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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE QUÍMICA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS – GEOQUÍMICA LÍVIA FERREIRA DE MELO GUEDES SEPARAÇÃO EM FASE SÓLIDA PARA A DETERMINAÇÃO DE ÂNIONS POR CROMATOGRAFIA DE ÍONS EM AMOSTRAS SALINAS, AMBIENTAIS E DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO Niterói 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE QUÍMICA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS – GEOQUÍMICA

LÍVIA FERREIRA DE MELO GUEDES

SEPARAÇÃO EM FASE SÓLIDA PARA A DETERMINAÇÃO DE ÂNIONS POR CROMATOGRAFIA DE ÍONS EM AMOSTRAS SALINAS, AMBIENTAIS E DA

INDÚSTRIA DE PETRÓLEO

Niterói 2010

LÍVIA FERREIRA DE MELO GUEDES

SEPARAÇÃO EM FASE SÓLIDA PARA A DETERMINAÇÃO DE ÂNIONS POR CROMATOGRAFIA DE ÍONS EM AMOSTRAS SALINAS, AMBIENTAIS E DA

INDÚSTRIA DE PETRÓLEO

Dissertação de Mestrado apresentada ao curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Geociências, área de concentração: Geoquímica Ambiental.

Niterói 2010

G934 Guedes, Lívia Ferreira de Melo.

Separação em fase sólida para a determinação de ânions por cromatografia de íons em amostras salinas, ambientais e da indústria do petróleo. / Lívia Ferreira de Melo Guedes. – .Niterói: [s.n.], 2010.

76 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Geociências – Geoquímica Ambiental) - Universidade Federal Fluminense, 2007. Orientador: Prof. Dr.Ricardo Erthal Santelli.

1. Cromatografia. 2. Trocador de íons. 3. Água do mar -

salinidade. 3. Ãnions. 4. Tese. 5. Produção intelectual. I. Título.

CDD 543.0893

CDD 543.0893

LÍVIA FERREIRA DE MELO GUEDES

SEPARAÇÃO EM FASE SÓLIDA PARA A DETERMINAÇÃO DE ÂNIONS POR CROMATOGRAFIA DE ÍONS EM AMOSTRAS SALINAS, AMBIENTAIS E DA

INDÚSTRIA DE PETRÓLEO

Dissertação de Mestrado apresentada ao curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Geociências, área de concentração: Geoquímica.

Aprovada em Março de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Ricardo Erthal Santelli - Orientador UFF

Prof. Dr. John Edmund Lewis Maddock UFF

Prof. Dr. Emmanoel Vieira da Silva Filho UFF

Prof. Dr. Valderi Luiz Dressler UFSM

Dra. Maria de Fátima Batista de Carvalho

Petrobrás

Niterói 2010

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a minha filha que é minha inspiração diária e a Tiago

pelo companheirismo, atenção e, principalmente, paciência. Sem eles nada seria

possível.

Aos meus pais e familiares pela ajuda e empurrão nos momentos difíceis e

de alegria.

À meu orientador que me auxiliou por várias vezes e de diferentes formas.

A Maria de Fátima Batista de Carvalho pela inspiração e auxílio em todo o

trabalho.

A Rede Temática de Geoquímica da Petrobrás.

Ao programa de Pós Graduação em Geoquímica e à Hildete e Nivaldo pelo

socorro em várias horas. Aos professores por todo o ensinamento que levo comigo.

A Aline, pela paciência, amizade e acima de tudo por estar sempre presente.

Ajudou-me muito com as análises e leituras. Valeu amiga!

Aos amigos Ricardo e Aline pelo trabalho escravo voluntário. Vocês são

demais!

A todos os amigos pela ajuda, pelo esforço e os momentos de descontração,

graças a vocês não fiquei louca. Aos companheiros dos laboratórios 403 e 108 pela

ajuda e incentivo.

A todos que de alguma forma contribuíram para este trabalho.

Obrigada.

O simples bater das asas de uma

borboleta pode gerar um furação do

outro lado do planeta.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Cromatograma de íons obtido para uma amostra com alta salinidade

destacando o sinal elevado devido à presença de alta concentração de cloreto. ..... 16

Figura 2: Estrutura esquemática de uma resina trocadora de íons. Fonte: Helfferich,

1995. ......................................................................................................................... 21

Figura 3: Rota de síntese de resinas trocadoras aniônicas. Fonte: Harland, C.E. .... 23

Figura 4: Reações de síntese de resina trocadora fortemente ácida, na forma

hidrogenada. ............................................................................................................. 24

Figura 5: Reação de síntese da resina trocadora de cátions carboxílica .................. 25

Figura 6: Representação esquemática das estruturas das resinas: (A) Microporosa

(tipo gel); (B) Macroporosa (macroreticular). Fonte: Kressman, T.R.E. .................... 26

Figura 7: Representação esquemática de um sistema de cromatografia de íons com

supressão de condutividade. Fonte: Dionex.............................................................. 30

Figura 8: Representação esquemática do processo de supressão da condutividade

do eluente. Fonte: Dionex ......................................................................................... 31

Figura 9: Representação esquemática da supressão de condutividade em

cromatografia de íons. ............................................................................................... 32

Figura 10: Cromatograma mostrando alguns parâmetros cromatográficos .............. 33

Figura 11: Cromatograma mostrando o modo de cálculo da assimetria do pico. ...... 35

Figura 12: Representação de um plasma indutivamente acoplado, onde H

representa o campo magnético induzido e I, a bobina de indução. Adaptada de

JARVIS et al., 1992. .................................................................................................. 37

Figura 13: Foto de um plasma em operação. (THERMO, 2007) ............................... 38

Figura 14: Esquema mostrando as conficgurações Radia (a) e Axial (b) de

observação do plasma. ............................................................................................. 40

Figura 15: Representação esquemática de um plasma com observação radial e axial

- Dual View (THERMO, 2005) ................................................................................... 40

Figura 16: Fotografia do ICP OES Thermo Scientific Modelo iCAP 6300 ................. 44

Figura 17: Cromatógrafo de Íons utilizado nas análises. ........................................... 45

Figura 18: Fluxograma de etapas para o tratamento das amostras hiper salinas. .... 46

Figura 19: Gráfico mostrando as intensidades da Visão Axial em função da

concentração de Ag+ em mg L-1 ................................................................................ 51

Figura 20: Gráfico mostrando as intensidades da Visão Radial em função da

concentração de Ag+ em mg L-1 ................................................................................ 51

Figura 21: Teste de retenção de cloreto das quatro diferentes resinas ..................... 53

Figura 22: Variação da concentração dos íons cloreto e prata em função do volume

de amostra de matriz salina a ser percolada em mini coluna contendo resina IR 120

.................................................................................................................................. 57

Figura 23: Variação da concentração dos íons cloreto e prata em função do volume

de amostra de matriz salina a ser percolada em mini coluna contendo resina Dowex.

.................................................................................................................................. 58

Figura 24: Variação da retenção de prata referente as quatro resinas em estudo em

função do volume de amostra percolado. ................................................................. 59

Figura 25: Variação da retenção de cloreto pela resina Amberlite IR 120 na forma de

Ag+ e de retenção de prata pela resina Amberlite IR 120 na forma H+ em função do

volume de amostra .................................................................................................... 60

Figura 26: Variação da retenção de cloreto pela resina Amberlite IR 120 na forma

Ag+ e de retenção de prata pela resina Dowex W 50 na forma H+ em função do

volume de amostra. ................................................................................................... 61

Figura 27: Variação da retenção de íons e concentração de prata lançada na

amostra pelos cartuchos de retenção de cloreto comerciais. .................................... 62

Figura 28: Variação da retenção de íons cloreto e prata residual carreada, que é

encontrada após o uso dos cartuchos comerciais. .................................................... 63

Figura 29: Cromatograma do padrão misto de seis ânions utilizado nos testes de

retenção. ................................................................................................................... 64

Figura 30: Variação da retenção dos ânions nitrito, nitrato, brometo e fosfato

referente a primeira fração de 0,5 mL. ...................................................................... 64

Figura 31: Variação da retenção dos ânions fluoreto e sulfato referente à primeira

fração eluída na coluna. ............................................................................................ 65

Figura 32: Variação da retenção dos ânions nitrito, nitrato, brometo e fosfato

referente a segunda fração eluída. ............................................................................ 66

Figura 33: Variação da retenção dos ânions fluoreto e sulfato referente a segunda

fração eluída. ............................................................................................................. 66

Figura 34: Cromatograma de solução com alta concentração de cloreto após o uso

da resina.................................................................................................................... 67

Figura 35: Cromatograma obtido da primeira fração de solução de alta salinidade

contendo os seis ânions de trabalho. ........................................................................ 68

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Comparativo entre resinas do tipo gel e macroporosas. Fonte: Dowex,

2006 .......................................................................................................................... 26

Tabela 2: Parâmetros instrumentais utilizados durante os estudos envolvendo a

determinação de prata nas amostras percoladas nas minicolunas ........................... 44

Tabela 3: Propriedades das resinas trocadoras de cátions ....................................... 48

Tabela 4: Valores de intensidade de emissão obtidos para os diferentes modos de

observação de acordo com a concentração dos padrões. ........................................ 51

Tabela 5: Concentração dos íons contidos no padrão preparado com seis diferentes

ânions. ....................................................................................................................... 53

Tabela 6: Resultados obtidos para a determinação da capacidade de troca catiônica

(CTC) das resinas e seus respectivos percentuais de umidade................................ 55

Tabela 7: Resultados obtidos na determinação das concentrações dos ânions nas

duas frações utilizando cartuchos comerciais. .......................................................... 69

RESUMO

A análise de efluentes hipersalinos ainda é um problema analítico a ser resolvido.

Atualmente, tem ocorrido um grande aumento da demanda para caracterização de

águas de alta salinidade, tendo em vista que esta é um dos maiores descartes da

indústria de petróleo. Devido a isto, técnicas analíticas para sua caracterização têm

sido desenvolvidas amplamente e entre elas temos a cromatografia de íons, onde

diferentes tipos de ânions são quantificados. Contudo, para que seja possível o uso

desta técnica, é imprescindível que haja a retirada do cloreto dessas matrizes

hipersalinas. Essa separação prévia pode ser realizada através do emprego de

cartuchos comercializados, porém de custo elevado. Sendo assim, têm sido

desenvolvidos estudos com trocadores iônicos onde são utilizados no tratamento de

diferentes tipos de matriz de amostra. Para o tratamento de matrizes salinas,

estudos com trocadores catiônicos tratados com prata, como Amberlite IR 120 e

Dowex W50, foram realizados mostrando-se eficientes na remoção do íon cloreto.

Amostras de diferentes salinidades foram eluídas através de mini colunas

preenchidas com estas resinas tratadas com prata. Entretanto, o seu uso leva à

coluna íons de prata que também são retirados de forma eficaz do meio, através de

mini colunas preenchidas com resinas na forma de hidrogênio, de modo que a

coluna analítica não seja afetada. Análises comparativas com cartuchos comerciais

de retenção de cloreto e prata foram realizadas, comprovando a eficiência do

método. Testes para a retenção dos analitos foram realizados e mostraram que a

primeira alíquota de 0,5 mL retém boa parte dos ânions de trabalho tanto nas

resinas de estudo quanto nos cartuchos comerciais.

Palavras - chave: Cromatografia de íons, trocadores catiônicos, águas hipersalinas,

cloreto, ânions.

ABSTRACT

The analysis of hypersaline wastewater is still an analytical problem to be solved.

Currently, there has been an increased demand for characterization of high salinity

water, considering that this is one of the largest discharges of oil industry. Because of

this, analytical methods for their characterization have been developed extensively,

and among them we have the ion chromatography, where different types of anions

are quantified. However, it is possible to use this technique, it is crucial that the

withdrawal of these matrices hypersaline chloride. This separation can be

accomplished in advance through the use of cartridges sold, however costly. Thus,

studies have been developed with ion exchangers which are used to treat different

types of sample matrix. For the treatment of salt matrices studies with cationic

exchangers treated with silver, such as Amberlite IR 120 and Dowex W50 were

performed showing to be efficient in the removal of chloride ion. Samples of different

salinities were eluted through mini columns filled with these resins treated with silver.

