UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL · Dra. Maria Cristina Leandro Ferreira (UFRGS) ... O...

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Data: 28 e 29 de maio de 2018 Locais: Auditório do ILEA, e Auditório Celso Luft e Sala 120 do Instituto de Letras – Campus do Vale – Bairro Agronomia

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Data: 28 e 29 de maio de 2018 Locais: Auditório do ILEA, e Auditório Celso Luft e Sala 120 do Instituto de Letras – Campus do Vale – Bairro Agronomia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

III ENCONTRO NACIONAL E II JORNADA “HISTÓRIA DAS IDEIAS: diálogos entre sociedade, sujeito e linguagem”

COMISSÃO ORGANIZADORA: Profa. Dra. Ana Zandwais (UFRGS) Profa. Dra. Gesualda dos Santos Rasia (UFPR) Profa. Dra. Verli Petri (UFSM) Assessoria Laís Callegaro Fritzen (Bolsista PROPESQ) Thaisy dos Santos Quinteiro (Bolsista PRAE) COMITÊ CIENTÍFICO Profa. Dra. Maria Inês Batista Campos (USP) Profa. Dra. Maria do Socorro Aguiar Cavalcante (UFAL) Profa. Dra. Belmira Magalhães (UFAL) Prof. Dr. Luciano Novaes Vidon (UFES) Profa. Dra. Márcia Dresch (UFPEL) Profa. Dra. Raquel Ribeiro Moreira (UTFPR) Profa. Dra. Soeli Schreiber da Silva (UFSCAR) Profa. Dra. Sheila Elias de Oliveira (UNICAMP) Profa. Dra. Maria Cleci Venturini (UNICENTRO) Profa. Dra. Maria Cristina Leandro Ferreira (UFRGS) Data: 28 e 29 de maio de 2018 Locais: Auditório do ILEA, e Auditório Celso Luft e Sala 120 do Instituto de Letras – Campus do Vale – Bairro Agronomia

PROGRAMA

28.05.2017 Auditório do ILEA 8h40min. Abertura com a participação da Coord. do PPG-Letras-UFRGS 8h50min. às 9h50min. Conferência de abertura: Espaços de enunciação, saber lexicográfico e agenda política: "a palavra do ano" Profa. Dra. Mónica Zoppi-Fontana (IEL-Unicamp) 9h50min. às 10h50min. Mesa temática I: História das ideias: relações entre língua, história e sociedade Coord. Profa. Dra. Ana Zandwais (UFRGS) O conceito de língua na obra de Antonio Gramsci – Cristiane Lenz (UFRGS) Sprachmischung e suas relações identitárias – Vejane Gaelzer (IFFAR) A produção de sentidos do Diccionario del Spañol del Uruguay na memória da dicionarização – Natieli Luiza Branco (UFSM) Das intervenções das superestruturas e das forças sociais sobre a lógica de funcionamento da língua - Ana Zandwais (UFRGS) 10h50min. às 11h10min. Intervalo para café. 11h10min. às 12h10min. Mesa Temática II: A pesquisa em Análise do Discurso Coord: Profa. Dra. Maria Cleci Venturini (UNICENTRO/PR) Um olhar sobre o documentário “A chama da língua” – Suhaila Mehanna Schon (UNICENTRO - Guarapuava/PR) Museu-Jardim, o corpo-ausente e a visibilidade do corpo-documento na cidade-museu – Maria Cleci Venturini (UNICENTRO/PR) As formações ideológicas da infraestrutura: inquietações sobre os pressupostos teóricos Althusserianos – Luciana Vedovato (UNIOESTE/PR) 12h10min. às 13h30min. Intervalo para almoço. 13h30min às 14h30min. Mesa Temática III: A pesquisa sob a ótica da Semiótica Russo-Soviética: os estudos do Círculo de Bakhtin Coord. Profa. Dra. Maria Inês Batista Campos (USP) A prova de redação do Enem e o contexto educacional dos anos de 1970: dialogismo e historicidade – Luciano Novaes Vidon (GEBAKH- UFES) Reportagem literária e ensino: uma perspectiva dialógica – Miriam Bauab Puzzo (UNITAU/SP) O enunciado concreto na aula de Língua Portuguesa às margens do rio Guamá – Cristiane Dominiqui Vieira Burlamaqui (UEPA/USP) Dissertação nos livros didáticos: redação ou texto argumentativo? – Maria Inês Batista Campos (USP) 14h30min às 15h30min. Mesa Temática IV: A pesquisa em Análise do Discurso Coord. Profa. Dra. Gesualda dos Santos Rasia (UFPR)

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Trabalho, capitalismo, Estado – Belmira Magalhães (UFAL) Considerações acerca da produção de sentidos em torno da designação “indígena”: o campo da mídia e o dos dicionários – Gesualda dos Santos Rasia (UFPR) História, ideologia e memória nas tramas do discurso da reforma do Ensino Médio, no Brasil. – Maria do Socorro Aguiar de Oliveira Cavalcante (UFAL) O funcionamento discursivo dos adjetivos: o caso elíptico em “Lula tem que morrer” – Raquel Ribeiro Moreira (UTFPR) 15h30min. às 15h45min. Intervalo para café. 15h45min. às 16h45min. Mesa Temática V: A pesquisa nos domínios dos Estudos Enunciativos. Coord. Profa. Dra. Sheila Elias de Oliveira (UNICAMP) Nas Fronteiras do Social: memória e divisão urbana – Mirielly Ferraça (UNICAMP) Linguagem, ciência e enunciação: considerações sobre a ideia de tempo em Émile Benveniste – Anderson Braga do Carmo (UNICAMP-UNESPAR) A palavra formalização em O. Ducrot: uma análise argumentativa de seus deslocamentos de sentido – Vinícius Massad Castro (UNICAMP) A Linguística da Enunciação teve vários Começos – Sheila Elias de Oliveira (UNICAMP) 16h45min. às 17h30min. Apresentação de Pôsteres – Solarium do Instituto de Letras Coord. Prof. Doutorando Marcelo Lima Calixto (IFRS) Um olhar discursivo sobre o documentário “Los monstruos de mi casa” – Ana Paula Alves Correa (UFSM) Um olhar sobre os discursos de mulheres em condição de regime semiaberto: entre o preso e o livre e entre o cárcere e a rua – Andressa Brenner Fernandes (UFSM) A palavra estatuto em dicionários: alguns efeitos de sentido – Andressa Marchesan (UFSM) A Intraduzibilidade da ‘palavra viva’ - Camila Faustino de Brito (UFRGS) “Levando o amor de Deus a todos, sem preconceitos”: O projeto de dizer da página institucional da Igreja Cristã Contemporânea. – Eduardo Soares da Cunha (UFPEL) (Ex)cultura na Hungria: o caso do Szoborpark - Evandro Oliveira Monteiro (UFRGS) Quando o sujeito adolescente é interpelado pela necessidade de escolha por uma profissão: uma reflexão acerca de condições de produção – Francine Rocha de Freitas (UFSM) Dêiticos e enunciação: a discriminação expressa na linguagem – Luise Frantz Veronez (UFPEL) O papel do professor/pesquisador na disciplinarização da linguística no Brasil – Luisele Munekata de Castro (UFSM) e Thaynara Luiza de Vargas (UFSM) As cartilhas para alfabetização no Estado Novo – Raquel Sawoff (UFRGS) Uma análise discursiva sobre as produções de Neusa Martins Carson – Thaís Costa da Silva (UFSM)

29.05.2018 Auditório do ILEA 9h às 10h. Mesa Temática VI: A Pesquisa em Análise do Discurso Coord. Profa. Dra. Márcia Dresch (UFPEL) Análise de Discurso e história das palavras: profícuas relações – Verli Petri (UFSM) “A coisa funciona assim”: sentidos de permanência na deriva entre “magistério-bico” e “magistério-emprego” – Dóris Maria Luzzardi Fiss (FACED-UFRGS) Uma trajetória histórica do conceito “condições de produção” na Análise do Discurso. – Marcelo Lima Calixto (IFRS-UFRGS)

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10h às 10h15min. Intervalo para café. 10h15min. às 11h40min. Mesa Temática VII: História das Ideias: relações entre língua, história e sociedade Coord. Profa. Dra. Verli Petri (UFSM) A gramática de Andrés Bello como instrumento linguístico e o espanhol da América – Kelly Cristini Granzotto Werner (UFSM) e Eliana Rosa Sturza (UFSM) Práticas xenofóbicas no Brasil Colônia: o desprezo pelo outro e pela língua no diretório dos índios – Rubiamara Pasinatto (UFRGS) Os sentidos de china: a condição da mulher indígena no Rio Grande do Sul significada através de um verbete – Felipe Rodrigues Echevarria (UFSM) Vivas nos queremos! Discursos sobre o lugar da mulher na sociedade capitalista e como eles contribuem para a (permanência da) violência machista – Bianca M. Q. Damacena (UFRGS) O funcionamento discursivo da história da memória no museu das Missões - Caroline Mallman Schneiders (UFFS) 11h40min. às 12h30min. Lançamento e autógrafo de livros - Solarium do Instituto de Letras 12h30min. às 13h40min. Intervalo para Almoço. 13h40min. às 14h40min. Sessão de Comunicações I – Auditório do ILEA Coord. Profa. Dra. Luciana Vedovato (UNIOESTE/PR) A poética de Knopfli nas fissuras dos mundos africano e ocidental – Paula Terra Nassr (UFRGS) O sujeito, a memória e o fazer literário em Solo de Clarineta 1 – Maria Lucimar Canali (UNICENTRO- Guarapuava-PR) A espetacularização da violência na mídia e a representação discursiva da Madrasta – Leandro Tafuri (Fac. Guarapuava - Guairacá/PR) A mãe, de Maksim Gorki: “O legado da Revolução Russa” – Tanira Castro (UFRGS) 13h40min. às 14h40min. Sessão de Comunicações II – Sala 120 do IL Coord. Profa. Dra. Maria Cristina Leandro Ferreira (UFRGS) A discursivização do corpo na arte – Renata Marcelle Lara (UEM) Processo de interpelação ideológica e cinismo na pesquisa em Análise do Discurso – Luciana Vinhas (UFPEL) Nem autoritário, nem cínico: uma reflexão sobre o discurso pedagógico e seus processos de identificação – Carolina Fernandes (UNIPAMPA) 13h40min. às 14h40min. Sessão de Comunicações III – Auditório Celso Luft (IL) Coord. Profa. Dra Ana Zandwais (UFRGS) A construção dos ‘sujeitos brasileiros’ na enunciação de Getúlio Vargas: uma análise semântico-enunciativa – Renata Ortiz Brandão (UNICAMP) Retrospecção e projeção nos conceitos de argumentação, argumentatividade e perspectivação em textos sobre a escravidão em São Carlos. – Soeli Maria Schreiber da Silva (UFSCAR) Sociedade, sujeito e linguagem na aquisição da linguagem – Giovane Fernandes Oliveira (UFRGS) 14h40min. às 15h40min. Sessão de Comunicações IV – Auditório Celso Luft (IL) Coord. Profa. Dra. Raquel Ribeiro Moreira (UTFPR)

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Do enunciado à memória: na ordem do discurso da Revista Letras da UFPR sobre a institucionalização da linguística de 1953 a 1968 – Patrícia Cardoso (UNICENTRO/PR) Mattoso Câmara – Roman Jakobson: uma reflexão sobre a importância de um estudo da correspondência entre linguistas – Maurício Bilião (UFSM) Uma análise das condições de produção da Olimpíada de Língua Portuguesa – Gabriela Moch Schmidt (UFRGS) Escola por ciclos em Porto Alegre e seus efeitos de sentidos: “O que aconteceu com a escola cidadã?” – Kelly da Silva Fernandes (FACED-UFRGS) 14h40min. às 15h40min. Sessão de Comunicações V – Auditório do ILEA Coord. Prof. Dr. Luciano Novaes Vidon (UFES) Discurso, humor e preconceito: crítica social em Senhora dos Absurdos - Graziella Steigleder Gomes (PUCRS) Um olhar discursivo sobre o documentário O cárcere e a rua: mulheres em cárcere – Andressa Brenner Fernandes (UFSM) Ao outro tanto a ti quanto a mim: apontamentos discursivos sobre o sujeito em situação de violência – Luiz Augusto Ely (UFPR) “Los Monstruos de Mi Casa”. A (Des) construção de um monstro pelo viés discursivo. Ana Paula Alves Correa (UFSM) 14h40min. às 15h40min. Sessão de Comunicações VI – Sala 120 do IL Coord. Profa. Dra. Gesualda dos Santos Rasia (UFPR) “Daqui a pouco nós, heterossexuais, seremos minoria”: heterosapiens, uma espécie em extinção? – Héliton Diego Lau (UFPR) Silenciamento e Transgressão: a disrupção no dizer LGBT – Lucas Carboni Vieira (FACED-UFRGS) “Como criar crianças doces em um país ácido?” Ideologia e polarização na repercussão da palestra de uma atriz negra – Allan Eduardo Sott Casagrande (UFPEL) e Karina Giacomelli (UFPEL) Da tela à cela: cinema e adolescência em conflito com a lei – Matheus França Ragievicz (UFPR) 15h40min. às 16h. Intervalo para café 16h. às 17h. Sessão de Comunicações VII – Sala 120 do IL Coord. Profa. Dra. Solange Mittmann (UFRGS) O saber fazer a língua entre os séculos XIX e XX: autoria, punição, sujeito e ensino de línguas – Marilda Aparecida Lachovski de França (UFSM) e Aline Bedin Jordão (UFSM) As condições de produção do discurso nacionalista e xenofóbico durante o Estado Novo no Brasil – Pablo do Couto Corroche (UFRGS) A noção de ortografia e os efeitos de sentidos da (orto)grafia – Valéria de Cássia Silveira Schwuchow (UFSM) 16h às 17h Sessão de Comunicações VIII – Auditório Celso Luft (IL) Coord: Profa Dra. Dóris Maria Luzzardi Fiss (FACED-UFRGS) Como e o que ensinar em LP: a concepção de língua do sujeito-professor a partir da materialização de um plano de aula – Rafaela Kessler Kist (UFPR) Ciclo de vida docente em discurso: mal-estar e permanência – Valéria da Silva Silveira (FACED-UFRGS) O ensino de Língua(s) Indígena(s) no ensino superior: um percurso de institucionalização e disciplinarização linguística – Bruna Cielo Cabrera (UFSM)

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Memória Discursiva: efeitos de sentido do permanecer docente – Marcos S. S. de Lima (FACED- UFRGS) 17h. Premiação do Concurso de Pôsteres Encerramento.

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Resumos

Mesas Temáticas

DAS INTERVENÇÕES DAS SUPERESTRUTURAS E DAS FORÇAS SOCIAIS SOBRE A LÓGICA DE FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA

Ana Zandwais

UFRGS Este estudo que integra parte de pesquisas desenvolvidas dentro do Projeto “História das Idéias: relações entre linguagem, sujeito e sociedade” tem como objetivo refletir, à luz de teorias materialistas, sob que condições determinadas categorias como as noções de superestrutura e de infraestrutura permitem que compreendamos as relações de tensão que permeiam o funcionamento de uma língua, bem como a lógica das leis que regulam as estruturas da língua a partir de um acontecimento: o discurso de posse da Presidente Dilma Roussef. Com base em uma reflexão sobre as contradições entre a lógica gramatical, que descreve as regularidades da língua e o acontecimento que desestabiliza suas sistematicidades, buscamos analisar sob que aspectos as relações de tensão entre a ordem do supostamente previsível e a emergência do acontecimento nos permitem analisar as reais condições de funcionamento de uma língua. Palavras-chave: Língua; acontecimento; regularidades; discurso. LINGUAGEM, CIÊNCIA E ENUNCIAÇÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A IDEIA DE TEMPO

EM ÉMILE BENVENISTE

Anderson Braga do Carmo UNICAMP-UNESPAR

O objetivo deste estudo é o de propor uma reflexão sobre a ideia de tempo dentro da obra do linguista francês Émile Benveniste, a partir da análise de três textos fundamentais do autor sobre o tema: “As relações de tempo no verbo francês” (1959), “A linguagem e a experiência humana” (1965) e “O aparelho formal da enunciação” (1970). Para tanto, inscrevemos nossa pesquisa na articulação da História das Ideias Linguísticas, domínio do saber que visa “acompanhar como certos conceitos, certas noções, certas categorias se constituíram e como ao permanecerem mudaram ou ganharam contornos específicos” (Guimarães, 2004), com a Semântica do Acontecimento, dispositivo teórico-metodológico no qual “a análise do sentido da linguagem deve localizar-se no estudo da enunciação, do acontecimento do dizer” (Guimarães, 2002). Metodologicamente, efetivaremos nossa análise por meio de recortes enunciativos dos textos citados, nos quais possamos compreender o funcionamento político e teórico de sentidos propostos para as nomeações, divisões e os conceitos estabelecidos pelo locutor-linguista sobre a ideia de tempo/temporalidade e a relação histórica deste saber com a ciência linguística. Por um lado, nossa pesquisa investiga se o conceito de tempo tem uma definição clara e estável dentro da obra de Benveniste, a partir da análise dos textos elencados, que foram publicados em momentos e instrumentos científicos diferentes. Por outro, visamos historiar a ideia de tempo contemplando as noções conexas, ou seja, considerando as problemáticas que se arquitetam entre o conceito de tempo e outras ideias, como as de significação, sujeito, enunciação e língua. Além disso, olhamos para os textos que formulam o conhecimento sobre o tempo em Benveniste evidenciando que a produção do saber é sempre “materialmente determinada por condições históricas específicas” (Guimarães, 2004). Palavras-chave: Tempo; Benveniste; semântica do acontecimento; História das Ideias Linguísticas.

