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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Instituto de Geociências Departamento de Geologia e Geofísica Projeto Final II Marcelle Santos Quintanilha Rocha Inversão do Traço Sísmico: O método e sua aplicação em Amberjack, Golfo do México Niterói Agosto 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Instituto de Geociências

Departamento de Geologia e Geofísica

Projeto Final II

Marcelle Santos Quintanilha Rocha

Inversão do Traço Sísmico: O método e sua aplicação em Amberjack,

Golfo do México

Niterói

Agosto 2013

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Marcelle Santos Quintanilha Rocha

Inversão do Traço Sísmico: O método e sua aplicação em Amberjack,

Golfo do México

Monografia submetida à Universidade Federal Fluminense

como parte dos requisitos para a obtenção do grau de

Bacharel em Geofísica.

Orientador: Dr. Marco Antonio Cetale Santos

Universidade Federal Fluminense

Instituto de Geociências

Departamento de Geologia e Geofísica

Niterói

Agosto 2013

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Trabalho de Conclusão de Curso sob o título “Inversão do Traço Sísmico: O método e sua

aplicação em Amberjack, Golfo do México”, defendido por Marcelle Santos Quintanilha Rocha,

como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geofísica na Universidade Federal

Fluminense em Agosto de 2013, e aprovado pela banca examinadora constituída pelos professores:

______________________________________

DSc. Marco Antonio Cetale Santos

Orientador

Universidade Federal Fluminense

_______________________________________

DSc. Djalma Manuel Soares Filho

Membro da Banca

PETROBRAS

______________________________________

Dsc. Eliane da Costa Alves

Membro da Banca

Universidade Federal Fluminense

______________________________________

Dsc. Jorge Leonardo Martins

Membro da Banca

Observatório Nacional

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente, ao meu amigo e orientador, prof. Dr. Marco Antonio

Cetale Santos por ter aceitado me orientar, pelo apoio dado durante a realização deste projeto e,

principalmente, por toda confiança.

Agradeço também aos Drs. Djalma Manuel Soares Filho e Jorge Leonardo Martins pela

disponibilidade em participar da banca de avaliação. À profa. Dr. Eliane da Costa Alves, não só por

ser membro desta banca, mas por todos os anos de dedicação aos alunos e ao curso de Graduação

em Geofísica da UFF.

Ao Departamento de Geologia e Geofísica da UFF, aos professores pelos conhecimentos

passados e aos funcionários, pela prontidão. Aos amigos do Grupo ISIS, pela paciência e amizade.

À FUGRO-JASON, pelo software e dados fornecidos para a execução deste projeto.

Agradeço a todos os amigos geofísicos, aos amigos de escola, aos amigos da vida, aos

respectivos dos (as) amigos (as), aos amigos-irmãos que me apoiaram e de alguma forma

contribuíram para a realização deste trabalho. Em especial, agradeço à Natalia, ao Bruno (Capi), a

Leticia e ao Kenji, por toda ajuda, amizade, pelas xícaras de café, pelas noites na UFF e pelo apoio

incondicional nos últimos meses.

Não poderia deixar de agradecer ao Vinícius, por se fazer presente mesmo com a distância

geográfica imposta nos últimos meses. Por todo amor e carinho, por ser o homem da minha vida.

Também gostaria de agradecer a toda minha família: primos, primas, tios, tias, minhas avós

Annie e Janda, por serem quem são e por terem contribuído tanto com quem eu sou.

Ao meu pai José Carlos, não só por ter financiado uma vida inteira de livros, escolas,

cursos, universidade, mas por todo amor e dedicação a nossa família. À minha mãe Andréia, por

todos os anos de apoio e incentivo, por ter acreditado sempre em mim. Ao meu eterno leãozinho,

minha irmã Michelle, por toda a ajuda na reta final desta fase e por sua amizade leal.

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RESUMO

A melhor maneira de caracterizar reservatórios é concatenar todas as informações disponíveis,

gerando modelos mais próximos a realidade geológica. A Inversão Sísmica diz respeito ao

sofisticado procedimento de transformar (inverter) dados de reflexão sísmica em propriedades

elásticas do reservatório, visando inferir quantitativamente as propriedades petrofísicas das rochas

em subsuperfície. Diversas técnicas de inversão sísmica já foram desenvolvidas desde o Século XX,

contudo as demandas da Indústria de Petróleo e Gás por informações rápidas e precisas em

ambientes geológicos cada vez mais complexos se tornam desafios interessantes. A inversão do

dado sísmico para impedância acústica tem se mostrado bastante eficiente devido à facilidade e

acurácia das interpretações feitas a partir dela. Para estudar tal método foi desenvolvida uma

fundamentação teórica de cunho introdutório para pleno entendimento das técnicas de inversão

sísmica e sua aplicabilidade em um dado real oriundo do campo de Amberjack, no Golfo do

México. Para isso foi utilizado o software JASON, considerado uma ferramenta consistente no

mercado, capaz de integrar de maneira eficiente dados sísmicos e de poços, geologia e estatísticas.

Através do programa InverTrace-Plus, foi testado um fluxo de trabalho baseado no algoritmo da

Constrained Sparse Spike Inversion (CSSI). Os resultados comprovaram não só a aplicabilidade do

fluxo sugerido, mas também do algoritmo de inversão utilizado.

Palavras-chave: Modelo convolucional, Impedância acústica, Software JASON, Estimativa da

wavelet, Amarração de dados de poço, Inversão Constrained Sparse Spike, CSSI.

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ABSTRACT

The best method to characterize a reservoir is to concatenate all available information, generating

models closer to the geologic reality. Seismic Inversion refers to as a sophisticated procedure that

changes (inverts) seismic reflection data into petrophysics properties of a reservoir, to infer

quantitatively the elastic properties of rocks in the subsurface. Several seismic inversion techniques

has already been developed since 20th Century, however the Oil & Gas Industry demands fast and

accurate information about more complexes geologic environments show interesting challenges.

Seismic Data Inversion to acoustic impedance has proven to be very efficient due to the easiness

and accuracy of the interpretations made from it. To study that method a theoretical basis just for

introduction has been developed to full understanding of the seismic inversion techniques and your

applicability on a real data from Amberjack Field, in the Gulf of Mexico. For this, the JASON

software was used, wich is considered a consistent tool in specialized industry, capable of efficient

integration of seismic and well data, geology and statistics. Through the program InverTrace-Plus, a

workflow was tested based on Constrained Sparse Spike Inversion (CSSI) algorithm. The results

showed not only the applicability of the flow suggested, but also the inversion algorithm utilized.

Keywords: Convolutional model, Acoustic impedance, JASON Software, wavelet estimation, well

log tie, Constrained Sparse Spike Inversion, CSSI.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS _________________________________________________________viii

LISTA DE TABELAS __________________________________________________________ x

1. INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 1

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA _____________________________________________ 4

2.1 Conceito de Inversão e a Inversão Sísmica ___________________________________ 4

2.2 Modelo Convolucional __________________________________________________ 6

2.3 Impedância Acústica ____________________________________________________ 7

2.4 Resolução Sísmica ______________________________________________________ 8

2.5 Baixas Frequências _____________________________________________________ 9

2.6 Perfilagem de poços ___________________________________________________10

2.7 Estimativa da Wavelet __________________________________________________ 11

2.8 Amarração de dados sísmicos e de poços ___________________________________ 12

3. UTILIZAÇÃO E VANTAGENS DE INVERTER O DADO SÍSMICO ______________ 12

4. LIMITAÇÕES DO MÉTODO ______________________________________________ 14

5. TIPOS DE INVERSÃO SÍSMICA ___________________________________________ 16

5.1 Inversão estocástica ____________________________________________________ 17

5.2 Inversão determinística _________________________________________________ 18

5.3 Inversão Pré- Stack e Pós-Stack __________________________________________ 19

6. ÁREA DE ESTUDO ______________________________________________________ 20

6.1 Contexto Geológico Regional ____________________________________________ 21

7. METODOLOGIA ________________________________________________________ 22

7.1 Fluxo de Trabalho do InverTrace-Plus _____________________________________ 23

8. RESULTADOS __________________________________________________________ 35

8.1 Análise dos resultados __________________________________________________ 40

8.2 Comparação do método CSSI ____________________________________________ 44

9. CONCLUSÃO ___________________________________________________________ 45

9.1 Trabalhos futuros ______________________________________________________ 45

10. REFERÊNCIAS _________________________________________________________ 46

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Figura 1: Ambiguidade na interpretação facilmente resolvida pela inversão para

impedância acústica (adaptado de LATIMER, 2000) ____________________________________ 3

Figura 2: Modelo Direto e Inversão (BARCLAY et al, 2008) _____________________________ 5

Figura 3: Modelo Convolucional (modificado de ACQUAVIVA,2011) ______________________ 7

Figura 4: Subdivisão de alguns tipo de inversão sísmica ________________________________ 16

Figura 5: Golfo do México, área de interesse em vermelho (GOOGLE EARTH, 2013), no detalhe

mapa batimétrico do Cânion do Mississippi oriundos de dados do NOAA SeaBeam (USGS website,

1998) ________________________________________________________________________ 20

