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Universidade Presbiteriana Mackenzie Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura Christian Peter Dalhuisen RITUAL, SIMBOLOGIAS E MEMÓRIAS NA COLAÇÃO DE GRAU DA FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE São Paulo 2018

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura

Christian Peter Dalhuisen

RITUAL, SIMBOLOGIAS E MEMÓRIAS

NA COLAÇÃO DE GRAU DA FACULDADE DE DIREITO

DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

São Paulo

2018

Christian Peter Dalhuisen

RITUAL, SIMBOLOGIAS E MEMÓRIAS

NA COLAÇÃO DE GRAU DA FACULDADE DE DIREITO

DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.

Orientadora: Profa. Dra. Rosana Maria Pires Barbato Schwartz

São Paulo 2018

Bibliotecária Responsável: Eliana Barboza de Oliveira Silva - CRB 8/8925

D143r Dalhuisen, Christian Peter.

Ritual, simbologias e memórias na colação de grau da Faculdade de

Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie / Christian Peter

Dalhuisen.

124 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.

Orientadora: Rosana Maria Pires Barbato Schwartz.

Referências bibliográficas: f. 121-124.

1. Colação de grau. 2. Ritual de passagens. 3. Simbologia. 4.

Memória. I. Schwartz, Rosana Maria Pires Barbato, orientadora.

II. Título.

CDD 378.2

Ao soberano e eterno Deus, sem Ele nada seria possível,

à minha grande incentivadora, esposa, amiga e companheira de todas as horas

Fernanda, as minhas lindas filhas Lavinya e Thayla, aos meus queridos e

amados pais, Carla e Cláudio e a minha amada sogra Geni,

família que amo e que são meus alicerces.

AGRADECIMENTOS

“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus,

por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” Efésios 3: 20 e 21.

Sou grato a Deus, pois com a sua graça concluo esta dissertação. Portanto,

primeiramente a Ele toda a glória, todo louvor e minha gratidão.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie, pois vê em seus servidores

administrativos a capacidade de se desenvolverem, incentivando-os também com a

bolsa de estudos.

À minha queridíssima orientadora Profa. Dra. Rosana Schwartz, pois é uma

excepcional educadora e ama o que faz. Fui agraciado com as suas preciosas

orientações, o meu muito obrigado.

Quando decidi fazer o curso, muitas pessoas me ajudaram, outras foram

essenciais, portanto, de maneira sucinta descrevo os agradecimentos.

Ao Prof. Dr. José Maurício Conrado, em 2015 era o Coordenador do curso de

Publicidade e Propaganda, praticamente foi meu primeiro orientador, me ajudou,

incentivou a ingressar no curso, e a partir de então ajustar o tema.

Ao Diretor do CEFT e querido irmão Prof. Dr. Marcel Mendes, ainda como Vice-

Reitor da Universidade em 2015, me recebeu com muito carinho em seu gabinete e

me incentivou aos estudos, mesmo com tantas atribuições, se dispôs até mesmo a

me orientar.

Ao mui querido amigo Prof. Dr. Marcos Rizolli, em 2015 como Coordenador do

Programa de EAHC, me recebeu com toda a atenção, que lhe é peculiar, com

paciência e o carinho em me orientou a fazer os ajustes necessários para apresentar

um tema que se adequaria ao Programa.

Ao amigo Prof. Dr. Marcelo Martins Bueno, atual Coordenador do Programa de

EAHC, que muito me incentivou a fazer o curso e também enxergou em nossa

proposta, algo que poderia contribuir com o Programa.

Ao Assessor da Reitoria, Eng. Nelson Callegari, na época gestor da antiga

Secretaria Geral, me apoiou ao ingresso do curso e contribuiu muito para o meu

desenvolvimento profissional. De maneira especial, agradeço por me ceder seu

tempo, para a realização de uma das entrevistas. Muito obrigado mestre.

Ao amigo e Diretor da Faculdade de Direito Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza

Pinto, que sempre foi muito solícito comigo. Concedeu-me a honra de uma entrevista,

além de autorizar a pesquisa que realizamos com os formandos do 2ºsem.2017.

Obrigadíssimo brother.

Ao Subchefe do Cerimonial Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty,

Diplomata Sr. Alan Coelho de Séllos, pois em meio as suas tantas atividades, me

concedeu minutos preciosos de conversa, que eu chamaria de “aula”, para abrilhantar

esse trabalho. Muito honrado, obrigado.

Ao amigão senhor Almiro Joaquim de Oliveira (Miro), disposto a nos atender,

alegre e muito atencioso. Carinhosamente me recebeu na FDir e concedeu uma

honrosa entrevista. Obrigado Mirão.

À Profa. Dra. Ana Claudia Scalquette que ao saber de nosso projeto, nos apoiou

ao entregar a Revista Comemorativa do Cinquentenário da Faculdade. Obrigado

querida.

À Cibele Risso, muito solícita, certamente as fotos cedidas por você,

abrilhantaram esse trabalho. Em seu nome, também agradeço à toda equipe Stillo’s.

Valeu Ci.

Ao Centro Histórico e Cultural Mackenzie, na pessoa da Sra. Luciene Aranha,

muito atenciosa em nos disponibilizar as fotos do ano 1959, da primeira turma do curso

de Direito. Obrigado Lu.

Ao Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida, atual gestor da Secretaria dos

Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico, por me ajudar, incentivar, orientar e

por contribuir com suas preciosas e pontuais falas no trabalho. Grato meu caro.

Ao Reverendo Dr. José Carlos Piacente Junior, sou grato por ser tão preciso em

suas palavras, ao falar da essencial participação do Capelão Universitário na Colação

de Grau Principal.

Ao meu amigo, “multiprofissional”, Mestre de Cerimônias, Sidney Botelho,

mesmo com sua agenda concorrida, gentilmente me concedeu uma entrevista. Muito

obrigado pela parceria de anos.

Ao Depto. de Colação de Grau, time que convivo/trabalho diariamente. Pessoas

que compreenderam meus desafios por vezes e, de maneira eficaz me ajudaram.

Então a vocês Naiolanda Grima, Paula Bernardes, Eliane Marques (Ely) e Eliana

Aparecida (Lico) o meu muitíssimo obrigado.

Aos formandos Sara Branchini, mesmo prestes a ser mãe do Ben, fez questão

de nos responder o questionário e ao Filipe Abreu, em meio as suas férias reservou

um tempo para responder às minhas perguntas.

Agradeço aos queridos fotografados, por autorizarem suas imagens neste

trabalho.

Agradeço aos meus queridos irmãos e irmãs na fé, pois certamente oraram para

que eu pudesse concluir esse trabalho.

Um agradecimento à minha família. Aos meus amados pais Carla e Cláudio e

sogra Geni, vocês são meus alicerces. Sem vocês, não haveria a mínima

possibilidade de fazer este curso. Às minhas lindas filhas Lavinya e Thayla, por

entenderem a importância desse trabalho e compreenderem a ausência do papai por

inúmeras vezes. Amo a todos vocês.

Finalizando, registro também um agradecimento muito, mas muito especial

àquela que me incentivou desde de início, durante e até o fim desta jornada. A

incansável, amiga, cúmplice e amada esposa Fernanda. “Nega” sem você, eu

certamente não faria esse trabalho. Por isso, sou grato a Deus por sua vida em minha

vida. Que Deus te abençoe. Obrigado por todo suporte. As palavras aqui registradas

são poucas para o tanto que fez e faz por mim e por nós. Te amo e muitíssimo

obrigado.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 1. Após a Colação de Grau com "Miro" ....................................................... 25

Imagem 2. Auditório Ruy Barbosa – visto internamente. .......................................... 28

Imagem 3. Alegria! Encerramento da solenidade. ..................................................... 30

Imagem 4. Modelo para a Composição da Mesa de Honra ...................................... 54

Imagem 5. Tribuna de Honra completa ..................................................................... 56

Imagem 6. Análise da Imagem 5 com Riscos do autor ............................................. 57

Imagem 7. Prof. Hamid Charaf Bdine Júnior - Paraninfo em 13/07/2017. ................. 60

Imagem 8. Prof. Antônio Cecílio Moreira Pires - Patrono em: 15/07/2016 ................ 63

Imagem 9. Sidney Botelho - Mestre de Cerimônias .................................................. 65

Imagem 10. Posse do Reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto................................ 70

Imagem 11. Da esquerda para a direita: o jabeaux, o capelo reitoral e a samarra. .. 71

Imagem 12. Turma de Direito – 1959 5º Ano A ......................................................... 72

Imagem 13. Turma de Direito – 1959 5º Ano B ......................................................... 72

Imagem 14. Turma de Direito – 2016 traje social - 1 ................................................. 72

Imagem 15. Turma de Direito – 2016 traje social - 2 ................................................. 72

Imagem 16. Veste talar de formando Mackenzie, com estola verde. ........................ 74

Imagem 17. Veste talar de formando Mackenzie, com estola azul. .......................... 75

Imagem 18. Veste talar de formando Mackenzie, com estola amarela. .................... 76

Imagem 19. Veste talar de formando Mackenzie, com estola vermelha. .................. 77

Imagem 20. Apresentação das bandeiras na solenidade de Colação de grau ......... 81

Imagem 21. Ato do Juramento, ano de 2016 ............................................................ 82

Imagem 22. Juramento proferido diante de todos os presentes................................ 84

Imagem 23. Saudação e Leitura da Ata pelo Secretário da SECCA ......................... 87

Imagem 24. Mesa de Honra composta pelas autoridades ........................................ 90

Imagem 25. Exemplo Composição da Mesa de Honra ............................................. 91

Imagem 26. Abertura da Cerimônia de Colação de Grau Principal ........................... 92

Imagem 27. Em pé e em uníssono, todos entoando o Hino Nacional Brasileiro. ...... 93

Imagem 28. 1ª Tuma da Faculdade de Direito .......................................................... 93

Imagem 29. Reflexão Bíblica ..................................................................................... 94

Imagem 30. Homenagem à Professora ..................................................................... 97

Imagem 31. Homenagem aos pais ............................................................................ 99

Imagem 32. A Cantora | A canção .......................................................................... 101

Imagem 33. O Último discurso ................................................................................ 102

Imagem 34. Juramento – Leitura do Compromisso ................................................. 104

Imagem 35. Outorga de Grau.................................................................................. 105

Imagem 36. Leitura da Ata de Colação de Grau ..................................................... 106

Imagem 37. Recebimento do "canudo". .................................................................. 107

Imagem 38. Entrega do Memorial ........................................................................... 107

Imagem 39. Recebimento de um exemplar da Bíblia Sagrada ............................... 108

Imagem 40. Disposição das Bíblia Sagrada - na Mesa de Honra ........................... 108

Imagem 41. É o fim! ................................................................................................ 109

LISTA DE ABREVIAÇÕES

Tabela 01: Siglas e Descrição

SIGLAS DESCRIÇÃO

ABE Associação Brasileira de Educação

CCBS Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

CCL Centro de Comunicação e Letras

CCSA Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

CCT Centro de Ciências e Tecnologia

CEFT Centro de Educação, Filosofia e Teologia

CGP Colação de Grau Principal

CHCM Centro Histórico e Cultural Mackenzie

CMH Composição da Mesa de Honra

EE Escola de Engenharia

FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

FCI Faculdade de Computação e Informática

FDir Faculdade de Direito

IES Instituições de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPB Igreja Presbiteriana do Brasil

ITA Instituto Tecnológico da Aeronáutica

LPF Lista de Prováveis Formandos

LF Lista de Formandos

LNF Lista de Não Formandos

MEC Ministério da Educação

PF Prováveis Formandos

SECCA Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico

UPM Universidade Presbiteriana Mackenzie

Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.

Resumo

A colação de grau é um ritual acadêmico que surge juntamente com a história da

Universidade. Estes rituais são repletos de representações simbólicas internas, por

trazerem à tona sentimentos e externas que trabalham nossas visualidades. Dentre

as diversas colações de grau executadas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,

existe uma em específico que acompanha um legado histórico, a Faculdade de Direito.

Esta pesquisa teve como objetivo geral, investigar a importância do ritual acadêmico

da Colação de Grau, especialmente o que é realizado na Faculdade de Direito da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, entre os anos 2009 a 2017, mas

contemplando também alguns fatores históricos desde sua primeira solenidade em

1959. A investigação foi estabelecida em conceituação teórica, trazendo a cerimônia

de Colação de Grau como um ritual histórico repleto de representações simbólicas

visuais, comportamentais e sentimentais, discutidos por autores como Bourdieu

(1989), Chartier (1990) e Peter Burke (1992). Foram levantados aspectos éticos,

estéticos, as relações de reconhecimento pessoal, o respeito, a hierarquia e o poder

por ela estabelecida, a harmonia e os direitos individuais, princípios estes que

compõem atos solenes e ritualísticos, que historicamente são normatizados,

discussões estas levantadas por Elias (2001). A metodologia adotada foi a qualitativa,

que contemplou: pesquisa de campo e levantamento bibliográfico contínuo;

entrevistas com diversas personalidades que experenciaram os atos de colação de

grau em suas mais diversas instâncias, trazendo a perspectiva da história oral,

levantando as experiências vividas, descrições e conceituação, bem como trazendo

aspectos de memória tanto pela vivência e experiência, quanto por suas verbalizações

e registros fotográficos; levantamento e mapeamento sistemático dos registros verbais

e não verbais feitos em análises imagéticas e com a inserção de frases, partes

constantes nas entrevistas; e também uma pesquisa com 425 formandos do curso de

Direito de dezembro de 2017, onde foram levantados aspectos tangíveis e intangíveis

quanto aos sentimentos vividos durante o ritual, dados estes que foram expostos

através de gráficos. A conclusão desta pesquisa se reflete na importância simbólica,

subjetiva e sentimental deste ato acadêmico que fica constatada; no registro histórico

da Universidade Presbiteriana Mackenzie; e na certificação de que ritos como este

são símbolos que enaltecem as conquistas, que hierarquizam a sociedade e que são

necessários para o construto social harmônico.

Palavras Chave: Colação de Grau, ritual de passagens, simbologia, memória.

Abstract

A Graduation Ceremony is an academic ritual that rises together with the history of

University. These rituals are filled with internal symbolic representations, by raising

feelings and external that work our visualities. Among all Graduation Ceremonies run

by Mackenzie Presbyterian University, there is a specific one that bring a historical

legacy, the Faculty of Law. The purpose of this research was to investigate the

importance of the academic ritual of the Graduation Ceremony, especially the one held

by the Faculty of Law of Mackenzie Presbyterian University, between 2009 and 2017,

but also considering some historical factors since its first solemnity in 1959. The

research was established in theoretical conceptualization, bringing the Graduation

Ceremony as a historical ritual filled with visual symbolic, behavioral and sentimental

representations, discussed by authors such as Bourdieu (1989), Chartier (1990) and

Peter Burke (1992). Ethical aspects were raised, but also aesthetic aspects, personal

recognition relationships, respect, hierarchy and power established by it, harmony and

individual rights, principles that compose solemn and ritualistic acts, which historically

are normatized, such discussions are raised by Burns (1959) and Elias (2001). The

methodology adopted was qualitative, which included: field research and continuous

bibliographic search; interviews with several personalities who have experienced the

Graduation Ceremony in its most diverse instances, bringing the perspective of oral

history, raising the lived experiences, descriptions and conceptualization, as well as

bringing aspects of memory as much by the experience, as by its verbalizations and

photographic records; survey and systematic mapping of verbal and non-verbal

records made in imaging analyzes and with the insertion of phrases, as part of the

interviews; as well as a survey of 425 graduates from the Law Course in December

2017, where tangible and intangible aspects of the feelings experienced during the

ritual were set out in graphs. The conclusion of this research is reflected in the

symbolic, subjective and sentimental importance of this academic act that is verified;

in the historical record of the Mackenzie Presbyterian University; and in the certification

that rites such as these are symbols that extol the achievements, that hierarchize

society, and are necessary for the harmonious social construct.

Keywords: Graduation Ceremony, ritual of passage, symbology, memory.

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................ 16

Capítulo I - Passado e Presente Histórico: Permanências e Transformações .. 33

1.1 Ritual e Cerimonial ........................................................................................ 36

1.2 Decoro e Precedência na Colação de Grau ................................................. 52

1.2.1 Protocolo ................................................................................................... 52

1.2.2 Precedência .............................................................................................. 53

1.2.3 Paraninfo ................................................................................................... 58

1.2.4 Patrono ...................................................................................................... 62

1.2.5 Mestre de Cerimônias ............................................................................... 65

Capítulo II - A Simbologia presente no Ritual de Colação de Grau ................... 67

2.1 Vestimentas .................................................................................................... 69

2.2 A Cor ............................................................................................................... 73

2.3 Símbolos Nacionais ....................................................................................... 78

2.4 A Importância da Palavra .............................................................................. 81

2.5 A Colação de Grau como cerimonial ........................................................... 86

2.5.1 A organização ........................................................................................... 86

2.5.2 O Evento: .................................................................................................. 89

2.5.3 Discursos .................................................................................................. 95

2.5.4 - Momento Solene ................................................................................... 103

III. Reflexões e Pesquisa sobre Colação de Grau .............................................. 110

Considerações Finais ........................................................................................... 116

Referências ........................................................................................................ 120

16

Introdução

O ritual de formatura dos cursos universitários são registros/documentos da

história. Trazem em sua estrutura representações, símbolos e imaginários sociais

construídos no passado e ressignificados no presente. Passado e presente dialogam

em ação simbólica nesse rito de passagem dos sujeitos sociais. Representa o

fechamento de um ciclo, de uma etapa da vida para iniciar ou abrir uma outra.

Carregado de subjetividades e representações, incitou esta pesquisa a apresentá-lo,

descrevê-lo e tratá-lo na perspectiva da História Cultural, como registro/documento.

A partir das narrativas verbais e não-verbais salvaguardados no acervo da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, em específico da Faculdade de Direito,

entrelaçadas com a experiência, com o olhar do pesquisador, optou-se em trazer o

ritual de formatura em uma outra narrativa, em dissertação de mestrado, em um

programa de pós-graduação interdisciplinar.

Não é de hoje que a história cultural problematizou a interferência do olhar de

quem pesquisa e escreve. Apesar do distanciamento científico do pesquisador ao

deparar-se com o seu objeto de pesquisa, a narrativa construída é sempre carregada

das experiências, formação, faixa etária e sexo de quem escreve.

Assim, a apresentação, a descrição do ritual de Formatura da Faculdade de

Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie desvela, não somente as relações

simbólicas e de representação inerentes ao ato, como também as marcas e escolhas

do pesquisador.

Esse ritual é documento repleto de outros documentos, como: textos, fotografias,

músicas, hinos, flâmulas, bandeiras e discursos. Todos cheios de ditos e não ditos

que instigaram à pesquisa.

As universidades contemporâneas buscam caracterizar-se enquanto centros de

criação, inovação e construção de conhecimento. Em meio às transformações do

mundo atual, mantém estreita relação com o passado. As continuidades culturais em

meio às descontinuidades da vida contemporânea são objetos de reflexão para os

pesquisadores que dialogam com a história cultural.

O tempo presente é marcado por diversos símbolos e rituais, que sobrevivem e

se ressignificam. Ao depararmos com rituais como o de formatura, questões se

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constroem como: o que significam? O que se esconde por trás deles? Quais são os

sentidos ocultos e simbólicos do ato?

Esse ritual, desde a idade média, visava valorizar o ato de estudar, se formar e

se capacitar, além de distinguir as pessoas diplomadas das outras. Ação que se dá

na Universidade Brasileira, por causa das heranças advindas de Portugal, Espanha e

Itália, cujas formações destas instituições datam 1290.

O processo civilizatório imposto ao Brasil, trouxe fundamentos estéticos e éticos

do cerimonial e dos rituais de formatura, adotados pelas universidades europeias,

para as terras Brasilis. Durante o século XIX, as teorias científicas afirmavam a

existência de culturas inferiores e superiores. A europeia considerada avançada,

atravessa o Oceano Atlântico e se territorializa, ressignificada simbolicamente no novo

mundo. Ser descendente de europeus, viver cotidianamente segundo seus costumes,

valores e hábitos, desejar o progresso e uma nova sociedade, era considerado ser

avançado.

Assim, as universidades brasileiras atuais prescindem os atos públicos solenes

do passado europeu no presente, repletos de representações, imaginários e símbolos,

sejam estes de outorgas dos graus, de concessões de Láureas e títulos, ou sejam nas

“aulas magnas”, numa posse Reitoral e ou de diretores.

A manutenção do ato é carregada de permanências e transformações, efetivada

por meio de determinadas regras, ritos e simbologias distintivas. Nos atos normativos,

solenes e ritualísticos, existem incutidos princípios éticos, estéticos, relação de

reconhecimento pessoal, respeito, de reconhecimento hierárquico, harmônico e de

direitos individuais, onde estão inseridos os membros de uma sociedade acadêmica.

Os “atos” presentes no ritual de formatura, na Colação de Grau, não são apenas

“atos”, estão repletos de sentidos, construções históricas, sociais, culturais,

simbólicas, imaginarias e de representações instigantes. Assim, diante dessas

constatações e por possuir conhecimento sobre a temática, pois durante anos trabalho

organizando centenas de cerimoniais, decidi interligar a experiência vivida (com os

devidos critérios científicos de observação/distanciamento do objeto de pesquisa),

com conhecimentos teórico-metodológicos, em uma pesquisa de Pós-Graduação

interdisciplinar.

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As teorias e as metodologias discutidas pelos historiadores da História Cultural

sustentaram a intersecção entre experiência vivida, descrição e conceituação do ritual.

Colaboraram para a compreensão da atualidade do tema e ao mesmo tempo sobre a

natureza antiga/passado e atual/presente do cerimonial.

Compreende-se que, se um rito de passagem permanece na cultura

contemporânea e é pré-requisito para a expedição do diploma universitário, segundo

normativas do MEC 1- Ministério da Educação, é tema relevante para a Academia.

Entre os cursos ministrados na UPM - Universidade Presbiteriana Mackenzie,

por questão de delimitação do tema, apresento o ritual do curso de Direito. A escolha

não foi aleatória, mas sim, por ser um dos cursos mais tradicionais e procurados, pela

vasta documentação salvaguardada na Instituição e pela possibilidade de realização

de entrevistas, pelo método da História Oral, com funcionários, docentes e discentes.

Para o entendimento do ato, optou-se em apresenta-lo pela narrativa descritiva.

A narração do cerimonial de Colação de Grau, passo a passo, nos coloca dentro dos

elementos visíveis como: o próprio rito, as roupas, as noções e estabelecimentos

hierárquicos, as homenagens, a organização em si dos elementos visuais e

compositivos, entre outros. Já os elementos não visíveis como: o simbólico, os

sentimentos envolvidos de alegria, emoção, conquistas e vitória, as representações e

os imaginários, por meio de teorias da História Cultural.

Na narrativa visível e invisível, desvelou-se relações de poder, a importância da

obtenção do diploma universitário, do nome da universidade como afirmativa do seu

valor institucional, e também relações passado/presente nos rituais.

Objetividades e subjetividades, a temática instiga ao conhecimento de quem está

à frente da organização destes eventos.

Assim, para atingir o objetivo proposto, além do exposto, adentrou-se também,

no que representa essa vivência e experiência e a memória envolvida.

1 No site do MEC, SECRETARIA DE REGULAÇÃO E SUPERVISÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR (SERES) menu Perguntas frequentes sobre educação superior, em Diploma, histórico escolar e colação de grau, vê-se claramente na pergunta: O aluno pode receber o diploma sem colar grau? Não. Conforme o Parecer do CNE/CES n° 379/2004, a data de colação de grau, entre outras informações, deverão constar do histórico escolar. No entanto, trata-se de assunto institucional e sugere-se consulta ao regimento interno da instituição de educação superior (IES). Disponível em <<http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-seres/perguntas-frequentes>> acesso em 06/05/2018.

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Com acesso às informações/documentos oficiais, metodologicamente foi

realizado levantamento e mapeamento sistemático dos registros verbais e não

verbais, com o intuito de identificar os aspectos da construção da solenidade dentro

do ritual de formatura do curso de Direito da UPM e subsidiar o estudo das narrativas.

Os documentos selecionados propiciaram estabelecer relações entre passado e

presente, permanência e transformações.

A delimitação temporal da pesquisa foram os anos de 2009 a 2017, devido ao

número volumoso de documentos. Um recorte mais extenso prejudicaria a descrição

e aprofundamentos.

Após o levantamento documental, foram estabelecidos os procedimentos

teóricos-metodológicos, a fim de entender o significado deste rito para os formandos

do curso de Direito e para a Universidade Presbiteriana Mackenzie. O corpo

documental: atas de colação de grau, documentos oficiais, iconografia/fotografia e

construtos artísticos presentes.

O método adotado foi o qualitativo (SEVERINO, 2014, p.121 e 124), com

pesquisa de campo e levantamento bibliográfico contínuo. Durante o processo de

elaboração e execução da pesquisa foram realizados encontros norteadores com a

orientadora. A partir desses encontros, da seleção dos registros/documentos e da

transcrição das entrevistas fomentou-se o estudo descritivo do ritual.

As reflexões das segunda e terceira gerações da Escola dos Annales teceram a

pesquisa. A escolha em percorrer as metodologias diferenciadas dessa Escola trouxe

fundamentações para a compreensão das representações, imaginários sociais,

subjetividades e memória presentes no ritual. Também, a noção de

registro/documento. Para eles, qualquer traço ou vestígio de tudo o que o homem fez

ou pensou é documento.

