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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES: Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele. NITERÓI 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA

DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES

EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES:

Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele.

NITERÓI

2014

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DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES

EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES:

Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Corpo Docente do Programa de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Enfermeira.

.

Orientadora:

Profª. Drª Vera Maria Sabóia

NITERÓI 2014

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DANIELLA HOSANA FERREIRA LINHARES

EDUCAÇÃO POPULAR DE ENFERMEIRAS COM PESCADORES:

Pescando saúde e tecendo conhecimentossobre o Câncer de Pele.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Corpo Docente do Programa de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Enfermeira.

Aprovada em 2 de dezembro de 2014.

BANCA EXAMINADORA

Profª Drª Vera Maria Sabóia (orientadora)

UFF- Universidade Federal Fluminense

Profª Drª Eliane Ramos Pereira (1º Examinador)

UFF- Universidade Federal Fluminense

Profª MSc Fabiana Lopes Joaquim (2º Examinador)

UFF- Universidade Federal Fluminense

NITERÓI

2014

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Ao primeiro Educador do universo, Criativo e Empoderador;

Ao especialista na Arte do Cuidado

Ao Mestre dos grandes Mestres,

Minha fonte de inspiração,

Meu Amigo;

Meu Pai;

Meu Deus

“Porque dEle, por Ele, para Ele são Todas as Coisas”.

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AGRADECIMENTOS

A Deus.

Nem todas as páginas deste estudo seriam suficientes para expressar minha gratidão ao que

me deu forças pra chegar até aqui.

A minha mãe,

Por todas as renúncias, cuidado e orações. Por ser meu porto seguro e me encorajar quando

pensei em desistir.

Ao meu irmão,

Por aturar minhas crises em momentos de estresse, me incentivar e me ajudar.

Ao Rafael,

Meu noivo e melhor amigo, por ser um ombro quando precisei de descanso, ouvidos quando

quis desabafar e mãos quando precisei de ajuda; por sonhar os meus sonhos e fazer sua as

minhas lutas.

Aos meus familiares,

Avós,Tios, tias, primos, que sempre oraram por mim, torceram pelo meu sucesso e me incentivaram a lutar pelos meus objetivos.

Aos meus amigos,

Que entenderam cada “Hoje não dá, tenho que estudar”. Em especial, Alessandra, Jéssica (Bis), Nathalia Bento, Marcela, Jéssica Campos e Rossana por alegrarem meus dias e serem

as melhores parceiras de trabalhos, estágios e de vida. As amo!

Aos professores,

A todos os professores que contribuíram direta e indiretamente para que eu chegasse até aqui e em especial às professoras Vera Sabóia e Eliane Ramos por serem minhas referências

como educadoras e profissionais.

Aos pescadores,

Por me permitir vivenciar essa experiência tão gratificante e enriquecedora; Por nos receber com carinho, dedicando parte de seu tempo de trabalho à pesquisa, compartilhando suas

histórias, saberes e crenças e contribuindo com o nosso aprendizado.

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“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Paulo Freire

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RESUMO

Introdução:Trata-se de um estudo sobre a Educação Popular em Saúde com pescadores da colônia de Jurujuba- Niterói, tendo em vista a prevenção de Neoplasias Cutâneas. Nas últimas décadas, o câncer de pele tem se revelado motivo de preocupação, em termos de saúde pública. Dentre todos os tipos de câncer, as neoplasias cutâneas são as mais frequentes no país, correspondendo a 25% dos tumores malignos registrados.Sabe-se que profissionais que trabalham expostos à intensa radiação solar, assim como os pescadores, têm taxas de incidência de câncer de pele mais elevadas do que a população em geral. Mediante a isto, o estudo se justifica na importância da implementação de ações de Educação Popular em Saúde, queintegrem saberes sobre os cuidados relacionados à prevenção dessa doença, possibilitando a melhoria da qualidade de vida dessa população.Objetivos:Conhecer os saberes de pescadores sobre as neoplasias cutâneas. Verificar indicadores sociodemográficos de pescadores da Colonia de Jurujuba-Niterói-RJ, com foco na neoplasia cutânea; Descrever o conhecimento prévio dos participantes acerca do câncer de pele, suas causas, manifestações e medidas de prevenção e Discutir a prática da Educação Popular em Saúde com os pescadores no que tange ao câncer de pele.Metodologia: Pesquisa de abordagem mista, descritiva e do tipo participante,desenvolvida com pescadores e cultivadores de mexilhões que trabalham e residem na colônia de Jurujuba, Niterói. Para a coleta dos dados utilizou-se a observação participante, o questionário sociodemográfico e a entrevista semi-estruturada. Na análise dos dados, foi realizada a transcrição das entrevistas na íntegra, e o métodoadotado foi o de modalidade de Análise Temática, proposto por Minayo. Resultados: A amostra final foi composta por 30 participantes. Verificou-se o predomínio de pescadores do sexo masculino (73%) em relação ao feminino (27%); A faixa etária de 51 a 60 anos, prevaleceu entre os pescadores, com 30%, seguida por 41 a 50 anos, com 23,33%; 50% dos pescadores trabalham sob constante exposição solar durante oito horas ou mais por dia, enquanto apenas 13,3% estão expostos diariamente à radiação solar por menos de 3 horas. 80% afirmaram não fazer uso do protetor solar em nenhum momento do dia e apenas 20% dizem aplicar o filtro de proteção solar por pelo menos uma vez, sem reaplicação, ou quando lembram. Na identificação do conhecimento dos pescadores acerca do câncer de pele, 60% perceberam a exposição à radiação solar como principal causa e 93,3% identificaram manchas e feridas na pele como principal sintoma da doença. Conclusão: Pelo perfil sociodemográfico encontrado, evidenciou-se que os pescadores da colônia de Jurujuba constituem um importante grupo de risco por apresentar condicionantes socioeconômicos, clínicos e laborais que os tornam mais vulneráveis ao desenvolvimento de neoplasias cutâneas. Notou-se também, que as percepções acerca do câncer de pele, marcadas por saberes prévios, se aproximaram do saber científico no que tange as representações conceituais a respeito do câncer de pele, com suas causas e manifestações.

Palavras-chave: Pescadores; Educação Popular; Neoplasias Cutâneas; Enfermagem

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ABSTRACT

Introduction: This is a study about the Popular Education in Health with fishermen colony from Jurujuba, Niterói, in preventing Skin Neoplasms. In recent decades, skin cancer became a concern in terms of public health. Among all types of cancer, the skin cancer are the most common in the country, accounting for 25% of registered malignancies. It is known that professions, such as fishing, that expose the workers to intense solar radiation, have higher incidence of skin cancer rates than the general population. Through this, this study is justified in the importance of implementing participatory educational activities that integrate the knowledge about the care to prevent this disease and therefore resulting in a higher quality of life of this population. Objectives: Know the fishermen of knowledge about skin cancer; to check the impact of sociodemographic indicators of this population to the appearance of skin cancer; Describe the pre-knowledge of the participants about skin cancer, its causes, manifestations and prevention measures and Discuss the practice of Popular Education in Health with fishermen in regard to skin cancer. Methodology: Mixed approach; descriptive and participant type researchs, developed with fishermen and growers of mussels working and living in the colony of Jurujuba, Niteroi. To collect the data, we used participant observation, the socio-demographic questionnaire and semi-structured interview. In the data analysis, the transcription of interviews in full was performed, and the method used was the type of thematic analysis proposed by Minayo. Results: The final sample consisted of 30 participants. There was a predominance of male fishers (73%) compared to women (27%); The age group 51-60 years prevailed among the fishermen, with 30%, followed by 41 to 50 years, with 23.33%; 50% of fishermen works under constant sun exposure for eight hours or more a day, while only 13.3% are daily exposed to sunlight for at least 3 hours. 80% said they did not make use of sunscreen on any time of the day and only 20% say applies the filter of sun protection for at least once, without reapplication, or when remembers. In identifying the knowledge of fishermen about skin cancer, 60% perceived exposure to solar radiation as the main cause and 33.3% identified spots and sores on the skin as the main symptom of the disease. Conclusion: For the sociodemographic profile found, it was observed that the Jurujuba colony of fishermen are a important socioeconomic risk group because of the clinical and working conditions that make them more vulnerable to developing skin cancer. It was also noted that the perceptions of skin cancer characterized by prior knowledge is approximated of scientific knowledge, regarding the conceptual representations of the skin cancer, its causes and manifestations.

Keywords: Fisherman; Population Education; Skin Neoplasms; Nursing

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Foto da praia de Jurujuba, Niterói-RJ ................................................................................... 28

Figura 2: Foto da verificação da Pressão Arterial de uma participante antes das atividades. .............. 34

Figura 3: Foto de uma das cultivadoras de mexilhões durante o desenvolvimento do Tema I. .......... 35

Figura 4: Foto do desenvolvimento do Tema II na Associação de Pescadores de Jurujuba, Niterói. . 36

Figura 5: Foto de uma participante desenvolvendo a atividade na Rede de Conhecimentos. ............. 36

Figura 6: Foto de um dos pescadores utilizando chapéu no segundo dia do evento Pescando Saúde. 37

Figura 7: Gráfico referente à distribuição dos participantes quanto ao gênero. ................................... 38

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LISTA DE SIGLAS

OIT: Organização Internacional do Trabalho

OMS: Organização Mundial da Saúde

EEAAC: Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

UFF: Universidade Federal Fluminense

RUV: Radiação Ultravioleta

UV: Ultravioleta

UVA: Ultravioleta tipo A

UVB: Ultravioleta tipo B

UVC: Ultravioleta tipo C

CBC: Carcinomas Basocelulares

CEC: Carcinomas Espinocelulares

DNA: Ácido Desoxirribonucleico

FPS: Fator de Proteção Solar

EPS: Educação Popular em saúde

SUS: Sistema Único de Saúde

PIBIC: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

TE: Tecnologia Educacional

PROCAD: Programa Nacional de Cooperação Acadêmica

MCTI: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO, p.12.

1.1 OBJETO DO ESTUDO, p. 12

1.2 PROBLEMA, p. 12

1.3 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO, p. 14

1.4 RELEVÂNCIA, p. 15

1.5 QUESTÕES NORTEADORAS, p. 16

1.6 OBJETIVOS, p. 16

1.6.1 Objetivo Geral, p.16

2 REVISÃO DE LITERATURA, p. 17

1.6.2 Objetivos Específicos, p. 16

2.1 NEOPLASIAS CUTÂNEAS: TIPO MELANOMA E NÃO MELANOMA, p.17

2.2 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL: AGRAVO RELACIONADO AO TRABALHO, p.19

2.3 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE. p, 21

2.4 TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COM GRUPOS. p.24

3 METODOLOGIA, p. 27

3.1 CENÁRIO DA PESQUISA. p,28

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA. p, 28

3.3 ETAPAS DA COLETA DE DADOS. p, 29

3.4 ANÁLISE DOS DADOS. p, 31

3.5 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA. p, 32

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO. p, 33

4.1 A EXPERIÊNCIA DOS CÍRCULOS DE CULTURA. p. 33.

4.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES. p, 37

4.3 O CÂNCER DE PELE NA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES. p, 46

4.2.1 Identificando conhecimentos acerca do câncer de pele p, 46

4.2.2. O Câncer de Pele e as medidas de fotoproteção. p, 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. p, 56

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. p, 58

APÊNDICES, p. 61

ANEXOS, p. 75.

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1 INTRODUÇÃO

1.1 OBJETO DO ESTUDO

A pesquisa tem por objeto a Educação Popular em Saúde com pescadores da colônia

de Jurujuba- Niterói, RJ, tendo em vista a prevenção de Neoplasias Cutâneas.

1.2 PROBLEMA

O estudo encontra-se vinculado a um projeto mais abrangente contemplado no do

edital Casadinho/ Procad intitulado: “Inovação em Enfermagem no Tratamento de Lesões

Tissulares – sistematização, inclusão tecnológica e funcionalidade”, beneficiado na chamada

pública MCTI/CNPq/MEC/Capes – Ação Transversal n°6/2011. Esta iniciativa articula o

Programa de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS- UFF) com o

Programa Consolidado PROESA – USP. Tal pesquisa também está relacionada à dissertação

de mestrado intitulada “Risco e Prevenção de Neoplasias Cutâneas Não-Melanoma: educação

popular com pescadores”, em desenvolvimento no MACCS, ao Núcleo de Estudos em

Fundamentos de Enfermagem (NEFE), da EEAAC/UFF e ao Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação Científica CNPq/ UFF.

A problemática que se estabelece acerca do câncer no mundo passou a ser motivo de

preocupação pelo perfil epidemiológico que essa doença tem apresentado. Segundo

estimativas mundiais, a incidência de câncer aumentou cerca de 20% na última década. Para o

ano de 2014, espera-se 576 mil novos casos no Brasil. (BRASIL, 2014)

De acordo com um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de

pele do tipo não melanoma, deve ser o mais diagnosticado na população, com previsão de

surgimento de 182 mil novos casos, seguidos de tumores na próstata (69 mil) no caso de

homens e câncer de mama (57 mil) no caso de mulheres. (Ibidem, 2014)

Dentre os principais tipos de neoplasias, encontra-se o câncer de pele, que pode se

apresentar em duas categorias: tipo melanoma e não melanoma. O primeiro representa cerca

de 4,0% dos tumores malignos cutâneos, enquanto o tipo não melanoma é a forma mais

comum no Brasil; esta costuma ser de fácil diagnóstico, com possibilidade de cura superior a

95% quando tratados precoce e corretamente. (BORSATO & NUNES, 2009)

Estudos comprovam que o tipo melanoma está fortemente relacionado a episódios

intensos de exposição solar aguda resultando em queimadura solar, enquanto 90,0% dos

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cânceres de pele não melanoma podem ser atribuídos à exposição solar associada à sua

característica cumulativa. (DERGHAM et al, 2004)

De acordo com uma pesquisa sobre a frequência de câncer de pele não melanoma em

trabalhadores atendidos no Hospital do Câncer de Londrina (HCL), as profissões em que os

trabalhadores são mais acometidos de neoplasia de pele não melanoma segundo a ocupação

são as dos ramos da agricultura, construção civil, mineração a céu aberto e pesca, formas de

trabalho fortemente associadas à exposição diária excessiva à radiação solar durante vários

anos da vida, reafirmando a característica cumulativa dos efeitos do sol. (BORSATO &

NUNES, 2009)

Além dos riscos relacionados à frequente e intensa exposição à radiação actínica, a

atividade informal desenvolvida pelos pescadores se apresenta de modo extremamente

precário, deixando-os totalmente desprotegido. Eles estão sujeitos a riscos de acidentes e

doenças, devido ao grande esforço físico a que se submetem, variações climáticas,

prolongada exposição ao sol e contato com agentes patológicos num ambiente sem

saneamento. (ROSA & MATTOS, 2010)

Ante a magnitude desse problema, nota-se a importância da implementação de

medidas de promoção à saúde que incluem ações educativas participativas, de modo a

integrar saberes sobre fatores de risco associados ao meio de trabalho, os tipos de neoplasias

de pele, suas formas de apresentação e os cuidados relacionados à prevenção da doença, que

resultam na melhoria da qualidade de vida dessa população.

Neste estudo, elegeu-se a Educação Popular e as Tecnologias Educacionais, como

procedimento sócio interativo e educativo, originado a partir de vivências entre sujeitos em

que conhecimentos são gerados e compartilhados, tendo como ponto de partida saberes

prévios produzidos no cotidiano social e local relacionados com as necessidades da

comunidade. (SABÓIA et al, 2013)

O enfoque da Educação Popular não é o processo de transmissão de conhecimento,

mas a ampliação dos espaços de interação cultural e negociação entre os diversos atores

envolvidos em determinado problema social. Seu objetivo não é difundir conceitos e

comportamentos considerados corretos; antes procura problematizar, em uma discussão

aberta, o que está incomodando. (VASCONCELOS & CRUZ, 2013)

Segundo Martins et al (2010), durante a pratica educativa em saúde, a tecnologia se

constitui como saber indispensável e deve ser utilizada de modo a favorecer a participação

dos sujeitos no processo educativo, contribuindo na construção da cidadania e aumento

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daautonomia dos indivíduos. Portanto, devem explorar significados que vão ao encontro do

contexto cultural dos usuários.

