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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS E NANOTECNOLOGIA CARLOS HENRIQUE FERREIRA DA SILVA COMPORTAMENTO MECÂNICO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE UM AÇO DP LAMINADO A FRIO COM REVESTIMENTO DE Zn PARA ESTAMPAGEM São Paulo 2019

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ENGENHARIA DE MATERIAIS E NANOTECNOLOGIA

CARLOS HENRIQUE FERREIRA DA SILVA

COMPORTAMENTO MECÂNICO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE

UM AÇO DP LAMINADO A FRIO COM REVESTIMENTO DE Zn PARA

ESTAMPAGEM

São Paulo

2019

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CARLOS HENRIQUE FERREIRA DA SILVA

COMPORTAMENTO MECÂNICO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE

UM AÇO DP LAMINADO A FRIO COM REVESTIMENTO DE Zn PARA

ESTAMPAGEM

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais e

Nanotecnologia da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do

título de Mestre.

ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO AUGUSTO COUTO

São Paulo

2019

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Bibliotecária Responsável: Marta Luciane Toyoda – CRB 8/ 8234

S586c

Silva, Carlos Henrique Ferreira da

Comportamento mecânico e caracterização microestrutural de um aço DP

laminado a frio com revestimento de Zn para estampagem / Carlos Henrique

Ferreira da Silva – São Paulo, 2019.

78 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Engenharia de Materiais e Nanotecnologia) -

Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo, 2019.

Orientador: Antônio Augusto Couto.

Bibliografia: f. 20-43.

1. Aços Dual Phase. 2. Estampagem a frio. 3. Textura. I. Couto, Antônio

Augusto, orientador. II.Título.

CDD 669.14

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CARLOS HENRIQUE FERREIRA DA SILVA

COMPORTAMENTO MECÂNICO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE

UM AÇO DP LAMINADO A FRIO COM REVESTIMENTO DE Zn PARA

ESTAMPAGEM

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais e

Nanotecnologia da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do

título de Mestre.

Aprovado em, 11/02/2019.

BANCA EXAMINADORA

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À minha mãe, pelo seu empenho e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador, Dr. Antônio Augusto Couto, por todo seu tempo e

conhecimento dedicados a me ajudar durante o processo de realização deste trabalho.

Ao meu amigo, Sr. Leandro Barros, que me contribuiu com recursos materiais e

intelectuais para o desenvolvimento deste trabalho.

Ao professor Dr. Nelson Batista de Lima, do Instituto de Pesquisas Energéticas

e Nucleares (IPEN), pelo apoio técnico fornecido para o desenvolvimento dos testes.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie e todo seu corpo docente, que me

proporcionaram as condições necessárias para que eu alcançasse meus objetivos.

À empresa Tower Automotive do Brasil, que serviu como fonte de informações

e inspiração para criação deste trabalho.

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“ Buscar as coisas certas da maneira errada

É o mesmo que nadar contra a maré

Lutando pelas nossas próprias forças

Já entramos na batalha derrotados. ”

Déio Tambasco

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RESUMO

Duas chapas de aços DP (Dual Phase), ambas com espessura de 2,0mm,

composição química e resistência mecânica semelhantes e produzidos por duas usinas

siderúrgicas distintas, foram utilizados no processo de estampagem a frio. Uma das chapas

apresentou problemas de trincamento durante o processo de estampagem a frio e a outra não.

O objetivo deste trabalho é comparar a microestrutura e as propriedades mecânicas em tração

visando compreender o que causou a falha em uma das chapas. Diante disto, foram realizadas

análise da composição química, caracterização por microscopia óptica e determinação da

textura cristalográfica por difração de raios x. Ensaios de tração nas direções de 0°, 45° e 90°

em relação à direção de laminação foram também realizados. Todos os ensaios realizados

retornaram resultados muito semelhantes entre os dois materiais. O principal aspecto de

diferenciação entre os aços foi a maior intensidade da fibra α no material que trincou. A origem

das intensidades das fibras α e 𝛾 são oriundas do tratamento da matéria prima e do processo de

laminação do material. Este fato justifica os resultados de estampagem a frio, pois a presença

da fibra α é prejudicial para materiais em processo de estampagem.

Palavras-chave: Aços Dual Phase. Estampagem a frio. Textura.

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ABSTRACT

Two Dual Phase (DP) steels, both with thickness of 2,0mm, similar chemical

composition and strength and produced by two different steelworks, were used in the cold

drawing process. One of the sheets had cracking problems during the cold drawing process

and the other didn't. The objective of this work is to compare the microstructure and the

mechanical properties in tensile process in order to understand what caused the failure in one

of the sheets. In view of this, the chemical composition, characterization by optical microscopy

and determination of crystallographic texture by x-ray diffraction were performed. Tensile tests

in the 0 °, 45 ° and 90 ° directions with respect to the rolling direction were also performed.

All tests performed returned very similar results between the two materials. The main

distinguishing feature among steels was the higher fiber intensity in the material that cracked.

The origin of the intensities of α-fiber and 𝛾-fiber are derived from the treatment of the raw

material and the rolling process of the material. This fact justifies the results of cold drawing,

since the presence of α-fiber is detrimental to materials in the process of drawing.

Keywords: Dual Phase steels, cold drawing, texture.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Representação de um estágio de corte no processo de estamparia de metais.........19

Figura 2 Representação de um estágio de estampagem profunda no processo de estamparia

de metais...............................................................................................................20

Figura 3 Representação de um estágio de reestampagem no processo de estamparia de

metais....................................................................................................................21

Figura 4 Diagrama de fases - Recozimento Intercrítico - Liga Ferro-Carbono....................24

Figura 5 Linha de zincagem contínua (LZC) por imersão à quente.....................................26

Figura 6 Representação da curva tensão (𝜎) x deformação (𝜀) em um ensaio de tração de

um material metálico.............................................................................................28

Figura 7 Representação da curva tensão x deformação verdadeira em um ensaio de tração

de um material metálico........................................................................................31

Figura 8 Direção cristalina do material durante a laminação...............................................33

Figura 9 Método de amostragem para ensaio de anisotropia...............................................36

Figura 10 Representação esquemática de uma célula unitária CCC e CFC...........................37

Figura 11 Representação da difração de raios x sobre planos atômicos.................................39

Figura 12 Ângulos de Euler (φ1, ϕ e φ2) conforme notação de Bunge..................................41

Figura 13 Figura de pólos (110) de uma chapa de aço baixo carbono com 2% de silício,

recozida a 760ºC e, posteriormente, laminada a frio com redução de

8,6%......................................................................................................................42

Figura 14 Guilhotina mecânica para corte de chapas.............................................................44

Figura 15 Prensa com aquecimento (embutidora de resina sintética)....................................45

Figura 16 Ilustração dos corpos de prova embutidos e suas direções.....................................45

Figura 17 Lixadeira/Politriz para acabamento dos corpos de prova embutidos.....................46

Figura 18 Direções de lixamento dos corpos de prova embutidos.........................................46

Figura 19 Microscópio óptico com câmera para captura de imagens....................................47

Figura 20 Durômetro de bancada com capacidade de medição nas escalas HRB e HRC.......48

Figura 21 Corpo de prova preparados para ensaio de dureza.................................................49

Figura 22 Máquina de ensaio de tração com extensômetro óptico.........................................50

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Figura 23 Direção dos corpos de prova, para ensaio de tração, em relação a direção de

laminação..............................................................................................................51

Figura 24 Fresadora CNC de três eixos.................................................................................51

Figura 25 Croqui dos corpos de prova para ensaio de tração.................................................52

Figura 26 Goniômetro de textura horizontal para análise de direção dos planos dos

átomos...................................................................................................................53

Figura 27 Espectrômetro de fluorescência para análise da composição química dos

materiais...............................................................................................................54

Figura 28 Imagens capturadas na microscopia óptica das amostras do ‘material A’ (A, C, E)

e do ‘material B’ (B, D, F).....................................................................................58

Figura 29 Figura de pólo do ‘material A’..............................................................................66

Figura 30 Figura de pólo do ‘material B’...............................................................................67

Figura 31 FDOC do ‘material A’ (A) e do ‘material B’ (B)...................................................68

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Resultados de composição química dos materiais estudados...............................55

Tabela 2 Resultados dos ensaios de dureza HRB e HV 0,2.................................................56

Tabela 3 Resultados dos ensaios de tração..........................................................................60

Tabela 4 Resultados calculados de coeficiente de encruamento e coeficiente de

anisotropia............................................................................................................63

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

Al2O3 Alumina

APQP Advance Product Quality Planning

apud. citado por (junto a)

CCC Cúbico de Corpo Centrado

CEP Controle Estatístico do Processo

CFC Cúbico de Face Centrada

CP Complex-Phase

DL Direção de Laminação

DN Direção Normal

DP Dual Phase

DT Direção Transversal

EDXRF Energy Dispersive X-ray Fluorescence

et al. e outros (et alia)

FDOC Função de Distribuição de Orientação Cristalina

IF Aços ultrabaixo carbono livre de intersticiais (Intersticial Free)

LRC Linha de Recozimento Contínuo

LRT Limite de Resistência à Tração

LZC Linha de Zincagem Contínua

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

NBR Norma Brasileira

P.A. Para Análise (Pro Analyse)

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TR Times Random

TRIP Transformation Induced Plasticity

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LISTA DE SÍMBOLOS

Al Alumínio

AL Alongamento

Å Angstrom

C Carbono

Co Cobalto

Cr Cromo

cm2 Centímetro quadrado

𝑑ℎ𝑘𝑙 Distância interplanar

E Módulo de Young

g grama

H Hidrogênio

h k l Índices de Miller

HRB Hardness Rockwell B (Dureza Rockwell B)

HRC Hardness Rockwell C (Dureza Rockwell C)

K Coeficiente de resistência

kgf Quilograma força

Lf Alongamento final

L0 Alongamento inicial

ml mililitro

mm milimetro

m2 metro quadrado

Mn Manganês

Mo Molibdênio

MPa Mega Pascal

N Nitrogênio

n Coeficiente de encruamento

�̅� Valor médio do coeficiente de encruamento

Nb Nióbio

nm Nanômetro

P Fósforo

Pb Chumbo

𝑄𝑇̅̅ ̅̅ Segmento de reta

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r Coeficiente de Lankford

𝑟𝑚 Média do Coeficiente de Lankford

S Enxofre

Si Silício

𝑠𝑒𝑛𝜃 Ângulo de incidência

𝑆𝑄̅̅̅̅ Segmento de reta

T Tonelada

𝑡𝑓 Espessura final

𝑡𝑜 Espessura inicial

uvw Direções do plano

𝑤𝑓 Largura final

𝑤𝑜 Largura inicial

x Número inteiro

�̅� Média aritmética

Zn Zinco

α Alpha

𝛾 Gama

𝜎 Tensão

σp Limite de proporcionalidade

σe Tensão de escoamento

𝜀 Deformação

𝜀0 Deformação inicial

𝜀𝑡 Deformação real no sentido da espessura

𝜀𝜔 Deformação real no sentido da largura

µm micrometro

∆𝑟 Coeficiente de anisotropia planar

φ1, e φ2 Ângulos de Euler

λ Comprimento de onda

° Graus

°C Graus Celsius

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16

1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 18

1.1.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 18

1.1.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 19

2.1 PROCESSO DE ESTAMPAGEM DE METAIS ................................................... 19

2.1.1 Corte...................................................................................................................... 19

2.1.2 Dobramento e encurvamento ............................................................................. 20

2.1.3 Estampagem profunda ........................................................................................ 20

2.2 CARACTERIZAÇÃO DO MATERIAL ............................................................... 21

2.2.1 Aço DP (ferrita e martensita) ............................................................................. 21

2.2.2 Revestimento de Zn (galvanização) .................................................................... 26

2.2.3 Ensaios de tração ................................................................................................. 27

2.2.4 Encruamento do material ................................................................................... 29

2.2.4.1 Coeficiente de encruamento (n) .......................................................................... 30

2.2.5 Coeficiente de anisotropia (r de Lankford) ....................................................... 32

2.2.6 Textura.................................................................................................................. 37

2.2.6.1 Difração de raios x ................................................................................................. 39

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 43

3.1 MATERIAIS.......................................................................................................... 43

3.2 MÉTODOS ............................................................................................................ 43

3.2.1 Preparação das amostras .................................................................................... 43

3.2.2 Microscopia óptica (M.O.) .................................................................................. 47

3.2.3 Ensaio de dureza .................................................................................................. 48

3.2.4 Ensaio de tração ................................................................................................... 49

3.2.5 Difração de raios x ............................................................................................... 53

3.2.6 Espectrometria ..................................................................................................... 54

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 55

4.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA ................................................................................... 55

4.2 ENSAIOS DE DUREZA ....................................................................................... 56

4.3 MICROSCOPIA ÓPTICA (M.O.) ......................................................................... 57

4.4 ENSAIOS DE TRAÇÃO ....................................................................................... 59

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4.5 COEFICIENTE DE ENCRUAMENTO, R DE LANKFORD E ANISOTROPIA

PLANAR ............................................................................................................... 62

4.6 TEXTURA ............................................................................................................. 65

5 DISCUSSÃO GERAL ......................................................................................... 69

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 71

ANEXOS ............................................................................................................... 76

APÊNDICES ........................................................................................................ 77

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1 INTRODUÇÃO

O processo de estamparia (conformação mecânica) é um processo de fabricação

onde a deformação plástica é utilizada para alterar a forma de peças metálicas. A conformação

é o resultado da aplicação de cargas que produzem tensões que excedem o limite de elasticidade

do metal, assumindo a forma da matriz (GROOVER, 2007). O processo de estampagem

metálica é feito normalmente a frio. Os tipos de operação mais comuns são de corte,

dobramento e encurvamento e estampagem profunda, às vezes, a quente (CHIAVERINI, 1986).