De acordo com a obra de Burke, os Annales foi um movimento dividido em três fases: a primeira apresenta a guerra radical contra a história tradicional, a história política e a história dos eventos; na segunda, o movimento aproxima-se verdadeiramente de uma “escola”, com conceitos (estrutura e conjuntura) e novos métodos (história serial das mudanças na longa duração) dominada, prevalentemente, pela presença de Fernand Braudel (46-69); a terceira, traz uma fase marcada pela fragmentação e por exercer grande influência sobre a historiografia e sobre o público leitor, em abordagens que comumente chamamos de Nova História ou História Cultural. (OLIVEIRA E CASIMIRO, 2007)

20

O interdisciplinar se tornou condição fundamental para o estudo dos

documentos. Símbolos, representações, imaginários, rituais, carecem da

interdisciplinaridade dentro da história para serem compreendidos.

Na sequência para estudar o rito de passagem e obter mais dados e

informações, que os documentos escritos não forneciam, foram criados roteiros

norteadores para as entrevistas, sob a perspectiva da História Oral, ou seja, além do

estudo dos registros/documentos oficiais, iconográficos e textos verbais, foram

realizadas entrevistas semiestruturadas com pessoas que fazem parte da história da

UPM, que há muito atuam no corpo estrutural desta Instituição e particularmente tem

um elo com o curso de Direito e com as relações administrativas do ato solene

investigado.

Basicamente, a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. Esses procedimentos são geralmente conjugados com muitos outros, tais como a análise de documentos, filmagem e fotografias (GIL, 2002, p.52)

O método da História Oral prevê a elaboração de um roteiro e um diário de

campo. Os gestos, olhares, posições corporais na hora da entrevista também foram

observados, pois são pistas para o pesquisador. Todas as falas e registros

fotográficos reproduzidos aqui estão autorizados.

A análise das entrevistas seguiu o entendimento de que a memória pode causar

armadilhas para o pesquisador. Os entrevistados podem falar do que lembram, do que

marcou a vida deles ou do que deseja perenizar na história. Neste sentido, Alessandro

Portelli (2000) e Paul Thompson (1992), enfatizam que o desafio da história oral é

mostrar, diferentemente do que costuma ser consagrado, que a memória não é

apenas ideológica, mitológica e não confiável, mas sim, ferramenta histórica para

questionar interpretações.

A memória e as questões que a envolvem são importante objeto de estudo da História. Na metodologia da História Oral, ela é fundamental, pois valer-se da memória para recuperar a história nas entrevistas, e produzir documentos que possam dar credibilidade à pesquisa é um dos seus campos mais desafiadores. (SARAT, SANTOS, 2010, p.52)

Esse método trouxe perspectivas diferenciadas para o projeto investigativo e

contribuição ao trabalhar com a memória, com o rememorar o passado. Thompson,

21

afirma que: “A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a

evidência dos fatos coletivos” (THOMPSON, 1992: 17).

As imagens fotográficas da colação de grau foram selecionadas e lidas, segundo

MINARDI e SCHWARTZ (2010), que afirmam que é na imagem que se acessa o não

revelado e se contempla uma complexa rede de significações entre signos, homens e

interações dialéticas na composição da realidade.

Mesmo remetendo ao passado, a fotografia não se constitui em uma imagem retido no tempo; para os historiadores, é uma mensagem que se processa ao longo do tempo, como imagem/documento e como imagem/monumento. (MINARDI e SCHWARTZ, 2010, p.110)

As imagens/fotografias trazem a cultura da época e ao analisá-las

historicamente, observa-se o tempo e o espaço passados, que fazem sentido tanto

individual como coletivamente na contemporaneidade. Uma das observâncias foram

as becas utilizadas nas solenidades.

A cerimônia de colação de grau ocupa um lugar de destaque entre os eventos

universitários. Para o docente, a lisonja e a gratidão pelo reconhecimento de seu

trabalho diante da Instituição, para a Direção do curso a sensação do dever cumprido

por entregar à sociedade mais uma turma de profissionais plenamente qualificados, e

para os discentes simboliza o coroamento dos anos de estudos, dedicação e

comprometimento.

Os teóricos norteadores para as reflexões da dimensão simbólica presente no

ritual de formatura, relacionando lógica, formalidade do coroamento público e o

aparato cênico do corpo em representação, foram Bourdieu (1989), Chartier (1990) e

Peter Burke (1992).

Para Roger Chartier (2002), por que para ele, as representações dizem respeito

ao modo como em diferentes lugares e tempos, a realidade social é construída por

meio de classificações, divisões e delimitações. Esses esquemas intelectuais criam

figuras as quais dotam o presente de sentido. Assim, pode-se pensar numa “história

cultural do social que tome por objeto as representações do mundo social”. Chartier

também acredita que esses códigos, padrões e sentidos são compartilhados, e apesar

de poderem ser naturalizados, seus sentidos podem mudar, pois são historicamente

construídos e determinados pelas relações de poder, pelos conflitos de interesses dos

grupos sociais.

22

Estabelece vínculos entre lógica racional (o fim de um ciclo) com a lógica

simbólica (coroamento, poder da nobreza de toga).

Os eventos realizados na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em especial as

solenidades de colação de grau, possuem grande visibilidade social, proporcionando

momentos de interação entre a comunidade universitária (representada pelas

autoridades, professores, servidores administrativos e formandos) e a comunidade

local e regional (representada pelos familiares e convidados). Constituem uma

representação pública, da eficácia do sujeito que se forma de maneira mitificada.

Peter Burke (2015) em seus estudos apresenta a relevância do "mito" que

envolve os rituais de coroamento, ou seja, a imagem fixada no momento em

detrimento do indivíduo.

“Para compor nossas mentes devemos saber como nos sentimos a respeito das coisas, e para saber como nos sentimos a respeito das coisas precisamos das imagens públicas do sentimento que apenas o ritual, o mito e a arte podem proporcionar”. (BURKE, 1992, p. 145, apud GEERTZ, 1962, p.713)

A colação como se fosse um grande teatro público, uma representação, desvela

a atuação do docente transformada performaticamente em reis ou rainhas; a beca é

fantasia correspondente ao nobre togado do passado, quesito estético fundamental

para construir e projetar a imagem de um sujeito público.

[...] As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem a universalização de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam [...] as percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) [...] (CHARTIER, 1990, p. 17).

As representações também se voltam ao conceito de exploração do imaginário,

da cultura e da simbologia. Uso que se dá no inconsciente de representações e de

valores, que é discutido por Chartier (1990) e Burke (1994).

Um momento em que há um grande envolvimento da Instituição, com o objetivo

de promover uma solenidade marcante na vida do formando e de seus familiares.

Este tema perpassa ao entendimento para educadores, Instituições de Ensino,

bem como para profissionais de todas as áreas por ser interdisciplinar, fornecendo

maior respaldo e conhecimento para atender e entender melhor, a importância deste

23

ato, como estabelecer sua prática na contemporaneidade e relevância para a cultura

educacional.

Acreditamos que para a compreensão da trajetória e resultados da pesquisa,

faz-se necessário, já na introdução, apresentar a Instituição Universidade Mackenzie

e alguns dados obtidos por meio de entrevistas.

Composta por nove Unidades Universitárias: CCBS - Centro de Ciências

Biológicas e da Saúde, CCL - Centro de Comunicação e Letras, CCSA - Centro de

Ciências Sociais e Aplicadas, CCT - Centro de Ciências e Tecnologia, CEFT - Centro

de Educação, Filosofia e Teologia, EE - Escola de Engenharia, FAU - Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo, FCI - Faculdade de Computação e Informática e FDir -

Faculdade de Direito. Para este trabalho, a FDir foi a escolhida não apenas pela sua

tradição, mas o curso de Direito, segundo dados oficiais obtidos pela SECCA -

Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico, entre os anos de 2009

a 2017, foi o mais procurado conforme a Tabela de Evolução do Vestibular,

oferecendo o maior número de vagas e por consequência, maior número de discentes

matriculados.

Tabela 02: Evolução do Vestibular, anos de 2009 a 2017.

Cursos Ano/Sem. Vagas Candidatos Cand./Vaga Matrículas

Direito 2009.1º 800 4842 6,1 758

Administração 2009.1º 620 2640 4,3 558

Publicidade e Propaganda 2009.1º 360 1504 4,2 405

Direito 2009.2º 800 2386 3,0 690

Administração 2009.2º 560 1065 1,9 484

Publicidade e Propaganda 2009.2º 360 721 2,0 379

Direito 2010.1º 800 4845 6,1 719

Administração 2010.1º 620 2165 3,5 504

Publicidade e Propaganda 2010.1º 360 1618 4,5 383

Direito 2010.2º 720 2570 3,6 709

Administração 2010.2º 570 1027 1,8 471

Publicidade e Propaganda 2010.2º 360 705 2,0 366

Direito 2011.1º 760 4998 6,6 704

Administração 2011.1º 620 2099 3,4 543

Publicidade e Propaganda 2011.1º 360 1732 4,8 390

Direito 2011.2º 640 2404 3,8 687

Administração 2011.2º 440 850 1,9 435

Publicidade e Propaganda 2011.2º 360 734 2,0 393

Direito 2012.1º 700 5128 7,3 681

Administração 2012.1º 480 2161 4,5 494

Publicidade e Propaganda 2012.1º 360 1850 5,1 394

Direito 2012.2º 700 2047 2,9 620

24

Administração 2012.2º 440 725 1,6 401

Publicidade e Propaganda 2012.2º 360 579 1,6 337

Direito 2013.1º 700 5339 7,6 750

Administração 2013.1º 490 2131 4,3 468

Publicidade e Propaganda 2013.1º 360 1844 5,1 394

Direito 2013.2º 650 2586 4,0 673

Administração 2013.2º 420 799 1,9 369

Publicidade e Propaganda 2013.2º 360 679 1,9 349

Direito 2014.1º 700 5863 8,4 668

Administração 2014.1º 480 2178 4,5 443

Publicidade e Propaganda 2014.1º 360 1952 5,4 373

Direito 2014.2º 595 2637 4,4 684

Administração 2014.2º 450 863 1,9 464

Publicidade e Propaganda 2014.2º 360 701 1,9 364

Direito 2015.1º 700 5798 8,3 815

Administração 2015.1º 540 1876 3,5 640

Publicidade e Propaganda 2015.1º 360 1753 4,9 407

Direito 2015.2º 675 2952 4,4 721

Administração 2015.2º 510 855 1,7 517

Publicidade e Propaganda 2015.2º 360 701 1,9 360

Direito 2016.1º 740 5500 7,4 712

Administração 2016.1º 540 1650 3,1 522

Publicidade e Propaganda 2016.1º 360 1493 4,1 362

Direito 2016.2º 660 2793 4,2 699

Administração 2016.2º 500 729 1,5 369

Publicidade e Propaganda 2016.2º 360 550 1,5 275

Direito 2017.1º 540 4989 9,2 578

Administração 2017.1º 460 1340 2,9 460

Publicidade e Propaganda 2017.1º 360 1344 3,7 373

Direito 2017.2º 660 2506 3,8 711

Administração 2017.2º 445 608 1,4 375

Publicidade e Propaganda 2017.2º 360 433 1,2 198

Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.

Para entender a escolha dos discentes por essa Instituição, foram entrevistados

dois discentes que finalizaram o curso de Direito na UPM, com a seguinte pergunta:

Por que a Universidade Presbiteriana Mackenzie?

Nas palavras da formada Sara Silveira Di Petta Branchini, cuja colação de grau

ocorreu em 14/07/2009 a resposta foi: “Tradição do curso, identificação com a

instituição, reconhecimento do curso no mercado de trabalho”. Para o formado Filipe

Santos Abreu, com a colação de grau ocorrida em 15/01/2016: “Por ser a Instituição

que sempre me acolheu e acreditou no meu potencial, de modo que tenho uma grande

gratidão pela Instituição, abaixo de Deus e dos meus pais”.

25

Quando perguntamos: Por que o curso de Direito? Sara: “Sonho de criança,

aptidão, vocação”. Filipe: “Por ser um curso que permite um “leque” amplo de atuação

profissional, o que entendo como uma “atratividade” e indicação de um conhecido que

já cursava Direito”.

Esses dados confirmam os textos de outros documentos preservados como as

Atas de colação de grau, revista e registros fotográficos.

Nesta Unidade Universitária, o pesquisador por meio de uma entrevista, teve a

possibilidade de ouvir e registrar um pouco do que foi vivenciado por alguns

funcionários, dentre eles, o senhor Almiro Joaquim de Oliveira2 (Miro), funcionário

desde 1954.

No ano seguinte, iniciaram-se as aulas do curso de Direito.

Todavia, só no dia 29 de outubro de 1954, o Diretor e Presidente da Congregação, comunicou, em reunião extraordinária, que o Decreto nº 32.322, de 11 de outubro de 1954, assinado pelo Presidente da República, João Café Filho, e pelo Ministro da Educação, Camillo Motta Filho, autorizava o funcionamento do curso de Bacharelado da Faculdade de Direito para funcionar em 1955. (PEREIRA, 2003, p.12)

Imagem 1. Após a Colação de Grau com "Miro"

3

2 Entrevista realizada em 23/03/2018 com o senhor Almiro Joaquim de Oliveira (Miro) na Faculdade de Direito. Funcionário da FDir desde 03/07/1954. 3 Este documento fotográfico mostra a valorização da Universidade com seus funcionários antigos que são parte da construção desta história. Sr. Almiro Joaquim de Oliveira (Miro) ao lado esquerdo e autor à direita Christian Peter Dalhuisen

26

Fonte: Stillo’s - Eventos e Produções

Eu entrei aqui, desde 03/07/1954, eles me chamaram pra ser Bedel, fazer chamada dos alunos. Os alunos sentados em seu número certo. E eu entrava e começa a marcar [...] Participei da 1ª Colação de Grau, tem câmera dos fotógrafos, eu lá sentado com os chefões, [...] O Jorge Americano (1º Diretor), queria que eu ficasse na mesa. (OLIVEIRA, Miro - entrevista em 23/03/2018)

Para Bettega, (2005): “o cerimonial universitário tem grande relevância dentro do

meio acadêmico, pois ele resgata e organiza aspectos históricos e simbólicos para a

execução de um evento dentro do âmbito da Universidade”.

Cerimônias e rituais estão expressos nas múltiplas culturas, artes, nos artefatos,

e nas inscrições em rochas, ou seja, dentro da história, que foi levantada por autores

como Burns (1959) e Elias (2001).

O cerimonial de colação de grau, composto por rituais e simbologias, é o

conjunto de formalidades para os atos públicos e solenes, deve ser utilizado quando

estiverem presentes autoridades públicas, numa forma de disciplinar e organizar as

cerimônias, conforme o disposto no Regimento Geral da Universidade Mackenzie, nos

artigos 113 A obtenção do grau acadêmico ocorre com a Integralização Curricular do

Curso na forma prevista pelo Projeto Pedagógico de Curso. 133 § 4º: Ao discente que

cumprir todas as exigências curriculares de seu Curso de Graduação, obtendo

aprovação, será conferido o grau correspondente e o respectivo Diploma; assim

também no artigo 140:

A UPM expede diplomas e certificados para documentar a habilitação em seus diferentes Cursos e pode conceder títulos honoríficos para distinguir pessoas que hajam contribuído, de modo eminente, para o progresso da ciências, letras e artes ou que hajam prestados relevantes serviços a UPM. § 1º Ao discente que venha a concluir Curso de Graduação ou de Pós-Graduação stricto sensu oferecidos pela UPM, observadas as exigências do Estatuto, do presente Regimento Geral e dos Regimentos de cada Unidade Universitária, a UPM confere o grau a que faça jus e expede o correspondente diploma § 2º Ao concluinte de Cursos de Especialização, aperfeiçoamento, atualização e extensão, observadas as exigências específicas, a UPM expede o correspondente certificado. § 3º Os diplomas e certificados conferidos pela UPM são expedidos por determinação do Reitor, conforme modelos previamente aprovados e atendidas as 96 formalidades legais, regulamentares e as constantes de normas aprovadas por Ato da Reitoria e devem ser registrados junto ao RTDU. § 4º Os diplomas e os certificados são assinados pelo Reitor ou seus delegados e pelas autoridades indicadas em Ato da Reitoria que cuide da matéria. § 5º As segundas vias de diplomas e certificados são expedidas conforme modelo vigente ‡ data do pedido da segunda via. (REITORIA, A. da. 2010. Regimento Geral da Universidade, p.95)

27

E conclui-se no artigo 141 do Regimento Geral da Universidade Mackenzie, que

diz:

O ato escolar da colação de grau, exclusiva para os Cursos de Graduação, realiza-se com a presença do formando, do Diretor da Unidade Universitária, do Secretário Geral e, pelo menos, de 2 (dois) docentes, cujo termo é assinado por todos os referenciados. § 1º Só pode participar do ato escolar de colação de grau o discente que concluiu todas as atividades previstas no Projeto Pedagógico de Curso de Graduação da UPM. § 2º Ao colar grau, o formando presta compromisso, de acordo com as fórmulas oficiais da UPM. § 3º O ato de colação de grau é de natureza personalíssima, estando vedada a representação do formando por terceiro e não ser· aceito qualquer instrumento de outorga de poderes. (REITORIA, A. da. 2010. Regimento Geral da Universidade, p.96)

Estas normas supracitadas são estabelecidas com o objetivo de ordenar

corretamente o desenvolvimento dos atos solenes ou comemorações públicas que

necessitem de formalização, buscando sempre a disciplina, hierarquia, ordem,

elegância, respeito, bom senso, bom gosto e simplicidade. Além dos valores cívicos e

históricos. A Universidade Mackenzie sempre ocupou um destacado espaço para a

realização desta solenidade.

Para os cursos ministrados nos campi Higienópolis e Alphaville, de praxe as

solenidades são realizadas: no campus Higienópolis, Auditório Ruy Barbosa, que é

uma referência em se tratando de estrutura; no campus Campinas, a solenidade é

realizada em outro local previamente reservado, que atenda a demanda necessária

para a quantidade de pessoas, pois no local disposto, Auditório Edifício Rev. Edward

Laine, não atende ao número grande de formandos.

28

Imagem 2. Auditório Ruy Barbosa – visto internamente.

4

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Nesta solenidade de colação de grau, dentre vários discursos, há um

especialmente dedicado àqueles que acompanharam toda a trajetória acadêmica do

formando, e por isso, recebem uma homenagem especial intitulada “homenagem aos

pais”. Em sua fala, o formando geralmente se recorda das lutas e experiências

vivenciadas e divididas com estes, quanto a tônica este discurso é de gratidão.

Também são prestadas homenagens a professores e funcionários, em

reconhecimento do trabalho realizado pelo corpo diretivo e administrativo.

Neste sentido, acarreta ainda mais uma grande responsabilidade para a

Universidade, em manter a qualidade de ensino e a eficiência na prestação do serviço.

A realização deste evento é considerada uma ferramenta de fortalecimento para a

imagem da Instituição, atua como uma das principais ações de aproximação com o

público e consiste numa excelente oportunidade para estreitar relacionamentos,

desde que adequadamente planejada, organizada e bem executada.

Ao longo dos meus bons dedicados 19 anos à Universidade Presbiteriana

Mackenzie, tenho vivido inúmeras experiências e estou convicto de que elas

contribuíram e contribuem para o meu crescimento pessoal, profissional e intelectual.

4 A infraestrutura do Auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie no campus Higienópolis, comporta aproximadamente 950 pessoas sentadas na plateia, tem cabine de controle de iluminação e som, fazendo com que durante as cerimônias estes sejam utilizados dando maior requinte ao momento. Nos bastidores encontram-se banheiros, camarim e copa. Sempre que acontecem as cerimônias são mobilizadas equipes de som e iluminação, seguranças, equipe médica e equipe administrativa de apoio para realização do avento, além de uma empresa terceirizada que cuida das vestimentas, música, materiais oferecidos nas homenagens como flores e placas, além da ornamentação e copa para os convidados homenageados e docentes da Universidade. Tudo sob a supervisão do Departamento de Colação de Grau da Universidade, representado por minha pessoa.

29

Em 2006, quando fui convidado para fazer parte da equipe responsável pelos

eventos solenes de colação de grau, não tinha a dimensão da abrangência deste

departamento em relação aos diretores, coordenadores, professores, corpo docente,

discentes, funcionários, familiares, empresas parceiras e eventualmente com os

conselhos regionais. Todo este envolvimento em prol de uma causa, a Colação de

Grau.

Há mais de dez anos trabalhando com as solenidades oficiais de colação de grau

da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e com atuação centrada no cerimonial

universitário, foi possível levantar um arcabouço de fontes iconográficas e textuais,

arquivadas no transcorrer da história da Instituição, bem como entrevistas e relatos

de pessoas que vivenciaram essa experiência como, os pais, corpo diretivo, corpo

docente, discentes e funcionários. Revelando assim, que este rito de passagem de

temporalidades remotas, ainda se faz presente no mundo contemporâneo.

Nas palavras do Assessor da Reitoria Eng. Nelson Callegari5:

[...] A colação de grau é um momento de encerramento, mas tem uma história por trás. [...] histórias que você conhece, que de fato gratificam a gente. Como participante desse processo, por menor que tenha sido a sua participação, ou às vezes, até uma participação grande [...] [...] Eu tenho dentro de mim, algo muito sensível, um lado humano que eu considero extremamente importante. Sob esse ponto de vista, sob a minha personalidade, portanto vou dar a minha opinião, eu acho que a colação é imprescindível. [...] Eu manteria a colação de grau permanentemente.

Para o Diretor da Faculdade de Direito Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto6:

[...] representa uma conquista coletiva [...] é o momento da gente ter gratidão. Pensar que a conquista nossa, dependeu de uma série de pessoas, de uma série de fatores [...] dos seus pais, dos seus responsáveis, dos seus professores, dos seus funcionários que trabalharam do seu lado aí na faculdade, dos seus colegas que te empurraram quando você pensou em esmorecer, então é uma construção coletiva. [...] um momento essencial, eu digo, até de um de vista de um estudo científico cerebral, é o momento em que seu cérebro entende que você conquistou alguma coisa. Sem esse rito fica um vazio, fica uma lacuna.

5 Ex-Secretário Geral, 26 anos como Gestor da antiga Secretaria Geral (25/03/1991 a 31/07/2017). Fonte o próprio entrevistado. Entrevista realizada em 21/03/2018 no prédio João Calvino. 6 O mais novo Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Aos 45 anos é Gestor desta Unidade Universitária, desde 2016. Em entrevista realizada 05/04/2018 na Faculdade de Direito.

30

[...] o Mackenzie tem um momento de colação de grau que foi se aperfeiçoando, e hoje está exatamente como eu gostaria que estivesse.

Considerando e constatando a importância desse tema, decidi escrever, mais

um trecho da história mackenzista.

Ora, falar de um momento tão significativo como este, não meramente uma

formalidade, mas um momento de celebração e conquista, da história que marca, se

transformou em um desafio, uma honra e responsabilidade.

Imagem 3. Alegria! Encerramento da solenidade.

7

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Na perspectiva do Sr. Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle

Acadêmico, Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida8:

Trata-se de cerimônia que evoca um "mix" de sentimentos, na perspectiva da função hoje exercida - sentimento de "dever cumprido", alegria (também solidária à alegria dos formandos e seus familiares e amigos), de grande responsabilidade com relação ao futuro dos formandos (em especial daqueles que ainda estão em início de jornada profissional - manterão ética inabalável ao longo de toda a trajetória profissional? Manterão atenção aos requisitos técnicos e comportamentais para o exercício profissional?). Por vezes, ter ciência, durante a cerimônia, de determinados episódios, histórias de vida, que envolveram alguns alunos e/ou seus familiares também nos emociona, em função da superação que fica configurada.

7 Este documento fotográfico representa a alegria dos formandos ao término da cerimônia de colação de grau. A alegria estampada em seus rostos, o levantar das mãos celebrando a vitória e o compartilhar deste momento com amigos. 8 Gestor a SECCA – Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico em 01/08/2017.

31

Este último ato solene, é a formalização do elo acadêmico com a sociedade e

com discente, ou seja, o formando como parte integrante de todo este processo,

levando consigo o sentimento de fazer parte da história mackenzista.

Regras que guiam o comportamento das pessoas, o construto cultural e histórico

que envolve esta solenidade, especialmente durante a trajetória e memória

acadêmica.

Assim, a dissertação estruturou-se em:

O capítulo I – Passado e Presente históricos: Permanências e Transformações,

explica a conceituação teórica sobre o tema ritual, trazendo seus pensadores, teóricos

e epistemologia em que se baseia esta pesquisa. Traz também em detalhes a

significância dos termos protocolares utilizados nas cerimônias formais brasileiras,

explicando quando estes termos aparecem dentro do ritual da colação de grau.

