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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
GISELLE MARY PAIVA DA CRUZ SILVA
MÔNICA APARECIDA DA SILVA FERREIRA
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: emancipação x dependência um estudo sobre os efeito s do
Programa junto às famílias do bairro Guarapes
NATAL
2008
GISELLE MARY PAIVA DA CRUZ SILVA MÔNICA APARECIDA DA SILVA FERREIRA
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
emancipação x dependência Um estudo sobre os efeit os do Programa junto às famílias do bairro Guarapes
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Potiguar - UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social ORIENTADOR: Profª. MSc. Adna Rejane de Freitas Rêgo
NATAL
2008
GISELLE MARY PAIVA DA CRUZ SILVA
MÔNICA APARECIDA FERREIRA DA SILVA
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
EMANCIPAÇÃO X DEPENDÊNCIA: Um estudo sobre os efeitos do Programa junto
às famílias do bairro Guarapes
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Potiguar - UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social
Aprovado em:____/____ /____
BANCA EXAMINADORA
Profa. Ms. Adna Rejane de Freitas Rego
Orientadora
Universidade Potiguar - UnP
Profa. Ms. Carmen Suely de Miranda Cavalcanti
Universidade Potiguar - UnP
Profa. Dra. Iris de Lima Sousa
Universidade Potiguar - UnP
Dedico este trabalho a todos os assistentes
sociais, que insistem em acreditar nessa
profissão, os quais não desanimam ante os
obstáculos e, muitas vezes se sentem
frustrados, mas descobrem nessa frustração
estímulo para continuar.
Giselle Mary Paiva da Cruz
Eu, Mônica, dedico ao meu DEUS TODO-
PODEROSO, que sempre me incentivou a
nunca desistir dos meus sonhos.
Mônica Aparecida da Silva Ferreira
AGRADECIMENTOS Eu poderia dizer que este trabalho é fruto de uma jornada de quatro anos,
mas para mim ele é fruto de uma caminhada, a qual teve início bem antes do meu
ingresso na Universidade.
Iniciou-se há cinco anos, quando ignorei todas as dificuldades de voltar a
estudar, especialmente quando se é casada e tem filhos, dando início a minha
caminhada.
Dessa forma, meus agradecimentos se voltam não só à aqueles que fizeram
parte desses quatro anos de curso, mas também a pessoas que estiveram
presentes, muito antes de tudo isso começar, e que foram infinitamente relevantes
nesse processo.
Agradeço a Deus, por estar presente em minha vida sempre, me confortando
nos momentos de angústia.
Agradeço a minha mãe, a qual não está mais presente, mais que sempre
acreditou em mim e, sobretudo me amou. Te amo, aonde a senhora estiver!
Agradeço a minha professora de Português, do 3º ano do ensino médio, Elda,
a qual me incentivou a dar o primeiro passo, que me proporcionou cursar uma
faculdade, talvez ela nem saiba disso.
Aos meus filhos, que souberam compreender minha ausência, fizeram
silêncio quando precisei estudar, me ofereceram carinho quando chorei e me
fizerem feliz sempre que precisei fugir de tudo: ALESSANDRA E DAVI, MAMÃE
AMA VOCÊS!
Ao meu irmão Jean, que patrocinou parte desse sonho e me incentivou nos
momentos difíceis. Obrigado meu irmão, você sempre foi um paizão pra mim. Te
amo!
Ao meu marido Alexsandro, o qual patrocinou parte desse sonho,
compreendeu minha ausência e sempre me deu forças para continuar, mesmo nos
momentos em que eu estava verdadeiramente insuportável. Obrigada meu amor,
vencemos mais uma batalha, que não é só minha, mas nossa. Te amo.
As minhas amigas de estudo Glauce, Hosana, Alcina e Juliana, devo a vocês
também essa conquista, que foi construída por todas nós ao longo desses quatro
anos trabalhando juntas. Amo vocês de paixão!
A minha companheira de estágio Mônica, com quem compartilhei angústias e
alegrias durante todo o processo de estágio. Obrigada Mônica por agüentar minha
impaciência e ao mesmo tempo ser paciente comigo. Nesse espaço de tempo, tive o
prazer de te conhecer melhor e descobri a pessoa maravilhosa que você é. Te
adoro!
As minhas amigas de “extensão”, Larissa, Solange, Auricélia, Simone e, claro,
Erdson. Passamos momentos maravilhosos discutindo vários assuntos da profissão
e fora dela. Admiro demais todos vocês!
A todos os professores, os quais fizeram parte da minha formação profissional
especialmente Regina, Carmem e, é claro minha orientadora de ensino Adna de
Freitas Rego.
A professora Doutora Maria Célia correia Nicolau, exemplo de determinação,
coragem e perseverança na implementação do Curso de Serviço Social da UNP
Agradeço a todas as profissionais assistentes sociais, que cruzaram meu
caminho e deixaram exemplos a serem seguidos: Júlia Angélica, a qual ouviu nosso
projeto e nos incentivou, a Juliana Sales, exemplo de profissional ético
comprometido com o usuário, Jeane Lidiane, exemplo de competência e
determinação, Daysi Azevedo, nossa supervisora de campo e chefe no estágio
extracurricular, a qual sempre se mostrou interessada e se dispôs ouvir meus
questionamentos. Obrigada pela oportunidade que me proporcionou uma fantástica
experiência na área da assistência social e contribuiu enormemente para minha
formação profissional.
A todos os meus usuários, sem os quais eu jamais teria apreendido a
importância dessa profissão e me fizeram apaixonar-me cada vez mais pelo Serviço
Social. Mesmo em meio a inúmeros desafios e frustrações, me fizeram perceber que
vale a pena continuar.
Giselle Mary Paiva da Cruz
AGRADECIMENTOS
Toda honra, toda glória, todo louvor, toda adoração e minha eterna gratidão
seja pra ti, REI MEU E DEUS MEU!! Que nunca me desamparou em todos os
momentos difíceis desta caminhada, me dando ânimo para realizar este sonho, o
SENHOR sempre foi e sempre será meu melhor amigo, JESUS EU TE AMO...
Aos meus pais, Arthur e Maria Belém por me darem à vida, amo vocês.
Agradeço ao meu esposo Edmilson pelo amor e carinho.
Aos meus filhos Thiago e Rebeca meus maiores incentivadores para
realização deste sonho. Essa vitória é pra vocês.
As minhas irmãs Isa e Izilda que me ensinaram as primeiras letras.
Agradeço a Deus, pela vida da minha companheira Giselle, pois o Senhor nos
uniu num momento muito especial de nossas vidas.
A nossa orientadora e professora Adna Rego, que tanto nos ajudou na
concretização deste sonho.
A Assistente Social Daisy Leila, Coordenadora do Cadastro Único em Natal,
nossa orientadora de campo e amiga muito obrigada pela oportunidade.
Aos meus amados irmãos da Assembléia de Deus em Parque das Dunas,
vocês fazem parte dessa vitória.
A minha amiga e irmã em Cristo Joana, que nunca se esqueceu de mim nas
suas orações, muito obrigada por tudo.
As minhas amigas de curso: Francelina, Solange, Denise, Ir. Socorro e Ir.
Luciana foi muito bom conhecer vocês.
Ao casal Nicodemos e Lucineide que despertaram em mim a vontade de
voltar a estudar, e acreditar que em Cristo eu também era capaz de vencer e, assim
estar realizando um sonho, obrigado por tudo. Amo vocês.
Aos irmãos Gerson Câmara e Paulo Costa Júnior, pelas orações e pelas
palavras de incentivo todas as manhãs. Palavras essas que me fortaleceram a
perseverar em meio às lutas, dando-me ânimo para nunca desistir de lutar e sonhar.
Aos meus alunos da Escola Bíblica Dominical da classe “Vencedores”, que
compreenderam minha ausência em alguns momentos, e que me ajudaram em
oração para que este trabalho pudesse ser realizado. EU AMO VOCÊS!!!
Meu muito obrigado a todos que direta ou indiretamente contribuíram para
realização deste sonho, que DEUS os abençoe grandemente.
MÕNICA APARECIDA DA SILVA FERREIRA
Pensar a Política social como parte
integrante do desenvolvimento significa
assumir que seus projetos, programas e
ações constituem um investimento
necessário, indispensável e prioritário.
Tavares
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como referência, a experiência de estágio curricular desenvolvido junto ao Cadastro Único, mais especificamente no Programa Bolsa Família, inserido na Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) em Natal/RN. O Programa tem por objetivo erradicar a fome e a pobreza, promovendo a emancipação das famílias, através da transferência direta de renda, a inserção das famílias em direitos relacionados à educação, saúde e a participação em programas de capacitação profissional e de geração de emprego e renda. Durante o processo de pesquisa no âmbito institucional e tomando como atores principais as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, cuja área priorizada foi o bairro Guarapes, observamos a existência de um número bastante elevado de famílias que sobrevivem desse Programa e que desconhecem seus objetivos, o que acaba por comprometer os resultados do Programa. Diante disso, considerando que dentre os objetivos do PBF localiza-se a emancipação das famílias, procuramos desenvolver nosso trabalho, no sentido de investigar os resultados obtidos desde sua inserção no PBF em detrimento dos resultados pretendidos, observando os impactos desse Programa na vida dessas famílias por meio de questionário aplicado durante visitas domiciliares e, posteriormente realizando rodas de conversa, nas quais procuramos esclarecer os usuários acerca dos objetivos do Programa e a relevância de sua participação na concretização deles. Do ponto de vista estrutural, esse trabalho contempla uma discussão, que envolve o fenômeno pobreza, suas causas e formas de enfrentamento, um breve histórico dos programas de transferência de renda e o detalhamento do Programa Bolsa Família enquanto instrumento de erradicação da fome e da pobreza, para em seguida sistematizarmos o resultado da pesquisa. A metodologia utilizada foi observação “in loco”, anotações no diário de campo, pesquisa bibliográfica, documental e ao sitio do MDS, bem como em visitas domiciliares e aplicação de questionário. Palavras-chave: Pobreza. Transferência de Renda. Programa Bolsa Família
ABSTRACT This work Completion of Course has used as reference the experience of a traineeship developed into a General registration (Cadastro Único), the Bolsa Família program, included in the Municipal Department of Labor and Social Welfare (SEMTAS) Natal/RN. The program aims to eradicate hunger and poverty, promoting the empowerment of families through the direct transfer of income, the insertion of families in duties related to education, health and participation in programs of vocational training and generating jobs and income. During the search process within institutional and taking as major actors in the families receiving he Bolsa Família program, whose area has been prioritized Guarapes neighborhood, observed the existence of a fairly large number of families who survive this program and know that its objectives which ultimately commits the results of the program. Thus, whereas among the objectives of the PBF is located in the emancipation of families, trying to develop our work to investigate the results achieved since its inclusion in the PBF to the detriment of the intended results, noting the impacts of this program in the life of these families through The questionnaire was answered during home visits, and then realizing wheels of conversation in which users seek clarification about the objectives of the program and the importance of their participation in implementing them. From the structural point of view this work includes a discussion involving the poverty phenomenon, its causes and ways of coping, a brief history of programs to transfer income and detailing The Bolsa Família program as a means of eradicating hunger and poverty, for in followed the systematic search result. The methodology was observing "in situ", notes in the field daily, documentary research and the site of the MDS, as well as home visits and implementation of a questionnaire. Key words: Poverty. Poverty. Income Transfer. Bolsa Família program.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Famílias selecionadas...................................................... 61
Gráfico 2 Faixa etária dos entrevistados.......................................... 62
Gráfico 3 Nível de escolaridade dos moradores da casa ................ 63
Gráfico 4 Quantidade de pessoas por domicílio.............................. 64
Gráfico 5 Escolaridade do responsável legal .................................. 64
Gráfico 6 Qualificação profissional do responsável legal................. 65
Gráfico 7 Tempo de permanência no PBF....................................... 66
Gráfico 8 Participação em cursos e inserção no mercado de
trabalho.............................................................................
66
Gráfico 9 Desligamento do PBF....................................................... 68
Gráfico 10 Objetivos do PBF.............................................................. 68
Gráfico 11 Mudanças atribuídas ao PBF........................................... 69
Gráfico 12 Compreensão acerca do PBF.......................................... 70
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Proporção de pessoas pobres – Brasil (1999)................... 19
Tabela 2 Indicadores Sociais 1992 – 2001....................................... 20
Tabela 3 Famílias com renda mensal de até R$ 60,00 por pessoa.. 45
Tabela 4 Famílias com renda familiar mensal de R$ 60,01 a R$
120,00 por pessoa..............................................................
46
Tabela 5 Informações Bolsa Família................................................. 47
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASEF Atendimento Sócio Educativo à Família
CNSS Conselho Nacional de Serviço Social
CRAS Centro de Referência da Assistência Social
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LA Liberdade Assistida
LBA Legião Brasileira de Assistência
LOAS Lei Orgânica da Assistência social
MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social
NIS Número de Identificação Social
NOB Norma Operacional Básica
PAC Programa de Apoio à Criança
PAIF Programa de Atenção Integral a Família
PBF Programa Bolsa Família
PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PGRM Programa de Garantia de Renda Mínima
PNAS Política Nacional de Assistência Social
PSB Proteção Social Básica
PSE Proteção Social Especial
PSC Prestação de Serviços a Comunidade
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SEMPS Secretaria Municipal de Proteção Social
SEMTAS Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social
SETHAS Secretaria do Estado de Trabalho Habitação e Assistência Social
SIBEC Sistema de Benefícios da Caixa
SUAS Sistema Único de Assistência social
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS...................................................................... 16
2 UMA BREVE ANÁ LISE SOBRE AS POLÍTICAS DE COMBATE A POBREZA: ESPECIFICANDO OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA............................. .....................................
18
2.1 O FENÔMENO POBREZA E AS SUAS FORMAS DE ENFRENTAMENTO....................................................................................
18
2.2 SIGNIFIGADO E ALCANCE SOCIAL DOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA...................................................................
31
3 A SECRETARIA DE TRABALHO E ASSISTÊNCIA SOCIAL (SEMT AS) E SUA PARTICIPAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO A POBREZA......................... ...............................
36
3.1 PROGRAMAS E PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA SEMTAS............
38
4
A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA............................................ ..........................................................
42
4.1
O SERVIÇO SOCIAL E O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA.........................
48
4.2
A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO............................................................
53
4.3
AS AÇÕES DESENVOLVIDAS DURANTE A PRÁTICA DE INTERVENÇÃO NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA GUARAPES/RN.......
54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... .........................................
74
REFERÊNCIAS...........................................................................................
77
APÊNDICES................................................................................................ 81
ANEXOS..................................................................................................... 88
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente estudo de caráter monográfico é o resultado da sistematização da
experiência de estágio curricular, o qual foi vivenciado no período de agosto de 2007
a junho de 2008, no Setor do Cadastro Único, no Programa Bolsa Família (PBF) no
âmbito da Secretaria de Assistência Social (SEMTAS) do município de Natal/RN.
O Programa Bolsa Família foi instituído pela Lei n.º 10.836, de 9 de janeiro de
2004, e regulamentado pelo Decreto n.º 5.209, de 17 de setembro de 2004, sendo
implantado pela SEMTAS em Natal/RN.
Com um trabalho consolidado há mais de vinte anos, essa Secretaria tem por
finalidade efetivar, de forma integrada e articulada, Políticas Públicas de Trabalho,
Habitação, Segurança Alimentar e Assistência Social, visando o enfrentamento da
pobreza, a garantia dos mínimos sociais e a universalização dos direitos à
cidadania. Sendo assim, tem como missão: “Desenvolver Políticas Públicas
comprometidas com o cidadão em situação de pobreza, e com falta de trabalho e
habitação, construindo de forma ética e solidária condições efetivas para a conquista
da cidadania”. (DOCUMENTO INSTITUCIONAL, 2006)
O Programa Bolsa Família é um programa condicionado de transferência
direta de renda, destinado às famílias que vivem em condições de pobreza e de
extrema pobreza. Nessa perspectiva, o seu componente fundamental é a redução
da pobreza, superando a situação de vulnerabilidade social em que se encontram as
famílias beneficiárias, transferindo, assim, o benefício monetário diretamente para os
seus usuários e promovendo a emancipação das famílias em situação de miséria.
Portanto, por meio de observações diretas realizadas durante a construção do
nosso cenário institucional, e após o conhecimento dos pontos norteadores do
Programa Bolsa Família, evidenciamos a necessidade de viabilizar junto aos seus
usuários, mais especificamente, os beneficiários do Bairro Guarapes, o acesso às
informações sobre os reais objetivos do referido programa, bem como o seu papel
na esfera das políticas públicas, enquanto mecanismo de enfrentamento da pobreza
e extrema pobreza.
Dessa forma, partindo dessa constatação desenvolvemos e executamos uma
proposta de intervenção, a qual teve como objetivo maior conhecer as
transformações ocorridas no âmbito dessas famílias, desde a sua inserção no
Programa Bolsa Família, até os dias atuais, a fim de conhecer a efetividade dos
objetivos do programa.
O resultado da pesquisa foi determinante para a construção do nosso estudo,
o qual se encontra estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo realizamos
uma análise sobre as políticas de combate a pobreza, dando um enfoque maior aos
programas de transferência de renda. Em seguida, traçamos algumas considerações
sobre a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), com
destaque à sua missão, e aos seus programas e projetos desenvolvidos. E em
seqüência, demos ênfase ao Programa Bolsa Família, sobretudo, ao serviço social
desenvolvido nesse processo. E para finalizar, apresentamos a nossa pesquisa e a
proposta de intervenção, com o detalhamento das ações realizadas durante o
estágio obrigatório.
