UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA...

44
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO DEPARTAMENTO DE AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE LIMOEIRO DO NORTE CE MOSSORÓ-RN 2013

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO

DEPARTAMENTO DE AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS

CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

THALES ROBSON DA SILVA MENDES

ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA

CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE LIMOEIRO DO NORTE – CE

MOSSORÓ-RN

2013

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

THALES ROBSON DA SILVA MENDES

ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA

CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE LIMOEIRO DO NORTE – CE

Monografia apresentada a Universidade

Federal Rural do Semiárido – UFERSA,

Campus Mossoró para a obtenção do título de

Bacharel em Ciência e Tecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Sc. Marcelo Tavares

Gurgel - UFERSA

MOSSORÓ - RN

2013

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade
Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e

catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA.

M538e Mendes, Thales Robson da Silva.

Estudo da exploração do material cerâmico para a

construção civil no município de Limoeiro do Norte – CE /

Thales Robson da Silva Mendes. – Mossoró, RN : 2013.

46f.

Orientador: Profº. Dr. Marcelo Tavares Gurgel.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal Rural

do Semi-Árido, Graduação em Ciência e Tecnologia, 2013.

1. Cerâmica vermelha. 2. Dificuldades enfrentadas.

3. Soluções. I. Título.

CDD: 691.4 Bibliotecária: Marilene Santos de Araújo

CRB-5/1033

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

Dedico este trabalho aos meus pais, Francisco

Pergentino e Maria Jordênia.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por me conceder o dom da vida e por me dar força para

nunca desistir dos meus sonhos.

A toda a minha família, em especial aos meus pais, Francisco Pergentino Mendes Guerreiro e

Maria Jordênia da Silva Mendes, que sempre me apoiaram nas minhas escolhas e me deram

todo o suporte necessário durante toda essa jornada.

A minha namorada, Paloma Oliveira, pelo amor, carinho, respeito, compreensão e por sempre

estar ao meu lado e ser minha inspiração para que possa alcançar meus objetivos.

Aos meus amigos e colegas de curso Filipe Falcão, Laerte Rodrigues, Antonio Júnior e Aliny

Holanda, por me acompanhar e dividir os muitos momentos árduos dessa batalha.

A Jackson Lima e Jorge Ícaro por serem meus “irmãos”, companheiros e amigos de longa

data.

Ao meu orientador Professor Dr. Marcelo Tavares, pela dedicação, confiança e ajuda na

elaboração do presente trabalho.

Aos integrantes da banca, pela contribuição no aprimoramento deste trabalho.

Aos proprietários das cerâmicas visitadas, que me deram todas as informações necessárias

para a realização deste trabalho.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

“Suba o primeiro degrau com fé. Não é

necessário que você veja toda a escada.

Apenas dê o primeiro passo.”

(Martin Luther King)

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

RESUMO

O mercado da construção civil brasileiro encontra-se em crescimento. Dessa forma, o

setor da cerâmica vermelha se torna essencial para a manutenção do mercado. O ramo

ceramista é de grande importância para a região Nordeste e, no município de Limoeiro do

Norte – CE, é uma das fontes geradoras de emprego da cidade. Nesse contexto, objetivou-se

com o presente estudo avaliar a exploração de materiais cerâmicos, bem como identificar as

principais dificuldades encontradas pelos ceramistas no processo de produção. Para a

condução da pesquisa utilizou-se de fontes bibliográficas e visitas às cerâmicas com aplicação

de questionário, além da obtenção de fotografias das mesmas. O presente estudo foi realizado

entre os meses de maio e julho, sendo aplicados questionários em cerca de 70% das empresas

ceramistas da cidade. Ao final, pode-se constatar que os produtos fabricados são de boa

aceitação no mercado consumidor. Os maiores problemas encontrados pelos ceramistas para

que possam exercer suas funções são os altos impostos e a falta de força e trabalho

qualificada. Há necessidade de maiores incentivos no setor e ajuda dos órgãos governamentais

com pesquisas relacionadas à qualidade da argila local.

Palavras – Chave: Cerâmica vermelha. Dificuldades enfrentadas. Soluções.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

ABSTRACT

The Brazilian construction market is quite heated. Thus, the red ceramic sector

becomes essential for the maintenance of heating the market. The branch potter is of great

importance for the Northeast region and the city of Limoeiro do Norte - CE, is one of the

sources of employment in the city. In this context, the aim of this study was to evaluate the

exploration of ceramics as well as identify the main difficulties encountered by potters in the

production process. For conducting the research used literature sources and visits to ceramics

using a questionnaire, and the withdrawal of the same photo. This study was conducted

between the months of May and July, with questionnaires in about 70% of companies potters

town. At the end of the study, it can be seen that the products manufactured are of good

acceptance in the consumer market. The major problems encountered by potters so that they

can perform their duties are high taxes and lack of skilled labor. There is need for greater

incentives for industry and helps government agencies with research related to quality local

clay.

Key - Words: Red pottery. Difficulties. Solutions.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Processo de Fabricação de Cerâmica Vermelha.......................................................25

Figura 2 - Jazida de argila...................................................................................................35

Figura 3 - Argila em repouso (sazonamento)......................................................................36

Figura 4 - Rejeitos utilizados para recuperação de estradas...............................................39

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Crescimento do número de cerâmicas ao longo dos anos......................................33

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Produtos fabricados por cada empresa................................................................32

Tabela 2 - Número de funcionários registrados de cada empresa.......................................33

Tabela 3 - Volume de argila utilizada e produção de cada empresa...................................36

Tabela 4 - Quantidade de lenha utilizada por cada empresa...............................................38

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC - Associação Brasileira de Cerâmica

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANICER - Associação Nacional da Indústria Cerâmica

APICER - Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica

ETENE - Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

MME - Ministério de Minas e Energia

NBR - Norma Brasileira Regulamentadora

PORMIN - Portal de Apoio ao Pequeno Produtor Mineral

SEMACE – Superintendência Estadual do Meio Ambiente

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................18

2.1 A INDÚSTRIA CERÂMICA...........................................................................................18

2.2 ARGILAS.........................................................................................................................20

2.3 TIJOLO CERÂMICO.......................................................................................................21

2.4 TELHA CERÂMICA.......................................................................................................22

2.5 PROCESSO PRODUTIVO..............................................................................................25

2.5.1 Extração e estocagem da matéria-prima...............................................................26

2.5.2 Processamento das argilas......................................................................................26

2.5.3 Conformação dos produtos cerâmicos..................................................................27

2.5.3.1 Britagem e Moagem............................................................................................27

2.5.3.2 Laminação...........................................................................................................27

2.5.3.3 Extrusão..............................................................................................................28

2.5.3.4 Prensagem...........................................................................................................28

2.5.3.5 Secagem e queima...............................................................................................28

2.6 VANTAGENS E APLICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL.......................................29

3 MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................................31

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................32

4.1 ATUAÇÃO DAS EMPRESAS........................................................................................32

4.2 QUADRO FUNCIONAL DAS EMPRESAS..................................................................33

4.3 IDENTIFICAÇÃO DAS JAZIDAS.................................................................................34

4.4 EXTRAÇÃO E ESTOCAGEM DA ARGILA.................................................................35

4.5 VOLUME DE ARGILA UTILIZADA............................................................................36

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

4.6 LENHA CONSUMIDA NAS CERÂMICAS..................................................................37

4.7 PERDAS NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO..............................................................38

5 CONCLUSÕES....................................................................................................................40

REFERÊNCIAS......................................................................................................................41

APÊNDICE A – Questionário aplicado mediante as visitas realizadas....................................44

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

16

1 INTRODUÇÃO

Há alguns anos é destaque na mídia o crescimento econômico que o Brasil está vivendo e

uma das áreas que mais se destacaram foi a da construção civil. Este campo tem ligação direta

com o ramo das cerâmicas vermelhas que consequentemente também vem crescendo.

