UNIVERSIDADE FEDRAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE … · 2019. 1. 30. · industrial com uso...

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UNIVERSIDADE FEDRAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DANILO GONÇALVES CAVALCANTE MODELO PARA PREVISÃO DE ITENS SOBRESSALENTES BASEADO EM CONFIABILIDADE INDUSTRIAL: ESTUDO DESENVOLVIDO EM UMA EMPRESA DO SETOR PETROLÍFERO NATAL 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDRAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

    DANILO GONÇALVES CAVALCANTE

    MODELO PARA PREVISÃO DE ITENS SOBRESSALENTES BASEADO EM CONFIABILIDADE INDUSTRIAL: ESTUDO DESENVOLVIDO EM UMA EMPRESA

    DO SETOR PETROLÍFERO

    NATAL 2015

  • DANILO GONÇALVES CAVALCANTE

    MODELO PARA PREVISÃO DE ITENS SOBRESSALENTES BASEADO EM CONFIABILIDADE INDUSTRIAL: ESTUDO DESENVOLVIDO EM UMA EMPRESA

    DO SETOR PETROLÍFERO

    Dissertação submetida ao programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de mestre em engenharia de produção. Orientador: Prof. Dr. Luciano Ferreira

    NATAL 2015

  • UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte.

    Cavalcante, Danilo Gonçalves Modelo para previsão de itens sobressalentes baseado em confiabilidade industrial: estudo desenvolvido em uma do setor petrolífero. / Danilo Gonçalves Cavalcante. – Natal, RN, 2015. 142 f. : il.

    Orientador: Prof. Dr. Luciano Ferreira

    Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção.

    1. Confiabilidade industrial - Dissertação. 2. Covariáveis - Dissertação. 3. Estoque - Dissertação. 4. Petróleo – Dissertação. 5. Processo de Renovação – Dissertação. 6. Sobressalente – Dissertação. I. Ferreira, Luciano. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 658.5

  • RESUMO

    MODELO PARA PREVISÃO DE ITENS SOBRESSALENTES BASEADO EM CONFIABILIDADE INDUSTRIAL: ESTUDO DESENVOLVIDO EM UMA

    EMPRESA DO SETOR PETROLÍFERO

    A capacidade de competir em mercados globalizados é um qualificador presente nas

    organizações atuais. A gestão dos gastos produtivos (custos e investimentos) exerce influência

    direta nas decisões empresariais de curto e longo prazo. Nesse sentido, a busca pela otimização

    dos recursos, mediante redução do capital imobilizado, é um fator competitivo buscado por

    diversas empresas. A gestão de estoques envolve conflitos de interesses que podem conduzir o

    gestor a decisões incompatíveis: os estoques podem absorver grandes somas de recursos ou

    representar enormes perdas de produção (lucro cessante). Dentre os diversos tipos de estoques,

    a imobilização de itens sobressalentes aplicados à manutenção destaca-se por apresentar

    algumas características importantes: a demanda é irregular (lumpy), o investimento para

    aquisição das partes sobressalentes é elevado e o tempo de entrega é longo. Este trabalho

    objetiva aplicar um método para gestão de estoque sobressalente baseado em confiabilidade

    industrial com uso de covariáveis. O modelo aplica técnicas relacionadas a modelagem

    probabilística e processo de renovação, com objetivo de quantificar os itens sobressalentes. A

    análise faz uso de programas computacionais para manipulação dos parâmetros de

    confiabilidade (software Weibull® e BlockSim® - ReliaSoft) e do software R, necessário à

    definição das covariáveis. O dimensionamento dos sobressalentes é consolidado mediante

    programa desenvolvido em linguagem C++, que visa analisar as sobreposições das falhas ao

    longo do tempo. O estudo é aplicado ao dimensionamento de bombas centrífugas submersas

    (BCS) utilizadas na produção de petróleo em unidades marítimas. A ferramenta busca estruturar

    o processo de alocação de sobressalentes a serem imobilizados no setor petrolífero, auxiliando

    a tomada de decisão.

  • ABSTRACT

    MODEL FOR PREVISION OF SPARE ITEMS BASED ON INDUSTRIAL RELIABILITY: DEVELOPED STUDY IN A INDUSTRIAL SECTOR COMPANY

    The ability to compete in global markets is a present qualifying in the current organizations.

    The management of productive spending (costs and investments) has a direct influence on the

    business decisions of term short and long. In this sense, the search for optimization of the

    resources, through reductions in the fixed capital, is a competitive factor sought by various

    companies. The inventory management involves conflicts of interests that can lead the manager

    to inconsistent decisions: stocks can absorb large amounts of resources or represent massive

    production losses (profit loss). Among the various types of stocks, immobilization of spare

    items applied to maintenance stands out for have some important features: the demand is

    irregular (lumpy), the investment for the acquisition of spare parts is high and the delivery time

    is long. This work aims to apply a method for spare inventory management based on industrial

    reliability with use of covariates. The model applies techniques related to probabilistic

    modeling and renewal process, in order to quantify the spare items. The analysis makes use of

    computer programs to manipulate of the reliability parameters (Weibull® and BlockSim®

    software - ReliaSoft) and R® software, necessary to define the covariates. The dimensioning of

    the spares is consolidated through the program developed in c ++ language, which aims to

    analyze the failures overlapping over time. The study is applied to the sizing of centrifugal

    pumps (BCS) used in the production of oil in offshore units. The tool search to structure the

    process of allocation of spare parts to be fixed in the oil sector, aiding decision making.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Estoque de materiais ................................................................................................ 24

    Figura 2 - Características dos itens sobressalentes ................................................................... 25

    Figura 3 - Equipamentos reparáveis ......................................................................................... 27

    Figura 4 - Equipamentos não reparáveis .................................................................................. 27

    Figura 5 - Gerenciamento integrado: itens sobressalentes ....................................................... 28

    Figura 6 - Curva de confiabilidade ........................................................................................... 34

    Figura 7- Taxa de falha em função do tempo ........................................................................... 35

    Figura 8 - Função acumulada de Falha ..................................................................................... 37

    Figura 9 - Função densidade de falhas ..................................................................................... 38

    Figura 10- Função densidade de falhas .................................................................................... 39

    Figura 11 - Distribuição exponencial ....................................................................................... 40

    Figura 12 - Função densidade de probabilidade: distribuição Lognormal ............................... 42

    Figura 13 - Função densidade de probabilidade: distribuição Weibull .................................... 43

    Figura 14 - Análise de confiabilidade: sistema série ................................................................ 46

    Figura 15– Análise de confiabilidade: sistema paralelo ........................................................... 47

    Figura 16– Exemplo sistema misto .......................................................................................... 48

    Figura 17- Exemplo de taxas de falha não proporcionais ........................................................ 66

    Figura 18- Exemplos de aplicação: riscos proporcionais ......................................................... 67

    Figura 19- Diagrama esquemático poço BCS .......................................................................... 71

    Figura 20- Sistema BCS ........................................................................................................... 72

    Figura 21– Localização dos campos de Produção .................................................................... 73

    Figura 22- Plataforma de Produção .......................................................................................... 74

    Figura 23– Localização dos estoques ....................................................................................... 75

    Figura 24- Procedimento de Pesquisa ...................................................................................... 77

  • Figura 25 - Óleo isolante contaminado .................................................................................... 86

    Figura 26– Papéis de probabilidade ......................................................................................... 89

    Figura 27– Papéis de probabilidade: bomba ............................................................................ 91

    Figura 28– Proporcionalidade dos riscos: covariável vazão .................................................... 93

    Figura 29– Resíduo de Schoenfeld: bomba .............................................................................. 93

    Figura 30 Papéis de probabilidade: motor elétrico ................................................................... 97

    Figura 31– Gráficos motor elétrico .......................................................................................... 98

    Figura 32– Proporcionalidade dos riscos: covariável fator humano ...................................... 100

    Figura 33–Resíduo de Schoenfeld: motor .............................................................................. 100

    Figura 34– Papéis de probabilidade: cabo elétrico ................................................................. 103

    Figura 35– Gráficos motor elétrico ........................................................................................ 104

    Figura 36– Proporcionalidade dos riscos: covariável fator humano ...................................... 105

    Figura 37–Resíduo de Schoenfeld: Cabo ............................................................................... 106

    Figura 38– Representação em blocos: sistema BCS .............................................................. 107

    Figura 39– Curvas de confiabilidade ...................................................................................... 108

    Figura 40– Visão geral da oficina........................................................................................... 110

    Figura 41– Trinca bucha centralizadora ................................................................................. 110

    Figura 42– Desgaste rotor bomba centrífuga ......................................................................... 111

    Figura 43– Eixo partido: conexão motor e bomba ................................................................. 111

    Figura 44– Presença de incrustação na sucção da Bomba...................................................... 112

    Figura 45– Teste da suposição i.i.d: Bomba ........................................................................... 113

    Figura 46 – Teste da suposição i.i.d: Motor ........................................................................... 113

    Figura 47 - Teste da suposição i.i.d: Motor ............................................................................ 114

    Figura 48– Diagrama de blocos: programa desenvolvido ...................................................... 117

    Figura 49– Análise de Sensibilidade ...................................................................................... 118

  • Figura 50– Papeis de probabilidade ....................................................................................... 135

    Figura 51 – Função densidade de falha: Lognormal .............................................................. 136

    Figura 52– Função taxa de falha: Lognormal ......................................................................... 136

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1– Classificação dos estoques ....................................................................................... 23