Para a realização deste estudo priorizamos os seguintes procedimentos:
pesquisa documental e bibliográfica abrangendo o tema e o PBF, anotações
registradas no diário de campo, observações de cunho empírico, e ainda, a
sistematização das ações desenvolvidas durante o período de intervenção.
2 UMA BREVE ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS DE COMBATE A POBREZA:
ESPECIFICANDO OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE REND A
2.1 O FENÔMENO POBREZA E AS SUAS FORMAS DE ENFRENTAMENTO
A categoria pobreza, em diversos países, aparece sob diferentes ângulos,
entretanto, em poucos deles consegue-se explicar de forma condizente as causas
da origem desse fenômeno e, também, solucionar ou pelo menos atenuar tal
problema.
A pobreza é considerada um dos maiores malefícios existentes na sociedade.
Analisando, especificamente, o Brasil, a pobreza representa o reflexo da economia
vigente ou acumulada ao longo da história marcado por submissão, exploração, falta
de investimentos na economia e, sobretudo pela má distribuirão de renda.
Segundo Soares (2007) a pobreza1 pode ser compreendida de diversas
formas:
• Carência material: envolvendo as necessidades básicas tais quais:
alimentação, vestuário, moradia e cuidados com a saúde;
• Ausência e/ou insuficiência de recursos financeiros: relacionada à
escassez de rendimento ou riqueza, nem sempre relacionada a aspectos
monetários;
• Carência social: representada pela exclusão social, dependência e
capacidade de participar da sociedade, abarcando também a educação e
a informação;
• Carência de força física e psicológica: para buscar transformação de sua
condição, aliado à baixa alto-estima, baixa espiritualidade e falta de
disposição para participar da democracia local.
A pobreza e a desigualdade social são fatores tão antigos quanto à
humanidade. No Brasil tal problema tem como pano de fundo um território que
desde o seu “descobrimento” esteve imerso em desigualdade, visto que segundo
1 Essa definição de pobreza foi referenciada através do Jornal Tropical publicado por João Soares.
Disponível em: <http://www.jornaltropical.st/pobreza.htm>. Publicado em 25 mai 2004. Tal definição retrata as diversas formas de se analisar a pobreza de forma mais completa.
Jacob Gorender (1988 apud SCHWARTZMAN, 2004), o modo de produção que
caracterizou a economia e a sociedade brasileira, até o século XIX, era a
escravidão. As terras brasileiras pertenciam a uma pequena elite que as adquiriram
por concessões políticas.
Hoje o Brasil faz parte de uma economia moderna, mas que infelizmente,
ainda, agrega em seu território milhões de pessoas em situação de pobreza e
extrema pobreza. Apesar de ser este um país com tamanha riqueza natural, o Brasil
possui uma grande parcela de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza2.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania (2001 apud
Schwartzman, 2004), de acordo com cada região, a pobreza é segmentada.
Conforme demonstra a tabela a seguir:
Tabela 1 - Proporção (%) de pessoas pobres* - BRASIL (1999)
Região Urbana Rural Total
Norte 35,4 38,1** 36,2
Nordeste 42,9 59,7 48,8
Sudeste 14,9 34,3 17,0
Sul 15,7 28,4 18,3
Centro-Oeste 20,0 34,0 22,3
Brasil 23,1 46,1 27,8
*Pessoas com renda familiar inferior as linhas de pobreza regionais estabelecidas pelo Projeto Fome Zero. **Inclui apenas o estado de Tocantins. Fonte: Instituto Cidadania (2001)
Diante dos resultados da tabela exposta, fica perceptível que embora exista
no Brasil uma economia bastante desenvolvida, segundo Schwartzman (2004),
existem milhões de pessoas excluídas dos seus benefícios. Tal fato, ainda de
acordo com o referido autor, se explica pelos processos de exclusão, nos quais os
indivíduos foram expelidos da sociedade em razão dos processos de mudança
social, econômica ou política, e até mesmo, pelos chamados processos de inclusão
limitada, nos quais a inserção no mercado de trabalho e o acesso à renda são
restritos às pequenas parcelas da sociedade. Esse fato também é elucidado por um
2 No Brasil não existe uma linha oficial de pobreza, ou seja, determinado grau de renda, no qual as
pessoas sejam consideradas legitimamente pobres para efeitos de recebimento de algum tipo de benefício social. Alguns estudiosos adotam critérios diferenciados para as suas avaliações. O Programa Bolsa Família do Governo Federal classifica uma renda familiar per capita de R$ 120,00 como critério para o recebimento dos benefícios do Programa.
processo desenvolvido no Brasil, que é denominado de modernização conservadora.
Processo que apresenta como principal característica a não incorporação de grande
parcela da população nos setores modernos da economia, da sociedade e dos
setores políticos.
Segundo Schwartzman (2004), as pesquisas mostram que os índices relativos
à educação, saúde, habitação, seguridade social e consumo de bens duráveis têm
aumentado progressivamente, porém, isso ocorre sob bases iniciais bastante
limitadas, que, ainda, situam o Brasil em condições muito desfavoráveis
comparando-se com outros países do mundo.
Esse processo pode ser observado, conforme evidencia a pesquisa realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2001 apud Schwartzman,
2004), através de alguns indicadores expressos na tabela a seguir:
Tabela 2 - Indicadores sociais 1992 - 2001
1992 1995 1999 2001
I-Pessoas
Esperança de vida ao Nascer
Homens 62,4 64,6 65,1
Mulheres 70,1 72,3 72,9
Mortalidade Infantil por mil 43,0 34,6
Analfabetos 15 anos e mais 17,2 15,6 12,9 12,4
II-Domicílios
Com água canalizada (%) 68,1 71,1 76,0 77,6
Com esgoto sanitário (%) 46,1 48,1 52,8 59,2
III-Bens de consumo
TV em cores (%¨) 46,7 60,9 79,7 83,0
Geladeira (%) 71,3 74,8 82,8 85,1
Freezer (%) 12,2 15,4 19,6 18,2
Máquina de lavar roupa (%) 24,0 26,6 32,8 33,7
Telefone fixo (%) 18,9 22,3 37,5 51,0
Telefone celular (%) 31,0
Fonte: IBGE, 2001, Pnad e tabelas de vida e mortalidade
Segundo o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA,
2001), o Brasil não é um país pobre, mas um país que apresenta extrema
disparidade econômica e social. De acordo com os dados obtidos pelo IPEA (1999),
havia naquele ano 14,5% da população brasileira, vivendo com renda inferior a linha
de indigência e 34,1%, com renda inferior a linha de pobreza. Tais dados
correspondem, respectivamente, a 22 e 53 milhões de pessoas. Contudo, se
analisarmos a renda per capita brasileira, esta se localiza entre o terço de países
mais ricos do mundo. Entretanto, de acordo com o estudo do IPEA, apenas 36% dos
países do mundo, possuem renda per capita superior a do Brasil e, mesmo assim os
níveis de pobreza e desigualdade social são muito maiores.
De acordo com o IPEA (2001):
A origem da pobreza do Brasil não está na falta de recursos, mas na má distribuição dos recursos existentes. Poucos detêm muito e muitos não detêm quase nada. A renda média dos 10% mais ricos do país é 28 vezes maior do que a renda média dos 40% mais pobres. Nos EUA, por exemplo, a proporção é de 5 vezes; na Argentina, 10 vezes e na Colômbia, 15 vezes.
Outras causas da pobreza estão localizadas nas profundas transformações
no mundo do trabalho, ocorridas no século XX e início do século XXI, jamais
identificadas em outros períodos. Isso tem trazido desastrosas conseqüências para
à classe, a qual depende do trabalho para sobreviver.
Sobre isso, Lira (in SILVA; YAZBEK, 2006, p. 130) acrescenta:
O trabalho passou por transformações jamais identificadas em outros períodos históricos, todas vinculadas à contradição, inerente ao regime de produção capitalista, a qual, segundo Marx (1971), está relacionada ao fato de que sua tendência ao desenvolvimento absoluto das forças produtivas, em geral confronta-se continuamente com as condições específicas nas quais essas forças estão inseridas.
Conforme acrescenta Lira (in SILVA; YASBEK, 2006), o sistema capitalista de
produção precisa de um conjunto de relações sociais e econômicas, que possam
viabilizar a continuidade do seu processo de acumulação. Incluindo-se nesse
parâmetro, conforme Mattoso (1995 apud LIRA in SILVA; YASBEK, 2006), estão às
questões tecnológicas, produtivas, salariais, de padrões de consumo e da
internalização das atividades do capital.
Em seu novo estágio de expansão, o capital adota novas estratégias para
garantir e expandir seus lucros, por meio de táticas, que vão desde a reorganização
da produção até a introdução de novas técnicas, no setor de recursos humanos.
Assim, conforme acrescenta Mota (2006, p. 29):
Estas mudanças – sejam em termos de ajustes, seja em termos de reestruturação industrial – determinam novas formas de domínio do capital sobre o trabalho, realizando uma verdadeira reforma intelectual e moral, visando à construção de outra cultura do trabalho e de uma nova racionalidade política e ética compatível com a sociabilidade requerida pelo atual projeto do capital.
A nova ordem produtiva apresenta como características marcantes a
descentralização da produção e o aumento da automação. Essa nova forma de
acumulação capitalista, segundo Lira (in SILVA; YASBEK, 2006), aumentou a
intensificação da exploração do trabalho, a internacionalização da produção,
incorporando novos avanços tecnológicos, que permitem a comunicação via redes
informatizadas, com o objetivo de garantir produtividade e qualidade, a fim de
sobreviver à competitividade do mercado.
Como destaca Laranjeira (1999, p. 27-28):
A busca incessante e crescente por mercados, leva à estratégia da flexibilização, por meio da qual se tende a expandir a variedade de alternativas (tendo em vista, melhor adaptar-se aos sempre renovados parâmetros técnicos, econômicos e de mercado), sem que se leve os custos de produção (...). Tais estratégias constituem a base das novas relações de trabalho. Para poder competir de forma eficaz, torna-se necessário ser capaz de poder alterar rapidamente as características da produção. Nesse sentido, impõe-se uma nova organização do trabalho, que exige novas competências e habilidades do trabalhador, tornando obsoleta a antiga.
Para Mota (2006), tais modificações provocam fortes impactos no nível da
produção, no nível da circulação e na esfera sócio-política e institucional e,
especialmente, provoca alterações na subjetividade dos trabalhadores, ressaltando
neles o individualismo, que vai enfraquecendo cada vez mais os movimentos
sindicais, atualmente quase inoperantes nas funções para os quais eles surgiram,
pois a luta agora não é por melhores salários, mas pela permanência no emprego.
Nessa luta pela permanência no mercado formal, os trabalhadores se
submetem a ilimitada exploração, por parte do capital, abrindo mão, muitas vezes,
de direitos já conquistados.
De acordo com Mota (2006, p. 30):
Para os trabalhadores, além dos impactos objetivos da crise, especialmente em função do desemprego da precarização do trabalho e dos sistemas de proteção social, observa-se a construção de outras formas de sociabilidade marcadas por iniciativas pragmáticas de enfrentamento da crise, fraturando suas formas históricas de organização e esgarçando uma cultura política que comporta alternativas à ordem do capital.
Na análise de Mota (2006), as formas adotadas para agilizar o processo
produtivo, com a finalidade de obter a flexibilização necessária à produção, além de
suscitarem novas exigências ao perfil do trabalhador, também promovem o que a
autora chama de “uma fragmentação objetiva do trabalhador coletivo”. Os mais
qualificados apresentam mais possibilidades de permanecer no mercado formal e os
que não preenchem os requisitos da polivalência e qualificações, acabam sendo
excluídos do mercado de trabalho formal, pois com o enxugamento de postos no
setor industrial, e com os limites do setor de serviços, grande parte da população
passa a enxergar no mercado informal3 sua única forma de sobrevivência e começa
a ocupar esses espaços.
Para Iamamoto (2001, p. 21):
Tais processos atingem não só a economia e a política, mas afetam as formas de sociabilidade. Vive-se a ‘sociedade de mercado’ (LECHNER, 1999) e os critérios de racionalidade do mercado – este tido como eixo regulador da vida social – invadem diferentes esferas da vida social. Uma lógica pragmática e produtivista erige a competitividade, a rentabilidade, a eficácia e eficiência em critérios para referenciar as análises sobre a vida em sociedade. Forja-se assim uma mentalidade utilitária, que reforça o individualismo, onde cada um é chamado a ‘se virar’ no mercado.
O mercado informal tem crescido de forma bastante acelerada. Elevados
grupos de trabalhadores têm se submetido a esta forma de atividade, para poder
garantir a sua sobrevivência e a sobrevivência de sua família.
De acordo com Mota (2006), esse processo compõe o cenário, o qual a
autora denomina de “novas necessidades do processo de acumulação capitalista”,
que vai ocasionar, em seu dizer, uma nova modalidade de exclusão do mercado de
trabalho formal, pelo fato de não fazerem mais parte da estrutura interna das
empresas.
Como enfatiza Carleial (1996 apud MOTA, 2006, p.32.):
Os mecanismos de externalização/terceirização, adotadas pelas grandes empresas, produzem uma “migração” da sua capacidade produtiva para medias e pequenas firmas e estimulam a proliferação de trabalhadores autônomos, sem vínculo empregatício e de trabalhadores em domicílio.
3 O termo informal é usado para designar práticas diferentes. Grosso modo, refere-se a atividade
econômica caracterizada por: a) unidades produtivas baseadas no descumprimento de normas e legislação concernente a contratos, impostos, regulações e benefícios sociais; b) ocupações sem proteção social, garantias legais e estabilidade, sendo recorrente, ainda o fato de serem atividades de baixa produtividade, sem estabilidade, baixos salários, quando não se realizam sem remuneração por ação de familiares e auto-emprego. (LIRA,in SILVA; YASBEK, 2006, p.95)
Segundo Mota (2006), a externalização da produção, determina a exclusão
dos trabalhadores do trabalho socialmente protegido e ainda cria outras formas de
inclusão na economia, a qual possui como principal característica a insegurança e a
desproteção no trabalho.
Situando-se, assim, outro problema que afeta o trabalhador informal, de não
possuir nenhum direito social garantido. No caso desse indivíduo ficar
impossibilitado de trabalhar, não terá outra forma de sustentar sua família.
Conforme Lira (in SILVA; YASBEK, 2006), inexiste sob o sistema capitalista
de produção, a possibilidade de todos os trabalhadores serem absorvidos pelo
processo produtivo diretamente. Sendo assim, ainda segundo a autora, insurge no
seio dos trabalhadores um grupo, que ao ser excluído deste mercado, passa a fazer
parte dos “sobrantes da sociedade”.
Nem exército de reserva, como nos falava Marx, grande parcela dessa
população é mais, pois poucos possuem chance de entrar ou retornar ao mercado
de trabalho estruturado, no qual prevalece o assalariamento formal. A maioria nem
no mercado informal conseguem se inserir, ficando a mercê de programas sociais,
os quais se mostram insuficientes para atender a demanda existente, além de
oferecer condições mínimas de sobrevivência para aqueles que conseguem neles se
inserir.
Situa-se aí o ponto de maior gravidade neste processo de degradação do
mundo do trabalho, no qual muitas pessoas não participam nem do mercado formal,
nem do mercado informal, o que ocasiona um fato muito preocupante, acentuando,
assim, a questão da pobreza no Brasil. Essas pessoas, as quais estão à margem da
sociedade, não participam da produção e, muito menos, do consumo. São pessoas
que foram excluídas do mercado do trabalho, antes mesmo que tivessem sido
inseridas nele, tal fato dificulta a inserção dessa classe em meio à sociedade.
Como relata Carvalho (1998, p. 37-38):
É a emergência e expansão de uma população sobrante, sem o reconhecimento de sua utilidade social. E, assim, na lógica do mercado, é considerada como população desnecessária, descartável; é a presença de uma massa humana, aos olhos e ações da economia globalizada [...]
De acordo com Schwartzman (2004), a participação no mercado de trabalho é
a principal forma de inclusão das pessoas nas sociedades modernas, e o ponto de
partida de todas as análises sobre inclusão e exclusão social.
Segundo Yazbek (2007), a pobreza brasileira é constituída por um conjunto
heterogêneo, cuja unidade está baseada na renda limitada, na exclusão e na
subalternidade. Para a autora, analisando a questão da renda, percebe-se que para
a grande maioria dos trabalhadores formais e informais, prevalecem os baixos
salários e a conseqüente privação material. Já no quesito exclusão e subalternidade,
a vivência da pobreza constrói referências e define o que a autora nomeia de “um
lugar no mundo”, de forma que a ausência de poder de mando e decisão, a privação
de bens materiais e do próprio conhecimento dos processos sociais, os quais
explicam que essa condição ocorre simultaneamente às práticas de resistência e
luta.
De acordo com Iamamoto (2004), a questão da pobreza esta profundamente
atrelada ao acirramento da questão social, que diz respeito às múltiplas expressões
das desigualdades sociais, as quais se apresentam engendradas na sociedade
capitalista.
Historicamente, a questão social remete a inserção da classe trabalhadora no
cenário político em busca do seu reconhecimento, como classe por parte do Estado.
Portanto, para Iamamoto (2001, p. 17):
Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado, nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos.
