UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

CURSO DE TURISMO

DEPARTAMENTO DE TURISMO

CRISTIANO DA SILVA MACHADO

IMPACTOS DO TURISMO RELIGIOSO NOS MORADORES DA ESTÂNCIA

TURISTICA DE APARECIDA/SP

Niterói

2014

CRISTIANO DA SILVA MACHADO

IMPACTOS DO TURISMO RELIGIOSO NOS MORADORES DA ESTÂNCIA

TURISTICA DE APARECIDA/SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Turismo.

Orientadora: Profª Drª Claudia Correa de Almeida Moraes

Niterói

2014

CRISTIANO DA SILVA MACHADO

IMPACTOS DO TURISMO

RELIGIOSO NOS MORADORES DA ESTÂNCIA TURISTICA DE APARECIDA/SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Turismo

Aprovação: Niterói ____/____/2014

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Professora Drª Claudia Corrêa de Almeida Moraes – UFF - Orientadora

Professora Drª Helena Catão Henriques Ferreira – UFF – FTH

Professor Dr Marcello Barros Tomé Machado – UFF – Prof. Convidado

Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditam.

Não importa a classe, etnia ou fé. Basta acreditar.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por este momento da minha

vida. Independente do resultado, preciso agradecê-lo pela oportunidade que foi dada

de mostrar meu trabalho. Esta é, com certeza, a maior vitória que eu posso almejar

na minha vida.

Também quero agradecer em especial aos meus pais. Minha mãe, Maria

Emília, foi sem sombra de dúvidas a maior incentivadora a chegar aonde eu cheguei

hoje, tanto como ser humano quanto como profissionalmente. Infelizmente ela não

teve a oportunidade de acompanhar em vida o final dessa minha trajetória, mas

independente de onde ela esteja eu sei que sempre estará me apoiando e torcendo

muito pelo meu melhor. Ao meu pai, Dilmo, eu também devo muito. Ele é o meu

maior espelho e o tipo de pessoa que eu almejo ser no futuro.

Agradeço à minha irmã, Ana Beatriz, o meu grande orgulho. Só nós sabemos

tudo o que já passamos e que ainda vamos passar juntos. A todos os meus outros

familiares eu também agradeço. Obrigado a todos.

Mariana, a mulher da minha vida, e os meus amigos de infância eu também

devo muita coisa. Sou grato por cada momento ao lado de todos vocês. Os levarei

para toda a minha vida, certamente.

Também agradeço aos professores da Universidade Federal Fluminense, e

em especial minha orientadora, a professora Claudia Moraes, assim como o

professor Aguinaldo Cesar Fratucci, ambos fundamentais para a conclusão deste

trabalho. A todo o corpo docente e coordenação o meu sincero agradecimento.

Aos amigos de longa data, sejam eles da escola, faculdade, trabalho, futebol,

igreja, ou até mesmo das estradas da vida: saibam que em cada linha deste trabalho

estão impressas coisas que aprendi com todos vocês, meus companheiros.

Obrigado por tudo!

Sou caipira pirapora nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura

E funda o trem da minha vida

Renato Teixeira

RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar os impactos gerados pelas peregrinações e pelo turismo religioso aos moradores do município de Aparecida, no estado de São Paulo. Para compreender que tipos de impactos ocorrem, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, com os principais autores do tema, e documental, principalmente em documentos oficiais produzidos por institutos de pesquisa, além de uma pesquisa de campo, tipo survey, realizada com os habitantes locais. Os autores foram utilizados no trabalho para dimensionar os principais conceitos ligados à religião, ao turismo religioso, às romarias e aos impactos gerados em equipamentos turísticos. O resultado da pesquisa documental revelou o papel fundamental do turismo para o desenvolvimento do município, sobretudo a partir do século XX, com as primeiras romarias organizadas à Aparecida. Também verificou-se a importância do Estado para legitimar e divulgar Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil. O resultado da pesquisa de campo revelou que o turismo religioso causa para o município impactos econômicos, culturais e sociais, tanto de caráter positivo quanto negativo em cada um dos itens analisados. Palavras-chave: Impactos, Peregrinações, Turismo religioso, Aparecida..

ABSTRACT

This study aims to analyze the impacts generated by the pilgrimages and religious tourism by residents of the city of Aparecida, in the state of São Paulo. To understand what kinds of impacts do occur, we used the literature, with the main theme of the authors, and documentary mainly on official documents produced by research institutes in addition to field research, survey type, carried out with the locals . The authors have been used in work to scale the main concepts related to religion, the religious tourism, pilgrimages to and impacts on tourist facilities. The results of the documentary research revealed the key role of tourism for the development of the municipality, especially from the twentieth century, with the first organized pilgrimages to Aparecida. It was also noted the importance of the state to legitimize and spread Our Lady Aparecida as patroness of Brazil. The result of the field research revealed that religious tourism because the municipality for economic, cultural and social impacts, both positive and negative character in each of the items analyzed. Keywords: Impacts, Pilgrimages, Religious turism, Aparecida.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Localização de Aparecida no estado de São Paulo 35

Figura 2 Localização do Município de Aparecida 36

Figura 3 Diagrama concêntrico da cidade de Aparecida 38

Figura 4 Basílica de Aparecida e Passarela da Fé 40

Figura 5 Lixo espalhado no estacionamento no dia 12 out. 2014 52

Figura 6 Feira Monumental 53

Figura 7 Faixa etária dos entrevistados 58

Figura 8 Renda média do entrevistado 59

Figura 9 Religião dos moradores entrevistados 60

Figura 10 Principais atrativos na opinião dos moradores 63

Figura 11 A influência do turismo religioso no dia a dia, segundo os moradores 64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGCTUR Associação dos Guias do Circuito Turístico Religiosos

BR-2 Primeira denominação da Rodovia Presidente Dutra

BR-116 Atual denominação da Rodovia Presidente Dutra

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CODIVAP Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba

CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico

DADE Departamento de Apoio ao Desenvolvimento de Estâncias

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesuisa Econômica Aplicada

JMJ Jornada Mundial da Juventude

MTur Ministério do Turismo

OMT Organização Mundial do Turismo

PDTR Programa de Desenvolvimento do Turismo Receptivo

PIB Produto Interno Bruto

SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

Sebrae Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa

SNC Sistema Nacional de Cultura

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

WRTA World Religious Travel Association

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 O TURISMO RELIGIOSO: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS 16

2.1 ALGUMAS DEFINIÇÕES 16

3 IMPACTOS DO TURISMO RELIGIOSO 23

3.1 IMPACTOS DO TURISMO 23

3.2 TURISMO CULTURAL E TURISMO RELIGIOSO 24

4 OS PRINCIPAIS CENTROS DE TURISMO RELIGIOSO 27

4.1 DESTINOS RELIGIOSOS INTERNACIONAIS 27

4.2 DESTINOS RELIGIOSOS NACIONAIS 30

5 O MUNICÍPIO DE APARECIDA NO CONTEXTO TURÍSTICO 35

5.1 CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO 35

5.1.1 De 1717 a 1931: do milagre à consagração nacional 41

5.1.2 De 1931 a 1967: da consagração à devoção nacional 44

5.1.3 De 1967 a 1986: da devoção nacional à benção papal 46

5.1.4 De 1986 aos dias atuais: da romaria ao turismo religioso 47

6 ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS PELO TURISMO EM

APARECIDA

49

6.1 IMPACTOS DO TURISMO EM APARECIDA 49

6.1.1 Impactos Econômicos 49

6.1.2 Impactos Sociais 51

6.1.3 Impactos Culturais 55

6.1.4 Percepção dos moradores sobre os efeitos do turismo no

município

57

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 69

12

1 INTRODUÇÃO

A religião, que outrora possuía mera função espiritual e dogmática,

atualmente tem um papel diferenciado em nossa sociedade. Essa

diferenciação ocorreu, sobretudo, após o crescimento e a internacionalização

do protestantismo norte-americano e o surgimento de novos movimentos

católicos em meados do século XX, como a teologia da libertação e a

renovação carismática católica, dentre outros tantos.

Essa nova orientação religiosa transformou os templos religiosos em

espaços que, além de agradecer a deuses, buscar o perdão dos pecados, ou

realizar sacramentos tornam-se um lugar de bem-estar, de busca pela alegria.

A igreja se tornou também um local de entretenimento, de bem-estar afetivo e

social.

Associados com frequência aos templos estão às novas formas de

relacionar-se com os fiéis e também da prática dos cultos. Na virada do século

XX as principais denominações religiosas presentes no Brasil entraram de vez

na cultura pop, onde novelas, filmes e até mesmo cantores de cunho religioso

dividem espaço com qualquer outro tipo de atração de natureza supostamente

profana. Padres como Marcelo Rossi e Fábio de Mello são facilmente

encontrados na televisão, assim como os seus livros e discos. O mesmo

expediente vale para bispos protestantes, tais como Edir Macedo, Romildo

Ribeiro Soares, Marco Feliciano, Silas Malafaia, dentre outros. No ramo

musical também não é diferente. Nomes como o de Aline Barros, Régis

Danese, Rosa de Saron, Oficina G3 e muitos outros tantos passaram a figurar

na mídia da mesma forma que cantores e artistas populares. E até mesmo os

eventos de natureza religiosa foram afetados pelas novas tendências. As

últimas edições da Jornada Mundial da Juventude, sobretudo a de 2013, no

Brasil, mostraram ao mundo uma nova maneira de se divulgar e propagar uma

religião tão tradicional quanto à Católica em todo o mundo.

A Igreja tem que se associar ao tempo histórico vivenciado ou deixa de

ser identificada pelos seus fiéis. Assim, um dos elementos presentes na

sociedade atual é o turismo e os locais onde há templos religiosos ou onde

houve alguma manifestação de importância religiosa há visitação do turismo

13

religioso. Os locais onde este turismo se instala acabam sendo afetados pela

presença constante de pessoas de outros lugares e, em alguns casos, um

número excessivo. Para elas são criadas estruturas receptivas que podem

gerar aspectos positivos como o aumento da arrecadação financeira, a geração

de empregos, a qualificação da mão-de-obra e o desenvolvimento urbanístico,

dentre outros. Entretanto, há também problemas sociais, econômicos e

urbanísticos que o turismo proporciona, principalmente quando a localidade

não possui planos e estratégias de gestão. Por isso, os efeitos que o turismo

pode causar a um destino, pela ótica de seus moradores, devem ser

estudados.

Este trabalho escolheu como objeto de estudo o município paulista de

Aparecida. Nesta cidade localiza-se a Basílica da Padroeira do Brasil, Nossa

Senhora Aparecida, visitado por milhares de turistas anualmente oriundos das

mais remotas regiões do Brasil, tendo seu ápice no mês de Outubro, dedicado

especialmente à santa.

Imagens de romeiros percorrendo a Via Dutra a pé, de milhares de

pessoas se espremendo para fazer uma prece diante da imagem de Nossa

Senhora Aparecida e das centenas de ônibus estacionados ao redor do

santuário mariano viraram cena recorrente nas últimas décadas.

A escolha de Aparecida ocorreu pela cidade, apesar de possuir diversos

estudos e projeções ao longo das últimas décadas, carece de publicações a

respeito do real impacto gerado pela atividade aos seus moradores.

Assim, o problema deste trabalho é compreender como o turismo afeta a

vida de moradores em destinos turísticos religiosos. Partiu-se do pressuposto

que a presença constante de milhares de pessoas no dia a dia dos moradores

interfere em suas atividades cotidianas, mas por ser o turismo o principal

empregador e fonte de arrecadação do município a população tolera tanto os

turistas quanto as atividades turísticas. Além disso, os recursos oriundos do

turismo têm melhorado a vida dos moradores desta cidade.

O trabalho tem como objetivo geral investigar a opinião dos moradores

de Aparecida, sobre alguns os efeitos gerados por esta atividade no município.

Os objetivos específicos deste trabalho foram:

14

1. Conhecer as definições, histórico e dimensão do turismo religioso.

2. Relatar os principais efeitos que o turismo, em especial, o turismo

religioso podem acarretar em um destino turístico.

3. Descrever sobre o turismo religioso em Aparecida.

4. Analisar os efeitos que a atividade turística gera para os

moradores de Aparecida.

Para responder a estes questionamentos foi preciso realizar inicialmente

pesquisas de gabinete em fontes bibliográficas com intuito de conhecer melhor

o turismo religioso no contexto da contemporaneidade. Assim, como principais

autores pesquisados usaram-se as obras de Andrade (2000) e Oliveira (2004).

Para especificamente o turismo religioso em Aparecida, foram consultados os

autores Oliveira (2001) e Brustoloni (1979; 2008).

Quanto aos impactos turísticos primeiramente foram pesquisadas fontes

secundárias como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a

Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), o Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicados (IPEA) e dados da Prefeitura e da Câmara

Municipal de Aparecida.

Como não foram encontradas pesquisas anteriores sobre a relação entre

os moradores do município e o turismo, foi necessário realizar uma pesquisa

de campo com estes atores sociais. Escolheu-se como ferramenta de pesquisa

a utilização de 100 formulários com perguntas, que foram realizadas utilizando

medidas de opinião e atitudes aplicadas tanto aos moradores em geral quanto

nas autoridades e nos representantes da Igreja em Aparecida.

As perguntas foram baseadas no que se encontrou na literatura sobre

quais foram os efeitos mais existentes nos destinos turísticos e, entre eles, os

que ocorrem em destinos de turismo religioso.

Usou-se a escala Likert para as proposições consideradas em relação a

atitudes ou opiniões apresentadas e analisadas segundo as reações dos

entrevistados, em valores que variam de 7 a 1, correspondentes a concordo

totalmente, concordo, concordo em parte, tanto faz, discordo em parte,

discordo e discordo totalmente. Dessa maneira, buscou-se mensurar os efeitos

que o turismo gerou nos moradores de Aparecida.

15

Após a aplicação destas entrevistas foram feitas a validação, a

classificação, a sistematização, a análise e a interpretação dos dados.

O presente trabalho encontra-se dividido da seguinte maneira:

O segundo capítulo apresenta os estudos introdutórios sobre turismo

religioso. Neste capítulo é descrito, através da análise dos principais autores do

tema, como surgiu o conceito da atividade do turismo religioso em todo o

mundo, os diferentes conceitos apresentados pelos escritores, além de

definições etimológicas de algumas expressões relacionadas ao tema.

O terceiro capítulo aborda os impactos do turismo, com ênfase no

Turismo Cultural e no Turismo Religioso, presentes em Aparecida.

O quarto capítulo mostra e analisa os principais destinos turísticos

religiosos, tanto no Brasil quanto no mundo.

O quinto capítulo contextualiza o município de Aparecida historicamente,

geograficamente e turisticamente.

O sexto capítulo trata dos impactos gerados pelo turismo no município,

além da análise da pesquisa de campo realizada em Aparecida, com os seus

principais resultados e conclusões.

Finalmente, no sétimo capítulo, traçam-se as considerações finais

acerca da percepção do morador local sobre o turismo religioso na região,

assim como os impactos gerados pela atividade no local de estudo.

16

2 O TURISMO RELIGIOSO: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS

Neste capítulo abordaremos as principais definições sobre religião e fé,

que deram origem às peregrinações e consequentemente ao turismo religioso.

Neste capítulo também discorreremos sobre a origem e as definições dadas

pelos principais autores sobre as romarias e o turismo religioso.

2.1 ALGUMAS DEFINIÇÕES

De onde viemos? Para onde vamos? Existe vida após a morte? Há

paraíso, purgatório e inferno? Essas são perguntas que ao menos uma vez na

vida alguns de nós, seres humanos, já nos fizemos. Todavia, nem a nossa

geração tampouco a geração de nossos pais e avós são pioneiros neste

assunto.

Desde a antiguidade os primeiros homens que se tem notícia já faziam

este tipo de questionamento. A datar as primeiras civilizações que se tem

notícia, diversas formas de exprimir cada credo foram criadas, sejam na crença

de uma figura mítica que está acima dos seres considerados comuns, sejam na

criação de novos hábitos, culturas, costumes e até idiomas falados. A

diferenciação de credos e manifestações de fé foi o alicerce para a criação das

primeiras religiões institucionalizadas da história (MANOEL, 2008).