However, its use leads to a column of silver ions that are also effectively removed the

medium, using mini columns filled with resins in the form of hydrogen, so that the

analytical column is not affected. Comparisons with commercial cartridges retention

of chloride and silver were performed, proving the efficiency of the method. Tests for

retention of the analytes were performed and showed that the first rate of L retains

much of the work of anions in both resins in the study as 0.5 µL commercial

cartridges.

Keywords: Ion Chromatography, cationic exchangers, high salinity water, chloride,

anions.

SUMÁRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Resumo

Abstract

1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

2 – JUSTIFICATIVA E OBJETIVO ...................... ..................................................... 17

3 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................... ...................................................... 19

3.1 - RESINAS TROCADORAS DE ÍONS................................................................. 19

3.1.1 - Resinas Trocadoras de Ânions ................................................................... 21

3.1.2 – Resinas Trocadoras de Cátions ................................................................. 23

3.1.3 – Resinas Macroporosas e Microporosas .................................................... 25

3.1.4 – Capacidade de Troca ....................... ........................................................... 27

3.2 – HISTÓRICO DA CROMATOGRAFIA ............................................................... 27

3.3 – CROMATOGRAFIA DE ÍONS .......................................................................... 28

3.4 – PARÂMETROS CROMATOGRÁFICOS DE INTERESSE ANALÍTICO ........... 32

3.5 - ESPECTROMETRIA DE EMISSÃO ÓPTICA COM FONTE DE PLASMA

INDUTIVAMENTE ACOPLADO – ICP OES .............................................................. 36

4 - MATERIAIS E MÉTODOS ............................... .................................................... 41

4.1 – SOLUÇÕES E REAGENTES ........................................................................... 41

4.1.1 – Análises Volumétricas ..................... ........................................................... 41

4.1.2 – Determinação dos íons ..................... .......................................................... 42

4.2 – INSTRUMENTAÇÃO ........................................................................................ 43

4.3 – METODOLOGIA UTILIZADA ........................................................................... 45

4.3.1 – Calculo do teor de umidade das resinas util izadas.................................. 47

4.3.2 – Determinação da capacidade de troca das res inas.................................. 47

4.3.3 – Testes de troca iônica das resinas trocador as de cátions ...................... 48

4.3.4 – Aplicação do método em amostras de matriz c om alta salinidade..... Erro!

Indicador não definido.49

4.3.5 – Determinação de prata remanescete na resina por ICP OES .................. 50

4.3.6 -Testes para retenção da prata remanescente a pós passagem pelas

colunas contendo resinas a base de prata........... .................................................51

4.3.7 – Testes de retenção de ânions pelas colunas modificadas com prata .... 52

5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................... ................................................. 54

5.1 – TEOR DE UMIDADE E CAPACIDADE DE TROCA DAS RESINAS ................ 55

5.2 – TESTES DE TROCA IÔNICA DAS RESINAS TROCADORAS DE CÁTIONS . 55

5.3 – APLICAÇÃO DO MÉTODO A MATRIZES DE ALTA SALINIDADE E

DETERMINAÇÃO DE PRATA POR ICP OES .......................................................... 56

5.4 – COMPARAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS MINI-COLUNAS COM CARTUCHOS

COMERCIAIS ............................................................................................................ 61

5.5 – POSSÍVEL RETENÇÃO DE ÂNIONS PELAS RESINAS MODIFICADAS ....... 63

6 - CONCLUSÕES .................................................................................................... 70

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................... ............................................... 72

1 INTRODUÇÃO

Atualmente a energia é essencial para a maior parte das atividades humanas.

A produção da energia hoje é feita da exploração de diferentes recursos naturais

que provocam uma série de mudanças ambientais. A necessidade de energia é uma

realidade desde a Revolução Industrial, quando se iniciou o uso intensivo de

combustíveis fósseis, como carvão mineral e o petróleo. Com o auge da revolução, o

uso do petróleo aumentou em larga escala na indústria e o combustível teve o seu

aumento após a Segunda Guerra Mundial, quando o seu uso energético aumentou

ate chegar ao que temos nos dias atuais. Além de grande importância na geração de

energia, o petróleo gera subprodutos que são matéria prima para a manufatura de

inúmeros bens de consumo que têm um papel cada vez mais relevante na vida do

ser humano.

Com base nessa grande necessidade energética, a indústria petrolífera no

Brasil se encontra em franca expansão. Suas atividades, porém, além de grandes

lucros financeiros podem resultar em uma série de custos ambientais. A criação e

exploração de novos campos petrolíferos têm sido cada vez mais intensificadas.

Nas atividades de exploração e produção de óleo e gás é gerada uma grande

quantidade de resíduos e efluentes, dentre os quais podemos destacar a água de

formação e a água produzida. A água de formação (também conhecida como água

conata) esta localizada na região de formação junto com o petróleo. Já a água de

produção, é toda a água produzida (carreada) junto com o óleo ou a água injetada

no reservatório (água de injeção). A água é injetada para aumentar a produção

mantendo as condições de pressão na rocha reservatório (fundamentais para a

migração do petróleo para os poços, sendo efetuada uma operação de injeção de

água nas camadas inferiores da rocha reservatório, e/ou gás nas camadas

superiores).

Plataformas de gás tendem a produzir menor volume de água produzida,

porém com maiores concentrações de contaminantes orgânicos. Plataformas de

óleo, ao contrário, geralmente produzem altos volumes de água produzida. Um

campo novo produz de 5 a 15% de volume de água. À medida que a vida econômica

dos poços se esgota, essa água pode atingir uma faixa de 75 a 90% volume.

Enquanto muitos campos de gás descarregam menos de 10 m3 de água por dia, a

maioria dos campos produtores de óleo descarrega centenas ou até mesmo

milhares de m3 de água por dia (OGP, 2005).

Esta produção excessiva de água se torna um problema sério nos campos de

petróleo maduros, pois dificulta a sua disposição final, tendo em vista que a sua

composição é extremamente complexa, possuindo uma grande diversidade de

contaminantes. Esta composição química varia amplamente e depende

principalmente dos atributos geológicos, do tipo de reservatório e de sua maturidade.

Atualmente, a maior preocupação com relação aos processos de tratamento e

purificação dessas águas diz respeito aos contaminantes que permanecem

dissolvidos, os quais são mais difíceis de serem removidos por técnicas de

tratamentos convencionais.

Deve-se ter em mente que a água produzida é um dos componentes gerados

pela produção de petróleo, e que esta não pode ser usada devido aos fatores

limitados pela qualidade desta água. Um processo óbvio é a reciclagem da água,

com sua reinjeção no reservatório da qual foi produzida. Isto pode ser feito quando

se usam métodos de injeção de água para manutenção de pressão no reservatório,

porém mesmo para este método é requerido um tratamento prévio. Assim sendo, a

água produzida deve ser encarada como resíduo, devendo ser descarregada como

tal, sendo usada toda uma metodologia gerencial, econômica e ambientalmente

aceitável.

Em áreas offshore o descarte é feito em grandes ambientes receptores, como

mar aberto, onde a diluição e a dispersão rápida tomam lugar. Isto poderia ser uma

argumentação para o não tratamento da água produzida. Mas fatores tais como

correntes marítimas, ventos, temperatura da água, mudança de clima, podem

transportar ou mesmo concentrar alguns de seus constituintes (fenóis, íon NH4+

etc.).

A água produzida contém quantidades variadas de sais e gases dissolvidos

(CO, CO2, H2S), sólidos em suspensão, altos teores de contaminantes tóxicos como

metais (Cd, Cr, Cu, Pb, Hg, Ag, Ni, Zn), produtos químicos adicionados durante a

injeção (tais como inibidores de corrosão, inibidores de incrustação,

desemulsificantes, metanol, glicol, polieletrólitos), componentes com algum nível de

radiação, uma complexa mistura de compostos orgânicos e inorgânicos (cuja

composição varia com a vida do campo petrolífero) e altas concentrações de

cloretos (GARCIA, 1996). Estes componentes a tornam imprópria para consumo

humano e animal. O impacto ambiental dessas águas é avaliado pela toxicidade dos

constituintes e pela quantidade de compostos presentes. Alguns destes constituintes

permanecerão dissolvidos, enquanto outros são convertidos, seja por decomposição,

evaporação, transformação em outro composto não tóxico, depotando-se no fundo

do mar, etc. Os efeitos mais nocivos ao meio ambiente são aqueles associados aos

compostos que permanecem solúveis após o descarte, por interagirem diretamente

com a vida presente neste meio.

A produção de petróleo offshore origina e faz uso de águas de alta salinidade,

e devido aos grandes volumes gerados e da composição química complexa, faz-se

necessário um estudo detalhado de metodologias analíticas aplicadas a

caracterização destas águas, tendo em vista seus aspectos ecotoxicológicos e de

descarte. Em face à sua composição tão variável quanto a sua toxicidade, torna-se

necessário o estudo sobre a sua disposição, assim como a avaliação dos possíveis

impactos ao meio ambiente. Faz-se necessária uma análise criteriosa para

determinar o melhor tipo de tratamento e definir o método de descarte. A análise

química é um dos melhores meios para se detectar os problemas, portanto deve ser

feita como atividade de rotina em toda água produzida. Para isso, técnicas analíticas

que possam contribuir para a determinação dos constituintes destas águas se

tornam importantes pela necessidade do desenvolvimento de métodos analíticos,

robustos, simples, precisos e acurados, que permitam a determinação das espécies

de interesse nestas águas com a maior confiabilidade possível.

Mediante a importância de se ter o maior conhecimento possível dos

componentes da amostra, a Cromatografia de Íons é um dos métodos

cromatográficos com grande potencial para auxiliar na caracterização química da

água produzida. A Cromatografia de Íons, no modo de troca iônica, consiste na

separação e detecção de íons onde uma coluna de resina trocadora age como uma

fase estacionária, retendo temporariamente os íons que passam juntamente com o

eluente e, de acordo com afinidade diferenciada desses íons pela fase estacionária,

ocorre a separação.

Os íons, depois de separados, chegam até o detector onde os sinais são

registrados e os resultados são obtidos através da avaliação da área ou altura do

sinal onde, em ambos os casos, são proporcionais à concentração do analito.

Quando ocorre de um dos analitos estar em altas concentrações, há uma

sobreposição dos sinais, não ocorrendo a devida separação e, conseqüentemente,

impossibilitando a quantificação.

Este tipo de comportamento pode ser bem observado em águas de alta

salinidade, onde a separação não ocorre de modo eficaz devida à elevada

concentração do ânion cloreto. Neste caso, ocorre a sobreposição dos sinais de

outros ânions. Isto pode ser facilmente observado através da figura 1.

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0-200

500

1,000

1,400 RIO GRANDE DO NORTE AMOSTRAS #8 MCE 1 ECD_1µS

min

1 - 2.4472 - Fosfato - 5.533

3 - 6.097

Figura 1: Cromatograma de íons obtido para uma amostra com alta salinidade

destacando o sinal elevado devido à presença de alta concentração de cloreto.

A alta concentração de cloreto remete à necessidade de um prévio tratamento

da amostra, a fim de retirar o excesso desta espécie da matriz. Para tal, uma

metodologia para a remoção deste ânion se torna importante para permitir a

identificação e quantificação de todos os analitos de interesse que, na Cromatografia

de Íons, se não for feita causa sobreposição de sinais de outros ânions. Pode

também acarretar em danos, como a saturação da coluna analítica, diminuindo

gradativamente a sua vida útil.

2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVO

Como visto, a indústria de petróleo, em seu segmento de produção, gera

águas de alta salinidade, cuja caracterização é dificultada pela sua matriz complexa.