A capacidade de deformação dos metais na tecnologia moderna possui grande

importância nos processos de fabricação, em particular dos aços, alcançando formas desejadas

e alterações nas características e propriedades mecânicas do material (SILVA; MEI, 2010).

A análise da curva tensão-deformação do material é fundamental para

compreender o comportamento do mesmo durante a sua conformação (GROOVER, 2007). A

curva tensão-deformação é tipicamente dividida em região elástica e região plástica, momento

este que o material é deformado permanentemente (CALLISTER JR., 2002).

Na conformação mecânica a frio, conforme o material é deformado, ocorre o

fenômeno chamado encruamento, onde a resistência se eleva e a ductilidade remanescente

diminui, pelo aumento da densidade de discordâncias (escala microscópica) e a redução de sua

mobilidade. Com a redução da ductilidade o material pode romper antes de atingir as dimensões

desejadas (SILVA; MEI, 2010).

Na fase de desenvolvimento do produto os produtores buscam ou desenvolvem

a matéria prima que seja mais adequada ao uso, com custo compatível. Com os requisitos de

qualidade do material e os testes e ensaios bem definidos o relacionamento entre cliente/usuário

e fornecedor é beneficiado, reduzindo custos e prazos (SILVA; MEI, 2010).

Os aços Dual Phase (DP) possuem larga aplicação na indústria automobilística,

visando obter resistência mecânica superior de componentes estruturais de veículos

automotivos e reduzir o seu peso (WOO; et al., 2012). Sua combinação de alta resistência à

tração e boa ductilidade são provenientes de uma microestrutura constituída por ilhas

martensíticas duras inseridas em uma matriz ferrítica macia (CHOI; et al., 2013).

Os aços DP, caracterizados neste artigo, são utilizados no processo de

estampagem a frio e são compostos por uma estrutura primária ferrítica e uma estrutura

secundária, predominantemente martensítica, onde cada uma das fases é composta por

fragmentos de materiais homogêneos que fazem parte de um mesmo material heterogêneo.

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“Uma fase pode ser definida como uma porção homogênea de um sistema que possui

características físicas e químicas uniformes” (CALLISTER JR., 2002).

Os problemas de produção e de qualidade do produto na área de estampagem de

peças metálicas são comuns, mesmo adotando-se os mais rigorosos métodos de preparação do

processo. Diante de tais problemas, muitas vezes por causas desconhecidos, as suspeitas sobre

a matéria prima são usuais.

Esta dissertação abordará uma matéria prima que possui uma conformação

complicada, um aço DP com revestimento de zinco que, devido ao formato do produto e a

resistência mecânica do material, apresenta diversos tipos de intercorrência durante o processo

de produção, característicos do ambiente de conformação metálica a frio. No decorrer da

redação serão apresentados os métodos de análise e seus resultados obtidos.

Os dois materiais estudados possuem composição química e resistência

mecânica semelhantes e são produzidos por duas usinas siderúrgicas distintas, onde um desses

materiais apresenta uma perda de produção entre 10% a 30% em cada lote, proveniente do

surgimento de trincas durante o processo de estampagem, e o material produzido pelo outro

fornecedor apresenta zero rejeito. A inspiração deste estudo é analisar e entender a diferença

entre os dois materiais e encontrar a causa raiz destes problemas de produção citados. Os

ensaios foram realizados sobre uma amostragem que representa os dois extremos dos materiais

citados (material conforme e material não conforme).

Os materiais deste estudo foram caracterizados através de métodos de análise

laboratoriais usuais no meio industrial como ensaios de tração e dureza e utilizando métodos de

análise laboratoriais mais sofisticados como microscopias ópticas e análises de textura,

acompanhados de avaliações obtidas através dos cálculos de coeficiente de encruamento (n),

coeficiente de Lankford (r) e cálculo de anisotropia (rm e ∆r). Estes cálculos foram realizados

através dos dados obtidos dos ensaios de tração realizados nas direções de 0°, 45° e 90° em

relação à direção de laminação. A orientação preferencial dos grãos foi determinada por meio

de difração de raios x.

Em vários momentos desta dissertação serão utilizados o termo ‘material A’ para

identificar o material que não apresenta defeitos na produção e o termo ‘material B’ para

identificar o material que apresenta defeitos na produção.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento

001.

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Analisar e comparar a microestrutura e o comportamento mecânico de dois aços

DP laminados a frio com revestimento de Zn, com a mesma especificação de composição

química e resistência mecânica e produzidos por duas siderúrgicas distintas, que são utilizados

no processo de estampagem de componentes e conjuntos para a indústria automotiva e

apresentam comportamentos diferentes durante o processo de embutimento.

1.1.2 Objetivos específicos

● Correlacionar a porcentagem de fases presente nas amostras com os resultados dos ensaios

mecânicos, analisando a microestrutura do material nas direções longitudinal, transversal e

normal à direção laminação por microscopia óptica;

● Analisar a influência da orientação preferencial dos planos e direções cristalinas (coeficiente

de Lankford) e da distribuição uniforme das deformações (coeficiente de encruamento) nas

propriedades mecânicas dos materiais estudados no momento das deformações através de

ensaios de tração em três direções (0°, 45° e 90°);

● Determinar a melhor condição de orientação cristalográfica para os dois materiais estudados,

analisando os resultados de FDOC e figuras de pólo obtidas em ensaios de difração de raios x;

● Correlacionar as falhas ocorridas no processo de estampagem (trincas) com os resultados dos

ensaios realizados.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Esta revisão bibliográfica foi realizada com base em livros, trabalhos

acadêmicos (TCC’s, dissertações, teses), normas, artigos de periódicos, anais de congresso,

revistas técnicas, sites acadêmicos entre outros, dando ênfase a referências atuais.

2.1 PROCESSO DE ESTAMPAGEM DE METAIS

O processo de estampagem de metais (conformação mecânica) é feito

normalmente a frio. Os tipos de operação mais comuns são de corte, dobramento e

encurvamento e estampagem profunda (às vezes a quente) (GROOVER, 2007).

2.1.1 Corte

O processo de corte é composto pela prensa (máquina-ferramenta), matriz e

punção de corte, como apresentado na figura 1.

Figura 1 – Representação de um estágio de corte no processo de estamparia de metais

Fonte: Fundação Santo André – FSA (2009)

O processo de corte é comumente aplicado para realizar a separação entre o

produto e o retalho de chapa (sobras de material), perfis e furos. No caso de furos recomenda-

se que a espessura da chapa a ser cortada seja menor que o diâmetro do punção, garantindo um

melhor acabamento da área de corte e o aumento da vida útil da ferramenta (BRESCIANI

FILHO, 2011).

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2.1.2 Dobramento e encurvamento

Em uma operação de dobramento e encurvamento é importante que a espessura

da chapa se mantenha constante, mesmo nas áreas mais afetadas pela conformação mecânica

como raios de curvatura. Na maioria dos casos a redução (estiramento) da espessura da chapa

não deve ultrapassar 10% da espessura original da mesma, salvo especificações do cliente. Os

raios de curvatura devem ser de 1 a 2 vezes a espessura da chapa para materiais moles e 3 a 4

vezes a espessura da chapa para materiais duros. Cantos vivos devem ser evitados (GROOVER,

2007).

2.1.3 Estampagem profunda

A estampagem profunda (mais conhecida na indústria como repuxo) consiste em

conformar a chapa em forma de copo onde o fundo do copo não sofre alterações e a parede do

copo em forma de cilindro é deformada. Processos de estampagem profunda normalmente são

feitas por etapas, para evitar trincas e superfícies irregulares (rugas), como mostra a figura 2

(MAEDA, 2009).

Figura 2 – Representação de um estágio de estampagem profunda no processo de estamparia

de metais

Fonte: Fundação Santo André - FSA (2009)

Neste tipo de processo é preciso garantir que a chapa não se mova durante a

conformação para alcançar o perfil e as dimensões desejadas. Para este evento os estampos

possuem um retentor (na indústria é chamado de pisador) com a função de manter a chapa

estática para receber o golpe, conforme a figura 3 (GROOVER, 2007).

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Figura 3 – Representação de um estágio de reestampagem no processo de estamparia de

metais

Fonte: Fundação Santo André - FSA (2009)

A ação do retentor evita o enrugamento da chapa e auxilia na boa execução da

operação, com o objetivo de criar produtos dentro das especificações do cliente. No caso de

produtos mais complexos, estampagem profunda com altura maior que o diâmetro do cilindro

ou para garantir as dimensões especificadas é preciso realizar uma reestampagem. Na indústria

esse estágio é chamado de calibração (BRESCIANI FILHO, 2011).

2.2 CARACTERIZAÇÃO DO MATERIAL

2.2.1 Aço DP (ferrita e martensita)

Para a área automotiva, com o objetivo de reduzir o peso e aumentar o

desempenho à impactos do veículo, a substituição de chapas de aço com baixo teor de carbono

revestidas com zinco por chapas de aço de alta resistência, também revestidas de zinco, foi uma

saída inteligente (SONG; et al., 2012). As propriedades promissoras são provenientes de duas

questões-chave, a adição adequada de elementos de liga e tratamento térmico cuidadosamente

projetado (LIU; et al., 2012).

Um aço DP pode ser caracterizado como uma microestrutura que consiste em

um espalhamento de partículas de martensita dura em uma matriz de ferrita macia (CHOI; et

al., 2013, apud., LLEWELLYN; HILLIS, 1996). Este tipo de aço possui uma combinação de

alta resistência à tração, alta taxa de endurecimento em processos de deformação plástica e boa

ductilidade (SONG; et al., 2012).

A fase martensítica possui maior resistência e dureza do que a fase ferrítica,

causando um reforço composto e, consequentemente, um endurecimento de alto valor,

colaborando para uma alta ductilidade (ROA; et al., 2015). Quanto maior a fração volumétrica

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de martensita no material maior será sua resistência à tração e menor será sua ductilidade, pois

as partículas ferríticas (macias) são responsáveis pela boa ductilidade do material, enquanto as

partículas martensíticas (duras) são responsáveis por suportar a carga (MOVAHED; et al,

2009). A composição de um aço DP também pode conter outros constituintes pela retenção de

austenita, bainita e perlita (AVRAMOVIC-CINGARA; et al, 2009).

É de comum conhecimento que as falhas dos aços DP dependem de vários

fatores microestruturais como fração volumétrica, teor de carbono, morfologia (tamanho e

forma) e distribuição espacial (WOO; et al., 2012). Durante o processo de falha dos materiais

DP as partículas passam por rotação e deslocamento, primeiramente nos grãos ferríticos e,

posteriormente, nos grãos martensíticos (HOSSEINI-TOUDESHKY; ANBARLOOIE;

KADKHODAPOUR, 2014). A fase ferrítica, por ser mais maleável, sofre as deformações

plásticas antes da fase martensítica.

Quando submetidos à processos de conformação mecânica, como o processo de

estampagem, os elementos microestruturais dos aços DP passam por três diferentes processos

de deformação até a falha. Na primeira etapa as partículas de ferrita e martensita se deformam

elasticamente. Na segunda etapa as partículas de ferrita se deformam plasticamente enquanto

as partículas de martensita continuam se deformando elasticamente. Na terceira e última etapa

as partículas de ferrita e martensita se deformam plasticamente (HOSSEINI-TOUDESHKY;

ANBARLOOIE; KADKHODAPOUR, 2014). O processo de corte de chapas cria diversos

defeitos de superfície ao redor da borda cortada, como microfissuras sendo um deles. Como

uma microfissura pode se expandir de uma partícula a outra na fase martensítica seria

interessante a eliminação dessas microfissuras antes do processamento (LEE; LEE; COOMAN,

2012).

A produção comercial do aço DP possui uma técnica de linha de recozimento

contínuo (LRC), onde a bobina, após a laminação à quente ou à frio, é desenrolada e recozida

para produzir a microestrutura desejada. O processo de laminação consiste na passagem das

placas metálicas entre dois cilindros (duo) ou quatro cilindros (quadruo), que giram em sentidos

opostos, deformando a placa plasticamente e, consequentemente, aumentando sua dureza. Este

processo pode ser realizado à quente (placa aquecida a temperaturas acima da temperatura de

recristalização do metal) e a frio (placa aquecida a temperaturas abaixo da temperatura de

recristalização do metal) (OTOMAR, 2010).

O aço ferrítico-perlítico passa por um recozimento intercrítico seguido de um

resfriamento suficientemente rápido para permitir a transformação da austenita em martensita,

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obtendo o aço ferrítico-martensítico. Esse é o processo mais simples para aquisição dessa

microestrutura. A microestrutura e a quantidade final de ferrita e martensita em aços DP podem

ser controladas pelo tempo de espera, pela temperatura intercrítica e pela taxa de resfriamento

(HOSSEINI-TOUDESHKY; ANBARLOOIE; KADKHODAPOUR, 2014). Um material

também pode sofrer transformação de fases quando submetido a deformações. A transformação

martensítica pode ser produzida por tensões de cisalhamento nos limites de grãos ferríticos,

quando o material possui austenita retida (ROA; et al., 2015).

