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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ENGENHARIA INVESTIGAÇÃO DO COMPROMETIMENTO BIOMECÂNICO DOS TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA DE BORRACHA Dionéia de Quevedo Pereira Porto Alegre, janeiro de 2004.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA

MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ENGENHARIA

INVESTIGAÇÃO DO COMPROMETIMENTO BIOMECÂNICO DOS

TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA DE BORRACHA

Dionéia de Quevedo Pereira

Porto Alegre, janeiro de 2004.

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Dissertação submetida ao Programa de Mestrado Profissionalizante da Escola de

Engenharia como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Engenharia,

Modalidade Profissionalizante – Ênfase em Ergonomia

INVESTIGAÇÃO DO COMPROMETIMENTO BIOMECÂNICO DOS

TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA DE BORRACHA

Dionéia de Quevedo Pereira

Orientador: Professor Dr. Fernando Gonçalves Amaral

Banca Examinadora:

Professor Dr. Benno Becker Junior

Professor Dr. Paulo Antônio Barros de Oliveira

Professora Drª Thais de Lima Resende

Porto Alegre, janeiro de 2004.

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Este Trabalho de Conclusão foi analisado e julgado adequado para a obtenção do título

de Mestre em Engenharia e aprovado em sua forma final pelo Orientador e pelo

Coordenador do Mestrado Profissionalizante em Engenharia, Escola de Engenharia -

Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

_________________________________________

Prof. Dr. Fernando Gonçalves Amaral

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Orientador

_________________________________________

Profª. Karen Maria Schmitt, Dra.

Coordenadora MP - EE / UFRGS

Banca Examinadora:

Professor Dr. Benno Becker Junior

UNIVERSIDADE DE CORDOBA ESPANHA

Professor Dr. Paulo Antônio Barros de Oliveira

CEDOP/UFRGS

Professora Dra. Thais de Lima Resende

UNISINOS

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de conclusão aos meus pais, que foram os que realmente me

deram condições de continuar.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu amigo Atenante Normam e à sua esposa Suzana, que me acolhiam

no aconchego do seu lar em madrugas dos finais de semana, que era o único momento em que

podíamos estar juntos para estudar e concluir os trabalhos que nos eram solicitados. Muito

obrigada por tudo, Atenante.

Agradeço, também, à minha amiga Letícia que muito esteve conosco nas madrugadas

de trabalho e sempre tinha uma palavra de força.

Agradeço ao meu orientador, professor Amaral, pelos puxões de orelha, pelas

palavras de incentivo e principalmente por ter possibilitado este trabalho, mostrando-me o

caminho. Obrigada. Pude contar com o apoio técnico dos colegas André e Gustavo, muito

obrigada.

Agradeço, também, às minhas irmãs, pelo incentivo, ajuda e, é claro, pelo empréstimo

dos equipamentos, valeu.

E por fim, um agradecimento muito especial ao amigo e colega Antônio que sempre

esteve ao meu lado, nos momentos mais difíceis. E, também, por estar com seu trabalho

garantindo que eu pudesse me ausentar, mesmo que por alguns momentos, para me dedicar a

este estudo, MUITO OBRIGADA.

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RESUMO

Este trabalho de pesquisa é de natureza investigativa e teve por objetivo avaliar os fatores Biomecânicos presentes em um setor específico de uma indústria da borracha, buscando caracterizar os fatores que influenciam no desenvolvimento de distúrbios osteomusculares. Para tanto, fez-se uso de uma estrutura metodológica com foco na análise das posturas adotadas durante a execução do trabalho. A amostra consta de três postos de trabalho. A demanda inicial foram os casos de distúrbios osteomusculares no setor. Para investigação inicial, utilizou-se o Diagrama de dor/desconforto de Corlett. Após, foram feitas filmagens e foi aplicada a escala subjetiva de percepção do esforço de Borg, finalizando a coleta de dados com a medida do tempo de permanência nos postos, versus dor/desconforto. Através dos dados coletados, foi possível estabelecer um comparativo entre os três postos analisados e concluir que os três tipos de postos apresentam importantes comprometimentos do ponto de vista da ergonomia e que o posto denominado posto do tipo B é o que apresenta um índice de penosidade mais elevado. Por fim, como indicações futuras, no que se refere à metodologia, entende-se que é adequada para este tipo de análise, porém não encerra o assunto, pois não abrange outros aspectos da ergonomia como organização do trabalho, aspectos físico-ambientais. No que diz respeito à empresa, indica-se: um rodízio entre estes postos, pausas organizadas e preestabelecidas, bem como um redesenho do processo em geral.

Palavras-chave: Análise Ergonômica, indústria da borracha, manufatura, Lesões por Esforço Repetitivo(LER) / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

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ABSTRACT

This research work is investigative and has as objective: to evaluate the biomechanical factors that there are in a specific sector of a rubber industry, to try to characterize the factors that influence the development of osteomuscular disorders. It was used a methodology focusing on the analysis of the postures taken during the work. There are three work points that compound the sample. The initial investigation it was used the Corlett pain and discomfort diagram. After that, it was filmed some situations, applied the subjective scale of Borg effort perception, and to end the data collecting, it was done a measuring of the time of permanence at these points versus pain and discomfort. By the results it was possible to establish a comparison between the three points that were analyzed and to conclude that they show important problems from the ergonomic point of view and that Point B is the one that shows a higher level of painfulness. So, in relation to the methodology it is understood that it is appropriate for this kind of analysis, but it is not enough once it does not enclose other aspects of the ergonomics like work organization and environmental and physical aspects. Concerning the company it is indicated a rotation between the points, scheduled and pre-established breaks as well as a new design of the process in general.

Keywords: ergonomic analysis, rubber industry, manufacture, Repetition strain injuries (RSI) / Cumulative trauma disorders (CTD).

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................10

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................13

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 14

1.1.APRESENTAÇÃO 14

1.2.OBJETIVOS 16

1.2.1. Objetivo Geral 16

1.2.2. Objetivos Específicos 16

1.3.JUSTIFICATIVA 17

1.4.DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 18

1.5.ESTRUTURA DO TRABALHO 18

CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20

2.1. LER/DORT 20

2.1.1. Epidemiologia dos DORT/LER 22

2.1.2. Tipos de LER/DORT 24

2.1.3. Estágios da LER/DORT 26

2.1.4. Etiologia 28

2.1.5. LER/DORT e Trabalho 30

2.2. BIOMECÂNICA OCUPACIONAL 32

2.2.1. Força 33

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8

2.2.2. Repetitividade 34

2.2.3. Compressão Mecânica 36

2.2.4. Posturas 37

2.3. PAUSAS 43

2.4. ROTAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO 45

2.4.1. Implantação de Rotação de Postos de Trabalho: Demanda, Estrutura e Etapas 47

2.4.2. Os Prós e os Contras da Rotação de Postos de Trabalho 50

CAPÍTULO III – METODOLOGIA 53

3.1. ANÁLISE DA DEMANDA – 1ª ETAPA 53

3.2. APRECIAÇÃO ERGONÔMICA – 2ª ETAPA 54

3.3. ANÁLISE ERGONÔMICA – 3ª ETAPA 55

3.4. DIAGNÓSTICO E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS – 4ª ETAPA 55

CAPÍTULO IV – RESULTADOS 56

4.1. DESCRIÇÃO DA EMPRESA 56

4.2. ANÁLISE DA DEMANDA 56

4.3. APRECIAÇÃO ERGONÔMICA 57

4.3.1. Análise do Processo 57

4.3.2. Identificação dos Sintomas de Dor/Desconforto 60

4.4. ANÁLISE ERGONÔMICA 65

CAPÍTULO V – CONCLUSÕES 82

5.1. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA METODOLOGIA 82

5.2. CONSIDERAÇÕES A RESPEIO DOS RESULTADOS 83

5.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 90

5.4. INDICAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS 92

5.4.1. Referentes à Metodologia 92

5.4.2. Referentes à Empresa 92

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REFERÊNCIAS 96

APÊNDICE 103

ANEXO 105

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10

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 : Relação entre os fatores biomecânicos e as lesões....................... 21

Figura 02 : Distribuição de Doenças Ocupacionais no Brasil (1982 à

1997).............................................................................................

23

Figura 03 : Principais Desordens dos membros superiores e seus fatores

ocupacionais.................................................................................

25

Figura 04 : Modelo para compreensão do risco.............................................. 30

Figura 05 Repetitividade em relação às partes do corpo.............................. 35

Figura 06 : Fadiga dos músculos extensores do pescoço versus ângulo de

inclinação da cabeça.....................................................................

42

Figura 07 : Organização da articulação das funções....................................... 50

Figura 08 : Seqüência detalhada das etapas da metodologia.......................... 54

Figura 09 : Esquema dos postos de trabalho analisados................................. 57

Figura 10 : Postos de trabalho analisados....................................................... 58

Figura 11a : Posto de trabalho tipo A............................................................... 58

Figura 11b : Posto de trabalho tipo A .............................................................. 58

Figura 12a : Posto de trabalho tipo B .............................................................. 59

Figura 12b : Posto de trabalho tipo B............................................................... 59

Figura 13 : Posto de trabalho tipo C............................................................... 59

Figura 14 : Aplicação do diagrama dor/desconforto de Corlett- posto de

trabalho tipo A .............................................................................

61

Figura 15 : Aplicação do diagrama dor/desconforto de Corlett- posto de

trabalho tipo B..............................................................................

63

Figura 16 : Aplicação do diagrama dor/desconforto de Corlett- posto de

trabalho tipo C..............................................................................

64

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11

Figura 17 : Classificação das posturas em relação ao pescoço....................... 66

Figura 18 : Classificação das posturas em relação aos ombros...................... 67

Figura 19 : Classificação das posturas em relação aos cotovelos................... 67

Figura 20 : Classificação das posturas em relação às mãos e punhos............. 68

Figura 21 : Escala subjetiva de percepção de força de Borg (1990) adaptada

por Malchaire (1998)....................................................................

69

Figura 22 : Percentual de distribuição de atividades realizadas no posto de

trabalho tipo A .............................................................................

69

Figura 23 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação ao

pescoço, no posto de trabalho tipo A ...........................................

70

Figura 24 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação aos

ombros, no posto de trabalho tipo A ...........................................

71

Figura 25 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação aos

cotovelos, no posto de trabalho tipo A ........................................

71

Figura 26 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação às

mãos e punhos, no posto de trabalho tipo A ................................

72

Figura 27 : Aplicação da escala de Borg – posto tipo A ............................... 72

Figura 28 : Percentual de distribuição de atividades realizadas no posto de

trabalho tipo B..............................................................................

73

Figura 29 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação ao

pescoço, no posto de trabalho tipo B............................................

74

Figura 30 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação aos

ombros, no posto de trabalho tipo B.............................................

75

Figura 31 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação aos

cotovelos, no posto de trabalho tipo B.........................................

75

Figura 32 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação às

mãos e punhos, no posto de trabalho tipo B.................................

76

Figura 33 : Aplicação da escala de Borg – posto tipo B ................................ 76

Figura 34 : Percentual de distribuição de atividades realizadas no posto de

trabalho tipo C..............................................................................

77

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Figura 35 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação ao

pescoço, no posto de trabalho tipo C............................................

78

Figura 36 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação aos

ombros, no posto de trabalho tipo C.............................................

78

Figura 37 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação aos

cotovelos, no posto de trabalho tipo C.........................................

79

Figura 38 : Índice de repetitividade de posturas adotadas com relação às

mãos e punhos, no posto de trabalho tipo C.................................

79

Figura 39 : Aplicação da escala de Borg – posto tipo C ................................ 80

Figura 40 : Comparação entre os índices globais de repetitividade obtidos

com a análise das filmagens dos postos de trabalho.....................

85

Figura 41 Esquema demonstrativo da proposição de rodízio de funções

entre os postos A,B e C................................................................

93/94

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13

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 : Distribuição de LER/DORT e porcentagem destas afecções entre doenças

ocupacionais nos EUA..................................................................................

22

Tabela 02 : Representação em percentagem do esforço muscular relativo a cada parte

do corpo, na manutenção de postura.............................................................

38

Tabela 03 : Diagrama de dor/desconforto de Corlett, média geral por posto..................

84

Tabela 04 : Resultados gerais observados na aplicação da escala de Borg

(1990)............................................................................................................

86

Tabela 05 : Tempo de permanência nos postos de trabalho versus dor/desconforto,

média por posto.............................................................................................

87

Tabela 06 : Valores atribuídos ao posto de trabalho em cada análise, utilizados para a

determinação do índice global de penosidade...............................................

88

Tabela 07 : Resultado da análise para a determinação do índice global de penosidade

dos três postos de trabalho analisados...........................................................

89

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14

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

Atualmente a ciência vem se desdobrando na conquista de medidas promotoras de

qualidade de vida dos indivíduos. Afastando-se do conceito de saúde como mera ausência de

doenças e, lançando mão do entendimento mais holístico do indivíduo, que leva em

consideração suas relações sociais, bem como sua satisfação, a ergonomia mostra-se como

sendo uma ciência que tenta dar conta da demanda de integridade física do indivíduo

principalmente em seu ambiente de trabalho.

Autores como Holnagell (2000) e Moraes e Mont’alvão (2000) enfatizam a condição

multidisciplinar da ergonomia como sendo necessária a fim de atender em maior grau às

necessidades que o indivíduo apresenta. Em sua constituição histórica, se observa a ergonomia

como transitando em uma realidade estritamente física, com demandas físicas dos ambientes

onde as pessoas vivem, adentrando nas questões mais subjetivas, como qualidade de vida,

sofrimento emocional, etc.

Segundo Iida (2002), “a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem”.

Assim, quando o autor se atém ao termo trabalho, não busca referir-se ao trabalho somente

enquanto atividade em que o sujeito se vincula socialmente, buscando sua subsistência via

“venda” de sua mão-de-obra, mas amplia esse termo a toda e qualquer atividade em que o

indivíduo está em ação em determinado momento, interagindo em um campo físico

específico.

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15

Em agosto de 2000, a IEA-Associação Internacional de Ergonomia (ABERGO,

2005), definiu que

a Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.

Assim, a ergonomia busca considerar diversos aspectos do comportamento humano no

trabalho e outros fatores importantes (IIDA, 2002), como o homem, a máquina, o ambiente, a

informação, a organização e a conseqüência do trabalho (stress, fadiga, comprometimento

biomecânico, etc.).

O mesmo autor, quando se refere à ergonomia, faz menção a uma equipe ergonômica,

em que vários saberes são articulados para dar continência às demandas do trabalho e dos

trabalhadores. Assim, exige-se a pluralidade disciplinar, envolvendo fisioterapeutas,

educadores físicos, psicólogos, engenheiros, administradores, médicos, etc., cada um com sua

formação, atentando para as diversas peculiaridades do processo do trabalho.

Para este trabalho de conclusão, salienta-se o papel do fisioterapeuta, como sendo um

empreendedor dos fenômenos biomecânicos associados às práticas de realização do trabalho.

Postura, repetitividade, organização de realização da tarefa e seus devidos comprometimentos

físicos, entre outros, mostram-se como sendo o foco de atenção do fisioterapeuta. Assim, não

desconsiderando as relações organizacionais e o impacto do trabalho na subjetividade dos

trabalhadores, o fisioterapeuta acaba compartilhando atividades com os educadores físicos, a

fim de diagnosticar os maiores focos de comprometimento físico no indivíduo, buscando

estratégias para reduzir a incidências de Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios

Osteosmusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

O processo de comprometimento físico e desencadeante de doenças ocupacionais se

desenvolve devido a fatores como repetição, monotonia, diminuição da autonomia do

trabalhador na programação de seu trabalho, etc. Dessa forma, busca-se junto à intervenção

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ergonômica um olhar ergonômico dos aspectos biomecânicos, atuando sobre esses fatores a

fim de prevenir a incidência de doenças, bem como buscar estratégias de profilaxia.

Este estudo se propôs a realizar uma análise do trabalho aplicando um método para

análise postural que é a base para este estudo. Assim, com essa investigação, buscou-se

averiguar três estações de trabalho, utilizando-se o método de análise de posturas, preconizado

por Malchaire (1998), para detectar se existem riscos que podem afetar a segurança e saúde

dos trabalhadores, sugerindo estratégias administrativas e melhoramento ergonômico para

essas estações.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Investigar os fatores biomecânicos presentes nos postos de trabalho de carimbação e

encaixotamento de borrachas escolares, buscando caracterizar os fatores que influenciam no

desenvolvimento de doenças ocupacionais nos trabalhadores expostos àquelas funções e

propor um índice geral de penosidade para classificar os referidos postos.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Descrever a organização da tarefa de carimbamento e encaixotamento de borrachas

escolares na linha de produção, levando em consideração o desempenho biomecânico

do trabalhador;

• Identificar na função de carimbação e encaixotamento de borrachas escolares os

fatores que expõem os trabalhadores ao desenvolvimento de LER/DORT;

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17

• Quantificar os movimentos realizados pelos trabalhadores para desempenhar a

função de carimbação e encaixotamento de borrachas escolares;

• Quantificar alguns fatores estressores, entre os quais: posturas e repetitividade, com

relação aos membros superiores, tronco e pescoço;

• Comparar os três postos de trabalho que constituem o processo de carimbação e

encaixotamento de borrachas escolares, buscando classificá-los quanto ao grau de

penosidade.