Figura 6: Mapa da interpretação geológica do Golfo do México (USGS website, 1998) ________ 22

Figura 7: Fluxograma proposto para o InverTrace-Plus (adaptado do MANUAL DO JASON, 2012)

_____________________________________________________________________________ 24

Figura 8: Poços importados _______________________________________________________ 24

Figura 9: Cross-plot entre impedância acústica (eixo X) e raio gama (eixoY), e colorido pela

resistividade de todos os poços ____________________________________________________ 26

Figura 10: Perfis de poços com aplicação do checkshot à direita, e do sônico à esquerda (MANUAL

DO JASON, 2012 )______________________________________________________________ 28

Figura 11: Wavelet tipo Ricker e os espectros de amplitude e fase _________________________ 29

Figura 12: Amarração e wavelet satisfatórias _________________________________________ 30

Figura 13: Função objetivo no InverTracePlus (MANUAL DO JASON, 2012) ______________ 33

Figura 14: Controle de qualidade para definição dos parametros da inversão ________________ 34

Figura 15: Visualização da locação dos poços nos resultados gerados _____________________ 35

Figura 16: Perfil residual entre o dado sísmico e o sintético ______________________________ 36

Figura 17: Perfil de impedância somada à tendência ___________________________________ 37

Figura 18: Perfil de impedância com filtro passa-banda _________________________________ 38

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Figura 19: Perfil de impedância final _______________________________________________ 39

Figura 20: Mapa de correlação sísmica-sintética invertida (esquerda) e razão sinal-ruído invertido

(direita) ______________________________________________________________________ 40

Figura 21: Comparação entre perfis de impedância e de impedância somada à tendência _______ 41

Figura 22: Comparação da componente de baixa frequência com o resultado da impedância ____ 43

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Recomendações para aplicar as inversões determinísticas e probabilísticas* (COOKE &

CANT, 2010) __________________________________________________________________ 17

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1 INTRODUÇÃO

No atual estágio da Sísmica de Exploração, os levantamentos de sísmica 2D e

3D tem se mostrado eficientes e confiáveis. A sísmica 2D é especialmente usada para

construir modelos estruturais com certo grau de confiança. Contudo, em casos de

estruturas complexas, esta técnica tem provado ser insuficiente, mas ainda assim é

muito usada na fase inicial de exploração de campos para estimar os potenciais

reservatórios (FILIPPOVA et. al, 2011).

O método de reflexão sísmica está fundamentado no estudo das reflexões das

ondas mecânicas geradas por fontes sísmicas. Estas reflexões marcam os limites das

camadas rochosas e/ou sedimentares através das diferenças de impedância acústica entre

elas, sendo a intensidade da reflexão dependente do contraste de impedância. Desta

forma, a resposta sísmica é função da velocidade da onda-P (Vp), da onda-S (Vs) e da

densidade (RHO) da rocha. Estas propriedades são relacionáveis ao material da matriz,

à porosidade e aos fluidos contidos na mesma.

De acordo com RUSSELL & HAMPSON (2006), o método de reflexão sísmica

foi desenvolvido no inicio do século XX e é usado para identificar a geometria dos

refletores e verificar suas profundidades. Somente em 1970, a informação contida nas

amplitudes das reflexões sísmicas foi utilizada pelos geofísicos para correlacionar às

mudanças de porosidade, de litologia e na mudança de fluidos em profundidade.

Outro método interessante para obter informações da geologia em subsuperfície

é através de perfilagem geofísica de poços. Os perfis de poços fornecem dados com boa

acurácia e resolução, e são muito utilizados visando uma modelagem geológica. Apesar

disso, este é um método que agrega grandes custos e consequentemente, de modo geral

poucos poços são perfurados.

Segundo RIEL (2000), tradicionalmente a caracterização geofísica de

reservatórios era realizada com base em dados de amplitude sísmica. Com o avanço das

investigações geofísicas em ambientes cada vez mais complexos, surgiu a necessidade

de técnicas que transmitissem de maneira mais direta os parâmetros petrofísicos destes

novos alvos.

A caracterização de reservatórios através da inversão sísmica objetiva então, a

geração de um modelo que agregue todas as informações e dados provenientes da

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estrutura geológica analisada. Estes modelos possuem papel importante na indústria de

petróleo, pois permitem monitorar e prever o comportamento do campo de uma maneira

mais efetiva e real (BIONDI, 1998).

Nesse cenário são desenvolvidas diferentes técnicas de inversão sísmica

possibilitando a inferência das propriedades elásticas das formações a partir dos

coeficientes de reflexão das interfaces litológicas. Para isso, estimam-se as propriedades

petrofísicas do reservatório baseado nas informações dos parâmetros elásticos da rocha

e extrapolando as informações petrofísicas, obtidas através da interpretação dos dados

de poços.

Atualmente, a inversão de dado sísmico para a impedância acústica está entre as

técnicas de modelagem mais utilizadas. Ela se mostra bastante eficiente na estimativa de

parâmetros petrofísicos a partir da integração dos dados que caracterizam o reservatório.

Além disso, cabe destacar a inversão elástica, técnica capaz não só de recuperar as

propriedades elásticas do reservatório, mas também soluciona ambigüidades geradas por

respostas acústicas.

A impedância acústica (IA), produto da velocidade da onda compressional e a

densidade das rochas no meio, é uma propriedade da camada e não uma propriedade de

interface como a amplitude do dado sísmico (CHOPRA, 2001). A grande maioria dos

métodos de inversão sísmica transforma os dados da sísmica de reflexão em IA, das

quais se pode concluir sobre a litologia e a porosidade da área em estudo (RUSSEL &

HAMPSON, 2006).

Diversas vantagens justificam a utilização da impedância acústica para

caracterizar reservatórios (LATIMER et al., 2000). Um modelo baseado na impedância

acústica tem maior valor na interpretação por agregar informação proveniente dos poços

aos dados sísmicos brutos. Ademais, pode ser facilmente relacionada às propriedades

petrofísicas e seu conceito é mais facilmente compreendido em um ambiente

multidisciplinar. Por fim, os modelos de impedância acústica suportam interpretações

rápidas, onde as análises estratigráficas podem ser realizadas, permitindo assim um

eficiente delineamento de alvos exploratórios na escala sísmica (SANCEVERO et al,

2006).

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A figura 1 ilustra a importância da inversão para impedância acústica através

deste exemplo de “canal escondido”. Nesta seção sísmica, o evento em amarelo à

esquerda e à direita foi interpretado com base em poços de controle. Há algumas

possibilidades de interpretação para amarração este horizonte. Tal ambiguidade pode ser

solucionada a partir da análise da seção invertida para impedância acústica.

Figura 1: Ambiguidade na interpretação facilmente resolvida pela inversão para impedância

acústica (adaptado de LATIMER, 2000).

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Dentre os métodos de inversão mais empregados para a obtenção da impedância

acústica, destaca-se neste trabalho a “Constrained Sparse Spike Inversion” ou CSSI.

Este algoritmo foi desenvolvido frente à necessidade de gerar modelos mais

geologicamente consistentes e mais eficientes em reservatórios de espessura menor do

que a resolução sísmica. No software JASON, o algoritmo da CSSI é a peça central do

fluxograma proposto para o InverTrace-Plus.

O principal objetivo deste trabalho é estudar a Inversão de Dados Sísmicos e

seus métodos e, analisar a técnica da CSSI nos dados de Amberjack, no Golfo do

México. Além disso, foi feita uma revisão bibliográfica apontando as vantagens e

limitações da inversão. A importância deste estudo é criar um embasamento teórico e

prático a respeito não só da Inversão Sísmica, mas essencialmente do software e dados

que estão disponíveis na Universidade.

Nos primeiros capítulos foi realizado um embasamento teórico a respeito do

método de inversão sísmica, fundamentando os tipos de inversão, a utilização e

vantagens, além das limitações inerentes ao método. Em seguida, há uma descrição do

contexto geológico regional da área do Golfo do México, com destaque ao Cânion do

Mississippi. Posteriormente, explica-se o fluxo de trabalho e os resultados, além de

fazer uma breve comparação dos resultados dos algoritmos de inversão em outros

trabalhos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito de Inversão e a Inversão Sísmica

Segundo MENKE (1989), o termo “Teoria da Inversão” é empregado em

contraste a “Teoria Direta”, que pode ser definido como o processo de predizer os dados

baseado em um princípio geral ou modelo e um conjunto de condições específicas

relevantes para o problema em questão.

Para SHERIFF (2002), inversão é a técnica que gera uma série de parâmetros

que podem ter sua origem num conjunto de medições observadas. Estes parâmetros por

sua vez, consistem na assinatura física de estruturas geológicas, ou seja, a matriz de

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coeficientes de reflexão detectados em interfaces geológicas devido à passagem do sinal

sísmico inicial.

De modo geral, a inversão é o eficiente procedimento de transformar as

respostas dos dados de sísmica de reflexão em parâmetros que permitam modelar as

estruturas do reservatório. A inversão, se corretamente aplicada, será capaz de gerar

modelos razoáveis reproduzindo a informação consistente a partir dos dados

conhecidos.