A composição química da liga e tipos de tratamentos térmicos podem induzir a

mecanismos de falha como nucleação e crescimento de vazios, este último, nucleados

principalmente por trincas causadas por separação de partículas (clivagem) de martensita

deformadas. Pesquisadores observaram que em estruturas grosseiras a formação da lacuna

inicial (ponta da trinca) ocorre devido a fissura da martensita a níveis de deformação muito

baixos (AVRAMOVIC-CINGARA; et al, 2009). Os danos apresentados nos aços DP não são

provenientes apenas pelas nucleações vazias, mas também pela baixa força de atração

(descoesão) na interface entre as duas fases (GHADBEIGI; et al, 2010).

Vários estudos apontam que os aços DP falham de maneira dúctil, com início

nos microvazios em volta ou dentro das ilhas martensíticas e se expandem para a fase ferrítica.

Alguns pesquisadores apontam que a quebra da martensita é o mecanismo principal da falha.

Para grãos grosseiros e alta impureza do material o mais comum é a fratura por clivagem ou a

separação dos grãos (RAMAZANI; EBRAHIMI; PRAHL, 2014).

A fase martensítica sofre maior deformação plástica em relação à fase ferrítica

quando os grãos martensíticos formam um tipo de estrutura de rede em cadeia entre eles, em

volta das partículas ferríticas, característico de um material duplex quando é recozido até a

temperatura intercrítica após sofrer deformação à frio. Estudos comprovam que tal morfologia

(estrutura de rede em cadeia) é a combinação que apresenta o melhor equilíbrio de deformação

e alongamento, ou seja, melhor resistência à tração e alongamento total. O desenvolvimento e

o aumento dos micro-vazios estão intensamente relacionados ao efeito da deformação entre a

fase ferrítica e a fase martensítica. Esses micro-vazios estão relacionados à fratura dúctil do

material. A distribuição da martensita deve influenciar não somente o endurecimento por

deformação, mas também no comportamento da fratura dúctil que afeta a conformação local

(PARK; et al., 2014).

Dentre as diversas formas de restauração da capacidade de endurecimento da

deformação praticadas a substituição da perlita por martensita através do tratamento de

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recozimento intercrítico é o processo mais eficiente, formando a quantidade necessária de

austenita e transformada em martensita após um rápido arrefecimento (CALCAGNOTTO;

PONGE; RAABE, 2012).

No processo de recozimento intercrítico a ferrita passa por recristalização e as

nucleações austeníticas ocorrem nas interfaces entre os grãos recristalizados e não

recristalizados, dentro das colônias contendo carbono, sendo limitadas pela difusão de carbono

dentro das mesmas. A recristalização ferrítica influencia na formação e distribuição da fase

austenítica (ZHENG; RAABE, 2013).

O recozimento intercrítico para aços de baixa liga, com teor de carbono inferior

a 0,2%, é executado a temperaturas adequadas, no intervalo entre 736°C e 852°C (MOVAHED;

et al, 2009), conforme apresentado no diagrama de fases - Liga Ferro-Carbono a seguir (figura

4).

Figura 4 – Diagrama de fases - Recozimento Intercrítico - Liga Ferro-Carbono

Fonte: Das; Chattopadhyay (2009)

Neste tipo de tratamento a austenita residual se transforma em martensita,

alterando a microestrutura ferrítica-perlítica convencional, e dando origem a uma estrutura

ferrítica-martensítica (MOVAHED; et al, 2009). De acordo com a regra da alavanca, o aumento

da temperatura aumenta a fração do volume da austenita, que então se transformará em

martensite após a têmpera (MOVAHED; et al, 2009) que resulta no aumento da resistência à

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tração do material , tal fato comprovado por pesquisadores que declararam uma relação linear

entre a resistência à tração máxima, o alongamento uniforme e a tensão de rendimento à

porcentagem de martensita, além do aumento da dureza (GHANEI; KASHEFI; MAZINANI,

2013) e o tamanho dos grãos de ferrita aumentam com o tempo e a temperatura

(CALCAGNOTTO; PONGE; RAABE, 2012). A redução do tamanho de grão da fase

martensítica tende a aumentar sua ductilidade, um maior alongamento uniforme, pois gera uma

maior restrição plástica nos grãos de ferrita e força a fase martensítica a deformar plasticamente

mais cedo (SAEIDI; ASHRAFIZADEH; NIROUMAND, 2014).

Para grãos mais grossos a maior densidade de discordâncias acontece nas

interfaces ferrita-martensita, sendo que a maior tensão é aplicada sobre as partículas

martensíticas, levando as mesmas a falhar. Com o alto efeito de restrição que as partículas de

martensita exercem sobre as partículas de ferrita a falha inicial das partículas de martensita pode

se expandir para as partículas de ferrita adjacentes. Diante de esforços mecânicos, quanto maior

as interfaces ferrite-martensita maiores serão as tensões compressivas que atuam sobre as

interfaces. (SAEIDI; ASHRAFIZADEH; NIROUMAND, 2014).

A nucleação austenítica a partir da perlita ocorre mais rapidamente do que a

nucleação ferrítica devido a quantidade de carbono disponível, diferente da nucleação a partir

dos limites da ferrita onde o núcleo austenítico se forma sem contato direto com a fonte de

carbono (ZHENG; RAABE, 2013).

Pesquisas comprovam que a formação da microestrutura do aço DP tem total

dependência da microestrutura inicial a partir da morfologia ferrita/austenita evoluídas durante

o recozimento na região de dupla fase (DAS; CHATTOPADHYAY, 2009).

Estudos por comparação de diferentes morfologias de um mesmo tipo de aço DP

comprovam que a identificação de alguns parâmetros, como a dureza do material, é insuficiente

para identificar as demais propriedades, como a resistência à tração (DAS;

CHATTOPADHYAY, 2009). A adição de elementos à liga pode alterar a formação da ferrita

e martensita no recozimento intercrítico, induzindo a formação de grãos mais finos que

aumentam a resistência do aço (LEE; LEE; COOMAN, 2012). O refinamento de grãos da fase

ferrítica tem o efeito de elevar a resistência mecânica do material sem alterar a sua dureza e seu

alongamento total, assim como quando a distribuição da martensita está em estrutura de rede

em cadeia, porém este elevando a dureza do material (PARK; et al., 2014). A adição ponderada

de Nióbio (Nb) na composição tem efeito benéfico sobre o alongamento do material.

Quantidades elevadas podem ter um efeito contrário prejudicial (LEE; LEE; COOMAN, 2012).

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Alguns pesquisadores comprovaram que, para aços DP, combinações em

quantidades iguais de ferrita e martensita dispersas (50%-50%) trazem a combinação ideal de

alta ductilidade e alta resistência mecânica e impactos, porém, essa variação é ascendente e não

linear. Isto é, não existe uma relação direta entre fração de volume e propriedades do material.

Contrariando outros estudos que afirmam que as propriedades do material podem ser estimadas

pela regra da mistura. Estas afirmações ainda são uma incógnita, sendo necessário mais estudos

sobre o caso (MOVAHED; et al, 2009).

2.2.2 Revestimento de Zn (galvanização)

Devido sua larga aplicação na indústria e por ser um material com uma matriz

formada basicamente por ferro e carbono foi preciso desenvolver métodos de proteção contra

os efeitos da atmosfera, onde o processo de galvanização se mostrou o mais viável

processualmente e financeiramente. Contudo, este processo possui suas dificuldades e

particularidades em relação à manutenção da linha de zincagem contínua (LZC) (figura 5), com

destaque para a oxidação seletiva da superfície e o recozimento intercrítico (LIU; et al., 2012).

Figura 5 – Linha de zincagem contínua (LZC) por imersão à quente

Fonte: Galva Brasil (2013)

Em aços de alta resistência é comum a adição de alguns elementos em sua liga

como o Mn, Si, P e Al. Esses elementos tendem a segregar a aço à sua superfície, este que sofre

ataques dos óxidos da atmosfera e rapidamente passam pelo processo de oxidação seletiva,

evento que impacta no processo de galvanização, reduzindo a aderência do revestimento e sua

proteção contra corrosão (SONG; et al., 2012). A oxidação seletiva da superfície é dependente

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do controle do ponto de orvalho da atmosfera de recozimento (a quantidade de vapor de água

na atmosfera de H2 + N2). Com o aumento do ponto de orvalho, a permeabilidade ao oxigênio

no aço aumenta, o que resulta em transição de oxidação externa para oxidação interna (LIU; et

al., 2012).

Os diferentes padrões térmicos de trabalho (aquecimento, retenção e

refrigeração) na linha de zincagem contínua (LZC) pode influenciar as propriedades mecânicas

do material. Na LZC o aço DP fabricado passa por uma imersão isotérmica a 460°C após o

recozimento intercrítico. Basicamente, as propriedades mecânicas dos aços estão fortemente

conectadas à sua microestrutura obtida após os tratamentos térmicos. Claramente, na LZC, as

rotas do processo, como a taxa de resfriamento do recozimento intercrítico e a imersão

isotérmica de 460°C influenciam as propriedades mecânicas do aço DP (LIU; et al., 2012).

Outros estudos sobre revestimentos de zinco em aços evidenciaram que o

material, quando submetidos à testes de tração, apresenta trincas e fissuras que se originaram

nos limites de grão de Zn e se propagaram ao longo da interface do revestimento e interrompidas

na interface Zn-aço com um posterior desprendimento do aço matriz, o que mostra que trincas

e fissuras originadas no revestimento de zinco não são a causa raiz de fraturas catastróficas do

material (SONG; et al., 2012).

2.2.3 Ensaios de tração

O ensaio de tração é um teste uniaxial e sem atrito, efetuado em máquinas de

ensaios, providas de sensores para registrar o alongamento e a resistência do corpo de prova,

que possuem uma garra fixa e outra móvel (SCHAEFFER, 1999).

Este ensaio é o método mais utilizado na indústria para determinar as

propriedades mecânicas de chapas metálicas, amplamente usado para identificação de

informações primárias sobre a resistência de materiais, e como um teste de controle de

especificações, como limite de resistência, alongamento percentual e total, limite de

escoamento e análises mais específicas como o grau de encruamento e o índice de anisotropia

do material (SCHAEFFER, 1999), onde a resistência à tração e a tensão limite de escoamento

são parâmetros de resistência e a elongação percentual e a redução de área são relativos à

ductilidade do material (DIETER, 1981).

Na indústria os ensaios de tração de materiais são representados pela curva

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tensão () x deformação () (KEELER, 1968), como mostra a figura 6.

Figura 6 – Representação da curva tensão () x deformação () em um ensaio de tração de um

material metálico

Fonte: Autor (2018)

Onde:

- Limite de proporcionalidade (σp): Limite de proporcionalidade é quando a

“deformação é proporcional à tensão” (SOUZA, 1974). É o limite de resistência do material

sem sofrer deformação permanente (deformação plástica), que obedece a Lei de Hooke,

representada algebricamente por [σ=E.ε], que corresponde a porção linear da curva, onde “E”

representa o módulo de elasticidade ou módulo de Young e “ε” representa a deformação

específica (adimensional);

- Tensão de escoamento (σe): A partir deste ponto o material sofre deformações

residuais ou permanentes. Devido à dificuldade de determinar qual o ponto exato em que o

material começa a se deformar plasticamente foi definido que o limite de escoamento seria

determinado pelo encontro entre a curva formada e uma reta traçada paralelamente em relação

à porção linear da curva (módulo de Young), partindo da tensão à 0,2% de deformação, como

mostra a figura 6. Como regra geral, quanto maior a tensão de escoamento menor será a

conformabilidade do material. Por esse motivo a tensão de escoamento é largamente utilizada

em projetos que requerem um material dúctil, onde a deformação plástica deva ser evitada. A

tensão de escoamento é um momento de transformação heterogênea e localizada, representado

por uma elevação relativamente grande da deformação, com baixa alteração nesta faixa de

tensão. Somente após o limite de escoamento o metal irá encruar (SOUZA, 1974);

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- Limite de resistência à tração (LRT): Limite máximo de resistência antes da

estricção;

- Limite de ruptura (R): Tensão de ruptura do material.

A tensão utilizada no cálculo da curva é a tensão longitudinal média do corpo de

prova, adquirida pela divisão da carga aplicada pela área inicial da seção do corpo de prova, e

a deformação usada é a deformação linear média, adquirida pela divisão da elongação do

comprimento útil pelo comprimento original do corpo de prova (OTOMAR, 2010).

Uma característica importante e largamente utilizada na indústria é o

alongamento percentual (%AL), representada algebricamente por [%AL = 100 x (Lf- L0)/L0],

onde “L0” representa o alongamento inicial e “Lf” representa o alongamento final.

No ensaio o corpo de prova sofre deformação longitudinal uniforme ao sentido

do esforço até atingir o limite de resistência à tração (LRT). A partir deste ponto o corpo de

prova começa a sofrer estricção, também conhecido como empescoçamento, e a deformação se

concentra na região de estricção até a sua ruptura (KEELER, 1968). Após iniciada a estricção,

a carga necessária para manter a deformação decresce, no qual a curva tensão x deformação

começa a ter uma inclinação negativa com o processo de deformação (OTOMAR, 2010).