Ainda, segundo Iamamoto (2001), a questão social na contemporaneidade é
agravada pelas profundas transformações societárias, ocorridas após a década de
1970, que alterou as formas de produção e gestão do trabalho. E para analisá-la,
segundo a autora, torna-se necessário atentar para alguns aspectos centrais tais
como:
• A acumulação atrelada à esfera financeira contribuiu para a existência
de maior concentração de renda e aumento da pobreza, sobressaindo-
se um maior nível de investimentos no capital especulativo que na
produção;
• No que se refere à esfera da produção o padrão fordista/taylorista é
substituído pela especialização flexível, favorecendo o enxugamento
dos postos de trabalho e da precarização no trabalho;
• Transformações nas relações Estado/sociedade civil, que por meio da
implantação do neoliberalismo, com a proposta de reduzir despesas,
diminui os atendimentos e restringi recursos;
• Modificação nas formas de sociabilidade alterar as relações sociais que
passam a ser submetidas às leis de mercado com estímulo ao
individualismo, alterando o modo de vida na sociedade.
Em meio a um contexto de profundas desigualdades sociais, o que traz ao
cenário político a emergência da questão social, surgem às políticas públicas de
caráter social como estratégia desenvolvida pelo Estado, para combater o grave
quadro de exclusão em que se encontra elevada parcela da população brasileira.
Entende-se política pública, como uma ação coletiva, cujo objetivo é
concretizar direitos sociais, demandados pela sociedade e previstos por lei.
Segundo Silva (1997, p. 67-68):
Toda política pública é uma forma de intervenção na realidade social, abrangendo diferentes sujeitos, condicionados por interesses e expectativas, em torno de recursos considerando que podem ser vistos, também, como um mero recurso de legitimação política ou como intervenção, estatal subordinada tão somente à lógica da acumulação capitalista.
Contudo, conforme Battini (2002), os direitos declarados e assegurados na lei
só irão, de fato, se concretizar, por meio de políticas públicas operacionalizadas,
mediante programas, projetos e serviços. E é através das políticas públicas, que são
formulados e, também operacionalizados os programas de distribuição de bens e
serviços, regulados e providos pelo Estado, com a participação da sociedade.
A autora ainda acrescenta que, embora a implementação das políticas sociais
em toda América Latina tenha sido de acordo com as particularidades de cada país
todas elas foram formuladas de forma a atender às pessoas consideradas carentes.
No Brasil essas políticas foram introduzidas no cenário político durante os anos de
1930, período em que o governo busca dá início a uma nova relação
Estado/sociedade integrando o mercado interno e o desenvolvimento da
industrialização. Na verdade o que existia nesse período era um compromisso com a
classe burguesa que oferecia suporte político, econômico e ideológico aos
interesses do Estado. Percebe-se com isso que esses programas, bem como as
instituições, não conseguem atender as demandas sociais expressas pelos usuários,
por se tratarem de programas limitados e focalizados e, também pela falta de
prioridade, por parte do Governo, em defender as condições mínimas de
sobrevivência digna às classes subalternas, excluídas de qualquer tipo de acesso
que lhes garanta atenção necessária as suas necessidades básicas como cidadãos.
(BATTINI, 2002).
Tal situação resulta da implantação do Estado neoliberal, o qual ocasiona
profundas transformações para a sociedade brasileira, sobretudo a parcela que já se
encontrava alijada de seus direitos. Essa corrente traz em sua agenda, o corte nos
gastos com o social, afirmando ser essa a causa da crise fiscal.
Como relata Iamamoto (2001, p. 20):
A crítica neoliberal sustenta que os serviços públicos, organizados a base de princípios de universalidade e gratuidade, superdimensionam o gasto estatal (GRASSI, et al, 1994). A proposta é reduzir despesas (e, em especial, os gastos sociais), diminuir atendimentos, restringir meios financeiros, materiais e humanos para implementação dos projetos.
Para a autora, essas transformações ocorridas na esfera do Estado são
impulsionadas pelas chamadas políticas de ajuste, recomendadas pelo Consenso de
Washington4. Em virtude da crise fiscal do Estado, em um contexto recessivo, o
financiamento dos serviços públicos sofre uma significativa diminuição, ao mesmo
tempo em que comanda o enxugamento dos gastos governamentais, de acordo com
os ideários neoliberais.
Diante da situação de pobreza e das desigualdades sociais, o Estado e o
capital recorrem a políticas compensatórias, as quais buscam solucionar a questão
da pobreza no país.
Como bem lembra Montâno (1999), com os ajustes neoliberais, as políticas
sociais estatais devem sofrer uma profunda reorientação política, tornando-se cada
vez mais focalizadas, desconcentradas e precarizadas.
4 Consenso de Washington é a denominação dada a um plano único de medidas de ajustamento das
economias periféricas, chancelando pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Mundial (BIRD), pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo governo norte-americano, em reunião ocorrida em Washington em 1989, quando se inaugura a introdução do projeto neoliberal em mais de 60 países em todo o mundo. Para aprofundamento do tema, consultar Fiori (1995, 231-245) e (RAICHELIS, p.73, 2005).
Segundo Schwartzman (2004), as políticas sociais podem ser formadas por
políticas de ampliação e extensão dos benefícios e direitos sociais. Tais políticas
estiveram presentes na década de 1930, por meio da criação das primeiras leis
trabalhistas e as primeiras instituições de previdência social, culminando na
Constituição de 1988, a qual vai iniciar uma nova fase para as políticas sociais
brasileiras, consagrando direitos relacionados à educação, a saúde e,
especialmente, incluindo a assistência social como direito do cidadão e dever do
Estado.
Já no Governo de Fernando Henrique Cardoso e no início do Governo de Luís
Inácio Lula da Silva, as políticas sociais sofrem uma racionalização, acarretando
uma redistribuição nos gastos sociais sem que haja entre estes, maior injeção de
recursos. Segundo as análises sobre essa política, a pobreza poderia ser eliminada
sem necessidade de qualquer aumento no volume de gastos, na área social,
focalizando melhor os recursos disponíveis.
Conforme explicita Schwartzman (2004, p. 183):
A situação mais dramática de mau direcionamento dos gastos sociais no Brasil é a do sistema de previdência social. No início de 2003, segundo o presidente do Partido dos Trabalhadores, Jose Genoino, a previdência do setor privado arrecadava R$ 71 bilhões e gastava R$ 88 bilhões anuais, para tender a 21 milhões de aposentados, que recebiam em média de R$ 390 mensais, Enquanto isso, a previdência do setor público arrecadava R$ 21,8 bilhões e gastava R$ 61 bilhões, com aposentadorias médias de R$ 2.282 no Executivo, R$ 7.900 no Legislativo e R$ 8.027 no Judiciário. Uma análise de vários programas sociais brasileiros, feita com dados de meados da década de 1990, mostrava que, além dos gastos com a previdência social, os programas de seguro-desemprego e os serviços escolares de creche, segundo e terceiro graus, também estavam mal focalizados, havendo focalização correta, no entanto, nos programas de ensino pré-escolar e de primeiro grau, assim como de distribuição de merenda escolar, em relação à população escolar.
Para Schwartzman (2004), as alterações seriam realizadas, não somente nos
gastos sociais, mas também na qualidade dos serviços prestados. Segundo o autor,
diversas propostas foram reunidas em um documento, que fala acerca do que ele
chama de “agenda perdida” brasileira escrita por um grupo de economistas, de
várias tendências, no período da campanha eleitoral de 2002 e, que foram
retomadas pelo atual governo em 2003, por meio de um documento publicado pelo
Ministério da Fazenda.
Segundo Schwartzman, todas as propostas até então discutidas e
vivenciadas contém:
Ação direta sobre a desigualdade, pela distribuição direta de recursos à população mais pobre, na expectativa de que, além de suprir carências imediatas, isso possa ter efeitos de reativação do mercado interno; políticas estruturais, dando acesso às populações mais pobres a ativos como microcrédito, a regularização da propriedade imobiliária e posse da terra; ênfase em transferências diretas de recursos do governo aos cidadãos, através de tecnologias como cartões magnéticos, evitando tanto a intermediação de políticos e das burocracias públicas, quanto a necessidade de controle de preços dos artigos de primeira necessidade, como combustíveis, remédios, etc; políticas que aumentem a capacidade produtiva dos mais pobres, através do apoio à produção popular, garantindo melhores condições de comercialização dos produtos e maior acesso a mercados como o de crédito; utilização do setor privado para a provisão dos serviços, partindo do princípio de que ‘o papel da sociedade de subsidiar o acesso dos que não possuem recursos a serviços sociais básicos não significa que o Estado seja obrigatoriamente o único produtor desses ‘serviços’; descentralização da política social, estimulando a participação local como forma de aumentar tanto a eficiência quanto a flexibilidade no planejamento das políticas sociais, combinada com política efetiva de monitoramento do uso adequado dos recursos, e a unificação do orçamento social da União e coordenação das políticas sociais com estados e municípios. (ibidem, p. 184)
Tais propostas, não conseguem efetivar-se em sua totalidade por
determinantes, que vão além dos estabelecidos por lei. Segundo Schwartzman
(2004), a maior dificuldade localiza-se no fato de que na prática, esses direitos
tendem a não acontecer da forma como foram elaborados, por condições
econômicas, sociais e institucionais.
Diante disso, pode-se dizer que, embora algumas pesquisas apresentem
diminuição na pobreza e na desigualdade social, as políticas sociais brasileiras
permanecem com as mesmas características de quando foram criadas, focalizadas
nos mais pobres e insuficientes, para atender a todos que dela necessitam.
Segundo dados do IPEA, no final de 2006, a desigualdade no Brasil teve uma
queda de 4% entre 2001 e 2004. Para especialistas desse órgão, o decréscimo na
desigualdade tem por principal determinante, no Brasil, as melhorias no sistema de
proteção social e na distribuição dos rendimentos do trabalho, sobretudo nas
desigualdades educacionais.
Os IPEA ainda acrescentam que de acordo com o Relatório do
Desenvolvimento Humano, o Brasil é o sexto país mais pobre do mundo, muito
embora a qualidade de vida
média da população brasileira melhora aos poucos, porém sem reduzir as
desigualdades sociais e em ritmo que, ainda não incluiu o país entre os que têm
desenvolvimento considerado alto. No Brasil, o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), que avalia a qualidade de vida, subiu de 0,790 para 0,792, aproximando-se do
nível de desenvolvimento elevado.
Segundo esse estudo, a pequena evolução, contudo, não permitiu ao país
progredir na lista de 177 países mais desenvolvidos, mantendo-se no 63º posto.
Sendo assim, o Brasil não alterou o cenário de desigualdade. Apenas em cinco
países, os 10% mais pobres ficam com uma parcela de renda menor que a dos
brasileiros miseráveis: Venezuela, Paraguai, Serra Leoa, Lesoto e Namíbia. Alguns,
como Peru, empatam na concentração. O relatório ressalva, que em nenhum país a
desigualdade de renda é tão intensa quanto no Brasil. (IPEA, 2006).
As políticas sociais brasileiras enquanto estratégias de enfrentamento para
essa problemática tiveram um redimensionamento a partir dos anos de 1980, em
que uma mobilização social ocorreu no país, em um processo de redemocratização.
Nesse contexto, pode-se destacar a instituição da assistência social como política
publica, fazendo parte do famoso tripé da seguridade social, composto pela saúde,
previdência e assistência social.
Vale acrescentar, que no Brasil, até 1930, não havia uma compreensão da
pobreza enquanto expressão da questão social e, quando esta emergia para a
sociedade, era tratada como “caso de polícia” e problematizada por intermédio de
seus aparelhos repressivos. Assim sendo, a pobreza era tratada como disfunção
individual. A primeira grande regulação da assistência social no país foi à instalação
do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), em 1938, constituindo-se na
primeira forma de presença da assistência social na burocracia do Estado brasileiro.
Com o passar do tempo, as velhas formas de socorrer os pobres, gestadas na
repressão, na filantropia e na benemerência evoluem para políticas, programas e
projetos de combate à pobreza.
Conforme Yazbek (2007), no contexto desenvolvimentista as instituições
sociais direcionaram seus programas para uma política de integração participativa
dos mais pobres no processo de desenvolvimento nacional. Já nos anos seguintes
ao golpe militar de 1964, as políticas sociais vão combinar assistência à pobreza
com repressão.
Na década de 1990 a assistência social passou por grandes progressos, dentre
eles, no ano de 1993, dá-se à regulamentação da Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), através do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), a qual vai
determinar os princípios e diretrizes da ação prática dos Assistentes Sociais,
prevendo a assistência social como direito do cidadão e dever do Estado. No Artigo
1º da LOAS (BRASIL, 2006) está claramente exposto:
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.
Já em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, ocorre o que
Vieira (2008), chamará de um grande retrocesso na assistência social como área de
direitos, por meio da implementação do Programa Comunidade Solidaria, o qual
demonstra explicitamente a desresponsabilização do Estado em relação à provisão
das necessidades sociais.
Inicia-se, também durante esse período a instituição de programas de
transferência de renda como Bolsa Escola, Vale gás, bolsa Alimentação, Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), programas esses focalizados nos mais
pobres.
Tais programas são utilizados como mecanismo de enfrentamento à pobreza
e à exclusão social, embora não atendam a todas as pessoas em situação de
vulnerabilidade e o valor do benefício seja ínfimo.
No próximo ponto, iremos detalhar mais especificamente, os programas de
transferência de renda.
2.2 SIGNIFICADO E ALCANCE SOCIAL DOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA
DE RENDA
Conforme estudiosos do assunto, Giovanni, Silva e Yazbek (2007), os
Programas de Transferência de Renda, a partir da década de 1980, vivenciam um
momento de ampliação, situando-se no âmbito das grandes transformações
econômicas, sociais e no mundo do trabalho, decorrentes da Revolução Tecnológica
da Era da Informação, cuja maior manifestação são os processos de Globalização e
Regionalização dos Mercados.
Essas transformações resultam no surgimento de situações, que demandam
ações do Estado para proteção dos trabalhadores, os quais passam a conviver com
o desemprego estrutural ou precarização do seu trabalho, ampliando e difundindo a
pobreza nos países em desenvolvimento, bem como nos países de capitalismo
avançado.
De acordo com Gorz (1983; 1985; 1991), Rosanvallon (1995) e Castel (1995
apud Giovanni, Silva e Yazbek, 2007, p. 13-14):
As transformações ocorridas na economia e no trabalho geram conseqüências diretas no processo de mudanças sociais, caracterizando a sociedade salarial do pleno emprego, levando estudiosos a referenciarem novas questões sociais decorrentes desse processo.
Os autores ainda enfatizam que o declínio do pleno emprego faz gerar uma
sociedade marcada por uma dupla realidade. De um lado, trabalhadores com
empregos estáveis em grandes empresas e de outro, pessoas desempregadas ou
precariamente empregadas. E nesse contexto, podemos acrescentar ainda, a
existência exacerbada de um expressivo contingente populacional, que não se
enquadra em nenhuma dessas realidades, ou seja, pessoas desempregadas sem
condições mínimas de sobrevivência. Uma situação que exige urgentemente uma
intervenção mais ativa por parte do governo. É nesse contexto, que surgem os
programas de renda mínima.
No Brasil a primeira discussão sobre a introdução de um programa de renda
mínima, vinculado à erradicação da pobreza no país, data de 1975, quando Antônio
Maria da Silveira publica na Revista Brasileira de Economia, um artigo sobre o título
Redistribuição de Renda. Nesse artigo, o autor considerava que a economia
brasileira, da forma como estava estruturada, não atendia às necessidades de
sobrevivência de todos, mesmo os que estavam inseridos no mercado de trabalho,
não verificando uma relação adequada entre crescimento econômico e bem-estar, o
que justificava a intervenção urgente do Estado via geração de programas de renda
mínima.
Como foi explicitado anteriormente essas propostas influenciaram o Projeto
de Lei nº 80/91, apresentado pelo senador do Partido dos Trabalhadores (PT).
Eduardo Matarazzo Suplicy para instituição de um Programa de Garantia de Renda
Mínima5, em nível nacional.
No Brasil, segundo Giovanni, Yazbek e Silva (2007, p. 89), vivia-se nesse
período uma enorme crise recessiva, em que:
Toda atenção do governo e da opinião pública estava voltada para o combate à inflação, que crescia desordenadamente e para os problemas gerados pelo endividamento externo. A preocupação era com o crescimento econômico e com uma política de exportação, não havendo espaço para a implementação de políticas de combate à pobreza e de redistribuição de renda, pois a superação da pobreza era entendida como conseqüência da estabilidade da moeda e do crescimento da economia.
Ainda, conforme os autores, a partir de 1980, o debate sobre os Programas
de Transferência de Renda vivencia uma ampliação, situando-se no âmbito das
grandes transformações econômicas e sociais ocorridas no mundo do trabalho, em
decorrência da Revolução Tecnológica da Era da Informação, cujas maiores
manifestações foram os processos de globalização e regionalização dos mercados,
com a concentração do capital cada vez maior.
Em decorrência dessa situação, surge à necessidade de ações do Estado
para a proteção do enorme contingente de trabalhadores, os quais têm os seus
trabalhos precarizados ou vivenciam o desemprego estrutural, ampliando e
disseminando a pobreza não só nos países em desenvolvimento como também nos
países de capitalismo avançado.