No capítulo II – A Simbologia presente no Ritual de Colação de Grau, já com a

conceituação exposta, aprofundou-se na simbologia que permeia o tema. A

simbologia visual, comportamental e sentimental, que estão inseridas nas vestes, nas

cores, nos símbolos nacionais presentes, na ordem em que são realizados os atos,

na forma de assentamento e até mesmo na palavra proferida. Entrevistas com

funcionários e ex-alunos da UPM, e também com um importante representante das

cerimônias oficiais brasileiras, o Sr. Alan Coelho de Séllos. Algumas destas falas estão

inseridas no decorrer dos capítulos primeiro e segundo. Contudo, vimos a importância

de trazer alguns dados numéricos e comparativos sobre as colações de grau que

ocorrem na Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo viés dos alunos que passam

e passaram por este rito. Esta pesquisa9, realizada com 425 discentes que se

formaram no curso de Direito em dezembro de 2017, tendo colado o grau no mês de

fevereiro de 2018, destacou a importância deste rito na atualidade, trouxe dados

recentes sobre o sentimento expresso, os valores familiares que são exaltados, e

questões já apresentadas.

Acredito que a dissertação aqui desenvolvida, possibilitará pela documentação

e descrição, base para futuros projetos de pesquisa e que foi uma honra contribuir

com mais um trecho da história mackenzista.

9 Pesquisas realizadas em: 16, 17, 18 e 19 de janeiro de 2018. Foram criados 2 tipos de questionários: pré-solenidade e pós-solenidade.

32

33

Edifício Mackenzie, visto do cruzamento das ruas Maria Antônia e Itambé. 1920

Acervo Centro Histórico e Cultural Mackenzie

Capítulo I - Passado e Presente Histórico:

Permanências e Transformações

34

As histórias que por vezes ouvimos ou contamos, são construídas segundo

nossas experiências, por vezes, vivenciadas por nossos antepassados (os mais

próximos ou distantes), que foram e vão sendo legadas, transmitidas, narradas para

a posteridade e para as gerações vindouras, ou seja, o tempo conectado com a

experiência. Essas histórias, em suas inúmeras configurações, permaneceram, ainda

permanecem e permanecerão no tempo, de acordo com a sua maior ou menor

capacidade para se registrar e se gravar em nossas memórias, tratando-se da relação

entre memória, vivência e narrativa.

Le GOFF (1990), distingue as relações de passado e presente que se inserem

na memória coletiva, fazendo nascer a consciência social histórica, mas também a

importância da abrangência futura. Alguns atos históricos marcam estas passagens

temporais, que na prática se dão ao longo do cronograma temporal, e que se não

fossem alguns atos marcantes, não distinguiríamos estes níveis de mudança, o

passado que se deu, o presente que se dá e as projeções futuras que podem ser

temidas ou desejadas.

Santo Agostinho exprimiu, com profundidade, o sistema das três visões temporais ao dizer que só vivemos no presente, mas que este presente tem várias dimensões, "o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das coisas futuras" (SANTO AGOSTINHO, Confessions, XI, 20-26 apud LE GOFF, 1990 p. 206).

A memória, portanto, não é apenas um local onde se depositam as lembranças,

e sim matéria-prima para construção de narrativas, a partir da qual se constroem

memórias. Na concepção de Bourdieu (2013), a percepção do tempo é muito mais do

que algo pertencente ao âmbito psicológico, é, antes, algo construído socialmente. Le

GOFF (1990) nos explica que esta memória construída socialmente, se dá por

informações que conseguimos conservar, levanta a importância da utilização da

linguagem falada e escrita para conservação da memória, mas que elas devem ser

estudadas e analisadas, cada qual em seu formato, pois o próprio aparecimento da

escrita está ligado a uma transformação da memória coletiva. A escrita que armazena

informações e passa as informações da esfera auditiva para a visual, que no caso,

são as transcrições das entrevistas, permitindo-nos reexaminar, reordenar e até

refletir sobre frases e palavras específicas. Estes registros que se dão ao longo dos

tempos, é o que faz a memória se transformar em história. [Ibid. pág.434]

35

Também dentro desta memória coletiva presente nos rituais e nos depoimentos

descritos, há um simbolismo, principalmente quando voltado ao poder. É uma relação

de poder implícito até mesmo na fala e no discurso.

Para que entendamos esta hierarquia colocada no simbólico, nos voltemos às

percepções ensinadas por Bourdieu, que fala em alguns capitais. O capital

econômico, o capital simbólico, o capital cultural e o capital social.

O capital econômico é a capacidade financeira ou “poder aquisitivo” da pessoa.

Este tem total ligação com os demais capitais, pois parte-se do pressuposto que é ele

quem vai nortear os próximos capitais. O capital cultural, ligado ao mesmo

pensamento, é aquele que se adquire nos locais que frequenta, por exemplo, adquire-

se capital cultural ao visitar museus e exposições, ao ter contatos com línguas

diversas e viagens. O capital social é aquele que o indivíduo adquire no meio social

em que convive, pois é no meio social que este terá a oportunidade de conhecimento

e de formação, como exemplo, um filho de nobre, geralmente conviverá com outros

filhos de nobres. E por fim, temos mais claramente, que em determinados locais, os

capitais simbólicos expressos como extremamente importantes. Um exemplo é a

simbologia de rituais que a própria família ou pessoa terá acesso ao longo de sua

existência, que combinado aos demais mostrará a posição de poder que o indivíduo

terá em relação aos demais.

Estes capitais muitas vezes são recebidos como herança, mas podem variar na

existência do indivíduo, sendo também adquiridos, e toda vez que um é adquirido,

reforça os outros capitais. Geralmente, quanto maior capital cultural e simbólico que

se possui, combinados com a posse dos outros tipos de capitais, maior deverá ser o

patrimônio linguístico. E quanto maior o patrimônio linguístico, mais alimenta-se o

ciclo, pois terá um maior desenvolvimento de capacidade, habilidade e competência

para dele se dispor de modo que objetivos específicos quanto à conquista do poder,

de produção, consumo e classificação serão atingidos mais facilmente, atingindo

assim o campo social. (BOURDIEU, 2013).

Dentro destes capitais, existe uma relação de poder que, como falado é

hierárquica e hereditária. E permeando estes capitais, há a memória que também

passa dentro das gerações.

O movimento que nos transporta é da mesma natureza que aquele que representa para nós. Se habitássemos ainda a nossa memória, não haveria necessidade de lhe consagrar lugares. Não haveria lugares, porque não haveria memória transportada pela história. [...] Desde que haja rastro,

36

distância, mediação, não estamos mais dentro da verdadeira memória, mas dentro da história. (NORA, 1993, p. 8 e 9)

Nora (1993, p. 9) trata a memória como objeto de pesquisa, mostrando como a

memória é vida e está em permanente evolução, é um elo vivido no eterno presente,

pois é afetiva, não se acomoda a detalhes, se alimenta de lembranças particulares ou

simbólicas, instala as lembranças no passado e é por natureza múltipla e

desacelerada, coletiva, plural e individualizada. “A memória se enraíza no concreto,

no espaço, no gesto, na imagem, no objeto”.

A memória [...] “procura salvar o passado para servir o presente e o futuro.

Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para

a servidão dos homens”. (LE GOFF, 1996, p. 477)

Nora [Ibid], também defende a memória daquilo que vivenciamos como gestos e

hábitos, nos saberes adquiridos e executados até inconscientemente com nosso

corpo e reflexos, a memória social, coletiva e globalizante. A memória que é vivida

espontaneamente no interior e que tem a necessidade de suportes exteriores como a

escrita.

Nesta relação entre memória e simbologias que levam ao poder, bem como nos

transportam em capitais sociais diferentes, está a Colação de Grau, com seu

simbolismo, este cerimonial é mais um, que através dos rituais traz à memória coletiva

uma passagem hierárquica, determinando poderes não somente agora dos formados

ante aos não formados, mas dentro do próprio cerimonial há diversas instâncias e

momentos, em que o poder é colocado em voga como nas ordens estabelecidas para

que ele ocorra, bem como nos locais e formas de apresentação do mesmo.

Nas universidades o cerimonial diz muito bem, a respeito da sua maneira de estar, – enquanto atividade – de agir, entrar, sair, comunicar-se, fazer-se entendido e enfim determinando o seu comportamento, suas maneiras e gestos, tanto no trato em geral com as pessoas, como de forma especial, quanto na presença de autoridades do mundo universitário e os circunstantes. (REINAUX, 2018)

Este cerimonial faz despertar a identidade ética das ações coletivas e uma

preservação da imagem e memória institucional, também corrobora com o

fortalecimento do capital social e cultural dos alunos e professores da universidade,

que necessitam de atos normativos formais para a permanência deste simbolismo.

1.1 Ritual e Cerimonial

37

Historicizar, não é divagar ou se perder no tempo, apresenta explicações que

sustentam os argumentos na contemporaneidade, assim, um mergulho no tempo é

desvelador.

Durante a existência humana, independentemente do ambiente no qual se está

inserido, vivemos rodeados por rituais. Eles estão presentes nas sociedades, e alguns

foram eleitos como de passagem de um ciclo da vida para outro, como por exemplo,

o casamento, o batismo, a formatura entre outros. (PEIRANO, 2003).

A vida em sociedade pode ser entendida pelos rituais que a circunda.

Um ritual pode ocorrer em intervalos regulares ou em situações bem específicas.

Pode ser realizado por um único indivíduo, um grupo, ou por uma comunidade inteira;

pode ocorrer em locais arbitrários, específicos, diante de pessoas ou privativamente.

Segundo a autora (PEIRANO, 2003), um ritual pode ser profano, religioso,

festivo, formal, simples ou bem elaborado. Possui uma forma específica, um grau de

convencionalidade, de redundância, combinando palavras ou ações.

Este fenômeno da sociedade aponta e revela valores, expande e ressalta o que

já é comum a um determinado grupo. Além disso, transmitem valores e

conhecimentos.

Inevitavelmente, os locais que frequentamos, nossas ações, até mesmo a forma

como nos vestimos comunica algo e são ritualizados.

(...) como vivemos em sociedade, tudo aquilo que fazemos tem um elemento comunicativo implícito. Ao nos vestirmos de determinada forma, ao assumirmos determinadas maneiras à mesa, ao escolhermos determinados lugares para frequentar, estamos comunicando preferências, status, opções. (PEIRANO, 2003, p. 8)

A autora ainda nos mostra, que o ritual é um sistema cultural de comunicação

simbólica, no qual, há uma ordem de sequências padronizadas de palavras e atos,

expressos por diversos meios, com graus variados de formalidade,

(convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação (fusão) e redundância

(repetição).

Para Gennep (2011), todo rito inserido em uma sociedade, seja ela qual for, e

independente do seu grau de instrução, este tem uma conotação espiritual, que

servem para determinar estágios e progressos.

38

A vida individual, seja qualquer tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra, e de uma ocupação a outra. Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais, que, por exemplo, constituem, para os nossos ofícios, a aprendizagem, e que entre os semicivilizados consistem em cerimônias, porque entre eles, nenhum ato é absolutamente independente do sagrado. (GENNEP, 2011, p. 24)

O autor considera que independente de qual seja o rito, há instaurada uma

cerimônia onde sua premissa é determinar a passagem de uma situação para outra,

da mesma forma como no universo há passagens cósmicas que afetam a vida

humana, não podendo dissociá-las.

Gennep defende que diversos pequenos ritos podem compor um cerimonial,

sendo assim, um cerimonial seria uma junção de pequenos ritos, isto é, um todo

composto por partes. [Ibid, p. 39].

Trazendo este conceito para o cerimonial de colação de grau, podemos afirmar

que diversos pequenos ritos o compõe. Rito da vestimenta (beca, capelo e cor das

estolas), o rito da palavra (juramento, outorga de grau e discursos) e o rito da

precedência (composição da mesa de honra). Todos estes serão esmiuçados em

momento oportuno.

Um dos ritos mais observados nas sociedades é o rito de passagem, pois são

celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa ou grupo, no seio de

sua comunidade, legitimando ou credenciando sua nova posição e desempenho

social.

Os ritos de passagem podem ter caráter social, comunitário ou religioso, eles

marcam momentos importantes na vida das pessoas. Os mais comuns são os ligados

a nascimentos, mortes, casamentos, batismos e formaturas. Em nossa sociedade,

geralmente os que são ligados a nascimentos, mortes, batismos e casamentos, são

praticamente monopolizados pelas religiões. Já as formaturas normalmente

acontecem em um âmbito acadêmico, finalizando um ciclo de estudos,

essencialmente não costumam ser religiosas, ainda que eventualmente tenham um

importante momento religioso.

Para Van Gennep os rituais foram considerados em sua constituição básica: ritos

de separação, de margem e de agregação. Estas fases invariantes podem ser

percebidas na maior parte dos rituais e em diferentes grupos sociais. Identificando as

fases dos rituais, Van Gennep chama a atenção para a visão geral do ritual e a

39

importância de se analisarem todas as fases, o antes, e o depois, já que todas são

relativas umas às outras. É nesse sentido que entendemos a frase do autor: “para os

grupos, assim como para os indivíduos, viver é continuamente desagregar-se e

reconstituir-se, mudar de estado e de forma, morrer e renascer” (GENNEP, 2011).

Um cerimonial envolve sistemas protocolares e comportamentais, segundo

BOND e OLIVEIRA (2009), o cerimonial é a forma de se fazer, o protocolo são as

normas relativas ao como fazer, o comportamento deve ser regido por regras sociais.

A autora MARTINEZ (2006) define da seguinte forma:

“Cerimonial é um conjunto de diretrizes, preestabelecidas que precisa ser

conhecido e observado em eventos oficiais ou especiais, sendo um indicador de como

as pessoas devem se comportar num convívio social formal. ” (MARTINEZ, 2006,

p.13)

O homem do período histórico chamado de Paleolítico Superior, durou entre

30.000 a 10.000 a.C. desenhava nas cavernas e já revelava papéis desempenhados

por diferentes pessoas em cerimônias religiosas.

Este homem, denominado de Cro-Magnon, deixou vestígios de sua cultura em

cavernas que por eles foram habitadas, mostram que dentro de suas comunidades

existiam papéis definidos como artistas profissionais e artífices especializados.

Existem provas suficientes de que o homem de Cro-Magnon tinha ideias muito evoluídas sobre um mundo de forças invisíveis. Dispensava mais cuidados aos corpos dos defuntos que o homem de Neanderthal, pintando os cadáveres, cruzando-lhes os braços sobre o peito e depositando, nas sepulturas, pingentes, colares e armas e instrumentos ricamente lavrados. (BURNS, 1959, p.23)

Este trecho mostra processos cerimoniais. O homem Cro-Magnon cria, “a magia

simpática”, baseando-se no princípio de que ao imitar um resultado desejado, este

será automaticamente alcançado.

Aplicando este princípio, foram feitas pinturas nas paredes de suas cavernas e

até esculturas, que representavam a captura de suas caças. Crê-se que

encantamentos e cerimoniais acompanhavam a execução das pinturas e imagens,

que eram feitas de forma simultânea às caçadas reais. (BURNS, 1959)

A representação cerimonial também existia no Egito Antigo, protocolos regiam

as vidas dos faraós e da corte, desde o nascimento até sua morte, em épocas de

40

plantio e colheita, e até mesmo em relacionamentos com outros povos. (BOND e

OLIVEIRA, 2009, p. 13).

Na Grécia e Roma antiga, também existiam diversos cerimonias e etiquetas que

podem ser facilmente observadas entre os filósofos, pensadores e tribunos do império

romano. Estes povos viviam em castas e cada uma tinha papéis éticos definidos com

normas a se cumprir. O não cumprimento resultava em severos castigos.

Os cerimoniais também estavam incorporados ao cotidiano do povo: independentemente do nível social, todos os conheciam e praticavam. Os rapazes, por exemplo, ao passarem da fase da adolescência para a adulta, quando completavam 16 anos, realizavam a cerimônia de troca da bula para toga, vestimenta utilizada pelos jovens da época. (BOND e OLIVEIRA, 2009, p. 14)

A palavra “bula” citada neste trecho era uma espécie de pingente, no formato de

uma pequena bola, que os meninos utilizavam no pescoço.

Estes exemplos de cerimoniais não foram os primeiros registrados pela escrita.

Os primeiros registros de cerimônias de que se tem registros, são dos chineses,

datados do século XII a.C., traziam orientações sobre comportamento e filosofia.

(LUKOWER, 2003, p. 33)

Na Europa Ocidental, principalmente durante o reinado de Luís XIV, de maio de

1643 a setembro de 1715, há registros de cerimoniais e rituais tanto nas cortes quanto

nos feudos ainda existentes. Um dos registros que o historiador ELIAS (1990)

descreve é o cerimonial de “lever” do rei, seu despertar.

De manhã, geralmente às 8 horas, e em todo caso no horário por ele determinado, o rei é acordado pelo primeiro criado de quarto, que dormia aos pés de sua cama. As portas são abertas para os pajens. Nesse momento, um deles acaba de dar a notícia ao "grana chambellan" e ao primeiro fidalgo de quarto, um segundo dirigiu-se à cozinha da corte para providenciar o café da manhã e um terceiro ocupa seu posto diante da porta, deixando entrar apenas os senhores que têm o privilégio do acesso. Esse privilégio seguia uma hierarquia muito precisa. Havia seis grupos diferentes de pessoas com permissão para entrar, um após outro. Falava-se então das diversas "entrées". Primeiro vinha a " entréé familière". Faziam parte dela sobretudo os filhos legítimos e os netos do rei (enfants de France), príncipes e princesas de sangue, o primeiro médico, o primeiro cirurgião, o primeiro criado de quarto e o primeiro pajem. Depois vinha a "grande entréé", reservada aos granas officiers de Ia chambre et de Ia garderobe e aos senhores da nobreza a quem o rei concedera essa honra. Seguia-se então a "première entréé", para os leitores do rei, os intendentes para divertimentos e festividades, entre outros. Em seguida havia uma quarta, a "entréé de Ia chambre", que compreendia todos os restantes "officiers de Ia chambre", além do "grand-aumônier (o grande capelão), os ministros e secretários oficiais, os "conseilleurs d'État'\ os oficiais da guarda

41

pessoal, os marechais de França e assim por diante. A admissão para a quinta entréé dependia em grande medida da boa vontade do fidalgo de quarto, e naturalmente do favorecimento do rei. Incluíam-se nela senhores e senhoras da nobreza que recebiam tal favorecimento, a quem o fidalgo de quarto deixava entrar. Assim, eles tinham o privilégio de se aproximar do rei antes de todos os outros. Finalmente, havia ainda um sexto tipo de entrada, que era o mais disputado. Nesse caso, não se entrava pela porta principal do quarto, mas por uma porta traseira. Era uma entréé aberta para os filhos do rei, incluindo também os ilegítimos, e mais suas famílias e os genros, além também do poderoso "'surintendant dês bâtiments", por exemplo. Pertencer a esse grupo significava um grande privilégio, pois os envolvidos tinham permissão de entrar a qualquer hora nos gabinetes do rei - a não ser que ele estivesse em conselho ou tivesse começado um trabalho especial com seus ministros -, podendo permanecer no quarto até que o rei saísse para a missa, mesmo quando ele estivesse doente. (ELIAS, 1990, p. 101).

No trecho, observa-se a importância que era dada a cada detalhe, as hierarquias

estabelecidas e até mesmo os momentos específicos. O autor nos fornece dados

minuciosos em que cada ato era realizado, com meticulosa exatidão da organização10.

Existiam regras de comportamento políticos nos palácios, regras hierárquicas das

casas que mostravam prestígio social. Visto que o Rei gostava que sua corte morasse

também em seu castelo, existiam regras protocolares até mesmo para as funções

domésticas.

A igreja teve grande influência nos cerimoniais da época, visto que a grande

maioria era baseado nas liturgias religiosas.

Segundo Ribeiro (1950), um ritual de etnia brasileira, conhecido como O Navio,

ou Etogo, era realizado pelos Kadiwéu, evidenciando que realmente eram "índios

mesmo". Realizado em 1992, com o objetivo de mostrar a brancos, seus convidados,

o ritual mais expressivo de sua identidade. Este ritual faz referência à Guerra do

Paraguai, tal como os que os Kadiwéu dizem ter visto no passado, um navio a

percorrer o rio Paraguai. O Navio imita um navio de guerra, seu chefe, chamado

Maxiotagi, ou o "Macho". Maxiotagi é um personagem Xamakôko, sua função no ritual

é ditar as ordens que condicionam as cenas do seu desenvolvimento. Maxiotagi, que

é cego, tem seus companheiros, Ligecoge, "os Olhos do Macho", e Lionigawanigi

(Pequeno), que o auxiliam em suas atividades.

Estes personagens se adornam com paramentos engraçados, a regra máxima

no Navio é não poder rir, sob pena de ser preso e/ou pagar uma "fiança", cobrada,

10 Este cerimonial e outros, podem ser vistos no filme “Vatel: um banquete para o Rei” (2000).

42

geralmente, em forma de gado a ser abatido na hora, abastecendo o churrasco

coletivo dos vários dias deste ritual.

Este ritual mobiliza toda aldeia, especialmente a rotina que é totalmente

modificada. Além disto, todos se comportam como se estivessem sob voz de

comando, só agindo conforme as ordens do chefe. Durante o Navio, todos os homens

da aldeia são chamados de "soldados" e todas as mulheres, de paraguaias gaxianaxe,

e representam presas de guerra.

Quando se faz um levantamento histórico sobre os cerimoniais nas

universidades, nos remetemos aos anos de 1080, onde a Instituição como a de

Salerno, Itália, são consideradas embriões das universidades. (MEIRELLES, 2002)

Segundo Meirelles (2002), a figura do Reitor ou Chanceler, surge em 1200, com

poderes desmedidos, portanto, suas vestes eram diferenciadas, denominadas vestes

talares, que depois evoluíram para vestes reitorais, iniciando assim os cerimoniais

universitários com o objetivo de demonstrar o poder da máxima autoridade.

Se aceitarmos atribuir à palavra universidade o sentido preciso de “comunidade (mais ou menos) autônoma de mestres e alunos reunidos para assegurar o ensino de um determinado número de disciplinas em um nível superior”, parece claro que tal instituição é uma criação específica da civilização ocidental, nascida na Itália, na França e na Inglaterra no início do século XIII. Esse modelo, pelas vicissitudes múltiplas, perdurou até hoje (apesar da persistência, não menos duradoura, de formas de ensino superior diferentes ou alternativas) e disseminou-se mesmo por toda a Europa e, a partir do século XVI, sobretudo dos séculos XIX e XX, por todos os continentes. (CHARLES e VERGER, 1996, p. 7-8)

Na França, em 1180 no século XII, surge a Universidade de Paris, que passa

então a chamar-se Sorbone. Universidade responsável pela implantação do

cerimonial rígido, que envolvia todos os trabalhadores da mesma, obrigando o uso

das vestes talares e introduzindo a cátedra, cadeira em formato de trono, rica e

trabalhada em madeira de lei, com o brasão entalhado no respaldar. (MEIRELLES,

2002, p. 23)

Considerada como universidade importante, estimulada pela localização

geográfica e pela presença da administração real. Formada no século XII, tinha o título

de Estudos Gerais, onde a Teologia era o curso mais importante de todos e ligado à

igreja.

Já no século XIII foi consolidada, a Corporação dos Mestres Parisienses (1262)

ou Universitas Magistrorum et Scholarium, composta por alunos e professores, mas

43

os mestres predominavam. Este local de estudos recebe alunos de todas as nações

tendo então o reconhecimento oficial da mais alta autoridade civil, o Papa.

(ROSSATO, 2005).

Somente o Reitor, conduzido por uma comissão de honra se assentava na cátedra, e ministrava, uma vez por ano, a Aula Magna. Todos os estudantes eram obrigados a usar a capa acadêmica, o que, para eles, era motivo de orgulho e privilégio. (MEIRELLES, 2002, p.23)

A herança cerimonial das Universidades brasileiras, provém da interferência

dessas na Península Ibérica e deles para o Brasil. Destaca-se a Universidade de

Coimbra, Portugal, da qual o Brasil herda o cerimonial, a orientação em relação a

heráldica, brasonário e medalhística. (MEIRELLES 2002, p. 24)

Também a herança do poder simbólico desta cerimônia. Como diz Bourdieu: “O

poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a

cumplicidade daqueles que não querem saber, que lhe estão sujeitos ou mesmo que

o exercem”. (BOURDIEU, 1989, p.8)

Em 1808 quando a família real aporta no Brasil, decidiu criar o curso de Cirurgia,

Anatomia e Obstetrícia, atendendo à solicitação do cirurgião-mor do Reino, José

Corrêa Picanço, um dos portugueses brasileiros formados em Coimbra. Quando a

corte foi transferida para o Rio de Janeiro, estas instituições, que podem ser chamadas

de ensino superior, eram em sua maioria planejadas com uma preocupação voltada

às defesas militares, Academias Militares, da então colônia, mas lá foram criados

também a escola de Medicina, a Escola de Belas Artes, o Museu Nacional, a Biblioteca

Nacional e o Jardim Botânico. (OLIVEN, 2002, p.25)

Segundo Meirelles (2002), o Brasil torna-se independente em 1822, assumindo

o poder o Imperador Dom Pedro I, que mais tarde renunciou o trono, para assumir

como Dom Pedro IV o reino de Portugal. Deixa em seu lugar, seu primogênito ainda

menor de idade Dom Pedro II, e durante o período de Regência foram criados dois

cursos de Direito: um em Olinda, na região nordeste, e outro em São Paulo, no

Sudeste. Também se cria a Escola de Minas em ouro Preto, que sua criação é datada

em 1832, mas sua real instalação acontece somente 24 anos depois, esta escola

situava-se na região de extração de ouro.