Religiosidade e fé são temas complexos, alvos de estudo dos mais

diversos campos da sociedade. A psicologia é um desses campos que tentam

desvendar e entender o impacto das religiões na vida dos seres humanos.

Autores como Freud (1987) nos mostram como a religião tenta atingir dois

anseios arcaicos da humanidade: o anseio paterno e a busca de uma defesa

das forças da natureza. Segundo ele, as religiões originaram-se do desamparo

das crianças, que viam em seus pais, na infância, uma proteção em relação ao

mundo, prolongando assim essa defesa em suas vidas durante a fase adulta.

Ainda segundo o pai da psicanálise, a religião age como um fator tóxico para o

ser humano, pois ela proporciona uma sensação de prazer e tira o senso de

realidade do indivíduo, deixando-o em um estado de neurose.

17

A palavra religião deriva-se do latim religio, que significa respeito,

reverência. Também a expressão latina religio deriva-se de relegere, que

significa tomar com atenção (PERISSÉ, 2010). Estas palavras são oriundas da

Igreja Católica Apostólica Romana e, originalmente, o termo religião indicava:

um conjunto de regras, observâncias, advertências e interdições, sem fazer referência a divindades, rituais, mitos ou quaisquer outros tipos de manifestação que, contemporaneamente, entendemos como religiosas. Assim, o conceito religião foi construído histórica e culturalmente no Ocidente adquirindo um sentido ligado à tradição cristã. (SILVA, 2004, p.4).

O fiel de diversas religiões, desde a Antiguidade, era motivado a

deslocar-se por questões religiosas. A fé das pessoas é “capaz de justificar

imediatamente grandes viagens em busca de algo que transcende o cotidiano.”

(OLIVEIRA, 2004, p.14). Assim, tanto o ideal de crer em algo como o sacrifício

em si estão intimamente ligados desde a origem das religiões, e são fatores

que combinados motivam um fiel a exercer o ato de se deslocar para assim

tentar se aproximar do seu ideal de sacralidade.

O ato de peregrinar é derivado das origens nômades dos grupos

humanos. Na antiguidade, tanto no Egito quanto na Grécia já se realizavam

peregrinações aos templos de seus principais deuses. A partir do século IV o

hábito de se deslocar em busca de locais tidos como sagrados começou a ser

utilizado por cristãos, que buscavam conhecer lugares, templos e objetos que

tivessem alguma relação com a vida de Jesus Cristo e de seus apóstolos.

As primeiras viagens tinham como destino a Terra Santa (Israel e

Palestina), locais onde, segundo a Bíblia, Jesus passou a maior parte de sua

vida. Posteriormente, a cidade de Roma, na Itália, onde se localiza o Vaticano,

sede da Igreja Católica, também passou a ser um destino que atraía visitantes.

A partir dessas visitas à capital italiana, os viajantes começaram a serem

chamados de romeiros, expressão até hoje associada aos peregrinos da fé

católica (FERREIRA, 1986).

De acordo com (WUNENBURGER, 1996, apud ROSENDAHL, 1998), o

conceito de peregrinação é de um ritual religioso que exige simultaneidade e

convergência de um grande número de fieis, bem como a obediência ao

18

calendário marcado pela periodicidade dos deslocamentos. Segundo Eade e

Sallnow (1991), a peregrinação é uma maneira de reproduzir o sacrifício de

Jesus Cristo durante seus últimos dias de vida terrena. A palavra “peregrino”

deriva do latim peregrinus, e faz menção àqueles que viajam por terras

distantes (ROSENDAHL, 1998). De acordo com Eliade (1993), peregrinar é um

regresso ao campo, ao espaço aberto, lugar de origem, terra de antepassados;

centro ou umbigo do mundo. Pela existência dessa espécie de força mística

que podemos vincular diretamente a peregrinação ao sacrifício e a fé

(OLIVEIRA, 2004).

Turner (1972) divide em dois diferentes motivos a necessidade do

religioso em peregrinar: a peregrinação obrigatória e a voluntária. A

peregrinação obrigatória é uma necessidade imposta pela doutrina religiosa em

que o fiel segue. No islamismo, por exemplo, são exigidas cinco manifestações

de fé durante a vida: dizer repetidamente o credo básico, fazer orações, dar

esmolas, jejuar e viajar até a cidade de Meca, na Arábia Saudita, local sagrado

para essa religião. Enquanto isso, a peregrinação voluntária se relaciona com

um ato espontâneo, que envolve um voto ou promessa. Este tipo de

peregrinação é mais comum aos adeptos de religiões cristãs, como o

catolicismo, por exemplo.

A peregrinação, seja ela obrigatória ou voluntária, tem um propósito

religioso, e geralmente está atribulado às dificuldades físicas e econômicas do

ser humano. O ritual de peregrinar envolve um espaço-tempo sagrado

(ROSENDAHL, 1998). Esse “tempo mítico ou sagrado é qualitativamente

diferente do tempo profano, da contínua e irreversível duração, na qual está

inserida nossa existência cotidiana e dessacralizada” (ELIADE, 1996, p. 53).

Inspiradas nas tais peregrinações, que há séculos motivam pessoas de

diversas partes do mundo a se deslocar para determinado país, região, cidade

ou algum local, a partir do século XX começou a surgir outro tipo de viajante,

que mesmo buscando um lugar sagrado, não queria se expor aos sacrifícios

que o peregrino fazia.

Observa-se que a descoberta de outras atividades desenvolvidas em

função do turismo religioso faz com que os peregrinos continuem a realizar

19

suas viagens como suporte dos dogmas de suas religiões, mas também

compartilhem, além da fé, de momentos de lazer em conjunto.

O turismo religioso é, de acordo com a World Religious Travel

Association, um dos segmentos do turismo que movimenta cerca de 300

milhões de pessoas ao redor do mundo (WRTA, 2011).

Somente no Brasil, durante o ano de 2010, 6,6 milhões de viagens de

teor religioso foram realizadas dentro do território nacional, representando 3,6%

dos 186 milhões deslocamentos realizados no país (BRASIL, 2014).

O turismo religioso pode ser definido como “aquele turismo que não

perdeu sua raiz peregrina e continua motivado pelo exercício místico da

celebração” (OLIVEIRA, 2004, p.16). Ele também pode ser definido como:

[...] o conjunto de atividades, com utilização parcial ou total de equipamentos, e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões. (ANDRADE, 2000, p. 77)

Ou

uma forma de viagem na qual a motivação principal é a religiosa, no entanto, podem ocorrer outras motivações, tais como a curiosidade ou interesse cultural em compreender as manifestações tangíveis e intangíveis de determinada cultura religiosa. Turismo religioso é aquele empreendido por pessoas que se deslocam por motivações religiosas e/ou para participação em eventos de caráter religioso. Compreende romarias, peregrinações e visitações a espaços, festas, espetáculos e atividades religiosas. (DIAS; SILVEIRA, 2003, p.17).

Segundo a Conferência Mundial de Roma, realizada no ano de 1960, a

definição oficial de turismo religioso é a de uma organização que movimenta

inúmeros peregrinos em viagens pelos mistérios da fé ou através da devoção a

algum santo (RIBEIRO, 2002). A sua prática efetiva realiza-se de diversas

maneiras: pelas festas religiosas celebradas periodicamente, nas

peregrinações aos locais sagrados, nos espetáculos e nas representações

teatrais de cunho religioso, além de congressos, encontros e seminários

ligados à evangelização.

O Ministério do Turismo (MTur), órgão responsável por gerir e promover

o turismo dentro do território brasileiro, traz na publicação Turismo Cultural:

20

Orientações Básicas (2010) o seu próprio conceito para a atividade. De acordo

com o MTur (2010), o turismo religioso:

[...] configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas, independentemente da origem étnica ou do credo [...] Está relacionado às religiões institucionalizadas, tais como as de origem oriental, afro-brasileiras, espíritas, protestantes, católica, composta de doutrinas, hierarquias, estruturas, templos, rituais e sacerdócio. (BRASIL, 2010, p. 19).

Observa-se que os conceitos podem estar sustentados pela motivação

para a viagem de cunho religioso, as estruturas para a prática do turismo

religioso materializado em suas estruturas, na sacralidade do lugar, mobilidade

de pessoas e a tradução da religião em elementos materiais e o sentimento de

pertencimento a uma determinada religião, ou curiosidade sobre ela.

Este segmento do turismo, ao contrário de outros do mercado turístico,

tem como motivação fundamental a fé. Ele está, portanto ligado profundamente

ao calendário religioso do local que recebe o fluxo turístico. No Brasil, cidades

como Juazeiro do Norte (PE), Belém (PA) e Aparecida (SP) se tornaram os

maiores centros de turismo religioso no país, atraindo milhares de visitantes

para as suas regiões, em diferentes épocas do ano.

A importância das peregrinações, romarias e viagens de cunho religioso

para a atividade do turismo é cada vez mais crescente. Prova deste

crescimento é a publicação, pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR)

do documento “Roteiros da Fé Católica no Brasil”, onde são apresentados 64

centros de atrativos religiosos entre templos, espetáculos e festividades

diretamente ligadas ao catolicismo popular e regional existentes no Brasil.

Em 2013, por exemplo, quando a cidade do Rio de Janeiro recebeu um

evento católico denominado Jornada Mundial da Juventude (JMJ), os principais

meios de comunicação do país dedicaram horas de sua programação com

matérias, análises e entrevistas com pessoas de todo o mundo que vieram ao

Brasil para participar da JMJ. Este tipo de repercussão midiática reflete o

desenvolvimento que esta atividade, mesmo que tão antiga, consegue obter

nos dias de hoje, onde cidades como Aparecida são beneficiadas.

21

Em função da existência dos locais de peregrinações e romarias surge a

necessidade em desenvolver outras atividades de caráter não religioso que

contribuem não só de complemento, mas também no desenvolvimento da

economia local. Estas atividades estão relacionadas ao suporte para o

deslocamento turístico, como meios de hospedagem, restaurantes, comércio

de artesanato, mercado informal, transportes, atrativos complementares, entre

outros.

A presença temporária de milhares de pessoas nestes territórios e o

suporte necessário para suas presenças geram grandes alterações espaciais,

econômicas, sociais e culturais.

Guillaumon (2012) refletindo sobre as concepções para a gestão do

turismo em contextos culturais e religiosos desenvolve-se a possibilidade de

consolidar o conceito de turismo em espaços sagrados. Pretende-se com tal

artifício desvincular os dois elementos: motivação da viagem e características

do espaço visitado. O conceito de espaço sagrado foi desenvolvido, no Brasil,

por Rosendahl (2002) em uma distinção entre o sagrado e o profano.

Para Rosendahl (2002, p. 322) o sagrado relaciona-se com a divindade:

"a experiência do sagrado remonta comportamentos individuais e coletivos

bastante remotos na história da humanidade". Já o processo de secularização

sempre esteve presente, fazendo com que os indivíduos vivenciem o mundo

sem recorrer às interpretações religiosas, e a escolha do lugar sagrado ocorre

pela hierofania, entendida como a manifestação direta da divindade em

pessoas ou objetos.

Assim, Guillaumon (2012) discutindo o conceito de “turismo em espaços

sagrados” de Rosendahl (2002), detecta que com esse artifício há a superação

necessária entre o sentimento de pertencimento do turista a uma religião

presente no conceito de turismo religioso. Então, “o turismo em espaços

sagrados seria aquele praticado em espaços que são sagrados para

determinados grupos que compartilham determinada fé e que os habitam. No

entanto, tais espaços não seriam, necessariamente, espaços sagrados para o

visitante” (GUILLAUMON, 2012, [s.p]).

A autora chama a atenção que o planejamento destes territórios pode

ocorrer, em muitos casos, de forma desvinculada da presença das culturas

22

locais. A utilização do conceito de turismo religioso implica a necessária ligação

entre a motivação para o deslocamento e o valor de sacralidade no território

visitado, que limita seu potencial explicativo. É preciso relevar as relações de

poder e interesses de grupos de preservação da identidade cultural em

interação no território no processo do planejamento turístico.

O desenvolvimento da atividade turística realizado com o uso de

planejamento turístico adequado pode conseguir transformar centros de

peregrinação religiosa em grandes centros de turismo religioso. Todavia, esta

transformação pode ter resultados positivos ou não. No próximo capitulo serão

abordados os impactos do turismo religioso.

23

3 IMPACTOS DO TURISMO RELIGIOSO

Este capítulo abordará os impactos do turismo, em destaque o turismo

cultural e, especificamente os impactos do turismo religioso. Como todas as

atividades turísticas, para que ocorra o deslocamento de pessoas é preciso

alterar o território e a vida dos moradores para receber os visitantes. Estas

alterações, mesmo com a concessão dos moradores e estudos para ocupar os

espaços adequadamente, causam algum efeito na comunidade, tanto positivos

quanto negativos. Esta será a temática abordada a seguir.

3.1 IMPACTOS DO TURISMO

O turismo tem um importante papel na economia, na cultura e na

sociedade onde ocorrem. As trocas de informações, hábitos, costumes e

dinheiro são consequências tanto diretas como indiretas que a atividade

turística gera em um atrativo, bairro, cidade ou país. Entretanto, todas essas

alterações no cotidiano, economia e sociedade locais precisam ser analisadas

de uma maneira geral, para que tanto os moradores quanto os turistas possam

ser beneficiados. Essas alterações são chamadas de impactos do turismo, e

serão analisadas no decorrer deste capítulo.

Do latim tardio impactus, a palavra significa o choque de um objeto

contra algo. Embora o resultado de um impacto sejam seus efeitos, também se

compreende por impactos as sequelas deixadas por esse choque.

Beni (2006) divide em três tipologias os impactos gerados pelo turismo

nas comunidades receptoras de visitantes: os impactos econômicos, os

impactos psicológicos e os impactos sociais. Outros autores consideram alguns

outros tipos de impactos, como o político, o ambiental e o cultural, por exemplo.

A análise individual de cada um desses aspectos deve ser levada em conta

para que um local com um potencial turístico não sofra consequências

irreversíveis no futuro. A busca de um ponto de equilíbrio entre os impactos

positivos e negativos gerados em uma determinada localidade é crucial para o

seu desenvolvimento.

Theobald (2002) analisa os impactos gerados pelo turismo. Segundo ele:

24

Ao longo de toda a história registrada, de certa forma o Turismo teve impacto sobre tudo e todos os que estiveram em contato com ele. Num plano ideal, esses impactos deveriam ter sido positivos, no tocante aos benefícios obtidos tanto pelas áreas de destino quanto por seus residentes. Esses impactos positivos significariam para o local resultados tais como melhorias nas condições econômicas, uma promoção social e cultural e a proteção dos recursos ambientais. Teoricamente, os benefícios do Turismo deveriam produzir ganhos muito superiores aos seus custos. (THEOBALD, 2002, p.81)

Infelizmente o ponto de equilíbrio entre os dois tipos de impactos, que

parece ser algo fácil de mensurar, acaba não ocorrendo na maioria dos casos,

sobretudo quando o impacto econômico é positivo para quem administra o local

turístico. Outro atenuante é quando diferentes tipos de turismo ocorrem em um

mesmo local, dificultando assim a análise individual dos fatores positivos e

negativos. Segundo Ruschman (2000, p.34) “[...] tipos similares de Turismo

provocam diferentes impactos, de acordo com a natureza das sociedades nas

quais ocorrem”.

Geralmente, quando os impactos são detectados antes de ocorrer ou

ainda em seu início, são facilmente reversíveis. Todavia, quando já ocorrem há

muito tempo ou quando as autoridades competentes não dão a devida atenção,

eles costumam ser irreversíveis e muito difíceis de ser contornados.

