrados na escala zoológica,

até então aceita cientificamente, mas que esta evolução não obedece igual padrão de

desenvolvimento no que diz respeito às suas adaptações, estruturas orgânicas seus aspectos

morfofuncionais. Sabemos que a sequência disposta, nos verterbrados filogenéticamente

obedece a seguinte ordem: peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos (CHAGAS, 1987).

Com essa constatação, observamos que o ser humano, apesar de toda a evolução neural e seu

desenvolvimento mental, em relação ao olfato, não é o ser mais evoluído dentre os

vertebrados, pois a evolução implica também em adaptações e funções altamente complexas e

desenvolvidas de acordo com seu papel e importância no meio ambiente. Para corroborar esta

afirmativa, é suficiente exemplificar que nós humanos vemos menos que as aves de rapina e

certos animais noturnos. Também ouvimos menos do que os morcegos. E temos olfato menos

desenvolvido do que os cães e, inclusive os mamíferos de um modo geral, têm olfato menos

desenvolvido do que os tubarões, que são peixes condricthyies e se acham no início da escala

filogenética.

39

12 CONCLUSÃO

Baseado nos conteúdos bibliográficos, em especial os de revisão discutidos nesse

trabalho, confirmou-se que, no caso do cão e do homem, o tamanho do bulbo olfatório

corresponde à eficiência de seu olfato, ou seja, quanto maior o bulbo, maior a capacidade

olfatória, entre estes mamíferos. Em consequência disto os cães apresentam uma maior

mucosa olfatória do que os humanos e, portanto uma maior quantidade de receptores que se

projetam para o bulbo olfatório, através do qual as informações seguem para o sistema

nervoso central.

É importante também observar a influência direta dos agentes biológicos, físicos ou

químicos na condição normal ou patológica do nervo olfatório e/ou de seu bulbo, fazendo

com que o sentido da olfação tenha ou não desempenho apropriado na capacidade olfativa

desses indivíduos. Assim sendo, células do trato olfatório são as únicas que se renovam no

sistema nervoso, fazendo com que a capacidade olfatória permaneça ativa por mais tempo em

comparação com outras estruturas neurais, as quais não renovam nem regeneram seus

neurônios.

Em relação à qualidade do sentido olfativo há de se considerar também questões

referentes às posições anatômicas das duas espécies de mamíferos, as quais têm importante

influência do que diz respeito a um melhor desenvolvimento do sentido do olfato. Enquanto o

ser humano, o qual é bípede e, portanto, sua posição ortostática verticalizada, lhe permite

apenas captação do cheiro e do odor melhor absorvido em correntes de ar à altura do seu

sistema olfatório, o cão por sua vez, além de possuir um bulbo olfatório dezenas de vezes

maior do que o do ser humano, tem sua posição quadrúpede, cuja posição encefálica dispõe-se

mais horizontalmente no sentido antero superior, de modo que as correntes de ar, através das

quais permeiam o olfato, chegam com mais liberdade e maior amplitude à área rinencefálica,

conferindo melhor captação aerífera de cheiro ou odor.

40

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