1.3- MOTIVAÇÃO DO ESTUDO

Ao longo do meu processo de formação no Curso de Enfermagem e

Licenciatura,participei de diversas atividades educacionais com os mais variados grupos

populacionais. Nos primeiros períodos planejei e executei ações educativas com crianças no

contexto escolar. Até então, não compreendia a dimensão do potencial Educador que o

Enfermeiro exerce em todos os cenários de sua prática profissional. Daí por diante, acada

nova experiência relacionada com a educação em saúde, percebia que meus conceitos se

reformulavam e, no final, tudo o que eu me propus a compartilhar parecia muito pequeno

comparado à grandiosidade do que eu aprendia. Em cada vivência, uma troca; uma

aprendizagem de conhecimentos que não foram reproduzidos de livros ou baseados em

pesquisas científicas, antes foram construídos com histórias de vida, cada qual com riquezas

escondidas em sua singularidade.

Enquanto monitora da disciplina Fundamentos de Enfermagem I, tive a oportunidade

de explorar um universo dialógico e cooperativo em que se procurava desenvolver a prática

educativa, utilizando recursos contemporâneos e facilitadores no ambiente de aprendizagem.

Assim, nos apropriamos de uma Tecnologia Educacional conhecida com WebQuest, que tem

como objetivo principal a utilização criteriosa de sites referenciados para executar um

conjunto de atividades sobre determinado tema, neste caso, Consulta de Enfermagem com

pessoas que vivem com Hipertensão Arterial Sistêmica E/ou Diabetes Mellitus.

Durante a pesquisa em desenvolvimento do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação Científica (PIBIC/ CNPq), percebemos que a região da Baía de Guanabara, no

município de Niterói, concentra uma intensa atividade pesqueira com trabalhadores em

situação precária e, por isso, se destacou em nossas observações justificando nossa

aproximação com este cenário e sujeitos.

Somando-se a isso, durante a graduação, não são muitas as oportunidades deatuamos

no cuidado de pessoas que convivem com o diagnóstico de neoplasia. No geral, as neoplasias

são pouco discutidas no plano curricular. Assim, no desenvolvimento do Projeto PIBIC

percebi uma oportunidade para aprofundar o conhecimento teórico-prático em relação aos

aspectos de promoção e prevenção deste agravo, por intermédio da educação popular em

saúde com um grupo de pescadores expostos a agravantes ocupacionais de risco. Esse grupo

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populacional específico tem pouco ou nenhum acesso às informações sobre neoplasias e não

frequenta regularmente os serviços de saúde por inúmeras razões.

Não pretendo aqui esgotar todos os aspectos que cercam esta temática, visto que se

trata de um assunto amplo diante da complexidade dos inúmeros fatores envolvidos no

cotidiano dos pescadores que se expõe ao câncer de pele e a outros agravos relacionados à

atividade laboral.

1.4 RELEVÂNCIA

A lei estadual nº 5.833/10 instituiu o Programa Estadual de Combate e Prevenção ao

Câncer de Pele para Pescadores Profissionais, e chama a atenção para a vulnerabilidade da

atividade: “A exposição direta e constante ao sol e ao mar tem provocado nos pescadores

doenças de visão, problemas na coluna, envelhecimento precoce e câncer de pele, além de

diminuir o tempo de vida útil na atividade”. (SABINO, 2010)

Esta lei previa consultas com especialistas e acesso aos exames necessários, palestras,

exposições e dinâmicas de grupo sobre o assunto, além de autorizar o Poder Executivo a

firmar convênio com instituições para elaboração de campanha publicitária de divulgação e

esclarecimentos aos pescadores e seus familiares, sobre o surgimento da doença e seu

tratamento. Entretanto, desta lei restou somente o artigo que prevê campanhas de divulgação e

esclarecimentos sobre o tratamento da doença. Seu art. 2º, o mais concreto, que dispunha

sobre a organização do programa, sob responsabilidade de órgãos estatais ligados a saúde e

pesca, promovendo palestras e a promoção de “consulta a especialistas e o acesso aos exames

necessários” foi vetado integralmente pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro

(RABELLO, 2010)

A pesquisa em tela contribuiu para a ampliação do conhecimento destes pescadores

sobre o câncer de pele, seus fatores de risco e medidas preventivas, assim como por meio da

divulgação dos resultados obtidos, irá fomentar a discussão sobre a relação do câncer de pele

e a exposição excessiva ao sol, bem como o uso da educação popular como estratégia de

promoção da saúde. Além disso, ajudará a promover a articulação necessária entre

Universidade e a comunidade gerando um campo de práticas de pesquisa que se constitui na

cultura e valorização dos saberes da população locale favorece mudanças nas práticas de

saúde. Dessa forma, fica clara a pertinência social deste estudo.

Em relação à pertinência científica, esta pesquisa ressaltou a importância de se

desenvolver mais estudos com a população de pescadores que discutam os riscos

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ocupacionais e cuidados em saúde para esse grupo ainda pouco visado nas pesquisas no

campo da Enfermagem e da saúde. O estudo também incentivará a atuação de enfermeiros e

demais profissionais de saúde em outros cenários, com outros sujeitos e não somente naqueles

já estabelecidos formalmente. Dessa forma estará favorecendo maior destaque á grupos

populacionais considerados “invisíveis” pela população em geral.

1.5 QUESTÕES NORTEADORAS

1- Qual o impacto dos indicadores sociodemográficos sobre o risco para o aparecimento

de neoplasias cutâneas nesses pescadores?

2- Qual o conhecimento prévio dos pescadores participantes a respeito do câncer de pele?

3- Como foram desenvolvidos os temas geradores, evidenciados na observação

participante, nos

círculos de cultura?

1.6 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.6.1 Objetivo Geral:

Conhecer os saberes de pescadores sobre as neoplasias cutâneas.

• Verificar indicadores sociodemográficos de pescadores da Colonia de Jurujuba-

Niterói-RJ, com foco na neoplasia cutânea.

1.6.2 Objetivos Específicos:

• Descrever o conhecimento prévio dos participantes acerca do câncer de pele, suas

causas, manifestações e medidas de prevenção.

• Discutir a prática da Educação Popular em Saúde com os pescadores no que tange ao

câncer de pele.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 NEOPLASIAS CUTÂNEAS: TIPO MELANOMA E NÃO MELANOMA

O Câncer de Pele se apresenta sob a forma de duas variantes: melanoma e não

melanoma. O tipo mais frequente de câncer de pele na população brasileira é o não

melanoma, sob a forma de carcinoma basocelular – que se formam em células basais da

epiderme – ou carcinoma epidermóide – desenvolvido em células escamosas, que formam a

superfície da pele – perfazendo um total de 70% e 25 % dos casos, respectivamente. Ainda é

responsável por, aproximadamente 1/5 dos casos novos de câncer, porém, como são

diagnosticados precocemente, o índice de cura é elevado. (POPIM et al, 2008).

Segundo Oliveira, Glauss & Palma (2011), o Carcinoma Epidermóide apresenta uma

elevada capacidade de invasão local e de metastatização, que sofre variação de acordo com a

lesão de origem (mucosa, semimucosa ou pele, em ordem de gravidade). As áreas mais

afetadas são as mais expostas ao Sol, como face e dorso das mãos. Ainda se apresenta sob a

forma de lesão vegetante e propensa a ulceração e infiltração dos tecidos profundos. (INCA,

2008).

Já o Carcinoma Basocelular (CBC) é a neoplasia maligna de melhor prognóstico, uma

vez que apresenta crescimento muito lento, com capacidade invasiva localizada, sem originar

metástases. A localização preferencial é a região cefálica, sendo 27% desses casos na região

nasal, seguida do tronco e, posteriormente, dos membros. A lesão mais característica do CBC

é a pérola, ou seja, lesão papulosa translúcida e brilhante de coloração amarelo-palha;

podendo sangrar e formar crosta, ou como uma placa seca, áspera e que descama

constantemente, sem cicatrizar. (Ibidem, 2008).

O melanoma representa 4% do total dos cânceres cutâneos, sendo menos frequente

que os carcinomas basocelular e epidermoide. Entretanto, apesar de ter uma incidência

relativamente baixa, assume grande importância devido ao seu elevado potencial de gerar

metástases e a sua letalidade. Acomete ambos os sexos em igual proporção, sendo no homem

mais comum no dorso e, na mulher, nos membros inferiores. Apresenta-se com maior

frequência em pessoas de pele clara, afetando principalmente a faixa etária dos 30 aos 60

anos.Forma-se a partir da transformação maligna dos melanócitos, células produtoras de

melanina. Seu desenvolvimento é resultante de múltiplas e progressivas alterações no DNA

celular, que podem ser causadas por ativação de proto-oncogenes, por mutações ou deleções

de genes supressores tumorais ou por alteração estrutural dos cromossomas. Vários fatores

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têm sido atribuídos como riscopara o desenvolvimento dessas neoplasias, taiscomo: os

fototipos I e II de Fitzpatrick, ou seja, indivíduos que apresentam pele, cabelos e olhos claros

e se queimam facilmente ao invés de se bronzear e horário e tempo de exposiçãoao sol, residir

em um país tropical, fazer uso deimunossupressão crônica (BRASIL, 2014)

Nota-se que nos dois casos, entre os principais fatores de risco encontra-se a exposição

excessiva ao Sol, principalmente, à radiação ultravioleta (UV). Nesse contexto, Popim et al

(2008) expõe em seu estudo que radiação ultravioleta é subdividido em três bandas: UVA,

UVB e UVC, de acordo com o comprimento de onda. Os raios UVAapresentam o

comprimento de onda mais longo (315-400nm), indutora de processos oxidativos. A banda

UVB (280-315nm) é responsável por danos diretos ao DNA, foto-imunossupressão, eritema,

espessamento do estrato córneo e melanogênese. Os raios UVC (100-280nm) são

carcinogênicos e contêm o pico de absorção pelo DNA puro. Devido à destruição da camada

de ozônio, a incidência de raios UVB, intrinsecamente relacionados ao câncer de pele, vem

aumentando progressivamente, permitindo, inclusive, que raios UVC se aproximem mais da

atmosfera terrestre.Já a incidência dos raios UVA independe dacamada de ozônio e, portanto,

causa câncer depele em indivíduos que se expõem ao sol, sobretudoem horários de alta

incidência, continuamentee durante muitos anos.

Por esta razão, a fotoproteção desempenha um papel indispensável nas medidas de

prevenção de cânceres de pele. Segundo recomendações da Sociedade Brasileira de

Dermatologia (SBD),a Fotoproteção é entendida como um “conjunto de medidas

direcionadas a reduzir à exposição ao sol e a prevenir o desenvolvimento do dano actínico e

crônico.”(SCHALKA & STEINER, 2013, p.9) Os autores consideram como medidas

fotoprotetoras: a educação em fotoproteção, proteção através de coberturas, proteção através

do uso de roupas e acessórios, fotoprotetores tópicos e orais.

Cabe destacar aqui as observações sobre a Educação em Fotoproteção do Consenso

Brasileiro de Fotoproteção em que estão contidas as recomendações acima citadas. A

fotoeducação se define como: Conjunto de ações de caráter educativo desenvolvido para conscientizar determinado grupo populacional sobre os riscos da exposição inadvertida ao sol e orientar condutas saudáveis em fotoproteção (...) As ações em fotoeducação devem ser divididas em quatro grandes grupos: Crianças e Adolescentes, Adultos, Trabalhadores Externos e Ações em Mídia (...) Ações para os trabalhadores externos: a. Desenvolver projetos de educação em fotoproteção para apresentar em empresas que empregam trabalhadores cuja a atuação ocorra em ar livre; b. Desenvolver projetos para avaliar de forma mais adequada métodos capazes de mensurar o nível de exposição à radiação solar a que são submetidos os trabalhadores em função externa (...) (Ibidem, 2013, p.19)

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Portanto, as medidas fotoprotetoras são importantes e devem fazer parte da rotina

diária de toda a população sem distinção de sexo, idade ou tipo de pele, pois além de se

constituir um importante fator na prevenção do câncer cutâneo, é eficaz no cuidado para a

prevenção do envelhecimento da pele, tratamento. A aplicação do protetor solar na forma e

quantidade adequada é extremamente relevante para garantir o efeito total de proteção

desejada. Além da aplicação na quantidade adequada, a reaplicação garante uma melhor

fotoproteção. O tempo de reaplicação depende do protetor solar utilizado, do tipo e da

intensidade de exposição, do contato com a água é suor na área de aplicação e exposição. De

forma geral, recomenda-se a reaplicação a cada 2 a 3 horas ou após longos períodos de

imersão na água. (SCHALKA & STEINER, 2013)

Em relação aos sinais e sintomas, destacam-se as queixas mais comuns relacionadas

ao câncer da pele, que são as manchas que coçam, doem, sangram ou descamam; feridas que

não cicatrizam em 4 semanas; sinal que muda de cor textura, tamanho, espessura ou

contornos; elevação ou nódulo circunscrito e adquirido da pele que aumenta de tamanho e tem

aparência perolada, translúcida, avermelhada ou escura. Por tais evidências é possível a rápida

detecção por meio do autoexame ou exame clínico. Indivíduos com lesões suspeitas devem

ser imediatamente encaminhados à consulta especializada em centros de referência para

realização dos procedimentos diagnósticos necessários. Requer devida atenção, a

transformação de um "sinal" em melanoma pelo índice (ABCD): Assimetria: uma metade

diferente da outra; Bordas irregulares: contorno mal definido; Cor variável: várias cores

(preta, castanha, branca, avermelhada ou azul) numa mesma lesão; Diâmetro: maior que 6

milímetros. (INCA, 2003)

2.2 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL: UM AGRAVO RELACIONADO AO TRABALHO

O câncer ocupacional é definido como “aquele causado pela exposição, durante a vida

laboral, a agentes cancerígenos presentes nos ambientes de trabalho. Os fatores de risco de

câncer podem ser externos (ambientais) ou endógenos (hereditários), estando ambos inter-

relacionados.” (BRASIL, 2008, p. 169)

As neoplasias provocadas por exposições ocupacionais geralmente atingem regiões do

corpo que estão em contato direto com fatores cancerígenos, seja durante a fase de absorção

(pele, aparelho respiratório) ou de excreção (aparelho urinário), o que explica maior

frequência de câncer de pulmão, de pele e bexiga nesse tipo de exposição.

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A falta de conhecimento sobre os riscos para a saúde e de informação político-

econômicasque não priorizam o ser humano e sua preservação são fatores fundamentais para

o aparecimento de câncer ocupacional. (INCA, 2008)

Neste estudo, é abordado o fator de risco da exposição excessiva/crônica solar em

pescadores. Portanto, há de se concluir que a realização de atividades pesqueiras sob a

exposição solar aumenta o risco de câncer de pele entre estes trabalhadores.

Nesse sentido, os profissionais que trabalham em atividades ao ar livre (outdoors

workers) e, portanto, muito expostos ao Sol, como os pescadores, agricultores e salva-vidas,

apresentam elevado risco de desenvolver câncer de pele. A exposição de forma intermitente é

um fator importante nos tipos melanoma e CBC, diferentemente do CEC, cuja exposição

continuada é mais relevante. Contudo, tem sido considerado que a exposição cumulativa e

excessiva durante os primeiros 10 A 20 anos de vida aumenta muito o risco de câncer de pele.

(OLIVEIRA, GLAUSS & PALMA, 2011)

Nos textos da OIT (Organização Internacional do Trabalho), citados por Parmeggianni

(1989), já se apontavam várias enfermidades relativas ao trabalho com a pesca, como

bursites, tenossinovites, doenças do aparelho digestivo, tensão nervosa, excesso de

consumo de álcool e/ou fumo, provocando enfermidades respiratórias, sinusites, cáries

dentárias, dermatites originadas pelo contato com óleo diesel e perda de audição, provocada

pela exposição a níveis de ruído excessivos.