Uma fratura de tração plana é típica em amostras com tração longitudinal a

direção de laminação. Em contrapartida, uma fratura de tração angular a direção de laminação

(em torno de 45º) na orientação transversal a direção de laminação, o que indica um

comportamento menos dúctil (SERRANO; HERNÁNDEZ-MAYORAL; GARCÍA-

JUNCEDA, 2011).

2.2.4 Encruamento do material

A resistência à deformação do material é um quesito fundamental para se ter uma

boa conformabilidade. O coeficiente de encruamento (n), a habilidade de estricção do material

e o coeficiente de anisotropia (R de Lankford), o comportamento do material quando submetido

à esforços de estiramento, são propriedades definidas pela conformabilidade do material,

avaliadas através de testes de tensão padrão e tensão normal (OTOMAR, 2010).

Uma ampla parcela da energia empregada para deformar o material é perdido na

forma de calor, contudo, uma fração da energia, entre 2 e 10%, é retida no metal na forma de

energia vinculada a um aumento de defeitos cristalinos (BEVER; HOLT; TITCHENER, 1973),

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sendo assim, conclui-se que o material deformado se encontra em uma situação de energia

interna superior do que o material não deformado (DIETER, 1981).

O aumento da densidade de discordâncias do metal, causadas pelo encruamento,

representam cerca de 90% da energia armazenada (SIMIELLI, 1986), portanto, o aumento da

densidade de discordâncias, proveniente de diversos obstáculos à sua livre movimentação, está

diretamente relacionado ao aumento da parcela de encruamento. Os principais causadores

desses obstáculos são os filmes superficiais, os contornos de grão e de subgrão e as partículas

de segunda fase, sendo a interação entre estas discordâncias a principal variável na aparição do

encruamento (GONÇALVES, 2003).

Na curva tensão x deformação produzida nos ensaios de tração é possível

identificar o momento em que o material ultrapassa o valor limite de escoamento. A partir deste

ponto o material sofre deformações permanentes (deformação plástica), sendo necessário uma

maior tensão para produzir mais deformação plástica, devido ao encruamento do material

(DIETER, 1981).

2.2.4.1 Coeficiente de encruamento (n)

O coeficiente de encruamento (n) é o coeficiente que determina a capacidade de

encruamento do material, isto é, a capacidade de distribuição uniforme das deformações por

toda a peça (BRESCIANI FILHO; et al., 1997). É esperado valores elevados de n para

conformação de chapas (exemplificado na figura 7), onde o mesmo enrijece rapidamente e

transmite os esforços para as partes próximas, permitindo uma deformação mais uniforme por

um período maior e retardando a aparição de deformações localizadas (OLIVEIRA, 2010).

Os aços baixo-carbono utilizados em processos de estampagem possuem valores

característicos de n que variam entre 0,16 e 0,26 (FERREIRA FILHO; et al., 2003).

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Figura 7 – Representação da curva tensão x deformação verdadeira em um ensaio de tração de

um material metálico

Fonte: Keeler (1968)

O valor de ‘n’ está associado à deformação atingida no ponto de carga máxima,

isto é, no início da estricção, o que indica que quanto mais elevado o valor de ‘n’ mais elevada

é a deformação uniforme (o quanto mais o material pode deformar), sem atingir a fratura. Para

um material com baixo valor de ‘n’, quando sujeitado a um processo de estiramento, alcança o

alongamento uniforme rapidamente (OLIVEIRA, 2010), o que diminui com a redução do

tamanho de grão, a concentração de solutos substitucionais e o aumento da fração volumátrica

de fases constituintes (LESLIE, 1982).

Os contornos do grão e os defeitos intersticiais são os responsáveis pelo bloqueio

dos movimentos de discordâncias interplanares (formam uma barreira para estas discordâncias),

servindo como uma fase de fortalecimento diante esforços de tração, apesar de ser o local

preferencial para fissuras por fadiga (ZHANG; et al., 2012).

A deformação de materiais cúbicos de corpo centrado (CCC) normalmente

demandam movimentos de discordância internos do cristal em formato helicoidal (discordância

em hélice) de menor intensidade se comparados aos movimentos de discordância (cunha), onde

a resposta mecânica possui assimetria de compressão de tensão de acordo com a orientação

cristalográfica (KIM; JANG; GREER, 2011).

A anisotropia planar modifica o comportamento das curvas tensão-deformação

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conforme a direção em que se realiza o experimento. Os ensaios devem ser feitos em três

direções distintas para se obter o valor médio. De forma análoga, para determinar ‘n’, prepara-

se corpos de prova à 0º, 45º e 90º em relação a direção de laminação e obtém-se o valor médio

do coeficiente de encruamento �̅� através da equação 1.

�̅� = 14⁄ (𝑛0 + 2𝑛45 + 𝑛90) (1)

Uma forma simples e prática de analisar o comportamento intrínseco do material

é a interpretação da curva tensão x deformação através da equação de Hollomon (equação 2)

(MOVAHED, et al., 2009), equação que descreve um ou mais estágios de encruamento e forma

um gráfico logarítmico onde o traço é hiperbólico ou linear (OLIVEIRA, 2010).

𝜎 = 𝐾. 𝜀𝑛 (2)

Onde:

𝜎 = Tensão;

K = Coeficiente de resistência;

𝜀 = Deformação;

n = Coeficiente de encruamento.

No caso de a linha ser curva é preciso calcular um valor de ‘n’ para cada valor

de deformação de interesse (OTOMAR, 2010). A partir da equação de Hollomon, n é

determinado como o expoente da relação tensão x deformação. O coeficiente de encruamento

(n) determina o acréscimo de tensão para cada acréscimo de deformação. Quanto mais elevado

o valor de n, mais rígido e mais resistente à estricção será o material (KEELER, 1968).

2.2.5 Coeficiente de anisotropia (r de Lankford)

A orientação preferencial dos planos e direções cristalinas dos materiais podem

influenciar em suas propriedades mecânicas quando submetidos à processos mecânicos como

o processo de estampagem a frio. Essa influência, conhecida como anisotropia, pode ser

avaliada pelo índice de anisotropia r (r de Lankford) (OTOMAR, 2010, apud, KEELER, 1968).

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Normalmente os grãos adquirem uma certa tendência de direção, alinhadas com a direção da

primeira conformação, o que admite uma deformação mais fácil em algumas direções do que

em outras (KEELER, 1968).

Para os materiais policristalinos, os grãos possuem a tendência de se direcionar,

em movimentos rotatórios, para alguma orientação preferencial. Este sistema induz os planos

atômicos e as orientações cristalográficas aleatórias (materiais isotrópicos) a adquirir uma

textura, ou seja, uma orientação preferencial ou anisotropia (ALMEIDA, 1987).

Em um material considerado isotrópico as propriedades mecânicas não sofrem

alteração quando avaliadas em diferentes direções. Em um material anisotrópico (anisotropia

plástica) as propriedades mecânicas sofrem alteração de acordo com a orientação preferencial,

onde a curva tensão-deformação e propriedades como tensão de escoamento, taxa de

encruamento e limite de resistência à tração são afetadas por esta orientação cristalográfica

(KEELER, 1968).

O grau de anisotropia é fortemente relacionado à estrutura cristalina da liga.

Individualmente, para cada metal e composição, a anisotropia plástica é um resultado de toda

sua história de processamento. Particularmente para os aços são a temperatura de bobinamento,

ciclo de recozimento e redução no encruamento, temperatura de acabamento, temperatura de

reaquecimento de placa e percentual de redução a frio (OLIVEIRA, 2010).

Quando a matéria-prima é submetida a um processo de conformação, no caso o

processo de laminação, os grãos sofrem deformações longitudinais em relação ao sentido da

conformação, consequentemente, alterando a orientação cristalográfica preferencial dos grãos

e aumentando a ductilidade ao longo da direção de laminação, evento característico dos aços

ferríticos (SERRANO; HERNÁNDEZ-MAYORAL; GARCÍA-JUNCEDA, 2011). O

alongamento dos grãos é o resultado do processo de escorregamento cristalino durante a

deformação, conforme ilustrado na figura 8 (ALMEIDA, 1987).

Figura 8 – Direção cristalina do material durante a laminação

Fonte: Almeida (1987)

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A anisotropia em chapas metálicas decorre de três fatores: linhas de segregação

(fibramento mecânica), tensões internas e textura cristalográfica (GONÇALVES; KLEIN,

1971), eventualmente do tipo planar, quando a anisotropia ocorre no plano da chapa, ou normal,

quando ocorre na direção da espessura da chapa (OLIVEIRA, 2010).

Alguns autores acreditam que a energia de ligação dos átomos da superfície

possui relação com a orientação cristalográfica do plano. Os planos fechados possuem uma

maior coordenação atômica e uma maior energia de ligação, tanto que em alguns casos

adquirem uma maior resistência à corrosão (LIU; et al., 2007). A resistência ao estiramento está

relacionada à várias propriedades mecânicas do material como endurecimento por deformação,

alongamento e anisotropia (LEE; LEE; COOMAN, 2012).

A anisotropia do material é estimada pelo Coeficiente de Lankford (r), que

consiste na razão entre a deformação no sentido da largura (εω) e a deformação no sentido da

espessura (εt) de um corpo de prova, em um ensaio de tração convencional a uma deformação

da ordem de 15 a 20% na direção longitudinal do corpo de prova, como mostra a equação 3

(OLIVEIRA, 2010).

r = 𝜀𝜔/ 𝜀𝑡 (3)

Os valores de 𝜀𝜔 (largura) e 𝜀𝑡 (espessura) são deformações reais.

Acreditando-se que o volume se mantém durante a deformação plástica é

possível calcular o valor de r através da equação 4 (FERREIRA FILHO; et al, 2003)

(CERCEAU, 2004):

r = ln(li / lf) / ln(cf lf / ci li) (4)

Onde:

- li = Largura inicial;

- lf = Largura final;

- ci = Espessura inicial;

- cf = Espessura final.

Inicialmente, em um ensaio de tração, o encruamento equilibra a redução da área

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da seção reta transversal e a tensão do ensaio continua a aumentar com o aumento da

deformação (DIETER, 1981).

Para estimar a anisotropia de um aço é necessário executar ensaios de tração

uniaxial em corpos de prova obtidos com direções de 0º, 45º e 90º em relação à direção de

laminação. Tais testes também são úteis para avaliar as propriedades mecânicas básicas e os

parâmetros materiais do critério de rendimento com auxílio de um equipamento extensômetro

(NETO; et al., 2014).

Para Almeida (1987) é possível determinar o tipo de isotropia ou anisotropia do

material através do coeficiente de Lankford (r), adotando as seguintes regras:

1 - 𝑟0 = 𝑟45 = 𝑟90 = 1 : isotropia total

2 - 𝑟0 = 𝑟45 = 𝑟90 ≠ 1 : isotropia planar e anisotropia normal pura

3 - 𝑟0 ≠ 𝑟45 ≠ 𝑟90 ≠ 1 : anisotropia planar e normal

A anisotropia planar e normal (caso 3) é a condição mais comum. Para estimar

a anisotropia normal (𝑟𝑚) é preciso calcular a média das três direções, conforme equação 5

(FERREIRA FILHO; et al, 2003).

𝑟𝑚 = 14⁄ (𝑟0 + 2𝑟45 + 𝑟90) (5)

Se o valor de 𝑟𝑚 for maior do que uma unidade indica que após o estiramento o

corpo de prova aumenta consideravelmente sua resistência transversal, enquanto a espessura é

pouco afetada, indicando que o material possui grande resistência ao afinamento, o que mostra

sua resistência a esforços biaxiais de tração, consequentemente, exige menor esforço na

estampagem profunda (ALMEIDA, 1987).

Experimentalmente, a anisotropia planar pode ser descrita pela equação 6.

∆𝑟= 12⁄ (𝑟0 − 2𝑟45 + 𝑟90) (6)

O coeficiente de anisotropia planar (∆𝑟) indica a variação das propriedades

mecânicas do material conforme se altera a direção em que se executa o ensaio (ALMEIDA,

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1987), como mostra a figura 9.

Figura 9 – Método de amostragem para ensaio de anisotropia

Fonte: Almeida (1987)

A capacidade de conformação dos materiais pode ser avaliada a partir de seus

valores de r. Baixos valores de r indicam uma baixa conformabilidade. Em contrapartida, altos

valores de r indicam alta conformabilidade, desde que ∆𝑟 = 0 (KEELER, 1968). Valores de ∆𝑟

positivos indicam que os valores de r45 são menores do que r0 e r90, indicando um possível

orelhamento à 45° da direção de laminação, causado pela intensidade do componente

(001)<110> (SARDINHA, 2012, apud, JONAS, 1994), quando submetido a um processo de

embutimento. Valores de ∆𝑟 negativos indicam que os valores de r45 são maiores do que r0 e

r90, indicando um possível orelhamento à 0° e 90° da direção de laminação quando submetido

a um processo de embutimento (BRANCO, 2007).