• Propor intervenções administrativo-organizacionais que minimizem o desgaste do

trabalhador ou diminuam a probabilidade de desenvolvimento de doenças

ocupacionais.

1.3 JUSTIFICATIVA

Os distúrbios osteomusculares são responsáveis por grande parte dos afastamentos do

trabalho no Brasil e no mundo. Sendo assim, essas afecções relacionadas ao trabalho

representam um importante grupo de agravos à saúde dos trabalhadores. Trata-se de distúrbios

que seguem crescendo em todo o mundo, com dimensões epidêmicas em diversas categorias

profissionais, apresentando-se sob diversas formas clínicas e de difícil manejo por parte da

equipe de saúde. Dessa forma, os distúrbios músculo-esqueléticos podem gerar diferentes

graus de incapacidade funcional. Além do custo do ponto de vista econômico, é grande o

custo social desse tipo de adoecimento, o que por essas características, gera inquietações e

questionamentos.

Diante disso, fazem-se necessários incessantes esforços de todas as áreas de atuação,

no desenvolvimento de estudos que venham contribuir para a compreensão dos fatores que

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envolvem esse tipo de afecção e que possam gerar mecanismos que auxiliem na busca de

soluções eficazes junto às causas do problema.

1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Este estudo trata de uma investigação ergonômica, com foco essencialmente nos

aspectos biomecânicos, utilizando a estrutura metodológica proposta por Malchaire (1998),

em um setor específico de uma indústria do ramo da borracha.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este estudo segue a seguinte estrutura:

No primeiro capítulo, Introdução, são abordados aspectos de ergonomia, bem como

questões pertinentes ao trabalho, objetivos, justificativa e delimitação do tema.

Seguindo, no segundo capítulo, Revisão da Literatura, é feita uma revisão teórica sobre

o tema LER/DORT, abordando aspectos como: epidemiologia; tipos; estágios; etiologia;

fatores de risco; LER/DORT e trabalho e biomecânica ocupacional. Este último apresenta

vários desdobramentos pertinentes ao estudo em questão. Finalizando este capítulo, é trazido

o tema Rotação de Postos de Trabalho.

O capítulo três, Metodologia, apresenta as etapas metodológicas utilizadas para a

execução deste trabalho.

No Capítulo quatro são descritos, passo a passo, os resultados obtidos a partir do

método proposto, aplicado em um setor específico de uma indústria de borracha.

Finalizando, no quinto capítulo são feitas as considerações a respeito da metodologia e

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19

dos resultados obtidos, mostrando uma discussão dos mesmos e trazendo, ainda, indicações de

estudos futuros no que se refere à metodologia e à empresa.

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20

CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O homem em sua evolução aprendeu a fazer outros usos de sua mão, além daquele tão restrito de apreender objetos. A sensibilidade, o contato, a percepção das formas e projeção da mão como instrumento de conhecimento e transformação do mundo, tendo sido um longo aprendizado que teve correspondência no córtex cerebral. Nesse percurso, a mão deixou de ser meramente um órgão motor para se fazer, também, um órgão de expressão e vontade. O uso ágil, sensível, preciso e coordenado das mãos é talvez a mais acabada construção social, histórica e biológica do homem (LEAVELL; CLARK, 1976).

2.1. LER / DORT

Constituindo uma das mais expressivas e complexas manifestações da morbidade

ocupacional na atualidade, as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) são síndromes clínicas

de origem ocupacional. A nomenclatura pode variar de país para país: na Austrália, RSI –

Repetitive Strain Injury, sua tradução brasileira literal lesões por esforços repetitivos/LER;

OCD – Occupation Cervicobrachial Disorder – Japão, países escandinavos e Alemanha,

Lésions Attribuables au Travail Répétitif (LATR) (Canadá), Work Related Musculoskeletal

Disorders (WMSD) e Cumulative Trauma Disorders (CTD), nos Estados Unidos. Essas

expressões e siglas referem-se, basicamente, às “perturbações pluritissulares anatômicas e ou

fisiológicas provocadas por fadiga neuromuscular consecutiva ao trabalho” (RIBEIRO, 1995),

ou seja, a distúrbios e lesões atribuídos ao trabalho, plurais e de localização múltipla.

No Brasil, o termo LER foi introduzido em 1986 pelo deputado gaúcho Mendes

Ribeiro, no I Encontro Estadual de Saúde Profissional de Processamento de Dados do Rio

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21

Figura 01: Relação entre os fatores biomecânicos e as lesões Fonte: NIOSH (1997) citado por Couto (1998, p.81).

Grande do Sul, para caracterizar as lesões apresentadas pelos digitadores (LECH, 1997). O

termo refere-se a um conjunto de doenças que atingem, principalmente, os membros

superiores, atacando músculos, nervos e tendões e provocando irritações e inflamação dos

mesmos.

Ribeiro (1995) define LER como sendo distúrbios que atingem dedos, punhos,

antebraços, cotovelos, braços, ombros, pescoço e regiões escapulares, resultantes do desgaste

muscular, tendinoso, articular e neurológico, cuja origem é ocupacional devido à inadequação

do trabalho ao ser humano.

A terminologia “Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho/DORT” tem

sido preferida atualmente por alguns autores, por evitar que na própria denominação, no caso

LER – Lesões por Esforços Repetitivos ou LTC – Lesões por Traumas Cumulativos, já se

apontassem suas causas definidas: “cumulativos, repetitivos” (Lei nº 8.213/1991 – Decreto nº

2.172/1997; NOVAES FILHO, 1998).

O documento emitido pela NIOSH (National Institute of Ocupational Safety and

Health), no ano de 1997, aponta 4 fatores biomecânicos no surgimento dos DORT, conforme

mostra a figura 01:

Punho / mão Pescoço e cintura

escapular

Ombro Cotovelo

Síndrome do

Túnel Carpal

Tendinites

Repetitividade ++ ++ +/- ++ ++

Força ++ +/- ++ ++ ++

Postura +++ ++ +/- +/- ++

Vibração +/- +/- ++

Combinação +++ +++ +++

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22

No Brasil, a Norma Técnica nº 98, aprovada em dezembro de 2003, refere-se a esta

patologia pelo termo LER/DORT, embora recomende a utilização do termo DORT.

2.1.1. Epidemiologia dos LER/DORT

Apesar de ter se acentuado profundamente na década de 1990, a LER/DORT surgiu

ainda na Idade Média, em que era conhecida por outros nomes, como, por exemplo, a “doença

dos escribas”, que é chamada hoje de tenossinovites e que desapareceu depois com a invenção

da imprensa.

Entre os vários países que viveram epidemias de LER/DORT estão a Inglaterra, os

países escandinavos, o Japão, os Estados Unidos, a Austrália e o Brasil. A evolução das

epidemias nesses países foi variada e alguns deles continuam ainda com problemas

significativos. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve um significativo aumento das

LER/DORT, como se pode observar na tabela 1.

Ano Freqüência % em relação às doenças ocupacionais

1981 22.600 18 1983 26.000 25 1984 34.700 28 1985 37.000 30 1987 72.900 38 1988 115. 300 48 1989 146.900 52 1990 185.900 56 1991 223.600 61 1993 302.400 64 1994 332.000 65 1998 253.300 64

Tabela 1: Distribuição de LER/DORT e porcentagem dessas afecções entre

doenças ocupacionais nos Estados Unidos.

Fonte: United States Bureau of Labour Statistics (1996).

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23

2766

3016

3233

4006 60

14 6382

5025

4838

5217 62

81 8299

1541

7

1527

0 2064

6

3488

9

2970

7

05000

10000150002000025000300003500040000

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

ANO

Nº R

EGIS

TRA

DO

Analisando a tabela 1, pode-se afirmar que a LER/DORT não foi um fenômeno que

atingiu e/ou atinge somente países subdesenvolvidos. A Previdência Social, refere-se apenas

aos trabalhadores do mercado formal de trabalho, que representa menos da metade da

população economicamente ativa, conforme mostra a figura 2.

Conforme Mazzoni e Marçal (2001), inúmeras atividades já foram analisadas no

sentido de levantar a associação de fatores de risco com os diversos diagnósticos englobando

o termo de LER/DORT, tendo como prevalência os membros superiores. Entre os vários

fatores que contribuem para a incidência dos distúrbios estão as atividades repetitivas, os

movimentos biomecanicamente inadequados, os fatores psicossociais e organizacionais.

A disseminação das prevalências das LER ocorreu pelo aumento da carga do trabalho

contínuo, resultante do uso inadequado de sistemas de esteiras: aumento de trabalho manual

que requer movimentos dos dedos, bem como movimentos repetitivos dos membros

superiores; inadequação dos mobiliários, controle do trabalho pela gerência e ainda a

diminuição de pausas e tempo livre. Atualmente, entre os países que possuem a maior

incidência de LER estão a Inglaterra, os países escandinavos, os Estados Unidos e a Austrália

(NOVAES FILHO, 1998). A incidência de LER vem aumentando nos países industrializados,

Figura 2: Distribuição de doenças ocupacionais no Brasil (1982 a 1997).

Fonte: Boletim Estatístico de acidentes do trabalho – BEAT, (INSS, 1997).

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24

nos quais as características da organização do trabalho, de forma geral, privilegiam o

paradigma da alta produtividade e qualidade do produto, em detrimento da preservação do

trabalhador; devido à inflexibilidade e alta cadência, grande quantidade e alta velocidade de

movimentos repetitivos, falta de autocontrole sobre o modo e ritmo de trabalho, mobiliário e

equipamentos ergonomicamente inadequados e desconforto térmico.

No Brasil, como no mundo todo, as LER acometem populações de trabalhadores das

várias categorias. As demandas aos serviços públicos de saúde do trabalhador e as

Comunicações de Acidentes de Trabalho (CAT) remetidas ao Instituto Nacional de Sistema de

Saúde (INSS) revelam que elas são mais notificadas nas categorias metalúrgica e bancária

(RIBEIRO, 1997).

De acordo com Settimi e Silvestre (1995), mesmo com o crescimento rápido das

patologias desta natureza, sabe-se que existe a resistência ao reconhecimento das mesmas e

seu vínculo com o trabalho. Profissionais responsáveis não estabelecem o nexo causal,

empresas se negam a emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), documento

insubstituível para a concessão dos “benefícios” previdenciários, agentes e peritos médicos do

INSS desmerecem os laudos dos médicos dos adoecidos e os centros de reabilitação

profissional desse instituto protelam laudos e decisões, mesmo nos casos com incapacidade

definitiva, em parte por desacreditar na doença e nos adoecidos, em parte por não saber o que

fazer. Com isto, torna-se previsível, dadas às longas jornadas de trabalho e ao elevado nível de

exploração a que estão submetidos os trabalhadores brasileiros, que o Brasil venha a ocupar

um lugar indesejável e proeminente na casuística de LER no cenário internacional, apesar da

contumaz subnotificação (SETTIMI; SILVESTRE, 1995).

2.1.2 Tipos de LER/DORT

Segundo Ribeiro (1997), por extensão e desde que atribuídas ao trabalho, incluem-se

entre as LER: bursites, tendinites, tenossinovites, fascites, sinovites, miosites, epitrocleítes,

epicondilítes e várias síndromes mais localizadas (síndrome do Túnel carpal, do Canal de

Guyon, do Canal Cubital, do desfiladeiro torácico, de De Quervain, de Dupuytren, “dedo em

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gatilho”, etc.). São lesões e síndromes há muito tempo conhecidas, com quadros clínico-

ortopédicos definidos. Expressam qualitativamente modos particulares, mas habituais e

conhecidos, dos tecidos envolvidos reagirem, apesar de variarem as agressões a que estão

sujeitos e que podem estar ou não no trabalho.

Malchaire (1998), divide as patologias que podem ser enquadradas como LER/DORT

em quatro categorias distintas: afecções tendinosas, afecções nervosas, afecções

neurovasculares e problemas articulares.

Gerr, Letz e Landrigan (1991) apud Mendes (2003), relacionaram as patologias com os

fatores ocupacionais que mais têm sido relatados na literatura, como associados à

determinação das lesões por esforços repetitivos, conforme a figura 3 a seguir:

Desordens dos Membros Superiores Fatores Ocupacionais

Força

Síndrome do Túnel do Carpo Repetição

Postura Inadequada

Vibração

Estresse Mecânico

Força

Tendinite Repetição

Postura Inadequada

Pausa insuficiente

Movimento forçado não habitual

Epicondilite Repetição

Pressão intensa

Supinação / pronação repetitiva

Desordens ombro-pescoço Trabalho com braços suspensos

Carga muscular Estática

Figura 3: Principais Desordens dos membros superiores e seus fatores ocupacionais

Fonte: MENDES (2003)

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2.1.3 Estágios da LER/DORT

Para Oliveira (1998) a LER não é uma doença aguda. Ela se desenvolve durante o

exercício profissional e o quadro sintomatológico progride, às vezes, irregularmente. Em

geral, a dor se inicia no final da jornada de trabalho ou quando há um esforço maior.

Posteriormente, perdura mesmo fora do trabalho, melhorando nos fins de semana. Às vezes, se

atenua ou se acentua devido ao ritmo de trabalho. Passa depois a perturbar o sono e se

manifesta por desconforto, às vezes formigamento nas extremidades e perda de força. Nesse

aspecto, as LER/DORT possuem quatro classificações quanto à evolução e prognóstico,

baseadas somente na clínica (FONSECA, 1998), sendo com isso, que não há uma base

científica para o estabelecimento desta classificação (RIO, 1996). Estas classificações variam

de autor para autor, sendo chamadas de fases (RIO, 1996; FONSECA, 1998), estágios

(NICOLETTI, 1996; BROWE; NOLAN; FAITHFULL apud FONSECA, 1998) ou graus

(LECH, 1997).

Grau I (Estágio/fase) – Caracteriza-se pela ausência de sintomas e sinais objetivos. Sensação

de peso e desconforto ao membro afetado. Dor espontânea localizada nos membros superiores

ou cintura escapular. Os objetos são mais pesados e existem referências à pontadas que

aparecem em caráter ocasional durante a jornada de trabalho e não interferirem na

produtividade. Não há irradiação nítida. Melhora com o repouso, nos finais de semana e nas

férias. Os sinais clínicos estão ausentes. A dor pode se manifestar durante o exame clínico,

quando comprimida a massa muscular envolvida. O prognóstico é bom (NICOLETTI, 1996,

LECH, 1997 ; FONSECA, 1998).

Grau II (Estágio/Fase) – A dor já é o sintoma predominante, mais intenso e aparece durante

a jornada de trabalho de modo intermitente. É tolerável e permite o desempenho da atividade

profissional, mas já com reconhecida redução da produtividade nos períodos de exacerbação,

ocorre incapacidade para o trabalho repetitivo. A dor torna-se mais localizada e pode estar

acompanhada de formigamento e calor, além de leves distúrbios de sensibilidade tátil, como

sensação de aspereza e dedos grossos. Pode haver uma irradiação definida. A recuperação é

mais demorada. Mesmo em repouso a dor pode aparecer, ocasionalmente, quando fora do

trabalho durante as atividades domésticas, freqüentemente com dor noturna, ocasionando

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distúrbios do sono. Os sinais de modo geral, continuam ausentes. O exame físico da área

afetada pode evidenciar contraturas musculares (hipertonia), dor à palpação profunda e a

mobilização das articulações adjacentes, por vezes, pequena nodulação acompanhando a

bainha dos tendões envolvidos. O prognóstico é favorável (NICOLETTI, 1996; LECH, 1997;

BROWE; NOLAN ; FAITHFULL apud FONSECA, 1998).

Grau III (Estágio/Fase) – A dor torna-se mais intensa, persistente e tem irradiação mais

definida. O paciente não consegue manter sua atividade profissional normal devido à dor. Há

sensível queda da produtividade, quando não impossibilidade de executar a função. Os

trabalhos domésticos são limitados ao mínimo e muitas vezes não são executados. O repouso

em geral atenua mas não faz a dor desaparecer completamente. Os sinais clínicos estão

presentes. É freqüente a perda da força muscular e parestesias. É possível observar distúrbios

vasomotores, como pele quente, sudorese, hiperemia, o edema é freqüente e recorrente. O

espasmo muscular é comum, principalmente na região cervicotorácica. Podem existir

alterações da condução nervosa em segmentos dos nervos periféricos que atravessam os túneis

osteofibrosos, no carpo, desfiladeiro torácico e cotovelo. A mobilização ou a palpação do

grupo muscular acometido provoca forte dor. Nos quadros com comprometimento

neurológico compressivo, a eletromiografia pode estar alterada. Nesta etapa o retorno à

atividade produtiva é problemático. O prognóstico é reservado. (NICOLETTI, 1996; LECH,

1997).

