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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura
Christian Peter Dalhuisen
RITUAL, SIMBOLOGIAS E MEMÓRIAS
NA COLAÇÃO DE GRAU DA FACULDADE DE DIREITO
DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
São Paulo
2018
Christian Peter Dalhuisen
RITUAL, SIMBOLOGIAS E MEMÓRIAS
NA COLAÇÃO DE GRAU DA FACULDADE DE DIREITO
DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.
Orientadora: Profa. Dra. Rosana Maria Pires Barbato Schwartz
São Paulo 2018
Bibliotecária Responsável: Eliana Barboza de Oliveira Silva - CRB 8/8925
D143r Dalhuisen, Christian Peter.
Ritual, simbologias e memórias na colação de grau da Faculdade de
Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie / Christian Peter
Dalhuisen.
124 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) –
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.
Orientadora: Rosana Maria Pires Barbato Schwartz.
Referências bibliográficas: f. 121-124.
1. Colação de grau. 2. Ritual de passagens. 3. Simbologia. 4.
Memória. I. Schwartz, Rosana Maria Pires Barbato, orientadora.
II. Título.
CDD 378.2
Ao soberano e eterno Deus, sem Ele nada seria possível,
à minha grande incentivadora, esposa, amiga e companheira de todas as horas
Fernanda, as minhas lindas filhas Lavinya e Thayla, aos meus queridos e
amados pais, Carla e Cláudio e a minha amada sogra Geni,
família que amo e que são meus alicerces.
AGRADECIMENTOS
“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus,
por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” Efésios 3: 20 e 21.
Sou grato a Deus, pois com a sua graça concluo esta dissertação. Portanto,
primeiramente a Ele toda a glória, todo louvor e minha gratidão.
À Universidade Presbiteriana Mackenzie, pois vê em seus servidores
administrativos a capacidade de se desenvolverem, incentivando-os também com a
bolsa de estudos.
À minha queridíssima orientadora Profa. Dra. Rosana Schwartz, pois é uma
excepcional educadora e ama o que faz. Fui agraciado com as suas preciosas
orientações, o meu muito obrigado.
Quando decidi fazer o curso, muitas pessoas me ajudaram, outras foram
essenciais, portanto, de maneira sucinta descrevo os agradecimentos.
Ao Prof. Dr. José Maurício Conrado, em 2015 era o Coordenador do curso de
Publicidade e Propaganda, praticamente foi meu primeiro orientador, me ajudou,
incentivou a ingressar no curso, e a partir de então ajustar o tema.
Ao Diretor do CEFT e querido irmão Prof. Dr. Marcel Mendes, ainda como Vice-
Reitor da Universidade em 2015, me recebeu com muito carinho em seu gabinete e
me incentivou aos estudos, mesmo com tantas atribuições, se dispôs até mesmo a
me orientar.
Ao mui querido amigo Prof. Dr. Marcos Rizolli, em 2015 como Coordenador do
Programa de EAHC, me recebeu com toda a atenção, que lhe é peculiar, com
paciência e o carinho em me orientou a fazer os ajustes necessários para apresentar
um tema que se adequaria ao Programa.
Ao amigo Prof. Dr. Marcelo Martins Bueno, atual Coordenador do Programa de
EAHC, que muito me incentivou a fazer o curso e também enxergou em nossa
proposta, algo que poderia contribuir com o Programa.
Ao Assessor da Reitoria, Eng. Nelson Callegari, na época gestor da antiga
Secretaria Geral, me apoiou ao ingresso do curso e contribuiu muito para o meu
desenvolvimento profissional. De maneira especial, agradeço por me ceder seu
tempo, para a realização de uma das entrevistas. Muito obrigado mestre.
Ao amigo e Diretor da Faculdade de Direito Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza
Pinto, que sempre foi muito solícito comigo. Concedeu-me a honra de uma entrevista,
além de autorizar a pesquisa que realizamos com os formandos do 2ºsem.2017.
Obrigadíssimo brother.
Ao Subchefe do Cerimonial Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty,
Diplomata Sr. Alan Coelho de Séllos, pois em meio as suas tantas atividades, me
concedeu minutos preciosos de conversa, que eu chamaria de “aula”, para abrilhantar
esse trabalho. Muito honrado, obrigado.
Ao amigão senhor Almiro Joaquim de Oliveira (Miro), disposto a nos atender,
alegre e muito atencioso. Carinhosamente me recebeu na FDir e concedeu uma
honrosa entrevista. Obrigado Mirão.
À Profa. Dra. Ana Claudia Scalquette que ao saber de nosso projeto, nos apoiou
ao entregar a Revista Comemorativa do Cinquentenário da Faculdade. Obrigado
querida.
À Cibele Risso, muito solícita, certamente as fotos cedidas por você,
abrilhantaram esse trabalho. Em seu nome, também agradeço à toda equipe Stillo’s.
Valeu Ci.
Ao Centro Histórico e Cultural Mackenzie, na pessoa da Sra. Luciene Aranha,
muito atenciosa em nos disponibilizar as fotos do ano 1959, da primeira turma do curso
de Direito. Obrigado Lu.
Ao Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida, atual gestor da Secretaria dos
Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico, por me ajudar, incentivar, orientar e
por contribuir com suas preciosas e pontuais falas no trabalho. Grato meu caro.
Ao Reverendo Dr. José Carlos Piacente Junior, sou grato por ser tão preciso em
suas palavras, ao falar da essencial participação do Capelão Universitário na Colação
de Grau Principal.
Ao meu amigo, “multiprofissional”, Mestre de Cerimônias, Sidney Botelho,
mesmo com sua agenda concorrida, gentilmente me concedeu uma entrevista. Muito
obrigado pela parceria de anos.
Ao Depto. de Colação de Grau, time que convivo/trabalho diariamente. Pessoas
que compreenderam meus desafios por vezes e, de maneira eficaz me ajudaram.
Então a vocês Naiolanda Grima, Paula Bernardes, Eliane Marques (Ely) e Eliana
Aparecida (Lico) o meu muitíssimo obrigado.
Aos formandos Sara Branchini, mesmo prestes a ser mãe do Ben, fez questão
de nos responder o questionário e ao Filipe Abreu, em meio as suas férias reservou
um tempo para responder às minhas perguntas.
Agradeço aos queridos fotografados, por autorizarem suas imagens neste
trabalho.
Agradeço aos meus queridos irmãos e irmãs na fé, pois certamente oraram para
que eu pudesse concluir esse trabalho.
Um agradecimento à minha família. Aos meus amados pais Carla e Cláudio e
sogra Geni, vocês são meus alicerces. Sem vocês, não haveria a mínima
possibilidade de fazer este curso. Às minhas lindas filhas Lavinya e Thayla, por
entenderem a importância desse trabalho e compreenderem a ausência do papai por
inúmeras vezes. Amo a todos vocês.
Finalizando, registro também um agradecimento muito, mas muito especial
àquela que me incentivou desde de início, durante e até o fim desta jornada. A
incansável, amiga, cúmplice e amada esposa Fernanda. “Nega” sem você, eu
certamente não faria esse trabalho. Por isso, sou grato a Deus por sua vida em minha
vida. Que Deus te abençoe. Obrigado por todo suporte. As palavras aqui registradas
são poucas para o tanto que fez e faz por mim e por nós. Te amo e muitíssimo
obrigado.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 1. Após a Colação de Grau com "Miro" ....................................................... 25
Imagem 2. Auditório Ruy Barbosa – visto internamente. .......................................... 28
Imagem 3. Alegria! Encerramento da solenidade. ..................................................... 30
Imagem 4. Modelo para a Composição da Mesa de Honra ...................................... 54
Imagem 5. Tribuna de Honra completa ..................................................................... 56
Imagem 6. Análise da Imagem 5 com Riscos do autor ............................................. 57
Imagem 7. Prof. Hamid Charaf Bdine Júnior - Paraninfo em 13/07/2017. ................. 60
Imagem 8. Prof. Antônio Cecílio Moreira Pires - Patrono em: 15/07/2016 ................ 63
Imagem 9. Sidney Botelho - Mestre de Cerimônias .................................................. 65
Imagem 10. Posse do Reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto................................ 70
Imagem 11. Da esquerda para a direita: o jabeaux, o capelo reitoral e a samarra. .. 71
Imagem 12. Turma de Direito – 1959 5º Ano A ......................................................... 72
Imagem 13. Turma de Direito – 1959 5º Ano B ......................................................... 72
Imagem 14. Turma de Direito – 2016 traje social - 1 ................................................. 72
Imagem 15. Turma de Direito – 2016 traje social - 2 ................................................. 72
Imagem 16. Veste talar de formando Mackenzie, com estola verde. ........................ 74
Imagem 17. Veste talar de formando Mackenzie, com estola azul. .......................... 75
Imagem 18. Veste talar de formando Mackenzie, com estola amarela. .................... 76
Imagem 19. Veste talar de formando Mackenzie, com estola vermelha. .................. 77
Imagem 20. Apresentação das bandeiras na solenidade de Colação de grau ......... 81
Imagem 21. Ato do Juramento, ano de 2016 ............................................................ 82
Imagem 22. Juramento proferido diante de todos os presentes................................ 84
Imagem 23. Saudação e Leitura da Ata pelo Secretário da SECCA ......................... 87
Imagem 24. Mesa de Honra composta pelas autoridades ........................................ 90
Imagem 25. Exemplo Composição da Mesa de Honra ............................................. 91
Imagem 26. Abertura da Cerimônia de Colação de Grau Principal ........................... 92
Imagem 27. Em pé e em uníssono, todos entoando o Hino Nacional Brasileiro. ...... 93
Imagem 28. 1ª Tuma da Faculdade de Direito .......................................................... 93
Imagem 29. Reflexão Bíblica ..................................................................................... 94
Imagem 30. Homenagem à Professora ..................................................................... 97
Imagem 31. Homenagem aos pais ............................................................................ 99
Imagem 32. A Cantora | A canção .......................................................................... 101
Imagem 33. O Último discurso ................................................................................ 102
Imagem 34. Juramento – Leitura do Compromisso ................................................. 104
Imagem 35. Outorga de Grau.................................................................................. 105
Imagem 36. Leitura da Ata de Colação de Grau ..................................................... 106
Imagem 37. Recebimento do "canudo". .................................................................. 107
Imagem 38. Entrega do Memorial ........................................................................... 107
Imagem 39. Recebimento de um exemplar da Bíblia Sagrada ............................... 108
Imagem 40. Disposição das Bíblia Sagrada - na Mesa de Honra ........................... 108
Imagem 41. É o fim! ................................................................................................ 109
LISTA DE ABREVIAÇÕES
Tabela 01: Siglas e Descrição
SIGLAS DESCRIÇÃO
ABE Associação Brasileira de Educação
CCBS Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
CCL Centro de Comunicação e Letras
CCSA Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
CCT Centro de Ciências e Tecnologia
CEFT Centro de Educação, Filosofia e Teologia
CGP Colação de Grau Principal
CHCM Centro Histórico e Cultural Mackenzie
CMH Composição da Mesa de Honra
EE Escola de Engenharia
FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
FCI Faculdade de Computação e Informática
FDir Faculdade de Direito
IES Instituições de Ensino Superior
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
IPB Igreja Presbiteriana do Brasil
ITA Instituto Tecnológico da Aeronáutica
LPF Lista de Prováveis Formandos
LF Lista de Formandos
LNF Lista de Não Formandos
MEC Ministério da Educação
PF Prováveis Formandos
SECCA Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico
UPM Universidade Presbiteriana Mackenzie
Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.
Resumo
A colação de grau é um ritual acadêmico que surge juntamente com a história da
Universidade. Estes rituais são repletos de representações simbólicas internas, por
trazerem à tona sentimentos e externas que trabalham nossas visualidades. Dentre
as diversas colações de grau executadas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
existe uma em específico que acompanha um legado histórico, a Faculdade de Direito.
Esta pesquisa teve como objetivo geral, investigar a importância do ritual acadêmico
da Colação de Grau, especialmente o que é realizado na Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, entre os anos 2009 a 2017, mas
contemplando também alguns fatores históricos desde sua primeira solenidade em
1959. A investigação foi estabelecida em conceituação teórica, trazendo a cerimônia
de Colação de Grau como um ritual histórico repleto de representações simbólicas
visuais, comportamentais e sentimentais, discutidos por autores como Bourdieu
(1989), Chartier (1990) e Peter Burke (1992). Foram levantados aspectos éticos,
estéticos, as relações de reconhecimento pessoal, o respeito, a hierarquia e o poder
por ela estabelecida, a harmonia e os direitos individuais, princípios estes que
compõem atos solenes e ritualísticos, que historicamente são normatizados,
discussões estas levantadas por Elias (2001). A metodologia adotada foi a qualitativa,
que contemplou: pesquisa de campo e levantamento bibliográfico contínuo;
entrevistas com diversas personalidades que experenciaram os atos de colação de
grau em suas mais diversas instâncias, trazendo a perspectiva da história oral,
levantando as experiências vividas, descrições e conceituação, bem como trazendo
aspectos de memória tanto pela vivência e experiência, quanto por suas verbalizações
e registros fotográficos; levantamento e mapeamento sistemático dos registros verbais
e não verbais feitos em análises imagéticas e com a inserção de frases, partes
constantes nas entrevistas; e também uma pesquisa com 425 formandos do curso de
Direito de dezembro de 2017, onde foram levantados aspectos tangíveis e intangíveis
quanto aos sentimentos vividos durante o ritual, dados estes que foram expostos
através de gráficos. A conclusão desta pesquisa se reflete na importância simbólica,
subjetiva e sentimental deste ato acadêmico que fica constatada; no registro histórico
da Universidade Presbiteriana Mackenzie; e na certificação de que ritos como este
são símbolos que enaltecem as conquistas, que hierarquizam a sociedade e que são
necessários para o construto social harmônico.
Palavras Chave: Colação de Grau, ritual de passagens, simbologia, memória.
Abstract
A Graduation Ceremony is an academic ritual that rises together with the history of
University. These rituals are filled with internal symbolic representations, by raising
feelings and external that work our visualities. Among all Graduation Ceremonies run
by Mackenzie Presbyterian University, there is a specific one that bring a historical
legacy, the Faculty of Law. The purpose of this research was to investigate the
importance of the academic ritual of the Graduation Ceremony, especially the one held
by the Faculty of Law of Mackenzie Presbyterian University, between 2009 and 2017,
but also considering some historical factors since its first solemnity in 1959. The
research was established in theoretical conceptualization, bringing the Graduation
Ceremony as a historical ritual filled with visual symbolic, behavioral and sentimental
representations, discussed by authors such as Bourdieu (1989), Chartier (1990) and
Peter Burke (1992). Ethical aspects were raised, but also aesthetic aspects, personal
recognition relationships, respect, hierarchy and power established by it, harmony and
individual rights, principles that compose solemn and ritualistic acts, which historically
are normatized, such discussions are raised by Burns (1959) and Elias (2001). The
methodology adopted was qualitative, which included: field research and continuous
bibliographic search; interviews with several personalities who have experienced the
Graduation Ceremony in its most diverse instances, bringing the perspective of oral
history, raising the lived experiences, descriptions and conceptualization, as well as
bringing aspects of memory as much by the experience, as by its verbalizations and
photographic records; survey and systematic mapping of verbal and non-verbal
records made in imaging analyzes and with the insertion of phrases, as part of the
interviews; as well as a survey of 425 graduates from the Law Course in December
2017, where tangible and intangible aspects of the feelings experienced during the
ritual were set out in graphs. The conclusion of this research is reflected in the
symbolic, subjective and sentimental importance of this academic act that is verified;
in the historical record of the Mackenzie Presbyterian University; and in the certification
that rites such as these are symbols that extol the achievements, that hierarchize
society, and are necessary for the harmonious social construct.
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................ 16
Capítulo I - Passado e Presente Histórico: Permanências e Transformações .. 33
1.1 Ritual e Cerimonial ........................................................................................ 36
1.2 Decoro e Precedência na Colação de Grau ................................................. 52
1.2.1 Protocolo ................................................................................................... 52
1.2.2 Precedência .............................................................................................. 53
1.2.3 Paraninfo ................................................................................................... 58
1.2.4 Patrono ...................................................................................................... 62
1.2.5 Mestre de Cerimônias ............................................................................... 65
Capítulo II - A Simbologia presente no Ritual de Colação de Grau ................... 67
2.1 Vestimentas .................................................................................................... 69
2.2 A Cor ............................................................................................................... 73
2.3 Símbolos Nacionais ....................................................................................... 78
2.4 A Importância da Palavra .............................................................................. 81
2.5 A Colação de Grau como cerimonial ........................................................... 86
2.5.1 A organização ........................................................................................... 86
2.5.2 O Evento: .................................................................................................. 89
2.5.3 Discursos .................................................................................................. 95
2.5.4 - Momento Solene ................................................................................... 103
III. Reflexões e Pesquisa sobre Colação de Grau .............................................. 110
Considerações Finais ........................................................................................... 116
Referências ........................................................................................................ 120
16
Introdução
O ritual de formatura dos cursos universitários são registros/documentos da
história. Trazem em sua estrutura representações, símbolos e imaginários sociais
construídos no passado e ressignificados no presente. Passado e presente dialogam
em ação simbólica nesse rito de passagem dos sujeitos sociais. Representa o
fechamento de um ciclo, de uma etapa da vida para iniciar ou abrir uma outra.
Carregado de subjetividades e representações, incitou esta pesquisa a apresentá-lo,
descrevê-lo e tratá-lo na perspectiva da História Cultural, como registro/documento.
A partir das narrativas verbais e não-verbais salvaguardados no acervo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, em específico da Faculdade de Direito,
entrelaçadas com a experiência, com o olhar do pesquisador, optou-se em trazer o
ritual de formatura em uma outra narrativa, em dissertação de mestrado, em um
programa de pós-graduação interdisciplinar.
Não é de hoje que a história cultural problematizou a interferência do olhar de
quem pesquisa e escreve. Apesar do distanciamento científico do pesquisador ao
deparar-se com o seu objeto de pesquisa, a narrativa construída é sempre carregada
das experiências, formação, faixa etária e sexo de quem escreve.
Assim, a apresentação, a descrição do ritual de Formatura da Faculdade de
Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie desvela, não somente as relações
simbólicas e de representação inerentes ao ato, como também as marcas e escolhas
do pesquisador.
Esse ritual é documento repleto de outros documentos, como: textos, fotografias,
músicas, hinos, flâmulas, bandeiras e discursos. Todos cheios de ditos e não ditos
que instigaram à pesquisa.
As universidades contemporâneas buscam caracterizar-se enquanto centros de
criação, inovação e construção de conhecimento. Em meio às transformações do
mundo atual, mantém estreita relação com o passado. As continuidades culturais em
meio às descontinuidades da vida contemporânea são objetos de reflexão para os
pesquisadores que dialogam com a história cultural.
O tempo presente é marcado por diversos símbolos e rituais, que sobrevivem e
se ressignificam. Ao depararmos com rituais como o de formatura, questões se
17
constroem como: o que significam? O que se esconde por trás deles? Quais são os
sentidos ocultos e simbólicos do ato?
Esse ritual, desde a idade média, visava valorizar o ato de estudar, se formar e
se capacitar, além de distinguir as pessoas diplomadas das outras. Ação que se dá
na Universidade Brasileira, por causa das heranças advindas de Portugal, Espanha e
Itália, cujas formações destas instituições datam 1290.
O processo civilizatório imposto ao Brasil, trouxe fundamentos estéticos e éticos
do cerimonial e dos rituais de formatura, adotados pelas universidades europeias,
para as terras Brasilis. Durante o século XIX, as teorias científicas afirmavam a
existência de culturas inferiores e superiores. A europeia considerada avançada,
atravessa o Oceano Atlântico e se territorializa, ressignificada simbolicamente no novo
mundo. Ser descendente de europeus, viver cotidianamente segundo seus costumes,
valores e hábitos, desejar o progresso e uma nova sociedade, era considerado ser
avançado.
Assim, as universidades brasileiras atuais prescindem os atos públicos solenes
do passado europeu no presente, repletos de representações, imaginários e símbolos,
sejam estes de outorgas dos graus, de concessões de Láureas e títulos, ou sejam nas
“aulas magnas”, numa posse Reitoral e ou de diretores.
A manutenção do ato é carregada de permanências e transformações, efetivada
por meio de determinadas regras, ritos e simbologias distintivas. Nos atos normativos,
solenes e ritualísticos, existem incutidos princípios éticos, estéticos, relação de
reconhecimento pessoal, respeito, de reconhecimento hierárquico, harmônico e de
direitos individuais, onde estão inseridos os membros de uma sociedade acadêmica.
Os “atos” presentes no ritual de formatura, na Colação de Grau, não são apenas
“atos”, estão repletos de sentidos, construções históricas, sociais, culturais,
simbólicas, imaginarias e de representações instigantes. Assim, diante dessas
constatações e por possuir conhecimento sobre a temática, pois durante anos trabalho
organizando centenas de cerimoniais, decidi interligar a experiência vivida (com os
devidos critérios científicos de observação/distanciamento do objeto de pesquisa),
com conhecimentos teórico-metodológicos, em uma pesquisa de Pós-Graduação
interdisciplinar.
18
As teorias e as metodologias discutidas pelos historiadores da História Cultural
sustentaram a intersecção entre experiência vivida, descrição e conceituação do ritual.
Colaboraram para a compreensão da atualidade do tema e ao mesmo tempo sobre a
natureza antiga/passado e atual/presente do cerimonial.
Compreende-se que, se um rito de passagem permanece na cultura
contemporânea e é pré-requisito para a expedição do diploma universitário, segundo
normativas do MEC 1- Ministério da Educação, é tema relevante para a Academia.
Entre os cursos ministrados na UPM - Universidade Presbiteriana Mackenzie,
por questão de delimitação do tema, apresento o ritual do curso de Direito. A escolha
não foi aleatória, mas sim, por ser um dos cursos mais tradicionais e procurados, pela
vasta documentação salvaguardada na Instituição e pela possibilidade de realização
de entrevistas, pelo método da História Oral, com funcionários, docentes e discentes.
Para o entendimento do ato, optou-se em apresenta-lo pela narrativa descritiva.
A narração do cerimonial de Colação de Grau, passo a passo, nos coloca dentro dos
elementos visíveis como: o próprio rito, as roupas, as noções e estabelecimentos
hierárquicos, as homenagens, a organização em si dos elementos visuais e
compositivos, entre outros. Já os elementos não visíveis como: o simbólico, os
sentimentos envolvidos de alegria, emoção, conquistas e vitória, as representações e
os imaginários, por meio de teorias da História Cultural.
Na narrativa visível e invisível, desvelou-se relações de poder, a importância da
obtenção do diploma universitário, do nome da universidade como afirmativa do seu
valor institucional, e também relações passado/presente nos rituais.
Objetividades e subjetividades, a temática instiga ao conhecimento de quem está
à frente da organização destes eventos.
Assim, para atingir o objetivo proposto, além do exposto, adentrou-se também,
no que representa essa vivência e experiência e a memória envolvida.
1 No site do MEC, SECRETARIA DE REGULAÇÃO E SUPERVISÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR (SERES) menu Perguntas frequentes sobre educação superior, em Diploma, histórico escolar e colação de grau, vê-se claramente na pergunta: O aluno pode receber o diploma sem colar grau? Não. Conforme o Parecer do CNE/CES n° 379/2004, a data de colação de grau, entre outras informações, deverão constar do histórico escolar. No entanto, trata-se de assunto institucional e sugere-se consulta ao regimento interno da instituição de educação superior (IES). Disponível em <<http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-seres/perguntas-frequentes>> acesso em 06/05/2018.
19
Com acesso às informações/documentos oficiais, metodologicamente foi
realizado levantamento e mapeamento sistemático dos registros verbais e não
verbais, com o intuito de identificar os aspectos da construção da solenidade dentro
do ritual de formatura do curso de Direito da UPM e subsidiar o estudo das narrativas.
Os documentos selecionados propiciaram estabelecer relações entre passado e
presente, permanência e transformações.
A delimitação temporal da pesquisa foram os anos de 2009 a 2017, devido ao
número volumoso de documentos. Um recorte mais extenso prejudicaria a descrição
e aprofundamentos.
Após o levantamento documental, foram estabelecidos os procedimentos
teóricos-metodológicos, a fim de entender o significado deste rito para os formandos
do curso de Direito e para a Universidade Presbiteriana Mackenzie. O corpo
documental: atas de colação de grau, documentos oficiais, iconografia/fotografia e
construtos artísticos presentes.
O método adotado foi o qualitativo (SEVERINO, 2014, p.121 e 124), com
pesquisa de campo e levantamento bibliográfico contínuo. Durante o processo de
elaboração e execução da pesquisa foram realizados encontros norteadores com a
orientadora. A partir desses encontros, da seleção dos registros/documentos e da
transcrição das entrevistas fomentou-se o estudo descritivo do ritual.
As reflexões das segunda e terceira gerações da Escola dos Annales teceram a
pesquisa. A escolha em percorrer as metodologias diferenciadas dessa Escola trouxe
fundamentações para a compreensão das representações, imaginários sociais,
subjetividades e memória presentes no ritual. Também, a noção de
registro/documento. Para eles, qualquer traço ou vestígio de tudo o que o homem fez
ou pensou é documento.
