UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE … · privados da saúde e das organizações de...

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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIOS MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO VERIDIANA APARECIDA CASON GESTÃO DE CUSTOS E PREÇOS DE VENDAS EM OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE: Estudo de caso em uma cooperativa de médio porte PIRACICABA 2014

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  • UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

    FACULDADE DE GESTO E NEGCIOS

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO

    VERIDIANA APARECIDA CASON

    GESTO DE CUSTOS E PREOS DE VENDAS EM OPERADORAS DE

    PLANOS DE SADE: Estudo de caso em uma cooperativa de md io

    porte

    PIRACICABA

    2014

  • 2

    VERIDIANA APARECIDA CASON

    GESTO DE CUSTOS E PREOS DE VENDAS EM OPERADORAS DE

    PLANOS DE SADE: Estudo de caso em uma cooperativa de mdio

    porte

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado

    Profissional em Administ rao da Faculdade de

    Gesto e Negcios da Universidade Metodista de

    Piracicaba como parte dos requisitos para obteno

    do ttulo de Mestre em Administrao

    Campo de Conhecimento:

    Estudos Organizacionais e Gesto de Pessoas

    Orientador:

    Prof. Dr. Clvis Lus Padoveze

    PIRACICABA

    2014

  • 3

    CASON, Veridiana Aparecida.

    Gesto de Custos e preos de vendas em operadoras de plano de sade: estudo

    de caso em uma cooperativa de mdio porte. Veridiana Aparecida Cason 2014.

    127 f.

    Orientador: Clvis Lus Padoveze

    Dissertao (Mestrado Profissional em Administrao) Faculdade de Gesto de

    Negcios Universidade Metodista de Piracicaba.

    1. Operadora de Plano de Sade. 2. Custo Assistencial. 3. Preo de venda. 4.

    Medicina Preventiva. I. PADOVEZE, Clvis Lus. II. Dissertao (Mestrado

    Profissional em Administrao) - Universidade Metodista de Piracicaba. III. Ttulo:

    Desafio das operadoras de plano de sade na gesto dos custos: estudo de caso

    em uma cooperativa mdica de mdio porte.

  • 4

    VERIDIANA APARECIDA CASON

    GESTO DE CUSTOS E PREOS DE VENDAS EM OPERADORAS DE

    PLANOS DE SADE: Estudo de caso em uma cooperativa de mdio

    porte

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado

    Profissional em Administrao da Faculdade de

    Gesto e Negcios da Universidade Metodista de

    Piracicaba como parte dos requisitos para obteno

    do ttulo de Mestre em Administrao

    Campo de Conhecimento:

    Estudos Organizacionais e Gesto de Pessoas

    Data da Aprovao:

    Banca examinadora:

    _____________________________

    Prof. Dr. Clvis Lus Padoveze (Orientador)

    FGN-Universidade Metodista de Piracicaba

    _____________________________

    Prof. Dr. Jos Francisco Cali l

    UNIMEP

    ____________________________

    Prof. Dr. Milton Gomes Pacheco

    MACKENZIE

    ____________________________

    Dr. Luiz Pedro Prada Neto

    MEDICAL

  • 5

    Dedico este trabalho a Deus, minha

    faml ia, meu namorado e a todos que

    torcem pelo meu sucesso.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, que esteve ao meu lado em todos os momentos e permitiu que

    essa vitria fosse possvel.

    Ao meu pai (in memorian) e minha me, que juntos me ensinaram a ter

    garra e determinao e foram os principais responsveis por todas as

    minhas lutas e conquistas.

    A minha me Roseli, minha irm Cint ia, meus irmos Michel e Victor e

    meu namorado Ivan, por todo o apoio nos momentos de desnimo e

    compreenso por minha ausncia.

    Aos meus diretores Dr. Joo Carlos Rodrigues de Almeida, Dr. Luis

    Carlos do Amaral Vieira e Dr. Luiz Pedro Prada Neto e a todos os

    colegas de trabalho pelo companheirismo e empenho nas l iberaes

    das informaes necessrias para o desenvolvimento da pesquisa , em

    especial a querida Dra. Sandra Sueli Chuluc, Dra Rosa Oberstern e

    Rogrio Caceze pelo apoio e contribuies despendidos para o

    desenvolvimento do estudo.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Clovis Padoveze, pelo auxlio e orientao

    durante o perodo desta pesquisa.

    Ao Coordenador do Mestrado em Administrao da UNIMEP, Prof. Dr.

    Antonio Carlos Giuliani, professores e professoras, em especial as

    professoras Dra. Silvia Helena Carvalho Vallado de Camargo e Dra.

    Eliciane Maria da Silva por importantes contribuies no

    desenvolvimento da pesquisa e a todos os colaboradores desta

    inst ituio.

    Aos colegas de mestrado da turma de 2012, pelos momentos e

    angstias compart i lhados durante estes aproximadamente dois anos de

    intenso estudo. As parceiras de todas as horas Raphaela e Mrcia.

    Enfim, agradeo a todos que, de alguma forma, contriburam na

    realizao deste estudo.

  • 7

    Os sonhos trazem sade para emoo,

    equipam o frgil para ser autor da sua

    histria, renovam as foras do ansioso,

    animam os deprimidos, transformam os

    inseguros em seres humanos de raro

    valor. Os sonhos fazem os tmidos

    terem golpes de ousadia e os

    derrotados serem construtores de

    oportunidades.

    Augusto Cury

  • 8

    RESUMO

    A chegada das multinacionais na dcada de 70 ocasionou o surgimento

    dos primeiros grupos de medicina , bem como os primeiros contratos

    com provedores de servios mdicos para atendimentos aos

    trabalhadores. Com a escassez da oferta e a baixa qualidade dos

    servios oferecidos pelo sistema pblico e no auge do crescimento

    econmico no Brasil , esse modelo provocou a expanso dos servios

    privados da sade e das organizaes de medicina privada (plano de

    sade). O objet ivo deste trabalho foi analisar a rot ina da operao dos

    planos de sade, tendo como referncia os procedimentos de gesto de

    custos e preo de venda, bem como as dif iculdades enfrentadas e a

    necessidade de atender a regulamentao e os anseios dos

    stakeholders , por meio de um estudo de caso. O principal fator

    identif icado e que provoca dif iculdades na gesto de custos e preos

    o aumento da expectativa de vida da populao brasileira nas lt imas

    dcadas. A pesquisa mostrou que o envelhecimento populacional ,

    devido transio demogrfica e epidemiolgica , impacta nos custos

    de ateno sade, dando um aumento signif icat ivo na sinistralidade

    das operadoras de planos de sade. A pesquisa identif icou e estudou

    alguns mecanismos que podem auxil iar no controle e na gesto dos

    custos e preos de vendas das operadoras . Fundamentalmente esses

    mecanismos so implantao de cobrana de fator moderador e aes

    de promoo e preveno de riscos e doenas voltadas alimentao

    saudvel, que j esto em desenvolvimento pelas operadoras de plano

    de sade. Os primeiros resultados atestam que este o caminho para

    as estratgias de gesto de custos e preos de venda nas operadoras

    de planos de sade.

    Palavras chave: Gesto de Custos, Impacto nos Custos, Preo de

    Venda, Cooperativa Mdica, Envelhecimento Populacional.

  • 9

    ABSTRACT

    The arrival of multinationals in the 70s led to the emergence of the f irst

    medical groups, and the f irst contracts with medical service providers

    for care workers. With the shortage of supply and poor quality of

    services offered by the public system and at the peak of economic

    growth in Brazil, this model led to the expansion of private health

    services and private medical organizations (HMO). The objective of this

    study was to analyze the routine operation of health plans, with

    reference to the procedures for managing costs and sell ing price as

    well as the dif f icult ies and the need to meet the regulat ions and wishes

    of stakeholders, through a case study. The main factor identif ied and

    which causes dif f icult ies in managing costs and prices is the increased

    life expectancy of the population in recent decades. Research has

    shown that population aging due to demographic and epidemiological

    transition, impacts on the costs of health care, giving a signif icant

    increase in claims from operators of health plans. The research

    identif ied and studied some mechanisms that may help in the control

    and management of costs and sales prices of the operators .

    Fundamentally these mechanisms are deploying charging moderating

    factor and promotion and risk prevention and disease focused on

    healthy eating, which are already under development by issuers of

    health insurance. The f irst results show that this is the way to

    strategies for managing costs and sell ing prices in the operators of

    health plans.

    Keywords: Cost Management, Impact Cost, Sell ing Price, Medical

    Cooperative, Population Aging

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Formao de preo no baseado no custo ........................60

    Figura 2 Formao de preo baseado no custo ..............................60

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Distr ibuio de Beneficirios por t ipo de carteira e produto ................................ ................................ ................................ .....75

    Tabela 2 Beneficirios por faixa etria por t ipo de contratao ........77

    Tabela 3 Custos assistenciais por faixa etria ................................80

    Tabela 4 Despesas assistenciais por t ipo de contratao. ...............81

    Tabela 5 Produto com internao em semiapartamento sem cobrana de fator moderador. ................................ ................................ ........83

    Tabela 6 Produto com internao em semiapartamento com cobrana de fator moderador ................................ ................................ .........83

    Tabela 7 Produto com internao em apartamento com cobrana de fator moderador ................................ ................................ ..............84

    Tabela 8 Produto com internao em apartamento sem cobrana de fator moderador ................................ ................................ ..............84

    Tabela 9 Produto sem cobertura para internao sem cobrana de fator moderador ................................ ................................ ..............85

    Tabela 10 Produto sem cobertura para internao com cobrana de fator moderador ................................ ................................ ..............85

    Tabela 11 Distr ibuio por t ipo de evento ................................ ......87

    Tabela 12 Tabela de custos assistenciais por t ipo de despesas .......88

    Tabela 13 Sinistralidade por t ipo de produto ................................ ..89

    Tabela 14 Sinistralidade por faixa etria ................................ ........90

    Tabela 15 Mdia de consultas por usurio por ano, despesa com consultas e receita de fator moderador por t ipo de produto ................91

    Tabela 16 Comparao ndice de consulta por usurio por t ipo de produto ................................ ................................ ..........................92

    Tabela 17 Pacientes atendidos pelo SAD por t ipo de doena ..........94

  • 12

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Distr ibuio percentual dos beneficirios dos planos de assistncia mdica, por modalidade da operadora, segundo capital e interior (Brasil setembro/2002 e setembro/2012) ............................20