Grau IV (Estágio/Fase) – A dor é forte, contínua, por vezes insuportável, levando o paciente

a intenso sofrimento. A mobilização dos segmentos afetados acentua consideravelmente a dor,

que em geral se estende a todo o membro. Os paroxismos de dor ocorrem mesmo quando o

membro está imobilizado. A perda de força e a perda do controle dos movimentos se fazem

constantes. O edema é persistente e podem aparecer deformidades, provavelmente por

processos fibróticos, reduzindo a circulação linfática de retorno. É possível identificar, em

alguns casos, hipotrofias musculares, geralmente associadas a sintomas sugestivos de

compressão nervosa em túneis osteofibrosos. As atrofias, principalmente dos dedos, são

comuns e atribuídas ao desuso. A capacidade de trabalho é anulada, caracterizando-se pela

impossibilidade de um trabalho produtivo regular; ocorre invalidez (o que não é

necessariamente permanente). Os atos da vida diária são também altamente prejudicados. O

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estado emocional do paciente está claramente afetado, neste estágio são comuns as alterações

psicológicas com quadros de depressão, ansiedade e angústia. O prognóstico é sombrio

(NICOLETTI, 1996; LECH, 1997; FONSECA, 1998).

2.1.4 Etiologia

Em termos de causalidade imediata mais aceita, as LER decorrem de acometimentos

das estruturas do aparelho locomotor por exigências cumulativas, excessivas e repetidas do

trabalho. Fischer (1995) afirma que estão envolvidas condições físicas e ambientais (ambiente,

meios e instrumentos de trabalho), quantitativas (freqüência, intensidade, ritmo e

multiplicidade das tarefas do processo de produção), qualitativas (desqualificação e tensões

geradas pelo processo de trabalho, pressões, controle, exigências por produtividade e

competitividade impostas por sua organização) e cognitivo-afetivas (ausência de perspectiva

de carreira, remuneração insuficiente, medo de demissão, baixa afetividade, geradas pelas

políticas e relações sociais da empresa). Contam, também, as repercussões, em nível

individual, de todas essas exigências do trabalho que se projetam para fora e fazem a vida do

trabalhador, condicionando seus modos de se transportar, morar, comer, distrair-se, amar, se

reproduzir e adoecer, de LER ou de qualquer outra doença.

Para Oliveira (1998), as inovações tecnológicas, com a procura da otimização da

produtividade a todo custo, geram um mau relacionamento do trabalhador com a máquina e a

produção. Geram, também, uma fragmentação da tarefa, com restrição da variedade de

movimentos e sua condensação em movimentos repetitivos, cabendo a cada um participação

limitada na elaboração do produto final. Se, adicionado a isso, ocorrerem horas-extras, mau

relacionamento com as chefias, falta de treinamento adequado, falta de pausas durante a

jornada de trabalho e deficientes condições ambientais (poeira, ruído, má iluminação,

temperatura inadequada, ferramentas impróprias, etc.) pode-se observar que as LER se farão

presentes. Essas condições relatadas geram tensão e contração muscular, propiciando mais

rapidamente a fadiga e as lesões subseqüentes.

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O desenvolvimento das Lesões por Esforços Repetitivos é multicausal, sendo

importante analisar os fatores de risco envolvidos direta ou indiretamente. A expressão “fator

de risco” designa, de maneira geral, os fatores do trabalho relacionados com as LER. Os

fatores foram estabelecidos, na maior parte dos casos, por meio de observações empíricas e

depois confirmadas com estudos epidemiológicos (Lei nº 8.213/1991 e Decreto nº

8.172/1997).

Os fatores de risco não são independentes. Na prática, há a interação desses fatores

nos locais de trabalho. Logo, para a identificação dos fatores de risco, devem-se integrar as

diversas informações sobre o plano conceitual, presentes na Lei e seu Decreto anteriormente

citados. Os mecanismos de lesão dos casos de LER são considerados um acúmulo de

influências que ultrapassam a capacidade de adaptação de um tecido, mesmo se o

funcionamento fisiológico deste é mantido parcialmente (Lei nº 8.213/1991 e Decreto nº

8.172/1997). Segundo esses textos legais, para a caracterização da exposição aos fatores de

risco, alguns elementos são importantes dentre outros: a região anatômica exposta aos fatores

de risco, a intensidade dos fatores de risco, a organização temporal da atividade (por exemplo:

a duração do ciclo de trabalho, a distribuição das pausas ou a estrutura de horários) e o tempo

de exposição aos fatores de riscos.

Segundo Rio (1996), os fatores de risco das LER podem ser divididos em primários

(posturas antiergonômicas, repetitividade - de ciclo curto ou curtíssimo, uso de força muscular

dos membros superiores - principalmente contração muscular estática prolongada e

compressão mecânica) e secundários (vibração, ambiente frio, sexo feminino, stress psíquico

no trabalho, stress psíquico de outra origem: vida particular, conflitos interiores, traumatismos

anteriores e atividades anteriores que produziram sobrecarga sobre os membros superiores).

Segundo Ayoub e Wittels (1989) apud Malchaire (1998), em geral consideram-se três

grupos de fatores de risco:

• Os fatores individuais: capacidade funcional do indivíduo, hábitos, enfermidades,

dentre outros;

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• Os fatores ligados às condições de trabalho: forças, angulações, repetitividade, etc.;

• Os fatores organizacionais: organização da empresa, clima social, etc.

Malchaire (1998) ainda comenta que o surgimento dos distúrbios se dá freqüentemente

pela interligação dos fatores e que a separação se faz necessária, do ponto de vista didático,

para fins de estudo.

Cnockaert e Claudon (1994) apud Malchaire (1998) propõem um modelo para a

compreensão de que o risco é o resultado do desequilíbrio entre o que se exige do sujeito e sua

capacidade funcional. A figura 4 ilustra esse modelo.

2.1.5 LER/DORT e Trabalho

A Federação Brasileira de Bancos - FEBRABAN (1998) salienta que o trabalho

contemporâneo é mais sedentário e tem se feito acompanhar de notável redução no número de

Figura 4: Modelo para compreensão do risco

Fonte: Cnockaert e Claudon (apud MALCHAIRE,1998)

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tarefas, tornando-se mais intenso, requerendo mais atenção e sendo realizado sob maior

pressão para os que conseguem permanecer na linha de produção. As LER estão associadas a

essas novas formas de produção automatizada, às novas exigências e à organização do

trabalho. Há, simultaneamente, aumento de intensidade, freqüentemente do ritmo, e

empobrecimento das tarefas. Além disso, a precarização do emprego cria medo da demissão e

aumenta o grau de sujeição às exigências patronais e do trabalho.

A perda da autonomia do trabalho é percebida pela obrigatoriedade de posturas

sedentárias e de movimentos restritos a alguns segmentos do corpo e ainda pelo baixo

requerimento das funções intelectuais. Conquanto a produção seja intensamente articulada as

tarefas são excessivamente particularizadas estimulando o individualismo e a competição. As

tarefas são simplificadas e todos podem assumi-las uns dos outros, mas como não são iguais,

há gargalos que fazem com que uns fiquem mais sobrecarregados sem possibilidade de ajuda

recíproca (FEBRABAN, 1998). A polivalência citada é de afazeres pobres, repetidos,

pairando no ar, permanentemente, a ameaça de desemprego pela facilidade de pronta

substituição. Essa ameaça induz ao medo e à maior produção, aumentando a competição e

rompendo o princípio generoso da solidariedade de classe e de trabalho.

Um dos conteúdos da revolução industrial é a divisão do trabalho e a simplificação das

tarefas, que empurraram os trabalhadores para a coletivização de suas necessidades, de

sofrimentos, identidade e consciência de classe (RIBEIRO, 1995). Um dos componentes dessa

consciência é a insubmissão inerente à condição de classe trabalhadora; outra é a percepção do

empobrecimento do trabalho. Outro elemento, também muito importante desse novo ciclo da

revolução industrial, além da desqualificação do trabalho, é a extrema precarização do

emprego, problema tão grave como o desemprego franco.

A relação de causalidade do trabalho com as LER é muito óbvia, a despeito de sua

imaterialidade. Quando as LER aparecem em um posto de trabalho ou seção como problema

localizado permitem a inferência de um problema específico, de equipamento ou de qualquer

outro; mas, quando aparecem em toda uma empresa e em todas as empresas de um setor,

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como bancário, são a concepção do trabalho e sua administração que estão em causa

(RIBEIRO, 1995).

2.2 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

A biomecânica utiliza as leis da física e os conceitos de engenharia para descrever os

diversos movimentos realizados pelo corpo humano durante toda a atividade, seja ela

profissional ou sejam atividades normais de vida diária (SANTOS, 2002).

Segundo Chaffin et al.(2001) apud Santos (2002), a biomecânica é definida como uma

ciência multidisciplinar que deriva dos conhecimentos das ciências físicas, biológicas e

comportamentais, além dos conhecimentos sobre a engenharia. Os autores consideram que no

estudo multidisciplinar, a força que é empregada nos movimentos e/ou nas atividades se

traduz como variável de grande importância, em que onde os esforços podem ser tanto

ocasionais, quanto bastante repetitivos. Ambos, se realizados demasiadamente, podem levar a

um estresse biomecânico, resultando em lesões graves e incapacitantes ao trabalhador.

A biomecânica ocupacional prioriza a interação física do trabalho com suas

ferramentas, máquinas e seus materiais, objetivando a melhora de sua performance e

minimização dos riscos de distúrbios músculo-esqueléticos.

Iida (2002) cita que a biomecânica ocupacional estuda as interações entre trabalho e o

homem sob o ponto de vista dos movimentos músculo-esqueléticos envolvidos e as suas

conseqüências. Analisa basicamente a questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação

de forças.

Couto (1998) comenta que no corpo humano os músculos, ossos, tendões e ligamentos

se constituem nos elementos capazes de realizar os movimentos. Estudos analisando as

características mecânicas do corpo humano têm possibilitado a dedução de uma série de

conceitos importantes na adaptação do trabalho às pessoas.

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Segundo Chaffin et al. (2001) apud Santos (2002), os conhecimentos de biomecânica

ocupacional, podem ser utilizados para:

• Avaliar a extensão em que as funções existentes exigem fisicamente dos

trabalhadores;

• Simular métodos alternativos de trabalho e determinar reduções potenciais na

demanda física, caso sejam adotadas novas práticas e projetos de trabalho;

• Oferecer uma base para a seleção de pessoal e procedimentos de alocação dos

funcionários.

2.2.1 Força

A definição de força, do ponto de vista físico, é o produto de uma massa por sua

aceleração e sua unidade é o Newton (N). Já a definição de força, enquanto qualidade de

aptidão física, é a capacidade de gerar tensão nos músculo. Ela é diretamente proporcional à

capacidade contrátil das fibras musculares e da capacidade de recrutamento das unidades

motoras (GHORAYEB et al., 1999, apud POLETO 2002).

Chaffin et al. (2001) e Grandjean (1998), compartilham a opinião de que os

componentes básicos que interferem no desempenho de uma melhor capacidade muscular

estão relacionados com a força, resistência muscular e flexibilidade.

Malchaire (1998) comenta que são vários os métodos utilizados para o estudo da força

e seu impacto sobre o sistema músculo-esquelético e todos evidenciam uma clara associação

entre a força e o surgimento desses distúrbios.

O desempenho de atividades que exigem força para sua realização requer uma

preparação especial, voltada para o desenvolvimento de capacitação física necessária para o

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desenvolvimento de força muscular. O aumento de força muscular, por sua vez, depende, não

apenas de mudanças bioquímicas e adaptações que ocorrem na intimidade do tecido muscular,

mas também de mudanças funcionais do sistema neuromotor que produzem maior nível de

excitação, facilitação e maior recrutamento de fibras (BRISTOL; MYERS,2004).

2.2.2 Repetitividade

Para Malchaire (1998), o conceito de repetitividade é ambíguo e difícil de definir,

sendo visto pela comunidade não científica simplesmente como trabalho monótono e que

mantém a mesma postura e força estática. Já para a comunidade científica, afirma o autor,

teria um cunho diferente, em que a repetitividade seria a exigência variada, porém repetida de

gestos motores e de força. Ele ainda salienta a evolução da definição de repetitividade como

fator que demonstra a dificuldade em quantificá-la.

A repetitividade nem sempre é definida da mesma forma. Malchaire (1998), citando

Tanaka et al. (1993), Luopajarvi et al. (1979), Pichené (1995), Silverstein et al. (1987) e

Malchaire e Cock (1995), traz várias definições, de autores diferentes, das quais merecem

destaque:

• O número de produtos similares fabricados por unidade de tempo.

• O número de ciclos de trabalho efetuados durante uma jornada de trabalho.

• Repetitividade elevada quando o tempo de ciclo é inferior a 30 segundos, ou

quando mais de 50% do tempo de ciclo é composto pela mesma seqüência de gestos.

• Repetitividade como sendo o número de passagens, por unidade de tempo, de uma

situação neutra a uma situação extrema em termos de movimentos angulares, de força

ou ainda de movimentos e força.

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Malchaire (1998) afirma, ainda, que estudos têm mostrado que no surgimento de

distúrbios osteomusculares a repetitividade está altamente relacionada a posturas forçadas,

sendo portanto, difícil definir exatamente qual o papel específico da repetitividade no

surgimento desses distúrbios.

Para Prestes e Martins (1997), repetitividade é a capacidade de executar repetidamente

determinados gestos, com movimentos harmoniosos e sem concentração exagerada de forças

nas articulações, dependendo de habilidades motoras natas, de automação (aprendizado) de

gestos, alcançada com o treinamento, da capacidade biológica que cada pessoa tem de reparar

as perdas celulares normais, decorrentes dos esforços mecânicos originados das atividades

diárias, etc..

Outros autores, como Smith (1996), Yassi (1997), relacionam a repetitividade com a

possibilidade de desenvolvimento de danos que afetam os músculos, tendões e as articulações

(POLETO, 2002).

Guimarães (2001) cita que os movimentos repetitivos estão entre os fatores de risco

relacionados com o tempo e o conteúdo em que uma atividade é realizada. Com a busca em

torno da produtividade, cada vez mais as empresas estão fragmentando e simplificando as

tarefas, que se tornaram de curta duração e, portanto, repetitivas.

Na figura 05, é possível observar os critérios de repetitividade definidos por Kilbon

(1994), segundo a parte do corpo:

Parte do Corpo Repetições por minuto

Ombros Acima de 2,5

Braço / Cotovelo Acima de 10

Antebraço / Punho Acima de 10

Dedos Acima de 200

Figura 05: Repetitividade em relação às partes do corpo

Fonte: Couto (1998).

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Assunção (2001) apud Santos (2002) comenta a respeito da repetitividade ressaltando

que esse fator é extremamente útil para abordar as situações de trabalho na maioria dos

ambientes industriais e de escritório. Relata, ainda, que a repetitividade deriva dos conceitos e

achados da biomecânica, baseados nos conceitos da fisiologia muscular. Assim, a alta

exigência, na maioria dos casos, acaba em lesões teciduais que são causados quando o ritmo

em que a tarefa é realizada não garante pausa necessária para que a fibra muscular retorne ao

seu estado inicial de repouso, permitindo, assim, adequada perfusão sangüínea. Nessa situação

podem ocorrer reações no organismo, gerando uma resposta inflamatória e/ou degenerativa

das células dos tecidos moles (músculos, nervos, tendões, ligamentos).

Os aspectos relacionados à biomecânica são o foco deste item. Porém, cabe trazer para

esta discussão, que esse fator interfere no indivíduo como um todo, além da ação da

repetitividade nas condições músculo-esqueléticas. Guimarães (1999) menciona estudos que

mostram que, na prática, a satisfação no trabalho é menor quando as atividades são monótonas

e repetitivas, não dispondo de liberdade de atuação. Para a autora, pesquisas propiciaram

evidenciar essa situação. Resultados de estudos de índice de satisfação determinaram que em

ambientes com maior liberdade de atuação tem-se maior satisfação com o trabalho. Esse

índice se reduz diretamente à medida que a atividade se torna mais mecanizada, passando de

linha de montagem para linha de produção. A autora explica que atividades prolongadamente

repetitivas, associadas a um baixo nível de dificuldade, ou a trabalhos que exijam atenção por

tempo prolongado, requerem contínuo estado de vigilância, e estas, numa perspectiva

psicológica, propiciam maior sentimento de tédio, fazendo com que o indivíduo assuma um

estado mental limitado, e em situação em que não lhe é requisitada ação.

2.2.3 Compressão Mecânica

No desenvolvimento de algumas atividades, há necessidade de apoio em mesas ou

mesmo do uso de ferramentas. Sempre que existir contato das partes moles (músculos,

tendões, vasos, etc.) de um segmento corporal com quinas vivas (estrutura não arredondada)

desses equipamentos ou mobiliários, ocorre o que é denominado de compressão mecânica.

Isso pode reduzir o fluxo sangüíneo das extremidades envolvidas causando sofrimento de

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seguimentos como nervos, músculos e tendões (freqüentemente de braços ou punhos)

(COUTO, 1998).

Segundo Prestes e Martins (1997), os estreitamentos osteofibrosos, constituídos por

polias e túneis por onde passam nervos e tendões, são considerados pela maioria dos autores

como fonte de traumatismos repetitivos ocasionados por compressão mecânica e atrito dos

tendões contra superfícies rígidas.