As primeiras faculdades brasileiras – Medicina, Direito e Politécnica – eram independentes umas das outras, localizadas em cidades importantes e

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possuíam uma orientação profissional bastante elitista. Seguiam o modelo das Grandes Escolas francesas, instituições seculares mais voltadas ao ensino do que à pesquisa. Tanto sua organização didática como sua estrutura de poder baseavam-se em cátedras vitalícias: o catedrático, “lente proprietário”, era aquele que dominava um campo de saber, escolhia seus assistentes e permanecia no topo da hierarquia acadêmica durante toda a sua vida. (OLIVEN, 2002, p. 25 e 26).

Neste período imperial, não foi criada uma universidade no Brasil, que segundo

Oliven (2002), pode ser que isso se deva ao fato dos altos padrões da Universidade

de Coimbra. Mas estes cursos superiores que eram criados neste território eram vistos

como substitutos às Universidades.

Dentro da história da universidade brasileira, também se vê a dificuldade de

acesso feminino às mesmas. Segundo Rosemberg (2016), a primeira mulher a ter

diploma de ensino superior no Brasil foi Maria Augusta Generosa Estrela, graduou-se

em 1882 em medicina nos Estados Unidos, mesmo porque o ensino superior aqui era

inacessível às mesmas.

“...foi apenas em 1879 que a lei Leôncio de Carvalho garantiu às mulheres o direito de estudar em instituições brasileiras de ensino superior. Setenta e nove anos após a fundação da primeira instituição de ensino superior no país, a branca Rita Lobato graduou-se na Faculdade de Medicina da Bahia (1887). Quase trinta anos depois (1926) a negra Maria Rita de Andrade obteve o título de bacharel pela Faculdade de Direito da Bahia. Somente em 2006, Maria das Dores de oliveira, da etnia pankararu, foi reconhecida como a primeira mulher indígena a obter o título de doutor...” (ROSEMBERG, 2016, p. 337)

Hoje essa situação já está bem diferente, em pesquisa realizada com 425

formandos do 2º semestre 2017 do curso de Direito da UPM, 278 (65%) são do sexo

feminino.

Retornando ao foco da pesquisa, à UPM11, nasce em 1870 do projeto do casal

de missionários americanos Mary Annesley e George Chamberlain, que criam uma

escola para crianças, a Escola Americana. Nas décadas seguintes surge o Mackenzie

College e seus primeiros cursos superiores de Filosofia em 1885, de Comércio em

1890 e a Escola de Engenharia em 1896.

No período da primeira República, que contemplou os anos de 1889 a 1930, os

líderes desta nova república, eram francamente favoráveis à criação de cursos laicos

de orientação técnica profissionalizante. Entre 1891 e 1910 foram criadas vinte e sete

11 Informações retiradas do site da Universidade. Disponível em: <http://up.mackenzie.br/a-universidade/historia/> Acesso em: 07/04/2018.

45

escolas superiores, nove de Medicina, Obstetrícia, Odontologia e Farmácia; oito de

Direito, quatro de Engenharia, três de Economia e três de Agronomia. (Souza, 1996).

Em 1893 o Mackenzie College registra a primeira experiência oficial de

cotitulação internacional, tendo a University of the State of New York como entidade

associada.

O Marechal Hermes da Fonseca, presidente da república, decretou, em 13 de

dezembro de 1910 a Lei Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na República,

de autoria do Deputado Gaúcho Rivadávia da Cunha Corrêa. Esta lei contemplava

exames de admissão aos cursos superiores, liberdade curricular e fim da fiscalização

federal nas escolas superiores estaduais e privadas. Com isso houve aumento de

oferta e expedição de título acadêmico.

A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data próxima das comemorações do Centenário da Independência (1922). Resultado do Decreto n° 14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades profissionais pré-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema: ela era mais voltada ao ensino do que à pesquisa, elitista, conservando a orientação profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades. (OLIVEN, 2002, p. 26)

Em 1911 o Mackenzie College cria o primeiro curso de Química Industrial em

São Paulo. E com muitos cursos, particulares e públicos surgindo no Brasil, todo este

aumento de oferta e falta de fiscalização do ensino superior precisava ser contido, foi

então que em 1915, a chamada Reforma Carlos Maximiliano, acrescentou a exigência

de vestibulares, ou seja, exames de admissão e apresentação de certificados de

conclusão do ensino secundário para ingresso no Ensino Superior. (Souza, 1996).

Enquanto na literatura, por esta época, já tínhamos um Machado de Assis, um Euclides da Cunha; enquanto na medicina o Instituto de Manguinhos dava exemplos seguros de pesquisas científicas, enquanto em alguns países da América Latina surgiam novas universidades e a Argentina empreendia a sua reforma universitária com vistas à valorização das atividades de pesquisa, de extensão e de participação dos estudantes nos órgãos de universitária, a educação no Brasil carecia de bases anteriores, não tendo nem um sistema de educação popular, para não dizer de universidades (CUNHA, p. 64)

Em 1922 o Mackenzie College cria o primeiro curso de Engenharia Química no

país. Nessa época, década de 20, vários pesquisadores brasileiros traziam ideias

educacionais denominadas de Escola Nova, e foram responsáveis por reformas de

ensino em vários estados brasileiros. Em 1924 foi criada a ABE - Associação Brasileira

46

de Educação que pela primeira vez publica um livro intitulado “O problema

universitário brasileiro”, e tinha como uma de suas bandeiras a criação do Ministério

da Educação. (OLIVEN, 2002)

Em 1925 ocorreu a Reforma Rocha Vaz que introduziu a limitação de vagas e

os critérios de classificação.

Com a Revolução de 1930, e depois desta revolução chega às autoridades a

tomada de consciência ao setor educacional da necessidade de novos projetos

educacionais. Neste mesmo ano é criado o curso de Biblioteconomia do Brasil, pelo

Mackenzie College.

Esta Revolução leva à presidência Getúlio Vargas que durante 15 anos

permanece no poder, este período histórico denominado Estado Novo (1937-1945)

passa-se de Estado Liberal, para Estado Social, centralizador, autoritário, sem

participação popular. Francisco Campos, o primeiro Ministro da Educação e Saúde do

Estado Novo era também seu principal teórico que em 1931, elaborou o Estatuto das

Universidades Brasileiras, que vigorou até 1961, e introduziu o ensino religioso nas

escolas federais, estaduais e municipais do país. "De um entusiasta e defensor de

ideias liberais, adepto da Escola Nova, Campos durante o Estado Novo passou a

defender conceitos que se enquadravam perfeitamente na nova ordem social

estabelecida"

Durante este mesmo período, em 1932 a agora Escola Técnica Mackenzie passa

a ser reconhecida pela excelência na formação de seus alunos.

Dois tipos de universidades poderiam existir: a chamada oficial, que era a pública

(federal, estadual ou municipal) ou a chamada livre, ou seja a particular; deveria,

também, incluir três dos seguintes cursos: Direito, Medicina, Engenharia, Educação,

Ciências e Letras. Essas faculdades seriam ligadas, por meio de uma reitoria, por

vínculos administrativos, mantendo, no entanto, a sua autonomia jurídica.

Desapontaram-se com as políticas do novo Ministério que priorizava a formação

de professores voltados ao ensino médio do que à pesquisa, os educadores que

integravam a ABE, fizeram de Brasília um campo onde diferentes grupos que

detinham diferentes projetos para a universidade brasileira, se defrontavam. Seus

confrontos estavam voltados à temas como saber qual o papel do governo federal

como normatizado do ensino superior e o papel da Igreja Católica como formadora de

caráter humanista da elite brasileira.

47

Em 1935, Anísio Teixeira então Diretor de Instrução do Distrito Federal, criou,

através de um Decreto Municipal, a Universidade do Distrito Federal voltada,

especialmente, à renovação e ampliação da cultura e aos estudos desinteressados.

Mesmo enfrentando escassez de recursos econômicos, as atividades de pesquisa

foram estimuladas com o aproveitamento de laboratórios já existentes e o apoio de

professores simpáticos à iniciativa.

Em janeiro de 1939 Getúlio Vargas e seu governo impedem a criação de um

modelo liberal de universidade em São Paulo, mas este modelo criado intitulado

Projeto USP, serviu mais tarde para criação de outras Universidades Federais,

vencendo o autoritarismo do Governo Federal.

Na década de 40 o modelo de ensino superior existente era duramente criticado

no país, pois a população conclamava por desenvolvimento. O primeiro passo foi dado

pelos militares criando o Centro Técnico da Aeronáutica, esse projeto previa a criação

do ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que tem seu início em 1947.

Em 1949, sob a liderança de César Lattes e José Leite Lopes, que não tinham na Universidade do Brasil as condições necessárias para pesquisar, foi criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no qual os pesquisadores pretendiam realizar o que na Universidade não conseguiam. O Centro tomou-se em importante centro de estudos e pesquisas, tendo obtido o mandato universitário de conferir graus acadêmicos de pós-graduação. (SOUZA, 1996, p. 54)

No período de 1945 até 1964 a história da universidade passa pelo que

nacionalmente ficou conhecido como populista. Vargas renuncia em outubro de 1945,

assume José Linhares que fica pouco tempo no poder, até janeiro do ano seguinte e

no final do mandato de José Linhares passa a ser o período populista, onde os

governantes que lideravam tentavam ganhar a simpatia e confiança da população

como instrumento político.

Durante a Nova República, foram criadas 22 universidades federais, constituindo-se o sistema de universidades públicas federais. Cada unidade da federação passou a contar em suas respectivas capitais, com uma universidade pública federal. Durante esse mesmo período, foram, também, criadas 9 universidades religiosas, 8 católicas e 1 presbiteriana. (OLIVEN, 2002 p. 30)

É neste mesmo período que o curso de Arquitetura se transforma na primeira

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Estado de São Paulo, em 1947. “Nenhuma

48

outra instituição de ensino superior funcionara antes, em todo o país, com a

designação Faculdade de Arquitetura”.

No início do decênio de 1950, quatro faculdades já se encontravam consolidadas e uma quinta estava em vias de ser inaugurada: Escola de Engenharia, Faculdade de Arquitetura, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1946), Faculdade de Ciências Econômicas (1950) e Faculdade de Direito (1953). Foi sobre este alicerce que se erigiu o edifício da então Universidade Mackenzie, autorizada a funcionar pelo Decreto nº 30.511, de 7 de fevereiro de 1952, e instalada, solenemente, em 16 de abril de 1952, com a posse do primeiro Reitor, o Prof. Engº. Henrique Pegado. Naquela conjuntura histórica, o quadro discente totalizava 1.155 alunos e o número total de professores não passava de 80. (UPM12, Acesso em: 07/04/2018)

Fato importante que aconteceu na década de 60, foi que após um período de 14

anos de tramitação no Congresso Nacional foi promulgada a Lei n° 4.024, a primeira

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, que na prática reforçou o modelo

tradicional de ensino superior existente no país. Há então um período da qual Souza

chama de período de “inércia formal”, pois o governo não incentivava à pesquisa nas

universidades e simplesmente a formação profissional, no entanto neste mesmo

período, é ultrapassado os muros, vivendo momento de grande vitalidade na pesquisa

e criado os Centros Populares de Cultura que desenvolviam formações e

alfabetizações para adultos, envolvendo jovens professores e contrapondo a

elitização formativa de um passado não muito distante.

Em 1999 é adotada a denominação Universidade Presbiteriana Mackenzie e a

mesma vem até hoje mostrando-se em excelência e contribuindo para o panorama de

pesquisa e formação de nosso país.

Em 1964 o governo foi tomado pelos militares, que na época coibiu a criticidade

da universidade brasileira, fazendo com que muitos professores do sistema público

fossem afastados, e foram criadas as Assessorias de Informação nas instituições

federais de ensino superior, com a intenção de coibir as atividades de caráter

“subversivo”, tanto de professores quanto de alunos. (OLIVEN 2002)

Em 1968 o governo aprova a Lei da Reforma Universitária (Lei n° 5540/68) que

criava os departamentos, o sistema de créditos, o vestibular classificatório, os cursos

de curta duração, o ciclo básico dentre outras inovações. A partir daí os

12 Informação disponível em Disponível em: <http://up.mackenzie.br/a-universidade/historia/>

49

departamentos substituíram as antigas cátedras, passando, as respectivas chefias a

ter caráter rotativo.

Ao estabelecer a indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão, o regime de tempo integral e a dedicação exclusiva dos professores, valorizando sua titulação e a produção científica, essa Reforma possibilitou a profissionalização dos docentes e criou as condições propícias para o desenvolvimento tanto da pós graduação como das atividades científicas no país. A Lei n° 5.540/68, da Reforma Universitária dirigia-se às IFES (Instituições Federais de Ensino Superior). Entretanto, como grande parte do setor privado dependia de subsídios governamentais, seu alcance ultrapassou as fronteiras do sistema público federal, atingindo as instituições privadas, que procuraram adaptar-se a algumas de suas orientações. (OLIVEN, 2002 p.34)

Nesta época o setor privado se expande chegando até a década de 80 onde

mais da metade dos alunos de terceiro grau, ou seja, das universidades, estavam

matriculados em estabelecimentos isolados do ensino superior, sendo 86% das

faculdades privadas.

No ano de 1981, o Brasil contava com 65 universidades, sete delas com mais de 20.000 alunos. Nesse mesmo ano, o número de estabelecimentos isolados de ensino superior excedia a oitocentos, duzentos e cinquenta dos quais com menos de 300 alunos. As novas faculdades isoladas não eram locus de atividades de pesquisa, dedicando-se, exclusivamente, ao ensino. (OLIVEN, 2002 p.34)

É nesta mesma década, no ano de 1988 que seria a promulgação da

Constituição Federal, e as investidas são para garantir que nela contivesse a

seguridade de que as instituições públicas tivessem um ensino público, laico e gratuito

em todos os níveis e por outro lado as instituições privadas queriam garantir o acesso

às verbas públicas e diminuir a interferência do Estado nos negócios educacionais.

E ficou então estabelecido na Constituição Federal que um mínimo de 18% da

receita anual, resultante de impostos da União, seriam destinados para a manutenção

e o desenvolvimento do ensino; assegurou, também, a gratuidade do ensino público

nos estabelecimentos oficiais em todos os níveis, e criou o Regime Jurídico Único,

estabelecendo pagamento igual para as mesmas funções e aposentadoria integral

para funcionários federais. Em seu artigo 207, reafirmou a indissociabilidade das

atividades de ensino, pesquisa e extensão em nível universitário, bem como a

autonomia das universidades.

E no final de 1996 foi aprovada a Lei sob o n° 9.394/96 de Diretrizes de Base da

Educação Nacional que prevê diversos graus de abrangência ou especialização

50

educacionais nos estabelecimentos públicos e privados. Agora os cursos são

avaliados e os cursos são credenciados ou recredenciados mediante desempenho

nesta avaliação, podendo até, em caso de deficiência e não saneamento das mesmas

em prazo determinado, perder seu curso. Também volta-se para uma específica

associação à pesquisa e extensão e uma determinação de corpo docente em pelo

menos um terço com titulação de mestre e doutor. Estas instituições são avaliadas

periodicamente, sendo credenciadas por tempo determinado.

O MEC - Ministério da Educação - começou com suas avaliações pelas

instituições com maior número de matriculados, e seus formados são submetidos a

um teste com conhecimentos relacionados a este. Também são avaliadas bibliotecas,

laboratórios e qualificação dos professores.

Todo este caminhar pela história das universidades se aplica para a

compreensão dos atos de cerimônia, pois estes sempre estão ligados com

desenvolvimento ético social, contexto histórico e transformações da sociedade. As

atividades éticas cerimoniais, registradas contribuem para a preservação da memória

e criação da própria imagem.

No Brasil, os cerimoniais oficiais foram regidos pelo Decreto nº 70.274 de 09 de

março de 1972, em 11 de maio de 1992, quando passou a valer o Decreto nº 8.421,

que regulamenta as normas do Cerimonial Público e a Ordem Geral de Precedência.

Há também o Regimento interno de cada Instituição, mesmo para as particulares,

como é o caso da UPM - Universidade Presbiteriana Mackenzie, mas num panorama

geral, segundo os levantamentos desta pesquisa, poucas universidades possuem

seus regulamentos internos quanto às suas normas e regulamentos cerimoniais.

Em geral, os atos da cerimônia e realização das solenidades acadêmicas,

seguem as mesmas diretrizes de outros atos oficiais públicos, contudo há uma

mensuração histórica no ato cerimonial universitário, é recomendada pelo MEC e

também pela Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo e aparece na história

universitária desde os primórdios de sua criação. De acordo com o site do MEC13, a

13 No site do MEC, SECRETARIA DE REGULAÇÃO SUPERIOR (SESU) menu Perguntas frequentes sobre educação superior, em DIPLOMA E HISTÓRICO ESCOLAR vê-se claramente na pergunta: A instituição pode cobrar pela colação de grau? A questão da colação de grau é institucional. Sugere-se consulta ao regimento interno, bem como à comissão do cerimonial da sua instituição. Ressalte-se que a expedição de diploma só ocorrerá quando o curso estiver devidamente reconhecido ou tiver renovado seu reconhecimento. Disponível em << http://portal.mec.gov.br/sesu-secretaria-de-educacao-superior/perguntas-frequentes>> acesso em 06/05/2018.

51

colação de grau é institucional. “O aluno deve consultar o regimento interno da

instituição, bem como a Comissão do Cerimonial das IES – Instituições de Ensino

Superior. Lembramos também que a expedição de diploma só ocorrerá quando o

curso estiver devidamente reconhecido ou renovado seu reconhecimento”. (MEC,

2017). No Regimento Interno da UPM, não há uma especificação, de como deve ser

um cerimonial de colação de grau.

Segundo o MEC, no último censo realizado no ano de 2016 e disponibilizado

pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,

há um comparativo quanto ao número de IES. A tabela mostra dados sobre seu

crescimento ao longo dos últimos 10 anos e uma transformação no setor quanto ao

número de vagas ofertadas no ensino superior. Veja tabela abaixo disponibilizada no

relatório (p. 7).

Tabela 03: Número de instituições de Educação Superior, por Organização Acadêmica e Categoria Administrativa - Brasil 2006-2016

Ano

Instituições

Total Universidade Centro Universitário Faculdade IF e Celeft

Pública Privada Pública Privada Pública Privada Pública Privada

2006 2.270 92 86 4 115 119 1.821 33 a 2007 2.281 96 87 4 116 116 1.829 33 a 2008 2.252 97 86 5 119 100 1.811 34 a 2009 2.314 100 86 7 120 103 1.863 35 a 2010 2.378 101 89 7 119 133 1.892 37 a 2011 2.365 102 88 7 124 135 1.869 40 a 2012 2.416 108 85 10 129 146 1.898 40 a 2013 2.391 111 84 10 130 140 1.876 40 a 2014 2.368 111 84 11 136 136 1.850 40 a 2015 2.364 107 88 9 140 139 1.841 40 a 2016 2.407 108 89 10 156 138 1.866 40 a

Fonte: Extraída do censo da Educação Superior (2016)./ MEC INEP; tabela elaborada por INEP/DEEP.

Percebemos que, segundo os dados, em 2016 temos 2.407 Instituições de

Ensino Superior oficialmente reconhecidas, sendo os Centros Universitários,

Faculdades, Universidades, Institutos Federais e Centros Federais de Educação

Tecnológica.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie é uma delas e comporta uma estrutura

de atendimento anual de mais de 30.000 discentes. Como este trabalho, tem o seu

foco na FDir - Faculdade de Direito, desde sua 1ª solenidade realizada em 08/10/1959,

foram 597 colações de grau com um total de 27.274 alunos formados. Em 07/10/2009,

a FDir realizou o Jubileu de Ouro da 1ª turma de formandos do curso de Direito.

52

Após percorrer brevemente, (para não desviar do foco da pesquisa) pela história

da constituição das universidades no Brasil inserindo a UPM, investigou-se termos

técnicos presentes na solenidade de colação de grau.

1.2 Decoro e Precedência na Colação de Grau

Todas as cerimônias oficiais são regidas de ritos, neles estão presentes alguns

termos importantes, dos quais é necessário que conheçamos e entendamos sua

origem e significância, ante este ato solene.

1.2.1 Protocolo

Segundo o dicionário online de etimologia, esta palavra provém do Grego protos,

“primeiro”, mais kolla, “cola”, esta palavra se referenciava à página inicial dos rolos de

pergaminho, nome que entre os latinos e bizantinos se dava à folha colada na frente

para a garantia da autenticidade de um registro14. (NASCENTES, p.420)

Com o passar do tempo seu sentido alterou-se de “primeira página de

publicação” para “informação oficial”, depois para “registro de uma transação”, para

“documento diplomático”, e atualmente tem maior relevância ao significado de

“fórmula de etiqueta diplomática”.

Hoje o protocolo compreende a etiqueta nas formas de trato interpessoal, os

formulários e formulações respectivos à regulamentação de atos públicos e o registro

desses atos, que geralmente é feito através de ata.

Na Colação de Grau realizada na UPM, o protocolo está presente em toda

solenidade. Inicialmente, é natural que todos os homenageados e demais autoridades

presentes, que farão a composição da mesa de honra, sejam recebidos com boas

vindas e cumprimentos.

Em seguida, eles são chamados para receberem todas as instruções

protocolares do evento. Para aqueles que farão o uso da palavra, são orientados

14 Dicionário etimológico, disponível em

<https://archive.org/stream/AntenorNascentesDicionaroEtimologicoDaLinguaPortuguesaTomoI/Dicion

arioEtimolgicoDaLinguaPortuguesa#page/n459/mode/2up> Acesso em: 12/0502018.

53

quanto ao tempo; em seguida, são designados os que farão a entrega dos canudos,

dos memoriais e, da Bíblia Sagrada na hora dos cumprimentos.

Por fim, é disponibilizada uma Minuta de Roteiro, impresso que pontua cada

momento da solenidade, desde a abertura ao encerramento oficial, possibilitando o

cumprimento e de todas a formalidades, da ordem e o respeito inerentes ao ato.

Fazendo com que a solenidade transcorra de maneira dinâmica, eficaz e eficiente.

1.2.2 Precedência

A precedência, como já diz a palavra em seu significado, é o direito de vir antes,

de preceder, de ter a primazia, a preferência. MEIRELLES (2002), levanta algumas

questões interessantes quanto a precedência e nos faz refletir sobre a ordem geral

dos valores e a disputa “de” e “pelo” poder que é inserida dentro dos cerimoniais.

Aliás, é dentro da ordem estabelecida nas falas, nos assentos, na entrada, no

empoderamento etc., que vemos a importância do estabelecimento da precedência.

É no Congresso de Viena, de 1815, que provém a base da estrutura diplomática

atual. O objetivo deste congresso era refazer a Carta da Europa, depois da queda do

império Francês (Maldonado, 1994), fazendo uma regulamentação internacional do

território Europeu, participando deles sete estados soberanos: Áustria, Prússia,

Rússia, Inglaterra, Suécia, Portugal e Espanha.

Na precedência deste congresso ficou acordado que prevaleceria a precedência

dos representantes diplomáticos conforme sua data de chegada ao país. Este mesmo

evento possibilitou que cada Governo escrevesse suas normas, determinando

somente que, no caso de recepção a Chefes de Missão Diplomática, o procedimento

seja uniforme para evitar discriminações.

No Brasil, a precedência é regulamentada pelo Decreto nº 83.186, e este

apresenta a ordem de precedência em três distintos níveis hierárquicos. A) Ordem de

precedência nas cerimônias oficiais de caráter federal, na Capital da República. B)

Ordem de precedência nas cerimônias oficiais nos Estados da União, com a presença

de autoridades Federais. C) Ordem de precedência nas cerimônias oficiais de caráter

Estadual.

As normas de precedência estabelecidas neste decreto são para as

organizações governamentais. A partir dela são baseadas as ordens das

54

organizações institucionais, contudo cada Corte é responsável por, dentro de uma

ética, estabelecer a ordem de precedência em um regimento interno.

É convenção dentro do estabelecido ao poder, que nas Universidades a ordem

de precedência siga a seguinte diretriz (MEIRELLES, 2002):

● Reitor,

● Chanceler (maior autoridade da Mantenedora),

● Vice-Reitor,

● Presidente dos Conselhos Superiores ou Conselhos Específicos,

● Pró-reitores, Superintendente ou Diretor de Campus,

● Diretores de Centros, Faculdades e Institutos

● Chefes do Departamento

● Professores

No dia da Colação de Grau, é disponibilizado pelo Departamento de Colação de

Grau, a CMH - Composição da Mesa de Honra, elaborada com base na ordem de

precedência. Para que esse momento transcorra de maneira organizada e tranquila,

toda a dinâmica se dá da seguinte forma: o Mestre de Cerimônias anuncia o nome

completo e a titulação acadêmica de cada componente; no local designado, há uma

placa com o seu nome e uma assistente de palco aguardando a sua chegada.

Imagem 4. Modelo para a Composição da Mesa de Honra

Fonte: SECCA - Secretaria dos Conselhos e de Controle Acadêmico

55

A Universidade Mackenzie tem suas particularidades, por ser dividida em

Unidades Universitárias, deveria ter sua ordem de precedência pré-estabelecida em

Regimento Interno, que atualmente não as contempla.