De acordo com a obra de Burke, os Annales foi um movimento dividido em três fases: a primeira apresenta a guerra radical contra a história tradicional, a história política e a história dos eventos; na segunda, o movimento aproxima-se verdadeiramente de uma “escola”, com conceitos (estrutura e conjuntura) e novos métodos (história serial das mudanças na longa duração) dominada, prevalentemente, pela presença de Fernand Braudel (46-69); a terceira, traz uma fase marcada pela fragmentação e por exercer grande influência sobre a historiografia e sobre o público leitor, em abordagens que comumente chamamos de Nova História ou História Cultural. (OLIVEIRA E CASIMIRO, 2007)
20
O interdisciplinar se tornou condição fundamental para o estudo dos
documentos. Símbolos, representações, imaginários, rituais, carecem da
interdisciplinaridade dentro da história para serem compreendidos.
Na sequência para estudar o rito de passagem e obter mais dados e
informações, que os documentos escritos não forneciam, foram criados roteiros
norteadores para as entrevistas, sob a perspectiva da História Oral, ou seja, além do
estudo dos registros/documentos oficiais, iconográficos e textos verbais, foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com pessoas que fazem parte da história da
UPM, que há muito atuam no corpo estrutural desta Instituição e particularmente tem
um elo com o curso de Direito e com as relações administrativas do ato solene
investigado.
Basicamente, a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. Esses procedimentos são geralmente conjugados com muitos outros, tais como a análise de documentos, filmagem e fotografias (GIL, 2002, p.52)
O método da História Oral prevê a elaboração de um roteiro e um diário de
campo. Os gestos, olhares, posições corporais na hora da entrevista também foram
observados, pois são pistas para o pesquisador. Todas as falas e registros
fotográficos reproduzidos aqui estão autorizados.
A análise das entrevistas seguiu o entendimento de que a memória pode causar
armadilhas para o pesquisador. Os entrevistados podem falar do que lembram, do que
marcou a vida deles ou do que deseja perenizar na história. Neste sentido, Alessandro
Portelli (2000) e Paul Thompson (1992), enfatizam que o desafio da história oral é
mostrar, diferentemente do que costuma ser consagrado, que a memória não é
apenas ideológica, mitológica e não confiável, mas sim, ferramenta histórica para
questionar interpretações.
A memória e as questões que a envolvem são importante objeto de estudo da História. Na metodologia da História Oral, ela é fundamental, pois valer-se da memória para recuperar a história nas entrevistas, e produzir documentos que possam dar credibilidade à pesquisa é um dos seus campos mais desafiadores. (SARAT, SANTOS, 2010, p.52)
Esse método trouxe perspectivas diferenciadas para o projeto investigativo e
contribuição ao trabalhar com a memória, com o rememorar o passado. Thompson,
21
afirma que: “A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a
evidência dos fatos coletivos” (THOMPSON, 1992: 17).
As imagens fotográficas da colação de grau foram selecionadas e lidas, segundo
MINARDI e SCHWARTZ (2010), que afirmam que é na imagem que se acessa o não
revelado e se contempla uma complexa rede de significações entre signos, homens e
interações dialéticas na composição da realidade.
Mesmo remetendo ao passado, a fotografia não se constitui em uma imagem retido no tempo; para os historiadores, é uma mensagem que se processa ao longo do tempo, como imagem/documento e como imagem/monumento. (MINARDI e SCHWARTZ, 2010, p.110)
As imagens/fotografias trazem a cultura da época e ao analisá-las
historicamente, observa-se o tempo e o espaço passados, que fazem sentido tanto
individual como coletivamente na contemporaneidade. Uma das observâncias foram
as becas utilizadas nas solenidades.
A cerimônia de colação de grau ocupa um lugar de destaque entre os eventos
universitários. Para o docente, a lisonja e a gratidão pelo reconhecimento de seu
trabalho diante da Instituição, para a Direção do curso a sensação do dever cumprido
por entregar à sociedade mais uma turma de profissionais plenamente qualificados, e
para os discentes simboliza o coroamento dos anos de estudos, dedicação e
comprometimento.
Os teóricos norteadores para as reflexões da dimensão simbólica presente no
ritual de formatura, relacionando lógica, formalidade do coroamento público e o
aparato cênico do corpo em representação, foram Bourdieu (1989), Chartier (1990) e
Peter Burke (1992).
Para Roger Chartier (2002), por que para ele, as representações dizem respeito
ao modo como em diferentes lugares e tempos, a realidade social é construída por
meio de classificações, divisões e delimitações. Esses esquemas intelectuais criam
figuras as quais dotam o presente de sentido. Assim, pode-se pensar numa “história
cultural do social que tome por objeto as representações do mundo social”. Chartier
também acredita que esses códigos, padrões e sentidos são compartilhados, e apesar
de poderem ser naturalizados, seus sentidos podem mudar, pois são historicamente
construídos e determinados pelas relações de poder, pelos conflitos de interesses dos
grupos sociais.
22
Estabelece vínculos entre lógica racional (o fim de um ciclo) com a lógica
simbólica (coroamento, poder da nobreza de toga).
Os eventos realizados na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em especial as
solenidades de colação de grau, possuem grande visibilidade social, proporcionando
momentos de interação entre a comunidade universitária (representada pelas
autoridades, professores, servidores administrativos e formandos) e a comunidade
local e regional (representada pelos familiares e convidados). Constituem uma
representação pública, da eficácia do sujeito que se forma de maneira mitificada.
Peter Burke (2015) em seus estudos apresenta a relevância do "mito" que
envolve os rituais de coroamento, ou seja, a imagem fixada no momento em
detrimento do indivíduo.
“Para compor nossas mentes devemos saber como nos sentimos a respeito das coisas, e para saber como nos sentimos a respeito das coisas precisamos das imagens públicas do sentimento que apenas o ritual, o mito e a arte podem proporcionar”. (BURKE, 1992, p. 145, apud GEERTZ, 1962, p.713)
A colação como se fosse um grande teatro público, uma representação, desvela
a atuação do docente transformada performaticamente em reis ou rainhas; a beca é
fantasia correspondente ao nobre togado do passado, quesito estético fundamental
para construir e projetar a imagem de um sujeito público.
[...] As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem a universalização de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam [...] as percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) [...] (CHARTIER, 1990, p. 17).
As representações também se voltam ao conceito de exploração do imaginário,
da cultura e da simbologia. Uso que se dá no inconsciente de representações e de
valores, que é discutido por Chartier (1990) e Burke (1994).
Um momento em que há um grande envolvimento da Instituição, com o objetivo
de promover uma solenidade marcante na vida do formando e de seus familiares.
Este tema perpassa ao entendimento para educadores, Instituições de Ensino,
bem como para profissionais de todas as áreas por ser interdisciplinar, fornecendo
maior respaldo e conhecimento para atender e entender melhor, a importância deste
23
ato, como estabelecer sua prática na contemporaneidade e relevância para a cultura
educacional.
Acreditamos que para a compreensão da trajetória e resultados da pesquisa,
faz-se necessário, já na introdução, apresentar a Instituição Universidade Mackenzie
e alguns dados obtidos por meio de entrevistas.
Composta por nove Unidades Universitárias: CCBS - Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde, CCL - Centro de Comunicação e Letras, CCSA - Centro de
Ciências Sociais e Aplicadas, CCT - Centro de Ciências e Tecnologia, CEFT - Centro
de Educação, Filosofia e Teologia, EE - Escola de Engenharia, FAU - Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, FCI - Faculdade de Computação e Informática e FDir -
Faculdade de Direito. Para este trabalho, a FDir foi a escolhida não apenas pela sua
tradição, mas o curso de Direito, segundo dados oficiais obtidos pela SECCA -
Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico, entre os anos de 2009
a 2017, foi o mais procurado conforme a Tabela de Evolução do Vestibular,
oferecendo o maior número de vagas e por consequência, maior número de discentes
matriculados.
Tabela 02: Evolução do Vestibular, anos de 2009 a 2017.
Cursos Ano/Sem. Vagas Candidatos Cand./Vaga Matrículas
Direito 2009.1º 800 4842 6,1 758
Administração 2009.1º 620 2640 4,3 558
Publicidade e Propaganda 2009.1º 360 1504 4,2 405
Direito 2009.2º 800 2386 3,0 690
Administração 2009.2º 560 1065 1,9 484
Publicidade e Propaganda 2009.2º 360 721 2,0 379
Direito 2010.1º 800 4845 6,1 719
Administração 2010.1º 620 2165 3,5 504
Publicidade e Propaganda 2010.1º 360 1618 4,5 383
Direito 2010.2º 720 2570 3,6 709
Administração 2010.2º 570 1027 1,8 471
Publicidade e Propaganda 2010.2º 360 705 2,0 366
Direito 2011.1º 760 4998 6,6 704
Administração 2011.1º 620 2099 3,4 543
Publicidade e Propaganda 2011.1º 360 1732 4,8 390
Direito 2011.2º 640 2404 3,8 687
Administração 2011.2º 440 850 1,9 435
Publicidade e Propaganda 2011.2º 360 734 2,0 393
Direito 2012.1º 700 5128 7,3 681
Administração 2012.1º 480 2161 4,5 494
Publicidade e Propaganda 2012.1º 360 1850 5,1 394
Direito 2012.2º 700 2047 2,9 620
24
Administração 2012.2º 440 725 1,6 401
Publicidade e Propaganda 2012.2º 360 579 1,6 337
Direito 2013.1º 700 5339 7,6 750
Administração 2013.1º 490 2131 4,3 468
Publicidade e Propaganda 2013.1º 360 1844 5,1 394
Direito 2013.2º 650 2586 4,0 673
Administração 2013.2º 420 799 1,9 369
Publicidade e Propaganda 2013.2º 360 679 1,9 349
Direito 2014.1º 700 5863 8,4 668
Administração 2014.1º 480 2178 4,5 443
Publicidade e Propaganda 2014.1º 360 1952 5,4 373
Direito 2014.2º 595 2637 4,4 684
Administração 2014.2º 450 863 1,9 464
Publicidade e Propaganda 2014.2º 360 701 1,9 364
Direito 2015.1º 700 5798 8,3 815
Administração 2015.1º 540 1876 3,5 640
Publicidade e Propaganda 2015.1º 360 1753 4,9 407
Direito 2015.2º 675 2952 4,4 721
Administração 2015.2º 510 855 1,7 517
Publicidade e Propaganda 2015.2º 360 701 1,9 360
Direito 2016.1º 740 5500 7,4 712
Administração 2016.1º 540 1650 3,1 522
Publicidade e Propaganda 2016.1º 360 1493 4,1 362
Direito 2016.2º 660 2793 4,2 699
Administração 2016.2º 500 729 1,5 369
Publicidade e Propaganda 2016.2º 360 550 1,5 275
Direito 2017.1º 540 4989 9,2 578
Administração 2017.1º 460 1340 2,9 460
Publicidade e Propaganda 2017.1º 360 1344 3,7 373
Direito 2017.2º 660 2506 3,8 711
Administração 2017.2º 445 608 1,4 375
Publicidade e Propaganda 2017.2º 360 433 1,2 198
Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.
Para entender a escolha dos discentes por essa Instituição, foram entrevistados
dois discentes que finalizaram o curso de Direito na UPM, com a seguinte pergunta:
Por que a Universidade Presbiteriana Mackenzie?
Nas palavras da formada Sara Silveira Di Petta Branchini, cuja colação de grau
ocorreu em 14/07/2009 a resposta foi: “Tradição do curso, identificação com a
instituição, reconhecimento do curso no mercado de trabalho”. Para o formado Filipe
Santos Abreu, com a colação de grau ocorrida em 15/01/2016: “Por ser a Instituição
que sempre me acolheu e acreditou no meu potencial, de modo que tenho uma grande
gratidão pela Instituição, abaixo de Deus e dos meus pais”.
25
Quando perguntamos: Por que o curso de Direito? Sara: “Sonho de criança,
aptidão, vocação”. Filipe: “Por ser um curso que permite um “leque” amplo de atuação
profissional, o que entendo como uma “atratividade” e indicação de um conhecido que
já cursava Direito”.
Esses dados confirmam os textos de outros documentos preservados como as
Atas de colação de grau, revista e registros fotográficos.
Nesta Unidade Universitária, o pesquisador por meio de uma entrevista, teve a
possibilidade de ouvir e registrar um pouco do que foi vivenciado por alguns
funcionários, dentre eles, o senhor Almiro Joaquim de Oliveira2 (Miro), funcionário
desde 1954.
No ano seguinte, iniciaram-se as aulas do curso de Direito.
Todavia, só no dia 29 de outubro de 1954, o Diretor e Presidente da Congregação, comunicou, em reunião extraordinária, que o Decreto nº 32.322, de 11 de outubro de 1954, assinado pelo Presidente da República, João Café Filho, e pelo Ministro da Educação, Camillo Motta Filho, autorizava o funcionamento do curso de Bacharelado da Faculdade de Direito para funcionar em 1955. (PEREIRA, 2003, p.12)
Imagem 1. Após a Colação de Grau com "Miro"
3
2 Entrevista realizada em 23/03/2018 com o senhor Almiro Joaquim de Oliveira (Miro) na Faculdade de Direito. Funcionário da FDir desde 03/07/1954. 3 Este documento fotográfico mostra a valorização da Universidade com seus funcionários antigos que são parte da construção desta história. Sr. Almiro Joaquim de Oliveira (Miro) ao lado esquerdo e autor à direita Christian Peter Dalhuisen
26
Fonte: Stillo’s - Eventos e Produções
Eu entrei aqui, desde 03/07/1954, eles me chamaram pra ser Bedel, fazer chamada dos alunos. Os alunos sentados em seu número certo. E eu entrava e começa a marcar [...] Participei da 1ª Colação de Grau, tem câmera dos fotógrafos, eu lá sentado com os chefões, [...] O Jorge Americano (1º Diretor), queria que eu ficasse na mesa. (OLIVEIRA, Miro - entrevista em 23/03/2018)
Para Bettega, (2005): “o cerimonial universitário tem grande relevância dentro do
meio acadêmico, pois ele resgata e organiza aspectos históricos e simbólicos para a
execução de um evento dentro do âmbito da Universidade”.
Cerimônias e rituais estão expressos nas múltiplas culturas, artes, nos artefatos,
e nas inscrições em rochas, ou seja, dentro da história, que foi levantada por autores
como Burns (1959) e Elias (2001).
O cerimonial de colação de grau, composto por rituais e simbologias, é o
conjunto de formalidades para os atos públicos e solenes, deve ser utilizado quando
estiverem presentes autoridades públicas, numa forma de disciplinar e organizar as
cerimônias, conforme o disposto no Regimento Geral da Universidade Mackenzie, nos
artigos 113 A obtenção do grau acadêmico ocorre com a Integralização Curricular do
Curso na forma prevista pelo Projeto Pedagógico de Curso. 133 § 4º: Ao discente que
cumprir todas as exigências curriculares de seu Curso de Graduação, obtendo
aprovação, será conferido o grau correspondente e o respectivo Diploma; assim
também no artigo 140:
A UPM expede diplomas e certificados para documentar a habilitação em seus diferentes Cursos e pode conceder títulos honoríficos para distinguir pessoas que hajam contribuído, de modo eminente, para o progresso da ciências, letras e artes ou que hajam prestados relevantes serviços a UPM. § 1º Ao discente que venha a concluir Curso de Graduação ou de Pós-Graduação stricto sensu oferecidos pela UPM, observadas as exigências do Estatuto, do presente Regimento Geral e dos Regimentos de cada Unidade Universitária, a UPM confere o grau a que faça jus e expede o correspondente diploma § 2º Ao concluinte de Cursos de Especialização, aperfeiçoamento, atualização e extensão, observadas as exigências específicas, a UPM expede o correspondente certificado. § 3º Os diplomas e certificados conferidos pela UPM são expedidos por determinação do Reitor, conforme modelos previamente aprovados e atendidas as 96 formalidades legais, regulamentares e as constantes de normas aprovadas por Ato da Reitoria e devem ser registrados junto ao RTDU. § 4º Os diplomas e os certificados são assinados pelo Reitor ou seus delegados e pelas autoridades indicadas em Ato da Reitoria que cuide da matéria. § 5º As segundas vias de diplomas e certificados são expedidas conforme modelo vigente ‡ data do pedido da segunda via. (REITORIA, A. da. 2010. Regimento Geral da Universidade, p.95)
27
E conclui-se no artigo 141 do Regimento Geral da Universidade Mackenzie, que
diz:
O ato escolar da colação de grau, exclusiva para os Cursos de Graduação, realiza-se com a presença do formando, do Diretor da Unidade Universitária, do Secretário Geral e, pelo menos, de 2 (dois) docentes, cujo termo é assinado por todos os referenciados. § 1º Só pode participar do ato escolar de colação de grau o discente que concluiu todas as atividades previstas no Projeto Pedagógico de Curso de Graduação da UPM. § 2º Ao colar grau, o formando presta compromisso, de acordo com as fórmulas oficiais da UPM. § 3º O ato de colação de grau é de natureza personalíssima, estando vedada a representação do formando por terceiro e não ser· aceito qualquer instrumento de outorga de poderes. (REITORIA, A. da. 2010. Regimento Geral da Universidade, p.96)
Estas normas supracitadas são estabelecidas com o objetivo de ordenar
corretamente o desenvolvimento dos atos solenes ou comemorações públicas que
necessitem de formalização, buscando sempre a disciplina, hierarquia, ordem,
elegância, respeito, bom senso, bom gosto e simplicidade. Além dos valores cívicos e
históricos. A Universidade Mackenzie sempre ocupou um destacado espaço para a
realização desta solenidade.
Para os cursos ministrados nos campi Higienópolis e Alphaville, de praxe as
solenidades são realizadas: no campus Higienópolis, Auditório Ruy Barbosa, que é
uma referência em se tratando de estrutura; no campus Campinas, a solenidade é
realizada em outro local previamente reservado, que atenda a demanda necessária
para a quantidade de pessoas, pois no local disposto, Auditório Edifício Rev. Edward
Laine, não atende ao número grande de formandos.
28
Imagem 2. Auditório Ruy Barbosa – visto internamente.
4
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Nesta solenidade de colação de grau, dentre vários discursos, há um
especialmente dedicado àqueles que acompanharam toda a trajetória acadêmica do
formando, e por isso, recebem uma homenagem especial intitulada “homenagem aos
pais”. Em sua fala, o formando geralmente se recorda das lutas e experiências
vivenciadas e divididas com estes, quanto a tônica este discurso é de gratidão.
Também são prestadas homenagens a professores e funcionários, em
reconhecimento do trabalho realizado pelo corpo diretivo e administrativo.
Neste sentido, acarreta ainda mais uma grande responsabilidade para a
Universidade, em manter a qualidade de ensino e a eficiência na prestação do serviço.
A realização deste evento é considerada uma ferramenta de fortalecimento para a
imagem da Instituição, atua como uma das principais ações de aproximação com o
público e consiste numa excelente oportunidade para estreitar relacionamentos,
desde que adequadamente planejada, organizada e bem executada.
Ao longo dos meus bons dedicados 19 anos à Universidade Presbiteriana
Mackenzie, tenho vivido inúmeras experiências e estou convicto de que elas
contribuíram e contribuem para o meu crescimento pessoal, profissional e intelectual.
4 A infraestrutura do Auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie no campus Higienópolis, comporta aproximadamente 950 pessoas sentadas na plateia, tem cabine de controle de iluminação e som, fazendo com que durante as cerimônias estes sejam utilizados dando maior requinte ao momento. Nos bastidores encontram-se banheiros, camarim e copa. Sempre que acontecem as cerimônias são mobilizadas equipes de som e iluminação, seguranças, equipe médica e equipe administrativa de apoio para realização do avento, além de uma empresa terceirizada que cuida das vestimentas, música, materiais oferecidos nas homenagens como flores e placas, além da ornamentação e copa para os convidados homenageados e docentes da Universidade. Tudo sob a supervisão do Departamento de Colação de Grau da Universidade, representado por minha pessoa.
29
Em 2006, quando fui convidado para fazer parte da equipe responsável pelos
eventos solenes de colação de grau, não tinha a dimensão da abrangência deste
departamento em relação aos diretores, coordenadores, professores, corpo docente,
discentes, funcionários, familiares, empresas parceiras e eventualmente com os
conselhos regionais. Todo este envolvimento em prol de uma causa, a Colação de
Grau.
Há mais de dez anos trabalhando com as solenidades oficiais de colação de grau
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e com atuação centrada no cerimonial
universitário, foi possível levantar um arcabouço de fontes iconográficas e textuais,
arquivadas no transcorrer da história da Instituição, bem como entrevistas e relatos
de pessoas que vivenciaram essa experiência como, os pais, corpo diretivo, corpo
docente, discentes e funcionários. Revelando assim, que este rito de passagem de
temporalidades remotas, ainda se faz presente no mundo contemporâneo.
Nas palavras do Assessor da Reitoria Eng. Nelson Callegari5:
[...] A colação de grau é um momento de encerramento, mas tem uma história por trás. [...] histórias que você conhece, que de fato gratificam a gente. Como participante desse processo, por menor que tenha sido a sua participação, ou às vezes, até uma participação grande [...] [...] Eu tenho dentro de mim, algo muito sensível, um lado humano que eu considero extremamente importante. Sob esse ponto de vista, sob a minha personalidade, portanto vou dar a minha opinião, eu acho que a colação é imprescindível. [...] Eu manteria a colação de grau permanentemente.
Para o Diretor da Faculdade de Direito Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto6:
[...] representa uma conquista coletiva [...] é o momento da gente ter gratidão. Pensar que a conquista nossa, dependeu de uma série de pessoas, de uma série de fatores [...] dos seus pais, dos seus responsáveis, dos seus professores, dos seus funcionários que trabalharam do seu lado aí na faculdade, dos seus colegas que te empurraram quando você pensou em esmorecer, então é uma construção coletiva. [...] um momento essencial, eu digo, até de um de vista de um estudo científico cerebral, é o momento em que seu cérebro entende que você conquistou alguma coisa. Sem esse rito fica um vazio, fica uma lacuna.
5 Ex-Secretário Geral, 26 anos como Gestor da antiga Secretaria Geral (25/03/1991 a 31/07/2017). Fonte o próprio entrevistado. Entrevista realizada em 21/03/2018 no prédio João Calvino. 6 O mais novo Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Aos 45 anos é Gestor desta Unidade Universitária, desde 2016. Em entrevista realizada 05/04/2018 na Faculdade de Direito.
30
[...] o Mackenzie tem um momento de colação de grau que foi se aperfeiçoando, e hoje está exatamente como eu gostaria que estivesse.
Considerando e constatando a importância desse tema, decidi escrever, mais
um trecho da história mackenzista.
Ora, falar de um momento tão significativo como este, não meramente uma
formalidade, mas um momento de celebração e conquista, da história que marca, se
transformou em um desafio, uma honra e responsabilidade.
Imagem 3. Alegria! Encerramento da solenidade.
7
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Na perspectiva do Sr. Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle
Acadêmico, Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida8:
Trata-se de cerimônia que evoca um "mix" de sentimentos, na perspectiva da função hoje exercida - sentimento de "dever cumprido", alegria (também solidária à alegria dos formandos e seus familiares e amigos), de grande responsabilidade com relação ao futuro dos formandos (em especial daqueles que ainda estão em início de jornada profissional - manterão ética inabalável ao longo de toda a trajetória profissional? Manterão atenção aos requisitos técnicos e comportamentais para o exercício profissional?). Por vezes, ter ciência, durante a cerimônia, de determinados episódios, histórias de vida, que envolveram alguns alunos e/ou seus familiares também nos emociona, em função da superação que fica configurada.
7 Este documento fotográfico representa a alegria dos formandos ao término da cerimônia de colação de grau. A alegria estampada em seus rostos, o levantar das mãos celebrando a vitória e o compartilhar deste momento com amigos. 8 Gestor a SECCA – Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico em 01/08/2017.
31
Este último ato solene, é a formalização do elo acadêmico com a sociedade e
com discente, ou seja, o formando como parte integrante de todo este processo,
levando consigo o sentimento de fazer parte da história mackenzista.
Regras que guiam o comportamento das pessoas, o construto cultural e histórico
que envolve esta solenidade, especialmente durante a trajetória e memória
acadêmica.
Assim, a dissertação estruturou-se em:
O capítulo I – Passado e Presente históricos: Permanências e Transformações,
explica a conceituação teórica sobre o tema ritual, trazendo seus pensadores, teóricos
e epistemologia em que se baseia esta pesquisa. Traz também em detalhes a
significância dos termos protocolares utilizados nas cerimônias formais brasileiras,
explicando quando estes termos aparecem dentro do ritual da colação de grau.