Apesar de ser de grande importância para a economia brasileira, o setor cerâmico é

composto principalmente por empresas de pequeno porte, do tipo familiar, com forte presença

da economia informal. Devido ao fato de existirem poucas barreiras à entrada de novos

competidores no mercado, por causa do baixo custo do investimento inicial e da tecnologia

bastante acessível, há um grande número de empresas, formais ou não, disputando o

consumidor final (SILVA, 2009).

No Brasil verificam-se cerâmicas vermelhas em praticamente todo o território, entretanto,

as regiões que mais se desenvolveram na atividade cerâmica foram a Sudeste e a Sul,

certamente em razão da maior densidade demográfica, maior atividade industrial, maior

agropecuária, melhor infraestrutura, melhor distribuição de renda, associada ainda as

facilidades de matérias-primas, universidades e escolas técnicas. Convém salientar que nas

outras regiões do país também se verifica certo grau de desenvolvimento, em especial a

Região Nordeste, onde se tem aumentado consideravelmente a demanda de materiais

cerâmicos, principalmente nos segmentos ligados a construção civil e, segundo (ABC, 2011),

isso tem levado a implantação de novas fábricas cerâmicas nessa região.

O Estado do Ceará é o maior produtor de materiais cerâmicos da Região Nordeste tendo

como polo principal a região do Vale do Jaguaribe, em especial o município de Russas que,

segundo (ANICER, 2012), é responsável por cerca de um quarto da produção total de telhas e

tijolos do Estado, ou seja, 25%.

De acordo com (PINHEIRO, 2012), a cidade de Limoeiro do Norte, no Ceará, tem

vivenciado nos últimos anos um aquecimento no ramo da construção civil, principalmente na

construção de casas populares. Dessa forma a demanda por materiais cerâmicos (telhas,

tijolos, etc.) aumentou exponencialmente. Ainda de acordo com a mesma fonte, isso se deve

principalmente aos investimentos que o agronegócio de Limoeiro do Norte vem recebendo

nos últimos anos, visto que isso atrai trabalhadores temporários ou permanentes para a cidade,

levando a uma demanda habitacional. Isto, por sua vez, motiva ainda mais os empresários da

região a investirem no mercado imobiliário local. Até mesmo detentores de pequeno capital

passam a investir em construção de imóveis para aluguel

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

17

Devido ao baixo número de publicações sobre o tema em questão faz-se necessário, para

contribuir para o aumento do número de publicações nacionais acerca do assunto, elaborar um

trabalho que enfoque de forma mais aprofundada como se dá o processo de produção, desde a

extração da argila até o produto final das cerâmicas vermelhas da cidade de Limoeiro do

Norte – CE.

Nesse contexto, o objetivo deste estudo é avaliar a exploração de materiais cerâmicos

existentes no município de Limoeiro do Norte – CE, levando em consideração a sua utilização

na construção civil, como também identificar as principais dificuldades encontradas pelos

ceramistas no processo de produção.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A INDÚSTRIA CERÂMICA

A cerâmica é o material artificial mais antigo produzido pelo homem. Do grego

“kéramos” (argila queimada), é um material de grande resistência e que devido a essa

característica é frequentemente encontrado em escavações arqueológicas (COLÉGIO

LOYOLA, 2013).

Quando o homem se tornou um agricultor, sentiu a necessidade de algum recipiente que

tivesse a capacidade de armazenar água, alimentos colhidos e sementes para a próxima safra.

Tais recipientes deveriam ser resistentes, impermeáveis e de fácil fabricação. Essas

características foram encontradas na argila (COLÉGIO LOYOLA, 2013).

Segundo estudiosos a indústria cerâmica é a mais antiga entre todos os outros seguimentos

industriais. Ela nasceu no momento em que o homem começou a utilizar-se do barro

endurecido pelo fogo para confeccionar utensílios. Desse processo de endurecimento, obtido

casualmente, multiplicou-se e evoluiu até os dias de hoje. Mais recentemente, com a

Revolução Industrial, a cerâmica passou a ser produzida e comercializada em maior escala

(SINDICER, 2010).

Há indícios que a indústria de cerâmica vermelha tenha tido início no Brasil com a

chegada de Tomé de Sousa ao país no ano de 1549, onde foi estimulada a produção de

materiais de construção para o desenvolvimento das cidades. Por volta do ano de 1575,

constatou-se o uso de telhas na formação da vila que viria a ser a cidade de São Paulo/SP. E

foi a partir desse estímulo que se teve início a atividade cerâmica de forma mais intensa,

sendo as olarias o marco inicial da indústria ceramista no Brasil com a produção baseada em

processos manuais e em pequenos estabelecimentos (SEBRAE, 2010).

No Brasil, o segmento industrial de cerâmica vermelha, que tinha um perfil

essencialmente artesanal até o final da década de 1960, experimentou um acelerado processo

de industrialização, com uma grande expansão da produção nos anos subsequentes e, segundo

a Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2010), isso se deu devido à implantação dos

grandes programas habitacionais. Entretanto, a grande maioria das empresas é de gestão

simples e familiar tradicional, nas quais a agregação de equipamentos modernos e de novos

processos produtivos, mais sustentáveis, ocorre de forma lenta no tempo. A força de trabalho

ainda é, em sua maioria, semianalfabeta.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

19

Os problemas continuam no mercado consumidor, que não é muito exigente com os

produtos e suas especificações. Esse fato acaba ocasionando a despreocupação de alguns

fabricantes em adaptar suas empresas para demandas maiores, com dimensões padronizadas e

qualidade assegurada (CNI, 2010).

Com relação ao Nordeste brasileiro, a produção está localizada principalmente nos

Estados do Ceará, Bahia e Pernambuco, vindo em seguida Rio Grande do Norte, Maranhão e

Piauí. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME, 2010), a região Nordeste tem

produção de aproximadamente 21% da nacional, mas consome pouco mais que isso,

revelando ser pequeno importador de produtos de cerâmica vermelha.

Segundo o ETENE (2010), devido ao frequente uso da lenha como fonte de energia para

os fornos, a indústria cerâmica no Nordeste está intimamente associada às práticas de

degradação ambiental. Como se sabe, as empresas estão instaladas próximas às jazidas, que

por sua vez se situam normalmente nas regiões da Zona da Mata e do Semiárido. Nesse

sentido, a utilização de lenha por parte dessas indústrias contribui para agravar o frágil

ecossistema das referidas regiões.

