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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA CULTURA CARLOS SANTOS LEAL RELAÇÃO DE AJUDA COMO AÇÃO EDUCATIVA. O olhar do facilitador sobre a afetividade Tese apresentada ao programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para obtenção do título de doutor. São Paulo 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PÓS-GRADUAÇÃO

EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA CULTURA

CARLOS SANTOS LEAL

RELAÇÃO DE AJUDA COMO AÇÃO EDUCATIVA.

O olhar do facilitador sobre a afetividade

Tese apresentada ao programa de pós-graduação em

Educação, Arte e História da Cultura, da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, como

requisito parcial para obtenção do título de doutor.

São Paulo

2017

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Carlos Santos Leal

RELAÇÃO DE AJUDA COMO AÇÃO EDUCATIVA

O olhar do facilitador sobre a afetividade

Tese apresentada à comissão julgadora da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob a

orientação da prof. dra. Regina Célia Faria Amaro

Giora, como requisito parcial, para obtenção do grau de doutor em Educação, Arte e História da Cultura.

São Paulo

2017

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L435r Leal, Carlos Santos.

Relação de ajuda como ação educativa : o olhar do facilitador

sobre a afetividade / Carlos Santos Leal. 203 f. : il. ; 30 cm

Tese (Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.

Orientador: Regina Célia Faria Amaro Giora.

Bibliografia: f. 144-152.

1. Relação de ajuda. 2. Ação educativa. 3. Afetividade. 4. Arte.

I. Giora, Regina Célia Faria Amaro, orientador. II. Título. CDD 370.15

Bibliotecária Responsável: Giovanna Cardoso Brasil - CRB 8/9605

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A BENÇÃO DA VIDA!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, força propulsora que me conduz a ser uma pessoa melhor neste existir.

Aos meus pais e irmãos pelo apoio e força de sempre, pela caminhada vida a fora.

Aos meus filhos, Carlos William e Lara, presentes de Deus em minha vida, filhos

afetivos, seres que me ensinam a cada dia a afetividade genuína, o tornar-me mais pessoa,

sensível e criativo em mim mesmo. Sou grato à vida por ter me trazido vocês dois para

formarmos uma família e seguirmos juntos pela estrada da vida.

A minha orientadora, a professora doutora Regina Célia Faria Amaro Giora por sua

orientação e acolhida acadêmica, sabedoria e profundidade.

Aos professores do programa de Pós-Graduação em EAHC que tive o prazer de

conhecer e aprender sobre questões humanas, trocar e assimilar conteúdos, cito especialmente

os que pude conhecer efetivamente em sala de aula, os professores doutores Paulo Roberto

Monteiro de Araújo, Elcie A. Fortes Salzano Masini, Maria da Graça Nicoletti Mizukami e

Marcos Rizolli.

Aos professores doutores Norberto Stori, Hania Cecília Pilan, Ricardo Alves de Lima

e Maria de Fátima Ramos Andrade, e aos suplentes Cleusa Kasue Sakamoto e Marcelo

Martins Bueno por fazerem parte da banca de defesa desta tese.

As minhas amigas de turma, Maria Lúcia e Rosângela com as quais construí diálogos

maravilhosos e transformadores.

A Dalete, amiga de uma vida que me recebeu novamente em São Paulo, e me

conduziu com sua afetividade a uma boa hospedagem no percurso do doutoramento.

A Plínio, amigo querido que conduz sua vida com fé, e é um promotor de relações de

ajuda através de sua forma de amar.

A José, companheiro de muita labuta, de muitas transformações sobre o sentido

experiencial da afetividade, e do estar juntos.

Aos psicólogos que aceitaram participar com seus discursos para auxiliar na

construção deste trabalho.

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“O maior espetáculo do mundo que é a vida, só acontece com os afetos.”

Dalete G. Pinheiro

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RESUMO

 A pesquisa sobre Relação de ajuda como ação educativa - O olhar do facilitador sobre

a afetividade, tem como objetivos principais aprofundar o estudo sobre as contribuições

teóricas a respeito do tema na contemporaneidade e exemplificar como o facilitador no Brasil

lida com a afetividade na sua prática. Para isso foi realizada uma investigação bibliográfica

sobre as principais teorias que tratam do tema, destacando-se as de Carl R. Rogers, Lev S.

Vigotski e Paulo Freire. Esses autores serviram de fundamentos centrais para que reflexões

fossem construídas acerca do modo de educar por meio das relações de ajuda, destacando o

papel da afetividade. A visão interdisciplinar dos autores orientou o modo de compreender a

complexidade do tema apresentado, pois defende-se que uma leitura disciplinar não responde

em profundidade o fenômeno investigado. A tese aponta para a necessidade de um olhar mais

atento para a afetividade na sua relação com o ato educativo vivenciado através das relações

de ajuda, visto que a mesma é essencial nesse processo. Foram também analisadas entrevistas

com profissionais que atuam nessa área numa tentativa de identificar nas suas “falas” como

percebem a afetividade na relação de ajuda enquanto ação educativa. A conclusão foi que a

práxis e o pensamento desses facilitadores muito pouco se aproximam das teorias

apresentadas, devido talvez, ao precário respaldo conceitual que os mesmos têm na sua

formação.

Palavras-chave: Relação de ajuda. Ação educativa. Afetividade. Arte.

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ABSTRACT

The research about Relation of help as an educational action - The facilitator's view

upon the affectivity has as the main objectives turning the study deeper about the theoretical

contributions on the theme in the contemporaneity and to exemplify how the facilitator in

Brazil deals with the affectivity in its practice. For this, a bibliographical investigation was

carried out about the main theories that deal with the theme, especially Carl R. Rogers, Lev S.

Vigotski and Paulo Freire. These authors served as the central foundations for reflections on

how to educate through help relationships, highlighting the role of affectivity. The

interdisciplinary view of the authors guided the way of understanding the complexity of the

presented theme, since it is argued that a disciplinary reading does not respond in depth to the

phenomenon investigated. The thesis points to the need of a closer look at the affectivity in its

relationship with the educational act experienced through the aid relationships, since it is

essential in this process. Interviews were analyzed with professionals who work in this area in

an attempt to identify in their "speeches" how they perceive affectivity in the relationship of

help as an educational action. The conclusion was that the praxis and the thinking of these

facilitators were not closer to the theories presented, perhaps due to the precarious conceptual

support that they have in their formation.

Keywords: Help giving relationship. Educational action. Affectivity. Art.

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ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Imagem que representa da máxima científica biologizante, positivista, monolítica e

atomista. (GALAXY EXPRESS, 2017) ............................................................................. 17

Figura 2. Imagem que representa de em um ato educativo revestido de potencial criativo,

liberdade experiencial e dialogicidade. (FONSECA, 2017) ................................................. 18

Figura 3. Imagem que representa a beleza do me lançar a vida, a transformação e a construção

dos potenciais criativos. (DIVINA LUZ, 2017) .................................................................. 20

Figura 4. Imagem do cantor, e de um dos autores da música Caçador de Mim, Milton

Nascimento. (NASCIMENTO, 2017)................................................................................ 24

Figura 5. Imagem da Universidade Presbiteriana Mackenzie. (ENCONTRASP, 2017) ........ 34

Figura 6. Imagem de Wundt e seus colaborados no primeiro laboratório de psicologia

experimental. (NAVARRA, 2017) ..................................................................................... 35

Figura 7. Imagem de Wundt e seus colaborados em experimento no primeiro laboratório de

psicologia experimental. (VICTOR, 2013; 2017)................................................................ 36

Figura 8. Imagem de Wilhelm Wundt (1832-1920), pai da Psicologia. (HUMAN BEHAVIOR

EXPERT, 2017) ................................................................................................................ 38

Figura 9. Imagem da barra de Galton. (COLUCI; PAULINO; SOUZA; VASCONCELOS,

2013; 2017)....................................................................................................................... 39

Figura 10. Imagem do Apito de Galton. (WIKIVISUALLY, 2017) ..................................... 40

Figura 11. Imagem de Francis Galton (1822 - 1911), pai de Psicometria. (MATH.INFO,

2017) ................................................................................................................................ 41

Figura 12. Imagem da capa do teste 16PF desenvolvido por Cattell. (EDIPSICO, 2017) ...... 43

Figura 13. Imagem de James Mckeen Cattell (1860 - 1944), o pai do termo teste mental.

(PSICOATIVO, 2017) ....................................................................................................... 45

Figura 14. Imagem do teste de inteligência onde consta a escala de classificação de Binet e

Simon, publicado em 1914. O teste publicado em 1905 não foi encontrado nas pesquisas

feitas. (OPEN LIBRARY, 1914; 2017) .............................................................................. 47

Figura 15. Imagem da revista L'Année Psychologique, fundada por Binet. (ARCHIVE.ORG,

1922; 2017)....................................................................................................................... 48

Figura 16. Imagem da revista Psychologie expérimentale. A imagem referida não se refere à

publicação de 1903, esta apesar da pesquisa exaustiva não foi possível encontrar. (NICOLAS,

2017) ................................................................................................................................ 48

Figura 17. Imagem de Alfred Binet (1857 - 1911), o pai dos testes de inteligência. (O POVO,

2014; 2017)....................................................................................................................... 50

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Figura 18. Os Oito Tipos psicológicos de Jung ................................................................... 52

Figura 19. Imagem do manual do teste projetivo gráfico Wartegg, cujos fundamentos

baseiam-se também na teoria de Jung. (FREITAS, 1993).................................................... 57

Figura 20. Os oito quadrantes estímulos da folha de aplicação do teste projetivo gráfico

Wartegg. ........................................................................................................................... 58

Figura 21. Foto de Carl Gustav Jung (1875 - 1961), o pai da Psicologia Analítica. (ASSIS,

2015; 2017)....................................................................................................................... 59

Figura 22. Gravura representando de Hipócrates (460-364 ac), Filósofo, pai da Medicina.

(ROMANZOTI, 2014; 2017) ............................................................................................. 61

Figura 23. Imagem do teste Psicodiagnóstico Miocinético, que avalia Traços de personalidade

através da expressão gráfica. (SAPIENS, 2017).................................................................. 62

Figura 24. Imagem do teste Palográfico, que avalia os Traços de personalidade através da

Expressão Gráfica. (VETOR, 2017) ................................................................................... 62

Figura 25. Imagem do teste Viso Motor Bender, que avalia Traços da personalidade e déficits

psiconeurológicos através da expressão gráfica. (SAPIENS, 2017b) ................................... 62

Figura 26. Imagem do teste HTP-F, que avalia Traços da personalidade através da expressão

gráfica e aspectos projetivos. (VETOR, 2017b) .................................................................. 63

Figura 27. Imagem da Técnica grafológica, que avalia Traços da personalidade através dos

aspectos expressivos das letras. (GRAFOLOGIA, 2011; 2017) ........................................... 63

Figura 28. Imagem do Teste de Apercepção Temática, uma técnica projetiva, que avalia

Traços da personalidade através de mecanismos projetivos. (PEARSON, 2017) .................. 63

Figura 29. Imagem do Inventário de personalidade MMPI, que avalia Traços da personalidade

por meio de perguntas de autorrelato. (MANUAL MODERNO, 2014; 2017) ...................... 64

Figura 30. Imagem do Inventário Fatorial de Personalidade, IFP que avalia Traços da

personalidade. (PEARSON CLINICAL, 2017)................................................................... 70

Figura 31. Imagem do Inventário Fatorial de Personalidade CPS, que avalia Traços da

personalidade. (SAPIENS, 2017c) ..................................................................................... 72

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 11

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 18

I. 1. Teorias sobre relação de

ajuda............................................................................23

II. RELAÇÃO DE AJUDA, DO TRAÇO A TERAPÊUTICA .......................... 342

III. A ARTE NA RELAÇÃO DE AJUDA ......................................................... 741

IV. RAZÃO, EMOÇÃO E AFETIVIDADE ...................................................... 952

V. RELAÇÃO DE AJUDA E AFETIVIDADE ............................................... 10604

VI. AFETIVIDADE, OLHAR INTERDISCIPLINAR .....................................1185

VII. ASPECTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 13128

VIII. CONCLUSÃO ........................................................................................ 13633

IX. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 14441

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 14844

APÊNDICE .......................................................................................................1573

ANEXO 1 ........................................................................................................... 195

ANEXO 2 ........................................................................................................... 199

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APRESENTAÇÃO

Quando terminei o segundo grau, tinha em mente que a faculdade que iria cursar era

uma em que me possibilitasse e me qualificasse a trabalhar, ajudar e promover a saúde das

pessoas. Isto talvez se deva ao fato de que até os meus vinte e três anos, idade na qual concluí

minha graduação em Psicologia, convivi e fiz parte de uma população que encontrava

dificuldades para ter acesso à saúde, ao trabalho, à cidadania, à escolaridade. Por isso,

escolher um curso superior que me qualificasse e possibilitasse a trabalhar em prol da

população era algo fundamental para me realizar enquanto cidadão, pois em meu propósito

visionário, acreditava poder facilitar as condições de uma sociedade baseada na massificação,

na restrição e na desigualdade social.

A realidade que vivi me angustiava muito, pois sempre quis estudar, ler bons livros,

conhecer novos lugares, pessoas, valores, cultura, enfim, gostaria que eu e outras pessoas não

privilegiadas economicamente tivéssemos acesso às coisas que o mundo oferecia para que

pudéssemos nos desenvolver, e sermos pessoas com maior qualificação.

Idealizava uma sociedade onde todos pudessem viver melhor, onde a alienação fosse

extinta e a promoção do bem-estar social passasse a ser uma meta prioritária para todos.

No meu imaginário, sonhava com as crianças sorrindo e saudáveis, bem alimentadas,

educadas e acima de tudo, participantes de uma sociedade mais justa.

O curso superior naquele momento se apresentou como um caminho e instrumento que

eu poderia utilizar para construir e transformar tal realidade. Prestei vestibular para o curso de

Psicologia e Odontologia em faculdades particulares do Estado de São Paulo, pois acreditava

que em qualquer um destes cursos poderia ajudar os menos favorecidos economicamente.

Satisfeitíssimo com o resultado do vestibular que me aprovou nas duas escolhas,

precisei imediatamente escolher minha futura profissão.

Escolhi cursar Psicologia já que poderia estudar à noite, pois eu trabalhava durante o

dia e porque a Psicologia é uma ciência que poderia me instrumentalizar para desenvolver

atividades de relação de ajuda com comunidades, escolas, clínicas, empresas, grupos sociais,

hospitais e outras instituições, onde as buscas existenciais e as demandas humanas estivessem

presentes.

A opção pela Psicologia ocorreu também porque sempre tive muita curiosidade em

entender o psiquismo humano, a existência, os potenciais, as doenças mentais, os conflitos

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intrapsíquicos, a formação da personalidade e suas relações com a consciência individual,

sociedade e cultura, portanto, foi através da Psicologia que construí um melhor entendimento

sobre o ser humano e as sociedades, além de ter me instrumentalizado para o trabalho, para

uma transformação pessoal, social e econômica.

Durante os dois primeiros anos de minha graduação, eu trabalhava como operador de

caixa em um banco particular, e por isso, tinha uma realidade econômica que não poderia ser

negada, sabia que durante os anos de graduação acadêmica, os cinemas, as festas, as roupas

novas, os passeios, as viagens, em suma, tudo que envolvesse dinheiro deveria ser adiado.

Porém, existia em mim uma tendência a autorrealização tão disponível que não me deixara

desanimar, já que tinha a certeza de que poderia com minha luta vencer e alcançar os

objetivos intencionados em minha consciência, que era me formar em Psicologia.

Quando cursava o terceiro ano da faculdade, em 1992, resolvi sair do banco onde

trabalhava em período integral e entrar para o magistério oficial do Estado de São Paulo, já

que poderia lecionar à noite e fazer durante o dia estágios em Psicologia. Esta mudança de

trabalho, do banco para a escola, ocorreu porque no ano de 1992, os universitários poderiam

lecionar no ensino de primeiro e segundo graus as disciplinas contidas no currículo do curso

superior em andamento.

Iniciei os estágios no terceiro ano da faculdade, pois neste período eu acreditava ter

alguma formação teórica que poderia ser aprimorada com a prática. O primeiro estágio foi no

hospital das Clínicas de São Paulo, no setor de Psiquiatria infantil, eu tinha como supervisora

de estágio voluntário a Prof. Dra. Eneida Matarazzo, pessoa que é para mim símbolo de

simplicidade, sabedoria e competência profissional. Foi com esta magnífica pessoa e

profissional que tive os primeiros contatos com a prática da Psicologia nos atendimentos aos

portadores de doença mental. Este estágio no Hospital das Clínicas de São Paulo ocorreu no

período de abril de 1993 a abril de 1994.

Na época observei que os doentes que recebiam maior apoio afetivo do profissional

responsável e da família, obtinham melhores resultados no tratamento e se tornavam pessoas

mais tranquilas, com maior vontade de viver, superar a doença, se reincluir na sociedade e

buscar o seu lugar no mundo.

O segundo que participei foi na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São

Paulo, onde eu tinha como supervisora a pessoa de bom coração e competente Psicóloga, a

amada Vera Lúcia dos Santos. Este estágio na Secretaria de Segurança Pública do Estado de

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São Paulo concretizou-se no período de 07/04/94 à 06/04/95. Desenvolvi nesta instituição

atividades que possibilitaram uma melhor convivência entre os alunos e as professoras, pois

havia muitos conflitos interpessoais entre eles, apesar de ser uma escola infantil pequena

voltada apenas para os filhos de policiais vinculados a secretaria de segurança descrita acima.

Comecei minha trajetória com a docência em 1992, lecionando a disciplina de

Psicologia para o segundo grau. A paixão pela sala de aula foi aumentando a cada dia, as

experiências e satisfações ocorridas pela troca e pela vontade de ensinar e aprender eram

grandiosas, e assim, refleti e senti empiricamente que na profissão docente residia uma das

minhas vocações.

Portanto, desde 1992, quando cursava o terceiro ano da faculdade de Psicologia,

comecei a lecionar, e exerço esta atividade até os dias atuais, 2017, porém agora na

Universidade Federal do Maranhão, no curso de Psicologia e outros.

Minha formação acadêmica deu-se no seguinte percurso: Formação de psicólogo, em

1995, na Faculdade Paulistana, e na Universidade Presbiteriana Mackenzie os seguintes

cursos: Especializações em Estudos dos Problemas Brasileiros, em 1998. Especialização em

Didática do Ensino Superior, em 1999. Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura,

em 1999, e agora o Doutoramento em Educação, Arte e História da Cultura, em 2017

Após a conclusão de minha graduação em Psicologia em 1995, e término do período

de estágios, fui contratado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo como

psicólogo educacional para continuar desenvolvendo o trabalho de Relação de Ajuda junto

aos professores e alunos iniciada no estágio. Desempenhei esta função no período de 1995 a

1996.

Saí desta secretaria quando me candidatei a uma vaga no Instituto Jessé de Psicologia

Aplicada e fui contratado. Acreditei, naquele momento, que trabalhar com psicometria era

importante, pois durante a graduação não tive uma sólida formação neste conteúdo, e aquela

era uma boa oportunidade para aprofundar meus conhecimentos nesta área, com isso melhorar

minha formação acadêmica nos aspectos positivistas da Psicologia e aprimorar-me, visto que

naquele momento histórico da Ciência Psicológica a testagem dos aspectos cognitivos,

emocionais e psicodinâmicos da personalidade humana estava em auge tanto no meio

científico, quanto no mercado profissional.

Percebi nesta temporalidade que as dificuldades psicológicas, afetivas e emocionais

apresentadas nas avaliações psicométricas, tais como, os transtornos de ansiedade, a falta de

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expectativa frente à vida, às dificuldades intrapsíquicas, os sentimentos de inadaptação, a

autoestima baixa, a menos valia, a massificação enfim, diversas outras dificuldades, estavam

correlacionadas as questões do sofrer humano, às desordens socais, as questões da existência,

a dor da alma...

Trabalhei no Instituto Jessé de Psicologia Aplicada no período de 1996 a 1997, pois

me apresentei no final de 1997 a uma entrevista no Hospital Nova Vida, na cidade de Itapevi,

São Paulo, e fui selecionado para atuar como Psicólogo Clínico/Hospitalar nesta instituição,

na qual trabalhei até o ano de 1999.

No Hospital Nova Vida, entrei em contato de maneira muito próxima com diversos

sofrimentos da alma humana, e senti, ao visitar os leitos e ouvir as pessoas que buscavam a

Relação de Ajuda no atendimento ambulatorial, que estas clamavam por encontrar um apoio

que facilitasse a superação de suas dificuldades frente a vida.

Percebi que as pessoas que estavam em acompanhamento ambulatorial nas mais

diversas especialidades, não buscavam a relação de ajuda para serem sujeitos de construção

de anamneses, encaminhamentos e planos de trabalhos previamente construídos, não

buscavam também simplesmente receber diagnósticos ou enquadres psicoclínicos

referendados por CID10 (classificação internacional de doenças), ou DSM-IV (manual

diagnóstico e estatístico de transtornos mentais). Buscavam pelo que sentia como disse acima,

uma relação de ajuda que facilitasse a superação de suas dificuldades frente à vida, e mais,

que as vissem como pessoas com potencial de transformação e sensibilidade criativa, e não

simplesmente como doentes que precisavam de apoio psicológico.

No período em que trabalhei na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São

Paulo, no Instituto Jessé de Psicologia Aplicada e no Hospital Nova Vida, a prática do

psicodiagnóstico e a leitura biologizante sobre o ser humano era uma máxima, assim o

psicólogo que não conhecesse estes fundamentos e não fosse hábil no uso dos procedimentos

e instrumentos de avaliação psicológica, era considerado por muitos como um profissional

não atualizado frente à profissão e as expectativas do mercado.

Com o passar do tempo percebi, felizmente, que estava me distanciando da prática

psicológica biologizante, positivista, atomista e monolítica, onde as preocupações eram

enfaticamente diagnósticas, curativa, analítica, diretiva e orientada pelo modelo médico de

intervenção.

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Identifiquei que durante a graduação reflexões sobre o conceito e a práxis da

Interdisciplinaridade no saber e fazer psicológico não se fizeram presentes, e que éramos

enquanto discentes estimulados para ir ao encontro das narrativas epistemológicas

biologizantes, positivistas, atomistas e monolíticas sobre o ser humano.

Contudo, ao trilhar os caminhos do trabalho como psicólogo em diferentes espaços

profissionais, e nestes promover o encontro e a escuta dos que buscavam a relação de ajuda,

percebi que o olhar não interdisciplinar sobre o ser humano apresentado durante a graduação

em Psicologia, estava obsoleto, pouco convincente e explicativo frente às complexidades da

alma humana, ou seja, da consciência que surge através da historicidade; sendo que é a

consciência a grande responsável por conduzir as atividades de cada pessoa a partir das

relações que se estabelecem num determinado contexto histórico cultural.

Constatei durante minha trajetória profissional, que os aspectos biologizantes são

fortemente influenciados por questões do estilo de vida, do jeito de ser, da intencionalidade,

do percurso sociocultural, linguagem, narrativas, potenciais criativos, outros.

Assim, a máxima científica biologizante, positivista, monolítica e atomista

representada na imagem abaixo (Figura 1), passou a fazer pouco sentido ao meu olhar de

psicólogo frente ao ser humano.

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Figura 1. Imagem que representa da máxima científica biologizante, positivista, monolítica e atomista.

(GALAXY EXPRESS, 2017)

Eu buscava trilhar um novo caminho que incluísse o outro, onde a experiência estética

também estivesse presente na relação de ajuda. Trata-se de incluir um sentido poético, onde a

relação de ajuda, que muitos preferem chamar de psicoterapia, deixasse de ser um tratamento

psicológico, e se transformasse em um ato educativo revestido de potencial criativo, liberdade

experiencial e dialogicidade, conforme a imagem a seguir retrata:

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Figura 2. Imagem que representa de em um ato educativo revestido de potencial criativo, liberdade experiencial

e dialogicidade. (FONSECA, 2017)

Sentia que as pessoas que se lançavam a relação de ajuda clamavam antes de tudo por

serem acolhidas, e assim nasceu minha busca para levar em frente o sentido de relação de

ajuda proposto por Rogers, e ampliá-lo, pois, ele deixou implícito este sentido, mas não

categorizou explicitamente o sentido de relação de ajuda como ato educativo, conforme aqui o

faço.

E desta forma, iniciei a caminhada rumo ao saber interdisciplinar sobre o ser humano,

visando construir encontros humanos através da arte da relação de ajuda.

As experiências que obtive como psicólogo educacional, clínico, hospitalar e

psicometrista, fizeram-me amadurecer como profissional e pessoa, pois estando em contato

direto com as dificuldades e conflitos que comumente o ser humano vivencia em sua

existência, compreensões interdisciplinares sobre a alma humana foram se construindo e

sendo lapidadas por mim.

Outro caminho que muito contribuiu para ampliar minha compreensão sobre a alma

humana e não mais olhar o ser humano apenas com a narrativa biologizante, positivista,

monolítica e atomista, foi minha própria escuta, que gosto de chamar de diálogos íntimos.

Nesta aprendi a me expressar integralmente enquanto pessoa, a reconhecer um pouco mais

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minha alma e historicidade, e perceber que sou um todo indivisível, que por contingências não

identificadas da vida fui lançado neste mundo e a uma temporalidade.

Os diálogos íntimos construídos na relação de ajuda possibilitaram reflexões e

tomadas de consciência das minhas dificuldades, do pior e melhor que mora em mim, dos

meus recursos internos e falta de talentos, e através deste caminho de auto reconhecimento,

autoajuda, auto transcendência, tendência à atualização e desenvolvimento dos potenciais

criativos, aprendi a ressignificar o ser pessoa, a consciência, o jeito de ser, a vida e o outro

humano. Busquei consequentemente através desta aprendizagem construir atos educativos que

me lançassem a um novo modo de estar no mundo e na relação de ajuda.

E a partir destas aprendizagens construí o entendimento de que quem promove a

relação de ajuda na perspectiva de desenvolver os potenciais criativos, ou seja, a intuição, a

sensibilidade, a expressão, as diferentes formas de linguagem, a afetividade, o transformar a si

e o outro, a dialogicidade, a liberdade experiencial, enfim, é indubitavelmente um facilitador

do crescimento pessoal, um educador, um artista.

E ratificando o escrito acima, saliento que devido a narrativa conceitualizante

apresentada durante a graduação, nasceu à necessidade de ir além do apresentado como

entendimento do ser humano, e mergulhar numa caminhada interdisciplinar com expectativas

de percursos transdisciplinares onde temas contemporâneos tais como, potenciais criativos

fossem tratados.

Assim de maneira sincrônica, como diz Carl Gustav Jung (1967) senti brotar o

sentimento de pertencimento no Programa de Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, em Educação, Arte e História da Cultura. Digo de maneira sincrônica pois

encontrei nesta Universidade o fomento intelectual e sensível que busco, as relações

pedagógicas que acredito, a possibilidade interdisciplinar de pensar e existir frente não só ao

saber, mas o jeito de ser. Por isso, sou muito grato por mais uma vez poder partilhar e ser

auxiliado por esta Instituição de ensino tão respeitada, a construção de mais uma caminhada

acadêmica, meu doutoramento.

E para simbolizar o sentir atual vivenciado apresento a imagem abaixo (Figura 3) para

materializar a beleza do me lançar a vida, a transformação e a construção dos potenciais

criativos.

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Figura 3. Imagem que representa a beleza do me lançar a vida, a transformação e a construção dos potenciais

criativos. (DIVINA LUZ, 2017)

I. INTRODUÇÃO

Apesar da passagem do tempo, de mais idade acumulada pela vida, de maior

conhecimento teórico e experiencial, e talvez maior aprofundamento no conhecimento

referente à Psicologia, a Educação e a Arte acumulados nestes mais de vinte anos que se

passaram após a conclusão da graduação, os sonhos de juventude continuam vivos.

Hoje, vivencio grande satisfação por poder através do trabalho como professor de

Psicologia e psicólogo contribuir para a promoção da educação, consequentemente para um

melhor bem-estar pessoal e social do ser humano através da relação de ajuda. Desta forma,

encontram-se no meu íntimo hoje as mesmas sementes daquele jovem visionário que a mais

de vinte anos atrás buscava promover através do estudo e do trabalho, transformações que

possibilitassem uma melhor qualidade de vida as pessoas.

Iniciei minha atividade profissional como educador, como mencionei anteriormente,

no magistério secundário em 1992, estágios na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

e no Hospital das Clínicas de SP, e já como psicólogo, em 1995, no Hospital Nova Vida em

Itapevi e no Instituto Jessé de Psicologia Aplicada, e sempre acreditei intuitivamente apesar

de inexperiente, no início da minha carreira, que para me sair bem durante o desenvolvimento

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dos trabalhos precisava ir além do simples reproduzir das informações e metodologias

cientificamente construídas.

Mas, apesar deste saber intuitivo, não conseguia encontrar caminhos e fundamentos

que pudessem me levar a construir uma práxis da relação de ajuda mais participativa e

progressista onde a historicidade dos educandos não fosse negada, e que visasse desenvolver

os potenciais criativos. Saliento, contudo, que chamo aqui de educandos todas as pessoas que

participavam das atividades de relação de ajuda desenvolvidas nas escolas, hospital,

consultório, etc.

Naquela ocasião, devido ser muito jovem, inexperiente profissionalmente e com pouca

formação acadêmica, a possibilidade de eu provocar um desastre educativo era eminente, e sei

lá se não provoquei, já que não possuía de fato determinados conhecimentos essenciais para a

construção de atos educativos transformadores.

Ao ler hoje através da minha narrativa contemporânea a prática educativa que

desempenhei até então, observo que eu contribuía muito pouco para um processo de

aprendizagem significativa e dialógica, pois eu era de fato um transmissor de informações nos

trabalhos desempenhados, visto que minhas ações estavam pautadas fundamentalmente numa

práxis educativa biologizante, positivista, monolítica e atomista do conhecimento, do ser

humano e das ciências; consequentemente o desenvolvimento dos potenciais criativos não se

faziam presentes nas ações educativas materializadas nas relações de ajuda desenvolvidas por

mim até então.

Corroborando com estas minhas memórias de educador, ressalto algumas

reminiscências onde escutava de alguns educandos que os mesmos estavam insatisfeitos e

desinteressados pelo aprender, pelo ir além de si mesmos, pois julgavam que os conteúdos

transmitidos e os planos de ações construídos eram desinteressantes, descontextualizados e

sem sentido com suas histórias de vida, e que da maneira como eram transmitidos e aplicados

contribuíam muito pouco com a história de vida de cada um deles.

Meus educandos eram aparentemente inatingíveis, eu e os demais educadores éramos

apenas empecilhos às suas realizações pessoais, interesses cognitivos e o desabrochar dos

potenciais criativos destes.

Essa realidade me angustiava muito, pois de maneira embrionária e intuitiva, como já

escrevi anteriormente, sabia que a função do educador, em qualquer lugar que estiver, seja,

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escola, hospital, clínica, etc., não era apenas transmitir conteúdos, desenvolver e aplicar

planos de ação.

Naquela momento não dispunha de recursos para promover atos educativos

participativos que visassem o desenvolvimento dos potenciais criativos, e frente a esta

angústia iniciei de maneira autodidata uma procura mais aprofundada sobre os fundamentos

educacionais interdisciplinares e inclusivos, e nesta procura dentre vários autores encontrei a

ação educativa de Paulo Freire, um revolucionário brasileiro, nordestino, que se posicionava

contra o sistema de educação onde o outro e sua historicidade não existiam na relação

pedagógica.

Depois de muito refletir comecei a olhar para minha história e buscar em minhas

memórias afetivas os educadores que me marcaram positivamente, e a resgatar nas

lembranças o que haviam construído em suas ações educativas.

Foi a partir da vivência com outros educadores que comecei a identificar e reconhecer

as referências positivas que tive em minha trajetória educacional, e foi a partir deste momento

que percebi o quanto eu parecia devido o meu modelo bancário de interagir com os

educandos, uma máquina de reprodução de conteúdos científicos nos atos educativos.

Ao perscrutar minhas lembranças, recordei que os meus melhores educadores foram

aqueles que me tratavam como pessoa inteira. A partir desta tomada de consciência comecei a

transformar os atos educativos na intenção de obter melhores resultados educacionais.

Comecei então a me aproximar dos educandos, a me interessar por suas dificuldades, pelo

jeito de ser de cada um deles, por suas singularidades e potenciais criativos.

Após esse momento de reflexão e tomada de consciência o trabalho fluiu, pois busquei

aceitá-los de maneira empática e incondicionalmente positiva, e fui aceito e acolhido da

mesma forma por eles. Quando eu entrava no espaço de trabalho, seja sala de aula,

consultório ou grupo de apoio, estava entrando um pertencente ao processo, e não um

transmissor de conteúdos cientificamente construídos, e assim, a minha vida como facilitador

do ato educativo através da relação de ajuda passou a tomar um novo rumo. Percebi a partir

disto que as atitudes dos educandos frente à vida também passaram a ter um novo sentido, e

isto me fez crer no seguinte princípio, que só se pode levar o outro até onde se foi, que a

pessoa que facilita a relação de ajuda é um dos principais condutores do processo

transformacional do outro, e não a literatura em si, as metodologias, métodos e instrumentos

aplicados, como comumente é defendido na academia.

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Percebendo o efeito positivo de minha nova atitude frente ao ato educativo e aos

educandos, passei a tratá-los como pessoas e não apenas como objetos. Observei que não era

apenas com os educandos que eu estava me relacionando melhor interpessoalmente, pois a

reação diante da nova postura educativa se estendeu para todos os ciclos interpessoais, tornei-

me uma pessoa mais integrada, sensível, acolhedora, e com maior capacidade de conviver

com diversidades de jeitos de ser e culturas, pois nesta busca humana me tornava melhor,

mais manso, menos feroz, com pouco temer a luta, com o peito aberto a vida, caçando a mim

mesmo. Afinal, como escreveu o poeta,

Por tanto amor

Por tanta emoção

A vida me fez assim

Doce ou atroz

Manso ou feroz

Eu caçador de mim

Preso a canções

Entregue a paixões

Que nunca tiveram fim

Vou me encontrar

Longe do meu lugar

Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta

Nada a fazer senão esquecer o medo

Abrir o peito a força, numa procura

Fugir as armadilhas da mata escura

Longe se vai

Sonhando demais

Mas onde se chega assim

Vou descobrir

O que me faz sentir

Eu, caçador de mim

(Luís Carlos Sá, 1981)

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Figura 4. Imagem do cantor, e de um dos autores da música Caçador de Mim, Milton Nascimento.

(NASCIMENTO, 2017)

Neste mesmo período, em 1997, iniciei o mestrado em Educação, Arte e História da

Cultura na Universidade Presbiteriana Mackenzie, UPB, e a procura por textos, autores,

professores, seminários e colegas que abordassem o ato educativo de maneira não

dicotomizada se tornou um sentido em minha vida, visto que existia em mim uma

intencionalidade, uma busca por um alimento chamado arte, uma arte onde o

desenvolvimento dos potenciais criativos fosse a máxima; assim na perspectiva de promover

encontros de relação de ajuda com arte, premissas como a tradição epistemológica pautada na

Filosofia de René Descartes onde cognição e afetividade não poderiam se integrar perderam

sentido para mim.

Ressalto que um dos maiores mobilizadores da minha busca por esta investigação se

deve ao fato de que, em minha experiência, as pessoas que procuram a relação de ajuda

buscam um educador com alma humanista, um artista, artista este que através do ato

educativo criativo auxilia o outro humano a ir além de si mesmo, se descobrir e lapidar suas

características individuais, seu traço, tom, movimento e expressão únicas no modo de existir

enquanto artista da vida, seus potenciais criativos, consequentemente, o construir-se enquanto

pessoa.

Logo, acredito que devido à unicidade de sentidos entre ato educativo e relação de

ajuda, é incongruente uma práxis educativa não orientada para o desenvolvimento dos

potenciais criativos, para o bem comum e o ser mais inteiro, pois o ato educativo, logo, o se

relacionar ajudando, estimula indubitavelmente no ser humano à capacidade de ser para o

outro e consequentemente, o comungar com os anseios do coletivo.

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Por isso considero que a ação educativa voltada fundamentalmente para aquisição de

conteúdos cientificamente acumulados é pouco facilitadora na construção de uma sociedade

mais inclusiva e tolerante a diversidade cultural, como também a considero inócua na

promoção da luta pelos direitos individuais e coletivos da sociedade, e para o

desenvolvimento dos potenciais criativos.

A relação de ajuda e suas ações educativas, nesta narrativa, portanto, está caracterizada

por mim como um encontro onde pessoas estão intencionadas a dialogar sobre determinados

conteúdos a partir de linguagens e narrativas pessoais, e a partir delas buscar construir

relações dialógicas e novos entendimentos, historicidade, burilamentos íntimos e perspectivas

de ver a si, o outro, a sociedade e o universo cultural circundante com novas possibilidades

compreensivas; tornando-se pessoas contemporâneas e interdisciplinares na forma de perceber

os fenômenos da vida, das ciências, das religiões, e do ser único e coletivo de cada um de nós,

enfim, do estar simplesmente lançado no mundo.

Frente a estes novos caminhos e encontros sincrônicos, agraciei-me através de um

curso de formação em Psicologia humanista por obras de autores magníficos que também

fundamentam e constroem minhas narrativas frente a educação, a clínica psicológica, o ser

humano, enfim, à vida. Um destes autores que considero de grande relevância para a minha

formação é Carl Rogers.

Carl Ranson Rogers (1902-1987) foi um psicólogo norte americano e um dos

fundadores de Psicologia Humanista, postula a não fragmentação do ser humano, pois para ele

o ser humano precisa ser considero como um todo, isto é, um ser holístico, histórico e social,

que é dotado de potencialidades criativas. Desenvolveu a Psicologia Humanista, também

chamada de Terceira Força da Psicologia, sendo Rogers um dos principais responsáveis pelo

acesso e reconhecimento dos psicólogos nas intervenções clínicas por meio da relação de

ajuda, antes dominado pela psiquiatria e pela psicanálise.

Rogers nasceu em Oak Park, Illinois, nos Estado Unidos, seus pais eram protestantes,

e sua formação acadêmica iniciou-se na universidade de Wisconsin. Estudou inicialmente

Agricultura, mas no segundo ano do curso mudou-se para História. Logo após graduar-se, em

1924, matriculou-se no Seminário Teológico Unido, em Nova Iorque, onde recebeu uma

liberal visão filosófica da religião, neste ficou por dois anos, após isto matriculou-se no

Teachers College da Columbia University, onde começou a se dedicar a Psicologia. Neste

obteve seus títulos de Mestre em 1928 e Doutor em 1931.

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Rogers foi um dos maiores e mais consagrados psicólogos norte-americanos, como já

escrito, um dos pioneiros da psicologia humanista, e de desenvolvimento de métodos

científicos para investigar o psiquismo e as relações humanas. Dentre suas várias

contribuições, propôs novas possibilidades de conduta educativa nas relações de ajuda, criou e

desenvolveu uma compreensão sobre o ser humano e um modelo de relação de ajuda, que

historicamente foi se transformando enquanto linguagem, método e visão sobre o ser humano.

Sua compreensão teórica inicialmente foi chamada de aconselhamento de orientação não

diretiva, depois de terapia centrada no cliente e atualmente de psicoterapia centrada na pessoa.

Com Rogers (1977) aprendi de maneira significativa que relações de ajuda são

invariavelmente atos educativos e vice-versa, pois

A relação entre terapeuta [educador] e cliente [educando] pertence a esta última

categoria [ato educativo]. É, pois, um tipo de relação em que a significação e os

efeitos são determinados por certas qualidades, ou verdadeiramente terapêuticos ou

simplesmente sentidos como agradáveis e estimulantes [estimulantes ao

desenvolvimento dos potenciais humanos]. (ROGERS; KINGET, 1977, p.120).

Rogers iniciou sua vida profissional em 1928, no centro de orientação infantil, em

Rochester, como diretor da clínica psicopedagógica, onde trabalhou durante doze anos. Em

1939, escreveu seu primeiro livro “Clinical Treatment of the Problem Child” (O Tratamento

Clínico da Criança Problema), cuja edição foi responsável pelo convite para assumir o cargo

de professor na Universidade de Ohio, onde ficou por cinco anos, e disse Rogers:

Tenho a certeza de que a única razão de minha admissão foi ter publicado a minha

obra Clinical Treatment of the Problem Child que elaborara a custo durante o

período de férias ou em curtos feriados. (ROGERS, 1977, p.25).

No final de 1940, numa conferência na Universidade de Minnesota, apresentou as

ideias da sua primeira obra e se deparou com reações extremamente fortes, e nesta experiência

Rogers vivenciou o fato de suas ideias, que para ele pareciam brilhantes e fecundas,

representavam para outros uma grande ameaça (ROGERS, 1977).

Uma das ideias de Rogers que provocou reações de estranheza nos profissionais

presentes na conferência na universidade de Minnesota, em 1940, foi que a relação terapêutica

é apenas mais uma forma de relacionamento interpessoal, e que as leis que regem estas são as

mesmas que orquestram qualquer relação de ajuda. Este entendimento de Rogers fez com que

o mesmo voltasse seu interesse também a toda forma de intervenção que visasse o

desenvolvimento humano, não apenas à psicoterapia. Assim configurou-se o que Rogers

chamou de relação de ajuda, cita-se:

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Entendo por esta expressão uma relação no qual pelo menos uma das partes procura

promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor

funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida. O outro, nesse sentido,

pode ser quer um indivíduo, que um grupo. (ROGERS, 1999, p. 46)

Portanto, promover a relação de ajuda é propiciar uma situação na qual as pessoas

envolvidas procuram promover uma maior apreciação, expressão e vivência dos recursos

latentes presentes em cada ser humano.

Assim Rogers (1999, p. 46), afirma:

É, no entanto, claro que uma definição desse gênero abrange toda uma série de

relações cujo objetivo geral é facilitar o crescimento. Ela inclui, sem sombra de

dúvida, as relações da mãe ou do pai com seu filho, ou a relação do médico com o

doente. A relação entre o professor e os alunos caem muitas vezes no âmbito dessa

definição, embora certos professores não tenham como objetivo facilitar o

crescimento.

Continua afirmando que este entendimento sobre o que é relação de ajuda,

[...] aplica-se a quase totalidade das relações terapeuta-cliente, quer se trate da

orientação educacional, da orientação vocacional ou do aconselhamento pessoal.

Nesta última extensão do termo, a relação de ajuda compreenderia toda a gama das

relações entre psicoterapeuta e o psicótico hospitalizado, o terapeuta e o indivíduo

perturbado ou neurótico, e as relações entre o terapeuta e o número crescente dos

chamados “indivíduos normais” que se submetem ao tratamento terapêutico com o

objetivo de melhorar seu próprio funcionamento ou de acelerar sua maturação

pessoal. (ROGERS, 1999, p. 46)

É interessante ressaltar que para Rogers o conceito de relação de ajuda não está

vinculado ao conceito estritamente clínico pois para o autor:

Existem administradores que procuram estabelecer com o seu pessoal relações que

promovam o crescimento, enquanto outros não se interessam por este objetivo. A

interação entre o consultor industrial e um grupo de diretores assume

progressivamente a forma a forma de relação de ajuda. Talvez essa enumeração

sirva para provar que uma grande parte das relações nas quais nós e os outros

estamos envolvidos entram nessa categoria de interações em que existe o propósito

de promover o desenvolvimento e um funcionamento mais maduro e mais adequado.