    Tabela 2- Ferramentas usuais para classificação e controle de estoque ................................... 49

    Tabela 3- Abordagens para dimensionamento de sobressalentes ............................................. 55

    Tabela 4– Parâmetro de escassez do estoque ........................................................................... 62

    Tabela 5 – Modos de Falha....................................................................................................... 80

    Tabela 6– Definição das Covariáveis ....................................................................................... 85

    Tabela 7– Dados de falha: Bomba ............................................................................................ 87

    Tabela 8 - Teste de aderência: bomba ...................................................................................... 90

    Tabela 9– Parâmetros da Distribuição Weibull: bomba ........................................................... 90

    Tabela 10– Seleção de covariável: bomba ............................................................................... 91

    Tabela 11 - Estimação covariável: bomba ................................................................................ 92

    Tabela 12– Coeficiente de Pearson: bomba ............................................................................. 94

    Tabela 13– Dados de falha: Motor ........................................................................................... 95

    Tabela 14 Teste de aderência: motor ........................................................................................ 97

    Tabela 15 - Parâmetros da Distribuição Weibull: motor elétrico ............................................. 98

    Tabela 16– Seleção de covariável: motor ................................................................................. 99

    Tabela 17– Estimação covariável: motor ................................................................................. 99

    Tabela 18– Coeficiente de Pearson: motor ............................................................................. 100

    Tabela 19– Dados de falha: Cabo ........................................................................................... 101

    Tabela 20– Teste de aderência: cabo elétrico ......................................................................... 102

    Tabela 21– Parâmetros da Distribuição Weibull: cabo elétrico ............................................. 103

    Tabela 22– Seleção de covariável: cabo elétrico .................................................................... 104

    Tabela 23– Estimação covariável: cabo ................................................................................. 105

  • Tabela 24 - Coeficiente de Pearson: cabo .............................................................................. 106

    Tabela 25– Cenários confiabilidade Sistêmica ....................................................................... 107

    Tabela 26– Cenários: correção do parâmetro de escala ......................................................... 108

    Tabela 27– Medidas de tendência central e variabilidade ...................................................... 109

    Tabela 28– Projeção do número de falhas .............................................................................. 115

    Tabela 29– Projeção do número de falhas .............................................................................. 115

    Tabela 30– Número de Sobressalentes ................................................................................... 118

    Tabela 31– Teste Qui-Quadrado............................................................................................. 137

    Tabela 32– Parâmetros distribuição Lognormal ..................................................................... 137

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Evolução da manutenção ......................................................................................... 30

    Quadro 2- Abordagens para dimensionamento de sobressalentes............................................ 54

    Quadro 3– Modelo conceitual .................................................................................................. 79

  • 13

    LISTA DE SIGLAS

    ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

    ABRAMAN – Associação Brasileira de Manutenção

    BCS – Bombeio Centrífugo Submerso

    BSW – Basic Sediments Water

    RGO – Razão gás óleo

    TMEF – Tempo Médio Entre Falhas;

    TMPF – Tempo Médio Para Falha;

    TMPR – Tempo Médio Para Reparo;

  • 14

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 16

    1.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 19 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 19 1.3 HIPÓTESES DE PESQUISA ........................................................................... 19 1.4 MOTIVAÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................ 20 2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 23

    2.1 ESTOQUE DE MATERIAIS ........................................................................... 23 2.2 ESTOQUE DE MATERIAIS SOBRESSALENTES ..................................... 25 2.3 MANUTENÇÃO ................................................................................................ 29 2.3.1 Sistemas reparáveis......................................................................................... 32

    2.4 ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ...................................................... 33 2.4.1 Função Confiabilidade R(t) ............................................................................ 33

    2.4.2 Função de risco h(t) ........................................................................................ 35

    2.4.3 Função de distribuição acumulada F(t) .......................................................... 37

    2.4.4 Função densidade de Probabilidade f(t) ......................................................... 38

    2.4.5 Distribuições de probabilidade ....................................................................... 39

    2.4.6 Estimação de Parâmetros ................................................................................ 44

    2.4.7 Confiabilidade de sistemas ............................................................................. 45

    2.5 CLASSIFICAÇÃO DOS ITENS SOBRESSALENTES ................................ 48 2.6 FERRAMENTAS PARA DIMENSIONAMENTO DE SOBRESSALENTES 49 2.7 MODELOS PROBABILÍSTICOS PARA GESTÃO DE SOBRESSALENTES ................................................................................................... 57 2.7.1 Processos Estocásticos .................................................................................... 59

    2.7.2 Processo de Renovação .................................................................................. 60

    2.7.3 Modelo de Regressão com covariáveis .......................................................... 63

    2.7.4 Modelo de Regressão com covariáveis: tempo de vida acelerado ................. 64

    2.7.5 Modelo de Regressão com covariáveis: Riscos proporcionais ....................... 65

    3. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................... 69

    3.1 LOCALIZAÇÃO ............................................................................................... 73 3.2 CARACTERÍSTICAS DO ESTOQUE DE MATERIAIS ............................ 74 4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 76

    4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO .............................................................. 76 4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ................................................................ 76 4.3 MODELO CONCEITUAL ............................................................................... 79 4.4 PLANOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ...................................... 83 5. APLICAÇÃO DO MODELO ............................................................................... 85

  • 15

    5.1 ETAPA 1 – IDENTIFICAÇÃO DAS COVARIÁVEIS E COLETA DOS DADOS .......................................................................................................................... 85 5.2 ETAPA 02 – ANÁLISE DOS DADOS ............................................................. 86 5.2.1 Etapa 2: análise dos dados - Componente bomba .......................................... 87

    5.2.2 Etapa 2: análise dos dados: componente motor .............................................. 94

    5.2.3 Etapa 2: análise dos dados: componente cabo elétrico ................................. 101

    5.2.4 Etapa 2: análise dos dados: confiabilidade do sistema BCS ........................ 106

    5.3 ETAPA 3: ESCOLHA DO MODELO PARA PREVISÃO DO NÚMERO DE FALHAS ............................................................................................................... 109 5.4 ETAPA 04: ESTIMAÇÃO DO NÚMERO DE FALHAS E VALIDAÇÃO DA FERRAMENTA ................................................................................................... 114 6. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 120

    6.1 AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES .................................................................. 120 6.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 120 APÊNDICE A .............................................................................................................. 124

    APÊNDICE B ............................................................................................................... 126

    APÊNDICE C .............................................................................................................. 128

    APÊNDICE D .............................................................................................................. 130

    APÊNDICE E ............................................................................................................... 135

    7. REFERENCIAS .................................................................................................. 138

  • 16

    1. INTRODUÇÃO

    O aumento da eficiência operacional, mediante redução dos custos, apresenta-se

    como uma alternativa para melhoria na competitividade organizacional. Neste contexto,

    os custos relativos à manutenção em equipamentos absorvem uma parcela significativa

    dos gastos, podendo representar valores na ordem de 15-70% dos custos de produção

    (LOUIT et al., 2011). As atividades de manutenção têm adquirido importância estratégica

    em aspectos como: segurança operacional, capacidade produtiva, meio ambiente, custos

    de produção e qualidade dos produtos. Conforme Braglia e Frosolini (2013), a melhoria

    na performance da manutenção pode ser alcançada mediante a gestão dos estoques

    sobressalentes.

    Os estoques de materiais sobressalentes são itens utilizados nas rotinas de

    manutenção cujo objetivo é reduzir o tempo de indisponibilidade dos equipamentos,

    representado pelo lucro cessante. Segundo Jaarsveld e Dekker (2011), quando um

    equipamento falha, o tempo de parada pode ser significativamente reduzido caso o

    sobressalente esteja disponível para substituição. A literatura apresenta duas principais

    categorias básicas de manutenção: corretiva e preventiva. A manutenção corretiva

    consiste nas intervenções que ocorrem após a falha do equipamento, cujo objetivo é

    restaurar sua funcionalidade. A manutenção preventiva compõe o conjunto de ações

    periódicas que visam preservar a função do equipamento. Assim, independente do tipo

    de intervenção realizada no equipamento a necessidade de materiais sobressalentes

    emerge do processo de manutenção, podendo a demanda ser previsível ou aleatória.

    O dimensionamento do estoque sobressalente deve considerar as particularidades

    dos equipamentos e suas políticas de manutenção adotadas. Os equipamentos que

    apresentam componentes mecânicos geralmente falham por desgastes, sendo as trocas

    periódicas mais aplicáveis. Neste caso, o estoque sobressalente deve responder as

    necessidades advindas da manutenção preventiva. Para equipamentos eletrônicos, cujo

    falha é aleatória, as ações corretivas são mais adequadas. Dessa forma, o estoque deve

    contemplar as solicitações relacionadas as falhas inesperadas.

    De modo geral, há um consenso de que os estoques sobressalentes não podem ser

    gerenciados pelos modelos tradicionais (média móvel, suavização exponencial, dentre

    outros). Isso porque a demanda é irregular (lumpy), o investimento para aquisição dos

    itens é elevado e o tempo de entrega é longo (BOTTER; FORTUIN, 2000; DEKKER et

    al., 2013). Em adição, atrasos alfandegários e a necessidade de transporte especial são

  • 17

    questões que influenciam o tempo de entrega (JAARSVELD; DEKKER, 2011). Assim,

    baixos níveis de estoque podem conduzir à perda de economia de escala e altos custos de

    falta dos produtos, em contrapartida, o excesso destes itens representa custos operacionais

    e de capital imobilizado (HIGGINS; MOBLEY, 2002).