Nessa perspectiva, Otal et al (2012) corroboram com observações em seu estudo,

relativas ao cotidiano de trabalho dos pescadores, que demonstram a realidade da atividade

pesqueira no Brasil: sequelas causadas por acidentes na atividade profissional, família

numerosa para sustentar, alto índice de analfabetismo ou pouca escolaridade, intensa jornada

de trabalho com baixa remuneração salarial, dificuldade de comercialização do produto,

profissão passada de pai para filho e percebida como única possibilidade de sustento e estilo

de vida, falta de tecnologia e informação sobre a saúde.

Diante a grandeza deste problema, e a importância do meio de trabalho como uma das

formas de se expor a fatores de risco, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº

777/2004, instituiu o câncer ocupacional como um dos agravos de notificação obrigatória.

(BORSATO & NUNES, 2009) Porém, Ferreira, Nascimento e Rotta (2011) explicam que,

embora os dados epidemiológicos evidenciem esta neoplasia como a de maior incidência no

Brasil, ainda existe uma reconhecida subnotificação reconhecida pelo próprio Ministério da

Saúde, constituindo como um grave problema de saúde pública, visto que, apesar da baixa

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letalidade, em alguns casos pode levar a deformidades físicas e ulcerações graves,

consequentemente, onerando os serviços de saúde.

Barboza, Giacon, Trovó et al (2008) explicam que os trabalhadores ao ar livre, que se

expõem ao sol durante grande parte do dia, possuem aproximadamente 20 vezes mais

probabilidade para desenvolver problemas ou doenças na pele, em relação às pessoas que

evitam essa exposição prolongada. O uso de medidas fotoprotetoras é a principal forma de

prevenção desta doença. Diante disso, fica evidente a importância de realizar atividades

educativas-participativas com informações e orientações a esses trabalhadores, reforçando que

sempre que possível a cabeça deve ser protegida por bonés ou chapéus e óculos escuros com

proteção UV, e o corpo coberto com roupas confortáveis e leves, com mangas longas.

(BARBOZA, GIACON, TROVÓ et al, 2008)

Desta forma, entende-se ser de fundamental importância estudos para descrição do

nível de conhecimento e comportamentos protetores contra os raios ultravioletas e o câncer de

pele deste grupo de trabalhadores “outdoor workers”. Entende-se que o enfermeiro, que tem

como uma de suas funções a educação em saúde, deve buscar orientar este grupo populacional

específico a fim de minimizar tais riscos. Neste sentido, o enfermeiro deve buscar aprimorar a

sua qualificação e aprofundar o seu conhecimento sobre os diferentes tipos de câncer de pele,

melanoma e não melanoma, assim como manifestações clínicas e medidas preventivas, visto

que este conteúdo é pouco enfatizado durante os cursos de graduação de enfermagem.

2.3 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE

A educação popular em saúde constitui-se no espaço de produção crítica de saberes e

práticas onde os conhecimentos em Saúde Pública, em suas várias vertentes teóricas, são

construídos no diálogo teórico e metodológico com outras áreas, buscando alicerces na

Educação, Ciências Sociais, Psicologia entre outras áreas que dizem respeito à saúde humana.

(OLIVEIRA, 2007)

No Brasil, as iniciativas de educação popular e saúde iniciam-se na década de 1970,

quando a educação popular, sob influência freireana, começa ser posta em prática em outros

cenários além do escolar. Após o corte brusco do Golpe Militar, se inicia na década de 70 um

renascimento do programa de educação popular com novos rostos e roupagens. Nesse

momento, são os próprios movimentos sociais populares que convocam os educadores,

médicos, enfermeiros, assistentes sociais, artistas, entre outros. Tornou-se mais crítico o olhar

para os serviços de saúde a partir dessa convivência. Percebeu-se uma lacuna entre os serviços

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de saúde e a população e, a partir de então, novos foram pensados e experimentados,

dialogando com a cultura e interesses populares. (STOTZ, DAVID, WONG UN, 2005).

A característica que dá singularidade a educação popular é a opção que se faz pelas

classes populares e sua cultura; não no sentido vertical, mas horizontal, em que todos

ampliam sua concepção de mundo no processo educativo e juntos vão dando forma e

conteúdo (crítico) a um mundo mais justo. (OLIVEIRA, 2007) Aeducação se faz na práxis, na

reflexão e na ação, pois como nos alerta Freire, a reflexão sem ação é “blá blá blá” e a ação

sem reflexão é basismo. (FREIRE, 1987)

Hurtado (1993) se refere à Educação Popular como:

(...) A teoria a partir da prática e não a teoria ‘sobre’ a prática. Assim, uma prática de educação popular, não é o mesmo que ‘dar’ cursos de políticas para a base, nem fazer ler textos complicados, nem tirar os participantes por muito tempo de suas práticas, para formá-los, sem tomar a própria realidade (e a prática transformadora dessa realidade) como fonte de reconhecimentos, como ponto de partida e de chegada permanentes, percorrendo dialeticamente o caminho entre a prática e sua compreensão sistemática, histórica, global e científica sobre esta relação entre ‘teoria e prática’ (HURTADO, 1993, p. 44-45).

Entendendo a Educação Popular como um diálogo, Oliveira (2003) ressalta que, para

que este ocorra, são necessárias motivações existenciais, afetividade, gostar de estar na

comunidade, somadas a outro elemento-chave: “o convívio”. Conviver é estar junto, olhar nos

olhos, conversar frente a frente. Conviver é mais do que visitar; e não é algo que possa ser

delegado, requer envolvimento pessoal, observando, perguntando e conversando. Com a

convivência será possível perceber o que cotidianamente aflige as pessoas, repensando o

trabalho coletivo e elaborando conjuntamente politicas públicas mais condizentes com o

cotidiano. (OLIVEIRA, 2003)

Uma educação que busca o diálogo pressupõe a visão do outro como sujeito, a

compreensão de que os saberes da população são elaborados através de experiências

concretas, sobre vivências distintas das que os profissionais possuem. (VALLA, 1998) Trata-

se de reconhecer que os saberes são construídos diferentemente e quando da interação entre os

sujeitos, estes possam ser compartilhados e não hierarquizados. (CARVALHO, ACIOLI e

STOTZ, 2001).

Esta horizontalidade na construção de um saber é extremamente importante, pois vai

contra ao que propõem o “ensino bancário”, onde se transforma o educando em ‘vasilhas

vazias’, recipientes sem conteúdos, que nada têm a acrescentar e necessitam ser cheios pelo

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educador, e os conteúdos acabam por ser retalhos da realidade, desconectados da totalidade

em que se engendram, sem significação para os educandos. (FREIRE, 1987)

Sobre o método, Vasconcelos (2004), explica que o elemento primordial se baseia no

processo pedagógicoque considera o saber prévio do educando. Cada indivíduo possui um

saber prévio e um entendimento adquirido através do seu trabalho, da vida social, da luta pela

sobrevivência e pela transformação da realidade. Esse conhecimento fragmentado e pouco

elaborado consiste na matéria-prima da Educação Popular.

A valorização do saber e valores do educando permitem que ele se sinta a vontade e

não perca sua iniciativa. Neste sentido, não se reproduz a passividade usual dos processos

pedagógicos tradicionais. (VASCONCELOS, 2004) Tal visão apoia-se na prática

problematizadora da pedagogia libertadora de Paulo Freire, que propõe aos homens sua

situação como problema com a finalidade de reforçar a mudança, enquanto a concepção

“bancária” dá ênfase à submissão e ao conformismo.

Enquanto, na concepção “bancária” o educador vai “enchendo” os educandos de falso

saber, conteúdos impostos; na prática problematizadora, os educandos vão desenvolvendo o

seu poder de captação e de compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com

ele, não mais como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em

processo. A tendência, então, tanto do educador-educando como dos educandos-educadores é

estabelecerem uma forma autêntica de pensar e atuar. Pensar-se a si mesmos e ao mundo,

simultaneamente, sem dicotomizar este pensar da ação. (FREIRE, 1987)

Entretanto, cabe-nos analisar criticamente a operacionalização da participação popular

no contexto dialógico da educação. “Participar nessa perspectiva, não é fazer o que outros

decidem que cabe a mim, e muito menos responder burocraticamente ou apenas formalmente

pela participação, é ser sujeito desta participação” (OLIVEIRA, 2003)

Compreende-se, portanto, que se movimentar em direção à cultura popular não é

reduzi-la a estratégia pedagógica, no seu sentido mais estreito; o grande desafio é torna-la

uma estratégia política. Como exemplo, Oliveira (2013) destaca a situação de quando nos

valemos de elementos da cultura popular como a roda (para debatermos nos conselhos locais

ou fazermos sala-de-espera) no intuito de dar uma conotação popular ao serviço e podermos

assim ter acesso aos populares e seu conhecimento para inseri-lo no sistema de saúde.

“Importante fazer a roda e ter o participante, porém é necessário ir além”. Trata-se de

investigar a cultura popular e entender como os processos ali desenvolvidos, desencadeados,

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construídos, podem ampliar a compreensão de saúde e humanizar as práticas no serviço e na

formulação, gestão e avaliação das políticas de saúde.

2.4 TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COM GRUPOS

No contexto atual, o conceito de tecnologia tem sido explorado de forma exaustiva e

enfática devido às constantes inovações tecnológicas que refletem a modernização nos mais

diversos ambientes da sociedade, inclusive no processo de ensino-aprendizagem relacionado

ao cuidar em saúde. Entretanto, nota-se ainda uma percepção equivocada no que diz respeito à

associação restrita do termo tecnologia a equipamentos e recursos técnicos de operação.

Mehry et al (2003) ampliam essa concepção quando afirmam que a tecnologia

abrange os saberes constituídos destinados a geração e utilização de produtos, bem como para

organização das relações humanas. O autor ainda agrupa as tecnologias utilizadas no cuidado

em saúde em três categorias que podem também ser vistas no âmbito educativo. São elas:

Tais concepções vão de acordo com o conceito de Tecnologia Educacional (TE)

estabelecido entre o período de transição do final dos anos 70 e início dos anos 80. Nessa

época, discutia-se uma abordagem mais crítica e mais ampla, que fosse além da ideia de

Tecnologia dura, que tem sua representação através do material concreto como equipamentos,

mobiliário do tipo permanente ou de consumo; Tecnologia leve-dura, que inclui os saberes

estruturados representados pelas disciplinas que operam em saúde, a exemplo da clínica

médica, epidemiológica, entre outras e Tecnologia leve, expressa como o processo de

produção da comunicação, das relações, de vínculos estabelecidos.

Este conceito é enfatizado por Nietsche et al. (2005), uma vez que ressaltam que a

tecnologia, enquanto equipamento é essencial como instrumento de trabalho, porém não se

restringe somente a isso. Ela se direciona para a organização lógica e sistemática das

atividades, de forma que possam ser observadas, compreendidas e transmitidas. Segundo os

autores, a tecnologia aplicada a educação deve ser compreendida como “um conjunto

sistemático de procedimentos que tornem possível o planejamento, a execução, o controle e o

acompanhamento do sistema educacional.”

Nota-se desse modo, que as tecnologias não são vistas como os sujeitos das práticas,

mas são apenas impulsionadoras e potencializadoras das mesmas, na medida em que usa os

artefatos tecnológicos como uma ponte de aproximação dos indivíduos com o conhecimento,

estabelecendo uma relação dialógica que cria as condições para a própria prática holística em

que se constitui o sujeito.

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utilização de meios, abrangendo a TE como instrumento facilitador entre o homem e o

mundo, o homem e a educação, de forma a proporcionar ao educando/sujeito um saber que

favorece a construção e a reconstrução do conhecimento. (Ibidem, p.4).

Sabóia et al (2013) acrescenta que os processos educativos podem ser individuais ou

em grupo, mediados pelo uso de tecnologias educacionais, e são uma maneira de intensificar

o processo de viver/conviver em comunidade, que contribui para o educar-cuidar com

autonomia. As tecnologias educacionais têm a finalidade de contribuir com atividades de

ensino-aprendizagem e mediar práticas educativas em comunidade e/ou com tipos específicos

de usuários.

O enfoque deste capítulo são as TE desenvolvidas nas atividades grupais. Sobre isto,

Silva (2003) relata que trabalhar com grupos tem sido uma prática cada vez mais valorizada e

frequente. Em grupo tem se conseguido avançar, aprofundar discussões, ampliar conhecimentos

e melhor conduzir o processo de educação em saúde. Tal prática favorece a superação das

dificuldades, obtenção de maior autonomia e a promoção de um viver mais saudável (SILVA,

2003).

Além do mais, Pereira et al (2009) afirmam que as atividades em grupo, além de

educativas, também se apresentam como momentos importantes de troca de experiências e

apoio, além de serem momentos de descontração e lazer.

Nos encontros grupais por meio da interação intersubjetiva as pessoas aprendem umas

com as outras a enfrentar os conflitos da vida cotidiana tornando-se mais seguras,

aprimorando sua identidade, aprendendo a tomar decisões e construir novos projetos de vida

(ZAMANILLO, 2008).

As tecnologias educacionais que são utilizadas nas atividades educativas em saúde em

grupo devem ser exercidas junto à população buscando principalmente a promoção à saúde,

na medida em que se estimula a autonomia dos sujeitos com recursos que vão de encontro aos

significados culturais e sociais presentes em seu contexto.

Nota-se que ainda há poucos estudos na área de Tecnologias para Educação em Saúde

com a comunidade. Em uma análise de 5.875 resumos apresentados no CBEn, somente 8 se

enquadraram em eventos ou artifícios categorizados como Tecnologia Instrucional, ou seja,

aqueles que propunham novas estratégias de ensino aprendizagem, voltadas para educação de

grupos ou de clientelas específicas. (MENDES et al, 2002)

Nesse sentido, Saboia; Teixeira & Viana (2013) contribuem com um relato de

experiência sobre um trabalho educativo-participativo com um grupo de Diabéticos, no setor

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de ambulatórios do Hospital Universitário da Universidade Federal Fluminense - UFF, no

município de Niterói, RJ. Em seu capítulo, as autoras descrevem a experiência da tecnologia

denominada “aula-passeio” com os participantes do grupo, que aceitaram de imediato a

inciativa e realizaram passeios no Jardim Botânico, na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro,

no Forte Rio Branco, na Florália, no Campo de São Bento, na Praia de Icaraí e nas Praias

Oceânicas em Niterói, entre outros lugares. Ao retornarem, faziam um resumo do que havia

acontecido durante aqueles momentos. Os participantes comentavam, observavam e

criticavam sobre o ocorrido. Dessa forma relações entre profissionais, estudantes e clientela se

fortaleciam, a cada encontro, fundamentadas na horizontalidade, nas trocas e no aprendizado

mútuo.

Em outro estudo, três alunas do curso de Pós-Graduação da Universidade Federal do

Ceará (UFC) relatam a experiência da utilização da literatura de cordel na prática educativa

em saúde. Os temas foram selecionados de acordo com os princípios do SUS e as diretrizes da

promoção à saúde. Estes foram: “autonomia, empoderamento, integralidade,

intersetorialidade, comunidade, saúde, entre outros.” O desenvolvimento ocorreu através de

estrofes com rimas que desencadearam a convergência de ideias. O cordel consta de 15 estrofes, classificadas como sextilha, principal modalidade do cordel, em que são rimados entre si os versos pares, ou seja, o segundo com o quarto e com o sexto, enquanto o primeiro, o terceiro e o quinto são livres. Procurou-se adequá-lo às técnicas do cordel, respeitando a rima, a métrica e os elementos oracionais em cada estrofe. (MARTINS et al. 2011, p.3)

Nos resultados desse relato, as autoras apresentam cada categoria adotada para

confecção do cordel intitulado “Promoção da saúde nos diversos cenários da enfermagem” e

discute uma a uma demonstrando as estrofes correspondentes. O instrumento educativo foi

apresentado aos docentes e discentes do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC e

obteve uma boa aceitação pela criatividade apresentação inédita do exposto.