Contudo, devido ao grande volume gerado de água produzida durante a extração do

petróleo o estudo de seus constituintes se torna fundamental para que um descarte

adequado seja realizado.

Para isso, o estudo de técnicas analíticas que possam auxiliar na

determinação dos constituintes destas águas se torna importante, visando uma

melhor caracterização das mesmas e auxiliar na melhor forma de descarte ou reuso

destas águas.

O objetivo geral da presente dissertação consiste no desenvolvimento de

metodologias analíticas para a caracterização de águas hipersalinas (de formação e

produzida) da indústria de petróleo em relação a constituintes inorgânicos (ânions).

Como objetivo específico, pretende-se desenvolver métodos analíticos

utilizando colunas de troca iônica para retirada de cloreto e fazer uso da

cromatografia de íons para determinar alguns ânions que estão presentes nestas

águas, após a devida separação do íon cloreto.

Para o tratamento da matriz hipersalina, serão testados diferentes tipos de

materiais (trocadores iônicos) à base de resina catiônica na forma de prata, com a

finalidade de se encontrar uma boa alternativa para a retirada do cloreto existente na

matriz da amostra e viabilizar a posterior caracterização por cromatografia de íons

dos constituintes desta amostra pré tratada. Como trocadores iônicos, serão

testados resinas poliméricas tratadas com íon prata para que haja a retenção de

cloreto e, conseqüentemente, a sua retirada da matriz.

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 RESINAS TROCADORAS DE ÍONS

A troca iônica é um processo de superfície que ocorre entre o contato de um

sólido iônico e uma solução eletrolítica sem mudanças significativas na estrutura do

sólido. Diferentes substâncias naturais (incluindo alguns silicatos, celulose e outros)

possuem propriedades de troca iônica.

As primeiras observações, registradas na literatura, que fazem referência a

troca iônica foram realizadas por Way e Thompson em 1850. Eles descobriram que

o solo, ao ser percolado por soluções de NH4+, tinha a capacidade de remover estes

íons, substituindo-os por quantidades equivalentes de íons Ca2+. Partindo dessas

observações, varias tentativas de produzir trocadores iônicos mais apropriados

foram realizadas e, apesar da dificuldade encontrada, obteve-se êxito na aplicação

da troca iônica para o tratamento de água.

Uma vez que a natureza da troca iônica tinha sido estabelecida por

experiências em trocadores naturais (como aluminossilicatos), explorou-se o

potencial de outros materiais, como certas substâncias orgânicas. Hoje os

trocadores iônicos tornaram-se quase sinônimo de produtos sintéticos de alto poder

de troca iônica: as resinas de troca iônica.

As primeiras resinas sintéticas de troca iônica foram preparadas por Adams e

Holmes em 1935. A base de sua síntese foi a polimerização por condensação do

formaldeído (metanal) com fenol ou compostos de benzeno polissubstituidos,

contudo estas não eram totalmente eficientes. As pesquisas nesta área tiveram

continuidade e, em 1940, foram desenvolvidas resinas trocadoras baseadas na

copolimerização do estireno e divinilbenzeno. Estas resinas eram utilizadas como

um meio de tratamento da água.

Para tornar o polímero ativo, grupos funcionais ácidos e básicos são

quimicamente ligados à estrutura da resina, dando a elas características de

trocadores catiônicos e aniônicos, respectivamente. Os trocadores portadores de

cátions trocáveis são chamados de trocadores catiônicos, já os portadores de ânions

trocáveis são chamados de trocadores aniônicos. Os grupos funcionais mais

utilizados nas estruturas das resinas são ácidos sulfônicos (trocados catiônicos) e

aminas quaternárias (trocadores aniônicos).

Os trocadores iônicos são polímeros portadores de carga elétrica que é

estabilizada pelos contra-íons, como pode ser visto pela figura 2, onde um trocador

catiônico é constituído por um polímero contendo ânions ligados quimicamente

(como os ácidos sulfônicos) e cátions ativos como contra-íons e vice-versa.

Tanto as resinas catiônicas quanto as aniônicas são produzidas a partir dos

mesmos polímeros, diferindo apenas quanto aos grupamentos ionizáveis presos às

cadeias carbônicas. É esse grupo funcional que determina o comportamento químico

da resina.

Figura 2: Estrutura esquemática de uma resina trocadora de íons. Fonte: Helfferich,

1995.

Uma boa resina trocadora de íons deve ter algumas características:

suficientemente hidrofílica; com solubilidade desprezível; fisicamente estável; mais

densa que a água; resistente a ácidos e bases, a oxidação ou redução e a radiação;

constituída por material inerte e conter um número adequado de grupos trocadores

de íons.

A presença de divinilbenzeno (DVB) resulta em ligações cruzadas que

confere estabilidade mecânica à resina. A arrumação das cadeias carbônicas

interconectadas é o que assegura a pouca solubilidade das resinas trocadoras de

íons na maioria dos solventes, o que faz com que elas não sejam destruídas. As

resinas com muitas ligações cruzadas são, em geral, mais duras e mais

impermeáveis do que os materiais com poucas ligações cruzadas.

3.1.1 Resinas trocadoras de ânions

Resinas trocadoras de ânions são usualmente baseadas em grupamentos

amina e amônio com cargas fixas positivas. Sendo trocadores básicos, possuem

grupamentos do tipo amino, amino substituídos e amônio quaternário, onde os dois

primeiros possuem propriedades básicas fracas e a última sendo um trocador de

base forte.

A figura 3 mostra como ocorre a síntese de resinas trocadoras de ânions onde

é possível obter os trocadores aniônicos fracos e fortes.

As resinas de troca aniônica realizam troca entre os ânions da solução com

os ânions livres das resinas – também conhecidos como contra íons. Essas resinas

podem ser fracamente básicas e fortemente básicas. Para resinas fracamente

básicas, o grau de ionização é altamente influenciado pelo pH (ou seja, há poucos

ânions livres para que ocorra a troca aniônica), onde em pH acima de 7,0 a troca

aniônica é mínima. Já para as resinas fortemente básicas, que estão amplamente

ionizadas, a troca aniônica é máxima.

Figura 3: Rota de síntese de resinas trocadoras aniônicas. Fonte: Harland, C.E.

3.1.2 Resinas Trocadoras de Cátions

Os trocadores catiônicos mais usados pertencem a duas grandes categorias:

resinas trocadoras catiônicas fortes, onde temos as resinas sulfônicas; e as resinas

trocadoras catiônicas fracas, onde as mais usadas são as carboxílicas.

As resinas trocadoras catiônicas fortes são formadas através da ativação do

copolímero. A síntese da resina fortemente ácida, apresentada na figura 4, é

realizada por sulfonação da matriz com ácido sulfúrico quente introduzindo assim o

grupamento ácido sulfônico, gerando uma resina fortemente ácida trocadora de

cátions.

Resina fortemente básica Resina fracamente básica

Copolímero

Figura 4: Reações de síntese de resina trocadora fortemente ácida, na forma

hidrogenada.

As resinas fortemente ácidas podem estar na forma sódica ou hidrogenada,

dependendo da sua utilização. Estas resinas em ambas as formas estão altamente

dissociadas e os íons sódio e hidrogênio estão disponíveis para serem trocados em

qualquer faixa de pH. De acordo com Lee et al. (2005), isso traz uma importante

vantagem, já que sua capacidade de troca independe do pH do meio.

Já para a síntese de resinas trocadoras catiônicas fracas, o grupo trocador é

introduzido diretamente na resina através da reação do divinilvenzeno (DVB) com o

ácido metacrílico, como pode ser observado na figura 5.

Resina fortemente ácida

Copolímero para ligação cruzada

Cadeia de poliestireno linear

Divinilbenzeno

Estireno

Catalisador

Aquecimento

Figura 5: Reação de síntese da resina trocadora de cátions carboxílica

As resinas fracamente ácidas possuem comportamento químico semelhante

aos ácidos orgânicos fracos, sendo fracamente ionizáveis. Elas exibem uma

afinidade muito maior por íons hidrogênio do que as resinas fortemente ácidas. O

grau de dissociação dessas resinas é fortemente influenciado pelo pH do meio e, de

acordo com Schuweitzer (1979), elas possuem capacidade de troca muito reduzida

em valores de pH inferiores a 6,0.

3.1.3 Resinas Macroporosas e Microporosas

As resinas trocadoras catiônicas e aniônicas podem ser classificadas como

macroporosas e microporosas (também conhecidas como resinas do tipo gel), onde

a diferença estrutural entre elas pode ser vista na figura 6. A maioria dos trabalhos

desenvolvidos até hoje é realizado com resinas microporosas que contêm, no geral,

cerca de 8% de DVB, o que gera baixo conteúdo de ligações cruzadas, como pode

ser observado na figura 6A.

As resinas macroporosas (também conhecidas como resinas

macroreticulares) possuem uma estrutura rígida, esférica e possuem grande área de

superfície, como pode ser observado na figura 6B. Elas são mais rígidas por

possuírem uma grande quantidade de ligações cruzadas, o que não afeta a sua

capacidade de troca, já que elas possuem poros e canais por onde facilmente

Ácido Metacrílico

Divinilbenzeno Resina acrílica fracamente ácida

penetram os íons. Segundo Godos (2004) as resinas macroreticuladas são

usualmente usadas em processos catalíticos.

Figura 6: Representação esquemática das estruturas das resinas: (A) Microporosa

(tipo gel); (B) Macroporosa (macroreticular). Fonte: Kressman, T.R.E.

A morfologia dos polímeros influencia diretamente no seu desempenho e nas

suas aplicações. Para aplicação como adsorvente, a estrutura química e porosidade

são os parâmetros que afetam a capacidade total e a seletividade da resina.

Atualmente as resinas são comercializadas com teores de DVB que variam de 2 a

20%, sendo este o que atribui à resina o caráter microreticular ou macroreticular. A

tabela 1 mostra um comparativo entre os dois tipos de resinas onde é possivel

observar as suas caracteristicas.

Tabela 1: Comparativo entre resinas do tipo gel e macroporosas. Fonte: Dowex,

2006

Propriedades Gel Macroporosa Comentários

Capacidade

de troca Maior Menor -

Cinética Maior Menor -

Eficiência na

regeneração Maior Menor

O maior grau de ligações cruzadas nas

resinas macroporosas leva a eluições

mais lentas.

Estabilidade à

oxidação Menor Maior

Degradação térmica ou química devido

à quebra das ligações cruzadas e não

devido a sua desfuncionalização.

(A) (B)

Seletividade Menor Maior

Resinas macroporosas são mais

seletivas levando em conta o tamanho

do íon hidratado.

3.1.4 Capacidade de troca

Possivelmente esta é uma das características mais importantes de um

trocador iônico. É definido como o número total de equivalentes de um íon trocável

por quilograma de resina seca, ou seja, o número de miliequivalentes (meq) por

grama de resina seca. Por definição, o equivalente de um íon trocador será a massa

em gramas do íon (ou massa molar) por unidade de carga.

3.2 HISTÓRICO DA CROMATOGRAFIA

O termo “cromatografia” deriva das palavras chrom (cor) e graphe (escrever)

e foi atribuído ao botânico russo Mikhael Semenovich Tswett, que realizou uma

separação de componentes de extratos de folhas em uma fase sólida polar e

interpretou este processo. Apesar do nome, o botânico explicitou que o processo

não dependia da cor, exceto para facilitar o processo de separação.

“Cromatografia” é um termo geral utilizado para uma variedade de técnicas de

separação físico-químicas, das quais todas têm em comum a afinidade entre a fase

móvel e a fase estacionaria.

Em 1938 houve a descoberta da cromatografia em camada fina, que foi

aprimorada e refinada até que, em 1958, se tornou a técnica como é conhecida

atualmente.