Esquematicamente, compara-se o método direto à inversão na figura 2. O

modelo direto utiliza as propriedades da formação, no caso da impedância acústica

desenvolvida a partir de dados de poço, combinada com a wavelet, e gera traço sísmico

sintético. A inversão se inicia com traço sísmico gravado e remove o efeito da wavelet

estimada, criando valores de impedância acústica para cada amostra (BARCLAY et al,

2008).

Figura 2: Modelo Direto e Inversão (BARCLAY et al, 2008).

Segundo SANCEVERO et. al (2006), além de gerar a integração de dados, a

inversão sísmica é largamente empregada devido à facilidade e à precisão das

interpretações realizadas com o dado de impedância acústica e/ou elástica. Ainda de

acordo com o mesmo autor, a vantagem de se utilizar a inversão sísmica em estudos

relacionados com a caracterização de reservatórios é que ela fornece do dado sísmico

uma estimativa quantitativa da distribuição de vários parâmetros físicos capazes de

caracterizar a geologia em subsuperfície.

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2.2 Modelo Convolucional

Para entender o procedimento de inverter traços sísmicos, é preciso entender os

processos físicos que dão origem a resposta sísmica. Tais processos são modelados

numericamente, dando origem aos dados sintéticos que serão confrontados com os

dados reais. Neste trabalho, será utilizada a descrição mais básica fundamentada no

modelo convolucional.

Como já referido, a reflexão sísmica limita os meios rochosos através do

contraste de impedância entre elas, possibilitando a geração da função de refletividade

sintética com base nas informações de velocidade e densidade das rochas.

Segundo RUSSEL (1991), a refletividade é o conceito físico fundamental no

método sísmico, em que cada coeficiente de reflexão pode ser avaliado como a resposta

do sinal sísmico pela mudança na impedância acústica. O traço sísmico é representado

pelo modelo convolucional, exemplificado na figura 3. Assumindo s(t) como o resultado

da convolução de uma função refletividade das camadas de subsuperfície, com a

wavelet sísmica gerada na superfície acrescido de um ruído proveniente da aquisição,

matematicamente pode-se definir o modelo convolucional como:

𝑠(𝑡) = 𝑤(𝑡) ∗ 𝑟(𝑡) + 𝑛(𝑡) (1)

Onde:

s(t) = traço sísmico sintético de incidência normal;

w(t) = wavelet;

r(t) = refletividade;

n(t) =ruído.

Na equação acima, se a componente ruído for nula, o traço sísmico será

simplesmente a convolução da wavelet com refletividade da Terra:

𝑠(𝑡) = 𝑤(𝑡) ∗ 𝑟(𝑡) (2)

Considerando que a refletividade consiste dos coeficientes de reflexão para

incidência normal de cada amostra de tempo, e a wavelet por ser uma função temporal

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de atenuação, a convolução deve ser vista como a substituição de cada coeficiente de

reflexão por uma versão escalada da wavelet e ao qual é somado o resultado.

Figura 3: Modelo Convolucional (modificado de ACQUAVIVA, 2011).

2.3 Impedância Acústica

A impedância acústica pode ser definida como o produto da velocidade da onda

compressional e a densidade da rocha. Segundo CHOPRA (2001), a impedância

acústica é uma propriedade de camada e não uma propriedade de interface como a

amplitude do dado sísmico. Essa distinção faz com que a impedância acústica seja uma

poderosa ferramenta a ser utilizada no processo de caracterização.

O coeficiente de reflexão pode ser relacionado à impedância acústica por meio

da equação das seguintes equações:

𝑟𝑥=

𝑍𝑥+1−𝑍𝑥𝑍𝑥+1+𝑍𝑥

(3)

Onde:

𝑟𝑥= coeficiente de reflexão;

Z= impedância acústica (x+1 refere-se a duas camadas consecutivas numa

sequencia estratigráfica);

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𝑍 = 𝜌. 𝑉 (4)

Onde:

Z= impedância acústica;

ρ = densidade;

V = velocidade da onda P ou S;

2.4 Resolução Sísmica

De acordo com YLMAZ (1987), o termo resolução refere-se à capacidade de

distinguir dois eventos que estão muito próximos. A importância da resolução sísmica se

dá no mapeamento de pequenas feições estruturais e no delineamento de feições

estruturais finas, que podem se apresentar com limitada extensão lateral. Existem dois

tipos de resolução sísmica passiveis de consideração, visto que ambos são controlados

pela largura da banda do sinal: a lateral e vertical. Apenas a vertical será interessante

para o presente estudo.

O critério usado para investigar resolução lateral é a Zona de Fresnel, uma área

sobre um refletor, cujo tamanho depende da profundidade deste refletor e a velocidade

acima dele. Além do comprimento de onda. A migração melhora este tipo de resolução,

diminuindo a largura da zona de Fresnel e separando as características desfocadas na

direção lateral (YLMAZ, 1987).

Ainda de acordo com o mesmo autor, o critério para a resolução vertical, é o

comprimento da onda dominante, que é a velocidade da onda dividida pela frequência

dominante. A deconvolução procura aumentar a resolução vertical, visando ampliar o

espectro, comprimindo a wavelet.

Segundo CHOPRA & MARFURT (2006), se o espectro médio de uma wavelet

está centrada em cerca de 30 Hz, o que geralmente acontece, os reservatórios com

espessura inferior a 25 m, não tem os refletores superior e de base resolvidos. Para fins

estruturais pode ser satisfatório, mas para alvos estratigráficos com reservatórios de 10

m ou menos de espessura, essa resolução não se mostra eficiente.

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A resolução vertical diz respeito então, a capacidade de distinção entre o topo e a

base da camada. De acordo com o Critério de WIDESS (1973), na presença de ruídos e

ampliação da wavelet durante sua viagem a subsuperfície, esta resolução é:

𝑅 = 𝜆/4 (5)

Onde:

R = resolução sísmica vertical;

λ = comprimento de onda predominante nos dados.

Para a resolução no modelo de Widess, seria fundamental o entendimento do

comprimento de onda, que por sua vez depende da velocidade e frequência. Assim,

conclui-se que o fator essencial que determina a resolução de acordo com o Modelo

Widess é a frequência (CHOPRA, 2006).

Desta maneira, para melhor detalhamento nos dados sísmicos de reflexão, é

necessária atenção na aquisição (em termos de parâmetros de campo, fontes sísmicas e

gravação do dado) e no processamento, onde são feitas tentativas de aumentar a largura

da banda espectral. Ainda segundo o autor, geofísicos assumiram o valor do Modelo de

Widess como limite de resolução.

2.5 Baixas Frequências

De acordo com PENDREL (2001), a maneira como a baixa frequência é

computada na inversão é um fator importante. Primeiramente é necessário entender que

baixa frequência faz referencia às frequências abaixo da banda sísmica.

Sua importância está relacionada ao fato destas se encontrarem nos registros de

impedância que se busca simular. Essas baixas frequências são comumente obtidas do

modelo de impedância oriundo dos poços de controle e extrapoladas para todo modelo.

As baixas frequências podem ser inseridas na inversão como um último passo ou

introduzidas no interior da própria função, contudo neste último caso, apenas

frequências muito baixas precisam vir do modelo (PENDREL, 2001).

No software JASON é possível utilizar as duas maneiras, buscando obter as

vantagens de cada uma. Independente do método utilizado pode-se indicar que as

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inversões devem em algum grau, ser baseada no modelo. Assim, utilizando a

contribuição do modelo, dispõe-se de uma banda diferente além da sísmica.

2.6 Perfilagem de poços

Os perfis oriundos dos poços constituem uma técnica fundamental na exploração

de reservatórios, por reproduzirem de maneira eficiente padrões de correlação entre

poços vizinhos, confecção de mapas geológicos e definição da geometria de corpos e

ambientes sedimentares (GIRÃO, 2004).

Na operação da perfilagem geofísica de poço, os parâmetros petrofísicos são

medidos através de sofisticadas ferramentas denominados sondas ou ferramentas de

perfilagem. Estas sondas carregam para dentro dos poços diversos tipos de sensores,

que durante a aquisição captam sinais e os envia a superfície. Estes sinais são

processados e vão gerar os perfis geofísicos, well logs, electrical log etc. Os perfis

gerados são então interpretados e as propriedades petrofísicas são inferidas a partir da

resposta dos sensores elétricos, térmicos, acústicos etc. (GIRÃO, 2004).

Apesar de agregar informações valiosas a respeito da subsuperfície com boa

acurácia e resolução, este é um método que agrega grandes custos e consequentemente,

de modo geral poucos poços são perfurados.

Perfis Sônicos

O perfil Sônico (DT) mede a diferença nos tempos de trânsito de uma onda

acústica através das camadas. Isso ocorre porque a velocidade do som varia de acordo

com o meio em que as suas ondas propagam, ou seja, quando a velocidade de

propagação é maior, o tempo de percurso é menor. Desta forma para percorrer uma

mesma distância, o tempo nos sólidos é bem menor do que nos líquidos.