    Grfico 2 Receita de contraprestao e despesa assistencial das operadoras mdico-hospitalares e Taxa de Sinistral idade (Brasil 3 trimestre/2003 a 3 trimestre/2012) ................................ .................22

    Grfico 3 Brasil : Um Sculo de Mudanas na Estrutura Etria da Populao 1950 2050 ................................ ................................ ...37

    Grfico 4 Receita mdia mensal por beneficirio, segundo porte das operadoras ................................ ................................ ....................76

    Grfico 5 Pirmide etria dos beneficirios do plano de sade por gnero (Brasil, 2012) ................................ ................................ .....78

    Grfico 6 Pirmide etria dos beneficirios do plano regulamentado 79

    Grfico 7 Gasto mdio por internao e por consulta de planos privados de assistncia mdica (Brasil 2007 2011) ......................88

    Grfico 8 Mdias de consultas por beneficirios em 2012 ...............91

    Grfico 9 Liquidez corrente por cobertura assistencial das operadoras (Brasil dezembro/2009-setembro/2012) ................................ .........95

    Grfico 10 Endividamento por cobertura assistencial das operadoras (Brasil dezembro/2009-setembro/2012) ................................ .........96

    Grfico 11 Retorno sobre o patrimnio l quido por cobertura assistencial das operadoras (Brasil dezembro/2009-setembro/2012) ................................ ................................ ................................ .....97

  • 13

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Condutas e Objet ivos da Assistncia Domici l iar ...............42

    Quadro 2 Mtodo de custeio ................................ .........................53

  • 14

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ANS Agncia Nacional de Sade

    ABC Activity Based Costing

    CNAE Cadastro Nacional de Atividades Econmicas

    CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social

    DCNT doenas crnicas no transmissveis

    HSPESP Hospital do Servidor Pblico Estadual de So Paulo

    IAP Inst ituto de Aposentadorias e Penses

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IESS Inst ituto de Estudos de Sade Suplementar

    MS Meta de Sinistral idade

    NTRP Nota Tcnica de Registro de Produtos

    NTAP Nota Tcnica Atuarial de Provises

    OMS Organizao Mundial de Sade

    OPS Operadora de Plano de Sade

    RDC Resoluo da Diretoria Colegiada

    S Sinistralidade

    SAMDU Servio de Assistncia Mdica Domicil iar e de Urgncia

    SUS Sistema nico de Sade

  • 15

    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................... 16

    1.1 Problema de pesquisa ............................................................................ 25

    1.2 Objetivo geral .......................................................................................... 27

    1.3 Objetivos especficos ............................................................................. 27

    1.4 Pressupostos ........................................................................................... 27

    1.5 Justificativa.............................................................................................. 27

    1.6 Metodologia ............................................................................................. 29

    1.7 Estrutura do trabalho .............................................................................. 31

    2 REVISO DA LITERATURA .................................................................... 32

    2.1 Caracterstica dos servios de sade ................................................... 32

    2.1.1 Envelhecimento populacional e a transio demogrfica ................... 34

    2.1.2 Estratgia e melhoria de desempenho .................................................. 39

    2.1.3 Assistncia Domiciliar ............................................................................ 43

    2.2 Gesto de custos e preos de venda .................................................... 47

    2.2.1 Gesto de custos .................................................................................... 48

    2.2.1.1 Gesto de custos nos servios de sade ............................................. 54

    2.2.1.1.1 Indicadores econmico-financeiros ........................................................... 57

    2.2.2 Gesto de preos de venda .................................................................... 59

    2.2.2.1 Gesto de preos de venda em servios de sade .............................. 63

    2.2.2.1.1 Risco ......................................................................................................... 65

    2.2.2.1.2 Reservas Tcnicas .................................................................................... 67

    2.2.2.1.3 Clculo Atuarial ......................................................................................... 68

    2.2.2.1.4 Formao de Preo .................................................................................. 70

    3 ESTUDO DE CASO .................................................................................. 72

    3.1 Histrico ................................................................................................... 72

    3.2 Caractersticas da carteira de beneficirios, produtos e resultados .. 74

    3.3 Da gesto dos custos ............................................................................. 85

    3.4 Da gesto do preo de venda ................................................................. 97

    4 ANLISE DOS DADOS E APURAO DOS RESULTADOS

    ENCONTRADOS .................................................................................... 100

    4.1 Melhorias dos resultados ... ......... ... .. .......... ........ ........ .....108

    5 CONSIDERAES FINAIS .................................................................... 105

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 108

  • 16

    1 INTRODUO

    Os primeiros grupos dedicados medicina surgi ram no Brasil

    com a chegada das indstrias mult inacionais. Na dcada de 1960

    grandes empresas automobilsticas foram atradas para a regio do

    ABC Paulista e, logo que se instalaram, perceberam que havia

    insuficincia na prestao de servios de sade para seus

    trabalhadores. Na poca o servio era prestado pelos IAPs - Institutos

    de Aposentadorias e Penso. (BERTOLI FILHO, 1996)

    Desejando proporcionar aos seus trabalhadores um

    atendimento mdico-hospitalar nos padres de suas matrizes norte -

    americanas e europeias e preocupadas com a queda na produtividade

    provocada por faltas e afastamentos no trabalho devido falta ou

    deficincia na assistncia sade, essas empresas incentivaram a

    criao dos primeiros grupos mdicos no Brasil.

    O primeiro contrato de atendimento assistencial diferenciado

    entre uma empresa e um provedor de servios mdicos privados no

    trouxe bons resultados e a iniciat iva s fez aumentar a presso das

    empresas e trabalhadores por uma assistncia privada. Assim, as

    empresas assumiram a assistncia mdica dos seus trabalhadores e ,

    para tanto, atraram a formao de grupos de mdicos que proviam a

    assistncia aos seus trabalhadores, formando-se o que f icou conhecido

    como convnio homologado.

    Na dcada de 1970, diante da escassez da oferta e a baixa

    qualidade dos servios oferecidos pelo sistema pblico e no auge do

    crescimento econmico no Brasil (Perodo do Milagre), esse modelo

    provocou, em grande medida, a expanso avassaladora dos servios

    privados de sade e das organizaes de medic ina privada (planos de

    sade).

    At a dcada de 1980 os planos de sade estavam voltados,

    quase que exclusivamente, para o cliente empresa. Eram planos

    coletivos acessveis somente aos trabalhadores formalmente

    contratados. A part ir da segunda metade dos anos 1980 as operadoras

  • 17

    de planos de sade captaram a demanda de cl ientes individuais, bem

    como a de trabalhadores formalmente empregados que no estivessem

    envolvidos com os planos privados coletivos, como , por exemplo, os

    funcionrios de algumas empresas da administrao pblica.

    (FONSECA, 2004)

    Com o passar do tempo, observou-se que o mercado de plano

    de sade, embora f lexvel e criat ivo, poderia dar margem a prticas

    ilegais se no tivesse uma superviso apropriada. Devido grande

    diversidade dos contratos e das coberturas oferecidas, muitos usurios

    f icavam sem saber quais eram seus direitos como consumidor. Era

    evidente, portanto, a necessidade de regulao governamental para

    garantir a segurana, o equil brio e a qualidade bsica do setor

    privado.

    Assim, a criao de legislao espec f ica no s

    homogeneizou os benefcios dos novos contratos de planos e seguros

    de sade vendidos, como ampliou a cobertura assistencial destes

    atravs da no permisso de excluso de patologias, da cobertura

    il imitada de d ias de internao e da l ista de procedimentos de

    cobertura obrigatria, incluindo transplantes de rim e crnea e doenas

    mentais. O acesso ampliou-se para os portadores de doenas e

    patologias pre-existentes, com o sistema de agravo ou cobertura

    parcial temporria e proibio da recusa do cl iente em razo da idade

    pelas operadoras de sade. (MONTONE, 2003)

    Ock-Reis (2005) af irma que a padronizao dos planos de

    sade, criada com a regulamentao, tornou o produto das operadoras

    diferente daquele que era oferecido antes dela, impossibil itando a

    seleo de riscos e a limitao de coberturas.

    Desta forma, o Governo interveio e a regulao do setor

    consolidou-se a partir de 1998, atravs da Lei 9.656/98, que

    determinou regras para os planos privados de assistncia sade e

    introduziu novas pautas no mercado, como a ampliao de cobertura

    assistencial, o ressarcimento ao Sistema nico de Sade (SUS), o

    registro das operadoras, o acompanhamento de preos pelo governo, a

    obrigatoriedade da comprovao de solvncia e reservas tcnicas,

  • 18

    entre outras. A competncia de regulamentar e f iscalizar o cumprimento

    dessas regras cabia Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS),

    uma autarquia com autonomia administrativa, f inanceira e patrimonial

    vinculada ao Ministrio da Sade, criada pela Lei 9.961/2000. A ANS

    incorporou outras atribuies , como a de monitorar a evoluo de

    preos de planos de assistncia sade, seus prestadores de servios

    e insumos, autorizar os processos de ciso, fuso, incorporao,

    alterao ou transferncia do controle acionrio e a articulao com os

    rgos de defesa do consumidor.

    Segundo a RDC n 39, de 27 de outubro de 2000, as

    operadoras de plano mdico-hospitalar foram classif icadas nas

    seguintes modalidades jurdicas:

    administradora;

    cooperativa mdica;

    cooperativa odontolgica;

    autogesto;

    medicina de grupo;

    odontologia de grupo;

    f i lantropia.

    As cooperativas mdicas so sociedades de pessoas, sem f ins

    lucrativos, que operam planos privados de assistncia sade. Os

    mdicos so, simultaneamente, associados e prestadores de servios,

    recebendo tanto pela sua produo individual, como pela diviso d as

    sobras da cooperativa. A organizao da assistncia bastante

    semelhante medicina de grupo, porm, em sua maioria, estas no

    oferecem assistncia em servios prprios, contratando servios

    mdicos de terceiros ou credenciando mdicos, hospitais e servios

    auxil iares de diagnstico e terapia. O beneficirio vincula -se ao plano,

    mediante pr-pagamento e tem direito cobertura prevista

    contratualmente.

    As autogestes so associaes de pessoas fsicas ou

    jurdicas - as fundaes, sindicatos e entidades de classes

    prof issionais - que operam planos de assistncia sade ou empresas

  • 19

    que, por intermdio de seu departamento de recursos humanos,

    responsabil izam-se pelo plano privado de assistncia sade,

    destinado, exclusivamente, a oferecer cobertura aos empregados

    ativos, aposentados, pensionistas ou ex-empregados, bem como a seus

    respectivos grupos familiares definidos. Essa modalidade no possui

    f ins lucrativos e a modalidade dominante nas empresas estatais e

    rgos da administrao pblica que, em muitos casos, criam

    inst ituies privadas para a gesto da assistncia.