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TRABALHO, CAPITALISMO, ESTADO

Belmira Magalhães UFAL

O texto para esta mesa baseia-se nos pressupostos de Pêcheux sobre a luta de classes e a linguagem. Assim como esse autor, partiremos de Marx, discutindo o trabalho como fundante da sociabilidade e do desenvolvimento histórico da humanidade. Sobre a participação do Estado nas sociedades de classes, recorreremos novamente a Marx e introduziremos as observações de Mészáros sobre a atuação do Estado sob a regência do capital. Nossas pesquisas sobre este assunto, tanto teóricas como a partir de análises de discursos da contemporaneidade, nos levam a concluir que o Estado em qualquer sociedade de classes ocupa um lugar fundamental para a classe dominante. Papel esse que se potencializa no momento histórico atual, relativizando a força das democracias tanto em sociedades desenvolvidas como nas em desenvolvimento e nas mais atrasadas. Já afirmamos, com base em Mészáros (2002), que para o capital não há uma persona definida; a máscara que comporá a burocracia estatal pode ser qualquer uma, mas em cada momento há algumas que facilitarão mais o jogo democrático de exploração do trabalho. Tendo por base tais questões, pretendemos trazer para a nossa discussão a importância do conceito da Teoria do Discurso sobre condições de produção. Este conceito é fundamental para Pêcheux porque nele se acham as condições determinantes dos discursos, isto é, as relações de produção que norteiam as sociabilidades. Sem a discussão de como elas funcionam em cada sociedade, é impossível chegar ao porquê das lutas de classes e às contradições que movem o cotidiano das relações sociais. O Discurso na sociedade contemporânea assume uma importância fundamental para chegarmos aos efeitos que essas contradições produzem. O lugar do Estado para o funcionamento das sociedades de classes no presente assume importância vital para o capitalismo nas mudanças necessárias a fim de manter a acumulação de capital, que sofre cada vez mais as consequências das contradições intrínsecas, próprias da lógica capitalista. Palavras-chave: Trabalho; linguagem; Estado.

VIVAS NOS QUEREMOS! DISCURSOS SOBRE O LUGAR DA MULHER NA SOCIEDADE CAPITALISTA E COMO ELES CONTRIBUEM PARA A (PERMANÊNCIA DA) VIOLÊNCIA

MACHISTA

Bianca M. Q. Damacena UFRGS

É sabido que a violência contra a mulher, em todas as suas formas, é uma prática que atravessa gerações e faz vítimas, inclusive fatais, até os dias de hoje. Ainda que, com as lutas dos movimentos de mulheres ao longo do tempo, notemos que tenha havido muitas mudanças, o papel relegado às mulheres na sociedade ainda é inferior ao dos homens: os salários ainda não são iguais em muitos lugares, a violência contra a mulher ainda é uma realidade, etc. Com base nisso, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão acerca de diferentes discursos sobre o lugar da mulher na sociedade capitalista. Além disso, busca-se identificar de que maneira, historicamente, a ideologia machista funciona dentro de diferentes instituições e contribui para que tal lugar continue praticamente o mesmo ao longo dos anos, corroborando, inclusive, para que a violência machista siga fazendo vítimas. Para tanto, foi necessário refletir, entre outros aspectos, sobre o conceito de condições de produção, uma importante categoria da Análise do Discurso de origem francesa. De acordo com Michel Pêuchex (2014), um discurso é sempre proferido a partir de certas condições e tais condições podem dizer respeito tanto às circunstâncias do dizer, como também ao contexto sócio-histórico-ideológico. É este último que nos interessa, uma vez que pretendemos fazer o percurso histórico desde a origem da opressão das mulheres até a atualidade, a partir dos estudos de Friedrich Engels (1980), Heleieth Saffioti (2013) e Rita Segato (2003). Com esse percurso será possível entender que a violência que as mulheres sofrem e os discursos sobre seu lugar na sociedade capitalista têm um ponto em comum: a ideologia machista. Palavras-chave: Discurso; violência; condições de produção; ideologia.

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NEM AUTORITÁRIO, NEM CÍNICO: UMA REFLEXÃO SOBRE O DISCURSO PEDAGÓGICO ATUAL E SEUS PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO

Carolina Fernandes

UNIPAMPA Neste trabalho, inicio com uma análise do funcionamento do discurso pedagógico escolar atualmente produzido em escolas públicas de Bagé, RS. Para isso, tomo como corpus diários de campo de observações de aulas de Língua Portuguesa de professores da rede municipal feitos por acadêmicos do curso de Letras da Unipampa. Ao analisar o discurso pedagógico, Eni Orlandi (2010) entende que existe fundamentalmente três tipos de discursos: o autoritário, o lúdico e o polêmico. Para a autora (ibdem, p.29), no discurso autoritário há a contenção da polissemia, já no discurso lúdico e polêmico não há essa contenção, podendo-se trabalhar a polissemia com maior expansão no lúdico e com controle no polêmico. Sua proposta é, portanto, que haja no cenário discursivo escolar um predomínio do discurso polêmico que possibilita dar voz às diferentes posições-sujeito, entretanto, o que se observa nas análises é o domínio do discurso pedagógico autoritário, baseado no ensino enquanto processo de “inculcação” (idem; Pêcheux, 2009). Observei também que, o sujeito-professor, reconhecendo as críticas aos efeitos do autoritarismo, modaliza seu discurso para um discurso “cínico” (Baldini, 2012), que camufla a “inculcação” por meio do que estou designando por “fingimento”. Percebendo a prática docente como uma prática discursiva, cujo enlace com o aporte teórico se efetiva de modo equívoco, incompleto e descontínuo, faço uma reflexão sobre como os processos de identificação determinam os processos de ensino-aprendizagem. Para isso, tratarei de práticas docentes experimentais nas aulas de estágio e de projetos de mestrado profissional, em que o discurso polêmico se mostra como predominante, orientando novos gestos de leitura e de ensino. Palavras-chave: Discurso pedagógico; identificação; ensino.

O FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DA HISTÓRIA DA MEMÓRIA NO MUSEU DAS MISSÕES

Caroline Mallman Schneiders

UFFS A presente comunicação tem por objetivo refletir sobre a relação constitutiva entre história e memória. Partindo dos pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso de viés pecheuxtiano e da História das Ideias Linguísticas, buscamos compreender como a história inscreve-se na língua e produz efeitos de sentido, determinando a memória dos dizeres/discursos. A história, a partir da perspectiva em que nos situamos, não se define como uma simples cronologia de acontecimentos, como a evolução dos fatos, refere-se à filiação de sentidos, ao modo como os fatos são analisados e interpretados (ORLANDI, 1996). A história, segundo Orlandi (1990, p. 35), “está ligada a práticas e não ao tempo em si. Ela se organiza tendo como parâmetro as relações de poder e de sentidos, e não a cronologia: não é o tempo cronológico que organiza a história, mas a relação com o poder (a política)”. Assim, a história não é considerada como algo exterior ao discurso, é parte de sua constituição, configurando uma temporalidade que é interna a ele e possibilitando a historicização de determinados saberes/dizeres (AUROUX, 2008; PUECH, 2006). Para discutirmos sobre essas questões, mobilizamos, como objeto de reflexão, o Museu da Missões, um importante museu localizado no Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões (RS), por meio do qual visamos compreender a historicidade e a memória que afeta e é constitutiva desse Museu. Diante disso, interessa-nos explicitar a relação entre a história e a memória, destacando, em especial, os efeitos produzidos pela memória institucionalizada, a qual cristaliza determinados sentidos, e pela memória discursiva, a qual, por sua vez, é marcada pelo esquecimento. Tendo isso em vista, entenderemos a maneira como os discursos do/no Museu das Missões ressoam uma determinada historicidade, bem como relações ideológicas e de poder. Palavras-chave: História; memória; museu; ideologia.

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O ENUNCIADO CONCRETO NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA ÀS MARGENS DO RIO

GUAMÁ

Cristiane Dominiqui Vieira Burlamaqui UEPA/USP

A relação entre a vida e a linguagem na materialidade textual precisa ser entendida como atividade inscrita sócio-historicamente. Nas escolas públicas de Belém do Pará, em 2017, estudantes do 6º ano do ensino fundamental travaram uma batalha na produção escrita e a porta de entrada foi a leitura desenvolvida em diferentes textos verbo-visuais. Uma atividade de leitura-escrita proposta na aula de português teve como tema “o trajeto entre a escola e a minha casa”. Nos textos produzidos pelos alunos ribeirinhos, observou-se a maneira como a vida desloca-se para o interior da criação textual e produz sentidos que dialogam com diferentes instâncias discursivas: a vida cotidiana de cada um, seus olhares para o entorno da escola, o percurso de vinda para a escola e as formas de agenciamento da escola. A investigação desenvolveu-se em três eixos: visual, verbal e verbo-visual, dado o caráter multimodal dos textos selecionados. O interlocutor é transportado para espaços e tempos distintos, onde as imagens, que têm como ponto de referência a escola (o professor), tematizam as travessias dos barcos que revolvem as águas dos rios e deslocam a população ribeirinha de uma margem à outra do rio Guamá. Nesse processo de reconstituição de seu percurso diário casa/escola/casa, os estudantes ribeirinhos realizam uma dupla orientação do tema (para o interior e para a realidade) e produzem sentidos que evidenciam seu lugar único na cadeia discursiva. Palavras-chave: Texto verbo-visual; estudantes ribeirinhos; aula de português como acontecimento; Teoria Dialógica do Discurso.

O CONCEITO DE LÍNGUA NA OBRA DE ANTONIO GRAMSCI

Cristiane Lenz UFRGS

Os estudos da linguagem que problematizam e discutem a historicidade constitutiva da língua não podem prescindir de partir de questionamentos referentes às relações entre língua e cultura. Tais relações carregam em seu cerne a questão do nacionalismo, da história nacional e da cultura popular. Ainda na primeira metade do século XX, Antonio Gramsci desenvolveu estudos teóricos e filosóficos sobre diversos temas que convergem para a problemática da existência contraditória de forças hegemônicas que atuam sobre as camadas populares da sociedade. Entre eles, o que nos interessa neste curto espaço é o seu desenvolvimento das questões que se referem à língua e à gramática. Ao dissertar sobre o caráter popular-nacional da língua e da literatura, Gramsci (2002) redimensiona o próprio conceito de “nacional”. Os estudos gramscianos sobre os intelectuais orgânicos e sobre a filosofia da práxis constituem a base para a compreensão da língua como manifestação nacional-popular, na medida em que colocam os estratos populares como parte essencial da vida filosófica e intelectual de uma sociedade. Além disso, a filosofia da práxis é o princípio essencial para compreendermos a dialética sobre a qual se constrói o conceito de história de Gramsci. A questão do nacionalismo sob uma perspectiva gramsciana prevê a relação necessária da língua com o que é da ordem popular e histórica. Com vistas a esta relação, propomos uma reflexão sobre o conceito de língua na obra de Antonio Gramsci, em face dos seus estudos sobre a literatura e a gramática (2002), da sua tese dos intelectuais orgânicos (1982), sempre considerando a construção do seu conceito de história (1966). Palavras-chave: Língua; história; cultura; nacionalismo.

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“A COISA FUNCIONA ASSIM”: SENTIDOS DE PERMANÊNCIA NA DERIVA ENTRE “MAGISTÉRIO-BICO” E “MAGISTÉRIO-EMPREGO”

Dóris Maria Luzzzardi Fiss

UFRGS

Este artigo discorre sobre modos de permanência na escola a partir de inquietações nascidas do convívio com docentes em instituições da rede pública estadual. A análise de discurso constitui-se como principal referencial. Foi produzido um trabalho de interpretação de narrativas docentes desde concepções de Michel Pêcheux, Jacqueline Authier-Revuz e Homi K. Bhabha segundo as quais o sujeito não é dono de seu dizer, mas é (e)feito de linguagem. O sujeito é percebido como constitutivamente heterogêneo, a linguagem como híbrida e o discurso como temporalmente preso ao acontecimento. Foram tomadas, nas análises, as marcas linguísticas assim e coisa na SD “No básico a coisa funciona assim: tem gente que faz do magistério um emprego, tem gente que faz do magistério um bico”. Assim, marca de heterogeneidade mostrada da ordem dos processos reais de representação, num discurso, de sua constituição, aponta para a busca de definição do trabalho docente com a maior exatidão possível, acabando por revelar que algo está sempre a escapar, nesse caso, a possibilidade mesma de uma definição exata da ação pedagógica. O funcionamento de coisa se combina com magistério-emprego e com magistério-bico. Ao se pronunciar desse modo, o sujeito-professor possibilita que se identifique um “isso” que fala, em outro lugar, antes e independentemente – o que se articula ao interdiscurso enquanto lugar de constituição de um sentido que, escapando à intencionalidade do sujeito, se aproxima de uma concepção sobre a profissão docente segundo a qual ela tem sido compreendida como atividade subsidiária. Ao falar que uns fazem da docência um “emprego” e outros a encaram como “bico”, a professora refere modos de permanência no magistério relacionados a sentidos de desprestígio social e profissional, secundarização. No entanto, ao adotar a palavra “emprego”, cria tensão com o sentido de secundarização que ressoa de “bico”, impedindo a estabilização de um sentido. Não se fala apenas do professor que assume a docência como “emprego” ou “bico”, mas dos muitos modos a partir dos quais os sujeitos são/estão professores, permanecendo. Seus compromissos, suas decisões, escolhas, atitudes deslizam por entre pólos, talvez, na busca mesma de ressignificação da imagem social que se tem do professor e que o professor tem de si. O que indica um modo de permanência que, processual e intervalar, revela que, por vezes, é na profissão que o docente se compensa e, desde a posição assumida, procura compreender a sua condição. Palavras-chave: Análise de Discurso; trabalho docente; permanência; negociações.

OS SENTIDOS DE CHINA: A CONDIÇÃO DA MULHER INDÍGENA NO RIO GRANDE DO SUL SIGNIFICADA ATRAVÉS DE UM VERBETE

Felipe Rodrigues Echevarria

UFSM O presente trabalho tem como objetivo analisar os sentidos apresentados pelo verbete china, recortado de dois instrumentos linguísticos regionalistas: Vocabulario Gaúcho (1928), da autoria de Roque Callage e Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul (1984), da autoria de Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes. Afinal, quem são as chinas e qual o papel social que as mulheres assim designadas desempenhavam na história do Rio Grande do Sul? Para desenvolver essa reflexão, tem-se como perspectiva teórico-metodológica os estudos enunciativos em articulação com a História das Ideias Linguísticas (HIL). A análise dos sentidos de china apresenta não apenas aspectos sociais e históricos concernentes ao estado, como também questões de gênero e etnia. O verbete, recortado das duas obras já citadas, foi selecionado tendo como critério sua ocorrência no âmbito regional, ou seja, no Rio Grande do Sul. Desse modo, china tem sua descrição e definição afetada pelas condições sócio-históricas nas quais ela surge. Nesse ambiente de guerras, batalhas, disputas e de fácil acesso à Argentina e ao Uruguai – países platinos com o qual o Estado faz fronteira – a figura do gaúcho como tipo social foi se formando. Em um primeiro momento, a palavra gaúcho trazia consigo conotações negativas, como a de um homem de vida errante e de ladrão de gado, até passar a ser reconhecido como um homem viril e hábil com o cavalo e com assuntos relacionados ao campo (PETRI, 2009). Buscando na história do Rio Grande do sul sobre a formação desse tipo social conhecido como gaúcho ou sul rio-grandense, constata-se também a

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situação da mulher no estado. A condição da mulher gaúcha era de submissão e subserviência ao homem sul rio-grandense. Callage (1928) afirma na nota de introdução de Vocabulario Gaúcho que recolheu os verbetes falados pelo povo gaúcho nesse ambiente “patriarcal” que era o Rio Grande do Sul. Para a análise do verbete china, além dos pressupostos teóricos da HIL, mobiliza-se também o conceito de designação proposto por Guimarães (2003), que verifica qual a relação do sentido de uma palavra com a História. Nossa análise pretende discutir quem é a china e o que significava para uma mulher ser designada com esse nome no Rio Grande do Sul. Estabelecendo uma relação com a história do Rio Grande do Sul, buscamos em Hilaire (1997) e em Brum (2010) as condições em que viviam essas mulheres e suas características, bem como classe social e etnia. Palavras-chave: Designação; gênero; dicionários regionalistas; História das Ideias Linguísticas. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PRODUÇÃO DE SENTIDOS EM TORNO DA DESIGNAÇÃO

“INDÍGENA”: O CAMPO DA MÍDIA E O DOS DICIONÁRIOS

Gesualda do Santos Rasia UFPR

Este trabalho propõe-se a discutir, desde uma perspectiva discursiva, acerca da produção de sentidos a partir da emergência da designação “índio” em uma reportagem veiculada em canal televisivo. Um dos primados da Análise do Discurso de matriz pêcheuxtiana é a não transparência da linguagem, a não simetria entre as palavras e as coisas, uma vez que essa relação é mediada pelas práticas dos sujeitos inscritos na história, que é sempre a história da luta de classes. O estudo toma como pressuposto a condição da língua como sujeita ao equívoco, nos termos de Gadet e Pêcheux (2004), o ponto em que o impossível (linguístico) vem aliar-se à contradição (histórica); o ponto em que a língua atinge a história. O referido enunciado emergiu no âmbito da mídia televisiva, a qual, na condição de Aparelho Ideológico de Estado, produziu sentidos de controle e de sub-valorização acerca do sujeito indígena. Levado o enunciado para o contexto da sala de aula, alunos inscritos no campo do discurso jurídico defenderam a legitimidade do sentido produzido, a partir de uma jurisdição específica sobre o sujeito indígena. A colocação do dissenso em cena convocou-nos ao estudo acerca da memória dicionarizada das designações “índio” e “indígena”, no âmbito dos dicionários comuns da língua portuguesa, bem como no âmbito jurídico, com vistas ao cotejo acerca sobre os diferentes funcionamentos de sentido. A análise nos aponta que memória da letra da lei produz seus efeitos, mesmo após modificações constitucionais, dando visibilidade, pela ordem do equívoco, à parcela dos sem-parcela, nos termos de Rancière (1996). Palavras-chave: Indígena; memória discursiva; equívoco.