Dados do INT (2012, apud SCHWOB, 2007) apontam que no estado do Ceará o segmento

da cerâmica vermelha conta com cerca de 400 empresas, sendo aproximadamente 180

empresas de porte produtivo acima de 200 milheiros/empresa x mês. Empregam de forma

direta cerca de 8.000 trabalhadores. A produção média mensal é de 170 milheiros (48,3% de

telhas, 46,4% de blocos e 5,3% de tijolos de laje), um consumo de argila de cerca de 250.000

t/mês e uma produção em massa da ordem de 200.00 t/mês. A oferta direta de empregos

alcança aproximadamente 7.800 postos de trabalho.

No segmento, ocorre uma incidência de 49% de microempresas (até 19 empregados) e

mais 49% de médias empresas (entre 20 e 992 empregados). Também se constata que 80%

das empresas estão situadas na zona rural, sendo que 94% delas são registradas com CNPJ.

Aproximadamente 45% das empresas participam de programas de replantio de florestas

energéticas, e destas, 52 % estão legalizadas no Departamento Nacional de Produção Mineral,

quanto à exploração de suas jazidas (INT, 2012).

A produção cearense de cerâmicas vermelhas distribui-se por treze regiões, sendo que a

região do Vale do Jaguaribe se destaca por apresentar um grande número de olarias. Na

cidade de Russas – CE e municípios circunvizinhos são constatadas mais de 120 empresas,

sendo que destas, 20% estão entre as principais empresas do estado, com incidência de pelo

menos 50 empresas com porte acima da média do estado (INT, 2012).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

20

Limoeiro do Norte – CE é um município situado na região do Vale do Jaguaribe, a 192

km da capital do estado, Fortaleza, e vizinho de um dos maiores polos cerâmicos do estado, o

município de Russas. A cidade não possui um vasto setor cerâmico apresentando um número

inferior a dez unidades fabris, sendo assim, o município carece de estudos que enfoquem sua

real situação em relação ao setor oleiro-cerâmico. A indústria cerâmica tem grande

importância para a cidade, visto que, além de empregar trabalhadores de baixo nível de

escolaridade, ainda atende ao mercado interno.

2.2 ARGILAS

A Argila consiste em um produto natural, terroso, constituído por componentes de grão

muito fino, entre os quais se destacam, por serem fundamentais, os minerais argilosos. Este

produto natural desenvolve, quase sempre, plasticidade em meio úmido e endurece depois de

seco e, mais ainda, depois de cozido (PAES, 2010).

O termo argila permite vários conceitos subjetivos e interpretativos tornando-o, de certa

forma, indefinível e com vários sentidos. Algumas das definições encontradas na literatura

são verificadas abaixo:

Argilas, sob o ponto de vista físico-químico são sistemas dispersos de minerais, nos quais

predominam partículas de diâmetro inferior a dois micros (RIES, 1928).

Material natural, terroso, de granulação fina que geralmente adquire certa plasticidade

quando umedecido com água (GRIM, 1953).

O termo argila é usado para materiais que resultam diretamente da meteorização e/ou da

ação hidrotermal ou que se depositaram como sedimentos fluviais, marinho, lacustre ou

eólicos (GOMES, 1986).

Na Engenharia e mecânica dos solos, o termo “argila” é atribuído ao material natural,

classificado em ensaio de granulometria, composto por partículas extremamente pequenas,

constituído essencialmente de argilominerais, principalmente silicatos hidratados de alumínio,

ferro e magnésio, podendo conter outros minerais que não são argilominerais (quartzo, mica,

pirita, hematita, etc.), matéria orgânica e outras impurezas (SANTOS, 1975).

Segundo publicação do PORMIM (Portal do Pequeno Produtor Mineral, 2005), entidade

ligada ao ministério de minas e energia, as argilas podem ser classificadas como:

Argilas fluviais: extremamente abundantes e geralmente bastante utilizadas em

cerâmica vermelha;

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

21

Argilas de estuários: contêm camadas ou áreas de laminação grossa, além de resíduos

orgânicos de pântanos interlaminados em camadas argilosas;

Argilas de pântanos: geralmente muito plásticas bastante puras e ricas em caulinitas e

matéria orgânica.

Recebendo também uma classificação relacionada ao grupo de argilo-mineral que a

compõem, sendo Cauliníticas, Montmoriloníticas ou Ilíticas.

Seja qual for o tipo e a origem da matéria-prima, a qualidade é fundamental para o sucesso

do produto final. Nesse sentido, deve-se evitar argila menos plástica, conhecida por “argila

fraca ou magra”, o que pode ser solucionado no momento da compra da matéria-prima ou

posteriormente, a partir da adição de outra argila para homogeneização (OLIVEIRA, 2011).

No decorrer do processo de preparação da massa para utilização na produção de peças de

cerâmica vermelha, geralmente, para se obter uma plasticidade ideal, faz-se a mistura de uma

argila gorda (de alta plasticidade, granulometria fina) e uma argila magra (rica em quartzo e

menos plástica). A argila magra pode ser caracterizada como material redutor de plasticidade

(ETENE, 2010).

Tendo o conhecimento de que nas argilas são constatadas propriedades variáveis, é

interessante que se faça um planejamento com o intuito de tentar harmonizar todas as suas

características físico-químicas. Este planejamento envolve, entre outros processos, a seleção

de máquinas apropriadas tanto para a preparação da massa quanto para o cozimento da argila.

2.3 TIJOLO CERÂMICO

Os tijolos cerâmicos estão entre os materiais mais utilizados nas obras de construção civil

sendo que, quando aplicados em construções de alvenarias das paredes divisórias e de

fachadas de edifícios, chegam a representar cerca de 15% do valor total da construção. Com o

passar dos anos, os processos de produção de tijolos foram aperfeiçoados e o produto final

melhorou sua qualidade. Os tijolos devem ser leves, resistentes e de fácil manejo.

De acordo com a Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica (APICER, 2000), os

tijolos cerâmicos podem ser classificados de acordo com suas características e quanto ao tipo

de aplicação.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

22

No que diz respeito às características, destacam-se:

Maciço: o volume de argila cozida não é inferior a 85% de seu volume total

aparente;

Furado: verificam-se furos ou canais de formas e dimensões variadas, paralelos

às suas maiores arestas;

Perfurado: com furos perpendiculares ao leito.

Já no que diz respeito ao tipo de aplicação, destacam-se:

Face à vista: destinados a permanecer aparentes no interior ou exterior da

edificação;

Enchimento: sem função resistente, suportando apenas seu peso próprio;

Estruturais: com função estrutural na construção.

Outra classificação é proposta pelo INMETRO (2008) e divide os blocos cerâmicos

utilizados na construção civil em dois: de vedação ou estruturais.

Os blocos de vedação são aqueles destinados à execução de paredes, que suportam seu

próprio peso além de também suportarem pequenas cargas de ocupação (pias, prateleiras,

armários, etc.). Já os blocos estruturais, além de exercer função de vedação, também

constituem a estrutura resistente da edificação, podendo substituir pilares e vigas de concreto.

Por apresentarem elevada resistência mecânica e dimensões padronizadas, a alvenaria

estrutural concorre diretamente com o concreto armado, que é o sistema construtivo

tradicional do Brasil.

