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SANDRA PENKAL A INTER-RELAÇÃO DA ARTE, DESIGN E MARCA: TARSILA, A ARTISTA E O PERFUME Dissertação apresentada à Universidade Presbi- teriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Orientador: Prof. Dr. MARCOS RIZOLLI São Paulo 2006

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SANDRA PENKAL

A INTER-RELAÇÃO DA ARTE, DESIGN E MARCA: TARSILA, A ARTISTA E O PERFUME

Dissertação apresentada à Universidade Presbi-

teriana Mackenzie, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Educação, Arte

e História da Cultura.

Orientador: Prof. Dr. MARCOS RIZOLLI

São Paulo 2006

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A INTER-RELAÇÃO DA ARTE, DESIGN E MARCA:

TARSILA, A ARTISTA E O PERFUME

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SANDRA PENKAL

A INTER-RELAÇÃO DA ARTE, DESIGN E MARCA:

TARSILA, A ARTISTA E O PERFUME

Dissertação apresentada à Universidade Presbi-

teriana Mackenzie, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Educação, Arte

e História da Cultura.

Aprovada em de 2006

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Prof Dr. Marcos Rizolli

Universidade Presbiteriana Mackenzie

_________________________________________________________

Prof Dr.

Universidade

_________________________________________________________

Prof Dr.

Universidade

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Dedico este trabalho a meus queridos e saudosos pais

À minha mãe Maria Aparecida por sua inteligência,

generosidade e dignidade,

e

Ao meu pai Segismundo Penkal pelo seu talento,

determinação e sensibilidade.

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À minha filha Gabriela por ter me ensinado a amar da maneira

mais pura e incondicional. Razão da minha vida.

Ao Marco Antônio, o meu esposo, melhor companheiro e amigo.

Meu amor, minha gratidão e admiração eterna....

Aos meus irmãos, Sônia e Edmundo, meu respeito e muita

gratidão. À minha irmã Sônia agradeço por todo apoio, dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço

Em primeiro lugar, a Deus que me deu o dom da vida.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie pela oportunidade de poder

avançar em meus conhecimentos que serão aplicados em meu caminho profissional.

Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos Rizolli pelo apoio e dedicação, por sua

imensa inteligência intelectual e emocional.

Ao Prof. Dr. Pinatti meu grande incentivador e mestre, minha gratidão e

respeito.

Ao Prof. Dr. Sergio Bairon, meu reconhecimento, consideração e admiração.

Ao Prof. Dr. Jose Ribeiro da Universidade Aberta de Portugal, pela amizade

e incentivo no Seminário Internacional em Múrcia, Espanha, em abril de 2006.

À Silvana Cassol que a época era Diretora de Marketing de “O Boticário” e

ao Rodolfo Fonseca de Melo, Gerente do Segmento de Perfumaria da mesma

empresa, que desenvolveram o conceito e a linha do perfume Tarsila de “O

Boticário” pelas informações, incentivo e amizade.

Ao Sr. Luiz Seabra, Presidente Fundador e Alessandro Carlucci Presidente

da Natura de Cosméticos, que durante os 13 anos de minha passagem pela Natura

sempre me ensinaram e incentivaram quanto a importância dos conceitos dos

produtos e a magia do universo da Perfumaria.

Ao Centro Universitário Belas Artes de São Paulo pelo incentivo intelectual

e financeiro.

À minha grande amiga Isabel Meister pelo trabalho com as imagens e

design, minha admiração e gratidão.

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Ao apoio de todos os meus amigos. Sem eles eu não sou completa. Graças

a Deus são muitos e a todos meu carinho, amizade e admiração.

À Dra. Barbara Rzyski pela revisão, por todo apoio e carinho. Minha

admiração e respeito.

A todos meu muito obrigada

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RESUMO

A dissertação propõe um estudo e uma reflexão sobre a inter-relação entre a

arte, o design de produtos e as marcas comerciais da atual Indústria Cultural.

Como objeto de pesquisa, é considerada a dimensão sígnica da obra Manacá/1927,

da pintora Tarsila do Amaral, aplicada a marcas de produtos de uma empresa no

setor de cosméticos e perfumaria do mercado brasileiro (“O Boticário”). Entende-se

que em todos os tempos, grupos humanos sempre usaram modos de expressão, de

manifestação de sentido e de comunicação social e outras formas de linguagem.

Destarte, a estrutura desta dissertação está baseada numa visão semiótica e da

construção de uma marca comercial, através da utilização de fontes artísticas como

elementos simbólicos que agregam e ampliam o seu valor. Pois, fortes símbolos

conferem maior unidade e estrutura a uma identidade de marca, tornando-a mais

fácil e rápida de ser reconhecida e lembrada. Grande parte das indústrias

brasileiras, nos mais distintos setores, ainda não possui uma tradição na utilização

de um design fundamentado em elementos tipicamente nacionais, resultando,

assim, na reprodução de conceitos desenvolvidos por outros países. Contudo,

recentemente alguns segmentos já vêem utilizando recursos e dados nacionais na

conceituação, criação e desenvolvimento de produtos de consumo. Deste modo, a

partir do “trânsito” entre Arte X Design para o Design X Arte, abrangendo o

processo de decodificação da obra, pode-se aproximar um pouco mais o público da

cultura artística e solidificar o design nacional com investimentos na criação e

produção de produtos, conforme demonstrado neste trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Arte (Tarsila do Amaral), Design, Marca e Semiótica

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ABSTRACT

The aim of this work is to study and make a reflection about the interrelation

among the art, the design of products and the commercial marks of the current

Cultural Industry. As a research object, the signic dimension of the Manacá/1927

image of the painter Tarsila do Amaral is considered, applied to the product marks

of a company of cosmetics and perfumery section of the Brazilian market (“O

Boticário”). It can be understood that in all of the times, human groups always used

expression behaviors, sense manifestation and social communication, and other

language ways. Therefore, the structure of this dissertation is based on a semiotic

vision and of the construction of a commercial mark, through the use of artistic

sources as symbolic elements that join and enlarge its value. Strong symbols confer

a larger link and structure to a mark identity, giving it an easier and fast of being

recognized and reminded. Great part of the Brazilian industries, in the most different

sections, still doesn’t possess a tradition in the use of a design based in elements

typically national, resulting, this way, in the reproduction of concepts developed by

other countries. Recently, however, some segments already use resources and

national data in the conception, creation and development of consumption products.

This way, starting from the “interchange” among Art X Design to the Design X Art,

including the process of decoding of the work, the public can be moved toward the

artistic culture and the national design can be solidified with investments to create

and produce products, as demonstrated in this work.

KEY-WORDS: Art (Tarsila do Amaral), Design, Mark and Semiotics.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras

Algumas palavras ...

1 INTRODUÇÃO ..... .................................................................................

2 ARTE BRASILEIRA ... ...........................................................................

2.1 ARTE-CULTURA BRASILEIRA:TARSILA DO AMARAL ........................

2.2 MOVIMENTO MODERNISTA NO BRASIL..............................................

2.2.1 MANIFESTO ANTROPÓFAGO ..............................................................

2.3 O ESTILO CUBISTA ..............................................................................

2.4 PINTURA MANACÁ: UMA ANÁLISE SOB O PONTO DE VISTA

ESTÉTICO .............................................................................................

3 A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM ...........

3.1 ANÁLISE SEMIÓTICA ............................................................................

3.2 ANÁLISE DE DESIGN ............................................................................

3.3 DESIGN DE EMBALAGEM ....................................................................

3.3.1 Análise do frasco do perfume Tarsila ....................................................

3.3.2 Análise da tampa do perfume .................................................................

3.3.3 Análise do cartucho do perfume Tarsila .................................................

3.3.4 Perfume Tarsila: análise olfativa ............................................................

4 MARCA E MARKETING ........................................................................

4.1 MARCA (BRANDING) COMO ELEMENTO DE MARKETING ...............

4.2 CONDIÇÕES MERCADOLÓGICAS: EMPRESA O BOTICÁRIO E

LINHA DE PERFUMARIA FEMININA TARSILA ...................................

4.2.1 Empresa “O Boticário” ..........................................................................

4.2.2 Linha de Perfumaria Feminina Tarsila ..................................................

4.2.2.1 Público Alvo ..........................................................................................

4.2.2.2 Produto: Linha Tarsila ..........................................................................

4.2.2.3 Preço .....................................................................................................

4.2.2.4 Praça (Distribuição) ...............................................................................

4.2.2.5 Promoção ..............................................................................................

4.2.2.6 Marca/branding.....................................................................................

5 CONCLUSÕES .................................................................................... REFERÊNCIAS ....................................................................................

Então... ...............................................................................................

17 22 23 29 31 34 38 46 48 57 63 65 70 72 74 85 85 95 95 99 99 100 105 106 107 110 112 117 121

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 6 Figura 5 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18

Tarsila do Amaral "Auto-retrato – Le manteau rouge", 1923, óleo sobre tela, 73 x 60,5 cm........................................................................................................ "Abaporu", 1928, óleo sobre tela, 85 x 73 cm. Coleção Eduardo Costantini, Buenos Aires....................................................................................................... “Operários”, 1933, óleo sobre tela 15 X 205cm, Assin.:"Tarsila1933" - Col. do Gov. do Estado de São Paulo............................................................................. Les Demoiselles d'Avignon. Pablo Picasso, 1907. Óleo sobre tela. The Museum of Modern Arts, New York, USA………………………………………… “Mulher”, Victor Brecheret, 42 cm de altura, feito em bronze, década dos 30, séc 20................................................................................................................ Sem Título (Cabeça de Cristo), Antonio Gomide c. 1925. Óleo sobre tela, 35,5 x 27,5cm.................................................................................................... “Manacá“, Tarsila do Amaral, Óleo sobre tela, 76 x 63,5cm, 1927. Assinado e datado c.i.e. “Tarsila 1927”, Coleção Simão Mendel Guss, São Paulo............. Análise dos planos 1 a 4 que compõem a obra de Tarcila do Amaral, “Manacá”............................................................................................................. Na obra de Tarcila do Amaral, “Manacá”, observa-se direcionamento pictórico na verticalidade, tanto dos cactos, como das flores, no sentido de baixo para cima..................................................................................................................... Grupos de tonalidades de cores usadas na obra “Manacá” de Tarsila do Amaral................................................................................................................. Divisão da obra “Manacá” de Tarsila do Amaral para uma análise de seu cromatismo........................................................................................................ Detalhes da obra “Manacá” de Tarcila do Amaral em função do cromatismo. 1: Flores Rosas; 2: Flores Roxas; 3: Vegetação Verde; 4: Montanhas Azuis... Design da Linha de Produtos de Perfumaria “Tarsila”, desenvolvida, em 2002, pela Empresa “O Boticário”, em Curitiba/Brasil....................................... Andy Warhol - Auto-retrato. Arte Contemporânea em Fotografia, 1966............ Três garrafas de Cola (Three Coke Bottles). Andy Warhol. Tipo: Lamina / Tamanho: 61x 81 cm.......................................................................................... Tríade semiótica peirceana em que se observa a distribuição do Signo, Objeto e Interpretante nos vértices do triângulo................................................ Perfume Tarsila de “O Boticário” criado pelo designer Leonardo Alves Cordeiro............................................................................................................. Relação dos eixos estruturais: 1) na arte de Tarsila do Amaral, Manacá e no 2) no perfume Tarsila de “O Boticário”...............................................................

23 26 27 34 36 37 38 40 42 43 43 44 47 50 50 56 61 66

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Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30 Figura 31 Figura 32 Figura 33 Figura 34 Figura 35 Figura 36 Figura 37 Figura 38 Figura 39 Figura 40

Frasco do perfume Tarsila de “O Boticário”........................................................ Equilíbrio na equivalência entre: 1) perfume Tarsila de “O Boticário”, em cada parte do frasco e 2) a obra de Tarsila do Amaral, Mancá.................................. Análise simbólica do frasco do perfume Tarsila de “O Boticário” – indexicalidade na conexão dinâmica da obra com o frasco de perfume ........... Análise da tampa e anel do perfume Tarsila de “O Boticário”: 1) tampa com flores; 2) tampa com flores e anel; e, 3) anel..................................................... Análise da tampa do frasco de perfume Tarsila de “O Boticário” quanto a relação secundidade e índice............................................................................. Assinatura gestual “Tarsila” no anel metálico do frasco de perfume de “O Boticário”............................................................................................................. Parte frontal do cartucho do perfume Tarsila. Assinatura gestual do nome do perfume no meio da altura e a marca “O Boticário” estampada em dourado na parte inferior........................................................................................................ Duas faces do cartucho do perfume Tarsila de “O Boticário”. Em uma face o nome e a marca e na outra a representação da obra de Tarsila do Amaral – Manacá................................................................................................................ Perfumistas Harry Fremont e Jean-Claude Delville que criaram a fragrância do perfume Tarsila de “O Boticário”.................................................................... Composição das três notas olfativas do perfume Tarsila de “O Boticário” ....... Notas de saída, corpo e fundo de um perfume.................................................. Relações de Primeiridade (monádica), Secundidade (diádica) e Terceiridade (triádica) de um perfume e suas notas respectivas........................................... Logotipo da marca “O Boticário” ....................................................................... Exemplo de loja franqueada de “O Boticário”.................................................... Perfume Tarsila da linha de fragrâncias femininas de “O Boticário”.................. Emulsão Perfumada Tarsila 200mL da mesma linha do perfume Tarsila de “O Boticário”............................................................................................................. Linha Rouge de “O Boticário” foi inspirada na pintura de Tarsila do Amaral intitulada Manteau Rouge, pintada em 1923...................................................... Batom da linha Tarsila Rouge de “O Boticário” lançado em março de 2006.....

Signos da publicidade na mídia eletrônica para lançamento do perfume Tarsila de “O Boticário”.......................................................................................

Propaganda impressa em diversas revistas de circulação nacional para lançamento do perfume Tarsila de “O Boticário”................................................

Folder com a propaganda do perfume Tarsila de “O Boticário”......................... Cartela com amostras, com um flaconete do perfume Tarsila de “O Boticário”.

67 68 69 70 71 72 73 74 79 80 81 83 96 98 101 102 103 105 108 108 109 109

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Figura 41 Figura 42

Perfume Tarsila 100mL. Na promoção de lançamento o consumidor ao comprá-lo e pagar mais R$ 1,80 ganhava um porta-retrato............................... Identidade do perfume Tarsila de “O Boticário” que é representada pela assinatura da Tarsila do Amaral........................................................................

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Algumas palavras ...

Entendo que as escolhas que fazemos no decorrer de nossa existência estão

intimamente associadas à nossa história, cultura, educação, enfim ao nosso

repertório e a nossa forma de olhar o mundo.

Neste sentido, posso dizer que na evolução dos meus interesses,

naturalmente, me identifiquei com o universo artístico, cognitivo e sensível desde

muito cedo. A escolha do tema: “A inter-relação da arte, design e marca: Tarsila, a

artista e o perfume” tem suas origens nas salas do tradicional e saudoso Colégio

Sacre Coeur de Marie – São Paulo nas décadas 70 e 80 e, principalmente, nas aulas

de História da Arte do Professor Rubens.

Para quem começou a se interessar pelas artes, desde criança, e pelo

estudo da linguagem, cognição e marca no curso de graduação da Faculdade de

Comunicação Social (FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado / 1987) e no

curso de Pós-graduação em Marketing (ESPM - Escola Superior de Propaganda e

Marketing / 1992), a opção pelo caminho das artes, como forma de linguagem, foi

inevitável.

Nesta busca constante pelo aperfeiçoamento e diante deste conjunto de

interesses, surgiu a oportunidade de trabalhar em uma grande empresa de

cosméticos, onde a linguagem, o sensorial, e os signos tornam-se fundamentais na

criação dos conceitos dos produtos.

Da sala de aula para as reuniões durante muitos anos do Comitê de

Desenvolvimento de Produtos, da empresa Natura de Cosméticos – época em que

minha função era de Gerente de Produtos, responsável pela gestão e lançamento

das Linhas de Perfumaria, Corpo e Proteção Solar, com destaque ao lançamento

dos premiados perfumes Shiraz e Sève; e também, como Gerente de Planejamento

Promocional e Gerente de Mercado das Regiões Sudeste e Centro Oeste do

Brasil, tive a responsabilidade da gestão do Composto de Marketing da Empresa

(Gestão da Marca, Promoções, Campanhas de Incentivo, Ações Regionalizadas,

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Preços, Comunicação e a Gestão da imagem e valores da Marca e da Empresa

Natura nestas regiões), - a identidade das marcas passou a ser meu grande objeto

de estudo, considerando a semiótica, que se propõem a fazer uma análise do

discurso marcário dos signos usados na construção de suas estruturas de

linguagem e significação.

No desenvolvimento das estruturas marcarias os aspectos sensoriais

assumem um papel fundamental para a construção da identidade dos produtos.

Neste contexto, a minha experiência profissional como Gerente de Produtos da

Perfumaria na Empresa Natura foi fundamental, pois por meio do perfume acontece

uma das maiores experiências sensoriais, nas quais muitos sentimentos e

sensações, de difícil tradução para a linguagem verbal, estão envolvidos ao

escolher a marca de um perfume. Também tive o privilégio de aprimorar a vivência

no universo do perfume, com participação no Curso de Perfumaria Internacional na

Empresa Firmenich - Suíça / Genebra, em 1993, o que muito me honra.