A GRAMÁTICA DE ANDRÉS BELLO COMO INSTRUMENTO LINGUÍSTICO E O ESPANHOL DA AMÉRICA

Kelly Cristini Granzotto Werner

UFSM Eliana Rosa Sturza

UFSM O presente trabalho faz parte da pesquisa de Doutorado que estou desenvolvendo no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFSM sobre o tema da gramática, compreendida como um instrumento linguístico, e sua relação com a língua e a nação. Nosso objeto de observação é uma gramática publicada em 1847, no Chile, intitulada primeiramente como Gramática de la lengua castellana destinada al uso de los americanos, e depois como Gramática de la lengua castellana, de autoria do venezuelano Andrés Bello. Sob a perspectiva teórica da História das Ideias Linguísticas, nesta oportunidade, refletimos sobre o título da obra, buscando compreender o motivo da escolha do autor por “lengua castellana” e não “lengua española”, o tratamento dado ao seu destinatário explícito e no que isso reflete. Tratar das condições de produção do compêndio gramatical selecionado, da visão de língua e de gramática se fazem necessárias para o nosso propósito. Nossas hipóteses são de que o autor recusa o termo “Língua

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Espanhola” porque é uma denominação posterior e, por isso, imprópria. Também muito lembrava a metrópole, da qual as nações independentes queriam se afastar. Essa língua é da “gente educada”, baseada nos grandes autores de literatura e a que merece ser ensinada e aprendida. Isso contribuiria para a formação da identidade nacional. Palavras-chave: História das Ideias Linguísticas; gramática; Andrés Bello; língua espanhola.

AS FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS DA INFRAESTRUTURA: INQUIETAÇÕES SOBRE OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ALTHUSSERIANOS

Luciana Vedovato

Unioeste

O presente trabalho tem por objetivo discutir um dos princípios balizares para Análise de Discurso pecheutiana: o conceito de Formação Ideológica. Cunhado por Althusser (1999) a partir da concepção marxiana de Formação Social, o conceito que abarca, na perspectiva althusseriana, um conjunto de práticas coletivas que delimitam a existência concreta da ideologia e que se materializa por meio de Aparelhos Ideológicos do Estado, assumem, dentro da Análise de Discurso um papel importante por formar a rede de saberes constitutivas das Formações Discursivas, ou em termos de Pêcheux (2009), o que pode e o que deve ser dito. Para Althusser, tais Formações Ideológicas estariam vinculadas aparelhos ideológicos do Estado: a escola, a igreja, etc., ou seja, respondendo e realizando “em última instância” à ideologia das classes dominantes. É nesse sentido que, ao desenvolvermos nossa pesquisa de doutorado, tomamos como princípio organizativo da luta de classes a contradição e, considerando movimentos sociais organizados, refletimos a cerca da possibilidade de que as Formações Ideológicas pudessem, em tais organizações, em nosso trabalho, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, responder e realizar a ideologia das classes trabalhadores, ou melhor, tomá-las como determinante na organização dos aparelhos ideológicos que pensamos como possíveis também na infraestrutura. Assim, nossa apresentação apresentará um recorte de como pensamos tal conjunto de aparelhos ideológicos da infraestrutura e como tais aparelhos sustentam a Formação Ideológica do MST. Para sustentarmos nossa discussão, nos reportaremos, fundamentalmente, a Althusser (1999) em Sobre a Reprodução e A favor de Marx (1979). Palavras-chave: Formação ideológica; Análise de Discurso; infraestrutura.

PROCESSO DE INTERPELAÇÃO IDEOLÓGICA E CINISMO NA PESQUISA EM ANÁLISE DO DISCURSO

Luciana Iost Vinhas

UFPel O processo de interpelação ideológica, considerado um dos principais elementos que constituem a herança do Materialismo Histórico-Dialético na abordagem francesa da Análise do Discurso, ao passar pela leitura de Michel Pêcheux, recebe uma dimensão diferenciada, baseada na operação de modalidades de funcionamento subjetivo na forma como a ideologia interpela os indivíduos em sujeitos. A identificação, a contraidentificação e a desidentificação são as três modalidades que objetivam caracterizar a forma como o sujeito se relaciona com a ideologia, sendo que essa relação é atravessada e determinada pelas formações discursivas. Tendo como base esses pressupostos, o objetivo do presente trabalho é tratar sobre a forma como a Análise de Discurso tem desenvolvido suas pesquisas ao considerar o funcionamento cínico da ideologia. Os estudos que têm realizado essa articulação (BALDINI; DI NIZO, 2015; ERNST, 2017; INDURSKY, 2017; VINHAS, 2017) trazem a importância de o cinismo ser considerado na forma como o sujeito se subjetiva, tendo em vista, principalmente, as crises que vêm ocorrendo nas democracias contemporâneas. Outro elemento que parece ser importante na consideração sobre o cinismo na pesquisa em Análise do Discurso diz respeito à forma como trabalham os esquecimentos n° 1 e n° 2 na teoria do discurso. Desse modo, com base nos elementos teóricos mencionados, esta reflexão fará uma tentativa de desenvolver uma análise de corpus oriundo do discurso político durante o período que se caracterizou pelo golpe jurídico-político-midiático na democracia

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brasileira, trazendo, portanto, novos elementos para se trabalhar na pesquisa em Análise do Discurso a partir do funcionamento do cinismo. Palavras-chave: Cinismo; modalidades de subjetivação; esquecimentos; discurso político. A PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM E O CONTEXTO EDUCACIONAL DOS ANOS DE 1970:

DIALOGISMO E HISTORICIDADE

Luciano Novaes Vidon Gebakh/ufes

A prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem tem utilizado o texto dissertativo-argumentativo como gênero de discurso cobrado do(a)s candidato(a)s nessas avaliações. Este procedimento atualiza uma história de longa data, segundo a qual o texto dissertativo-argumentativo é considerado modelo de raciocínio lógico e, por isso, seria uma boa medida cognitiva do(a)s pleiteantes a ingressar no ensino superior. Neste trabalho, propomos um recuo histórico aos anos de 1970 no Brasil, resgatando duas publicações, que tomamos como documentos históricos singulares (cf. Ginzburg, 1986), no sentido de indiciarem um funcionamento discursivo comum a uma metodologia de ensino de redação que tem em sua base uma concepção formal de língua, por um lado, e uma visão psicologicista de sujeito, por outro, congregando, ao mesmo tempo, as duas tendências linguístico-filosóficas criticadas por Bakhtin/Volochínov (2011; 2017) em "Marxismo em filosofia da linguagem", o objetivismo abstrato e o subjetivismo idealista, respectivamente. Com base em uma análise dialógico-discursiva, valendo-nos de princípios teórico-metodológicos do Círculo de Bakhtin, como o da historicidade, da limiaridade, da natureza reflexiva e refratária dos signos ideológicos e do jogo social de forças centrípetas e centrífugas, identificamos a mesma orientação ideológica nos dois documentos dos anos de 1970 e nas formulações linguístico-pedagógicas encontradas no Guia de Redação do Enem publicado pelo Inep/MEC em 2017. Colocamos, portanto, os três (03) documentos em diálogo, compreendendo-os cronotopicamente como reflexo e refração de um mesmo conteúdo ideológico, que vai na direção de uma formalização linguística no ensino do texto e de uma idealização cognitiva em relação aos sujeitos de discurso. Palavras-chave: Estudos bakhtinianos; texto e discurso; historicidade; ensino de língua portuguesa.

UMA TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO CONCEITO “CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO” NA ANÁLISE DO DISCURSO.

Marcelo Lima Calixto

IFRS - URGS

Pensada em um significado mais amplo, as condições de produção englobam as circunstâncias sócio históricas e a perspectiva ideológica. A proposta de definição de condições de produção a que nos associamos considera o alinhamento da análise histórica das contradições ideológicas presentes na materialidade dos discursos, incluindo a imagem, e vinculada teoricamente ao conceito de formação discursiva. O montante dos valores ideológicos estabelece o imaginário que aponta o lugar que os sujeitos do discurso emprestam-se mutuamente. O discurso pressupõe a relação entre interlocutores com suas correspondentes formações ideológicas, conceito este imbricado com suas formações discursivas, ou seja, percorrem determinadas condições de produção. Além disso, Pêcheux e Fuchs apresentam duas categorias de esquecimentos na interpelação do indivíduo em sujeito, em suma: o primeiro condiz de o sujeito acreditar ser a origem dos sentidos do dizer; e o segundo se trata do sujeito crer no domínio de suas estratégias discursivas. Desta maneira, o sujeito não possui controle do que produz, portanto, apenas participa de um jogo de retomada do interdiscurso, já que não há um sentido estável incluso e estanque nas palavras, mas efeitos de sentidos variantes de acordo com cada formação discursiva. Partindo desse referente aprofundamos a questão relacionada à ilusão subjetiva do sujeito que - segundo Pêcheux - se concretiza por dois tipos de esquecimento. No esquecimento de nº. 1 – de natureza inconsciente e ideológica – o sujeito se coloca como origem do seu dizer, o sujeito falante tem a ilusão de estar na fonte de sentido e de que o seu discurso começa nele. O esquecimento de nº. 2 – que está inserido na ordem da

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enunciação – se caracteriza por um funcionamento do tipo pré-consciente/consciente. O sujeito, na seleção entre o falado e o não falado, não possui um controle total e deixa deslizar significados indesejáveis. Palavras-chave: Condições de produção; formações ideológicas; esquecimento; ilusão.

MUSEU-JARDIM, O CORPO-AUSENTE E A VISIBILIDADE DO CORPO-DOCUMENTO NA

CIDADE-MUSEU

Maria Cleci Venturini UNICENTRO - PR

Nossa proposta é pensar o museu no espaço público como corpo-documento, recortando Coimbra, cidade-museu por meio de imagens em (dis)curso. Com foco no museu no espaço público e, atendendo aos nossos objetivos, delimitamos Inês de Castro e a narrativa oral que faz dela um sujeito mitológico. No entanto, não nos centramos no museu-lugar, mas nos mecanismos discursivos, pelos quais por meio de textos-imagem é construído o caminho até a ‘Quinta das Lágrimas’, espaço público que significamos como museu por re-presentificar o corpo-ausente, constituído em monumento pela memória inscrita em um tempo de longa duração, que instaura efeitos de sentidos na atualidade, como (dis)curso. Colocamo-nos em posição interrogativa e no conforto/desconforto de quem busca o novo, sem apagar a repetição e o passado como memória na instauração de mitos e de monumentos. Organizamos um arquivo desse caminho, entendendo, que a sua construção não é inocente e nem aleatória, porque nesse mesmo caminho encontram-se o Rio Mondego, o Mosteiro de Santa Clara (a Velha), o Museu dos Pequenitos e o Mosteiro de Santa Clara (a Nova). O projeto urbano que planejou o caminho que vai da rua principal da Portagem e atravessa o Rio Mondego, atende a objetivos imobiliários, sinalizando que no mundo capitalista, as práticas encaminham para resultados. O caminho materializado por uma ponte pedonal e por placas indicativas nos leva à ‘Quinta das Lágrimas’ e, consequentemente, à mulher designada/representada/constituída na ordem do imaginário como ‘colo de garça’, ‘mártir’, ‘vítima’, ‘amante’ e esposa-rainha. Trata-se de Inês de Castro e da ‘Quinta das Lágrimas’, um sujeito e um espaço que apesar de não constarem do calendário oficial de lugares a serem visitados em Coimbra, é fortemente simbólico pela presença-ausente de Inês de Castro, que viveu e morreu no lugar, que é apresentado aos turistas como ‘Jardim Medieval’. A questão que ata e entremeia os ‘fios’ da nossa discussão é: qual o funcionamento das placas e das sinalizações na constituição da ‘Quinta das Lágrimas como museu no espaço público e que memórias e discursos ressoam a partir delas? Faz parte das discussões a passagem de Inês de Castro da crônica do mito, em parte sustentada pelas transformações havidas nas versões em torno do modo como foi morta e do casamento com D. Pedro. O aporte teórico é da História das Ideias e da Análise de Discurso. Palavras-chave: Museu; espaço público; memórias; discursos.

HISTÓRIA, IDEOLOGIA E MEMÓRIA NAS TRAMAS DO DISCURSO DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO, NO BRASIL.

Maria do Socorro Aguiar de Oliveira Cavalcante

UFAL O presente trabalho resulta de investigações desenvolvidas, pelo grupo de pesquisa Políticas Públicas: história e discurso, do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/CEDU/UFAL e tem como objetivo apresentar reflexões acerca de um acontecimento que se discursivisa materializado no Projeto de Lei 867/2016 que engendra mais uma reforma da educação brasileira, a do Ensino Médio. A referida reforma designada como nova induz o estudante a acreditar que pode fazer as escolhas que ele quiser podendo assumir o protagonismo de seu futuro. “O novo ensino médio dá liberdade para você escolher as áreas de conhecimento de acordo com sua vocação e projeto de vida.” “Agora, você é quem decide seu futuro”. A partir da teoria do discurso pecheutiana e dos pressupostos teórico metodológicos do materialismo histórico dialético, pretende-se desvelar as dimensões discursivas que configuram a retórica

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dessa reforma, especificamente, no que concerne à perspectiva do Estado neoliberal de pensar e projetar políticas educacionais. Para tanto, faz-se necessário um resgate do funcionamento da memória histórica da educação brasileira, buscando as bases dos acontecimentos que possibilitam o surgimento desse discurso que busca moldar as novas subjetividades em consonância com seus objetivos. Na perspectiva da Análise do Discurso pecheutiana, o sentido não está fixado a priori; há uma determinação histórica. Assim, a análise da determinação histórica do sentido exige o estudo da relação do discurso produzido num momento histórico específico com outros discursos com os quais ele dialoga, retomando-os para ratificá-los, refutá-los, ressignificá-los. A partir do entendimento de discurso como práxis de sujeitos, resultado das relações sociais em determinado momento histórico, e, como diz Pêcheux (1990, p. 45), “acontecimento que articula uma atualidade a uma rede de memória”, faz-se necessário desvelar as condições de produção que possibilitaram o surgimento do discurso que sustenta a referida reforma, a memória que ele evoca e seus efeitos de sentido. Para tanto, além de Michel Pêcheux estabelecemos interlocução com Volóchinov e Lukács. Esse referencial teórico nos possibilitou o entendimento de que o discurso materializado no referido projeto recupera elementos de saber da pedagogia liberal, em suas vertentes escolanovista e tecnicista, contribuindo assim, para o recrudescimento da dicotomia entre formação geral humanista para a elite e formação profissionalizante aligeirada e fragmentada para a classe trabalhadora. Palavras chave: Reforma do ensino; acontecimento; discurso; memória.

DISSERTAÇÃO NOS LIVROS DIDÁTICOS: REDAÇÃO OU TEXTO ARGUMENTATIVO?

Maria Inês Batista Campos USP

Nesta comunicação, o objetivo é discutir as mudanças e as permanências do ensino de dissertação/argumentação nos livros didáticos de língua portuguesa dos anos de 1980 e 2000. Selecionamos duas obras do ensino médio publicadas na década de 1980 e 2000: Estudos de redação, de Tufano e Texto e interação, de Cereja e Magalhães com a finalidade de comparar as mudanças ocorridas com a introdução dos estudos linguísticos no ensino. Não se pode negar que ainda hoje o ensino sistemático da produção de textos dissertativos integra o currículo da disciplina de português no ensino médio e os resultados nos exames finais não apresentam resultados satisfatórios. Como as propostas foram elaboradas levando em consideração os conceitos de texto, produção escrita advindos das teorias linguísticas de referência em cada período? A partir da perspectiva dialógica da linguagem, uma das noções bakhtinianas mobilizadas é a “dupla orientação do gênero na realidade”, desenvolvida no texto de Medviédev, O método formal nos estudos literários: uma introdução crítica a uma poética sociológica (1928). Para ele, o gênero do discurso se orienta em relação à realidade “de forma dupla [...]: em primeiro lugar, para os ouvintes e os receptores, e para determinadas condições de realização d percepção; em segundo lugar, cada gênero está tematicamente orientado para a vida, para seus acontecimentos, problemas, e assim por diante” (2012, p. 195). Nesse enfoque, vamos compreender os livros didáticos como unidades reais da cadeia verbal como fenômenos sociológicos. Os resultados da pesquisa indicam que a obra da década de 1980 mantém o ensino na estrutura do parágrafo e sem relação com texto como unidade, diferente da década de 2000. Na década de 2000, as mudanças dos referenciais curriculares e os documentos oficiais introduziram mudanças no livro didático, uma delas é a noção de texto dissertativo. Trata-se de discutir, nessa comunicação, como as orientações didáticas permitem ao estudante produzir textos argumentativos dentro de uma relação compreensão ativa e não por modelização. Palavras-chave: Dissertação; argumentação; livros didáticos; arquitetônica.

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REPORTAGEM LITERÁRIA E ENSINO: UMA PERSPECTIVA DIALÓGICA

Miriam Bauab Puzzo UNITAU

O objetivo desta comunicação é tratar a reportagem literária na perspectiva dialógica bakhtiniana como recurso ao ensino em sala de aula. As reportagens literárias como uma variação intermediária do gênero, sem se afastar do fato real, relatam histórias de vida, de modo envolvente, motivando respostas ativas de leitores. Para discutir essa questão toma-se como referência a teoria dialógica do discurso, centrada em Bakhtin Gêneros do discurso (2016) e em Volochínov A construção das enunciações e outros ensaios (2013), destacando no estilo genérico e individual as vozes que ecoam expressando o posicionamento axiológico e valorativo do enunciador/repórter. Para efeito de análise, foi selecionada a reportagem da jornalista Eliane Brum “Os vampiros da realidade só matam pobres”, publicada na coletânea Dignidade! (2012), organizada pela Médicos Sem Fronteiras. A autora incorpora ao seu discurso as vozes das personagens retratadas, empregando várias estratégias, entre elas discurso direto, indireto e indireto livre. Assim, o objetivo é discutir a expressividade da linguagem por meio de figuras e imagens assim como a estrutura sintática. Para cumprir essa proposta, analisa-se o recurso empregado para a inserção de vozes na narrativa, na perspectiva de Bakhtin no ensaio Teoria do romance: a estilística (2015), demonstrando o posicionamento avaliativo da narradora/repórter. Com o emprego desses recursos, evidencia-se tanto o distanciamento objetivo da repórter quanto a aproximação das personagens retratadas na reportagem. Como resultado, observa-se que a repórter sem abandonar seu papel investigativo da realidade, também aproxima a realidade social e humana do leitor presumido. Desse modo, ao trazer a reportagem para a sala de aula, amplia-se o horizonte de conhecimento dos alunos tanto no que diz respeito à linguagem expressiva quanto ao efeito de sentido dos recursos empregados. Palavras-chave: Reportagem literária; relações dialógicas; recursos expressivos, contexto social.