(ROGERS, 1999, p. 46).

Uma das formas comuns de promoção de relações de ajuda nos meios clínicos e

educacionais é o aconselhamento psicológico, que conceitualmente também é usado como

referência à psicoterapia por Rogers, já que tem finalidades comuns. Portanto estes visam

ajudar o indivíduo a obter melhor compreensão de si para orientar-se na solução de problemas

vitais, contudo é importante ressaltar que a relação de ajuda não é uma prática estritamente

desenvolvida por psicólogos, mas por todos que possuem o saber sobre a construção desta.

Scheeffer (1979, p.15) escreve:

Há um grande número de profissionais que se dedica a entrevistas, com a finalidade

de trazer modificações construtivas na atitude de seus clientes, através de seus

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contatos tête-à-tête. Quer sejam chamados psicólogos, orientadores educacionais,

assistentes sociais [...]”, “[...] se a sua tarefa se relaciona com indivíduos [...], que

deixam as entrevistas de alguma maneira melhor ajustadas às dificuldades e

enfrentando a realidade da vida de maneira mais construtiva, então os métodos

usados são de interesse para nós”. “[...] a diferença [entre conceitos] é uma questão

apenas de terminologia”.

O embasamento teórico e metodológico de sua compreensão está contido na obra

Psicoterapia & Relações Humanas: Teoria e Prática da Teoria Não diretiva, vol. I, onde estão

definidos uma série de conceitos que delineiam sua teoria da personalidade humana, modelos

de terapia, mudança da personalidade e relações interpessoais.

Contudo destaco que para o autor algumas atitudes são essencias para que ocorra um

bom desenvolvimento das relações de ajuda e do desenvolvimento humano. Dentre estas

atitudes, Rogers (1999) cita a aceitação democrática, que corresponde ao sentimento de

igualdade e afeto positivo pelo outro, uma capacidade para compreender o que o outro

pretende significar e os seus sentimentos, uma receptividade sensível, um interesse caloroso,

porém sem excessos emocionais. Sobretudo, não posso deixar de citar as clássicas atitudes

facilitadoras presentes na obra de Rogers, são elas: Aceitação Positiva Incondicional,

Compreensão Empática e Congruência. A primeira corresponde a afetividade presente na

atitude manifesta do orientador, a segunda, corresponde a capacidade de o orientador sentir o

mundo do outro, e a terceira, corresponde ao nível de autenticidade expresso entre o que é

falado e o que é sentido pelo orientador.

É de suma importância esclarecer que para Rogers o essencial para um bom

desenvolvimento das relações de ajuda é a personalidade do facilitador, e não seus

fundamentos teóricos.

[...] as atitudes e os sentimentos do terapeuta são mais importantes que sua

orientação teórica. Seus procedimentos e suas técnicas são menos importantes do

que suas atitudes. Deve-se também sublinhar que é a maneira como as atitudes e

seus procedimentos são percebidos que é importante para o cliente, e que o crucial é

a percepção. (ROGERS, 1999, 51).

Algumas características da relação de ajuda proposta por Rogers baseiam se na

possibilidade da liberdade, pois o autor acredita que uma sociedade não pode se tornar livre

sem que liberte os aprisionados, defende que só com a ação libertária cada integrante da

sociedade pode revelar seus potenciais.

Reitero que a relação de ajuda é entendida por Rogers (1977) como sinônimo de ato

educativo, pois invariavelmente “ambos” são caminhos para o crescimento e desenvolvimento

da aprendizagem e dos potenciais humanos.

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Portanto, a relação de ajuda ocorre quando se busca oferecer as condições necessárias

para que ocorra o desenvolvimento pessoal e social dos envolvidos, e nesta possibilidade de

encontro educativo procura-se oferecer a possibilidade do encontro humano, da mutualidade

entre as pessoas, da busca pelos potenciais criativos e transcendência da personalidade

humana. Assim, as ações educativas inerentes ao desenvolvimento de aprendizagens

comportamentais significativas, e promotoras das condições essenciais do tornar-se pessoa,

são também estimuladas através da compreensão empática, da congruência e da aceitação

positiva incondicional.

Para Rogers (1977) a relação de ajuda acontece quando num encontro interpessoal

estruturado se dialoga sobre determinada questão, sendo que esta pode acontecer nos mais

diversos espaços, escolas, consultórios, hospital, centros comunitários, igrejas, postos de

saúde, etc., e com demandas humanas das mais diversificadas.

Na relação de ajuda preconiza-se que uma das partes procure promover noutra um

melhor bem-estar, e uma maneira de compreender, lidar e atuar frente as questões dialogadas.

Desta forma, promover a relação de ajuda é estar no momento desta inteiramente para o outro,

na expectativa de provocar uma alteração de consciência, de provocar um estado psíquico de

maior profundidade, sensibilidade, fluidez, presença genuína, e intencionalidade do melhor

caminho, frente a questão ou questões abordadas.

Scheeffer (1979), também reflete sobre o conceito de relação de ajuda, chamando-a de

aconselhamento, mas diz que este processo de ajuda ocorre quando numa relação interpessoal

uma das partes, no caso o conselheiro, ajuda a pessoa a se desenvolver em sua totalidade

psíquica, tornando-a mais adaptada ao mundo e menos conflitiva consigo.

Assim sendo, a relação de ajuda se dá na medida em que pelo menos uma das partes

procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento dos potenciais criativos, a

maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida, já que

qualquer relação pessoa/pessoa onde um humano auxilia outro humano visando a Educação, a

ressignificação psíquica e o desenvolvimento dos potenciais adaptativos e criativos pode ser

considerada uma relação de ajuda. (ROGERS, 1977).

É intrínseco que não entendo o sentido de ação educativo presente nas relações de

ajuda, como transmissão de conteúdos cientificamente construídos pelas ciências do

comportamento humano, mas sim, como toda ação humana onde esteja intencionada a

possibilidade das pessoas trocarem experiências de vida, conhecimentos acumulados, e mais,

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onde aspectos da personalidade possam ser experienciados, abrandados e desenvolvidos, tais

como, os potenciais criativos e a afetividade.

Quando ainda cursava o mestrado aprofundei no estudo da teoria de Lev Semionovitch

Vigotski (1896-1934), que foi um dos fundadores da Psicologia histórico cultural, e o mais

importante teórico dessa escola no início do século XX. O olhar de Vigotski sobre o

psiquismo humano muito contribuiu para que a relação de ajuda encontrasse novos caminhos,

entendimentos e formas de intervenção, visto que através de suas contribuições teóricas o

pensar sobre o homem ganhou novas conotações, consequentemente, a forma de pensar e

atuar nas ações de relação de ajuda . Este autor nasceu na cidade de Orsha, em Bielarus

(antiga URSS). Vigotski estudou na Universidade de Moscou onde cursou Direito. Cursou

também, História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. Iniciou em 1924, seu

trabalho sistemático em Psicologia (em conjunto com A. R. Lúria, A. N. Leontiev, entre

outros), buscando uma alternativa para a crise entre concepções idealistas e reducionistas que

caracterizavam a Psicologia da época na União Soviética e alguns países da Europa e América

do Sul.

Em um curto período de tempo, 1924 a 1934, ano de sua morte, Vigotski pôde iniciar

o estudo objetivo de várias questões importantes da Psicologia de seu tempo, como por

exemplo, a retomada da consciência.

Ficou claro para mim que na perspectiva vigotskiana, a razão e a emoção não se

dissociam, ao contrário, influenciam-se durante toda a história do desenvolvimento do ser

humano, formando um complexo único e dinâmico do psiquismo. Sendo assim, é impossível

compreendê-los separadamente, pois é justamente a união entre o pensamento e emoção, a

proposta de Vigotski para a construção de uma Psicologia que conceba o processo do

desenvolvimento humano a partir das condições históricas, sociais e culturais vividas por cada

pessoa durante a vida.

Após a conclusão do mestrado me debrucei na obra de Paulo Freire, e constatei que

apesar de usar o conceito de empoderamento em sua obra, e não o de relação de ajuda, sua

ação educativa é uma relação de ajuda, pois considera sua ação educativa uma prática de

promoção humana, não considerando-a como uma experiência fria, sem afetividade, onde as

emoções e sentimentos não se façam presentes, pois educar é estar e sentir junto, é caminhar

rumo a um projeto comum, é se propor a ser uma pessoa participativa e transformadora frente

as necessidades do contexto social no qual se está inserido. (FREIRE, 1998a).

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Paulo Freire (1921-1997), ingressou em 1943 na Faculdade de Direito do Recife.

Depois de formado lecionou Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade

Federal de Pernambuco. Foi nomeado em 1947 diretor do setor de Educação e Cultura do

Serviço Social da Indústria em Recife. Fundou em 1955 nesta mesma cidade, o Instituto

Capibaribe, sendo que este instituto continua em atividades até hoje. Freire desenvolveu um

método para alfabetizar adultos que não puderam ter acesso à educação formal devido

desigualdades sociais. Seu método propõe que através de palavras geradas a partir da

realidade dos educandos a consciência crítica destes fosse estimulada, e que um novo olhar

sobre a realidade na qual estavam inseridos fosse construída, um dos fatores que motivou

Freire a desenvolver seu método foi o grande número de adultos analfabetos que viviam na

área rural dos estados nordestinos, formando estes um grande número de excluídos dos

direitos humanos.

A proposta metodológica de Paulo Freire foi e é utilizada em diversos países. Por sua

credibilidade como educador lecionou na Universidade de Harvard em 1969, e em Genebra,

na Suíça, foi durante dez anos consultor especial do Departamento de Educação do Conselho

Municipal das Igrejas, viajou por vários países promovendo consultoria em Educação. Em

1980, com a anistia, retornou ao Brasil, morou no Estado de São Paulo onde foi ser professor

da UNICAMP e da PUC. Devido seu trabalho na área educacional recebeu várias

condecorações, dentre elas os títulos de Doutor Honoris Causa de diversas universidades, são

41, ao todo, entre elas, Harvard, Cambridge e Oxford.

Um dos caminhos propostos por Freire (1998b) para iniciar a transformação social e

modificar a estabilidade conservadora da história da educação, é considerar o ser humano

como um ser político, autônomo, cheio de sensibilidade e alegria, pois a afetividade não se

encontra excluída da cognoscibilidade.

Freire defendia que a conquista aos direitos inerentes ao existir humano deve ser

promovida por todos nós humanos no exercício de nossas atividades profissionais, sociais e

humanitárias. Com isso defendo que cada pessoa deve promover através de interesses

comuns, de intencionalidades e pertencimentos, a promoção de causas que visem mudanças,

conquistas e a promoção do verdadeiro ato de amor, que dentre tantos adjetivos atribuídos a

esta palavra, cito solidariedade, humanidade, fazer existencial e a afetividade, já que,

Só na plenitude deste ato de amar, na sua existenciação, na sua práxis, se constitui a

solidariedade concretamente verdadeira. Dizer que os homens são pessoas e, como

pessoas, são livres, e nada concretamente fazer para que esta afirmação se objetive, é

uma farsa. (FREIRE, 1998a, p.36).

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Assim, defendo que educadores das mais diversas formações devam ser incentivados e

capacitados para promover em suas ações educativas atividades que estimulassem cada vez

mais os potenciais criativos, pois com estes o estar com o outro passaria a ter significado de

partilha, sensibilidade, criação, experiência, construção, autorização íntima, cor, som, beleza,

contemplação, imaginação... e afetividade; promovendo assim de maneira sutil, o que há de

melhor nas pessoas envolvidas no processo.

Rogers (1999) afirma que quando se estabelece uma relação de ajuda e se educa por

meio da afetividade, mais facilmente o ser humano revela seus potenciais criativos, seu poder

pessoal de atualização, de autoajuda e de crescimento frente à vida, pois liberta a imaginação.

A afetividade para muitos autores é:

[...] associação de todos os nossos sentimentos e predisposições em relação ao ou

situações, não importando se esses sentimentos e predisposições sejam positivos ou

negativos, ou seja, afetividade é o processo de afetar e ser afetado pelo outro seja de

que forma for. Entende-se também que afetividade faz parte da subjetividade do ser

humano que, para se caracterizar como tal, precisa de vínculos com os outros. Estes

vínculos são constituídos na vivência, e na interação com eles, que lhes afetam e são

afetados nessa relação. (SANTOS, 2013, p. 16)

Contudo, o sentido de afetividade nesta tese está ligado às conotações positivas do

termo, pois está vinculada ao sentido de sentimentos superiores, visto que é correspondente ao

lançar-se ao belo, ao transformar-se, ao resgatar-se, ao estimular os potenciais criativos e

adaptativos do ser humano, e também porque em princípio o conceito de relação de ajuda está

vinculado à perspectiva do desenvolvimento dos aspectos positivos da personalidade, por

meio da aceitação positiva incondicional, da compreensão empática e da congruência,

conforme afirma Rogers (1999). Diz o autor:

[...] b) o grau de afetividade positiva da atitude (consideração positiva incondicional)

manifestada pelo terapeuta [educador] em relação ao seu cliente [educando]; c) o

grau de autenticidade do terapeuta [educador], do acordo entre as suas palavras e os

sentimentos internos; d) o quanto a resposta do terapeuta [educador] concorda com a

expressão do cliente [educando] na intensidade da expressão afetiva [positiva, ou

seja, a afetividade]. (ROGERS, 1999, p. 55)

Portanto defende-se que é também por meio da afetividade que os educadores podem

contribuir para formação de seres humanos mais inteiros e sensíveis, como diz Freire (1998b),

mais pessoa, como diz Rogers (1999) e mais dialéticos, como diz Vigotski (1998b).

Apesar de Rogers, Vigotski e Freire terem vivido percursos sociais, históricos e

culturais diferentes, estes encontraram-se nas reflexões. Assim, mesmo com o desencontro do

tempo e dos corpos físicos, encontraram-se nos pensamentos, na alma humanista, na

sensibilidade, na criatividade, no pertencimento intelectual, na afetividade, enfim, nos seus

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potenciais criativos ao se lançarem a poésis sobre o ser humano, pois estes autores postularam

a não fragmentação deste, pois para eles o ser humano precisa ser considerado como um todo,

isto é, um ser holístico, histórico e social, que é dotado de potencialidades criativas.

Estes autores, como já dito, apesar de terem brotado em solos geográficos, históricos,

culturais, políticos, ideológicos, experienciais e científicos diferentes, consideraram que o ser

humano está em constante processo de construção de sua consciência, que está em constante

interação com o meio histórico cultural e que, através da interação com a sociedade se

transforma e transforma a realidade na qual está inserido.

Sendo assim, guiando-me pelo mais profundo dos sentimentos e com a certeza da

possibilidade do diálogo interdisciplinar entre estes autores que tanto influenciam minhas

narrativas frente à Educação, a Psicologia, o ser humano, a vida e as relações de ajuda,

intenciono nesta investigação de doutoramento refletir sobre suas contribuições para A

Relação de Ajuda como Ação Educativa.

Assim, este versar sobre A Relação de Ajuda como Ação Educativa, é

academicamente relevante pois nas concepções de competência do mundo atual, não mais se

aceita a antiga conotação de competência onde o educador deveria ser distante, imparcial,

isolado, neutro e não relacional.

Este modelo de ser educador hoje não corresponde pelo que observo, às expectativas

da pessoa humana que procura e se submete a relação de ajuda, pois existe nos educandos a

procura pelo se educar, relacionar, trocar e interagir com outro.

A escolha desta temática envolve aspectos pertinentes as Linhas de Pesquisa do

PPEAHC: Formação do Educador para a Interdisciplinaridade e Cultura e Artes na

Contemporaneidade. Apresentei este projeto de pesquisa de doutorado para o programa de

Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, pois acredito na visão interdisciplinar almejada por esta Universidade, visto que

na contemporaneidade não mais se pode estudar quaisquer fenômenos dispensando uma visão

interdisciplinar.

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Figura 5. Imagem da Universidade Presbiteriana Mackenzie. (ENCONTRASP, 2017)

Outro motivo que me fez escolher a Universidade Presbiteriana Mackenzie para

desenvolver minha tese de doutorado, é que minha formação acadêmica se deu em grande

parte nesta instituição. Admiro muito esta IES por sua história, trajetória educacional e

seriedade na forma de conduzir o processo educativo, por isso não aceitava cursar meu

doutoramento em outra universidade; assim esperei 15 anos após a conclusão do Mestrado

para iniciar meu doutorado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, apesar de outras

possibilidades terem aparecido, visto que o ideário que dá sustentação a instituição

comunitária confessional é compatível com as teorias aqui discutidas.

Desta forma, outra IES para cursar o doutorado não era uma opção para mim, como

também outra orientadora. Meu projeto era o Mackenzie como instituição, e a professora

Regina Giora como orientadora, o porquê da minha identificação com o Mackenzie já foi dito

acima, mas com a professora Regina Giora deve-se ao seu perfil vanguardista como

pesquisadora e intelectual, seu jeito de ser pessoa, sua poésis educativa e sua arte genuína de

promover relações de ajuda altamente enriquecedoras ao intelecto e a alma; assim, muito

obrigado pela orientação de doutoramento, e por me ensinar que na arte de educar e aprender,

como diz o poeta Milton Nascimento, em sua música Coração de estudante, aqui

parafraseada, educar é querer falar de uma coisa, que deve estar dentro do peito, ou caminha

pelo ar, mas que pode estar aqui do lado, bem mais perto que pensamos, e que a folha da

juventude, a juventude da alma, não a cronológica, a que mobiliza à vida e a procura, é

responsável pela esperança, esperança de que a vida nos de broto, fruto e fé.

II. RELAÇÃO DE AJUDA, DO TRO A TERAPÊUTICA

A história da relação de ajuda pelo observado nas pesquisas feitas sobre o tema é

pouco estudada pela ciência psicológica. Constata-se isto nas pouquíssimas publicações sobre

o assunto. Frente a esta dificuldade surgiu a necessidade de construir nesta pesquisa de

doutoramento o mapeamento que a seguir será apresentado para que outros investigadores do

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tema possam pautar-se para desenvolver novas pesquisas nesta temática, já que conforme

escrito acima esta organização não está disponível na literatura psicológica, como se apresenta

a seguir.

Nos aspectos etimológicos o termo Psicologia é constituído do prefixo Psyche, que

corresponde à figura mitológica grega, que significa enquanto conceito, alma ou espírito, e do

sufixo Logus, que corresponde ao conceito de estudo ou discurso.

Metring (2009), comenta que segundo Platão, o termo psique corresponde a vida

mental do ser humano. Diz ainda que estudar a Psicologia é se debruçar sobre o estudo da

alma humana, e que este termo foi defendido por Philip Melanchthon (1497-1560) por volta

de 1550, e popularizado por Christian Von Wolff (1679-1754).

Mas, no ano de 1879, Século XIX, nascimento a chamada Psicologia científica,

quando Wilhelm Wundt (1832-1920) influenciado pelo ponto de vista dos filósofos

racionalistas, principalmente Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), criou o primeiro

laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig, Alemanha, investigando principalmente

os processos de percepção humana sobre as sensações recebidas do meio, na tentativa de

encontrar os princípios que regiam as sensações e os conteúdos mentais.

Wundt e seus colaboradores tinham como objetivo entender a subjetividade, que

naquele período era chamado de mentalismo ou conteúdo mental; como também a estrutura

da mente, pois defendiam que essa estrutura poderia ser analisada em elementos ou partes.

Figura 6. Imagem de Wundt e seus colaborados no primeiro laboratório de psicologia experimental.

(NAVARRA, 2017)

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A Psicologia de Wundt recebeu inicialmente uma grande influência filosófica na

forma de conceber o ser humano, consequentemente seu psiquismo. Esta grande influência foi

do Racionalismo alemão, que teve como maior representante o filósofo Gottfried Wilhelm

Leibniz (1646 - 1716) (METRING, 2009).

Outros filósofos também contribuíram com o pensamento racionalista ao longo da

História da Filosofia, são eles: Platão, René Descartes, Baruch Spinoza, Gottfried Wilhelm

Leibniz, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Kant (REALE, 1994).

Os racionalistas defendiam que a mente é uma instância ativa e produtiva, com

capacidade para gerar ideias, recordar, raciocinar e desejar, sem depender diretamente de

qualquer estímulo do meio, mais especificamente das sensações.

Wundt criou uma metodologia de investigação psicológica que deu o nome de

introspecção, nesta as pessoas que se submetiam aos experimentos eram treinadas a observar

atentamente e descrever com total objetividade suas experiências subjetivas em situações

controladas em laboratório.

Figura 7. Imagem de Wundt e seus colaborados em experimento no primeiro laboratório de psicologia

experimental. (VICTOR, 2017)

Um dos principais colaboradores de Wundt foi Edward Titchener, e foi este

colaborador que nomeou a introspeção, método usado pelo seu mestre de Estruturalismo, e

este como já dito, visava conhecer a estrutura consciente da mente, ou seja, as descrições

objetivas das sensações.

Foi a partir do Estruturalismo de Wundt que se desenvolveram de forma sistemática as

investigações em Psicologia, e segundo este, o objeto de investigação da Psicologia era o

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estudo científico da Experiência Consciente através da Introspecção (ANASTASI; URBINA,

2000).

No seu laboratório, a partir da introspecção, Wundt e seus colaboradores pesquisavam

o tempo de reação do ser humano diante de determinadas situações controle, visando

identificar as medidas e classificações das sensações no seu aspecto visual, tátil, olfativo e

cinestésico (METRING, 2009).

A citação abaixo reflete bem as premissas do entendimento de Wundt sobre a

experiência consciente.

A experiência imediata de olhar para uma flor, contudo, não está no objeto em si,

mas na experiência de uma coisa vermelha. Assim, para Wundt, a experiência

imediata não sofre o viés de interpretações como descrever a experiência da cor

vermelha da flor em termos do próprio objeto – a flor. Do mesmo modo, quando

descrevemos nossa sensação de desconforto por causa de uma dor de dente,

relatamos a nossa experiência imediata. (SCHULTZ, 1981, p.82).

Wundt analisava as sensações do organismo humano, como no exemplo citado acima,

como um estado básico da consciência ou um elemento da mente. Visava conhecer a

consciência em seus componentes mais elementares, comuns às ciências biológicas e naturais

da época.

Buscavam conhecer as uniformidades do comportamento humano frente a

determinados estímulos, e não a mensuração das diferenças individuais, como assim queria a

também recém-chegada inglesa psicometria, que é a ciência da medição das faculdades

mentais, fundada por Galton, psicólogo, antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico

inglês, aproximadamente em 1890.

Para os estruturalistas,

o fato de um indivíduo reagir diferentemente de outro quando observado em

condições idênticas era considerado como uma forma de erro. A presença de tal erro,

ou a variabilidade individual, tornava as generalizações aproximadas, ao invés de

exatas. (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 42)

Assim, fica evidente que para Wundt e seus colaboradores as diferenças individuais

não eram relevantes para serem estudadas, pois estas devido o modelo de ciência da época,

pautados nas ciências da natureza e biológica, eram erros, visto que impossibilitavam a

dedução científica através da generalização. Portanto, “os defensores da psicologia

experimental refletiam a influência de seus backgrounds na fisiologia e na física”

(ANASTASI; URBINA, 2000, p. 42). Assim,

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eram as uniformidades e não as diferenças individuais do comportamento humano

que constituíam o foco da atenção da nova ciência, a Psicologia, fundada

[oficialmente] por Wundt em 1879. (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 42)

Como já dito anteriormente, investigavam em seus laboratórios a sensibilidade aos

estímulos visuais, auditivos e outros estímulos sensoriais, e ao tempo de reação simples, mas

ressalta-se que o modelo científico dos estruturalistas refletiu diretamente na construção dos

primeiros testes mentais, pois o rigor científico que estes imprimiam em suas pesquisas serviu

como modelo para construção e aplicação dos instrumentos psicométricos, como se verifica

na obra de Galton.

Esta influência na construção dos instrumentos de avaliação psicológica se observa

nos princípios da ciência psicométrica nos seguintes itens: Na necessidade de um rigoroso

controle das condições em que as observações são feitas, no controle das instruções, já que se

estas não forem iguais aos participantes, o tempo de reação pode ser maior ou menor frente ao

estímulo dado, na padronização do ambiente, pois se este não houver, o brilho e a cor podem

alterar a aparência do estímulo, alterando consequentemente a resposta da pessoa avaliada

(ANASTASI; URBINA, 2000).

Portanto, mesmo não sendo a intenção dos estruturalistas avaliarem as diferenças

individuais do ser humano, estes contribuíram através de sua rigorosa metodologia para que a

padronização dos procedimentos psicométricos se tornasse o grande vetor na construção e

aplicação da testagem psicológica.

Figura 8. Imagem de Wilhelm Wundt (1832-1920), pai da Psicologia. (HUMAN BEHAVIOR EXPERT, 2017)

Galton debruçou-se sobre o medir das capacidades e dificuldades humanas, e

desenvolveu técnicas estatísticas modernas para mensurar características, na época,

consideradas como aspectos psicológicos simples, tais como, características antropométricas,

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de acuidade visual, auditiva, força muscular e tempo de reação (FRIEDMAN; SCHUSTACK,

2004). Era inglês, biólogo de formação, mas se interessou por antropologia, meteorologia,

matemática e estatística, e foi o principal fomentador da investigação psicométrica, tinha

grande interesse pela hereditariedade humana, e durante seus estudos interessou-se por

investigar e medir as características de pessoas com e sem laços biológicos. Assim se colocou

a buscar identificar características semelhantes entre pais e filhos, irmãos, primos, gêmeos, e

não parentes.

Conseguiu que várias escolas mantivessem em registros antropométricos sistemáticos

de seus alunos. Montou um laboratório antropométrico na exposição internacional de 1884,

onde interessados se submetiam a exames para medir características físicas, acuidade visual e

auditiva, força muscular, tempo de reação e outras funções sensório-motoras. E através destes

exames, tem-se a primeira sistematização sobre as diferenças psicofísicas individuais em

processos psicológicos simples.

O próprio Galton planejou a maioria dos testes simples aplicados em seu laboratório

antropométrico, muitos dos quais ainda são conhecidos em sua forma original ou em

formas modificadas. Exemplos incluem a barra de Galton para a discriminação

visual do comprimento, o apito de Galton para determinar o tom audível mais

elevado e as séries graduadas de pesos para medir a discriminação cinestésica.

(ANASTASI; URBINA, 2000, p. 43)

Figura 9. Imagem da barra de Galton. (COLUCI; PAULINO; SOUZA; VASCONCELOS, 2017)

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Figura 10. Imagem do Apito de Galton. (WIKIVISUALLY, 2017)

Galton defendia que os resultados obtidos nos exames de discriminação sensorial eram

indicativos do intelecto do ser humano, pois para ele,

a única informação que nos atinge, referente aos eventos externos, parece atravessar

a avenida dos nossos sentidos; e quanto mais os sentidos percebem as diferenças,

maior é o campo em que nosso julgamento e inteligência podem agir. (GALTON,

1883, p. 27 apud ANASTASI; URBINA, 2000, p. 43)

Contudo Galton não desenvolveu especificamente nenhum instrumento de avaliação

de Traços de personalidade ou nível intelectual, mas suas pesquisas psicofísicas onde avaliava

características antropométricas, de acuidade visual, auditiva, força muscular e tempo de

reação, serviram como referência para a construção dos instrumentos psicométricos, pois

através desses métodos, o primeiro corpo de dados grande e sistemático sobre as

diferenças individuais em processos psicológicos simples [psicofísicos] foi

gradualmente acumulado. (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 43)

Aponta também para a questão de que é comum nas pessoas com severo retardo

mental a incapacidade de discriminar entre calor, frio e dor, e esta constatação reforçou a ideia

de que a habilidade de discriminação sensorial, é mais presente nos intelectualmente mais

capazes, por isso para Galton, segundo Anastasi e Urbina, “[...] os testes de discriminação

sensorial podiam servir como um meio de avaliar o intelecto de uma pessoa” (ANASTASI;

URBINA, 2000, p. 43).

Em suma, Galton foi também um desbravador na utilização de métodos de

investigação através de inventários, questionários e associação livre para os mais diversos

objetivos, como também do emprego de métodos estatísticos para análises de diferenças

psicofísicas individuais por meio de coleta de dados (ANASTASI; URBINA, 2000).

Salienta-se ainda que foi a partir da construção dos instrumentos psicométricos que a

avaliação da personalidade se estruturou enquanto campo de investigação, e aprofundamento

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no conhecimento sobre a personalidade humana, e a partir destas as intervenções de Relação

de Ajuda foram sendo construídas.

Figura 11. Imagem de Francis Galton (1822 - 1911), pai de Psicometria. (MATH.INFO, 2017)

Cattell é outro pesquisador inglês muito importante para o desenvolvimento da

psicometria e da relação de ajuda através dos instrumentos de investigação psicológica.

A recém-nascida ciência psicológica, fomentada a partir dos princípios da psicologia

experimental alemã de Wundt, e o até então recente movimento inglês de testagem

psicológica se encontraram no trabalho de Cattell.

Sua tese de doutorado, sob orientação de Wundt, em Leipzig, Alemanha, versou sobre

o tempo de reação.

Cattel, como já escrito, investigou sobre o tempo de reação e suas implicações no nível

mental; acreditava que através do tempo de reação poderia medir a habilidade mental, logo

sobre o nível intelectual da pessoa, pois para o autor quanto mais inteligente fosse uma

pessoa, seus circuitos nervosos se mostrariam mais eficientes, os sinais cerebrais seriam mais

rápidos, e o tempo de reação mais breve.

Em sua tese, Cattell fez diversos experimentos, e desenvolveu um instrumento que

cronometrava o tempo de reação das pessoas que se submetiam as pesquisas (NICOLAS,

2007).

Cattell teve seu primeiro contato com Galton na universidade de Cambridge em 1888,

quando foi até esta apresentar sua tese, e partir deste encontro Cattell passou a se interessar

bastante pela mensuração das diferenças individuais.

A partir deste contato, Galton propôs a Cattell um abrangente programa de pesquisa

com aproveitamento dos procedimentos aprimorados a partir de sua tese (ANASTASI;

URBINA, 2000).

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Em janeiro de 1889, Cattell foi para os Estados Unidos e se tornou o primeiro

professor de Psicologia deste País, ao ser contratado para lecionar na Universidade da

Pensilvânia, e ali atuou incansavelmente na implantação de laboratórios de psicologia

experimental e na disseminação do movimento de testagem psicológica. Trabalhou também

na universidade de Columbia, e em 1895 se tornou presidente da Associação Americana de

Psicologia.

Cattel foi um dos grandes expoentes com perspectivas biologizantes e mensurativas da

personalidade, e foi o primeiro autor, em 1890, a utilizar o termo teste mental.

Dedicou-se incansavelmente a investigar se um Traço1 poderia se manifestar de

diferentes formas, e para facilitar sua investigação classificou o instrumental de pesquisa de

dados em três tipos, os dados Q, T e L, citados em (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004), que

são:

O primeiro, os dados Q Que são os provenientes de auto relatos e

questionários, que segundo Cattel não eram

muito informativos, visto que em geral as

pessoas conhecem pouco de sua própria

personalidade.

O segundo, os dados T Que são os dados coletados em situações

controladas por teste

O terceiro, os dados L Que são os dados adquiridos pela história

documental da pessoa, por exemplo,

histórico escolar.

Quadro 1. Dados Q, T e L de Cattell

A partir dos seus estudos sobre Traços, Cattel propôs no seu teste de personalidade

16PF, dezesseis Traços básicos da personalidade humana, que são:

expansivo-reservado, mais-menos inteligente, estável-sentimental, assertivo-

humilde, despreocupado-moderado, consciencioso-evasivo, ousado-tímido,

compassivo-determinado, desconfiado-confiante, imaginativo-prático, astuto-franco,

apreensivo-plácido, inovador-conservador, autossuficiente-dependente do grupo,

controlado-descontraído, e tenso-calmo. (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004, p.

269).

1 A palavra Traço está em maiúsculo por representar características próprias e estáveis da personalidade.

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Figura 12. Imagem da capa do teste 16PF desenvolvido por Cattell. (EDIPSICO, 2017)

A (Expansivo) Apresenta comportamentos afetivos,

condescendente e participante.

B (Inteligente) Apresenta comportamentos de pensamento abstrato e maior capacidade mental.

C (Emocionalmente Estável) Apresenta comportamento de enfrentamento da

realidade, é calmo e amadurecido.

E (Afirmativo) Apresenta comportamento de independência,

agressividade e obstinação.

F (Despreocupado) Apresenta comportamento impulsivo, animado,

alegre e entusiasta.

G (Consciencioso) Apresenta comportamento perseverante,

circunspeto e preso a normas.

H (Desenvolto) Apresenta comportamento desembaraçado, ousado e espontâneo.

I (Brando) Apresenta comportamento terno, dependente,

superprotegido e sensível.

L (Desconfiado) Apresenta comportamento obstinado em sua

opinião e difícil de enganar.

M (Imaginoso) Apresenta comportamento voltado para o mundo

interior, descuidado de assuntos práticos e

boêmio.

N (Requintado) Apresenta comportamento esmerado, apurado e

sagaz.

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O (Apreensivo) Apresenta comportamento preocupado,

deprimido e perturbado.

Q1 (Experimentador) Apresenta comportamento renovador, criativo,

liberal, analisador e mente aberta.

Q2 (Autossuficiente) Apresenta comportamento onde prefere as

próprias decisões e basta-se a si próprio.

Q3 (Controlado) Apresenta comportamento socialmente correto e

comandado por sua autoimagem.

Q4 (Tenso) Apresenta comportamento frustrado, impulsivo e irritado.

Quadro 2. Descrição dos fatores de personalidade, segundo o 16PF. (CATTELL, 1995)

Cattell, conforme apresentado na figura acima, buscou identificar os 16 componentes

primários da personalidade por meio da análise fatorial. Contudo cabe ressaltar que para

Cattell a personalidade humana é composta de Traços contínuos e marcantes, assim, todo ser

humano possui os 16 Traços de personalidade, mas com distribuição dos fatores de maneira

peculiar a cada pessoa.

Desta forma, apesar de apresentar dezesseis Traços de personalidade humana, afirma

que existem extratos ou camadas de fatores que tem caráter mais coadjuvante, mas que

servem de base para manutenção de Traços mais constantes.

A construção dos 16 Traços de personalidade se deu a partir das pesquisas léxicas de

Allport, este descobriu milhares de adjetivos atribuídos ao conceito de personalidade na

língua inglesa, mas acabou reduzindo sua lista, pois acreditou que vários termos eram

sinônimos, e para isso utilizava muito o fator de análise fatorial, que é uma técnica estatística

utilizada para abreviar e simplificar os adjetivos psicológicos atribuídos à personalidade

humana (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Aproveitando a pesquisa de Allport, Cattell agrupou os Traços comuns, os classificou

e os submeteu a análise fatorial e a partir dos agrupamentos:

[...] as pessoas eram classificadas com base nestas características e as avaliações

[eram] associadas por meio de técnicas estatísticas, principalmente pela análise

fatorial. Cattell repetiu esse processo básico de várias maneiras e em vários

conjuntos de dados, por vários anos. (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004, p. 267).

Devido ao engajamento político Cattell e por este defender publicamente sua posição

contrária à dos Estados Unidos de participarem da primeira guerra mundial, a universidade de

Columbia o demitiu. E após ter entrado com ação judicial contra esta universidade ganhou o

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processo, e com o dinheiro que recebeu fundou a Psychological Corporation, com Edward L

Trorndike e Robert S. Woodwoth; e esta corporação foi uma das maiores criadoras e

administradoras dos testes mentais (NICOLAS, 2004).

Figura 13. Imagem de James Mckeen Cattell (1860 - 1944), o pai do termo teste mental. (PSICOATIVO, 2017)

Alfred Binet, pedagogo e psicólogo francês, também ficou conhecido por suas grandes

contribuições para a ciência psicométrica, principalmente no tocante a avaliação do

coeficiente intelectual. Estudou também Direito, Medicina e Ciências Naturais. Foi diretor do

Laboratório de Psicologia da Sorbonne e acompanhava os trabalhos de Cattell, mas apesar de

acompanhar a produção intelectual deste, declarou em 1896 que discordava do ponto de vista

de Cattell, como também de Galton, pois ambos acreditavam que a capacidade de

discriminação sensorial indicava a capacidade intelectual do ser humano, e que quanto mais

capazes os órgãos sensoriais e perceber melhor as diferenças nos estímulos, maior seria a

capacidade intelectual da pessoa.

Para Binet não eram as sensações que deveriam ser estudadas, e sim as faculdades

psíquicas superiores. Por isso que Binet se dedicou ao estudo da memória, representação

mental, imaginação, atenção, compreensão, sugestionabilidade, senso estético, sentimentos

morais, força muscular e força de vontade, habilidade e acuidade visual. Mas no início de sua

carreira, onde era muito influenciado por Galton e Cattell, fez experiências para aferir sobre a

inteligência de diversas maneiras, tais como “mensuração da forma craniana, facial e da mão,

e a análise da caligrafia” (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 44).

Binet considerou tanto as limitações endógenas do déficit de inteligência, quanto às

condições ambientais adversas que poderiam influir nos resultados. A deficiência seria

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definida por dificuldades na produção de respostas e não por dificuldades sensoriais, como

acreditavam Galton e Cattell.

O Ministro da Educação Pública francês nomeou Binet, em 1904, para participar de

uma comissão voltada a estudar procedimentos que seriam usados para facilitar o processo de

aprendizagem das crianças com retardo mental (ANASTASI; URBINA, 2000).

Esta comissão encarregou Binet de estudar e desenvolver medidas de inteligência para

aplicar nas crianças com suspeitas de dificuldades e deficiência de aprendizagem, para que

através destes exames de inteligência estas pudessem receber os benefícios da educação

especial, através do diagnóstico diferencial.

Para melhor construir o diagnóstico diferencial, o grupo nomeado, dentre eles Binet,

decidiu que todas as crianças com suspeitas de dificuldades e deficiência de aprendizagem,

seriam submetidas a exame médico e de coeficiente intelectual, para apurar se havia

necessidade de encaminhá-las ou não a uma escola especial.

Portanto, o governo francês através da comissão nomeada fez um grande desafio a

Binet e por extensão a seu colaborador Simon, que foi o de elaborar um teste capaz de

fornecer o diagnóstico científico diferencial da debilidade mental.

Conforme a solicitação da comissão francesa, a escala de classificação ficou pronta em

1905 e, desde então, esta escala de classificação sofreu diversas modificações na sua origem e

no seu nome. Atualmente, apesar das variações, ele é conhecido como Teste Stanford-Binet

de Inteligência, o popular teste de QI.

A primeira escala de inteligência para diferenciar crianças com desenvolvimento

intelectual normal dos que tinham retardo mental, em seus mais variados níveis foi

desenvolvido por Binet e seu colaborador Simon, como já escrito, em 1905, “e até hoje esta

escala é conhecida como a escala de 1905” (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 45).

A escala para medir a inteligência foi criada para dar uma resposta ao problema da

escolarização de crianças com dificuldades de aprendizagens e deficiências mentais, e esta

[...]

consistia em 30 problemas ou testes organizados em ordem crescente de dificuldade.

O nível de dificuldade foi determinado empiricamente aplicando-se os testes a 50

crianças normais de 3 a 11 anos, e algumas crianças e adultos mentalmente

retardados. (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 45)

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Contudo, a escala de 1905 foi apresentada como instrumento preliminar e

experimental, sem inicialmente nenhum método objetivo para se mensurar um escore total. O

próprio Binet revisou sua escala duas vezes, a segunda revisão é datada em 1908, e a terceira

em 1911, ano da sua morte, e neste caminho de revisões itens novos foram agregados e sua

escala foi estendida até para adultos, configurando-se a escala Binet-Simon, muito conhecido

como o teste de QI.

Ao construir o teste Binet planejou o mesmo para avaliar uma variedade de funções

psicológicas, com ênfase especial em habilidades como o julgamento, a compreensão e o

raciocínio, pois para Binet estes aspectos são fundamentais para a inteligência se fazer

presente (ANASTASI; URBINA, 2000).

Figura 14. Imagem do teste de inteligência onde consta a escala de classificação de Binet e Simon, publicado em

1914. O teste publicado em 1905 não foi encontrado nas pesquisas feitas. (OPEN LIBRARY, 1914; 2017)

As crianças sem suspeita de diagnóstico diferencial também eram avaliadas pela

mesma escala, visto que o diagnóstico diferencial se dava quando os níveis das respostas

obtinham maior pontuação, e isso indicava que a criança avaliada tinha maior inteligência,

enquanto que as crianças que obtinham menor pontuação eram consideradas intelectualmente

retardadas. Portanto, o retardo no desenvolvimento seria notado quando o estudante tivesse

desempenho inferior ao que era esperado para sua faixa etária.

A primeira versão do teste para avaliar o nível intelectual foi apresentada em 1905 na

revista L'Année Psychologique, fundada por Binet.

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Figura 15. Imagem da revista L'Année Psychologique, fundada por Binet. (ARCHIVE.ORG, 1922; 2017)

Binet produziu várias escalas consideradas capazes de medir a inteligência humana, e

as agruparam sob o título de escala métrica da inteligência, mais conhecidas como teste de

inteligência.

No artigo Méthodes nouvelles pour le diagnostic du niveau inteIlectuel des anormaux

[Novos métodos para o diagnóstico do nível intelectual de deficientes], Binet e seu

colaborador Simon se restringiram a fornecer um instrumento para estabelecer o nível

intelectual das crianças com desenvolvimento atrasado, comparando o resultado com o de

outros alunos da mesma idade ou faixa etária diferente, mas com nível intelectual similar.

Um momento importante na carreira de Binet foi quando, em 1903, seu estudo

experimental da inteligência foi publicado na revista Psychologie expérimentale (Psicologia

Experimental), no qual abordava o desenvolvimento intelectual de suas duas filhas, Madeleine

e Alice, citadas no artigo com os nomes fictícios de Marguérite e Armande.

Figura 16. Imagem da revista Psychologie expérimentale. A imagem referida não se refere à publicação de 1903,

esta apesar da pesquisa exaustiva não foi possível encontrar. (NICOLAS, 2017)

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Descobriu que suas filhas eram igualmente inteligentes, embora apresentassem

temperamentos e comportamentos diferentes que independiam da idade. Binet no artigo

mostrou com minúcias os testes aos quais submeteu suas filhas, provas retomadas anos mais

tarde em suas escalas métricas.

Os conceitos de idiopatia e imbecilidade foram aclarados por Binet e estes facilitaram

a compreensão de diagnósticos diferenciais frente à questão, para o autor estes diagnósticos,

idiotia [retardo mental grave] e a imbecilidade [retardo mental leve], são avaliados através das

provas verbais.