Conforme acrescenta Giovanni, Silva e Yazbek (2007), no Brasil, a idéia de
Programas de Transferência de Renda passa a integrar a agenda pública a partir de
1991, quando o senador petista Eduardo Suplicy apresenta ao Senado Federal o
projeto de lei de sua autoria, propondo a instituição do Programa de Garantia de
Renda Mínima (PGRM), destinado aos brasileiros residentes no país, maiores de 25
anos, com renda equivalente a 2,25 salários mínimos.
A partir daí, se inicia um longo caminho, que se constrói marcado por
especificidades, identificadas no desenvolvimento de diversos momentos históricos,
5 Esse Programa era denominado de Programa de Garantia de Renda Mínima “para toda criança na
escola”, foi criado em dezembro de 1997, regulamentado em 1998, sendo implementado no segundo semestre de 1999, sendo substituído pelo Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa-Escola”, cuja implementação teve início em julho de 2001.
que vai desde a implementação de uma Renda Mínima, representada por diversos
programas de iniciativas Municipais, Estaduais e Federal, à implementação de um
Programa que se propunha a unificar os Programas de Transferência de Renda
dispersos nos três níveis de governo, denominado Programa Bolsa-Família, cuja
implementação teve início em 2003, sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
De acordo com Sposati (2001), a renda mínima tanto pode ser uma proposta
liberal/neoliberal, como uma proposta progressista no campo da inclusão e da
afirmação da cidadania. Podendo ser uma medida regressiva ou de avanço para a
justiça social, tudo dependerá do programa adotado, bem como a sua relação de
parceria com outras políticas sociais.
A autora ainda explicita que isolado de outros Programas Sociais, o
Programa de Transferência de Renda daria o sentido do esvaziamento da
necessidade do trabalho como fonte de renda, fazendo com que a população não
buscasse outros meios para a sua subsistência ou, como defendem alguns elitistas,
seria apenas um estímulo a vagabundagem e ao não trabalho.
Segundo Sposati (2001, p. 80):
O trabalho é condição de desenvolvimento e reprodução social e não meramente ocupação, emprego e pagamento de salário de um indivíduo (...) trabalho decente significa, pois, criar e ter condições de vida humana digna, assim não pode estar vinculado apenas à relação imediata de emprego. (...) o bem social trabalho deve afiançar a vida humana digna ao conjunto humano. Ele produz riqueza social e deve ser distributivo da riqueza e do padrão de vida da reprodução social.
Dessa forma, a renda mínima é considerada um direito social se tornando
um aperfeiçoamento do Sistema de Proteção Social, uma política de
complementação e redistribuição social. Nessa perspectiva, os programas de
transferência de renda devem estar associados a outros programas
complementares, que possam estimular os beneficiários a superar o ciclo da
pobreza.
O Programa Bolsa Família (PBF), do ponto de vista de seu desenvolvimento,
foi pensado dentro dessa perspectiva, ou seja, apresenta-se como uma medida que
busca a superação da pobreza e extrema pobreza, não só através de transferência
de renda (apesar de essa ser a parte mais defendida, esta não abrange a totalidade
do programa), mas também como um mecanismo que proporcione, ao seu público
alvo, acesso aos serviços de saúde, educação e assistência social, bem como a sua
participação em programas complementares, que possam lhes proporcionar a
superação da pobreza.
No capítulo posterior, daremos um enfoque particular sobre a Secretaria
Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) enquanto órgão que
administra e coordena as políticas de enfretamento à pobreza na cidade de
Natal/RN.
3 A SECRETARIA MUNICIPAL DE TRABALHO E ASSISTÊNCIA SO CIAL
(SEMTAS) E SUA PARTICIPAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS
DE ENFRENTAMENTO A POBREZA
Em conformidade com os princípios e diretrizes da nova Política Nacional de
Assistência Social (2004), a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social
(SEMTAS), em princípio denominada como Secretaria Municipal de Promoção
Social (SEMPS), a partir de sua criação através da Lei Municipal nº. 3.366, de 01 de
novembro de 1985 modifica-se gradualmente.
A partir de 1995, quando o então Ministério da Previdência e Assistência
Social (MPAS) anunciou a sua Política Nacional de Assistência Social (PNAS),
propondo a implantação do Sistema Descentralizado de Assistência Social e a
municipalização dessa Política.
No entanto, a SEMPS permaneceu com o mesmo arcabouço organizacional
até o início do exercício de 1999, com alterações posteriores e modificadas pela Lei
Complementar nº. 061, de 02 de junho de 2005, passando a denominar-se
SEMTAS, órgão de atividade fim, integrante da Administração direta da Prefeitura
Municipal do Natal.
Com um trabalho consolidado há mais de vinte anos, essa Secretaria tem por
finalidade efetivar, de forma integrada e articulada, Políticas Públicas de Trabalho,
Habitação, Segurança Alimentar e Assistência Social, visando o enfrentamento da
pobreza, garantia dos mínimos sociais6 e à universalização dos direitos de
cidadania. Tem como missão: “Desenvolver Políticas Públicas comprometidas com o
CIDADÃO, em situação de pobreza, falta de trabalho e habitação, construindo de
forma ética e solidária, condições efetivas para a conquista da cidadania.”
(DOCUMENTO INSTITUCIONAL / SEMTAS, 2006)
Esse conjunto de políticas articuladas, no campo da seguridade social, que
mescla proteção, fomento e desenvolvimento humano e social, deverá afiançar a 6 Existe atualmente um largo debate a respeito da concepção do que seria mínimo social, vê a
respeito Sposati, 1997. Originalmente “garantias de mínimos sociais” se constituem em uma forma utilizada pelo aparelho Estatal de garantir condições mínimas de sobrevivência para população no que diz respeito a assegurar condições de alimentação, habitação, vestuário, cuidados médicos e educação para o trabalhador e sua família. A primeira criação de um mínimo social foi à instituição do salário mínimo, passando para outras formas que beneficiavam apenas aqueles que conseguiram se inserir no mercado de trabalho formal, até chegar a programas de transferência de renda como Beneficio de Prestação Continuada (BPC) entre outros.
proteção social e as seguranças sociais: da sobrevivência, da acolhida e do
convívio, a partir da identificação territorial, da concentração de riscos e situações
individuais e coletivas de vulnerabilidades, conforme determina a Constituição
Federal Brasileira de 1988 e suas legislações sociais específicas: Estatuto do Idoso7
(2003); Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, 1993) e o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA 8, 1990).
Ciente de sua missão institucional e, de acordo com os princípios e diretrizes
da PNAS, a partir de 2005, a SEMTAS (re) definiu novas diretrizes no conjunto da
ação municipal, propondo-se a: “promover uma (re) ordenação Organizacional;
investir na (re) qualificação desenvolvimento dos recursos humanos; garantir
serviços sociais de qualidade e de direitos; consolidar uma gestão descentralizada e
participativa”.
Sob essa perspectiva, implantou-se uma Política de Assistência Social,
contrariando a prática tradicional do assistencialismo, que constrange e torna as
pessoas fragilizadas e dependentes de caridade e favores. Essa Política foi
implantada em consonância com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o
qual exige: um novo desenho político-institucional que garanta, não somente a
primazia do poder público, mas um comando único em cada uma das três esferas de
governo, respeitando-se as diferenças e as características sócio-territoriais locais,
além da gestão compartilhada com a participação da sociedade civil, dos usuários
dos serviços e a centralidade na família para a concepção e execução dos
programas, projetos, serviços e benefícios. 9
A partir desses marcos legais e conceituais, a assistência social deixa de ser,
em tese, uma alternativa de direito ou dever moral, para transformar-se em direito
ativo ou positivo, da mesma forma que os usuários demandantes da assistência
social deixaram de ser meros clientes de uma atenção assistencial pontual e
7 O Estatuto do idoso foi sancionado através da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, destinado a
regular os direitos assegurados as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos (sessenta), estabelecendo, além dos direitos da pessoa humana já explicitada na Constituição de 1988, prevê também garantias de prioridade e diversos artigos direcionados as peculiaridades da pessoa idosa.
8 O estatuto da Criança e do Adolescente sancionado pela lei 8.069 de 13 de julho de 1990 foi um grande avanço na legislação brasileira, no que diz respeito à garantia do direito à infância já explicitado na Constituição Federal de 1988. Essa Lei vem subsidiar a proteção integral à criança a ao adolescente, dispondo de artigos que garantem a esses todos os direitos e garantias fundamentais inerentes à pessoa humana, além daqueles direcionados as peculiaridades da infância e juventude na qualidade de pessoa em desenvolvimento.
9Todo o conteúdo histórico foi extraído de documento fornecido pela Assessoria Técnica da Secretaria, elaborado durante a Gestão 2006.
emergencial para transformarem-se em sujeitos detentores do direito à proteção
devida pelo poder público.
Mediante o desafio de enfrentamento das várias expressões da “questão
social” na cidade do Natal, é imprescindível que a política municipal da assistência
social seja executada de forma articulada e integrada às demais políticas públicas,
especialmente aquelas referentes à Trabalho e Renda, considerando as
particularidades das demandas, em busca da garantia dos mínimos sociais, do
provimento de condições para atender contingências e da universalização dos
direitos sociais, tendo ainda, a provisão de necessidades garantidas no orçamento
público.
3.1 PROGRAMAS E PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA SEMTAS
Em conformidade com os ditames da Legislação Social e da Política Nacional
de Assistência Social, na busca da construção de bases para o fortalecimento do
SUAS, a SEMTAS desenvolve um conjunto de ações, projetos, programas, serviços
e benefícios, expandindo a cobertura da atenção aos diversos segmentos etários,
pessoas e famílias, em diferentes condições de vulnerabilidade, abrangendo as
quatro Regiões Administrativas do município do Natal10.
No que se refere às principais ações desenvolvidas por esta Secretaria,
destacam-se: os serviços de proteção social básica às famílias; os serviços de
proteção sócio-assistencial à criança, ao adolescente e à pessoa idosa; e os
serviços de proteção social especial às pessoas e famílias em situação de risco,
cujas características básicas são apresentadas a seguir:
Os serviços de proteção social básica às famílias prevêem o desenvolvimento
de serviços, programas e projetos de acolhimento, convivência e socialização de
crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, tendo como foco prioritário à 10 Norte compreendendo os bairros: Lagoa Azul, Potengi, Pajuçara, Igapó, Nossa Senhora da
Apresentação e Redinha. Zona Sul compreendendo os bairros: Lagoa nova, Nova Descoberta, Candelária, Capim Macio, Neópolis, Jiqui, Pirangi, Pitimbú, Ponta negra, Lagoa Seca e Cidade Satélite. Zona Leste compreendido por: Santos Reis, Rocas, Praia do meio, Ribeira, Petrópolis, Areia Preta, Cidade Alta, Mãe Luiza, Tirol, Barro Vermelho, Alecrim, Passo da Pátria e Brasília Teimosa. Zona Oeste compreendida por: Quintas, Bairro Nordeste, Dix-Sept Rosado, Bom Pastor, Nossa Senhora de Nazaré, Cidade da Esperança, Felipe Camarão, Cidade Nova, Nova Cidade, Planalto e Guarapes.
atenção às famílias, enquanto núcleo básico do processo de reprodução social, visto
que essas não podem ser culpabilizadas pelo seu próprio processo de exclusão.
Essas ações são desenvolvidas através do Programa de Atenção Integral à Família
(PAIF), desenvolvido em cinco Centros de Referência da Assistência Social (CRAS),
localizados estrategicamente em áreas de riscos e vulnerabilidade social. Atendem
as famílias inscritas no Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal,
priorizando uma atenção especial à mulher, às pessoas com deficiência, ao idoso,
ao negro, à criança e ao adolescente. Em Natal, os CRAS estão situados nos
seguintes bairros: Guarapes, Felipe Camarão, Comunidade da África (Redinha),
Salinas e Pajuçara, tendo como público-alvo famílias com vínculos relacionais,
afetivos e de pertencimento fragilizados.
O Cadastramento Único é o banco de dados off line utilizado para a
identificação das famílias a serem incluídas em programas de transferência de
renda, especialmente o Programa Bolsa Família. Vale salientar que a SEMTAS, por
meio do setor de Cadastro Único, já inscreveu mais de 60 mil famílias, em Natal.
Nos serviços de proteção sócio-assistenciais à pessoa idosa, encontramos a
modalidade de Atenção à Pessoa Idosa (API-CONVIVER), que promove o
desenvolvimento da pessoa idosa com ações, cuidados e serviços que restabeleçam
vínculos pessoais, familiares e sociais, e tem como público-alvo, idosos
dependentes com 60 anos ou mais e seus familiares.
Nos serviços de proteção sócio-assistencial à criança, o Programa de Apoio à
Criança (PAC) é executado, por meio das Creches Municipais e da Rede
Conveniada, atendendo crianças e suas famílias por intermédio da modalidade de
Atendimentos Sócio Educativos à Família (ASEF). Tendo como público-alvo crianças
de 0 a 6 anos, matriculadas que, em decorrência da pobreza, estão vulneráveis, com
vínculo familiar e afetivo fragilizados, bem como suas famílias.
Os serviços de proteção social básica ao jovem, anteriormente através do
Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano e, atualmente, por
meio do Pro Jovem Adolescente são destinados aos jovens de 16 e 17 anos de
idade em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, priorizando aqueles
que estejam fora da escola, os quais tenham participado de outros programas
sociais, preparando-os para futuras inserções no mercado de trabalho e visando o
seu desenvolvimento pessoal, social e comunitário, em consonância com o SUAS e
a política para a juventude.
Os programas de proteção social especial constituem-se modalidades de
atendimento às famílias e pessoas, que se encontram em situação de risco pessoal
e social em decorrência de abandono, violação de direitos, maus tratos físicos ou
psíquicos, abuso sexual, situação de trabalho infantil, entre outros.
Esses serviços estão subdivididos em: serviços de média complexidade
(atende famílias com direitos violados, mas cujos vínculos familiares e comunitários
permanecem) e de alta complexidade (garantem proteção integral às famílias e
pessoas, que se encontrem sem referências e estejam e/ou ameaçados e que
necessitem ser retirados do convívio familiar).
Os programas de média complexidade desenvolvidos pela SEMTAS são:
• Plantão Social: atende pessoas e famílias, em situação de extrema
pobreza, em suas necessidades mais imediatas e em situações
emergenciais.
• Canteiros Reconstituindo Vidas: visa efetivar o atendimento integral e
integrado às crianças, adolescentes, jovens, idosos, pessoas com
deficiências e suas famílias em situação de rua.
• Programa de Atenção a Pessoa Idosa (API-CONVIVER): garante a
proteção social especial, através do atendimento integral aos idosos, em
situação de risco pessoal e violação de direitos.
• Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes (antigo sentinela): atendimento
especializado, garantindo os direitos fundamentais às crianças e
adolescentes e suas famílias, vítimas de abusos e violência sexual, a fim
de fortalecer sua auto-estima e restabelecer o direito à convivência
familiar e social.
• Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI): desenvolve
atividades com o objetivo de prevenir todas as formas de trabalho infantil,
visando a sua erradicação, promovendo também a proteção do
trabalhador adolescente contra o trabalho insalubre, periculoso e
degradante.
• Centro de Referência Mulher Cidadã: desenvolve um trabalho de
atendimento em defesa da mulher vítima de violência doméstica, com
apoio e orientação jurídica, psicológica e social.
Em relação às ações de alta complexidade destacam-se:
• Casa de Passagem I, II e III: garante o abrigamento, em caráter
provisório e excepcional, às crianças e aos adolescentes, em situação de
risco social que não contam mais com a proteção e o cuidado de suas
famílias.
• Casa/Abrigo Clara Camarão: abrigamento protegido e atendimento
biopsicossocial a mulher vítima de violência doméstica em situação de
risco de vida, bem como aos seus filhos (as).
No próximo capítulo, iremos nos deter ao Programa Bolsa Família, Programa
que através de seus usuários foram determinantes para implantação da nossa
proposta de intervenção e resultados de nossa pesquisa.
4 A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAM ÍLIA
O Programa Bolsa Família (PBF) é um Programa federal de transferência
direta de renda. Primeiramente, foi instituído pela Medida Provisória nº 132, de
outubro de 2003, no ano seguinte foi sancionado pela Lei nº 10.836, de 09 de janeiro
de 2004, e regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004.
O PBF é administrado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate
à Fome, atuando com a participação de estados e municípios. Embora seja um
programa de ordem federal, cada prefeitura é responsável pelo seu município, no
que concerne ao cadastramento das famílias e a atualização da base de dados do
Cadastro Único. Além disso, tem a função de acompanhar o cumprimento das
condicionalidades estabelecidas pelo Programa e de promover ações
complementares, as quais possam contribuir com o objetivo final do PBF, que é a
emancipação das famílias consideradas pobres do município.
É um Programa de transferência condicionada de renda, que atende a
famílias em situação de pobreza (pessoas com renda mensal per capita de R$ 60,01
a R$ 120,00) e de extrema pobreza (pessoas com renda mensal per capita de até
R$ 60,00).