NAS FRONTEIRAS DO SOCIAL: MEMÓRIA E DIVISÃO URBANA

Mirielly Ferraça UNICAMP

A cidade se constitui como um espaço dividido, interditado pelo Estado a partir de suas políticas de organização que ditam os trajetos e o movimento do sujeito (no) urbano. O bairro Jardim Itatinga localizado na cidade de Campinas-SP é fruto de uma política pública de higienização; construído na década de 60, o local é, desde seu início, lugar destinado à prostituição. Numa distância politicamente imposta, mulheres e donas de casa foram levadas (com uso de força policial) para longe do centro e dos bairros nobres, mais de 10 quilômetros de distância. Hoje, cerca de duas mil mulheres se prostituem nas ruas e em casas [de prostituição] de pequeno, médio e grande porte. Enquanto parte integrante do espaço urbano, o local não é tão somente uma zona, há moradores que não possuem relação direta com a prostituição e (ins)escrevem em muros e portões a designação casa de família ou residência familiar. Interessa, nesta pesquisa, compreender os efeitos de sentido dessa exclusão que constitui bairro e sujeitos; memória viva, espaço aberto que continua a significar a interdição de sujeitos e seus trajetos na (pela) cidade. Assim, para pensar nos sentidos que se materializam no traçado urbano, utilizo como materialidade linguística entrevistas realizadas com moradores, comerciantes e prostitutas, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, questionando quais são os laços que constituem sujeitos e bairro. Tomo como base teórica a Análise de Discurso francesa e utilizo os vários trabalhos desenvolvidos pelo Labeurb – Laboratório de Estudos Urbanos da Unicamp. Palavras-chave: Prostituição; cidade; discurso; exclusão.

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A PRODUÇÃO DE SENTIDOS DO DICCIONARIO DEL SPAÑOL DEL URUGUAY NA MEMÓRIA DA DICIONARIZAÇÃO

Natieli Luiza Branco

UFSM Neste trabalho, objetivamos apresentar uma análise discursiva do Diccionario del español del Uruguay (DEU). Para essa análise, nosso olhar se volta para os textos introdutórios desse dicionário, porque são nestes textos que percebemos as condições de produção e a tomada de posição do sujeito lexicógrafo a respeito da obra e da língua (NUNES, 2006). Desse modo, inserimo-nos, teórica e metodologicamente, na articulação entre a Análise de Discurso de linha francesa desenvolvida no Brasil e a Historia das Ideias Linguísticas. Nesse viés, para a compreensão do discurso do DEU, consideramos as condições de produção em sentido amplo e estrito (ORLANDI, 2009). Em sentido amplo, trazemos que esse dicionário foi produzido por sujeitos que pertencem a uma Academia de Letras que faz parte da Associação de Academias da Língua Espanhola (ASALE) que, por sua vez, é constituída pela Real Academia Espanhola (RAE). Em sentido estrito, apresentamos que o DEU é o primeiro dicionário da Academia Nacional de Letras do Uruguai (ANL) e foi publicado em 2011; a produção desse dicionário é pensada desde a década de setenta do século XX por uma comissão de lexicografia da ANL. Nos textos introdutórios do DEU, os sujeitos dicionaristas indicam que se trata de um dicionário contrastivo: contrasta com o dito “espanhol geral”. O espanhol geral é apontado como sendo o espanhol presente no dicionário elaborado pela RAE. A partir disso, queremos compreender como significa o contrastivo que o DEU traz em seu discurso e em que medida esse dicionário é contrastivo. E, assim, responder a alguns questionamentos: o DEU ocupa um lugar diferenciado para se pensar a língua? Que língua é essa: espanhola/uruguaia? Considerando a heterogeneidade linguística (ORLANDI, 2002) em que se fala a mesma língua, mas se fala diferente, podemos pensar que o Diccionario del Español del Uruguay mostra e reforça o diferente na/da língua espanhola? É com o desejo de compreender mais e melhor o processo de dicionarização da língua espanhola própria do país vizinho que tentaremos acessar a memória discursiva que faz com que as palavras “façam” sentido, de fato, no interior de um dado grupo social. Palavras-chave: Dicionarização; Uruguai; Análise de Discurso; História das Ideias Linguísticas.

UM OLHAR SOBRE O DOCUMENTÁRIO “A CHAMA DA LÍNGUA”

Suhaila Mehanna Schon UNICENTRO/Guarapuava - PR

Em nossa investigação, realizamos a leitura do espaço urbano “Museu da Língua Portuguesa”, com recorte no espaço/lugar em que o arquivo se estrutura a partir da língua e não de um acontecimento ou nome a ser rememorado/comemorado. A proposta foi discutir a história e a memória em relação ao museu e a língua no/do museu e da vida. Para este trabalho recortamos o documentário “A chama da língua”, que coloca em suspenso a língua no museu, perguntando se “a língua tem museu” e, reiterando que “a língua que nos une é a que nos diferencia”. A investigação nos mostrou que o documentário, enquanto textualidade não prescinde da memória e da história, tendo em vista a sua organização a partir do incêndio que destruiu o museu. Ele inicia com sirenes e, constitui um efeito de fechamento com cinzas, que sinalizariam para a finalização do incêndio. Entretanto, a textualidade tem como título “A chama da língua”, instaurando a contradição e o antagonismo entre o espaço/lugar destruído pelo fogo e a língua que ‘não cabe no museu’ e que com o sem o museu continuará sendo chama. O fio condutor dessa materialidade são as vozes de pesquisadores, que definem/questionam a língua e o museu e dão visibilidade às exposições temporárias e permanentes no museu. Todas essas ‘vozes’ se organizam a partir de uma voz que as sistema/aglutina a partir de uma questão e de uma afirmação: ‘A língua tem museu?’ e ‘a língua que nos une é a língua que nos diferencia’. A textualização do documentário nos permite discutir a história e a memória, pois ressoam nela as teses de doutorado de José Simão Silva Sobrinho (2011) e de Larissa Montagner Cervo (2012), tendo que em vista que nessas teses é discutida a língua imaginária e a língua fluída (ORLANDI, 2003) e instauram-se redes parafrásticas com o enunciado “a língua é o que nos une”, com a língua como patrimônio imaterial e, também com a afirmação de

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Baldini (2013), por meio do texto publicado na Revista Letras, UFSM, sinalizando que “o que une é aquilo que nos separa”, ressoando no enunciado ‘A língua que nos une é o que nos diferencia’. Palavras-chave: Língua; história; memória; discurso; museu.

O FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DOS ADJETIVOS: O CASO ELÍPTICO EM “LULA TEM QUE MORRER”

Raquel Ribeiro Moreira

UTFPR

Temos observado, nos últimos tempos, no Brasil, diferentes forças de atuação do político que tendem para uma polarização que, instigada pelos órgãos institucionais e pela mídia, reforçam (no sentido de dar ainda mais força) o aparecimento de cada vez mais discursos extremistas. Dentre esses, o uso dos adjetivos ganha especial tratamento, uma vez que eles muitas vezes são usados como marcadores de posicionamentos e de identificações. Entretanto, é justamente da ausência de um adjetivo que nos ocuparemos nesse trabalho, quer dizer, nosso objetivo é observar como a elipse do adjetivo “política” produz efeitos de sentido tanto no texto “Lula tem que morrer”, como nos textos que circularam nas redes sociais a partir dele. Cunha e Cintra (1985) afirmam que o adjetivo é essencialmente um modificador do substantivo, impondo-se como imprescindível tanto para a expressividade de seu enunciado, quanto para sua precisão. Contudo, em termos discursivos, nos quais baseamos nosso trabalho, não há como falar de enunciação sem levar em consideração as condições de produção dos enunciados, que fornecem o espaço significante para o movimento e a ancoragem do sujeito do discurso na sua prática de enunciação (ZOPPI-FONTANA. 2003), fazendo com que os sentidos se constituam pelo movimento sem fim das formações discursivas na história. Desse modo, tanto a imprescindibilidade do adjetivo, quanto a falta causada pela elipse apontam-nos, de acordo com Haroche (1992), para a ilusão de completude da língua, forçando-nos a recorrer à história e à ideologia para observar os enunciados como processos pelos quais o sujeito toma posição com relação às representações das quais ele é suporte (MALDIDIER, NORMAND e ROBIN, 1997), sendo que essas representações só podem realizar-se a partir de pré-construídos presentes no interdiscurso. Assim, os sentidos de “morte de Lula” e “morte política de Lula” parecem-nos imbricar-se para representar, mais do que um posicionamento político-partidário, a reiteração do discurso de opressão e de luta de classes. Palavras-chave: Funcionamento discursivo; adjetivo; elipse; efeitos de sentido.

PRÁTICAS XENOFÓBICAS NO BRASIL COLÔNIA: O DESPREZO PELO OUTRO E PELA LÍNGUA NO DIRETÓRIO DOS ÍNDIOS

Rubiamara Pasinatto

UFRGS Ao longo dos séculos de colonização, as condições de funcionamento da língua Portuguesa não são homogêneas. Desde a chegada dos portugueses “às terras tupiniquins” até o final do século XIX, são registrados momentos históricos e políticos distintos, os quais contribuíram de maneira diferente para a fixação do idioma lusitano no Brasil. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo analisar o discurso do Diretório de 3 de maio de 1758, popularizado como “Diretório dos Índios” e, implementado, sobretudo, nas povoações do Pará e do Maranhão, sob os cuidados de Marques de Pombal. A investigação tomou como base os pressupostos da Análise de Discurso filiada em Michel Pêcheux, a partir da qual foi possível constatar que a imposição da língua Portuguesa e a interdição da língua Geral são elementos marcantes no documento. Dessa forma, embora tenha sido elaborado pelos portugueses com o propósito de “integrar” os índios à sociedade lusitana que se estabeleceu na Colônia, é latente no discurso do Diretório dos Índios a produção de práticas políticas xenofóbicas que vêm colocar em cena o paradoxo dos colonizadores em relação aos colonizados, demostrando não somente o desprezo pela língua do outro, mas também o desprezo pelo outro.

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Palavras-chave: Língua; diretório dos índios; práticas xenofóbicas; Análise de Discurso.

A LINGUÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO TEVE VÁRIOS COMEÇOS

Sheila Elias de Oliveira Unicamp

A origem frequentemente atribuída às Semânticas da Enunciação é o texto “O aparelho formal da enunciação”, de Emile Benveniste, que se torna amplamente conhecido a partir de sua publicação em coletânea no segundo volume dos Problemas de Linguística Geral, de 1974. Este texto de 1970, que marca o fim da produção benvenisteana, é tomado na evidência da repetição histórica como fundador de uma divisão disciplinar dentro da Semântica Linguística. Buscaremos refletir sobre este alegado início tornando visíveis os elos e as dissensões presentes no conjunto de artigos reunidos no número 17 da Revista Langages, “L’énonciation”, organizado por Tzvetan Todorov, no qual foi publicado “O aparelho formal da enunciação”. O objetivo é ampliar a compreensão das ideias sobre ‘enunciação’ em jogo neste gesto de reivindicação da legitimação de uma disciplina linguística para o seu estudo. Ao refletir sobre a história da linguística, Benveniste afirma que a linguística teve vários começos. Não é diferente para as Semânticas da Enunciação. O olhar sobre o volume “l’Énonciation” da Revista Langages permitirá ampliar a compreensão sobre o gesto maior no qual se inscreve o lançamento de “O aparelho formal da enunciação”. Palavras-chave: Disciplinarização; enunciação; ideias linguísticas; mitos de origem.

SPRACHMISCHUNG E SUAS RELAÇÕES IDENTITÁRIAS

Vejane Gaelzer

IFFAR Nesta pesquisa, buscamos estudar as relações pertinentes a Sprachmischung e nela observamos a relação entre sujeito, língua e história. Nosso objetivo é mostrar as relações imbricadas no processo da Sprachmischung, que também está relacionada com os acontecimentos históricos das décadas de 1930 e 1940, tendo como pressuposto teórico Bakthin (2004), Pêcheux (1997) e Orlandi (2007). A língua é um elemento essencial na construção do imaginário de identificação dos imigrantes como grupo e esse imaginário aparece na memória discursiva ao falarem de si. E é por meio da língua que o governo varguista procura instituir a construção imaginária de brasilidade. Se por um lado, a língua nacional é um atestado jurídico de brasilidade, conforme o projeto de nacionalização do governo varguista, por outro lado, ela traz a injunção ao esquecimento da língua materna dos imigrantes. Portanto, a interdição oficial durante o Estado Novo traz consequências para a vida dos imigrantes e interfere diretamente nas suas práticas sociais diárias e essa interdição ainda hoje ecoa na memória social desse grupo. Apesar do esforço e da implementação jurídica do Estado, a língua materna dos imigrantes sobreviveu à proibição e continua viva nas práticas sociais no espaço privado familiar em algumas comunidades. Trata-se de uma língua típica: a Sprachmischung. É importante destacar que ao trabalharmos com esse conceito, estamos falando da variação dialetal que envolve a hibridação da língua Alemã com outra, no caso, a língua Portuguesa, criando um léxico intermediário entre as duas línguas: a Sprachmischung. Ao tratarmos da Sprachmischung, observamos que ela é alvo de preconceito linguístico, porque a construção imaginária de superioridade do Hochdeutsch desconsidera todas as condições de produção que construíram a cultura e os costumes dos alemães-brasileiros, que a partir dos sentimentos de ligação com a antiga pátria, Alemanha, e a tentativa de preservação da cultura trazida, atravessadas pelas interferências sociais e ideológicas da nova Heimat, que construíram outro sujeito. O corpus discursivo é composto por relatos de filhos de imigrantes alemães do Rio Grande do Sul, que cultivam no seu imaginário social elementos de ligação com seus antepassados. Portanto, com base na análise discursiva do corpus, percebemos a relação dos sujeitos com a língua e o modo como ele se reconhece a partir dela, como sujeitos alemães-brasileiros e, ao mesmo tempo, a interdição do sujeito pela língua.

Palavras-chave: Sprachmischung; interdição da língua; elemento simbólico de identificação; práticas sociais.

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ANÁLISE DE DISCURSO E HISTÓRIA DAS PALAVRAS: PROFÍCUAS RELAÇÕES

Verli Petri UFSM

O presente trabalho visa contribuir com a reflexão acerca da constituição, instituição e circulação de sentidos das palavras tal como estão dispostas em dicionários, nos últimos cem anos de produção dicionarística em língua portuguesa, dando especial destaque ao que foi produzido no Brasil. Os dicionários, nessa pesquisa, são tomados como importantes instrumentos linguísticos (Sylvain Auroux, 1992), objetos discursivos a ler (José Horta Nunes, 2006a), a partir dos quais se pode resgatar traços do que designamos como “A surpreendente história das palavras” (Bolsa de Produtividade em Pesquisa – CNPq), explicitando, através da Análise de Discurso de linha francesa, características próprias aos processos de produção de sentidos que engendram as palavras em uma ou mais redes de significância. É com Eni Orlandi (2002, p. 109), inclusive, que aprendemos que é preciso trazer as reflexões sobre o dicionário para a realidade brasileira para compreender o seu funcionamento em uma sociedade como a nossa “pensando como os fatos, aqui, fazem sentido”. Nosso investimento tem sido grande para demonstrar que o dicionário é um objeto historicamente constituído e que seus verbetes produzem sentidos diversos sob diferentes condições de produção (cf. Petri 2016; 2013; 2012; 2011; 2010; 2009). Sendo assim, na busca da explicitação da história das palavras, levaremos em conta as diferentes tomadas de posição-sujeito, em distintas condições de produção, bem como o funcionamento da historicidade e da ideologia na produção das palavras (em forma de verbetes no interior dos dicionários), das definições e dos exemplos presentes em diferentes dicionários, estabelecendo relações com a produção/circulação dos sentidos, através dos tempos. A descrição (Orlandi, 1990; 2016) tem um papel muito importante, neste trabalho, pois através dela será possível evidenciar a contradição entre a formalidade e a produção de sentidos. De um lado, observamos a formalidade que está posta no dicionário e que lista, fragmenta, separa, fixa e define palavras; de outro lado, observamos a produção de significações que historiciza, propõe ligações, altera. É disso que propomos nos ocupar, viabilizar a compreensão de processos de produção de sentidos que desconstruam as evidências e reconstituam uma parte da história das palavras em seus diferentes funcionamentos no dicionário e para além dele.

Palavras-chave: História da palavra; processos de produção de sentidos; dicionário; análise de discurso.