Contudo a diferença entre ambas seria encontrada por meio de provas de julgamento, e

através destas provas se identificaria a capacidade de abstração e de trabalho simbólico, itens

que se diminuídos indicariam um dos dois diagnósticos.

A escala de Binet e Simon é composta por provas de dificuldade crescente, sendo que

cada nível corresponde a um grau diferente de complexidade, e devido a este grau de

dificuldade crescente, tal método possibilitava obter classificações diagnósticas diferenciais.

Assim, entre a criança e o adulto e, pelos mesmos motivos, entre sujeitos de idade e nível

mental variado, o diagnóstico diferencial era feito através da produção dos aspectos

qualitativos, e não quantitativos.

Ainda em 1905 Binet criou o laboratório-escola da Rua Grange-aux- Bebes, em Paris,

este laboratório lhe ofereceu as condições necessárias para que Binet pudesse desenvolver

suas ideias, e a partir do trabalho desenvolvido neste laboratório em 1908 o objetivo de Binet

foi alcançado. Visto que enquanto a escala elaborada três anos antes era imprecisa e não

apresentava referências à idade, o novo teste oferecia maior grau de precisão e uma escala

para diferentes faixas etárias (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Com a versão de 1908 o diagnóstico de retardo mental se tornou mais confiável,

minucioso e correspondente às normas psicométricas, e isso permitiu que através deste

instrumento se instituísse uma hierarquia entre as crianças sem e com retardo mental.

Como já escrito anteriormente, uma nova escala foi proposta em 1911, ano em que

Binet precocemente faleceu. Com a morte de Binet, esta última escala revisada por ele se

tornaria a versão definitiva do clássico teste Binet-Simon, sendo que nesta última revisão

Binet apresentou uma forma mais rápida de mensurar os dados produzidos e

consequentemente, aferir de maneira mais precisa sobre o nível mental de quem era avaliado.

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Contudo, não era o intuito de Binet definir os níveis de desenvolvimento da

inteligência, apesar de ter sido Binet e seu colaborador Simon, os primeiros psicólogos a

desenvolverem testes de coeficiente intelectual, mas a maior motivação de Binet era

desenvolver uma psicologia das diferenças individuais, e este era o seu grande projeto

(FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Figura 17. Imagem de Alfred Binet (1857 - 1911), o pai dos testes de inteligência. (O POVO, 2014; 2017)

Carl Gustav Jung também se dedicou a investigação dos Traços psicológicos humanos,

de formação psicanalítica inicialmente, orientou-se a uma linha de trabalho sobre Traços a

partir de conceitos que ele mesmo desenvolveu, dentre os quais, as atitudes básicas da

personalidade que são os Traços de extroversão e introversão. Sendo que cada tipo de

disposição representa uma preferência natural presente em todo ser humano no jeito de ser e

se relacionar com o mundo, tal qual à preferência pelo uso da mão direita ou da mão esquerda

(FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Extroversão Refere-se à inclinação do ser humano para condutas objetivas, voltados para questões

mais externas, por exemplo, a matemáticas e

as ciências exatas, que não demandam de

reflexões intimistas e sentimentais. A energia

flui de maneira natural para o mundo

externo, para os fatos e pessoas. A atenção é

voltada para a ação, impulsividade,

comunicabilidade, sociabilidade e facilidade

de expressão oral. Portanto a extroversão

representa o fluir da libido de dentro para fora.

Introversão Refere-se à inclinação do ser humano para

condutas subjetivas, voltados para questões

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mais internas, por exemplo, as ciências

humanas, que demandam de reflexões

intimistas e sentimentais. A energia flui de

maneira natural para o mundo interno, para

as pessoas e não os fatos. É voltado as

experiências, emoções, impressões,

pensamentos e sentimentos. A postura do

introvertido é reservada, retraída socialmente, discreta e tem facilidade de

expressão no campo da escrita. Portanto a

introversão representa o fluir da libido para

dentro.

Quadro 3. Descrição das atitudes básicas da personalidade segundo Jung, os Traços de Extroversão e

Introversão.

Portanto o extrovertido tem como enfoque o objeto, e o introvertido o sujeito. Assim,

em relação ao tipo introvertido e extrovertido Jung revelou: “um encarrega-se da reflexão; o

outro, da iniciativa e da ação prática”. (JUNG, 1971, p. 47).

Além dos dois tipos de atitude, a extroversão e introversão, Jung (1971) verificou que

existiam diferenças importantes entre pessoas de um mesmo grupo, ou seja, um introvertido

poderia diferir muito de outro introvertido.

Para Jung, essas diferenças entre os indivíduos eram causadas pelas diversas maneiras

com que as pessoas utilizam suas mentes, ou seja, pelas funções psíquicas e/ou processos

mentais.

As funções psíquicas, ou processos mentais, são atividades da psique que demonstram

características peculiares de um ser humano, sendo estas uma atribuição congênita, que

estabelece habilidades, aptidões e tendências na forma de cada pessoa interagir com o mundo

e consigo.

Jung acreditava que o modo de uma pessoa reagir frente ao mundo deve-se dentre

outras razões, à herança genética, às influências familiares e às experiências que cada pessoa

vivencia ao longo de sua vida.

As funções psíquicas são características de funcionamento peculiares de cada pessoa,

Jung as definiu como: Sensação, Pensamento, Sentimento e Intuição.

As funções Racionais envolvem:

O Pensamento e Sentimento, estes evocam o

Pensamento (ar): As pessoas onde esta

característica é marcante buscam fazer

associações de ideias, conceituar e solucionar

problemas. Funcionam de maneira

intelectual, visto que são reflexivos,

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processo reflexivo e a educação do ato de

avaliar e julgar as relações com o mundo.

planejadores e julgam através da lógica.

Sentimento (água): As pessoas onde esta

característica é marcante buscam aceitar ou

rejeitar uma ideia a partir dos sentimentos

provocados. Funcionam de maneira

sentimental e emocional, visto que tomam as

decisões pelo julgamento de valores próprios como o certo ou o errado; o bom ou o mau.

As funções Irracionais envolvem:

A Sensação e Intuição, estes evocam o

processo mental intraceptivo e a educação de

uma percepção que lança ao mundo um olhar

a partir das impressões internas.

Sensação (terra): As pessoas onde esta característica é marcante buscam

compreender o mundo através das

experiências conscientes que estimulam.

Funcionam com os cinco sentidos, além das

sensações do interior do corpo.

Intuição (fogo): As pessoas onde esta

característica é marcante buscam

compreender o mundo a partir de

experiências imediatas que não exige

nenhum julgamento e surge do nada. Funcionam no mundo guiando-se pelo que

está no mundo interior, percebendo o mundo

através do inconsciente.

Quadro 4. As funções dividem-se em dois grupos, são: as Racionais e as Irracionais.

E a partir das funções Racionais e Irracionais e das atitudes de Introversão e

Extroversão constituem-se os Oito Tipos Psicológicos, que são grupos de pessoas com

determinados padrões de comportamento que reagem de maneira semelhante frente a

determinados estímulos (JUNG, 1971).

Figura 18. Os Oito Tipos psicológicos de Jung

1. Pensamento Introvertido: Pessoas com este Traço valorizam as ideias,

Pensamento introvertido Sensação extrovertida

Pensamento extrovertido Sensação extrovertida

Sentimento introvertido Intuição extrovertida

Sentimento extrovertido Intuição extrovertida

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a reflexão, o pensar sobre. Admiram ideias

novas e se voltam facilmente para o mundo

da fantasia. Não são práticos, são mais

teóricos.

São: Pesquisadores; matemáticos teóricos;

Filósofos.

Função Inferior: Sentimento Extrovertido.

2. Pensamento Extrovertido: Pessoas com este Traço são orientadas pelos pensamentos, organização, objetividade,

prática, e determinadas na execução dos

projetos.

São: Executivos, estrategistas.

Função Inferior: Sentimento Introvertido.

3. Sentimento Introvertido: Pessoas com este Traço são difíceis de

revelar o que sentem. Passam a impressão de

não possuírem nenhum sentimento, e são

reservadas e de difícil acesso. Transmitem

autoridade, frieza e indiferença, e evitam

festas e aglomerados visto que quando

precisa lidar com muitos estímulos a função avaliadora dos sentimentos fica paralisado.

São: Artistas de uma forma geral.

Função inferior: Pensamento Extrovertido

4. Sentimento Extrovertido: Pessoas com este Traço promovem

facilmente relações harmoniosas com o

ambiente. São orientados pelos dados

empíricos e não precisam pensar se algo ou

alguém lhes importa, pois guiam-se pelo que

sentem. Subordina o pensamento ao

sentimento e se tornam vulneráveis a pessoa

amada, e por terem boa conversa fazem amizades rapidamente.

São: Relações públicas e atividades afim.

Função Inferior: Pensamento Introvertido.

5. Sensação Introvertida: Pessoas com este Traço se guiam pela

intensidade da sensação subjetiva, são pouco

capazes de ser objetivas; e facilmente

recuam do mundo exterior e dos seus

problemas pessoais. Têm pouca capacidade

racional de julgamento para classificar

coisas, devido sua forte subjetivação.

São: Aqueles que têm fantasias proféticas

sombrias.

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Função Inferior: Intuição Extrovertida.

6. Sensação Extrovertida: Pessoas com estes Traços se orientam pela

percepção objetiva dos fatos, visto que suas

reações dependem do próprio objeto.

Procuram vivenciar com pessoas ou

situações fortes sensações. O amor

romântico depende do atrativo físico, e não

sentimental, pois é o atrativo estético o que

mais chama sua atenção. São

compromissados e pontuais, gostam de festas, esportes, encontros sociais.

São: Atletas, Profissionais da moda, Homens

de negócio, etc.

Função Inferior: Intuição Introvertida.

7. Intuição Introvertida: Pessoas com estes Traços são voltadas ao

inconsciente. Não se comunicam bem, são

confusas, e se perdem facilmente em suas

ideias e sentimentos, e mais, são

descompromissadas e desorganizados.

São: Videntes, Profetas, Artistas, Xamãs.

Função Inferior: Sensação Extrovertida.

8. Intuição Extrovertida: Pessoas com estes Traços possuem excelente capacidade perceptiva. Buscam novas

oportunidades, dão pouca atenção ao corpo,

não percebendo quando estão cansados ou

famintos. Sentem-se prisioneiros de

situações estáveis.

São: Empresários inovadores, diretores de

indústria, corretores de valores, estadistas.

Função Inferior: Sensação Introvertida.

Quadro 5. As características psicológicas das Oito Tipologias (JUNG, 2011)

Para Jung, o ser humano, dependendo do sua Tipologia psicológica atuará frente ao

mundo e a si mesmo de determinada maneira, mas ressalta que as pessoas utilizam várias

possibilidades de funções psíquicas no seu dia-dia, contudo, devido características peculiares

de atitudes introversivas ou extroversivas inerentes a cada ser humano, determinada função ou

Traço será mais evidenciada que outro.

Além disso, Jung apresenta a sensação e a intuição como funções irracionais, visto que

as experiências são apreendidas diretamente pelo organismo, sem a mediação de um

julgamento ou avaliação. Enquanto que as funções Pensamento e Sentimento são

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considerados racionais por terem um caráter de julgamento e reflexão, e estas determinam o

modo da consciência acerca dos assuntos e decisões (SILVEIRA, 1968).

A função sensação A sensação é a função perceptiva, a que traz

as informações do mundo real através dos

órgãos dos sentidos. Esta se detém aos fatos,

detalhes e ao presente. Foca no real, no

concreto e no aqui – agora, e se volta a

conteúdos práticas e realistas. Volta-se mais as coisas funcionando do que em criar novos

caminhos.

A função intuição A intuição é a função do inconsciente, apreende o ambiente por meio de

pressentimentos, palpites ou inspirações.

Guia-se por sonhos premonitórios,

comunicações telepáticas. Esta busca os

significados, as relações e possibilidades

futuras da informação recebida. Volta-se ao

todo e não as partes, e costuma apresentar

dificuldades na percepção de detalhes.

A função pensamento O pensamento é a função da conexão lógica

e conceitual entre os fatos percebidos. Esta

utiliza a análise lógica e racional dos fatos,

julga, classifica e discrimina uma coisa da outra sem maior interesse pelo seu valor

afetivo. Orienta-se por leis gerais aplicáveis

às situações, sem levar em conta a

interferência de valores pessoais. Volta-se

para a razão, e procura imparcialidade nos

julgamentos.

A função sentimento O sentimento é a função de buscar o valor

intrínseco das coisas, o sentir nas avaliações,

a busca da harmonia do ambiente e do

incentivo aos movimentos sociais. O sentir

está presente na tomada de decisões não a

causalidade. É a lógica do coração.

Quadro 6. Descrição das Funções Psíquicas. (SILVEIRA, 1968)

Jung, quando trabalhava no hospital Mental Burgholzli (Clínica Psiquiátrica da

Universidade de Zurique), no início do século passado, em 1904, desenvolveu o teste de

Associação de Palavras, (100 palavras) para utilizá-lo como instrumento para avaliar os

complexos psicológicos, que são um conglomerado de imagens e ideias, em torno de um

núcleo com carga emocional. Portanto, nos complexos estão presentes uma carga de afetos

pertencentes as imagens e ideias internalizadas, estando ou não o ser humano consciente

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deles. Assim Jung passou a ver os complexos como necessários e constituintes da psique de

qualquer ser humano, e considera que os complexos impulsionam a vida psicológica.

O Teste de Associação de Palavras consiste em solicitar à pessoa que se submete a

avaliação que evocasse uma resposta que faça associação com a palavra estímulo apresentada

pelo avaliador, no menor tempo possível.

A partir da aplicação mede-se o tempo de reação da pessoa, e após a medida do tempo

inicia-se segunda fase da avaliação, que consiste em pedir para a pessoa que repita a cada

palavra estímulo a resposta dada.

Nas duas etapas faz-se a observação dos indicadores de complexos, que são

verificadas através da repetição da palavra-estímulo, reprodução incorreta, tempo de reação

alto, má compreensão da palavra-estímulo e gagueira.

Na última fase após análise inicial, se pede para a pessoa fazer mais associações com

as palavras estímulos.

Portanto, O Teste de Associação de Palavras busca revelar conteúdos simbólicos da

psique da pessoa avaliada, na qual a palavra-estímulo traz o conteúdo emocional e afetos

vinculados as experiências de vida reveladas através das palavras estímulos (JUNG 2011).

Este teste contém 100 (cem) palavras, mas apenas para demonstrar como o mesmo se

constitui mostra-se apenas as 6 (seis) primeiras palavras deste instrumento de avaliação

psicológica.

Numero Palavra

Indutora

Tempo de

reação Resposta

Reprodução

correta

Indicadores

Complexos

1. Cabeça

2. Verde

3. Água

4. Cantar

5. Morte

6. Homem

Quadro 7. Teste de associação de palavras de Jung desenvolvido em 1904. Ilustração de autoria própria

conforme TANIGUTI, 2017.

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Destaca-se que a teoria de Jung e especificamente a compreensão dos Oito Tipos

Psicológicos está presente em determinados instrumentos de avaliação psicológica, dentre eles

apresenta-se o teste projetivo gráfico de Wartegg, cuja primeira publicação data-se de 1939.

Figura 19. Imagem do manual do teste projetivo gráfico Wartegg, cujos fundamentos baseiam-se também na

teoria de Jung. (FREITAS, 1993)

Mostra-se a seguir a folha de aplicação do teste Wartegg e os aspectos arquetípicos

que cada quadrante evoca do psiquismo quando o ser humano é colocado frente aos estímulos

dados, já que para Wartegg “o indivíduo projeta na tarefa sua maneira pessoal de perceber,

sentir, associar e agir e, assim, revela a dinâmica de sua estrutura psíquica” (FREITAS, 1993,

p. 10).

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Figura 20. Os oito quadrantes estímulos da folha de aplicação do teste projetivo gráfico Wartegg.

Campo 1 O eu, ego, autoestima e posicionamento

frente ao meio.

Campo 2 A fantasia, afetividade e relações

interpessoais.

Campo 3 A ambição, metas e objetivos.

Campo 4 A angústia e a forma de lidar com conflitos.

Campo 5 A energia vital e a capacidade de transposição de obstáculos.

Campo 6 A criatividade e capacidade imaginativa.

Campo 7 A sexualidade, sensualidade e sensibilidade.

Campo 8 A capacidade de interação social e empatia.

Quadro 8. Valores arquetípicos correspondentes aos oito quadrantes estímulos em ordem crescente. (FREITAS,

1993)

Wartegg “[...] escolheu seus temas a partir do poder de sugestão específica de cada um

deles, conferindo-lhes o valor de arquétipos” (WARTEGG, 1939, apud FREITAS, 1993, p.

13). Este entendimento de Wartegg fundamenta-se no pensamento de Jung que afirma que

quando o ser humano é colocado frente a determinados estímulos o psiquismo deste evoca

arquétipos.

Assim Wartegg defende que através dos estímulos lineares, que são: o ponto, a reta, o

ângulo e a curva, a expressão concreta dos arquétipos pode ser reduzida, e através destes o

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psiquismo do ser humano pode revelar a herança vivencial coletiva, através da projeção

individual.

Freitas cita que o princípio acima é identificado através de

[...] correlatos qualitativos de ênfases expressivo-simbólicas aparentemente

semelhantes quanto ao tipo, em ideogramas babilônicos, chineses e dos antigos

semitas. (FREITAS, 1993, p. 13)

Portanto, por meio dos sinais arquetípicos busca-se no teste Wartegg as significações

psicológicas individuais dos símbolos universais, visto que:

[...] a partir dos seus sinais arquétipos [arquetípicos], considera também que eles

possuem significação psicológica válida igualmente para todos os indivíduos. São

universais. Seus estímulos mobilizariam os núcleos dos arquétipos que podem ser

revestidos de um significado único para cada pessoa, incitando o indivíduo a uma

elaboração individual [...]. (FREITAS, 1993, p. 17).

Portanto, a máxima junguiana sobre os tipos psicológicos fundou-se quando o autor

em 1921 escreveu o livro Tipos psicológicos, e neste apresentou uma contribuição

fundamental para a compreensão da personalidade humana, e agracia a psicometria com a

seguinte reflexão:

Tipo [Traço] é uma disposição geral que se observa nos indivíduos, caracterizando-

os quanto a interesses, referências e habilidades. Por disposição deve-se entender o

estado da psique preparada para agir ou reagir numa determinada situação. (JUNG,

1967, p. 551)

Jung através de sua psicologia analítica contribuiu para a construção de descrições dos

tipos psicológicos, e outros conceitos, auxiliando assim para o desenvolvimento da

psicometria e da Relação de Ajuda como campo de estudo e interversão frente as demandas

humanas.

Figura 21. Foto de Carl Gustav Jung (1875 - 1961), o pai da Psicologia Analítica. (ASSIS, 2017)

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Segundo Friedman e Schustack (2004), a primeira abordagem para analisar Traços

psicológicos tem origem na Grécia antiga com Hipócrates.

Hipócrates descreveu quatro características do temperamento humano. Para esse

filósofo, Pai da Medicina, existiam quatro humores corporais que supostamente

determinariam padrões típicos de temperamentos humanos, que por sua vez determinariam

padrões típicos de reações comportamentais.

Os quatro humores, como dizia Hipócrates, ou os quatro Traços de personalidade,

como se diz na atualidade em psicometria, são as quatro características essenciais do

comportamento humano, sendo que para Hipócrates cada ser humano terá um dos quatro

humores como característica marcante da personalidade, sem excluir, contudo, aspectos

doutros.

É interessante ressaltar que apesar da temporalidade existente entre Hipócrates e a

ciência psicométrica, os fundamentos dos quatro humores são atualíssimos frente aos

princípios desta, porém a psicometria atribui o termo Traço de personalidade, invés de humor.

Assim, salienta-se que os entendimentos de Hipócrates sobre os quatro temperamentos

do ser humano são utilizados como princípios de compreensão do comportamento humano até

os dias atuais, apesar de que na atualidade doutros diversos Traços de personalidade são

investigados nas mais diversas técnicas de investigação psicológica (FRIEDMAN e

SCHUSTACK, 2004).

O primeiro, humor otimista (sanguíneo) Possui temperamento esperançoso e

animado.

O segundo, humor melancólico (bílis negra) Possui temperamento tendente a triste e

depressivo.

O terceiro, humor colérico (bílis amarela)

O quarto, humor fleumático (fleuma),

Possui temperamento irritadiço e irascível.

Possui temperamento vagaroso e impassível.

Quadro 9. Descrição dos quatro humores para Hipócrates. (FRIDEMAN; SCHUSTACK, 2004)

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Figura 22. Gravura representando de Hipócrates (460-364 ac), Filósofo, pai da Medicina. (ROMANZOTI, 2017)

Na Grécia antiga surgem as representações de personagens, com a criação de esquetes,

que segundo Allport (1961 apud Friedman e Schustack, 2004), são descrições resumidas de

perfis psicológicos, Traços, [os esquetes não são apresentados por Hipócrates, e sim pela

cultura Grega], mas que podem ser reconhecidos como Traço psicológico, ao longo do tempo

e espaço independente da cultura na qual cada pessoa está inserida.

Alguns destes esquetes são os perfis de pessoas reconhecidas como Avarentas, Bobas,

Sedutoras e Grosseiras.

Na contemporaneidade, algumas técnicas de investigações psicológicas utilizam a

herança da abordagem dos quatro humores de Hipócrates, sua compreensão sobre estados

humorais do ser humano se faz presente na ciência psicométrica para fundamentar critérios

avaliativos conforme será apresentado no transcorrer deste capítulo.

Cita-se dentre diversas outras possibilidades de técnicas de exame psicológico,

algumas reconhecidas no meio acadêmico atual, são elas: Psicodiagnóstico Miocinético,

Palográfico, Bender, HTP-F, Grafologia, além das técnicas projetivas, inventários de

personalidade, conforme imagens a seguir.

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Figura 23. Imagem do teste Psicodiagnóstico Miocinético, que avalia Traços de personalidade através da

expressão gráfica. (SAPIENS, 2017)

Figura 24. Imagem do teste Palográfico, que avalia os Traços de personalidade através da Expressão Gráfica.

(VETOR, 2017)

Figura 25. Imagem do teste Viso Motor Bender, que avalia Traços da personalidade e déficits psiconeurológicos

através da expressão gráfica. (SAPIENS, 2017b)

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Figura 26. Imagem do teste HTP-F, que avalia Traços da personalidade através da expressão gráfica e aspectos

projetivos. (VETOR, 2017b)

Figura 27. Imagem da Técnica grafológica, que avalia Traços da personalidade através dos aspectos expressivos

das letras. (GRAFOLOGIA, 2017)

Figura 28. Imagem do Teste de Apercepção Temática, uma técnica projetiva, que avalia Traços da personalidade

através de mecanismos projetivos. (PEARSON, 2017)

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Figura 29. Imagem do Inventário de personalidade MMPI, que avalia Traços da personalidade por meio de

perguntas de autorrelato. (MANUAL MODERNO, 2017)

Allport estudou em seu doutorado Traços da personalidade humana, sendo que sua

tese foi considerada a primeira desta natureza produzida nos Estados Unidos, e além de

estudar Psicologia, este autor estudou também Economia e Filosofia.

Por ser fascinado por palavras Allport se dedicou a estudar cuidadosamente a língua

inglesa e a construir um banco de adjetivos que caracterizasse os traços da personalidade

humana. E através deste banco de adjetivos construiu o entendimento de que a personalidade

humana é determinada pela:

[...] organização dinâmica dos sistemas psicofísicos do indivíduo [e esta organização

determina] seu comportamento e modo de pensar característicos. (FRIEDMAN;

SCHUSTACK, 2004, p. 271)

Portanto para Allport, a personalidade se constitui de uma organização psicofísica, que

juntamente com a influência cultural e uma capacidade de síntese própria de cada pessoa,

constroem as peculiaridades nas formas de pensamentos e os aspectos superiores do

psiquismo humano.

Buscando sistematizar os argumentos de Allport, abaixo está a descrição dos conceitos

de variabilidade e consistência, equivalência fatorial e influência cultural, citados em

(FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Variabilidade e Consistência

Neste conceito defende que as pessoas por mais

que se comportem de maneira diferente em

diversas situações, existe algo que é constante. Afirma que são os aspectos constantes do

comportamento que serão os Traços, apesar

destes coexistirem com os inconstantes.

Equivalência Funcional Neste conceito o autor defende que não é possível lidar com milhares de traços de

personalidade, e que o ser humano buscando

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estruturar e reduzir a grande quantidade de

pensamentos, sentimentos e atos individuais

promove as regularidades, que surgem por dois

motivos: O primeiro porque a ser humano vê

várias situações e estímulos da mesma maneira.

O segundo porque o ser humano observa que

vários comportamentos são semelhantes em

significado; e este último consiste na sua noção de equivalência funcional.

Influência Cultural: Neste conceito defende que as pessoas não confundem um vienense com um vietnamita,

etc., pois cada cultura desenvolve formas para

conduzir os comportamentos sociais.

Quadro 10. Conceitos variabilidade e consistência, equivalência fatorial e influência cultural.

Allport investigou o preconceito americano contra os negros e judeus, num período

onde isto não era bem visto. Tinha a esperança que ao estudar o preconceito este poderia ser

diminuído, pois acreditava que o conhecimento poderia transformar as pessoas. Ao estudar

este assunto constatou o quanto as influências culturais se fazem presentes na formação da

personalidade, consequentemente no desenvolvimento dos Traços.

Seu interesse pelo tema o conduziu a fundar o Departamento de Relações Sociais da

Universidade de Harvard, onde áreas de conhecimento como Psicologia Social, da

Personalidade, Sociologia e Antropologia se juntaram para analisar de maneira

interdisciplinar os fenômenos humanos. Contudo este departamento fechou em 1972, devido

ao fato de que poucos psicólogos queriam estudar o ser humano numa perspectiva

interdisciplinar (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Portanto para Allport o conceito de Traço é:

estrutura interna que transmite vários estímulos funcionalmente equivalentes e pode

orientar formas equivalentes de comportamento adaptativo e expressivo.

(ALLPORT, 1961 apud FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004, p. 272)

Sendo assim, a base da concepção da personalidade para o autor é formada pela

coerência ou uniformidade, citados em (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

Traços Comuns Neste conceito defende que os Traços

comuns são construídos através da

aglutinação entre a herança biológica e a

cultural comuns.

Quadro 11. Traços Comuns.

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Allport nomeia a essência da personalidade com o termo PROPIUM [que significa a

própria pessoa ou o self dela], usa o termo essência, propium, pois acredita que há camadas na

psique humana que abrange um núcleo irredutível, ou seja, que existem forças fundamentais

subjacentes aos comportamentos cotidianos, que são os dispositivos: Pessoais, Cardiais ou

Fundamentais, e Centrais, apresentados em (FRIDMAN; SCHUSTACK, 2004). Veja-se a

seguir:

Disposições pessoais Neste conceito defende que não existem dois seres humanos iguais, assim só se pode

compreender integralmente o ser humano

quando a psicometria usar métodos que

consideram a singularidade de cada pessoa.

Disposições Cardiais ou Fundamentais Neste conceito defende que são as paixões,

as metas que cada pessoa estabelece e o

estilo de vida que governam a vida.

Disposições Centrais Neste conceito defende que são nestas os

blocos construtores da personalidade, que

são o total de fatores presentes na

composição dos Traços marcantes.

Quadro 12. Dispositivos pessoais, cardiais ou fundamentais, e centrais.

Consequentemente, as Disposições constituem uma Qualidade Nuclear, uma estrutura

neuropsicológica peculiar de cada pessoa.

As ideias defendidas por Allport de que cada pessoa tem um tipo exclusivo de

organização da personalidade é entendida pelos psicólogos quantitativistas como frágil, pois,

segundo eles, inviabiliza uma Validade, Fidedignidade e Objetividade, princípios da

psicometria.

Mas Allport se defendeu destas críticas afirmando que não dispensa a busca

nomotética, que é a procura por leis gerais que regem a formação dos Traços psicológicos

comuns nos seres humanos, mas que não se pode por conta da busca nomotética, deixar de

lado o estudo profundo da individualidade de cada pessoa, pois,

[...] uma abordagem nomotética pode ser tão imprecisa, quanto tentar descrever a

inteligência de Einstein de acordo com um fator G de inteligência [...] que pode ser

medido em todas as pessoas. (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004, p. 274)

Contudo, psicólogos que buscam construir princípios nomotéticos desenvolveram um

modelo contemporâneo de estudo da personalidade conhecido como OS CINCO TRAÇOS,

ou BIG FIVE, que é resultante das teorias dos Traços de Allport, e esta representa uma

convergência conceitual e empírica no campo da teoria da personalidade, já que descreve

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dimensões humanas básicas que podem ser replicadas de maneira segura, com os padrões de

objetividade, validade e fidedignidade inerentes aos fundamentos psicométricos.

O modelo das cinco dimensões ou fatores [termos sinônimos] da personalidade

(MCF), inicialmente desenvolvido por Ernest Tupes e Raymond Christal, em 1961, não

obtiveram aceitação da comunidade acadêmico-científica.

Os psicólogos Digman e Goldberg em 1990 aperfeiçoaram o modelo das cinco

dimensões da personalidade, e a partir deste aperfeiçoamento os Big Five passaram a ser

aceito.

Digman e Goldberg afirmavam que os cinco fatores, ou as cinco dimensões,

representam a estrutura básica dos Traços estáveis da personalidade. A descoberta desses

fatores resultou em um rico e útil conceito que passou a integrar quase todas as pesquisas e

teorias em psicologia da personalidade.

Esses pesquisadores usaram métodos diferentes para encontrar os cinco fatores, e

assim, estes possuem, em algum grau, nomes e definições diferentes dependendo do autor

pesquisado, mas invariavelmente todos são correlacionados e ligados analiticamente

(FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004).

O Fator de Extroversão

É um fator correspondente a estrutura psíquica ligada a

sociabilidade de uma pessoa, e está relacionado aos

seguintes comportamentos: disposição, otimismo,

gregarismo, assertividade e afetuosidade. Em

contraposição as pessoas com baixa Extroversão são mais

introvertidas, sérias e inibidas, e evitam a companhia de

outras pessoas.

O Fator de Amabilidade

É um fator correspondente aos comportamentos pró-social,

e está relacionado aos seguintes comportamentos: atitudes

agradáveis, calorosas, dóceis, generosas e leais. Confiança,

franqueza, altruísmo, aquiescência, modéstia e

sensibilidade. Em contraposição as pessoas que possuem

baixa Amabilidade são mais preocupadas com seus

próprios interesses e desconfiam muito do outro.

O Fator de Conscienciosidade

É um fator correspondente à contenção e sentido prático, e

está relacionado aos seguintes comportamentos: zelo e

disciplina, honestidade, engenhosidade, cautela,

organização, persistência, competência, ordem, senso de

dever, direcionamento, autodisciplina e deliberação. Em

contraposição as pessoas que possuem baixa

Conscienciosidade são mais irresponsáveis, relaxadas e pouco ambiciosas, mais distraídas e preguiçosas,

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desencorajando-se facilmente no cumprimento das tarefas.

O Fator de Neurotismo

É um fator correspondente a Instabilidade/Estabilidade

emocional da pessoa, e está relacionado aos seguintes

comportamentos: emoções negativas, como ansiedade,

desamparo, irritabilidade e pessimismo. Pessoas que

apresentam este fator acentuado tendem a ser bastante

preocupadas, melancólicas e irritadas. Apresentam

frequentes mudanças de humor e depressão. Em contraposição as pessoas que possuem baixo Neurotismo

são estáveis e tendem a responder aos estímulos

emocionais de maneira controlada e proporcional,

retornando ao estado normal após uma elevação emocional

mais facilmente. Em geral as pessoas com baixo

Neurotismo são equilibradas, calmas, controladas e menos

tensas. Mas quando o escore é alto a ansiedade,

hostilidade, depressão, autoconsciência, impulsividade,

vulnerabilidade ocorrem.

O Fator de Abertura

É um fator correspondente as novas experiências em

diversos campos do conhecimento, e está relacionado aos

seguintes comportamentos: flexibilidade nos pensamentos,

fantasia e imaginação. Tem interesses culturais,

versatilidade e curiosidade, são fantasiosas, estéticas e

sentimentais. Em contraposição as pessoas com baixa

abertura são fechadas e preferem o conhecido, a rotina e os

valores tradicionais.

Quadro 13. Os cinco grandes fatores. (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004)

Portanto, os Big Five ou o Modelo dos Cinco Grandes Fatores nasceu dos estudos

sobre a Teoria dos Traços de Personalidade, representando um avanço conceitual e empírico

desta área, pois descreveu dimensões humanas básicas de forma consistente e replicável que

contribuíram para o estudo e diagnóstico dos Traços e fatores da personalidade humana, que

por sua vez serviu como referencial para o desenvolvimento dos métodos e fundamentos das

Relações de Ajuda.

Tem-se também outros inventários de personalidade que através de estudo fatorial de

dimensões psicológicas aglutinaram características para melhor produção de diagnóstico

psicológico, um destes instrumentos é o Inventário Fatorial de Personalidade (IFP).

Este inventário, o IFP, é uma adaptação do teste EPPS de Edwards, que objetiva

avaliar a personalidade normal em 15 itens que são: Assistência, Intracepção, Afago,

Deferência, Afiliação, Dominância, Denegação, Desempenho, Exibição, Agressão, Ordem,

Persistência, Mudança, Autonomia e Heterossexualidade (PASQUALI, MAZZARELLO,

GHESTI, 1997).

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Para estes autores, este inventário baseou-se na teoria da Personologia de Murray, que

acreditava que tanto o passado quanto a história de vida de cada pessoa são igualmente

importantes como determinantes da personalidade.

Assistência

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência aos

sentimentos de piedade, compaixão e ternura, pelos quais o sujeito

busca dar simpatia e gratificar as necessidades do outro.

Intracepção

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência de se

deixarem conduzir por sentimentos e inclinações difusas e por

julgamentos subjetivos. Busca da felicidade pela fantasia e

imaginação.

Afago

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência a busca

de apoio, proteção, amor, orientação e consolo. Expectativa de ter seus

desejos satisfeitos por alguém querido.

Deferência Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência ao

respeito, admiração e reverência às autoridades.

Afiliação

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência ao

desejo de dar e receber afeto de pessoas amigas. Caracteriza

confiança, boa vontade, amor e lealdade.

Dominância

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência a

sentimentos de autoconfiança e desejo de controlar os outros através da sugestão, sedução, persuasão e comando.

Denegação

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência a se

submeter passivamente à força externa, aceitar desaforo, castigo e

culpa. Resignar-se ao destino e admitir inferioridade.

Desempenho

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência do

desejo de realizar algo difícil, como dominar, manipular e organizar

objetos, pessoas e ideias.

Exibição

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência do

desejo de impressionar, ser ouvido e visto, e também de exercer

fascínio sobre os outros.

Agressão

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência do

desejo de superar com vigor, raiva, irritação, ódio e violência a

oposição.

Ordem

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência a pôr todas as coisas em ordem, manter limpeza, organização, equilíbrio e

precisão.

Persistência Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência de levar

a cabo qualquer trabalho iniciado, e à obsessão pelo resultado final de

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um trabalho.

Mudança

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência do

desejo de desligar-se de tudo que é rotineiro e fixo, visto que gosta da novidade e da aventura.

Autonomia

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência ao

sentir-se livre, sair do confinamento, resistir à coerção e oposição. São

pessoas que não gostam de se submeterem às imposições das

autoridades.

Heterossexualidade

Expressa em pessoas com altos escores neste fator, tendência do

desejo de manter relações, desde românticas até sexuais com

indivíduos do sexo oposto.

Quadro 14. Descrição dos fatores de personalidade, segundo o IFP. Elaboração do autor segundo PASQUALI;

MAZZARELLO, 1997 e LEME; RABELO; ALVES, 2013.

Figura 30. Imagem do Inventário Fatorial de Personalidade, IFP que avalia Traços da personalidade. (PEARSON

CLINICAL, 2017)

Para concluir, cita-se também dentre diversas outras possibilidades a escala de

personalidade CPS, que é um inventário de personalidade baseado no método de

autodescrição para identificação dos principais fatores da personalidade humana.

As escalas de personalidade de Comrey (Comrey Personality Scales ou CPS) foram

publicadas nos EUA em 1970 e, no Brasil, em 1973. Mas, desde sua publicação até os dias

atuais, estudos continuam sendo feitos para aprimoramento do instrumento de forma a torná-

la ainda mais precisa e com maior aplicabilidade.

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Confiança x

Atitude Defensiva

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a crer na

honestidade, confiabilidade e boas intenções das outras pessoas.

Acreditam que os outros desejam-lhe o bem e possuem fé na natureza

humana.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a falta de crença

na honestidade, confiabilidade e boas intenções das outras pessoas. Os

indivíduos são cínicos, defensivos, desconfiados e possuem uma opinião baixa do valor do homem comum.

Ordem

x

Falta de Compulsão

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a ser cuidadosas,

meticulosas, ordeiras e muito organizadas. Os indivíduos tendem a se preocuparem com limpeza e apreciam a rotina.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a ser pessoas

pouco cuidadosas e pouco organizadas. Inclinam-se a serem

descuidadas, relaxadas, não sistemáticas em seu estilo de vida,

imprudentes e poucos asseadas.

Conformidade

x

Inconformidade

Social

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a aceitar a

sociedade como ela é, ressentem-se do não conformismo de outras

pessoas, procuram aprovação da sociedade, e respeitam as leis.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a contestar a lei e

as instituições, ressentem-se do controle, não aceitam a sociedade como

ela é, são rebeldes.

Atividade x

Passividade

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a ter muita energia

e resistência, trabalham muito e procuram padrões de excelência.

Gostam de atividade física, possuindo grande energia e perseverança e esforçando-se para atingir seu máximo.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a inclinar à

inatividade física, faltando-lhes vigor e energia, cansam-se

rapidamente e quase não têm motivação para superar-se. Esforçam-se

pouco para atingir seus objetivos.

Estabilidade

Emocional

x

Neuroticismo

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a ser livres de

sentimentos de depressão, são otimistas, tranquilas, estáveis de humor,

e confiantes.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a ter sentimentos

de inferioridade, são agitados, deprimidas, pessimistas e reagem com

frequentes oscilações de humor, possuindo falta de confiança em si mesmos.

Extroversão x

Introversão

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a interagir facilmente com os outros, procuram novos amigos, sentem-se à

vontade com pessoas estranhas e não têm medo de aparecer em

público. São expansivos, sociáveis e acessíveis.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a ser mais

reservados, reclusas, fleumáticas, tímidas, com dificuldade para

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estabelecer contato com outros e receiam ser o foco de atenção.

Masculinidade

x

Feminilidade

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a ser teimosas,

duras, frias, não se incomodam com sangue, bichos rastejantes,

vulgaridade, e não choram facilmente nem mostram muito interesse

em histórias de amor.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência chorar com

facilidade, perturbando-se com animais rastejantes e pegajosos e

demonstram grande interesse no romantismo.

Empatia x

Egocentrismo

Pessoas com escores altos neste fator têm tendência a ser prestativas,

generosas, simpáticas e que estão interessadas em devotar suas vidas ao

serviço de outros.

Pessoas com escores baixos neste fator têm tendência a não se

preocupar com os outros, tendendo a ocuparem de si mesmos e seus

próprios objetivos, não demonstrando interesse em dedicar suas vidas

ao serviço de outros.

Quadro 15. Descrição dos fatores de personalidade, segundo o CPS. Elaboração do autor segundo COMREY,

1997 e COSTA, 2003.

Figura 31. Imagem do Inventário Fatorial de Personalidade CPS, que avalia Traços da personalidade.

(SAPIENS, 2017c)

Cabe salientar que apesar de nenhum instrumento de investigação de personalidade

poder alcançar a alma humana em seu todo, visto que o todo é maior que a soma das partes, o

estudo e avaliação da personalidade através de técnicas de exames psicológicos podem ser

instrumentos para objetivar, fidedignizar, validar, fatoriar, prever e explicar condutas

humanas, e através destes a Psicologia enquanto ciência pode desenvolver teorias e

metodologias de Relações de Ajuda para que o ser humano possa estar melhor consigo e mais

adaptado frente a realidade na qual está inserido.

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Porém, apesar dos Traços serem considerados características constantes, devido ao

fato de representarem uma tendência ou inclinação, estes não são considerados imutáveis,

pois o ser humano está em constante processo relacional e por isso, pode estar desenvolvendo

outras características potenciais em sua personalidade através da troca com o outro humano,

como por exemplo através de Relações de Ajuda.

Assim sendo, os Traços de personalidade são características psicológicas que

representam tendências relativamente estáveis na forma de pensar, sentir e atuar de cada

pessoa, mas não se pode deixar de salientar que existe a possibilidade de transformações

pessoais, consequentemente sociais, que são frutos das interações do ser humano com o outro,

e sua historicidade.

Como dito anteriormente, os principais inventários, questionários e técnicas projetivas

gráficas, outros, tais como 16PF, MMPI, Escala de Necessidade de Murray, Escala Comrey,

IFP, PMK, Wartegg e HTP, foram desenvolvidos com base em teorias da personalidade. Por

isso quando submetidos a análises fatoriais, isoladamente ou em conjunto, demonstram

respostas correspondentes a determinado fundamento, como por exemplo, o Modelo dos

Cinco Grandes Fatores, a Tipologia Junguiana, as Disposições Pessoais, Cardinais ou

Fundamentais e Dispositivos Centrais, a Variabilidade e Consistência, Equivalência

Funcional e Influência cultural, como também a Teoria dos Humores de Hipócrates, dentre

outras não apresentadas aqui.

Desta forma, independente da teoria que fundamenta a construção dos instrumentos

objetivos de avaliação da personalidade, as análises fatoriais dos mesmos demonstram a

consistência do propósito no qual as técnicas de investigação psicológica colocaram-se a

analisar e demonstrar, e a partir destes a relação de ajuda foi historicamente se construindo.

A partir dos estudos e instrumentos de avaliação psicológica citados acima, construiu-

se as primeiras intervenções de relação de ajuda, sendo que estas são orientadas por três

metodologias distintas que se pautam através de caminhos conceituais próprios; estes

caminhos são os modelos de orientação Diretiva, Não-Diretivo e o Eclético (SCHEEFER,

1979).

A terapêutica, portanto, desenvolvida através dos estudos sobre os Traços e aplicada

por meio das metodologias de relações de ajuda, construiu-se inicialmente a partir dos estudos

citados neste capítulo, sendo que estes até os dias atuais são utilizados nas orientações de

relação de ajuda, visto que são saberes vivos referentes ao psiquismo humano. Através destes

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saberes a ciência psicológica pôde conhecer com mais profundidade aspectos da

personalidade humana e com isto trilhar caminhos que facilitaram o bem-estar das pessoas.

As primeiras intervenções terapêuticas em relação de ajuda deram-se em orientação

profissional, em seguida nos centros de apoio as crianças com dificuldades de aprendizagem,

e sequencialmente aos pais das crianças, a casais e dependentes químicos, todos estes

inicialmente nos EUA a partir de 1940. Assim sendo, a relação de ajuda, nos moldes que se

apresente no Ocidente, para se efetivar como terapêutica nutriu-se de diversos saberes como

demonstrado no texto acima para consolidar suas ações, e existir enquanto metodologia aceita

pela Ciência Psicológica.