Passei por muitos momentos de reflexão sobre as transformações profundas

pelas quais passa boa parte da sociedade, e também sobre a crescente competição

de produtos e mensagens, nas quais o grande desafio para as empresas e

instituições é promover seus produtos/serviços para que se destaquem neste

mercado competitivo. Neste cenário atuo em consultoria, desde 2001, no cargo de

Diretora de Marketing/ Comunicação – Empresa Companhia e Negócios – e como

docente de Comunicação e Marketing, em algumas Instituições de Ensino Superior

como:

• Centro Universitário Belas Artes de São Paulo - Cursos de Design de Moda , Gráfico e Produtos. Ministro as seguintes Disciplinas: Curso de Moda: Moda e Mercado I; Marketing e Moda I, Marketing e Moda II e Marketing e Moda III e Estratégia Empresarial; Curso de Design: Marketing e Planejamento Estratégico; Empreendedorismo.

• UniFMU - Faculdades Metropolitanas Unidas - Cursos de Design Gráfico e Produtos - disciplinas: Teoria do Consumo I e II, Comportamento do Consumidor. Curso Seqüencial de Editoração / disciplinas: Marketing Editorial e Divulgação e Comercialização.

• UNISA - Universidade Santo Amaro - Curso de Pós-Graduação Marketing / Lato Sensu - disciplinas: Gerência Estratégica de Produtos e Estratégia Mercadológica.

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INTRODUÇÃO 17

1 INTRODUÇÃO

“Não importa como as pessoas se aproximem da arte. Ela é imprescindível na vida do ser humano, desde que o homem existe. Para se comunicar o

homem usou, antes da linguagem escrita, sons guturais e o desenho.” (RIZOLLI,1999)

O início do século 21 surge assinalado por múltiplas ocorrências que

determinaram transformações relevantes nos mais diferentes setores, sobretudo no

universo da tecnologia e comunicação. Símbolos extraídos da indústria cultural e

da cultura visual compõem de maneira estratégica, a comunicação, a exposição

comercial das marcas e as relações de compra e consumo em um mercado

altamente competitivo. Assim sendo, esta dissertação vem investigar o

desenvolvimento das marcas comerciais, tendo como eixo central a arte e sua

relação com o design, por meio de uma estrutura sígnica apoiada pela teoria

semiótica Peirceana.

A produção artística sempre foi entendida como processo de conhecimento,

uma vez que envolve ações e intervenções conectadas ao mundo, que relaciona,

ordena, classifica, transforma e cria. Sob este ponto de vista, as estruturas sígnicas

se apresentam completas de possibilidades na relação arte e design, tornando-se

um novo referencial para a construção da marca. Neste contexto a teoria semiótica

passou a ser o grande instrumental de estudo desta dissertação, por meio da

análise do discurso marcário e dos signos usados na construção de suas estruturas

de linguagem e significação.

Neste contexto a teoria semiótica passou a ser o grande instrumental de

Sandra Penkal

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INTRODUÇÃO 18

estudo desta dissertação, por meio da análise do discurso marcário e dos signos

usados na construção de suas estruturas de linguagem e significação. Como suporte

teórico é empregada a semiótica de Charles Sanders Percie1 e de Lúcia Santaella2.

O design permitiu múltiplas análises, apresentando em seu processo de

produção o trânsito entre a sensibilidade e a funcionalidade/razão. Precisamente,

deste modo, nesta mobilidade entre o sensível e o racional/funcional é que reside o

potencial transformador e diferenciador da estrutura sígnica no desenvolvimento de

marcas comerciais.

Em um cenário globalizado, onde não existe extensão que institua barreiras

para a concorrência, a estrutura de marketing foi expandida, também, pela força

criada pelas marcas e seus aspectos culturais e comportamentais. A todo o

momento o mercado se torna mais integrado e pessoas de diferentes partes do

mundo consomem os mesmos produtos, o que faz com que todos disputem os

mesmos mercados. Neste contexto o marketing, a marca e a comunicação, por

meio da sua composição, amolda as necessidades e desejos dos consumidores, e

ainda amplia e reforça quando o consumidor associa produção artística a produtos

de design.

A demanda por marcas diferenciadas e com valor agregado, se coloca na

arena mais ampla e complexa da comunicação e do marketing, e este é o recorte

1 Charles Sanders Peirce (1839-1914) foi um filósofo, cientista e matemático estado-unidense. Era filho de um

matemático conhecido, Benjamim Peirce, na época, um dos mais importantes matemáticos de Harvard. Licenciou-se em Ciências e doutorou-se em Química em Harvard. Ensinou filosofia nesta universidade e na Universidade de Johns Hopkins. Foi o fundador do pragmatismo e da ciência dos signos, a semiótica.

2 Lúcia Santaella semioticista e é professora titular da PUC-SP e diretora do CIMID (Centro de Investigação em Mídias Digitais, da PUC-SP].

Sandra Penkal

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INTRODUÇÃO 19

que se propõe para discutir arte e design como intercessores no processo de

construção de imagem de marca. Nesta perspectiva, toma-se a arte, também, como

expressão, por excelência, da subjetividade e da significação.

Aplicam-se estas hipóteses, na compreensão da arte como linguagem,

mediadora do design, porque o valor agregado dos produtos não se resume às

funções operacionais, mas também por meio da dimensão sensível, que deslumbra

o mundo, que se relaciona com o intangível, com o cultural e com percepções

estéticas, a despeito das implicações praticas e mercadológicas.

Para a compreensão mais aprofundada dos fenômenos de marketing e das

marcas, esta dissertação se apoiou em várias literaturas, entre elas as de: Aaker

(2002) Marcas: Brand Equity gerenciando o valor da marca; Gobé (2002) A emoção

das marcas: conectando marcas às pessoas; Kotler e Peter (1998) Administração

de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle; Perez (2004)

Signos da Marca: Expressividade e Sensorialidade; Rizolli (1999) Artista-Cultura-

Linguagem (Um Estudo sobre Metodologias Pictóricas), etc.

As marcas apresentam-se como uma forte ferramenta estratégica do

marketing e da comunicação visual. Personalidades como Salvador Dali, Tarsila do

Amaral e Candido Portinari, por si só são marcas que carregam um significado forte

e expressivo. Os elementos simbólicos, representados pelo universo artístico, serão

acessíveis em todo lugar onde forem conectados. Principalmente na arte as

significações e a ressignificação se manifestarão com freqüência, até mesmo nas

embalagens aplicadas a marcas de produtos, por uma interpretação semiótica.

Sandra Penkal

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INTRODUÇÃO 20

Como explica Lúcia Santaella: “No nosso estar-no-mundo, como indivíduos sociais,

é mediado por uma rede plural de linguagem” (SANTAELLA, 1995).

Vale ainda dizer, que no desenvolvimento das estruturas marcarias os

aspectos sensoriais assumem um papel fundamental para a construção da

identidade e valor criado nos produtos. Principalmente no mundo do perfume, que

oferece uma linguagem e um alfabeto próprio capaz de promover as mais diversas

reações físicas e emocionais, conectando e explorando os espaços mais profundos

da alma. Os cinco sentidos – olfato, paladar, visão, tato e audição – são assim

despertados, direta ou indiretamente, pelo universo da perfumaria. Esse sentimento

é traduzido por Patrick Süskind (1985) no livro O Perfume :

“As pessoas podem fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da

beleza; podem tapar os ouvidos diante de uma melodia ou de palavras

sedutoras. Mas não podem escapar ao aroma. Ele é o irmão da respiração,

penetra nas pessoas – elas não podem escapar-lhe, caso queiram viver.

Bem dentro delas vai o aroma, diretamente para o coração – que faz a

distinção entra atração e repulsa, horror e prazer, entre amor e ódio. Quem

dominasse os odores dominaria o coração das pessoas.”

(SÜSKIND, 1985 Prefácio)

O poder e a magia do perfume podem ser explicados pela forma como as

fragrâncias atuam. Freqüentemente os aromas aguçam os outros sentidos e

funcionam como trampolins para uma série de lembranças, estas classificadas como

memória olfativa .

A abordagem da dissertação, deste modo, acontece com a investigação do

desenvolvimento das marcas comerciais, apresentando a dimensão simbólica da

Sandra Penkal

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INTRODUÇÃO 21

obra Manacá/1927, da pintora e maior representante da arte moderna brasileira

Tarsila do Amaral, aplicada a marcas de produtos da Empresa “O Boticário”, com

uma interpretação semiótica e sensorial.

No Brasil a maioria das indústrias, nos mais diferentes segmentos, ainda não

possui uma tradição na utilização de um design fundamentado em elementos

caracteristicamente nacionais, derivando assim na reprodução de conceitos

desenvolvidos por outros países, processo esse já experenciado no âmbito cultural e

artístico antes do movimento modernista. Recentemente, contudo, alguns setores já

vêem utilizando recursos e dados nacionais na conceituação, criação e

desenvolvimento de produtos de consumo brasileiros. Pode-se aproximar um pouco

mais o público da cultura artística e solidificar o design nacional com investimentos

na criação e produção de produtos, conforme demonstrado pela empresa “O

Boticário” sob análise neste trabalho.

Sandra Penkal

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2 ARTE BRASILEIRA

O capítulo expõe a conceituação dos múltiplos pensamentos modernos no

Brasil, nas primeiras décadas do século passado. Neste cenário, a década de 20

indica a imagem de transformação da cultura nacional, uma vez que além do

surgimento da arte moderna no panorama nacional, libertando o Brasil das antigas

raízes, inicia-se o processo de edificação da cultura e das aspirações nacionais.

A estrutura da cultura brasileira vinha sendo apresentada nas primeiras

décadas do século 20, contudo, com a proclamação da República, o Brasil

atravessou uma fase tumultuada de afirmação do Estado nacional. Desta maneira,

surgiram várias manifestações sobre a configuração da nação brasileira, norteadas

por sua tradição e suas revelações artísticas. Indiscutivelmente, os novos ideais

representam os aspectos da modernidade do país e de sua sociedade.

A década de 20 no Brasil, sobretudo em São Paulo, foi, decisivamente, a era

das vanguardas, da inovação, da anulação com o passado e da experiência de uma

arte brasileira inédita.

Sandra Penkal

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2.1 ARTE - CULTURA BRASILEIRA: TARSILA DO AMARAL

Reconhecida como uma das artistas brasileiras mais importantes do século

20, Tarsila do Amaral (1886-1973) natural de Capivari, interior do Estado de São

Paulo, Figura 1, foi uma das precursoras do modernismo no Brasil. Vanguardista,

revolucionou os conceitos artísticos e, como mulher, representou uma nova geração

que apelou pelo espaço feminino, lutando contra a estagnação e o conformismo.

De temperamento marcante e espírito inquieto encarou vários preconceitos, na sua

vida sentimental e profissional.

Figura 1 – Tarsila do Amaral "Auto-retrato – Le manteau rouge", 1923, óleo sobre tela, 73,0 x 60,5cm. (http://www.mnba.gov.br)

Sandra Penkal

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Tarsila foi uma mulher intensa e muito vaidosa, sempre era vista com

vestidos elegantes, acessórios exóticos, criando estilo e antecipando. Em seus

auto-retratos contínuos, puderam ser registradas a mulher e a pintora nas várias

fases da sua vida. Foi uma figura emancipada, viajada, de muitas relações

sentimentais, de vários casamentos e separações, uma alma inquieta. O perfil da

mulher e da artista Tarsila, deste modo, contribuiu muito para inclusão dos papéis

femininos no processo de promoção social das mulheres no Brasil.

A originalidade de Tarsila deve-se as suas experiências desde sua meninice,

pois que cresceu de forma requintada, porém, em meio a paisagens do campo e

gente simples. Teve uma infância muito intensa: vivia na fazenda, convivendo com

bichos e plantas, contudo, tinha uma vida rica influenciada pela cultura e consumo

Europeu, pois era de família aristocrática.

Vários historiadores se dedicam a apresentar a vida da Tarsila, especulando

tudo sobre suas fases, tais como a professora Aracy do Amaral, que escreveu três

livros sobre a Tarsila, a pesquisadora Nádia Batella Gotilib e uma sobrinha-neta da

pintora, que até mesmo tem o seu próprio nome Tarsila do Amaral.

A vida artística de Tarsila começou de fato em 1917, porém, em Paris três

anos depois, identificou-se com as obras cubistas, dadaístas e futuristas que

influenciariam decisivamente na sua obra. Retornando ao Brasil, em 1922, a amiga

e também pintora, Anita Malfatti, apresenta Tarsila a amigos intelectuais

vanguardistas, que participam da Revista Klaxon: Oswald de Andrade , Mário de

Andrade, Menotti Del Picchia, Sérgio Buarque de Holanda e Graça Aranha.

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Aproximando-se das idéias modernistas, envolve-se com os novos amigos e

integra-se ao famoso Grupo dos Cinco.

Com um estilo particular que associa as técnicas do cubismo à temática e

cromatismo fortemente próximos com a cultura brasileira, a atuação de Tarsila do

Amaral foi admirável. Ao utilizar tintas fortes e alegres, registrou a descoberta de um

Brasil interiorano e rural das fazendas onde atravessou sua infância, com muita

alegria, naturalidade e simplicidade, na forma de ampliar com cores intensas o

cenário interiorano Paulista que Carlos Drummond claramente determinou: “O

amarelo vivo, o rosa violáceo, o azul pureza, o verde cantante”.

Em todas as fases artísticas de Tarsila, a influência da arte européia é intensa,

principalmente dos cubistas como Fernand Léger, André Lothe e Pablo Picasso,

porém, assim mesmo, conseguiu incorporar uma alma fascinante de brasilidade à

sua obra, repleta de cores e objetos, predominantemente, brasileiros.

Neste sentido, a cor é elemento relevante na obra tarsiliana, um fenômeno

estudado por especialistas de diversas áreas, porém para a artista sua apropriação

ao seu conteúdo sensível e seu potencial expressivo. Segundo o registro da

historiadora e crítica de arte Aracy Amaral:

"Criada na fazenda, a menina Tarsila tinha natural predileção pelas cores

que lhe falavam do calendário das festas populares do interior paulista"...

“Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto

apurado... Mas, depois vinguei-me da opressão, passando-as para as

minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante,

tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura do branco.

Pintura limpa, sobretudo sem medo de cânones convencionais”. (AMARAL,

1975)

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A pintura de Tarsila chamada “Pau-Brasil", começou com seu professor

Fernand Léger, tendo o cubismo como técnica, porém, com uma temática brasileira

que apresentou em suas telas fatos e cores do Brasil. A denominação Pau-Brasil foi

indicada por Oswald de Andrade porque esta madeira foi o primeiro produto

brasileiro a ser exportado. Neste contexto, o movimento sugeria uma qualidade

verdadeiramente brasileira e em nível internacional, ou seja, de “exportação”.

O conceito de brasilidade, criado por Tarsila por intermédio das formas, cores,

grafismo e temática genuinamente brasileira, pode ser apreciado nos quadros

"Carnaval em Madureira", 1924; "A Cuca", 1924; "Auto-Retrato", 1924; "O

Pescador", 1925; "Religião Brasileira", 1927 e "Manacá", 1927, entre outros.

Para presentear Oswald de Andrade, seu marido na ocasião, em 1928, pintou

o “Abaporu”, Figura 2. Este ficou impressionado com a obra e foi motivado a criar o

Movimento Antropofágico.

Figura 2 - "Abaporu", 1928, óleo sobre tela, 85 x 73 cm. Coleção Eduardo Costantini, Buenos Aires.

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Pela primeira vez no Brasil, em 1929, expôs individualmente; em 1933, deu

início à pintura social com a obra “Operários”, Figura 3. No ano seguinte participou

do I Salão Paulista de Belas Artes e trabalhou, de 1936 a 1952, como colunista nos

Diários Associados. Nos anos 50 voltou ao tema “Pau-Brasil” e participou, em 1951,

da I Bienal de São Paulo. Na VII Bienal de São Paulo, em 1963, recebeu um espaço

especial e no ano seguinte uma participação especial na XXXII Bienal de Veneza,

Itália.

Figura 3 – “Operários”, 1933, óleo sobre tela 15 X 205cm, Assinado "Tarsila 1933" - Col. do Gov. do Estado de São Paulo. (http://www.pinturabrasileira.com)

Com a morte de Tarsila do Amaral, aos 86 anos, em 17 de janeiro de 1973 a

sociedade herdou uma coleção preciosa, com mais de duzentos quadros, desenhos

e esculturas.

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O alcance da obra de Tarsila do Amaral oferece um valor além do exame

artístico. Por meio da sua obra e de seu desempenho no setor da política e da arte,

Tarsila do Amaral foi uma referência da sociedade brasileira no século 20,

conjeturando as incoerências, as vulnerabilidades e a energia do movimento

modernista Brasileiro.

Sandra Penkal

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2.2 MOVIMENTO MODERNISTA NO BRASIL

O começo do século 20 foi caracterizado por múltiplos fatos, em específico a

Primeira Guerra Mundial, com início em 1914, transformando toda a estrutura social e

cultural do mundo ocidental. Com o novo cenário pós-guerra, atacado pela

urbanização, pela velocidade e pelo imediatismo, surge a necessidade de uma nova

linguagem e forma de expressão em todos os setores da cultura.

No Brasil, além dessa influência, existia ainda a necessidade de uma forma

de expressão que elucidasse a particularidade brasileira, a identidade de um povo

nascido da mescla entre negros, índios e portugueses, e que congregasse, naquele

instante, por meio do grande movimento imigratório, outras culturas, sobretudo a

italiana. Deste modo, nas primeiras décadas do século, o movimento modernista

inseriu no Brasil maneiras inéditas de produzir arte e de se pensar, inovando desde

as artes plásticas até o teatro, passando pela arquitetura e pela música.