Um tijolo, para ser considerado ideal à construção, deve atender as normas da ABNT

(Associação Brasileira de Normas Técnicas). Por meio da NBR 15270-1 e da NBR 15270-2 a

ABNT (2005) determina requisitos gerais para blocos de vedação e para blocos estruturais.

2.4 TELHA CERÂMICA

Ao longo dos anos, surgiram inúmeros produtos alternativos às telhas cerâmicas utilizadas

em coberturas, no entanto, não conseguiram desbancá-la como produto mais utilizado em

cobertas na construção civil. A telha cerâmica, além da vantagem térmica, constata-se maior

durabilidade, resistência e menor custo em relação às concorrentes.

Constituídas por argilas dos tipos ilitas e montmorilonitas, são preparadas geralmente,

com matéria-prima selecionada em relação à argila utilizada na confecção do tijolo. A massa

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

23

argilosa é conformada por extrusão com umidade entre 20% e 25% aproximadamente, na

forma de um bastão com seção quadrada ou cilíndrica e cortadas em segmentos compatíveis

com o volume da telha. Posteriormente são prensadas, obtendo-se a forma final do produto

através do molde tipo macho e fêmea (de gesso, metal e borracha). Passam pelo processo de

secagem e em seguida são queimadas a temperaturas entre 900ºC e 950ºC (ANICER, 2013).

No Brasil as telhas sofrem variações de forma e tamanho dependendo da região em que

são fabricadas. Sendo assim, para promover a uniformidade, a ABNT em parceria com o

INMETRO padronizaram a produção de telhas em apenas três tipos: Capa e Canal (colonial,

paulista e plan), Francesa ou Marselhesa e Romana.

Capa e Canal

A peça tem curvatura que permite um encaixe alternado: uma côncava e outra convexa.

Colonial: São provenientes das primeiras telhas trazidas pelos portugueses na

época da colonização. Nesse tipo de telha, observa-se o mesmo tipo de peça

tanto para a capa quanto para o canal;

Paulista: Originada a partir da telha colonial. Verifica-se que a capa possui

largura ligeiramente inferior ao canal;

Plan: Trata-se de uma variação da telha tipo capa e canal, pois exibe formas

retas.

Francesa ou Marselhesa

Caracteriza-se por possuir em suas bordas saliências e reentrâncias que permitem o

encaixe longitudinal e transversal entre os componentes na execução dos telhados. Devido ao

seu tamanho e forma quadrada, a telha francesa é capaz de cobrir uma área de um metro

quadrado com apenas 16 unidades, visto que seriam necessárias 24 unidades de telha colonial

para cobrir a mesma área.

Entretanto, a telha francesa não é muito utilizada, pois, devido seu tamanho e forma, exige

uma inclinação bem maior que as demais telhas, gerando assim um maior gasto com madeiras

no travamento do telhado de sua construção.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

24

Romana

Verifica-se um formato característico que se encaixa longitudinalmente e

transversalmente, compondo uma estrutura capaz de estancar a água. Este tipo de telha foi

normalizado em 1996 de acordo com a NBR 13582.

Através da NBR 15310 a ABNT determina requisitos gerais relacionados à fabricação,

identificação, unidade de comercialização, características visuais, dentre outras.

Em relação à fabricação, no geral, as telhas devem ser fabricadas com argila conformada,

por prensagem ou extrusão, e queimadas de forma a permitir que o produto final atenda às

condições determinadas pela norma.

Nas telhas devem conter, obrigatoriamente, a identificação do fabricante gravado em

relevo ou reentrância, com caracteres de no mínimo cinco milímetros (5 mm) de altura, sem

que prejudique seu uso.

A unidade utilizada para comercialização é o m² (metro quadrado). Em relação as suas

características visuais, as telhas não podem conter ocorrências tais como esfoliações, quebras,

lascadas e rebarbas ou outras imperfeições que possam prejudicar seu desempenho.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

25

2.5 PROCESSO PRODUTIVO

O processo de fabricação de produtos cerâmicos é feito em grande parte de forma

mecanizada, em alguns casos utilizando equipamentos rudimentares, com algumas etapas

feitas de forma manual. Os processos de fabricação empregados pelos diversos segmentos

cerâmicos assemelham-se parcial ou totalmente e podem ser compreendidos na Figura 1.

Figura 1 – Processo de Fabricação de Cerâmica Vermelha

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

Esse processo é comum às empresas de cerâmica vermelha em geral, podendo haver

pequenas variações de acordo com características particulares de cada matéria-prima ou

produto final. Porém, algumas empresas utilizam equipamentos rudimentares e outras

utilizam equipamentos mais modernos. No entanto convém ressaltar que nem todas as

empresas devem realizar seu processamento da mesma maneira ou com os mesmos

equipamentos e operações indicadas (OLIVEIRA, 2011).

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

26

2.5.1 Extração e Estocagem da Matéria-Prima

Grande parte da matéria-prima utilizada na indústria cerâmica encontra-se em depósitos

espalhados na crosta terrestre. A extração é realizada a céu aberto, na qual se deve prever a

remoção e disposição dos estéreis, a formação de bancos de extração e o aproveitamento da

jazida por completo (MELO, 2012).

Para o processo de extração da argila são utilizadas máquinas como retroescavadeiras e

escavadeiras. Essas máquinas são responsáveis por abastecer as caçambas dos caminhões que

transportam as argilas para o pátio da empresa (estoque). Segundo (MME, 2009), o transporte

das matérias-primas entre a jazida e a unidade fabril tem peso importante nos custos de

produção cerâmica, o que acaba por influenciar a competitividade desse segmento industrial.

Nos meses menos chuvosos, as quantidades de matérias-primas necessárias para a

produção nos meses invernosos são extraídas e armazenadas na fábrica em leiras, ao ar livre.

Já no verão, elas são viradas e espalhadas, para que possam perder umidade sob a ação da

radiação solar. Depois deste „descanso‟ – que é de 1 a 2 dias, para a produção de tijolos, e de

até 1 mês, para telhas –, o teor de umidade da argila permite o processamento a seco. Caso

isto não ocorra, a umidade da argila deve ser reduzida durante a fase de secagem (SILVA,

2009).

2.5.2 Processamento das Argilas

Durante o processo de preparação da massa para utilização na produção de peças de

cerâmica vermelha, é comum misturar-se argila gorda (de alta plasticidade, granulometria

fina) e argila magra (rica em quartzo e menos plástica) com o intuito de se obter uma

plasticidade ideal. Nesse caso, a argila magra pode ser caracterizada como material redutor de

plasticidade (ETENE, 2010).