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3 METODOLOGIA

Considerando a natureza da investigação, trata-se de uma pesquisa de abordagem

mista, descritiva e do tipo participante. De acordo com um dos objetivos proposto, esta

pesquisa se classifica como descritiva, pois segundo Gil (2008), as pesquisas descritivas

visam, primordialmente, a descrição das características de uma determinada população,

fenômenos ou até mesmo a relação entre as variáveis.

O estudo de método misto, segundo Driessnack, Sousa e Mendes (2007), confere o

tipo de pesquisa que engloba, em um único estudo, estratégias mistas para responder às

questões de pesquisa e/ou testar hipóteses, ou seja, aborda a pesquisa qualitativa e quantitativa

concomitantemente ou sequencialmente.

Chizzotti1

Segundo Minayo (2007), a pesquisa qualitativa responde à questões muito

particulares, e se ocupa nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não

deveria ser quantificado, uma vez que trabalha com o universo dos significados, dos motivos,

das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Bogdan e Bicklen (1982) apud Lüdke

(2000) apud Dyniewicz (2009), p.91 explica que “a pesquisa quantitativa

prevê a mensuração de variáveis preestabelecidas para verificar e explicar sua influência e

correlações estatísticas”. Desta forma buscou-se utilizar o método misto já que este irá

possibilitar mensurar uma pesquisa de caráter eminentemente qualitativo

2

1 CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 2082.

2 BOGDAN, Robert. e BIKLEN, Sari.K. Qualitative Research for Education. Boston, Allyn and Bacon, Inc., 1984

e André (1986, p.13), explicam que a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados

descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada e enfatiza mais

o processo do que o produto, se ocupando em retratar a perspectiva dos participantes.

Sobre a pesquisa participante, Borda (1979) a descreve como uma ação voltada para as

necessidades básicas de cada indivíduo, respondendo especialmente ás necessidades de

populações que compreendem as classes menos favorecidas nas estruturas sociais

contemporâneas, levando em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. Um

trabalho dessa natureza tem como objetivo propiciar aos grupos populares entendimento de

seus problemas para que eles possam percebê-los e levantar alternativas que vão ao encontro

de seus interesses. Desse modo está se caminhando em direção ao envolvimento destes grupos

como sujeitos do conhecimento. (ROCHA, 2004)

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3.1 CENÁRIO DA PESQUISA

O cenário escolhido foi a colônia de pescadores de Jurujuba, próximo à Baía de

Guanabara. Jurujuba é um bairro histórico da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro,

no Brasil, cujo nome deriva do tupi ‘Aju(r)-juba’, que significa ‘papagaios amarelos’. O atual

bairro é predominantemente ocupado por antigos moradores e possui uma vila de pescadores,

considerada uma das mais tradicionais do estado. Sua localização encontra-se no meio do

caminho para o Complexo dos Fortes, antiga área de defesa da entrada da Baía de Guanabara

contra invasores no Brasil Colônia, tendo como destaque a Fortaleza de Santa Cruz - ponto de

interesse turístico da cidade. (AGENDA 21 NITERÓI)

O município de Niterói pertence à região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo

considerado de grande porte, e possui como principal atividade econômica o setor terciário de

prestação de serviços. (IBGE, 2010).

Figura 1: Foto da praia de Jurujuba, Niterói-RJ

Fonte: Panoramio: Google imagens.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

Os sujeitos da pesquisa foram 30 trabalhadores da pesca que residem nesta colônia. Os

critérios deinclusão foram: pescadores e cultivadores de mexilhões de ambos os sexos; ativos

na profissão; que pesquem durante o dia, se expondo a radiação solar rotineiramente e tenham

a pesca como fonte de renda principal ou secundária; com idade entre 18 e 65 anos. Os

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critérios de exclusãoforam: pescadores que não estavam em condições físicas e mentais de

participarem do estudo; que não estavam em seu ambiente de trabalho ou que não aceitaram

participar da pesquisa.

3.3 ETAPAS DA COLETA DE DADOS

Neste estudo para executar a ações de educação popular em saúde aproximando-se ao

máximo dos pensamentos de Paulo Freire, optou-se por fazer uma adaptação do seu método

de alfabetização para adultos narrado por Brandão (1981). Geralmente métodos de

alfabetização têm um material pronto, como cartazes, cartilhas, cadernos de exercício. Desta

forma, quanto mais o alfabetizador acredita que aprender é “enfiar o saber-de-quem-sabe no

suposto vazio-de-quem-não-sabe, tanto mais tudo é feito de longe e chega pronto, previsto”.

Paulo Freire pensou que um método de educação construído em cima da ideia de um diálogo

entre educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro, não poderia começar

com o educador trazendo pronto, do seu mundo, do seu saber, o seu método e o material da

fala dele. Um dos pressupostos do método é a ideia de que ninguém educa ninguém e

ninguém se educa sozinho. (BRANDÃO, 1981)

Segundo Paulo Freire, a ideia de uma ação dialogal entre educadores e educandos

deve começar com uma prática de ação comum entre as pessoas participantes da pesquisa e as

da comunidade. Dessa forma, inicialmente foi realizada uma visita ao local para apresentação

da equipe de pesquisa a direção da unidade de saúde próxima e em seguida e agendado um

encontro com o presidente da associação de pescadores local. Após uma breve explanação da

proposta da pesquisa e o consentimento para a ocorrência do estudo no local, bem como a

aceitação dos pescadores em envolver-se com a investigação. A tarefa inicialfoi um breve

levantamento sobre a realidade local, ou seja, o lugar imediato onde os pescadores vivem.

Esta primeira etapa pedagógica de construção do método foi chamada por Paulo Freire de

“levantamento do universo vocabular” ou “investigação do universo temático”. (Ibidem,1981)

De acordo com Freire, esse primeiro passo ocorre por meio da observação livre e

registro em forma de diário de campo. Os pesquisadores irão misturar-se com as pessoas “da

comunidade”. Habitarão o cenário de pesquisa sem molestar o seu cotidiano. Nesse momento

não existirá questionários nem roteiros predeterminados para a pesquisa. A proposta é que a

partir da observação, perguntas sobre a vida, sobre os hábitos, sobre casos acontecidos, sobre

o trabalho, sobre modos de ver e compreender o mundo possam emergir de uma vivência que

começa a acontecer ali. O levantamento do universo temático deve ser conduzido de tal forma

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que reduza sempre a diferença entre pesquisador e pesquisado. O próprio tato de que se está

fazendo uma primeira etapa do método, com o levantamento, deve ser anunciado claramente.

(BRANDÃO,1981)

Este levantamento do universo temático possibilitou uma aproximação das

pesquisadoras com a realidade dos pescadores e forneceu à pesquisa informações relevantes

que auxiliaram nas atividades de aplicação da educação popular em saúde que foram

desenvolvidas posteriormente. Também auxiliou no estreitamento das relações entre

pesquisadores e sujeitos.

As informações colhidas por meio da investigação do universo temático serviram de

ponto de partida para o planejamento e elaboração de uma tecnologia de educação popular

baseada nos “Círculos de Cultura”, visto que este estudo vai contra ao que propõe o “ensino

bancário”, onde se transmite conteúdos prontos e impostos, desconectados com a realidade

dos educandos.

Também foi utilizada como forma de coleta de dados, durante todo o processo, a

observação participante que, segundo Brandão (1987), neste tipo de observação a lógica não

deve ser do pesquisador, nem da sua ciência, mas o da própria cultura que investiga, tal como

a expressam os próprios sujeitos que a vivem.

Em resumo, as etapas de coleta de dados foram:

1.

Neste momento, ocorreu ainvestigação do universo vocabular e estudo dos modos de vida na

localidade. Para Freire (1992), esse levantamento não se limita à simples coleta de dados e fatos, mas

deve, acima de tudo, perceber como o educando sente sua própria realidade superando a simples

constatação dos fatos; isso numa atitude de constante investigação, por meio da qual o educador

poderá emergir com um conhecimento maior de seu grupo-classe, tendo condições de interagir no

processo ajudando-o a definir seu ponto de partida, que irá traduzir-se no Tema Gerador.

Investigação do universo temático:

2.

Aplicação do questionário sócio clínico demográfico e entrevista semiestruturada:

Nesta etapa, os pescadores foram convidados a responder um questionário sócio

demográfico e de saúde (Apêndice A), aplicado pelas pesquisadoras, que abordam questões

como: carga horária de trabalho, renda familiar, tempo de exposição diária ao sol, nível

educacional, entre outros; com o objetivo de ampliar a visibilidade da população em

foco.Logo após, realizamos a entrevista semiestruturada (Apêndice C) elucidando questões

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31

que buscavam conhecer os saberes prévios dos pescadores a respeito das causas,

manifestações e formas de prevenção das neoplasias cutâneas.

3.

Os “círculos de cultura”, enquanto TE adaptada do modelo pedagógico proposto por

Freire (que assim o denominava por sua forma de organização, onde os pesquisadores e

participantes se alocam em círculos para favorecer uma relação horizontal; e de cultura, pois

muito mais que o aprendizado individual, o que o círculo produz são modos próprios e novos,

solidários, e coletivos de se pensar)foram o momento onde ocorreu de fato a educação popular

em saúde sobre o câncer de pele não melanoma. Não havia quantitativos pré-estabelecidos em

relação à ocorrência, pois dependíamos da demanda dos participantes. A educação ocorreu de

forma autêntica, não de “A” para “B” ou de “A” sobre “B”, mas de “A” com “B”,

mediatizados pelo mundo, mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando

visões ou pontos de vista sobre ele. (FREIRE, 1987.)

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

Na análise dos dados foi feita a transcrição das entrevistas na íntegra realizadas

durante a investigação do universo temático. Optou-se pela modalidade Análise Temática

visto que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja

presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado. (MINAYO,

2007)

Realização dos círculos de cultura.

A análise temática ocorrerá em três etapas propostas por Minayo (2007): a primeira

etapa é a de pré-análise, composta por leitura flutuante, constituição do corpus, formulação e

reformulação de hipóteses e objetivos, visando determinar: a unidade de registro, a unidade de

contexto, os recortes, a categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos

mais gerais; a segunda etapa é a de exploração do material, que consiste em uma operação

classificatória que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto, busca-se encontrar as

categorias, que são expressões ou palavras significativas em função das quais os conteúdos de

uma fala serão organizados; a terceira e última etapa é a de tratamento dos resultados obtidos

e interpretação, que consiste em análise estatística simples (porcentagens) dos resultados

brutos, visando colocar em relevo as informações obtidas, para propor inferências e realizar

interpretações, inter-relacionando-as com o quadro teórico desenhado inicialmente.

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32

3.5 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA

Visando atender legalmente às exigências da Resolução nº446/12 do Conselho

Nacional de Saúde, que busca em suas disposições assegurar os direitos e deveres que dizem

respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado, para

prosseguimento da pesquisa, este projeto foi aprovado na apreciação do Comitê de Ética do

Hospital Universitário Antonio Pedro - CEP/CMM/HUAP e se apresenta sob o número

2685213.0.0000.5243.

Foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento e Livre Esclarecido –

TCLE (Apêndice E), no qual constou o esclarecimento dos objetivos desse estudo e o

detalhamento dos métodos a serem utilizados bem como a garantia de confidencialidade das

informações prestadas, privacidade do participante, o reconhecimento da não gratificação e

liberdade de aceitação ou não desse estudo, sem qualquer prejuízo na relação com a

pesquisadora ou instituição.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 A EXPERIÊNCIA DOS CÍRCULOS DE CULTURA

A partir dos temas geradores levantados durante a investigação do universo temático,

elaboramos um planejamento de ensino baseado nas Tecnologias Educacionais desenvolvidas

através dos Círculos de Cultura, segundo o modelo pedagógico de Paulo Freire.

Como primeira etapa, planejamos o evento intitulado “Pescando Saúde e Tecendo

Conhecimentos” desenvolvendo, inicialmente, um cronograma e roteiro das atividades

(Apêndice F) de acordo com a disposição do local de trabalho em que se encontram os

pescadores, pensando em facilitar o acesso e interferir minimamente no tempo de serviço

cedido por eles para participar do evento. Após isso, iniciamos a divulgação com convites que

foram distribuídos na Associação de Marisqueiros, na vila onde trabalham os Cultivadores de

Mexilhões, na Policlínica Regional e no Cais - local que concentra a maior parte dos

pescadores, que rotineiramente descarregam suas embarcações ao longo do dia.

Os círculos de cultura foram desenvolvidos na Associação de Marisqueiros e no Cais,

totalizando quatro encontros.Ao todo, participaram 15 pescadores, que trabalham e moram

com suas famílias na vila residencial ao lado da Associação. Contamos também com a

colaboração de acadêmicas do 8º período do Curso de Enfermagem da UFF em estágio na

Policlínica Regional de Jurujuba, que participaram como voluntárias no desenvolvimento das

atividades.

O Pescando Saúde e Tecendo Conhecimentos começou com a apresentação do projeto

aos pescadores participantes. Ressaltamos os objetivos e destacamos que as atividades

educativas foram geradas com base nas informações colhidas na entrevista feita

anteriormente. Muitos se mostraram surpresos quanto ao nosso retorno, relatando que já

participaram de inúmeras pesquisas em que não receberam respostas e que não trouxeram

benefícios pra população.

Assim, iniciamos as atividades com a aferição da Pressão Arterial como ponto de

partida para um rápido diálogo acerca da construção do conhecimento sobre doenças como

Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus, bem como hábitos de vida saudável;

adesão ao tratamento e busca pelo serviço de saúde, pois durante a observação participante,

percebemos a necessidade de discutir tais assuntos, uma vez que as condições de trabalho

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deste grupo populacional, associadas à falta de informação e dificuldade de acesso às Redes

de Atenção em Saúde favorecem a ocorrência de agravos relacionados a essas patologias.

Além disso, este diálogo inicial permitiu uma maior aproximação entre os pesquisadores e

participantes.

Figura 2: Foto da verificação da Pressão Arterial de uma participante antes das atividades.

Fonte: Fotografia da autora

Logo após, iniciamos os Círculos de Cultura com os Temas Geradores, definidos a

partir das frases dos pescadores registradas durante o levantamento do universo temático. O

Tema I:Mitos e Verdades sobre o câncer de pele foi desenvolvido com base em 11

afirmações (retiradas das respostas dos participantes ao roteiro da 1ª entrevista - Apêndice C)

dispostas no verso da foto de peixes de espécies diferentes, comuns do pescado dos

participantes. Assim, cada peixe continha uma afirmativa sobre neoplasias cutâneas que

poderia ser mito ou verdade. Com a intenção de nos apropriarmos de recursos relacionados ao

cotidiano destes pescadores, utilizamos uma rede de pesca, cedida pelos próprios

participantes, como painel para expor os peixes. Dessa forma, solicitamos que cada um

escolhesse uma espécie na rede para, então, discutirmos se a afirmação do verso era mito ou

verdade.

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Figura 3: Foto de uma das cultivadoras de mexilhões durante o desenvolvimento do Tema I.

Fonte: Fotografia da autora

No Tema II: O câncer de pele – Fotos em foco, trouxemos assuntos relacionados a

patologia em questão, como: conceitos, sinais e sintomas, causas do câncer de pele: Radiação

UV e como prevenir por meio de demonstração de fotos e imagens que facilitaram o

entendimento e possibilitaram a relação do assunto com a realidade. A utilização das imagens

na discussão viabilizou a problematização do tema junto aos pescadores, o que, segundo

Freire (1992), significa procurar novas compreensões de novos desafios.

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Figura 4: Foto do desenvolvimento do Tema II na Associação de Pescadores de Jurujuba, Niterói.