Especificamente quando descrevemos o cerimonial de Colação de Grau, como

é feito atualmente, regulamentos a ordem correta de precedência, conforme as leis de

protocolo e cerimonial, que deveriam ser utilizadas nesta Instituição. Estabelecendo-

se da seguinte forma.

● Reitor, por delegação, representado pelo Diretor da Faculdade,

● Chanceler, geralmente representado pelo Capelão Universitário, Pastor da

Igreja Presbiteriana do Brasil,

● Diretores dos Conselhos Superiores ou Conselhos Específicos,

● Diretor da área Administrativa, neste caso o Secretário dos Conselhos

Superiores e de Controle Acadêmico,

● Coordenador de Curso.

● Patrono

● Paraninfo

● Professores homenageados

● Demais homenageados. Funcionários e homenagem in memoriam.

Segundo Meirelles (2002), o Reitor e o Chanceler estão no mesmo nível de

importância, e quando os dois estão presentes, o Reitor preside a solenidade e o

Chanceler senta-se à sua direita.

Se durante a cerimônia se fizerem presentes também antigos Reitores ou

Diretores (por ordem de decanato); Doutores Honoris Causa; Professores Honoris

Causa e Professores Eméritos, estes devem ocupar lugares de destaque.

No âmbito geral a Universidade Mackenzie, composta por nove Unidades

Universitárias já citadas, de acordo com a ordem de precedência, Universidades

precedem Faculdades, e dentro de instituições de ensino sejam Faculdades ou

Universidades, a ordem deve seguir a instância: federal; estadual e municipal; e

particular, e dentro desta pela data da criação.

Adota-se nesta Universidade uma composição de mesa de honra diferenciada,

por uma questão de logística de palco e conveniência adotada na cerimônia. A mesma

se dá da seguinte forma: ao centro da mesa senta-se o Reitor quando presente, ou o

Diretor da Unidade Universitária que o representa. O seu lado direito “Institucional”, é

56

composto pelo Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico,

Coordenador de Curso e Capelão Universitário. O lado esquerdo do Reitor,

“homenageados”, ficam o patrono, o paraninfo e os professores homenageados.

Imagem 5. Tribuna de Honra completa

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

As imagens trazidas no contexto deste são compreendidas como documentos

da história, portanto, não são ilustrativas. Dessa forma, exigem estudo sobre as

mesmas.

Os historiadores da Escola do Annales e teóricos como Charles Sanders Pierce

(1839 - 1814), classificam a imagem, como linguagem. As imagens possuem várias

formas de representação de si. Esta é uma fotografia, uma linguagem visual, uma

forma de representação da imagem real.

A característica principal é a insistência com que determinadas imagens se

apresentam à percepção, o que dá a ela uma vocação referencial, ou seja, podemos

extrair do campo visual fotográfico as referências visuais capazes de nos trazer

informações conceituais sobre a época, espaço, forma de apresentação, valores e até

mesmo da hierarquia apresentada. (SANTAELLA, 2001. p. 19). Assim sendo, a

imagem fotográfica representada visualmente, tem uma relação de semelhança direta

com aquilo que representa, o ato oficial, a cerimonia. [Ibid. p.188].

57

Para Pierce (CP 3.326) apud SANTAELLA, 2001, a fotografia é um signo visual

capaz de nos remeter ao momento vivido, a uma experiência perceptiva, através dos

ícones que são representados na mesma. Ícones (signos icônicos) substituem seus

objetos a ponto de serem dificilmente distinguíveis deles.

Assim, ao contemplar uma imagem, há um momento de que perdemos a

consciência de que ela não é a coisa, a distinção entre o real e a cópia desaparece, e

ela é, por aquele momento, um puro sonho – nenhuma existência particular, e não

ainda geral. Nesse momento, o que estamos contemplando é um ícone. (CP 3.362

apud. SANTAELLA, 2001. p. 194).

Sendo assim o interpretante da imagem, a pessoa que a olha, tem nesta, um

rememorar, ou seja, a memória do momento vivido, como se a mesma revivesse de

forma contundente aquele momento.

Se o interpretante não tiver de fato, vivido aquele momento, mesmo assim ao

pegar a foto para observar, saberá do que se trata, e poderá experenciar o momento,

vendo na imagem os ícones representativos existentes que são no caso mostrado

acima, as becas, os capelos, o posicionamento das pessoas e memória sócio cultural

que a mesma possui.

Imagem 6. Análise da Imagem 5 com Riscos do autor

58

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

A centralidade do eixo fotográfico mostra a importância da informação e

composição organizacional, transmitida pelo fotógrafo e percebida inconscientemente

pelo interpretante. A centralidade do ícone, M de Mackenzie, marca da Universidade,

ao centro da fotografia, demonstra a força e grandeza da Instituição que é simbolizada

também em sua cor; a disposição dos alunos separados em proporção, deixando livre

não somente uma passagem central proposital, mas a liberdade visual ao ícone da

Universidade, bem como a disposição das autoridades presentes na parte frontal

demostram a hierarquia de poder estabelecida pelas autoridades e pessoas

presentes.

Todas estas informações são passadas pelo olhar do fotógrafo e assimilada de

forma generalista pelo interpretante pela tendência organizacional própria do ser

humano, fundamento este que rege a Teoria da Gestalt.

Fotos que contenham esta mesma centralidade, devem ser enxergadas com

propósitos similares.

O registro fotográfico proporciona materialidade ao ritual e o historiador por meio

da sua própria construção histórico-cultural-social o decifra. Cada indivíduo irá

compreender realizar esse processo de acordo com o seu referencial, seu capital

cultural. Entretanto, são documentos desveladores.

1.2.3 Paraninfo

Também conhecido como o padrinho da turma, um título atribuído ao indivíduo

escolhido pela turma de formandos de um determinado curso do ensino superior,

normalmente para uma cerimônia de colação de grau. Geralmente um professor da

Universidade que tenha grande destaque no corpo científico dos alunos formandos,

além de despertar carisma entre os membros da turma. O paraninfo tem a importante

missão de servir como um conselheiro para a turma dos alunos que se formam.

Durante o discurso, que é considerado usual para os paraninfos, este tem a

oportunidade de agradecer a honra de ser homenageado com este título e dar um

"último conselho" para os formandos sobre a profissão que irão seguir.

59

É possível ter uma ideia de quanto essa indicação marca na vida do docente.

Acompanhe nas palavras do atual Diretor da Faculdade de Direito da Universidade

Mackenzie, professor Doutor Felipe C. de S. Pinto15.

“[...] Desde a primeira turma até hoje ou eu fui patrono, paraninfo ou professor homenageado. Eu lembro claramente da turma, eu tenho uma memória muito boa assim. [...] os alunos da classe tinham me escolhido como paraninfo da turma. Eu fiquei extremamente emocionado, ainda mais numa Instituição como o Mackenzie, [...] foi a primeira vez que eu lecionei na graduação no Mackenzie, e já na primeira vez ser paraninfo é uma coisa muito importante.” “Mackenzie é uma instituição gigantesca com muitos professores renomados, foi uma emoção que eu nunca mais vou esquecer na minha vida. Eu me lembro como se fosse hoje, eu comecei o meu discurso dizendo: sempre me lembrarei de vocês! Porque Era exatamente esse sentimento que eu tinha naquele momento.”

São os próprios formandos quem escolhem o paraninfo, na maioria das vezes

se utilizam de meio de eleições direta e democrática. (UFRPE, 2015). Nem sempre a

figura do paraninfo foi relacionada com formaturas de colações de grau.

Etimologicamente, este termo surgiu a partir do grego paránymphos, em que para

significa "ao lado" e nymphé quer dizer "noiva", ou seja, antigamente a palavra

paraninfo era utilizada com o sentido de "padrinho ou testemunha de casamento".

Para os gregos, o paraninfo era um amigo do noivo que acompanhava a noiva até a

casa do futuro marido.

Nota-se no registro/fotográfico a utilização do recurso de foco e desfoque para

enfatizar a informação transmitida na imagem, bem como organizar o grau de

importância visual desse contexto. Neste momento da cerimônia, a centralidade da

informação se passava em linguagem oral, pelo professor Doutor Hamid Charaf Bdine

Júnior, que proferia seu discurso. Este ato/instante captado pelo fotógrafo, destaca a

relevância no ritual do personagem/paraninfo.

Se nos reportarmos ao que discutimos anteriormente, o experenciar o momento

registrado, podemos perceber que parece-nos estar presente, prontos para ouvir

discurso já realizado. Temos a sensação de vivermos o grau de satisfação de alunos

e autoridades presentes, quando mesmo que em desfoque, percebemos um

contentamento estampado em seus rostos.

15 Vide página 29.

60

É esta satisfação e celebração presente no cerimonial que instiga o pesquisador

a descrever o ritual e percorrer por diversos registros/documentos de naturezas

diferentes. A satisfação e importância estão na imagem/palavra enquanto linguagem

comunicacional de emoções. Incentivo, passagem de status sociais, elucubração de

um futuro se fazendo presente.

Imagem 7. Prof. Hamid Charaf Bdine Júnior - Paraninfo em 13/07/2017.

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Em se tratando de personagem chave do ritual, simbolicamente no ato, indivíduo

dotado de prestigio, buscou-se nos documentos oficiais da Faculdade de Direito, do

2º semestre 2009 até 2º semestre 2017, os seus paraninfos:

Tabela 04: Paraninfos da Faculdade de Direito, anos de 2009 a 2017.

Data Ano/Conclusão Semestre Paraninfo 14/07/2009 2009 1º Prof. Dr. Roberto Maia Filho 15/07/2009 2009 1º Prof. Dr. Pedro Demercian 12/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Alexis Couto de Brito 13/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Pedro Henrique Demercian 14/07/2010 2010 1º Prof. Dr. José Horácio Cintra Gonçalves Pereira 15/07/2010 2010 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 12/01/2011 2010 2º Prof. Me. Adalberto J. Q. T. de C. Aranha Filho 13/01/2011 2010 2º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 12/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 13/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Paulo Jorge Scartezzini Guimarães 14/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 15/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Orlando Villas Boas Filho 10/01/2012 2011 2º Profa. Ma. Márcia Maria de Barros Correa 11/01/2012 2011 2º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 12/01/2012 2011 2º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 13/01/2012 2011 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior

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11/07/2012 2012 1º Prof. Me. Carlos Eduardo Nicoletti Camillo 12/07/2012 2012 1º Prof. Me. Claudinor Roberto Barbiero 13/07/2012 2012 1º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 17/07/2012 2012 1º Prof. Me. Antônio Cecílio Moreira Pires 10/01/2013 2012 2º Prof. Me. Carlos Eduardo Nicoletti Camillo 11/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Milton Paulo de Carvalho Filho 15/01/2013 2012 2º Prof. Me. Marco Polo Levorin 16/01/2013 2012 2º Prof. Me. José Reinaldo Guimarães Carneiro 10/07/2013 2013 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 11/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Eduardo Marcial Ferreira Jardim 12/07/2013 2013 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 16/07/2013 2013 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 01/08/2013 2013 1º Prof. Me. Fabiano Augusto Petean 14/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 15/01/2014 2013 2º Prof. Dr. José Horácio Cintra Gonçalves Pereira 16/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 17/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Manoel Justino Bezerra Filho 20/01/2014 2013 2º Prof. Dr. José Geraldo Romanello Bueno 14/07/2014 2014 1º Prof. Esp. Silmar Fernandes 15/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 16/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 17/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 21/07/2014 2014 1º Prof. Dr. José Geraldo Romanello Bueno 13/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 14/01/2015 2014 2º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 15/01/2015 2014 2º Prof. Me. Marco Polo Levorin 16/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 20/01/2015 2014 2º Prof. Me. Bruno Boris Carlos Croce 14/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 15/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 16/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 17/07/2015 2015 1º Prof. Me. Edmundo Emerson de Medeiros 20/07/2015 2015 1º Prof. Me. Marcos Destefenni 12/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 13/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 14/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 15/01/2016 2015 2º Prof. Me. Edmundo Emerson de Medeiros 18/01/2016 2015 2º Profa. Ma. Maurita Baldin Altino Teodoro 12/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Bruno Cesar Lorencini 13/07/2016 2016 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 14/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 15/07/2016 2016 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 19/07/2016 2016 1º Prof. Me. Bruno Boris Carlos Croce 10/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Fábio Ramazzini Bechara 11/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Diogo Leonardo Machado de Melo 12/01/2017 2016 2º Profa. Dra. Maria Patrícia Vanzolini Figueiredo 13/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Diogo Leonardo Machado de Melo 11/07/2017 2017 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 12/07/2017 2017 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 13/07/2017 2017 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 14/07/2017 2017 1º Prof. Ma. Fernanda Pessanha Do Amaral Gurgel 16/01/2018 2017 2º Profa. Ma. Marcia Maria De Barros Correa 17/01/2018 2017 2º Profa. Me. Adalberto J. Q. T. de C. Aranha Filho 18/01/2018 2017 2º Prof. Me. Alessandro de Oliveira Soares 19/01/2018 2017 2º Profa. Dra. Maria Patrícia Vanzolini Figueiredo

Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.

62

Nesses 17 semestres foram 71 Paraninfos, dos quais o Prof. Hamid Charaf Bdine

Júnior liderou o ranking dos mais indicados, com 6 indicações.

Além de ele especificamente representar uma figura forte, o poder de

representação de um paraninfo na colação de grau, coloca em voga os sonhos dos

formandos, quando mostram alguém que conseguiu alcançar seus objetivos

profissionais, pessoais, transmitindo assim confiabilidade no futuro porvir.

1.2.4 Patrono

Similar no que tange as características para escolha do paraninfo, sendo a mais

alta homenagem da solenidade, o patrono é uma personalidade considerada como

referência profissional e/ou pessoal para os formandos. Não necessariamente um

professor da casa, mas alguém que seja inspiração para turma, que tenha alcançado

uma posição de destaque.

Este título é uma honra para o profissional que a recebe como resultado do

reconhecimento do seu trabalho, admirado pela nova geração de profissionais que se

formam. Caso o homenageado da turma seja do sexo feminino, o termo correto é

Patronesse.

Na análise da imagem a seguir, o fotógrafo também se utiliza de recursos de

foco e desfoque para evidenciar graus de importância de informação. Mas notemos

mais dois aspectos que também se fazem presentes em outras fotos, mas merecem

grau de destaque. Primeiramente o fato de que a informação em grau de importância

está focada do lado direito da imagem. Sabendo que a leitura visual da imagem

depende da cultura da qual a mesma se insere, na maioria das culturas o sentido de

leitura é de cima para baixo, da direita para a esquerda LEFFA (1996). Sendo assim,

vemos que o destaque da foto se dá em um ponto ou local, da qual temos uma ‘parada

visual’, ou seja, onde nossos olhos fixam para descansar sobre a informação.

Vemos também que os universitários ainda estão sem o capelo, mostrando em

que momento da cerimônia que este discurso de dá.

63

Imagem 8. Prof. Antônio Cecílio Moreira Pires - Patrono em: 15/07/2016

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

De 2º semestre 2009 até 2º semestre 2017, os Patronos da FDir foram:

Tabela 05: Patronos da Faculdade de Direito, anos 2009 a 2017.

Data Ano/Conclusão Semestre Patrono 14/07/2009 2009 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 15/07/2009 2009 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 12/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Alexis Couto de Brito 13/01/2010 2009 2º Prof. Dr. Alysson Leandro Barbate Mascaro 14/07/2010 2010 1º Prof. Dr. Amador Paes de Almeida 15/07/2010 2010 1º Prof. Dr. Amador Paes de Almeida 12/01/2011 2010 2º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 13/01/2011 2010 2º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 12/07/2011 2011 1º Prof. Me. Edison Carlos Fernandes 13/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 14/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Alexandre de Moraes 15/07/2011 2011 1º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 10/01/2012 2011 2º Profa. Ma. Jane Granzoto Torres da Silva 11/01/2012 2011 2º Prof. Me. João Manoel Dos Santos Reigota 12/01/2012 2011 2º Prof. Dr. Alexandre de Moraes 13/01/2012 2011 2º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 11/07/2012 2012 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 12/07/2012 2012 1º Prof. Dr. Fabiano Dolenc Del Masso 13/07/2012 2012 1º Profa. Dra. Ana Cláudia Silva Scalquette 17/07/2012 2012 1º Prof. Me. Luiz Fernando Do V. A. Guilherme 10/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 11/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Eduardo Marcial Ferreira Jardim 15/01/2013 2012 2º Prof. Me. Guilherme Madeira Dezem 16/01/2013 2012 2º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 10/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto

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11/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Guilherme Madeira Dezem 12/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 16/07/2013 2013 1º Prof. Dr. Manoel Justino Bezerra Filho 01/08/2013 2013 1º Prof. Me. Lorival Ferreira Dos Santos 14/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 15/01/2014 2013 2º Prof. Me. Paulo Do Amaral Souza 16/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Manoel Justino Bezerra Filho 17/01/2014 2013 2º Prof. Dr. Luiz Antônio Scavone Junior 20/01/2014 2013 2º Prof. Pablo Francisco Dos Santos 14/07/2014 2014 1º Profa. Dra. Lia Felberg 15/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Alexandre de Moraes 16/07/2014 2014 1º Prof. Me. Marco Polo Levorin 17/07/2014 2014 1º Prof. Me. Ivan Luís Marques da Silva 21/07/2014 2014 1º Prof. Dr. Antônio Isidoro Piacentin 13/01/2015 2014 2º Prof. Me. Flávio de Leão Bastos Pereira 14/01/2015 2014 2º Profa. Ma. Marcia Maria de Barros Correa 15/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 16/01/2015 2014 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 20/01/2015 2014 2º Prof. Esp. Gaspar Pereira da Silva Junior 14/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto 15/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Guilherme Madeira Dezem 16/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Alexis Augusto Couto de Brito 17/07/2015 2015 1º Prof. Dr. Nilson de Oliveira Nascimento 20/07/2015 2015 1º Dr. Cassio Modenesi Barbosa 12/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Fabiano Dolenc Del Masso 13/01/2016 2015 2º Prof. Dr. Ronaldo Vasconcelos 14/01/2016 2015 2º Prof. Dr. João Ricardo Brandão Aguirre 15/01/2016 2015 2º Prof. Dr. João Ricardo Brandão Aguirre 18/01/2016 2015 2º Prof. Me. Rodolpho Vannucci 12/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Eduardo de Moraes Sabbag 13/07/2016 2016 1º Profa. Ma. Marcia Maria de Barros Correa 14/07/2016 2016 1º Prof. Me. Guaracy Moreira Filho 15/07/2016 2016 1º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 19/07/2016 2016 1º Prof. Me. Luciano Pereira Vieira 10/01/2017 2016 2º Prof. Me. Adalberto J. Q. T. de C. Aranha Filho 11/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Ciro Ferreira Gomes - Ex-Ministro 12/01/2017 2016 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Júnior 13/01/2017 2016 2º Prof. Me. Marcelo Romão Marineli 11/07/2017 2017 1º Prof. Dr. Bruno Cesar Lorencini 12/07/2017 2017 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 13/07/2017 2017 1º Prof. Me. Alessandro de Oliveira Soares 14/07/2017 2017 1º Prof. Me. Luís Eduardo Simardi Fernandes 16/01/2018 2017 2º Prof. Dr. Joao Ricardo Brandao Aguirre 17/01/2018 2017 2º Prof. Dra. Andrea Boari Caraciola 18/01/2018 2017 2º Prof. Dr. Antônio Cecílio Moreira Pires 19/01/2018 2017 2º Prof. Dr. Hamid Charaf Bdine Junior

Fonte: Fonte: Registros internos da SECCA - UPM.

Nesses 17 semestres foram 71 Patronos, dos quais o Prof. Antônio Cecílio

Moreira Pires e Prof. Felipe Chiarello de Souza Pinto lideram o ranking dos mais

indicados, com 5 indicações cada um.

65

1.2.5 Mestre de Cerimônias

A profissão foi reconhecida nos séculos XV e XVI, na Europa, onde os grandes

líderes das nações locais necessitavam padronizar os cargos e as hierarquias do

respectivo reinado. Diante da necessidade de precedências perante as pessoas que

os ovacionaram, os reis incumbiram os cerimonialistas de criar uma padronização com

a elaboração e criação de uma linha protocolar do cerimonial. (BOTELHO, 2015)

Nas palavras do Mestre de Cerimônias Sidney Botelho16:

São 17 anos e meio já como Mestre de Cerimônias, comecei justamente com formaturas, quando eu iniciei na área de eventos, modéstia à parte, hoje são nove unidades que eu tenho como mestre oficial, eu sendo o mestre oficial das colações de grau, nas quais eu posso dizer que durante o ano eu chego a ultrapassar a marca de 200 a 220 colações de grau apresentadas. E aí envolve as oficiais e as festivas, mas eu já chego na marca das 5500 colações de grau apresentadas [...]

Imagem 9. Sidney Botelho - Mestre de Cerimônias

Fonte: Imagem concedida por Sidney Botelho

[...] eu estou no Mackenzie há 15 anos e nesse período eu tive uma comemoração de 60 anos da Faculdade de Direito [...] [...] são 15 anos de história, eu ando dentro da Instituição, já vi muitas mudanças de diretorias, coordenações [...] Mesmo não sendo uma pessoa registrada, contratada pelo Mackenzie, me sinto um mackenzista de coração.

16 Em entrevista realizada em 20/04/2018 na SECCA.

66

Então pra mim hoje, a principal estrutura acadêmica do Brasil, eu posso dizer em termos de colação de grau, é a do Mackenzie. [...] no Mackenzie acho que ultrapassa as 1000 colações, passa bem mais. Eu teria que pegar meu banco de dados. Mas eu acredito que passa de 1000.

Abramos um parêntese para estabelecermos um olhar diferenciado sobre a

imagem 09. Tente imaginar uma linha que divide a imagem ao meio na horizontal.

Notemos que na metade de baixo está alocado o conteúdo mais denso, ou seja a

quantidade de informações visuais obtidas na imagem. O Mestre de Cerimônias, os

formandos, o púlpito, e na parte superior somente o logo da universidade, em

destaque, direcionando nosso olhar e atribuindo ao mesmo a mesma intensidade

visual das informações abaixo. Inconscientemente absorvemos a informação de

enorme grau de importância deste local, atribuindo muitas vezes essa semântica às

expressões, como “a Universidade Mackenzie tem um nome de peso! ”

Quando falamos da cerimônia de colação de grau, este profissional tem como

incumbência principal a condução desta solenidade.

“Profissional que conduz – sempre seguindo o roteiro do Cerimonial e o script

que estabelece suas “falas” – as diversas fases do evento, se destaca pela aparência,

postura e voz, ocupando lugar de evidência. ” (MEIRELLES, 2002, p.151).

Estas foram algumas importantes expressões utilizadas neste ato solene, que

são passíveis de esclarecimento, pois dentro do contexto que as abordamos fica mais

claro e explícito, que saber sua origem e conceitos dão-nos outra noção da

importância e do sentido deste cerimonial.

Cabe aqui também levantar que dentro do cerimonial, como já dito, existem

diversos pequenos ritos, cada rito em específico compreende elementos visuais que

conferem ao mesmo, títulos de solenidade, patriotismo, demonstração de seriedade e

passagem ante a sociedade.

67

Capítulo II - A Simbologia presente

no Ritual de Colação de Grau

Freepik.com

68

No ritual de Colação de Grau encontramos ações sociais culturais manifestas

pelo poder simbólico, pela simbologia e pelos símbolos. Segundo Bourdieu (1989),

essas ações estão presentes nas relações paternas e maternas (no ato de presenciar

os filhos na cerimônia), nas relações afetivas com os familiares e amigos, com o

universo intelectual e institucional.

As ações estão simbolicamente postas, pela hierarquização social presente no

ato, pela simbologia de receber um canudo com um papel que representa o diploma

e pelo símbolo de sucesso expresso na palavra graduado.

Bourdieu avalia o ato, o cenário e o lugar da celebração como território de

relações e de correlações de forças, onde estão em cenas valores, emoções e ideias.

Apresenta para esta reflexão, o conceito de habitus que constitui-se em um

conhecimento adquirido e uma prática incorporada no agente da ação. (BOURDIEU,

1989, 61). Sob essa perspectiva, o sentir o ritual de colação de grau e o agir dos

docentes e discentes são capacidades constituídas pela cultura objetivada e

subjetividades que abrigam a condição individual e social dos sujeitos envolvidos. O

habitus aqui é trabalhado no sentido de trazer a atitude incorporada dos sujeitos

sociais integrada pelas experiências e vivências passadas. Essas experiências criam

percepções de apreciações no ato da colação de grau, tanto pelos participantes como

pelos familiares e amigos.

Habitus é matriz de percepção, produto da história. (BOURDIEU, 2002, p.83).

Bourdieu (1989), afirma que os rituais fazem parte dos “sistemas simbólicos”,

como instrumentos de comunicação e exercem poder estruturante porque são

estruturados (ibidem).

São inúmeros os símbolos presentes, entre eles elegemos os relacionados à

vestimenta, como a dos formandos e das autoridades acadêmica, as cores das faixas

na cintura do formando e dependendo do curso a cor específica da estola. Os

símbolos nacionais, como a Bandeira e o Hino Nacional, além das palavras.