Nos anos 1940 Martin e Synge publicaram a descoberta da cromatografia de

partição líquido-líquido. Eles aplicaram a teoria de altura equivalente a um prato e

anteciparam o surgimento de dois métodos cromatográficos: a cromatografia a gás e

a cromatografia a líquido de alta eficiência. A cromatografia a gás foi descrita ainda

nesta década por Hesse e colaboradores que separaram ácidos graxos no vapor a

100ºC, arrastando-os sobre sílica com dióxido de carbono.

Em 1952, Martin e James publicaram o primeiro trabalho com cromatografia a

gás, iniciando um rápido desenvolvimento desta técnica.

Outros desenvolvimentos na década de 1960 aperfeiçoaram os sistemas de

bombeamento e detecção em cromatografia a líquido de alta eficiência,

comprovando que o uso destes equipamentos, operado com fase móvel líquida sob

pressão e com métodos de detecção sensíveis, possibilita análises com rapidez

comparável às da cromatografia a gás, com resultados altamente satisfatórios

(Collins, 1990).

Em 1975 a cromatografia de íons foi introduzida por Small, Stevens e Bauman

como uma nova técnica analítica. Dentro de um curto período de tempo, foi

desenvolvido na cromatografia de íons um novo método de detecção que

selecionava íons inorgânicos, ânions e cátions, se tornando uma técnica analítica

versátil para espécies iônicas em geral. Para melhorar a sensibilidade da detecção

da condutância elétrica uma coluna supressora foi desenvolvida para reduzir o

“background” da condutividade do eluente, aumentando assim a condutividade

mensurável dos analitos iônicos em questão.

Em 1969 Fritz descreveu um método no qual a coluna de separação está

diretamente acoplada à célula de condutividade. Já no fim da década de 1970, o

método da cromatografia de íons foi utilizado para determinar íons orgânicos através

de um processo de exclusão iônica.

3.3 CROMATOGRAFIA DE ÍONS

A técnica denominada cromatografia de íons (IC), proposta em 1975 por

Small, Stevens e Bauman, possibilitou a resolução de muitos problemas

relacionados com a determinação de íons em solução.

Em termos gerais, a cromatografia de íons inclui processos cromatográficos

envolvendo diferentes mecanismos de separação ou combinação entre eles (troca

iônica, exclusão de íons, partição, adsorção, par iônico e fase reversa) com alta

velocidade de separação e alta eficiência com o detector "on line", permitindo a

determinação de espécies iônicas.

Essa técnica pode combinar a capacidade de separação da cromatografia de

troca iônica com a detecção condutimétrica que é ideal para acompanhar as

separações, devido à sua resposta universal aos íons. É um método sensível e

seletivo para a separação, detecção e quantificação de uma ou mais espécies

iônicas em solução.

A moderna cromatografia de íons foi inicialmente aplicada para separação e

determinação de ânions utilizando como eluente (fase móvel) soluções aquosas de

hidróxidos, carbonatos e carbonatos ácidos em um sistema de coluna de troca

aniônica acoplada a uma coluna supressora. Esta permitiu que a medida por

condutividade fosse sensível e seletiva. Trabalhos posteriores aplicaram a

cromatografia de íons para a determinação de cátions dispensando o sistema

supressor.

A coluna supressora tem como função diminuir quimicamente a condutividade

dos íons do eluente (supressão do sinal de fundo, "background") que saem da

coluna separadora convertendo-os em água ou ácidos fracos e, ao mesmo tempo,

converter as espécies de interesse numa forma mais condutiva, como ácidos e

bases fortes, que são então monitorados pela célula condutimétrica. Os resultados

quantitativos são obtidos por cálculo da área ou da altura do pico, que são

proporcionais à concentração da espécie a ser determinada.

Frankenberger Jr. et al. (1990) justificaram o rápido desenvolvimento da

técnica de cromatografia de íons por sua vasta aplicação na área ambiental.

Enfatizaram ainda a especiação de íons e fizeram uma revisão dos trabalhos

publicados aplicando a cromatografia de íons em diferentes tipos de amostras

ambientais (água de chuva, água subterrânea, água de superfície, rejeitos aquosos,

água potável, amostras de gelo, neve, solos, sedimentos, efluentes de esgotos,

plantas, ar, sistemas de exaustão, aerossóis, fumaça de chaminé, fuligem aérea,

óleo combustível e petróleo).

Em muitos casos, o sistema consiste de um eluente líquido, uma bomba de

alta pressão, uma válvula de injeção de amostra, o sistema de separação composto

pelas colunas de guarda e analítica, uma coluna de supressão, uma célula

condutimétrica e um sistema de análise de dados. O esquema deste sistema citado

está mostrado na figura 7.

O líquido que irá carrear a amostra no sistema cromatográfico, ou seja, a fase

móvel, é o eluente. A amostra é introduzida na corrente do eluente, onde seus íons

são separados à medida que se movem pela coluna analítica, que contém a fase

estacionária. Dependendo de sua afinidade com a fase estacionária, o tempo de

saída dos ânions será maior ou menor. Depois de passar pela coluna, os analitos

juntamente com o eluente chegam à coluna supressora, que melhora a detecção

dos íons da amostra enquanto suprime a condutividade do eluente, como pode ser

visto na figura 9. Ao sair do sistema de supressão, os analitos chegam ao detector,

que registra a condutância dos íons transmitindo o sinal para o computador.

Figura 7: Representação esquemática de um sistema de cromatografia de íons com

supressão de condutividade. Fonte: Dionex.

Para o presente trabalho, o tipo de cromatografia de íons utilizado é o de

troca iônica. Este modo de separação é tipicamente utilizado para a separação de

ânions ou cátions. Durante o processo cromatográfico, o contra-íon do eluente é

trocado pelo íon da amostra, e por um curto período este permanece ligado a carga

fixa do material polimérico. Devido a variações de afinidades entre os íons da

amostra e os da fase estacionária, a separação de vários componentes iônicos da

amostra se torna possível.

Para eletrólitos fracos, como ácidos e bases fracas, o principal fator limitante

da linearidade de detecção ena sensibilidade analítica é o grau de dissociação ou

ionização. Eletrólitos fracos não são completamente ionizados em solução. Em

qualquer instante, algumas moléculas estão sob forma não ionizada. As moléculas

não ionizadas não conduzem corrente e, sendo assim, a concentração de íons

detectados é menor que a concentração total de espécies em solução.

Para eletrólitos fortes, como, ácidos e bases fortes e seus sais, que estão, por

definição, completamente dissociados em solução, há condução de corrente elétrica

sendo todos íons detectados.

Com o intuito de reduzir o efeito da condutividade do eluente e melhorar a

sensibilidade, faz-se uso do sistema de supressão. Através da supressão o eluente

se torna um ácido fraco. Através da figura 8 é possível observar um esquema do

processo de supressão da condutividade. Como os ácidos fracos pouco se ionizam,

produzem baixa resposta no detector de condutividade, fazendo com que sua

condutividade seja reduzida e a resposta do analito seja maximizada.

Figura 8: Representação esquemática do processo de supressão da condutividade

do eluente. Fonte: Dionex

Com a coluna de supressão, os contra íons ligados ao analito (cátions) são

substituídos. Como exemplo, supondo uma separação típica de ânions onde o

analito de interesse é o cloreto (Cl-) utilizando como eluentes carbonato de

sódio/bicarbonato de sódio. A condutância total do NaCl será de 126 µS. Após a

troca iônica do sal com o supressor, o cloreto passará de sal a um ácido forte,

possuindo uma condutância de 426 µS cm-1. Logo, a sensibilidade e os limites de

detecção são melhorados com a supressão química, como pode ser visto na figura

9.

Figura 9: Representação esquemática da supressão de condutividade em

cromatografia de íons.

3.4 PARÂMETROS CROMATOGRÁFICOS DE INTERESSE ANALÍTICO

Os parâmetros cromatográficos são aqueles que avaliam a qualidade e

eficiência da separação. Estes parâmetros podem ser otimizados alterando as

propriedades das fases móvel e estacionária, permitindo um aumento da eficiência

da separação. Os parâmetros cromatográficos podem ser obtidos através de

informações presentes nos cromatogramas. Através da figura 10, é possível

visualizar alguns destes parâmetros, sendo possível determinar os parâmetros

cromatográficos, que estão descritos a seguir.

Figura 10: Cromatograma mostrando alguns parâmetros cromatográficos

- Resolução (R)

O objetivo dos processos cromatográficos é a separação dos componentes da

mistura em sinais distintos, ou seja, separar o componente 1 do componente 2.

(figura 10). A resolução é geralmente definida como a distância entre dois sinais

(picos) consecutivos dividida pela largura média da base dos picos. Isso é

simplesmente o significado da medida do grau de separação de dois componentes

do sistema. Nenhuma consideração é feita exceto que os picos sejam simétricos.

Assim, a resolução é determinada para dois picos adjacentes por intermédio da

equação:

R = T2 – T1

(W1 + W2) / 2

Onde:

T2 e T1 - é o tempo decorrido entre a introdução da amostra e o

máximo do sinal,

W1 e W2 - é largura a meia altura do pico.

Se os picos se exibem na forma de uma gaussiana, a resolução de R=2,0 é

suficiente para análise. Contudo, altos valores de R, indicam um tempo prolongado

de análise. Já valores muito baixos, como R = 0,5, indicam que alguns sinais de

componentes da amostra podem não ser reconhecidos como picos realmente

separados.

- Eficiência

A eficiência é a capacidade de uma coluna em reter um componente sem

difundi-lo. É a medida da dispersão de um sinal quando um analito se move pela

coluna. A eficiência é uma medida relacionada a coluna de separação e é

encontrada calculando-se o número de pratos teóricos (N), através da equação que

segue:

N = 5,54 ( T )2

W1/2

Onde:

T - é o tempo decorrido entre a injeção e o máximo do sinal,

W1/2 - é a largura da meia altura do pico.

N é proporcional ao comprimento da coluna logo, quanto maior a coluna,

maior o número de pratos teóricos.

A eficiência de uma coluna pode ser alterada pela vazão dos eluentes.

Quanto menor a vazão, maior a eficiência, ao passo que existe um tempo maior para

o analito na fase móvel interagir com a fase estacionária. Contudo, isto pode levar

também a um alargamento dos picos.

- Assimetria

Esta é uma importante propriedade pois trata-se das distorções frontais e

posteriores (caudas) dos picos que podem induzir a uma sobreposição. O fator

assimetria é calculado a 10 % da altura dos picos em relação à linha de base, sendo

uma medida da dispersão dos componentes da amostra no sistema cromatográfico.

Os picos são considerados gaussianos, embora eles dificilmente se apresentem

nesta forma.

As caudas que freqüentemente ocorrem nos picos cromatográficos,

correspondem aos analitos que ficam mais fortemente retidos na fase estacionária.

Já as caudas frontais, ocorrem quando os analitos ficam menos retidos pela fase

estacionária. A figura 11 mostra um pico cromatográfico e suas caudas, onde é

possível observar a forma de calculo da assimetria do pico.

Figura 11: Cromatograma mostrando o modo de cálculo da assimetria do pico.

Segundo Lanças (2004), quanto mais o valor determinado aproximar-se da

unidade, maior assimetria do pico e melhor seu comportamento cromatográfico.

- Capacidade de Retenção

A capacidade de retenção é definida como a medida da capacidade de uma

coluna em reter o analito. O fator de capacidade, k’, mede a característica de

retenção dos componentes e é dada por:

k’ = T – T0 T0

Onde:

- T é o tempo entre o pico do analito e o ponto de injeção;

- T0 é o tempo do Volume Morto.

Em outras palavras, o fator capacidade de retenção nos dá uma idéia de

quanto tempo o analito permaneceu na fase estacionária e na fase móvel. Ele é

utilizado para determinar a vida útil de uma coluna, e, portanto o momento de trocá-

la ou limpá-la. Quando uma coluna está deteriorada, existem poucos sítios

disponíveis na resina, devido ao leito da resina ter sido degradado ou saturado.