3.2 TURISMO CULTURAL E TURISMO RELIGIOSO

A presença de visitantes em locais onde há o culto religioso faz com que

o turista religioso, segundo Rosendahl (1994) torne-se um agente modelador

do espaço, muitas vezes ampliando-o e ratificando-o, ainda que

temporariamente.

Os impactos que tanto o turismo religioso quanto o turismo cultural

geram em um atrativo turístico não diferem muito das outras tipologias de

turismo classificadas pelos principais autores do tema. Em nossa análise os

impactos estão divididos em cinco subcategorias: os impactos políticos,

econômicos, sociais, culturais e ambientais. A partir da análise de cada um

deles iremos destacar o papel de cada categoria no turismo cultural e no

religioso.

25

Os impactos políticos causados pelo turismo religioso costumam ocorrer

na gestão e divulgação da um determinado atrativo. É papel do Estado garantir

saúde, educação, transporte, saneamento básico e melhores condições de vida

para os moradores de uma localidade, mesmo que seus atrativos não sejam

geridos pela esfera pública. O papel político, neste caso, é gerir um atrativo

(cidade, estado, país, rua, etc.) bom tanto para quem mora quanto para quem a

visita, assim como fiscalizar quem de alguma maneira está ligado ao turismo,

para coibir possíveis abusos econômicos, sociais, etc.

Os impactos culturais abordam a mudança na estrutura da sociedade

que recebe visitantes. Se eles, de alguma forma interagem com a população

local, seja através do comércio, da alimentação, da prestação de serviço, dos

serviços públicos ou dos bens de consumo, já estão afetando a comunidade de

alguma maneira. Os impactos gerados pelo turismo religioso são a de troca de

informações, novos costumes e hábitos para a localidade. Geralmente quanto

maior é o número de visitantes a uma localidade, maior é a troca cultural entre

visitante/ visitado. De uma maneira geral essa troca tende a ser positiva, com

algumas exceções, é claro. Quando os moradores locais perdem a sua

identidade cultural em detrimento de novas culturas que vêm de fora, isso é

prejudicial para a sua própria localidade, que perde o seu diferencial. O ideal é

sempre tentar manter a sua própria identidade local, absorvendo o que há de

positivo nas culturas vindas de fora.

Os impactos econômicos costumam se manifestar mais claramente e

geralmente são os mais citados pelos administradores e autoridades locais

para abordar um sucesso/ fracasso de um atrativo. Toda movimentação

monetária ocorrida em decorrência do turismo em uma determinada região é

um impacto econômico. Desde atividades primárias ao turismo religioso, como

a venda de artigos religiosos, por exemplo, até o pagamento das diárias em um

hotel de uma cidade estão enquadradas nessa categoria. Geralmente, para a

mensuração destes dados são usadas estimativas, tal qual a dificuldade de

contabilizar com precisão quanto a atividade turística conseguiu arrecadar em

um determinado atrativo. Quanto maior o objeto de estudo, mais difícil

mensurar. As estimativas mais comuns usadas para determinar os impactos

econômicos são o gasto médio do turista por dia/período/semana e dados da

26

balança comercial do município/estado/país. É bastante recorrente a

comparação com o mesmo período em anos anteriores, e caso tenha ocorrido

um crescimento, o impacto é considerado positivo. Entretanto, a análise destes

dados não pode ser tão simplória, pois devem ser analisados outros fatores,

como os investimentos locais para tornar o turismo sustentável, quanto do

capital arrecadado realmente fica na comunidade, o gasto com a manutenção

dos atrativos, entre outros.

Os impactos sociais são consequência direta do processo de

turistificação local, e costumam ser os mais difíceis de obter resultados

positivos. A atração de turistas e o aumento da geração de renda em uma

localidade costumam atrair e/ou aumentar processos como a criminalidade, a

violência, a marginalização, entre outros. Para coibir, diminuir ou até mesmo

atenuar o impacto negativo gerado por essa atividade, é papel tanto da esfera

pública quanto dos gestores dos atrativos e das associações de classe criar

maneiras de além de reduzir a violência e a criminalidade urbana, gerar novas

oportunidades de emprego/renda para essas pessoas.

Os impactos ambientais tratam de mensurar como a atividade turística

irá afetar o ambiente em que ela ocorre. E quando falamos em ambiente não

ficamos restrito a somente áreas verdes, como parques e florestas, por

exemplo. Todo local que possua um atrativo deve possuir um estudo sério de

impactos ambientais, tal como o estudo de capacidade de carga, por exemplo.

Estes e outros relatórios são de suma importância para garantir ao local em

que ocorrem todas as condições de segurança necessárias para o turismo

ocorrer.

27

4 OS PRINCIPAIS CENTROS DE TURISMO RELIGIOSO

Tanto no ocidente, com religiões predominantemente monoteístas,

quanto no oriente, com grande parte das religiões de caráter politeísta, a busca

por visitar os lugares sagrados dos seus credos sempre existiu, desde a

antigüidade até os dias atuais. Talvez desde as cruzadas, na Idade Média, o

roteiro também tenha se tornado algo importante para aquele que realiza o

deslocamento com o princípio da fé. Os roteiros seguidos pelos fieis em busca

do sagrado são conhecidos dentro do turismo religioso como “Caminhos da Fé”

(OLIVEIRA, 2004). Neste capítulo discorreremos sobre alguns dos principais

centros de turismo religioso tanto no Brasil quanto ao redor do mundo, além do

impacto que cada um desses locais possui para as suas religiões.

4.1 DESTINOS RELIGIOSOS INTERNACIONAIS

Várias são as religiões que há milhares de anos motivam as pessoas a

se deslocar para lugares sagrados destes credos. Normalmente, estes lugares

acabaram ficando conhecidos e se estruturando para receber os visitantes.

Neste capítulo abordaremos algumas das principais cidades indutoras de

turismo religioso no mundo, com destaque aos atrativos de caráter cristão. As

cidades aqui analisadas foram escolhidas de acordo com a sua semelhança,

em algum dos aspectos (geográfico, religioso ou estrutural) com Aparecida,

tema deste trabalho.

Desde a antiguidade os locais religiosos eram palcos de peregrinações.

Segundo Moraes (2003, p. 216):

Os egípcios antigos realizavam festivais religiosos e visitações aos templos de Amon, Luxor e Karnac, entre outros localizados às margens do Nilo. Na Grécia Antiga, vários templos eram locais de peregrinação, como Delfos, Koussadai e Olímpia. Para os muçulmanos, Meca é a cidade sagrada desde o início do Islamismo, local de ida obrigatória uma vez na vida para os fieis que tiverem condições financeiras para tanto. Os cristãos católicos romanos, desde os primeiros séculos depois de cristo, têm como capital de sua religião Roma.

28

Um dos principais locais de atração turística no mundo cristão situa-se

no Vaticano, um Estado soberano, criado em 1929 (ECCARDT, 2005, p. 15),

localizado dentro da cidade de Roma, a capital italiana. O Estado do Vaticano é

considerado, em dimensão, o menor país do globo terrestre (0,44 km²), além

de ser o único no mundo em que a capital, a Cidade do Vaticano, ocupa

exatamente o mesmo espaço que todo o território nacional. Sua população é

de menos de mil habitantes, composta por membros da Igreja ou da Guarda

Suíça, que faz a segurança local e seu governante é o Papa, líder da Igreja

(ECCARDT, 2005). Apesar de ter dimensões e uma população modestas,

possui moeda própria, banco, imprensa, agência dos correios e uma rede

ferroviária própria.

Pela sua importância religiosa, o Vaticano atrai anualmente milhões de

visitantes de todas as partes do mundo, de diversos credos e etnias. Suas

principais atrações são de cunho religioso, o sermão papal, na Praça São

Pedro, em frente à Basílica com o mesmo nome e de cunho cultural, o

complexo arquitetônico, incluindo seus museus e o destaque para a Capela

Sistina, que reúne obras de vários artistas do Renascimento, como as famosas

pinturas de Michelangelo em seu interior, por exemplo.

Outro famoso complexo turístico religioso do mundo cristão que vale a

pena ser destacado localiza-se na Península Ibérica, no caminho que leva até

a cidade de Santiago de Compostela, situada no noroeste do território

espanhol. Diferentemente de outros atrativos religiosos, tanto o trajeto

percorrido tradicionalmente para se chegar a Santiago quanto à cidade em si

possuem grande importância, pois essa região, que fazia parte da província

romana da Galícia, foi palco da resistência cristã em oposição a ocupação

muçulmana na Espanha durante o século IX (OLIVEIRA, 2004). Atualmente, o

Caminho de Santiago de Compostela pode ser considerado um dos principais

destinos de peregrinos em todo o mundo, recebendo cerca de 180.000

visitantes por ano (CARNEIRO, 2007).

A cidade de Jerusalém, em Israel, é outro importante centro religioso

para três grandes religiões do mundo atual: a judaica, a muçulmana e o

cristianismo. A cidade, que atualmente possui cerca de 800.000 habitantes

(CBS, 2011), está localizada nas Montanhas da Judéia, entre o Mar

29

Mediterrâneo e o norte do Mar Morto. A cidade, considerada uma das mais

antigas do mundo, é palco de disputas territoriais há séculos1, sobretudo pela

importância religiosa que ela possui tanto para os judeus, muçulmanos e

católicos. Apesar das frequentes guerras no Oriente Médio e das disputas

territoriais locais, Jerusalém continua a ser uma cidade bastante visitada pelos

turistas, sobretudo os mais religiosos.

O principal ponto de interesse turístico da cidade de Jerusalém é a

Cidade Antiga, também conhecida como Cidade Velha de Jerusalém, que é

cercada por muros em forma retangular com 0,9 km², e foi nomeada pela

UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade, em 1981.

Dentro da Cidade Velha encontram-se o Muro das Lamentações e o

Monte do Templo, locais sagrados para os judeus, como o Domo da Rocha e a

Mesquita de Al-Aqsa são locais venerados pelos muçulmanos. Para os

cristãos, o local de maior importância a ser visitado é a Basílica do Santo

Sepulcro. Jerusalém recebe anualmente cerca de três milhões de visitantes

(CBS, 2011). Além dos religiosos, outros turistas visitam a cidade, incluindo o

bairro armênio, em busca de conhecer um pouco de cada cultura que lá está

presente.

A popularização do culto a Nossa Senhora, no decorrer do século XIX,

aumentou a demanda por santuários marianos em todo o mundo. Um dos

motivos foi a aparições da Virgem Maria nas cidades francesas de Paris, em

1830, La Salete, em 1846, e Lourdes, em 1858. O ápice da devoção mariana

se deu no ano de 1917, quando ela supostamente apareceu na cidade de

Fátima, em Portugal, para três crianças. Até hoje todas essas cidades recebem

visitantes do mundo inteiro, contando com uma intensa atividade turística

religiosa durante todo o ano. Aparecida também se beneficiou dessa crescente

devoção, e é considerada atualmente, de acordo com Oliveira (2001), o maior

centro de turismo religioso em nosso país.

1 A Lei de Jerusalém declara que: "Jerusalém, completa e unida, é a capital de Israel".

Atualmente, a cidade serve como sede de governo de Israel, assim como sede da residência do presidente, e de todo o seu governo. A ONU, de acordo com a declaração da resolução 478 do Conselho de Segurança, e a maior parte dos países não aceita a Lei de Jerusalém e mantêm suas embaixadas e representantes diplomáticos em outras cidades, como Tel Aviv, Ramat Gan e Herzliya. A Autoridade Palestina declara Jerusalém Oriental como capital do futuro Estado Palestino, e o status atual da cidade ainda aguarda negociações futuras entre os

palestinos e Israel.

30

4.2 DESTINOS RELIGIOSOS NACIONAIS

Com uma população de aproximadamente 200 milhões de pessoas

(IBGE, 2010), o Brasil, apesar de se declarar oficialmente um Estado laico, tem

o maior número absoluto de fieis católicos em todo o globo terrestre. Segundo

dados do Datafolha (2013, p.2), atualmente 57% dos brasileiros se consideram

católicos. Ademais, na última década, a Igreja teve uma redução da ordem de

1,7 milhão de fiéis, resultando em um encolhimento de 12,2% (IBGE, 2010). A

tendência de redução dos católicos e de expansão dos evangélicos está

prevista, e se o ritmo mantiver o mesmo que o atual, em 30 anos haverá um

empate em tamanho populacional entre essas duas religiões cristãs.

Desde o período colonial, os portugueses tentaram impor a fé católica

como religião do Brasil. Embora esta se tenha tornado a principal religião, a

resistência dos negros e índios criou o sincretismo e moldaram a fé de nossa

população ao longo dos séculos, resultando na mistura de credos e rituais que

vemos até os dias de hoje, onde o sagrado e o profano por muitas vezes se

misturam tanto em ritos quanto em festas das igrejas cristãs2.

O Brasil, com o passar dos séculos, começou a receber um grande

número de imigrantes de diversas culturas e etnias, que trouxeram seus

credos, aumentando consideravelmente o número de religiões praticadas no

país. Ao longo do século XX o protestantismo e as suas diversas

denominações, ganharam força em todo o território nacional, diminuindo, de

certa forma, o predomínio da religião católica no país. Entretanto, mesmo com

a vinda de outras religiões, até os dias de hoje alguns dos principais roteiros

turísticos de caráter religioso do Brasil continuam sendo de cidades que

tenham algum elo com o catolicismo, sejam eles por conta de uma igreja, de

um local sagrado ou até mesmo um padroeiro.

O turismo religioso possui, segundo o MTur (2010), 96 destinos em todo

o Brasil, com 18 deles sendo classificados como rotas de turismo religioso,

2 Apesar de ser um país de maioria cristã, o Brasil, tal qual grande parte das nações do mundo,

é um estado laico, onde a religião não deve ter influência nos assuntos do Estado. O artigo 5°, inciso VI, da Constituição Federal de 1988 garante a liberdade religiosa de credo e culto a todos os cidadãos brasileiros.

31

entre os 65 destinos indutores de desenvolvimento regional3. Ainda entre as

344 cidades brasileiras listadas no mapeamento dos destinos turísticos do

MTur, 177 possuem um calendário fixo de eventos religiosos. Este

dimensionamento comprova a força, tanto histórica quanto cultural do turismo

religioso no país.

Oliveira (2004) divide os roteiros turísticos presentes em uma cultura

religiosa em três tipos: o Roteiro Padrão, o Roteiro Ritual e o Roteiro de

Espetáculo. Para especificá-los serão utilizados nesse capítulo exemplos

destes roteiros.

O roteiro que marca o intercâmbio entre o lugar profano e o lugar

sagrado é conhecido como Roteiro Padrão. É dentro dele que a preparação e a

execução implicam em condições mínimas de ingresso do viajante em um

espaço-tempo nada condizente com a sacralidade da rota procurada

(OLIVEIRA, 2004). É o caminho que sai do lugar comum, usual, e leva

transitoriamente o romeiro ao local venerado. Geralmente, neste tipo de roteiro,

o sagrado e o profano se misturam. É dentro deste tipo de roteiro turístico que

se encontra a peregrinação à cidade de Aparecida, por exemplo.

Um exemplo de Roteiro Padrão ocorre na cidade de Bom Jesus da

Lapa, na Bahia. Localizado na Região do Médio São Francisco, a cidade

recebe anualmente milhares de fieis que se deslocam, oriundos de diversas

cidades da região Nordeste, para conhecer as grutas calcáreas e o visitar o

morro da Lapa, locais que são considerados sagrados há mais de três séculos

(CASTRO, 2008). A festa em devoção ao santo padroeiro do município ocorre

no dia 06 de Agosto, e é durante essa época que Bom Jesus da Lapa costuma

receber mais visitantes. A sacralização Cris local aperfeiçoou o fluxo de

romeiros e produziu no entorno dos locais venerados serviços relacionados aos

espaços devocionais, além de áreas comerciais. Em Bom Jesus da Lapa tanto

o morro quanto a gruta são considerados pelos romeiros locais santos. Por

essa razão, os fragmentos de rocha e a água que brota dos poros rochosos da

gruta são considerados sacralizados no imaginário do fiel que vivencia a

3 Esses destinos foram escolhidos com a finalidade de se obter padrões internacionais de

qualidade (MTur, 2008).