    As f i lantrpicas so as entidades sem f ins lucrat ivos que

    operam planos privados de assistncia sade e possuem cert if icado

    de entidade f i lantrpica junto ao Conselho Nacional de Assistncia

    Social (CNAS) e declarao de util idade pblica federal, junto ao

    Ministrio da Justia, ou declarao de util idade pblica estadual ou

    municipal, junto aos rgos dos governos estaduais e municipais. So,

    por exemplo, e principalmente, os planos de sade comercial izados por

    Santas Casas.

    As administradoras de planos so as empresas que

    administram exclusivamente Planos Privados de Assistnci a Sade e

    que, portanto, no assumem o risco decorrente da operao desses

    planos, nem possuem rede prpria, credenciada ou referenciada de

    servios mdico-hospitalares ou odontolgicos. So especial izadas em

    manter o cadastro de usurios, contratar e manter a rede de

    provedores, receber, processar, pagar contas e emitir relatrios de

    desempenho.

    Segundo informaes coletadas no site da ANS, no caderno

    de informao da sade suplementar, publicado em dezembro de 2012,

    havia no Brasil, em setembro de 2012, 1.542 operadoras com registro

    na ANS, das quais 1.338 possuem beneficirios, divididas entre 1.016

    operadoras mdico-hospitalares e 370 operadoras exclusivamente

    odontolgicas, responsveis pela assistncia de, aproximadamente, 48

    milhes de beneficirios .

    De acordo com o Foco Sade Suplementar (ANS, 2012), as

    modalidades de cooperativas mdicas tm aumentado sua participao

  • 20

    ao longo dos lt imos 10 anos, enquanto que as autogestes foram as

    que mais perderam participao no mercado da sade suplementar.

    GRFICO 1 Distribuio percentual dos beneficirios dos planos de assistncia mdica, por modalidade da operadora, segundo capital e interior (Brasil setembro/2002 e setembro/2012)

    Fonte: Foco Sade Suplementar (ANS, 2012)

    No Grfico 1, possvel analisar a distr ibuio dos

    beneficirios em operadoras de plano de sade e o crescimento na

    modalidade de cooperativas mdicas que correspondem a clculo

    (35,7%) do mercado, bem prximo s medicinas de grupo, que com

    37,7% ainda representam a maior fatia, quando considerado o Pas

    como um todo.

    A teoria econmica neoclssica assume que para um mercado

    ser considerado competit ivo necessrio a premissa da perfeita

    informao entre compradores e vendedores. O consumidor de planos

    de sade trabalha com informao assimtrica em relao qualidade

    dos servios ofertados por operadoras e prestadores, assim como as

  • 21

    operadoras no conhecem as necessidades e a vontade de util izao

    de servios de sade por parte de seus beneficirios . (FONSECA,

    2004)

    Complacncia na administrao dos servios, descuido com a

    qualidade, negligncia com as necessidades dos cl ientes e ateno

    voltada somente para a orientao f inanceira em curto prazo so

    fatores que contribuem para comprometer o setor de se rvios na

    economia. (FITZSIMMONS e FITZSIMMONS, 2000) Alm disso, existe a

    obrigatoriedade de assistncia integral sade, a proibio da

    resciso unilateral dos contratos e reajustes controlados para os

    planos individuais . (MOREIRA, 2004)

    Nesse mercado bastante competit ivo, com normativas criadas

    para reajuste de produtos que no permitem o repasse dos aumentos

    dos custos assistenciais dos contratos j comercializados acima dos

    ndices estabelecidos pela ANS, diante da impossibil idade de

    rompimento dos contratos deficitrios e da excluso de cobertura de

    determinados procedimentos de alto custo que pudessem ajudar no

    equil brio econmico-f inanceiro e atuarial da carteira, as operadoras

    precisam direcionar seus esforos a desenvolver estratgias de

    controles acirrados em seus custos.

    Vale lembrar que as operadoras de plano de sade baseiam -

    se na cobrana antecipada de contraprestao pecuniria em

    contrapartida obrigao de prover recursos mdicos curativos e

    preventivos ao usurio, quando necessrio.

    Segundo informao do Foco Sade Suplementar (ANS, 2012),

    no terceiro trimestre de 2012, registrou -se a maior taxa de

    sinistral idade desde 2003, sendo 85,8%, resultado da receita de R$

    67,3 bilhes, representando um crescimento de 5,8% e a despesa

    assistencial que totalizou R$ 57,7 bilhes, com um aumento de 9,7%,

    em relao ao terceiro tr imestre de 2011.

    O Grfico 2 demonstra as informaes do Foco Sade

    Suplementar.

  • 22

    GRFICO 2 Receita de contraprestao e despesa assistencial das operadoras mdico-hospitalares e Taxa de Sinistralidade (Brasil 3 trimestre/2003 a 3 trimestre/2012)

    Fonte: Foco Sade Suplementar (ANS, 2012)

    A sobrevivncia das organizaes depende cada vez mais das

    prticas gerenciais de apurao, anlise, contro le e gerenciamento dos

    custos de produo dos bens e servios, principalmente no atual

    ambiente de extrema competio. (OLIVEIRA e PEREZ JUNIOR, 2000)

    As operadoras necessitam conhecer os seus custos. Como

    lembram Beulke e Bert (2000) o esforo de control e de custos

    sobremodo relevante para a sobrevivncia de diferentes instituies de

    sade, que dependem acentuadamente das receitas oriundas de

    repasses. Nesse sentido, vrias ferramentas gerenciais podem ser

    util izadas, como por exemplo, a prpria contab il idade, os mtodos

    adequados de custeios e melhor aproveitamento das possibil idades ,

    associados gesto de custos nas instituies de sade.

    Porter e Teisberg (2004) alertam que minimizar custos em

    servios de sade pode levar a resultados contraproduce ntes. A

    economia de custos deve advir de reais ef icincias na prestao de

    servios e no na restrio de tratamentos ou na reduo da sua

    qualidade.

  • 23

    Kaplan, Montico e Velarde (2005) acrescentam tambm que os

    produtos das empresas de servios em sade so intangveis e no

    homogneos, o que dif iculta o clculo do custo dos servios. As

    operadoras de planos de sade calculam os custos dos tratamentos a

    serem prestados a uma dada populao a part ir da incidncia e

    prevalncia de uma taxa histrica de util izao. Em uma grande

    populao esses dados podem ser previstos a partir de dados

    estatst icos. Os custos assistenciais necessrios aos diversos

    tratamentos e preveno tambm podem ser obtidos por meio de

    dados do mercado.

    De acordo com Vendramini (2001) essas situaes esto

    diretamente l igadas ao clculo atuarial feito quando do incio da

    comercializao. Ressalte -se, ainda, que esse clculo envolve mtodo

    probabilst ico, formado pela avaliao do preo das coberturas

    ofertadas, da idade do usurio e dos custos e efeitos de doenas e

    acidentes. No h, ento, como estabelecer um custo a partir da

    simples avaliao das receitas e despesas.

    O mercado de servios mdicos deve ser estudado. O

    conhecimento dos custos assistenciais auxilia no planejamento e

    tomada de deciso, possibi l i tando analisar a relao custo x benefcio,

    comparando os custos de terceiros com os prprios. Muitos podem ser

    os fatores de risco que contribuem para o aumento dos custos

    assistenciais mais que proporcionalmente s contraprestaes

    pecunirias, tais como:

    mudanas na legislao - obrigatoriedade de

    constituio de garantias f inanceiras, incorporao de

    novos procedimentos no rol de coberturas obrigatrias,

    portabilidade, adaptao de contratos;

    avano da tecnologia mdica - surgimento de novos

    equipamentos e expanso dos servios para melhorar

    diagnsticos e tratamentos;

    recursos humanos - novas prof isses, necessidade de

    capacitao prof issional e especializaes;

  • 24

    envelhecimento populacional e mudana do perf i l

    epidemiolgico- custos mais altos relacionados aos

    tratamentos na terceira idade.

    Wong e Carvalho (2006) revelam que, ao mesmo tempo em

    que polt icas de sade foram responsveis, em parte, pela reduo da

    taxa de fecundidade, tambm contriburam para o aumento da

    expectativa de vida. As projees so que at 2050 cerca de 20% da

    populao brasileira tero 65 anos ou mais. O aumento da participao

    das pessoas idosas na composio da sociedade um desafio ao

    observarmos a desigualdade de distribuio de renda e de servios

    sociais no Brasil.

    O aumento da expectativa de vida tem exigido alternativas de

    atendimento, orientao e acompanhamento. Dentre elas, destaca -se o

    cuidado com a sade, que se constitui em prt ica amplamente

    difundida nos meios acadmicos e cientf icos.

    Segundo Schmidt et al (2012), a mudana do perf i l

    epidemiolgico no Brasil , com predominncia das doenas no

    transmissveis, foi uma consequncia da urbanizao, das melhorias

    nos cuidados com a sade, da mudana do esti lo de vida e da

    globalizao. O cresc imento da renda, a industrial izao, a

    mecanizao da produo, o maior acesso a al imentos em geral,

    incluindo os processados, e a adoo de hbitos no saudveis

    produziram rpida transio nutricional, expondo a populao cada vez

    mais ao risco de doenas crnicas.

    O movimento da curva etria brasi leira registra um aumento

    na expectativa de vida populacional e, com isso, um crescimento na

    prevalncia de doenas crnicas, trazendo implicaes para a

    sustentabilidade do setor de sade suplementar.

    As condies de sade da populao idosa podem ser

    determinadas por meio dos perf is de morbidade e de mortalidade, da

    presena de deficits f sicos e cognitivos, uti l izao de servios de

    sade e da percepo do estado de sade . (LIMA-COSTA; BARRETO e

    GIATTI, 2003)

  • 25

    Diante desse cenrio, as operadoras de planos de sade,

    visando ao equil brio econmico-f inanceiro e consequentemente a sua

    sobrevivncia no mercado, sem perder de vista a preocupao com a

    qualidade de vida de seus usurios, tm desenvolvido mecanismos

    regulatrios, como coparticipao, autorizao prvia, central de

    regulao, porta de entrada, home care , atendimento domici l iar, dentre

    outros, conhecidos como ferramentas de gesto, com o objetivo de

    racionalizar a ut i l izao dos servios oferecidos, controlar os custos e

    cuidar da manuteno da qualidade da assistncia oferecida.