A PALAVRA FORMALIZAÇÃO EM O. DUCROT: UMA ANÁLISE ARGUMENTATIVA DE SEUS DESLOCAMENTOS DE SENTIDO

Vinícius Massad Castro

UNICAMP Este trabalho analisa a argumentação que constitui dois textos de Ducrot, Lógica e linguística (1966) e Linguística e formalização (1989). Nosso objetivo é compreender, na reformulação do primeiro texto pelo segundo, os deslocamentos nos sentidos de formalização. O quadro teórico é uma articulação entre a História das Ideias e a Semântica da Enunciação proposta por Guimarães (1995, 2002) e desenvolvida para análise argumentativa por Oliveira (1998). A diferença entre as palavras ligadas por ‘e’ nos títulos são uma primeira pista para a compreensão de que os textos não apontam para as mesmas conclusões. Enquanto o primeiro discute a relação entre duas disciplinas: lógica e linguística, o segundo discute a operacionalização do procedimento de formalização – advindo da relação da lógica com a matemática – na linguística. Mostramos como essas duas discussões se constroem analisando os movimentos argumentativos que permitem ordenar e ligar as palavras constitutivas dos títulos dos subitens dos textos do corpus na relação de enumeração entre eles e os títulos dos textos. Em Ducrot (1966), encontramos os subitens: 1.Linguagem e inferência lógica; 2.A lógica da linguagem; 3.Linguagens e sistemas formais; 4.A formalização da teoria linguística; e, em Ducrot (1989): 1.Linguagem e inferência lógica; 2.A lógica da linguagem; 3.Linguagens e sistemas formais. Considerando essas ordenações e elementos de ligação como operadores argumentativos para as conclusões apontadas pelos títulos dos seus respectivos textos, formalização se desloca de argumento de um debate cindido em Ducrot (1966) para uma direção conclusiva em Ducrot (1989). Esse deslocamento estaria relacionado ao fato de os movimentos

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argumentativos que constroem os enunciados-títulos dos subitens não terem a mesma força argumentativa nos dois textos. Isso se deveria, em parte, ao apagamento do subitem 4 (A formalização da teoria linguística) de Ducrot (1966) em Ducrot (1989), tornando a ligação do subitem 3 (Linguagens e sistemas formais) o argumento mais forte do texto. Enquanto no subitem 4 a anterioridade de formalização em relação à teoria linguística é construída sob uma argumentação que considera o funcionalismo, o procedimento de descoberta e a doutrina de Hjmeslev como argumentos para o que é definir um conceito e para a unificação das noções linguísticas em uma teoria coerente, os elementos ligados no subitem 3 – linguagens e sistemas formais – se constituem sob uma argumentação que conclui para a importância da consideração das línguas como sistemas formais, justificada no texto como uma forma de unificar relações que, na ausência de uma teoria geral da linguagem, permanecem dispersas. Palavras-chave: Ducrot; formalização; argumentação; enunciação.

Comunicações Individuais

“COMO CRIAR CRIANÇAS DOCES EM UM PAÍS ÁCIDO?” IDEOLOGIA E POLARIZAÇÃO NA REPERCUSSÃO DA PALESTRA DE UMA ATRIZ NEGRA

Allan Eduardo Sott Casagrande

UFPEL Karina Giacomelli

UFPEL Em 2017, Taís Araújo ministrou uma palestra intitulada “Como criar crianças doces em um país ácido”. Sua fala foi gravada e divulgada no canal do evento no YouTube e expunha sua visão sobre a dificuldade de criar seus filhos em uma sociedade tão conturbada, abordando questões de gênero, empoderamento negro, militância por igualdade, pautas identitárias e outros aspectos tangentes às minorias no Brasil. Uma de suas falas declarava: “No Brasil, a cor do meu filho faz com que as pessoas mudem de calçada”. Esta frase foi compartilhada no Twitter, onde repercutiu, gerando milhares de tweets (publicações), dos quais foram coletados e pré-analisados 58.267 tweets para identificar os tipos de marcas enunciativas deixadas nos enunciados concretos e efetivamente usadas pelos sujeitos para expressar seu posicionamento político-ideológico. Dentre estes tweets foram selecionados 37 exemplos posteriormente descritos, analisados e interpretados à luz da Metalinguística proposta pelos estudos Dialógicos do Círculo de Bakhtin com a hipótese de que o sujeito deixa sua posição política marcada no discurso mesmo sem explicitá-la. Partiu-se da compreensão e defesa do tweet opinativo como um gênero discursivo próprio, vinculado à esfera da opinião em rede, buscando os conceitos de alteridade, valoração e ideologia como meios de identificação da posição política dos sujeitos em seus enunciados concretos. Foi possível identificar que o discurso da atriz foi abordado e submetido ao julgamento de valor de cada sujeito, cujas posições se manifestaram na materialidade de seus discursos de acordo com as escolhas feitas dentro de seus projetos discursivos e sempre em relação dialógica com discursos outros, confirmando a hipótese de que os diferentes sujeitos deixam evidências claras de sua posição política, dos discursos e dos valores com que estão alinhados. Percebemos ainda diferenças entre os posicionamentos de esquerda e direita, sendo mais marcante a percepção de que os usuários de direita tendem a reduzir a interpretação dos discursos à instâncias literais e binárias, sem nuances ou profundidade, enquanto a esquerda fez comentários efetivamente mais argumentados, coerentes com os fatos e discursos a que se referiam, capazes até mesmo de identificar e apontar no discurso de seus opositores as suas falhas interpretativas e os momentos em que a lógica por eles construída não se mostrou verdadeira. Palavras-chave: Polarização; gênero; valoração; dialogismo.

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“LOS MONSTRUOS DE MI CASA”. A (DES) CONSTRUÇÃO DE UM MONSTRO PELO VIÉS

DISCURSIVO.

Ana Paula Alves Correa UFSM

Neste estudo, buscamos analisar como se dá o processo de construção do significante “monstro” no documentário Los monstruos de mi casa produzido na Espanha, em 2010, pela produtora mallorquina Quindrop Producciones Audiovisuales, sob a direção Marta Hierro e Alberto Jarabo, narração de Carmem Artero, nos idiomas catalão, castelhano e francês. Este, aqui tomado como nosso corpus e/ou objeto discursivo, carrega em sua textualidade, o deslize e o movimento de sentidos sobre o “monstro”, uma vez que se trata de um documentário sobre abuso, maus-tratos e negligência infantis, relatados por adultos que sofreram tais violências na infância e por crianças que também foram vitímas desse “monstro. O modo como esses “monstros” são produzidos, significados, é parte desse todo que é, sobretudo, simbólico. Não é qualquer monstro. É um monstro que mora na mesma casa, que deveria proteger esse sujeito, mas falha, causando o medo, a insegurança, a violência. Para nós, norteados pela Análise de Discurso de Linha Francesa Pecheuxtiana, a questão é central para compreendermos que, como discurso, o “monstro” é sempre uma construção, portanto, é de ordem histórica, ideológica e simbólica, no confronto e duplo atravessamento do sujeito, pelo real da língua e pelo real da história. Desse modo, visamos entender como se produz, se organiza e se movimenta o discurso sobre o “monstro”, a partir do referido documentário. Orlandi (1990, p. 37) postula que o discurso sobre “representa lugares de autoridade, constituindo-se como uma das formas mais importantes de institucionalização do sentido”. Podemos depreender que o lugar de onde o sujeito enunciador fala, lhe dá poder para dizer o que diz e, além disso, confere legitimidade ao dizer. Os testemunhos de adultos que foram crianças abusadas, negligenciadas, maltratadas pelos monstros de suas casas, os desenhos de crianças que viveram situações semelhantes, também carregam um discurso sobre o “monstro”, são materialidades significantes que, postas em um documentário que visa (des) construir esse “monstro”, atribuem a esses sujeitos um lugar de sujeito enunciador que os autoriza e confere legitimidade ao seu discurso. Palavras-chave: Discurso sobre; documentário; imaginário; sujeito.

UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE O DOCUMENTÁRIO O CÁRCERE E A RUA: MULHERES

EM CÁRCERE

Andressa Brenner Fernandes UFSM

Este trabalho tem como objetivo investigar as posições discursivas ocupadas pelas mulheres no regime semiaberto e, por consequência, a imagem que elas fazem de si mesmas. Para tanto, trabalhamos com recortes do documentário O Cárcere e a Rua (2004), de Liliana Sulzbach, o qual elegemos como nosso objeto de análise. O Cárcere e a Rua apresenta discursos de mulheres que cumprem pena no regime semiaberto, no Albergue Feminino (SUSEPE), localizado em Porto Alegre -RS. Ele traz consigo vozes que falam de como é viver na semiliberdade. Vozes que ali estão gravadas/documentadas. Betânia e Cláudia são as mulheres que aparecem em O Cárcere e a Rua. Elas, por estarem no (ou sob o) regime semiaberto, podem, de dia, sair para a rua e, à noite, voltar ao Albergue. Essa situação faz com que elas surjam por/estejam em/vivam com um entre diferentes espaços e diferentes condições; isto é, faz com que elas se situem/(des)situem em um lugar de entre-meio social e, desse lugar, se subjetivem. Nessa direção, a fim de contemplar nosso objetivo, ancoramos este estudo nos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso (AD). Tomamos o documentário enquanto texto, na contrapartida do discurso. Na medida que, se assim o vemos, ele não mais será uma unidade fechada nela mesma, mas uma unidade que se abrirá para diferentes possibilidades de leitura, as quais, por sua vez, mostram o processo de textualização do discurso (ORLANDI, 2008), que implica a incompletude, que é própria à língua/linguagem. Palavras-chave: Análise de Discurso; sujeito; documentário; mulheres em cárcere.

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O ENSINO DE LÍNGUA(S) INDÍGENA(S) NO ENSINO SUPERIOR: UM PERCURSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO E DISCIPLINARIZAÇÃO LINGUÍSTICA

Bruna Cielo Cabrera

UFSM Com menos de 50 anos, a escola indígena nos moldes que a conhecemos é uma construção política relativamente nova, o que torna os cursos de graduação para a formação de professores que venham a atuar nestas escolas mais recentes ainda. Este trabalho tem como foco cursos de graduação do Brasil que são intitulados como “Interdisciplinar Indígena” e que são propostos à habilitação de professores para exercício docente, não apenas, mas principalmente, em escolas de educação indígena. Partindo do gesto de leitura de um arquivo constituído por documentos pertinentes à disciplinarização de línguas indígenas no Ensino Superior, propomos uma discussão tanto no âmbito teórico da Análise de Discurso Francesa quanto no da História das Ideias Linguísticas. Esse arquivo é composto por materialidades heterogêneas, tais como Projetos Pedagógico de Curso, ementas de disciplinas, bibliografias, entre outros. Dessa forma, debruçamo-nos sobre um ponto-chave na organização educacional brasileira: parte da história brasileira sobre o processo de escolarização dos sujeitos indígenas, bem como a formação de docentes para a área. Buscamos compreender como está se dando o processo institucionalização e disciplinarização de língua(s) indígena(s) no Ensino Superior através de cursos de graduação do Brasil com foco na formação de professores para o ensino na área de Linguagens em escolas indígenas e, também, quais efeitos de sentido estão sendo produzidos através dessa construção de conhecimento linguístico e práticas didáticas de ensino de línguas. Palavras-chave: Línguas indígenas; disciplinarização; institucionalização; ensino superior.

UMA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Gabriela Moch Schmidt

UFRGS Bakhtin/Volochínov propõe que o discurso é ideológico por responder a outros discursos que o antecederam. A língua, nesse sentido, é dialógica: respondemos àquilo que ouvimos, assim como aquilo que proferimos gera respostas. Na perspectiva bakhtiniana, a significação não está associada à superfície linguística, mas aparece através da interação verbal; os significados são constantemente negociados pelos falantes a cada nova enunciação de acordo com o contexto em que ocorrem. Nessa mesma linha, Pêucheux defende que uma mesma sequência de palavras, proferida por diferentes pessoas, em diferentes locais, em diferentes momentos podem ter diferentes significados. A essas diferentes condições que interferem na produção e interpretação de um texto chamamos condições de produção. Em minha dissertação, investigo a forma como a Olimpíada de Língua Portuguesa aborda a avaliação em seus documentos. Para poder melhor compreender a complexidade do discurso da Olimpíada, foi necessário pesquisar suas condições de produção. Neste trabalho, apresento os resultados dessa investigação, que consistiu em analisar leis e outros documentos oficiais das instituições que promovem o projeto. Com a pesquisa, pude comprovar que conhecer as condições de produção da Olimpíada me ajudou a lançar um olhar êmico sobre meu objeto de pesquisa, fazendo com que algumas contradições do programa pudessem ser melhor compreendidas. Por exemplo, um dos objetivos da Olimpíada é melhorar o ensino de leitura e escrita dos alunos da escola pública, fomentando a igualdade social. Por outro lado, a principal ação do programa é um concurso no qual ganham os alunos que escreverem os melhores textos. A competição, em si, é uma prática excludente; como pode, então, promover inclusão social? Numa análise dialética, que entende que a sociedade se move pelas suas contradições, é possível reinterpretar a dicotomia inclusão/exclusão. A competição torna-se inclusiva a partir do momento que mobiliza uma grande massa de alunos e professores da rede pública brasileira e leva a essa massa a proposta de ensino de gênero, a qual consideramos aqui uma prática que propicia igualdade social. Embora nem todos os alunos “vençam”, todos têm a oportunidade de ler, praticar e produzir um texto. Ademais, a competição incentiva e motiva os alunos a participarem de um concurso que lhes premia. O concurso também

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provoca nos alunos um propósito real para seus textos ao criar uma interlocução real – “escrevo para participar do concurso”. Dessa forma, a competição pode gerar inclusão social. Palavras-chave: Olimpíada de Língua Portuguesa; dialogia; condições de produção; contradição.

SOCIEDADE, SUJEITO E LINGUAGEM NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

Giovane Fernandes Oliveira UFRGS

Este trabalho insere-se no eixo temático Estudos Enunciativos e tem por objetivo estudar a relação entre sociedade, sujeito e linguagem na aquisição da linguagem. Para tanto, analisa um diálogo entre uma criança de três anos de idade e seus pais, a partir da Teoria da Enunciação de Benveniste (2005; 2006) e da Teoria Enunciativa da Aquisição da Linguagem de Silva (2007; 2009). Da perspectiva enunciativa benvenistiana, destacam-se as noções de intersubjetividade (a relação eu-tu, que funda a interlocução humana), referência (a relação eu-tu/ele, que fundamenta a possibilidade de eu e tu falarem um certo ele e estabelecerem uma relação com o mundo) e cultura (o sistema de valores que se imprime na língua de uma sociedade e dirigem o comportamento do homem em todas as suas atividades individuais e sociais). Da perspectiva enunciativa aquisicional, destaca-se o dispositivo trinitário (eu-tu/ele)-ELE, o qual comporta a criança (eu), o outro de seu convívio (tu), a língua na qual se instaura (ele) e a cultura em que está imersa (ELE). A metodologia adotada é a esboçada por Benveniste para a análise enunciativa, a qual deve descrever o quadro formal de realização da enunciação a partir da consideração dos três elementos que o compõem: o ato (a mobilização da língua por um locutor que se enuncia como sujeito e implanta o outro como alocutário), a situação (a instância espaço-temporal na qual o locutor refere e o alocutário co-refere) e os instrumentos linguísticos (as formas e as funções da língua que possibilitam a sua conversão em discurso). A análise da marcação do locutor no discurso, através de formas pessoais (as categorias de pessoa, espaço e tempo, que introduzem aquele que fala em sua fala) e funções interpessoais (as modalidades assertiva, intimativa e interrogativa, que correspondem aos três comportamentos fundamentais do homem agindo pelo discurso sobre o seu interlocutor) indica que a criança (eu) estabelece duas relações de alteridade – com o outro (tu) e com a cultura (ELE) –, incluindo-se como sujeito em seu discurso e como participante na sociedade. Palavras-chave: Sociedade; sujeito; enunciação; aquisição da linguagem. DISCURSO, HUMOR E PRECONCEITO: CRÍTICA SOCIAL EM SENHORA DOS ABSURDOS

Graziella Steigleder Gomes

PUCRS

Consiste em objeto de nosso escrutínio um esquete humorístico-preconceituoso veiculado pelo canal de televisão Multishow, mas que, de forma alternativa, também pode ser assistido via internet e outros meios digitais que se encontram à disposição do telespectador (aplicativo de celular, tablete etc.). Elegemos para reflexão nesta pesquisa um esquete do programa televisivo chamado 220 Volts, que foi ao ar em 5 temporadas, de 2011 a 2016. Mais especificamente, trabalhamos com um esquete da personagem intitulada Senhora dos Absurdos (temporada 2, episódio 9). Percebe-se na fala dessa personagem preconceito contra, dentre outros, índios, negros, obesos, analfabetos, idosos e homossexuais. Considerando a relação entre humor e preconceito em a Senhora dos Absurdos, procuramos desenvolver a seguinte questão norteadora: como o discurso de um esquete considerado humorístico-preconceituoso pode criar relações de sentido voltadas para uma possível crítica social? Assim, tivemos como objetivo tratar do preconceito voltado contra a mulher, o homem, o índio e o negro, buscando observar como discursos como o encontrado no esquete em questão, além de procurarem promover o humor, podem servir como legitimação para a exclusão, ainda que busquem apresentar uma possível crítica social. Quanto ao referencial teórico, esta pesquisa respaldou-se nos estudos do Círculo de Bakhtin, principalmente no que tange a noções como dialogismo, enunciado, vozes socioculturais, signo ideológico e gêneros do discurso. Esse aporte teórico, junto a noções de áreas conexas que tratam de

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humor, preconceito, intolerância e estereótipos, forneceram embasamento para o desenvolvimento da pesquisa. No que se refere à metodologia, a presente reflexão seguiu as orientações de Volochínov ([1929] 2017, p. 220), quanto à observação da indissociável relação entre enunciado, gênero do discurso e esfera de comunicação discursiva, de modo a observar a complexa construção dialógica de sentidos no discurso humorístico-preconceituoso. Os resultados revelaram que o humor, enquanto efeito dialógico, pode fazer veicular sentidos relativos à crítica social; em nosso caso, preconceito, intolerância e estereotipação; essa interação se dá sempre de forma tensa, pois revela a relação entre a classe hegemônica e as minorias. Com os achados, esperamos contribuir para a compreensão do humor que tematiza o preconceito com vistas à crítica social, tendo em vista os diversos embates de vozes socioculturais que se engendram no discurso focalizado. Palavras-chave: Análise dialógica do discurso; teoria bakhtiniana; esquetes humorístico-preconceituosos; Senhora dos Absurdos.