O PBF faz parte do Projeto Fome Zero11, plano de ação instituído no Governo
Lula, que tem por objetivo assegurar o direito à alimentação, promovendo a
11 O Fome Zero é um plano de ação criado pelo Governo Federal em 2003, pelo o então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que ao assumir o governo encontrou um sistema de programas de transferência de renda no dizer de Weissheimer (2006), “espalhado” por diversos ministérios, o que contribuía para a fragmentação e sobreposição dos mesmos. Esse Projeto tem o objetivo de afiançar o direito humano à alimentação adequada às pessoas com dificuldades de acesso a alimentos, por meio da articulação com diferentes setores, tanto da sociedade como do próprio Governo. Sendo assim, o Projeto Fome Zero fundamenta-se em princípios de transversalidade e intersetorialidade e, para isso conta com a participação de diversos Ministérios tais quais: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Integração Nacional, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Justiça e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ministério da Fazenda. Além disso, o Governo Federal articula políticas sociais com estados e municípios e, com a participação da sociedade, implementa programas e ações, que buscam superar a pobreza e, conseqüentemente, as desigualdades de acesso aos alimentos em quantidade e qualidade suficientes, de forma digna, regular e sustentável. O Programa Bolsa Família se tornou o mais notável Projeto do Fome Zero, embora esse tenha tido maior repercussão na mídia e no discurso governamental, foi o PBF que se consolidou como sendo principal programa social do Governo Lula.
segurança alimentar e contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para a
conquista da cidadania.
Em se tratando do Programa Bolsa Família, os fins vão além da superação da
fome e da pobreza, pois objetivam também a emancipação das famílias mais
pobres. Para tanto articula três importantes dimensões: promoção do alívio imediato
da pobreza, por meio da transferência direta de renda à família; reforço ao exercício
de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação, por meio do
cumprimento das condicionalidades, procurando propiciar o rompimento do ciclo da
pobreza entre gerações; e a coordenação de programas complementares, com o
intuito de emancipar as famílias, para que elas possam superar a situação de
vulnerabilidade em que se encontram ao se inserirem no Programa.
Situa-se aí, segundo Weissheimer (2006), uma das características centrais
desse Programa, que é a associação da transferência de renda ao acesso a direitos
sociais básicos de saúde, alimentação, educação e assistência social.
O PBF representa a unificação de antigos programas de transferência de
renda, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e Cartão Alimentação, os quais
são os chamados “programas remanescentes”. O objetivo da unificação foi reduzir
custos e diminuir a sobreposição de programas em uma mesma família. (BRASÍLIA,
2006).
Além dessa unificação, o PBF, também se integrou a outros programas, como
o Programa de Erradicação do Trabalho infantil (PETI) e o Programa Agente Jovem
de Desenvolvimento Social, hoje denominado Pro Jovem Adolescente, tendo ainda a
parceria com o Programa de Atenção Integral a Família, materializado nos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS). Tal integração se tornou um dos
aspectos centrais do PBF, pois articulados a outros projetos, de acordo com
Weissheimer (2006), o Programa pode ter sua ação potencializada.
Para fazer parte do programa, a família deve estar cadastrada no Cadastro
Único12, estar dentro dos critérios financeiros de elegibilidade e cumprir com as
condicionalidades do programa.
12 O cadastramento da família não garante o recebimento imediato do benefício, uma vez que esse
conta com critérios financeiros e de elegibilidade. Mesmo que a família encontre-se dentro dos critérios financeiros do PBF terá que aguardar, que seja liberado benefício pelo MDS, respeitando os critérios de elegibilidade utilizados por ele. Segundo dados deste Ministério, no município de Natal o número de famílias com benefício liberado já ultrapassou a estimativa de famílias consideradas pobres, com perfil Bolsa Família.
O Cadastro Único é um instrumento de coleta de dados que tem por
finalidade identificar as famílias em situação de pobreza, em território nacional, e
atualmente é utilizado para inserção de famílias em todos os programas sociais do
Governo Federal, sejam programas de habitação, transferência de renda, tarifa
social, entre outros, os quais venham a ser instituídos, pois com os dados coletados,
o MDS pode identificar outras demandas, que careçam de algum tipo de
intervenção.
Para se cadastrar, a família precisa apresentar um documento pessoal, como
Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Título Eleitoral e possuir uma renda mensal de
até meio salário mínimo por pessoa da casa.
Em Natal, a documentação exigida para os maiores de 18 anos é: Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS), Registro Geral (RG), Cadastro de Pessoa
Física (CPF), Título Eleitoral e, para as crianças: Certidão de Nascimento e
Declaração Escolar, tal exigência tem por objetivo estimular as famílias a adquirirem
essa documentação. Para tanto, a Gestão do Cadastro Único do município de Natal,
por meio de recursos do Índice de Gestão Descentralizado (IGD) 13, fornece guias
para isenção da tarifa de alguns documentos, como RG e CPF e orienta para que os
outros (CTPS, Título Eleitoral), que são adquiridos gratuitamente, também sejam
providenciados.
O Programa Bolsa Família abarca três tipos de benefícios: o benefício básico,
o variável e o variável jovem. Recebem o Benefício Básico as famílias com renda de
até R$ 60,00 por pessoa, e o benefício variável famílias com renda de até R$ 120,00
por pessoa. Em relação ao benefício variável, existem dois tipos, o que abrange
crianças com idade de 0 a 15 anos de idade e o variável jovem, o qual atende aos
jovens de 16 e 17 anos de idade, que estejam freqüentando a escola.
Os valores dos benefícios variam de R$ 20,00 a R$ 182,00, dependendo da
renda da família, o número de pessoas, crianças e adolescentes do domicílio.
O Benefício Básico é no valor de R$ 62,00, o Beneficio Variável equivale a R$
20,00 por criança e/ou gestante e o Variável Jovem equivale a R$ 30,00 por jovem,
13 O Índice de Gestão Descentralizada é um recurso criado pelo MDS para oferecer subsídios
financeiros para dar suporte aos municípios no acompanhamento das condicionalidades.
o valor desse benefício varia de acordo com o número de crianças e/ou jovens14 no
domicilio, daí o nome de benefício variável.
A renda familiar é calculada, por meio da soma dos rendimentos financeiros,
que todos os moradores da residência conseguem receber mensalmente. Esse valor
é dividido pelo número de pessoas existente no domicílio, dependendo do resultado
pode-se saber se a família receberá ou não o beneficio e, em caso afirmativo qual o
valor correspondente.
As tabelas a seguir, demonstram como são calculados os valores do
benefício:
Tabela 3 - Famílias com renda mensal de até R$ 60,00 por pessoa
Número de crianças e adolescentes de até
15 anos
Número de jovens
de 16 e 17 anos
Tipo de
benefício
Valor do
benefício
0 0 Básico R$ 62,00
1 0 Básico + 1 variável R$82,00
2 0 Básico + 2 variáveis R$ 102,00
3 0 Básico + 3 variáveis R$ 122,00
0 1 Básico + 1 BVJ R$ 92,00
1 1 Básico + 1 variável + 1
BVJ R$ 112,00
2 1 Básico + 2 variáveis +
1 BVJ R$ 132,00
3 1 Básico + 3 variáveis +
1 BVJ R$ 152,00
0 2 Básico + 2 BVJ R$ 122,00
1 2 Básico + 1 variável + 2
BVJ R$ 142,00
2 2 Básico + 2 variáveis +
2 BVJ R$ 162,00
3 2 Básico + 3 variáveis +
2 BVJ R$ 182,00
Fonte: Dados retirados do sítio do MDS em: 28/10/2008.
14 O benefício variável só contempla ate três crianças de uma família, portanto mesmo uma família
tendo mais de três crianças com idade de 0 a 15 anos, só receberá o valor correspondente a três crianças, ou seja, até R$ 60,00, já o BVJ só contempla até dois jovens por família e pode chegar, também a R$ 60,00.
Tabela 4 - Famílias com renda familiar mensal de R$ 60,01 a R$ 120,00 por pessoa
Número de crianças e adolescentes de até
15 anos
Número de jovens de 16 e 17 anos Tipo de benefício Valor do
benefício
0 0 Não recebe benefício básico -
1 0 1 variável R$ 20,00 2 0 2 variáveis R$ 40,00 3 0 3 variáveis R$ 60,00 0 1 1 BVJ R$ 30,00 1 1 1 variável + 1 BVJ R$ 50,00 2 1 2 variáveis + 1 BVJ R$ 70,00 3 1 3 variáveis + 1 BVJ R$ 90,00 0 2 2 BVJ R$ 60,00 1 2 1 variável + 2 BVJ R$ 80,00
2 2 2 variáveis + 2 BVJ R$ 100,00
3 2 3 variáveis + 2 BVJ R$ 120,00
Fonte: Dados retirados do sítio do MDS em: 28/10/2008.
As condicionalidades do Programa são compromissos que a família deve ter
com a saúde e a educação, ou seja, as crianças com idade de zero a seis anos de
idade devem ser levadas à Unidade de Saúde, para acompanhamento do
crescimento e desenvolvimento e para manter a vacinação em dia, e as mulheres de
10 a 49 anos, por ser essa idade considerada idade fértil, se estiver gestante deve
ter acompanhamento pré-natal e pós-parto e participar das atividades educativas,
que lhes proporcionem conhecimento à cerca de hábitos alimentares e aleitamento
materno. Esse controle da Saúde é realizado a cada seis meses pela Secretaria de
Saúde, por meio das unidades de saúde dos bairros, onde os usuários residem.
Outra condicionalidade está relacionada à educação. Nesse processo, a
família cadastrada deverá assumir todos os compromissos com a educação de seus
filhos. Assim, as crianças em idade escolar, de 06 á 15 anos, devem estar
devidamente matriculadas na escola e ter freqüência de no mínimo 85% das aulas, a
cada mês e os jovens de 16 e 17 anos devem ter freqüência equivalente a 75% das
aulas, em um mês.
O controle da freqüência escolar é realizado a cada dois meses e, nesse
período, as escolas devem enviar a lista de freqüência dos alunos para a Secretaria
de Educação, que repassa os dados para o MDS.
Segundo Relatório de Gestão 2008 do Cadastro Único, o Programa Bolsa
Família em Natal é operacionalizado na SEMTAS, desde 2004, tendo sido
formalizado pelo Decreto nº 7.635, de 10 de junho de 2005 e publicado no Diário
Oficial do município nº 728, de 13 de junho de 2005. (NATAL, 2008).
Atualmente, segundo dados do MDS (2008), existem 44.975,0015 famílias
recebendo benefício do PBF em Natal. O número de famílias cadastradas é superior
a estimativa de famílias com perfil Cadastro Único16 e o número de famílias
atendidas por esse Programa, no município de Natal é maior que a estimativa de
famílias pobres com perfil Bolsa Família.
Na tabela a seguir pode-se observar melhor esses dados:
Tabela 5 - Informações Bolsa Família
Famílias/perfil Bolsa Família em Natal 42.864
Famílias/perfil cadastro único em Natal 58.724
Famílias cadastradas/perfil cadastro único 63.332
Famílias cadastradas/perfil Bolsa Família 58.380
Famílias com benefício do PBF liberado 44.975
Famílias com Auxílio-Gás liberado 701
População total do município 760.858
Fonte: Os dados foram referenciados do sítio do MDS (2008).
As divergências entre os dados, além da margem de erro podem, também,
ser explicadas por existir entre os beneficiários do Programa pessoas, que se
encontram fora do perfil estabelecido pelo PBF.
Para solucionar tal situação, periodicamente o MDS trabalha com auditorias,
que têm por objetivo identificar eventuais famílias, que se encontram recebendo
benefício indevidamente, realizando cruzamento de dados com a Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e BPC.
Com isso, as famílias que são identificadas como fora do perfil do Programa são
convocadas a atualizar seu cadastro, para que se identifique a veracidade das
informações.
Esse procedimento de fiscalização é competência da instância municipal, que
deve realizar visitas domiciliares para averiguar a real situação das famílias de seu
território.
15 Esse número é referente à folha de pagamento de outubro de 2008. 16Segundo o MDS, devem ser cadastradas famílias, que tenham renda mensal de no máximo meio
salário mínimo por pessoa, ou seja, R$ 207,50. Famílias que tenham renda superior a essa podem se cadastrar, desde que esteja inserida em algum outro programa social implementado pelo Governo Federal, estados e municípios.
No próximo item, elencaremos aspectos concernentes a atuação do Serviço
Social, no âmbito do Programa Bolsa Família em Natal/RN, entendendo ser de
grande importância para compreender o funcionamento desse Programa no
município.
4.1 O SERVIÇO SOCIAL E O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Em sua trajetória, o Serviço Social acompanha a assistência social brasileira,
desde o surgimento da profissão, na década de 1930, quando o Estado passa a
intervir e a encarar a questão social como questão de caráter político, realizando
aliança com as ações caritativas da Igreja católica. Dessa forma, em virtude da
mobilização da classe operária, a qual se insere no cenário político, reivindicando
melhores condições de vida, o Estado estabelece medidas de proteção aos
trabalhadores e suas famílias.
Assim sendo, o Serviço Social emerge como alternativa para o exercício do
poder pela classe dominante, bem como por meio de ações caritativas, voltadas ao
tradicionalismo. Como destaca Iamamoto (2004, p. 114):
O Serviço Social se institucionaliza como profissão na sociedade brasileira, como um impulso decisivo da Igreja, como um dos recursos utilizados pelo Estado e pelo capital, mobilizados ideologicamente pela doutrina social da Igreja, para atuar perante a questão social. Nos anos 1930, reconhecida as tensões de classe que acompanham o processo de consolidação do mercado capitalista de trabalho, tenta-se institucionalizar um tipo de ação social, que, no âmbito das relações Estado/Sociedade, tenha como alvo a situação social do operariado urbano e do exército industrial de reserva, no sentido de atenuar as seqüelas materiais e morais derivadas do trabalho assalariado.
Em meados da década de 1960, essa prática profissional tradicional e
conservadora passa a ser questionada, por meio do Movimento de
Reconceituação17 ocorrido em toda América Latina e, que impulsiona a ruptura com
17 Este Movimento foi abortado no Brasil, em virtude do golpe militar de 1964, o que possibilitou ao
Serviço social realizar, apenas uma modernização conservadora, como nos fala Neto (1991), “impossibilitado de questionar-se teoricamente, o Serviço Social questionou-se metodologicamente”.
antigas práticas consideradas tradicionais, trazendo novos parâmetros para atuação
profissional do assistente social.
Na década de 1980, o cenário brasileiro foi marcado pelo movimento de
redemocratização do país, o que resultará em 1988 na regulamentação da atual
Constituição Federal, que legitimou a Assistência Social como direito do cidadão e
dever do Estado.
Assim sendo, na década de 1990 a Assistência Social passa por grandes
mudanças. Em 1993 é regulamentada através do Conselho Nacional de Serviço
Social, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a qual determina os princípios
para atuação da assistência social. Nesse mesmo ano, ocorre a regulamentação da
profissão de Serviço Social, (Lei 8.86/93), que determina as competências e
atribuições privativas do assistente social, bem como ocorre à regulamentação, por
meio da resolução CFESS nº 273/93, a qual estabelece um novo código de ética,
fundamentado em princípios de igualdade, equidade, justiça, liberdade, democracia
e cidadania.
O Serviço Social se mostra intimamente vinculado à assistência social
brasileira e sua atuação é moldada através das expressões da questão social,
tratadas nesse momento pela implementação de políticas sociais, regulamentadas
na Constituição Federal de 1988.
Sua ação interfere nos processos de reprodução social da sociedade,
desenvolvendo sua prática em situações, que tem efeito na qualidade de vida da
população em geral e, em especial das camadas mais vulnerabilizadas da
sociedade. Como destaca Yasbek (2006, p. 124)
O trabalho do assistente social pode produzir resultados concretos nas condições materiais, sociais e culturais da vida de seus usuários, em seu acesso e usufruto de políticas sociais, programas, serviços, recursos e bens, em seus comportamentos, valores, seu modo de viver e de pensar, suas formas de luta e organização, suas práticas de resistência.
Portanto, a trajetória do Serviço Social e da política de assistência social
encontra-se historicamente imbricada, pois os mesmos se estruturaram, segundo
Yazbek (2006), vinculados ao mesmo conjunto de iniciativas benemerentes e
filantrópicas da sociedade civil e estão ligados ao progresso da profissionalização no
tratamento da questão social e o crescimento da preocupação do Estado em
afiançar o bem estar da sociedade, pois naquele momento o Estado passa a
operacionalizar suas responsabilidades a partir do reconhecimento das
competências profissionais e o saber técnico, para atuar nos serviços sociais.
Diante de tais reflexões e entendendo ser de grande relevância para o
presente estudo, em virtude desse profissional estar entre os técnicos, previstos pelo
Programa para a realização do cadastramento das famílias18, cabe nesse momento
compreender a inserção do assistente social no Programa Bolsa Família. Qual o seu
papel e sua importância em um programa de transferência de renda como é o PBF,
no município de Natal/RN.