O símbolo é um elemento, onde nele contém um conteúdo simbólico, ou seja,

tem um valor implícito, um intermediário entre a realidade que nós conhecemos, indo

do consciente e compreensível ao inconsciente. (FRUTGER, 2007, p. 203). Podem

ser abstratos ou figurativos - zoomorfos (animais), representações arquetípicas do

subconsciente, de plantas, formas humanas, objetos, paisagens, decorativos,

pictogramas, sinais da comunidade como brasões, heráldica e vestimentas.

69

2.1 Vestimentas

O símbolo vestimenta do ritual de colação de grau é caracterizado por outros

símbolos como a beca, capelo, faixa que envolve a beca e a orla, o anel com pedra

preciosa, e o canudo que o formando ganha ao final da cerimônia.

Cada um destes símbolos visuais tem seus significados, bem como sua

importância visual no cerimonial, compreendendo também a importância que a

visualidade traz ao mesmo.

Para as autoridades acadêmicas, a beca, também chamada de vestes talares,

segundo Garbelotti (2015), tem este nome, pois no latim a palavra talus significa

‘calcanhar’, identificando o comprimento desta vestimenta. Tem sua origem nos trajes

sacerdotais da antiga Roma. Começaram a ser usadas pelas universidades europeias

a partir do século XIII, quando passou a existir a figura do reitor.

Hoje, as vestes talares são usadas por clérigos, juízes, advogados, promotores,

procuradores, reitores, doutores e formandos. Tem em sua simbologia o significado

de poder, solenidade, respeito, erudição, dignidade em geral, posição hierárquica e

destaque (PEREIRA, 2010).

Herança da Universidade de Coimbra, Portugal, as vestes talares dentro das

universidades se subdividem em vestes reitorais, doutoral e professoral.

A veste Reitoral, usada quando o reitor recebe seu cargo, é composta de Beca

preta, que é uma capa preta, podendo ser confeccionada em diversos modelos, sendo

o mais comum, mangas compridas e duplas, tem em sua gola uma espécie de gola

trançada, geralmente em seda e é chamada de torçal com borla pendente; o Capelo,

palavra de origem latina, que significa chapéu, também chamado de pequena capa,

uma túnica que vai até a altura dos cotovelos e fica pendente sobre os ombros. Nas

universidades é a veste superior das autoridades, somente usadas pelos Reitores,

Chanceleres e Doutores; Borla, um chapéu privativo do Reitor e dos Doutores Honoris

Causa, representando um poder temporal e faz uma analogia à coroa real; Jabeaux é

um peitilho, semelhante a um babador, feito em renda, e samarra é um acessório

preso no pescoço, pendendo na frente da beca; Cinto, uma faixa usada na cintura.

O cinto e a borla são usados para o Reitor na cor branca que é exclusiva por

representar todas as áreas de conhecimento. O anel, o colar reitoral e o bastão são

símbolos que nem sempre são utilizados por todas as instituições, mas que tem

70

poderes representacionais efetivos, ou seja, uma alusão simbólica ao poder, a

dignidade e ao posto de comando que lhe é conferido, símbolos de distinção, como

podemos ver na imagem abaixo. Esta distinção também é estabelecida na imagem

quando coloca os ícones de representação de poder ao meio da foto, sendo no caso,

o Reitor e o Chanceler da Universidade. Suas vestes formais sociais, abaixo do

aparato representativo, as cores, o posicionamento do corpo de transmite hierarquia

e respeito pela solenidade.

[...] é repleto de símbolos: as bandeiras, os hinos, os símbolos dos cursos, as vestes talares, além dos elementos simbólicos presentes tanto nas solenidades acadêmicas quanto nas formaturas: a imposição do grau, a colocação do anel, a entrega do diploma, o juramento prestado, a escolha do patrono e do paraninfo. Esses elementos não-tangíveis enriquecem a comunicação entre as pessoas, entre os grupos e entre as instituições, sendo um instrumento interativo nos acontecimentos universitários (AZZOLIN, 2010, p. 19).

Imagem 10. Posse do Reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto

17

Fonte: site da Universidade http://portal.mackenzie.br/imprensa/noticias/arquivo/artigo/reitor-da-upm-e-reconduzido-ao-cargo/

17 Chanceler da UMP em 17 de abril, no auditório Ruy Barbosa da UPM, campus Higienópolis, onde declara reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto empossado ao cargo de Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

71

Imagem 11. Da esquerda para a direita: o jabeaux, o capelo reitoral e a samarra.

Fonte: atelierkoning.com

As vestes talares doutorais, concedidas nas solenidades de doutoramento,

inclusive Doutor Honoris Causa, é composta por beca preta, capelo, samarra, jabeaux,

cinto e borla, na cor da área de conhecimento do doutor. (Meirelles, 2002).

Na Imagem 10, posse do Reitor Benedito Guimarães Aguiar, vemos claramente

que o mesmo utiliza, além das vestes, um colar e um anel, ambos simbolizam o poder

instituído. Em alguns casos também se usa um bastão.

E por último, a veste talar professoral, pois é exclusiva para os professores

universitários. Composta de beca preta, com torça e borla pendente, jabeaux e cinto

na cor da área do conhecimento.

Quanto a vestimenta, segundo Garbelotti (2015), grande parte dos símbolos que

integram o Cerimonial Universitário tem se mantido ao longo da história, graças ao

funcionamento dos cerimoniais das Universidades.

Dentro do ambiente acadêmico, as vestes talares ainda não estão normatizadas

na maioria das instituições, fica então em responsabilidade das IES, definir e

configurar as aplicações destas vestes em seus cerimoniais.

Não há regulamentos, normas ou portarias do MEC que disciplinam o Cerimonial

Universitário e o uso e aplicações de seus símbolos, ficando à critério de cada IES

suas definições e aplicações. (MEIRELLES, 2002, pág. 148).

Nos dias atuais em nosso ambiente acadêmico, não é padrão da UPM a

utilização de vestes talares nas cerimônias de colação de grau por parte das

autoridades e professores que compõem a mesa de honra. Estas são usadas somente

pelos discentes que participam da solenidade de colação grau.

72

É bom lembrar que a Colação de Grau é um evento social, geralmente sugere-

se o uso de roupas ditas sociais18, com suas diferenciações para homens e mulheres,

ficando à critério dos participantes as escolhas e variações.

Esse tipo de vestimenta é importante até para marcar época, pois o vestuário e

a moda são diretamente ligados à cultura, à posição hierárquica, à época, à profissão

e a solenidades. Também é através da veste ou traje que mostra-se o respeito e a

delicadeza por si mesmo e pelo outro.

Imagem 12. Turma de Direito – 1959 5º Ano A

Fonte: Relatório Anual de 1959 Acervo CHCM Fonte: Relatório Anual de 1959 Acervo CHCM

Imagem 13. Turma de Direito – 2016 traje social - 1

Fonte: Stillo’s – Produções e Eventos Fonte: Stillo’s – Produções e Eventos

18 Segundo Meirelles o traje social são estilos distintos, formal, fino, elaborado, mas sem exigência de gala e rigor. Para homens terno, geralmente escuro, calça, paletó, colete, camisa social clara, gravata, sapatos de cromo ou pelica e meias combinando com sapatos ou tons da calça. Para mulheres há uma maior flexibilidade, mas a discrição é sempre necessária, tanto em transparências quanto em comprimentos. Modelos discretos, sapatos de salto alto e meias finas, estabelecem um padrão social da atualidade. (MEIRELLES, 2002, p. 143-145)

Imagem 13. Turma de Direito – 1959 5º Ano B

Imagem 15. Turma de Direito – 2016 traje social - 2

73

Em 1959, como se vê nas imagens 12 e 13, as primeiras turmas do curso de

Direito. Os formandos se reuniam, em traje social da época, para a foto que ficaria

para a posteridade. Percebemos a diferença no corte das roupas, no comprimento

das saias, nas tonalidades das roupas no geral, inclusive nos ternos, mas permanece

a elegância e o fato de que roupa demonstra reverência e respeito pelo momento.

Para os formandos, seguindo o padrão adotado pela UPM, obrigatoriamente

colocam a beca por cima de suas vestimentas, além do capelo e uma a estola19 em

cor específica, que traz em si referência simbólica visual ao tipo de curso do

formando.

Nota-se que o foco do fotógrafo nas imagens 14 e 15, mesmo sendo de noite, é

estabelecido pela centralidade da luz nos atores principais, que são os formandos,

bem como na centralidade da informação, ou seja, os formandos agrupam-se no

centro da imagem. As duas imagens têm o mesmo aspecto compositivo. Nas moças,

como as roupas são diversificadas, o fotógrafo deixa registrado no canto superior

direito o nome da Universidade e sua logomarca, já nos rapazes o nome da

Universidade não aparece, mas a mesma é representada pelas cores de suas

gravatas. É importante ressaltar o valor das vestimentas que contam a história, o

momento e a temporalidade vivida, o registro histórico visual.

2.2 A Cor

Parte do sistema simbólico artístico compreende a cor como parte de expressão

e fundamentação.

Dentro da academia a cor por seu poder simbólico foi separada em grupos de

especialidades acadêmicas, onde a mesma representa em seu simbolismo a força ou

conceito carregado dentro de determinado curso.

Ela, a cor, tem o poder de comportar-se de maneira diferente, dependendo da

situação a que se expõe, logo seus significados também são alterados.

Alguns exemplos dentro de diversas áreas de estudos podem ser trazidos.

Referenciamos apenas as cores utilizadas nos atos solenes de colação de grau na

UPM.

19 Faixa que envolve o pescoço e tem diferenciação em sua cor dependendo do curso.

74

Imagem 14. Veste talar de formando Mackenzie, com estola verde.

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Neste exemplo vemos um formando com a estola verde. Essa cor é utilizada em

alguns cursos do CCBS - Centro de Ciências Biológica e da Saúde, são esses:

Educação Física, Fisioterapia, Nutrição e Tecnólogo em Gastronomia.

Fato é, que dentro de cada cultura, a cor tem seus símbolos e significados, e

definimos como cor a sensação cromática ante a luz direta e pigmento que a reflete.

Tecnicamente o pigmento chamamos de matiz, ou seja, variedade do comprimento

de onda da luz que é diretamente percebida, refletida, como por exemplo, azul,

amarelo entre outras. (DONDIS, 2003).

Dondis, pesquisadora e estudiosa, observando a reação das pessoas em

relação às cores, nos mostra que elas trazem em si um significado simbólico

oferecendo um grande vocabulário de utilidades para o alfabeto visual, ou seja, uma

informação ou valor informativo que impõe significados, muitas vezes universais que

são compartilhados pela experiência.

A cor é mais que simplesmente um fenômeno ótico e a mesma cor se comporta,

em significados psicológicos diferentes, dependendo da ocasião a que é exposta.

(HELLER, 2013, p.25)

Pedrosa (2002) esclarece que dentro destes significados ditos universais,

existem significados psicológicos de cada cor. O verde por sua vez, tem poder

75

tranquilizante e até sedativo, quando em tom claro, o mesmo contrasta muito bem

com cores mais estimulantes.

Cores como o verde e o amarelo, são cores nacionais, incorporadas na bandeira,

o decreto que a criava informava que o “verde se referenciava à primavera e o amarelo

ao ouro”. Hoje o verde, nos remete também ao significado de florestas e esperança,

mesmo não sendo este o conceito original.

Nestas imagens também existem os elementos das bandeiras, tanto a do Brasil,

nossa nação, quanto a do Estado em que estas fotos foram tiradas, no caso, Estado

de São Paulo. Isso tem seu propósito, as bandeiras têm um papel importante como

representantes de determinado povo, sociedade ou local. Existe aqui embutido o valor

do pertencimento, do fazer parte desta sociedade, desta nação. Um patriotismo

designado pela composição visual.

A autora Heller (2013), também nos traz conceitos sobre diversos significados

da cor verde como fertilidade, saúde, vida e frescor.

Imagem 15. Veste talar de formando Mackenzie, com estola azul.

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

A cor azul é usada para a maioria dos cursos da casa. Os cursos que a

contemplam são; Dentro da EE - Escola de Engenharia: Civil, Engenharia de

Materiais, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica e Química; Na FCI -

Faculdade de Computação e informática: Sistemas de Informação, Ciência da

76

Computação, Matemática e Tecnologia Análise e Desenvolvimento de Sistemas; na

FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo: Arquitetura e Urbanismo, Design; no

CEFT - Centro de Educação, Filosofia e Teologia: a cor azul é usada para os cursos

de Filosofia e Pedagogia; no CCBS - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde:

Ciências Biológicas e Psicologia; no CCSA - Centro de ciências Sociais e Aplicadas:

Administração, Comércio Exterior, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas; e por

fim no CCL - Centro de Comunicação e Letras: cursos de Publicidade e Propaganda,

Jornalismo.

De forma bem clara, o azul parece-nos ser a cor predileta, isso também é

ratificado por Heller (2013), que em seu estudo nos mostra a grande aceitação por

parte da população à esta, que é a cor da harmonia, da simpatia e da fidelidade. Cor

que se referencia ao divino e cor das virtudes intelectuais. Até mesmo antes que a cor

do ouro, o azul é referenciado ao mérito, portanto mais importante que a recompensa

é a honra (p. 83).

Imagem 16. Veste talar de formando Mackenzie, com estola amarela.

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

A cor amarela é usada em somente um curso da UPM, sendo este dentro do

CCBS, o curso de Farmácia.

Dá ao curso um “tom” de exclusividade, mas o fato é que muitas dessas cores,

são padronizadas pelos órgãos das classes, como é o caso. Segundo o Conselho

77

Federal de Farmácia RESOLUÇÃO Nº 471, de 28 de fevereiro de 2008, aprova o

regulamento sobre os símbolos oficiais dos farmacêuticos. Ainda esta Resolução

descreve a escolha da cor por esta simbolizar saúde, perseverança, naturalidade,

limpeza, juventude e natureza. Cor que estimula equilíbrio e cura.

Imagem 19. Veste talar de formando Mackenzie, com estola vermelha.

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Por último e mais relevante para o contexto que abordamos, a cor vermelha.

Também de uso exclusivo ao único curso da UPM, para utilização desta cor na estola,

esta cor é utilizada por regulamentação dos órgãos de classe, e sua justificativa pode

ser encontrada no site do Supremo Tribunal Federal que simbolicamente referencia à

cor da pedra preciosa Rubi.

O Direito assegura a vida e a liberdade, por isto o anel de bacharel é o rubi vermelho, que é a cor do sangue e a cor da vida. O rubi é a pedra simbólica do bacharel em Direito, o seu simbolismo representa a vida, a segurança e a paz, já o vermelho representa o sol, o sangue, o amor do direito pela humanidade e pela paz. (www.stf.jus.br, acesso em 04/11/2017)

Pedrosa (2002) afirma ser o vermelho a mais importante das cores para muitos

povos, por ser a mais intimamente ligada ao princípio da vida, cor do sangue e do

fogo. Também usada nos anéis dos advogados por evocar os ‘litígios e muitas vezes

78

sangramentos’ relacionados aos seus estudos, acusações, defesas e julgamentos.

(p.4).

Dentro da parte simbólica onde as cores foram inseridas, e consideremos

também artisticamente, os símbolos nacionais. Temos as bandeiras.

Pelo foco inserido nesta pesquisa, não adentraremos na composição heráldica

da formação das bandeiras e cores utilizadas nelas, apesar de em alguns momentos

até citá-las, mas consideremos sua forma de símbolo solene, sua importância

compositiva, graus de prioridades e destaque dentro deste ritual.

2.3 Símbolos Nacionais

Sobre os símbolos Nacionais Bandeira e hino, o historiador José Murilo de

Carvalho, em seu livro A formação das Almas, apresenta o peso desses símbolos

igualando-os às demais simbologias. Apresenta na definição do hino e da bandeira

nacional oficial para a República, a influência francesa na cultura brasileira do século

XIX.

Até os acontecimentos de 15 de novembro não havia uma bandeira própria, bem

como um hino nacional, então, cantava-se o hino francês a Marselhesa. Antes da

proclamação, inúmeras foram as tentativas da criação de tanto de um hino como a

adoção de uma bandeira, no entanto não foram utilizadas. Uma bandeira seria levada

às ruas pelos republicanos no dia 15. Nela, foram conservadas as faixas horizontais,

as cores verde e amarela da bandeira imperial. “O quadrilátero [...] era de fundo negro

para homenagear a raça negra. As estrelas foram bordadas em miçangas brancas”.

Esta bandeira não foi aceita, então os positivistas se encarregaram de produzir outra.

“Tomaram então a bandeira imperial, conservaram o fundo verde, o losango amarelo e a esfera azul. Retiraram da calota os emblemas imperiais: a esfera armilar, a coroa, os ramos de café e tabaco. As estrelas que circulavam a esfera foram transferidas para dentro da calota. A principal inovação, a que gerou maior polêmica, a que ainda causa resistência, foi a introdução da divisa “Ordem e Progresso” em uma faixa que, representando o zodíaco, cruzava a esfera em sentido descendente da esquerda para a direita” (CARVALHO, 1990, pp. 112 e 113)

A aceitação da bandeira, especialmente entre os intelectuais da República, não

foi pacífica, mas, foi aceita e até os dias de hoje perdura.

79

Mais do que a batalha da bandeira, a do hino nacional significou uma vitória da tradição, pode-se mesmo dizer uma vitória popular, talvez a única intervenção vitoriosa do povo na implantação do novo regime. (CARVALHO, 1990, p. 122)

Até aquele momento nos movimentos da República, ou seja, em todas as

manifestações, era cantado a Marselhesa, além de ser o hino francês, mas como o

hino dos revolucionários de todos os países, pois não havia um hino brasileiro que

transmitisse o espírito republicano. Silva Jardim tentou encontrar uma letra para

adapta-la à música da Marselhesa. A Marselhesa, hino francês, era conhecida pelos

republicanos até a consolidação do hino oficial.

A bandeira tricolor francesa trazia peso simbólico, assim Décio Villares ao

desenhar a bandeira nacional brasileira, com indicações positivistas de “Ordem e

progresso”, e com a representatividade nas cores e estrelas, mantém o tricolor pelas

cores verde, amarelo e azul.

José Murilo de Carvalho descreve a simbologia do hino e da bandeira, o impacto

desses símbolos da nação na construção de mitos e heróis da república.

Os símbolos Nacionais são regulamentados na Lei nº 5.700, de 01 de setembro

de 1971, e suas alterações constantes na Lei nº 8.421, de 11 de maio de 1992. Estes

são definidos no artigo 13 da Constituição federal de 5 de outubro de 1998 em seu

Parágrafo primeiro:

São símbolos perenes do Brasil: A Bandeira Nacional, o Hino Nacional, As

Armas Nacionais e o Selo Nacional.

No rito de colação de grau, os símbolos nacionais utilizados são a Bandeira

nacional e o Hino Nacional.

Segundo Meirelles (2002) a Bandeira Nacional ocupa lugar de honra, sendo

colocada no centro ou à direita do ponto central quando alinhada com outras

bandeiras. Destacada à frente de outras bandeiras quando conduzida em formaturas

ou desfiles.

Nas palavras Subchefe do Cerimonial Ministério das Relações Exteriores -

Itamaraty Diplomata Sr. Alan Coelho de Séllos20:

[...] bandeira nacional representa o pais, ao mesmo tempo, o país como Estado, como Governo, como entidade de direito internacional público, do conserto das nações, representa a nacionalidade, o povo brasileiro.

20 Entrevista realizada por telefone em 10/04/2018

80

Ao reverenciar a bandeira nacional, de uma certa forma, está prestando ali uma homenagem ao país, também em sentido do patriotismo, é um sentimento universal, é um ícone onde todas as pessoas, em todas as partes do mundo tem esse vínculo afetivo e também de história, de tradição, de pertencimento a um país, a uma região, a sua terra, a sua nação [...]

Ela é utilizada pela demonstração de respeito, de reverência, união e

devotamento para com a nossa pátria, devendo estar presentes em todos os atos

solenes.

O Hino Nacional, assim como a Bandeira é um símbolo de igual importância,

portanto não há hierarquia ou precedência entre eles, pois estão inclusos na mesma

lei.

Algo que se tem observado em alguns atos solenes, é referenciar a Bandeira

Nacional enquanto o Hino Nacional está sendo entoado. Quando se executa o Hino

Nacional, é um momento em que se presta uma homenagem à Pátria, legitimamente

representada pelas autoridades e público presente.

O fato de não voltar-se para a bandeira, não se configura desrespeito.

[...] não há desrespeito em não se voltar necessariamente para a bandeira, ela é um dos elementos representativos da nacionalidade, assim como hino [...] posso lhe garantir que não há nenhum desrespeito [...] Temos que ter uma certa naturalidade em relação aos símbolos, sem o fanatismo exagerado. [...] o verde não tem nada a ver com os campos e o amarelo como o ouro.21 (SÉLLOS, 2018)

Não há sentido, em que o público se volte para bandeira, no momento em que o

hino é executado.

O Brasão e as Armas, símbolos de igual importância, não são utilizados na

colação de grau, geralmente estes são utilizados em atos solenes militares.

Não contemplados na lei, mas também importantes, são as demais bandeiras

que utilizamos na colação.

Outro símbolo oficial utilizado na solenidade de colação de grau é a Bandeira do

Estado, no caso da Unidade São Paulo, a bandeira do Estado de São Paulo. Seu

criador, Júlio Ribeiro, a descreveu da seguinte maneira:

21 Subchefe do Cerimonial Ministério das Relações Exteriores - Itamaraty Diplomata Sr. Alan Coelho de Séllos em 10/04/2018.

81

“A Bandeira simboliza de modo perfeito a gênese do povo brasileiro, as três raças de que ele se compõe – branca, preta e vermelha. As quatro estrelas a rodear um globo, em que se vê o perfil geográfico do país, representam o Cruzeiro do Sul, a constelação indicadora da nossa latitude astral...” (MEIRELLES, 2002, p.176)

Fica à direita da Bandeira Nacional, quando forem números ímpares de

bandeiras e à esquerda, quando compostas em números pares, dividindo com esta o

centro da composição.

A terceira bandeira utilizada é a da Igreja Presbiteriana do Brasil, associada

vitalícia do Instituto Presbiteriano Mackenzie, o mantenedor da Universidade.

Por fim, a Bandeira da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Imagem 20. Apresentação das bandeiras na solenidade de Colação de grau

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

2.4 A Importância da Palavra

A Palavra como parte simbólica em uma colação de grau, é usada de maneira

específica, tanto pelos formandos no ato do Juramento, como pelos docentes nas

82

formas de tratativas. Abaixo, informações de como e quando é utilizada e a quem é

direcionada.

Imagem 21. Ato do Juramento, ano de 2016

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Os documentos fotográficos mostram o Juramento, que segundo o autor

Agamben (2011) é manifestado na cultura ocidental, com a propagação do

cristianismo. Ele entra na história como forma de pactos, onde as palavras têm um

peso capaz de determinar ou não crises políticas. Na época o juramento tinha um

relevante significado, ou seja, aquilo que se jurava era um compromisso firmado, mas

com o passar dos tempos perdeu seu peso, seu valor. O autor ainda afirma, baseando-

se nos estudos de Prodi, que não existe um momento específico na história da religião,

na história do Direito ou na história da linguística o surgimento do juramento.

O juramento não cria, mas estabelece uma coerência da paz política entre

indivíduos que pensam de maneira diferente. E dentro do Direito, segundo o autor,

não deve ser considerado como medo, mas de fato como uma afirmação religiosa: o

que prometeste solenemente, como se Deus fosse testemunha disso, é o que deve

ser mantido. (AGAMBEN, 2011 p.11)

[O juramento] é uma modalidade particular de asserção, que apoia, garante, demonstra, mas não fundamenta nada. Individual ou coletivo, o juramento só

83

existe em virtude daquilo que reforça e torna solene: pacto, empenho, declaração. Ele prepara ou conclui um ato de palavra que só possui um conteúdo significante, mas por si mesmo não enuncia nada. Na verdade é um rito oral, frequentemente completado por um rito manual, cuja forma é variável. E a sua função não reside na afirmação que produz, mas na relação que institui entre a palavra pronunciada e a potência invocada (AGAMBEN, 2011 p. 12 apud BENVENISTE 1948, pp.81-82).

Destarte, o juramento é um ato linguístico destinado a confirmar aquilo que se

propõe de maneira significante, garantindo sua verdade ou sua efetividade. Em

relação à natureza verbal, por vezes acompanhado por gestos, como é o caso do

juramento na solenidade de colação de grau, quando se ergue o braço direito, ele

pode ser assertório (referindo-se ao passado) ou promissório, (referindo-se a um ato

futuro). Na cerimônia referida, é um ato promissório.

Colocando o juramento, ao mesmo tempo como um rito político e religioso,

podemos supor que esse termo, se tornará inteligível unicamente se o situarmos numa

perspectiva na qual ele põe em questão a própria natureza do homem como ser

falante e como animal político. Na colação de grau, este rito oral, é o mais sublime

dos ritos dentro do cerimonial, onde os formandos se comprometem diante da

Universidade e sociedade como ser político, cumprir e fazer cumprir os princípios

éticos a que jura.

Nas palavras de um de nossos entrevistados, o Eng. Nelson Callegari22 Assessor

da Reitoria da UPM temos:

“No momento em que o aluno vai fazer o compromisso, a gente fala, especialmente pra quem vai puxar o compromisso... Você está assumindo um compromisso diante da sociedade! Essa sociedade está sendo representada por essa plateia que está aí! Você deve fazer esse compromisso, fitando esta sociedade representada aí […]” “A Colação de Grau se configura com o compromisso e com a outorga do grau, [...] o compromisso tem que sair lá de dentro do indivíduo e nem todos conseguem fazer isso. Mas pra mim a Colação de Grau é o compromisso que o aluno deve assumir perante a sociedade.”