Perfis de Densidade

Os perfis de Densidade (RHOB) registram as variações de densidade das

camadas com a profundidade através de um “bombardeio” das camadas por um feixe

monoenergético de raios gamas. À medida que os raios gama vão dispersando, ou

sendo absorvidos, a intensidade do feixe inicial diminui. Essa diminuição de

intensidade, função da mudança na densidade do meio, é medida pelo detector, assim

quanto mais densa a rocha menor a intensidade de radiação no detector (GIRÃO, 2004).

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11

2.7 Estimativa da Wavelet

A estimativa precisa da wavelet também é um fator determinante para uma boa

Inversão Sísmica. Trata-se de uma etapa de grande importância no processamento e

análise sísmica, na deconvolução determinística dos dados, na amarração sísmica a

poço, e na própria inversão sísmica, entre outros. De acordo com o MANUAL DO

JASON (2012), a forma inferida da wavelet sísmica pode influenciar fortemente nos

resultados da Inversão Sísmica e nas futuras avaliações, interferindo assim na

interpretação do reservatório.

Conforme descrito anteriormente, a refletividade ou resposta ao impulso da

Terra pode ser obtida através da deconvolução dos dados sísmicos uma vez que a

wavelet é conhecida e os ruídos podem ser removidos. Assim, para métodos de inversão

sísmica mais modernos são necessários informações acerca da wavelet. Desta forma, a

solução para a Inversão - vale ressaltar que esta não é única - pode ser limitado através

da comparação do modelo de inversão e da wavelet. Sua importância também está

relacionada à amarração sísmica-poço (YI et al, 2013).

A wavelet pode ser medida durante a aquisição de dados sísmicos, desde que

sejam utilizadas técnicas específicas de aquisição (IKELLE et al., 1997). É possível

adquirir dados e utilizar métodos de processamento visando controlar a fase sísmica,

mas comumente os dados sísmicos registrados e os sintéticos gerados pelos dados de

poço podem não estar amarrados adequadamente (EDGAR & BAAN, 2011). Desta

maneira, a wavelet geralmente é estimada a partir dos dados de sísmica e de poço.

É possível segregar os métodos de estimativa da wavelet em duas categorias:

métodos puramente estatísticos e métodos que utilizam dados de poço. A utilização

dessas técnicas concomitantemente vai depender dos dados em questão, mas agrega

maior precisão a sua estimativa. Segundo YI et al (2013), o método estatístico estima a

wavelet com base no espectro de amplitude ou funções de autocorrelação do dado

sísmico registrado, mas não pode determinar a fase da wavelet sem fazer hipóteses

como a fase mínima.

No software JASON, na ausência de poços controlados, a estimativa da

wavelet é baseada nas técnicas Espectrais e este processo é feito em duas etapas:

primeiro estima-se o espectro de amplitude do pulso sísmico, que produz a wavelet de

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fase zero. Por último, é estimado o espectro de fase através de rotações de fase da

wavelet estimada até tal ponto.

Na presença de dados de poço, emprega-se a técnica Model-Driven. Esta utiliza

dados de poço e de sísmica para estimar a amplitude da wavelet e o espectro de fase,

visando produzir o sintético mais próximo do dado sísmico real. A utilização de

múltiplos poços e múltiplos traços por poço reduz a probabilidade de que o ruído na

sísmica seja incorporado a wavelet.

2.8 Amarração de dados sísmicos e de poços

A integração entre dados sísmicos e de poços é crítica para a Inversão Sísmica

ser bem sucedida. A amarração destas informações permite relacionar horizontes

identificados nos poços com reflexões específicas na seção sísmica. É importante

ressaltar que os dados de sísmica e de poços medem diferentes propriedades, resultando

em parâmetros e escalas distintas que, no entanto se completam.

Segundo EWING (1997), sismogramas sintéticos gerados a partir dos dados de

poços são ferramentas úteis para amarrar o tempo sísmico e registrar profundidade. A

combinação entre os dados sintéticos e os dados reais pode identificar com precisão o

refletor procurado. Além disso, o sintético pode determinar o detalhamento da forma de

onda e amplitude dos refletores perto do alvo, gerados pela litologia. Ainda de acordo

com o autor, por outro lado, os sintéticos não lhe fornecem uma equivalência absoluta

de tempo-profundidade, e podem ser imprecisos para o dado real.

É sugerido pelo software JASON, que o fluxo de trabalho para a amarração dos

dados sísmicos aos de poços inicie pela criação da wavelet sintética (do tipo Ricker)

para uma amarração inicial, estimar a amplitude e a fase da wavelet, posteriormente

refinar a amarração do poço com uma wavelet mais recente, e extrair a wavelet final

quando a amarração também for satisfatória.

3 UTILIZAÇÃO E VANTAGENS DE INVERTER O DADO SÍSMICO

Segundo BARCLAY et al. (2008), muitas interpretações são realizadas a partir

da inversão de dados. Uma justificativa plausível para que isto ocorra é que em

problemas de medição-interpretação nenhuma equação que relaciona diretamente as

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medidas (incluindo ruídos, perdas e outras imprecisões) pode ser resolvida com uma

única resposta.

Desta forma, devido à inversão sísmica não ser problema bem posto (deve-se

estimar uma resposta verificando-a contra as observações e modificando-a até obter

uma resposta próxima a real), se mostra uma solução aceitável.

São descritos abaixo, alguns benefícios em inverter o dado sísmico para

impedância:

A maioria dos geocientistas compreende melhor o conceito de impedância e

geologia do que o traço sísmico. Assim, trabalhar no domínio da impedância é um

excelente mecanismo para a integração em uma equipe multidisciplinar;

Remove os efeitos da wavelet dentro do espectro de frequência sísmica;

Facilita a compreensão das amarrações de poço;

Separa as propriedades do reservatório;

Podem fornecer previsões quantitativas sobre as propriedades dos reservatórios;

A interpretação estratigráfica pode ser melhorada;

A interpretação no domínio de impedância é frequentemente mais fácil do que no

domínio sísmico;

Possibilidade de estender a largura da banda para além da sísmica.

Por todas essas facilidades, a inversão sísmica é utilizada em estudos

multidisciplinares e aplicada a uma gama de escalas com vários níveis de complexidade,

como pode ser comprovado por BARCLAY et al. (2008):

Calcular perfis de invasão do fluido de poço a partir de medições nos registros de

indução;

Avaliar qualidade da aderência do cimento pelos registros ultrassônicos;

Extração das camadas litológicas e saturações de fluido a partir de múltiplos

registros;

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Interpretação de volumes de petróleo, gás e água de registros de produção;

Integrar as medições eletromagnéticas e sísmicas para melhor delimitação de

sedimentos pré-sal.

4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

A técnica de Inversão sísmica, apesar de tantos benefícios, apresenta algumas

limitações implícitas. No caso da inversão quantitativa, é necessário ter uma boa

qualidade no sinal de entrada, uma vez que a qualidade da saída é determinada por ela.

No entanto, os dados sísmicos possuem conteúdo de frequência limitada, o que irá

impossibilitar a geração significativa da inversão para camadas finas. Conforme já

citado, eventos de alta frequência não podem ser resolvidos dentro da faixa sísmica.

De acordo com FARIAS et al. (2008), um grande obstáculo do processamento

sísmico é que, parte dos reservatórios conhecidos se localiza em camadas geológicas

cujos limites não podem ser identificados corretamente através do método sísmico. Este

problema é causado principalmente, pela absorção diferenciada das frequências durante

a propagação da onda sísmica. Os autores indicam ainda que as perdas por absorção

estão associadas ao comportamento parcialmente inelástico das rochas, o que impõe

resistência à vibração das partículas na passagem da onda. Como resultado, tem-se que

o espectro final observado no registro sísmico apresenta em sua composição uma maior

contribuição das baixas frequências.

A melhor resolução é aquela que apresenta o espectro o mais plano possível, ou

seja, com presença tanto das baixas quanto das altas frequências. Considera-se que

baixas frequências são responsáveis pela redução dos lóbulos laterais do pulso sísmico,

enquanto as altas frequências garantem a compressão do lóbulo central, o que implica

na não interferência dos pulsos em refletores muitos próximos (SINGH &

SRIVASTAVA, 2004). Daí a necessidade destas altas frequências que foram atenuadas

durante a propagação da onda, serem resgatadas.

É importante ressaltar que existe uma variedade de diferentes técnicas para

inverter dados sísmicos e a escolha da mais apropriada deve ser determinada pela

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complexidade das condições geológicas e a extensão dos problemas a serem resolvidos.

Podem-se resumir então, três pontos chaves na inversão sísmica:

A) Qualidade do Dado Sísmico:

A aquisição adequada dos dados sísmicos para gerar uma modelagem de

confiança, tem início a partir de um estudo direcionado para a feição geológica de

interesse. Estabelecer os parâmetros e ajustar a disposição da aquisição pode assegurar

uma melhor relação sinal-ruído (SINGLETON, 2009).

Fator imprescindível na determinação da qualidade do modelo é o

processamento de dados sísmicos que deve focar em preservar as amplitudes sísmicas

sobre o empilhamento total e parcial. Além disso, deve ser dada atenção à diminuição

dos ruídos, boa correção estática e completa estimativa da velocidade de empilhamento

(FILIPPOVA et. al, 2011).