A cidade de São Paulo teria impulsionado os modernistas na busca por esta

identidade em razão da fusão de sotaques e costumes trazidos pelos imigrantes, do

novo jeito de falar português e suas peculiaridades. A busca de um caminho próprio,

de expressão e de identidade brasileira, aberta para o novo e para os povos que aqui

chegavam, marcava a superação da forma de expressão que se passava na Europa,

o academismo, e diferenciava as motivações do modernismo brasileiro e do europeu.

No Brasil, ao contrário da Europa, os modernistas queriam exaltar as

tradições locais, indo na direção do popular, da arte colonial. Os modernistas

Sandra Penkal

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brasileiros também ansiavam por novos caminhos estéticos, que remetessem de

maneira mais próxima a nossa nova realidade, aliando informações das vanguardas,

como: o Cubismo, o Futurismo e o Expressionismo.

As principais cidades brasileiras, em especial a cidade de São Paulo,

presenciaram, contudo, uma mudança acelerada em função do contexto industrial.

Na época da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), iniciou-se o impulso da industrialização

e da urbanização. Como conseqüência, o país presenciou o nascimento de uma

burguesia industrial potente, porém marginalizada pela política econômica do

governo Federal, orientada para a produção e exportação do café. Simultaneamente,

crescia admiravelmente o número de imigrantes europeus (especialmente italianos)

que eram encaminhados para as regiões economicamente prósperas, seja para a

zona rural onde existiam plantações de café, seja para a zona urbana onde se

encontravam as indústrias.

Como resultado, em São Paulo, podiam ser observadas várias raças e

culturas, panorama propício para a realização de um acontecimento que divulgasse

uma arte original, contra o conservadorismo. Mário de Andrade afirmou:

"São Paulo era espiritualmente muito mais moderna, porém fruto necessário

da economia do café e da industrialização conseqüente. São Paulo estava,

ao mesmo tempo, pela sua atualidade comercial e sua industrialização em

contato mais espiritual e mais técnico com a atualidade do mundo".

(ANDRADE, 1922)

A Semana de Arte Moderna de 1922, entre os dias 11 e 18 de fevereiro, com

a exposição de artes plásticas e três espetáculos, sessões de dança, literatura e

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música, foi um marco do movimento modernista brasileiro. As idéias revolucionárias,

o movimento representado por Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral,

Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, entre outros, balançou as estruturas da

cultura em vigor, mudando decisivamente os rumos da arte brasileira no século 20.

A investigação modernista de combinar e aspirar o novo e o antigo, para

desvendar a realidade e a identidade brasileira, foi resumida no Manifesto

Antropológico de Oswald de Andrade que ganhou cores com a obra “Abaporu” de

Tarsila do Amaral e tornou-se literatura em “Macunaíma” de Mario de Andrade.

2.2.1 Manifesto Antropófago

O Manifesto Antropófago, reúne frases de Oswald de Andrade como:

...”Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.

Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de

todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupy, or not tupy: that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

...... Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos

vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e

continental.

Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.

Sandra Penkal

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Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.

Contra todos os importadores de consciência enlatada.

(OSWALD DE ANDRADE - Em Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo

Sardinha."3 )

A aceitação do público não foi totalmente favorável ao movimento, uma vez

que as pessoas estavam mais acostumadas com a arte em moldes tradicionais e

acadêmicos. A despeito do choque de 1922, o processo de consolidação dos novos

imaginários estéticos foi gradativo, extremamente vinculado às viagens dos artistas

ao continente europeu. A situação do pós-guerra provocou nos europeus uma

obrigação pela desconstrução das estruturas, pelo desligamento com o tradicional.

O clima era propício ao estouro do movimento, em 1922, visto que a

preparação modernista calhou com os preparativos do centenário da Proclamação

da República. Inversamente, as comemorações oficiais do centenário da

Independência, os modernistas organizavam um evento próprio. Os recursos para

a festa da revolução partiram da burguesia paulista como de Paulo Prado e Graça

Aranha. Diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, Graça Aranha

emprestava sua reputação ao movimento. O Correio Paulista, organismo

praticamente oficial do Partido Republicano Paulista (PRP), difundia o ideal do

movimento, uma vez que tinha Menotti del Picchia como chefe de redação.

O poema de Manuel Bandeira "Os Sapos", lido por Ronald de Carvalho,

caçoando dos parnasianos ocasionou a gritaria de grande parte dos presentes. A

apresentação de Villa-Lobos foi atribulada, especialmente porque se avaliou que

fosse ‘futurismo’ o artista se apresentar de casaca e chinelo, porém o compositor

3 Andrade, O. Revista de Antropofagia, São Paulo, n.1, ano 1, maio de 1928.

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estava apenas com um calo arruinado. A revolta maior dos conservadores, contudo,

era contra as novas manifestações da arte plástica e da nova literatura.

No transcorrer dos anos, contudo, as considerações definidas pelos

modernistas passaram a não assombrar mais, e foram, abertamente, aceitos. Na

segunda fase do Modernismo, recheadas pelas circunstâncias históricas, os artistas

e os intelectuais foram forçados a declarar disposição política diante aos grandes

temas daquele momento. As promoções dos extremos políticos foram grandes e

alguns optaram pela esquerda, outros pela direita e alguns ficaram no meio do

caminho. Neste cenário brotou o conto social, especialmente no Nordeste, com

grande carinho esquerdista.

A segunda fase do Modernismo (1930 a 1945) solidificou-se por meio de

uma percepção modernista com escopo social e introspectiva, sem a necessidade

de contestação, manifestos e movimentos de rebeldia contra o existente. Neste

momento os modernistas apropriaram-se do direito à pesquisa e à liberdade

estética, expondo, assim, as correntes de vanguarda, como: o Cubismo, o

Futurismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.

Sandra Penkal

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2.3 O ESTILO CUBISTA

O Cubismo respeitado como um marco da arte ocidental, rejeita o conceito

de arte como reprodução da natureza, recusando dados como perspectivas e

modelagem, assim como qualquer condição de efeito ilusório. Formas que se

mostram em planos geométricos, cubos e volume restabelecem,

concomitantemente, por diversos ângulos na obra. Nesta ambiência são

contemplados elementos como instrumentos musicais, garrafas, frutas, paisagens

e corpos.

As origens do cubismo encontram-se na Paris de 1907, ano em que Pablo

Picasso, artista espanhol (1881-1973), pintor, escultor, artista gráfico e ceramista,

expôs o quadro extraordinário denominado “Les Demoiselles d`Avignon”, Figura 4.

Figura 4 - Les Demoiselles d'Avignon. Pablo Picasso, 1907. Óleo sobre tela. The Museum of

Modern Arts, New York, USA.

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"A Arte não é a verdade. A Arte é uma mentira que nos ensina a compreender a

verdade". Pablo Picasso

Algumas das marcas essenciais do Cubismo são as figuras divididas em

planos e contrariando a perspectiva convencional. Instituem-se configurações

geométricas como cubos e cilindros, que agregam a composição de figuras humanas

e objetos. Genericamente, as cores limitam-se ao marrom, ocre, preto e cinza. Ao

mesmo tempo, o cubismo pode ser caracterizado por duas particularidades básicas:

nesta arte não é aceitável marcar o que é imagem principal e o que é o fundo da tela;

e, a figura é apresentada por diversos pontos de vista. Deste modo, uma figura pode

apontar, ao mesmo tempo, um homem de frente e de perfil. O cubismo rompeu com a

idéia de perspectiva.

O pintor francês Henri Matisse (Henri Émile Benoît Matisse), também

desenhista e escultor, em 1908, aplicou e denominou a arte como “cubismo”. O

cubismo pode ser dividido em duas fases consecutivas e distintas: a Analítica, de

1907 a 1912, quando predominaram as formas geométricas e as obras mostravam

uma ponderação meticulosa da composição dos elementos e sua afinidade com o

ambiente ao seu redor; e, a Sintética, após 1912, quando foram utilizados pedaços

de jornal para compor a obra.

Pablo Picasso e Georges Braque (1882-1963), um pintor e o outro escultor

francês, foram os precursores das novas formas cubistas de representação e

tiveram grande influência da produção de Paul Cézanne, pintor francês (1839-1906)

aplicava figuras geométricas quando pintava a natureza, por descobrir nesta o

cilindro, o cone e a esfera.

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O movimento cubista no Brasil influenciou vários artistas, entre eles Tarsila

do Amaral, Di Cavalcanti e Brecheret , Figura 5.

Figura 5 - “Mulher”, Victor Brecheret, 42 cm de altura, feito em bronze, década dos 30, séc 20

(http://www.pinturabrasileira.com)

O Cubismo brasileiro foi apreciado em obras de alguns dos artistas ligados

no modernismo de 1922, em determinadas obras de Antonio Gomide (1895 - 1967),

Figura 6, Vicente do Rego Monteiro (1899 - 1970) e, principalmente, na obra de

Tarsila do Amaral (1886 - 1973).

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Figura 6 - Sem Título (Cabeça de Cristo), Antonio Gomide c. 1925. Óleo sobre tela, 35,5 x 27,5cm. (http://www.pinturabrasileira.com)

O Cubismo propõe a concepção dos objetos com todas as suas partes num

mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem todos os seus

lados no plano frontal em relação ao espectador, de tal modo, esta maneira de

alterar os elementos não tinha qualquer combinação de fidelidade com o aspecto

fidedigno das coisas.

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2.4 PINTURA MANACÁ: UMA ANÁLISE SOB O PONTO DE VISTA ESTÉTICO

A obra “Manacá” (1927), Figura 7, é uma das principais do movimento

modernista brasileiro e da produção de Tarsila do Amaral. Com aspectos cubistas

dos anos 20, esta pintura apresenta algumas influências do cubismo europeu, não na

temática, mas no aspecto pictórico, lembrando algumas vezes Léger: o pintor cubista

francês, internacionalmente famoso como um dos mestres do século 20 e um dos

mais reconhecidos cubistas.

Figura 7 - “Manacá“, Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, 76,0 x 63,5cm, 1927. Assinado e datado c.i.e. “Tarsila 1927”, Coleção Simão Mendel Guss, São Paulo

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Caracterizado por um arbusto (tipo cactus) ornamental brasileiro conhecido,

a obra é retangular, mede 76 x 63,5 cm, e é uma pintura que representa: um

manacá no centro, no primeiro plano cactos e flores e no segundo plano, ao fundo,

duas montanhas. Apesar de sugerir planos, a pintura tem característica “chapada”,

mais plana, com pouco volume e sombreados. Tarsila busca o tema das raízes

brasileiras, em suas viagens pelo interior do Brasil, sob o seu “olhar artístico” : nas

paisagens, no aroma das flores, nas bandeirinhas coloridas e do povo caipira em

suas casas.

A obra “Manacá” é assimetricamente equilibrada, bidimensional em sua

essência, possui ligeiras alterações na inclinação das pétalas e das corolas, em um

sutil equilíbrio entre repetição e variação, criando uma espécie de "simetria

irregular", que confere ao conjunto um delicado equilíbrio dinâmico, e o ponto de

equilíbrio pode ser encontrado exatamente na parte central do quadro. Para análise

gráfica da composição, propõe-se o traçado de dois eixos sobre a pintura:

horizontal e vertical, que facilita a análise em quatro quadrantes, Figura 8.

O eixo horizontal divide a pintura em duas metades e suas formas são

orgânicas. Na parte superior predominam linhas curvas, nas montanhas e na copa

quase circular.

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Figura 8 – Análise dos planos 1 a 4 que compõem a obra de Tarcila do Amaral, “Manacá”.

O formato das flores na copa confere leveza, a copa possui quatro flores no

centro com oito folhas ao redor, o tronco foi reduzido a uma forma retangular verde,

com um sombreado que sugere volume cilíndrico. A flor central, rosa é formada por

seis pétalas com forma de gota, que convergem para um mesmo ponto central do

eixo vertical.

Sandra Penkal

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Além da representação bastante estilizada, destaca-se uma outra licença

poética, ou melhor, pictórica: O “Manacá” de Tarsila tem uma flor rosa e três roxas,

que confere uma estilização ainda maior, pois na natureza só encontramos

manacás com flores de uma só cor, rosa ou roxo. O mesmo ocorre com os cactos:

eles são livremente coloridos como as flores. As flores que ficam atrás da flor

central, seguem o mesmo padrão anterior. Parece, que se estivessem descobertas,

também teriam oito folhas.

Os elementos da parte inferior, algum tipo de planta, são estilizados: é a

liberdade que tanto se vê na obra de Tarsila. Ponto marcante que caracteriza a obra

de arte. Ela se afasta da descrição e cria novos significados.

As flores possuem o mesmo padrão, e as folhas têm inclinação variada,

sugerindo movimento, evitando a simetria estática. As do lado esquerdo obedecem

a seguinte regra: uma folha e uma pétala sucessivamente e a do lado direito tem

outras variações: uma folha a cada duas pétalas e uma folha atrás de uma pétala

rosa e duas roxas. As formas não são totalmente planas. Elas possuem certo

volume, mas Tarsila não se preocupou em demonstrar uma tridimensionalidade.

Percebe-se o direcionamento pictórico na verticalidade, tanto dos cactos,

como das flores, no sentido de baixo para cima, Figura 9.

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Figura 9 - Na obra de Tarcila do Amaral, “Manacá”, observa-se direcionamento pictórico na verticalidade, tanto dos cactos, como das flores, no sentido de baixo para cima.

Ao considerar a análise cromática da obra “Manacá”, a escala tonal expressa

luz e sombras, nota-se que ambas possuem variedades de intensidade. Tanto forte

como mediana até intensa, fato este importante para que se possa dar um clima

ideal à obra.

De um modo particular, Tarsila não usou cores primárias nesta obra,

enfatizou apenas as cores secundárias e terciárias. Interpreta-se essa variedade de

tons em um gráfico chamado escala tonal, utilizado tantos os tons mais claros para

dar ênfase numa cena, como tons variados e cheios de graduações até os opostos,

ou melhor, tons claros e escuros totais: o alto contraste.

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A escala cromática da obra “Manacá” pode ser analisada na Figura 10 que

apresenta os tons claros, medianos e escuros.

Figura 10 – Grupos de tonalidades de cores usadas na obra “Manacá” de Tarsila do Amaral.

Para efeito de análise dividiu-se a obra em detalhes, Figura 11, de acordo

com o seu cromatismo.

Figura 11 – Divisão da obra “Manacá” de Tarsila do Amaral para uma análise de seu cromatismo.

Cada um dos detalhes, assinalados na Figura 11, pode ser evidenciado

como mostra a Figura 12.

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Figura 12 – Detalhes da obra “Manacá” de Tarcila do Amaral em função do cromatismo. 1: Flores

Rosas; 2: Flores Roxas; 3: Vegetação Verde; 4: Montanhas Azuis.

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ARTE BRASILEIRA 45

Pode-se descrever o “Manacá” como uma obra figurativa que expressa

calma, equilíbrio e tem uma fruição tranqüila buscando um clima bucólico do campo.

Foi o resultado de investigação de temas que representassem as raízes brasileiras,

de forma estilizada, concebida por meio de uma flor típica do interior do Brasil.

Planos mais geométricos e volumes compõem a obra que se revela, ao mesmo

tempo, por múltiplos ângulos na tela.

A apreciação de brasilidade, agregado por Tarsila por meio das formas,

cores, grafismo e temática genuinamente brasileira, registrou a descoberta de um

Brasil interiorano e rural com muita naturalidade e simplicidade. Esta proposta vinha

ao encontro do movimento cubista modernista, em vigor no período, que cedeu o

conceito de arte não como reprodução que perfizesse a própria natureza, mas sim

que abrisse uma característica para o efeito ilusório.

Também, por meio desta temática artística e nacionalista, atualmente estão

fundamentados alguns conceitos de design e posicionamento de produtos. Este

assunto, entretanto, será abordado no próximo capítulo, com mais detalhes,

analisando-se a inter-relação entre a arte, o design de produtos e algumas marcas

comerciais, sob uma perspectiva semiótica.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 46

3 A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM

Neste capitulo é feita uma análise sobre a inter-relação entre a arte, o design

de produtos e algumas marcas comerciais, sob um olhar semiótico. Segundo

Winfried Nöth “Semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos

(semiose) na natureza e na cultura”. (NÖTH, 1995 p. 19).

O design pode ser estudado por múltiplas áreas e ângulos teóricos e práticos

de investigação distintos, entre outros: antropológicos, históricos, filosóficos,

psicológicos, sociais, econômicos, políticos e culturais. Propõe-se, contudo, uma

análise dos aspectos do design por meio da relação triádica: Arte - Design - Marca.

Faz-se aqui uma breve introdução à semiótica peirceana aplicada ao design,

como um dos referenciais teóricos atualmente indispensáveis para o

desenvolvimento tanto de produtos como de peças de programação visual.

A reflexão da interdisciplinaridade para o estudo no design vem

apresentando um grande potencial de investigação, uma vez que as informações

existentes são muito recentes e escassas.