3.5 ESPECTROMETRIA DE EMISSÃO ÓPTICA COM FONTE DE PLASMA

INDUTIVAMENTE ACOPLADO – ICP OES

Os métodos espectrométricos abrangem um grupo de procedimentos

baseados na espectroscopia atômica e molecular. Uma parte da espectrometria se

refere às medidas de intensidade da radiação usando transdutores fotoelétricos ou

outros tipos de dispositivos eletrônicos. Os métodos espectrométricos mais

amplamente utilizados fazem uso da radiação eletromagnética (SKOOG et al.,

2006).

Para detecção, os constituintes de uma amostra devem ser convertidos em

átomos gasosos ou átomos ionizados, que podem ser determinados por medidas de

espectros de emissão, de absorção, de fluorescência ou de massa.

O plasma indutivamente acoplado é uma fonte efetiva para emissão de

radiação luminosa (emissão atômica) que pode, em princípio, ser usada para a

determinação de todos os elementos com energia de excitação menor que o gás

que suporta o plasma, o argônio (Thompson; Walsh, 1983). O plasma é um gás

parcialmente ionizado, produzido a partir de uma descarga em uma corrente de gás

inerte (argônio), mediante aquecimento por indução em uma tocha de quartzo

localizada dentro de uma bobina de indução ligada a um gerador de radiofreqüência,

operando com freqüência e potência apropriadas. O ICP é atualmente o mais usado

para fins analíticos devido a sua boa sensibilidade analítica (Hill, 1999).

O sistema usado para gerar o plasma é formado por três componentes

principais: uma tocha, uma bobina de indução magnética e uma fonte de

radiofreqüência. Na Figura 12 é mostrado um esquema de um plasma utilizado em

ICP.

Figura 12: Representação de um plasma indutivamente acoplado, onde H

representa o campo magnético induzido e I, a bobina de indução. Adaptada de

JARVIS et al., 1992.

A tocha consiste de três tubos concêntricos de quartzo. Na parte externa da

tocha, argônio é introduzido tangencialmente com vazões que variam de 8 a 20 L

min-1, em torno das paredes do tubo, provocando o isolamento térmico do cilindro

mais externo, que resfria as paredes internas do tubo central e centraliza

radialmente o plasma, sendo esta vazão de gás responsável pela sustentação do

mesmo (GINÉ, 1998). Na seção intermediária é introduzido o gás auxiliar, com

vazões que variam de 0,1 a 1,5 L min-1 o qual tem a função de dar um formato

adequado ao plasma, mantendo-o na ponta da tocha e evitando assim que a mesma

sofra processo de fusão. O tubo central é o que conduz a amostra em forma de

aerossol para o plasma (0,7 - 1,5 L min-1) que é chamado de gás de arraste.

Em torno da tocha encontra-se a bobina de indução (Figura 12) a qual é

refrigerada internamente ou o próprio argônio por água. A bobina de indução é

responsável por manter o plasma devido ao acoplamento da radiofreqüência (RF),

cuja freqüência usada em plasma de argônio é 27 ou 40 MHz, enquanto que a

potência pode variar de 800 a 1500 W. A fonte de radiofreqüência fornece corrente

elétrica que circula pelas espirais da bobina, induzindo um campo magnético

oscilante com linhas de força orientadas axialmente dentro do tubo, formando

elipses fechadas conforme indica a Figura 12. O campo magnético induzido acelera

os elétrons, os quais fluem em trajetórias anulares dentro da tocha produzindo

ionização por colisão, iniciando reação em cadeia com transferência energética que

produz aquecimento. O aquecimento gerado nessas colisões pode elevar a

temperatura do plasma a 10.000 K, o que garante a completa atomização e/ou

ionização da maioria dos elementos presentes (SKOOG, 2006). A Figura 13 mostra

um plasma em operação.

Figura 13: Foto de um plasma em operação. (THERMO, 2007)

O sistema de introdução de amostra é composto, em geral, por um

nebulizador e uma câmara de nebulização. O nebulizador produz um aerossol da

amostra que é conduzido ao plasma pela câmara, a qual favorece a introdução

apenas das gotículas menores, sendo as gotículas com tamanho médio maior do

que 10 a 20 µm descartadas. Geralmente somente uma fração (da ordem de 2 a

5%) da amostra atinge o plasma. Nele ocorrem os processos de dessolvatação

(evaporação do solvente), volatilização e atomização/ionização. Durante o processo

de transporte da amostra até o plasma, podem ocorrer interferências não espectrais

relacionadas às propriedades físicas como viscosidade da solução e/ou à presença

de constituintes combustíveis que podem alterar a temperatura do plasma (SKOOG,

2006).

A Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado

(ICP OES) se destaca por ser uma técnica de grande precisão e exatidão, com

capacidade de analisar simultaneamente e/ou sequecialmente elementos em faixas

Tocha

Bobina de RF

de concentrações muito diferentes. A Emissão Óptica com Plasma (ICP OES) é uma

técnica analítica moderna e poderosa para determinação de metais e outros

elementos nas mais diversas amostras ambientais devido à alta sensibilidade (ppm a

ppb) e seletividade alcançada.

A capacidade multielementar da técnica de ICP OES é uma das mais

importantes características, juntamente com a espectrometria de massa com fonte

de plasma indutivamente acoplado (ICP-MS), podendo ser utilizada para a

determinação de, aproximadamente, 70 elementos em uma ampla variedade de

amostras (NÖLTE, 2003).

A técnica de ICP OES é baseada na medida da intensidade da radiação

emitida, quando um átomo ou íon excitado pelo plasma volta a seu estado

fundamental. Cada elemento emite radiação em comprimentos de onda

característicos e estas linhas de emissão podem ser usadas para análise

quantitativa depois de uma calibração (SKOOG et al., 2006).

Essa técnica é utilizada no Brasil desde a década de 70, quando foram

instalados os primeiros equipamentos de ICP OES. Desde então, seus componentes

ópticos e sistemas de detecção vem sendo aprimorados, a fim de se obter

resultados mais exatos e precisos. Um exemplo é o emprego da visão axial do

plasma, que proporciona melhores LDs em relação à visão radial, em cerca de uma

ordem de grandeza, embora os efeitos de matriz sejam mais acentuados (SILVA et

al., 2002).

A diferença principal entre as duas configurações (axial e radial) consiste

basicamente na composição da faixa espectral observada. Instrumentos com visão

axial têm a tocha posicionada horizontalmente em relação ao sistema óptico,

enquanto que em instrumentos com visão radial a tocha tem posicionamento vertical

(Figura 14). Os aparelhos com configuração da visão axial apresentam limites de

detecção (LD) 2 a 20 vezes melhores que os de visão radial, apesar de sofrerem

mais com as interferências de matriz e recombinação na cauda do plasma (região

mais fria) (TREVISAN, 2007).

Figura 14: Esquema mostrando as conficgurações Radia (a) e Axial (b) de

observação do plasma.

Existem também alguns instrumentos que combinam os dois modos de

observação (dual view - DV) em uma única unidade onde a radiação é coletada por

um foco ótico, com lentes convexas ou côncavas. A escolha do modo de observação

mais adequado é controlada pelo operador (Figura 15).

Figura 15: Representação esquemática de um plasma com observação radial e axial

- Dual View (THERMO, 2005)

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 SOLUÇÕES E REAGENTES

4.1.1 Análises volumétricas

Para os testes de capacidade de troca das resinas, utilizou-se soluções

aquosas de cloreto de sódio (NaCl, Merck, Darmstadt, Alemanha) 1 mol L-1

preparadas adequadamente em balões volumétricos devidamente aferidos e

armazenadas em frascos de polietileno. O cloreto de sódio foi previamente seco em

estufa por 2 horas a 120°C, utilizando água ultra p ura para o preparo da solução.

Os ácidos utilizados nas análises volumétricas foram padronizados com

solução de hidróxido de sódio (NaOH, Merck, Darmstadt, Alemanha) previamente

titulado com padrão primário de hidrogenoftalato de potássio (C8H5KO4, Vetec

Química Fina, Rio de Janeiro, Brasil) dessecado por 1 hora em estufa à 110°C.

Para a determinação da concentração de cloreto pelo método de Mohr, o

titulante utilizado foi uma solução aquosa de nitrato de prata (AgNO3, Vetec Química

Fina, Rio de Janeiro, Brasil), preparado com reagente PA e água ultra pura. O

reagente sólido foi devidamente seco em estufa a 150°C por duas horas e, após

preparo, padronizado com solução de cloreto de sódio (NaCl). O reagente foi

estocado em frasco de vidro âmbar. Para a titulação, utilizou-se como indicador do

ponto de equivalência, cromato de potássio 5% (Riedel-de Haën, Seelze,

Alemanha), preparado dissolvendo cromato de potássio em água ultra pura.

4.1.2 Determinação dos íons

Para a determinação de prata por ICP OES utilizou-se soluções aquosas de

Ag+ que foram preparadas em balões volumétricos, a partir de diluição de solução-

padrão estoque de concentração 1.000 mg L-1 (CertiPrep SPEX, Metuchen, USA),

até as concentrações necessárias para a obtenção de curva analítica (preparada

sempre no dia da determinação). Para preservação dos íons de prata, foi utilizado

ácido nítrico (Merck, Darmstadt, Germany).

Tubos graduados de polietileno foram utilizados em todas as etapas. Os

mesmos foram mantidos por 24 horas em solução de ácido nítrico 10% v/v na etapa

de determinação de prata por ICP OES e mantidos em solução de ácido clorídrico

1% v/v (HCl, Merck, Darmstadt, Alemanha) na etapa de determinação de ânions por

cromatografia de íons. Antes do uso, os frascos foram rinsados com água ultra.

Para a quantificação dos ânions por cromatografia de íons, fez-se uso de um

eluente composto por uma solução mista de 4,5 mmol L-1 de carbonato de sódio

(Na2CO3) e 0,8 mmol L-1 de bicarbonato de sódio (NaHCO3), sendo ambos de grau

analítico (Acros Organics, Geel, Bélgica). A calibração foi feita através do método de

curva analítica, onde fez-se uso do padrão estoque de sete ânions da empresa

DIONEX (Dionex Corporation, Sunnyvale, CA, EUA), que foi diluído com água ultra

pura, até as concentrações desejadas para a obtenção da curva analítica, sendo

todos preparados em balões volumétricos devidamente aferidos.

Para teste de retenção de ânions nas resinas, fez-se uso de soluções dos

ânions fluoreto (fluoreto de sódio, NaF, Vetec Química Fina, Rio de Janeiro, Brasil),

nitrito (nitrito de sódio, NaNO2, Merck, Darmstadt, Alemanha), brometo (brometo de

potássio, KBr, Merck, Darmstadt, Alemanha), nitrato (nitrato de sódio, NaNO3,

Merck, Darmstadt, Alemanha), fosfato (hidrogenofosfato (ou bifosfato) de sódio,

NaHPO3, Merck, Darmstadt, Alemanha) e sulfato (sulfato de magnésio, MgSO4,

Reagen, Rio de Janeiro, Brasil) em diferentes concentrações. As soluções-padrão

estoque foram preparadas a partir dos reagentes sólidos de grau analítico, em

balões volumétricos aferidos e com água ultra pura, sendo estocados em frascos de

polietileno.

4.2 INSTRUMENTAÇÃO

Para a determinação de prata, fez-se uso de um espectrômetro de emissão

ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP OES - Thermo Fisher Scientific,

Bremen, Alemanha) modelo iCAP 6300. Os parâmetros instrumentais para a

determinação de prata podem ser encontrados na tabela 2.

Tabela 2: Parâmetros instrumentais utilizados durante os estudos envolvendo a

determinação de prata nas amostras percoladas nas minicolunas

Parâmetro Valor

Potência do gerador de Radiofreqüência (W) 1350

Vazão do gás auxiliar (L min-1) 1,5

Tipo de nebulizador Mira Mist

Pressão do nebulizador (bar) 0,2

Tempo de integração (s) 1

Tempo de estabilização (s) 5

Gás de purga Ar

Comprimento de onda (nm) para Ag 328,068

Número de replicatas 2

A observação do plasma foi feita em duas configurações: na vista axial e

radial. Através de ambos os resultados, avaliou-se qual modo de observação

forneceu a melhor resposta. Como método de quantificação, utilizou-se curva de

calibração. As amostras foram introduzidas sem previa filtração, via nebulizador Mira

Mist (Mira Mist CE, Burgener Research Inc., Ontario, Canadá) com câmara ciclônica.