“DAQUI A POUCO NÓS, HETEROSSEXUAIS, SEREMOS MINORIA”: HETEROSAPIENS, UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO?”

Héliton Diego Lau

UFPR

Os estudos e discussões acerca da comunidade de assexuais, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros, transexuais, queer, intersexo e mais – ALGBTQI – levantam questionamentos a respeito do posicionamento cis-heteronormativo da/na sociedade, trazendo discussões a respeito da história das (a)sexualidades e identidades de gênero a fim de (des)construir o binarismo imposto. Como resposta a essas (des)construções, setores conservadores da sociedade brasileira lançam projetos de lei a fim de “proteger” e “valorizar” a heteronormatividade. O corpus deste trabalho é composto por notícias de diversos portais online de projetos de lei (PL) deste escopo. São eles: o PL 294/2005, de autoria do vereador Carlos Apolinário, e o PL 1672/2011, do deputado federal Eduardo Cunha, em que ambos pretendiam instaurar o terceiro domingo de dezembro como Dia do Orgulho Heterossexual, em que o primeiro é de instância municipal e o segundo, federal; também o PL 7382/2010, de Eduardo Cunha, que penaliza a discriminação contra heterossexuais e determina que as medidas e políticas públicas antidiscriminatórias atentem para essa possibilidade, mais conhecido como “PL da heterofobia” e o PL 1813/2017, do deputado estadual Delmasso, que pretende instituir a Semana da Difusão da Cultura Heterossexual a ser celebrada anualmente na terceira semana do mês de junho. Desenvolvo esta pesquisa à luz da Análise de Discurso de linha francesa, ao analisar as sequências discursivas das notícias e dos comentários da comunidade virtual sobre a reação a respeito da criação desses PLs. Palavras-chave: Comunidade virtual; discurso; orgulho; notícias online.

ESCOLA POR CICLOS EM PORTO ALEGRE E SEUS EFEITOS DE SENTIDOS: “O QUE ACONTECEU COM A ESCOLA CIDADÃ?”

Kelly da Silva Fernandes

UFRGS

O presente trabalho é embasado na Análise de Discurso pecheuxtiana e se propõe a compreender de que forma uma escola por ciclos é uma escola cidadã. A partir de análises de discurso de professores da rede municipal de Porto Alegre, busca-se evidenciar sentidos de cidadania que ressoam, ou não, no discurso docente produzido numa escola ciclada da rede municipal de ensino de Porto Alegre a fim de compreender particularidades da instituição educacional e eventuais transformações nos sentidos de cidadania, considerando um recorte temporal que inicia na época de surgimento da escola ciclada e se estende até a atualidade. |O corpus de análise com que se pretende trabalhar na dissertação é do tipo experimental. Ele será formado a partir dos registros de conversas entre professores de uma escola da rede municipal de Porto Alegre, voluntários, participantes de um grupo focal. A discussão será orientada por tópicos-guia, elaborados com base em textos disponibilizados em sites de notícias em mídias online,

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relacionados às escolas municipais de Porto Alegre, a fim de suscitar o surgimento de assuntos que tangem a questão da escola ciclada na sua relação com sentidos de cidadania. Considerando o ponto em que se encontra a atual pesquisa, é reconstruído aqui o caminho trilhado desde o trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em Letras, em 2008, revisitando a pesquisa anterior e seus resultados. Na investigação citada, foi abordada a relação entre a construção da cidadania e o ensino de português a partir da análise de discursos de professores de língua portuguesa e de alunos da educação básica. Na sequência, apresenta-se um quadro teórico e epistemológico da Análise de Discurso e, por fim, delineia-se teórica e metodologicamente a pesquisa atualmente desenvolvida no Mestrado em Educação, no estágio em que se encontra, após a qualificação do projeto de pesquisa. Palavras-chave: Análise de Discurso; escola; professores; cidadania.

A ESPETACULARIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA E A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DA MADRASTA

Leandro Tafuri

Faculdade Guairacá – Guarapuava/PR

Propomos com este trabalho discutir as construções da mídia e a transformação de tragédias, crimes e acontecimentos em espetáculos a partir de simulacros que envolvem/emocionam grandes massas, apagando, dessa forma as individualidades, recobertas por Orlandi (2008, 2010, 2011) pelo termo ‘individuação’. As discussões e análises filiam-se à História das Idéias e à Análise de Discurso de fundação francesa e de continuidade brasileira, movimento teórico analítico, no qual atrelamos a noção ‘espetáculo’, sinalizando para uma relação de interface entre Língua/Jornalismo, na qual tomamos como objeto discursivo a violência urbana. O objetivo principal é analisar os discursos sobre a morte como espetáculo, a partir de reportagens que trazem como foco principal notícias acerca de crimes que chocaram e aglutinaram a sociedade, tragédias que foram espetacularizadas pela mídia e que entraram no centro das discussões. Para isso, recortamos os crimes representados na mídia como eventos, buscando pela discursivização e os modos como esses discursos rompem com a normalidade pela “norma identificadora”. Considerando esses discursos em determinado momento sócio-histórico e em condições de produção específicas, visamos compreender quais regularidades e rupturas permeiam os discursos sobre a morte como espetáculo no espaço urbano contemporâneo e como os sujeitos-criminosos são significados/representados no texto jornalístico. Vale ressaltar que, do lugar em que olhamos nosso objeto, o texto jornalístico é concebido como prática simbólica, que funciona no discurso como materialidade significante, pois dele ressoam diferentes efeitos de sentido. Para compreender as regularidades e rupturas que permeiam os discursos sobre a morte, faremos o mapeamento das regularidades e das rupturas, como processos em funcionamento, em torno da morte como espetáculo em capas de revistas semanais de grande circulação, buscando pelos seus efeitos de sentidos a partir dos discursos que os sustentam, enquanto memória – discurso de. Dentre os discursos sobre a morte como espetáculo, tomamos como corpus aquilo que foi discursivizado em torno do assassinato de Isabela Nardoni, a partir da representação do sujeito-feminino pela designação madrasta, bem como as memórias e discursos que retornam por ela/nela. Palavras-chave: Mídia; acontecimento; discurso.

SILENCIAMENTO E TRANSGRESSÃO: A DISRUPÇÃO NO DIZER LGBT

Lucas Carboni Vieira UFRGS

Como os sujeitos LGBT significam a situação de opressão em que vivem? Que sentidos atribuem a movimentos de militância que põem resistência à discriminação? Como esses sujeitos se posicionam diante da LGBTfobia? Que sentidos outros poderiam eclodir dos discursos praticados por pessoas LGBT?

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Tais questões fomentaram uma pesquisa qualitativa a partir da qual intentamos compreender os discursos, evidenciando efeitos de sentidos relacionados à LGBTfobia e à militância e os modos como esses sentidos se relacionam à heteronormatividade. A Análise de Discurso (AD) fundada por Michel Pêcheux foi basilar para o desenvolvimento deste estudo, possibilitando uma aproximação menos ingênua com a língua(gem). Jonathan N. Katz, Júlio Assis Simões e Regina Facchini ofereceram subsídios importantes para pensar as questões da sexualidade. Pêcheux e Eni Orlandi são referências centrais para pensar o jogo linguageiro, provocando o olhar a perceber rupturas entre o institucionalizado e possibilidades outras do dizer. Essa relação paráfrase/polissemia se corporifica nos dizeres analisados, revelando a constituição intervalar do sujeito LGBT: ele oscila entre silenciamento e transgressão. A contraposição de Orlandi entre silêncio fundante e silenciamento implicou em um gesto analítico atento aos enunciados silentes dos participantes – era a censura do dizer que pulsava. Fomos surpreendidos por nove efeitos de sentido, inscritos em duas formações discursivas (FD) antagônicas – FD de Gênero Conservadora e FD de Gênero Transgressora. Na primeira FD, ainda subjugada à heteronormatividade, inscrevem-se os efeitos de sentido de concessão, de transformação, de militância impessoal, de militância da informação conservadora/iludida e de militância sobrevivente. Na segunda, em que movimentos de resistência à norma, tentativas de ruptura da censura são identificados, inscrevem-se os efeitos de sentido de militância guardiã, militância manifesto, militância da informação de ruptura e de LGBTfobia inconstitucional. Estas descobertas evidenciaram a contradição em que os sujeitos são constituídos, demonstrando como LGBTs, apesar dos direitos conquistados, ainda se veem interpelados pela formação ideológica da heteronormatividade. Essa interpelação resulta na tentativa de controle da identidade através da censura do dizer, realizando quebras na possibilidade de deslizamento do sujeito no fio do discurso. A busca pela significação dos LGBT se dá entre silenciamento e transgressão. Palavras-chave: Análise de Discurso; Michel Pêcheux; LGBT; militância.

AO OUTRO TANTO A TI QUANTO A MIM: APONTAMENTOS DISCURSIVOS SOBRE O SUJEITO EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

Luiz Augusto Ely

UFPR

Atualmente, no campo dos estudos linguísticos, podemos perceber uma aproximação entre língua(gem) e violência, não no sentido de determinar as causas de fatos violentos de um modo geral, mas sim como tais acontecimentos podem se materializar como um efeito de linguagem, de tal sorte que é possível considerar que a mesma língua que divulga, que noticia, também é a língua que fere, que hostiliza, afinal, em uma situação discursiva, nos deparamos com diferentes instâncias, uma vez que as ideias apresentam-se por meio de uma maneira de dizer, que nos remete ainda a uma maneira de ser. Diante disso, pretendemos demonstrar elementos de nossa pesquisa, ainda em estágio preliminar, a partir de fontes veiculadas pela mídia hegemônica brasileira, tendo como suporte matérias publicadas em duas revistas de grande circulação no país, Carta Capital e Veja, com os textos acerca da temática que envolve a violência, em que buscamos investigar o acontecimento discursivo da violência na imprensa, de forma a verificar a ocorrência de desigualdades e discursos sociais, bem como analisar de que modo são designados os sujeitos envolvidos nesse processo. A escolha desses títulos e não outros resultou da possibilidade de estabelecer um contraponto entre as perspectivas de se noticiar um mesmo fato, porém, de maneiras distintas, dados os posicionamentos editoriais de cada uma dessas revistas. Para tanto, lançaremos mão de Angenot (2015), uma vez que se propõe a estabelecer discussões que possam ressaltar a presença constante do desentendimento entre os homens e indicam seu papel e seu valor na construção dos laços sociais, em que fica evidente, portanto, o esfacelamento de determinados discursos de convívio social, em que sujeitos, valendo-se de formulações equívocas em seus próprios atos de fala como forma de justificativa para suas ações violentas, apontam para o empobrecimento do simbólico, materializando na linguagem uma atitude perversa. Palavras-chave: Desigualdade; discurso; sujeito; violência.

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MEMÓRIA DISCURSIVA: EFEITOS DE SENTIDO DO PERMANECER DOCENTE

Marcos S. S. de Lima UFRGS

Este trabalho objetiva analisar, sob o prisma da Análise de Discurso francesa fundada por Michel Pêcheux, depoimentos produzidos em uma capacitação continuada de professores/as de uma escola da rede pública estadual de Porto Alegre - RS, ocorrida em 2015, contando com 60 (sessenta) profissionais desta instituição. A análise, que é um estudo de caso de caráter qualitativo, surge a partir do dilema entre permanecer ou não na educação, especificamente no espaço de sala de aula, considerando os sentimentos, as compreensões, os entendimentos e a identificação do ser-permanecer educador/educadora, buscando melhor perceber os efeitos de sentido da permanência docente na escola; o modo de produção da profissão docente, hoje, e o tipo de pertencimento experimentado pelos/as educadores/as. Nesse sentido, nosso intuito é de responder algumas questões que nos instigam: Por que os docentes continuam exercendo a “profissão professor”? Que sentidos de (não)permanência são percebidos nos enunciados dos educadores? O que leva os docentes a quererem permanecer nas instituições de ensino, principalmente, dentro da sala de aula? De que modo os docentes permanecem na escola? Que estratégias os professores/as professoras utilizam para permanecer na educação? Percebemos, a partir de gestos de interpretação do analista de discurso em relação aos enunciados dos(as) professores(as), o compromisso dos mesmos com determinada memória discursiva que associa educação à transformação, à esperança, à docência vivida com objetivos concretos que justificam permanecer no exercício da profissão. A permanência do/da docente pode ser compreendida a partir dos laços que ele/ela cria com seus colegas e seus alunos/suas alunas, laços que estão atravessados por afeto e compromisso epistemológico e social. Tomados os dados de interpretação, podemos supor que a humana docência, assim como é compreendida por Miguel Arroyo, e/ou o diálogo do qual nos fala Paulo Freire, possa ser o elemento que está fortalecendo o professor/a professora e garantindo sua aposta na educação. Palavras-chaves: Docência; memória; permanência; sentido.

O SUJEITO, A MEMÓRIA E O FAZER LITERÁRIO EM SOLO DE CLARINETA 1

Maria Lucimar Canali Unicentro - Guarapuava/PR

No texto autobiográfico, o sujeito fala de si e constitui evidências de que se trata de um discurso subjetivo, no qual o sujeito se mostra em sua individualidade, contando a sua história de vida, seus sucessos e fracassos. Érico Verissimo escreveu, nos últimos anos de sua vida, “Solo de Clarineta”, em dois volumes. No primeiro, tratou de sua família e dele mesmo, do fazer literário e, também da memória – noção importante para a Análise de Discurso a que nos filiamos. O segundo volume resultou de um trabalho de Flávio Loureiro Chaves, tendo em vista a morte do escritor em 1975. As diferenças entre as duas obras são bastante importantes, pois no segundo volume, não há uma escrita de si, mas a descrição de viagens e de obras do escritor, pois foram escritas a partir de manuscritos de Verissimo. Nesse trabalho, tomamos como objeto de análise o primeiro volume, entendendo, a partir de Orlandi (2001, p. 9) que nessa formulação “o sujeito se mostra e se esconde [...] dá corpo aos sentidos”. É assim, que Érico Verissimo se coloca como uma personagem e fala dele mesmo em terceira pessoa. Constrói-se como sujeito, olhando-se no espelho, como se aquele que é visto do outro lado, fosse ‘o seu amigo mais íntimo’. A escrita de seus personagens aparece relacionada à memória definida como uma espécie de computador, que armazena informações, especialmente da infância. Nosso objetivo a partir desse objeto discursivo é colocar em suspenso o sujeito individual e a memória que ‘guarda’ informações, dando visibilidade ao funcionamento da construção dos ‘eus’ construídos na ficção e nos quais ressoa a memória como interdiscurso (lugar em que estão todos os saberes) e a memória discursiva que é lacunar e falha e que dá visibilidade ao sujeito Érico Verissimo que se filia em uma formação discursiva burguesa e é interpelado pela ideologia que constitui a burguesia das pequenas cidades, em que as aparências é que valem. Essas evidências se constituem na escrituração do texto, especialmente, quando esse sujeito se debate entre o

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medo das noites de vento e o fantasma da máquina de costura e do manequim, pois esses objetos metaforizam a mãe no trabalho de costureira. A pertinência dessas reflexões situa-se nas interfaces entre língua e Literatura, constituindo efeitos. Palavras-chave: Sujeito; formação discursiva; ideologia; obra literária.

O SABER FAZER A LÍNGUA ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX: AUTORIA, PUNIÇÃO, SUJEITO E ENSINO DE LÍNGUAS

Marilda Aparecida Lachovski de França

UFSM Aline Bedin Jordão

UFSM

Neste trabalho analisamos os modos como o saber/fazer a língua portuguesa no Brasil vem se modificando, mais especificamente na virada do século XIX para o século XX, na transposição desse saber do gramático para o do linguista. Neste sentido, buscamos refletir sobre o processo de gramatização e como os instrumentos linguísticos, dicionários e gramáticas, são constitutivos do processo de transferência do saber/fazer a língua, deslocando a noção de autoria do gramático para o linguista e assim, mudando significativamente os modos de produção do conhecimento linguístico. Esses instrumentos, pelo viés que adotamos, na relação entre Análise de Discurso e História das Ideias, constituem-se como um dos elementos necessários para a afirmação e sistematização de uma língua nacional, mas que diferentemente da época analisada, hoje se abre para as possibilidades de sentidos que fogem ao registro normativo, graças ao processo de transferência acima citado. Para tanto, utilizamos o aporte teórico de Auroux (1991), Orlandi (2009), Fávero (2006), entre outros autores que podem nos auxiliar nessa retomada, colocando a noção de autoria como parte do processo de produção do conhecimento linguístico passando pela transferência desse saber pelas denominações gramático e linguista. Para alcançar tal discussão, serão percorridos alguns conceitos, em especial noções de sujeito, forma-sujeito, posição-sujeito na Análise de Discurso função-autor de gramáticos e linguistas na historicidade da língua. Almeja-se abrir uma discussão sobre as incidências dessas considerações no ensino de línguas, considerando os atravessamentos históricos, políticos e ideológicos sempre presentes nas materialidades discursivas, e tomando os instrumentos linguísticos enquanto objetos simbólicos, passíveis de (re)formulações. Palavras-chaves: Língua; sujeito; história; gramatização.