Para a maioria dos cursos, utiliza-se o Compromisso Universal, como segue:

Na presença de Deus, diante da Universidade e da Sociedade, comprometo-me, solenemente, manter os princípios da Ética, respeitar o ser humano e a natureza, cumprir e fazer cumprir as leis brasileiras, mantendo a dignidade o quanto permitam minhas forças. Compromisso assumido, peço a Colação de Grau a que faço jus. (SECCA, 2017)

22 Vide página 29.

84

Imagem 22. Juramento proferido diante de todos os presentes

Fonte: Stillo’s - Eventos e Produções

A fotografia mostra o momento exato do juramento sendo proferido, e num olhar

mais atento, percebemos a noção de respeito estabelecida pelas autoridades

presentes, a universidade representada inconscientemente muitas vezes, nas

gravatas das autoridades presentes através de suas cores, os formandos que

participam da solenidade sem colocar o capelo para mostrar um respeito, o foco de

luz estabelecido na centralidade e apesar de os juramentistas estarem no canto da

foto, a luz é mais presente neles do que quem está assistindo ao fundo.

Em uma solenidade de colação de grau, ordinariamente com a presença de

autoridades, é necessário estar atento ao modo de tratamento. Atrelado ao cargo, há

diferentes pronomes de tratamento que obedecem a tradição, são de uso consagrado,

especialmente no Brasil, seguem o que determina o Decreto nº468, de 5 de março de

1992 revogado pelos Decretos nº 1937/96, 2954/99 e 4176 de 28 de março de 2002.

Para as Universidades, definido conforme tabela:

Tabela 06: Vocativos utilizados para referenciar pessoas conforme cargos e funções

Cargo ou Função Vocativo

85

Reitor

Magnífico Reitor

ou

Excelentíssimo Senhor Reitor

Chanceler (maior autoridade da Mantenedora) Excelentíssimo Senhor Chanceler

Vice-Reitor Excelentíssimo Senhor Vice-Reitor

Pres. dos Conselhos Superiores ou Conselhos

Específicos Senhor + cargo

Pró-reitores, Superintendente ou Diretor de Campus Senhor + cargo

Diretores de Centros, Faculdades e Institutos Senhor + cargo

Chefes do Departamento Senhor + cargo

Professores Senhor / Senhora

Fonte: Meirelles 2002, página 101.

Uma outra tratativa que costuma causar desconhecimento, é a palavra doutor,

pois como falamos diretamente dos advogados, essa é uma tratativa utilizada para se

referir a muitos.

Há muitas pessoas que usam a palavra ‘doutor’ para se referir a um bacharel em

Direito, vamos explicar aqui, amparado pelos ensinamentos do jurista Tura (2009) e

do advogado Pinho (2014), que esta é uma tratativa de grande polêmica, até mesmo

entre os advogados.

CARDELLA, (1986), escritor de direito, baseia-se na história para afirmar que tal

titulação seria por direito e tradição de uso dos advogados.

“...no século XII se tem notícia do uso da honraria atribuído a grandes filósofos… Pelas Universidades, o título só foi outorgado pela primeira vez a um advogado, que passou a ostentar o título Doctor Legum em Bolonha ao lado dos Doctores És Loix, somente dados àqueles versados na Ciência do Direito. Tempos depois, a Universidade de Paris passou a conceder a honraria somente aos diplomados em Direito, chamando-os de Doctoris Canonum Et Decretalium.” (CARDELLA, 1986, p.5)

Seguindo a história, afirma-se também que, aqui no Brasil, esta honraria teria

sido concedida por um alvará régio, editado por Dona Maria I, a Pia, de Portugal,

concedendo aos bacharéis em Direito o título de Doutores. No entanto Tura (2009),

nos dá outro panorama acerca desta honraria.

Ele nos mostra em seu artigo que o termo é usado de forma errônea, pois o “tal

alvará jamais existiu”, e a Constituição de 1824 pode ser consultado hoje por qualquer

pessoa pela internet, verificando-se que não há nela qualquer tipo de alvará. Além

disso, a senhora Maria I, a Pia, não podia editar ato jurídico válido, e com o advento

86

da República caíram todos os modos de tratamento em desacordo com o princípio

republicano da vedação do privilégio de casta.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se pronunciou muitas vezes sobre o

tema nos Processos de números E-3652/2008, que estabelece princípios éticos da

profissão pela não utilização da palavra doutor em propaganda política; E-3.221/2005,

que faz menção específica ao tratamento doutor, da qual diz que mesmo não

constituindo infração a ética, não é aconselhado o uso da palavra doutor sem tal

titulação; E-2.573/02, este processo veda a utilização correta da palavra doutor até

mesmo para estudantes e estagiários de direito; E-2067/99 não devendo exigir o

tratamento de doutor como se possuísse titulação para tal; E-1.815/98 que rege sobre

a ética da utilização dos símbolos em balança e beca, sendo estes oficiais para o uso

do advogado.

Dado o exposto, o fato é que se tem o hábito de chamar os Bacharéis de Direito

de Doutores. Vemos que existe uma questão histórica e costumeira, justamente por

isso, Pinho (2014), defende que em todo levantamento histórico há hábitos da

população e os advogados são donos da titulação por direito e tradição, atestando

que esta titulação não se refere à titulação de mesmo nome dada aos que conferem

grau de Doutorado, mas sim uma honra conferida aos doutos em leis.

Portanto, chamar um advogado de doutor não é uma obrigação e nem

merecimento acadêmico, mas sim uma tradição.

2.5 A Colação de Grau como cerimonial

2.5.1 A organização

Chega um determinado momento em que se constata que o fim da jornada

acadêmica se aproxima. É necessário pensar, como se dará o encerramento desse

ciclo universitário, especialmente a colação de grau. Após um longo convívio com os

demais colegas, ao longo de, no mínimo 5 anos, esta solenidade oficial, deve ser algo

marcante para todos formandos e familiares.

Com base nas recomendações definidas pela Universidade Presbiteriana

Mackenzie, Ordem Interna nº 65 de 2003, os Representantes de Classe devem

87

conduzir todo o processo para indicação dos homenageados. É possível a indicação

de um Patrono, um Paraninfo e um Professor Homenageado para cada turma.

Todas as informações são disponibilizadas aos representantes, através do

departamento de Colação de Grau, incluindo o prazo para as indicações.

Os nomes indicados, por vezes geram alguns descontentamentos entre os

formandos, afinal, não há como agradar a todos. Neste caso, com o auxílio do Depto.

de Colação de Grau, é possível chegar a um comum acordo.

Este Departamento é alocado no setor administrativo da UPM, que ao longo da

história passou por algumas mudanças. Até o ano de 2014 era denominado Secretaria

Geral. De 4/2014 a 6/2017 seu nome foi alterado para CPCA - Coordenadoria de

Processos e Controle Acadêmico e, a partir de 7/2017 até o momento, é chamado de

SECCA - Secretaria dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico.

Imagem 23. Saudação e Leitura da Ata pelo Secretário da SECCA

23

Fonte: Stillo’s - Eventos e Produções

Não bastasse ser um requisito obrigatório para a efetiva "integralização" do curso e, neste sentido, parte integrante da educação superior no nível de graduação, trata-se de cerimônia singular, na qual se dá, simbolicamente, o fechamento de um ciclo de formação, que, no caso brasileiro, é cumprido por percentual bastante limitado da população. Ainda que alguns(mas) tendam a considerá-la na perspectiva de uma festa (por vezes sem muita seriedade), gosto de pensar como "cerimônia", "solenidade", de significado único porque

23 Momento em que Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico, Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida faz a sua Saudação e Leitura da Ata.

88

marca, literalmente, o encerramento da jornada de um curso de graduação. Isto, de forma alguma, deve ser entendido como inibidor de alguma informalidade e "leveza", sem as quais as próprias emoções poderiam ficar inibidas. (ALMEIDA, C, 2018)

Uma vez que as indicações de patrono, paraninfo e professores homenageados

foram feitas, o Departamento de Colação de Grau faz a compilação dos dados e

formaliza o convite através de e-mail. Este convite é direcionado às Unidades

Universitárias, que por sua vez são responsáveis em confirmar a participação dos

convidados.

Em se tratando de uma solenidade oficial, é de fundamental importância,

envolver os discentes quanto a todas as informações, que por sua vez são

disponibilizadas página da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Atendimento ao

aluno, Colação de Grau: http://www.mackenzie.com.br/colacao_grau.html,

especialmente no que se diz respeito aos que estão ou não , aptos a participar desta

Cerimônia de Colação de Grau.

Para tanto, são publicadas as seguintes listas:

● LPF - Lista de Prováveis Formandos é a relação de alunos que aparentam

reunir as condições para conclusão do curso no semestre. É uma lista preliminar na

qual podem ocorrer inclusões ou exclusões de alunos. Nessa lista a identificação

ocorre pelo código do estudante, não havendo a publicação dos nomes para

preservação da privacidade dos alunos;

● LF - Lista de Formandos publicada três dias antes da CGP - Colação de Grau

Principal24, onde constam os alunos que lograram aprovação em todos os

componentes curriculares e que cumpriram com êxito as demais atividades exigidas

pelo Projeto Pedagógico de seu Curso. Nessa lista a identificação ocorre pelo código

do estudante, não havendo a publicação dos nomes para preservação da privacidade

dos alunos;

● LNF (Lista de Não Formandos) também publicada três dias antes da CGP,

onde constam alunos com pendência acadêmica que constavam da LPF, mas que

24 Solenidade oficial e solene, revestida de pompa e circunstância, que ocorre semestralmente: Formandos no 2º semestre: janeiro e fevereiro do ano subsequente. Formandos no 1º semestre: julho e agosto do mesmo ano. Local de realização: Auditório interno da UPM (exceção ao Curso de Direito Campinas). Disponível em: < http://www.mackenzie.com.br/29829.html> Acesso em: 06/05/2018.

89

não lograram aprovação em todos os componentes curriculares e ou que não

cumpriram com êxito qualquer das demais atividades exigidas pelo Projeto

Pedagógico de seu Curso. Nessa lista a identificação ocorre pelo código do estudante,

não havendo a publicação dos nomes para preservação da privacidade dos alunos.

Todas as publicações são acompanhadas de comunicados, encaminhados para

o endereço eletrônico, conforme o cadastro de cada discente.

Para os discentes que estão na condição de PF - Provável Formando, lhes é

concedido a possibilidade de retirar um “convite”, em um prazo previamente

estipulado. Este convite, nada mais é, do que uma lembrança, constam as

informações como turma, data, horário e local onde se realizará a solenidade, não

sendo necessário a sua apresentação, pois em se tratando de uma cerimônia pública,

a entrada é franca.

2.5.2 O Evento:

Roteiro | Cerimônia de Colação de Grau Principal (CGP) - curso de Direito

• Abertura | Mestre de Cerimônias

Como toda solenidade, é feita a abertura inicial com as palavras do Mestre de

Cerimônias que, de maneira elegante e com formalidade, da às boas-vindas aos

participantes e anuncia o tipo de evento, nome da Instituição e a turma de formandos.

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Imagem 24. Mesa de Honra composta pelas autoridades

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

• Composição da Mesa de Honra

O documento fotografia apresenta a Composição da Mesa de Honra. Este é o

momento em que são anunciados, todos que irão compor a mesa de honra,

respeitando a ordem de precedência, o Mestre de Cerimônias anuncia o nome

completo e a respectiva titularidade acadêmica do Diretor, Coordenador e

Professores. No caso dos homenageados, se eventualmente for um convidado

especial, que não seja necessariamente da academia, anuncia-se apenas o nome e

seu vínculo. Geralmente a cerimônia é presidida pelo Diretor da Unidade Universitária,

por delegação do Magnífico Reitor da Universidade que, estando presente,

automaticamente preside a solenidade.

Na imagem podemos notar a aplicação das cores luz, das quais o fotógrafo

registra com maestria. A cor azul é cor complementar da vermelha na teoria das cores,

o que faz dar um destaque ainda maior para as cores vermelhas inerentes à instituição

como o logo, que está diretamente relacionado aos canudos, às flores e até mesmo

nas gravatas de algumas das autoridades.

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Imagem 25. Exemplo Composição da Mesa de Honra

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

1º Diretor da Faculdade de Direito

2º Secretário dos Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico

3º Capelão da Universidade Presbiteriana Mackenzie (representada o

Chanceler)

4º Coordenador do curso de Direito

5º Patrono da Faculdade de Direito

6º Paraninfo do curso de Direito

7º Professores Homenageados da Faculdade de Direito

8º Entrada dos Formandos

Um momento muito esperado pelos formandos, familiares e amigos, a entrada

triunfal das pessoas mais aguardadas da cerimônia, o motivo maior desse encontro.

Por um lado, no que tange a parte organizacional, a esperança e convicção de

proporcionar não mais uma cerimônia, mas um evento marcante para os que ali estão,

e por outro, um misto de emoções e sensações por mais conquista de primordial

importância.

[...] pra nós que trabalhamos na Instituição é sempre a mesma coisa, mas nós sempre tivemos um cuidado muito especial. Pro aluno, talvez seja a

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única, e nós devemos respeitar. [...] pro aluno e a sua família é algo muito importante. (CALLEGARI25, 2018) [...] Um momento que me emociona é quando eles olham para os pais, e uma coisa interessante[...] eu vejo na formatura que o aluno sobe ali no palco a primeira coisa que ele procura é o pai e a mãe. E ele fica ali olhando… olhando e procurando e ele só sente a segurança quando encontra o familiar. Ele olha no olho... eles fazem aquele contato, porque o familiar em poucos segundos já sabe onde o filho ou filha está ... ou sobrinho ou afilhado, o marido a esposa. [...] o nosso auditório é grande, eu percebo o aluno assim, esticando o pescoço, e eu vejo que o olhar muda... eu estou com alguém que me ama ali. (PINTO26, 2018.)

• Abertura Oficial pelo presidente da Cerimônia

Após entrada triunfal dos formandos, é anunciado pelo Mestre de Cerimônias,

aquele que presidirá a Cerimônia, que por sua vez, após uma breve saudação a todos,

declara aberta a Cerimônia de Colação de Grau Principal, sendo uma das

possibilidades: “Declaro aberta a Cerimônia Oficial de Colação de Grau Principal, dos

formandos do 2º semestre de 2017, do curso de Direito, da Faculdade de Direito da

Universidade Presbiteriana Mackenzie”.

Imagem 26. Abertura da Cerimônia de Colação de Grau Principal

27

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

25 Vide página 29.

26 Idem 25.

27 Momento em que o presidente da Cerimônia Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto faz a abertura

oficial da Cerimônia de Colação de Grau Principal.

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• Hino Nacional Brasileiro

Imagem 27. Em pé e em uníssono, todos entoando o Hino Nacional Brasileiro.

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Imagem 28. 1ª Tuma da Faculdade de Direito

28

Fonte: Relatório Anual de 1959 - Acervo CHCM

28 Pela análise das pessoas retratadas foto 28, principalmente pela postura do oficial militar presente à mesa, podemos inferir que seja o momento da execução do Hino Nacional.

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Em todas as Colações de Grau Principais, se canta o Hino Nacional Brasileiro,

um dos quatro símbolos nacionais; neste momento solene, se faz uma homenagem à

Pátria. Em uma atitude de respeito, todos se posicionam em pé e o entoa a uma só

voz.

• Reflexão Bíblica

Imagem 29. Reflexão Bíblica

29

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Nas palavras do Rev. Dr. José Carlos Piacente Júnior:

Para mim é um sentimento duplo. Primeiramente é uma honra. O pastor fala em nome de Deus e dá conselhos e orientação bíblica para os egressos, visando ao bom desempenho e sucesso na carreira profissional. Segundo é o dever cumprido, pois cabe ao Mackenzie o dever de afirmar sua Identidade Institucional em cada momento, perante alunos, professores, colaboradores e familiares. Portanto a reflexão é a ocasião que une honra e dever. (07/05/2018)

A reflexão bíblica é o primeiro momento da solenidade, em que se faz o uso da

palavra, um discurso realizado pelo Capelão Universitário, pastor da IPB (Igreja

29 Reflexão Bíblica, realizada pelo Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Capelão Universitário e

Assessor do Chanceler Rev. Dr. José Carlos Piacente Júnior.

95

Presbiteriana do Brasil), que neste ato representa a Chancelaria da Universidade. O

reverendo faz uma reflexão com base em um texto bíblico e por fim, agradece a Deus

pela vida e vitória dos formandos e familiares, reconhecendo a soberania dEle, sobre

tudo e todos. Finalizando esse ato, é feita uma oração, rogando as bênçãos de Deus

sobre a Universidade, os novos profissionais e familiares.

“[...] fomos talvez o maior incentivador de colocar a devocional... dentro do ritual, do cerimonial de Colação de Grau. Inicialmente ela tinha um condão de acalmar a plateia. Naquele momento em que a gente não tinha a cultura, da seriedade, etc. etc. [...] a devocional, quando o pastor chegava e falava, colocava as palavras, quais fossem [...] mas sempre dirigida, começa a plateia e os próprios alunos, até hoje isso acontece tá, perceberem do tom da cerimônia, tá. Você percebe hoje, que alguns grupos agitados, depois da devocional, esta agitação some. (CALLEGARI, 2018)30 [...] A gente usou a devocional, até pra isso tá. Evidentemente que o sentido da devocional é o sentido de demonstrar a confessionalidade da Instituição, tá, sem nenhum proselitismo religioso mas, uma palavra de religiosidade” (CALLEGARI, 2018)31

Como dito nas palavras do Sr. Nelson Callegari, a UPM é uma Instituição

confessional, portanto, antes de qualquer programação há um momento devocional,

no qual Deus é exaltado pela sua grandeza, seu cuidado, por fim, deixando claro que

é Ele quem dirige todos os trabalhos.

Uma foto com traços muito similar a esta foi apresentada na Imagem 7. A

composição visual com recurso de foco e desfoque, o parecer início de uma fala e a

vontade de estarmos prestes a escutar a voz do Rev. Dr. José Piacente Júnior32. Os

olhares que são voltados para ele e as cores que permeiam nosso pensamento

sabendo que aquela tonalidade de vermelho se refere á Instituição.

2.5.3 Discursos

A preocupação com os discursos não é somente por que faz parte do ritual de

colação de grau, mas também por que é interdisciplinar, percorrendo, a História da

Cultura, a Antropologia, a Sociologia, a Teoria da Comunicação e Psicologia Social.

30 Vide página 29.

31 Idem 30.

32 Vide página 95.

96

Nesta pesquisa visa ressaltar os aspectos presentes no ritual e sua natureza

simbólica.

Ibañez (1989, p. 118), diz que os sujeitos sociais se constituem a partir da

construção de significados compartilhados social, cultural e historicamente situado.

Assim, ao falarmos do discurso na colação de grau, devemos destacar que há

um tempo pré-estabelecido, geralmente de 3 a 5 minutos, para que a solenidade

ganhe ritmo, e não se torne algo cansativo.

A gente busca, sempre buscou fazer a Colação de Grau algo mais compacto [...] olha o senhor orador, senhor patrono, senhor paraninfo... por gentileza não estique a sua fala. A gente sempre recomenda fale em torno 5 minutos, dizendo que até 8 ou 9 é um número muito razoável. Efetivamente a experiência que nós temos, mercê desses 7000 discursos ouvidos ao longo deste período, a gente sabe que até 8 minutos a plateia fica muito atenta, a não ser, para passar desse número, tem que ser muito bom orador... (CALLEGARI, 2018)

Alguma de muitas experiências vividas pelo senhor Almiro Joaquim de Oliveira33,

(Miro), que participou desde a 1ª Colação de Grau em 08/10/1959 e tem participado

até os dias de hoje, não foram muito boas.

Uma parte que eu não gostei, tinha uma vez, tinha uma professora que esqueci o nome dela, [...] ela começou a falar e não parava de falar mais... acabando a formatura, meia-noite e ela não parava de falar... Dulce Sales do Cunha Braga, [...] ela era aluna aqui, o marido dela também era aluno, e ela começou o discurso que não parava mais, acabava a formatura, aí ela ficou falando o tempo todo, aí o rapaz falou não dá…[...] (MIRO, 2018)

Portanto, obedecendo a Minuta do Roteiro, os demais discursos são:

• Orador

Este tem a grande responsabilidade de representar os demais formandos, como

se ele interpretasse em seu discurso, a vontade e as aspirações da turma. Em síntese,

traz à memória momentos especiais, que foram marcantes e vivenciados pela turma.

Não falta, claro, as “piadinhas” internas, que traz em si as características da turma e

suas particularidades.

• Paraninfo do Curso

33 Entrevista realizada em 23/03/2018 com o senhor Almiro Joaquim de Oliveira (Miro) na Faculdade

de Direito. Funcionário da FDir desde 03/07/1954.

97

Como já citado, é considerado o padrinho da turma, traz em seu discurso um

“último conselho” para os seus “afilhados”. Para o professor, uma lisonja em receber

essa homenagem, fruto e reconhecimento de seu trabalho. Em suas palavras iniciais,

evidentemente agradece a singular honra por ter sido o escolhido dentre os demais

profissionais, e em seguida, dirige-se aos formandos geralmente com o discurso de

que estão aptos para o mercado de trabalho, alertando-os de que as adversidades

certamente virão, mas que deverão com sabedoria e ética profissional, sobrepuja-las.

Em suas considerações finais destaca que doravante já não são mais seus alunos e

sim colegas de profissão.

•Patrono da Faculdade

A mais alta homenagem da solenidade. Um indivíduo, não necessariamente

professor, que notoriamente alcançou êxito em sua profissão. Portanto, é uma

inspiração para os formandos. O Patrono ou Patronesse (para o sexo feminino) que

traz um brilhantismo para a solenidade, recebe esta digna homenagem e tem a

oportunidade de discursar, por vezes, reforçar alguns pontos que foram ditos pelo

Paraninfo, sobretudo desafiá-los a luta, em se tratando de um mercado implacável, é

necessário que se tenham perseverança e esperança para alcançar um lugar de

destaque na sociedade.

• Entrega das Homenagens

Imagem 30. Homenagem à Professora

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Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Profa. Ana Claudia Silva Scalquette muito querida pelos alunos, recebe a placa

de homenagem em 16/01/2018. Inúmeras vezes homenageada, dentro da baliza

cronológica, foi indicada como Paraninfa 4 vezes e como Patronesse 3 vezes.

Momento em que se reconhece dedicação dos professores e os demais

funcionários da Universidade, com a entrega de uma lembrança, neste caso, uma

placa de homenagem.

Ao fundo de um som musical, o Mestre de Cerimônias, seguindo a Minuta de

Roteiro, passa a anunciar o nome de cada formando indicado pelos representantes,

para entregar ao seu respectivo homenageado a placa de homenagem.

Os nomes que serão apresentados a seguir são fantasiosos, com o objetivo de

melhor representar o ato tão somente.

Formando “João da Luz”

Homenageado do Curso de Direito – Turma “A”

Prof. Dr. “Alberto Terceiro”

Formanda “Maria Sincera”

Homenageado do Curso de Direito – Turma “B”

Prof. Dr. “João Caro Maior”

Formando “Antônio Justo Espera”

Paraninfo do curso de Direito

Profa. Dra. “Estefânia Jordão Ali”

Formando “Alfredo Beleza”

Patrono da Faculdade de Direito

Profa. Dra. “Geni Valda Areias”

A família, de maneira geral é a base para um bom desenvolvimento, seja no

aspecto profissional, espiritual, afetivo e intelectual entre outros. É no âmbito familiar

que aprendemos o que é certo, o que é bom e onde construímos o nosso caráter.

Neste ambiente encontramos nossos primeiros amigos (os pais), refúgio para nossos

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temores, tristezas e insucessos, mas com quem também dividimos as alegrias e

vitórias.

Imagem 31. Homenagem aos pais

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Em homenagem àqueles que lutaram, compreenderam as dificuldades

circunstanciais e a apoiaram até a conclusão dos estudos, é reservado um momento

especial.

• Homenagem aos Pais

Um discurso muito especial, carregado de uma grande carga emocional, onde a

tônica deste momento traduz-se na palavra “obrigado”. Uma palavra simples, mas

com uma inexplicável amplitude, que é dirigida não necessariamente aos pais

biológicos e presentes, mas, àqueles que no sentido lato da palavra, cumpriram com

zelo, amor, dedicação e responsabilidade a arte de educar, apoiando os formandos

até aquele momento.

Esta mesma tônica de gratidão e emoção, também transcende nas imagens, que

na percepção do interpretante, há uma comoção, uma representação do sentimento

vivido, mesmo não sendo no momento da visualização o ato ao vivo, mas a fixação

atemporal de um instante afetivo.

[...] E quando tem homenagem aos pais, eu percebo que algumas homenagens me fizeram chorar muito, eu tive uma homenagem de um menino que tinha perdido a mãe e, o pai veio na formatura... e ele fez uma homenagem à mãe dele, isso pra mim foi bem emocionante. Então assim, eu

100

percebi que é um momento que eu acho mais emocionante a homenagem que os alunos fazem aos pais. (PINTO34, 2018)

Assim, no calor dessa emoção, por vezes com a voz embargada, este formando,

que representa os demais colegas, tem a difícil tarefa de transmitir os agradecimentos

aos pais, reconhecendo que foram essenciais em suas vidas, especialmente na

jornada acadêmica para chegarem até ali.