    Esta dissertao, do tipo exploratrio, se desenvolve atravs

    de pesquisa bibl iogrf ica e estudo de caso em uma operadora de plano

    de sade de mdio porte, procurando conhecer e analisar as

    contribuies existentes, desenvolver conceitos para a formulao de

    novas abordagens e mecanismos que auxiliaro no controle e na

    gesto dos custos e preos de vendas das operadoras de plano.

    1.1 Problema de pesquisa

    Todo o mercado empresarial tem se preocupado com o

    gerenciamento de risco, custos e de sobrevivncia diante das situaes

    de instabil idade econmico f inanceira e constantemente redesenham

    suas estratgias para manter o equil brio de suas organizaes.

    Com as operadoras de planos de sade no poderia ser

    diferente. O grande desafio das operadoras de sade, no importa seu

    porte, sua modalidade jurdica ou seu tempo de existncia no mercado,

    que todas comparti lham da busca por maior competit ividade e

    diminuio do risco de sua cartei ra. Muitos so os riscos que assumem,

    sejam relacionados com comercializao de produtos, relacionamento

    com seus prestadores e clientes, sejam de ordem jurdica, de ordem

    econmico-f inanceira e tambm de ordem demogrfica.

    Um beneficirio no pode garanti r isoladamente os recursos

    f inanceiros necessrios para cobrir o custo de todos os tratamentos

    mdicos de que possa necessitar durante a vida, pois a ocorrncia da

    doena ou o custo de seu tratamento no pode ser previsto. Da a

  • 26

    busca das operadoras pela manuteno e crescimento de sua

    participao no mercado, com o objetivo incessante de suas

    contraprestaes pecunirias serem maiores do que seus custos

    assistenciais e, assim, obterem lucratividade ou aumento de

    lucratividade.

    Sampaio (2010) af irma que o consumidor, ao contratar plano

    de sade, transfere para a operadora o risco do custo da assistncia

    mdica, hospitalar ou odontolgica, t rocando a possibi l idade de uma

    grande perda pelo pagamento de uma contraprestao pecuniria

    peridica. A operadora, por sua vez, distribui esse custo entre todos os

    seus consumidores, j que, a rigor, ser suportado pelo fundo formado

    a partir das contraprestaes de todos. Nesse sentido possvel falar

    numa solidariedade colet iva como substrato dos planos de sade, pois

    diante da impossibil idade de evitar por completo os riscos decorrentes

    dos males que ameaam a sua higidez, o consumidor opta por parti lh -

    los com outros.

    Dependendo da carteira de beneficirios da operadora de

    plano de sade, um nico evento de alto custo pode desequil ibrar os

    f luxos f inanceiros, de forma a abalar sua viabilidade econmica, desta

    forma, a impossibil idade de est imar os riscos e a grande instabil idade

    dos gastos so fatores que dif icultam a gesto de planos de sade com

    pequeno nmero de beneficirios.

    Para sobrevivncia nesse mercado bastante competit ivo,

    diante deste cenrio com tantas particularidades, com normativas que

    regulam, monitoram e f iscalizam as coberturas assistenciais mnimas

    exigidas e os ndices mximos de reajustes dos preo s dos produtos e

    tantos outros desafios, as operadoras precisam direcionar seus

    esforos para desenvolver estratgias de controles acirrados para seus

    custos, visto seu poder restrito na gesto dos preos.

    Assim, o trabalho de pesquisa se prope a responder: quais

    os principais mecanismos de controle e gerenciamento dos custos

    de servios utilizados pela operadora de plano de sade para

    manter-se no mercado?

  • 27

    1.2 Objetivo geral

    Identif icar os mecanismos de controles e gerenciamentos que

    auxil iam na gesto dos custos dos servios e preo de vendas em

    operadoras de plano de sade part indo de um estudo de caso.

    1.3 Objetivos especficos

    a. Revisar a l iteratura existente e apresentar a estrutura de

    uma operadora de plano de sade.

    b. Determinar os principais fatores que impactam na gesto

    dos custos dos servios e preos de venda de uma

    operadora de plano de sade.

    c. Analisar a cobrana de fator moderador e seu impacto

    na gesto dos custos.

    d. Avaliar os conceitos do servio de atendimento

    domici l iar como alternativa ef icaz nos resultados

    f inanceiros.

    1.4 Pressupostos

    A otimizao da assistncia por meio da cobrana de fator

    moderador reduz custos.

    Os servios de atendimento domici l iar so autof inanciveis e

    contribuem para melhores resultados da operadora.

    1.5 Justificativa

    A escolha do assunto se deu a partir da experincia

    prof issional da autora como gestora de operadora de plano de sade.

    Esta experincia, de mais de 12 anos, permite a anlise, sob o ponto

    de vista da operadora, de como a rotina da operao, as dif iculdades

  • 28

    enfrentadas, a necessidade de atender a regulao e os anseios dos

    stakeholders1.

    O cenrio empresarial tem se apresentado extremament e

    competit ivo. As empresas se veem s voltas com o desafio de

    sobrevivncia, buscando formas de melhorar sua lucratividade e

    manter-se operando com a adequada util izao dos recursos de que

    dispem, diante de inmeras dif iculdades vivenciadas.

    Com a regulamentao dos planos de sade pela Lei 9.656/98

    e a criao da Agncia Nacional de Sade Suplementar pela Lei

    9.961/2000, entre muitas outras regulaes, passaram a ser

    controlados os reajustes de preos e o rol de procedimentos cobertos

    pelos contratos, que possui reviso prevista a cada dois anos, com

    consequente incluso de novos procedimentos.

    O movimento da curva etria brasi leira registra um aumento

    na expectat iva de vida populacional, com isso um crescimento na

    prevalncia de doenas crnicas, trazendo implicaes para a

    sustentabilidade do setor de sade suplementar. A elevao dos gastos

    com sade parece estar diretamente associada ao efeito da idade e a

    outro fator considerado importante, a proximidade da morte . (ZWEIFEL

    et al., 1999)

    Em funo da idade e da maior concentrao de pessoas

    morrendo em idades mais avanadas a proximidade da morte seria,

    nesses casos, o fator que explicaria grande parte do aumento dos

    gastos. (SESHAMANI e GRAY, 2004)

    Com a evoluo do segmento sade, a cada dia surgem

    inovaes tecnolgicas e procedimentos cada vez mais complexos, os

    quais muitas vezes demandam equipamentos de lt ima gerao e alta

    capacitao prof issional, o que nem sempre traz benefcios f inanceiros

    organizao, porm inevitvel para melhorar a qualidade da

    assistncia mdica e de vida dos beneficirios.

    1 Stakeholders: uma pessoa ou um grupo, que legitima as aes de uma organizao e que tem um

    papel direto ou indireto na gesto e resultados dessa mesma organizao.

  • 29

    Todas essas situaes devem ser consideradas como um sinal

    de alerta, em razo do agravamento que podem causar nos custos

    assistenciais, devendo os gestores estarem atentos s informaes de

    custo x benefcio, de forma a obterem resultados econmico -f inanceiros

    satisfatrios sem prejuzo da assistncia.

    De acordo com Sell et al. (2008), a gesto de custos, pela

    qualidade das informaes produzidas, pode oferecer benefcios

    maiores do que os procedimentos metodolgicos de apurao dos

    custos. Toda empresa precisa, como procedimento geral, da reduo

    de custos de forma contnua, o que just if ica a implantao de

    programas permanentes nas empresas, muitas vezes, como meio de

    manuteno dos produtos e servios . (PACHECO, 2010)

    O estudo contribuir com a apresentao de mecanismos que

    auxil iaro no controle e na gesto dos custos assistenciais e preo de

    venda das operadoras de plano.

    1.6 Metodologia

    A pesquisa pode ser considerada um procedimento formal ,

    com mtodo de pensamento ref lexivo , que requer um tratamento

    cientf ico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou pa ra

    descobrir verdades parciais. Signif ica muito mais do que apenas

    procurar a verdade: encontrar respostas para questes propostas,

    uti l izando mtodos cientf icos. (MARKONI e LAKATOS, 2006, p.43)

    De acordo com Cervo e Bervian (2002) a pesquisa

    bibl iogrf ica busca explicar um problema a part ir de referncias

    tericas publicadas em documentos, procurando conhecer e analisar as

    contribuies culturais ou cientf icas do passado existente sobre um

    determinado tema.

    A pesquisa bibliogrf ica feita em bibl iograf ia j publicada.

    Sua f inalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo que

    foi escrito sobre determinado assunto. (TRUJILLO, 1974) A reviso de

    literatura consiste em identif icar, obter e consultar a bibliograf ia e

    outros materiais dos quais se deve extrair ou recompilar a informao

  • 30

    relevante e necessria para o problema de pesquisa . (SAMPIERI et al,

    2006)

    A tipologia desta pesquisa, quanto aos objet ivos,

    classif icada como descrit iva, porque identif ica, registra, analisa,

    classif ica e interpreta os dados. Os estudos descrit ivos procuram

    especif icar as propriedades, as caracterst icas e os perf is importantes

    de pessoas, grupos, comunidades ou qualquer outro fenmeno que se

    submeta anlise. (DANHKE, 1989) Em um estudo descrit ivo

    seleciona-se uma srie de questes e mede-se ou coleta-se informao

    sobre cada uma delas, para assim descrever o que se pesquisa .

    (SAMPIERI et al., 2006)

    Segundo Sampieri et al. (2006), na pesquisa quantitativa

    util izada a coleta de dados para testar os pressupostos, com base na

    medio numrica e na anlise estatstica , para estabelecer padres de

    comportamento. Na pesquisa qualitat iva uti l izada a coleta de dados,

    sem medio numrica, para descobrir ou aperfeioar questes de

    pesquisa e possvel, ou no, provar hipteses em seu processo de

    interpretao. O enfoque qualitat ivo busca principalmente disperso

    ou expanso dos dados ou da informao; enquanto o quantitativo

    pretende intencionalmente delimitar a informao (medir com preciso

    as variveis do estudo, ter foco).

    Quanto abordagem do problema, trata -se de uma pesquisa

    qualitat iva e quantitativa, cujo objet ivo identif icar aes de ateno

    sade no setor privado de planos de assistncia sade e quais

    mecanismos de controle e gerenciamento dos custos util izados pelas

    operadoras de plano de sade, para manter -se no mercado.