Como objeto de estudo avalia-se a utilização da obra “Manacá”/1927, da

pintora Tarsila do Amaral, com o emprego de símbolos na marca como parte

integrante da identidade do produto, por meio da conexão existencial entre imagem

e objeto, expressa no design da Linha de Produtos de Perfumaria “Tarsila”,

desenvolvida, em 2002, pela Empresa “O Boticário”, em Curitiba/Brasil, Figura 13.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 47

Figura 13 – Design da Linha de Produtos de Perfumaria “Tarsila”, desenvolvida, em 2002, pela

Empresa “O Boticário”, em Curitiba/PR.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 48

3.1 ANÁLISE SEMIÓTICA

A sociedade sempre se valeu de formas de expressão e linguagem no

processo de comunicação social. A estrutura de desenvolvimento do produto

“Tarsila”, assim sendo, apresenta uma base semiótica, com o emprego de

referências artísticas como dados simbólicos que acrescentam e potencializam o

valor comercial como marca de produto.

Hoje, grandes artistas e suas obras são referenciadas como elemento de

design em mercadorias e produtos, montados em vitrines de lojas, shoppings e

sites. Os frutos destes artistas tornam-se uma fórmula e apresentam características

que serão utilizadas pelo design e vestir, comunicar e diferenciar a marca de

produtos, e campanhas publicitárias.

Usar obras de artistas como símbolos - meios complementares da identidade

da marca e do produto - expandem também o apelo mercadológico no contexto

comercial. Reforça-se a marca com símbolos potentes que atribuem maior

associação e estrutura à sua identidade, revestindo-a, deste modo, com uma

atitude mais fácil e instantânea de ser reconhecida e lembrada. Esta apresentação

simbólica torna-se essencial na criação da marca.

Lúcia Santaella cita no prefácio do livro Signos da Marca de autoria de

Clotilde Perez (2004):

“Os efeitos pragmáticos da marca são emocionais, afetivos, reativos e

cognitivos e são capazes de produzir reação no consumidor (...). Os

signos são valores agregados às marcas e mercadorias - valem mais do

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 49

que elas -, sendo o produto medido pelo valor de coeficiente de fantasia

corporificado”. (SANTAELLA apud PEREZ, 2004 p. 25)

A marca representa uma ferramenta potente na comunicação mercadológica,

na identidade institucional e nos valores do bem simbólico e do signo social que

idealiza e representa. O desenvolvimento e estudos de comunicação tomaram

impulso a partir da Revolução Industrial, em meados do século 19, neste sentido

consideram o olhar semiótico que amplia a consciência semiótica.

No processo de ressignificação da obra, a marca pode aproximar o

consumidor comum do mundo artístico, difundir suas obras e acessar sua

interpretação. Observa-se também uma ressignificação invertida no trabalho de

criadores como Andy Warhol (1928-1987), Figura 14, artista plástico da Arte Pop e

iconógrafo norte-americano que reproduziu imagens de latas de Coca-Cola, Figura

15, e de personalidades famosas, sentindo-se interessado na sedução que as

marcas provocavam no público. Sua competência de fusão amolda os desejos dos

consumidores, potencializando-se quando o consumidor associa a produção

artística aos produtos de design.

No mundo atual, os princípios de marketing foram expandidos não só pela

orientação da venda de produtos/serviços, mas pela força conquistada pelas

marcas nas convergências culturais e comportamentais. Sua competência de

fusão adapta os desejos dos consumidores, expandindo igualmente quando o

consumidor associa a produção artística aos produtos de design. Tais reflexões de

marketing e marcas, entretanto, serão abordadas com maior profundidade no

próximo capítulo.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 50

Figura 14 - Andy Warhol - Auto-retrato. Arte Contemporânea em Fotografia, 1966.

(http://www.warhol.org)

Figura 15 - Três garrafas de Cola (Three Coke Bottles). Andy Warhol. Tipo: Lamina / Tamanho: 61x 81 cm (http://www.warhol.org)

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 51

Produtores, designers, anunciantes e consumidores promovem a circulação

e a transformação de significados culturais entre várias esferas do mundo social,

pois vivem em um ambiente no qual as mídias estão, a cada dia, mais presentes e

agressivas. As significações e ressignificações manifestam-se com freqüência por

intermédio da arte, inclusive nas embalagens de produtos. Pode-se observar, deste

modo, o trânsito entre Arte × Design para o Design × Arte.

Evidencia-se nesta situação, como as revelações da marca influenciam os

consumidores e constituem signos poderosos de produtos, dinâmica que serve para

ilustrar as principais concepções clássicas sobre a mente e a cognição humana,

que se apóiam na estrutura geral dos signos e nas condições elementares da

significação. Segundo apostilado por Clotide Perez (2004):

“Aplicando uma carga simbólica: a marca é uma conexão simbólica e

afetiva estabelecida entre uma organização, sua oferta material, intangível

e aspiracional, e as pessoas para as quais se destina”. (PEREZ, 2004 p.

10).

Na sociedade comercial as marcas reforçaram seu poder como signos

complexos de posicionamento social. Sua força provoca e permite sua adaptação à

representação do desejo de cada consumidor (ressignificação). Um símbolo forte

pode reunir, dessa maneira, a associação, a ligação, a coesão e a estrutura a uma

identidade, possibilitando que a marca se torne facilmente distinguida e lembrada.

Neste sentido, o consumidor acessa e faz escolhas baseadas em produtos que

combinam com seu estilo de vida ou que representam um novo conceito

estimulante, uma experiência desejável. A cultura visual, deste modo, passa a ser

entendida como exemplo abrangente das tendências mais avançadas da chamada

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 52

sociedade pós-industrial, que conecta e reelabora o passado ao presente atual,

sem resolver um no outro, mas visualizando a atração recíproca.

Acredita-se que, em todos os tempos, os humanos sempre apelaram a

formas de demonstração, de manifestação de sentido e de comunicação social e

outras formas de linguagem. Observa-se, assim, que esta abordagem sinestésica

surge na constituição de marcas comerciais, nas quais os sentidos e a percepção

se processam diretamente entre as sensações de estilo distinto, contudo

intensamente conectadas na aparência. Na intersecção de sensações, nas

associações de palavras ou expressões, é que acontecem os ajustes de sensações

distintas numa só impressão, que conduzem a um fenômeno de associações

constantes de impressões derivadas de comandos sensoriais diversos.

Para a formação e o aperfeiçoamento do design, presta-se a teoria

semiótica de Peirce aplicada ao design, como um dos referenciais teóricos

atualmente indispensáveis para o desenvolvimento tanto de produtos, conceitos

como peças de programação visual.

Neste sentido, a cultura atual também pode ser interpretada como uma rede

de conversações, e entendida por meio de discursos que nela são expressos e que

se iniciam nas conversações entre indivíduos, estendem-se às comunidades e, por

fim, a todo o âmbito cultural e conceitual. Décio Pignatari3 cita:

“Marca do tempo, tempo da marca (...). Signo icônico-simbólico da

identidade visual da empresa ou instituição, a marca é a clicagem-mestra

3 Décio Pignatari. Poeta, advogado, professor e publicitário. Nascido em Jundiaí, SP, formado pela

Faculdade de Direito da Universidade de SP. Doutorou-se em 1973 e tornou-se professor de Teoria Literária no curso de pós-graduação da PUC-SP. Vive e trabalha em São Paulo.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 53

inicial do seu hipertexto informal e comunicacional, no que respeita os

produtos e serviços que se inserem nas redes dos processamentos

mercadológicos, incluindo os culturais”. (PIGANTARI apud CAUDURO;

MARTINO, 2005 - Prefácio)

A relação comunicação/imagem tornou-se uma área potencial da semiótica,

e pode ser resultado da imaginação consciente ou inconsciente, que segundo

Clotilde Perez (2004) apresenta o conceito de imagem,

“Poderíamos afirmar ainda que a imagem diz respeito a um conjunto de

experiências, impressões, posições e sentimentos que as pessoas

apresentam em relação a sua empresa, produto, personalidades etc.

Imagem é um conjunto de signos distribuídos em um espaço concreto,

virtual ou no pensamento.” (PEREZ, 2004 pg.147)

Neste sentido, Santaella e Nörth (1998) apresentam o conceito de imagem

por intermédio do aspecto visual e mental.

“O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o

domínio das imagens como representações visuais: desenhos, pinturas,

gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e

infográficas pertencem a esse domínio. Imagens, nesse sentido, são

objetos materiais, signos que representam o nosso meio ambiental e

visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente.

Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações,

esquemas, modelos ou, em geral, como representações mentais."

(SANTAELLA; NÖRTH, 1998 p. 15)

Pode-se dizer que a configuração de uma imagem é constituída por

similaridade com o objeto representado, entretanto, em alguns momentos a sua

representatividade não está assegurada apenas pela semelhança.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 54

Para entender a multiplicidade de signos que existem em nossa sociedade,

pode-se utilizar os conceitos de Peirce, com a concepção das formas de

classificação. Esta categorização tem como objetivo entender como o signo aparece;

a que ele se refere e que tipo de efeitos pode causar em uma mente interpretadora.

Surgiram desta maneira as chamadas tricotomias: quali-signo, sin-singo e legissigno

(como o signo aparece); ícone, índice e símbolo (a que ele se refere); rema, dicente

e argumento (que efeito causa).

Na teoria dos signos de Peirce, quando o signo é sensivelmente semelhante

ao objeto que representa, ou seja, quando o signo afeta um ou mais sentidos de um

modo parecido como o objeto representado afeta um ou mais sentidos, este signo é

denominado índice.

Na categoria sígnica o índice é um signo que representa um objeto porque é a

conseqüência natural de si mesmo, assim como a realidade de um objeto é

um índice de todo o trabalho envolvido em sua produção.

O terceiro elemento dessa tríade classificatória da teoria de Peirce é o

símbolo, signo que representa um determinado objeto, graças a uma convenção,

geralmente determinada por algum processo cultural, teórico ou arbitrário.

Ao se comunicar, o homem emprega códigos ordenados na base de todos os

canais sensíveis existentes do corpo: códigos visuais, sonoros, táteis, olfativos e

gustativos; códigos que se manifestam em mais de uma destas bases sensíveis;

códigos que usam concomitantemente mais de uma base sensível para se

transformar em enunciados; e, códigos que podem ser explicados de uma base

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 55

sensível para outra. Estes códigos são formados por signos e organizados por

certas leis de combinação (que de algum modo são, também, signos de

procedimentos).

Conforme o discutido, o embasamento da semiótica peirceana encontra-se na

teoria geral dos signos, deste modo, a teoria triádica do signo, elaborada por Peirce,

fundamenta-se no signo e suas relações com aquilo que representa o objeto/

referente e com suas conseqüências, entendidos como interpretantes. O resultado

desta relação/comunicação é a inquietação que essencialmente brota em forma de

sentimento e emoção, posteriormente retorna como pensamento, e finalmente é

revelado em conceitos racionais. Para fins desta dissertação os aspectos

mercadológicos , como o design e a marca, são essenciais.

Quando entendida como figura de representação, a linguagem visual

sempre se corporifica; desta forma o índice aponta para algo do qual é uma parte

no seu aspecto existencial. Como já mencionado, no perfume Tarsila o objeto

imediato do índice é a maneira como é capaz de indicar aquele outro existente, no

caso a obra Manacá, seu objeto dinâmico, com o qual ele mantém uma conexão

existencial, tornando-se Índice (Signo Indexical). Para Tarsila, no entanto, o outro

existente é a flor do manacá em um cenário interiorano, e o índice se corporifica

com a obra “Manacá”, Figura 16.

Neste aspecto, qualquer ser existente é uma síntese de múltiplas

determinações, pois existir é ocupar um lugar no tempo e no espaço e reagir em

relação a outros seres existentes, por isto apontam para infinitas direções, e cada

direção é uma de suas referências possíveis. No próximo tópico, contudo, o

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 56

perfume Tarsila será analisado de maneira mais detalhada, e com a análise

semiótica aplicada ao seu design.

Tríade Semiótica Peirceana

SIGNO ou REPRESENTAMEN

Ícone – Primeiridade Notas olfativas = Elementos Sensoriais

INTERPRETANTE

Interpretante Funcional

Qualidade,Garantia, Ergonomia

Marca

Símbolo

Terceridade

Interpretante Emocional

Poder, Elegância, Charme, Status

ÍnSe

Referen

Figura 16 – Tríade semiótica peirceana em que se observa a distribuição do Signo, Objeto e

Interpretante nos vértices do triângulo.

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OBJETO

dice - Indica cundidade

cia obra Manacá Perfume

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 57

3.2 ANÁLISE DE DESIGN

A história do design traça as suas origens no apogeu da Revolução Industrial,

embora o homem sempre esteja produzindo, artesanalmente, produtos para seu uso

e comunicação. A produção em série de produtos para consumo das massas exigiu

rigor no projeto e raciocínio inédito, de modo que surgissem novos profissionais que,

apesar de não executarem os produtos, projetavam-nos. Neste sentido, Wilton

Azevedo, brasileiro, professor universitário, semioticista, poeta e autor de vários

livros, argumenta:

“ A estética do final do século passou a ser uma ferramenta que tenta

lapidar tudo que já foi discutido e realizado pelo homem. O design surge

no mundo quando o homem começa a fazer suas primeiras ferramentas, e

o designer continua a lidar com ferramentas. A diferença é que sua

ferramenta hoje é o prório ato de gerar informação”. (AZEVEDO, 2005 p.

11)

O termo “design” tem sua origem na língua inglesa e refere-se a um certo

esforço criativo, seja bidimensional ou tridimensional, segundo o qual se projetam

diversos objetos ou meios de comunicação para uso humano. Desta maneira, ele

pode ser traduzido como desenho, mas não se refere diretamente ao ato de

desenhar. O termo é de tradução, por isto nos países de língua portuguesa costuma-

se adotar a palavra original. O profissional que trabalha na área de design é

denominado designer.

O surgimento formal do design ocorre com as experiências da escola alemã

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 58

Bauhaus4. O design como projeto, divide normalmente a disciplina em algumas

áreas: Design Grafico , Produtos, Embalgem, Web e outras.

O entendimento e a reflexão da distinção do design como atividade ou como

área de conhecimento, tem acarretado muitos questionamentos, como o próprio

conceito de design, questões metodológicas em design, natureza do design, entre

outras. Além destes o design foi enriquecido com as áreas como a Psicologia e

Psicanálise.

Ponderando a relação triádica Arte-Design- Marca, defende-se a idéia de que

o Design está ligado ao mundo da estética, mas não necessariamente ao mundo da

Arte. O designer se comporta como um sujeito racional e sistemático, capaz de

explicitar, passo a passo, o método utilizado na resolução de um determinado

problema.

Conforme Gui Bonsiepe5 (1983), a relação de conflito entre os conceitos

intuitivo e sistemático levam à dualidade entre arte e função, assim, vale advertir

que a arte transporta uma aura do artista intimista, da liberdade de expressão e da

espontaneidade. A proposta da função, portanto, demanda precisão, controle e

planejamento. A polemica dentro da alma de atuação do designer, reforça a idéia

do Design ora como Arte, ora como Ciência, pois a relação entre Design e Ciência

é um tema que tem sido discutido com grande ênfase.

4 Bauhaus: foi uma das mais influentes escolas de design do mundo. Sua forte inspiração modernista

tentou unir, de forma definitiva, a arte com a indústria. Fundada a partir do manifesto de Walter Gropius, em 12 de abril de 1919, a Bauhaus tem suas origens na fusão entre a Academia de Artes e a Escola de Artes e Ofícios da Alemanha.

5 Gui Bonsiepe, é um dos maiores teóricos do Design da atualidade. Nascido na Alemanha, em 1934, Bonsiepe formou-se designer pela Universidade de Design de Ulm (HfG). Trabalhou como docente e pesquisador na área.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 59

O design pode ser estudado à luz da ciência, entretanto ele não pode ser

entendido ou estabelecido como tal, pois apresenta um processo dinâmico,

orientado para um objetivo definido. A Ciência, por seu lado tem como objetivo a

concepção do conhecimento. A relação entre Design e Arte foi também debatida

por Albert Alessi, designer italiano de importância internacional, que abordou esta

relação considerando não a apenas a Ciência, mas a tecnologia e o mercado.

Conforme Alessi, existem duas abordagens fundamentais para o design que são

distintas e, até certa medida, conflitantes.

Como primeira abordagem o design é associado ao processo industrial de

produção em massa, no qual figura a tecnologia e o mercado. Este olhar restritivo

do Design o reduz ao plano de instrumento tecnológico, que contribui apenas com a

indústria de modo a produzir mais e impulsionar as ações de marketing e vendas.

Na segunda abordagem o design aproximas-se da Arte e da Poesia. Alessi (1992)

cita que, em nossa sociedade, os objetos tornaram-se um canal de comunicação

importante, pelo qual os indivíduos expressam valores, status e personalidade.

Cada dia, os indivíduos adquirem mais produtos por deleite intelectual ou espiritual.

Utilitários e objetos que congregam Arte e Design não são utilizados,

fundamentalmente, na sua função primária, mas para outros usos e por outras

razões.

Conforme Alessi (1992), a sociedade, tem necessidade crescente de

consumir Arte e Poesia e esta necessidade não pode ser satisfeita apenas pelas

formas estéticas clássicas que são oferecidas pela Arte em museus e pela Poesia

em livros.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 60

O design, para Alessi (1992), tende a tornar-se uma disciplina criativa global

que propiciará o nascimento de objetos totalmente novos, de coisas destinadas a

serem valorizadas de forma diferente do valor de uso ou de troca. Esta disciplina

seria responsável pela transformação de um imenso potencial criativo em objetos

reais e viria ao encontro do crescimento dramático da necessidade de Arte e Poesia

na sociedade. Ampliando um pouco mais o foco de discussão em torno da tríade

Arte-Design-Ciência, as implicações da criatividade sobre a atividade de projeto, as

fronteiras entre os vários campos da Arte e entre os vários campos da Ciência, na

maioria das vezes, são longas e em muitos casos os caminhos se justapõem.