III. A ARTE NA RELAÇÃO DE AJUDA

Percebe-se ao desenvolver atividades educativas nos mais diversos níveis

educacionais, que a expectativa produtivista frente aos conteúdos ensinados e aprendidos é

comumente o principal objetivo dos planos de ações nas instituições de ensino, raramente

encontra-se educadores e instituições de ensino inclinados para uma formação integral do

educando, pois quase sempre estão voltados para a transmissão e mensuração dos conteúdos

assimilados pelo educando. Esta realidade provoca afastamento dos educadores,

consequentemente dos educandos, de aspectos como o sentir, o estar junto e o caminhar com

o outro rumo ao sensibilizar-se.

Esta verificação começou a produzir angústias, provocar reflexões e inquietações

íntimas, visto que ao verificar esta realidade e questionar estes valores, foi constatado a

questão de que narrativas sobre a vida, a cidadania, a sensibilidade, a afetividade e o trabalho,

comumente, não fazem parte dos conteúdos a serem refutados, transmitidos e dialogados na

formação de futuros educadores.

Começa-se a indagar se estava materializando na práxis educativa uma ação

integrativa, formativa, holística e transformadora, e ao buscar ouvir intimamente e sentir sobre

o próprio fazer educativo, constata-se que não.

Identifica-se que a arte na relação de ajuda, se torna um aspecto essencial ao

desenvolvimento de um ato educativo transformador, mas a arte não se fazia presente na ação

educativa desenvolvida, consequentemente a construção das relações de ajuda vivenciadas se

davam de maneira bancária, produtivista, cartesiana, burocratizada, insensível, sem poética

educativa e pouco afetiva.

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Previamente esclarece-se que definir arte é muito difícil, como afirma o crítico de arte

Frederico Moraes em entrevista cedida ao editorial Record, nesta Frederico de Moraes relata

que após 40 anos de crítica de arte deixou de saber o que é arte, e ainda ressalta em seu livro

Arte é o que eu e você chamamos de arte, que é difícil encontrar um único autor que tenha

conseguido contemplar enquanto conceito a essência desta, pois o comum quando se tenta

conceituar a arte é prevalecer a contradição, a crise, a ambiguidade de significados, o enigma

e o mistério (MORAES, 1998).

Na relação de ajuda a atividade artística possibilita aos participantes manifestarem

sentimentos, emoções, afetividade, sensibilidade, liberdade experiencial, criatividade, fluidez,

expressividade e dialogicidade.

Stori (2003) ao fazer a apresentação do livro O Despertar da Sensibilidade na

Educação, afirma que é necessário que se faça um resgate da sensibilidade no ato educativo

devido ao fato de que a Educação, ainda que nela se verifique algumas mudanças, é ainda

centrada na valorização do cognitivo, do racional e da acumulação de informações

cientificamente construídas.

A Educação conforme afirma Stori (2003) apesar de incipientes movimentos rumos à

mudança, mostra-se ainda cristalizada nos ditames da transmissão do conteúdo, sendo à visão

de um homem integrado, autônomo, transformador e construtor de seu devir pouco trabalhado

nos espaços educativos. Ressalta-se mais uma vez que o sentido de ato educativo aqui não é

correspondente ao estritamente escolar formal, e sim quaisquer relações humanas onde

pessoas trocam, se sensibilizam, partilham, comungam, ensinam, aprendem, transcendem e se

transformam em pessoas melhores através do encontro humano, ou seja, da relação de ensino-

aprendizagem.

Encontros estes que para existirem é necessário à intencionalidade de promover a troca

interpessoal, a construção de saberes, a partilha da vida, o desenvolvimento proximal, o

ajustamento criativo, o despertar da tendência atualizante, a aprendizagem mútua e

participativa, enfim, é um lugar onde se visa a transformação de si mesmo e do outro, dos

saberes e da realidade imediata instaurada

Nesta perspectiva, ressalta-se que no Brasil, o ato educativo construído nos cursos de

Psicologia, em geral, possui uma ação interventiva voltada às narrativas psicopatologizantes,

sintomáticas, psicométricas, biologizante e positivista da ciência, nestes cursos, em geral,

temas como criatividade, sensibilidade, afetividade, outros, não são frequentes (ver anexo 2).

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Nos discursos acadêmicos e na práxis do psicólogo no Brasil, é comum o difundir da

clássica ideia de que o profissional da Psicologia não pode se “envolver” com quem é

atendido, não pode se posicionar como pessoa, aconselhar, criar, ter linguagem própria e

demonstrar o que sente, pois deve se “distanciar” do atendido para não contaminar o trabalho

e evitar que o atendido saiba sobre a vida pessoal de quem atende, já que caso estas

orientações não sejam cumpridas prejuízos seriam presentes na relação de ajuda. Devendo

este educador então restringir-se a fazer o que seu autor de preferência e abordagem teórica

determinam. Criar jamais!

Estas narrativas psicológicas e moral convencionada sobre o fazer do psicólogo, pelo

que se observa, são pouco questionadas pela academia, como também pelos psicólogos no

desempenho de seu trabalho. Refuta-se os posicionamentos acima visto que se acredita que a

ação humana é intencional e interacionista. Assim, defende-se que não há neutralidade

científica, visto que a intencionalidade, valores, símbolos, ideologias, visão de homem e

mundo, se fazem presentes nos atos humanos, inclusive na relação de ajuda.

Por acreditar na possibilidade de outro caminho, um caminho onde o educador possa

deixar de ser cartesiano, bancário, fragmentado, atomista e monolítico, é que se lança nesta

caminhada; caminhada esta onde se intenciona a possibilidade de formar psicólogos, outros

profissionais e pessoas em geral, com um potencial criativo e melhores recursos pessoais para

construírem a arte da relação de ajuda, e não apenas reproduzi-la metodologicamente.

Verifica-se na caminhada pela vida e construção de relações de ajuda, que as pessoas

anseiam por novas narrativas do jeito de ser psicólogo, pois são recorrentes frases como: “Dr

não quis continuar com aquele psicólogo porque ele parecia não ter alma, era muito frio”, “dr

fui numa psicóloga, mas achei ela muito teórica, não me transmitiu vida”, “dr me indique uma

profissional, mas que me olhe, que me sinta, porque já fui em uma que nem me olhava, eu

ficava de costa pra ela, achei aquilo tão estranho”, “prof me encaminhe para uma profissional

que não me veja como doente e que eu possa me sentir a vontade”, “prof porque muitos

psicólogos interpretam tudo, parecem sempre distantes, nunca sei o que eles pensam pois só

dizem rum rum e repetem a pergunta que fiz?”, “prof não sei o que vou fazer quando me

formar pois vou voltar pra minha cidade e lá todo mundo me conhece, e não posso atender

quem conheço, e agora como vou trabalhar?”

Frente a isto se acredita que é necessário ir além destes modelos acadêmicos

cartesianos e bancários que nortearam fortemente a formação dos psicólogos e demais

profissionais no ocidente, especificamente no Brasil.

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Defende-se que o homem, a ciência, a sociedade, a cultura, enfim, tudo está em

constante movimento, por isso não é viável que modelos cartesianos sejam a única referência

de educar futuros profissionais nos dias atuais, devido os anseios da sociedade contemporânea

que clamam por narrativas e práxis mais sensíveis, holísticas, criativas, expressivas e afetivas

sobre o como ser e atuar em Psicologia, na Educação e nas outras ciências.

A ciência psicológica precisa acompanhar as expectativas da sociedade

contemporânea, e mais, o psicólogo na sua práxis da relação de ajuda precisa assumir sua

historicidade, seu ser pessoa e sua arte, já que como diz Rogers (1997) quanto mais o

psicólogo conseguir ser genuíno consigo mesmo, expressivo, sensível e construtor de novas

linguagens do jeito de ser pessoa de si e do outro, mais construirá com o educando uma

relação de ajuda mais profunda e fluídica.

Perante o exposto, fomentar esta temática é relevante e inovadora à ciência

psicológica, pois nas concepções de competência do mundo atual não mais se aceita a antiga

conotação de competência onde o educador deveria ser distante, imparcial, isolado, neutro e

não relacional. Este modelo de ser educador não mais corresponde às expectativas da pessoa

humana que procura e se submete a relação de ajuda, pois segundo Rogers (1999) e pelo que

se observa, existe nos educandos a procura pelo manifestar genuíno, educar, relacionar, trocar

e interagir com o outro.

Nesta perspectiva, através da promoção da arte da relação da ajuda visa-se aplicar a

maleabilidade da argila, dar fluidez ao guache, afinar a voz, modelar a massa, enfim, facilitar

ao ser humano a manifestação de potenciais latentes, tais como, sensibilidade, criatividade,

intuição, afetividade, outros.

O sentido de arte [e arte da relação de ajuda] que se apresenta aqui é corroborado por

Stori, (2003), este diz que a arte está presente em todo fazer onde a verdade, a entrega pessoal

e os potenciais criativos se façam presentes, por isso é no fazer do artista que nasce a arte, e

não o contrário, precisa-se então cada educador nas relações de ajuda buscar seu próprio

traço, sua arte, como diz Rogers, seu jeito ser.

Portanto, é na construção da obra inquietamente da arte da relação de ajuda que

repousa este ser artista, artista na arte de ajudar o outro humano através da relação de ajuda.

E como todo artista vive-se a angústia do pôr para fora, do mostrar o que grita dentro

da alma, do criar e recriar a própria obra seja através da partitura, do pincel, da voz, do

movimento do corpo, do olhar, do contemplar sensivelmente, do tocar e ser tocado na alma.

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A práxis da relação de ajuda sem arte estimula a formação de pessoas onde os

potenciais criativos, a sensibilidade e a afetividade não se fazem presentes, já que o mais belo,

o relacional, a fluidez emocional, a expressividade, a espontaneidade, o intuitivo, o

transcendente e o inquietante, não se fazem presentes.

Após perceber que estava exercendo uma ação educativa dicotomizada, sem a

contemplação do belo, [belo no sentido do melhor da alma humana, de sua capacidade de

transformação e do tornar-se pessoa], opta-se por buscar maestria na forma de conduzir as

relações de ajuda, decide-se resgatar e reintegrar nesta as narrativas que valorizam temas

essenciais a arte, tais como, sensibilidade, expressividade, criatividade e afetividade.

Nesta caminhada busca-se pensadores interdisciplinares frente a estes temas, e

descobrir que não se estava só no mundo e que não precisava sentir desamparo no percurso

lançado a caminhar foi um grande alento.

Descobre-se nesta caminhada que o discurso da educação bancária e cartesiana não era

a única narrativa, pois outros sistemas e metáforas educativas há tempos estavam em fomento,

porém, sufocados pelas narrativas acadêmicas predominantes, mas buscando com todas as

forças se fazer presente e experiencial nos espaços educativos.

Identificar estes autores provocou um sentimento de pertencimento conceitual e

experiencial, uma sensação de ser amparado no percurso, de estar no ninho energeticamente

vivo e sadio, como diz Rogers (1999), de ser aceito incondicionalmente no jeito de ser,

portanto, de ter a certeza de que poderia levantar a cabeça e caminhar rumo a Crisália inerente

ao percurso.

Comumente uma das maiores dificuldades para promover uma relação de ajuda mais

sensível, criativa, reflexiva, deve-se a dicotomização do saber que impõe ao educador a não

arte nos mais diversos espaços, pois em geral, o poder institucional e a formação acadêmica

são bancárias na forma de conduzir o ato educativo, assim priorizam em geral o reproduzir

dos conhecimentos acumulados, perdendo consequentemente, como afirma Giora (2015), seu

caráter sensível, reflexivo e lapidante da criatividade, da sensibilidade e da afetividade.

Portanto, como não poderia deixar de ser, lançar-se no caminho de uma construção de

relações de ajuda mais sensíveis e afetuosas é um grande desafio, visto que para se

desenvolver o ato educativo com arte é imprescindível que não se vise apenas o reproduzir de

conteúdos científicos, a aplicação de técnicas e planos de ação; já que o apenas reproduzir

algo é essencialmente incongruente com o sentido da arte.

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A arte, como área do conhecimento humano, abarca um amplo espectro de

expressões e manifestações. Constitui um elo privilegiado entre o homem e o seu

mundo, proporcionando assim, uma renovação, na qual passado e presente se unem.

(STORI, 2003, p. 15)

A arte, como mostra Stori (2003) pode-se dizer que é um mecanismo humano, social e

cultural que possibilita ao Homem se revelar em sua integralidade mais íntima, intransferível

e não reproduzível, já que ao atuar com arte se alcança um espectro do que há de mais

profundo enquanto possibilidade humana, pois através dela encontra-se a si mesmo, e se lança

a liberdade íntima para desencadear e expressar as emoções, a sensibilidade e a afetividade,

como também para despertar e revelar as fantasias.

Assim a arte por si só é uma relação de ajuda, logo a relação de ajuda por si só

também é arte, pois visa resgatar, encontrar, expressar e pôr para fora o que está dentro da

alma humana, tais como a integralidade mais íntima, intransferível e não reproduzível, como

também o expressar das emoções, sensibilidade, afetividade e fantasias; e é nesta perspectiva

que se pensa a arte da relação de ajuda, pois:

[...] a arte [ e a arte da relação de ajuda] ainda cria e abre caminhos que ampliam o

conhecimento de mundo, oferece condições para expressão do lúdico, do sonoro, do

gesto, do movimento, do imaginário. Por seu intermédio, a curiosidade é despertada

e estimulada, as interpretações são instigadas, gerando-se, a partir daí, a liberdade e

o prazer da fruição estética. Em decorrência disto, o homem vê a realidade com um

olhar diferenciado e independente, individual e, portanto, crítico. (STORI, 2003, p.

16).

É interessante apresentar também que Fisher afirma que a arte

[...] é o elemento necessário para a união do indivíduo com o seu universo,

capacitando-o a identificar-se com a vida dos outros e a incorporar em si aquilo que

ele não é, mas tem possibilidade de ser. (FISHER, 1973 apud STORI, 2003, p. 16)

Precisa-se lutar para que a arte possa estar integrada na vida de todas as pessoas, para

que o educar com capacidade criativa e sensível possa promover na sociedade a construção de

pessoas mais inteiras, com uma afetividade vívida, polida e sofisticada; sofisticada no sentido

de empática, congruente e criativa.

Caldas (2007) diz que sensibilidade e arte caminham juntas, portanto, não se deve

deixar que o reprodutivismo, a educação bancária, o cartesianismo, o instrumentalismo

educativo e o produtivismo de todas as formas, inclusive o acadêmico, oprimam o papel

fundamental da arte, que é o redimensionar a sensibilidade e o ressignificar do que está dentro

e fora. Portanto, educar com arte através da relação de ajuda é lançar-se a construção do ser

humano de maneira contínua, com maior disponibilidade dos potenciais criativos, dentre eles

a afetividade.

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Acredita-se que as visões teóricas separatistas, que desconsideram o homem em sua

complexidade e interdisciplinaridade formativa, não respondem as indagações que envolvem

a complexidade humana e temas inerentes ao ato educativo. Por isso precisa-se superar a

bipolarização entre ênfases afetivas e cognitivas, já que o ser humano em seu todo existencial

é maior que a soma de todas as partes.

Assim, não se pode deixar de integrar as possibilidades de entendimentos e

experiencialidade dos potenciais cognitivos e criativos do ser humano na relação de ajuda,

visto que os aspectos acima são dimensões inerentes, concernentes e não dicotomizáveis do

ser humano no processo de tornar-se pessoa.

[...] tem-se que procurar integrar e perceber o ser humano como um ser completo e

fruto dos processos em que vive, pois seu modo de agir, pensar, sentir, interferir e

ser interferido é histórico e socialmente construído. (KUPFER, 1997, p. 2)

Freire (1998b) através de sua proposta educativa defende que se deve fazer do ato

educativo, [da relação de ajuda], um processo mais amplo do que o mero reproduzir de

informações. Defende também que as pedagogias centradas na educação bancária, que é

aquela onde o educador e seu saber são o centro, pois o ato democrático, o direito de

expressar pensamentos, emoções, criatividade, sensibilidade e afetividade não são presentes,

precisam entender que o ser humano só pode assumir e reassumir sua condição humana

quando forem respeitadas suas características de ordem ontológica, que são: ser livre,

histórico, transformar e participante do processo de mudanças.

Freire (1998a) propõe que o ser humano é fruto de sua historicidade e que a educação

bancária não promove a transformação da história das pessoas, mas sim, o contrário, pois

mantém estagnado o que já foi estabelecido pelo opressor, e por conta disto, os potenciais

criativos ficam suprimidos pela massificação exercida através do ato educativo bancário.

Desta forma, sabe-se que se tem um longo caminho pela frente para que se possa

materializar através das relações de ajuda ações educativas integrativas e não cartesianas,

onde dentre outros, o desenvolvimento dos potenciais criativos se faça presentes.

No modelo cartesiano e bancário de educar, a arte é suprimida devido discursos e

práticas dicotomizadas que estimulam fortemente um modelo de trabalho voltado para ações

racionalizadoras, análico-formais, objetivistas e dicotomizadoras dos fenômenos humanos.

Evidencia-se que as ações educativas bancárias e cartesianas constroem nas relações

humanas forte hierarquização interpessoal e olhares disciplinares monolíticos e atomistas

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sobre os fenômenos humanos, como também é presente a priorização da psicopatologia, e

claro, da não arte nas ações educativas.

Busca-se neste se lançar a criatividade, além de poder aprofundar no tema Relação de

Ajuda como ação educativa, tornar-se um artista, um artista da arte de educar, e assim

procurar esculpir-se para depois tornar-se um facilitar do crescimento e do desenvolvimento

pessoal daqueles que procuram através da relação de ajuda se tornar pessoas melhores, mais

centradas, sensíveis, humanas, empáticas e afetivamente fluídicas, enfim, menos cartesianas e

bancárias, logo, menos racional, conteudista, instrumental e tecnicista.

Intenciona-se também desenvolver com a sensibilidade do artista o refinamento da

escuta íntima, a troca participativa, o estar inteiro, o contribuir com o outro por meio da

relação de ajuda, consequentemente do encontro facilitador do crescimento pessoal e da

transcendência; como também do se despir das amarras que aprisionam a capacidade criativa

do ato educativo libertador.

Ao escrever o prólogo do livro O despertar da Sensibilidade na Educação, que tem

como organizador o professor Norberto Stori, uma linda apreciação foi escrita por Robson

Alves dos Santos. Apreciem: “Buscar a sensibilidade, o resgatar do sensível olhar é tarefa que

exige dos educadores um momento de reencontro com sua própria sensibilidade” (STORI,

2003, s/p).

E mais, Stori (2003) apresenta com magnífica sensibilidade que este percurso não está

pronto, já que cada pessoa é única e possui suas ferramentas básicas para esculpir sua própria

arte através dos recursos e potenciais únicos, além é claro de sua historicidade peculiares.

Robson Alves dos Santos defende no mesmo prólogo que o caminho do

desenvolvimento da arte [da relação de ajuda], não pode ser determinado previamente, pois

nenhum humano pode predizer o caminho que irá percorrer ao longo de sua existência, pois

cabe a cada um reconhecer que o caminho é construído através de cada passo dado, pelo

simples fato de que o ser humano ao ser lançado a sua historicidade inicialmente só tem

conhecimento do imediato, e tudo o mais que historicamente apreender ao longo da vida será

compreendido de maneira parcial e confusa.

Desta forma, Robson Alves dos Santos diz que não se pode determinar nenhum

caminho antes que o mesmo se revele na materialidade da vida, pois se a vida é um fluxo, não

se pode determinar a causalidade e muito menos o destino, o ser humano precisa aprender a

lançar-se a vida, e contemplar sua estética, a correr riscos, observar as cores dos dias e os tons

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dos ventos; precisa aprender a contemplar a vitrine do percurso vivido, enfim, é necessário

aprender a materializar, a esculpir, a pintar, a riscar e ressignificar a história, a sensibilidade,

os pensamentos, as emoções, os sentidos, a afetividade...

Para isso é necessário que inicialmente se acate humildemente o princípio de que na

vida não é possível determinar as trilhas que serão percorridas, os afetos que serão vividos, as

lembranças que serão degustadas.

Precisa-se aceitar também que da mesma forma que o saber sobre o mundo imediato e

físico será parcial e confuso, será confuso e parcial também a compreensão da criatividade, da

sensibilidade, da angústia, da culpa, da raiva, do estar vivo, morto, enfim, da afetividade, já

que no percorrer da vida os fenômenos são conhecidos pela parte, e não pelo todo.

Neste entendimento, portanto, a arte da relação de ajuda é também lançar-se a um

constante devir, e no percurso revelado e a se revelar o ser humano pode se tornar cada vez

mais uma pessoa, pois como diz Rogers (1997) o ser humano nasce humano, mas se torna

pessoa, por isso o autor muitas vezes utiliza o conceito de pessoa humana, e é pelo caminho

do tornar-se pessoa que se conhece e reconhece, se transforma e desenvolve seus potenciais

criativos, dentre eles o de ser potencialmente um ser que se permite sentir, que tem

sensibilidade e anseia vivenciar sua afetividade.

Sincronicamente a esta compreensão, parafraseia-se Stori (2014) que poeticamente

ensinou que na arte [de educar] o artista [o educador] não sabe como fazer, e que é o caminho

que vai mostrando para o artista [o educador] onde ir, e que ao seguir intuitivamente este

caminho, [a arte da relação de Ajuda] vai se desabrochando e encontrando sua forma, se

construindo e se tornando cônscio, tornando se pessoa.

E mais, Stori (2014) diz que só o artista [o educador] sabe onde quer chegar, mas não

no nível cognitivo, e sim num nível muito mais profundo, meta- cognitivo, puramente

intuitivo e criativo, onde só através da sensibilidade pode se alcançar e sentir a luz deste

caminho. Diz ainda que o artista [o educador] mesmo sem entender a lógica da necessidade

que grita por se revelar e esculpir como materialidade [educativa], quase sempre quando esta

necessidade de materialização é autorizada intimamente, [nas relações de ajuda] se concretiza

a retomada da dignidade humana, do empoderamento histórico, da ressignificação psíquica, e

consequentemente do torna-se pessoa.

Contudo, na antítese da vida e nos percursos revelados, apesar de só o artista [o

educador] saber onde quer chegar através de sua arte, contraditoriamente não sabe como

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chegar, já que é no andar da carruagem que se constrói a consciência do caminho a ser

percorrido e seu ponto de descanso, e quem sabe duvidosamente, o seu ponto de chegada,

visto que sempre ficará uma questão: Onde é o fim do caminho? Onde é o ponto de chegada?

Assim, o querido educador Stori (2014) na construção da relação de ajuda com seus

educandos por meio de suas ações educativas em sala de aula ensinou que a obra é o resultado

de um processo.

Precisa-se, portanto, para ninguém se perder na longa caminhada do tornar-se pessoa

mais sensível, aberta a vida e a arte, e atuante frente à realidade na qual se vive, remar

conforme orienta uma bússola que sempre guia a um lugar muito confortável, harmonioso,

democrático, reflexivo, sensível, criativo, participativo, holístico e facilitador do crescimento

pessoal.

E neste caminho, orientado pela bússola, lança-se o sentido de afetividade como

sinônimo do sentir positivo, do revelar o que mora de melhor em cada pessoa, do transcender,

do tornar-se pessoa, portanto, a afetividade, como escreveu Robson Alves dos Santos, no

prólogo do livro O Despertar da Sensibilidade na Educação, é uma bússola infalível, é o

Amor, e complemento, é o melhor de cada pessoa.

Com a afetividade pode-se construir caminhos que levam ao desenvolvimento de

pessoas mais inteiras, consequentemente, acredita-se que por intermédio da arte de educar

pode-se pinçar os passos que conduzirão ao encontro e reencontro com a afetividade,

condições estas necessárias ao processo do se tornar um ser humano melhor, como também

uma sociedade mais igualitária, inclusiva, menos estigmatizante, onde as pessoas possam

simplesmente ser e colorir na tela de suas histórias a aquarela do existir, e fluidicamente

dançar nos movimentos da existência os ritmos das melodias tocadas pelo DJ da vida.

Assim, como possibilidade para que as pessoas possam colorir suas telas e dançar nos

movimentos da existência, Rogers (1999) propõe que um dos caminhos para a construção do

desenvolvimento humano é a vivência da [arte] da relação de ajuda, que para ele se estabelece

quando nos encontros humanos nos mais diversos espaços, tais como, escolas, consultórios,

hospitais, empresas, comunidades, etc.,

[...] pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o

desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade

de enfrentar a vida. (ROGERS, 1999, p. 45).

Rogers (1999) sucintamente define o conceito de relação de ajuda como:

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[...] a relação de ajuda pode ser definida como uma situação na qual um dos

participantes procura promover numa ou noutra parte, ou em ambas, uma maior

apreciação, uma maior expressão e uma utilização mais funcional dos recursos

internos latentes do indivíduo. (ROGERS, 1999, p. 45-46).

Evidencia-se portanto que toda e quaisquer relações humanas que visem alcançar enquanto

objetivo a facilitação do crescimento pessoal, tais quais a relação médico-paciente, professor-aluno,

artista-obra, terapeuta-consulente, sacerdote-religioso, pais-filhos, etc., é uma relação de ajuda.

Entretanto existem entendimentos contrários aos de Rogers, nestes entendimentos contrários, a

relação de ajuda, especificamente a psicoterapia, apenas pode se dá em espaço estritamente clínico,

onde os vínculos afetivos não podem existir, nem tão pouco aproximações pessoais, e caso isto

aconteça a relação de ajuda (psicoterapia) imediatamente deveria ser interrompida.

Rogers (1999) defende que é a afetividade fluídica entre os envolvidos na relação de ajuda que

é um dos ingredientes responsáveis pela superação das dificuldades apresentadas por aqueles que

buscam a ajuda humana através das relações interpessoais, neste caso específico, através da arte da

relação de ajuda, conforme cita-se a seguir:

Entre os diferentes agrupamentos de atitudes dos pais para com os filhos, são as

atitudes de “aceitação democrática” as que parecem melhor favorecer o crescimento.

As crianças, as crianças quando são tratadas pelos pais com afeto e de igual para

igual, revelam um desenvolvimento intelectual acelerado (QI mais elevado), maior

originalidade, maior segurança e controle emocional, menor excitabilidade[...].

Estou certo de que essas conclusões não surpreendem no que se refere ao

desenvolvimento infantil. Gostaria no entanto de lhes sugerir que elas

provavelmente também se aplicam a outras relações, e que o psicoterapeuta, o

médico ou o administrador que se mostra caloroso e expressivo, respeitador a

própria individualidade e da do outro, que se interessa sem ser possessivo,

provavelmente facilita a auto-realização através dessas atitudes, tal como os pais.

(ROGERS, 1999, p. 48).

Ressalta-se ainda que Rogers (1999, p. 50) diz que,

[...] os terapeutas [médicos, professores, outros] experientes, de diferentes

orientações, sustentavam relações similares com seus clientes. Estes fatores são:

uma capacidade para compreender o que o cliente pretende significar e os seus

sentimentos [afetividade], uma receptividade sensível do cliente; um interesse

caloroso, sem uma excessiva implicação emocional.

E mais, que é na qualidade afetiva da relação interpessoal que está a base do bom

resultado da relação de ajuda, e mais, que os bons resultados estão intrinsecamente ligados “à

simpatia e ao respeito crescente que se estabelecem entre cliente e terapeuta” (ROGERS,

1999, p. 51).

Rogers chama atenção também para a seguinte reflexão:

[...] “as atitudes e os sentimentos [afetividade] do terapeuta são mais importantes

que sua orientação teórica. Seus procedimentos e suas técnicas são menos

importantes do que suas atitudes. Deve-se também sublinhar que é a maneira como

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suas atitudes e seus procedimentos são percebidos que é importante para o cliente, e

que o crucial é a percepção”. (ROGERS, 1999, p. 51).

Portanto por meio destes entendimentos Rogers formula a hipótese de que a mudança

de personalidade do consulente [educando] está significativamente ligada a quatro variáveis

da personalidade do terapeuta [educador], e estas são:

a) o grau de compreensão empática do cliente manifestado pelo terapeuta; b) o grau

de afetividade positiva da atitude (consideração positiva incondicional) manifestada

pelo terapeuta [educador] em relação a seu cliente [educando]; c) o grau de

autenticidade do terapeuta [educador], do acordo entre as suas palavras e os seus

sentimentos internos; d) o quanto a resposta do terapeuta [educador] concorda com a

expressão do cliente na intensidade da expressão afetiva. (ROGERS, 1999, p. 55)

Rogers (1999) afirma que quando se estabelece uma relação de ajuda e se educa por

meio da afetividade, mais facilmente o ser humano revela suas potencialidades criativas,

consequentemente seu poder pessoal de atualização, realização e ajustamento frente à vida.

Portanto para o autor,

[...] a lição mais fundamental para quem deseja estabelecer uma relação de ajuda de

qualquer espécie é a de se mostrar sempre tal como é, transparente [e se, ] numa

dada relação sou suficientemente congruente, se nenhum sentimento referente a esta

relação é escondido quer de mim mesmo quer do outro, posso estar então quase

seguro de que se tratará de uma relação de ajuda. (ROGERS, 1999, p. 60).

A relação de ajuda é um encontro no qual se oferece as condições necessárias para que

ocorra o desenvolvimento pessoal e social dos envolvidos, é a relação interpessoal que

oferece a possibilidade do encontro humano, da mutualidade entre as pessoas, da busca pela

potencialização humana e pelo transcender da consciência, consequentemente, ela é sinônimo

de crescimento e desenvolvimento.

Rúdio (1999) diz que a relação de ajuda ocorre quando duas pessoas interagem e

dialogam dialogicamente, e juntas constroem uma aprendizagem e consequentemente

transformam seus valores, entendimentos sobre si e o mundo.

Diz ainda que a conversa presente na relação de ajuda é comumente um tema onde se

busca melhores entendimentos para o mesmo. Trata-se como afirma Rúdio (1999) de uma

conversa diferente das comuns, onde existe um entendimento que se pretende construir sobre

determinado tema/assunto, visando-se um melhor posicionamento, olhar e resolutividade;

onde cada pessoa, facilitador e orientando, ocupam lugares bem definidos que são: um

buscando auxílio e outro prestando o auxílio segundo sua consciência.

A relação de ajuda, portanto, permite diversas possibilidades de trabalho, desde que

estejam presentes seus preceitos fundamentais que são a Aceitação Positiva Incondicional, a

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Compreensão Empática e a Congruência. É o caso por exemplo de algumas abordagens

terapêuticas, da orientação educacional, do serviço social, do sacerdócio, da medicina, da

educação, etc.

Desta forma se o médico, o professor, outros, que dialogam com o seu “público” na

intenção de auxiliar e oferecer a possibilidade de construir novos olhares, sentimentos e

compreensões sobre questões tema, estes vivenciam a arte da relação de ajuda.

Contudo salienta-se que a arte da Relação de Ajuda pode ser vivenciada fora do

âmbito profissional, pois esta também é usada como recurso eficaz na missão do pai para

educar o filho, para melhor convivência entre amigos, familiares, outros, para isto se faz

necessário vivenciar as condições facilitadoras, que como já escrito são a aceitação positiva

incondicional, a congruência e a compreensão empática.

Rúdio (1999) afirma que a expressão relação de ajuda serve para indicar possibilidades

de interações humanas diversificadas, pois seus recursos podem estar presentes desde uma

entrevista técnico-profissional até uma conversa simples entre conhecidos, familiares, amigos,

etc.

Assim, Rúdio (1999) afirma que expressão relação de ajuda indica várias formas de

interação, que pode ser desde uma conversa com amigos até uma entrevista técnico-

profissional, desde que nestes estejam presentes características comuns, que são as condições

facilitadores.

Mas no mundo “psi”, diferentemente de Rogers e Rúdio, que são pensadores do

assunto, se convencionou dizer que: “[...] a relação de ajuda pode assumir, conforme o caso, a

forma de aconselhamento ou psicoterapia” (RÚDIO, 1999, p. 15).

Assim, o termo aconselhamento ficou convencionado para encontros de relações de

ajuda considerados mais superficiais, e psicoterapia para encontros de relações de ajuda

considerados mais profundos e prolongados.

Porém Rúdio (1999) discorda desta diferenciação e diz que Rogers também como ele,

utiliza os dois termos como equivalentes, sem fazer diferenciação dos modelos de entrevistas

[encontros], se mais profundos ou superficiais. E isto porque:

[...] ambos fazem referência ao mesmo método de base: uma série de entrevistas

diretas com um indivíduo procurando ajudá-lo a mudar suas atitudes e seu

comportamento. Além disso, porque é impossível distinguir, na prática, uma

psicoterapia bem feita e proveitosa de um aconselhamento igualmente bem feito e

proveitoso. (RÚDIO, 1999, p. 15).

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Portanto, reafirmando, para Rogers (1977), a relação de ajuda é definida como uma

situação na qual frente a uma relação interpessoal um dos participantes procura promover uma

maior apreciação, expressão e utilização mais satisfatória dos recursos internos disponíveis na

personalidade da pessoa, para que se alcance um maior crescimento, desenvolvimento,

maturidade, e capacidade de enfrentar a vida.

Rogers em seu livro Psicoterapia e Consulta Psicológica faz a seguinte declaração:

Um grande número de indivíduos passa profissionalmente uma grande parte do seu

tempo em entrevistas, provocando nos pacientes uma alteração construtiva de

atitudes, através de contato pessoal. Quer esses indivíduos se designem a si mesmos

como psicólogos, conselheiros pedagógicos, conselheiros matrimoniais, psiquiatras,

assistentes sociais, orientadores educacionais, chefe de relações humanas na

empresa, quer com qualquer outro nome, é a sua maneira de abordar as atitudes do

paciente que constitui o objeto da nossa análise neste livro. (ROGERS, 1997, p. 3)

Considera-se que o conceito relação de ajuda firmado por Rogers significa uma

evolução importante à Psicologia e demais ciências do comportamento humano. Rogers

oficializa este conceito como sinônimo de aconselhamento e psicoterapia, na publicação da

obra On Personal Power (Sobre o poder pessoal), onde explica com clareza a aplicação e os

princípios conceituais da relação de ajuda, além de sua aplicabilidade nas diversas áreas tais

como: Educação, grupos, organizações, outros.

Nesta obra Rogers cita um questionamento que um estudante o fez a respeito de suas

ideias, e o interessante é que tal questionamento esclarece por si só a narrativa central da

práxis da relação de ajuda proposta por Rogers, e complementa-se: sua arte.

Passei três anos na graduação, aprendendo a ser um perito em psicologia clínica.

Aprendi a fazer avaliações diagnósticas precisas. Aprendi as várias técnicas para

alterar atitudes e comportamentos do sujeito. Aprendi modos sutis de manipulação,

sob os rótulos de interpretação e orientação. Então, comecei a ler sua obra, que

transformou tudo o que havia aprendido. Você dizia que o poder encontra-se, não na

minha mente, mas no organismo do sujeito. Você inverteu completamente o

relacionamento de poder e controle que havia se desenvolvido em mim durante três

anos. (ROGERS, 2001, p. 3).

E mais, elucida seus principais objetivos com esta proposta de contribuir com a

construção de pessoas humanas através da relação de ajuda, veja-se:

Esta abordagem mais nova difere da antiga por ter um objetivo nitidamente

diferente. Tem como objetivo direto uma maior independência e integração do

indivíduo, em vez de esperar que tais resultados derivem do auxílio dado pelo

orientador à solução do problema. O foco é o indivíduo e não o problema. O

objetivo não é resolver um problema particular, mas auxiliar o indivíduo a crescer,

de modo que possa enfrentar o problema presente e os posteriores de uma maneira

mais bem integrada. (ROGERS, 2001, p. 6).

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Portanto a proposta de ajudar na formação de pessoas humanas através da arte da

relação de ajuda também tem como perspectiva promover o ser humano como uma pessoa

dotada de liberdade e de capacidade para fazer escolhas.

Contudo, ressalta-se que para que a arte da relação de ajuda se materialize se faz

necessário que as condições facilitadoras estejam presentes no encontro humano.

Para Rogers, o ser humano possui no mais profundo de sua alma a capacidade de

autonomia e autodeterminação, já que tem naturalmente as condições para ser um agente

criativo de sua realidade, motivar-se para um processo construtivo, buscar a liberdade e fazer

escolhas mesmo que em condições adversas.

A relação de ajuda de acordo com Rogers (1977), como toda relação interpessoal,

possui características estruturais que constituem os pilares do funcionamento interpessoal,

possui também qualidades afetivas comuns que possibilitam a esta um tom personalista que

visa em essência resgatar o potencial criativo, os valores mais nobres e a afetividade humana.

Estas características estruturais definem a arte da relação de ajuda em termos de seu

objeto, finalidade e papéis das partes empenhadas.

Com relação à finalidade, a arte da relação de ajuda pode variar até o infinito. Quanto

aos papéis, elas podem ser classificadas em diferentes categorias: hierárquica, igualitária,

profissional, etc., e consideram que:

a relação entre terapeuta e cliente pertence a esta última categoria. É, pois, um tipo

de relação em que a significação e os efeitos são determinados por certas qualidades,

ou verdadeiramente terapêuticos ou simplesmente sentidos como agradáveis e

estimulantes. (ROGERS e KINGET, 1977, p.120).

Os pressupostos enunciados por Rogers (1977) enfatizam as condições facilitadoras

que possibilitam a construção da relação humana entre as pessoas, em qualquer ambiente ou

segmento da sociedade, na psicoterapia, na escola, no trabalho e nos demais grupos sociais.

Para tanto, ele enumerou e definiu um conjunto de atitudes que concebeu como facilitadoras

no processo da interação e comunicação da pessoa humana, ao se lançar a arte das relações de

ajuda.

Para Rogers, como já escrito anteriormente, as atitudes facilitadoras devem estar

integradas na pessoa do educador, para tanto, ele apresenta um quadro conceitual que

constitui as condições essenciais para estabelecer a arte da relação de ajuda e

consequentemente, a transformação pessoal e social. Estas condições são: A primeira: A

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Congruência, A segunda: A Aceitação Positiva Incondicional e a Terceira: A Compreensão

Empática.

A primeira condição facilitadora é a Congruência, Rogers (1999), afirma que esta é

facilitada na arte da relação de ajuda quando os envolvidos no encontro se mostram

verdadeiramente, ou seja, quando as suas relações com o outro são autênticas e sem máscaras,

portanto, quando exprimem claramente os sentimentos e atitudes que surgem durante a

relação interpessoal.

Para Rogers o facilitador do crescimento pessoal precisa buscar a congruência na arte

da relação de ajuda, pois ao se lançar a ser um educador é importante que a espontaneidade se

faça presente ao longo do processo, para que haja condições favoráveis à observação de

mudanças representativas na personalidade daquele que procura a relação aqui em questão.

A congruência é uma atitude que facilita a aproximação entre o educador e o

educando, pois ela auxilia na construção de uma relação mais estreita, verdadeira e de

confiança, por isso quanto mais o educador experienciar a congruência em sua dimensão

pessoal, mais conseguirá provocar mudanças na personalidade do seu educando, pois, se o

terapeuta [educador] é congruente, então as suas palavras estão de acordo com os seus sentimentos, e

não o contrário (ROGERS, 1999).

Para o autor, a finalidade da congruência é demonstrar o estado de coerência ou ajuste

interno de uma pessoa, a qual se reflete na sua capacidade de compreender e aceitar as

atitudes, as experiências e a afetividade reveladas na relação com o outro.

Quando não existe veracidade e integralidade nas relações humanas nasce à

incongruência, a qual Rogers também enfatiza como atitude que deve ser considerada, pois

para ele a incongruência ocorre quando existe uma discrepância entre a imagem que a pessoa

tem de si mesma e a sua vivência, e diz mais, que quando houver incongruência em uma das

partes envolvidas, educador ou educando, a ineficácia na relação de ajuda é muito eminente

(ROGERS, 2001).

Portanto para o autor, quando há consonância existe congruência. Quando a pessoa

está em estado de incongruência desencadeia um desequilíbrio entre a experiência real e a

simbólica, provocando desajustes comportamentais que conduzem a pessoa a estados de

sofrimentos psicoafetivos.

Para Rogers (1983), quanto mais o terapeuta [educador] for congruente [autêntico] na

relação com o outro e remover as barreiras profissionais ou pessoais, maior será a

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probabilidade de o educando mudar e crescer de forma construtiva. Isso significará que o

educador está vivenciando abertamente os sentimentos e atitudes que experimenta em

determinado momento. Assim, ser autêntico é conhecer o fluxo da vivência que ocorre em

nosso mundo interno, marcado pela complexidade e pela mudança contínua.

Mas,

ninguém atinge totalmente esta condição; contudo, quanto mais o terapeuta

{educador] é capaz de ouvir e aceitar o que ocorre em seu íntimo, e quanto mais é

capaz de, sem medo, ser a complexidade de seus sentimentos, maior é o grau de sua

congruência. (ROGERS; STEVENS, 1976, p. 105)

A segunda condição facilitadora é a Aceitação Positiva Incondicional, e esta está

presente quando o educador atribui importância, aceitação, afetos positivos e apreço pelo

outro, independente da condição, comportamento e sentimentos revelados.

Portanto, aceitar o outro de maneira incondicional positiva é manifestar ao ser

humano,

[...] um respeito e apreço por ele como uma pessoa separada, um desejo de que ele

possua seus próprios sentimentos à sua própria maneira. Significa uma aceitação de

suas atitudes no momento ou consideração pelas mesmas, independente de quão

negativas ou positivas elas sejam, ou de quanto elas possam contradizer outras

atitudes que ele sustinha no passado. (ROGERS, 1999, p. 38)

Sendo assim, a aceitação da diversidade psíquica presentes na personalidade humana

personifica o sentido aqui apreciado, visto que os sentimentos de afeição e segurança, como o

de se sentir querido, admirado e prezado, constituem em essência a intenção do termo,

conforme verifica-se a seguir,

A minha hipótese é que é mais provável a ocorrência de crescimento e mudança

quando o conselheiro vivencia uma atitude afetuosa positiva e de aceitação diante do

que está no cliente. Isto significa que aprecia o cliente, como uma pessoa, mais ou

menos com a mesma qualidade de sentimento que os pais têm pelo filho,

apreciando-o como uma pessoa, qualquer que seja o seu comportamento específico

no momento. (ROGERS e STEVENS, 1976, p.109)

Consequentemente, buscar aceitar o outro de maneira incondicional positiva é não

condenar, é se preocupar com o outro de uma forma não possessiva, é apreciar sem

condicionalidades, é deixar a pessoa livre para seguir seus caminhos de maneira livre, cônscia

e auto realizada.