Para Couto (1998), especialmente críticas são as formas de compressão causadas por

objetos dotados de arestas e quinas vivas sobre as delicadas estruturas das mãos. Também nos

cotovelos a compressão é crítica, pois trabalhar com os cotovelos apoiados sobre estruturas

duras pode ocasionar compressão do nervo ulnar. O autor reforça que o mais crítico é a

compressão da estrutura dos antebraços por mesas ou postos de trabalho dotados de quinas

vivas.

2.2.4 Posturas

Kendall (1995) define postura, segundo um relato do Comitê de Postura da American

Academy of Orthopedic, que surgia em 1974, como sendo o arranjo relativo das partes do

corpo. Assim, a boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as

estruturas de suporte do corpo contra lesão ou deformidade progressiva, independentemente

da atitude (ereta, deitada, agachada, encurvada), em que essas estruturas estão trabalhando ou

repousando. Sob tais condições, os músculos funcionam mais eficientemente e posições ideais

são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais. A má postura é uma relação

defeituosa entre as várias partes do corpo que produz uma maior tensão sobre as estruturas de

suporte e onde ocorre um equilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base de suporte.

Para Kisner e Colby (1992) e Knoplich (1986), a postura é uma posição ou uma atitude

do corpo, o arranjo relativo das partes do corpo para uma atitude específica, ou uma maneira

característica de alguém sustentar seu corpo, assumindo-se no espaço em função do equilíbrio

dos seguintes constituintes anatômicos: vértebras, articulações, discos e músculos.

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Silva (1997) ainda relata que “postura é uma posição do corpo que envolve o mínimo

de estiramento e de stress das estruturas corporais, com o menor gasto de energia para se obter

o máximo de eficiência no uso do corpo”.

A postura é, freqüentemente, determinada pela natureza da tarefa e do posto de

trabalho. As posturas prolongadas podem prejudicar os músculos e as articulações (DUL; Iida

(2002) cita que trabalhando ou repousando o corpo assume três posturas básicas: deitado,

sentado e em pé. Ele propõe uma distribuição quanto aos esforços musculares envolvidos para

manter a posição relativa de cada parte do corpo, com variações justificadas pelas diferenças

de tipo físico e sexo, como expressa a tabela 2 a seguir:

Tabela 02: Representação em percentagem do esforço muscular relativo

a cada parte do corpo na manutenção de posturas.

Fonte: Iida (2002)

Segundo Iida (2002), a posição deitada é a postura mais recomendada para repouso e

recuperação da fadiga, pois não há concentração de tensão em nenhuma parte do corpo, o

sangue flui livremente e o consumo energético assume o valor mínimo, próximo ao

metabolismo basal. Já na posição sentada, existe atividade muscular do dorso e do ventre para

mantê-la, e o consumo de energia é de 3 a 10% maior do que na posição horizontal. A posição

parada, em pé, é altamente fatigante porque existe trabalho estático na musculatura envolvida,

oferece maior resistência para o coração bombear sangue para o corpo; todavia, trabalhos

dinâmicos em pé geralmente são menos fatigantes que trabalhos estáticos em pé.

Parte do corpo % do Peso Total

Cabeça 6 a 8%

Tronco 40 a 46%

Membros Superiores 11 a 14%

Membros Inferiores 33 a 40%

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No que diz respeito a posturas em pé ou sentada, é importante salientar que há

relação de aumento da pressão intradiscal na posição sentada. Knoplich (1986) apud Renner

(2002) afirma que posições espaciais do corpo podem ou não trazer danos às estruturas

anatômicas envolvidas na manutenção postural. São as posturas viciosas que proporcionam

danos e desgaste precoce, principalmente sobre o disco intervertbral. Calliet (1986) apud

Renner (2002), refere que a pressão intradiscal na posição deitada é de 7kg, na posição de pé

passa para 10kg e na posição sentada ela é de 15kg.

Conforme Grandjean (1998), as vantagens do trabalho sentado podem ser: o alívio das

pernas; a possibilidade de evitar posições forçadas do corpo; o consumo de energia reduzido e

o alívio da circulação sangüínea. O autor comenta, ainda, que para as vantagens opõem-se

algumas desvantagens quando a posição é mantida por tempos prolongados, como: a flacidez

dos músculos da barriga (barriga do sedentarismo) e o desenvolvimento da cifose.

Sendo assim, pode-se dizer que não há postura ideal para ser mantida por longos

períodos. O organismo humano requer movimento, alternância de posturas para garantir a

manutenção saudável de suas estruturas.

Grandjean (1998), Mc Gill et al. (2000) apud Santos (2002), recomendam um local

que alterne o trabalho sentado com uma postura de pé. Para eles, uma postura sentada é menos

comprometida com o trabalho estático do que a postura em pé. Porém, a posição sentada

ocasiona complicações de fadiga que, pela alternância com o trabalho em pé, tornam-se menos

críticas.

2.2.4.1 Posturas Desfavoráveis

As posturas adotadas pelos indivíduos, durante seu trabalho, vão depender de

características específicas da sua atividade. Em algumas situações os indivíduos assumem

posturas antifisiológicas que, segundo Coury (1995) apud Santos (2002), são devidos à

imposição de cargas físicas intensas ou à não-observância de padrões ergonômicos nos postos

de trabalho.

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Segundo Prestes e Martins (1997), o corpo humano é formado por conjuntos de

segmentos funcionais e anatomicamente diferentes uns dos outros. A observação de

desalinhamentos e de desarmonia entre os diferentes segmentos permite a detecção de vícios

posturais que podem ser ocasionados ou cronificados por posturas viciosas. Desvios posturais

produzem sobrecarga em vários segmentos, limitam a performance do trabalho músculo-

esquelético e predispõem as pessoas às lesões e à dor.

Malchaire (1998) afirma que as posturas desfavoráveis podem conduzir a distúrbios

osteomusculares e diz, ainda, que a literatura indica a postura como fator preponderante para

esses, distúrbios, especialmente para os ombros (KUORINKA; FORCIER, 1995 apud

MALCHAIRE, 1998).

Segundo Malchaire (1998, p.24), as posturas desfavoráveis mais citadas na literatura

científica são:

a elevação dos ombros; a flexão dos ombros com torção ou inclinação da cabeça; as posturas extremas dos cotovelos, como a flexão, a extensão a prono-supinação; os desvios do punho, como a flexão, a extensão total e desvios radial e ulnar extremos.

Ainda, segundo o autor, o mais grave é a combinação dessas posturas, que contribuem

diretamente para o surgimento dos distúrbios osteomusculares.

Bjelle et al. (1981) apud Malchaire (1998) colocam que a elevação do braço acima de

60° aumenta os riscos de surgimento de tendinite no supra-espinhoso (músculo localizado na

região da cintura escapular), bem como Hagberg (1981) apud Malchaire (1998) sugere a

relação desse movimento com o surgimento de síndrome tensional da nuca. Percebe-se que há

consenso na literatura investigada quanto à relação do movimento do ombro e os distúrbios

relacionados à região do pescoço, até porque estes estão interligados pelos músculos. Porém,

não há consenso quanto ao grau de elevação suficiente para o desencadeamento desses

distúrbios já que outros autores afirmam que acima de 30° já há comprometimento.

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Outros distúrbios nos ombros, como a Síndrome do Desfiladeiro Torácico (SDT), têm

sido associados a posturas de elevação dos Membros Superiores (MMSS) acima do nível dos

ombros (BJELLE et al., 1987 apud MALCHAIRE, 1998).

Já Kurppa (1991) e Feldman et al.(1983) apud Malchaire (1998), no que se refere ao

cotovelo, sugerem que se a flexão extrema é mantida pode ocasionar compressão do nervo

cubital, ou seja, a Síndrome do Túnel Cubital. As epicondilites e as epitrocleites se associam a

movimentos extremos de prono-supinação do antebraço e também a movimentos de flexão e

extensão da mão (ARMSTRONG et al., 1982 apud Malchaire, 1998).

Malchaire (1998, p.25) afirma que:

as repetições dos movimentos de flexão e extensão estão associados a distúrbios osteomusculares nas mãos e nos punhos e estes são agravados por desvios cubitais e radiais extremos.

Malchaire (1998) cita outros autores como: Armstrong et al. (1982) e Armstrong,

Silverstein (1986), que descrevem uma série de posturas de preensão que contribuem para

distúrbios osteomusculares, ressaltando a preensão em pinça como uma das mais lesivas, e

salientam que essas posturas podem aumentar o nível de esforço solicitado e produzir uma

sobrecarga ao membro superior.

Quanto à inclinação da cabeça para frente, Iida (2002) cita que para ter melhor visão

ou manuseio de peças pequenas, ou leitura, essa postura se faz necessária. Esta necessidade

geralmente tem relação com: assento muito alto; mesa muito baixa; ponto que deve ser fixado

visualmente longe, entre outros. Utilizando avaliação eletromiográfica dos músculos cervicais

e uma escala subjetiva de dor, Chaffin (1973) observou que o tempo de resistência de cinco

mulheres jovens saudáveis foi bastante reduzido quando o ângulo de inclinação do pescoço

excedia 30º, como mostra a figura 06:

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2.2.4.2 Posturas Estáticas e Dinâmicas

Grandjean (1998) e Iida (2002) descrevem que o trabalho estático consiste na

manutenção de contração muscular contínua para a sustentação de uma postura. Isso ocorre

nos músculos dorsais e das pernas, para manter a postura em pé, e nos músculos dos ombros e

do pescoço, para manter a cabeça inclinada para a frente (flexionada). Ainda, segundo Iida

(2002), o sangue deixa de circular nos músculos contraídos por aumento da pressão interna e

compressão dos capilares e ocorre quando o músculo atinge 60% da contração máxima.

Os autores citados descrevem o trabalho dinâmico como o contrário do estático, sendo

neste permitido contração e relaxamento dos músculos. Grandjean (1998) exemplifica com a

caminhada: nesta, os músculos em trabalho dinâmico agem como motobombas sobre a

circulação sangüínea expulsando o sangue dos mesmos, enquanto o relaxamento subseqüente

favorece o influxo de sangue renovado. Dessa forma, os músculos recebem de dez a vinte

Figura 6: Fadiga dos músculos extensores do pescoço versus ângulo de inclinação da cabeça

Fonte: Chaffin (1973).

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vezes mais sangue do que em repouso. Assim, Grandjean (1998), comparando o trabalho

estático e dinâmico em condições semelhantes, considera que o trabalho estático leva um

consumo maior de energia, freqüências cardíacas maiores e períodos de restabelecimento mais

longos.

O trabalho muscular estático provoca nos músculos exigidos uma fadiga, que pode

evoluir até dores insuportáveis (GRANDJEAN, 1998). Assim é possível concluir que

excessivos esforços estáticos estão associados com o aumento do risco de distúrbios

osteomusculares e podem levar a patologias degenerativas.

Prestes e Martins (1997) corroboram com o exposto acima e afirmam que em alguns

casos, quando as exigências do trabalho são muito severas e as posturas mantidas de forma

estática, surgem as dores persistentes e o início do processo inflamatório.

Iida (2002) reforça que o trabalho estático é altamente fatigante e sempre que possível

deve ser evitado. Quando ocorre, deve-se pensar em alternativas de pausas ou em variações de

atividades que propiciem alternância de posturas e permitam alívio das estruturas exigidas.

As pausas devem ser seguidas e de elevada freqüência para permitir o relaxamento muscular e

o alívio da fadiga.

2.3 PAUSAS

No sentido lato da palavra, pausa é a interrupção temporária de ação, movimento ou

som (FERREIRA, 1993). Nos ambientes de trabalho, tem-se cada vez mais falado em tempo

para a recuperação das funções fisiológicas do organismo, no que diz respeito ao sistema

músculo-esquelético.

Couto (1998) afirma que, durante a execução de um esforço físico, a existência de

pausas garante ao organismo lançar mão de mecanismos naturais de recuperação e que ajudam

a prevenir lesões. Alguns desses mecanismos durante as pausas são:

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• se estava ocorrendo acúmulo de ácido lático pela compressão estática, o retorno do

fluxo normal de sangue irá retirar esses resíduos, evitando lesões;

• se estiver havendo alta repetitividade, haverá tempo para que os tendões voltem à

estrutura natural, uma vez que eles são viscoelásticos e demoram um certo tempo para

readquirirem a conformação natural;

• ocorre a lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial, evitando, assim, o atrito entre

os tendões e os tendões e a bainha sinovial.

Continua o autor advertindo que o tempo de pausas estabelecido depende de cada

atividade e da análise ergonômica do trabalho, como descrito a seguir:

• se houver apenas repetitividade, cinco minutos a cada hora;

• se além da repetitividade houver força excessiva ou posturas ruins a pausa deve ser,

de dez minutos por hora;

• se além de repetir houver força excessiva e posturas ruins, pode ser necessária uma

pausa de quinze minutos.

Couto (1998) relaciona a indicação de pausas com a repetitividade, a força e ou os

desvios de posturas. O mesmo autor comenta que pausas têm a função de equilibrar a

biomecânica do organismo e de lubrificar os tendões pelo líquido sinovial. Segundo Couto

(1998), as pausas são ainda mais necessárias quando não é possível adotar rodízio de tarefas.

Para Guimarães (1999), não há uma regra geral sobre a duração e a quantidade de

pausas durante a jornada. Tarefas com exigências nervosas e de atenção apresentam melhores

resultados com pausas curtas e freqüentes de dois a cinco minutos. Outras atividades mais

usuais requerem pausas de dez minutos a cada duas horas. Trabalhos físicos pesados

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necessitam de pausa igual ao tempo de atividade: trabalha uma hora, descansa uma hora. A

autora também comenta que o trabalhador faz uso de pausas espontâneas ou disfarçadas, como

aquelas em que o trabalhador sai para fumar, tomar um cafezinho, entre outros.

Concluindo, Guimarães (1999) refere a multifuncionalidade como sendo uma forma de

alargamento do trabalho, que permite incorporar o rodízio de funções, como um introdutor de

pausas, por gerar possibilidade de alternância de postura e descanso.

2.4 ROTAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO

Na atualidade, pode-se dizer que os indivíduos que exercem funções ligadas ao

trabalho, em que a repetição se apresenta como o esquema de desempenho de sua tarefa, estão

sujeitos a lesões conhecidas como DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao

Trabalho) que conduzem os trabalhadores ao sofrimento físico e a acometimentos de ordem

psicossocial. Assim, muitas estratégias têm sido buscadas visando à diminuição dos danos que

possam ser causados no desenvolvimento de funções específicas.

Correa (2003) alerta que na atualidade se verifica o progressivo aumento na

velocidade das mudanças nas situações e no formato do trabalho nas organizações. Para o

autor, torna-se fundamental que os profissionais das áreas de Segurança e Saúde do Trabalho e

da Ergonomia disponham de métodos confiáveis para avaliar essas mudanças em tempo hábil.

Tais mudanças, no contexto das funções ligadas ao trabalho, inferem diferentes necessidades

para os núcleos administrativos e organizacionais de indústrias e empresas, pois buscam aliar

métodos que minimizem o comprometimento físico e mental aos trabalhadores em seus postos

de trabalho.

Esse fato abre um leque de possibilidades ao profissional na área de saúde do

trabalhador, desde sua interferência na concepção de sistemas de trabalho até a sua atuação

preventiva nos processos de mudanças organizacionais e administrativas (CORREA, 2003).

Entre as metodologias usadas como estratégias organizacionais para favorecer um

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menor impacto da estrutura do trabalho na saúde do indivíduo, encontra-se a Rotação dos

Postos de Trabalho (RPT)

A Rotação dos Postos de Trabalho (RPT) ou Rotação de Trabalho (RT) pode ser

definida como um dispositivo organizacional, bem como uma ferramenta de gerência de

Recursos Humanos (VÉZINA et. al., 1999; JACQUES, 2001), em que o operador muda de

estações de trabalho de acordo com uma ordem preestabelecida, visando controlar o

absenteísmo (HOLY; JACQUES, 2001) e aumentar a produtividade (MAC LÉOD;

KENNEDY, 1993), ao passo que diminui a incidência de stress biomecânico (JONSSON,

1988; ROQUELAURE et. al., 1997) e de comprometimento músculo-esquelético do

trabalhador (HENDERSON, 1992; HINNEN et al., 1992; PAUL et al., 1999).

Moura (2001, p. 46) salienta que:

o aspecto da RPT, que conforme a Norma Regulamentadora Geral da Segurança Industrial dos Estados Unidos, secção 5110 do Occupational Safety and Health Standarts Board (OSHSB) (1996) relacionando portadores de lesões por esforços repetitivos, sugere que, em locais onde exista a prevalência de tais problemas, devem ser implementados e estabelecidos controles administrativos, tais como rotação de postos de trabalho, ritmos de trabalho e intervalos ou pausas mais significativas.

A proposta da RPT leva em consideração a diminuição da exposição ao tempo do

grupo de músculos que são empregados para desenvolver uma tarefa, e é proposto, após uma

avaliação dos fatores dos riscos presentes em cada função específica, levando em

consideração o empenho biomecânico e antropométrico do indivíduo que desempenha tal

função, bem como a estrutura da função em si, que, apesar de os objetivos dessas ações

visarem à redução de riscos ergonômicos (CANADIAN CENTRE FOR OCCUPATIONAL

HEALTH AND SAFETY, 1992; KUIJER; VISSER; KAMPER, 1994), carecem de estudos de

base científica (MOURA, 2001).