    Como procedimento metodolgico o trabalho foi desenvolvido

    atravs de pesquisa bibliogrf ica, documental e estudo de caso em

    uma cooperativa mdica de mdio porte localizada no interior de So

    Paulo que est submetida Lei 9.656/98, regulada pela Agncia

    Nacional de Sade Suplementar (ANS). Para a elaborao, uti l izou -se

    de informaes extradas de relatrios gerenciais emit idos no sistema

    de gesto da operadora. As informaes coletadas condizem com

    relatrios auditados por auditores independentes, bem como podem ser

  • 31

    parcialmente encontradas no portal da ANS. Os dados demonstrados e

    analisados nesta pesquisa referem-se ao ano de 2012.

    1.7 Estrutura do trabalho

    O presente estudo composto por quatro captulos , mais a

    concluso.

    No primeiro captulo desenvolvida a parte introdutria, com

    a apresentao do problema, objetivos, just if icativa, hipteses e

    procedimentos metodolgicos.

    O segundo captulo aborda o referencial terico para

    sustentao da pesquisa, com destaque aos seguintes temas: setor de

    sade suplementar, gesto dos custos dos servios e preos de venda,

    envelhecimento populacional e mudana do perf i l epidemiolgico ,

    servio de atendimento domici l iar.

    No terceiro captulo desenvolvido o estudo de caso da

    operadora, apresentando as caractersticas da empresa .

    No quarto captulo so realizadas as anlises dos dados

    pesquisados e a apurao dos resultados encontrados.

    O lt imo captulo apresenta as consideraes f ina is,

    l imitaes da pesquisa e as sugestes para futuros estudos sobre o

    tema e, ao f inal do trabalho, so apresentadas as referncias ut il izadas

    ao longo do estudo.

  • 32

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 Caracterstica dos servios de sade

    A expresso Servios, originariamente conhecida como setor

    Tercirio por Fisher em 1933, foi introduzida por Clark, na publicao

    da terceira edio de sua obra The conditions of economic progress,

    por consider-la mais apropriada grande evoluo e diversidade de

    atividades que surgiram com o desenvolvimento econmico . (CLARK,

    1940 e 1950) Servios so atos, processos e desempenho de aes.

    (ZEITHAML, 1996)

    O setor de servios inclui todas as at ividades econmicas que

    apresenta valor adicionado para o consumidor, cujo resultado n o um

    produto fsico, pois simultaneamente produzido e consumido .

    (GONALVES, 1994)

    Na viso de Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000), o crescimento

    no setor de servios est relacionado ao estimulo oriundo da inovao

    e de tendncias sociais baseadas na transformao demogrfica e

    complementam em 2000, que os servios representam a fora vital de

    transio em uma economia globalizada, que nos lt imos 90 anos

    deixou de ser predominantemente baseada na manufatura.

    Levitt (1976) af irma que assim como na indstr ia, para

    ef icincia em servios, pode-se necessitar de investimentos em

    equipamentos e rea fsica, sendo necessrio tambm, planejamento e

    controle dos processos e treinamento das pessoas envolvidas.

    So muitas as definies de servios, mas todas contm o

    tema intangibil idade em comum. Zeithaml et al. (1985) destacam quatro

    caractersticas para a gesto de servios:

    Intangibi l idade: o desempenho no um objeto que pode

    ser tocado como um produto.

    Inseparabilidade de produo e consumo: o servio

    vendido para depois ser produzido e consumido

    simultaneamente, ao contrrio de produtos que so

    fabricados e depois vendidos para o consumo.

  • 33

    Heterogeneidade: grau de variabil idade dos servios.

    Perecibi l idade: um servio no pode ser estocado, desta

    forma h dif iculdade em adequar o fornecimento

    demanda.

    Os servios so como um ato, uma ao, atividades que no

    esto relacionadas transferncia de um produto, mas sim a

    experincias que o cliente vivencia . (LOVELOCK e WRIGHT, 2001; LAS

    CASAS, 2002; KOTLER E ARMSTRONG, 2003; OLIVEIRA, 2004) So

    desempenhados por prestadores ou provedores com o intuito de suprir

    uma necessidade ou um desejo de seus clientes, tendo como

    caracterstica peculiar o fato de apresentar uma natureza intangvel .

    (LOVELOCK e WRIGHT, 2001; GRNROOS, 2004) Etzel et al. (2001)

    destacam, tambm, como objet ivo central da transao de servios o

    atendimento de necessidades ou de desejos dos cl ientes, ressaltando a

    importncia da satisfao dos mesmos.

    De acordo com Singer et al. (1988), servios de sade so os

    que tratam do exerccio da medicina, da odontologia e outras

    atividades cujo objetivo seja preservar ou restaurar a sade da

    populao.

    Segundo o Cadastro Nacional de Atividades Econmicas -

    CNAE (IBGE, 2008) so classif icados como servios de sade: a)

    atendimento hospitalar e em pronto socorro; b) clnicas de atendimento

    mdico e odontolgico; c) laboratrios; d) servios de diagnstico; e)

    enfermagem; f) nutrio; g) psicologia; h) fonoaudiologia e i)

    f isioterapia.

    Atualmente a organizao hospitalar uma das mais

    complexas, composta de diversas reas e subreas , em que uma

    equipe mult idisciplinar com elevado grau de autonomia, executa

    atividades extremamente diversif icadas para dar assistncia sade

    em carter preventivo, curat ivo e reabil itador a pacientes em regime de

    internao. (AZEVEDO, 1993; COUTO e PEDROSA, 2007)

    Em um hospital esto reunidos servios e situaes

    simultneas: hotelaria, lavanderia, servios mdicos, l impeza,

  • 34

    vigi lncia, restaurante, recursos humanos tcnicos e n o tcnicos,

    entre outros. (COUTO e PEDROSA, 2007)

    Segundo Mishra e Vaysman (2001), para o planejamento,

    controle operacional e tomada de deciso, as informaes sobre a

    gesto da empresa so imprescindveis, porm em razo da

    especif icidade dos servios em sade, essas informaes e

    ferramentas util izadas requerem cuidados adicionais, visto estarem

    relacionadas promoo da sade e o bem-estar dos pacientes.

    (EVANS III et al. , 2001)

    2.1.1 Envelhecimento populacional e a transio demogrfica

    Envelhecimento populacional um fenmeno natural,

    irreversvel e mundial definido como a mudana na estrutura etria da

    populao. No Brasil , as modif icaes se do de forma radical e

    bastante acelerada, o que produz um aumento do peso relativo das

    pessoas acima de determinada idade, considerada como definidora do

    incio da velhice. (CARVALHO e GARCIA, 2003) definida como idosa

    a pessoa que tem 60 anos ou mais de idade. (BRASIL, 2010)

    Segundo projees estatsticas da Organizao Mundial de

    Sade (OMS, 1998), no perodo de 1950 a 2025, o grupo de idosos no

    pas dever ter aumentado em quinze vezes, enquanto a populao

    total em cinco. Assim, as projees indicam que, em 2020, o Brasil

    ocupar o sexto lugar quanto ao contingente de idosos, com cerca de

    30 milhes de pessoas com 60 anos ou mais de idade e que, at 2050,

    cerca de 20% da populao brasileira ter 65 anos ou mais.

    (CARVALHO e GARCIA, 2003) O aumento da part icipao das pessoas

    idosas na composio da sociedade um desafio, ao observarmos a

    desigualdade de dist r ibuio de renda e de servios sociais no Brasil .

    (WONG e CARVALHO, 2006).

    O ndice de envelhecimento (nmero de pessoas idosas para

    cada 100 indivduos jovens) passou de 21 em 1991 para 35,4 em 2003 .

    (IBGE, 2004c)

  • 35

    O Brasil em 2012 um jovem pas de cabe los brancos. Todo

    ano, 650 mil novos idosos so incorporados populao brasileira, a

    maior parte com doenas crnicas e alguns com l imitaes funcionais.

    De 1960 a 1975, o nmero de idosos passou de 3 milhes para 7

    milhes e, em 2006, para 17 milhes - um aumento de 600% em menos

    de 50 anos. (VERAS, 2007)

    A populao idosa brasileira tem crescido de forma rpida e

    em termos proporcionais. Dentro desse grupo, os denominados "mais

    idosos, muito idosos ou idosos em velhice avanada" (acima de 80

    anos), tambm vm aumentando proporcionalmente e de maneira mais

    acelerada, constituindo o segmento populacional que mais cresce nos

    lt imos tempos, sendo hoje mais de 12% da populao idosa, segundo

    o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatst ica . (IBGE, 2008).

    De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    (IBGE, 2010), no ano de 2000, o contingente de pessoas com mais de

    60 anos, no Brasil , alcanava cerca de 15 milhes, e at o ano de

    2010, a proporo de idosos aumentou de 8,6% para 11%, sendo que,

    no grupo etrio com 80 anos ou mais, o crescimento chegou a quase

    65%. Em nmeros absolutos, alcanamos em 2010 mais de 20 milhes

    de idosos.

    Esse processo, do ponto de vista puramente demogrfico,

    deve-se unicamente ao rpido e sustentado declnio da fecundidade.

    (CARVALHO e GARCIA, 2003)

    Desde o sculo XIX, o Brasil caracterizou -se pela prevalncia

    de altas taxas de natalidade e, tambm, de mortalidade. Na dcada de

    1940, teve incio a queda das taxas de mortalidade, com a permanncia

    das altas taxas de natalidade, ocasionando elevadas taxas de

    crescimento populacional: 2,39%, na dcada de 1940 e 3,04% na

    dcada de 1950. As taxas de natal idade somente entram em declnio

    em meados da dcada de 1960, quando se inicia a paulatina difuso

    dos mtodos anticonceptivos orais no Brasil . (IBGE, 2009)

    Entre 1960 e 2000, o Brasil experimentou uma reduo de

    60% no seu nvel de fecundidade, evidenciando a vigncia de um

    processo bastante acelerado, se comparado quele verif icado em

  • 36

    pases desenvolvidos, onde a reduo de 50% na taxa de fecundidade

    demorou quase um sculo. (WONG e CARVALHO, 2006) Entre 1990 e

    2000 a queda da fecundidade foi de 12%. (SILVA, 2005)

    Entre 1950 e 2000, o crescimento anual da populao reduziu -

    se de 3,04% para 1,64% e, entre 1960 e 2000, o nmero mdio de

    f i lhos por mulher caiu de 5,76 para 2,39 . (IBGE, 2009)

    Essa reduo est associada a fatores como a intensif icao

    do uso de mtodos anticoncepcionais, aumento do nvel geral de

    instruo das mulheres em idade reprodutiva e de sua maior i nsero

    em atividades produtivas, alm de mudanas socioculturais como o

    aumento dos gastos na criao dos f i lhos, ao inserir novas

    necessidades de cuidado e fortalecimento da ideia de que melhor

    qualidade do que quantidade. (FARIA, 1989)

    Wong e Carvalho (2006) revelam as polt icas de sade, ao

    mesmo tempo que foram responsveis, em parte, pela reduo da taxa

    de fecundidade, tambm contriburam com o aumento da expectativa de

    vida.