Sob este foco, chega-se à conclusão que o design é tanto uma área do

conhecimento humano como uma arte ou ciência aplicada. O design contém uma

parte subjetiva e outra objetiva, sendo esta ligada à consciência à ciência e a parte

subjetiva da imaginação e criatividade. Estes dois aspectos aliados formam o

conceito de design. Conforme reflete Wilton Azevedo (2005):

“A palavra design vem do inglês e quer dizer projetar, compor ou colocar

em prática um plano intencional. É muito fácil imaginar que Van Gogh

compôs visualmente seus quadros, e não podemos descartar que, para um

dos maiores pintores do impressionismo, tenha havido intenção ou um

plano a priori de uma pintura em forma de esboço ou rough. Então por que

Van Gogh não era um designer ? Se, ao pintar seus girassóis, ele estava

tentando comprovar que a luz emitida pelo quadro se faz através de pontos

contínuos e suas cores complementares, estava pensando como pintor.

Mas se ele vivesse para ver a reprodução de massa, e ao pintar os

girassóis quisesse que o quadro estivesse nas bancas de jornais, ele seria

um designer”. (AZEVEDO, 2005 p. 9)

Como objeto de pesquisa, não obstante, tem-se a obra “Manacá”/1927, da

pintora Tarsila do Amaral, na qual o design é valorizado com a criação da linha

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 61

de produtos Tarsila - maio 2002, aplicada a marcas de produtos da empresa “O

Boticário”, conhecida no setor de cosméticos e perfumaria do mercado brasileiro e

criada pelo designer Leonardo Alves Cordeiro, Figura 17. O designer curitibano

Leonardo Alves Cordeiro, mostrou extrema sensibilidade e talento para traduzir, na

embalagem, a essência da alma da obra Manacá de Tarsila do Amaral, na criação

da linha Tarsila.

Figura 17 – Perfume Tarsila de “O Boticário” criado pelo designer Leonardo Alves Cordeiro.

O papel do designer foi ampliado nos últimos tempos, e o design tornou-se,

entre outros, um meio cultural poderosíssimo no contexto social e ambiental. A

função social do designer é se relacionar com as pessoas, criando informações

visuais, elaborando o olhar no sentido de aumentar o repertório em todos os

Sandra Penkal

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 62

sentidos. É fundamental que um designer transmita, em seus trabalhos, seus

valores e sua identidade.

O Brasil é um país com composições étnicas/sociais/culturais muito diversas,

assim o design brasileiro é concebido de maneira a refletir nossa característica

principal que é a diversidade. A herança cultural brasileira é muito distinta, assim a

diversidade tem se fundamento em algumas características singulares que

diferenciam esse design de outros designes do mundo. Fato este observado no

trabalho do designer Leonardo no projeto Tarsila do Boticário.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 63

3.3 DESIGN DA EMBALAGEM

Desde o surgimento das primeiras embalagens, há mais 10.000 anos, as

civilizações da época tinham a necessidade de transportar, condicionar e

armazenar alimentos. Desta maneira nasceram as primeiras embalagens de um

produto desempenhando suas três funções: proteger, transportar e vender o

produto. Para agregar estas três funções, todavia, são imprescindíveis os dados

dos materiais utilizados, sua resistência, o tipo de produtos que podem transportar

sem provocar alterações químicas em sua composição e os processos de

impressão e rotulação para cada caso. Além disto, especialmente o domínio do

mercado, da forma como o produto é selecionado para compra e utilizado por cada

consumidor são essenciais para torná-lo acessível, atraente e competitivo.

Com a concorrência crescente, as empresas estão constatando que

necessitam ter produtos diferenciados, portanto, investem em desenvolvimento do

design gráfico das embalagens, para agregar e potencializar seus diferenciais e

conceitos.

O design de embalagens, é uma das muitas vertentes do design, assim

como o design gráfico, ou o web design. Trata-se do projeto e identidade da forma

final de toda e qualquer maneira de embalar um produto por meio de uma

linguagem de simbologias estéticas e visuais, oferecendo aos consumidores uma

relação emocional, para que sejam seduzidos pela embalagem. Estas embalagens

expressam valores que vão elevar, no produto: status, ousadia , moda, confiança,

prestígio e tradição.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 64

No desenvolvimento de uma embalagem, deve-se eleger os dados do projeto

técnico, como: processos produtivos, matérias-primas, economias na fabricação,

transporte, etc, associados sempre com a qualidade do produto.

As embalagens vêm sendo consideradas como o maior veículo de venda e

de construção da marca e da identidade de um produto. Alguns especialistas no

assunto consideram que uma embalagem corresponde a um comercial de cinco

minutos de produto na gôndola do supermercado.

Existem dois tipos de embalagens: Embalagens de Consumo, que têm papel

persuasivo, e as Embalagens de Transporte, que transportam, protegem e

conservam os produtos. Além disso, pode-se classificá-las em:

• Embalagem Primária: Frasco + Tampa;

• Embalagem Secundária: Cartucho + Berço Protetor;

• Embalagem Terciária: Caixa Transporte.

A embalagem ideal pode ser representada pelo trinômio: qualidade real,

imagem e preço. No presente trabalho o design de embalagem envolve estudos

que representam além de estética e função, fatores sociais, culturais, de fabricação,

de custos e de seleção de materiais que vão determinar mensagens qualitativas e

quantitativas.

Sandra Penkal

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3.3.1 Análise do Frasco do Perfume Tarsila

O design do Perfume Tarsila é extremamente sofisticado concebido de forma

elegante, transparente e delicada, características estas já destacadas na

personalidade e na obra Tarsila do Amaral. A embalagem traduz a essência da

alma tarsiliana na obra Manacá.

Para uma análise formal da composição do frasco do Perfume Tarsila,

propõe-se o traçado de dois eixos: horizontal e vertical sobre o frasco, como na

pintura, o que facilita a análise nos quadrantes. O design se apresenta assimétrica

e tridimensionalmente equilibrado em sua essência.

Os aspectos formais do frasco e as relações dos eixos estruturais, Figura 18,

podem ser transportados para o design do frasco com simetria e de maneira bem

comportada. Neste contexto, a composição determinou o objeto, porém não sem

regras absolutas. Apresenta linhas formais, com corpo em forma geométrica icônica

/ piramidal.

De acordo com Dondis6 (2003) a referência horizontal/vertical, constitui a

referência primária do homem no que respeita o seu bem estar, portanto, o

equilíbrio é tão fundamental na natureza assim como no homem:

“Na expressão ou interpretação visual, existe um processo de

estabilização que se impõe a todas as coisas vistas e planejadas, um

“eixo” vertical, com um referente horizontal secundário, os quais

6 Donis A. Dondis é professora de comunicação na Boston University School of Communication e

diretora do Summer Term Public Communication Institute, dessa mesma instituição.

Sandra Penkal

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determinam, em conjunto, os fatores estruturais que medem o equilíbrio”.

(DONDIS, 2003 p. 33)

1 2 Figura 18 - Relação dos eixos estruturais: 1) na arte de Tarsila do Amaral, Manacá e no 2) no

perfume Tarsila de “O Boticário”.

Ressalta-se o aspecto bidimensional, delicadamente impresso por meio da

gravação “Hot Stamp” (estampa quente), na cor branca, dos cactos e marca “O

Boticário” no frasco, Figura 19. Esta gravação é vista por transparência, com

aspectos lineares. A gravação do vidro também remete a outro aspecto estético e

faz uma analogia ao movimento modernista que representa uma subversão

Sandra Penkal

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estética, pela conversão da gravação no frasco de maneira invertida que suscita a

leitura no momento em que se posiciona o frasco n aposição frontal.

Figura 19 – Frasco do perfume Tarsila de “O Boticário”. (http://www.boticario.com.br)

Os aspectos ergonômicos também foram considerados e muito valorizados

no projeto com um sistema eficiente de “pega” e “uso”, agregando valor à sua

funcionalidade.

Para Dondis (2003), cria-se um objeto/design a partir de inúmeras cores,

formas, equilíbrio, tensão, pontos, linhas, texturas, tons e proporções relativas, e ao

relacionar inteiramente esses elementos alcança-se um significado. A Figura 20

mostra a equivalência entre o frasco de perfume Tarsila e a obra da artista Tarsila

do Amaral, Manacá.

Sandra Penkal

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 68

Pelo caráter tridimensional a tonalidade é um dos instrumentos mais

importantes para expressar a dimensão no produto. Segundo Dondis, um bom

designer selecionará intuitivamente aquela relação colorística que mais se identifica

com suas necessidades expressivas. As cores possuem um efeito subliminar muito

forte e interferência no resultado final. Para o autor: “A cor está de fato impregnada

de informação, e é uma das mais penetrantes experiências visuais que temos todos

em comum”. (DONDIS, 2003 p. 54)

1 2

Figura 20 – Equilíbrio na equivalência entre: 1) perfume Tarsila de “O Boticário”, em cada parte do frasco e 2) a obra de Tarsila do Amaral, “Mancá”.

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A análise simbólica do frasco do perfume Tarsila, passa por um olhar

semiótico, pois a linguagem visual, como forma de representação, sempre se

corporifica. O índice, desta forma, assinala para algo do que é uma parte no

aspecto existencial. O objeto imediato do índice é a maneira como é capaz de

indicar aquele outro existente, seu objeto dinâmico, com o qual ele mantém uma

conexão existencial. Neste sentido, observa-se um índice forte na decodificação

dos cactos, aspecto bidimensional identificado com a gravação no frasco, se

tornado índice, um signo indexical, Figura 21. Correspondem, no universo da

linguagem visual, as manifestações mais próximas da indexicalidade, ou seja,

registro de objetos ou situações existentes.

Frasco Indexicalidade - Conexão dinâmica

Índice

Obra Manacá Frasco de Perfume Tarsila Signo do Fenômeno Signo de Análise Figura 21 - Análise simbólica do frasco do perfume Tarsila de “O Boticário” – indexicalidade na

conexão dinâmica da obra com o frasco de perfume Tarasila.

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O protótipo desta modalidade está no design do frasco do perfume Tarsila,

no qual a conexão entre imagem e objeto é existencial, e também uma relação

existencial de secundidade, na qual o índice é genuíno.

3.3.2 Análise da tampa do perfume Tarsila

Na análise formal da tampa do produto, evidencia-se o aspecto

trimendisional da flor do Manacá, genuinamente esculpida em forma de tampa

orgânica. Como matéria prima foi utilizada resina transparente e fosca e resultou

em uma forma funcional e delicada, Figura 22.

1

2

3

Figura 22 – Análise da tampa e anel do perfume Tarsila de “O Boticário”: 1) tampa com flores; 2) tampa com flores e anel; e, 3) anel.

O anel metalizado dourado com a marca/assinatura:Tarsila cria uma ruptura

muito sutil e equilibrada com o corpo do vidro, tornando-se um elemento de junção

com a tampa. Neste anel se encaixa uma válvula PUMP (válvula spray) para a

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 71

saída do produto. Apresenta um aspecto nobre, pela cor ouro e assinatura Tarsila.

Neste sentido Rudolf Arnheim, psicólogo e historiador de arte afirma: “Forma é a

configuração visual do conteúdo (...), serve antes de tudo para nos informar sobre

a natureza das coisas através de sua aparência externa”. (ARNHEIM, 2000 p. 89)

O olhar semiótico faz também parte da análise simbólica da tampa e anel,

Figura 23. Observa-se, um índice forte na decodificação da flor do Manacá, aspecto

tridimensional identificado na tampa, se tornado um índice, um signo indexical.

Tampa - Conexão dinâmica

Índice - Secundidade Obra Flor Manacá Tampa Signo do Fenômeno Signo de Análise Figura 23 – Análise da tampa do frasco de perfume Tarsila de “O Boticário” quanto a relação

secundidade e índice.

Na tampa se percebe, também, que a conexão entre a imagem e o objeto é

existencial, por meio de uma relação existencial de secundidade e índice é

genuíno. Vale sinalizar, contudo, que outro fator simbólico de grande relevância é a

assinatura gestual “Tarsila” no anel metálico do frasco de perfume, Figura 24.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 72

Gestual de Secundidade Assinatura Tarsila

Marca Tarsila - Símbolo Figura 24 – Assinatura gestual “Tarsila” no anel metálico do frasco de perfume de “O Boticário”.

Esta configuração ofereceu uma qualidade de símbolo pela assinatura

Tarsila. Observa-se que cada detalhe foi harmoniosamente projetado e

contextualizado.

3.3.3 Análise do cartucho do Perfume Tarsila

Conforme já mencionado, as embalagens secundárias, cartucho e protetor

interno, apresentam uma função de sedução e persuasão, porém, devem,

inicialmente, ter a função de proteger o produto e oferecer informações

quantitativas tais como: composição, validade , forma de uso, etc. Considerando o

cartucho do perfume Tarsila, todos os critérios de funcionalidade e de comunicação

foram utilizados, inclusive, em mais de um idioma (português, espanhol e inglês).

Ao considerar a análise formal do cartucho, observa-se a utilização de

papelão no caixa/cartucho e no protetor (micro-ondulado). O aspecto bidimensional

é representado pela gravação “Hot Stamp” dourada das Marcas “Tarsila” e “O

Boticário”, que oferece sofisticação à embalagem. A identidade do cartucho é

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 73

percebida por meio de uma proposta moderna e elegante, com a aplicação

estilizada do Manacá em tons delicados de aquarela, Figura 25.

Figura 25 – Parte frontal do cartucho do perfume Tarsila. Assinatura gestual do nome do perfume no meio da altura e a marca “O Boticário” estampada em dourado na parte inferior.

A reflexão semiótica do cartucho do perfume Tarsila é a existência de

conexão entre a imagem e o objeto, com as manifestações da indexicalidade no

registro representado no cartucho. Este, porém, vem colocado de forma

degenerada, e é considerado, assim, uma secundidade degenerada, Figura 26.

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Figura 26 – Duas faces do cartucho do perfume Tarsila de “O Boticário”. Em uma face o nome e a marca e na outra a representação da obra de Tarsila do Amaral, “Manacá”.

A linguagem visual, como forma de representação, sempre se corporifica. E

de acordo com Lucia Santaella (2001) o índice aponta para algo do qual ele é uma

parte no seu aspecto existencial: “(...) corresponde no universo da linguagem visual

às manifestações mais próximas da indexicalidade, ou seja, registro de objetos ou

situações existentes.”

3.3.4 Perfume Tarsila: análise olfativa

Acredita-se que por meio do perfume acontece uma das maiores experiências

sensoriais, tendo o olfato como aliado. Muitos sentimentos e sensações, de difícil

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 75

tradução para a linguagem verbal, estão envolvidos ao escolher uma fragrância. O

estilo, a personalidade e, até mesmo, um pouco da história de cada pessoa, pode

ser revelada pelo perfume, entendido quase como uma segunda pele.

O olfato é um elemento fundamental na interpretação do mundo que nos

cerca e tudo leva a crer que o Homem aprendeu, desde as suas origens, a avaliar

os odores. Apesar das experiências com os aromas terem começado muito mais

tarde, o perfume existe desde a cognição do sentido do olfato. Pode-se se dizer,

então, que a sua história se confunde com a própria história da Humanidade. O

universo da perfumaria iniciou-se na época em que o homem primitivo aprendeu a

usar o fogo e constatou que algumas plantas exalavam fragrâncias agradáveis

quando queimadas. Ao queimar madeiras e resinas, o homem primitivo percebeu

que era possível melhorar o paladar dos alimentos.

A palavra portuguesa “perfume” como a correspondente francesa “parfum”

(1528), a italiana “profumo” e a inglesa “perfume” derivam do latim “fumus” termo

que significa uma atmosfera fumegante, numa referência às nuvens de fumaça

perfumada que subiam aos céus durante os ritos em homenagem aos deuses. É

quase certo que o perfume surgiu em estreita ligação com a religião, e era utilizado

como purificador das almas e como oferenda aos deuses. Segundo Renata

Aschcar7: “...mirra, musgo de carvalho, resina de pinho e outros ingredientes com

propriedades antimicrobianas eram utilizadas no cuidadoso ritual da mumificação, o

preparo egípcio dos corpos para enviá-los à eternidade” (ASCHCAR, 2001 p. 21)

7 Renata Aschcar nasceu em São Paulo em 1965, e é formada em Comunicação Social e

Propaganda. É consultora e escritora.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 76

Os perfumes apresentam uma linguagem e alfabeto próprios, capazes de

promover as mais diversas reações físicas e emocionais, conectando e explorando

os espaços mais profundos da alma. Os cinco sentidos: olfato, paladar, visão, tato e

audição são, assim, despertados, direta ou indiretamente, pelo universo da

perfumaria. Patrick Süskind8 cita na obra O Perfume:

“As pessoas podem fechar os olhos diante da grandeza, do assustador,

da beleza; podem tapar os ouvidos diante de uma melodia ou de palavras

sedutoras. Mas não podem escapar ao aroma. Ele é o irmão da

respiração, penetra nas pessoas – elas não podem escapar-lhe, caso

queiram viver. Bem dentro delas vai o aroma, diretamente para o coração

– que faz a distinção entra atração e repulsa, horror e prazer, entre amor e

ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas.”