Segundo (MANFREDINI E SCHIANCHI, 2009), na combinação das argilas, são

utilizados aditivos, com o objetivo de efetuar correções na massa. O chamote (resíduo

cerâmico queimado e rejeitado ao fim do processo) é comumente adicionado à massa e, em

pequenas quantidades (5 – 10%), não causa alterações negativas. Ao contrário, aumenta a

eficiência dos moinhos, facilitando a trituração e a fluidez de movimento de alguns tipos de

argilas. Adicionalmente, ele contribui para a minimização da geração de resíduos, estabiliza a

mistura sem diminuir sua plasticidade, aumenta a resistência mecânica, melhora a porosidade

global da pasta úmida e exerce função de ligante, agregando os grãos.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

27

2.5.3 Conformação dos Produtos Cerâmicos

De acordo com (SILVA, 2009), existem diversos processos de conformação para peças

cerâmicas, tais como: colagem, prensagem, extrusão e torneamento. A seleção de um ou outro

depende fundamentalmente da geometria e características do produto final desejado. A massa,

ainda úmida e na fase plástica, é colocada numa extrusora a vácuo, popularmente conhecida

como maromba, onde é compactada e forçada, por um pistão (eixo helicoidal), a passar

através da boquilha. Obtém-se, então, uma coluna extrudada (preparada por extrusão), com

seção transversal no formato e dimensões desejados, que é, em seguida, cortada, obtendo-se,

assim, as peças: tijolos furados, blocos, telhas etc. No caso das telhas, há ainda a etapa de

prensagem, tornando a fase de extrusão intermediária no processo.

2.5.3.1Britagem e Moagem

Segundo (DANTAS NETO, 2007), grãos com dimensões maiores (até 600 mm) devem

ser pré-triturados, até que estejam compatíveis com as dimensões das bocas de alimentação

(até 200 mm). Em função da dureza, trabalhabilidade e triturabilidade, as argilas podem ser

categorizadas na escala de Mohs, em Duras (6-7 Mohs), Semiduras (5-6 Mohs) ou Moles

(menor que 4 Mohs). A condição ideal para a aplicação da moagem é que a argila seja

definida como dura ou semidura e contenha umidade não maior que 18%.

Em seguida a matéria-prima é submetida ao processo de desintegração. Esse processo tem

como objetivo principal aumentar a homogeneidade da massa e triturar torrões que possam

estar presentes e dificultem a passagem da argila para o caixão de alimentação.

2.5.3.2 Laminação

Rolos fazem a compactação da argila, tornando-a menos porosa, mais densa, eliminando

bolhas de ar ou aglomerados remanescentes. Proporcionando maior densidade a massa

argilosa, eliminando pedriscos e raízes ainda existentes. Dessa forma o processo de extrusão

se torna mais fácil e mais preciso, ou seja, minimiza o surgimento de defeitos nas peças

cerâmicas. Algumas máquinas extrusoras já possuem o laminador acoplado na entrada do

equipamento (VILLAR, 1988).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

28

2.5.3.3 Extrusão

O formato e tamanho do material cerâmico produzido são obtidos através da máquina

extrusora, também conhecida como maromba. Nessa máquina, a massa (argila) é

impulsionada, por meio de um propulsor (mais comumente o parafuso sem fim), através de

uma chapa de aço perfurada, lançando-a para dentro de uma câmara de vácuo. O ar é retirado

pela câmara de vácuo, e o material é extraído por meio de outro parafuso sem fim que a

impele, através de uma matriz de aço (boquilha), conformando a massa no formato desejado

(BACCELLI JÚNIOR, 2010). A qualidade da extrusão influencia diretamente nas

propriedades finais do produto, como a sua tonalidade, tornando-a verde ou queimado.

2.5.3.4 Prensagem

Esse processo trata-se de uma etapa exclusiva para a produção de telhas, onde a massa é

colocada em um molde e submetida a uma forte pressão para que se adeque perfeitamente a

ele.

2.5.3.5 Secagem e queima

A secagem consiste na eliminação da água utilizada na fabricação das peças, trata-se da

fase do processo que antecede a queima, sendo de considerável importância no

processamento. Peças com secagens incompletas podem ocorrer defeitos como fissuras e

deformações, implicando em produtos de qualidade inferior ou mesmo em prejuízos

financeiros. Além disso, peças com umidade excessiva aumentam o ciclo de queima e,

consequentemente, o consumo de combustível (OLIVEIRA, 2011).

Durante a saída da água a peça sofre uma retração linear, o que reduz suas dimensões

iniciais. Se a perda de água não for homogênea, poderá ocasionar trincas ou até mesmo a

quebra da peça. A umidade de uma peça cerâmica extrudada varia normalmente entre 20% e

30% após a secagem, a umidade residual deve ficar abaixo de 5% (NORTON, 1973).

A velocidade de evaporação da água contida em uma peça cerâmica depende de uma série

de fatores, entre eles destacam-se: temperatura do ar, velocidade dos ventos, umidade relativa

do ar e temperatura da água. Em geral quanto mais espessa a peça, mais demorado e difícil se

torna o processo de secagem (ELIAS, 1995).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

29

No caso da secagem natural (ao ar livre), se fez necessário cuidados adicionais. Durante o

processo pode ocorrer, por exemplo, secagem abrupta, provocando o aparecimento de tensões

e trincas, que inviabilizam a ida da peça para o forno (queima). No intuito de evitar isto, a

distribuição das peças no secador deve ser feito de tal maneira, que permita o fluxo de ar

uniforme, mas resguardados de ventilação ou calor excessivos (ABC, 2002).

Após a secagem, as peças são transportadas até os fornos e submetidas ao processo de

queima, que trata-se do processo em que o calor provoca transformações físico-químicas na

massa argilosa, modificando as características de cru em propriedades cerâmicas (SILVA,

2009). De acordo com (BACCELLI JÚNIOR, 2010), a temperatura de queima é da ordem de

750 a 900ºC para tijolos e 900 a 950ºC para telhas.

Os principais tipos de fornos podem ser classificados como: intermitentes (abóbada ou

paulistinha, garrafão, chinês, caipira e chama reversível) ou contínuos (Hoffmann ou

semicontínuo e túnel). Após a queima e resfriamento, os produtos estão prontos para serem

comercializados.

2.6 VANTAGENS E APLICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

De acordo com (COUVIGNOU, 2013), os principais produtos fabricados em cerâmica

estrutural, e que são destinados preferencialmente à construção civil são: tijolos maciços e

furados, em diversos tamanhos, telhas de diversos modelos, blocos cerâmicos de vedação e

estruturais, lajes para forro e piso, elementos vazados e lajotas para piso. Nas pequenas

construções, os tijolos funcionam como elemento de sustentação do teto e cobertura.

As condições de fabricação e a aplicação do tijolo cerâmico são os dois fatores

determinantes de ocorrência de patologias futuras. As reclamações mais comuns são por causa

de fissuras, infiltrações e até queda de paredes (COUVIGNOU, 2013).

Segundo (ANICER, 2005) muitas construtoras compram blocos de vedação pelo menor

preço e desconhecem as patologias derivadas da utilização de modelos inadequados. Com

isso, as empresas que procuram qualidade encontram muitas dificuldades para comprar blocos

em conformidade.

O bloco cerâmico vazado, ou tijolo como é popularmente conhecido, tem um custo

benefício interessante em relação aos seus concorrentes. Em se tratando de sistemas

convencionais de alvenaria de vedação, seu concorrente direto é o bloco de concreto. Estes

são os dois métodos construtivos mais usados em residências pelo país afora (COUVIGNOU,

2013).