    Conforme Wang (2011), as necessidades de peças sobressalentes e o planejamento

    de manutenção são atividades relacionadas, que devem ser tratadas em conjunto visando

    a eficiência global em custos. Estudo em companhias de negócios aéreos dos EUA

    relatam que os estoques sobressalentes representam valores acima de US$ 50 Bilhões

    (KILPI; VEPSÄLÄINEN, 2004). Segundo Mehrotra et al. (2001), o investimento em

    peças de reposição pode variar de 5% a 15% dos gastos totais de funcionamento,

    representando um custo de oportunidade anual que oscila entre 20 a 40% do valor em

    estoque (SANDVIG; ALLAIRE, 1998). Outrossim, os sobressalentes representam cerca

    de 1/3 dos ativos em uma empresa típica (DÍAZ; FU, 1997). No Brasil, segundo dados da

    Associação Brasileira de Manutenção (ABRAMAN), em seu relatório nacional de 2013,

    o valor do estoque sobressalente perfaz 13,4% dos custos de manutenção, com

    rotatividade de 5 meses.

    Em processos que envolvem segurança operacional, risco ao meio ambiente e

    lucro cessante, a continuidade das operações está relacionada ao sobredimensionamento

    do estoque sobressalente (SARKER; HAQUE, 2000), refletindo no aumento do capital

    imobilizado e dos custos para manutenção dos inventários (KENNEDY et al., 2002).

    Conforme Gajpal et al. (1994), uma abordagem cientifica sistematizada conduz a

    minimização do número de peças sobressalentes e o tempo de indisponibilidade dos

    equipamentos (downtime).

    A indústria do petróleo possui uma diversidade significativa de equipamentos

    necessários ao desenvolvimento de seus processos, sendo a quantidade dos itens

    imobilizados um reflexo dessa variedade. O aumento no volume de inventários é uma

    realidade em processos de alta complexidade, característicos da indústria petrolífera.

    Nesse caso, o excesso de itens em estoque está diretamente ligado ao risco da falta do

    material, ou seja, o estoque é usado para absorver as incertezas relacionadas às demandas

    das ações de manutenção. Dado a complexidade do dimensionamento de estoques

    sobressalentes, o equilíbrio entre o custo da falta do material e o capital imobilizado fica

    comprometido, seja pelo excesso ou necessidade do item.

    Em adição, as condições ambientais são importantes fatores que atuam sobre a

    confiabilidade do item, refletindo no número de sobressalentes necessários. Tais

  • 18

    condições podem ser representadas por aspectos inerentes ao ambiente (temperatura,

    pressão, umidade, salinidade), pelas condições de instalação e uso dos equipamentos,

    dentre outras formas. Esses fatores são denominados de covariáveis ou variáveis

    explanatórias e afetam diretamente a taxa de falha dos equipamentos. Segundo os estudos

    de Ghodrati e Kumar (2005), ignorar as condições operacionais pode conduzir a uma

    diferença de 20% na expectativa de sobressalentes. A consideração das covariáveis torna

    o modelo de previsão mais assertivo e minimiza os riscos de falta do item no estoque.

    Diante do exposto surge a seguinte questão de pesquisa: como dimensionar o

    estoque de material sobressalente em uma empresa do ramo petrolífero, de forma a

    minimizar os gastos organizacionais (investimentos, custos e lucros cessantes), a partir

    de um modelo baseado em confiabilidade industrial com uso de covariáveis? O estudo foi

    aplicado ao dimensionamento do estoque para motobombas centrifugas submersas

    (BCS), usadas na produção de petróleo em plataforma marítima. A análise é baseada no

    estudo probabilístico das falhas (confiabilidade industrial) e no processo de contagem

    representado pela teoria da renovação.

    Esta dissertação está organizada da seguinte forma: o Capítulo 1 introduz o

    problema a ser estudado, apresentando as justificativas e os objetivos do estudo. O

    Capítulo 2 apresenta os conceitos teóricos necessários a compreensão do modelo. O

    Capítulo 3 mostra a descrição do problema. O Capítulo 4 aborda o método científico

    adotado na realização da pesquisa. O Capítulo 5 aplica e valida do modelo. As conclusões

    finais são relatadas no Capítulo 6.

  • 19

    1.1 OBJETIVO GERAL

    O objetivo geral deste estudo é desenvolver e aplicar um modelo para

    dimensionamento de sobressalentes baseado em confiabilidade industrial com uso de

    covariáveis. O modelo foi aplicado ao dimensionamento de bombas centrifugas

    submersas (BCS) usadas na produção de petróleo em instalações marítimas.

    1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    Os objetivos específicos que delineiam o trabalho proposto são:

    • Levantamento bibliográfico acerca do tema: compor a base teórica sobre

    os modelos aplicáveis ao dimensionamento de sobressalentes,

    promovendo uma análise dos trabalhos correlatos. Essa fase também

    compreende a seleção do modelo adequado ao problema;

    • Desenvolver o modelo conceitual;

    • Coletar e analisar os dados relativos ao estudo: consiste na coleta e

    tratamento dos dados (eventos de falhas e dados das covariáveis);

    • Aplicar o modelo ao dimensionamento do estoque;

    • Validar a ferramenta aplicada visando assegurar a representatividade das

    informações geradas pelo modelo.

    1.3 HIPÓTESES DE PESQUISA

    Baseado nas definições dos objetivos deste estudo, duas hipóteses serão analisadas:

    H0 - O modelo proposto não oferece possibilidade de ganhos financeiros na gestão de

    estoque sobressalente, quanto à otimização dos gastos organizacionais (investimentos e

    custos);

    H1 - O modelo proposto oferece possibilidade de ganhos financeiros na gestão de estoque

    sobressalente, quanto à otimização dos gastos organizacionais (investimentos e custos);

  • 20

    1.4 MOTIVAÇÃO E JUSTIFICATIVA

    A gestão de estoques para itens sobressalentes possui particularidades específicas

    que interferem ativamente nas políticas de manutenção adotadas pela empresa. Segundo

    Gomes e Wanke (2008), as empresas enfrentam um problema complexo quanto à

    imobilização de componentes sobressalentes: peças de reposição são caras, a demanda é

    errática e difícil de prever, tempos de resposta são longos e estocásticos e a inatividade

    dos equipamentos reduz o lucro organizacional.

    Nesse sentido, o estoque de peças destinado à manutenção deve ter como premissa

    fundamental possuir quantidades adequadas, visando minimizar o lucro cessante e os

    investimentos para sua aquisição (HIGGINS, 2002). Segundo Moubray (1996), a política

    de estoque para manutenção deve prever um equilíbrio entre o investimento realizado

    para aquisição do item e o custo inerente à falta do componente, ou seja, lucro cessante.

    A inexistência de técnica especifica para quantificação dos itens sobressalentes

    em estoque, de forma a atender os requisitos financeiros e de manutenção, pode conduzir

    o gestor a decisões incompatíveis com os objetivos organizacionais. Segundo Almeida et

    al. (2001), no âmbito empresarial o dimensionamento de sobressalente quase sempre não

    incorpora um embasamento quantitativo em sua análise, podendo resultar em diversas

    consequências sobre a continuidade operacional (GODOY et al., 2013).

    Para a indústria do petróleo, dado a criticidade dos processos produtivos, a falta

    de sobressalentes tem implicações financeiras significativas. A utilização do senso

    comum (subjetividade) ainda é prática constante no dimensionamento dos inventários que

    compõem os almoxarifados. Outro problema identificado é a aplicação das técnicas

    tradicionais (média móvel, suavização exponencial) para gestão de itens sobressalentes.

    Os equipamentos relacionados às atividades de manutenção falham segundo

    características especificas de seus itens componentes, podendo apresentar falhas

    prematuras, aleatórias e por degradação funcional. Estas especificidades não são

    contempladas nos modelos tradicionais para dimensionamento dos inventários,

    resultando em dois erros:

    a) Sobredimensionamento do item: quantidade além do consumo normal e que

    onera o almoxarifado;

    b) Subdimensionamento do item: quantidade inferior à demanda e que expõe a

    organização a lucro cessante;

  • 21

    Dentre os diversos equipamentos utilizados na indústria do petróleo, o item a ser

    estudado nesta dissertação foi selecionado considerando dois critérios básicos, conforme

    Chitale e Gupta (2011): custo de aquisição e criticidade. O custo de aquisição representa

    o valor investido na compra do item. Já a criticidade consiste no impacto da falta do item

    para o processo produtivo. Neste caso, optou-se por aplicar o estudo ao dimensionamento

    de estoque envolvendo Bombas Centrifugas Submersas (BCS). Estes equipamentos são

    utilizados diretamente na produção de petróleo, destacando-se pelo seu alto valor de

    aquisição e lucro cessante envolvido. Outrossim, desde que dados de falha estejam

    disponíveis, este modelo poderá ser aplicado a outros equipamentos.

    Para materiais sobressalentes é fácil identificar uma relação entre o número de

    itens imobilizados e o índice de falha do respectivo equipamento, representado pela taxa

    de falha. Esta relação pode ser explicada da seguinte forma: se um equipamento falha

    com maior frequência, o estoque deve possuir quantidades que atendam esta necessidade,

    ou seja, será preciso um maior número de itens para atender esta demanda. Conforme

    explicado por Moubray (1996), o estudo dos equipamentos com relação a confiabilidade

    industrial fornece parâmetros objetivos para determinação do estoque sobressalente a ser

    imobilizado, tornando a demanda dos itens mais previsível.