(SÜSKIND, 1986)

O poder e a magia do perfume podem ser explicados pela forma como as

fragrâncias atuam no cérebro. As moléculas de odor são capturadas por células

nervosas localizadas na cavidade nasal. Estas, por sua vez, estão conectadas com

o chamado sistema límbico, região do cérebro responsável pelos impulsos

primitivos que influenciam diretamente nossa memória e comportamento emocional.

Os odores aguçam os outros sentidos e funcionam como trampolins para uma série

de lembranças chamadas memória olfativa .

O cheiro, apesar de sempre estar despertando nossas lembranças, para

algumas pessoas acontece de forma mais intensa, pois estas possuem maior

sensibilidade e memória olfativa mais apurada, embora todos vivam esse

fenômeno de alguma maneira. 8 Patrick Süskind nasceu na Alemanha, em 1949. Estudou história medieval e moderna e hoje, como

escritor, vive em Munique.

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O canal para identificar uma infinidade de substâncias é o olfato, algumas de

cheiro muito forte e característico e outras de odor muito sutil. Consegue-se

distinguir entre 3.000 a 10.000 odores diferentes. O olfato não é apenas utilizado

para dar informações acerca dos odores que nos rodeiam, é muito conhecida a

relação existente entre o olfato e os outros sentidos. A verdade é que não sentimos

os odores com o nariz, mas com o cérebro. Valentin Louis Georges Eugène Marcel

Proust (1871-1922), escritor francês, citou em sua obra Em Busca do Tempo

Perdido (2002) a respeito dos cheiros:

“Cada momento de nossa vida, assim que passa, é registrado em um

cheiro, um sabor, uma sensação que encontra novamente, pode disparar

a memória (...). Os cheiros mudam com a estação, mas são sempre

copiosos e acolhedores, neutralizando a inclemente aspereza da geada

matinal com a fragrância do pão quente (...). Cheiros indolentes e pontuais

como o soar das horas de um campanário de aldeia (...) Cheiros fugazes

e constantes, distraídos e prudentes (...) Cheiros de roupa branca, cheiros

matutinos, cheiros de devoção (...)” (PROUST, 2002)

O cérebro armazena inúmeras lembranças, algumas ficam escondidas e, de

uma hora para outra, vêm à tona. Os meios para acessá-las são os mais variados e

misteriosos e incluem o olfato. Basta sentir aquele cheiro familiar para a cena se

recompor com uma incrível riqueza de detalhes. Pode ser o aroma de um alimento

qualquer, de uma flor que marcou a infância ou do perfume da pessoa querida. São

os cheiros de nossas vidas.

O primeiro sentido estimulado pelo perfume é o olfato. O universo das

fragrâncias, contudo, é tão rico e sutil, e fortemente ligado às nossas lembranças e

à memória olfativa, que pode despertar um encadeamento de conexões particulares.

Uma fragrância pode ser o gatilho para acionar lembranças de vários momentos.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 78

Apenas um cheiro é capaz de resgatar a memória, reconstruindo uma história com

toda distinção e delicadeza.

De qualquer maneira, mensurar os cheiros que somos capazes de armazenar

em nosso cérebro, seria uma tarefa muito difícil, pois isto depende do treino e da

dedicação de cada indivíduo, além de suas características pessoais. Uma pessoa

não especializada tem a capacidade de reconhecer algumas dezenas de cheiros.

Um perfumista, por sua vez, pode chegar a armazenar mais de dois mil odores.

Entre os nossos sentidos de visão, audição, tato, olfato e paladar,.existe uma

hierarquia baseada em mecanismos físicos, químicos e fisiológicos, ou seja, uma

gradação decrescente de complexidade. As matrizes da linguagem e pensamento

estão alicerçadas nos processos perceptivos. A percepção no sistema olfativo

humano, portanto, pode ser aprendida e na prática pode o desenvolvimento da

mesma ser aperfeiçoado para que se possa avaliar uma fragrância.

A criação do conceito e o desenvolvimento do perfume Tarsila foram

inspirados na vida e obra de Tarsila do Amaral. O perfume traduz muita

personalidade e feminilidade, por meio de uma fragrância intensa e feminina,

exprimindo força e beleza. O projeto foi realizado pela Casa de Fragrâncias

Firmenich, Suíça, com 110 anos de existência, e há mais de 50 anos no mercado

brasileiro.

Os perfumistas Harry Fremont e Jean Claude Delville da Casa de

Fragrâncias Firmenich, Figura 27, criaram para o perfume Tarsila uma fragrância

que evidencia alegria, elegância e determinação. O perfume apresenta

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características olfativas diferenciadas, é recomendado para mulheres ousadas e

marcantes, que assim como Tarsila imprimem à sua marca, por onde passam, e

estão muito à frente do seu tempo.

Figura 27 – Perfumistas Harry Fremont e Jean-Claude Delville que criaram a fragrância do perfume Tarsila de “O Boticário”.

Assim como a composição e harmonia são perseguidas no universo da

perfumaria, estas também fazem parte do universo dos sons. Em perfumaria

existem as chamadas notas olfativas: florais, cítricas, amadeiradas, frutais, assim

como na música as notas musicais: do, ré mi, fá, sol, lá e si. A combinação de 3 ou

4 notas resulta em um acorde, tanto no universo dos perfumes quanto no da

música, Figura 28.

CASA DE FRAGRÂNCIAS FIRMENICH Suiça

Perfumista Jean-Claude Delville

Perfumista Harry Fremont

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 80

Perfume Tarsila: Composição Olfativa

Nota de Saída

Pera Mimosa

Flor de Cactus Flor de mandarina

Peônia Orquídea

Nectarina Hibisco

Dove Tree Flower

Nota de Corpo

Nota de Fundo

Sândalo Musk

Almiscar Incenso

Figura 28 – Composição das três notas olfativas do perfume Tarsila de “O Boticário” .

A harmonia, em música, pode ser classificada como uma evolução sonora

agradável. Na perfumaria, a harmonia deve estar entre as notas de saída, de corpo

e as de fundo. Essa passagem entre as notas deve ser harmônica, assim como na

música, evoluindo agradavelmente ao longo do tempo. A estrutura musical parte de

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 81

sete notas simples e o mesmo acontece na perfumaria, só que com três notas:

saída, corpo e fundo, Figura 29.

Nota de saída Primeiros 15 minutos. É aquele cheirinho bom que se

sente ao abrir o frasco e testar o produto. As

chamadas notas de saída são leves, e a porção é

mais volátil da composição, em geral pertencendo

aos grupos cítrico, verde, floral ou frutal.

saída

Nota de corpo

Três a quatro horas após a aplicação.

É o coração

da fragrância, responsável pelo seu sucesso. Usa

matérias-primas de volatilidade média, como florais e

especiarias.

corpo

Nota de fundo fundo Últimas quatro a cinco horas de evaporação. É a

parte nobre, que dura por um tempo prolongado.

Para compô-la, empregam-se ingredientes de baixa

volatilidade, como madeiras e âmbar.

Figura 29 – Notas de saída, corpo e fundo de um perfume.

A combinação das notas olfativas isoladas resulta em composições ricas e

complexas, transformando-se em perfumes agradáveis e inesquecíveis.

Ao analisar todos os sentidos, a audição é a que se relaciona mais

indiretamente com o mágico mundo da perfumaria, mas ainda assim é possível

estabelecer conexões interessantes. O universo da perfumaria é rico e subjetivo, e

parte do vocabulário foi “emprestado” do repertório musical. Como canta Angenor de

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 82

Oliveira (1908-1980), popularmente conhecido como Cartola, cantor, compositor e

instrumentista brasileiro na canção As rosas não falam: “Queixo-me às rosas – mas

que bobagem – as rosas não falam! Simplesmente as rosas exalam o perfume que

roubam de ti.”

Neste mesmo contexto pode-se fazer uma analogia com o universo semiótico

que apresenta as relações de: Primeiridade; Secundidade e Terceiridade, Figura 30.

A estrutura e composição de um perfume, acontecem de forma muito

harmônica e intensa, provocando significados e invadindo à análise semiótica, uma

vez que abrange um signo que transborda as fronteiras do racional, pois e atinge as

camadas mais profundas e subjetivas da comunicação.

A apreciação semiótica pode investigar a comunicação por meio de apelos

emocionais e racionais, e o seu efeito, como interpretações que, em geral, o

mercado pode captar. É justamente nesta sistematização de estratégias, na vivência

de um novo consumidor e valores éticos, que a análise semiótica pode contribuir,

pois tende a ajudar no reconhecimento do mercado e em suas relações com

marcas, produtos, serviços e o público-alvo.

Por intermédio da semiótica pode-se enxergar o produto, uma imagem de

marca ou serviço como um signo, portanto, como uma representação de algo que o

mercado e o consumidor, em especial, almejam. Tais temas, entretanto, serão

discutidos, com maior profundidade, no próximo capitulo: Marca e Marketing.

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 83

Primeiridade

Relação monádica, sua existência “tudo é”.

Qualquer existente é uma síntese de

determinações múltiplas, pois existir é ocupar um

lugar no tempo e no espaço, e reagir em relação a

outros existentes, qualidade pura (Sin-signo)

saída

Paralelo: Nota de saída - a primeira impressão

do perfume pura qualidade.

Secundidade

Relação diádica, na sua referência àquilo que

indica . Índice (signo ”indexical”). corpo

Paralelo: Nota de corpo - sentida logo depois da

nota de cabeça, e que revela a personalidade do

perfume.

Terceiridade Relação triádica, algo tem a propriedade da lei -

recebe o nome de legi-signo. Seu Caráter de Lei

"tudo deve ser”.

fundo

Paralelo: Nota de fundo - aquelas que ficam na

pele por muitas horas.

Figura 30 – Relações de Primeiridade (monádica), Secundidade (diádica) e Terceiridade (triádica) de um perfume e suas notas respectivas.

A estrutura e composição de um perfume, acontecem de forma muito

harmônica e intensa, provocando significados e invadindo a análise semiótica, uma

vez que abrange um signo que transborda as fronteiras do racional, pois atinge as

camadas mais profundas e subjetivas da comunicação.

A apreciação semiótica pode investigar a comunicação por meio de apelos

emocionais e racionais, e o seu efeito, como interpretações as quais o mercado em

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A INTER-RELAÇÃO: SEMIÓTICA, DESIGN E EMBALAGEM 84

geral p

enxergar o produto, uma imagem de

marca ou serviço como um signo, portanto, como uma representação de algo que o

merca

ode captar. È, justamente, nesta sistematização de estratégias, na vivência

de um novo consumidor e valores éticos, que a análise semiótica pode contribuir,

pois tende a ajudar no reconhecimento do mercado e em suas relações com

marcas, produtos, serviços e o público-alvo.

Por intermédio da semiótica pode-se

do e o consumidor, em especial, almejam. Tais temas, entretanto, serão

discutidos com maior profundidade no próximo capitulo: Marca e Marketing.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 85

4 MARCA E MARKETING

4.1 MARCA (BRANDING) COMO ELEMENTO DE MARKETING

Numa época em que cada vez mais se fala sobre globalização e competição,

o marketing tornou-se uma das principais ferramentas aplicadas no mercado e uma

das estratégias mais efetivas na captação de novos consumidores. Este capítulo

apresenta o porque por meio de determinados elementos do marketing como a

comunicação, o design e a marca, e porque os consumidores são mais motivados e

induzidos à compra. Segundo Philip Kotler9 (2000), o marketing pode ser definido

como:

“ É um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas

obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e

livre negociação de produtos e serviços de valor com outros.” (KOTLER,

2000 p. 30)

Para satisfazer as necessidades do mercado, os profissionais de marketing

gerenciam a demanda de produtos, influenciando o nível, a velocidade e a sua

composição. São tomadas e analisadas, portanto, decisões importantes que podem

abranger desde as características e criação de um produto até a etiqueta de sua

embalagem.

Frente ao mercado-alvo escolhido, as empresas procuram se fixar na mente

9 Philip Kotler foi professor de marketing internacional na Kellog Graduate School of Management,

da Northwestern University. Autor de Administração de Marketing e de outros livros de sucesso, publicou suas pesquisas em periódicos importantes. Foi o presidente do College on Marketing do Institute of Management Sciences, diretor da American Marketing e consultor de empresas.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 86

dos compradores como fornecedora de algum benefício especial.

Compete aos profissionais de marketing compreender as necessidades; os

desejos e as demandas destes mercados-alvo, podendo atingir vários grupos de

clientes que ocupam espaços físicos e virtuais. A satisfação dessas necessidades é

um sentimento pessoal de prazer ou desapontamento, resultante da comparação da

percepção do desempenho do produto (ou resultados), em relação às expectativas

geradas antes da compra .

As empresas alcançam seus mercados por meio de vários canais de

comunicação, distribuição e venda. Enfrentam concorrências diretas e indiretas,

com adversários atuais e potenciais que oferecem os mesmos produtos/serviços ou

produtos que possam substituí-los. Neste sentido, a administração de marketing

torna-se o esforço consciente para alcançar resultados de troca desejados com os

mercados-alvo, e é considerado o processo de planejar e executar a concepção, a

determinação do preço, a promoção e a distribuição das idéias, bens e serviços

para criar negociações que satisfaçam metas individuais e organizacionais. O

acolhimento desta satisfação e das necessidades é adquirido por um esforço

integrado de todas as áreas e setores da organização com o ponto de vista no

sucesso a curto e longo prazo determinado por algumas estratégias.

O conceito de “estratégia” de acordo com Djalma Oliveira é: “...estratégia é

definida como um caminho ou maneira , ou ação estabelecida ou adequada para

alcançar os resultados da empresa, representado por seus objetivos, desafios e

metas” (OLIVEIRA, 1997 p.27).

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 87

O caminho, a estratégia escolhida para posicionar a organização de forma

competitiva e garantir sua sobrevivência em longo prazo, acontece pela definição de

atividades e competências inter-relacionadas para entregar valor de maneira

diferenciada às partes interessadas. É o conjunto de decisões que orientam as

ações a serem tomadas.

A estratégia pode ser conduzida para o desenvolvimento de novas marcas e

produtos; novos mercados; crescimento das receitas; redução de custos; aquisições

e fusões e novas alianças e parceria, etc.

Indiscutivelmente, entretanto, nos dias de hoje a marca apresenta-se como

um elemento mercadológico estratégico. É considerada como um sinal

diferenciador, e é um signo eleito à esfera de um símbolo pelo nível de imaginário

atingido e permitindo. Desta forma os produtos podem ser reconhecidos, admirados

e ocupar um lugar de evidência na lembrança do consumidor. Como apostila

Clotilde Perez (2004) no livro de sua autoria Signos da Marca:

“Uma marca existe em um espaço psicológico, na mente das pessoas, dos

consumidores. Consiste em uma entidade perceptual, com um conteúdo

psíquico previamente definido, mas que é absolutamente dinâmico,

orgânico e flexível.“ (PEREZ, 2004 p. 47)

Neste contexto, como estratégia da marca, hoje o branding é o estreitamento

do relacionamento, na maioria das vezes estabelecido a partir da conexão

emocional entre a marca e o cliente. É uma questão de vivência e afetividade para

que se possa desenvolver a fidelidade da marca pelo cliente.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 88

Como cita Tom Peters sobre branding:

“Este é o coração do branding. Porque branding é, por fim, nada mais (e

nada menos) que coração. É paixão... aquilo com que você se preocupa.

Aquilo que está dentro... O que está dentro de você, o que está dentro da

sua unidade, da sua empresa. É mais que isto (claro). Mas se você

“conseguir” esta parte do branding... terá conseguido o ... coração do

branding” (PETERS, 2004 p.163)

Branding é uma palavra nova para um conceito novo, é uma tendência em

comunicação nascida há muito pouco tempo. O branding vem da evolução do

marketing e dos programas corporativos de identidade.

O marketing determina ações e o gerenciamento de marcas, configurando-se

uma atividade racional baseada em pesquisas que são respondidas e medidas de

forma racional. O branding, por sua vez, é muito mais que o planejamento

estratégico da marca. A compra ou escolha de uma marca está ligada à emoção,

que é intangível, e mesmo os produtos commodities podem ser escolhidos por meio

da emoção.

Do ponto de vista dos negócios, branding é essencialmente o objetivo central

do marketing. Num momento em que a globalização começa a trazer e difundir as

marcas em âmbito global pelos meios de comunicação digital e televisivo, a solução

para a escolha de uma determinada marca está, entre outras coisas, na relação de

afetividade que esta marca tem com seu cliente.

O branding, portanto, influencia a estrutura e a filosofia da própria empresa,

em todos os setores: a criação de produtos, produção, treinamento de funcionários,

ambiente, comunicação dirigida, etc. Deste modo, a marca ganha personalidade, e

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 89

tem como objetivo seduzir e cativar o consumidor. Neste sentido Larry Light10 (1998)

argumenta:

“A guerra de marketing será uma guerra de marcas, uma competição de

domínio de marca. Os negócios e os investidores reconhecerão as marcas

como os mais valiosos ativos da empresa. Este é um conceito crítico. É

uma visão de como desenvolver, fortalecer, defender e gerenciar o

negócio. Será mais importante dominar mercados do que possuir fábricas

e a única forma de dominar mercados é possuir marcas dominantes”.