DA TELA À CELA: CINEMA E ADOLESCÊNCIA EM CONFLITO COM A LEI

Matheus França Ragievicz

UFPR

Lançamo-nos, neste trabalho, a discutir os percursos e os delineamentos de escolhas temáticas e metodológicas da execução da pesquisa “Leitura e interpretação: olhares sobre adolescentes em conflito com a lei” no Centro de Socioeducação de São José dos Pinhais/PR – CENSE/SJP. A investigação, inscrita na Análise de Discurso (AD) francesa, possui por objetivo mapear o processo de constituição/formulação de gestos de leitura/de interpretação nas condições de privação de liberdade em que se encontram adolescentes infratores. Para tal, foram realizados encontros semanais ao longo de dois meses com a temática “Cinema e (m) leitura”. Os encontros contavam com a exibição comentada de gêneros prototípicos do cinema (longa-metragem, curta-metragem, documentário e animação) que sustentavam um diálogo com o processo de produção cinematográfico, além de textos ligados ao universo fílmico. As atividades de exibição e de leitura tinham por objetivo proporcionar elementos para que os adolescentes produzissem, ao final dos encontros, um curta-metragem. As escolhas dos textos escritos e visuais que fundavam os encontros envolveram um exercício reflexivo contínuo sobre a pertinência dos

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materiais, assim como da atenção ao jogo de imagens: do analista sobre os participantes, destes sobre si mesmos/deles sobre a instituição/e da instituição sobre eles. Nesse movimento, implicaram-se os diferentes modos de identificação dos adolescentes no interior do CENSE, as coerções ideológicas do Estado e da unidade que, inescapavelmente, ressoaram e provocaram diferentes reações no percurso dos encontros e da pesquisa. Palavras-chave: Privação de liberdade; leitura; adolescentes em conflito com a lei; Análise de Discurso; cinema. MATTOSO CÂMARA – ROMAN JAKOBSON: UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA

DE UM ESTUDO DA CORRESPONDÊNCIA ENTRE LINGUISTAS

Maurício Bilião UFSM

Nessa apresentação nosso objetivo é refletir sobre como o intercâmbio linguístico através de cartas, neste caso, cartas trocadas entre o linguista brasileiro Joaquim Mattoso Camara Jr. e o linguista russo Roman Jakobson, pode nos ajudar a compreender o processo de produção e divulgação do conhecimento linguístico sobre a língua e a linguagem nas décadas de 40, 50 e 60 do século XX. Mais especificamente, buscamos compreender a relação entre os dois linguistas - quais questões teóricas eram discutidas, quais obras eram divulgadas por um e por outro, quais encaminhamentos eram motivados por este intercâmbio, entre outras questões. Partimos do pressuposto de que “os modos de divulgação e circulação do conhecimento estão relacionados às condições de produção ‘do que’ e ‘do como se faz um saber’, um saber científico” (PETRI; SCHERER, 2015). Ao mesmo tempo, consideramos que as correspondências funcionam como meio privilegiado de circulação de saberes e de informações acadêmicas de toda sorte (CHEPIGA; SOFIA, 2017). As trocas científicas pela via epistolar favorecem a discussão sobre um quadro mais liberto do controle habitual da escritura teórica e funcional, portanto, como um espaço de reflexão compartilhado propício à (re)interpretação das ideias. Nosso estudo é amparado, teórica e analiticamente, pelos pressupostos teóricos da História das Ideias Linguísticas e da Análise de Discurso, tal como ambas vêm sendo desenvolvidas no contexto brasileiro. Palavras-chave: História das Ideias; cartas; Mattoso Câmara; Roman Jakobson.

AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO NACIONALISTA E XENOFÓBICO DURANTE O ESTADO NOVO NO BRASIL

Pablo do Couto Corroche

UFRGS Este trabalho tem por objetivo discutir e analisar aspectos referentes ao discurso de cunho nacionalista adotado no Brasil durante a era Vargas. Para tanto, é necessário discutir conceitos mobilizados pela Análise do Discurso, como o de condições de produção, por exemplo. Ao criar a categoria Condições de Produção, Pêcheux tenta dar conta do papel da História dentro dos estudos discursivos. A História aqui, no entanto, deve ser entendida dentro dos estudos materialistas e não como uma sequência de acontecimentos cronológicos como na teoria positivista ou na acepção saussuriana. Estas condições de produção, porém, não podem ser pensadas fora da tensão entre super e infraestrutura. A Análise do Discurso, pode ajudar no entendimento deste processo. Merecem destaque também conceitos como os de formação social, ideológica e discursiva, sujeito, ideologia. Sendo assim, ao analisarmos o discurso nacionalista presente nos manuais e decretos voltados para o ensino, adotados durante o Estado Novo no Brasil, não podemos perder de vista esta tensão. Devemos levar em conta que o projeto de nação ali

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contido não surgiu do nada, que houve ali uma desestabilização de saberes. Recortamos para este trabalho, sequências discursivas da Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul. A escolha deste material se justifica, pois este periódico era um importante meio de propagação das ideias do Estado Novo nas práticas escolares. Finalmente, é necessário compreender, ao fazermos pesquisa em Análise do Discurso, pelo menos na AD de linha francesa, que os fatos se inscrevem na História, que uma análise apenas linguística, quando vista apenas como estrutura, não é capaz de nos fornecer satisfatoriamente o entendimento dos fenômenos da linguagem nas práticas cotidianas e no interior da luta de classes. Palavras-chave: Discurso; ideologia; sujeito; nacionalismo.

DO ENUNCIADO À MEMÓRIA: NA ORDEM DO DISCURSO DA REVISTA LETRAS DA UFPR SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LINGUÍSTICA DE 1953 A 1968

Patrícia Cardoso

UNICENTRO-PR

Nesta pesquisa, investigamos a produção de saberes que contribuíram para alicerçar a disciplina da Linguística no Brasil entre 1953 a 1968, a partir de um arquivo de memória reverberado pela/na Revista Letras da UFPR. Mobilizamos os aportes teórico-metodológicos da Análise do Discurso de linha francesa, mais precisamente aqueles estabelecidos a partir dos “diálogos” entre Michel Foucault e Michel Pêcheux. Os objetivos da pesquisa foram: descrever as redes de poder-saber que influenciaram os discursos sobre a Linguística; reconstituir certo trajeto que propiciou a emergência de alguns acontecimentos discursivos e o apagamento de outros cujos resultados apontam para o estado atual dos estudos linguísticos nas suas diversas especificidades. Em nosso arquivo materializado em 54 artigos da Revista Letras na dispersão dos enunciados, encontramos regularidades e a positividade que forma novos discursos acerca da institucionalização da Linguística, observando as manifestações dos discursos como constituintes de saberes e poderes. Olhando para o passado, problematizamos o lugar de Mattoso Câmara Jr. na institucionalização da Linguística, lugar envolto em complexas relações de saber-poder e de jogos de verdades que provocam silenciamentos e apagamentos. Mirando, também, outros discursos, na revista, percebemos algumas relações e regularidades como: (i) a publicação constante de Mansur Guérios; (ii) a predominância de um discurso dialetológico; (iii) enunciados que mantêm uma visão da gramatical tradicional; (iv) uma visão filológica e enunciados que apresentam efeitos de sentidos fundadores de uma nova fase na Linguística. Os levantamentos dessa pesquisa nos permitiram tocar em vários assuntos poucos explorados e compreender as maneiras pelas quais o conhecimento linguístico se produziu, desenvolveu, foi divulgado e percebido, uma vez que reconstituem os caminhos que levam ao estado atual dos estudos linguísticos no Brasil. Palavras-chave: História das ideias linguísticas; memória discursiva; poder-saber; língua portuguesa.

A POÉTICA DE KNOPFLI NAS FISSURAS DOS MUNDOS AFRICANO E OCIDENTAL

Paula Terra Nassr UFRGS

Rui Knopfli resenhava sua vida deslocada e fluida em versos visivelmente trazedores da influência dos cânones ocidentais; o que soava estranho se pensarmos na explícita orientação marxista constituinte da escritura dos intelectuais daquele momento da História. A literatura estava a serviço da guerra anticolonial e isto estava posto. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os movimentos de resistência à colonização haviam transformado as terras colonizadas em verdadeiros campos de batalha e de urgência de sentido. Os Estados de Direito interferiam com uma considerável importância na condição de “ser” e de “estar” dos sujeitos tanto da metrópole como das colônias. A urgência em [res]significar o avassalamento causado pela ação colonial conduzia a temática da literatura dos países de expressão portuguesa em África. Os modos de produção das literaturas de expressão lusófona estão, nesse instante da história, vinculados a dois eixos fundamentais: o primeiro é que o espaço a ser habitado, e a partir do

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qual se efetuará uma efetiva produção de sentido artístico, é o espaço da guerra. Depois, os temas que recorrem nessas produções são, unissonamente, os de resistência e exaltação do espectro do nacionalismo dos países surgentes, após o início da organização das Frentes de Libertação das nações africanas. Esse período trará uma profícua produção em países como Angola, Cabo Verde e Moçambique, o que não significa que tal embate entre os sujeitos sociais e a História que lhes cabe, e ainda a exaltação de referentes nacionais, garantirá uma qualidade intrínseca às obras literárias. A partir de pesquisa bibliográfica e de cotejamamento históricio-ficcional da obra do autor, com base nos estudos culturais de Bhabha (2007), Said (2005) e Hall (2003); e em noções da AD francesa, Pêcheux (1983) e Orlandi (1990), objetiva-se evidenciar os sentidos advindos da poética de Knopfli que mostra um sujeito híbrido e cindido. A desfronteirização espacial e a habitação de lugares que propulsam uma memória mais contundente que alentadora, latentes em sua estética, fogem à materialização do senso comum. A presente investigação traz uma reflexão sobre Rui Knopfli, poeta afro-lusitano, nascido em Moçambique, que evidencia ao largo de sua obra a significativa construção de um sujeito poético dividido entre África e Portugal. Palavras-chaves: Rui Knopfli; poesia; discurso; sujeito; hibridismo.

COMO E O QUE ENSINAR EM LP: A CONCEPÇÃO DE LÍNGUA DO SUJEITO-PROFESSOR

A PARTIR DA MATERIALIZAÇÃO DE UM PLANO DE AULA

Rafaela Kessler Kist UFPR

O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa em desenvolvimento intitulada Concepções e representações de língua nas práticas de ensino de professores de língua portuguesa. Este trabalho, realizado sob a ótica da análise de discurso de linha francesa, a partir do recorte feito, tem como objetivo identificar as representações que o sujeito-professor de LP do Ensino Fundamental II, da cidade de Curitiba, tem sobre como e o que ensinar em língua portuguesa a partir da materialização de um plano de aula que trabalha um conteúdo gramatical. Essa pesquisa tem como corpus cinco planos de aula elaborados por cinco professores de LP da cidade de Curitiba, além de anotações feitas pela pesquisadora das aulas assistidas durante a aplicação desse plano de aula. Por meio do dispositivo de análise, o estudo deu corpo ao processo discursivo que apresenta as concepções de língua(gem) a que o sujeito-professor se filia e que produz efeitos na sua prática-pedagógica em sala. Portanto, observamos que a constituição da prática de ensino de LP, construída historicamente, tem implicações diretas na prática pedagógica do sujeito-professor / na compreensão da noção de língua e gramática do sujeito-professor / e na forma como o ensino de LP se materializa no ensino básico. Disso, percebemos que a posição na qual o sujeito-professor de LP se inscreve é uma posição marcada pela pluralidade / heterogeneidade na qual ressoam esses diferentes saberes e vozes. Palavras-chave: Análise de Discurso; ensino de língua portuguesa; concepção de língua; prática-pedagógica.

A DISCURSIVIZAÇÃO DO CORPO NA ARTE

Renata Marcelle Lara UEM

Corpos que têm história(s) e são história(s), investidos de historicidade... que carregam as marcas de suas/outras tragédias pessoais e familiares. Corpos dilacerados, entrelaçados, segregados. Estes corpos que discursivizam (na) arte, tomados para análise na minissérie brasileira Justiça (2016), des[re]integrados às regras jurídico-sociais, são confrontados a “falhá-las”, em um contínuo (des)pertencimento à regulação e ao regimento. Ao se referir à forma-sujeito como sendo “a forma de existência histórica de qualquer indivíduo, agente das práticas sociais”, Althusser (Observação sobre uma categoria: “Processo sem sujeito nem fim (s)”, 1973, p. 67, grifos do autor), esclarece que “[...] as relações sociais de produção e de reprodução compreendem necessariamente, como parte integrante,

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aquilo que Lênin chama de ‘relações sociais jurídico-ideológicas’, as quais, para funcionar, impõem a todo indivíduo-agente a forma de sujeito”. É pela discursivização desses corpos em relações jurídico-sociais-ideológicas em processo artístico que os observo analiticamente, na minissérie, na contradição de sentidos (im)possíveis para “justiça”, e indago como, na condição de corpos-sujeitos-discursivos – ao mesmo tempo discurso e forma de subjetivação e, para além de seu habitar, “como sendo o próprio sujeito” (FERREIRA, cap. de Oficinas de análise do discurso: conceitos em movimento, 2015, p. 15) –, dizem sobre si e o outro, na relação com a Justiça como instituição e prática institucional e social de assujeitamento destes corpos-sujeitos. O recorte analítico da minissérie em torno da discursivização do corpo na arte faz parte de um percurso analítico mais amplo da minissérie realizado pelo GPDISCMÍDIA-CNPq/UEM – Grupo de Pesquisa em Discursividades, Cultura, Mídia e Arte da Universidade Estadual de Maringá e integra minhas pesquisas do Projeto “Imagens-visuais e projeções imaginárias de sujeitos em materiais artísticos e midiáticos” (UEM, 2016-2019).

Palavras-chave: Corpo discursivo; minissérie; justiça.

A CONSTRUÇÃO DOS ‘SUJEITOS BRASILEIROS’ NA ENUNCIAÇÃO DE GETÚLIO VARGAS: UMA ANÁLISE SEMÂNTICO-ENUNCIATIVA

Renata Ortiz Brandão

UNICAMP Este trabalho propõe apresentar uma análise semântica da enunciação de Getúlio Vargas ao tomar a palavra enquanto presidente em seus pronunciamentos de posse em 1930, 1937 e 1951. Nesta análise, observamos como Vargas, enquanto locutor-presidente, produz sentidos para si próprio e para os sujeitos brasileiros ao nomeá-los, inscrevendo-os nos fios do seu dizer. Buscamos compreender os modos de identificação do sujeito pelo Estado e de construção da relação entre governante e governados, a partir da enunciação do locutor-presidente. O estudo está ancorado na Semântica do Acontecimento, que assume uma posição materialista sobre o funcionamento da linguagem, e dialoga, por essa via, com a Análise de Discurso de filiação francesa. Nessa perspectiva, se busca compreender os movimentos políticos das palavras nos gestos de afirmação no dizer e em sua inscrição em posições ideológicas presentes na sociedade, entendendo que a tomada da palavra se dá por uma disputa de lugares e sentidos, o que produz efeito sobre o real. Nossos resultados mostram que há um litígio que significa na designação de povo brasileiro e brasileiros: tais nomeações vão construindo no dizer uma coletividade constituída por partidários ao Governo e da qual não fazem parte os opositores a Getúlio Vargas. O locutor-presidente produz partições no povo e exclui os contrários daquilo que se constrói enunciativamente como a coletividade dos sujeitos brasileiros na sua relação com o Estado. Ao mesmo tempo, a tomada da palavra pelo locutor nos diferentes modos de estar chefe de Estado constrói um conjunto de imagens para Getúlio Vargas, enquanto governante, por nomeações que o apresentam ora como o que tem autoridade, porque apoiado pelas Forças Armadas, ora como o que a tem porque fala em nome do povo brasileiro e porque está submetido a ele. No entanto, o seu dizer, pela designação de povo brasileiro e brasileiros, aponta a submissão na direção contrária, isto é, dos sujeitos brasileiros ao governo, colocados no lugar da subserviência e da veneração a Vargas. Esse movimento dos sentidos produz efeitos na construção de sentidos para a República, tal como se constituiu no Brasil durante a Era Vargas. Palavras-chave: Sujeitos brasileiros; enunciações presidenciais; era Vargas; semântica.

RETROSPEÇÃO E PROJEÇÃO NOS CONCEITOS DE ARGUMENTAÇÃO, ARGUMENTATIVIDADE E PERSPECTIVAÇÃO EM TEXTOS SOBRE A ESCRAVIDÃO EM

SÃO CARLOS.

Soeli Maria Schreiber da Silva UFSCAR

Esse estudo insere-se no projeto FAPESP 2015/16397-2. Desenvolveu-se na Unidade de Estudos Históricos, Políticos e Sociais da Linguagem.Na Semântica Argumentativa, Ducrot (1987; 1999)

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privilegiou o estudo da argumentação na língua, distanciando-se de um saber já produzido na retórica. Nesse sentido, temos como objetivo trabalhar o desdobramento da noção de argumentação de Ducrot e Anscombre (1983) para a noção de argumentatividade de Eduardo Guimarães (2013). Pretendemos ainda trabalhar com o conceito de perspectivação de Luiz Francisco Dias. Na construção da Teoria da Argumentação na Língua Ducrot e Anscombre, tratavam do encadeamento argumentativo. Já Guimarães (2013) trata da argumentação e da argumentatividade com base no conceito de memorável e de cena enunciativa que se insere na Teoria da Semântica do Acontecimento (Guimarães,2002). Dias (2012), por sua vez, faz uma leitura enunciativa das relações sintáticas mostrando como há a reconstrução do passado e como aparece esse reenquadramento. Nesse modo de analisar os sentidos, a argumentação é tratada como perspectivação. Pretendo operar com esses conceitos em recortes sobre a escravidão em São Carlos. Palavras-Chave: Enunciação; argumentação; argumentatividade; perspectivação.

MAKSIM GORKI. - МАКСИМ ГОРЬКИЙ

Tanira Castro

UFRGS

Maksim Gorki (em russo: Максим Горький), pseudônimo de Aleksei Maksimovich Peshkov (em russo: Алексей Максимович Пешков; Nijni Nóvgorod, 28 de março de 1868 – Moscou, 18 de junho de 1936). Foi um importante escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo. Gorki foi escritor de escola naturalista que formou uma espécie de ponte entre as gerações de Tchekhov e Tolstoi, e a nova geração de escritores soviéticos. Nasceu em um meio social pobre, em Nizhny Novgorod, cidade que em 1932 passou a se chamar Gorki por ordem de Stalin. O nome da cidade foi revertido para o nome original novamente em 1991. Órfão de pai, foi criado pelo avô materno que era tintureiro. Em 1878 quando sua mãe faleceu teve que deixar a casa do avô para ir trabalhar. Foi sapateiro, desenhista, lavador de pratos num navio que percorria o Volga, onde teve contato com alguns livros emprestados pelo cozinheiro, o que acabou despertando sua consciência política.