No capítulo II – A Simbologia presente no Ritual de Colação de Grau, já com a
conceituação exposta, aprofundou-se na simbologia que permeia o tema. A
simbologia visual, comportamental e sentimental, que estão inseridas nas vestes, nas
cores, nos símbolos nacionais presentes, na ordem em que são realizados os atos,
na forma de assentamento e até mesmo na palavra proferida. Entrevistas com
funcionários e ex-alunos da UPM, e também com um importante representante das
cerimônias oficiais brasileiras, o Sr. Alan Coelho de Séllos. Algumas destas falas estão
inseridas no decorrer dos capítulos primeiro e segundo. Contudo, vimos a importância
de trazer alguns dados numéricos e comparativos sobre as colações de grau que
ocorrem na Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo viés dos alunos que passam
e passaram por este rito. Esta pesquisa9, realizada com 425 discentes que se
formaram no curso de Direito em dezembro de 2017, tendo colado o grau no mês de
fevereiro de 2018, destacou a importância deste rito na atualidade, trouxe dados
recentes sobre o sentimento expresso, os valores familiares que são exaltados, e
questões já apresentadas.
Acredito que a dissertação aqui desenvolvida, possibilitará pela documentação
e descrição, base para futuros projetos de pesquisa e que foi uma honra contribuir
com mais um trecho da história mackenzista.
9 Pesquisas realizadas em: 16, 17, 18 e 19 de janeiro de 2018. Foram criados 2 tipos de questionários: pré-solenidade e pós-solenidade.
33
Edifício Mackenzie, visto do cruzamento das ruas Maria Antônia e Itambé. 1920
Acervo Centro Histórico e Cultural Mackenzie
Capítulo I - Passado e Presente Histórico:
Permanências e Transformações
34
As histórias que por vezes ouvimos ou contamos, são construídas segundo
nossas experiências, por vezes, vivenciadas por nossos antepassados (os mais
próximos ou distantes), que foram e vão sendo legadas, transmitidas, narradas para
a posteridade e para as gerações vindouras, ou seja, o tempo conectado com a
experiência. Essas histórias, em suas inúmeras configurações, permaneceram, ainda
permanecem e permanecerão no tempo, de acordo com a sua maior ou menor
capacidade para se registrar e se gravar em nossas memórias, tratando-se da relação
entre memória, vivência e narrativa.
Le GOFF (1990), distingue as relações de passado e presente que se inserem
na memória coletiva, fazendo nascer a consciência social histórica, mas também a
importância da abrangência futura. Alguns atos históricos marcam estas passagens
temporais, que na prática se dão ao longo do cronograma temporal, e que se não
fossem alguns atos marcantes, não distinguiríamos estes níveis de mudança, o
passado que se deu, o presente que se dá e as projeções futuras que podem ser
temidas ou desejadas.
Santo Agostinho exprimiu, com profundidade, o sistema das três visões temporais ao dizer que só vivemos no presente, mas que este presente tem várias dimensões, "o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das coisas futuras" (SANTO AGOSTINHO, Confessions, XI, 20-26 apud LE GOFF, 1990 p. 206).
A memória, portanto, não é apenas um local onde se depositam as lembranças,
e sim matéria-prima para construção de narrativas, a partir da qual se constroem
memórias. Na concepção de Bourdieu (2013), a percepção do tempo é muito mais do
que algo pertencente ao âmbito psicológico, é, antes, algo construído socialmente. Le
GOFF (1990) nos explica que esta memória construída socialmente, se dá por
informações que conseguimos conservar, levanta a importância da utilização da
linguagem falada e escrita para conservação da memória, mas que elas devem ser
estudadas e analisadas, cada qual em seu formato, pois o próprio aparecimento da
escrita está ligado a uma transformação da memória coletiva. A escrita que armazena
informações e passa as informações da esfera auditiva para a visual, que no caso,
são as transcrições das entrevistas, permitindo-nos reexaminar, reordenar e até
refletir sobre frases e palavras específicas. Estes registros que se dão ao longo dos
tempos, é o que faz a memória se transformar em história. [Ibid. pág.434]
35
Também dentro desta memória coletiva presente nos rituais e nos depoimentos
descritos, há um simbolismo, principalmente quando voltado ao poder. É uma relação
de poder implícito até mesmo na fala e no discurso.
Para que entendamos esta hierarquia colocada no simbólico, nos voltemos às
percepções ensinadas por Bourdieu, que fala em alguns capitais. O capital
econômico, o capital simbólico, o capital cultural e o capital social.
O capital econômico é a capacidade financeira ou “poder aquisitivo” da pessoa.
Este tem total ligação com os demais capitais, pois parte-se do pressuposto que é ele
quem vai nortear os próximos capitais. O capital cultural, ligado ao mesmo
pensamento, é aquele que se adquire nos locais que frequenta, por exemplo, adquire-
se capital cultural ao visitar museus e exposições, ao ter contatos com línguas
diversas e viagens. O capital social é aquele que o indivíduo adquire no meio social
em que convive, pois é no meio social que este terá a oportunidade de conhecimento
e de formação, como exemplo, um filho de nobre, geralmente conviverá com outros
filhos de nobres. E por fim, temos mais claramente, que em determinados locais, os
capitais simbólicos expressos como extremamente importantes. Um exemplo é a
simbologia de rituais que a própria família ou pessoa terá acesso ao longo de sua
existência, que combinado aos demais mostrará a posição de poder que o indivíduo
terá em relação aos demais.
Estes capitais muitas vezes são recebidos como herança, mas podem variar na
existência do indivíduo, sendo também adquiridos, e toda vez que um é adquirido,
reforça os outros capitais. Geralmente, quanto maior capital cultural e simbólico que
se possui, combinados com a posse dos outros tipos de capitais, maior deverá ser o
patrimônio linguístico. E quanto maior o patrimônio linguístico, mais alimenta-se o
ciclo, pois terá um maior desenvolvimento de capacidade, habilidade e competência
para dele se dispor de modo que objetivos específicos quanto à conquista do poder,
de produção, consumo e classificação serão atingidos mais facilmente, atingindo
assim o campo social. (BOURDIEU, 2013).
Dentro destes capitais, existe uma relação de poder que, como falado é
hierárquica e hereditária. E permeando estes capitais, há a memória que também
passa dentro das gerações.
O movimento que nos transporta é da mesma natureza que aquele que representa para nós. Se habitássemos ainda a nossa memória, não haveria necessidade de lhe consagrar lugares. Não haveria lugares, porque não haveria memória transportada pela história. [...] Desde que haja rastro,
36
distância, mediação, não estamos mais dentro da verdadeira memória, mas dentro da história. (NORA, 1993, p. 8 e 9)
Nora (1993, p. 9) trata a memória como objeto de pesquisa, mostrando como a
memória é vida e está em permanente evolução, é um elo vivido no eterno presente,
pois é afetiva, não se acomoda a detalhes, se alimenta de lembranças particulares ou
simbólicas, instala as lembranças no passado e é por natureza múltipla e
desacelerada, coletiva, plural e individualizada. “A memória se enraíza no concreto,
no espaço, no gesto, na imagem, no objeto”.
A memória [...] “procura salvar o passado para servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para
a servidão dos homens”. (LE GOFF, 1996, p. 477)
Nora [Ibid], também defende a memória daquilo que vivenciamos como gestos e
hábitos, nos saberes adquiridos e executados até inconscientemente com nosso
corpo e reflexos, a memória social, coletiva e globalizante. A memória que é vivida
espontaneamente no interior e que tem a necessidade de suportes exteriores como a
escrita.
Nesta relação entre memória e simbologias que levam ao poder, bem como nos
transportam em capitais sociais diferentes, está a Colação de Grau, com seu
simbolismo, este cerimonial é mais um, que através dos rituais traz à memória coletiva
uma passagem hierárquica, determinando poderes não somente agora dos formados
ante aos não formados, mas dentro do próprio cerimonial há diversas instâncias e
momentos, em que o poder é colocado em voga como nas ordens estabelecidas para
que ele ocorra, bem como nos locais e formas de apresentação do mesmo.
Nas universidades o cerimonial diz muito bem, a respeito da sua maneira de estar, – enquanto atividade – de agir, entrar, sair, comunicar-se, fazer-se entendido e enfim determinando o seu comportamento, suas maneiras e gestos, tanto no trato em geral com as pessoas, como de forma especial, quanto na presença de autoridades do mundo universitário e os circunstantes. (REINAUX, 2018)
Este cerimonial faz despertar a identidade ética das ações coletivas e uma
preservação da imagem e memória institucional, também corrobora com o
fortalecimento do capital social e cultural dos alunos e professores da universidade,
que necessitam de atos normativos formais para a permanência deste simbolismo.
1.1 Ritual e Cerimonial
37
Historicizar, não é divagar ou se perder no tempo, apresenta explicações que
sustentam os argumentos na contemporaneidade, assim, um mergulho no tempo é
desvelador.
Durante a existência humana, independentemente do ambiente no qual se está
inserido, vivemos rodeados por rituais. Eles estão presentes nas sociedades, e alguns
foram eleitos como de passagem de um ciclo da vida para outro, como por exemplo,
o casamento, o batismo, a formatura entre outros. (PEIRANO, 2003).
A vida em sociedade pode ser entendida pelos rituais que a circunda.
Um ritual pode ocorrer em intervalos regulares ou em situações bem específicas.
Pode ser realizado por um único indivíduo, um grupo, ou por uma comunidade inteira;
pode ocorrer em locais arbitrários, específicos, diante de pessoas ou privativamente.
Segundo a autora (PEIRANO, 2003), um ritual pode ser profano, religioso,
festivo, formal, simples ou bem elaborado. Possui uma forma específica, um grau de
convencionalidade, de redundância, combinando palavras ou ações.
Este fenômeno da sociedade aponta e revela valores, expande e ressalta o que
já é comum a um determinado grupo. Além disso, transmitem valores e
conhecimentos.
Inevitavelmente, os locais que frequentamos, nossas ações, até mesmo a forma
como nos vestimos comunica algo e são ritualizados.
(...) como vivemos em sociedade, tudo aquilo que fazemos tem um elemento comunicativo implícito. Ao nos vestirmos de determinada forma, ao assumirmos determinadas maneiras à mesa, ao escolhermos determinados lugares para frequentar, estamos comunicando preferências, status, opções. (PEIRANO, 2003, p. 8)
A autora ainda nos mostra, que o ritual é um sistema cultural de comunicação
simbólica, no qual, há uma ordem de sequências padronizadas de palavras e atos,
expressos por diversos meios, com graus variados de formalidade,
(convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação (fusão) e redundância
(repetição).
Para Gennep (2011), todo rito inserido em uma sociedade, seja ela qual for, e
independente do seu grau de instrução, este tem uma conotação espiritual, que
servem para determinar estágios e progressos.
38
A vida individual, seja qualquer tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra, e de uma ocupação a outra. Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais, que, por exemplo, constituem, para os nossos ofícios, a aprendizagem, e que entre os semicivilizados consistem em cerimônias, porque entre eles, nenhum ato é absolutamente independente do sagrado. (GENNEP, 2011, p. 24)
O autor considera que independente de qual seja o rito, há instaurada uma
cerimônia onde sua premissa é determinar a passagem de uma situação para outra,
da mesma forma como no universo há passagens cósmicas que afetam a vida
humana, não podendo dissociá-las.
Gennep defende que diversos pequenos ritos podem compor um cerimonial,
sendo assim, um cerimonial seria uma junção de pequenos ritos, isto é, um todo
composto por partes. [Ibid, p. 39].
Trazendo este conceito para o cerimonial de colação de grau, podemos afirmar
que diversos pequenos ritos o compõe. Rito da vestimenta (beca, capelo e cor das
estolas), o rito da palavra (juramento, outorga de grau e discursos) e o rito da
precedência (composição da mesa de honra). Todos estes serão esmiuçados em
momento oportuno.
Um dos ritos mais observados nas sociedades é o rito de passagem, pois são
celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa ou grupo, no seio de
sua comunidade, legitimando ou credenciando sua nova posição e desempenho
social.
Os ritos de passagem podem ter caráter social, comunitário ou religioso, eles
marcam momentos importantes na vida das pessoas. Os mais comuns são os ligados
a nascimentos, mortes, casamentos, batismos e formaturas. Em nossa sociedade,
geralmente os que são ligados a nascimentos, mortes, batismos e casamentos, são
praticamente monopolizados pelas religiões. Já as formaturas normalmente
acontecem em um âmbito acadêmico, finalizando um ciclo de estudos,
essencialmente não costumam ser religiosas, ainda que eventualmente tenham um
importante momento religioso.
Para Van Gennep os rituais foram considerados em sua constituição básica: ritos
de separação, de margem e de agregação. Estas fases invariantes podem ser
percebidas na maior parte dos rituais e em diferentes grupos sociais. Identificando as
fases dos rituais, Van Gennep chama a atenção para a visão geral do ritual e a
39
importância de se analisarem todas as fases, o antes, e o depois, já que todas são
relativas umas às outras. É nesse sentido que entendemos a frase do autor: “para os
grupos, assim como para os indivíduos, viver é continuamente desagregar-se e
reconstituir-se, mudar de estado e de forma, morrer e renascer” (GENNEP, 2011).
Um cerimonial envolve sistemas protocolares e comportamentais, segundo
BOND e OLIVEIRA (2009), o cerimonial é a forma de se fazer, o protocolo são as
normas relativas ao como fazer, o comportamento deve ser regido por regras sociais.
A autora MARTINEZ (2006) define da seguinte forma:
“Cerimonial é um conjunto de diretrizes, preestabelecidas que precisa ser
conhecido e observado em eventos oficiais ou especiais, sendo um indicador de como
as pessoas devem se comportar num convívio social formal. ” (MARTINEZ, 2006,
p.13)
O homem do período histórico chamado de Paleolítico Superior, durou entre
30.000 a 10.000 a.C. desenhava nas cavernas e já revelava papéis desempenhados
por diferentes pessoas em cerimônias religiosas.
Este homem, denominado de Cro-Magnon, deixou vestígios de sua cultura em
cavernas que por eles foram habitadas, mostram que dentro de suas comunidades
existiam papéis definidos como artistas profissionais e artífices especializados.
Existem provas suficientes de que o homem de Cro-Magnon tinha ideias muito evoluídas sobre um mundo de forças invisíveis. Dispensava mais cuidados aos corpos dos defuntos que o homem de Neanderthal, pintando os cadáveres, cruzando-lhes os braços sobre o peito e depositando, nas sepulturas, pingentes, colares e armas e instrumentos ricamente lavrados. (BURNS, 1959, p.23)
Este trecho mostra processos cerimoniais. O homem Cro-Magnon cria, “a magia
simpática”, baseando-se no princípio de que ao imitar um resultado desejado, este
será automaticamente alcançado.
Aplicando este princípio, foram feitas pinturas nas paredes de suas cavernas e
até esculturas, que representavam a captura de suas caças. Crê-se que
encantamentos e cerimoniais acompanhavam a execução das pinturas e imagens,
que eram feitas de forma simultânea às caçadas reais. (BURNS, 1959)
A representação cerimonial também existia no Egito Antigo, protocolos regiam
as vidas dos faraós e da corte, desde o nascimento até sua morte, em épocas de
40
plantio e colheita, e até mesmo em relacionamentos com outros povos. (BOND e
OLIVEIRA, 2009, p. 13).
Na Grécia e Roma antiga, também existiam diversos cerimonias e etiquetas que
podem ser facilmente observadas entre os filósofos, pensadores e tribunos do império
romano. Estes povos viviam em castas e cada uma tinha papéis éticos definidos com
normas a se cumprir. O não cumprimento resultava em severos castigos.
Os cerimoniais também estavam incorporados ao cotidiano do povo: independentemente do nível social, todos os conheciam e praticavam. Os rapazes, por exemplo, ao passarem da fase da adolescência para a adulta, quando completavam 16 anos, realizavam a cerimônia de troca da bula para toga, vestimenta utilizada pelos jovens da época. (BOND e OLIVEIRA, 2009, p. 14)
A palavra “bula” citada neste trecho era uma espécie de pingente, no formato de
uma pequena bola, que os meninos utilizavam no pescoço.
Estes exemplos de cerimoniais não foram os primeiros registrados pela escrita.
Os primeiros registros de cerimônias de que se tem registros, são dos chineses,
datados do século XII a.C., traziam orientações sobre comportamento e filosofia.
(LUKOWER, 2003, p. 33)
Na Europa Ocidental, principalmente durante o reinado de Luís XIV, de maio de
1643 a setembro de 1715, há registros de cerimoniais e rituais tanto nas cortes quanto
nos feudos ainda existentes. Um dos registros que o historiador ELIAS (1990)
descreve é o cerimonial de “lever” do rei, seu despertar.
De manhã, geralmente às 8 horas, e em todo caso no horário por ele determinado, o rei é acordado pelo primeiro criado de quarto, que dormia aos pés de sua cama. As portas são abertas para os pajens. Nesse momento, um deles acaba de dar a notícia ao "grana chambellan" e ao primeiro fidalgo de quarto, um segundo dirigiu-se à cozinha da corte para providenciar o café da manhã e um terceiro ocupa seu posto diante da porta, deixando entrar apenas os senhores que têm o privilégio do acesso. Esse privilégio seguia uma hierarquia muito precisa. Havia seis grupos diferentes de pessoas com permissão para entrar, um após outro. Falava-se então das diversas "entrées". Primeiro vinha a " entréé familière". Faziam parte dela sobretudo os filhos legítimos e os netos do rei (enfants de France), príncipes e princesas de sangue, o primeiro médico, o primeiro cirurgião, o primeiro criado de quarto e o primeiro pajem. Depois vinha a "grande entréé", reservada aos granas officiers de Ia chambre et de Ia garderobe e aos senhores da nobreza a quem o rei concedera essa honra. Seguia-se então a "première entréé", para os leitores do rei, os intendentes para divertimentos e festividades, entre outros. Em seguida havia uma quarta, a "entréé de Ia chambre", que compreendia todos os restantes "officiers de Ia chambre", além do "grand-aumônier (o grande capelão), os ministros e secretários oficiais, os "conseilleurs d'État'\ os oficiais da guarda
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pessoal, os marechais de França e assim por diante. A admissão para a quinta entréé dependia em grande medida da boa vontade do fidalgo de quarto, e naturalmente do favorecimento do rei. Incluíam-se nela senhores e senhoras da nobreza que recebiam tal favorecimento, a quem o fidalgo de quarto deixava entrar. Assim, eles tinham o privilégio de se aproximar do rei antes de todos os outros. Finalmente, havia ainda um sexto tipo de entrada, que era o mais disputado. Nesse caso, não se entrava pela porta principal do quarto, mas por uma porta traseira. Era uma entréé aberta para os filhos do rei, incluindo também os ilegítimos, e mais suas famílias e os genros, além também do poderoso "'surintendant dês bâtiments", por exemplo. Pertencer a esse grupo significava um grande privilégio, pois os envolvidos tinham permissão de entrar a qualquer hora nos gabinetes do rei - a não ser que ele estivesse em conselho ou tivesse começado um trabalho especial com seus ministros -, podendo permanecer no quarto até que o rei saísse para a missa, mesmo quando ele estivesse doente. (ELIAS, 1990, p. 101).
No trecho, observa-se a importância que era dada a cada detalhe, as hierarquias
estabelecidas e até mesmo os momentos específicos. O autor nos fornece dados
minuciosos em que cada ato era realizado, com meticulosa exatidão da organização10.
Existiam regras de comportamento políticos nos palácios, regras hierárquicas das
casas que mostravam prestígio social. Visto que o Rei gostava que sua corte morasse
também em seu castelo, existiam regras protocolares até mesmo para as funções
domésticas.
A igreja teve grande influência nos cerimoniais da época, visto que a grande
maioria era baseado nas liturgias religiosas.
Segundo Ribeiro (1950), um ritual de etnia brasileira, conhecido como O Navio,
ou Etogo, era realizado pelos Kadiwéu, evidenciando que realmente eram "índios
mesmo". Realizado em 1992, com o objetivo de mostrar a brancos, seus convidados,
o ritual mais expressivo de sua identidade. Este ritual faz referência à Guerra do
Paraguai, tal como os que os Kadiwéu dizem ter visto no passado, um navio a
percorrer o rio Paraguai. O Navio imita um navio de guerra, seu chefe, chamado
Maxiotagi, ou o "Macho". Maxiotagi é um personagem Xamakôko, sua função no ritual
é ditar as ordens que condicionam as cenas do seu desenvolvimento. Maxiotagi, que
é cego, tem seus companheiros, Ligecoge, "os Olhos do Macho", e Lionigawanigi
(Pequeno), que o auxiliam em suas atividades.
Estes personagens se adornam com paramentos engraçados, a regra máxima
no Navio é não poder rir, sob pena de ser preso e/ou pagar uma "fiança", cobrada,
10 Este cerimonial e outros, podem ser vistos no filme “Vatel: um banquete para o Rei” (2000).
42
geralmente, em forma de gado a ser abatido na hora, abastecendo o churrasco
coletivo dos vários dias deste ritual.
Este ritual mobiliza toda aldeia, especialmente a rotina que é totalmente
modificada. Além disto, todos se comportam como se estivessem sob voz de
comando, só agindo conforme as ordens do chefe. Durante o Navio, todos os homens
da aldeia são chamados de "soldados" e todas as mulheres, de paraguaias gaxianaxe,
e representam presas de guerra.
Quando se faz um levantamento histórico sobre os cerimoniais nas
universidades, nos remetemos aos anos de 1080, onde a Instituição como a de
Salerno, Itália, são consideradas embriões das universidades. (MEIRELLES, 2002)
Segundo Meirelles (2002), a figura do Reitor ou Chanceler, surge em 1200, com
poderes desmedidos, portanto, suas vestes eram diferenciadas, denominadas vestes
talares, que depois evoluíram para vestes reitorais, iniciando assim os cerimoniais
universitários com o objetivo de demonstrar o poder da máxima autoridade.
Se aceitarmos atribuir à palavra universidade o sentido preciso de “comunidade (mais ou menos) autônoma de mestres e alunos reunidos para assegurar o ensino de um determinado número de disciplinas em um nível superior”, parece claro que tal instituição é uma criação específica da civilização ocidental, nascida na Itália, na França e na Inglaterra no início do século XIII. Esse modelo, pelas vicissitudes múltiplas, perdurou até hoje (apesar da persistência, não menos duradoura, de formas de ensino superior diferentes ou alternativas) e disseminou-se mesmo por toda a Europa e, a partir do século XVI, sobretudo dos séculos XIX e XX, por todos os continentes. (CHARLES e VERGER, 1996, p. 7-8)
Na França, em 1180 no século XII, surge a Universidade de Paris, que passa
então a chamar-se Sorbone. Universidade responsável pela implantação do
cerimonial rígido, que envolvia todos os trabalhadores da mesma, obrigando o uso
das vestes talares e introduzindo a cátedra, cadeira em formato de trono, rica e
trabalhada em madeira de lei, com o brasão entalhado no respaldar. (MEIRELLES,
2002, p. 23)
Considerada como universidade importante, estimulada pela localização
geográfica e pela presença da administração real. Formada no século XII, tinha o título
de Estudos Gerais, onde a Teologia era o curso mais importante de todos e ligado à
igreja.
Já no século XIII foi consolidada, a Corporação dos Mestres Parisienses (1262)
ou Universitas Magistrorum et Scholarium, composta por alunos e professores, mas
43
os mestres predominavam. Este local de estudos recebe alunos de todas as nações
tendo então o reconhecimento oficial da mais alta autoridade civil, o Papa.
(ROSSATO, 2005).
Somente o Reitor, conduzido por uma comissão de honra se assentava na cátedra, e ministrava, uma vez por ano, a Aula Magna. Todos os estudantes eram obrigados a usar a capa acadêmica, o que, para eles, era motivo de orgulho e privilégio. (MEIRELLES, 2002, p.23)
A herança cerimonial das Universidades brasileiras, provém da interferência
dessas na Península Ibérica e deles para o Brasil. Destaca-se a Universidade de
Coimbra, Portugal, da qual o Brasil herda o cerimonial, a orientação em relação a
heráldica, brasonário e medalhística. (MEIRELLES 2002, p. 24)
Também a herança do poder simbólico desta cerimônia. Como diz Bourdieu: “O
poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a
cumplicidade daqueles que não querem saber, que lhe estão sujeitos ou mesmo que
o exercem”. (BOURDIEU, 1989, p.8)
Em 1808 quando a família real aporta no Brasil, decidiu criar o curso de Cirurgia,
Anatomia e Obstetrícia, atendendo à solicitação do cirurgião-mor do Reino, José
Corrêa Picanço, um dos portugueses brasileiros formados em Coimbra. Quando a
corte foi transferida para o Rio de Janeiro, estas instituições, que podem ser chamadas
de ensino superior, eram em sua maioria planejadas com uma preocupação voltada
às defesas militares, Academias Militares, da então colônia, mas lá foram criados
também a escola de Medicina, a Escola de Belas Artes, o Museu Nacional, a Biblioteca
Nacional e o Jardim Botânico. (OLIVEN, 2002, p.25)
Segundo Meirelles (2002), o Brasil torna-se independente em 1822, assumindo
o poder o Imperador Dom Pedro I, que mais tarde renunciou o trono, para assumir
como Dom Pedro IV o reino de Portugal. Deixa em seu lugar, seu primogênito ainda
menor de idade Dom Pedro II, e durante o período de Regência foram criados dois
cursos de Direito: um em Olinda, na região nordeste, e outro em São Paulo, no
Sudeste. Também se cria a Escola de Minas em ouro Preto, que sua criação é datada
em 1832, mas sua real instalação acontece somente 24 anos depois, esta escola
situava-se na região de extração de ouro.