Tanto os aços DP como os aços TRIP são vulneráveis à formação de estiramento

porque o Coeficiente de Lankford (r) dos aços de alta resistência geralmente são inferiores a

1,0. Outros tipos, como o aço IF, atingem um valor ‘r’ de 2,0 (LEE; LEE; COOMAN, 2012).

Em geral, a anisotropia desenvolve-se mais fortemente em metais com estrutura

hexagonal do que em metais com estrutura CCC ou CFC. A quantidade e o tipo de elementos

de liga também influenciam a natureza da anisotropia. Quando o material apresenta uma alta

anisotropia normal, geralmente, também apresenta uma alta anisotropia planar. Muitos

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produtores de aço estão trabalhando essa dificuldade, em busca de obter-se uma chapa de metal

com alto valor de 𝑟𝑚 e com um valor zero de ∆𝑟(OLIVEIRA, 2010).

A identificação dos parâmetros de um material não deve se resumir somente a

testes de tração uniaxial simples devido ao elevado número de parâmetros anisotrópicos

envolvidos, sendo então insuficiente (NETO; et al., 2014).

A anisotropia do material em processos de estampagem profunda deve ser levada

em consideração devido distribuição de deformações em várias direções e, consequentemente,

a conformação da chapa que resulta no produto esperado (NETO; et al., 2014).

2.2.6 Textura

Em livros técnicos e científicos a estrutura cúbica cristalina dos metais é

representada por átomos dispostos nas arestas e faces de um cubo, como apresentado na figura

10. Nota-se que o espaçamento atômico é desigual em todas as direções entre os átomos da

célula unitária (REED-HILL, 1972). O empilhamento destas células forma um cristal (grão)

que possui uma orientação espacial individual em uma determinada direção (OTOMAR, 2010).

Figura 10 – Representação esquemática de uma célula unitária CCC e CFC

Fonte: Callister Jr. (2002).

A definição de textura para materiais cristalinos é o alinhamento preferencial dos

eixos cristalográficos (HAUGEN; et al., 2014). Os materiais policristalinos são formados por

grãos ou cristalitos, os quais permanecem separados uns dos outros por fronteiras denominadas

contornos de grão (OLIVEIRA, 2010). Uma combinação favorável de orientações

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cristalográficas (textura) pode contribuir no melhor desempenho do material quanto à sua

resistência (ZHANG; et al., 2012). Vale ressaltar que a cristalografia não se refere ao formato

dos grãos, mas a forma como a rede cristalina dos mesmos está organizada no espaço

(OLIVEIRA, 2010).

Em processos de conformação é desejável que a textura seja conveniente para

evitar problemas comuns localizados em conformação de metais, como estricções que causam

heterogeneidade intensa na espessura durante a conformação, provocando a redução da

resistência do produto final e defeitos durante o processo de estampagem (OTOMAR, 2010).

A microestrutura e a textura são fortemente influenciadas pelas condições de

processamento da laminação a quente e a frio, bem como durante o subsequente tratamento de

recozimento (GOMES; et al., 2009). Como já foi citado anteriormente, no processo de

laminação, os grãos sofrem deformações longitudinais em relação ao sentido da conformação,

alterando a orientação cristalográfica preferencial dos grãos (SERRANO; HERNÁNDEZ-

MAYORAL; GARCÍA-JUNCEDA, 2011), onde estes são submetidos a deformação plástica,

geralmente ordenadas por deslizamentos e/ou deformações microestruturais.

A orientação cristalográfica exerce influência sobre o comportamento do

material durante sua deformação plástica, onde o esforço de cisalhamento de cada grão é

basicamente determinado pela sua orientação particular (ZHANG; et al., 2012).

Processos industriais como a laminação impulsionam uma orientação

preferencial dos grãos, porém, para aplicações onde o metal passará por deformação mecânica,

uma textura final muito acentuada poderá prejudicar tais processos de fabricação, dificultando

a conformabilidade do metal e aumentando as perdas de processo (OTOMAR, 2010).

As técnicas de difração de raios x são métodos que se mostram eficazes em

fornecer respostas às questões complexas sobre a caracterização de estruturas locais,

combinação de deslizamentos e deformações e eventos relacionados (CHUN; et al., 2005).

A literatura mostra que a dureza, o módulo de elasticidade e a resistência ao

desgaste são determinados em função da orientação cristalográfica das fases constituintes

(ROA; et al., 2015).

A análise de difração de raios x é o método mais utilizado para avaliar a textura

de um material, realizando a medição da frequência de orientação dos grãos e a fração

volumétrica do material, representada através da Função de Distribuição de Orientação

Cristalina (FDOC), apontada pelas coordenadas de Euler (OTOMAR, 2010).

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2.2.6.1 Difração de raios x

A difração de raios x é uma técnica especial que utiliza ondas eletromagnéticas

com comprimento de onda entre 0,05nm e 0,25nm (0,5Å e 2,5Å) (SMITH, 1998), através da

qual se estima as frações volumétricas de áreas associadas a uma certa orientação cristalina,

com base na intensidade difratada (OLIVEIRA, 2010).

Os comprimentos de onda, emitidos por um tubo de raios x a vácuo, são

semelhantes as distâncias entre os planos atômicos que quando se chocam com os sólidos

cristalinos encontram uma série de obstáculos capazes de dispersar a onda e produzem picos

reforçados de radiação de intensidades variadas (CALLISTER JR., 2002).

O conjunto de planos cristalográficos atuam como espelhos que, quando

atingidos pelo feixe incidente de raios, de comprimento de onda λ, refletem os mesmos em

direções diversas, de acordo com a sua orientação (CALLISTER JR., 2002), como mostra a

figura 11.

Figura 11 – Representação da difração de raios x sobre planos atômicos

Fonte: Callister Jr. (2002)

Na figura 11 as linhas horizontais representam um conjunto de planos

cristalográficos paralelos, de índices de Miller (h k l). Se as ondas refletidas por estes planos

(feixe incidente 1 e 2) estiverem em fase ocorre um reforço do feixe ou a chamada interferência

construtiva (SMITH, 1998). Para que estas ondas estejam em fase a distância adicional

percorrida pelo feixe 2 deve ser igual a um número inteiro de comprimento de onda, portanto

(equação 7) (CALLISTER JR., 2002):

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nλ = 𝑆𝑄̅̅̅̅ + 𝑄𝑇̅̅ ̅̅ (7)

Onde:

- n = número inteiro;

- λ = comprimento de onda;

- 𝑆𝑄̅̅̅̅ = segmento de reta (distância angular entre planos);

- 𝑄𝑇̅̅ ̅̅ = segmento de reta (distância angular entre planos).

Nesta ilustração (equação 7) os segmentos de reta 𝑆𝑄̅̅̅̅ e 𝑄𝑇̅̅ ̅̅ representam as

distâncias interplanares definidas pela expressão [𝑑ℎ𝑘𝑙 . 𝑠𝑒𝑛𝜃], onde [𝑑ℎ𝑘𝑙] é a distância

interplanar dos planos de índices (hkl) (VAN VLACK, 1984). Assumindo que 𝑆𝑄̅̅̅̅ e 𝑄𝑇̅̅ ̅̅ são

idênticos é possível descrever este fenômeno através da equação 8, conhecida como a Lei de

Bragg (relação entre a posição angular do feixe difratado reforçados, com relação ao

comprimento de onda do feixe de raios x incidente e a distância interplanar 𝑑ℎ𝑘𝑙 do plano

cristalográfico) (CALLISTER JR., 2002).

nλ = 2 𝑑ℎ𝑘𝑙. 𝑠𝑒𝑛𝜃 (8)

Esta é a condição necessária para que a interferência seja considerada

construtiva, ou seja, para que seja produzido um pico de difração de radiação intensa (SMITH,

1998).

A Função de Distribuição de Orientação Cristalina (FDOC) determina o número

de vezes que ocorrem determinadas orientações {hkl} - plano cristalino paralelo ao plano da

chapa - e <uvw> - direção pertencente ao plano {hkl}, paralela à direção de laminação (DL) -

em um trecho do material. Tais orientações são definidas por três ângulos de Euler (REED-

HILL, 1982), os quais estabelecem três rotações sucessivas que, aplicadas aos eixos [100],

[010] e [001] da célula cristalina do cristal, tornam os mesmos coincidentes com os eixos DL

(direção de laminação), DT (direção transversal) e DN (direção normal) (OLIVEIRA, 2010).

Conforme sugerido por Bunge, o conjunto de sinais que representam os ângulos de Euler são

φ1, e φ2 (VIANA; PAULA, 2003), como mostra a figura 12.

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Figura 12 – Ângulos de Euler (φ1, e φ2) conforme notação de Bunge

Fonte: Reed-Hill (1982)

No ensaio de difração de raios x existe uma dificuldade para diferenciar os picos

resultantes da ferrita e da martensita devido a semelhança entre suas estruturas cristalinas e

parâmetros de rede (WOO; et al., 2012).

Os processamentos e tratamentos de um material definem a sua microestrutura.

Logo, existe uma imagem padrão do material, ou seja, a figura de pólos desenvolvida representa

a disposição dos planos de reflexão em relação ao plano medido (em chapas laminadas, por

exemplo, o sistema de referência é a direção de laminação), assim como da simetria nos

quadrantes da representação gráfica. A figura 13 traz um exemplo de figura de pólos de uma

chapa de aço baixo carbono com 2% de silício, recozida a 760º C e, posteriormente, laminada

a frio com redução de 8,6% (LÖW, 2006, apud, LIMA, 2005).

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Figura 13 – Figura de pólos (110) de uma chapa de aço baixo carbono com 2% de silício,

recozida a 760o C e, posteriormente, laminada a frio com redução de 8,6%

Fonte: (LÖW, 2006, apud, LIMA, 2005)

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAIS

Foram utilizadas duas corridas de chapa distintas de aços DP, ambas compostas

por uma estrutura primária ferrítica e uma estrutura secundária, predominantemente

martensítica, produzidas por duas usinas siderúrgicas distintas, ambas com espessura de 2,0mm,

onde uma apresenta problemas de trinca durante o processo de estampagem a frio e a outra não

apresenta problemas. Conforme especificações dos fabricantes os dois materiais possuem

composição química e propriedades mecânicas semelhantes.

3.2 MÉTODOS

3.2.1 Preparação das amostras

Os materiais (chapas) estudados foram retirados de bobinas de aço (forma de

comercialização de chapas) onde cada bobina possui entre 10T e 15T de peso. O material foi

retirado diretamente da linha de produção, em forma de blank, por ser a opção mais viável. Foi

observado a região de surgimento das trincas (cerca de 1/4 da largura total da bobina, dos dois

lados) para retirada dos corpos de prova. O material coletado foi fracionado em corpos de prova,

com dimensões específicas para cada tipo de ensaio, como será apresentado nos próximos

capítulos. Cada parte fracionada foi identificada com a direção de corte para posterior

identificação da direção de laminação.

Os corpos de prova para ensaio foram fracionados com o auxílio de uma

guilhotina mecânica, marca Newton, com capacidade de corte de 2000mm de extensão e

capacidade máxima de corte de 2,5mm de espessura, como mostra a figura 14.

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Figura 14 – Guilhotina mecânica para corte de chapas

Fonte: Autor (2018)

Após fracionadas as amostras para análise metalográfica foram mergulhadas em

uma solução de ácido sulfúrico a 3% em volume – H2SO4 (70% H2O) sob agitação leve, por 5

minutos, em seguida mergulhadas em água, sob agitação, para retirada da solução sulfurosa,

logo após mergulhadas em álcool isopropílico (96% P.A.) para neutralizar a ação da solução

sulfurosa residual e por último drenadas por um secador de ar quente. Esse processo de

decapagem foi necessário para retirada da camada superficial de zinco (galvanização) com o

intuito de melhorar o processo de preparação dos ensaios metalográficos (lixamento, polimento

e ataque químico) garantindo que a camada superficial de zinco não venha a interferir nos

resultados.

Após a retirada da camada superficial de zinco (Zn) os corpos de prova para

microscopia óptica e ensaios de dureza foram embutidos em resina sintética com uma prensa

com aquecimento (embutidora), marca Panambra e modelo Tempo Press 2, como mostra a

figura 15. As amostras foram posicionadas na posição desejada, cobertas por uma resina

sintética em pó e aquecidas por 8 minutos até o ponto de fusão da resina, sob uma pressão entre

20kN e 30kN e resfriadas com água corrente pelo sistema de arrefecimento do equipamento.

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Figura 15 – Prensa com aquecimento (embutidora de resina sintética)

Fonte: Autor (2018)

As amostras embutidas em resina sintética possuem dimensões de 20mm x

20mm para um melhor aproveitamento da área de embutimento disponível (cilindro de 30mm

de diâmetro). As amostras foram preparadas nas direções DL, DT e DN, como mostra a figura

16.

Figura 16 – Ilustração dos corpos de prova embutidos e suas direções

Fonte: Autor (2018)

Após o embutimento as amostras passaram pelo processo de lixamento e

polimento com uma politriz, marca Panambra e modelo DP-10, com rotação de 300 e/ou

600rpm, como mostra a figura 17.