(LIGHT, 1998)

Na sociedade comercial, as marcas, também, tornaram-se poderosos e

complexos signos de posicionamento social e de ser no mundo. Sua força de fusão

provoca e possibilita sua adequação às reproduções dos desejos de cada

consumidor (processo de ressignificação). Assim, um símbolo forte (marca) pode

reunir associação, ligação, coesão e estrutura a uma identidade, ajudando a torná-

lo mais fácil de ser reconhecido e lembrado. Sua apresentação pode ser um

elemento decisivo na ampliação da marca, e sua omissão pode gerar uma

significativa perda. Ampliar a importância dos símbolos como elemento que compõe

a identidade da marca aumenta a sua força.

Neste cenário, a análise semiótica em marketing pode constituir um

instrumento valioso para identificar e analisar as interconexões deste fenômeno.

Pode ser empregada também como ferramenta na investigação e reflexão para os

temas de marketing seguintes: Produtos e Serviços (lançamentos, sustentações,

relançamentos, posicionamento, reposicionamento); Marcas (identidade,

10 Larry Ligh é norte-americano, proeminente profissional de pesquisa em propaganda que declarou, em 1998, ao editor do Jornal de Pesquisa em Propaganda, sua impressão sobre o marketing das próximas três décadas.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 90

posicionamento, reposicionamento, aplicações) e Identidade visual (programações

visuais, organizacionais, sites).

Pode-se dizer que o entendimento mais aprofundado dos fenômenos de

marketing acontece de maneira sinérgica com a semiótica, por meio das ferramentas

seguintes: pesquisa de mercado (qualitativa e quantitativa); planejamentos; criação

publicitária; programações visuais; design de embalagens, etc.

A análise semiótica apresenta elementos conexos e relações argumentativas,

que embasam o desenvolvimento dos projetos de branding e marketing, reforçando

sua direção, ou auxiliando no desenvolvimento de novas estratégias e significados

que ao chegarem ao mercado, com o público-alvo, ou mesmo com alguma forma de

comunicação, podem causar sensações, ações e reflexões.

A análise semiótica averigua esses apelos (emocionais e racionais) e o efeito

deles, como interpretações as quais o mercado, em geral, pode captar. Controlar

tais resultados é essencial para a aplicação adequada das ações de marketing e

comunicação, involuntariamente de como ela se mostra, pois se vive em um espaço

desvendado, nas quais as revelações das marcas e sua apropriação na relação de

aquisição e consumo, se posicionam, abundantemente, por meio de informações

retiradas da indústria cultural e dos meios de comunicação.

A cultura visual é uma fonte de inspiração para o desenvolvimento de temas

e conceitos. Igualmente a marca, compreendida como um símbolo que induz ao

glamour e ao sonho, faz com que os produtos sejam reconhecidos e tornem-se

mais competitivos e diferenciados.

Sandra Penkal

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O mercado oferece relações de consumo com pouca diferenciação, porém

muito concorridos, identificam-se assim oportunidades para as estratégias de

marcas e comunicação de modo a provocar intensamente o desejo do consumidor,

mesmo que colocadas de maneira inconsciente.

Como já foi analisado, as marcas tornaram-se signos valiosos de

posicionamento social e cultural. Sua importância pode levar a um processo de

ressignificação. Um símbolo forte (marca), destarte, pode reunir associação,

ligação, coesão e estrutura a uma só identidade. Sua apresentação pode ser um

elemento de significação, pelos atributos, benefício funcionais e emocionais.

Em um mercado altamente competitivo, a lealdade dos consumidores pode

ser medida pelo grau em que os mesmos estejam satisfeitos. Os consumidores

podem criar o conhecimento da marca e gerar confirmação para outros

consumidores. Aqueles que são leais também levarão um bom tempo para

responder aos avanços da concorrência. David Aaker11 (1998) cita que:

“A lealdade da base de consumidores reduz a vulnerabilidade da ação

competitiva. Os concorrentes podem ver-se desencorajados a investir

recursos para atrair consumidores satisfeitos. Uma alta lealdade implica,

ainda, melhores negócios com o comercio, uma vez que os consumidores

leais esperam que a marca esteja sempre disponível.” (AAKER, 1998 p.

19)

O conhecimento da marca, por parte dos consumidores, representa um

grande diferencial competitivo para as empresas, pois é por meio do

reconhecimento, da recordação, que a marca é lembrada como pertencente a uma

classe de produto, a um segmento, a um mercado . 11 David Aaker é norte-americano, consultor em MKT e Estratégia e autor de vários livros.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 92

O reconhecimento é o elo da presença, da substância e da permanência

entre o consumidor e o produto. Neste sentido, Marc Gobé12 (2002) esclarece:

“O pior conceito, nas estratégias da criação de marcas, é acreditar que a

marca diz respeito à participação de mercado, quando na realidade está

sempre diretamente relacionada com a participação da mente e das

emoções”. (GOBÉ, 2002 p. 29)

A posição da marca baseia-se nas suas associações e como diferem da

concorrência. Pode ser considerada qualquer agregação, mentalmente ligada à

marca. Um símbolo forte, portanto, pode reunir a associação, a ligação, a coesão e

a estrutura em uma só identidade.

Por meio de métodos indiretos de levantamento de associações, existe uma

visão quanto ao que uma marca significa para as pessoas e a que motivações ela

responde. A chave para a criação de associações é identificar e gerenciar os sinais.

É decisivo ser consistente ao longo do tempo e sobre os elementos da

programação de marketing para manter as associações. Ainda neste contexto,

segundo Marc Gobé (2002):

“...a substituição dos programas de identidade empresarial ”Impostos”

pelos Emocionalmente “Conectados” é a expressão da cultura de uma

empresa, sua personalidade e os produtos ou serviços que tem a oferecer

– o próprio símbolo e assinatura dos valores que devem inspirar confiança

aos consumidores, empregados, clientes, fornecedores e à comunidade

financeira”. (GOBÉ, 2002 p. 172)

O sistema de marketing, na sociedade pós-industrial, foi ampliado não só

pelo aspecto comercial, mas também pelo encontro alcançado pelas marcas nas

12 Marc Gobé é Diretor Presidente e Diretor de Criação de d/g mundial. Profere palestras na

Universidade de Columbia e conferências sobre marketing e desenho no mundo todo. Vive em Nova York.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 93

suas tendências culturais e comportamentais.

Neste contexto, desenvolveu-se uma área intitulada como Gestão do

Comportamento do Consumidor, definida como um processo de procura, busca,

compra uso e avaliação de produtos e serviços para satisfazer necessidades dos

consumidores e mercados. Segundo Christiane Gade13 :

... “o comportamento do consumidor são atividades físicas, mentais

e emocionais realizadas na seleção, compra e uso de produtos e

serviços para satisfação de necessidades e desejos. (...) a

psicologia permite entender as influências dos fatores psico-sociais

esternos que atuam sobre o consumidor”. (GADE, 1998 p.17)

Considerando os aspectos comportamentais do mercado e o poder de

associação e síntese que as marcas provocam, as adaptações e as representações

do desejo de cada consumidor são fortemente manifestadas, e estas são também

percebidas quando o consumidor entra em contato com obras de artistas através de

produtos de design. Neste sentido, Tom Peters14 (2004) cita: “Num mercado cada

vez mais superlotado, os tolos competirão com preços. Os vencedores encontrarão

o caminho da criação do valor duradouro na mente do consumidor” .

Esta acepção aplicada ao mercado globalizado atual, com grandes e

constantes avanços tecnológicos, eleva ainda mais os desafios do marketing em

criar, promover e fornecer bens e serviços a clientes individuais e empresariais.

13 Chrisitiane Gade é Doutora em Psicologia pela USP, escritora e professora em várias Instituições

de Ensino Superior. 14 Tom Peters é norte-americano, consultor e estrategista, autor de vários livros e é chamado “o

criador da empresa pós-moderna”.

Sandra Penkal

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MARCA E MARKETING 94

Neste sentido, as empresas estão envolvidas na comercialização de bens, serviços,

experiências, eventos, pessoas, lugares, organizações, informações, idéias, etc.

O marketing, portanto, passa a ser ressaltado não só do prisma da venda de

produtos/serviços, como também pelas tendências culturais e comportamentais que

consegue representar, resumir e antecipar. Neste sentido, concretiza as

negociações comerciais, excedendo o conceito de facilitadores de transações do

consumidor para a condição de “agregador “ de valor competitivo.

Nos próximos tópicos são contempladas as análises mercadológicas da

empresa “O Boticário”, que por meio de conceitos diferenciados, com a temática

nacional/brasileira e com a valorização de nossas referencias artísticas, consegue,

mais uma vez, antecipar tendências no mercado brasileiro de perfumaria premium.

Sandra Penkal

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4.2 CONDIÇÕES MERCADOLÓGICAS: EMPRESA O BOTICÁRIO E LINHA DE

PERFUMARIA FEMININA TARSILA

As condições mercadológicas de um negócio envolvem vários fatores

estratégicos, como a análise do ambiente de marketing, do público alvo/

consumidor, do composto de marketing e do posicionamento da marca e/ou

produto. A empresa deve analisar seus mercados e ambientes de marketing a fim

de descobrir oportunidades atraentes e evitar ameaças ambientais. Deve analisar

suas forças e fraquezas e também as ações dos mercados atuais e potenciais, para

determinar que oportunidades devem ser perseguidas.A seguir são analisados os

fatores estratégicos da empresa “O Boticário” e da Marca de Perfumaria Feminina

Tarsila.

4.2.1 Empresa “O Boticário”

“O Boticário” é uma empresa totalmente brasileira e que está no mercado faz

26 anos. Iniciou suas atividades com uma pequena farmácia de manipulação no

centro de Curitiba, Estado do Paraná. Hoje a empresa apresenta um grande portfólio

de produtos (Tratamento para Corpo e Rosto, Tratamento de cabelos, Proteção

Solar, Maquilagem, Linha Spa, Linha Infantil, etc). Seu fundador e presidente, Miguel

Krigsner, sempre apostou no potencial do mercado brasileiro de cosméticos e hoje

a empresa conta com mais de 10 mil colaboradores em todo o Brasil, com a fábrica

localizada em São José dos Pinhais/PR. A Figura 31 mostra o logotipo da marca.

Sandra Penkal

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Figura 31 – Logotipo da marca “O Boticário” (http://www.boticario.com.br)

A marca “O Boticário” é associada à qualidade, tecnologia, proteção ao meio

ambiente e respeito ao consumidor. A instituição desenvolve programas de

responsabilidade social e ambiental, por intermédio da Fundação “O Boticário”,

conforme mostra a página institucional da empresa na Internet:

“A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza é uma organização

sem fins lucrativos, cuja missão é promover e realizar ações de

conservação da natureza. Suas ações estão pautadas em ciência e

na consciência de que esse é o caminho para a manutenção da vida

na Terra. O desafio da Fundação O Boticário é grande: proteger a

natureza do Brasil, país que é considerado um dos maiores abrigos

de vida do mundo, mas que enfrenta significativos desafios sócio-

econômicos. O uso inadequado dos recursos naturais tem causado

degradação, extinção de espécies e, conseqüentemente, diversos

reflexos negativos ao equilíbrio natural..., também protegem

importantes sítios do patrimônio arqueológico, cultural e histórico do

país.” (http://www.boticario.com.br)

Por meio de produtos inovadores e de qualidade comprovada, a empresa

cresceu e, além disso, conquistou o mercado com uma rede de lojas na estrutura de

Sandra Penkal

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franquias. Com mais de 2.200 lojas no Brasil, “O Boticário” além de operar no

mercado brasileiro, está presente em vários países e vem consolidando sua

presença internacional por meio da oferta de seus produtos em lojas exclusivas,

departamentais e multimarcas, localizadas em Portugal, Estados Unidos, México,

Emirados Árabes, Arábia Saudita, Egito, Grécia, Cabo Verde, Suriname, Nicarágua,

El Salvador, Venezuela, Bolívia, Peru, Uruguai, Paraguai, Moçambique, África do

Sul, Angola, Japão e Austrália. “O Boticário” é, hoje, uma das maiores redes de

franquias em perfumaria do mundo com um conceito singular de loja e atendimento.

A palavra “franquia” tem sua origem em:

“Franc é uma palavra proveniente do francês antigo, que significa a

transferência de um direito, outorga de um privilégio ou concessão

exclusiva. Tecnicamente falando, franchising não é um negócio ou uma

indústria, mas sim um método de condução de negócios. Franchising é

um sistema de distribuição no qual um fornecedor concede à outra parte

interessada o direito de comercializar seus produtos ou serviços,

conforme termos e condições pré-estabelecidos em comum acordo,

durante um certo período de tempo, e numa área ou região específica.

Podemos definí-lo ainda como um sistema estratégico para distribuição

de bens e serviços pelo qual uma empresa (franqueadora) cede o direito

de uso de seu nome, seu logotipo, know-how e tecnologia, mediante ao

pagamento de taxas a um terceiro, que se torna um franqueado com

determinados direitos e obrigações para com o detentor da marca.”

(http://www.sofranquias.com.br/conceitos)

E, considerando ainda o conceito empresarial, a definição de “Franquia

Empresarial” está na Lei no 8.955 de 1994 e é:

"Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao

franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de

distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e,

eventualmente, também ao direito de tecnologia de implantação e

administração do negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos

Sandra Penkal

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pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no

entanto, fique caracterizado vínculo empregatício" (BRASIL Lei no 8.955

art. 10, 1994).

“O Boticário” desenvolve regularmente um Plano de Expansão, pesquisando

o potencial de cada mercado e identificando as oportunidades de negócios. Do

resultado deste estudo depende a abertura de cada uma das franquias. Só depois

de avaliadas todas as possibilidades de sucesso, uma nova loja é aberta, Figura 32.

Figura 32 – Exemplo de loja franqueada de “O Boticário”. (http://www.boticario.com.br)

Hoje, as lojas apresentam um modelo de identidade visual que demonstra

elegância e modernidade, destacando os principais elementos associados à marca

“O Boticário: Natureza; Tecnologia; Sonho; Brasilidade”. Pensar em franchising no

Brasil é pensar em “O Boticário”. Esta é uma das primeiras empresas a apostar

neste sistema e é a franqueadora que mais cresceu. A estrutura de vendas e

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MARCA E MARKETING 99

atendimento da empresa é realizada por consultoras de beleza, detentoras de

conhecimento de cosmético e perfumaria.

4.2.2 Linha de Perfumaria Feminina Tarsila

Considerando a abrangência do marketing nas organizações e seu impacto

na gestão empresarial, desenvolve-se o composto de marketing, ou seja, o conjunto

de ferramentas de marketing empregadas para perseguir os objetivos no mercado-

alvo. São elementos estabelecidos e controláveis pela estratégia da empresa. Neste

sentido, analisa-se a seguir o composto de marketing da Linha Tarsila,

considerando: o público alvo, o produto, o preço, a praça (distribuição), a promoção

e a marca/branding .

4.2.2.1 Público Alvo

O público-alvo, também conhecido como consumidor ou target, é uma

definição estratégica, pois determina para a empresa o direcionamento no

desenvolvimento do produto/ marca, bem como todas as decisões do composto de

marketing. Neste sentido, a construção do conceito e posicionamento do público

alvo da Linha Tarsila surgiu da inspiração da vida e obra da artista plástica,

caracterizada principalmente pela sua irreverência, coragem, talento e beleza.

Ninguém rompeu a tradição com mais ousadia, determinação e brilho como Tarsila

do Amaral.

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A linha Tarsila está posicionada para mulheres envolventes e ousadas,

detentoras de um grande senso de curiosidade. Para elas é importante viver

intensamente cada momento de suas vidas. A forte determinação é uma grande

característica da forma como encaram suas vidas. São mulheres modernas e que

vivem a frente de seu tempo, depositando um amor extremo em tudo que realizam.

Exuberantes, cultivam a sua beleza e elegância e, acima de tudo, são felizes.

O público alvo da marca é diferenciado e transmite as características da

marca por meio da sofisticação e qualidade no produto. Este público é composto por

mulheres na faixa etária de 25 a 50 anos, pertencentes às classes econômicas

A e B.

As consumidoras que a marca Tarsila pretende atingir, são as “buscadoras”

de Marca, pois estas são fiéis à marca, independente da estratégia de preços que

esta pratica. A marca é a principal motivação que leva as consumidoras a comprar.

São mulheres com estilo de vida socialmente ativo, que possuem valores

associados à aceitação e reconhecimento do grupo social de referência onde estão

inseridas e adquirem produtos que reflitam estes valores. Consumidoras que

procuram por um produto exclusivo e sofisticado para atender às suas

necessidades, também buscam marca, exclusividade, qualidade e status.

4.2.2.2 Produto: Linha Tarsila

O produto apresenta-se como o elemento tangível do composto de marketing,

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ocupando posição de referência e de destaque na relação mercadológica. As

decisões em seu processo são amplas e abrangem aspectos estratégicos,

científicos, técnicos e mercadológicos. Neste sentido, os produtos da Linha Tarsila,

Figura 33, apresentam um posicionamento diferenciado e estão segmentados para

o mercado seletivo.

Figura 33 – Perfume Tarsila da linha de fragrâncias femininas de “O Boticário”

(http://boticario.com.br).

Um dos maiores diferenciais competitivos é a assinatura Tarsila, que se

apresenta como um forte símbolo, que gera valor agregado ao produto. Além disso,

a fragrância é de excelente qualidade, inspirada na vida e obra de uma das maiores

artistas plásticas brasileiras que se tornou símbolo do modernismo no Brasil. A

embalagem é elegante e arrojada, tornando o Perfume Tarsila - 100mL um dos

carros chefe do portfólio da perfumaria premium de “O Boticário”.