Fechando esse momento, até o 1º semestre de 2017, os pais deste formando,

que nesse ato representam os demais, eram chamados à tribuna para receber um

forte abraço, um beijo e um buquê flores, ao som da canção: “Como é grande o meu

amor por você”, do cantor e compositor de Roberto Carlos.

A partir do 2º semestre de 2017, intercorreram duas sensíveis e significativas

mudanças. Inicialmente, para que esse momento efetivamente tivesse uma

participação coletiva, ao invés de se chamar os pais à tribuna, o Mestre de Cerimônias

passou a solicitar a todos os pais e mães que se colocassem em pé em seu lugar, de

modo que, enquanto era entoada uma canção, todos recebessem um botão de rosa.

Outra mudança foi quanto à escolha de uma nova música. Dentre as inúmeras

formas musicais, a canção popular, possivelmente é a que mais embala e acompanha

as diferentes experiências humanas.

Os sons são objetos materiais especiais, produtos da ressonância e vibração de corpos concretos na atmosfera e que assumem diversas características. Trata-se de objetos reais, porém invisíveis e impalpáveis, carregados de características subjetivas, e é assim que proporcionam as mais variadas relações simbólicas entre eles e as sociedades. Muitas vezes é possível verificar seus vínculos profundamente reais e próximos com as relações humanas individuais e coletivas. (MORAES, 2000, p. 210)

34 Vide página 29.

101

Imagem 32. A Cantora | A canção

35

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

A música tem o poder de atingir o seu receptor, essencialmente em sua

sensibilidade, para tanto é importante considerar sua forma toda especial, a conexão

entre letra e melodia, isto é, a “voz que canta” expressão utilizada por Moraes.

Ela também é um documento histórico, para tanto é preciso que se entenda as

duas instâncias diferentes, sem dissocia-las, a da linguagem poética e a da linguagem

musical.

Apesar de muito comum, a música popular, não deve ser analisada tão somente

como um texto, deixando de lado a importância melódica, ou seja, aquilo que a

compõe como o ritmo, melodia e gêneros conhecidos.

O cantor e compositor consagrado, Roberto Carlos, ao escrever “Como é grande

o meu amor por você”, expressa o seu amor à mulher amada, contudo, a homenagem

é destinada aos pais, e o texto com toda a sua beleza, destoa de seu propósito. Nesse

sentido foi necessário adequar uma nova canção, utilizando-se um trecho da música

Trem Bala:

[...] Não é sobre ter todas pessoas do mundo pra si. É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós

35 Cantora Thais Jaar, do Coral e Banda Zaba.

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Segura teu filho no colo Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui Que a vida é trem bala, parceiro E a gente é só passageiro prestes a partir (Compositora: Ana Carolina Vilela da Costa - Letra: Trem Bala)

Em especial no trecho, “...segura teu filho no colo, sorria e abraça os teus pais

enquanto estão aqui...”, ressalta que a família deve ser valorizada.

• Palavra do Presidente da Cerimônia

Finalizando os discursos, o Diretor da Faculdade de Direito, é anunciado pelo

Mestre de Cerimônias, para proferir o seu discurso final.

Neste momento, geralmente o Diretor agradece a confiança depositada pelos

pais na Instituição, especialmente na Faculdade de Direito. Com a sensação do dever

cumprido, por entregar à sociedade mais uma turma de profissionais plenamente

qualificados, ressaltando que ainda é um privilégio poder cursar uma faculdade, tendo

vista que poucos que concluem um curso de graduação.

Imagem 33. O Último discurso

36

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

[...] Então, eu procuro sinceramente, me esmerar muito para fazer a minha fala por que é uma responsabilidade muito grande você falar depois de um

36 E por fim, como último ato da solenidade, o discurso realizado pelo Presidente da Cerimônia O Diretor

da FDir Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto.

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momento tão emocionante. [...] eu presto atenção em cada trecho, não raro eu coloco como professor falou ou, como aluno falou, eu procuro pegar o nome de cada um para, mostrar que realmente me importo [...] pra eles verem exatamente o quão é importante. Eu acho esse momento mais esperado desde quando você ingressa no curso de Direito, é o momento quando você recebe o diploma. E esse ato tem um simbolismo de um ritual, rito de passagem na carreira, na vida da pessoa que eu acho que é digno exatamente de um trabalho científico. (PINTO37, 2018)

Quando o Diretor diz “...que é digno exatamente de um trabalho científico”, fica

claro e confirma a grandeza deste tema, que atinge a vida acadêmica, sendo um

marco na vida do discente, da sociedade, família e universidade.

Em suas considerações finais, ressalta que Universidade estará sempre de

portas aberta, seja para uma troca de experiência, para um novo curso ou uma pós-

graduação.

Desde 2016 até esta data o Diretor da Faculdade de Direito é o professor Dr.

Felipe Chiarello de Souza Pinto, ele foi precedido, delimitados à nossa baliza

cronológica (2009 a 2017) pelos Diretores38: Prof. Me. Nuncio Theophilo Neto (2005

a 2013), Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto (2013 a 2016). O primeiro Diretor da

FDir foi o Prof. Jorge Americano (1953 a 1964).

Esta foto tem uma captura da linguagem diferente das demais abordadas pela

maioria dos fotógrafos da empresa, por isso um destaque diferenciado. Mesmo o

predomínio visual do sentido de leitura imagética não seja este exposto na foto, nosso

olhar é direcionado aos pontos mais claros, iluminados da fotografia. O púlpito e o

rosto do Diretor. O M é grande, é evidente, mas a iluminação se dá com ênfase na

palavra que estava sendo proferida. Uma composição visual onde o peso visual

trazido pela parte escura da foto do lado direito, se contrapõe aos pontos de luz da

imagem, sendo um destes pontos o rosto.

2.5.4 - Momento Solene

• Leitura do Compromisso

37 Vide página 29.

38 Fonte Atas de Colação de Grau - SECCA

104

É chamado à tribuna, o Juramentista indicado pelos representantes, que

juntamente com os demais, devem prestar um juramento solene perante a sociedade,

cumprindo as normas internas da Instituição. Concomitantemente, o responsável pela

organização do evento, se dirige ao centro da mesa de honra, posicionando-se ao

lado direito do presidente da solenidade, orientando as autoridades desta mesa a

ficarem em pé de frente para os formandos.

Imagem 34. Juramento – Leitura do Compromisso

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Neste momento, talvez o mais sublime da solenidade, os formandos são

orientados a ficar em pé, estender o braço direito e repetir as palavras pronunciadas

pelo Juramentista. Este, que recebe das mãos do Secretário, o Compromisso Oficial

com a devida instrução para leitura, que deverá ser paulatinamente realizada, de

modo que os demais repitam as palavras por ele anunciadas, até o final.

Para o curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, utiliza-se o

seguinte compromisso:

Comprometo-me, no exercício das prerrogativas do meu grau, acreditar no Direito como a melhor forma para a convivência humana e usá-lo para a construção de uma sociedade mais justa. Comprometo-me combater a violência em todos os seus níveis, servir a todo ser humano, sem qualquer discriminação, buscando promover a paz. Comprometo-me defender a

105

liberdade, pois sem ela não há Estado de Direito e nem possibilidade à justiça e à paz. (SIQUEIRA NETO, 2013)

Este ritual, deve ser realizado em pé e com o braço direito estendido e, assim o

permanecerão, até que a Outorga de Grau, pelas palavras do Diretor seja finalizada.

• Outorga de Grau

Imagem 35. Outorga de Grau

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

O Diretor da Faculdade de Direito, faz a outorga de grau, segundo texto que foi

elaborado pelo professor Doutor José Francisco Siqueira Neto:

“Que possam exercer, com coragem e discernimento, as atribuições do grau que neste ato lhes é concedido, movidos por propósitos de pacificação dos conflitos e de promoção da justiça social. Que possam enfrentar cada desafio da carreira que ora abraçam movidos por ideais de Justiça e de humanidade. Eu, Felipe Chiarello de Souza Pinto, Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no uso das atribuições do meu cargo, confiro aos aprovados em todas as disciplinas do Curso de Graduação em Direito, no 1º semestre letivo de 2017, na pessoa de seu representante, o grau de bacharel em Direito, para que gozem das prerrogativas a ele garantidas pela legislação brasileira.” (SIQUEIRA NETO, 2013)

106

• Leitura da Ata de Colação de Grau

Imagem 36. Leitura da Ata de Colação de Grau

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

Chancelando tudo que foi assinado pelas autoridades presentes, a Ata de

Colação de Grau foi lida durante 26 anos pelo Sr. Secretário Geral Nelson Callegari,

gestor na Secretaria Geral no período de 23.03.1991 a 31/07/2017. Desde

01/08/2017, o Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida é gestor da Secretaria dos

Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico.

A seguir um exemplo de Ata. Diga-se de passagem, lida pelo Sr. Secretário

Geral Eng. Nelson Callegari, em uma de suas últimas participações, como

Secretário.

Aos onze dias do mês de julho do ano dois mil e dezessete (11/07/2017), às 17 horas, no auditório Ruy Barbosa, foi conferido o grau de Bacharel, pelo Diretor da Faculdade de Direito professor Doutor Felipe Chiarello de Souza Pinto, por delegação do Magnífico Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, professor Doutor Benedito Guimarães Aguiar Neto, aos alunos que concluíram o curso de Direito e que prestaram compromisso de cumprir os deveres inerentes ao grau, conforme o disposto nos artigos 113, 133, 140 e 141 do Regimento Geral desta Universidade. Para constar lavro a presente ata que vai assinada pelos formandos, pelo senhor Diretor, pelos Professores e Autoridades presentes e por mim, Secretário Geral. (SECCA, 2018).

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• Após a leitura da Ata, são entregues:

1) Canudos com os Certificados de Conclusão - pelo Paraninfo;

Imagem 37. Recebimento do "canudo".

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

2) Memoriais - pelo Diretor do Curso;

Imagem 38. Entrega do Memorial

39

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

39 Momento em que a formanda recebe do Diretor da FDir Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto o

Memorial.

108

3) Bíblias Sagradas - pelo Capelão da Universidade

Imagem 39. Recebimento de um exemplar da Bíblia Sagrada

40

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções É importante destacar que, em se tratando de uma Instituição confessional, a

Universidade Mackenzie tem o cuidado de entregar a cada formando um exemplar da

Bíblia Sagrada, pelas mãos do pastor.

“No que diz respeito ao segundo momento, a entrega das Bíblias, a sensação também é dupla: conquista e esperança. Primeiramente, a Bíblia nas mãos de um formando ou formanda indica que eles venceram. A Bíblia indica que o Mackenzie conduziu os alunos para a conclusão do curso. Segundo, a entrega da Bíblia é a grande esperança de um mundo melhor. Assim a entrega das Bíblias é a grande contribuição do Mackenzie para fomentar uma sociedade mais justa e verdadeira. ” (PIACENTE JÚNIOR – 07/05/2018)

Imagem 40. Disposição das Bíblia Sagrada - na Mesa de Honra

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

40 Momento em que o formando recebe do Capelão Universitário Rev. Me. Marcelo Coelho Almeida um

exemplar da Bíblia Sagrada.

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Em todas as fotos, percebe-se elementos vermelhos que marcam a presença da

instituição em todo o processo. Seja nas gravatas, nas cadeiras ou flores, estas

composições são presentes em todas as imagens utilizadas.

• Encerramento Oficial | Presidente da Cerimônia

O encerramento é feito pelo presidente da cerimônia, geralmente o Diretor da

Unidade Universitária: “Declaro encerrada a Cerimônia Oficial de Colação de Grau

Principal, dos formandos do 1º semestre de 2017, do curso de Direito, da Faculdade

de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Boa noite! ”

Imagem 41. É o fim!

41

Fonte: Stillo’s – Eventos e Produções

É o fim da solenidade, alunos passam a ser profissionais, simbolizando esse ato

joga-se o capelo para o alto.

41 Manifestação de alegria, quando, jogam para o alto o capelo. É o fim!

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III. Reflexões e Pesquisa

sobre Colação de Grau

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111

Para a sustentação das entrevistas, foi utilizada a metodologia de História Oral

que, consiste em realizar entrevistas utilizando-se um gravador, com pessoas que

podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida

ou outros aspectos da história contemporânea. As entrevistas, as “falas”, as

memórias, obtidas pela metodologia da história oral são tomadas como fontes para a

compreensão do passado/presente, ao lado de documentos escritos, imagens e

outros tipos de registro, o verbal e o não verbal se entrelaçam.

Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o

pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de

consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar. Além disso, fazem parte de

todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e

autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentam e

interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade

em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a

apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências

vividas por outros.

Não há aqui uma transcrição literal de todas as entrevistas realizadas, mas sim

enxertos com partes relevantes das falas dos entrevistados durante todo projeto.

Foram feitas também pesquisas com 425 formandos do curso de Direito do

segundo semestre de 2017.

Estas pesquisas foram divididas em dois segmentos. Num primeiro momento

foram feitas perguntas sobre a cerimônia de colação de grau com formandos que

ainda iriam passar pelo evento. Nosso objetivo era saber quanto às expectativas, os

sentimentos envolvidos, a importância do ato numa concepção prévia.

Num segundo momento fizemos perguntas muito similares em sua maioria, mas

com o propósito de entender se as opiniões quanto aos sentimentos, emoções e

concepção de importância se manteriam iguais, para quem já havia passado pela

cerimônia de colação de grau.

Vejamos a análise de uma pesquisa realizada com 425 formandos do curso de

Direito, do 2º semestre 2017 nos dias 16, 17, 18 e 19 do mês de janeiro de 2018.

112

Gráfico 4 – Por que Direito? Gráfico 3 – Por que Mackenzie?

A primeira pergunta, direcionada a todos os formandos, independente se antes

ou depois de terem passado pela cerimônia, referia-se a faixa etária. O 1º Gráfico

mostra que 88% da turma era predominantemente jovem. Da mesma forma a segunda

pergunta era direcionada ao sexo de nossos discentes. O 2º Gráfico, mostra que

quase ¾ do público é feminino, o que demonstra grande interesse das mulheres pela

área jurídica.

Para a terceira questão, questionamos a razão pela qual escolheram UPM. O

resultado se dá no 3º gráfico. Os dados nos apresentam resultados de uma Instituição

tradicional, é referência e tem grande credibilidade nesta área de atuação, devendo

zelar pelo nome. Certamente, estes valores são frutos de uma construção sólida e que

demanda certo tempo, passando muitas vezes de geração a outra geração, como uma

tradição de família estudar no Mackenzie. Fator que corrobora com o teor específico

deste projeto, mostrando a importância do ato que é o último contanto daquele

momento entre aluno e instituição, e que certamente ficará gravado. No 4º Gráfico,

em complemento à pergunta anterior, queríamos saber especificamente o porquê

deste curso, e os dois motivos mais relevantes se repetem com grande porcentagem;

tradição e referência. Os discentes estavam convictos e assegurados pela escolha do

curso.

Gráfico 1 – Faixa Etária Gráfico 1 – Faixa Etária Gráfico 2 – Sexo

Fonte – O autor (2018) Fonte – O autor (2018)

Fonte – O autor (2018) Fonte – O autor (2018)

113

Gráfico 6 – Associação da

Colação de Grau

Fonte – O autor (2018)

Gráfico 5 – Colação de Grau

De uma forma ainda generalista, perguntamos aos formandos o que era a

Colação de Grau para eles, dando-lhes 5 opções conforme o 5º Gráfico. Nota-se que

os resultados evidenciam uma conquista pessoal e uma satisfação familiar, mostrando

que fazer uma graduação não é um ato isolado e aquém dos demais integrantes da

família. Pelo menos em nossa sociedade, fazer uma graduação é algo muito

relevante, por conquista, por passagem, por vitórias que são celebradas por todos,

levando cerimônias de conquistas tão importantes a grande patamar de relevância

social.

Fonte – O autor (2018)

Fonte – O autor (2018)

114

Gráfico 7 – Grau de satisfação

Antes da solenidade

Fonte – O autor (2018) Fonte – O autor (2018)

Gráfico 8 – Grau de satisfação

Após a solenidade

Objetivando entender como os formandos sentiam-se em relação à cerimônia,

antes ou depois de terem passado por ela, questionamos para os mesmos em pares

de escolhas com palavras de sentidos opostos, separados por pares. Os mesmos

deveriam escolher o(s) termo(s) que associava à solenidade de sua Colação de Grau.

Neste 6º Gráfico, constata-se que este rito de passagem é essencial. Ao somarmos

as parciais predominantes, chegamos à 87% dos formandos que encontraram

relevância neste ato, acharam indispensável, agradável, importante e consideram ser

um momento de celebração.

Para entendermos o grau de satisfação dos formandos com relação a estrutura

do evento e organização, separamos as respostas dos que ainda não tinham passado

pelo ato de cerimonial, com os que já tinham passado por tal ato, representados nos

Gráficos 7º e 8º. Há um aumento de satisfação, somando-se os dados “satisfeitíssimo”

e “muito satisfeito”, de 81% para 92%.

Consideremos aqui, que conforme foi abordado nesta pesquisa, durante a

cerimônia, o formando passa por diversos atos de emoção, muitas vezes nem ele

mesmo espera o que irá acontecer, e após passar pela colação, onde permite-se

experienciar o ato, nota-se a real relevância e importância de determinados ritos

sociais.

115

Fonte – O autor (2018)

Gráfico 9 – Momento especial

Antes da solenidade

Fonte – O autor (2018)

Gráfico 10 – Momento especial

Após a solenidade

Na próxima questão, o objetivo era saber, qual era o momento mais especial na

solenidade considerado pelos formandos.

O Gráficos 9º refere-se aos discentes que ainda não tinham passado pela

cerimônia, e 10º refere-se aos discentes já formados. Antes da participação, a

expectativa quanto ao recebimento do “canudo” era grande, ultrapassando 50%. O

recebimento do canudo é algo bem particular, pois denota uma conquista pessoal.

Após a participação, percebe-se que os resultados se modificam, aumentando-se

quase 10% a importância da homenagem aos pais e 12% o momento dos discursos.

Reitera-se o equilíbrio de uma conquista pessoal e familiar, e a evidente importância

de uma conquista social, pois os discursos são proferidos por apenas um

representante, mas que abrange e emociona a todos.

116

Considerações Finais

A Colação de Grau é um ritual acadêmico que, como visto até aqui, tem suas

peculiaridades e simbologias. Ao investigar este ritual na Faculdade de Direito da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, com base em aspectos históricos,

comportamentais, sentimentais, além de toda a simbologia existente, ficou latente que

se trata de um momento especial e marcante, tanto para Universidade representada

pelos gestores, pela direção acadêmica, pelo corpo docente e servidores

administrativos, quanto para os discentes e familiares.

Ao me debruçar diante destas questões, cheguei ao tema: Ritual, Simbologias e

Memórias na Colação de Grau da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana

Mackenzie.

No Ritual de Colação de Grau em questão, observei que não é apenas um ato

formal, mas um ritual repleto de sentidos, construções históricas, sociais, culturais,

simbólicas, imaginarias e de representações instigantes.

Sentido, pois simbolicamente é o momento em que o ser humano comunica à

sociedade sua mudança de status diante do grupo em que vive, sejam estes familiares

ou não, incutindo tanto na memória individual quanto coletiva, o desejo de transmissão

de valores às gerações seguintes.

Como construção histórica, especificamente este ritual, surge junto com a

história da Universidade, mostrando a importância social que engloba também o

sentido que citamos acima e evidencia a transformação vivida pelo sujeito. Nesta

herança histórica está o poder simbólico (poder invisível), e no poder simbólico a

construção social. Social, pois revela dentro destas relações do poder supracitadas, a

importância da obtenção do diploma universitário, colocando agora o indivíduo em

grau de elevação ante aos demais. Mesmo que inconscientemente, aquele que

conclui um curso universitário eleva seu poder social e também o poder do nome da

universidade. Ambos, indivíduo e local, se elevam perante o construto social.

Poder invisível que podemos quantificar, quando na pesquisa perguntamos à

razão da escolha desta Universidade para cursar Direito. Vimos no resultado que a

tradição foi o valor preponderante para escolha, e este só se constrói com o tempo.

Hoje temos e somos uma instituição de renomado valor.

117

Este ritual que também engloba a cultura, que desde a idade média, visava

estimular o ato dos estudos, ao longo da história, passando de geração em geração

chega ao Brasil por heranças advindas de Portugal, Espanha e Itália, tornando-se

parte de nossa cultura acadêmica até a atualidade.

Dentro deste fator cultural histórico, abro um parêntese para enfatizar o quanto

é recente a história de nossas universidades, e o quanto ainda, conquistas e

desbravamentos carecem de acontecer. O fato das mulheres terem conquistado seu

espaço dentro das IES, tantos anos depois de seu início. O fato de termos em registro

recente, pouquíssimos indígenas com a titulação de doutorado. São enfoques que

ainda estão em construção histórica e que fomentam assuntos para futuras pesquisas.

Como dito, neste ritual também existe a representação simbólica. Estas

representações podem ser: internas que trazem à tona sentimentos; e as externas

que trabalham nossas visualidades, principalmente experenciada por quem passa

pelo ritual, construídas por todo um sistema protocolar que foi se estabelecendo ao

longo da história por gestos, normas de conduta, tipos de vestimentas específicas

para cada ocasião, para cada hierarquia e também nas roupas que os discentes usam.

Na vestimenta, em especial no traje de formatura, o uso das vestes talares, a diferença

do emprego da cor vermelha que aplicada tanto para a Universidade Presbiteriana

Mackenzie em sua logomarca, quanto para o curso de Direito, representam a força na

dimensão simbólica da cor. Ainda destaco no sistema protocolar, a importância

simbólica da presença do paraninfo e patrono, que são referenciais para os formandos

e trazem consigo a palavra proferida de incentivo e ânimo.

A representação simbólica interna ou sentimentos, ficam claro e evidentes nas

pesquisas. Como vemos o resultado do gráfico 5, onde 65% dos entrevistados,

consideram este ritual como uma conquista e uma satisfação à família e à sociedade.

87% dos entrevistados, como vimos no gráfico 6, atribuem à Colação de Grau

sentimentos bons como relevante, indispensável, agradável, ritual importante e

querem celebrar o sucesso. Já no gráfico 8 damos o destaque ao fato que 75% dos

entrevistados, ficam satisfeitíssimos com o ritual, após terem passado por ele. Nestes

simples dados vemos o fenômeno histórico do progresso, a experiência pessoal e

coletiva que alimenta a memória social e a satisfação da construção do conhecimento

que dará ao indivíduo um destaque social.

118

Voltando-se à história da UPM, há o importante levantamento de dados, nas

atas, nos documentos oficiais que expõem a construção histórica desta casa, os

momentos e as pessoas importantes que estiveram aqui presentes.

Ainda neste ritual, como dito, temos as questões imaginárias. À estas atribuímos

também as memórias. Memórias que contam e constroem a história, memórias que

marcam, memórias que solidificam e que são representadas como linguagem em

palavras proferidas, escritas e através das imagens. Entrevistas com figuras notáveis

que levantaram e enriqueceram a história da Universidade, fazendo com que este

estudo se torne importante não só para mim, mas um documento para a Universidade

Presbiteriana Mackenzie. O depoimento marcante que evidencia a importância da

Colação de Grau e que marca a vida de quem passa por ela. Pela perspectiva da

UPM, apesar de repetitivo semestralmente, sempre emociona e remete a inúmeras

experiências. Para os formandos, trata-se de uma experiência singular, recheada de

emoção.

Temos registros imagéticos de gerações anteriores e atuais, análises destes

registros segundo sua composição e sob fundamentação de teóricos de cor e

percepção. As padronizações hierárquicas advindas das visualidades de cor e estilo,

presentes ainda hoje na sociedade e representada pelas roupas que vestimos.

Este trabalho evidenciou também, os sistemas protocolares que estão presentes

em todas as colações de grau da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A

importância de segui-los, dando direcionamento à outras Universidades/ Instituições

que não possuem estes sistemas condizentes com as normas protocolares, muitas

vezes por falta de informação. A utilização dos símbolos nacionais: Bandeira e Hino,

no qual, em especial destaque, foi possível conceituar com bases tangíveis, que no

momento que se canta o hino nacional não deve voltar-se à bandeira.

O poder simbólico da palavra proferida, seja no juramento, seja nos discursos e

pregação, atos que acontecem durante o ritual. Neste ritual de passagem, a palavra

tem um importante papel, pois é usada de maneira específica tanto pelos formandos

como pelos docentes.

Finalizamos esta dissertação esperando ter colaborado para registro de parte da

história desta universidade, dando subsídios para que outras instituições de ensino

superior que não possuem uma Colação de Grau rigorosamente organizada, prestem

119

maior atenção para este momento, pois é ele o contato final de sua IES com o

discente. Levantamos aqui não somente as questões teóricas, mas também as

práticas, mostrando os passos seguidos para uma organização coesa e necessária e

um evento de destaque como deve ser.

Colação de grau é o momento que marca, que registra, que fica gravado na

memória. É emoção, é razão, é palavra, é memória, é sociedade, é ritual.

120

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