    Em 1940, a esperana de vida do brasileiro sequer at ingia os

    50 anos de idade. Os avanos da medicina e as melhorias nas

    condies gerais de vida da populao concorreram para que, em

    2008, 68 anos mais tarde, este indicador at ingisse 72 anos . (IBGE,

    2009)

    O formato tipicamente triangular da pirmide populacional,

    com uma base alargada, est cedendo lugar a uma pirmide

    populacional caracterst ica de uma sociedade em acelerado processo

    de envelhecimento. Cada fase de transio corresponde a um formato

    da distr ibuio populacional idade-sexo, com formato de coluna,

    conforme retratam as pirmides no Grfico 3.

  • 37

    GRFICO 3 Brasil: Um Sculo de Mudanas na Estrutura Etria da Populao 1950 2050

    Fonte: IBGE (2008)

    Em 1980, as crianas de 0 a 14 anos correspondiam a 38,24%

    da populao e, em 2009, elas representavam 26,04%. J o

    contingente com 65 anos ou mais de idade pulou de 4,01% para 6,67%

    no mesmo perodo. Segundo a projeo de populao do IBGE, em

    2050, o primeiro grupo representar 13,15%, ao passo que a populao

    idosa ultrapassar os 22,71%. (IBGE, 2009)

    Segundo Schmidt et al. (2011), no Brasil , a mudana do perf i l

    epidemiolgico, com predominncia das doenas no transmissveis,

    foi uma consequncia da urbanizao, das melhorias nos cuidados com

    a sade, da mudana do estilo de vida e da globalizao. O

    crescimento da renda, a industrializao, a mecanizao da produo,

    o maior acesso a alimentos em geral, incluindo os processados, e a

    adoo de hbitos no saudveis produziram rpida transio

    nutricional, expondo a populao cada vez mais ao risco de doenas

    crnicas.

  • 38

    Entende-se por transio epidemiolgica as mudanas

    ocorridas no tempo nos padres de morte, morbidade 2 e invalidez que

    caracterizam uma populao especf ica e que, em geral, ocorrem em

    conjunto com outras transformaes demogrficas, sociais e

    econmicas. (SCHRAMM et al., 2004)

    A transio epidemiolgica caracteriza -se pela mudana do

    perf i l de morbidade e de mortalidade de uma populao, com

    diminuio progressiva das mortes por doenas infectocontagiosas de

    46% (em 1930) para 5,3% (em 2005) e elevao das mortes por

    doenas crnicas que, em 2005, chegaram a representar dois teros da

    totalidade das causas conhecidas. (BRASIL, 2006, 2008)

    De acordo com Monteiro et al. (2000), o crescimento da renda,

    a industrializao, a mecanizao da produo, o maior acesso a

    alimentos em geral, incluindo os processados, e a adoo de hbitos

    no saudveis produziram rpida transio nutricional, expondo a

    populao cada vez mais ao risco de doenas crnicas.

    Schmidt et al. (2011) relatam que, a exemplo do que ocorre

    em outros pases, no Brasil, as doenas crnicas no transmissveis

    tambm constituem o problema de sade de maior magnitude e atingem

    indivduos de todas as camadas socioeconmicas e, de forma mais

    intensa, aqueles pertencentes a grupos vulnerveis, como os idosos e

    indivduos de baixa escolaridade e renda. Segundo eles, em 2007,

    cerca de 72% das mortes no Brasil foram atribudas s doenas

    crnicas no transmissveis (DCNT), enquanto 10% foram imputadas s

    doenas infecciosas e parasitrias e 5% aos distrbios de sade

    maternoinfantis. Essa distribuio contrasta com a de 1930, na qual as

    doenas infecciosas respondiam por 46% das mortes nas capitais

    brasi leiras.

    A presena de comorbidade 3 nos idosos muito comum.

    Proporcionalmente, o idoso tende a apresentar mais episdios de

    2 ( . . . ) qualquer afastamento, subjet ivo ou objet ivo do estado de bem -estar f is io lgico ou ps icolgico .

    3 ( . . . ) ocorrnc ia conjunta de dois ou mais transtornos num mesmo indivduo

    aval iado c l in icamente

  • 39

    doenas, em geral crnicas, ocasionando aumento nos gastos em

    sade. O custo com o idoso tende a ser maior do que para os

    indivduos em outras faixas etrias, pois o predomnio de doenas

    crnicas e suas complicaes implicam em util izao frequente dos

    servios de sade por esse segmento da populao . (AMARAL et al,

    2004).

    O envelhecimento da populao um fenmeno mundial. E

    este fenmeno impacta, diretamente, os custos com a sade.

    Pesquisas do Inst ituto de Estudos de Sade Suplementar (IESS, 2010)

    demonstram que o custo com a sade aumenta na proporo em que as

    pessoas vo envelhecendo. Com o aumento da expectativa de vida da

    populao e do grupo de idosos, os custos com a sade tornaram -se

    um problema que deve ser analisado por todos: pessoas, operadoras

    de planos de sade e governo.

    2.1.2 Estratgia e melhoria de desempenho

    Os desafios enfrentados nos sistemas de sade em razo das

    transies demogrficas e epidemiolgicas, os progressivos ava nos

    tecnolgicos e ainda a competio mercadolgica, geram a cada dia,

    diferentes cenrios na assistncia sade, em busca de novas

    estratgias.

    Conforme definio de Johnston e Clark (2002), estratgia o

    conjunto de planos e polt icas pela qual uma or ganizao busca

    alcanar seus objet ivos.

    Existem muitos outros conceitos de estratgia, cada qual

    alinhado a sua fase e razes prticas, como o ut il izado por Wright et al.

    (2000), que a definem como planos da alta administrao para

    alcanar resultados consistentes com a misso e os objetivos gerais da

    organizao .

    Meirel les e Gonalves (2001) definem estratgia como a

    discipl ina da administrao que se ocupa da adequao da organizao

    ao seu ambiente , ou ainda, segundo Mintzberg e Quinn (1992) , que

  • 40

    afirmam que estratgia um modelo ou plano que integra os objet ivos,

    as polt icas e as aes sequenciais de uma organizao.

    Segundo Thompson Jr. e Strickland III (2000), estratgia o

    planejamento do jogo para reforar a posio da organizao no

    mercado, promover a satisfao dos clientes e at ingir os objet ivos de

    desempenho.

    Visando equil brio econmico-f inanceiro e sobrevivncia em

    um mercado competit ivo, as operadoras de planos de sade tm

    desenvolvido ferramentas de gesto para controle de seus custos e

    mecanismos regulatrios de uti l izao de servios, respeitando o

    disposto nos cdigos t icos prof issionais , no deixando de se

    preocupar com a qualidade de vida de seus beneficirios e da

    assistncia sade oferecida por seus prof issionais .

    A Ateno Gerenciada ou Managed Care, como denominam os

    autores americanos, deve ser compreendida como um modelo de

    gesto de servios de sade que introduz regras de mercado na

    produo e na distr ibuio desses servios . (CUNHA e MORAIS, 2007)

    Dentre as sistemticas de gerenciamento dos servios de

    sade que podem ser adotadas no momento da demanda ou da

    util izao dos servios, cita -se: (ANS, 1998)

    Mecanismos de regulao f inanceira na util izao de servios:

    franquia: valor estabelecido realizao de

    procedimentos at o qual a operadora no tem

    responsabil idade de cobertura.

    copart icipao: valores pref ixados por procedimentos

    e/ou patologias, a parte efetivamente paga pelo

    consumidor, referente realizao do procedimento.

    Mecanismos de regulao de demanda na util izao dos

    servios:

    autorizao prvia: processo executado previamente

    realizao de determinados procedimentos, em sua

    maioria de alto custo, com o intuito de avaliar diretrizes

    tcnicas e cobertura contratual.

  • 41

    central de regulao: ordenao do acesso aos servios

    de assistncia sade buscando otimizar os recursos

    assistenciais disponveis e garantir a melhor alternativa

    assistencial face s necessidades dos beneficirios.

    auditoria mdica: consiste no exame sistemtico e

    independente das demandas atravs da observao,

    medio, ensaio ou outras tcnicas apropriadas para

    verif icar a adequao dos requisitos preconizados pelas

    leis e normas vigentes.

    programas de preveno: conjunto orientado de

    estratgias e aes programticas integradas com o

    objetivo de produzir sade, prevenir r iscos, agravos e

    doenas, reduzir morbidade e anos perdidos por

    incapacidade e aumentar a qualidade de vida dos

    beneficirios.

    home care e assistncia domici l iar: uma modalidade

    continuada de prestao de servios na rea da sade

    que visa continuidade do tratamento hospitalar no

    domicl io, realizado por equipe mult idisciplinar.

    Andreoni et al. (1994), dizem que se integra a uma boa e

    moderna administrao hospitalar a busca por reduo de custos, em

    conjunto com assistncia mais humanizada, que proporcione melhor

    qualidade de vida, principalmente a pacientes crnicos, terminais e

    idosos.

    A modalidade de internao domicil iar altera minimamente o

    modo de vida do paciente, reduz os custos da ateno tanto par a a

    famlia quanto para unidade de sade, diminui o risco de infeco,

    util iza mais racionalmente os leitos e recursos hospitalares e est imula

    uma relao mdico-paciente mais humanizada. (TORRE et al, 1998)

    Jacob Filho et al. (2000), Mendes Junior (2008), Beauchamp

    (2002) e Cotta et al. (2002) referem-se ao cuidado domicil iar como uma

    estratgia benfica a todos os seguimentos da sociedade. Vrios

    estudos apontam que o cuidado domici l iar diminui o tempo mdio de

    internao hospitalar, reduz o nmero de reinternaes, reduz custos

  • 42

    de ateno sade, aumenta a aderncia do paciente ao tratamento,

    proporciona maior conscientizao ao paciente e ao cuidador do quadro

    patolgico atual com maior autonomia no tratamento, alm da melhora

    na qualidade de vida do paciente e familiar.