Rogers (1976), diz que [a arte] das relações de ajuda será mais eficiente o quanto mais

se vivenciar no encontro a consideração positiva incondicional. Devendo assim o educador na

arte da relação de ajuda buscar apreciar seu educando de maneira não condicionada, portanto,

acolher os sentimentos, pensamentos, desejos e outras manifestações que fazem parte da alma

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do educando, sem contudo atribuir a este pensamentos e sentimentos que firam o sentido de

congruência e aceitação positiva incondicional, condições estas essenciais para o bom

desenvolvimento do que aqui se propõe.

E diz mais, que vivenciar estas condições facilitadoras não é exclusividade de

especialistas, mas sim de pessoas que querem de fato estar genuinamente com o outro e

consigo mesmo no encontro humano. E faz uma reflexão profunda sobre isto:

Estou começando a sentir que a chave do ser humano está nas atitudes com que os

pais [o outro humano] o trataram. Se a criança [pessoa] teve a sorte de ter pais

[pessoas] que se sentiram orgulhosos dela, que a queriam e a queriam assim

exatamente como eram, esta criança [pessoa] chega à idade adulta com confiança em

si e amor próprio; continua a ter segurança, a ser forte, a ser capaz de sobrepujar o

que tiver de enfrentar. (ROGERS, 1976, p. 110)

Fica claro, conforme a citação acima, que as condições facilitadoras não são recursos

técnicos para se usar apenas profissionalmente, mas sim para buscar vivenciá-las em qualquer

relação interpessoal onde pessoas estão envolvidas, e a busca pelo melhor de si é a bússola do

encontro. Esta situação é bem ilustrada a seguir:

Se uma criança [pessoa] tem a sorte de crescer nesta atmosfera de aceitação

incondicional, cresce forte e segura, e pode enfrentar a vida e suas vicissitudes com

coragem e confiança, com entusiasmo e a alegria da expectativa. (ROGERS, 1976,

p. 110)

Por isso, a vivencia da aceitação incondicional positiva e da congruência não são técnicas

terapêuticas pertencentes aos psicólogos em suas funções profissionais, mas sim são pertencentes a

quaisquer pessoas que tem como princípio tornarem-se pessoa melhores.

A terceira condição facilitadora é a Compreensão Empática, e para ser compreensivo

empaticamente requer a intenção genuína de buscar sentir o outro através dos olhos deste, mas

sentindo através dos meus, é buscar captar a alma do outro através da minha, e com o outro

viver um encontro quântico, onde psiquismos se conectam e simplesmente sentem o outro e

sua complexidade, dialogando com o revelado nos níveis sensíveis, não intelectuais. É imergir

no mundo de significados complexos expresso pelo outro, é um traduzir o não dito, mas

sentido.

Compreender empaticamente é também buscar captar com sensibilidade os

sentimentos e significados pessoais que o educando está vivenciando no encontro da relação

de ajuda, e traduzir-lhe. Assim, para que se possa vivenciar esta atitude facilitadora se faz

necessário que o educador deseje genuinamente compreender o educando, que queira se

colocar no lugar deste, buscando ver e sentir o mundo segundo o ponto de vista do outro na

relação de ajuda (ROGERS, 1983).

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Vivenciar as atitudes facilitadoras é facilitar para que a pessoa se torne mais

verdadeira e genuína.

Essas tendências, que são a recíproca das atitudes do terapeuta [educador], permitem

que a pessoa seja uma propiciadora mais eficiente de seu próprio crescimento.

Sente-se mais livre para ser uma pessoa verdadeira e integral. (ROGERS 1983, p.39)

Desta forma, construir a arte da relação de ajuda é também em essência pautar os

encontros interpessoais na aceitação positiva incondicional, na compreensão empática e na

congruência, e referendando este entendimento, cita-se:

Quanto mais a terapeuta [educador] é ela mesma no relacionamento, não colocando

uma fachada profissional ou pessoal, é maior a probabilidade de que o cliente

[educando] se modificará e crescerá de uma maneira construtiva. (ROGERS, 2001,

p.10)

A arte da relação de ajuda não se baseia em dar uma receita pronta ao educando, mas,

ajudá-lo através do encontro dialógico a também construir caminhos possíveis para lidar com

suas questões existenciais, sociais, acadêmicas, profissionais, afetivas, outras, cabendo ao

educador facilitar a construção de uma nova consciência sobre as questões dialogadas na

relação de ajuda.

A escuta vivenciada através das atitudes facilitadoras na arte da relação de ajuda

possibilita o crescimento pessoal, logo o tornar-se pessoa, e com isso, propicia as mudanças, e

neste processo o papel do educador que vivencia com o educando a arte da Relação de Ajuda

é facilitar o contato íntimo com o repertório experiencial para que a própria pessoa passe a

dialogar com suas buscas, questões, inquietações, transcendências, reflexões e existência, e a

partir do dialogar consigo atualizar-se frente sua historicidade e comportamentos.

Assim reafirma-se mais uma vez que a arte da relação de ajuda é um fazer educativo

onde através da dialogicidade se promove ações participativas por meio da congruência,

aceitação incondicional positiva e compreensão empática, acreditando que por meio destas os

educandos e educadores construirão encontros humanos transformadores.

Defende-se que quando as atitudes facilitadoras se fazem presentes nas relações

humanas, o ser humano passa a ter maior aceitação pelo outro e por si mesmo,

consequentemente, torna-se mais flexível e fluídico nas suas percepções e apercepções,

adotando para si próprio objetivos mais realistas frente à vida. E, ao transformar as próprias

características de forma construtiva, passa a adotar um comportamento mais adaptado,

atualizante, proximal, criativo, transcendente, crítico, participativo e ajustado à realidade na

qual se está inserido

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Acredita-se que quando se consegue estabelecer a arte da relação de ajuda de maneira

sensível, afetiva e intuitiva, promove-se a transformação do ser humano, pois onde este

encontro se materializa vivencia-se a autorização íntima, a abertura ao próximo, o querer

genuíno e mutuo de estar com o outro, tornando-se pessoa com o outro.

Para Rogers (1997) não há encontro humano sem aprendizagem, sem transformação,

sem levar do outro e deixar com este algo seu, assim todos os humanos através da arte da

relação de ajuda se constroem em pessoas mais congruentes, incondicionadas e

compreensivas, mobilizadas com o bem comum, pois o ato de tornar-se pessoa estimula

inevitavelmente no ser humano à capacidade de ser para o outro e consequentemente, o

comungar com os anseios do coletivo.

Observa-se que nas concepções de competência do mundo atual, não mais se aceita a

antiga conotação de competência onde o educador deveria ser distante, imparcial, isolado,

neutro e não relacional.

Este modelo de ser educador, hoje, não corresponde segundo Rogers (1999) e pelo que

se verifica, às expectativas da pessoa humana que procura e se submete a arte da relação de

ajuda, pois existe nos educandos a procura pelo se educar, relacionar, trocar, e interagir com o

outro apesar de toda tecnologia existente na contemporaneidade, portanto, salienta-se que

existe uma busca pelo educador que não seja bancário, cartesiano, ou seja, autoritário,

distante, frio, diretivo, avaliativo, interpretativo, mensurador, analítico.

Verifica-se que as pessoas que vivenciam a arte da relação de ajuda buscam um

educador que materialize no encontro humano uma alma humanista, com senso histórico,

crítico e participativo, que auxilie o outro humano na construção do seu tornar-se pessoa mais

sensível e com afetividade fluídica.

Um dos caminhos propostos por Freire (1998a) para iniciar a transformação social e

modificar a estabilidade conservadora da história da educação, é considerar o ser humano

como um ser político, autônomo, livre, cheio de sensibilidade e alegria, e considerar que

educar com arte não é promover a exclusão da cognoscibilidade.

Infelizmente, na práxis educativa orientada por princípios bancários e cartesianos,

muitos educadores ainda acreditam que temas que estimulam a arte e os potenciais criativos,

especialmente aqui a afetividade, podem prejudicar o bom andamento do processo ensino-

aprendizagem.

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Observa-se que educadores bancários e cartesianos, pensam que buscar desenvolver os

aspectos citados é correr o risco de perder a autoridade e mal exercer a ética do julgamento

que a ele cabe nas notas, nas observações e avaliações, como mencionado anteriormente.

Assim, pelo fato da educação ser uma prática estritamente humana, e por defender a

formação de pessoas humanas mais inteiras, propõe-se que não se pode vivenciá-la de

maneira cartesiana, visto que o ensinar e o aprender não podem estar pautados na práxis onde

a frieza do contato, a distância, a intelectualização, o tecnicismo, e o negar dos sentimentos,

emoções e afetividade são o centro do processo.

A conquista aos direitos inerentes ao existir humano deve ser promovida por todos os

humanos no exercício de suas atividades profissionais, sociais e pessoais, por isso, deve-se

promover através de interesses comuns as mudanças, as conquistas e o verdadeiro ato de

amor, que neste buscar, é essencialmente a promoção da arte da Relação de Ajuda, e por meio

desta, dentre vários aspectos, a afetividade, pois:

Só na plenitude deste ato de amar [afetividade], na sua existenciação, na sua práxis,

se constitui a solidariedade concretamente verdadeira. Dizer que os homens são

pessoas e, como pessoas, são livres, e nada concretamente fazer para que esta

afirmação se objetive, é uma farsa. (FREIRE, 1987, p.36)

Portanto, considera-se que os educadores necessitam ser orientados pelo aprender a

conhecer, para que ao buscarem se tornar pessoa, ajude outros a tornarem-se pessoas.

Reflete-se ainda que é necessário que cada educador oriente-se pelo aprender a fazer,

pois é congruente buscar ser uma consciência criativa e expressiva, com linguagem, talento e

sensibilidade próprias, para que se aprenda a enfrentar as situações adversas que a vida

apresenta e viver com maior harmonia, contemplação, congruência e fluidez frente à esta.

Acredita-se que os educadores devem intencionar orientar-se também pelo aprender a

viver juntos, devido à constante expectativa humana pelo interagir e revelar-se através do

outro, já que o ser humano se reconhece e se torna cônscio do seu jeito de ser, comumente,

através do que é revelado na relação com outro ser humano.

E, como não poderia deixar de ser, os educadores precisam se orientar pelo aprender a

ser, para que na arte da relação de ajuda experienciem o melhor do seu ser pessoa, pois desta

forma podem estar contribuindo para a construção de uma sociedade mais humana.

Por fim, intenciona-se que educadores através da arte da relação de ajuda possam

aprofundar e promover diálogos mais clarificadores e transformadores sobre o existir humano,

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como também divulgar e conhecer com maior arcabouço teórico e experiencial a dimensão da

temática aqui refletida.

IV. RAZÃO, EMOÇÃO E AFETIVIDADE

O conceito de emoção e afetividade ao longo da história do conhecimento ocupou um

lugar menos privilegiado que o conceito da razão. A razão foi ao longo da História e Filosofia

ocidental considerada uma “faculdade” própria do homem e responsável pela diferenciação do

ser humano dos demais animais, enquanto que as emoções e a afetividade foram consideradas

como algo que precisa ser suprimido para que a analítica sobre as coisas não se perdesse, e

assim, longe destes aspectos considerados inferiores, a emoção e a afetividade, a neutralidade

da ciência e sua aplicabilidade estaria assegurada.

Abbagnano (1986) em seu dicionário de Filosofia, nas páginas 19, 293-306, 842-846,

792-796, apresenta a visão que autores como Platão, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino,

Descartes e Espinosa tiveram sobre a questão.

Na contemporaneidade, Vigotski2 (1998a) em seu livro Desenvolvimento Psicológico

na Infância, afirma que em geral a emoção é concebida segundo a abordagem naturalista.

Neste mesmo livro apresenta o olhar dos pesquisadores Darwin, James e Lange, Cannon,

Adler, Claparède, Lewin, outros, sobre as emoções, conforme serão apresentados a seguir.

Darwin em sua teoria da Evolução defende que as emoções são responsáveis pelos

movimentos expressivos do homem, defende também que o homem não é apenas uma

determinação divina e um ser isolado da natureza; o homem é um membro da natureza, fruto

de um processo evolucionista onde a origem dos movimentos expressivos (as emoções) são

de origem animal.

Sendo assim, em Darwin, as paixões terrenas do homem, as inclinações egoístas e as

emoções relacionadas com as preocupações concernentes ao seu próprio corpo são na

verdade, de origem animal.

O pensamento evolucionista orientou o desenvolvimento das ideias psicológicas que

defendiam a origem das emoções humanas a partir das reações instintivas dos animais. Os

2 Utiliza-se o nome Vigotski por este ser o utilizado pelos autores da obra: VERESK. Cadernos Acadêmicos Internacionais.

Estudo sobre a perspectiva histórico cultural de Vigotski. Tradução Zóia Ribeiro Prestes. Brasília. UniCEUB. 2014.

Apesar de nas referências bibliográficas desta tese manter o nome Vigotsky, Vygotsky ou Vygotski para ser fiel as

publicações das obras citadas.

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psicólogos da escola positivista francesa, como também, os psicólogos alemães de orientação

biológica se basearam nas teorias de Darwin para desenvolver suas pesquisas.

Segundo Vigotski (1998a) foi através destas duas escolas que surgiu a teoria das

emoções conhecida como a “teoria dos rudimentos”.

Esta teoria propõe que:

[...] os movimentos expressivos que acompanham nosso temor são considerados,

segundo uma conhecida expressão, restos rudimentares de reações animais na fuga e

na defesa, e os movimentos expressivos que acompanham nossa ira são

considerados restos rudimentares de movimentos que acompanham, em outros

tempos, a reação de nossos antepassados animais. (VIGOTSKI, 1998a, p. 81)

Sendo assim, as emoções são puramente entendidas nas escolas psicológicas de

orientação darwiniana, como herança dos antepassados nos deixadas através do processo

evolutivo.

Emocionar nesta perspectiva é manifestar mecanismos de temor, de fuga e de ataque,

por isso:

[...] as reações afetivas do homem são restos de sua existência animal, restos

infinitamente debilitados em sua manifestação exterior e desenvolvimento interno.

(RIBOT, s/d, APUD VIGOTSKI, 1998a, p. 81)

Vigotski (1998a) escreve que as emoções durante o desenvolvimento da história

passariam a ocupar o último lugar, visto que se passaria a acreditar que os homens do futuro

deveriam buscar cada vez mais o aperfeiçoamento do raciocínio lógico e objetivo, não os

pensamentos que poderiam estar influenciados pelas emoções, pois estes são herança do

mundo animal.

Nesta perspectiva, as emoções estão claramente relacionadas às expressões primitivas,

rudes, não elaboradas e primárias, cujas reações são demonstrações da involução da

consciência humana. As emoções nesta perspectiva impedem o crescimento e por isso, uma

pessoa culta, bem preparada intelectualmente, com discernimento perceptivo devem se

afastar, repudiar, condenar, não valorizar e não se permitir viver estados emocionais, já que

elas são heranças da existência primitiva.

As marcas destas abordagens fazem com que:

[...] tal formulação da questão, em vez e esclarecer como se enriquecem as emoções

[...], [...] mostra pelo contrário, como se reprimem, se debilitam, se eliminam as

descargas emocionais imediatas [...]. (VIGOTSKI, 1998a, p. 82)

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Por isso, a força das emoções, que é considerada herança do homem primitivo e do

processo evolutivo, é aprisionada, negada, fixada, não potencializada e não fluídica em

direção ao dialógico, construindo assim um tornar-se pessoa pouco voltada à intenção de estar

para o outro numa relação mútua, construtiva, curativa, criativa, experiencial e transcendente.

Já que na leitura evolucionista se as emoções fossem cultivadas, o futuro da esfera psíquica

lógica e objetiva sofreria no mínimo grandes prejuízos.

Como não se pode negar, a abordagem evolucionista das emoções encontrou seu lugar

na história da Psicologia, com isso é de fácil verificação as influências que ela deixou na

compreensão que muitos pesquisadores ainda hoje têm em relação ao homem e suas emoções.

Contudo, no percorrer histórico da Psicologia, opiniões contrárias as ideias evolucionistas

sobre as emoções buscaram se fundamentar em outros constructos epistemológicos, veja-se:

James e Lange se propuseram a pesquisar o que chamavam de fonte da vitalidade das

emoções e encontraram essa fonte nas reações orgânicas que estão presentes nas reações

emocionais. Consideraram que, depois de qualquer percepção, o organismo sofre mudanças

provocadas pelos reflexos e que, as mudanças que ocorrem no organismo são percebidas e

constituem a base das emoções.

Havia um ponto divergente entre James e Lange, pois para Lange, as alterações

reflexas eram determinadas pelas reações vasomotoras, enquanto que para James o que

determinavam as alterações reflexas eram as vísceras.

As divergências entre os dois pesquisadores foram superadas e James propôs uma

fórmula clássica que se opõe as ideias evolucionistas, diz ele:

[...] costumava-se considerar que choramos porque estamos aflitos, trememos

porque estamos irritados; na verdade, dever-se-ia dizer que estamos aflitos porque

choramos, que estamos assustados porque trememos e que estamos irritados porque

batemos. (JAMES, s/d, APUD VIGOTSKI, 1998a, p.83)

James deixa implícito que as emoções são consequências dos comportamentos sociais,

pois basta que se reprima sua manifestação externa para que ela desapareça e que, basta que

os comportamentos sociais provoquem as emoções para sua manifestação existir novamente.

As emoções e sua natureza são fundamentadas nos órgãos internos do organismo, pois

na teoria de James,

As mais delicadas reações do intestino e do coração, as sensações que partem das

cavidades e dos órgãos internos, o jogo das reações vasomotoras e outras mudanças

semelhantes são momentos vegetativos, viscerais, humorais, a partir de cuja

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percepção se formam [...] as emoções. (JAMES, s/d, APUD VIGOTSKI, 1998a,

p.86)

As emoções, conforme nota-se, foram consideradas na história do conhecimento

psicológico como funções inferiores do organismo, já que eram consideradas isoladas das

funções superiores que é o pensar racional, eram também consideradas desvinculadas dos

potenciais criativos e do resto da vida psíquica do homem, pois as emoções eram frutos das

funções vegetativas, viscerais, humorais ou vasomotoras, funções estas como já dito,

inferiores frente à excelência da racionalidade, que era a responsável pela construção do

pensamento e com isso, pela capacidade de elaborar, julgar e raciocinar de maneira lógica,

formal e cartesiana, sem a infeliz influência da “prima pobre”, as emoções.

O pensamento, ao contrário das emoções, é produzido pelo cérebro, órgão

considerado, conforme o estudado acima, superior às funções vegetativas, viscerais, humorais

e vasomotoras, que é quem produzem as emoções; o pensamento, ao contrário desta condição

inferiorizada atribuída as emoções, tem um lugar privilegiado já que tem como base de sua

estrutura funcional o superior, independente, neutro, cartesiano, e evoluído, o Cérebro.

Encontra-se na teoria de James as diferenças entre emoções inferiores e superiores.

Sendo que as emoções inferiores, tais como, o terror, a ira, o desespero, a fúria, têm por

natureza origem orgânica e foram herdadas pelo homem dos seus antepassados. As emoções

superiores, tais como, o sentimento religioso, o sentimento de amor pelo próximo, à sensação

estética, o bem querer, etc., são condições desenvolvidas pela capacidade psicológica do ser

humano na sua interação com outro.

Sendo assim, pode-se pensar que, ao se prontificar e lançar se no mundo para se

relacionar com outro ser humano, o homem revela possibilidades e se desenvolve rumo a

novos processos psicológicos, afetivos e vivenciais, que irão dia após dia capacitá-lo para um

tornar-se pessoa com maiores recursos, com maior disponibilidade para estar e se encontrar

com o outro ofertando o seu melhor nas mais diversas possibilidades e jeitos de ser.

As emoções, portanto, foram diferenciadas e passaram a ocupar duas classificações, as

herdadas, que são as inferiores, e as desenvolvidas, que são as superiores.

As emoções inferiores para James não fazem parte da construção do pensamento, pois

as declara como distintas à consciência, pois,

Todas as emoções, todas as sensações emocionais diretamente entrelaçadas em

nossos processos de pensamento e que são parte inalienável do processo integral dos

raciocínios, eram diferenciadas por ele dos fundamentos orgânicos, e considera-os

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como um processo sui Genesis, isto é, como um processo de um gênero e de uma

natureza totalmente distintos. (JAMES, s/d, apud VIGOTSKI, 1998a, p.85).

E assim como se observa as emoções consideradas inferiores não eram contempladas

como pertencentes aos processos de pensamentos, visto que o pensar, ao contrário do

emocionar, é compreendido como um ato sublime e por isto jamais se deveria deixar que

coisas inferiores como as emoções advindas dos “resquícios orgânicos”, tais como as funções

vegetativas, viscerais, humorais e vasomotoras chegassem perto do pensamento, já que este é

produto do cérebro, um órgão superior em relações às outras funções do organismo.

Frente ao apresentado constata-se que o homem no decorrer do desenvolvimento do

tornar-se pessoa se aperfeiçoou, potencializou, provocou em si mesmo através da relação

consigo e com o outro, novas possibilidades de sentir, de transcender e experienciar as

vivências da vida, assim novas configurações emocionais e afetivas, novas possibilidades de

sentir, de estar, de se aperceber frente ao vivido, de lançar-se no contato consigo e com o

outro foram permitidas, possibilidades estas as quais a herança biológica por si só não é capaz

de proporcionar.

Desta forma, o homem na trajetória do tornar-se pessoa potencializou no seu jeito de

ser nuances emoções e afetos que até então não existiam, pois no entendimento dos teóricos

aqui estudados, as emoções que existiam eram apenas as herdadas do processo evolutivo e

estas se revelavam no comportamento através de respostas das funções vegetativas, viscerais,

humorais e vasomotoras.

Corroborando com esta ideia, Vigotski (1998a) escreve que são as emoções

superiores, ou seja, a afetividade, que ao serem adquiridas e transformadas no percorrer

histórico provocam a transformação da humanidade. Assim, o homem em sua historicidade

sempre será lançado num roteiro existencial e experiencial rumo à atualização dos potenciais

humanos, como o sentir em si mesmo, com e para o outro, já que a autorrealização, a

experiencialidade e a tendência à atualização, são caminhos inerentes à construção da

consciência, do desenvolvimento dos potenciais criativos, da historicidade e

consequentemente da transformação social.

Em suma, foi a partir de James que o entendimento sobre a “origem” das emoções

pôde deixar o paradigma e dogma puramente evolucionista, pois neste as emoções deveriam

ser impedidas de tocar a racionalidade, pois os pensamentos considerados nobres por serem

guiados pelo cérebro, não deveriam sofrer influência de quaisquer resquícios das emoções, já

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que estas eram consideradas funções inferiores, pois estavam relacionadas às funções

vegetativa, visceral, humoral e vasomotora.

Cannon um pesquisador contemporâneo de James e Lange, afirma que as emoções não

são distintas das sensações, pois a fúria, o terror, o medo, a ira...têm a mesma expressão

orgânica. Cannon discorda da teoria de James que defende que para cada ação reflexa existe

uma emoção correspondente. Para Cannon uma pessoa pode estar aflita, comovida,

enternecida, irada e ter a mesma expressão orgânica como resposta, e não necessariamente

respostas emocionais distintas para cada ação reflexa como defende James.

Apesar da divergência de Cannon em relação a James, este nunca colocou em dúvida a

tese fundamental de James onde este defende que as emoções são reflexos na consciência das

mudanças orgânicas, e que as emoções no psiquismo humano possibilitam ao ser humano se

distanciar do reino dos instintos, promovendo-o a um plano mais intelectível, e

admiravelmente, aceitando a aproximação entre as emoções e seus reflexos na consciência do

ser humano.

Ressalta-se que a partir da Cannon existe um deslocamento do que se considera

periferia, ou seja, as funções vegetativas, viscerais, humorais ou vasomotoras, para o centro,

que são os processos do psiquismo humano responsáveis pela construção do pensar e

perceber, guiados pelo cérebro, e a partir deste novo entendimento a dicotomia histórica

existente entre as emoções e os pensamentos apresentaram estremecidas iniciais nesta

estrutura de entendimento secularmente construída,

Toda uma série de reações comparativas e dependências se revelou aos

pesquisadores nos experimentos quando, ao estudar a vida emocional, começaram a

dar conta da total impossibilidade..., que dividiam as emoções em duas classes que

nada tinham em comum entre si as emoções superiores e inferiores. (CANNON, s/d,

APUD VIGOTSKI, 1998a, p.95)

Adler afirma que as emoções não estão apenas relacionadas com a vida instintiva que

se manifesta. Elas são responsáveis pela formação do caráter, pois os conceitos que o homem

tem perante a vida são determinações emocionais. Portanto Adler se posiciona contrário do

que se viu nos trabalhos de James, Lange, Darwin e outros, pois defende que as emoções são

partes inseparáveis e centrais da doutrina e do desenvolvimento do caráter humano.

A teoria adleriana diz que são através das emoções que se organiza e se forma a

estrutura psicológica fundamental da nossa personalidade.

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Claparède não se baseia nas teorias que se apoiam em bases biológicas para explicar as

emoções humanas, segundo ele, se fosse coerente que as emoções são em nível biológico

eficaz ao homem, como se explicaria as alterações dos comportamentos causados pelas

emoções não herdadas pelo homem?

A ideia central do questionamento teórico de Claparède consiste na argumentação que,

se reduzir as emoções em suas influências e determinações biológicas, como se explicaria as

emoções humanas e suas transformações no percorrer histórico, como também, as

diversidades dos conteúdos psíquicos?

Os questionamentos efetuados por Claparède às conceituações e explicações

fornecidos pelas teorias mencionadas a respeito das emoções, o fez estudar várias reações

obtidas em experimentos. Devido a estes experimentos concluiu que a vida afetiva pode ser

dividida entre emoções e os sentimentos e que não são a mesma coisa.

Como se verifica a conclusão de Claparède é divergente das teorias até então

mencionadas, pois nestas os traços das emoções e sentimentos se misturavam mecanicamente

e eram atribuídos a processos iguais.

Os estados emocionais para Lewin não são estanques, pois podem ser substituídos por

outra emoção a qualquer momento. Os afetos para ele fazem parte de qualquer atividade onde

se incluam as emoções e que de maneira alguma, as reações emocionais e afetivas podem se

separar.

Para Abbagnano (1986) os afetos são emoções positivas que se referem às pessoas e

que não tem caráter dominante da paixão, constituem aquela classe restrita de emoções que

acompanham algumas relações interpessoais, exclui-se o caráter exclusivista da paixão e

designa o conjunto de atos ou de atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a

devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura, etc.; não é senão uma forma de amor.

Camargo (1997) comenta que para Wallon no início da vida há uma indiferenciação

entre o Eu e o Outro. O recém-nascido para ele não tem individualidade psíquica, ou seja,

todas as influências externas e internas se misturam e se confundem, pois, os chamados

aspectos endógenos e exógenos se tornam uma unicidade psíquica; por isso que para Wallon

só através do contato com o mundo exterior é que a criança desenvolve seu próprio eu.

Portanto, para Wallon o desenvolvimento do eu é consequência das vivências afetivas

já que os primeiros contatos entre o sujeito e o outro ocorrem através dos afetos, por isto

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afirma que o sujeito está por inteiro em sua emoção; está único, confundido nela (WALLON,

1941/1986).

Portanto é no início da vida, a partir da fase sensório-motora, onde as respostas

emocionais são indiferenciadas e imediatas com o outro, que percursos psíquicos mais

complexos serão potencializados e desenvolvidos. Sendo assim, conclui-se que para Wallon é

a partir das respostas emocionais indiferenciadas e imediatas com o outro que se desenvolvem

as vivências afetivas e consequentemente, as funções simbólicas, a atividade intelectual e as

condutas socialmente adaptadas, e assim, o comportamento emocional primário e

indiferenciado transforma-se em atitudes afetivas complexas e orientadas para o mundo.

Na concepção de Camargo (1997), Wallon não desconsidera as influências do

ambiente no desenvolvimento afetivo da criança, pois afirma que o indivíduo é

essencialmente social, não por aprender a ser social, mas por ser geneticamente social, já que

conviver em grupo é uma determinação genética do homem.

No início da vida, quando se entra em contato com o meio social, as emoções já estão

presentes através do choro, do sorriso, da dor, do medo, da falta, etc. Com isso, afirma-se que

desde o início do desenvolvimento psicológico as emoções estão presentes no fazer humano,

mesmo que nas atividades psíquicas mais rudimentares, e conforme o psiquismo se

potencializa e consequentemente se desenvolve, vão se estabelecendo relações mais

complexas, as primeiras vinculações com o outro, consequentemente o potencializar e o

desenvolver da afetividade.

A emoção é o suporte para o desenvolvimento das atividades simbólicas simples e

complexas, e mesmo que a ciência cartesiana tente negar, as emoções estão sempre presentes

nas funções psicológicas, tais como, a linguagem, a memória, a percepção, a atenção, mesmo

que estejam encobertas por mecanismos psicológicos de contenção, negação, resistência de

contato, fixidez, ausência de liberdade experiencial, coartação e incongruência.

Após o nascimento, Camargo (1997) as emoções determinam todo o comportamento

humano, já que ainda não possui neste período um código simbólico e uma linguagem

capazes de significar e elaborar, mesmo que de maneira rudimentar, as reações advindas do

sistema nervoso autônomo. Sendo assim, defende-se que o ser humano se desenvolve através

da maturação biológica e da interação com a realidade social, já que gradualmente se apropria

através da construção da linguagem, as formas sociais de comportamentos que aos poucos

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mediam as manifestações emocionais e potencializam a construção e manifestação da

afetividade.

Assim, ao assimilar os códigos da linguagem e as formas aceitas de comportamento,

as emoções já não se expressam, conforme Camargo (1997), de forma espontânea, pois

passam a ser mediatizadas por códigos de conduta que dominam o comportamento e a

expressão, portanto, são nas relações intersubjetivas que as emoções se apropriam da cultura e

se desenvolvem.

São nas relações intersubjetivas que ocorrem a internalização e a apropriação dos

significados simbólicos, e assim, por se desenvolver paulatinamente através da linguagem na

interação com meio social, o ser humano internaliza os valores morais e por meio destes,

potencializa e constrói as representações simbólicas sobre a afetividade. Assim, Wallon

(1979, p. 22), afirma que “a emoção faz o traço de união entre o movimento que preexiste e a

consciência que se inaugura”.

Em Wallon (1979) as emoções estão presentes no interior de qualquer forma de

pensamento, de memória, de linguagem e expressão, sendo a emoção, elemento construtivo

em todas as atividades intelectuais humanas. Pode-se afirmar então, que o processo cognitivo

nunca existe independente da emoção, e, além disso, que toda cognição está a serviço das

emoções, pois como se sabe, a emoção é a gênese do simbólico e que, quando o choro não

mais desempenha a função de busca da satisfação fisiológica, já se instaura um segundo

sistema que é a capacidade representativa. Logo, defende-se que é a partir da influência mútua

entre emoção e cognição que ambos se potencializam, desenvolvem, estabelecem e se

modificam.

Os primeiros comportamentos são expressões diretas das emoções e estes

comportamentos iniciais, que são puramente emocionais, são transformados em

comportamentos afetivos quando o ser humano internaliza, simboliza, representa e

experiencia vivencialmente sua trajetória social.

Para Wallon (1979) as funções superiores se desenvolvem quando ocorre também o

desenvolvimento dos aspectos motor e afetivo. Este autor apresenta três estágios iniciais do

desenvolvimento psicomotor, que são: o motor, o sensório-motor e o projetivo.

Wallon (1979) diz que quando o ser humano nasce é com a emoção que inicialmente

se comunica com outro humano, que no caso são os cuidadores, pais, avós, babás, etc.

Ressalta ainda que o desenvolvimento humano se dá através da junção de fatores, contudo

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salienta que este desenvolvimento se inicia através das condições biológicas de cada

organismo, e este está condicionado pela atividade funcional que é fortemente influenciada

pela convivência social.

Assim sendo, defende-se que o desenvolvimento humano ocorre de maneira

processual, e por ser processual, os que promovem a relação de ajuda nos mais diversos

espaços não pode deixar de considerar que a afetividade, as emoções, a sensibilidade, a

criatividade, a cognição, etc., enfim, sua arte, são indissociáveis no percurso de tornar-se

pessoa, visto que estes são fenômenos da mesma experiência.

Para que haja integração entre as emoções e outras funções psicológicas, dentre elas a

afetividade e a cognição, se faz necessário a interiorização dos significados na atividade social

das pessoas, pois as formas mais sofisticadas de comunicação vão esculpindo e transformando

as emoções, tornando-as disfarçadas e mediadas pela linguagem.

As emoções, no início do desenvolvimento de cada pessoa, exercem um papel

adaptativo, pois, no início, as ações não podem se apoiar nos aspectos intelectuais já que estes

são praticamente inexistentes, mas após a mediação social tanto os aspectos cognitivos quanto

os afetivos se tornam cada vez mais presentes e complexos.

São as emoções, segundo Vigotski (1998a), que estão presentes desde o nascimento e

são corresponsáveis pela aquisição e transformações das funções psíquicas superiores. A

aquisição e transformação das funções psíquicas superiores ocorrem devido às mudanças e

aparecimento das novas formas de mediação que estabelecem novas relações interfuncionais,

alterando assim, o lugar da emoção na estrutura psíquica, e desta forma o desenvolvimento e

transformação das novas relações interfuncionais e mediações promovem ao longo da vida

humana o desenvolvimento da cognição e da afetividade.

É inevitável, como aponta Wallon (1941/1986) que as experiências afetivas vivenciadas pelo

ser humano desde a mais tenra idade não exercem influência sobre o desenvolvimento cognitivo. Por

isso, as emoções que eram consideradas anteriormente como fonte de comportamentos

primários, consequentemente, não elaborados, passam a partir da aquisição, potencialização e

transformação das funções superiores a utilizar o mecanismo de auto regulação, que é um

recurso psicológico que visa promover comportamentos sociais mais adaptados do ser

humano no meio social.

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Mas ressalta-se que esta adaptação é promovida e internalizada na consciência do ser

humano através do uso dos signos, que são mediadores simbólicos que atribuem sentido à

trajetória vivida por cada ser humano em sua historicidade.

A afetividade como se constata está presente no ser humano nas suas mais tenras

experiências, como característica intrínseca do existir, assim pode-se deduzir que em todas as

ações humanas a afetividade está presente, pois é também através dela que a consciência se

constrói.

Para Wallon (1941) como já dito, o desenvolvimento das funções superiores se dá a

partir do momento em que ocorre também o desenvolvimento dos aspectos motor e afetivo.

Assim não se pode deixar de afirmar que na perspectiva deste autor a afetividade está presente

nas manifestações psíquicas nas experiências mais tenras do ser humano, e que estas estão no início

ligadas as necessidades e automatismos alimentares, ligadas consequentemente ao mal e bem-estar do

ser humano.

Este mesmo autor ensinou ainda que só por meio da afetividade é que o ser humano se

une e se lança no convívio com outros humanos, e que a partir da afetividade significados são

construídos e o humano embrionário se torna um humano integral em estrutura da

consciência, pois os aspectos motores, cognitivos e afetivos se tornam integrados.

Leão (1999) defende que para Freud as emoções são fundamentais para o

desenvolvimento psicológico do ser humano e que, não se pode compreender as emoções

apenas como uma reação do organismo ao ambiente físico, visto que, para ele as emoções são

mutáveis e apresentam diferentes representações no percorrer do desenvolvimento humano,

pois os processos emocionais adquirem sentido e significado no contexto de toda dinâmica da

vida humana.

O estudo sobre as emoções e a afetividade mobilizaram vários pesquisadores ao longo

dos tempos, isso por si só mostra que é um assunto complexo para se compreender devido

suas várias possibilidades de nuances e entendimentos. Mas é evidenciado que ao longo da

história humana o seu lugar foi menor em detrimento dos aspectos intelectuais, pois por muito

tempo se acreditou que os aspectos cognitivos e afetivos deveriam estar em terrenos opostos

no ser humano, e como as emoções e a afetividade eram consideradas funções menores frente

à intelectualidade, estas deveriam ser suprimidas o máximo possível no ser humano.

Como se apresenta no texto acima, as emoções foram por muito tempo consideras algo

primitivo no ser humano, algo ligado à sobrevivência, reações de defesa, adaptação ambiental

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do organismo e resquícios biológicos do desenvolvimento humano, contudo o texto acima

mostra que ao longo da história do conhecimento sobre as emoções e a afetividade, estas

foram sendo conceituadas de maneira estanque nas pesquisas mais contemporâneas.

As emoções, segundo Rogers (1999), são consideradas como reações mais próximas

aos aspectos biológicos do ser humano, ou seja, às respostas adaptativas do organismo frente

às adversidades da vida, enquanto que a afetividade corresponde às questões inerentes às

representações simbólicas constituídas a partir dos estados emocionais experienciados, pois é

através do significar das emoções que a afetividade é desenvolvida, e assim uma linguagem,

uma narrativa, um entendimento e diferentes formas de sentir se instauram, pois é a sociedade

e seus códigos quem vai atribuir sentido ao experienciado por cada ser humano em sua

historicidade, e consequentemente, significar a afetividade.

Como visto o conceito da palavra Razão historicamente está assentado, mas o de

emoção e afetividade transmutou-se ao longo do tempo para os mais diversos autores.

Contudo, na contemporaneidade, segundo o pesquisado, emoção e afetividade não possuem o

mesmo código conceitual, já que emoção corresponde às reações comportamentais do

organismo frente a determinado estímulo interno ou externo, enquanto que afetividade

corresponde ao significado íntimo que o ser humano atribui ao vivido, sentido, ao afetado,

enfim ao experienciado, desta forma, paulatinamente, por intermédio destas constrói-se o

desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

V. RELAÇÃO DE AJUDA E AFETIVIDADE

Segundo Kupfer (1997) é comum em nossos dias entre os educadores a ênfase em

concepções teóricas orientadas por narrativas dicotômicas, nestas uma defende os

fundamentos cognitivistas e a outra os fundamentos afetivos.

A primeira abordagem, a cognitiva, dá primazia aos aspectos endógenos, ou seja, o

grande responsável pelo desenvolvimento da aprendizagem é o processo maturacional do

organismo. A segunda abordagem, a afetiva, em geral, só é ressaltada quando a promoção do

processo de aprendizagem não alcança os objetivos estabelecidos, assim acreditam a priori

que a pessoa que não consegue assimilar as informações que são transmitidas pelos

educadores e não sofre com problemas na ordem do desenvolvimento maturacional, é porque

apresenta os chamados problemas afetivos e emocionais.

Não se deve esquecer que a aceitação ou rejeição de cada abordagem é determinada

por aspectos sócio-históricos, filosóficos, metodológicos e epistemológicos, que influenciam

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o pensamento e a linguagem daqueles que se identificam com uma das compreensões teóricas

acima, mas não se pode deixar de ressaltar que a dicotomização dos aspectos humanos é uma

construção do homem sobre o próprio homem.

A abordagem cognitivista é inspirada nas concepções da Filosofia Racionalista ou

Idealista, onde as características humanas já se encontram prontas no momento do nascimento

e estão potencialmente determinadas, precisando apenas se manifestar.

São chamadas de características humanas na abordagem cognitivista aspectos como:

traços endógenos da personalidade, dentre eles, temperamento, potencial intelectual,

moralidade rudimentar, comportamentos, intelectibilidade, formas de perceber e conhecer.

Na abordagem cognitivista, os fatores maturacionais e hereditários são determinantes

no desenvolvimento educativo do ser humano, sendo que para esta narrativa são estas

características quem indicam o caminho no desenvolvimento da aprendizagem.

Assim, no cognitivismo é importante que o ser humano se desenvolva adequadamente

para que seus potenciais de aprendizagem possam maturar e estar disponíveis para que se

possa promover o processo da aprendizagem e a efetivação da práxis educativa.

A segunda abordagem, a afetiva, ficou mais difundida e aceita com o advento da

Psicanálise. Nesta abordagem as dificuldades no processo de aprendizagem e,

consequentemente da ação educativa, também acontecem devido uma alteração no

desenvolvimento emocional e afetivo do ser humano, desencadeado segundo esta narrativa,

devido dificuldades intrapsíquicas presentes no percurso do desenvolvimento psicossexual.

Acredita-se que as visões teóricas estanques e isoladas não respondem as questões que

envolvem a complexidade humana, como também as correspondentes ao desenvolvimento das

Relações de Ajuda vivenciadas nos mais diversos espaços educativos.

Portanto, defende-se que caso se queira avançar no entendimento da complexidade dos

fatores que envolvem a aprendizagem humana, precisa-se superar a bipolarização entre

ênfases afetivas e cognitivas, já que o ser humano em seu todo existencial é maior do que

qualquer parte desta existência.

Sendo assim, não se pode dicotomizar as possibilidades de entendimentos dos aspectos

afetivos e cognitivos do ser humano, e suas manifestações na construção das Relações de

Ajuda, visto que são dimensões inerentes, concernentes e não separáveis do ser humano.

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(...) tem-se que procurar integrar e perceber o ser humano como um ser completo e

fruto dos processos em que vive, pois seu modo de agir, pensar, sentir, interferir e

ser interferido é histórico e socialmente construído. (KUPFER, 1997, p. 2)

Freire (1998a) através de sua proposta pedagógica, defende que se pode fazer do ato

educativo um processo mais amplo do que o mero reproduzir de informações.

Rogers (1997) afirma que educar é favorecer o crescimento e desenvolvimento dos

potenciais criativos do ser humano, e não diretivamente determinar o processo de

aprendizagem do educando. E mais, Rogers (1997) defende a ideia de que a relação de ajuda

eficaz é aquela onde a aprendizagem é construída na ação educativa dialógica entre os

envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

As pedagogias centradas na educação bancária foram por Freire (1998a) contestadas,

pois em seu modo de entender, o ser humano só pode assumir e reassumir sua condição

humana quando forem respeitadas suas características de ordem ontológica, que é ser livre e a

sua natureza histórica, que é transformar e participar do processo de mudanças.

Freire (1998a) defende que o ser humano é fruto de sua historicidade e que a

pedagogia bancária não promove a transformação da história das pessoas, mas sim, o

contrário, pois mantém estagnado o que já foi estabelecido pelo opressor.

A educação bancária comenta Freire (1998b), é aquela onde o criar, o ouvir, o

interagir, o trabalhar junto, o sentir, o pôr-se no lugar do outro, não são sequer lembrados.

Por isso, defende-se que só se pode transformar os seres humanos em pessoas

participativas, quando não se rouba sua história e o seu direito de atuar no mundo como

pessoas ativas, com capacidade de transcender e lançar-se no mundo como seres repletos de

potenciais criativos, com capacidade de atualização e de construção de sua afetividade, e

atitudes progressistas frente à realidade circundante.

Ao contrário, contudo, têm-se as condutas educativas bancárias onde é priorizado a

transmissão dos conteúdos, o distanciamento afetivo e o não desenvolvimento de vários

aspectos inerentes aos potenciais criativos.

Quando se nega ao ser humano o direito de tornar-se uma pessoa com capacidade de

transformar os processos históricos opressores em processos libertários, estimula-se a

construção de pessoas que não se transcendem e, consequentemente, não conseguem se

revelar no mundo como seres ativos, responsáveis pela construção da própria afetividade e

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promotoras de mudanças em sua própria historicidade; fixando seus comportamentos em

atitudes reprodutivas determinadas pelos opressores.