O Serviço Social é reconhecido, na maioria das vezes, como porta de entrada
e saída dos usuários em uma instituição. No Programa Bolsa Família ocorre de
forma diferente, pois os usuários só têm acesso ao serviço social em casos
específicos19, ou quando por algum motivo o usuário não conseguir ser cadastrado
no Programa bolsa Família20. Dessa forma, o assistente social, mesmo não sendo
porta de entrada, tem o papel de promover a inserção do usuário no Programa,
desempenhando o caráter de mediador entre os usuários e o PBF e, para tal realiza
as seguintes ações:
• Gestão de benefícios;
• Visitas domiciliares (por motivo de mudança de responsável legal,
denúncia e averiguação entre outros);
• Encaminhamentos a outros Programas;
• Fornecimento de Guias para aquisição de documentos: RG e CPF;
• Fornecimento de vale transporte (em situações em que o usuário não
disponibiliza de vale transporte para voltar para sua residência)
• Supervisão de estagiários;
• Emissão de ofícios para pagamento de benefícios;
18 É competência dos municípios, através da gestão do Cadastro Único, algumas ações de vital
importância para o funcionamento do Programa, quais sejam: coleta de dados, digitação de dados, transmissão dos dados ao MDS, processamento de cadastros incorporação do arquivo de retorno e a manutenção do arquivo. Para tanto, o município conta com os seguintes profissionais: entrevistador, supervisor de campo, assistente social e supervisor do CadÚnico. (MDS, 2008)
19 O usuário só tem acesso ao Serviço Social, nos casos em que seja necessário a realização de relatório e parecer social, em situações, em que demandem visita domiciliar (para averiguação de composição familiar, averiguação para posterior mudança de responsável legal, em casos de abandono, óbito e outros, denúncias entre outros); bloqueios de benefícios; transferência de município entre outros atendimentos.
20 Alguns usuários não conseguem ser cadastrar por diversos motivos: alguns não possuem documentação necessária, outros por já estarem incluídos no cadastro de outra pessoa (uma pessoa não pode estar cadastrado em mais de um domicílio) entre outros.
• Priorização e/ou resposta aos encaminhamentos oriundos do Conselho
Tutelar, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Centro de
Referência Mulher Cidadã, Secretaria de Trabalho Habitação e
Assistência Social (SETHAS) e Transferência de Município entre outros;
• Emissão e solicitação de declaração de Transferência de Município;
• Encaminhamentos às Secretarias de Educação e Saúde (quando
necessário);
Diante das diversas competências, atribuídas ao assistente social no
desempenho de suas funções no Programa, vale salientar também, as várias
dificuldades que esse profissional enfrenta, a fim de concretizar seu trabalho. Tais
dificuldades se dão pela carência de recursos destinados à área social e o
despreparo nas áreas de Saúde e Educação, no que se refere ao cumprimento das
condicionalidades. Na maioria das vezes, as escolas e as unidades de saúde não
possuem total esclarecimento acerca das condicionalidades, como também do
Programa em si, o que acaba por resultar, no desacompanhamento da família por
parte desses organismos, trazendo com isso desastrosas conseqüências para os
objetivos do PBF e, sobretudo para as famílias. Além do fato de, no caso das
unidades de saúde, não está claro para a população usuária qual Posto de Saúde
deve procurar, para realizar o acompanhamento.
Outra dificuldade está relacionada, à insuficiência de outros programas, que
deveriam oferecer suporte ao PBF, como é o caso do Programa de Atenção Integral
á Família (PAIF), que teria a função de realizar acompanhamento às famílias,
sobretudo àquelas que estão em descumprimento de condicionalidades, porém não
o conseguem fazer, pelo fato de haver insuficiência de recursos e uma alta
rotatividade dos técnicos, os quais só permanecem no local pelo período máximo de
um ano, dificultando assim, o acompanhamento das famílias.
Tal realidade termina por comprometer os meios necessários para efetivar as
suas ações diante da demanda que lhes é posta e, conseqüentemente, dificultando
a viabilização da inserção das famílias no Programa e o cumprimento das exigências
do próprio PBF, bem como a emancipação das famílias.
Outra questão que merece ser destacada, ainda no campo das dificuldades, é
à insuficiência de veículos de uso exclusivo para o Cadastro Único. Essa deficiência,
muitas vezes, impossibilita a realização de visitas domiciliares, instrumento de
grande relevância para o Serviço Social, pois possibilita a observação da real
situação das condições de vida da família, bem como o acompanhamento daqueles
que estão em descumprimento de condicionalidades. Como previsto, nas
Orientações para o acompanhamento das famílias Beneficiárias do Programa Bolsa
Família, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (BRASÌLIA, 2006):
As condicionalidades, estabelecidas pelo poder público, são mecanismos para elevar o grau de efetivação dos direitos sociais através da indução da oferta e da demanda por serviços de saúde, educação e assistência sócia, na esfera municipal. Nesse sentido, o adequado cumprimento das condicionalidades constitui a operacionalização de um dos propósitos do Programa Bolsa Família, que é fazer que as famílias beneficiárias acessem os benefícios sociais a que têm direito, desenvolvam práticas de apoio mútuo no espaço doméstico e se vinculem a redes sociais existentes. (BRASÍLIA, 2006, p. 19)
O acompanhamento das famílias beneficiárias deve ser realizado, também,
por meio da articulação com o programa PAIF, que de acordo como o disposto na
Política Nacional de Assistência Social (2004) e na Norma Operacional Básica do
SUAS, deve realizar acompanhamento das famílias inseridas no PBF,
especialmente aquelas, que se encontram em dificuldades de cumprir com os
compromissos de saúde ou educação, a fim de conhecer os motivos do
descumprimento e agir de forma a inserir o usuário nas atividades que são
oferecidas no Programa .
Diante do exposto, percebe-se que a inserção do assistente social no
Programa Bolsa Família se mostra fundamental, porém todo seu arcabouço teórico
metodológico ético e político, não são suficientes para que o assistente social
alcance os resultados pretendidos. Pois, esse profissional necessita, além de maior
comprometimento das três esferas do governo, Federal, Estadual e Municipal, na
disponibilização de recursos, carece, também, do protagonismo de todos os agentes
envolvidos na viabilização desse programa, atuando na mesma intencionalidade, no
fortalecimento da rede de proteção social.
4.2 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A nossa proposta de trabalho, teve como público-alvo as famílias beneficiárias
do Programa Bolsa Família, do bairro Guarapes, Zona Oeste de Natal. Tal fato tem
justificativa, por ser essa uma comunidade que está em último lugar no Índice de
Qualidade de Vida entre os bairros de Natal, segundo dados da Secretaria Municipal
de Planejamento (SEMPLA).
Ainda é válido ressaltar, que a escolha do bairro Guarapes, para o
desenvolvimento de nossa pesquisa, se deu pelo fato de que essa comunidade
apresenta índices sociais preocupantes e de ser, segundo dados do IBGE (2008), a
que possui menor renda entre os bairros de Natal. De acordo com dados desse
instituto, a média de renda das famílias é de 1,6 salários mínimos, no entanto a maior
parcela da população dessa comunidade não alcança esse valor. O Guarapes,
conforme dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB),
é ocupado em sua maioria por famílias oriundas das favelas do Fio, do DETRAN e
Alta Tensão, que foram abrigadas nesse local por estarem vivendo em situação de
risco.
Como foi explicitado anteriormente, o PBF é um programa condicionado de
transferência de renda, que tem o objetivo não só de transferir renda, mas, também,
de fazer com que as famílias tenham acesso à saúde e à educação, e participem de
programas complementares de emprego e educação para jovens e adultos, com o
intuito de lhes proporcionar a superação da pobreza.
No entanto, observamos em nosso processo de estágio, que as famílias
beneficiárias desconhecem os reais objetivos do Programa, e o percebem,
exclusivamente como mecanismo de transferência de renda. A explicação para esse
fato se dá em decorrência da escassez de um trabalho de divulgação junto às
famílias, sobre os aspectos concernentes ao PBF.
Diante dessa realidade, percebemos a importância de desenvolver um projeto
de intervenção voltado para esse público-alvo, contemplando esclarecimentos a
respeito dos reais objetivos do Programa e o seu papel, no âmbito das políticas
públicas enquanto mecanismo de enfrentamento da pobreza e da extrema pobreza.
Propusemos como objetivos a serem alcançados durante a nossa
intervenção:
• Possibilitar às famílias orientações e esclarecimentos a respeito do
Programa, com enfoque nos critérios, condicionalidades e objetivos;
• Esclarecer as famílias quanto ao seu papel na concretização dos
objetivos propostos pelo PBF;
• Promover palestras que apresentem a relevância da participação das
famílias em programas de capacitação profissional, e sua inserção no
PAIF.
A operacionalização dessas ações se deu, por meio de visitas domiciliares,
aplicação de questionários (APÊNDICE A) e reuniões, conforme exposto
seqüencialmente.
4.3 AS AÇÕES DESENVOLVIDAS DURANTE A PRÁTICA DE INTERVENÇÃO NO
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA GUARAPES/NATAL
Na segunda-feira, dia 03 de março de 2008, às 14h, foi realizada a primeira
atividade prevista no cronograma de nosso projeto de intervenção no Cadastro
Único, cujo objetivo foi a apresentação de nossa proposta de trabalho, qual seja:
desenvolver uma ação educativa junto às famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Família.
Na ocasião, estavam presentes: nossa supervisora de campo, a
coordenadora do CRAS, do bairro Pajuçara, a qual elogiou nossa proposta e nos
incentivou a realizá-la, a coordenadora dos Centros de Referência de Assistência
Social (CRAS) e a coordenadora do CRAS do bairro Guarapes, local em que foram
materializadas todas as nossas ações. Uma vez que, na Secretaria onde se localiza
o setor do Cadastro Único, seria inviável, por causa da dificuldade de
disponibilização de espaço adequado para realizarmos as reuniões previstas.
No momento, explicamos a necessidade de se desenvolver um trabalho
educativo junto a esse público-alvo, pelo fato de muitos não conhecerem os
objetivos do Programa, nem o seu papel enquanto beneficiários.
A coordenadora dos CRAS, no município de Natal, já havia tido conhecimento
de nossa proposta, através de nossa supervisora de campo, com isso, após a nossa
apresentação ela autorizou a utilização do espaço no CRAS/Guarapes, desde que a
nossa supervisora nos acompanhasse, e que os horários das reuniões não
alterassem o calendário de atividades desenvolvidas pela equipe técnica, já que o
Centro de Referência possui algumas atividades fixas, tais como grupo de jovens,
grupo de mães, grupo de idosos, grupo de gestantes, bem como à realização de
cursos oferecidos à comunidade.
Na terça-feira, dia 04 de março de 2008, requisitamos uma lista com os dados
das famílias inscritas no Cadastro Único do bairro Guarapes,. Na relação constavam
aproximadamente 900 famílias cadastradas, sendo que nem todas recebem o
benefício, algumas porque ainda aguardam a liberação do benefício por parte do
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), e outras por não
estarem dentro dos critérios do PBF.
Diante do número de beneficiários, optamos por consultar a situação
cadastral de cada família no Sistema de Benefícios ao Cidadão (SIBEC), pois dessa
forma, poderíamos obter informações mais precisas sobre as famílias que estavam
recebendo benefício.
Na segunda-feira, dia 10 de março de 2008, retomamos nossa pesquisa no
SIBEC e conseguimos uma relação com aproximadamente 430 famílias, que
recebem o benefício. Nessa seleção, fizemos um recorte de 50 famílias a serem
visitadas a fim de aplicar o questionário e conhecer a realidade da família.
Na terça-feira, dia 11 de março de 2008, nos reunimos com nossa supervisora
de campo, para deixá-la ciente de como foi realizado o recorte das famílias.
Consultamos o aplicativo off-line do Cadastro Único, para extrairmos mais
informações acerca das famílias, para com isso facilitar o desenvolvimento do nosso
trabalho.
Nesse mesmo dia, elaboramos o questionário e o apresentamos as nossas
supervisoras de campo e de ensino, respectivamente, as quais nos deram algumas
orientações sobre perguntas abertas e perguntas fechadas. O questionário conta
com catorze perguntas fechadas e seis perguntas abertas, as questões foram
direcionadas de modo a avaliar o nível de conhecimento das famílias, acerca das
informações a respeito do PBF e o impacto do Programa nessas famílias, dados que
subsidiarão, posteriormente, nosso Trabalho de Conclusão de Curso. Encerramos
nossas atividades, deixando marcado para o próximo dia de estágio o início das
visitas, as quais foram guiadas pelo mapa do bairro (ANEXO B).
Assim sendo, na terça-feira, dia 25 de março de 2008, demos início à primeira
fase do nosso Projeto de Intervenção, realizando as visitas domiciliares
acompanhada da aplicação do Questionário
Das 50 famílias selecionadas, só conseguimos localizar apenas 26, em
decorrência de vários fatores dentre os quais: mudança de endereço, alguns não se
dispuseram a dar informações com receio de perda de benefício e outros que não
tiveram seus endereços localizados.
Foram realizadas 26 visitas domiciliares, das quais selecionamos o relato de
cinco entrevistas, pois as demais se encontram no mesmo perfil detalhado a seguir.
Em nossa primeira visita domiciliar, abordarmos a senhora J.S.P. (34 anos),
nos apresentamos como estudantes de Serviço Social, que estavam realizando uma
pesquisa junto às famílias do Programa Bolsa Família, na qual tínhamos selecionado
algumas dessas famílias para participarem do nosso projeto. A senhora logo sorriu e
disse: “Eu vou ganhar alguma coisa? É pra ganhar dinheiro?” Explicamos que era
um trabalho acadêmico muito importante de informação, o qual poderia lhe oferecer
outras perspectivas.
Iniciamos perguntando, se a mesma poderia responder as nossas perguntas,
e ela prontamente nos atendeu. J.S.P. nos informou que moravam três pessoas em
sua casa: ela, a sua filha de 10 anos e o seu companheiro, de 16 anos, o qual não
era incluído no cadastro, pelo fato do mesmo não estar freqüentando a escola. Na
casa, apenas a criança estudava e J.S.P. possuía o ensino fundamental incompleto.
Segundo a entrevistada, ela não concluiu os estudos por não ter mais paciência de
estudar. A mesma, também declarou, nunca ter trabalhado com carteira assinada e
que fazia apenas algumas “faxinas”, recebendo o benefício acerca de dois anos,
aproximadamente. E que após a sua inserção no PBF, não havia participado de
nenhuma capacitação profissional, justificando que não tinha interesse.
Ao ser interrogada sobre um possível desligamento do Programa, se teria
alguma outra forma de sobrevivência, ela disse que não. Perguntamos se havia
percebido alguma mudança em sua família, a qual pudesse ser atribuída ao Bolsa
Família, J.S.P. nos relatou que tinha melhorado, pois agora podia comprar alimentos
para a filha. Ao final da entrevista, perguntamos qual era o seu entendimento sobre
o Programa Bolsa Família, e a mesma nos respondeu: “é uma ajuda que o Governo
oferece para mudar de vida”.
Despedimo-nos, falando sobre as ações que iríamos realizar junto aos
usuários do Programa, e a informamos que na ocasião estaríamos dando
esclarecimentos sobre os reais objetivos do PBF, critérios e condicionalidades. Com
isso, continuamos com as visitas domiciliares, dessa vez, fomos à casa da senhora
L.S.O. (40 anos), dona-de-casa, que residia com o esposo, três filhos e um genro.
Ao localizarmos a família, nos apresentamos e explicamos o motivo de nossa visita.
Na casa apenas as crianças e os adolescentes estudavam. Seu esposo
estudou até a 5ª série (6º ano) do ensino fundamental e ela concluiu o ensino médio.
Senhora L.S.O. nos informou que, no momento, só seu esposo estava trabalhando,
por isso ela passava por um momento de depressão psicológica, não sentindo
estimulada a fazer nada. Perguntada sobre há quanto tempo participava do
Programa, a entrevistada respondeu que era beneficiada há mais de dois anos,
passando um ano sem receber e, atualmente só recebia R$ 18,00 reais.
Questionamos se após a inserção no Programa, ela ou alguém da casa havia
participado de algum curso de capacitação profissional? Ela afirmou que não,
porque quando tinha condições de saúde não existiam cursos no bairro e, agora não
tinha mais interesse, por causa da depressão psicológica. Ela nos relatou, ainda,
que se sentia muita desestimulada, achando não ter condições de conseguir nada
na vida. Falamos sobre o fato dela ter concluído o ensino médio, e afirmamos que
isso já havia sido uma conquista, mas a mesma afirmou que só tinha conseguido
concluir os estudos, porque nas escolas públicas de hoje, não se faz prova, e sim
trabalho, argumentando: “dessa forma é mais fácil passar de ano”. Essa usuária,
apesar de estar com sua auto-estima baixa, demonstrou ser uma pessoa bastante
esclarecida.
No caso de um possível desligamento do PBF, a senhora L.S.O., nos
informou não ter outra forma de sobrevivência, pois só seu esposo trabalhava e o
que ela recebia como benefício era muito pouco, não dando para sobreviver apenas
com isso. Questionamos se percebeu alguma mudança em sua família após sua
inserção no PBF, ela afirmou que: “não houve nenhuma mudança”. Sobre os
objetivos do Programa disse não conhecê-los, mas falou que, para ela, o Programa
Bolsa Família é uma tentativa do Governo de oferecer condições mais dignas para
as pessoas, apesar de achar que essa não é a forma mais digna de sobreviver.
Despedimos-nos de L.S.O., agradecendo a sua atenção e informando-lhe
sobre as reuniões que iríamos realizar, avisando que ao final das visitas
domiciliares, estaríamos enviando os convites (APÊNDICE B), informando as datas
das reuniões, a fim de que pudessem participar.
Encerramos nossas atividades um pouco apreensivas, pois tínhamos uma
lista de dez famílias, porém, só conseguimos localizar duas.
Visitamos a senhora F.M.B. (49 anos), a qual residia com uma neta P.M.F.