A figura 16 mostra uma fotografia do equipamento utilizado nas análises.

Figura 16: Fotografia do ICP OES Thermo Scientific Modelo iCAP 6300

As análises cromatográficas foram efetuadas com sistema cromatográfico de

íons DIONEX (Dionex Corporation, Sunnyvale, CA, EUA), modelo ICS 2500 com

detecção condutimétrica equipado com uma bomba gradiente GP 50, uma célula de

condutividade com estabilizador de detecção DS3 controlada por um módulo ED 50,

uma célula de supressão ASRS ultra II 4 mm, uma coluna analítica AS 23 (4 x 250

mm) e uma coluna de guarda AG 23 (4 x 50mm). O controle da instrumentação,

assim como o controle dos dados analíticos, foi efetuado com o auxilio do software

Chromeleon 6.5. A figura 17 mostra uma fotografia do equipamento utilizado.

Figura 17: Cromatógrafo de Íons utilizado nas análises.

Todos os reagentes e soluções foram preparados com água ultra pura obtida

de um sistema Milli-Q (Elix e Synergy, Millipore, Bedford, MA, USA). Um banho

ultrassom Branson 1510 foi utilizado para a retirada de gases solúveis dos eluentes

preparados. Filtros 0,22 µm Millex da Millipore foram utilizados para filtrar as

amostras que passaram pelo cromatógrafo de íons, assim como seringas

hipodérmicas descartáveis de 1 mL utilizadas para introdução das amostras.

Cartuchos comerciais Onguard II – Ag (2,5 cc) e OnGuard II – H (1 cc) (DIONEX)

foram utilizados para a retirada de cloreto da amostra e da prata proveniente do

cartucho Onguard II – Ag, respectivamente, das matrizes de amostras.

4.3 METODOLOGIA UTILIZADA

A metodologia utilizada pode ser representada através da figura 18, onde

tem-se as etapas realizadas.

O presente trabalho se iniciou na busca de uma nova metodologia para a

determinação de ânions em matrizes de alta salinidade. Inicialmente, fez-se a

escolha das resinas que seriam utilizadas e, após verificar os diferentes tipos de

trocadores catiônicos, escolheu-se quatro resinas de propriedades distintas, sendo

elas: Amberlite IR 120, Amberlite IRC 50, Dowex 50W X8 100 e Lewatit S100. Todas

as resinas se encontravam na forma de H+ e foram escolhidas de acordo com suas

propriedades encontradas em literatura, que podem ser observadas na tabela 3.

Tabela 3: Propriedades das resinas trocadoras de cátions

Resina Trocadora

Grupo Funcional

Matriz (Porosidade)

Temperatura máxima (°C)

Forma iônica

% de umidade

Capacidade de Troca (meqg/g)

Amberlite IR 120

Sulfônico Gel 120 H 45 4,4

Amberlite IRC 50

Carboxilico Macroporosa 120 H 48 10

Dowex 50W X8

Sulfônico Gel 150 H 53 4,8

Lewatit S100

Sulfônico Gel - H 51 4,7

RetirouCloreto?

Sim

Não

Análise Volumétrica Método de Mohr

Teste de Retenção de Cloreto

Tratamento das resinas com Ag +

RetirouAg+ ?

Teste para retenção de

Ag+

Análise de Ag +

Remanescente por ICP OES

Análise de Ag +

Remanescente por ICP OES

Não

Teste de Retenção de Ânions por Cromatografia

de Íons

SimComparação com

Cartuchos Comerciais

Figura 18: Fluxograma de etapas para o tratamento das amostras hiper salinas.

Após identificar os trocadores, iniciou-se uma pesquisa para a determinação

de suas propriedades, em especial a capacidade de troca catiônica.

4.3.1 Cálculo do teor de umidade das resinas utiliz adas

Pesou-se em balança analítica uma massa aproximada de 0,200g de resina

trocadora catiônica. Esta foi levada a estufa a uma temperatura de 105 °C até se

obter peso constante. O calculo do teor de umidade das resinas foi realizado para

poder dar prosseguimento na determinação da capacidade de troca.

4.3.2 Determinação da capacidade de troca das resin as

Em um bécher, pesou-se em balança analítica 0,200 g de resina trocadora de

cátions. Adicionou-se 25 mL de NaOH 0,1 mol L-1 deixando sob agitação constante

por 24 horas. Depois de decorrido o tempo determinado, retirou-se duas alíquotas

de 10 mL deste sobrenadante e adicionou-se 1 gota do indicador fenolftaleína. Em

seguida essas alíquotas foram tituladas com uma solução de HCl 0,1 mol L-1.

O cálculo da capacidade de troca catiônica (CTC) das resinas foi determinado

através da equação abaixo:

CTC = VNaOH * CNaOH – VHCl*CHCl

Massa de resina seca (g)

Onde: VNaOH = Volume de sobrenadante utilizado na titulação

CNaOH = Concentração da solução de NaOH utilizado no teste

VHCl = Volume de HCl gasto na titulação

CHCl = Concentração da solução de HCl utilizado na titulação

Realizou-se esse mesmo procedimento para as quatro diferentes resinas,

determinando a capacidade de troca de cada uma delas.

4.3.3 Testes de troca iônica das resinas trocadoras de cátions

O íon cloreto precipita com o íon de prata sob a forma de AgCl. Sendo assim,

decidiu-se tratar as resinas com íons de prata, de modo que o hidrogênio desses

trocadores catiônicos fossem substituídos por prata. Através da capacidade de troca

obtida para cada resina, calculou-se a quantidade de prata necessária para que

todos os hidrogênios ligados à resina fossem substituídos por prata. Esta resina

tratada foi então chamada de resina de prata.

Uma massa de 2,000 g de cada tipo de resina seca foi previamente pesada

em balança analítica e, para cada tipo de resina, uma massa de nitrato de prata foi

adicionado. Colocou-se então 10 mL de água para a dissolução do nitrato de prata,

agitando para uma perfeita homogeneização. Deixou-se a resina em solução de

nitrato de prata por 24h.

Após tratamento, lavou-se intensamente as resinas com água ultra-pura para

certificar-se que toda a prata que não foi trocada não ficasse adsorvida na resina.

Reservou-se um volume de 5,0 mL dessas águas de lavagem para verificar a

presença ou não de prata por ICP OES. Depois da lavagem final, as resinas eram

levadas à estufa para secagem a uma temperatura de 70 °C até peso constante.

Com as resinas devidamente secas, as mesmas foram estocadas em frascos

recobertos com papel alumínio para não permitir o contato com a luz do ambiente,

evitando assim que a resina tratada com prata fosse degradada.

Com esta resina, montou-se mini colunas com tubos do tipo Tygon, que foram

pesadas em balança analítica e, em seguida, preenchidas com resina tratada até

que atingisse uma massa de resina de cerca de 0,200 g. Com a mini coluna pronta

para uso, iniciou-se os testes para verificar se havia a retenção de cloreto pelas

colunas ou não.

Para isso, preparou-se uma solução de cloreto de sódio 5,8 g L-1 e, com uma

bomba peristáltica, passou-se a solução do sal pela coluna a uma vazão de 0,5 mL

min-1. A solução salina que eluiu pela coluna foi coletada a cada fração de 0,5 mL e

levada a um volume final de 5,0 mL onde foi realizada a determinação de cloreto

pelo método de Mohr.

O método de Mohr é uma análise volumétrica que emprega a titulação de

cloreto utilizando como titulante uma solução de nitrato de prata 0,01 mol L-1 como

reagente. A solução neutra é titulada com AgNO3, em presença de K2CrO4, que atua

como indicador. O cloreto precipita na forma de AgCl e, na presença do primeiro

excesso de prata no meio, o indicador reage formando um precipitado vermelho –

alaranjado de AgCrO4 mostrando o fim da titulação. Através do volume de titulante e

de sua concentração, pode-se quantificar o cloreto presente na amostra.

4.3.4 Aplicação do método em amostras de matriz com alta salinidade

Comprovada a retenção de cloreto pelas mini colunas de resina tratada com

prata, preparou-se novas resinas para testes com amostras de alta salinidade. As

amostras utilizadas eram de água do mar, onde a concentração média de cloreto

esta em torno de 30 g L-1.

Seguindo o mesmo procedimento dos testes de troca iônica, montou-se mini

colunas com massa de aproximadamente 0,200 g de resina trocadora catiônica.

Percolou-se as amostras de água do mar pelas colunas com a bomba peristáltica a

uma vazão de 0,5 mL min-1. Assim como nos testes as amostras foram coletadas em

frações de 0,5 mL e diluídas a um volume final de 5,0 mL. Estas soluções coletadas

foram então separadas em duas frações onde 3,0 mL foi reservado para a

determinação de prata sendo acidificada com acido nítrico para a sua conservação

até a análise por ICP OES. Aos outros 2,0 mL, adicionou-se 1 gota do indicador

cromato de potássio 5% sendo esta amostra titulada contra uma solução de nitrato

de prata 0,01 mol L-1, como descrito pelo método de Mohr.

4.3.5 Determinação de prata remanescente na resina por ICP OES

Para a determinação da prata remanescente na resina que chega aos eluídos

das amostras, utilizou-se um espectrômetro de emissão óptica com plasma

indutivamente acoplado (ICP OES). A observação do plasma foi realizada tanto no

modo axial quanto na radial, podendo assim verificar qual das duas visões

apresentava melhor sensibilidade.

Foi utilizado o método de curva analítica na determinação de prata. As curvas

analíticas para o íon de prata foram construídas a partir de solução estoque e

diluídas a concentrações de 0 – 5,0 mg L-1 utilizando-se diluições adequadas para o

padrão de 1000 mg L-1. Os padrões e as amostras foram introduzidos via

nebulizador, e a quantificação foi realizada nas duas visões (axial e radial). Como é

possível observar pela tabela 4, a visão axial obteve valores de intensidade

superiores em relação a visão radial.

Tabela 4: Valores de intensidade de emissão obtidos para os diferentes modos de

observação de acordo com a concentração dos padrões.

Concentração (ppm)

Intensidade Vista Axial

Intensidade Vista Radial (contagem por segundo)

0,00 119,7 9,025 0,10 3989 155,6 0,25 9625 299,3 0,50 20030 627 1,00 38880 1459 2,50 99820 3781 5,00 195100 7457

Como os gráficos da curva analítica mostraram uma mesma tendência em

ambas as visões, optou-se por utilizar somente a visão axial para a quantificação

das amostras. As figuras 18 e 19 mostram as curvas analíticas obtidas. Através da

equação obtida pela curva, fez-se a determinação da concentração das amostras.

Figura 19: Gráfico mostrando as intensidades da Visão Axial em função da

concentração de Ag+ em mg L-1

Figura 20: Gráfico mostrando as intensidades da Visão Radial em função da

concentração de Ag+ em mg L-1

4.3.6 Testes para retenção da prata remanescente ap ós passagem pelas

colunas contendo resinas a base de prata

Para a retenção da prata residual encontrada nos eluatos, montou-se mini

colunas com a finalidade de reter a prata que sai das mini colunas de retenção de

cloreto. As mini colunas de retenção de prata foram preparadas com tubos do tipo

Tygon e preenchidas com aproximadamente 0,100 g de resina catiônica na forma de

hidrogênio seca. As resinas utilizadas para retenção de prata são as mesmas

utilizadas nas mini colunas de retenção de cloreto. Contudo estas resinas não foram

pré-tratadas com prata, elas foram apenas lavadas e secas em estufa a 100 °C até

peso constante. Por não terem sido previamente tratadas, estas se encontram na

forma de hidrogênio, podendo dessa forma reter a prata remanescente na resina de

prata.