    A literatura especializada trata as questões relativas à previsão de estoque

    sobressalente considerando as seguintes abordagens: programação matemática, processo

    estocásticos, modelos probabilísticos, simulação e modelos multicritérios. Uma parcela

    significativa dos trabalhos analisados considera que os equipamentos são não reparáveis

    e as falhas seguem um processo de Poisson. Em alguns casos, dado a simplicidade

    matemática desta consideração, este modelo tem sido aplicado incorretamente resultando

    em erros de estimação. Nesta dissertação, a ferramenta selecionada e aplicada foi baseada

    em duas características fundamentais do item: reparabilidade do equipamento e a eficácia

    do reparo executado.

    Desta forma, o Bombeio Centrifugo Submerso (BCS) é item um reparável cuja

    ação de reparo restaura o equipamento a uma condição de “tão bom quanto novo”. Assim,

    foi utilizado o processo de renovação para quantificar o número de falhas no tempo. Da

    mesma forma, considerando que os fatores ambientais influenciam a taxa de falha do

    item, covariáveis foram inseridas no modelo. Ou seja, para equipamentos aplicados em

    condições severas (salinidade, poeira, umidade, temperatura), bem como sujeitos a

    operações inadequadas (fatores humanos), a taxa de falha é maior quando comparado a

  • 22

    equipamentos livres de tais condições. Identificar e determinar esses fatores torna o

    modelo mais assertivo, reduzindo a possibilidade de escassez do estoque.

    Por fim, outro fator importante que motivou o estudo diz respeito à atual

    conjuntura econômica vivenciada pela indústria do petróleo, representado pelo preço

    comercializado deste commodity. Comparativamente, o barril de petróleo apresentou uma

    redução de aproximadamente 60% considerando o período de junho 2014 e agosto 2015.

    Este aspecto reforça as diretrizes relativas à eficiência e competitividade operacional.

    Assim, os estudos que envolvem a análise de sobressalente podem contribuir ao resultado

    financeiro da empresa, visando a eficiência em custo e a melhoria na competividade

    organizacional.

  • 23

    2. REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1 ESTOQUE DE MATERIAIS

    As empresas mantêm estoques para garantir a independência das operações,

    atender as variações na demanda do produto, permitir a flexibilidade do sistema

    produtivo, suportar problemas de fornecimento ou mesmo para aproveitar lotes

    econômicos de compra (WATERS, 2003). Para qualquer finalidade, o estoque

    corresponde a capital imobilizado e a altos custos para a organização (AXSÄTER, 2006).

    Os estoques assim gerados apresentam características e denominações diferentes,

    dependendo de sua finalidade. A Tabela 1 especifica as terminologias utilizadas para

    caracterização dos estoques.

    Tabela 1– Classificação dos estoques

    Tipo de Estoque Características

    Estoque de Segurança

    - A organização conta com um estoque adicional para compensar um eventual atraso na produção, na entrega, ou mesmo um aumento inesperado na demanda; - Leva em consideração a probabilidade das incertezas acontecerem. Por esta razão possui natureza probabilística.

    Estoque Sazonal

    - Atendem a períodos de sazonalidade, tanto da demanda pelo produto acabado, como da oferta por matéria-prima.

    Estoque Cíclico

    - Existem para permitir a economia de escala na compra ou produção em lotes. É preciso determinar qual quantidade permite o melhor aproveitamento econômico;

    Estoque no Canal - Estoque decorrente da logística relacionada ao transporte de materiais;

    Estoque de antecipação

    - Estoque formado para nivelar as flutuações previsíveis na demanda por itens.

    Fonte: Waters (2006)

    Em cada fase do processo produtivo, as operações requerem diferentes tipos de

    materiais cuja função é contribuir para o resultado organizacional. Segundo esta visão, os

    estoques podem ser classificados conforme seu propósito geral em: estoque de matéria

    prima, produto em processo, consumíveis, sobressalentes e produtos acabados

    (WATERS, 2003). A Figura 1 ilustra esta classificação.

  • 24

    Figura 1 - Estoque de materiais Fonte: Adaptado de Walters, 2003

    Conforme a Figura 1, os estoques de materiais apresentam um posicionamento

    relevante à continuidade das operações. No ambiente empresarial, a gestão dos

    inventários estabelece um conflito de interesse importante: baixos níveis de estoque

    podem conduzir a perda de economias de escala e altos custos de falta de produtos, em

    contrapartida, o excesso de estoques representa custos operacionais e de oportunidade do

    capital imobilizado. Os Conflitos de interesses ou Trade-off tornam-se mais evidentes

    conforme o aumento dos riscos relacionados à produção: os estoques sobressalentes, por

    exemplo, podem absorver grandes somas de recursos ou representar enormes perdas de

    produção.

    Segundo Axsäter (2006), o controle inadequado dos estoques pode resultar tanto

    em estocagem insuficiente quanto em estocagem excessiva. A estocagem insuficiente

    resulta em vendas perdidas, lucros cessantes, clientes insatisfeitos e gargalos na produção.

    A estocagem excessiva absorve, desnecessariamente, recursos que poderiam ser mais

    produtivos em outras áreas. Dessa forma, a gestão dos estoques dentro das empresas

    adquire grande importância tendo como preocupação a busca constante pela minimização

    dos valores monetários imobilizados, dentro dos níveis de segurança para atender o

    cliente.

    ESTOQUE EM PROCESSO

    ESTOQUE DE MATÉRIA PRIMA

    OPERAÇÃO EM PROCESSO

    ESTOQUE SOBRESSALENTE

    ESTOQUE DE CONSUMÍVEIS

    PRODUTOS ACABADOS

  • 25

    2.2 ESTOQUE DE MATERIAIS SOBRESSALENTES

    O Estoque sobressalente é formado por um conjunto de itens necessários ao

    processo de manutenção, cujo objetivo é reduzir o tempo de reparo dos equipamentos

    (HORENBEEK et al., 2013). Neste sentido, o dimensionamento das peças de reposição

    impacta diretamente a competitividade empresarial mediante as variáveis custos e

    lucratividade. Segundo Louit et al. (2011), a insuficiência na previsão de demanda para

    peças sobressalentes pode gerar perda na performance dos ativos, baixa disponibilidade

    e riscos operacionais. De outra forma, estoque em excesso conduz ao uso ineficiente do

    capital e diversas despesas.

    As peças sobressalentes aplicáveis nas rotinas de manutenção estão sujeitas a um

    sistema de gerenciamento que difere daquele aplicado aos materiais de produção

    (ALMEIDA et al., 2001). Segundo Gomes e Wanke (2008), existe um consenso de que

    os estoques de peças de reposição não podem ser gerenciados mediante modelos ou

    métodos tradicionais, já que as condições para sua aplicação não são satisfeitas. Isso

    porque o padrão de consumo é esporádico, os tempos do ressuprimento são longos e os

    custos de aquisição são elevados. A Figura 2 ilustra as particularidades dos itens

    sobressalentes.

    Figura 2 - Características dos itens sobressalentes

    Fonte: Desenvolvido pelo autor

    Conforme observado na Figura 2, a gestão de itens sobressalentes apresenta

    características específicas que são determinantes para a previsão de componentes. Tais

    requisitos impossibilita a aplicação direta das técnicas tradicionais para controle de

    inventários (SCALA et al., 2014). Assim, o processo de quantificação de peças

    sobressalentes é um problema complexo que requer análise de todos os fatores que afetam

  • 26

    a tomada de decisão (GHODRATI; KUMAR, 2005). Na sequência, serão detalhadas as

    especificidades que envolvem a gestão de itens sobressalentes:

    a) Demanda Irregular e baixo giro do estoque - A demanda por unidades sobressalentes

    em estoque não segue um padrão regular de consumo, sendo dependente do número de

    equipamentos em operação (LOUIT et al., 2011). Como a necessidade por peças de

    reposição emerge do processo de manutenção em equipamentos (MOBLEY et al., 2008),

    a função que descreve a demanda será influenciada pelo mecanismo de falha do item.

    Dessa forma, demanda esporádica ("lumpy" - termo língua inglesa) apresenta difícil

    predição e os custos de falta (quebra do estoque) são extremamente elevados (GOMES;

    WANKE, 2008). Como consequência da irregularidade na demanda, os itens

    sobressalentes apresentam baixa rotatividade do estoque. Essa característica é classificada

    na literatura como movimentação lenta ou "slow moving";

    b) Alto Valor de aquisição - As peças sobressalentes são itens de baixa demanda e com

    aplicação específica. Em alguns casos, o fornecimento requer alteração do processo

    produtivo e produção em lote unitário. Estes fatores implicam em maiores custos de

    fabricação para os componentes, refletindo no preço de venda;

    c) Elevado tempo de fornecimento - A complexidade dos equipamentos e necessidade

    (em alguns casos) de transporte especial, conduzem ao aumento no tempo de entrega do

    sobressalente;

    d) Risco de obsolescência - O risco de obsolescência e seus custos associados são

    variáveis conforme o tipo de indústria, sendo melhor observado em setores tecnológicos.

    Em geral, a obsolescência torna-se um problema para itens que são raramente

    necessitados (KENNEDY et al., 2002) e que possuam funcionalidades especificas

    (DEKEER et al., 2013).