As primeiras faculdades brasileiras – Medicina, Direito e Politécnica – eram independentes umas das outras, localizadas em cidades importantes e
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possuíam uma orientação profissional bastante elitista. Seguiam o modelo das Grandes Escolas francesas, instituições seculares mais voltadas ao ensino do que à pesquisa. Tanto sua organização didática como sua estrutura de poder baseavam-se em cátedras vitalícias: o catedrático, “lente proprietário”, era aquele que dominava um campo de saber, escolhia seus assistentes e permanecia no topo da hierarquia acadêmica durante toda a sua vida. (OLIVEN, 2002, p. 25 e 26).
Neste período imperial, não foi criada uma universidade no Brasil, que segundo
Oliven (2002), pode ser que isso se deva ao fato dos altos padrões da Universidade
de Coimbra. Mas estes cursos superiores que eram criados neste território eram vistos
como substitutos às Universidades.
Dentro da história da universidade brasileira, também se vê a dificuldade de
acesso feminino às mesmas. Segundo Rosemberg (2016), a primeira mulher a ter
diploma de ensino superior no Brasil foi Maria Augusta Generosa Estrela, graduou-se
em 1882 em medicina nos Estados Unidos, mesmo porque o ensino superior aqui era
inacessível às mesmas.
“...foi apenas em 1879 que a lei Leôncio de Carvalho garantiu às mulheres o direito de estudar em instituições brasileiras de ensino superior. Setenta e nove anos após a fundação da primeira instituição de ensino superior no país, a branca Rita Lobato graduou-se na Faculdade de Medicina da Bahia (1887). Quase trinta anos depois (1926) a negra Maria Rita de Andrade obteve o título de bacharel pela Faculdade de Direito da Bahia. Somente em 2006, Maria das Dores de oliveira, da etnia pankararu, foi reconhecida como a primeira mulher indígena a obter o título de doutor...” (ROSEMBERG, 2016, p. 337)
Hoje essa situação já está bem diferente, em pesquisa realizada com 425
formandos do 2º semestre 2017 do curso de Direito da UPM, 278 (65%) são do sexo
feminino.
Retornando ao foco da pesquisa, à UPM11, nasce em 1870 do projeto do casal
de missionários americanos Mary Annesley e George Chamberlain, que criam uma
escola para crianças, a Escola Americana. Nas décadas seguintes surge o Mackenzie
College e seus primeiros cursos superiores de Filosofia em 1885, de Comércio em
1890 e a Escola de Engenharia em 1896.
No período da primeira República, que contemplou os anos de 1889 a 1930, os
líderes desta nova república, eram francamente favoráveis à criação de cursos laicos
de orientação técnica profissionalizante. Entre 1891 e 1910 foram criadas vinte e sete
11 Informações retiradas do site da Universidade. Disponível em: <http://up.mackenzie.br/a-universidade/historia/> Acesso em: 07/04/2018.
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escolas superiores, nove de Medicina, Obstetrícia, Odontologia e Farmácia; oito de
Direito, quatro de Engenharia, três de Economia e três de Agronomia. (Souza, 1996).
Em 1893 o Mackenzie College registra a primeira experiência oficial de
cotitulação internacional, tendo a University of the State of New York como entidade
associada.
O Marechal Hermes da Fonseca, presidente da república, decretou, em 13 de
dezembro de 1910 a Lei Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na República,
de autoria do Deputado Gaúcho Rivadávia da Cunha Corrêa. Esta lei contemplava
exames de admissão aos cursos superiores, liberdade curricular e fim da fiscalização
federal nas escolas superiores estaduais e privadas. Com isso houve aumento de
oferta e expedição de título acadêmico.
A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data próxima das comemorações do Centenário da Independência (1922). Resultado do Decreto n° 14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades profissionais pré-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema: ela era mais voltada ao ensino do que à pesquisa, elitista, conservando a orientação profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades. (OLIVEN, 2002, p. 26)
Em 1911 o Mackenzie College cria o primeiro curso de Química Industrial em
São Paulo. E com muitos cursos, particulares e públicos surgindo no Brasil, todo este
aumento de oferta e falta de fiscalização do ensino superior precisava ser contido, foi
então que em 1915, a chamada Reforma Carlos Maximiliano, acrescentou a exigência
de vestibulares, ou seja, exames de admissão e apresentação de certificados de
conclusão do ensino secundário para ingresso no Ensino Superior. (Souza, 1996).
Enquanto na literatura, por esta época, já tínhamos um Machado de Assis, um Euclides da Cunha; enquanto na medicina o Instituto de Manguinhos dava exemplos seguros de pesquisas científicas, enquanto em alguns países da América Latina surgiam novas universidades e a Argentina empreendia a sua reforma universitária com vistas à valorização das atividades de pesquisa, de extensão e de participação dos estudantes nos órgãos de universitária, a educação no Brasil carecia de bases anteriores, não tendo nem um sistema de educação popular, para não dizer de universidades (CUNHA, p. 64)
Em 1922 o Mackenzie College cria o primeiro curso de Engenharia Química no
país. Nessa época, década de 20, vários pesquisadores brasileiros traziam ideias
educacionais denominadas de Escola Nova, e foram responsáveis por reformas de
ensino em vários estados brasileiros. Em 1924 foi criada a ABE - Associação Brasileira
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de Educação que pela primeira vez publica um livro intitulado “O problema
universitário brasileiro”, e tinha como uma de suas bandeiras a criação do Ministério
da Educação. (OLIVEN, 2002)
Em 1925 ocorreu a Reforma Rocha Vaz que introduziu a limitação de vagas e
os critérios de classificação.
Com a Revolução de 1930, e depois desta revolução chega às autoridades a
tomada de consciência ao setor educacional da necessidade de novos projetos
educacionais. Neste mesmo ano é criado o curso de Biblioteconomia do Brasil, pelo
Mackenzie College.
Esta Revolução leva à presidência Getúlio Vargas que durante 15 anos
permanece no poder, este período histórico denominado Estado Novo (1937-1945)
passa-se de Estado Liberal, para Estado Social, centralizador, autoritário, sem
participação popular. Francisco Campos, o primeiro Ministro da Educação e Saúde do
Estado Novo era também seu principal teórico que em 1931, elaborou o Estatuto das
Universidades Brasileiras, que vigorou até 1961, e introduziu o ensino religioso nas
escolas federais, estaduais e municipais do país. "De um entusiasta e defensor de
ideias liberais, adepto da Escola Nova, Campos durante o Estado Novo passou a
defender conceitos que se enquadravam perfeitamente na nova ordem social
estabelecida"
Durante este mesmo período, em 1932 a agora Escola Técnica Mackenzie passa
a ser reconhecida pela excelência na formação de seus alunos.
Dois tipos de universidades poderiam existir: a chamada oficial, que era a pública
(federal, estadual ou municipal) ou a chamada livre, ou seja a particular; deveria,
também, incluir três dos seguintes cursos: Direito, Medicina, Engenharia, Educação,
Ciências e Letras. Essas faculdades seriam ligadas, por meio de uma reitoria, por
vínculos administrativos, mantendo, no entanto, a sua autonomia jurídica.
Desapontaram-se com as políticas do novo Ministério que priorizava a formação
de professores voltados ao ensino médio do que à pesquisa, os educadores que
integravam a ABE, fizeram de Brasília um campo onde diferentes grupos que
detinham diferentes projetos para a universidade brasileira, se defrontavam. Seus
confrontos estavam voltados à temas como saber qual o papel do governo federal
como normatizado do ensino superior e o papel da Igreja Católica como formadora de
caráter humanista da elite brasileira.
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Em 1935, Anísio Teixeira então Diretor de Instrução do Distrito Federal, criou,
através de um Decreto Municipal, a Universidade do Distrito Federal voltada,
especialmente, à renovação e ampliação da cultura e aos estudos desinteressados.
Mesmo enfrentando escassez de recursos econômicos, as atividades de pesquisa
foram estimuladas com o aproveitamento de laboratórios já existentes e o apoio de
professores simpáticos à iniciativa.
Em janeiro de 1939 Getúlio Vargas e seu governo impedem a criação de um
modelo liberal de universidade em São Paulo, mas este modelo criado intitulado
Projeto USP, serviu mais tarde para criação de outras Universidades Federais,
vencendo o autoritarismo do Governo Federal.
Na década de 40 o modelo de ensino superior existente era duramente criticado
no país, pois a população conclamava por desenvolvimento. O primeiro passo foi dado
pelos militares criando o Centro Técnico da Aeronáutica, esse projeto previa a criação
do ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que tem seu início em 1947.
Em 1949, sob a liderança de César Lattes e José Leite Lopes, que não tinham na Universidade do Brasil as condições necessárias para pesquisar, foi criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no qual os pesquisadores pretendiam realizar o que na Universidade não conseguiam. O Centro tomou-se em importante centro de estudos e pesquisas, tendo obtido o mandato universitário de conferir graus acadêmicos de pós-graduação. (SOUZA, 1996, p. 54)
No período de 1945 até 1964 a história da universidade passa pelo que
nacionalmente ficou conhecido como populista. Vargas renuncia em outubro de 1945,
assume José Linhares que fica pouco tempo no poder, até janeiro do ano seguinte e
no final do mandato de José Linhares passa a ser o período populista, onde os
governantes que lideravam tentavam ganhar a simpatia e confiança da população
como instrumento político.
Durante a Nova República, foram criadas 22 universidades federais, constituindo-se o sistema de universidades públicas federais. Cada unidade da federação passou a contar em suas respectivas capitais, com uma universidade pública federal. Durante esse mesmo período, foram, também, criadas 9 universidades religiosas, 8 católicas e 1 presbiteriana. (OLIVEN, 2002 p. 30)
É neste mesmo período que o curso de Arquitetura se transforma na primeira
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Estado de São Paulo, em 1947. “Nenhuma
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outra instituição de ensino superior funcionara antes, em todo o país, com a
designação Faculdade de Arquitetura”.
No início do decênio de 1950, quatro faculdades já se encontravam consolidadas e uma quinta estava em vias de ser inaugurada: Escola de Engenharia, Faculdade de Arquitetura, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1946), Faculdade de Ciências Econômicas (1950) e Faculdade de Direito (1953). Foi sobre este alicerce que se erigiu o edifício da então Universidade Mackenzie, autorizada a funcionar pelo Decreto nº 30.511, de 7 de fevereiro de 1952, e instalada, solenemente, em 16 de abril de 1952, com a posse do primeiro Reitor, o Prof. Engº. Henrique Pegado. Naquela conjuntura histórica, o quadro discente totalizava 1.155 alunos e o número total de professores não passava de 80. (UPM12, Acesso em: 07/04/2018)
Fato importante que aconteceu na década de 60, foi que após um período de 14
anos de tramitação no Congresso Nacional foi promulgada a Lei n° 4.024, a primeira
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, que na prática reforçou o modelo
tradicional de ensino superior existente no país. Há então um período da qual Souza
chama de período de “inércia formal”, pois o governo não incentivava à pesquisa nas
universidades e simplesmente a formação profissional, no entanto neste mesmo
período, é ultrapassado os muros, vivendo momento de grande vitalidade na pesquisa
e criado os Centros Populares de Cultura que desenvolviam formações e
alfabetizações para adultos, envolvendo jovens professores e contrapondo a
elitização formativa de um passado não muito distante.
Em 1999 é adotada a denominação Universidade Presbiteriana Mackenzie e a
mesma vem até hoje mostrando-se em excelência e contribuindo para o panorama de
pesquisa e formação de nosso país.
Em 1964 o governo foi tomado pelos militares, que na época coibiu a criticidade
da universidade brasileira, fazendo com que muitos professores do sistema público
fossem afastados, e foram criadas as Assessorias de Informação nas instituições
federais de ensino superior, com a intenção de coibir as atividades de caráter
“subversivo”, tanto de professores quanto de alunos. (OLIVEN 2002)
Em 1968 o governo aprova a Lei da Reforma Universitária (Lei n° 5540/68) que
criava os departamentos, o sistema de créditos, o vestibular classificatório, os cursos
de curta duração, o ciclo básico dentre outras inovações. A partir daí os
12 Informação disponível em Disponível em: <http://up.mackenzie.br/a-universidade/historia/>
49
departamentos substituíram as antigas cátedras, passando, as respectivas chefias a
ter caráter rotativo.
Ao estabelecer a indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão, o regime de tempo integral e a dedicação exclusiva dos professores, valorizando sua titulação e a produção científica, essa Reforma possibilitou a profissionalização dos docentes e criou as condições propícias para o desenvolvimento tanto da pós graduação como das atividades científicas no país. A Lei n° 5.540/68, da Reforma Universitária dirigia-se às IFES (Instituições Federais de Ensino Superior). Entretanto, como grande parte do setor privado dependia de subsídios governamentais, seu alcance ultrapassou as fronteiras do sistema público federal, atingindo as instituições privadas, que procuraram adaptar-se a algumas de suas orientações. (OLIVEN, 2002 p.34)
Nesta época o setor privado se expande chegando até a década de 80 onde
mais da metade dos alunos de terceiro grau, ou seja, das universidades, estavam
matriculados em estabelecimentos isolados do ensino superior, sendo 86% das
faculdades privadas.
No ano de 1981, o Brasil contava com 65 universidades, sete delas com mais de 20.000 alunos. Nesse mesmo ano, o número de estabelecimentos isolados de ensino superior excedia a oitocentos, duzentos e cinquenta dos quais com menos de 300 alunos. As novas faculdades isoladas não eram locus de atividades de pesquisa, dedicando-se, exclusivamente, ao ensino. (OLIVEN, 2002 p.34)
É nesta mesma década, no ano de 1988 que seria a promulgação da
Constituição Federal, e as investidas são para garantir que nela contivesse a
seguridade de que as instituições públicas tivessem um ensino público, laico e gratuito
em todos os níveis e por outro lado as instituições privadas queriam garantir o acesso
às verbas públicas e diminuir a interferência do Estado nos negócios educacionais.
E ficou então estabelecido na Constituição Federal que um mínimo de 18% da
receita anual, resultante de impostos da União, seriam destinados para a manutenção
e o desenvolvimento do ensino; assegurou, também, a gratuidade do ensino público
nos estabelecimentos oficiais em todos os níveis, e criou o Regime Jurídico Único,
estabelecendo pagamento igual para as mesmas funções e aposentadoria integral
para funcionários federais. Em seu artigo 207, reafirmou a indissociabilidade das
atividades de ensino, pesquisa e extensão em nível universitário, bem como a
autonomia das universidades.
E no final de 1996 foi aprovada a Lei sob o n° 9.394/96 de Diretrizes de Base da
Educação Nacional que prevê diversos graus de abrangência ou especialização
50
educacionais nos estabelecimentos públicos e privados. Agora os cursos são
avaliados e os cursos são credenciados ou recredenciados mediante desempenho
nesta avaliação, podendo até, em caso de deficiência e não saneamento das mesmas
em prazo determinado, perder seu curso. Também volta-se para uma específica
associação à pesquisa e extensão e uma determinação de corpo docente em pelo
menos um terço com titulação de mestre e doutor. Estas instituições são avaliadas
periodicamente, sendo credenciadas por tempo determinado.
O MEC - Ministério da Educação - começou com suas avaliações pelas
instituições com maior número de matriculados, e seus formados são submetidos a
um teste com conhecimentos relacionados a este. Também são avaliadas bibliotecas,
laboratórios e qualificação dos professores.
Todo este caminhar pela história das universidades se aplica para a
compreensão dos atos de cerimônia, pois estes sempre estão ligados com
desenvolvimento ético social, contexto histórico e transformações da sociedade. As
atividades éticas cerimoniais, registradas contribuem para a preservação da memória
e criação da própria imagem.
No Brasil, os cerimoniais oficiais foram regidos pelo Decreto nº 70.274 de 09 de
março de 1972, em 11 de maio de 1992, quando passou a valer o Decreto nº 8.421,
que regulamenta as normas do Cerimonial Público e a Ordem Geral de Precedência.
Há também o Regimento interno de cada Instituição, mesmo para as particulares,
como é o caso da UPM - Universidade Presbiteriana Mackenzie, mas num panorama
geral, segundo os levantamentos desta pesquisa, poucas universidades possuem
seus regulamentos internos quanto às suas normas e regulamentos cerimoniais.
Em geral, os atos da cerimônia e realização das solenidades acadêmicas,
seguem as mesmas diretrizes de outros atos oficiais públicos, contudo há uma
mensuração histórica no ato cerimonial universitário, é recomendada pelo MEC e
também pela Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo e aparece na história
universitária desde os primórdios de sua criação. De acordo com o site do MEC13, a
13 No site do MEC, SECRETARIA DE REGULAÇÃO SUPERIOR (SESU) menu Perguntas frequentes sobre educação superior, em DIPLOMA E HISTÓRICO ESCOLAR vê-se claramente na pergunta: A instituição pode cobrar pela colação de grau? A questão da colação de grau é institucional. Sugere-se consulta ao regimento interno, bem como à comissão do cerimonial da sua instituição. Ressalte-se que a expedição de diploma só ocorrerá quando o curso estiver devidamente reconhecido ou tiver renovado seu reconhecimento. Disponível em << http://portal.mec.gov.br/sesu-secretaria-de-educacao-superior/perguntas-frequentes>> acesso em 06/05/2018.
51
colação de grau é institucional. “O aluno deve consultar o regimento interno da
instituição, bem como a Comissão do Cerimonial das IES – Instituições de Ensino
Superior. Lembramos também que a expedição de diploma só ocorrerá quando o
curso estiver devidamente reconhecido ou renovado seu reconhecimento”. (MEC,
2017). No Regimento Interno da UPM, não há uma especificação, de como deve ser
um cerimonial de colação de grau.
Segundo o MEC, no último censo realizado no ano de 2016 e disponibilizado
pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,
há um comparativo quanto ao número de IES. A tabela mostra dados sobre seu
crescimento ao longo dos últimos 10 anos e uma transformação no setor quanto ao
número de vagas ofertadas no ensino superior. Veja tabela abaixo disponibilizada no
relatório (p. 7).
Tabela 03: Número de instituições de Educação Superior, por Organização Acadêmica e Categoria Administrativa - Brasil 2006-2016
Ano
Instituições
Total Universidade Centro Universitário Faculdade IF e Celeft
Pública Privada Pública Privada Pública Privada Pública Privada
2006 2.270 92 86 4 115 119 1.821 33 a 2007 2.281 96 87 4 116 116 1.829 33 a 2008 2.252 97 86 5 119 100 1.811 34 a 2009 2.314 100 86 7 120 103 1.863 35 a 2010 2.378 101 89 7 119 133 1.892 37 a 2011 2.365 102 88 7 124 135 1.869 40 a 2012 2.416 108 85 10 129 146 1.898 40 a 2013 2.391 111 84 10 130 140 1.876 40 a 2014 2.368 111 84 11 136 136 1.850 40 a 2015 2.364 107 88 9 140 139 1.841 40 a 2016 2.407 108 89 10 156 138 1.866 40 a
Fonte: Extraída do censo da Educação Superior (2016)./ MEC INEP; tabela elaborada por INEP/DEEP.
Percebemos que, segundo os dados, em 2016 temos 2.407 Instituições de
Ensino Superior oficialmente reconhecidas, sendo os Centros Universitários,
Faculdades, Universidades, Institutos Federais e Centros Federais de Educação
Tecnológica.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie é uma delas e comporta uma estrutura
de atendimento anual de mais de 30.000 discentes. Como este trabalho, tem o seu
foco na FDir - Faculdade de Direito, desde sua 1ª solenidade realizada em 08/10/1959,
foram 597 colações de grau com um total de 27.274 alunos formados. Em 07/10/2009,
a FDir realizou o Jubileu de Ouro da 1ª turma de formandos do curso de Direito.
52
Após percorrer brevemente, (para não desviar do foco da pesquisa) pela história
da constituição das universidades no Brasil inserindo a UPM, investigou-se termos
técnicos presentes na solenidade de colação de grau.
1.2 Decoro e Precedência na Colação de Grau
Todas as cerimônias oficiais são regidas de ritos, neles estão presentes alguns
termos importantes, dos quais é necessário que conheçamos e entendamos sua
origem e significância, ante este ato solene.
1.2.1 Protocolo
Segundo o dicionário online de etimologia, esta palavra provém do Grego protos,
“primeiro”, mais kolla, “cola”, esta palavra se referenciava à página inicial dos rolos de
pergaminho, nome que entre os latinos e bizantinos se dava à folha colada na frente
para a garantia da autenticidade de um registro14. (NASCENTES, p.420)
Com o passar do tempo seu sentido alterou-se de “primeira página de
publicação” para “informação oficial”, depois para “registro de uma transação”, para
“documento diplomático”, e atualmente tem maior relevância ao significado de
“fórmula de etiqueta diplomática”.
Hoje o protocolo compreende a etiqueta nas formas de trato interpessoal, os
formulários e formulações respectivos à regulamentação de atos públicos e o registro
desses atos, que geralmente é feito através de ata.
Na Colação de Grau realizada na UPM, o protocolo está presente em toda
solenidade. Inicialmente, é natural que todos os homenageados e demais autoridades
presentes, que farão a composição da mesa de honra, sejam recebidos com boas
vindas e cumprimentos.
Em seguida, eles são chamados para receberem todas as instruções
protocolares do evento. Para aqueles que farão o uso da palavra, são orientados
14 Dicionário etimológico, disponível em
<https://archive.org/stream/AntenorNascentesDicionaroEtimologicoDaLinguaPortuguesaTomoI/Dicion
arioEtimolgicoDaLinguaPortuguesa#page/n459/mode/2up> Acesso em: 12/0502018.
53
quanto ao tempo; em seguida, são designados os que farão a entrega dos canudos,
dos memoriais e, da Bíblia Sagrada na hora dos cumprimentos.
Por fim, é disponibilizada uma Minuta de Roteiro, impresso que pontua cada
momento da solenidade, desde a abertura ao encerramento oficial, possibilitando o
cumprimento e de todas a formalidades, da ordem e o respeito inerentes ao ato.
Fazendo com que a solenidade transcorra de maneira dinâmica, eficaz e eficiente.
1.2.2 Precedência
A precedência, como já diz a palavra em seu significado, é o direito de vir antes,
de preceder, de ter a primazia, a preferência. MEIRELLES (2002), levanta algumas
questões interessantes quanto a precedência e nos faz refletir sobre a ordem geral
dos valores e a disputa “de” e “pelo” poder que é inserida dentro dos cerimoniais.
Aliás, é dentro da ordem estabelecida nas falas, nos assentos, na entrada, no
empoderamento etc., que vemos a importância do estabelecimento da precedência.
É no Congresso de Viena, de 1815, que provém a base da estrutura diplomática
atual. O objetivo deste congresso era refazer a Carta da Europa, depois da queda do
império Francês (Maldonado, 1994), fazendo uma regulamentação internacional do
território Europeu, participando deles sete estados soberanos: Áustria, Prússia,
Rússia, Inglaterra, Suécia, Portugal e Espanha.
Na precedência deste congresso ficou acordado que prevaleceria a precedência
dos representantes diplomáticos conforme sua data de chegada ao país. Este mesmo
evento possibilitou que cada Governo escrevesse suas normas, determinando
somente que, no caso de recepção a Chefes de Missão Diplomática, o procedimento
seja uniforme para evitar discriminações.
No Brasil, a precedência é regulamentada pelo Decreto nº 83.186, e este
apresenta a ordem de precedência em três distintos níveis hierárquicos. A) Ordem de
precedência nas cerimônias oficiais de caráter federal, na Capital da República. B)
Ordem de precedência nas cerimônias oficiais nos Estados da União, com a presença
de autoridades Federais. C) Ordem de precedência nas cerimônias oficiais de caráter
Estadual.
As normas de precedência estabelecidas neste decreto são para as
organizações governamentais. A partir dela são baseadas as ordens das
54
organizações institucionais, contudo cada Corte é responsável por, dentro de uma
ética, estabelecer a ordem de precedência em um regimento interno.
É convenção dentro do estabelecido ao poder, que nas Universidades a ordem
de precedência siga a seguinte diretriz (MEIRELLES, 2002):
● Reitor,
● Chanceler (maior autoridade da Mantenedora),
● Vice-Reitor,
● Presidente dos Conselhos Superiores ou Conselhos Específicos,
● Pró-reitores, Superintendente ou Diretor de Campus,
● Diretores de Centros, Faculdades e Institutos
● Chefes do Departamento
● Professores
No dia da Colação de Grau, é disponibilizado pelo Departamento de Colação de
Grau, a CMH - Composição da Mesa de Honra, elaborada com base na ordem de
precedência. Para que esse momento transcorra de maneira organizada e tranquila,
toda a dinâmica se dá da seguinte forma: o Mestre de Cerimônias anuncia o nome
completo e a titulação acadêmica de cada componente; no local designado, há uma
placa com o seu nome e uma assistente de palco aguardando a sua chegada.