Fonte: Fotografia da autora

O Tema III: Rede de Conhecimentos foi desenvolvido com os participantes a fim de

ampliar a construção do pensamento crítico-reflexivo já trabalhada ao longo das atividades.

Apresentamos diversas figuras relacionadas ou não com o câncer de pele e pedimos que eles

separassem as imagens de acordo com os assuntos discutidos (Fatores de risco, Sinais e

Sintomas e Prevenção) e, assim, pregassem na rede nos respectivos espaços destinados a tais

assuntos, como mostra a figura.

Figura 5: Foto de uma participante desenvolvendo a atividade na Rede de Conhecimentos.

Fonte: Fotografia da autora

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Ao final das atividades, foi realizada uma avaliação do conteúdo proposto (Apêndice

D), através de perguntas, às quais o grupo respondeu. Notou-se que o grupo conseguiu

construir conhecimentos acerca das neoplasias cutâneas, identificar a causa e os diferentes

tipos de câncer de pele, relatar as principais manifestações, bem como os modos de

prevenção. Após os círculos de cultura, o grupo considerou adotar medidas de proteção e 17%

dos participantes passaram usar protetor solar ou chapéu.

Figura 6: Foto de um dos pescadores utilizando chapéu no segundo dia do evento Pescando Saúde.

Fonte: Fotografia da autora

4.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES

A amostra final da pesquisa foi composta por 30 participantes, contemplando

pescadores e cultivadores de mexilhões. A distribuição dos participantes foi feita de acordo

com a caracterização da população com relação ao seu perfil (sexo, idade, raça e

escolaridade).

A primeira variável analisada diz respeito à distribuição dos participantes quanto ao

gênero (Figura 1). De acordo com os dados coletados, verificou-se o predomínio de

pescadores do sexo masculino (73%) em relação ao feminino (27%). Tal proporção confirma

os dados encontrados no Boletim de Pesca e Agricultura referentes ao registro de pescadores

da Região Sudeste, que no ano de 2010 apresentou 74.925 pescadores profissionais

registrados, sendo que 74,5% são homens, e apenas 25,5% são mulheres. Seguindo uma

análise comparativa, em termos regionais, o Nordeste apresentou a proporção mais igualitária

entre os gêneros, com 172.327 mulheres, representando 46,3% do total, contra 200.460

homens, referente a 53,7%. (BRASIL, 2010)

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38

Tal situação decorre pelo fato da pesca ser tradicionalmente entendida como uma

atividade masculina, com raízes históricas pautadas na segregação de gênero no processo de

trabalho. Entretanto, vale ressaltar, que apesar da preponderância masculina, a presença da

figura feminina no cenário pesqueiro tem sido cada vez mais observada e discutida em

movimentos, como a recém-instituída Articulação Nacional de Pescadoras no Brasil (ANP),

que busca o reconhecimento do estatuto destas trabalhadoras, diminuição das desigualdades

de gênero e criação de políticas que assegurem direitos sociais igualitários. (MANESCHY &

ÁLVARES, 2010)

Nesse sentido, Santos (2013) afirma que as pescadoras têm fundamental importância

na preservação de saberes e práticas transmitidas através de gerações; na produção de

alimentos e na geração de renda e ainda enfrentam longas jornadas de trabalho que inclui a

pesca e os afazeres domésticos, porém, mesmo diante da importância social e cultural do

trabalho destas mulheres e maior participação nas atividades pesqueiras, elas permanecem

socialmente invisíveis.

Figura 7: Gráfico referente à distribuição dos participantes quanto ao gênero.

Fonte: Elaboração própria.

73%

27%

Sexo

Masculino Feminino

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Segundo o Instituto Nacional do Câncer – INCA, a estimativa é de 98.420 novos casos

de câncer de pele não melanoma nos homens e 83.710 nas mulheres para 2014. Esses valores

correspondem a um risco estimado de 100.75 casos novos a cada 100 mil homens e 82.24 a

cada 100 mil mulheres. O câncer de pele não melanoma é o mais incidente em homens nas

regiões Sul (159.51/100 mil), Sudeste (133. 48/100 mil) e Centro-Oeste (110.94/100 mil).

(INCA, 2014)

Estes indicadores, somados aos riscos ocupacionais, em que os homens estão mais

expostos por ser o gênero dominante entre os pescadores, demonstram que os indivíduos do

sexo masculino estão mais propensos a desenvolver o câncer de pele e isso pode ser agravado

pelo fato de que ainda há uma baixa procura pelos serviços de saúde por parte deste gênero,

sobretudo no caso destes pescadores que enfrentam uma ampla jornada de trabalho que reflete

na falta de tempo para desenvolver ações de promoção à saúde e autocuidado.

A variável idade foi distribuída de acordo coma faixa etária dos pescadores

entrevistados. Como mostra os dados da Tabela 1, predominou a faixa de 51 a 60 anos, com

30%, seguida por 41 a 50 anos, com 23,33%. Sobre esse aspecto, Souza et al (2009)observou

em seu estudo com pescadores de Guarujá (SP) que as faixas etárias de 36-45 e 46-55 anos,

seguem proporção similar, com 34% cada uma.

Tabela 1. Distribuição dos pescadores da Colônia de Jurujuba segundo a faixa etária

Faixa etária (anos) Frequência %

<30 2 06,66

30 a 40 6 20,00

41 a 50 7 23,33

51 a 60

>60

9

6

30,00

20,00

Total 30 100%

Fonte: Elaboração própria.

A baixa frequência de pescadores com menos de 30 anos também foi notória no

Paraná, onde somente 13% dos pescadores apresentaram essa faixa etária.

(VASCONCELLOS et al, 2005) Tal fato pode se relacionar ao pouco envolvimento dos filhos

dos pescadores nesta atividade. O número reduzido de filhos envolvidos pode resultar do

melhor nível de escolaridade dos jovens, que buscam, geralmente, por empregos fora da

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comunidade, onde há possibilidade de renda fixa e benefícios como registro em carteira, plano

de saúde e condições menos árduas de trabalho. (SOUZA et al, 2009) Por outro lado, isso

pode refletir futuramente no desaparecimento da atividade pesqueira tradicional. A partir da

constatação deste fato, programas de manejo nas comunidades tradicionais de pescadores no

Rio Paraná foram desenvolvidos, visando o resgate e a transmissão de valores familiares e

culturais, bem como a utilização adequada dos recursos. (CARVALHO, 2004)

As faixas etárias predominantes destacam a relevância da pesquisa, visto que

demonstram que a maior parte dos pescadores que participaram do estudo constitui grupo de

risco de contrair o câncer de peletambém por apresentar idade maior que 40 anos, sob

exposição constante e prolongada à radiação solar sem proteção, considerando que os danos

provocados por tal ação tem caráter cumulativo e costumam se manifestar nessa fase da vida,

como mostra alguns estudos. (INCA, 2010)

A Tabela 2 evidencia a caracterização da amostra de acordo com escolaridade, renda e

raça.

Tabela 1: Distribuição dos participantes de acordo com escolaridade, renda e raça.

ESCOLARIDADE Frequência %

Fundamental Incompleto 15 50%

Fundamental Completo 4 13,3%

Ensino Médio Incompleto 6 20%

Ensino Médio Completo 5 16,6%

RENDA FAMILIAR Frequência %

<1 salário mínimo

De 1 a 3 salários mínimos

De 3 a 5 salários mínimos

De 5 a 10 salários mínimos

1

21

6

2

3,3%

70%

20%

6,6%

COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA

requência %

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41

Fonte: Elaboração própria

Com relação à escolaridade, o percentual apurado demonstrou quemetade dos

pescadores (50 %) não concluiu o ensino fundamental. Em âmbito nacional, de acordo com o

relatório da SEAP (2006), 74,5 % de pescadores dedicados à pesca de pequeno porte no Brasil

também apresentam ensino fundamental incompleto. Este mesmo relatório revelou para o

Estado de São Paulo o seguinte: 3,2% de pescadores analfabetos (A); 67,1% com Ensino

Fundamental incompleto (EFI); 11,4% com Ensino Fundamental completo (EFC); 5,9% com

Ensino Médio incompleto (EMI) e 10,6% com Ensino Médio completo (EMC). Nota-se ainda

que uma quantidade considerável de pescadores da Colônia de Jurujuba, Niterói (20%)

concluiu o Ensino Médio, enquanto, no Estado de São Paulo, quase metade desse percentual

(10,6%) atingiu esse nível de escolaridade. No entanto, nos dois casos, o número de

pescadores com Ensino Médio completo foi maior que o dos que não concluíram esse ciclo

escolar.

Tais resultados corroboram com a observação de DIAS-NETO e MARRUL-FILHO

(2003), que percebem a pesca como uma atividade capaz de absorver mais mão-de-obra com

baixa escolaridade, seja de origem urbana ou rural. Em alguns casos ainda é a única

oportunidade de trabalho para indivíduos nessa condição. Diegues (1983), porém, comenta

que, independente do grau de formação, o domínio da arte exige qualidades físicas e

intelectuais dos pescadores, que vão sendo aprimoradas no exercício da atividade.

Um baixo nível de escolaridade é ainda um fator relevante no que concerne ao

indivíduo apresentar condições de exercer o autocuidado. Quanto mais elevado o nível de

instrução, melhor será a capacidade de construir conhecimentos sobre os fatores que

interferem no seu processo saúde-doença e qualidade de vida e, a partir de então, aplicar tais

saberes em seu cotidiano. No que tange ao câncer de pele, o conhecimento acercada

Sim 12 40%

Não 18 60%

RAÇA Frequência %

Branca 6 20%

Parda 19 63,3%

Negra 5 16,7%

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patologia- suas causas, manifestações e medidas de prevenção- foi melhor apresentado pelos

pescadores que possuem maior nível de escolaridade.

Sobre a Renda Familiar, os dados da Tabela 2 demonstram que 70% dos pescadores

apresentam renda mensal de 1 a 3 salários mínimos, 20% vivem com 3 a 5 salários mínimos e

6,6 % recebem de 5 a 10 salários mínimos. Dentre estes, 40% alcançam suas rendas com

atividades complementares à pesca, normalmente relacionadas ao comércio, aluguel de casas

e, no caso das mulheres, prestação de serviços domésticos nos dias de folga e venda de

cosméticos.

Fuzetti & Correa (2009) constataram que a renda média de pescadores da Ilha do Mel,

no Paraná que apenas pescam é de R$ 425,00 e a dos que pescam e trabalham com outros

serviços R$ 585,00, o que demonstra uma diferença pouco significativa entre os primeiros e

os últimos, contrariando o observado entre os pescadores da Colônia de Jurujuba, Niterói.

A baixa renda dos pescadores se deve, em parte, a característica de sazonalidade que o

produto pesqueiro impõe, gerando irregularidade na renda recebida por esta atividade. Neste

contexto, as atividades alternativas, durante épocas de entressafra da pesca, fazem parte da

estratégia desobrevivência destes trabalhadores. Os pescadores da Colônia afirmam haver

uma grande variação de renda ao longo do ano por consequência da disponibilidade do

pescado.

Ainda sobre este aspecto, pode-se estabelecer uma relação bi-causal entre a renda e a

saúde. Ao refletirmos sobre o conceito de saúde defendido atualmente, percebemos a

fundamental relação de causalidade entre as duas dimensões. Em primeira hipótese, a renda

interfere na saúde, uma vez que um maior nível de renda permite gozar de melhor status de

saúde. Essa relação pode ser entendida pelo uso da renda na aquisição de bens e serviços de

saúde, acesso aos serviços de saúde, condições de moradia e da educação. Em direção oposta,

a saúde também afeta a renda, na medida em que o capital humano é um insumo associado

com a capacidade da força de trabalho, assim, a saúde impacta diretamente sobre a

produtividade e oferta de trabalho afetando o crescimento econômico. (SANTOS et al, 2012)

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (1999), há uma relação tênue entre os

indicadores sócio econômicos e os fatores de risco para o desenvolvimento do Câncer. Dá-se

um exemplo do que se observa entre o grau de alcance escolar e fatores de risco de doenças,

existindo uma relação diretamente proporcional: quanto maior o grau escolar, menor a

prevalência do risco. O estágio avançado, muitas vezes intratável, em que os casos chegam

aos hospitais, bem indica a organização e o acesso ao tratamento.O diagnóstico precoce seria

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possível se essas pessoas em vulnerabilidade social tivessem melhor instrução e maior acesso

à assistência médica. Torna-se necessário ressaltar que o câncer não diferencia classes sociais,

mas ele se desenvolve diferentemente entre os grupos sociais, porque eles têm diferentes

expectativas de vida e apresentam ou se submetem a diferentes fatores de risco de

adoecimentos e morte.

Logo, é de fundamental importância que haja maior atenção junto à Vigilância em

Saúde e maior incentivo às práticas educativas e preventivas do câncer de pele na atenção

básica no Sistema Único de Saúde (SUS); maior divulgação de esclarecimentos sobre filtro de

proteção solar e a necessidade de sua utilização; bem como redução dos seus valores para que

grande, senão toda parcela da população tenha acesso de forma igualitária; e que as

campanhas de prevenção ao câncer de pele disponibilizem exames, sobretudo para população

com maior vulnerabilidade socioambiental e laboral e que haja ainda maior sensibilização nas

redes de ensino, com incentivo a projetos de educação em saúde, principalmente, desde as

seres iniciais. (OLIVEIRA, 2013)

A última variável da Tabela 2 demonstra a distribuição dos pescadores quanto à raça.

De acordo com os dados coletados, 63,3% dos profissionais entrevistados são pardos, 20%

são brancos e apenas 16,7% são negros. O que difere do encontrado entre os pescadores do

Sul do País, onde 75% se classificaram como sendo de raça branca, enquanto 25% se

declararam negros. Pode-se explicar tal discrepância pelo fato da região Sudeste concentrar

grande parte da população parda do país (32,7%), perdendo apenas para região Nordeste, com

42,4% de indivíduos com tal identificação racial. (IBGE, 2007)

Estudos demonstram que a fotoproteção conferida pela melanina da pele mais

pigmentada faz com que os cânceres de pele sejam menos frequentes entre negros e pardos.

No Brasil, a análise de dados das campanhas de prevenção ao câncer de pele, promovidas pela

Sociedade Brasileira de Dermatologia, de 1999 a 2005, evidenciou 17.980 casos (8,7%) de

diferentes tipos de câncer da pele em meio aos 205.869 indivíduos examinados. A proporção

de câncer nos indivíduos negros foi de 5% (1,6% nos pretos e 3,4% nos pardos) versus 3,2%

nos amarelos e 12,7% nos brancos. No entanto, apesar do menor risco na população parda

comparada aos brancos, os indivíduos pardos ou negrosque desenvolvem câncer da pele são

confrontados com o aumento da morbidade e mortalidade, resultado de um diagnóstico tardio.

(EID & ALCHORNI, 2011)

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A Tabela 3 demonstra a distribuição dos participantes de acordo com dados relacionados ao

trabalho, como o tempo de profissão em anos, tempo de exposição solar diária em horas e utilização

de protetor solar.

Tabela 3: Aspectos relacionados ao trabalho e a saúde.

TEMPO DE PROFISSÃO (em anos) Frequência %

<10 anos 3 10%

10 a 20 anos 8 26,6%

21 a 30 anos

31 a 40 anos

>41 anos

5

10

4

16,6%

33,3%

13,3%

UTILIZAÇÃO DE PROTETOR SOLAR Frequência %

Sim 6 20%

Não 24 80%

TEMPO DE EXPOSIÇÃO SOLAR DIÁRIA (em horas)

Frequência %

1 a 3 4 13,3%

4 a 7 11 36,7%

8 ou mais 15 50%

Fonte: Elaboração própria

A primeira variável apresentada na Tabela 3 diz respeito ao tempo de profissão. De

acordo com os dados observados, predominaram os pescadores com grande experiência na

profissão, 33,3% com 31 a 40 anos de profissão, seguidos de 26,6% com 10 a 20 anos na

função. Nota-se que poucos têm experiência de pesca inferior a 10 anos (10%), assim como o

observado entre os pescadores do Perequê, em São Paulo, onde apenas 6% possuíam menos

de cinco anos de experiência, mostrando que a dinâmica de renovação é lenta. (FUZETTI &

CORRÊA, 2009)

Observa-se que há um “envelhecimento” na atividade pesqueira, ou seja, sem uma

importante renovação de profissionais. A maioria dos pescadores permanece na profissão por

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não ter outras oportunidades nos demais setores do mercado de trabalho e necessitar da renda

proveniente do pescado para manter a renda da família, já que muitos não conseguem a

aposentadoria por tempo de serviço pela informalidade conferida à profissão e falta de

comprovação pela assinatura na carteira de trabalho.