    A assistncia domici l iar ut i l iza -se de vrias estratgias

    operacionais, baseadas em condutas padronizadas, passveis de

    rigoroso controle, visando reduo dos custos dos procedimentos

    realizados e promoo da racionalidade administrat iva e f inanceira,

    conforme apresentado no Quadro 1.

    QUADRO 1 Condutas e Objetivos da Assistncia Domiciliar

    Fonte: Cunha e Morais (2007)

    Assim, observa-se que as estratgias fundamentadas pela

    lgica de reduo de custos de procedimentos e ef icincia

    administrativa na produo de servios privi legiam a padronizao de

    servios, a regulao da relao entre prof issionais de sade e

    pacientes, o atendimento bsico com a restrio do acesso ateno

    especializada e hospitalar e o controle rgido da atuao prof issional.

    Brown (1997) e Merhy (2000) enfatizam que a medicina

    preventiva, o atendimento domici l iar e o conforto que o mesmo propicia

    aos doentes e a seus familiares (ALMEIDA, 1999; CUNHA, 2003) e o

    controle gerencial sobre o processo clnico traz reduo de custos nos

  • 43

    procedimentos mdico-hospitalares. Segundo Cotta et al. (2001), ao

    comparar os custos da assistncia hospitalar com os da assistncia

    domici l iar, possvel perceber, proporcionalmente, uma reduo dos

    custos na ordem de 52%.

    A Organizao Pan-Americana da Sade (BRASIL, 2011)

    ressalta que preciso introduzir mudanas que tragam desempenho,

    qualidade, ef icincia e satisfao aos envolvidos, visando conter os

    custos e minimizar os riscos.

    Em Nakagawa (1991), encontra-se a explicao de que a

    possibil idade de combinar custos com medidas de desempenho abre

    novas perspectivas para os gestores, e ajuda na visualizao de

    medidas corretas sobre a uti l izao e o consumo dos recursos.

    Portanto, fundamental estabelecer novas formas de avaliao de

    resultados que permitam a anlise da alocao dos custos das

    atividades, em relao aos resultados econmicos e estratgicos

    alcanados pela empresa.

    Neste contexto, de acordo com Malta et al. (2004) e ANS

    (2005), as operadoras de plano de sade introduzem a ateno

    domici l iar na sade suplementar, como nova tecnologia de cuidado

    sade, para fazer frente aos altos custos operacionais. A prpria

    Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS) tem buscado pautar a

    questo da assistncia domici l iar, quando formulou o Programa de

    Qualif icao da Sade Suplementar tornando-o, dado a sua relevncia,

    uma polt ica da Agncia.

    2.1.3 Assistncia Domiciliar

    A Organizao Mundial de Sade (OMS, 2004) define Home

    Care como proviso de servios de sade promovida por cuidadores

    formais ou informais no ambiente domicil iar.

    Neste mesmo contexto, Mendes (2001), af irma que a Joint

    Commission on Accreditation of Health Care Organization def ine que

    servios de Home Health so aqueles providos por prof issionais de

    sade aos pacientes que tm ou esto com risco de uma doena ou

  • 44

    uma condio de fragil idade ou so doentes terminais que precisam de

    intervenes de prof issionais de sade.

    A evoluo do Home Care possibi l itou a transio cada vez

    mais rpida de pacientes do hospital para o domiclio, fazendo deste

    um cenrio de referncia para a continuidade dos cuidados.

    Segundo Torre et al. (1998) e Tavolari et al. (2000), na dcada

    de 1990, a adoo da assistncia e internao domicil iares cresceu

    signif icat ivamente nos diversos servios de sade, tendo como

    principais fatores a necessidade de mais vagas nos hospitais, reduo

    dos riscos de infeco hospitalar, humanizao do atendimento e

    sensvel reduo dos custos. Existem, tambm, os que defendem que a

    implantao de servios de assistncia domicil iar promove maior

    integrao e colaborao entre os servios hospitalares e os extra -

    hospitalares, possibil itando a assistncia contnua e a perspectiva da

    integralidade.

    O primeiro registro de uma atuao organizada na assistncia

    domici l iar foi no estado da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, no

    sculo XIX, atravs de mulheres da Sociedade Beneficente de

    Charleston, que desenvolviam programas de atendimento a doentes

    pobres. Em 1947, E. M. Bluestone, do Hospital de Montef iore, no Bronx

    - Nova York, introduziu a noo de assistncia domici l iar como

    extenso do hospital, the hospital-based home care (assistncia

    domici l iar baseada no hospital), em que pacientes que, normalmente,

    teriam alta hospitalar mais tardiamente comearam a ser tratados em

    casa por equipes especializadas. (MENDES, 2001)

    A ateno domici l iar envolve aes de promoo sade,

    preveno, tratamento de doenas e reabil itao desenvolvidas em

    domicl io e assistncia domicil iar compreende as ativid ades

    assistenciais exercidas por equipe multiprof issional no local de

    residncia do cliente. Engloba visitas programadas para avaliao do

    paciente e a realizao de procedimentos de maior complexidade .

    (BRASIL, 2006)

    Mendes (2000) e Cunha (2003) conceituam que a assistncia

    domici l iar privada em sade corresponde a uma determinada

  • 45

    modalidade de cuidados que se desenvolve em nveis de ateno

    sade, sendo prestada por equipe multidiscipl inar geralmente

    constituda por prof issionais mdicos, de enfermagem, f isioterapia,

    fonoaudiologia, psicologia, nutrio e servio social, alm de auxil iares

    de enfermagem.

    No contexto cubano, Navarro et al. (1993) definem que

    ateno mdica domicil iria trata -se de uma continuidade da

    assistncia hospitalar, para pacientes afetados por uma enfermidade

    cujo diagnstico, tratamento e reabil itao no os obrigam a

    permanecer no hospital, porm necessitam de repouso no lar.

    O desenvolvimento da assistncia domici l iria no Brasil teve

    seu incio em 1919, com a criao do Servio de Enfermeiras

    Visitadoras no Rio de Janeiro, que surgiu da necessidade de se tratar

    de epidemias como febre amarela e peste, que acabavam impedindo a

    imigrao e comprometendo a exportao de produtos e o

    desenvolvimento econmico do Pas . (CUNHA, 1991)

    Segundo Mendes (2001), em 1949, foi criado o Servio de

    Assistncia Mdica Domicil iar e de Urgncia (SAMDU), tendo como

    principais responsveis por esse servio os sindicatos de trabalhadores

    insatisfeitos com o vigente atendimento de urgncia, cuja demand a era

    realizada por telefone aos postos de urgncia e qualquer mdico do

    planto saa em ambulncias para o atendimento. Havia tambm visitas

    domici l iares regulares por mdicos aos previdencirios com doenas

    crnicas.

    Observa-se uma valorizao dos mbitos familiares

    comunitrios com espao para atendimento de sade, e ento, nos

    anos 60, ocorre a implantao do programa pioneiro de assistncia

    domici l iar do Hospital do Servidor Pblico Estadual de So Paulo

    (HSPESP), cujo objetivo foi atender, basicamente, pacientes com

    doenas crnicas que pudessem ser acompanhados no domiclio,

    portadores de enfermidades que exigiam repouso e convalescentes que

    no necessitassem de cuidados dirios de mdicos e enfermeiros. Da

    por diante, surgiram outros vrios servios, pblicos e privados,

  • 46

    moldados de acordo com as necessidades de sua clientela.

    (ALBUQUERQUE, 2001)

    O nmero de servios de assistncia domici l iar crescente.

    Em 1994 havia no Brasil pouco mais de cinco empresas no setor

    privado, em 1999 o nmero de empresas ultrapassou a marca de cento

    e oitenta. (TAVOLARI et al. , 2000) At dezembro de 1997, j haviam

    sido cadastrados 11.144 doentes com predomnio de patologias como

    neoplasias, acidente vascular cerebral, insuficincia cardaca, doena

    pulmonar obstrutiva crnica, diabetes mell itus e hipertenso arterial

    sistmica. (MENDES, 2001)

    Lacerda et al. (2006) e Mendes (2001) atr ibuem o crescimento

    dos programas de ateno domicil iar mudana do perf i l etrio da

    populao, cujo aumento da populao idosa impacta em necessidades

    e custos em relao aos servios de sade. Segundo os autores, as

    operadoras se veem compelidas a iniciarem um processo de

    reestruturao produtiva, que tem suas bases na busca por um novo

    modelo de produo do cuidado no sentido de reduzir seus custos

    operacionais.

    Os servios (visita, atendimento ou internao domicil iar) so

    dimensionados conforme a necessidade do cliente, que deve receber

    suporte de atendimento 24 horas para urgncias e emergncias,

    transporte para exames diagnsticos ou orientao atravs de uma

    central telefnica 24 horas, que executa esses atendimentos em

    qualquer horrio. As vantagens dessas modalidades de assistncia so

    vrias, visto que h maior humanizao no tratamento, diminuio de

    internaes e tempo de permanncia em hospitais, alm da satisfao

    do paciente e de seus familiares ao ter seu tratamento realizado em

    seu lar. (JONES et al, 1999; LANDI et al., 1999)

    Para Cruz (2001), os programas de assistncia domici l iar

    apresentam-se em quatro nveis:

    primrio: compreende principalmente aes de promoo

    da sade para aquisio de esti lo de vida saudvel.

    secundrio: para limitao de um determinado dano,

    classicamente, estes so prestados nos hospitais,

  • 47

    porm, diante dos elevados custos da internao

    hospitalar, eles esto sendo deslocados para

    seguimento ambulatorial ou internao domici l iar.

    tercirio: os cuidados so altamente especial izados,

    visto as patologias de diagnstico e tratamentos

    complexos que os pacientes so acometidos, sendo que

    a condio para a assistncia domici l iar a estabil idade

    f isiolgica do paciente.

    quaternrio: o cuidado domicil iar visa a aes

    educativas promoo da independncia do paciente e

    da faml ia para o autocuidado devido limitao do dano

    ou invalidez.

    Os programas de assistncia domicil iar devem planejar as

    aes em equipe multiprof issional, a partir do conhecimento do

    diagnstico, l imitaes e possibi l idades do paciente e considerando a

    ateno no espao domici l iar, visando promoo, manuteno e

    reabilitao da sade, de maneira a favorecer o restabelecimento da

    independncia e autonomia do paciente . (SILVA e AGUILAR, 2002)

    2.2 Gesto de custos e preos de venda

    Observa-se nos lt imos anos, uma crescente preocupao

    com o controle dos custos no setor de sade e consequentemente com

    o preo de venda de planos de sade. As operadoras de planos de

    sade precisam direcionar seus esforos para desenvolver estratgias

    de gesto e manterem-se no mercado competit ivo .