(12 anos). A senhora F.M.B. estudou, apenas, até a 4ª série (5º ano) do ensino
fundamental, e no momento só quem freqüentava a escola era sua neta. Em virtude
de problemas de saúde, ela não conseguia trabalhar, e sobrevivia apenas com o
benefício que recebia do Programa Bolsa Família. Questionamos se após a sua
inserção no Programa, ela havia participado de algum curso de capacitação, ela
afirmou que não, pois nunca teve interesse nos cursos ofertados. A usuária nos
relatou que já participava do PBF há mais de dois anos e que não tinha outra forma
de sobrevivência, considerando o Bolsa Família uma grande vitória em sua vida, já
que sobrevivia graças ao Programa.
Ao final da entrevista agradecemos a sua atenção, e a convidamos a
participar de nossas reuniões no CRAS/Guarapes, informando-lhe, que
retornaríamos para entregar os convites, tão logo concluíssemos as visitas às
famílias selecionadas.
Na terça-feira, dia 8 de abril de 2008, visitamos a casa da senhora S.L.S. que
residia com mais três pessoas: J. (10 anos), A. (16 anos) e S. de (12 anos). A
entrevistada nos relatou, que em sua casa, apenas as crianças e os adolescentes
estudam e que ela havia estudado só até a 2ª série (3º ano) do ensino fundamental,
porém não sabia ler, nem escrever. S.L.S declarou que, no momento, não estava
trabalhando, porém já tinha trabalhado como empregada doméstica e, atualmente
encontra-se impossibilitada de trabalhar, por motivos de saúde, sobrevivendo,
apenas do benefício do Programa Bolsa Família e da ajuda de familiares.
S.L.S. recebe o benefício há mais ou menos dois anos e, após se inserir no
PBF não participou de nenhum curso, pois não teve interesse nos cursos ofertados
no bairro. Questionada se teria alguma outra forma de sobrevivência, em caso de
desligamento do Programa, afirmou que não. Também, relatou desconhecer os
objetivos do PBF, e que para ela o Bolsa Família era uma ajuda do Governo, a qual
após a sua inserção nele teve condições de melhorar a alimentação de sua família.
Despedimos-nos agradecendo a sua atenção, e convidando-a para participar de
nossas reuniões.
Dando continuidade a nossas visitas domiciliares, fomos à casa da senhora
M.N.F. (32 anos), que residia com o esposo e dois filhos. Na casa, apenas as
crianças e os adolescentes estudavam, e ela e o esposo só concluíram o ensino
fundamental. A senhora M.N.F. não trabalhava, e seu esposo era autônomo,
desempenhando a função de pedreiro. Ela nos informou que recebia o benefício há
aproximadamente três anos. Perguntamos, também, se ela ou alguém da casa havia
participado de algum curso de capacitação profissional, a mesma afirmou que não,
pois achava os cursos oferecidos “sem futuro”, visto que muitas pessoas faziam e
não conseguiam nenhum trabalho, além de achá-los pouco interessantes,
entretanto, ressaltou que gostaria de fazer um curso de informática. Ao
questionarmos sobre um possível desligamento do Programa, ela falou que teria
outra forma de sobreviver, pois seu esposo trabalhava e de qualquer jeito tinha que
“se virar”. Perguntamos se realmente conhecia os objetivos do PBF e ela disse que
não, pois para ela esse Programa “é apenas uma ajuda do Governo para as
pessoas carentes”.
Despedimos-nos de M.N.F. convidando-a a participar de nossas reuniões, e
agradecendo pela atenção, a qual nos foi dispensada.
Nossa próxima visita foi à casa de A.M.F., a qual havia mudado de endereço,
porém com a ajuda de vizinhos conseguimos localizá-la. Ao chegarmos fomos muito
bem recebidas. Inicialmente, informamos sobre nosso projeto e iniciamos a
aplicação do questionário. Em sua casa residiam sete pessoas: ela, o seu esposo e
cinco filhos. A usuária nos informou que todos os seus filhos estavam estudando e
que ela e seu companheiro tinham apenas o ensino fundamental incompleto. A
mesma nos informou que trabalhava como diarista e seu esposo como pedreiro.
Também respondeu que recebia o beneficio do PBF há mais de três anos, e após
inserir-se no Programa participou de alguns cursos de capacitação tais como: curso
de relações humanas, curso de redes e de zeladora, porém não conseguiu espaço
no mercado de trabalho, por falta de experiência.
A entrevistada acrescentou que, ainda gostaria de participar de um curso de
corte e costura. Perguntamos se, em caso de desligamento do Programa a sua
família teria alguma outra forma de sobrevivência e a mesma relatou que não.
Afirmou desconhecer os objetivos do PBF, mas que ao se inserir no Programa
encontrou uma forma de incentivar as crianças a não faltarem à escola, e com isso,
tem percebido uma melhoria no rendimento escolar. Para ela, o Programa, também,
“é uma ajuda do Governo”.
Dando continuidade às nossas visitas, fomos à residência da senhora J.S.
Chegando lá, falamos sobre nosso Projeto e a convidamos para participar de nossas
reuniões, ela gostou da nossa proposta e aceitou responder nossas perguntas.
J.S. mora com quatro filhos, os quais todos estudam, inclusive ela.
Atualmente, a beneficiária não consegue se inserir no mercado de trabalho por
causa do baixo nível de escolaridade. A família sobrevive, apenas, do benefício do
Programa, o qual recebe há mais de três anos. Questionada se havia participado de
algum curso de capacitação profissional, disse ter realizado um curso de crochê,
mas que não conseguiu espaço no mercado de trabalho, e nem conseguiu trabalhar
por conta própria, pelo fato de não ter material para trabalhar. Argumentou que, se
fosse desligada do Programa ou se o mesmo deixar de existir, não teria outra forma
de sustentar a sua família. J.S. informou ter voltado a estudar na tentativa de
conseguir se inserir no mercado de trabalho e, assim melhorar de vida. Após a
inserção no Programa, não percebeu nenhuma mudança, apenas podia comprar
material escolar para os filhos. Afirma conhecer os objetivos do Programa, porém
não soube explicá-los e alegou que: “O Bolsa Família é, apenas uma ajuda do
Governo para as mães comprarem material escolar”.
Na terça-feira, dia 22 de abril de 2008, reiniciamos as nossas visitas
domiciliares, iniciando pela casa da senhora A.F.S., a qual concordou em responder
as perguntas, porém demonstrou um pouco de receio, por achar que fazíamos parte
de algum partido político. A.F.S. nos informou que reside com o seu esposo e
quatro filhos: uma criança de 5 anos e três adolescentes de 10, 13 e 15 anos,
respectivamente. Na casa, apenas as crianças e adolescentes estudam. A.F.S.
alegou não ter tido oportunidade de estudar e que o seu esposo estudou pouco. Na
casa, os dois adultos trabalham informalmente: ela como diarista e seu esposo como
servente de pedreiro. Segundo a usuária, a família sobrevive do benefício do Bolsa
Família, já que não é sempre que conseguem trabalho. Ressaltou participar do
Programa há dois anos, mas que nunca participou de nenhum curso de capacitação
por falta de tempo e por possuir baixa escolaridade. Com relação ao desligamento,
argumentou não haver outra forma de sobrevivência.
A entrevistada afirmou também, que não busca nenhuma alternativa para
melhorar de vida. Questionada a respeito dos objetivos do Programa e o que esse
trouxe para sua família, a beneficiária respondeu não conhecer os objetivos e, que o
único benefício alcançado era o fato de que agora podia comprar roupas e alimentos
para as crianças.
Terminamos os questionamentos perguntando qual a percepção que ela tinha
do PBF, e a resposta nos deixou surpresas: “é um direito, e não um favor do
governo, pois o dinheiro que é repassado vem dos impostos que a população paga”.
Perguntamos como ela sabia disso, e ela nos relatou que gosta muito de assistir ao
jornal.
Conforme já mencionado, das 50 famílias selecionadas, alvos de nossa
intervenção, apenas 26 foram localizadas nos endereços informados no ato do
cadastramento. O restante não foi possível encontrar, em virtude de diversas razões.
O gráfico a seguir, demonstra com clareza esse aspecto:
Gráfico 1 - Famílias selecionadas
52%
16%
18%
14%
localizadas no endereçoinformado
não localizadas noendereço informado
endereço não localizado
não estavam ou nãoquiseram atender
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Através desses dados, podemos perceber que mesmo havendo a orientação
para recadastramento das famílias a cada dois anos, ou quando houver alguma
mudança, 16% dos beneficiários não foram localizados no endereço do cadastro,
por mudarem de endereço freqüentemente, em razão de não possuírem casa
própria, ficando difícil manter as informações atualizadas. Já os 18% não foram
localizados por inconsistência de dados fornecidos no cadastramento, inviabilizando
a localização da residência, e os outros 14% não estavam em casa no horário da
visita ou não quiseram atender.
Conforme demonstra o gráfico a seguir, a maioria dos entrevistados
concentra-se na faixa etária de 30 a 45 anos de idade:
Gráfico 2 - Faixa etária dos entrevistados
8%
54%
38% 18 a 29 anos
30 a 45 anos
acima de 45 anos
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Dentre os entrevistados, 54% possuem idade de 30 a 45 anos, 38% tem faixa
etária acima de 45 anos e 8% possuem idade entre 18 e 29 anos. Diante desses
dados, podemos observar que entre os entrevistados prevalece à idade acima de 30
anos, idade essa que torna mais difícil a inserção no mercado de trabalho,
especialmente para quem não possui nenhuma capacitação.
Quanto ao grau de escolaridade dos moradores dos domicílios, obtivemos os
seguintes dados: 88% têm crianças e adolescentes estudando, 8% não possuem
pessoas estudando e somente em 4% todas as pessoas estudam. Conforme mostra
o gráfico a seguir:
Gráfico 3 - Nível de escolaridade dos moradores da casa
88%
4%8%
todos estudam
as crianças e adolescentesestudam
ninguém estuda
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Os dados constatados demonstram, que um grande percentual de famílias
mantêm as suas crianças e adolescentes freqüentando regularmente a escola. Tal
atitude revela que essas famílias estão agindo em conformidade com uma das
condicionalidades do Programa, qual seja manter o acesso das crianças à escola.
Porém, também observamos que, apesar de não terem concluído os estudos, os
adultos não freqüentam a escola, por causa da falta de estímulo, aliada a baixa auto-
estima, os quais são fatores prejudiciais à capacitação profissional (pois grande
parte dos cursos profissionalizantes oferecidos exige certo grau de escolaridade),
bem como a sua inserção no mercado de trabalho.
O gráfico a seguir, evidencia a quantidade de pessoas que residem nos
domicílios: em 61% dos domicílios moram de 2 a 4 pessoas, 35% deles possuem de
5 a 7 pessoas, 4% tem acima de 8 moradores e nenhuma das residências visitadas
possui apenas 1 morador.
Gráfico 4 - Quantidade de pessoas por domicílio
0%
61%
35%
4%
1 pessoa
2 a 4 pessoas
5 a 7 pessoas
acima de 8 pessoas
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
No que diz respeito, à escolaridade do responsável legal, obtivemos os
seguintes dados: 46% dos entrevistados são analfabetos (considerando que alguns
sabem escrever ou “desenhar”, apenas o seu nome), 42% possui ensino
fundamental incompleto, 8% concluíram o ensino médio e 4% voltaram a estudar.
Gráfico 5 - Escolaridade do responsável legal
46%
42%
0%
0%
8%
4%
analfabeto
fundamental incompleto
fudamental completo
médio incompleto
médio completo
estudam
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Esses dados demonstram que um dos diversos motivos, que serão elencados
a seguir no próximo gráfico, que dificulta a inserção desses usuários no mercado de
trabalho, seja formal ou informal, é a baixa escolaridade ou a não escolaridade dos
mesmos.
Quanto à qualificação profissional, conforme demonstra o gráfico a seguir,
observou-se que, 50% dos responsáveis legais não trabalham e afirmaram
sobreviver, apenas com o benefício do PBF, ao passo que os outros 46%
sobrevivem da informalidade e 4% é assalariado com carteira de trabalho:
Gráfico 6 - Qualificação profissional do responsável legal
4%
46%50%
0%
assalariado com carteira detrabalho
autonômo sem previdênciasocial
não trabalha
aposentado/pensionista
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Tais dados retratam a realidade em que se encontra atualmente o mercado
formal de trabalho, gerado pela reestruturação produtiva e avanços tecnológicos
decorrentes da globalização, a qual vem cada vez mais suprimindo o mercado
formal. Ocasionando assim, o chamado desemprego estrutural, que castiga a
população, tornando-a cada vez mais excluída desse mercado, levando-os a buscar
na informalidade, meios para a sua subsistência, tendo ainda aqueles que, por falta
de escolaridade, capacitação, condições físicas, psicológicas e culturais, mesmo
nesse espaço não conseguem se inserir.
Quanto ao tempo de permanência no Programa, verificamos no gráfico a
seguir, que 39% dos entrevistados estão inseridos no Programa Bolsa Família, no
período de 2 a 3 anos; 27% estão inseridos de 1 a 2 anos; 19% estão inseridos há
mais de 3 anos e 15% estão inseridos há menos de um ano.:
Gráfico 7 - Tempo de permanência no PBF
15%
27%
39%
19%
menos de 1 ano
1 a 2 anos
2 a 3 anos
mais de 3 anos
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Quanto à participação em cursos e inserção no mercado de trabalho,
observam-se os seguintes dados:
Gráfico 8 - Participação em cursos e inserção no mercado de trabalho
8%
23%
69%
participaram e seinseriram no mercadode trabalho
participaram de cursomas não se inseriramno mercado de trabalho
não part iciparam decursos
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
De acordo com os dados colhidos, pudemos observar, no que se refere à
terceira dimensão do PBF, o qual fala da participação das famílias em cursos de
capacitação profissional, que os objetivos do Programa não estão sendo atingidos,
pois 69% dos entrevistados, após se inserirem no PBF não participaram de nenhum
curso de capacitação profissional, o que impossibilita a sua inserção no mercado de
trabalho. Durante as nossas visitas, identificamos a existência de alguns usuários,
os quais alegaram esse fato à falta de oportunidade, falta de tempo (apesar de a
maioria entrevistada não trabalhar e não estudar), falta de interesse pelos cursos
que são oferecidos, baixa escolaridade (alguns cursos exigem certo grau de
escolaridade), falta de saúde física e psicológica (grande parte dos entrevistados
alegaram estarem passando por depressão psicológica e, por esse fato não sentem
vontade de participar de nenhuma atividade), bem como o reduzido número de
vagas dos cursos oferecidos no CRAS, que não conseguem atender a toda
população do bairro.
Por outro lado, chegamos a detectar a existência de 23% dos entrevistados,
os quais já participaram ou possuem alguém na família que participou de algum
curso de capacitação, mas não conseguiu se inserir no mercado de trabalho. Alguns
pelo fato de não terem escolaridade suficiente, pois como vimos nos gráficos
anteriores, a maioria dos entrevistados é analfabeta ou possui ensino fundamental
incompleto (até no máximo a 4ª ano), e outros por não encontrarem espaço no
mercado de trabalho (causa esta encontrada no desemprego estrutural que
vivenciamos) e os que participaram de cursos de manicure, artesanato entre outros.
não conseguiram trabalhar por conta própria, por não terem condições financeiras
para comprar material para produzirem; e apenas 8% participaram de cursos e
conseguiram se inserir no mercado de trabalho ou trabalhar como autônomo.
Já com relação à possibilidade dessas famílias sobreviverem sem o benefício
do Programa Bolsa Família, obtivemos os seguintes resultados: 58% afirmaram que
não teriam outra forma de subsistência, ao passo que 42% relataram ter outras
formas de sustento, uma vez que possuem algum tipo de trabalho informal ou
recebem ajuda de familiares:
Gráfico 9 - Desligamento do PBF
42%
58%
teriam outra forma desubsistência
não teriam outra formade subsistência
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Assim, tais dados revelam o alto grau de dependência das famílias, pois boa
parte delas alega não ter como sobreviver sem o benefício e os que dizem ter outra
forma de subsistência dependem da ajuda de familiares.
No que se refere ao conhecimento dos beneficiários, acerca dos objetivos do
PBF, constatamos a predominância de 88% de usuários, que afirmam desconhecer
os objetivos do Programa, enquanto apenas 12% afirmaram conhecê-los, embora
não soubessem descrevê-los:
Gráfico 10 – Objetivos do PBF
12%
88%
conhece os objetivos
não conhece osobjetivos
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Ao considerar as avaliações realizadas durante as entrevistas, verificou-se
que as mudanças após a inserção no PBF mais indicadas foram:
Gráfico 11 - Mudanças atribuídas ao PBF
4%12%
84%
não perceberam mudança
dizem ter contribuido com asdespesas básicas
dizem ter trazido mudançasna situação escolar dascrianças
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
Sobre as mudanças ocorridas após a inserção no PBF, 84% afirmou ter
percebido mudanças, no que concerne a inserção das crianças, bem como o retorno
e a permanência na escola, não só pelo fato de ser um compromisso da família com
o PBF, mas também porque alguns alegam que com o auxílio é possível comprar
material escolar e pagar o transporte das crianças até a escola, o que acarretou a
diminuição da evasão escolar, 12% afirmaram ter contribuído, com a aquisição de
itens de necessidades básicas (alimentação, material escolar, roupas, guloseimas,
etc.) e 4% alegaram não perceber nenhuma mudança.