Imagem 4. Modelo para a Composição da Mesa de Honra
Fonte: SECCA - Secretaria dos Conselhos e de Controle Acadêmico
55
A Universidade Mackenzie tem suas particularidades, por ser dividida em
Unidades Universitárias, deveria ter sua ordem de precedência pré-estabelecida em
Regimento Interno, que atualmente não as contempla.
Especificamente quando descrevemos o cerimonial de Colação de Grau, como
é feito atualmente, regulamentos a ordem correta de precedência, conforme as leis de
protocolo e cerimonial, que deveriam ser utilizadas nesta Instituição. Estabelecendo-
se da seguinte forma.
● Reitor, por delegação, representado pelo Diretor da Faculdade,
● Chanceler, geralmente representado pelo Capelão Universitário, Pastor da
Igreja Presbiteriana do Brasil,
● Diretores dos Conselhos Superiores ou Conselhos Específicos,
● Diretor da área Administrativa, neste caso o Secretário dos Conselhos
Superiores e de Controle Acadêmico,
● Coordenador de Curso.
● Patrono
● Paraninfo
● Professores homenageados
● Demais homenageados. Funcionários e homenagem in memoriam.
Segundo Meirelles (2002), o Reitor e o Chanceler estão no mesmo nível de
importância, e quando os dois estão presentes, o Reitor preside a solenidade e o
Chanceler senta-se à sua direita.
Se durante a cerimônia se fizerem presentes também antigos Reitores ou
Diretores (por ordem de decanato); Doutores Honoris Causa; Professores Honoris
Causa e Professores Eméritos, estes devem ocupar lugares de destaque.
No âmbito geral a Universidade Mackenzie, composta por nove Unidades
Universitárias já citadas, de acordo com a ordem de precedência, Universidades
precedem Faculdades, e dentro de instituições de ensino sejam Faculdades ou
Universidades, a ordem deve seguir a instância: federal; estadual e municipal; e
particular, e dentro desta pela data da criação.
Adota-se nesta Universidade uma composição de mesa de honra diferenciada,
por uma questão de logística de palco e conveniência adotada na cerimônia. A mesma
se dá da seguinte forma: ao centro da mesa senta-se o Reitor quando presente, ou o
Diretor da Unidade Universitária que o representa. O seu lado direito “Institucional”, é
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composto pelo Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico,
Coordenador de Curso e Capelão Universitário. O lado esquerdo do Reitor,
“homenageados”, ficam o patrono, o paraninfo e os professores homenageados.
Imagem 5. Tribuna de Honra completa
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
As imagens trazidas no contexto deste são compreendidas como documentos
da história, portanto, não são ilustrativas. Dessa forma, exigem estudo sobre as
mesmas.
Os historiadores da Escola do Annales e teóricos como Charles Sanders Pierce
(1839 - 1814), classificam a imagem, como linguagem. As imagens possuem várias
formas de representação de si. Esta é uma fotografia, uma linguagem visual, uma
forma de representação da imagem real.
A característica principal é a insistência com que determinadas imagens se
apresentam à percepção, o que dá a ela uma vocação referencial, ou seja, podemos
extrair do campo visual fotográfico as referências visuais capazes de nos trazer
informações conceituais sobre a época, espaço, forma de apresentação, valores e até
mesmo da hierarquia apresentada. (SANTAELLA, 2001. p. 19). Assim sendo, a
imagem fotográfica representada visualmente, tem uma relação de semelhança direta
com aquilo que representa, o ato oficial, a cerimonia. [Ibid. p.188].
57
Para Pierce (CP 3.326) apud SANTAELLA, 2001, a fotografia é um signo visual
capaz de nos remeter ao momento vivido, a uma experiência perceptiva, através dos
ícones que são representados na mesma. Ícones (signos icônicos) substituem seus
objetos a ponto de serem dificilmente distinguíveis deles.
Assim, ao contemplar uma imagem, há um momento de que perdemos a
consciência de que ela não é a coisa, a distinção entre o real e a cópia desaparece, e
ela é, por aquele momento, um puro sonho – nenhuma existência particular, e não
ainda geral. Nesse momento, o que estamos contemplando é um ícone. (CP 3.362
apud. SANTAELLA, 2001. p. 194).
Sendo assim o interpretante da imagem, a pessoa que a olha, tem nesta, um
rememorar, ou seja, a memória do momento vivido, como se a mesma revivesse de
forma contundente aquele momento.
Se o interpretante não tiver de fato, vivido aquele momento, mesmo assim ao
pegar a foto para observar, saberá do que se trata, e poderá experenciar o momento,
vendo na imagem os ícones representativos existentes que são no caso mostrado
acima, as becas, os capelos, o posicionamento das pessoas e memória sócio cultural
que a mesma possui.
Imagem 6. Análise da Imagem 5 com Riscos do autor
58
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
A centralidade do eixo fotográfico mostra a importância da informação e
composição organizacional, transmitida pelo fotógrafo e percebida inconscientemente
pelo interpretante. A centralidade do ícone, M de Mackenzie, marca da Universidade,
ao centro da fotografia, demonstra a força e grandeza da Instituição que é simbolizada
também em sua cor; a disposição dos alunos separados em proporção, deixando livre
não somente uma passagem central proposital, mas a liberdade visual ao ícone da
Universidade, bem como a disposição das autoridades presentes na parte frontal
demostram a hierarquia de poder estabelecida pelas autoridades e pessoas
presentes.
Todas estas informações são passadas pelo olhar do fotógrafo e assimilada de
forma generalista pelo interpretante pela tendência organizacional própria do ser
humano, fundamento este que rege a Teoria da Gestalt.
Fotos que contenham esta mesma centralidade, devem ser enxergadas com
propósitos similares.
O registro fotográfico proporciona materialidade ao ritual e o historiador por meio
da sua própria construção histórico-cultural-social o decifra. Cada indivíduo irá
compreender realizar esse processo de acordo com o seu referencial, seu capital
cultural. Entretanto, são documentos desveladores.
1.2.3 Paraninfo
Também conhecido como o padrinho da turma, um título atribuído ao indivíduo
escolhido pela turma de formandos de um determinado curso do ensino superior,
normalmente para uma cerimônia de colação de grau. Geralmente um professor da
Universidade que tenha grande destaque no corpo científico dos alunos formandos,
além de despertar carisma entre os membros da turma. O paraninfo tem a importante
missão de servir como um conselheiro para a turma dos alunos que se formam.
Durante o discurso, que é considerado usual para os paraninfos, este tem a
oportunidade de agradecer a honra de ser homenageado com este título e dar um
"último conselho" para os formandos sobre a profissão que irão seguir.
59
É possível ter uma ideia de quanto essa indicação marca na vida do docente.
Acompanhe nas palavras do atual Diretor da Faculdade de Direito da Universidade
Mackenzie, professor Doutor Felipe C. de S. Pinto15.
“[...] Desde a primeira turma até hoje ou eu fui patrono, paraninfo ou professor homenageado. Eu lembro claramente da turma, eu tenho uma memória muito boa assim. [...] os alunos da classe tinham me escolhido como paraninfo da turma. Eu fiquei extremamente emocionado, ainda mais numa Instituição como o Mackenzie, [...] foi a primeira vez que eu lecionei na graduação no Mackenzie, e já na primeira vez ser paraninfo é uma coisa muito importante.” “Mackenzie é uma instituição gigantesca com muitos professores renomados, foi uma emoção que eu nunca mais vou esquecer na minha vida. Eu me lembro como se fosse hoje, eu comecei o meu discurso dizendo: sempre me lembrarei de vocês! Porque Era exatamente esse sentimento que eu tinha naquele momento.”
São os próprios formandos quem escolhem o paraninfo, na maioria das vezes
se utilizam de meio de eleições direta e democrática. (UFRPE, 2015). Nem sempre a
figura do paraninfo foi relacionada com formaturas de colações de grau.
Etimologicamente, este termo surgiu a partir do grego paránymphos, em que para
significa "ao lado" e nymphé quer dizer "noiva", ou seja, antigamente a palavra
paraninfo era utilizada com o sentido de "padrinho ou testemunha de casamento".
Para os gregos, o paraninfo era um amigo do noivo que acompanhava a noiva até a
casa do futuro marido.
Nota-se no registro/fotográfico a utilização do recurso de foco e desfoque para
enfatizar a informação transmitida na imagem, bem como organizar o grau de
importância visual desse contexto. Neste momento da cerimônia, a centralidade da
informação se passava em linguagem oral, pelo professor Doutor Hamid Charaf Bdine
Júnior, que proferia seu discurso. Este ato/instante captado pelo fotógrafo, destaca a
relevância no ritual do personagem/paraninfo.
Se nos reportarmos ao que discutimos anteriormente, o experenciar o momento
registrado, podemos perceber que parece-nos estar presente, prontos para ouvir
discurso já realizado. Temos a sensação de vivermos o grau de satisfação de alunos
e autoridades presentes, quando mesmo que em desfoque, percebemos um
contentamento estampado em seus rostos.
15 Vide página 29.
60
É esta satisfação e celebração presente no cerimonial que instiga o pesquisador
a descrever o ritual e percorrer por diversos registros/documentos de naturezas
diferentes. A satisfação e importância estão na imagem/palavra enquanto linguagem
comunicacional de emoções. Incentivo, passagem de status sociais, elucubração de
um futuro se fazendo presente.
Imagem 7. Prof. Hamid Charaf Bdine Júnior - Paraninfo em 13/07/2017.
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Em se tratando de personagem chave do ritual, simbolicamente no ato, indivíduo
dotado de prestigio, buscou-se nos documentos oficiais da Faculdade de Direito, do
2º semestre 2009 até 2º semestre 2017, os seus paraninfos:
Tabela 04: Paraninfos da Faculdade de Direito, anos de 2009 a 2017.
Data Ano/Conclusão Semestre Paraninfo 14/07/2009 2009 1º Prof. Dr. Roberto Maia Filho 15/07/2009 2009 1º Prof. Dr. Pedro Demercian 12/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Alexis Couto de Brito 13/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Pedro Henrique Demercian 14/07/2010 2010 1º Prof. Dr. José Horácio Cintra Gonçalves Pereira 15/07/2010 2010 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 12/01/2011 2010 2º Prof. Me. Adalberto J. Q. T. de C. Aranha Filho 13/01/2011 2010 2º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 12/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 13/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Paulo Jorge Scartezzini Guimarães 14/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 15/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Orlando Villas Boas Filho 10/01/2012 2011 2º Profa. Ma. Márcia Maria de Barros Correa 11/01/2012 2011 2º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 12/01/2012 2011 2º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 13/01/2012 2011 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior
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11/07/2012 2012 1º Prof. Me. Carlos Eduardo Nicoletti Camillo 12/07/2012 2012 1º Prof. Me. Claudinor Roberto Barbiero 13/07/2012 2012 1º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 17/07/2012 2012 1º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 10/01/2013 2012 2º Prof. Me. Carlos Eduardo Nicoletti Camillo 11/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Milton Paulo de Carvalho Filho 15/01/2013 2012 2º Prof. Me. Marco Polo Levorin 16/01/2013 2012 2º Prof. Me. José Reinaldo Guimarães Carneiro 10/07/2013 2013 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 11/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Eduardo Marcial Ferreira Jardim 12/07/2013 2013 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 16/07/2013 2013 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 01/08/2013 2013 1º Prof. Me. Fabiano Augusto Petean 14/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 15/01/2014 2013 2º Prof. Dr. José Horácio Cintra Gonçalves Pereira 16/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 17/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Manoel Justino Bezerra Filho 20/01/2014 2013 2º Prof. Dr. José Geraldo Romanello Bueno 14/07/2014 2014 1º Prof. Esp. Silmar Fernandes 15/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 16/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 17/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 21/07/2014 2014 1º Prof. Dr. José Geraldo Romanello Bueno 13/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 14/01/2015 2014 2º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 15/01/2015 2014 2º Prof. Me. Marco Polo Levorin 16/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 20/01/2015 2014 2º Prof. Me. Bruno Boris Carlos Croce 14/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 15/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 16/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 17/07/2015 2015 1º Prof. Me. Edmundo Emerson de Medeiros 20/07/2015 2015 1º Prof. Me. Marcos Destefenni 12/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 13/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 14/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 15/01/2016 2015 2º Prof. Me. Edmundo Emerson de Medeiros 18/01/2016 2015 2º Profa. Ma. Maurita Baldin Altino Teodoro 12/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Bruno Cesar Lorencini 13/07/2016 2016 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 14/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 15/07/2016 2016 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 19/07/2016 2016 1º Prof. Me. Bruno Boris Carlos Croce 10/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Fábio Ramazzini Bechara 11/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Diogo Leonardo Machado de Melo 12/01/2017 2016 2º Profa. Dra. Maria Patrícia Vanzolini Figueiredo 13/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Diogo Leonardo Machado de Melo 11/07/2017 2017 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 12/07/2017 2017 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 13/07/2017 2017 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 14/07/2017 2017 1º Prof. Ma. Fernanda Pessanha Do Amaral Gurgel 16/01/2018 2017 2º Profa. Ma. Marcia Maria De Barros Correa 17/01/2018 2017 2º Profa. Me. Adalberto J. Q. T. de C. Aranha Filho 18/01/2018 2017 2º Prof. Me. Alessandro de Oliveira Soares 19/01/2018 2017 2º Profa. Dra. Maria Patrícia Vanzolini Figueiredo
Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.
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Nesses 17 semestres foram 71 Paraninfos, dos quais o Prof. Hamid Charaf Bdine
Júnior liderou o ranking dos mais indicados, com 6 indicações.
Além de ele especificamente representar uma figura forte, o poder de
representação de um paraninfo na colação de grau, coloca em voga os sonhos dos
formandos, quando mostram alguém que conseguiu alcançar seus objetivos
profissionais, pessoais, transmitindo assim confiabilidade no futuro porvir.
1.2.4 Patrono
Similar no que tange as características para escolha do paraninfo, sendo a mais
alta homenagem da solenidade, o patrono é uma personalidade considerada como
referência profissional e/ou pessoal para os formandos. Não necessariamente um
professor da casa, mas alguém que seja inspiração para turma, que tenha alcançado
uma posição de destaque.
Este título é uma honra para o profissional que a recebe como resultado do
reconhecimento do seu trabalho, admirado pela nova geração de profissionais que se
formam. Caso o homenageado da turma seja do sexo feminino, o termo correto é
Patronesse.
Na análise da imagem a seguir, o fotógrafo também se utiliza de recursos de
foco e desfoque para evidenciar graus de importância de informação. Mas notemos
mais dois aspectos que também se fazem presentes em outras fotos, mas merecem
grau de destaque. Primeiramente o fato de que a informação em grau de importância
está focada do lado direito da imagem. Sabendo que a leitura visual da imagem
depende da cultura da qual a mesma se insere, na maioria das culturas o sentido de
leitura é de cima para baixo, da direita para a esquerda LEFFA (1996). Sendo assim,
vemos que o destaque da foto se dá em um ponto ou local, da qual temos uma ‘parada
visual’, ou seja, onde nossos olhos fixam para descansar sobre a informação.
Vemos também que os universitários ainda estão sem o capelo, mostrando em
que momento da cerimônia que este discurso de dá.
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Imagem 8. Prof. Antônio Cecílio Moreira Pires - Patrono em: 15/07/2016
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
De 2º semestre 2009 até 2º semestre 2017, os Patronos da FDir foram:
Tabela 05: Patronos da Faculdade de Direito, anos 2009 a 2017.
Data Ano/Conclusão Semestre Patrono 14/07/2009 2009 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 15/07/2009 2009 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 12/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Alexis Couto de Brito 13/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Alysson Leandro Barbate Mascaro 14/07/2010 2010 1º Prof. Dr. Amador Paes de Almeida 15/07/2010 2010 1º Prof. Dr. Amador Paes de Almeida 12/01/2011 2010 2º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 13/01/2011 2010 2º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 12/07/2011 2011 1º Prof. Me. Edison Carlos Fernandes 13/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 14/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Alexandre de Moraes 15/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 10/01/2012 2011 2º Profa. Ma. Jane Granzoto Torres da Silva 11/01/2012 2011 2º Prof. Me. João Manoel Dos Santos Reigota 12/01/2012 2011 2º Prof. Dr. Alexandre de Moraes 13/01/2012 2011 2º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 11/07/2012 2012 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 12/07/2012 2012 1º Prof. Dr. Fabiano Dolenc Del Masso 13/07/2012 2012 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 17/07/2012 2012 1º Prof. Me. Luiz Fernando Do V. A. Guilherme 10/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 11/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Eduardo Marcial Ferreira Jardim 15/01/2013 2012 2º Prof. Me. Guilherme Madeira Dezem 16/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 10/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto
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11/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Guilherme Madeira Dezem 12/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 16/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Manoel Justino Bezerra Filho 01/08/2013 2013 1º Prof. Me. Lorival Ferreira Dos Santos 14/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 15/01/2014 2013 2º Prof. Me. Paulo Do Amaral Souza 16/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Manoel Justino Bezerra Filho 17/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Luiz Antônio Scavone Junior 20/01/2014 2013 2º Prof. Pablo Francisco Dos Santos 14/07/2014 2014 1º Profa. Dra. Lia Felberg 15/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Alexandre de Moraes 16/07/2014 2014 1º Prof. Me. Marco Polo Levorin 17/07/2014 2014 1º Prof. Me. Ivan Luís Marques da Silva 21/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Antônio Isidoro Piacentin 13/01/2015 2014 2º Prof. Me. Flávio de Leão Bastos Pereira 14/01/2015 2014 2º Profa. Ma. Marcia Maria de Barros Correa 15/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 16/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 20/01/2015 2014 2º Prof. Esp. Gaspar Pereira da Silva Junior 14/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 15/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Guilherme Madeira Dezem 16/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 17/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Nilson de Oliveira Nascimento 20/07/2015 2015 1º Dr. Cassio Modenesi Barbosa 12/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Fabiano Dolenc Del Masso 13/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 14/01/2016 2015 2º Prof. Dr. João Ricardo Brandão Aguirre 15/01/2016 2015 2º Prof. Dr. João Ricardo Brandão Aguirre 18/01/2016 2015 2º Prof. Me. Rodolpho Vannucci 12/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 13/07/2016 2016 1º Profa. Ma. Marcia Maria de Barros Correa 14/07/2016 2016 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 15/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 19/07/2016 2016 1º Prof. Me. Luciano Pereira Vieira 10/01/2017 2016 2º Prof. Me. Adalberto J. Q. T. de C. Aranha Filho 11/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Ciro Ferreira Gomes - Ex-Ministro 12/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 13/01/2017 2016 2º Prof. Me. Marcelo Romão Marineli 11/07/2017 2017 1º Prof. Dr. Bruno Cesar Lorencini 12/07/2017 2017 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 13/07/2017 2017 1º Prof. Me. Alessandro de Oliveira Soares 14/07/2017 2017 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 16/01/2018 2017 2º Prof. Dr. Joao Ricardo Brandao Aguirre 17/01/2018 2017 2º Prof. Dra. Andrea Boari Caraciola 18/01/2018 2017 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 19/01/2018 2017 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Junior
Fonte: Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.
Nesses 17 semestres foram 71 Patronos, dos quais o Prof. Antônio Cecílio
Moreira Pires e Prof. Felipe Chiarello de Souza Pinto lideram o ranking dos mais
indicados, com 5 indicações cada um.
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1.2.5 Mestre de Cerimônias
A profissão foi reconhecida nos séculos XV e XVI, na Europa, onde os grandes
líderes das nações locais necessitavam padronizar os cargos e as hierarquias do
respectivo reinado. Diante da necessidade de precedências perante as pessoas que
os ovacionaram, os reis incumbiram os cerimonialistas de criar uma padronização com
a elaboração e criação de uma linha protocolar do cerimonial. (BOTELHO, 2015)
Nas palavras do Mestre de Cerimônias Sidney Botelho16:
São 17 anos e meio já como Mestre de Cerimônias, comecei justamente com formaturas, quando eu iniciei na área de eventos, modéstia à parte, hoje são nove unidades que eu tenho como mestre oficial, eu sendo o mestre oficial das colações de grau, nas quais eu posso dizer que durante o ano eu chego a ultrapassar a marca de 200 a 220 colações de grau apresentadas. E aí envolve as oficiais e as festivas, mas eu já chego na marca das 5500 colações de grau apresentadas [...]
Imagem 9. Sidney Botelho - Mestre de Cerimônias
Fonte: Imagem concedida por Sidney Botelho
[...] eu estou no Mackenzie há 15 anos e nesse período eu tive uma comemoração de 60 anos da Faculdade de Direito [...] [...] são 15 anos de história, eu ando dentro da Instituição, já vi muitas mudanças de diretorias, coordenações [...] Mesmo não sendo uma pessoa registrada, contratada pelo Mackenzie, me sinto um mackenzista de coração.
16 Em entrevista realizada em 20/04/2018 na SECCA.
66
Então pra mim hoje, a principal estrutura acadêmica do Brasil, eu posso dizer em termos de colação de grau, é a do Mackenzie. [...] no Mackenzie acho que ultrapassa as 1000 colações, passa bem mais. Eu teria que pegar meu banco de dados. Mas eu acredito que passa de 1000.
Abramos um parêntese para estabelecermos um olhar diferenciado sobre a
imagem 09. Tente imaginar uma linha que divide a imagem ao meio na horizontal.
Notemos que na metade de baixo está alocado o conteúdo mais denso, ou seja a
quantidade de informações visuais obtidas na imagem. O Mestre de Cerimônias, os
formandos, o púlpito, e na parte superior somente o logo da universidade, em
destaque, direcionando nosso olhar e atribuindo ao mesmo a mesma intensidade
visual das informações abaixo. Inconscientemente absorvemos a informação de
enorme grau de importância deste local, atribuindo muitas vezes essa semântica às
expressões, como “a Universidade Mackenzie tem um nome de peso! ”
Quando falamos da cerimônia de colação de grau, este profissional tem como
incumbência principal a condução desta solenidade.
“Profissional que conduz – sempre seguindo o roteiro do Cerimonial e o script
que estabelece suas “falas” – as diversas fases do evento, se destaca pela aparência,
postura e voz, ocupando lugar de evidência. ” (MEIRELLES, 2002, p.151).
Estas foram algumas importantes expressões utilizadas neste ato solene, que
são passíveis de esclarecimento, pois dentro do contexto que as abordamos fica mais
claro e explícito, que saber sua origem e conceitos dão-nos outra noção da
importância e do sentido deste cerimonial.
Cabe aqui também levantar que dentro do cerimonial, como já dito, existem
diversos pequenos ritos, cada rito em específico compreende elementos visuais que
conferem ao mesmo, títulos de solenidade, patriotismo, demonstração de seriedade e
passagem ante a sociedade.
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No ritual de Colação de Grau encontramos ações sociais culturais manifestas
pelo poder simbólico, pela simbologia e pelos símbolos. Segundo Bourdieu (1989),
essas ações estão presentes nas relações paternas e maternas (no ato de presenciar
os filhos na cerimônia), nas relações afetivas com os familiares e amigos, com o
universo intelectual e institucional.
As ações estão simbolicamente postas, pela hierarquização social presente no
ato, pela simbologia de receber um canudo com um papel que representa o diploma
e pelo símbolo de sucesso expresso na palavra graduado.
Bourdieu avalia o ato, o cenário e o lugar da celebração como território de
relações e de correlações de forças, onde estão em cenas valores, emoções e ideias.
Apresenta para esta reflexão, o conceito de habitus que constitui-se em um
conhecimento adquirido e uma prática incorporada no agente da ação. (BOURDIEU,
1989, 61). Sob essa perspectiva, o sentir o ritual de colação de grau e o agir dos
docentes e discentes são capacidades constituídas pela cultura objetivada e
subjetividades que abrigam a condição individual e social dos sujeitos envolvidos. O
habitus aqui é trabalhado no sentido de trazer a atitude incorporada dos sujeitos
sociais integrada pelas experiências e vivências passadas. Essas experiências criam
percepções de apreciações no ato da colação de grau, tanto pelos participantes como
pelos familiares e amigos.
Habitus é matriz de percepção, produto da história. (BOURDIEU, 2002, p.83).
Bourdieu (1989), afirma que os rituais fazem parte dos “sistemas simbólicos”,
como instrumentos de comunicação e exercem poder estruturante porque são
estruturados (ibidem).
São inúmeros os símbolos presentes, entre eles elegemos os relacionados à
vestimenta, como a dos formandos e das autoridades acadêmica, as cores das faixas
na cintura do formando e dependendo do curso a cor específica da estola. Os
símbolos nacionais, como a Bandeira e o Hino Nacional, além das palavras.
O símbolo é um elemento, onde nele contém um conteúdo simbólico, ou seja,
tem um valor implícito, um intermediário entre a realidade que nós conhecemos, indo
do consciente e compreensível ao inconsciente. (FRUTGER, 2007, p. 203). Podem
ser abstratos ou figurativos - zoomorfos (animais), representações arquetípicas do
subconsciente, de plantas, formas humanas, objetos, paisagens, decorativos,
pictogramas, sinais da comunidade como brasões, heráldica e vestimentas.