Para Clifton (2003), a idéia da rotação de trabalho é aliviar a fadiga e o stress físico,

alternando trabalhadores entre os trabalhos que requerem o uso de grupos diferentes de

músculos. Continua o autor dizendo que, atrelado a isso, pode haver uma melhor qualidade

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nos produtos, satisfação do empregado e baixas taxas de ferimento. Essas investigações

basearam-se em medidas fisiológicas, biomecânicas e de comodidade (MOURA, 2001).

2.4.1 Implantação de Rotação de Postos de Trabalho: Demanda, Estrutura e Etapas

O primeiro movimento à implementação da medida de RPT alude à necessidade de

uma análise ergonômica para estabelecer a real demanda em que se encontram os postos de

trabalho.

Para Montmollin (apud MOURA, 2001), a análise ergonômica do trabalho permite

não somente categorizar as atividades dos trabalhadores, como também estabelecer a narração

dessas atividades, permitindo, conseqüentemente, modificá-las. Assim, segundo Santos e

Fialho (1997), ao levantar a real necessidade da demanda e encaminhar as alterações

ergonômicas necessárias via caderno de recomendações, a estratégia de RPT pode ser tida

como um modo de se intervir na organização de um trabalho em que se apresentem

dificuldades de alteração na estrutura física da função.

Tendo em vista os benefícios que alguns autores citam com a implantação da RPT,

pode-se sugerir a demanda inicial para essa implementação: (a) quando a produtividade em

dado setor é menor do que a esperada; (b) quando existe a possibilidade de treinamento e de

gerência flexível; (c) quando existe alta incidência de riscos pertinentes a uma função; (d)

quando um setor da linha produtiva não acompanha os outros provocando atrasos, prejuízos e

comprometimento dos trabalhadores; (e) quando se tem um número favorável de

trabalhadores (nem a mais, nem a menos); (f) quando se busca redirecionar funcionários para

outras funções; (g) para capacitar todo o quadro funcional nas atividades, a fim de suprir

deficiências que possam existir; (h) se houver incidência de casos de DORT entre os

trabalhores; e (i) quando houve “sintomas organizacionais”, como absenteísmo, turnover, etc.

(VÉZINA et al., 1999; JACQUES, 2001; HOLY; JACQUES, 2001; MAC LEOD;

KENNEDY, 1993; JONSSON, 1988; ROQUELAURE et al., 1997; HENDERSON, 1992;

HINNEN et al., 1992; PAUL et al., 1999).

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Desenvolver um projeto de RPT requer determinar a articulação dos trabalhos a

serem incluídos na rotação, na seqüência da rotação e no cumprimento apropriado do intervalo

da rotação, podendo o uso de intervalos diferentes ser benéfico para minimizar os desgastes

específicos de certas funções.

Quando os empregados alternam entre duas funções, a exposição de riscos pode ser

entendida como sendo equivalente ao cálculo da média, ou seja, a rotação de trabalho pode

deixar cair a média em níveis seguros (MAC LEOD; KENNEDY, 1993).

Mac Leod e Kennedy (1993) sugerem algumas linhas de base para a implantação de

um programa de RPT, aplicado às linhas de produção industriais que podem ser resumidas da

seguinte forma:

• Primeiramente, sugere-se aos trabalhadores uma reunião, objetivando expor-lhes a

proposta de implantação do programa de RPT, investigando os interesses dos

trabalhadores em relação à proposta. Ao longo dessa reunião, torna-se importante

uma apresentação sobre ergonomia e o uso do programa RPT, bem como um

incentivo a esses trabalhadores a buscarem conhecimento das diretrizes em

ergonomia. Cabe, também, fornecer estatísticas de problemas relacionados ao

trabalho (acidentes, absenteísmo, turnover, etc.), colocando-as em análise e

buscando entender os fatores que levaram à consolidação dos dados apresentados;

• O programa de RPT deve ser aprovado pelos trabalhadores, bem como ser

suscetível às sugestões vindas dos mesmos;

• Gerar uma lista genérica de todas as rotações aceitáveis para que cada

departamento se permita atuar sobre a rotatividade das funções;

• Monitorar o efeito da rotatividade das funções nos departamentos, averiguando os

possíveis resultados e as dificuldades encontradas, assegurando uma flexibilidade

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aos indivíduos que apresentam dificuldades de execução das novas tarefas, e buscar

estratégias de resolução para essas dificuldades;

• Fornecer esclarecimento e treinamento aos trabalhadores que terão acesso a uma

atividade formalmente desconhecida por eles, incentivando as trocas de informação

entre os trabalhadores mais experientes;

• Realizar reuniões periódicas a fim de avaliar os resultados da implementação do

programa e comparar os resultados apresentados com os dados levantados na

primeira reunião, medindo a eficácia da implementação do programa.

Mac Leod e Kennedy (1993) citam, ainda, que essas etapas buscam fornecer um

método sistemático de organizar e implantar a RPT, que se estrutura com base nas exigências

dos trabalhos que estão sendo alternados. É pertinente que o processo de programação e

organização do sistema de implantação do RPT seja aprovado pelo Comitê de Ergonomia

(COERGO) e pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), bem como por todos

os empregados afetados.

Existe a necessidade também da atualização constante da análise das funções junto

aos postos de trabalho, para que se possa comparar a descrição das atividades realizadas junto

a esses postos e se possa, ao se programar o processo de rotação, observar se não há muitas

semelhanças nas atividades-alvo da rotação pelo funcionário. Entende-se por semelhanças nas

atividades aquelas que empregam o mesmo grupo muscular para realizar dadas funções, ou

seja, em um setor que está incumbido do ato de carimbar, exercendo um movimento que

mobilize força concentrada no pulso, sugere-se que não alterne para outro setor cuja função

seja desempenhada com a força concentrada impreterivelmente no pulso, sem alternância de

outro grupo muscular. Outras questões também podem ser levadas em consideração, como a

atenção concentrada para exercer uma função; a programação encadeada para o

desenvolvimento da tarefa (tarefas mais complexas); a dependência direta de outros setores

para que se realiza a produção; e a condição de produtividade (relação entre demanda, tempo e

resultados), etc.

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Tendo como base a descrição da função, a análise da complexidade de desempenho,

a análise do emprego biomecânico usado para desempenhar tal função, bem como os riscos e

acesso ao histórico de acidentes ou o adoecimento de trabalhadores junto a tal função, pode-se

fazer uma classificação das funções quanto ao desgaste e aos perigos que elas proporcionam.

Mac Leod e Kennedy (1993) sugerem classificar as tarefas em três níveis, a fim de

fazer as combinações das rotações dos trabalhos. Para efeito didático, os autores classificam as

tarefas nos níveis verde, amarelo e vermelho. Porém, são entendidas sobre graus de

penosidade (um, dois ou três). O nível verde condiz com as atividades que envolvem baixo

risco de acidentes (em uma escala de um a 100, o verde compreenderia o intervalo de zero a

30). O nível amarelo é um nível intermediário de comprometimento (intervalo de 31 a 45) e o

vermelho refere-se a atividades que envolvem maiores perigos de acidentes ou adoecimento

junto a essa função (intervalo de 46 a 100).

Sugerem os mesmo autores que a RPT obedeça a uma articulação entre as funções

classificadas anteriormente, sendo assim organizado, segundo a figura 07.

2.4.2 Os Prós e Contras da Rotação de Postos de Trabalho

Articulação das Funções Condição

Vermelho e Vermelho Inaceitável

Vermelho e Amarelo Inaceitável

Vermelho e Verde Aceitável

Amarelo e Amarelo Aceitável, porém não recomendado

Amarelo e Verde Aceitável

Verde e Verde Aceitável

Figura 07: Organização da articulação das funções Fonte: Mac Leod e Kennedy, 1993.

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Os autores Kuijer, Visser e Kemper (1999) analisaram as vantagens e as

desvantagens de implementação de uma RPT aplicada a tarefas de levantamento manual de

cargas. Eles concluíram que o desenho adequado de um programa de rotações de postos que

considerasse fatores ergonômicos melhoraria substancialmente o desempenho nas tarefas,

sem, no entanto, indicar como seriam realizadas tais adequações. Por outro lado, um exemplo

prático da aplicação de um programa de RT foi desenvolvido em uma planta avícola

(HENDERSON, 1992). Esse artigo, além de ilustrar as vantagens de uma rotação de postos,

verifica que a sua implementação deve ser adequada ao desenho e não aleatório, podendo esta

ser considerada como uma medida de redução dos riscos ergonômicos.

Mac Leod e Kennedy (1993) salientam que estudos realizados no Japão e na Suíça

apontaram que a RPT traz como benefícios a redução da monotonia e do stress ocupacional, o

aumento na produção, a diminuição do absenteísmo e turnover, entre outros.

Os mesmos autores salientam algumas dificuldades na implantação e na gestão desse

programa. As dificuldades mais notadas seriam a adesão ao programa por parte de

trabalhadores mais experientes, os operadores de máquinas não querem emprestar suas

máquinas a outros, a dificuldade na instrução e no treinamento dos trabalhadores para as

novas funções, a dificuldade de encontrar trabalhos apropriados para se dar a rotação, o uso

impróprio da rotação de trabalho pela gerência, etc. Continuam os autores advertindo que a

rotação no trabalho em si não altera os fatores de risco, mas distribui os fatores mais

uniformemente pelo grupo.

Clifton (2003) diz que a RPT sozinha não muda os fatores de riscos ergonômicos

facilmente, mas, sim, distribui os fatores de risco mais uniformemente num grupo maior de

empregados, pois expõe os trabalhadores a um nível de riscos mais seguro. Porém, deve-se

levar em consideração a relação que se estabelece entre os fatores de riscos existentes em uma

função e a vulnerabilidade do trabalhador. Entretanto, salienta-se que pode ser difícil instalar

um programa de RPT, pois requer mudança na estrutura organizacional (MAC LEOD;

KENNEDY, 1993).

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52

A rotação do trabalho em si não melhora o trabalho próprio. Assim, tornam-se vitais

esforços para que ocorra a mudança na composição física dos trabalhadores. Embora a RPT

possa ter efeitos benéficos na redução do stress e na variação dos grupos de músculos e

tendões, os programas ergonômicos devem encontrar meios de incidir também no âmbito

administrativo e organizacional atrelado às funções.

Sabe-se, então, que são multifatoriais os riscos dos distúrbios músculo-esqueléticos.

Todavia, neste estudo, dar-se-á ênfase aos fatores biomecânicos que, para Couto (1998);

Malchaire (1998); Grandjean (1998), são exigências específicas do trabalho, que podem

aumentar a probabilidade de ocorrência de distúrbios ou lesões e tipicamente estão

relacionados ao emprego de força manual excessiva, movimentos repetitivos, posturas

estáticas e ou inadequadas.

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53

CAPÍTULO III - METODOLOGIA

Este capítulo apresenta as etapas metodológicas que foram empregadas neste

trabalho de conclusão, buscando estudar as condições em que está apresentado o trabalho dos

indivíduos ligados a uma empresa de fabricação de borracha escolar.

As etapas estão assim constituídas: Análise da Demanda, pela qual se busca

reconhecer o objeto de estudo e suas necessidades, levando em conta os indicadores como:

queixas de dores músculo-esqueléticas, manifestação da empresa sobre afastamentos,

acidentes, incidentes, absenteísmo; Apreciação Ergonômica, de levantamento geral dos

processos e postos de trabalho, utilizando-se ferramentas que auxiliem na identificação dos

problemas; Análise Ergonômica propriamente dita, que parte da utilização de ferramentas

específicas para os problemas já identificados, no intuito de obter dados para a melhor

compreensão do processo e das restrições ergonômicas e, finalmente, culminando com o

diagnóstico e a proposição de melhorias. A figura oito que segue, vem ilustrar as etapas

projetadas.

3.1 ANÁLISE DA DEMANDA – 1° ETAPA

A análise da demanda consiste em averiguar as queixas que promoveram a

oportunidade de realização deste estudo junto ao posto de trabalho em questão. Para Guérin et.

al.(2001), a demanda é o ponto de partida de toda ação ergonômica, fase em que são expressos

os objetivos. Segundo os autores, as formas de demanda para uma ação ergonômica

apresentam aspectos múltiplos, podendo vir da empresa, dos trabalhadores, das instituições

públicas ou das organizações sindicais. As demandas das empresas correspondem aos

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54

interesses próprios da organização, centrando-se na deficiência específica a ser resolvida,

buscando condições para a melhor realização do trabalho, bem como para solucionar as

principais queixas dos envolvidos na gestão e na produção propriamente dita (chefias e

trabalhadores).

3.2 APRECIAÇÃO ERGONÔMICA – 2° ETAPA

Esta etapa consiste em efetuar o levantamento dos processos relacionados aos

indicadores evidenciados pela demanda ergonômica. Realiza-se também a avaliação física dos

locais, verificando as condições gerais de trabalho dos envolvidos, inclusive com a verificação

Análise da demanda

Identificação de indicadores

Reconhecimento do

local de trabalho

Levantamento de processos e postos

Avaliação das

condições gerais de trabalho

Corlett / Avaliação do desconforto

Delimitação do objeto de análise

Aplicação de método de análise

ergonômica, Método Malchaire (1998)

Codificação dos dados

Resultados da análise

Filmagens

Interpretação Discussão dos resultados

Proposição de melhorias

1ª Etapa

2ª Etapa

3ª Etapa

4ª Etapa

Figura 8: Seqüência detalhada das etapas da metodologia

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55

do grau de desconforto e dor dos trabalhadores. Nesta fase, deve ser possível identificar os

principais problemas e ligá-los aos processos e postos de trabalho analisados, indicando quais

os pontos que podem e devem ser aprofundados pela Análise Ergonômica.

3.3 ANÁLISE ERGONÔMICA – 3° ETAPA

Trata-se de efetuar a avaliação físico-postural dos locais de trabalho, evidenciados pela

Apreciação. Neste caso, são realizadas análises de: posturas, forças, repetitividade de

movimentos, etc., bem como tentativas de relacioná-los a indicadores de desconforto e de dor

do ponto de vista subjetivo, tal como prescrito por Malchaire (1998).

3.4 DIAGNÓSTICO E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS – 4° ETAPA

Nesta etapa, com base nas análises anteriores, são traçados os principais problemas e,

com base nos indicadores gerados, são indicadas soluções de melhorias.

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CAPÍTULO IV – RESULTADOS

4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A empresa em que foi realizada a pesquisa é especializada em produtos de borracha

de diversos tipos como: produtos escolares, de saúde e outros. Essa empresa tem em média um

total de 500 funcionários.

4.2 ANÁLISE DA DEMANDA

A escolha do setor para a realização do presente estudo foi determinada pelo

interesse manifesto pela empresa em ter uma avaliação Ergonômica feita na área em que há

maior prevalência de distúrbios osteomusculares e más condições ergonômicas. Assim, ficou

definido como foco do estudo o setor responsável pela produção de borrachas de apagar, de

uso escolar.

Assim, entendendo como indicador a queixa em si apresentada pela empresa, deu-se

início à pesquisa propriamente dita, com a investigação de dados junto às trabalhadoras em

seus locais de trabalho.

Tendo sido feita a delimitação do local, buscou-se contato com as funcionárias

implicadas, sendo apresentado o projeto, explicado o objetivo e o método do trabalho e, assim,

realizado o convite para a participação do estudo mediante a assinatura do Termo de

Consentimento Informado (Apêndice A), em duas vias, assinado pelos participantes.

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57

4.3 APRECIAÇÃO ERGONÔMICA

Neste momento iniciou-se a identificação de fatores relacionados aos locais de

trabalho, buscando compreender o seu funcionamento: layout, fluxo, principais características,

aspectos mais relevantes, enfim, enxergar o processo de trabalho como ali se apresentava.

4.3.1 Análise do Processo

O posto de trabalho em estudo pertence ao setor responsável pela produção de

borrachas destinadas ao uso escolar, que representa uma das áreas de atuação dessa empresa.

O setor da borracha é constituído em sua totalidade por 70 funcionários, sendo responsável

pela fabricação das borrachas de apagar, e divide-se em: corte das lâminas, lixação, lavagem,

secagem e, por fim, carimbação e embalagem das borrachas escolares.

As principais queixas foram identificadas no setor de carimbação e embalagem. Os

resultados foram: queixas de desconfortos dolorosos em ombros, pescoço, cotovelos, mãos e

região lombar, queixas estas identificadas por meio de conversas com as funcionárias no

próprio local de trabalho.

A carimbação e a embalagem são constituídas de cinco linhas de produção idênticas.

Para a realização deste estudo, foi escolhida aleatoriamente uma dessas linhas que, como as

demais, se constitui de três postos de trabalho, havendo duas funcionárias em cada posto, uma

de frente para a outra, separadas pela esteira de produção. Nesses postos são executadas as

tarefas, conforme apresentado nas figuras 9 e 10.