32

atmosfera do sagrado, transformando-os em elo entre o mundo real e o mundo

divino.

Outro exemplo de Roteiro Padrão acontece na cidade de Juazeiro do

Norte, no Ceará. O município é considerado como um dos maiores centros de

peregrinação do Brasil, atraindo anualmente milhares de romeiros e penitentes

oriundos de várias regiões do país (CAMPOS, 2008). A região começou a

receber notoriedade a partir do fim do século XIX, quando a beata Maria de

Araújo passou a ter profundas experiências de fé quando recebia a comunhão

do pároco local, o Padre Cícero Romão Batista. Também existem relatos que

as hóstias por ele entregues a ela sangravam. A partir do ano de 1938, após a

morte de Padre Cícero, iniciou-se uma entusiasmada devoção a sua figura,

atraindo assim centenas de romeiros para o município, que posteriormente

fixaram residência na cidade, contribuindo assim para a sua expansão

populacional e comercial (CAMPOS, 2008). Atualmente, o município, que conta

com mais de 250.000 habitantes (IBGE, 2010), recebendo anualmente milhares

de peregrinos, que buscam fazer orações e promessas na cidade, sobretudo

nas casas de milagre e na estátua em homenagem a Padre Cícero, que possui

27 metros de altura, e fica localizado na Colina do Horto, ponto mais alto de

Juazeiro do Norte.

Os roteiros marcados por cortejos, procissões ou pequenos trajetos

feitos no entorno ou dentro dos santuários que centralizam os espaços

religiosos são conhecidos como Roteiros Rituais. São aqueles capazes de

reconhecer que a sacralidade do lugar depende de uma teatralização simbólica

do movimento do romeiro (OLIVEIRA, 2004). A cidade de Aparecida também

está inserida nesta classificação, pois costumam ocorrer procissões do

Santíssimo Sacramento dentro dos domínios do complexo arquitetônico, além

de romarias da imagem de Nossa Senhora, entre as basílicas nova e velha,

utilizando-se da Passarela da Fé. Outro exemplo é o Círio de Nazaré, que

ocorre no município de Belém, no Pará e, atualmente, é considerado o maior

exemplo deste tipo de roteiro no Brasil.

A Festa do Círio de Nazaré ocorre anualmente, e se inicia sempre no

segundo domingo do mês de Outubro, na capital paraense. O evento ocorre

durante 15 dias, e nesse período ocorrem diversas procissões, uma grande

33

feira, denominada arraial, e o almoço do Círio. Tal período é denominado de

Quadra Nazarena. Entretanto, o evento principal é, sem dúvida, o Círio de

Nazaré, uma procissão que percorre, com a imagem de Nossa Senhora de

Nazaré, toda a cidade de Belém, começando na Catedral da Sé e terminando

na Basílica de Nazaré. Um fato marcante da procissão do Círio é a grande

corda, ligada à berlinda com a Santa e puxada pelos fieis, que se tornou um

elemento fundamental na linguagem ritual, pois demarca um espaço de

extremo sacrifício e de liminaridade ritual (ALVES, 2005).

São inegáveis o sucesso e a popularidade que o Círio de Nazaré possui

no estado do Pará. A procissão, que ocorre desde 1793, reúne a cada ano um

número maior de fieis. Somente no ano de 2004, estima-se que cerca de dois

milhões de pessoas estiveram presentes na procissão do Círio (ALVES, 2005),

tornando-o um dos principais eventos que ocorrem na região Norte do Brasil.

O roteiro estabelecido com intenções explicitamente turísticas, que

envolvem outros lugares e manifestações não necessariamente religiosas, mas

permeadas de religiosidade, com um forte apelo econômico, cultural e artístico

são conhecidos como Roteiros de Espetáculo (OLIVEIRA, 2004). As

adaptações nacionais ao Caminho de Santiago de Compostela, como os

Passos de Anchieta, no Espírito Santo, podem ser consideradas um exemplo

desse tipo de roteiro existente no país. O evento supracitado consiste na

releitura da rota percorrida regularmente pelo Padre José de Anchieta nos seus

últimos dez anos de vida entre as cidades de Vitória/ES e Anchieta/ES.

A adaptação brasileira ao Caminho de Santiago foi criada em 1998, e

ocorre sempre no último final de semana antes do dia 9 de junho, data de

morte do beato. Algo que chama a atenção neste evento é a liberdade de culto

dos participantes, existente devido a não vinculação dos organizadores do

evento a nenhuma instituição religiosa, permitindo assim o convívio pacífico de

elementos sagrados e profanos, apesar da clara busca pela purificação

espiritual por parte dos participantes (GAZONI, 2003). São três dias de

caminhada, com duas paradas noturnas, sendo a primeira em Vila Velha e a

segunda na cidade de Guarapari, ambas no estado do Espírito Santo. Durante

as paradas os participantes podem apreciar o folclore e a culinária capixaba,

além das festas de integração que acontecem à noite. Tentando recriar o

34

ambiente da rota espanhola, assim como criar um clima harmônico entre o

sagrado e o profano, o roteiro vem ganhando um número maior de adeptos a

cada ano.

É notório observar que tanto nos principais destinos turísticos do

mundo quanto nos principais destinos brasileiros a dualidade entre o sagrado e

o profano, o autêntico e o forjado, o original e o plágio, dentre outros tantos

conceitos existentes. Essa não é uma exclusividade do Turismo Religioso. A

própria atividade do Turismo em si e os seus diversos segmentos também

recebem esses tipos de questionamento, e podemos considerá-los como algo

natural na atividade. Entretanto, pudemos notar a partir da análise de alguns

roteiros turístico-religiosos que nesse segmento essa dicotomia talvez seja

mais perceptível a olho nu. Não é raro observarmos em cidades como

Aparecida, em um mesmo recorte, pessoas caminhando de joelhos visando o

pagamento de promessas, enquanto outras, abarrotadas de sacolas de

compras, estão tirando fotos do santuário ou usufruindo de bens de consumo.

Entretanto, apesar das diferenças de percepção e de vivência espiritual,

podemos considerar que, em todos os exemplos analisados, tanto o turista

religioso quanto os peregrinos são movidos a estas rotas/destinos com um

mesmo propósito: a fé.

No próximo capítulo, o município de Aparecida será apresentado.

35

5 O MUNICÍPIO DE APARECIDA NO CONTEXTO TURÍSTICO

No capítulo a seguir analisaremos, através de dados históricos e

geográficos, o desenvolvimento de Aparecida, desde 1717 até os dias atuais.

Também analisaremos o município politicamente, e como os a influência das

peregrinações, do rodoviarismo e dos meios de comunicação auxiliaram na

consolidação da cidade dentro do turismo religioso.

5.1CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO

Localizada no interior do estado de São Paulo, na região do Vale do

Paraíba, e às margens da rodovia Presidente Dutra (BR-116), o município de

Aparecida (Figura 1) é considerado o mais importante centro de peregrinações,

penitências, romarias e eventos religiosos do Brasil (OLIVEIRA, 2004).

Figura 1: Localização de Aparecida no Estado de São Paulo

Fonte: Pinto, 2006, p. 47

No último quarto do século XX, outras cidades da região de Aparecida

passaram a aproveitar-se da capacidade da basílica em atrair fieis católicos

para tornarem-se turísticas também. A beatificação de Frei Galvão trouxe

relevância religiosa para a cidade de Guaratinguetá, que atualmente também

36

recebe visitas de romeiros, peregrinos e turistas, assim como o município de

Cachoeira Paulista/SP, com a comunidade católica Canção Nova, que recebe

anualmente milhares de visitantes que buscam vivenciar experiências mais

íntimas e profundas com as doutrinas da Igreja (Figura 2).

Figura 2: Localização do Município de Aparecida

Fonte: Pinto, 2006, p. 48 Apud IBGE. Latitude – 22º 501S. Longitude – 45º 13’ W

A região paulista do Vale do Paraíba4 durante o século XVIII vivia o auge

do ciclo do ouro. Nos séculos seguintes o prosperou a economia baseada na

cana-de-açúcar e no café, até a crise dos anos 1930, quando a região voltou-

se para a pecuária leiteira.

Após a crise do café, a região começou a receber um alto investimento

na área industrial, sobretudo pela sua localização geográfica. Grandes fábricas

4 O Vale do Paraíba recebe este nome devido ao fato da região ser parte inicial da bacia

hidrográfica do rio Paraíba do Sul, que banha os estados brasileiros de Minas Gerais, São

Paulo e Rio de Janeiro.

37

e corporações, tanto nacionais quanto as multinacionais, atraídas pelos

incentivos governamentais e isenções fiscais, instalaram-se na região.

Aparecida seguiu na contramão do fluxo industrial, e desde a sua emancipação

tem como principal atividade o turismo religioso (OLIVEIRA, 2001).

Com o passar das décadas e a popularização ao culto a Nossa Senhora

Aparecida, o município de Aparecida passou a atrair cada vez mais visitantes.

Atualmente estima-se que a cidade receba cerca de sete milhões de pessoas

anualmente (BRUSTOLONI, 2008, p. 29) visitam o município durante todo o

ano, principalmente aos domingos. As datas anuais em que Aparecida costuma

receber o maior número de fieis são em 12 de outubro, dia da Padroeira, e no

dia 8 de dezembro, data dedicada à Imaculada Conceição de Maria Aparecida.

No último quarto do século XX, outras cidades da região de Aparecida

passaram a aproveitar-se da capacidade da basílica em atrair fieis católicos

para tornarem-se turísticas também. A beatificação de Frei Galvão trouxe

relevância religiosa para a cidade de Guaratinguetá, que atualmente também

recebe visitas de romeiros, peregrinos e turistas, assim como o município de

Cachoeira Paulista/SP, com a comunidade católica Canção Nova, que recebe

anualmente milhares de visitantes que buscam vivenciar experiências mais

íntimas e profundas com as doutrinas da Igreja.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Aparecida, a cidade possui

oficialmente 16 atrativos turísticos. São eles: o Santuário Nacional (basílica

nova), a Matriz Basílica (basílica velha), o Morro do Cruzeiro, o Porto Itaguaçu,

o Centro de Apoio ao Romeiro, o Presépio, o Teleférico, a Igreja de São

Benedito, o Seminário Bom Jesus, a Igreja São Geraldo, a Feira de Aparecida,

o Memorial Redentorista Padre Vitor Coelho, o Mirante da Santa, o Aquário, a

Passarela da Fé e o Museu José Luiz Pasin (PREFEITURA MUNICIPAL DE

APARECIDA, 2014). Todos eles estão de alguma forma ligada a Nossa

Senhora Aparecida. O aquário, por exemplo, fica dentro do Centro de Apoio ao

Romeiro, que por sua vez fica dentro do complexo do Santuário Nacional. O

teleférico liga o Santuário Nacional ao Mirante da Santa, o presépio fica no

Morro do Cruzeiro, dentre outras coisas. Os atrativos estão distribuídos dentro

de um conjunto turístico com forte conexão com o catolicismo.

38

Pinto (2006, p. 50) faz um estudo sobre o território de Aparecida,

apontando que a forma da cidade é rádio concêntrica no sitio original, visto que

sua urbanização se deu com a instalação da igreja matriz, sendo considerado o

centro do aglomerado urbano, “ao chegar à planície aluvial o sítio urbano

anexado toma outro tipo traçado, o tabuleiro de xadrez”. O diagrama (Figura 3)

a seguir exemplifica a estrutura da cidade:

.

Figura 3: Diagrama concêntrico da cidade de Aparecida

Fonte: Pinto, 2006, p. 50

Segundo Pinto (2006), o espaço percorrido pelo romeiro é todo contíguo,

seja pelos estabelecimentos comerciais consolidados como a feira composta

por barracas cobertas por lonas no eixo monumental, onde ambulantes

comercializam produtos relacionados ao turismo religioso, ou no Centro de

Atendimento ao Romeiro, que congrega lojas e setor de alimentação.

Observa-se que a função religiosa se desenvolveu a partir do núcleo

religioso entre as basílicas e a Passarela da Fé, que une os dois templos. As

camadas funcionais da cidade que atendem a demanda turístico religiosa se

expandiram a partir deste núcleo (PINTO, 2006).

Ainda nos estudos de Pinto (2006) há explicação sobre os outros

componentes do diagrama concêntrico da cidade. A área comercial, formada

39

por lojas de artigos religiosos circunda a área efetivamente religiosa, onde

estão às ruas comerciais como Monte Carmelo e Avenida Monumental, assim

como o Shopping dos Romeiros fica localizado em frente à Basílica Nova. Na

sequência circular estão os hotéis com diárias a preços módicos e

estabelecimentos de alimentação e, por último, a área periférica formada pelas

residências dos moradores e pela futura zona de expansão urbana de

Aparecida.

As camadas funcionais e suas especificidades podem ser observadas a

seguir (PINTO, 2006, p.52):

1. Centro: com as Basílicas e a Passarela da Fé

2. Pericentro: Comércio religioso e estabelecimentos de alimentação

3. Periferia Continua: Setor hoteleiro e moradias

4. Periferia Descontinua: Espaço ocupado pelas moradias,

loteamentos e área de expansão urbana.

Considerando a morfologia de seu território, após ocupar a planície

aluvial do Rio Paraíba, o aglomerado foi se alargando e, por não ter mais por

onde crescer, o arruamento se deu em direção à colina e passou a cidade se

configurar como acrópole. A expansão atual está ocorrendo nas colinas de seu

entorno.

Os milhares de fiéis que visitam a cidade anualmente têm como objetivo

principal conhecer a basílica em devoção a Nossa Senhora da Conceição

Aparecida, padroeira do Brasil. Segundo Oliveira (2004, p.49), os visitantes

vêem aquele espaço como um “lugar privilegiado de busca do sagrado como

dimensão espiritual, mística e sobrenatural da existência”. Apesar de não

representar exatamente a sacralidade, é o lugar onde o fiel se sente mais

próximo deste conceito, funcionando assim como uma espécie de mediador do

sagrado. Esse espaço físico, de caráter intermediário, é chamado de santuário

(Figura 4). Claval (2002) destaca como uma das particularidades dos

santuários a sua capacidade de exercer um papel de intermediação entre o

nosso mundo e outro que se situa em uma dimensão só alcançada pelo transe

espiritual da fé dos crentes, que é potencializada dentro desse local.

40

Figura 4: Basílica de Aparecida e Passarela da Fé

Fonte: Portal de Noticias R7, 2014

Aparecida é um caso exemplar de cidade-santuário no território

brasileiro (BRUSTOLONI, 2008; OLIVEIRA, 2001), pois apesar do município

possuir outros atrativos e serviços turísticos, todos estão relacionados à

capacidade que a basílica tem de atrair visitantes, romeiros e fieis de todas as

regiões do Brasil. Um exemplo desta interdependência está no comércio e no

setor de alimentação (que ocorrem tanto do Centro de Apoio ao Romeiro

quanto nos camelôs e restaurantes localizados no entorno da basílica), que

abrem aos domingos, dia da semana em que o município costuma receber o

maior número de visitantes.

Aparecida compreende o maior culto mariano do mundo (culto a Virgem

Maria), sendo destacados pelos movimentos de peregrinação que envolve

grandes distâncias e fluxo de populares (PINTO, 2006).

A história do santuário de Aparecida e a de seu município se completam

e, provavelmente um não sobreviveria sem o outro. Os milagres relatados no

século XVIII impulsionaram o crescimento do vilarejo, e ajudaram o então

distrito de Guaratinguetá a obter a sua autonomia político-administrativa. Com

o passar dos anos, a cidade ruralizada passou por um processo de

transformação, acompanhando o crescimento do santuário e servindo de

suporte ao seu principal produto: a religião.

41

A criação de um templo transformou a dinâmica local, através da ajuda

eclesiástica e governamental. Essa questão será tratada a seguir, onde o

contexto histórico será apresentado.