Sendo assim, montou-se em sequência a mini coluna de resina na forma de

prata seguida da mini coluna de resina na forma de hidrogênio. Montado este

esquema, fez-se a percolação da amostra de matriz salina de forma que essa

amostra passasse pelas duas resinas. Coletou-se frações a cada 0,5 mL de amostra

eluida, levando-se a um volume final de 5 mL. Essas amostras foram então

novamente separadas em duas alíquotas, onde uma alíquota de 3,0 mL foi

reservada e acidificada para posterior quantificação de prata por ICP OES. A

segunda alíquota contendo 2,0 mL, foi titulada pelo método de Mohr com solução de

nitrato de prata 0,01 mol L-1 utilizando 1 gota de solução de dicromato de potássio

5% como indicador.

4.3.7 Testes de retenção de ânions pelas colunas mo dificadas com prata

Para verificar a eficiência de trabalho da resina proposta, realizou-se testes

para verificar a possível retenção dos ânions de trabalho pelas resinas modificadas

com prata utilizando a Cromatografia de Íons. Para tal, preparou-se um padrão

contendo seis ânions, onde suas respectivas concentrações podem ser observadas

pela tabela 5.

Tabela 5: Concentração dos íons contidos no padrão preparado com seis diferentes

ânions.

Ânions Concentração (mg L -1)

Fluoreto 1,0

Cloreto 5,0

Nitrito 5,0

Brometo 5,0

Nitrato 5,0

Fosfato 5,0

Sulfato 4,0

Inicialmente, percolou-se, com o auxílio de uma bomba peristáltica a uma

vazão de 0,5 mL min-1, a solução com os padrões de ânions pela coluna de prata e

pela coluna de hidrogênio, com o objetivo de observar se a resina estava retendo ou

não os ânions de interesse.

Após esta avaliação, realizou-se um estudo de como esses ânions eram

retidos com a variação da salinidade do meio. Sendo assim, preparou-se diferentes

soluções-padrão de ânions, mantendo-se a concentração dos seis ânions de

trabalho (tabela 5), variando-se apenas a concentração do íon cloreto no meio. Fez-

se um estudo em duas partes, onde a primeira visava avaliar a retenção desses seis

ânions em concentrações muito baixas de cloreto e a segunda visava avaliar

retenção desses ânions em concentrações mais altas. As concentrações de cloreto

estudadas variavam de 1 a 40.000 mg L-1.

As soluções foram injetadas no cromatógrafo de três diferentes formas: a

primeira, sendo a solução de padrões com a sua respectiva concentração de cloreto;

a segunda referente à primeira fração coletada após a percolação pelas duas

colunas, ou seja, os primeiros 0,5 mL eluídos; e a terceira referente à segunda

fração percolada pelas duas colunas ( 0,5 mL).

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 TEOR DE UMIDADE E CAPACIDADE DE TROCA DAS RESINAS

Os testes de capacidade de troca realizados mostraram muito pouca

divergência em relação às especificações do fabricante para cada tipo de resina. A

tabela 6 mostra as capacidades de troca encontradas para cada tipo de resina assim

como o teor de umidade.

Tabela 6: Resultados obtidos para a determinação da capacidade de troca catiônica

(CTC) das resinas e seus respectivos percentuais de umidade.

Resina % de umidade

CTC Teórica (meqg/g)

CTC experimental (meqg/g)

Amberlite IR 120 21,9 4,4 4,54 Amberlite IRC 50 46,2 10 9,93

Lewatit S 100 34,8 4,7 4,75 Dowex 50w X8 - 100 36,25 4,8 4,86

A umidade foi determinada para que fosse possível calcular a capacidade de

troca, tendo em vista que esta é expressa em função da massa seca de resina.

Através da tabela 6, é possível observar que os valores de capacidade de troca

obtidos foram os esperados, de acordo com literatura consultada.

Com base nos valores de capacidade de troca obtidos na tabela 6, calculou-

se a massa de nitrato de prata a ser utilizada. Para cada 1,0 g de resina, calculou-se

a quantidade de íon Ag+ necessário para que houvesse a troca de todos os

hidrogênios dos sítios da resina trocadora. Sendo assim, o número de mili

equivalentes-grama (meqg) de prata deve ser igual a capacidade de troca catiônica

(número de mili equivalentes-grama de H+) de cada resina. Com base na massa de

prata necessária, determinou-se a massa de nitrato de prata, adicionando-se um

pequeno excesso. Realizou-se o tratamento de cada resina, deixando-a em contato

com nitrato de prata por 24 horas.

5.2 TESTES DE TROCA IÔNICA DAS RESINAS TROCADORAS DE CÁTIONS

Após as resinas tratadas e secas, montou-se mini colunas que foram

percoladas com solução de NaCl 5,8 g L-1, com bomba peristáltica a uma vazão de

0,5 mL min-1. Frações de 0,5 mL de eluato foram coletados e diluídos a 5,0 mL, onde

uma alíquota de 2,0 mL foi titulada com AgNO3 0,01 mol L-1 pelo método de Mohr. A

figura 20 mostra um gráfico com os resultados das concentrações de cloreto obtidas

para cada resina na forma de prata.

Figura 21: Teste de retenção de cloreto das quatro diferentes resinas

Através dos testes de retenção de cloreto, verificou-se que dentre as quatro

resinas utilizadas, as resinas Lewatit e Amberlit IRC 50 não apresentavam uma

retenção do cloreto satisfatória. A quantidade de cloreto retida em ambas resinas foi

muito pequena ao se avaliar o volume de solução percolada. Nas duas resinas, o

volume máximo de solução que obteve retenção de cloreto foi de 3,0 mL. Este

volume foi considerado insatisfatório tendo em vista que as amostras de alta

salinidade possuem uma concentração de cloreto muito superior a solução utilizada

no teste (NaCl 0,1 mol L-1).

Sabe-se que resinas trocadoras catiônicas fracas não possuem uma ampla

troca pois, por possuírem grupamentos de ácido fraco os hidrogênios não estão

todos disponíveis para troca. Ou seja, os hidrogênios da IRC 50 não estão

totalmente dissociados para que possam ser trocados pela prata. Isso também

restringe o pH de trabalho, o que faz com que não atuem em toda a faixa de pH.

Logo, deu-se continuidade ao trabalho com apenas as outras duas resinas: Dowex e

Amberlite IR 120, que foram as que apresentavam retenções de cloreto significativas

para o presente estudo.

5.3 APLICAÇÃO DO MÉTODO A MATRIZES DE ALTA SALINIDADE E

DETERMINAÇÃO DE PRATA POR ICP OES

Após comprovada a retenção de cloreto pelas mini colunas de prata, aplicou-

se esta metodologia a matrizes com alta salinidade. Para tal, utilizou-se amostras de

água do mar, com salinidade em torno de 35 g L-1. Percolou-se as amostras de água

do mar com uma bomba peristáltica, coletando-se frações a cada 0,5 mL e diluindo a

um volume final de 5,0 mL.

Titulou-se o eluato proveniente da mini coluna de resina de prata, onde foi

possível observar uma redução considerável da concentração de cloreto da amostra,

como pode ser verificado pelas figuras 21 e 22. Para a resina Amberlite IR 120, foi

possível observar uma maior retenção de cloreto ao ser comparada com a Dowex

50W, onde esta maior retenção na primeira resina pode ser atribuída ao fato de

possuir granulometria mais fina do que a segunda, tendo uma maior área superficial

e, conseqüentemente, sítios ativos mais disponíveis na IR 120 do que na Dowex.

A alíquota reservada foi levada para a determinação de Ag+ por ICP OES,

onde fez-se uso da visão radial e axial. Como em ambas as visões obtiveram-se a

mesma tendência nas análises, utilizou-se a visão axial, onde foi observada maior

sensibilidade e, consequentemente, maior intensidade do sinal. Através das figuras

21 e 22, é possível verificar a quantidade de prata que é liberada durante a eluição

da amostra pelas colunas Amberlite IR 120 e Dowex, respectivamente.

Figura 22: Variação da concentração dos íons cloreto e prata em função do volume

de amostra de matriz salina a ser percolada em mini coluna contendo resina IR 120

Como é possível observar pela figura 21, a resina IR 120 apresenta uma

retenção de cloreto para as duas primeiras frações de 0,5 mL de amostra percolada,

ou seja, para o primeiro 1,0 mL de amostra, as concentrações de cloreto são muito

baixas. O que indica que a massa de resina utilizada (0,200 g) é suficiente para fazer

o tratamento da matriz salina em 1,0 mL de amostra. Este volume, apesar de

pequeno, é suficiente para análises em cromatografia de íons, já que o volume de

amostra injetada é de 25 µL. Contudo, a concentração de prata que é liberada na

amostra durante a eluição é muito alta. O mesmo acontece com a percolação da

amostra na resina Dowex, como é possível ver na figura 22.

Figura 23: Variação da concentração dos íons cloreto e prata em função do volume

de amostra de matriz salina a ser percolada em mini coluna contendo resina Dowex.

Semelhante ao que ocorre com as amostras percoladas na resina IR 120, as

amostras percoladas na resina Dowex 50 W também liberam íon de prata em

grandes concentrações. Contudo no caso da resina Dowex 50 W, a retenção de

cloreto ocorre de forma significativa apenas na primeira fração de amostra

percolada, ou seja, nos primeiros 0,5 mL. Como já foi dito anteriormente,

possivelmente essa maior retenção da resina IR 120 deve ser devido ao fato de

possuir uma superfície de contato maior do que na resina Dowex 50 W, já que esta

primeira possui granulometria menor e ambas as resinas são trocadores fortes com

a mesma capacidade de troca.

Através dos gráficos representados nas figuras 21 e 22, pode-se observar que

as amostras após a percolação liberavam uma grande quantidade de prata para o

meio. Esta prata é proveniente de AgCl coloidal formado e de Ag+ dissolvido que é

liberado para o meio durante o procedimento de precipitação. A alta concentração

deste cátion gera uma grande dificuldade da determinação de ânions por

cromatografia de íons, uma vez que a prata liberada prejudica a coluna de forma

irreparável. Isto ocorre porque os sítios de troca iônica da coluna analítica ficam

permanentemente substituídos por este cátion.

Sendo assim, mini colunas para a retenção de Ag+ foram testadas para não

permitir danos à coluna analítica. As colunas para retenção de cloreto e retenção de

prata foram conectadas uma a outra, onde, ao ser percolada, a amostra passa

primeiramente pela resina de prata, retendo o cloreto do meio. Logo em seguida a

amostra passa pela coluna com resina na forma de hidrogênio, retendo a prata que

era liberada.

Novamente, as quatro resinas de trabalho foram testadas, obtendo-se valores

significativos de retenção da prata apenas para as resinas Amberlite IR 120 e Dowex

50 W. Isto pode ser observado pela figura 23, que mostra um gráfico de retenção de

prata pelas quatro resinas de estudo.

Figura 24: Variação da retenção de prata referente as quatro resinas em estudo em

função do volume de amostra percolado.

Através do gráfico representado pela figura 23, é possível verificar que a

resina Amberlite IRC 50 e Lewatit S100 - H não trocam o íon H+ por íon de prata de

forma eficiente. Ou seja, a prata que sai das colunas de retenção de cloreto não

ficam retidas de forma significativa pelas mini colunas feitas por essas resinas.

Tendo em vista que as duas resinas (Amberlite IR 120 e Dowex W50)

apresentavam resultados satisfatórios, optou-se em utilizar para os demais testes de

retenção de prata. Os resultados para a retenção do cátion Ag+ em relação à

retenção de cloreto, para as duas resinas em estudo, podem ser observados através

da figura 24 e 25, que representam os gráficos que mostram a retirada de cloreto do

meio e da retirada da prata remanescente.