Constatar esta preocupação implica, indiscutivelmente, reconhecer a desumanização,

não apenas como viabilidade ontológica, mas como realidade histórica. É também, e

talvez sobretudo, a partir desta dolorosa constatação que homens se perguntam sobre

a outra viabilidade – A de sua Humanização. (FREIRE, 1987, p. 30)

Entende-se que a luta de Paulo Freire tinha como propósito contribuir e promover um

ser humano humanizado através da arte das relações de ajuda, pois procurava potencializar

nos seres humanos através da reflexão crítica, um tornar-se pessoa com maior humanização,

criatividade, autonomia, atuação política, capacidade de reflexão, sensibilidade,

expressividade, e como não poderia deixar de ser, com maior disponibilidade afetiva para o

outro.

A violência, segundo ele, na qual a massa é constantemente forçada a se submeter, é

uma característica de uma sociedade sádica, logo, desumana, insensível, dicotomizada, não

acolhedora, ou melhor, não afetuosa, onde o poder do opressor é mantido através da opressão

aos mais fracos, na exploração da mão de obra, no mercado de reserva, nos baixos salários, na

miséria sem remédio, enfim, na falta de possibilidade de uma nova perspectiva e novos

horizontes.

É de máxima poesia a citação de Paulo Freire para declarar que a humanização dos

desumanos, ou melhor, dos opressores, só ocorrerá quando estes forçados pela realidade

transformada passarem a se colocar no lugar do outro por meio de uma atitude de

compreensão empática. Veja-se:

(...) esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua

humanidade, que é uma forma de recriá-la, não se sentem idealistamente opressores,

mas restauradores de humanidade de ambos. (FREIRE, 1987, p.30)

Esta citação leva a reflexão sobre as relações educativas historicamente construídas em

nossa sociedade, onde a herança pedagógica bancária e cartesiana determinaram ações

educativas que promoveram a construção de consciências pouco afetivas, sensíveis e

criativas; já que a relação dialógica entre educador e educando não era considerada um fator

importante na construção do ato educativo e desenvolvimento dos potenciais humanos.

A relação de poder inerente a educação bancária propicia um modelo educativo

opressor, desumano e autoritário, inevitavelmente pouco afetivo, onde o educador constrói na

consciência do aprendiz a submissão, a desumanização, a opressão, a não compreensão

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empática e a não aceitação incondicional daqueles que se propõem a estar no lugar de

aprendizes de novas possibilidades.

As possíveis transformações das ações educativas só podem ocorrer através da tomada

de consciência, e esta se dá quando se entra em contato com as situações da vida, com as

narrativas científicas e teológicas, os códigos internos, os sentimentos, as percepções, a

historicidade, etc.; e a arte da relação de ajuda é um caminho para que se possa elaborar estas

transformações.

Quando se autoriza através das ações educativas a contemplação do mundo e suas

diversas possibilidades de narrativas sobre a realidade, começa-se a entender os jogos de

dominação, e compreender que só se pode tornar-se pessoa quando os seres humanos tiverem

o direito de ser livres. Porém ser livre neste entendimento não é a representação do ato de ir e

vir, e nem do livre consumo simplesmente, ser livre é estar interna e externamente autorizado

a entrar em contato com a luta incessante pela recuperação da humanidade (FREIRE, 1987).

E como já escrito no capítulo A Arte na Relação de Ajuda, um dos caminhos

propostos para esta transformação é a possibilidade da relação de ajuda, onde que por meio

dos diálogos íntimos, reflexões sobre a história, caminhos vividos, narrativas, percepções,

sentimentos, etc., repensa-se sobre si, a vida, o mundo e novas possibilidades de jeitos de ser

no mundo.

Nesta ressignificação, construída através da ação educativa libertadora como diz

Freire (1987), visa-se o bem ao próximo e com este sentimento positivo intenciona-se a

construção de novos sentidos para a vida, já que no percurso da existência oprimida estes

valores são deixados para trás devido à massificação e produtivismo, no qual a sociedade está

imersa.

No encontro da relação de ajuda a pessoa encontra-se com sua subjetividade e dialoga

com esta através da subjetividade do facilitador do encontro, por isso como toda ação

educativa, a mutualidade, a troca de saberes, a história de vida, a formação acadêmica e outros

diversos conteúdos se fazem presentes, visto que, não se tem como levar para o outro sem

trazer deste, não se tem como dar sentido sem estar imerso em uma historicidade que constrói

o sentido, não se tem como sentir o outro sem deixar que este também sinta, assim neste

árduo caminho do tomar consciência, o ser humano tornar-se pessoa.

Dialogar consigo é dialogar com uma história, consequentemente com um universo

circundante e sua temporalidade, já que tomar consciência de si é também tomar consciência

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de uma historicidade e de um “todo”. E como diz a teoria da Gestalt, a parte é constituída pelo

todo, e o todo apesar de ser maior que a soma das partes, se constitui pela soma destas.

Para a Pedagogia da Autonomia, antes de querer ensinar tem-se que querer bem. O

querer bem aos educandos já é uma prática educativa libertadora, por isso, em suas Cartas a

quem gosta de ensinar, Freire (1998a), defende que a prática do educador que também é

educando, exige seriedade, preparo científico, físico, emocional e afetivo. Escreve ainda que é

impossível ensinar e aprender sem querer bem e amar.

Complementa-se o entendimento de Freire afirmando que, é impossível ensinar e

aprender sem Congruência, Aceitação Incondicional Positiva e Compreensão Empática, pois:

É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, pra falar em amor sem temer ser

chamado piegas, de meloso, de a-científico, senão anti-científico. É preciso ousar

pra dizer cientificamente, e não bla-bla-blantemente, que estudamos, aprendemos,

ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, emoções,

com desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão

crítica. Jamais com esta apenas. (FREIRE, 1998c, p.10)

Verifica-se que ensinar e aprender são processos onde o ser humano tem que ser

percebido em sua plenitude e sem dicotomias, pois a tarefa de ensinar e aprender exige

amorosidade, competência científica, afetividade, sensibilidade e criatividade.

Acredita-se que é através do desenvolvimento dos potenciais criativos vivenciados nas

ações educativas através da arte da relação de ajuda, pode-se promover a desburocratização

do homem e promover um ser humano integral, consciente de suas potencialidades e

promotor da transformação social.

Sendo assim, quando não se tem medo de expressar e estimular os potenciais

humanos, a ação educativa dialógica e libertadora se materializa com maior facilidade, visto

que quando uma pessoa consegue se mostrar a outra de maneira mais inteira na arte da relação

de ajuda, um caminho para revelar a criatividade, e ser mais espontâneo, sensível, criativo,

genuíno e afetivamente vivo é facilitado.

Por isso defende-se que a afetividade é uma das condições essenciais para que se

efetive a construção e o desenvolvimento do tornar-se pessoa através da arte da Relação de

Ajuda, que se estabelece entre no mínimo duas pessoas na ação educativa.

Precisa-se integrar, portanto, a afetividade no trabalho educativo, para isso é

necessário que urgentemente se derrube o muro que está instaurado no ato educativo bancário,

onde a afetividade não é considerada uma condição necessária para a promoção da

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aprendizagem, tanto que comumente existe no ambiente educativo uma crença de que um

bom educador é aquele que não se envolve com os problemas dos educandos, que transmite

bem o conteúdo ou cumpre bem seu papel de técnico, que é rígido nas avaliações e pulso

firme com os educandos.

Na prática educativa parece que é mais fácil para muitos educadores acomodar e

reproduzir ações educativas convencionadas, que buscar meios que possam transcender os

tradicionais modelos e valores educacionais centrados na prática bancária, diagnóstica e

diretiva da relação ensino-aprendizagem.

Defende-se, por observar esta realidade, que o trabalho educativo não pode continuar

sendo concebido e exercido por uma educação bancária e cartesiana, que visa apenas o

reproduzir dos conteúdos, o oprimir e o massificar através de práxis essencialmente

quantitativas, informativas, mensurativas, diagnósticas e diretivas, onde a individualidade, a

diversidade e o jeito de ser singular não são priorizados.

É importantíssimo que se inclua no ato educativo o desenvolvimento dos potenciais

criativos para que o educar não seja apenas o acumular de informações e conteúdos

academicamente construídos, mas sim o transcender em busca do humano melhor que mora

em cada pessoa.

O ato educativo bancário, Freire (1987), tem como objetivo maior manter e fortalecer

o sistema ideológico no qual se está inserido, por isso considera-se prioridade a construção de

consciências fluídicas, experienciais, proximais e críticas, pois a educação bancária é

promotora de consciências massificadas, aprisionadas e reprodutivistas, portanto não

libertárias, e se sequer construir através do ato educativo pessoas sensíveis, criativas,

congruentes e afetuosas, inseridas na construção do bem comum, precisa-se indubitavelmente

abrir mão da educação bancária e se lançar na caminhada progressista do partilhar, do

relacionar, do facilitar e do estar com o educando dialogicamente rumo ao saber de novos

conteúdos, e a construção do ser uma pessoa humana melhor.

Educar para o futuro é transcender modelos, é buscar no próprio ser humano sua força

transformadora, é proporcionar as pessoas meios para que novas conquistas sejam alcançadas,

pois como diz Rogers (1999), educar e se educar é lançar-se à vida, às novas possibilidades, é

lançar-se ao que será revelado do encontro que só acontecerá entre eu e você; e um dos

caminhos que se propõe para que isto aconteça é a construção e vivência da arte das relações

de ajuda.

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Portanto, a humanização do ato educativo está também na construção da arte das

relações de ajuda por meio de atitudes educativas centradas no bem querer, onde não se tem

vergonha de mostrar a afetividade, de ser e tornar-se espontâneo, congruente e fluídico.

Acredita-se que só se pode integrar e interagir verdadeiramente com o mundo, quando

se é verdadeiro com os próprios sentimentos, desejos e sonhos, e quando também se é

congruente com o que se intenciona fazer e revelar de si para o outro, pois se acredita que

dentre outras coisas o humano está no mundo para o outro, para auxiliar na construção de

outros humanos, e não para viver em função de si mesmo.

Educar verdadeiramente neste sentido, diz Freire (1998a), é não negar a verdade

ontológica do ser humano, que é ser livre, político, autônomo, cheio de sensibilidade e alegria,

é não negar o que lhe é de direito, é não negar a própria humanização das pessoas; é educar

através da junção entre cognição, afetividade e história; é promover uma educação integral e

não apenas para que no futuro corresponda aos interesses da produção e das ideologias

massificadoras.

A afetividade, ou seja, o bem querer, o amor, a alegria, a espontaneidade, o altruísmo,

o transformar, a confiança, o melhor de si para outro, e como diz Rogers (1999) a

Congruência, a Aceitação Incondicional Positiva e a Compreensão Empática, não estão

presentes nos atos educativos autoritários, pois nestes não se intenciona a formação integral

do ser humano devido sua base epistemológica cartesiana, bancária, práticas monolíticas,

atomistas e disciplinares.

Um dos caminhos propostos por Freire (1998a) para iniciar a transformação social e

interna das pessoas é modificar a estabilidade conservadora da história da educação, e

complementa-se da Psicologia. É considerar o ser humano como um ser político, autônomo,

livre, cheio de sensibilidade e alegria, pois a afetividade não se encontra excluída da

cognoscibilidade, muito pelo contrário, é parte intrínseca.

Infelizmente, na ação educativa bancária, como já dito anteriormente, muitos

educadores acreditam que a afetividade pode prejudicar o bom andamento do ato de ensinar e

aprender. Pensam que o bom educador ao exercer a função com afetividade pode perder a

autoridade e mal exercer a ética do julgamento que a ele cabe nas notas, diagnósticos,

intervenções, observações e avaliações.

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Entende-se que a prática educativa transformadora vivida através da afetividade não

nega a formação científica séria, como também não nega o sério exercício dos que visam

construir a relação de ajuda.

Quando se exerce a função de educador convive-se com diversas pessoas, diversas

realidades, crenças, ideologias, perfis psicológicos e jeitos de ser, assim, sabe-se que a

diversidade é a maior verdade. Por isso, não se pode deixar de pensar que as ações educativas

através da arte das relações de ajuda podem ser efetivadas através de intervenções

dicotomizadas onde afetividade e cognoscibilidade não façam parte de um todo.

Portanto nesta perspectiva integracionista da arte da relação de ajuda, onde defende-se

que a afetividade e cognição não podem ser consideradas partes dissociáveis do ato de educar,

é necessário que cada vez mais fique distante ações educativas onde as expressões dos

sentimentos, afetos e emoções não se façam presentes.

A dor está presente em qualquer tipo de mudança que se tem de efetuar durante a vida.

Sair da acomodação e do fundo de uma “caverna” para começar a enxergar as verdadeiras

cores, a sentir os ventos, o calor e o frio, não é fácil. A “caverna” comumente é aconchegante

e protege da chuva, do sol, da tempestade e de todas as imprevisibilidades do mundo. Por isso

defende-se que se tem que buscar novos horizontes, e superar cada vez mais a dualidade entre

opressor e oprimido, cognição e afetividade, pois estas dicotomias dificultam aos seres

humanos o direito de tornarem-se pessoas mais inteiras, holísticas, livres, pensantes, fluídicas,

transcendentes, congruentes, compreensivas, experienciais e participativas no processo de

transformação individual e social.

A dor inicial quando se propõe a sair da caverna não é leve, mas é importante que se

estimule este movimento, pois segundo Freire (1987, p. 34), “[...] ninguém tem liberdade para

ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem”.

É inerente o entendimento de que a luta é necessária para se atingir a liberdade e que a

dor para alcançá-la também. Não se pode alcançar uma liberdade que é negada sem sofrer, já

que a luta pela não liberdade também será declarada pelo opressor.

Assim Rogers (1999) argumenta:

[...] o desespero mais comum é estar desesperado por não escolher, ou não estar

disposto a ser ele mesmo; porém, a forma mais profunda de desespero é escolher

„ser outra pessoa que não ele mesmo‟. Por outro lado „desejar ser aquele eu que

realmente se é, constitui na verdade o oposto do desespero‟, e esta escolha constitui

a mais profunda responsabilidade do homem. (KIERKEGAARD, s/d, APUD

ROGERS, 1999, p. 124)

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O opressor só o é porque existe a quem oprimir e assim, como o poder é fonte de

“vida” e do prazer sádico do opressor, a liberdade dos oprimidos só nascerá e se tornará

verdadeira quando estes lutarem por ela e se fizerem cidadãos livres e autônomos, como

afirma Freire,

A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce deste

parto é um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição

opressores – oprimidos, que é a libertação de todos. (FREIRE, 1987, p. 35)

A luta pela conquista da liberdade deve ser constante em cada educador, como

também em todos os demais cidadãos, visto que a individualidade e a não liberdade tão

cultuadas na educação opressora, como mostra Freire (1998a), precisam ser transcendidas em

atitudes mais positivas de valorização do ser humano em sua unicidade, em sua capacidade de

Tornar-se Pessoa que oferta o melhor de sua alma para o outro, num ato nobre de amar ao

próximo como a si mesmo, numa atitude de plena aceitação incondicional do outro humano, e

afetividade fluídica.

Defende-se que a transformação da educação e consequentemente da sociedade,

jamais vai ocorrer com a vontade de apenas um cidadão educador, mas tem se que buscar

somar com outros cidadãos educadores, para que juntos possam ter representatividade frente

aos modelos e posturas educativas opressoras.

As forças que mantém os seres humanos inertes diante de seus potenciais criativos só

poderão ser removidas com uma força tão poderosa quanto ela, esta força se chama

consciência.

Portanto, quando se desenvolve a consciência da própria história, e com ela a

capacidade crítica, criativa e participativa, posiciona-se no mundo de maneira mais reflexiva,

congruente, autodeterminada e atualizante, que juntamente com outros educadores que

revelam consciências com características comuns, e que visem promover uma educação

progressista, holística, criativa, sensível e com afetividade, somam-se e passam a construir

através de atitudes educativas não repressoras pessoas mais humanizadas e mais livres em seu

existir.

Sendo assim, reafirma-se que para o ser humano construir o seu Tornar-se Pessoa é

necessário que sua condição ontológica e seus direitos sejam respeitados, esses direitos, tais

como, o de se educar, o de ter acesso à saúde, a espiritualidade, ao trabalho, a interação

histórica, outros, precisam fazer parte do ato educativo centrado na pessoa, pois por meio

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desta atitude educativa nascerá um homem com capacidade de reivindicação, conquistas e

promotor dos direitos individuais e coletivos.

A conquista aos direitos inerentes ao existir humano deve ser promovida por todos os

humanos no exercício das atividades profissionais, sociais e humanitárias. É necessário

promover através de interesses comuns, as mudanças, as conquistas e o verdadeiro ato de

amar, que conforme se entende aqui, é a verdadeira solidariedade, humanidade, fazer

existencial e afetividade.

Só na plenitude deste ato de amar, na sua existenciação, na sua práxis, se constitui a

solidariedade concretamente verdadeira. Dizer que os homens são pessoas e, como

pessoas, são livres, e nada concretamente fazer para que esta afirmação se objetive, é

uma farsa. (FREIRE, 1987, p.36)

O ato de amar é aquele construído em comunhão. É aquele onde todos tomam

consciência do seu papel na sociedade e aprende comunitariamente a exercer suas funções em

nome do bem comum.

O desamor ao contrário de tudo que é construtivo, só promove isolamento,

individualismo, pensamentos e atitudes centradas no próprio interesse, e não na construção de

pessoas mais inteiras, com maior disponibilidade afetiva para partilhar com o outro.

O desamor é um sentimento e uma atitude desumanizante, é antítese da afetividade,

pois é praticado por um opressor que no exercício do seu poder desinteressa-se pelos

sentimentos e necessidades alheias.

O cidadão educado por educadores opressores fica prejudicado no seu direito humano

de Tornar-se Pessoa consciente e promotor dos seus processos históricos e existenciais, pois

como afirma Freire (1987, p. 42), “Inauguram o desamor, não os desamados, mas os que não

amam porque apenas se amam” e mais, acrescenta:

Quem inaugura a negação dos homens não são os que tiveram a sua humanidade

negada, mas os que a negaram, negando também a sua. (FREIRE, 1987, p. 43)

Compreende-se que o ser humano não foi entendido por Freire, Rogers e Vigotski,

como um ser que pudesse viver a sua humanidade pela metade, pois para eles, ser um Ser

humano é poder exercer os plenos direitos de transformar, atuar, interagir e atribuir sentido.

O ser humano quando impregnado pela busca apenas material, individual e não

transformadora, torna se uma pessoa fragmentada; sendo que este ser fragmentado e

envolvido pela ilusão da falsa satisfação, não se mobilizará e não comparecerá as lutas pelos

seus direitos e o das outras pessoas, pois sua consciência foi construída por uma ação

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educativa dicotomizada, cartesiana e bancária, onde a empatia, a criticidade, a sensibilidade, a

busca pela transformação social, as conquista dos direitos individuais e coletivos, e a

afetividade não eram questões importantes na efetivação do ato educativo através das relações

de ajuda.

A verdadeira transformação é aquela onde o ser humano integral e não coisificado a

promove. Porém, esta transformação precisa ser iniciada não como uma tentativa de

superação de uma opressão por outra, mas sim, por uma superação da prática sádica

opressora, bancária e cartesiana, para uma prática libertadora e dialógica.

Só por meio de uma prática dialógica e transformadora a humanização pode ser (re)

construída, por isso a construção da arte das relações de ajuda, com a vivência também da

afetividade, é importante para que o ser humano possa vivenciar nas ações educativas práticas

não cartesianas e bancárias.

O fazer social não é atingido em uma sociedade por caminhos autoritários, mas sim,

libertários. Esta nova postura educativa para as relações de ajuda é aquela que transcende o

conteudismo, o cientificismo, o cartesianismo, pois visa-se se encontrar com a sensibilidade

da arte, e com esta no encontro de pessoa para pessoa, num ato de amor, se transformar e

consequentemente transformar a sociedade para melhor, pois:

[...] não há um outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora,

em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e

continuar mantendo-os como quase „coisa‟ com eles estabelece uma relação

dialógica permanente. (FREIRE, 1987, p.55-56)

Constata-se pelo apresentado que fica explícito que os mestres Freire, Rogers e

Vigotski, eram grandes visionários, sonhadores e educadores altruístas, além de grandes

promotores da transformação das pessoas enquanto indivíduos e sociedade.

O que seria da vida se não aparecessem durante os séculos “grandes pessoas”, que

através das suas ideias transformassem ou tentassem transformar o mundo? O que seria da

“simples” humanidade sem estes grandes seres humanos?

Viver parece ter um significado quando se pode entender os percursos, as conquistas,

as limitações, obrigações e direitos. Porém, a vida não pode permanecer apenas no parecer das

coisas, tem-se que construir ações concretas de transformação individual e social, e neste

entendimento defende-se a práxis da relação de ajuda progressista, crítica e dialógica, onde a

construção da afetividade seja uma ação presente, contrário assim, do cartesianismo e

bancarismo, até então dominantes nas ações educativas.

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Por fim, acredita-se que Freire, Rogers e Vigotski ensinaram que a vida é um

constante “devir”, e por isso, tem-se que procurar ser livre e exercer o ato do amar ao

próximo, pois só pela trilha da união e da doação se pode atingir um bem-estar maior.

Defende-se que não se pode deixar morrer “[...] nossa confiança no povo. Nossa fé nos

homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar” (FREIRE, 1987, p. 184).

E como Freire (1987), Rogers (1999, p, 125), ensina que transformar “[...] pode ser

uma experiência profundamente perturbadora, porém quando há liberdade para pensar, sentir

e ser, o indivíduo volta para tal meta”. E no mesmo caminho Vigotski (1998a) ensinou que

não se pode dicotomizar o ser humano, pois este deve ser compreendido em sua totalidade,

visto que a consciência humana é constituída pela historicidade e com esta os aspectos

cognitivos e afetivos.

VI. AFETIVIDADE, OLHAR INTERDISCIPLINAR

Acredita-se que visões teóricas estanques e isoladas não podem em profundidade

responder questões que envolvam a complexidade humana e o ato Educativo.

Portanto, precisa-se superar o separatismo teórico entre aspectos cognitivos e afetivos,

como também o não diálogo entre as ciências e as abordagens psicológicas, já que o ser

humano em seu todo é maior que uma compreensão teórica, visto que qualquer apreciação

científica é apenas um fragmento compreensível do fenômeno estudado. Assim, não se pode

mais dicotomizar e fragmentar as possibilidades de entendimento dos aspectos afetivos e

cognitivos do ser humano no ato educativo, visto que são dimensões inerentes, concernentes e

não separáveis deste.

Giora (2015) observa que Vigotski deixou várias contribuições significativas em

vários campos do conhecimento, além daquele pelo qual é mais conhecido que é a educação.

Contribuiu, portanto, para o desenvolvimento da Linguística, Crítica Literária, Arte,

Semiótica, Filosofia, e foi responsável para abrir um caminho para se alcançar uma Psicologia

objetiva baseada no materialismo dialético, que concebe o ser humano como produto e

produtor da história, consequentemente a Psicologia histórico cultural pauta-se enquanto

corrente de pensamento psicológico na contribuição para uma nova concepção do psiquismo

humano, baseadas em três questões principais que são: a questão do método; do conceito de

atividade e mediação semiótica

A publicação das obras de Vigotski foi suspensa na União Soviética por motivos

políticos de 1936 a 1956, tendo sido, desta forma, ignorado até a mesma época no Ocidente,

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contudo, a partir do momento em que começou a ser divulgado (década de 60, nos estados

Unidos e outras partes do mundo), seu trabalho vem sendo estudado e valorizado.

Nos escritos de Vigotski percebe-se de modo explícito sua preocupação em integrar e

analisar de modo dialético todos os aspectos responsáveis pelo funcionamento do psiquismo

humano, pois o autor enfatiza que o ser humano pensa, raciocina, deduz, abstrai, sente,

emociona, deseja , imagina e se sensibiliza de maneira continua frente a atividade/trabalho na

qual está imerso, assim a consciência do ser humano não está em processo de construção de

maneira fragmentada, mas sim integral com todos os recursos humanos dialógicos e sua

historicidade desenvolvidos.

Baseando-se na Psicologia histórico-cultural, Leão (1999), comenta que as

propriedades básicas da consciência são o intelecto e a afetividade e que, a compreensão da

consciência só pode ser abordada por meio desta junção, pois a separação do aspecto

intelectual da consciência das dimensões afetivas e volitivas é uma das falhas fundamentais de

correntes da Psicologia tradicional.

A Psicologia histórico-cultural, explica o interacionismo que tem como base a relação

entre o homem, o meio físico e o meio social, sendo que este último é entendido como

ambiente histórico.

Nota-se que Vigotski procurou incessantemente superar a tendência presente na

Psicologia de sua época, que era contrapor e analisar separadamente os aspectos cognitivos e

afetivos.

Para Vigotski (1998b) a dicotomia entre os aspectos cognitivos e afetivos foi uma

falha da Psicologia tradicional. Para ele o separatismo entre estes aspectos se deu pois nas

narrativas biologizantes ou idealistas, desconsideravam-se o processo cognitivo autônomo e

construído a partir de um contexto sócio histórico, em que o conjunto dinâmico de

significados afetivos e intelectuais se unisse em um processo de dialogicidade constante.

Na Psicologia histórico-cultural a cognição e a afetividade são produtos do contexto

histórico. Esta busca justamente uma abordagem abrangente que seja capaz de compreender o

ser humano em sua totalidade, onde os desejos, as necessidades, as emoções, as motivações,

os valores, as representações sociais, os interesses, os impulsos, as inclinações pessoais e a

afetividade sejam considerados pertencentes e indissociáveis à consciência.

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Portanto, na perspectiva vigotskiana a cognição e a afetividade não se dissociam, ao

contrário, influenciam-se durante toda a história do desenvolvimento humano, formando um

complexo único e dinâmico do psiquismo. Sendo assim, é impossível compreendê-los

separadamente, portanto, é justamente a unificação entre o pensamento e a afetividade uma

das propostas de Vigotski para a construção de uma Psicologia histórico-cultural.

O ser humano na concepção dialética constitui-se em um sujeito ativo, concreto e com

pensamento autônomo. Diante disso, ao apropriar ativamente do conhecimento nas e pelas

interações humanas, promove-se o pensamento autônomo que faz o ser humano reconhecer e

alterar os afetos dentro do sistema de conceitos, já que em primeiro momento estes conceitos

e afetos são impostos.

Leão (1999) ressalta que a forma de pensar o sistema de conceitos e os afetos é

imposto pelas relações interpessoais e pelo meio circundante no qual se está inserido, e o fato

de nomeá-los deve-se à relação que os mesmos mantêm com os pensamentos presentes na

contextualização no qual se é pertencente.

A mediação social é parte constituinte no processo de interação, pois se encontra

presente e incorporada tanto no ser humano quanto no objeto. Logo, ao interagir, os seres

humanos confrontam reciprocamente seus pontos de vista com seu modo de participação, pois

escreve Vigotski,

Desde os primeiros dias de desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem

um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a

objetos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O

caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passar através de outra pessoa.

Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento

profundamente enraizado nas ligações entre a história individual e história social.

(VIGOTSKI, 1998b, p.33)

Para a Psicologia histórico-cultural o comportamento humano é resultado da interação

entre as pessoas, o ambiente e vice-versa, e nesta relação dialética promove-se a modificação

do ambiente e das pessoas envolvidas, já que é a partir da influência recíproca das relações

estabelecidas entre os sujeitos e os objetos que são engendrados novos tipos de

comportamentos e diferentes maneiras de usar os instrumentos físicos e psíquicos.

Os instrumentos simbólicos, ou seja, a linguagem, segundo Giora (2015), constitui um

sistema de representação, podendo ser de diferentes formas já que é um produto histórico

cultural. Dentre eles, o signo verbal recebe fundamental importância para Vigotski, pois é ele

que está na base da linguagem e do pensamento, e é através da internalização dos mesmos que

se dá o desenvolvimento da consciência.

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É por meio da linguagem que se formam as funções psicológicas superiores, sendo que

os signos que as desenvolvem são historicamente estabelecidos e internalizados nas ações

verbais. Vigotski (1998b) escreve que a transmissão e internalização dos conteúdos

historicamente determinados e culturalmente organizados se consolidam por meio da

linguagem, e consequentemente demonstrados e concretizados no trabalho/atividade, que

segundo Rivière (1985a) são as formas de funcionamento e mediação.

A internalização dos signos na atividade humana, afirma Oliveira (1993), ocorre por

meio da mediação, e por meio dela, a ação entre a pessoa e o objeto deixa de ser direta e passa

a ser mediada por um elemento simbólico. Sendo assim, ao longo do desenvolvimento do ser

humano são as relações mediadas que prevalecem na vida de cada pessoa.

A autora acima enfatiza que Vigotski não concebe o ser humano numa relação direta

com o mundo, mas em uma relação mediada através dos signos e instrumentos inerentes ao

trabalho, entendido aqui como atividade.

O trabalho/atividade como aponta Leontiev (1978), ao possibilitar a ação do ser

humano na natureza, promove a relação deste com a mesma. A ação humana estabelecida

pelo trabalho/atividade concretiza-se pela criação e utilização dos instrumentos inerentes à

determinada sociedade, e comenta ainda que através do trabalho/atividade se efetiva e

desenvolve ações coletivas entre os membros da sociedade.

Quando a sociedade estabelece funções e atribui a cada membro seu trabalho/atividade

necessidades surgem e com isso, novos instrumentos e comportamentos sociais são

estimulados a serem construídos e concretizados no contexto sócio histórico no qual se está

inserido.

A utilização dos signos psicológicos na construção e desenvolvimento do

trabalho/atividade permite à sociedade controlar os mecanismos, os pensamentos e os

comportamentos sociais. Leontiev (1978) mostra que as ações verbais e seus signos são

instrumentos de comunicação que ao serem internalizados se manifestam nos pensamentos, na

linguagem e consequentemente, no trabalho/atividade e na construção social.

Portanto, observa-se que na concepção de Leontiev, os instrumentos e seus signos são

produzidos socialmente, logo, a internalização e a construção da consciência se dão numa

contextualização e num processo dialético entre o ser humano e sua atuação no meio em que

vive.

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Segundo Vigotski,

Vygotsky chamava internalização a reconstrução interna de uma atividade externa.

Para ele, a internalização implica numa reorganização das atividades psicológicas

sobre a base das operações com signos, e supõe a incorporação da cultura do sujeito

ao mesmo tempo que a configuração do próprio sujeito e a reestruturação das

atividades refletidas no organismo. (VIGOTSKY, s/d, APUD RIVIÈRE, 1985a, p.

43)

O comportamento é regulado pela linguagem, e são os signos que proporcionam além

da comunicação e da autorregularão, a inserção do ser humano no processo dialético entre a

realidade externa e o mundo interno.

A internalização dos signos provoca uma série de transformações na consciência da

pessoa, sobre a realidade circundante e sobre si próprio.

Ao internalizar a linguagem, o ser humano transcende e constrói a atenção, a

percepção, a memória e o pensamento, que são as funções psicológicas superiores, a partir daí

ocorrem dois momentos consecutivos, que são no início, em nível social – interpsicológico

(entre pessoas) e depois em nível individual – intrapsicológico (no interior de cada pessoa).

Estas transformações ocorrem quando as atividades psicológicas que se originam de

um processo interpessoal se transformam no processo intrapessoal, por isso, o longo caminho

do desenvolvimento humano segue a direção do social para o individual.

Na visão de Cordeiro (1995), o desenvolvimento para Vigotski está ligado à

aprendizagem de modo dialético, permitindo aos dois processos, um de origem genética

(intrapessoal) e outro de natureza distinta (interpessoal), tornarem-se interdependentes.

Contudo, é a aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento e esta, por sua vez,

produz novas possibilidades de aprendizagem. Devido a isto, precisa-se cuidar das condições

de aprendizagem para que o desenvolvimento se processe e se efetive de forma adequada.

Vigotski (1998b) comenta que o desenvolvimento da aprendizagem ocorre em ciclos e

estes se efetivam quando a pessoa consegue resolver problemas independentes, e que cada

novo ciclo é iniciado por novas aprendizagens que a pessoa ainda não possui desenvolvidas.

Afirma ainda, que a cada novo ciclo as funções que ainda não amadureceram estão em

processo de maturação, pois o desenvolvimento da pessoa é prospectivo, assim

[...] aquilo que é zona de desenvolvimento proximal [iminente] hoje será o nível de

desenvolvimento real amanhã – ou seja, aquilo que uma [...] [pessoa] pode fazer

com assistência hoje, [...] será capaz de fazer sozinha amanhã. (VIGOTSKI, 1998b,

p.98)

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A zona de desenvolvimento iminente é estabelecida de maneira dialética pelo

movimento cíclico entre interpessoal e intrapessoal, pois, como se verifica as funções

psicológicas superiores desenvolvem-se através deste processo, que é um produto revestido

por fatores temporais e historicamente determinados, assim:

Em atividade conjunta, na cooperação, na co-existência, em con-vivência, nasce o

novo Eu. E esse novo Eu exige vivências para elaboração de determinações,

adaptações para o Eu renovado. (VERESK, 2014, p. 21)

Compreende-se que a interiorização das condições sociais e históricas de onde o ser

humano está inserido é o que proporciona o desenvolvimento individual das pessoas, mas

mesmo sendo individual, se (re) constrói por interferências de novas interações, e

consequentemente cada ser humano é um pequeno recorte da existência de outros humanos

significativos a existência particular.

Se faz interessante ressaltar que na dialética da construção aponta-se a necessidade da

vivência do novo, e por conta da busca do eterno novo o ser humano vive a situação do

desequilíbrio do existir, ou seja, da inquietude constante. Portanto, nesta longa caminhada do

desenvolvimento do existir humano,

os desenvolvimentos iminentes são alcançados e aprendidos pelo homem, passam a

ser seu patrimônio, sua experiência de vida acumulada, mas esta zona é inatingível

como a linha do horizonte. (VERESK, 2014, p. 20)

A personalidade nesta perspectiva não é um acúmulo, ou simplesmente um arquivo de

experiências, é sim a aquisição de novas vivências, de transformações, reconstruções e morte

do antigo. Portanto o ser humano está em caminhada permanentemente, buscando algo,

morrendo e nascendo, visto que está em processo de reformulação de si mesmo o tempo todo.

Afirma-se então que a aprendizagem acontece na concepção vigotskiana por meio de

um processo dialético entre fatores externos e internos onde ambos se influenciam

reciprocamente, visto que o ser humano está em constante transformação, onde a força da

cultura e as internas estão em constante diálogos. Como exemplo desta forma de ser no

mundo cita-se a vida de Vigotski como exemplo, veja-se:

Todos aqueles que escreveram sobre Vigotski ou falaram dele caracterizaram-no

como uma pessoa que amava a vida, como um homem extremamente alegre, que

não ligava para problemas do cotidiano. Parece-me que esse amor pela vida estava

condicionado à sua vontade de sempre se superar, e não só à sua longa e tensa

vivência da tuberculose e das previsões desanimadoras. A situação existencial

dramática de Vigotski, o desejo de viver no limite do possível tem como causa a sua

vivência de todas as novidades na psicologia e na cultura por sua própria

personalidade. (VERESK, 2014, p. 22)

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Assim sendo, postula-se que o ser humano também constrói a personalidade a partir de

suas vivências, e em relação a toda ontogênese relacionada a esta, tais como:

[...] a instrução, a educação, o tratamento psicológico, a psicoterapia, [a Relação de

Ajuda], etc., é importante a criação de relações dialógicas, de parceria, pois essas

relações são pautadas pela vivência intencional do sujeito em desenvolvimento e não

por aquilo que o pedagogo ou mesmo aquilo que está no programa de estudos.

(VERESK, 2014, p. 22).

Vigotski ao considerar a dimensão afetiva do ser humano e a interligação desta com os

aspectos cognitivos constrói uma visão interdisciplinar que é de importância fundamental para

a compreensão do desenvolvimento do ser humano. Defende ainda que o educador não pode

visar a adequação do homem ao meio, mas sim, ser um promotor de ações onde a construção

e reconstrução dos aspectos simbólicos e afetivos se façam presentes.

Os aspectos afetivos funcionam como mediadores do comportamento humano,

contudo, são os valores sociais e culturais que autorizam ou não, o ser humano a manifestar e

vivenciar estes aspectos.

Ao considerar a afetividade como fator constituinte da consciência, Vigotski (1998b),

afirma que o desenvolvimento desta é tão importante quanto à do pensamento na construção

da consciência, visto que segundo o autor não existe nada mais sólido quanto quaisquer

símbolos ligados as emoções. Destaca ainda também que é no pensamento que nasce a

palavra.

Por isso, acredita-se que é importante para que se provoque aprendizagens no ser humano,

consequentemente, transformações comportamentais; que a marca emocional se faça presente no

discurso, pois não existe nenhuma metodologia de ensino que educa mais que o sentimento dito e

vivido e, nesse sentido, as emoções, os sentimentos e a afetividade, é uma espécie de instrumento

especialmente adaptado e fino através do qual é mais fácil influenciar o comportamento através das

ações e da palavra.

Como exposto, acredita-se que não existe a possibilidade de educar com profundidade

e construir consciências não dicotomizadadas se aspectos diversos, dentre eles a afetividade,

não estiver presente na arte das relações de ajuda. Assim,

As reações emocionais exercem uma influência essencial e absoluta em todas as

formas de nosso comportamento e em todos os momentos do processo educativo. Se

quisermos que os alunos [as pessoas] recordem melhor ou exercitem mais seu

pensamento, devemos fazer com que essas atividades sejam emocionalmente

estimuladas. A experiência e a pesquisa têm demonstrado que um fato impregnado

de emoção é recordado de forma mais sólida, firme e prolongada que um feito

indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno [a pessoa] tentem afetar seu

sentimento. Isso não é apenas necessário como meio para uma melhor recordação e

assimilação, mas também como fim em si mesmo. (VIGOTSKI, 2003, p. 121)

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125

Como se observa a afetividade é condição essencial para a construção de seres

humanos não dicotomizados, por isso aproveitando os fundamentos de Vigotski, defende-se

que a mesma seja vivenciada em todas as ações educativas desenvolvidas pelas mais diversas

especialidades e enquadres, mas dá-se ênfase essencial aqui a arte das relações de ajuda.

A Psicologia humanista surge como contra cultura em Psicologia, apresentando

concepções que garantiam e possibilitavam uma transformação que dependesse da vontade de

cada pessoa, como uma forma do ser humano se conceber com base em suas próprias

perspectivas, suas próprias particularidades e potencialidades; portanto a Psicologia

humanista retoma a individualidade, a subjetividade, a sensibilidade, a criatividade, as

características particularidades de cada ser humano, a afetividade, sem desconsiderar as

influências da sociedade na construção destes.

Para Erich Fromm (1976) a ética humanista considera que o bem é a afirmação da

vida, e por meio deste o desenvolvimento das capacidades humanas é facilitado. Por isso, a

virtude do bem, do amor, da sensibilidade, da criatividade, da afetividade, outros, é o grande

estandarte da Psicologia humanista. A virtude, que é o melhor de cada um, consiste em cada

pessoa assumir com responsabilidade sua própria existência, enquanto o mal constitui a

mutilação de todas as capacidades do homem. O vício reside na irresponsabilidade perante si

mesmo, e assim o humanismo influencia a Psicologia ao oferecer um lugar comum para os

psicólogos insatisfeitos com a visão de homem defendida pelo behaviorismo e pela

psicanálise de até então.

Contudo para compreender melhor o que isto significa deve-se entender a maneira

como ocorreu o surgimento da proposta da Psicologia humanista no contexto do saber

psicológico, que segundo Amatuzzi (1989), tem dentre seus principais fundadores, Maslow e

Anthony Sutich.

Para Maslow (s/d), quando os psicólogos estudam apenas exemplos anormais e

emocionalmente perturbados da humanidade, ignoram as qualidades humanas positivas, tais

como, a sensibilidade, a criatividade, a felicidade, a afetividade, a satisfação e a paz de

espírito. Assim,

Devo confessar que acabei pensando nessa tendência humanista da Psicologia como

uma revolução no mais verdadeiro e mais antigo sentido da palavra, o sentido em

que Galileu, Darwin, Einstein, Freud e Marx fizeram revoluções, isto é, novos

caminhos de perceber e de pensar, novas imagens do homem e da sociedade, novas

concepções éticas e axiológicas, novos rumos por onde enveredar. (MASLOW, s/d,

p. 11)

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Em 1961, Sutich junto com Maslow criaram a Revista de Psicologia Humanista,

originando o termo Psicologia humanista, e utilizou-se da citação abaixo apresentada para

descrever a proposta:

[...] interessados naquelas capacidades e potencialidades humanas que não

encontram uma consideração sistemática nem na teoria positivista ou behaviorista,

nem na teoria psicanalítica clássica, tais como criatividade, amor, self, crescimento,

organismo, necessidades básicas de satisfação, auto-realização, valores superiores,

transcendência do ego, objetividade, autonomia, responsabilidade, identidade, saúde

psicológica, etc. (SUTICH, s/d, APUD BOAINAIM JR, 1999, p. 29)

Portanto ser um educador de orientação humanista implica em interessar-se pelo ser

humano e suas singularidades, implica também valorizar mais o significado que o procedimento,

pois o mais importante é a experiência humana e a possibilidade relativista de todo conhecimento,

visto que existe um universo de possibilidades referente ao saber sobre algo. É considerar o direito

individual de ser e estar no mundo de todos os cidadãos, é estar materializando frente a este

mundo um jeito de olhar o outro e de se relacionar com ele, e isto como mostra a experiência,

para acontecer é necessário a vivência da afetividade nas relações interpessoais.

Ser humanista é lutar contra os entendimentos reducionistas e mecanicistas sobre o ser

humano, pois os humanistas acreditam que o ser humano é único e imerso em sua

historicidade, por isso deve ser reconhecido em sua subjetividade fenomenal e histórica, assim

sendo afirma Rogers, “só se pode compreender adequadamente um pensamento quando se

conhece algo do contexto cultural e pessoal em que este tem sua origem” (ROGERS, 1977, p.

145).

Os humanistas defendem que a pessoa humana deve ser vista pela perspectiva da

singularidade e totalidade, já que a pessoa humana não deve ser comparada com as máquinas,

logo, a pessoa humana não deve ser compreendida a partir de suas partes separadamente, pois

tem a condição de ser multidimensional, por isso acredita-se que os saberes psicológicos

precisam ser interdisciplinares.

Corroborando com esta perspectiva Fromm cita Marx, conforme verifica-se abaixo:

Marx também queria evitar a impressão de que considerava a essência do homem

como uma substância não-histórica. Para ele, a natureza do homem era um

determinado potencial, uma séria de condições, a matéria-prima humana, por assim

dizer, que como tal não podia ser modificada, assim como o tamanho e estrutura do

cérebro humano permanecem os mesmos desde o início da civilização. Não

obstante, o homem modifica-se no curso da história. Ele é produto, transformando-

se na evolução desta. (FROMM, 1965, p. 33)

Defende-se que o conservadorismo psicológico acadêmico precisa sair da

disciplinaridade e de seus ostracismos conceituais e metodológicos, e começar a promover a

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junção de conhecimentos e a partilha destes, como também abrir-se ao diálogo

interdisciplinar, a diversidade de entendimento sobre o ser humano e aprender a interagir com

estes.