Figura 9: Esquema dos postos de trabalho analisados

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58

4.3.1.1 Descrição da tarefa do Posto de Trabalho Tipo A

A operação do posto de trabalho tipo A, consiste em pegar as borrachas e encaixá-las

em um molde anterior à esteira, chamado de gabarito, para que sejam passadas pelas

carimbadeiras, onde é estampado nas borrachas o logotipo da empresa, por meio de um

mecanismo automatizado (figuras 11a e 11b). Assim, a função das trabalhadoras é a de

colocar as borrachas no gabarito para que sejam carimbadas. O local do início da esteira onde

as funcionárias obtêm as borrachas é abastecido manualmente por funcionários de outra parte

do processo. Após as borrachas serem colocadas no gabarito, pelo operador do posto de

trabalho tipo A, elas seguem em direção ao posto tipo B por meio de uma esteira.

Figuras 11a e 11b : Postos de trabalho tipo A

Figura 10: Postos de trabalho analisados

Postos tipo C

Postos tipo B

Postos tipo A

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59

4.3.1.2 Descrição da Tarefa do Posto de Trabalho Tipo B

Após as borrachas saírem da carimbadeira, elas são conduzidas por uma esteira onde

as operadoras do posto tipo B (figuras 12a e 12b) têm a incumbência de retirá-las e depositá-

las em pequenas caixas de papelão, que são montadas no mesmo momento ou já estão ali

depositadas; após estarem cheias, as caixas devem ser empilhadas em um suporte à esquerda

das funcionárias.

4.3.1.3 Descrição da Tarefa do Posto de Trabalho Tipo C

A tarefa executada no posto tipo C (figura 13) de trabalho, apresenta as mesmas

características do posto tipo B. Assim, a tarefa constitui-se de pegar as borrachas, que não

foram captadas no posto tipo B e acumularam-se em uma mesa no final do processo.

Encaixotá-las também é incumbência das trabalhadoras desse posto, suprir o posto tipo B de

aixinhas, mediante montagem destas.

Figura 12a e 12b : Postos de trabalho tipo B

Figura 13: Posto de trabalho tipo C

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60

4.3.2 Identificação dos Sintomas de Dor/Desconforto

Tendo sido apresentada a proposição do trabalho, no primeiro contato que se deu

com o setor, buscou-se analisar as deficiências e limitações mais visíveis no transcorrer do

trabalho realizado pelas funcionárias. Diversas limitações ergonômicas foram logo observadas

no transcorrer das tarefas, principalmente o comprometimento biomecânico (repetitividade e

postura). Observou-se que as trabalhadoras praticamente não realizavam pausas durante o

trabalho, ou pelo menos não havia uma sistematização para isso; não havia rodízio de tarefas

predeterminado e organizado, ocorrendo o trabalho de forma contínua no ritmo estabelecido

pela esteira. Nesse primeiro encontro, também foi possível entrar em contato com a queixa

manifesta das trabalhadoras acerca de seus desconfortos dolorosos.

Na apreciação realizada verificaram-se também as más condições de mobiliário e

design dos postos de trabalho, caracterizados por: mesas com quinas vivas, esteira com

superfície brilhosa (reflexos), cadeiras de madeira, sem apoio lombar, de braços ou qualquer

tipo de regulagem e sem estofamento, espaço insuficiente para os membros inferiores,

principalmente no posto tipo A, onde as funcionárias ficam de lado, ou com os membros

inferiores totalmente abduzidos (afastados), para poderem efetuar suas tarefas. Esse conjunto

de questões faz com que esses postos de trabalho deixem bastante a desejar, especialmente no

que se refere à adequação do mobiliário ao indivíduo.

A partir disso, buscou-se a identificação das regiões do corpo com maior incidência

de dor/desconforto entre as trabalhadoras envolvidas com as tarefas deste estudo, por meio do

Diagrama de dor/desconforto de Corlett (Anexo A). Assim, propôs-se às trabalhadoras que

respondessem a um questionário com a representação de cada parte do corpo. Nesse

formulário deveria ser quantificado o grau de dor/desconforto, existindo para tanto, uma reta,

em que um dos extremos significava nenhum desconforto e o outro representava máximo

desconforto. Isso feito, foi possível identificar se há desconfortos e dores no que diz respeito

às estruturas osteomusculares dos indivíduos e, havendo, em que regiões do corpo estão

localizadas.

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61

A investigação se deu por posto de trabalho e atingiu 24 funcionárias. Considerando

que os aspectos de dor/desconforto além, de subjetivos, têm manifestação proporcional ao

estado de saúde em que a pessoa se encontra, o Questionário Corlett foi aplicado em um

número maior de funcionárias, abrangendo as das outras linhas, além das funcionárias da linha

escolhida para o estudo em questão, perfazendo um total de 28 mulheres que responderam o

questionário. Segue o diagnóstico obtido após as tabulações dos dados coletados nos postos de

trabalho do Tipo A (figura 14).

Figura 14: Aplicação do Diagrama de dor/desconforto de Corlett. Posto de trabalho A (n=28)

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62

Observando o gráfico acima, percebe-se importante manifestação das pessoas quanto

a sintomas em braço esquerdo, seguidos do ombro esquerdo, e, um pouco abaixo, as queixas

em braço direito, seguidas do ombro direito. As tarefas executadas pelos funcionários do posto

tipo A exigem, por vezes, certa força dos membros superiores como um todo no momento de

puxar as borrachinhas. Para quem está de um lado da mesa, há mais sobrecarga do membro

superior direito (MSD) e para quem está do outro lado, há mais sobrecarga do membro

superior esquerdo (MSE). Em observação direta nos locais de trabalho, em momentos em que

não estavam ocorrendo filmagens ou outras coletas de quaisquer dados, percebeu-se que as

funcionárias possuem um código próprio de ajuda e trocam de lado na mesa eventualmente.

Esse mecanismo regulador, estabelecido por elas próprias, alterna a maior sobrecarga entre

um lado do corpo e o outro, mas, como se trata de um movimento esporádico e ocorre dentro

do mesmo posto de trabalho, seguindo os mesmos padrões de movimento, não se entende

como sendo um rodízio eficaz. Nota-se, ainda, no gráfico demonstrativo do resultado dos

diagramas de Corlett do posto tipo A, manifestação importante de queixa nos cotovelos, o que

é bastante coerente com as tarefas desse posto que exigem flexo-extensão e prono-supinação

de forma constante.

Já a figura 15 mostra o obtido junto às funcionárias do posto tipo B, demonstrando

que os sintomas estão localizados, principalmente, na região do ombro direito, seguido pela

coluna cervical e pelo pescoço.

Isso se mostra coerente com a execução das tarefas desse posto de trabalho, pois elas

exigem posturas de flexão e rotação do pescoço de forma constante, bem como posição de

flexão horizontal do ombro direito.

Destacam-se as queixas referentes à porção inferior das costas, o que pode ter

relação com a continuidade da postura sentada que, por si só, já sobrecarrega esta região e,

ainda, ocorre em cadeiras que não oferecem apoio lombar, ou qualquer tipo de regulagem que

permita ajuste às necessidades das trabalhadoras.

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63

A seguir, é apresentada a análise da figura 16, correspondente ao diagrama de

Corlett aplicado junto ao posto tipo C.

Figura 15: Aplicação do Diagrama de dor/desconforto de Corlett. Posto de trabalho B (n=28)

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No que diz respeito às dores manifestas nas funcionárias desse posto de trabalho, a

maior ênfase de queixas é a mão esquerda e, em segundo, o ombro esquerdo, seguidos dos

braços direito e punho esquerdo. Esses resultados parecem ser coerentes às tarefas

desenvolvidas nesse posto, pois a atividade de montar caixas exige movimentos repetidos dos

dedos, sendo esta uma tarefa exclusiva dos postos de trabalho tipo C.

Figura 16: Aplicação do Diagrama de dor/desconforto de Corlett. Posto de trabalho C (n=28)

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65

4.4 ANÁLISE ERGONÔMICA

Considerando os resultados anteriormente expostos, que se apresentam como

indicadores das questões trazidas pela empresa, surge a necessidade de uma análise mais

aprofundada. Nesse sentido, partiu-se para um estudo dos aspectos biomecânicos, buscando

identificar os fatores presentes no desenvolvimento da tarefa de carimbação e encaixotamento

de borrachas escolares, que pudessem promover o aparecimento de doenças ocupacionais nas

trabalhadoras. Para isso, foi observado o trabalho de 12 mulheres (n=12), com idades entre 21

e 56 anos, que atuavam junto à linha um, do setor de carimbação. A pesquisa foi do tipo

investigativa e utilizou-se do método de análise ergonômica, proposto por Malchaire (1998).

Conforme o método proposto por Malchaire (1998), foram realizadas cinco horas de

filmagem nos postos de trabalho, conforme acordado com todas as funcionárias. O trabalho

constituiu-se na colocação de uma filmadora sobre um tripé, direcionada especificamente ao

posto de trabalho desejado no momento e de acordo com a angulação ideal para as análises

dos movimentos (45°).

Foram tomadas todas as precauções para uma boa filmagem, incluindo a certeza de

que obstáculos não ficassem entre a filmadora e o indivíduo observado e de que o funcionário

estivesse bastante à vontade com o equipamento e o observador, feito mediante combinação e

explicações prévias. Também se acordou que a funcionária ficasse por, no mínimo, 50

minutos naquele local, não querendo com isso dizer que ela não pudesse realizar outras

atividades pertinentes ao seu trabalho durante aqueles momentos, mas que não se ausentasse

por completo, como, por exemplo entrar em horário de refeições. Malchaire (1998) salienta

que em um registro em vídeo é importante certificar-se de que o operador do posto de trabalho

mantenha-se o mesmo e que se tenha boa visualização dos membros superiores durante toda a

filmagem.

Com as filmagens de todos os postos de trabalho pertinentes, iniciou-se a análise, em

que foi preciso listar as atividades que o trabalhador realizou durante as filmagens, com base

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na apreciação anterior. Logo após, buscou-se analisar cada bloco de imagem, “congelada” a

cada 30 segundos, e computar simultaneamente os resultados em planilha.

Os registros em vídeo utilizados nessa pesquisa permitiram fixar a imagem

posteriormente, proporcionando um tempo ao pesquisador para atribuir um escore à postura

observada.

A codificação dos registros em vídeo é feita a partir da proposição de Malchaire

(1998), que apresenta categorias de posturas que são estabelecidas para cada zona do membro

superior e segundo os três eixos corporais. Essa codificação foi utilizada como base para essa

pesquisa, detalhada a seguir:

• Para a nuca: Flexão/extensão, rotação e desvios laterais (figura 17);

• Para o ombro: Flexão/extensão, abdução horizontal,vertical e rotação (figura

18);

Figura 17: Classificação de posturas em relação ao pescoço Fonte: Malchaire (1998)

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67

• Para o cotovelo: Flexão/extensão e prono-supinação (figura 19);

• Para o punho e a mão: Flexão/extensão, desvios laterais e diferentes tipos de

agarre (figura. 20).

Figura 18: Classificação de posturas em relação aos ombros.

Fonte: Malchaire (1998)

Figura 19: Classificação de posturas em relação aos cotovelos Fonte: Malchaire (1998)

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68

Para cada componente do movimento deu-se um escore indo de um extremo do

movimento ao outro, como, por exemplo, componente flexão/extensão do ombro: extensão -

1; neutro – 2; flexão de 20º a 45° - 3; flexão de 45º a 90° - 4; flexão de 90° - 5. O escore

corresponde a uma posição e não a uma classe de perigo.

A filmagem em vídeo foi observada utilizando-se a fixação da imagem em intervalos

regulares de 30 segundos, chegando-se a 100 observações. Essa é a recomendação

(MALCHAIRE, 1998) para uma amostra estatisticamente representativa. Assim, os dados

foram lançados em uma planilha eletrônica, em que os resultados apontavam os índices de

repetitividade de posturas.

Juntamente com os registros em vídeo dos postos de trabalho dessas mulheres, fez –

se a aplicação da Escala Subjetiva de Percepção das Forças Exercidas de Borg (BORG,

1990). Através dela, buscou-se quantificar em uma escala, cujo intervalo varia de 0 a 10, a

intensidade de esforço avaliado em um exercício (tarefa), com base na percepção imediata do

indivíduo em relação ao esforço realizado. Para tanto, o indivíduo registra índices na escala,

em que o zero representa nenhum esforço e o dez acusa o esforço máximo na sua percepção,

durante a execução da tarefa. Essa escala é ilustrada pelada figura 21.

Figura 20: Classificação de posturas em relação às mãos e punhos Fonte: Malchaire (1998)

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69

Após os registros em vídeo das tarefas executadas no posto de trabalho tipo A,

partiu-se para as análises. No primeiro momento, desmembraram-se as atividades

desenvolvidas neste posto e o tempo de execução de cada uma, conforme apresentado na

figura 22.

Como pode ser observado na figura acima, foi possível identificar que as

funcionárias permanecem 68% do tempo na atividade de colocar borrachinha na esteira; 18%

puxam a borrachinha do depósito; 12% estão em espera; 1% tira borrachinhas não-conformes

e também 1% destranca a esteira e abastece tinteiros.

Figura 22: Percentual de distribuição de atividades realizadas. Posto tipo A

Figura 21: Escala Subjetiva de Percepção de Força de Borg (1990) adaptada por Malchaire (1998)

68%

18% 1% 12%1%

Colocar borracha na esteira Puxar borrachas do depósitoTirar borrachas não-conformes Destrancar esteiraEm espera

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70

Outro fator que foi levantado a partir das análises dos vídeos foi o índice de

repetitividade de posturas, adotadas pelos indivíduos durante o ciclo de trabalho, cujos

resultados podem ser observados nas figuras 23 a 26.

Analisando os dados da figura 23, pode-se salientar que, diante da repetitividade de

posturas, levando em consideração o pescoço, o que se observa com maior freqüência é a

rotação seguida da flexão. Isso ocorre, muito provavelmente, pelo fato de a funcionária

acompanhar com a cabeça e com os olhos a busca da borracha. Essa tarefa se dá com

movimentos de todo o membro superior que se estende para buscar as borrachas e trazê-las

para cima da esteira, para então colocá-las nos gabaritos da carimbadeira. Essa postura de

rotação é bastante penosa e, se mantida por longos períodos, pode levar a desgastes dos

discos intervertebrais e ou a desconfortos musculares, levando a episódios dolorosos e até a

patologias compressivas importantes.

Quanto aos ombros (direito (OD) e esquerdo (OE), de acordo com a figura 24),

percebeu-se a manutenção das posturas de flexão horizontal do ombro direito, o que muito

provavelmente acontece em função de que, com a mão direita, ela vai arrumando as

borrachinhas no molde. O segundo item mais relevante é a posição de flexão e extensão do

Figura 23: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação ao

pescoço, no posto de trabalho tipo A.

0,33

0,04

0,39

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r obs

erva

do

Flexão /Extensão

FlexãoLateral

Rotação

Postura

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71

ombro esquerdo, que fica elevado na maior parte do tempo em uma superfície onde estão as

borrachas depositadas.

0,16

0,48

0,20 0,25

0,56

0,23

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

Valo

r obs

erva

do

Flexão /Extensão

(OD)

Flexão /Extensão

(OE)

PosiçãoVertical

(OD)

PosiçãoVertical

(OE)

PosiçãoHorizontal

(OD)

PosiçãoHorizontal

(OE)

Postura

Na avaliação dos cotovelos direito (CD) e esquerdo (CE), visualizada na figura 25,

encontra-se como maior índice de repetitividade a prono-supinação do cotovelo esquerdo e

sua flexo-extensão, movimentos necessários para a tarefa de puxar as borrachinhas, como já

foi citado anteriormente. Ela também ocorre nas demais tarefas desse posto de trabalho.

Mesmo quando em repouso, o membro superior esquerdo (MSE), na maioria das vezes,

permanece em pronação de cotovelo, bem como em abdução de ombro.

0,270,38

0,26

0,54

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

Valo

r obs

erva

do

Flexão /Extensão

(CD)

Flexão /Extensão

(CE)

Prono/supin.(CD)

Prono/supin.(CE)

Postura

Figura 24: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação aos ombros, no posto de trabalho tipo A.

Figura 25: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação aos cotovelos, no posto de trabalho tipo A

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72

No que diz respeito aos punhos, verifica-se um índice mais elevado na postura de

flexo-extensão de punho direito, conforme ilustrado na figura 26 (esquerda - ME, direita -

MD). Esse movimento é exigido nas tarefas de colocar as borrachinhas nos moldes e de puxá-

las, tarefas executadas a maior parte do tempo nesse posto de trabalho.

0,250,12 0,14 0,18

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r obs

erva

do

Flexão /Extensão

(MD)

Flexão /Extensão

(ME)

Desvios(MD)

Desvios(ME)

Postura

Buscando saber qual a percepção das funcionárias, quanto ao esforço que necessitam

para executar cada uma de suas tarefas, aplicou-se a Escala de BORG, obtendo-se os

resultados apresentados na figura 27, que se segue.