5.1.1 De 1717 a 1931: do milagre à consagração nacional

Durante o século XVIII, a Vila de Guaratinguetá, fundada em 1640,

localizada no Vale do Paraíba, unia duas rotas fundamentais do país na época,

que vivia o auge do ciclo do ouro nas Minas Gerais. O vilarejo era ponto de

interseção tanto da rota do ouro quanto das tropas de integração (OLIVEIRA,

2001). O local possuía uma localização privilegiada, pois estava entre as terras

paulistas e o Rio de Janeiro, sede colonial desde o ano de 1763.

Em outubro de 1717, Dom Pedro de Almeida de Portugal, conde de

Assumar e governante da capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em viagem

até Vila Rica (atual Ouro Preto/MG), estava de passagem com a sua comitiva

pelo local, a caminho das Minas Gerais. Ao chegarem a Guaratinguetá, o

Conde e sua trupe solicitaram a Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves,

moradores locais, que fizessem uma pesca no rio Paraíba do Sul, que cortava

o povoado, para que desse modo eles tivessem mantimentos suficientes para

seguir viagem. Entretanto, apesar de inúmeras tentativas, os pescadores

estavam tendo uma jornada infrutífera. De acordo com Ramos (1992), os três

rapazes temiam que o povoado fosse saqueado caso a pescaria que lhes foi

encomendada não obtivesse êxito, e por conta disso navegaram por mais de

seis quilômetros rio acima tentando obter uma boa pesca.

Após diversas tentativas frustradas, ao puxar as redes, os rapazes

encontraram uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, de coloração

escurecida e sem a parte de cima. Logo depois, os pescadores lançaram mais

uma vez as redes ao mar, e ao puxá-las, encontraram uma cabeça, com uma

coloração parecida com a da imagem encontrada. Ao colocá-la junto ao corpo

da santa concluiu-se que se tratava de um só objeto. Depois de encontrar a

imagem, os pescadores, lançando novamente as redes ao mar, conseguiram

pescar uma boa quantidade de peixes para a comitiva, tornando este fato como

supostamente sendo o primeiro milagre atribuído a Nossa Senhora Aparecida.

42

Durante quinze anos após o tal acontecimento, a imagem ficou sob a

posse de Filipe Pedroso, um dos pescadores. Tanto os seus vizinhos quanto as

pessoas da região iam até a sua residência com o objetivo de orar e agradecer

aos milagres que começaram a ser atribuídos à santa. Em 1734, com a

crescente demanda para visitar e realizar preces à imagem, o vigário de

Guaratinguetá resolveu construir uma capela em homenagem à Nossa

Senhora, que ficou pronta em 1745. No decorrer do século XVIII ocorreram

diversos acontecimentos fantásticos, que motivaram a população local a

atribuí-los como milagres operados pela imagem, atraindo muitos visitantes e

fieis. Em 1888 foi inaugurada uma nova igreja em homenagem à santa, para

atender o grande fluxo de pessoas que visitavam a região.

Apesar de atrair um grande número de pessoas até Aparecida, o

alcance de sua história e de seus milagres até o fim do século XIX ainda eram

limitados, sobretudo pela precariedade das vias de acesso e a escassez de

meios de comunicação existentes nessa época. Oliveira (2001) mostra que

antes do século XX, apesar de possuir uma boa margem devocional pelo

Brasil, as peregrinações a Aparecida ainda possuíam limitações geográficas:

Os relatos tradicionais das origens dessa devoção, nos séculos XVIII e XIX, certificam que a pequena imagem atraía peregrinos das mais longínquas áreas do Brasil. O detalhamento das regiões inclui o Norte do Paraná, interior e litoral de São Paulo, Sul de Minas e Triângulo Mineiro, Rio de Janeiro e áreas pontuais do estado da Bahia, Nordeste e do Centro-Oeste. Estas áreas compõem a zona de influência direta que cobre menos de ¼ do território nacional e embora envolva mais de 50% de sua população não era suficiente para afirmar o alcance nacional à padroeira e seu santuário. (OLIVEIRA, 2001, p.67-68).

Em 1889, a proclamação da República gerou a separação institucional

entre o Estado e a Igreja, com a criação do Estado laico. Apesar da separação,

a Igreja mostraria, ao longo das décadas seguintes, com o seu poderio

financeiro, latifundiário e ideológico, que ainda teria um papel importantíssimo

dentro da sociedade brasileira.

No ano de 1900, em comemoração ao Jubileu de passagem do século,

foram promovidas as primeiras romarias organizadas ao então distrito de

Aparecida, chefiadas por d. Cândido Alvarenga, bispo de São Paulo, e d.

43

Joaquim Arcoverde, arcebispo do Rio de Janeiro, nos meses de setembro e

dezembro. Utilizando-se da malha ferroviária existente e com apoio das

autoridades locais, elas foram populares até a década de 1930, quando

começaram a ser substituídas por outros meios de transporte (BRUSTOLONI,

1979). Os trens, oriundos da Central do Brasil, no Rio de Janeiro e da Estação

do Norte (atual Estação do Brás), em São Paulo, forneciam um suporte viário

às peregrinações e marcaram o início da parceria entre Estado e Igreja na

República, traduzindo assim a força institucional da Igreja Católica diante da

nova ordem política brasileira (OLIVEIRA, 2001). As romarias patrocinadas por

essas duas dioceses foram o pontapé inicial para as grandes peregrinações

que viriam ocorrer nas décadas seguintes.

Em 1904, podemos notar mais uma vez a parceria entre Igreja e Estado

quando é realizada a Festa de Coroação de Nossa Senhora Aparecida como

Rainha do Brasil (OLIVEIRA, 2001). Transformar Nossa Senhora Aparecida em

padroeira do país seria apenas o início de um processo que tentava aumentar

o alcance e a devoção na santa em todo o território nacional.

No final de 1928, Aparecida consegue, com o auxílio dos redentoristas, a

sua emancipação político-administrativa. Em 1929, os principais líderes

católicos brasileiros buscavam transformar a cidade recém-emancipada em

uma capital religiosa brasileira, e em conseqüência disso decide pleitear ao

Vaticano a oficialização de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do país

(OLIVEIRA, 2001), sendo atendidos em 16 de julho de 1930, através de

decreto do papa Pio XI.

Em 1931 a romaria faz um papel inverso, quando a imagem sai pela

primeira vez do interior paulista e é levada ao Rio de Janeiro, então capital

federal, em um grande ritual de consagração ao padroado de Nossa Senhora

Aparecida. Esta peregrinação ao Distrito Federal foi primordial para que Nossa

Senhora Aparecida obtivesse o reconhecimento popular, e que a sua devoção

começasse a ganhar um caráter nacional. Entretanto, apesar da devoção à

padroeira crescer, a acanhada cidade de Aparecida ainda recebia uma

quantidade de romeiros que não refletiam a importância do local de descoberta

da imagem.

44

5.1.2 De 1931 a 1967: da consagração à devoção nacional

Desde a década de 1920 até meados dos anos 1930 os padres

redentoristas, responsáveis pela administração da basílica de Aparecida,

começaram a perceber que o fluxo de romeiros aumentava ano após ano, e

durante algumas datas festivas a igreja, com capacidade para

aproximadamente 300 pessoas, não tinha espaço suficiente para acomodar

todos os fieis (OLIVEIRA, 2001). Primeiramente foi debatido com as

autoridades e moradores locais a possibilidade de expandir a antiga igreja.

Após o fracasso nas negociações surge a ideia de construir um novo templo.

Segundo Braga (1987):

[...] desde 1926, a necessidade de uma nova igreja era sentida pelos padres e a antiga basílica já estava pequena para o número de fieis que a ela se dirigia. A construção começou a ser idealizada em 1939, após a tentativa fracassada de ampliação do conjunto religioso existente. (BRAGA, 1987, p. 57).

Até meados do século XX, apesar de Nossa Senhora Aparecida ser

oficialmente a padroeira do país, a cidade ainda recebia poucos peregrinos. No

final da década de 1930 a cidade costumava receber “cerca de 20.000 fieis

anualmente” (OLIVEIRA, 2001, p. 82). Esta falta de polaridade da cidade em

termos nacionais, aliada à incapacidade da antiga igreja em receber mais fieis

e a negativa dos moradores locais em ceder seus terrenos para a ampliação da

basílica motivou os administradores da igreja a comprarem um grandioso

terreno ao lado da cidade, no Morro das Pitas. A aquisição deste terreno

transformaria para sempre a dinâmica local, e seria o ponto de partida do

processo de monumentalidade do tempo (OLIVEIRA, 2001).

Em 1945 é inaugurada a Rodovia Presidente Dutra, que passando pelo

município, auxilia o surgimento e a popularização de novas peregrinações até a

basílica de Nossa Senhora Aparecida. A criação de meios de comunicação

como o jornal O Santuário de Aparecida, nos anos 50, e a Rádio Aparecida, na

década de 1960, levam a área de influência do culto à santa a sair da mera

esfera geográfica, colocando a cidade no campo informacional. A modernidade

45

permite ao católico devotar-se a Nossa Senhora Aparecida mesmo à distância,

através desses novos sistemas de comunicação (OLIVEIRA, 2001).

No final de 1946 os últimos terrenos do Morro das Pitas são

comprados, totalizando uma área de 400 m². O projeto do novo templo, em

estilo neorromânico (BRUSTOLONI, 2008; OLIVEIRA, 2001) e inspirado na

catedral de Washington, nos Estados Unidos foi aprovado pela Santa Sé em

junho de 1949. Entre 1955 e 1967 a nova basílica começa a ser construída

lentamente e pela grandiosidade da obra que estava sendo erguida, em 8 de

dezembro de 1958, é criada a Arquidiocese de Aparecida. (OLIVEIRA, 2001).

O Concílio Vaticano II, ocorrido entre os dias 11 de outubro de 1962 e 8

de dezembro de 1965, torna-se um marco na história da Igreja Católica

Apostólica Romana. O Concílio, apesar de não fazer nenhuma mudança

significativa na estrutura da Igreja, realiza importantes reformas em sua

estrutura litúrgica, tais como a reorganização da missa de rito romano, com o

uso de novos formulários e a permissão de uso da língua vernacular e da

posição versus populum5 durante as celebrações.

Outra importante alteração promovida pelo Concílio foi a abertura para a

maior participação dos leigos, incluindo as mulheres, na vida eclesial. Essa

abertura refletiu-se na recomendação da ampliação nas devoções à Virgem

Maria em todo o mundo (OLIVEIRA, 2001). Para uma Igreja majoritariamente

machista, ter uma santa como um de seus principais símbolos, principalmente

após o surgimento dos movimentos feministas, era sensato e necessário para

uma instituição que buscava se renovar. A popularização do culto mariano,

proclamado no Concílio, viria a se refletir em todo o mundo, inclusive no Brasil.

No ano de 1964 os militares assumem o governo brasileiro após um

golpe de Estado. Neste mesmo ano é idealizada a peregrinação da imagem de

Nossa Senhora Aparecida em todo o território nacional. De acordo com Oliveira

(2001), a irradiação da devoção de Nossa Senhora serviria para legitimar o

novo regime político em curso, servindo novamente como forma de aperfeiçoar

a parceria entre Igreja e Estado para que a abrangência do mito da padroeira

5 A orientação chamada versus populum quer dizer “virada para o povo”, e é aquela em que o

sacerdote celebrante encara a assembleia de fiéis, ficando de frente para eles. Ela se opõe a

orientação versus Deum, onde o celebrante fica voltado para o altar.

46

fosse nacional. Tais peregrinações ocorreram em dois momentos: a primeira foi

entre maio de 1965 e dezembro de 1966, enquanto a segunda ocorreu entre

fevereiro e outubro de 1968, percorrendo 45.500 km e visitando 1.300

localidades (BRUSTOLONI, 1979, p.191).

As peregrinações da imagem, que ocorreram no final da década de

1960, e que eram claramente inspiradas na peregrinação realizada pela

imagem de Nossa Senhora de Fátima por todo o mundo, foram uma tentativa

conjunta da Igreja com o Estado de se criar um símbolo de devoção

genuinamente nacional, além de promover a cidade-mãe. Todavia, apesar da

influência político-ideológica na realização da peregrinação, os locais que

receberam a imagem foram sendo escolhidos de acordo com a devoção

demonstrada por cada região que queria acolher Nossa Senhora Aparecida.

Oliveira é enfático ao afirmar que a “peregrinação da imagem atendia uma

vontade devocional da população brasileira. As circunstâncias políticas em

torno de tais eventos não deveriam ser tomadas como decisivas para a

realização das peregrinações” (OLIVEIRA, 2001, p.90). Tendo como base sua

afirmação, podemos concluir que o apelo popular conseguiu, mesmo que não

completamente, sobrepor-se a qualquer tipo de ideologia ou propaganda do

regime político da época.

Em 1967, o santuário de Aparecida comemorou os 250 anos de jubileu

da pesca milagrosa. Em celebração a tal data, a basílica recebeu do papa

Paulo VI a Rosa de Ouro, um símbolo oficial de reconhecimento da

representatividade daquele espaço para a fé católica (OLIVEIRA, 2001). A

partir deste ano a cidade de Aparecida passou a receber reconhecimento

internacional como um local de interseção nacional de devotos marianos.

5.1.3 De 1967 a 1986: da devoção nacional à benção papal

A partir de 1967 as obras para a construção da basílica entraram em um

novo e acelerado ritmo. Oliveira (2001) destaca mais uma vez a influência do

Estado através de obras faraônicas, que durante os anos 1960 e 1970

tentavam mostrar o crescimento e a prosperidade nacional, mesmo sendo uma

imagem apenas fictícia. Dentro deste contexto, o governo aproveitou-se

47

também de grandes obras já em construção, como a igreja de Aparecida, por

exemplo, para mostrar o poderio econômico do regime militar. Grandes

financiamentos e empréstimos a juros baixíssimos auxiliaram o crescimento no

ritmo da construção da nova igreja em homenagem a Nossa Senhora

Aparecida. Outra marca da parceria entre Estado e Igreja foi a construção e o

asfaltamento da Praça do Santuário, no início da década de 1980.

No ano de 1980, durante a visita do papa João Paulo II ao país, a igreja

é finalmente inaugurada, mesmo estando ainda inacabada. A nova basílica

possui capacidade para receber entre 45 mil e 70 mil pessoas durante as

missas e celebrações em seu interior (BRUSTOLONI, 2008, p. 49). Em 1982 a

imagem original de Nossa Senhora Aparecida finalmente sai da basílica velha,

fixando-se no novo templo. No mesmo ano a antiga Basílica é tombada pelo

CONDEPHAAT. Ainda durante esta década a nova igreja em devoção a Nossa

Senhora é reconhecida pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB)

como Santuário Nacional, no ano de 1986.

5.1.4 De 1986 aos dias atuais: da romaria ao turismo religioso

Desde 1988, quando as obras estruturais finalmente terminam, até a

metade da década de 1990, a igreja deixa de receber reformas e melhorias.

Elas só seriam retomadas em 1996, quando o santuário volta a ser

administrado pelos padres redentoristas (BRUSTOLONI, 2008). Desde então,

tanto a igreja quanto o entorno da basílica recebem anualmente reformas

estruturais e obras de infraestrutura, visando torná-lo um lugar apropriado tanto

para romeiros quanto para excursionistas.

A partir da década de 1980 as peregrinações à Aparecida começaram a

enfrentar um processo de massificação, através de um número elevado de

caravanas provenientes das mais diversas regiões do Brasil. Ir até o templo de

Nossa Senhora deixou de ser apenas uma experiência de fé, e passou a

ganhar contornos de excursão, onde diversos tipos de público passaram a

consumir aquele produto. O comércio popular em torno da basílica cresceu

substancialmente durante esta e a década seguinte. Aparecida, em dado

momento, deixou de ser apenas um lugar de peregrinação e orações, e passou

48

a ser um local de lazer e compras. Com a metamorfose do público freqüentador

de seu espaço, a Igreja começou a perceber a necessidade de se criar novos

espaços de alimentação, circulação, comércio e entretenimento. Para atender

tal demanda, é criado em 1998 o Centro de Apoio ao Romeiro, popularmente

conhecido como Shopping da Fé (OLIVEIRA, 2001). Apesar de ter enfrentado

resistência dentro da cúpula da Igreja Católica, o projeto, em parceria com os

órgãos públicos, foi adiante e pode ser considerado um sucesso nos dias

atuais, pois conseguiu de certa forma angariar novos fiéis e entretê-los na

cidade por mais tempo.