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2.1 Vestimentas
O símbolo vestimenta do ritual de colação de grau é caracterizado por outros
símbolos como a beca, capelo, faixa que envolve a beca e a orla, o anel com pedra
preciosa, e o canudo que o formando ganha ao final da cerimônia.
Cada um destes símbolos visuais tem seus significados, bem como sua
importância visual no cerimonial, compreendendo também a importância que a
visualidade traz ao mesmo.
Para as autoridades acadêmicas, a beca, também chamada de vestes talares,
segundo Garbelotti (2015), tem este nome, pois no latim a palavra talus significa
‘calcanhar’, identificando o comprimento desta vestimenta. Tem sua origem nos trajes
sacerdotais da antiga Roma. Começaram a ser usadas pelas universidades europeias
a partir do século XIII, quando passou a existir a figura do reitor.
Hoje, as vestes talares são usadas por clérigos, juízes, advogados, promotores,
procuradores, reitores, doutores e formandos. Tem em sua simbologia o significado
de poder, solenidade, respeito, erudição, dignidade em geral, posição hierárquica e
destaque (PEREIRA, 2010).
Herança da Universidade de Coimbra, Portugal, as vestes talares dentro das
universidades se subdividem em vestes reitorais, doutoral e professoral.
A veste Reitoral, usada quando o reitor recebe seu cargo, é composta de Beca
preta, que é uma capa preta, podendo ser confeccionada em diversos modelos, sendo
o mais comum, mangas compridas e duplas, tem em sua gola uma espécie de gola
trançada, geralmente em seda e é chamada de torçal com borla pendente; o Capelo,
palavra de origem latina, que significa chapéu, também chamado de pequena capa,
uma túnica que vai até a altura dos cotovelos e fica pendente sobre os ombros. Nas
universidades é a veste superior das autoridades, somente usadas pelos Reitores,
Chanceleres e Doutores; Borla, um chapéu privativo do Reitor e dos Doutores Honoris
Causa, representando um poder temporal e faz uma analogia à coroa real; Jabeaux é
um peitilho, semelhante a um babador, feito em renda, e samarra é um acessório
preso no pescoço, pendendo na frente da beca; Cinto, uma faixa usada na cintura.
O cinto e a borla são usados para o Reitor na cor branca que é exclusiva por
representar todas as áreas de conhecimento. O anel, o colar reitoral e o bastão são
símbolos que nem sempre são utilizados por todas as instituições, mas que tem
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poderes representacionais efetivos, ou seja, uma alusão simbólica ao poder, a
dignidade e ao posto de comando que lhe é conferido, símbolos de distinção, como
podemos ver na imagem abaixo. Esta distinção também é estabelecida na imagem
quando coloca os ícones de representação de poder ao meio da foto, sendo no caso,
o Reitor e o Chanceler da Universidade. Suas vestes formais sociais, abaixo do
aparato representativo, as cores, o posicionamento do corpo de transmite hierarquia
e respeito pela solenidade.
[...] é repleto de símbolos: as bandeiras, os hinos, os símbolos dos cursos, as vestes talares, além dos elementos simbólicos presentes tanto nas solenidades acadêmicas quanto nas formaturas: a imposição do grau, a colocação do anel, a entrega do diploma, o juramento prestado, a escolha do patrono e do paraninfo. Esses elementos não-tangíveis enriquecem a comunicação entre as pessoas, entre os grupos e entre as instituições, sendo um instrumento interativo nos acontecimentos universitários (AZZOLIN, 2010, p. 19).
Imagem 10. Posse do Reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto
17
Fonte: site da Universidade http://portal.mackenzie.br/imprensa/noticias/arquivo/artigo/reitor-da-upm-e-reconduzido-ao-cargo/
17 Chanceler da UMP em 17 de abril, no auditório Ruy Barbosa da UPM, campus Higienópolis, onde declara reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto empossado ao cargo de Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
71
Imagem 11. Da esquerda para a direita: o jabeaux, o capelo reitoral e a samarra.
Fonte: atelierkoning.com
As vestes talares doutorais, concedidas nas solenidades de doutoramento,
inclusive Doutor Honoris Causa, é composta por beca preta, capelo, samarra, jabeaux,
cinto e borla, na cor da área de conhecimento do doutor. (Meirelles, 2002).
Na Imagem 10, posse do Reitor Benedito Guimarães Aguiar, vemos claramente
que o mesmo utiliza, além das vestes, um colar e um anel, ambos simbolizam o poder
instituído. Em alguns casos também se usa um bastão.
E por último, a veste talar professoral, pois é exclusiva para os professores
universitários. Composta de beca preta, com torça e borla pendente, jabeaux e cinto
na cor da área do conhecimento.
Quanto a vestimenta, segundo Garbelotti (2015), grande parte dos símbolos que
integram o Cerimonial Universitário tem se mantido ao longo da história, graças ao
funcionamento dos cerimoniais das Universidades.
Dentro do ambiente acadêmico, as vestes talares ainda não estão normatizadas
na maioria das instituições, fica então em responsabilidade das IES, definir e
configurar as aplicações destas vestes em seus cerimoniais.
Não há regulamentos, normas ou portarias do MEC que disciplinam o Cerimonial
Universitário e o uso e aplicações de seus símbolos, ficando à critério de cada IES
suas definições e aplicações. (MEIRELLES, 2002, pág. 148).
Nos dias atuais em nosso ambiente acadêmico, não é padrão da UPM a
utilização de vestes talares nas cerimônias de colação de grau por parte das
autoridades e professores que compõem a mesa de honra. Estas são usadas somente
pelos discentes que participam da solenidade de colação grau.
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É bom lembrar que a Colação de Grau é um evento social, geralmente sugere-
se o uso de roupas ditas sociais18, com suas diferenciações para homens e mulheres,
ficando à critério dos participantes as escolhas e variações.
Esse tipo de vestimenta é importante até para marcar época, pois o vestuário e
a moda são diretamente ligados à cultura, à posição hierárquica, à época, à profissão
e a solenidades. Também é através da veste ou traje que mostra-se o respeito e a
delicadeza por si mesmo e pelo outro.
Imagem 12. Turma de Direito – 1959 5º Ano A
Fonte: Relatório Anual de 1959 Acervo CHCM Fonte: Relatório Anual de 1959 Acervo CHCM
Imagem 13. Turma de Direito – 2016 traje social - 1
Fonte: Stillo’s – Produções e Eventos Fonte: Stillo’s – Produções e Eventos
18 Segundo Meirelles o traje social são estilos distintos, formal, fino, elaborado, mas sem exigência de gala e rigor. Para homens terno, geralmente escuro, calça, paletó, colete, camisa social clara, gravata, sapatos de cromo ou pelica e meias combinando com sapatos ou tons da calça. Para mulheres há uma maior flexibilidade, mas a discrição é sempre necessária, tanto em transparências quanto em comprimentos. Modelos discretos, sapatos de salto alto e meias finas, estabelecem um padrão social da atualidade. (MEIRELLES, 2002, p. 143-145)
Imagem 13. Turma de Direito – 1959 5º Ano B
Imagem 15. Turma de Direito – 2016 traje social - 2
73
Em 1959, como se vê nas imagens 12 e 13, as primeiras turmas do curso de
Direito. Os formandos se reuniam, em traje social da época, para a foto que ficaria
para a posteridade. Percebemos a diferença no corte das roupas, no comprimento
das saias, nas tonalidades das roupas no geral, inclusive nos ternos, mas permanece
a elegância e o fato de que roupa demonstra reverência e respeito pelo momento.
Para os formandos, seguindo o padrão adotado pela UPM, obrigatoriamente
colocam a beca por cima de suas vestimentas, além do capelo e uma a estola19 em
cor específica, que traz em si referência simbólica visual ao tipo de curso do
formando.
Nota-se que o foco do fotógrafo nas imagens 14 e 15, mesmo sendo de noite, é
estabelecido pela centralidade da luz nos atores principais, que são os formandos,
bem como na centralidade da informação, ou seja, os formandos agrupam-se no
centro da imagem. As duas imagens têm o mesmo aspecto compositivo. Nas moças,
como as roupas são diversificadas, o fotógrafo deixa registrado no canto superior
direito o nome da Universidade e sua logomarca, já nos rapazes o nome da
Universidade não aparece, mas a mesma é representada pelas cores de suas
gravatas. É importante ressaltar o valor das vestimentas que contam a história, o
momento e a temporalidade vivida, o registro histórico visual.
2.2 A Cor
Parte do sistema simbólico artístico compreende a cor como parte de expressão
e fundamentação.
Dentro da academia a cor por seu poder simbólico foi separada em grupos de
especialidades acadêmicas, onde a mesma representa em seu simbolismo a força ou
conceito carregado dentro de determinado curso.
Ela, a cor, tem o poder de comportar-se de maneira diferente, dependendo da
situação a que se expõe, logo seus significados também são alterados.
Alguns exemplos dentro de diversas áreas de estudos podem ser trazidos.
Referenciamos apenas as cores utilizadas nos atos solenes de colação de grau na
UPM.
19 Faixa que envolve o pescoço e tem diferenciação em sua cor dependendo do curso.
74
Imagem 14. Veste talar de formando Mackenzie, com estola verde.
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Neste exemplo vemos um formando com a estola verde. Essa cor é utilizada em
alguns cursos do CCBS - Centro de Ciências Biológica e da Saúde, são esses:
Educação Física, Fisioterapia, Nutrição e Tecnólogo em Gastronomia.
Fato é, que dentro de cada cultura, a cor tem seus símbolos e significados, e
definimos como cor a sensação cromática ante a luz direta e pigmento que a reflete.
Tecnicamente o pigmento chamamos de matiz, ou seja, variedade do comprimento
de onda da luz que é diretamente percebida, refletida, como por exemplo, azul,
amarelo entre outras. (DONDIS, 2003).
Dondis, pesquisadora e estudiosa, observando a reação das pessoas em
relação às cores, nos mostra que elas trazem em si um significado simbólico
oferecendo um grande vocabulário de utilidades para o alfabeto visual, ou seja, uma
informação ou valor informativo que impõe significados, muitas vezes universais que
são compartilhados pela experiência.
A cor é mais que simplesmente um fenômeno ótico e a mesma cor se comporta,
em significados psicológicos diferentes, dependendo da ocasião a que é exposta.
(HELLER, 2013, p.25)
Pedrosa (2002) esclarece que dentro destes significados ditos universais,
existem significados psicológicos de cada cor. O verde por sua vez, tem poder
75
tranquilizante e até sedativo, quando em tom claro, o mesmo contrasta muito bem
com cores mais estimulantes.
Cores como o verde e o amarelo, são cores nacionais, incorporadas na bandeira,
o decreto que a criava informava que o “verde se referenciava à primavera e o amarelo
ao ouro”. Hoje o verde, nos remete também ao significado de florestas e esperança,
mesmo não sendo este o conceito original.
Nestas imagens também existem os elementos das bandeiras, tanto a do Brasil,
nossa nação, quanto a do Estado em que estas fotos foram tiradas, no caso, Estado
de São Paulo. Isso tem seu propósito, as bandeiras têm um papel importante como
representantes de determinado povo, sociedade ou local. Existe aqui embutido o valor
do pertencimento, do fazer parte desta sociedade, desta nação. Um patriotismo
designado pela composição visual.
A autora Heller (2013), também nos traz conceitos sobre diversos significados
da cor verde como fertilidade, saúde, vida e frescor.
Imagem 15. Veste talar de formando Mackenzie, com estola azul.
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
A cor azul é usada para a maioria dos cursos da casa. Os cursos que a
contemplam são; Dentro da EE - Escola de Engenharia: Civil, Engenharia de
Materiais, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica e Química; Na FCI -
Faculdade de Computação e informática: Sistemas de Informação, Ciência da
76
Computação, Matemática e Tecnologia Análise e Desenvolvimento de Sistemas; na
FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo: Arquitetura e Urbanismo, Design; no
CEFT - Centro de Educação, Filosofia e Teologia: a cor azul é usada para os cursos
de Filosofia e Pedagogia; no CCBS - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde:
Ciências Biológicas e Psicologia; no CCSA - Centro de ciências Sociais e Aplicadas:
Administração, Comércio Exterior, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas; e por
fim no CCL - Centro de Comunicação e Letras: cursos de Publicidade e Propaganda,
Jornalismo.
De forma bem clara, o azul parece-nos ser a cor predileta, isso também é
ratificado por Heller (2013), que em seu estudo nos mostra a grande aceitação por
parte da população à esta, que é a cor da harmonia, da simpatia e da fidelidade. Cor
que se referencia ao divino e cor das virtudes intelectuais. Até mesmo antes que a cor
do ouro, o azul é referenciado ao mérito, portanto mais importante que a recompensa
é a honra (p. 83).
Imagem 16. Veste talar de formando Mackenzie, com estola amarela.
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
A cor amarela é usada em somente um curso da UPM, sendo este dentro do
CCBS, o curso de Farmácia.
Dá ao curso um “tom” de exclusividade, mas o fato é que muitas dessas cores,
são padronizadas pelos órgãos das classes, como é o caso. Segundo o Conselho
77
Federal de Farmácia RESOLUÇÃO Nº 471, de 28 de fevereiro de 2008, aprova o
regulamento sobre os símbolos oficiais dos farmacêuticos. Ainda esta Resolução
descreve a escolha da cor por esta simbolizar saúde, perseverança, naturalidade,
limpeza, juventude e natureza. Cor que estimula equilíbrio e cura.
Imagem 19. Veste talar de formando Mackenzie, com estola vermelha.
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Por último e mais relevante para o contexto que abordamos, a cor vermelha.
Também de uso exclusivo ao único curso da UPM, para utilização desta cor na estola,
esta cor é utilizada por regulamentação dos órgãos de classe, e sua justificativa pode
ser encontrada no site do Supremo Tribunal Federal que simbolicamente referencia à
cor da pedra preciosa Rubi.
O Direito assegura a vida e a liberdade, por isto o anel de bacharel é o rubi vermelho, que é a cor do sangue e a cor da vida. O rubi é a pedra simbólica do bacharel em Direito, o seu simbolismo representa a vida, a segurança e a paz, já o vermelho representa o sol, o sangue, o amor do direito pela humanidade e pela paz. (www.stf.jus.br, acesso em 04/11/2017)
Pedrosa (2002) afirma ser o vermelho a mais importante das cores para muitos
povos, por ser a mais intimamente ligada ao princípio da vida, cor do sangue e do
fogo. Também usada nos anéis dos advogados por evocar os ‘litígios e muitas vezes
78
sangramentos’ relacionados aos seus estudos, acusações, defesas e julgamentos.
(p.4).
Dentro da parte simbólica onde as cores foram inseridas, e consideremos
também artisticamente, os símbolos nacionais. Temos as bandeiras.
Pelo foco inserido nesta pesquisa, não adentraremos na composição heráldica
da formação das bandeiras e cores utilizadas nelas, apesar de em alguns momentos
até citá-las, mas consideremos sua forma de símbolo solene, sua importância
compositiva, graus de prioridades e destaque dentro deste ritual.
2.3 Símbolos Nacionais
Sobre os símbolos Nacionais Bandeira e hino, o historiador José Murilo de
Carvalho, em seu livro A formação das Almas, apresenta o peso desses símbolos
igualando-os às demais simbologias. Apresenta na definição do hino e da bandeira
nacional oficial para a República, a influência francesa na cultura brasileira do século
XIX.
Até os acontecimentos de 15 de novembro não havia uma bandeira própria, bem
como um hino nacional, então, cantava-se o hino francês a Marselhesa. Antes da
proclamação, inúmeras foram as tentativas da criação de tanto de um hino como a
adoção de uma bandeira, no entanto não foram utilizadas. Uma bandeira seria levada
às ruas pelos republicanos no dia 15. Nela, foram conservadas as faixas horizontais,
as cores verde e amarela da bandeira imperial. “O quadrilátero [...] era de fundo negro
para homenagear a raça negra. As estrelas foram bordadas em miçangas brancas”.
Esta bandeira não foi aceita, então os positivistas se encarregaram de produzir outra.
“Tomaram então a bandeira imperial, conservaram o fundo verde, o losango amarelo e a esfera azul. Retiraram da calota os emblemas imperiais: a esfera armilar, a coroa, os ramos de café e tabaco. As estrelas que circulavam a esfera foram transferidas para dentro da calota. A principal inovação, a que gerou maior polêmica, a que ainda causa resistência, foi a introdução da divisa “Ordem e Progresso” em uma faixa que, representando o zodíaco, cruzava a esfera em sentido descendente da esquerda para a direita” (CARVALHO, 1990, pp. 112 e 113)
A aceitação da bandeira, especialmente entre os intelectuais da República, não
foi pacífica, mas, foi aceita e até os dias de hoje perdura.
79
Mais do que a batalha da bandeira, a do hino nacional significou uma vitória da tradição, pode-se mesmo dizer uma vitória popular, talvez a única intervenção vitoriosa do povo na implantação do novo regime. (CARVALHO, 1990, p. 122)
Até aquele momento nos movimentos da República, ou seja, em todas as
manifestações, era cantado a Marselhesa, além de ser o hino francês, mas como o
hino dos revolucionários de todos os países, pois não havia um hino brasileiro que
transmitisse o espírito republicano. Silva Jardim tentou encontrar uma letra para
adapta-la à música da Marselhesa. A Marselhesa, hino francês, era conhecida pelos
republicanos até a consolidação do hino oficial.
A bandeira tricolor francesa trazia peso simbólico, assim Décio Villares ao
desenhar a bandeira nacional brasileira, com indicações positivistas de “Ordem e
progresso”, e com a representatividade nas cores e estrelas, mantém o tricolor pelas
cores verde, amarelo e azul.
José Murilo de Carvalho descreve a simbologia do hino e da bandeira, o impacto
desses símbolos da nação na construção de mitos e heróis da república.
Os símbolos Nacionais são regulamentados na Lei nº 5.700, de 01 de setembro
de 1971, e suas alterações constantes na Lei nº 8.421, de 11 de maio de 1992. Estes
são definidos no artigo 13 da Constituição federal de 5 de outubro de 1998 em seu
Parágrafo primeiro:
São símbolos perenes do Brasil: A Bandeira Nacional, o Hino Nacional, As
Armas Nacionais e o Selo Nacional.
No rito de colação de grau, os símbolos nacionais utilizados são a Bandeira
nacional e o Hino Nacional.
Segundo Meirelles (2002) a Bandeira Nacional ocupa lugar de honra, sendo
colocada no centro ou à direita do ponto central quando alinhada com outras
bandeiras. Destacada à frente de outras bandeiras quando conduzida em formaturas
ou desfiles.
Nas palavras Subchefe do Cerimonial Ministério das Relações Exteriores -
Itamaraty Diplomata Sr. Alan Coelho de Séllos20:
[...] bandeira nacional representa o pais, ao mesmo tempo, o país como Estado, como Governo, como entidade de direito internacional público, do conserto das nações, representa a nacionalidade, o povo brasileiro.
20 Entrevista realizada por telefone em 10/04/2018
80
Ao reverenciar a bandeira nacional, de uma certa forma, está prestando ali uma homenagem ao país, também em sentido do patriotismo, é um sentimento universal, é um ícone onde todas as pessoas, em todas as partes do mundo tem esse vínculo afetivo e também de história, de tradição, de pertencimento a um país, a uma região, a sua terra, a sua nação [...]
Ela é utilizada pela demonstração de respeito, de reverência, união e
devotamento para com a nossa pátria, devendo estar presentes em todos os atos
solenes.
O Hino Nacional, assim como a Bandeira é um símbolo de igual importância,
portanto não há hierarquia ou precedência entre eles, pois estão inclusos na mesma
lei.
Algo que se tem observado em alguns atos solenes, é referenciar a Bandeira
Nacional enquanto o Hino Nacional está sendo entoado. Quando se executa o Hino
Nacional, é um momento em que se presta uma homenagem à Pátria, legitimamente
representada pelas autoridades e público presente.
O fato de não voltar-se para a bandeira, não se configura desrespeito.
[...] não há desrespeito em não se voltar necessariamente para a bandeira, ela é um dos elementos representativos da nacionalidade, assim como hino [...] posso lhe garantir que não há nenhum desrespeito [...] Temos que ter uma certa naturalidade em relação aos símbolos, sem o fanatismo exagerado. [...] o verde não tem nada a ver com os campos e o amarelo como o ouro.21 (SÉLLOS, 2018)
Não há sentido, em que o público se volte para bandeira, no momento em que o
hino é executado.
O Brasão e as Armas, símbolos de igual importância, não são utilizados na
colação de grau, geralmente estes são utilizados em atos solenes militares.
Não contemplados na lei, mas também importantes, são as demais bandeiras
que utilizamos na colação.
Outro símbolo oficial utilizado na solenidade de colação de grau é a Bandeira do
Estado, no caso da Unidade São Paulo, a bandeira do Estado de São Paulo. Seu
criador, Júlio Ribeiro, a descreveu da seguinte maneira:
21 Subchefe do Cerimonial Ministério das Relações Exteriores - Itamaraty Diplomata Sr. Alan Coelho de Séllos em 10/04/2018.
81
“A Bandeira simboliza de modo perfeito a gênese do povo brasileiro, as três raças de que ele se compõe – branca, preta e vermelha. As quatro estrelas a rodear um globo, em que se vê o perfil geográfico do país, representam o Cruzeiro do Sul, a constelação indicadora da nossa latitude astral...” (MEIRELLES, 2002, p.176)
Fica à direita da Bandeira Nacional, quando forem números ímpares de
bandeiras e à esquerda, quando compostas em números pares, dividindo com esta o
centro da composição.
A terceira bandeira utilizada é a da Igreja Presbiteriana do Brasil, associada
vitalícia do Instituto Presbiteriano Mackenzie, o mantenedor da Universidade.
Por fim, a Bandeira da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Imagem 20. Apresentação das bandeiras na solenidade de Colação de grau
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
2.4 A Importância da Palavra
A Palavra como parte simbólica em uma colação de grau, é usada de maneira
específica, tanto pelos formandos no ato do Juramento, como pelos docentes nas
82
formas de tratativas. Abaixo, informações de como e quando é utilizada e a quem é
direcionada.
Imagem 21. Ato do Juramento, ano de 2016
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Os documentos fotográficos mostram o Juramento, que segundo o autor
Agamben (2011) é manifestado na cultura ocidental, com a propagação do
cristianismo. Ele entra na história como forma de pactos, onde as palavras têm um
peso capaz de determinar ou não crises políticas. Na época o juramento tinha um
relevante significado, ou seja, aquilo que se jurava era um compromisso firmado, mas
com o passar dos tempos perdeu seu peso, seu valor. O autor ainda afirma, baseando-
se nos estudos de Prodi, que não existe um momento específico na história da religião,
na história do Direito ou na história da linguística o surgimento do juramento.
O juramento não cria, mas estabelece uma coerência da paz política entre
indivíduos que pensam de maneira diferente. E dentro do Direito, segundo o autor,
não deve ser considerado como medo, mas de fato como uma afirmação religiosa: o
que prometeste solenemente, como se Deus fosse testemunha disso, é o que deve
ser mantido. (AGAMBEN, 2011 p.11)
[O juramento] é uma modalidade particular de asserção, que apoia, garante, demonstra, mas não fundamenta nada. Individual ou coletivo, o juramento só
83
existe em virtude daquilo que reforça e torna solene: pacto, empenho, declaração. Ele prepara ou conclui um ato de palavra que só possui um conteúdo significante, mas por si mesmo não enuncia nada. Na verdade é um rito oral, frequentemente completado por um rito manual, cuja forma é variável. E a sua função não reside na afirmação que produz, mas na relação que institui entre a palavra pronunciada e a potência invocada (AGAMBEN, 2011 p. 12 apud BENVENISTE 1948, pp.81-82).
Destarte, o juramento é um ato linguístico destinado a confirmar aquilo que se
propõe de maneira significante, garantindo sua verdade ou sua efetividade. Em
relação à natureza verbal, por vezes acompanhado por gestos, como é o caso do
juramento na solenidade de colação de grau, quando se ergue o braço direito, ele
pode ser assertório (referindo-se ao passado) ou promissório, (referindo-se a um ato
futuro). Na cerimônia referida, é um ato promissório.
Colocando o juramento, ao mesmo tempo como um rito político e religioso,
podemos supor que esse termo, se tornará inteligível unicamente se o situarmos numa
perspectiva na qual ele põe em questão a própria natureza do homem como ser
falante e como animal político. Na colação de grau, este rito oral, é o mais sublime
dos ritos dentro do cerimonial, onde os formandos se comprometem diante da
Universidade e sociedade como ser político, cumprir e fazer cumprir os princípios
éticos a que jura.
Nas palavras de um de nossos entrevistados, o Eng. Nelson Callegari22 Assessor
da Reitoria da UPM temos:
“No momento em que o aluno vai fazer o compromisso, a gente fala, especialmente pra quem vai puxar o compromisso... Você está assumindo um compromisso diante da sociedade! Essa sociedade está sendo representada por essa plateia que está aí! Você deve fazer esse compromisso, fitando esta sociedade representada aí […]” “A Colação de Grau se configura com o compromisso e com a outorga do grau, [...] o compromisso tem que sair lá de dentro do indivíduo e nem todos conseguem fazer isso. Mas pra mim a Colação de Grau é o compromisso que o aluno deve assumir perante a sociedade.”