B) Relação entre propriedades elásticas vs. propriedades petrofísicas básicas e

de dados de poço (litologia, porosidade, Sw, Vp, Vs e densidade)

No atual estágio, a análise e interpretação dos dados de poços são separadas em

duas áreas: a primeira é a dita tradicional, maneira clássica de interpretar com o objetivo

principal de detectar no reservatório alvo as formações e determinar suas propriedades,

e estimar suas reservas.

A segunda área se refere principalmente a preparação do dado para a inversão

sísmica e inclui uma abordagem física da rocha. Seus objetivos são: reconstruir as

propriedades da formação ao longo do poço, caracterizar as rochas em termos de

propriedades elásticas e, estabelecer a relação entre as propriedades elásticas e as

propriedades petrofísicas básicas (FILIPPOVA et. al, 2011).

C) Técnica de inversão aplicável

A aplicabilidade da técnica de inversão de dados será analisada de maneira mais

aprofundada no próximo capitulo.

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5 TIPOS DE INVERSÃO SÍSMICA

Atualmente são encontradas diversas maneiras de subdividir a Inversão Sísmica

(figura 4). ALVES (2012) reuniu diversos artigos científicos que descrevem as técnicas

mais utilizadas nos últimos anos: a técnica de inversão recursiva (SANCEVERO et al.,

2006, RUSSEL & HAMPSON, 2006), inversão baseada num modelo geológico

(PENDREL, 2001, COOKE & CANT, 2010), análise (AVO) amplitude vs. offset

(PENDREL, 2001, RUSSEL & HAMPSON, 2006, PENDREL, 2006), inversão

simultânea (RUSSEL & HAMPSON, 2006), Constrained Sparse Spike Inversion (RIEL

& PENDREL, 2000, RUSSEL, 1988, FRANCIS & HICKS, 2006, SANCEVERO et al.,

2006) e inversão geoestatística ou estocástica (FRANCIS & HICKS, 2006, FILIPPOVA

et al., 2011).

Figura 4: Subdivisão de alguns tipos de inversão sísmica.

Podem-se dividir os principais métodos de inversão de acordo com sua origem

matemática em Determinística e Estocástica, e baseada no dado sísmico utilizado: Pré-

Empilhamento e Pós-Empilhamento. Ao optar pelos dados pré-empilhados, obtém-se

propriedades como impedâncias e densidade. A escolha de dados pós-empilhamento

produz apenas uma característica, como a impedância acústica (FILIPPOVA et al.,

2011). Pós-empilhamento é um dos métodos mais empregados na inversão sísmica e

está subdividido em inversão de banda limitada (ex: inversão recursiva) e inversão de

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banda larga, a última ainda se divide em duas outras abordagens: model based (ex.) e

sparse spike inversion (ALVES, 2012).

Tabela 1: Recomendações para aplicar as inversões determinísticas e probabilísticas* ( adaptada

de COOKE & CANT, 2010).

*Os autores utilizam este termo para designar os algoritmos de inversão que combinam

inversão estocástica com o Teorema de Bayes, visando maior rigor nas estimativas

probabilísticas.

5.1 Inversão estocástica

A inversão sísmica é um problema mal posto e de solução não única, o que

implica que, existem diferentes soluções aceitáveis para que a convolução da série de

refletividades com a wavelet combine com a sísmica observada. ALVES (2012) indica

que a metodologia estocástica procura todas as possíveis e aceitáveis soluções para a

impedância acústica ou os estatísticos, que representem todos os modelos aceitáveis de

IA.

Segundo AZEVEDO et al. (2012) , a inversão sísmica estocástica pode ser

caracterizada por ser um método de geração de realizações equiprováveis de

propriedades petrofísicas (impedância acústica e elástica), recorrendo aos dados dos

poços e à informação sísmica entre localizações de poços, com o principal objetivo de

quantificar a incerteza dessas propriedades.

De acordo com COOKE & CANT (2010), a inversão estocástica também

chamada de geoestatística consiste na tentativa de encontrar todos os modelos aceitáveis

de impedância (ou as estatísticas que representem todos os modelos aceitáveis de

impedância).

O método geoestatístico se difere dos demais por não haver função objetivo e,

portanto, as propriedades das soluções (impedância, porosidade etc) são inferidas

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através de uma probability density function (PDF) de resultados possíveis (PEDREL,

2001). A PDF é definida em cada ponto do espaço e do tempo. A informação a priori

vem de dados de poço e das propriedades estatísticas espaciais, além das distribuições

litológicas.

COOKE & CANT (2010) descrevem e explicam as principais componentes

deste tipo de inversão. Neste trabalho elas serão apenas citadas:

1) Revisar / interpretar dados de poço. Extrair tendências de propriedade (por Vp, Vs e

RhoB) e seu desvio padrão;

2) Buscar a tendência estocástica dos modelos de propriedade a corresponder (através

de método direto) aos dados de entrada a serem invertidos;

3) Usar o Teorema de Bayes para calcular probabilidades.

As técnicas de Inversão Estocástica podem ser divididas ainda em: inversão traço-a-

traço e inversão global, e podem ser utilizados métodos geoestatísticos de simulação

sequencial (ex. simulação sequencial Gaussiana - SSG) ou a SSD: simulação sequencial

direta (ALVES, 2012).

5.2 Inversão determinística

Define-se como inversão sísmica determinística a melhor estimativa possível dos

dados que serão invertidos (FRANCIS & HICKS, 2006). Também chamada de inversão

sísmica convencional, o principal objetivo desta metodologia é minimizar as diferenças

entre a convolução da wavelet com a série de refletividades e o traço sísmico observado

- função objetivo (ALVES, 2012). Ainda segundo o autor, além da quantificação do

erro, podem ser adicionadas à função objetivo outras condições como o modelo

geológico inicial. Estas restrições são usadas visando fornecer informações a priori do

dado que será invertido, a fim de minimizar o problema da solução do modelo de

inversão ser considerada não única.

A inversão linear generaliza (GLI - generalized linear inversion) é descrita por

COOKE & CANT (2010) como o tipo de inversão determinística mais utilizada. O

conceito de GLI indicado pelos autores diz que, dado um modelo inicial das

propriedades geológicas obtidas através da impedância acústica, este modelo será

refinado através da convolução para gerar um modelo sintético que esteja

razoavelmente próximo ao dado de sísmica observado.

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COOKE & CANT (2010) explicam ainda que usando a GLI, a inversão sísmica

terá como solução um modelo único de impedância acústica para cada traço (ou

conjunto de traços) a serem invertidos. Este modelo de IA é parametrizado usando

blocos de IA em camadas, para cada camada do modelo são definidos dois parâmetros:

um relativo a IA da camada e outro que descreva a espessura da mesma. O objetivo

deste algoritmo GLI é atualizar estes parâmetros, para que um traço sintético obtido a

partir do modelo inicial coincida com o traço de sísmica observado.

O modelo de IA inicial funciona como primeira estimativa e por isso pode conter

erros. Para este modelo inicial, são calculados os coeficientes de reflexão, que

convolvidos com a wavelet gera primeira sísmica sintética. Pela possibilidade de haver

erros, o traço sísmico sintético é então subtraído do traço real, gerando uma diferença

chamada de erro do traço. Se este erro for considerado aceitável, ele é selecionado, se

não, o algoritmo prossegue e gera uma matriz de sensibilidade que investiga cada

parâmetro do modelo de IA e o traço sintético (COOKE & CANT, 2010).

Há duas limitações significativas em toda inversão determinística.

Primeiramente, o modelo é incorporado no resultado e com isso, artefatos podem ser

introduzidos, causando problemas na interpretação. Para compensar esta questão, é

indicado que cortes horizontais sejam comparados entre modelo e inversão. A outra

limitação dos sistemas determinísticos é que, por eles produzem melhores soluções, elas

são incapazes de reproduzir toda a gama de impedância observada no poço

(TECHNICAL NOTE EARTHWORKS, 2008).

5.3 Inversão Pré-empilhamento e Pós-empilhamento

Diferentes tipos de inversão iniciam com diferentes tipos de traços. Outra

maneira de classificar os tipos de inversão é pelo dado sísmico utilizado: se ele for

invertido antes do empilhamento é chamado de Pré-Stack, caso seja invertido já

empilhado, é denominado Pós-Stack..

O stacking produz um único traço com um mínimo de ruído aleatório e com a

amplitude do sinal igual à média do sinal nos traços empilhados. O traço empilhado

resultante é considerado como sendo a resposta gerada pela reflexão incidência normal

no ponto médio comum (CMP).

O empilhamento é uma etapa do processamento, sendo razoável se assegurar

que: a velocidade do meio que cobre o refletor varia gradualmente, e a média das

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amplitudes dos traços empilhados deve ser equivalente à amplitude que seria registada

em um traço de incidência normal (BARCLAY et al., 2008).

Se essa condição for satisfeita, a inversão pode ser feita com o dado empilhado,

ou seja, Pós-Stack. Caso as amplitudes variem com o offset, essas condições não são

válidas e a inversão deve ser feita Pré-stack.