Outro fato a ser considerado, são os riscos a saúde em que estes trabalhadores

permanecem expostos durante todo esse tempo de serviço. Além das condições insalubres

que apresentam os barcos onde esses pescadores passam a maior parte do tempo, a exposição

solar prolongada representa mais um agravante à saúde que se faz presente na rotina desses

trabalhadores ao longo dos anos. Como mostra a Tabela 3, 50% dos pescadores trabalham sob

constante exposição solar durante oito horas ou mais por dia, enquanto apenas 13,3% estão

expostos diariamente à radiação solar por menos 3 horas. Esta apuração demonstra que a

jornada de trabalho extensa durante o dia, confere maior vulnerabilidade às variações

climáticas e aos efeitos nocivos dos raios solares a maior parte dos pescadores entrevistados.

Contrapondo-se a isto, Schwartz (2005) levanta a hipótese que supõe a existência de

adaptação da pele à exposição crônica e prolongada ao sol. Isso sugere que o organismo cria

mecanismos protetores contra a radiação solar, do que deriva em um dano menor do que o

encontrado em indivíduos que se expõe esporadicamente ao sol. Este autor estudou o efeito da

Radiação Ultravioleta em indivíduos caucasianos, mas concluiu que a afirmação deveria ser

confirmada por futuros estudos.

Quanto à utilização do protetor solar, 80% afirmaram não fazer uso do mesmo em

nenhum momento do dia e apenas 20%, ou seja, 6 de 30 pescadores entrevistados, dizem

aplicar o filtro de proteção solar por pelo menos uma vez, sem reaplicação, ou quando

lembram. Quando questionados sobre o motivo para não utilizar o protetor solar, as respostas

se relacionavam ao esquecimento, falta de tempo, alto custo do produto e não reconhecimento

de sua importância na prevenção do câncer de pele.

Portanto, são necessárias novas medidas de políticas públicas no campo da saúde do

trabalhador, visando contemplar estes profissionais, que,geralmente, exercem suas atividades

de maneira autônoma, sem vínculo a empresas e, por isso, são desfavorecidos em relação a

seguridade de seus direitos e na vigilância do cumprimento do que prediz o artigo 7º da

Constituição Federal, que assegura aos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao

trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Logo, o não fornecimento de

protetores solar a estes trabalhadores, bem como a falta de instrução sobre a importância do

mesmo, viola a referida norma constitucional.

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4.3 O CÂNCER DE PELE NA PERCEPÇÃO DOS PESCADORES

A partir dos dados coletados, transcrição das entrevistas na íntegra e leitura exaustiva

visando alcançar os núcleos de compreensão do texto, foram estabelecidas duas categorias,

elencadas segundo as fases propostas pela análise temática descrita por Minayo (2007), sendo

estas “Identificando conhecimentos acerca do câncer de pele” e o “Câncer de Pele e as

medidas de fotoproteção”.

4.3.1 Identificando conhecimentos acerca do Câncer de Pele.

O universo dialógico em que se estabelece a Educação Popular em Saúde (EPS)

demanda práticas que se constituem por meio da apropriação e interpretação do mundo pelas

classes populares, contemplando a escuta ao saber do outro, sobretudo com o reconhecimento

de suas crenças, valores, conhecimentos, desejos e temores. (BRASIL, 2012)

Buscando alcançar os objetivos da EPS, procuramos descrever nesta seção, o

conhecimento prévio dos participantes em relação ao que de fato significava para eles o

câncer de pele, suas principais causas e os sinais e sintomas esperados para esta patologia. As

informações obtidas por meio da entrevista semiestruturada foram devidamente registradas

em sua total fidedignidade e também fomentaram o desenvolvimento dos Temas Geradores

durante os Círculos de Cultura.

Na análise das entrevistas, os primeiros achados relacionavam-se às representações

conceituais a respeito das neoplasias cutâneas. Ao serem questionados sobre tal aspecto, 20%

relataram não saber nada sobre o câncer de pele; 93,3% relacionaram o aparecimento de

manchas e feridas na pele aos principais sinais e sintomas da doença; 6,6% entenderam como

lepra e 6,6% afirmaram que o câncer de pele é o único câncer que não é contagioso.

Por meio destas constatações, percebemos a importância de primeiramente identificar

os saberes e crenças do público alvo de intervenções educativas, buscando reconhecer onde se

encontram as possíveis lacunas de conhecimento, relacionando a influência de fatores

socioculturais nos modos de interpretar o mundo e construir conhecimentos pelo acesso à

informação no cenário em que vivem.

Entre alguns pescadores envolvidos na pesquisa, notou-se que as crenças a respeito do

câncer de pele estão firmadas em dúvidas e desconhecimentos evidenciados nas falas a seguir:

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P3: “Realmente nunca ouvi falar nada.” [Ao ser questionado sobre o que ele sabia

sobre o câncer de pele]

P14: “Não sei nada, nunca estudei sobre isso”.

Atualmente, o câncer de pele é o câncer de maior incidência no Brasil. Os números

alarmantes da doença no país geraram uma preocupação que culminou na criação do

Programa Nacional do Controle do Câncer de Pele (PNCCP) pela Sociedade Brasileira de

Dermatologia. Desde então, campanhas de prevenção e combate ao câncer de pele buscam

levar informação, diagnóstico e tratamento a população, gratuitamente (SBD, 2013). No

entanto, em termos de aplicação prática, questiona-se a eficácia dessas campanhas quanto ao

seu alcance em todos os grupos sociais. Nota-se, por meio das falas em destaque, que o câncer

de pele ainda é uma doença desconhecida por alguns pescadores e, tal fato pode-se relacionar

a fatores discutidos anteriormente, como a dificuldade de acesso à informação e aos serviços

de saúde, que geralmente estão associados ao baixo nível de instrução e ampla jornada de

trabalho.

Sabe-se ainda que os mitos e desconhecimentos constituem os maiores vilões na luta

contra o câncer de pele; isso porque pelo fato de desconhecer as causas e manifestações da

doença, muitos diagnósticos se dão de forma tardia, dificultando o prognóstico. Além disso,

as lacunas no conhecimento também representam uma barreira à prevenção da doença, pois

quando as causas não são conhecidas, as medidas de proteção também não serão.Visando

construir caminhos para trazer soluções a estes problemas, a ação educativa proposta neste

estudo buscou esclarecer dúvidas e facilitar a troca de conhecimentos, sem utilizar da

imposição e invasão cultural.

P4: “O que eu já ouvi falar do câncer de pele, dizem, eu não sei se é verdade, é que

acho que não pega, né, não é contagioso, né, acho que o único câncer que não é

contagioso é o câncer de pele, não é isso?! Até aquele rapaz que teve aqui o pai dele

tem muita marca de câncer de pele, e ele mesmo evitava encostar nas pessoas, ele

metia a unha, descascava, sangrava e ele mesmo evitava encostar pra não contagiar

[referente a um pescador cujo pai também pescador teve câncer de pele em diversos

locais do corpo e hoje encontra-se afastado da pesca fazendo tratamento].

P10:“Acho que é lepra, né?!”.

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Mitos evidenciados pela crença de que o câncer pode ser contagioso ou, até mesmo a

associação do câncer de pele à lepra, foram percebidos nas falas dos pescadores citados acima

quando questionados sobre o que eles sabiam a respeito do câncer de pele. No entanto, sabe-

se que em sua definição fisiopatológica, o câncer se constitui como um grupo de doenças

caracterizadas pela perda do controle da divisão celular e pela capacidade de invadir outras

estruturas orgânicas, podendo ser causado por fatores externos, como substâncias químicas,

irradiação e vírus, e internos, como hormônios, condições imunológicas e mutações genéticas.

Mesmo os cânceres causados por vírus não são contagiosos, ou seja, não passam de uma

pessoa para a outra. (BRASIL, INCA, 2004)

Sobre isso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reafirma que o câncer de pele

não é uma doença contagiosa, e por isso não é transmissível pelo contato com alguém que tem

ou já teve, nem como utilizando utensílios pessoais. Porém, é válido ressaltar que alguns vírus

oncogênicos, isto é, capazes de produzir câncer, podem ser transmitidos através do contato

sexual, de transfusões de sangue ou de seringas contaminadas utilizadas para injetar drogas.

Como exemplos de vírus carcinogênicos têm-se o vírus da hepatite B, que pode causar o

câncer de fígado e o vírus HTLV - I (Human T-lymphotropic virus type I), que pode

ocasionar a leucemia e o linfoma de célula T do adulto. (INCA,2004)

Além dos fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação

dos carcinógenos ambientais, os fatores externos como hábitos de vida também podem

influenciar no aumento do risco para o desenvolvimento do câncer de pele, sendo o principal

risco a exposição solar, mais especificamente a radiação ultravioleta, que tem efeito

cumulativo e penetra profundamente na pele, sendo capaz de provocar diversas alterações e

mutações celulares, responsáveis por ocasionar o câncer de pele melanoma e não melanoma.

Entre os participantes, o saber prévio sobre a relação da exposição solar com o câncer

foi notório na maioria das falas. Ao serem questionados sobre a causa do câncer de pele, 60%

perceberam a exposição à radiação solar como principal causa; porém, 6,6% fizeram alusão

ao cigarro como agente causador e 13,3% pensaram haver relação entre produtos químicos e

lâmpadas de mercúrio com o câncer de pele. Estes achados podem ser evidenciados nas falas

a seguir:

P5: “Ouvi falar, eu vejo muito falar é negócio de que cigarro é brabo, piora, e o sol quente que dá câncer de pele.”

P6: “[...] quero tirar uma dúvida com você, se lâmpada de mercúrio dá câncer de pele, porque mancha a pele.”

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P7: “A exposição ao raio ultravioleta, a exposição a esse raio solar que em certos momentos do dia ele causa, né, uma piora, que pode agrava e se torna um câncer.”

P8:“Pegar muito sol, né... não proteger a pele, não passar o protetor solar. Procurar ficar na sombra, não ficar muito exposto com a cara no sol, igual tem muita gente que fica.”

P10: “Sol, produtos químicos.” [Ao ser questionado sobre as causas do câncer de pele.]

Sobre relação da causa do câncer de pele com o uso de cigarro, apontada por um dos

pescadores, um estudo recente de caso controle realizado nos EUA apontou que mulheres

fumantes por no mínimo 20 anos, apresentam uma taxa de risco três vezes mais elevada para

desenvolver o câncer de pele não melanoma de origem de célula escamosa. Entre os homens

fumantes, o achado foi diferente, visto que os participantes do sexo masculino que possuíam

carcinoma de células basais eram mais propensos a ter fumado por ao menos 20 anos do que

os pacientes sem a doença. (ROLLISON, IANNACONE, MESSINA, et al, 2012)

Segundo os pesquisadores os resultados não surpreenderam, pois a fumaça do cigarro

contém agentes carcinogênicos, e os fumantes jogam fumaça e cinzas sobre seus próprios

rostos todos os dias. Composto por mais de 4 mil substâncias tóxicas identificadas, o cigarro

está relacionado a mais de 50 doenças e é extremamente prejudicial à pele. As substâncias

presentes em sua composição levam à perda do colágeno e da elastina, o que acelera o

surgimento das rugas e provoca a flacidez do tecido cutâneo. (SBCD, 2012)

Outro dado interessante relacionado às percepções acerca das causas do câncer de pele

foi a dúvida levantada por um pescador a respeito das lâmpadas de mercúrio em uma possível

relação com o câncer de pele. Esta questão tem sido estudada desde a década de 80, quando

surgiu a hipótese de que as lâmpadas fluorescentes podem causar câncer devido a RUV

emitida pela maioria das fontes de luz fluorescentes. Entretanto, diversos estudos não

sustentaram essa hipótese, comprovando com evidências científicas que as emissões de RUV

das lâmpadas fluorescentes são extremamente baixas devido a uma forte atenuação causada

pela reação com o fósforo e pelo invólucro de vidro. Além disso, as lâmpadas fluorescentes

utilizadas para a iluminação possuem um difusor e/ou controlador que causa uma reflexão ou

absorção de qualquer radiação UV emitida. (NEMA, 1999)

Lytle et al.(1993) avaliaram a emissão de R-UV por 58 tipos de lâmpadas

fluorescentes e estimaram que a exposição às lâmpadas fluorescentes numa jornada de

trabalho de 8h/dia equivaleria a um minuto de exposição ao sol ao meio-dia em Washington

nos EUA (uma cidade localizada em latitudes mais altas onde os níveis de R- UV ao meio-dia

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são bem inferiores aos medidos no Brasil). Esta comparação demonstra que a quantidade de

RUV emitida por estas fontes de luz são insignificantes, porém, ainda assim, são emissoras de

luz visível, o que a depender de outras doenças, que não especificamente o câncer de pele,

pode ser considerado relevante.

Outro ponto de vista destacado em um das falas faz alusão a uma causa do câncer de

pele ainda pouco conhecida: a exposição a produtos químicos. Estudos demonstram que a

exposição crônica ao Arsênio por ingestão de água potável está relacionada com aumento do

risco para câncer de pele. Este risco está associado com ingestão de água potável contendo

concentrações ≤ 50 µg de arsênio por litro . A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer

(IARC) classifica o arsênio e compostos de arsênio inorgânico como cancerígenos para o ser

humano. A exposição não ocupacional ao arsênio ocorre principalmente por ingestão de

alimentos e água. A exposição ambiental por via inalatória é considerada mínima. O arsênio

está presente em quantidades-traço em todos os alimentos e as concentrações mais

elevadasgeralmente são encontradas em frutos do mar, carnes e grãos, com teores mais baixos

emderivados do leite, vegetais e frutas. (FIT, 2014)

Em última análise, a maioria dos participantes identificou manchas, coceira e feridas

como principais sinais e sintomas do câncer de pele. Em sentido geral, notou-se que as

percepções acerca do câncer de pele, evidenciadas nas falas destacadas nessa categoria, são

marcadas por saberes prévios que se aproximam do saber científico no que tange as

representações conceituais a respeito do câncer de pele, com suas causas e manifestações.

Destaca-se a relação entre o uso de cigarro e a exposição a outros produtos químicos com o

câncer de pele, relatada por alguns participantes. Sabe-se que apesar de estarem

cientificamente comprovados, estes fatores pouco são mencionados como causa destas

neoplasias no meio popular.

O reconhecimento destes diferentes saberes vai de encontro a pedagogia de concepção

construtivista que não acredita que o educando é um mero receptor de informações do

educador nem uma tábula rasa que ao se deparar com algum conhecimento novo, seja

considerado um completo ignorante do assunto. Pelo contrário, o educador que trabalha nessa

pedagogia baseada na epistemologia construtivista, compreende que o público alvo da ação

educativa traz consigo saberes que já foram construídos e não podem ser deixados de lado. O

educandoutiliza toda essa vivência na construção de um novo conhecimento, tendo o

educador como um facilitador neste processo. (DAHER, 2007)

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4.3.2 O Câncer de Pele e as medidas de fotoproteção.