Durante os últimos anos a administração da basílica tem buscado se

inovar, através da criação de eventos sazonais para garantir um número

satisfatório de visitantes ao santuário durante todo o ano. No ano de 2007, por

exemplo, a cidade sediou a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-

Americano e Caribenho, com a presença do então Papa Bento XVI. Eventos

como este, além de shows, missas campais, procissões, palestras e a criação

de novos produtos, como um novo teleférico, em 2014, têm sido a grande

aposta para transformar o santuário de Nossa Senhora Aparecida um

importante destino turístico brasileiro.

A cidade atualmente faz parte do grupo de 29 municípios que, por

cumprirem os pré-requisitos determinados por lei estadual, são considerados

“Estâncias Turísticas do Estado de São Paulo” (Secretaria de Turismo do

Estado de São Paulo, 2013). Pelo fato de pertencer a esse grupo, a cidade

recebe anualmente verbas do DADE (Departamento de Apoio ao

Desenvolvimento das Estâncias) para serem gastas com obras de

infraestrutura e sinalização turística, e dessa maneira melhorar o entorno e as

vias de acesso da basílica, que são responsabilidades do governo municipal. O

governo municipal também é responsável por divulgar a imagem da cidade no

Brasil, assim como gerir os outros atrativos turísticos da cidade, que por sinal

são todos ligados a Nossa Senhora Aparecida.

No próximo capítulo será apresentada a pesquisa sobre os impactos do

turismo para a população residente em Aparecida.

49

6 ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS PELO TURISMO EM APARECIDA

Desde os primeiros relatos de milagres atribuídos à imagem da santa,

ainda no século XVIII, até os dias atuais, tanto o Brasil quanto a região de

Aparecida sofreram significativas mudanças. Com o decorrer dos anos e com o

aumento do relato dos milagres atribuídos à imagem, além da forte divulgação

devocional criada tanto pela Igreja Católica quanto pela esfera pública, o local

passou a receber anualmente um número cada vez maior de fieis. Todos estes

fatos foram relatados e analisados em capítulos anteriores. Neste capitulo

abordaremos sobre a percepção da população local acerca dessa turistificação

impulsionada pelo santuário

6.1 IMPACTOS DO TURISMO EM APARECIDA

Em Aparecida, como em muitas grandes cidades turísticas, a população

local tem que conviver com turistas, que podem ao mesmo tempo ser algo

benéfico a sua economia, cultura e natureza, mas também pode ser maléfico.

No caso de Aparecida, a questão é impar. A cidade nasce de um centro

religioso, mesmo que o grande fluxo turístico seja apenas do último quarto do

século passado. Durante toda a sua existência, sempre houve pessoas

visitando a cidade.

Esta parte da pesquisa foi realizada baseada em pesquisa bibliográfica e

documental, principalmente em documentos oficiais produzidos por institutos

como o IBGE, SEADE e IPEA.

6.1.1 Impactos Econômicos

Em 2010, 69,82% da população maior de 18 anos de Aparecida era

economicamente ativa e a taxa de desocupação de 4,79%. Em 2012, os

salários juntamente com outras remunerações somavam R$ 165.586.00, sendo

o salário médio mensal de todo município composto de 2,1 salários mínimos e

a renda per capta de R$ 639,68. Comparando com a renda da região e do

50

estado, pode-se observar que ela é maior que a da região R$ 662,63, mas

menor que a do Estado R$ 853,75 (SEADE, 2010).

Segundo o IBGE (2012) 51,35% das residências sobreviviam com

menos de salário mínimo mensal por morador (5.311 domicílios), 38,10%

sobreviviam com entre um e três salários mínimos para cada pessoa (3.941

domicílios), 5,81% recebiam entre três e cinco salários (601 domicílios), 2,74%

tinham rendimento mensal acima de cinco salários mínimos (283 domicílios) e

1,95% não tinham rendimento (202 domicílios). Sendo que no município este

dado significava 20,15%, na região 24,48% e no estado 18,86%.

O PIB de Aparecida, segundo o IBGE (2011) é de R$ 484.744.00. Desse

total, R$ 36.876.000 são de impostos sobre produtos líquidos de subsídios a

preços correntes. O PIB per capita do município é de R$ 13.843,89.

O comércio e o setor hoteleiro, associados ao turismo religioso gerido ao

redor da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, representam as principais

fontes de renda da cidade. Somam-se ainda a pecuária e a agricultura, que em

2011 acrescentavam 670 mil reais na economia, com apenas 0,86% da

população economicamente ativa ocupada no setor (IBGE, 2012). Outro setor é

a indústria, sendo este o segundo mais relevante para a economia do

município, representando R$ 65.641.000 do PIB municipal.

A cidade possui cerca de 50 estabelecimentos industriais, muitos dos

quais voltados a atender o comércio religioso e, em geral, estruturados em

torno do turismo. Em 2010, 0,62% dos trabalhadores do município estavam

ocupados no setor industrial extrativo e 6,90% na indústria de transformação

(IBGE, 2010).

Pode-se concluir que mesmo com bom índice de emprego, o salário dos

moradores é mais baixo que o do estado e da região, caracterizando por

empregos nas atividades de serviços e da indústria voltadas ao turismo.

Na região sudeste do Brasil, 2,7% da população estava empregada no

Turismo, respondendo esta região por 51% dos empregos na área, com o

estado de São Paulo correspondendo a 31,9% dos empregos no setor turístico.

Em Aparecida esta população é a maioria, sendo principalmente no setor de

serviços e na indústria voltado a atender o setor religioso (IPEA, 2014). No

perfil médio do trabalhador de turismo no Brasil, a média é superior a

51

encontrada em Aparecida, onde o trabalhador da área recebe até dois salários

mínimos, sendo este um montante baixo comparando com outros setores da

economia. Se o turismo já remunera mal, o turismo em Aparecida remunera

pior e o agravante é ser o principal empregador do município.

Assim, pode-se aferir que na geração de emprego e renda para a

população, o turismo como impacto é positivo quanto à empregabilidade, mas

não quanto à remuneração destes empregos, que é baixo em relação a média

do Estado. Também se considera alto o peso que o turismo religioso tem

economia do município e, por conseguinte, a sua dependência, não

aparecendo muitas oportunidades de renda e geração de empregos em outros

setores.

6.1.2 Impactos sociais

O tipo de economia e o fato do turismo religioso estar atrelado à história

do desenvolvimento do município, além de outros fatores contemporâneos que

levaram a diminuição das áreas rurais e ao aumento da urbanização, atingiram

o município de Aparecida. O grau de urbanização deste município é superior ao

do estado de São Paulo e maior que o da região. Em 2014, 98,55% do território

municipal é urbanizado. Para efeito de comparação, a região possui um índice

de 91,36%, enquanto o estado possui 96,21% do seu território urbanizado.

Com uma população de 36.184 habitantes (IBGE, 2014), o município

apresenta um índice de envelhecimento elevado, com 74% de sua população,

sendo superior aos 69,53% da região e os 64,32% do estado, considerando

como agravante que o estado de São Paulo tem um dos índices mais elevados

do Brasil. Sua população com mais de 60 anos compreende a 13,76% do total,

frente à média regional de 13,79% e do estado em 12,85%. Já sua população

com menos de 15 anos (19,53%) tem porcentagem similar a da região

(19,83%) e do estado (19,99%). Pode-se perceber que a maior parte da sua

população é adulta.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é considerado regular:

0,755, sendo menor que o do estado (0,833) e maior que o do Brasil (0,699).

Este índice inclui o grau de escolaridade, renda e nível de saúde.

52

A taxa de analfabetismo (3,43%) é menor que a da região (4,06%) e do

estado (4,33%). Outro indicador educacional positivo é a população de 18 a 24

anos com Ensino Médio completo, que corresponde a 55,93% dessa faixa

etária. Embora possua média menor que a regional (57,92%) e a estadual

(58,68%), ela se encontra bastante superior à taxa nacional (33%).

No entanto, há um problema relacionado à educação infantil. Os

moradores da cidade trabalham mais aos finais de semana, pois é o período de

maior presença de turistas e não tem com quem deixar seus filhos, pois as

creches fecham nestes dias. Esta condição especial é resultado da dinâmica

da atividade turística, levando a população reivindicar junto ao poder público

uma solução para este problema. Esta solicitação foi atendida e as creches, em

2015, deverão funcionar aos finais de semana. Além das creches, áreas de

lazer e ocupações deverão estar disponíveis para as crianças. (CÂMARA

MUNICIPAL DE APARECIDA, 2014).

Outros indicadores positivos no município são a coleta de lixo, que

atende 99,01% dos moradores, o abastecimento de água, com 99,33% de

eficácia, o esgoto sanitário, com 97,01% das residências atendidas e a energia

elétrica, presente em 99,70% dos domicílios. Também há no município serviços

como o de limpeza urbana, de telefonia fixa e móvel. O problema maior quanto

à limpeza urbana no município está relacionado aos visitantes. O grande fluxo

de pessoas acaba deixando muitos resíduos pelas ruas da cidade (Figura 5).

Este problema tem dois tipos de solução: a educação dos visitantes e a criação

de mecanismos que podem ser utilizados pelo poder público e religioso para

evitar estas situações.

Figura 5: Lixo espalhado no estacionamento no dia 12 out. 2014

Fonte: Cornetti, 2014

53

Ademais, os aspectos negativos estão relacionados à segurança

pública. Em 2012, foram registrados 37,1 homicídios para cada 100 mil

habitantes, sendo o oitavo índice do estado de São Paulo e o 551º do Brasil. O

índice de acidentes de trânsito neste mesmo ano foi de 25,7 ocorrências para

cada 100 mil residentes, ocupando a 67ª colocação a nível estadual e a 666ª a

nível nacional. Em relação à ocorrência de suicídios, a taxa foi de 2,9

ocorrências a cada 100 mil habitantes, sendo a 181ª maior taxa a nível

estadual e a 1117ª a nível nacional. (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2014).

Não foi possível associar nenhuma informação entre o problema da

segurança com moradores e o turismo, pois não foi encontrado nenhum

trabalho científico publicado a respeito do assunto. Por isso, utilizou-se de

informações obtidas em jornais, televisão e blogs para tentar mapear alguma

relação com o tema. Em algumas reportagens pode-se observar que há

problemas relacionados à segurança.

Em Aparecida existe uma feira que acontece nos finais de semana,

denominada Feira Monumental, que possuiu uma maior frequência de

visitantes aos domingos. A presença de muitas pessoas na feira e um pequeno

efetivo policial tem favorecido a ocorrência de furtos e assaltos. O maior

problema registrado foi um tiroteio que atingiu um romeiro. Segundo

reportagem do G1 (2014), após esse episódio a Polícia Militar do estado de

São Paulo passou a fazer reforço na segurança local, mas somente aos

domingos.

Figura 6: Feira Monumental

Fonte: Driano, 2009

54

Outro problema relacionado à segurança foi apontado pelo Corpo de

Bombeiros, no ano de 2013, em entrevista para o Jornal Regional de

Aparecida. Membros da corporação também apontaram problemas na feira

livre. Entretanto, a preocupação deles era sobre a vulnerabilidade no local, pois

não há, segundo eles, um plano de segurança voltado à prevenção de

incêndios na feira (Figura 6). A responsabilidade pela elaboração deste plano é

da Prefeitura, e caso um incêndio ocorra poderá ser uma tragédia pelo número

de frequentadores e de vendedores que o local possui.

Também foram encontrados dados sobre a segurança na Basílica. Nela

foram instaladas cem câmeras de segurança e uma sala de monitoramento

eletrônico, para auxiliar a segurança dos milhares de fieis que a visitam. O

Santuário conta também com 150 agentes de segurança. A implantação de

câmeras deverá continuar com a ampliação da abrangência da segurança

eletrônica no estacionamento, na área de eventos e no centro de apoio,

chegando ao número total de 400 câmeras.

Uma pesquisa do IPEA (2011) apontou os gastos municipais com

segurança pública e defesa nacional. O município de Aparecida gastou R$

1.705.672,95 em 2011, sendo R$ 48,71 por habitante e a média nacional deste

ano foi de R$ 14,67 por habitante. Em relação ao PIB municipal foram gastos

0,3519%. Em comparação com a média nacional (0,0681%), este se

apresentou muito superior.

Apesar destes investimentos, o grande número de visitantes exige uma

segurança que atenda tanto a população local como a população flutuante. No

ano de 2013, foi encontrada uma bomba no santuário, antes da chegada Papa

durante a JMJ. Esse fato nos mostra que mesmo com todo aparato já

disponível no local ainda é preciso mais investimentos e atenção no setor.

Outro aspecto relacionado à segurança são as construções de hotéis,

bares e lojas que são feitas sem documentação e fiscalização. Segundo a

Prefeitura, não há agentes em número suficiente para vistoriar as obras

(CÂMARA MUNICIPAL DE APARECIDA, 2014).

Segundo reportagem da TV Vanguarda (2014), há no município cerca de

200 pousadas ilegais. São 170 hotéis legalizados, além de 180 a 200

residências, com 1.300 a 1.400 leitos ilegais, de acordo com o Presidente do

55

Sindicato de Hotéis. Estes estabelecimentos não têm condições mínimas de

funcionar, inclusive com perigo de incêndio. Entre estes imóveis há um

pertencente a um dos vereadores do município. A prefeitura prometeu um

projeto para a fiscalização e normalização destas propriedades para breve.

Embora o problema não atinja diretamente os moradores, a falta de

legalização, fiscalização e orientação, pode fazer com que não somente o

turista esteja vulnerável a problemas ocasionados pela ausência de legalidade,

como também impostos deixem de ser cobrados e empregos não sejam

formalizados. Estas consequências podem afetar os moradores. E pior: se por

acaso alguma tragédia ocorrer em um destes imóveis, o turismo todo pode ser

afetado com a propaganda negativa e, consequentemente, afetará a vida de

um município que tem no turismo a sua principal fonte econômica.

6.1.3 Impactos culturais

Os impactos culturais gerados pelo turismo religioso são manifestados

através de uma gama enorme de aspectos, desde as artes e o artesanato até o

comportamento individual e de grupos coletivos. Os impactos positivos podem

ser possíveis, quando o turismo consegue preservar ou até mesmo ressuscitar

as habilidades artesanais de uma população, aumentando assim o intercâmbio

cultural entre duas populações diferentes. Em Aparecida, assim como outras

cidades turísticas, essa questão também ocorre.

Cidades que costumam receber um grande número de visitantes tendem

a sofrer impactos culturais negativos, sobretudo por causa da perda de

identidade cultural local. As trocas simbólicas de informações, hábitos e

costumes alteram o cotidiano de um local turístico, e quando não são feitos

esforços por parte das autoridades e administradores locais para preservarem

a sua própria identidade, eles costumam perderem-se com o tempo. É claro

que a troca de culturas também beneficia o desenvolvimento local, mas alterar

completamente o dia a dia de um lugar em detrimento de uma atividade como o

turismo caracteriza um clássico exemplo de canibalismo cultural.