Para a maioria dos cursos, utiliza-se o Compromisso Universal, como segue:
Na presença de Deus, diante da Universidade e da Sociedade, comprometo-me, solenemente, manter os princípios da Ética, respeitar o ser humano e a natureza, cumprir e fazer cumprir as leis brasileiras, mantendo a dignidade o quanto permitam minhas forças. Compromisso assumido, peço a Colação de Grau a que faço jus. (SECCA, 2017)
22 Vide página 29.
84
Imagem 22. Juramento proferido diante de todos os presentes
Fonte: Stillo’s - Eventos e Produções
A fotografia mostra o momento exato do juramento sendo proferido, e num olhar
mais atento, percebemos a noção de respeito estabelecida pelas autoridades
presentes, a universidade representada inconscientemente muitas vezes, nas
gravatas das autoridades presentes através de suas cores, os formandos que
participam da solenidade sem colocar o capelo para mostrar um respeito, o foco de
luz estabelecido na centralidade e apesar de os juramentistas estarem no canto da
foto, a luz é mais presente neles do que quem está assistindo ao fundo.
Em uma solenidade de colação de grau, ordinariamente com a presença de
autoridades, é necessário estar atento ao modo de tratamento. Atrelado ao cargo, há
diferentes pronomes de tratamento que obedecem a tradição, são de uso consagrado,
especialmente no Brasil, seguem o que determina o Decreto nº468, de 5 de março de
1992 revogado pelos Decretos nº 1937/96, 2954/99 e 4176 de 28 de março de 2002.
Para as Universidades, definido conforme tabela:
Tabela 06: Vocativos utilizados para referenciar pessoas conforme cargos e funções
Cargo ou Função Vocativo
85
Reitor
Magnífico Reitor
ou
Excelentíssimo Senhor Reitor
Chanceler (maior autoridade da Mantenedora) Excelentíssimo Senhor Chanceler
Vice-Reitor Excelentíssimo Senhor Vice-Reitor
Pres. dos Conselhos Superiores ou Conselhos
Específicos Senhor + cargo
Pró-reitores, Superintendente ou Diretor de Campus Senhor + cargo
Diretores de Centros, Faculdades e Institutos Senhor + cargo
Chefes do Departamento Senhor + cargo
Professores Senhor / Senhora
Fonte: Meirelles 2002, página 101.
Uma outra tratativa que costuma causar desconhecimento, é a palavra doutor,
pois como falamos diretamente dos advogados, essa é uma tratativa utilizada para se
referir a muitos.
Há muitas pessoas que usam a palavra ‘doutor’ para se referir a um bacharel em
Direito, vamos explicar aqui, amparado pelos ensinamentos do jurista Tura (2009) e
do advogado Pinho (2014), que esta é uma tratativa de grande polêmica, até mesmo
entre os advogados.
CARDELLA, (1986), escritor de direito, baseia-se na história para afirmar que tal
titulação seria por direito e tradição de uso dos advogados.
“...no século XII se tem notícia do uso da honraria atribuído a grandes filósofos… Pelas Universidades, o título só foi outorgado pela primeira vez a um advogado, que passou a ostentar o título Doctor Legum em Bolonha ao lado dos Doctores És Loix, somente dados àqueles versados na Ciência do Direito. Tempos depois, a Universidade de Paris passou a conceder a honraria somente aos diplomados em Direito, chamando-os de Doctoris Canonum Et Decretalium.” (CARDELLA, 1986, p.5)
Seguindo a história, afirma-se também que, aqui no Brasil, esta honraria teria
sido concedida por um alvará régio, editado por Dona Maria I, a Pia, de Portugal,
concedendo aos bacharéis em Direito o título de Doutores. No entanto Tura (2009),
nos dá outro panorama acerca desta honraria.
Ele nos mostra em seu artigo que o termo é usado de forma errônea, pois o “tal
alvará jamais existiu”, e a Constituição de 1824 pode ser consultado hoje por qualquer
pessoa pela internet, verificando-se que não há nela qualquer tipo de alvará. Além
disso, a senhora Maria I, a Pia, não podia editar ato jurídico válido, e com o advento
86
da República caíram todos os modos de tratamento em desacordo com o princípio
republicano da vedação do privilégio de casta.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se pronunciou muitas vezes sobre o
tema nos Processos de números E-3652/2008, que estabelece princípios éticos da
profissão pela não utilização da palavra doutor em propaganda política; E-3.221/2005,
que faz menção específica ao tratamento doutor, da qual diz que mesmo não
constituindo infração a ética, não é aconselhado o uso da palavra doutor sem tal
titulação; E-2.573/02, este processo veda a utilização correta da palavra doutor até
mesmo para estudantes e estagiários de direito; E-2067/99 não devendo exigir o
tratamento de doutor como se possuísse titulação para tal; E-1.815/98 que rege sobre
a ética da utilização dos símbolos em balança e beca, sendo estes oficiais para o uso
do advogado.
Dado o exposto, o fato é que se tem o hábito de chamar os Bacharéis de Direito
de Doutores. Vemos que existe uma questão histórica e costumeira, justamente por
isso, Pinho (2014), defende que em todo levantamento histórico há hábitos da
população e os advogados são donos da titulação por direito e tradição, atestando
que esta titulação não se refere à titulação de mesmo nome dada aos que conferem
grau de Doutorado, mas sim uma honra conferida aos doutos em leis.
Portanto, chamar um advogado de doutor não é uma obrigação e nem
merecimento acadêmico, mas sim uma tradição.
2.5 A Colação de Grau como cerimonial
2.5.1 A organização
Chega um determinado momento em que se constata que o fim da jornada
acadêmica se aproxima. É necessário pensar, como se dará o encerramento desse
ciclo universitário, especialmente a colação de grau. Após um longo convívio com os
demais colegas, ao longo de, no mínimo 5 anos, esta solenidade oficial, deve ser algo
marcante para todos formandos e familiares.
Com base nas recomendações definidas pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Ordem Interna nº 65 de 2003, os Representantes de Classe devem
87
conduzir todo o processo para indicação dos homenageados. É possível a indicação
de um Patrono, um Paraninfo e um Professor Homenageado para cada turma.
Todas as informações são disponibilizadas aos representantes, através do
departamento de Colação de Grau, incluindo o prazo para as indicações.
Os nomes indicados, por vezes geram alguns descontentamentos entre os
formandos, afinal, não há como agradar a todos. Neste caso, com o auxílio do Depto.
de Colação de Grau, é possível chegar a um comum acordo.
Este Departamento é alocado no setor administrativo da UPM, que ao longo da
história passou por algumas mudanças. Até o ano de 2014 era denominado Secretaria
Geral. De 4/2014 a 6/2017 seu nome foi alterado para CPCA - Coordenadoria de
Processos e Controle Acadêmico e, a partir de 7/2017 até o momento, é chamado de
SECCA - Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico.
Imagem 23. Saudação e Leitura da Ata pelo Secretário da SECCA
23
Fonte: Stillo’s - Eventos e Produções
Não bastasse ser um requisito obrigatório para a efetiva "integralização" do curso e, neste sentido, parte integrante da educação superior no nível de graduação, trata-se de cerimônia singular, na qual se dá, simbolicamente, o fechamento de um ciclo de formação, que, no caso brasileiro, é cumprido por percentual bastante limitado da população. Ainda que alguns(mas) tendam a considerá-la na perspectiva de uma festa (por vezes sem muita seriedade), gosto de pensar como "cerimônia", "solenidade", de significado único porque
23 Momento em que Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico, Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida faz a sua Saudação e Leitura da Ata.
88
marca, literalmente, o encerramento da jornada de um curso de graduação. Isto, de forma alguma, deve ser entendido como inibidor de alguma informalidade e "leveza", sem as quais as próprias emoções poderiam ficar inibidas. (ALMEIDA, C, 2018)
Uma vez que as indicações de patrono, paraninfo e professores homenageados
foram feitas, o Departamento de Colação de Grau faz a compilação dos dados e
formaliza o convite através de e-mail. Este convite é direcionado às Unidades
Universitárias, que por sua vez são responsáveis em confirmar a participação dos
convidados.
Em se tratando de uma solenidade oficial, é de fundamental importância,
envolver os discentes quanto a todas as informações, que por sua vez são
disponibilizadas página da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Atendimento ao
aluno, Colação de Grau: http://www.mackenzie.com.br/colacao_grau.html,
especialmente no que se diz respeito aos que estão ou não , aptos a participar desta
Cerimônia de Colação de Grau.
Para tanto, são publicadas as seguintes listas:
● LPF - Lista de Prováveis Formandos é a relação de alunos que aparentam
reunir as condições para conclusão do curso no semestre. É uma lista preliminar na
qual podem ocorrer inclusões ou exclusões de alunos. Nessa lista a identificação
ocorre pelo código do estudante, não havendo a publicação dos nomes para
preservação da privacidade dos alunos;
● LF - Lista de Formandos publicada três dias antes da CGP - Colação de Grau
Principal24, onde constam os alunos que lograram aprovação em todos os
componentes curriculares e que cumpriram com êxito as demais atividades exigidas
pelo Projeto Pedagógico de seu Curso. Nessa lista a identificação ocorre pelo código
do estudante, não havendo a publicação dos nomes para preservação da privacidade
dos alunos;
● LNF (Lista de Não Formandos) também publicada três dias antes da CGP,
onde constam alunos com pendência acadêmica que constavam da LPF, mas que
24 Solenidade oficial e solene, revestida de pompa e circunstância, que ocorre semestralmente: Formandos no 2º semestre: janeiro e fevereiro do ano subsequente. Formandos no 1º semestre: julho e agosto do mesmo ano. Local de realização: Auditório interno da UPM (exceção ao Curso de Direito Campinas). Disponível em: < http://www.mackenzie.com.br/29829.html> Acesso em: 06/05/2018.
89
não lograram aprovação em todos os componentes curriculares e ou que não
cumpriram com êxito qualquer das demais atividades exigidas pelo Projeto
Pedagógico de seu Curso. Nessa lista a identificação ocorre pelo código do estudante,
não havendo a publicação dos nomes para preservação da privacidade dos alunos.
Todas as publicações são acompanhadas de comunicados, encaminhados para
o endereço eletrônico, conforme o cadastro de cada discente.
Para os discentes que estão na condição de PF - Provável Formando, lhes é
concedido a possibilidade de retirar um “convite”, em um prazo previamente
estipulado. Este convite, nada mais é, do que uma lembrança, constam as
informações como turma, data, horário e local onde se realizará a solenidade, não
sendo necessário a sua apresentação, pois em se tratando de uma cerimônia pública,
a entrada é franca.
2.5.2 O Evento:
Roteiro | Cerimônia de Colação de Grau Principal (CGP) - curso de Direito
• Abertura | Mestre de Cerimônias
Como toda solenidade, é feita a abertura inicial com as palavras do Mestre de
Cerimônias que, de maneira elegante e com formalidade, da às boas-vindas aos
participantes e anuncia o tipo de evento, nome da Instituição e a turma de formandos.
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Imagem 24. Mesa de Honra composta pelas autoridades
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
• Composição da Mesa de Honra
O documento fotografia apresenta a Composição da Mesa de Honra. Este é o
momento em que são anunciados, todos que irão compor a mesa de honra,
respeitando a ordem de precedência, o Mestre de Cerimônias anuncia o nome
completo e a respectiva titularidade acadêmica do Diretor, Coordenador e
Professores. No caso dos homenageados, se eventualmente for um convidado
especial, que não seja necessariamente da academia, anuncia-se apenas o nome e
seu vínculo. Geralmente a cerimônia é presidida pelo Diretor da Unidade Universitária,
por delegação do Magnífico Reitor da Universidade que, estando presente,
automaticamente preside a solenidade.
Na imagem podemos notar a aplicação das cores luz, das quais o fotógrafo
registra com maestria. A cor azul é cor complementar da vermelha na teoria das cores,
o que faz dar um destaque ainda maior para as cores vermelhas inerentes à instituição
como o logo, que está diretamente relacionado aos canudos, às flores e até mesmo
nas gravatas de algumas das autoridades.
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Imagem 25. Exemplo Composição da Mesa de Honra
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
1º Diretor da Faculdade de Direito
2º Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico
3º Capelão da Universidade Presbiteriana Mackenzie (representada o
Chanceler)
4º Coordenador do curso de Direito
5º Patrono da Faculdade de Direito
6º Paraninfo do curso de Direito
7º Professores Homenageados da Faculdade de Direito
8º Entrada dos Formandos
Um momento muito esperado pelos formandos, familiares e amigos, a entrada
triunfal das pessoas mais aguardadas da cerimônia, o motivo maior desse encontro.
Por um lado, no que tange a parte organizacional, a esperança e convicção de
proporcionar não mais uma cerimônia, mas um evento marcante para os que ali estão,
e por outro, um misto de emoções e sensações por mais conquista de primordial
importância.
[...] pra nós que trabalhamos na Instituição é sempre a mesma coisa, mas nós sempre tivemos um cuidado muito especial. Pro aluno, talvez seja a
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única, e nós devemos respeitar. [...] pro aluno e a sua família é algo muito importante. (CALLEGARI25, 2018) [...] Um momento que me emociona é quando eles olham para os pais, e uma coisa interessante[...] eu vejo na formatura que o aluno sobe ali no palco a primeira coisa que ele procura é o pai e a mãe. E ele fica ali olhando… olhando e procurando e ele só sente a segurança quando encontra o familiar. Ele olha no olho... eles fazem aquele contato, porque o familiar em poucos segundos já sabe onde o filho ou filha está ... ou sobrinho ou afilhado, o marido a esposa. [...] o nosso auditório é grande, eu percebo o aluno assim, esticando o pescoço, e eu vejo que o olhar muda... eu estou com alguém que me ama ali. (PINTO26, 2018.)
• Abertura Oficial pelo presidente da Cerimônia
Após entrada triunfal dos formandos, é anunciado pelo Mestre de Cerimônias,
aquele que presidirá a Cerimônia, que por sua vez, após uma breve saudação a todos,
declara aberta a Cerimônia de Colação de Grau Principal, sendo uma das
possibilidades: “Declaro aberta a Cerimônia Oficial de Colação de Grau Principal, dos
formandos do 2º semestre de 2017, do curso de Direito, da Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie”.
Imagem 26. Abertura da Cerimônia de Colação de Grau Principal
27
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
25 Vide página 29.
26 Idem 25.
27 Momento em que o presidente da Cerimônia Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto faz a abertura
oficial da Cerimônia de Colação de Grau Principal.
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• Hino Nacional Brasileiro
Imagem 27. Em pé e em uníssono, todos entoando o Hino Nacional Brasileiro.
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Imagem 28. 1ª Tuma da Faculdade de Direito
28
Fonte: Relatório Anual de 1959 - Acervo CHCM
28 Pela análise das pessoas retratadas foto 28, principalmente pela postura do oficial militar presente à mesa, podemos inferir que seja o momento da execução do Hino Nacional.
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Em todas as Colações de Grau Principais, se canta o Hino Nacional Brasileiro,
um dos quatro símbolos nacionais; neste momento solene, se faz uma homenagem à
Pátria. Em uma atitude de respeito, todos se posicionam em pé e o entoa a uma só
voz.
• Reflexão Bíblica
Imagem 29. Reflexão Bíblica
29
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Nas palavras do Rev. Dr. José Carlos Piacente Júnior:
Para mim é um sentimento duplo. Primeiramente é uma honra. O pastor fala em nome de Deus e dá conselhos e orientação bíblica para os egressos, visando ao bom desempenho e sucesso na carreira profissional. Segundo é o dever cumprido, pois cabe ao Mackenzie o dever de afirmar sua Identidade Institucional em cada momento, perante alunos, professores, colaboradores e familiares. Portanto a reflexão é a ocasião que une honra e dever. (07/05/2018)
A reflexão bíblica é o primeiro momento da solenidade, em que se faz o uso da
palavra, um discurso realizado pelo Capelão Universitário, pastor da IPB (Igreja
29 Reflexão Bíblica, realizada pelo Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Capelão Universitário e
Assessor do Chanceler Rev. Dr. José Carlos Piacente Júnior.
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Presbiteriana do Brasil), que neste ato representa a Chancelaria da Universidade. O
reverendo faz uma reflexão com base em um texto bíblico e por fim, agradece a Deus
pela vida e vitória dos formandos e familiares, reconhecendo a soberania dEle, sobre
tudo e todos. Finalizando esse ato, é feita uma oração, rogando as bênçãos de Deus
sobre a Universidade, os novos profissionais e familiares.
“[...] fomos talvez o maior incentivador de colocar a devocional... dentro do ritual, do cerimonial de Colação de Grau. Inicialmente ela tinha um condão de acalmar a plateia. Naquele momento em que a gente não tinha a cultura, da seriedade, etc. etc. [...] a devocional, quando o pastor chegava e falava, colocava as palavras, quais fossem [...] mas sempre dirigida, começa a plateia e os próprios alunos, até hoje isso acontece tá, perceberem do tom da cerimônia, tá. Você percebe hoje, que alguns grupos agitados, depois da devocional, esta agitação some. (CALLEGARI, 2018)30 [...] A gente usou a devocional, até pra isso tá. Evidentemente que o sentido da devocional é o sentido de demonstrar a confessionalidade da Instituição, tá, sem nenhum proselitismo religioso mas, uma palavra de religiosidade” (CALLEGARI, 2018)31
Como dito nas palavras do Sr. Nelson Callegari, a UPM é uma Instituição
confessional, portanto, antes de qualquer programação há um momento devocional,
no qual Deus é exaltado pela sua grandeza, seu cuidado, por fim, deixando claro que
é Ele quem dirige todos os trabalhos.
Uma foto com traços muito similar a esta foi apresentada na Imagem 7. A
composição visual com recurso de foco e desfoque, o parecer início de uma fala e a
vontade de estarmos prestes a escutar a voz do Rev. Dr. José Piacente Júnior32. Os
olhares que são voltados para ele e as cores que permeiam nosso pensamento
sabendo que aquela tonalidade de vermelho se refere á Instituição.
2.5.3 Discursos
A preocupação com os discursos não é somente por que faz parte do ritual de
colação de grau, mas também por que é interdisciplinar, percorrendo, a História da
Cultura, a Antropologia, a Sociologia, a Teoria da Comunicação e Psicologia Social.
30 Vide página 29.
31 Idem 30.
32 Vide página 95.
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Nesta pesquisa visa ressaltar os aspectos presentes no ritual e sua natureza
simbólica.
Ibañez (1989, p. 118), diz que os sujeitos sociais se constituem a partir da
construção de significados compartilhados social, cultural e historicamente situado.
Assim, ao falarmos do discurso na colação de grau, devemos destacar que há
um tempo pré-estabelecido, geralmente de 3 a 5 minutos, para que a solenidade
ganhe ritmo, e não se torne algo cansativo.
A gente busca, sempre buscou fazer a Colação de Grau algo mais compacto [...] olha o senhor orador, senhor patrono, senhor paraninfo... por gentileza não estique a sua fala. A gente sempre recomenda fale em torno 5 minutos, dizendo que até 8 ou 9 é um número muito razoável. Efetivamente a experiência que nós temos, mercê desses 7000 discursos ouvidos ao longo deste período, a gente sabe que até 8 minutos a plateia fica muito atenta, a não ser, para passar desse número, tem que ser muito bom orador... (CALLEGARI, 2018)
Alguma de muitas experiências vividas pelo senhor Almiro Joaquim de Oliveira33,
(Miro), que participou desde a 1ª Colação de Grau em 08/10/1959 e tem participado
até os dias de hoje, não foram muito boas.
Uma parte que eu não gostei, tinha uma vez, tinha uma professora que esqueci o nome dela, [...] ela começou a falar e não parava de falar mais... acabando a formatura, meia-noite e ela não parava de falar... Dulce Sales do Cunha Braga, [...] ela era aluna aqui, o marido dela também era aluno, e ela começou o discurso que não parava mais, acabava a formatura, aí ela ficou falando o tempo todo, aí o rapaz falou não dá…[...] (MIRO, 2018)
Portanto, obedecendo a Minuta do Roteiro, os demais discursos são:
• Orador
Este tem a grande responsabilidade de representar os demais formandos, como
se ele interpretasse em seu discurso, a vontade e as aspirações da turma. Em síntese,
traz à memória momentos especiais, que foram marcantes e vivenciados pela turma.
Não falta, claro, as “piadinhas” internas, que traz em si as características da turma e
suas particularidades.
• Paraninfo do Curso
33 Entrevista realizada em 23/03/2018 com o senhor Almiro Joaquim de Oliveira (Miro) na Faculdade
de Direito. Funcionário da FDir desde 03/07/1954.
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Como já citado, é considerado o padrinho da turma, traz em seu discurso um
“último conselho” para os seus “afilhados”. Para o professor, uma lisonja em receber
essa homenagem, fruto e reconhecimento de seu trabalho. Em suas palavras iniciais,
evidentemente agradece a singular honra por ter sido o escolhido dentre os demais
profissionais, e em seguida, dirige-se aos formandos geralmente com o discurso de
que estão aptos para o mercado de trabalho, alertando-os de que as adversidades
certamente virão, mas que deverão com sabedoria e ética profissional, sobrepuja-las.
Em suas considerações finais destaca que doravante já não são mais seus alunos e
sim colegas de profissão.
•Patrono da Faculdade
A mais alta homenagem da solenidade. Um indivíduo, não necessariamente
professor, que notoriamente alcançou êxito em sua profissão. Portanto, é uma
inspiração para os formandos. O Patrono ou Patronesse (para o sexo feminino) que
traz um brilhantismo para a solenidade, recebe esta digna homenagem e tem a
oportunidade de discursar, por vezes, reforçar alguns pontos que foram ditos pelo
Paraninfo, sobretudo desafiá-los a luta, em se tratando de um mercado implacável, é
necessário que se tenham perseverança e esperança para alcançar um lugar de
destaque na sociedade.
• Entrega das Homenagens
Imagem 30. Homenagem à Professora
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Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Profa. Ana Claudia Silva Scalquette muito querida pelos alunos, recebe a placa
de homenagem em 16/01/2018. Inúmeras vezes homenageada, dentro da baliza
cronológica, foi indicada como Paraninfa 4 vezes e como Patronesse 3 vezes.
Momento em que se reconhece dedicação dos professores e os demais
funcionários da Universidade, com a entrega de uma lembrança, neste caso, uma
placa de homenagem.
Ao fundo de um som musical, o Mestre de Cerimônias, seguindo a Minuta de
Roteiro, passa a anunciar o nome de cada formando indicado pelos representantes,
para entregar ao seu respectivo homenageado a placa de homenagem.
Os nomes que serão apresentados a seguir são fantasiosos, com o objetivo de
melhor representar o ato tão somente.
Formando “João da Luz”
Homenageado do Curso de Direito – Turma “A”
Prof. Dr. “Alberto Terceiro”
Formanda “Maria Sincera”
Homenageado do Curso de Direito – Turma “B”
Prof. Dr. “João Caro Maior”
Formando “Antônio Justo Espera”
Paraninfo do curso de Direito
Profa. Dra. “Estefânia Jordão Ali”
Formando “Alfredo Beleza”
Patrono da Faculdade de Direito
Profa. Dra. “Geni Valda Areias”
A família, de maneira geral é a base para um bom desenvolvimento, seja no
aspecto profissional, espiritual, afetivo e intelectual entre outros. É no âmbito familiar
que aprendemos o que é certo, o que é bom e onde construímos o nosso caráter.
Neste ambiente encontramos nossos primeiros amigos (os pais), refúgio para nossos
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temores, tristezas e insucessos, mas com quem também dividimos as alegrias e
vitórias.
Imagem 31. Homenagem aos pais
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Em homenagem àqueles que lutaram, compreenderam as dificuldades
circunstanciais e a apoiaram até a conclusão dos estudos, é reservado um momento
especial.
• Homenagem aos Pais
Um discurso muito especial, carregado de uma grande carga emocional, onde a
tônica deste momento traduz-se na palavra “obrigado”. Uma palavra simples, mas
com uma inexplicável amplitude, que é dirigida não necessariamente aos pais
biológicos e presentes, mas, àqueles que no sentido lato da palavra, cumpriram com
zelo, amor, dedicação e responsabilidade a arte de educar, apoiando os formandos
até aquele momento.
Esta mesma tônica de gratidão e emoção, também transcende nas imagens, que
na percepção do interpretante, há uma comoção, uma representação do sentimento
vivido, mesmo não sendo no momento da visualização o ato ao vivo, mas a fixação
atemporal de um instante afetivo.
[...] E quando tem homenagem aos pais, eu percebo que algumas homenagens me fizeram chorar muito, eu tive uma homenagem de um menino que tinha perdido a mãe e, o pai veio na formatura... e ele fez uma homenagem à mãe dele, isso pra mim foi bem emocionante. Então assim, eu
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percebi que é um momento que eu acho mais emocionante a homenagem que os alunos fazem aos pais. (PINTO34, 2018)
Assim, no calor dessa emoção, por vezes com a voz embargada, este formando,
que representa os demais colegas, tem a difícil tarefa de transmitir os agradecimentos
aos pais, reconhecendo que foram essenciais em suas vidas, especialmente na
jornada acadêmica para chegarem até ali.