    Conforme Deeker et al. (2013) e Kennedy et al. (2002), os níveis de estoque de

    peças de reposição devem ser determinados mediante o equilíbrio da relação entre o lucro

    cessante e os custos envolvidos em manter o item em estoque. Em geral, quando os custos

    associados à falha são altos e a previsão de demanda não é consistente, existe a tendência

  • 27

    de aumento do número de elementos em estoque (MOBLEY et al., 2008; SCALA et al.,

    2014).

    Segundo Almeida et al. (2001), o dimensionamento de sobressalente apresenta

    uma relação de dependência com as falhas ocorridas nos equipamentos e o tipo de

    manutenção adotada. Portanto, a fim de reduzir o tempo de ociosidade dos sistemas, a

    abordagem para gestão de inventário deve ser integrada com as ações de manutenção e

    confiabilidade do item (HORENBEEK et al., 2013).

    As ações de manutenção têm por objetivo manter e ou restaurar a função dos

    ativos, a partir de intervenções que podem ser programadas ou não. Conforme Kennedy

    et al. (2002), nas manutenções preventivas ou programadas a necessidade de itens

    sobressalentes é previsível, dado que as trocas de componentes são definidas com base

    no tempo. Para as manutenções corretivas ou não programadas, as intervenções ocorrem

    condicionadas ao processo de falha dos equipamentos, estando associadas a lucro

    cessante (HIGGINS; MOBLEY, 2002).

    Outro fator que impacta na gestão dos estoques sobressalentes é a reparabilidade

    dos equipamentos. Os itens sobressalentes podem ser classificados genericamente como

    reparáveis e não reparáveis. As Figuras 3 e 4 ilustram esta classificação.

    Para itens reparáveis, a função do componente pode ser restaurada após ação de

    reparo. Neste caso, sempre que um componente falha ou é preventivamente removido de

    operação, a peça sobressalente é instalada. O item substituído é enviado para manutenção

    e retorna ao estoque após reparo. A possibilidade de recuperação de um item acarreta

    implicações na gestão de estoques, dado que as quantidades em processo de

    recondicionamento devem ser deduzidas das quantidades a serem ressupridas no futuro

    (DEKKER et al., 1998; SHERBROOKE, 1968). Diferentemente, os itens não reparáveis

    Figura 3 - Equipamentos reparáveis Fonte: Adaptado de Louit et al. (2011)

    Figura 4 - Equipamentos não reparáveis Fonte: Adaptado de Louit et al. (2011)

  • 28

    são descartados após substituição. Isso ocorre quando a tarefa de reparo é extremamente

    difícil ou quando os custos de reparo excedem os custos de aquisição do componente

    (LOUIT et al., 2011).

    Assim, a gestão dos estoques sobressalentes deve ser conduzida visando atender

    a requisitos da função produção e manutenção, com foco nos objetivos do negócio. A

    Figura 5 resume o mapa relacional para gestão de inventários, enfatizando a importância

    do gerenciamento integrado.

    Figura 5 - Gerenciamento integrado: itens sobressalentes Fonte: Adaptado de Horenbeek et al. (2013)

    Segundo Moubray (1996), de acordo com certas premissas adotadas para gestão

    de estoques, as organizações podem ser classificadas em reativas e proativas. As

    organizações reativas normalmente possuem uma grande quantidade de inventários, visto

    sua incapacidade de prever quando as peças serão necessárias. As organizações que

    adotam uma postura proativa buscam conhecer seus equipamentos, mediante uso de

    ferramentas para tornar mais previsível a necessidade de sobressalentes.

    Higgins (2002) elenca alguns fatores contribuintes para o aumento dos itens

    imobilizados em estoque:

    1) Custo de paralisação da produção: a dificuldade de aquisição imediata de peças

    sobressalentes e o elevado lucro cessante de uma eventual parada da produção

    resultam em estoques sobredimensionados;

  • 29

    2) Ganho de escala na aquisição de itens: a possibilidade de ganho de escala em

    transações motiva a compra de um maior número de sobressalentes, gerando uma

    maior quantidade de elementos em estoque;

    3) Desconhecimento dos processos e equipamentos: a incerteza do desempenho do

    equipamento requer uma maior quantidade de inventário para absorver os riscos

    decorrentes da falta do item;

    4) Despadronização de peças e equipamentos: a não uniformidade dos itens

    componentes que constituem um processo resulta em um maior número de

    equipamentos em estoque.

    2.3 MANUTENÇÃO

    A terminologia manutenção decorre do vocábulo militar, cujo sentido era "manter,

    nas unidades de combate, o efetivo e o material em um nível constante" (TAVARES,

    1999). Analisando a etimologia da palavra, manutenção deriva do latim manus teres, que

    significa manter o que se tem (VIANA, 2002). O sistema de normatização brasileiro,

    mediante a norma técnica NBR-5462, conceitua manutenção como sendo a combinação

    de todas as ações técnicas e administrativas, destinadas a manter ou recolocar um item

    em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida.

    Conforme Tavares (1999), a história da manutenção e o desenvolvimento

    industrial caminham juntos. A revolução industrial no final do século XVIII é um marco

    importante para evolução da sociedade humana. A existência de equipamentos mais

    sofisticados e a necessidade de ampliação da capacidade produtiva (mediante aumento da

    disponibilidade), fez surgir os primeiros conceitos de manutenção no início do século XX

    (KARDEC; NASCIF, 2009).

    Conforme Viana (2002) e Tavares (1999), neste período os operadores recebiam

    treinamentos dos fabricantes e tinham a função de operar e manter o maquinário.

    Alinhado com a sistematização das operações (preceitos de Taylor e Fayol) e com a

    produção seriada (Henry Ford), a manutenção foi sendo instituída nos programas de

    produção. Neste período, em meados de 1930, apenas serviços de limpeza, lubrificação e

    corretiva não planejada eram realizados.

    Segundo Viana (2002), o termo "manutenção" apareceu efetivamente nos Estados

    Unidos da América em 1950, cujo significado indicava a função de manter em bom

  • 30

    funcionamento todo e qualquer equipamento, ferramenta ou dispositivo. Kardec e Nascif

    (2009) dividem o processo evolutivo da manutenção em quatro gerações. O Quadro 1

    resume o desenvolvimento da manutenção.

    Quadro 1- Evolução da manutenção

    Fonte: adaptado de Kardec e Nascif (2009) Conforme observado a partir do Quadro 1, no início das atividades de manutenção,

    quando apenas ações corretivas eram realizadas, a manutenção era considerada um mal

    necessário, que não agregava valor ao processo produtivo (VIANA, 2002). Com a

    inclusão de técnicas preventivas e de novos modelos de gestão, a manutenção passou a

    ser vista como uma função estratégica para a organização (KARDEC; NASCIF, 2009),

    ou seja, atividade que adiciona valor ao negócio (BEN-DAYA; DUFFUAA, 1995).

  • 31

    A ação de manutenção pode ser caracterizada conforme o tipo de intervenção a

    ser realizada no equipamento. A literatura especializada apresenta diversas visões para

    categorizar a manutenção. Dhillow (2006), divide a manutenção em três níveis:

    a) Manutenção Corretiva: é a ação que objetiva corrigir ou restaurar as condições

    de funcionamento de um equipamento ou sistema, podendo ser planejada ou não

    planejada;

    b) Manutenção preventiva: é a atuação realizada de forma a reduzir ou evitar a

    falha ou queda no desempenho do equipamento, obedecendo a um plano previamente

    elaborado em intervalos de tempo predefinidos;

    c) Manutenção Preditiva: é a atuação realizada com base na observação dos

    parâmetros de condição ou desempenho do equipamento, obedecendo a uma sistemática.

    As variáveis acompanhadas (vibração, temperatura, corrente elétrica, vazão) são

    adquiridas mediante sensores cujo monitoramento pode ser contínuo ou discreto.

    Conforme a magnitude da variável em análise, a ação corretiva poderá ser planejada.

    Conforme Dhillow (2006), o objetivo da função manutenção é contribuir para a

    lucratividade de uma organização, a partir de ações que visam manter sua capacidade

    produtiva (SHARMA; YADAVA, 2011). Segundo Dekker (1998), o principal aspecto

    tratado na gestão da manutenção é o uso eficiente dos recursos materiais e humanos.

    Nesse sentido, diversos trabalhos têm sido desenvolvidos visando otimizar as

    ações de manutenção. Sharma e Yadava (2011) e Dekker (1998), relatam que os modelos

    de otimização são abordagens matemáticas que objetivam quantificar o custo-benefício

    das ações, mediante os critérios: custos, lucro, capacidade produtiva, desempenho e

    segurança operacional. Dentre os problemas mais frequentes estudados em gestão da

    manutenção, destacam-se a quantificação de estoque sobressalente, alocação de

    redundância, determinação da periodicidade em planos preventivos e dimensionamento

    de equipes (recurso humano).

  • 32

    2.3.1 Sistemas reparáveis

    As ações de reparo podem ser classificadas conforme a eficiência e eficácia na

    execução dos serviços. Os parâmetros de eficiência e eficácia são importantes devido ao

    impacto que representam nos indicadores de custos, confiabilidade e disponibilidade dos

    sistemas. Segundo Mobley (2008), as variáveis custos e lucro cessante apresentam uma

    relação direta com a qualidade e rapidez da manutenção realizada.

    A eficiência na manutenção está relacionada com o tempo de reparo do

    equipamento, compreendendo todas as medidas necessárias à execução, ou seja,

    existência de sobressalente, ferramental, habilidade da equipe de manutenção, aspectos

    logísticos, dentre outros. Em resumo, a eficiência na manutenção é dependente da

    velocidade de reparo do equipamento, caracterizado pela curva de mantenabilidade do

    sistema.