Através dessas figuras é possível verificar que a prata que sai juntamente

com a amostra durante a percolação encontra-se em concentrações muito baixas,

permitindo que estas amostras possam ser introduzidas no cromatógrafo de íons

sem que ocorra danos a coluna.

Figura 25: Variação da retenção de cloreto pela resina Amberlite IR 120 na forma de

Ag+ e de retenção de prata pela resina Amberlite IR 120 na forma H+ em função do

volume de amostra

Sendo assim, observa-se a eficiência na retenção de prata que sai dos

eluatos da coluna de retenção de cloreto, mostrando que é possível utilizar as

resinas amberlite IR 120 e Dowex W 50 para a retenção de prata para 1,0 mL de

amostra com salinidade de 35 g L-1.

Figura 26: Variação da retenção de cloreto pela resina Amberlite IR 120 na forma

Ag+ e de retenção de prata pela resina Dowex W 50 na forma H+ em função do

volume de amostra.

Através dos resultados mostrados é possível tratar de forma eficiente

amostras com matrizes salinas, tornando possível, a principio, a sua utilização por

cromatografia de íons.

5.4 COMPARAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS MINI-COLUNAS COM CARTUCHOS

COMERCIAIS

Tendo verificada a eficiência na retirada dos íons cloreto e prata residual (das

mini colunas) na amostra, realizou-se um teste comparativo com cartuchos

comerciais para a retenção de cloreto de matrizes salinas e da prata residual que é

carreada para a amostra devido ao uso destes cartuchos. Com os resultados

apresentados na figura 26 observa-se que a quantidade de prata carreada para a

amostra pelos cartuchos comerciais é superior quando comparado as mini colunas

utilizadas no presente trabalho. Verifica-se também que a eficiência desses

cartuchos é alta, tendo em vista que o volume de amostra que pode ser tratada é

superior quando comparado com a as mini colunas. A eficiência desses cartuchos

comerciais para a retenção de cloreto é alta, apresentando um volume superior de

amostra tratada. Contudo este volume é maior devido a massa contida nos

cartuchos comerciais ser superior a massa de resina utilizada nas mini-colunas.

Figura 27: Variação da retenção de íons e concentração de prata lançada na

amostra pelos cartuchos de retenção de cloreto comerciais.

Tendo em vista que a concentração de prata na amostra percolada é bem

alta, os cartuchos na forma de hidrogênio para retenção de prata foram utilizados.

Os resultados para a retenção de íons cloreto pelos cartuchos e de retenção de

prata pelos cartuchos a forma de hidrogênio podem ser observados pela figura 27.

Ao verificar a eficiência da retirada de prata desses cartuchos comerciais, nota-se

que as mini-colunas retêm uma quantidade maior de prata, mesmo possuindo uma

massa menor de resina, mostrando-se mais eficiente.

Figura 28: Variação da retenção de íons cloreto e prata residual carreada, que é

encontrada após o uso dos cartuchos comerciais.

Através destes resultados foi possível observar que as mini colunas contendo

resinas tratadas com prata estavam sendo tão eficientes quanto os cartuchos

utilizados para a retirada de cloreto das matrizes salinas. Contudo, os cartuchos

comerciais liberam uma quantidade superior de íon de prata para o meio. Ao tratar

as amostras percoladas no cartucho de prata e nos cartuchos na forma de

hidrogênio (para a retenção de prata) foi possível observar que a concentração de

prata do meio reduziu bastante, contudo ainda assim, as mini colunas de retenção

de prata preparadas neste trabalho foram mais eficientes.

5.5 POSSÍVEL RETENÇÃO DE ÂNIONS PELAS RESINAS MODIFICADAS

Comprovada a eficiência das resinas modificadas, realizaram-se testes para

se avaliar a possível retenção de outros ânions que não o cloreto das amostras

percoladas pelas resinas tratadas. Nestes testes, fez-se uso de soluções com

diferentes concentrações de cloreto, aumentando-a gradativamente e mantendo as

concentrações dos outros ânions constantes. Essas soluções foram então

percoladas pelas colunas e analisadas por cromatografia de íons. A figura 28 mostra

um cromatograma da solução do padrão de 6 ânions utilizado para os testes.

Ao percolar as amostras, recolheu-se as duas frações de 0,5 mL sendo

estas injetadas no cromatógrafo separadamente. Foi possível observar que há

diferenças nas concentrações de íons retidos na primeira fração e na segunda

fração. Nas figuras 29 e 30 é possível verificar que os ânions na primeira fração

(primeiros 0,5 mL) são retidos parcialmente.

Figura 30: Variação da retenção dos ânions nitrito, nitrato, brometo e fosfato

referente a primeira fração de 0,5 mL.

0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 20.0 22.0 25.0-0.60

-0.00

0.50

1.20 Lívia Mestrado 2010 #17 [modified by Lab108] Mix 6 anions ECD_1µS

min

1 - Fluoreto - 4.110

2 - Nitrito - 9.303

3 - Brometo - 11.9134 - Nitrato - 14.013

5 - Fosfato - 18.473

6 - Sulfato - 20.213

Figura 29: Cromatograma do padrão misto de seis ânions utilizado nos testes de

retenção.

Figura 31: Variação da retenção dos ânions fluoreto e sulfato referente à primeira

fração eluída na coluna.

Esta retenção dos analitos tornaria o uso desta fração inapropriado para

trabalho, tendo em vista que a resina estaria retendo os analitos das amostras. Já na

segunda fração da percolação não ocorre retenção de forma significativa, como

pode ser observado pelas figuras 31 e 32, onde as concentrações dos ânions após a

eluição estão bem próximas às concentrações originais (linhas de referência das

concentrações utilizadas).

Figura 32: Variação da retenção dos ânions nitrito, nitrato, brometo e fosfato

referente a segunda fração eluída.

Figura 33: Variação da retenção dos ânions fluoreto e sulfato referente a segunda

fração eluída.

Como é possível observar, a primeira fração de amostra que percola pela

coluna retém boa parte dos ânions de trabalho, contudo já na segunda fração, a

retenção é bem menor. A figura 33 mostra um cromatograma obtido através da

percolação de uma matriz de alta salinidade na mini coluna empacotada com a

resina IR 120 na forma de prata e na mini coluna na forma de hidrogênio. Nesta

figura é possível verificar a boa separação entre os ânions de trabalho.

Através do teste de retenção, pode-se constatar que a variação da

concentração do cloreto influi diretamente na retenção dos ânions, tendo em vista

que, em concentrações menores de cloreto, os ânions são mais retidos pela coluna

do que quando a concentração de cloreto é alta. Ou seja, a medida que a

concentração de aumenta, menos analitos são retidos pela resina da mini coluna.

Assim sendo, pode-se concluir que a resina tem maior afinidade pelo cloreto, mas

que, em sua ausência, os outros ânions são retidos, provavelmente na forma de sais

de prata.

Com o objetivo de comparar a eficiência das resinas modificadas com os

cartuchos comerciais, utilizaram-se cartuchos comerciais de retenção de cloreto e de

retenção de prata comercializados pela DIONEX. Os cartuchos foram conectados

em série e então uma solução de alta salinidade contendo os seis ânions foi

percolada. A figura 34 mostra o cromatograma obtido utilizando os cartuchos

comerciais.

0.3 2.5 3.8 5.0 6.3 7.5 8.8 10.0 11.3 12.5 13.8 15.0 16.3 17.5 18.8 20.0 21.3 22.5 24.7-0.21

0.50

1.00

1.55 Lívia Mestrado 2010 #75 [modified by Lab108, 1 peak manually assigned] Mix 6 anions + Cl- 35g/L res 2 ECD_1µS

min

1 - Fluoreto - 4.103

2 - Cloreto - 7.850

3 - Nitrito - 9.3534 - Nitrato - 13.983

5 - Fosfato - 18.533

6 - Sulfato - 20.427

Figura 34: Cromatograma de solução com alta concentração de cloreto após o uso

da resina.

Através do cromatograma representado pela figura 34, é possível observar

pela altura dos picos que o sinal de alguns ânions estão comparativamente menores

em relação as soluções percoladas pelas mini colunas. Este é um dos indícios de

que os cartuchos comerciais estão retendo mais analitos do que as mini colunas.

A tabela 6 mostra o resultado das concentrações obtidas para cada ânion nas

duas frações. É possível observar que as concentrações de sulfato são superiores à

concentração nominal da solução-padrão, que era de 4 mg/L, o que indica que os

cartuchos comercias liberam sulfato para o eluato, que pode ter procedência do

grupamento sulfônico da resina utilizada nestes cartuchos.

Tabela 7: Resultados obtidos na determinação das concentrações dos ânions nas

duas frações utilizando cartuchos comerciais.

Ânion Concentração no padrão

Concentração Fração 1 Fração 2

Fluoreto 1,0 0,7634 1,0786 Cloreto 5,0 1,2725 0,8670 Nitrito 5,0 0,6965 2,3546

Brometo 5,0 0,0912 0,1001 Nitrato 5,0 3,7135 5,6017 Fosfato 5,0 3,7733 5,0118 Sulfato 4,0 5,9045 6,4021

A literatura sobre o uso de cartuchos de retenção de cloreto e retenção de

prata, indica registros de fluoreto, nitrato e fosfato em 98% dos casos, o que sugere

que um aumento desses ânions é decorrente do cartucho.

Figura 35: Cromatograma obtido da primeira fração de solução de alta salinidade

contendo os seis ânions de trabalho.

0.3 2.5 3.8 5.0 6.3 7.5 8.8 10.0 11.3 12.5 13.8 15.0 16.3 17.5 18.8 20.0 21.3 22.5 24.7-0.21

0.50

1.00

1.55 Lívia Mestrado 2010 #87 [modified by Lab108] Mini coluna DIONEX AG/H fração 2 ECD_1µS

min

1 - Fluoreto - 4.123

2 - Cloreto - 7.1573 - Nitrito - 9.273

4 - Brometo - 12.147

5 - Nitrato - 13.937

6 - Fosfato - 18.533

7 - Sulfato - 20.433

Um outro agravante observado durante os testes com estes cartuchos é que

um pico no tempo retenção em torno de 5 minutos aparece. Esta impureza é

problemática durante as analises, tendo em vista que ela demora para sair da

coluna, o que gera um “efeito de memória” nas amostras seguintes.

6 CONCLUSÕES

Dada a importância da identificação dos componentes das águas de alta

salinidade, é possível observar que o desenvolvimento de métodos analíticos que

podem auxiliar na caracterização dessas águas. Através do presente trabalho foi

possível desenvolver uma nova metodologia para o pré tratamento e posterior

análise de águas hipersalinas, para a determinação de ânions baseado no uso da

Cromatografia de Íons.

Um pré-tratamento da amostra é necessário, tendo em vista que a alta

concentração de cloreto presente na matriz afeta a identificação e quantificação dos

outros ânions. Para tal, empregou-se resinas tratadas com prata, que se mostraram

eficientes nessa função.

Contudo, a retenção de cloreto gera um grande inconveniente, que é a

liberação de prata das mini colunas para o eluato das mesmas que, se atingir a

coluna analítica cromatográfica, permanece retida nos sítios ativos, inutilizando-os e

impedindo que ocorra a separação. Para solucionar este problema, uma mini coluna

para reter a prata é colocada logo após a mini coluna de retenção de cloreto. Logo,

ao percolar a amostra por ambas as mini colunas, ocorre seqüencialmente a

retenção do cloreto e da prata no mesmo processo.

Testes realizados com as resinas modificada com prata mostraram que outros

ânions ficam parcialmente retidos apenas na primeira fração, enquanto que as

seguintes não apresentaram este comportamento. A eficácia do método foi

comprovada através do estudo comparativo com cartuchos comerciais de prata e

hidrogênio, mostrando resultados mais satisfatórios quando se utiliza as resinas

modificadas com prata.

Deste modo, os resultados obtidos indicam que as resinas estudadas podem

ser utilizadas em análises de águas com matriz salina, permitindo assim, a

identificação e quantificação de ânions por Cromatografia de Íons.

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