    Segundo Costa (1999), entre 1920 e 1980 a competit ividade

    era no mbito organizacional. Os produtos eram padronizados e

    limitados, os fatores de produo predominantes eram mo de obra

    direta e materiais, a tecnologia era estvel com avanos moderados, as

    despesas indiretas apoiavam o processo produtivo, os preos eram

    baseados nos custos, sistemas de produo estveis, grandes

    estoques, cl ientes passivos e acomodados, marketing genrico,

    qualidade restrita ao produto e o mercado absorvendo as ineficincias.

  • 48

    A partir da dcada de 1970, a competio global e as

    inovaes tecnolgicas provocam mudanas impressionantes.

    Padoveze (2011) af irma que as empresas necessitam acompanhar seus

    negcios, o mercado de seus produtos, bem como se situar na

    conjuntura econmica do pas e Thompson Jr. e Strickland III (2000)

    complementam que necessria estratgia e planejamento, para

    promover a satisfao dos clientes, atingir os objet ivos de desempenho

    e reforar a posio da organizao no mercado.

    uma constante a inf luncia do mercado no estabelecimento

    do preo de venda, bem como a limitao das empresas em impor o

    que desejam, assim, essas esto cada vez mais voltadas gesto da

    ef icincia operacional . Tendo em vista a relao existente entre os

    objetivos da gesto empresarial, gesto do preo de venda e gesto de

    custos, esses no podem ser tratados isoladamente .

    2.2.1 Gesto de Custos

    Conhecer e gerenciar os custos o desafio de toda

    organizao que pretende crescer e consolidar -se no mercado.

    Padoveze (2006, p. 4) , define custos como sendo a

    mensurao econmica dos recursos (produtos, servios e direitos)

    adquiridos para a obteno e a venda dos produtos e servios da

    empresa. Segundo Atkinson et al. (2008, p. 125) af irmam: "Custo

    definido como valor monetrio dos bens e servios expendidos para

    obter benefcios atuais ou futuros".

    Definio de custo, segundo Weil et al. (1994, p. 21) "O

    sacrif cio, medido pelo preo pago ou a pagar, para adquirir bens e

    servios" ("The sacrif ice, measured by the price paid ou required to be

    paid, to acquire goods or services").

    De acordo com a af irmao de Hansen e Mowen (2009), custo

    o valor em dinheiro, sacrif icado para a compra de produtos e

    servios, que se espera trazer benefcio atual ou futuro para a

    organizao.

  • 49

    Para Martins e Rocha (2010, p.9) custo a "expresso

    monetria do consumo, da util izao, ou da transformao de bens ou

    servios no processo de produo de outros bens ou servios".

    De acordo com Indcibus e Marion (2001, p.55) custo o

    "Consumo de ativos na produo de bens e servios".

    Segundo Hendriksen e Van Breda (2007, p.235):

    "Basicamente, o custo medido pelo valor corrente dos recursos

    econmicos consumidos ou a serem consumidos na obteno dos bens

    e servios a serem util izados nas operaes, ou seja, trata -se do valor

    de troca".

    Schoenfeld (1974, p. 13) af irma: "Custos so todas as

    entradas propositais de quantidades de consumos que resultam em

    servios e/ou produtos util izveis" ("Costs are al l purposeful input -

    quantity consumptions .. . which result in usable services and/or

    products").

    Segundo Padoveze (2013), as atenes da organizao devem

    estar voltadas permanentemente para a gesto de custos, sendo

    necessria uma polt ica de reduo com total engajamento e

    implementao contnua, j que em um ambiente competit ivo, o

    mercado tende a pressionar os preos de venda para baixo, e af irma:

    Para que a pol t ica de reduo de custos seja completa e la deve contemplar o objet ivo econmico maior da empresa que a obteno do lucro, considerando o retorno do invest imento. ( . . . ) Ass im, a terminologia mais adequada pa ra este processo dever ia ser gesto do lucro, mui to mais do que gesto de custos ou reduo de custos. ( . . . ) O objet ivo de uma pol t ica de reduo de custos manter a empresa sempre em condies ideais de compet it iv idade. Para tanto, no deve ter at iv idades que no contr ibuam para a gerao de vendas e lucro, e, naturalmente suas at iv idades devem ser desenvolv idas com a maior ef ic inc ia e ef icc ia de custos,

    com produt iv idade crescente (PADOVEZE, 2013, pg. 488) .

    A gesto de custos vem sendo uti l izada para designar e

    remeter integrao que deve existir entre o processo de gesto de

    custos e o processo de gesto da empresa como um todo. A integrao

    deve e pode ser apreciada como um elemento necessrio e consistente

    para que as empresas possam sobreviver num ambiente de negcios

    estabelecido no mundo globalizado e competit ivo . (MARTINS, 2003)

  • 50

    Neste contexto, Novaes (2007) af irma que a competio entre

    as empresas est cada vez mais acirrada, os clientes mais exigentes e

    os preos ditados pelo mercado vem causando a necessidade de

    maiores controles dos custos das atividades, sistemas f lexveis de

    produo, pequenos nveis de estoques, rapidez no lanamento de

    novos produtos, produtos customizados, marketing intensivo e dirigido,

    qualidade total, e um mercado com um mnimo de ineficincias .

    (ABBAS, 2002)

    Segundo Oliveira e Perez Jnior (2000), para a sobrevivncia

    das organizaes necessrio adotar prticas gerenciais de apurao,

    anlise, controle e gerenciamento dos custos, a que Ward (1996) diz

    consistir um esti lo de administrao estratgica no qual para tomada de

    deciso necessria uma grande quantidade de informaes.

    Padoveze (2011) af irma:

    O foco no processo de gesto decorre da necess idade do entendimento que a maior par te dos custos gera da no processo in ic ia l de p lanejamento empresar ia l . ( . . . ) Ass im, quando se quer reduzir custos, deve -se, pr imeiro, ident i f icar os custos que foram gerados pelas decises estratgicas. No h dvida que uma sr ie de e lementos e var iveis gerada, e, ento, podem ser adminis trados, no p lanejamento operac ional , no d ia a d ia das operaes, assim como, h a poss ibi l idade de atuao para ot imizao dos custos na etapa do processo de execuo e contro le. ( . . . ) Parte s ignif icat iva, ou provavelmente, a maior parte, deve ser resolv ida no mbito da estratgia, e, se for o caso, as estratgias v igentes devem ser reformuladas (PADOVEZE, 2011).

    Em uma organizao existem vrios objet ivos empresariais,

    como alta produtividade, crescimento organizacional, ef icincia

    organizacional, reconhecimento de mercado, entre outros, mas so os

    objetivos f inanceiros como lucratividade e maximizao do valor das

    aes que podero mais inf luenciar as tomadas de decises .

    (ANTHONY, 1991)

    Thompson Jr. e Strickland III (2000) af irmam que e stratgia

    o planejamento do jogo para reforar a posio da organizao no

    mercado, promover a satisfao dos clientes e at ingir os objet ivos de

    desempenho, o que Meirel les e Gonalvez (2001) resumem como a

  • 51

    disciplina da administrao que se ocupa da adequao da

    organizao ao seu ambiente.

    Entretanto, a uti l izao de ferramentas para a gesto requer

    cuidados adicionais e so necessrias algumas adaptaes, em razo

    da especif icidade dos servios prestados que esto relacionados

    promoo da sade e do bem-estar dos pacientes. (EVANS III et al.,

    2001) Mishra e Vaysman (2001) complementam que as informaes

    sobre a gesto das organizaes so um fator crt ico para a avaliao

    do planejamento, controles operacionais e tomadas de deciso.

    O planejamento operacional consiste na identif icao,

    integrao, avaliao de alternativas e na escolha de um plano de ao

    a ser implementado .(CATELLI, 1999, p. 132) Consiste em uma das

    estratgias de operaes das organizaes a produo de um produto

    ou servio ao menor custo possvel, visto que essa reduo poder ter

    grande impacto na vantagem competit iva da empresa . (MARTINS E

    LAUGENI, 2005, p. 67)

    A contabil idade de custos produz informaes gerenciais para

    que os diversos nveis hierrquicos da administrao se jam capazes de

    planejar, controlar e decidir com maior ef icincia e ef iccia . (LEONE,

    2000, p. 25)

    Assim, conforme afirma Pacheco (2010), a gesto de custos

    o processo relacionado com a otimizao dos recurso s util izados para o

    desenvolvimento de atividades em uma empresa, estabelecendo

    estratgias que visam obteno de vantagem competit iva sustentvel .

    Um sistema de custos um instrumento util izado para medir a

    ef icincia de uma organizao e af irmam que um sistema de custeio

    pode realizar: avaliao de estoques e medir o custo dos bens

    vendidos para a gerao de relatrios f inanceiros; est imar as despesas

    operacionais, produtos, servios e cl ientes; e oferecer feedback

    econmico sobre a ef icincia da organizao . (KAPLAN e COOPER,

    1998, p. 13)

    Para Padoveze (2006), as informaes tm muita relevncia

    para as pessoas, visto que alm de fornecer subsdios favorecem a

    reduo de incertezas para as tomadas de deciso.

  • 52

    De acordo com afirmao de Romanini (2005, p. 2):

    [ . . . ] a capac idade de conseguir as i nformaes necessr ias para a tomada de dec ises pode ser o d iferenc ia l entre o sucesso e o f racasso de uma organizao. Hoje, manter -se bem informado fundamental para obter destaque num mundo que ex ige dec ises mais rpidas e, pr inc ipalmente, corretas .

    Os mtodos de custeio so variados e no existe um

    considerado o melhor para ser uti l izado para todas as f inalidades.

    Alguns dos mtodos so mais indicados como instrumentos gerenciais,

    outros como relatrios externos, alguns mais conservadores e outros

    mais abrangentes, com viso de curto ou longo prazo . (MARTINS,

    2003)

    Para Padoveze (2006), mtodos de custeio a maneira de

    encontrar o custo unitrio de um produto ou servio, o que considera

    imprescindvel visto ser dessa informao que decorrem os parm etros

    para estabelecer o preo de venda unitrio. Existem diversas

    metodologias, conforme segue no QUADRO 2.

  • 53

    QUADRO 2 Mtodo de custeio

    Fonte: Padoveze, 2006, p. 151

    As metodologias mais ut il izadas so custeio por absoro e o

    custeio