Em relação à percepção das famílias sobre o que é Programa Bolsa Família,
obteve-se as seguintes respostas:
Gráfico 12 - Compreensão acerca do PBF
76%
12%
4%8%
classificou como uma ajuda doGoverno para as famíliascarentes
classificou como uma forma deproporcionar uma vida maisdigne as famílias
classificou como um direito
não soube responder
Fonte: Coleta direta de dados, 2008
No gráfico exposto, percebe-se o quanto ainda, predomina a visão
paternalista de ajuda e benesse em relação aos Programas Sociais por parte dos
seus usuários. A pesquisa mostrou que, entre os entrevistados, a maioria, que
contabiliza 76%, classifica o PBF, como uma ajuda do Governo para as pessoas
carentes, ou como alguns explicitaram “uma maravilha”, 12% entendem o Programa
como uma forma que o Governo utiliza para proporcionar às famílias carentes uma
vida digna, apesar de acharem que essa não é a forma mais digna de sobreviver,
8% não souberam ou não quiseram responder e, apenas 4% disseram entender que
esse benefício é um direito das pessoas, pois o Governo, apenas repassa o
dinheiro, o qual é arrecadado nos impostos pagos pela população.
Após todas as visitas realizadas começamos a sistematizar o leque de
informações obtidas e nos direcionamos para a fase posterior do nosso trabalho. Era
o momento de trabalharmos com o coletivo, ou seja, efetivaríamos um encontro com
todos esses usuários, a fim de realizarmos os devidos esclarecimentos.
Sendo assim, na terça-feira, 06 de maio de 2008, às 14h e 30 min.,
realizamos a primeira reunião (APÊNDICE C) planejada com as famílias
beneficiárias do Programa Bolsa Família. Nós, estagiárias, chegamos ao
CRAS/Guarapes, às 12h 30min., para organizar o espaço, onde seria realizada a
reunião, abordando o tema: “Conhecendo o Programa Bolsa Família”. Para uma
melhor interação entre as usuárias, as cadeiras foram organizadas em fileiras
paralelas, de modo que as usuárias ficassem de frente conosco. Conforme o
planejado, os banners e os cartazes explicativos foram posicionados de forma que
ficassem bem visíveis.
Iniciamos o trabalho, agradecendo a presença de todos, e explicitando o
objetivo de nosso Projeto, o que nos fez pensar essa intervenção, esclarecendo que
estávamos ali como Estagiárias Curriculares, em fase de construção do nosso
trabalho monográfico, o qual elas estariam contribuindo com nossa formação
profissional. Iniciamos nossa explanação, explicando o que é o PBF, posteriormente
demos continuidade à reunião, explicando sobre os critérios e condicionalidades do
Programa, explicitando de forma clara como é realizado o acompanhamento por
parte do MDS, sempre intercalando as falas entre as estagiárias. Em seguida, a
Psicóloga do CRAS falou sobre a parceria do PAIF com o PBF no CRAS/Guarapes
(implementando cursos de capacitação profissional, realizando cadastro e
recadastro no PBF, promovendo grupos de socialização para diferentes grupos e
segmentos), na viabilização do acesso das famílias ao Programa, convidando-as a
participarem dos grupos lá existentes (mães, idosos, gestantes e jovens).
Durante a reunião, ressaltamos a importância do Programa, bem como do
Cadastro Único, no que se refere às famílias cadastradas, e que as famílias devem
manter sempre os seus cadastros atualizados, evitando assim, que sejam aplicadas
as penalidades previstas pelo Programa, as quais são desde um possível bloqueio,
ou até mesmo, o cancelamento do benefício por descumprimento das
condicionalidades e/ou decurso do prazo de recadastramento.
Orientamos as beneficiárias sobre a importância do cumprimento das
condicionalidades, referentes à educação, como também de saúde, não visando
apenas à transferência de renda, mas, sobretudo, como um direito garantido pela
Constituição Federal, no Capítulo II, que trata em seu Artigo 6º: “São direitos sociais
à educação, à saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados na
forma desta Constituição”. (BRASÍLIA, 1988).
Acrescentamos a importância das famílias, enquanto cidadãos, também
cumprirem a sua parte, não só exigindo os seus direitos, mas também sendo
cidadãos conscientes do seu papel, na viabilização dos objetivos do Programa
enquanto agentes de transformação. Assumindo essa postura, as famílias estarão
de certa forma contribuindo para a quebra do círculo da pobreza para as gerações
futuras, bem como a garantia ao acesso a direitos considerados fundamentais.
Em nossa explanação, procuramos dar ênfase à terceira dimensão do
Programa, por ser essa a parte mais deficitária, pois para que os objetivos do PBF
sejam alcançados e as famílias beneficiárias tenham sua cidadania fortalecida e
possam estruturar suas rendas a partir de seu próprio trabalho, é necessário, que as
famílias beneficiárias sejam contempladas por programas complementares tais
quais: geração de emprego e renda, educação para jovens e adultos, acesso ao
microcrédito, os quais são oferecidos nos CRAS, na Casa de Ofícios e na SEMTAS,
e no caso de educação de jovens e adultos, nas unidades de ensino onde funciona o
Programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA).
Finalizando a reunião, abriu-se espaço para que as famílias, de forma
espontânea, tirassem as suas dúvidas sobre o PBF. Todas as beneficiárias
presentes fizeram uso da palavra, solicitando maiores esclarecimentos sobre as
suas dúvidas, como também agradecendo pela importância das informações
trazidas durante a reunião naquela tarde. Agradecemos a presença de todas as
famílias, que atenderam ao nosso convite para participarem da reunião e em
seguida, encerramos servindo um lanche para as famílias presentes.
Estiveram presentes nessa reunião 11 (onze) usuários, a Psicóloga do
CRAS/Guarapes e nós estagiárias.
Na segunda-fera, dia 19 de maio de 2008, realizamos a segunda (APÊNDICE
D) reunião prevista em nosso cronograma, com o tema: Programa de Atenção
Integral à Família (PAIF) e seu papel na implementação do PBF. Chegamos às 13h,
no CRAS/Guarapes, para arrumar as instalações, onde seria realizada a reunião. Às
14h, começaram a chegar as pessoas convidadas. Foi passada uma lista de
presença e depois demos início à explanação sobre o PAIF, assim como a sua
importância para as famílias beneficiárias do PBF junto ao CRAS.
Ressaltamos a importância da segurança de renda, por meio dos programas
de transferência de renda, e a garantia da segurança de convivência e autonomia às
famílias, por meio dos serviços, programas, projetos e benefícios sócio-assistenciais,
tornando-se fundamentais para efetivar o direito à assistência social. Informamos
ainda que, para que haja essa efetivação no Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), foi instituído o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que é
um equipamento estatal, o qual tem como objetivo ser uma referência local da
assistência social e ser a concretização dos direitos sócio-assistenciais, ofertando e
coordenando em rede os serviços, programas e projetos que previnam situações de
riscos, por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e do
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Esclarecemos que o CRAS atua junto às famílias e indivíduos, em seu
contexto comunitário, visando à orientação e o convívio sócio-familiar e comunitário.
Assim sendo, é responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral à Família.
O PAIF é implementado através dos serviços sócio-assistenciais, sócio-
educativos e de convivência, e de projetos de preparação para a inclusão produtiva,
voltada para as famílias, seus membros e indivíduos, conforme as suas
necessidades identificadas no território.
Esse programa é uma importante estratégia do SUAS, de integração dos
serviços sócio-assistenciais e dos programas de transferência de renda, como o
PBF.
Também argumentamos, que conforme estabelecido na PNAS e na Norma
Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS), deverá ser garantido o atendimento,
prioritário, às famílias inseridas no PBF. Essa prioridade objetiva responder as
necessidades das famílias, que mesmo acessando a renda, precisam acessar
serviços sócio-assistenciais para garantir o direito à saúde e à educação. Ao realizar
essa integração, o PAIF estará criando condições para prevenir situações de risco,
evitando que as famílias necessitem de proteção social de média e alta
complexidade do SUAS. Esse programa é co-financiado pelo Governo Federal, por
meio do Piso Básico Fixo, instituído pela Portaria nº. 442/2005, a qual define as
atividades a serem desenvolvidas pelo PAIF.
Ao final, foi aberto espaço para as famílias se colocarem, como também foi
orientado aos usuários a se cadastrarem no CRAS.
As pessoas presentes expressaram grande apreço as informações obtidas,
relatando que acharam muito importante participar de momentos como aqueles,
solicitando, inclusive, que sejam trabalhados outros temas. Em relação a essa fala,
retomamos a importância da inserção desses no PAIF, que em suas atividades
contemplam tais ações.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o período de estágio no Cadastro Único, trabalhando com o
Programa Bolsa Família, nos deparamos com algumas dificuldades, que de forma
substancial afetam o desenvolvimento do Programa, bem como o alcance dos
objetivos previstos em sua composição.
Umas das deficiências percebidas, além da insuficiência de recursos21, é a
inexistência de um trabalho voltado ao acompanhamento das famílias beneficiárias
do PBF, causando com isso a perda do significado do Programa perante a
população, a qual dele se beneficia, pois a percepção que prevalece para eles é a
mais destacada no Programa: “a transferência direta de renda”.
Sendo assim, os usuários na maioria das vezes, não buscam outras
alternativas, não só pelo fato de não conhecerem os objetivos do Programa, mas
também por não terem acompanhamento, que lhes ofereça qualquer tipo de
esclarecimento e/ou orientação.
Percebemos também, durante o processo de estágio, que há uma deficiência
na articulação com as demais políticas, as quais deveriam oferecer suporte para o
acompanhamento das condicionalidades, quais sejam as áreas de saúde e
educação, que se mostram despreparadas para realizar este acompanhamento,
além dos Centros de Referência de Assistência Social, local onde se materializa o
PAIF, e que, como preconiza a Portaria nº 78 de 2004, em seu Artigo V, Inciso 2º, a
qual diz que deve ser priorizado o atendimento as famílias cadastradas no
Cadastramento Único dos Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico),
beneficiadas pelo Programa Bolsa Família ou Benefício de Prestação Continuada,
que necessita de atenção básica.
Dessa forma, o PAIF teria a função de realizar o acompanhamento das
famílias, sobretudo aquelas que estão em descumprimento de condicionalidades,
porém não o consegue fazer, pelo fato de haver insuficiência de recursos e uma alta
21 A carência de recursos mencionada, diz respeito, especialmente a escassez de profissionais
efetivos para atuar junto aos programas sociais, tal fato compromete substancialmente a efetivação dos objetivos propostos. Os profissionais que atuam nessa esfera, na maioria das vezes são contratados precariamente, muitas vezes nem contrato existe, ou seja, os profissionais trabalham sem qualquer direito garantido, além da insegurança que permeia os cargos principalmente na área da Assistência Social, os quais são passíveis de repentinas mudanças sempre que um novo governo assume a administração.
rotatividade de técnicos, os quais só permanecem no local pelo período máximo de
um ano, dificultando assim o acompanhamento das famílias. Sendo assim, os
próprios profissionais que deveriam subsidiar as informações aos usuários, na
maioria das vezes não as têm, pois não tiveram tempo suficiente para as
apreenderem, em virtude da precariedade das condições de trabalho em que se
encontram, começando pela sua contratação, que é realizada sem garantia de
direitos.
Contudo, apesar das problemáticas encontradas não podemos negar a
importância de um Programa de Transferência Condicionada de Renda, em meio ao
complexo quadro de exclusão e vulnerabilidade em que se encontra grande parte
das famílias, não só no bairro Guarapes como em toda Natal. Nem podemos
menosprezar pontos positivos, que se materializam na diminuição da evasão
escolar, na melhoria nas condições de alimentação e na aquisição de documentos
por parte dos usuários. Além do fato de ser a transferência de renda um direito do
cidadão, previsto nas diversas literaturas de Serviço Social22 e explicitado na
NOB/SUAS.
Diante das macro-problemáticas que foram encontradas, optamos por
trabalhar junto aos usuários do Programa, por perceber que a falta de
esclarecimento acerca do PBF e a falta de acompanhamento acarretam desastrosas
conseqüências para os objetivos do Programa, pois causa uma errônea
interpretação dos usuários para com o mesmo, fazendo com que as famílias
permaneçam estagnadas em sua situação de vulnerabilidade, e que o objetivo final
do Programa de emancipação das famílias seja prejudicado substantivamente,
podendo ao invés disso acarretar dependência entre sua população usuária.
Assim, foi com o intuito de contribuir com o preenchimento dessa lacuna, que
traçamos nossa intervenção, a qual teve por objetivo esclarecer as famílias acerca
do Programa, situando-o no âmbito das políticas públicas como um direito
estabelecido pelo SUAS, mostrando-lhes o seu papel na construção de sua
cidadania e a importância de sua participação, não só exercendo os seus direitos e
cobrando-os, mas também colaborando com a viabilização dos mesmos.
Diante disso, constatamos a relevância do fazer profissional do assistente
social, profissional inserido nesse processo, que deve atuar como preconiza a Lei de
22 Cf. SPOSATI, 2001, p. 80, Revista Serviço Social e Sociedade.
Regulamentação da Profissão, Lei 8.862, de 07 de julho de 1993, em seu Art. 4º
Inciso III, que destaca entre as competências do assistente social, “encaminhar
providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população”.
Quanto ao nosso trabalho de intervenção desenvolvido, acrescentamos que
ele se enquadra no que se costuma nomear de “trabalho de formiguinha”. Sabemos
que se não houver apoio e compromisso dos demais envolvidos, essa caminhada
será muito lenta, porém, temos a convicção de que podemos sim mudar o mundo,
não de uma hora para outra, ou de forma mágica, mas essa mudança ocorrerá na
medida em que cada informação for dada, em cada ação encaminhada e em cada
direito viabilizado.
Estamos cientes de termos dado a nossa contribuição e que, naqueles
momentos, instigamos imaginações e sonhos, os quais podem se concretizar na
conquista da cidadania.
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – Questionário aplicado durante as visitas domiciliares
QUESTIONÁRIO
NOME DO TITULAR:...............................................................................................................
NIS:...............................................................................................................................................
ENDEREÇO:...............................................................................................................................
VALOR DO BENEFÍCIO:........................................................................................................
NÚMERO DE MORADORES DO DOMICÍLIO :
( ) 1 PESSOA ( ) DE 5 Á 7
( ) DE 2 À 4 ( ) MAIS DE 8 PESSOAS
IDADE DOS MORADORES:
( ) DE 0 À 6 ANOS ( ) DE 18 Á 24 ANOS ( ) ACIMA DE 45 ANOS
( ) DE 7 À 17 ANOS ( ) DE 25 À 45 ANOS
QUANTOS ESTUDAM?
( ) TODOS ( ) APENAS AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES
( ) APENAS AS CRIANÇAS ( ) APENAS OS ADOLESCENTES
QUAL O GRAU DE ESCOLARIDADE DOS ADOLESCENTES E ADUL TOS QUE
NÃO ESTUDAM?
( ) ANALFABETO
( ) ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO
( ) ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
( ) ENSINO MÉDIO INCOMPLETO
( ) ENSINO MÉDIO COMPLETO
ATUALMENTE TRABALHA? SE SIM FAZ O QUE?. .........................
( ) SIM ( ) NÃO
SE NÃO TRABALHA, POR QUÊ?
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
HÁ QUANTO TEMPO RECEBE BENEFÍCIO DO PROGRAMA?
( ) MENOS DE 1 ANO ( ) DE 2 A 3 ANOS
( ) DE 1 A 2 ANOS ( ) HÁ MAIS DE 3 ANOS
APÓS INSERÇÃO NO PBF PARTICIPOU DE ALGUM PROGRAMA D E
CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL?
( ) SIM ( ) NÃO
QUAL CURSO PARTICIPOU?
......................................................................................................................................................
EM CASO AFIRMATIVO, CONSEGUIU SE INSERIR NO MERCADO DE
TRABALHO OU TRABALHAR POR CONTA PRÓPRIA?
( ) SIM ( ) NÃO
EM CASO NEGATIVO, QUAL FOI A DIFICULDADE ENCONTRADA ?
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
SE NÃO PARTICIPOU DE PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO, A QUE ATRIBUI
ESSE FATO?
( ) FALTA DE OPORTUNIDADE ( ) POR ESCOLARIDADE BAIXA
( ) FALTA DE INTERESSE ( ) FALTA DE TEMPO
( ) OUTROS....................................................................................................................
EM CASO DE DESLIGAMENTO DO PROGRAMA TERIA ALGUMA OU TRA
FORMA DE SOBREVIVÉNCIA?
( ) SIM ( ) NÃO
VOCE BUSCA ALGUMA ALTERNATIVA PARA MELHORAR DE VID A?
( ) SIM ( ) NÃO
VOCÊ CONHECE OS OBJETIVOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ?
( ) SIM ( ) NÃO
APÓS A INSERÇÃO NO PROGRAMA OCORREU ALGUMA MUDANÇA QUE
POSSA SER ATRIBUIDA AO PBF?
.......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
PRA VOCÊ O QUE É O PROGRAMA BOLSA FAMILIA?.
.......................................................................................................................................................
........................................................................................................................................
APÊNDICE B – Convite entregue aos beneficiários visitados
CONVITECONVITECONVITECONVITE
Convidamos a (o)
________________________________, para participar de uma reunião sobre o Programa Bolsa FamíliaPrograma Bolsa FamíliaPrograma Bolsa FamíliaPrograma Bolsa Família, a realizar-se terça-feira, dia 06 de maio de 2008, às 14:00 horas,
no CRAS-GUARAPES. Sua presença é indispensável!
Organização: Mônica e Giselle
Estagiárias de Serviço Social