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Figura 17 – Lixadeira/Politriz para acabamento dos corpos de prova embutidos

Fonte: Autor (2018)

As amostras foram submetidas à lixamento manual com discos de lixa de

granulação 100, 320, 400, 600 e 1200, subsequentemente. Entre cada troca dos discos de lixa

foi obedecido a mudança de direção do corpo de prova para uma melhor qualidade de superfície

para análise. É recomendável que a cada troca de lixa o corpo de prova seja rotacionado 90° em

relação à direção de lixamento anterior, como mostra a figura 18.

Figura 18 – Direções de lixamento dos corpos de prova embutidos

Fonte: Autor (2018)

Após o processo de lixamento as amostras foram polidas com disco de polimento

e alumina (Al2O3) com granulação de 0,3µm e álcool etílico para lubrificação, com movimentos

circulares contínuos próximos à periferia do disco, no sentido anti-horário (contrário ao sentido

de giro do disco de polimento), para evitar micro figuras em forma de cometa na microscopia

óptica.

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Após o polimento as amostras foram submetidas à um ataque químico superficial

com Nital 2% (1ml ácido nítrico HNO3 + 49ml álcool isopropílico 96% P.A.) à temperatura

ambiente por 30 segundos, logo após mergulhadas em álcool isopropílico (96% P.A.) para

neutralização do ataque químico, drenadas por um secador de ar quente e higienizadas com

algodão seco, para serem analisadas em um microscópio óptico.

3.2.2 Microscopia óptica (M.O.)

A análise de microscopia óptica foi realizada em um microscópio óptico de luz

transmitida, marca Zeiss, modelo Axio M2m, como mostra a figura 19, com software

AxioVision SE64. Foi escolhido uma lente objetiva com ampliação de 1000x (escala 10μm)

para captura das imagens apresentadas no capítulo 4. Foram realizadas a contagem das fases

através do recurso de contagem de fases via software.

Figura 19 – Microscópio óptico com câmera para captura de imagens

Fonte: Autor (2018)

As amostras foram analisadas em toda a sua extensão na busca de defeitos e

situações incomuns. As imagens mostradas no capítulo 4 foram escolhidas por melhor

representar a microestrutura do material.

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3.2.3 Ensaio de dureza

As amostras para os ensaios de dureza foram preparadas no mesmo modelo

apresentado no capítulo 3.2.1 - Preparação das amostras.

Os ensaios de dureza foram realizados com um durômetro de bancada, marca

Wolpert e modelo HT-1A, como mostra a figura 20, com um penetrador esférico de 1/16”,

ajustado com uma carga de 100kgf. A escala de medição aplicada foi a escala de dureza

Rockwell B (HRB). Os dados obtidos foram registrados e serão apresentados no capítulo 4.

Figura 20 – Durômetro de bancada com capacidade de medição nas escalas HRB e HRC

Fonte: Autor (2018)

Com o objetivo de comparar os resultados entre duas escalas de medida de

dureza e equivaler os resultados com a literatura também foram realizados ensaios de dureza

HV 0,2. Os ensaios de dureza HV 0,2 foram realizados por um durômetro de bancada, marca

Shimadzu e modelo HMV-G20-ST, com um penetrador de diamante em forma de pirâmide de

base quadrada e ângulo entre faces de 136°, ajustado com uma carga de 1,961N.

As amostras foram submetidas ao ensaio de dureza em 5 pontos, 4 pontos

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próximos as extremidades e um ponto no centro, como mostra a figura 21. Foi obedecido uma

distância maior que 2,5d (2,5 vezes o diâmetro do penetrador) da borda dos corpos de prova

para evitar regiões de encruamento durante o processo de corte.

Figura 21 – Corpo de prova preparados para ensaio de dureza

Fonte: Autor (2018)

Em cada ponto de medição da dureza os corpos de prova foram devidamente

posicionados na base do durômetro e, após efetuada a pré-carga necessária, a carga de medição

foi aplicada. Em todos os pontos foi aguardado 5 segundos após a estabilização do medidor do

equipamento para retirada da carga e verificação do valor.

3.2.4 Ensaio de tração

Os ensaios de tração foram realizados em uma máquina de tração, marca ZWICK

/ ROELL, modelo Z100, como mostra a figura 22. Esta máquina, equipada com um

extensômetro óptico, é operada através do software ZWICK, tal qual emite os resultados dos

ensaios na forma de dados e na forma de gráficos tensão (σ) x deformação (alongamento

percentual). O método de ensaio de tração aplicado está de acordo com as orientações descritas

na NBR 6892. Os dados obtidos foram registrados e serão apresentados no capítulo 4.

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Figura 22 – Máquina de ensaio de tração com extensômetro óptico

Fonte: Autor (2018)

Os corpos de prova para o ensaio de tração foram pré-confeccionados com uma

guilhotina mecânica, marca Newton, com capacidade de corte de 2000mm de extensão e 2,5mm

de espessura do material, como mostra a figura 14. As peças confeccionadas possuem

dimensões de 30x250mm nos ângulos de 0º, 45º e 90º em relação a direção de laminação (DL)

da matéria prima, como mostra a figura 23. Foram produzidas 3 amostras de cada ângulo.

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Figura 23 – Direção dos corpos de prova, para ensaio de tração, em relação a direção de

laminação

Fonte: Autor (2018)

Após o fracionamento da matéria prima as amostras foram enviadas para uma

fresadora CNC de 3 eixos, Marca Zayer e modelo KF 3000 (figura 24), para finalização das

dimensões do corpo de prova, conforme figura 25.

Figura 24 – Fresadora CNC de três eixos

Fonte: Autor (2018)

Todas as amostras passaram por um processo de lixamento manual (granulação

320) na seção reta reduzida após a usinagem com o objetivo de eliminar rebarbas e

microfissuras geradas no processo de usinagem e que podem interferir nos resultados dos

ensaios de tração.

Os corpos de prova são provenientes de chapas de aço laminadas, portanto, sua

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seção reta é retangular. Durante o ensaio a deformação fica limitada à região central, mais

estreita, que possui uma seção reta uniforme ao longo do seu comprimento (CALLISTER JR.,

2002). É importante garantir o paralelismo da seção reta reduzida e às dimensões fornecidas na

figura 25, pois tais dimensões serão utilizadas durante e após o ensaio, como a área da seção

reduzida (largura x espessura da chapa) e o comprimento útil utilizado para cálculos de

ductilidade.

Figura 25 – Croqui dos corpos de prova para ensaio de tração

Fonte: Autor (2018)

Em todos os corpos de prova foram fixadas marcas de medição (selos) que

servem de orientação para medição do alongamento do material pelo extensômetro óptico. A

taxa de deformação (velocidade de deslocamento das garras da máquina) utilizada nos ensaios

foi de 5mm.min-1 (aproximadamente 0,08mm.s-1). Todos os corpos de prova foram tensionados

até o limite de ruptura.

O coeficiente de encruamento (n), o índice de anisotropia normal (rm) e o índice

de anisotropia planar (Δr) foram determinados através de cálculos, a partir dos dados obtidos

nos gráficos tensão (σ) x deformação (ε) e nos corpos de prova ensaiados.

Nos ensaios de tração é obtido a curva tensão (σ) x deformação (ε) em escala

logarítmica e n é estimado a partir da região da deformação plástica através da Equação de

Hollomon (equação 2).

O coeficiente de anisotropia plástica (r) é calculado a partir da deformação real

da largura pela deformação real no comprimento do corpo de prova, através da equação 4.

Um parâmetro importante para determinar a estampabilidade do material é a

anisotropia normal (rm) que indica a resistência ao afinamento da espessura da chapa após o

estiramento, obtida através da equação 5.

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Finalmente, o coeficiente de anisotropia planar (∆r) indica a direção de possível

orelhamento quando a chapa é submetida a um processo de embutimento. O cálculo é realizado

através da equação 6. Semelhante ao cálculo de anisotropia normal a anisotropia planar também

faz uso dos subíndices r0, r45 e r90 obtidos através dos cálculos realizados com a equação 6.

3.2.5 Difração de raios x

Como o objetivo deste ensaio de difração de raios x é analisar a textura do

material (orientação preferencial dos grãos) as amostras foram somente decapadas, conforme

apresentado no capítulo 3.2.1 - Preparação das amostras, para retirada do revestimento de zinco

(Zn) e os grãos aparentes foram preservados.

A análise de direção dos planos dos átomos foi executada com um difratômetro

de raios x, marca Rigaku e modelo RINT 2000, equipado com um com um goniômetro de

textura horizontal, como mostra a figura 26. As FDOC e as figuras de pólo da fase ferrítica

foram determinadas por uma radiação MoKα (λ=0,7093 Å). Este equipamento utilizado está

instalado no Laboratório de Difração de Raios x, no Centro de Ciência e Tecnologia dos

Materiais (CCTM) do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) de São Paulo.

Figura 26 – Goniômetro de textura horizontal para análise de direção dos planos dos átomos

Fonte: Autor (2018)

As análises foram realizadas na superfície da chapa laminada (DN).

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3.2.6 Espectrometria

A análise da composição química do material foi realizada com um

espectrômetro de fluorescência, marca Oxford e modelo X-Supreme 8000, como mostra a

figura 27.

Figura 27 – Espectrômetro de fluorescência para análise da composição química dos materiais

Fonte: Autor (2018)

Este equipamento funciona pela técnica analítica de Fluorescência de Raios x de

Energia Dispersiva (EDXRF), uma análise não destrutiva, qualitativa e quantitativa de

múltiplos elementos químicos simultâneos.

Um corpo de prova de 20mm x 20mm de cada tipo de material (‘material A’ e

‘material B’) foram decapadas, conforme descrito anteriormente no capítulo 3.2.1 - Preparação

das amostras, para eliminar o revestimento de Zn e evitar interferências na leitura dos

componentes feita pelo feixe de raios x (matriz exposta).

As amostras foram submetidas a uma varredura até que todos os elementos

químicos presentes nas mesmas fossem detectados.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo serão apresentados as análises realizadas e os resultados obtidos,

onde os mesmos serão discutidos.

4.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA

Os dois materiais estudados possuem composições químicas semelhantes, tanto

em elementos como em quantidades, salvo o componente alumínio (Al) que apresentou uma

divergência considerável, como apresentado na tabela 1.

Tabela 1 – Resultados de composição química dos materiais estudados

Elemento

(Wt %) C* Al Si S Cr+Mo Mn Co Pb

‘A’ 0,144 1,320 0,184 0,051 0,351 1,746 0,289 0,023

‘B’ 0,131 0,742 0,158 0,023 0,235 1,740 0,694 0,039

* valores retirados dos certificados de matéria-prima fornecidos pelas siderúrgicas

Fonte: Autor (2018)

Para Ferreira Filho (et al., 2003; et al., 2008) as variáveis que possuem maior

influência sobre os comportamentos mecânicos do material são o grau de redução a frio e a

composição química, onde os elementos de liga mais influentes na estampabilidade de aços

baixo carbono são o carbono, manganês, alumínio, titânio e nióbio.

Uma das funções do alumínio presente em uma liga de aço carbono para

estampagem é retardar a recristalização e provocar o surgimento de grãos alongados na direção

de laminação (DL), com a textura {111} almejada e contribuir para o surgimento de grãos finos

após o recozimento (FERREIRA FILHO; et al., 2003). A recristalização pode ser entendida

como a discordância de contornos de grão de alto ângulo que “percorrem a microestrutura” e

absorvem os defeitos cristalinos (FERREIRA FILHO; et al., 2003).

Um aço DP com a composição química [C-0,12; Al-0,13; Si-0,58; S-0,014; Mn-

1,59; P-0,021; V-0,11] foi estudado por Das & Chattopadhyay (2009), onde eles julgaram que,

a partir da porcentagem em peso encontrada na liga, a mesma é classifica como uma liga de

baixo-carbono.

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4.2 ENSAIOS DE DUREZA

A dureza dos aços DP, um dos principais parâmetros de controle das

propriedades mecânicas deste tipo de material, são provenientes do teor de carbono da fase

martensítica (MOVAHED; et al, 2009) e quanto maior a fração de volume de martensita maior

será sua dureza (GHANEI; KASHEFI; MAZINANI, 2013). Na tabela 2 são apresentados os

resultados e as médias aritméticas (�̅�) dos ensaios de dureza nos corpos de prova, conforme

figura 21, apresentada no capítulo 3.2.3 - Ensaio de dureza. A escolha da utilização da escala

HRB (penetrador esférico 1/16”) foi devido o material, apesar de possuir um rígido tratamento

térmico para formação da sua estrutura, possuir uma matriz ferrítica considerada macia e não

apresentar valores elevados de dureza que justificaria outras escalas de medição como a escala

HRC (penetrador cônico 120° de diamante industrial) e pela escala HRB ser considerada mais

precisa devido possuir uma escala mais abrangente para materiais macios e mais utilizada no

meio industrial. A utilização da escala HV 0,2 foi devido larga aplicação em outros tipos de

estudos na literatura e para realização de comparação de dados entre as escalas.

Tabela 2 – Resultados dos ensaios de dureza HRB e HV 0,2

HRB HV 0,2

Amostra 1 2 3 4 5 �̅� 1 2 3 4 5 �̅�

‘A’ 98 98 97 98 98 97,8±0,5 235 233 239 237 235 235,8±3

‘B’ 96 96 96 97 96 96,2±0,5 233 229 227 230 228 229,4±3

Fonte: Autor (2018)

De acordo com os dados apresentados na tabela 2 conclui-se que os dois

materiais possuem durezas muito semelhante, ressaltando que o ‘material A’ apresenta valores

ligeiramente superiores ao ‘material B’ (6,4 HV 0,2, em média). A título de comparação, no

material estudado por Das & Chattopadhyay (2009), com 0,12 wt% de carbono, foi encontrado

uma dureza de 253 ± 6 HV 0,2.