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

30

Há uma economia na estrutura da obra, em decorrência do peso do bloco cerâmico ser

bem menor do que o de concreto. Além deste fator, há o fator de conforto térmico e acústico,

onde o bloco cerâmico ganha de longe do bloco de concreto. Uma casa feita com blocos de

concreto está com sua temperatura interna sempre muito próxima da temperatura externa, fato

que não ocorre em uma residência construída com blocos cerâmicos. Com a acústica ocorre

fato semelhante.

Segundo o Caderno de Encargos de Edificações (2000), há no mercado uma grande

variedade de tijolos cerâmicos, podendo verificar diferentes formas geométricas e formas de

furos. Ainda segundo a mesma fonte, os furos mais comuns são aqueles de formas

retangulares ou circulares. Em blocos com furos retangulares, geralmente, observa-se

resistência à compressão igual ou maior que 25 kgf/cm2, enquanto que nos blocos com furos

circulares este valor é acentuadamente menor (em torno de 10 kgf/cm2).

A rigor, as duas categorias de blocos podem ser empregadas na construção de paredes de

vedação; a favor da segurança, contudo, para a execução de paredes externas (fachadas) de

edifícios altos, sujeitos à ação de ventos fortes, recomenda-se o emprego de blocos com

resistência igual ou superior a 25 kgf/cm2, ou seja, blocos com furos retangulares.

Uma grande vantagem dos materiais cerâmicos em relação aos demais, é que o mesmo

elemento pode responder por diversas funções. Assim uma parede simultaneamente com a

capacidade de resistir às tensões atua como divisória, isolante acústica e térmica e também

protege contra incêndio. Em estruturas de concreto ou aço estas funções devem ser obtidas

separadamente (CÂMARA, 2012).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

31

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo consiste numa análise da exploração de produtos derivados da argila e

que são utilizados na construção civil na cidade de Limoeiro do Norte – CE. Localizada na

microrregião do Baixo Jaguaribe. Limoeiro está situada a uma distância de 192 km da capital

do estado (Fortaleza) e faz divisa com outros seis municípios.

No período de 20/05/2013 a 26/07/2013 foram realizadas visitas às empresas ceramistas e

aplicados os questionários (Apêndice A), obtendo-se também fotografias dos locais. O

questionário aplicado consiste de 18 perguntas subjetivas, aplicadas aos responsáveis pelas

cerâmicas. As cerâmicas as quais foram aplicados os questionários situam-se na zona rural da

cidade e não terão seus nomes citados no presente trabalho. Para a pesquisa foi selecionada

uma amostra de pouco mais de 70% das empresas ceramistas da cidade. Isso se deu devido ao

fato de no município constar, no total, sete empresas do ramo e apenas cinco aceitaram a

aplicação do questionário.

Os resultados foram analisados tomando como base as respostas das aplicações dos

questionários, a bibliografia consultada e as observações das fotografias obtidas.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

32

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 ATUAÇÃO DAS EMPRESAS

As empresas cerâmicas da cidade de Limoeiro do Norte – CE, em sua maioria, estão

atuando no mercado há um tempo relativamente longo, sendo que quase todas estão operando

há mais de dez anos. No total, estas empresas fabricam os mais diversos itens derivados da

argila, na Tabela 1 verificam-se quais produtos são confeccionados por cada empresa.

Tabela 1: Produtos fabricados por cada empresa

Empresa Produtos fabricados

1 Blocos

2 Blocos e telhas

3 Telhas

4 Telhas

5 Blocos e telhas

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

Vale salientar que a definição de blocos engloba todos os tipos de tijolos: 8 furos, 6 furos,

lajota, etc. O motivo pelo qual as empresas focarem suas produções em telhas e blocos se dá

ao fato de estes serem os produtos mais procurados tanto pelo mercado consumidor local,

como também, pelo mercado consumidor de outros estados do Nordeste.

No decorrer dos últimos 30 anos, o setor ceramista cresceu lentamente em Limoeiro do

Norte, tendo em vista que nesta cidade seguiu a progressão de apenas uma unidade de

cerâmica construída por década (Gráfico 1) . De acordo com relatos de proprietários de

cerâmicas, esse crescimento lento ocorreu devido às dificuldades encontradas pelos

ceramistas para que possam exercer suas práticas, uma vez que já é sabido que a atividade

cerâmica é bastante visada em termos de fiscalizações ambientais além, é claro, da dificuldade

de se encontrar força de trabalho qualificada.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

33

Gráfico 1: Crescimento do número de cerâmicas ao longo dos anos

1970

1975

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

1 2 3 4 5

An

o

Número de cerâmicas

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

4.2 QUADRO FUNCIONAL DAS EMPRESAS

Com relação à quantidade de empregados, as cerâmicas da cidade trabalham com um

número reduzido de funcionários registrados, como pode ser observado na Tabela 2.

Analisando esses resultados observa-se que, mesmo as maiores empresas, não excedem o

número de 50 funcionários registrados. Tal fato se dá por uma série de motivos, dentre os

quais pode-se destacar o intuito da própria redução de gastos por parte das cerâmicas e

também pelo motivo de que empresas com um número de funcionários superior a 50

funcionários tem obrigatoriamente que dispor dos serviços de um técnico em Segurança do

Trabalho, o que seria um gasto a mais que tem sido evitado.

Tabela 2: Número de funcionários registrados de cada empresa

Empresa Número de funcionários

1 10

2 22

3 30

4 30

5 40

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

34

4.3 IDENTIFICAÇÃO DAS JAZIDAS

De acordo com os dados coletados, para a identificação de uma jazida, percebeu-se que

nenhuma empresa da cidade faz uso de métodos laboratoriais que indique em qual local se

encontra a argila de melhor qualidade. No geral, o processo de identificação de uma jazida é

feito por um oleiro, geralmente de grande experiência no ramo ceramista, que, a olho nu e

esfregando uma amostra de argila na palma da mão, informa se aquele material é de boa

qualidade ou não. Daí, esse processo é realizado em vários pontos da jazida para se ter uma

ideia da dimensão e abrangência da mesma.

Segundo os proprietários das cerâmicas visitadas, as argilas da região contém alto teor de

calcário e, devido a isso, estão sendo disputadas pelas novas fábricas de cimento Portland

instaladas na região. Outra característica das argilas é que estas possuem uma grande

quantidade de óxido de ferro em sua constituição e, atribui-se a isso, a coloração tão

avermelhada dos produtos cerâmicos.

Geralmente, cada jazida é explorada por cerca de 3 a 4 anos, dependo do seu tamanho.

Para que a exploração da jazida seja legalizada, a empresa precisa de autorização da

Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Estado do Ceará (SEMACE, 2013) sendo

que, para cada depósito de argila, a SEMACE concede a autorização por, no máximo, quatro

anos. Ao final desses quatro anos, se a empresas desejar continuar explorando o depósito de

argila, é necessário a emissão de uma nova autorização da SEMACE.