Japiassu (1976), defende que para se desenvolver uma ação educativa interdisciplinar

se faz necessário uma profunda e inovadora reflexão sobre o conhecimento, e que as ações

educativas precisam ir além do que está posto, visto que comumente estas são simplesmente

disciplinares, e por isto fragmentada enquanto visão do conhecimento.

Como proposta transformadora para o ato educativo ir além da disciplinaridade,

Japiassu (1976) propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, e neste defende que se

faz necessário no ato de educar a reflexão crítica sobre a própria estrutura do conhecimento,

visando com esta proposta superar o isolamento entre as disciplinas e repensar o próprio papel

dos educadores na formação de educandos no contexto sócio cultural no qual estão inseridos.

Japiassu defende que a

interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas

e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um projeto específico de

pesquisa. (JAPIASSU, 1976, p. 74)

A interdisciplinaridade, para este autor aparece como possibilidade de reorganização

das disciplinas científicas e de uma construção de um novo olhar sobre as estruturas do ato de

educar formal nos mais diferentes níveis de Educação.

Assim, defende-se que é importante educar de maneira interdisciplinar, onde

utilizando-se das interfaces possíveis nos espaços educativos, novos currículos e condutas de

relações de ajuda serão construídos nos espaços educativos.

Idealiza-se que a interdisciplinaridade, como dito acima, se faça presente na esfera

acadêmica psicológica, mesmo que inicialmente esta proposta provoque estranheza para

muitos que possuem uma conduta acadêmica não progressista, mas proclama-se que esta é

uma possibilidade a ser construída, pois se acredita que é possível construir uma Psicologia

mais dialogada entre seus saberes, humanizada, dialética e menos dicotomizada entre suas

escolas. Assim,

[...] convém tranquilizar. Lembrar aos assustados que o empreendimento

interdisciplinar jamais se dedica ao extermínio de qualquer disciplina particular. E

que se verifica justamente o contrário: a interdisciplinaridade quer dar nova vida a

disciplina, retirando-a do seu gueto, da sua circunscrição confinada, e visivelmente

estressada, para trazê-la para o campo aberto e livre, das novas convivências críticas.

Somente em regime de liberdade incondicional, a disciplina encontrará condições de

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redirecionar esses saberes prostados, e em certos casos provavelmente agônicos.

(PORTELLA, 1995, p. 5)

Portella (1995) reflete que na atualidade ainda se mantém nos processos educativos

condutas segregacionistas na formação acadêmica. E que ainda é muito comum eleger as

chamadas disciplinas hegemônicas e as dependentes, ou como alguns preferem, as disciplinas

colonizadoras e colonizadas, ou rígidas e flexíveis.

Ressalta-se que é necessário ressignificar e transformar estas hierarquizações do saber,

bem como suas dicotomizações, visto que é necessário ir além destes sistemas extenuados e

lançar-se a interdisciplinaridade, que por princípio é igualdade, troca, diálogo, contribuição,

crescimento junto, interferência mútua, e contato com a diversidade científica, intelectual e

artística; em diálogo participativo e transformador. Portanto, enquanto determinados saberes

forem considerados mais nobres que outros e a ciência positivista não se permitir dialogar

com outras formas de conhecimento, a transformação da conduta educativa cartesiana e

bancária, para um ato educativo progressista será muito lenta. Salienta-se portanto que:

Em qualquer hipótese convém ter presente que a interdisciplinaridade jamais seria a

destruição do limite, desde que o limite não se reduza à fronteira fechada, hostil às

relações de vizinhança. Ela deve ser a valorização da linha divisória enquanto

enlace, terra de parceria e de cumplicidades produtivas. O que acontecerá sempre

que a interdisciplinaridade souber se deslocar do território da concorrência para a

terra da complementaridade. Por isso o projeto da interdisciplinaridade inclui todo

um esforço de desterritorialização. (PORTELLA, 1995, p. 6)

Assim, apoia-se a não fragmentação do saber visto que fragmentar é perpetuar a

narrativa da coisificação do conhecimento, onde a busca pelo todo não é o objetivo, mas sim a

parte, um especificismo que impede o diálogo interdisciplinar.

E como se sabe, conforme apresentado no capítulo Razão, Emoção e Afetividade desta

tese, a Razão foi considerada a detentora da verdade na história do conhecimento, e as

emoções e a afetividade, algo menor que deveria ficar bem distante para não atrapalhar a

capacidade de discernimento, neutralidade e superioridade da razão. Portanto, a possibilidade

de vivenciar o sentido do prefixo Inter em diversos contextos, inclusive no contexto

interdisciplinar na história do conhecimento humano, foi pouco estimulada.

Como escrito acima, a possibilidade do vivenciar o Inter não se deu apenas nas

questões do conhecimento humano, mas nos vivenciais também, pois o ser humano aprendeu

através dos discursos nos mais variados contextos que deveria ser racional, invés de afetivo e

emocional. Assim, as pessoas aprenderam a ser cada vez mais racional, formal e séria, para

serem capazes de avaliar, e se posicionarem frente a realidade objetiva de maneira imparcial,

sem interferência da afetividade e das emoções.

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Frente ao exposto defende-se que:

[...] o procedimento racional deixa de ser o único modo de investigação possível e a

ciência [positivista] não abraça mais a totalidade dos conhecimentos que

representam um papel na cultura ocidental: muito pelo contrário, grande parte da

vida do dia dia assim como muitas das mais prestigiosas realizações da cultura

ocidental ficam condicionadas por um saber muito mais amplo. (JANTSCH, 1995,

p. 29).

E por acreditar que o buscar da interdisciplinaridade é essencial para o

amadurecimento do conhecimento já que estudar quaisquer fenômenos por meio de

fragmentos de conhecimentos é desconsiderar a possibilidade da contribuição entre as mais

diversas formas de pensar sobre determinado aspecto da realidade.

Sabe-se que o ser humano vive num mundo em movimento, de interferências

permanentes, e que continuar na disciplinaridade é querer viver num mundo estático, onde os

saberes não dialogam entre si. Por isso, destaca-se que:

Abordar o estudo de uma realidade tão complexa [como o ser humano por exemplo]

com o auxílio destes fragmentos do conhecimento constituídos pelas disciplinas

significa querer soterrar o planeta embaixo de uma espessa camada de gelo para

furar buracos estreitos e fundos no solo congelado, em vez de observar o rio da vida

em todos os seus processos e interações, os seus desígnios instáveis, seus turbilhões

que nascem e desaparecem. A interdisciplinaridade é uma abordagem que tenta

derreter em parte este gelo e relacionar os “furos” operados pela disciplina.

(JANTSCH, 1995, p. 30)

Jantsch (1995) escreve também que ainda hoje existe uma confusão ao se utilizar

termos como pluri, inter e transdisciplinaridade. Esclarece que a pluri ou multidisciplinaridade

corresponde a justaposição entre conhecimentos, e esta é a mais comum nos sistemas

educativos que se tem hoje. A multi ou pluridisciplinaridade não promove em essência o

diálogo entre os conhecimentos pois cada um é uma verdade, uma narrativa reinante, assim,

associações e diálogos entre os saberes não são suas perspectivas, mas sim a transmissão

monolítica das informações cientificamente acumuladas.

A transdisciplinaridade para o mesmo autor corresponde a “um ideal que nunca estará

completamente ao alcance da ciência, porém pode orientar de maneira decisiva a direção da

sua evolução”. (JANTSCH, 1995, p. 31)

O caminho para quem sabe um dia se vivenciar a transdisciplinaridade na construção

do conhecimento é primeiramente reconhecer a interdependência dos aspectos envolvidos em

determinado fenômeno a ser estudado, pois ser transdisciplinar é cultuar o entendimento de

que o conhecer mais profundo sobre as coisas se dá através das interações e apreensões das

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dinâmicas envolvidas no que se pretende investigar, neste caso específico, os fenômenos

humanos.

Quando se visa a transdisciplinaridade, portanto preconiza-se alcançar o máximo

compreensivo sobre determinado objeto de estudo, e não uma parte, ou melhor dizendo, uma

“disciplina” sobre.

A interdisciplinaridade, segundo Jantsch (1995), está intermediando as ações pluri ou

multidisciplinares, e que a transdisciplinaridade trata-se de uma ação onde se busca um novo

conhecer e discurso, uma síntese, sobre o que se pretende estudar. Veja-se o que o autor

escreve sobre a transdisciplinaridade:

Trata-se da síntese de duas ou mais disciplinas, de modo a instaurar um novo nível

do discurso (metanível), caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas

relações estruturais. É, portanto, comparável à síntese dos contrários, apesar de que,

no caso da interdisciplinaridade, as disciplinas não sejam necessariamente

antinômicas: a sua linguagem e as suas estruturas são simplesmente diferentes, de

modo que elas não “se comuniquem”. (JANTSCH, 1995, p. 31)

A síntese para o autor acima é a essência da interdisciplinaridade, e quando esta se faz

presente tem-se a transdisciplinaridade, sendo que para que esta ocorra se faz necessário pelo

menos três fatores essências frente aos saberes, que são: O Processo de Impulsão e de

Atração, A Força de Atração do Social e a Força de Atração Exercida por uma Visão

Transdisciplinar.

O Processo de Impulsão de Atração corresponde a possibilidade de que novos

conhecimentos possam interagir, e que através destes novos conceitos e paradigmas se

fundem num novo campo de investigação. Já a Força de Atração Social corresponde a força

da ciência na transformação da vida das pessoas, sendo estas um poderoso estímulo para

criação de novas tecnologias que vão agir diretamente no contesto social. E por último, tem-se

a Força de Atração Exercida por uma Visão Transdisciplinar que corresponde ao

desencadeamento de várias sínteses interdisciplinares, que ao serem aglutinadas criam-se um

novo sistema compreensivo sobre algo (JANTSCH, 1995).

E assim, lançando-se a luz da perspectiva interdisciplinar sobre o tema afetividade,

argumenta-se que Rogers, Vigotski, defendem que a pessoa humana é um ser

fundamentalmente social e interacionista, que se constrói na relação com o outro e com este

outro constrói relações que irão determinar diretamente o desenvolvimento das pessoas

humanas, consequentemente da afetividade. Portanto fica claro após o apresentado que a

afetividade é um potencial humano que é estimulado através da troca e partilha entre as

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pessoas, e que a mesma não está simplesmente presente ao nascer, pois como é fruto de uma

construção histórico-cultural, será desenvolvida ao longo da vida como qualquer outro fator

da personalidade.

Evidencia-se também que será através da síntese entre os saberes, ou seja, da

interdisciplinaridade, que se conseguirá compreender com maior profundidade este fenômeno

humano, a afetividade, que ao longo da história do conhecimento foi considerada como algo

menor frente a racionalidade.

VII. ASPECTOS METODOLÓGICOS

Utiliza-se, por acreditar que o todo é maior que a soma das partes e na compreensão

interdisciplinar dos fenômenos humanos, a Psicologia histórico-cultural de Vigotski e a

metodologia que lhe é compatível, a análise gráfica do discurso, AGD, a Psicologia humanista

de Carl Rogers e o olhar progressista sobre Educação de Paulo Freire, para analisar o núcleo

dos pensamentos dos psicólogos entrevistados.

Acredita-se que apesar de cada uma das abordagens teóricas acima ter brotado em

solos geográficos, históricos, culturais, políticos, ideológicos, experienciais e científicos

diferentes, estas consideram que o ser humano está em constante processo de construção de

sua consciência, que está em constante interação com o meio social e que, através desta

interação se transforma e transforma o meio social no qual está inserido, sendo que Vigotski

nomeia este potencial de desenvolvimento iminente, Rogers de tornar-se pessoa, e Freire de

empoderamento.

Opta-se também por buscar uma compreensão interdisciplinar do que se pretende aqui

estudar, por discordar dos separatismos teóricos comuns no meio acadêmico, cujos defensores

de determinadas abordagens teóricas, pelo que se observa comumente não se abrem ao novo,

fixando-se em “uma verdade” sobre a compreensão dos fenômenos humanos.

Refuta-se o posicionamento separatista e reducionista sobre o ser humano, e defende-

se o diálogo interdisciplinar entre os saberes mesmo que advindos de epistemologias

diferentes, pois é importante que se desenvolva saberes sobre o Homem de maneira

interdisciplinar onde diversas narrativas sejam integradas, ou dialogadas entre si.

Visa-se através desta metodologia demonstrar que é possível dialogar sobre narrativas

teóricas e metodológicas diferentes, desde que a perspectiva do “entre” esteja presente, visto

que só na promoção da relação dialógica entre as narrativas do conhecimento científico, e

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outros, é que se consegue promover aproximações, identificar posicionamentos comuns e não

comuns, e com isso lapidar-se intelectualmente e se lançar as mudanças de valores, logo de

compreensão das “coisas”.

Defende-se que se pode buscar a interdisciplinaridade entre diversos olhares sobre o

homem, pois em essência está o ser humano e sua capacidade de transformação, adaptação,

ressignificação, trabalho/atividade, luta, conquista, inteligência, fé, existência, política,

criatividade, sensibilidade, compreensão, aceitação, congruência... E, como já escrito, o todo,

a soma das forças, a união de intenções positivas e a diversidade dos saberes, é maior que uma

simples parte, ou seja, que uma especificidade teórica e conceitual.

Contudo, deixa-se claro que não se defende a superficialidade, o conhecimento raso,

aglutinações infundadas, aproximações impossíveis, colchas de retalhos, leituras teóricas de

rodapé, defende-se sim, a possibilidade do diálogo entre os conhecimentos, a construção de

um saber onde a dicotomização do ser humano deixe de ser presente, e a promoção do “entre”

nos diálogos teóricos seja alcançado.

Escolhe-se, como já escrito acima, a teoria histórico cultural de Vigotski, a humanista

de Rogers e a progressista de Freire para dialogarem com o tema aqui em estudo e

fundamentar a análise das entrevistas, pois nestas abordagens, a consciência pode ser estudada

em sua materialidade como algo concreto, conforme diz Vigotski, Rogers e Freire. Para o

primeiro, a consciência é ao mesmo tempo um fenômeno do pensamento e da linguagem, para

o segundo, a consciência é uma manifestação das experiências que compõem o ser humano, e

para o terceiro, a consciência se constrói na materialidade do homem em contato com sua

realidade histórica.

Pode-se, portanto, nestas concepções, ter acesso à consciência através da palavra e por

meio desta, estudar detalhadamente os núcleos dos pensamentos e o conteúdo das

representações que os sujeitos vivenciam, elaboram e significam no seu percurso social,

histórico, cultural e experiencial; frente ao meio no qual está inserido.

Busca-se então identificar concretamente através da linguagem o conteúdo das

representações simbólicas que psicólogos que trabalham com a construção da Relação de

Ajuda possuem sobre o lugar da afetividade nesta relação.

Quanto à forma de pesquisa faz-se a aplicação de uma abordagem qualitativa por

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[...] se tratar de uma abordagem descritiva e [que] aborda aspectos da realidade

relacionada ao universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e

atitudes. (MINAYO, S/D, APUD SACAMOTO; SILVEIRA, 2014, p.47)

O olhar qualitativo se materializará por meio de pesquisa bibliográfica, cuja principal

atividade de investigação é analisar e identificar autores que estudam o tema, e através destes

atribuir sentido ao fenômeno em questão, pois segundo Ruiz (2002) a pesquisa bibliográfica

está relacionada ao exame do manancial teórico produzido sobre determinado assunto, que se

elege como objeto de investigação científica.

Quanto aos objetivos gerais estes serão investigados de maneira exploratória, pois

pretende-se proporcionar uma visão aprofundada de um determinado tema ou fato, onde

se visa tornar familiares novos objetos de estudo, muitas vezes buscando constituir

um conhecimento que permita elaborar novas hipóteses. (SAKAMOTO;

SILVEIRA, 2014, p. 50)

Sendo que o objetivo geral enquanto tema de investigação aqui é a Relação de Ajuda

como ação Educativa.

E quanto ao procedimento, este será por meio de análise do discurso onde:

esta[e] se apoia na investigação de alguns casos particulares, porém representativos,

que possibilitam elaborar hipóteses válidas fundamentadas em construções teóricas

plausíveis. (SAKAMOTO; SILVEIRA, 2014, p. 54)

Ressalta, portanto, que nesta investigação o objetivo específico é a análise do discurso

das entrevistas produzidas frente a questão: Em sua opinião qual o lugar da Afetividade na

construção da Relação de Ajuda?

Aplica-se como instrumento de investigação a análise gráfica do discurso (anexo 1),

visto que nesta se propõe verificar de maneira qualitativa os padrões do pensamento,

linguagem e sentimentos comuns aos sujeitos entrevistados, pois o fato de serem humanos e

viverem no mesmo contexto sócio histórico, faz com que o desenvolvimento das funções da

consciência ocorra mediante valores determinados pela sociedade na qual se está inserido.

Assim, busca-se identificar concretamente através da linguagem o conteúdo das

representações simbólicas que os entrevistados construíram sobre o lugar da afetividade na

relação de ajuda, e para isso como já escrito, aplica-se a análise gráfica do discurso (AGD).

Fez-se aos entrevistados uma pergunta aberta, que é: Qual o lugar da Afetividade na

construção da Relação de Ajuda.

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Os discursos dos entrevistados foram gravados e em seguida, conforme exige a análise

gráfica do discurso, transcritos, numerados linearmente, agrupados em categoria e núcleos.

O universo da pesquisa é constituído de psicólogos pelo fato de que são estes que, em

tese, devido sua formação, estão mais aptos para compreender os fundamentos e promover a

arte da relação de ajuda.

Portanto, pretende-se por meio da análise dos conteúdos das entrevistas, verificar os

núcleos dos pensamentos que os psicólogos entrevistados possuem sobre O lugar da

Afetividade na Relação de Ajuda, pois a palavra é uma das vias de acesso à consciência,

segundo a abordagem histórico cultural, a humanista centrada na pessoa, e a progressista.

Sobre o tema aqui proposto, foram entrevistados 14 (catorze) psicólogos, sendo que

cada um dos entrevistados recebeu aqui uma nomenclatura, que se inicia com Ps1, e termina

no Ps14. Não se levará em consideração o tempo de formação e de exercício profissional,

abordagem teórica, tempo da entrevista, sexo, naturalidade, estado civil, idade, titulação,

outros; o único critério que receberá relevância nesta pesquisa é: ser graduado (a) em

Psicologia e atuar como tal em São Luís do Maranhão.

O contato inicial com os psicólogos, que foram convidados para participar da

pesquisa, se deu por via whatsapp. Neste primeiro contato foi enviada a seguinte mensagem:

Bom dia, tudo bem? Estou desenvolvendo uma pesquisa e gostaria muito de saber

sua opinião sobre o assunto em estudo, posso contar com você? Caso aceite

participar podemos marcar um encontro no melhor horário e dia para você. Neste

encontro farei uma entrevista aberta com uma única pergunta, que será: Na sua

opinião, qual o lugar da afetividade na construção da Relação de Ajuda?

Os psicólogos Ps1, Ps2, Ps5, Ps6, Ps9, Ps10, Ps11 e Ps12 responderam de pronto ao

envio da mensagem se mostrando dispostos a participarem da pesquisa. As respostas foram:

Ps1: Bom dia Leal, quero sim. Interessante o tema.

Ps2: Quero sim, te retorno para dizer o dia.

Ps5: Essa pesquisa é sua cara, vou ver o melhor dia e te aviso.

Ps6: Com todo prazer quero participar da sua pesquisa.

Ps9: Está bem corrido meu dia-dia, mas vou organizar para responder.

Ps10: Ótimo tema, vai contribuir bastante. Te retorno.

Ps11: Estou em aula, retorno mais tarde enviando.

Ps12: Ótimo, quero sim.

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Ps15: Vou enviar um áudio com o que penso sobre (mas o áudio não foi enviado).

Os psicólogos Ps3, Ps4, Ps7, Ps8, Ps13 e Ps14 responderam a mensagem enviada

pelo pesquisador no dia seguinte, com respostas afirmativas, contudo curtas. As

respostas foram:

Ps3: ok

Ps4: sinal de positivo

Ps7: Envio a resposta

Ps8: ok

Ps13: Envio a noite

Ps14: Te retorno

Curiosamente, as entrevistas que eram para ocorrer através de encontros pessoais entre

entrevistador e entrevistados com data e hora a serem combinadas não aconteceram como

previsto.

Cada entrevistado gravou um áudio e o enviou para o entrevistador, e por meio deste

cada psicólogo entrevistado registrou sua opinião sobre o tema, contribuindo desta forma com

a pesquisa. Alegaram, cada um deles a seu modo, muito corre-corre, fator este que segundo os

entrevistados inviabilizaram a possibilidade de encontro. O entrevistador respondeu a estes:

Entendo, obrigado pela contribuição.

Após as transcrições das gravações enviadas pelos áudios dos psicólogos (Ps1 a Ps14),

os discursos foram transcritos e analisados a luz das teorias apresentadas, e perante a

metodologia AGD, aqui proposta. E assim, conforme demonstrado no Apêndice Análise dos

Dados, transcreve-se as categorias e núcleos dos discursos referentes à questão: Qual o lugar

da Afetividade na Construção da Relação de Ajuda?

Ressalta-se que inicialmente após a efetivação das entrevistas cogitou-se desconsiderá-

las enquanto material para análise do discurso, devido a pouca produção verbal frente a

questão feita, pensou-se em deixar apenas como anexo. Em um segundo momento, após

reflexões fenomenológicas, as quais fundamentam a perspectiva rogeriana decidiu por mantê-

las visto que “ [...] as pessoas vêem o mundo de sua própria e única perspectiva”

(DAVIDOFF, 2001, p.14), conforme estão apresentadas e analisadas, segundo a AGD, no

apêndice Análise dos Dados.

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VIII. CONCLUSÃO

Trilhar o caminho rumo ao aprofundamento do tema Relação de Ajuda como Ação

Educativa mostrou-se muito transformador para o autor desta tese. Durante esta caminhada

muitas portas se abriram para além da intelectualização sobre o tema, pois através desta

investigação apreendeu-se que o melhor da afetividade não é o pesquisar sobre, mas conseguir

vivenciá-la nos mais diversos espaços onde pessoas se relacionam interpessoalmente.

Percebe-se que tornar-se mais congruente com o tema é deixar de apenas pesquisar sobre e

procurar vivenciar a afetividade na trajetória da vida, como dito anteriormente, nos mais

diversos espaços onde as pessoas interagem entre si.

Acredita-se a partir da investigação produzida que o primeiro registro da consciência

humana é o sentir, e através deste sentir o pensar se constrói. E mais, que a pessoa humana

possui potencialidades inerentes ao seu existir, mas estas potencialidades se materializam

conforme as possibilidades socioculturais apresentadas, e a afetividade é um destes potenciais,

é um embrião, uma possibilidade a desenvolver-se na consciência do ser humano, contudo, só

no percorrer da vida é que a afetividade se constrói, se atribui forma, se lapida e flui rumo ao

outro, sem contudo se concluir, pois enquanto houver vida existe movimento e necessidade

de transformação desta.

Ao longo da existência de cada ser humano o sentir e o pensar são condições

essenciais para a construção do tornar-se pessoa de cada ser humano, mas, novamente, não se

pode deixar de ressaltar que esta construção está diretamente associada aos aspectos sócio

culturais nos quais cada pessoa está inserida.

Constata-se através desta pesquisa de doutorado que a Psicologia enquanto ciência ao

longo de sua história, não priorizou investigar a afetividade para compreender o ser humano,

visto que baseou com maior ênfase seus estudos no compreender da percepção, das emoções

enquanto aspectos mais biologizantes e bioquímicos, do inconsciente, etc, mas mantendo nos

mais diversos campos de investigação psicológica a máxima cartesiana onde os aspectos

intelectuais, ou seja, o pensar sobre, é mais importante que o sentir, que o vivenciar.

Contudo, como sentir é inevitável já que é inerente ao existir humano, e é o primeiro

broto da consciência conforme acredita-se, o tema afetividade se fez presente para alguns

desbravadores tais como Rogers, Vigotski, Wallon, Fromm, outros. Mas pelo que se observa

estes autores vivenciaram dificuldades no meio acadêmico, logo, científico, para que suas

idéias fossem aceitas, visto que se posicionaram na contramão da intelectualização, tão

defendida pela ciência com base cartesiana.

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Os autores citados acima acreditavam na sensibilidade, no poder transformador do

vínculo, da empatia, da ação social sobre a formação do ser humano, e do ser humano como

sujeitos cheios de potencialidades que gritam por florescer e transformar-se em recursos

disponíveis no trabalho/atividade ao longo da vida.

Acreditavam na afetividade como elemento essencial da construção do aparelho

psíquico, e de uma humanidade onde os aspectos sensíveis da alma humana estivessem

presentes e valorizados no percurso da educação, tal qual os aspectos intelectivos que

historicamente foram os que determinaram as ações educativas em nossa cultura, em todos os

níveis escolares.

Ressalta-se que muitos autores, conforme se demonstra no capítulo Razão, Emoção e

Afetividade, se debruçaram para entender as emoções, não a afetividade, e claro, entendendo

as emoções como algo que precisava ser controlado pelos seres humanos para que não

interviessem negativamente nos aspectos intelectivos. Assim, evidencia-se que as emoções

foram vistas como algo que atrapalhava o ser humano na construção do entendimento da

realidade e de si mesmo, e por isso tinham que ser afastadas, suprimidas e rejeitadas, já que

era menor e poderia prejudicar a pura e fria intelectualidade.

Foi interessante ganhar a consciência enquanto pesquisador que apesar de a

afetividade não ter sido um tema central na construção da ciência psicológica, esta fez-se

presente como assunto pode se dizer sombra, algo menor como se viu, mas como potencial

que estava ali, que mais cedo ou mais tarde tinha que ser encarado, estudado, ouvido,

sentido... aprofundado. Assim é a afetividade na vida de cada ser humano, pois apesar de na

sociedade atual o discurso disseminado é o de objetivar sobre as coisas, é o não sentir, a

afetividade como potencial humano se faz presente como a antítese do discurso moderno e

cartesiano, que até os dias atuais dominam o fazer acadêmico/científico e forma de estar na

sociedade.

É inegável, portanto, que a afetividade, este potencial humano, foi perseguida, negada,

evitada e temida ao longo da história da humanidade, e colocada num lugar menos importante

na construção do saber psicológico, mas contrariando todas as forças opressoras ela se fez

gritar, se fez presente, ganhou forma e lentamente se fez importante enquanto objeto de

investigação, e uma das provas disto é esta tese de doutorado.

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Defende-se uma sociedade mais harmoniosa, sensível e acolhedora, onde a afetividade

passe a estar vivencialmente presente nas ações humanas, e que através dela as relações

interpessoais se tornem melhores, e de fato humanizadas.

Acredita-se, como já escrito, que o ser humano está em constante processo

transformacional, e que a afetividade é pertencente a este processo, assim, promover Relações

de Ajuda como Ação Educativa é influenciar diretamente neste processo de transformação, já

que através das intervenções através das relações de ajuda o ser humano que participa deste

processo pode tornar-se uma pessoa melhor, consequentemente ser um construtor de uma

sociedade mais humanizada.

Verifica-se por meio das entrevistas aplicadas nos psicólogos sujeitos desta pesquisa a

influência sociocultural na formação da consciência dos mesmos. Estes materializaram em

seus discursos a perspectiva de valores e significantes construídas sobre o tema em seus

núcleos discursivos, conformes serão apresentados.

Ressalta-se previamente que a produção discursiva dos entrevistados frente ao tema

aqui investigado foi muito incipiente, visto que por meio das entrevistas contatou-se que o

tema afetividade está presente no discurso dos entrevistados de maneira muito rudimentar,

corroborando com o entendimento de que o tema Afetividade na Relação de Ajuda não é

adequadamente estudado e ensinado no universo acadêmico da Psicologia.

Assim, a não apropriação e entendimento conceitual sobre o tema no discurso dos

entrevistados, mostra o pouco investimento que o assunto recebe durante a formação

acadêmica dos psicólogos. Acredita-se que isto é reflexo do lugar menos importante que a

afetividade recebeu frente a outros temas ao longo da construção da ciência psicológica.

Contudo ressalta-se que apesar dos discursos incipientes dos entrevistados identifica-se uma

similaridade no entendimento destes frente ao tema investigado, conforme se apresenta a

seguir.

Para o entrevistado Ps1, a afetividade está presente na construção da relação de ajuda

através de: Eu não consigo perceber uma relação sem a existência de um contato afetivo (1),

de compreensão (2), sentimentos entre eu e o outro (3), uma relação mútua possibilita a

construção de aprendizados que se renovam (4), confiança (6), troca (9), construção entre o eu

e o tu (10). O entrevistado Ps1 revela entender que a construção da afetividade está vinculada

aos contatos interpessoais saudáveis, a relação de mutualidade e do encontro genuíno como

diz Rogers (1999). Este autor enfatiza que uma boa relação afetiva entre os seres humanos

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ocorre quando as pessoas estão dispostas a ouvir e aceitar os sentimentos do outro, como

também os seus. Desta forma pouco a pouco o ser humano se torna capaz de desenvolver a

vivência da afetividade, e só por meio dela pode construir relações humanas e de ajuda

significativas, visto que com a afetividade, ingrediente essencial a alma, consequentemente a

saúde psicológica, as pessoas podem se tornar melhores (ROGERS, 1999).

O Ps2 atribui a afetividade os sentidos de facilitação do processo, colaboração e

viabilidade (1), acolhimento (3), fluidez (4), impacto positivo, ciclo virtuoso de

aprendizagem, crescimento (5). O relato do entrevistado Ps2 aponta para a questão da fixidez

versus fluidez apontados na obra de Rogers, principalmente no livro Tornar-se Pessoa. Os

termos facilitação, processo, viabilidade, fluidez e ciclo virtuoso apresentados pelo

entrevistado Ps2, vinculam-se a idéia de que quanto mais o ser humano se afasta da

impessoalidade das relações humanos e se torna mais afetuoso com o outro, em maior fluxo o

contato interpessoal se estabelece, pois, o encontro humano é movimento, é estar disponível

para o outro, é estar afetivamente presente. Assim como diz o entrevistado Ps2 sem

acolhimento, fluidez, viabilidade e facilitação, a relação de ajuda não acontece.

Por isso que para Rogers (1997), permitir-se a fluidez do encontro humano é o

primeiro passo para nascer a afetividade entre os seres humanos. Vigotski (1998b)

corroborando esta idéia afirma que durante toda a história das relações interpessoais a

integração entre afetividade e cognição se fizeram presentes na construção do

desenvolvimento humano, logo, de sua consciência e formas de relacionamentos

interpessoais. Assim evidencia-se que para ambos autores não há a possibilidade de se

estabelecer relações humanas, dentre elas a relação de ajuda, sem a afetividade estar presente

nesta construção.

O Ps3 diz que a afetividade tem um lugar prioritário, vivê-la é deixar a vida fluir de

forma diferente (1), acolhimento e fortalecimento da empatia (2). O entrevistado Ps3

enfatizou em seu discurso aspectos do entendimento rogeriano ao afirmar que as relações

interpessoais se tornam significativas quando existe nos interlocutores desta a vontade

genuína e o contínuo querer compreender. Ps3 revela através do seu discurso que quando está

presente nos encontros humanos a empatia, que não é o se colocar no lugar do outro, mas

buscar olhar o outro através do olhar deste, e não através do olhar de quem observa. Freire

(1998a) também aponta que a troca humana se estabelece quando a vontade de crescer junto

se faz presente, quando na relação de aprendizagem existe o querer bem, o querer ofertar o

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seu melhor para outro, consequentemente a empatia é um dos ingredientes essenciais da

relação de ajuda.

O Ps4 defende que o afeto deve ser uma variável importante na relação humana (2),

primeira variável talvez (3). O Ps5 pensa que a afetividade é a raiz (1), o pilar (2), o eixo

norteador das relações (3), sem afeto não há ação humanizada e superação de dificuldades (4).

Os entrevistados Ps4 e Ps5 apontam para a importância a aceitação positiva incondicional na

relação de ajuda.

Em relação a este aspecto Rogers (1999) afirma que a consideração afetuosa de um ser

humano por outro é a força propulsora para que o respeito e o apreço possam existir de

maneira efetiva nas relações de ajuda, visto que sem estes ingredientes não se estabelece

afeição e segurança, aspectos estes essenciais, raiz, pilar e primeira variável da afetividade,

como dizem os entrevistados Ps4 e Ps5.

Nesta mesma perspectiva tem se Freire (1998a) ao afirmar que se no ato de educar não

se fizer presente uma atitude de respeito e apreço pela história do educando por parte do

educador a aprendizagem não se fará presente de maneira significativa, pois o ato de amar

promove a aprendizagem, diferentemente das ações desprovidas de bons sentimentos.

O Ps6 defende que o vínculo afetivo é importante (1), gera sensação de liberdade (2).

Para o Ps7 a afetividade é acolher, é querer bem (7). O Ps8 argumenta que a afetividade está

presente o tempo todo em tudo que o ser humano faz (2), que é indissociável (4), é intrínseca

a aprendizagem (5), é essencial para o crescimento (6). Para o Ps9 através da afetividade se

pode auxiliar na reconstrução humana (5).

Observa-se que os entrevistados Ps6, Ps7, Ps8 e Ps9 apresentam em seus discursos

entendimentos de Freire (1987) e de Vigotski (1998b). Estes autores defendem que não tem

como dissociar da consciência humana os aspectos afetivos e intelectivos. Afirmam que o ser

humano constitui-se enquanto seres ativos, concretos e com pensamentos que são frutos do

contexto histórico-cultural no qual estão inseridos, assim sendo, para os autores a liberdade, a

capacidade pensante e a afetividade presentes no que se faz, são conquistas históricas do ser

humano no exercício de sua humanidade, e como diz Rogers (1999), no exercício do Tornar-

se Pessoa.

O Ps10 acha que a afetividade funciona como uma mão dupla (1), empatia (4),

envolvimento (5), troca de energia (8), e captação de sensibilidade (9). O Ps11 vê a

importância da afetividade na relação de ajuda (1), diz que é imprescindível em vários

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âmbitos (2), com afeto o aluno passa e ter mais interesse no aprendizado (6), aceitação

incondicional (8), dar o seu melhor (9). O Ps12 compreende que a afetividade ocupa um lugar

primordial na relação de ajuda (1), que é uma pedra angular (2), vínculo afetivo e segurança

(4), interesse e sentimento positivo pelo outro (5), facilita a auto-realização (6), é algo muito

precioso (8).

Os entrevistados Ps10, Ps11 e Ps12 coadunam com o repertório de que a afetividade

na relação de ajuda é um produto que se constrói no encontro, ou seja, não existe por si só, já

que a mesma acontece quando as pessoas envolvidas se permitem vivenciá-la como fluxo dos

encontros humanos, como diz Rogers (2001) e Vigotski (2010), já que a afetividade existe

quando na história da formação histórica e cultural de cada pessoa, a mesma não é negada

enquanto possibilidade da experiência, pois sendo uma possibilidade, invariavelmente fará

parte da formação da consciência, logo das ações de cada pessoa frente a sociedade na qual se

está inserido.

O Ps13 defende que a afetividade ocupa um lugar fundamental nas relações humanas

(1), que são sentimentos manifestados através de emoções (2), acolhimento (3), manifestação

de sensibilidade (4), compreensão (5), respeito (6), equilíbrio (7), promotor de mudanças

significativas, e para finalizar 0 Ps14 acha que a afetividade é importante em todos os pontos

(2), conforto (10), sensação de confiança (11), acolhimento (12, 15), segurança (16),

compreensão (17).

Os entrevistados Ps13 e Ps14 acreditam que se na relação de ajuda a vivência da

aceitação positiva incondicional não se fizer presente, a transformação da personalidade da

pessoa que se submete ao processo de ajuda não acorrerá, pois segundo Rogers (1999) esta

ocorre quando os envolvidos na relação de ajuda experienciam o sentimento de confiança, a

sensação de se sentir acolhido, a segurança e uma afetividade disponível.

Contudo, apesar do demonstrado acima constata-se uma frágil formação conceitual

nos entrevistados em relação ao tema aqui estudado, verifica-se isto na construção de

respostas pouco elaboradas à pergunta: Qual a importância da Afetividade na construção da

Relação de Ajuda?

Evidencia-se esta dificuldade na produção dos discursos verbais dos entrevistados,

pois os mesmos produziram um repertório muito conciso, pouco elaborado, objetivado,

intelectualizado e insipiente sobre o tema, apesar de constatar que os mesmos nos seus

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núcleos discursivos produziram entendimentos ao conceito de afetividade corroborados pela

literatura científica.

Rogers (1999) aponta que quanto mais utilizamos do mecanismo da intelectualização é

porque em nossa vivencia íntima a compreensão ainda não se deu, pois quando isto ocorre o

fluxo do entendimento simplesmente flui com maior elaboração e produção.

Observa-se isto em aulas onde o professor que parece ainda não ter internalizado o

saber no qual pretende versar utiliza-se de diversas anotações e apoios de conhecimento,

como se tal conhecimento ainda estivesse fora dele, ao contrário, tem-se os professores que

por experiência e aprofundamento temático com apenas uma frase, breve anotação, ou um

pequeno texto apresenta de maneira congruente, bem articulada e com a devida profundidade

o tema questão, como se deixasse de estar fora de, tornando pertencente a, uma apropriação,

um empoderamento de, um tornar-se congruente com o que se fala e sente, com o que estuda,

com o que expressa, como se um todo tornasse uno e pertencente a consciência de quem

manifesta tal saber.

Este pertencimento e apropriação sobre o conhecimento da afetividade na relação de

ajuda não foi identificado nos discursos produzidos pelos psicólogos entrevistados, visto que

suas falas foram pautadas na intelectualização sobre o tema, e não na significação e

congruência como propõe Rogers (1999). Para o autor o ser humano aprende quando o

conhecimento se torna algo com significado e pertencente ao modo de estar da pessoa na vida,

e nesta construção que se promove a congruência entre os aspectos afetivos e cognitivos.

Ser congruente então, segundo o olhar rogeriano, é deixar se revelar, é deixar a

integração entre o pensamento e o sentir sobre construírem um corpo uno, uma subjetividade

sensível sobre, é colocar para dentro o que estava fora, e depois o que se tornou de dentro para

os que estão fora.

A congruência em relação ao tema investigado aqui, portanto, não foi identificada,

como também a significação, com isto pensa-se que a afetividade e a relação de ajuda foram

temas apresentados de maneira rudimentar nos cursos de Psicologia cursados pelos

entrevistados. Assim, pensa-se que tais temas não foram abordados e vivenciados de maneira

que se tornasse significativa aos psicólogos entrevistados, isto corrobora-se a partir da

produção simplória nas entrevistas produzidas. Da mesma forma como o olhar histórico

cultural apresenta, se a temática afetividade e relação de Ajuda tivesse sido apresentada ao

longo da formação acadêmica dos psicólogos entrevistados de maneira mais efetiva, esta

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estaria presente em sua linguagem e pensamentos, visto que a linguagem e pensamento são

frutos da historicidade de cada pessoa.

Portanto, como afirma Rogers (1999) para que se possa compreender o psiquismo

humano e essencial reconhecer a história que o construiu, é preciso prestar atenção nas

referências significativas vividas por este. Dessa maneira, não se pode desconsiderar a

construção da subjetividade, ou seja, a forma peculiar e única de cada pessoa significar o

mundo no qual está inserido. Assim sendo, como afirma Gomes (2013), o psiquismo humano

se constrói a partir do resultado da história de apropriação e objetivação de signos e

instrumentos que cada ser humano vivencia no percurso da vida.

Nesta mesma perspectiva tem-se Leontiev (1978), este autor defende que o psiquismo

humano, por ele também chamado de reflexo psíquico da realidade, corresponde a um produto

material, orgânico e natural que serve como ponto de partida para construção de toda

subjetividade humana. Diz o autor que o cérebro humano inicialmente é o grande responsável

para que ocorra o desenvolvimento psicológico do ser humano, e que é por meio dele que

inicialmente ocorrem as atividades psíquicas estimuladas em função do mundo exterior, sendo

que este mundo exterior exerce sobre o sujeito fundamental influência para a construção da

subjetividade e historicidade.

Considerando a perspectiva de que cada um é único em sua subjetividade histórica,

consequentemente na forma de apreender sobre o universo no qual cada um está inserido,

decidiu-se manter todas as entrevistas efetuadas como forma de manter a espontaneidade dos

discursos que conforme demonstrado no Apêndice Análise de Dados foram analisados a luz

da metodologia proposta.

Não se identifica nas respostas apesar de alguns discursos associarem a afetividade

com sensibilidade, empatia, vínculo, compreensão, etc, um entendimento aprofundado sobre a

importância da afetividade na construção da relação de ajuda. Portanto percebe-se que a

vivência da afetividade na relação de ajuda ocorre ainda de maneira pouco elaborada e sem

um conhecimento que torne estas práxis melhor conduzida e assegurada enquanto

empoderamento deste saber específico.

Constata-se que os profissionais entrevistados revelaram possuir um repertório

conceitual muito insipiente sobre o tema, demonstrando que durante a formação acadêmica

destes a apropriação de signos e instrumentos que permitiriam a construção de uma

consciência sobre a temática não foram satisfatoriamente disponibilizados a experiência dos

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mesmos. Corrobora-se a esta constatação o fato de que no ambiente acadêmico existem

poucos estudos sobre o tema afetividade na relação de ajuda, como também da terapêutica e

dos antecedentes históricos deste último.

Nota-se que se tem uma longa caminhada para que a afetividade possa estar de

maneira mais aprofundada na formação dos psicólogos, e consequentemente em suas relações

de ajuda, isto porque como se observa, historicamente a formação acadêmica/científica destes

profissionais pouco valoriza o aprofundamento do tema, frente a esta constatação se deduz

que em outras áreas de conhecimento quase nada se estuda sobre a mesma.

Acredita-se que novas janelas se abriram para a continuidade, disseminação e

empoderamento da afetividade na construção da relação de ajuda, e desta forma após a

conclusão formal desta investigação de doutoramento, a vida segue rumo a novas descobertas

e maneiras de conhecer e materializar a afetividade nas relações de ajuda, como também na

vida.

Caminhar diante de um saber sobre a afetividade é se lançar a um universo de

possibilidades já que esta é fruto de condições socioculturais que a constrói, e como as

culturas e as sociedades são diversas e estão em constante transformação como tudo na vida,

resta a humilde tarefa de saborear a multiplicidade de formas de vivenciar e pensar sobre a

afetividade. E é nesta jornada que se lança rumo a este conhecer frente ao longo caminho da

vida acadêmica e pessoal.

IX. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica-se a pensar o que produzir como considerações finais ao longo de uma jornada de

grande investimento de tempo, estudo, produção textual, etc, para a construção de uma tese de

doutorado. Foram tantas viagens na madrugada para se cursar as disciplinas, noites mal

dormidas, saudades da família e amigos, mas como todo ciclo tem seu começo, meio e fim,

chegou a hora de finalizar mais esta etapa.