    Em contrapartida, a eficácia é o parâmetro que mede a qualidade do reparo, ou

    seja, o efeito da manutenção sobre o sistema. A eficácia no reparo pode ter classificada

    conforme o seu desempenho em restabelecer a função requerida do sistema. Neste

    sentido, existem três categorias que mensuram o grau do reparo: reparo perfeito, mínimo

    e imperfeito. A escolha do tipo de reparo a ser executado será dependente da criticidade

    do processo e das políticas de manutenção adotadas pela empresa. Obviamente, a eficácia

    do reparo irá influenciar o tempo da próxima falha do sistema. A seguir, as categorias de

    eficácia da manutenção serão detalhadas.

    a) Reparo perfeito: conhecido como reparo completo, esta intervenção restaura o

    equipamento para um estado de "tão bom quanto novo" ou "as good as new". O reparo

    perfeito é equivalente à substituição do item falho por um idêntico e novo, recebendo a

    denominação de recondicionado;

    b) Reparo mínimo: este tipo de reparo objetiva recuperar o desempenho do sistema

    para mesma condição anterior a falha. Neste caso, para equipamentos formados por vários

    itens, esta intervenção equivale somente à troca do componente falho. O reparo mínimo

    conduz a um desempenho "tão ruim quanto velho" ou "as bad as old ".

    c) Reparo Imperfeito: caracterizado por apresentar uma eficácia intermediária

    entre o reparo perfeito e o reparo mínimo.

  • 33

    Chukova et al. (2004), apresentam outras classificações para as ações de reparo,

    como o reparo melhorado e o reparo pior. O reparo melhorado conduz o equipamento a

    um desempenho melhor quando comparado ao seu estado inicial de operação. Em

    contraste, o reparo pior reduz o desempenho do sistema sob reparo, sendo gerado muitas

    vezes por erros humanos.

    2.4 ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE

    Com o crescente custo e complexidade dos diversos sistemas industriais, a

    importância da confiabilidade como um parâmetro de eficiência tornou-se evidente

    (KARDEC; NASCIF, 2009). O conhecimento formal resultante da análise das falhas

    provê uma ampla variedade de contextos para aplicação da engenharia de confiabilidade.

    Neste sentido, a engenharia de confiabilidade concentra-se na eliminação de falhas que

    requerem manutenção (MOBLEY, 2008), mediante análise da causa raiz dos problemas

    (HIGGINS, 2002).

    Em seu sentido amplo, confiabilidade está associada à operação bem sucedida de

    um produto ou sistema, na ausência de quebras ou falhas. Segundo Fogliatto e Ribeiro

    (2009), a engenharia fornece os subsídios necessários à definição quantitativa de

    confiabilidade em termos de probabilidade. Assim, a confiabilidade de um item

    corresponde à sua probabilidade de desempenhar adequadamente o seu propósito

    especificado, por um determinado período de tempo e sob condições ambientais

    predeterminadas (LEEMIS, 1995).

    O suporte estatístico tem um importante papel na projeção dos parâmetros de

    confiabilidade para predição da vida do item. Para tanto, as distribuições contínuas de

    probabilidade são utilizadas nas modelagens dos dados de entrada. Isso significa que a

    quantificação da confiabilidade deve apresentar valor entre 0 e 1 e que os axiomas da

    teoria da probabilidade devem ser seguidos (FOGLIATTO; RIBEIRO, 2009).

    2.4.1 Função Confiabilidade R(t)

    A função confiabilidade descreve a probabilidade de sobrevivência do item ao

    longo do tempo (LEEMIS, 1995), mostrando o quão confiável o equipamento pode ser

    em relação ao tempo de missão. Conforme Leemis (1995), sendo "T" uma variável

  • 34

    aleatória contínua que expressa o tempo de falha do item (T ≥ 0), a função confiabilidade

    R(t) pode ser descrita conforme a equação 1.

    ���� = ��� ≥ ��; � ≥ 0 (1)

    Segundo Lawless (2002), a função confiabilidade R(t) possui as seguintes propriedades:

    • R(t) é monotônica decrescente;

    • R(0) = 1;

    • lim�→� ���� = 0

    A curva de confiabilidade R(t) é gerada a partir dos eventos representativos de

    falha dos equipamentos. A Figura 6 descreve, em termos genéricos, o comportamento da

    confiabilidade ao longo do tempo.

    Figura 6 - Curva de confiabilidade Fonte: Desenvolvido pelo autor

    Conforme a Figura 6, a função confiabilidade R(t) é estritamente decrescente,

    apresenta características que variam segundo o tipo de equipamento e as condições de

    operação do sistema. Para equipamentos formados por diversos componentes, a curva de

    confiabilidade do sistema será obtida após a determinação do arranjo dos itens. Os

    componentes podem ser agrupados, genericamente, em arranjos do tipo série, paralelo ou

    misto (FOGLIATTO; RIBEIRO, 2009).

  • 35

    2.4.2 Função de risco h(t)

    A noção de função risco é fundamental em confiabilidade e análise de

    sobrevivência. De acordo com Kapur e Pecht (2014), a função risco é definida pela razão

    entre número de falhas por unidade de tempo e o número de unidades sobreviventes no

    tempo “t”. A função risco pode ser obtida usando probabilidade condicional. Neste caso,

    esta função descreve a probabilidade da falha ocorrer no intervalo t a t + dt, dado que não

    houve falha em t, ou seja:

    ��� ≤ � ≤ � + ∆�/� ≥ �� = ��������∆�������� = ���������∆������ (2)

    A taxa de risco representa uma importante variável para o acompanhamento da

    vida do equipamento. Conforme Kumar et al (2000), esta função é um indicador que

    mensura o efeito do envelhecimento sobre a confiabilidade do sistema. Existem três

    classificações básicas para a função de risco: função de risco decrescente, constante e

    crescente. Segundo Leemis (1995), produtos manufaturados costumam apresentar a

    ocorrência sucessiva das três classificações. A Figura 7 mostra uma representação

    genérica do comportamento da taxa de falha no domínio do tempo. Dado seu formato,

    esta curva é conhecida como banheira.

    Figura 7- Taxa de falha em função do tempo

  • 36

    A curva banheira representa as características típicas das fases da vida de um

    produto, equipamento ou sistema, descrevendo a taxa de falha (número de falhas por

    unidade de tempo) em função do intervalo de vida do item (horas, ciclos, km, etc.). Esta

    curva apresenta três regiões distintas: mortalidade infantil (taxa de falha decrescente),

    região de vida em serviço (taxa de falha constante) e envelhecimento ou degradação (taxa

    de falha crescente), conforme apresentado a seguir:

    a) Mortalidade infantil: representa a primeira porção da curva da banheira,

    caracterizada por uma elevada taxa de falha, porém decrescente (PYZDEK,

    2003). No período de mortalidade infantil ocorrem as falhas prematuras, sendo

    originadas por processos de fabricação deficientes, amaciamento insuficiente,

    sobrecarga no primeiro teste, erro humano, entre outros (LAFRAIA, 2001). Como

    medida para mitigar os riscos de falha de equipamentos durante este período,

    Fogliatto e Ribeiro (2009) relatam que o estágio de mortalidade infantil pode ser

    reduzido mediante adoção de projetos robustos de produtos, bem como práticas

    de controle de qualidade na manufatura. Outra medida usada é submeter as

    unidades à testes simulando as condições reais, por um período de tempo

    suficiente para que os defeitos precoces sejam identificados e corrigidos. Esta

    ação é denominada de burn in. Nesta região, a distribuição que melhor modela as

    falhas é a Weibull;

    b) Região de vida em serviço: nesta fase, a taxa de falha é sensivelmente menor e

    relativamente constante com o tempo. Normalmente as falhas são de natureza

    aleatória, pouco podendo ser feito para evitá-las (LAFRAIA, 2001). As falhas

    decorrem de fatores menos controláveis, como fadiga ou corrosão, aceleradas

    pelas interações dos materiais com o meio (KARDEC; NASCIF, 2009). Segundo

    Fogliatto e Ribeiro (2009), tal comportamento é causado por eventos estocásticos,

    designados por causas comuns e não relacionadas a defeitos inerentes às unidades.

    Falhas por causas comuns podem ser reduzidas através da melhoria nos projetos

    dos produtos, tornando-os mais robustos as variações nas condições de uso a que

    são submetidos. Para equipamentos nesta região (itens eletrônicos, por exemplo),

    a manutenção preventiva não tem efeito sobre a minimização das falhas aleatórias.

    A distribuição de probabilidade que melhor representa as falhas aleatórias é a

    exponencial;

  • 37

    c) Região de envelhecimento ou degradação: A região de envelhecimento é definida

    pelo término da vida útil do equipamento, onde a taxa de falha cresce

    continuamente proporcional ao tempo. O aumento da taxa de falha normalmente

    indica necessidade de substituição de componentes no equipamento, característica

    da fase de envelhecimento (PYZDEK, 2003). Segundo Fogliatto e Ribeiro (2009),

    as alternativas para amenizar a intensidade do envelhecimento incluem a

    manutenção preventiva, manutenção corretiva planejada e controle dos fatores

    ambientais de estresse que possam intensificar a taxa de falha do produto. Nesta

    fase, as distribuições que melhor modelam os dados é a Weibull, e a normal.