6 ÁREA DE ESTUDO

Os dados utilizados neste projeto fazem parte do pacote de dados fornecidos

para o treinamento do Software JASON. Geograficamente, o Campo de Amberjack está

localizado no Cânion do Mississippi no bloco 109, parte central do Golfo do México.

De acordo com a empresa operadora responsável pela perfilagem dos poços

utilizados neste trabalho, Stone Energy, o campo foi descoberto em 1986, mas a

produção iniciou somente em 1991. A profundidade da água é de 319 metros

aproximadamente. Esta empresa também forneceu os dados sísmicos empilhados para

gerar o volume sísmico. A figura 5 representa a localização detalhada da área de estudo.

Figura 5: Golfo do México, área de interesse em vermelho (GOOGLE EARTH, 2013), no

detalhe mapa batimétrico do Cânion do Mississippi oriundos de dados do NOAA SeaBeam

(USGS website, 1998).

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6.1 Contexto Geológico Regional

De acordo com WILHELM & EWING (1972), a origem do Golfo do México

está relacionado à extensa subsidência regional, de mais de 10 mil pés durante o

Cretáceo e seu isolamento surgiu pelo crescimento contínuo de carbonato

contemporâneo às plataformas da Flórida e Yucatan. Taxas mínimas de deposição de

sedimentos, em comparação com a taxa de crescimento da plataforma, levou ao

aprofundamento consistente do golfo, o que, consequentemente, foi sustentada por uma

seção do Cretáceo.

Ainda segundo os mesmos autores, o Golfo do México foi reduzido às suas

atuais dimensões devido a invasão do norte e noroeste de depósitos de massa de

sedimentos no Cenozóico, referido como a Costa do Golfo geossinclinal. O último

grande volume de sedimentos clásticos foi depositado no cone Mississippi durante o

Holoceno inicial. No entanto, os últimos depósitos do Mississippi e de outros rios foram

estabelecidas nas plataformas continentais e um mínimo de materiais terrígenos vem

atingindo o golfo abissal por correntes de turbidez.

A parte central do Golfo do México é constituída, em especial sua porção norte,

pelas morfologias do cânion Mississippi e o sistema Leque do Mississippi (figura 6).

Este vale submarino possui largura média de 8 km e 120 km de extensão. Sua origem

tem sido atribuída ao canal entrincheirado do rio Mississippi durante episódios de nível

do mar baixo e erosão das partes distais por corrente de turbidez ou fluxos de gravidade

submarinos (COLEMAN et. al, 1982).

Ainda segundo COLEMAN et. al (1982), no intervalo do Illinoiano ao final do

Pleistoceno (25000 a 27000 A.P.), o rio Mississippi acumulou uma série de depósitos

aluviais e deltaicos de aproximadamente 1000 m de espessura. De acordo com amostras

datadas com C-14, obtidos junto à base do cânion, este teve aproximadamente 7000

anos para remover 1500 a 2000 km³ de material. É muito provável, portanto, que o

cânion foi originado pelo deslizamento massivo em função de um falhamento na quebra

da plataforma em uma margem continental instável. Falhas sucessivas criaram

instabilidade e gerou uma calha alongada.

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Figura 6: Mapa da interpretação geológica do Golfo do México (USGS website, 1998).

O cânion se mostra uma região altamente reflexiva devido à deposição de

detritos constante, alimentando tal leque. A maior parte da superfície deste Leque é

composto de lobos deposicionais que foram abastecidos por um canal sinuoso (USGS

website, 1998).

O local de estudo é discutido em detalhe por MAYALL et. al. (1992) e por.

LATIMER & RIEL (1996). A descrição a seguir resume os recursos da área de estudo,

descrito nos dois artigos e que servem de embasamento para a área analisada neste

trabalho.

A área de estudo é composta por dois sistemas de deltas de borda de plataforma

empilhados verticalmente. O delta superior consiste de uma série de clinoformes

progradantes, com cerca de 122 m espessura. O menor delta, também de 122 m de

espessura, contém sequências semelhantes. Os dois deltas são separados por uma secção

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de 152 m que é dominada por lamas. Os hidrocarbonetos estão presos dentro de cinco

zonas. Existem duas principais zonas do reservatório (azul e verde) e três mais finas no

reservatório secundário (rosa, laranja e vermelho).

7 METODOLOGIA

O processo de inversão sísmica visa recuperar o perfil de impedâncias através

da integração entre dados sísmicos, de poços e qualquer tipo informação geológica de

subsuperficie disponíveis sobre a área analisada. É importante destacar que a inversão

sísmica pode não reproduzir com perfeição o modelo de subsuperfície, uma vez que

esse modelo possui heterogeneidades não imageadas devido à resolução vertical

limitada do dado sísmico, à presença de ruídos que contaminam o sinal, à presença de

determinados tipos de rochas que prejudicam a propagação da onda sísmica, além de

outros fatores (SANCEVERO et al, 2006).

Para agregar todos esses dados, podem-se empregar diferentes algoritmos de

inversão. Ainda de acordo com SANCEVERO et. al (2006), independente do tipo de

inversão empregada, quatro etapas podem ser destacadas: a criação de um modelo de

subsuperfície, a estimativa da wavelet, a inversão, e união do resultado da inversão e a

baixa frequência presente no modelo de subsuperfície.

7.1 Fluxo de Trabalho do InverTrace-Plus

A inversão da impedância acústica através do JASON, pela ferramenta

InverTrace-Plus, transforma um dado de reflexão sísmica empilhado em um dado de

impedância acústica da camada. O fluxograma utilizado neste estudo está demonstrado

na figura abaixo:

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Figura 7: Fluxograma proposto para o InverTrace-Plus (adaptado do MANUAL DO JASON,

2012).

O InverTrace-Plus integra sísmica, poços e horizontes a partir de um modelo de

impedância consistente, realizando predições quantitativas das possíveis propriedades

do reservatório. Para esta ferramenta sugere-se o seguinte fluxo:

1) Carregamento de dados e controle de qualidade:

Nesta primeira etapa os dados são carregados. O JASON permite a importação

de diversos tipos de dados. Para este projeto, são importados e inspecionados arquivos

de wavelet, dados LAS de poço, dados SEG-Y de sísmica e os arquivos ASCII de

horizontes interpretados. Na figura 8, encontra-se os dados de poços que foram

utilizados no presente estudo.

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Figura 8: Representação do posicionamento dos poços utilizados neste estudo.

2) Viabilidade do projeto:

Nesta etapa os dados são avaliados para determinar se os objetivos propostos

podem ser alcançados com os dados disponíveis. No estudo de viabilidade, os dados de

poços são analisados para determinar se a faixa de frequência é a necessária e se a

inversão da impedância acústica é o melhor método.

É avaliado primeiramente, se com um parâmetro de inversão (impedância

acústica ou impedância elástica) o reservatório pode ser resolvido ou se há necessidade

de um parâmetro duplo para esta caracterização, ou seja, se há necessidade de realizar a

inversão simultânea. Através de cross-plot dos parâmetros elásticos do poço com

propriedades petrofísicas ilustrado na figura 9, é possível analisar se a impedância

acústica pode empregada visando discriminar as zonas de interesse do reservatório.

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Figura 9: Cross-plot entre impedância acústica (eixo X) e raio gama (eixoY), e colorido pela resistividade de todos os poços.

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No crossplot da figura 7 é possível observar que os pontos de dados com

valores de raios gama baixa e alta resistividade estão agrupados e representam os

menores valores de impedância dos dados de registro de poços.

Posteriormente, é feita uma avaliação nos dados de sísmicos, visando analisar se

os dados e o conteudo de frequencia são adequados. Parte da análise de viabilidade é

verificar a qualidade dos dados: sísmica, a qualidade de interpretação horizonte,

localização de poços. A partir de uma resposta positiva, considerou a inversão com

InverTrace-Plus.

3) Amarração sísmica-poço e estimativa da wavelet

Conforme explicado nos capítulos anteriores, uma etapa considerada chave para

o processo de inversão é a estimativa da wavelet. Segundo SANCEVERO et al. (2006) ,

esta etapa a ser utilizada no processo de inversão é realizada através do procedimento de

amarração entre o dado sísmico e o dado de poço. A estimativa da wavelet consiste em,

a partir do dado sísmico, gerar uma wavelet que minimize a diferença entre os

coeficientes de reflexão calculados a partir dos dados de poços e o dado sísmico obtido

na mesma posição dos poços. Essa wavelet resultante, com amplitude representativa do

dado sísmico é inserida diretamente no algoritmo de inversão ou usada de maneira

explícita de modo a corrigir a fase do dado sísmico para zero.

Inicialmente, para gerar um sismograma sintético e consequentemente amarrar

os dados e estimar a wavelet, é necessario ter a curva de tempo no registro de poço. Para

estabilizar tal curva é necessario criar uma relação tempo-profundidade (TDR time-

depth relationship). O JASON oferece algumas opções para criar a TDR, para este

estudo foi utilizado o checkshot e Sonico.