Os ensaios de dureza HRB e HV 0,2 realizados foram comparados com tabelas

de conversão (anexo A) disponíveis no mercado e são compatíveis. Não foram encontrados na

literatura dados de ensaios de dureza HRB sobre aços DP. Julgou-se necessária a comparação

entre as duas escalas devido a maior área de contato do penetrador de ensaio de dureza HBR

(esfera 1/16”) representar a interação entre as fases e não só um ponto específico (ferrita ou

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martensita).

Correlacionando os dados da tabela 2 com as afirmações de Movahed e

coautores (2009), de que a dureza do material, para uma mesma fração volumétrica, é

dependente do teor de carbono e da porcentagem de fase martensítica, é correto afirmar que os

valores de dureza ligeiramente superiores do ‘material A’ são provenientes da quantidade maior

de carbono presente na liga, como foi apresentado na tabela 1.

Analisando os valores individuais e as médias aritméticas da tabela 2 não foi

identificado altas discrepâncias entre os materiais analisados. Analisando o comportamento dos

valores e assumindo que a dureza dos aços DP é dependente da fase martensítica pode-se

afirmar que os materiais analisados possuem uma boa distribuição da fase martensítica e que o

‘material A’ possui uma fase martensítica em maior quantidade que o ‘material B’.

4.3 MICROSCOPIA ÓPTICA (M.O.)

Neste capítulo serão apresentadas as imagens e resultados obtidos nos ensaios

de microscopia óptica, conforme citado no capítulo 3.2.2 - Microscopia óptica (M.O.).

Na figura 28 são apresentadas as imagens capturadas durante a análise

microscópica dos materiais, onde a coluna da esquerda (imagens A, C e E) são correspondentes

ao ‘material A’ e na coluna da direita (imagens B, D e F) são correspondentes ao ‘material B’.

Foram analisados todos os corpos de prova descritos no capítulo 3.2.1 - Preparação das

amostras, e identificados conforme a figura 16. As imagens capturadas dos corpos de prova

analisados que possuem a mesma direção (DN, DL e DT) foram disponibilizadas na horizontal

(lado a lado) para melhor comparação e análise. Todas as imagens capturadas possuem uma

escala de 10μm no canto inferior direito, o que representa a utilização de uma lente objetiva

com ampliação de 1000x, conforme descrito no capítulo 3.2.1 - Preparação das amostras.

A figura 28 apresenta a microscopia óptica dos dois materiais analisados, onde

ambos possuem a mesma forma de identificação dos grãos martensíticos (cor mais escura) sobre

a matriz ferrítica (cor mais clara) e tamanhos de grão semelhantes. Para Ferreira Filho e

coautores (2003) o tamanho final do grão possui uma dependência maior do grau de deformação

e uma dependência menor da temperatura de recozimento, isto é, quanto maior o grau de

deformação e/ou menor a temperatura de recozimento mais favorável será para a formação de

grãos menores.

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Figura 28 – Imagens capturadas na microscopia óptica das amostras do ‘material A’ (A, C, E)

e do ‘material B’ (B, D, F)

Fonte: Autor (2018)

A partir da figura 28 é possível concluir que os dois materiais analisados

possuem tamanhos de grão semelhantes (de 1µm a 5µm) e adequados para o processo de

estampagem a frio. Para Fallahi (2002) um aço DP que possui tamanho de grão de 4µm e 35%

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a 40% de fibra martensítica terá ótimas propriedades de tração e impacto.

Analisando a figura 28 conclui-se que, por comparação entre os materiais, a

maior porcentagem em peso de alumínio presente no ‘material A’ não influenciou na formação

dos grãos (grãos menores).

Analisando os materiais pela perspectiva da direção normal (DN), pelas figuras

A e B, nota-se que o ‘material A’ (figura A) possui partículas de martensita com maiores

tamanhos de grão e se encontram mais próximas umas das outras em pontos isolados.

Analisando os materiais pela perspectiva da direção transversal (DT), pelas

figuras C e D, o ‘material A’ (figura C) apresenta grãos martensíticos maiores e mais próximos

em relação ao ‘material B’ (figura D), que apresenta grãos martensíticos menores e mais

dispersos. Nesta perspectiva os dois materiais apresentam grãos de ferrita e martensita em

formato de ilhas e um alongamento no sentido da direção de laminação (DL).

Analisando os materiais pela perspectiva da direção de laminação (DL) o

‘material A’ (figura E) apresenta partículas de martensita mais fibrosas e dispersas (em formato

de nevoeiro) na matriz ferrítica, enquanto o ‘material B’ (figura F) apresenta grãos de ferrita e

martensita em formato de ilhas, semelhante as imagens das outras perspectivas.

Através do método de contagem de fases foi evidenciado que o ‘material A’

possui 41,23% de fase martensítica e o ‘material B’ possui 38,55% de fase martensítica. Esta

informação está coerente com os ensaios de dureza realizados e apresentados na tabela 2,

partindo do princípio de que a fase martensítica possui maior resistência e dureza do que a fase

ferrítica (ROA; et al., 2015).

De acordo com as imagens apresentadas é perceptível que no ‘material B’

(imagens B, D e F) os grãos martensíticos possuem um espalhamento mais uniforme, com

dimensões de ilhas menores também uniformes, enquanto no ‘material A’ (imagens A, C e E)

os grãos martensíticos se apresentam menos uniformes, com ilhas maiores e conglomeradas

entre elas e em maior porcentagem, entrando em concordância com a análise realizada nos

ensaios de dureza apresentadas no capítulo 4.2 - ENSAIOS DE DUREZA.

4.4 ENSAIOS DE TRAÇÃO

Os ensaios de tração foram realizados nos corpos de prova, conforme citado no

capítulo 3.2.4 Ensaio de tração, para obtenção do limite de escoamento, do limite de resistência

à tração e do alongamento percentual dos mesmos. Os valores obtidos serão apresentados na

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tabela 3.

Os ensaios de tração (tabela 3) foram utilizados para determinar as propriedades

mecânicas primárias de resistência dos materiais estudados (limite de resistência, limite de

escoamento e alongamento total) e estimar o grau de encruamento e o índice de anisotropia

(SCHAEFFER, 1999), onde a resistência à tração e o limite de escoamento são parâmetros de

resistência e o alongamento e a redução de área são relativos à ductilidade do material

(DIETER, 1981).

Tabela 3 – Resultados dos ensaios de tração

Direção

Laminação

(DL)

Corpo

de

Prova

‘material A’ ‘material B’

LE

(MPa)

LR

(MPa)

AL

(%)

LE

(MPa)

LR

(MPa)

AL

(%)

1 427 769 39 403 741 36

2 415 768 38 401 748 36

3 421 770 38 416 748 37

45°

1 429 755 40 378 739 38

2 430 755 40 380 747 38

3 432 756 40 388 743 39

90°

1 389 802 36 392 778 37

2 434 779 37 386 776 35

3 383 801 36 383 772 35

LE: Limite de escoamento (0,2%); LR: Limite de resistência; AL: Alongamento total Fonte: Autor (2018)

De acordo com a tabela 3 o alongamento percentual, também denominado

ductilidade (CALLISTER JR., 2002), do ‘material A’ possui baixo espalhamento de valores

entre os corpos de prova da mesma direção, com menor alongamento nos corpos de prova à 90°

da direção de laminação e maior alongamento nos corpos de prova à 45° da direção de

laminação. O ‘material B’ também apresenta baixo espalhamento de valores entre os corpos de

prova da mesma direção de laminação, com um maior alongamento nos corpos de prova à 45°

da direção de laminação. A ductilidade mostra o grau de deformação plástica da estrutura antes

de fraturar e o grau de deformação permissível durante operações de fabricação (CALLISTER

JR., 2002).

As tensões limites de escoamento do ‘material A’ se apresentam estáveis entre

os corpos de prova de mesma direção de laminação e apresentam uma pequena variação dos

valores entre os corpos de prova à 90° da direção de laminação e os corpos de prova das outras

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direções (0° e 45°). O ‘material B’ apresenta baixo espalhamento de valores entre todos os

corpos de prova ensaiados. Para Souza (1974) quanto maior a tensão de escoamento menor será

a conformabilidade do material.

Assim como nos limites de escoamento os limites de resistência à tração (LRT)

do ‘material A’ se apresentam estáveis entre os corpos de prova de mesma direção de laminação

e apresentam uma pequena variação dos valores entre os corpos de prova à 90° da direção de

laminação e os corpos de prova das outras direções (0° e 45°). O ‘material B’ apresenta baixo

espalhamento de valores entre os corpos de prova da mesma direção de laminação e das

direções diferentes. Nos dois casos (A e B) os corpos de prova à 90° da direção de laminação

se mostraram mais resistentes que os corpos de prova das outras direções (0° e 45°). O limite

de resistência à tração (LRT) é a tensão alcançada pelo material que representa o máximo de

deformações plásticas que ele pode suportar. Se essa tensão for aplicada e mantida, a

consequência será a fratura (CALLISTER JR., 2002).

De acordo com os dados obtidos o ‘material A’ apresenta grãos martensíticos

em maior quantidade e em maiores tamanhos com relação ao ‘material B’ que apresenta grãos

martensíticos em menor quantidade, em menor tamanho e mais dispersas. Correlacionando com

os dados obtidos nos ensaios de tração, apresentados na tabela 3, o ‘material A’ possui um

maior limite de escoamento, o que mostra uma menor conformabilidade (SOUZA, 1974) devido

à maior quantidade de partículas martensíticas.

Com base nas imagens capturadas nos ensaios de M.O., nos limites de

escoamento e nos limites de resistência dos ensaios de tração conclui-se que os dados se

mostram contraditórias às afirmações de Saeidi, Ashrafizadeh e Niroumand (2014) que

afirmam que a redução do tamanho de grão da fase martensítica tende a aumentar sua

ductilidade, um maior alongamento uniforme, pois gera uma maior restrição plástica nos grãos

de ferrita e força a fase martensítica a deformar plasticamente mais cedo (figura 28: B, D e F)

e congruentes à afirmação de Movahed e coautores (2009) que afirmam que quanto maior a

fração volumétrica de martensita no material maior será sua resistência à tração e menor será

sua ductilidade, pois as partículas ferríticas (macias) são responsáveis pela boa ductilidade do

material, enquanto as partículas martensíticas (duras) são responsáveis por suportar a carga

(figura 28: A, C e E).

Para Souza (1974) quanto maior a tensão de escoamento menor será a

conformabilidade do material. O limite de resistência à tração é a tensão alcançada pelo material

que representa o máximo de deformações plásticas que ele pode suportar. Se essa tensão for

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aplicada e mantida, a consequência será a fratura (CALLISTER JR., 2002). Ductilidade é a

capacidade que o material possui de se deformar além do limite elástico sem perda significativa

de resistência (GOMES; BRITO, 1996).

Os ensaios de tração mostraram que o ‘material A’ possui valores superiores,

entre os dois materiais, nas três propriedades analisadas (LE, LRT e AL). Este material possui

valores discretamente maiores de tensão de escoamento e, consequentemente, uma menor

conformabilidade (SOUZA, 1974), isto é, uma maior rigidez, fazendo concordância com os

valores de dureza superiores registrados na tabela 2. Mesmo sendo mais rígido este material

apresenta uma ductilidade também superior.

No momento em que o material é submetido a um processo de laminação os

grãos sofrem deformações longitudinais em relação ao sentido da conformação,

consequentemente, alterando a orientação cristalográfica preferencial dos grãos e aumentando

a ductilidade ao longo da direção de laminação, evento característico dos aços ferríticos

(SERRANO; HERNÁNDEZ-MAYORAL; GARCÍA-JUNCEDA, 2011). Nestes materiais em

particular os valores dos ensaios de tração apresentados anteriormente na tabela 3 mostram que

os mesmos possuem uma maior resistência à tração quando tensionados na direção transversal

(DT) do que na direção de laminação (DL).

Koyama e coautores (2014) estudaram um aço DP de 0,4mm de espessura com

uma microestrutura formada por ferrita e martensita, com 0,147wt% de carbono, e encontraram

um limite de escoamento de 789 MPa, uma resistência a tração de 1168 MPa e um alongamento

total de 13%. Concordando com Movahed e coautores (2009) ainda são necessárias mais

investigações "sobre o comportamento de endurecimento do trabalho e as propriedades de

tração dos aços de fase dupla" para estimar suas propriedades com precisão.

Os dados das curvas tensão x deformação e os corpos de prova fraturados nos

ensaios de tração (ensaio destrutivo) foram utilizados para execução dos cálculos e obtenção

dos valores apresentados no próximo capítulo.

4.5 COEFICIENTE DE ENCRUAMENTO, R DE LANKFORD E ANISOTROPIA

PLANAR

Como citado por Almeida (1987) o tipo de anisotropia dos materiais estudados

é o tipo planar e normal (a condição mais comum), determinado pelos dados mostrados na

tabela 4, onde r0 ≠ r45 ≠ r90 ≠ 1. A anisotropia de chapas metálicas ocorre eventualmente de o

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tipo planar, quando a anisotropia ocorre no plano da chapa, ou normal, quando ocorre na direção

da espessura da chapa (OLIVEIRA, 2010).