    2.4.3 Função de distribuição acumulada F(t)

    A função de distribuição acumulada (CDF) mostra a probabilidade de falha em

    um intervalo de tempo entre t1 a t2. A CDF cresce de zero a unidade com o aumento da

    variável aleatória (tempo). Assim, quando t tende ao infinito, a probabilidade do

    componente falhar tende à unidade. Segundo Lawless (2002), CDF possui as seguintes

    propriedades:

    • A Função F(t) é monotônica crescente;

    • F(0) = 0;

    • lim�→� ���� = 1 Um fato importante a ser ressaltado é a relação de complemento existente entre a

    CDF e a função de confiabilidade R(t), ou seja, F(t) = 1 - R(t). A Figura 8 mostra a função

    acumulada de falha.

    Figura 8 - Função acumulada de Falha Fonte: Desenvolvido pelo autor

  • 38

    2.4.4 Função densidade de Probabilidade f(t)

    Segundo Gnedenko e Ushakov (1995), a função densidade de probabilidade

    (PDF) pode ser interpretada como a frequência relativa da ocorrência de falha por unidade

    de tempo, ou seja, descreve a forma da distribuição do tempo de falha. Dado que a

    probabilidade de um evento ocorrer varia de 0 a 1, a PDF deve ser sempre positiva ou

    zero:

    f��� ≥ 0 (3)

    A partir da PDF pode-se definir a função distribuição de probabilidade acumulada,

    F(t), como a probabilidade de falha no intervalo [t1, t2]. A função densidade de

    probabilidade pode assumir diferentes formas de acordo com o perfil da variável aleatória

    contínua. A Figura 9 mostra o perfil típico de uma PDF.

    Figura 9 - Função densidade de falhas

    Fonte: Desenvolvido pelo autor

    Matematicamente, relações importantes podem ser obtidas a partir da curva que

    representa a PDF. Neste caso, é importante notar que a função confiabilidade, R(t), e a

    função densidade acumulada, F(t), representam áreas sob a curva definida pela função

    densidade de probabilidade, conforme representado nas equações 4 e 5. A Figura 10

    mostra graficamente esta relação.

    ���� = !�"� #"�$% (4)

  • 39

    ���� = !�"� #"��$ (5)

    Figura 10- Função densidade de falhas Fonte: Desenvolvido pelo autor

    2.4.5 Distribuições de probabilidade

    Considerando “T” a variável aleatória que representa o tempo de falha de um

    componente, a descrição dos valores assumidos por “T” é a distribuição de probabilidade.

    A distribuição de probabilidade de “T” pode ser determinada mediante a análise dos dados

    de entrada, com posterior ajuste matemático as distribuições teóricas conhecidas

    (GNEDENKO; USHAKOV, 1995). O ajuste corresponde à determinação dos parâmetros

    que caracterizam a distribuição dos dados analisados. Em estudos envolvendo

    confiabilidade industrial, três distribuições paramétricas contínuas de probabilidade

    apresentam destaque: exponencial, lognormal e Weibull.

    a) Distribuição Exponencial

    A distribuição exponencial é importante no estudo de confiabilidade por ser a

    única que descreve sistemas com taxa de falhas constante (LAFRAIA, 2001). Segundo

    Dhillon (2006), a distribuição exponencial é amplamente utilizada em manutenção e na

    análise de confiabilidade. O autor expõe duas razões básicas para a sua utilização

    generalizada: facilidade na manipulação estatística dos dados de falhas e a existência de

    vários itens de engenharia que apresentam taxa de falhas constante durante sua vida útil,

    em particular os eletrônicos. Para Fogliatto e Ribeiro (2009), a simplicidade matemática

    das expressões derivadas da exponencial difundiu o seu uso na área, às vezes inadequado.

  • 40

    Segundo Nelson (1990), somente 10% dos produtos industriais têm tempos de vida com

    distribuição exponencial. A Figura 11 mostra o perfil das funções que caracterizam a

    distribuição exponencial.

    Figura 11 - Distribuição exponencial Fonte: Desenvolvido pelo autor

    A distribuição exponencial tem esse nome dado o comportamento exponencial da

    função densidade de probabilidade. Matematicamente, a distribuição exponencial é

    expressa pelas equações:

    Função densidade de falhas, conforme exemplo mostrado na Figura 11a: !��� = &'�(� (6)

    Função confiabilidade, conforme exemplo mostrado na Figura 11b:

    ���� = '(� (7)

    Função de risco, conforme exemplo mostrado na Figura 11c: ℎ��� = & (8)

    b) Distribuição Lognormal

    A distribuição lognormal é representada por uma variável aleatória cujo logaritmo

    segue a distribuição normal, surgindo da combinação de termos aleatórios mediante

  • 41

    processo multiplicativo (GNEDENKO E USHAKOV, 1995). Segundo Fogliatto e

    Ribeiro (2009), a lognormal é uma distribuição limitada à esquerda muito utilizada para

    modelagem de tempo até reparo em unidades reparáveis. Lafraia (2001) elenca algumas

    aplicações para a distribuição lognormal:

    a) Determinação de ciclos para falha à fadiga de metais e componentes metálicos;

    b) Determinação da distribuição de tempos para a falha de componentes mecânicos

    sujeitos a desgaste;

    c) Determinação da vida de rolamentos;

    d) Determinação do tempo médio para manutenção de componentes mecânicos.

    Kline (1984) apresentou um estudo que analisou setenta conjuntos de dados de

    equipamentos eletrônicos e mecânicos, onde mais de 70% dos casos o tempo de

    reparo é melhor representado pela distribuição lognormal.

    Matematicamente, a distribuição lognormal é expressa pelas equações:

    Função densidade de falhas:

    !��� = $√+,-� './ 0− $+ 2�34 ��5�- 6+7 (9)

    Função confiabilidade:

    ���� = ᶲ 95�34 �- : (10)

    Função de risco:

    ℎ��� = ∅

  • 42

    A Figura 12 mostra o comportamento da função densidade de probabilidade para

    alguns valores de desvio padrão e uma média fixa de 0,8.

    Figura 12 - Função densidade de probabilidade: distribuição Lognormal Fonte: Desenvolvido pelo autor

    c) Distribuição de Weibull

    Devido à sua flexibilidade e capacidade de representar amostras de tempo até a

    falha com comportamentos distintos, a distribuição de Weibull apresenta ampla aplicação

    no estudo de confiabilidade industrial. Segundo Lafraia (2001), esta distribuição explica

    o comportamento de sistemas cuja falha nasce da competição entre diversos modos de

    falha. A distribuição de Weibull é apropriada para modelagem de tempo até falha

    apresentando funções de risco constante, estritamente crescente e estritamente

    decrescente (GNEDENKO E USHAKOV, 1995).

    A Weibull possui três parâmetros para determinar a probabilidade de falha,

    confiabilidade e função de risco, a saber: parâmetro de forma (γ), escala (η) e localização

    (δ). O tipo de função de risco h(t) da Weibull é definido conforme seu parâmetro de forma,

    ou seja:

    γ1, h(t) é crescente, correspondendo à fase de desgaste da curva banheira.

    Segundo Lafraia (2001), o parâmetro de localização (δ) representa a distância da

    origem até o início da primeira falha. É comum a apresentação das expressões de Weibull

  • 43

    com o parâmetro de localização suprimido. Isso significa que no tempo zero, a

    probabilidade de ocorrência de falha é nula. O parâmetro de escala (η), também conhecido

    como vida característica, representa o tempo no qual 63% das unidades já falharam.

    Matematicamente, a distribuição de Weibull é expressa pelas equações:

    Função densidade de falhas: !��� = γ? 9�?:γ�$ '2�9@A:γ6 (12)

    Função confiabilidade:

    � ��� = '�9@A:γ (13)

    Função de risco:

    ℎ ��� = γ? 9�?:γ�$ (14)

    A Figura 13 mostra o comportamento da função densidade de probabilidade para

    diferentes valores do parâmetro γ (forma) e η (escala) fixo de 3.

    Figura 13 - Função densidade de probabilidade: distribuição Weibull Fonte: Desenvolvido pelo autor

  • 44

    2.4.6 Estimação de Parâmetros

    Modelos probabilísticos são caracterizados por quantidades desconhecidas

    denominadas parâmetros. Os modelos Weibull bi-paramétrica e lognormal, por exemplo,

    são definidos por dois parâmetros. Estas quantidades conferem uma forma geral aos

    modelos probabilísticos. Por conseguinte, definir um modelo probabilístico consiste em

    estimar seus parâmetros a partir das observações amostrais acerca da variável de interesse.

    A literatura estatística apresenta, basicamente, três principais métodos de estimação, a

    saber: categoria mediana (Median Rank), regressão linear (em “X” ou “Y”) e o método

    da máxima verossimilhança (PALLEROSI, 2006).

    Os métodos gráficos (categoria mediana e regressão linear) tratam o

    comportamento dos dados de desconfiabilidade, F (t), a partir da categoria mediana.

    Assim sendo, os parâmetros da distribuição são estimados considerando

    a reta formada pela disposição dos pontos obtidos na categoria mediana. Conforme

    Pallerosi (2006), estes métodos apresentam resultados satisfatórios para dados completos,

    porém, implicam em distorções quando censuras (suspensões) são consideradas. Nestes

    casos, é mais conveniente a utilização do método da máxima verossimilhança

    (COLOSIMO; GIOLO, 2006).