O Checkshot corresponde a uma tabela de pontos de tempo e profundidade. Há

uma interpolação entre esses pontos o que gera uma relação tempo-profundidade. Foi

aplicado Checkshot nos poços 4 e 5. Os perfis sônicos por sua vez, foram aplicados nos

poços 1, 2 e 3, e integrados ao datum geram uma TDR. Para fazer o controle de

qualidade desta relação, é necessário analisar algumas curvas que são geradas no painel

do Software, entre elas destaca-se a Slowness Drift relative (Deriva de vagarosidade

relativa). Ela corresponde a razão entre a curva de TD (preto) e a curva do sônico (rosa)

e idealmente deve estar centrada em torno de 1 como pode ser observado na figura 10.

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28

Figura 10: Perfis de poços com aplicação do checkshot à direita, e do sônico à esquerda

(MANUAL DO JASON, 2012).

É sugerido pelo Software JASON que o fluxo de trabalho para a amarração dos

dados sísmicos aos de poço, inicie pela criação do pulso sísmico sintético (Ricker) para

uma amarração inicial, estimar a amplitude e a fase da wavelet gerada, posteriormente

refinar a amarração do poço com uma wavelet mais recente extrair o pulso sísmico final

quando a amarração também for satisfatória.

I) Criação da wavelet sintética para amarração inicial

Para a estimativa da wavelet, é gerada inicialmente uma wavelet sintética. Desta

forma, foi utilizada a wavelet tipo Ricker (figura 11), caracterizada por ser uma wavelet

de fase zero, com um pico central e dois lóbulos laterais menores. Sua fórmula

matemática é representada na equação 6.

𝑅𝑖𝑐𝑘𝑒𝑟(𝑡) = (1 − 2𝜋2 − 𝑓2𝑡2)exp(−𝜋2𝑓2𝑡2) (6)

Onde:

𝑡 = tempo (segundos);

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𝑓 = frequência central (Hz);

Neste estudo, foi escolhida a frequência central de 28 Hz, o comprimento da

wavelet de 128 ms e intervalo de amostragem de 4 ms.

Figura 11: Wavelet tipo Ricker e os espectros de amplitude e fase.

II) Estimar amplitude e fase da wavelet

A amplitude e fase da wavelet podem ser obtidas minimizando a diferença entre

o traço sísmico do poço e do sintético. A wavelet é estimada encontrando o operador ou

modelando um filtro que, convolvido com a refletividade do poço, se aproxima do traço

sísmico.

III) Refinar a amarração do poço

Nesta etapa podem-se refinar os parâmetros utilizados ou usar diferentes

parâmetros.

IV) Extração da wavelet final

No final deste processo, os resultados são os perfis de poço em tempo e uma

wavelet para a inversão. É considerada uma boa wavelet aquela que a energia envolvida

está centrada próxima à zero, sem notches no plot de frequência vs. amplitude e com a

fase consistente com o espectro de frequência sísmica. Neste projeto, a wavelet

escolhida é demonstrada na figura 12, assim como os espectros de fase e frequência.

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Figura 12: Amarração e wavelet satisfatórias.

4) Interpretação de horizontes e Modelagem estratigráfica – As baixas

frequências:

A tarefa aparentemente simples de encontrar uma série de coeficiente de reflexão

que quando convolvida com a wavelet coincida com os dados sísmicos de entrada, é

dificultada quando se tem que os dados sísmicos de entrada são de banda limitada, o

que implica que a solução não é única.

Visando eliminar soluções matemáticas invalidadas devido à falta de

compatibilidade geológica ou sem significado geofísico, e resolver o problema de

estimar as baixas frequências ausentes no dado sísmico, é criado um modelo geológico

(PEDREL & RIEL, 1997).

Segundo LATIMER & RIEL (1996), inicialmente deve ser feita uma

interpretação sísmica, visando apenas demarcar as principais zonas de interesse.

Posteriormente, defini-se um modelo da estrutura da região baseado nos dados de poços

e na interpretação inicial. Os horizontes interpretados fornecem a informação estrutural

necessária para a definição do arcabouço do reservatório na escala sísmica.

A partir da estrutura definida, o modelo é então preenchido com as informações

geofísicas presentes nos perfis de poços. A interpolação da informação contida nos

poços é realizada ao longo das camadas definidas pelo modelo estrutural, respeitando

sempre a estratigrafia e as falhas presentes. Com o modelo pronto, tem-se a

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representação da baixa frequência necessária para a constituição do resultado final, essa

baixa frequência representa a tendência da impedância acústica em subsuperfície e é

dependente da qualidade da interpretação, do número e da distribuição dos poços

(SANCEVERO et al, 2006).

De acordo com MANUAL do JASON (2012), ao contrário dos modelos de

engenharia, onde cada falha que possa ser uma barreira de fluxo deve ser incluída, para

o algoritmo para CSSI do InverTrace-Plus é recomendado manter o modelo o mais

simples possível. Isso porque a CSSI não é uma inversão baseada no modelo e as falhas

não terão impacto sobre as baixas frequências. O modelo utilizado neste trabalho foi

extraído do pacote de dados fornecidos pelo JASON.

5) Inversão: Parametrização da Inversão Sísmica

Algoritmo CSSI

O método utilizado para a obtenção da impedância acústica neste trabalho é

chamado de Constrained Sparse Spike Inversion ou CSSI. Através deste algoritmo é

possível calcular a série de coeficientes de refletividade que se aproxima do dado

sísmico original usando para isso um número mínimo de pulsos (DEBEYE & RIEL,

1990). Devido a solução do problema inverso não ser única, ou seja, existem muitas

séries de coeficientes de reflexão que quando convolvidas com a wavelet sísmica

reproduzem o dado sísmico de entrada em uma determinada precisão, a concordância

do dado gerado pela inversão CSSI com o dado sísmico torna-se uma condição

necessária, mas não suficiente na solução do problema inverso.

Para se encontrar a melhor solução geológica e geofísica a partir de um grande

número de soluções matemáticas possíveis é necessário impor outras condições. Essas

restrições, conforme já comentado, são definidas com base em informações a priori de

um modelo geológico, que fornece a tendência de variação da impedância acústica, e

nos dados de poços que definem as variações laterais da impedância acústica. Desse

modo, aplicando as restrições ao processo de inversão, as potenciais soluções são

limitadas reduzindo a não unicidade da solução do problema inverso. Assim o resultado

obtido apresenta um melhor significado geológico e geofísico SANCEVERO et al

(2006).

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Tanto o cálculo dos coeficientes de reflexão como a aplicação das restrições é

realizado num processo iterativo onde se minimiza uma função objetivo (figura 13) que

integra todas as condições necessárias e suficientes para a solução do problema inverso.

Essa função objetivo que se deseja minimizar pode ser escrita, de acordo com DEBEYE

& RIEL (1990), como:

= (𝑟) + 𝜆 2(𝑠 − ) + ( 𝑍 ) (7)

Onde:

F = função objetivo que se deseja minimizar;

L1, L2 e L3 = operadores de deconvolução;

L1= norma do erro da refletividade (expressa como a soma dos valores absolutos dos

coeficientes de reflexão);

L2= erro associado ao dado sísmico (expresso como a diferença entre o dado sísmico

original (s) e o dado sísmico sintético (d));

L3 = erro na amarração com a tendência observada nos dados de poços;

= determinado peso para a relação entre o dado sísmico e o dado sintético.

α = determinado peso atribuído à energia da refletividade invertida;

𝑍 = diferença entre a tendência de baixa freqüência do traço de impedância

invertido e a baixa freqüência do modelo a priori.

O termo é importante para todo o processo de inversão e a sua definição

controla o resultado. Se o valor de for alto, o termo (s-d) é enfatizado e o resultado

será detalhado, o problema neste caso é que o ruído presente no dado é também

ressaltado. Já um baixo valor de enfatiza o termo da refletividade e o resultado estará

limitado em termos de detalhe. Assim, parte do trabalho é selecionar um valor de que

forneça um balanço ótimo entre o traço de impedância gerado e um ajuste aceitável com

o dado sísmico. A escolha do valor de é realizada por meio de um processo de

controle de qualidade.

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Figura 13: Função objetivo no InverTrace-Plus (MANUAL DO JASON, 2012).

A inversão CSSI tende a remover a wavelet do dado de modo que o resultado é

de banda larga para as frequências mais altas, o que maximiza a resolução vertical

minimizando os efeitos de afinamento.

De acordo com SANCEVERO et al (2006), apesar dessas restrições na inversão

CSSI garantirem a existência das baixas frequências, na inversão não é esperado que a

informação de frequências mais baixas sejam confiáveis. Isso é uma conseqüência da

natureza da banda limitada da wavelet sísmica. As frequências mais baixas confiáveis

serão dependentes da qualidade do dado sísmico de entrada e das restrições aplicadas.

Abaixo desta frequência, informações adicionais precisam ser fornecidas.

É possível definir uma integração das frequências, abaixo da qual, a informação

contida no resultado final da inversão é fornecida pelo modelo de baixa frequência, uma

vez que acima da frequência de integração, a informação presente no resultado final da

inversão é proveniente da inversão CSSI. Essa etapa de integração dos conteúdos de

frequência é normalmente a última etapa do processo.

6) Controle de qualidade paramêtros da inversão:

Além das restrições estabelecidas, é necessária a definição do paramêtro λ.