Na Figura 2 verifica-se a jazida explorada por uma das cerâmicas em questão. Como se

pode observar, trata-se de um depósito pequeno e que certamente vai ser explorada por

completo muito antes dos quatro anos licenciados pela SEMACE. O fato de conter poças de

água, oriundas da ação das chuvas, dificulta a realização da retirada da argila.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

35

Figura 2: Jazida de argila

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

4.4 EXTRAÇÃO E ESTOCAGEM DA ARGILA

A matéria-prima utilizada pelas cerâmicas em questão é proveniente de jazidas situadas

nas redondezas da cidade, sendo que, assim como verificou (OLIVEIRA, 2011), as argilas

mais utilizadas são as argilas gordas e magras. Para a estocagem e conservação da argila, as

empresas realizam basicamente os mesmos procedimentos: separação das argilas magra e

gorda em “montanhas” diferentes; umedecimento das montanhas fazendo furos, injetando

água na massa argilosa e deixando-a em repouso ou sazonando (Figura 3), em média, por 24 h

a fim de se obter uma massa mais trabalhável.

Para a utilização, assim como constatou (ETENE, 2010), misturam-se os dois tipos de

argilas a fim de se obter uma massa de melhor qualidade. É recomendável que as argilas

fiquem estocadas em galpões cobertos, entretanto, na ausência de galpões, os ceramistas

simplesmente cobrem a argila com lonas, em casos de chuvas.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

36

Figura 3: Argila em repouso (sazonamento)

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

4.5 VOLUME DE ARGILA UTILIZADA

A quantidade de recursos minerais utilizados pelas empresas varia de acordo com a

produção de cada cerâmica. Na Tabela 3 encontra-se a quantidade de argila utilizada por cada

empresa com base em suas produções.

Tabela 3: Volume de argila utilizada e produção de cada empresa

Empresa Volume de argila/mês

(m3)

Produção (milheiro)

Telhas Blocos

1 72 0 176

2 383,28 410 20

3 360 300 0

4 360 300 0

5 440 300 200

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

Pode-se observar que a Empresa 1, por apresentar a menor produção quando comparadas

com as demais, consome menos matéria-prima. Por outro lado, a Empresa 5 é responsável

pela maior produção da cidade, logo, torna-se a principal consumidora de recursos minerais

chegando a utilizar mais do que seis vezes o volume de argila consumido pela Empresa 1.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

37

O processo de produção é o mesmo para todas as empresas, diferenciando apenas pelo

fato da cerâmica 1 produzir somente blocos, as cerâmicas 3 e 4 produzirem apenas telhas e as

demais (cerâmicas 2 e 5) produzirem ambos. No geral, todas as empresas têm como modelo

de produção aquele que foi observado anteriormente na Figura 1 (pag. 24).

O transporte de argila da jazida até o local de estocagem é feito por meio de caminhões do

tipo caçamba. Dentre as cerâmicas entrevistadas, todas realizam esse transporte através da

locação de caminhões, ou seja, nenhuma empresa possui seu próprio caminhão e necessita

terceirizar esse serviço executando o pagamento por cada carrada.

4.6 LENHA CONSUMIDA NAS CERÂMICAS

A quantidade mensal de lenha consumida por cada empresa está representada na Tabela 4.

No geral, a quantidade de lenha consumida por cada cerâmica depende da quantidade de

peças produzidas. O controle da quantidade de lenha a ser utilizada por cada fornada é feito

somente com base na experiência do oleiro.

As cerâmicas de Limoeiro do Norte fazem uso do mesmo tipo de forno (Forno Hoffmann)

e trabalham com a seguinte relação: para se produzir 1 (um) milheiro de telhas/blocos é

necessário a queima de 1 (um) m2 de lenha durante um tempo de 36 horas. Algumas

cerâmicas podem até trabalhar com números diferentes destes, entretanto, não deve divergir

muito dessa relação.

Um dos maiores problemas encontrados pelos ceramistas durante o processo de produção

trata-se da aquisição de lenha legalizada. Uma vez que o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 2005) em uma ação conjunta com o

SINCAJU (Sindicato dos Produtores de Caju) criaram uma lei que permite apenas o uso da

lenha proveniente da poda do cajueiro para o abastecimento dos fornos cerâmicos do Ceará.

Esta medida foi adotada devido a poda do cajueiro ser feita periodicamente, logo não

constitui crime de desmatamento ou extração de mata virgem, pelo contrário, atua no combate

a pragas e doenças nessas frutíferas.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

38

Tabela 4: Quantidade de lenha utilizada por cada empresa

Empresa Quantidade de lenha/mês (m2)

1 400

2 900

3 560

4 560

5 980

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

4.7 PERDAS NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO

Mesmo com a modernização vivida pelas cerâmicas nas últimas décadas, com o

surgimento de máquinas substituindo trabalhadores humanos e fornos em que se consegue

controlar a temperatura em seu interior, ainda há muitas perdas no processo de fabricação.

São os chamados rejeitos, ou seja, são peças que passaram do ponto de queima devido à má

secagem ou mesmo devido ao mau posicionamento destas dentro do forno, o que não

proporcionou uma circulação de calor uniforme por todas as peças.

Assim como constatou (MELO, 2012), esse rejeito é vendido aos proprietários das

fazendas locais para ser espalhado na estrada de acesso das mesmas, evitando assim, atoleiros.

Outro destino do rejeito é a doação à prefeitura para servir na recuperação de estradas

carroçais e aterros, como pode ser observado na Figura 4.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

39

Figura 4: Rejeitos utilizados para recuperação de estradas

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA (2013)

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

40

5 CONCLUSÕES

No processo de exploração da argila da cidade de Limoeiro do Norte não existe o uso de

métodos laboratoriais que indique a qualidade da argila, sendo esta identificação realizada por

um oleiro com experiência no ramo ceramista.

Verificou-se a existência de empresas de pequeno porte (consumo de argila inferior a 150

m3/mês) como também de médio porte (consumo de argila entre 150 m

3/mês e 700 m

3/mês).

Dentre as dificuldades enfrentadas pelos ceramistas destacam-se a escassez de mão-de-

obra qualificada; dificuldades em encontrar argilas de boa qualidade e o grande número de

impostos relacionados às licenças ambientais.

Há necessidade de um maior incentivo no setor ceramista por parte dos órgãos

governamentais, como redução dos impostos e incentivo em pesquisas relacionadas à

qualidade da argila da região estudada.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

41

REFERÊNCIAS

ABC. Informações Técnicas – Definição e Classificação. 2002. Disponível em:

<www.abceram.com.br>. Acesso em 02 jul. 2013.

ABC. CERÂMICA NO BRASIL – Considerações Gerais. 2011. Disponível em:

<http://www.abceram.org.br/site/?area=2>. Acesso em 02 jul. 2013.

APICER. Manual de Alvenaria de Tijolo. Associação Portuguesa de Industriais de

Cerâmica de Construção: Coimbra, 2000.

Associação Brasileira de Cerâmica, ABCERAM. Disponível em

<http://www.abceram.org.br/site/?area=2>. Acesso em: 22 mai. 2013.

Associação Nacional da Indústria Cerâmica, ANICER. Disponível em

<http://www.anicer.com.br/dados.html>. Acesso em: 21 mai. 2013.

BACCELLI JÚNIOR, G. Avaliação do processo industrial da cerâmica vermelha na

região do Seridó – RN. 2010. 201 f. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica),

Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

2010.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Plano de

desenvolvimento do APL (Arranjo Produtivo Local) de Cerâmica Vermelha de

Russas/CE. Brasília, 2008.