Aparentemente preocupada com a manutenção e a valorização da

cultura regional, a Prefeitura de Aparecida realizou, no dia 7 de Agosto de

56

2014, a I Conferência Intermunicipal de Cultura de Aparecida, Piquete, Potim e

Roseira. O evento teve como objetivo principal discutir os parâmetros e metas

para o desenvolvimento na cultura nesses municípios (PREFEITURA DE

APARECIDA, 2014). A conferência teve como objetivos específicos: analisar os

impactos da Emenda Constitucional do Sistema Nacional de Cultura (SNC) na

organização da gestão cultural e na participação social nos três níveis de

governo; analisar o fortalecimento da produção artística e de bens simbólicos e

da proteção e promoção da diversidade das expressões culturais, com atenção

para a diversidade étnica e racial; garantir o pleno exercício dos direitos

culturais e consolidação da cidadania, com atenção para a diversidade étnica e

racial; utilizar-se da economia criativa como uma estratégia de

desenvolvimento sustentável.

Apesar de ser uma iniciativa louvável por parte dos municípios da região,

a criação de uma conferência para desenvolver e fomentar a cultura local ainda

é muito pouco para uma região que recebe turistas há pelo menos um século.

Outra forma de garantir uma maior participação cultural no cotidiano do

município seria através da criação de leis e decretos protecionistas, protegendo

assim o desenvolvimento artístico local em detrimento de fábricas e

corporações de fora, que visam substituir o trabalho artesanal por produtos

industrializados.

A região também é palco de festas tradicionais, que visam manter as

tradições e costumes de seu povo preservados. De acordo com a prefeitura, o

município recebe eventos tradicionais, como a Cavalaria de São Benedito, em

abril, e a Festa do Carreteiro, em julho.

Analisando os impactos culturais gerados atualmente em Aparecida,

podemos afirmar que eles têm sido mais negativos do que positivos. Em locais

onde outrora havia lojas de artigos religiosos e artesanais, atualmente há um

grande número de produtos industriais e de procedência duvidosa. O comércio

e os serviços locais têm sido gradualmente usurpados pelo gigantismo e a

comodidade apresentada no Centro de Apoio ao Romeiro, com produtos de

caráter cada vez menos religiosos e/ ou culturais. Apesar de a esfera pública

ter começado a agir em relação a esse ponto, as ferramentas têm sido pouco

eficazes até o presente momento.

57

6.1.4 Percepção dos moradores sobre os efeitos do turismo no município

Para saber o que os moradores pensam sobre os efeitos do turismo

realizou-se uma pesquisa de campo, tipo survey, com 100 moradores nos dias

20 e 21 de outubro de 2014, e no dia quatro de novembro de 2014, pelo autor,

pela discente do curso de Turismo na Universidade Federal Fluminense (UFF),

Ana Beatriz Machado, e pelo discente do curso de Geografia da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Gabriel Mello Mendes. A aplicação dos

questionários foi elaborada de forma individual por cada entrevistador, e

ocorreu nos bairros Ponte Alta, Santa Terezinha, Bonfim, Aroeira, São Roque e

Itaguaçú, todos dentro dos limites do município de Aparecida.

A pesquisa verificou quais as características e modificações ocorridas

quanto à: interação turistas/moradores, geração de emprego e renda, principais

vias de acesso, inserção da comunidade nas políticas públicas do município e

dependência econômica do turismo, sob a ótica da comunidade residente no

local. Depois da coleta de dados sobre o município, foi possível observar as

características do turismo em Aparecida e, após a aplicação dos questionários,

estes itens foram avaliados.

A tabulação dos dados coletados na pesquisa foi realizada por meio do

programa de informática Microsoft Excel, também utilizado para a elaboração

dos gráficos que analisam alguns dos itens do questionário e que ilustram este

capítulo.

Primeiro construiu-se o perfil biossocial dos entrevistados (sexo, idade

grau de escolaridade e renda). Esta análise inicial serviu para identificar o

universo amostral selecionado, e compará-lo com o Censo 2010, realizada pelo

IBGE. Na sequência a pesquisa indagou sobre os impactos gerados pelo

turismo religioso no município, assim como suas consequências.

Dentre os moradores entrevistados, foram 52 mulheres (52%) e 48

homens (48%). A amostra encontra-se de acordo com o último recenseamento

(IBGE, 2010), onde a população de Aparecida apresentava um equilíbrio de

gênero, onde 51,8% (18.109 hab.) da população eram formadas por mulheres

e 48,2% (16.898 hab.) dos habitantes era composta de homens.

58

Em relação à faixa etária dos moradores consultados, foram

entrevistadas 34 pessoas na faixa etária entre 18 e 25 anos, 23 pessoas de 26

a 34 anos, 26 pessoas de 35 a 50 anos, 13 pessoas de 51 a 65 anos e 4

pessoas com mais de 65 anos (Figura 7). Todas as faixas etárias estão

presentes na amostra, com uma maior incidência nas faixas etária entre os 18

e 25 anos (34%) e 35 a 50 anos (26%). Ambas as incidências seguem padrão

semelhante à apresentada pelo IBGE em 2010.

34%

23%

26%

13%4%

18 a 25 anos

26 a 34 anos

35 a 50 anos

51 a 65 anos

mais de 65 anos

Figura 7: Faixa etária dos entrevistados

Fonte: Do Autor, 2014

Em relação ao grau de escolaridade dos moradores consultados, 53%

possuem ou estão cursando o Ensino Médio. Tal percentual equipara-se aos

55,93% (18 a 24 anos) apresentados pelo IBGE (2010). Este grau de

escolaridade mostrou-se mais presente na pesquisa entre os moradores mais

jovens,entre os mais velhos predominou a presença apenas do Ensino

Fundamental (26% da amostra). Surpreendentemente o número de

entrevistados com Ensino Superior e/ou pós-graduação também foi alto, com

21% dos moradores tendo cursado ou que ainda estejam cursando uma

instituição superior de ensino.

59

De acordo com a pesquisa, a renda média do morador de Aparecida

oscila entre 1 e 5 salários mínimos. Entre os moradores entrevistados 53%

declararam receber entre 1 e 2 salários mínimos, 35% declararam receber em

média entre 2 e 5 salários mínimos por mês no município (Figura 8). Tais

dados mostram uma ligeira melhora frente aos números registrados em 2010

pelo IBGE, que constatou que quase 52% das residências em Aparecida

sobreviviam com menos de um salário mínimo. Entretanto, em 2010, cerca de

38% dos moradores declarou receber entre 1 a 3 salários. Esse percentual

aproxima-se do colhido na amostra, onde 35% dos entrevistados declarou

receber entre 2 e 5 salários mínimos.

4%

53%

35%

7%

1%

menos de 1 salário

1 a 2 salários

2 a 5 salários

5 a 10 salários

mais de 10 salários

Figura 8: Renda média do entrevistado

Fonte: Do Autor, 2014

O quinto item do formulário buscou descobrir a religião predominante

nos moradores locais. Pelo fato de possuir uma igreja de dimensões

gigantescas em seu território, com uma história intimamente ligada ao

desenvolvimento municipal, não foi surpresa descobrir que a religião Católica

predomina entre os moradores da cidade entrevistados (Figura 9).

60

Figura 9: Religião dos moradores entrevistados

Fonte: Do Autor, 2014

Das 100 pessoas entrevistadas, 79% declararam-se católicas, 13%

protestantes e 8% disseram possuir outra ou nenhuma denominação religiosa.

De acordo com dados do censo de 2010, realizado pelo IBGE, a população de

Aparecida está composta por: 29.876 católicos (85,34%), 4.114 evangélicos

(11,75%), 30 Testemunhas de Jeová (0,09%), 158 espíritas (0,45%), 636

pessoas sem religião (1,82%) e os 0,55% restantes estavam distribuídos entre

outros credos religiosos. Pode-se considerar que a amostra é bastante

representativa aos dados levantados pelo IBGE, em um universo maior que o

pesquisado. Isto prova que a presença da Igreja como principal atividade

econômica e cultural da cidade também influência na orientação religiosa de

seus moradores.

Segundo o IBGE, a matriz em que a cidade se desenvolveu é

eminentemente católica herdada da fé construída ao redor do encontro da

imagem de Nossa Senhora Conceição Aparecida e consolidada pela

construção do Santuário Nacional. Além disso, a região de Aparecida tem

outros atrativos relacionados à religião católica como em Guaratinguetá (Frei

Galvão) e Cachoeira Paulista (Canção Nova). Frei Galvão é o primeiro santo

brasileiro e a Canção Nova é um dos maiores movimentos de evangelização

61

católica do país. Desta maneira, este contexto favorece a fé católica na região

e em Aparecida.

Na questão 6 foi perguntado ao morador de Aparecida se o mesmo

considerava a cidade um local de atração turística. Esta pergunta estava

relacionada à ideia se a prática religiosa de peregrinação e romaria era

considerada por eles atividade turística.

Comprovou-se que sim, pois 95% dos 100 entrevistados consideram o

município como um lugar turístico. A presença constante dos peregrinos e

romeiros tem possibilitado que os moradores explorem atividades turísticas,

seja na prestação de serviços ou na indústria relacionada aos produtos

religiosos. Como foi observado na pesquisa dos impactos econômicos, o

turismo é o maior empregador e gerador de renda do município. Por essa

razão, os moradores consideram o município como um local turístico.

Aparecida participa, há tempos, de várias atividades relacionadas ao

turismo. Também foi um dos municípios que participaram de programas como

o da Municipalização e da Regionalização do Turismo, do Governo Federal e

Estadual (Circuito Religioso no Vale do Paraíba, Caminho da Fé, Estrada Real

e Roteiro da Fé), além do Programa de Desenvolvimento do Turismo Receptivo

(PDTR) do Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae).

O município conta com uma Secretaria de Turismo, um Conselho de

Turismo e participa do Circuito Turístico Religioso e do Consórcio do

Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba (CODIVAP). Estes dados

podem influenciar os moradores a sentirem sua cidade como uma cidade

turística. A cidade também tem regularização da atividade do profissional Guia

de Turismo, com o serviço sendo feito pelos guias associados à Associação

dos Guias do Circuito Turístico Religiosos (AGCTUR).

A cidade tem desenvolvido, por meio de parcerias, muitos programas de

capacitação para o turismo. O município também organiza a Semana Municipal

do Turismo, com o objetivo de aperfeiçoar o trabalho do trade, além de

procurar realizar a educação turística dos escolares, com a realização de um

city tour pelos pontos turísticos do município (PREFEITURA MUNICIPAL DE

APARECIDA, 2013).

62

Tanto estes programas quanto a política municipal e a condição de

estância trazem à comunidade discussões, divulgações, explicações e

envolvimento com a atividade turística. Estas situações podem favorecer a

percepção do morador de que ele vive em um município turístico.

No sétimo item foram apresentados cinco momentos históricos da

localidade, e o entrevistado deveria responder, em sua opinião, a partir de qual

dessas datas históricas Aparecida (tanto o vilarejo quanto o município, que se

formou em 1928) tornou-se um lugar de visitação turística. As cinco opções

eram: em 1717, com o encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida; em

1900, a partir das primeiras romarias organizadas; a partir da peregrinação da

imagem até o Rio de Janeiro, em 1931; no ano de 1980, após a inauguração

da basílica nova; em 1999, com a criação do Centro de Apoio ao Romeiro.

Apesar de ser uma pergunta bastante subjetiva, principalmente devido ao fato

do morador local não ter subsídios para diferenciar peregrinação de turismo

religioso, que os levou instintivamente a responder essa questão de acordo

com a sua própria percepção de turismo, 51% deles consideram que desde

1717, quando a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada no Rio

Paraíba do Sul, aquele local tornara-se um atrativo turístico.

Na questão 8 foi proposto ao entrevistado escolher entre cinco opções

qual delas melhor simbolizava o município. As cinco alternativas eram: A

imagem de Nossa Senhora Aparecida, o Rio Paraíba do Sul, a Prefeitura de

Aparecida, a Basílica de Nossa Senhora Aparecida e o Romeiro. A escolha

desses cinco símbolos para o formulário foi devido às diferentes vertentes que

cada um deles possui. Foi escolhido um símbolo religioso (imagem), um

símbolo histórico (Rio Paraíba do Sul), um institucional (Prefeitura), um

arquitetônico (Basílica) e outro antropológico (Romeiro). De acordo com os

formulários, em primeiro lugar, com 70 citações ficou a imagem de Nossa

Senhora Aparecida. Em segundo lugar, lembrada por 27% dos moradores ficou

a basílica em homenagem à santa. Seguidos dele ficaram o Rio Paraíba do Sul

(2%) e o romeiro (1%). A prefeitura de Aparecida, outra opção disponível, não

foi citada por nenhum dos entrevistados.

O nono item do questionário perguntou aos moradores de Aparecida se

eles consideravam fundamental a presença da basílica na cidade para a

63

atração de turistas. Mais uma vez tivemos uma resposta quase unânime, onde

94% dos entrevistados afirmaram que a presença do santuário mariano é de

fato fundamental para atrair visitantes ao município.

Na décima questão foi apresentado ao morador cinco itens ao

entrevistado, e ele deveria de acordo com uma escala de 1 a 5, onde 1 seria o

mais atrativo e o 5 seria o menos atrativo, escolher qual das opções mais

contribuía para atrair turistas até Aparecida (Figura 10).

Figura 10: Principais atrativos na opinião dos moradores

Fonte: Do autor, 2014.

A Imagem de Nossa Senhora Aparecida foi mais uma vez a melhor

avaliada, recebendo avaliação 1 de 71% das pessoas entrevistadas. Em

segundo lugar ficou o dia 12 de outubro, data reservada ao culto da padroeira,

com 17%, seguido pela Basílica Nova, com 10% das citações. Um dos grandes

influenciadores das escolhas de atrativos turísticos a serem visitados são os

sites que avaliam os equipamentos, serviços e atrativos turísticos, e entre eles,

um dos mais influentes é o Tripadvisor. Neste site, os atrativos de Aparecida

foram avaliados e em primeiro lugar está o Santuário de Aparecida, depois a

Matriz Basílica Nossa Senhora Aparecida, em terceiro o Museu Nossa Senhora

Aparecida, o quarto o Teleférico, o quinto o Morro do Presépio, o sexto o

Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, o sétimo o Porto Itaguaçu, e

64

em oitavo o Mirante das Pedras (TRIPADVISOR, 2014). Vale ressaltar que o

site não diferencia a Basílica e a Imagem como dois atrativos distintos, pois a

imagem de Nossa Senhora Aparecida fica localizada dentro do Santuário.

Nesta pesquisa, não foram citados pelos visitantes a festa do dia 12 de

Outubro, que é o atrativo que costuma atrair muitos turistas ao município.

Segundo pesquisa feita sobre o Circuito do Vale do Paraíba (BAGGIO,

2009) por meio de análise dos atrativos, a autora determinou que os que

deveriam estar presentes em um roteiro em Aparecida seriam: Santuário

Nacional de Nossa Senhora Aparecida (Morro do Presépio, Mirante, Museu de

Nossa Senhora Aparecida e Sala das Promessas, Salas das Velas, Capela do

Santíssimo e a imagem original de Nossa Senhora Aparecida) e o Centro de

Apoio ao Romeiro.

A partir do décimo primeiro item do questionário foram abordadas

perguntas mais específicas sobre a visão do morador sobre o impacto da

basílica e do turismo religioso no município, assim como de que maneira a

atividade contribui (ou não) para o cotidiano da população em Aparecida.

Na questão 11 foi perguntado ao entrevistado se ocorre influência do

turismo religioso nas atividades do dia-a-dia dos moradores (Figura 11).

Figura 11: A influência do turismo religioso no dia a dia, segundo os moradores

Fonte: Do autor, 2014

65

Observa-se que pelo tamanho espacial e populacional do município,

pelo tipo de atividades econômicas presentes e pela importância da Igreja

Católica no município, a resposta de 63% dos entrevistados que concordam

que a presença de visitantes influencia suas atividades no dia a dia é

justificável.

A questão 12 teve como objetivo identificar a percepção do morador

sobre a imagem que o visitante, seja ele turista ou peregrino, carrega consigo

após visitar a cidade pela primeira vez.

Em trabalho anterior de Pinto (2006) foi realizada uma entrevista com

peregrinos sobre seus sentimentos em relação à Aparecida, obtendo o

seguinte resultado: 37% (Fé), 28% (Paz), 10% (Amor ao próximo), 8% (Alegria)

8% (Esperança), 5% (Emoção), 2% (Vontade de voltar) e 2% (Nada).