Conforme descrito anteriormente, a determinação deste parametro influencia fortemente

o resultado da inversão. A escolha do parâmetro λ é feita baseada no controle de

qualidade que irá calcular as relações de interesse entre o dado sísmico e os dados de

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poços, as relações entre as tendências e a razão sinal-ruído (SANCEVERO et al., 2006).

Para determinar tal valor, são analizados o conjunto de gráficos da figura 14:

Figura 14: Controle de qualidade para definição dos parametros da inversão.

Os parâmetros representam:

A) Relação sinal ruido: A curva representa a razão sinal-ruído invertida,

derivada do dado sintético e do dado residual.

B) Correlação dos dados de poço: A curva representa a correlação entre os

dados de poço, invertidos para impedancia acustica e com impedancia

acústica com filtro de corta-alta. Devem estar proximos a um.

C) Desvio Padrão normalizado do poço: tal curva indica o desvio padrão

normalizado da impedancia acustica pelo desvio padrão dos dados de poço

originais. Deve estar proximo a um.

D) “Esparsidade”: Mede a soma dos contrastes de impedância acústica. Quanto

menor melhor.

E) Desajuste combinado: Mede a performace geral, baseia-se nos desajustes

combinados e deve tender a zero.

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É importante destacar que os três primeiros parâmetros (A, B e C) são os mais

importantes, mesmo que a melhora destes indiquem depreciação dos demais gráficos.

Dessa forma, o valor deve ser escolhido visando um alto valor da razão sinal ruído, e a

correlação dos poços e o desvio padrão normalizado dos poços estejam próximo de 1.

Assim, =12. Com a definição de todos esses parâmetros, é possivel executar a inversão

CSSI.

8 Resultados

Após da definição dos parâmetros de inversão, o InverTrace-Plus através do

algoritmo da CSSI gera como resultado : o perfil de impedância acústica, a impedância

somada à tendência, a impedância acústica com o filtro passa-banda (6-50 Hz) e o

perfil de resíduos entre dado sismico e do sintético. Os perfis gerados nas figuras 16, 17,

18 e 19 foram plotados de modo a englobar a maioria de poços possíveis. Desta forma,

em tais figuras os poços 2, 3, 4 e 5 estão presentes, posicionados de acordo com a figura

abaixo:

Figura 15: Visualização da locação dos poços nos resultados gerados.

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Figura 16: Perfil residual entre o dado sísmico e o sintético.

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Figura 17: Perfil de impedância somada à tendência.

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Figura 18: Perfil de impedância com filtro passa-banda.

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Figura 19: Perfil de impedância final.

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8.1 Análise dos resultados

Conforme referenciado anteriormente, a utilização do dado sísmico em amplitude visando

interpretar e correlacionar às propriedades da rocha é cada vez menos freqüente. Isso ocorre pela

dificuldade de relacionar o dado sísmico às propriedades do reservatório e ao problema da resolução

sísmica vertical, insuficientes para modelar detalhadamente o que se deseja.

Desta forma, visando atribuir um caráter geológico e buscando resolver o problema da

resolução subsísmica das seções em amplitude, as técnicas de inversão sísmica têm evoluído e a

inversão CSSI se mostra bastante eficiente. Tal algoritmo busca, através das informações sísmicas,

de poços e do modelo de tendência impor restrições aos parâmetros, o que agrega maior acurácia e

confiabilidade aos resultados gerados.

Para verificar tais resultados, pode-se fazer como primeira avaliação da qualidade da

inversão, a correlação entre o dado sísmico e o sintético. Para isso observa-se a figura 20, onde o

horizonte ilustrado (à esquerda) contém a correlação entre o dado sísmico e o sintético gerado pelo

resultado da inversão. Baixa correlação de valores implica em altos resíduos. A relação sinal ruído

(à direita) mostra a mesma informação em dB.

Figura 20: Mapa de correlação sísmica-sintética invertida (esquerda) e razão sinal-ruído invertido (direita).

Em geral, áreas com resíduos de grande amplitude podem indicar regiões onde,

localmente a wavelet estimada não modela completamente o dado sísmico.

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Outra possível avaliação da qualidade dos dados consiste na comparação direta entre os

resultados de impedância acústica final (fig. 19) e o somado à tendência (fig. 17). Além das figuras

já citadas, visando observar os demais perfis que podem ser gerados, a comparação entre tais

resultados se dará pelo perfil NE-SW (figura 21). Tais resultados devem ser muito similares.

Figura 21: Comparação entre perfis de impedância e de impedância somada à tendência.

Analisando a figura 21, assim como a comparação entre as figuras 17 e 19, é possível

perceber que os perfis indicados apresentam grande semelhança. Caso não apresentassem tal

similaridade, poderia ser inferido que há problemas na tendência e na parametrização a inversão.

Os resultados da inversão são determinados por dois componentes: a componente da banda

limitada – derivados dos dados sísmicos e só existem no espectro de frequências do dado sísmico; e

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a componente de baixa frequência – originada do modelo de tendência e é acrescentado para

substituir as informações instáveis de baixa frequência que é derivado diretamente dos dados

sísmicos.

Desta forma, outro controle de qualidade que deve ser feito, é verificar qual o impacto da

componente de baixa frequência na inversão. Para isto, compara-se o resultado da inversão a esta

componente. Para obter a componente de baixa frequência, basta filtrar o modelo de tendência da

inversão com o mesmo corte de frequência usado na inversão. Nesta comparação (fig. 22) é

possível notar que os valores de alta impedância também estão presentes na componente de baixa

frequência. Com isso, pode-se concluir que estes valores de impedância são oriundos dos poços.

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Figura 22: Comparação da componente de baixa frequência com o resultado da impedância com direção NE-

SW.

Outra possível análise diz respeito à comparação dos perfis de impedância final (fig. 19) ao

de impedância com banda limitada (fig. 18). Segundo LATIMER et al. (2000), por este último ter

sido filtrado, ele se apresenta limitado estratigráfica ou estruturalmente, mas pode ser usado para

checar anomalias.Um exemplo seria se uma anomalia de baixa IA fosse detectado no perfil de

impedância e não fosse aparente no de banda limitada. Tal artefato poderia ter sido gerado por um

modelo de baixas frequências inadequado.

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8.2 Comparação do método CSSI

Devido a todas as vantagens e facilidades, o método de inversão sísmica, em especial o

algoritmo CSSI, é largamente empregado principalmente no que diz respeito a dados reais de áreas

de exploração. Diversos autores compararam e confirmaram a eficiência deste algoritmo em relação

a outros.

Como exemplo pode-se citar SANCEVERO et al (2006), cujo trabalho ilustrou a

importância da impedância acústica para caracterização de reservatórios e ainda comparou os

resultado obtidos pelos métodos da inversão recursiva e da inversão sparse spike, ambos aplicados a

um modelo sintético de referência em forma de cunha. Nas suas conclusões, o autor destacou que a

inversão recursiva foi capaz de caracterizar o modelo, mas somente nas regiões de maior espessura,

devido ao fato deste método não integrar diretamente informações de poços, não gerando ganho nas

altas frequências. Outro problema atrelado a este método é não haver restrições baseado na

geologia. Sua vantagem esta relacionada somente ao baixo tempo computacional.

Já com relação ao método da CSSI, o autor destacou os resultados superiores na

identificação do modelo geométrico e na reprodução das propriedades petrofísicas, no caso

impedância acústica, deste algoritmo. Tais resultados positivos compensam inclusive o maior tempo

computacional gasto.

Outra utilização do algoritmo CSSI foi feita por WANG & LU (2011), onde os autores

comprovaram mais uma vez a eficiência do método, especialmente no que diz respeito a dados reais

em áreas de exploração. Problemas relacionados à precisão da litologia e da distribuição dos

padrões do reservatório em locais com poucos poços, se mostraram melhor resolvido com a CSSI

do que utilizando outras técnicas.

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9 CONCLUSÃO

Apesar do método de Inversão Constrained Sparse Spike demandar maior tempo

computacional do que outras técnicas comparadas por diversos autores, as restrições e a

parametrização da inversão fazem com que esta metodologia agregue caráter geológico aos

resultados. Além disso, a melhora na resolução sísmica propicia interpretações mais precisas.

Desta maneira, infere-se que o fluxograma proposto para o InverTrace-Plus, ferramenta do

JASON utilizada para este trabalho, se mostrou apropriada para os dados do Campo de Amberjack ,

assim como a escolha dos parâmetros. Os resultados obtidos neste trabalho comprovam a eficiência

e a empregabilidade da inversão sísmica para impedância acústica, principalmente no que diz

respeito às vantagens e benefícios do algoritmo CSSI para caracterização de reservatórios.

9.1 Trabalhos futuros

Uma sugestão para trabalhos futuros seria analisar o impacto nos resultados provocados por

alterações na parametrização da inversão. Em geral, os parâmetros deste trabalho foram escolhidos

com base no Manual de Treinamento fornecido pelo JASON e, portanto os resultados gerados estão

muito próximos ao que é esperado do Software.

Além disso, dando continuidade à metodologia empregada, poderiam ser feita a

estabilização da relação entre os resultados da inversão e as propriedades do reservatório, visando

estimar a porosidade e gerar modelos 3D.

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46

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