42

02 1 1,8

0123456789

10

VALO

R A

TRIB

UÍD

O

ATIVIDADEcolocar borracha na esteira puxar borrachas do depósitoem espera destrancar esteiratirar borrachas não-conformes Média geral

Figura 26: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação às mãos e punhos, no posto de trabalho tipo A.

Figura 27: Aplicação da Escala de Borg. Posto A.

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73

Observa-se que no posto tipo A foi atribuído o índice quatro, em uma escala de zero

a dez, para a tarefa de colocar as borrachas na esteira; índice dois para puxar borrachinhas do

depósito; dois para destrancar esteira; um para tirar borrachas não-conformes, resultando em

uma média de 1,8 pontos na escala para esse posto de trabalho.

No que diz respeito ao tempo de execução de cada atividade realizada no posto tipo

B, foi possível identificar os seguintes resultados durante a análise das filmagens (figura 28).

73%

7% 20%

Colocar Borrachas na caixa Pegar caixa vaziaFechar/colocar caixa cheia

Como pode ser observado na figura acima, foi possível identificar que as

funcionárias permanecem 73% do tempo na atividade de colocar as borrachas na caixa; 20%

na atividade de fechar e acomodar as caixas cheias; e 7% em pegar as caixas vazias.

Com relação aos resultados das análises das filmagens, foi possível determinar os

índices de repetitividade do posto de trabalho, apresentados nas figuras 29, 30, 31 e 32.

Figura 28: Percentual de distribuição de atividades realizadas. Posto tipo B.

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74

0,38

0,00

0,28

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

do

Flexão / Extensão Flexão Lateral Rotação

Postura

Na análise do posto tipo B, com relação ao pescoço, pode-se observar que a

flexão/extensão aparece com maior destaque, sendo seguida da postura de rotação. Essa tarefa

de colocar as borrachas nas caixas exige, quase que o tempo todo, flexão do pescoço, e ainda

promove movimentos de rotação que, como se constatou, ocorrem de forma mais repetitiva

para um só lado (dependendo da posição na mesa). Essas posturas são desfavoráveis e podem

gerar sobrecarga para essas estruturas.

No posto de trabalho tipo B, os movimentos dos membros superiores são intensos na

tentativa de apanhar o maior número possível de borrachas e encaixotá-las, ocorrendo, assim,

movimentos de flexo-extensão dos ombros (figura 30) e, com maior freqüência, flexão

horizontal do ombro direito. No que se refere às posturas do cotovelo (figura 31), observam-se

movimentos de flexo-extensão de forma constante, associados a movimentos de prono-

supinação, principalmente no antebraço esquerdo, exigidos na hora de fechar e empilhar

caixas.

Figura 29: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação ao pescoço, no posto de trabalho tipo B.

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75

0,410,46

0,07

0,370,49

0,06

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

do

Flexão /Extensão

(OD)

Flexão /Extensão

(OE)

PosiçãoVertical

(OD)

PosiçãoVertical

(OE)

PosiçãoHorizontal

(OD)

PosiçãoHorizontal

(OE)

Postura

Na análise de posturas de mãos e punhos, demonstrada na figura 32, observa-se

principalmente posturas de flexão e extensão, sendo mais evidentes no punho direito. De

forma menos pronunciada, aparecem os desvios ulnar e radial. A manutenção de posturas de

flexão de punhos diz respeito, provavelmente, aos movimentos de agarre realizados. Essa

exigência, somada às posturas de desvio de punho, tende a sobrecarregar as estruturas

músculo-esqueléticas, o que pode causar desconfortos dolorosos e, até mesmo, lesões

compressivas dessas estruturas.

Figura 30: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação aos

ombros, no posto de trabalho tipo B.

Figura 31: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação aos cotovelos, no posto de trabalho tipo B.

0,51 0,54

0,300,39

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

do

Flexão /Extensão

(CD)

Flexão /Extensão

(CE)

Prono/supin.(CD)

Prono/supin.(CE)

Postura

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76

Os resultados do nível de esforço, necessário para a execução das tarefas do posto

tipo B, na percepção subjetiva das funcionárias, estão expressos na figura 33.

4

1 12

0123456789

10

VALO

R A

TRIB

UÍD

O

ATIVIDADEcolocar borrachas na caixa pegar caixa vaziafechar/colocar caixa cheia Média geral

A tarefa de encaixotar as borrachas mostra-se como exigindo maior esforço das

funcionárias, obtendo quatro pontos na escala, no intervalo de zero a dez. As tarefas de

fechar/empilhar caixas cheias e de pegar caixas vazias apresentam o valor um na escala. Como

Figura 32: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação às mãos e punhos, no posto de trabalho tipo B.

Figura 33: Aplicação da Escala de Borg. Posto tipo B

0,320,20 0,18 0,16

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

doFlexão /

Extensão(MD)

Flexão /Extensão

(ME)

Desvios(MD)

Desvios(ME)

Postura

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77

pode ser percebido, não se trata de atividades eminentemente penosas do ponto de vista da

força necessária para realizá-las.

Com relação ao tempo de permanência nas tarefas realizadas no posto de trabalho

tipo C, foi possível quantificar o percentual conforme a figura 34.

58%3%

14%

25%

colocar borrachas na caixa pegar caixa vaziafechar/colocar caixa cheia montar caixas

Nesse posto do trabalho, na tarefa de “colocar as borrachas nas caixas”, observou-se

um tempo de permanência de 58%; “montar caixas” foi de 25%; “fechar/empilhar caixas

cheias” 14%; e na tarefa de “pegar caixa vazia”, o tempo é de 3%. Já que as funcionárias

desse posto não precisam seguir o ritmo da esteira, freqüentemente se deslocam até o posto

tipo B para auxiliar na montagem de caixas.

Com relação aos resultados das análises das filmagens, foi possível determinar o

índice de repetitividade do posto de trabalho tipo C, apresentado na figura 35. Esta mostra

que, para o pescoço a flexão/extensão aparece com maior freqüência, seguida da rotação e, de

forma menos freqüente, mas também importante, identifica-se a flexão lateral. Convém

salientar que as posturas mantidas, de flexão e extensão e, principalmente, as de rotação de

Figura 34: Percentual de distribuição de atividades realizadas. Posto tipo C.

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78

pescoço, são extremamente forçadas para a estrutura músculo-esquelética dessa delicada

região.

0,290,18 0,24

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

do

Flexão /Extensão

Flexão Lateral Rotação

Postura

Quanto à repetitividade de ombros (figura 36), a postura de flexão e extensão e a

posição horizontal, ambas do ombro esquerdo, seguidas da posição horizontal do ombro

direito, aparecem com índice mais elevado. A principal tarefa nesse posto é a de colocar as

borrachas nas caixas, fazendo com que os membros superiores se movimentam para apanhar

as borrachas que se encontram depositadas à frente.

0,10

0,280,14 0,15 0,26 0,28

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

do

Flexão /Extensão

(OD)

PosiçãoVertical

(OD)

PosiçãoHorizontal

(OD)

Postura

Figura 35: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação ao pescoço, no posto de trabalho tipo C.

Figura 36: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação aos ombros, no posto de trabalho tipo C.

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79

Na observação dos índices obtidos das análises dos cotovelos (figura 37), aparecem

em evidência as posturas de flexão e extensão do cotovelo esquerdo, seguidas pela prono-

supinação também do cotovelo esquerdo. Esses dados são condizentes com as movimentações

exigidas para a execução das tarefas nesse posto de trabalho.

Na análise de ambos os punhos, visualizada na Figura 38, observam-se posturas em

desvios (ulnar e radial), que apresentam valores muito próximos. Identifica-se uma maior

exigência do membro esquerdo.

Figura 37: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação aos cotovelos, no posto de trabalho tipo C.

Figura 38: Índice de Repetitividade de posturas adotadas com relação às mãos e punhos, no posto de trabalho tipo C.

0,06

0,48

0,120,28

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Valo

r Obs

erva

do

Flexão /Extensão

(CD)

Flexão /Extensão

(CE)

Prono/supin.(CD)

Prono/supin.(CE)

Postura

0,030,14 0,16 0,17

0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,00

Val

or O

bser

vado

Flexão /Extensão

(MD)

Flexão /Extensão

(ME)

Desvios(MD)

Desvios(ME)

Postura

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80

Analisando os resultados da aplicação da escala de Borg, a tarefa de colocar as

borrachas nas caixas apresenta-se como a tarefa de maior esforço para as funcionárias (figura

39), obtendo três pontos na escala. Já as tarefas de fechar/empilhar caixas cheias e de pegar e

montar caixas vazias mostram o valor um na escala, resultando, assim, a média de 1,7 pontos.

3

1 11,7

0123456789

10

VALO

R A

TRIB

UÍD

O

ATIVIDADE

colocar borrachas na caixa pegar caixa vaziafechar/colocar caixa cheia Média geral

No intuito de caminhar na direção de proposições de melhorias no que diz respeito

ao processo produtivo de carimbação e encaixotamento das borrachinhas, que foi um dos

propósitos deste estudo, buscou-se identificar qual seria o melhor tempo de permanência no

posto de trabalho, antes que surgissem sintomas dolorosos ou de desconforto. Para tal,

utilizou-se o registro por cronometragem. No início do trabalho, as funcionárias foram

orientadas a avisar quando sentissem o primeiro sintoma de dor ou desconforto. Assim, o

tempo transcorrido era registrado em um cronômetro. Realizaram-se três medições para cada

posto de trabalho, em dias alternados, buscando atingir indivíduos diferentes. Em seguida,

calculou-se a média dos valores encontrados por posto de trabalho.

Como resultado, verificou-se que no posto tipo A, no que se refere ao tempo de

permanência no posto de trabalho e sua relação com o início de dor/desconforto, a média de

três cronometragens de tempo indica 2 horas e 20 minutos. Quanto ao posto de trabalho tipo

B, os primeiros sinais de fadiga ocorrem no decurso de 2 horas e 03 minutos, transcorridos

Figura 39: Aplicação da Escala de Borg. Posto tipo C.

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81

desde o início do trabalho. O posto de trabalho tipo C apresenta .uma média de 2 horas e 14

minutos até o surgimento de queixas.

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82

CAPITULO V – CONCLUSÕES

Este trabalho tinha por objetivo investigar o comprometimento biomecânico de

trabalhadoras de um setor de uma fábrica de borrachas escolares, que favoreceria o

desenvolvimento de Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, e então, propor

intervenções administrativo-organizacionais que minimizassem esse comprometimento. Nesse

sentido, seguem as considerações acerca da metodologia e dos resultados e algumas

considerações finais, bem como indicações para estudos futuros.

5.1 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA METODOLOGIA

A metodologia que foi apresentada, como sendo a via de investigar o

comprometimento biomecânico presente na função de carimbação e encaixotamento de

borrachas escolares, partiu de Malchaire (1998) e mostrou-se como um meio de detalhamento

dos movimentos utilizados para desempenhar tais atividades. Com esse detalhamento, pôde-se

incidir valores que possibilitaram avaliar o comprometimento que se apresentava em partes

específicas dos corpos das trabalhadoras, a fim de auxiliar na elaboração de um diagnóstico da

relação observada entre repetição e acometimento físico.

A proposta metodológica de Malchaire (1998) mostrou-se eficiente na investigação e

caracterização dos pontos críticos de trabalho, porém ela não se encerra em si só,

evidenciando a necessidade de agregar outros instrumentos, ou propostas metodológicas, para

investigar o modo com que o comprometimento do trabalhador resulta em dores e em outros

sintomas incapacitantes para a vida. Entende-se por outros instrumentos ou métodos, por

exemplo, o Diagrama de dor/desconforto de Corlett ou as análises de tempo de permanência

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83

nos postos de trabalho versus dor/desconforto, ambos utilizados neste estudo. A realização

dessa intervenção ergonômica mostrou-se capaz, não só de identificar pontos críticos, mas

também de quantificá-los e, com isso, propiciar a diferenciação de um posto de trabalho do

outro, possibilitando, assim, argumentos para instrumentalizar um programa de rodízio de

funções.

Quando se diz que essa proposta “não se encerra em si só”, entende-se, também, que

em estudos futuros o método de intervenção ergonômica pode ser acrescido de outros

instrumentos que busquem avaliar outras questões como organização do trabalho (com

questionários, entrevistas,etc.) e aspectos físico-ambientais, como: temperatura, luminosidade,

qualidade do ar e ruído.

Após a utilização dessa metodologia de intervenção, pode-se sugerir que é possível

sua aplicação em outros setores da indústria em estudo, ou em outra de qualquer ramo de

atividade, sendo essa a principal contribuição deste trabalho para a comunidade científica.

5.2 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DOS RESULTADOS

De posse dos dados coletados em cada posto de trabalho, partiu-se para a discussão

dos resultados, comparando-os entre os postos.

Com relação ao Questionário de Corlett, é possível observar que as queixas de

dor/desconforto são mais evidentes junto ao posto de trabalho tipo B. Sabe-se da

complexidade desse tipo de distúrbio, da dificuldade de diagnóstico e principalmente da sua

natureza multifatorial. Porém, cabe inferir que esse seja um indicador de resultado do

desarranjo dos postos de trabalho em questão, do ponto de vista da biomecânica ocupacional

do ambiente de trabalho, e da organização do mesmo. É importante observar que os demais

postos também apresentam muitas queixas, ficando muito próximos no que diz respeito a esse

indicador.

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84

Mediante as análises dos registros em vídeo, foi possível determinar o tempo de

permanência das funcionárias em cada tarefa, como já foi visto na apresentação dos dados de

cada posto de trabalho.

No que se refere à variabilidade de tarefas, o posto tipo A mostra-se em destaque,

apresentando cinco tarefas distintas; o posto tipo B apresenta três tarefas e o tipo C, quatro

tarefas. São importantes as observações in loco, para verificar a execução das referidas tarefas,

pois elas mostram que o posto tipo C é mais rico em termos de variabilidade de posturas. Isso

se justifica porque as funcionárias desse posto apresentam uma margem de autonomia no

gerenciamento de suas tarefas, já que não seguem o ritmo imposto pela esteira. Constata-se

que as funcionárias desse posto montam as caixas utilizadas pelas funcionárias do posto tipo

B; após a montagem das caixas, elas deslocam-se até o referido posto, ajeitam as caixas

empilhadas e só então retornam ao posto tipo C. São essas mesmas funcionárias que buscam

água para as demais, passando com um copo e uma jarra. Esse fato indica falta de margem de

liberdade no que se refere à organização do trabalho, o que ocorre devido ao fato de, no posto

tipo B, as funcionárias estarem sujeitas a cadência imposta pela esteira, e no tipo A, a cadência

da carimbadeira. Cabe comentar que essas atividades extras, executadas pelas funcionárias do

posto tipo C, não ocorreram em nenhum dos momentos das filmagens. Acredita-se que,

mesmo tendo sido alertadas para que executassem suas atividades normalmente, as

funcionárias restringiram-se à execução das tarefas prescritas, inclusive não se observando nas

filmagens os momentos em que as funcionárias ficam em pé ao lado do posto tipo B para

ajeitar as caixas montadas, ou mesmo para levá-las, o que em observação direta foi percebido.

MÉDIAS CORLETT

Posto tipo A Posto tipo B Posto tipo C

3,44 3,62 2,1

Tabela 03: Diagrama de dor/desconforto Corlett Média geral por posto

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85

Pode-se afirmar, então, que o posto tipo C permite algumas movimentações

diferentes, o que promove alternância de posturas e mesmo favorece micropausas durante o

turno de trabalho. Isso já não é possível no posto tipo B, que como já foi dito, as funcionárias

seguem a cadência imposta pela esteira, permanecendo com a mesma postura e o mesmo

padrão de movimentos por longos períodos. Quanto ao posto tipo A, verificam-se pequenos

momentos de pausa quando o reabastecimento do produto demora. Nota-se, porém, que as

funcionárias permanecem no posto e nas posturas forçadas em que já estavam, por exemplo

com o membro superior abduzido e repousando sobre a bancada, em um nível mais alto que o

nível do ombro. Pode-se inferir que isso ocorre devido ao fato de o mobiliário ser tão

inadequado a ponto de impossibilitar alternância postural, mesmo que características inerentes

ao processo permitam pequenas pausas.

Ainda, através das análises dos registros em vídeo, foi possível identificar o índice

de repetitividade de posturas para cada segmento corporal, como já foi visto na apresentação

dos dados de cada posto de trabalho. Assim, busca-se comparar os três postos quanto ao

critério da repetitividade, indicando a média dos resultados obtidos por posto de trabalho

analisado, como pode ser observado na figura 40.

0,20

0,30

0,28Posto A

Posto BPosto C

Figura 40: Comparação entre os índices globais de repetitividade obtidos com a análise das filmagens dos postos de trabalho

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86

Nessa análise, o posto tipo B apresenta um índice de repetitividade global de 0,30, o

maior índice na comparação com os demais postos de trabalho deste estudo, seguido pelo

posto tipo A e, por último, pelo posto tipo C.

Com a definição das tarefas e a utilização da Escala de Borg, foi possível determinar

o nível subjetivo de esforço percebido pelas funcionárias durante a realização das suas tarefas,

o que pode ser observado na tabela 04 que se segue.