Na pesquisa deste trabalho obteve-se o seguinte resultado:

Religiosidade foi apontada por 81%, seguido de 10% como Acolhedora,

8% como Bela e 1% como Pacifica.

Comparando a opinião obtida por Pinto (2006) sobre o que os romeiros

sentiam com a percepção dos moradores sobre o sentimento dos turistas,

observa-se que a principal opinião dos moradores Religiosidade está associada

também ao maior número de respostas dos romeiros. A segunda

“Acolhimento”, não está diretamente relacionada, mas poderia ser associada à

vontade de voltar. Em outra pergunta feita por Pinto (2006) sobre como os

comerciantes recebiam os romeiros, 75% disseram receber bem, mas 15%

disseram receber mal. Assim, pelo menos a hospitalidade comercial pode ser

associada ao espírito de seus moradores. A última colocação dos moradores

como “Pacífica”, mesmo sendo de pouca representatividade e considerando o

número de pessoas e os episódios recentes quanto a seguranças, seria

justificado. O “Paz” apresentado na pesquisa de Pinto (2006) associa-se a paz

de espirito e não a pacificidade da cidade.

A questão de número 13 perguntou aos moradores se eles achavam que

os turistas consumiam algum produto do comércio local de Aparecida. Entre os

100 entrevistados, 96% responderam que sim. Na pesquisa de Pinto (2006)

22% dos entrevistados, apontaram entre as atividades realizadas que fizeram

compras. Não dá para realizar com este dado uma analogia, já que muitas

66

vezes as compras realizadas não são registradas pelos depoentes neste tipo

de questão, por serem feitas associadas a alguma outra atividade.

A décima quarta pergunta questionou aos aparecidenses se eles

consideram que o turismo pode de alguma maneira, aumentar o número de

obras, melhorias e projetos dentro do município, com 87% dos moradores

concordando com a afirmação. Caso a resposta fosse afirmativa, o morador era

direcionado à pergunta 15, onde era questionado se as obras e melhorias

causadas em prol do turismo facilitaram de algum jeito, a vida dos moradores

locais. Dos 87 moradores que responderam que sim, todos eles (100%)

também responderam positivamente a essa pergunta.

O décimo sexto item proposto perguntou aos entrevistados se as obras e

os serviços que estão sendo feitos pelo poder público contribuem para

melhorar a qualidade de vida deles. Essa talvez tenha sido o ponto de maior

discórdia encontrado em nossa pesquisa até então. Nessa questão as opiniões

foram bastante mistas, com uma significativa parte das respostas

desfavoráveis à atual gestão municipal, pois segundo os moradores, o poder

público pouco contribui para melhorar a qualidade de vida do povo

aparecidense, sobretudo a prefeitura municipal. Nessa questão, dos 68

entrevistados que responderam que sim, a grande maioria fez ressalvas em

relação à atividade pública municipal nos últimos anos, atribuindo as melhorias

realizadas nos últimos anos dentro do município aos administradores do

Santuário. Sinal de alerta para os governantes da cidade, pois de acordo com a

nossa percepção os habitantes locais não andam muito satisfeitos com os

rumos tomados pela gestão pública do município na atualidade.

Para os itens 17 a 23 do questionário utilizou-se a escala Likert para

obter a percepção em relação a opiniões apresentadas e analisadas segundo

as reações dos moradores de Aparecida, utilizando-se de valores que variaram

entre 7 e 1, correspondentes a: “concordo totalmente” (7), “concordo” (6),

“concordo em parte” (5), “tanto faz” (4), “discordo em parte” (3), “discordo” (2) e

“discordo totalmente” (1). Também foi utilizado a classificação 8 para

determinar “não sei responder”.

As questões 17 e 18 trataram da percepção do aparecidense sobre a

sua relação com os peregrinos e turistas (impactos sociais). No item 17, a

67

maior parte dos entrevistados concorda (85%), mesmo que em parte, com a

afirmação que os turistas procuram se relacionar com os moradores quanto

visitam Aparecida. Na questão 18, onde a afirmação dizia que os turistas

interferem na rotina diária do município, as opiniões também foram positivas,

com a maior parte dos entrevistados concordando com tal afirmação (79%).

As questões de número 19 e 20 tratam sobre a participação do turismo

na economia de Aparecida (impactos econômicos). A afirmação 19 é sobre a

turistificação local, que trouxe mais oportunidades de emprego para os

moradores da região. A afirmação 20 aborda o turismo como sendo uma

atividade que pode oferecer novas oportunidades de aumento de renda para os

moradores locais. Em ambas as questões os entrevistados foram unânimes em

concordar com as sentenças, não havendo sequer uma menção negativa. Esse

fato não chega a ser uma surpresa, sobretudo pelos resultados obtidos na

pesquisa de gabinete, que mostram praticamente metade da população

economicamente ativa do município trabalhando com turismo (IPEA, 2014).

A vigésima primeira afirmação considerou que por causa da chegada

dos peregrinos e turistas os governantes passaram a investir mais na cidade

(impactos políticos). E mais uma vez ficou explícita a insatisfação de parte da

população local com os atuais gestores do município. 26% das pessoas

consultadas discordaram de tal afirmação, com 16% do total de entrevistados

classificando a afirmação como “discordo totalmente”.

De acordo com reportagens da TV Vanguarda (2012) e do Portal G1

(2013), a atual administração pública municipal cometeu fraudes em licitações

de obras públicas, que ocasionaram no afastamento temporário do atual

prefeito, Márcio Siqueira (PSDB), pelo Ministério Público em maio de 2013.

Segundo a denúncia, empresas fantasmas venciam as licitações de obras

públicas no município, que acabavam não ocorrendo. O processo foi arquivado

pela Câmara Municipal em novembro de 2013, por falta de provas. Entretanto,

apesar de inocentado, a atual prefeitura municipal parece não gozar de muito

prestígio junto à população local.

As questões 22 e 23 abordam a relação de Aparecida com outras

cidades da região (impactos culturais). A questão número 22 é sobre como o

turismo e os serviços oferecidos dentro do município são colaboradores para o

68

aumento do relacionamento com outras cidades. Essa questão obteve 74% de

aprovação. Já a questão 23 analisa que os serviços existentes em Aparecida

facilitam o transporte/ trabalho/ lazer para moradores de outros municípios. As

opiniões mais uma vez não foram unânimes, apesar de contar com um bom

percentual de concordância, sobretudo em relação a geração de empregos e o

aumento das opções de transportes para os moradores das cidades vizinhas à

Aparecida (72% de aprovação).

69

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o ano de 1717, quando a imagem de Nossa Senhora Aparecida

foi encontrada no Rio Paraíba do Sul, a região onde atualmente situa-se o

município de Aparecida tornou-se um lugar incomum, diferente. Atrativa tanto

para quem morava ali quanto para quem ouvia falar naquele acontecimento.

Com o passar dos séculos e a atribuição de supostos milagres à imagem

da santa, o número de pessoas a visitar a localidade começou a aumentar. No

início do século XX, com o crescente número de devotos a Virgem Maria

aparecendo no Brasil, à visitação a basílica de Nossa Senhora Aparecida

cresceu consideravelmente. De uma hora para outra a cidade de Aparecida,

que até então era palco de romarias e procissões também virou um importante

centro de turismo religioso no Brasil.

Através do estudo das principais referências bibliográficas a respeito do

turismo religioso e das romarias, concluímos que elas são atividades

intimamente interligadas. O turismo religioso é definitivamente uma atividade

que surgiu para atender a necessidade do peregrino.

No caso de Aparecida podemos concluir que o mito, descrito por Oliveira

(2001), realmente existe e molda toda a atividade turística que se desenvolveu

em torno dela. Sem a imagem de Nossa Senhora Aparecida não existiriam os

relatos milagrosos, tampouco a basílica e toda a estrutura existente em torno

dela. A emancipação política e o desenvolvimento urbano e populacional

provavelmente não ocorressem sem a influência da imagem. O mito, muito

mais do que qualquer estrutura física, é, foi e deverá ser o grande atrativo da

cidade.

A pesquisa bibliográfica mostrou que o desenvolvimento do turismo

religioso em Aparecida sofreu influências externas, sobretudo após as

primeiras romarias organizadas, em 1900, e a peregrinação nacional da

imagem, nos anos 1960. A forte presença, em diferentes momentos da história,

das autoridades públicas no fomento, incentivo e divulgação do município como

capital brasileira da fé não pode ser descartada. Este patrocínio governamental

foi fundamental para legitimar a cidade paulista como o principal centro

religioso do país.

70

Acerca da pesquisa de campo, podemos tirar diversas conclusões.

Entretanto, a maior e mais importante delas é observar que morador local se

identifica com a história de Nossa Senhora Aparecida. Ele não parece se

incomodar com o fato da sua cidade ser invadida por centenas de ônibus todos

os domingos. O cidadão aparecidense sabe que esse é o ganha-pão de sua

cidade, e que o turismo é a principal atividade do seu município. Ele entende a

dimensão que a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem em

todo o território nacional, e tenta de alguma maneira utilizar-se disso a seu

favor, seja no comércio, na alimentação, na indústria hoteleira ou na prestação

de serviços.

De acordo com os relatos de moradores, através da mensuração dos

questionários e também com auxilio do material bibliográfico pudemos concluir

que os moradores de Aparecida veem na atividade turística uma fonte de renda

e empregos, direta e indiretamente. Os impactos econômicos positivos, apesar

dos baixos salários na área, se sobrepõem aos impactos negativos, segundo a

população local.

Entretanto, apesar de reconhecer os impactos econômicos gerados pelo

turismo no município, o morador local entende que a atividade turística, apesar

de gerar muitos efeitos positivos, ainda não foi completamente compreendida

pelas autoridades locais, que não conseguem traduzir as cifras obtidas

anualmente em melhores condições de vida para a sua própria população,

sobretudo nas áreas de violência urbana e segurança, onde a cidade possui

níveis elevados. Por essa razão, podemos concluir que os impactos sociais

negativos são mais latentes que os positivos. Os impactos sociais seguem a

mesma tendência, onde a governo municipal ainda se mostra omisso frente a

influência externa, apesar dos esforços para o enraizamento dos costumes

locais, através de festas e feiras municipais.

Todavia, apesar de gerar muitas consequências diretas e indiretas para

a cidade e a região, o turismo religioso parece ficar restrito em muitas das

vezes somente ao lado interno dos muros da basílica. Com a criação, por parte

dos padres redentoristas, de um número cada vez maior de bens de consumo

e serviços dentro dos domínios da igreja, a necessidade do romeiro de sair da

área controlada pela Igreja Católica acaba sendo cada vez menor. A

71

administração do santuário tem afastado a necessidade da igreja coexistir com

a cidade. O santuário ganha a cada dia mais uma autonomia maior, e se

mostra cada vez mais independente do seu local de origem para se manifestar.

Apesar disso, grande parte da cidade vive em função do templo mariano, e a

sua influência na rotina diária da população é inegável. A interação cidade-

santuário nos próximos anos pode ser um tema pertinente para pesquisas

futuras no local, assim como o estudo de novas formas de se atenuar os

impactos gerados pelo turismo na região do Vale do Paraíba.

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REFERÊNCIAS

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WRTA, World Religious Travel Association. Disponível em: <http://worldreligioustravelassociation.blogspot.com.br/>. Acesso em: 10 mai. 2014.

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Apêndice A – Formulário da pesquisa

1. Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem.

2. Faixa etária: ( ) 14 a 17 anos ( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 34 anos ( ) 35 a 50 anos ( ) 51 a 65 anos ( ) após 65 anos

3. Escolaridade:

( ) Ensino Fundamental ( ) completo ( ) Ensino médio ( ) incompleto ( ) Nível superior ( ) Pós Graduado ( ) Sem escolaridade

4. Renda familiar mensal

( ) até R$ 724 (1 sal. min.) ( ) de R$ 725 a R$ 1.448 (1 a 2 sal. min.) ( ) de R$ 1.449 a R$ 3620 (de 2 a 5 sal. min.) ( ) de R$ 3621 a R$ 5.450 (de 5 a 10) ( ) Acima de R$ 7.240 (+10 sal. min.)

5. Religião

( ) Católica ( ) Protestante ( ) Espírita

( ) outra:_________________ 6. Em sua opinião, Aparecida é um local de atração de turistas?

( ) sim ( ) não ( ) não sei

7. Em qual momento você considera que o município tornou-se um lugar de visitação turística?

( ) Desde o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1717

( ) A partir das primeiras romarias organizadas, em 1900

( ) Depois da peregrinação nacional da imagem, em 1917

( ) Após a inauguração da basílica nova, em 1980 ( ) Com a criação do Shopping da Fé, em 1999

8. Na sua opinião, qual dessas opções melhor simboliza o município ( ) A imagem de Nossa Senhora Aparecida

( ) O Rio Paraíba do Sul ( ) A Prefeitura de Aparecida ( ) A Basílica de Nossa Senhora ( ) O romeiro

9. Para você, a presença da Basílica é fundamental na atração de turistas para a cidade?

( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez ( ) Não sei

10. Em sua opinião, o que você acha que mais atrai os turistas até Aparecida? ENUMERE de 1 a 5, considerando 1 o que mais atrai e 5 o fator que menos atrai.

( ) A imagem de Nossa Senhora Aparecida ( ) 12 de Outubro (dia da padroeira) ( ) Infraestrutura e serviços ( ) A basílica nova ( ) O Shopping da Fé

11. Você acha que a religiosidade presente no santuário influencia no dia-a-dia dos moradores locais?

( ) Sim, completamente ( ) Sim, parcialmente ( ) Não ( ) Não sei ( ) Talvez

12. De acordo com o seu ponto de vista, qual a principal imagem que o município de Aparecida passa para os visitantes? ENUMERE de 1 a 5, considerando 1 o que mais sensibiliza para o turista e 5 o fator que menos atrai o turista.

( ) Pacífica/Segura ( ) Acolhedora/Gentil ( ) Serena/ Tranquila ( ) Bela/ Prazerosa ( ) Religiosa/ Santificada

13. Para você os turistas consomem algum produto do comércio local existente em Aparecida?

( ) sim ( ) não ( ) talvez ( ) não sei 14. Você considera que o turismo possa aumentar o número de obras, melhorias e projetos dentro do município? Se NÃO, passe para a pergunta 15 ( ) sim ( ) não ( ) desconheço 15. Se SIM, essas melhorias de algum jeito facilitam a

vida dos moradores locais ? ( ) sim ( ) não ( ) desconheço

16. As obras e serviços que estão sendo feitas pelo

poder público contribuem para a melhor qualidade de vida dos moradores? ( ) Sim ( ) Não ( ) talvez ( ) não sei

Utilizando a escala de 1 a 7 avalie as afirmativas a seguir, considerando: 1-discordo totalmente; 2- discordo; 3- discordo em parte; 4- tanto faz; 5-concordo em parte; 6-concordo; 7-concordo totalmente; 8 – não sei responder.

1 2

17. Os turistas procuram se relacionar com os moradores quando visitam Aparecida.

1 2 3 4 5 6 7 8

18. Os turistas interferem na rotina diária do município.

1 2 3 4 5 6 7 8

19. A turistificação local trouxe mais oportunidades de emprego para os moradores da região.

1 2 3 4 5 6 7 8

20. O turismo é uma atividade que pode oferecer novas oportunidades de aumento de renda para os moradores.

1 2 3 4 5 6 7 8

21. Por causa da chegada dos peregrinos e turistas, os governantes passaram a investir mais na cidade.

1 2 3 4 5 6 7 8

22. O turismo e os serviços oferecidos dentro do município colaboram para o aumento do relacionamento com outras cidades da região.

1 2 3 4 5 6 7

7

8

8

23. Os serviços existentes em Aparecida facilitam o transporte/ trabalho/ lazer para outros municípios.

1 2 3 4 5 6

12

3