O Brasil possui grande parte de seu território na faixa compreendida entre o Equador e

o Trópico de Capricórnio. Com inclinação em 23 graus, a maior parte do território brasileiro

recebe radiação solar em um ângulo próximo a 90 graus em relação ao horizonte durante o

verão, o que coloca o Brasil como um dos países com maior insolação do mundo. Mediante a

isto, em termos de saúde pública, de todos os efeitos que a radiação solar pode causar a saúde,

a maior preocupação envolve o câncer de pele devido ao aumento da incidência dessa doença

no país. A importância da radiação solar no desenvolvimento dessa neoplasia justifica a

preocupação com a implementação de ações de fotoproteção. (SCHALKA & STEINER,

2013)

Balogh (2011) entende fotoproteção como um elemento profilático e terapêutico frente

aos efeitos danosos da radiação UV. As medidas fotoprotetoras compreendem o uso de

protetor solar tópico; proteção através de coberturas, roupas e acessórios e ainda a

fotoproteção ambiental, relacionada aos fatores ambientais que influenciam a intensidade da

radiação UV que atinge a superfície terrestre. Como exemplo desta última medida, o autor

destaca a fotoabsorção realizada pelo ozônio(O3) na estratosfera, que atualmente se encontra

com capacidade diminuída devido poluição ambiental por substâncias tóxicas capazes de

danificar essa camada.

Entre os participantes, a maioria referiu fazer uso de pelo menos uma medida de

fotoproteção (66,6%). Dentre estes, 46,6% afirmaram fazer uso de protetor solar tópico, sendo

que deste percentual, apenas 13,3% fazem aplicação diariamente. Outros 20% disseram usar

roupas ou acessórios como forma de proteção dos raios solares e ainda 13,3% atribuíram o

uso de hidratantes corporais a proteção contra o câncer de pele. Estes dados podem ser

evidenciados nas falas a seguir que demonstram as respostas dos pescadores ao serem

questionados sobre as formas de proteção utilizadas por eles contra o câncer de pele:

P2:“Eu uso o protetor solar, mas é que às vezes aqui eu esqueço de usar. Chapéu eu uso porque faz parte do uniforme, tem que usar, né ... calça, blusa e chapéu.” P4: “Eu mesmo não uso, mas eu conheço muita gente que usa muito hidratante, usa muito protetor solar, mas eu mesmo não uso nada”. P7:“Eu uso chapéu de palha”. P8: “[...] Eu uso protetor solar, mas quando não tem e eu venho para o marisco, eu passo creme”.

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P9:“De vez em quando, a gente bota um ‘protetorzinho’ solar em cima, mas é caro, né. Muitas vezes a gente coloca camisa, mas o calor é muito forte, aí a gente tem que tirar.”. P10:“Eu agora ‘tô’ evitando pegar muito sol no rosto, nos braços, porque eu vejo na televisão que é uma coisa muito feia o câncer de pele.”.

A adoção de medidas de fotoproteção pelo uso de vestimentas e acessórios foi

identificada na fala de alguns pescadores. As roupas, óculos e chapéus são recursos facilmente

disponíveis e eficazes na defesa contra os efeitos nocivos da radiação UV. Entretanto, alguns

tipos de tecido não são capazes de promover proteção suficiente. (BALOGH et al, 2011)

Diversos fatores influenciam a capacidade fotoprotetora dos tecidos. Em geral, aqueles

fabricados com fibras firmemente tecidas, mais rígidas e espessas, e também os mais escuros

oferecem melhor proteção comparados aqueles fabricados com menor firmeza entre as fibras.

Assim, a rigidez, a cor, a espessura e o peso dos tecidos influenciam a capacidade de

fotoproteção dos mesmos. (RAMIREZ & SCHNEIDER, 2003)

O Fator de Proteção Ultravioleta (FPU) avalia o grau de proteção das vestimentas.

Esse fator é semelhante ao Fator de Proteção Solar (FPS) aplicado aos protetores solares. No

entanto, supostamente, a diferença se dá na proteção tanto contra a radiação UVA quanto

contra a radiação UVB conferida pelo FPU, o que ainda é uma característica inexistente no

FPS, que apresenta apenas proteção UVB. (BALOGH et al, 2011)

Este conceito já chegou ao mundo da moda com tendências propostas por especialistas

em prevenção de câncer de pele que indicam peças do vestuário produzidas com fios têxteis

de tramas mais apertadas para impedir a passagem dos raios solares. Os tecidos especiais

preparados para oferecer maior proteção contra os efeitos nocivos do sol estão entre as

iniciativas para prevenção apresentadas no

Além das vestimentas, os demais acessórios também possuem fundamental

importância na fotoproteção contra câncer de pele, como é o caso das luvas, bonés e chapéus.

Estes últimos são úteis na proteção do couro cabeludo, orelha, cabelo, olhos, testa e pescoço,

2º Congresso Internacional de Controle de Câncer

(ICCC/2007), promovido pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Já existem malharias

brasileiras que desenvolveram tecidos especiais para a prevenção do câncer de pele. Agentes

comunitários de saúde de uma capital brasileira também começaram a usar camisetas

confeccionadas com tecidos com fator de proteção ultravioleta (FPU). As roupas integram um

conjunto de ações planejadas por oncologistas e outros profissionais visando a ampliar a

cultura de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença. (INCA, 2007)

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além de promover sombra a rosto, protegendo as bochechas, nariz e queixo. A eficácia de um

chapéu ou boné está relacionada ao tamanho da borda dos mesmos, bem como o material

utilizado na sua confecção. Um chapéu com a borda larga apresenta um alcance de proteção

superior, como normalmente, é dos chapéus de palha destacado em uma das falas,

representando o acessório de fotoproteção utilizado por um dos pescadores.

Entretanto, apesar de ser conhecida a importância da adoção dessas medidas como

hábitos para fotoproteção, não se descarta a preocupação também com o uso correto e

contínuo de fotoprotetores tópicos, visto que boa parte dos pescadores referiu fazer aplicações

esporádicas, apenas quando lembram ou quando vão à praia. Além disso, outro dado

observado demonstrou que, na percepção de alguns dos participantes, outros produtos como

hidratantes corporais exercem a mesma função do protetor solar.

Sobre este aspecto, diversas pesquisas comprovam que a principal maneira de proteger

a pele da ação da RUV e de seus efeitos deletérios é por meio da utilização de substâncias

químicas farmacologicamente preparadas, que absorvem, refletem e refratam a RUV,

protegendo o tecido epidérmico e dérmico dos efeitos da radiação. O efeito fotoprotetor

conferido por meio destes produtos é de importância fundamental para a prevenção do

envelhecimento precoce e do câncer de pele.

Os filtros solares podem ser químicos (absorvem os raios UV) ou físicos (refletem os

raios UV). É comum a associação de filtros químicos e físicos para se obter um filtro solar de

Fator de Proteção Solar (FPS) mais alto. (site: dermatologia.net) OFPS é uma medida de

laboratório que indica a efetividade do filtro solar. Quanto mais alto o valor do FPS, maior a

proteção que o filtro solar oferece contra raios UVB. Segundo Aguilera, Higueras, González

et al (2011), o FPS indica a relação entre o tempo que a pessoa pode se expor à luz solar

usando filtro solar antes de se queimar e o tempo que ela pode ficar exposta à luz solar sem se

queimar sem utilizar nada. Isto é, se um indivíduo cujo tempo de exposição de sol para se

queimar é de 20 minutos, usar um protetor solar com FPS 15, a proteção dele ao sol deverá

ser de 15 vezes mais sem se queimar (um total de 300 minutos ou 5 horas).

No entanto, esses dados devem ser vistos com cautela, pois inicialmente devem-se

respeitar as instruções dadas pelo fabricante do produto e estar atento para os fatores que

interferem nessa ação, como o tipo de pele do usuário, quantidade que é aplicada e a

frequência de reaplicação, quantidade do produto que é absorvida pela pele, e dissipação do

produto por água, areia e até mesmo suor. (AGUILERA, HIGUERAS, GONZÁLEZ ET AL,

2011) Barboza, Giacon, Trovó et al (2008) corroboram a ideia explicando também que um

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filtro solar com FPS 15, por exemplo, bloqueia a maior parte dos raios UV e o aumento do

FPS aumenta pouco o bloqueio destes raios. No entanto, o tempo em que o filtro solar

continuará a absorver os raios UV será maior quanto maior for o FPS, diminuindo a

frequência de aplicação.

Quando questionados sobre qual Fator de Proteção Solar costumavam usar, notou-se

que alguns não demonstravam respostas específicas ou se mostravam em dúvida, como pode

ser observado nas falas a seguir:

P14: “Acho que é o trinta”. [Ao ser questionado sobre o FPS do protetor solar que utilizava]

P15: “Quarenta, trinta”. [Ao ser questionado sobre o FPS do protetor solar que utilizava]

P17: “Eu uso filtro solar, mas FPS não sei”.

P2: “Eu sei que é um amarelo, mas o número não vi não, eu sei que eu comprei, lá na farmácia.”

Meyer, Silva e Carvalho (2012) defendem que a conscientização da população,

principalmente dos trabalhadores ao ar livre é de fundamental importância para o uso correto

do FPS, visto que a maior dificuldade de compreensão leva ao uso errôneo do produto, o que

dificulta o aproveitamento das potencialidades dos seus efeitos. Proteção inadequada surge se

o fator de fotoproteção é muito baixo quando comparada à duração ou intensidade da

exposição solar e quando quantidade insuficiente ou nenhuma aplicação é feita antes da

fotoexposição. (LUCENA, COSTA, SILVEIRA et al, 2012)

Mediante a isto, o Consenso Brasileiro de Fotoproteção destacou a fotoeducação como

uma importante medida na prevenção de riscos relacionados à exposição actínica ao sol.

Assim, os autores definem a fotoeducação como: Conjunto de ações de caráter educativo desenvolvido para conscientizar determinado

grupo populacional sobre os riscos da exposição inadvertida ao sol e orientar

condutas saudáveis em fotoproteção (...) As ações em fotoeducação devem ser

divididas em quatro grandes grupos: Crianças e Adolescentes, Adultos,

Trabalhadores Externos e Ações em Mídia (...) Ações para os trabalhadores

externos: a. Desenvolver projetos de educação em fotoproteção para apresentar em

empresas que empregam trabalhadores cuja a atuação ocorra em ar livre; b.

Desenvolver projetos para avaliar de forma mais adequada métodos capazes de

mensurar o nível de exposição à radiação solar a que são submetidos os

trabalhadores em função externa (...)(SCHALKA & STEINER, 2013, p.9)

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Mediante ao exposto nesta seção, conclui-se que não existe medida fotoprotetora que,

isoladamente, garanta uma fotoproteção adequada, por isso recomenda-se a combinação do

maior número possível de medidas como a estratégia mais correta. Além disso, a não

exposição ao sol no período entre 10 e 15h e a utilização de sombras como coberturas de

árvores, guardasol e tendas se configuram medidas viáveis e de baixo custo que devem ser

estimuladas. O uso correto do protetor solar é estratégia essencial na luta contra o câncer de

pele. A seleção adequada do produto e as orientações devem ser realizadas por profissionais

de saúde sempre que possível.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo atingiu os objetivos propostos uma vez que a análise dos indicadores

sociodemográficos e de saúde permitiu o conhecimento das características dos sujeitos que

participaram da pesquisa e ampliou a visibilidade da população em foco, trazendo destaque

para a discussão do impacto destes indicadores sobre o aparecimento de neoplasias cutâneas.

O perfil dos participantes demonstrou que a população em estudo se constitui como um grupo

de risco por apresentar condicionantes socioeconômicos, clínicos e laborais que os tornam

mais vulneráveis ao desenvolvimento de neoplasias cutâneas.

Através das categorias elencadas e estudadas, pode-se compreender o universo de

significações e representações acerca do câncer de pele, bem como os motivos que

determinam as limitações no uso de medidas fotoprotetoras. Evidenciou-se que a maior parte

dos pescadores identificou a exposição à radiação solar como principal causa do câncer de

pele e também destacaram em suas observações outras causas pouco divulgadas entre a

população, mas comprovadas em meio científico. Dentre as principais dificuldades

encontradas pelos pescadores no uso de medidas fotoprotetoras, destaca-se o alto custo dos

filtros solares no mercado, a falta de tempo, o esquecimento e o desconhecimento sobre a

importância do uso na prevenção do câncer de pele.

Já a análise da realização dos círculos de cultura demonstrou que os temas emergentes,

foram desenvolvidos baseados nos saberes dos próprios participantes e contribuíram na

desconstrução de mitos a respeito do câncer de pele, a partir de dinâmicas que incentivavam o

pensamento crítico-reflexivo através da participação coletiva, sem imposições ou invasão

cultural por parte do pesquisador.

Frente ao problema do estudo, a pesquisa buscou soluções na ampliação dos caminhos

para a construção de conhecimentos, incentivando o pensamento crítico-reflexivo sobre

prevenção de neoplasias cutâneas com um grupo de pescadoresda Colônia de Jurujuba, por

meio do desenvolvimento dos Círculos de Cultura. Dessa forma, ficou comprovada a

importância da implementação de medidas educativas e participativas, que interagem com

saberes destes profissionais acerca dos fatores de risco associados ao meio de trabalho, os

tipos de neoplasias de pele, suas formas de apresentação e os cuidados relacionados à

prevenção da doença, resultando na melhoria da qualidade de vida dessa população.

Entretanto, as dificuldades também permearam o processo de construção deste estudo

e dentre elas, se destaca a quantidade reduzida de pescadores que participaram das atividades

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educativas devido à falta de tempo justificada pela necessidade em cumprir a carga horária do

serviço. Entretanto, os pescadores que se disponibilizaram a participar contribuíram muito

com suas considerações durante as entrevistas e com a troca de conhecimentos nos círculos de

cultura. Também se ressalta entre as limitações encontradas, a escassez de publicações sobre

o câncer de pele não melanoma, focado na prevenção e no risco ocupacional de profissões

exercidas ao ar livre, assim como a ausência de produções dentro dos critérios de inclusão, ao

realizar a busca com a palavra chave pescador associado com o descritor neoplasias cutâneas.

Assim, salienta-se que a realização do presente trabalho também acrescentou a

pesquisadora enorme aprendizado, à medida que proporcionou momentos gratificantes e

enriquecedores na troca de vivências com esse grupo de pescadores, que em todo momento

esteve aberto às intervenções do estudo, referindo sentimento de valorização e

reconhecimento por serem escolhidos, visto que, segundo eles, são esquecidos pelos órgãos

públicos, que não costumam oferecer ações de saúde que beneficiem a comunidade.

Acredita-se que o assunto abordado como tema do estudo pode gerar grande impacto

no incentivo a atuação de enfermeiros e demais profissionais de saúde em cenários como a

Colônia de Pescadores de Jurujba, Niterói, que ainda épouco visada pela gestão pública e de

saúde local.Os fatores que interferem no processo saúde-doença envolvidos no cotidiano dos

indivíduos que habitam esses cenários devem ser explorados por meio da Educação Popular

em Saúde.

Diversas Tecnologias Educacionais podem ser utilizadas na EPScom esses sujeitos

com o objetivo de prevenir agravos. Entretanto, são necessários mais investimentos em

estudos, aprimoramento por parte dos profissionais de saúde sobre o assunto em suas

particularidades e especificidades locais e políticas públicas que favoreçam a aproximação da

gestão com a comunidade e permitam a participação popular nas medidas educativas e

assistenciais em saúde.

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APÊNDICE A- Questionário Sócio clínico e Demográfico

1. Identificação Data: ____/____/______

Nome:______________________________________________________________________

__________

Naturalidade:____________________

Data de Nasc.: ___/__/___ Idade: ________ Sexo: ( )M ( )F Raça: ( ) Branco ( ) Negro

( ) Pardo ( ) Índio

Estado civil:_________________

Nível de escolaridade (anos de estudos):______________

Renda familiar (SM):__________ ( ) diária ( ) semanal ( ) mensal.

Nº de dependentes:____________

Nº de filhos:____________

Tipo de residência: ( ) própria ( ) alugada

Religião:______________

2. Trabalho

Trabalho: __________Tempo de profissão________

Com quem aprendeu a profissão? ____________________________________

Já trabalhou em outra área: Sim ( ) Não ( ), Qual: ______________________

Realiza outra atividade para complementação de renda? ( ) Sim ( ) Não.