    Conforme Fogliatto e Ribeiro (2009), o método da máxima verossimilhança (ou

    maximum likelihood) trata as questões envolvendo estimação conforme a seguinte

    premissa: baseado nos dados amostrais da variável resposta, qual distribuição, dentre os

    possíveis valores de seus parâmetros, com possibilidade de ter gerado a amostra? Ou seja,

    o estimador da máxima verossimilhança escolhe o (s) parâmetro (s) que melhor explique

    a amostra observada. Matematicamente, na ausência de censuras a função máxima

    verossimilhança pode ser expressa da seguinte forma:

    B �C� = ∏ !��E; C�4FG$ (15)

    Onde “θ” representa um parâmetro (exemplo: distribuição exponencial) ou um conjunto

    de parâmetros (ex.: Weibull). A tradução, em termos matemáticos, da expressão “a

    distribuição que melhor explique a amostra observada” é encontrar o valor de “θ” que

    maximize a função L(θ) (COLOSIMO; GIOLO, 2006). A maximização consiste em

    encontrar a derivada (primeira ordem) da função L(θ).

  • 45

    Para amostras censuradas, a contribuição relacionada às suspensões devem ser

    integradas à função L(θ). Assim, além da função densidade falha, adiciona-se a L(θ) um

    componente relacionado à função de sobrevivência R(t) das censuras. As observações

    são, então, divididas em dois conjuntos: “r” observações não censuradas (1,2,3,......, r) e

    “n-r” observações censuradas. Conforme o tipo de censura, a função de máxima

    verossimilhança poderá ser:

    a) Censuras tipo I – Ocorrem quando, ao finalizar o período de observação da

    amostra, algumas unidades ainda não apresentaram falha, ou seja:

    B �C� = ∏ !��E; C�4FG$ ∏ � ��E; C�4EGH�$ (16)

    b) Censuras tipo II – Resultam de estudos os quais são concluídos após a ocorrência

    do evento de falha em determinado número de equipamentos, ou seja:

    B �C� = 4!�4�H�! ∏ !��E; C�4FG$ ∏ � ��E; C�4EGH�$ (17)

    Como o termo 4!�4�H�! é uma constante, este pode ser desprezado por não envolver

    qualquer parâmetro de interesse, ou seja:

    B �C� ∝ ∏ !��E; C�4FG$ ∏ � ��E; C�4EGH�$ (18)

    2.4.7 Confiabilidade de sistemas

    Sistema é todo conjunto de componentes relacionados segundo uma lógica de

    interdependência entre suas partes, objetivando realizar um conjunto de funções

    (FOGLIATTO; RIBEIRO, 2009). Em confiabilidade, genericamente, a análise de sistema

    é vista sob três enfoques: sistemas em série, sistemas em paralelo e sistemas mistos.

  • 46

    a) Sistema série

    Segundo Dhillon (2006), na configuração série, o sucesso do sistema está

    diretamente condicionado à operação normal dos componentes da rede, ou seja, o

    funcionamento do sistema depende da plena capacidade de cada componente. O sistema

    em série é representado pela seguinte expressão:

    KL = ∏ KMNMGO (19)

    Onde “Ri” representa a confiabilidade do item “i” e “n” o número de itens associados. O

    valor de “Rs” corresponde à confiabilidade do sistema.

    A Figura 14 mostra uma representação esquemática de um equipamento e seus

    componentes internos com associação em série.

    Figura 14 - Análise de confiabilidade: sistema série Fonte: Desenvolvido pelo autor

    Conforme observado na Figura 14, existe uma relação de dependência do

    desempenho do equipamento em detrimento à confiabilidade de cada componente, fato

    representado matematicamente pelo produtório das confiabilidades individuais. Neste

    caso, Fogliatto e Ribeiro (2009) destacam duas características importantes deste sistema:

    a) O valor de Rs (confiabilidade sistêmica) é menor ou igual à confiabilidade do

    componente mais fraco;

    b) Como o sistema série é calculado pelo produto de seus componentes, a

    confiabilidade decresce rapidamente a medida que o número de componentes aumenta.

  • 47

    b) Sistema paralelo

    Para os sistemas paralelo, todos os itens devem falhar para que o sistema falhe.

    Segundo Fogliatto e Ribeiro (2009), a confiabilidade dos sistemas em paralelo é

    determinada pela sua não confiabilidade, ou seja, pela probabilidade complementar:

    KL = O − ∏ �O − KM�NMGO (20)

    Onde “Ri” representa a confiabilidade do item “i” e “n” o número de itens associados. O

    valor de “Rs” corresponde à confiabilidade do sistema.

    A Figura 15 mostra o arranjo representativo para um sistema em paralelo.

    Figura 15– Análise de confiabilidade: sistema paralelo Fonte: Desenvolvido pelo autor

    Conforme observado na Figura 15, a falha do sistema ocorre quando todos os itens

    que formam o equipamento falham. Neste caso, a confiabilidade resultante é maior que a

    confiabilidade do melhor componente.

    c) Sistema misto

    Os sistemas mistos são combinações de subsistemas em série e paralelo. Segundo

    Fogliatto e Ribeiro (2009), as combinações podem ser facilmente analisadas reduzindo

    sucessivamente os subsistemas a componentes em série ou paralelo. A Figura 16 mostra

    o diagrama do arranjo misto.

  • 48

    Figura 16– Exemplo sistema misto

    Fonte: Desenvolvido pelo autor

    O cálculo da confiabilidade resultante é realizado decompondo o sistema em

    subsistemas série e paralelo. Assim, os componentes em paralelo serão analisados em

    separado e, posteriormente, calculados conforme um arranjo série.

    2.5 CLASSIFICAÇÃO DOS ITENS SOBRESSALENTES

    A classificação de peças sobressalentes consiste em estratificar os diversos itens

    que formam o estoque, a fim de definir níveis de serviço conforme a categoria do

    componente. Segundo Chitale e Gupta (2011), as características fundamentais usadas na

    classificação de sobressalentes são: criticidade, especificidade, padrão da demanda,

    tempo de entrega e valor da peça. Estas características podem ser analisadas

    individualmente ou mediante modelo que integre mais de um requisito. A seguir, será

    detalhado os critérios utilizados na classificação de sobressalentes.

    a) Criticidade ou perda de produção: Impacto da falta do item para o processo

    produtivo;

    b) Especificidade: Mensura o grau de exclusividade do componente;

    c) Padrão de Demanda: Relacionado com as características de consumo, sendo

    categorizado como esporádico ou constante;

    d) Tempo de entrega: O tempo de entrega ou lead time corresponde ao

    intervalo compreendido entre a solicitação e recebimento da peça;

    e) Valor da Peça: Atributo que representa o gasto com aquisição do

    componente.

  • 49

    A literatura prevê diversos métodos para classificação e controle dos itens em

    estoque. A Tabela 2 esboça as ferramentas mais usuais.

    Tabela 2- Ferramentas usuais para classificação e controle de estoque

    Nomenclatura Critério Aplicação

    Análise ABC Valoração da demanda Produtos de consumo

    HML (Alto, médio e baixo) Preço unitário Manter os altos custos sob controle

    VED (Vital, essencial, desejável)

    Criticidade ou perda de produção

    Controlar os sobressalentes utilizados em manutenção e na fabricação de equipamentos

    SDE (Escasso, difícil, fácil) Dificuldade de aquisição Conhecer o grau de dificuldade para aquisição dos itens

    Análise FSN (rápido, lento e sem movimento)

    Taxa de Consumo

    Segregação dos itens conforme a natureza do consumo: aplicado para caracterização de itens quanto ao padrão de demanda

    Adaptado de Chitale e Gupta (2011)

    Conforme Gajpal et al. (1994), as análises ABC e FSN são procedimentos simples

    que buscam especificar as políticas de controle de estoque, a partir da fixação de períodos

    para revisão do inventário. A aplicação do método VED é mais indicada para

    componentes do setor industrial, enquanto a análise ABC é mais usual em produtos de

    consumo (CHITALE E GUPTA, 2011). Scala, Rajgopal e Needy (2014), desenvolveram

    uma modelo para análise de criticidade baseado no método AHP (Analytic Hierarchy

    Process). Da mesma forma, Botter e Fortuin (2000), aplicaram o método AHP para

    categorização de sobressalentes usados na prestação de serviços. Deeker et al. (1998),

    propuseram uma ferramenta para controle de sobressalentes baseado na criticidade da

    demanda.

    2.6 FERRAMENTAS PARA DIMENSIONAMENTO DE SOBRESSALENTES

    A gestão de itens sobressalente exerce uma importância fundamental para plantas

    de processo e sistemas de segurança (Marseguerra et al., 2005), tendo em vista o risco de

    perda de produção, impacto a segurança operacional, ao meio ambiente e atendimento a

    requisitos legais (normatização). Para evitar tais riscos decorrentes da escassez de

    sobressalentes, frequentemente os estoques são sobredimensionados. Essa opção

  • 50

    estratégica resulta em investimentos desnecessários e altos custos para manutenção dos

    inventários. A decisão que envolvem dimensionamento de sobressalentes é um assunto

    importante com impacto substancial no custo do ciclo de vida do sistema (KUMAR;

    CROCKER, KNEZEVIC, HARAM, 2000).

    A literatura apresenta algumas ferramentas que tratam do processo decisório para

    dimensionamento de estoque sobressalente. Segundo Louit et al. (2011), a determinação

    do número sobressalentes tem como premissa a definição dos seguintes critérios de

    otimização: confiabilidade instantânea do estoque, intervalo de confiabilidade do estoque,

    custo e disponibilidade. Para Horenbeek e