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos, através de cálculos, de

coeficiente de encruamento (n), coeficiente de encruamento médio (�̅�), r de Lankford, a

anisotropia normal (rm) e a anisotropia planar (∆𝑟) das duas condições de materiais estudados

(A e B).

Tabela 4 – Resultados calculados de coeficiente de encruamento e coeficiente de anisotropia

DL CP ‘material A’ ‘material B’

n �̅� r rm ∆r n �̅� r rm ∆r

1 0,18

0,17

0,83

1,00 -0,29

0,19

0,18

0,71

0,93 -0,24

2 0,17 0,80 0,19 0,74

3 0,17 0,78 0,19 0,54

45°

1 0,17 1,08 0,19 1,07

2 0,16 1,23 0,19 1,08

3 0,16 1,14 0,19 0,99

90°

1 0,21 0,86 0,18 0,80

2 0,15 0,88 0,18 1,15

3 0,21 0,99 0,12 0,90 DL: Direção de laminação; CP: Corpo de prova; n: Coeficiente de encruamento; �̅�: Coeficiente de encruamento

médio; r: Coeficiente de Anisotropia; rm: Coeficiente de Anisotropia normal; ∆r; Coeficiente de Anisotropia Planar

Fonte: Autor (2018)

A tabela 4 mostra que os dois materiais estudados possuem um baixo

espalhamento de valores do coeficiente de encruamento (n) entre os corpos de prova da mesma

direção de laminação em 0° e 45°. A variação de resultados entre os corpos de prova a 90° com

relação a direção de laminação é esperado e compreensível, devido disposição dos planos de

deslizamento presentes na microestrutura dos materiais analisados.

Os dois materiais analisados possuem valores de �̅� semelhantes (0,17 e 0,18) e

estão de acordo com a literatura. Como citado anteriormente, os aços baixo-carbono utilizados

em processos de estampagem possuem valores característicos de n que variam entre 0,16 e 0,26

(FERREIRA FILHO; et al., 2003). Firat (2011) analisou um aço DP600 de 1 mm de espessura

bruta e obteve valores médios de resistência à tração de 380 MPa e coeficiente de encruamento

(n) de 0,18.

A anisotropia normal (rm) do ‘material A’ apresentou o valor de 1,0, o que indica

que o mesmo é isotrópico e possui grande resistência ao afinamento da espessura da chapa

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durante o processo de embutimento. O ‘material B’ apresentou um valor inferior a uma unidade

de r (0,93) o que mostra que o mesmo é anisotrópico e possui baixa resistência ao afinamento

da espessura da chapa durante o processo de embutimento.

A anisotropia planar (∆𝑟) dos dois materiais analisados também são semelhantes,

apresentando um valor negativo, que, de acordo com Branco (2007), indica que os valores de

r45 são maiores do que r0 e r90, o que indica que ambos possuem um comportamento de possível

orelhamento à 0° e 90° da direção de laminação quando submetidos a um processo de

embutimento (ALMEIDA, 1987).

Para Ferreira Filho e coautores (2003) as taxas de aquecimento, resfriamento e

temperatura de recozimento são decisivas para o resultado da anisotropia normal (rm). Na

literatura o limite superior de rm dos aços laminados a frio para estampagem era de 2,2 (aço

EDDQ-IF), porém, foi desenvolvido uma nova tecnologia, denominada lubricated ferrite

rolling process (processo de laminação sob lubrificação na fase ferrítica) onde é possível

alcançar valores de rm superiores a 2,9, além de “produzir uma forte intensidade de textura

{111} após a laminação a quente” (FERREIRA FILHO; et al., 2003).

O coeficiente de encruamento (n) é o coeficiente que determina a capacidade de

distribuição uniforme das deformações (BRESCIANI FILHO; et al., 1997), associado à

deformação atingida no início da estricção (OLIVEIRA, 2010). Quanto maior o valor de n mais

elevada é a deformação uniforme do material (OLIVEIRA, 2010), mais elevada será a

capacidade de distribuição dessas deformações (FERREIRA FILHO; et al., 2003), e mais rígido

e mais resistente à estricção (KEELER, 1968). Quanto menor o valor de n, quando sujeitado a

um processo de estiramento, o material alcança mais rápido o alongamento uniforme

(OLIVEIRA, 2010).

As propriedades mecânicas das chapas variam de acordo com a direção que se

retira os corpos de prova para ensaio em relação à direção de laminação. Essa variação, chamada

de anisotropia, é causada pela “orientação cristalográfica preferencial dos grãos (textura)”

(FERREIRA FILHO; et al., 2003). O r de Lankford (anisotropia) é o coeficiente que representa

o quanto a orientação preferencial dos planos e direções cristalinas dos materiais podem

influenciar em suas propriedades mecânicas (OTOMAR, 2010). É determinado pela razão entre

a deformação no sentido da largura (εω) e a deformação no sentido da espessura (εt) de um corpo

de prova (OLIVEIRA, 2010).

Para Almeida (1987) se o valor de rm for maior do que uma unidade indica que

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após o estiramento o corpo de prova aumenta consideravelmente sua resistência transversal,

enquanto a espessura é pouco afetada, indicando que o material possui grande resistência ao

afinamento, o que mostra sua resistência a esforços biaxiais de tração, consequentemente, exige

menor esforço na estampagem profunda.

O coeficiente de anisotropia planar (∆r) indica a variação das propriedades

mecânicas do material conforme se altera a direção em que se executa o ensaio (ALMEIDA,

1987). Baixos valores de r indicam uma baixa conformabilidade e altos valores de r indicam

alta conformabilidade (KEELER, 1968). Valores de ∆r positivos indicam que os valores de r45

são menores do que r0 e r90, indicando um possível orelhamento à 45° da direção de laminação

quando submetido a um processo de embutimento. Valores de ∆r negativos indicam que os

valores de r45 são maiores do que r0 e r90, indicando um possível orelhamento à 0° e 90° da

direção de laminação quando submetido a um processo de embutimento (BRANCO, 2007).

4.6 TEXTURA

O controle da textura cristalográfica em aços baixo-carbono possui grande

importância na estampabilidade do material. Uma textura favorável para aços baixo carbono

depende da composição química, temperatura de bobinamento durante a redução a quente e

temperatura de acabamento, porcentagem de redução na laminação a frio, velocidade de

aquecimento e temperatura de recozimento após a deformação a frio e aplicação do passe final

(skin-pass) de acabamento (FERREIRA FILHO; et al., 2003).

Uma textura favorável para aços de baixo carbono é obtida quando realizado

reduções a frio (laminação) maiores que 50%, executadas antes dos tratamentos térmicos de

recozimento e recristalização (FERREIRA FILHO; et al., 2003). Há um grau de redução ótimo

para cada tipo de aço para estampagem, entre 65 e 80% (FERREIRA FILHO; et al., 2003).

Chapas estampadas geralmente passam pelo processo de recozimento, o que causa grande

impacto na textura cristalográfica (FERREIRA FILHO; et al., 2003).

Em processos de estampagem metálica esperasse de um aço de baixo carbono

uma boa formabilidade, uma deformação isotrópica, um baixo valor de ∆r e um alto valor de r.

Para atingir esses valores a chapa precisa ter uma fibra-γ {111}<uvw> paralela ao plano da

chapa (HOLSCHER; RAABE; LUCKE, 1991).

Para Ferreira Filho e coautores (2003, 2008) a ausência da fibra 𝛼 e o

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fortalecimento da fibra 𝛾 é a textura adequada para a estampagem. A textura considerada ótima

para o processo de estampagem em materiais CCC é caracterizada por uma forte fibra 𝛾,

fortificada por uma maior redução a frio.

O cristal deformado mantém sua identidade, isto é, sua textura, apesar da

distribuição e da densidade de defeitos cristalinos sejam modificadas (FERREIRA FILHO; et

al., 2003).

As texturas de laminação a frio dos materiais CCC se caracterizam por

apresentarem suas principais orientações localizadas em duas fibras parciais: {hkl}<110> e

{111}<uvw>. A orientação {001}<110> é proeminente da laminação a frio em aços ferríticos

e possui a tendência de ser “consumida” durante a recristalização (HUMPHREYS,F. J., 1995).

As figuras 29 e 30 apresentam as figuras de pólo do ‘material A’ e do ‘material

B’, respectivamente.

Figura 29 – Figura de pólo do ‘material A’

Fonte: Autor (2018)

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Figura 30 – Figura de pólo do ‘material B’

Fonte: Autor (2018)

Através das figuras de pólo (figuras 29 e 30) é perceptível a diferença da

distribuição dos grãos entre os dois materiais.

“A fibra DL (α) possui direções <110> pertencentes a várias orientações

paralelas a esta direção. A fibra DN (ou γ) possui planos {111} de várias componentes paralelos

ao plano da chapa. As fibras DL e DN são melhor observadas na seção de φ2 = 45°”

(CARRAMANHOS, 2006). A figura 31 apresenta as FDOC do ‘material A’ (A) e do ‘material

B’ (B), com suas respectivas intensidades das fibras 𝛾 e 𝛼.

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Figura 31 – FDOC do ‘material A’ (A) e do ‘material B’ (B)

Fonte: Autor (2018)

Comparando as imagens, a FDOC (A) apresenta uma menor intensidade da fibra

𝛼 e uma menor intensidade da fibra 𝛾 (Times Random - TR=8,8) em relação a FDOC (B), que

possui uma maior intensidade da fibra 𝛼 e uma maior intensidade da fibra 𝛾 (TR=10,2).

Conforme citado anteriormente a ausência da fibra 𝛼 e o fortalecimento da fibra

𝛾 é uma situação benéfica para materiais em processo de estampagem, oriunda de graus mais

elevados de redução (laminação).

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5 DISCUSSÃO GERAL

A análise dos resultados obtidos sobre os dois aços DP de baixo carbono, com

composição química e resistência mecânica semelhantes, e produzidos por duas usinas

siderúrgicas distintas leva às seguintes conclusões:

● O ‘material A’ apresentou em sua composição uma porcentagem em peso (wt%) de alumínio

superior a composição do ‘material B’, porém, diante da análise dos demais ensaios, foi

evidenciado que o mesmo não exerceu influência sobre a formação dos grãos.

● A comparação dos valores de dureza obtidos entre as escalas HRB e HV 0,2 são compatíveis

com as tabelas de conversão (anexo A) disponíveis no mercado. A baixa diferença de valores

entre os materiais (6,4 HV 0,2, em média) é congruente com os resultados de composição

química relacionada à porcentagem em peso de carbono e com a quantidade de fase martensítica

presente em cada material.

● Através da análise por microscopia óptica conclui-se que os dois materiais analisados

possuem tamanhos de grão semelhantes (de 1µm a 5µm). Através da medição de contagem de

fases o ‘material A’ possui 41,23% de fase martensítica e o ‘material B’ possui 38,55% de fase

martensítica. Tais dados são coerentes com os ensaios de dureza realizados.

● Os ensaios de tração mostraram que o ‘material A’ possui uma maior ductilidade e uma menor

conformabilidade (uma maior rigidez) em relação ao ‘material B’, resultados também

congruentes com os resultados dos ensaios de dureza.

● Os dois materiais analisados possuem coeficientes de encruamento semelhantes (‘material A’

- 0,17 e 'material B' - 0,18) e estão de acordo com a literatura. O ‘material A’ é um material

isotrópico (𝑟𝑚= 1,0) e possui alta resistência ao afinamento da chapa durante o embutimento e

o ‘material B’ é um material anisotrópico (𝑟𝑚= 0,93) e possui baixa resistência ao afinamento

da chapa durante o embutimento. Ambos também possuem um valor negativo de anisotropia

planar, o que indica um comportamento de possível orelhamento à 0° e 90° da direção de

laminação quando submetidos a um processo de estampagem profunda.

● As FDOC e as figuras de pólo evidenciam que o ‘material A’ possui menor intensidade da

fibra 𝛼 e também da fibra 𝛾 em relação ao ‘material B’ que possui maiores intensidades das

fibras 𝛼 e 𝛾.

Todas as análises laboratoriais realizadas mostraram discretas divergências de

valores entre os dois materiais que não evidenciam a causa raiz do surgimento de fraturas no

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‘material B’. O resultado mais expressivo que pode explicar a possível causa das falhas (trincas)

no processo de estampagem a frio é a presença da fibra 𝛼 no ‘material B’, oriunda dos processos

finais de laminação do material.

No ponto de vista do autor o processo de laminação do ‘material B’ deve ser

analisado, com foco nas porcentagens de redução que impactam diretamente nas intensidades

das fibras 𝛼 e 𝛾. Com base no estudo realizado a recomendação é aumentar a porcentagem de

redução no processo de laminação com o objetivo de reduzir a intensidade da fibra 𝛼, o provável

causador do surgimento de trincas, e fortalecer a fibra 𝛾, alcançando a textura adequada para o

processo de estampagem.

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ANEXOS

ANEXO A – Tabela de conversão de dureza

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APÊNDICES

APÊNDICE A – FDOC do ‘material A’

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APÊNDICE B – FDOC do ‘material B’