Palavras-chave: Literatura russo-soviética, biografia, lutas sociais, consciência política.

CICLO DE VIDA DOCENTE EM DISCURSO: MAL-ESTAR E PERMANÊNCIA

Valéria da Silva Silveira UFRGS

O estudo sobre o qual discorro, aqui, tem por objetivo analisar o discurso pedagógico a fim de melhor compreender os modos e mecanismos de constituição das identidades docentes em diferentes ciclos de vida dos educadores e seus efeitos de permanência. Apresentarei o resultado parcial de uma pesquisa nascida a partir de uma inquietação, pois, atuando como supervisora escolar e ouvindo depoimentos de professores no meu dia a dia de trabalho, percebi que a vida do docente em atividade passa por diferentes ciclos. Tal descoberta, transformada em hipótese, justifica a necessidade de uma pesquisa cuja principal finalidade é a busca de compreensão dos sentidos de docência que reverberam em enunciados desde a consideração dos ciclos de vida. O termo “ciclo de vida docente” está sendo utilizado no sentido que Michel Huberman, Maurice Tardif e Danielle Raymond conferem a ele. Para Huberman, ele corresponde ao tempo de envolvimento do docente com o magistério e às diferenças nas relações de pertencimento estabelecidas ao longo desse tempo. Para Tardif e Raymond, o ciclo de vida do docente inicia quando ele é aluno e tem a imagem do que é o ser professor, dessa forma, o desenvolvimento profissional é associado tanto às fontes e aos lugares de aquisição do saber quanto aos momentos e às fases de construção a ele associados. Como caminho teórico-metodológico, sigo, na qualidade de principal base referencial, a Análise de Discurso de tradição francesa fundada por Michel Pêcheux. Nesses termos, busco surpreender os sentidos que ressoam do discurso docente, destacando flutuações ou movências dos mesmos as quais apontam para sua heterogeneidade. A partir das análises feitas, percebi, nas posições assumidas pelas professoras, traços difusos do mal-estar docente e diferentes condições de permanência. Os sentidos dominantes compõem uma família parafrástica em torno de uma Formação Discursiva Pedagógica de Mal-estar que representa o modo como os professores são falados numa sociedade em que as políticas

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públicas investem menos na educação. Todavia, outros sentidos tocam as margens dessa FD, o que me autoriza a especular que uma Formação Discursiva Pedagógica de Resistência se conflite com aquela: as professoras enunciam dificuldades e desânimos, mas, independentemente do estádio em que se encontram, elas mantêm o vínculo com o magistério. Palavras-chave: Discurso; docente; ciclos; Michel Pêcheux.

A NOÇÃO DE ORTOGRAFIA E OS EFEITOS DE SENTIDOS DA (ORTO) GRAFIA

Valéria de Cássia Silveira Schwuchow

UFSM

Propomos, neste trabalho, uma reflexão acerca de uma (orto) grafia, tomada como um objeto simbólico que (re) produz efeitos de sentidos significando por/para sujeitos em suas produções orais e escritas. Para tanto, consideramos analisar como se dá a formulação da noção de ortografia em discursos sobre a língua, para isso compomos um arquivo com textos portugueses que abordam a questão ortográfica, datados a partir do século XV até o início do século XXI. Com base na leitura desse arquivo, selecionamos: “Bases da Ortografia Portuguesa” (Viana & Abreu, 1885), por trazer esse um debate científico a respeito da reforma ortográfica estabelecido em um discurso que manifesta uma noção de Língua em processo de legitimação. Temos que a ortografia fora formulada em um discurso reformista que, almejando a união dos sujeitos e da nação, justificava-se pela defesa de um padrão para a língua pela forma escrita, o que asseguraria a exclusão da divisão dos sujeitos. Ao mesmo tempo em que se almejava o controle, por parte de Portugal, ainda que ilusório, da Língua, observamos a crescente independência linguística das colônias, especialmente do Brasil, pelo desenvolvimento de gramáticas e dicionários. Ademais, comumente relacionada ao bem escrever e ao correto, a ortografia rompe, no objeto, em uma formulação que propõe implicação com a Língua – conceituada pelo viés científico –, assumindo, portanto, um caráter que possibilita a produção do conhecimento. Do que foi dito, ressaltamos a (orto) grafia como parte de uma política de Língua que constitui e dividi os sujeitos e, acerca da ortografia, teríamos outra divisão, a da língua, dado que, conforme a teoria a qual nos filiamos, a noção de língua permite compreender uma escrita a partir da norma e a partir do uso. Destacamos, por fim, que mobilizamos duas teorias: a Análise de Discurso Francesa, por meio dela, propomos um olhar sobre o processo discursivo; e a História das Ideias Linguísticas, essa nos dá subsídios para a discussão da produção de uma escrita para a língua no Brasil, fato esse que resulta na instituição da Língua Nacional Brasileira, ressoando em efeitos de sentidos na ortografia.

Palavras-Chave: Ortografia; (orto) grafia; língua; sujeito.

Pôster

UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE O DOCUMENTÁRIO “LOS MONSTRUOS DE MI CASA”

Ana Paula Alves Correa UFSM

Neste estudo, buscamos analisar como se dá o processo de construção do significante “monstro” no documentário Los monstruos de mi casa produzido na Espanha, em 2010. Este, aqui tomado como nosso corpus e/ou objeto discursivo, carrega em sua textualidade, o deslize e o movimento de sentidos sobre o “monstro”, uma vez que se trata de um documentário sobre abuso, maus-tratos e negligência

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infantis, relatados por adultos que sofreram tais violências na infância e por crianças que também foram vitímas desse “monstro. Para nós, norteados pela Análise de Discurso de Linha Francesa, a questão é central para compreendermos que, como discurso, o “monstro” é sempre uma construção, portanto, é de ordem histórica, ideológica e simbólica, no confronto e duplo atravessamento do sujeito, pelo real da língua e pelo real da história. Visamos entender como se produz, se organiza e se movimenta o discurso sobre o “monstro”, a partir do referido documentário. Palavras-chave: Discurso sobre; documentário; imaginário; sujeito.

UM OLHAR SOBRE OS DISCURSOS DE MULHERES EM CONDIÇÃO DE REGIME SEMIABERTO: ENTRE O PRESO E O LIVRE E ENTRE O CÁRCERE E A RUA

Andressa Brenner Fernandes

UFSM Este trabalho tem como objetivo investigar as posições discursivas ocupadas pelas mulheres no regime semiaberto e, por consequência, a imagem que elas fazem de si mesmas. Para tanto, trabalhamos com recortes do documentário O Cárcere e a Rua (2004), de Liliana Sulzbach, o qual elegemos como nosso objeto de análise. O Cárcere e a Rua apresenta discursos de mulheres que cumprem pena no regime semiaberto, no Albergue Feminino (SUSEPE), localizado em Porto Alegre-RS. Nesse sentido, a fim de contemplar nosso objetivo, ancoramos este estudo nos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso. Tomamos o documentário enquanto texto. Enquanto uma unidade que se abre para diferentes possibilidades de leitura, que mostram o processo de textualização do discurso.

Palavras-chave: Análise de Discurso; sujeito; documentário; mulheres em cárcere.

A PALAVRA ESTATUTO EM DICIONÁRIOS: ALGUNS EFEITOS DE SENTIDO

Andressa Marchesan UFSM

Neste trabalho, propomos um estudo sobre algumas possibilidades de sentidos de “estatuto”, a partir de diferentes dicionários da língua portuguesa. Como afirma Orlandi (2008, p. 51), o sentido “é instável, [...] não dura”, “o que há são efeitos de sentido” (Ibid., p. 49). Os sentidos de “estatuto” são instáveis, suscetíveis a alterações, sob diferentes condições de produção e diferentes momentos sócio históricos, e isso é o que pretendemos explicitar neste estudo. É a Análise de Discurso de linha francesa que dá sustentação teórico-metodológica para este trabalho. Nosso objetivo é explicitar se a palavra “estatuto” apresenta acepções divergentes ou semelhantes entre os diferentes dicionários estudados, constituindo uma ou mais redes de sentidos, e também pretendemos dar ênfase ao “efeito palavra-puxa-palavra” (PETRI; SCHERER, 2016) que constitui possíveis trajetos de leitura e auxilia na definição de sentidos, como o sentido estudado. Os resultados obtidos são ainda parciais e estão em processo de estudo.

Palavras-chave: Análise do discurso; estatuto; sentidos; dicionários.

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A INTRADUZIBILIDADE DA ‘PALAVRA VIVA’

Camila Faustino de Brito UFRGS

O objetivo deste estudo é apresentar as dificuldades na tradução – sob uma perspectiva da análise do discurso – do texto “Palavra Viva: Isegoria e a Política da Deliberação na Rússia Revolucionária” de Craig Brandist, publicado em uma Coletânea de artigos sobre a “palavra viva”. O texto foi traduzido por mim e pela Prof. Dra. Tanira Castro sob revisão e supervisão da Prof. Dra. Ana Zandwais, sendo publicado na Revista Conexão Letras. A análise será focada nos termos gregos e russo que apresentaram dificuldades para a tradução em português por carregarem sentidos de dois contextos históricos – o da democracia ateniense e o da “palavra viva” na Rússia pós-revolucionária; assim, buscarei trazer a acepção dos termos dentro de cada contexto histórico. O suporte teórico estará pautado em alguns aspectos de intraduzibilidade, conforme discutido por Miriam Brum de Paula, a fim de analisar a complexidade tradutória dos conceitos em questão.

Palavras-chave: “Palavra viva”; tradução; contextos históricos.

“LEVANDO O AMOR DE DEUS A TODOS, SEM PRECONCEITOS”: O PROJETO DE DIZER DA PÁGINA INSTITUCIONAL DA IGREJA CRISTÃ CONTEMPORÂNEA.

Eduardo Soares da Cunha

PPGL- UFPel

Propomos, neste trabalho, apresentar os resultados parciais de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas. Tal pesquisa visa analisar a página institucional da Igreja Cristã Contemporânea, dando uma especial atenção ao seu projeto de dizer. A instituição insere-se no movimento de teologia inclusiva e propõe a aceitação de sujeitos não aceitos em outros espaços religiosos. Considerando a importância que as novas mídias da comunicação exercem na atualidade, nos interessa verificar de que modo, através desses espaços virtuais, a instituição promove a inclusão desses sujeitos, em especial no que se refere aos LGBTTs. A realização de uma análise prévia mostrou que a página recorre a gêneros discursivos diversos na elaboração do projeto, mas todos convergindo para a mesma vontade de dizer. Para realização da pesquisa, partiremos das contribuições da Análise Dialógica do Discurso (ADD).

Palavras-chave: Análise Dialógica do Discurso; igrejas inclusivas; página institucional; projeto de dizer.

(EX) CULTURA NA HUNGRIA: O CASO DO SZOBORPARK

Evandro Oliveira Monteiro UFRGS

Este trabalho tem como objeto o Szoborpark, um parque localizado em Budapeste, criado para abrigar estátuas ditas como relacionadas à ideologia comunista, que vêm sendo removidas das principais regiões da cidade desde 1989. Segue-se a perspectiva arqueológica foucaultiana sob o viés da Análise do Discurso de Michel Pêcheux. A partir disso, o Szoborpark passa a ser visto como arquivo, (des)

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articulador de sentidos, ou, conforme Foucault, como um sistema de regência de (não-) dizeres. Ao buscar evidenciar o caráter ideológico do arquivo, conforme estudos pecheutianos, recorre-se ao delineamento das condições de produção, e considera-se, parcialmente, o que Althusser caracteriza como a hegemonia sobre o Aparelho Ideológico de Estado por parte da(s) classe(s) que detém o poder estatal: 1. no período stalinista e pós-stalinista, aplicação e exaltação de figuras relacionadas à ideologia comunista e 2. atualmente, as classes centro-direita e extrema direita, que visam o silenciamento dessa parte da história do país. Palavras-chave: Ideologia; Análise do Discurso; arquivo.

QUANDO O SUJEITO ADOLESCENTE É INTERPELADO PELA NECESSIDADE DE ESCOLHA POR UMA PROFISSÃO: UMA REFLEXÃO ACERCA DE CONDIÇÕES DE

PRODUÇÃO

Francine Rocha de Freitas UFSM

Objetiva-se, através da presente proposta de trabalho, apresentar uma reflexão acerca do discurso do sujeito adolescente, concluinte de Ensino Médio, levando em conta as condições de produção da necessidade de escolha profissional. Entende-se por escolha profissional, como não restrita à escolha por um curso superior, mas ao momento em que o sujeito é interpelado socialmente a fazê-la, saindo da posição-aluno de Ensino Médio. Novos modelos de vinculação ao trabalho, decorrentes de mudanças nas organizações do trabalho e de mecanização, evidenciam profunda alteração na relação do homem com o próprio trabalho e com seu projeto de vida, o que culminou na questão de pesquisa: “Que efeitos de sentido a necessidade de escolha de uma profissão produz no discurso do sujeito adolescente?”, que constitui o projeto de Mestrado da autora, vinculado à linha de pesquisa “Língua, Sujeito e História” do PPGL/UFSM, e que busca como suporte teórico a análise de discurso pêchetiana.

Palavras-chave: Discurso do sujeito adolescente; condições de produção; posição-aluno.

DÊITICOS E ENUNCIAÇÃO: A DISCRIMINAÇÃO EXPRESSA NA LINGUAGEM

Luise Frantz Veronez UFPEL

Poucos dias após assumir o posto de comandante da tropa de elite da polícia militar de São Paulo, em agosto de 2017, o tenente-coronel Ricardo Araújo concedeu uma entrevista na qual anunciou que os policiais deveriam “adaptar-se às realidades”, diferenciando abordagens ao cidadão em relação à região onde elas acontecem. O teor da sua declaração fere a Constituição Brasileira, mas visa justificar possíveis ações por meio da força. Neste trabalho, que segue os pressupostos de Benveniste, procurou-se identificar marcas dêiticas de pessoa utilizadas pelo locutor para referir a si e aos demais envolvidos, delimitando uma oposição nós/eles, bem como os indicadores de lugar que exprimem a separação aqui/lá, revelando sua posição de proximidade/identidade com a população que circula em zonas mais nobres e a diferenciação do tratamento de acordo com a região onde a pessoa é abordada. Deste modo, a dêixis aponta os pré-conceitos/preconceitos que movem a ação policial.

Palavras-chave: Dêiticos; locutor; formas de tratamento.

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O PAPEL DO PROFESSOR/PESQUISADOR NA DISCIPLINARIZAÇÃO DA LINGUÍSTICA NO BRASIL

Luisele Munekata de Castro UFSM

Thaynara Luiza de Vargas UFSM

O presente trabalho adota como perspectiva teórica a Historia das Ideias Linguísticas (HIL) em relação com a Análise de Discurso (AD). Esta pesquisa tem por objetivo compreender o processo de disciplinarização de uma ciência, especificamente, a linguísica; refletir sobre o papel do professor/ pesquisador na disciplinarização de uma ciência/teoria e analisar as ressonâncias das obras do professor/pesquisador Aryon Rodrigues nos estudos linguísticos. Aqui, buscamos apresentar nosso primeiro olhar acerca da contribuição do professor Aryon Rodrigues, primeiro brasileiro a obter o título de doutorado em Linguística; Para tanto, em um primeiro momento, buscamos compreender o período entre as décadas de 30 e 60 do século XX, em que a Linguística foi introduzida e desenvolvida no Brasil; em um segundo momento, buscamos compreender o processo de disciplinarização de uma determinada ciência/teoria; e em um terceiro momento, realizamos leituras acerca da vida e de algumas obras do professor/pesquisador Aryon Rodrigues.

Palavras-chave: Disciplinarização; História das Ideias; arquivo.

AS CARTILHAS PARA ALFABETIZAÇÃO NO ESTADO NOVO Raquel Sawoff

UFRGS As cartilhas elaboradas no Estado Novo apresentam conteúdo e ilustrações que caracterizam um tom oficial através dos textos e das cores nacionais: verde-amarelo. A tônica governamental é apresentada através de determinados símbolos que se revelam como pontos estratégicos, voltados para a nação. Um dos traços que marcam o regime Vargas é o acirrado controle dos meios de comunicação e dos materiais didáticos, envolvendo, deste modo, o campo das idéias. A realização de processos como a “queima de bandeiras” de municípios e Estados simbolizando a defesa da unidade nacional e o controle das identidades dos imigrantes caracterizam práticas de seu governo. Pela ambigüidade de suas práticas, este regime de governo consegue ainda agregar tantas análises realizadas em torno de suas deliberações bem como a curiosidade sobre as formas através das quais o Ministério de Educação intervém sobre as formas de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Cartilhas no Estado Novo; regime Vargas; controle de aprendizagem.

UMA ANÁLISE DISCURSIVA SOBRE AS PRODUÇÕES DE NEUSA MARTINS CARSON

Thaís Costa da Silva UFSM

Este trabalho está vinculado ao projeto de mestrado “Reflexões sobre a produção do conhecimento: ‘arquivos como lugar de memória’”, coordenado pela professora Verli Petri (UFSM). O trabalho, ainda em fase inicial (e com resultados parciais), tem por finalidade constituir uma análise que contemple os processos de produção do conhecimento sobre a língua, a história e o sujeito, nos textos científicos de Neusa Martins Carson (linguista santa-mariense), que teve uma importante contribuição para a linguística

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das línguas indígenas da América do Sul. As pesquisas desta autora contribuíram também para a constituição do que hoje denominamos a história da Linguística no Sul do Brasil e para além dele. Sendo assim, a partir de uma perspectiva discursiva em relação com a História das Ideias Linguísticas, serão analisados documentos concernentes ao Fundo Documental Neusa Carson, sob a guarda do Laboratório Corpus, especialmente os que tocam à descrição de línguas indígenas e às reflexões teórico-analíticas que desta descrição decorrem, o que certamente nos auxiliará a compreender a concepção de língua em suas produções científicas.

Palavras-chave: Arquivo; memória; história da Linguística no Rio Grande do Sul.

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