CÂMARA, Cássio Freire. Estudos e Propriedades Mecânicas de um novo tipo de Bloco

Cerâmico “HÍBRIDO” para Edificações em Alvenarias Estruturais. 2012. 75 f.

Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

Confederação Nacional da Indústria, CNI. Disponível em:

<http://www.portaldaindustria.com.br/>. Acesso em: 22 mai. 2013.

COLÉGIO LOYOLA. Cerâmica: uma técnica milenar. Disponível em:

<http://www.loyola.g12.br/site/acontece_noticia_detalhe.aspx?id=782>.Acesso em: 07 jun.

2013.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

42

COUVIGNOU, Eliana Macêdo. Análise da conformidade e caracterização da matéria-

prima empregada na fabricação de blocos cerâmicos na região metropolitana de

Salvador. Disponível em:<ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/bdtd/ElianaMC.pdf>. Acesso

em: 03 jul. 2013.

DANTAS NETO, Silvrano Adonias. Mecânica dos Solos I: curso de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Ceará. Fortaleza: UFC, 2007. Notas de Aula do Professor.

ELIAS, X. A fabricação de materiais cerâmicos. Barcelona: Ecnotermia Cerâmica S. l.

Matardepera, 1995.

ETENE. Informe setorial cerâmica vermelha. [S.l]: Banco do Nordeste do Brasil S/A,

2010.

GRIM, R. E. Clay mineralogy. 2. ed. New York: Megraw Hill Book Company, 1953.

INMETRO – Portal do Consumidor. Bloco Cerâmico (Tijolo). Disponível em:

<http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/tijolo.asp>. Acesso em: 01 jul. 2013.

MANFREDINI&SCHIANCHI. Plantas para Cerâmica Vermelha e para Produtos Extrudados

de Cerâmica. Manfredini&Schianchi Equipamentos. 2009. Disponível em

<http://www.manfeedinieschianchi.com/208-4PO-plantas-para-ceramica-vermelha-e-para-

produtos-extrudados-de-ceramica.htm>. Acesso em 13 jun. 2013.

MELO, Jonathan Roque de. Avaliação do processo de exploração da argila para a

construção civil no Vale do Açu – RN. 37 f. Monografia (Graduação em Ciência e

Tecnologia), Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2012.

Ministério de Minas e Energia, MME. Disponível em:

<http://www.mme.gov.br/sgm/galerias/arquivos/plano_duo_decenal/a_mineracao_brasileira/P

23_RT32_Perfil_da_Argila.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2013.

NORTON, F. H. Introdução à tecnologia cerâmica. São Paulo: Edgard Blucher, 1973.

OLIVEIRA, Fabson Emerson Marrocos de. Acompanhamento da produção industrial em

cerâmica da microrregião do Vale do Assú: estudo de caso. 2011. 64 f. Monografia

(Graduação em Ciência e Tecnologia), Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Angicos,

2011.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

43

PAES, João. Vermiculita, talco e argila. Disponível em: <

http://www.ebah.com.br/content/ABAAABlJMAC/vermiculita-talco-argila>. Acesso em 11

mai. 2013.

PINHEIRO, Luana. Baixo Jaguaribe: região estratégica no Estado do Ceará. 2013.

Disponível em <http://www.tvjaguar.com.br/Diana/luana%pinheiro-15-06.htm>. Acesso

em: 22 mai. 2013.

PORMIN. Disponível em:

<http://www.pormin.gov.br/informacoes/arquivo/argilas_branca_vermelha_propriedades_apli

cabilidade_ocorrencias.pdf>. Acesso em: 15/05/2013

RIES, H. Clays: ocurrance, properties and uses.3. ed. [S.l]: Wiley, 1928.

SANTOS, P. S. Ciência e tecnologia de argila. 2. ed. São Paulo: Edgar Blucher, 1986. v. 1.

SCHWOB, M. R. V.; CARLOS, M. E. M.; JÚNIOR, M. F. H.; RODRIGUES, J. A. P.;

TAPIA, R. S. H. C. Panorama da Indústria Cerâmica Vermelha no Brasil. Disponível em:

<http://www.redladrilleras.net/documentos_galeria/PANORAMA%20DA%20INDUST

RIA%20DE%20CERAMICA.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2013.

Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Estado do Ceará, SEMACE. Disponível

em < http://www.semace.ce.gov.br/ >. Acesso em: 13 ago. 2013.

SILVA, Amanda Vieira. Análise do processo produtivo dos tijolos cerâmicos no Estado

do Ceará – Da extração da matéria-prima à fabricação. 2009. 104 f. Monografia

(Graduação em Engenharia Civil), Departamento de Engenharia Estrutural e Construção

Civil, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009.

Sindicato da Indústria da Cerâmica Vermelha, SINDICER. Disponível em

<http://www.sindicermf.com.br/historia-da-ceramica.html>. Acesso em: 07 jun. 2013.

VILLAR, V. S. Perfil e perspectivas da indústria cerâmica vermelha do sul de Santa

Catarina. 1988. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Universidade Federal

de Santa Catarina, Florianópolis, 1988.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - BCT/THALES... · THALES ROBSON DA SILVA MENDES ESTUDO DA EXPLORAÇÃO DA ARGILA PARA MATERIAL CERÂMICO NA ... (PINHEIRO, 2012), a cidade

44

APÊNDICE A – Questionário aplicado mediante as visitas realizadas

1. TEMPO DE ATUAÇÃO DA EMPRESA

2. COMO IDENTIFICAR UMA JAZIDA?

3. QUANTAS JAZIDAS A EMPRESA EXPLORA?

4. HÁ QUANTOS ANOS ESSA JAZIDA ESTÁ SENDO UTILIZADA?

5. É FEITO ALGUM ESTUDO PRÉVIO DA ARGILA ANTES DE EXTRAÍ-LA?

6. COMO SE DÁ A EXTRAÇÃO DA ARGILA (EQUIPAMENTOS)?

7. COMO SE DÁ O TRANSPORTE DA ARGILA DESDE A JAZIDA ATÉ O LOCAL

DA ESTOCAGEM?

8. QUAIS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS PARA A ESTOCAGEM?

9. A ARGILA PASSA POR ALGUM PROCESSO DE PREPARAÇÃO PARA QUE

POSSA SER UTILIZADA?

10. QUAL A QUANTIDADE DE VOLUME DE RECURSOS MINERAIS

UTILIZADOS PELA EMPRESA MENSALMENTE?

11. COMO SE DÁ O PROCESSO DE FABRICAÇÃO DAS TELHAS E TIJOLOS?

12. QUAL A QUANTIDADE DE LENHA UTILIZADA PARA A QUEIMA?

13. QUAL A QUANTIDADE MENSAL DE PRODUTOS FABRICADOS DA

EMPRESA?

14. QUAIS AS DIFICULDADES ENCONTRADAS PELA EMPRESA?

15. O QUE FAZEM COM OS PRODUTOS QUE PASSAM DO PONTO DE QUEIMA?

16. A EMPRESA TEM ALGUMA IDEIA DE COMO APROVEITAR ESSES

MATERIAIS?

17. QUAIS OS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELA FISCALIZAÇÃO DA EMPRESA?