Qual?_______________________________________________________________

Duração da jornada de trabalho (horas/dia):_______

Qual o principal tipo de pescado? ( ) peixe ( ) camarão. Espécies: ________________

Ponto de venda: ( ) atravessador ( ) comércio ( ) domicílio ( ) feiras livres ( ) mercado ( )

praia ( ) rua ( ) variável

Tempo de exposição ao sol diariamente: _____________horas.

Tempo de exposição ao sol semanalmente: _____________dias.

Uso de protetor solar durante o trabalho: Sim ( ) Não ( ). Por quê? ( ) não vê importância ( )

alto preço

Outro:_______________________________________________________________

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Se sim, com que frequência utiliza? _______________________________________

Acredita que a sua profissão é perigosa? ( ) Sim ( )Não.

Por quê?_______________________________________________________________

Já esteve desempregado? ( ) Sim ( ) Não. Quanto tempo? ________________

É feliz na profissão? ( ) Sim ( ) Não . Por quê?________________________________

Deseja que os filhos sigam a mesma profissão?( ) Sim ( ) Não .

Por quê?_______________________________________________________________

Tem planos para o futuro?( ) Sim ( ) Não. Por quê? ____________________________

Como é a relação com os órgãos de fiscalização? ( ) Bom ( )indiferente ( )Não há ( )

Regular

Quais as medidas a serem tomadas pelos órgãos públicos e pelos próprios pescadores para

melhorar a situação? _______________________________________________

3. Saúde

Qual o histórico de doenças na família? ( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) AVC ( ) Obesidade (

) Tuberculose ( ) Infarto. ( ) câncer de pele Outros:____________________________

Grau de parentesco:_________________________________________________

Doenças anteriores ( ) não ( ) sim

Qual?__________________________________________________________________

Já foi Internado? ( ) não ( ) sim. Especifique (motivo e o período)_____________

Doença/Queixa atual: ( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Cardiopatias ( ) AVC ( ) Câncer (

) Obesidade ( ) Problemas respiratórios ( ) Problemas Digestivos ( ) Problemas de pele ( )

Nefropatia ( ) Outras

Quais?_______________________________________________________

Faz tratamento? ( ) Sim ( ) Não.

Sobre a doença: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe ( ) Conceito errôneo

Sobre o tratamento: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe

Especifique:___________________________________________________

Sobre as complicações: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe

Especifique: _________________________________________

Gostaria de saber mais a respeito: ( ) Não ( ) Sim

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Já teve câncer de pele: Sim ( ) Não ( ). Em qual (is) parte(s) do

corpo?_________________________________________________________________

Qual profissional da saúde você procurou?______________________________

Já teve alguma pinta ou mancha que achou estranha, que coçava, sangrava ou tenha mudado

de tamanho ou cor? Sim ( ) Não ( ). Em qual (is) parte(s) do corpo?

____________________________. O que você fez? __________________________

Aplicação da Escala de Fitzpatrick e Fitzpatrick Modificada (Circular item e realizar

somatório):

Tabela 1: Classificação dos fototipos de pele proposta por Fitzpatrick.

Fototipo de pele: _____________________________

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Tabela 2: Classificação Fitzpatrick Modificada proposta por Suzuki et al, 2011.

Fototipo – Somatório dos pontos: _____________________________

Sono e Repouso: _____h/noite Problemas para dormir? ( ) Nenhum ( ) acordar cedo ( )

insônia ( ) dificuldade para pegar no sono ( ) outros

Sente-se descansado após o sono: ( ) sim ( ) não

Pratica alguma atividade física: ( ) Não ( ) Sim Especifique:______________________

( ) diariamente ( ) 2 vezes por semana ( ) 3 vezes por semana ( ) outros: _________

Atividade de lazer ( ) Não ( ) Sim Especifique: _____________________________

Utiliza protetor solar quando a atividade de lazer envolve exposição ao sol? Não ( ) Sim ( ).

Por quê? ______________________________________________________

Tabagismo: ( ) Não ( ) Sim ( ) Já tentou parar? ( ) Não ( ) Sim. Quantidade de cigarros por

dia: ________________________________________________________

Etilismo ( ) Não ( ) Sim ( ) Qual a freqüência? __________Outras drogas ( ) não ( ) sim

Tipo: _______________________________

Frequência de consulta a um profissional da saúde: ____________________________

Peso:__________Kg, Altura:__________cm IMC: _______

PA:______x______ mmHg

OBS:_______________________________________________________________________

_________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Assinatura: _______________________________________

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APÊNDICE B- Roteiro de Observação

Data: ____/____/______ Início: _____________ Término: _____________

1. O ambiente de trabalho.

- Local de trabalho (Praia, mar, etc.):

- Estrutura dos barcos:

- Estrutura da associação de pescadores:

2. Tempo de trabalho e exposição solar.

- Horas trabalhadas diárias:

- Horas trabalhadas com exposição solar:

3. Medidas de fotoproteção.

- Uso de protetor solar (FPS, frequência de aplicação):

- Uso de óculos escuros, chapéus, roupas compridas:

4. Integridade da Pele.

- Presença de feridas na pele:

- Presença de manchas envelhecimento actínico:

- Presença de pintas ou manchas que causem coceira, dor ou sangramento:

Impressões do pesquisador:

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APÊNDICE C- Roteiro 1ª Entrevista

Data: ____/____/______ Início: _____________ Término: _____________

Nome: ________________________________________________________________

Idade: _______ Sexo: F ( ) M ( ) Grau de Escolaridade: _____________________

1. Fale sobre o que você sabe sobre câncer de pele.

2. Você sabe que existem diferentes tipos de câncer de pele? Você sabe quais são eles?

3. Você sabe o que causa câncer de pele?

4. Você sabe quais são as manifestações do câncer de pele no corpo (Sinais e Sintomas)?

5. Você sabe como prevenir o câncer de pele?

6. Você usa alguma coisa para proteger a sua pele do câncer de pele?

7. Você utiliza protetor solar? Se sim, de qual fator (FPS)?

8. Com que frequência você utiliza o protetor solar?

9. Quando utiliza o protetor solar costuma reaplicar o produto com que frequência?

10. Você já teve alguma informação sobre o câncer de pele? Por qual meio?

11. Qual sua opinião sobre a importância de saber o que é câncer pele e o que causa?

12. Você acredita que a sua profissão te coloca em risco para ter câncer de pele? Por quê?

13. De que forma você gostaria de saber mais sobre o câncer de pele?

14. Você já teve câncer de pele?

15. Você já observou alguma pinta ou mancha suspeita na pele, que causasse coceira, dor

ou sangramento?

Impressões do pesquisador:

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APÊNDICE D- Roteiro 2ª Entrevista

Data: ____/____/______ Início: _____________ Término: _____________

Nome: ________________________________________________________________

Idade: _______ Sexo: F ( ) M ( ) Grau de Escolaridade: _____________________

1. Fale sobre o que você sabe sobre câncer de pele.

2. Você sabe que existem diferentes tipos de câncer de pele? Você sabe quais são eles?

3. Você sabe o que causa câncer de pele?

4. Você sabe quais são as manifestações do câncer de pele no corpo (Sinais e Sintomas)?

5. Você sabe como prevenir o câncer de pele?

6. Antes dos círculos de cultura você utilizava alguma coisa para proteger a sua pele do

câncer de pele?

7. Após os círculos de cultura, o que você acredita ser ideal para proteger a sua pele do

câncer de pele?

8. Você utilizava protetor solar? Se sim, de qual fator (FPS)?

9. Se não utilizava, considera utilizar agora?

10. Com que frequência você acredita que se deva utiliza o protetor solar?

11. Em que momentos você acha que deve se reaplicar o protetor solar? Com que

frequência?

12. Qual sua opinião sobre os círculos de cultura? Eles de alguma forma te ajudaram a

aumentar o conhecimento sobre o câncer de pele?

13. Você considera importante saber o que é câncer pele e o que causa?

14. Você acredita que a sua profissão te coloca em risco para ter câncer de pele? Por quê?

15. De que qual outra forma você gostaria de saber mais sobre o câncer de pele ou outros

assuntos relacionados à sua saúde?

Impressões do pesquisador:

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APÊNDICE E- Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)

Dados de identificação

Título do projeto - RISCO E PREVENÇÃO DE NEOPLASIAS CUTÂNEAS NÃO

MELANOMA: educação popular com pescadores

Pesquisador responsável: Profª Drª Vera Maria Sabóia

Instituição a que pertence o pesquisador responsável: Universidade Federal Fluminense

Telefones para contato: (21) 99976-4275 / 97530-4603

Nome do voluntário:_____________________________________________________

Idade:_____anos RG:____________________________

O Sr. (a) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa: “EDUCAÇÃO

POPULAR COM PESCADORES SOBRE RISCO E PREVENÇÃO DE NEOPLASIAS

CUTÂNEAS NÃO MELANOMA”, de responsabilidade do pesquisador Profª Drª Vera Maria

Sabóia. O objetivo da pesquisa é: 1) Descrever o conhecimento dos pescadores, da colônia de

Jurujuba, Niterói/ RJ, a respeito do câncer de pele - manifestações e medidas de prevenção -

antes e após a realização da prática da educação popular em saúde; 2) Discutir de que forma a

educação popular pode auxiliar na construção do conhecimento sobre riscos e a prevenção do

câncer de pele não melanoma. A pesquisa justifica-se devido ao grande número de pescadores

que se expõem à radiação solar diariamente e que poderão vir a desenvolver cânceres de pele,

sem ter sequer o acesso à informação sobre tais riscos. Serão realizados: aplicação um

questionário sócio clínico e demográfico para identificar a população e a comunidade; uma

entrevista para saber sobre o conhecimento dos pescadores sobre câncer de pele; encontros

com finalidade educativa para promover o aumento do conhecimento sobre câncer de pele; e

outra entrevista ao final para avaliar o conhecimento construído sobre o câncer de pele. Caso

necessite, poderão ser marcados encontros para respostas ou esclarecimentos de qualquer

dúvida acerca da pesquisa. Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em trabalhos

e/ou revistas científicas. A retirada do consentimento e permissão de realização do estudo

pode ser feita a qualquer momento, sem que isso traga prejuízos. Será mantido o caráter

confidencial de todas as informações relacionadas á privacidade do participante da pesquisa.

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Este documento será elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo representante legal do

sujeito da pesquisa e uma arquivada pelo pesquisador.

Eu,______________________________________________, RG nº_______________,

Declaro ter sido informado e concordo com minha participação, como voluntário, no projeto

de pesquisa acima descrito.

Niterói,____ de _____________ de _________.

______________________________ _____________________________________

(entrevistado) (responsável por obter o consentimento)

___________________________________ ________________________________

(testemunha) (testemunha)

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APÊNDICE F- Cronograma e Roteiro das atividades.

CRONOGRAMA EVENTO PESCANDO SAÚDE

DIAS: 07/08 (5ª FEIRA) / 11/08 (2ª FEIRA) / 14/08 (5ª FEIRA) / 15/08 (6ª FEIRA)

ATIVIDADES

8h – Aferição da PA

9h – Dinâmica Mitos X Verdades

9:30h – O que é câncer de pele?/ Sinais e Sintomas do câncer de Pele (Demonstração de fotos

e imagens)

10h – Causas do câncer de pele: Raios UV

10:30h – Fatores de risco para o câncer de pele

11:00 - Como prevenir o câncer de pele

11:30 – Entrevistas

DINÂMICA MITOS X VERDADES

Nesta dinâmica haverá em um painel fotos de 11 peixes diferentes, comuns do pescado dos

participantes, com 11 afirmações no verso para eles discutirem se trata-se de mito ou verdade

1. O câncer de pele é o único câncer que não é contagioso.

.

MITO: O câncer de pele, assim como os outros cânceres, não é uma doença contagiosa, e por

isso não é transmissível pelo contato com alguém que tem ou já teve, nem como utilizando

utensílios pessoais. No geral o câncer não é hereditário (passa de pai pra filho), no entanto,

alguns fatores genéticos tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação dos carcinógenos

ambientais (coisas que causam câncer), o que explica por que algumas delas desenvolvem

câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno.

2. O cigarro aumenta o risco de ter câncer de pele.

VERDADE: Um estudo recente realizado nos EUA apontou que mulheres fumantes por no

mínimo 20 anos, apresentam uma taxa de risco 3 vezes mais elevada para desenvolver o

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câncer de pele. A fumaça do cigarro contém agentes carcinogênicos, e os fumantes jogam

fumaça e cinzas sobre seus próprios rostos todos os dias. Composto por mais de 4 mil

substâncias tóxicas identificadas, o cigarro está relacionado a mais de 50 doenças e é

extremamente prejudicial à pele.

3. O câncer de pele pode se espalhar para outros órgãos, como pulmões e cérebro.

VERDADE: Alguns cânceres de pele possuem capacidade de atingir outros órgãos

(metástase) e criar novas massas tumorais nos pulmões, cérebro, e outros órgãos. O risco de

isso acontecer aumenta conforme o tamanho do câncer e quanto mais demorar a ser

diagnosticado e tratado.

4. Câncer de pele é a mesma coisa que lepra.

MITO: A “Lepra” como era conhecida antigamente é a Hanseníase e nada tem a ver com o

câncer de pele, pois trata-se de uma doença infecciosa causada por uma bactéria que afeta os

nervos e a pele, provocando danos severos, e é transmitida pela saliva da pessoas doente.

5. Os raios do sol são a principal causa do câncer de pele.

VERDADE: A radiação solar contém uma quantidade significativa de radiação ultravioleta.

Essa radiação é responsável por causar o bronzeamento, o envelhecimento e o as alterações

nas células que podem originar um câncer de pele.

6. A água do mar ou da piscina protege a pele dos riscos do câncer de pele se a

pessoas estiver embaixo d’água.

MITO: Pois, cerca de 95% da radiação UV penetra na água e até 50% vai até uma

profundidade de 3 metros.

7. Dias nublados não apresentam risco para o câncer de pele, pois não há raios

solares.

MITO: A radiação UV é geralmente maior em céus totalmente limpos, pois as nuvens

geralmente reduzem a quantidade de radiação UV, mas isso depende da espessura e da

dispersão das nuvens. Em certas condições, e durante curtos períodos de tempo, uma pequena

quantidade de nuvens pode até mesmo aumentar a quantidade de radiação UV (acontece

normalmente no céu parcialmente coberto com o sol visível).

8. A maior intensidade dos raios solares se dá entre 10 e 16h, piorando no verão.

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VERDADE: Os raios solares são mais fortes entre esse horário, porém as maiores

intensidades de radiação UV ocorrem quando o sol atinge o seu máximo, horário em torno de

meio-dia durante os meses de verão.

9. VERDADE: Profissionais que trabalham em atividades ao ar livre, como pescadores,

possuem aproximadamente 20 vezes mais chance para desenvolver doenças na pele, em

relação às pessoas que evitam a exposição prolongada ao sol.

Pescadores apresentam mais risco para ter câncer de pele do que outras pessoas.

Queimaduras solares

frequentes durante a vida favorecem o aparecimento de câncer de pele, pois o

10. Pintas e sinais na pele podem virar câncer.

sol em

excesso causa alterações no DNA das células.

VERDADE: Se elas já existem e mudam de cor, forma e tamanho podem ser sinal de câncer.

Caso seja uma pinta ou sinal que acabou de aparecer no corpo e não cicatriza, ou uma mancha

que coça, arde, sangra ou descama também pode ser câncer de pele.

11.

VERDADE: Diante de um diagnóstico precoce, a cura é de 100%. Ao ter a confirmação de

que a lesão na pele é cancerígena, ela é removida, através de uma cirurgia simples e inicia-se

o tratamento. Daí, a importância de fazer o autoexame da pele procurando manchas e pintas

diferentes.

Câncer de pele tem cura.

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ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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