Fechando esse momento, até o 1º semestre de 2017, os pais deste formando,
que nesse ato representam os demais, eram chamados à tribuna para receber um
forte abraço, um beijo e um buquê flores, ao som da canção: “Como é grande o meu
amor por você”, do cantor e compositor de Roberto Carlos.
A partir do 2º semestre de 2017, intercorreram duas sensíveis e significativas
mudanças. Inicialmente, para que esse momento efetivamente tivesse uma
participação coletiva, ao invés de se chamar os pais à tribuna, o Mestre de Cerimônias
passou a solicitar a todos os pais e mães que se colocassem em pé em seu lugar, de
modo que, enquanto era entoada uma canção, todos recebessem um botão de rosa.
Outra mudança foi quanto à escolha de uma nova música. Dentre as inúmeras
formas musicais, a canção popular, possivelmente é a que mais embala e acompanha
as diferentes experiências humanas.
Os sons são objetos materiais especiais, produtos da ressonância e vibração de corpos concretos na atmosfera e que assumem diversas características. Trata-se de objetos reais, porém invisíveis e impalpáveis, carregados de características subjetivas, e é assim que proporcionam as mais variadas relações simbólicas entre eles e as sociedades. Muitas vezes é possível verificar seus vínculos profundamente reais e próximos com as relações humanas individuais e coletivas. (MORAES, 2000, p. 210)
34 Vide página 29.
101
Imagem 32. A Cantora | A canção
35
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
A música tem o poder de atingir o seu receptor, essencialmente em sua
sensibilidade, para tanto é importante considerar sua forma toda especial, a conexão
entre letra e melodia, isto é, a “voz que canta” expressão utilizada por Moraes.
Ela também é um documento histórico, para tanto é preciso que se entenda as
duas instâncias diferentes, sem dissocia-las, a da linguagem poética e a da linguagem
musical.
Apesar de muito comum, a música popular, não deve ser analisada tão somente
como um texto, deixando de lado a importância melódica, ou seja, aquilo que a
compõe como o ritmo, melodia e gêneros conhecidos.
O cantor e compositor consagrado, Roberto Carlos, ao escrever “Como é grande
o meu amor por você”, expressa o seu amor à mulher amada, contudo, a homenagem
é destinada aos pais, e o texto com toda a sua beleza, destoa de seu propósito. Nesse
sentido foi necessário adequar uma nova canção, utilizando-se um trecho da música
Trem Bala:
[...] Não é sobre ter todas pessoas do mundo pra si. É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós
35 Cantora Thais Jaar, do Coral e Banda Zaba.
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Segura teu filho no colo Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui Que a vida é trem bala, parceiro E a gente é só passageiro prestes a partir (Compositora: Ana Carolina Vilela da Costa - Letra: Trem Bala)
Em especial no trecho, “...segura teu filho no colo, sorria e abraça os teus pais
enquanto estão aqui...”, ressalta que a família deve ser valorizada.
• Palavra do Presidente da Cerimônia
Finalizando os discursos, o Diretor da Faculdade de Direito, é anunciado pelo
Mestre de Cerimônias, para proferir o seu discurso final.
Neste momento, geralmente o Diretor agradece a confiança depositada pelos
pais na Instituição, especialmente na Faculdade de Direito. Com a sensação do dever
cumprido, por entregar à sociedade mais uma turma de profissionais plenamente
qualificados, ressaltando que ainda é um privilégio poder cursar uma faculdade, tendo
vista que poucos que concluem um curso de graduação.
Imagem 33. O Último discurso
36
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
[...] Então, eu procuro sinceramente, me esmerar muito para fazer a minha fala por que é uma responsabilidade muito grande você falar depois de um
36 E por fim, como último ato da solenidade, o discurso realizado pelo Presidente da Cerimônia O Diretor
da FDir Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto.
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momento tão emocionante. [...] eu presto atenção em cada trecho, não raro eu coloco como professor falou ou, como aluno falou, eu procuro pegar o nome de cada um para, mostrar que realmente me importo [...] pra eles verem exatamente o quão é importante. Eu acho esse momento mais esperado desde quando você ingressa no curso de Direito, é o momento quando você recebe o diploma. E esse ato tem um simbolismo de um ritual, rito de passagem na carreira, na vida da pessoa que eu acho que é digno exatamente de um trabalho científico. (PINTO37, 2018)
Quando o Diretor diz “...que é digno exatamente de um trabalho científico”, fica
claro e confirma a grandeza deste tema, que atinge a vida acadêmica, sendo um
marco na vida do discente, da sociedade, família e universidade.
Em suas considerações finais, ressalta que Universidade estará sempre de
portas aberta, seja para uma troca de experiência, para um novo curso ou uma pós-
graduação.
Desde 2016 até esta data o Diretor da Faculdade de Direito é o professor Dr.
Felipe Chiarello de Souza Pinto, ele foi precedido, delimitados à nossa baliza
cronológica (2009 a 2017) pelos Diretores38: Prof. Me. Nuncio Theophilo Neto (2005
a 2013), Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto (2013 a 2016). O primeiro Diretor da
FDir foi o Prof. Jorge Americano (1953 a 1964).
Esta foto tem uma captura da linguagem diferente das demais abordadas pela
maioria dos fotógrafos da empresa, por isso um destaque diferenciado. Mesmo o
predomínio visual do sentido de leitura imagética não seja este exposto na foto, nosso
olhar é direcionado aos pontos mais claros, iluminados da fotografia. O púlpito e o
rosto do Diretor. O M é grande, é evidente, mas a iluminação se dá com ênfase na
palavra que estava sendo proferida. Uma composição visual onde o peso visual
trazido pela parte escura da foto do lado direito, se contrapõe aos pontos de luz da
imagem, sendo um destes pontos o rosto.
2.5.4 - Momento Solene
• Leitura do Compromisso
37 Vide página 29.
38 Fonte Atas de Colação de Grau - SECCA
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É chamado à tribuna, o Juramentista indicado pelos representantes, que
juntamente com os demais, devem prestar um juramento solene perante a sociedade,
cumprindo as normas internas da Instituição. Concomitantemente, o responsável pela
organização do evento, se dirige ao centro da mesa de honra, posicionando-se ao
lado direito do presidente da solenidade, orientando as autoridades desta mesa a
ficarem em pé de frente para os formandos.
Imagem 34. Juramento – Leitura do Compromisso
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Neste momento, talvez o mais sublime da solenidade, os formandos são
orientados a ficar em pé, estender o braço direito e repetir as palavras pronunciadas
pelo Juramentista. Este, que recebe das mãos do Secretário, o Compromisso Oficial
com a devida instrução para leitura, que deverá ser paulatinamente realizada, de
modo que os demais repitam as palavras por ele anunciadas, até o final.
Para o curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, utiliza-se o
seguinte compromisso:
Comprometo-me, no exercício das prerrogativas do meu grau, acreditar no Direito como a melhor forma para a convivência humana e usá-lo para a construção de uma sociedade mais justa. Comprometo-me combater a violência em todos os seus níveis, servir a todo ser humano, sem qualquer discriminação, buscando promover a paz. Comprometo-me defender a
105
liberdade, pois sem ela não há Estado de Direito e nem possibilidade à justiça e à paz. (SIQUEIRA NETO, 2013)
Este ritual, deve ser realizado em pé e com o braço direito estendido e, assim o
permanecerão, até que a Outorga de Grau, pelas palavras do Diretor seja finalizada.
• Outorga de Grau
Imagem 35. Outorga de Grau
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
O Diretor da Faculdade de Direito, faz a outorga de grau, segundo texto que foi
elaborado pelo professor Doutor José Francisco Siqueira Neto:
“Que possam exercer, com coragem e discernimento, as atribuições do grau que neste ato lhes é concedido, movidos por propósitos de pacificação dos conflitos e de promoção da justiça social. Que possam enfrentar cada desafio da carreira que ora abraçam movidos por ideais de Justiça e de humanidade. Eu, Felipe Chiarello de Souza Pinto, Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no uso das atribuições do meu cargo, confiro aos aprovados em todas as disciplinas do Curso de Graduação em Direito, no 1º semestre letivo de 2017, na pessoa de seu representante, o grau de bacharel em Direito, para que gozem das prerrogativas a ele garantidas pela legislação brasileira.” (SIQUEIRA NETO, 2013)
106
• Leitura da Ata de Colação de Grau
Imagem 36. Leitura da Ata de Colação de Grau
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
Chancelando tudo que foi assinado pelas autoridades presentes, a Ata de
Colação de Grau foi lida durante 26 anos pelo Sr. Secretário Geral Nelson Callegari,
gestor na Secretaria Geral no período de 23.03.1991 a 31/07/2017. Desde
01/08/2017, o Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida é gestor da Secretaria dos
Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico.
A seguir um exemplo de Ata. Diga-se de passagem, lida pelo Sr. Secretário
Geral Eng. Nelson Callegari, em uma de suas últimas participações, como
Secretário.
Aos onze dias do mês de julho do ano dois mil e dezessete (11/07/2017), às 17 horas, no auditório Ruy Barbosa, foi conferido o grau de Bacharel, pelo Diretor da Faculdade de Direito professor Doutor Felipe Chiarello de Souza Pinto, por delegação do Magnífico Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, professor Doutor Benedito Guimarães Aguiar Neto, aos alunos que concluíram o curso de Direito e que prestaram compromisso de cumprir os deveres inerentes ao grau, conforme o disposto nos artigos 113, 133, 140 e 141 do Regimento Geral desta Universidade. Para constar lavro a presente ata que vai assinada pelos formandos, pelo senhor Diretor, pelos Professores e Autoridades presentes e por mim, Secretário Geral. (SECCA, 2018).
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• Após a leitura da Ata, são entregues:
1) Canudos com os Certificados de Conclusão - pelo Paraninfo;
Imagem 37. Recebimento do "canudo".
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
2) Memoriais - pelo Diretor do Curso;
Imagem 38. Entrega do Memorial
39
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
39 Momento em que a formanda recebe do Diretor da FDir Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto o
Memorial.
108
3) Bíblias Sagradas - pelo Capelão da Universidade
Imagem 39. Recebimento de um exemplar da Bíblia Sagrada
40
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções É importante destacar que, em se tratando de uma Instituição confessional, a
Universidade Mackenzie tem o cuidado de entregar a cada formando um exemplar da
Bíblia Sagrada, pelas mãos do pastor.
“No que diz respeito ao segundo momento, a entrega das Bíblias, a sensação também é dupla: conquista e esperança. Primeiramente, a Bíblia nas mãos de um formando ou formanda indica que eles venceram. A Bíblia indica que o Mackenzie conduziu os alunos para a conclusão do curso. Segundo, a entrega da Bíblia é a grande esperança de um mundo melhor. Assim a entrega das Bíblias é a grande contribuição do Mackenzie para fomentar uma sociedade mais justa e verdadeira. ” (PIACENTE JÚNIOR – 07/05/2018)
Imagem 40. Disposição das Bíblia Sagrada - na Mesa de Honra
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
40 Momento em que o formando recebe do Capelão Universitário Rev. Me. Marcelo Coelho Almeida um
exemplar da Bíblia Sagrada.
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Em todas as fotos, percebe-se elementos vermelhos que marcam a presença da
instituição em todo o processo. Seja nas gravatas, nas cadeiras ou flores, estas
composições são presentes em todas as imagens utilizadas.
• Encerramento Oficial | Presidente da Cerimônia
O encerramento é feito pelo presidente da cerimônia, geralmente o Diretor da
Unidade Universitária: “Declaro encerrada a Cerimônia Oficial de Colação de Grau
Principal, dos formandos do 1º semestre de 2017, do curso de Direito, da Faculdade
de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Boa noite! ”
Imagem 41. É o fim!
41
Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções
É o fim da solenidade, alunos passam a ser profissionais, simbolizando esse ato
joga-se o capelo para o alto.
41 Manifestação de alegria, quando, jogam para o alto o capelo. É o fim!
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Para a sustentação das entrevistas, foi utilizada a metodologia de História Oral
que, consiste em realizar entrevistas utilizando-se um gravador, com pessoas que
podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida
ou outros aspectos da história contemporânea. As entrevistas, as “falas”, as
memórias, obtidas pela metodologia da história oral são tomadas como fontes para a
compreensão do passado/presente, ao lado de documentos escritos, imagens e
outros tipos de registro, o verbal e o não verbal se entrelaçam.
Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o
pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de
consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar. Além disso, fazem parte de
todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e
autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentam e
interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade
em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a
apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências
vividas por outros.
Não há aqui uma transcrição literal de todas as entrevistas realizadas, mas sim
enxertos com partes relevantes das falas dos entrevistados durante todo projeto.
Foram feitas também pesquisas com 425 formandos do curso de Direito do
segundo semestre de 2017.
Estas pesquisas foram divididas em dois segmentos. Num primeiro momento
foram feitas perguntas sobre a cerimônia de colação de grau com formandos que
ainda iriam passar pelo evento. Nosso objetivo era saber quanto às expectativas, os
sentimentos envolvidos, a importância do ato numa concepção prévia.
Num segundo momento fizemos perguntas muito similares em sua maioria, mas
com o propósito de entender se as opiniões quanto aos sentimentos, emoções e
concepção de importância se manteriam iguais, para quem já havia passado pela
cerimônia de colação de grau.
Vejamos a análise de uma pesquisa realizada com 425 formandos do curso de
Direito, do 2º semestre 2017 nos dias 16, 17, 18 e 19 do mês de janeiro de 2018.
112
Gráfico 4 – Por que Direito? Gráfico 3 – Por que Mackenzie?
A primeira pergunta, direcionada a todos os formandos, independente se antes
ou depois de terem passado pela cerimônia, referia-se a faixa etária. O 1º Gráfico
mostra que 88% da turma era predominantemente jovem. Da mesma forma a segunda
pergunta era direcionada ao sexo de nossos discentes. O 2º Gráfico, mostra que
quase ¾ do público é feminino, o que demonstra grande interesse das mulheres pela
área jurídica.
Para a terceira questão, questionamos a razão pela qual escolheram UPM. O
resultado se dá no 3º gráfico. Os dados nos apresentam resultados de uma Instituição
tradicional, é referência e tem grande credibilidade nesta área de atuação, devendo
zelar pelo nome. Certamente, estes valores são frutos de uma construção sólida e que
demanda certo tempo, passando muitas vezes de geração a outra geração, como uma
tradição de família estudar no Mackenzie. Fator que corrobora com o teor específico
deste projeto, mostrando a importância do ato que é o último contanto daquele
momento entre aluno e instituição, e que certamente ficará gravado. No 4º Gráfico,
em complemento à pergunta anterior, queríamos saber especificamente o porquê
deste curso, e os dois motivos mais relevantes se repetem com grande porcentagem;
tradição e referência. Os discentes estavam convictos e assegurados pela escolha do
curso.
Gráfico 1 – Faixa Etária Gráfico 1 – Faixa Etária Gráfico 2 – Sexo
Fonte – O autor (2018) Fonte – O autor (2018)
Fonte – O autor (2018) Fonte – O autor (2018)
113
Gráfico 6 – Associação da
Colação de Grau
Fonte – O autor (2018)
Gráfico 5 – Colação de Grau
De uma forma ainda generalista, perguntamos aos formandos o que era a
Colação de Grau para eles, dando-lhes 5 opções conforme o 5º Gráfico. Nota-se que
os resultados evidenciam uma conquista pessoal e uma satisfação familiar, mostrando
que fazer uma graduação não é um ato isolado e aquém dos demais integrantes da
família. Pelo menos em nossa sociedade, fazer uma graduação é algo muito
relevante, por conquista, por passagem, por vitórias que são celebradas por todos,
levando cerimônias de conquistas tão importantes a grande patamar de relevância
social.
Fonte – O autor (2018)
Fonte – O autor (2018)
114
Gráfico 7 – Grau de satisfação
Antes da solenidade
Fonte – O autor (2018) Fonte – O autor (2018)
Gráfico 8 – Grau de satisfação
Após a solenidade
Objetivando entender como os formandos sentiam-se em relação à cerimônia,
antes ou depois de terem passado por ela, questionamos para os mesmos em pares
de escolhas com palavras de sentidos opostos, separados por pares. Os mesmos
deveriam escolher o(s) termo(s) que associava à solenidade de sua Colação de Grau.
Neste 6º Gráfico, constata-se que este rito de passagem é essencial. Ao somarmos
as parciais predominantes, chegamos à 87% dos formandos que encontraram
relevância neste ato, acharam indispensável, agradável, importante e consideram ser
um momento de celebração.
Para entendermos o grau de satisfação dos formandos com relação a estrutura
do evento e organização, separamos as respostas dos que ainda não tinham passado
pelo ato de cerimonial, com os que já tinham passado por tal ato, representados nos
Gráficos 7º e 8º. Há um aumento de satisfação, somando-se os dados “satisfeitíssimo”
e “muito satisfeito”, de 81% para 92%.
Consideremos aqui, que conforme foi abordado nesta pesquisa, durante a
cerimônia, o formando passa por diversos atos de emoção, muitas vezes nem ele
mesmo espera o que irá acontecer, e após passar pela colação, onde permite-se
experienciar o ato, nota-se a real relevância e importância de determinados ritos
sociais.
115
Fonte – O autor (2018)
Gráfico 9 – Momento especial
Antes da solenidade
Fonte – O autor (2018)
Gráfico 10 – Momento especial
Após a solenidade
Na próxima questão, o objetivo era saber, qual era o momento mais especial na
solenidade considerado pelos formandos.
O Gráficos 9º refere-se aos discentes que ainda não tinham passado pela
cerimônia, e 10º refere-se aos discentes já formados. Antes da participação, a
expectativa quanto ao recebimento do “canudo” era grande, ultrapassando 50%. O
recebimento do canudo é algo bem particular, pois denota uma conquista pessoal.
Após a participação, percebe-se que os resultados se modificam, aumentando-se
quase 10% a importância da homenagem aos pais e 12% o momento dos discursos.
Reitera-se o equilíbrio de uma conquista pessoal e familiar, e a evidente importância
de uma conquista social, pois os discursos são proferidos por apenas um
representante, mas que abrange e emociona a todos.
116
Considerações Finais
A Colação de Grau é um ritual acadêmico que, como visto até aqui, tem suas
peculiaridades e simbologias. Ao investigar este ritual na Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, com base em aspectos históricos,
comportamentais, sentimentais, além de toda a simbologia existente, ficou latente que
se trata de um momento especial e marcante, tanto para Universidade representada
pelos gestores, pela direção acadêmica, pelo corpo docente e servidores
administrativos, quanto para os discentes e familiares.
Ao me debruçar diante destas questões, cheguei ao tema: Ritual, Simbologias e
Memórias na Colação de Grau da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
No Ritual de Colação de Grau em questão, observei que não é apenas um ato
formal, mas um ritual repleto de sentidos, construções históricas, sociais, culturais,
simbólicas, imaginarias e de representações instigantes.
Sentido, pois simbolicamente é o momento em que o ser humano comunica à
sociedade sua mudança de status diante do grupo em que vive, sejam estes familiares
ou não, incutindo tanto na memória individual quanto coletiva, o desejo de transmissão
de valores às gerações seguintes.
Como construção histórica, especificamente este ritual, surge junto com a
história da Universidade, mostrando a importância social que engloba também o
sentido que citamos acima e evidencia a transformação vivida pelo sujeito. Nesta
herança histórica está o poder simbólico (poder invisível), e no poder simbólico a
construção social. Social, pois revela dentro destas relações do poder supracitadas, a
importância da obtenção do diploma universitário, colocando agora o indivíduo em
grau de elevação ante aos demais. Mesmo que inconscientemente, aquele que
conclui um curso universitário eleva seu poder social e também o poder do nome da
universidade. Ambos, indivíduo e local, se elevam perante o construto social.
Poder invisível que podemos quantificar, quando na pesquisa perguntamos à
razão da escolha desta Universidade para cursar Direito. Vimos no resultado que a
tradição foi o valor preponderante para escolha, e este só se constrói com o tempo.
Hoje temos e somos uma instituição de renomado valor.
117
Este ritual que também engloba a cultura, que desde a idade média, visava
estimular o ato dos estudos, ao longo da história, passando de geração em geração
chega ao Brasil por heranças advindas de Portugal, Espanha e Itália, tornando-se
parte de nossa cultura acadêmica até a atualidade.
Dentro deste fator cultural histórico, abro um parêntese para enfatizar o quanto
é recente a história de nossas universidades, e o quanto ainda, conquistas e
desbravamentos carecem de acontecer. O fato das mulheres terem conquistado seu
espaço dentro das IES, tantos anos depois de seu início. O fato de termos em registro
recente, pouquíssimos indígenas com a titulação de doutorado. São enfoques que
ainda estão em construção histórica e que fomentam assuntos para futuras pesquisas.
Como dito, neste ritual também existe a representação simbólica. Estas
representações podem ser: internas que trazem à tona sentimentos; e as externas
que trabalham nossas visualidades, principalmente experenciada por quem passa
pelo ritual, construídas por todo um sistema protocolar que foi se estabelecendo ao
longo da história por gestos, normas de conduta, tipos de vestimentas específicas
para cada ocasião, para cada hierarquia e também nas roupas que os discentes usam.
Na vestimenta, em especial no traje de formatura, o uso das vestes talares, a diferença
do emprego da cor vermelha que aplicada tanto para a Universidade Presbiteriana
Mackenzie em sua logomarca, quanto para o curso de Direito, representam a força na
dimensão simbólica da cor. Ainda destaco no sistema protocolar, a importância
simbólica da presença do paraninfo e patrono, que são referenciais para os formandos
e trazem consigo a palavra proferida de incentivo e ânimo.
A representação simbólica interna ou sentimentos, ficam claro e evidentes nas
pesquisas. Como vemos o resultado do gráfico 5, onde 65% dos entrevistados,
consideram este ritual como uma conquista e uma satisfação à família e à sociedade.
87% dos entrevistados, como vimos no gráfico 6, atribuem à Colação de Grau
sentimentos bons como relevante, indispensável, agradável, ritual importante e
querem celebrar o sucesso. Já no gráfico 8 damos o destaque ao fato que 75% dos
entrevistados, ficam satisfeitíssimos com o ritual, após terem passado por ele. Nestes
simples dados vemos o fenômeno histórico do progresso, a experiência pessoal e
coletiva que alimenta a memória social e a satisfação da construção do conhecimento
que dará ao indivíduo um destaque social.
118
Voltando-se à história da UPM, há o importante levantamento de dados, nas
atas, nos documentos oficiais que expõem a construção histórica desta casa, os
momentos e as pessoas importantes que estiveram aqui presentes.
Ainda neste ritual, como dito, temos as questões imaginárias. À estas atribuímos
também as memórias. Memórias que contam e constroem a história, memórias que
marcam, memórias que solidificam e que são representadas como linguagem em
palavras proferidas, escritas e através das imagens. Entrevistas com figuras notáveis
que levantaram e enriqueceram a história da Universidade, fazendo com que este
estudo se torne importante não só para mim, mas um documento para a Universidade
Presbiteriana Mackenzie. O depoimento marcante que evidencia a importância da
Colação de Grau e que marca a vida de quem passa por ela. Pela perspectiva da
UPM, apesar de repetitivo semestralmente, sempre emociona e remete a inúmeras
experiências. Para os formandos, trata-se de uma experiência singular, recheada de
emoção.
Temos registros imagéticos de gerações anteriores e atuais, análises destes
registros segundo sua composição e sob fundamentação de teóricos de cor e
percepção. As padronizações hierárquicas advindas das visualidades de cor e estilo,
presentes ainda hoje na sociedade e representada pelas roupas que vestimos.
Este trabalho evidenciou também, os sistemas protocolares que estão presentes
em todas as colações de grau da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A
importância de segui-los, dando direcionamento à outras Universidades/ Instituições
que não possuem estes sistemas condizentes com as normas protocolares, muitas
vezes por falta de informação. A utilização dos símbolos nacionais: Bandeira e Hino,
no qual, em especial destaque, foi possível conceituar com bases tangíveis, que no
momento que se canta o hino nacional não deve voltar-se à bandeira.
O poder simbólico da palavra proferida, seja no juramento, seja nos discursos e
pregação, atos que acontecem durante o ritual. Neste ritual de passagem, a palavra
tem um importante papel, pois é usada de maneira específica tanto pelos formandos
como pelos docentes.
Finalizamos esta dissertação esperando ter colaborado para registro de parte da
história desta universidade, dando subsídios para que outras instituições de ensino
superior que não possuem uma Colação de Grau rigorosamente organizada, prestem
119
maior atenção para este momento, pois é ele o contato final de sua IES com o
discente. Levantamos aqui não somente as questões teóricas, mas também as
práticas, mostrando os passos seguidos para uma organização coesa e necessária e
um evento de destaque como deve ser.
Colação de grau é o momento que marca, que registra, que fica gravado na
memória. É emoção, é razão, é palavra, é memória, é sociedade, é ritual.
120
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