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Como parte do portfolio, inclui-se também a Emulsão Perfumada Tarsila

200mL, Figura 34. Este produto possui uma formulação à base de Leite da Flor de

Hibiscus mais agentes emolientes que deixam a pele macia, hidratada e

agradavelmente perfumada.

Figura 34 - Emulsão Perfumada Tarsila 200mL da mesma linha do perfume Tarsila de “O Boticário”

(http://boticario.com.br).

A gestão estratégica das marcas acontece em função das necessidades

conjunturais e estruturais, determinadas pelo mercado. No mesmo sentido

estratégico, existem algumas opções para a marca que já esteja a algum tempo no

mercado, de tal modo que a estratégia de extensão de linha pode ser uma das

maneiras de revitalização da marca ou do produto. Desta forma a empresa “O

Boticário”, depois de quatro anos do lançamento da Linha Tarsila/2002, adotou a

estratégia de extensão da linha com o Perfume Tarsila Rouge de 100mL, Figura 35.

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“O Boticário” homenageou as mulheres com Tarsila Rouge, lançamento com

edição limitada feito em março de 2006 no Dia Internacional da Mulher. A criação da

embalagem foi inspirada na obra Manteau Rouge (Tarsila do Amaral "Auto-retrato –

Le manteau rouge", 1923, óleo sobre tela, 73 x 60,5 cm).

Figura 35 – Linha Rouge de “O Boticário” foi inspirada na pintura de Tarsila do Amaral intitulada Manteau Rouge, pintada em 1923 (http://boticario.com.br).

Conforme já foi mencionado, o estilo artístico de Tarsila, associa as técnicas

do cubismo à temática e ao cromatismo singular brasileiro. Observou-se, também,

que nas suas fases artísticas, Tarsila deposita a influência que sofreu da arte

européia, principalmente dos cubistas, e em especial de Pablo Picasso.

Picasso aplicava figuras geométricas quando pintava a natureza, por expor

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MARCA E MARKETING 104

nela o quadrado, a esfera e o cone. Freqüentemente em seus desenhos apresentava

uma face, habilmente distorcida, e também demonstrava formas que se desvendam

em planos geométricos, cubos e volume, distribuídos concomitantemente em

diversos ângulos da obra. Tal proposta pode ser observada com muita propriedade

no cartucho da linha Tarsila Rouge, onde as características cubistas de Picasso são

muito evidentes e competentemente aplicadas no cartucho do produto.

A fragrância de Tarsila Rouge é intensa e feminina, é para mulheres ousadas

e marcantes que, como Tarsila, imprimem sua marca por onde passam. O perfume

apresenta as características olfativas seguintes:

Saída: Bergamota, Mexerica, Pimenta-Preta, Pêssego;

Corpo: Flor-de-Lótus, Magnólia, Jasmim;

Fundo: Madeiras de Cashmere, Musk, Baunilha.

Como complemento da linha Tarsila Rouge, foi lançado, simultaneamente, o

batom Tarsila Rouge, Figura 36.

O sucesso alcançado pela empresa “O Boticário” foi instantâneo, pois a cor

do batom é linda (vermelho Manteau Rouge) e está muito integrada com o conceito

da linha e perfil da consumidora alvo.

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Figura 36 – Batom da linha Tarsila Rouge de “O Boticário” lançado em março de 2006(http://boticario.com.br).

O batom tem, também, muita qualidade, proporciona mais conforto e maciez

aos lábios, sua fórmula resultou em produto hidratante pois usa um complexo de

ceramidas e ingredientes umectantes. Oferece textura macia, cobertura uniforme e

duradoura, com ótimo deslizamento. Sua fórmula contém Vitamina E e FPS 12 que

mantém os lábios protegidos da ação do sol.

4.2.2.3 Preço

O preço é um elemento altamente estratégico, e que mais absorve pressões e

influências do ambiente externo em sua definição. As decisões são extremamente

estratégicas e abrangem aspectos organizacionais, técnicos e mercadológicos. Ao

considerar todos estes fatores os produtos da Linha Tarsila, possuem uma

estratégia de preço Premium, base Junho de 2006 (ref. São Paulo Capital) e são:

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Perfume Tarsila 100mL: Preço R$ 72,00;

Emulsão Perfumada Tarsila 200mL: Preço R$ 29,90;

Perfume Tarsila Rouge 100mL: Preço R$ 78,00;

Batom Tarsila Rouge: Preço R$ 21,90

Conforme discutido, a linha Tarsila de Perfumaria é estratégica para “O

Boticário” no contexto institucional, pois agrega imagem de marca. Seu

posicionamento de preço, por isto, é mais elevado em função do seu valor agregado.

4.2.2.4 Praça (Distribuição)

A distribuição é o elemento de maior representatividade da relação entre o

ambiente interno (empresa) e o externo (mercado), uma vez que o produto desejado

deve proporcionar as condições ideais para que seja disponibilizado no momento

certo e no lugar certo, e na quantidade desejada. As decisões são estratégicas e

adversas, abrangendo os aspectos: conceituais, quanto aos canais e tipos de

distribuição; técnicos, quanto à logística necessária; mercadológicos, quanto ao

produto e quantidade desejada, e altamente operacionais quanto à realização do

processo.

Segundo mencionado anteriormente, “O Boticário” desenvolve uma estratégia

bastante inteligente de venda, pois apesar de grande parte da sua operação estar

na estrutura de franquias, a empresa também atua em outros paises com estratégias

Sandra Penkal

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de distribuição diferenciadas com o objetivo de atender as necessidades de cada

tipo de mercado.

O poder de expansão e internacionalização do “O Boticário” tem sido muito

bom, e isto representa uma abertura de fronteiras positiva , também , para o Brasil.

4.2.2.5 Promoção

Considerando os fatores promocionais, as decisões são estratégicas e

envolvem aspectos: conceituais quanto à forma de comunicação integrada;

científicos, quanto ao perfil do mercado-alvo; técnicos, quanto ao tipo de

comunicação e mercadológico, quanto à cobertura da mensagem, e o elemento

de comunicação e estímulo com o mercado. No caso da linha Tarsila as decisões

refletiram os objetivos estratégicos da linha de produtos e da marca “O Boticário”.

A comunicação da marca Tarsila foi planejada para atingir o seu público alvo

provocando interesse e conhecimento. Os investimentos na marca foram

realizados de forma intensa no decorrer do primeiro ano de operação da linha (no

ano de 2002), porém com sustentação durantes os outros anos, e até hoje. Os

materiais de comunicação foram utilizados de forma segmentada por ação

promocional da forma seguinte:

Mídia eletrônica e filmes publicitários. Foi utilizada a imagem da atriz Daniela

Escobar, Figura 37, para ação de comunicação e como representante do

publico alvo .

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Figura 37 – Signos da publicidade na mídia eletrônica para lançamento do perfume Tarsila de “O Boticário”.

Mídia impressa: Foi feita uma campanha nas 10 principais revistas femininas

de circulação no Brasil, Figura 38.

Figura 38 – Propaganda impressa em diversas revistas de circulação nacional para lançamento do perfume Tarsila de “O Boticário”.

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Equipe de vendas e Lojas: Distribuição de folder conceitual e de treinamento

para os gerentes de Loja, consultoras e caixas, Figura 39.

Figura 39 – Folder com a propaganda do perfume Tarsila de “O Boticário” (http://boticario.com.br).

Estratégia de Lançamento Amostragem: Cartela com amostras, com flaconete

do perfume, Figura 40. Distribuição: no ponto de venda e outros eventos

com o publico alvo.

Figura 40 - Cartela com amostras, com um flaconete do perfume Tarsila de “O Boticário”.

Sandra Penkal

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Promoção de Lançamento: Na compra do Perfume Tarsila 100mL mais

R$ 1,80, o consumidor ganhava um lindo porta-retrato, Figura 41.

++ R$ 1,80 ==

Figura 41 - Perfume Tarsila 100mL. Na promoção de lançamento o consumidor ao comprá-lo e pagar mais R$ 1,80 ganhava um porta-retrato (http://boticario.com.br).

Como ferramenta de comunicação foi utilizado também o trabalho de

Relações Públicas e Assessoria de Imprensa para o desenvolvimento da estratégia

de lançamento e da sustentação mercadológica da Linha Tarsila.

4.2.2.6 Marca/branding.

A marca Tarsila está associada à qualidade, inovação, força, sensibilidade,

beleza e exclusividade. Qualidades essas identificadas no perfil do seu público alvo.

Como fatores estratégicos para a marca institucional “O Boticário” e para a Marca

Sandra Penkal

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de Perfumaria Feminina Tarsila, foi utilizado um símbolo forte – a assinatura Tarsila,

que pode reunir - associação, criar uma identidade - marca, e auxiliar no seu

relacionamento com o consumidor, fator decisivo na construção do branding, a partir

da vinculação emocional entre a marca e o consumidor, Figura 42.

Figura 42 – Identidade do perfume Tarsila de “O Boticário” que é representada pela assinatura

da Tarsila do Amaral.

Ao utilizar o nome Tarsila, fica evidente como as revelações marcárias

surgem por meio de composições sígnicas, confrontando-se assim com uma

mudança conceitual na qual os bens de consumo não derivam prioritariamente da

necessidade, e sim a necessidade passa a existir como efeito da presença de seus

signos que se transformam em desejos.

Como estratégia da marca Tarsila, o Branding, o relacionamento com o

cliente foi constituído por uma demanda de experiência e afetividade com o seu

signo, desenvolvendo um vínculo e uma fidelidade da marca pelo consumidor;

conseqüência da associação a uma identidade, como meio de significação, por

atributos e benefício funcionais e emocionais.

Outro fator determinante para o sucesso da marca Tarsila, foi emprego de um

design fundamentado em elementos tipicamente nacionais, por meio da valorização

das nossas heranças artísticas e culturais.

Sandra Penkal

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CONCLUSÕES 112

5 CONCLUSÕES

No mundo contemporâneo, em razão do processo de globalização e

informatização, observa-se um grande desenvolvimento dos aspectos intangíveis da

marca, amparado por várias possibilidades de relacionamento da marca com o

mercado, e com o seu consumidor. Isto ocorre, entre outros fatores, por meio de

interconexões geradas por uma nova forma de comunicação. Neste contexto, em

função da intangibilidade da marca, é necessária ponderar o Branding -

relacionamento com o cliente, e criar uma conexão entre a marca e o consumidor.

Nesta dissertação foi avaliada a marca e suas relações sígnicas, o que conduziu a

uma análise mais aprofundada desta marca, dos seus significados e de valores que

possam levar o consumidor a ter os sentimentos e as relações que a marca pode

expressar.

Para aplicar a teoria semiótica neste trabalho, foram usados os conceitos

peirceanos, que criam formas de classificação, para entender a pluralidade dos

signos que existem em nossa sociedade. Essa classificação visou entender como o

signo aparece; a que ele se refere e que tipo de efeitos pode causar em uma mente

interpretadora, considerando a relação Arte X Design. Defendeu-se dessa forma,

que a semiótica enxerga a marca e o produto como um signo, conseqüentemente,

como uma reprodução de algo que o mercado e o consumidor, em particular, podem

aspirar. Neste sentido a identidade visual e a marca, também, podem utilizar tais

mecanismos como fortes edificações, que vinculadas às referencialidades da

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CONCLUSÕES 113

marca, propiciam acender a uma grande motivação e fidelização do seu público

alvo.

O desenvolvimento de projetos de marca / branding e marketing, podem ser

sustentados, por meio de uma reflexão semiótica e com elementos lógicos para

auxiliar o aperfeiçoamento de novas estratégias e significados que ao tomarem

contato com o mercado, com o público-alvo, ou mesmo com alguma forma de

comunicação, sejam capazes de causar sensações - marketing sensorial - e ações,

uma vez que a análise semiótica investiga os apelos tanto emocionais como

racionais, e suas implicações.

Atualmente, tem-se experiência de um mercado exposto, no qual as

manifestações marcarias e sua absorção nas relações comerciais, se apóiam em

uma nova estrutura de negociação e de comunicação. A marca (comercial ou

institucional), portanto, deve carregar em si uma ponderação sobre a sua função no

universo da comunicação mercadológica e da identidade institucional, como signo

social e também um bem simbólico.

O presente trabalho, neste sentido, também analisou o papel do designer como

formador de opinião, de conscientização e fomentação das questões sociais,

culturais e ambientais. Torna-se essencial que o designer transmita estes valores

em seus trabalhos e identidades, pois, particularmente o Brasil é um país com

composições étnicas/sociais/culturais muito variadas, e o que se vê é que o design

brasileiro é idealizado de forma a transmitir esta diversidade. O legado cultural

brasileiro é extremamente qualificado, assim sendo a diversidade tem se

Sandra Penkal

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CONCLUSÕES 114

fundamentado em algumas peculiaridades, valorizando e diferenciando o design

nacional. Este acontecimento é ressaltado com o lançamento da linha Tarsila de “O

Boticário”, no projeto do designer curitibano Leonardo Alves Cordeiro.

O Brasil é um país rico em movimentos culturais, expresso das mais distintas

maneiras, e com características próprias de cada região, decorrente do vasto

território e das inúmeras influencias externas. Até mesmo, muitos brasileiros

desconhecem grande parte desta cultura, porém, têm sido gradualmente

estimulados por uma onda de patriotismo que tem atingido o universo do design,

reconhecidos com as criações nacionais, com suas cores e a relação direta de uma

cultura miscigenada. Também, com a nossa competência de reciclar materiais, com

humor, a flexibilidade emocional e cultural evidenciada em muitos segmentos, não

há como negar que o mercado internacional vem valorizando os produtos brasileiros.

Isto pode ser visto no número de prêmios na edição do IF Design de 2004, em que a

empresa “Natura”, que atua na mesmo segmento de mercado que “O Boticário”,

recebeu um prêmio na categoria de design de embalagem do “Perfume do Brasil”,

da linha Natura Ekos.

Na medida em que o mercado se torna mais especifico, assume maior

complexidade, uma vez que as variáveis aumentam: o dispositivo de saída que o

design nacional busca é o de adequar, aos produtos brasileiros, a qualidade de

forma para torná-los mais competitivos no mercado global.

A maior parte das indústrias brasileiras nos mais distintos setores, porém, não

possui uma tradição na utilização de um design fundamentado em elementos

tipicamente nacionais, resultando na reprodução de conceitos desenvolvidos por

Sandra Penkal

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CONCLUSÕES 115

outros países. Este acontecimento já foi vivido em outros períodos culturais e

artísticos na história do Brasil (Movimento Modernista).

O setor de cosméticos e perfumaria, de modo competente, identificou a

oportunidade de incentivar a consolidação do Design Nacional, e apontou

investimentos na produção e lançamento de produtos. Atualmente, alguns

segmentos já utilizam elementos nacionais para a produção de seus produtos, mas

ainda são poucas as que utilizam um design fundamentado em elementos brasileiros

para a criação de produtos de consumo.

Ressalta-se o “trânsito” da Arte X Design para Design X Arte. Os profissionais

do setor como os designers, produtores, anunciantes e consumidores, promovem a

movimentação e a alteração dos significados culturais entre as várias esferas do

mundo social, pois vivem em um ambiente onde as mídias estão, a cada dia, mais

evidentes e atuantes.

Destarte, um símbolo forte pode congregar associação, ligação, coesão e

estrutura para uma identidade marcaria. Sua exposição é um fator determinante na

potencialização da marca, expandindo a importância dos símbolos como elemento

de composição e da marca, aumentando a sua força.

A marca e o marketing, conseqüentemente, passam a ser salientados não só

pelo aspecto mercantil, mas, principalmente, pelos aspectos culturais e

comportamentais que ostentam. Consolidam-se assim as relações comerciais

ampliando o seu valor competitivo. Como exemplo cita-se a empresa “O Boticário”

Sandra Penkal

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CONCLUSÕES 116

que possui um posicionamento diferenciado, pelo conceito de valorização das raízes

nacionais, das nossas heranças artísticas, inovando e antecipando, mais uma vez,

as tendências no mercado de perfumaria.

A proposta fundamental deste estudo foi analisar a conexão entre a arte, o

design de produtos e as marcas comerciais, por meio dos elementos formais

representados pelo universo artístico que são, num determinado aspecto,

reprodutivos e acessíveis.

Com a valorização dos aspectos sensoriais, como forma de reconhecer e se

comunicar com o mundo, tornam-se possível analisar a complexa estrutura de

significações. Igualmente o universo dos sentidos e das sensações, também

trouxeram contribuições importantes para este trabalho de análise do perfume que

homenageia a grande artista brasileira Tarsila do Amaral, por meio de uma

linguagem e de um alfabeto próprio do perfume, desempenhada pela arte da

perfumaria e do design.

Sandra Penkal

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Então.....

Sinto que esta etapa acaba, para dar início a outras possibilidades de

conhecimentos e aplicações das informações adquiridas. A linguagem, os aspectos

sensoriais e os signos estão ainda mais enraizados na minha maneira de ver,

entender, gerenciar e ensinar os conceitos de produto, design, marca, comunicação

e negócios.

Realço minha paixão pelo universo das artes, do design e da marca, agora,

mais do que nunca, tendo como instrumental a teoria semiótica e, sem dúvida, a

prática do design nacional e sustentável.

Sandra Penkal