O doutorado em Educação, Arte e História da Cultura foi muito enriquecedor pois

permitiu vivenciar novas relações humanas, afetivas e intelectuais, com estas conheceu-se

novas formas de pensar e sentir sobre diversas temáticas contemporâneas e clássicas. Contudo

foi revelador também de uma estrada árdua e longa para que se possa construir uma

Psicologia e uma Educação mais sensíveis, menos racionalista, visto que o tema afetividade

na relação de ajuda, como se demonstrou, não é um tema figura, mas sim fundo.

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Deparou-se neste trabalho com a dificuldade de ter poucas publicações sobre o tema

afetividade na relação de ajuda, como também no tema específico relação de ajuda, o que

demandou grande investimento de tempo para rastrear o “ sítio arqueológico” da afetividade

na relação de ajuda, visto que o material disponível comumente é de autores clássicos, o que

indica pouco investimento acadêmico no estudo sobre o tema.

Várias questões se fizeram presentes ao longo do desenvolvimento desta tese, dentre

elas a verificação de que desde a antiguidade vários autores buscaram compreender a alma

humana, mas constata-se que até os dias atuais o ser humano é um mistério a ser desvendado,

que por mais que diversos saberes psicológicos, filosóficos e outros, tentem explicar ou

responder sobre o ser humano, ainda se tem muito a conhecer.

Fica-se a pensar como desenvolver caminhos para se construir uma prática mais

afetuosa nas relações de ajuda nos mais diversos espaços educativos, e certamente a busca

pela construção destes novos caminhos é o que se intenciona daqui para frente.

Observa-se que a Psicologia enquanto ciência ainda pouco oferece recursos para que a

afetividade seja desenvolvida e vivenciada nas suas mais diversas práxis, visto que ainda

enfatiza, pelo que se verifica, os estudos positivistas e intelectuais sobre o ser humano, e não

os ligados a sensibilidade. Assim os profissionais deste campo de conhecimento e de outros,

se veem sem referenciais do como fazer, e do como estimular efetivamente esta

potencialidade no desenvolvimento das relações de ajuda, e neste rumo nasce mais uma

intencionalidade a ser trilhada caminhos a frente.

Nota-se o quanto o tema afetividade é pouco aprofundado na formação dos psicólogos,

constata-se isto nas entrevistas efetuadas como também na literatura verificada. Assim, nesta

caminhada para se buscar construir uma Psicologia onde a afetividade seja vivenciada nas

relações de ajuda brota-se a vocação a seguir.

E nesta caminhada que se segue rumo a uma Psicologia onde a afetividade seja mais

presente. Recorda-se que desde a graduação que se deu em 1994 até os dias atuais, pouco se

mudou na formação o psicólogo no Brasil, as disciplinas continuam sendo voltadas com

maior ênfase aos aspectos psicopatológicos do comportamento, a psicometria, a descrição

comportamental, a conceitos filosóficos do homem e a um estudo teórico do inconsciente,

pouco se aprofunda sobre a afetividade na relação de ajuda, e isto ficou evidenciado nas

entrevistas e na não vasta literatura sobre o tema.

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Poucas renovações ocorreram, desta forma o homem contemporâneo está sendo lido e

recebendo intervenções psicológicas por meio de práticas onde aspectos como a afetividade

não são em essência e prioridade contemplados, como também não se identificou a vivência

da arte na relação de ajuda nos discursos dos entrevistados, visto que identificou-se apenas a

reprodução conceitual do termo, e nada que revelasse um traço particular, um jeito de ser

criativo enquanto psicólogos, o cartesianismo infelizmente é o que ainda impera tanto nos

discursos quanto na experiência. .

E pelo que se sente, pois, esta temática toca a alma do defensor desta tese, muito

trabalho se tem pela frente visto que trazer os temas sombra à luz requer energia e disposição

para lidar com todas as adversidades inerentes a quaisquer mudanças, mas cônscio disto

assume-se este compromisso com o que academicamente e vivencialmente dá sentido a práxis

do exercício da Psicologia e da Educação, que é torná-las mais sensíveis, ou seja, com a

afetividade permeando sua práxis.

Contudo não se pode deixar de refletir que a afetividade é um recurso psíquico que

cada ser humano ao longo da vida irá desenvolver conforme as referências sócio culturais na

qual se está inserido, assim sendo como afirma Fromm (1995) desenvolvê-la requer

conhecimento e esforço, pois “ Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada

compreende. Quem nada compreende, nada vale. Mas quem compreende também ama,

observa, vê... Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as

cerejas, nada sabe a respeito das uvas”. (FROMM, 1995, p. 8).

Assim sendo, por meio da afetividade que é um dos burilamentos que cada pessoa

precisa efetuar ao longo da vida, a relação de ajuda pode se tornar mais sensível, única,

criativa, com um traço muito peculiar de quem ajuda, uma arte, já que através do jeito de ser

de cada facilitador do crescimento pessoal, respeitando claro os princípios éticos do fazer aqui

em reflexão, um ser humano melhor se coloca a construir, e neste rumo que se intenciona os

caminhos das construções das relações de ajuda.

Após toda investigação conceitual e das entrevistas apresentadas nesta tese uma maior

segurança brotou no pesquisador. Este sentimento deu se pois ao longo do exercício

profissional na promoção das relações de ajuda nos mais diversos espaços, várias cobranças

eram efetuadas por parte de chefias e outros para que uma prática educativa mais tradicional

fosse efetividade por meio das ações de ajuda, contudo os modelos tradicionais de

intervenções não correspondiam com o jeito de ser do pesquisador, com sua arte.

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157

APÊNDICE

Análise de Dados

DISCURSO 1

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Eu não consigo perceber uma relação, sem a existência de um contato afetivo1, de

compreensão2 e sentimentos entre eu e o outro

3. Uma relação mútua possibilita a construção

de aprendizados que se renovam4, se reconstroem sempre

5.

A relação propicia o surgimento da confiança6, que vai se fortalecendo entre as partes

e trazendo à tona as inúmeras possibilidades do indivíduo conectar-se com seus sentimentos e

emoções7, de modo a compartilhar as suas vivências

8, numa troca importantíssima para o

desenvolvimento humano9.

Entendo a afetividade como algo que permanece em uma contínua construção entre o

eu e o tu10

, num constante vai e vem de possibilidades11

, e que tem confiança como base de

sustentação desse processo12

.

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Categorias e Núcleos do Discurso 1

Eu não consigo perceber (1) Relação (1,2,3) sem a existência de um contato afetivo (1)

de compreensão (1)

sentimento entre eu e o outro (1)

mútua (2)

construção de aprendizagem que se renovam (2)

se reconstroem sempre (2)

propicia o surgimento da confiança (3)

que vai se fortalecendo entre as partes (3)

trazendo a tona possibilidades (3)

conectar-se com seus sentimentos e emoções (3)

de modo a compartilhar as suas vivências (3)

numa troca importantíssima do desenvolvimento humano (3)

---------- Entendo (4) a Afetividade (4) como algo que permanece em contínua construção (4)

entre o eu e o tu (4)

num constante vai e vem de possibilidades (4)

que tem confiança como base de sustentação desse processo (4)

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Análise do Discurso, Psi1

A afetividade para o Psi1 tem um lugar prioritário na construção da Relação de Ajuda,

pois declara não conseguir perceber uma relação sem a existência da afetividade (1). Diz

também que sem compreensão (2) e sem sentimentos entre “eu” e o outro não consegue ver

uma Relação de Ajuda (3).

Ressalta que a relação mútua possibilita a construção de aprendizagens que se

renovam (4), e que se reconstroem sempre (5). Que através da afetividade a relação de ajuda

propicia o surgimento da confiança (6), e que esta vai se fortalecendo entre as partes,

facilitando as inúmeras possibilidades do indivíduo conectar-se com seus sentimentos e

emoções (7). Assim ambos podem compartilhar as suas vivências numa troca importantíssima

para o desenvolvimento humano (8)

Psi1 concebe a afetividade como algo que está em contínua construção entre as

pessoas (9), num constante vai e vem de possibilidades (10), que tem a confiança como base

de sustentação deste processo (11).

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DISCURSO 2

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Acredito que a afetividade facilite o processo, torna viável, colaborativo1. Eu, por

exemplo, me sinto mais à vontade2, me sinto acolhida

3, sinto que a relação flui melhor e

funcione efetivamente quando existe a afetividade4. Causa um impacto positivo, um ciclo

virtuoso de aprendizagem e crescimento5.

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Categorias e Núcleos do Discurso 2

Eu Acredito (1) que a Afetividade (1) facilite o processo (1)

(1,2,2,2,2) Sinto (2,2,2 torna viável (1)

colaborativo (1)

mais á vontade (2)

acolhida (2)

Relação (2) flui melhor (2)

funcione efetivamente (2)

quando existe afetividade (2)

causa impacto positivo (3)

um ciclo virtuoso de aprendizagem (3)

de crescimento (3)

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Análise do Discurso, Psi2

O Psi2 acredita que a afetividade facilita o processo de construção da Relação de

Ajuda, que o torna viável e colaborativo (1). Diz que ele mesmo se senti mais a vontade, mais

acolhido, senti que a relação flui melhor, e é mais eficiente quando existe a afetividade (2).

Acredita que a afetividade causa um impacto positivo, e um ciclo virtuoso de aprendizagem e

crescimento (3).

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DISCURSO 3

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Na minha opinião a afetividade vem em primeiro lugar, pois o ser que possui essa

qualidade enxerga a vida e a deixa fluir de forma diferente1, acolhe e entende o próximo

fortalecendo a empatia estando aberto para essa Relação de Ajuda como um caminho repleto

de amor, respeito e cura2.

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Categorias e Núcleos do Discurso 3

Na minha opinião (1) a Afetividade (1, 2) vem em primeiro lugar (1)

pois o ser que possui essa qualidade enxerga a vida (1)

deixa fluir de forma diferente (1)

acolhe (1)

entende o próximo (1)

fortalecendo a empatia (2)

estando aberto para Relação de Ajuda (2)

como um caminho repleto de amor (2)

respeito (2)

cura (2)

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165

Análise do Discurso, Psi3

Para o Psi3 o ser humano que desenvolveu uma afetividade fluídica enxerga a vida e a

deixa fluir de forma diferente, diz também que a afetividade deve vir em primeiro lugar na

construção da Relação de Ajuda (1). Afirma também que ao estar aberto à Relação de Ajuda

por meio da afetividade o facilitador acolhe e entende o próximo, fortalecendo a empatia e

abrindo-se a um caminho repleto de amor, respeito e cura (2).

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DISCURSO 4

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Como analista do comportamento defendo que precisamos fazer a descrição de

contingências que envolvem a relação1. O afeto na interação entre as pessoas deve ser uma

das variáveis relevantes que temos que analisar, digo, levar em consideração2. Talvez seja

uma das primeiras variáveis que temos que estabelecer na relação3. Não sei se respondi, mas é

o que estou vivenciando no momento4.

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167

Categorias e Núcleos do Discurso 4

Eu (1) Defendo (1) Fazer descrição de contingências que envolvam a relação (1)

Precisamos (1)

O Afeto (2) Deve (2) Na interação entre as pessoas ser uma das variáveis relevantes (2)

Temos (2) Que analisar (2)

Digo (2) Levar em consideração (2)

Seja (3) Uma das primeiras variáveis (3)

Temos (3) Que estabelecer na relação (3)

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Análise do Discurso, Psi4

O Psi4 diz que como analista do comportamento é necessário que se faça uma

descrição das contingências que envolvem a relação (1). E que os afetos na interação entre as

pessoas deve ser uma das variáveis relevantes que temos que analisar e levar e consideração

(2). Diz que talvez seja uma das primeiras variáveis que se tem que estabelecer na relação (3).

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DISCURSO 5

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

A afetividade é a raiz1, o pilar

2, o eixo norteador das ações de quem se propõe a

desenvolver relacionamentos terapêuticos e restauradores3, pois sem afeto não haverá ações

humanizadas capazes de promover o bem estar daqueles a quem propomos ajudar na

superação de dificuldades4 e também emancipação afetiva e social

5, por isso necessário se faz

que todos os que se propõe a ajudar tenha em mente que não há padrões de comportamentos a

serem seguidos6, muito menos um manual de instruções que conduzirão o processo

7, pois será

a afetividade que norteará os passos e ações daqueles que trilham por este caminho8. E você

pode colocar a identificação, não tem problema nenhum, não tem problema mesmo9.

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Categorias e Núcleos do Discurso 5

A Afetividade (1) É (1,2,3) Raiz (1)

Propõe (3) Pilar (2)

Não há (6) Eixo norteador das ações (3)

Será (7, 8) Desenvolver relacionamentos terapêuticos e restauradores (3)

Padrões de comportamentos a serem seguidos (6)

Muito menos um manual de instruções que conduzirá o processo (7)

Que norteará os passos e ações daqueles que trilham por este caminho (8)

Sem Afeto (4) Não haverá (4,5) Ações humanizadas capazes de promover o bem estar (4)

Daqueles a quem propomos ajudar na superação das dificuldades (4)

Emancipação afetiva e social (5)

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Análise do Discurso, Psi5

Para o Psi5 a afetividade é raiz (1), o pilar (2), e o eixo norteador das ações de quem se

propõe a desenvolver relacionamentos terapêuticos e restauradores (3). Acredita que sem

afeto não há ações humanizadas capazes de promover o bem estar daqueles a quem propomos

ajudar na superação de dificuldades (4), como também na emancipação afetiva e social (5).

Defende por isso que é necessário a todos que se propõe ajudar ter em mente que não há

padrões a serem seguidos (6), muito menos um manual de instruções que conduzirão o

processo (7), visto que, segundo o Psi5, será a afetividade quem norteará os passos e ações

daqueles que trilham pelo caminho da relação de ajuda (8).

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DISCURSO 6

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Eu acho que o vínculo afetivo entre terapeuta e paciente é importante para o processo1.

Permite o terapeuta interagir de forma mais autêntica e na minha experiência, faz com que eu

me sinta mais à vontade para falar2. Nas experiências que tive com terapeutas que colocavam

limites rígidos demais, sem sequer dar as mãos para me cumprimentar, me fizeram sempre

desistir da terapia ou me travava para falar de assuntos mais íntimos3. Acho que para eu me

apresentar como pessoa, o outro que está destinado a me ajudar, deveria se apresentar

também4. Sei que existem limites dentro do processo terapêutico, mas às vezes a distância que

alguns profissionais impõem, me fazem recuar mais do que avançar na terapia5.

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Categorias e Núcleos do Discurso 6

Eu (1,3,3,4,4,5) Acho (1,4) o Vínculo afetivo (1) Importante (1) Entre terapeuta e paciente (1)

Que para me apresentar como pessoa o outro que está destinado a ajudar também precisa (4)

Tive (3) Experiências com terapeutas que colocavam limites rígidos demais (3)

Sequer as mãos para me cumprimentar (3)

Travava (3) Para falar de assuntos mais íntimos (3)

Sei (5) Que existem limites dentro do processo terapêutico (5)

O Terapeuta (2,3,5) Permite (2) Interagir de forma mais autêntica (2)

Faz (2) Com que me sinta mais à vontade (2)

Mais à vontade para falar (2)

Teve (3) Experiências com terapeutas (3)

Fizeram (3) Desistir da terapia (3)

Impõe (5) As vezes à distância e isso me faz recuar da terapia (5)

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Análise do Discurso, Psi6

O Psi6 acredita que o vínculo entre terapeuta e paciente é importante para o processo

de construção da Relação de Ajuda (1). Acredita que a afetividade permite que o terapeuta

interaja de forma mais autêntica com a pessoa em atendimento, e que isso a deixa mais à

vontade para falar (2). Diz também que nas suas experiências como pessoa em atendimento,

que os terapeutas que colocavam limites muito rígidos, sem sequer dar as mãos para a

cumprimentar, fizeram com que sempre desistisse da terapia, ou a travava para falar de

assuntos mais íntimos (3).

Para Psi6 é importante que quem se propõe a estar na função de construtor de

Relações de Ajuda esteja se revelando enquanto pessoa também, pois para ele isto facilita

muito no seu processo de abertura (4). Diz saber também que existem limites no processo

terapêutico, mas às vezes a distância que alguns profissionais impõem fazem a terapia mais

recuar que avançar (5).

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DISCURSO 7

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

O cliente1, quando ele chega

2, ele chega muito ferido

3, muito desorientado

4 pelos

problemas da vida5, então ele se sentir acolhido é o primeiro passo pra que a terapia dê certo

6,

ninguém acolhe outro sem a possibilidade de não querer o bem7, porque eu acho que a

afetividade ela perpassa por esse viéis8.

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Categorias e Núcleos do Discurso 7

O Cliente (Ele) (1,2,3,4,7) Chega (1,2,3,4,5) Muito ferido (3)

Muito desorientado (4)

Pelos problemas da vida (5)

Sentir (6) Acolhido é o primeiro passo para que a terapia de certo (6)

Ninguém (7) Acolhe (7) Sem a possibilidade de não querer o bem (7)

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177

Análise do Discurso, Psi7

Para o Psi7, quando a pessoa a ser chega esta está muito ferida, muito desorientada (1,

2, 3, 4), pelos problemas da vida (5). Acredita que a pessoa se sentir acolhida é o primeiro

passo para a terapia dar certo (6). Acredita que acolher o outro é querer o bem a este (7), e que

a afetividade perpasse por este caminho (8)

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DISCURSO 8

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Eu acredito que a afetividade1, ela está presente o tempo todo em tudo que o ser

humano faz2, é presente na vida do ser humano

3, ela é indissociável, propriamente dita

4, é

intrínseca a aprendizagem5, ela é essencial para o crescimento

6, não há como pensar o ser

humano fora desse espaço da afetividade7.

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Categorias e Núcleos do Discurso 8

Eu (1) Acredito (1) que a Afetividade (1,2,4,5,6,7) Está presente em tudo que o ser humano faz (2)

É presente na vida do ser humano (3)

É indissociável (4)

É intrínseca a aprendizagem (5)

Ela é essencial para o crescimento (6)

Que não há como pensar o ser humano fora desse espaço da afetividade (7)

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Análise do Discurso, Psi8

O Psi8 acredita que a afetividade está presente o tempo todo em tudo que o ser

humano faz (1, 2), e que a afetividade é presente na vida do ser humano (3), é indissociável

(4), é intrínseca no processo de aprendizagem (5), é essencial para o crescimento (6). Psi8

acredita também que não há como pensar o ser humano fora do espaço da afetividade (7).

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DISCURSO 9

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Bom, eu acredito para que haja uma troca1, uma necessidade de uma relação sempre

entre duas pessoas2, e quando a gente trabalha com sentimento

3, então há uma necessidade

muito grande de que a gente possa na terapia perceber o que o cliente veio trazer para gente4,

para que através da afetividade possamos aprofundar e auxiliar em sua reconstrução humana5.

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182

Categorias e Núcleos do Discurso 9

Eu (1) Acredito (1) Para que haja uma troca há a necessidade de uma relação sempre entre duas pessoas (1)

A gente (nós) (2,2,3,4,5) Trabalha (2) Com sentimento (2)

Há (3) Uma necessidade muito grande de na terapia perceber o que o cliente veio trazer (3)

Possamos (5) Através da afetividade aprofundar e auxiliar em sua construção humana (5)

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183

Análise do Discurso, Psi9

Para Psi9 para que haja uma troca (1), uma relação entre duas pessoas (2), é

importante trabalhar com sentimentos (3). Diz também que é muito importante na terapia

perceber o que o cliente veio trazer (4), para que através da afetividade possamos aprofundar

e auxiliar em sua reconstrução humana (5).

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184

DISCURSO 10

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Eu acho que a afetividade ela funciona em uma via de mão dupla1, então a partir do

momento que disponibilizo a atender alguém e entender suas questões humanas2, entender

suas dificuldades3, ter empatia pra captar algumas coisas da situação da questão dela

4, eu

preciso de alguma forma de me envolver o meu lado da afetividade dessa relação também5,

assim como essa pessoa também precisa de alguma forma se envolver afetivamente6, com a

realidade do outro para que se processe um retorno7, uma troca de energia

8, e é nesse ponto

que a gente consegue captar a sensibilidade9 e ter boas reflexões e entender de fato aquele ser

humano10

.

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185

Categorias e Núcleos do Discurso 10

Eu (1,2) Acho (1) Que a afetividade funciona um uma via de mão dupla (1)

Disponibilizo (2) A entender alguém e entender suas questões humanas (1)

Entender suas dificuldades (3)

Ter(4) Empatia para captar algumas coisas da situação da questão dela (4)

Preciso (5) De alguma forma de me envolver o meu lado da afetividade dessa relação também (5)

Ela (6) Precisa (6) De alguma também forma de envolver com a afetividade (6)

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186

Análise do Discurso, Psi10

Psi10 acredita que a afetividade funciona como uma via de mão dupla (1), assim

segundo Psi10 a partir do momento que disponibilizo a entender alguém e entender suas

questões humanas (2), entender suas dificuldades (3), e ter empatia para captar algumas coisas

da situação da questão dela (4). Diz que para isso precisa de alguma forma envolver seu lado

afetivo da relação (5), como também a outra pessoa envolvida na Relação de Ajuda (6) para

que se processe um retorno (7), uma troca de energia (8). Diz também que é nesse ponto que

se consegue captar a sensibilidade (9), e ter boas reflexões e entender de fato aquele o ser

humano (10).

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187

DISCURSO 11

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

A importância da afetividade na relação de ajuda¹, ela é imprescindível em todos os

âmbitos2, na parte educacional quando o educando percebe que o professor tem contato com o

aluno3, ao mesmo tempo em que transmite o conhecimento

4, o aluno recebe afeto

5, a partir

desse momento o aluno começa a ter mais interesse naquilo que esta aprendendo6, e se esforça

pra se tornar melhor7. Com afetividade podemos ver a aceitação incondicional desse

professor pelo seu aluno8, há também a Relação de Ajuda no processo terapêutico, quando o

terapeuta dá de si o seu melhor9 , e estar ali junto com o consulente aceitando

incondicionalmente a situação do consulente10

, aquilo ajuda com que o mesmo se abra e se

desenvolva para um processo terapêutico eficaz11

.

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188

Categorias e Núcleos do Discurso 11

Ela (1,3) A Afetividade (1) é (1) Importante (1)

Imprescindível em todos os âmbitos (2)

O aluno (3,5) Na parte Educacional (3) Quando percebe que tem todo afeto (3)

Recebe Ao mesmo em que transmite o conhecimento (4)

A partir desse momento (6)

O aluno começa a ter mais interesse no que está aprendendo (6)

E se esforça para se tornar melhor (7)

Nós (8) Podemos ver (8) A aceitação incondicional desse professor pelo aluno (8)

A Relação de Ajuda (9) Há (9) No processo terapêutico (9)

Quando o terapeuta da de si o seu melhor (10)

E está ali junto com o consulente aceitando incondicionalmente (11)

Ajuda (12) Com que o mesmo se abra (12)

E se desenvolva para um processo terapêutico eficaz (13)

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189

Análise do Discurso, Psi11

Para Psi11 a afetividade é imprescindível na Relação de Ajuda e em todos os âmbitos

(1,2). Afirma que na parte educacional quando o educando percebe que o professor tem

contato com o aluno (3), ao mesmo tempo que transmite o conhecimento o aluno recebe afeto

(4), e a partir deste momento começa a ter mais interesse naquilo que está aprendendo (5, 6), e

se esforça para se tornar melhor (7). Diz ainda que com a afetividade podemos ver a aceitação

incondicional desse professor pelo aluno (8), e que há também a Relação de Ajuda no

processo terapêutico, quando o terapeuta da de si o melhor (9). E este ali junto com o

consulente aceitando incondicionalmente a situação deste (10). Esta postura afetuosa ajuda

com que o consulente se abra e se desenvolva para um processo terapêutico eficaz (11).

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190

DISCURSO 12

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Compreende-se na construção da relação de ajuda que a afetividade ocupa o lugar

primordial1. A afetividade pode ser compreendida como uma pedra angular numa construção

de referência2. Pode-se afirmar também a partir da experiência³ que na construção da relação

de ajuda os vínculos afetivos permitem estabelecer a segurança4, a afetividade mostra

interesse e sentimento positivo pela pessoa5, o que possibilita e facilita que a mesma caminhe

em direção à auto-realização6, e isto acontece de forma natural

7, é algo muito precioso

8.

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Categorias e Núcleos do Discurso 12

Na Relação de Ajuda (1,3, 4,6,)

A Afetividade (1,2,3,4,5,7) Compreende, Ocupa(1) Lugar primordial (1)

Pode ser (2) Pedra angular (2)

Pode se afirmar (3) Construção de referência (2)

Permitem (3) A partir da experiência (3)

Os vínculos afetivos (3)

Mostra (5) Interesse (5)

Sentimento positivo pela pessoa (5)

Possibilita (6) Em direção a auto-realização (6)

Caminhe

Caminhe (5)

Acontece (7) de forma natural (7)

É (8) Algo muito precioso (8)

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Análise do Discurso, Psi12

Para Psi12 a afetividade ocupa um lugar primordial na construção da Relação de

Ajuda (1), é compreendida como uma pedra angular numa construção de referência (2).

Afirma também que, a partir da experiência, que a segurança nos vínculos permite a

construção da Relação de Ajuda (4). Salienta que a afetividade é a expressão de sentimentos

positivos pela pessoa (5), e que a expressão destes sentimentos positivos possibilita e facilita

de forma natural que a mesma caminhe em direção a auto-realização (6, 7), e diz que a

afetividade é algo muito precioso (8).

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193

DISCURSO 13

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

A afetividade ocupa um lugar fundamental nas relações humanas1, são sentimentos

manifestados através das emoções que podem ser de prazer ou de dor2. Na construção de

ajuda o terapeuta tem a missão de acolher3, e escutar as pessoas manifestando sensibilidade

4,

compreensão5 e respeito de modo que cada pessoa encontre a sua verdade

6, o seu equilíbrio

7,

e que nesse caminho possa reconhecer os valores8 e oportunidades que promove

conhecimento9 e mudanças significativas para que ele seja o protagonista da própria história

10.

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194

Categorias e Núcleos do Discurso 13

A afetividade (1, 2, 3) Ocupa (1) Lugar fundamental nas relações humanas (1)

São (2) Sentimentos manifestos através das emoções (2)

Podem ser (2) De prazer ou dor (2)

Na relação de Ajuda (4) Tem (3,4) A missão de acolher (3)

Manifestando (4,6,7) Escutar as pessoas (4)

De modo (8,9) Sensibilidade (4)

Possa, seja (8,10) Compreensão (5)

Respeito (6)

Que cada pessoa encontre sua verdade (6)

Seu equilíbrio (7)

Reconhecer os valores (8)

Oportunidades que promovam conhecimento (9)

Mudanças significativas para que ele seja o antagonista da própria história (10)

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195

Análise do Discurso, Psi13

Para Psi13 a afetividade ocupa um lugar fundamental nas relações humanas (1), é que

a efetividade são sentimentos expressados através das emoções (2), que podem ser de prazer

ou de dor (3). Afirma que na Relação de Ajuda o terapeuta tem a missão de acolher (4), e

escutar as pessoas manifestando sensibilidade (5), compreensão (6), e respeito (7), de modo

que cada pessoa encontre a sua verdade e o seu equilíbrio (8, 9). Que através da afetividade as

pessoas possam reconhecer seus valores (10) e oportunidades que promovam conhecimento

(11), e mudanças significativas para que ele seja o antagonista da própria história (12).

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196

DISCURSO 14

Na sua opinião, qual o lugar da afetividade na construção da relação de Ajuda?

Eu acho o seguinte1, eu acho que a afetividade é importante em todos os pontos

2, em

todos os âmbitos na vida das pessoas3, apesar de que existem algumas pessoas que não tem

é4...essa afetividade presente

5, que a afetividade não tem peso diante de sua caminhada

6, ela é

muito racional7, muito fechada

8, enfim por N razões, mas acho que a afetividade diante do

tratamento9, ela acaba trazendo um certo conforto

10, uma certa sensação de confiança

11, certa

idéia de acolhimento12

, tá você sai do estado de frieza13

, de indiferença aos processos14

e

permite com que a pessoa se sinta acolhida15

, esse acolhimento é exatamente o que dá a

sensação de segurança16

, de ser compreendido17

. Eu acho que é de uma importância muito

grande18

, agora eu acho que tem que ser levado em conta o perfil de cada um19

, a necessidade

de cada um20

.

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Categorias e Núcleos do Discurso 14

Eu (1,2,9,18,19) Afetividade (1,2,3,4,5,6,9,10,11,12) Em todos os ponto (2)

Ela (7,10) Em todos os âmbitos da vida das pessoas (3)

Você (13) Apesar de que existem pessoas que não tem (4)

Essa afetividade presente (5)

Não tem peso diante de sua caminhada (6)

Muito racional (7)

Muito fechada (8)

Diante do tratamento (9)

Acaba trazendo um certo conforto (10)

Acho (1,2,3,9,18,19) Importante (2,18) Uma certa sensação de segurança (11)

É (2,7,816,18) Certa idéia de acolhimento (12)

Sai (13,14) Do estado de frieza (13)

Permite, Sinta (15) De indiferença aos processos (14)

Tem (19,20) Que a pessoa se sinta acolhida (15,16)

Dá a sensação de segurança (16)

Ser compreendida pra quem tá do outro lado (17)

Muito grande (18)

Que levar em conta o perfil de cada um (19)

A necessidade de cada um (20)

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198

Análise do Discurso, Psi14

Para Psi14, a afetividade é importante em todos os pontos (1, 2), em todos os âmbitos

da vida da pessoa (3), apesar de que existem algumas pessoas que não tem a afetividade

presente (4, 5). Para este Psi existem pessoas que a afetividade não tem peso diante de sua

caminhada (6), pois estas pessoas são muito racionais (7), muito fechadas (8). Acha que a

afetividade diante do tratamento acaba trazendo um certo conforto, uma certa sensação de

confiança, certa idéia de acolhimento (9, 10, 11, 12). Diz que as pessoas vão saindo do estado

de frieza, de indiferença aos processos (13, 14), e permite com que a pessoa se sinta acolhida

(15), e esse acolhimento é exatamente o que dá a sensação de segurança e ser compreendido

(16, 17). Acredita também que é de uma importância muito grande (18), mas tem que levar

em conta o perfil de cada um (19).

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199

ANEXO 1.

Uma Técnica de Análise do Discurso

Reprodução do texto de: Sílvia T. Maurer Lane. Apresentado no simpósio sobre

representação social – XX congresso interamericano de Psicologia – 8/5/85 – Caracas.

Nos nossos discursos sobre a consciência, trabalhamos basicamente com o discurso

sobre Representações que os indivíduos elaboram a respeito dos mais variados aspectos de

sua realidade social e neste captamos o pensamento de indivíduos e grupos assim como as

mediações ideológicas – consequência e determinante de suas ações.

Dentro da nossa abordagem teórica, partimos então do discurso articulado em

representações sociais (empírico) para, através de análises de conteúdos, chegarmos ao

movimento da consciência que se processa pela articulação entre pensamento e linguagem.

O deslocamento da estratégia de pesquisa do procedimento de coleta de dados para o

de análise dos dados – neste caso os discursos, fez surgir problemas de natureza metodológica

e técnica que se tornaram um desafio para que trabalhássemos com dados “duros”, captando a

linguagem e o pensamento em toda a sua materialidade, ou seja, a subjetividade individual

materializados em dados cuja análise desvendaria a consciência individual em sua concretude.

As propostas de análises, seja de conteúdo, seja de discurso, vem percorrendo um

longo trajeto histórico, como bem mostra Bardin em seu livro Análise de Conteúdo, que

várias análises estatísticas de palavras empregadas até a interpretação a partir dos temas e/ ou

categorias emergentes no discurso enfrentando sempre as questões da fragmentação, da

interpretação e do pensamento real do sujeito que articulou o discurso, como um todo.

Quando falamos em dados “duros” não nos referimos a uma procura de neutralidade

do pesquisador, mas sim a uma possibilidade de distinguir no procedimento de analise o que é

do Sujeito e o que é do Pesquisador. Encontrar uma técnica de análise básica sobre a qual

incidirá a “leitura” do pesquisador, era o desafio.

Partimos de alguns pressupostos para chegarmos a esta técnica de análise, tais como:

a) não fragmentar o discurso, pois qualquer critério utilizado para tanto já traz em si

uma interpretação externa;

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200

b) em consequência, as relações entre os “significantes” devem ser mantidas

constantes. (Procurou-se utilizar preposições e conjunções como critério para definir as

unidades de significação; porém o discurso oral utiliza um pouco, principalmente,

conjunções).

c) o discurso, produto, da interação entre pensamento e linguagem, se processa

em espiral, havendo assim, retornos e avanços semelhanças e diferenciações;

d) este movimento em espiral caracteriza significações centrais e periféricas.

Estes pressupostos em com trabalhos de Flament, Vergès e outros, elaborando “árvores” de

representações onde estatisticamente se estabeleciam relações próximas e distantes entre

significações que constituem uma certa representação social, nos sugeriam a possibilidade de

se chegar a um esquema gráfico semelhante àqueles elaborados nos sociogramas – pelo

menos, o processo de disposição gráfica seria semelhante na medida em que as relações

necessariamente são mantidas.

Uma primeira pesquisa a utilizar esta técnica foi Silvia Friedman, sobre “A gênese da

Gagueira”. Seus sujeitos eram pessoas gagas ou que tinham sido gagas, que ela entrevistava

pedindo que relatassem quando e como eles se perceberam com dificuldade de fala.

Transcritas as entrevistas gravadas, definiu-se e enumerou-se as unidades de significação (em

geral sujeito e predicado). Num segundo momento, assinalou-se as palavras que se repetiam –

estas seriam destacadas, sem deixar de manter assinaladas a relação. Temos como exemplo:

“Eu falava pouco/ sempre que eu falava/ eu tremia”.

EU FALAVA POUCO

Tremia sempre que

E o discurso era reproduzido graficamente, mantendo-se as setas e os números que

indicavam a relação e a sequência de forma a se poder ler a entrevista tal qual fora produzida.

Na medida em que os gráficos iam se configurando e os núcleos se destacavam,

pudemos constatar que detectávamos núcleos de pensamento, recordando a análise feita por

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201

Vygotski referente à relação entre pensamento e linguagem, quando afirma a interpenetração

e a mútua dependência entre os dois, porém se processando em direções opostas: o

pensamento indo do geral ao particular e a linguagem do particular ao geral.

Assim a linearidade do discurso seria particularidades que se processavam em torno de

um geral pensado e desta forma, os núcleos que os gráficos detectados seriam o pensado em

torno do qual o discurso se articula.

Tudo indicava que conseguiríamos uma técnica para captar materialmente a relação

entre pensamento e linguagem se processando através do discurso. O estudo de Silvia

Friedman avançou ainda mais quando analisando-se as relações entre núcleos pode-se

perceber que eles se articulavam em categorias que constituíam efetivamente a gênese da

gagueira, pois estas relações se repetiam para todos os sujeitos estudados, constituindo no seu

conjunto, a representação que estes sujeitos faziam da sua gagueira. Estas categorias foram

denominadas pela pesquisadora de: Outros, Auto - Imagem, Atividade Emocional e Nível

Motor ou Articulação Oral.

Um problema técnico que se apresentou, quando se tratava de entrevistas de longa

duração (entorno de uma hora), foi o tamanho do gráfico que se estendia ao longo de folhas e

mais folhas de papel, levando alguns pesquisadores a comprar papel em metro.... Tudo para

não fragmentar o discurso.

Após alguns metros de análise pudemos constatar que o discurso se processava numa

sequência de temas ou momentos, com poucas ligações entre um e outro. Esquematizando,

graficamente observa-se algo como:

Este fato indicava a possibilidade de dividir o discurso sem perder as relações, desde

que se mantivesse a indicação da relação que se estabelecia entre o momento e outro e dos

núcleos que se repetiam em momentos diferentes.

Um problema de natureza epistemológica surgiu a partir de várias análises feitas, e se

refere à categoria. Como primeiro estudo, sobre a gagueira, permitiu detectar com clareza

categorias fundamentais, as demais análises se preocuparam em encontrar suas categorias

específicas e fomos percebendo que em temas amplos nem sempre elas se apresentavam com

nitidez, e o que chamávamos de categoria se aproximava a uma organização abstrata e muitas

vezes interpretativa, nada nos garantia que detectávamos categorias ontológicas.

Possivelmente aquelas detectadas no estudo da gagueira emergiram com clareza por se tratar

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202

de um tema bastante específico. Em geral os outros estudos trabalhavam com temas amplos e

sobre os quais cada sujeito relatava sobre a sua vivência e representações particulares,

indicando a necessidade de muitos outros estudos para se chegar às categorias ontológicas e

não apenas lógicas (lógicas do pensamento do pesquisador).

Cabe ainda ressaltar, apesar das dificuldades encontradas, que esta técnica torna a

análise propriamente dita extremamente simples, pois, através da descrição dos núcleos

encontrados e das unidades significativas que se relacionam com eles, temos a Representação

que o indivíduo elaborou, com suas contradições, com suas rupturas, o que permite detectar

elementos ideológicos que permeiam suas representações, e assim chegarmos a constatar a

sua consciência se processando.

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203

ANEXO 2.

1º PERÍODO

Disciplina Carga Horária

(H/R)

Psicanálise I – Freud 28

Psicologia Comportamental I 43

Psicologia Fenomenológica I 28

Bases Epistemológicas I 43

História da Psicologia I 28

Desenvolvimento Interpessoal 43

Antropologia (1º ou 2º períodos) 43

Sociologia (1º ou 2º períodos) 43

Introdução ao Pensamento Teológico I 43

Bases Fisiológicas do Comportamento – Módulo A (1º ou 2º períodos) 43

Bases Fisiológicas do Comportamento – Módulo B (1º ou 2º períodos) 28

Psicobiologia (1º ou 2º períodos) 43

Total: 9 / 10 disciplinas 370 / 385

2º PERÍODO

Disciplina Carga Horária

(H/R)

Psicanálise II – Freud 28

Psicologia Comportamental II 57

Psicologia Fenomenológica II 43

Bases Epistemológicas II 43

História da Psicologia II 28

Antropologia (1º ou 2º períodos) 43

Sociologia (1º ou 2º períodos) 43

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204

Introdução ao Pensamento Teológico II 43

Bases Fisiológicas do Comportamento – Módulo A (1º ou 2º períodos) 43

Bases Fisiológicas do Comportamento – Módulo B (1º ou 2º períodos) 28

Psicobiologia (1º ou 2º períodos) 43

Estatística I 28

Total: 9 / 10 disciplinas 341/399

3º PERÍODO

Disciplina Carga Horária

(H/R)

Psicanálise III – Freud 28

Psicologia Analítica I – Jung 28

Psicologia Comportamental III 43

Psicologia Fenomenológica III 43

Psicologia do Desenvolvimento I 43

Psicologia Social I 43

Modelos de Investigação I 57

Neurologia I 43

PMIP I: Processo de Investigação Diagnóstica 28

Teoria Psicodramática (3º ou 4º períodos) 43

Genética Humana (3º ou 4º períodos) 28

Estatística II 28

Total: 11/12 disciplinas 386 / 401

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205

Disciplina Carga

Horária

(H/R)

Psicanálise V – Melanie Klein 28

Psicologia do Desenvolvimento III 43

Psicopatologia I 43

Psicologia Social III 43

PMIP III – Análise da Expressão Verbal 43

PMIP IV – Análise da percepção – Rorschach I 43

Eletiva Teórica 43

Eletiva Temática 28

Estágio Básico I 28

Psicologia e Excepcionalidade (5º ou 6º períodos) 43

Grupos: teorias e práticas (5º ou 6º períodos) 43

Bases Neurológicas do Psicodiagnóstico (5º ou 6º períodos) 28

Psicologia Institucional (5º ou 6º períodos) 43

Total: 11 disciplinas (2 eletivas) 413 / 428

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206

6º PERÍODO

Disciplina Carga

Horária

(H/R)

Psicanálise VI – Melanie Klein & Winnicott 28

Psicologia do Desenvolvimento IV 43

Psicopatologia II 43

PMIP V – Análise da percepção – Rorschach II 43

PMIP VI – Análise da Expressão Gráfica 43

Psicologia Social IV 28

Eletiva de Pesquisa 43

Eletiva Temática 43

Estágio Básico II 43

Psicologia e Excepcionalidade (5º ou 6º períodos) 43

Grupos: teorias e práticas (5º ou 6º períodos) 43

Bases Neurológicas do Psicodiagnóstico (5º ou 6º períodos) 28

Psicologia Institucional (5º ou 6º períodos) 43

Total: 11 disciplinas (2 eletivas) 389 / 404

7º PERÍODO

Disciplina Carga

Horária

(H/R)

Teorias e Técnicas Psicoterápicas I 43

Ética Profissional 43

Projeto de Pesquisa 57

Núcleo 1 – Diagnóstico Psicológico: Supervisão de Estágio 43

Núcleo 1 – Reflexão do papel do psicólogo no diagnóstico 17

Núcleo 1 – Programa 1: A prática Clínica – O processo do diagn. Psicol. 14

Núcleo 1 – Programa 2: Contextualização e Fundamentação teórica do Diagn. Psic. 43

Núcleo 2 – Atuação do psicólogo em instituições de saúde: Supervisão de Estágio 43

Núcleo 2 – Programa 1: A Psicologia e a Saúde – pressupostos para a prát. Profiss. 43

Núcleo 2 – Programa 2: Trabalho de grupo em instituições de saúde 43

Page 208: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PÓS-GRADUAÇÃO ...tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/3445/5/Carlos Santos Leal.pdf · Figura 19. Imagem do manual do teste projetivo gráfico

207

Total: 3 disciplinas + Núcleos A e B 389

8º PERÍODO

Disciplina Carga

Horária

(H/R)

Teorias e Técnicas Psicoterápicas II 43

Eletiva Teórica 43

TCC I 71

Núcleo 3 – Educação e Formação: Supervisão de Estágio 43

Núcleo 3 – Programa 1: O processo educacional – saúde ou alienação 28

Núcleo 3 – Programa 2: Ação do psicólogo nas instituições educacionais 28

Núcleo 3 – Programa 3 : A criança e o jovem no processo de socialização: uma leitura psicológica 28

Núcleo 4 – Trabalho e Produção: Supervisão de Estágio 43

Núcleo 4 – Programa 1: Psicologia Organizacional 28

Núcleo 4 – Programa 2: Psicologia Social do Trabalho 28

Núcleo 4 – Programa 3: Saúde do trabalhador 28

Total: 3 disciplinas + Núcleos C e D (1 eletiva) 411

5º ANO

Disciplina Carga

Horária

(H/R)

TCC II 71

Oficina de projeto 28

Núcleo A – Estágio 85

Núcleo A – Programas teóricos 198

Núcleo B – Estágio 85

Núcleo B – Programas teóricos 198

Total: 1 disciplina + Núcleos E e F 665

Fora da Matriz Estágio em Campo 222