Utilizando-se as médias aritméticas das tarefas de cada posto de trabalho, como pode

ser observado na tabela 04, foi atribuído ao posto tipo B o maior valor no item grau de esforço

percebido pelas funcionárias na execução de suas tarefas. Este é seguido pelo posto tipo A e,

por último, pelo posto tipo C, ocorrendo o mesmo quanto às queixas de dor/desconforto e com

a repetitividade.

Os dados que seguem dizem respeito ao tempo de permanência no posto de trabalho

versus o início de dor/desconforto, obtidos por meio de cronometragem no próprio local de

trabalho, como já descrito. A tabela 05 ilustra os tempos anotados.

ESCALA DE BORG

Média geral do Posto tipo A 1,8

Média geral do Posto tipo B 2,0

Média geral do Posto tipo C 1,7

Tabela 04: Resultados gerais observados na aplicação da Escala de BORG

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87

Depois de somadas as cronometragens e realizadas as médias aritméticas, pôde-se

observar que, após o início do trabalho, os primeiros sinais dor/desconforto ocorrem no posto

tipo B, seguido do posto tipo C e, por fim, do posto tipo A. Com isso, verifica-se que o tempo

de 2 horas e 03 minutos é o menor valor médio, identificando o tempo de início de

desconforto e, portanto, o tempo máximo de permanência nesses postos de trabalho. Se o que

se quer é encontrar mecanismos para manter os indivíduos trabalhando em condições menos

desfavoráveis e sem sobrecargas lesivas à saúde, entende-se que se faz necessário o

estabelecimento de uma margem de segurança, ou seja, não permitir que as funcionárias

permaneçam nos postos até o tempo relacionado ao desconforto. Sugere-se, então, que o

tempo bom de permanência nesses postos de trabalho seja equivalente a 60% do menor valor

médio encontrado, como ponto de início de dor/desconforto, este percentual está sendo

sugerido por este estudo e sugere-se que indique o tempo pertinente para a execução de

pausas, micropausas e ou de rotação de postos de trabalho. Nesse caso específico, obteve-se o

tempo de 1h10min.

Cabe relembrar que o posto de trabalho tipo C, como já comentado, permite maior

autonomia no gerenciamento do tempo, quando comparado com os demais postos em estudo.

Apresentou-se em segundo lugar na análise de tempo de permanência no posto de trabalho até

o surgimento de dor/desconforto, o que talvez tenha ocorrido em função de uma observação

feita e já comentada de que na presença de um instrumento de medição (no caso o

TEMPO DE PERMANÊNCIA NO POSTO versus DESCONFORTO

Posto Média

A 2h 20 min

B 2h 03 min

C 2h 14 min

Tabela 05: Tempo de Permanência nos postos de trabalho versus dor/desconforto. Média por posto.

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88

cronômetro), as funcionárias especificamente desse posto não se ausentaram do trabalho como

ocorria em outros momentos.

Analisando os resultados, é possível identificar os diferentes graus de

constrangimento do ponto de vista da ergonomia, gerados nos três postos de trabalho em

estudo. Buscou-se, então, pontuar cada posto de trabalho, considerando os resultados obtidos

nas análises feitas. Para tanto, optou-se por atribuir valores que permitissem, ao final,

identificar o posto com maior grau de penosidade. Nesse sentido, o posto de trabalho que

apresentou maior comprometimento em um determinado item recebeu o valor três; o posto de

trabalho intermediário recebeu o valor dois e ao posto de trabalho com menor

comprometimento foi atribuído o valor um, conforme demonstra a tabela 06.

Para visualizar a diferença entre os postos de trabalho, estruturou-se uma tabela em

que foram colocados os resultados de todas as ferramentas utilizadas neste estudo e que

objetivaram ordenar os postos de trabalho, definindo as tarefas ali executadas, o tempo de

duração dessas tarefas, o grau de repetitividade, a indicação de sintomas dolorosos do sistema

músculo-esquelético com regiões do corpo acometidas, a percepção subjetiva da intensidade

do esforço percebido pelo trabalhador e o tempo de permanência em posto de trabalho versus

surgimento de desconfortor/dor.

SITUAÇÃO VALOR

ATRIBUÍDO

Posto de trabalho com maior penosidade 3

Posto de trabalho intermediário com relação à penosidade 2

Posto de trabalho com menor penosidade 1

Tabela 06: Valores atribuídos ao posto de trabalho em cada análise, utilizados para a determinação do índice global de penosidade.

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89

A comparação dos vários indicadores e a utilização dos critérios da tabela 06

forneceram condições que permitiram identificar o índice global de penosidade de cada posto

de trabalho, visualizado na tabela 07.

Observando a tabela acima, verifica-se que o posto de trabalho tipo B apresentou um

índice maior de penosidade em relação aos outros postos de trabalho, no que se refere aos

itens: sintomas de dor/desconforto; repetitividade; percepção do esforço; tempo de

permanência no posto de trabalho versus dor/desconforto.

O posto de trabalho tipo A apresentou resultados que o colocam em segundo lugar

quanto aos itens: sintomas de dor/desconforto; repetitividade e percepção do esforço, ficando

com um índice menor apenas no item tempo de permanência no posto de trabalho versus

dor/desconforto.

Por fim, o posto de trabalho tipo C apresenta-se como o menos penoso dos postos em

análise, apresentando um índice intermediário apenas no item tempo de permanência no posto

de trabalho versus dor/desconforto, o que já foi observado e comentado na explanação dos

resultados.

POSTO DE

TRABALH

O

Questionári

o de

CORLETT

Repetitividade

de Posturas

Percepção

do

Esforço(Esc

ala de

BORG)

Tempo de

Permanência no

Posto x Desconforto

(cronometragem)

ÍNDICE

GLOBAL DE

PENOSIDADE

Posto tipo A 2 2 2 1 7

Posto tipo B 3 3 3 3 12

Posto tipo C 1 1 1 2 5

Tabela 07: Resultado da análise para a determinação do índice global de penosidade dos três postos de trabalho analisados.

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90

Dessa forma, como sugere a tabela 7, é possível dizer que o posto de trabalho que

apresenta maior risco à integridade física dos indivíduos é o posto de trabalho tipo B,

apresentando um índice global de penosidade doze. É seguido pelo posto de trabalho tipo A,

com um índice sete, e, por último, pelo posto de trabalho tipo C que se apresenta como menos

penoso em relação aos anteriores, com um índice de penosidade cinco.

A partir disso, fazem-se necessárias intervenções que possibilitem a minimização

dos fatores biomecânicos encontrados nos postos de trabalho analisados e que levem em conta

as características dos três postos e seus diferentes níveis de penosidade.

5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A demanda inicial da empresa foi motivada pela percepção, por parte do SESMT, da

existência de fatores ergonômicos que estariam provocando problemas de saúde nas

funcionárias do setor implicado, o que veio a ser confirmado após as análises e durante os

contatos com as funcionárias que, de forma explícita, trouxeram queixas de sintomas

coerentes com DORT. Elas levantaram questões dos postos de trabalho, no que diz respeito a

posturas e percepção de desconfortos na execução das tarefas. Atribui-se a isso a manutenção

de posturas estáticas da região cervical, das costas e do pescoço por longos períodos,

conciliado aos índices de repetitividade dos membros superiores, além da monotonia das

tarefas executadas, bem como da falta de adaptação do mobiliário que impõe posturas

forçadas. Todos esses aspectos mostram-se ao longo das análises, mais pronunciados no Posto

de Trabalho denominado posto tipo B, onde se verificam maiores níveis de constrangimentos

físico-posturais.

Sabe-se que, além dos aspectos biomecânicos, merecem a atenção os aspectos físico-

ambientais e de organização do trabalho. Esses são fatores decisivos dentro do contexto

laboral. Porém, não foram levados em consideração nas análises por não fazerem parte do

foco deste estudo, pois somente se deu ênfase aos aspectos biomecânicos, presentes no

desenvolvimento das tarefas.

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Cabe comentar ainda que, em contato com as funcionárias nos momentos de coleta

de dados, foram ouvidas manifestações sobre o volume de trabalho, tido como excessivo,

sobre os níveis de ruído perturbadores, a inadequação das cadeiras, tidas como

desconfortáveis e sobre excesso de calor e pouca ventilação.

Não é objetivo deste trabalho aprofundar as questões técnico-administrativas, mas

nota-se que as mudanças entendidas como cabíveis, até hoje, nesses postos de trabalho,

sempre levaram em consideração apenas aspectos de produtividade e não puderam incorporar

as necessidades reais dessas trabalhadoras.

Após o término de todas as análises, pôde-se concluir que o setor de carimbação e

embalagem das borrachas apresenta condições ergonômicas desfavoráveis à saúde das

trabalhadoras.

Não foi foco deste estudo mas, compreendendo a ergonomia como uma ciência

multidisciplinar que busca adaptar a complexidade de fatores que envolvem as relações entre

o homem e seu trabalho, cabe comentar alguns aspectos de organização do trabalho que

chamam a atenção, a saber: a cobrança por produtividade, o cumprimento de tarefas

totalmente automatizadas e empobrecidas do ponto de vista humano, ou seja, da condição de

administração da própria tarefa, e por fim, também fora do foco deste trabalho, a análise dos

fatores referentes ao mobiliário. No entanto, devido ao evidente constrangimento postural que

os mesmos proporcionam aos usuários, pode-se afirmar que são totalmente inapropriados. As

mesas não contemplam espaço para a acomodação dos membros inferiores; não há apoio

adequado para os pés; existem quinas vivas; as esteiras são de superfície reflexiva; as cadeiras

são de madeira, não possuem nenhum tipo de estofamento e de regulagem e, ainda, não há

apoio lombar ou apoio para os membros superiores.

Comenta-se muito sobre patologias que freqüentemente resultam de execução de

tarefas industriais, de caráter repetitivo, com forças excessivas e posturas desfavoráveis. No

entanto, sua eliminação pura e simples nem sempre é factível, ficando o desafio para

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reprojetar os postos de trabalho e os processos de acordo com os limites do ser humano e da

segurança.

5.4 INDICAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

Como este trabalho de conclusão não tem a pretensão de esgotar o assunto,

entendendo que se trata de um assunto complexo que envolve questões de diferentes áreas de

atuação, sugere-se a continuação de trabalhos dessa natureza, buscando sempre adaptar as

cada vez maiores exigências do mundo produtivo à delicada estrutura humana.

5.4.1 Referentes à Metodologia

Este trabalho de conclusão demonstrou que é possível a utilização de ferramentas de

análise para identificar o comprometimento físico geral diante das atividades observadas,

aliadas às demandas ergonômicas, e instrumentalizar programas como a rotação de postos de

trabalho mais adequados em ambientes complexos, permitindo que essa rotação cumpra seus

objetivos, sendo um deles a variação de movimentos do indivíduo no desenvolvimento de suas

tarefas.

Como não foi possível realizar avaliações em todos os aspectos que envolvem a

ergonomia, nesta fase de trabalho, sugere-se sua continuação por meio de estudos

complementares que contemplem as questões relacionadas à Organização do Trabalho,

ouvindo o usuário por meio de entrevistas diretas e questionários, em que possam relatar suas

experiências ligadas ao processo de saúde/adoecimento, relacionado ao trabalho que

desenvolvem em suas vidas. Vê-se como importante, também, um estudo mais aprofundado

dos aspectos físico-ambientais, como: ruído, iluminância, temperatura e qualidade do ar.

5.4.2 Referentes à Empresa

Recomenda-se, como medida imediata, que seja estabelecido um rodízio de funções

entre os postos de trabalho A, B e C em todas as linhas do setor de carimbação e

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encaixotamento da borracha. A partir do estudo realizado, o rodízio deve ser efetuado a cada 1

hora e 10 minutos de trabalho e, como forma de organização, sugere-se o esquema proposto

na figura 41.

Nessa proposta de rodízio, as funcionárias devem trocar de posto de trabalho,

rodando em volta da mesa. Dessa forma, sempre ocorre a saída dos postos de trabalho B, que

demonstra ser mais penoso nas análises realizadas, para um dos postos menos penosos, ou C

ou A. Acredita-se que, como há diferença no grau de penosidade entre os postos A, B e C e

também há diferença no conteúdo das tarefas exigidas, o rodízio pode propiciar ganhos do

ponto de vista biomecânico. Em alguns momentos ocorre apenas a troca de lado da mesa e não

a troca de tipo de posto, o que não possibilita grandes alterações de gestos motores. Porém, é

importante que as funcionárias não permaneçam apenas de um dos lados, pois certamente isso

acarretaria em sobrecarga de um lado do corpo, podendo levar a alterações posturais e aos

distúrbios músculo-esqueléticos. Entende-se também que, no momento da troca de posto de

trabalho, a mudança do posto em si já representa mudanças de posturas e gera micropausas

que podem garantir o relaxamento de alguns grupamentos musculares mais solicitados até

então, gerando aumento do fluxo sangüíneo e, assim, evitando fadiga, dores e as

conseqüências da manutenção de posturas fixas, sem falar em questões como a monotonia

que, sabe-se, pode ser amenizada com esse tipo de intervenção.

Posto C

Posto B

Posto CPosto B

Posto A Posto A

Posto B

Posto C

Posto CPosto A

Posto A Posto B

1ª Situação

2ª Situação

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Como outra estratégia de intervenção coletiva, para minimizar a incidência do

comprometimento biomecânicos dos trabalhadores, pode-se lançar mão de medidas

apropriadas de ginástica laboral (exercícios de distensionamento), por meio de pequenas

pausas durante o turno de trabalho, visando à compensação para os grupos musculares de

membros superiores e inferiores.

Entende-se ainda que, juntamente com as medidas propostas, se faz necessário um

reprojeto do mobiliário que permita maior mobilidade dos usuários, além de posturas mais

adequadas que não gerem constrangimentos posturais aos seus usuários. Mais

especificamente, no que se refere a cada posto de trabalho, pode-se sugerir que o posto de

trabalho, ora denominado posto tipo A, seja reprojetado para possibilitar que o trabalho possa

ser executado também em pé, oportunizando alternância de posturas de acordo com a

necessidade da funcionária. Esse posto tem o plano de trabalho mais elevado, porém as

cadeiras são fixas, altas e de difícil manuseio pelas usuárias.

No posto tipo B é importante melhorar a qualidade de conforto das cadeiras e

diminuir os reflexos da superfície da esteira, que é de material brilhoso e dificulta a acuidade

visual, provocando fadiga prematura. No entanto, a discussão principal recai sobre o ritmo de

trabalho e a alta repetitividade de gestos motores. Porém, essas questões requerem um estudo

mais aprofundado, reunindo a problemática de produção e suas necessidades, associada à da

ergonomia e suas especificidades. Esse estudo deve passar por um redesenho do processo e

dos postos de trabalho como um todo.

Figura 41: Esquema demonstrativo da proposição de rodízio de funções entre os postos A, B e C.

Posto C

Posto A

Posto BPosto C

Posto B Posto A

3ª Situação

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Quanto ao posto tipo C, no que se refere a melhorias específicas, além das já citadas,

sugere-se também um redesenho do mobiliário para permitir mais conforto.

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APÊNDICE A – Termo de Consentimento Informado

INVESTIGAÇÃO DO COMPROMETIMENTO BIOMECÂNICO DOS

TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA DE BORRACHA

O tema da presente pesquisa refere-se ao estudo e à análise do comprometimento

biomecânico dos trabalhadores que desenvolvem suas atividades junto a setores específicos de

uma indústria de borrachas escolares. Assim, você será convidado a participar desta pesquisa

que se propõe a averiguar suas posturas no transcorrer do seu trabalho, bem como buscar

entender sua percepção do esforço utilizado ao trabalhar e prováveis dores e desconfortos que

o trabalho lhe acarreta.

Este estudo não oferece nenhum risco ou desconforto para os participantes, bem

como não serão fornecidos auxílios financeiros para a participação na pesquisa. Além do mais,

as informações obtidas não serão encaradas de cunho pessoal e não serão expostas ao setor

administrativo da empresa, não acarretando qualquer incômodo ao participante.

Este projeto constitui o estudo para a obtenção do grau de Mestre, junto ao

Programa de Mestrado em Engenharia de Produção (ênfase em Ergonomia) da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, orientado pelo professor Dr. Fernando Gonçalves

Amaral.

Consentimento:

Eu, __________________________________________ fui informado dos

objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada. Recebi informações a respeito do

procedimento do estudo e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei

solicitar novas informações e modificar a minha decisão se assim eu desejar. A pesquisadora

responsável é a fisioterapeuta Dionéia de Quevedo Pereira. Certificou-me que todos os dados

desta pesquisa referentes a minha pessoa serão confidenciais, bem como terei liberdade de

retirar o meu consentimento de participação em qualquer momento em face destas

informações.

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Caso tiver novas perguntas sobre o estudo, posso chamar a fisioterapeuta Dionéia

de Quevedo Pereira pelo fone (51)9814-9928 para maiores esclarecimentos.

Declaro que recebi cópia do presente Termo de Consentimento.

Nome e assinatura do participante

___________________________________________ Data ___/___/___

Nome e assinatura da pesquisadora

___________________________________________ Data ___/___/___

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ANEXO A – Questionário de Corlett